Fotografia | Rusty Fox lança “Nocturnal” no próximo domingo

O fotógrafo local Rusty Fox lança no domingo, no festival literário Rota das Letras, um novo livro de fotografia. “Nocturnal” retrata, a preto e branco, árvores que evocam imagens do corpo humano, onde o ambiente nocturno se mistura com sensações de melancolia e estranheza

 

Noite, melancolia, estranheza, corpo, movimento estático, natureza morta. Todas estas palavras cabem nas fotografias de Rusty Fox, fotógrafo natural de Macau que lança, no próximo domingo, “Nocturnal” [Nocturno], pondo fim a um breve interregno na edição de livros de fotografia. O lançamento, agendado para as 17h na Casa Garden, integra o cartaz do festival literário Rota das Letras.

Ao HM, Rusty Fox confessa que estas imagens surgem no seguimento de trabalhos anteriores, muito focados na natureza e nas suas formas. “Sempre fui fascinado por objectos relacionados com diferentes formas de vida. Durante muitos anos trabalhei num projecto sobre espécimes de animais e taxidermia [técnica de preparação de animais mortos para que fiquem com as mesmas posições que tinham em vida], no tempo em que estudei fotografia no Reino Unido. Descobri que as plantas e as árvores são, de alguma forma, semelhantes aos espécimes de animais, são como objectos de exposição colocados na nossa cidade, como um museu.”

O nome “Nocturnal” surgiu do editor e designer Yang, e remete para o lado noctívago de Rusty Fox. “Eu, como fotógrafo, sou noctívago, tal como as árvores nas ruas vazias à meia-noite, que têm o seu próprio mundo.”

Confrontado com o facto de a obra remeter para atmosferas de estranheza, melancolia e até morbidade, o autor diz que muitos dos que vêem as suas imagens têm a mesma percepção, assumindo até que o seu trabalho constitui uma certa “metáfora sexual”. “O engraçado é que são apenas árvores, nada mais. Claro que, como fotógrafo, trabalho muito para que o público se sinta assim, mas também os lembrarei que, afinal, são sempre árvores.”

Estas percepções nascem do facto de Rusty Fox ter feito trabalhos anteriores sobre animais. “Vemos as árvores como tendo a forma de um corpo humano, mas para mim é mais um espécime, para ser sincero.”

Tempo de reflexão

O período da pandemia foi complexo para quem pretendia publicar novos trabalhos, confessa Rusty. “Normalmente tentamos participar em feiras de livros de arte em todo o mundo e, devido à covid, não o pudemos fazer. Para mim, não era sensato publicar um livro nessa altura. O meu último livro, ‘Dummy’ [de 2018] foi lançado mesmo antes da pandemia. Usei este tempo para ‘observar’ a relação que temos com as árvores e descobri que são ainda mais fascinantes como objectos vivos, pelo que decidi fazer este livro sobre elas.”

Rusty Fox adiantou que o feedback que tem recebido em relação ao livro tem sido positivo. “Normalmente, tenho tido mais público ou leitores interessados no meu trabalho, sobretudo em relação aos meus livros mais antigos, mas penso que ‘Nocturnal’ está a correr bastante bem.”

Questionado sobre o posicionamento da fotografia mais contemporânea em Macau, tanto do ponto de vista das exposições, edições ou acolhimento do público, Rusty Fox considera que “está a melhorar”. “Além da fotografia tradicional, parece que há cada vez mais público interessado no lado mais contemporâneo da fotografia, o que é muito bom. Além disso, muitas pessoas, como eu, estão a tentar levar os trabalhos dos fotógrafos locais a diferentes actividades, como feiras de livros de arte e exposições internacionais, o que é sempre bom de ver”, rematou.

“Nocturnal” vai partilhar o palco do Rota das Letras com o lançamento de outro livro de fotografia, “Seeing the Light”, de Francisco Ricarte, arquitecto que, nos últimos tempos, se tem dedicado bastante à fotografia e que já conta com várias exposições e obras publicadas.

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