Manifestação em Hong Kong “contra autoritarismo” de Pequim

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ilhares de pessoas manifestaram-se no domingo em Hong Kong, durante o 68.º aniversário da implantação da República Popular da China, para denunciar a ingerência de Pequim e a erosão das liberdades na antiga colónia britânica.

Sob a chuva, esta manifestação, denominada “Concentração contra o autoritarismo”, decorreu algumas semanas depois da detenção de três jovens líderes do movimento “dos guarda-chuvas”, a vasta mobilização pró-democracia do outono de 2014.

“O autoritarismo já é uma realidade em Hong Kong”, lamentou perante os manifestantes Benny Tai, cofundador do movimento “Occupy Central”, que contribuiu para dinamizar a multidão em 2014. “Esta manifestação de hoje serve para mostrar à população de Hong Kong a real natureza do governo”, acrescentou este professor de Direito.

Os principais alvos dos manifestantes foram a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, o secretário para a Justiça, Rimsky Yuen, ou ainda o Presidente chinês, Xi Jinping, cujas imagens exibiam as palavras: “Palhaço autoritário”. Alguns manifestantes exibiam bandeiras semelhantes às chinesas, com cinco estrelas amarelas em fundo negro e não vermelho.

No tradicional discurso por ocasião do dia nacional da China, o primeiro desde que assumiu a chefia do Executivo em Julho, Carrie Lam apelou à unidade. É preciso “agarrar as oportunidades” e “manter a união”, afirmou Lam, considerando “ter a certeza de que Hong Kong pode superar desafios ainda maiores”.

5 Out 2017

Hong Kong | Morre multimilionário que ajudou a repatriar milhares de timorenses

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m multimilionário e filantropo de Hong Kong que em 1999 ofereceu a Timor-Leste um navio usado para repatriar da Indonésia milhares de refugiados leste-timorenses morreu na semana passada aos 91 anos, informou a família.

Eric Edward Ho Tung, que nasceu em 1926 e foi nomeado embaixador itinerante de Timor-Leste em 2002, era neto do empresário Robert Ho Tung e filho de Edward Ho Tung e da sua mulher a irlandesa Mordia O’Shea.

“Era um amigo de Timor-Leste que em 2000-2003 despendeu milhões de dólares para ajudar no repatriamento de mais de 100 mil refugiados timorenses de Kupang para Díli num navio que ele comprou para o efeito”, recordou à Lusa o ministro timorense José Ramos-Horta, que em 2002 o nomeou embaixador itinerante de Timor-Leste.

Neto de um conhecido filantropo, Robert Ho Tung, que no século passado ofereceu uma biblioteca a Macau, Eric Ho Tung ajudou a libertar bispos e padres que estavam detidos no Vietname e na China, tendo apoiado a Ordem de Malta e institutos de ensino em vários locais do mundo.

Através de uma fundação que criou, Eric Ho Tung começou a ter conhecimento do que se passava em Timor-Leste nos anos finais da ocupação indonésia – depois de contactos com o Duque de Bragança – tendo desde então apoiado vários projectos da resistência e da igreja timorenses.

Pai de cinco filhos e três filhas do seu casamento com a norte-americana Patricia Anne Shea, Eric Ho Tung ficou conhecido em Timor-Leste quando, em Dezembro de 1999, ofereceu um navio que permitiu repatriar mais de 15 mil refugiados que estavam na Indonésia.

A violência de Setembro de 1999, depois do anúncio do resultado do referendo em que os timorenses escolheram a independência, reavivou o interesse que Eric Ho Tung já tinha demonstrado para com a questão de Timor-Leste, tendo nessa altura voltado a contactar o Duque de Bragança para saber “qual era a melhor maneira de ajudar os timorenses”.

A ideia do navio surgiu para preencher as carências que se sentiam em questões de acesso à ilha, já que a maior parte dos transportes estavam nessa altura dependentes das forças militares australianas.

Comprado à marinha australiana e com plataforma para helicópteros, o navio, de 2.500 toneladas e cem metros de comprimento, tinha salas de assistência médica para poder circular a ilha e prestar apoio médico às populações costeiras.

À chegada a Díli a 11 de setembro de 1999 Hotung explicou à Lusa que a oferta do navio era “como um tributo à coragem dos timorenses” que apesar “de todas as ameaças e das consequências votaram pela independência”.

Os primeiros refugiados foram repatriados de Timor Ocidental a bordo do Patricia Anne Ho Tung, o nome do navio que um ano depois já tinha transportado mais de 10 mil pessoas.

Percurso de vida

Natural de Hong Kong, Eric Ho Tung foi viver para Xangai com o pai quando era criança, estudou no Colégio S. Francisco Xavier e regressou a Hong Kong na 2ª Guerra Mundial, altura em que trabalhou nas urgências do Hospital Tung Wah.

Quando Hong Kong foi ocupado pelos japoneses em Dezembro de 1941, Ho Tung foi enviado de novo para Xangai onde esteve em prisão domiciliária, acabando, em 1947, por viajar para os Estados Unidos para estudar.

Depois das mortes do avô em 1956 e do pai em 1957, Eric Ho Tung regressou a Hong Kong onde assumiu o controlo das empresas da família, especialmente nas áreas imobiliária, financeira e de importação e exportação.

Começou a trabalhar no mundo diplomático na década de 80 do século passado, aproveitando os contactos que tinha na China e nos Estados Unidos, ampliando vários programas de apoio que financiaram o estudo a muitos estudantes de Hong Kong no estrangeiro.

29 Set 2017

Apelo ao compromisso

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o passado domingo, dia 17, realizou-se um encontro em Hong Kong de repudio à independência do território. No palco, aos gritos, um homem reclamava a “morte” para os activistas pró-independência. O homem, Junis Ho kwan–yiul, ainda acrescentou, “sem piedade”. Por estas declarações, a população depreendeu que os activistas pró-independência de Hong Kong deveriam ser executados.

O discurso de Ho gerou grande polémica na antiga colónia britânica. Era voz corrente que Ho tinha encorajado as pessoas a matar os activistas pró-independência.

Na sequência destas declarações, Ho deu uma série de entrevistas. O entrevistado alegou em sua defesa que, em cantonês, “morte” pode ser usada em vários sentidos. Não quer necessariamente dizer matar. O que ele queria dizer era que as vozes a favor da independência de Hong Kong tinham de ser travadas, e que Hong Kong nunca se poderia separar da China. Ho também referiu uma série de exemplos para sustentar a sua argumentação. Mas como foram todos formulados em chinês, vamos ignorá-los.

Ho foi Presidente da Sociedade Legista de Hong Kong. Actualmente é membro do Conselho Legislativo. Os seus antecedentes jurídicos e políticos tornaram as pessoas mais sensíveis às suas afirmações. Alguns perguntavam-se, como é que alguém com um profundo conhecimento da Lei pode fazer afirmações desta natureza. Será que isto é legal?

Ainda no seguimento deste caso, o Conselheiro Sénior Ronny Tong Ka-wah deu uma entrevista. Adiantou que Ho poderá ter infringido a secção 26 do Regulamento da Ordem Pública. Esta secção refere que, qualquer pessoa desprovida de autoridade legal, que profira declarações em assembleia pública, ou se comporte de forma que revele intenção de incitar ou induzir outrem a matar ou a atentar contra a integridade física de terceiros, está a transgredir a lei e sujeita-se a uma pena de prisão, que pode ir de 2 a 5 anos, dependendo da gravidade do delito.

O termo “incitar” é referido na secção 26. Em linguagem legal o delito de incitamento verifica-se quando alguém impele outrem a cometer um crime.

Alguns habitantes de Hong Kong pediram que a polícia investigasse este caso. A resposta das autoridades não deixou margem para dúvidas. Ho limitou-se a proferir declarações ao abrigo da liberdade de expressão e, tanto quanto sabemos, não haverá qualquer investigação criminal.

Estas declarações chamaram a atenção do Secretário da Justiça Yuen kwok–kuen. Afirmou que é necessário analisar o contexto em que foram proferidas, para decidir se houve ou não transgressão da lei. Ou seja, não se pode chegar a qualquer conclusão a partir de uma declaração isolada.

Este caso pede aos habitantes de Hong Kong alguma reflexão. Se as incentivas “morte” e “sem piedade” pudessem acabar com os conflitos sociais, tudo bem. Mas obviamente, este tipo de declarações só servem para aumentar a confusão no seio da sociedade e os opositores de Ho vão ficar irados. Nem a cidade, nem os seus habitantes tiram qualquer benefício deste tipo de afirmações.

É possível que a Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, esteja à altura dos acontecimentos. Antes de dar entrada na reunião do Conselho Executivo, declarou aos jornalistas,

“Independentemente da postura política de cada um, comentários rudes, insultuosos ou intimidatórios, nunca são aceitáveis.”

Acrescentou ainda que a comunidade de Hong Kong deve permanecer calma e que a “polarização” deve ser evitada.

As sugestões de Carrie Lam não solucionam os conflitos sociais de Hong Kong, mas são uma boa forma de prevenir conflitos futuros. Se toda a gente conseguir manter a boca fechada e evitar protestos, Hong Kong ficará em paz. Sem este ambiente, como é que os membros do Conselho Legislativo podem debater de forma razoável as questões sociais? É verdade que “o compromisso facilita a resolução dos conflitos”. Esperemos que todos consigam lá chegar.

26 Set 2017

Hong Kong | Carrie Lam critica comentários violentos sobre independentistas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] líder do Governo de Hong Kong classificou ontem como “inaceitáveis” os recentes “comentários cruéis, insultuosos e intimidatórios”, depois de um deputado pró-Pequim ter pedido a morte dos independentistas do território vizinho.

Segundo a emissora pública RTHK, Carrie Lam não nomeou diretamente Junius Ho, mas disse, antes de uma reunião do Conselho Executivo (LegCo, parlamento), que cabe ao secretário para a Justiça e às autoridades julgarem se os comentários são ilegais.

Apesar de criticar os comentários, classificando-os de “cruéis, insultuosos e intimidatórios”, Lam disse que foram fruto dos recentes debates sobre a independência de Hong Kong. Estes debates não devem continuar, reiterou.

A chefe do executivo apelou aos dois lados da discussão para que parem de empurrar Hong Kong para “a beira da desordem pública”, bem como ameaçar a soberania nacional chinesa e a segurança e autoridade da Lei Básica.

Lam disse que concordava com a posição de dez líderes de universidades que afirmaram não apoiar a independência de Hong Kong e condenaram “abusos” de liberdade de expressão.

A matar

Numa manifestação anti-independência no domingo, o conselheiro distrital Tsang Shu-wo disse que os activistas pela independência deviam ser “mortos”, com Ho a gritar “sem misericórdia” em resposta, descreveu o portal Hong Kong Free Press.

Mais tarde, Ho afirmou não ser “nada de especial matar porcos ou cães”.

Estes comentários foram proferidos depois de cartazes pró-independência terem surgido, nas últimas semanas, em universidades em Hong Kong.

Na segunda-feira, Ho voltou a abordar o assunto num programa de rádio: “Se aqueles que são a favor da independência levarem à subversão do destino do país, com Hong Kong e as 1,3 mil milhões de pessoas da mãe-pátria a terem de pagar um enorme preço, porque não deveriam estas pessoas ser mortas?”.

Ontem, o deputado veio defender-se, dizendo que foi mal interpretado.

“A palavra ‘matar’ era dirigida aos promotores do movimento de independência de Hong Kong e à necessidade de travar as suas expressões ilegais. Condenar-me por incitar um discurso de ódio e [ameaçar] denunciar-me à polícia é simplesmente absurdo”, escreveu na rede social Facebook, criticando o “nível de chinês e de compreensão” dos que o criticaram.

20 Set 2017

Hong Kong | Ourivesaria portuguesa aposta na Ásia

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] aposta na internacionalização levou a ourivesaria portuguesa a voltar-se para o mercado asiático, que exige “produtos de grande qualidade”, e a regressar à feira de joalharia de Hong Kong, “uma das maiores do mundo”.

“Os compradores asiáticos, até aqui conotados com produtos de baixa qualidade, exigem cada vez mais qualidade”, disse à Lusa a secretária da Associação de Ourivesaria e Relojoaria Portuguesa, Fátima Santos, que lidera a participação portuguesa na feira de joalharia e pedras preciosas de Hong Kong, que termina na terça-feira.

Para Macau, Fátima Santos prometeu “uma acção de promoção a breve prazo”.

A responsável sublinhou ter-se dado “uma alteração do paradigma de consumo dos asiáticos”, em que a exigência de qualidade é agora determinante.

“A ourivesaria portuguesa é um produto de grande qualidade, já não tão tradicional e apresenta grande incorporação de design, embora continuemos a trazer as filigranas tradicionais”, sublinhou.

Em Hong Kong, terceiro maior importador de joias do mundo, “o negócio tende a dar certo” por se tratar de “uma zona de concentração absoluta” em que o número de consumidores, sobretudo da China que tem uma classe média em crescimento, “é tão elevado que se adapta a cada tipo de produto”, explicou.

Esta feira junta aqui, além da Ásia, consumidores da América Latina, Estados Unidos, Europa, Austrália, justificando a escolha da associação, que numa primeira fase do projecto de internacionalização apostou em mercados de proximidade, como Copenhaga, Londres e Paris.

“É um esforço que esperamos seja compensador”, considerou.

Boas reacções

As seis empresas portuguesas presentes nesta feira, que começou na sexta-feira, já têm alguma experiência deste mercado: “Vêm a Hong Kong há quatro anos, sendo que a firma menos experiente está aqui pela segunda vez”, disse.

Um dos ‘designers’ que participa pela segunda vez nesta feira afirmou ter sido “um desafio tentar perceber a aceitação do público asiático” para o trabalho que apresenta.

“A reacção do público tem sido boa (…) fazer vendas locais na feira é fácil, mas estender esse negócio e conseguir estabelecer uma relação comercial à distância é um grande desafio”, mas até agora tem sido compensador, afinal a Ásia é o “centro do mundo de negócios”, sublinhou Bruno da Rocha.

O valor total de exportação da joalharia, uma das actividades de maior tradição em Portugal, ronda os 60 milhões de euros, de acordo com dados da associação.

Dados de 2015 indicavam que a França é o principal destino das exportações portuguesas (34,5%), seguindo-se Espanha (23,2%), Angola (11,3%), Estados Unidos (6,3%), Bélgica (5,6%), Suíça (4,7%), Alemanha (4%) e Itália (2,2%).

18 Set 2017

Hong Kong | Eleições intercalares marcadas para 11 de março

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s eleições intercalares para o Conselho Legislativo de Hong Kong foram marcadas para 11 de março de 2018 para preencher quatro dos seis lugares deixados vagos devido à desqualificação de deputados, informou ontem a imprensa local.

Nathan Law, do Partido Demosisto, Yau Wai-ching e Sixtus Leung, ambos do grupo político pró-independência Youngspiration, e Edward Yiu, eleito pelo sector profissional da Arquitectura e Paisagismo, foram desqualificados dos seus lugares de deputados no Conselho Legislativo (LegCo) por não terem prestado correctamente juramento.

As eleições pelos círculos geográficos que elegeram Law, Yau e Leung vão decorrer na ilha de Hong Kong, em Kowloon Oeste e nos Novos Territórios Este, envolvendo cerca de 2,1 milhões de eleitores da cidade com mais de sete milhões de habitantes.

Os dois outros deputados desqualificados, Lau Siu-lai e Leung Kwok-hung, mais conhecido por ‘Long Hair’ (Cabelo Comprido), recorreram ambos na segunda-feira das respectivas desqualificações, pelo que os seus lugares não vão a votos a 11 de Março.

O campo pró-democracia está interessado em que as eleições intercalares para os assentos de Lau e de ‘Long Hair’ decorram em separado porque querem reconquistar o poder de veto que perderam a seguir às decisões de desqualificação tomadas pelo tribunal.

Yau e Sixtus Leung, que usaram palavras consideradas anti-China durante os respectivos juramentos de deputados, foram desqualificados em Novembro de 2016, e o seu último recurso foi rejeitado em Agosto. Os outros quatro deputados foram alvo da mesma decisão em 14 de julho.

A desqualificação dos seis deputados deixou o campo pró-democrata com 14 assentos nos círculos dos sectores profissionais, contra 16 deputados pró-sistema.

A oposição em Hong Kong já tinha usado previamente a sua superioridade numérica para rejeitar moções que precisavam da aprovação de ambos no círculo geográfico e dos sectores profissionais.

Sob o sistema de representação proporcional de Hong Kong, o campo pró-Pequim teria mais probabilidades de ganhar um assento se mais de um lugar fosse a votos ao mesmo tempo no mesmo círculo geográfico.

Contingências

As autoridades eleitorais disseram que precisavam de tempo para contratar funcionários para as eleições intercalares e que os feriados, nomeadamente do Ano Novo Chinês, que em 2018 decorre em Fevereiro, também limitaram as datas disponíveis para a marcação das eleições.

Nathan Law, que em Setembro do ano passado foi eleito o deputado mais novo, então com 23 anos, está desde Agosto a cumprir uma pena de oito meses de prisão por causa de um protesto em 2014, que desencadeou a ocupação das ruas em Hong Kong durante 79 dias em defesa do sufrágio universal para eleger o líder do Governo da cidade.

O jovem recorreu da sentença, mas mesmo que saia da prisão antes, não poderá voltar a candidatar-se para recuperar o seu assento de deputado porque qualquer sentença igual ou superior a três meses impede qualquer pessoa de se candidatar ao LegCo por um período de cinco anos.

17 Set 2017

Hong Kong | Governo quer acelerar eleições intercalares para LegCo

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, defendeu ontem que os lugares de deputados deixados vagos após desqualificação devem ser preenchidos o mais rapidamente possível, ressalvando que a decisão cabe à comissão eleitoral.
“Uma vez que os procedimentos judiciais em quatro desses casos (…) chegaram ao fim, é de esperar, e estou certa de que a comissão eleitoral tem uma visão similar, que as eleições intercalares devem ser realizadas o mais rapidamente possível”, disse Lam, segundo a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).
Carrie Lam afirmou que o presidente da comissão eleitoral, Barnabas Fung, teria uma reunião com os seus colegas esta semana para discutir o assunto.
A 14 de Julho, os tribunais de Hong Kong desqualificaram quatro deputados pró-democracia Nathan Law, Edward Yiu, Leung Kwok-hung, mais conhecido por ‘Long Hair’ (Cabelo Comprido), e Lau Siu-lai.
Leung e Lau apresentaram recurso da decisão judicial na segunda-feira.
Numa acção judicial anterior, a administração tinha afastado os deputados pró-independência Sixtus Baggio Leung e Yau Wai-ching (do grupo político Youngspiration), por terem proferido palavras, durante o seu juramento, consideradas anti-China.
Os processos na justiça que envolviam Yau e Leung chegaram ao fim, depois de os dois jovens terem decidido não voltar a recorrer de uma decisão do tribunal em Agosto.

Tantos para tão poucos

Carrie Lam, que falava ontem à imprensa em Hong Kong antes de uma reunião do Conselho Executivo, disse que 2,1 milhões de eleitores serão chamados a eleger quatro deputados, numas eleições que envolvem três círculos geográficos (ilha de Hong, Novos Territórios Leste e Kowloon Oeste), e ainda o sector da arquitectura, planeamento e paisagismo.
A chefe do Executivo disse que o Governo pode necessitar de até seis meses para se preparar para as eleições intercalares, uma vez que as autoridades têm de instalar 400 assembleias de voto e formar 14.000 funcionários.

13 Set 2017

Novo Macau | Lista diz-se afastada do movimento independentista de Hong Kong

A lista Associação do Novo Progresso de Macau, liderada por Sulu Sou e ligada à Novo Macau, diz-se afastada do movimento independentista de Hong Kong e nega notícias que associam declarações de um candidato aos episódios políticos do território vizinho

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ulu Sou e Paul Chan Wai Chi, os dois principais candidatos da Associação do Novo Progresso de Macau (ANPM), realizaram ontem uma conferência de imprensa para negar o que consideram serem rumores e falsas interpretações publicados na imprensa chinesa. Em causa estão comentários feitos pelo número quatro da lista, Wong Kin Long, no ano passado, nas redes sociais relativos a Macau e ao movimento independentista de Hong Kong.

Em comunicado, a Associação Novo Macau (ANM), ligada à lista em causa, diz que as declarações do candidato foram retiradas do seu contexto e diz que “se opõe ao movimento independentista”. “A ANPM, ligada à ANM, rege-se pela Lei Básica e pelo princípio ‘Um País, Dois Sistemas’”.

“Os candidatos da lista ANPM assinaram uma declaração de fidelidade para com a RAEM e a República Popular da China junto da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa. As palavras que o candidato número quatro disse num debate académico foram descontextualizadas”, lê-se no comunicado.

Os candidatos consideram que o surgimento destas notícias faz parte de uma “campanha para descredibilizar” a lista. “Wong escreveu nas redes sociais sobre a questão hipotética de uma possível coexistência entre a defesa da independência e candidatura. O objectivo do levantamento desta questão foi lembrar o público sobre a existência de possíveis lacunas na lei de segurança nacional e na lei eleitoral da Assembleia Legislativa”, esclarecem os candidatos.

Sulu Sou e Paul Chan Wai Chi afirmam ainda que o número quatro da ANPM “foi o primeiro, este ano, a falar da discrepância entre as versões portuguesa e chinesa da lei eleitoral”

Protestos em campanha

Segundo o jornal Ponto Final, este caso levou a uma acção de boicote de uma actividade de campanha eleitoral levada a cabo pela ANPM. Quando os candidatos se encontravam a distribuir folhetos na zona da Rotunda de Carlos da Maia, uma dúzia de homens e mulheres começou a gritar frases como “Wong Kin Long, não envenene os jovens!”, “Perante a desgraça, a pátria apoia-nos” e “A independência de Hong Kong é desumana”.

O mesmo jornal escreve que este grupo de pessoas afirmou ter lido notícias que afirmavam que o candidato seria a favor do movimento independentista de Hong Kong, que tem os activistas Joshua Wong e Nathan Law como os principais protagonistas.

Ao HM, Andrew Cheung, outro dos candidatos da lista, afirmou que este episódio e a publicação destas notícias têm apenas como objectivo manchar a candidatura ligada ao campo pró-democrata.

A conferência de imprensa de ontem serviu ainda para os candidatos se justificarem em relação a outros rumores que têm surgido na imprensa chinesa. Sobre o caso dos alegados subornos recebidos por Andrew Cheong, um caso que já está a ser investigado pelo Ministério Público, após queixa de Caruso Fong, os pró-democratas esperam que se faça justiça.

“[Andrew] Cheong espera que o início do processo de investigação pelas autoridades revele a verdade junto do público. Cheong tem orgulho na sua participação honesta no seu trabalho e activismo”, remata o comunicado.

12 Set 2017

Menstruação | Grupo de Hong Kong quer promover educação nas escolas de Macau

Chama-se “MenstruAction” e é um grupo que visa o debate sobre um assunto que ainda é tabu em Hong Kong. Joyce Fung tem vindo a promover workshops em prol da liberdade de escolha das mulheres. O grupo quer também desenvolver acções com escolas de Macau

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]oyce Fung licenciou-se em Sociologia pela Universidade de Hong Kong e decidiu abordar um assunto que é ainda tabu numa sociedade que considera conservadora. A menstruação e a falta de debate sobre o assunto levaram-na a desenvolver um projecto final de curso e a criar o grupo “MenstruAction”, juntamente com Jessie Leung.

A ideia do grupo criado no Facebook, e que já foi notícia no jornal Guardian, é dar liberdade de escolha às mulheres, para que tenham mais opções além do tradicional penso higiénico. O grupo de mulheres que compõe o “MenstruAction” tem também promovido workshops e campanhas de educação sexual.

Ao HM, Joyce Fung contou que o projecto poderá também estender-se a Macau, território que considera ser também conservador neste aspecto. “Não conheço o panorama da educação sexual em Macau, mas em Hong Kong há ainda muito conservadorismo em relação a isso. Macau é também uma sociedade tradicional chinesa e penso que a situação seja mais ou menos semelhante ao que temos aqui”, afirma.

“Penso que seria interessante contactar entidades em Macau que têm interesse em divulgar a mensagem que estamos a promover. Poderíamos começar nas escolas, por exemplo”, acrescentou uma das fundadoras do grupo.

Governo tem culpa

Além das palestras sobre o assunto, as mulheres que fazem parte do grupo “MenstruAction” pretendem implementar máquinas, acessíveis um pouco por toda a cidade, que possam disponibilizar vários tipos de produtos para os dias do período, como é o caso dos tampões ou dos copos menstruais.

“Queria começar um debate sobre este assunto porque na sociedade chinesa, bem como nas sociedades asiáticas, gostaríamos que existisse um maior debate, para que o estigma deixe de existir”, explicou Joyce Fung, que defende que o Governo de Hong Kong ajuda a que se prolongue o tabu.

“O Executivo de Hong Kong tem alguma culpa, pois faz com que a sociedade continue a ser conservadora sobre este assunto. Enquanto grupo apenas podemos trabalhar do ponto de vista da educação e penso que isso é muito importante. O nosso Governo não tem feito o suficiente e não tem promovido campanhas de educação sexual suficientes”, considera.

Para Joyce Fung, Taiwan será o território onde as mulheres têm uma maior liberdade de escolha em termos de produtos e também acesso a mais diálogo. Se Macau está no mesmo patamar que Hong Kong, no Continente a situação será ainda pior, aponta.

“Conheço melhor a realidade de Taiwan, e são mais abertos sobre esta questão. As pessoas já usam outro tipo de produtos e não apenas os pensos higiénicos. As gerações mais novas em Hong Kong já começam a aceitar, mas as gerações mais velhas não. Na China a situação é ainda pior, as mulheres nem sequer usam tampões”, frisou.

12 Set 2017

Celebrar a morte

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]sta semana a área da Educação tem estado ao rubro em Hong Kong. Um dos casos que mais deu que falar foi a morte do filho de Christine Choi Yuk-lin, Sub-Secretária da Educação.

Poon Hong-yan, de 25 anos, atirou-se da janela do seu apartamento, localizado no condomínio Sorrento, Austin Road, e foi encontrado inconsciente num terraço do 9º andar do Bloco 3. Foi transportado imediatamente de ambulância para o hospital, onde o óbito acabou por ser declarado. Por enquanto, os motivos do incidente permanecem desconhecidos.

Posteriormente surgiram papéis afixados no campus da Universidade de Pedagogia (EdUHK), onde se podia ler “Parabéns ao filho de Choi Yuk-lin por ter ido para  Ocidente”. “Ir para Ocidente” significa ter morrido. É uma tradução literal do cantonês. Os estudantes congratulavam-se, portanto, com a morte do filho de Choi Yuk-lin.

É habitual existirem nas Universidades de Hong Kong espaços onde estudantes e trabalhadores podem afixar o que bem entenderem, conhecidos como Paredes da Democracia. Quem põe um papel nesta parede tem de se identificar, quer seja estudante quer seja trabalhador. As Paredes da Democracia são um símbolo da liberdade de expressão dentro das Universidades.

Como se pode ler no website “HKFP”, Choi é um dos vice-presidentes da Federação dos Trabalhadores da Educação de Hong Kong (HKFEW sigla em inglês). É também Reitora do campus de Siu Sai Wan da Escola Secundária Fukien. As duas organizações têm fortes ligações a Pequim.

Em Setembro de 2016 Choi candidatou-se pelo sector da Educação a um lugar no Conselho Legislativo, que perdeu para o candidato pró-democracia Ip Kin-yueneve. Choi obteve menos 30% dos votos que o seu opositor. Mas, apesar disso, Choi foi indigitada com Sub-Secretária da Educação em Julho de 2017, pelo que foi muito criticada. Ip declarou na altura,

“O resultado das eleições demonstrou que as suas opiniões políticas não são apoiadas pela maioria do sector da Educação.”

A indigitação para o cargo de Sub-Secretária da Educação será “um insulto aos eleitores.”

É muito provavelmente devido a estes antecedentes, que apareceram nas Paredes da Democracia da EdUHK os papelinhos de “felicitações”.

Mas infelizmente este não foi o único ataque a Choi. O website “hongkongfp.com” escrevia no passado dia 8,  “Também foram postadas mensagens online de ataque à família:

“Sabia que o seu filho estava deprimido. Mas em vez de lhe dedicar o seu tempo, aceitou uma promoção que ainda a ocupou mais, e deixou-o ao cuidado de uma empregada. Que modelo de pedagogia! Se não sabe ser mãe, como é que pode encarregar-se da educação dos filhos dos outros? É uma vergonha, devia demitir-se,” escreveu um comentador numa discussão do fórum LIHKG.”

A EdUHK emitiu um comunicado a condenar estes comentários e apresentou as suas desculpas pelo pesar que possam ter causado a Choi. Podia ler-se:

“A escola gostaria de reafirmar que, embora desfrutemos do direito à liberdade de expressão, deveremos também assumir uma atitude razoável na discussão de certas situações, e respeitar sempre os sentimentos dos outros. No caso presente, os actos ofensivos são vergonhosos – esperamos que quem afixou os cartazes faça alguma auto-crítica.”

Os responsáveis da EdUHK declararam que estão a visionar as imagens das câmaras de vigilância e que, se necessário, serão tomadas medidas disciplinares.

A Associação de Estudantes da EdUHK emitiu um comunicado a negar a responsabilidade por esses actos e enviou representantes para retirar os papéis. A Universidade não deve, por causa destes acontecimentos, coartar a liberdade de expressão dos estudantes.

“Ainda não foi confirmado se foi um estudante a colocar os papéis na Parede. De qualquer maneira, é evidente que se um estudante for punido pelas autoridades académicas, devido a declarações moralmente controversas, fica aberta a porta ao medo da liberdade de expressão e à auto-censura, e instala-se o terror no campus,”

Se foi efectivamente um estudante que afixou os papéis, que castigo lhe será aplicado? Vão suspender-lhe a bolsa de estudos? Para já ninguém sabe. No entanto, a resposta de Universidade de Harvard a este tipo de casos poderá servir de modelo para situações futuras. Soube-se através do site “kknewscc” que Harvard vai recusar a admissão de, pelo menos, 10 candidatos, porque criaram um grupo de chat intitulado “Harvard memes para miúdas burguesas com tusa”. Este grupo permite que os seus membros postem fotos e mensagens sexual e racialmente discriminatórias. A este respeito a Universidade de Harvard declarou:

“A Universidade reserva-se o direito de cancelar a admissão de um candidato se a sua conduta for desonesta, imatura ou imoral.”

Todos sabemos que o desrespeito à moralidade é diferente do desrespeito à Lei, porque o primeiro não implica uma pena e o segundo sim; sobretudo, se se tratar de Lei Criminal. Os papelinhos de “felicitações” são obviamente desumanos. Representam uma falta de respeito à moral estabelecida, mas não implicam sanções legais. No entanto, podemos revoltarmo-nos e dizer alto e bom som “Não” a este comportamento desumano.

12 Set 2017

Hong Kong | Activista de Occupy recorre da pena de prisão

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m dos antigos líderes estudantis do movimento Occupy em Hong Kong condenado a prisão por um protesto que levou à ocupação das ruas da antiga colónia britânica interpôs recurso da pena, noticiou a imprensa local.

O Departamento de Justiça disse na segunda-feira ter sido notificado da intenção de Nathan Law de recorrer da sentença de oito meses de prisão por um protesto em 2014 na Praça Cívica, junto à sede do governo, de acordo com a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).

Nathan Law, do partido Demosisto, foi condenado e preso em Agosto, juntamente com outros dois líderes estudantis, Joshua Wong, também do Demosisto e rosto do movimento pró-democracia que ocupou as ruas da cidade durante quase três meses em 2014, e Alex Chow, antigo dirigente da federação de estudantes, depois de o governo ter sido bem-sucedido no recurso contra as sentenças inicialmente dadas ao trio.

Joshua Wong (20 anos), Alex Chow (27 anos) e Nathan Law (24 anos) foram condenados, respectivamente, a seis, sete e oito meses de prisão, uma sentença agravada após recurso do Departamento de Justiça de Hong Kong da decisão judicial de há um ano.

Wong e Chow foram previamente declarados culpados de assembleia ilegal e Law de incitar outros a uma reunião ilícita por invadirem uma área no exterior da sede do governo, conhecida como Praça Cívica, no âmbito de um protesto a 26 de setembro de 2014.

Os dois primeiros tinham sido condenados a trabalho comunitário, que já cumpriram, enquanto Chow foi inicialmente condenado a três semanas de prisão, mas com pena suspensa.

Nathan Law, que se tornou o mais jovem deputado eleito em Setembro de 2016, foi um dos seis deputados desqualificados nos últimos meses pela forma como prestaram juramento no Conselho Legislativo (parlamento) da cidade.

Como a pena de prisão é superior a três meses, Law fica impedido de se candidatar ao Conselho Legislativo durante os próximos cinco anos.

Nathan Law é o segundo dos três activistas a interpor recurso das penas de prisão a que foram condenados.

Já na sexta-feira passada, o Departamento de Justiça disse ter sido notificado por Alex Chow da sua intenção de recorrer contra a sentença de sete meses de prisão.

Paragem central

Em 2014, Hong Kong parou com protestos para exigir que o sufrágio universal – esperado para a eleição deste ano – fosse genuíno, ou seja, não implicasse, como Pequim propunha, que os candidatos a chefe do Governo fossem seleccionados pelo colégio eleitoral de 1.200 membros, visto como próximo de Pequim.

As imagens daquela que ficou conhecida como a ‘Revolução dos Guarda-Chuvas’ correram mundo, mas o movimento falhou.

Os democratas não conseguiram que Pequim abdicasse da pré-selecção dos candidatos e rejeitaram a proposta de reforma política, mantendo o método de voto como estava.

Desde então não foram poucos os tumultos a que a cidade assistiu, desde o desaparecimento de cinco livreiros que publicavam livros críticos do regime chinês, passando pela emergência de movimentos independentistas e pela interferência de Pequim para afastar do cargo dois deputados eleitos pela população.

6 Set 2017

Hong Kong | Fundo para apoiar activistas presos

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m grupo de cidadãos criou um fundo para apoiar 16 activistas presos em Hong Kong no mês passado, após recursos interpostos pelo Governo para rever as sentenças iniciais, informou ontem a Rádio e Televisão Pública da cidade.

O fundo, independente de qualquer força política, é gerido pela antiga deputada Margaret Ng, pela cantora pop Denise Ho, e os académicos Hui Po-keung e Yiu-ming.

Actualmente, o fundo conta com 2,5 milhões de dólares de Hong Kong  angariados numa manifestação no mês passado.

Os organizadores disseram que o fundo vai ser usado para futuros gastos com a justiça dos activistas presos e para dar 10.000 dólares de Hong Kong por mês às respectivas famílias para cobrir despesas, nomeadamente com viagens.

Entre os que vão receber apoio do fundo estão Joshua Wong, Nathan Law e Alex Chow, líderes estudantis do ‘Occupy’, em 2014, assim como outros 13 activistas, incluindo Raphael Wong e Willis Ho, que meses antes tentaram invadir o Conselho Legislativo (Legco), num protesto contra um controverso plano de desenvolvimento nos Novos Territórios.

Todos os 16 activistas foram presos em Agosto, com dias de diferença.

O antigo deputado Leung Kwok-hung, mais conhecido por ‘Long Hair’ (Cabelo Comprido) estava entre os activistas que anunciaram a criação do fundo.

‘Long Hair’ disse que a consciência da sociedade é revelada pela forma como trata os seus “prisioneiros de consciência” e apelou à população para doar dinheiro e livros para os activistas presos.

Faixas no campus

Entretanto, faixas a pedir a independência de Hong Kong foram ontem vistas no campus da Universidade Chinesa de Hong Kong (CUHK, na sigla em inglês) na antiga colónia britânica, antes do início das aulas, segundo a imprensa local.

O presidente da associação de estudantes da CUHK, Justin Au, disse que alguns activistas também colocaram uma faixa com os nomes dos ativistas presos ou daqueles que enfrentam acusações na justiça, à volta do corpo da estátua da Deusa da Democracia, localizada naquele campus universitário, segundo a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong.

Justin Au comentou que queria que os estudantes se lembrassem que há pessoas de Hong Kong na prisão ou que estão “a ser reprimidos pelo governo pelas suas visões políticas” e que esperava que os estudantes se mantivessem do lado da justiça, “independentemente do preço” a pagar.

Questionado sobre as faixas, que foram mais tarde retiradas, o vice-chanceler da CUHK, Joseph Sung, afirmou que os estudantes gozam de liberdade de expressão e que a direcção da universidade não vai tomar nenhuma acção contra actividades legais.

Depois de presidir à sua última cerimónia de início das aulas na universidade, Sung disse esperar que os estudantes olhem de forma mais profunda para os problemas que afectam a sociedade.

“Se tiverem uma opinião a expressar, devem fazê-lo de acordo com a lei e de forma pacífica”, disse.

Esta não é a primeira vez que surgem faixas a pedir a independência de Hong Kong em universidades da antiga colónia britânica.

5 Set 2017

Deputada de Hong Kong barrada na fronteira. Chui Sai On em silêncio 

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ias depois de vários jornalistas de Hong Kong terem sido barrados na fronteira, após a passagem do tufão, eis que as autoridades locais decidiram barrar mais uma cidadã da região vizinha.

Segundo o website Hong Kong Free Press, que cita o jornal Apple Daily, Helena Wong, deputada do campo pró-democrata do Conselho Legislativo (LegCo), foi proibida de entrar em Macau por constituir “uma ameaça à segurança interna e estabilidade”.

A deputada referiu que foi a primeira vez que viu ser-lhe negada a entrada na RAEM, tendo prometido que iria endereçar uma carta a Chui Sai On, Chefe do Executivo. “Isto é uma piada e traz grandes prejuízos para a imagem de Macau”, referiu Helena Wong.

Ao HM, o porta-voz do gabinete do Chefe do Executivo adiantou que Chui Sai On remete o seu comentário para as palavras proferidas nos últimos dias por Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, “nada mais tendo a acrescentar”.

Esta semana, após a proibição de entrada de jornalistas de Hong Kong, Wong Sio Chak referiu que “ninguém gostaria de ter a sua entrada proibida no território independentemente da sua profissão e não estamos concentrados numa só profissão”. “São casos confidenciais e que não podem ser divulgados o que também é conforme a lei”, acrescentou.

Segundo o mesmo portal de informação, Helena Wong frisou que iria discutir o assunto com Carrie Lam, Chefe do Executivo de Hong Kong, e levá-la a reflectir sobre o descontentamento que este tipo de decisões pode originar junto da população de Hong Kong.

A deputada deslocou-se a Macau no âmbito de uma visita de intercâmbio organizada pelo Instituto Politécnico de Hong Kong e pela Universidade de Macau. Na fronteira, Helena Wong terá sido interceptada pelos agentes do Serviço de Migração, tendo sido levada a preencher documentos com dados pessoais. Todos os seus colegas conseguiram entrar no território.

Alta frequência

Desde Dezembro do ano passado que este tipo de casos têm sido mais frequentes, sobretudo nas vésperas da realização de visitas oficiais de governantes da China às duas regiões administrativas especiais.

O Governo nunca admitiu a existência de uma lista negra de pessoas que estão proibidas de entrar em Macau. À Lusa, a Polícia de Segurança Pública disse apenas, em Janeiro deste ano, que as informações estatísticas das “recusas de entrada” são considerados como “dados de informações reservados”, pelo que “não há lugar à sua divulgação”.

1 Set 2017

Hong Kong | Prisão de activistas gera novo protesto e criticas de ONG

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] prisão dos activistas Joshua Wong, Nathan Law e Alex Chow levou ontem cerca de dez mil pessoas às ruas de Hong Kong. Em Macau, Larry So diz que a pena foi demasiado pesada e que bastava uma condenação a trabalho comunitário. Scott Chiang, líder da Associação Novo Macau, defende que os activistas não podem perder a esperança.

Os olhos do mundo estão de novo postos em Hong Kong após o Tribunal de Recurso da região vizinha ter condenado os activistas Joshua Wong (20 anos) a seis meses de prisão, Nathan Law (24 anos) a oito meses, e Alex Chow (26 anos) a sete meses.

A condenação surgiu na sequência do pedido de agravamento das sentenças pelo Governo, já depois de, no ano passado, os activistas, ligados ao partido Demosisto, terem sido condenados a trabalho comunitário. Um painel de três juízes decidiu na quinta-feira agravar as sentenças conforme pedido de recurso pelo secretário para a Justiça, Rimsky Yuen.

A decisão substitui as sentenças decretadas o ano passado, de 80 e 120 horas de serviço comunitário, para Joshua Wong e Nathan Law, e pena suspensa de três semanas de prisão para o ex-dirigente da federação de estudantes Alex Chow.

Os juízes disseram que era preciso dissuadir outros manifestantes de tais actos e condenaram à prisão os três jovens, depois de deduções de um mês nas sentenças de Wong e Law por serviço comunitário já cumprido.

Entretanto, os três activistas vão recorrer da sentença, disse um líder estudantil dos protestos de 2014.

As acusações de pressão política e tentativa de silenciamento dos movimentos pró-democracia na região vizinha surgiram de imediato. Ontem, segundo o órgão de media Hong Kong Free Press, cerca de dez mil pessoas terão estado na zona de Wanchai a protestar na intitulada “Marcha contra a Perseguição Política”.

Segundo a reportagem em directo, transmitida nas redes sociais, membros do partido pró-democracia People Power lembraram que os três activistas presos têm menos de 30 anos e que, por isso, podem continuar a luta pela democracia quando saírem da prisão. “É o seu futuro”, disse um dos membros do partido.

Raymond Chan Chi-chen, deputado do Conselho Legislativo (LegCo) pelo People Power, defendeu ao mesmo órgão de comunicação que a decisão do tribunal não passa de uma perseguição política e que os grupos que lutam por um sistema político mais democrático “sofrem pressões neste momento”. Raymond Chan Chi-chen teceu ainda duras criticas ao posicionamento do secretário Rimsky Yuen em todo o processo.

Pena excessiva

Em Macau também se fala de uma tentativa de silenciamento e diminuição do poder que os movimentos pró-democracia têm obtido nos últimos anos. Ao HM, Larry So, politólogo, considerou que a pena decidida pelo tribunal foi “demasiado pesada”.

“Seria suficiente aplicar-lhes uma pena de trabalho comunitário e não uma pena de prisão. É uma decisão com uma maior orientação política do que propriamente legal. Desse ponto de vista, penso que há uma tentativa de suprimir os jovens de virem à rua e protestarem contra o Governo”, apontou.

Na visão do ex-docente do Instituto Politécnico de Macau, a decisão do Tribunal de Recurso “não é uma boa medida e é uma tentativa de silenciamento”. “É uma pena que o tribunal de Hong Kong tenha sentenciado estes jovens a penas de prisão”, acrescentou.

No protesto de ontem em Wanchai questionou-se a continuação do trabalho do partido Demosisto, agora que os seus principais líderes estão atrás das grades.

Para Larry So, pode de facto haver um retrocesso nos movimentos pró-democracia. “A curto prazo podemos sentir um efeito nesse sentido (uma redução dos protestos nas ruas), porque é um sinal claro junto da comunidade e uma tentativa de travar um pouco os jovens. É uma decisão que diz ‘Não tomem decisões radicais e não vão para a rua, pois podem ser presos’.”

Em Macau, cujos movimentos pró-democracia têm registado uma expressão diminuta, haverá, segundo Larry So, poucas consequências destas prisões.

“Macau ainda não atingiu essa fase em que os jovens assumem posições mais radicais. O território vive uma melhor situação económica. Não vejo acontecimentos destes no futuro de Macau, e penso que Macau deve olhar para Hong Kong e aprender algumas lições com o que tem acontecido nos últimos tempos”, disse o politólogo.

Scott Chiang, presidente da Associação Novo Macau (ANM), pede, sobretudo, que não se perca a esperança.

“O que esperamos é que Joshua Wong e outros activistas não percam a esperança de lutar pelo seu destino”, disse ao HM.

“Estas prisões vão trazer dois tipos de consequências. De certeza que vão afastar algumas pessoas e fazer com que se dê um passo atrás nestes movimentos. Diria que esta decisão do tribunal vai dividir um pouco a sociedade de Hong Kong”, acrescentou o presidente da ANM.

Projectos adiados

Tanto as condenações a penas de prisão efectivas como a de outros 13 activistas no início da semana passada, por um caso anterior ao movimento ‘Occupy’, aumentaram os receios de que o sistema judiciário independente de Hong Kong esteja sob ameaça por o Governo da cidade apoiado por Pequim alegadamente estar a usar os tribunais para reprimir a oposição e restringir a sua capacidade de protesto.

Antes do julgamento, o Departamento de Justiça de Hong Kong disse que não havia “absolutamente nenhuma base para inferir qualquer motivo político” da sua parte em relação ao caso.

No ano passado, Nathan Law, então com 23 anos, tornou-se o mais novo deputado a ser eleito em Hong Kong, mas, tal como outros cinco eleitos pela população, viria meses mais tarde a ser desqualificado por usar o seu juramento para protestar contra Pequim.

Joshua Wong, de 20 anos, também falou de seu desejo de se candidatar, mas não pôde fazê-lo por não ter a idade mínima de 21 anos.

Alex Chow, que na sexta-feira faz 27 anos, pretende fazer um doutoramento no estrangeiro, mas a sentença veio atrasar os seus planos.

ONG criticam decisão do tribunal

[dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]rupos de direitos humanos e políticos norte-americanos já condenaram as penas de prisão efectiva aplicadas pelo Tribunal de Recurso de Hong Kong.

A Amnistia Internacional disse que a busca “incansável” pelo Governo de penas de prisão para Joshua Wong, Nathan Law e Alex Chow foi um “ataque vingativo” à liberdade de expressão e reunião pacífica.

“O verdadeiro perigo para os direitos de liberdade de expressão e reunião pacífica em Hong Kong é a continuada perseguição pelas autoridades de proeminentes activistas democratas. As acusações destinadas a dissuadir a participação em protestos pacíficos devem ser paradas”, disse a directora da Amnistia Internacional em Hong Kong Mabel Wu, citada pela Rádio e Televisão Pública de Hong Kong.

A directora da organização Human Rights Watch para a China, Sophie Richardson, reagiu através da rede social Twitter.

“A democracia em Hong Kong, que se posiciona como centro legal, de negócios e de liberdade de expressão foi gravemente prejudicada pelas sentenças de hoje”, escreveu.

O académico da Universidade de Hong Kong Eric Cheung, que estava no tribunal em apoio aos jovens presos disse que estava triste que os três jovens fossem colocados atrás das grades e destacou a sua dedicação e “grande potencial”.

“O que eles fizeram (…) foi realmente por preocupação com Hong Kong”, disse Cheung.

Censura americana

Nos Estados Unidos, o senador Marco Rubio, que lidera uma comissão no Congresso sobre a China, também criticou as sentenças: “As acusações políticas e as novas sentenças destes jovens são uma vergonha e mais uma prova de que a estimada autonomia de Hong Kong está precipitadamente em erosão”.

Rubio disse que as políticas dos EUA devem reflectir a realidade de que Pequim está a tentar esmagar a nova geração do movimento pró-democracia de Hong Kong e a minar o princípio “Um país, dois sistemas”, que entrou em vigor em 1997, com a passagem da soberania de Hong Kong da Grã-Bretanha para a China.Pequim prometeu deixar a cidade manter a sua ampla autonomia e direitos civis, como liberdade de expressão e manifestação, desconhecidos no interior da China.

O congressista Chris Smith acrescentou que Hong Kong pode arriscar perder o seu estatuto especial perante as leis dos Estados Unidos se Pequim recusar seguir as promessas feitas na Declaração Conjunta sino-britânica.

21 Ago 2017

Hong Kong | Membro do Partido Democrata detido por suspeita de mentir

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] membro do Partido Democrata de Hong Kong que na semana passada disse ter sido raptado e torturado na cidade por agentes da China foi ontem detido por suspeita de prestar falsas declarações à polícia.

“A polícia tem motivos para acreditar que a pessoa em questão forneceu informações falsas para enganar os agentes”, disseram ontem as autoridades em comunicado, citadas pela agência France Press.

Howard Lam foi detido durante a madrugada de ontem, por volta das 3:30, e levado algemado da sua casa, em Ma On Shan, para a esquadra de Hung Hom para investigação, informou a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong.

Os agentes fizeram buscas ao apartamento de Lam durante mais de uma hora e levaram uma série de objectos, incluindo telemóveis, um computador portátil e uns óculos de sol.

Dúvidas em relação ao relato do alegado sequestro emergiram depois de a agência de notícias FactWire ter noticiado uma versão diferente dos acontecimentos na segunda-feira.

A FactWire informou que múltiplas câmaras de videovigilância em Yau Ma Tei desacreditaram a versão da alegada vítima de que tinha sido sequestrado na tarde de quinta-feira passada quando estava a caminho de uma estação de metro, em Pitt Street.

Howard Lam disse na sexta-feira que foi raptado, drogado e torturado um dia antes no bairro de Mong Kok, em Hong Kong, por ter a intenção de fazer chegar à viúva do dissidente chinês Liu Xiaobo uma foto autografada do jogador argentino Lionel Messi.

Howard Lam disse que quando recuperou os sentidos estava numa praia em Hong Kong. Também mostrou as pernas com vários agrafos metálicos dispostos em forma de cruz, algo que atribuiu ao facto de ser cristão.

O membro do Partido Democrata também atribuiu o alegado ataque de que foi alvo a agentes do interior da China, afirmando que os alegados sequestradores falavam mandarim. A língua comummente falada em Hong Kong é o cantonês.

As autoridades chinesas não podem interferir nos assuntos de Hong Kong, que até 2047 é governada ao abrigo do princípio “Um país, dois sistemas”.

O alegado sequestro em Hong Kong de um bilionário chinês no início deste ano e os desaparecimentos em condições misteriosas de cinco livreiros estabelecidos na antiga colónia britânica aumentaram os receios de que Pequim tenha ultrapassado os limites.

Campanha contra esquemas em pirâmide após morte de quatro jovens

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China lançou uma campanha contra esquemas em pirâmide, uma prática fraudulenta em crescimento no país, que resultou na morte de quatro pessoas desde Julho passado, vítimas de grupos criminosos, foi ontem noticiado.

A Administração Estatal para a Indústria e Comércio da China anunciou, em comunicado, que vai cooperar com quatro Ministérios para combater aquele tipo de esquema fraudulento.

A redução consecutiva das taxas de juro no sistema bancário chinês e a volatilidade no mercado bolsista, aliados à incerteza no sector imobiliário, terão atraído cada vez mais investidores chineses para esquemas de angariação ilegal de fundos.

Só no ano passado, a polícia chinesa investigou 2.826 casos de esquemas fraudulentos, um aumento de 20% em relação ao ano anterior.

Segundo o jornal oficial China Daily, as vítimas entram no esquema atraídas por falsas ofertas de trabalho, sendo mantidas em dormitórios e forçadas a recrutar amigos e familiares.

Desde o mês passado, as autoridades registaram quatro mortes relacionadas com aquela prática fraudulenta, enquanto 230 pessoas no sul do país foram presas, depois de uma rara manifestação nas ruas de Pequim.

O corpo de uma das vítimas foi encontrado no início deste mês, num rio da província de Hubei, no centro do país. Outras duas vítimas foram registadas pelas autoridades do município de Tianjin (nordeste) e uma outra em Shanxi, no norte da China.

Todos os mortos tinham cerca de 20 anos.

Em Dezembro de 2015, as autoridades chinesas desmontaram um esquema gigante, que ludibriou cerca de 900.000 pessoas em mais de 50 mil milhões de yuans.

Em muitos casos, os esquemas mantêm a aparência de empresa legítima, fornecendo informação falsificada sobre transações financeiras e com escritórios nos distritos financeiros das principais cidades chinesas.

16 Ago 2017

Hong Kong | Praias interditas após derrame de óleo de palma

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s autoridades de Hong Kong interditaram ontem mais duas praias, na sequência de um derrame de óleo de palma, elevando a proibição a mais de uma dúzia, após a colisão entre dois navios na semana passada.

A Deep Water Bay Beach e a Turtle Cove Beach, no sul Hong Kong, foram as praias agora encerradas, noticiou o jornal South China Morning Post (SCMP).

Actualmente são 13 as praias interditadas desde domingo, na sequência da colisão, entre dois navios, um dos quais transportava nove mil toneladas de óleo de palma, no estuário do Rio das Pérolas na quinta-feira passada.

Depois de inspeccionar a situação e o progresso dos trabalhos de limpeza na ilha de Lama, ontem de manhã, o subsecretário para o Ambiente, Tse Chin-wan, disse que a colisão ocorreu a “algumas dezenas de quilómetros” a sudoeste de Hong Kong e que um recipiente do navio de carga foi perfurado, levando à fuga de cerca de 1.000 toneladas de óleo de palma.

Cerca de 90 toneladas de óleo foram retiradas pelas autoridades do interior da China e de Hong Kong, segundo a imprensa.

Embora os departamentos do governo de Hong Kong tenham recolhido mais de 50 toneladas de pedaços brancos e gelatinosos do óleo cristalizado, muito mais está a dar às costas do sudoeste da cidade e agora a espalhar-se para leste. As autoridades de Guangdong limparam 38 toneladas de óleo de palma até segunda-feira.

Tse Chin-wan estimou que cerca de 200 toneladas do produto ainda estavam nas praias e costa da cidade e que levariam mais tempo para limpar.

Alerta tardio

O derrame ocorreu em águas territoriais chinesas na quinta-feira, mas o governo de Hong Kong só foi alertado dois dias depois.

O vice-director do departamento da proteção ambiental, Elvis Au Wai-kwong, disse num programa de rádio que os maiores pedaços de óleo derramado já tinham sido limpos e que “a situação, comparando com há dois dias, está maioritariamente sob controlo”, escreveu o SCMP.

À semelhança de Tse, o vice-director da protecção ambiental desvalorizou as 48 horas que passaram entre o derrame e o alerta dado pelas autoridades do interior da China.

“Isto é um não-problema. A meu ver, eles activaram a sua resposta de emergência… e notificaram Hong Kong no sábado, dando informações muito importante para nós, que o navio envolvido estava a transportar óleo de palma”, afirmou, indicando que isso permitiu aos respectivos departamentos governamentais de Hong Kong “procurar as respostas adequadas”.

“Podemos ver que o mecanismo (de notificação) está a funcionar”, acrescentou.

Também garantiu que o óleo de palma – que apenas derrete a 59 graus celsius – era não tóxico e que os residentes “não precisavam de se preocupar”, afirmando que à semelhança de outro lixo no mar era preciso limpá-lo.

9 Ago 2017

Hong Kong | Governo quer polícias chineses em nova estação ferroviária

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo de Hong Kong propôs ontem a presença de polícias chineses numa zona especial da nova estação ferroviária, que vai ligar o território à rede ferroviária da China, para as formalidades de imigração.

Este novo projeto ferroviário vai permitir ligar, a partir do próximo ano, a estação de West Kowloon, na península de Kowloon, à cidade chinesa de Cantão, a 80 quilómetros, e à rede ferroviária continental.

Várias outras ligações existem já entre a Região Administrativa Especial de Hong Kong e a China continental, mas os controlos chineses são todos efectuados do lado chinês da fronteira.

A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, afirmou que as novas disposições não eram contrárias à Lei Básica da RAEHK.

“A verdadeira questão é encontrar os meios legais para facilitar a vida da população de Hong Kong”, disse Lam aos jornalistas.

A Lei Básica, “Constituição” da Região Administrativa Especial, estipula que as forças de segurança chinesas não têm o direito de intervir em Hong Kong, que possui a sua própria polícia.

Precedente de risco

Priscilla Leung, eleita pró-Pequim do Conselho Legislativo (LegCo), lembrou que este tipo de zona de imigração conjunta existe já em vários países, e que Hong Kong iria “arrendar” à China uma parte do terminal ferroviário.

“Fora daquela zona, as leis de Hong Kong estarão em vigor para todos”, disse.

O princípio “um País, dois Sistemas” definiu para Hong Kong, depois da transferência de soberania em 1997 do Reino Unido para a China, um regime de semi-autonomia, em vigor teoricamente até 2047.

Martin Lee, fundador do Partido Democrático de Hong Kong e que participou na redação da Lei Básica na década de 1980, considerou que esta disposição ia ser “um precedente perigoso”.

Eleita pela oposição, Claudia Mo acusou o Executivo de Lam de querer aprovar este projeto para que a população da ex-colónia britânica “se sinta mais próxima da China, potência soberana”.

Este plano deverá ser ainda validado pelo LegCo, controlado pelo campo pró-Pequim.

Dois caças da China interceptam avião americano

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m avião de reconhecimento norte-americano recorreu a uma manobra de desvio após ter sido interceptado por dois caças chineses sobre o Mar da China anunciou ontem o Pentágono. O incidente ocorreu no domingo, quando dois aviões de caça J-10 chineses interceptaram um avião de reconhecimento Ep-3 da marinha norte-americana no espaço aéreo internacional a oeste da península coreana, declarou o porta-voz do Pentágono, capitão Jeff Davis. Um dos aviões chineses colocou-se por debaixo do avião norte-americano, antes de reduzir a velocidade e forçando o avião norte-americano a “efectuar uma manobra de desvio para escapar a uma possível colisão”, detalhou Jeff Davis. O incidente “não é revelador” dos habituais comportamentos do exército chinês, precisou. “É frequente acontecer a intercepção de aviões no espaço aéreo internacional, na maior parte das situações em total segurança”, acrescentou.

Incêndio ameaça habitações em Proença-a-Nova

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] incêndio que está a lavrar em Proença-a-Nova, em Castelo Branco, atingiu ao final da manhã de ontem várias habitações, obrigando à retirada de populares das suas casas. O fogo deflagrou na tarde de domingo no concelho da Sertã, no distrito de Castelo Branco, mas alastrou a Proença-a-Nova e ao concelho de Mação, pertencente ao distrito vizinho de Santarém. De acordo com os dados do `site´ da Autoridade Nacional de Proteção Civil no local estavam ontem mais de 1.040 operacionais, apoiados por 327 viaturas e 12 meios aéreos.

Mbappé a caminho do Real Madrid por 180 milhões de euros

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] «Marca» avançou, esta terça-feira, que o Real Madrid já tem um principio de acordo com o Mónaco pelo jovem avançado francês Kylian Mbappé numa transferência avaliada em 180 milhões de euros. O negócio passará por 160 milhões de euros fixos e mais 20 milhões por objetivos. O jogador, de 18 anos, irá assinar por seis temporadas e irá receber sete milhões de euros por ano. Mbappé estará interessado e rumar imediatamente a Madrid e não permanecer mais uma temporada ao serviço do clube monegasco. Esta transferência irá pulverizar o recorde de Paul Pogba, que foi para o Manchester United por 105 milhões de euros.

26 Jul 2017

Mais um deputado de Hong Kong barrado à entrada de Macau

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á mais um membro do Conselho Legislativo de Hong Kong a queixar-se das autoridades de Macau. Kwok Ka-ki, membro do pró-democrata Partido Cívico, foi impedido de entrar no sábado passado, relatava ontem a imprensa da região vizinha, que explicava que o deputado vinha ao território comemorar o aniversário de casamento.

Kwok Ka-ki vem engrossar uma lista crescente de activistas da antiga colónia britânica que são obrigados a apanhar um ferry de volta a casa sem terem entrado em Macau. Só este ano, aconteceu o mesmo aos deputados Kenneth Leung, Andrew Wan e Ray Chan. No caso de Kenneth Leung, tinha estado na China Continental alguns dias antes da tentativa frustrada de visitar a RAEM.

Ainda segundo os jornais de Hong Kong, Kwok apanhou o barco para Macau depois de ter participado numa marcha de homenagem ao dissidente Liu Xiaobo, que morreu na semana passada. De acordo com o deputado, pretendia comemorar por cá o 30.o aniversário do seu casamento.

À chegada ao Terminal Marítimo do Porto Exterior, as autoridades não o deixaram entrar. A justificação dada, explica, foi o facto de constituir uma ameaça à segurança interna da RAEM, argumento usado também nos incidentes que envolveram os seus colegas do Conselho Legislativo.

Kwok Ka-ki afiança que as suas viagens a Macau têm sempre fins recreativos, jamais tendo participado em eventos oficiais ou de outra índole. “Isto é extremamente ridículo”, considerou.

Aceitam-se explicações

“Trata-se de uma acusação muito séria. Sou deputado eleito de forma democrática. Tenho uma certa posição constitucional conforme o que está estipulado na Lei Básica. O que Macau tem estado a fazer aos deputados de Hong Kong é intolerável”, afirmou o deputado.

Kwok já pediu à Chefe do Executivo da RAEHK, Carrie Lam, que peça explicações a Macau, e que o Governo de Chui Sai On prove como é que ele e os restantes deputados barrados constituem uma ameaça interna. Perguntou ainda se o Executivo de Hong Kong tinha conhecimento de que poderia ser barrado e se o Governo de Macau tem uma “lista negra”. O deputado é do entendimento de que Carrie Lam deve levar este incidente de forma séria e defender a posição constitucional de Hong Kong.

“isto não é só acerca de mim, é uma estalada na face de Hong Kong”, vincou. “Se Carrie Lam não quiser ser vista como um C.Y. Leung 2.0, deve exigir uma resposta de Macau.”

O deputado estende os reparos a Chui Sai On, perguntando se foi Pequim que lhe pediu para impedir a entrada em Macau por causa do seu posicionamento político.

Em Maio passado, vários activistas pró-democracia tiveram de dar meia volta e regressar a Hong Kong, aquando da visita a Macau do presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional. Alguns deles tinham estado dias antes no território, sem que tivesse sido levantado qualquer problema.

O fenómeno inverso começou já a verificar-se: no final do mês passado, nas vésperas da visita do Presidente Xi Jinping, chegou a vez de activistas da Associação Novo Macau não passarem do Terminal em Sheung Wan.

18 Jul 2017

Despedimento sumário

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o passado dia 14 o site “appledaily.com” publicou uma notícia sobre o despedimento súbito de oito funcionários de um jardim de infância em Mongkok, Hong Kong, após a cerimónia de entrega de diplomas. O director do infantário encontra-se entre os funcionários despedidos.

A história conta-se em poucas palavras. A cerimónia foi realizada fora da escola. Quando o director e alguns educadores regressaram ao estabelecimento, o supervisor esperava-os acompanhado por seguranças.

“Dêem-lhes 15 minutos para irem buscar as suas coisas. Os cheques com as indemnizações já estão passados. Estou de partida para o estrangeiro e quem não levar o cheque agora, vai ter de esperar três meses até que eu regresse a Hong Kong.”

O despedimento sumário atingiu seis educadores, um funcionário administrativo e o próprio director. Dos onze funcionários ao serviço, a escola ficou reduzida a três. O supervisor convidou ex-funcionários a regressar à escola.

O súbito despedimento perturbou imenso os atingidos. Alguns choravam convulsivamente. Os pais, acabados de saber do sucedido, voltaram rapidamente para o infantário. Educadores e crianças choravam abraçados. Aparentemente, por trás de tudo isto, esteve a má relação de trabalho entre o director e o supervisor. Os educadores despedidos afirmaram que eram pagos abaixo da média. Mas, nem mesmo assim, conseguiram garantir o posto de trabalho. Já eram mal pagos e ainda acabaram por ser despedidos. Na sequência dos acontecimentos a polícia foi chamada ao local. Mas por se tratar apenas de um conflito laboral os agentes nada puderam fazer.

Em Hong Kong, o posto mais elevado dentro de qualquer escola é o de supervisor, o director está sob as suas ordens. A decisão do supervisor prevalece, portanto.

O director estava ao serviço do infantário há 17 anos. Os educadores há dez, sete, cinco, três e um ano, respectivamente. Se os meus leitores estão recordados, há algumas semanas a esta parte falei sobre o Fundo Compensatório da Previdência, que se destina a indemnizar trabalhadores que ficam desempregados após trabalho de longa duração. Os trabalhadores com mais de cinco anos de casa podem habilitar-se a este Fundo.

A desactualização da lei do trabalho de Hong Kong, que ainda se rege pelas condições socio-económicas e laborais dos anos 70, é um dos problemas que estas pessoas têm de enfrentar. Se se lembrarem desse período, sabem que na década de 70 não se vivia desafogadamente em Hong Kong e que a cidade não estava desenvolvida. As empresas em geral não tinham grande capacidade económica e, por isso, a os benefícios garantidos por lei aos trabalhadores eram escassos.

Nestes contratos tudo se resume ao dinheiro. Se a entidade patronal estiver disposta a pagar ao empregado o valor da indemnização previsto, não terá qualquer dificuldade em despedi-lo, pondo desta forma um ponto final nas suas obrigações para com ele. Foi o que se passou na situação que temos vindo a relatar. O supervisor paga o que tem a pagar e vê-se livre dos oito empregados.

Neste caso o que choca mais é a desumanidade do processo. Em primeiro lugar, os funcionários foram despedidos no dia da cerimónia de entrega dos diplomas. Era um dia feliz que se transformou num dia de lágrimas e infelicidade. Entretanto, o caso foi comunicado à polícia e à comunicação social. A história passou a ser do domínio público e, como tal, é possível que venham a ter dificuldade em contratar novos funcionários.

Em segundo lugar, as crianças serão necessariamente afectadas e irá gerar-se um sentimento de insegurança. Esta insegurança vai alastrar-se aos pais e a outros educadores que venham a trabalhar no infantário e põe em risco os laços afectivos que se têm de estabelecer entre os educadores, as crianças e os pais. Em última análise os pais podem perder a vontade de deixar as crianças nesta escola.

Desconhecem-se os motivos do mau relacionamento entre o supervisor e estes educadores. Mas, no que à educação diz respeito, a principal preocupação deverá ser o interesse das crianças. Estes meninos têm idades compreendidas entre os 2 e os 6 anos. Neste período das suas vidas, o afecto que recebem dos educadores é talvez mais importante do que os conhecimentos que estes lhes transmitem. Se os professores desaparecerem sem mais nem menos no final de cada ano, este estabelecimento acabará por vir a ter problemas, e as crianças não se vão sentir bem. É uma situação em que todos ficam a perder.

A Lei Laboral de Macau é bem melhor do que a de Hong Kong, porque na altura em que foi elaborada já Macau era próspero. Os empregados têm direito a mais benefícios. Basta lembrarmo-nos que a lei de Macau impõe uma pausa no final de cada cinco horas de trabalho, pagamento de horas extraordinárias quando o horário excede o estipulado, etc.

Talvez Hong Kong deva rever a sua Lei Laboral de forma a dar mais protecção a quem trabalha. No mínimo deve evitar que casos como o que acabámos de descrever se repitam.

18 Jul 2017

Hong Kong | Pró-democratas acusam governo de “declarar guerra”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Partido Democrático de Hong Kong acusou o governo de “declarar guerra” aos pró-democratas e à população, após a desqualificação de mais quatro deputados pela forma como prestaram juramento no parlamento daquela região chinesa, segundo a imprensa local.

Citado pela RTHK, o presidente do Partido Democrático, Wu Chi-wai, disse que os direitos dos deputados de expressarem as suas visões no Conselho Legislativo (LegCo ou parlamento) podem ser restritos, uma vez que o ‘filibuster’ (bloqueio parlamentar) está agora mais restringido depois de os deputados pró democratas terem perdido o seu direito de veto.

Wu Chi-wai advertiu que o princípio “Um país, dois sistemas” poderá ser adversamente afectado, afirmando que os governos de Pequim e de Hong Kong podem fazer o que quiserem agora.

O partido Demosisto também reagiu à decisão do tribunal, afirmando que milhares de eleitores viram as suas escolhas “roubadas”. Em comunicado, o partido que viu desqualificado o mais jovem deputado alguma vez eleito em Hong Kong – Nathan Law – disse que a perda de assento no LegCo por seis deputados até à data privou mais de 180 mil eleitores da sua voz. O Demosisto condenou o que classificou de “manifesta interferência do Governo de Pequim para prejudicar o poder da legislatura de Hong Kong através da reinterpretação da Lei Básica”. Além disso, o Demosisto disse que agora estava mais do que o determinado para lutar pela democracia e sufrágio universal e que iria apoiar a decisão de recorrer contra a decisão do tribunal.

Por sua vez, o desqualificado Nathan Law, um dos membros do Demosisto e líder estudantil dos protestos pró democracia em 2014, agradeceu aos eleitores que votaram nele. O também pró democrata James To disse que os quatro desqualificados “continuam a ser os que foram escolhidos pela população”. Outro deputado da ala pró-democrata, Raymond Chan, eleito pelo partido People Power, disse que os residentes de Hong Kong, incluindo aqueles que não votaram nestes quatro deputados desqualificados, não vão concordar com o uso pelo governo dos tribunais como “ferramenta” para alterar os resultados eleitorais.

A deputada pró democrata Claudia Mo, que acabou em lágrimas num encontro com a imprensa, disse que a acção do governo era “calculada”, afirmando que o executivo queria garantir que o campo pró democrata não vai ganhar nas próximas eleições intercalares todos os assentos que perdeu até à data.

O desqualificado Leung Kwok-hung disse que os quatro deputados afetados pela decisão do tribunal têm a intenção de recorrer da sentença. Foram dadas duas semanas aos quatro deputados desqualificados hoje para abandonarem os respetivos gabinetes no LegCo.

O LegCo é composto por 70 lugares, mas apenas 35 resultam de candidaturas apresentadas individualmente por cidadãos e do voto directo de 3,77 milhões de eleitores, em cinco círculos eleitorais definidos por áreas geográficas.

17 Jul 2017

Hong Kong | Mais quatro deputados pró-democracia perdem assentos

Agora não têm voz. Os ditos pró-democratas, que modificaram ou troçaram do juramento no Legco, ficam de fora por decisão do tribunal.

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uatro deputados pró-democracia de Hong Kong perderam os seus assentos, ficando sem poder de veto no Conselho Legislativo (parlamento), segundo decisão do tribunal perante um processo instaurado pelo Governo. Os deputados Leung Kwok-hung (conhecido como “Long Hair”), Nathan Law, Lau Siu-lai e Edward Yiu perderam a sua batalha na justiça, depois de o anterior Governo ter pedido a sua desqualificação, avança o jornal South China Morning Post (SCMP).

A decisão do tribunal de última instância tem enorme impacto na capacidade de negociação do bloco democrata no Conselho Legislativo (LegCo) de Hong Kong. Com Leung, Law e Lau – todos eleitos pela via directa, ou seja, pela população – desqualificados, o chamado campo pró-democrata perdeu a capacidade de bloquear alterações legislativas apresentadas pelo campo pró-governo.

Este cenário pode dar ao campo pró-Pequim a oportunidade de mudar as regras do órgão legislativo, impedindo os seus rivais de recorrer ao “filibuster” (bloqueio parlamentar) em leis controversas, salienta o jornal.

A desqualificação é válida desde 12 de Outubro de 2016, quando tomaram posse. A batalha judicial foi gerada a partir de acontecimentos na tomada de posse. Numa acção judicial anterior, a administração conseguiu afastar os deputados pró-independência Sixtus Baggio Leung e Yau Wai-ching (do grupo político Youngspiration), por terem proferido palavras, durante o seu juramento, consideradas anti-China.

O caso destes dois deputados fez com que Pequim fizesse uma interpretação da Lei Básica (mini-Constituição), sobrepondo-se a uma decisão do tribunal de Hong Kong.

O processo judicial cujo desfecho foi hoje conhecido foi iniciado pelo anterior chefe do executivo, Leung Chun-ying, e pelo secretário da Justiça, Rimsky Yuen Kwok-keung, em Dezembro, depois do afastamento de Yau e Sixtus Leung.

Os advogados do Governo argumentaram que estes quatro deputados não prestaram o juramento de 12 de outubro de forma solene, sincera e total.

Yiu e Law foram acusados de adicionar palavras aos seus juramentos, com Law a alterar o tom ao dizer a palavra “República”, em “República Popular da China”, como se estivesse a fazer uma pergunta. Yiu inseriu uma frase no seu juramento: “Vou defender a justiça processual em Hong Kong, lutar por sufrágio universal genuíno e servir o desenvolvimento sustentável da cidade”.

Lau leu cada palavra com seis segundos de intervalo, o que advogado Johnny Mok Shiu-luen disse que dividiu o seu juramento em “90 estranhas unidades linguísticas desprovidas de qualquer coerência”, de acordo com o SCMP.

Segundo o advogado, Leung Kwok-hung minou a solenidade da cerimónia ao entoar slogans, vestindo uma t-shirt com a frase “desobediência civil” e tornando o seu juramento numa “performance teatral”, e usando um chapéu-de-chuva amarelo, símbolo do movimento Occupy Central, além de rasgar uma cópia da controversa proposta de reforma política apresentada por Pequim em 2014.

17 Jul 2017

Hong Kong | A história que os mortos contam, por Jason Wordie

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] um passeio dedicado a quem gosta de história. Está marcada para o próximo sábado, em Hong Kong, mais uma iniciativa do historiador Jason Wordie, que organiza com regularidade caminhadas por diferentes pontos da antiga colónia britânica. Os percursos são acompanhados com enquadramentos e explicações sobre o passado do território.

Desta feita, a proposta leva os interessados até Happy Valley, uma das zonas da ilha de Hong Kong “com maiores contradições urbanas”, refere a organização do evento. Nas imediações do Hong Kong Jockey Club, vários cemitérios recebem os mortos de diferentes religiões: muçulmanos, católicos romanos e hindus.

É ali também que está o Cemitério de Hong Kong – em tempos conhecido como Cemitério Colonial – onde estão sepultados protestantes europeus, ortodoxos russos e seguidores de outras religiões. Várias campas estão ocupadas com os restos mortais de japoneses que viveram em Hong Kong antes da guerra, sendo que muitas delas são de jovens mulheres.

Com o passeio pretende-se dar a conhecer, a partir dos cemitérios, as contribuições sociais e económicas das várias comunidades que passaram por Hong Kong durante o último século e meio.

Jason Wordie é um historiador que vive em Hong Kong e que organiza este tipo de visitas com regularidade. Tem vários livros publicados sobre a antiga colónia britânica e também sobre Macau.

6 Jul 2017

Carrie Lam adopta tom conciliador com LegCo

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] nova líder de Hong Kong, Carrie Lam, adoptou um tom conciliador nesta quarta-feira e prometeu melhorar os laços com o Parlamento, mas sugeriu que novas reformas para levar mais democracia à cidade chinesa não entrarão na agenda tão cedo.

A ex-colónia britânica comemorou o 20º aniversário de seu retorno ao controle da China no sábado, e o presidente chinês, Xi Jinping, visitou a metrópole e alertou que esta deveria reprimir iniciativas para uma “independência de Hong Kong”.

Em 2014, Lam liderou os esforços do governo para aprovar um pacote de reforma política polémico apoiado por Pequim, que permitiria uma votação directa para a escolha do novo líder da cidade. Mas a exigência chinesa de que primeiro todos os candidatos sejam pré-seleccionados por um comité maioritariamente pró-Pequim ajudou a desencadear o movimento de desobediência civil e pró-democracia “Occupy” no final do mesmo ano.

O pacote de reforma política acabou sendo barrado em 2015 por parlamentares da oposição que o descreveram como “democracia falsa”. “A reforma política sempre foi muito sensível, muito complicada e muito difícil”, disse Lam aos deputados. “Se eu… reiniciar a reforma política imediatamente, de forma que a sociedade se envolva em conflitos sérios novamente e as questões da economia e da subsistência cheguem a um impasse, então, como a pessoa com a responsabilidade final, eu teria fracassado”, afirmou.

Na sua primeira semana no cargo, Lam passou cerca de uma hora a responder a perguntas de deputados numa reunião especialmente arranjada, na qual o clima pareceu menos hostil do que o de sessões com seu antecessor, o impopular Leung Chun-ying. Lam enfatizou seu desejo de melhorar as relações do executivo com o Conselho Legislativo (Legco).

6 Jul 2017

A liberdade prometida

[dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]inte anos parecem muito tempo mas estes que passaram desde a transferência de soberania de Hong Kong até ao presente fugiram num ápice. Para isso terá contribuído certamente o desenrolar compulsivo, quase maníaco, dos factos. Estes, de tal modo se sucederam, que por vezes se atropelaram e mutuamente atiraram para o caixote do lixo da História. O século XXI tem sido fértil em acontecimentos, em momentos que, noutras eras, teriam sido incontornáveis, disruptivos. Agora não: existe esta sensação de que a vida continua igual, orientada pelos mesmos tiques pois a humanidade não consegue viver no sobressalto diário que os media hoje proporcionam.

Insinuou-se a gripe das aves, eclodiu a crise asiática, a mãe pátria salvou as finanças da praça financeira. Nos EUA ruíram as torres-gémeas, semeou-se a guerra de novo pelo mundo. Cresceu desmesuradamente Macau, o fosso entre ricos e pobres alargou-se consideravelmente na ex-colónia britânica. Veio outra crise, de um tamanho tal que a Grande Depressão parecia agora ínfima. Em Hong Kong, os guarda-chuvas amarelos ocupavam durante meses as ruas e impediam o sufrágio universal condicionado.

Muitas vezes me pergunto se, caso fosse realmente o interesse de Pequim controlar os assuntos de Hong Kong, Joshua Wong e outros activistas radicais não seriam seus agentes. Isto porque, de modo quase perfeito, impediram que a RAEHK desse um passo fundamental para uma realização democrática mais completa: o sufrágio universal condicionado. Como se sabe, a proposta de Pequim passava primeiro por admitir uma sufrágio universal. E, em segundo lugar, que os nomes merecessem a sua aprovação, isto porque, segundo o léxico oficial, teriam de ser patriotas.

O primeiro aspecto não é de desprezar. Um sufrágio universal é algo de onde dificilmente se recua. E, correndo tudo bem, ou seja, se Hong Kong não afrontasse a China, é de admitir que a cidade poderia gozar de um sufrágio sem condicionantes dentro de uma década. Assim não o quiseram os activistas dos guarda-chuvas amarelos. Que interesses realmente defendem é difícil de saber, mas os resultados que conseguem vão pouco além de um acentuado gosto pela vitimização mediática. E, claro, de um retrocesso no processo democrático.

Os activistas dos guarda-chuvas amarelos queriam, num golpe, passar de um regime colonial, onde a representação democrática eleitoral directa era mais fraca do que, por exemplo, em Macau, para uma democracia eleitoral de modelo ocidental. Não aceitaram um passo intermédio e no mesmo gesto queimaram uma série de pontes que permitiam um diálogo contínuo entre as partes. O comportamento dos deputados eleitos, quando do juramento, foi lamentável. Traíram o país ou enxovalharam-no, pois mesmo não se sentindo chineses, nem por isso deixavam de estar na China e certas atitudes não são admissíveis; mas sobretudo traíram os seus eleitores que assim se quedaram sem representantes no parlamento. Finalmente, com tanta fanfarra e pouca votação, proporcionaram a Pequim o congelamento sine die das reformas democráticas.

A democracia é complicada em Hong Kong não por causa da liberdade de expressão, dos direitos humanos ou dos animais. A questão é, claramente, outra. O receio de mudança, de perda de controlo, existe mais do lado dos homens fortes da cidade, do que por parte de Pequim. Os tubarões do imobiliário e da navegação, os mestres das finanças, os donos dos grandes negócios, conluiados com interesses no continente, esses serão os que sobretudo receiam uma sociedade mais justa, mais igualitária, menos dividida, resultado eventual do voto popular.

Em Hong Kong, a estrutura económico-política é ainda herdeira dos impérios, chinês e inglês. O maoísmo vizinho pouco ou nada a perturbou. É certo que, apressadamente e à última da hora, os ingleses lembraram-se de inocular o vírus dos gritos pela “democracia” e “liberdade”, depois de 140 anos de feroz garra colonial sobre a população chinesa da cidade. Ainda nos 70 Bruce Lee destruía, num dos seus filmes, uma placa onde se lia “Proibida a entrada a chineses e a cães”. É também por isso revoltante ver bandeiras britânicas nos protestos do 1 de Julho…

O despertar tardio dos britânicos para a democracia em Hong Kong retirar-lhes-ia a legitimidade que a China lhes concedeu com a assinatura da Declaração Conjunta. No entanto, também graças a este documento (para além, creio, da própria vontade de Pequim), a Lei Básica não deverá sofrer alterações que tornem inoperacional o segundo sistema. E o Reino Unido tem o dever de olhar para o que acontece e verificar o cumprimento dos acordos, pelo menos do que constitui o seu espírito mais íntimo. A China, como mãe-pátria, tem o dever de não assustar os seus filhos, sobretudo quando isso não parece de todo necessário, como no caso dos livreiros.

Por Macau ainda nos banhamos na liberdade prometida.

5 Jul 2017