Tânia dos Santos Sexanálise VozesEra uma vez [dropcap style=’circle’]E[/drocap]ra uma vez um Adão e uma Eva que perdidos no pecado que uma maçã pecaminosa traria, se perderam na fornicação eterna e criaram a humanidade com base em duas fontes de informação genética. Os filhos, fornicadores por igual, povoaram todo o planeta com ainda mais fornicadores e sodomizadores. E assim conseguimos chegar à população que temos hoje. Esta é a estória de dois desses indivíduos: homem e mulher. Imagino ela, uma boémia parisiense do início do século XX, mas na contemporaneidade dos tempos, que o Miller tão bem sabe descrever e que raramente se encontram fora de livros. Ele não é muito diferente, transpirando sexo de todas as maneiras e feitios, envolve-se no gozo e na abstracção que o foder lhe dá. Conheceram-se numa noite de copos, numa saída à discoteca, eram amigos do amigo do amigo. Ela nem queria sair de todo porque acordou cheia de jeitos indomáveis no cabelo, potencialmente ridículos. Ele normalmente estava sempre pronto para sair à noite, nem que fosse pelo entusiasmo de encontrar uma nova aventura sexual, na perspectiva de agitar a tão necessitada e desejada adrenalina. [quote_box_left]A escolha, o comportamento, nunca é devidamente justificado. São coisas que acontecem que se poderiam explicar pelo esoterismo, a razão ou o inevitável. Não interessa, o sexo iria acontecer[/quote_box_left] De uma química duvidosamente automática, corpos embriagados envolvem-se na esperança de encontrar algo de muito seu, mas de muito universal ao mesmo tempo. O desejo sexual, a libido, que tão vulgarmente se mostra nestes lugares escuros com a ocasional luz intermitente e ofuscante em combinação com um sangue embriagado, oferece um entorpecimento dos sentidos inevitável. A decisão é feita com o olhar, com o cheiro de um perfume barato, o dela, e um perfume caro, o dele. Todos os sentidos confusos de ter um novo corpo por perto, tão perto. Poderia ter começado com um toque de mãos mas nesta narrativa começou com um beijo, no canto da boca que facilmente se deslocou para um intermitente toque de língua. Ambos com um hálito terrível, de quem passou a noite a comer snacks com especiarias especialmente fortes, e muito álcool. Ela fuma, por isso com um sabor a cinzeiro à mistura. Uma troca de saliva poderosa, ensopando a boca de cada um, ensopando o sexo de cada um. O toque e o cheiro e todo o apalpanço que é feito também contribuem para este molhar. O toque das barrigas com camadas de roupa e as mãos na cintura que descem para o rabo se a pouca vergonha pública assim o permitir. Os heróis desta estória já estão encostados a uma parede para restabelecer o equilíbrio. A respiração ofegante de sinais de um tesão descontrolado. Ela já o sente. Ele a sentiria se não fossem as calças de ganga a ocultar a lubrificação e a sua forma assimétrica, com os lábios maiores de tamanho distinto. Por mais que o sangue estivesse a alimentar a tensão nas zonas erógenas do corpo e o desejo crescesse cada vez mais, estavam em público, no meio de estranhos. Diria a convenção que não se podiam despir nem de se sentirem totalmente, ali. Os movimentos de anca já faziam adivinhar o desfecho daquela noite, uma noite como outra qualquer. A escolha, o comportamento, nunca é devidamente justificado. São coisas que acontecem que se poderiam explicar pelo esoterismo, a razão ou o inevitável. Não interessa, o sexo iria acontecer. Chega o momento que têm que decidir: onde? Onde vão foder, fazer amor, a nomenclatura que preferirem. Poderia ser ali mesmo, na escuridão que um canto de discoteca proporciona, ou irem para casa de um dos dois. Mas como raio iriam quebrar toda a tensão desenvolvida até então, para apanharem um táxi, encontrarem um quarto e começarem o crescendo todo de novo? São as vicissitudes da vida. Com muito custo e de uma praticabilidade feroz saíram do transe e puseram-se a andar. Foram para casa dela. Chegaram e restabeleceram a química, agora a custo, porque as luzes fluorescentes desvendavam as caras cansadas de uma noite de copos e do avanço da madrugada. O melhor seria acender um candeeiro para ajudar a criar aquele ambiente íntimo, mais romântico. Mas ela não tinha nenhum. Começam a despir-se a restabelecer a ânsia anterior. A nudez, o cheiro e o desejo. Uma dança de corpos entrelaçados e de sexos molhados e preparados para a primeira penetração. Ela em êxtase puro e ele igualmente hipnotizado pelo desejo de entrar. O momento que se aproxima, cada vez mais próximos e… ejaculação, muito precoce.
Leonor Sá Machado SociedadeTurismo | Directora da DST desvaloriza quebra do número de visitantes [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]subdirectora dos Serviços de Turismo (DST), Cecilia Tse, afirmou ontem que o sector do turismo não está a sofrer com a queda no número de visitantes. Cecilia Tse rejeita a possibilidade da indústria estar em crise, assegurando que não vai ser necessário rever o orçamento do organismo. “Os nossos projectos de divulgação e promoção nesta segunda metade do ano estão dentro do orçamento apresentado para este ano, não precisamos aumentá-lo. Apenas fazemos uma gestão flexível do dinheiro e até atrasámos ou cancelámos actividades promocionais e reduzimos despesas que consideramos não serem urgentes”, disse a subdirectora, em declarações à Rádio Macau. “Por isso, não precisamos aumentar qualquer orçamento para reforçar a realização das actividades de divulgação”, explicou. A responsável adiantou que a cidade continua a ser um ponto preferido de visita para os turistas e, argumentou, “vários hotéis e projectos de grande dimensão, que vão ser concluídos progressivamente entre a segunda metade deste ano e 2016” determinam isso mesmo. “O período médio de permanência dos hóspedes nos estabelecimentos hoteleiros indica que Macau continua a ser atractiva enquanto cidade de turismo”, acrescentou Cecilia Tse. A número dois da DST aproveitou para referir a presença de Macau no top 10 dos destinos recomendados de uma revista da área. As declarações da responsável surgem depois de Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura se ter mostrado igualmente confiante nos números, prevendo mesmo que a percentagem de turistas vão aumentar durante a segunda metade de 2015. Capacidade para mais de 500 mil turistas por dia O Gabinete do porta-voz do Executivo assegurou ontem que a cidade tem capacidade para receber o actual número de visitantes que chegam diariamente. De acordo com comunicado, o Gabinete garante a eficiência dos serviços de passagem nas fronteiros, da gestão do tráfego automóvel e de questões de segurança. O mesmo documento aponta para uma média diária de 430 mil entradas de turistas na RAEM, com os valores de Janeiro a Agosto a apontarem para 540 mil indivíduos num só dia. Em jeito de tranquilizar a população, o Gabinete informa que pode fazer uso de informações do departamento de tráfego para ajustar roteiros de viagem, de forma a evitar a sobrelotação de certas zonas, o que por sua vez garante um dia-a-dia normalizado para os cidadãos.
Leonor Sá Machado EventosMúsica | Orquestra de Macau em digressão mundial até 24 deste mês [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Orquestra de Macau (OM) partiu na passada quinta-feira numa digressão mundial que dura até ao próximo dia 24, série que inclui a participação no festival mundial de música Brucknerfest Linz. A OM tem ainda concertos marcados na Áustria, Suíça, Hungria e outros países, “divulgando assim a cultura e artes de Macau perante o público europeu”, explica o IC em comunicado. O mesmo organismo afirma que a “OM tem assumido o papel de embaixadora cultural de Macau” desde a sua criação. Até 2014, realizou, de acordo com o IC, concertos em mais de 40 cidades da China, sendo o primeiro colectivo musical a percorrer todo o país. Já nesta digressão pela Europa, a Orquestra sobe a palcos internacionais, participa em múltiplos espectáculos significativos e leva ao exterior quatro programas diferentes especialmente criados para a ocasião”, avança a organização, constituída pelo IC e pelos Serviços de Turismo. Este fim-de-semana foi passado na Áustria, enquanto no próximo dia 17 ocupam um palco na cidade austríaca de Erl, passando para Zurique no dia seguinte. A 20 de Setembro marcam presença na Liszt Ferenc Zeneművészeti Egyetem, em Budapeste, e a 21 realizam o seu último concerto da digressão, de volta à Àustria. O colectivo será conduzido pelo maestro principal da OM, Lu Jia, mas conta também com a presença de Leong Hio Ming, vice-presidente do IC. O convite para a actuação da OM veio directamente da direcção do festival Brucknerfest Linz, que ficou com este nome devido ao seu criador, um compositor do século XIX natural desta cidade, Anton Bruckner. Presente estará também uma orquestra do continente, pelo que a OM surge na qualidade de agrupamento representante do país na série de actividade “Foco na China”. O grupo local apresenta-se em palco com o pianista Zhang Haochen e Wu Wei, “dando a conhecer os êxitos a nível musical da China contemporânea”. A OM convidou ainda Sophia Feinga Su para actuar na digressão. Sophia é uma violinista local com apenas 15 anos de idade.
Joana Freitas Manchete PolíticaComunidade | Cônsul não cria Conselho previsto na lei, mas opta por outro formato Está na lei portuguesa a criação de um Conselho Consultivo dentro do Consulado de Portugal, mas Vítor Sereno optou por não o criar. Isto porque, diz, a possibilidade de falar com mais pessoas representativas da comunidade, mais vezes e com mais proximidade aos portugueses é mais eficaz e menos burocrática do que o que vem na lei [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Cônsul português, Vítor Sereno, optou por não levar adiante a criação de um Conselho Consultivo no interior do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, por considerar desnecessária a criação de mais um órgão e de mais burocracia. A criação deste grupo está prevista na lei portuguesa, que rege as representações lusas fora do país, mas Sereno assumiu um outro formato para o grupo. Formato que diz ser mais eficaz. [quote_box_left]“Não há necessidade de institucionalizar mais um órgão que, a meu ver, só viria trazer confusão e burocratizar o meu relacionamento com a comunidade”[/quote_box_left] Segundo o artigo 16 do Regulamento Consular – de 2009 – 180 dias após o início das funções do Cônsul, há que criar o chamado Conselho Consultivo da área consular, a quem compete produzir informações e pareceres sobre as matérias que afectem os portugueses no local e ainda elaborar e propor recomendações face às políticas dirigidas às comunidades portuguesas. Este Conselho seria presidido pelo Cônsul, sendo que dele fariam parte o assessor consular e até 12 elementos “representativos da comunidade portuguesa”, nomeados pelo próprio responsável consular. Ora, a ideia não agrada a Vítor Sereno, que explica ao HM a razão. “Não sendo tradição, mas principalmente por entender que 12 membros escolhidos de forma individual e exclusiva pelo Cônsul a reunirem apenas três vezes por ano é muito limitativo da representatividade da comunidade portuguesa nas duas regiões administrativas especiais, entendi que o espírito que presidiu à sua criação poderia ser cumprido de um modo mais eficaz, mais participativo e, sobretudo, mais regular”, começa por indicar Sereno. Assim, Sereno considerou desnecessário complicar o sistema, tendo inclusive comunicado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros que não ia criar o Conselho. A alternativa é outra. “Como é do conhecimento público, tenho-me reunido de forma mensal ou bimensal, em diálogo permanente, com um conjunto significativo de representantes de associações portuguesas e de matriz portuguesa”, explica, acrescentando que, desta forma, consegue reunir com mais de 25 pessoas em vez das apenas 12 ditadas na lei. “[Assim] não há necessidade de institucionalizar mais um órgão que, a meu ver, só viria trazer confusão e burocratizar o meu relacionamento com a comunidade.” Vítor Sereno faz ainda questão de salientar que, além destas reuniões levadas a cabo por si próprio, há ainda o grupo de conselheiros das comunidades portuguesas, cujos objectivos, diz, são “em grande parte” coincidentes com o descrito para o Conselho Consultivo. “[Eles] assistem também às referidas reuniões por mim promovidas e foram eleitos com uma larga margem eleitoral, ao contrário de outras zonas do mundo”, frisa. Em contacto O responsável pela representação consular de Portugal em Macau diz ainda acreditar que esta é uma forma fácil de resolver problemas directamente com a comunidade e promover resoluções. Até porque, frisa, os contactos com representantes da comunidade portuguesa são normais. “Não deixei, sempre que a situação o aconselhou, de promover contactos e auscultar a sensibilidade de diversas personalidades da comunidade portuguesas dos mais variados sectores de actividades”, diz, acrescentando estar confiante que “estas acções têm permitido uma estreita articulação da acção do cônsul para com a comunidade, como se pretende no Regulamento [Consular]”. Sereno aponta ainda que têm decorrido desta forma de fazer as coisas diversas iniciativas dirigidas aos portugueses que cá vivem. Ao que o HM apurou, nunca terá sido criado o Conselho Consultivo no Consulado em Macau desde que foi adoptada a lei, em 2009.
Leonor Sá Machado PolíticaErro Médico | Diploma concluído “em breve”, diz Governo A proposta de alteração à Lei do Erro Médico está quase concluída e será entregue à AL brevemente. A confirmação parte de Lei Chin Ion, director dos SS. Vai ser o reclamante o responsável por comprovar a existência de erro médico [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]alteração à proposta de Lei do Erro Médico está quase concluída e a entrega à Assembleia Legislativa está para breve, confirma o director dos Serviços de Saúde (SS), Lei Chin Ion. A lei, recorde-se, foi aprovada em 2013 e os deputados ainda não receberam a proposta revista pelo Governo, depois de esta ter estado a ser discutida na especialidade. “A alteração da proposta da lei entrou já na fase final e está quase concluída, prevendo-se que seja entregue com a maior breve à Assembleia Legislativa para discussão”, garante um comunicado dos SS. O anúncio foi feito no passado sábado, durante uma conferência de imprensa. O coordenador do Gabinete Jurídico dos Serviços de Saúde, Rui Amaral, aponta a obrigatoriedade das provas de erro médico serem apresentadas pelo reclamante com um dos pontos fulcrais do diploma. “Em primeiro, é o ‘ónus da prova’, cabe ao reclamante apresentar as provas e, durante a investigação, a Comissão de Perícia Médica irá colaborar com o reclamante”, destacam os SS em comunicado. É de sublinhar que estes pontos convergem com aquilo que o Governo considera serem os mais importantes ao “nível técnico”. Mais um grupo A tão discutida criação de uma Comissão de Perícia Médica segue mesmo para a frente e esta vai contar com a presença de especialistas do exterior convidados pelo Executivo, “no sentido de assegurar o nível de perícia médicos em casos de erro médico”. Nova é a introdução de um Conselho para a Resolução de Litígios, grupo responsável por coordenar a comunicação entre as duas partes, quando estas optarem pela resolução directa do caso. O quarto ponto referido é o estabelecimento de um Seguro da Responsabilidade Civil para Profissional de Saúde. Tal, justifica, deve ser de compra obrigatória por parte de “todos os profissionais de saúde” no sentido de se protegerem de eventuais acusações. Fica ainda decidido que as especialidades de Obstetrícia, Ginecologia e Cirurgia Geral têm um risco mais alto por serem mais complexas que as restantes. A proposta de Lei do Erro Médico foi aprovada pela na generalidade na AL em Outubro de 2013, mas só agora os SS anunciam a sua conclusão. Erro de diagnóstico que sai caro A Lei do Erro Médico tem suscitado uma série de opiniões e discórdia, com representantes de várias associações médicas a questionarem a legitimidade da responsabilização dos profissionais de saúde em casos de denúncia de erro médico por parte dos doentes. Só este ano, 11 associações juntaram-se para mostrar o seu desagrado perante o conteúdo da proposta de lei. Um dos casos mais debatidos remonta a Junho passado, quando dois médicos do Hospital Kiang Wu foram condenados pelo crime de ofensa à integridade física. De acordo com as associações, a condenação oficial destes profissionais vai fazer com que os restantes médicos implementem medidas de auto-proteccionismo. Ainda na semana passada o deputado Cheang Chi Keong se queixava da demora na entrega desta proposta à AL, durante o balanço dos trabalhos da passada sessão. “Entendemos os atrasos na proposta devido às mudanças dos titulares dos principais cargos, mas é raro uma Comissão não ter ainda recebido uma nova proposta depois de se ter concluído as discussões na especialidade”, frisou Cheang Chi Keong. “Os assessores jurídicos da AL já apresentaram as cláusulas que os deputados sugeriram ao Governo em Março, mas é lamentável que até ao momento não haja novidades” afirmou.
Filipa Araújo Manchete ReportagemRestaurantes da McDonald’s são dormitórios para muitos sem-abrigo Confundidos com jogadores, turistas ou vítimas de uma noite de copos, muitos são os sem-abrigo que escapam aos olhos de quem não quer ver. O IAS admite não saber dos casos de mais de uma dezena de pessoas que dormem, todos os dias, na rede de restaurantes McDonald’s [dropcap style=’circle’]“[/dropcap]Eu tenho autorização para estar aqui”. Esta foi a primeira frase que Chan disse ao HM assim que interrompemos o seu sono. Depois de tranquilizada a questão, Chan contou-nos que “há mais de seis meses” que dorme no McDonald’s da Rua do Campo. Aproveitando o facto do mais famoso restaurante de fast food estar aberto durante 24 horas, Chan, de 58 anos, vai para ali dormir. “Eu pedi ao gerente para estar aqui”, reforçou uma vez mais. Chan não tem trabalho e ainda não tem idade para receber a reforma. Quando questionado sobre se tinha casa, Chan não negou. “Tenho, na zona norte. Mas não consigo dormir lá”, explicou. Entre momentos de silêncio e fechar de olhos, Chan lançava breves descrições do espaço a que chama de casa. Sem janelas, sem canalização e sem um sistema de ventilação para os dias quentes desta Macau, aquele residente prefere trocar o silêncio de uma zona que muitas vezes parece morta, pelo cheiro de hambúrgueres e batatas fritas. “Às vezes como batatas, são boas”, diz-nos ensonado. Quando questionado se já tentara pedir ajuda ao Instituto de Acção Social (IAS), Chan conta que recebe “pouco mais de duas mil patacas” por mês. “Não quero que eles saibam onde eu moro”, contou ao HM, indicando que a habitação de legal pouco tem, correspondendo a uma das mais problemáticas situações que o Governo tem para resolver no território. O dia é passado entre as ruas e os parques desta cidade que nunca dorme. “Não faço nada de especial”, diz, desvalorizando. Sem querer mais interromper um sono que nos parecia profundo, passámos para a mesa do lado onde dormia um jovem de 20 anos. Ao acordá-lo, o olhar desconfiado tornou-se evidente. “Não quero falar”, disse-nos com um gesto de desagrado. Decisão que pouco durou. Em pouco minutos, Chi Kuan percebeu que não pertencíamos ao Governo, nem à polícia. “Sim, estou a dormir aqui há duas semanas”, avançou. Uma “grande discussão” com a sua família fez com que o jovem desempregado saísse de casa. “Não quero voltar e como não tenho para onde ir, venho dormir para aqui”, contou. Questionado sobre a possibilidade de receber ajuda do IAS, Chi Kuan admitiu não saber que o Governo poderia ser a solução. Ainda desconfiado, o jovem garantiu que iria procurar ajuda, mas até lá, o McDonald’s é a “residência” improvisada. “Dorme aqui sempre muita gente”, tentou justificar. [quote_box_right]“Não os vamos mandar embora e, se eles gostam de dormir aqui, pelo menos não estão lá fora, à chuva ou ao calor” – Lawrence (nome fictício), funcionário de um dos restaurantes da McDonald’s[/quote_box_right] Um roteiro negro Percorrendo o roteiro de quatro restaurantes da cadeia americana, excluindo a Taipa e o Cotai, que estão abertos 24 horas, o segundo ponto de paragem foi a Avenida 24 de Junho, junto ao casino MGM. No restaurante com dois andares, seguimos para o segundo por ser mais recatado. À nossa direita encontrava-se um casal a degustar a refeição e poucas mesas à frente dois homens a dormir, um sobre a mesa e outro esticado no banco. As tentativas para partilharem a sua história não tiveram o fim pretendido e a observar-nos estava Lorna, a funcionária que preparava o andar para o encerramento. “Depois da meia-noite fechamos este andar e só fica a funcionar o de baixo”, explica-nos. Lorna é natural das Filipinas e trabalha naquele estabelecimento há quatro anos. “Aqueles”, indicou apontando para os dois homens com quem acabáramos de falar, “não costumam andar por cá. Nunca os tinha visto”, continua. Confrontada com a existência de sem-abrigo, a jovem funcionária não hesita em detalhar. “Sim, eu já os distingo muito bem, percebe-se logo quando são turistas, jogadores ou sem-abrigo, até pelo cheiro”, conta. Mas há outro factor – talvez o mais importante – que faz separar o turista que apenas ali está umas horas para descansar, do sem abrigo: a frequência. “Há pelo menos quatro pessoas que dormem cá todos os dias. Alguns chegaram há dois meses e outros estão há mais. E também temos outros que passam aqui dois ou três meses depois desaparecem durante algumas semanas ou até um mês inteiro e voltam”, relata. O aspecto descuidado, com roupas sujas e repetidas, faz com que a equipa perceba que aquelas pessoas entraram no seu local de trabalho com um objectivo apenas: descansar durante algumas horas. Os motivos são desconhecidos, até porque os empregados não fazem perguntas. “Não falamos com eles, fingimos que não sabemos o que vêm fazer. Mas deixamos que subam para o segundo andar. Mesmo estando fechado aos clientes e com as luzes desligadas, aqui [no segundo piso] podem dormir e nós continuamos a trabalhar lá em baixo”, explica. “É completamente ilegal”, frisou o gerente do restaurante, sem querer adiantar mais informações. “Ele não quer problemas e por isso não gosta de falar, ele diz sempre que não podemos deixar que os sem-abrigo ou até turistas durmam nas mesas, mas o que é que vamos fazer? Sabemos que eles não têm outro sítio para ir”, acrescenta Lorna. Questionada sobre a apresentação dos casos aos IAS a resposta foi clara: “não, nunca fizemos isso”. Histórias antigas Na outra ponta da cidade, no Fai Chi Kei, numa mesa ao canto direito junto à grande janela que acompanha todo o restaurante, um idoso, “com mais de 60 anos”, dormia entre as folhas de um jornal e cadernos rabiscados. “Hoje não quero falar, morreu uma pessoa de quem eu gostava muito, hoje estou triste, não quero falar”, disse-nos enquanto desembrulhava um lenço de papel. Foi Man, um funcionário do turno da noite, que partilhou a história do “idoso de cabelo branco”. “Trabalho aqui há dois anos e todas as noites ele dorme aqui. Chega por volta das 22 horas e vai embora de manhã, escreve muita coisa e depois dorme. Também come, às vezes”, relata. Pormenores não sabe muitos, até porque “o senhor não fala muito”. Mas sabe que mora na zona. “Ele tinha uma casa, não sei se tem agora. Toma banho e troca sempre de roupa, mas é aqui que dorme, sempre”, acrescenta. O “senhor de cabelo branco”, conforme é tratado pelos funcionários, não é o único que ali dorme. “Agora, desde há dois meses, vem todas as noite uma mulher. É idosa. Tem mais de 65 anos. Vem tarde e dorme até muito tarde. Uma vez a nossa gerente pediu para ela ir embora, já era meio-dia”, conta. Ainda poucas informações existem sobre a senhora, mas Man conta que não tem casa e “encontrou aquele restaurante para dormir”. A viagem faz-nos seguir para a última paragem: o McDonald’s da Areia Preta. Ao contrário do que se esperava, ali passam a noite três pessoas fixas. “Às vezes vêm mais, mas é muito raro. Temos três que todos os dias – e eu já cá trabalho há dois anos – estão aqui. Já tentámos falar com eles, mas os três têm doenças mentais e vivem no mundo deles. Dois dormem, a mulher não, nunca dorme e fala sozinha a noite toda”, explica-nos o funcionário responsável pelo turno da noite, Lawrence (nome fictício). Para o funcionário “não há forma de resolver a questão” e a equipa também não se importa. “Não os vamos mandar embora e, se eles gostam de dormir aqui, pelo menos não estão lá fora, à chuva ou ao calor”, remata. Questionado sobre as possibilidades de acolhimento que o IAS oferece, o jovem responde: “estes não são sem-abrigo normais, eles têm deficiências, estão num centro durante o dia, ou andam por aí a vaguear. A senhora troca sempre de roupa e sabemos que ela tem acompanhamento. Mas os dois idosos, e um deles tem mais de 80, nem sempre trocam de roupa. O máximo que podemos fazer é deixá-los estar aqui e mesmo assim já estamos a ir contra as regras”, remata. [quote_box_left]“Há pelo menos quatro pessoas que dormem cá todos os dias. Alguns chegaram há dois meses e outros estão há mais. E também temos outros que passam aqui dois ou três meses depois desaparecem durante algumas semanas ou até um mês inteiro e voltam” – Lorna, funcionária de um dos restaurantes da McDonald’s[/quote_box_left] Sem saber, nada a fazer Confrontado com a existência de pessoas a dormir em restaurantes, neste caso no McDonalds, o IAS explica que sempre que tem conhecimento dos casos “dá seguimento de imediato”, através do encaminhamento dos mesmos pelas autoridades policiais e outros serviços públicos. Os casos são muitas vezes, indica, alertados pelos próprios cidadãos ou pelo “serviço extensivo ao exterior realizado pelos Centros de Acção Social do IAS e pelas organizações não-governamentais”. Ainda assim, sobre os casos de sem-abrigo nos espaços de fast food, o IAS não confirma se sabe deles. Números oficiais indicam que neste momento existem nove casos, em todo o território, de pessoas sem-abrigo que estão a ser acompanhadas pelas entidades competentes. É da competência da Casa Corcel a prestação de acolhimento temporário aos sem-abrigo, entidade que é gerida pela Cáritas de Macau que, por sua vez, recebe um subsídio regular atribuído pelo IAS. “[A Casa Corcel] proporciona não só o serviço de acolhimento temporário às pessoas de situações de sem-abrigo, mas também o serviço de aconselhamento extensivo àquelas que dormem na rua” e que, por livre vontade, não querem sair. Em Fevereiro do presente ano, numa reportagem do HM, Olívia Ip, uma das três assistentes sociais da Casa Corcel, indicou que os problemas económicos, o aumento do custo de vida e, por sua vez, das rendas da habitação estavam a aumentar o número de sem-abrigo. “Há cada vez mais pedidos de alojamento temporário de pessoas que estão com muitas dificuldades em pagar as suas rendas”, disse ao HM. Na altura a Casa Corcel prestava apoio a 43 sem-abrigo, número que até Junho aumentou para 49. “De acordo com os dados estatísticos recolhidos até Junho de 2015, estão registados 46 utentes que usufruem dos serviços de alojamento na Casa Corcel e três utentes que usufruem do serviço de alimentação por preferirem não estar no referido centro de acolhimento”, indicou. Para além do serviço de acolhimento temporário, o IAS proporciona ainda alimentação, serviços de duches e de lavagem de roupas aos seus utentes.
Joana Freitas BrevesCartéis colombianos podem estar a usar casinos de Macau [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]artéis de droga colombianos podem estar a usar os casinos de Macau para fazer lavagens de dinheiro. É o que indicam documentos de um tribunal norte-americano, que diz que os grupos “utilizaram casinos chineses” para tal. Visto ser Macau o único local da China onde existem casinos e jogo legais, o território será o local “provável”, como indica a TDM. Três colombianos e uma mulher de Hong Kong foram acusados de “operarem em casinos chinesas”, via Cantão, sendo que cinco mil milhões de dólares de negócios de droga terão sido encobertos. Apenas um dos quatro acusados compareceu em tribunal. A mulher de Hong Kong enfrenta 20 anos de prisão, depois de se ter declarado culpada. As autoridades de Macau não quiseram comentar o caso à TDM. O HM tentou pedir esclarecimentos ontem, mas devido a ser domingo não foi possível.
Flora Fong BrevesJogo | Croupiers mudam de funções sem aviso prévio O chefe da Casa dos Trabalhadores da Indústria de Jogo de Macau, Pak Kin Pong, afirmou que existem croupiers que mudaram de trabalho sem que lhes tenham sido alteradas a remuneração ou as regalias. De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, o chefe revelou que existem membros da Casa que se queixaram de ter visto a sua posição e funções dentro da empresa alteradas, sem aviso prévio. Alguns deles foram mandados para a parte de hotel quando trabalhavam no casino e vice-versa. No entanto, Pak destacou que as operadoras não deram formação laboral aos funcionários. Embora se tenha mostrado crítico quanto a esta mudança de funções destes trabalhadores, o representante não vê este acto com preocupação, já que, disse, os croupiers continuarão a ser precisos, com a abertura de uma série de novos casinos no Cotai.
Filipa Araújo BrevesSegurança Social | Contribuições continuam a gerar discórdia A entidade patronal e a empregadora continuam a não chegar a acordo sobre o valor que caberá a cada parte relativamente ao aumento do montante das contribuições para o regime de segurança social. Uma vez mais, e depois de longas horas de discussão, continua sem existir concordância sobre o montante que empregados e empregadores devem dar para que o regime funcione sem a necessidade de injecção de capital pelo Governo. “Ambas as partes chegaram a um consenso em relação ao aumento para 90 patacas. Mas quanto à proporção da contribuição, não houve consenso”, disse à Rádio Macau Lionel Leong, à margem do encontro com o Conselho Permanente Concertação Social, que pouco útil se mostrou. Indicando ainda que neste momento vive-se uma “situação de ajustamento económico”, o Secretário colocou ainda no ar a questão sobre se “será adequado aumentar o montante das contribuições”. Lionel Leong disse que o Governo tem de “estudar” de forma cautelosa. “Vamos recolher opiniões”, explicou o Secretário.
Leonor Sá Machado BrevesUM | Número de alunos estrangeiros aumenta face a 2014 O número de estudantes internacionais a ingressar neste ano lectivo na Universidade de Macau é de 300, verificando-se um aumento face ao ano passado. De entre os 1700 novos alunos aceites – entre um universo de nove mil – 300 deles são provenientes da Austrália, da Malásia, da Coreia do Sul, Mongólia, Timor-Leste, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Taiwan e Hong Kong. “A UM espera que esta diversidade internacional do corpo estudantil venha criar uma atmosfera multicultural vibrante no campus”, refere a universidade em comunicado. Cerca de 12 destes novos estudantes entraram através do programa da Bolsa Grand Lotus, que determina a isenção de realização de testes e a possibilidade de ter tutores nas suas faculdades de entrada. Outros 45 entraram através das bolsas Golden Lotus e Silver Lotus. A UM recebeu cerca de nove mil pedidos de inscrição, mas apenas 1700 tiveram oportunidade de completar uma licenciatura nesta instituição de ensino. Outros sete alunos tiveram a sua entrada aprovada através da bolsa de atletas, que “pretende encorajar estes alunos a continuar os seus estudos, motivando-os a ultrapassar os seus próprios recordes, tanto atlética como academicamente”.
Joana Freitas Manchete SociedadeWynn | Desvio de dinheiro de sala VIP apresentado às autoridades Uma sala VIP da Wynn controlada pela Dore viu serem desviados cerca de dois mil milhões de dólares de Hong Kong por uma contabilista da empresa. Os lesados já se manifestaram em frente à operadora, Lionel Leong já pediu uma investigação à DICJ e a Dore apresentou queixa à polícia [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]ionel Leong afirmou já ter pedido à Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos uma investigação sobre o caso do promotor de jogo que desviou milhões de dólares do casino da Wynn. Também a empresa promotora, a Dore Entertainment, já veio a público dizer que apresentou queixa à polícia sobre a funcionária que terá desviado o dinheiro. O caso veio à luz do dia na semana passada, quando mais de 30 pessoas se queixaram junta da Wynn por não conseguirem aceder ao seu dinheiro “depositado” numa sala VIP controlada pela Dore dentro do casino. Estas pessoas afirmaram haver pelo menos 60 vítimas com depósitos que ascendem pelo menos a 700 milhões de dólares de Hong Kong. Contudo, um relatório da Daiwa Capital Markets, que trabalha para a Dore, foi tornado público na semana passada, anunciando que a empresa promotora de jogo poderá ter perdido até dois mil milhões de dólares de Hong Kong. O montante certo, diz ainda a empresa, é difícil de contabilizar. Fraude severa Entretanto, numa declaração emitida pela Dore, a empresa – sociedade unipessoal – confirmou que a contabilista chefe da empresa, de nome Chao Ioc Mei, “terá utilizado a sua função e autoridade para prejudicar gravemente o interesse e dignidade da empresa”, tendo ainda “iniciado algumas actividades sem autorização e fora da suspeita da empresa”. Como se pode ler na declaração, a que o HM teve acesso – e datado de 11 de Setembro – o caso é tido pela empresa como “severo” e que envolve “fraude” pelo que foi feita queixa na polícia. Segundo o Jornal Ou Mun, uma vítima de apelido Tong que trabalha também como junket, afirmou que as vítimas têm prova dos depósitos e que tinha confiança na empresa. No entanto, depois de acontecer o incidente, as vítimas pediram explicação e o levantamento de dinheiro à sala VIP, que respondeu apenas “estar em reunião com a administração” e não poder resolver o problema. Outra vítima com apelido Chan afirmou que tem um depósito de 30 milhões de dólares de Hong Kong na mesma sala VIP e nunca se preocupou por a empresa “ser experiente em Macau”. A Dore Entertainment entrou no mercado de Macau em 2006 e, de acordo com o seu registo na Bolsa de Valores de Hong Kong, foi a primeira a ser escolhida como promotora das salas VIP pela Wynn Macau. O HM tentou entrar em contacto com a Wynn, mas não foi possível até ao fecho desta edição. Também não foi possível obter reacção da DICJ, por ser domingo. No sábado, os lesados apresentaram as suas queixas por carta à Wynn, numa espécie de manifestação em frente à operadora. Lionel Leong não afasta rever legislação Depois de questionado sobre o caso do junket do casino Wynn que desviou dinheiro do casino, o Secretário para a Economia e Finanças disse apenas não fechar a porta a possíveis revisões à legislação ligada ao Jogo. Sem dar garantias, Lionel Leong disse que esta é uma situação que pode vir a acontecer, se necessário, mas não teceu comentários específicos sobre o caso. “Temos uma lei para controlar os promotores de Jogo. Quanto à questão de saber como podem ser aperfeiçoadas as leis, especialmente para garantir o desenvolvimento saudável da indústria do Jogo, temos de acompanhar [a situação] e, caso necessário, introduzir alterações na legislação”, afirmou.
Joana Freitas BrevesTV Cabo | Pagamento de indemnização não veio de “reserva financeira” [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, garantiu que o pagamento da indemnização à TV Cabo foi retirado da rubrica dedicada às “despesas comuns” do orçamento da RAEM, não tendo sido necessário ir ao cofre buscar o dinheiro. Instado a comentar o pagamento feito pelo Executivo à TV Cabo, à margem de uma cerimónia pública, o Secretário assegurou que “o montante foi suportado pela rubrica de despesas comuns do orçamento sem haver necessidade de recorrer às reservas financeiras”. O Governo viu-se obrigado a pagar 200 milhões de patacas à TV Cabo pelos prejuízos que causou ao aceitar a retransmissão ilegal de canais pelos chamados anteneiros, já que a empresa tinha um contrato de exclusividade. A decisão do Tribunal de Segunda Instância (TSI) era irrecorrível, como avançou há meses o Ponto Final.
Leonor Sá Machado SociedadeHotel Estoril | Retirada do painel de azulejos satisfaz a população A maioria das pessoas que opinou acerca do destino do Hotel Estoril está a favor do reaproveitamento do local em prol dos jovens e da cultura, mas quis mesmo banir os azulejos da fachada, como anunciou Alexis Tam na semana passada. E tudo devido ao Feng Shui [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s resultados da consulta pública sobre o destino do edifício do antigo Hotel Estoril mostram que o Governo ouviu a maioria das pessoas quando decidiu, na semana passada, retirar o painel de azulejos do edifício. A maioria disse querer que o local seja reaproveitado enquanto centro recreativo para os jovens, mas representantes da área da Educação e vários jovens mostraram desagrado na manutenção do painel de azulejos da fachada. E tudo devido ao Feng Shui, filosofia de origem chinesa vastamente que determina sorte ou azar de acordo com o posicionamento de objectos, entre outras premissas. “Tanto o sector educativo como um número considerável de jovens manifestaram a sua discordância em relação à manutenção do painel após as obras de requalificação”, refere o Gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, em comunicado. Parte das opiniões expressaram igualmente vontade de retirar o painel de azulejos, recolocando-o num museu para apreciação dos turistas, sem que perturbasse o novo design e propósito do Hotel Estoril, “algo que o Governo também considera viável” e que já disse que iria fazer. Em declarações à imprensa, o responsável mostrou-se agradado com as opiniões expressas durante a consulta pública, uma vez que são conducentes com as do Governo. O edifício está abandonado há vários anos e a intenção é ali construir um centro de actividades culturais, recreativas e desportivas para os mais novos, lá integrando o Conservatório de Macau, “a fim de proporcionar um espaço favorável à educação nas artes para os jovens locais, assim como para o seu desenvolvimento físico e mental”. Há espaço para todos O Conservatório não vai apenas servir para os alunos inscritos nas aulas desta escola, mas também para actividades musicais dos residentes ou associações. Serão ainda, “de acordo com as estimativas preliminares técnicas” do Secretário, criados mais mil lugares de estacionamento num auto-silo de três andares, de forma a facilitar o tráfego automóvel naquela zona. “É de acreditar que de entre outros planos de requalificação, este será o mais adequado e vantajoso em termos de benefícios sociais e maior bem-estar para a população”, destaca o Gabinete. A piscina, no entanto, será reconstruída, uma vez que a sua arquitectura está, na opinião do Governo, “ultrapassada”, e as suas instalações “muito envelhecidas e danificadas”, razão pela qual se vai optar pela transformação do local numa piscina que esteja aberta 365 dias por ano. A ideia não é nova, mas só agora o plano se torna mais concreto. “Nem a distribuição de espaços nem as suas instalações conseguem satisfazer as exigências modernas e assim, entende-se necessário a transformação do local numa piscina que esteja aberta durante todo o ano, permitindo aos cidadãos usufruir de uma instalação desportiva com condições de qualidade”, aponta o comunicado, notando que a piscina tem já 63 anos de existência. Nas mesmas declarações, o Secretário afastou a possibilidade de ali ser construído um museu de Jogo de fortuna ou azar, como algumas opiniões sugeriram. Isto porque, de acordo com Alexis Tam, o local foi abandonado enquanto albergava um casino, salas de sauna, dança, karaoke e hotel. O mesmo comunicado ressalta a opinião, que diz ser de “um reputado arquitecto local”, do edifício ter já perdido a “sua alma e carácter” por estar muito danificado. Alexis Tam confirmou que foram já realizadas 20 reuniões com vários sectores sociais, incluindo sessões de auscultação pública. As opiniões restantes serão analisadas depois do próximo dia 20. Pedida classificação como património Uma actividade de recolha de assinaturas a favor da classificação do antigo Hotel Estoril como património cultural foi convocada por uma associação local de planeamento urbanístico. O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, defende que “respeita a ideia”. A associação chama-se Root Planning e lançou a actividade numa página do Facebook até ao dia 17 deste mês, sendo que a petição da classificação do antigo Hotel Estoril como património cultural será depois entregue ao Instituto Cultural (IC). “De acordo com a Lei da Salvaguarda do Património Cultural, cada residente de Macau pode apresentar a sua sugestão de classificação de património. A Root Planning já elaborou um documento de justificação do pedido, esperamos que os interessados concordem e assinam a petição [para depois fazermos algo]”, disse ao Jornal Ou Mun Alexis Tam. O Secretário mostrou-se satisfeito com a atitude da associação e diz que já pediu ao IC atenção ao caso.
Joana Freitas EventosViolinista Gidon Kremer traz “Piazzolla” a Macau [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hamam-se “Máscaras e Rostos” e “Novas Estações” e são os dois concertos que Gidon Kremer apresenta em Macau, juntamente com a Kremerata Baltica. Conhecido como um dos mestres do violino, Kremer foi convidado pelo Instituto Cultural (IC) para estar presente no XXIX Festival Internacional de Música de Macau (FIMM). Nos dias 12 e 13 de Outubro, pelas 20h00 horas, no Centro Cultural de Macau, o vencedor dos Concursos internacionais Queen Elisabeth, Paganini e Tchaikovsky actua em dois espectáculos únicos. “Gidon Kremer ficou conhecido como o ‘Violinista do Diabo’, em 2001, sendo considerado que ninguém consegue explorar os sentimentos mais profundos da música de Piazzolla como ele, que obteve ainda um prémio UNESCO do Conselho Internacional de Música”, refere a organização. O programa do concerto “Máscaras e Rostos” inclui Frates, a obra mundialmente célebre de Arvo Pärt, o Concertino para Violino e Cordas de Mieczyslaw Weinberg e excertos de A Arte da Instrumentação. Contudo, a sua atracção principal é um projecto de vídeo conjunto intitulado “Rússia: Máscaras e Rostos”. No XXIX FIMM, Gidon Kremer faz-se acompanhar pela Kremerata Baltica, uma orquestra que já percorreu meia centena de países. Este conjunto conta com colaborações com alguns dos mais ilustres solistas e maestros, incluindo Sir Simon Rattle, Vladimir Ashkenazy, Vadim Repin e Yo-Yo Ma, entre outros, “tornando-se numa das melhores orquestras de câmara a nível internacional”, como indica a organização. Os bilhetes estão à venda por preços que vão das 200 às 300 patacas.
Leonor Sá Machado BrevesInvestimento na Educação vai ser reforçado Chui Sai On quer reforçar o investimento na Educação na RAEM. Foi na passada quinta-feira que o responsável mostrou que o reforço do investimento neste sector era uma das prioridades da acção governativa. Neste sentido, o Chefe do Executivo prometeu “empenho e rapidez” na “construção de um mecanismo eficiente de longo prazo para a educação” e formação de talentos. Tudo isto, acrescenta o CE no mesmo documento, envolvendo a “promoção do desenvolvimento do ensino especial e do ensino técnico-profissional”, entre outras questões. As declarações tiveram lugar durante o jantar de convívio da Associação de Educação de Macau, por ocasião do Dia do Professor, celebrado no mesmo dia. Além de congratular os professores locais pelo alegado esforço na promoção de um melhor sistema educativo, Chui Sai On lembrou ainda o aperfeiçoamento contínuo de diplomas legais na RAEM. “Aperfeiçoamos continuamente a base legal relativa ao ensino e adoptamos medidas de incentivo para reforçar o reconhecimento das funções dos professores e melhorar o seu desenvolvimento profissional”, disse o líder do Governo no seu discurso.
Leonor Sá Machado EventosCinema | Programa experimental na Cinemateca Paixão É sob o mote do 10º aniversário do Centro Histórico que o IC cria um programa piloto para dar vida nova à Cinemateca Paixão. A experiência arranca hoje, com a exibição de “Guia in Love” e a indústria cinematográfica tem porta aberta para reservar salas no local até Dezembro [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Instituto Cultural (IC) arranca hoje com um programa piloto na Cinemateca Paixão, na Travessa da Paixão, junto às Ruínas de S. Paulo. O programa dura até 31 de Dezembro e oferece à indústria cinematográfica e associações locais a oportunidade de colocarem em acção os seus projectos, reservando o espaço para esse efeito. O programa experimental prevê a exibição, hoje, de um filme realizado por um artista local. “Guia in Love” é o nome do filme que estreia o projecto, marcado ainda por uma série de actividades abertas ao público até final do ano. O cinema localiza-se num edifício com três andares e tem diferentes funções como armazenamento de documentos ligados à indústria de filmes, empréstimos de livros e apreciação crítica de cinema. O rés-do-chão reserva-se à bilheteira e às salas de cinema, incluindo ainda uma sala de controlo, inicialmente utilizada para a exibição de filmes sobre arte e cultura. O primeiro andar disponibiliza material sobre filmes locais, como são periódicos e revistas e o escritório fica no segundo piso. “O estabelecimento da Cinemateca pretende promover a cultura cinematográfica em Macau, cultivando a crítica e fornecer uma escolha diversificada de películas”, informa o IC. Um filme para lembrar “Guia in Love” é uma obra realizada no território por Sam Leong, com actores de Macau e Hong Kong, incluindo Vivian Chan e Terence Chui. Também a banda sonora conta com o tema “Goodbye My Love”, do produtor local Joe Lei. Trata-se de uma película dentro do género de comédia romântica com passagens em locais históricos da cidade. O filme arranca com um triângulo amoroso entre uma jovem e dois rapazes que são amigos desde pequenos, até que a paixão assola dois deles. Entrelaçadas estão várias outras histórias de amor, a não perder, mais que não seja pelo background cultural que oferecerem. A sua realização é organizada pela Associação Cultural de Filmes e Produções Televisivas de Macau, sendo que a estreia deverá contar com uma série de representantes desta indústria. O IC assegura ainda que a população pode contar com a organização de workshops e outras actividades aberto ao público entre Outubro e Dezembro, que são anunciadas mais perto da data de realização. A partir de hoje e até Dezembro a bilheteira estará aberta para que os interessados possam reservar espaços com o objectivo de lá realizarem actividades.
Sérgio de Almeida Correia VozesSobre a estabilidade da RAEM [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m Ciência Política há várias formas de encarar o conceito de estabilidade. Para um autor como Bruce Russett, a medida da estabilidade é vista através do número médio de anos que os executivos permanecem em funções. Esta ideia tende a ser confundida com a de longevidade e, como sublinhou, Hurwitz, é falaciosa, pois pode levar a que qualquer mudança seja vista como sinal de instabilidade, o que muitas vezes não é verdade. Também a definição operacional do politólogo Jean Blondel tende a ligar a estabilidade à longevidade ou à duração dos governos. Outra visão é a que define a estabilidade por apelo ao conceito de legitimidade, e em que aquela é entendida não apenas como uma situação de ausência de fenómenos negativos, mas como a que goza de aceitação e apoio. Um outro autor, Claude Ake, considera a estabilidade como um padrão de ausência de mudanças ou alterações estruturais num quadro de continuidade. Para este autor, “there is political stability to the extent that members of society restrict themselves to the behavior patterns that fall within the limits imposed by political role expectations. Any act that deviates from these limits is an instance of political instability.” (A definition of Political Stability, 1975, Comparative Politics, Vol. 7, 2, 273). E logo a seguir escreve que “determinar a extensão da estabilidade política implica a identificação sistemática das regularidades e irregularidades do fluxo de trocas políticas” (tradução do signatário). A visão que aqui mais nos interessa é a que olha para o conceito de estabilidade política como um conceito multifacetado implicando a consideração de diversas variáveis, conceito que não se basta com uma simples medição quantitativa. Hurwitz sintetiza isto afirmando que existe um consenso básico sobre o que a estabilidade política significa e que isso quer dizer ausência de violência, longevidade governamental, ausência de mudanças estruturais, legitimidade e um processo de decisão efectivo (Contemporary Approaches to Political Stability, Comparative Politics, 1973, Vol. 5, 3). E sobre o que seja esta última variável, este autor remete para Eckstein, esclarecendo que o termo efectivo representa a acção política entendida no seu próprio sentido, como a “prossecução dos objectivos comuns ou em ajustamento de uma alteração de condições”. Ou seja, uma intervenção quando os objectivos não estejam a ser atingidos. Posto isto, verifica-se que o discurso político dos governantes da RAEM repete, invariavelmente e até à exaustão, a necessidade de manutenção da estabilidade, política e social, como garantes de altos níveis de crescimento económico. Não há dúvida que qualquer que seja a perspectiva que se adopte em matéria de estabilidade política, concluir-se-á que, seja pelo prisma da manutenção das condições estruturais de governo, da ausência de violência ou da longevidade dos executivos, a RAEM tem estabilidade política. Porém, admitindo que a estabilidade não é um objectivo em si mesmo, já que a estabilidade política só por si não fomenta desenvolvimento nem a prosperidade da comunidade, importa perceber se há estabilidade social. E se, havendo, há um processo de decisão efectivo, capaz de introduzir ajustamentos sempre que ocorra uma alteração de condições propiciadora da instabilidade, como é aquela que se está a viver pela incerteza da evolução económica e da “crise” das receitas do jogo. Quanto a estes pontos, é difícil aceitar que haja hoje estabilidade social na RAEM propiciadora do desenvolvimento económico e de mais prosperidade. Do mesmo modo, tenho sérias dúvidas que exista um poder de decisão efectivo, neste sentido de ser capaz de fazer os ajustamentos necessários. A estabilidade, se adoptarmos a posição de que se trata realmente de um conceito multifacetado, implica que também se preste atenção a estas duas variáveis. E também que se olhe para fora do restrito círculo do poder formal, executivo e legislativo, e se avalie no terreno se a estabilidade existe. Encurtando razões: é difícil aceitar que exista na RAEM estabilidade social propiciadora do desenvolvimento económico e de elevados padrões de vida, quando a sua sociedade vive permanentemente na incerteza. Incerteza quanto às suas condições de vida quotidianas e de projecção do futuro, digo eu. Porque é impossível planificar o futuro ou encontrar condições de estabilidade numa terra onde se impõe a particulares e a empresas um padrão de contratos de arrendamento que os obriga a mudar de casa ou de instalações de dois em dois anos. Ou, então, a sujeitarem-se a aumentos de renda que representam cinco a dez vezes o valor registado para a inflação no ano anterior. Como é impossível haver estabilidade para projectar o futuro quando um importador tem de andar sempre com o armazém às costas ou quando as suas importações estão dependentes dos cartéis locais e do valor das comissões pagas a intermediários de cada vez que fazem uma encomenda. E é evidente que nenhuma empresa tem estabilidade e um clima laboral favorável se a mão-de-obra de que precisa para funcionar e prestar um serviço de qualidade depende da impunidade das agências de emprego, da pressão exercida por estas e da incerteza de se conseguir contratar e manter o pessoal de que se necessita. Que estabilidade profissional e familiar pode ter um trabalhador deslocado que, fazendo falta à RAEM, para poder trabalhar tem de viver em condições miseráveis para sustentar agências que com todo o descaramento lhe pedem milhares de patacas para tratar das autorizações e licenças e que depois, durante meses e anos, vivem das comissões pagas pelos salários desses desgraçados? E tudo ainda se torna mais aberrante quando se convive com isto, quando as queixas são recorrentes e se vêem recém-chegados novos-ricos, esquecidos das suas origens, a manifestaram-se contra estrangeiros e por um maior proteccionismo numa terra que se quer moderna, civilizada e cosmopolita. Com este clima, natural será que haja quem duvide da capacidade de intervenção política sobre o eixo da decisão efectiva. Ao anúncio regular de novas medidas, de introdução de melhorias aqui e ali e, ultimamente, pedidos de desculpas pelos erros, pelas derrapagens financeiras e atrasos das obras, logo se aditam novas promessas sem que se vislumbre o cumprimento das anteriores, nem mudanças, também estas efectivas, na qualidade de vida e no tecido económico e social. A degradação das condições para se fazer turismo e circular em Macau é um exemplo. A actual insistência na diversificação só terá sentido se houver uma efectiva capacidade de intervenção do Executivo. Se por parte deste existir vontade de intervir em tempo útil para corrigir as muitas e actuais disfunções. Quanto mais adiada for essa acção, mais difícil será propiciar condições de diversificação económica e de estabilidade – social, profissional e empresarial – que cumpram com as expectativas de desenvolvimento e de qualidade de vida da população. A estabilidade sem frutos não serve para nada. A estabilidade de que a R.A.E.M. goza tem de servir para alguma coisa. Tem de servir para melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos, cimentar a autonomia e prosperar. E não para ir acomodando os recados de Beijing. O resto é conversa.
Sérgio Fonseca Desporto Grande Prémio de MacauTaça GT | FIA aquém de número de construtores desejado [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Federação Internacional do Automóvel (FIA) queria sete construtores a participar na Taça do Mundo FIA de GT, que terá como palco o Grande Prémio de Macau, mas só cinco aceitaram o desafio. Na sexta-feira, a federação internacional comunicou que a Aston Martin, Audi, McLaren, Mercedes e Porsche inscreveram-se na competição que se pretende assumir como uma das mais importantes do panorama global das corridas de carros de Grande Turismo e que será disputada entre os próximos dia 19 e 22 de Novembro entre nós. De fora e por razões diversas, entre elas a obrigatoriedade de pagar 30 mil euros de inscrição, ficaram a Bentley, BMW, Ferrari, Lamborghini, Lexus, Dodge e Nissan. Christian Schacht, Presidente da Comissão de GT da FIA, mostrou-se mesmo assim bastante satisfeito com o apoio reunido: “Estamos muito satisfeitos por termos recebido inscrições de cinco dos mais famosos construtores automóveis de competição do mundo neste primeiro evento. Isto é resultado de duas histórias de sucesso: o conceito FIA GT3 usado na maioria dos campeonatos de GT do mundo e o lendário Grande Prémio de Macau”. O dirigente da federação internacional aproveitou também para dizer que “graças ao estatuto do Grande Prémio de Macau e aos direitos de transmissão assinados pelo AAMC, o evento terá um impacto a nível mundial, e com o seu formato sprint, espectadores e adeptos terão a oportunidade de ver um espectáculo magnifico”. A prova tem um triunvirato a liderar a organização – a Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC), a FIA e a SRO, o grande responsável pelo sucesso mundial da filosofia GT3 e promotor das séries europeias Blancpain GT. Com a Aston Martin e a McLaren inscritas na competição, existe a possibilidade de Portugal estar representado na Taça do Mundo FIA de GT, uma vez que Pedro Lamy é piloto oficial da primeira e Álvaro Parente da segunda. Recentemente, Parente admitiu ao HM que gostaria de estar presente na prova do Circuito da Guia. “É evidente que gostaria de estar presente. O traçado da Guia é fabuloso, muito exigente e onde o piloto pode fazer a diferença, o que entusiasma qualquer um”. Já Lamy, que na década de noventa foi 2º classificado na prova de Fórmula 3 do território, terá mais dificuldades, visto que tem obrigações no Campeonato do Mundo FIA de Endurance (WEC) no Bahrein, neste mesmo fim-de-semana. A corrida está aberta a 28 concorrentes, sendo que os restantes, aqueles não nomeados pelos cinco construtores envolvidos, deverão ser provenientes de competições locais. Por outro lado, a FIA não irá permitir a presença de pilotos classificados pela FIA como “Platina” ou “Ouro”, em viaturas que não sejam destas cinco marcas, mas permitirá que pilotos amadores ou pilotos classificados como “Bronze” e “Prata” o possam fazer. Recorde-se que o piloto de Macau André Couto, o único piloto do território que até agora mostrou publicamente interesse em participar nesta corrida, está classificado como “Ouro”. As cinco marcas têm até ao dia 25 do presente mês para nomearem os seus três pilotos. A lista de inscritos da prova será conhecida a 7 de Outubro na habitual Conferência de Imprensa de apresentação do Grande Prémio de Macau. Sete dias antes será revelado o nome do fornecedor exclusivo de pneus do evento. Entretanto, os prémios monetários, que vão até ao décimo classificado, já são conhecidos: 12 mil dólares norte-americanos para o piloto vencedor e 30 mil para o construtor que sair vitorioso deste confronto.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesVeículos Aéreos Não Pilotados (無人機) [dropcap style=’circle’]([/dropcap]O website “wikipedia.org” define Veículo Aéreo Não Pilotado (VAPN)) da seguinte forma: “Um VAPN, vulgarmente conhecido por drone e, também designado pela International Civil Aviation Organization (ICAO) por aparelho aéreo comandado à distância, é um aparelho voador sem um piloto a bordo”. O voo é controlado de forma autónoma quer por computadores a bordo, quer por controlo remoto de um piloto em terra ou a bordo de outro aparelho. A ICAO classifica os veículos aéreos não pilotados em duas categorias ao abrigo da Circular 328 AN/190: Aparelhos Voadores Autónomos – actualmente considerados não regulamentares devido a questões legais e de segurança Aparelhos Pilotados à Distância – sujeitos à regulamentação civil sob a alçada da ICAO e da Autoridade Aeronáutica Nacional em causa.” Possivelmente os VAPNs não serão muito comuns em Hong Kong nem em Macau, ao contrário do que acontece nos EUA. No passado dia 25 de Agosto, o jornal de Hong Kong “Sing Tao” publicou um artigo onde se referia que nos EUA, em Maryland, três homens tentaram usar um drone para introduzir substâncias ilegais na prisão de Cresaptown. O caso ocorreu cerca das 20h de 22 de Agosto último. Dois polícias descobriram dois homens do lado de fora da prisão. Estavam a usar um drone para tentar introduzir drogas, material pornográfico (販賣色情光碟) e outro tipo de mercadorias na prisão. Os polícias prenderam os dois homens e desmontaram o esquema dentro da prisão. Os homens foram acusados de tentativa de tráfico de droga, posse ilegal de armas, entre outras. No entanto este não é o primeiro caso do género nos EUA. A 5 de Agosto deste ano, o website de Hong Kong “apple.nextmedia” já tinha alertado para o facto destes drones, ouVANPs, estarem a ser usados para introduzir drogas e outros produtos na Instituição Correccional de Mansfield (uma prisão no Ohio, EUA). Este último caso deu-se por volta das 14.30h de 27 de Julho último. Um drone sobrevoou os portões da prisão e largou uma porção de material. Este material era destinado ao prisioneiro A, mas foi recolhido pelo prisioneiro B. Os tumultos desencadearam-se (暴动). Por fim 200 prisioneiros foram submetidos a inspecção de pessoas e bens . Foram encontradas drogas na posse de alguns deles. A partir destes dois casos, podemos antever que o uso destes drones para fins criminosos poderá vir a ser uma tendência a nível mundial. E porquê? Simplesmente porque no momento da ocorrência o criminoso está a controlar o drone afastado da cena do crime. A polícia pode impedir o drone de perpetrar o crime, mas terá dificuldade em prender o criminoso. A partir do momento em que este descobrir que a polícia interceptou o drone, pode fugir. A possibilidade de fuga dos criminosos aumenta. É por este motivo que estão desejosos de usar drones para introduzir drogas nas prisões. Possivelmente, no futuro, os drones poderão ser usados para cometer crimes mais graves, por exemplo, bombardear instalações governamentais, etc. Por vezes perguntamo-nos: a lei existia antes do crime, ou o crime já existia antes da lei? A resposta a estas perguntas pode-se encontrar a partir destas duas pequenas histórias. Nestes casos o crime surge antes da lei. De momento não existe uma lei adequada para regular o uso dos drones. E não existir uma lei é problemático para a nossa sociedade. No crime tradicional, por exemplo, assassínio, o criminoso usa uma faca para matar. O criminoso e arma estão juntos. Mas nestes casos que envolvem drones, a arma está longe do criminoso. Existe a possibilidade de o drone ser controlado por mais do que uma pessoa. Para evitar este género de crimes é necessário legislação adequada. De acordo com a tecnologia actual os VANPs podem ser produzidos a partir de dois processos diferentes, digital e analógico. Na produção digital, cada VAPN tem o seu próprio número de série. O número de série é o Bilhete de Identidade do VAPN. Os controladores remotos emparelham com cada um destes aparelhos. Presume-se que na produção, cada controlo é desenhado para apenas fazer funcionar num único aparelho. No entanto o ponto crítico pode ter sido ultrapassado. Se o criminoso for suficientemente inteligente pode produzir dois ou mais controlos. Estes vários controlos remotos podem todos emparelhar com o drone e fazê-lo funcionar e, portanto, vários controlos podem fazer funcionar um único VANP. O criminoso pode então distribuir vários controlos por várias pessoas e, se estas pessoas estiverem todas na cena do crime, é muito difícil para a polícia provar quem é que efectivamente cometeu o crime. Se a polícia não puder provar quem é o verdadeiro culpado o caso tem de ser encerrado. Se o VAPN for produzido de forma analógica é controlado por um comando de sinal análogo. O drone não terá número de série. Supondo que existem dois controlos remotos, X e Y, estarão ambos na mesma frequência eléctrica. X e Y são manipulados por John e Mary respectivamente. Se o sinal emitido pelo comando X for superior ao do comando Y, mesmo que Mary já estivesse primeiro a comandar o drone, John pode privá-la desse controlo, e passar a comandar ele próprio o drone. John pode parar o VANP, colocar droga lá dentro, e controlar o aparelho para introduzir droga na prisão. Como Mary tem o comando Y, e John tem o comando X, podem ambos controlar o drone desde que consigam emitir um sinal mais forte que o outro. Será muito difícil para a polícia afirmar se foi John ou Mary quem introduziu a droga na prisão. A situação pode ainda ser mais complicada do que o caso indicado. Hoje em dia a maior parte dos VANPs é controlada por sinais digitais e alguns são comandados directamente por telemóveis. Também não será fácil identificar os comandos dos drones nestes casos, já que em Hong Kong e em Macau, não existe registo telefónico obrigatório. Por isso pode ser usado um telefone não registado para controlar um drone. Podemos portanto concluir que será necessária uma legislação especial para impedir o uso dos drones em actividades criminosas, particularmente, em Hong Kong e em Macau. Estas duas cidades têm muitos edifícios altos e com imensas lojas. Uma das possibilidades passa pela instalação de uma câmara no drone e controlá-lo para sobrevoar as janelas das casas de banho e fotografar o interior. Praticar este tipo de crimes é fácil, mas para a polícia é difícil encontrar os culpados. Se isto se verificar então a nossa sociedade vai estar em apuros.
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasSanto Ofício [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]draconismo severo tem sido um hábito mormente gentil numa terra morna com mecanismos impiedosos. Mecanicamente verboso com tendências mórbidas a extrapolar a sua escala de acção, numa continuidade diluída em outras coisas, como o dislate, a delação, o disfarce e a corrupção, muitas vezes alienado, pois nada se trata com a precisão dos casos simples. Não é fácil portanto o desapego a um «Santo Ofício» umbilical, de teor complexo e bizarramente amarfanhado em brumas. A repressão inquisitorial deu azo a um recalcamento dos afectos que levam a um siso, também ele difuso… sisando muito a propósito de nada, numa esteira de saúde pública doente de todo na sua invenção dos males. Recuemos ao século dezoito e ao disparate guardado nas Arcádias, como a vida de Filipe Elísio, o poeta, pois foi a sua mãe que o traiu num processo quase macabro. Filipe Elísio foi um maravilhoso poeta helenístico que, ao serem-lhe atribuídas afirmações heréticas e a leitura de livros proibidos, lhe fora movido um processo duro, em que o poeta ao encetar a fuga não mais viria ao país. Foi amigo de Lamartine e, após o indulto de D.Maria I, acabou por não regressar devido à maquinação dos seus inimigos que numa irracionalidade ilimitada o haviam de perseguir até ao fim. Por isso, e quando escutamos agora a essência das coisas, nós ainda as vemos como reflexos que trespassam o fino asfalto da consciência; sempre a mesma mordaça, aquela forma de reduzir o outro ao nível de um perseguido, persecutoriamente e visceralmente inimigos nem se sabe bem de quê, num local pequeno cujo alongamento pode muito bem ferir de morte um outro e cujo conteúdo de zelo passa indiscriminadamente por punir. Filipe Elísio está publicado no «Parnaso Lusitano» da Arte Poética Portuguesa . Grande trabalhador da língua que o tempo pareceu esquecer, não sendo redimido, como tantos outros, pelo erro da expulsão. De uma forma mais ténue, estamos mais ou menos nestes beirais, a sociedade portuguesa filtra-se quase sempre nas elites sem expressividade para ser representativa do que quer que seja. Por outro lado, são eles que ainda firmam os “guetos”, os esquecimentos estratégicos por onde sempre passará a sua influência de uma hidra sem rosto. Não é por isso, na escala da Paz, aquele lugar seguro que almejam as gentes, bem pelo contrário: há dramas inconfessáveis em cada beiral das vidas, que só não são confessáveis porque de nada serve, não se vê o movimento para a interajuda como resolução social, é preciso saber isto e calar. A escola do fascismo mais não foi que o prolongamento, não sei se com mães delatoras ou não mas, pelo menos, com familiares muito próximos. O imaginário do fantástico talvez até seja limitado para entender tais psiques pois que qualquer metamorfose é sem dúvida mais simples que esta chaga aberta na mente e “modus-vivendi” de um Povo. Por três homens que vi dignos de estima, vi mil malvados Judas. Avarentos, filautes, vis sejanos. Cavernas de calúnia, sem pesar me despeço; e, se o previra Rejeitar entrar na orbe. Um excerto do seu epitáfio Todos os dias há processos e proibições, como seja a última de não se poder ser fotografado ao lado de alguém sem o seu consentimento para passar a publicado, das mães que são presas porque fogem com os filhos num enquadramento de fragilidade social de arrepiar, de não se ousar pronunciar o nome de um adversário, de coisas absolutamente estarrecedoras e impróprias para uma mente sã. E uma sociedade civilizada. Voltou o gene obscurantista como se dormisse à espera de um acordar tão óbvio quanto impossível de combater. Direi que num clima destes, em que cada um se espreita pelas piores razões, apetece nunca mais vir, caso se vá para um outro lado, impelido por um tentáculo sem freio. Questionar estes assuntos é tão tabu quanto inimaginável, convém sempre dar a impressão que o futuro é agora, e que se ultimam os preparos de uma Humanidade melhorada. Mas não nos enganemos: ela é apenas o lado que ressurge do tempo das perseguições. A Justiça é quase plenária, está cada vez mais ao serviço de coisas morais face ao conteúdo da matéria, as pessoas agora podem aventurar-se na prática do abominável. Quem não tem para onde ir, sentindo-se a mais, vê melhor um destino ameaçador, uma mórbida onda de desproteção maciça e de negrume. Os grandes ideais ainda foram no tempo em que se comiam bifes e as barbas suavam nos Verões. Não há tempo a perder para começar a dizer o óbvio, com o risco de nada mais se poder dizer do que aquilo que não é óbvio e nos deixarão. E com toda esta imensa nuvem de chumbo lendária nos queremos entender nos interstícios destes sinais. Com o tempo aprendemos que o medo é uma ausência de generosidade. E que não a ter, contribui para uma escalada onde ninguém fica a salvo, quase como um excesso de zelo movediço que faz asfixiar o seu autor. Olhamos e reparamos que há sombras… sombras e com elas espectros invencíveis. Agora é altura de rasgar os autos porque a Fé se busca em outras paragens. Sem mais nada que a incerteza, a diferença pode constituir de novo a culpa formada para se actuar, e, até, nos fazer migrantes engalanados a salto em buscas de novas paragens.
Flora Fong Manchete SociedadeCanídromo | Secretário pediu estudo sobre impacto na comunidade Lionel Leong pediu a uma instituição universitária um estudo sobre o impacto do Canídromo na comunidade. Estudo que poderá ajudar a decidir a renovação do contrato de concessão ou o término deste. A ANIMA diz-se confiante com o fim do espaço, que poderia ser usado para muitas outras coisas, como dizem especialistas [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, afirmou ter pedido um estudo sobre o impacto do Canídromo na comunidade residente no local onde se encontra a infra-estrutura. A informação foi dada aos jornalistas depois de una reunião com o Conselho Permanente de Concertação Social, na passada sexta-feira, sendo que Lionel Leong não adiantou data para a conclusão do estudo. “Já dei instruções à Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos para pedir a uma instituição académica que faça um estudo, para saber se a permanência do Canídromo pode trazer impacto ou não para as zonas em redor, para as pessoas que vivem na zona. Depois deste estudo, vamos decidir. O processo está a andar, está em curso, o estudo já está em fase de encomenda”, disse aos jornalistas, citado pela Rádio Macau. Não se sabe qual a instituição académica que está a fazer o estudo, que deverá conter ainda, de acordo com a TDM, o impacto que a existência destas corridas de apostas tem na zona do Fai Chi Kei, um dos locais residenciais mais populosos. Ainda assim, as opiniões podem não ficar apenas pela instituição académica, já que, em comunicado, Lionel Leong assegurou que a renovação do contrato de concessão do Canídromo “carece de auscultação de opiniões abrangentes, nomeadamente dos residentes, comerciantes e turistas da zona”. ANIMA confiante A licença de exploração do Canídromo tem sido alvo de intensa discussão, levando até a própria Sociedade Protectora dos Animais de Macau – ANIMA, com o apoio de associações locais e internacionais, a ter entregue uma petição, no final de Julho, exigindo a não renovação da licença. O contrato com o Canídromo termina no final do ano e a ANIMA acredita que o Governo vai ter “o bom senso” de encerrar o Canídromo. Albano Martins, presidente da ANIMA, disse à TDM que está à espera disso. “O Secretário sabe qual deve ser a resposta e acredito que um académico com dois dedos de testa saiba exactamente qual é a resposta, não tem sentido, com a falta de espaço que a cidade tem, ter animais a ocuparem instalações com muitas centenas de milhares de metros quadrados”, começou por dizer. “Noventa e cinco por cento é decisão do Governo em ter coragem de dizer ‘não’ a alguns interesses, alguns dos quais demasiado cinzentos para o gosto da comunidade”. Centro modal no local Dois membros do Conselho de Planeamento Urbanístico (CPU) esperam que o Governo possa transformar o Canídromo num centro modal de transportes ou em instalações para desporto e cultura. Em declarações ao Jornal Ou Mun, Lam Iek Chit e Ben Leong sugeriram alterar as funções do espaço já que, considera Lam, o negócio das corridas de galgos já não está a corresponder às necessidades económicas, além de que as associações de animais continuam a apontar que os galgos estão em sofrimento e a crueldade contra animais já não é aceite pela maioria de pessoas, pelo que acha necessário “desistir” do conceito de corridas de apostas. O responsável acrescentou que, como na zona norte existem muitas edifícios habitacionais, vai existir uma grande necessidade de instalações públicas e transportes, pelo que o espaço poderá ser melhor aproveitado. Lam Iek Chit dá como exemplo a mudança dos actuais terminais de autocarros do Fai Chi Kei e Iao Hon para o local, aliviando as estradas ocupadas actualmente pelos terminais. Ben Leong, também presidente da Associação de Arquitectos de Macau, concorda em não se renovar o contrato do Canídromo, pedindo para o espaço centros de actividades comunitárias, espaços desportivos e parques de estacionamento. Metade por metade Um inquérito do Centro da Política da Sabedoria Colectiva que questionou cerca de mil pessoas mostra que as opiniões sobre a permanência do Canídromo são “metade a favor e outra metade contra”. Segundo o Jornal Ou Mun, o subdirector do Centro, Loi Man Keong referiu que, depois de uma análise preliminar ao inquérito, a proporção de opiniões da permanência e do fecho do Canídromo são equivalentes, uns preferindo manter por achar esta uma memória colectiva, outros a dizer que não querem o ruído e a falta de espaço na zona. O inquérito vai ser publicado oficialmente no final do mês de Setembro.
Leonor Sá Machado Manchete PolíticaSS | Enfermeiros estrangeiros só poderão trabalhar mediante convite [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s cidadãos estrangeiros com formação em Enfermagem poderão ser impedidos de exercer funções a título permanente, já que a sua presença no território enquanto profissionais só será válida mediante convite. O anúncio é de Lei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde (SS). Segundo um comunicado de ontem dos SS, a estes cidadão não será permitida a inscrição para a realização do exame de acreditação. “Foi retirada a parte sobre a participação de residentes não permanentes no exame de acreditação”, informam os SS. Lei Chin Ion explica que as alterações tiveram em conta as “disposições mais controversas”. O mesmo documento explica que foram feitas alterações ao Regime de Qualificação e Inscrição dos Profissionais de Saúde, tendo sido eliminada a participação de estrangeiros no exame que é agora obrigatório para o cumprimento destas funções na RAEM. Também a cláusula relativa aos tipos de licença existentes foi alterada, havendo apenas três em vez de quatro. As mudanças determinam, assim, que qualquer enfermeiro não residente fica elegível para trabalhar no território apenas a título de “licença limitada” e mediante convite. Este tipo de licença inclui a antiga licença precária. “Foi reduzido de 4 tipos de licença para 3 tipos, integrando a licença precária na ‘licença limitada’ para ser aplicável aos profissionais de saúde não residentes na RAEM”, lê-se no comunicado. Ao contrário da proposta inicial, o exame é agora obrigatório para todos aqueles que pretenderem ser enfermeiros no território. No entanto, Lei Chin Ion afirma que o novo documento prevê casos excepcionais, onde os profissionais que tenham já capacidade e competência comprovadas ficam isentos da realização do tal exame. Estes terão, contudo, que ser submetidos a análise pela Comissão do Regime. É igualmente eliminada a classificação de “enfermeiro registado” A questão dos seguros de responsabilidade para os profissionais de saúde passa a estar no âmbito da Lei do Erro médico, “pelo facto de causar divergência e controvérsia sobre a sua aquisição”. Foi retirada a alínea que obriga à realização de um estágio para quem exerce funções há menos de um ano na RAEM. No entanto, o estágio continua a ser obrigatório para os recém-diplomados, mas os finalistas locais dos cursos de enfermagem, farmácia e área laboratorial verão o seu tempo de estágio encurtado, “dado que os mesmos já têm conhecimento sobre o ambiente local de prestação de cuidados de saúde”. O novo documento tem uma postura mais aberta quanto aos enfermeiros sem licenciatura: “irão ser consideradas as hipóteses de realização de formação e exames para os enfermeiros que não possuam o grau de licenciatura, oferecendo-lhes oportunidades de mobilidade ascendente nas carreiras”. Diploma em consulta pública até 15 de Outubro O Conselho para os Assuntos Médicos realiza uma consulta pública sobre o Regime de Qualificação e Inscrição para o Exercício da Actividade dos Profissionais de Saúde, com fim previsto para 15 de Outubro. Esta dura um mês a partir de amanhã e prevê questões relativas à qualificação profissional, realização de exames de admissão e estágio, entre outras. “De acordo com estes serviços, não parecem existir ‘normas muito rigorosas nem limitações concretas’ ao nível da renovação da licença e do código deontológico a seguir por estes profissionais”. Esta é, assim, uma das falhas que os SS pretendem ver colmatada com um novo regime. As apreciações sobre os dados obtidos devem ser compiladas num relatório em meados de Novembro.
Leonor Sá Machado Entrevista MancheteShee Vá, médico gastroenterologista O médico gastroenterologista Shee Vá considera que o diálogo entre médico e paciente é a solução para uma melhoria dos cuidados de saúde e diz que, muitas vezes, os problemas na saúde chegam por causa de desinformações. O médico alerta ainda para o facto de a Ásia estar a ver crescer os números de doentes de Crohn Comecemos pela performance do Hospital S. Januário. A reputação desta instituição hospitalar tem vindo a ser afectada por uma série de casos de alegado erro de diagnóstico, entre outros. Qual é a sua opinião sobre isto? Em termos de erro de diagnóstico, as coisas devem ser vistas de uma perspectiva de inserção social. Com isto quero dizer que a informação que o público tem e a informação médico-científica, às vezes, não é a mesma. Comparativamente com Portugal, onde trabalhei durante mais tempo, o que vejo é que em Macau existe muita desinformação. Nem a população tem educação suficiente para compreender o que se passa, nem os médicos por vezes têm tempo para informar os doentes. E estes vêm, muitas vezes, com determinadas exigências. Como é que isso se pode resolver? Acho que é preciso encontrar o equilíbrio entre as duas coisas: entre a exigência que os doentes têm relativamente ao hospital e os serviços que o hospital tem para lhes oferecer. Precisamente por causa disso é que há exames de diagnóstico que são feitos e são completamente desnecessários. Em Medicina, podem fazer-se exames complementares, mas estes, normalmente, não indicam aquilo que os doentes têm, clinicamente falando. Pode é descobrir-se outras coisas, mas que não são relevantes o suficiente em relação à razão pela qual o doente foi ao hospital. Conclusão: vamos ter um segundo diagnóstico que não seria o inicial, o que pode ser entendido como erro de diagnóstico. A segunda situação que se põe é perceber se o hospital tem capacidade para lidar com todos estes doentes. Na minha opinião, acho que com diálogo, tudo se consegue. Se nós, como profissionais de saúde, e a população conseguirmos chegar ao diálogo, ficamos no mesmo diapasão, mas isso não acontece. Isto porque a desinformação gera muitos dos problemas relativos à saúde, que pode acontecer aqui no hospital e noutras instituições de saúde. O S. Januário regista várias centenas de pacientes por dia em termos gerais, mas muitos residentes dizem continuar a preferir a Medicina Chinesa à Ocidental. Acha que ainda há uma certa confusão na forma como as duas são percepcionadas? Confusão não acho que haja. A ideia geral é que todos os doentes procuram a Medicina Oriental primeiro e só depois a Ocidental. Quase todos mesmo. Para todo o tipo de doenças? Para uma gripe tratam-se com os chás, mas também para doenças mais graves. Tem que se perceber – e isto faz parte da cultura chinesa – que os pacientes se sentem doentes pelos sintomas. Isto é, quando não têm sintomas, não sentem que estão doentes e recorrem à Medicina Chinesa para tratar de sintomas e não de doenças. A Medicina Oriental é orientada para uma medicina de sintomatologia e tratamentos deste tipo, que é onde pode haver falhas no estabelecimento da ponte entre a Oriental e a Ocidental, na qual interessa mais tratar a doença e não o sintoma. Tudo isto pode gerar conflitos na relação entre médico e paciente, pelo que estas coisas têm que ser entendidas como diferentes funções do médico, que tem que ter um horizonte aberto para poder compreender este tipo de coisas. É realmente possível juntar as duas medicinas? Sim, tem havido avanços nesse sentido, até porque já os Serviços de Saúde têm médicos de Medicina Oriental em funções, nomeadamente sessões de Acupunctura a funcionar nos centros de saúde. Mesmo na área de Oncologia, usa-se muito a Medicina Tradicional, porque algumas pessoas confiam mais neste tipo de tratamentos, por não terem tantos efeitos colaterais. Até em Portugal estamos mais abertos a esta situação. É médico especialista da área da Gastroenterologia e é também auxiliar activo, enquanto profissional de saúde, da Associação Mútua dos Pacientes de Crohn e Colite Ulcerosa. Qual é o objectivo desta associação? Esta é uma associação criada de doentes para doentes e que tem por fim o apoio mútuo entre os pacientes de Doenças Inflamatórias do Intestino. É uma doença relativamente nova em Macau e em todo o Pacífico. Há 30 anos, praticamente não existia doença inflamatória do intestino nesta zona do globo e começaram a aparecer um ou outro caso apenas. A incidência e prevalência desta doença na Ásia-Pacífico eram muito reduzidas e, desde há 20 anos, cresceram em flecha. Posso dizer que não existem estatísticas relativas a Macau, mas em Hong Kong triplicaram os casos. Os últimos números apontam para a existência de mais de 2300 doentes, que é muito. Qual é o perigo deste aumento? O seu surgimento na Ásia incide sobre pessoas mais novas do que no Ocidente. Em Portugal, costuma acontecer na faixa dos 20 aos 30 anos e aqui estamos a ter cada vez mais casos em adolescentes e em situações mais complicadas. Que tipo de complicações mais graves podem surgir nestes pacientes? Os abcessos e as fístulas no sistema digestivo, que são de muito difícil tratamento. O que acontece nos adolescentes é que muitas vezes não se têm em conta as doenças abdominais, por exemplo, esse tipo de patologia. Isto faz com que o período de diagnóstico seja mais demorado, consequentemente piorando o estado do doente. A referida Associação serve então para facilitar a passagem de informação entre os doentes adolescentes, procurar resolver e integrar estes jovens, que muitas vezes têm que faltar ao trabalho ou às aulas, o que afecta muito o seu dia-a-dia. Uma vez que são adolescentes, os pais também têm um papel importante de responsabilização, que também é discutido na Associação. Tem conhecimento de estudos e investigações que estejam a ser feitos em Macau sobre estas doenças? Que eu tenha conhecimento, não. E os serviços de saúde locais, como o S. Januário, têm capacidade para acolher e tratar estes doentes? Pelo menos da doença inflamatória do intestino, sim. Precisamente porque houve este aparecimento em flecha e se tem chamado muito a atenção para esta zona do globo. Os médicos estão cientes desta patologia e, estando cientes, o diagnóstico é feito de forma mais eficaz, tal como o tratamento. Da literatura, A primeira obra de ficção Apresentou esta semana o livro “Uma Ponte para a China”. É a sua primeira obra? Este é o primeiro livro. Comecei a escrevê-lo quando ainda estava em Portugal e fala sobre a cultura chinesa, principalmente porque comecei a aprender Mandarim. Trata-te de uma homenagem às minhas origens e aos meus professores. Que conclusões tirou depois do curso de Mandarim? Que a língua é muito difícil, principalmente porque – e esta é uma visão médica – a sua estrutura é diferente da portuguesa. Tendo isso em conta, é complicado para uma mente ocidental integrar-se no pensamento oriental. Como tenho genética chinesa, pode ter-me sido mais fácil e dediquei-me um bocado mais ao estudo, mas acredito que é preciso muita persistência para se aprender. Quis escrever o livro para demonstrar o quão difícil é aprender a língua e as formas de ultrapassar isso mesmo. Que língua se falava quando era pequeno? Os meus pais falavam Cantonês, mas toda a minha educação e mentalidade foi inteiramente ocidental. O que eles me ensinaram, ficou memorizado, mas era um analfabeto em Chinês porque não sabia ler nem escrever. O conhecimento ajudou-me, mas não foi determinante. Comecei a escrever o livro então nestes termos e a explicar como é que os ensinamentos dos meus professores me fizeram a tal ponte para a China, dos países lusófonos. Como é que o resto do livro se processa? Depois da aprendizagem da língua, contei histórias de personagens que criei para estabelecer a tal ponte para Macau, que achei importante, e depois de Macau para a China. Para essa passagem, arranjei um casal em que ele é chinês e ela portuguesa. Em seguida, com provérbios e histórias chinesas, abri um bocado a janela para a China. Em termos de origem… As suas raízes estão na China ou em Macau especificamente? Os meus pais são da região de Cantão, fui lá visitar a minha família. A minha mulher é aqui de Macau e por isso posso dizer que me sinto um bocadinho chinês, mais do que era há 40 ou 50 anos. A sua ligação a Macau começou com a Medicina? Sim. Vim para Macau a primeira vez nos anos 80, através de um colega natural daqui. Na altura, quando se proporcionou, viemos trabalhar depois de acabarmos o curso de Medicina. Foi aqui que conheci a minha mulher e nasceu o meu primeiro filho, portanto logo aí fui criando raízes. No entanto, sinto que há uma enorme diferença entre a Macau dos anos 80 e de hoje em dia. Que principais diferenças aponta? São enormes, nomeadamente em termos sociológicos. Apesar de Macau ser um território pequeno, onde várias comunidades parecem conviver, cheguei à conclusão de que isso não acontece realmente. A imagem que tenho de Macau e das comunidades é que todas são rodas dentadas de uma máquina a funcionar. Como tal, funcionam porque ambas vão girando, quase que em paralelo, mas sem intersecções. Contudo, há intersecções, sim, que são os macaenses. Há outras diferenças, mas a que mais sinto é, sem dúvida, nas comunidades. Hoje em dia, com os casinos, há necessidade de mais recursos humanos e vêem-se nacionalidades que quase não existiam cá, como da Indonésia ou Filipinas. Chamaria à comunidade uma mistura, mas é mais uma variedade. Como é que o bichinho da escrita cresceu? Talvez por influência dos mestres. No livro não fiz quase referência à minha profissão de médico, até porque não tem nada que ver com Medicina. Existe a ideia – e foi-me transmitida pelos meus professores – de que, e cito o médico Abel Salazar, “O médico que só sabe Medicina, nem Medicina sabe”. Isto quer dizer que, como homens da Ciência, também devíamos enveredar por outros caminhos. Talvez tenha sido isso, até porque o professor Mário Quina, que foi um dos meus mestres, foi campeão olímpico de Vela além de exercer Medicina. Posso dizer que sou de uma geração adulta envelhecida que se habituou a olhar para os doentes e inspeccionar e descrever do doente e da doença sofrida. Este armamento descritivo perdeu-se com a introdução das novas tecnologias, onde há análises para tudo. Os médicos escritores são tradição em Portugal, como temos Miguel Torga, Lobo Antunes, Fernando Namora… Vêm todos desta escola. Provavelmente absorvi algo desta academia e quando surgiu a oportunidade de divulgar a cultura chinesa para o mundo lusófono – acho que a China entrou agora para o mundo –, aceitei a ideia. Quis enveredar por este campo para que as pessoas percebam os vários aspectos do que é ser chinês. E vêm mais livros a seguir? Sim, já tenho algumas coisas escritas. Provavelmente, serão também para publicar, só ainda não sei quando. É ainda preciso fazer a revisão, mas estão várias coisas escritas. Serão em que âmbito? A maioria baseada na cultura chinesa e de ficção. O próximo penso que será mesmo um romance e a seguir tenho já muita coisa escrita sobre Ópera, outra das minhas grandes paixões. Resolvi escrever um livro sobre as óperas que Macau já vi durante todos estes anos do Festival Internacional de Música, desde 87 até agora. A ideia é divulgar a Ópera enquanto género musical, dar os enredos e aquilo a que as pessoas devem ouvir e dar atenção. Mas como não podia deixar de ser, fiz um guia de Ópera aliado a um romance, onde um personagem vai relatar a sua experiência em relação às óperas.
Hoje Macau BrevesLei Trabalho | Pedida recompensa da sobreposição de feriados [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) espera que a revisão da Lei das Relações Laborais resolva o problema da falta de recompensa na sobreposição de feriados obrigatórios e dias de descanso, por considerar que só a negociação entre trabalhadores e empregadores não atinge os resultados. Segundo o Jornal Ou Mun, foi realizada na quarta-feira passada uma reunião onde foram recolhidas opiniões sobre a revisão desta lei por duas associações subordinadas da FAOM. O director da Associação de Empregados das Empresas de Jogo Macau, Choi Kam Fu, apontou que existem funcionários que esperam que a lei revista consiga exigir que os patrões paguem aos empregados os dias de descanso quando houver sobreposição dos feriados obrigatórios e dias de descanso. “O Governo sugeriu que os empregadores negoceiem com os trabalhadores, mas actualmente existem mais de 80 mil trabalhadores de Jogo e, face às operadoras, eles são vulneráveis e é difícil atingir resultados na negociação”, frisou.