João Luz Manchete SociedadeTáxis | Infracções quase triplicam entre Janeiro e Maio Entre Janeiro e Maio de 2025, foram registadas mais irregularidades praticadas por taxistas do que em todo o ano passado. O número de acidentes diminuiu, excepto os que envolveram peões. Foram bloqueados mais veículos em vias públicas, mas o valor total das multas de trânsito diminuiu ligeiramente Nos primeiros cinco meses deste ano, o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) registou 993 irregularidades cometidas por taxistas, volume que suplantou as 870 irregularidades detectadas em todo o ano passado, e mais 162,7 por cento face ao mesmo período de 2024. Entre as infracções mais praticadas por taxistas, salta à vista nos dados estatísticos do trânsito a “recusa de transporte”, que aumentou anualmente 63 por cento no período em análise. Mas o lugar cimeiro deste tipo de infracções é “não aguardar por ordem de chegada pelos clientes em praças de táxis”, que mais do sextiplicou com um aumento meteórico de 515 por cento em termos anuais. De um total de quase mil infracções detectadas, 229 foram entregues à Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego para acompanhamento, menos de um quarto, mas que ainda assim representou uma subida de quase 75 por cento. No cômputo geral, os dados estatísticos do trânsito revelam estabilidade, com um ligeiro aumento de 0,37 por cento das infracções às regras rodoviárias para um total de 306.304, com uma larga fatia a dizer respeito a estacionamento ilegal (quase 270 mil infracções nos primeiros cinco meses de 2025). Cavalos e peões Nos primeiros cinco meses de 2025, as autoridades deram conta de 6.069 acidentes de viação, menos 5,3 por cento face ao mesmo período do ano passado, sem registo de mortes e com o número de feridos a cair 7,4 por cento para 2.159. A nível dos acidentes, a estatística mais preocupante foi a referente a acidentes a envolver peões, que aumentaram 27,3 por cento para um total de 261. No período em análise, as autoridades passaram multas num valor superior a 81,2 milhões de patacas, menos 1,1 por cento em termos anuais. Um dos factores responsáveis por grande parte das multas passadas, foi o estacionamento ilegal, que apesar da ligeira quebra de 0,65 por cento, acumulou quase 270 mil infracções. Apesar da descida dos estacionamentos ilegais, as autoridades revelam que nos primeiros cinco meses do ano o bloqueamento de veículos em vias públicas aumentou 29 por cento, com um total de 1.100 veículos bloqueados, a larga maioria automóveis. Outro tipo de infracções que passou a ter destaque nos últimos anos, diz respeito a peões que atravessam as vias sem cumprirem regras de trânsito, capítulo onde foram detectadas 3.949 irregularidades, total que representou uma descida de 3,2 por cento. Já os casos de não cedência de prioridade a peões em passadeiras, aumentou 17,1 por cento para 253 casos. Também os casos de excesso de velocidade aumentaram 13,7 por cento, para um total de 6.158. Neste capítulo, destaque para o excesso de velocidade grave que aumentou 61 por cento, para 135 casos.
João Luz Manchete PolíticaZAPE / Casinos-satélite | Comerciantes querem adiar fecho Mais de 70 responsáveis de negócios no ZAPE assinaram uma petição a pedir ao Governo que adie o fecho dos casinos-satélite e que as concessionárias cumpram as suas responsabilidades sociais. Os comerciantes temem a pior crise a afectar os seus negócios dos últimos 20 anos As visitas de representantes de vários serviços do Governo a restaurantes e lojas do ZAPE não acalmaram as preocupações dos comerciantes, que temem uma vaga de encerramentos a acompanhar o fecho dos casinos-satélite da zona. Como tal, mais de 20 proprietários e representantes de negócios da zona tiveram uma reunião no domingo a apelar aos operadores de jogo para adiarem o fecho dos casinos e cumprirem as suas responsabilidades sociais. Segundo o portal noticioso, dedicado ao jogo, All In Media, um comerciante estabelecido no ZAPE há muito tempo argumentou que o Governo está a subestimar severamente o impacto económico do encerramento dos casinos-satélite. A mesma fonte avança que mais de 70 comerciantes do ZAPE assinaram uma petição a pedir a intervenção do Executivo em face daquilo que descreveram como a mais grave das crises que vão enfrentar em mais de duas décadas. Com o encerramento da Real, Fortuna, Kam Pek, Landmark, Legend Palace e Waldo, os donos de restaurantes e lojas que dependem da clientela que circula nas imediações dos casinos-satélite temem que também os seus negócios deixem de existir. Chegar à frente De acordo com o All In Media, um dos comerciantes, Chris Wong Sai Fat, que é também vice-presidente da Associação do Sector Imobiliário de Macau, apelou à intervenção do Governo junto da SJM no sentido de permitir a continuação das operações dos casinos-satélite sob a sua licença. O empresário argumentou que uma das principais prioridades estabelecidas nas novas concessões de jogo, renovadas por uma década em 2023, é a responsabilidade social das concessionárias em apoiar a economia e as empresas locais, condição que o Governo deveria negociar com a SJM. Caso a SJM recusasse assumir a propriedade destes casinos, o Governo deveria abordar as restantes concessionárias para tentar manter os espaços de jogo abertos. Recorde-se que desde o anúncio do fecho dos casinos-satélite, pessoal da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) e Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT) visitaram o ZAPE para falar com comerciantes. Representantes da DST sugeriram o lançamento de iniciativas como o Pop-Mart, com instalações de bonecos de grandes dimensões na zona para atrair turistas (ver página 4), assim como “a extensão de benefícios económicos dos concertos, o aproveitamento adequado de espaços para a realização de actividades e a optimização do ambiente da zona”. Já a equipa da DSEDT, divulgou os vários planos de apoio às pequenas e médias empresas (PME). Entre eles, o Plano de Apoio a PME, o Plano de Bonificação de Juros de Créditos Bancários, os Planos de Garantia de Créditos Bancários e os Serviços de Apoio à Digitalização de PME.
João Santos Filipe Manchete PolíticaEconomia | Ron Lam questiona gastos com Pop Mart e Sanrio O legislador considera que os contratos para promover a cidade com o recurso às personagens Hello Kity, Kuromi, Cinnamoroll ou o brinquedo Labubu só estão a beneficiar as duas grandes marcas, com mais publicidade, e que os comerciantes das zonas das campanhas não sentem o impacto esperado Ron Lam pretende que o Governo explique os gastos de quase 27 milhões de patacas na utilização dos direitos de autor das empresas Sanrio, responsável pelo desenho animado Hello Kitty, Kuromi ou Cinnamoroll, e Pop Mart, ligada aos brinquedos Labubu, Molly ou Crybaby. Estas despesas resultam das acções promocionais Flora Fête with Sanrio Characters e Caminhada pela Cidade Pop Mart Macau, com a utilização das personagens das marcas nas ruas da cidade, que prometiam ajudar as Pequenas e Médias Empresas ao levar os turistas para os bairros residenciais. Numa interpelação escrita, o deputado alerta que as acções promocionais apenas estão a beneficiar as duas grandes empresas com publicidade paga pelo Governo, enquanto os comerciantes nos locais onde decorrem as campanhas não estão a sentir qualquer impacto positivo. Por isso, o deputado considera que “é duvidoso” que as acções de promoção “possam vir a dar um impulso directo à economia residencial e à actividade das pequenas e médias empresas (PME)” ou até a serem “rentáveis”. No caso da campanha Caminhada pela Cidade Pop Mart Macau, as pessoas que utilizarem a carteira electrónica criada para este evento e gastarem mais de 100 patacas no comércio local habilitam-se a participar num sorteio, com a distribuição de brindes que pertencem a uma edição especial da marca. No entanto, tirando o momento de consumo no valor de 100 patacas no comércio local, os brindes não têm qualquer relação com as lojas locais, o que deixou os comerciantes frustrados. “Além da distribuição das carteiras electrónicas e dos sorteios, que são efectivamente publicidade para as empresas detentoras dos direitos de autor, não há qualquer publicidade para os comerciantes, nem quaisquer despesas acrescidas ou promoções para gastar no comércio local”, descreveu o deputado. Em relação ao evento Flora Fête with Sanrio Characters, que decorre no Iao Hon, com a instalação de estátuas dos bonecos, espaços de fotografias e distribuição de brindes, os comerciantes também admitiram a Ron Lam sentirem-se frustrados. Em causa, esteve a ideia de que o comércio local ia ter a possibilidade de desenvolver os seus produtos com recurso a estas personagens. “Alguns comerciantes contaram-me que no início pensavam que os projectos iriam ser realizados em cooperação com o comércio local, permitindo, por exemplo, que as lojas lançassem produtos de edição limitada destas marcas […] Mas, na realidade, isso não aconteceu e os comerciantes só podem utilizar as marcas e os desenhos animados se negociarem directamente com a empresa”, explicou o deputado. Critérios em causa Segundo Ron Lam, as acções promocionais foram realizadas por ajuste directo, com a campanha da Sanrio, a custar 16,8 milhões de patacas, aos quais foram acrescidos 2,07 milhões de patacas em acções de publicidade. A campanha com a Pop Mart teve um custo 8 milhões de patacas. As duas acções promocionais totalizaram um custo de 26,87 milhões de patacas. Face a estas adjudicações, o deputado pretende que o Governo explique os critérios adoptados para a escolha destas empresas em prol de outras que pudessem estar interessadas em participar em campanhas do género. Por outro lado, o legislador lamentou o facto de o Governo não ter feito quaisquer previsões sobre o impacto destes projectos e as metas que esperava alcançar ao nível económico. Ron Lam destaca que face aos encerramentos dos casinos-satélite na ZAPE o Governo afirmou ponderar apostar em mais campanhas com direitos de autor de empresas famosas para compensar a esperada perda do negócio. Contudo, o deputado quer que o Executivo explique qual o público-alvo das campanhas e como este vai compensar a perda dos negócios.
João Santos Filipe Manchete PolíticaEleições | Ron Lam teme ser prejudicado por elevada abstenção O deputado admite que o ambiente eleitoral é pouco animado, ao contrário de outros anos, e reconhece que pode perder o lugar na Assembleia Legislativa se a abstenção atingir níveis elevados. Sobre a falta de interesse nas eleições, apontou como motivo o desapontamento da população A baixa participação eleitoral foi o principal desafio identificado por Ron Lam, deputado que encabeça a lista Poder da Sinergia, para as eleições de 14 de Setembro. Os nomes constantes na lista Poder da Sinergia foram entregues ontem, por volta do meio-dia, à Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). “Podemos ver que o número de listas candidatas às eleições é o mais baixo da história pós-retorno de Macau. Também sentimos que a atmosfera eleitoral é pouco animada, e para os candidatos sem grandes recursos, como é o nosso caso, este é um desafio muito difícil”, afirmou Ron Lam, à margem da entrega da lista de candidatos e do programa político do Poder da Sinergia. Numa altura em que a CAEAL e a Comissão de Defesa da Segurança do Estado ainda têm de aprovar os nomes dos candidatos que podem participar nas eleições, há um total de oito listas para preencher 14 lugares do sufrágio directo no hemiciclo. Até esta edição das eleições, a menor participação tinha acontecido em 2001, as primeiras eleições após o estabelecimento da RAEM, quando houve um total de 15 listas concorrentes. Quando questionado sobre o motivo que o leva a considerar que o ambiente eleitoral é pouco animado em comparação com os anos anteriores, Ron Lam reconheceu que a população está “desapontada”. O deputado contou também que apesar de muitos residentes o procurarem para lhe pedirem apoio para lidar com diferentes assuntos, muitos não prestam atenção às eleições nem sabem quando vão decorrer. Meios desiguais Em declarações aos jornalistas, Ron Lam lamentou ainda ter de concorrer contra listas que têm apoios de associações que recebem grandes quantidades de dinheiro em subsídios do Governo. O deputado explicou que em 2021, quando foi eleito pela primeira vez, todas as outras listas que também elegeram deputados tinham orçamentos que eram pelo menos três vezes superiores ao da sua lista. E, em alguns casos, os gastos das outras listas com a campanha foram 10 vezes superiores. “Somos o único grupo que não recebe qualquer subsídio do Governo”, lamentou. Face a estas dificuldades, Lam não afastou o cenário de perder o lugar na Assembleia Legislativa: “Caso as pessoas mantenham uma atitude de desinteresse e não votem nas eleições, posso perder o meu lugar de deputado”, reconheceu. Esta perspectiva preocupa o legislador, que teme que parte da população deixe de estar representada no hemiciclo: “Se eu perder o meu lugar, como é que a Assembleia Legislativa vai ouvir a população e reflectir as suas opiniões? Mas se as vozes não forem ouvidas, como se vai mudar a sociedade?”, questionou. TNR e transparência Quanto ao programa político, Ron Lam pede a substituição de trabalhadores não-residentes, sobretudo a redução da proporção destes trabalhadores nas empresas do jogo e de grande dimensão. Ron Lam destacou que deve haver um equilíbrio entre a garantia do emprego e a subsistência das pequenas e médias empresas. O outro destaque da lista Poder da Sinergia é o aumento da transparência do orçamento financeiro e a sustentabilidade das políticas públicas, como o investimento nos elementos não-jogo. Johnson Ian, segundo candidato da lista, recordou que durante a pandemia, o Governo gastou muito dinheiro em nome da revitalização da economia. Contudo, o candidato criticou a falta de transparência desses gastos e apontou que o mesmo está novamente a acontecer. Quanto à visita recente do Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, aos bairros comunitários, Johnson Ian argumentou que estas visitas devem ser frequentes e não apenas por “capricho”. “Esperamos que as visitas dos governantes aos bairros residenciais sejam frequentes, que façam parte dos seus trabalhos, em vez de acontecimentos pontuais”, afirmou Ian. Além de Ron Lam e Johnson Ian, a grande novidade da lista é a participação de Joe Chan, ambientalista local.
Hoje Macau Grande Plano MancheteEnsino | IA entrou nas escolas locais, mas recursos são escassos O Governo tem apostado na introdução da inteligência artificial nas escolas do território, mas com poucas horas no currículo. Além disso, as escolas queixam-se de poucos recursos para cumprir as metas governamentais As escolas de Macau integraram ferramentas de inteligência artificial (IA) nas salas de aula, como quadros inteligentes e modelos linguísticos, mas alguns professores alertam que a maioria não está preparada para cumprir política delineada para o sector. Depois das aulas, alunos da escola secundária Pui Va permanecem na sala de aula, distraídos a explorar um quadro inteligente. Estes quadros – explica Ruan Zhan Teng, professor de informática da escola – funcionam como projectores interactivos e são utilizados logo desde o primeiro ano, para escrever, ver vídeos ou participar em aulas com ‘media’ digitais. “No terceiro ano, os alunos começam a aprender a identificar a inteligência artificial na vida quotidiana, programação básica e fotos e vídeos gerados por IA”, acrescentou à Lusa o professor de informática. A mudança ocorreu em 2024 e está estipulada na lei: a IA deve ser incluída no ensino primário (com uma carga horária de 17 horas e 20 minutos por ano letivo), do 7.º ao 9.º ano (19 horas e 20 minutos) e do 10.º ao 12.º (18 horas e 40 minutos). Apesar da exigência, Andy Chun Wai Fan, professor e director do Centro de Tecnologia de Informação e Comunicação na Educação, da Universidade de Macau, nota que as escolas enfrentam dois entraves: falta de recursos e formação do corpo docente. “Algumas escolas têm apenas um professor de Tecnologia de Informação”, sublinhou Fan, referindo ainda que, em geral, as instituições têm aulas de informática apenas uma vez por semana. Não actualizar Pedro Lobo, professor nesta área, com 30 anos de experiência no território, incluindo na Escola Portuguesa de Macau, está preocupado com a falta de formação. “A maior parte dos professores já tem uma certa idade, não cresceram com esta nova tecnologia (…) por isso, a mentalidade ainda está aquém de toda esta evolução, e a mudança está a ser tão rápida que dificilmente se consegue acompanhar”, explicou o português. As autoridades de Educação exigem aos professores 30 horas de formação anual em IA, no entanto, Pedro Lobo considera não ser suficiente. Apesar de este ano já ter estudado quase 40 horas, o professor diz-se “pouco preparado”. Sobre esta política governamental, Andy Chun Wai Fan lembra ainda que é exigido às escolas que abordem ética, inovação e colaboração no domínio da IA, embora caiba às instituições a criação dos próprios manuais. “Não temos um manual sobre o que ensinar (…), cada escola tem ideias próprias sobre o que fazer com os seus alunos”, reagiu Lobo, explicando que ensina a “transferir a IA para o trabalho escolar”, seja através da geração de imagens, desenvolvimento de pequenos jogos, abordagem da ética da IA e questões de direitos de autor. Desde 2021 na Pui Va Num registo diferente, a escola secundária de Pui Va, que introduziu a IA em 2021, assume estar “bem preparada” para “a mudança”. A instituição gasta cerca de dois milhões de patacas por ano em ferramentas de IA, emprega sete professores de Tecnologias de Informação (TI) e contratou um professor universitário de Pequim para dar apoio. “Queremos que os alunos sejam capazes de utilizar a inteligência artificial para identificar problemas e resolver problemas da vida real”, notou o director do gabinete de TI do estabelecimento de ensino chinês, Chong Wai Yin. Aqui, os alunos trabalham, por exemplo, com linguagens de programação (Python, Tencent, iFlytek), e modelos de IA como o DeepSeek e o ChatGPT, envolvendo-se em projectos de cidades inteligentes, no primeiro ciclo, e na criação de aplicações, num estágio posterior, disse Zhao Qichao, antigo professor da Universidade de Aeronáutica e Astronáutica de Pequim, que lecciona na Pui Va. “No primeiro ciclo, desenvolvemos cidades inteligentes, casas automatizadas e sistemas de estacionamento alimentados por IA (…). No segundo ciclo, os alunos criam aplicações móveis e projectos tecnológicos sustentáveis”, explicou. Em Abril, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, O Lam, anunciou que as reformas educativas de Macau para 2025 vão centrar-se na IA e incluem planos para uma sala de aula inteligente em todas as escolas. O Governo de Macau atribuiu à rede de escolas sob a alçada da Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) 15 milhões de patacas para software de IA para este ano lectivo. Num email enviado à Lusa, a DSEDJ afirmou que o Governo “atribui grande importância” ao ensino de Tecnologias de Informação. “O Plano de Médio e Longo Prazo para o Ensino Não Superior (2021-2030) identificou o ‘reforço da criatividade e da educação tecnológica’ como uma das principais direções de desenvolvimento”, explica-se na nota. No entanto, Pedro Lobo questiona a pressão sobre os jovens estudantes: “Estamos a ver crianças com 8, 9, 10 anos a desenvolver aplicações? Talvez 1 por cento seja capaz. O resto faz o melhor que pode. Têm aulas e trabalhos de casa que nunca mais acabam”. Deputados preocupados No último debate da Assembleia Legislativa, na passada quinta-feira, dois deputados, Iau Teng Pio e Kou Kam Fai, ligados ao ensino, defenderam a necessidade de “desenvolvimento de alta qualidade da educação em Macau”, nomeadamente com a aposta na IA. Uma das sugestões, referidas no período de intervenções antes da ordem do dia, foi o reforço do “mecanismo de desenvolvimento coordenado entre a educação, a inovação científica e tecnológica e os talentos”, com o aumento de “recursos em STEM [Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática] e inteligência artificial ao nível do ensino básico, enraizando a base da literacia científica”. No debate do dia 11 deste mês, coube ao deputado Ma Io Fong apelar à regulamentação sobre a IA para evitar burlas, mas também para aumentar a consciencialização da sociedade em relação a esta nova realidade. “Com o rápido desenvolvimento da tecnologia nos dias de hoje, a utilização das funções da IA está a tornar-se gradualmente uma ajuda importante para a sociedade e os residentes na vida quotidiana e no trabalho. Porém, a IA pode dar origem a actos ilícitos, em especial, o agravamento de ataques cibernéticos e a difusão de informações falsas.” Também no período de intervenções antes da ordem do dia, o deputado pediu ao Executivo para “reforçar a sensibilização e educação sobre a prevenção de fraude na IA, sensibilizar os idosos e os jovens, enfatizando que a divulgação de vídeos falsos gerados por IA pode constituir uma infracção legal com consequências graves”. Nesse contexto, foi pedida a integração sistemática “dos conhecimentos de segurança da IA nos currículos escolares e a realização de diferentes actividades de sensibilização e educação com as associações comunitárias, para aumentar os conhecimentos do público sobre a tecnologia da IA e o risco derivado pelo seu abuso”. “Deve-se ainda, através da cooperação entre o Governo, a sociedade, as escolas e a família, reforçar a capacidade de resposta à informação e ao discurso na Internet, permitindo reagir, esclarecer e dar seguimento aos trabalhos em tempo útil, quando o público enfrenta informações que podem causar influências negativas ou ser enganosas”, apontou Ma Io Fong no debate do dia 11.
João Santos Filipe Manchete SociedadeÁgua | Garrafões de Miriam Grupo com níveis elevados de bactérias É o terceiro caso, desde o início do ano, de águas distribuídas em Macau sem cumprirem os padrões de qualidade. Os garrafões foram fornecidos a serviços públicos, como os Serviços de Saúde. Em reacção ao caso, o Miriam Grupo acusa “alguns clientes” de contaminarem propositadamente os garrafões utilizados O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) anunciou que vários garrafões de água fornecidos a serviços públicos da marca O Sun chumbaram nos testes de qualidade, apresentando níveis elevados de bactérias coliformes e bactérias pseudomonas aeruginosa. As coliforme são um tipo de bactérias, como a e.coli, que habitam no intestino de mamíferos, enquanto as bactérias pseudomonas aeruginosa podem ser encontradas nas águas e nos solos e podem levar a infecções graves nos pulmões, na pele ou no tracto urinário. O problema com a água O Sun, do Miriam Grupo Limitada, foi identificado em lotes produzidos a 7 e 21 de Maio deste ano, e comunicados na sexta-feira. No entanto, a informação disponibilizada pelo IAM e pelos SS não revelaram a altura em que os problemas foram detectados pelas entidades. Desde o início do ano, esta é a terceira marca de águas de Macau a apresentar problemas ao nível da qualidade e segurança. O primeiro caso, aconteceu a 9 de Março com a marca Iceblue, da fábrica Oi Kou Pou. Mais recentemente, também em Maio, as autoridades detectaram problemas com a água da marca Ieong Iat Tat (tradução fonética). A água O Sun terá sido fornecida a serviços públicos locais, entre os quais os Serviços de Saúde (SS). Todavia, foi negado que a água contaminada tivesse entrado no comércio a retalho, hospitais ou escolas. “Os dois lotes de água destilada não entraram no mercado de venda a retalho, sendo principalmente fornecidos a serviços do Governo e sociedades comerciais. Os lotes também não foram fornecidos a escolas nem hospitais”, foi comunicado pelos SS. Após a divulgação da informação, os SS anunciaram o cancelamento do fornecimento de água daquela marca: “Após verificação, os lotes em causa não foram fornecidos aos Serviços de Saúde. No entanto, por razões de segurança, os Serviços de Saúde pararam de utilizar as águas potáveis daquela marca, e passaram a utilizar as águas engarrafadas de outra marca qualificada, a fim de assegurar o fornecimento de água potável”, foi justificado. O comunicado não identifica se há um novo fornecedor de água ou se apenas foi trocada a marca de água do Miriam Grupo Limitada. Ataque de “alguns clientes” Após a detecção deste caso, o IAM comunicou ter pedido ao grupo para “aplicar medidas de prevenção, nomeadamente a recolha dos lotes das águas destiladas envolvidos, bem como implementar a limpeza e desinfecção da linha de produção” de água. O Miriam Grupo Limitada também respondeu ao caso ao indicar que desde 1 de Junho que tinha emitido um aviso a alertar para a recolha dos lotes contaminados e que desde 30 de Maio a produção de água foi suspensa, para limpeza e aplicar as rectificações necessárias. A mesma informação indicou que em relação ao lote de 7 de Maio foram recolhidos 196 dos 367 garrafões de água produzidos e face ao lote de 21 de Maio foram recolhidos 121 dos 432 garrafões de água distribuídos. “Sob a testemunha e organização do IAM, os lotes dos garrafões de água anormais foram eliminados. Entre 30 de Maio e 1 de Junho, uma empresa de limpeza independente também procedeu à limpeza da fábrica e os equipamentos de produção. Cerca de 9.000 garrafões de água dos lotes em Maio foram eliminados,” foi divulgado pelo grupo. No comunicado, o grupo queixou-se ainda da cobertura mediática, e desmentiu que o lote de 7 de Maio tivesse apresentados resultados positivos de contaminação de bactérias coliformes, não desmentido a contaminação com bactérias pseudomonas aeruginosa. O Miriam Grupo Limitada acusou ainda alguns clientes de contaminarem os garrafões usados, que depois são devolvidos, para prejudicar a empresa.
Hoje Macau Manchete SociedadeVisitantes | Segundo melhor arranque de sempre até Maio Entre Janeiro e Maio foram recebidos 16,3 milhões de visitantes, o segundo melhor registo de sempre de visitantes. No entanto, o número ainda está abaixo do que acontecia antes da pandemia e da política de isolamento Macau recebeu nos primeiros cinco meses deste ano 16,3 milhões de visitantes, o segundo valor mais elevado de sempre para um arranque de ano, foi anunciado na sexta-feira. De acordo com dados oficiais, o número de turistas que passou por Macau só foi superado entre Janeiro e Maio de 2019 – antes da pandemia de covid-19 -, período em que registou quase 17,2 milhões de visitantes. No entanto, segundo a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC), quase 59 por cento dos visitantes chegaram em excursões organizadas e passaram menos de um dia na cidade. Em 2024, o Governo Central divulgou uma série de medidas de apoio a Macau, como o aumento do limite de isenção fiscal de bens para uso pessoal adquiridos por visitantes da China. Ao mesmo tempo, as autoridades chinesas alargaram a mais 10 cidades da China a lista de locais com “vistos individuais” para visitar Hong Kong e Macau. Além disso, desde 1 de Janeiro que os residentes da vizinha cidade de Zhuhai podem visitar Macau uma vez por semana e ficar até sete dias. Em resultado, a esmagadora maioria (90,7 por cento) dos turistas que chegaram a Macau nos dois primeiros meses do ano vieram do Interior ou Hong Kong, enquanto somente 1,14 milhões foram visitantes internacionais. A 17 de Janeiro, a directora dos Serviços de Turismo de Macau, Maria Helena de Senna Fernandes, disse esperar que Macau possa receber entre 38 e 39 milhões de visitantes este ano. Em Agosto, a dirigente apontou como meta mais de três milhões de visitantes internacionais em 2025. Mais sem vistos As autoridades do território anunciaram na segunda-feira que cidadãos nacionais da Arábia Saudita, Qatar, Kuwait, Barém e Omã estão dispensados de visto para entrar em Macau a partir de 16 de Julho. A medida surge numa altura em que o Governo de Macau quer atrair mais visitantes internacionais e após as autoridades e operadores turísticos do território terem visitado, em Fevereiro, a Arábia Saudita e o Dubai, para promover a cooperação. Apesar do aumento no número de turistas, o consumo médio de cada visitante, excluindo nos casinos, caiu 13,2 por cento no primeiro trimestre do ano, em comparação com o mesmo período de 2024. No início de Maio, a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos da região apontou a “alteração do padrão de consumo dos visitantes” como uma das principais razões para a queda de 1,3 por cento da economia de Macau entre Janeiro e Março. Foi a primeira vez que o Produto Interno Bruto do território encolheu, em termos homólogos, desde o final de 2022, quando a região começou a levantar as restrições devido à pandemia de covid-19.
João Santos Filipe Manchete PolíticaEleições | Após 35 anos, Kou Hoi In está em vias de deixar a AL Além de Kou Hou In, podem ainda estar de saída Chui Sai Cheong e Vong Hin Fai. No sentido oposto, entram para as listas do sufrágio indirecto Kevin Ho, Vong Hou Piu e Wong Chon. Iau Teng Pio e Si Ka Lon juntam-se também ao sufrágio indirecto O actual presidente da Assembleia Legislativa (AL), Kou Hoi In, está fora das listas às eleições pelo sufrágio indirecto e deverá ficar de fora do hemiciclo pela primeira vez desde 1991. A manutenção de Kou no parlamento depende agora de uma eventual nomeação por Sam Hou Fai, Chefe do Executivo. Nos últimos anos, o empresário foi sempre eleito pela lista União dos Interesses Empresariais de Macau, mas não consta na lista de candidatos, tal como Wang Sai Man, que tinha sido eleito deputado pela primeira vez em 2021. No sentido oposto, o empresário e sobrinho de Edmund Ho, Kevin Ho passa a integrar a lista, o que lhe garante praticamente a eleição. Para esta lista entra igualmente Si Ka Lon, deputado desde 2013, eleito pelo sufrágio directo nas listas da comunidade de Fujian, ligadas ao empresário Chan Meng Kam. Desta vez, Si Ka Lon candidata-se à AL através do sufrágio indirecto. Kevin Ho e Si Ka Lon são igualmente deputados por Macau à Assembleia Popular Nacional. Em relação a 2021, a União dos Interesses Empresariais de Macau mantém nas listas José Chui Sai Peng, empresário, e Ip Sio Kai, vice-presidente da sucursal de Macau do Banco da China. Estes dois candidatos, assim como Kevin Ho e Si Ka Lon, têm a eleição confirmada, dado que nos sectores industrial, comercial e financeiro apenas exista uma lista para quatro lugares. O único entrave à eleição seria um chumbo às candidaturas da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) ou da Comissão de Defesa da Segurança do Estado. Durante a entrega da lista, Chui Sai Peng, primo do antigo Chefe do Executivo Fernando Chui Sai On, afirmou, citado pelo jornal Ou Mun, que o objectivo da lista é contribuir para melhorar o ambiente de negócios em Macau, e reforçar o desenvolvimento da economia. Mais mudanças As mudanças esperadas a nível da Assembleia Legislativa não se ficam pelos sectores industrial, comercial e financeiro, também no sector profissional há mudanças, Chui Sai Cheong, vice-presidente da AL, Vong Hin Fai, presidente da Associação dos Advogados de Macau, e Chan Iek Lap ficam fora da lista União dos Interesses Profissionais de Macau. O médico tinha revelado em Fevereiro do ano passado que estava de saída. No entanto, em relação a Chui Sai Cheong e Vong Hin Fai não havia essa indicação. Todavia, estes deputados podem passar a ser nomeados pelo Chefe do Executivo. Vong Hin Fai e Chan Iek Lap vão ser substituídos por Vong Hou Piu, contabilista e Wong Chon, médico. A lista passa a ser liderada Iau Teng Pio, advogado e académico, que até agora se encontrava na Assembleia Legislativa por nomeação do Chefe do Executivo. Em declarações citadas pelo jornal Ou Mun, Iau Teng Pio afirmou que a lista em como objectivo “desenvolver o primado da lei” e “alcançar progresso comum na indústria”.
João Luz Manchete PolíticaMercado do Patane | CE ouve queixas de comerciantes O Chefe do Executivo visitou vários bairros de Macau, incluindo o Fai Chi Kei, Ilha Verde e a zona do Canídromo. No Mercado do Patane, Sam Hou Fai ouviu queixas de maus negócios e prometeu encontrar soluções em conjunto com a sociedade. Além disso, revelou que está a ser estudada a possibilidade de ligar Qingmao ao Fai Chi Kei através do Metro Ligeiro O Chefe do Executivo fez um périplo pela península de Macau no sábado, visitando vários bairros acompanhado por secretários do seu Executivo. Sam Hou Fai foi ao Mercado do Patane, ao Bairro da Ilha Verde e ao Bairro de Fai Chi Kei, “para se inteirar sobre o ambiente de exploração de negócios, bem como visitou o antigo Canídromo Yat Yuen” para conhecer o andamento dos trabalhos de construção do parque desportivo. No Mercado Municipal do Patane, o líder do Governo ouvir comerciantes que se queixaram da falta de clientes e de vendas fracas. “Estamos a viver tempos muito difíceis. Só conseguimos ganhar 200 ou 300 patacas por dia, embora a renda do mercado seja baixa, não conseguimos cobrir as despesas. Se o senhor Chefe do Executivo não conseguir resolver [o problema], como conseguiremos nós resolver?”, perguntou uma comerciante de uma banca de venda de produtos frescos. Sam Hou Fai apontou para a cooperação. “Vamos trabalhar em conjunto para resolver o problema”, respondeu o governante. A vendedora voltou à carga e argumentou que os hábitos de consumo online arrasaram o comércio tradicional. “Agora os residentes não fazem compras nas lojas. Depois da pandemia, só fazem compras online”, alertou a residentes. “Não podemos fechar a internet, isso é impossível”, respondeu entre risos Sam Hou Fai, comentando que “as coisas mudaram muito”. “Vamos trabalhar em conjunto para tentar resolver os problemas”, insistiu o Chefe do Executivo. A comerciante da banca ao lado, face à resposta sobre como vão os negócios traçou o mesmo cenário. “O negócio continua difícil, é verdade. A vida dos residentes está cada vez mais difícil. Esperamos que com a sua liderança, o ambiente do mercado possa ser optimizado”, afirmou. Sam Hou Fai respondeu que esse também era o seu desejo. Reforço dos apoios O Chefe do Executivo visitou também o centro de comidas do Patane, onde falou com residentes e turistas. Sam Hou Fai incentivou os comerciantes a “implementarem, constantemente, novidades, de modo a explorarem características que atraiam mais visitantes”. Após a passagem pelo Patane, a comitiva liderada pelo Chefe do Executivo foi para a Ilha Verde, Fai Chi Kei e redondezas, acompanhada pelo secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip. Alguns comerciantes pediram a Sam Hou Fai uma nova ronda de Grande Prémio do Consumo para melhorar os negócios. O Chefe do Executivo aproveitou também para visitar o “jardim dos sonhos de personagens da Sanrio”, e o Pavilhão do Sentimento de Amor pela Pátria da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude, onde interagiu com estudantes. Em relação ao “jardim dos sonhos”, Tai Kin Ip afirmou que em cerca de 80 dias, a iniciativa “conseguiu desviar mais de 240 mil visitantes para o bairro social”. Por último, Sam Hou Fai visitou o terreno do antigo Canídromo Yat Yuen onde está planeada a construção de um parque desportivo e ficou a conhecer o ponto de situação dos trabalhos, ouvindo uma apresentação do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raymond Tam. O Chefe do Executivo referiu que o “concurso público das obras para a primeira zona está previsto para breve”. Em relação ao trânsito das zonas adjacentes, Sam Hou Fai revelou que as obras para a linha Leste do Metro Ligeiro que liga a Zona Norte da cidade à Taipa decorrem a bom ritmo. O governante revelou que o seu Executivo “está a estudar a possibilidade de estender a linha do Metro Ligeiro desde o Posto Fronteiriço de Qingmao até ao Bairro de Fai Chi Kei, assim como ao futuro parque desportivo”.
Hoje Macau Grande Plano MancheteHistória | A fuga dos Ma-Chan para o Portugal colonial e para Macau A família Ma-Chan é de Moçambique com raízes chinesas, procurou o seu novo caminho no então Portugal colonial e desde 1976 que fixou raízes em Macau. José Manuel Machon, residente no território desde os 13 anos, contou à Lusa a trajectória muito peculiar da sua família, que reflecte muitos dos rumos familiares tomados nos anos de guerra e do fim do império colonial português Os Ma-Chan, família moçambicana com raízes na China, fugiram duas vezes ao comunismo e duas vezes recomeçaram no Portugal colonial. Em 1976, desembarcaram em Macau, onde se apagara a memória de Moçambique com a partida dos landins, tropas africanas que estacionaram no território por décadas desde 1912. Segundo uma reportagem de Luís Andrade de Sá publicada na Revista Macau em 1992, e citada pelo blogue “Crónicas Macaenses”, os landins ficaram em Macau “durante cerca de cinco décadas”, sendo que “os chineses nunca se habituaram ao seu convívio, desconfiados que se mantiveram dos enormes negros que tocavam uma horrível batucada enquanto volteavam as zagaias com uma ostensiva ferocidade”. O termo landim passou a ser referência “para identificar todos os batalhões indígenas que passaram por Macau”, é descrito na mesma reportagem. Massá Ma-Chan dirigiu-se em 1963 à conservatória de Nampula, norte de Moçambique, para registar o quinto filho, mas, mais uma vez, negaram a este chinês, com raízes em Guangzhou, a transmissão do apelido à descendência. A José Manuel coube a mesma sorte dos irmãos: o apelido Machon, corruptela de Ma-Chan. A identidade de José Manuel Machon, embrionariamente marcada por esse detalhe burocrático imposto pela então Moçambique portuguesa, é não apenas reflexo do passado colonial de Portugal, mas dos primórdios das relações sino-moçambicanas. “Não tenho grandes confusões, tentei adaptar-me à vida”, diz à Lusa em Macau, onde vive desde os 13 anos. O avô – também Ma-Chan – foi quem definiu que esta história começava em África, ao deixar a China à procura de melhor vida, no arranque do século XX, e instalar-se em Nampula, ao lado de Xarifa, uma mulher macua, grupo étnico moçambicano. Massá, o filho – e pai de José Manuel -, foi enviado para Guangzhou aos 14 anos, para aí receber educação formal. Quando regressa a Moçambique, é um homem casado, com uma marca de bala junto ao ombro esquerdo. Na China, enfrentou os japoneses na segunda Grande Guerra e casou-se com uma chinesa, que conheceu no dia do matrimónio, até que, no limiar da guerra civil, que viria a dar vitória aos comunistas de Mao Zedong, fugiu. Dedicou-se, em Nampula, ao negócio do pepino-do-mar – o ‘magajojo’ – e da barbatana de tubarão, que exportava para Hong Kong. O grande regresso Entretanto, sem conseguir adaptar-se, a mulher regressou a Macau com os quatro filhos, onde acabou por morrer. Massá voltou a casar, desta vez com uma moçambicana – José Manuel veio primeiro, Carla depois. Quando a bandeira da Frelimo se ergueu no mastro em Moçambique, em 25 de Junho de 1975, os Ma-Chan rumaram a Macau, com breve passagem por Portugal, onde habitaram uma pensão paga pelo então Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais, o IARN. “Não somos nada retornados, porque a gente não retornou a lado nenhum, somos refugiados”, afirma Carla Machon, a residir em Portugal. “Quando o meu pai ouviu falar novamente de comunismo, fugiu”, conta em Macau o irmão, José Manuel. Enquanto fala, bolas de bowling embatem no chão e percorrem a pista até novo estrondo. O barulho no Centro de Bowling Future Bright parece não incomodar este homem grande, de 61 anos, fluente em cantonês e português e presidente do Clube Bowling de Macau. “Isto é o que me mantém estável. Em vez de ir para os copos, venho para aqui”, nota. Para José, a independência “foi um abrir de olhos, uma abertura para o mundo”. Nem fala em razões políticas, mas como foi importante cruzar meio mundo até chegar a Macau. Uma nova vida Nesse virar de página, a família Ma-Chan/Machon veio encontrar, em 1976, uma cidade com pouca presença civil do exterior. José e Carla não se lembram de outros moçambicanos, que começaram a chegar após a independência, muitos vindos de Portugal. A fortaleza de Mong-Há é velha testemunha da presença de Moçambique em Macau. Aí estiveram aquartelados os landins, soldados moçambicanos ao serviço do exército colonial, recorda à Lusa o jornalista João Guedes, estudioso da história de Macau. É essa circunstância histórica que baptizou a colina de Mong-Há de “montanha dos fantasmas negros” (‘hak gwai san’). Estes tropas, com o “maior instinto guerreiro”, na expressão do imperador Gungunhana, permaneceram em Macau meio século, até por volta dos anos 1960. Eram responsáveis, por exemplo, pela guarda das Portas do Cerco, fronteira do território com a China e local de incidentes recorrentes. “Passaram por aqui e desvaneceram como se nunca tivessem estado”, retoma Guedes, indicando não haver qualquer património material que ateste essa presença militar. Não muito longe de Mong-Há, porém, no restaurante Riquexó, as tropas ainda lá estão, eternizadas em fotos penduradas nas paredes. Aí serve-se galinha africana, prato macaense, cuja origem é ainda hoje alvo de debate. Duas teorias: foi criado pelo chefe português Américo Ângelo, inspirado por uma viagem a Moçambique. Outra versão dá conta que, vendo os soldados africanos com saudade de frango assado, Américo confeccionou o prato. E a memória das relações Macau-Moçambique não se completa sem evocar o tráfico de cules. Se, por um lado, se sabe que os portugueses levaram escravos das colónias africanas ao se estabelecerem às portas da China, no sentido inverso, foram enviados também, via Macau, chineses para trabalhar em Moçambique, muitas vezes em condições de escravatura. Os cules fizeram parte de um movimento migratório a partir de finais do século XIX, “para desenvolver a colónia moçambicana”, explica a professora da Universidade Joaquim Chissano, em Maputo, Fátima Papelo, que investiga a cooperação sino-moçambicana. O primeiro grupo, diz, foi enviado em 1858 e “era composto por 30 homens”. Mais de um século depois, na luta pela independência moçambicana, Pequim apoiou a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e é um dos primeiros países a reconhecer o novo Estado soberano. Em Macau, continua Papelo, o reforço dos laços deu-se mais tarde, com a transição do território de Portugal para a China, em 1999. Mas para José Manuel, Moçambique conservou-se sempre presente. Da última vez que lá foi, conta, visitou e limpou a campa da família, “lá na machamba”. “É um costume chinês”, explicou.
João Luz Manchete SociedadeHabitação | Vendas e preços continuam em queda Depois de um mês de Abril animador, Maio voltou a registar quebras a toda a ordem nas vendas e preços da habitação. No mês passado, foram vendidas 195 casas em Macau, total que representou uma quebra mensal de 31 por cento e menos 43,6 por cento em termos anuais. Os preços levaram um corte anual de quase um quarto do valor Os sinais positivos do mercado imobiliário para a habitação que se registaram em Abril, dissiparam-se em Maio. A negra realidade do mercado é comprovada pelos mais recentes dados respeitantes às fracções autónomas destinadas à habitação que foram declaradas para liquidação do imposto do selo por transmissões de bens, publicados no site da Direcção dos Serviços de Finanças (DSF). No passado mês de Maio, foram vendidas na RAEM 195 fracções para habitação, das quais 150 estão localizadas na península. Este total de vendas representa uma quebra mensal de 31 por cento, descida mais acentuada quando comparada com Maio de 2024 (-43,6 por cento). Também nos preços, os dados da DSF demonstram descidas face ao preço médio do metro quadrado do mês passado, 78.143 patacas. Em termos mensais o preço diminuiu 7,3 por cento, mas a comparação anual revela uma quebra de 24 por cento. Na zona onde se registaram mais vendas, a península, foram transaccionadas menos 69 fracções, ou 31,5 por cento, face a Abril deste ano. A quebra é mais acentuada (-33,6 por cento) face a Maio de 2024. Números insulares A performance do mercado imobiliário para habitação em Maio não foi melhor nas Ilhas. No mês em análise, foram vendidas 36 casas na Taipa, quase metade das transacções registadas em Maio de 2024, quando foram vendidas 73, resultando numa quebra anual de 50,7 por cento. Face a Abril deste ano, a quebra de vendas foi de 30,8 por cento. Os preços seguiram a mesma tendência. Em Maio deste ano o preço do metro quadrado na Taipa atingiu 70.934 patacas, valor que representou uma descida de 14,1 por cento em relação a Abril deste ano, e uma quebra de 36,6 por cento em termos anuais. Na zona mais cara do território, Coloane, foram vendidas apenas uma dezena de fracções para habitação em Maio. A fraca performance reflectiu uma quebra de vendas de 16,7 por cento em termos mensais. Em termos anuais, o mercado de habitação em Coloane registou uma quebra de 78,7 por cento na venda de fracções. Porém, Coloane registou a única flutuação positiva nos dados estatísticos de Maio, com a subida mensal dos preços das habitações de 4,6 por cento, para um preço médio de 92.184 patacas por metro quadrado. Ainda assim, o preço médio do metro quadrado em Coloane caiu 8,6 por cento face a Maio de 2024.
João Santos Filipe Manchete SociedadeÍndice de Satisfação | Residentes preferem restaurantes de Zhuhai Ao contrário da tendência dos anos anteriores, o Índice de Satisfação dos Consumidores de Macau publicado pela MUST mostra que também as lojas de roupas e calçado local estão a perder a vantagem, ao nível da satisfação dos clientes, face a Zhuhai Os residentes de Macau estão mais satisfeitos com os restaurantes de Zhuhai do que com os da RAEM. A tendência foi identificada pelo Índice de Satisfação dos Consumidores de Macau, publicado pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST, em inglês), e confirma o cenário dos anos anteriores. Tendo em conta cinco aspectos como qualidade dos produtos, qualidade do serviço, relação custo-benefício, número de queixas e lealdade dos clientes, o índice apresenta, numa escala de 0 a 100 pontos, um grau médio de satisfação de 78,4 pontos em relação aos restaurantes de Zhuhai. Nos restaurantes de Macau, o grau médio de satisfação não foi além dos 72,3 pontos. No entanto, os 915 questionários realizados entre Março e Abril mostram que os consumidores consideram que a qualidade dos restaurantes, tanto em Macau como em Zhuhai, está a subir. Em 2024, a pontuação dos restaurantes de Zhuhai era de 75,4 pontos, pelo que se registou uma melhoria de 3 pontos, de acordo com os cálculos apresentados. Em Macau a melhoria foi mais ligeira, subindo para 72,3 pontos, uma diferença de 1,1 pontos. O aspecto que mais satisfaz os residentes a nível dos restaurantes de Zhuhai é a relação custo-benefício, o que significa os preços mais baixos, com uma pontuação de 80,1 pontos, um aumento de 4,1 pontos face ao ano anterior. A qualidade da comida foi pontuada com 78,1 pontos, mais 2,6 pontos do que no ano passado, e a qualidade do serviço foi avaliada com 77,8 pontos, um aumento de 2,1 pontos. Na RAEM a qualidade do serviço foi avaliada com 73,5 pontos (aumento de 1,2 pontos), a qualidade da comida foi avaliada com 73,0 pontos (subida de 1,5 pontos) e o custo-benefício com 71,5 pontos (crescimento de 1,5 pontos). Lojas: sinais de preocupação Em termos das lojas de roupas e calçado, verificam-se sinais de preocupação para o comércio local, que perdeu a vantagem, em termos de satisfação, face ao comércio de Zhuhai. O índice deste ano mostra que a pontuação das lojas de Macau foi de 73,4 pontos, igual à de Zhuhai. Em 2024, Macau tinha conseguido um grau de satisfação de 75,4 pontos, pelo que houve uma redução de 2 pontos. A redução em Zhuhai foi menor, dado que no ano anterior a satisfação tinha sido de 74,2 pontos. A nível das lojas de Macau a qualidade do serviço obteve uma pontuação de 73,9 pontos, a qualidade dos produtos com 73,7 pontos e o custo-benefício com 73,7 pontos. Em Zhuhai, a qualidade do serviço foi avaliada com 73,5 pontos (menos 0,4 pontos), a qualidade do produto com 73,4 pontos (menos 0,3 pontos) e o custo-benefício com 73,3 pontos (menos 0,3 pontos).
João Luz Manchete SociedadeOrçamento | Saldo deste ano caiu 96% para 290 milhões O saldo orçamental apresentado na proposta do Governo anterior, pelo ex-secretário para a Economia e Finanças Lei Wai Nong, foi cortado significativamente de 7,7 mil milhões de patacas para 290 milhões de patacas. A revisão reflecte a descida das receitas fiscais e o aumento da despesa Um dos diplomas que os deputados da segunda comissão permanente da Assembleia Legislativa têm em mãos é a Alteração à Lei do Orçamento de 2025, que foi votada na generalidade no passado dia 11 de Junho, contando com todos os votos favoráveis dos deputados presentes, à excepção da abstenção de Ron Lam. Ontem, realizou-se a primeira reunião entre os deputados e membros do Governo para avaliar a revisão orçamental e alinhar o Orçamento da RAEM para este ano com a realidade económica da região. Uma das novidades avançadas ontem prende-se com a revisão do saldo orçamental para este ano, que foi cortado em 96,3 por cento, para 290 milhões de patacas do valor inicial apresentado pelo ex-secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, de 7,7 mil milhões de patacas. Os números foram avançados pelo deputado Chan Chak Mo, que preside à comissão permanente que analisa na especialidade a lei de revisão do orçamento. Segundo o deputado, as principais mudanças no diploma dizem respeito à queda de 3,8 por cento das receitas fiscais e ao aumento de 2,5 por cento das despesas. Para lá das questões orçamentais, importa recordar que os activos da Reserva Financeira de Macau atingiram no final de Março 623,6 mil milhões de patacas, o valor mais elevado dos últimos três anos. Mundos e fundos Segundo Chan Chak Mo, os deputados da comissão demonstraram uma particular preocupação com o aumento de 650 milhões de patacas na despesa orçamentada para o Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização. O legislador revelou que os representantes do Executivo justificaram o incremento das verbas alocadas para o fundo com a necessidade de apoiar os processos de digitalização e promoção de pequenas e médias empresas, assim como o lançamento do “plano das lojas com características especializadas e delicadas”. Chan Chak Mo indicou que os deputados não ficaram esclarecidos e que esperam que o Governo explique o aumento do orçamento para o fundo mais detalhadamente. Quanto à Plano de Investimentos e de Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA), a Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública tem dois projectos novos que vão implicar o aumento do orçamento em mais 100 milhões de patacas. O reforço orçamental irá pagar a construção do Centro de Catástrofes de Computação em Nuvem. Outro dos aumentos de despesa contemplados na revisão orçamental, diz respeito à terceira fase de expansão da Central de Incineração de Resíduos Sólidos de Macau, que passou a estar orçamentada em cerca de 200 milhões de patacas, depois do aumento de 114 por cento face ao valor inicial. Também sobre este projecto, Chan Chak Mo indicou que a comissão vai convidar na próxima semana os serviços responsáveis para apresentarem mais detalhes. Taxa de execução de 22 % até Março No primeiro trimestre, a taxa de execução do Orçamento da RAEM atingiu 22,8 por cento, de acordo com os números apurados pela Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas da Assembleia Legislativa. Wong Kit Cheng, recordou que o orçamento do Plano de Investimentos e de Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) foi de 19,78 mil milhões de patacas para este ano. Wong Kit Cheng explicou também que o PIDDA prevê 23 projectos novos, incluindo as obras de reordenamento da caixa de retenção de águas na Avenida do Aeroporto, na Taipa, e a construção de diques no aterro para resíduos de materiais de construção. A deputada apontou que 49 projectos registaram zero taxa de execução orçamental, incluindo 13 projectos da Direcção dos Serviços de Obras Públicas, cinco projectos da Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água, cinco projectos da Universidade de Macau, quatro projectos do Instituto para os Assuntos Municipais e quatro projectos da Direcção dos Serviços das Forças de Segurança de Macau. A taxa de execução zero significa que estes projectos ainda não estão em andamento.
João Santos Filipe Manchete PolíticaAL | Ho Ion Sang continua no sector dos serviços sociais e educação Na apresentação da lista, o representante dos Moradores afirmou sentir-se “mais determinado e com maior coragem” para desempenhar as funções de deputado devido aos “importantes discursos de Xi Jinping”, que o deixaram “extremamente emocionado” Ho Ion Sang é o único membro da lista Associação de Promoção do Serviço Social e Educação e deverá manter-se como deputado do sector dos serviços sociais e educacional. Esta é a única lista a concorrer num sector que nunca foi disputado por mais do que uma pessoa desde que foi autonomizado em 2009, face aos sectores culturais e desportivo. Após entregar a lista, o também deputado dos Moradores, que se fez acompanhar pela presidente da associação, Ng Sio Lai, prometeu que vai continuar a dedicar-se “à população em geral”, aos serviços sociais e à educação. De acordo com declarações citadas pelo jornal All About Macau, Ho Ion Sang afirmou igualmente ter ficado “extremamente emocionado” com os “importantes discursos de Xi Jinping” feitos durante a vista a Macau no final do ano passado, por ocasião das celebrações do 25.º aniversário da RAEM. Ho Ion Sang explicou que devido a esses discursos “se sente mais determinado e com maior coragem” para continuar a desempenhar as funções de deputado. Em relação aos objectivos da candidatura, Ho destacou a necessidade de inovar a nível dos serviços sociais e de apostar na diversificação da educação. O legislador destacou ainda a necessidade de garantir que a cidade tenha cada vez melhores condições de habitabilidade e que proporcione uma vida muito feliz. Ho Ion Sang prometeu também fazer todos os esforços para “ouvir de forma atenta” a população e todos os sectores da sociedade, não se focando exclusivamente nos sectores dos serviços sociais e educação. Lugar cativo Ho Ion Sang é vice-presidente da União Geral das Associações dos Moradores de Macau, plataforma que o apoia como deputado desde 2009, primeiro ano em que passou a integrar Assembleia Legislativa (AL). Nos primeiros dois mandatos, entre 2009 e 2017, Ho foi eleito pelo sufrágio directo. No entanto, desde 2021 que foi incluído na lista pelo sufrágio indirecto, assumindo o lugar que normalmente era ocupado por Chan Hong, colega da associação, e que ontem também esteve presente na entrega da lista. Ho Ion Sang é ainda funcionário da sucursal de Macau do Banco da China, onde trabalhou durante vários anos e actualmente exerce o cargo de consultor. Além disso, é membro permanente do Comité Nacional da 14.ª Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC). Na actual legislatura, além de Ho, a associação dos Moradores está representada com os deputados Leong Hon Sai e Ngan Iek Hang. A lista dos Moradores que vai participar no sufrágio directo, com o nome União Promotora para o Progresso, deverá ser conhecida nos próximos dias.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaSubsídio para a infância | Lo Choi In pede alargamento para seis anos de idade A deputada Lo Choi In usou ontem o período de intervenções antes da ordem do dia para pedir ao Governo a extensão do subsídio para a infância para crianças até aos seis anos de idade. A medida apresentada este ano prevê o apoio para crianças até aos três anos para combater a acentuada quebra na taxa de natalidade É certo que ainda agora o subsídio para a infância foi criado pelo actual Executivo, liderado por Sam Hou Fai. Esta foi, aliás, uma das grandes novidades do seu primeiro relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano. Porém, isso não impediu a deputada Lo Choi In de sugerir a extensão do apoio para crianças até aos seis anos de idade, sendo que actualmente o apoio está previsto para crianças dos 0 aos 3 anos. O subsídio começará a ser distribuído a 15 de Julho terá um valor global de 18 mil patacas. “Apelo ao Governo para que, em relação ao aumento da taxa de natalidade, adopte políticas e medidas mais abrangentes”, nomeadamente “o alargamento do âmbito do subsídio de assistência na infância a crianças até aos 6 anos, agora até aos 3 anos, para abranger mais famílias com necessidades, apoiando-as a suportarem os custos com crianças e elevando a sua qualidade de vida”. A deputada apresentou os exemplos seguidos noutros países e regiões, nomeadamente o Japão, que definiu a baixa taxa de natalidade como “uma das acções governativas mais importantes a resolver pelo seu Governo”. Segundo a deputada, o Governo japonês “definiu um plano de apoio financeiro de 5 anos, dando assim importância muito maior comparativamente com a nossa medida”. Ao todo, o Japão dá apoios a crianças e jovens até à idade de 18 anos. Dados citados pela deputada mostram que em 2013 a taxa de natalidade foi de 11,1 por cento, com 6600 recém-nascidos, números que caíram para 5,3 por cento no ano passado, “com apenas 3607 recém-nascidos”. Assim, “os números evidenciam que, em 10 anos, a taxa de natalidade diminuiu para metade”. Do Japão à Coreia Lo Choi In dá os parabéns ao Executivo de Sam Hou Fai por se ter “apercebido da situação e tomado de imediato uma série de medidas”, que passam também pelo “aumento do subsídio de nascimento do Fundo de Segurança Social”. “As despesas familiares são muito elevadas. O novo subsídio de assistência na infância não é abrangente e é insuficiente, não abrangendo as crianças nascidas antes dos anos 2020-2021, ou seja, famílias que já sustentaram dois, três ou mais filhos”, comentou a deputada ligada à comunidade de Jiangmen. “Actualmente, face à inflação, à recessão económica e a um ambiente social em que se quer dar tudo do melhor para os filhos, teremos de ver quais serão os resultados deste subsídio”, acrescentou. Além do Japão, Lo Choi In apresentou também o exemplo de Taiwan, cujo subsídio de assistência na infância é atribuído até aos seis anos, enquanto que na Coreia do Sul “a taxa de natalidade é igualmente baixa e é [um país] menos rico do que nós”, embora “o subsídio de assistência na infância abranja crianças até aos sete anos, as quais podem obter um subsídio total superior a 100 mil dólares de Hong Kong”. Lo Choi In referiu que, neste caso, “há subsídios escalonados, para incentivar e ajudar as famílias com mais de dois filhos”. “Os efeitos do subsídio das referidas três regiões, ao nível do aumento da taxa de natalidade, ainda estão por observar, mas, em comparação, o nosso apoio é obviamente insuficiente”, rematou.
João Luz Manchete SociedadeCasinos-satélite | DSAL acompanha situação de 70% dos funcionários O Governo enviou pessoal aos casinos-satélite que vão encerrar para oferecer aconselhamento legal, encaminhamento para empregos e formação profissional. As autoridades acompanharam quase 3.900 trabalhadores, cerca de 70 por cento dos recursos humanos dos casinos que vão fechar As autoridades estão no terreno a tentar ajudar os trabalhadores dos casinos-satélite que vão encerrar no fim do ano. Pelo menos, de acordo com o trabalho de acompanhamento feito por equipas da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), que enviou na segunda-feira 62 inspectores a 10 casinos-satélite e três casas de máquinas de slot. Segundo um comunicado divulgado na terça-feira à noite pela DSAL, foram organizadas 38 sessões pelas operadoras de jogo, com a supervisão da DSAL, sobre direitos laborais. Além disso, as equipas da DSAL prestaram aconselhamento legal e sobre opções de formação profissional, além de terem sugerido encaminhamento para empregos aos profissionais dos espaços que vão encerrar. No total, as sessões de aconselhamento contaram com a participação de 3.878 trabalhadores, o que representa quase 70 por cento de toda a força de trabalho dos casinos-satélite que vão fechar. A DSAL acrescentou que irá continuar a organizar este tipo de sessões de esclarecimento sobre direitos laborais e encaminhamento dos trabalhadores. Encontro de vontades Ao longo desta semana, a DSAL e as três concessionárias de jogo sob cujas licenças se realizam as operações de jogo dos casinos-satélite organizaram sete sessões de emparelhamento e entrevistas de emprego. A primeira concessionária a participar foi a SJM Resorts, que na segunda-feira fez 84 entrevistas, a 87 profissionais inscritos, para empregos com funções de atendimento ao cliente, alimentação e bebidas e gestão de instalações em oito locais. As outras duas sessões ocorreram na terça-feira e ontem e foram acompanhadas por pessoal da DSAL. Entretanto, alargando o escopo dos destinatários a todos os residentes de Macau, a DSAL anunciou ontem que vai organizar seis feiras de emprego, com 418 vagas disponíveis, para um leque de empresas ligadas ao sector. No dia 25 de Julho, vai decorrer a sessão de emparelhamento em que a Venetian Macau irá oferecer 50 vagas para especialista no desenvolvimento de clientes (serviços premium). Na tarde de 27 de Junho, é a vez da Nova Galaxy Entretenimento disponibilizar 177 vagas de emprego para subchefe de cozinha, chefe de equipa de cozinheiros, cozinheiro sénior, chefe de restauração, empregado de mesa, empregado de bar e mestre de chá. Na manhã de 30 de Junho realiza-se a sessão de emparelhamento para a SLOT – Sociedade de Lotarias e Apostas Mútuas de Macau, com 17 vagas para chefe de auditoria de TI, funcionário de atendimento ao cliente, operador de central telefónica, empregado administrativo e bilheteiro. As sessões de feira de emprego incluem na SEMAC – Companhia de Segurança de Macau, empresas de gestão de propriedades e condomínios, e empresas de comércio de artigos de roupa. As inscrições abriram esta manhã e os interessados podem inscrever-se no site da DSAL até ao meio-dia da próxima segunda-feira.
João Santos Filipe Manchete SociedadeUM / Hengqin | UMTEC pede empréstimo de mais de 135 milhões O dinheiro vai servir para cobrir as necessidades de financiamento mais imediatas da segunda fase do novo campus. Os custos da concessão do terreno, pagos às autoridades do Interior, superaram 1,40 mil milhões de patacas A UMTEC, empresa de investigação da Universidade de Macau, pediu um empréstimo de 137,60 milhões de patacas (122,38 milhões de renminbis) para financiar as obras do novo campus na Ilha da Montanha. A informação foi divulgada no portal da Direcção dos Serviços da Supervisão e da Gestão dos Activos Públicos (DSSGAP). “Tendo em perspectiva o progresso da construção do campus e o aumento das necessidades de financiamento, a UMTEC pediu um empréstimo bancário de curto prazo de 123 milhões de renminbis junto do Banco Tai Fung, em Junho de 2025”, é revelado no portal. De acordo com a mesma informação, o empréstimo tem como fiadora a Fundação para o Desenvolvimento da Universidade de Macau, e o dinheiro destina-se a cobrir as necessidades mais imediatas da construção da segunda fase do novo campus. Em relação à devolução posterior do dinheiro ao banco, é igualmente adiantado que a Universidade de Macau fez um pedido para que a Fundação Macau transfira a verba, mais tarde, para a UMTEC. O valor dos juros que vão ser pagos não foi revelado, nem o prazo de devolução do dinheiro. A informação divulgada aponta também que a UMTEC ajudou a financiar a empresa Guangdong Hengqin UM Higher Education Development, criada pela UM no Interior, para construir o novo campus. A primeira fase, que implicou a obtenção do terreno, teve um custo de 977 milhões de renminbis, uma verba superior a 1,40 mil milhões de patacas. Para 10 mil alunos De acordo com os planos anunciados anteriormente pela UM, o terreno do novo campus está dividido em nove lotes, dos quais seis vão ser utilizados para construir laboratórios, faculdades, e outras instalações universitárias, enquanto outros três lotes se prendem com a obrigação da UM de construir as estradas da Zona de Cooperação Aprofundada. A UM tem de construir um campus internacional na Ilha da Montanha, com a chancela do Governo da RAEM, virado para o ensino e investigação nas áreas da ciência, engenharia, agricultura e medicina. São esperados pelo menos 10 mil alunos no campus que deverá ficar concluído até 2028, ano em que iniciará as operações com 8 mil alunos, dos quais 4 mil a frequentarem licenciaturas. Espera-se também que o campus necessite de cerca de 500 funcionários para operar, não sendo ainda claro se a UM vai optar por residentes locais ou dar prioridade os residentes do Interior. Novo fundo Além do empréstimo, a UMTEC criou um fundo de 10 milhões de patacas apoiar empresas que possam surgir no âmbito da investigação da instituição e contribuir para “o desenvolvimento sustentável” das operações a longo prazo. O fundo foi ainda explicado com a vontade de promover uma maior coordenação entre as vertentes da investigação e os alunos. Ao mesmo tempo, este dinheiro vai servir para fazer face a despesas inesperadas. UMTEC tem como principais accionistas a Universidade de Macau, com uma participação de 99 por cento, e o Fundo Educativo, accionista minoritário, com uma participação de 1 por cento.
João Luz Manchete PolíticaPortugal | MP local recolhe provas para investigação a Rita Santos O Ministério Público da RAEM está a “promover as diligências de investigação e de recolha de provas” sobre a eventual prática em Macau “de crime contra a Lei Eleitoral de Portugal”. As diligências foram requisitadas por Portugal, ao abrigo de um pedido de cooperação judiciária, devido a queixas de irregularidades nas eleições legislativas portuguesas Ontem, circularam em grupos de Facebook publicações em chinês que indicavam que Rita Santos teria sido ouvida no Ministério Público (MP) da RAEM na sequência da investigação que corre no Ministério Público português decorrente de queixas que acusavam a dirigente da Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) de cometer ilegalidades durante as eleições legislativas portuguesas. O HM enviou questões ao MP local para apurar se Rita Santos terá sido interrogada, a pedido da entidade congénere portuguesa. A resposta chegou através de um comunicado em que as autoridades locais confirmam diligências, sem identificar directamente a ex-conselheira das Comunidades Portuguesas. “O Ministério Público de Macau recebeu um pedido de cooperação judiciária formulado pelo órgão judicial da República Portuguesa, acerca de um caso criminal relacionado com as eleições para a Assembleia da República em Portugal, o qual envolve um indivíduo que terá praticado crime contra a Lei Eleitoral de Portugal em Macau. Para esse efeito, o Ministério Público está a proceder aos procedimentos necessários nos termos de lei, e a promover as diligências de investigação e de recolha de provas em conformidade com o pedido concreto do órgão judicial da parte portuguesa”, revelou o MP local. Cartas e chamadas O HM tentou contactar por várias vezes a ex-conselheira, que abandonou o cargo no Conselho das Comunidades Portuguesas para se candidatar às próximas eleições para a Assembleia Legislativa de Macau, mas até ao fecho desta edição não recebeu resposta, inclusive a mensagens onde foi detalhada a razão dos contactos telefónicos. As polémicas e alegações de interferências da dirigente da ATFPM nas eleições portuguesas têm-se repetido ao longo dos últimos sufrágios. Nas eleições de 2024, o Partido Socialista apresentou uma queixa à Comissão Nacional de Eleições (CNE) contra Rita Santos e a ATFPM, indicando que várias pessoas terão recebido telefonemas de alegados membros da associação a indicar que “tratavam de tudo”, bastava o eleitor ir à sede da ATFPM com as cartas contendo boletins de voto para as eleições portuguesas. Essa queixa acabou por ser enviada pela CNE para o MP português. Também este ano, os socialistas voltaram a apresentar queixa à CNE por alegadamente ter sido “reportada e observada a presença de indivíduos que se identificam como ‘voluntários’ à porta de uma estação dos correios de Macau, abordando eleitores para indicar onde devem votar”.
João Santos Filipe Manchete PolíticaSufrágio indirecto | Lei Chan U de fora das listas ligadas aos Operários A Federação das Associações dos Operários de Macau apresenta pela primeira vez duas listas ao sufrágio indirecto no sector do trabalho. Fora da corrida está Lei Chan U, que para se manter deputado pode participar no sufrágio directo ou ser nomeado pelo Chefe do Executivo O deputado Lei Chan U está fora das duas listas ligadas à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) que participam no sufrágio indirecto pelo sector do trabalho. É a primeira vez desde a criação da RAEM que os dois lugares do sector do trabalho são disputados por mais do que uma lista. No entanto, o domínio da FAOM vai continuar a ser absoluto, dado que todos os quatro candidatos fazem parte da associação, como vice-presidentes. Lei Chan U é deputado desde 2017 e foi sempre eleito através de sufrágio indirecto pela lista Comissão Conjunta da Candidatura das Associações de Empregados, a única a participar nas eleições no sector laboral desde 2001. Todavia, de acordo com os dois nomes apresentados ontem da Comissão Conjunta da Candidatura das Associações de Empregados, citados pelo Jornal Ou Mun, Lei Chan U ficou de fora. No pólo oposto, o também deputado Lam Lon Wai foi mantido cabeça-de-lista, como acontece desde 2017. No segundo lugar da lista CCCA surge agora Kong Ioi Fai, que é membro do Conselho de Administração do Fundo de Segurança Social e vice-presidente FAOM. Também Lam Lon Wai é vice-presidente da FAOM. Na apresentação da lista, Lam Lon Wai citou o “espírito dos discursos de Xi Jinping” durante a viagem a Macau no final do ano passado, e insistiu na necessidade de garantir a elevação da qualidade da governação. Lam Lon Wai prometeu ainda que a lista vai defender “os direitos e interesses da classe trabalhadora”, acompanhar “as exigências dos operários” e “reflectir junto do Governo a voz das classes trabalhadoras”. Além disso, o deputado prometeu “participar activamente na política e contribuir para a prosperidade e estabilidade de Macau”. Neste cenário, para se manter como deputado, Lei Chan U pode ser nomeado pelo Chefe do Executivo ou participar na lista do sufrágio directo da FAOM, que dada a diminuta participação poderá eleger três deputados. Os actuais deputados da lista do sufrágio directo da FAOM são Ella Lei Cheng I e Leong Sun Iok. A outra lista Por sua vez, a lista União das Associações de Trabalhadores é igualmente constituída por vice-presidentes da FAOM. Naquela que é uma estreia no sufrágio indirecto, a lista vai ser liderada por Leong Pou U. No segundo lugar surge Choi Kam Fu. Na altura de apresentação da lista, de acordo com o jornal Ou Mun, Leong Pou U prometeu respeitar os princípios de justiça, responsabilidade e progresso ao participar nos assuntos sociais. Leong Pou U afirmou também que a protecção integral dos direitos e interesses dos trabalhadores só pode ser alcançada com a melhoria da legislação laboral e a criação de um ambiente de trabalho em que todos os trabalhadores se sintam encorajados a contribuir para o crescimento económico, harmonia e estabilidade da sociedade de Macau. O cabeça-da-lista defendeu também que o Governo só deve permitir a contratação de não-residentes para as situações em que é impossível contratar mão-de-obra local. As duas listas fizeram-se acompanhar por Ho Sut Heng, presidente da FAOM.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEleições | “Soldado de Mao” afirma-se inocente e diz que esteve seis dias sem conseguir tomar banho Acusado de corrupção eleitoral e de possuir um negócio ilegal de Mahjong, Wong Wai Man voltou ontem à carga para clamar a sua inocência. O presidente da Associação dos Armadores de Ferro e Aço diz ter sido “provocado” para subir até ao telhado onde esteve algumas horas, além de ter estado seis dias sem poder tomar banho ou trocar de roupa O panorama das eleições legislativas para o hemiciclo já ferve. Além de estas serem as eleições com o menor número de listas candidatas desde a criação da RAEM, a polémica está instalada com o quase candidato Wong Wai Man, que tentou submeter a sua candidatura, sem sucesso. Conhecido também como o “Soldado de Mao” e “Capitão de Macau”, e depois de ter sido acusado de corrupção eleitoral e de possuir um negócio ilegal de Mahjong, eis que Wong Wai Man voltou ontem à carga para dar explicações: recusa as acusações de que é alvo, diz ter sido perseguido pelas autoridades e refere como “tortura” a forma como foi tratado aquando da sua detenção. O presidente da Associação dos Armadores de Ferro e Aço esteve, na segunda-feira, várias horas em cima de um telhado de uma casa feita com chapa metálica na Taipa, tendo sido socorrido pelo Corpo de Bombeiros. Uma solução que diz ter sido “provocada” depois de ter sido detido pela Polícia Judiciária (PJ), reencaminhado ao Ministério Público e receber a convocação do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), que o acusa de possuir o negócio ilegal. Wong Wai Man explicou que, pouco tempo depois de ter saído do gabinete do CCAC, na zona do NAPE, foi interceptado por um funcionário deste organismo que alegou a falta de assinatura em alguns documentos. Porém, não satisfeito com a situação, Wong Wai Man apanhou um táxi em direcção à Taipa, acabando por se refugiar no telhado. “Não tive outra opção, o CCAC queria perseguir-me até à morte. Por isso fiquei no telhado”, explicou. Relativamente às acusações da prática de corrupção eleitoral, o homem diz que é pobre e que não tem condições financeiras para cometer esse tipo de ilegalidades. Sobre o alegado negócio ilegal de Mahjong, Wong Wai Man destacou que a sede da associação a que preside tem, de facto, mesas de Mahjong, mas apenas para usufruto dos sócios. Sobre o uso de dinheiro nestes jogos, Wong Wai Man disse que sempre existiu um cartaz a dizer que era proibido haver apostas em dinheiro e que havia, na sede da associação, uma caixa para donativos, mas que tal se destinava a apoios voluntários dos sócios para ajudar ao funcionamento da associação. Isto porque, segundo este, além de ser presidente é também o único a suportar todas as despesas da Associação dos Armadores de Ferro e Aço, nomeadamente as relacionadas com a renda, água e luz, tendo em conta que desde 2014 que a entidade não recebe subsídios. Uma coisa é certa: a sede da associação irá fechar portas amanhã devido ao fim do contrato de arrendamento. Wong Wai Man diz que, por enquanto, não vai procurar uma nova morada para a associação pois, para já, tem em mãos um assunto mais premente: a procura de um lugar para viver. Wong Wai Man fazia da sede da associação a sua casa. Lição para a vida Apesar de ter perdido a oportunidade de submeter uma lista e ser candidato às eleições para a Assembleia Legislativa pela via directa, Wong Wai Man argumentou que o mais importante foi participar em todo o processo e aprender coisas novas. O “Capitão de Macau” referiu ainda que se dedica à sociedade de coração e não por egoísmo. O seu ideal é fazer coisas com justiça em prol da sociedade, uma vez que defende que as associações tradicionais não defendem o povo. Wong Wai Man contou ainda aos jornalistas um episódio pessoal para justificar a sua participação nas causas sociais e públicas. “Em 2007 a minha esposa estava grávida e os hospitais convenceram-na a pôr término à gravidez porque a taxa de sobrevivência do bebé seria de 50 por cento, devido ao facto de ter sido detectada uma anomalia fetal depois dos exames. Insisti e o Governo acabou por pagar a operação no valor de 70 mil patacas. Por isso, quero dar a minha contribuição para retribuir um favor ‘ao céu'”, disse. Seis dias sem banho Segundo o jornal All About Macau, Wong Wai Man referiu ainda ter estado seis dias sem tomar banho e dormir, tendo permanecido uma semana desaparecido até se apresentar junto do CCAC esta segunda-feira. Antes de o fazer, este referiu ter estado um total de seis dias detido, o que para si foi “uma tortura”, e que no total esteve todo esse tempo sem tomar banho, dormir ou trocar de roupa. No domingo, terá conseguido voltar a casa. “Ontem à noite [terça-feira] consegui finalmente dormir bem e tomar banho. Fiquei seis dias sem poder tomar banho ou trocar de roupa”, explicou. A subida ao telhado da casa na Taipa foi também uma forma de protesto pela forma como terá sido tratado, assegurou. A detenção teve lugar na madrugada de quarta-feira passada, dia 11, entre as 3h e as 4h da manhã, com o argumento de que Wong Wai Man manteria um negócio ilegal de Mahjong. Foi então que ficou detido durante 48 horas numa esquadra na Taipa, tendo depois sido transferido para as instalações do Ministério Público (MP) para continuar a prestar declarações. Depois desse processo, foi notificado para se apresentar junto do CCAC, tendo assinado os documentos pedidos. De seguida, foi novamente detido por mais 48 horas e transferido novamente para o MP. Quando, já na rua, foi novamente informado de que teria de voltar ao CCAC para assinar mais documentos, decidiu fugir e refugiar-se no telhado.
João Santos Filipe Manchete SociedadeConcurso público | Governo condenado a pagar 278 mil patacas Um erro da empresa concorrente e uma correcção do IAM num concurso público esteve na origem de um diferendo judicial que terminou com uma indemnização de 278 mil patacas. Apesar de tudo, o Governo pagou um valor mais baixo do que o pretendido pela concorrente O secretário para a Administração e Justiça foi condenado pelo Tribunal de Segunda Instância (TSI) a pagar uma indemnização de 278 mil patacas, depois de ter cometido um erro num curso público de recuperação de áreas florestais. A consequência do erro foi divulgada pelo Gabinete do Presidente do Tribunal de Última Instância, e a decisão tomada a 2 de Abril. Em causa, está a ponderação da experiência das empresas que concorreram ao concurso 4.ª Fase da Prestação de Serviços de Recuperação de Áreas Florestais, realizado em 2022. A identidade das empresas não foi revelada pelos tribunais. Num primeiro passo, a empresa que agora venceu o caso em tribunal cometeu um erro e indicou ter realizado um trabalho para o IAM numa área de 2 hectares. O valor da proposta era de 2,78 milhões de patacas. No entanto, o IAM, como conhecia este trabalho, corrigiu a informação sobre área onde os trabalhos foram feitos para 5 hectares, como de facto tinha acontecido. Com base nesta correcção, a empresa foi a melhor pontuada no concurso, pelo que lhe foi proposto o contrato para realizar parte dos trabalhos do concurso. Após a proposta do contrato, e antes da assinatura do mesmo, o IAM voltou atrás e decidiu que não devia ter feito a correcção, por sua iniciativa. Como consequência, os trabalhos acabam adjudicados a uma outra empresa, dado que a pontuação no concurso público daquela que tinha sido inicialmente vencedora foi reduzida. O primeiro diferendo correu nos tribunais da RAEM e subiu até ao Tribunal de Última Instância (TUI), com a vitória a ser atribuída à empresa que tinha sido declarada inicialmente vencedora, e com derrota para o IAM. Pagar a indemnização Quando o primeiro diferendo chegou ao fim, os trabalhos do concurso público já tinham sido realizados pela outra empresa. Por esse motivo, dado que não fazia sentido voltar a prestar os trabalhos, o IAM ficou obrigado a indemnizar a empresa prejudicada no concurso público. Como o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong e a empresa não chegaram a acordo sobre o valor da indemnização a pagar, o caso voltou aos tribunais. A empresa pedia uma indemnização no valor de 661.745 patacas, acrescida de juros. Por sua vez, o Governo defendia que a indemnização devia ser calculada com base no preço apresentado pela concorrente e numa margem de lucro de 10 por cento, ou seja, de 278 mil patacas. Em relação aos critérios para definir o pagamento da indemnização, o tribunal alinhou com a Administração, pelo que a indemnização foi fixada em 278 mil patacas. O tribunal justificou este entendimento com o facto de entender faltavam critérios objectivos para perceber os custos da prestação do serviço.
João Luz Manchete SociedadeSegurança Social | Associação alerta para sustentabilidade O presidente da Associação de Segurança Social de Macau defende que o cálculo para a pensão para idosos não deve ter em conta o índice mínimo de subsistência usado para definir subsídios para famílias carenciadas. Além da natureza distinta dos apoios, Chan Kin Sun alerta para o risco de subsistência do Fundo de Segurança Social Durante as Linhas de Acção Governativa, Sam Hou Fai anunciou o aumento de 160 patacas da pensão para idosos para 3.900 patacas por mês. Fazendo eco de algumas opiniões de deputados, o Chefe do Executivo abriu a porta à possibilidade de indexar o cálculo para definir a pensão de idoso ao índice mínimo de subsistência, que delimita o risco social de pobreza. O presidente da Associação de Segurança Social de Macau, Chan Kin Sun, não concorda com esta posição. Num artigo publicado no Jornal do Cidadão, o dirigente e académico começou por realçar as diferentes naturezas dos apoios em causa. Enquanto a pensão para idosos se destina a indivíduos numa perspectiva do seguro social, com contribuições que mais tarde são gozadas em benefícios, o índice mínimo de subsistência tem sido usado para calcular apoios sociais destinados a famílias carenciadas. O dirigente, que também é membro da Comissão para os Assuntos do Cidadão Sénior, destaca os objectivos e naturezas diversas dos dois sistemas e grupos de beneficiários. O também professor auxiliar da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Macau refere ainda que a natureza assistencialista dos subsídios para os mais carenciados nunca teve em conta a sustentabilidade do apoio, enquanto a pensão para idosos é calculada a pensar no desenvolvimento sustentável do sistema. Numa altura em que o Governo luta contra o envelhecimento populacional, o académico alertou para a possibilidade de a indexação da pensão para idosos ao índice mínimo de subsistência poder ter um impacto negativo na sustentabilidade do Fundo de Segurança Social. Questão de percepção Em relação ao aumento da pensão para idosos, Chan Kin Sun indicou que os cálculos que definem o valor do apoio podem não corresponder à realidade económica dos beneficiários e da economia do território. Isto porque o peso da taxa de inflação pode não corresponder à realidade tendo em conta a tendência crescente de consumo no Interior da China, contornando o peso na carteira dos idosos do aumento dos preços em Macau. Em relação aos serviços sociais para a população mais velha, o académico defende que a rede de serviços não deveria ser sustentada exclusivamente pelos cofres do Governo e que as regras do mercado deveriam funcionar no sector. Chan Kin Sun mencionou a política de Hong Kong que permite aos residentes da região vizinha usar cupões em dinheiro em instituições de serviços sociais qualificados do Interior da China. As associações dos serviços sociais de Macau devem mudar a forma como operam, não vivendo apenas de subsídios do Governo, mas garantindo serviços de qualidade atractivos para clientes idosos numa perspectiva mais comercial.
João Luz Manchete PolíticaCasinos-satélite | Sands China abre vagas para trabalhadores A Sands China lançou uma campanha de entrevistas de emprego esta semana para trabalhadores dos 11 casinos-satélite que vão fechar. A primeira sessão decorreu ontem no Sands Macao, com outra sessão de entrevistas marcada para hoje. A SJM e a Galaxy também terão iniciativas semelhantes para funcionários dos seus casinos-satélite Respondendo ao repto do Governo para absorver os recursos humanos dos 11 casinos-satélite que vão fechar portas no final deste ano, a Sands China organizou dois dias de entrevistas de emprego para estes trabalhadores. A primeira sessão decorreu ontem e hoje está marcada outra sessão, ambas no Sands Macao. A concessionária partilhou nas redes sociais anúncios para as entrevistas de emprego para cargos relacionados com um programa de clientes membros dos seus resorts integrados. Já aquando do anúncio do encerramento dos casinos-satélite, na semana passada, as concessionárias que detinham as licenças que sustentavam legalmente as operações destes espaços de jogo garantiram que iriam defender os postos de emprego dos residentes. Num comunicado em que a SJM anunciou o encerramento dos seus casinos-satélite, excepto o da Ponte 16 e L’Arc, a operadora afirmou estar “empenhada em salvaguardar o emprego local em Macau”, referindo que “todos os residentes de Macau que trabalham actualmente nos casinos-satélite com encerramento previsto, independentemente de serem empregados directamente pela SJM Resorts ou por seus parceiros terceirizados, receberão ofertas de emprego dentro do portfólio de propriedades da SJM Resorts”. A concessionária garantiu ainda que os funcionários que estão nos seus quadros e que trabalham em casinos-satélite “serão relocados para funções semelhantes relacionadas com o jogo em outros casinos, com base nas necessidades operacionais”. A Melco fez garantias semelhantes, assim como a Galaxy, no dia em que foi anunciada a solução para os casinos-satélite. Os muitos milhares No fim-de-semana passado, o Chefe do Executivo voltou a colocar a responsabilidade sobre o futuro emprego dos funcionários dos casinos-satélite nas concessionárias. Segundo os dados apresentados por Sam Hou Fai, os recursos humanos destes espaços têm cerca de 5.600 funcionários locais, perto de 4.800 são contratados pelas concessionárias de jogo, cabendo também as estas empresas contratar os restantes 800 trabalhadores. Sam Hou Fai garantiu que o Governo irá supervisionar “rigorosamente” as “concessionárias de jogo a fim de assumirem as devidas responsabilidades”. Em simultâneo, a Direcção para os Assuntos Laborais e a Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico estão instruídas para acompanharem de perto a situação, tanto ao nível da mão-de-obra dos casinos-satélite, mas também em relação “aos estabelecimentos comerciais nas imediações dos casinos-satélite”.
João Santos Filipe Manchete PolíticaMacau Investimento | Empresa com lucro de 1,61 milhões em 2024 As contas da empresa que gere o Parque de Medicina Tradicional Chinesa foram “salvas” no ano passado pelos juros da aplicação do capital acumulado. O lucro contrasta com as perdas de 5 milhões de patacas em 2023 A Macau Investimento e Desenvolvimento, empresa com capitais da RAEM, registou um lucro de 1,61 milhões de patacas no ano passado. Os resultados positivos contrastam com a situação de 2023, quando a empresa teve um prejuízo de 5,08 milhões de patacas. Os dados foram actualizados ontem no portal da Direcção dos Serviços de Supervisão e da Gestão dos Activos Públicos (DSSGAP). A diferença entre o lucro e a despesa tem como grande explicação os ganhos com juros sobre o capital aplicado. Em 2023, a aplicação do capital acumulado tinha gerado 8,72 milhões de patacas, mas no ano passado os juros subiram para 17,77 milhões de patacas, uma diferença de quase 10 milhões de patacas. Ao mesmo tempo, as despesas também cresceram, principalmente ao nível dos salários. Em 2023 a empresa gastou 5,96 milhões de patacas com remunerações, mas o montante cresceu para 6,74 milhões de patacas no ano passado. No total, as despesas correntes aumentaram de 13,81 milhões de patacas para 14,35 milhões de patacas. No ano passado, houve uma outra despesa não recorrente, relacionada com tarocas cambiais, que atingiu 1,82 milhões de patacas. Este aspecto colocou o total das despesas de 2024 em 16,16 milhões de patacas. A Macau Investimento e Desenvolvimento tem como principal função a exploração do Parque de Medicina Tradicional Chinesa, na Ilha da Montanha, e tem como accionistas a RAEM, com uma participação de 94 por cento, o Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização, com uma participação de 3 por cento, e o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM), que também tem uma participação de 3 por cento. Ano de novos contratos Em relação às actividades desenvolvidas em 2024, a Macau Investimento e Desenvolvimento revelou que foram assinados 57 contratos novos de arrendamento de espaços no Parque de Medicina Tradicional Chinesa, assim como mais sete contratos de cooperação. Face aos novos contratos, a administração da empresa indica que há um total de 86 empresas de Macau instaladas no Parque de Medicina Tradicional Chinesa, na Ilha da Montanha. A informação oficial indica também que as empresas actuam em áreas como medicina tradicional chinesa, cosmética, produtos de saúde, equipamentos médicos ou biomedicina. A expansão da Medicina Tradicional Chinesa prevê para Macau um papel de plataforma com os países de língua portuguesa, e nestas funções a administração da empresa divulgou que em 2024 auxiliou empresas de Macau e do Interior da China a registarem 13 patentes de medicamentos em Moçambique, 11 patentes no Brasil, sendo que destes 15 medicamentos começaram a ser comercializados a nível mundial. A nível da formação em medicina tradicional chinesa, foi ainda indicado que a empresa contribuiu para a formação de 437 residentes.