Livreiro de Hong Kong volta a ser detido na China

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] filha do dono de uma livraria de Hong Kong, que vendia obras críticas do regime de Pequim, afirmou que o pai foi novamente levado pelas autoridades chinesa, depois de ter sido secretamente detido em 2015. Angela Gui disse à emissora sueca em língua inglesa Rádio Sweden que o pai, Gui Minhai, seguia num comboio com dois diplomatas suecos quando foi detido por polícias chineses.

Gui, que tem dupla nacionalidade, chinesa e sueca, desapareceu no final de 2015, quando passava férias na Tailândia. Era então o dono da “Mighty Current”, editora de Hong Kong conhecida por publicar livros críticos dos líderes chineses. O livreiro apareceu mais tarde na televisão estatal chinesa CCTV a confessar que se tinha entregado às autoridades pelo atropelamento e morte de uma jovem em 2004.

Quatro funcionários na livraria de Gui foram também detidos nos meses seguintes, mas acabaram por ser libertados passado pouco tempo, enquanto Gui permaneceu preso até Outubro passado. Gui foi depois colocado num apartamento na cidade de Ningbo, na costa leste da China, e mantido sob vigilância da polícia, afirmou a filha.

Gui deslocou-se de comboio até Pequim para um encontro na embaixada da Suécia, mas foi detido por agentes da polícia à chegada à capital, contou Angela Gui. “É evidente que ele voltou a ser raptado e que se encontra detido num lugar secreto”, disse à agência noticiosa Associated Press (AP).

A ministra dos Negócios Estrangeiros sueca, Margot Wallstrom, disse já que o país vai convocar o embaixador chinês para discutir a detenção de Gui. “O Governo sueco tem um conhecimento aprofundado sobre o que se passou e está a trabalhar 24 horas por dia nesta questão”, disse Wallstrom, que mais tarde confirmou que o embaixador chinês fora chamado para discutir a detenção de Gui.

24 Jan 2018

Novo rosto na Justiça

[dropcap style≠‘circle’]E[/dropcap]m Hong Kong, no passado dia 6, a nova Secretária da Justiça tomou posse. Chama-se Teresa Cheng Yeuk-wah e vem substituir Rimsky Yuen Kwok-keung. Embora Rimsky não tenha explicado os motivos da sua demissão do cargo, tudo indica que esta se ficou a dever principalmente a motivos de saúde.

Teresa Cheng Yeuk-wah é Conselheira Sénior em Hong Kong. Foi também presidente do Centro para Arbitragem de Disputas Financeiras, a delegação de Hong Kong do Centro Internacional para Arbitragem de Disputas Financeiras, e vice-presidente do Conselho Internacional de Arbitragem Comercial.

Os sistemas jurídicos de Hong Kong e de Macau são diferentes, especialmente no que diz respeito ao exercício da advocacia. Em Hong Kong os causídicos dividem-se em dois grupos, os solicitadores e os advogados de barra. Estes últimos, também designados por “conselheiros”, são especialistas em todo o tipo de litígios e podem exercer nos Tribunais de todas as instâncias. Ao contrário, o solicitador tem acesso apenas a alguns Tribunais. Para aceder às mais altas instâncias o solicitador precisa de uma autorização especial.

O advogado de barra pode vir a receber os títulos de Conselheiro e de Conselheiro Sénior. Esta atribuição terá de ser aprovada pelo Supremo Tribunal. O Título de Conselheiro Sénior só pode ser atribuído a advogados com desempenho de excelência em Tribunal, especialmente no que diz respeito à análise de casos. Tanto Rimsky como Teresa Cheng receberam o título de Conselheiro Sénior, o que significa que ambos são excelentes advogados.

De acordo com o artigo 63º da Lei Básica de Hong Kong, o Secretário da Justiça tem o poder de decidir quem deverá ser processado. Este artigo garante a independência do poder jurídico. É também mais um garante do estado de direito. Em Macau, o artigo 90º da Lei Básica enuncia: “Os Procuradores da Região Administrativa Especial de Macau deverão exercer as suas funções, conforme está consignado na Lei, de forma independente e livre de quaisquer interferências.” A função deste artigo é equivalente à do artigo 63º da Lei Básica de Hong Kong.

Na sua primeira conferência de imprensa, Teresa Cheng afirmou: “Por vezes, as pessoas fazem leituras diferentes do conceito ‘um País, dois sistemas’ e talvez também da Lei Básica. No entanto, se persistirmos na aplicação dos princípios legais, e analisarmos objectiva e racionalmente a Lei Básica, promulgada pelo Congresso Nacional do Povo de acordo com a constituição da República Popular da China, acabaremos por chegar todos ao mesmo entendimento legal.”

Teresa Cheng adiantou ainda: “A primeira missão do Secretário da Justiça é garantir a manutenção do estado de direito.”

Estas declarações demonstram que Teresa Cheng vai tomar as suas decisões em estrito acordo com a Lei, no entanto a situação não lhe é muito favorável. A nova Secretária da Justiça vai enfrentar uma série de desafios, como a questão da partilha alfandegária, a Lei do Hino Nacional e os recursos dos membros do movimento “Occupy Central” de Hong Kong. No entanto, até ao momento, não existem rumores sobre a criação de leis relacionadas com o artigo 23º da Lei Básica. A legislação sobre segurança nacional deverá ser elaborada posteriormente.

A partir deste primeiro discurso, podemos depreender que Teresa Cheng é forte e que defende firmemente o estado de direito. É possível que a sua experiência como mediadora de conflitos comerciais lhe tenha conferido uma certa cordialidade que a pode vir a ajudar a lidar com os diferentes grupos de interesses.

Mas o seu passado também indica que ela não é muito hábil a lidar com questões políticas. A construção ilegal da sua residência na Villa de Mer, Siu Lam, Tuen Mun é um dos melhores exemplos para o ilustrar. Há um tempo atrás, a construção ilegal da casa do antigo Chefe do Executivo, C Y Leung, deu muito que falar em Hong Kong. Foi também o caso do Secretário-Chefe Henry Tong. Teresa Cheng caiu no mesmo erro e, além disso, não deixou esta questão resolvida antes da sua designação para o cargo, o que não é bom para ela nem para o Governo da RAEHK. Embora tenha apresentado desculpas públicas no primeiro dia no exercício de funções, não se pode livrar das críticas.

Uns dias depois surgiram mais notícias. O Governo da RAEHK autorizou Teresa Cheng a manter o seu lugar de mediadora em seis casos de arbitragem de conflitos. Apesar disso o Governo garante que não existe conflito de interesses, e assegura que não faz parte das funções do Executivo envolver-se nestes assuntos. Os casos vão-se somando, um atrás do outro.

Os acontecimentos demonstram claramente que não é fácil ser membro do Governo de Hong Kong.

23 Jan 2018

Superbactéria poderá eliminar resíduos

Principal objectivo é limpar a gigantesca quantidade de líquidos descartada pela indústria têxtil

 

[dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]um laboratório de Hong Kong, pesquisadores que trabalham na melhoria dos processos de produção de um dos maiores fabricantes de tecidos da China usam um ingrediente especial: bactérias. A TAL Apparel, com fábricas na China continental e no Sudeste da Ásia, se uniu à City University para identificar bactérias que possam limpar de maneira mais eficiente as grandes quantidades de resíduos líquidos descartados pela indústria têxtil, numa iniciativa que pode reescrever as operações da indústria global da moda.

Depois de décadas de crescimento industrial sem travões, que deixou a China com um legado de poluição excessiva, o governo está a pressionar as indústrias, e o sector têxtil é o primeiro da fila. A fabricação de tecidos é a terceira no ranking de descarte de resíduos líquidos — 3 mil milhões de toneladas por ano — atrás das indústrias química e de papel.

Assim, em 2015, o governo lançou um plano de recursos hídricos com dez medidas para controlar a poluição, promover tecnologias e melhorar o manejo da água, com prazo para alcançar os seus objectivos até 2020. Estas medidas atingem o coração de uma indústria que durante décadas beneficiou de mão-de-obra barata e de baixos custos de capital para entregar o chamado fast fashion, que leva a moda das passarelas rapidamente para as lojas com preços que fizeram das roupas um produto quase descartável.

“Os clientes estão mais felizes porque as roupas estão mais baratas do que há uma década, e as lojas podem beneficiar dos custos baixos”, diz Felix Chung, um legislador de Hong Kong que representa a indústria têxtil. “Mas o resultado é uma enorme poluição, e as marcas terão que pagar por isso no futuro”.

Como o sector é alvo de críticas pelo seu histórico ambiental, marcas importantes como H&M, Target e Gap adoptaram padrões de qualidade para uso de água pelos seus fornecedores, monitorando-os para proteger a sua reputação entre os consumidores. O problema é como atingir melhores padrões ambientais e trabalhistas sem elevar os preços a um consumidor, já habituado à moda barata da fast fashion.

“Falamos sobre responsabilidade social, mas as pessoas não querem pagar por isso”, disse o presidente da TAL, Harry Lee. “Uma regulamentação mais rigorosa requer que os fabricantes melhorem suas fábricas, mas isso exige capital”.

A TAL, que abriu a sua primeira fábrica na China continental em 1994, tem comprado bactérias de outros laboratórios para tratar a água usada na lavagem dos tecidos. Com bactérias no lugar de produtos químicos, a empresa pôde reduzir os resíduos líquidos até 80%, além de permitir que 100% da água seja reciclada na própria fábrica. Mas, durante uma folga na produção para comemorar o ano novo chinês no ano passado, as bactérias do seu sistema morreram. Então a TAL montou um programa de pesquisa que usa o sequenciamento de DNA para encontrar uma “superbactéria” mais barata e eficiente.

Mas pesquisar e melhorar a tecnologia é caro. Assim, está a chegar o dia em que os vendedores terão que reajustar os preços já que os fabricantes não conseguem absorver os custos para cumprir as regras ambientais. Perante isto, as grandes redes de distribuição também participam na tentativa de desenvolver técnicas que possam cortar custos e permitir que a indústria gere menos resíduos.

Enquanto isso, no laboratório em Hong Kong, os cientistas esperam desenvolver a sua superbactéria em dois anos. Se forem bem-sucedidos, a TAL compartilhará os resultados com outros fabricantes. “Com sorte, mais fabricantes vão querer usá-la. Mas é um processo muito lento”, concluiu Lee.

23 Jan 2018

Hong Kong | Nova pena de prisão para Joshua Wong

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]oshua Wong, rosto do movimento pró-democracia do outono de 2014 em Hong Kong, foi ontem condenado a três meses de cadeia, a segunda pena de prisão pelo papel na “revolução dos guarda-chuvas”.

O jovem, de 21 anos, deu-se como culpado por não ter respeitado uma ordem judiciária que exigia o fim de um acampamento erguido durante as manifestações na antiga colónia britânica. Wong foi libertado sob caução para aguardar a análise de um recurso contra a sua condenação de seis meses de prisão por um outro delito relacionado também com as manifestações de 2014. Raphael Wong, um outro militante democrata, foi condenado a quatro meses e meio de cadeia.

Os processos de que são alvo os líderes dos “guarda-chuvas” são consideradas, por alguns observadores da Região Administrativa Especial chinesa, como um novo sinal de ingerência crescente de Pequim nos assuntos internos de Hong Kong, em violação do princípio “Um país, dois sistemas”, que orientou a transferência de soberania do território do Reino Unido para a China em 1997. Joshua Wong “desempenhou um papel fundamental nesse dia”, declarou o juiz Andrew Chan. “A única punição apropriada para Wong é a detenção imediata”.

O juiz recusou inicialmente a libertação sob caução dos dois militantes, mas, a pedido da defesa, adiou uma decisão final sobre a questão para a tarde. Enquanto aguardam Joshua e Raphael foram levados por guardas. “A nossa determinação na luta pela democracia não vai mudar”, afirmou Raphael Wong, ao sair da sala do tribunal. Antes da audiência, Wong tinha declarado não ter “qualquer arrependimento”. “Podem prender o nosso corpo, mas nunca o nosso espírito”. Dezenas de apoiantes estiveram concentrados em frente ao tribunal e gritavam: “Desobediência civil, zero medo”, “Sou de Hong Kong, quero o sufrágio universal”.

18 Jan 2018

Hong Kong | Três activistas contestam penas de prisão

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]rês líderes do “movimento dos guarda-chuvas” contestaram ontem em tribunal a condenação a penas de prisão pelo papel nas manifestações pró-democracia de 2014, em Hong Kong. A condenação em Agosto de Joshua Wong, Nathan Law e Alex Chow a penas de entre seis e oito meses de prisão foi interpretada como um novo golpe contra militantes de reformas políticas na antiga colónia britânica.

Depois desta sentença, o Ministério Público pediu um agravamento das penas decididas em primeira instância, o que foi entendido como uma ingerência crescente de Pequim nas questões internas de Hong Kong, em violação do princípio “Um país, dois sistemas”, definido para a transferência da soberania do Reino Unido para a China, em 1997. Os três foram libertados sob caução para aguardar a decisão do Tribunal de apelo final, a mais alta jurisdição de Hong Kong, um recurso que apresentaram como um teste à independência da justiça da Região Administrativa Especial chinesa.

“Temos agora a oportunidade de ver como vão os tribunais de Hong Kong reconhecer e posicionar-se sobre a questão da desobediência civil”, declarou aos jornalistas, antes da audiência, Joshua Wong, de 21 anos. Wong acrescentou acreditar que a população de Hong Kong vai continuar a bater-se pela democracia, mesmo que seja detido outra vez.

Os três activistas foram condenados pelo seu papel numa manifestação considerada ilegal, a 26 de Setembro de 2014. Os manifestantes treparam pelas barreiras metálicas e entraram na Civic Square, uma praça situada num complexo governamental. Esta acção desencadeou manifestações mais importantes e dois dias mais tarde teria início o movimento pró-democracia, quando a polícia disparou granadas de gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, que se protegeu com guarda-chuvas. Durante mais de dois meses, centenas de milhares de pessoas paralisaram quarteirões inteiros da cidade para exigir um verdadeiro sufrágio universal.

17 Jan 2018

The Chameleons estreiam-se em Hong Kong no MusicZone@Emax

[dropcap style≠‘circle’]M[/dropcap]ais de 37 anos depois da fundação, os seminais The Chameleons tocam pela primeira vez para o público de Hong Kong. O concerto é hoje no MusicZone@Emax em Kowloon, com as portas abertas às 19h30. A primeira parte estará a cargo dos Sinister Left e dos Ambience Intelligent.

A histórica banda de Middleton, nos arredores de Manchester, é um dos marcos do post-punk do início dos anos 1980.

Com uma carreira discográfica curta, com apenas quatro álbuns de originais, os The Chameleons foram uma banda à margem das revoluções musicais nascidas em Manchester. Longe de terem alcançado a notoriedade dos Joy Division, The Smiths e The Fall, o grupo liderado pelo Mark Burgess manteve um culto underground que se foi cimentando com o tempo realçando a relevância em termos líricos e musicais dos seus discos.

Com um pé no rock psicadélicos, graças aos efeitos de guitarra e às letras escritas sob a influência de cogumelos alucinogénios, nascidas do génio do vocalista e baixista, Mak Burgess, os The Chameleons criaram um som que os separou das correntes que lhes foram contemporâneas. Algo que faz com que a sua música se mantenha actual, motivando tours que, inclusive, passaram por Portugal várias vezes.

Os The Chameleons têm o núcleo da sua discografia na década de 1980, onde lançaram três discos até 1986, hibernando de seguida para um hiato que duraria quase 15 anos. O disco final dos 80’s, intitulado “Strange Times” é um monumento musical de inestimável valor, carregado de hinos como “Mad Jack”, “Caution”, “Tears” e “Seriocity”, numa escolha muito difícil de fazer.

 

Primeiro acto

Antes do prato principal subir ao palco, o público que se deslocar a Kowloon será aquecido pelos Sinister Left e os Ambient Intelligence.

Os Sinister Left são uma banda local que combina ritmos hipnóticos e pesados com guitarras. O seu disco mais recente “Soot” recebeu alguma atenção por parte da crítica e imprensa da especialidade. O South China Morning Post escreveu que o álbum tem “um groove hipnótico e ameaçador, músicas complexas que fazem do disco um dos mais dinâmicos a sair da cena de Hong Kong nos últimos anos”.

Os Ambient Intelligence são um duo de música electrónica criado no final de 2016 e constituído por Alan Ip e Yanlo Chow. A banda é fortemente influenciada pelos sons de sintetizadores dos movimentos musicais do início dos anos 80, ou seja, apropriado para o início de uma noite que se prevê memorável. O som dos Ambiente Intelligence é experimental e as suas actuações são normalmente marcadas pelo improviso em palco onde tentam demonstrar a química entre humanos, máquinas e o meio ambiente.

Bons aperitivos antes da entrada em cena do acto principal, a estreia dos The Chameleons na zona do Delta do Rio das Pérolas.

5 Jan 2018

Hong Kong | Pequim aprova controlo chinês em ligação de alta velocidade

A Assembleia Nacional da China aprovou o controlo de segurança chinês na ligação de alta velocidade em Hong Kong. Esta está a ser vista como mais uma prova da interferência chinesa em Hong Kong

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Assembleia Nacional Popular da China aprovou a presença de controlos de segurança chineses na primeira estação ferroviária de comboios de alta velocidade em Hong Kong, noticiou esta quinta-feira a agência oficial chinesa Xinhua.

Esta decisão esteve rodeada de polémica, já que na ex-colónia britânica é vista como mais uma demonstração da interferência de Pequim no território, que constitui uma das duas regiões administrativas especiais chinesas, a par de Macau.

A Xinhua informou que o órgão legislativo chinês ratificou o acordo firmado a 18 de Novembro entre o governo de Hong Kong e a vizinha província chinesa de Cantão, pelo que haverá controlo de passaportes e aduaneiros na estação de Kowloon Oeste, de onde vão partir comboios com destino à China.

Até agora, a rede ferroviária chinesa chega até à fronteira, de facto, entre a China e Hong Kong, na cidade de Shenzhen, mas a nova linha de comboios de alta velocidade entre Cantão e a antiga colónia britânica, com paragem na referida estação da península de Kowloon, vai mudar esta situação.

Também vão ser efetuadas inspecções de bagagens e aplicadas medidas de prevenção e quarentena, de acordo com o documento aprovado pela Assembleia Nacional para a nova estação, cuja inauguração deverá acontecer no terceiro trimestre de 2018.

Os críticos da alteração legal apontam que este é outro exemplo da redução de autonomia sofrida por Hong Kong em relação à China, e que se tornou especialmente palpável com a perseguição a organizações e activistas opositores do regime comunista.

O movimento ‘Occuppy’, também conhecido por ‘Revolução dos Guarda-Chuvas’ em 2014, em que milhares de pessoas pediram a eleição democrática do líder do governo de Hong Kong, firmou as bases para uma crescente desconfiança entre os dois territórios, assim como o nascimento de movimentos independentistas, ainda que minoritários, na ex-colónia.

A ligação da alta velocidade a Hong Kong vai permitir à cidade, que este ano completou 20 anos desde o retorno à soberania chinesa, ligar-se à rede de comboios rápidos da China, que com mais de 20 mil quilómetros em funcionamento e muitos outros em construção é a maior do mundo.

29 Dez 2017

Hong Kong elege 36 deputados para a Assembleia Popular Nacional

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]rinta e seis pessoas, entre 49 candidatos e procedentes de diferentes sectores da sociedade de Hong Kong, foram eleitas nesta terça-feira como deputados para a 13ª Assembleia Popular Nacional (APN), o mais importante órgão legislativo da China.

Bernard Charnwut Chan, de 52 anos, membro do Conselho Executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong (RAEHK), ficou no primeiro lugar com 1693 votos num total de 1796 membros que participaram da segunda sessão plenária da Conferência para Eleger Deputados da RAEHK para a 13ª APN.

A 13ª Assembleia Popular Nacional será convocada em Março de 2018 em Pequim para eleger novos líderes do Estado e discutir assuntos do Estado.

O vice-presidente e secretário-geral do Comité Permanente da APN, Wang Chen, participou da segunda sessão plenária da conferência, que foi presidida pela chefe do Executivo da RAEHK, Carrie Lam Cheng Yuet-ngor.

No seu discurso depois da eleição, Wang cumprimentou os deputados eleitos, dizendo que a eleição de deputados da RAEHK para a 13ª APN obedeceu rigorosamente à lei e decorreu com “democracia completa”.

Os 36 deputados eleitos formalmente tomarão posse depois de passarem por auditoria detalhada por um painel sob o Comité Permanente da 12ª APN.

26 Dez 2017

Efeito retroactivo e consulta pública

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Comité Permanente do Congresso Nacional do Povo aprovou, a 4 de Novembro último, uma resolução para integrar a Lei Chinesa do Hino Nacional no Anexo III da Lei de Bases de Hong Kong. De acordo com o Artigo 18 desta Lei Básica, a Lei do Hino Nacional será aplicável à Região Administrativa Especial de Hong (RAEHK). A RAEHK tem o dever estatutário de implementar a legislação local adequada, ou seja, uma versão local da Lei do Hino. Este dever está de acordo com a Constituição chinesa e com a legislação local.

Na mesma data, o Congresso Nacional aprovou a introdução de uma Emenda à Lei Criminal Chinesa no Artigo 299. Para além das estipulações originais relativas à utilização da bandeira e do hino nacionais, foram agora identificadas situações em que está interditada a transmissão do hino. A saber:

  1. Alteração maliciosa da música ou da letra
  2. Interpretação do hino de forma distorcida ou depreciativa
  3. Qualquer outra forma de insulto

Se alguma destas situações se verificar, o transgressor será condenado até três anos de prisão efectiva e fica sujeito a controlo ou privação dos seus direitos políticos.

O Gabinete para os Assuntos Constitucionais e do Continente do Governo da RAEHK declarou que durante o processo legislativo, o Governo iria tomar em linha de conta as opiniões dos legisladores e da população.

O projecto de lei é o primeiro passo a dar em qualquer processo legislativo. O projecto começa por ser debatido no Conselho Executivo e, se passar, subirá para discussão à Assembleia Legislativa. Cabe ao Departamento de Justiça a redacção do projecto de lei. O projecto para a criação da versão local da lei do Hino Nacional, deverá estar em consonância com a Lei Nacional.

Este assunto tem dado origem a muitos debates no seio da sociedade de Hong Kong. Um dos temas debatidos tem sido o “efeito retroactivo” desta lei. Se este efeito se verificar, as transgressões ocorridas no período anterior à implementação da lei ficam também sujeitas a sanção.

Por exemplo, toda a gente sabe que em Macau a Lei de protecção dos animais entrou em vigor a 1 de Setembro de 2016. O Artigo 25 estipula que, infligir sofrimento a animais pode implicar uma pena de prisão durante um ano. Esta lei só é aplicável a acções praticadas a partir da data da sua entrada em vigor. Não tem efeitos retroactivos. Desta forma, se alguém tiver incorrido num crime desta natureza, digamos, a 1 de Outubro de 2015, não poderá ser condenado, porque nessa data a lei ainda não existia. Por uma questão de justiça para todos, é habitual as leis não terem efeito retroactivo.

No passado dia 11 de Novembro, Carrie Lam, Chefe do Executivo de Hong Kong, declarou que, de acordo com a prática da RAEHK, as leis não têm por norma efeitos retroactivos, sobretudo no que à lei criminal diz respeito. Estas declarações parecem indicar que em Hong Kong a versão local da Lei do Hino não terá efeitos retroactivos. Espera-se pois que a lei só venha a ter efeito a partir da data da sua implementação.

Mas Carrie Lam também apelou ao respeito pelo hino nacional e condenou qualquer forma de insolência. As suas palavras foram obviamente razoáveis, justas e necessárias.

Outra polémica que envolve esta lei prende-se com a consulta pública. Rita Fan, antiga Presidente do Conselho Legislativo, afirmou que não haveria necessidade de consulta pública porque hoje em dia alguns legisladores discordam sempre dos projectos de lei apresentados pelo Governo. Mesmo que o Governo fizesse uma consulta pública, este tipo de legisladores ia manifestar-se contra a versão local da Lei do Hino.

Antes de um projecto de lei subir ao Conselho Legislativo dá-se conhecimento da sua natureza através de uma consulta pública. Este procedimento está intimamente ligado ao espírito do Estado de Direito. Tem como objectivo notificar a população sobre as matérias legislativas a discutir no plenário. O Hino Nacional é um assunto da maior importância para a sociedade de Hong Kong. Todos os residentes, sem excepção, terão de obedecer à versão local da lei que regula a sua utilização. Como os conteúdos da versão local ainda não foram definidos, a consulta pública chamaria a atenção das pessoas e permitiria que deixassem as suas sugestões. Quanto mais sugestões forem feitas, mais claros serão os conteúdos da lei. Se o primeiro passo da legislação for omitido, estar-se-á a dar uma boa desculpa a alguns legisladores para vetarem a proposta de lei ou para pedirem uma revisão judicial nos Tribunais, alegando procedimentos legislativos incorrectos. Quanto mais tempo demorar a elaboração da versão local da lei, maior será a polémica à sua volta.

A Chefe do Executivo afirmou que em Hong Kong as leis não têm por norma efeito retroactivo. Como tal, esperamos que a versão local desta lei não venha a ser excepção. A consulta pública poderá evitar uma revisão judicial nos Tribunais por procedimento legislativo inadequado.

 

12 Dez 2017

Fórmula E : Hong Kong acelera este fim-de-semana

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]uas semanas depois do 64º Grande Prémio de Macau, no próximo fim-de-semana será a vez dos nossos vizinhos de Hong Kong organizarem o seu evento de automobilismo: o “Hong Kong ePrix”. Com mão de um arquitecto português, que deu uns retoques no circuito de Central.

A quarta temporada do Campeonato do Mundo FIA de Fórmula E, para carros eléctricos, arranca novamente aqui ao lado, num duplo evento que se divide pelos dias 2 e 3 de Dezembro, a disputar na zona do porto, tendo como pano de fundo os arranha-céus que dominam aquela parte do território. Com uma extensão de 1,86 km, o percurso desenha-se ao longo da Lung Wo Road, Man Yiu Street e Yiu Sing Street, naquela que será a segunda edição da prova.

A novidade para este ano é que as duas corridas vão cobrir distâncias diferentes (43 e 45 voltas) de forma a incluir um novo elemento estratégico de corrida, apesar da paragem nas boxes obrigatória para troca de carro, visto que as baterias ainda não aguentam uma corrida inteira, continuar em vigor.

Ao contrário do Grande Prémio de Macau, que tem várias corridas e categorias divididas por quatro dias do evento, o “Hong Kong ePrix” tem apenas duas corridas, uma no sábado e outra no domingo.

Com um orçamento aproximado superior a 150 milhões de Hong Kong dólares, este evento que era um velho sonho da Associação Automóvel de Hong Kong (HKAA), já é uma bandeira do turismo do território vizinho.

Com a mobilidade eléctrica a ganhar preponderância na indústria automóvel, o interesse dos grandes automóveis pela Fórmula E tem crescido. Audi, Jaguar, Mahindra, Renault e o Grupo Peugeot-Citroen já estão representadas oficialmente na Fórmula E, enquanto que a BMW, Mercedes-Benz, Nissan (no lugar da Renault) e Porsche irão juntar-se à festa nas duas próximas temporadas.

A temporada 2017/2018 da Fórmula E, competição que só corre em traçados citadinos, vai também passar por grandes cidades mundiais, como Nova Iorque, Montreal, Roma, Berlim ou Paris, estreando-se no universo lusófono, em São Paulo, e em Zurique, naquela que será a primeira prova de automobilismo de circuito na Suíça depois de sessenta anos de proibição.

 

Mãozinha portuguesa

O circuito de Hong Kong foi gizado pelo arquitecto português Rodrigo Nunes e mantém-se praticamente inalterado em relação à temporada passada, excepto no desenho da chicane entre as Curvas 3 e 4, a zona mais rápida da pista onde os pilotos poderão alcançar velocidades até aos 200 km/h.

“Fizemos alterações no desenho e construção da chicane e da curva 1. Tudo o resto irá manter-se como na primeira edição”, explicou o arquitecto português ao HM. “A chicane do ano passado tinha uma abordagem mais rápida do que tentamos por norma fazer devido a condicionalismos do local e do projecto. Este ano vamos fazer um movimento mais acentuado, obrigando os pilotos a travar mais cedo e por conseguinte entrar mais devagar. A definição do apex também será construído com a utilização de correctores integrados em maciços de betão o que irá obrigar os pilotos a cumprir com os limites do traçado.”

Relativamente à curva 1, esta será também alvo de uma reformulação ao nível do seu desenho, “na medida em que o raio interior irá ser reduzido consideravelmente dando mais espaço para os carros e consequentemente dando mais opções para os pilotos abordarem a curva. A construção será com o mesmo sistema de correctores integrados.”

Apesar de se queixarem das ondulações do asfalto e da sujidade da pista, este é um dos traçados favoritos dos pilotos.

 

Félix da Costa confiante

O campeonato Fórmula E reúne um leque de pilotos de luxo, alguns deles ex-Fórmula 1 e outros caras bem conhecidas do Grande Prémio de Macau, como o campeão Lucas di Grassi, Felix Rosenqvist, Edoardo Mortara ou Maro Engel. Outras das cara conhecidas do campeonato é António Félix da Costa, o único piloto português que venceu o Grande Prémio de Macau por duas ocasiões. O piloto de Cascais quer iniciar a temporada com o pé direito e está satisfeito por regressar à ex-colónia britânica.

“A cidade de Hong Kong é espectacular, é um lugar muito porreiro para começar a época. É fantástico estar de volta. Eu tenho muito carinho pela área de Hong Kong porque Macau é tão próximo e traz-me muitas boas memórias”, afirma o piloto que a BMW Motorsport emprestará novamente esta época 2017/2018 à MS&AD Andretti.

Depois de uma temporada 2016/2017 bastante complicada, dada à falta de competitividade dos monolugares da equipa norte-americana e onde só pontuou na prova de abertura em Hong Kong, Félix da Costa acredita que esta época será melhor, até porque a BMW colocou uma série de engenheiros ao serviço da formação do clã Andretti.

“Foi uma boa pré-época com a equipa MS&AD Andretti, todos temos trabalhado bem em conjunto e acredito que temos um futuro brilhante à nossa frente. Precisamos de abordar a temporada quatro com a força máxima e temos que nos comportar como uma equipa a sério. Veremos o que conseguiremos”, diz o português.

Para ver as corridas da Fórmula E em Macau terá que sintonizar na FOX Sports que continua a deter os direitos de transmissão televisivas do campeonato.

29 Nov 2017

Hong Kong : Legco pede devolução de salários a deputados desqualificados

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Conselho Legislativo de Hong Kong está a pedir a quatro ex-deputados a devolução dos salários e apoios financeiros auferidos durante nove meses, desde a tomada de posse em Outubro até os seus juramentos serem declarados inválidos em Julho. Os ex-deputados Lau Siu-lai, Nathan Law, Leung Kwok-hung e Edward Yiu devem individualmente ao Conselho Legislativo (LegCo) da antiga colónia britânica entre 2,7 e 3,1 milhões de dólares de Hong Kong, informa a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).

A decisão para tentar recuperar o dinheiro foi anunciada ontem pelo presidente do LegCo, Andrew Leung, após uma reunião especial da comissão do LegCo. “Temos de seguir a decisão do tribunal de primeira instância. E porque estão envolvidos fundos públicos, temos de agir com prudência nesta questão”, afirmou Andrew Leung.

O presidente do LegCo disse que a comissão vai enviar uma carta aos quatro deputados que perderam os respectivos assentos em Julho, os quais terão quatro semanas para responder. Leung admitiu que a tentativa de recuperar o dinheiro pode ser contestada em tribunal. O Tribunal Superior de Hong Kong indicou que a decisão para desqualificar os quatro ex-deputados pró-democracia tem efeitos retroactivos até Outubro, quando foram prestados os juramentos.

Entre os quatro desqualificados estão o radical Leung Kwok-hung, mais conhecido por “Long hair” (“cabelo comprido”) e a professora universitária Lau Siu-lai, que em Setembro recorreram da decisão do tribunal. Já os ex-deputados Nathan Law e Edward Yiu decidiram não apresentar recurso.

O LegCo está também a tentar recuperar 1,8 milhões de dólares de Hong Kong em salários e apoios financeiros de Sixtus Leung e Yau Wai-ching, os primeiros dois ex-deputados a serem desqualificados, em Novembro, pela forma como prestaram juramento. Estes dois jovens, que tinham sido eleitos pelo grupo localista ‘Youngspiration’, recusaram devolver o dinheiro e o LegCo avançou com uma acção na justiça.

O Conselho Legislativo de Hong Kong é composto por 70 deputados. Com a desqualificação de seis, todos eles do campo pró-democracia e anti-Governo, as forças pró-Pequim passaram a estar em maioria. Eleições intercalares vão ser realizadas em 11 de Março para preencher quatro dos seis lugares deixados vagos por desqualificação.

28 Nov 2017

Hong Kong | Uma em cada cinco pessoas é pobre

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] número de pobres em Hong Kong continua a subir e chegou a um valor recorde no ano passado, com um em cada cinco habitantes a viver abaixo do limiar da pobreza, de acordo com dados oficiais sexta-feira divulgados.

O limiar da pobreza é definido em metade da mediana do rendimento mensal por agregado familiar, de acordo com o tamanho do agregado.

Em 2016, este valor foi de 4.000 dólares de Hong Kong  por uma pessoa, 9.000 dólares de Hong Kong por duas pessoas e 15 mil dólares de Hong Kong por um agregado de três pessoas, noticia o jornal South China Morning Post.

Um relatório da Oxfam sobre gastos com a alimentação indica que uma pessoa deve gastar no mínimo 1.696 dólares de Hong Kong em comida por mês de modo a satisfazer as suas necessidades nutricionais básicas.

O relatório de 2016 sobre a Situação da Pobreza em Hong Kong revela que 1,35 milhões dos 7,35 milhões de residentes da cidade podem ser considerados pobres, um número superior ao registado em 2015, quando eram 1,34 milhões.

Hong Kong só começou a medir a pobreza entre os seus residentes em 2009, e os números do ano passado são os mais elevados em termos de valores absolutos.

“O envelhecimento da população e a redução do tamanho das famílias têm impulsionado a taxa de pobreza”, disse o número dois do Governo de Hong Kong Matthew Cheung Kin-chung, durante a divulgação do relatório anual, sexta-feira.

Cheung, que lidera a Comissão da Pobreza, indicou, porém, que os números do estudo podem estar sobrestimados, já que apenas os rendimentos, e não os bens, são avaliados.

Após serem tidos em conta os apoios do Governo, como a pensão para idosos ou segurança social, o número de pobres desce para 996 mil, o que representa menos 25 mil que em 2015.

20 Nov 2017

SARS | Doente zero da epidemia detectado em Hong Kong há 15 anos

Foi em Março de 2003 que o primeiro doente com a Síndrome Respiratória Aguda foi descoberto na zona de Kowloon Bay, em Hong Kong. Era o início da presença da epidemia que matou 299 pessoas na região vizinha e 800 em todo o mundo. Em Macau as fronteiras fecharam, houve poucos doentes e nenhuma morte. Rui Furtado, médico, recorda: “tivemos sorte, porque, se tivéssemos tido muitos doentes, as instalações que tínhamos não chegavam”

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m homem de 33 anos dormia no apartamento do seu irmão, localizado no Bloco E do edifício Amoy Gardens em Kowloon Bay, Hong Kong, depois de mais uma sessão de diálise. Nessa noite teve diarreia e voltou depois para Shenzen, sem saber que, já aí, era portador da Síndrome Respiratória Aguda (SARS).

Em Março de 2003 a SARS chegou a Hong Kong e depois a Macau, após já estar no mundo inteiro. As fronteiras fecharam e accionaram-se os mecanismos possíveis de prevenção e tratamento para uma epidemia da qual se sabia muito pouco.

Rui Furtado, médico, recorda que, à época, as instalações disponíveis no Centro Hospitalar Conde de São Januário não eram suficientes caso a RAEM tivesse tido a má sorte que atingiu Hong Kong, com a morte de 299 pessoas.

“Era uma situação nova, mas Macau seguiu os padrões para doenças infecciosas e epidemias. Criaram-se enfermarias próprias para receber esses doentes e felizmente houve poucos casos, mas tivemos sorte, porque se tivéssemos tido muitos doentes as instalações disponíveis não chegavam” contou ao HM.

Para Rui Furtado, a SARS deixou alertas para o futuro, a que não é alheio o facto do Governo estar a construir uma nova unidade para doenças infecto-contagiosas, a ser inaugurada em 2019.

“Criaram-se planos para evitar novas epidemias que ainda hoje estão em vigor. A construção da nova unidade para doenças infecto-contagiosas vem na sequência dessa situação.”

O médico português, que entretanto deixou de exercer funções no serviço público, recorda o grande desconhecimento que existia, não só junto da comunidade médica, mas também junto da população.

“Era uma epidemia de difícil controlo. As pessoas não sabiam como se tratava, foram tomadas medidas e o que resultou para o futuro é que passou a haver mais cuidado com as epidemias e com os cuidados primários. Houve mais atenção aos primeiros sinais epidémicos, passou a haver o controlo nas fronteiras. Depois da SARS houve outros casos. Criaram-se guias para se fazer a prevenção.”

Conferência em chinês

Paulo Azevedo, director-geral da empresa de media De Ficção Multimédia, era na altura chefe de redacção do diário Ponto Final e protagonizou um momento de revolta quando os SS decidiram, no âmbito da SARS, organizar uma conferência de imprensa sem tradução do chinês para português, deixando parte da população sem acesso a informações vitais sobre a epidemia.

“O Jornal Tribuna de Macau chegou a colocar esse caso na primeira página”, recordou Paulo Azevedo ao HM. “Houve uma conferência de imprensa dos SS no hospital Conde de São Januário e foi apenas em chinês. Eu ouvi os senhores, nem sequer havia tradução, levantei-me e disse que assim não valia a pena [estar ali], que não respeitavam a Lei Básica e que não estava ali a fazer nada, e fui-me embora.”

Na altura, “havia departamentos que utilizavam o português, e outros usavam umas vezes, outras não. Não era algo intencional. Era um pouco baldas, e ainda hoje é assim”, explicou Paulo Azevedo.

O residente em Macau recorda um período de medo em que todos se tentavam preparar para aquilo que viesse a acontecer. O desconhecimento era generalizado e os SS também tinham as suas falhas, como lembrou o jornalista.

“Estávamos todos preocupados, porque falava-se que podia ser uma peste tão grande como a peste espanhola que, no século XIX, dizimou centenas de milhares de pessoas. Era algo bastante novo. Estávamos a ver no que ia dar, a esperar que ninguém do nosso círculo mais próximo fosse atingido.”

“Havia notícias de mortes em todo o lado e não sabíamos mais nada. Tenho pena de o dizer, mas os nossos SS não são propriamente de topo mundial. Estávamos um pouco preocupados porque eram muitos mortos, em muitos países. Mas fazer o quê?”, referiu ainda.

Maior preparação

Mesmo que Macau esteja no caminho da integração regional, dado a existência de planos como da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, que vai representar um maior fluxo de pessoas e de comunicações, Rui Furtado acredita que haverá medidas preventivas suficientes em casos como o da SARS.

“A OMS tem guias para estas situações e Macau o que tem de fazer é seguir isso e saber alguma coisa além desses guias”, disse, sem esquecer que “nenhum território está preparado para responder a uma epidemia deste género”.

“Estas doenças não são todas iguais, tudo depende do número de casos. Se forem 20 casos, Macau está preparado, se forem 50 casos, Macau está mais ou menos preparado, mas se forem 500 ninguém está preparado. Se houver duas unidades de internamento cheias com este tipo de doentes, para onde vão as pessoas? Nunca se está plenamente preparado.”

Contudo, “para uma primeira fase para encarar uma epidemia, Macau está preparado”, frisou Rui Furtado.

Também o jornalista Paulo Azevedo acredita que hoje há uma maior resposta a situações como a de há 15 anos atrás.

“A OMS agora está mais atenta a estes vírus e epidemias. Primeiro foi a SARS, depois houve a febre das galinhas, por exemplo, e há uma maior atenção. A directora-geral é de Hong Kong (Margaret Chan). Há um outro tipo de alertas mais rápidos para os governos e direcções de saúde”, disse.

Num artigo recente sobre os 15 anos do paciente zero da SARS, a revista Time Out de Hong Kong lembrou que o hábito de usar máscaras na rua, tão comum em Pequim por causa da poluição, tem uma outra origem em Hong Kong e Macau. Todos tinham medo da SARS e essa era a primeira forma de protecção.

Depois da saída do paciente zero para Shenzen, 200 pessoas que viviam no edifício Amoy Garden foram hospitalizadas e diagnosticadas com a SARS. Só no final do mês de Março de 2003 é que o Governo decidiu implementar uma ordem de quarentena para todos aqueles que viviam no mesmo bloco de apartamentos onde tinha estado o infectado.

No total, Hong Kong registou 1755 ocorrências, e os casos do bloco Amoy Gardens representaram 20 por cento do total. No mundo houve mais de oito mil infectados.

A Time Out lembra ainda que a SARS começou a espalhar-se a partir da província de Guangdong, que demorou a comunicar o registo dos primeiros doentes com as autoridades de Hong Kong.

Em Macau, o Governo fez de tudo para evitar o contágio e a propagação. Chegaram a ser instalados detectores térmicos infra-vermelhos “para acelerar os trabalhos de despistagem de pessoas com sintomas suspeitos da doença, à entrada e saída das fronteiras do território”, referiam os comunicados oficiais da altura.

Em Abril de 2003, surgiu o primeiro caso de suspeita de contágio da SARS, que veio a revelar-se infundado. “Os SS acreditam, todavia, após averiguação detalhada e cuidadosa, que a notícia teve a ver com duas situações observadas: um toxicodependente de 26 anos de idade, que mora no Bairro da Areia Preta, com um abcesso pulmonar, e uma criança de 6 anos de idade, com nedio otitis”, refere um outro comunicado oficial.

13 Nov 2017

Hong Kong | Líderes do Occupy autorizados a recorrer de penas de prisão

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mais alto tribunal de Hong Kong deu ontem luz verde aos líderes estudantis pró-democracia Joshua Wong, Nathan Law e Alex Chow para recorrerem das sentenças de prisão pelo protesto que desencadeou a ocupação das ruas em 2014.

O Tribunal de Última Instância (TUI) aprovou ontem os pedidos de recurso numa sessão que demorou cerca de meia hora. A audiência do recurso foi ontem agendada para 16 de Janeiro de 2018, segundo os media de Hong Kong.

Em Agosto, Joshua Wong (21 anos) foi condenado a seis meses de prisão, Nathan Law (24 anos) a oito meses de prisão, e Alex Chow (27 anos) a sete meses, na sequência de um recurso do secretário para a Justiça.

Wong e Law foram libertados sob fiança no mês passado, depois de terem cumprido dois meses de prisão.

Na sessão de ontem, o tribunal estendeu a liberdade sob fiança Wong e Law e concedeu fiança a Chow, que não tinha ainda feito o pedido.

Esta é a última oportunidade dos três jovens activistas de recorrerem das penas de prisão a que foram condenados em Agosto, na sequência do pedido pelo governo da revisão das sentenças concedidas em 2015, que não incluíam então termos de prisão efectiva.

Para a História

O caso dos três activistas remonta a uma assembleia considerada ilegal em 26 de Setembro de 2014, quando os manifestantes escalaram barreiras metálicas e entraram na Praça Cívica, nas imediações da sede do Governo e Conselho Legislativo.

Esse protesto em prol da democracia e do sufrágio universal esteve na origem da ocupação de várias zonas de Hong Hong durante 79 dias até meados de Dezembro de 2014.

Os advogados dos três líderes estudantis vão apresentar os argumentos pelos quais consideram que as sentenças de prisão são inapropriadas.

Caso percam os recursos, os jovens activistas terão de cumprir o restante tempo das penas de prisão a que foram condenados em Agosto.

Rosto da fé

Joshua Wong disse numa entrevista na semana passada à Associated Press que havia boas hipóteses de voltar para a prisão, fosse pelo caso do protesto na Praça Cívica ou pelo julgamento de outro caso em que também está envolvido.

“Haverá mais ocasiões no futuro em que grupos de jovens vão para a prisão, mas vamos continuar a manter a fé e trabalhar em conjunto para lutar pela democracia”, disse Wong nessa entrevista.

Joshua Wong ficou conhecido como o rosto dos protestos pró-democracia há três anos contra a decisão de Pequim para restringir as eleições para o líder do governo de Hong Kong.

Então ainda adolescente, Joshua Wong é a personagem principal de um documentário da Netflix que pode entrar na corrida aos Óscares.

As prisões efectivas dos jovens activistas fizeram disparar as preocupações sobre a independência do sistema judiciário da cidade.

Ao abrigo do princípio “Um país, dois sistemas”, Pequim prometeu deixar Hong Kong manter o elevado grau de autonomia e liberdades após a transição da soberania britânica para a chinesa em 1997.

Parte da população que está descontente com a alegada interferência de Pequim nos assuntos da cidade acusa os líderes chineses de violarem a sua promessa.

8 Nov 2017

Justiça ameaçada

[dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]ecentemente soube-se por um jornal de Hong Kong que um homem, empunhando uma faca, tinha ameaçado um juiz no Supremo Tribunal.

Operário da construção civil, Yu Zulin, de 53 anos, foi acusado de ameaçar o juiz Wilson Chan Ka-shun, com insultos pessoais, numa tentativa de intimidação. Os acontecimentos ocorreram dia 17 deste mês, nas instalações do Supremo Tribunal. O homem, que se encontrava apenas a dois metros de distância do juiz, empunhava uma faca de 20cm de comprimento. O juiz estava no Tribunal para presidir ao julgamento de um caso de Direito Civil.

Por volta das 10h da manhã, Yu encontrava-se na galeria pública da sala de audiências nº 13, onde o juiz Wilson presidia ao julgamento. De repente, Yu puxou de uma faca e gritou para o juiz em mandarim:

“Vendido! Pensavas que eu não te ia encontrar!”

O juiz não respondeu e abandonou a sala de imediato. Nessa altura Yu também saiu a correr. Os funcionários do Tribunal chamaram a polícia. Quase de imediato chegaram ao local dezenas de polícias que se puseram à procura do homem.

Polícias à paisana fizeram buscas em todos os andares do edifício, inclusivamente no 5º andar, onde o antigo Chefe do Executivo  Donald Tsang Yam-kuen estava a ser julgado por corrupção. A audiência não foi interrompida.

O Inspector-Chefe Dilys Lo Shui-lin, da Polícia Central, comunicou que tinham revistado o edifício por duas vezes, mas que não tinham encontrado ninguém suspeito.

Yu acabou por se render ao fim de oito horas. Na esquadra explicou à polícia as razões do seu comportamento e foi conduzido ao Tribunal de Magistrados, no passado dia 19. O delegado do Ministério Púbico declarou,

“Este crime foi planeado, ao contrário de outras situações de ameaça.”

Yu foi preso pelo crime de intimidação. O apelo para sair em liberdade condicional foi rejeitado pelo Tribunal de Magistrados.

No entanto Yu afirmou que:

“Agi por impulso. Peço desculpa ao juiz e à população de Hong Kong pelos meus actos. Estou arrependido. Não vou oferecer resistência.”

Este caso resume-se à insatisfação de alguém com a sentença de um juiz e que, em consequência disso, o ameaça.

Em Hong Kong, existe um sistema bem estruturado que permite apresentar queixa da actuação dos magistrados, caso a pessoa se sinta lesada por uma decisão injusta. Nessa altura o juiz será sujeito a um inquérito. Teria sido melhor para Yu se se tivesse informado sobre o funcionamento do sistema legal de Hong Kong, antes de ter partido para acções desadequadas.

Agora Yu vai ter de enfrentar consequências graves. Como afirmou o delegado do Ministério Público, este caso excede a acção de intimidação habitual. Foi premeditado e houve intenção de agressão. Em causa está, não só, a ameaça feita ao juiz, mas também o estado de direito em Hong Kong. De acordo com a seriedade da situação, a hipótese de o réu vir a ser preso é elevada. A sentença não se limitará ao pagamento de uma multa. A data para o encarceramento do réu será anunciada posteriormente pelo magistrado.

Como já referimos por diversas vezes, condenamos em absoluto qualquer tipo de ameaças feitas a representantes da justiça. Devemos dar o nosso melhor para que sejam criadas todas as condições que permitam aos juízes deliberar de acordo com a lei. Qualquer demonstração de desagrado em relação às decisões do juiz, dentro ou fora da sala de audiências, ou qualquer tipo de ameaça, são comportamentos condenáveis.

Se o juiz:

for pressionado, ou
sentir que a sua vida corre perigo, ou
sofrer qualquer represália pós julgamento, ou
for despedido na sequência de uma sentença

acabará por ficar condicionado e deixa de haver garantias de que as suas decisões não estão a ser determinadas pelo medo. O interesse da justiça deixará de estar protegido. Será isto a que queremos assistir?

As situações que atrás mencionámos devem ser evitadas, porque só assim o juiz estará livre para deliberar de acordo com a lei, sem qualquer tipo de pressão. O interesse das partes envolvidas estará protegido e as pessoas acreditarão que a lei é um instrumento de que nos servimos para resolver contendas. Se a população confiar nas decisões dos juízes, o estado de direito fica garantido. É preciso que nunca nos esqueçamos que o “estado de direito” não se impõe pelas armas, mas sim pela nossa crença na sua necessidade.

Embora o caso relatado não seja complexo, não deixa de ser muitíssimo sério. Se toda a gente que fica insatisfeita com a decisão de um Tribunal agisse desta forma, imagine-se o tipo de sociedade que teríamos.

31 Out 2017

Fronteira | Figuras de Hong Kong não compreendem proibições de entrada

Kenneth Chan, docente e deputado, e Martin Lee, fundador do Partido Democrático de Hong Kong, dizem não compreender as proibições de entrada em Macau a activistas, deputados e jornalistas. Isto porque, na China, nunca se verificou esta questão

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]uito antes das autoridades de Macau terem barrado dezenas de pessoas na fronteira em poucos meses, já Kenneth Chan tinha sido proibido de entrar no território. Professor associado da Universidade Baptista de Hong Kong, Kenneth Chan é presidente do Partido Cívico, além de deputado. Ao HM, disse não compreender a decisão das autoridades de Macau em barrar activistas, deputados ou mesmo jornalistas.

“Claro que me senti muito infeliz e frustrado sobre a decisão”, contou à margem do ciclo anual de conferências promovido pela Associação de Ciência Política de Hong Kong.

“Nunca fui proibido de entrar na China mas fui proibido de entrar em Macau, o que é muito interessante e também contraditório. O significado da política ‘Um País, Dois Sistemas’ é permitir que Macau e Hong Kong sejam territórios diferentes da China. São cidades irmãs, é mesmo desnecessário banirem pessoas como eu, activistas políticos ou mesmo jornalistas”, defendeu.

Até agora o Governo da RAEM nunca confirmou a existência de uma lista negra de pessoas e nunca deu esclarecimentos claros sobre as proibições na fronteira.

“Estamos perante uma mistura de questões relacionadas com Macau e o continente. As autoridades foram alertadas para terem cuidado, para estarem atentas ao facto das pessoas de Hong Kong puderem causar alguns problemas. Eles perceberam a mensagem, mas a maneira como reagem é exagerada”, acrescentou.

Kenneth Chan recorda a conversa que teve com as autoridades para dizer que talvez Macau tenha receio de arcar com responsabilidades.

“Estive uma hora na fronteira. A questão que me foi colocada foi se eu ia para a China via Macau. E eu respondi que não precisava de fazer isso, posso viajar para lá de onde eu quiser. Isto significa que as autoridades podem recear que se faça algo de errado na China e que as culpas acabem por cair em Macau.”

“E é também desnecessário, todos têm de assumir as suas responsabilidades em termos de comportamento e não temos quaisquer intenções de causar problemas em Macau”, frisou Kenneth Chan.

Do exagero

Martin Lee, fundador do Partido Democrático de Hong Kong e considerado o pai do movimento democrático na RAEHK, foi um dos oradores na conferência anual e não teve dúvidas em afirmar que “a maior parte das pessoas que foram proibidas de entrar em Macau podem entrar na China”.

“Não compreendo porque é que o Governo de Macau tem vindo a exagerar nesta questão”, acrescentou ao HM.

Para Martin Lee, os dois territórios são diferentes, mas em ambos a democracia é importante.

“Esta diferença é interessante. Muitas pessoas dizem em Hong Kong para não lutarmos contra Pequim pela democracia. Que quanto mais lutamos, menos temos, e se formos obedientes vão-nos dar mais coisas, e que há o exemplo de Macau. São bons rapazes, não causam transtornos ao Governo Central, mas será que merecem menos democracia do que nós? A resposta é não. Se queremos democracia temos de lutar, fazer sacrifícios e ir para a prisão se for preciso”, frisou.

Sem radicalização

Kenneth Chan garante que não há qualquer tentativa de mudar as mentalidades do campo pró-democracia de Macau, que já mostrou, aliás, estar afastado do movimento pró-independência de Hong Kong.

“Em Macau acredita-se que nós iremos radicalizar o campo pró-democracia, em grupos ou mesmo individualmente. Mas, vá lá, deveriam ter um pouco mais de fé nas pessoas de Hong Kong (risos) e confiar nas suas próprias pessoas”, ironizou.

O político e docente adiantou que barrar pessoas na fronteira não muda nada, porque, afinal de contas, a população de Macau continua a ter acesso aos jornais e canais de televisão da região vizinha.

“Podem compreender o que estamos a fazer e o que defendemos. Se é essa a razão, se não querem que haja uma ligação, então cortem o acesso às notícias, proíbam todas as pessoas de entrar. Até onde iremos? O próximo passo seria Macau considerar que as notícias de Hong Kong são demasiado perigosas para serem lidas ou ouvidas. Isso seria o fim de Macau e da política ‘Um Pais, Dois Sistemas’”, concluiu Kenneth Chan.

26 Out 2017

Hong Kong | Dois activistas presos em Agosto saem sob caução

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ois activistas de Hong Kong foram ontem libertados sob caução depois de o tribunal ter deferido os recursos das respectivas sentenças por um protesto que iniciou a ocupação das ruas em 2014 em defesa do sufrágio universal.

O Tribunal de Última Instância pronunciou-se a favor de Joshua Wong e Nathan Law, de acordo com uma publicação na página do Facebook do seu partido político (Demosisto) e segundo a imprensa local.

Os dois activistas passam agora a estar obrigados a apresentarem-se à polícia uma vez por semana e a entregarem os documentos de viagem. Os recursos vão ser analisados a 7 de Novembro.

Um terceiro líder estudantil, Alex Chow, que também foi condenado e preso pelo mesmo caso não recorreu da sentença.

A estação pública Rádio e Televisão de Hong Kong (RTHK) noticiou que o juiz Geoffrey Ma, que preside ao Tribunal de Última Instância, requereu uma caução de 50.000 dólares de Hong Kong a cada um dos activistas.

Dezenas de apoiantes esperaram pelos dois jovens no exterior do tribunal, onde também estava instalado um grande aparato mediático.

Joshua Wong, de 21 anos, e Nathan Law, de 24 anos, foram condenados em Agosto a seis e a oito meses de prisão, respectivamente, uma sentença agravada após um recurso do Departamento de Justiça de Hong Kong da decisão judicial de há um ano.

Na mesma decisão de Agosto foi também condenado o antigo dirigente da federação de estudantes Alex Chow (27 anos) a sete meses de prisão.

O recurso interposto pelo Governo teve lugar depois de Wong e Law já terem cumprido o serviço comunitário a que tinham sido sentenciados no ano passado. Alex Chow tinha sido condenado a três semanas de prisão, mas com pena suspensa.

Revolução falhada

A prisão de Wong, Chow e Law pelos seus papéis no movimento ‘Occupy’, que ficou conhecido como ‘Umbrella Revolution’ [revolução dos guarda-chuvas] em Hong Kong desencadeou protestos na cidade e também a nível internacional.

Os activistas Wong e Law recorreram das respectivas sentenças menos de um mês depois de terem sido presos em Agosto.

Wong e Chow tinham sido previamente declarados culpados de assembleia ilegal e Law, também de incitar outros a participar em assembleia ilegal, por invadirem uma área no exterior da sede do governo, e Conselho Legislativo, conhecida como Praça Cívica, no âmbito de um protesto a 26 de Setembro de 2014.

Este protesto marcou o início da ocupação das ruas em Hong Kong em 2014, uma acção que se estendeu por 79 dias, para exigir o sufrágio universal na eleição para o chefe do Executivo.

As imagens da ‘revolução dos guarda-chuvas’ correram mundo, mas o movimento falhou.

Os democratas não conseguiram que Pequim abdicasse da pré-selecção dos candidatos e rejeitaram a proposta de reforma política, mantendo o método de voto como estava.

A eleição para o chefe do Executivo continuou este ano a ser realizada por um colégio eleitoral de apenas 1.200 membros.

Desde então não foram poucos os tumultos a que a cidade assistiu, desde o desaparecimento de cinco livreiros que publicavam livros críticos do regime chinês, passando pelo emergir de movimentos independentistas e pela interferência de Pequim para afastar do cargo dois deputados eleitos pela população.

Nathan Law, que se tornou o mais jovem deputado eleito em Setembro de 2016, foi um dos seis deputados desqualificados nos últimos meses pela forma como prestaram juramento no parlamento da cidade.

25 Out 2017

Britânico quis “testar” aviso de que seria impedido de entrar em Hong Kong

[dropcap style≠‘circle’]U[/dropcap]m activista britânico, impedido de entrar em Hong Kong na quarta-feira, afirmou ontem que quis “testar” se era real o aviso que disse ter recebido de Pequim de que podia não ser autorizado a entrar na região.

Em entrevista à Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK), Benedict Rogers disse que, antes da viagem para a antiga colónia britânica, tinha sido avisado de que podia não passar no controlo da imigração, apesar de ter garantido na embaixada chinesa em Londres de que a visita à cidade era a título pessoal.

“Eu não sabia se o aviso era grave, ou se era apenas uma ameaça para me fazer desistir de ir. Mas eu assumi que se fosse uma ameaça séria, então [as autoridades] chinesas tinham de fazer isto publicamente e oficialmente e aos olhos do mundo”, disse Rogers.

“Queria ver o que acontecia. Eu queria testar, (…) se desistisse naquela altura e dissesse que não ia para Hong Kong porque a embaixada chinesa me disse para não ir, então ninguém ia saber da interferência da China nas políticas de imigração em Hong Kong”, sublinhou.

Rogers, que é vice-presidente da comissão de Direitos Humanos do Partido Conservador britânico, viveu em Hong Kong durante cinco anos (1997-2002).

 

Embaraços diplomáticos

O activista está no centro de uma disputa diplomática entre o Reino Unido e a China desde que na quarta-feira foi impedido de entrar na região administrativa especial chinesa, sem nenhuma explicação oficial.

Rogers admitiu que esteve nos últimos meses a preparar a criação de uma organização sem fins lucrativos com o objectivo de permitir às pessoas de Hong Kong falar sobre a “erosão das liberdades”.

O activista afirmou que não estava a tentar visitar Hong Kong em nome do Governo britânico, tendo acrescentado que tinha desistido do plano de visitar na cadeia o líder estudantil Joshua Wong, o rosto dos protestos pró-democracia em 2014.

Em reacção ao caso, a chefe do executivo, Carrie Lam, disse na semana passada que os assuntos de imigração são da competência do Governo de Hong Kong, mas que qualquer pessoa pode ser impedida de entrar na cidade, caso Pequim considere tratar-se de uma questão de relações externas.

Londres pediu explicações “urgentes” sobre o caso e Pequim disse na semana passada que é da sua soberania decidir quem pode entrar em território chinês e que tem a responsabilidade de todas as relações externas relacionadas com Hong Kong.

Segundo a Lei Básica (miniconstituição) do território, há duas matérias que são da competência do Governo central: as relações externas e a defesa. A imigração é da responsabilidade de Hong Kong.

Hong Kong passou para a soberania chinesa em 1997, sob o princípio “Um país, dois sistemas”, ao abrigo do qual o território goza de elevado grau de autonomia e de liberdades e garantias não observadas na China.

As vozes críticas acusam a acção de Pequim, denunciando o que consideram ser a interferência do Governo central nos assuntos de Hong Kong com a conivência do governo local.

A sensação de erosão das liberdades na cidade tem sido contestada através de significativos protestos populares e pela oposição, cada vez mais acérrima, dos grupos parlamentares do chamado campo democrático.

17 Out 2017

Estender a mão a quem precisa

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Governo de Hong Kong lançou em meados de Setembro um projecto de habitação social temporária, designado por “Programa de Alojamento Comunitário”. Através desta iniciativa serão entregues cerca de 340 apartamentos à organização de solidariedade social “Hong Kong Council of Social Service” (HKCSS). Os apartamentos serão distribuídos por cidadãos com baixos rendimentos, permitindo-lhes assim ter acesso a uma habitação com uma renda acessível. Será uma solução temporária para os problemas de alojamento destas pessoas.

O porta-voz desta iniciativa declarou que a renda virá a representar cerca de um quarto do rendimento dos locatários, ou mesmo menos. Desta forma, a renda da casa vai deixar de representar uma dor de cabeça para os beneficiários.

No entanto, esta solução não vai ser definitiva. Mal lhes seja atribuída uma habitação social, à qual são candidatos, vão ter de deixar os apartamentos.

Mas nem todos os apartamentos disponibilizados pelos proprietários podem ser usados pela HKCSS. Nestas circunstâncias, o ideal é a casa estar pronta a ser usada sem necessidade de reparações. Mas evidentemente, parte destes apartamentos vão precisar de obras. Caso contrário, serão inabitáveis. A HKCSS sublinha que só fará reparações simples e baratas. Não podem implicar quaisquer luxos.

A HKCSS adianta que o projecto deverá vir a expandir-se. Para além de se procurar mais senhorios dispostos a disponibilizar os apartamentos, a organização vai tentar obter a doação de terrenos baldios junto dos seus proprietários. Estes espaços deverão ser usados para colocação de contentores, onde também é previsto alojar estas pessoas. Não será permitido colocar mais de quatro contentores em fila.

Considera-se que um apartamento está desocupado quando, num determinado período de tempo, o seu dono não faz uso dele. O mesmo conceito aplica-se aos terrenos. Portanto, o projecto centra-se na ocupação temporária, por pessoas necessitadas, de casas e terrenos desocupados.

Os candidatos a este programa têm de preencher um certo e determinado número de requisitos. Em primeiro lugar, é necessário estarem à espera de habitação social há, pelo menos, três anos.

A partir desta informação podemos compreender de que forma se pode dar melhor uso à propriedade imobiliária em Hong Kong – uma região com uma carência extrema de terrenos para construção. Este plano demonstra como casas e terrenos desocupados podem servir os mais desfavorecidos. É uma situação em que todos saem a ganhar.

Esta medida recebeu o aplauso da população. É a prova de que ainda existem pessoas preocupadas com a situação dos mais pobres. Estas pessoas foram capazes de doar os seus recursos para providenciar às necessidades de quem precisa e proporcionar-lhes uma vida melhor. Embora estes benfeitores venham a receber uma renda, esta será relativamente pequena, se comparada com o preço de mercado. Este gesto significa amor ao próximo e preocupação com o bem-estar social.

Mas será que os contentores serão adequados para alojar pessoas? Até ao momento ainda não conseguimos obter uma resposta. Deverão ser feitos testes de viabilidade das instalações e em seguida poderemos pronunciar-nos. Mas, seja como for, é uma boa ideia e vale a pena ser experimentada.

Este projecto oferece uma solução a curto prazo. Se estabelecer uma sinergia entre as propriedades desocupadas e as necessidades dos mais desfavorecidos, podemos afirmar que pode vir a proporcionar uma utilização plena dos recursos imobiliários de Hong Kong. No entanto, não nos podemos esquecer que é um plano que oferece uma solução temporária. Numa perspectiva a longo prazo, se os recursos imobiliários de Hong Kong não se puderem expandir consideravelmente, o problema fundamental vai persistir.

Acrescente-se ainda que neste plano existem vários pormenores por esclarecer. Por exemplo, será que o Governo vai conceder benefícios fiscais aos doadores de casas e terrenos? Se os ocupantes danificarem as propriedades e não conseguirem pagar o prejuízo, quem assumirá a responsabilidade? Estas questões terão de ser consideradas.

Mas, a partir deste projecto, podemos concluir que Hong Kong tem espaço para os afectos. Esperamos que mais projectos desta natureza possam vir a surgir. Termos gente em Hong Kong capaz de estender a mão a quem precisa demonstra a generosidade desta cidade.

Estas acções caritativas são sempre bem-vindas em qualquer lugar.

17 Out 2017

Hong Kong | Carrie Lam liga recusa de entrada de activista britânico a Pequim

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, ligou ontem a recusa de entrada do activista britânico Benedict Rogers na região a uma eventual decisão de Pequim, num programa da Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).

Benedict Rogers, que é vice-presidente de um comité de direitos humanos do Partido Conservador e um crítico da China, foi impedido de entrar em Hong Kong depois de aterrar na cidade proveniente de Banguecoque na quarta-feira, dia em que Carrie Lam apresentou as políticas do seu Governo para o próximo ano.

Questionada num programa radiofónico sobre se Pequim tinha tomado a decisão de impedir a entrada de Rogers em Hong Kong, Carrie Lam respondeu: “Não posso revelar detalhes, mas de acordo com a Lei Básica (miniconstituição), o Governo central é o responsável pelas relações externas. Espero que todos consigam entender isso”.

Segundo a Lei Básica, há duas matérias que são da competência do Governo central: as relações externas e a defesa. A imigração é da responsabilidade de Hong Kong.

Carrie Lam não respondeu se a decisão da recusa de entrada do activista na região chinesa foi tomada no âmbito das relações externas, mas disse que a Lei Básica de Hong Kong não confere um elevado grau de autonomia em todos os aspectos.

“A autonomia [de Hong Kong] não quer dizer tudo, não é isso que está escrito na Lei Básica”, afirmou.

“É preciso ver se o processo de imigração envolve relações externas”, disse.

Estas declarações no programa radiofónico têm lugar um dia depois de Carrie Lam se ter escusado a comentar o incidente.

“Não faço comentários sobre casos individuais de entradas [no território]. Estou certa de que esta é uma questão das autoridades da imigração”, disse, numa conferência de imprensa após à apresentação das suas primeiras linhas de acção governativa no Conselho Legislativo (LegCo).

Carrie Lam lidera o executivo de Hong Kong há três meses, depois de ter sido eleita em Março deste ano.

Ecos da ilha

Londres já pediu explicações sobre o impedimento de entrada do activista na antiga colónia britânica.

Rogers viveu em Hong Kong entre 1997 e 2002.

Além de criticar a prisão dos activistas Joshua Wong, Nathan Law e Alex Chow, do movimento pró-democracia que tomou as ruas de Hong Kong em 2014, o britânico também manifestou preocupação com o que considera ser a deterioração do princípio “Um país, dois sistemas”, ao abrigo do qual o território goza de elevado grau de autonomia e de liberdades e garantias não observadas na China.

O The Guardian citou Rogers a dizer que não lhe tinha sido dada qualquer explicação sobre a recusa de entrada em Hong Kong.

“É absolutamente bizarro… Eu recebi um aviso de que isto podia acontecer, por isso estava mentalmente preparado, mas estava à espera que não acontecesse. Sinto-me muito chocado”, disse Rogers ao jornal britânico após ter sido impedido de entrar na Região Administrativa Especial chinesa.

13 Out 2017

Hong Kong | Reforma política só quando CE for respeitado, defende Carrie Lam

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Chefe do Executivo de Hong Kong disse ontem que a reforma política só será relançada quando quem liderar o governo for tratado com respeito por todos os deputados ao entrar no Conselho Executivo.

“Tem de haver a condição certa para avançar com questões controversas, caso contrário, Hong Kong será novamente arrastado para o fundo”, disse Carrie Lam, citada pela Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).

Em conferência de imprensa, Carrie Lam criticou alguns deputados do campo democrata por gritarem palavras de ordem e protestarem aquando da sua entrada no Conselho Legislativo (LegCo) na manhã de ontem para apresentar as suas primeiras linhas de acção governativa para o próximo ano.

Em 18 de Junho de 2015, o campo pró-democrata chumbou a proposta de reforma política para a eleição do Chefe do Executivo de Hong Kong, por discordar de Pequim, que aceitava o sufrágio universal desde que os candidatos ao cargo fossem pré-seleccionados.

Com a rejeição do plano de reforma política, manteve-se o ‘status quo’, ou seja, em Março deste ano, a actual chefe do Executivo de Hong Kong foi eleita por um comité de cerca de 1.200 membros, com um total de 777 votos.

Carrie Lam disse que nos últimos três meses, desde que tomou posse a 1 de Julho, tem trabalhado bastante para demonstrar o seu respeito pelo Conselho Legislativo: “Tenho trabalhado arduamente todos os dias para melhorar a minha relação com o Conselho Legislativo. Mas como é que eles me trataram hoje quando eu entrei no Conselho Legislativo?”

“Então isso é o que eu quero dizer sobre a condição certa. Digamos que um dia, quando entrar no Conselho Legislativo, todos os membros da Legco pelo menos demonstram algum respeito mínimo, talvez esse seja a altura adequada para abordar questões tão controversas”, disse.

Feridas abertas

Nas linhas de acção governativa para 2018, Carrie Lam escreveu que “o movimento ilegal Occupy Central lançado por algumas pessoas levou a conflitos sociais e afectou gravemente o desenvolvimento económico e social de Hong Kong”.

“Enquanto Chefe do Executivo responsável (…), compreendo totalmente as aspirações da sociedade, em particular da geração mais jovem, ao sufrágio universal. Contudo, não podemos ignorar a realidade e embarcar impulsivamente na reforma política uma vez mais”, referiu.

As primeiras linhas de acção governativa da primeira mulher chefe do Executivo de Hong Kong incluíram, entre outras, medidas políticas para a construção de mais habitação pública e subsídios de transportes.

Carrie Lam terminou o discurso afirmando que Hong Kong “não está longe” da sua visão da cidade como um lugar “de esperança e felicidade”.

Hong Kong “não perdeu as suas vantagens intrínsecas. As pessoas de Hong Kong continuam a ser brilhantes e o espírito de Hong Kong não foi corroído”, disse, ao concluir a apresentação das suas primeiras linhas de acção governativa.

O líder do Partido Democrático de Hong Kong, Wu Chi-wai, disse à RTHK que estava desiludido com as primeiras linhas de acção governativa de Carrie Lam.

“Ela não pensou que o problema vem da estrutura política. Ela acusou que o problema que temos, de uma sociedade dividida, é basicamente por causa do movimento Occupy Central”, afirmou Wu Chi-wai.

12 Out 2017

Novas regras contra bloqueios parlamentares em Hong Kong

[dropcap style≠'circle']O[/dropcap] Conselho Legislativo de Hong Kong vai adoptar esta semana novas medidas para prevenir bloqueios nas reuniões da comissão das finanças, foi ontem anunciado.

De acordo com a emissora pública de Hong Kong RTHK, o líder da comissão, Chan Kin-por, disse que as novas directivas vão ser emitidas na sexta-feira, de modo a alterar as regras sobre as reuniões, incluindo a possibilidade de banir deputados indisciplinados durante um dia.

Chan disse considerar a possibilidade de estender a proibição a mais de um dia em casos extremos. Nesse caso, o presidente da comissão deve apresentar uma justificação, indicou.

As novas regras devem entrar em vigor no próximo dia 21.

Chan desvalorizou as preocupações do campo pró-democracia de que a sua capacidade de monitorização venha a ser reduzida, argumentando que pretende ver o oposto acontecer.

“O que eu quero é cortar o tempo [gasto] a argumentar sobre procedimentos e usar esse tempo para fazer perguntas ao Governo”, disse.

“O que não é bom ou apropriado é ver dirigentes do Governo ali sentados, sem fazer nada, enquanto os membros estão a argumentar uns com os outros sobre procedimentos”, disse Chan.

10 Out 2017

Relatório | Congresso dos EUA alerta para proibições na fronteira entre Hong Kong e Macau

O mais recente relatório do Congresso norte-americano chama a atenção para os últimos casos de proibição de entrada em Macau de jornalistas e deputados de Hong Kong, sem ignorar a ausência de um calendário para a implementação do sufrágio universal. Sonny Lo e Leonel Alves alertam para as especificidades do território. Governo rejeita acusações

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]ornalistas que queriam cobrir o impacto causado pelo tufão Hato, deputados do Conselho Legislativo de Hong Kong do campo pró-democrata, que vinham passar férias ao último enclave português a oriente e que viram a sua entrada negada. Estes foram alguns casos de proibições na fronteira que aconteceram nos últimos meses e que são citados no último relatório do Congresso dos EUA, que fala nas ausências de definições na lei em vigor.

“Durante este ano, o Governo de Macau continuou a negar a entrada a alguns políticos do campo pró-democracia e activistas de Hong Kong. A lei de segurança interna permite às autoridades a recusa da entrada de não residentes ‘que sejam considerados inadmissíveis ou que possam constituir uma ameaça para a estabilidade da segurança interna’. Contudo, a lei não define essa inadmissibilidade ou o que é que pode constituir uma ameaça à segurança de Macau”, pode ler-se.

O Executivo de Macau, contudo, já veio rejeitar estas acusações em comunicado oficial, afirmando repudiar “terminantemente o relatório”. O mesmo documento frisa também que o território pertence à China e “nenhum país estrangeiro tem o direito de ingerência nos seus assuntos internos”.

“Desde o regresso de Macau à Pátria, o princípio de ‘Um país, Dois sistemas’ e a Lei Básica têm sido implementados em pleno, no território, e a RAEM desenvolveu-se e registou resultados notórios”, sublinhou, considerando que o relatório “tece comentários irresponsáveis”.

Interferência indesejada

Ao HM, o deputado e advogado Leonel Alves também considera tratar-se de uma interferência nas questões internas de Macau. Em jeito de resposta, o último massacre ocorrido em Las Vegas, que vitimou cerca de meia centena de pessoas, surge-lhe imediatamente no discurso.

“Gostaria de questionar quando é que o governo norte-americano decide banir a venda de armas. Há uma ingerência nos assuntos internos de outro país. O que causa um grande espanto a nível mundial é a venda de armas a toda a gente, o que constitui um perigo. Penso que é uma ingerência. Porque é que os EUA se hão-de intrometer nos assuntos de outros países?”, questionou.

O deputado, que assume essas funções até ao próximo dia 15 de Outubro, deixando depois a Assembleia Legislativa, recorda que Macau “tem a sua própria contextualidade e características do sistema político”.

“Este tem de evoluir de forma gradual e harmoniosa e a imposição de valores norte-americanos, num território como Macau, pode trazer muitos problemas para a população.”

Sobre as proibições na fronteira, Leonel Alves defende que deve existir “bom senso”.

“Tratam-se de questões de segurança interna, não sabemos os estudos ou as informações que o Governo tem, barrando a entrada de determinadas pessoas. Em alguns casos haverá um exagero, uma vez que chegou-se a proibir a entrada de uma criança cujo nome tinha algumas parecenças com alguém suspeito. O bom senso tem de imperar.”

Leonel Alves alerta ainda que, quanto à proibição de jornalistas e deputados, “não sabemos qual o relatório que as autoridades têm e qual o grau de perigosidade dessas pessoas”. “Mas para que tudo corra de uma forma satisfatória o bom senso deve imperar e devem ser implementadas medidas concretas”, frisou.

Uma questão de perspectiva

Sonny Lo, analista político baseado em Hong Kong, adiantou que, no que diz respeito às proibições na fronteira, tudo depende da visão de cada território.

“Se olharmos para a perspectiva da aplicação da lei em Macau, essas pessoas foram proibidas de entrar por razões de segurança. Mas, da perspectiva estrangeira, e uma vez que a democracia se refere à ampla liberdade de movimento das pessoas de um lugar para o outro, então estas restrições de entrada em Macau são curiosas e intrigantes para a perspectiva dos norte-americanos.”

Por outro lado, Bill Chou, activista e académico na área da ciência política, também baseado em Hong Kong, acredita que estas proibições à entrada de Macau “são, de certa forma, uma violação da liberdade dos jornalistas e de expressão”. “Sem os media de fora, muitas coisas nunca teriam uma cobertura”, concluiu.

Alguma mudança?

Scott Chiang, presidente da Associação Novo Macau, recorda que algumas das recomendações produzidas por este relatório não são novidade. Uma análise negativa por parte dos norte-americanos ao sistema político local pode, no mínimo, levar as pessoas a reflectir e a agir, defendeu o activista.

“O Governo, ligado a pessoas do campo pró-Pequim, mais uma vez criticou o relatório e afirmou que interfere com os assuntos internos do território. Penso que parte do que o relatório afirma é verdade e apreciamos que as pessoas fora de Macau tenham em consideração o que acontece aqui.”

“Há um feedback negativo deste circulo internacional e questiono se será ou não positivo. Penso que, de tempos a tempos, a existência de incentivos, criticismo ou opinião da comunidade internacional pode ajudar Macau a não ter a mesma posição.”

Bill Chou não espera grandes efeitos práticos com a publicação deste relatório oficial. “Não vai existir uma verdadeira pressão internacional junto do Governo de Macau. No que diz respeito a pressões internacionais, a China surgirá sempre em primeiro lugar”, concluiu.

 

 

 

Sufrágio universal: a ausência de um calendário

Outro ponto abordado no relatório produzido pelo Congresso norte-americano prende-se com a ausência de eleições mais democráticas em Macau. É recomendado que os governos da China e de Macau “estabeleçam um calendário para a implementação do sufrágio universal para a eleição do Chefe do Executivo e para os deputados da Assembleia Legislativa”.

O mesmo documento lembra que, apesar da Lei Básica não determinar a realização de eleições pela via do sufrágio universal, “as suas provisões garantem a aplicação do Pacto Internacional sobra os Direitos Civis e Políticos em Macau e que garante que Macau ‘tem um elevado grau de autonomia’ em relação à China”.

Os norte-americanos afirmam ainda que não observaram nenhum “progresso” em relação ao sistema político local. O relatório indicou que a revisão da lei eleitoral, em Dezembro de 2016, pela Assembleia Legislativa permite desqualificar candidatos ou deputados que não sejam leais a Macau. Os críticos da revisão questionaram a necessidade destas alterações e manifestaram a preocupação que a nova legislação ameace o direito a eleições livres e justas.

Na visão de Sonny Lo, “é compreensível” que as autoridades norte-americanas tenham essa visão, uma vez que apoiam “as questões do sufrágio universal e de uma completa democratização de Macau”.

Mas “Macau tem os seus constrangimentos estruturais e políticos devido ao facto da Lei Básica de Macau não determinar o sufrágio universal como um objectivo a atingir. [Esses constrangimentos advém] do facto das forças democráticas serem fracas, da pressão existente e da fraca vontade política de implementar um ritmo mais rápido nas reformas politicas”, defendeu ao HM.

 

A importância dos órgãos municipais

Para Bill Chou, ex-académico da Universidade de Macau, actualmente a dar aulas na Universidade Chinesa de Hong Kong, uma maior participação da população poderia materializar-se através da implementação dos órgãos municipais sem poder político, algo que o Governo quer tornar uma realidade.

“São desejáveis mais eleições directas e isso pode ser posto em prática através da criação dos órgãos municipais sem poder político. Tal poderia levar a mais opiniões públicas, que poderiam ser canalizadas para o processo de implementação de políticas.”

Quanto ao sufrágio universal, “é verdade que há pouco progresso quanto à sua implementação”. “O Governo poderia aumentar os assentos na AL pela via directa, o que faria com que a AL não fosse apenas um conjunto de carimbos de borracha”, rematou.

 

Hong Kong: Desqualificações e liberdades

Sobre Hong Kong, a comissão norte-americana denunciou a acção dos governos da antiga colónia britânica e da China para desqualificar os candidatos pró-democracia eleitos para o Conselho Legislativo (LegCo), em Setembro do ano passado, que alteraram o juramento durante a tomada de posse.

Em Novembro, a comissão permanente do Congresso Nacional Popular chinês divulgou um parecer sobre a Lei Básica de Hong Kong, de acordo com o qual os juramentos que os deputados prestam ao serem empossados são compromissos legais perante a China e a RAEHK, proibindo ao mesmo tempo a repetição de juramentos considerados inválidos pela Justiça. A decisão permitiu desqualificar seis deputados eleitos.

Por outro lado, a comissão alertou que os jornalistas de Hong Kong manifestaram o receio de uma diminuição da liberdade de imprensa no território, devido a uma crescente autocensura e restrições governamentais aos jornalistas.

9 Out 2017

Hong Kong responde aos EUA: “Um país, dois sistemas” é bem-sucedido, afirma governo

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Região Administrativa Especial vizinha tem exercido a política “Hong Kong governado por gentes de Hong Kong” com um alto grau de autonomia em acordo rigoroso com a Lei Básica desde que Hong Kong retornou à pátria, disse nesta sexta-feira um porta-voz do governo da RAEHK. Segundo a mesma fonte, tal demonstra a implementação completa e bem-sucedida do princípio “um país, dois sistemas”, que tem sido extensamente reconhecido pela comunidade internacional, observou.

O porta-voz fez as observações em resposta a um relatório emitido pela Comissão Congressional-Executiva dos Estados Unidos sobre a China, na quinta-feira. “Os órgãos legislativos estrangeiros não devem interferir, em qualquer forma, nos assuntos internos da RAEHK”, disse o porta-voz. A Lei Básica da RAEHK especifica as directrizes “um país, dois sistemas” e “as gentes de Hong Kong administram Hong Kong” com um alto grau de autonomia. Os sistemas económicos e sociais e o estilo de vida anteriores de Hong Kong permaneceram inalterados, e a maioria das leis continua a valer.

A Lei Básica garante que a RAEHK tem um alto grau de autonomia e desfruta de poder executivo, legislativo e judicial independente, incluindo o de adjudicação final.

Os dados do Banco Mundial mostram que o indicador de Hong Kong no Estado de direito, um valor essencial da sociedade de Hong Kong, saltou de atrás de 60º lugar no mundo em 1996 para o 11º lugar em 2015, bem melhor que algumas das grandes economias ocidentais. Hong Kong teve 3,2% no crescimento económico anual em média desde 1997, bastante notável para uma economia basicamente desenvolvida já 20 anos atrás.

Hong Kong permaneceu sendo a economia mais livre do mundo no mais recente relatório do Instituto de Fraser sobre a liberdade económica, um grupo de pesquisa canadiano.

Nas cinco áreas de avaliação, Hong Kong continuou a atingir um alto ranking em regulação e liberdade de comércio internacionalmente no relatório emitido em Setembro.

A chefe do Executivo da RAEHK, Carrie Lam, disse que o desenvolvimento e prosperidade contínuos da pátria não só dão força a Hong Kong para enfrentar desafios, mas também fornecem oportunidades para Hong Kong explorar as novas direcções de desenvolvimento.

“Desde que aproveitemos as nossas forças, fiquemos concentrados, apreendamos as oportunidades e estejamos unidos, eu estou certa de que Hong Kong pode atingir alturas ainda maiores”, disse.

9 Out 2017