Exposição | Pintura de Hong Wai a partir de amanhã no Museu do Oriente

“Paisagens Femininas, Luar e Segredos de Boudoir” é o nome da exposição da artista de Macau Hong Wai que abre ao público amanhã no Museu do Oriente. Com uma linguagem suave que transporta a tinta-da-china para a contemporaneidade, a mostra divide-se em três séries onde a sensualidade conquista o espaço natural

 
[dropcap]A[/dropcap] voluptuosidade dos contornos femininos, envoltos em rendas e transparências, coabitam naturalmente com paisagens de cordilheiras típicas da pintura tradicional chinesa nos quadros de Hong Wai, que podem ser vistos no Museu do Oriente, em Lisboa, a partir de amanhã até 15 de Setembro.

“Paisagens Femininas, Luar e Segredos de Boudoir” é o título da exposição da artista local, a viver em Paris desde 2005, que multiplica a visão artística de Hong Wai em três séries.

Na série “Paisagem Feminina”, horizontes tradicionais compostos por montanhas e águas, “a mais elevada metáfora espiritual e moral da pintura chinesa”, são desconstruídos pelo pincel de Hong Wai com a introdução de formas voluptuosas de corpos femininos na paisagem natural.

“As montanhas, outrora vistas como forças energéticas que materializam o dragão, transformam-se agora em corpos femininos ondulantes, e a vegetação, na mais sensual lingerie”, lê-se no texto que apresenta a exposição.

A intimidade e a lingerie voltam a assumir o papel principal na série “Segredos de Boudoir”, numa sucessão de quadros que captam fantasmagoria, mistério e sensualidade. Além da estética, esta série representa a manifestação filosófica central à artista. Em entrevista ao HM em 2017, Hong Wai descodificava a sua perspectiva feminista como próxima da vaga “Lipstick” no século XX. “O chamado feminismo do batom é uma variedade de feminismo de terceira geração que procura abraçar conceitos tradicionais de feminilidade, incluindo o poder sexual das mulheres. Ao contrário das primeiras campanhas feministas que se concentraram nos direitos fundamentais das mulheres, e que começaram pela exigência do direito ao voto, o feminismo do batom procura perceber se as mulheres podem ser feministas sem ignorar ou negar a sua feminilidade, nomeadamente no que respeita à sexualidade”, enquadrava a pintora.

Outro lado da Lua

Na série “Luar”, Hong Wai cria uma atmosfera calma e poética de floresta sobre o brilho prateado do luar. Estes trabalhos são exemplares na forma como as linhas desenhadas pela artista traduzem a meticulosa paciência e o total foco de atenção no mais ínfimo detalhe.

Até 15 de Setembro, o Museu do Oriente apresenta esta fusão de pintura tradicional chinesa com o olhar moderno e profundamente feminino de Hong Wai. A sua visão artística transporta a tinta-da-china para a arte contemporânea através dos desenhos de linhas finas e elegantes, “numa técnica que durante séculos era apenas destinada ao universo masculino”. Segundo a artista, “enquanto que os homens representam o poder da conquista e um mundo de fronteiras, este mesmo mundo aos olhos das mulheres é mais terno e delicado, um mundo em que o humano e a natureza são plenos de possibilidades de conexão e transformação”.

Nascida em Xangai em 1982, Hong Wai cresceu em Macau e desde 2005 reside e trabalha em Paris. Debruçou-se, enquanto estudante na École des Hautes Études en Sciences Sociales, sobre a forma contemporânea do espírito artístico dos literati chineses. Expôs as suas obras um pouco por todo o mundo, incluindo na Sotheby´s Gallery, em Hong Kong e no Museu de Arte, em Macau, e participou em feiras de arte internacionais como a Art Sage de Singapura e a Art Taipei.

26 Jun 2019

TUI fixa pena de prisão de dois polícias condenados auxílio à imigração em 15 e 19 anos

[dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Última Instância (TUI) decidiu reduzir a pena de um polícia condenado por auxílio à imigração ilegal em um ano de prisão. O Tribunal de Segunda Instância (TSI) já o havia condenado a 16 anos, mas o TUI decidiu, num acórdão ontem divulgado, reduzir a pena para 15 anos. Pelo contrário, a última instância manteve a pena de 19 anos aplicada a outro polícia no mesmo caso.

“Relativamente à pena única aplicada ao recorrente B, é de notar que, em comparação com o recorrente A, ele praticou menos crimes e, no caso de co-autoria, não teve a mesma intervenção, na medida em que foi o recorrente A quem desempenhava um papel de intermédio mais decisiva e contactava directamente com o quarto arguido, o que justifica a redução da pena única para 15 anos de prisão”, lê-se no documento.

Já no que diz respeito ao arguido A “não se afigura excessiva a pena única aplicada pelo Tribunal recorrido ao recorrente A, encontrada dentro da moldura penal do concurso”.

O caso aconteceu nos anos de 2016 e 2017, quando os dois arguidos desempenhavam funções de guardas do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) no Posto Fronteiriço do Cotai. De acordo com o comunicado do TUI, “os dois arguidos usaram os seus poderes ou a sua influência no trabalho, por 17 vezes e por 10 vezes, respectivamente” para ajudarem pessoas que estavam interditas de entrar em Macau. Os actos foram cometidos “com base nas suas relações particulares ou para receberem vantagens patrimoniais, prestando auxílio a outrem, pessoal ou juntamente, com os outros arguidos e, utilizando meios ilegítimos ou de violação dos deveres inerentes às respectivas funções”.

Má imagem da PSP

A pena de prisão a aplicar, à luz do Código Penal, situa-se entre os 7 e os 30 anos de prisão para este tipo de casos. Apesar de chamar a atenção para a importância da reinserção na sociedade, o TUI alega que os arguidos não podem escapar a penas severas.

“No que concerne à avaliação da personalidade dos recorrentes, a prática de tantos crimes e o circunstancialismo em que foram praticados aponta para uma tendência criminosa e não apenas uma pluriocasionalidade, daí que devem os recorrentes ser punidos com uma pena única severa, mesmo considerando as exigências de prevenção especial de socialização.”

Para os juízes do TUI, este caso “põe em crise a confiança e a expectativa dos cidadãos numa Administração pública que sirva com neutralidade, objectividade e eficácia os interesses públicos gerais, prejudicando gravemente o bom funcionamento do sistema de controlo de entrada e saída da RAEM bem como o prestígio e a imagem das Forças de Segurança da RAEM”.

26 Jun 2019

TNR | SS vão ponderar normas de vacinação para não residentes

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) vão estudar a implementação de normas de vacinação para os trabalhadores não residentes “para determinadas profissões”, aponta uma resposta do organismo ao deputado José Pereira Coutinho que pedia explicações ao Governo.

“Embora Macau não possua normas reguladoras de vacinação no processo de autorização de trabalhadores não residentes, para reduzir o risco de infecção de grupos vulneráveis (…), os SS irão, de acordo com o mecanismo de prevenção e protecção de doenças em vigor e a situação epidemiológica em concreto, proceder atempadamente a um ajuste, bem como estudar a implementação de normas para determinadas profissões”, lê-se na resposta do organismo.

Entretanto, e tendo em conta os recentes surtos de doenças como o sarampo e a rubéola, os SS referem que, “foram emitidas as mesmas instruções que aos trabalhadores locais, conforme o risco e as características da profissão, tal como a inoculação de vacina anti-hepatite B por trabalhadores de entidades médicas”.

26 Jun 2019

Droga | Dois menores de Hong Kong detidos por tráfico

[dropcap]A[/dropcap] Polícia Judiciária deteve na segunda-feira um menor de 17 anos, oriundo de Hong Kong, por suspeita de tráfico de droga. A acção das autoridades aconteceu na sequência de uma investigação da qual resultou a detenção de um estudante de 13 anos por suspeitas do mesmo crime.

O primeiro jovem foi detido em Maio e dos factos apurados a PJ identificou o outro suspeito de 17 anos. Este segundo indivíduo suspeito, que estava sob vigilância, entrou em Macau no sábado passado. Na segunda-feira, dia 24, entrou em contacto com o jovem de 13 anos e marcou um encontro.

A Polícia Judiciária também compareceu no encontro marcado num quarto de hotel, onde apreendeu 9,47 gramas de cocaína, com um valor de rua de aproximadamente 30 mil patacas. O jovem de 17 anos confessou que vinham a Macau com o intuito de vender a cocaína a troco de um “salário” diário de 1500 dólares de Hong Kong.

26 Jun 2019

Cinco detidos por organização criminosa e usura no valor de 24 milhões

A Polícia Judiciária deteve na segunda-feira cinco residentes suspeitos de gerir uma organização criminosa que fazia empréstimos ilegais que podem ter ascendido a 24 milhões de dólares de Hong Kong. A rede familiar publicitou o seu negócio através de panfletos que chegaram a ser distribuídos em departamentos públicos

 
[dropcap]D[/dropcap]esde Junho de 2017 que a Polícia Judiciária (PJ) estava de olho numa família de residentes suspeita de gestão de um esquema de empréstimos ilegais, depois da recepção de queixas de 10 residentes e de departamentos do Governo. Segundo informação prestada pela PJ, a publicidade à actividade ilegal chegou à Direcção dos Serviços de Economia, à Autoridade Monetária de Macau e ao Instituto para os Assuntos Municipais.

Após investigação, as autoridades detiveram na segunda-feira quatro homens e uma mulher. Entre os detidos, um indivíduo de 59 anos foi indicado pelas autoridades como sendo o cabecilha da organização em que participava o seu filho mais velho, de 29 anos, e a esposa, de 31 anos.

Segundo informação prestada pela PJ, a organização estaria em actividade desde Julho de 2015, altura em que começou a emprestar dinheiro com taxas de juro que ultrapassam o limite legal.

Durante quase quatro anos, a organização familiar terá emprestado cerca de 24 milhões de dólares de Hong Kong a, pelo menos, 86 pessoas.

Possível castigo

Os cinco suspeitos foram transferidos para o Ministério Público, e podem enfrentar acusações de associação criminosa, usura e branqueamento de capitais. Se forem condenados pelo crime de associação criminosa, os suspeitos arriscam uma pena de prisão entre os três e os 10 anos. O cabecilha enfrenta uma moldura penal superior, entre os cinco e 12 anos de prisão.

Pelo crime de usura, os cinco detidos podem ser condenados até três anos de prisão, pena que pode ser agravada entre um e cinco anos se ficar provado que os arguidos fizeram da usura modo de vida, dissimularam vantagem pecuniária ilegítima exigindo letra ou simulando contrato ou deixaram a pessoa prejudicada em difícil situação económica.

O crime de branqueamento de capitais pode resultar em moldura penal até aos oito anos de prisão.

26 Jun 2019

Trabalho | Quase mais 7700 TNR face ao ano passado

[dropcap]A[/dropcap]té ao final de Maio deste ano, Macau contava com 189.414 trabalhadores não residentes (TNR), de acordo com dados do Corpo da Polícia de Segurança Pública divulgados ontem pela Direcção dos Serviços para aos Assuntos Laborais. Em comparação com o mesmo período do ano passado, os dados revelam um incremento de 7.691 novos TNR, mas uma redução face a Abril deste ano quando se bateu o recorde de trabalhadores não residentes acima dos 190 mil.

Sem surpresas, a China é o país de origem da larga maioria dos TNR importados, totalizando 189.414 trabalhadores, depois de 3.826 pessoas oriundas do Interior da China se juntarem à mão-de-obra de Macau. Um aumento que representa praticamente metade de todos os novos TNRs registados no final de Maio.

O segundo país mais exportador de mão-de-obra para Macau são as Filipinas, ainda assim a grande distância da China, com um total de 32.094 pessoas, mais 3.826 em relação ao ano passado.

O país de origem da terceira comunidade mais volumosa de TNR em Macau é o Vietname, que totalizava no final de Maio com 14.836 trabalhadores, número que representa uma descida de 160 trabalhadores em relação ao igual período de 2018.

A hotelaria e a restauração continuam a ser os sectores económicos que mais empregam TNR, com um total de 53.091 empregados. No restante pódio de ramos empregadores houve uma troca entre o segundo e o terceiro classificado. No final de Maio deste ano, o sector da construção civil passou para o terceiro lugar, depois de ser ultrapassado pelo número de empregados domésticos, com 29.104 e 29.212, respectivamente.

26 Jun 2019

Emissão de dívida chinesa em Macau é “inteligente” mas requer responsabilidade

No próximo dia 4 de Julho vão ser emitidos títulos de dívida do Estado chinês em Macau no valor de dois mil milhões de renminbi. O economista Albano Martins considera tratar-se de uma alternativa segura de investimento para empresas e residentes, se o Governo Central mantiver a estabilidade da moeda

 
[dropcap]N[/dropcap]o próximo dia 4 de Julho, vão ser emitidos em Macau títulos de dívida do Estado chinês no valor de 2 mil milhões de renminbi. A iniciativa parte do Governo Central que desta forma dá mais um passo para a internacionalização da moeda enquanto recolhe dividendos, o que para o economista Albano Martins é uma “medida inteligente”. “O Governo Central está a tentar obter fundos através de Macau, porque sabe que Macau é uma zona onde há excedentes”, justificou o economista ao HM.

De acordo com o comunicado emitido ontem pelo Gabinete do Porta-voz do Governo, a medida permite “maior desenvolvimento das actividades financeiras com características próprias, bem como a promoção da diversificação adequada da economia de Macau”. A este respeito, Albano Martins considera antes que é mais uma alternativa dentro do mercado de investimento local.

“Não se pode dizer que seja uma diversificação da economia, mas uma alternativa de financiamento numa altura em que as taxas de juro são relativamente baixas”, como tal, “é um aliciante para quem quer colocar as suas poupanças no Estado chinês, porque dá garantias de cumprir as suas obrigações em relação aos pagamentos à data de vencimento”.

Por outro lado, para Albano Martins o valor de dois mil milhões de renminbi não é “nada de especial”, mas o mais importante, acrescentou, é que “o mercado de Macau passa a ter uma nova forma de aplicação dos seus dinheiros que não são apenas os depósitos bancários, o investimento imobiliário ou o investimento noutro tipo de activos reais”. O argumento do economista é também defendido oficialmente: “A emissão de títulos em renminbi fortalecerá ainda a cooperação financeira entre a China interior e Macau, fornecendo, aos investidores, maiores escolhas de investimentos seguros e prudentes”, lê-se na nota do Gabinete.

Mais responsabilidades

Inegável, é o passo para a internacionalização da moeda chinesa através da emissão de dívida pública em Macau, que traz consigo também novas responsabilidades para o Governo Central, nomeadamente no que toca a garantias para a estabilização da moeda, condição fundamental para não desiludir os investidores. “É um activo em renminbi, mas é preciso que haja alguma garantia para que no final deste percurso, ou seja, no final do vencimento, a moeda não valha menos, porque caso contrário é uma aposta que vai criar muitos danos colaterais a quem for investidor”, disse o economista.

Neste sentido, “quando se quer internacionalizar uma moeda o mais importante é a estabilidade da própria moeda”. Em causa está o facto de o renminbi ser uma moeda controlada administrativamente pelo Governo Central, não tendo uma cotação livre no mercado, “como têm as outras que também estão sujeitas a especulação, claro, mas e quando isso acontece os bancos centrais são chamados a colocar a situação na ordem, sendo que o que conta é o jogo entre a oferta e a procura”.

Apesar do renminbi ainda não estar de acordo com as normas dos mercados internacionais, pode apresentar garantias dependendo isso do próprio Governo Central. “Tudo bem desde que não faça esse controlo de forma a que venha a provocar lesões gravíssimas em quem investir na sua moeda”, disse.

Para o efeito, a China “tem de ter uma consciência mais refinada em termos de economia de mercado e não pode manipular as taxas de câmbio apenas porque quer exportar mais ou porque quer fazer com que a sua economia seja mais competitiva”.

No caminho da internacionalização da moeda, a China “pode e deve ser uma alternativa aos Estados Unidos da América, ou pelo menos ser mais uma alternativa ao euro e ao dólar americano, mas é preciso cumprir regras e uma das regras é garantir a estabilidade da evolução da taxa de cambio da sua própria moeda”, reforçou.

Já para o deputado Ip Sio Kai, com ligações à banca, o renminbi é uma moeda “mais razoável” para os investimentos no mercado internacional o que vai atrair a participação do investimento no mercado de títulos por parte dos residentes. Por outro lado, o deputado considera que se trata de uma iniciativa capaz de “ajudar muito nas negociações com os países de língua portuguesa”.

26 Jun 2019

Colina da Ilha Verde | IC volta a contactar proprietários do terreno

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) reagiu ontem ao mais recente relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) sobre a investigação do terreno da Colina da Ilha Verde, onde se situa o antigo convento jesuíta actualmente em ruínas. Num comunicado oficial, os responsáveis do IC prometem “contactar os proprietários” e realizar a supervisão necessária “no sentido de estes levarem a cabo obras de restauro o mais rápido possível”.

“Se os proprietários tiverem dificuldades nas obras de restauro, o IC irá tratar do assunto nos termos da Lei de Salvaguarda do Património Cultural, de forma a implementar e executar rigorosamente os trabalhos de salvaguarda do património cultural e a garantir a melhoria efectiva do estado da protecção da Colina da Ilha Verde”, lê-se ainda no comunicado.

O IC assegura que esta não é a primeira vez que contacta os legítimos proprietários do terreno, que tem estado envolvido numa disputa judicial para determinar a quem pertence a propriedade.

“No passado, o IC enviou cartas aos proprietários do terreno a solicitar a realização, o mais rápido possível, de obras de restauro e manutenção do Convento da Ilha Verde, e depois, o IC, a pedido dos proprietários, forneceu informações sobre os desenhos de design e os materiais de construção do Convento, comunicando com os proprietários envolvidos.”

26 Jun 2019

Jaime Carion | CCAC diz que divulga informações quando houver resultados

André Cheong reconhece que a apreensão dos bens do ex-director da DSSOPT gera preocupação na sociedade, mas pede que se aguarde pelos resultados da investigação. O Comissário do CCAC garante ainda que o estudo sobre declarações de caducidade de terrenos só vai ser utilizado para uma eventual revisão da Lei de Terras

 
[dropcap]O[/dropcap] Comissário Contra a Corrupção, André Cheong, diz que vai manter o silêncio sobre os caso dos bens apreendidos de Jaime Carion, ex-director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), mas prometeu falar, quando a investigação produzir resultados. A promessa foi feita, ontem, numa conferência de imprensa do Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) sobre o relatório da investigação dos terreno na Ilha Verde.

“Sabemos que esta notícia tem a ver com uma figura pública e é um assunto com questões muito preocupantes para a sociedade. Mas temos de respeitar o dever de sigilo e evitar que haja qualquer interferência na investigação”, justificou André Cheong. “Quando as condições estiverem reunidas iremos divulgar a informação atempadamente”, prometeu.

O coordenador foi várias vezes questionado sobre o assunto, em pormenores como a data do início da investigação, se o caso está relacionada com as funções exercidas por Carion como director da DSSOPT ou se tinha havido um mandato de detenção. Porém, manteve-se sempre em silêncio: “Mesmo que me perguntem mais três vezes, a minha resposta vai ser a mesma, porque o caso está em investigação criminal”, frisou.

Revisão de Lei de Terras

Se o silêncio sobre a investigação que envolve Jaime Carion foi a regra de ouro, o mesmo não aconteceu sobre o estudo pedido pelo Chefe do Executivo ao CCAC, a propósito dos processos de declaração de caducidade das concessões de terrenos. De acordo com o comissário, a investigação não vai afectar as decisões dos tribunais sobre os diferentes casos, mas poderá ser utilizada para futuras alterações à Lei de Terras.

“O estudo do CCAC não vai comprometer as decisões judiciais porque o CCAC intervém autonomamente e não vai interferir nas decisões judiciais”, garantiu André Cheong. “O que iremos fazer é pronunciar-nos sobre a legalidade das declarações de caducidade, depois dos 25 anos da concessão. […] O que se pretende é que, com base no nosso relatório, haja a hipótese de pensar numa revisão de raiz de todo o sistema de declaração de caducidade dos terrenos, assim como da atribuição das concessões”, clarificou.

Cheong explicou também que o CCAC está nesta altura a reunir todos os documentos relacionados com as concessões, além de estar a estudar as condições dos terrenos aquando a devolução ao Governo, por falta de aproveitamento. Neste momento não há uma data prevista para a conclusão deste trabalho.

Investigações pendentes

Além de terem sido repetidos os contornos do relatório publicado na segunda-feira, que legitimou a Companhia de Desenvolvimento Wui San Limitada como proprietária dos terrenos na Ilha Verde, o Comissário do CCAC confirmou que há pelo menos outras duas investigações pendentes que podem resultar em acusações criminais.

Em causa está o caso da Fábrica de Panchões Iec Long, em que o Governo trocou com empresários privados terrenos lhe pertenciam por outros que legalmente também eram seus. Esta foi uma investigação revelada em 2016, também pelo CCAC. “Fizemos um relatório e verificámos que o acordo de permuta era nulo, significa que os serviços públicos já conseguiram reaver os terrenos e que todo o processo está em curso. […] Quando há indícios de crimes, não vamos ficar de braços cruzados, pelo contrário, vamos insistir no apuramento da verdade, e fazer a investigação devida”, disse.

Segundo André Cheong esta situação aplica-se igualmente à investigação sobre a forma como a concessionária Wynn terá adquirido o terreno onde foi construído o casino Wynn Palace, no Cotai.

 

Secretário? Decisão é do Governo Central

Um dos rumores que tem circulado é a possibilidade de André Cheong assumir a pasta da secretaria para a Administração e Justiça, que actualmente é ocupada por Sónia Chan. Ontem, o actual responsável pelo CCAC, recusou comentar essa possibilidade, por dizer que é uma decisão que cabe ao Governo Central. “Não posso dizer quase nada [sobre o assunto]. Não sou eu que tenho a palavra [nesta decisão], mas o Governo Central e outras autoridades [competentes], respondeu.

Tráfico de influências em estudo

O CCAC vai elaborar um estudo para abordar a criminalização do tráfico de influências. A ideia não é nova e mais uma vez volta a ser estudada, no âmbito da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção: “Os peritos das Nações Unidas já nos deram opiniões e essa questão vai ser focada nos nossos estudos”, afirmou o comissário sobre o assunto. André Cheong admitiu também haver alterações na orgânica do CCAC. “Temos uma orgânica e estrutura que poderão não dar resposta às necessidades actuais”, admitiu.

26 Jun 2019

Eleições | Propositura de candidaturas entre 8 e 23 de Julho

[dropcap]A[/dropcap] apresentação das proposituras dos candidatos ao cargo de Chefe do Executivo deve ser feita entre 8 e 23 de Julho. A informação foi dada ontem pela presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo (CAECE), Song Man Lei.

“Os interessados podem ir, a partir de 8 de Julho, ao edifício da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública levantar os respectivos boletins de propositura”, disse. Song Man Lei acrescentou ainda que “depois de recolherem os apoios junto dos membros do colégio eleitoral, no mesmo período, podem entregar o boletim e assim concluem os trabalhos da propositura”.

Para chegar à votação final, os candidatos devem recolher a assinatura (apoio) de, pelo menos, 66 membros do colégio eleitoral. Cada membro pode propor um só candidato. Após este processo, a CAECE ainda vai avaliar os pedidos. “Vamos apreciar os pedidos e ver se aceitamos, ou não, os interessados”, apontou a presidente da CAECE. As eleições para o mais alto cargo do Governo local estão agendadas para 25 de Agosto.

26 Jun 2019

Lei da protecção civil | Jornalistas querem reunir com deputados

[dropcap]A[/dropcap] Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) enviou ontem uma carta à 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) devido à lei de bases da protecção civil, que está actualmente a ser discutida em sede de especialidade.

Na missiva, a AIPIM afirma que a proposta de lei em causa “contém provisões que nos suscitam preocupação, designadamente o estipulado no artigo 25, respeitante ao crime contra a segurança, ordem e paz públicas em incidentes súbitos de natureza pública, referente a situações após declaração do estado de prevenção imediata”.

Nesse sentido, a associação defende que “será importante proceder a alterações ao disposto do artigo, de modo a evitar um impacto negativo ao nível da liberdade de expressão e de imprensa dos cidadãos da RAEM”. Por essa razão, a AIPIM solicitou a Ho Ion Sang, presidente da comissão, a realização de uma audiência a fim de mostrar as “preocupações dos sócios da AIPIM e da comunidade jornalística em geral”.

26 Jun 2019

Ho Iat Seng pede “solução positiva” para criminalizar notícias tendenciosas

A revelação foi feita ontem na AL. O presidente do hemiciclo pediu à assessoria técnica que encontre uma solução que acalme a população e os jornalistas no que diz respeito à criminalização da difusão de notícias tendenciosas

 
[dropcap]O[/dropcap] presidente da Assembleia Legislativa (AL) pediu à assessoria uma “solução positiva” para o artigo da proposta de lei de protecção civil que criminaliza a elaboração, difusão ou transmissão de “notícias falsas, infundadas ou tendenciosas”. A sugestão foi relatada ontem aos deputados durante a primeira reunião para analisar o diploma na especialidade e foi tornado público pelo pró-democrata Sulu Sou, que assistiu à reunião.

“A primeira informação que nos foi transmitida foi sobre um encontro entre Ho Iat Seng, na semana passada, e a assessoria. Na reunião o presidente da AL pediu à assessoria que encontrasse uma solução positiva sobre o artigo 25”, contou Sulu Sou. “Coloco a hipótese desta forma de actuar estar relacionada com a situação de Hong Kong e com a Lei de Extradição. Acho que tanto o presidente como a Assembleia Legislativa não querem que esta lei crie conflitos sociais e afecte a estabilidade da sociedade, principalmente no decorrer deste ano [20.º aniversário da RAEM]”, acrescentou.

Segundo o legislador, existe mesmo um consenso entre os membros da AL que o artigo deve sofrer alterações profundas. Uma versão dos acontecimentos que foi igualmente partilhada pelo presidente da comissão responsável pela análise na especialidade, Ho Ion Sang. Depois de ter reconhecido que há “várias preocupações na sociedade e nos órgãos de comunicação social”, Ho defendeu que é necessário tranquilizar as pessoas.

“Esperamos poder esclarecer a sociedade, nomeadamente quanto às preocupações que existem. […] Não estamos à espera que com este artigo os residentes sejam afectados no caso de haver uma notícia falsa, sem que esta tenha tido um resultado grave”, explicou sobre a posição dos deputados.

Perante a situação, na AL acredita-se que os rumores podem ser criminalizados com recurso à alteração dos artigos 294 e 295 do Código Penal que focam os crimes de “ameaça com prática de crime” e “abuso e simulação de sinais de perigo”. “Vamos tentar dialogar com o Governo para seguir esta via como solução”, indicou Ho Ion Sang.

Dois pesos, duas medidas

Ainda no que diz respeito à proposta de lei que foca os rumores, o presidente da 1.ª Comissão Permanente da AL, questionou o facto de haver um artigo semelhante na “Lei de prevenção, controlo e tratamento de doenças transmissíveis” sobre “alarme por rumores”. Contudo, a pena máxima para o crime é de um ano de prisão. Na proposta de lei actual, os rumores e as notícias falsas ou tendenciosas podem ser punidos com uma pena que pode chegar aos dois anos, ou mesmo aos três anos, em condições agravadas.

“Em 2004, houve uma lei sobre as doenças transmissíveis e há um crime para os rumores que pode levar a pena de 1 ano, ou 120 de multa. Mas aqui a proposta é o dobro. Qual é a razão desta diferença? […] Gostaríamos que o Governo nos esclarecesse porque é que a sanção é agravada”, afirmou o deputado apoiado pelos Kaifong.

Ainda no que diz respeito à proposta de lei da protecção civil, Ho apontou que o documento é complexo e intenso e que não define com muita clareza as competências deixadas ao Chefe do Executivo ou ao Comandante da Acção Conjunta, função desempenhada pelo secretário para a Segurança.

Finalmente, sobre o facto de Wong Sio Chak ter dito anteriormente que gostava de ver o diploma aprovado a tempo da nova época de tufões, que deverá começar brevemente, o presidente da comissão frisou que o Governo tem os mecanismos necessários para as catástrofes naturais. Por este motivo, os deputados apostam numa análise mais lenta, mas que garanta melhor resultado.

26 Jun 2019

João Santa-Rita, arquitecto: “São os habitantes que dão corpo e alma às cidades”

O arquitecto e professor João Santa-Rita chegou a Macau pela primeira vez numas férias em 1986. Veio ter com o já desaparecido arquitecto Manuel Vicente, colega e amigo do seu pai (José Daniel Santa-Rita), e acabou por ficar dois anos a colaborar em projectos importantes, como o World Trade Center, os estúdios da TDM ou os Lagos Nam Van. Voltou diversas vezes ao território e veio agora apresentar dois seminários, sobre a identidade da arquitectura no contexto mundial. Ao HM falou da sua relação com a cidade e da transformação que encontrou nestes 30 anos

 

 

Como foi chegar a Macau, nos anos 80? Que diferenças encontrou na arquitectura local e na rapidez de concretização dos projectos, tão diferente do que acontecia em Portugal?
[dropcap]A[/dropcap] minha vinda para Macau foi muito planeada, era um sonho e eu já queria vir desde 1977 ou 1978. Ouvia falar de Macau, através de exposições do arquitecto Manuel Vicente (MV), e fiquei sempre com aquele fascínio de vir para cá. Tinha também um primo meu que cá esteve nos anos 70. E, portanto, quando vim, numas férias da Páscoa em 1986, vim ter com o arquitecto MV e disse-lhe que estava aqui. “Estou de férias, mas estou pronto para trabalhar”. E assim foi. Gostei de Macau desde o dia em que cheguei. E continuo a adorar. A maior surpresa foi aquilo que encontrei, que vinha de um país como era Portugal na altura, do ponto de vista do seu desenvolvimento, das crises pelas quais tinha passado, da realidade da cidade. E em Macau encontrei, tal como na vizinha Hong Kong, condições muito diferentes, onde as coisas tinham uma velocidade e uma escala de concretização completamente distintas.

Esteve ligado a importantes projectos em Macau. Como foi essa experiência?

Na altura tive a sorte de ter participado nalguns trabalhos do arquitecto MV, que foram desafios bastante importantes para o atelier, e também para nós enquanto arquitectos, como os projectos dos estúdios da TDM ou do World Trade Center. Esta começou por ser a razão da minha permanência em Macau, de 86 a 88, mas acabou por ter muitas fases e arrastar-se no tempo. Já não estive nas fases finais, nem sequer assistir à sua construção. A última coisa em que colaborei com o arquitecto MV foi no projecto dos Lagos Nam Van, num período em que estava entre Macau e Portugal, de 88 a 90. Foi uma época de que guardo grandes e boas recordações, não só porque foi uma coisa muito intensa, como já tinha sido o WTC, uma coisa fulminante, em que tivemos que preparar a primeira fase do projecto numa ou duas semanas, mas sobretudo porque acho que foi uma obra que teve um impacto muito positivo em Macau. Do meu ponto de vista, os Lagos Nam Van deram à cidade um novo pulsar de grande dimensão, depois dos aterros do ZAPE e do NAPE, que eu tinha visto crescer lentamente. Vejo sempre os Lagos Nam Van como uma oportunidade da cidade poder olhar para si mesma. E considero-a, de facto, uma obra muito importante, por fechar esse anel periférico de Macau.

Hong Kong e Macau, como as viu e como as vê, 30 anos depois, engolidas pelas gigantes metrópoles chinesas? Como arquitecto, o que se ganha e perde nesta evolução?

Há uns meses atrás, vi um vídeo sobre as dez cidades mais importantes da China. E a primeira reacção foi pensar “como é que a Europa andou distraída e não se apercebeu de como as cidades na China cresceram e o país se tornou tão relevante para o mundo?” A ideia de estarmos fechados entre portas, na Europa, numa espécie de fortaleza, à prova de tanta coisa, fez com que perdêssemos a percepção de como o resto do mundo está a evoluir. O que me deixou também muito surpreendido foi ver a cidade que está neste momento à volta de Macau. Eu tinha estado cá em 2015 e nada daquilo existia! Em quatro anos, de repente, vejo ali duas torres, do lado de lá, que quando cheguei de barco nem percebi que estavam fora de Macau. Ontem [segunda-feira] tive a sorte de ir a Cantão e fui confrontado com o que era Cantão há 32 anos e o que é agora. A evolução é uma inevitabilidade, o mais difícil é quando os processos não são controlados. Não posso ter qualquer pretensão de falar sobre Cantão, depois de uma visita de um dia, mas o que vi foi um novo centro extremamente consolidado. A solidez das opções, os espaços públicos, a qualidade dos arranjos, a dimensão. O espaço público é uma coisa fundamental, o que me deixou completamente surpreendido. E existe essa preocupação. No fundo, o espaço público é aquilo que todas as pessoas utilizam. Quando estávamos aqui em Macau dizia-se muitas vezes que esta é uma cidade que tem poucos espaços, mas tem muita qualidade e muita intensidade, não são espaços que estão desocupados, são espaços onde as pessoas vivem intensamente. Acho que é isso que confere qualidade às cidades, a forma como nós as percorremos, como podemos andar, circular, descansar, usufruir dos jardins, das avenidas, por aí fora.

Que problemas pode trazer este crescimento rápido às cidades?

De facto, no Ocidente estamos pouco habituados ao crescimento abrupto das cidades, basta ver o caso de Lisboa que há muitos anos se debate para não perder população. Mas, aquilo que me parece essencial, é que este crescimento abrupto consiga conviver com a importante questão de manter os centros vivos. Se os centros forem preservados, não enquanto atracção turística, mas com actividade própria, com vida, com habitantes, isso é o mais importante. Julgo que Macau mantém isso, ainda não tirei impressões a esse respeito, mas parece-me que mantém um comércio vivo, tem serviços administrativos, actividades privadas, entidades bancárias, e não só. Macau é uma cidade como tantas outras, que existem há muitos anos e já passaram por tantas provas. Aliás, há poucas cidades no mundo que desapareceram, ou seja, que se tornaram obsoletas e foram abandonadas. São muito poucas, as cidades históricas que nós conhecemos de impérios que caíram. Roma não é certamente uma delas, sofreu várias quedas, mas continuou e ainda hoje é uma grandiosa cidade. Mas os grandes centros das cidades passam todos por vários momentos, mais equilibrados, mais integrados, com mais ou menos habitantes. As cidades são criadas para serem habitadas.

Como vê o aumento populacional de Macau em relação aos anos 80 e também a invasão diária de turistas? Que reflexões pode um arquitecto fazer sobre a relação do espaço com os habitantes? E que soluções pode sugerir?

Alguns desses fenómenos, infelizmente, são muito espontâneos, não são programados. E a coisa mais difícil, por vezes, é saber como é que se planeia por antecipação. Como sabe, Lisboa e Porto estão a sofrer exactamente o mesmo problema, que é uma espécie de colisão saudável, digamos assim. Saudável, porque fica toda a gente encantada, porque entra dinheiro, entram pessoas, a cidade é mais vivida, é reconhecida lá fora, é recomendada. E isso traduz-se em comércio e negócio. Depois há o lado mais dramático, que são os habitantes que acabam por ser expulsos, como tem acontecido em Lisboa. Eu aqui não sei o que se passa, mas quando ouvimos falar de Veneza, falamos de uma cidade transformada num centro comercial ao ar livre, onde os habitantes foram quase todos atirados para fora. O grande problema é que isto acontece muitas vezes de forma espontânea e muito rápida.

Como é que se resolve?

Isto obriga a uma reflexão em que é preciso perceber que, à partida, todas essas pessoas são amigas da cidade, não são inimigas. Visitam porque gostam de conhecer outros locais, o problema é que, no seu interesse ou curiosidade pela cidade, trazem consigo situações que se revelam problemáticas. Porque a cidade também, a certa altura, se alimenta disso. Passa a ter uma demanda, prepara-se para dar mais resposta, quer demonstrar que ainda pode receber mais, e tem que haver um equilíbrio, para o qual eu não tenho uma solução. Mas há uma questão que me parece essencial, que é essa questão do espaço público. É fundamental que seja o mais cuidado possível e o mais agradável, para poder receber todos esses contingentes de pessoas. E há também a questão dos transportes, que são fundamentais. É preciso movimentar todas as pessoas que visitam as cidades e desconcentrá-las, retirando-as dos locais históricos, como em Macau ou em Lisboa, e comunicando novos pontos de atracção em zonas mais periféricas. A mobilidade é fundamental, permitindo escoar as pessoas e garantir que os objectivos dos visitantes sejam atingidos. Acho que manter os habitantes é fundamental. São os habitantes que dão corpo e alma às cidades. E quem visita as cidades também quer ver a população local, dialogar e interagir com as pessoas, não encontrar só turistas. As pessoas fazem parte da vida das cidades, não são indissociáveis. É preciso encontrar esse equilíbrio, pensar como é que se podem manter as pessoas, porque já sabemos que as pressões são grandes e o aumento do custo das coisas é um fenómeno comum.

Pegando no tema dos seminários que veio apresentar a Macau, que identidade construiu, enquanto arquitecto, com a sua passagem pelo território e por outras geografias ao longo da sua carreira? Como se pensam as especificidades da cultura dos lugares onde se projecta uma obra?

Eu tive uma formação em Portugal e, obviamente, fui formado com um determinado modo de pensar, reflectir e olhar para a arquitectura. Aquilo que penso ser fundamental é que, mesmo quem tem uma postura mais radical perante o mundo, possa actuar consoante a identidade de cada país ou de cada lugar. Porque há muitas obras de arquitectura que percebemos que podiam estar em qualquer lugar. Em que pensamos que ali fazia falta uma sombra, em que aqui era preciso uma brisa. E onde é que isso está? Porque é que isso não foi pensado? Depois há outras coisas culturais fortíssimas, que têm a ver com as pessoas, como o caso do “feng shui” para os chineses, ou o facto de os árabes se fecharem mais. São especificidades de cada cultura às quais a arquitectura sempre procurou dar resposta. Mesmo no caso de arquitectos modernos, que advogavam uma arquitectura quase universal, ainda assim a adaptavam a situações de carácter espiritual, geográfico, climatérico, e por aí fora. A arquitectura vive disso, por isso é que os edifícios são um pouco como as árvores, eles ligam-se ao terreno consoante o terreno que têm. Esse lado que a arquitectura tem que ter, e quem a desenha, de saber criar as raízes para o edifício existir num lugar, é fundamental. Porque é isso que faz os lugares. E é também isso o que eu mais aprecio na arquitectura.

Como está a preservação do património local e da arquitectura colonial portuguesa? A adaptação de antigas estruturas, fazendo acrescentos modernos para acomodar mais pessoas e funções, parece-lhe uma boa solução?

É difícil ter uma solução para tudo, como disse, são questões que decorrem de cada edifício. Há edifícios que são belíssimos e que nós queremos recuperar a todo o custo, mas que é difícil por estarem num estado de declínio muito grande. Há outros que estão em bom estado mas pouco nos interessam. Em Lisboa, que é uma cidade muito antiga, e onde esse balanço acontece diariamente, sobre o que fazer ou não fazer, cada projecto é encarado caso a caso. Há coisas que são unânimes, todos sabemos que não se deve deitar abaixo a Torre de Belém. Mas há outros casos em que é de ponderar o que se deve fazer, e isso é saudável. Até porque, há 50 anos, estas coisas não se ponderavam, demolia-se simplesmente. E já não falo de, há milhares de anos, quando se desmontavam as ruínas da Roma antiga para fazer outros edifícios. Hoje temos obviamente uma consciência diferente. Olhamos para o passado de outra maneira, como forma de reflectir o presente e de enquadrar o futuro. Felizmente que temos cidades com passado, é sinal que aquilo que outros fizeram tem validade para nós. E faz-nos pensar como as podemos valorizar e lhes dar uma segunda vida. A solução está muitas vezes aí, no cruzamento entre a vida que as cidades têm e a vida que se lhes pode dar, o balanço entre o que se consegue ou não fazer. Mas essa reflexão é saudável, é sinal que há peças que têm qualidade.

26 Jun 2019

Propaganda chinesa controla informação sobre protestos em Hong Kong

João Pimenta, da agência Lusa

 
[dropcap]A[/dropcap] gestora Fang Li não percebe porque é que a Internet tem estado intermitente em Pequim, enquanto o professor de italiano Wang Lin reage incrédulo ao saber que os protestos em Hong Kong juntaram dois milhões de pessoas.

Ambos trabalham em Pequim, viajam frequentemente para fora da China e dominam uma língua estrangeira, mas não sabem – ou não estão interessados em saber – sobre os protestos que abalam Hong Kong há mais de duas semanas.

Uma polémica proposta de lei, que permitiria que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental, levou centenas de milhares de pessoas à rua, desde o início do mês.

Um dos protestos, em meados de Junho, juntou cerca de dois milhões de pessoas, segundo os organizadores, assumindo-se como o maior desde 1997, aquando da transição da ex-colónia britânica para a administração chinesa.

Confrontado pela agência Lusa com a dimensão daquele protesto, Wang não queria acreditar: “Mas então a população de Hong Kong não são só sete milhões de pessoas?”. Fang viu as imagens e expressou um “hum”, assinalando desinteresse.

A censura exercida pelo regime chinês, aliada a uma campanha de desinformação, parece estar a surtir efeito no país, alargando o fosso entre a população da China continental e o resto do mundo no acesso a informação susceptível de embaraçar o Governo central.

Em 10 de Junho, um dia após cerca de um milhão de pessoas exigirem nas ruas de Hong Kong que o governo retirasse o projecto de lei, o jornal oficial China Daily noticiou que 800.000 pessoas tinham assinado uma petição em apoio à proposta.

“Apesar do calor escaldante, representantes de várias organizações em Hong Kong estiveram à altura da ocasião no domingo, realizando várias actividades públicas em toda a cidade em apoio aos planos do governo para emendar a lei de extradição”, descreveu o jornal.

Segundo o China Daily, os manifestantes dirigiram-se mesmo à sede do Governo, a “exigir que a lei fosse aprovada” para “garantir o primado da Lei e a segurança pública”, enquanto os painéis de iluminação LED da cidade se “encheram de vídeos e slogans a apoiar a proposta”.

Nesse mesmo dia, imagens em todo o mundo revelavam confrontos violentos entre a polícia e os manifestantes, com as forças de segurança a usarem gás lacrimogéneo, gás pimenta e balas de borracha para dispersar a multidão.

E quando, passados poucos dias, Hong Kong assistiu aos maiores protestos da sua história, o China Daily noticiou que os pais da cidade marcharam contra a interferência dos Estados Unidos no território e condenaram as “entidades estrangeiras” que enganam os jovens de Hong Kong.

A China é o país com mais internautas do mundo, cerca de 710 milhões de utilizadores – mais do dobro de há cinco anos – 92,5 por cento dos quais acedem à rede através de smartphones, segundo dados oficiais.

O uso da Internet no país é, no entanto, restringido, com vários portais estrangeiros e alguns serviços de “gigantes” da Internet, como o Facebook, Twitter e Google, banidos da rede chinesa.

A narrativa é sobretudo controlada pela imprensa estatal, que está sob tutela do departamento de propaganda do Partido Comunista Chinês (PCC). “É notável observar quão eficaz é o PCC”, comenta Anne-Marie Brady, especialista em assuntos sobre a China, na Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia. “Mesmo na época da Internet global, consegue manter tudo dentro dos limites da censura”.

25 Jun 2019

Saúde | Gripe, sarampo e rubéola aumentaram em Maio

[dropcap]I[/dropcap]nfluenza, sarampo e rubéola foram os casos de doenças de declaração obrigatória que dispararam no mês passado. De acordo com os dados divulgados ontem pelos Serviços de Saúde, os casos de influenza registados no passado mês de Maio totalizaram 3 024, o que representa um aumento de 215 por cento quando comparado com o mês de Abril em que foram registados 1405 casos. Se comparados com os registos no mesmo mês do ano passado, houve um aumento em 35 casos.

Já com rubéola foram registados 21 casos, número que representa uma subida quando comparado com o período homólogo do ano passado em que não houve registo de nenhum caso. Em relação ao mês passado, houve um decréscimo de 27,6 por cento. Em Abril foram registados 29 casos de rubéola.

Também há um acréscimo nos casos de sarampo registados – três – em comparação com o período homólogo do ano anterior –um- no entanto, em relação a Abril, houve uma diminuição de 50 por cento.

Foram ainda registados 1017 casos de infecção por enterovírus, número que representa um aumento de 108 por cento quando comparado com o período homólogo do ano anterior – 488 casos – e de 137,1 por cento comparativamente ao mês passado – 429 casos.

Há também o registo de 15 casos de enterite por rotavírus, o que representa um aumento de 36,4 por cento, com mais nove casos do que no mês de Abril.

Os 46 casos de escarlatina representam uma diminuição quando comparados com o mês do período homólogo do ano anterior em que foram registados 85 casos, e um aumento em comparação com o mês anterior com 39 casos.

No passado mês de Maio houve 30 casos de tuberculose pulmonar, uma subida se comparados com o período homólogo do ano passado com 28, e foram diagnosticados sete casos de VIH sem manifestação dos sintomas da doença e um caso de SIDA.

No total foram registadas 4231 situações em que foi efectuada a declaração obrigatória.

25 Jun 2019

Táxis | Sector contra instalação do sistema de gravação por uma só empresa

[dropcap]O[/dropcap]s representantes do sector dos táxis temem a monopolização da instalação e manutenção dos equipamentos de gravação de som e imagem, cuja obrigatoriedade está prevista no diploma que entrou em vigor este mês. De acordo com o Jornal do Cidadão, o sector não acredita que este procedimento seja transparente, receando que esteja a camuflar algum processo de corrupção entre o Governo e a empresa à qual possa vir a ser adjudicado o contrato.

Para sustentar esta opinião o sector apresentou números: só os custos de manutenção são de 10 patacas por dia o que aplicado a 2000 táxis durante o período de um ano, soma mais de sete mil milhões de patacas, apontaram no programa “Fórum Macau”.

Já o presidente do Conselho Executivo da Associação de Jornalistas dos Assuntos Desportivos de Macau, Fong Nim Seong, defendeu que os motoristas deveriam estar autorizados a procurar empresas para a instalação deste serviço de acordo com os requisitos do Governo. No entanto, o responsável admite dificuldades, na medida em que a instalação dos equipamentos será custeada pelo Executivo. Por outro lado, Fong Nim Seong não acredita que apenas uma empresa seja capaz de instalar o sistema na totalidade dos táxis de Macau dentro do prazo.

Privacidade indefinida

Outras preocupações, como a conservação dos dados registados na gravação, foram apontadas pelo vice-presidente da direcção da União Geral das Associações dos Moradores de Macau, Chan Ka Leong, sendo que a legislação complementar a este respeito ainda não está formulada.

Para o responsável, seria conveniente que as autoridades fossem transparentes na adjudicação do contrato de instalação deste serviço bem como na apresentação pública do cronograma dos trabalhos a realizar “para proteger os direitos e interesses legítimos dos residentes e turistas”.

25 Jun 2019

Lei de extradição continua na ordem do dia

[dropcap]E[/dropcap]m Hong Kong, os últimos domingos foram assinalados por duas enormes manifestações contra a revisão da lei de extradição dos condenados em fuga. De acordo com os dados da organização, na primeira manifestação participou cerca de um milhão de pessoas e na segunda participaram cerca de dois milhões. Um dos manifestantes morreu em Admiralty ao cair de um edifício. Segundo os dados do Governo de Hong Kong o número de participantes foi muito inferior. De qualquer forma, esta questão não é muito relevante. A segunda manifestação, que começou às 14.40, congregou tantas pessoas que só se pôde ver o seu final pelas 23.00. A participação massiva nestas manifestações confirma que o Governo de Hong Kong tem um problema sério entre mãos.

Em primeiro lugar, as manifestações revelam que os habitantes de Hong Kong estão muito preocupados com a revisão da lei e que querem suavizar as alterações.

Em segundo lugar, o aperfeiçoamento em termos de organização que se verificou da primeira para a segunda manifestação, muitíssimo bem organizada, colocou o Governo da cidade perante um difícil dilema. Por um lado, os manifestantes tinham um objectivo muito bem definido e transmitiram as suas exigências de forma pacífica, sem necessidade de recorrer a qualquer tipo de violência. De certa forma obrigaram o Governo a aceitar os seus pontos de vista. O que se passou desta vez em Hong Kong, nada teve a ver com o que por vezes acontece noutros locais do globo, que degenera em tumultos incontroláveis. A forma pacífica das pessoas se manifestarem impediu a polícia de intervir. Efectivamente, nesta segunda demonstração, a polícia limitou-se a abrir caminho para os manifestantes passarem e a velar para que a ordem se mantivesse. Se de futuro os hong kongers passarem a demonstrar desta forma as suas insatisfações o Governo vai ficar numa posição difícil.

Em terceiro lugar, a Chefe do Executivo de Hong Kong anunciou a suspensão da revisão da lei de extradição dos condenados em fuga e não a abolição da revisão. Estas palavras “suspensão” e “abolição” deram o mote para algumas pequenas manifestações, que se realizaram depois da segunda grande manifestação. A questão estava precisamente no facto de suspender ou abolir a revisão da lei. Claro que a suspensão implica o regresso do projecto de lei ao Conselho Legislativo, enquanto a abolição implica a morte imediata deste projecto.

No entanto, algumas pessoas próximas dos círculos governamentais têm salientado que, se o Governo não tiver forma de lidar com as exigências deste número esmagador de manifestantes, será impossível reiniciar o processo de revisão da lei. Desta forma, a “suspensão” de Carrie Lam talvez venha a ser sinónimo de “abolição”.

É evidente que no seio da sociedade de Hong Kong se encontram apoiantes da “suspensão” e da “abolição”. Mas independentemente das diferentes opiniões, o facto que salta à vista é que o Governo não está em posição de resolver esta disputa e que será melhor não levar para a frente a revisão da lei.

No decurso das duas manifestações massivas as exigências dos habitantes de Hong Kong foram expressas de forma inequívoca e o Governo da cidade anunciou a “suspensão” da revisão. As pessoas devem reflectir sobre estes dois factos. Será que ainda é necessário continuarem as manifestações para exigir a “abolição” da revisão? Se continuarmos a escalpelizar este assunto que consequências podem daí advir?

Rowan Tam, um antigo cantor de Hong Kong, tinha uma canção,”Under the Lion Rock”, que dizia mais ou menos o seguinte:

“Navegamos no mesmo barco sob a Lion Rock, devemos ajudarmo-nos uns aos outros, esquecer as diferenças e procurar as semelhanças.”

Quer sejamos a favor ou contra a revisão da lei de extradição, Hong Kong tem de seguir em frente, olhar para o futuro e deixar o passado para trás. Unamos esforços para que Hong Kong possa vir a ter um futuro brilhante. Este deverá ser o desejo de todos nós.

 

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado do Instituto Politécnico de Macau
Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk

25 Jun 2019

De Mozart ao gamelão balinês

[dropcap]O[/dropcap]s compositores geralmente são homens (ou mulheres) complexos, mas poucos poderiam igualar-se a Francis Poulenc a esse respeito: parte um sofisticado e mundano parisiense, e parte um genuíno e devoto católico com, como ele próprio disse, “a fé de um pastor rural”. Nascido no seio de uma família francesa abastada, Poulenc parece ter herdado esses dois lados da sua personalidade dos seus pais. O seu pai, gerente da empresa têxtil Rhône-Poulenc, era um homem de fé profunda; a sua mãe era uma líder culta da sociedade parisiense, que, como o seu filho, adorava música, arte, literatura e teatro. No final da adolescência, Poulenc emergiu como um dos Les Six, um grupo moderno de jovens compositores que torceram o nariz ao establishment clássico e foram beber aos estilos populares. Assimilando músicos tão diversos quanto Bach, Mozart, Chabrier, Stravinsky e Maurice Chevalier num estilo unicamente seu, Poulenc descreveu-se, com razão, como “descontroladamente eclético”.

Em 1932, quando criou o seu vivo e despreocupado Concerto para Dois Pianos em Ré menor, FP 61, Poulenc era o compositor predilecto da nobreza francesa rica que frequentava os salões artísticos mais elegantes de Paris. Um dos seus membros principais era a Princesa Edmond de Polignac, nascida Winnaretta Singer, herdeira da fortuna das máquinas de costura americanas Singer. Ao longo da sua carreira filantrópica, a Princesa protegeu muitos dos principais compositores europeus, incluindo Stravinsky e Ravel, que lhe dedicaram obras importantes, como Renard e a Pavane pour une infante défunte, entre outras. A sua sala de visitas em Paris era um local de convívio da avant-garde musical. Encomendado por ela e escrito muito rapidamente no Verão de 1932, o Duplo Concerto foi projectado para ser um trabalho de puro entretenimento, para ser tocado por dois pianistas que eram amigos íntimos: o próprio Poulenc e o virtuoso do piano Jacques Février. A primeira apresentação do Concerto foi dada no dia 5 de Setembro de 1932, na Sociedade Internacional de Música Contemporânea em Veneza com a Orquestra La Scala, sob a direcção de Désiré Defauw. Poulenc ficou satisfeito com a recepção da obra e mais tarde executou-a com Benjamin Britten em Inglaterra, em 1945, sendo a mesma frequentemente descrita como o clímax do período inicial do compositor.

Com dois acordes bombásticos, o primeiro andamento, Allegro ma non troppo, explode numa série de melodias excêntricas ligadas por um motivo rítmico dissimuladamente conspiratório de quatro notas. Essa loucura transforma-se subitamente numa secção intermédia muito mais calma num ritmo lento e em êxtase; aqui os dois pianos dominam com melodias despreocupadas e ligeiramente exóticas sobre uma orquestração delicada. Depois de um regresso à música excêntrica surge uma pausa abrupta. A seguir, com os seus dois pianos, Poulenc evoca os sons mágicos e similares a sinos do gamelão balinês, em figurações modalmente inflectidas, como se lembrava de tê-los ouvido na Exposição Colonial de Paris de 1931, um perpetuum mobile recorrente no concerto. Adicionalmente, a instrumentação da obra e os efeitos de “jazz” são reminiscentes do Concerto em Sol Maior de Ravel, estreado em Paris em Janeiro de 1932.

O compositor admitiu que escolheu para tema de abertura do andamento lento, Larghetto, um tema mozartiano, por ter uma veneração pela linha melódica e por preferir Mozart a todos os outros compositores. Embora o andamento se inicie alla Mozart, depressa muda de direcção, com a entrada do segundo piano, exibindo inflexões cromáticas estranhas que nunca teriam sido ouvidas no séc. XVIII. Este cromatismo escorregadio transporta gradualmente a música para o mundo de Poulenc, e a secção intermédia torna-se sonhadoramente romântica ao estilo de Rachmaninoff.

O finale (Allegro molto) é o mais bizarro e diverso andamento de todos. Música brilhante para os dois pianos desemboca numa sucessão de melodias cómicas precipitadamente orquestradas. Mas também há passagens de lirismo encantador e romântico. Perto do final, a música de gamelão regressa novamente, agora mais brilhante e menos misteriosa. No entanto, as últimas notas do Concerto confirmam que este maravilhoso jogo musical não deve ser levado de todo a sério.

 

Sugestão de audição da obra:

Francis Poulenc: Concerto for Two Pianos and Orchestra, FP 61
Jean-Bernard Pommier and Anne Queffélec, pianos
City of London Sinfonia, Richard Hickox – Virgin Classics, 2008

25 Jun 2019

Das memórias de Adriano

[dropcap]M[/dropcap]emórias de Adriano» de Marguerite Yourcenar é um livro que foi quase uma instituição pública, porém, a direita europeia mais conservadora adopta para com a autora uma reverência estranha, incomum – não que não fosse digna dela, era-o – Yourcenar é um marco brilhante na literatura, mas este aspecto talvez extravase os domínios de uma elite mais apegada a leituras menos públicas. As Academias e as mais variadas instituições fizeram seguir debates permanentes, homenagens, simpósios, colóquios, de forma continuada e sistemática durante décadas. Mas vamos ao que interessa desta análise: Adriano.

Foi Adriano o mais radical antissemita que apareceu na História. É certo que construiu Jerusalém, mas a que preço e a que pretexto é que não pode ser esquecido: começa por lhe mudar o nome rasurando assim a sua herança e, passando então a chamar-se Élia Capitolina, ergue templos a deuses e a Júpiter sobre as ruínas da cidade judaica, proíbe a circuncisão sob pena de morte, e limpa a Judeia do mapa chamando-lhe Palestina que designa inimigo de judeus, neste caso em filisteu.

Os judeus, esses, esconderam-se nas grutas da Judeia e foram dizimados nas zonas rurais, e nem Tito chegou a tanto, nem mais ninguém, creio, depois de Hitler, não existiu mesmo alguma vez uma vontade tão forte e arrasadora. Dir-se-ia que Adriano pode ser considerado o primeiro exterminador, fazendo (pior que a morte) do Templo, altar para deuses pagãos. Ora que seja enaltecido, será certamente por outras qualidades em esfera ficcional mas, falando de Yourcenar, falamos também de rigor e intenção, pois que não foi um ser de plumas que alguma vez se deixasse atravessar pelo reflexo de si mesma e cuja metodologia seguia planos bem traçados.

No entanto, Yourcenar nos próprios apontamentos justifica a existência dele e diz isto: «Este livro foi concebido, depois escrito, completamente ou em parte, sob diversas formas, entre 1924 e 1929. Todos esses manuscritos foram no entanto destruídos e mereciam sê-lo.» Não sei se era prática dela fazê-lo, mas fê-lo neste caso. Por quê e o que por fim aconteceu ? Nada sabemos. A liberdade de escrita é maior que os desígnios morais, mas há sempre uma moral que serve mais que outra, sempre disposta a colher das coisas tudo o que delas interesse.

De forma bastante subliminar se construía um ciclo imparável de descodificação à obra, entusiasmadas que estavam as Academias onde nenhuma mulher até então tivera assento, e dando relevo a um nome que a imaginação do leitor popular se deixou guiar como um analfabeto sequioso de comando. Esta experiência é bastante interessante e capciosamente fabricada para não mostrar as verdadeiras intenções. A extrema-direita sempre esteve por cá, ora na forma de se saber insinuar fabricando “estátuas”, ora aplicando a fórmula literária da múltipla leitura. O certo é que, “engolido” Adriano, a origem da besta se desvanecia, e o que representou filosoficamente (dado que era também um Imperador filósofo) superava em muito qualquer mal que se lhe pudesse atribuir. Uma das razões para a História se repetir é a cegueira daqueles que por ela passam, os seres precisam de estímulos dominantes e cada época é useira na sua propaganda.

Debaixo dos olhos de todos, em todas as épocas, dormita a mesma evidência, mas a maior alucinação colectiva é o não conseguir vê-la. Mesmo os que têm responsabilidades parecem por vezes hipnotizados dado o grau de convencimento das fontes.

Élio Adriano foi então o Esposo de Élia Capitolina, uma rábula pagã dos Cânticos de Salomão, que dormitavam no pó ardendo em prováveis golfadas de indignação ao testemunharem tais brutalidades, mas estas medidas são no entanto entendidas por muitos como conquistas, e é de assinalar que este tema é de tal ordem importante que se arrastou para os séculos posteriores e muito particularmente para a Europa dando uma dimensão que a influenciou até aos nossos dias, porém, e só aqueles que estão em guarda a usam de forma a manejar o “objecto mundo” que é uma rosácea de mariposas onde nada de verdadeiramente importante se deve saber sem o filtro de um dirigismo preparado, que usam então para seu gáudio.

Foi este homem reabilitado na mais fina tradição cultural europeia e por ele se lourearam as teses e hoje pedimos aos judeus europeus para não usarem a “kipá” de modo a não serem agredidos, e voltamo-nos com unhas e dentes contra Israel, chamando os nomes que Marco António (sim, esse, verdadeiramente filósofo) disse ao passar por aquelas terras a caminho do Egipto: «sinto-me repugnado com os judeus mal-cheirosos e desordeiros». Agora é a esquerda barulhenta que faz suas estas palavras. Sim, que a direita das Academias pegou na eloquente versão de Yourcenar para mais subtis comandos.

Não é no hélio, mas no éter, que quero agora deixar uma diáfana pergunta. Porquê, Yourcenar?

25 Jun 2019

Festival de Corridas | Nomes lusos selaram apuramento para o GP

[dropcap]O[/dropcap] Circuito Internacional de Guangdong, nos arredores da cidade continental chinesa de Zhaoqing, foi palco do segundo e decisivo Festival de Corridas de Macau, a manifestação de automobilismo anual organizada pela Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC) que apura este ano os pilotos locais para a “Taça de Carros de Turismo de Macau” e para a “Taça GT – Corrida da Grande Baía” da 66ª edição do Grande Prémio de Macau.

Pilotos de Macau, Hong Kong, Taiwan, Japão, Singapura, Coreia do Sul e China continental lutaram em pista por uma entrada directa no evento do mês de Novembro. Entre os pilotos do território, esta segunda jornada do Campeonato de Carros de Turismo de Macau (MTCC) serviu para confirmar o apuramento de vários nomes portugueses.

Com quase tudo praticamente definido quanto ao apuramento dos dezoito concorrentes, seis dos vinte e quatro inscritos não compareceram sequer à prova. Na primeira corrida do fim-de-semana, Cheong Chi On triunfou, cortando a linha de meta com meio segundo de avanço sobre o Chevrolet Cruze de Jerónimo Badaraco. Às portas do pódio e atrás de Chang Weng Tong, terminou Célio Alves Dias que assim garantiu o regresso a uma prova onde esteve ausente em 2018.

No segundo embate, Alex Fung levou o “super” Peugeot RCZ da Suncity Racing Team ao triunfo, seguido de Cheong Chi On e Cheang Kin San. Badaraco não conseguiu repetir o segundo lugar na segunda corrida, devido a um problema de embraiagem, mas passar à fase seguinte nunca esteve em questão.

Também já com o carimbo para o “GP”, obtido na primeira jornada dupla, Rui Valente teve uma jornada azarada, mas onde deixou boas indicações para o que está para vir. O “renovado” MINI do piloto português rodou mesmo nos lugares do pódio na segunda corrida, mas um fusível da bomba de gasolina, que se desligou automaticamente devido ao excesso de aquecimento da bomba, quis o contrário. Um problema desta natureza já tinha sido encontrado na corrida de sábado, o que irá obrigar a equipa a encontrar uma solução para o mesmo nos meses que antecedem a prova.

Venham mais cinco

Na classe “AAMC Challenge 1950cc ou Superior”, que hoje engloba as viaturas que davam corpo ao “Road Sport Challenge” e tinha trinta e oito candidatos para dezoito vagas, o japonês Mitsuhiro Kinoshita e Samson Fung, de Hong Kong, dividiram os triunfos nas duas corridas do programa. Contudo, o elemento de maior destaque é o maior número de sempre de nomes portugueses apurados para o Grande Prémio de Macau nesta categoria: cinco.

O sistema de pontuação e um calendário reduzido permite aos pilotos que obtiveram resultados dentro dos cinco primeiros encarar esta segunda jornada sem qualquer pressão. A Delfim Mendonça Choi, Sabino Osório Lei e de Hélder Assunção, que tinham garantido o apuramento em Maio, juntaram-se Luciano Castilho Lameiras que terminou a primeira corrida na quinta posição, optando depois por não alinhar na corrida de domingo.

Também apurado está Filipe Souza que nesta sua estreia na categoria apenas selou o passaporte com um quarto lugar na última oportunidade, embora o experiente piloto macaense possa abrir mão à vaga conquistada em Zhaoqing para regressar ao Circuito da Guia integrado na caravana do WTCR.

Entre os GT, onde Eurico de Jesus já tinha garantido o passaporte, Lei Kit Meng, Kenny Chung e Sam Lok partilharam os triunfos de uma categoria que foi novamente dividida em dois grupos.

25 Jun 2019

Xangai Tianma | Ávila promovido um lugar

[dropcap]D[/dropcap]epois de ter terminado no sexto lugar na corrida de domingo do Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC), disputada no circuito de Xangai Tianma, o piloto de Macau, Rodolfo Ávila, viu-se promovido ao quinto lugar após a desclassificação tardia de um adversário.

O piloto chinês da Dongfeng KIA, Zhang da Sheng, que tinha finalizado no terceiro lugar, recebeu uma penalização de 30 segundos por ter cometido uma irregularidade no período de “safety-car”. Este resultado tem pouco impacto nas contas do campeonato, com Ávila a ocupar o quinto posto.

Na primeira corrida do fim-de-semana realizada no circuito dos arredores de Xangai, no sábado, Ávila foi o sétimo classificado, após ter liderado até ser abalroado por um adversário. Em termos de construtores, a SAIC Volkswagen lidera sobre a Dongfeng Kia e a BAIC.

A próxima prova do CTCC está agendada para dentro de quinze dias no moderno Circuito de Zhejiang, um traçado desconhecido para o piloto português e que pela primeira vez faz parte do calendário do campeonato de automobilismo mais popular da República Popular da China.

25 Jun 2019

G20 | Xi Jinping vai exigir “respeito mútuo” nas negociações com Trump

Em vésperas do encontro de Xi Jinping com Donald Trump, durante a cimeira do G20, em Osaka, as autoridades chinesas vão lançando algumas farpas ao Presidente norte-americano exigindo compromissos dos dois lados para acabar com o conflito comercial

 
[dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, vai exigir respeito mútuo e pelas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) ao homólogo norte-americano, Donald Trump, quando debaterem a guerra comercial durante a cimeira do G20, disse ontem fonte governamental.

O vice-ministro chinês do Comércio, Wang Shouwen, confirmou, em conferência de imprensa, que as delegações de Pequim e Washington estão em contacto, visando preparar o encontro entre os dois líderes.

“Os princípios da China são o respeito mútuo, tratar-se uns aos outros como iguais e respeitar as regras da OMC”, afirmou.

“O compromisso deve ser dos dois lados”, defendeu ao falar sobre o encontro, que se realizará entre os dias 28 e 29 de Junho, em Osaka, no Japão. Wang lembrou que o “unilateralismo” e o “proteccionismo” abrandaram o crescimento económico global e criaram “incertezas”.

O vice-ministro citou dados da OMC que diz provarem que o comércio internacional está ao nível mais baixo, desde Março de 2010, e que o investimento estrangeiro global caiu para níveis equivalentes ao início da crise financeira internacional.

Wang assegurou que a China apoia o “consenso” para reformar a OMC e considerou que o G20 “deveria apoiar o livre comércio, não discriminatório e transparente”, bem como promover “a profunda integração entre comércio e economia digital”.

Um acordo que ponha fim às disputas comerciais com os Estados Unidos “tem que ser benéfico para ambas as partes, ambos têm que se comprometer e fazer concessões, não apenas um dos lados”, sublinhou.

O ministro assistente dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhang Jun, apontou que o G-20 ocorre numa altura em que a economia enfrenta “mais riscos e incertezas” e afirmou que a China assumirá um “papel construtivo” na reunião.

Zhang anunciou que Xi vai manter vários encontros bilaterais em Osaka e participar numa reunião com os presidentes dos países do bloco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), cuja próxima cimeira se realiza no Brasil, em Novembro. “A China vai levar uma mensagem forte na defesa do multilateralismo contra o unilateralismo”, disse Zhang.

Guerra aberta

Em Maio passado, as disputas comerciais entre Pequim e Washington agravaram-se quando, após 11 rondas de diálogo, as negociações foram subitamente interrompidas. Washington acusou então Pequim de retroceder em compromissos anteriormente alcançados, enquanto a China acusou a delegação norte-americana de não respeitar a soberania e a dignidade do país e de fazer exigência inaceitáveis.

Os Governos das duas maiores economias do mundo impuseram já taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de dólares de bens importados, numa guerra comercial que espoletou no Verão passado.

Washington impôs já taxas alfandegárias de 25 por cento sobre 250 mil milhões de dólares de bens importados da China e ameaça taxar mais 300 mil milhões.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, colocou a gigante chinesa das telecomunicações Huawei numa “lista negra”, que restringe as empresas dos EUA de fornecer ‘chips’, semicondutores, ‘software’ e outros componentes, sem a aprovação do Governo.

Pequim ameaçou suspender a exportação para os EUA de terras raras, os minerais essenciais para o fabrico de produtos electrónicos.

Criado em 1999, o G20 integra os ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo e da União Europeia. Os Presidentes da China e dos Estados Unidos, Xi Jinping e Donald Trump, respectivamente, falaram na semana passado por telefone, visando retomar as negociações.

25 Jun 2019

João Santa-Rita apresenta seminário hoje à tarde no Albergue

[dropcap]O[/dropcap] arquitecto português João Santa-Rita será o orador convidado de um seminário dedicado ao tema “Que Identidade? Qual o Lugar da Identidade da Cultura Arquitectónica no Contexto da Globalização? – Uma determinada Coisa, num determinado Tempo, pertence a um determinado Lugar”, que acontece hoje, 25 de Junho, pelas 19h00 no Albergue SCM.

No último sábado, o professor universitário, que foi presidente da Ordem dos Arquitectos entre 2014 e 2016, apresentou esta questão da identidade, numa sessão aberta ao público, onde procurou definir a relação entre o conceito e a arquitectura que criou, ao longo da sua carreira, em diversos locais do mundo.

O seminário de hoje à tarde, sendo uma formação mais específica para profissionais da área – arquitectos, engenheiros e outros interessados – trará uma abordagem mais aprofundada sobre a questão identitária nas obras de arquitectura e na criação artística ao longo dos tempos. “A sessão vai ser sobretudo para procurar reflectir sobre o tema que foi lançado. O que eu proponho é, através da História, perceber como é que a identidade foi sendo entendida em diversos momentos, por diversas personalidades do mundo das artes e da arquitectura, em várias geografias do mundo”, revelou João Santa-Rita ao HM.

Os grandes no mundo

O arquitecto irá ilustrar, através de pinturas, gravuras e obras edificadas, a evolução da arquitectura em termos históricos, “para depois me aproximar do que se passou no século XX e até à actualidade, passando pelos grandes arquitectos modernos e os que provocaram rupturas”, dando exemplos diversos em Portugal, no Brasil, nas regiões da Ásia e da Europa.

“Vamos tentar perceber como é que a identidade (ou aquilo que entendemos como tal), se pode ver espelhada num determinado projecto. E como é que, desse ponto de vista, os arquitectos vão utilizando técnicas que podem ser ancestrais e tradicionais, mas depois as transformam naquilo que é a sua obra”, exemplifica.

João Santa-Rita é licenciado pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Entre 1986 e 1988 colaborou no atelier do arquitecto Manuel Vicente, em Macau, antes de criar o seu atelier “Santa-Rita Arquitectos” com José Santa-Rita. Foi premiado em concursos nacionais e internacionais e tem trabalhos em Portugal, Espanha, Itália, Inglaterra, Holanda, Alemanha, Argentina, Chile e Japão.

O seminário terá a duração de três horas e integra o programa de certificação de créditos profissionais CDP.

25 Jun 2019

Temporada da Orquestra de Macau homenageia Beethoven em 2020

A próxima temporada de concertos da Orquestra de Macau vai homenagear os 250 anos do compositor Ludvig van Beethoven em 2020, trazendo ao território os melhores intérpretes mundiais de música clássica. O programa arranca a 31 de Agosto e os bilhetes estarão à venda a partir de 30 de Junho

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) apresentou ontem o programa da temporada de concertos de 2019-2020 da Orquestra de Macau (OA), que terá início a 31 de Agosto, dedicado ao 250º Aniversário do Nascimento de Ludwig van Beethoven, que se celebra em 2020. Solistas de classe mundial foram convidados a interpretar as obras clássicas completas do grande compositor alemão, incluindo as mais raramente escutadas, uma oportunidade única para “proporcionar ao público uma experiência abrangente das obras-primas do génio musical”, que perdeu a audição por volta dos 30 anos, conforme anunciou a organização.

A homenagem ao compositor começou logo na conferência de imprensa, realizada ontem à tarde no Hotel Mandarim Oriental, onde o quinteto de sopros de madeira da Orquestra de Macau interpretou um excerto da Sinfonia Nº5 em Dó Menor, também denominada Sinfonia do Destino, com arranjos em estilo Bossa Nova. Mas as obras de Beethoven só vão chegar aos palcos de Macau no próximo ano, onde se poderá ouvir as nove sinfonias completas, inclusive as Nº3 e Nº8, menos interpretadas e conhecidas.

O primeiro grande nome a pegar na obra do compositor será o austríaco Rainer Honeck, regente e violinista da Orquestra Filarmónica de Viena, que fará dois concertos no mês de Março, dias 21 e 27, um no Centro Cultural de Macau e outro na Igreja de São Domingos, gratuito, onde junta Beethoven e Mozart num espectáculo sobre os grandes mestres.

Pelo meio, ao maestro e director da Orquestra de Macau, Lu Gia, juntam-se também os maestros Roberto Gianola, Qian Junping, Francis Kan, Jason Lai, entre outros, que ao longo da temporada apresentarão sinfonias e sonatas de Bethoven, acompanhados por conceituados violinistas, violoncelistas e pianistas convidados.

A grande prova de fôlego será o encerramento da temporada, com a presença em Macau do pianista austríaco Rudolf Buchbinder, considerado dos melhores do mundo na actualidade, que apresentará os cinco concertos completos para piano de Ludwig van Beethoven, em dois dias consecutivos, a 24 e 25 de Julho de 2020, no grande auditório do Centro Cultural de Macau.

Outros compositores

O cartaz é variado e não se resume apenas à obra musical de Beethoven. O Concerto de Abertura da Temporada 2019-2020, já a 31 de Agosto de 2019, contará com a presença do internacionalmente aclamado Alban Gerhardt, violoncelista alemão oriundo de uma família musical que, sob a batuta do maestro Lu Jia, irá interpretar Dvorák, Shostakovitch e Tchaikovski, às 20h no CCM.

A 30 de Outubro de 2019, no âmbito do “XXXIII Festival Internacional de Música de Macau”, a OM junta-se à Orquestra e Coro NCPA da China para apresentarem em conjunto a “Cantata do Rio Amarelo”, um concerto com sabor histórico que pretende assinalar o 70º Aniversário da República Popular da China e o 20º Aniversário do retorno de Macau à Pátria.

O Ano novo será assinalado pelo concerto “Estrelas em Viena”, com o maestro austríaco Thomas Rosner e a soprano alemã Marysol Chalit, interpretando peças da família Johann Strauss I e II, além de árias de Otto Nikolai, Eduard Kunneke e Franz Lehar, a 31 de Dezembro de 2019, às 20h no CCM.

No Dia dos Namorados, 14 de Fevereiro de 2020, é a vez do concerto “Paixão Latina”, sob a orientação do maestro polaco Michael Nesterowicz, com a acordeonista lituana Ksenija Sidorova, que tocará suites de Bizet e um concerto para bandoneón de Astor Piazzolla, também às 20h no CCM.

Um dos principais destaques será o Concerto de Páscoa, onde a famosa “Stabat Mater” de Pergolesi, que poucas vezes foi tocada na Ásia, vai ser interpretada na Igreja de São Domingos, pela mão do maestro Lu Jia, com entrada gratuita ao público. O director da Orquestra de Macau será acompanhado pelas vozes da soprano Anna Karmasin e da meio-soprano Susan Zarrabi, ambas alemãs.

As novidades da próxima temporada de concertos foram apresentadas ontem pela presidente substituta do Instituto Cultural, Leong Wai Man, que se fez acompanhar pelos muitos parceiros e patrocinadores da edição, este ano orçamentada em 10 milhões de patacas, tal como indicou a responsável.

25 Jun 2019