João Pedro Rodrigues filma o que lhe apetece e desta vez é um conto de fadas queer

Por Sílvia Borges da Silva, da agência Lusa

 

O realizador João Pedro Rodrigues estreia na próxima quinta-feira, em Portugal, o filme “Fogo-Fátuo”, que é “declaradamente uma comédia”, um conto de fadas queer no qual entram ainda incêndios, alterações climáticas, monarquia e colonialismos.

“Fogo-Fátuo” chega aos cinemas portugueses depois de ter aberto a Quinzena dos Realizadores, em Cannes, de já ter tido estreia em salas francesas e de estar a fazer um intenso e elogiado percurso por outros festivais.

João Pedro Rodrigues, nascido em Lisboa em 1966, já não assinava uma longa-metragem em nome próprio desde 2016, ano em que venceu o prémio de melhor realização com “O Ornitólogo”, no Festival de Locarno. Assinou algumas ‘curtas’ e fez o documentário “Onde fica esta rua?”, com o realizador, produtor e companheiro João Rui Guerra da Mata, também já exibido este ano em festivais.

A fazer filmes desde finais dos anos 1990, João Pedro Rodrigues entrou agora, pela primeira vez, no registo de comédia com esta longa-metragem, que o próprio descreve como uma “fantasia musical”, sobre um jovem príncipe que quer ajudar o país a livrar-se do flagelo dos incêndios e que acaba por se apaixonar por um bombeiro.

A relação entre aqueles dois homens “é o que mantém o filme de pé, mas também é uma história de amor entre um príncipe e um bombeiro e, além disso, acho que só pode ser tratado de uma forma cómica, em particular em Portugal. O tom da comédia está certo para isto. É um bocadinho conto de fadas”, afirmou o realizador, em entrevista à agência Lusa.

“Fogo-Fátuo”, protagonizado por Mauro Costa e André Cabral, “é uma comédia muito da palavra, do diálogo e da escrita”, que faz rir e pensar sobre a relação de Portugal com o passado monárquico, colonialista, sobre preconceitos, homossexualidade, sobre a incúria dos incêndios florestais, sobre a realidade das alterações climáticas.

“Eu não sou muito programático. A minha aproximação à minha criação no cinema não é teórica. Eu vou contando as histórias que têm a ver comigo no momento em que eu as quero contar e que me estão próximas. Sempre fiz os filmes que queria fazer. Felizmente vivemos num país onde existe liberdade e nunca tive nenhuma condicionante”, explicou o realizador.

João Pedro Rodrigues lembra que não se desvia do que lhe é essencial: “O que sinto que estou a fazer nos meus filmes é o meu ponto de vista perante o mundo, mas eu não o tenho de explicar. Faço os meus filmes para os outros e para que sejam vistos, mas depois cada um tem liberdade de fazer o que quiser”.

O realizador de “Odete” (2005), “Morrer como um homem” (2009) e “A última vez que vi Macau” (2012), correalizado com João Rui Guerra da Mata, admite que, ainda assim, quer libertar-se do que já fez.

“Por isso é que se calhar os meus filmes são tão diferentes uns dos outros. Eu não quero sentir-me confortável num estilo ou numa maneira de fazer os filmes. Eu quero sempre questionar-me”, sublinhou.

João Pedro Rodrigues tem andado quase sempre em viagem, a divulgar e a falar sobre “Fogo-Fátuo” com diferentes públicos, enquanto planeia o próximo projeto, em montagem financeira, intitulado “O Sorriso de Afonso”.

“Vou fazer um filme que se passa durante o 25 de Abril [de 1974]. É a história de um adolescente que descobre a sexualidade nesse período revolucionário. (…) Eu acho que temos uma dificuldade em falar do nosso passado presente e discute-se pouco. Na ficção temos dificuldade em voltar ao nosso passado recente. A mim apetece-me falar sobre isso”, disse.

E justifica as escolhas para o próximo filme: “Logo após o 25 de Abril, há um grupo de trabalho homossexual que escreveu um manifesto publicado no Diário de Lisboa, para defender os direitos do homossexuais, e veio o Galvão de Melo [militar que pertenceu à Junta de Salvação Nacional, de onde viria a ser excluído no final de setembro de 1974] à televisão dizer que a revolução não foi feita para prostitutas e homossexuais. Se pensarmos, a homossexualidade só foi legalizada nos anos 1980. A revolução é liberdade, mas a liberdade não era para todos”.

Depois de um problema com o produtor do filme anterior, “Ornitólogo”, que está ainda a decorrer em tribunal, João Pedro Rodrigues passou a assumir também o papel de coprodutor das suas obras e não descarta qualquer convite para, por exemplo, trabalhar diretamente para ‘streaming’.

“Não digo ‘não’ a nada, a mim interessa-me a variedade e a diversidade. Depende do grau de liberdade que eu pudesse ter. Uma das coisas que fazem com que o cinema português seja reconhecido lá fora é precisamente a sua diferença, são universos particulares. Os filmes não se parecem com outros filmes. E é isso que interessa às pessoas”, sublinhou.

25 Set 2022

Casa Garden | Exposição “Desenhar Macau” inaugurada amanhã

“Desenhar Macau”, com pinturas, desenhos e gravuras de Catarina Cottinelli da Costa, é inaugurada amanhã, na Casa Garden, depois do adiamento provocado pelo surto pandémico. Os trabalhos reflectem um período de quatro anos de Macau e diferentes fases, marcadas pelas saudades das viagens e da família e o olhar atento aos diversos espaços urbanos e arquitectónicos

 

Integrada no programa oficial de celebração do 10 de Junho, a mostra “Desenhar Macau”, com desenhos, gravuras e pinturas de Catarina Cottinelli da Costa, estava na gaveta devido ao último surto epidémico. A inauguração da exposição acontece amanhã, às 17h30, na Casa Garden. Ao HM, a artista e docente, com formação em arquitectura, explicou o significado dos trabalhos que reflectem as vivências e percepções de quatro anos de vida em Macau.

“Tendo em conta a minha cultura ligada à arquitectura, tenho sempre uma tendência para olhar e registar as coisas de um modo diferente. Uma vez que Macau tem uma cultura bastante diferente daquela em que estava inserida, tive muita curiosidade em conhecer muitos sítios. Macau reflecte situações especiais, não tinha nenhuma experiência no Oriente e foi interessante para mim contactar com as pessoas e também com as vivências e arquitecturas dos espaços.”

O foco de “Desenhar Macau” é esse mesmo, o reflexo de espaços icónicos de Macau, tal como o jardim de Lou Lim Ieok. “Foi como fazer um desenho mental, um conhecimento mental desses espaços ligados à urbanidade e às pessoas. Fui um pouco atrás dos meus interesses de momento.”

Catarina Cottinelli da Costa descreve a exposição como sendo composta por várias fases, algumas delas ligadas aos sentimentos de saudade da família, de isolamento ou de ausência. É aqui que se podem ver retratos de família pintados a óleo ou pinturas de locais exóticos, como Goa ou Tailândia, feitas a partir de fotografias.

“Há um aspecto mais sentimental da exposição que tem a ver com o facto de não poder voltar a casa devido à pandemia. Há uma parte em que explorei o retrato a óleo com pinturas dos membros mais importantes da minha família. Depois tentei ocupar o tempo desenhando e fazendo aguarelas a partir de fotografias. Mas o foco da mostra é Macau, os seus espaços e vivências, e tudo o que fiz desde que vim para cá”, frisou a artista.

Novos mundos criativos

Catarina Cottinelli da Costa lamenta que Madalena Fonseca, pintora e anterior monitora na Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal em Macau, não possa estar presente. “Investi numa área que desconhecia, que é a pintura, graças à Madalena Fonseca. Foi minha monitora e foi com ela que aprendi uma série de coisas, nomeadamente na gravura, com vários tipos de técnicas, que vão estar expressas na exposição”, adiantou.

“Desenhar Macau” é a primeira exposição individual de Catarina Cottinelli da Costa, após duas participações em mostras colectivas, e acontece por incentivo de outras pessoas que foram tendo conhecimento do seu trabalho. “É com muito agrado que posso fazer a exposição ainda este ano. Foi a Ana Paula Cleto [delegada da Fundação Oriente em Macau] que me fez este convite e se mostrou sempre muito interessada para que acontecesse ainda em 2022”, adiantou. A mostra pode ser vista até ao dia 21 de Outubro.

22 Set 2022

Cinemateca Paixão | Realizador Lou Yi-an fala sobre filme nomeado para Óscares

“Goddamned Asura” volta a ser exibido este domingo, às 17h, na Cinemateca Paixão, mas desta vez acompanhado por uma sessão de conversa com o realizador de Taiwan, Lou Yi-an. O filme está nomeado para a edição dos Óscares do próximo ano na categoria de Melhor Filme Estrangeiro

 

Quem dominar o mandarim e for amante do cinema de Taiwan tem, este domingo, a possibilidade de saber todos os segredos e detalhes da produção do filme “Goddamned Asura”, do realizador Lou Yi-an. O filme tem vindo a ser exibido na Cinemateca Paixão, mas a sessão de domingo faz-se acompanhar de uma conversa com o realizador, também transmitida via Zoom.

O filme, que conta com a participação dos actores Morning Mo, Peijia Huang e Joseph Huang, faz parte da lista dos nomeados para a 95.ª edição dos Óscares, que acontece a 12 de Março do próximo ano, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Tal não significa que o filme seja uma estreia em matéria de prémios, uma vez que já foi distinguido no Festival de Cinema de Taipei deste ano como tendo a melhor banda sonora, melhor argumento e melhor actriz secundária de entre os filmes concorrentes. No ano passado, a obra de Lou Yi-an foi ainda distinguida nas categorias de melhor actriz secundária no “Taipei Golden Horse Film Festival and Awards”.

Olhar sobre a tragédia

A história de “Goddamned Asura”, escrita em parceria com Singing Chen, centra-se em Jan-Wen, que na noite em que celebra o seu 18.º aniversário se envolve, por razões misteriosas, num tiroteio num mercado nocturno. Este incidente marcará para sempre a vida da sua família e amigos, além do trágico impacto provocado nas próprias vítimas e nos familiares dos falecidos. Mas o argumento não deixa de lado a possibilidade de analisar os comportamentos e as escolhas que as vítimas tiveram no exacto momento do incidente. Se tivessem sido diferentes, a tragédia teria a mesma percepção?

Lou Yi-an é formado pelo departamento de comunicação da Universidade Católica Fu Jen, tendo trabalhado, nos últimos anos, na produção de filmes e documentários, assumindo os papéis de realizador, produtor e argumentista. Grande parte das suas películas centram-se no tema de experiências de vida reais vividas pelas classes média e baixa da sociedade, incluindo imigrantes. As histórias misturam frequentemente narrativas distintas com traços de humor negro.

22 Set 2022

Fotografia | Gonçalo Lobo Pinheiro expõe no Brasil

O fotojornalista português Gonçalo Lobo Pinheiro, radicado em Macau há mais de 12 anos, volta a estar presente no Paraty em Foco – Festival Internacional de Fotografia de Paraty (PEF 2022) cuja 18.ª edição arrancou ontem. Depois de se ter estreado em 2019 na exposição principal com a fotografia “Hope and belief” que retrata Ratna Khaleesy, uma imigrante indonésia residente em Macau, desta vez Gonçalo Lobo Pinheiro apresenta-se com duas fotografias inserido na mostra colectiva “Fotografia Arte Plural” promovida pela Icon Artes Galeria e com curadoria de Angela Magalhães e Nadja Peregrino, que estará patente no anexo do Sandi Hotel, no Largo do Rosário, em pleno centro histórico de Paraty até domingo.

Segundo o director de arte Paulo Salgado e as curadoras Angela Magalhães e Nadja Peregrino, responsáveis pela mostra, o público do Paraty Em Foco “poderá apreciar ali processos criativos fecundos que espelham o vigor da fotografia contemporânea”. “A ressignificação de imagens apropriadas; a dinâmica do movimento em formas abstractas; a presença do corpo feminino como afirmação de múltiplas subjectividades; a inter-relação entre fotografia e texto e a linguagem videográfica como lugar de uma perspectiva multimédia”, pode ler-se no manifesto da exposição, publicado no site oficial do festival.

O fotojornalista disse estar satisfeito com o regresso. “É com muito agrado que volto a um lugar que muito me diz, não só do ponto de vista profissional, mas também familiar. Apesar desta vez não poder estar presente fisicamente, espero que o festival seja um enorme sucesso e que a mostra ‘Fotografia Arte Plural’ agrade todos os visitantes do certame.” Gonçalo Lobo Pinheiro é o único fotógrafo estrangeiro escolhido para a mostra, sendo representado no mercado brasileiro pela Icon Artes Galeria.

22 Set 2022

Pátio da Eterna Felicidade | Exposição sobre arquitectura tradicional de Lingnan

Desde segunda-feira que é possível visitar, no número dez do Pátio da Eterna Felicidade, a exposição “A Memória dos Tijolos Cinzentos – Exposição de Arquitectura Tradicional de Lingnan”, organizada pelo Instituto Cultural (IC).

Esta mostra tem como objectivo “promover a arquitectura tradicional de Lingnan e sensibilizar o público para a arquitectura histórica”, sendo que o complexo do Pátio da Eterna Felicidade “é um dos poucos sítios arquitectónicos de Lingnan em Macau”.

Segundo o IC, este tipo de arquitectura nasceu da necessidade de “melhorar a qualidade de vida” tendo em conta as condições metereológicas da região de Lingnan. Neste sentido, os seus habitantes “conceberam e construíram edifícios à prova de calor, chuva, humidade e vento, com base na sua sabedoria acumulada após anos da prática e experimentação”. Desta forma, “a arquitectura de Lingnan não só possui um elevado valor prático e apelo visual, como também ostenta um estilo único”. A exposição está aberta ao público diariamente das 10h às 19h, incluindo nos dias feriados. A entrada é gratuita.

22 Set 2022

Maxim Bessmertny, realizador: “Macau é uma óptima cidade para filmar”

“The Violin Case”, actualmente em fase de produção, é a primeira longa-metragem do realizador Maxim Bessmertny. Em entrevista, Maxim confessa ter arriscado muito numa história “complexa”, que conta com 18 personagens que vagueiam entre temáticas como a identidade ou a obsessão. A perda de um violino é apenas um ponto de partida para um filme feito sem subsídios

 

Como tem sido o processo de filmagens desta longa-metragem?

Temos 42 zonas de filmagem por toda a cidade. É melhor não revelar quais são para termos algum elemento de surpresa. Mas tem sido um processo muito organizado, porque temos uma boa equipa e produtora. Filmar durante a noite, em Macau, é mais fácil. Macau é uma óptima cidade para filmar cinema. Devia haver cinco filmes por mês a serem feitos aqui.

Qual a ligação entre a escolha das zonas de filmagem e o argumento do filme? O que pretendeu puxar para o filme daquilo que Macau tem?

Nem penso em zonas de filmagem quando estou a escrever um guião ou a desenvolver a história. Penso no tema, na situação e na emoção, e às vezes surge um argumento. Na realidade, o ponto principal da história passou-se em Hong Kong, mas isso não interessa, pois numa ficção não quer dizer que não possa acontecer em Macau. Como sou de Macau é natural que, quando escreva, pense em ruas ou zonas do território. É sempre com um argumento em mente primeiro.

Fale-me um pouco desta história, que nasce de um episódio ocorrido com o seu pai [Konstantin Bessmertny].

Esse é só o incidente principal que deu gás ao resto da história. Na realidade, o filme é sobre muitas coisas, artistas, o tema da obsessão, identidade, a crise de um artista e a relação entre pessoas, sobre a confiança. Temos muitos personagens, cerca de 18, e todos fazem parte de uma história que se passa numa noite e numa manhã em Macau. Como escritor, pego nas minhas experiências, mas depois gosto de ficcionar as coisas também, porque isto não é um documentário. Dessa forma podem-se recriar algumas situações.

Quais as suas grandes influências quando escreve uma história? A sua família vem da Rússia, mora em Macau há muitos anos. Este duplo universo influencia-o na hora de fazer cinema?

As primeiras memórias de criança dizem respeito ao período em que já estou a chegar a Macau. Venho da China, de comboio, e de repente estou numa cidade já a começar a falar inglês e português. Mas tendo o background de fora de Macau, isso deu-me uma mistura de culturas, entre o Ocidente e o Oriente, e sempre me ajudou a conectar com as pessoas. É isso que me influencia muito, a facilidade de comunicarmos aqui, mesmo não falando uma língua. O meu chinês não é perfeito, mas já chega para comunicar. Estudei na Escola Portuguesa de Macau, um dos actores principais do filme [Kelsey Wilhelm] é meu amigo de infância e é muito engraçado trabalharmos juntos agora, 20 anos depois de nos conhecermos. Também tenho músicos a trabalhar no filme. [The Violin Case] tem o sentimento de uma cidade pequena, onde todos se conhecem e depois aparecem no filme. É um pouco isso, o sentido de comunidade. Isso inspirou-se muito para esta história, [tal como] os filmes de comunidades pequenas, como é o caso de muitos filmes italianos ou do cinema americano dos anos 70, onde persiste sempre o sentido de uma cidade pequena, onde várias coisas podem acontecer. Isso inspira-me sempre na escrita de um guião.

O “The Violin Case” é a sua primeira longa-metragem como realizador e, logo por aí, marca uma diferença em relação a trabalhos anteriores. Há uma série de novos elementos no filme?

São vários temas novos. Sendo uma longa-metragem estou a arriscar muito mais na história, tenho mais personagens, os temas são mais profundos e as situações ou narrativas são mais complexas. Também estou a trabalhar com um guião em que a história começa com a minha inspiração, isto porque trabalhei com mais dois guionistas. Existe aqui muita colaboração sobre o caminho para onde vão os personagens e discussões em torno disso, sobre a melhor forma de contar esta história. Este é o grande desafio do cinema, especialmente ao fazer um primeiro filme com o apoio de pessoas que gostam de cinema e sem depender de subsídios do sector público. Foi um enorme desafio. Tive de encontrar maneiras criativas de financiar o filme com um orçamento mais pequeno.

Expectativas em relação ao filme?

Gostava que todos o vissem, quanto mais, melhor. O que um cineasta espera é isso, que as pessoas vejam o filme, porque é uma história que está a ser feita e que é universal, em torno do tema da identidade, das falhas de comunicação, da obsessão. Todas as pessoas podem ver. Naturalmente, o mais importante agora é conseguir terminar as filmagens e entrar na fase de pós-produção.

Macau teve um boom na área do cinema. Depois da pandemia, como encara o panorama desta área? Há estagnação?

Este é um projecto de arte e de paixão, e percebi que o que interessa é ter a vontade, da parte do realizador, produtor e escritor, para que o filme possa ser executado. Foi assim que descobri que há pessoas que adoram cinema e arte de tal forma que estão prontas a investir sem saber qual será o retorno. É difícil garantir grandes retornos numa primeira longa-metragem. Entendi que não interessa onde uma pessoa está, se houver vontade, um plano e uma estratégia, tudo é possível. Não temos subsídios, mas estamos a fazer uma longa-metragem, e isso deu-me muita motivação. Isso tudo para entender que o cinema é também um negócio, e temos de encontrar formatos que sejam claros, em que haja uma estratégia e futuro. Daí entender que é possível fazer cinema sem ser subsidiado. Também descobri nos castings e no trabalho com as equipas que às vezes pode haver mais dificuldades por causa da língua, por não se falar o chinês, mas há muito talento na área das filmagens. Há muito potencial e muitas pessoas que querem fazer parte de um filme. Isso mostra que é uma área na qual se deve investir. Devem abrir-se mais as portas para a China, resto da Ásia ou na Europa. É uma pena arrancar com uma indústria e depois não haver mais interesse. Para mim isto deve continuar.

 

O violino perdido de Theo

Maxim Bessmertny juntou-se a Virgínia Ho e Jorge Cordeiro Santos para escrever a história de um pintor, Theo, personagem interpretada por Kelsey Wilhelm, que perde um violino pintado num táxi. Segundo uma nota de imprensa, este é um filme que “leva o público numa odisseia de uma noite pelas ruas de Macau”, quando Theo tenta encontrar o seu violino. “The Violin Case” é, assim, “uma sátira surrealista, por vezes absurda, onde está presente o choque de diferentes culturas”. Esta é uma longa-metragem que se debruça “sobre a obsessão, o amor próprio, a identidade e a confiança entre pessoas de diferentes backgrounds”.

Há seis anos, o pintor Konstantin Bessmertny, pai de Maxim, também andou em busca de uma obra de arte num táxi, episódio que inspirou esta história. “The Violin Case” conta com uma nova versão do violino perdido pintada por Konstantin Bessmertny.

O filme conta com mais de 50 membros na equipa, sendo que alguns são caras bem conhecidas do panorama artístico de Macau, como é o caso de Mika Lee (Evelyn), Filipe Baptista Tou (Ah Chong) e Giulio Acconci (como ele próprio). Clara Brito, designer de moda, estreia-se na interpretação como Pauline. O filme é produzido pela empresa Tentonine Productions Limited, produtora que trabalhou com filmes como Shang-Chi and The Legend of the Ten Rings (2021).

20 Set 2022

Livro | “Cultura chinesa: Uma perspectiva ocidental” apresentado em Lisboa

Da autoria de Ana Cristina Alves e coordenação de Carmen Amado Mendes, “Cultura chinesa: Uma perspectiva ocidental” reúne os artigos de opinião de Ana Cristina Alves publicados no HM e no Ponto Final a partir de 2006. Em seis capítulos, explica-se ao público português diversas facetas da cultura, filosofia, política e economia chinesas

 

Um grupo de personalidades ligadas a Macau reuniu-se na última sexta-feira na livraria Almedina, em Lisboa, para assistir ao lançamento do mais recente livro de Ana Cristina Alves, doutora em filosofia, com especialidade em filosofia e cultura chinesas, e actual directora do centro educativo do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM).

“Cultura chinesa: Uma perspectiva ocidental” reúne, em seis capítulos, artigos de opinião de Ana Cristina Alves publicados na imprensa de Macau, nomeadamente nos jornais HM e Ponto Final, a partir de 2006.

Carmen Amado Mendes, presidente do CCCM e coordenadora da obra, lembrou o processo de edição e revisão dos textos, iniciado em Fevereiro de 2020. “Quando assumi a presidência do CCCM ela disse-me que queria publicar [os textos], mas eu disse que o que ela tinha não era um livro, mas sim um conjunto de artigos escritos de uma forma ligeira para um público de Macau, sem contextualização. Há coisas que são óbvias para quem vive em Macau, mas não tão óbvias para quem vive em Portugal. Fizemos inúmeras revisões, acrescentamos muitas notas justificativas e referências, contextualização histórica e cultural.”

Na opinião da coordenadora do livro, “faltava em Portugal uma obra dedicada à cultura chinesa que explicasse, de uma forma tão simples e objectiva, curiosidades que, muitas vezes, o leitor tem e não teria outra forma de as ver esclarecidas”. “Partimos de um período contemporâneo até às raízes históricas e mitológicas desta civilização milenar e cativante”, frisou.

Sem preconceitos

O livro é composto por seis capítulos e abrange áreas tão diversas do universo chinês como a economia, filosofia, política ou cultura. Ana Cristina Alves confessou que procurou sempre, no processo de escrita dos artigos, traçar “um olhar despreconceituoso sobre a China”.

“Não ia honrar e louvar a cultura, mas tentei passar o olhar de uma perspectiva ocidental sem preconceitos. Aqui encontramo-nos na neutralidade. Fui aprendendo esta perspectiva de neutralidade ao longo dos anos com os próprios chineses. Tentei ver o melhor de cada civilização, mas sem nunca largar a minha perspectiva ocidental.”

A obra começa pela área da filosofia, estabelecendo “comparações entre a filosofia oriental e ocidental, mas partindo da filosofia contemporânea para as raízes”.

A ideia é que os leitores “ao lerem, sintam que não estão numa biblioteca, mas pensando que, quem escreveu, esteve no terreno e que, a partir das suas vivências, construiu as suas teorias filosóficas com o que viveu”. Desta forma, Ana Cristina Alves deixa claro que “o livro não pode ser considerado um livro de biblioteca, uma vez que foi um caminho existencial que foi sendo percorrido”.

Constam nomes da filosofia ocidental, “mais ligados a uma tradição liberal”, como [John] Locke, Kant, Habermas e o japonês Francis Fukuyama. Neste sentido, e segundo a autora, “o pensamento ocidental contemporâneo é fundamental para fazer o balanço entre o socialismo, o nacionalismo e o espaço liberal, que é um espaço de equilíbrio, uma via do meio que o Ocidente encontra”.

“O pensamento liberal permite pensar sem medo das consequências, e foi este o fio condutor que segui quando pensei na filosofia chinesa. Apresentei o melhor que pude. Na parte da filosofia política e económica também se mostrou que há um termo entre o socialismo e o nacionalismo, um espaço possível sempre de uma perspectiva ocidental”, frisou Ana Cristina Alves.

O livro passa depois para a área da cultura chinesa. “Quando entramos nesse campo o fio condutor começa a ser a filosofia em geral, mas também a filosofia da linguagem, os caracteres chineses, a etimologia, e pensar no que isso nos pode trazer para compreender a cultura chinesa. Depois termina-se com filosofia e com um diálogo à maneira platónica nas considerações finais”, adiantou a autora.

A apresentação esteve a cargo do jornalista António Caeiro, ex-delegado da agência Lusa em Pequim, tendo dado lugar a um debate sobre a falta de disseminação da cultura chinesa, sobretudo na área da música e cinema, em Portugal, por oposição às culturas japonesa e coreana.

Para Carmen Amado Mendes, “muitos estudos têm sido feitos sobre isso e uma das grandes conclusões prende-se com a dificuldade de aprender a língua e também em termos de a língua ser considerada interessante nas músicas”. Para a presidente do CCCM, “é difícil a língua chinesa ultrapassar certas fronteiras”.

Ana Cristina Alves apontou que o caminho é a aposta na educação. “[O mandarim] é uma língua radicalmente diferente [em relação ao coreano e japonês], o que resulta num grande espaço de incompreensão em relação à China. O Japão não é radicalmente neutro porque estão mais próximos do que nós, tal como os coreanos.”

A autora da obra lamenta que “nunca venha ao de cima o que é a neutralidade chinesa”. “Se não partimos de um ponto neutral não conseguimos desenvolver um olhar que nos leva a compreender o outro como ele é”, frisou. No final, e perante o repto lançado por uma interveniente, ficou a promessa do CCCM vir a organizar um ciclo de cinema chinês.

19 Set 2022

“Balada da Praia dos Cães” de José Cardoso Pires traduzido e publicado na China

A obra “Balada da Praia dos Cães”, do escritor português José Cardoso Pires, foi traduzida para chinês e publicada na semana passada na China. O livro foi traduzido por Xu Yixing e Mai Ran, professoras de língua portuguesa na Universidade de Estudos Internacionais de Xangai (SISU, na sigla em inglês), disse o consulado-geral de Portugal em Xangai.

A obra foi publicada pela Editora de Educação de Línguas Estrangeiras de Xangai (SFLEP, na sigla em inglês), ligada à SISU.

A iniciativa contou com o apoio do Instituto Camões Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas portuguesa e da Embaixada de Portugal na China, referiu o consulado, numa publicação na rede social chinesa WeChat.

“Balada da Praia dos Cães” é a segunda obra da literatura portuguesa a ser publicada na série da SFLEP intitulada Uma Faixa, Uma Rota – o plano de infraestruturas internacional lançado por Pequim, em 2013, disse o consulado na quinta-feira. A primeira foi “Fanny Owen”, da escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís.

Considerado um dos nomes maiores da literatura portuguesa do século XX, José Cardoso Pires publicou “Balada da Praia dos Cães” em 1982.

Nesse mesmo ano, a obra venceu a primeira edição do Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (APE).

A trama é baseada em acontecimentos verídicos, ocorridos nos anos 60 e centra-se na resolução de um caso de homicídio de um militar revolucionário evadido da prisão militar do Forte de Elvas.

O livro foi adaptado ao cinema, com argumento de Pedro Bandeira Freire, num filme português realizado em 1987 por José Fonseca e Costa e com interpretação de Henrique Viana e Raul Solnado.

A SFLEP tem publicado traduções para chinês de várias obras da literatura portuguesa, incluindo os livros infantis “A Árvore” e “O Rapaz de Bronze”, de Sophia de Mello Breyner Andresen.

19 Set 2022

O legado de Jean-Luc Godard visto por três cineastas locais

Peeko Wong, Maxim Bessmertny e Vincent Hoi comentam o legado que Jean-Luc Godard deixou no cinema francês e mundial. Falecido na última terça-feira, aquele que é considerado o pai da chamada “Nova Vaga” foi uma inspiração para muitos os que abraçaram a realização de filmes como carreira

 

A morte de Jean-Luc Godard na passada terça-feira, depois de este ter recorrido à morte medicamente assistida, deixou o mundo do cinema abalado face ao legado deixado por aquele que é considerado o pai da “Nova Vaga”. Autor de filmes com um forte teor político, ou com histórias de amor passadas na bela cidade de Paris, como é o caso de “O Acossado”, Jean-Luc Godard incutiu no cinema francês uma onda de experimentalismo nunca antes vista.

Foi a “Nova Vaga” que inspirou a cineasta local Peeko Wong desde o primeiro momento em que decidiu fazer cinema. “Grande parte da minha juventude e período de estudo foram influenciados pela ‘Nova Vaga Francesa’, especialmente quando estudava em França”, começou por dizer ao HM. “A Cinemateca Francesa, [a revista] Cahiers du Cinema [Cadernos do Cinema] e o clube de cinéfilos nutriam a minha criação e deram-me uma motivação prática para o meu trabalho em Macau, e também na curadoria de cinema”, acrescentou.

Peeko Wong destaca “as ambições políticas e sociais de Godard”, bem como a sua “desobediência” que a “inspiraram bastante”. “Houve uma luta pelos valores nos quais acreditavam: a protecção da Cinemateca, o apoio ao movimento do Maio de 1968, o envolvimento pessoal no Comunismo ou no movimento feminista”, disse.

A realizadora de Macau afirma que sempre foi influenciada pela temática do existencialismo, muito presente na obra de Godard, sobretudo quando era jovem. “Numa pequena cidade com poucas actividades culturais, sempre senti um vazio e pensava sobre a existência e o futuro, pelo que, quando via a vivacidade do protagonista de ‘Pierre Le Fou’ [filme de Godard lançado em 1965] ou ‘The Breathless’, tal tinha um grande impacto em mim”, destacou.

Peeko Wong não esquece as últimas obras do realizador francês, “mais filosóficas, que desafiaram a linguagem fílmica, e que muitas vezes me lembraram que os filmes têm em si imensas possibilidades”.

“Estou grata pelo facto de ter tido na minha vida a obra de Godard e a ‘Nova Vaga Francesa’. Espero que os realizadores de Macau possam manter a sua rebelião e abrir as suas mentes para as futuras criações”, rematou.

O “jump cut” repetido por muitos

Também Vincent Hoi destaca os filmes “Breathless” e “Pierrot Le Fou” como alguns dos seus favoritos de Godard, a par de “Goodbye to Language”. “Apesar do estilo de cinema de Godard não ter uma influência directa em mim, a sua atitude de fazer algo novo e o facto de ter enfatizado a teoria de autor fez-me acreditar que, como realizador independente, eu poderia ser o autor do meu filme”, disse ao HM.

O cineasta local destaca ainda a inspiração que o trabalho de Godard teve, sobretudo a técnica famosa de “jump cut” na obra do realizador de Hong Kong Wong Kar-Wai, no filme “Chungking Express”.

“Jean-Luc Godard insistiu em fazer algo novo, quebrando as regras da linguagem cinematográfica, ou criando mesmo uma nova. Ele mostrou a todo o mundo, ou pelo menos ao cinema europeu, que não havia regras na realização de filmes. A maior força criativa de um filme vem do realizador e não do investidor ou do produtor, e este importante conceito reforça a existência do cinema independente”, frisou Vincent Hoi.

Maxim Bessmertny também destaca a obra “Breathless” que começou a ver ainda jovem, entre outras películas de Godard, embora assuma que ainda lhe falta descobrir mais sobre o trabalho do cineasta francês.

“É uma enorme perda para o mundo do cinema. Godard teve várias facetas, daí a sua importância. Conheci os filmes dele quando era mais novo, com cerca de 19 e 20 anos. Continuo a redescobrir mais filmes dele. Outra coisa importante no modo de filmar e na filosofia de Godard foi o facto de ele ser antes um crítico de cinema, quando escrevia para a revista ‘Cahiers du Cinema’, onde dissertava sobre o cinema dos anos 50. A partir daí começou a ser cineasta, e achei isso muito interessante. Ler essa publicação fez-me despertar para o cinema independente, cujo percursor foi Orson Welles, que influenciou muitos dos filmes feitos depois do Citizen Kane.”

O realizador de ascendência russa recorda alguma influência que o trabalho cinematográfico de Orson Welles teve em Jean-Luc Godard, ao nível da forma de filmar e da composição da narrativa do filme. “Godard viveu uma longa vida e vai ser sempre recordado pelas suas obras e escrita”, disse Maxim Bessmertny.

19 Set 2022

Camões e Pessanha em destaque na nova Casa da Literatura de Macau

A Casa de Literatura de Macau vai ser inaugurada no sábado, com manuscritos originais de autores ligados à cidade chinesas, incluindo os poetas portugueses Luís de Camões e Camilo Pessanha, anunciou ontem o Instituto Cultural (ICM).

Num comunicado, o ICM disse que o novo espaço vai ter uma sala de exposições permanente com “as obras e os manuscritos originais de vários escritores influentes e poetas chineses e portugueses”.

A lista inclui o dramaturgo Tang Xianzu (1550-1616), conhecido como o Shakespeare chinês, cuja maior obra, “O Pavilhão das Peónias”, inclui uma cena inspirada em Macau, e o poeta e pintor Wu Li (1632-1718), que se tornou um dos primeiros padres jesuítas chineses, após estudar no Colégio de São Paulo, em Macau.

Segundo alguns historiadores, Luís Vaz de Camões (1524-1580) terá passado por Macau e escrito na cidade parte da sua obra “Os Lusíadas”. O poeta simbolista Camilo Pessanha (1867-1926) viveu quase 30 anos em Macau, onde veio a falecer.

O ICM defendeu que, além de acolher “um variado leque” de exposições e eventos, a Casa de Literatura de Macau tem também como objetivos “organizar intercâmbios e fomentar a investigação”.

O edifício terá uma sala de leitura com livros infantis, jogos multimédia e dispositivos interativos e duas salas polivalentes que serão disponibilizadas a associações e residentes para acolher atividades culturais como palestras e exibição de filmes.

“Queremos que seja um espaço para a promoção da literatura”, disse em junho a presidente do ICM, Deland Leong Wai Man, durante uma apresentação do projeto no Conselho Consultivo para o Desenvolvimento Cultural.

O centro, de entrada grátis, ficará situado numa das dez vivendas de estilo português construídas nos anos 20 do século passado, na Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida, em Mong Há, como residência de funcionários públicos. O projeto da Casa de Literatura de Macau foi originalmente proposto em 2014 pelo então presidente do ICM, Guilherme Ung Vai Meng, e a inauguração estava inicialmente prevista para 2018.

No final de 2016, o então vice-presidente do ICM, Chan Peng Fai, disse à imprensa local que a infraestrutura já tinha recebido, através de doação, mais de 2.900 peças ou conjuntos que “serão conservadas e utilizadas adequadamente, criando-se, para o efeito, uma base de dados da literatura de Macau e promovendo estudos académicos de forma a explorar a fundo a riqueza da literatura local”.

16 Set 2022

Ciclo de actividades para assinalar centenário do nascimento de José Saramago

O centenário do nascimento de José Saramago, escritor português e prémio Nobel da Literatura, celebra-se em Macau a partir do dia 29 deste mês com a inauguração de uma exposição e a exibição de vários filmes. A mostra biobibliográfica “Voltar aos passos que foram dados 1922-2022” será inaugurada no Instituto Português do Oriente (IPOR) no dia 29, às 18h30, seguindo-se uma mesa redonda, no auditório Stanley Ho, com Carlos Reis, professor catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que irá falar sobre a vida e obra de José Saramago.

A mesma mostra será exibida, a partir do dia 17 de Outubro, na sala Kent Wong da Universidade de São José. Entre os dias 3 e 16 de Novembro a exposição passará a estar presente na Escola Portuguesa de Macau.

Também no dia 17 de Outubro, e na sala Kent Wong, serão exibidos três documentários da série “Herdeiros de Saramago”. O auditório Stanley Ho volta a encher-se, mas desta vez com cinema, nos dias 30 de Setembro, 7 e 14 de Outubro. Serão exibidos três filmes: “José e Pilar”, documentário de Miguel Gonçalves Mendes, “Embargo” e “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, respectivamente. As sessões acontecem pelas 19h e têm entrada livre. No dia 26 de Outubro, terá lugar a mesa redonda subordinada ao mesmo tema “Herdeiros de Saramago”.

A Escola Portuguesa de Macau (EPM) tem ainda actividades programadas com alunos sobre a vida e obra do Nobel português, e que incluem oficinas de leitura e exibição de filmes, cujo programa será posteriormente divulgado.

No dia 16 de Novembro celebra-se o centenário do nascimento do escritor, pelo que a EPM irá atribuir o Prémio José Saramago.

Estas actividades contam com a organização do Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, o Instituto Português do Oriente, a Universidade de São José e a Escola Portuguesa de Macau, tendo ainda o apoio da Fundação Saramago e do Instituto Camões.

16 Set 2022

Chá Gordo | ADM promove quatro sessões até ao final do ano 

Realiza-se já amanhã, na sede da Associação dos Macaenses, uma sessão de Chá Gordo, uma refeição volante típica da gastronomia macaense, e que será a primeira de três que a associação irá promover até final do ano. Miguel de Senna Fernandes, presidente, diz que é uma forma de revitalizar o leque de actividades

 

Experimentar as iguarias do Chá Gordo, uma tradicional refeição da gastronomia macaense, será possível amanhã, na sede da Associação dos Macaenses (ADM), entre as 17h30 e as 20h30, sendo esta a primeira de três sessões do género que a associação pretende organizar até final do ano. O menu está a cargo de Marina de Senna Fernandes e a actividade é subsidiada pela Fundação Macau.

Ao HM, Miguel de Senna Fernandes, presidente da ADM, disse que já ultrapassaram as 40 inscrições. “Esta é uma primeira amostra e vamos ter mais três até ao final do ano. Temos um número limitado de pessoas e parece-me que as inscrições estão no bom caminho, já temos mais de 40. Se não fizermos absolutamente nada estamos a colaborar com a estagnação [que Macau vive em termos de actividades], e esse não é o meu estilo. Vamos fazer o que for dentro do possível”, adiantou.

O Chá Gordo, por tradição, “era um evento com uma refeição muito rica, feita pelas velhas famílias macaenses que tinham condições para o fazer”. “Era motivo de orgulho mostrar aos amigos e convidados em geral. O Chá Gordo era um momento pouco chique, não se esperava que os homens vestissem fraque. Mas havia uma certa indumentária, lembro-me bem das pessoas que apareciam no Chá Gordo, que se vestiam bem, porque o evento assim o justificava.”

Desta forma, acrescentou Miguel de Senna Fernandes, o evento da ADM exige “dress code”, sem necessidade de vestidos de cerimónia. “Queremos que as pessoas evitem ir de calças de ganga e ténis, para que entendam o espírito do Chá Gordo.”

Molhos e companhia

Marina de Senna Fernandes levantou a ponta do véu sobre os pratos que poderão ser provados numa refeição cheia de diversidade e onde os convidados ficam de pé a servir os pratos. “Vou usar um prato muito antigo, o Missó Cristão, que é um molho com origem japonesa, do tempo dos missionários japoneses e jesuítas que estavam em Macau. Esse prato foi praticamente esquecido e hoje em dia já ninguém faz, mas o molho é muito versátil e pode ser usado com peixe, camarões ou entrecosto. Já o fiz várias vezes e vou fazer com bacalhau e camarões. É um molho muito especial.”

Haverá ainda o “Arroz Gordo”, tido como a “dama da festa”, pois “Chá Gordo sem o Arroz Gordo não é Chá Gordo”, disse Marina de Senna Fernandes. É um arroz feito à base de guisado de várias carnes com ovos de codorniz, frutos secos e polpa de tomate.

“Esta é uma mostra da arte de bem receber e de hospitalidade. Todas as carnes do Chá Gordo têm de ser cortadas para serem comidas na hora, para não deixar que as pessoas usem as mãos ou talheres”, concluiu.

Marina de Senna Fernandes disse ainda que o próximo Chá Gordo na sede da ADM terá lugar no dia 15 de Outubro, onde serão desvendados os segredos do Chá Gordo para casamentos, “onde a comida é um bocadinho diferente”.

16 Set 2022

Festival Internacional de Música de Macau entre 25 de Setembro e 29 de Outubro

O Festival Internacional de Música de Macau foi apresentado ontem e só tem dois espectáculos de artistas estrangeiros, um deles o português António Zambujo, que serão exibidos em vídeo. O restante cartaz é composto por músicos e grupos locais e do Interior da China. O evento, com um orçamento de 13 milhões de patacas, será apresentado entre 25 de Setembro e 29 de Outubro

 

A 34.ª edição do Festival Internacional de Música de Macau (FIMM), que foi ontem apresentada, e que conta com um orçamento de 13 milhões de patacas, um valor significativamente mais baixo que o anterior, realizado em 2019, com um apoio de 31 milhões, irá realizar-se entre 25 de Setembro e 29 de Outubro. Depois de três anos de silêncio e sem festival, o Instituto Cultural (IC) apresenta este ano o primeiro FIMM desde o início da pandemia da covid-19, facto que se reflecte na programação, como admitiu a dirigente máxima do IC, Leong Wai Man.

“Apesar de alguns músicos internacionais se verem impossibilitados de visitar Macau devido à pandemia, o festival deste ano apresentará dois programas gravados de prestígio. O público poderá apreciar, no grande ecrã, o fado do conceituado cantor português António Zambujo e a música sacra pelos aclamados The Tallis Scholars”, afirmou a presidente do IC no discurso de apresentação do evento que marca o calendário cultural da região.

O concerto de António Zambujo, gravado em vídeo especialmente para o FIMM, será exibido no anfiteatro das Casas da Taipa no dia 9 de Outubro, domingo, às 20h. A entrada é grátis. O IC descreve o concerto como um “uma série de canções do seu nono álbum António Zambujo ‘Voz e Violão’, o músico inspira-se no nome de um dos discos da sua vida, ‘João Voz e Violão’, álbum de João Gilberto editado em 1999, e volta, nada acidentalmente, ao essencial”.

O outro evento projectado em vídeo é “Polifonia Renascentista Inglesa – um panorama”, performance do grupo inglês vocal de música sacra The Tallis Scholars. O concerto será exibido na Igreja de S. Domingos no dia 14 de Outubro, sexta-feira às 20h, também com entrada gratuita.

Estes são os dois únicos eventos do cartaz com artistas internacionais. Face à falta de músicos estrangeiros, Leong Wai Man admitiu os condicionalismos que marcaram a organização do cartaz deste ano. “Devido ao impacto da pandemia, não temos tantos artistas internacionais. Ainda assim vamos apresentar algumas estreias. Gostaríamos de promover mais intercâmbios internacionais através da plataforma do FIMM”, reconheceu a dirigente.

O recheio da festa

O regresso do FIMM está marcado para o dia 25 de Setembro, às 20h, com o concerto “Peer Gynt de Edvard Grieg” interpretado pela Orquestra de Macau, acompanhado pelo actor David Wang. O espectáculo de abertura do festival terá como palco o grande auditório do Centro Cultural de Macau. Os bilhetes custam entre 200 e 500 patacas.
“Peer Gynt de Edvard Grieg” é um espectáculo misto, com a música a cargo do Orquestra de Macau, dirigida pela maestrina Zhang Jiemin, que conta com um elemento teatral.

“A peça gira em torno da música incidental de Grieg, fazendo uma releitura inovadora do clássico através de 22 personagens interpretadas por uma só pessoa com base no argumento reescrito pelo conceituado crítico musical Yuan-Pu Chiao. O talentoso actor David Wang dará o seu melhor para interpretar todas as personagens desta peça com a sua voz versátil”, descreve a organização do festival.

No dia 2 de Outubro, às 20h, é apresentado no palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau o espectáculo “Variações de Jade – A Viagem da Poesia da Dinastia Tang”, que mistura canto clássico e poesia através da actuação do cantor baixo-barítono Shenyang, Zhang Yiming no piano e narração de Wong Pak Hou. “Shenyang dividirá o palco com o pianista Zhang Yiming e o actor Wong Pak Hou para apresentar um repertório de canções inspiradas em poemas da dinastia Tang e escritas por conceituados compositores chineses e ocidentais”, indica o IC.

Amanhã nostálgico

Apesar de ter como tema “Canção do Amanhã”, a larga maioria dos concertos do cartaz da 34.ª edição do FIMM apresenta contornos estilísticos clássicos. Uma das excepções que, pelo menos, não está baseada em composições com séculos, é o concerto do Li Xiaochuan Quintet, que terá lugar no dia 8 de Outubro, sábado, às 20h no anfiteatro das Casas Taipa.

O IC descreve o trompetista e compositor Li Xiaochuan como “um músico de jazz muito popular, atraindo um grande número de aficcionados do jazz com o seu talento excepcional, técnica magistral e criatividade ilimitada. Neste concerto, Li sobe ao palco com vários músicos de jazz do Interior da China para apresentar um repertório de peças de jazz amplamente aclamadas e conduzir o público numa viagem de exploração das várias possibilidades da música.”

O concerto que se segue é um marco incontornável da música clássica chinesa. Sob a batuta do maestro Zhang Guoyong, a Orquestra Chinesa de Macau interpreta “The Butterfly Lovers”, com Zhi-Jong Wang no violino. O concerto está marcado para o dia 9 de Outubro às 20h, no grande auditório do Centro Cultural de Macau.

O que resta

No dia 15 de Outubro, às 20h, é a vez de Long Yu e a Orquestra Sinfónica de Xangai subirem ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau. No dia 21 de Outubro, às 20h, é a vez da violinista local Nina Wong interpretar “Bravo Macau!” no Teatro Dom Pedro V.

O concerto que se segue é mais uma interpretação clássica: “As Sonatas Completas para Piano de Alexander Scriabin”, interpretada pelo pianista Chen Yunjie. O espectáculo sobe ao palco do pequeno auditório do Centro Cultural de Macau, às 19h45 do dia 22 de Outubro.

Para fechar o cartaz do FIMM deste ano, o IC apresenta “O Contemporâneo Encontra a Tradição”, interpretado pelo Agrupamento de Música Cantonense, no pequeno auditório do Centro Cultural de Macau, no dia 29 de Outubro, às 19h45.

A banda apresenta “trechos musicais tradicionais e uma nova composição, fruto do empenho de jovens músicos da Área da Grande Baía na divulgação da música de Cantão”.

O conjunto, fundado por Ricky Yeung, o primeiro doutorado em dizi e professor da Escola de Música da Universidade Normal do Sul da China, é formado por jovens intérpretes de música chinesa da área da Grande Baía.
Especializaram-se na apresentação de música cantonense tradicional com uma abordagem interdisciplinar, combinando música tradicional, com novos arranjos e canto. O conjunto tem desenvolvido a sua actividade em cidades na área da Grande Baía, como Hong Kong, Guangzhou, Shenzhen, Zhuhai, Dongguan, Zhongshan e Huizhou.

Além dos concertos, o FIMM deste ano será alargado a workshops, palestras, actividades comunitárias, uma masterclass e um concerto de beneficência.

15 Set 2022

Grand Lisboa Palace | Artistas locais expõem instalações inspiradas no Festival Lunar

O Grand Lisboa Palace acolhe entre 29 de Setembro e 31 de Outubro a exposição “Celebration of Art & Culture – Artistic Lantern Festival”, que reúne trabalhos de artistas locais inspirados nas tradicionais lanternas do Festival Lunar. O evento nasceu da parceria firmada entre a SJM e a Associação dos Artistas de Belas-Artes de Macau e a Associação de Arte Juvenil de Macau

 

A exposição “Celebration of Art & Culture – Artistic Lantern Festival” vai invadir o Grand Lisboa Palace entre os dias 29 de Setembro e 31 de Outubro, materializando a parceria firmada entre a SJM Resorts e a Associação dos Artistas de Belas-Artes de Macau e a Associação de Arte Juvenil de Macau.

O evento organizado com o apoio do Instituto Cultural e a Direcção dos Serviços de Turismo, vai reunir trabalhos de artistas locais, seis “mestres” e oito jovens talentos artísticos que, inspirados pelo imaginário da arte chinesa e das tradições do Festival Lunar, criaram peças em torno do tema das características lanternas da época.

Uma delas já está em exibição, retratando uma pérola que nasce numa flor de lótus a desabrochar. A obra funciona como uma espécie de chamariz e aperitivo antes da exibição das restantes obras, ocupando uma parte do Jardim Secreto do Grand Lisboa Palace. O trabalho é da autoria do graffiter Thomas Lo Si In, cujo nome de “guerra” é MCZ.

As restantes obras serão espalhadas pelo mesmo recanto ajardinado, assim como a entrada oeste do Grand Lisboa Palace e o lobby do Grand Lisboa na península de Macau.

No total, serão exibidas nove peças em estilos variados. Os artistas que participam na mostra são Lok Hei, que também preside à Associação dos Artistas de Belas-Artes de Macau, Lai Ieng, Ng Wai Kin, Sio In Leong, Lio Man Cheong e Lao Chon Hong. Os talentos das novas gerações de artistas convidados são o graffiter Thomas Lo Si In (“MCZ”), a artista que trabalha com instalações e gravuras Mel Cheong, Zha Rui (artista que usa realidade virtual como meio de expressão), o talento da caligrafia Elvis Mok, a ilustradora Anny Chung e a pintora Wansi Ieong.

Saudação nacional

Lok Hei, um dos artistas e dirigente da Associação dos Artistas de Belas-Artes de Macau afirmou que a parceria entre as associações artísticas e a SJM honra a tradição familiar de admirar a lua cheia, num cenário iluminado por lanternas. Ao mesmo tempo, o evento celebra a frescura da criatividade “do meio de expressão artística profundamente característico da cultura chinesa e representa o sentido de perpetuamento que marca a época festiva”, indicou o artista, citado por um comunicado da SJM Resorts.

Além da mostra de lanternas, a evento inclui outras actividades dirigidas à comunidade, como workshops para construir lanternas, jogos interactivos de realidade aumentada, uma exposição de lanternas de cariz pedagógico.

A SJM convidou organizações de solidariedade e associações de estudantes para formarem visitas educativas de grupo para aprofundar conhecimentos sobre a herança cultural e artística da China.

Para a empresa, a exposição representa um momento único para combinar a colaboração de mentes criativas que atravessam gerações e estilos artísticos múltiplos que vão do tradicionalismo à modernidade, celebrando a Festival Lunar e os feriados nacionais.

“É um privilégio poder proporcionar um palco para esta colaboração entre artistas consagrados e novos talentos. Além disso, preservar a tradicional arte de fazer lanternas é uma excelente oportunidade para mostrar os talentos multifacetados de Macau”, destacou Daisy Ho, presidente do conselho de administração da SJM.

A dirigente da SJM acrescentou que este evento se irá tornar recorrente, com edições anuais, permitindo a celebração com a comunidade e a criação de uma plataforma que acarinhe o crescimento de talentos locais.

14 Set 2022

Realizador Jean-Luc Godard morre aos 91 anos

O cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, um dos principais nomes do cinema desde a estreia em longas-metragens com “O Acossado”, em 1960, morreu, aos 91 anos, avançou hoje o jornal francês Liberátion, citando fontes próximas.

Parte fundamental da ‘Nouvelle Vague’ francesa, movimento que revolucionou o cinema a partir dos anos 1950, Godard tem uma longa carreira premiada, que vai desde o galardão de melhor realizador, em Berlim, logo por “O Acossado”, até um Óscar honorário, entregue em 2010 numa cerimónia à qual não compareceu.

Autor de obras influentes sobre várias gerações de realizadores como “O Desprezo” (1963), com Brigitte Bardot, “Bando à Parte” (1964), “Pedro, o Louco” (1965) ou os mais recentes “Filme Socialismo” (2010) e “Adeus à Linguagem” (2014), Jean-Luc Godard ficou conhecido “pelo seu estilo de filmar iconoclasta, aparentemente improvisado, bem como pelo seu inflexível radicalismo”, como recorda o The Guardian no obituário do cineasta.

13 Set 2022

Cinemateca Paixão | Festival da Juventude de Macau em exibição até 24 de Setembro

O Festival de Cinema da Juventude de Macau “On The Road” irá exibir até 24 de Setembro longas e curtas-metragens de cineastas e estudantes locais. No dia da abertura do festival, foi escolhida a melhor curta-metragem da autoria de estudantes de Macau, “Sea” de Chan Chon Sin, da Universidade de Macau

 

A estrada rumo a uma carreira no cinema é longa e sinuosa, feita de altos e baixos, com o destino só alcançável para quem não desiste. “’On The Road’ pretende atribuir créditos ao desenvolvimento de filmes de Macau, que sempre esteve na estrada sem parar com esforços ao longo de gerações, desde curtas-metragens de estudantes até à primeira longa-metragem”, indica a Cinemateca Paixão num comunicado de apresentação do “On The Road” Festival de Cinema da Juventude de Macau.

A festa de celebração da sétima arte começou na passada sexta-feira e estende-se até ao dia 24 de Setembro, com a exibição de 19 filmes e criadores de Macau e 11 películas de produções do Interior da China, Hong Kong e Taiwan.

No dia da abertura, um painel de juízes formado por professores de várias instituições de ensino superior de Macau, assim como profissionais locais da indústria do cinema escolheram um filme distinguido com o Prémio de Melhor Curta-Metragem, de entre uma lista de curtas submetidas a concurso por jovens estudantes. A obra vencedora foi “Sea”, realizada por Chan Chon Sin, da Universidade de Macau, que conquistou o “paladar” fílmico do júri.

A Cinemateca Paixão refere que os jurados consideraram a “cinematografia e o controlo equilibrado entre o som, a imagem e a performance” elementos que “criam uma sensação de contraste entre a abertura do mar e a prisão do destino”.

Miúdos e graúdos

Durante a Cerimónia de Abertura e Entrega de Prémios na Cinemateca, os juízes revelaram a lista de curtas seleccionadas, e apresentaram aos alunos certificados e prémios monetários. A lista de curtas incluem ” Imprisoned ” por Jacky Lao (Universidade Politécnica de Macau), “One Day That Day”, de Angie (UM), “Influencer”, de Liu HanCong (UM), “Memory”, de Larry Leng (UM) e “Two”, outra curta-metragem de Chan.

O “On The Road” exibe também filmes já consagrados. Como “Madalena” de Emily Chan, que será exibido no dia 24 de Setembro, às 21h30.

Hoje, às 21h, a Cinemateca Paixão apresenta “My Prince Edward”, o filme de estreia da realizadora de Hong Kong Norris Wong. O guião tem como epicentro um centro comercial em Prince Edward, na região vizinha, especializado em artigos e serviços para casamentos e a relação entre uma lojista que vende vestidos de noiva e um fotógrafo de casamentos chamado… Edward.

No próximo sábado, às 21h30, é exibido “Mama”, do realizador chinês Dongmei Li, uma história familiar passada na China rural que tem como protagonista uma menina de 12 anos que numa semana assiste a três mortes e dois nascimentos.

Em relação às curtas-metragens, a organização reservou quinta-feira, sábado e 20 de Setembro para mostrar o melhor que se faz em Macau no género.

13 Set 2022

CCCM | Bicentenário do jornal “Abelha da China” celebrado em Lisboa 

Os 200 anos da criação do primeiro jornal de língua portuguesa em Macau serão celebrados na próxima segunda-feira no Centro Científico e Cultural de Macau com uma conferência que contará com uma série de investigadores e historiadores ligados à RAEM, como é o caso de Tereza Sena, Jorge Arrimar ou Cátia Miriam Costa, entre outros. Será ainda lançado o livro “A Abelha da China nos seus 200 Anos: Casos, Personagens e Confrontos na Experiência Liberal de Macau”

 

O primeiro jornal em língua portuguesa de Macau foi criado há 200 anos e chamava-se “A Abelha da China”. Para celebrar a efeméride, que marca o início da presença da imprensa em português no território, algo que perdura até aos dias de hoje, o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) acolhe, na próxima segunda-feira, uma palestra que conta com vários investigadores e historiadores ligados ao território que vão apresentar as diversas perspectivas históricas e políticas de um jornal ligado aos ideais liberais de 1820.

Ao HM, o académico Duarte Drumond Braga, um dos coordenadores do projecto, explicou a importância de celebrar esta data. “É o primeiro jornal de Macau e o primeiro de uma longa linhagem que continua até hoje. Ele está ligado ao movimento Liberal e a alguns partidários desse movimento em Macau, além de que era um jornal com uma orientação política bastante marcada nesse sentido. Penso que vale a pena ser celebrado.”

O painel de oradores conta com intervenções de Tereza Sena, historiadora e ex-residente de Macau, que apresenta o painel “Ascensão social e política de um natural de Macau durante o Liberalismo: António dos Remédios (ca.1770.-1841) – o primeiro passo”. Destaque ainda para a presença de Jorge Arrimar, poeta ligado a Macau que vai falar sobre a ligação do Ouvidor Arriaga, importante figura política do território à época e “um dos grandes inimigos” d’A Abelha da China, recordou Duarte Drumond Braga. “Ele era a figura mais poderosa de Macau nessa altura e partidário de um grupo rival às pessoas que estavam ligadas ao jornal.”

O programa inclui também a participação de Jin Guoping, do Instituto de Macauologia da Universidade de Jinan, em Cantão, e também ligado ao Centro de Estudos de Macau da Universidade de Macau, que abordará o tema “A Abelha da China estudada na Macauologia”.

Duarte Drumond Braga entende ser muito provável que o jornal fosse lido “por uma elite” da sociedade. A Abelha da China tinha artigos de opinião mas funcionava também como uma espécie de Boletim Oficial, que só seria criado muito depois. “Eram publicados resumos das sessões do Leal Senado, mas era um jornal que também tinha uma parte literária. Tinha uma posição política forte, porque o grupo liberal [ligado ao jornal] conseguiu chegar ao poder, embora sejam expulsos depois. O jornal também deu depois muitas informações sobre esse processo.”

O coordenador desta iniciativa entende que faltam ainda estudos académicos sobre o jornal. “Há um trabalho muito bom, feito pelo Daniel Pires, que é o ‘Dicionário Cronológico da Imprensa de Macau no Século XIX’, mas que não esgota estes materiais. Não só a Abelha da China como os jornais que começam a aparecer na altura estão ainda por estudar. Agnes Lam [docente na Universidade de Macau], por exemplo, deu um bom contributo, mas faltam ainda alguns estudos.”

Livro lançado

Acima de tudo o programa destaca a criação do primeiro jornal de língua não chinesa “no contexto da Revolução Liberal de 1820 e da primeira formulação do constitucionalismo português”, aponta o texto de apresentação do evento. Marcado, portanto, pelas doutrinas liberais da época, a Abelha da China “foi uma breve mas intensa publicação periódica (1822-23) que veio dar corpo à ideia de que não há verdadeira liberdade sem imprensa e sem a liberdade desta”.

“Plenamente alinhada com os debates do seu tempo, o seu projecto seria tomado por outros agentes políticos. Todavia, o seu legado de insubmissão acabaria por vingar”, aponta a mesma apresentação, que destaca ainda o facto de o periódico defender “uma ideia de autonomia sempre ligada à oligarquia local”.

“Nesse sentido, o jornal mostra também as alianças e os contactos múltiplos que o atravessam: com a China, onde sempre se enraizou, a Metrópole [Lisboa], o Brasil e Goa”.

“Por entre as suas páginas circulam figuras e influências de todas as proveniências, mostrando como Macau se integrava plenamente nos movimentos políticos e culturais do seu tempo, e onde a comunidade chinesa se encontrava ativa face a eles. E daí os casos, as figuras e os confrontos que gravitam em seu torno, e que os ensaios de historiadores e críticos da cultura e do jornalismo dissecam nesta obra”, lê-se ainda.

A sessão de segunda-feira, 12, conta ainda com a apresentação do livro “A Abelha da China nos seus 200 Anos: Casos, Personagens e Confrontos na Experiência Liberal de Macau”, que reúne artigos da autoria dos investigadores Cátia Miriam Costa, Jin Guoping, Jorge de Abreu Arrimar, Pablo Magalhães e Tereza Sena. A obra “tem por foco o primeiro jornal de Macau em língua portuguesa analisado a partir de diversas áreas das humanidades” e inaugura “a nova coleção de livros de História com chancela do CCCM, sendo feita em parceria com a Universidade de Macau”.

Acima de tudo, o livro pretende mostrar “um renovado interesse na história de Macau, na história do jornalismo na China e em língua portuguesa, e também na história sóciopolítica e cultural do território”.

9 Set 2022

A Abelha da China | Três fundadores: um cirurgião, um padre e um militar

Por João Guedes

 

O cirurgião José de Almeida, o padre António de S. Gonçalo de Amarante e o tenente-coronel Paulino Barbosa: estes, três dos personagens que assistiram em 1822 ao nascimento do primeiro jornal de Macau, que seria também o primeiro da Ásia Oriental. Paredes meias, vencidos, mas preparando desde logo a desforra, o juiz Miguel de Arriaga Brun da Silveira, o governador José Osório de Castro Cabral e Albuquerque e o barão de S. José de Porto Alegre, entre outros, que rejeitaram ab initio essa filha do escândalo que era a liberdade de imprensa dada pela revolução do Porto às colónias da Coroa.

«A Abelha da China», semanário das quintas-feiras de Macau, que era também (espante-se!) a folha oficial do governo, reivindicou para si o estatuto de primeiro jornal de toda a Ásia a Leste da Índia, e para o seu redactor o de primeiro jornalista de um mundo onde, ironicamente, existia imprensa há mais de mil anos. O nascimento do jornal resultou de um «parto» difícil e dramático, provocado pelo choque inevitável do liberalismo que avassalava o mundo, contra o «status quo», antigo e aceite, do regime monárquico absoluto.

Este, em matéria de palavra escrita, vinha, com ligeiras alterações (essencialmente provocadas pela expansão colonial de quinhentos), a percorrer imperturbável a história desde o primeiro Rei, envolto ainda no pó da catedral de Zamora e empunhado os códices antiquíssimos dos visigodos e os textos dos doutores da Igreja, como se fossem os únicos produtos possíveis das máquinas de Gutenberg.

A imprensa Ocidental, também pioneiramente introduzida na Ásia pelos Portugueses (Jesuítas) do século XVI, vivia de facto há séculos em Macau, mas só a lei resultante da Revolução Liberal de 1820 permitiria o aparecimento de um jornal semelhante aos que desde há mais de cem anos formavam a opinião pública e influenciavam os destinos políticos das nações europeias. Antes de lei libertadora apenas obras pias saíam das prensas da Diocese de Macau.

«A Abelha da China», cujo nome comportava uma clara intencionalidade política (picar o «establishment»), viu a luz do dia numa quinta-feira, dia 12 de Setembro de 1922.

«Havendo o Leal Senado incumbido a redacção do presente periódico, julgamos ser uma das principais obrigações de um redactor o expor com verdade e com franqueza os motivos que aceleraram a gloriosa façanha sucedida no dia 19 do mês passado, dia memorável, em que os macaenses arvoraram o Pavilhão da Liberdade e derrocaram o horrendo colosso do Despotismo, que tantos anos haviam suportado.

Confessamos, todavia, que esta tarefa é superior às nossas partes para a justificação de um facto que pôs termo à arbitrariedade e que consolidou os direitos e o deveres do Cidadão, instalando-se entre as salvas de um contentamento público, e incessantes vivas de alegria, um Governo Provisório, segundo a vontade geral de todos os moradores, o qual, no pouco tempo da sua instalação, tem dado sobejas provas do seu patriotismo, do seu zelo e da sua actividade pelos interesses nacionais».

Este, um excerto do primeiro editorial da «Abelha», saído do ousado aparo de Frei António de S. Gonçalo de Amarante. A citada prosa definia com resolução e desassombro os objectivos de jornal, situando-o claramente no campo do liberalismo, não como instrumento passivo das novas ideias, mas como arma ideológica que não cessaria desde o primeiro dia de desferir contundentes estocadas sobre a «reacção» legitimista.

Num terreno completamente «minado», desde logo a «Abelha» serviu os liberais como instrumento de defesa (mantendo embora sempre a ofensiva), tribuna de doutrinação política e porta-voz. O projecto foi o resultado natural de um tácito consenso, forjado e amadurecido no decorrer de um processo político que se desenvolvia em crescendo. O liberalismo chegava à cidade nos brigues e escunas da longínqua Metrópole através de oficiais e funcionários, que eram cada vez em maior número.

Na colónia portuguesa, por seu turno, os portadores do novo espírito juntavam-se a americanos e ingleses, difundido as ideias e tornando mais consistentes as consciências liberais. À medida que estas hodiernas concepções germinavam, abria-se também um fosso entre dois campos. Num postava-se uma oposição heterogénea e do outro o poder localizado em torno da Ouvidoria, Leal Senado e do Governador, instituições que formavam o governo odiado.

Uma história por fazer

«A falta de confiança, pois, que ele ( o povo de Macau) tinha no governo e o aferro com que este pretendia entronizar-se, valendo-se para esse fim de modos não só impróprios, mas até indignos do carácter português, foi a causa principal por que, reiteradas vezes, se apresentou ao Senado a necessidade que havia de um governo que obstasse e ser visse de barreira à torrente impetuosa de males que ameaçavam o comércio; um novo governo que impedisse uma inevitável e próxima anarquia; pois que tudo lhe augurava um futuro assaz desagradável de das mais funestas consequências, uma vez que as coisas continuassem do mesmo modo que até ali continuado haviam, isto é: conservando-se no lugar uma das autoridades (o Ouvidor Miguel de Arriaga, cuja exclusão exigiam) como fonte e origem donde brotava todo o mal ao comércio e, por consequência, à cidade inteira». Isto dizia a «Abelha», resumindo as razões latentes de uma revolta que apenas esperava o pretexto para eclodir. Tal pretexto surgiu logo que chegaram as primeiras notícias da revolução de 24 de Agosto de 1820, levando-a a irromper triunfante nas ruas de Macau, arrasando oposições com tanto ímpeto quanto dura tinha sido a repressão.

A história do Liberalismo em Macau continua ainda por fazer, mas pode dizer-se as forças em confronto no Território possuíam, fundamentalmente, as mesmas características das de Portugal, segundo também um percurso político semelhante. Nos anos da «Abelha» a colónia tornou-se um espelho pequenino dessas convulsões, que reflectia quase passo a passo.

Como afirmava o «Abelha», Macau estava desde há muito sujeita à vontade de um reduzido número de pessoas que geriam a cidade segunda a flutuação dos seus interesses pessoais, ligados em exclusivo ao comércio do ópio, o único sustento da economia local. Capitaneava este grupo Miguel de Arriaga Brun da Silveira, o jovem e talentoso magistrado que, às suas qualidades de senhor do governo e diplomata exímio, juntava a de hábil comerciante activo e bem-sucedido. Multiplicando os lucros, ignorava a lei e pouca importância concedia à ética, dedicando-se indiferentemente – e com o mesmo entusiasmo – à magistratura, ao governo de Macau e ao comércio. Revestidos de poderes muito mais amplos do que os de um juiz dos nossos tempos, comportava-se como autêntico governador, confinando este à tarefa de referendar despachos que oficialmente deveriam sair exclusivamente da sua lavra. Manter a paz nos quartéis e o sossego nas ruas eram as únicas competências que Arriaga lhe permitia exercer.

Apoiado numa rara habilidade política, Arriaga aliara a si a maior fortuna de Macau, casando com a filha do Barão de S. José de Porto Alegre. Esta figura, extravagante e perdulária, que vivia do comércio do ópio, tinha entrada fácil (segundo voz corrente) nos corredores da corte do Rio de Janeiro, o que convinha plenamente ao Ouvidor. Para além de Porto Alegre, um grupo fiel acompanhava Arriaga, apoiando-o em todas as decisões que eram, superior e invariavelmente, abençoadas pelo Visconde de Rio Preto, Governador-Geral da índia, senhor todo-poderoso do Império Colonial português, valido de El-Rei D. João VI e protector de Arriaga. Talento, visão política e probidade eram as cores com que era visto embora, à boca pequena, circulassem histórias que o enlameavam. Estes segredos não teriam tido consequências se não tivesse entrado em cena a «Abelha», transformando os sussurros em letra de forma. As revelações constituíram pedra fundamental da campanha de destruição da figura do poderoso Ouvidor, encetada logo após os primeiros golpes resultantes dos ecos da Revolução do Porto, que abalaram o seu poder. Com todo o entusiasmo, a «Abelha» demonstrou desde logo até que ponto era possível manipular palavras, transformando-as em verdadeiros projécteis de efeitos capitais.

Ao mesmo tempo instituía, pode dizer-se, uma escola e tradição que nunca morreriam na imprensa de Macau: as «Cartas ao Director» (rubrica que no semanário recebia o título lacónico de «Correspondência») eram dessa faceta exemplo, ao dar abrigo à opinião alheia a fim de personalizar ataques, ficando reservado ao redactor o papel de crítico de sistemas e propagandista de ideias. Arriaga passa então a ser o alvo preferencial desta orientação, como consta da primeira carta aberta dirigida contra ele. «A experiência de uma vintena de anos que o referido senhor esteve no governo mostrou-me o quanto era meu inimigo declarado – como é público nesta cidade – quanto devia ser meu amigo, pois, se se lembrasse, eu nunca o incomodei e sempre o servi em tudo quanto me ocupou – o que posso mostrar por documentos, uns assinados por seu próprio punho e outros por alguns dos seus apaniguados – com bastante prejuízo meu; estou certo que deixaria de me perturbar», dizia Francisco José de Paiva, abastado comerciante. Na carta aberta, Paiva recusava a Arriaga o direito de lhe contabilizar os bens, dizendo que «se ele, Ministro, julga dos meus teres pelo negócio que tenho feito em Macau, quanto não deve o público julgar dos teres dele, Ministro!!!… O meu giro comercial tem sido de duzentas e cinquenta, a trezentas mil patacas; ora pode isto comparar-se com a soma de três a quatro milhões de patacas com que o público diz que ele, Ministro, negociava e em cujo tráfico deixara (segundo o mesmo público) muitos dos seus credores numa total ruína?…» Francisco de Paiva terminava a pública missiva citando Madame Deshouliers:

«C’est prendre assez bien ses mesures,
De venir conter ses raisons
Après avoir fait des injures».

Oposição heterogénea

Um excerto de «Cândido», de Voltaire, ou de «O Contrato Social», de Rousseau, talvez se tivesse mostrado mais apropriado que aquela citação da poetisa pastoral do século XVI. Mas o remate erudito não deixou de fazer o desejado efeito: mostrar erudição e acentuar o protestantismo francês. Destacada marca ideológica dos progressistas de então, o francesismo militante dava azo e fundamento às acusações de «Maçons» e «Traidores à Pátria» proferidos pelos absolutistas. Em resposta, a «Abelha» inseria o epíteto «Corcunda» no prontuário das suas diatribes, oficializando a designação mais pejorativa que a burguesia revolucionária dava, em Portugal, aos absolutistas. Chegava por fim a hora da vingança e da lavagem de afrontas.

Sem parte no comércio e cingidos à rígida cadeia de comando que terminava no quartel-general do Governador, grande número dos militares pendia abertamente para os círculos de Francisco de Paiva, embora por motivos muito mais políticos que pessoais. Em grande parte oriundos dos quartéis do Brasil – onde o liberalismo campeava forte – constituíam inimigos tanto mais perigosos, quanto possuíam as armas que os senhores do poder não tinham. Num campo próximo, como estes – longe dos negócios e confinados ao espartilho hierárquico da Diocese comandada com pulsos de ferro pelo Bispo D. Francisco de Nossa Senhora de Luz Chacim – muitos elementos destacados do clero macaense, cultos (e talvez por isso, liberais) e militantes, concentravam-se no Seminário de S. José onde formavam o corpo docente. Comerciantes, padres e militares todos se uniam, ainda que por razões diversas, a fim de abater Arriaga. Pura vingança, militância política, luta pela autonomia de Macau contra a supremacia administrativa de Goa, negócios embargados ou desejos incontidos de poder, constituíam razões válidas e suficientes para obter a inscrição no partido Liberal, amplo e hospitaleiro guarda-chuva da unidade contra o governo.

O desencadear da ofensiva remonta à Sé, quando Frei António de S. Gonçalo exprimiu, em timbrado latim, a «satisfação dos povos pelo juramento da Constituição Portuguesa». Ressoando nas abóbadas, as modulações da sua oratória caíam como gotas de ácido sobre a mitra do Bispo Chacim que, impotente, nada pôde fazer senão as primeiras notas do «Te Deum Laudamos» (que a «Abelha» diz ter sido vibrantemente secundado pelos fiéis que enchiam a catedral).

O tenente-coronel Paulino Barbosa encabeçou o ataque às instituições, conquistando o Leal Senado através de votação esmagadora do povo (exclusivamente português, entenda-se), reunido no largo fronteiro.

Mas a vistosa manifestação internacional de apreço não voltaria a repetir-se face ao rumo dos acontecimentos. De facto, com a mesma alegria com que festejava a Constituição, Macau iluminava-se de novo a breve trecho para festejar a abolição da Constituição e o regresso de D. Miguel e, apenas alguns meses mais tarde, ainda para festejar de novo o ressurgimento da Constituição, que festivamente abolira pouco antes.

Na confusão geral, só o «Abelha» parecia perfeitamente consciente do seu papel, publicando os textos orientados da ideologia e os inflamados artigos que se destinavam a manter vivo o entusiasmo popular.

Neste âmbito, aos mesmo tempo que, fastidiosamente, explicava as novas orientações da alfândega, explorava em estilo de panfleto o choque provocado pelo assassinato de Luís Prates, um conhecido e benquisto liberal, atribuindo o acto aos «Corcundas». Em seguida, denunciava com contagioso dramatismo a tentativa de sublevação e detenção nos calabouços da fortaleza do Monte do Ouvidor Arriaga e o envio, a ferros, para Goa, do Governador Castro e Albuquerque.

A Gazeta cinzenta

Manter viva a chama popular em torno do novo regime era, aliás, uma tarefa vital para o «Abelha», face à presença, ao largo, da fragata «Salamandra» do coronel Garcez Palha, que procurava tenazmente a falha capaz de permitir o desembarque dos duzentos homens e artilharia que trazia da capital da Índia portuguesa, para restabelecer a ordem miguelista. Às intenções de Garcez Palha juntavam-se as manobras de Arriaga que, tendo escapado com suspeitas cumplicidades da sua cela do Monte, conspirava em Cantão.

Os mandarins seus amigos mostravam-se relutantes em intervir, mas o cerco em torno de Macau constituía por si só eficaz guerra de nervos, que abria irreparáveis brechas no moral da cidade. No dia 18 de Setembro de 1822, o estado de descrença atingiu o seu ponto mais baixo, permitindo o desembarque dos homens da «Salamandra» que, sem um tiro, ocuparam em poucas horas todos os quartéis da cidade. Depois de ter sobrevivido ao auto-de-fé de 21 de Agosto, quando os «Corcundas» já levantavam a cabeça a ponto de se reunirem para queimar, simbolicamente à porta da Ouvidoria, um exemplar do último número do jornal, a «Abelha», extenuada, já não possuía forças que lhe permitissem continuar a fazer fogo sobre a «reacção».

Impresso o número 67, num sábado 27 de Dezembro, chegou com ele o fim do sonho. Frei António cobriu nesse dia as máquinas e saiu da Tipografia do Governo, dando a última volta à chave da pesada porta antes de abalar para Calcutá, escapando à repressão que se seguiria. À mesma hora, o cirurgião José de Almeida fugia para Singapura, trocando ali a política pela horticultura científica, opção que levou o seu nome a uma das principais avenidas da cidade-estado do Sudeste Asiático, que ainda hoje se mantém: «D’Almeida Street». O tenente-coronel Paulino Barbosa, chefe da revolução ou «do destempero» (como afirmava Garcez Palha), arrancado (segundo este) pelos soldados do quarto de um amigo, onde se escondia debaixo de uma cama, partia no porão da «Salamandra» para Goa, a fim de ser submetido ao julgamento de Rio Preto que, destituído e reintegrado no governo da Índia por uma vertiginosa sucessão de golpes e contra-golpes, se encontrava de novo no poder.

Os corredores do Seminário de S. José esvaziam-se de professores (presos ou em fuga), enquanto os calabouços do Monte e da Guia se enchiam em resultado das depurações nas fileiras, e dos julgamentos políticos civis. As vagas abertas não eram preenchidas: ao absolutismo escasseavam os quadros capazes de as ocupar.

José Osório de Castro de Cabral e Albuquerque tinha perdido a face, de um modo que não permitiria a sua readmissão no governo de Macau. Entretanto, Arriaga voltava, reocupando o gabinete da Ouvidoria de onde tinha sido expulso. Afectado pelo reumatismo gotoso, já não adoptava a mesma postura soberana de antigamente, atrás do mogno resplandecente da vasta secretária em que despachava. Mas antes da doença lhe pôr ponto final na carreira e na vida aos 47 anos de idade, ainda disfrutaria por alguns anos da faculdade de mandar só que, ao contrário dos tempos de glória, tinha agora de partilhar o poder de que havia sido único senhor ao longo de duas décadas.

Ainda que fisicamente debilitado, o arguto Arriaga não deixou de retirar lições das «desgraças» de um ano. Por isso, foi sem hesitações que se apossou da chave que Frei António, disciplinadamente, devolvera antes da fuga, reabrindo a Tipografia do Governo. O «Abelha» tinha constituído para os Liberais uma surpreendente arma que ainda poderia continuar a produzir resultados para os outros, pensava Arriaga.

Nesta linha de pensamento, as máquinas de Frei António recomeçaram a laborar, mas a fábrica de ideias de outrora, produtora de opinião e divulgadora do progresso, havia sido mortalmente liquidada. Das prensas, agora controladas por Arriaga, saía regularmente apenas uma publicação cinzenta e sem chama, denominada «Gazeta de Macau». Finalmente, fiel à sua vocação de Boletim Oficial rigorosamente depurado à lupa de suspeitos descuidos ou equívocas imprecisões, de acordo com os mais estritos regulamentos da censura, divulgava rotineiramente o ponto de vista do poder constituído.

Caminhando para a inutilidade à medida que a normalização política se apossava da cidade, tornava-se cada vez mais um dispêndio orçamental desinteressante, que se extinguiria naturalmente em Dezembro de 1826.

O destino da «Gazeta» do governo seguia e culminava, aliás, a tendência irreversível do processo histórico, que não admitia a repetição de cenários. Assim, Arriaga desapareceu e, com ele, a poderosa Ouvidoria de Macau, que se desvaneceria pouco depois.

9 Set 2022

MAM | Percursores da arte moderna em exposição a partir de hoje

Obras de pintores como Ennio Belsito, Kwok Se e Armando Vivanco, entre outros, podem ser vistas a partir de hoje no Museu de Arte de Macau na exposição “Prelúdio do Estilo Moderno de Macau”, que revela, em cada quadro, os primórdios da arte moderna no território

 

O Museu de Arte de Macau (MAM) apresenta, a partir de hoje, a exposição “Prelúdio do Estilo Moderno de Macau”, que pode ser vista até ao dia 7 de Maio do próximo ano. A mostra revela algumas das obras mais marcantes do arranque do modernismo em Macau, e inclui quadros como “Mulher carregando uma criança” de Ennio Belsito, datado de finais do século XIX.

De destacar que Ennio Belsito, pintor italiano, é autor de um dos quadros mais conhecidos de Manuel da Silva Mendes, que viveu em Macau entre 1901 e 1931 e é tido como um dos intelectuais mais importantes da primeira metade do século XX no território.

Os amantes da arte podem ainda ver trabalhos de pintores como Armando Vivanco, nascido em 1936 e falecido em 2012, cujo quadro “O Passeio Nocturno”, datado de 1984, estará exposto no MAM. Destaque ainda para a presença da obra “Cena pitoresca de porto pesqueiro”, de 1964 e da autoria de Kwok Se, pintor que viveu entre os anos de 1919 e 1999. “Estúdio Nello”, de Chen Shou Soo, pintor nascido em 1915 e falecido em 1984, será outro dos nomes presentes na mostra.

A exposição tem como objectivo traçar, “através de mais de 150 obras com um estilo distinto, da autoria de 60 artistas”, os percursos pela pintura moderna de artistas de Macau ou de artistas com importantes ligações a Macau, desde o início do século XX até 1986.

Aposta na casa

Grande parte da exposição foi construída com peças pertencentes às colecções do MAM, enquanto que outras obras de arte “foram emprestadas por pintores e coleccionadores”, existindo uma “predominância das pinturas a óleo, complementadas por aguarelas, esboços e esculturas”.

Uma nota do Instituto Cultural aponta que a ideia por detrás da colecção exposta se centra “em figuras e eventos na área artística de Macau, entrelaçando experiências de associações artísticas importantes, grandes mestres e seus discípulos em diferentes períodos”. O objectivo é que o público possa “rever este processo de desenvolvimento das belas-artes modernas de Macau cheio de sentimentos românticos”.

A mesma nota dá conta que o século XX “marca a formação do estilo artístico de Macau bem como seu grande desenvolvimento e florescência”, pelo que as obras deste período “nos permitem olhar, em retrospectiva, os percursos dos artistas daquela geração, numa época de recursos escassos e com o espírito de ‘combinação ecléctica da China e do Ocidente, do passado e do presente’, abrindo um novo capítulo para a localização da pintura ocidental e definiram o tom para a pintura ocidental de Macau”.

9 Set 2022

Albergue SCM | Lanternas do coelhinho em exibição a partir de amanhã

Depois de um interregno devido à pandemia, a mostra “Lanternas do Coelhinho – Uma Exposição de Carlos Marreiros e Amigos – Parte 17 – Lanternas de 2009 a 2022, por ocasião da celebração do 73º aniversário da República Popular da China” será inaugurada amanhã, às 18h30, no Albergue SCM.

A edição deste ano reúne um total de 28 lanternas criadas por artistas, designers e diversas personalidades de Macau e de outros países. A mostra fecha portas a 19 de Outubro.

No mesmo local vai decorrer a habitual festa de celebração do Festival da Lua, que decorre amanhã, entre as 18h30 e as 21h30.

O evento conta com um espectáculo protagonizado pela Tuna Macaense, além de ter sessões de caligrafia chinesa para que todos os participantes possam aprender a arte.

Além disso, as crianças podem receber uma lanterna com a figura de um coelho trabalhada de forma criativa em papel e outros materiais, sendo que, a partir das 17h, serão distribuídas caixas com petiscos referentes ao Festival da Lua.

9 Set 2022

Cinema | Documentário sobre Anthony Bourdain abre festival

O Festival Internacional de Documentários de Macau começa no dia 16 de Setembro com a apresentação de “Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain”. O documentário que estreou no ano passado centra-se na vida e carreira do conhecido chefe de cozinha, crítico gastronómico e apresentador de televisão que correu o mundo, incluindo Macau, a mostrar iguarias

 

Um documentário sobre a vida e carreira de Anthony Bourdain, o famoso chef, crítico gastronómico e apresentador de televisão é a aposta para a abertura da sexta edição do Festival Internacional de Documentários de Macau (MOIDF, na sigla inglesa), que arranca no dia 16 de Setembro, sexta-feira. O evento, organizado pela Associação de Arte e Cultura – Comuna de Han-Ian conta com documentários de vários países e decorre até ao dia 10 de Outubro, sempre com exibições nos cinemas CVG do NOVA Mall, na Taipa.

O filme realizado por Morgan Neville, intitulado “Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain” revela um lado íntimo do autor, já falecido, fora dos ecrãs.

O chefe de cozinha, que chegou a filmar um episódio do programa “No Reservations” em Macau, revelando os segredos da cozinha cantonense e macaense, teve uma vida cheia de altos e baixos, marcada pelo sucesso, mas também por alguma instabilidade emocional e consumo de drogas. A vida de pessoal de Bourdain, que cometeu suicídio, é aqui revelada através de testemunhos da ex-mulher, amigos e colegas, num documentário que convida à reflexão sobre o contraste entre o lado pessoal e público na vida de uma celebridade.

No dia seguinte, dia 17, “Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain” volta a ser exibido, fazendo-se acompanhar pelas películas “Boiling Point”, de Philip Barantini, que relata a vida de um outro chefe de cozinha, Andy Jones, que trabalha num dos melhores restaurantes de Londres, mas que se debate com problemas de dívidas e uma vida pessoal caótica, um pouco à semelhança das vivências de Bourdain.

No mesmo dia é também exibido “Flee”, um documentário de animação com a assinatura de Jonas Pooher Rasmussen que retrata a vida de Amin Nawabi, um académico de 36 anos que vive há 20 anos com um segredo, o facto de ter sido uma criança refugiada do Afeganistão.

Aposta local

Com o tema “Outsider”, o Festival Internacional de Documentários de Macau propõe na sexta edição mostrar vivências de pessoas que estão à margem da sociedade. O cartaz aposta também na língua portuguesa com a secção “Sabor de Português” que inclui o filme experimental “Super Natural”, de Jorge Jácome, exibido dia 23 deste mês.

No dia 26 de Setembro será apresentado “O Território”, um documentário de Alex Pritz focado na luta entre os últimos membros da tribo indígena Uru-eu-wau-wau e os agricultores que, apoiados pelo presidente brasileiro Jair Bolsonaro, pretendem explorar as suas terras, destruindo aos poucos o habitat natural da tribo.

O cartaz do MOIDF inclui ainda uma secção destinada a apresentar o que de melhor se faz na área do documentário em Macau. Desta forma, os filmes da primeira edição da Competição e Exibição do Documentário de Macau serão exibidos nos dias 21 e 28, tal como as películas “The Lily Yet to Bloom (Director’s Cut)” e “21 Hours”.

O primeiro, da autoria de Lei Cheok Mei, conta a relação da realizadora com a sua mãe, croupier num casino, uma profissão que, devido às constantes mudanças de horário, alterou por completo as rotinas e, sobretudo, as relações familiares. Lei Cheok Mei é de Macau e formou-se em cinema e realização na Universidade de Taipei.

Por sua vez, “21 Horas” conta a vida diária dos estudantes transfronteiriços que todos os dias têm de passar a fronteira entre Macau e Zhuhai, o que lhes retira cerca de três horas ao dia, restando apenas 21 horas para as restantes actividades. O facto de viverem entre um lado e outro traz aos alunos uma diferença social e cultural e problemas de identidade, que são espelhados no filme. “21 Horas” conta com a assinatura de Kyla Liang, nascida em Zhuhai em 2001 e estudante de comunicação na Universidade de Macau.

O “MOIDF”, além de mostrar alguns filmes oriundos da Coreia do Sul, traz também a secção “Realizador em Foco”, com a aposta no trabalho de Zhou Hao, realizador chinês conhecido por mostrar nos seus filmes diferentes perspectivas da sociedade do país. Serão exibidos alguns filmes do realizador, como “O Presidente da Câmara Chinesa” e “Algodão e Uso”. Para culminar o ciclo dedicado ao cineasta, o próprio Zhou Hao irá protagonizar uma masterclass que visa a interacção com o público local.

8 Set 2022

Exposição | Taipa acolhe obras de Ernest Wong Weng Cheong

A Associação Cultural Vila da Taipa apresenta, a partir de 14 de Setembro, a exposição do artista local Ernest Wong Weng Cheong, intitulada “Catch It Outside 2.0”. A mostra reúne gravuras apresentadas pela primeira vez em Macau. João Ó, presidente da associação, levanta a ponta do véu sobre as exposições futuras, que incluem artistas como Nino Bartolo e André Carrilho

 

“Catch It Outside 2.0” é o nome da exposição que poderá ser vista na galeria da Associação Cultural Vila da Taipa a partir de 14 de Setembro. Da autoria do artista local Ernest Wong Weng Cheong, a mostra apresenta, pela primeira vez em Macau, uma colecção de gravuras em que o autor explora novas técnicas de gravura a três dimensões, misturando-as com técnicas mais tradicionais.

João Ó, presidente executivo da associação, falou ao HM sobre os processos criativos que resultaram em “Catch It Outside 2.0”. “Ele combina uma técnica muito tradicional de gravura e depois faz uma simulação tridimensional de imagens. Reproduz e simula imagens em três dimensões, mas transforma-as em obras artísticas através dos métodos tradicionais. Por norma, vemos na gravura os trabalhos feitos na chapa e impressos sobre o papel, mas no caso dele é ele que produz as imagens, reconverte-as para a chapa e depois para o papel.”

Para João Ó, esse aspecto “é muito interessante”, porque permite observar imagens fotográficas em técnicas de gravura, “uma combinação curiosa e nova para nós [como galeria] e para o mercado de Macau”.

Os temas de Ernest Wong Weng Cheong vagueiam em torno da “natureza morta, como o tijolo, o vaso ou o frasco”, sendo que o artista faz depois uma “composição especial com elementos especiais, quase fictícios, criando espaços interiores com um rasgo de luz, e com elementos naturais bastante interessantes”.

“No fundo, ele cria uma nova dimensão que obriga o observador a respirar um novo mundo. Quando olho para as suas gravuras sinto que posso passar para um outro lado e respirar um novo ar. Corporalmente, obriga-me a entrar na imagem, não há uma separação. Obriga-me a submergir e a entrar na obra de arte”, adiantou João Ó.

Do Japão para Macau

Foi com a mostra “Somewhere Still Wild”, com curadoria de James Wong, e que esteve patente na Casa Garden no ano passado, que João Ó teve o primeiro contacto com o trabalho de Ernest Wong Weng Cheong, formado em Belas Artes na Universidade de Londres.

“Foi uma exposição muito interessante, das melhores que já vi em Macau, e cujo curador foi James Wong, que é conhecido como o mestre da gravura em Macau. Ernest Wong é discípulo dele, vi que se tinha formado numa das melhores escolas do mundo e que regressou a Macau, de onde é natural. Tendo percebido que ele não tinha tido, até então, muitas exposições individuais, entendi que era um artista aos quais era preciso dar valor e que ia de encontro ao mote da nossa galeria, que é o de apresentar novos artistas numa vertente mais experimental.”

De frisar que “Catch It Outside 2.0” teve apenas uma primeira exposição no Japão, numa galeria de arte em Quioto. “Foi ele que nos fez esta proposta para apresentar, pela primeira vez, o seu trabalho em Macau. [Os trabalhos da mostra] têm uma qualidade de execução bastante acima da média para o que vemos em Macau”, adiantou o presidente executivo da associação e arquitecto.

Para João Ó, as peças de Ernest Wong Weng Cheong fazem lembrar as peças de Giorgio Morandi, grande pintor italiano conhecido sobretudo pelos seus trabalhos de natureza morta, como vasos e frascos, entre outras “composições minimalistas de elementos domésticos”.

“A composição e a tensão entre os objectos que estão juntos numa posição cria alguma harmonia. O Ernest vai muito para essa composição espacial, e quando cria uma nuvem quase surrealista por cima de um vaso leva-nos a crer que teve alguma inspiração nesse género de pintura.”

João Ó acredita que os trabalhos do artista local conduzem à “reflexão sobre uma realidade que tenta limpar todos os problemas que temos e levar-nos a apreciar esteticamente um novo conteúdo”.

O artista “traz uma visão muito peculiar do que ele entende ser uma obra de arte”, saindo “um pouco da linguagem e do espectro a que estamos habituados a ver em Macau, por ter estudado lá fora, sempre com uma grande qualidade”.

As novas exposições

“Catch It Outside 2.0” estará patente nas novas instalações da Associação Cultural Vila da Taipa, na Rua Correia da Silva, na Taipa Velha. “Continuamos a ter um espaço pequeno, mas é a partir daí que as experiências são mais interessantes”, assegura João Ó, que levanta a ponta do véu sobre o que poderá ser visto até Fevereiro no novo espaço.

Uma das exposições é do estilista de cabeleireiro macaense Nino Bartolo, que usa uma técnica mista de fotografia como veículo de expressão artística. “Ele trabalhou muitos anos na Vidal Sassoon e continua a trabalhar nessa área, mas tem uma grande paixão por fotografia. Vamos ter uma exposição de fotografias de cabelos e perucas criados por ele, num encontro bastante inusitado.”

Destaque também para a exposição do conhecido ilustrador português André Carrilho, ex-residente de Macau, que apresenta fotografias dos trabalhos que fez sobre viagens. “Esta é uma óptima oportunidade para voltar a apresentar o trabalho do André Carrilho em Macau, com a viagem como tema, numa altura em que é difícil viajar.”

João Ó conta que a exposição terá como base os cadernos de ilustrações de viagens de André Carrilho, em locais como Macau, Goa, Nova Iorque ou Paris. “Será uma lufada de ar fresco”, assegura.

7 Set 2022

Feira do Livro de Lisboa | Arnaldo Gonçalves apresenta obras de ciência política

“Norberto Bobbio – A Tradição Europeia da Liberdade” e “Macau, Depois do Adeus” foram os livros apresentados no domingo por Arnaldo Gonçalves na Feira do Livro de Lisboa. O académico, especialista em ciência política e relações internacionais e ex-residente de Macau, está a preparar um novo livro sobre a China

 

Arnaldo Gonçalves, ex-residente de Macau, onde viveu 26 anos, e especialista em ciência política e relações internacionais, esteve no domingo na Feira do Livro de Lisboa a apresentar duas obras antigas de sua autoria. Uma delas, lançada pela COD em 2014, intitula-se “Norberto Bobbio – A Tradição Europeia da Liberdade”, um livro que mais condiz com a sua essência política, e “Macau, Depois do Adeus”, uma edição IpsisVerbis, onde é traçado um olhar sobre o período da RAEM pós-transição.

A residir em Portugal há três anos, Arnaldo Gonçalves começou por contar ao HM que a presença informal na Feira do Livro, onde deu autógrafos e conversou com leitores, aconteceu devido ao contacto com a Essência do Livro, tendo em conta o fecho da representação do Turismo de Macau em Lisboa.

Com o fim da entidade terminou a presença habitual da livraria na Feira do Livro, onde se revelavam algumas obras sobre Macau e a China. “Continuei a publicar depois disso. Há um problema de ligação entre os editores de Macau e de Portugal, não existindo distribuição das obras editadas. Descobri a Essência do Livro, localizada no Porto, e enviei-lhe um email a propor a apresentação”, disse.

Os dois livros “marcam perspectivas complementares da minha identidade”, ligadas à vivência de 26 anos em Macau e o trabalho desenvolvido na Administração portuguesa e chinesa. Sobre o encerramento da livraria e o fim da representação do Turismo de Macau em Lisboa, o autor considerou natural.

“O Governo de Macau tem uma vocação chinesa muito grande e há um alinhamento com a República Popular da China. Não privilegiam uma relação com a Europa e Portugal, e esse é um capitulo que está encerrado. Para eles é algo que faz parte da história. Agora olham para a fronteira, para a Grande Baía e para o que acontece na China. Talvez, no lugar deles, fizéssemos a mesma coisa.”

Arnaldo Gonçalves estabelece mesmo um paralelismo entre o desligamento de Macau em relação a Portugal e à Europa com o que aconteceu após a descolonização portuguesa. “Dei por mim a pensar que o processo de Macau, na última década, não é assim tão diferente do das colónias portuguesas em África, em que houve um desligamento da elite local em relação ao passado português.”

O livro sobre a China

Apesar de aposentado, Arnaldo Gonçalves não deixa de reflectir e escrever. O último livro lançado intitula-se “Por quem os sinos não dobram: A Maçonaria e a Igreja Católica”, um tema recorrente para o autor. Mas a China está também sempre presente, e será tema central da sua próxima obra, já em preparação.

“Estou a escrever um livro sobre a China, porque estou a chegar ao fim de mais uma década de vida que, ao mesmo tempo, são três décadas de Macau e China, e é tempo de eu escrever um livro sobre o país. Vou analisar a ligação da China com o mundo, a política externa chinesa, a análise do período de Deng [Xiaoping] e Hu Jintao”, contou.

A obra não deixa de lado um olhar sobre o perfil político de Xi Jinping, Presidente chinês, que Arnaldo Gonçalves considera ser alguém “muito contraditório”. Pedindo uma “relação adulta” entre a China e os EUA em prol da paz mundial, o analista entende que a China se está a aproximar da Rússia, embora haja diferenças entre os seus líderes. “Se acertarem [a China e EUA] uma relação adulta, isso é fundamental para a paz e segurança no mundo. Essa relação é necessária para a paz no mundo e para a paz regional”, rematou.

6 Set 2022

Bienal de Veneza | MAM recebe propostas de arquitectos para exposição

O Instituto Cultural aceita, até ao dia 20, propostas de arquitectos para uma exposição a propósito da Bienal de Arquitectura de Veneza, sendo que a peça vencedora será exposta na cidade italiana em Maio do próximo ano, em representação da RAEM

 

Está aberto o concurso para propostas de projectos de arquitectura para a “18ª Exposição Internacional de Arquitectura La Biennale di Venezia – Evento Colateral de Macau, China”. Até ao dia 20 decorre o concurso, promovido pelo Instituto Cultural (IC) e Museu de Arte de Macau (MAM), com o apoio da Associação dos Arquitectos de Macau (AAM). As propostas serão depois seleccionadas e expostas em Macau, mas a peça vencedora será exibida em Veneza, Itália, em Maio do próximo ano, aquando da Bienal de Arquitectura de Veneza, representando a RAEM.

Segundo um comunicado, pretende-se “incentivar o talento arquitectónico em Macau a fazer inovações de sucesso e aumentar o intercâmbio entre a indústria em Macau e os seus pares internacionais”.

A equipa participante deve ter, pelo menos, dois membros, sendo que um deve ser o curador, além de que pelo menos um dos membros deve ter um bacharelato em arquitectura ou uma formação superior nesta área. Todos os membros da equipa, à excepção do curador, devem ser residentes permanentes.

Os projectos a concurso concorrem para os Prémios de Ouro, de Prata e de Bronze, existindo ainda dois vencedores para o Prémio de Louvor. Os resultados serão conhecidos em Outubro e o projecto que obtiver o Prémio de Ouro participa na 18.ª Exposição Internacional de Arquitectura La Biennale di Venezia – Evento Colateral de Macau, China” e ganha um prémio de 20 mil patacas.

Os regulamentos e formulário de inscrição do convite aberto podem ser consultados ou descarregados no sítio web do MAM em www.mam.gov.mo Informações adicionais podem ser pedidas através do email events@aam.archi ou do telefone 2870 3458.

História de uma bienal

Criada em 1980, a Bienal de Arquitectura de Veneza tornou-se “no maior e mais influente evento no panorama da arquitectura mundial, proporcionando a vários países em todo o mundo uma importante plataforma de comunicação para o intercâmbio arquitectónico e cultural”.

O tema da edição do próximo ano é “O Laboratório do Futuro”, uma ideia desenvolvida pelo curador-chefe da Bienal, Lesley Lokko. Desta forma, a próxima edição da Bienal é encarada como um laboratório, “inspirando os visitantes a conceber o futuro através de casos de prática arquitectónica moderna”.

Macau participa na Bienal desde 2014, sempre com a colaboração de profissionais da área da arquitectura sediados no território. Pretende-se “enriquecer a experiência de talentos arquitectónicos locais na participação de eventos internacionais e na elevação do interesse das pessoas pela arquitectura”.

Como exemplo, o território fez-se representar em Veneza, no ano passado, com o projecto de quatro arquitectos locais, Ho Ting Fong, Che Chi Hong, Lao Man Si e Chan Ka Tat, com a curadoria a cargo do arquitecto Carlos Marreiros. A Bienal, que tinha como tema “Como iremos viver juntos? recebeu o pavilhão Macau-China com “quatro obras de diferentes estilos” sob a temática “Interligações – Vida Transfronteiriça na Grande Baía”. A ideia do projecto era “traçar o panorama urbano da futura cidade de Macau e reflectir sobre a simbiose e os desafios decorrentes da profunda integração da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.

1 Set 2022