Joana Freitas PolíticaErro Médico | Director dos SS crê que lei vai trazer “protecção mais justa” [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]ei Chin Ion acredita que a protecção dos direitos dos cidadãos e profissionais de saúde poderá ser ainda melhor com a nova Lei do Erro Médico. Isso mesmo expressou o director dos Serviços de Saúde (SS) numa resposta a uma interpelação escrita da deputada Wong Kit Cheng. A Lei do Erro Médico tem sido amplamente contrariada pelos médicos e profissionais da área da Saúde, que dizem que esta é uma lei desnecessária, sendo que já houve diversas declarações públicas sobre o assunto. Contudo, o Governo não quer recuar na legislação, até porque esta já foi aprovada na generalidade. Mas os deputados continuam a questionar o Executivo, que assegura no documento agora publicado que esta lei vem trazer melhorias ao sistema de Macau. “Actualmente, estamos a elaborar o Regime Jurídico de Tratamento de Litígios Decorrentes do Erro Médico, cuja proposta de lei propõe o aperfeiçoamento do sistema de avaliação do erro médico e a aplicação da medida de conciliação em primeiro lugar e, a seguir, a arbitragem, o que pode diminuir os litígios decorrentes do erro médico de modo mais equitativo, justo e eficaz”, começa por indicar Lei Chin Ion. O director relembra ainda que o Governo está ainda a criar o Regime Legal da Qualificação e Inscrição para o Exercício de Actividade dos Profissionais de Saúde, que diz que vai regulamentar “ainda mais” o Código Deontológico e o regime disciplinar dos profissionais da área. Os dois diplomas, diz o director dos SS, são uma aposta necessária. Mais protecção “Os regimes mencionados destinam-se a uma boa preparação para tratar de eventuais situações resultantes da prática de actividades médicas. Na sequência da aprovação e implementação dos respectivos diplomas acreditamos que se pode proteger ainda mais os direitos e interesses justos dos cidadãos, profissionais de saúde e instituições médicas”, termina o responsável. A Lei do Erro Médico foi aprovada em 2013 na generalidade, tendo estado em discussão na especialidade – pela 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa – até Julho, altura em que foi entregue ao Governo para ser corrigida.
Flora Fong PolíticaHabitação Pública | Relatório sobre nova tipologia até Dezembro O Governo poderá mesmo avançar com um novo tipo de habitação para quem não tem rendimento e não consegue, da mesma forma, ser candidato a uma fracção pública. O estudo sobre este assunto poderá chegar no final do ano [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Instituto de Habitação (IH) afirmou que o relatório de estudo sobre a nova tipologia de habitação pública pode ficar concluído no final deste ano. O organismo explica que poderá mesmo vir a ser implementada uma novo tipologia de fracções. Depois do deputado Si Ka Lon ter entregue ao Governo uma interpelação escrita em Junho, questionando se foi feita alguma avaliação da procura e das necessidades de apartamentos, bem como a viabilidade da utilização de fracções antes de serem apresentadas novas medidas para a habitação pública. O deputado não é o único preocupado com isto, já que muitos membros do hemiciclo pedem o mesmo: que o Governo não tome medidas sem saber as necessidades reais do problema. Agora, na resposta dada recentemente pelo director do IH, Ieong Kam Wa, o responsável afirma que, após uma avaliação preliminar, faz sentido que os destinatários da nova tipologia de habitação pública sejam os residentes que não tenham capacidades para adquirir uma habitação privada e estejam ainda fora do âmbito de acesso a uma habitação social. Em estudo profundo “Já em Julho deste ano, o IH autorizou uma instituição académica a realizar um estudo especializado sobre a nova tipologia de habitação pública. A elaboração de todas as políticas públicas pode ser considerada tendo em conta diversos factores, sobretudo o de adicionar uma nova tipologia ao actual sistema da habitação pública. Portanto, é necessário levar a cabo um estudo profundo” explicou na resposta. O documento, que está a ser feito por uma instituição académica que não se sabe ainda qual é, poderá facilitar a análise do organismo, diz ainda o responsável, na medida em que vai permitir perceber se esta ideia de ter uma casa para este tipo de residentes é a ideal. Ieong Kam Wa acrescentou que os estudos do relatório incluem investigação, comparação de documentos, a forma como foi executada a política ao longo deste tempo e as instalações complementares às fracções. Si Ka Lon queria ainda saber o calendário para o fim do estudo e o IH prevê que este possa ser entregue no final do ano.
Filipa Araújo PolíticaNova associação quer unir Portugal à China Uma associação criada para unir Portugal a Macau, Guangdong e Hong Kong, terá, garante Rita Santos, encontros no futuro. Foi em Lisboa que nasceu e são muitos os membros fundadores, mas Vitório Cardoso, garante a comendadora, não faz parte da associação [dropcap style=’circle]F[/dropcap]oi criada em Portugal a PGHM – Associação de Amizade Portugal, Guangdong, Hong Kong e Macau e já há planos para encontros no futuro. A notícia foi avançada esta semana pelo jornal Ponto Final, que citava o jornal Diário de Todos, que indicava ainda José Pereira Coutinho, Rita Santos, Vasco Rocha Vieira e Vitório Rosário Cardoso como criadores da Associação em causa. Rita Santos desmente e diz que Cardoso ajudou apenas na burocracia. A Associação, citava o jornal, pretende aprofundar laços de amizade e conseguir que mais pessoas invistam em Portugal para que o mesmo se torne mais próspero. Questionada pelo HM sobre a criação da Associação, Rita Santos, comendadora, confirmou que o objectivo principal do grupo é “o estreitamento de laços de amizade, culturais e sócio-económicos entre as comunidades de Portugal, da província de Cantão e das regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong”. Da fundação Já relativamente à composição, Rita Santos explica que o membros foram indigitados recentemente na festa de apresentação que aconteceu em Lisboa – durante o jantar de confraternização entre os amigos de Macau residentes em Portugal, a 28 de Agosto – em que, diz, a própria foi convidada para ser membro fundadora e futura presidente da Assembleia Geral. Ao seu lado está o deputado e comendador José Pereira Coutinho, o general e antigo governador de Macau Vasco Rocha Vieira, Choi Mam Hin e Lam Peng San – ambos do grupo Estoril-Sol. Todos eles, explica a comendadora, membros fundadores. Rita Santos desmente, contudo, o que o jornal Ponto Final indicava: Vitório Rosário Cardoso não faz parte do grupo. “Neste processo Vitório Cardoso só ajudou no processo burocrático da constituição da Associação. Não está previsto qualquer cargo no futuro para o mesmo”, indicou ao HM. Para já estão previstas algumas iniciativas – diz, sem avançar quais – para reunir as comunidades em cada um dos locais. “É muito importante fortalecermos as redes de contacto e promover o aprofundamento do conhecimento mútuo entre as nossas sociedades”, termina.
Hoje Macau BrevesMosaico do Hotel Estoril reservado para outro local [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Secretário para Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, afirmou que o mosaico da fachada do antigo Hotel Estoril poderá ser colocado num outro local. Ao canal chinês da Rádio Macau, Alexis Tam disse que, depois de consultar todos os dirigentes das escolas e institutos, visto o futuro do Hotel ser um centro de actividades de jovens, foi concluído que manter o painel naquele sentido não faria sentido. Por isso, o Secretário considera que este poderá ser aproveitado para ser colocado num outro sítio ainda a definir.
Hoje Macau BrevesNovo hospital pode ter calendário em Outubro [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]lexis Tam, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, disse ontem que o colega das Obras Públicas e Transportes, Raimundo do Rosário, poderá indicar no próximo mês a data e os custos do novo hospital público. O responsável da Saúde falou na TDM, dizendo que “a parte do projecto de engenharia e do orçamento é da responsabilidade do Secretário para os Transportes e Obras Públicas, temos estado a trabalhar em conjunto e acredito que no futuro, talvez já no próximo mês, os departamentos relevantes e o próprio Secretário venham falar em pessoa sobre o orçamento e o calendário”.
Filipa Araújo SociedadeTurismo | Apesar de queda, Governo acredita manter números Apesar do número de visitantes de Macau ter caído, a permanência aumentou. Em reacção, o Governo garante que continuará a apostar no modelo de turismo, não para aumentar, mas sim para melhorar, sempre, diz, atendo à capacidade da terra no acolhimento de turistas [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s números já não são novos: o bolo total de visitantes de Macau diminuiu 3,5% este ano, ao contrário da média do tempo de permanência dos turistas, que registou uma subida nos primeiros sete meses do ano, fixando-se nos 2,2 dias, ultrapassando pela primeira vez os dois dias. Face à ligeira queda, em comunicado à imprensa, o Governo explica que “tomou a iniciativa de proceder a um ajustamento das actividades turísticas, esperando que através das diferentes actividades se possa melhorar e optimizar as promoções para a diversificação dos mercados de origem e atrair turismo de qualidade e, assim, se conseguir o prolongamento de tempo de permanência no território”. O Executivo explica que continuará a avaliar a capacidade de acolhimento de turistas por parte do território e a perceber o ambiente turístico e as infra-estruturas, a fim de elevar a qualidade dos serviços prestados. No mesmo documento é explicado que o objectivo, traçado nas Linhas de Acção Governativa (LAG), de tornar Macau num Centro Mundial de Turismo e Lazer continua a ser a linha guia do Executivo. O Governo irá, pode ler-se no documento, promover o desenvolvimento estável e sustentável do sector do turismo, “não havendo intenções de procurar aumentar a quantidade, mas sim melhorar o modelo de turismo, por forma a elevar a qualidade e aumentar os mercados de origem”. Alexis tranquilo Sobre a queda do número de visitantes, num comunicado à imprensa, Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, não se mostrou preocupado. Antes pelo contrário, assumiu a sua confiança perante o futuro. “Mesmo com uma queda de 3,5% dos visitantes, durante os primeiros sete meses deste ano, comparado com o ano passado, o número de visitantes irá [voltar a subir] com a realização de vários eventos de grande envergadura durante o segundo semestre. Estou confiante que o número irá manter o nível alcançado no ano passado”, afirmou. O Secretário explica ainda que o Governo sempre se pautou pela definição das políticas e disposições para promover o desenvolvimento “saudável e sustentável do turismo local”, dando, por isso, também atenção à capacidade de acolhimento dos visitantes, principalmente nas épocas festivas, como por exemplo no Concurso Internacional de Fogo-de-artíficio, Festival Internacional de Música, Festival de Gastronomia de Macau, Grande Prémio, Maratona Internacional de Macau e Parada “Macau, Cidade Latina”, entre outros. Alexis Tam indicou ainda que já recebeu apoio da Administração Nacional do Turismo e do Ministério de Segurança Pública “quanto à viabilidade de um controlo adequado no número de visitantes do continente”, sobretudo, nestas épocas festivas. Lá de longe O objectivo de atrair turistas internacionais continua a marcar presença no topo da lista dos afazeres do Governo. No comunicado, o Executivo garante que irá continuar a esforçar-se para cooperar com o sector do turismo, para que sejam criados pacotes promocionais, conforme o momento festivo, “aumentando assim o leque de mercados de origem de turistas”. O Secretário caracterizou as acções da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) de “muito positivas”, atingindo bons resultados, principalmente, indica, na Coreia do Sul e Indonésia. No futuro, diz, irá “reforçar a promoção junto dos mercados da Europa, Estados Unidos e Canadá”. Sentir cada vez menos Quando questionado, pelo canal chinês da Rádio Macau, sobre o resultado pouco eficaz do programa de roteiros turísticos “Sentir Macau passo a passo”, Alexis Tam admitiu a falta de promoção, garantindo que já conversou com a DST apelando à melhoria do programa. Wu Wai Fong, presidente da Associação de Guias Turísticos de Macau, afirmou, ao mesmo meio de comunicação, que até ao momento o número de excursões do interior da China diminuiu 10 a 20%, comparado com o período homólogo. Considera que o Governo deve mudar o modelo de visita de turistas no território, implementando políticas mais diversificadas. Como exemplo, Wu Wai Fong indicou a cooperação com companhias aéreas para criar planos de “uma viagem, vários destinos” para explorar clientes de diversas regiões. Para Loi Hoi Ngan, professor do Centro de Estudos Políticos, Económicos e Sociais, a explicação da disposição estratégica do desenvolvimento do turismo pelo Governo poderá aumentar a confiança do sector turístico.
Hoje Macau BrevesMacao Water lança aplicação para smartphones [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Macau Water lança este mês a aplicação móvel (app) “administrador de uso de água”, destinada a facilitar os utentes dos serviços da empresa. A app vai permitir consultar ou pagar facturas, pedir avisos por mensagem, ler as últimas notícias e ter acesso a informações relativas a análises laboratoriais da qualidade da água e de aviso de obras. Os cidadãos podem ainda notificar a Macao Water de casos de ruptura de canos, fugas e utilizações irregulares. O download desta app pode ser feito gratuitamente em sistemas IOS e Android.
Filipa Araújo SociedadeAutocarros | Novos contratos são todos diferentes [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] esclarecimento surge do Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, quando questionado pela imprensa: as duas operadoras que ainda estão sem novo contrato de concessão pública, a Transmac e a TCM – Sociedade de Transportes Colectivos de Macau, vão ter contratos diferentes. A razão é simples, explicou o Secretário à margem da reunião plenária do Conselho de Ciência e Tecnologia: os novos contratos têm como base os contratos antigos e não o concurso que foi feito. “Há uns anos houve um concurso com cada [operadora] na base da aquisição de um serviço e as condições para adquirir esse serviço não eram as mesmas para todas as companhias. Portanto, a negociação com cada companhia para passar para concessão pública não parte do zero, mas sim da condição concreta do contrato que está em vigor”, explicou Raimundo do Rosário. Assim, os novos contratos não podem ser iguais para todos, diz. Isto porque, o Governo está a “negociar, não com base num concurso que foi feito, mas com base num contrato que já existe”. Actualmente a Transmac e a TCM ainda funcionam em regime de prestação de serviços, estando os seus contratos ilegais. A TCM irá assinar um novo ainda este ano depois de ter entrado em acordo com o Governo, e aponta-se o próximo ano para que o mesmo aconteça com a Transmac, sendo que Raimundo do Rosário admite não saber qual a data para isso acontecer. Nova Era, Pneu solta-se na via A Polícia de Segurança Pública (PSP) afirmou ao canal chinês da Rádio Macau que, na noite de quarta-feira por volta de 22h00, o pneu de um autocarro da Nova Era soltou-se na via e passou para outra faixa de rodagem, quando o autocarro mudou de direcção na Rua do Almirante Sérgio, para a Avenida de Almeida Ribeiro. O incidente não causou feridos mas precisou de uma intervenção imediata e de pessoal para parar o trânsito. Este é o terceiro incidente da Nova Era esta semana, depois de no mesmo dia um homem de 77 anos ter visto as suas pernas amputadas depois do autocarro lhe passar por cima. O idoso foi transportado para o hospital ainda consciente. Noutro caso, no início da semana, uma mulher foi atropelada também, tendo sido transportada para o hospital com ferimentos ligeiros.
Hoje Macau SociedadePortuguês | IPOR quer afirmar Macau como centro de promoção [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Instituto Português do Oriente (IPOR) quer contribuir para a afirmação de Macau como centro de promoção do Português na Ásia, voltando a assumir um papel na coordenação de projectos de promoção da língua na região. Em declarações aos jornalistas, João Neves, director do IPOR, salientou o posicionamento estratégico da Macau na região Ásia-Pacífico para a consolidação do ensino da Língua Portuguesa e, por outro, como centro de desenvolvimento de conhecimento e de materiais de apoio, áreas nas quais o Instituto está igualmente empenhado. O director do IPOR falava à margem do Encontro de Pontos de Rede de Ensino de Português Língua Estrangeira na Ásia, que ontem teve início nas instalações do Consulado Geral de Portugal em Macau com a participação de docentes radicados em Goa, Pequim, Seul, Banguecoque, Hanói, Xangai e Jacarta. “Queremos contar com estes leitores, e, por via deles, estreitar, no futuro, também as ligações às universidades de onde provêm e a outros agentes de promoção do Português nesses países”, explicou. Para João Neves é fundamental “convocar estes saberes que estão disseminados por estes países na região (…) para projectos em conjunto que cumpram objectivos comuns, por exemplo, de elaboração de materiais para as novas plataformas tecnológicas ou para os fins específicos que estão na base da procura do Português na região”. A estes oito leitores, que integram a rede do Camões I.P., João Neves acrescentou os 11 docentes do IPOR (e a colaboração de professores de escolas oficiais de Macau e de universidades locais), referindo tratar-se de um núcleo de enorme qualidade, “cujas experiências queremos pôr em partilha e potenciar”. Difícil e em Inglês Ensinar Português na Ásia nem sempre é tarefa fácil como salientou Pedro Sebastião, destacado na Universidade de Hanói, onde a licenciatura de Português “é recente e tem a nota mais baixa para entrada na universidade”. Apesar dos 200 alunos, Pedro Sebastião, que é acompanhado por seis professores vietnamitas, reconhece um interesse económico no Português já que o Brasil, Angola ou Moçambique possuem embaixadas no Vietname e pretende encontrar estratégias que motivem alunos “pouco trabalhadores” e com “receio de enfrentarem dificuldades”. Em Jacarta, a João Soares faltam professores já que, sendo o único, tem entre cem a 150 alunos por semestre, mas vinca que “há um grande potencial de crescimento” num país onde a grande dificuldade é colocar em prática o que se aprende na aula. Por outro lado, acrescentou, a estratégia de divulgação “teria a ganhar” se, pelo menos no nível de iniciação, os manuais estivessem em Inglês, a primeira língua de contacto entre professor e aluno. Com maior implantação, o ensino do Português em Goa continua em desenvolvimento e tem anualmente cerca de 1500 alunos a aprender, dos quais 200 na universidade e 700 nas escolas secundárias. Apesar do número de professores ser superior a 25, Delfim Correia da Silva salienta que encontros como o de Macau e a partilha de experiências entre os docentes de vários países “são fundamentais para o desenvolvimento da língua” e para que os professores trabalhem de frente e não de costas voltadas.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim investiga alegado sequestro de cidadão pelo EI [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Governo chinês disse ontem que está a investigar o alegado sequestro de um cidadão pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI), anunciado ontem na revista ‘jihadista’ Dabiq, distribuída na rede social Twitter. Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros afirmou em conferência de imprensa que as autoridades chinesas estão a investigar o caso, sem confirmar a veracidade do mesmo. Na imagem publicada pelo Dabiq, surgem dois homens, um cidadão norueguês de 48 anos, identificado como Ola Johan Grimsgaard-Ofstaf, e um chinês, Fan Jinghui, identificado como sendo natural de Pequim. Na fotografia, os homens vestem um traje amarelo e envergam um cartaz com a inscrição “à venda”. A China vincula grupos como o Movimento Islâmico do Turquestão Oriental, que opera na região autónoma chinesa de Xinjiang, habitada pela minoria étnica muçulmana Uighur, com organizações extremistas como o EI. Em Março, as autoridades chinesas anunciaram a detenção de vários grupos de alegados terroristas que lutaram com o EI e regressaram depois à China, sem avançar quantos. A China não faz parte da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, e que integra mais de 60 países, entre árabes e ocidentais, contra as posições ocupadas pelo EI no Iraque e na Síria.
Hoje Macau China / Ásia“Transformação da economia chinesa está repleta de dificuldades e incertezas” [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, disse ontem que a transformação da segunda maior economia do mundo está repleta de dificuldades e incertezas, mas assegurou que o país não é uma fonte de incerteza na economia mundial. “Vai ser uma transição dolorosa e um processo sinuoso”, afirmou Li Keqiang, perante uma audiência internacional, no segundo dia do Fórum Económico Mundial ‘Summer Davos’, em Dalian, importante cidade portuária no nordeste da China. A liderança chinesa está a encetar uma transição no modelo de crescimento do país, visando maior ênfase no consumo doméstico, em detrimento das exportações e investimento, que asseguraram três décadas de trepidante, mas “insustentável”, crescimento económico. Neste contexto, “altos e baixos na performance da economia são difíceis de evitar”, disse Li, designando o actual momento como “natural”, perante as mudanças em curso. Nas últimas semanas, os mercados financeiros internacionais caíram abruptamente, após dados negativos sobre o comércio externo chinês e o persistente abrandamento na segunda maior economia do mundo. Fonte de crescimento “A China não é uma fonte de risco para a economia mundial, mas uma fonte de crescimento”, considerou Li Keqiang, lembrando que o país contribuiu com 30% do total da expansão económica global na primeira metade do ano. No primeiro semestre de 2015, o Produto Interno Bruto chinês subiu 7%, face a 2014 – o valor mais baixo desde 2009 -, exactamente dentro da meta fixada pelo Governo. Esta semana, um relatório da câmara do comércio da delegação da União Europeia em Pequim refere que “as adversidades da economia chinesa só poderão ser superadas se as autoridades corrigirem os seus velhos métodos”. “O Governo chinês deve evitar as suas tendências proteccionistas, que continuam a restringir o acesso legítimo ao mercado”, lê-se no relatório a que a Agência Lusa teve acesso. Dois anos após a liderança chinesa ter reconhecido o “papel decisivo do mercado” na vida económica do país, o documento refere que existem “avanços, mas também recuos”, e aponta a ausência do primado da Lei e a excessiva intervenção governamental como os principais obstáculos à reforma económica no país.
António Conceição Júnior Manchete VozesUMA VOZ ENTRE MUNDOS [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s redes sociais ajudam a estabelecer contactos com maior facilidade. Inadvertidamente, fui observando Joanne Kuai primeiro na TDM e depois nas redes sociais. Estabelecemos breve contacto. Quis saber se ela aceitaria uma breve entrevista, pois a sua ligação à comunidade portuguesa é grande e isso despertou em mim curiosidade. Mal sabia eu que Joanne nasceu no deserto do Gobi, na Região Autónoma de Ninxia Hui. Aos seis anos foi morar com a avé em Kunming, Yunnan e fez o ensino primário lá. Depois foi para Shenzhen até que foi para Beijing onde se formou em jornalismo de radiodifusão e documentários na Universidade de Comunicações da China. Durante o último ano da Universidade, ao abrigo de um programa de estágio de seis meses, resultante de uma parceria entre a sua Universidade e a TDM veio, veio para a TDM, no segundo semestre de 2010. Antes de regressar, a estação de Macau ofereceu-lhe emprego. Aceitou e regressou a Macau onde foi “âncora”durante três anos. Depois quis mudar de ares e ei-la como editora e jornalista do Macau Business Daily. Verdadeiramente, uma voz entre mundos. Joanne, visitou recentemente Portugal. Foi a primeira vez? Que sentimentos teve sobre as diferentes cidades (quais) em que esteve? E as pessoas? Foi a minha primeira visita a Portugal. Sou da China continental e tenho vindo a trabalhar em Macau há quase quatro anos. Antes disso, tinha uma ideia muito vaga sobre Portugal – a sua localização e alguma breve história aprendida na escola. Mas desde que eu trabalho em Macau e fiz um monte de amigos portugueses, eles têm-me dito constantemente o quão grande é o país apesar da crise econômica que trouxe alguns deles aqui. Falaram-me do clima agradável, do céu azul, dos dias de sol, praias, edifícios históricos, incríveis paisagens, óptima comida e pessoas amigáveis e acolhedoras. Comecei a ficar curiosa e impressionada com o quão orgulhoso os portugueses são do seu país e como pessoas de diferentes cidades contam histórias diferentes. Depois da minha viagem a Portugal, está tudo confirmado, já que este pequeno país – em termos de tamanho em comparação com a China – tem maravilhas intermináveis que me mantiveram sempre surpreendida. Cada cidade tem o seu charme único. A paisagem pode variar muito em pequena escala. Trinta minutos de carro de um lugar para outro pode levar a um mundo totalmente diferente. Em relação às pessoas, confirmei a cultura descontraída dos jortugueses que já experienciara com os meus amigos portugueses em Macau. Além disso, sinto que as pessoas tendem a saber como aproveitar a vida melhor, pelo menos melhor do que os chineses em geral. Existem muitos cafés, pastelarias, para as pessoas tomarem um café e comerem um à tarde, reunindo-se com os amigos ou simplesmente sentarem-se e relaxarem. O hábito de beber cerveja a partir da tarde é generalizado em todo o país. Também no tempo de verão, o sol só se põe apenas pelas de 21:00 horas. Isso finalmente clarificou o quebra-cabeças que eu tinha há anos por os meus amigos portugueses jantarem sempre tão tarde. Então, a vida noturna continua com muita diversão e gargalhadas. Também tive a honra de ser convidada para casa de amigos portugueses, onde fui recebida com todo o coração, certificando-se que eu tinha gostado do meu tempo lá. Quais as coisas que mais a tocaram? É realmente difícil escolher o momento “mais”, porque realmente gostei de toda a minha estadia em Portugal. Eu diria que a experiência de pára-quedas no Algarve foi definitivamente um ponto alto, e quando voando no céu olhando por cima da costa Algarvia, foi um momrnyo para além das palavras. Há um outro momento mágico que eu gostaria de compartilhar: cheguei ao Porto de comboio vinda de Coimbra, no período da tarde. No momento em que pisei o chão fora do combóio, vi essa luz amarela poética que brilha através das grandes janelas da Estação de São Bento, o nome da cidade “Porto” inscrito sob o relógio, alguns passos à frente passando um portão de tecto alto, e vi-me cercada por azulejos nas paredes, onde senti como se pudesse quase respirar o ar da história antiga. Saindo da estação, senti a fria, mas refrescante brisa, pássaros brancos que voam sobre o céu azul, edifícios históricos na minha frente, típicas ruas de paralelepípedos que me fizeran lembrar Macau – é claro que eu sei que Portugal é o original, mas a familiaridade deu-me uma sensação de calor – e ouvi música jazz ao vivo tocada ao virar da esquina. O momento era simplesmente mágico e eu até disse para mim mesma, não é nada difícil apaixonar-me pela cidade, o Porto. Como vê a arquitectura tradicional de Macau como o Largo do Senado ou o Bairro de S. Lázaro? Acho que o mais maravilhoso sobre os locais históricos de Macau é a sua singularidade, uma combinação orgânica, integrada e harmoniosa entre o Oriente e o Ocidente – que pode soar como um clichê, mas ao caminhar por uma igreja depara-se-nos, alguns passos à frente, um templo chinês. Não é uma cena que se possa encontrar pelo mundo. As arquitecturas em áreas bem preservadas são encantadoras. Ao contrário das que vi em Portugal, onde as artes de rua estão muito bem combinadas com locais históricos. A arquitectura histórica de Macau é ainda mais tradicional e preservada da maneira que é. Uma coisa que eu aprecio é que visitar esses locais em Macau é gratuito, enquanto que em Portugal existem locais históricos que cobram aos turistas dinheiro para visitar. Sente-se que os locais históricos de Macau como que fazem parte da vida dos seus moradores, pois estão muito ligados à cidade, como no próprio centro da cidade, ao contrário dos da China onde se tem de viajar horas para visitar um local histórico. Os vários eventos que acontecem nesses locais históricos são muito interessantes e atraentes e trazem vida a esses lugares, como os concertos na Fortaleza do Monte, Festas em São Lázaro e até mesmo as projecções em 3D nas ruínas de S.Paulo. Na sua perspectiva, o que faz a diferença em Macau, por comparação com a grande China? Como uma chinesa do continente, Macau, como Região Administrativa Especial, não tem uma posição especial para mim, psicologicamente. Cresci ouvindo uma canção dedicada à transmissão de soberania. Tem uma bela melodia, mas a letra diz que “Macau não é meu nome verdadeiro, por favor chame-me Ao Men”. Depois da minha primeira visita aqui como turista em 2005, Macau para mim foi uma cidade com uma história colonial que resulta num estilo de arquitectura diferente da maior parte da China Continental, uma estranha praia com areia que é realmente preta, e comida portuguesa e pastéis de nata. Engraçado o suficiente, eu fui ao Dumbo, assumindo que era um restaurante Português muito bom, que mais tarde, desde os dias que tenho vindo a trabalhar aqui, nunca mais fui nem nunca ouvi que qualquer dos meus amigos portugueses o tenham frequentado. Além disso, apesar de serem ambas Regiões Administrativas Especiais, percebi o quão diferente Macau é de Hong Kong. Quando regressei em 2010, o gigantesco Grand Lisboa de forma estranha, já estava erguido no centro da cidade. O desenvolvimento do Cotai é definitivamente algo bastante singular como Macau é o único lugar na China onde o jogo é legal e o Cotai é basicamente dedicado a isso. Enquanto a cidade deveria ser muito avançada, como o turismo está crescendo e há muitos hotéis sofisticados, carros de luxo super e coisas assim, a vida quotidiana das pessoas está ainda bastante ligada aos velhos tempos. Para citar um exemplo, em 2010, não havia cinema UA no Galaxy, apesar do teatro da Torre de Macau. A primeira vez que fui ao Cineteatro Macau, onde se tem de comprar com antecedência o bilhete, a partir das 14:00 horas, quando se quer assistir ao filme, o número do assento é realmente escrito pelo funcionário, não há nenhum sistema de reservas on-line, os bilhetes impressos não existem. Isso apanhou-me de surpresa. Sem mencionar o Cinema Alegria, onde a equipa da bilheteria até nos orientá para comprar comida de rua em redor para se levar para o cinema, e de vez em quando há ópera cantonense, mas o projetor e sistema de som era surpreendentemente bom. Algumas partes da cidade dão-me a sensação de que estão congeladas no tempo. Desde que comecei a trabalhar aqui e passar os meus dias de folga vagueando pela cidade, mais “estranhos encontros” aconteceram e comecei a misturar-me melhor também. Gostaria apenas de me deixar perder nesta cidade e encontrar ao virar da esquina, uma tenda de comida interessante, ou uma loja de antiguidades, uma alfaiataria, o cheiro de medicina chinesa, ou frutos do mar secos, um café moderno, ou um bar escondido. O chamado caldeirão de cultura é atractivo. Vemos igrejas, templos, mesquitas para outras comunidades. Aqui, eu faço amigos vindos de toda a parte do mundo, as pessoas com culturas e religiões diferente vivem num ambiente harmonioso. Além disso, eu posso conversar com o casal de idosos que, em baixo de minha casa vende sumos e quando eu me esqueço de trazer dinheiro eles simplesmente me oferecem o sumo. Há momentos eu sinto o ‘Ren Qing Mei ” – solidariedade, toque humano – que as pessoas de Macau falam e de que tanto se orgulham, mas às vezes lamentam o seu desaparecimento. Também me espantei com tantas ofertas diferentes numa escala tão pequena: encontramos os óbvias extravagâncias dos casinos; as ruas estreitas de paralelepípedos da cidade estão povoadas por muitas lojas e lugares; o interior dos edifícios industriais estão cheios de surpresas de todos os tipos de atividades, como ginásios, casas de música ao vivo, galerias, padarias, etc; locais também históricos, incluindo o meu favorito Farol da Guia e a Penha; e um pouco para o sul, há a natureza, montanha, praia e mar, uma completa mudança de cenário. A cidade começa a crescer em mim. Às vezes sinto como se fosse a cidade no filme de animação de Hayao Miyazaki – Entrega de Kiki. Tendo dito isto, e apesar do ambiente descontraído e relativamente livre que temos aqui, a falta de eficiência da administração e aborrecimentos diários, tais como a poluição do ar e do insuportável trânsito, onde você sente como numa cidade tão pequena há tantas coisas que o governo poderia fazer, mas não faz, e isso perturba-me. Além disso, como trabalhadora não-residente aqui, especialmente sendo proveniente da China Continental, francamente, às vezes não posso deixar de me sentir excluída. Em primeiro lugar, não nos garante a residência. Não importa quanto tempo trabalhe aqui, não irei ser automaticamente admitida pelas autoridades e tenho de lidar com a burocracia do pedido do cartão azul, prolongamento período de autorização de trabalho, etc. Ouvimos consistentemente os legisladores que defendem o limite de importação de trabalho, e eu pergunto-me como pode uma cidade posicionar-se como internacional fazer isto, sobretudo tendo tantos projectos em desenvolvimento. Não estou a falar sobre o direito ao voto, ou a distribuição de rebuçados pelo governo. O pior caso acontece quando seus direitos básicos não são devidamente salvaguardados. Uma vez que a pessoa perde o seu emprego, tem de saír da cidade num período muito curto de tempo. Você pode ter o seu namorado ou namorada, casa recém-alugada, mas não tem a legalidade para ficar na cidade. Nem a liberdade de mudar de emprego pois o seu empregador pode simplesmente recusar e você terá que esperar pelo menos seis meses fora devido à política do governo. Como existem tantos riscos que impedem de me sentir à vontade ou sentir-me em casa, às vezes inclino-me a dizer a mim mesma para não me afeiçoar demais. Assim, há sempre este sentimento de ser uma estranha.
António Conceição Júnior MancheteINTEIREZA Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive Odes de Ricardo Reis Faz o teu melhor, mesmo em coisas triviais. A partir daí, podes alcançar a sinceridade. Esta sinceridade torna-se aparente. Sendo aparente, torna-se brilhante. Sendo brilhante, afecta os outros. Afetando os outros, muda-os. Mudando as pessoas, ela transforma tudo. É somente aqueles portadores da maior sinceridade que podem transformar tudo. Se fizeres o teu melhor, um a um, o mundo mudará. O Homem Superior, Confúcio [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]izer-se que uma cidade é de cultura constitui um pleonasmo, mais concretamente, um sinal de desconhecimento do que são cidade e cultura. Enquanto legados multisseculares, quando não milenares, as cidades são expressões inerentemente culturais, sucessivamente transmitidas de geração em geração. Assumir esta evidência é assumir a inteireza da consciência de um dos mais fortes valores colectivos supra-ideológicos, incontornavelmente universal: a cidadania! No século XXI, os valores que devem presidir à globalidade das culturas urbanas devem ser universais. À boa gestão da urbe, ao respeito pela sua história, cultura, qualidade de vida, é imperativo construções que respeitem a sua história, a implementação de parâmetros regulamentados de urbanismo de qualidade, a educação cívica, transportes públicos, saneamento, e todo um amplo conjunto de tarefas e objectivos que se devem centrar no cidadão Ter dinheiro não significa ter riqueza. A riqueza não é um bem material, não se compra com dinheiro, assim como o verdadeiro prestígio. Esta a ilação retirada de mais uma visita ao país que, nas faldas da grande China, ajudou a fecundar uma pequena península, tornando-a única na singularidade da sua mestiçagem, inteira enquanto verdadeira. A inteireza é um modo de integridade, uma decisão a favor da verdade que a si mesma se sustenta. As cidades harmónicas são inteirezas sem exclusões. São os legados que chegam até nós, circunstâncias fugazes em relação à perenidade da pedra. A grandeza de uma cidade não se pauta pela sua dimensão, mas pela verdade que ela transporta, em alternativa à decadência, a inverdades enxertadas e embutidas em camadas de tempo, e de verdades erradicadas, pulverizadas, trocadas por brilhos de mau-gosto, que acarreta a inacessibilidade cultural e gritantes incompreensões. A capacidade de regeneração das cidades depende, por isso, em muito, das vontades que a elas presidem. No caso da cidade do Porto, esse mando está disseminado em termos de gosto, de regra e de regulamentos, nessa inteireza de que nos fala Ricardo Reis. Se a Pessoa lhe cabem bem os heterónimos, às cidades são-lhe reservadas acumulações de tempos e expressões, merecedoras que são da autenticidade que lhes devemos. Esse é o caso da revitalização da Rua das Flores na cidade do Porto. Uma recuperação que constitui o resgate de abandonos ou ruínas, pela reposição contemporânea da tradição arquitectónica, retomando a continuidade do discurso do granito, do azulejo ou da parede (bem) pintada. Essa continuidade constitui, não um pastiche que é uma inverdade de mau gosto e kitsch, pele que se coloca sem se ter conhecido ou vivenciado a origem, mas antes a expressão de um ADN em diferentes momentos no tempo. Tudo o que se me patenteou aos olhos na Rua das Flores foi uma contemporaneidade respeitosa das origens, uma contiguidade do ontem no agora, esteticamente bela em termos formais. O Porto, enquanto cidade, está mais bonito do que há um ano, e a Rua das Flores floriu. Músicos de rua que a animam, portas velhas revisitadas pela cor, casas antigas inteira e impecavelmente recuperadas, a rematar o imperativo da ideia. É o hostel soberbamente reaproveitado, é o hotel de luxo anunciado para breve, é a ourivesaria sucinta e bela na sua limpidez, são as esplanadas pejadas de cidadãos e de turistas, a imponente Misericórdia, e o brasão esperançado na recuperação breve, para um outro fim. Por aqui passeia-se história a desaguar no presente. Por aqui, a herança cultural insemina, como seria de esperar, o gosto bom. As Cardosas oferecem-se ao olhar em planos diversos, num pátio triangular para onde se debruçam fachadas recuperadas, em exercícios de cor e de planos, num convívio discreto e civilizado. De tudo isto sobressai a qualidade da mão de obra, daquela que sabe verdadeiramente lacar ou pintar, exteriores e interiores impecáveis nos acabamentos, onde se sente o prazer de fazer bem até ao mais pequeno detalhe – põe quanto és no mínimo que fazes. Pergunto-me quando é que na minha cidade natal se perdeu esta tradição. Pergunto-me quem terá construído o Teatro D. Pedro V, o estuque original do medalhão da fachada de S. Domingos, o Clube Militar? Quem construiu a bela biblioteca do velho Leal Senado? Os móveis de pau-rosa, de pau-preto ou de huang hua li, em estilo chinês ou ocidental, já não se fabricam em Macau. Também as gerações de mestres, outrora formados nas escolas salesianas, foram substituídos por curiosos sem preparação, seguindo os ditames corrompidos dos sifu. Tudo se vai tornando descartável. A cidade pede qualidade e tranquilidade, mas é-lhe exigida rapidez desvairada, e oferecido ruído, poluição e confusão, também esteticamente. Porém, a cidade somos todos nós, a cidade é, como já foi dito, um legado. Cabe a governantes e governados, cidadãos em geral, proceder ao resgate desta urbe antiga. Os finais do anos 1960 deram início à sua descaracterização. Perdidas algumas raízes, há que firmar o terreno desta cidadezinha, cuja mais-valia é a sua singularidade e a hibridez que ainda se respira, para que não se desmorone e não empenhe o seu futuro. As fotografias da Rua das Flores, que aqui ficam, são testemunhos de vontades do que foi aflorado e que urge implementar em força, contra ventos e lobbies, aqui nesta cidade que se deseja venha a ser Centro Mundial de Turismo e Lazer.
Isabel Castro VozesO outro país [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]os anos que antecederam a batida no fundo, ia a Portugal com muita regularidade. Houve uma altura em que a cada três meses apanhava um avião e Portugal deixava de ser, então, o país que lia nas notícias e ouvia ao telefone. Na comparação com aquilo que era no início do milénio, algum Portugal tornou-se esteticamente mais agradável, tecnologicamente mais evoluído, mais dinâmico na forma de estar. Algum Portugal parecia também mais feliz, apesar de já então se falar em crise. Mas depois veio a batida no fundo, com aquele som oco da chegada ao fim do poço que secou. Por coincidência, as viagens a Portugal diminuíram e voltaram ao ritmo quase anual – mas a crise a sério chegou até aqui com as vidas de quem emigrou por não ter outra solução. E com as notícias e com as vozes do outro lado do telefone. Nestes últimos anos, algum Portugal continuou esteticamente evoluído, mas mais triste e muito mais inseguro. O meu Portugal, aquele que mais me diz, esse ficou mais deserto, mais pobre de gente, com os velhos a desapareceram e os jovens também. É um Portugal em que a emigração se faz às dezenas de cada vez, um Portugal onde, quando chega a geada do Inverno, não se vê vivalma na rua. E os cemitérios se tornaram pequenos. Algum Portugal, antes da batida no fundo, sofreu uma modificação difícil de explicar, que se sente ao nível da epiderme, e houve alturas em que achei que poderia estar no bom caminho, não seria a única a pensar assim, o país parecia-se mais com aquela Europa que prometeram aos da minha geração. Mas Portugal não se educou. Importaram-se Bolonhas e fizeram-se mestres à força, putos com 22 anos que que coleccionam diplomas de gente grande e vivida, há mais miúdos com mais estudos e isso é um conveniente argumento político, mas Portugal não se educou. Apesar de esteticamente mais agradável e tecnologicamente mais evoluído, o país não se valorizou no que é importante. As crises favorecem sempre o umbiguismo e ajudam a enredos de novela. Portugal é um país em novelas constantes: as ficcionadas, as que dão de comer a argumentistas e a actores, e as reais, aquelas que não deviam ser novelas, que deviam ser apenas factos para digerir. Como Portugal não se educou e a estética de pouco vale se não houver dois dedos de testa, o país vive sofregamente da novela do momento. São assim as televisões com maiores audiências, são assim os jornais mais vendidos, feitos para as pessoas que gostam de novelas por pessoas que também gostam de novelas – ou, pelo menos, se sujeitam aos secundários papéis que lhes são entregues. Estive agora em Portugal e apanhei a novela dos refugiados, que veio interromper a saga das análises quase ininterruptas aos reforços dos plantéis para a nova temporada do campeonato de futebol. A novela televisiva dos refugiados começou por ser uma coisa que se passava lá na outra ponta da Europa para passar rapidamente a ser um drama nacional. Mas pelo meio houve Sócrates. Sócrates saiu da cela que ocupou estes últimos meses – qualquer jornalista português que se preze sabe o número exacto de dias, eu não – e foi viver para casa da ex-mulher, detido mas em casa, com direito a mais do que um quadrado com grades. O momento foi vivido com muito entusiasmo, uma novela local tem sempre muito mais interesse do que aquelas que vêm de fora, mesmo que essas se apresentem com crianças mortas em praias. Sócrates saiu e numa rua sem qualquer interesse plantaram-se jornalistas como quem planta árvores, gente sem nada para dizer que não se coibiu da triste figura da entrevista ao rapaz da pizza que, afinal, nada tinha de tonto e não foi ao número 33 entregar uma extra-queijo.[quote_box_right]A novela televisiva dos refugiados começou por ser uma coisa que se passava lá na outra ponta da Europa para passar rapidamente a ser um drama nacional. Mas pelo meio houve Sócrates[/quote_box_right] Mas, e ao contrário do que é hábito num país que vive de novelas, o drama dos refugiados não caiu no esquecimento do povo, apesar de momentaneamente atenuado com o regresso do antigo primeiro-ministro a Lisboa. Por curiosidade sociológica, não consigo deixar de ler, já aqui em Macau, os comentários que se multiplicam nas redes sociais sobre o que são ou deixam de ser os migrantes que fogem da Síria, sobre o que se deve fazer ou deixar de fazer a pais com filhos ao colo, terroristas em potência para muitos daqueles que, apesar de terem uma escolaridade bonita e politicamente convincente, sofrem de uma profunda falta de educação. São todos especialistas em geopolítica. Quem vive no mundo das novelas não se consegue preocupar com mais do que o episódio que acabou de ver, nutrindo natural curiosidade pelo que vai para o ar no dia seguinte. A condição de espectador é cómoda e comodista, não obriga a reflexão porque não se tem um papel no argumento, não se consegue mudar o rumo da história. O desfecho já foi pensado por outros que não aqueles que vivem no mundo das novelas. É assim na política e é assim na vida, nas coisas que aparecem à frente dos olhos de quem não quer perceber o que está a ver. A Europa vive hoje uma crise difícil, depois de outra crise difícil de que ainda não se livrou. Importa reflectir como começou esta nova crise, quem tem um papel directo nela, como pode ser resolvida. O acolhimento de quem foge da morte não é fácil, a integração muito menos. Não é assunto para ser desvalorizado nem para ser tratado como ficção. Aos portugueses em pânico por causa de potenciais terroristas com filhos ao colo resta desligarem a televisão, esquecerem a novela e lerem duas ou três coisas sobre os outros, os outros que vivem no mundo que não acaba na fronteira que já não existe com Espanha. A ignorância é atrevida e é dela que nascem os maiores medos. Depois há também os outros, os que contribuem para o que é esteticamente agradável e tem contornos de evolução. Mas nada tem real interesse – afinal, as eleições estão aí e há uma nova novela a começar.
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesDe Berlim a olhar o mundo [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]ste Verão, durante as férias, viajei até à Europa de Leste. Num período de oito dias passei por seis países pelo que só fiquei a conhecer um pouco mais de cada um deles. Na Europa em Agosto fazia tanto calor como em Macau, mas a humidade era inferior. Nas diversas cidades o ar era mais refrescante devido, não só, a uma traça urbana mais espaçosa, como também a factores naturais e emissões mais baixas dos sistemas de ar condicionado. A Europa de Leste esteve durante anos oculta por detrás da Cortina de Ferro. Mas após a queda do Muro de Berlim e, da integração progressiva de muitos dos seus países na União Europeia, o sistema social criado pelo comunismo tem vindo a diluir-se. Por outro lado que o sistema capitalista ainda não se instalou definitivamente. Estes países ainda conservam algo de genuíno. A economia não é tão florescente como a de Macau, mas a qualidade de vida não é inferior à nossa. O dinheiro nem sempre traz felicidade. O objectivo da minha viagem era descontrair, afastar-me das exigências da vida urbana e encontrar respostas a algumas das questões que me têm vindo a preocupar. Curiosamente, uma das pessoas que integrava o meu grupo de viagem era Gary Fan, membro da Assembleia Legislativa de Hong Kong e dos Pró-Democratas. Não pudemos deixar de falar sobre o desenvolvimento democrático de Hong Kong e de Macau, já que as nossas vidas são indissociáveis da democracia e da política. Por outro lado aproveitei a minha visita a Budapeste, na Hungria, para reflectir sobre a minha vida como católico já que o padre que me formou era húngaro. Combateu na Primeira Guerra Mundial, onde foi ferido, recebeu uma medalha de guerra e juntou-se à Sociedade Salesiana após a desmobilização. Ensinou-me a ser persistente e a ter Fé. Esta viagem, repleta de imaginário e de inspiração terminou com uma visita ao Muro de Berlim. Durante este período, soube pelos noticiários televisivos das explosões de produtos químicos em Tianjin e dos rebentamentos das bombas em Banguecoque. Embora estes dois acontecimentos não estivessem aparentemente relacionados, foram ambos causados por acções humanas.[quote_box_right]Não temos que esperar que o Muro de Berlim caia para perceber o horror da tirania e não podemos aguardar as desgraças alheias crendo que virá alguém para os salvar. Porque não darmos o nosso melhor enquanto ainda temos possibilidade, oportunidade e capacidade?[/quote_box_right] A Nova Zona Urbana Binhai, em Tianjin é um dos grandes projectos económicos da China. Estas tremendas explosões revelaram falhas de supervisão adequada, ao nível do governo local, bem como um abuso de poder da parte de quem pretende obter ganhos pessoais. Tiveram como resultado um grande sofrimento para as pessoas atingidas. Quanto aos rebentamentos das bombas em Erawan Shrine, Banguecoque, fica demonstrado que os ataques terroristas podem acontecer em qualquer parte. O que realmente interessa saber é se existe determinação para queimar os solos férteis que originam o terrorismo. Alguns incidentes, que nunca imaginaríamos possíveis de repente acontecem porque as questões que lhes estavam subjacentes foram durante muito tempo negligenciadas ou mesmo omitidas. A queda do Muro de Berlim é disto um exemplo. – No Muro de Berlim a olhar o Mundo. A súbita desvalorização do renmimbi na China. A taxa do governo de Macau sobre o Jogo que tem vindo a cair durante 15 meses consecutivos. Não me venham dizer que já não havia sinais da eminência destes acontecimentos! Não temos que esperar que o Muro de Berlim caia para perceber o horror da tirania e não podemos aguardar as desgraças alheias crendo que virá alguém para os salvar. Porque não darmos o nosso melhor enquanto ainda temos possibilidade, oportunidade e capacidade? Macau, Hong Kong e Taiwan têm diversos problemas para enfrentar e resolver. Agora que estou em Macau, e já não na Europa, tenho de participar no dia a dia e lutar pela Justiça sempre que possível.
Flora Fong Perfil PessoasGemmany Cheong, artesã [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma pessoa pode ter vários papéis. Quando não se conhece e se olha para Gemmany pela primeira vez, podemos achar que esta jovem é apenas uma secretária normal de uma empresa normal, que entra e sai de trabalho à mesma hora normal de todos os dias. Que gosta de maquilhagem e de pintar as unhas. Mas esta jovem de 26 anos faz coisas que a maioria de nós não faz. “De dois em dois dias, vou alimentar os cães abandonados em vários sítios de Macau com comida cozinhada pela minha mãe, nas noites depois do trabalho.” Já há algum tempo que a mãe da jovem faz arroz com frango todas as semanas, pondo a comida em caixas para que Gemmany se dirija aos locais onde se passeiam animais vadios e possa alimentá-los. Sempre que alimenta um animal, ela passar a conhecer bem os sítios onde vivem os cães abandonados em Macau – normalmente vai às zonas da Areia Preta, das Portas do Cerco e aos lotes de construção desocupados. É possível que este interesse da jovem tenha surgido por causa da mãe, que adora cães, e passa este gosto aos familiares. “Agora temos oito cães e um gato em nossa casa. A minha mãe começou por adoptar primeiro o cão de uma vizinha quando eu andava na escola primária. No início, o meu pai não gostava de ter tantos cães mas, passo a passo, a mãe convenceu-o e ele aceitou. Desde então, adoptámos cada vez mais animais nos locais de construção e noutros sítios”, conta Gemmany ao HM. Um dos oito cães foi também encontrado mais recentemente pela sua mãe na rua. Ambas tentaram durante muito tempo procurar um novo dono, mas não conseguiram, pelo que resolveram levá-lo para casa, sendo este agora mais um membro da família. Se a despesa com os animais é grande? Gemmany não acha. “É apena comida e champôs para tomar banho. O dinheiro gasto é limitado, não é muito.” Trabalhos diversos Há vários anos, a jovem começou por dar atenção a cães abandonados quando trabalhava como uma espécie de cabeleireira numa loja de animais. Gemmany não percebia como é que alguns donos podiam ser tão cruéis para com os seus bichos e surgiu, então, a ideia de os ajudar, através da criação de uma página no Facebook denominada “I See You”. E foi também aqui que a jovem encontrou a sua nova vocação. “Como sempre gostei de fazer arte, comecei a fazer peças de artesanato. Depois de vendidas, o lucro que faço pode ajudar a comprar comida para os cães abandonados” explicou. As peças de artesanato são normalmente instrumentos para gatos e cães, gravatas, molduras, roupas e objectos de decoração, que são colocados à venda num canto especificamente feito para “I See You”, na loja de animais onde trabalhava. Mas como este não é o seu trabalho a tempo inteiro, o lucro não é estável. Felizmente, Gemmany consegue todos os meses doações em dinheiro e comida para os cães. “Normalmente são os clientes da loja que me conhecem e têm sempre vontade de doar comida à ‘I See You’”, conta. Amor em tempos de abandono Nos tempos livres, Gemmany frequenta cursos de formação de software de design, mas a vida desta jovem não podia ser contada sem se falar dos animais. Gemmany gasta todos os fins-de-semana a dar banhos aosn cães. Olhando para o futuro, não tem planos para suspender a alimentação dos cães abandonados, a criação de artesanato ou, obviamente, deixar de ter os oito cães e o gato que pertencem à sua família. A criação de artesanato começou em Outubro do ano passado, ainda que, como lamenta, o tempo seja escasso para a criação, já que o seu trabalho de secretária não lhe permite total dedicação. Mas a jovem nunca parou ou parará de ajudar os animais. A página da rede social que criou ajuda também os donos a procurar os animais perdidos nas ruas, partilhar ofertas e pedidos de comida para cães abandonados de forma a alertar a consciência dos outros e tenta também ajudar a procurar donos para os animais, cooperando com a Associação de Protecção de Animais Abandonados (AAPAM) e o Canil de Macau. Algo que pode não ser fácil. “Uma vez, uma cadela teve seis bebés num local de construção. Tentei com muito esforço e havia muitas pessoas a mostrar vontade de adoptar pelo facto de eles serem de graça. Mas, depois, começam a pensar e muitos contactaram-me a dizer que já não conseguiam adoptar por diversas razões. Este problema é comum e frustrante.” Através do Facebook, a jovem quer ainda promover o conceito da substituição de compra de animais por adopção. Na opinião da Gemmany, a alimentação dos cães abandonados é um trabalho significativo e a vida de Gemmany é, por isso, gratificante. “Eles agradecem-me por encontrá-los e lhes dar amor e comida. Acredito.”
Carlos Morais José EditorialO que se ganha, o que se perde [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação Novo Macau é um excelente case-study para quem estiver interessado em compreender a sociedade chinesa local e o modo como se tem, descontinuamente, modificado. Fundada algures em finais de 80 por Ng Kuok Cheong, a associação tornou-se conhecida por assumir posições pró-democracia, na ressaca de Tiananmen. Juntou-se-lhe Au Kam San, que surgiu com um discurso ainda mais radical. Os dois marcavam o espaço público pelas referidas posições políticas e pelo facto de não estarem ligados a nenhum dos núcleos de poder tradicional. Foi um sucesso. Com o passar do tempo, surgiram novas caras na ANM, gente mais nova que rapidamente assumiu funções importantes na associação, começando a vocalizar e agir de modo diferente. E quais foram essas as grandes diferenças? Basicamente duas: primeira, a defesa de causas fracturantes do ponto de vista moral, como o casamento gay, os direitos dos transexuais, entre outras; e, segunda, os métodos de acção mais públicos e frequentes, muito influenciados pelo ambiente agitado de Hong Kong. Como se sabe, a ANM teria algum apoio de sectores católicos da sociedade chinesa, nos quais não caem certamente bem alguns “excessos” de activistas como Jason Chao. Por outro lado, é algo estranho que não tenham surgido personalidades de charneira, mesmo em termos de idade, entre os actuais rapazes fortes da ANM e os deputados que acabaram de fundar uma outra associação, marcando de vez uma linha muito clara entre eles e os outros. Parece estarmos perante um gap geracional, de difícil explicação. Contudo, se pensarmos bem, facilmente concluiremos que a sociedade de Macau conheceu uma fortíssima ruptura, nos anos 90 e seguintes, o que fez com que uma geração tivesse crescido muito distante da que a precedeu. Daí que Ng Kuok Cheong e Au Kam San não se entendam nem concordem com Jason Chao e Scott Chiang. É certo que todos continuam a desejar mais democracia, mais responsabilização dos titulares dos cargos, eventualmente sufrágio universal. Ou seja, em termos de política pura e dura não me parece que os objectivos sejam muito diferentes. E, no entanto, não se entendem… Parte desta falta de entendimento passará, creio, pela própria linguagem e referências, que são basicamente muito diferentes nas duas gerações. São estilos que não convivem bem na mesma sala. A ver vamos como, nas próximas eleições, se vai organizar o baile. Mas o mais interessante disto tudo é que este fenómeno não se deve limitar à ANM, a uma única associação mas ser transversal em Macau. Deve ser vivido no seio das famílias, nas empresas e no próprio Governo. Resta saber o que se ganhará. O que se perde é diário nas nossas vidas.
Filipa Araújo PolíticaAlexis Tam | Mulheres e crianças são assunto prioritário [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, assume que a garantia dos direitos e interesses das mulheres e crianças deve ser um dos assuntos prioritários do Governo e, por isso, o mesmo vai “apoiar de forma activa” as associações cívicas que desenvolverem serviços sociais. As declarações surgem após o primeiro encontro com a direcção do Zonta Club de Macau, que reúne mulheres de Macau com diferentes profissões, nacionalidades e culturas e tem como objectivo apresentar ideias inovadoras, melhorar os serviços sociais prestados às mulheres e crianças, bem como contribuir para que os serviços sociais de Macau possam atingir padrões internacionais, como frisa um comunicado. Alexis Tam afirmou que a garantia dos direitos e interesses das mulheres e crianças faz parte dos assuntos relacionados com a população, aos quais tem sido “dada grande importância”. O comunicado do Gabinete do Secretário indica ainda que o encontro serviu para “incentivar a associação a aproveitar as suas vantagens em termos de conhecimento profissional e diversidade cultural, por forma a reforçar os serviços sociais e contribuir para a promoção dos direitos e interesses das mulheres e crianças locais”. A educação especial foi ainda um tema debatido no encontro, em que Alexis Tam indicou que o Governo tem levado a cabo “um grande número de trabalhos no sentido de aumentar a capacidade de cooperação entre os serviços governamentais”. O Secretário informou ainda que têm sido atingidos “bons resultados na avaliação e no recrutamento de especialistas”, por isso, diz, as melhorias, a curto prazo, serão “notórias”.
Flora Fong BrevesGoverno | Deputado questiona gestão das águas marítimas [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]deputado Ho Ion Sang espera que o Governo avance com informações sobre a situação da implementação da jurisdição das águas marítimas de Macau e as relativas leis. Ho Ion Sang quer ainda saber se o Executivo irá aproveitar a cooperação com as autoridades chinesas para melhorar a questão da poluição das águas. Numa interpelação escrita, o deputado apontou que a falta da gestão de águas marítimas de Macau tem influenciado a governação eficaz e o próprio desenvolvimento sustentável do território. Como exemplo, Ho Ion Sang fez referência às construções do metro ligeiro, Mercado do Patane e a reconstrução dos terminais. No ano passado, o Governo Central decidiu levar a cabo os trabalhos relativo à jurisdição das águas marítimas da RAEM, prevendo concluir até ao final deste ano o processo. Também durante a apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG) deste ano, o Governo afirmou estarem em curso vários estudos. Por este motivo, Ho Ion Sang pede que o Governo explique a progressão dos trabalhos de gestão das águas marítimas de Macau, bem como a construção dos regimes relativos e a equipa do pessoal dos assuntos marítimos. Além disso, quer saber como o Executivo vai aproveitar a cooperação das regiões das águas marítimas do rio das Pérolas para tratar o problema de poluição marítima. Pergunta o deputado se o Governo vai realizar estudos científicos para melhorar a avaliação da protecção ambiental relativamente à conquista de terra ao mar.
Manuel Afonso Costa Fichas de Leitura h | Artes, Letras e IdeiasForças de bloqueio. Uma questão antiga Vitorino Barbosa de Magalhães Godinho nasceu em Lisboa a 9 de Junho de 1918 e faleceu em Lisboa a 26 de Abril de 2011. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1940, tendo sido professor dessa Faculdade entre 1941 e 1944. Continuou depois os seus estudos e carreira universitária em Paris, onde se doutorou em 1959, tendo passado pelo CNRS (Centre National de Recherches Scientifiques ) entre 1947 e 1960. Regressou entretanto a Portugal para leccionar no Instituto Superior de Estudos Ultramarinos entre 1960 e 1962. Virá a acabar a carreira na Universidade Nova de Lisboa, na FCSH no Departamento de Sociologia que fundou e coordenou entre 1975 e 1988. Do conjunto imenso da sua obra escrita e publicada em língua portuguesa e francesa destacari: Documentos sobre a expansão portuguesa, 3 vols, 1943,1945,1956; A economia dos descobrimentos Henriquinos, 1962; Os descobrimentos e a economia mundial, 2 vols, 1963-1970 (2ª ed. correcta e ampliada, 4 vols, 1982-1983); Ensaios de História de Portugal, 1967 (2ª ed. ampliada, 1978); A estrutura da antiga sociedade portuguesa, 1971; Mito e mercadoria, utopia e prática de navegar (séculos XIII-XVIII), 1990 [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]ste livro de Vitorino Magalhães Godinho representa, em minha opinião, um papel muito importante no conjunto da sua obra. A par dos Ensaios II e dos documentos Sobre a Expansão Portuguesa, contém as intuições mais consequentes acerca da História de Portugal, sobretudo através da caracterização sociológica da nossa estrutura social de Antigo Regime. O autor gizou as interpretações mais consistentes para que se possa compreender o facto pelo qual a expansão ultramarina veio a desencadear na sociedade portuguesa poderosos factores de bloqueio ao progresso e ao desenvolvimento. São, hoje em dia, considerados clássicos os seus argumentos, em particular a chamada de atenção para a tendência para a anemia do sector Primário, a consequente hipertrofia do Terciário de Antigo Regime, o complexo fenómeno de entesouramento das ordens nobiliárquicas e finalmente a nobilitação da burguesia (As traições da burguesia de que falava Fernand Braudel). Em síntese: “ …ao contrário do que tudo levaria a supor, a população agrícola, o sector primário de actividades, não tem a maioria, nem mesmo se aproxima da metade, fica à volta de 1/3 . Ora numa economia de antigo regime, que …não dispõe …de meios de fomentar a produtividade agrícola por trabalhador e em que essa produtividade é extremamente baixa, se estamos perante uma sociedade em que o sector primário se encontra muitíssimo reduzido, não pode deixar de tratar-se de sociedade cujos mecanismos de crescimento e desenvolvimento estão bloqueados. E na verdade sabemos que a população da Espanha diminuiu em finais do século XVI e durante longas décadas do século XVII. O clero hipertrofiou-se, vimo-lo atrás. A percentagem do clero conjuntamente com os fidalgos eleva-se a …36,8%; se ainda lhe somarmos os servidores e ociosos, temos a percentagem, astronómica para uma sociedade anterior à Revolução Industrial, de 40,5% para as classes não produtoras da população (…) Por outro lado, formas conexas de mentalidade (conexas dessa estrutura) que permaneciam demasiado voltadas para o passado, arcaizantes, só de onde a onde se entreabrindo às tentativas isoladas e sempre frustradas dos estrangeirados”. Mas não se ficam por aqui os méritos desta obra. Ao colocar em cima da mesa de estudo a prossecução de um inquérito cerrado às causas explicativas para o falhanço da modernização de Portugal em tempo útil e na altura própria, o autor levanta muitas outras questões, e sempre de forma pertinente e lúcida. É o caso, por exemplo, da malha urbana do país, salientando o facto de que, comparativamente a Espanha, nos falta uma rede de cidades de média dimensão entre as duas grandes metrópoles, Lisboa e Porto. E isso, tal como tudo o resto, cava a profunda assimetria entre o litoral e o interior que é um dado estrutural da nossa história. Afinal a atlantização do território era já um argumento de Jaime Cortesão, nos Factores Democráticos na Formação de Portugal. Contudo, e volto ao tema essencial do livro, é na estrutura social de antigo regime que se encontra o nó górdio do bloqueio ao progresso e ao desenvolvimento. Porque é que não se deu a revolução agrícola e a consequente revolução industrial, tanto mais que em princípio havia todas as condições para isso atendendo à possibilidade da chamada acumulação primitiva do capital, condição necessária mas não suficiente. De facto, a hipertrofia do terciário de antigo regime causado pela corrida aos negócios coloniais, sobretudo na conjuntura oriental, desencadeou efeitos perversos de longa duração. Esta hipertrofia associada à anemia do sector primário foi fatal, segundo Vitorino Magalhães Godinho. (…) É que em termos económicos, apesar das excepções do Círculo dos Ericeiras e do Marquês de Pombal, o século XVIII se mantém muito próximo da estrutura social do século XVII, isto é, a estrutura de uma sociedade de ordens, estamental e hierarquizada com a cúpula ideológica da monarquia absoluta. Não admira que muito do barroco tenha persistido no século XVIII, uma vez que persistiram muitos dos seus elementos estruturais: — A economia é e continua a ser quantitativamente agrária, agrícola, rural. — É em torno da propriedade da terra que se estabelecem as relações sociais de poder, e se estrutura também o próprio regime, a monarquia absoluta assim como o complexo de interesses monárquico-senhoriais cobertos pela monarquia absoluta. Porém o sector dinâmico da economia é, todavia, de natureza mercantil, e é ele que é responsável pelas transformações que vão minando progressivamente o sistema, embora com grande lentidão porque as forças de inércia são muito pesadas. Essa erosão está associada à massificação urbana pela fuga de gentes dos campos para as cidades e aos fenómenos de traição social, através das nobilitações, mas também dos aburguesamentos, e da ‘proletarização’. “Sabe-se por outro lado, que a nobreza está profundamente mercantilizada, e sabe-se também que os grupos de mercadores e negociantes buscam por todos os meios integrar-se na ordem nobiliárquica: a realidade é o mercador-cavaleiro e o cavaleiro-mercador, o fidalgo-negociante e o negociante-enobrecido, não sendo por isso fácil a existência de uma burguesia autónoma, com seus valores próprios”, (em Godinho, obra em análise, p. 84). Este é um dos factores para o bloqueio, mas não o mais decisivo, uma vez que fundamentalmente o que prevalece são os bloqueios estruturais que sapam o processo de descolagem: absentismo, conservadorismo agrário, atrofia do sector primário e hipertrofia do sector terciário de Antigo Regime, como já referi. Como se sabe na viragem do século XVI para o século XVII e já a partir de meados da centúria de Quinhentos, transformações associadas ao comércio ultramarino ou colonial e que se traduziram por uma inflexão do centro de gravidade dos interesses portugueses do complexo histórico-geográfico do Índico para o complexo histórico-geográfico do Atlântico, mais concretamente pela desaceleração do comércio das especiarias e pelo dinamismo crescente da economia do tabaco e do açúcar, produziu-se uma reconfiguração da estrutura social com a revitalização da classe média (pequena e média burguesia), associada à reanimação e revitalização dos portos de província e de pequena escala às custas de uma certa estagnação, senão mesmo deflação (refluxo), do porto de Lisboa. Mas esse fenómeno estranhamente não se manteve como tendência na crista da linha de longa duração e em finais de seiscentos a nobreza e o clero tinham recuperado as suas posições. Relativamente a Portugal, nesta longa linha de tensão entre o imobilismo e a inovação, esta foi sucessivamente travada pelos ciclos dinâmicos do comércio colonial. Tinha sido assim com as especiarias, depois com o ciclo do açúcar e tabaco e agora com os diamantes e o ouro do Brasil, ainda por cima convergentes com a estabilização do comércio dos vinhos depois do tratado de Methuen. Porque de cada vez que a reanimação dos circuitos comerciais resolveu conjunturalmente os problemas da economia portuguesa isso traduziu-se num adiamento das políticas de colonização interna e de desenvolvimento, das políticas de fixação para utilizar uma expressão de António Sérgio. A falência da política económica do Círculo dos Ericeiras de orientação desenvolvimentista à margem do mercantilismo dominante, está intimamente relacionada com o comércio brasileiro e com a política dos vinhos. Ambas, no seu conjunto, favoreceram a hipertrofia do sector terciário de antigo regime, que já referimos, e ao mesmo tempo o reforço do Barroco. O domínio da Companhia de Jesus e a presença do Tribunal do Santo Ofício protegiam a manutenção da estrutura senhorial da sociedade portuguesa, que encontrava na corte a cúpula da sua lógica dos interesses monárquico-senhoriais, para me exprimir como Maravall. Mas isso é outra história.
Leonor Sá Machado Manchete PolíticaExtradição | ANM pede transparência sobre protocolo com Hong Kong A Novo Macau quer que Sónia Chan esclareça o conteúdo do acordo de extradição entre Macau e Hong Kong, cuja assinatura estará planeada ainda para este ano. O vice-presidente da Associação, Jason Chao, receia que este viole leis internacionais, como o da “dupla criminalidade” [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação Novo Macau (ANM) pede explicações aos Governos de Macau e Hong Kong quanto ao acordo de extradição cuja assinatura está, de acordo com a Secretária para a Administração e Justiça Sónia Chan, prevista para este ano. Para Jason Chao, vice-presidente da ANM, falta saber uma série de pormenores acerca deste acordo. É que na sua opinião, diz, há leis internacionais que podem ser violadas com esta assinatura, mas também as há na Lei Básica. “O diabo está nos pormenores”, argumenta. O activista receia que o acordo possa vir a quebrar definições legais internacionais, como a não-extradição de fugitivos condenados para países onde as penas sejam mais pesadas do que aquelas praticadas em Macau, por exemplo. Em Julho passado, Sónia Chan garantiu à Rádio Macau que o Governo estava em conversações com a RAEHK. “Estamos agora a falar com a parte de Hong Kong e com o interior da China sobre este acordo judiciário”, afirmou a responsável. No que diz respeito aos condenados políticos, a lei estava ainda a ser estudada em Julho, não havendo, até hoje, mais novidades. Todos iguais, penas diferentes Em causa estão três princípios que Chao considera basilares. Em primeiro lugar está a dupla criminalidade, que impede o acto de extradição de um indivíduo no caso do crime cometido num país não ser considerado crime no país de origem. “Se determinado acto não é, à luz da lei de Macau, crime, a RAEM não deve extraditar a pessoa que [seja] de outro país ou região”, argumentou o activista. A segunda premissa aponta que a jurisdição está acima de qualquer outra coisa, ou seja, que um país se pode recusar a extraditar um residente seu para o país onde o crime foi cometido. Finalmente, Jason Chao teme que não seja salvaguardado o princípio da pena, que dita a não extradição de um cidadão para o seu país de origem, caso a pena a aplicar seja mais pesada. “A legislação de Macau proíbe expressamente a extradição de pessoas para países onde possam ser condenados a prisão perpétua ou pena de morte”, explica Jason Chao. Três casos que em nada são iguais Para ilustrar o pedido que a ANM faz a Sónia Chan, de melhor clarificar os trâmites do potencial acordo, Jason Chao dá três claros exemplos das premissas acima definidas. O primeiro é o seu próprio caso: “Se o princípio da dupla criminalidade não tivesse efeito, quando eu era considerado um ‘fugitivo’, durante o referendo civil, tinha sido extraditado para Macau para ser julgado pelos alegados crimes de que a PJ e a DSI me acusaram”, começou por dizer. No entanto, tal não aconteceu porque os actos alegadamente cometidos por Chao no território não eram crimes em Hong Kong. “Temos que saber a natureza deste acordo”, sublinha. O segundo caso remonta à condenação, a cinco anos de prisão, de Joseph Lau, envolvido no caso La Scala. Lau vive actualmente em Hong Kong, sem qualquer perigo de ser extraditado para Macau, região onde seria detido pelos seus crimes. No entanto, o condenado usufruiu de liberdade devido à falta de um acordo de extradição. Entre conjecturas várias, Jason Chao prevê uma série de cenários nos quais o possível acordo vem prejudicar os residentes de Macau, nomeadamente no caso de segredos de Estado. Nomeadamente com a China continental. É que em Hong Kong não vigora o conhecido artigo 23º, como em Macau. O referido artigo define que a “RAEM deve produzir, por si própria, leis que proíbam qualquer acto de traição à Pátria, de secessão, de sedição, de subversão contra o Governo Popular Central”. O activista expõe o caso da seguinte forma: “É possível que, à luz deste acordo, as autoridades locais peçam ao Governo de Hong Kong que extradite pessoas que alegadamente roubaram segredos de Estado para Macau, algo que pode ser bastante problemático”, destacou. GPDP | PJ acusada de agir como “polícia política” Jason Chao acusou ontem a Polícia Judiciária (PJ) local de actuar como “polícia política” e de perseguir activistas locais. “A PJ tem vindo a desempenhar um papel de polícia política, fazendo a recolha de comentários na internet ou recolhendo panfletos”, defendeu Jason Chao. Em declarações aos jornalistas, censurou a Direcção dos Serviços de Identificação por “vender”, segundo informações do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais, informações de crenças políticas e religiosas à PJ. “É inacreditável”, acrescentou. O mesmo relatório afirma que alguns destes dados atravessaram mesmo as fronteiras da região. Desconhece-se, no entanto, o paradeiros destes já que, como noticiava ontem o HM, a PJ diz não poder revelar os locais devido ao segredo de justiça. “Isto é o mais preocupante”, comentou o activista sobre a transferência destas informações.
Leocardo VozesEducação sexual (também é educação) [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Em Macau começou mais um ano lectivo, e apesar de se falar de quando em vez dessa possibilidade, voltamos a não ter uma disciplina de Educação Sexual na maior parte das escolas. Quer dizer, haver há, ou dirão alguns que sim, mas até estes sabem tão bem quanto eu que aquilo de que as escolas falam cinge-se ao aspecto fisiológico do sexo, e acho que cairiam o Carmo e Trindade locais caso alguém ousasse explicar aos pequenos que os adultos têm sexo porque “gostam”, e que o praticam em busca de gratificação, de prazer. Quem defende que a educação sexual é “uma responsabilidade das famílias” (um argumento “quick and easy” para quem é contra a E.S. nas escolas) sabe que nenhum pai ou mãe vai explicar ao seu educando que a razão porque se deitam juntos tem a ver com razões que se prendem com o deboche e com a luxúria. E qual é a criança que quer ouvir certos detalhes sórdidos da boca do pai ou da mãe, para quem tantas vezes olham como se um pacote de sementes e outro de adubo se tratassem? Verdade seja dita, quem se opõe a que a E.S. se inclua nos currículos é quem ainda pensa que os jovens vão sair dali a querer aplicar aquilo que aprenderam. Mas porque carga de água haviam eles de fazer com aquela disciplina o que não fazem com as restantes? Olhando para Macau e para as mentalidades vigentes, o sexo continua a ser visto quase como uma agressão, e nem vale a pena falar de igualdade entre géneros: os homens procuram sexo, as mulheres defendem-se, os primeiros são tidos como “predadores” , e as segundas precisam de representar o papel de “púdicas”, e para quem observa – os pais, lá está – nada como a abstinência total, que sempre mantém as coisas como estão, o que neste caso parece ser o ideal. Isto não se prende tanto com motivos de saúde, receio de doenças sexualmente transmissíveis, e nem os mais jovens têm em mente a possibilidade de uma gravidez na adolescência (ou a gravidez de todo) quando pensam em dar esse passo pela primeira vez: o problema ainda são “os outros”, o que vão dizer, o que vão pensar, e principalmente como vai ficar a família aos olhos da “sociedade”. Outra vez, isto tudo tomado com um grãozinho de sal, pois quem quiser optar pela devassidão, deboche e tudo aquilo a que há direito, que o faça pela calada. Por incrível que pareça, em Macau a interrupção voluntária da gravidez é crime, ninguém toca no assunto e nem se coloca a hipótese de se rever a lei. E para quê, se basta atravessar as Portas do Cerco e encontramos um mundo onde o aborto é visto como um mero método de planeamento familiar, chegando mesmo a ser encorajado? Se a isto não se chama “hipocrisia”, então não sei o que isso é. Aparentemente “estamos bem assim”, dirão alguns, para quem basta reprimir a sexualidade dos adolescentes, e quando chegar a hora, lá saberão como se “desenrascar”. É uma falácia muito comum esta, de conter as hormonas, mesmo que para isso seja necessário amarrar a caixa com uma corda, para que elas não saltem cá para fora e façam “estragos”. Sem uma ideia concreta do que deve ser o ensino da E.S. nas escolas, no âmbito da sua função da preparação dos jovens para a vida adulta, estamos entregues à bicharada. Nos Estados Unidos da América, por exemplo, fazem-se campanhas de promoção da abstinência recorrendo a exemplos atrozes, comparando jovens sexualmente activos com “sapatilhas usadas” ou “pastilha elástica mastigada” – que raio de comparação, e que gente tão perversa. Aqui tivemos a nossa própria “colher de xarope” de pudor, com a Igreja de um lado, e as famílias do outro, sempre com a missão de “manter a face”, chamem-lhe o que quiserem, dignidade, honra ou pudor. No meio deste fogo cruzado estão as mulheres, que carregam consigo o ónus da virgindade na forma de uma membrana. Uma membrana, minha gente! Uma coisa esteticamente abominável! Uma mulher que não seja virgem não é necessariamente uma devassa, uma rameira, ou uma ninfomaníaca. Essa associação da virgindade com a pureza é típica das sociedades menos civilizadas, medievais, e tem servido de pretexto para justificar as maiores atrocidades no passado. Torna-se um fardo ainda mais pesado para a condição feminina se a primeira vez de uma mulher resultou de uma violação, ou foi indesejada. Um homem que se recuse a casar com uma mulher simplesmente porque já não é mais virgem, está parado na Idade Média, ou é cigano. Se por acaso se considera “conservador”, então que me desculpe, mas está a ser é parvinho. Quando gostamos de alguém, devemos aceitá-lo como é, e se os seus defeitos se resumirem a uma ou outra escolha infeliz em termos amorosos, o que importa? Quando nos batem à porta perguntamos “quem é”, e não “quem foi”. Por um instante apenas, pensemos no que é a Educação Sexual na sua vertente de “educação”, que é sempre um bem precioso, e olhemos para o “sexual” como um simples detalhe. Falemos de tudo nesse espaço de tempo reservado a esse efeito, porque não? De erecções, de penetrações, de orgasmos, de falos, de vulvas, tudo coisas que afinal existem, e são bem reais. Se pensamos que esta necessidade de aprender a orientar-se nos largos e floridos prados do desejo se resolve por si mesma, estamos a convidar todo o tipo de perigos, pois a ignorância nunca foi boa conselheira. O maior risco não é deixar os jovens saber mais do que devem, mas sim deixá-los indefesos perante outros menos bem intencionados que a Escola, e que “a sabem toda”. Ou pensam que sabem, o que pode ser ainda mais trágico. A reflectir.
Filipa Araújo EventosLivro | “Direito do Jogo em Macau” apresentado na próxima semana Com a assinatura de dois profissionais da área do Direito, o livro “Direito do Jogo em Macau” nasce com o intuito de facilitar e de ser uma ferramenta de trabalho útil para aqueles que se dedicam à área, mas não só. A apresentação é já terça-feira, na Fundação Rui Cunha [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ara já só existe em Português, mas Óscar Alberto Madureira, advogado e co-autor do livro “Direito do Jogo em Macau”, garante que num futuro próximo a publicação estará disponível em Chinês e Inglês. O lançamento do livro – assinado também pelo jurista Fernando Vitória -acontece já na próxima terça-feira, dia 15 de Setembro, na Fundação Rui Cunha, pelas 18h30. A obra junta todas as leis, regulamentos, instruções e uma série de outros tipos de diplomas sobre o Direito do Jogo no território. “O que nós fizemos foi uma compilação de todas essas leis, regulamentos de jogos, despachos do Chefe do Executivo e compilámo-las num documento, num livro”, começa por explicar Óscar Alberto Madureira ao HM. Além disso, foi ainda introduzido um comentário à Lei do Jogo [16/2001], aquela que é considerada a lei principal. “Fizemos uma nota, não a todos os artigos porque há artigos que não têm grande relevância comentar, mas aqueles que achamos serem os mais importantes e sobre os quais achámos que valia a pena dizer alguma coisa. Claro, é a nossa opinião, é subjectiva, é um comentário”, anota. No livro, que pretende ser um instrumento de trabalho para os profissionais da área do Jogo, mas também um fácil meio de acesso às leis do sector, está ainda um apanhado dos contratos de concessão e cláusulas que envolvem todos os esses contratos e os de subconcessão. “Foi feita uma espécie de minuta onde também se fez algumas anotações”, refere Óscar Madureira. Facilitar é ordem Outro documento presente no livro é um glossário de termos jurídicos. A experiência profissional dos autores fez com que os mesmos considerassem necessária a criação de uma lista de conceitos, principalmente os mais recentes, em língua inglesa, ou até os termos mais antigos que estão em Francês. “Muitas vezes uma só palavra representa uma ideia e, portanto, na gíria do dia-a-dia dos casinos utilizam-se muitos estes conceitos que têm um significado próprio, aos quais também é atribuída uma determinada importância e que, sendo desconhecidos da maior parte da população, ou da população que não está habituada a lidar com as questões do Jogo, entendemos [serem] importantes definir”, explica. Por último, existe ainda um glossário de termos chineses. “Muitas vezes é utilizado pelos croupiers ou pelas pessoas que trabalham nos casinos para definir determinados momentos do jogo, ou determinadas circunstâncias relacionadas com o jogo”, acrescenta. Questionado sobre a virtude deste trabalho, Óscar Alberto Madureira reforça a conotação de ferramenta de trabalho que o livro poderá ter. “Aqui coligimos a informação e pretendemos sistematizar de acordo com aquilo que, para nós, fazia sentido. É um documento que as pessoas podem procurar no sentido de se orientarem mais facilmente”, frisa. “Além deste papel de reunião de leis, o que se acrescentou poderá ser útil, porque primeiro há uma exposição sobre a leitura de determinados artigos e, depois, são explicados conceitos, essencialmente na parte do glossário e da gíria, que poderão ser úteis a qualquer pessoa, não só a funcionários da área”, remata. O prefácio conta com a assinatura de Manuel Joaquim das Neves, Director da Inspecção e Coordenação de Jogos de Macau a convite da Fundação Rui Cunha. “[O livro] (…) constitui uma preciosa ferramenta de trabalho, não apenas para todos os que dia a dia lidam com estas matérias, como também para todos os que se dedicam ao estudo da mesma. Que este trabalho sirva de estímulo e inspiração para o surgimento de muitos outros, não apenas em Português mas sobretudo em língua chinesa (…)”, escreve o director.
Flora Fong Manchete SociedadeTransmac | Novo contrato entra em vigor em Janeiro A Transmac admite que o seu novo contrato de concessão entre em vigor já a 1 de Janeiro do próximo ano e Kent Lei, da empresa, garante que as negociações estão a chegar a bom porto [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]vice-director de operações da Transmac, Kent Lei, admitiu que o novo contrato de concessão da empresa para o fornecimento de serviços públicos de transporte entre em vigor a 1 de Janeiro de 2016. Este é o novo contrato que vem substituir um considerado ilegal pelo Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) e que a Transmac não quer alterar. Depois de esta semana o Governo ter indicado que a TCM já assinará o novo contrato, mas que a Transmac ainda não tinha concordado com a situação, o representante da empresa vem agora dizer que o consenso está perto de se alcançar. “Concordamos com a estrutura geral do contrato, estamos a negociar activamente os detalhes mais técnicos e esperamos ter o contrato em vigor no dia 1 de Janeiro do próximo ano, uma vez que o progresso está a ser positivo”, começou por dizer. Numa intervenção do programa Macau Talk, o responsável acrescentou que a Transmac está ainda em negociações com o Governo, mas que estas estão a ser frutíferas. Lei afirmou ainda que a empresa quer acelerar o andamento das negociações com o Governo para fechar o novo contrato de concessão dos serviços de transportes públicos colectivos. “Estamos a realizar reuniões de duas em duas semanas, o objectivo é renovar o contrato original, mantendo os direitos e deveres”, acrescentou. O responsável não adianta valores nem diz o que está a atrasar as negociações, porque afirma não ser adequado falar mais do assunto para “evitar colocar demasiada pressão ao Governo”. O CCAC de todos os males No entanto, deixa claro que a situação da Transmac é bem diferente das restantes empresas de transportes públicos. “As três operadoras são diferentes: uma foi criada há pouco tempo, outra opera apenas uma secção. Mas nós temos duas secções a nosso cargo e a manutenção do enquadramento jurídico até aqui empregue será benéfica para ambas as partes”, notou Kent Lei. Recorde-se que os novos contratos com as operadoras dos transportes públicos surgem na sequência de um relatório do CCAC que, em 2013, apontou anomalias ao modo como foram estabelecidos os acordos entre o Governo e as concessionárias. A Sociedade de Transportes Colectivos de Macau (TCM) já chegou a um entendimento com o Governo e, no início da semana, foi emitida uma ordem executiva para ser celebrado um novo acordo. A Nova Era, que sucedeu à antiga Reolian em Julho do ano passado, negociou condições diferentes dos contratos de aquisição de serviços, considerados irregulares pelo CCAC. A vice-directora executiva da TCM, Leong Mei Ieng, que esteve também presente no programa, disse concordar com as cláusulas do novo contrato, mas a data de assinatura será ainda anunciada pelo Governo. Sobre o impasse nas negociações dos novos contratos de concessão dos serviços, o vice-administrador delegado da Nova Era, Kwok Tong Cheong, considera errado comparar, directamente, o novo contrato da Nova Era com os antigos. “Creio que o Governo está a tentar que as três empresas tenham um novo contrato. Nós somos a única empresa que se preparou para as novas condições. Não passámos de um contrato antigo para um novo”, sublinhou o responsável da empresa. Kwok passou, a partir do momento em que fechou o contrato de operação, a receber um subsídio de 17 milhões de patacas por mês. Nova Era pede carreiras “expresso”. Outros querem mais recursos humanos A empresa de autocarros Nova Era sugeriu, no programa Macau Talk de ontem, a criação de carreiras expresso, tendo enviado a mesma sugestão para a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT). “Estamos a tentar criar carreiras ‘expresso’. Isto vai ajudar a transferir alguns passageiros das rotas mais concorridas. A proposta está na DSAT e vamos tentar falar com eles”, defendeu Kwok Tong Cheong, vice-administrador delegado da empresa. “Claro que o Governo tem um ponto de vista diferente, mas vamos tentar fazer com que as coisas resultem”, afirmou. Depois de um ouvinte do programa se ter queixado da dificuldade em apanhar autocarros na zonas norte e de Seac Pai Van, o vice-administrador respondeu que o plano da Nova Era passa pela disponibilização de carreiras com menos paragens, de forma a cumprir metas de tempo mais curtas para percursos mais longos. Kwok acredita ainda que o serviço deverá ainda “ajudar” a aumentar o grau de satisfação dos passageiros. “Caso a DSAT dê luz verde ao projecto, podemos começar a circular dentro de dois ou três meses. Macau, Taipa e Coloane devem ser abrangidos pelas novas carreiras especiais”, informou. Outro ouvinte, que declarou ser condutor de autocarros, disse que já se queixou quanto ao comportamento dos passageiros, os quais também já chamou várias vezes a atenção, considerando que é alvo de injustiças. Na resposta, o responsável da Transmac, Kent Lei, afirmou que o maior problema da empresa é a falta de recursos humanos. Por isso mesmo disse esperar atrair mais pessoas para este mercado, mas frisou que a contratação de TNR está fora de questão. Leong Mei Ieng, da TCM, considera que para atrair trabalhadores jovens se deve primeiro mudar a imagem dos cidadãos para os condutores. Os dirigentes de todas as três empresas concordam com o corredor exclusivo para transportes públicos entre a Barra e a Bacia sul do Patane. Como justificação, dizem que os autocarros andam a baixas velocidades e só a fluência nas estradas consegue atrair futuros passageiros.