PJ | Três detidos por burla com notas falsas

Três homens do Interior foram detidos pelos crimes de burla e troca ilegal de dinheiro para o jogo, depois de terem entregue a um jogador notas falsas. O caso foi apresentado ontem pela Polícia Judiciária (PJ) e citado pelo Jornal Ou Mun.

A situação foi descoberta depois do jogador ter utilizado as notas recebidas dos burlões no casino para obter fichas de jogo. Nessa altura, os trabalhadores do casino verificaram que as notas apresentavam anormalidades, tinham inclusive a palavra “copy” pelo que denunciaram o sucedido às autoridades.

Após a investigação, a PJ descobriu que os suspeitos estão envolvidos em outros quatro casos semelhantes que aconteceram nos dias 2 e 20 deste mês.

No quarto do hotel na ZAPE onde os suspeitos estavam hospedados, os agentes da PJ encontraram outros 70 mil dólares de Hong Kong em notas falsas de 1.000 dólares de Hong Kong. Contudo, a impressão foi considerada de baixa qualidade. Os suspeitos recusaram cooperar com a PJ. O caso foi encaminhado ao Ministério Público pelos crimes de associação, de burla e de exploração de câmbio ilícito para jogo.

Jogos Nacionais | Criticado atraso na selecção de atletas locais

Ron Lam considera que a moral e preparação física dos atletas de Macau para participarem nos Jogos Nacionais foram prejudicadas pelo atraso na selecção dos atletas que vão competir. O deputado defende que as autoridades deveriam dar prioridade à participação e relativizar medalhas e sucesso desportivo

 

Esta semana, o director do Instituto do Desporto, Luís Gomes, negou rumores e relatos de atletas locais de que estariam afastados de competir nos Jogos Nacionais, e foi revelado que não só o evento desportivo contará com a participação de atletas da RAEM, como a comitiva de Macau será a maior de sempre, com 350 atletas, segundo o Jornal Tribuna de Macau.

Apesar da notícia, Ron Lam publicou no Facebook uma opinião a criticar o atraso no processo de selecção dos participantes locais na competição organizada conjuntamente pela província de Guangdong, Hong Kong e Macau, e que começa a 9 de Novembro.

No início da semana, Luís Gomes adiantou ao jornal Ou Mun que ainda estavam a ser acertados detalhes sobre a participação de atletas locais com associações desportivas, e que as autoridades iriam analisar regulamentos e exigências que as provas requerem.

Tendo em conta que se conhece a dimensão da comitiva da RAEM, mas que ainda não haverá uma lista concreta com o nome dos atletas, Ron Lam criticou a lentidão com que as autoridades têm gerido o processo. “O processo de selecção de atletas de Hong Kong começou em Janeiro. Por exemplo, a Associação Chinesa de Badminton anunciou a lista de participantes no mês passado, incluindo 1.599 do Interior da China, 49 de Hong Kong, 10 de Taiwan, mas zero de Macau. É inacreditável”, comentou o deputado.

Alegria de competir

O deputado criticou a garantia tardia do Governo em relação à participação de atletas locais e os comentários sobre o nível de competitividade que as provas exigem, e defende a organização de provas desportivas abertas para apurar os atletas que irão integrar a delegação da RAEM.

“Os atletas de Macau demonstraram sempre um grande orgulho em representar o território, algo que encaram como a mais elevada meta e competir nos Jogos Nacionais é um sonho para os atletas locais”, afirmou. Ron Lam defende ainda que Macau deveria enviar pelo menos uma equipa para cada modalidade, mesmo sacrificando requisitos mínimos de participação como padrões de desempenho e aptidão física.

O deputado reconhece que os Jogos Nacionais representam uma “oportunidade rara” para os atletas locais competirem ao mais alto nível. Porém, sem acção por parte das autoridades ou anúncio da lista de participantes locais, “a moral e os planos de preparação dos atletas de Macau foram afectados”. “A oportunidade de competir é mais importante do que as medalhas. O espírito e participação desportiva são conceitos fundamentais dos Jogos Nacionais”.

Restauração | Lei que regula licenciamento será revista

O Governo pretende rever vários diplomas legais na área do comércio e negócios, sendo que a revisão da lei de 1996, relativa ao licenciamento dos estabelecimentos de comidas e bebidas e bares, será uma das primeiras a ser revista, juntamente com a lei de 1998 que “regula o condicionamento administrativo de determinadas actividades económicas”.

Além disso, será também revista a lei de salvaguarda do património cultural, de 2013, a fim de “garantir os interesses dos consumidores, os valores do património cultural, a segurança na construção e a segurança contra incêndios”.

A informação consta numa resposta à interpelação escrita do deputado Ngan Iek Hang assinada pela directora dos Serviços para os Assuntos de Justiça, Leong Weng In. A directora refere que a revisão destes diplomas visa “reduzir os impactos negativos que a legislação relevante possa causar ao ambiente empresarial, designadamente no que diz respeito ao início de actividade de empresas”.

O Executivo quer ainda apostar na electronização de serviços para empresas, nomeadamente a “constituição de sociedades comerciais”, “certidão de admissibilidade de firma” e “registo inicial de empresário comercial e pessoa singular”. Este sistema está na fase de teste e deverá ser lançado “gradualmente na Plataforma para Empresas e Associações [na Conta Única] no segundo e terceiro trimestre do corrente ano”.

Trabalho | Sector dos seguros com salários mais altos e vagas

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) confirmam que o sector das seguradoras está em alta, quer em número de vagas, quer na média salarial dos trabalhadores. No final do primeiro trimestre deste ano, havia um total de 821 trabalhadores nas empresas de seguros, mais 1,1 por cento face a igual período do ano passado, sendo que em Março a remuneração média foi de 34.480 patacas, mais 3,3 por cento.

O aumento da remuneração média, dentro do sector financeiro, foi maior para as actividades de intermediação financeira, na ordem dos 5,5 por cento. Assim, em Março, um trabalhador deste segmento ganhava uma média de 30.270 patacas. Em termos globais, a remuneração média dos trabalhadores a tempo completo do sector das actividades financeiras foi de 32.020 Patacas, mais 2,7 por cento, em termos anuais.

No fim do primeiro trimestre houve uma quebra de 0,7 por cento no número de trabalhadores na banca, que tinha um total de 7.193 funcionários. Trata-se de uma redução de 53 pessoas. Em termos do número de vagas disponíveis nos bancos, eram 202, menos oito em termos anuais. Porém, no segmento dos seguros, o número de vagas aumentou em sete, no total de 41.

UM | Empresa de investimento no Interior paga 3 milhões por estudo

O braço de investimento da Universidade de Macau vai construir o novo campus na Ilha de Montanha e antes de obter a licença para utilizar o terreno tem de realizar estudos do solo. O preço deste contrato é de 3,3 milhões de patacas

 

A empresa Guangdong Hengqin UM Higher Education Development vai pagar 2,95 milhões de renminbis (3,3 milhões de patacas) pelos estudos do solo para poder construir o futuro campus na Ilha da Montanha. Este valor soma-se aos 946 milhões de renminbis pagos anteriormente às autoridades de Zhuhai, pela concessão do terreno.

De acordo com a informação partilhada pela subsidiária da Universidade de Macau (UM) no portal da Direcção dos Serviços da Supervisão e da Gestão dos Activos Públicos (DSSGAP), a realização dos estudos é uma exigência para receber a licença permanente de utilização do terreno na Ilha da Montanha. Só depois de serem finalizados estes trabalhos será possível avançar com as obras que deverão ter um custo na ordem dos milhares de milhões de renminbis.

O estudo em causa foi encomendado à representação de Zhuhai da empresa China Nonferrous Metal Industry Changsha Reconnaissance Design & Research Institute, uma multinacional da China, que tem igualmente actividade em países como Estados Unidos, Japão ou Alemanha.

Entre os 2,95 milhões de renminbis, a empresa da UM admite que foi feito um primeiro pagamento de 2,17 milhões e que o restante montante, na ordem dos 780 mil renminbis será pago “quando as condições estiverem reunidas”.

No relatório, o valor declarado com investimento em terrenos e construção de activos é de 976 milhões de renminbis, embora estes gastos não seja discriminados, pelo que podem ter em conta outra custos, além dos 946 milhões de renminbis que foram anteriormente anunciados, através do jornal Ou Mun.

Em termos dos gastos operacionais, a empresa gastou 359 mil renminbis em imposto de selo, no Interior da China, e pagou 84 mil renminbis de imposto de utilização de terrenos, num total de 443,2 mil renminbis.

Aos custos anteriores juntam-se 80 mil renminbis pagos a intermediários, definidos como despesas de gestão, além do pagamento de financiamento de 576 mil renminbis. Ao nível das despesas reconhecidas pela Guangdong Hengqin UM Higher Education Development constam ainda donativos de 100 mil renminbis, embora o destinatário não seja indicado.

Cerca de 10 mil alunos

De acordo com os planos anunciados anteriormente pela UM, o terreno do futuro campus está dividido em nove lotes, dos quais seis vão ser utilizados para construir laboratórios, faculdades, e outras instalações universitárias.

A UM tem como missão construir um campus internacional na Ilha da Montanha, com a chancela do Governo da RAEM, virado para o ensino e investigação nas áreas da ciência, engenharia, agricultura e medicina. São esperados pelo menos 10.000 alunos no campus que deverá ficar concluído até 2028, ano em que iniciará as operações com 8.000 alunos, entre os quais 4.000 a frequentarem licenciaturas. Espera-se também que o campus necessite de cerca de 500 funcionários para operar, não sendo ainda claro se a UM vai optar por residentes locais ou dar prioridade os residentes chineses.

IPIM | Macau e Hengqin procuram investimento em Harbin

Uma comitiva de oficiais de Macau e Hengqin foi à capital da província Heilongjiang procurar investimento e intercâmbio com empresas da região do nordeste chinês na 34.ª Feira Internacional de Economia e Comércio de Harbin.

A comitiva local que se deslocou a Harbin nos dias 14 e 15 de Maio, foi constituída pelos representantes do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM), da Direcção dos Serviços de Desenvolvimento Económico da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin e da Associação de Bancos de Macau.

Segundo um comunicado divulgado ontem pelo IPIM, foi organizada uma sessão de bolsa de contactos para oportunidades de negócio e investimento em Macau, que contou com a participação entusiástica de 53 empresas da província de Heilongjiang”. As empresas participantes operam em sectores tão diversos como alimentação, big health, indústria, “abrangendo empresas cotadas de renome e integrantes da lista das 500 maiores empresas do mundo”.

As delegações de Macau e de Hengqin foram ainda convidadas a visitar uma empresa estatal líder no sector agrícola, uma empresa farmacêutica de renome e uma associação da indústria biomédica.

Associação pede combate intenso à contratação de trabalhadores ilegais

A Associação Geral dos Empregados do Ramo de Transporte de Macau visitou a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) e apelou para que se intensifiquem as acções contra a contratação de trabalhadores ilegais.

Num comunicado, o presidente da associação, Cheang Wa Cheong considerou que a contratação de trabalhadores ilegais nos transportes é cada vez mais grave, com alguns trabalhadores não residentes a desempenharem as funções de motoristas sem autorização. Assim sendo, Cheang afirmou que faltam cada vez mais oportunidades de emprego para os motoristas locais.

Por outro lado, Cheang Wa Cheong reconheceu que é difícil descobrir os trabalhadores ilegais e que muitas vezes os casos só são conhecidos porque estes acabam por se envolver em acidentes de viação. Por isso, o dirigente associativo pediu ao Governo para reforçar a realização de operações stop e que crie um mecanismo de denúncia eficaz, mas que também proteja a identidade dos denunciantes.

Deputada presente

Por sua vez, Ella Lei, deputada e vice-presidente da Federação das Associações dos Operários de Macau, Ella Lei, que acompanhou a visita, apontou que os trabalhadores de transportes não têm um local de trabalho fixo, o que dificulta a identificação destes casos. Por isso, a legisladora deixou o desejo de que as autoridades reforcem a cooperação interdepartamental para tratar das queixas, bem como aumentem a frequência das inspecções.

A deputada recordou igualmente que o sector dos transportes acompanha de perto o combate à contratação de trabalhadores ilegais pelo que existe a expectativa de que o Governo altere e melhore as leis e o regime de sanções, como forma de desencorajar a contratação sem autorização.

Ella Lei aproveitou a visita para pedir uma revisão das leis, para tornar as sanções mais pesadas para qualquer trabalhador não residente que desempenhe funções fora do âmbito da autorização de trabalho.

Em resposta, o subdirector da DSAL, Chan Chon U, garantiu que a DSAL presta muita atenção ao combate contra a contratação dos trabalhadores ilegais e que envia regularmente agentes para fiscalizações e cooperarem com outros departamentos. Chan Chon U recordou que no ano passado, a DSAL realizou mais de 500 inspecções.

O responsável espera que o sector faça mais denúncias com mais detalhes concretos, como o número da matrícula, localização e hora dos veículos envolvidos.

Saúde | Chan Iek Lap diz que vales não beneficiam médicos jovens

O deputado e médico Chan Iek Lap considera que o apoio dos vales de saúde é inútil para as clínicas privadas, devido à boa oferta do sistema público, mas também para os jovens médicos que trabalham no privado. O legislador está prestes a abandonar o cargo

 

Com a carreira de deputado a chegar ao fim nesta legislatura, Chan Iek Lap criticou a comparticipação de vales de saúde, cuja actualização para 700 patacas foi oficializada esta semana pelo Conselho Executivo.

Ao fim de quase uma década e meia do início do apoio à saúde, destinado a ser usado em clínicas privadas, o legislador e médico salientou ao jornal Exmoo alguns dos vários problemas do programa, mas principalmente da fraca utilidade no impulso à carreira de jovens médicos.

Em primeiro lugar, Chan Iek Lap refere que quando chega a hora dos residentes escolherem onde vão usar os vales de saúde, acabam por optar por cuidados prestados por clínicos veteranos. “Quando os residentes vão ao médico com vales de saúde, procuram sempre médicos com muitos anos de experiência. Como tal, a ‘fatia’ do apoio que chega aos médicos mais novos é muito reduzida”, argumentou.

O deputado recorreu aos dados oficiais para demonstrar eficácia insípida do programa de comparticipação, sublinhando que todos os anos cerca de um terço dos vales de saúde não chegam a ser utilizados. Mais grave ainda, é o facto de as verbas alocadas para o apoio regressarem aos cofres públicos quando não são usadas, acabando por não beneficiar o sector privado.

Assim sendo, Chan Iek Lap gostaria de ver no futuro estas verbas não utilizadas a reverterem para médicos que tenham começado a praticar há menos de três anos.

Por outro lado

O legislador salienta também o peso dos benefícios de assistência médica gratuita do sistema de saúde de Macau, e a sua qualidade, factores que não tornam tão atraente a utilização de um vale de saúde com valores na casa das centenas de patacas.

“O apoio não provoca um grande efeito. O utente acaba por recorrer poucas vezes a clínicas privadas, principalmente tendo em conta que as consultas nos centros de saúde são gratuitas, assim como as consultas de especialidade do Centro Hospitalar Conde de São Januário”, argumentou.

Depois do anúncio durante a apresentação das Linhas de Acção Governativa, o Conselho Executivo deu na terça-feira parecer positivo à proposta para aumentar os vales de saúde para 700 patacas.

Tendo em conta o aumento de 100 patacas e o número de beneficiárias do programa prevê-se um gasto do orçamento da RAEM de 519,7 milhões de patacas com este apoio social.

CCCM | Lançada edição bilingue de livro sobre Ciência Humana

A Ciência Humana, que visa “integrar todas as áreas do conhecimento humano”, foi tema de um livro de Maria Burguete e Lui Lam lançado em 2015. Agora chegou a edição bilingue de “Science Matters – Ciência Humana, Uma Perspectiva Unificada nas Humanidades e nas Ciências”, editada com apoio da Universidade de Macau. A obra foi apresentada na quarta-feira no Centro Científico e Cultural de Macau

 

Houve um tempo em que a filosofia era a base do conhecimento antes de surgirem outras áreas do saber. Porém, actualmente separam-se as ciências exactas das ciências humanas, a arte da filosofia, como áreas completamente distintas. Maria Burguete, cientista e presidente da Associação Science Matters, estabelecida em Portugal, lançou na quarta-feira o livro bilingue “Science Matters – Ciência Humana, Uma Perspectiva Unificada nas Humanidades e nas Ciências”, escrito com o cientista chinês Lui Lam. A obra procura demonstrar como todas as áreas do saber podem viver e conviver em conjunto, numa espécie de complementaridade, sem esquecer a filosofia.

O livro foi apresentado no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) e contou com o apoio de várias entidades, nomeadamente a Universidade de Macau e o Instituto Rocha Cabral.

Lançada pela primeira vez em 2015, a obra é agora editada numa versão bilingue, em português e chinês, a fim de juntar o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido por Maria Burguete, doutorada em Histórias das Ciências na Alemanha e com formação de base em Bioquímica, e o cientista Lui Lam. É na Associação Science Matters, a que está ligado, desde 2018, o Centro Science Matters, em Cascais, que Maria Burguete dá cursos sobre o conceito de “Ciência Humana”, enquanto Lui Lam se dedica ao mesmo trabalho na China.

Na sessão de quarta-feira, Maria Burguete explicou que Ciência Humana, tradução para português do conceito “Science Matters”, pretende “integrar todas as áreas do conhecimento humano, incluindo ciências naturais, sociais e humanas, sob o paradigma científico”. Assim, “a ideia é que todos os aspectos relacionados com os seres humanos podem ser estudados cientificamente, rompendo com as tradicionais divisões entre as ciências naturais e humanas”, promovendo-se “a unificação de todo o conhecimento produzido pela espécie humana numa única multidisciplina”. Englobam-se, portanto, as áreas das humanidades e das artes com as ciências sociais, ou ainda as humanidades com as ciências médicas.

Segundo a autora, a Ciência Humana traz uma “visão unificadora do conhecimento”, sendo “uma nova multidisciplina que é como uma nova filosofia do século XXI”. Trata-se de uma “nova abordagem ao conhecimento, onde se reconhecem padrões comuns” a todas as áreas, explicou ainda.

Maria Burguete diz ter tido contacto com o conceito a partir das ideias do físico nuclear inglês Charles Percy Snow, que numa palestra em Cambridge, em 1959, apresentou a ideia das “duas culturas”, ou seja, uma separação entre as ciências exactas e as humanidades, como dois pólos opostos.

“A minha formação de base é em bioquímica e engenharia química. Portanto, estou muito ligada às ciências naturais. E houve uma altura em que C.P. Snow, quando era professor em Cambridge, deu uma conferência em que falou da existência de duas culturas. Isso foi um escândalo na altura, porque parecia que havia a cultura científica e as outras, e todos os que não estavam dentro dessa cultura científica sentiram-se atingidos. Ainda hoje há pessoas que dividem a área das letras das restantes, e isso tem de acabar.”

Para Maria Burguete, “não faz sentido criar barreiras”, porque “todas as áreas se complementam”. “Todas as áreas, de uma forma ou de outra, estão sujeitas a um paradigma muito semelhante de conhecimento. Como se forma, de onde vêm e para onde vão? Todas passam por estas etapas. Claro que as abordagens são diferentes, conforme se trate de literatura, artes ou química, mas continuam a ser áreas de desenvolvimento do saber”, acrescentou.

O papel da filosofia

O contacto de Maria Burguete com Lui Lam deu-se por altura do 20º Congresso Mundial da História da Ciência, que decorreu em Pequim em 2005. “Aí apresentei uma nova epistemologia, e o meu colega, que é físico, ficou encantado e veio ter comigo, propondo-me uma nova multidisciplina, porque disse acreditar, como eu, que o saber é transversal”, frisou ao HM.

De resto, esta obra bilingue nasce de um projecto editorial de seis volumes, sendo que esta edição é apenas o primeiro volume. As conferências promovidas por Maria Burguete e Lui Lam relacionadas com o tema da Ciência Humana arrancaram em 2007 e decorreram várias edições nos anos de 2009, 2011, 2013, 2015, 2017 e 2019. O que foi falado nessas conferências foi compilado em inglês, editando-se agora, no livro apresentado na quarta-feira.

A académica acredita que “tudo surgiu com a filosofia”, remetendo para o período da Antiguidade Clássica. “A filosofia foi o marco principal do conhecimento, e só depois as áreas do conhecimento começaram a divergir.”

Álvaro Rosa, macaense e docente do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, deixou no ar alguns dos temas que podem ser encontrados na obra, nomeadamente a história da ciência na China. “Para quem está interessado nos problemas da China, este livro ajuda-nos a compreender como a China encara e vê a história das ciências, e como é feita a comunicação da ciência” no país, disse.

“A China não é exactamente igual ao Ocidente, tem as suas características, e este livro ajuda-nos a compreender como a China vê essa e outras questões. É um livro que vale a pena ler, feito para mentes abertas, para que se possa discutir o conhecimento sem que haja um vocabulário ou abordagem demasiado técnicas”, acrescentou Álvaro Rosa.

Álvaro Rosa lançou o repto à audiência do CCCM com o exemplo de como é encarada a beleza ou a fealdade de algo. “Muitas vezes dizemos que gostos não se discutem. O cientista começa por classificar quais as coisas que são bonitas e feias e depois realiza um inquérito, começando a observar se há ou não fealdade, colocando tudo em categorias. Há uma abordagem completamente diferente daquela que é feita pelo humanista. Portanto, a ideia da Maria Burguete é abranger todos os temas relacionados com a humanidade dentro daquilo a que chamamos ciência, no sentido de como é que conseguimos colocar, dentro do mesmo chapéu, o estudo de todos os temas e a sua interpretação. Acho isso muito interessante”, apontou Álvaro Rosa.

“Uma perspectiva integrada”

Ana Cristina Alves, coordenadora do serviço educativo do CCCM e formada na área da filosofia chinesa e da cultura, defendeu que o livro de Maria Burguete e Lui Lam apresenta “uma perspectiva holística e integrada” do conhecimento.

“A filosofia ocidental olha para a filosofia chinesa como não sendo filosofia, encarando-a como pouco científica, porque não começa e não acaba na lógica”, disse, falando do exemplo da integração de conhecimentos existente na medicina tradicional chinesa.

“A medicina tradicional chinesa é toda apoiada na filosofia, o seu substracto é a filosofia. Quando não se tem essa perspectiva filosófica integrada e holística, o que se faz na medicina é receber os pacientes em cinco minutos e pronto. E o que é importante para um bom diagnóstico é perceber os males que afligem o paciente. Isso só é possível de uma perspectiva integrada”, apontou.

Neste sentido, Maria Burguete defendeu que um médico não deveria terminar a sua formação sem “ter pelo menos três anos de filosofia, porque tratar das pessoas não é apenas tratar o corpo fisicamente, mas também perceber a pessoa que está à sua frente”.

Wynn / MUST | Criadas bolsas para estudantes lusófonos de mestrado

A operadora de casinos Wynn Resorts anunciou ontem a criação de 30 bolsas anuais para estudantes de mestrado na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, incluindo alunos vindos dos países de língua portuguesa.

O reitor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau disse que as bolsas “contribuirão significativamente para atrair estudantes dos países de língua portuguesa (…) para prosseguirem os seus estudos” na região.

De acordo com um comunicado divulgado pela empresa, Joseph Lee Hun-wei afirmou que as bolsas estão também abertas a candidaturas de estudantes de países que fazem parte da iniciativa chinesa Uma Faixa, Uma Rota, que abrange mais de 140 países, incluindo Angola, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

“Após concluírem os estudos, regressarão à sua terra natal com as experiências aprendidas em Macau, tornando-se embaixadores culturais que contam bem as histórias da China e de Macau”, disse Joseph Lee, citando as declarações mais recentes de Xia Baolong, durante uma visita de seis dias ao território.

O director do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau, sob a tutela do Conselho de Estado, defendeu a necessidade de “convidar parceiros estrangeiros a visitar e testemunhar a vitalidade e atractividade” dos dois territórios.

O acordo para a criação das bolsas de estudo foi assinado na terça-feira por Joseph Lee e pela presidente da Wynn Resorts, Linda Chen, na presença do director dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude, Kong Chi Meng.

Citada no comunicado, Linda Chen recordou que, em Dezembro, o líder chinês Xi Jinping defendeu que Macau deve “estreitar laços com as instituições de ensino superior dos países de língua portuguesa”.

Turismo | Visitantes de Zhuhai sobem mais de 60%

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos mostram que o número de turistas continua a aumentar em Macau de uma forma geral, com destaque para o crescimento de 63 por cento em Abril, em termos anuais, dos visitantes de Zhuhai. As estatísticas revelam ainda um aumento do número de turistas internacionais

 

O sector do turismo está bom e recomenda-se. É o que mostram os dados mais recentes divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) que indicam um aumento de visitantes de uma forma global, mas sobretudo dos que chegam de Zhuhai.

Dados relativos a Abril deste ano, mostram que, das nove cidades que compõem o projecto da Grande Baía (à excepção de Macau e Hong Kong), o número de visitantes foi de 1.066.367, mais 34,5 por cento, face a Abril de 2024. Este aumento deve-se, segundo a DSEC, ao facto de “o número de entradas de visitantes provenientes de Zhuhai ter crescido 63 por cento”. Registaram-se ainda aumentos inferiores de 13,4 por cento para os visitantes oriundos de Hong Kong, no total de 659.844, e de 4,4 por cento para os turistas de Taiwan, com o total de 76.721, também em relação a Abril de 2024.

Macau recebeu, em Abril, 2.126.212 do Interior da China, mais 22,4 por cento em termos anuais, destacando-se o facto de o número de entradas com visto individual ter sido de 1.064.231, mais 34,1 por cento.

Em Abril de 2025, o número de entradas de visitantes em Macau foi de 3.092.791, mais 18,9 por cento, em termos anuais. Realça-se que o número de entradas de excursionistas (1.755.592) e o de turistas (1.337.199) aumentaram 30,1 por cento e 6,9 por cento, respectivamente, em termos anuais.

Índia sobe, Malásia desce

Os dados mostram ainda um aumento do número de turistas internacionais na ordem dos 10,4 por cento, tendo Macau recebido, neste segmento, 230.014 pessoas.

Relativamente ao Sudeste Asiático, o número de entradas de visitantes das Filipinas (43.097), o da Tailândia (20.463) e o da Indonésia (19.656) ascenderam 20,2, 24,1 e 0,4 por cento, respectivamente, em termos anuais. Porém, no caso dos visitantes da Malásia (14.776) e Singapura (7.888) houve quebras de 17,6 e 8,7 por cento, respectivamente.

Ainda no que diz respeito a turistas internacionais, os dados revelam o aumento de 50 por cento nas entradas de visitantes da Índia, que totalizaram 12.485, em relação a Abril de 2024. Quanto ao Nordeste Asiático, o número de entradas de visitantes do Japão (8.646) cresceu 4,1 por cento, em termos anuais, porém, o da República da Coreia (37.215) desceu 0,7 por cento. Em relação aos visitantes de longa distância, o número de entradas de visitantes dos Estados Unidos da América (13.429) teve um acréscimo homólogo de 4,3 por cento.

Relativamente aos quatro primeiros meses deste ano, o número de entradas de visitantes em Macau foi de 12.955.456, mais 12,9 por cento face ao mesmo período de 2024. Realça-se que o número de entradas de excursionistas (7.578.976) e o de turistas (5.376.480) aumentaram 23,4 e 0,8 por cento, respectivamente.

Imposto profissional | Devolução de 60% do valor pago começa amanhã

A devolução do imposto é referente ao ano de 2023 e está limitada, independentemente dos descontos, a um máximo de 14 mil patacas. A devolução abrange 165 mil contribuintes

 

A partir de amanhã, a Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) vai começar a devolver 60 por cento do valor cobrado como imposto profissional em 2023. A data da devolução do imposto foi anunciada ontem, através de um comunicado emitido pela DSF.

O montante devolvido é limitado a 60 por cento do que foi pago como imposto profissional em 2023, e até a um valor máximo de 14 mil patacas. A medida abrange os residentes com bilhete de identidade de residente emitido até 31 e Dezembro de 2023 e os dados oficiais apontam para que a medida abranja 165 mil contribuintes.

O valor da devolução vai ter um peso de cerca de 980 milhões de patacas no orçamento da RAEM, o que representa uma média de 5.940 patacas por cada um dos 165 mil contribuintes.

A devolução do imposto é feita principalmente através de transferência bancária ou de cheque cruzado enviado por via postal, dois meios de devolução que abrangem 98 por cento dos contribuintes. Cerca de 158 mil contribuintes recebem a devolução por transferência bancária, e 1.600 contribuintes por cheque cruzado.

Nestes casos, a devolução da colecta é depositada directamente nas contas dos contribuintes registados para a transferência bancária, a 23 de Maio. Para os contribuintes não registados para a transferência bancária, os cheques cruzados são enviados por correio, para os endereços de correspondência constantes no registo do imposto profissional junto da DSF. A conclusão do envio do cheque está prevista para o início de Junho.

A devolução abrange ainda 2.300 trabalhadores no activo, ao ser feita através dos serviços onde trabalham ou das entidades públicas.

Meios de consulta

Em caso de dúvida sobre a forma como receber a devolução do pagamento do imposto profissional, os residentes podem consultar as informações através das aplicações móveis “Macau Tax”, Conta Única ou da Plataforma para Empresas e Associações.

A consulta pode ser ainda feita no Serviço Electrónico da DSF, nos quiosques de serviços de auto-atendimento da DSF e da Direcção dos Serviços de Identificação ou presencialmente nos postos de atendimento da DSF.

Caso os contribuintes não recebam o cheque cruzado no período previsto, ou em caso de extravio ou dano, podem solicitar a emissão de uma segunda via do mesmo nos três postos de atendimento da DSF a partir do dia 17 de Junho.

Reserva Financeira com valor mais elevado em três anos

Os activos da Reserva Financeira de Macau atingiram no final de Março 623,6 mil milhões de patacas, o valor mais elevado dos últimos três anos, foi ontem anunciado. De acordo com o balanço publicado no Boletim Oficial pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM), a reserva está no nível mais alto desde Fevereiro de 2022, numa altura em que o território enfrentava os desaires económicos associados à pandemia.

Ainda assim, permanece longe do recorde histórico de 663,6 mil milhões de patacas, atingido no final de Fevereiro de 2021, apesar do território estar em plena pandemia de covid-19.

A reserva começou 2025 em alta, com o valor dos activos a subir 7,35 mil milhões de patacas nos três primeiros meses. Os dados oficiais mostram que é o melhor arranque de ano desde o primeiro trimestre de 2021, período em que a reserva se valorizou em 39,4 mil milhões de patacas.

Bons aumentos

De acordo com a AMCM, a reserva tinha registado em 2024 o melhor ano desde a pandemia, ao ganhar 35,7 mil milhões de patacas, tendo este sido o aumento anual mais elevado desde 2019, quando o valor da reserva aumentou em 70,6 mil milhões de patacas.

Por sua vez, o valor da Reserva Extraordinária no final de Março era de 452 mil milhões de patacas e a reserva básica, equivalente a 150 por cento do orçamento público de Macau, era de 164,2 mil milhões de patacas. O orçamento do território para 2025 prevê uma subida de sete por cento nas despesas totais, para 109,4 mil milhões de patacas.

A Reserva Financeira de Macau é maioritariamente composta por depósitos e contas correntes no valor de 246 mil milhões de patacas, títulos de crédito no montante de 119,9 mil milhões de patacas e até 251,9 mil milhões de patacas em investimentos subcontratados.

Em 2024, os investimentos renderam à Reserva Financeira quase 31 mil milhões de patacas, correspondendo a uma taxa de rentabilidade de 5,3 por cento, disse a AMCM no final de Fevereiro.

Economia | Vendas a retalho com quebras de 15%

Nos primeiros três meses do ano, o volume de negócios dos estabelecimentos do comércio a retalho sofreu uma quebra de 15 por cento, em termos anuais, para 17,58 mil milhões de patacas. Os números foram divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), no “inquérito ao volume de negócios no comércio a retalho referente ao primeiro trimestre de 2025”.

A maior redução do volume de vendas aconteceu nos artigos de couro, com uma diminuição de 24,2 por cento, seguida pelos produtos cosméticos e de higiene que registaram uma redução de 22,3 por cento.

Igualmente com reduções das vendas acima dos 15 por cento estão os produtos de armazéns e quinquilharias, com uma diminuição de 18,8 por cento e a venda de relógios e joalharia, com baixas de 17,2 por cento.

“Após a retoma das actividades económicas de Macau em 2023, verificou-se uma concentrada vontade de consumir, que impulsionou o rápido crescimento do volume de negócios dos estabelecimentos do comércio a retalho”, indicou a DSEC, em comunicado. “No entanto, a partir do primeiro trimestre de 2024 o volume de negócios começou a diminuir em termos anuais devido à elevada base de comparação registada no mesmo trimestre de 2023 e à mudança do modelo de consumo, entre outros factores”, foi acrescentado.

A mesma fonte indicou que nos primeiros três meses do ano, o volume de negócios do comércio a retalho na RAEM está a níveis de 86 por cento, do que acontecia no primeiro trimestre de 2019.

Direitos das mulheres | O Lam afirma que Macau está acima da média da OCDE

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, O Lam, defendeu que as disparidades salariais entre homens e mulheres são menores em Macau do que na média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Foi desta forma que a secretária destacou o desenvolvimento dos direitos das mulheres no pós-transferência da RAEM, ontem, durante a cerimónia do 75.º aniversário da Associação das Mulheres.

Apesar do evento também ter contado com a presença do Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, o discurso oficial ficou a cargo daquela que é a única secretária do actual Governo.

Além de defender que a diferença salarial é mais ténue na RAEM do que na média dos países da OCDE, de acordo com o discurso citado pelo jornal Ou Mun, O Lam destacou ainda o “progresso” no desenvolvimento profissional da mulher em Macau, o que afirmou ser possível atestar pela proporção de mulheres em posições de liderança. O valor dessa proporção não foi mencionado pela publicação.

O Lam disse também que o Governo vai criar condições para que cada mulher “possa perseguir os seus sonhos” e “brilhar nesta terra vibrante”.

Na cerimónia, a responsável prometeu ainda que o Governo vai estudar os assuntos relacionados com as mulheres e ouvir as opiniões da sociedade, para identificar as áreas que necessitam de ser mais desenvolvidas. O Lam citou ainda o Presidente Xi Jinping que definiu como política nacional a protecção dos direitos e interesses das mulheres.

Turismo | Leong Hong Sai sugere roteiros nacionalistas

O deputado Leong Hong Sai acha que o Governo deve apostar no turismo cultural, pegando em elementos históricos e de exaltação do patriotismo presentes em museus do território, ou que estejam espalhados pelos bairros residenciais, para criar roteiros turísticos. Segundo o legislador da bancada dos Moradores, este tipo de oferta turística pode atrair visitantes para as zonas comunitárias e revitalizar o comércio local.

Em declarações ao jornal Ou Mun, Leong Hong Sai deu como exemplo a celebração este ano do 80.º aniversário da vitória do povo chinês na guerra de resistência contra a agressão japonesa e a guerra mundial antifascista. A data poderia ser assinalada com a criação de um percurso turístico nacionalista que relate as histórias de vida dos pioneiros revolucionários em Macau, assim como o contributo da cidade para a revolução chinesa e a guerra de resistência contra a agressão japonesa.

O deputado salientou também a importância da renovação urbana no sentido de tornar os bairros residenciais mais atractivos.

Cheques | Coutinho contra conversão em cartão do consumo

Pereira Coutinho não quer ver o cheque pecuniário tomar a forma de cartão de consumo, como foi sugerido numa reunião entre o Governo e associações locais. O deputado teme que a conversão retire o propósito de aliviar famílias mais carenciadas, não permitindo, por exemplo, pagar contas da casa, renda ou despesas escolares

 

A reformulação do cheque pecuniário é uma realidade incontornável, mas a discussão em torno do tema está a preocupar o deputado Pereira Coutinho. Na semana passada, nos dias 15 e 16, o Governo organizou uma série de reuniões com associações locais para ouvir sugestões para a reforma do plano de comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico.

Além da introdução do requisito de permanência anual em Macau por 183 dias, foi acrescentado que o objectivo e a natureza do apoio seria também ponderada. O Governo indicou que foi sugerida a “adopção de outras formas de atribuição e combinações de atribuição tais como cartões de consumo ou vales de consumo”. Pereira Coutinho, numa série de publicações no Facebook, mostrou a oposição a esta ideia e referiu que os dois apoios devem ser actualizados e atribuídos separadamente. “O Governo devia aumentar o montante do cheque pecuniário para 15 mil patacas e atribuir adicionalmente um cartão do consumo com valor de 8 mil patacas,” sugeriu.

O legislador defende que a própria natureza e objectivo do cheque pecuniário devem ser mantidos. “Muitos residentes, sobretudo idosos e famílias vulneráveis, dependem das 10 mil patacas do cheque pecuniário para terem uma folga no orçamento, por exemplo para pagar renda, hipoteca da casa, água, electricidade, gás natural, propinas ou centro de explicações dos filhos”, indicou.

Na óptica do deputado, o cheque pecuniário é um balão de oxigénio que pode ser usado para colmatar as despesas das necessidades mais básicas. A substituição do cheque por um cartão do consumo poderá implicar a necessidade de consumir primeiro para poder gastar o valor comparticipado pelos cofres públicos. Aliás, os limites das despesas em que se pode usar cartão do consumo elimina a capacidade do apoio cobrir as necessidades mais básicas.

Quem é quem

Em relação às reuniões organizadas pelo Governo para auscultar recomendações de associações sobre a reforma do plano de comparticipação pecuniária, Pereira Coutinho indica que as consultas não decorreram de forma abrangente e que, por exemplo, a entidade que dirige, a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, não foi convidada a participar. O deputado salientou que a sua associação não foi consultada, mas que tem posição firme contra a substituição do cheque pecuniário por cartão do consumo.

Contudo, apesar de não ter participado nas reuniões, o deputado quer saber que associações concordaram com a conversão. “Vou contactar os deputados eleitos por sufrágio directo para saber quem apoia esta forma ridícula de atribuição do apoio,” adiantou Pereira Coutinho.

Zona de Cooperação | Saída de Su Kun oficializada

A saída de Su Kun da Comissão Executiva da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin foi ontem publicada em Boletim Oficial, através de um despacho publicado pelo Chefe do Executivo, Sam Hou Fai. O despacho confirma a informação divulgada na semana passada justificada com “motivos pessoais”.

No entanto, o despacho publicado ontem não indica que a saída se deveu a motivos pessoais. Contudo, confirma que a saída da comissão aconteceu a pedido de Su Kun. A demissão de Su foi anunciada horas antes pela comissão anticorrupção da província de Guangdong a anunciar a investigação a um caso de corrupção que envolve uma empresa estatal responsável pelo desenvolvimento de Hengqin.

Num comunicado da semana passada, a Comissão Provincial de Inspecção Disciplinar de Guangdong indicou que o antigo presidente do grupo Zhuhai Da Hengqin, Hu Jia, “é suspeito de graves violações disciplinares”, uma frase que normalmente se refere a casos de corrupção.

Cooperação | Sam Hou Fai realça contacto próximo com Jilin

O Chefe do Executivo recebeu o secretário do Partido Comunista da província de Jilin, com quem trocou impressões sobre o reforço da cooperação nas áreas do turismo, saúde, economia e tecnologia. Sam Hou Fai destacou a proximidade cultural e comercial com a província que faz fronteira com a Coreia do Norte e a Rússia

 

O Chefe do Executivo recebeu na terça-feira, na Sede do Governo, o secretário do partido comunista chinês da Província de Jilin, Huang Qiang, com quem discutiu as áreas estratégicas para o reforço de cooperação entre os dois territórios. Os responsáveis acordaram estreitar laços “nas áreas de turismo e cultura, medicina e saúde, economia e comércio, e ciência e tecnologia”, reforçando “ininterruptamente o intercâmbio”, indicou o Gabinete de Comunicação Social.

Sam Hou Fai “indicou que o contacto entre os residentes das duas regiões é cada vez mais frequente, assim como a relação turística, económica e comercial”. Proximidade apesar da distância de mais de 2.500 quilómetros que separam Macau da província no nordeste do país, que faz fronteira com a Coreia do Norte e a Rússia.

O Chefe do Executivo salientou a base “sólida” da indústria de Jilin e que o Governo da RAEM está “empenhado em promover a indústria de Big Health, que também é uma das cinco indústrias prioritárias daquela província”. A província de Jilin é fortemente industrializada, em particular na extracção de minérios, petróleo e gás natural.

Os recursos naturais e ecológicos também foram destacados por Sam Hou Fai, indicando a Huang Qiang que Macau tem aprofundado a integração intersectorial do “turismo +”, de forma a “expandir os mercados de visitantes”. Como tal, “os recursos e as vantagens das duas regiões poderão complementar-se, fortalecendo a cooperação turística”, concluiu.

Pai nosso

Como é costume nestes encontros com dirigentes nacionais, o Chefe do Executivo recordou a série de discursos do Presidente Xi Jinping, proferidos durante a sua visita a Macau no ano passado. Sam Hou Fai vincou que as palavras de Xi definiram “definiu novas exigências para o futuro desenvolvimento da região, as quais o Governo da RAEM se compromete a cumprir e a implementar”.

O líder local reiterou também que “desde o retorno à pátria, Macau tem sofrido grandes mudanças, cujo desenvolvimento socioeconómico tem sido acelerado, e que a implementação do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ com características singulares de Macau obteve grande sucesso”.

Em relação à “diversificação adequada e do desenvolvimento de alta qualidade da economia local”, Sam Hou Fai disse esperar “que ambas as partes iniciem um intercâmbio e uma cooperação mais profunda e alargada”.

Filipe de Saavedra, docente: “Falta um centro interpretativo de Camões em Macau”

Professor da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau e estudioso da presença de Camões na Ásia, Filipe de Saavedra entende que falta em Macau um centro interpretativo sobre a vida e obra do poeta. O académico falou ontem na Biblioteca Nacional, em Lisboa, sobre a correspondência escrita por Luís de Camões na Ásia

 

Participou ontem na sessão “De Lisboa a Goa: O que contam as cartas de Camões”. Que percurso a Oriente surge retratado nestas cartas, e a quem foram dirigidas?

As cartas que Camões escreveu da Ásia são na ordem das dezenas. Há nelas erudição, filosofia, e também muito humor, sarcasmo, e sátira de cunho humanista. Algumas foram escritas de Ternate, outras de Malaca, de Macau, provavelmente outras do Camboja, para destinatários na Índia e em Portugal. Com excepção das cartas de Goa, em que a identificação do local de escrita está geralmente presente, mapear as que foram escritas durante o restante périplo asiático dele seria tarefa complexa. Ficam somente dadas como escritas na Ásia.

Pode dar exemplos de cartas escritas neste contexto?

Menciono aqui duas das primeiras que ele enviou para o reino. A epístola cuja primeira linha é “O Poeta Simónides falando” foi redigida em Janeiro de 1554, quando Camões acaba de chegar a Goa, destinando-se ao seu pupilo, D. António de Noronha. É uma carta muito emotiva, dando-lhe conta da tempestade que assolara a Armada no Cabo da Boa Esperança, “vendo a morte d’ante em mim”. Camões sobreviveu a esta experiência limite a bordo da nau São Bento, aliás a única a chegar naquele ano a Goa, e que se perdeu na torna-viagem em frente às terras de Natal, morrendo neste segundo lance o capitão-mor Fernão de Álvares Cabral, e muitos dos que com ele viajavam. Além da notícia da sua salvação, o poeta estava igualmente ansioso por contar ao seu amigo a expedição de D. Afonso de Noronha ao Malabar, em que tomara parte no mês anterior. Em páginas irenistas, Camões condena veementemente o massacre das poucas e mal-armadas tropas nativas pela “armada grossa” do desproporcionado exército vice-reinal. No seu elogio radical da paz, o poeta chama “remédio verdadeiro” à morte precoce que vem curar as manias bélicas dos que querem viver “por cavaleiros”, pois “quem há de andar seguindo o fero Marte traz os olhos sempre em seu perigo”. Palavras cruelmente proféticas: por ironia do destino, no momento mesmo em que o poeta escrevia estas linhas e as enviava, aquele dilecto destinatário, por cuja vida ele tanto temia, jazia já morto, caído durante uma incursão militar em Ceuta a 29 de Abril de 1553, com apenas 17 anos de idade.

E a segunda carta?

Um ano depois, em Janeiro de 1555, escreveu a um amigo uma epístola diferente em tom e em propósito, cuja primeira linha é «Desejei tanto uma vossa», onde evocava o choque que sofreu com a morte de D. António, juntando um soneto que compusera à memória dele. Por aí se percebe que Camões tinha também grande intimidade com este correspondente, que conhecia D. António e a poesia de Camões, de Petrarca e de Boscán. Curiosamente, a carta inclui algumas linhas masculinas, que Camões diz serem obrigatórias em cartas privadas, contendo aquilo a que se pode chamar conversa de balneário, pelo que ser culto ou erudito não impedia que se fosse “bon vivant”.

A presença de Camões em Macau está ainda envolta num certo mito. Quais as provas concretas da sua presença no território?

É preciso separar as águas. A pousadia de Camões nos penedos de Patane, depois chamados “gruta”, está rodeada por uma bela aura lendária. Mas a presença de Camões em Macau, essa não está envolta em “mito” algum, é uma realidade factual e histórica, fundada numa amplíssima variedade de testemunhos, todos eles independentes entre si. Insistindo numa cronologia que constava nas fontes, mas que era flagrantemente errónea, procurou-se deliberadamente confundir as dúvidas que se pudessem ter sobre a permanência dele nos penedos, cabíveis embora injustificadas, com as falsas dúvidas sobre a estadia do poeta em Macau, estas risíveis e desprovidas do mínimo fundamento. O chiste correu célere, e pouco a pouco foi-se incrustando no imaginário colectivo, ao ponto de algumas pessoas menos informadas o tomarem por uma suposta “descoberta” recente. Contudo, o disparate foi lançado em 1907, e logo desmontado em 1911 por Jordão de Freitas. O juiz Eduardo Ribeiro pôs mais “pontos nos iis” a este respeito. A seu tempo publicarei a documentação completa sobre a presença de Camões em Macau, pondo fim definitivo ao mítico “mito”.

Que vida fez Camões em Macau?

Podemos dizer que esses dois anos foram os de maior plenitude profissional, económica e afectiva na vida dele. Se escreveu poesia? Constantemente, como o atesta a dimensão da obra. Uma parte significativa de “Os Lusíadas” foi aqui composta, embora o poema não tivesse sido nem iniciado, nem terminado em Macau. Não menos importante na vida dele foi ter sido em Macau que assumiu publicamente uma relação com uma jovem chinesa, mais exactamente da etnia tanka, de pescadores pobres. Não é de estranhar esta ligação assimétrica e ancilar com uma jovem modesta: só as famílias desfavorecidas não impediriam que as filhas se relacionassem com estrangeiros. Isso explica o facto de ela partir com Camões em 1565 para Goa, com estatuto de concubina. Mas a embarcação particular em que seguiam, pertença de mercadores chineses, sofreu um naufrágio junto ao Camboja, e Camões perdeu ali a “a cordeira gentil que eu tanto amava”. Foi só depois da sua morte que ele viria a crismá-la como Dinamene, uma ninfa grega das águas, para que ela vivesse para sempre no Oceano. Os chineses de Macau têm uma relação especial com Camões, tal como os portugueses e os macaenses.

Como se verifica essa relação?

Já existia no século XVIII em Macau o primeiro monumento em homenagem a Camões, algo que em Portugal só se começou a pensar erigir no século seguinte. Recebeu mesmo uma inscrição em chinês, e até um pavilhão chinês foi construído sobre o santuário dele. Diz o visconde de Juromenha que em 1845 o vice-rei de Cantão e Comissário Imperial Ki-ing ali venerava Camões como o “Confúcio português”. E com razão, pois Camões partilha muitos aspectos dos sábios da tradição chinesa: estabeleceu um diálogo com os mestres através das recriações de obras maiores, cultivou uma tradição milenar (ele glosa poetas dois mil anos anteriores à sua própria época), praticou a itinerância como fonte de “sagesse”, afirmou o primado da poesia, concebeu os rios como entes míticos, chegando mesmo a personificá-los, demonstrou acentuada tendência para moralizar, e epitomou o seu pensamento em sentenças magistrais.

Que ligação teve Camões com Goa?

Ao contrário de Macau, Goa suscitava em Camões sentimentos maioritariamente negativos. As primeiras impressões que dela teve, como uma terra sem lei em que só os videirinhos medravam, não poderiam ter sido piores, como se lê na carta inicial a que aludi: “longa terra, de todo o pobre honrado sepultura”. Na segunda carta prossegue: “Da terra vos sei dizer que é mãe de vilões ruins, e madrasta de homens honrados”. Estas impressões não melhorariam com o tempo, como o corroboram as sátiras que lhe acarretaram a expulsão para Ternate em 1556. Goa, onde ele chegou a ser o protegido dos vice-reis, para cair depois no maior desfavor sob D. Antão de Noronha, foi nos textos dele o espelho invertido do reino, a Babilónia corrupta e corruptora, alfurja da venalidade e da traição a Deus, ao rei e à lei. No que nem é original, pois há outras fontes que reforçam este retrato jeremíaco e apocalíptico da capital do império português do Oriente. Lembremos Bocage: “Das terras a pior tu és, ó Goa”. Isto dito, obviamente que também terá vivido ali horas mais doces, sobretudo sob o vice-reinado dos seus protectores, e no convívio com alguns companheiros das lides poéticas que ali residiam então, e que ele evoca no chamado “Banquete de Trovas”. A um desses espíritos cultos, o poeta Luís Franco, deixou até cópia das suas obras quase completas, incluindo o «Auto de Filodemo» que ali compusera, para que elas se salvassem se outra adversidade sobreviesse na tornada ao reino.

Considera que Portugal deveria dar mais atenção aos seus escritos, dinamizando mais a sua obra? De que forma?

Em Lisboa é necessário construir um grande museu literário dedicado a Camões e às suas criações. O lugar ideal será o Convento de São Bento de Xabregas, onde o seu amigo Dom António teve sepultura no panteão dos Linhares da capela-mor. Também em Goa a estátua de Camões partiu para um exílio no cruelmente denominado “Museu Arqueológico», que não é o local adequado para encerrar a poesia ou a imagem de um Poeta. Sendo o maior património intangível de Macau, Camões tem sido pouco aproveitado nesta região. Falta-nos um centro interpretativo da sua obra, para o qual já houve em tempos propostas, uma espécie de minimuseu, com exposição permanente, biblioteca fundamental e recursos multimédia.

E em Macau? Camões é estudado ao nível do ensino superior?

Dois alunos da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau vão agora defender as suas teses de mestrado. A primeira é um estudo técnico aprofundado da tradução de Zhang Weimin das odes de Camões. A segunda percorre a sobrevivência literária da figura de Dinamene na ficção portuguesa contemporânea, e são ambas excelentes, trazendo novidade.

Gaza | Leão XIV apela à entrada de “ajuda humanitária decente”

O Papa Leão XIV apelou ontem à entrada de “ajuda humanitária decente” em Gaza e ao fim das hostilidades, denunciando que o “preço atroz está a ser pago por crianças, idosos e doentes”. “A situação na Faixa de Gaza é cada vez mais preocupante e dolorosa”, declarou o Papa, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

O apelo foi lançado por Leão XIV na primeira audiência geral semanal na Praça de São Pedro, no Vaticano, desde que foi eleito, em 08 de Maio. As autoridades israelitas impuseram um bloqueio ao território palestiniano de 2,4 milhões de habitantes em Março.

Israel anunciou na terça-feira que tinha deixado entrar em Gaza alguns camiões com alimentos para bebés, no mesmo dia em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) denunciou que dois milhões de palestinianos estavam a passar fome. A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) acusou Israel de só permitir a entrada em Gaza de uma ajuda “ridiculamente insuficiente” para não ser acusada de “matar a população à fome”.

A ajuda autorizada a entrar na Faixa de Gaza, uma centena de camiões desde segunda-feira segundo as autoridades israelitas, “não passa de uma cortina de fumo”, segundo a organização não-governamental (ONG). A MSF denunciou que se mantém o cerco que Israel impôs a Gaza no início de Março para obrigar o grupo extremista palestiniano Hamas a libertar os reféns que ainda mantém em cativeiro.

A guerra em curso na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque do Hamas no sul de Israel em 07 de Outubro de 2023 que causou cerca de 1.200 mortos e 250 reféns. A retaliação de Israel provocou mais de 53.000 mortos em Gaza, além da destruição de grande parte das infraestruturas do território governado pelo Hamas desde 2007.

No dia 11 de maio, o Papa já tinha afirmado estar “profundamente triste” com o que estava a acontecer na Faixa de Gaza. Apelou na altura a “uma cessação imediata das hostilidades, à ajuda humanitária para a população civil exausta e à libertação de todos os reféns”.

Rezas e apelos

Na audiência geral na Praça de São Pedro, o chefe da Igreja Católica defendeu perante mais de 25.000 fiéis ser necessário trabalhar pela paz num mundo em guerra. “Num mundo dividido pelo ódio e pela guerra, somos chamados a semear a esperança e a construir a paz”, afirmou, também citado pela agência de notícias espanhola EFE.

Horas antes da audiência, Leão XIV tinha confirmado à primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, a disponibilidade do Vaticano para acolher as negociações entre a Ucrânia e a Rússia, informou o Governo italiano num comunicado.

Durante a saudação aos fiéis de língua portuguesa, o pontífice norte-americano convidou-os a rezar o terço pela paz. “Neste mês mariano, gostaria de reiterar o convite de Nossa Senhora de Fátima: ‘Rezem o terço todos os dias pela paz’. Juntamente com Maria, pedimos que os homens não se fechem a este dom de Deus e desarmem os seus corações”, disse, segundo a EFE.

A Grande América (IV)

“America great again with Trump? No. America under trump previously was a joke but this time America is fast becoming a train crash. For a president who’s proud boast was that he never started any wars is pulling out all his fingers to make up for lost time. He will be in power for just four years but the damage he has created already will take decades to repair.”

Stephen Leader

O pai fundador, Thomas Paine, a que Trump alude quando exalta o senso comum, decretou que “Temos o poder de começar o mundo de novo”. A quintessência do americano é (era?) olhar para cima e para além, para saber se o europeu estava inserido no grupo. A certeza de não ter alternativa. Manifestamente, o seu destino é o declínio, confundido com um eterno presente. O risco da América não é o declínio, é o colapso. Porque, fixada em si, está a alienar o mundo. Enquanto monitoriza compulsivamente a febre, esquece-se de que a sua saúde é sempre relativa à dos rivais que seguem as suas próprias trajectórias. Consideremos a supremacia tecnológica, um parâmetro com base no qual a América determina a classificação das potências. As elites americanas estão unanimemente obcecadas com o facto de os chineses ultrapassarem a América em matéria de Inteligência Artificial (IA).

Trump acaba de lançar, entre trombetas, o colosso público-privado Stargate, com um capital futuro declarado (inflacionado) de quinhentos mil milhões de dólares, quando chega a notícia de que uma empresa chinesa autárquica desenvolveu capacidades semelhantes às da OpenAi e associados, gastando uma fracção do que a confiança dos “trustees” espera, através de técnicas de inovação lateral. Pânico na bolsa, nem sequer um Pearl Harbor virtual. Patéticas são as acusações contra Pequim de roubo de tecnologia e de exploração do baixo custo dos seus engenheiros, invejavelmente económicos. A que outra indisciplina se dedicaram os concorrentes durante as revoluções tecnológicas por exemplo, há dois séculos, dos americanos aos britânicos?

E quando a IA tirar empregos até a engenheiros qualificados, o que dirá Trump aos seus adoradores? Quando a América aceitar que não negoceia apenas consigo própria, compreenderá que o “bullying” gera resistência porque há culturas e interesses diferentes dos seus. O grande Andrew Marshall aka Yoda, director do “United States Department of Defense’s Office of Net Assessment” de 1973 a 2015, tinha consciência disso quando insistiu no método comparativo na análise de conflitos. Aquele que se considera tão superior que não tem de integrar as culturas e os interesses dos outros na avaliação das relações de poder, enquanto se autoproclama senhor absoluto do seu próprio destino, prepara o terreno para a derrota. Marshall não deixou nenhum herdeiro. E Trump não tem qualquer semelhança com ele.

Mas o “Terrível Simplificador” arrisca-se a chegar às mesmas conclusões a que Yoda talvez tivesse chegado, independentemente do seu percurso analítico. A salvação da América não reside num regresso à super ordenação sobre o sistema normal de poder. Nesse esforço, ela desmoronar-se-ia, e todos nós com ela. É melhor, enquanto há tempo, satisfazer primeiro entre (não exactamente) iguais. Revolução que implicaria uma auto-análise pungente. Por sua vez, só concebível com uma distância do “eu” inconcebível em Trump, menos ainda em Musk. Felizmente, a heterogénese dos fins, o velho Arquimedes escorrega no banho e descobre o princípio epónimo, perturba o tédio dos determinismos. O génio estável do acordo aplica a sua arte à geopolítica prática sem a extrair dos modelos matemáticos que enervavam Marshall, apenas porque “é assim que me divirto”. Mas o acordo é troca por definição. Pode sentir-se e talvez ser cem vezes superior ao rival com quem negoceia, mas ao negociar aceita-o tal como é. Legitima-o. E, claro, vice-versa. Então, o melhor ou o mais inteligente vencerá.

Recordando a reacção (privada) de John Fitzgerald Kennedy à construção do muro de Berlim “mil vezes melhor um muro do que a guerra! atrever-nos-íamos a parafrasear “mil vezes melhor uma negociação do que o apocalipse!”.

O frenesim de mudar tudo para que tudo mude antes que seja demasiado tarde obscurece o início do segundo Trump e pode fazê-lo descarrilar. Não invalida o facto de que, de tanto caos, possa surgir um princípio de nova ordem. Mais do que imperfeito, estamos de acordo. Nada a ver com a paz perpétua kantiana. Algo sugere que um grande confronto não é impossível entre os Estados Unidos, a China e a Rússia. Ajustar o passado e limitar o risco de apocalipse. Quando Trump anuncia que quer tomar pela força toda a América do Norte, não está apenas a actualizar Monroe. Está a declarar um vale-tudo.

(continua)

Projecto “EVERY 1”, dos alunos da USJ, para ver até final do mês

A Universidade de São José (USJ) apresenta até final do mês, na Galeria Kent Wong, o projecto artístico “EVERY 1”, uma das primeiras exposições viradas para a área da sustentabilidade dos alunos da licenciatura em Comunicação e Media da USJ.

Assim, e segundo uma nota da USJ, a mostra foi desenvolvida a pensar “na consciência ambiental”, apresentando um novo conceito ao público. Isto porque “tradicionalmente as exposições procuram ser eventos de grande impacto no que diz respeito a resíduos, utilização de energia e materiais não recicláveis”, mas o projecto “EVERY 1” veio “inverter essa narrativa”, pois foram usados “materiais promocionais descartáveis, como bandeiras, roll-ups ou cenários impressos”, com a eliminação total de placas de espuma e outros expositores à base de espuma, “normalmente omnipresentes nas exposições”.

Desta forma, “os estudantes e organizadores optaram pelo uso do papel reciclado e reciclável, reduzindo drasticamente a pegada de plástico da exposição”, sendo que a organização estima que “98 por cento dos materiais utilizados [na mostra] foram reutilizados ou recicláveis”, pelo que este projecto acaba por ser “um modelo de execução com poucos resíduos”.

Muitas compensações

Além da reutilização de materiais, os alunos e as pessoas por detrás da organização do “EVERY 1” procuraram perceber e calcular gastos de energias, pois essa questão está também inerente à ideia de sustentabilidade. Desta forma, foi calculada “a pegada de carbono da exposição”, estando em curso “planos para compensar as emissões de CO2 através de iniciativas de plantação de árvores em Macau, demonstrando uma abordagem de círculo completo à responsabilidade ambiental”, é referido.

Para a USJ, “a acção climática não é apenas um slogan, mas sim uma responsabilidade”, uma vez que esta geração de estudantes compreende profundamente a urgência da crise climática”. “Ao tornar este evento ecológico, não estamos apenas a mostrar o seu talento criativo, mas também o seu empenho em construir um futuro mais sustentável”, lê-se ainda.

A exposição “EVERY 1” criou, segundo a USJ, “um precedente poderoso, provando que as exposições ambientalmente conscientes na USJ não são apenas possíveis – são o futuro”. Deixa-se ainda uma “mensagem importante” para o público: de que “contar histórias com significado e responsabilidade climática podem – e devem – andar de mãos dadas”.

AFA | Mostra “Chinoiserie Surrealista” chega a Antuérpia

Estreia a 7 de Junho, na cidade de Antuérpia, uma mostra da AFA – Art for All Society. Trata-se de um “projecto de arte e performance transcultural” intitulado “Surrealistic Chinoiserie: Golden City of Seres”, com curadoria de Alice Kok. Durante dois dias, apresenta-se um trabalho do artista local Leong Chi Mou complementado com uma performance musical com coreografia

 

A AFA – Art for All Society, prepara-se para exportar um projecto artístico local com curadoria de Alice Kok, também ela artista. Trata-se do “projecto de arte e performance transcultural” intitulado “Surrealistic Chinoiserie: Golden City of Seres – A Cultural and Artistic Exchange Exhibition and Performance between Macao and Antwerp” [Cidade Dourada de Seres – Uma Exposição e Performance de Intercâmbio Cultural e Artístico entre Macau e Antuérpia], patente nos dias 7 e 8 de Junho na Venusstraat 19, Antuérpia.

O público belga poderá, assim, ver uma iniciativa que combina “arte visual, dança, música e figurinos”, criando-se com todos esses elementos “uma viagem imersiva ao desejo, à tecnologia e ao simbolismo cultural”, descreve uma nota da AFA sobre o projecto. Além disso, o título da mostra, “Golden City of Seres”, remete para o antigo termo greco-romano “Sērēs”, utilizado para as regiões produtoras de seda do Oriente, enquanto “Golden City” evoca a “transformação de Macau do porto histórico para a moderna Cotai Strip”, é referido. Segundo a AFA, todo este trabalho procura “criar novos vocabulários artísticos e espaços de reflexão, fazendo a ponte entre o surrealismo inspirado em Magritte e a identidade cultural de Macau”.

Depois desta estreia internacional em Antuérpia, a mostra da AFA regressa a Macau em Dezembro, ficando patente no Parisian Macao, “simbolizando um regresso da Europa para a Ásia e dando continuidade ao diálogo cultural além-fronteiras”, descreve a mesma nota.

Música e arte

Um dos artistas locais que participa nesta iniciativa é o Leong Chi Mou, que explora a ideia de “seda de novo tipo” através da criação de trabalhos em malha de latão e aço pintados com acrílico. Apresentam-se, assim, “peças-chave” como “Serica – Diamond Hill” e “Serica – Auspicious Drone”, que “justapõem motivos paisagísticos tradicionais com drones e imagens de vigilância, criando uma paisagem que é simultaneamente familiar e estranha”.

Além disso, a performance apresentada em Antuérpia conta com a co-direcção e coreografia de Jay Zhang e Tina Kan, “integrando formas inspiradas em Dunhuang com ballet contemporâneo para ecoar a reconstrução cultural no trabalho de Leong”. A música desta performance foi composta por Faye Choi, sendo interpretada com flauta por Iris Lo. Trata-se de uma composição que “mistura tons etéreos orientais com texturas electrónicas ocidentais para completar uma experiência sensorial totalmente imersiva”.

Por sua vez, “a estilista e artista de pintura corporal Mandy Cheuk concebeu toucados futuristas inspirados em estruturas cristalinas e formas ciborgues, imaginando a interação entre corpo e tecnologia”, aponta a AFA.

O projecto conta também com a orientação do director artístico belga Dirk Decloedt, tendo o apoio de produção de Florence Fong, em Antuérpia. A iniciativa contou também com apoios do Instituto Cultural de Macau, entre outras entidades.