Educação | China pede aos EUA para não politizarem intercâmbios

A China criticou ontem as novas restrições impostas pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, à entrada de cidadãos estrangeiros, incluindo as que afectam a Universidade de Harvard, e apelou a Washington para que deixe de politizar a cooperação educacional.

“A cooperação educacional entre a China e os EUA é mutuamente benéfica. A China sempre se opôs à politização nesta área”, disse ontem o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Lin Jian, em conferência de imprensa.

Lin respondia à ordem assinada por Trump que suspende por seis meses a entrada de novos estudantes internacionais em Harvard, sob acusações de “radicalismo” e “ligações estrangeiras preocupantes” por parte do centro académico. Pequim advertiu que esta medida vai “prejudicar a imagem e a credibilidade internacional” dos EUA e garantiu que vai defender os direitos legítimos dos seus estudantes e académicos no estrangeiro.

Harvard, uma das universidades mais prestigiadas do mundo, acolhe actualmente 10.158 estudantes internacionais de 150 países, incluindo 2.126 da China, segundo dados relativos ao ano letivo 2024/2025 publicados no portal do gabinete internacional da instituição.

O porta-voz também reagiu à nova proibição de viajar para os Estados Unidos para cidadãos de 12 países, incluindo Irão, Haiti, Guiné Equatorial, Somália e Iémen, e às restrições impostas a cidadãos de outros sete, como Cuba e Venezuela.

“Os intercâmbios interpessoais são a base fundamental para promover a compreensão e a cooperação entre os países. Esperamos que todas as partes criem condições propícias para o efeito, em vez de erguerem barreiras”, afirmou Lin.

Taiwan | Pequim oferece recompensas pela captura de piratas informáticos

O Gabinete de Segurança Pública da cidade chinesa de Cantão vai oferecer recompensas a quem ajudar a capturar mais de 20 indivíduos ligados a Taiwan acusados de terem realizado ciberataques contra uma empresa tecnológica chinesa.

Esta é a primeira vez que as autoridades de segurança pública chinesas tomam esta medida para “combater as forças separatistas de Taiwan”, segundo o jornal oficial Global Times. É também “a primeira acção coordenada de repressão das actividades criminosas organizadas pelo Comando da Força de Informação, Comunicações e Electrónica de Taiwan”, acrescentou.

Segundo o Global Times, estes “20 suspeitos da ilha de Taiwan” estiveram envolvidos em ciberataques contra uma empresa tecnológica chinesa local e estão ligados às autoridades do Partido Democrático Progressista (DPP), actualmente no poder em Taiwan.

“O ciberataque foi dirigido e executado pelo Comando da Força de Informação, Comunicações e Eletrónica do DPP, que realiza múltiplas actividades ilegais”, declarou o Gabinete de Segurança Pública Municipal de Cantão, que emitiu mandados de busca para os 20 suspeitos.

As autoridades chinesas acrescentaram que aqueles que fornecerem pistas válidas e ajudarem na captura dos suspeitos receberão uma recompensa de 10.000 yuan por cada um deles.

AIE | Investimento de 2,9 biliões de euros em 2025 com China a liderar

As previsões da Agência Internacional de Energia para 2025 indicam o reforço da liderança chinesa na revolução energética em curso com a aposta nas energias “limpas” em detrimento do investimento em combustíveis fósseis

 

O investimento em energia deverá aumentar para 3,3 biliões de dólares (2,9 biliões de euros) em 2025, com a China a consolidar a sua posição de liderança, segundo um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE).

A análise, ontem divulgada pela agência, indica que as energias “limpas” deverão atrair duas vezes mais capital do que os combustíveis fósseis. “No meio das incertezas geopolíticas e económicas que ensombram as perspectivas do mundo da energia, vemos a segurança energética emergir como um motor fundamental do crescimento do investimento global este ano”, lê-se no relatório.

“Actualmente, a China é, de longe, o maior investidor mundial em energia, gastando duas vezes mais do que a União Europeia – e quase tanto como a UE e os Estados Unidos juntos”, acrescenta a análise, salientando que, em 2015, o país asiático estava apenas à frente dos Estados Unidos neste aspecto.

O investimento em energias renováveis e nucleares, armazenamento e combustíveis com baixas emissões, bem como em eficiência energética e eletrificação, deverá atingir um recorde de 2,2 biliões de dólares, segundo a AIE.

“As actuais tendências de investimento mostram claramente que se aproxima uma nova era da electricidade”, sublinhou a agência. O investimento neste sector deverá ser cerca de 50 por cento superior ao montante total gasto em petróleo, gás natural e carvão.

Há dez anos, o investimento em combustíveis fósseis era 30 por cento superior ao investimento na produção e nas redes de eletricidade, indicou o organismo. O petróleo, o gás natural e o carvão deverão absorver investimentos de 1,1 biliões de dólares, com forte concentração das despesas na exploração de petróleo e gás no Médio Oriente.

Sobe e desce

A AIE estimou que a queda dos preços e da procura de petróleo deverá conduzir ao primeiro declínio do investimento no sector desde a pandemia de covid-19, em 2020, principalmente devido a uma descida acentuada das despesas com o petróleo de xisto nos Estados Unidos.

Em contrapartida, o investimento em novas instalações de gás natural liquefeito (GNL) registará um forte crescimento. “Entre 2026 e 2028, o mercado mundial de GNL deverá registar o maior crescimento de capacidade de sempre”, estimou a AIE.

De acordo com a agência, o investimento mundial em energia solar deverá atingir 450 mil milhões de dólares até ao final de 2025, colocando-a em primeiro lugar, enquanto o investimento em energia nuclear deverá atingir cerca de 75 mil milhões de dólares, um aumento de 50 por cento nos últimos cinco anos.

No entanto, a AIE receia que o investimento nas redes eléctricas (cabos, postes, etc.), actualmente em 400 mil milhões de dólares por ano, “não acompanhe o ritmo das despesas de produção e electrificação”, o que constitui um “sinal preocupante para a segurança da electricidade”.

O investimento em redes teria de aumentar para atingir a paridade com as despesas de produção até ao início da década de 2030, mas “tal é dificultado por procedimentos de licenciamento morosos e por cadeias apertadas de abastecimento de transformadores e cabos”.

Por último, o forte crescimento da procura de electricidade está também a beneficiar o carvão, principalmente na China e na Índia.

Em 2024, a China lançou a construção de quase 100 gigawatts (GW) de novas centrais eléctricas alimentadas a carvão, elevando as aprovações globais para centrais deste tipo ao nível mais elevado desde 2015, salientou a AIE.

Filosofia Popular da Peregrinação ao Oeste

Ana Cristina Alves, Investigadora Auxiliar e Coordenadora do Serviço Educativo do Centro Científico e Cultural de Macau

20 de maio de 2025

Introdução e comparação cultural

Qual é a filosofia popular implícita na obra Peregrinação ao Oeste《西遊记》 de Wu Cheng´en (吴承恩) 1500 – 1582? Esta foi redigida durante a Dinastia Ming e publicada em 1570, mais ou menos pela altura em que os Lusíadas de Luís Vaz de Camões, o épico camoniano, seria editado, em 1572.

Na Peregrinação ao Oeste procura-se através de uma recriação imaginária de um grupo de peregrinos, encabeçado pelo monge da dinastia Tang Xuanzang (唐玄奘 Xuánzàng), conquistar um novo mundo espiritual, o da religião budista, ao qual os chineses deveriam aderir de modo a garantir uma melhor conduta ético-moral para uma população já há muito desviada dos bons ensinamentos e conduta apropriados.

Quem lidera a iniciativa de libertar os chineses do sofrimento é, como não poderia deixar de ser, a Divindade da Compaixão, Guanyin (观音Guānyīn), sempre atenta a todas as almas aflitas, pronta para se lançar no socorro delas.

Já no caso de Os Lusíadas, compostos por Luís Vaz de Camões (1524/5-1580), narra-se igualmente uma viagem, só que é real, indissociável de aspetos espirituais e religiosos, porque feita em nome da universalidade da fé cristã, sendo, porém, indissociável da viagem concreta, que implica a conquista bem humana e renascentista de um mundo melhor para as gentes, no qual os portugueses possam não apenas sobreviver, mas comandar e imperar, por serem dignos de uma história antiga e guerreiros muito valorosos. Canta-se, portanto, o heroísmo dos descobrimentos, radicados na fé cristã, mas acompanhados e protegidos pelo alento renascentista que recupera o espírito e divindades clássicas, como sejam a protetora Vénus, divindade amorosa que vela pelos portugueses, e o agressivo e ciumento Baco, o deus do vinho que os quer perder.

A Peregrinação ao Oeste pelos chineses é realizada em nome da libertação e salvação coletivas, através do contacto com os sutras budistas; a “Peregrinação” portuguesa ao Leste é igualmente em nome de uma coletividade, salva as almas e estende-se a toda a terra, dada a vocação proselitista do Cristianismo e globalizante dos mercadores, bem como dos navegadores, Camões seu arauto poético deseja a propagação da fé por um grande império construído pelos heróis portugueses, como se lê na primeira estância do Canto Primeiro:

As armas e os Barões assinalados

Que da Ocidental praia Lusitana,

Por mares nunca de antes navegados

Passaram ainda além da Taprobana,

Em perigos e guerras esforçados,

Mais do que prometia a força humana,

E entre gente remota edificaram

Novo reino, que tanto sublimaram;

Que viria a ser traduzida para chinês por Zhang Weimin 张维民 em 19981 da seguinte forma:

威武的船队,强悍的勇士,

驶离卢济塔尼亚西部海岸,

越过自古茫无人迹的海崖,

甚至跨越塔普罗瓦那海角,

经历千难万险、无穷战争,

超出人力所能承受的极限,

在那荒僻遥远的异域之帮,

将灿烂辉煌的新帝国拓建。

张维民(译) 《卢济塔尼亚人之歌 •第一章,一》

Ambas as peregrinações são verdadeiros romances de aventura em estilo poético, Os Lusíadas em poesia, a Peregrinação ao Oeste em prosa poética e poesia. Neste último, A Bodhisattva Guanyin subjugará 4 monstros que serão os companheiros do Monge Xuanzang. A Bodhisattva leva consigo uma sotaina bordada e um anel de nove voltas para entregar ao monge. Este último, se cumprir eficazmente a sua missão de 14 anos, escapa à roda da reincarnação (Jenner, 1994:60), e os seus discípulos, forças divinas desobedientes em queda no mundo humano, poderão regressar ao Céu, onde voltarão a ocupar cargos divinos.

Guanyin entrega também uma banda, que provoca terríveis dores de cabeça ao desobediente Rei Macaco (Jenner, 1994:60).

Apresentem-se os monstros e espíritos indomáveis.

Primeiro Sun Wukong (孙悟空Sūn Wǔkōng ), de Rei Macaco desobediente transita a obediente guardião da religião budista. Guanyin libertará este espírito indomável, prisioneiro na Montanha dos Cinco Elementos (五行山 Wǔxíng Shān), como castigo pelas desobediências que não têm conta.

Depois um Marechal Celestial que passará a Porco. Ele é o Marechal Tian Peng (天篷Tiān Péng ) da Via Láctea, tentou seduzir a Divindade da Lua, foi punido pelo Imperador de Jade com duzentas machadadas e condenado ao exílio na terra. A Bodhisattva batizou-o com o apelido de Zhu Bajie (猪八戒Zhū Bājiè ), que significa «Porco das Oito Abstinências,» e deu-lhe o nome budista de Zhu Wuneng (猪悟能Zhū Wǔnéng ), ou seja, «Porco Desperto para o Poder» (1994:63).

Haverá um ogre que será dominado e transformado em Monge Areia. Foi castigado por ter sido um general celestial distraído. Pagou a distração com 800 chicotadas, tendo sido exilado para a terra, onde devora viajantes escondido nas águas do Rio das Areias Flutuantes. Guanyin liberta-o, batizando-o com o apelido de «Areia» (沙Shā ) , e o nome budista de Wujing (牾净Wǔjìng), que significa «Desperto para a Pureza».

Segue-se o filho do Rei Dragão do Mar do Oeste que será metamorfoseado em Cavalo Branco. Foi denunciado pelo próprio pai por ter queimado as pérolas brilhantes do palácio. O imperador de Jade castigou-o, suspendendo-o no ar. Deu-lhe 300 chicotadas, deixando-o a aguardar a morte. O príncipe dragão é liberto para se transformar no Cavalo Branco do monge Xuánzàng, ou como é conhecido em chinês, no Cavalo-Dragão Branco, (白龙马Bái Lóng Mǎ ).

No termo da peregrinação, Zhu Wuneng espiritualizado, ascende ao Céu, sendo recompensado com o cargo celestial de Limpa-Altares. Mas há mais honras para o grupo de peregrinos vitoriosos que levaram os sutras até à China: o Monge Areia receberá o título de Santo (Arhat) Dourado, o Macaco será nomeado Buda da Luta Vitoriosa e o Monge Sanzang receberá o título de Buda do Mérito (buda candana-punya.) Assim como o Cavalo Branco ascenderá a Dragão Celestial.

Filosofia Popular Proverbial

Entre os peregrinos encontram-se, como se sabe, o Macaco e o Porco que escoltam na viagem ao Oeste o grande monge e tradutor budista Xuanzang [ 唐玄奘 Xuánzàng (c. 602 – 664) ou Sanzang (三藏Sānzàng), o Monge dos Três Tesouros budistas (o próprio Buda, os Ensinamentos ou Dharma, a Ordem Monástica ou Sangha), mandatado pelo Imperador Imperador Táng Tàizōng (唐太宗, r. 626-649) para ir buscar as escrituras sagradas à Índia. Estas serão entregues pelo Buda Histórico que reside no Pico do Abutre, porque «há muitas criaturas gananciosas e malvadas no Leste, que se comprazem em provocar sofrimento aos outros, matando e lutando sem parar.» (Jenner, 1994: 58). Por isso, Buda quis distribuir as escrituras pelo mundo chinês.

Na filosofia popular e proverbial, que hoje corre de boca em boca, chama-se a atenção para o duelo existencial, travado entre dois dos cinco peregrinos, muito semelhante ao da obra Dom Quixote, de Miguel de Cervantes (1547-1616), composta entre 1605 e 1615, na qual o autor coloca em diálogo duas personagens opostas e complementares, Dom Quixote e Sancho Pança: o primeiro extremamente idealista, romântico, sonhador e mesmo utópico, quase só pele e osso, por ser como que um espírito encarnado; o segundo, materialista, realista, pragmático, um “pés na terra” muito forte e rechonchudo.

Mutatis mutandis Zhu Bajie, o Porco das Oito Abstinências, e Sun Wugong, o Macaco Desperto para o Vazio, da Peregrinação a Oeste têm muitas das características opostas e complementares que encontramos em D. Quixote e Sancho Pança. A confirmá-lo, atente-se em alguns dos ditos proverbiais associados ao Rei Macaco:

1) As Setenta e Duas transformações do Rei Macaco (七十二变qī shí èr biàn)

2) Infindáveis Mutações (千变万化qiān biàn wàn huà)

3) Grande Confusão no Palácio Celestial (大闹天宮dà nào tiān gōng)

4) Infinitos Poderes Mágicos (神通广大shéntōng- guǎnggdà )

5) Aparece e Desaparece Misteriosamente (神出鬼没shénchū-guǐmò)

Ele possui uma infinita capacidade espiritual, que lhe permite acompanhar o movimento universal e estar em permanente transformação. Tem inúmeros poderes mágicos, aprendidos com o melhor dos mestres taoistas, o que o capacita a interferir com sucesso tanto na ordem celestial como na terrena, razão pela qual virá a ser castigado e apenas subjugado pelo próprio Buda, que ao domá-lo revela pertencer a uma ordem espiritual e religiosa superior.

Após um castigo de quinhentos anos, infligido pelo patriarca do Budismo, ficará apto a integrar o grupo dos peregrinos que introduzirá com sucesso os sutras e os ensinamentos budistas na China. Sun Wugong revela ser uma personagem complexa e multifacetada, retendo e potenciando o melhor e o pior da natureza humana na sua portentosa inteligência, desafiante e desobediente. Tem imensa dificuldade em lidar sobretudo com Zhu Bajie, pela estupidez e concupiscência do parceiro, sempre pronto a preguiçar e a entregar-se a prazeres exclusivamente carnais.

Zhu Bajie encarna alguns dos defeitos típicos da natureza humana que são bem revelados na filosofia proverbial popular, como se pode verificar por alguns dos ditos aqui referidos:

1) Zhū Bájiè Falha e Nunca Assume as suas Responsabilidades (豬八戒上陈Zhū Bájiè Shàng Chén)

2) Zhu Bajie Enfeita-se com Flores (豬八戒戴花Zhū Bájiè Dài Huā).

3) Zhū Bájiè vê-se ao Espelho (cZhū Bájiè kàn Jìngzi)

4) Zhū Bájiè Partiu de Avião (豬八戒坐飞机Zhū Bájiè zuò fēijī).

No primeiro provérbio, nota-se a dificuldade do porco em assumir culpas sempre que erra, e como errar é humano, não têm contas as vezes em que sacode as responsabilidades; já no segundo é denunciado um defeito muito característico por entre as gentes, a vaidade, ou seja, a necessidade constantes de enfeites, e não só do ponto de vista físico, porque aqui não apenas contam as indumentárias como também os títulos, cargos e honrarias, numa total incapacidade de se autoavaliar com rigor. No terceiro dito, está em causa a fealdade física e moral, que atrai queixas dos outros, pela falta de compostura e, por fim, emprega-se esta expressão quando alguém parte desta para a melhor, mas de uma maneira pior, ou seja, sem dignidade.

Para terminar, aqui ficam alguns provérbios de sentido mais geral, retirados da Peregrinação ao Oeste, que chamam a atenção para os males gerais do mundo através das aventuras dos peregrinos, já que, com exceção de Sun Wugong, os outros se deixam enganar muito facilmente, por todo o tipo de monstros, demónios, espíritos sedutores, etc., tendo grande dificuldade em desvendar comportamentos hipócritas nos quais vão tropeçando ao longo da jornada, onde encontram “muitas caras às quais não conseguem ver o coração” ou, por outras palavras, abundante hipocrisia, como refere o dito (虚情假意 xū qíng jiǎ yì).

Por isso, estão constantemente envolvidos em sarilhos ou situações que “não têm pés nem cabeça”, o que é traduzido literalmente em chinês por “tamanhos desiguais” (七长八短 qī cháng bā duān). Ora num mundo enganador, os peregrinos são aqueles que com boas intenções vão seguindo com o objetivo maior de salvar a China, assim o grupo se vê na situação de “grande nau, grande tormenta”, ou como é dito em chinês, de “grande árvore que atrai o vento” (树大招风 shū dà zhāo fēng ) num mundo em que quando a virtude cresce alguns centímetros, logo a maldade aumenta vários metros (道高一尺,魔高一丈 dào gāo yī chǐ, mó gāo yī zhàng).

Apesar de todas as advertências, vindas da sabedoria popular e das aventuras romanescas, a Peregrinação ao Oeste e Os Lusíadas terminam com o sucesso dos seus protagonistas, já que os portugueses se expandem pelo mundo, o Budismo é introduzido na China e todos os personagens da novela poética dão origem a um pedagógico manancial proverbial.

Referências Bibliográficas

Alves, Ana Cristina. 2022. Cultura Chinesa, Uma Perspetiva Ocidental. Coord. Carmen Amando Mendes. Coimbra: Almedina e Centro Científico e Cultural de Macau.

蔡志忠 (编绘)2014《西游记》北京:现代出版社.

Camões, Luís de. 1971. Os Lusíadas. Lisboa: Imprensa Nacional de Lisboa.

Camões, Luís de. 1998. 《卢济塔尼亚人之歌》. Beijing: Fundação Oriente e Federação das Associações Artísticas e Literárias da China.

Jenner, W.J.F. 1994. Wu Cheng’en. Journey to the West. «西遊記». Hong Kong: The Commercial Press.

吴承恩2015《西游记》. 全三册.长沙:岳麓书社.

“Histórias Proverbiais relativas a Zhu Bajie”:《描写猪八戒的成语》

http://wenwen.soso.com/z/q314030363.htm

“Histórias Proverbiais relativas a Sun Wukong”: 《关于孙悟空的成语》http://zhidao.baidu.com/question/95335747.html

Este espaço conta com a colaboração do Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, sendo as opiniões expressas no artigo da inteira responsabilidade dos autores” https://www.cccm.gov.pt

Beijing: Fundação Oriente e Federação das Associações Artísticas e Literárias da China.

Habitação | Mercado encolhe mais de 50% num ano

O mercado da habitação continua em contracção e no espaço de um ano o preço médio do metro quadrado desvalorizou 23,8 por cento. Se a comparação for feita com o período pré-pandemia, os preços caíram 39,5 por cento

 

No início de Maio, o número de transacções no mercado de habitação caiu para menos de metade, com uma redução de 57,6 por cento, em comparação com a primeira quinzena de Maio do ano passado. A informação consta das estatísticas da Direcção de Serviços de Finanças (DSF).

Segundo os dados mais recentes, na primeira metade de Maio deste ano houve um total de 78 compras e vendas de habitação, o que contrasta com as 184 transacções registadas nos primeiros quinze dias de Maio de 2024. Esta é uma diferença de 106 negócios.

As alterações no espaço de um ano não se ficaram pelo número de transacções, o mesmo aconteceu com o preço médio do metro quadrado. Na primeira metade de Maio deste ano o preço médio da habitação foi de 69.634 patacas por metro quadrado, o que significa uma redução de 23,8 por cento face ao período homólogo, quando o preço médio era de 91.361 patacas por metro quadrado.

A redução significa que se uma pessoa pagou, no ano passado, 5,80 milhões de patacas por uma habitação, a mesma casa valeria em Maio deste ano 4,42 milhões de patacas, o que implica uma desvalorização de 1,38 milhões de patacas.

No início de Maio deste ano, Coloane foi a região com as casas mais caras, onde o preço médio foi de 90.755 patacas por metro quadrado. Ao invés, na Península de Macau o preço médio por metro quadrado foi de 69.132 patacas por metro quadrado, o mais reduzido.

Outras realidades

Se a comparação for feita com a primeira metade de Abril deste ano, a redução tanto ao nível do número de transacções como do preço é mais moderada. Em termos do preço da habitação, no espaço de um mês a redução foi de 11 por cento, dado que no início de Abril deste ano o preço médio do metro quadrado foi fixado em 78.204 patacas.

Quando se analisa a tendência ao nível do número de transacções, a redução foi de 34,6 por cento, superior a um terço, dado que no início de Abril tinham sido registadas junto da DSF um total de 133 transacções. O número mais recente de transacções foi apenas de 78 compras e vendas, o que significa uma diferença de 55 transacções.

As comparações com o período pré-pandemia mostram um contraste ainda mais acentuado. Ao nível do preço do metro quadrado, a comparação com o início de Maio de 2019 mostra uma redução de 39,5 por cento, de 115.071 patacas por metro quadrado para 69.634 patacas por metro quadrado. Tendo em conta estes números, se uma pessoa tivesse comparado uma habitação no início de Maio de 2019 por 5,80 milhões de patacas, essa mesma casa estaria agora avaliada em 3,51 milhões de patacas, uma diferença de 2,29 milhões de patacas.

IAM | Mais de 60 produtos com facilidades de exportação

Mais de 50 tipos de alimentos de Macau foram abrangidos pelo “Acordo de Cooperação no Controlo de Segurança dos Produtos Alimentares Fabricados em Macau e Exportados para o Interior da China” desde que foi assinado pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) com entidades da China, em 2019.

Segundo uma nota do IAM, além desses alimentos, “cerca de 10 tipos de produtos de carne foram recomendados pelo IAM à Administração Geral das Alfândegas da China para serem registados com sucesso” no país, como “produtos de pastelaria tradicionais, produtos de ninhos de andorinha prontos a comer, produtos de carne, entre outros”, ao abrigo do “Memorando sobre a inspecção sanitária e os requisitos veterinários de produtos de carne exportados por Macau para o Interior da China”, assinado em 2023.

As entidades chinesas que estabeleceram a cooperação com Macau são a Administração Geral das Alfândegas da China e a Secretaria para a Administração e Justiça, criando “um modelo inovador de supervisão cooperativa”.

Imobiliário | Dirigente associativo pede imigração para responder a crise

A Associação Geral do Sector Imobiliário de Macau acredita que o território precisa de mais imigrantes qualificados para inverter a contracção do mercado imobiliário. No entanto, Ip Kun Wa ficou desiludido com as Linhas de Acção Governativa por não ter visto um compromisso com a estabilização do mercado

 

O presidente da Associação Geral do Sector Imobiliário de Macau, Ip Kun Wa, admite a desilusão com as primeiras Linhas de Acção Governativa do Executivo de Sam Hou Fai, por considerar que faltam medidas para apoiar o mercado imobiliário. A posição foi tomada em declarações prestadas ao jornal Ou Mun.

De acordo com o presidente da associação, o Governo precisa de facilitar os requisitos para atrair mão-de-obra qualificada de fora, dado que a imigração é tida como a tábua de salvação para o mercado imobiliário. Na visão do representante, se o território tiver mais pessoas, com forte capacidade de compra, vai aumentar a procura por habitação em Macau.

O dirigente associativo também reconheceu que o mercado imobiliário está actualmente numa fase de contracção, devido à falta de confiança dos consumidores que acreditam que se comprarem um imóvel que este vai perder valor nos tempos mais próximos.

Todavia, o presidente da associação alertou que, ao contrário de Hong Kong, em Macau não existe um mercado bolsista. Como tal, e dado que o crescimento da economia implica o aumento do consumo, o mercado de imóveis é uma das poucas vias para os residentes investirem as suas poupanças, ganharem maior confiança e ajudarem a desenvolver a economia local.

Face a esta visão, Ip Kun Wa considerou que as Linhas de Acção Governativa foram uma desilusão porque apenas contêm “algumas frases ligeiras” sobre a necessidade de permitir a entrada de mais imigrantes e de agilizar os processos de aprovação de novos imigrantes, sem que haja verdadeiramente detalhes.

Medidas de longo prazo

Em relação às Linhas de Acção Governativa e às propostas para o imobiliário, com excepção da emigração, Ip Kun Wa reconheceu estar céptico, dado que as propostas para promover o desenvolvimento da economia são de longo prazo e, por esse motivo, só se vão reflectir na procura por mais imóveis no longo prazo.

Ip Kun Wa lamentou também que o Governo de Macau não se tenha comprometido com medidas para estabilizar os mercados mais essenciais para a economia. O presidente da Associação Geral do Sector Imobiliário de Macau deu o exemplo do Interior, onde considerou que depois dos sinais de apoio do Governo Central ao mercado bolsista, houve sinais de estabilização e recuperação, no que entendeu ser uma política acertada.

IDQ / Inspecções | Pereira Coutinho critica suspensão de serviços

O deputado José Pereira Coutinho interpelou o Governo sobre as alterações aos serviços prestados pelo Instituto para o Desenvolvimento e Qualidade (IDQ), e que têm “implicações para a qualidade e inspecção em Macau”.

Segundo a interpelação, o gabinete de atendimento aos cidadãos do deputado tem recebido muitas queixas de “empresários locais que expressam preocupação em relação à recente decisão do IDQ de suspender a prestação de diversos serviços essenciais”, como é o caso da “inspecção de equipamentos de elevação e a emissão de certificados de inspecção para empresas particulares, bem como para os respectivos projectos de engenharia”.

Esta mudança ocorreu a partir de Março do ano passado, sendo que, para Pereira Coutinho, “sem aviso prévio, esta decisão suscita várias questões sobre a continuidade dos serviços essenciais que garantem a segurança e a qualidade no sector da construção, equipamentos de elevação e engenharia em Macau”.

O deputado questiona também “como será garantido, no futuro, o cumprimento de diversas finalidades do IDQ”.

Governo recusa penalizar não utilização de cintos de segurança nos bancos de trás

O Governo recusa avançar com multas para penalizar os passageiros que não utilizem cintos de segurança nos bancos traseiros. A posição do Executivo foi assumida numa reunião da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, pela presidente e deputada Ella Lei.

Citada pelo jornal Ou Mun, a membro da Assembleia Legislativa afirmou que a não utilização de cintos de segurança nos bancos traseiros não vai ser penalizada com as alterações à lei do trânsito. Além disso, o Governo terá dito que precisa de mais tempo para estudar a medida que, por exemplo, em Portugal passou a vigorar em 1994, ainda antes da transição da transferência de Macau. O Executivo terá ainda indicado que qualquer alteração terá de se feita “passo-a-passo”.

Em relação às penalizações para a não utilização do cinto de segurança nos bancos da frente a multa vai passar a ser de 300 patacas.

Na reunião de ontem, uma das discussões que levantou mais polémica é uma norma que dá poderes aos motoristas dos transportes públicos para recusarem passageiros que apresentem um comportamento ou transportem materiais que possam ser tidos como perigosos para o condutor e para os outros passageiros.

Grandes debates

Segundo Ella Lei, esta questão esteve longe de ser pacífica entre os deputados, com alguns a questionarem a possibilidade de haver decisões aleatórias dos motoristas. Terá havido quem sugerisse ao Governo para deixar cair a norma. No entanto, os representantes do Executivo prometeram elaborar, posteriormente, depois de aprovada a lei, linhas orientadoras para os motoristas.

Após a reunião de ontem, Ella Lei admitiu desconhecer se vai ser possível finalizar a discussão das alterações da lei do trânsito até Outubro, até porque o Governo ainda tem de apresentar uma nova versão do texto de trabalho. No caso de não ser possível, a lei vai cair e terá de ser apresentada novamente na generalidade, e votada pelos novos deputados, para depois voltar a ser analisada especialidade.

Jogo / Receitas | Revisão em baixa não surpreende analistas

Os analistas da CreditSights não ficaram surpreendidos com a revisão em baixa da estimativa para as receitas brutas do jogo deste ano, anunciada pelo Governo na terça-feira. A meta mais “conservadora e em linha com a performance do sector” é explicada pela possível queda dos segmentos VIP e massas premium

 

Na terça-feira, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, anunciou aquilo que parecia inevitável: a revisão em baixa das estimativas para as receitas brutas do jogo em 2025. Na proposta de revisão orçamental, o Governo cortou as expectativas em 12 mil milhões de patacas, da estimativa inicial de 240 mil milhões para 228 mil milhões de patacas.

A rectificação da performance da indústria não apanhou de surpresa os analistas da CreditSights. Numa nota divulgada ontem, os analistas Nicholas Chen e David Bussey referem que a revisão “não foi uma completa surpresa”, “tendo em conta o fraco registo de receitas brutas mensais desde o início do ano” para cumprir a meta de 240 mil milhões de patacas no fim de 2025.

Aliás, a instituição acrescenta que a nova meta prevista “é mais conservadora e em linha com a performance anual do sector até agora”.

Apesar dos números encorajadores de turistas que têm visitado Macau este ano, o crescimento do fluxo de visitantes não se tem reflectido nas receitas brutas do jogo, salientam os analistas. “Suspeitamos que isso se deva à maior prevalência de jogadores do segmento de massas, em detrimento de apostadores dos segmentos VIP e massas premium, assim como à subida dos elementos não-jogo”, refere a nota, citada pelo portal GGR Asia.

Raios de sol

Os resultados dos casinos no mês passado não passaram ao lado da análise divulgada ontem. Os casinos arrecadaram receitas brutas de 21,19 mil milhões de patacas em Maio, o valor mais elevado desde a pandemia, ou seja, desde Janeiro de 2020 quando foram apurados 22,13 mil milhões de patacas.

“O robusto registo de visitantes durante os cinco dias de feriados do 1º de Maio”, que suportaram as receitas brutas de Maio foram encarados como um sinal positivo, uma vez que graças ao mês passado a média mensal de receitas brutas subiu para 19,5 mil milhões de patacas, 500 milhões de patacas acima das receitas brutas mensais da nova estimativa do Governo.

É também mencionado que o crescimento do número de visitantes ajudou a compensar a redução do montante das apostas. Como tal, os analistas alertam que “o sector do jogo pode ainda correr o risco de não cumprir a nova meta para as receitas se o número de turistas mostrar sinais de enfraquecimento”.

Em termos de receita acumulada, nos primeiros cinco meses deste ano registou-se um aumento de 1,7 por cento em relação ao ano anterior, com um total de 97,71 mil milhões de patacas face aos 96,06 mil milhões de patacas registados entre Janeiro e Maio do ano passado. No entanto, o valor ainda está muito longe de 2019 e antes da campanha contra os junkets, quando as receitas entre Janeiro e Maio foram de 125,69 mil milhões de patacas.

Eleições | FAOM entrega pedido de candidatura

A lista União para o Desenvolvimento, liderada pela Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), entregou na quarta-feira o pedido de reconhecimento da comissão de candidatura, com 500 assinaturas. O mandatário da lista, Kong Ioi Fai, falou das ideias preliminares do grupo para estas eleições.

A equipa que concorre é composta por 12 pessoas e procura alcançar os objectivos traçados para as últimas eleições. O mandatário falou ainda da longa experiência do grupo em actos eleitorais e no acompanhamento dos problemas dos residentes, em fases tão distintas como a recessão económica sentida em Macau depois da transição, a epidemia da SARS, em 2003; a crise financeira de 2008 e os anos da covid-19. Kong Io Fai destacou objectivos essenciais como a revitalização da economia, a garantia do bem-estar da população, o desenvolvimento dos jovens, a melhoria da Administração pública e a protecção dos direitos laborais.

União dos Interesses Empresariais entregou pedido de reconhecimento

A lista União dos Interesses Empresariais de Macau, ligada à Associação Comercial de Macau, entregou ontem o pedido de constituição da comissão de candidatura com o apoio de 103 pessoas colectivas. Esta é uma lista vai participar nas eleições de 14 de Setembro no sufrágio indirecto e que em 2021 elegeu como deputados os empresários Kou Hoi In, José Chui Sai Peng, Ip Sio Kai e Wang Sai Man.

A lista participa no sufrágio indirecto pelos sectores industrial, comercial e financeiro e desde 2021 concorreu sempre sem oposição. De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, o mandatário da lista, o empresário Ma Iao Lai, apontou que depois do pedido de reconhecimento ser confirmado pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa, a lista vai realizar palestras para recolher opiniões e estudar os quatros candidatos.

Emigrantes | Associação TSP lança inquérito sobre eleições legislativas

A Associação TSP – Também Somos Portugueses, baseada em Portugal, vai lançar um novo inquérito sobre os problemas registados nas últimas eleições legislativas para a Assembleia da República em Portugal, que serviram para eleger os deputados e o primeiro-ministro.

Segundo uma nota da associação, a ideia é perceber “a forma como decorreram as recentes eleições legislativas portuguesas para quem vive no estrangeiro e quais são os problemas de que se queixam os emigrantes”, além de que se pretende chegar a respostas sobre a abstenção. “Para quem votou pretende-se saber se foi fácil votar, as dificuldades que tiveram e porque é que muitos não juntaram uma cópia do documento de identificação, cuja falta fez com que muitos milhares de votos fossem anulados”, lê-se no comunicado enviado às redacções.

No inquérito, que está disponibilizado no portal da associação e nas redes sociais da mesma, pretende-se também perceber “as modalidades de voto preferidas pelos portugueses no estrangeiro”, seja “o voto presencial nos consulados, o voto postal ou os métodos que, apesar de ainda não estarem disponíveis em Portugal, são usados noutros países”, ou mesmo “o voto digital e voto por procuração”.

O inquérito questiona ainda os principais problemas sentidos pelos portugueses que vivem no estrangeiro, tal como “o acesso aos serviços dos consulados, o ensino da língua portuguesa, o acesso à saúde em Portugal, problemas com os impostos portugueses, a reforma dos emigrantes, o regresso para Portugal, o processo de votação para as eleições portuguesas, ou outros”.

Eleições | “Soldado de Mao” volta a candidatar-se

Wong Wai Man entregou ontem o pedido de reconhecimento da sua lista para concorrer às eleições legislativas, depois da candidatura de 2021 ter sido recusada. O potencial candidato oficializou ontem a sua corrida eleitoral, vestido a rigor, com o emprego e o bem-estar social entre as prioridades políticas

 

O “Soldado de Mao” está de volta. Wong Wai Man foi ontem ao Edifício da Administração Pública entregar à Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) o pedido de reconhecimento da propositura de candidatura às eleições legislativas de 14 de Setembro.

O presidente da Associação dos Armadores de Ferro e Aço e rosto da lista Ajuda Mútua Grassroots surgiu com uma indumentária semelhante às fardas dos guardas vermelhos durante a Revolução Cultural e envergando uma mala a tiracolo com a imagem de Mao Tsé-Tung.

Esta é a terceira vez que procura entrar no boletim de voto e, desta feita, entregou 395 assinaturas com o pedido de reconhecimento da candidatura da lista que deverá ter seis candidatos.

Aparentando uma postura calma, Wong Wai Man afirmou estar tranquilo em relação ao escrutínio das autoridades face aos critérios a cumprir pela sua lista, nomeadamente em relação ao número mínimo de assinaturas suficientes para poder participar no sufrágio. “Não estou preocupado, o meu objectivo é participar no processo eleitoral. Dedico-me à participação cívica e social há cerca de 18 anos. Não preciso de assumir o cargo de deputado, a minha força e energia positiva são maiores do que qualquer deputado”, afirmou o potencial candidato, citado pelo All About Macau.

As muitas batalhas

“Hoje em dia, em Macau aconteceram muitos casos de suicídio, com pessoas a saltarem para o mar ou do cimo de prédios, ou por enforcamento. Os governantes têm responsabilidades perante esta realidade, assim como os 32 deputados que estão na Assembleia Legislativa”, afirmou Wong Wai Man num vídeo partilhado no WeChat.

O aumento de suicídios no território é encarado pelo potencial candidato como uma consequência das dificuldades económicas e de emprego que afecta parte da população. “Se as pessoas tiverem um bom emprego e capacidade económica para pagar as contas, as suas vidas melhoram e as preocupações desaparecem”, comentou. Como tal, o “Soldado de Mao” apontou o emprego como uma das suas prioridades políticas.

Além disso, Wong Wai Man prometeu também dar prioridade aos segmentos mais desfavorecidos da população. “Quer ganhe, ou não, o meu desejo é ajudar os mais pobres. Não quero ajudar todos os residentes. Chan Meng Kam e Sam Hou Fai também são residentes e não precisam de ajuda”, destacou.

Ambiente | Macau regista novo máximo de temperaturas em 2024

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental lançou ontem novos dados relativos ao panorama do meio ambiente no território, no Relatório do Estado do Ambiente de Macau 2024. Os dados não são animadores: registou-se no ano passado um novo recorde máximo de temperaturas, mais chuva e tufões. Gastou-se mais electricidade e água, produziu-se mais lixo e foi recolhido menos resíduos recicláveis

 

Com Lusa

O Governo de Macau, através da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) anunciou ontem que o ano de 2024 voltou a atingir um recorde máximo de temperatura no território, além de que também se registou um aumento de tufões e precipitação.

Segundo o Relatório do Estado do Ambiente de Macau 2024, a temperatura média no ano passado foi de 23,6°C, precisamente o valor que tinha sido atingido em 2019, o mais elevado desde que começaram os registos, em 1952. A temperatura média de 2024 foi 0,8°C mais elevada do que a média climatérica (média de 30 anos, entre 1991 e 2020), de acordo com o documento elaborado pela DSPA.

Além disso, Macau registou 42 dias considerados como quentes no ano passado, mais 10,7 dias do que a média climatérica, 29 noites quentes, mais 17,5 do que a média, e 29 dias frios, menos 10,1 dias do que a média.

Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) classificam como quentes os dias em que a temperatura máxima é igual ou superior a 33ºC e as noites em que a temperatura mínima é de, pelo menos, 28ºC. Quanto aos dias considerados frios, são aqueles em que a temperatura mínima não excede os 12ºC.

“Com o aquecimento global, a ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos é cada vez mais frequente”, sublinhou a DSPA, no relatório.

Em 2024, Macau foi afectado por sete ciclones tropicais, conhecidos como tufões, e, pela primeira vez, três ciclones tropicais afectaram Macau em Novembro, o último mês da época dos tufões, que começa em Maio.

De acordo com o relatório, a região recebeu no ano passado uma precipitação total de 2.029,2 milímetros, “ligeiramente superior à média climatérica”. A DSPA adiantou também que, desde 1970, o nível do mar em Macau tem subido a uma taxa média de cerca de 3,5 milímetros por ano.

Também a nível mundial, 2024 foi o ano mais quente de que há registos e ultrapassou pela primeira vez os 1,5°C acima do nível pré-industrial, avançou em Janeiro o serviço europeu Copernicus. Na semana passada, a Organização Meteorológica Mundial previu que as temperaturas devem continuar a atingir valores recorde até ao final da década.

Mais pessoas, mais gastos

O relatório da DSPA dá ainda conta de que com a chegada de mais turistas a Macau, houve também mais resíduos e gastos ao nível do consumo de água, por exemplo. “Com a melhoria da economia, o número de visitantes, em 2024, aumentou 23,8 por cento em termos anuais, para quase 35 milhões, tendo recuperado cerca de 90 por cento do nível pré-pandemia. A intensidade turística também registou um certo aumento, tendo o PIB [Produto Interno Bruto] local subido 8,8 por cento. Além disso, houve um ligeiro aumento da população no final do ano.”

Desta forma, acrescenta-se, “em relação aos indicadores ambientais, o crescimento económico e da população conduziu à subida das emissões locais estimadas de gases com efeito de estufa, do volume de água facturada, do consumo de electricidade e da quantidade de resíduos sólidos urbanos, comparativamente com 2023”. “Durante a pandemia, houve uma diminuição nos diversos indicadores económicos e ambientais. No entanto, com a melhoria constante da economia, a maioria desses indicadores voltou a subir”, é explicado.

No que diz respeito ao volume de água facturada, em milhares de metros cúbicos, em 2023 o registo foi de 89.164 e, no ano passado, 94.123, o que constitui um aumento de 5,6 por cento. No tocante ao consumo de electricidade, em milhões de kW/h, em 2023 foi de 5.740, enquanto que em 2024 o consumo passou para 6.030, mais 5,1 por cento. O relatório destaca também as toneladas de resíduos sólidos urbanos produzidos, que em 2023 foi de 501.512, subindo 5,1 por cento no ano passado, para 526.979 toneladas.

Outro dado preocupante ao nível dos resíduos foi a queda, pelo terceiro ano consecutivo, do volume de resíduos recicláveis recolhidos, que passou de uma taxa de 24,5 por cento em 2021 para 21,7 por cento no ano passado. Trocado por miúdos, de todos os resíduos recicláveis gerados em Macau, apenas cerca de um quinto são recolhidos para reciclagem.

No relatório, Ip Kuong Lam, director da DSPA, indica que no ano passado, “com a recuperação económica em curso, observou-se uma maior pressão sobre vários indicadores ambientais, ao mesmo tempo que as alterações climáticas se tornaram mais severas”. Apesar dos resultados, o responsável afirmou que os objectivos passam por “incentivar uma maior participação da população nas iniciativas ambientais e concretizando, em conjunto, a visão de construir uma Macau com baixas emissões de carbono”.

Uma questão de gases

O relatório divulgado ontem pela DSPA dá ainda conta do panorama da emissão dos gases com efeitos de estufa (GEE), tendo-se verificado, no ano passado, um aumento global de “cerca de dez por cento, entre os quais o dióxido de carbono (C02), que representaram 90 por cento”.

Destaca ainda a DSPA que “as emissões estimadas de GEE provenientes das diversas fontes registaram subidas face ao período homólogo (2023), exceptuando os resíduos depositados em aterros, tendo os aumentos mais significativos sido verificados nas emissões estimadas provenientes da produção local de electricidade e dos transportes aéreos”.

Além disso, é referido que, em 2024, a principal fonte de emissão de GEE e CO2 foram os transportes terrestres, seguindo-se a produção local de electricidade, a incineração de resíduos, o comércio, consumo doméstico e os serviços. “As principais fontes de emissão de CH4 [metano] foram os resíduos depositados em aterros e o tratamento de águas residuais, enquanto este último também foi a principal fonte de emissão de N2O [óxido nitroso]”, destaca-se ainda no documento.

A DSPA esclarece, relativamente à tendência da emissão de GEE, que “depois de terem atingido o pico em 2017, as emissões locais de GEE mostraram uma tendência decrescente, ano após ano, tendo alcançado o seu valor mais baixo durante a pandemia”. Porém, com a retoma das actividades económicas e do grande movimento de pessoas, sobretudo “nos últimos dois anos, o volume das emissões estimadas desses gases tem voltado a subir gradualmente”.

O ar que respiramos

Também no que diz respeito à qualidade do ar os dados não são animadores, pois em 2024 “o número de dias com a qualidade média do ar classificada de ‘bom’ ou ‘moderado’ registado nas seis estações de monitorização da qualidade do ar de Macau chegou a 88 por cento, valor ligeiramente inferior ao de 2023”.

Houve, no total do ano, 15 a 34 dias com classificação de “insalubre”, sendo que apenas dois dias obtiveram a classificação de “muito insalubre”.

Segundo a DSPA, “os poluentes detectados nas estações de monitorização do ar foram principalmente ozono (O3) e partículas finas em suspensão (PM2,5)”, enquanto “na Estação da Berma da Estrada (Ká-Hó), foi registado o índice mais alto detectado no ano inteiro, classificado de ‘muito insalubre’, sendo o O3 o poluente principal”.

No ano passado, Julho foi o mês com melhor qualidade do ar, enquanto os meses de Outubro a Dezembro obtiveram a pior qualificação segundo dados das estações de monitorização do ar de Macau.

O relatório revela também que “em termos do cumprimento dos padrões das concentrações de poluentes atmosféricos, em 2024, as concentrações médias anuais de PM10 e PM2,5 registadas nas várias estações de monitorização foram inferiores aos valores padrão”, enquanto “as concentrações médias anuais de dióxido de azoto (NO2) detectadas também se situaram abaixo dos valores padrão, com excepção daquelas medidas na Estação da Berma da Estrada (Macau) e na Estação das Áreas de Alta Densidade Habitacional (Macau)”.

Dados mais optimistas revelam-se ainda “quanto às médias diárias de concentrações de dióxido de enxofre (SO2) e às médias máximas diárias de oito horas de concentrações de monóxido de carbono (CO) verificadas nas várias estações ao longo do ano”, pois “ambas ficaram abaixo dos valores padrão”.

“Em todas as estações houve registo de as médias máximas diárias de oito horas de concentrações de O3 terem excedido os valores padrão em alguns dias. Em relação às concentrações de poluentes atmosféricos registadas nas estações de monitorização, de um modo geral, as concentrações médias anuais de PM2.5 e de NO2 subiram, enquanto as concentrações de PM10 e de CO desceram”, sendo que “como na Estação da Berma da Estrada (Macau) só em 2024 é que começaram a ser monitorizados o SO2 e o O3, não foram feitas comparações”.

Zona A | Aberto concurso público para cinco espaços comerciais

O Instituto de Habitação (IH) está a realizar um concurso público para a concessão de cinco espaços comerciais no empreendimento de habitação pública na Zona A dos Novos Aterros, nomeadamente para restaurantes, uma unidade bancária ou uma farmácia, sendo que quatro espaços se situam no Edifício Tong Chong e outro no Edifício Tong Kai, ambos na Avenida do Mar de Espelho, na Zona A dos Novos Aterros.

Segundo uma nota do IH, “tendo em conta que a Zona A dos Novos Aterros é uma nova zona comunitária, a fim de atrair os comerciantes, foram estabelecidas medidas preferenciais neste concurso público”, tal como a redução do preço base para as propostas a concurso, a isenção de renda nos primeiros três meses e o fornecimento de equipamentos de ar condicionado ao espaço comercial do supermercado. As candidaturas devem ser apresentadas até às 17h30 horas do dia 20 de Junho de 2025. O supermercado, por exemplo, terá uma área útil de 351,84 metros quadrados, sendo o preço base do concurso de 16 500 patacas.

Para esclarecer os interessados, o IH realiza, a 2 de Julho, às 10h, uma sessão pública informativa na Delegação das Ilhas do IH, na Rua de Zhanjiang, n.os 66-68, Edifício do Lago, 1.º andar D, Taipa. O acto público de licitação verbal terá lugar no dia 8 de Julho de 2025, às 10h30 horas, na Delegação das Ilhas do IH. “Os espaços a arrendar são adjudicados aos concorrentes que ofereçam a renda de valor mais elevado”, é explicado.

Tarifas | Trump diz que é “extremamente difícil chegar a um acordo” com Xi Jinping

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse ontem que aprecia o homólogo chinês, mas que é “extremamente difícil chegar a um acordo” com Xi Jinping, numa altura em que os dois países travam uma guerra comercial.

“Gosto do Presidente XI da China, sempre gostei e sempre gostarei, mas ele é MUITO DIFÍCIL”, afirmou o líder norte-americano, na sua rede social Truth, no dia em que as taxas alfandegárias sobre o aço e o alumínio importados pelos EUA aumentaram para 50 por cento.

As declarações de Trump surgem numa altura em que a imprensa norte-americana avança com a possibilidade de os dois líderes abordarem, por telefone, um acordo final que atenue as tensões comerciais.

Não ficou claro se Trump falou com Xi, entretanto. O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, acusou na terça-feira os Estados Unidos de violarem o acordo comercial provisório alcançado em Genebra, no mês passado, ao imporem “medidas negativas”, como as últimas restrições à exportação de semicondutores ou a anulação de vistos de estudantes chineses. Wang fez aquelas afirmações durante um encontro com o novo embaixador dos Estados Unidos na China, David Perdue.

“Infelizmente, os EUA introduziram recentemente uma série de medidas negativas com base em fundamentos infundados, prejudicando os direitos e interesses legítimos da China”, afirmou Wang, durante o encontro, em Pequim, de acordo com um comunicado difundido pelo Governo chinês. Wang apelou aos EUA para que “criem as condições necessárias para que as relações [bilaterais] regressem ao caminho certo”.

Trump mostrou-se anteriormente confiante de que uma conversa com Xi poderá aliviar as tensões comerciais, embora não seja claro que esse telefonema esteja a ser organizado.

Airbus | China negoceia compra de centenas de aviões

A China está a considerar a possibilidade de encomendar centenas de aviões à construtora europeia Airbus no próximo mês, por altura do 50.º aniversário das relações oficiais entre o país e a União Europeia, avançou ontem a Bloomberg.

De acordo com a agência de notícias, que cita fontes não identificadas, o negócio poderá incidir sobre cerca de 300 aviões de fuselagem larga e estreita, enquanto outra fonte avança com 500 aparelhos, o que constituiria uma das maiores compras de aviões da história e a maior para a China.

Em todo o caso, estas fontes afirmam que as negociações ainda estão em aberto e que o negócio pode não se concretizar ou ser fechado numa data posterior.

Até ao momento, nem a Airbus nem as autoridades chinesas responsáveis pelas negociações dos aviões emitiram qualquer confirmação oficial sobre o assunto. A França e a Alemanha, dois dos países que controlam a Airbus, poderão enviar os seus dirigentes, Emmanuel Macron e Friedrich Merz, à cimeira China – UE, que se realiza em Julho, em Pequim.

Novas alianças

Se o acordo for assinado nessa altura, poderá também ser interpretado como um sinal do Presidente chinês, Xi Jinping, ao seu homólogo norte-americano, Donald Trump, de que pretende estreitar os laços comerciais com a UE, numa altura em que os laços de Pequim com Washington se deterioram devido à guerra comercial entre as duas potências.

No entanto, a Bloomberg aponta a principal rival da Airbus, a norte-americana Boeing, como uma das potenciais vencedoras de um hipotético acordo comercial entre Pequim e Washington. No recente pacto comercial com o Reino Unido, um dos pontos mais importantes foi precisamente a venda de aviões.

Mas a Boeing está há anos em dificuldades no mercado chinês, face às tensões comerciais e às preocupações com a segurança dos seus aviões, que resultaram numa proibição de quase cinco anos do 737 Max, após dois acidentes com um total de 346 mortos na Etiópia e na Indonésia.

Este facto, associado a outras proibições temporárias, como a proibição, durante um mês, entre Abril e Maio, da entrega de aviões da Boeing a empresas chinesas devido à escalada da guerra comercial entre Pequim e Washington, permitiu à Airbus ganhar vantagem na China nos últimos anos. A Boeing não recebe uma grande encomenda da China desde, pelo menos, 2017.

Os sistemas meteorológicos de alerta precoce e a sua importância

Olavo Rasquinho *

É do conhecimento geral a importância que os avisos meteorológicos têm para atividades humanas. No entanto, cerca de um terço dos 193 membros da Organização Meteorológica Mundial (OMM) ainda não possuem sistemas eficientes de alerta precoce no sentido de avisar as populações para se precaverem contra a perda de vidas e bens perante desastres naturais de carácter meteorológico.

Em face desta realidade, a OMM selecionou para tema das celebrações do Dia Meteorológico Mundial (DMM) de 2025 “Closing the early warning gap together”, que se pode traduzir por “Reduzamos, juntos, as falhas dos sistemas de alerta precoce”. O tema insere-se na “Iniciativa Alertas Precoces para Todos” (“The Early Warnings for All Initiative”), a qual visa a proteção das populaações, à escala global, relativamente a fenómenos perigosos de carácter hidrometeorológico, climático e eventos ambientais relacionados.

Os sistemas de alerta precoce assentam essencialmente em quatro componentes: conhecimento do risco; monitorização e previsão; comunicação e disseminação de alertas e capacidade de resposta das comunidades. A falha de qualquer destas componentes compromete a eficácia das medidas a tomar para evitar que um desastre natural se transforme numa catástrofe.

Os serviços meteorológicos, com recurso a meios que fazem parte de uma rede global de observação, e a modelos físico-matemáticos que simulam o comportamento da atmosfera, preveem a ocorrência de fenómenos que poderão afetar a vida dos cidadãos. Por exemplo, a hora aproximada da chegada de um tufão a terra pode ser prevista, mas o simples facto de o seu movimento retardar ou acelerar pode ter como consequência não acertar na hora em que tal acontece. Normalmente os tufões, que se formam sempre no mar, diminuem a velocidade de progressão e a intensidade ao se aproximarem de terra.

No entanto, esporadicamente, tal pode não acontecer. Foi o que ocorreu com o tufão Hato que, em agosto de 2017, atingiu Macau com consequências graves. Em vez de diminuir a sua velocidade de deslocamento e enfraquecer, sofreu uma súbita intensificação e aumento de velocidade, surpreendendo os meteorologistas. Tal aconteceu com a agravante de a chegada do tufão ter coincidido com a maré astronómica alta, o que reforçou as consequências da maré de tempestade. Pode-se então deduzir que a componente “monitorização e previsão” e, consequentemente, a componente “comunicação e disseminação de alertas” do sistema de alerta precoce não funcionaram a cem por cento devido ao comportamento anómalo do tufão.

Tal aconteceu num território em que o sistema de alerta precoce está bem estruturado e funciona geralmente com elevado índice de sucesso. Imagine-se o que poderá acontecer quando este tipo de fenómenos ocorre em regiões onde não existem sistemas de alerta precoce ou, existindo, não são suficientemente eficazes devido a deficiência de meios ou inexistência de recursos humanos. Como exemplo desta situação pode-se mencionar o que ocorreu, em novembro de 1970, no então designado Paquistão Oriental. Esta província paquistanesa foi atingida por um dos ciclones mais violentos do século passado, o “Grande Ciclone Bhola”, que causou um número de mortos que se estima entre trezentos mil a meio milhão.

É considerado o ciclone tropical que mais vítimas causou desde que há registos. Ventos de cerca de 200 km/h, coincidentes com uma maré astronómica alta, arrastaram as águas do Índico terra-a-dentro, invadindo grande parte do delta do rio Ganges, causando uma maré de tempestade de grandes proporções, que chegou a atingir 6 metros. As consequências foram tão graves que contribuíram para a revolta do povo da região, motivada pela fraca resposta do governo central. O descontentamento gerado contribuiu para intensificar a luta pela independência da província, o que se concretizou em 1971, dando origem a um novo país, o Bangladeche.

Outro exemplo foi o que aconteceu em Mianmar (antiga Birmânia), em maio de 2008. Este país, dirigido durante dezenas de anos por ditaduras militares, não sofreria tanto as consequências do ciclone Nargis se estivesse apetrechado com um sistema de alerta moderno e eficiente. As mais de 130.000 vítimas mortais causadas pela maré de tempestade associada ao ciclone tropical seriam, certamente, em grande parte evitadas. Alguns dias antes do ciclone ter atingido aquele país já haviam sido emitidos avisos pelo Centro Meteorológico Regional Especializado (“Regional Specialized Meteorological Center – RSMC”) de Nova Deli, que é o centro responsável pela vigilância meteorológica para a bacia do Índico Norte1.

Também o Serviço Meteorológico da Índia avisou o governo de Mianmar sobre a grande probabilidade de ocorrência de uma maré de tempestade de grandes proporções que afetaria o delta do rio Irauádi, o que veio a acontecer cerca de 48 horas depois, tempo suficiente para proceder à evacuação das populações.

Nos casos dos ciclones Bhola e Nargis os sistemas de alerta praticamente eram inexistentes no Paquistão Oriental e em Mianmar. No entanto, nas Filipinas, país afetado anualmente, em média, por cerca de vinte tempestades tropicais e tufões, apesar das autoridades meteorológica e de proteção civil serem consideradas bem organizadas, ocorreram falhas em duas das componentes do sistema de alerta precoce, em novembro de 2013.

As componentes “conhecimento do risco” e “comunicação e disseminação de alertas” falharam em parte devido a mapas de risco de inundações desatualizados e a linguagem utilizada inadequada. O tufão Haiyan (designado nas Filipinas por Supertufão Yolanda) provocou um número de vítimas mortais superior a seis mil. As principais razões para a catástrofe ter atingido tais proporções consistiram, além das falhas de duas das componentes do sistema de alerta precoce, nos factos de a pressão ter sido extremamente baixa no centro (cerca de 895 hPa), ventos de grande intensidade e o tufão ter entrado em terra próximo da hora da maré astronómica alta. Estes fatores conjugados provocaram uma maré de tempestade que atingiu, em alguns locais entre 6 e 7 metros. Note-se que a diminuição da pressão de 1 hPa corresponde à elevação do nível do mar de cerca de 1 cm.

(continua)

*Meteorologista

– No âmbito do Programa de Ciclones Tropicais da OMM, foram criadas cinco organizações, algumas das quais classificadas como organizações intergovernamentais, com o intuito de procederem ao estudo e monitorização dos ciclones tropicais: Comité de Ciclones Tropicais (Sudoeste do Oceano Índico), Painel WMO/ESCAP de Ciclones Tropicais (Baía de Bengala e Mar Arábico), Comité de Tufões ESCAP/WMO (Noroeste do Oceano Pacífico e Mar do Sul da China), Comité de Furacões da Associação Regional IV (América do Norte, América Central e Caraíbas), Comité de Ciclones Tropicais da Associação Regional V (Pacífico Sul e Sudeste do Oceano Índico).

A porta das estrelas (I)

“One must have chaos within oneself to give birth to a dancing star”

Friedrich Nietzsche

O projecto centrado na Inteligência Artificial (IA) anunciado por Trump redefine as hierarquias do Vale do Silício. E esclarece a natureza industrial da IA. Desde que venceu as eleições, Donald Trump passou muito tempo a discorrer sobre as estrelas. No início foi Musk, o famoso «astro nascente», por ocasião do primeiro discurso do magnata após a vitória eleitoral. Posteriormente, ainda ligado a Elon, foi a vez de Marte, a estrela vermelha e onde plantar a bandeira estrelada para actualizar o destino manifesto de um povo tão excepcional que precisa tornar-se transglobal. E então, como um raio em céu azul, chegou a hora do Stargate, a «porta das estrelas» com a qual Trump pretende relançar o sonho americano, ligando-o à inovação tecnológica e ao desenvolvimento da IA, com o objectivo concreto de preservar a liderança mundial.

Os Estados Unidos devem manter a superioridade tecnológica em relação à China que recentemente desenvolveu um modelo de IA (DeepSeek) capaz de alcançar resultados comparáveis aos do ChatGpt com hardware de nível inferior (segundo eles) e custos mais baixos porque só assim Washington poderá estabelecer com Pequim um «acordo» que é a nova palavra preferida de Trump a partir de uma posição de força. Stargate é um projecto potencialmente revolucionário. Trata-se de investir cem mil milhões de dólares imediatamente, destinados a quintuplicar, para acelerar o desenvolvimento da nova geração de inteligências artificiais, integrando a cadeia de produção material (centros de dados e chips) com a imaterial (gestão informática da nuvem e escrita de algoritmos). Para o fazer, Trump confia naqueles elementos do mundo tecnológico que, até ontem, estavam longe dos holofotes.

E sanciona o fim daqueles que, dentro do Estado, estavam ocupados exactamente com essas questões. Em resumo, a “PayPal Mafia” nas suas correntes thielista e muskiana ficará de fora da porta das estrelas, ocupando a antecâmara na companhia de Eric Schmidt, ex-chefe democrata do Google que preside à (caríssima) Comissão de Segurança Nacional sobre IA, agora totalmente vazia de sentido. A decisão de Trump é clara. Como um novo Adam Smith, o magnata propõe uma divisão do trabalho necessária para que nenhum dos grandes homens do sector tecnológico consiga acumular demasiado poder. Não existem estrelas tão brilhantes que possam ofuscar a do presidente, que aplica o mais clássico dos divide et impera. Será que vai funcionar? Para entender, temos que atravessar a porta das estrelas. Quando, no dia 21 de Janeiro passado, Trump apareceu na Casa Branca para anunciar o lançamento do Stargate, havia três pessoas com ele.

Menos conhecidas do que Elon Musk, muitas vezes em desacordo com o fundador da Tesla e ansiosas por mostrar ao mundo como também podem ser úteis ao magnata. Depois do presidente, o primeiro a falar foi Larry Ellison, co-fundador e Presidente Executivo da Oracle. A sua empresa trabalha com nuvem, ou seja, armazena quantidades imensas de dados para várias empresas tecnológicas. O empresário de oitenta anos, diante do presidente da sua idade, explica como a IA pode ser útil para a saúde. O seu discurso parece um anúncio publicitário. Mas cuidado com as aparências. Ellison teoriza o uso da IA para implementar um sistema de vigilância total, necessário para que «os cidadãos se comportem correctamente». O Presidente da Oracle é o único que não tem formalmente um papel na organização da Stargate, mas Trump apresentou-o como «CEO de tudo» e também deixou claro que ficaria feliz se comprassem o TikTok.

Trump e Ellison são da mesma geração, ambos são nova-iorquinos e conhecem-se há muito tempo. Provavelmente entendem-se muito bem. Em seguida, interveio Masayoshi Son, conhecido como Masa. Ele é o fundador, director representante, executivo corporativo, presidente do conselho e CEO do SoftBank Group (SBG), um grupo japonês de capital de risco, e será o responsável financeiro da Stargate. A tarefa de levar a capitalização da porta das estrelas a quinhentos mil milhões de dólares é, antes de tudo, sua. Mas, acima de tudo, como bom japonês, Masa sabe que o projecto nasceu com uma função antichinesa de que «Isto não é apenas negócio», fazendo questão de especificar. Trata-se de desenvolver a IA para não perder a corrida pela inovação com a China. E talvez também criar um recipiente para promover o desenvolvimento da Arm, a empresa inglesa que comercializa chips de IA e que figura como o carro-chefe dos investimentos da SoftBank. Por último, mas não menos importante, Sam Altman.

Em Novembro de 2023, após o caso que abalou os alicerces da OpenAI devido à sua demissão (posteriormente retirada), o Estado entrou na sua empresa. Informalmente. Mas a presença de uma figura como Larry Summers, ex-secretário do Tesouro e muito ligado aos aparelhos de segurança nacional no conselho da empresa-mãe da ChatGpt mostra claramente como o governo queria ter conhecimento das suas dinâmicas internas.

Hoje, pouco mais de um ano depois, é Altman que se liga ao Estado. O fundador da OpenAi desempenhará, de facto, o papel de responsável operacional da Stargate. E já obteve um resultado importante, uma vez que a Microsoft à qual a OpenAi está ligada por um contrato até 2030 concedeu à empresa de Altman a possibilidade de utilizar também os serviços em nuvem dos seus concorrentes para este projecto. Em particular, obviamente, os de Larry Ellison, CEO de tudo.

Aos principais actores juntam-se a própria Microsoft que disponibilizará a sua plataforma de nuvem (Azure) à Stargate e, obviamente, a Nvidia. Porque não existe IA sem GPUs (Unidades de Processamento Gráfico) para treinar os modelos de aprendizagem automática (machine learning). A Nvidia de Jensen Huang ainda é, de facto, praticamente monopolista no sector, embora o mercado esteja a expandir-se e seja cada vez mais difícil atender à procura. Por fim, o fundo dos Emirados Árabes Unidos (MGX) especializado em investimentos tecnológicos colaborará na gestão financeira da operação. E assim, quase como numa piada, a Stargate é, no final das contas, um recipiente no qual coexistirão um octogenário nascido no Bronx, um japonês de sessenta anos, um jovem guru da IA, a Microsoft, Jensen Huang com o seu casaco de couro e um fundo de Abu Dhabi.

A tarefa de Trump será coordenar essa massa humana heterogénea, unindo-a em torno de um objectivo estratégico que é desenvolver a IA para reprogramar o sonho americano e manter a China a uma distância segura. Tudo claro. Como proceder?

(Continua)

Exposição | Artista local Cheong Kin Man apresenta nova mostra em Lisboa

É um percurso criativo com várias localizações aquele que Cheong Kin Man e Marta Sala apresentam em Lisboa a partir de amanhã: primeiro, a mostra “As Espantosas e Curiosas Viagens”, para ver no Centro Científico e Cultural de Macau até 6 de Julho, cujo lançamento é antecedido de uma conversa com os artistas e um lançamento de livros. Depois, na sexta-feira, acontece outro debate no Goethe Institute

Imagem de: Guillaume-Galante

Há vários anos radicado em Berlim, Cheong Kin Man é um artista e antropólogo visual que nunca deixou a experimentação de lado. Agora, ao lado da também artista polaca Marta Sala, tem-se embrenhado em novos rumos artísticos, os quais, desta vez, desaguam em Lisboa.

Tal acontece de múltiplas formas. Primeiro com a mostra “As Espantosas e Curiosas Viagens”, que estará patente no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) entre amanhã e 6 de Julho. Com curadoria de Lorena Tabares Salamanca, da Colômbia, a mostra constitui uma “exposição transcultural que cruza arte, antropologia visual e arquivos pessoais, reflectindo sobre deslocamentos, memória e linguagens”, com a assinatura de Cheong Kin Man, Marta Sale e Deborah Uhde, da Alemanha.

O público pode ver “instalações imersivas, peças têxteis, vídeo e auto-etnografias que reconfiguram as relações entre viagem, história e conhecimento”, destaca uma nota de imprensa da Câmara Municipal da Polónia. Na sessão inaugural desta quinta-feira haverá ainda uma conversa com os artistas, que se repete na sexta-feira, mas desta vez na biblioteca do Goethe Institute, em Lisboa, às 18h.

Aqui, em “Creating Connections”, decorre uma conversa com os três artistas de “As Espantosas e Curiosas Viagens”, tratando-se de “um encontro íntimo de cariz artístico, em que Deborah Uhde, bem como a dupla Marta Stanisława Sala e Cheong Kin Man, partilharão entre si — e com o público — reflexões sobre as suas práticas e experiências na criação de ligações interculturais através da arte, com destaque para os seus percursos em Berlim e os mais recentes livros de artista”.

Estas iniciativas têm o apoio da Embaixada da Polónia em Portugal, do Ministério da Cultura e Património Nacional e do Instituto Adam Mickiewicz da Polónia. Contam ainda com a parceria da Câmara Municipal de Cracóvia e do Instituto Boym, igualmente da Polónia.

Fusões e viagens

A mostra que agora se apresenta no CCCM traz trabalhos da dupla Cheong Kin Man – Marta Sala, conhecida “pela fusão de tecido, vídeo e experimentações linguísticas”, na qual o público pode “embarcar numa viagem através de mundos paralelos e arquivos pessoais” baseados em três projectos multimédia, como é o caso de “A Bússula da Utopia”, “Apocalipses” e um novo ciclo de vídeos sobre a diáspora macaense.

No caso de “A Bússola da Utopia”, trata-se de uma “instalação em bambu e tecido composta por 13 composições têxteis que materializam processos de descoberta cultural e aprendizagem mútua”, sendo que a obra se inspira na “Flora Sinensis” (1656), do jesuíta Miguel Boym, que estudou em Cracóvia; bem como “na musicalidade da poesia cantonense traduzida em formas cromáticas e em motivos auto-etnográficos associados à migração de uma família macaense e às viagens contemporâneas dos artistas”.

Por sua vez, a série “Apocalipses”, apresentada pela primeira vez na Bienal de Macau em 2023, “combina texto, têxteis e vídeo numa narrativa de ficção científica”, sendo que o tecido “que integra esta ficção codifica episódios do arquivo familiar polaco, incluindo a migração através das fronteiras do século XX – de Vilnius às estepes da Mongólia e, posteriormente, à Polónia actual”.

Destaque também para o facto de a exposição revelar “o projecto cinematográfico experimental baseado em entrevistas dentro da diáspora macaense”, levando o público até ao Brasil, “onde a nostalgia partilhada pela humanidade ecoa em traduções automáticas para diversas línguas”. Há ainda, associadas ao vídeo, a nova publicação intitulada “Entre-vista, Między-wizje. Roz-mowa, Des-locução”, que se apresenta “sob forma de flipbook com glossário luso-polaco, e que desconstrói um excerto da gravação para reflectir sobre cada palavra dita e os limites e possibilidades da tradução”. A sessão no CCCM desta quinta-feira começa com uma visita guiada pelos artistas às 17h, incluindo o lançamento de “Apocalipses”, um novo livro de artistas.

No caso de Deborah Uhde, que acompanha a dupla de artistas de Macau e da Polónia, é uma cineasta e artista formada em belas-artes e humanidades, residindo em Berlim. Obteve o seu diploma na Universidade de Arte de Braunschweig (2009–2015). Possui formação em Filosofia, História da Arte e Jornalismo pela Universidade de Leipzig (2006–2009). O trabalho de Deborah foi reconhecido com várias bolsas e prémios.

Novo livro

A dupla Kin Man – Sala traz a Lisboa a nova edição do livro “Apocalipses”, e que inclui “uma colectânea de ideogramas ficcionais originalmente criada na Casa de Cracóvia em Nuremberga, a única instituição cultural do município de Cracóvia fora da Polónia”.

Esta reedição conta agora com mais de 600 páginas e teve o apoio da Fundação Oriente. O livro de artistas foi originalmente encomendado para a Bienal de Macau em 2023, contendo “centenas de ideogramas com origem na exposição ‘De Copenhaga com Amor'”, realizada em Nuremberga em 2024, com o apoio da Fundação Oriente e das Câmaras Municipais de Cracóvia e Nuremberga.

Hong Kong | Homem acusado de alegada ameaça de bomba contra concerto

A polícia de Hong Kong anunciou ontem ter acusado um homem de 35 anos de quatro crimes de “ameaça de bomba”, contra um concerto e contra a representação do Governo Central chinês na região semiautónoma.

Num comunicado, o Departamento de Segurança Nacional da polícia de Hong Kong disse que o suspeito de 35 anos será apresentado no Tribunal de Magistrados de Kwun Tong. Na terça-feira, a polícia tinha anunciado a detenção do homem e de quatro mulheres, entre os 24 e os 38 anos, por “conspiração para cometer actividades terroristas”.

De acordo com uma investigação, os cinco suspeitos terão enviado várias mensagens à polícia, através de telefone, correio electrónico e plataformas de mensagens, entre 29 de Abril e 13 de Maio. As mensagens incluíam ameaças de fazer explodir bombas colocadas em vários escritórios do Governo Central chinês em Hong Kong e no Parque Desportivo Kai Tak, referiu a polícia.

A última chamada incluía uma ameaça de bomba contra um concerto marcado para 13 de Maio, disse, numa conferência de imprensa, o superintendente do Departamento de Segurança Nacional, Steve Li Kwai-wah. O Parque Desportivo Kai Tak, inaugurado em Março, integra um estádio com lugar para 50 mil espectadores, que recebeu, em 13 de Maio, um concerto dos Mayday, uma banda de Taiwan.

De acordo com a imprensa local, Steve Li disse que a polícia realizou buscas ao estádio nesse mesmo dia, mas que não encontrou nada de suspeito e que o concerto decorreu com normalidade. O comunicado indica que os suspeitos terão ainda enviado “mensagens sediciosas que incitavam à independência de Taiwan e de Hong Kong”.

Steve Li disse que os cinco suspeitos foram detidos na segunda-feira, na sequência de buscas efectuadas em quatro residências, durante as quais foram apreendidos telemóveis e computadores. As quatro mulheres foram libertadas sob fiança, “enquanto se aguardam novas investigações”, referiu o comunicado.

Coreia do Sul | Xi Jinping felicita Lee Jae-myung pela vitória nas presidenciais

O Presidente chinês, Xi Jinping, enviou ontem uma mensagem de felicitações ao liberal Lee Jae-myung pela vitória nas eleições presidenciais sul-coreanas e apelou à cooperação para que os dois países mantenham a “boa vizinhança e amizade”.

“Nos 33 anos desde o estabelecimento das relações diplomáticas, os dois lados ultrapassaram as diferenças ideológicas e sociais, trabalharam em estreita colaboração, alcançaram êxitos e conseguiram um desenvolvimento estável e saudável das suas relações”, afirmou Xi num telegrama, citado pela agência de notícias oficial chinesa Xinhua.

O líder chinês afirmou que atribui “grande importância” aos laços com Seul e disse que o país está disposto a trabalhar com a Coreia do Sul para “promover conjuntamente a parceria estratégica de cooperação” entre as duas nações, apesar de citar “a crescente incerteza na situação internacional e regional”.

A China é o maior parceiro comercial da Coreia do Sul, mas, apesar dos fortes laços económicos, as relações bilaterais são marcadas por um constante braço de ferro sobre rivalidades regionais, sensibilidades históricas e interesses estratégicos contraditórios.

Pequim criticou Seul por ter estreitado os laços com Washington no âmbito da estratégia de dissuasão contra a Coreia do Norte, enquanto a China se opôs nos últimos anos à imposição de novas sanções da ONU contra Pyongyang.

O liberal Lee Jae-myung venceu as eleições presidenciais da Coreia do Sul na terça-feira com 49,4 por cento dos votos, contra 41,1 por cento do rival conservador Kim Moon-soo.

OMC | China exige supervisão de “tarifas unilaterais”

O representante do comércio chinês esteve em Paris onde discutiu com a directora-geral da OMC a grave situação internacional

 

O ministro chinês do Comércio, Wang Wentao, instou a Organização Mundial do Comércio (OMC) a reforçar a supervisão das “tarifas unilaterais” e a apresentar propostas políticas “objectivas e neutras”, segundo um comunicado divulgado ontem.

De acordo com o Ministério do Comércio chinês, Wang reuniu-se na terça-feira com a directora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, à margem de uma reunião ministerial da organização em Paris, onde mantiveram uma “discussão aprofundada sobre a grave situação do comércio mundial”.

“Em resposta à imposição arbitrária de tarifas por parte de alguns membros, a OMC deve reforçar a supervisão destas tarifas unilaterais e oferecer recomendações políticas objectivas e neutras”, afirmou o ministério, numa referência velada aos Estados Unidos.

A mensagem instou ainda os países-membros da OMC a garantir que quaisquer acordos comerciais bilaterais “cumpram as regras” da organização e “evitem prejudicar os interesses de terceiros”.

Wang reiterou a posição da China de defender “um sistema comercial multilateral” e afirmou que a OMC tem o seu apoio para desempenhar “um papel mais importante na governação económica global”.

O ministro chinês reuniu-se ainda com o Comissário Europeu para o Comércio, Maros Sefcovic, com quem manteve discussões “profundas, francas e abrangentes” sobre “questões urgentes e importantes relacionadas com a cooperação económica e comercial entre a China e a União Europeia”.

De acordo com o ministério, Wang apelou a maiores esforços para “preparar a importante agenda entre a China e a UE este ano”, que inclui uma cimeira para celebrar o 50.º aniversário das relações bilaterais.

Viagem a Pequim

Os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, Ursula von der Leyen e António Costa, respectivamente, deverão deslocar-se a Pequim na segunda metade de Julho para se reunirem com o líder chinês, Xi Jinping.

Von der Leyen afirmou que a UE deve “trabalhar construtivamente com a China para encontrar soluções” ao longo deste ano, e que Bruxelas deve “manter uma relação mais equilibrada com Pequim, num espírito de justiça e reciprocidade”.

A UE apelou ainda à China para evitar “uma nova escalada” na guerra comercial desencadeada pelas tarifas anunciadas pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, embora Pequim acredite que Washington não está a cumprir o acordo alcançado pelas duas potências em Genebra.

Outras conversas

Por seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, reuniu-se na terça-feira com o embaixador dos Estados Unidos na China, David Pound, a quem chamou a atenção para a introdução recente de “uma série de medidas negativas baseadas em argumentos infundados, minando os direitos e interesses legítimos da China”.

“Opomo-nos firmemente a isso”, sublinhou o chefe da diplomacia chinesa. Entre as medidas referidas estão a suspensão das vendas de programas informáticos para o desenho de semicondutores, novos controlos à exportação de semicondutores vitais para a inteligência artificial e a revogação de vistos para estudantes chineses, uma medida que a China descreveu como discriminatória.

Em 12 de Maio, ambas as potências acordaram uma trégua tarifária de três meses, na qual os EUA se comprometeram a reduzir as tarifas de 145 por cento para 30 por cento e a China de 125 por cento para 10 por cento, numa tentativa de abrir caminho a um acordo mais amplo.

Burlas | Mais de 1.800 detidos em operação asiática alargada

Mais de 1.800 pessoas foram detidas numa operação contra redes dedicadas a burlas montadas na Ásia, envolvendo autoridades da RAEM, Hong Kong, Coreia do Sul, Tailândia, Singapura, Malásia e Maldivas. Em Macau, a Polícia Judiciária revelou a detenção de nove suspeitos, que terão desfalcado 84 vítimas em cerca de 4 milhões de patacas

 

Uma operação, que atravessou sete jurisdições na Ásia, resultou na detenção de 1.858 pessoas ligadas a redes de fraudes e burlas. A operação, que envolveu autoridades de Hong Kong, Macau, Coreia do Sul, Tailândia, Singapura, Malásia e Maldivas, interceptou verbas com origem nos esquemas das redes no valor de 150 milhões de dólares de Hong Kong, disse o superintendente-chefe do departamento de crimes comerciais da polícia de Hong Kong, Wong Chun-yue.

Em Macau, de acordo com a Polícia Judiciária (PJ), foram detidas nove pessoas, incluindo três que se fizeram passar por funcionários de atendimento ao cliente da Alipay, indicou o Macau Daily Times. O responsável do Centro de Coordenação de Combate às Burlas da PJ, Cheong Um Hong, revelou que o esquema terá começado em Abril com mais de 400 mil chamadas fraudulentas todas a partir de Macau.

Localmente, 84 vítimas foram desfalcadas em cerca de 4 milhões de patacas no esquema da burla do Alipay. A operação da PJ culminou com buscas a dois locais, incluindo um quarto de hotel, onde foram encontrados 16 aparelhos que permitem ocultar a origem das chamadas.

Mas, no total, a PJ investigou 78 casos que terão resultado em perdas de cerca de 12 milhões de patacas, no congelamento de oito contas bancárias e em 67 mil patacas confiscadas por suspeitas de terem sido angariadas através de crimes.

Abrindo o ângulo

A operação conjunta envolveu 9.268 casos de fraude, incluindo compras online, burlas telefónicas, burlas de investimento e fraudes de emprego, com um prejuízo total de 225 milhões de dólares, segundo dados avançados pela polícia de Hong Kong, citada pelo Global Times. No total, foram congeladas 32.607 contas bancárias e interceptados cerca de 20 milhões de dólares em fundos fraudulentos. Os detidos têm entre 14 e 81 anos.

Em Março, um director financeiro em Singapura foi enganado através de vídeos falsos, por alguém que se fez passar pelo director executivo de uma multinacional. A vítima transferiu 499 mil dólares para Hong Kong, disse a directora assistente do comando antifraude da polícia de Singapura, Aileen Yap, acrescentando que, através da cooperação transfronteiriça, o dinheiro foi recuperado.

Um relatório das Nações Unidas de Abril constatou que os grupos transnacionais de crime organizado no leste e sudeste asiático estão a espalhar operações fraudulentas por todo o mundo.

De acordo com o relatório emitido pelo Gabinete das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, durante vários anos os grupos proliferaram no sudeste do continente asiático, especialmente nas fronteiras do Camboja, Laos e Myanmar, assim como nas Filipinas, transferindo operações de um local para outro, de forma a escaparem da polícia. Os centros dos esquemas montados em Myanmar, Camboja e Laos são conhecidos por atraírem pessoas para trabalhar, utilizando falsos argumentos.

As vítimas de burlas e fraudes ‘online’ incluem também os trabalhadores utilizados nas operações, que enfrentam ameaças, violência e más condições de trabalho. Os funcionários são frequentemente forçados a explorar financeiramente pessoas em todo o mundo, sendo que muitos se encontram presos numa escravidão virtual.