Habitação | Vendas registam nova quebra

Após 2022 ter sido o pior ano no território desde 1984, ao nível do número de transacções imobiliárias, o mercado entrou na primeira quinzena deste ano a confirmar a tendência negativa. De acordo com os dados da Direcção de Serviços de Finanças (DSF), na primeira metade de Janeiro, a venda de fracções habitacionais sofreu uma nova redução.

Segundo a DSF, na primeira metade do mês passado foram transaccionadas 106 apartamentos no território. Este número indica uma redução de 29 por cento face à primeira metade de Janeiro de 2022, quando tinham sido transaccionadas 150 habitações.

Contudo, em relação ao mês de Dezembro de 2022, os dados indicam um ligeiro aumento das transacções, quando se comparam as primeiras metades de cada vez. As 106 transacções de Janeiro indicam um crescimento de mais 10 transacções face à primeira quinzena de Dezembro, quando tinham sido concluídos 96 negócios.

Em termos de preço, as transacções em Janeiro deste ano foram, em média, mais baratas em Macau e Coloane, quando comparadas com o período homólogo. O preço do metro quadrado caiu de 90.262 patacas por metro quadrado para 81.057 patacas por metro quadrado na Península de Macau e em Coloane baixou de 118.117 patacas por metro quadrado para 98.028 patacas por metro quadrado.

No pólo oposto, os registos mostram uma valorização do preço por metro quadrado na Taipa, que subiu de 83.557 patacas para 101.822 patacas.

3 Fev 2023

Jogo | Bancos de investimento optimistas

Após a revelação de que as receitas do jogo tinham atingido 11 mil milhões de patacas no primeiro mês do ano, os relatórios de vários bancos de investimento traçam um cenário optimista para o sector.

Segundo o banco JP Morgan Securities (Asia Pacific) Ltd, num relatório citado pelo portal GGR Asia, a maior parte das concessionárias do jogo deverá gerar resultados positivos de caixa durante este trimestre.

Este é um “marco” considerado muito importante de viragem para a principal indústria do território, pós covid-19, na perspectiva do analista DS Kim, da JP Morgan, porque a expectativa apontava para que os resultados positivos apenas chegassem dentro de três trimestres. “Até os cépticos admitem que uma recuperação desta forma era inimaginável até há umas semanas”, frisou.

A JP Morgan Securities indica também que a única excepção a este cenário poderá ser a concessionária SJM, devido “às despesas com a operação” do hotel e casino Grand Lisboa Palace, que abriu as portas durante a pandemia.

Por sua vez, a Morgan Stanley Asia Ltd estima que Fevereiro gere receitas nas ordem dos 11,2 mil milhões de patacas, mesmo tendo em conta que este mês apenas tem 28 dias, em comparação com os 31 de Janeiro.

Também John DeCree, analista na CBRE Securities LLC, citado pelo portal GGR Asia, considerou que Fevereiro pode trazer ainda melhores resultados. “As restrições de viagem não foram levantadas até 8 de Janeiro, o que sugere que o ritmo das receitas diárias é mais elevado do que aquilo que é transmitido pelos resultados totais do mês”, justificou. No ano passado, as receitas brutas do jogo de Fevereiro foram de 7,6 mil milhões de patacas.

3 Fev 2023

AMCM | Taxas de juro com valor mais elevado em 17 anos

A Autoridade Monetária de Macau voltou a subir a principal taxa de juro de referência para 5 por cento, a oitava subida consecutiva para o nível mais elevado desde Dezembro de 2007. A inevitável posição tomada pelo regulador local segue a igual atitude das autoridades de Hong Kong, seguindo a subida de juros decretada pela Reserva Federal norte-americana

 

A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) anunciou ontem uma nova subida da principal taxa de juro de referência para 5 por cento, o nível mais alto desde Dezembro de 2007, em plena crise financeira e económica mundial.

A AMCM aprovou um aumento de 0,25 pontos percentuais, a oitava subida desde Março de 2022, fixando em 5 por cento a taxa de redesconto, valor cobrado aos bancos por injeções de capital de curta duração, de acordo com um comunicado.

O regulador financeiro da região administrativa especial chinesa seguiu assim o aumento anunciado na quarta-feira pela Reserva Federal (Fed) norte-americana.

A AMCM disse que a subida era inevitável, por a moeda de Macau, a pataca, estar indexada ao dólar de Hong Kong, pelo que “a taxa de juros em Macau é consistente com a taxa de juros em Hong Kong”. A decisão da AMCM surgiu pouco depois de a Autoridade Monetária de Hong Kong ter anunciado a subida da taxa de juro de referência, devido ao aumento imposto pelo banco central dos EUA. O dólar de Hong Kong está indexado ao dólar norte-americano.

Travão na inflação

Depois do anúncio, a bolsa de valores de Hong Kong negociou em alta, com o principal índice, o Hang Seng, a subir 0,57 por cento até às 10h de ontem.

Na quarta-feira, a Fed anunciou um aumento de 25 pontos base, um abrandamento face à subida de 50 pontos base na última reunião.

O Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC) “procura alcançar o pleno emprego e uma inflação próxima de 2 por cento no longo prazo. Para apoiar esses objectivos, o Comité decidiu subir a taxa dos fundos federais para um intervalo entre 4,50 e 4,75 por cento”, anunciou o banco central norte-americano, em comunicado.

Após quatro reuniões consecutivas em que anunciou uma subida dos juros de 75 pontos base, o banco central norte-americano decidiu em Dezembro uma subida de 50 pontos base, tendo agora desacelerado o ritmo.

3 Fev 2023

Hong Kong | Artigo aponta palco de discussão criado por macaenses

Um artigo publicado na revista The Journal of Imperial and Commonwealth History destaca o estabelecimento da comunidade macaense em Hong Kong e a criação de uma esfera pública que permitia opinar com mais liberdade sobre o governo colonial de Macau

 

Um espaço com uma liberdade relativa que permitia que a comunidade macaense discutisse os problemas políticos e sociais de Portugal e de Macau como território sob administração colonial. É desta forma que a historiadora Catherine S. Chan, ligada à Universidade de Macau, caracteriza Hong Kong e a relação com a imprensa em língua portuguesa criada pela primeira vaga de emigrantes macaenses na cidade vizinha.

Num artigo publicado na revista científica “The Journal of Imperial and Commonwealth History”, com o título “An Alternative Macanese Public Sphere: Discussing Portuguese Macau’s Problems in British Hong Kong”, Catherine S. Chan explica que após o estabelecimento da colónia britânica, durante a década de 1840, os macaenses encontraram em Hong Kong um espaço onde podiam discutir Portugal, Macau e até criticar algumas das políticas.

No século XIX, a colonização britânica de Hong Kong surgiu como uma oportunidade para alcançar melhores condições de vida para a população que vivia em Macau e atraiu mesmo muitos macaenses. Também os aspirantes a editores de jornais não deixaram passar a oportunidade, relata o artigo, que aponta que em cerca de 50 anos surgiram no território vizinho mais de 10 jornais em língua portuguesa. Alguns artigos publicados na imprensa em língua inglesa também eram comuns, havendo grande influência da comunidade macaense nos jornais do território vizinho.

“Os aspirantes a editores de jornais encontravam em Hong Kong um ambiente relativamente liberal que lhes permitia instalarem jornais que falavam para a comunidade Macaense”, é indicado. “Entre a década de 1840 e os finais da década de 1890, mais de dez jornais em língua portuguesa emergiram em Hong Kong, embora alguns tenham tido uma vida muito curta”, é acrescentado.

Entre os exemplos apresentados constam as publicações Verdade e Liberdade, de José Maria da Silva e Sousa, ou Impulso às Letras.

Fuga à censura

Um dos principais objectivos da criação de jornais em Hong Kong passava por fugir à forte censura do Império Português, que também se estendia a Macau. Foi esta realidade que permitiu a criação de uma esfera pública de discussão de Portugal e de Macau.

“A governação repressiva do governo colonial português criou descontentamento entre muitos macaenses, fazendo com que procurassem ambientes mais liberais para se poderem exprimir”, é justificado. “Entre a década de 1840 e 1860, surgiram em Hong Kong como cogumelos sete jornais em língua portuguesa, e alguns com ligações anteriores à imprensa de Macau”, é acrescentado.

Apesar dos jornais em português em Hong Kong terem mais liberdade face à censura da administração colonial em Macau, onde o encerramento de jornais era uma prática comum, nem todas as vozes eram críticas e havia um grande fervor patriótico.

A pátria não se discute

O ambiente nem sempre era fácil para as publicações em português de Hong Kong, uma vez que o Governo não tinha problemas em pressionar as autoridades britânicas, quando se sentia incomodado com o que era publicado.

Como exemplo deste ambiente, a autora indica o caso do jornal The China Mail, que a 5 de Maio de 1868 publicou um artigo a acusar o ex-governador de Macau José Coelho Amaral de ter recebido 2 mil libras para fechar os olhos ao tráfico de coolies.

Após a notícia, as autoridades portuguesas ficaram incomodadas com o conteúdo do artigo e pressionaram a congénere para “controlar” o jornal. Como consequência, o Procurador de Hong Kong acusou o jornal de ter difamado o governo de Macau e de ter colocado “em risco a amizade entre Portugal e o Reino Unido”. A acusação acabaria por cair, mas devido a vícios do processo.

Ainda assim, a autora conclui que a imprensa de Hong Kong preparou o palco para críticas liberais às políticas portuguesas, o que permitiu o despertar de uma esfera de pública alternativa em Hong Kong, que por vezes criou tensões entre os dois territórios.

A autora indica também que com o passar dos anos, principalmente no século XX, e uma maior identificação da comunidade macaense com Hong Kong, a discussão sobre Macau na cidade vizinha perdeu fulgor, sedo relegada para segundo lugar, face à discussão em torno dos assuntos da colónia britânica.

3 Fev 2023

Habitação Social | Ella Lei pede revisão a cálculos de renda

A deputada Ella Lei quer que o Governo melhore o regime jurídico da habitação social para que os inquilinos que tiveram reduções salariais consigam pagar as rendas.

Numa interpelação escrita divulgada ontem, a legisladora citou queixas de residentes que, sob o impacto da pandemia, foram obrigados a ficar em licença sem vencimento, ou que atravessaram um período de instabilidade salarial, mas que ainda assim as levou a ultrapassar em alguns meses o limite de rendimentos que determinou o pagamento do dobro da renda.

Nesta última situação, Ella Lei defende que o Governo deve separar e proteger os inquilinos através da implementação de um aumento de renda gradual.

Também a questão da inclusão da pensão para idosos nos rendimentos avaliados para determinar a renda foi abordada por Ella Lei. Actualmente, só depois dos 65 anos o montante da pensão não é considerado como receita do agregado para efeitos de cálculo da renda, mas conta para pensionistas com mais de 60 e menos de 65 anos. A deputada pede que esta “desigualdade” seja eliminada.

3 Fev 2023

Economia | Associação Poder do Povo alerta para desemprego jovem

A associação Poder do Povo reivindica que seja dada maior atenção ao desemprego jovem e alerta para o perigo da inacção e isolamento dos mais novos. Numa carta enviada à DSAL, a associação diz que se tornou frequente não obter resposta ao envio de currículos e que o subemprego se generalizou

 

A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) recebeu ontem da associação Poder do Povo que entregou uma carta a alertar para os elevados números do desemprego jovem. Lam Weng Ioi, secretário-geral da associação, apontou que mesmo com a ligeira recuperação da taxa de desemprego registada no último trimestre de 2022, a verdade é que os números são ainda elevados em termos históricos.

A carta exige que o Governo preste atenção ao desemprego de longa duração da parte dos jovens, dado o risco de resultar em isolamento, inacção e problemas psicológicos. O secretário-geral recorda que, ao longo dos últimos três anos, muitos jovens têm estado sem trabalho ou em subemprego, causando situações de elevada frustração e desistência de busca de emprego. Como consequência desses factores, registam-se cada vez mais casos de pessoas que se isolam em casa, adiantou Lam Weng Ioi.

“Gradualmente, foi-se criando um problema social, pois muitos jovens desistem de procurar viver experiências profissionais e sociais e que acabam por se isolar em casa. Esta situação deve-se ao impacto da pandemia e com o facto de os jovens não conseguirem encontrar trabalho”, frisou.

Queixas e mais queixas

A Poder do Povo diz que tem recebido várias queixas de jovens que não conseguem arranjar trabalho, embora não tenha especificado quantas. Muitos licenciaram-se durante a pandemia e ainda continuam em busca de um emprego.

“Muitos destes jovens enviaram bastantes currículos sem terem resposta. Alguns pura e simplesmente desistiram de procurar emprego e isolaram-se em casa. Não conseguimos ter noção deste fenómeno olhando apenas para a taxa de desemprego”, referiu Lam Weng Ioi.

Há quem esteja à procura de trabalho há mais de um ano e verificam-se muitos casos de pessoas que trabalham a tempo parcial como distribuidores de comida. “Voltam a trabalhar um dia e depois regressam ao trabalho dois meses depois. Não me parece que seja uma situação laboral saudável”, defendeu.

Lam Weng Ioi sugere que o programa de formação subsidiada disponibilizado pela DSAL aumente a oferta de cursos focados nos mais jovens, para que tenham um maior contacto social. Além disso, pede-se que a DSAL tenha uma “atitude prudente” na aprovação de blue cards para os trabalhadores não-residentes (TNR). “A DSAL só deve começar a pensar na importação de TNR quando a taxa de desemprego apresentar uma maior tendência de declínio”, concluiu.

3 Fev 2023

Paulo Duarte, académico: “China molda a economia mundial”

Paulo Duarte co-edita o mais recente livro sobre a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” com a chancela da Palgrave, intitulado “The Palgrave Handbook of Globalization with Chinese Characteristics – The Case of Belt and Road Initiative”. Em entrevista, o académico defende que a China já deveria ter estatuto de economia de mercado e que o país vive com a Rússia uma relação puramente estratégica com foco na questão de Taiwan

 

A iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” foi apresentada por Pequim em 2013. Como olha para a sua evolução até aqui?

É preciso reconhecer que a economia, sobretudo a chinesa, já não cresce como crescia. Passamos por uma situação menos positiva, não apenas devido à covid-19, mas também devido à guerra [na Ucrânia]. No caso da China, que é a fábrica do mundo, gerou-se muita ambição quando, na prática, a pandemia veio arrefecer esses investimentos e muitos deles ficaram parados. Outros estão em progresso. O que me fascina como investigador é ver como todos estes projectos à escala regional, nacional e transcontinental vão moldando a economia do mundo. Este livro ajudou-me a aprender mais sobre a capacidade de a China incorporar, no seu projecto terrestre e marítimo, a Rota da Seda digital. A China percebeu que não é só o mar que é importante para o comércio, mas as redes digitais também são uma fonte extraordinária de ganhos, tendo lançado, assim, a terceira componente da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, em 2015. O livro procura uma visão do todo que é essa interdependência entre terra, mar e digital. Focamo-nos se os projectos vão ou não demorar, mas tudo feito e planeado a longo prazo já mudou a fisionomia do mundo e das redes de comunicação, e vai continuar a fazê-lo.

De que forma concreta “Uma Faixa, Uma Rota” tem mudado a economia mundial?

A China esteve muito tempo fechada ao mundo. Foi Deng Xiaoping, justamente com a ideia de “Um País, Dois Sistemas” que a abriu ao mundo. Curiosamente, introduziu o capitalismo dentro do comunismo, de maneiras que temos hoje uma China voraz, não só em termos de recursos energéticos, mas de aquisição de grandes activos em grandes empresas. Esse é o comportamento tradicional do país, que raramente cria algo do zero e que prefere investir em empresas já existentes onde procura comprar grandes activos, como a EDP em Portugal. A empresa foi considerada um activo estratégico e só assim é que não passou para as mãos de chineses, mas não foi isso que aconteceu com o Porto de Pireu, na Grécia. Vejamos também o caso do porto de Hamburgo, na Alemanha. A China consegue, através do uso dual, fazer descargas e cargas em portos e, ao mesmo tempo, levar a cargo actividades de “intelligence” ao longo dos portos onde vai atracando. Falo de aquisição massiva de infra-estruturas, de recursos energéticos, consenso de Pequim, com a ajuda ao desenvolvimento dos países desprovida de condicionalidades, ao contrário do que é o modelo ocidental, em que primeiro se requerem reformas democráticas e depois ajuda-se ao desenvolvimento. Mas a China já está a aprender com situações que correram mal.

Tais como?

A queda de Khadafi, na Líbia, como por exemplo. O país vai-se distanciando do princípio da não interferência. O que vamos ver no mundo é uma China que compra muito, vende massivamente. Falávamos da globalização, e a China beneficiou bastante com o facto de ter aderido à Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001. Por esta altura, já deveria ter o estatuto de economia de mercado, mas ainda não tem. Mas isso não impede o país de continuar a ser a fábrica do mundo. Portanto, a China beneficiou da globalização, investe massivamente um pouco por todo o mundo e vai construindo, em paralelo, uma rede portuária para apoiar a sua marinha mercante e servir de abastecimento à sua marinha de guerra. A par desta globalização com características chinesas é possível que vejamos a geoestratégia a acompanhar a geopolítica. A China está a fazer o que os EUA fizeram há muitas décadas, que é construir as bases, com calma, no mundo. A China percebeu que o mar é fundamental numa estratégia de globalização e de protecção das rotas marítimas.

Porque é que o país não tem ainda o estatuto de economia de mercado?

Para todos os efeitos, estamos a assistir a uma guerra comercial. Os produtos de qualidade média e alta têm dificuldade em competir com os produtos chineses, e a guerra tem essa razão de ser. É um conflito entre os EUA e a China que nos envolve a todos directamente. Se por esta altura a OMC desse o estatuto de economia de mercado à China, seria mais fácil ao país do que já é competir livremente com produtos dos EUA e de outras partes do mundo, nomeadamente da União Europeia, onde os produtos têm uma boa qualidade. Isso é uma espécie de travão que serve para mitigar esses efeitos colaterais do dumping, da competição muitas vezes desleal, as falhas em muitos produtos. A meu ver, é uma forma de proteger os produtos ocidentais. É isso que impede a China de ter neste momento uma economia de mercado enquanto o país não fizer as reformas que o Ocidente espera que faça, nomeadamente ao nível da protecção dos direitos de autor. A China tem vindo a implementar reformas aos poucos, mas acha-se que ainda não é suficiente.

De que forma o conflito na Ucrânia alterou a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”?

Qualquer conflito, na Ucrânia ou Síria, é importante. A Ucrânia por ter sido o celeiro da União Soviética e a Síria por questões energéticas. A questão alimentar preocupa a China, que não vai ao estrangeiro apenas à procura de recursos energéticos, mas também à procura de alimentos. Os chineses destruíram de forma massiva, ao longo das últimas décadas, o meio ambiente, e hoje temos 28 mil rios que desapareceram e o ar ainda muito poluído, embora a China esteja a adoptar práticas mais amigas do ambiente. Só sete por cento das terras na China são aráveis. A Ucrânia desempenha aqui essa função, como o Brasil e outros países, de grandes produtores alimentares, mas até vou mais longe. A Ucrânia é importante, neste caso pela negativa, pela desproporção das cadeias de abastecimento entre o Oriente e o Ocidente. A China, sendo parceiro da Ucrânia, não tem interesse nenhum nesta guerra que acaba por tocar na economia, mas é uma guerra, acima de tudo, geopolítica. A China precisa de um aliado na construção do mundo que passe por uma alternativa ao mundo ocidental. Esse aliado, para o bem e para o mal, é Putin. Seria um dos poucos que viria ao auxílio da China caso houvesse um confronto em Taiwan. Talvez também o Irão ou a Coreia do Norte. Além de comprarem petróleo mais barato à Rússia, os chineses sabem que, do ponto de vista geopolítico, precisam de aliados. Não é benéfico para ninguém que a guerra se arraste demasiado, inclusivamente para a própria Rússia. Também a China não é alheia a esta perturbação das cadeias de abastecimento.

A China está, portanto, a tentar equilibrar vários factores relativos ao conflito ucraniano, mantendo uma posição estratégica com a Rússia, com o foco em Taiwan.

Sim, sem dúvida, esse é o principal factor. A Rússia e a China desconfiam um do outro. Os multimilionários e turistas russos não vão propriamente para a China, vão para o Ocidente. É um casamento de conveniência. Que outra saída teria a Rússia se não fossem os chineses a subsidiar esta guerra, uma vez que os europeus fizeram cortes? Se não fosse a grande China a comprar, o que poderia fazer Putin, que está praticamente isolado em todo o mundo? Pouco. Mas essa desconfiança existe e encontra nesta crise uma oportunidade. Sabemos que esta ligação entre a Rússia e a China é meramente conjuntural porque, terminando esta guerra, e ninguém sabe quando vai acontecer, não temo dizer que Putin vai querer retomar os mercados ocidentais. A China, aqui, é meramente circunstancial.

É co-autor de um artigo, neste livro, sobre a presença do Atlântico-sul na política de globalização da China, onde se inclui Portugal. No contexto de “Uma Faixa, Uma Rota”, como descreve as relações entre os dois países? Há espaço para inovação?

Nesta relação, a questão de Macau é importante e temos também a CPLP. O único senão é o facto de Portugal pertencer ao Ocidente, à NATO, à União Europeia (UE) e com laços transatlânticos com os EUA. Tivemos uma espécie de lua-de-mel da China com Portugal a partir de 2012, na altura da troika, em que a China não tinha propriamente interesse num mercado como o nosso, mas foi investindo ao ponto de tornar Portugal num estudo de caso na UE pela grande receptividade que estávamos a mostrar face à China. Depois da visita a Portugal de Xi Jinping, cerca de 18 acordos foram assinados, fazendo de Portugal uma excepção. Desde emitir dívida pública portuguesa em moeda chinesa, a criar um laboratório com vista à produção de micro-satélites, à própria política dos vistos gold. Houve depois uma pressão intensa dos EUA e a pandemia, bem como a questão da guerra, que fez com que Portugal tenha voltado à sua política externa dita “convencional”, de apoio aos EUA. Todos esses factores levaram ao fim da lua-de-mel que parecia promissora.

O conceito de “Globalização com características chinesas” poderá ter influências nos próximos tempos, com o conflito na Ucrânia, por exemplo?

Se olharmos para a China como aquele actor que planeia a longo prazo, vão surgir sempre guerras e conflitos, ou crises, mas esse projecto de “Uma Faixa, Uma Rota” continuará no espaço e no tempo. É muito difícil parar a China, sendo que hoje em dia as famílias podem ter até três filhos. Isto não é uma brincadeira. Se o planeta já era escasso em recursos, veremos agora uma deslocalização da China para a zona do Atlântico-Sul, para aqueles países mais distantes, à procura de alimentos e energia. Não é por acaso que se houve falar do interesse da China numa base naval na Argentina ou na Guiné-Equatorial. A China vai negociar com esses estados para ter capacidade de introduzir a sua diáspora. Se há coisa que o país aprendeu é que não pode ter base apenas na China, mas sim em todo o mundo. A China tem de ter bases navais mais perto dos locais de risco.

 

Olhar global

“The Palgrave Handbook of Globalization with Chinese Characteristics – The Case of the Belt and Road Initiative” [Manual Palgrave da Globalização com Características Chinesas – O caso da Iniciativa Uma Faixa, Uma Rota” é uma edição conjunta de Paulo Duarte, académico da Universidade Lusófona do Porto, Francisco José Leandro, da Universidade de Macau, e Enrique Gálan, do Asian Development Bank. Com a participação de dezenas de autores de várias nacionalidades, o livro faz o retrato global da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” nas vertentes diplomática, económica e política e dos vários polos de investimento que se foram formando desde 2013 graças à aposta chinesa em vários países. Destaque para a participação de vários académicos portugueses, como é o caso de Carmen Amado Mendes, Cátia Miriam Costa, Luís Tomé, Jorge Tavares da Silva, entre outros.

3 Fev 2023

Sony anuncia novo presidente e lucros de 809 mil milhões de ienes

A Sony anunciou hoje um lucro líquido de 809 mil milhões de ienes (5,7 mil milhões de euros) entre Abril e Dezembro, os primeiros nove meses do ano fiscal, mais 4,9% do que no mesmo período do ano anterior.

A multinacional japonesa de tecnologia e entretenimento registou um lucro operacional de 1,08 biliões de ienes (7,6 mil milhões de euros) no mesmo período, mais 1,5% do que em 2021, graças à resolução de vários processos judiciais e à recuperação de perdas associadas à subtração ilegal de fundos do ramo de seguros.

As receitas de vendas da Sony aumentaram 10,7% nos mesmos meses para 8,5 biliões de ienes (59,8 mil milhões de euros), algo a que a empresa atribuiu a um aumento significativo das vendas nos negócios de jogos de vídeo, música e imagem.

A Sony anunciou ainda que o diretor financeiro, Hiroki Totoki, vai assumir o cargo de presidente do grupo e diretor de operações a partir de 1 de Abril. Totoki, que também detém atualmente o cargo de vice-presidente executivo, substitui Kenichiro Yoshida, que se mantém na empresa como diretor executivo.

2 Fev 2023

Espectáculos nas Casas da Taipa e Feira do Carmo recomeçam no sábado

É já este sábado que começa mais uma ronda dos “Espectáculos no âmbito da Excursão Cultural Profunda”, que decorrem aos fins-de-semana na zona das Casas Museu da Taipa e o anfiteatro junto à Feira do Carmo. A ideia, segundo o Instituto Cultural (IC), é celebrar o Festival das Lanternas e “proporcionar a residentes e turistas uma série de experiências culturais e concertos musicais com características únicas na antiga Vila da Taipa, enriquecendo assim a experiência do turismo cultural”.

Todos os sábados, e até ao dia 25, decorre o programa “Música e Actividades em Família e Infantil”, entre as 16h e 18h. Trata-se de uma série de espectáculos que, como o nome indica, são dirigidos a toda a família e englobam diversos estilos musicais, tais como percussão em família, música para crianças, músicas de filmes, cinema e Musicais e temas de teatros musicais, entre outros. Assim, o público poderá “sentir a magia própria da música, num ambiente descontraído”, podendo ainda participar nos concertos.

O evento conta ainda com o programa “Amor na Vila Antiga”, a propósito da chegada do Dia de São Valentim, que se celebra a 14 de Fevereiro. Este programa, que termina dia 26 e que acontece todos os domingos, entre as 16h e as 18h, apresenta também uma grande diversidade de espectáculos, tal como o temático “Melodias do Festival das Lanternas”, o teatro musical adaptado “Amor no Café da Vila Antiga”, a peça de teatro interactivo original infantil “O que é Felicidade?” e um concerto de jazz.

Amor por aí

Paralelamente, a Feira do Carmo servirá especialmente de palco para várias actividades de interacção com o tema “amor”, sendo disso exemplo a tenda interactiva “Confessar o Amor com Ramos de Flor” e outros pontos de interesse fotográfico no âmbito do Dia de São Valentim. No próprio dia do Festival das Lanternas, haverá ainda jogos de adivinhas e enigmas tradicionais, que permitirão aos visitantes desfrutar plenamente do ambiente romântico e festivo.

Além disso, no dia 19, na Feira do Carmo, terá lugar o workshop “Série Querida Família — Teatro Interactivo para Famílias”, no qual através da apresentação de obras clássicas e livros de ilustrações, será introduzido o tema das respectivas histórias, o que permitirá aos participantes desempenhar o papel de protagonistas e criar um desenvolvimento dessas histórias. A participação é gratuita e os interessados podem efectuar a sua inscrição na sua Conta Única, entre os dias 6 e 14 deste mês.

2 Fev 2023

Hong Kong oferece meio milhão de bilhetes de avião para atrair turismo e negócios

Hong Kong anunciou hoje que vai oferecer meio milhão de bilhetes de avião para atrair turistas e empresários de todo o mundo, no âmbito da campanha “Hello Hong Kong”. “Hong Kong está agora perfeitamente ligada ao continente chinês e a todo o mundo internacional. E não haverá isolamento, nem quarentena”, disse o chefe do Governo, na cerimónia de apresentação da campanha.

“Este é o momento perfeito para turistas, viajantes de negócios e investidores, de perto e de longe, virem dizer ‘Olá, Hong Kong'”, acrescentou John Lee, lembrando que os visitantes também vão poder desfrutar de ofertas e vales especiais, entre outros incentivos.

O diretor executivo da Autoridade Aeroportuária, Fred Lam Tin-fuk, disse ao jornal South China Morning Post que a campanha de oferta de bilhetes de avião terá início a 01 de março e vai durar cerca de seis meses.

Fred Lam Tin-fuk explicou que os bilhetes vão ser distribuídos através dos escritórios e agentes das companhias aéreas no estrangeiro, nos principais mercados.

O mesmo responsável afirmou que cada visitante deverá trazer dois a três outros visitantes, o que significa que a oferta de 500.000 bilhetes poderá eventualmente atrair 1,5 milhões de visitantes extra, estimando que tal representaria 10% dos viajantes entre março e setembro.

Cerca de três quartos dos bilhetes serão entregues aos visitantes asiáticos, com base no padrão de origem dos visitantes que chegavam antes da pandemia de covid-19. A promoção será primeiramente dirigida aos países do Sudeste Asiático, incluindo Tailândia, Filipinas, Indonésia, Singapura e Malásia, seguindo-se territórios do Nordeste Asiático e da China continental.

Durante a pandemia da covid-19, a cidade permaneceu alinhada com a estratégia “zero covid” seguida na China continental. Num momento de competição feroz regional ao nível económico e turístico, Hong Kong demorou mais tempo do que Singapura, Japão e Taiwan a aliviar as restrições fronteiriças. E mesmo depois de ter reaberto a fronteira com a China continental em janeiro, a recuperação do turismo tem sido lenta.

Antes da pandemia, em 2019, e apesar da instabilidade criada pelos protestos anti-governamentais, Hong Kong recebeu 56 milhões de visitantes, mais de sete vezes a sua população.

As rigorosas restrições contra a covid-19 afastaram os visitantes nos últimos três anos, devastando o setor do turismo e a economia da região administrativa especial chinesa. Em 2022, a cidade recebeu apenas 1% dos visitantes registados em 2019.

O produto interno bruto (PIB) da cidade no ano passado caiu 3,5% em relação a 2021, de acordo com os dados provisórios do Governo. Depois de abandonar a obrigatoriedade de quarentenas nos hotéis e de testagem dos viajantes, Hong Kong registou um ligeiro aumento de turistas, mas, ainda assim, longe do número de turistas nos anos pré-pandémicos.

2 Fev 2023

Sismo de 6,0 de magnitude atinge as Filipinas

Um sismo de magnitude 6,0 na escala de Richter atingiu ontem o sul das Filipinas, informou o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, em inglês), e as autoridades locais alertaram sobre possíveis abalos secundários.

O terramoto aconteceu às 18:44 locais, a 4,3 quilómetros a sul do município de Monkayo, na província de Davao de Oro, na ilha de Mindanao. O sismo ocorreu a 13 quilómetros de profundidade, segundo o USGS.

Até ao momento, não foram relatados danos significativos pelas autoridades locais. “Ficamos chocados porque é incomum que isso aconteça aqui”, declarou Lucita Ambrocio, responsável da polícia local do município vizinho de New Bataan.

O abalo “durou cerca de 15 a 20 segundos”, disse Lucita Ambrocio, que saiu a correr com seus os colegas quando a esquadra começou a tremer. “Depois de 10 minutos, os nossos colegas voltaram ao prédio. Verifiquei as instalações e vi uma pequena rachadura na esquadra”, afirmou.

As Filipinas estão localizadas no “Círculo de Fogo do Pacífico”, uma área de intensa atividade sísmica e vulcânica.

2 Fev 2023

Presidente da Assembleia-Geral da ONU visita China com agenda focada na gestão da água

O presidente da Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), Csaba Korosi, iniciou ontem uma visita à China, onde terá encontros com altos funcionários do Governo e com cientistas para debater projetos de desenvolvimento e de gestão da água.

Durante a visita, que irá prolongar-se até sábado, Korosi terá reuniões em Pequim com várias figuras do Governo, nomeadamente com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, com o conselheiro de Estado, Wang Yi, com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Qin Gang, e com o ministro do Ambiente, Huang Runqiu, entre outros representantes.

“Questões relacionadas com a ciência e reuniões com autoridades nas áreas de desenvolvimento sustentável e gestão de recursos hídricos serão focos prioritários da visita”, disse o gabinete de Korosi, num comunicado.

O presidente da Assembleia-Geral da ONU vai aproveitar a deslocação para fazer várias visitas de campo relacionadas ao desenvolvimento sustentável, entre elas ao Centro Internacional de Pesquisa de ‘Big Data’ para Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (CBAS), criado para apoiar a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a chamada Agenda 2030.

Csaba Korosi visitará também o Instituto Chinês de Recursos Hídricos e Pesquisa Hidroelétrica em Pequim, onde irá encontrar-se com cientistas especializados nesta área.

“Em seguida, Korosi viajará (…) num comboio de alta velocidade de Pequim a Zhengzhou, província de Henan. O presidente vai visitar a Rota do Meio do Projeto de Desvio de Água Sul-Norte, que vai do reservatório Danjiangkou, no rio Han, até Pequim”, referiu o mesmo comunicado.

Durante a sua visita a Zhengzhou, Csaba Korosi irá encontrar-se com membros do comité central e do comité provincial do Partido Comunista da China (partido único e no poder), para discutir o papel dos governos locais na implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e o seu envolvimento em discussões relevantes da ONU.

2 Fev 2023

Relatório | Português ainda domina em algumas áreas nos tribunais

O relatório do Ano Judiciário de 2021/2022 revela que a língua portuguesa ainda domina em algumas áreas judiciais em relação ao chinês, nomeadamente no Tribunal de Segunda Instância (TSI), onde “o número de acórdãos em chinês redigidos pelo tribunal colectivo, em recursos de processo civil, foi relativamente baixo”. Tal “deve-se a factores estruturais, como a hierarquia do TSI, a afectação dos juízes e as línguas utilizadas pelos advogados”.

O documento adianta que “é difícil o TSI utilizar plenamente a língua chinesa no conhecimento dos recursos em processo civil, uma vez que os autos e as decisões em matéria civil dos tribunais de primeira instância são maioritariamente escritos em português”, além de que “os advogados utilizam sobretudo a língua portuguesa nas actividades judiciais”.

Uma vez que a base do Direito de Macau é portuguesa, “tecnicamente é mais demorado, custoso e difícil encontrar o vocabulário correspondente e usar a língua chinesa para a expressão”, pelo que “a maioria dos acórdãos [no TSI] são ainda redigidos em português”.

Dificuldades linguísticas

Ainda assim, o chinês é bastante utilizado pelos tribunais, tendo em conta que esta é a língua mais falada pela população. Ainda relativamente ao TSI, dos 938 acórdãos proferidos no Ano Judiciário de 2021/2022, 583 foram realizados em chinês, com uma taxa de 62,15 por cento, e 355 em português.

Dos 547 acórdãos proferidos na secção dos processos em matéria criminal, também no TSI, 79 foram redigidos em português e 468 em chinês, representando estes uma taxa de 85,56 por cento. O português dominou nos acórdãos em processos civis e laborais, pois, da totalidade dos 206 acórdãos proferidos, 156 foram escritos em português e os restantes 50 em chinês.

No caso do Tribunal Judicial de Base (TJB) o português continua a estar em minoria. O relatório dá conta que, das 8.999 decisões proferidas pelo TJB, 8.333 foram-no em chinês, o que representa 92,60 por cento, por oposição aos 623 em português, o que representa 6,92 por cento. Em comparação com o ano judiciário de 2020/2021, o número de sentenças proferidas em chinês diminuiu em 1.564 processos, menos 15,80 por cento. O número de sentenças proferidas em português desceu 152, uma queda de 19,61 por cento.

Lê-se ainda que, no caso do TJB, “uma vez que a língua materna da maioria dos intervenientes do juízo de instrução criminal, nos últimos anos, ser o chinês, as peças processuais, como os relatórios de inquérito elaborados pelos órgãos policiais, são principalmente redigidas em chinês”. Desta forma, “a utilização da língua chinesa no Juízo de Instrução Criminal atingiu mais de 90 por cento”.

2 Fev 2023

A indústria pecuária e as alterações climáticas

Normalmente, quando se fala de alterações climáticas, o nosso pensamento associa-as imediatamente aos combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo, gás natural). Na realidade, a sua combustão liberta gases de efeito de estufa (GEE), os quais são a principal causa do aquecimento global e, consequentemente, das alterações climáticas. Os gases de efeito de estufa absorvem radiação emitida pelo sol (de pequeno comprimento de onda) e emitem radiação de grande comprimento de onda, na forma de calor, que aquece a Terra. Agem como se fossem um cobertor que envolve o globo terrestre.

De uma maneira simplista, pode-se afirmar que o clima é caracterizado pelo comportamento médio dos fenómenos meteorológicos numa determinada região, durante um período de pelo menos de 30 anos, conforme recomendação da Organização Meteorológica Mundial.

O conceito de clima é, no entanto, de tal maneira complexo, que até eminentes climatologistas se inibem em o definir. O Professor José Pinto Peixoto (1922-1996), o mais ilustre meteorologista e climatologista português, e um dos mais importantes a nível mundial, para ilustrar esta complexidade costumava afirmar, com um certo sentido de humor, «eu sei o que é o clima, mas se me pedirem para o definir eu não sei», numa alusão ao pensamento de Santo Agostinho quando se referia ao tempo nas suas “Confissões”: “Quid est ergo tempus ?/Si nemo ex me quaerat, scio/si quaerenti explicare uelim, néscio” (O que é o tempo?/ Se ninguém me perguntar, eu sei o que é/ Se me perguntarem e eu quiser explicar, eu não sei!).

O sistema climático é composto pela atmosfera, hidrosfera, criosfera, litosfera e biosfera. A interação destas componentes, ativada pela energia solar, comanda o comportamento dos fenómenos meteorológicos e, consequentemente, do clima. Sendo a atmosfera a componente com ação mais direta neste sistema não é de estranhar que a alteração da sua composição se reflita no clima à escala global.

Apesar dos esforços das Nações Unidas através das suas agências especializadas, que se traduzem nomeadamente no Protocolo de Quioto e em vinte e sete Conferências das Partes (Conferences of the Parties – COP), a realidade é que os valores da concentração do dióxido de carbono, o principal gás de efeito de estufa, em vez de diminuírem, têm aumentado. A concentração média de CO2 à escala global é atualmente aproximadamente 420 partes por milhão (ppm) enquanto que no início da era industrial era cerca de 280 ppm.

Há cerca de 12 mil anos o homo sapiens deixou de ser nómada e passou a organizar-se em assentamentos que a pouco e pouco deram origem a aldeias, vilas e cidades. Deixando de praticar a atividade de recoletores-caçadores, os nossos ancestrais sedentarizaram-se e dedicaram-se à agricultura e à domesticação de animais selvagens, que passaram a ser explorados não só para alimentação, mas também para executar tarefas, como trabalhos agrícolas, transporte de pessoas e bens, etc.

À medida que a população mundial tem vindo a aumentar, estas práticas também se intensificaram, o que levou à adaptação de terrenos de modo a torná-los próprios para a agricultura, resultando na destruição de florestas e, consequentemente, na diminuição da biodiversidade. No caso da Amazónia, o desmatamento está intimamente ligado à criação de pastagens para o gado bovino.

O aumento da população fez também com que se procedesse à criação e abate intensivo de animais, o que se tornou numa gigantesca indústria.

Embora não seja dada a mesma ênfase aos estragos que a pecuária provoca no ambiente, comparativamente aos combustíveis fósseis, a realidade é que essa indústria, devido à desflorestação, ao pastoreio intensivo e deterioração do solo em vastas regiões, é uma das principais causas da degradação do ambiente e do aquecimento global. Assim sendo, não se compreende a não tomada de medidas significativas no que se refere à reformulação dessa indústria.

No entanto, na última Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Biodiversidade Biológica (COP15), logrou-se alcançar o Quadro Global para a Biodiversidade de Kunming-Montreal, em que se preconizam medidas que poderão levar ao corte de subsídios à pecuária intensiva.

A indústria da carne implica a emissão de GEE, principalmente metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), os quais são caracterizados por elevado potencial de aquecimento global. Para efeitos comparativos no que se refere à capacidade para contribuir para o aquecimento global, convencionou-se estabelecer o conceito “Potencial de Aquecimento Global” (Global Warming Potential – GWP) que nos permite avaliar a quantidade de calor que um GEE retém na atmosfera em comparação com o dióxido de carbono.

Atribuindo ao dióxido de carbono o valor do Potencial de Aquecimento Global igual a 1, o GWP do metano e óxido nitroso são, respetivamente, cerca de 25 e 298. No entanto, a duração da permanência do metano na atmosfera é de cerca de dez anos, a do óxido nitroso mais de cem anos, enquanto que a do dióxido de carbono é superior a mil anos.

Apesar de os GEE produzidos pela indústria pecuária não terem merecido tanta atenção por parte do IPCC como os produzidos pela combustão de combustíveis fósseis, a realidade é que a produção industrial de carne é responsável pela injeção na atmosfera de grandes quantidades de GEE. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (Food and Agriculture Organization – FAO), 18% de todas as emissões dos gases do efeito estufa globais são provenientes da pecuária e a poluição causada por esta indústria tem grande impacto não só na atmosfera, mas também no solo e na água. Cerca de 60% dos gases gerados na produção de alimentos proveem da indústria da carne.

Ainda segundo a FAO, para produzir 1kg de carne bovina são necessários aproximadamente 15.400 litros de água, recurso natural que está a tornar-se cada vez mais escasso. Estima-se que o consumo diário de uma pessoa que come regularmente carne é de cerca de 5.000 litros de água, enquanto que um vegetariano consome cerca de metade.

Para que a atmosfera não sofra as consequências drásticas do aumento da concentração dos GEE, são necessários esforços não só no que se refere à diminuição drástica da utilização de combustíveis fósseis, mas também no sentido de restringir práticas relacionadas com a indústria pecuária. Para que tal se concretize, não compete apenas aos governos e às empresas pecuárias tomarem medidas nesse sentido, mas também a todos nós. A principal medida, além das que estão relacionadas com a redução do recurso aos combustíveis fósseis, poderá resumir-se ao seguinte: consumir menos carne e não contribuir para o desperdício de alimentos.

Calcula-se que cerca de um terço dos alimentos é desperdiçado nos países avançados. Perante esta realidade, os governos deveriam inspirar-se na campanha lançada pelo Presidente da China, Xi Jinping, que considerou o hábito de desperdiçar comida como chocante e preocupante. Na sequência desta campanha alguns restaurantes agiram no sentido de diminuir o desperdício.

Além da emissão de GEE, a indústria pecuária está associada à disseminação de doenças que afetam os humanos. São utilizadas quantidades exageradas de antibióticos a fim de se prevenirem doenças nos animais e acelerar o seu crescimento. Não se trata apenas de uma preocupação com a saúde animal, mas de medidas para aumentar a produtividade e, consequentemente, os lucros. Esta prática tem como consequência o aumento da resistência de bactérias que podem afetar a saúde dos que se alimentam de carne.

A indústria pecuária implica também práticas nada éticas em relação ao bem-estar animal. É habitual, nos aviários, manterem-se as luzes acesas durante longos períodos para que os animais comam quase continuamente, contrariando o seu ritmo biológico.

Em suma, comer menos produtos provenientes da indústria pecuária contribui não só para uma maior sustentabilidade do nosso planeta, mas também para a redução da propagação de doenças nos humanos como, por exemplo, obesidade, doença das vacas loucas, infeções causadas pelas bactérias E. Coli, MRSA, salmonela, etc.

*Meteorologista

2 Fev 2023

Taiwan | Pequim condena aproximação à República Checa

A líder de Taiwan, Tsai Ing-wen, reafirmou na segunda-feira os laços com Praga, durante uma conversa por telefone com o presidente eleito da República Checa que despertou a ira de Pequim. Tsai Ing-wen disse que “os dois governos gozam de laços profundos e partilham os valores da liberdade, da democracia e dos direitos humanos”, avançou a Agência Central de Notícias de Taiwan, que citou o porta-voz presidencial Lin Yu-chan.

“Com base nestes laços cordiais, o governo de Taiwan deseja aprofundar os intercâmbios e a cooperação com a República Checa em áreas-chave, incluindo fabrico de semicondutores, formação de talento em tecnologias de ponta e a reestruturação das cadeias de fornecimento”, disse Lin.

A porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning, disse que Pavel agiu em “desafio à repetida dissuasão e queixas por parte da China” e que “espezinhou a linha vermelha estabelecida” por Pequim.

“A China opõe-se veementemente a este tipo de contactos e apresentou uma queixa solene ao lado checo”, afirmou Mao, em conferência de imprensa, acrescentando que a República Checa deve tomar medidas para “reduzir o impacto negativo deste incidente, de modo a evitar danos irreparáveis nas relações bilaterais com a China”.

Pavel, um general aposentado do exército, vai suceder a Milos Zeman no cargo. Zeman foi criticado pelas suas posições a favor da Rússia e da China. O presidente eleito, que concorreu como independente, é um ex-presidente do comité militar da NATO, o mais alto corpo militar da aliança.

2 Fev 2023

Hong Kong | John Lee aponta ao desenvolvimento económico e turístico

John Lee, chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong (RAEHK), disse nesta terça-feira que o governo da RAEHK tem dois objectivos principais, incluindo as preparações para o retorno total à normalidade, concentrando-se no desenvolvimento económico e a promoção de Hong Kong para visitantes estrangeiros e chineses da parte continental.

Lee destacou em conferência de imprensa que, à medida que o trabalho de prevenção e controlo da Covid-19 entra numa nova etapa, o governo da RAEHK estabeleceu duas metas principais para o futuro.

Ressaltou que, desde que a primeira fase de reabertura da fronteira entre Hong Kong e a parte continental da China começou a 8 de Janeiro, todos os pontos de controlo estão a atingir os objectivos para uma reabertura segura, ordenada e suave.

Com o rápido retorno de Hong Kong à normalidade, Lee revelou que o governo da RAEHK está a implementar uma enorme campanha de turismo no exterior e na parte continental da China, incluindo “Hello Hong Kong”, uma campanha global para atrair visitantes.

O líder da antiga colónia britânica anunciou também que fará uma visita de serviço à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos este sábado para contar as boas histórias de Hong Kong e as oportunidades na região.

2 Fev 2023

NATO | Stoltenberg diz que Pequim “não é um adversário”

Numa conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro japonês, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, preferiu olhar para a China como um novo desafio, em vez de considerar o gigante asiático um adversário

 

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, considerou na terça-feira que a República Popular da China “não é um adversário” da Aliança Atlântica e de países parceiros como o Japão.

Stoltenberg falava durante uma conferência de imprensa conjunta, em Tóquio, com o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, referindo que a capacidade militar de Pequim e o comportamento face à região Ásia Pacífico e à guerra na Ucrânia supõem desafios. “A China não é nossa adversária”, frisou, apesar das posições de Pequim.

“Devemos entender a escala do desafio e trabalharmos juntos para o enfrentarmos o mais rápido possível”, defendeu.
Stoltenberg, que esteve anteriormente na Coreia do Sul, afirmou que o Japão e a NATO encaram a República Popular da China como “um desafio crescente” devido ao aumento das capacidades militares, incluindo armamento nuclear.

Pequim também está a “propagar desinformação sobre a NATO e a guerra na Ucrânia”, disse Stoltenberg, acrescentando que, mesmo assim, não se trata de uma situação limite face à Aliança Atlântica.

Mal comum

Segundo Stoltenberg, uma eventual vitória russa na Ucrânia “enviaria a mensagem de que todos os regimes autoritários podem conseguir os objectivos que pretendem. Neste contexto de segurança, que sinalizaram como “o mais grave e complexo desde o final da Segunda Guerra Mundial”, o Japão e a NATO comprometeram-se a estreitar a colaboração.

Os dois líderes concordam na necessidade de um avanço na cooperação através da participação do Japão em reuniões e cimeiras da NATO.

Kishida esteve presente como observador na Cimeira da NATO, em Madrid sendo que tanto Stoltenberg como o chefe do governo de Tóquio concordam na ampliação da cooperação em áreas como a segurança marítima, controlo de armamento, ciberespaço e combate à “desinformação”, refere a declaração conjunta firmada em Tóquio.

2 Fev 2023

Creative | Exposição fotográfica de Hugo Teixeira regressa a Macau

Exposta em Outubro de 2020 na galeria da Taipa Village Art Space, “Paisagens Involuntárias”, mostra de fotografia de Hugo Teixeira, regressa ao território, desta vez pela mão da Creative Macau. A partir de sábado, o público poderá ver imagens que retratam as memórias de emigrante do luso-americano, actualmente a residir na Califórnia

 

Está de regresso a Macau a exposição do fotógrafo Hugo Teixeira, luso-americano a viver na Califórnia, EUA, e que não é mais do que um exercício de memória da parte de um emigrante. “Paisagens Involuntárias” estará patente na galeria da Creative Macau a partir deste sábado e até ao dia 4 de Março, depois de ter sido exposta, em Outubro de 2020, na galeria da Taipa Village Art Space.

A mostra remete para o exercício de memória, ainda que não incida sobre as memórias em específico de Hugo Teixeira, cuja família emigrou de Portugal para a Califórnia, EUA, em 1970, quando o fotógrafo tinha poucos meses de idade.

Estas “Paisagens Involuntárias” lembram, assim, um Portugal pré-revolucionário, atrasado e pouco aberto ao mundo, com as suas paisagens campestres a perder de vista que não são, afinal de contas, muito diferentes do chaparral californiano.

Numa entrevista concedida ao HM em Outubro de 2020, a propósito deste projecto, Hugo Teixeira revelou mais detalhes de uma mostra que resulta de 14 mil composições criadas a partir de fotografias capturadas e imagens adquiridas na Feira da Ladra, em Lisboa.

“Estas imagens não referenciam memórias específicas, mas diria que cada montagem combina com uma fotografia de paisagem que encontrei. Gosto muito da ideia de viagem, da road trip, que permite fazer muita fotografia de paisagem. Por isso comecei a fazer montagens com o montado alentejano e o chaparral na Califórnia, porque são paisagens muito parecidas e representam aquilo que quero comunicar”, contou.

As imagens compradas na Feira da Ladra “fizeram-me lembrar as poucas imagens de família que temos da época da emigração, nos anos 60 e 70. Acabam por representar memórias que não são minhas, mas herdadas. Como filho de emigrantes sempre ouvi histórias da terra, em Portugal, que são uma componente importante da minha identidade”, adiantou.

Hugo Teixeira disse na mesma entrevista que “o processo de criar dezenas de milhares de pequenas experiências representa um bocado o caminho do emigrante num país novo ou num país antigo, o não saber bem onde colocar o pé e às vezes enganar-se. É um processo orgânico de descoberta de culturas e de países”.

Conceitos e imagens

Hugo Teixeira cresceu na comunidade luso-americana de São José, Califórnia. Formou-se em linguística e fotografia, tendo ainda formação na área dos media. O seu trabalho foca-se não apenas na fotografia, mas também no uso de materiais mais comuns e ferramentas que têm como resultado final a criação de imagens conceptuais contemporâneas.

Além de “Paisagens Involuntárias”, Hugo Teixeira também trouxe a Macau, em 2017, a mostra “Transcience: Daredevils and Towering Webs”, composta por um conjunto de fotografias que retratam andaimes de bambu e os mestres que os montam. Esta foi a primeira vez que o fotógrafo expôs no território.

2 Fev 2023

Filosofia Clássica com Características Chinesas

Não é segredo para ninguém o grande apego que os chineses têm aos seus clássicos, os Quatro Livros (四書 Sì Shū) e os Cinco Clássicos (五經Wǔjīng), bem como alguns manuais de ensino com pendor filosófico, por exemplo, o Clássico Trimétrico (《三字經》Sānzìjīng), cuja influência chegou aos nossos dias, quando devidamente ultrapassados os excessos da era revolucionária dos primórdios do poder comunista.

O mais interessante é que estes se estenderam não apenas à elite bem pensante como ao comum dos chineses através do pensamento proverbial, de aforismos (格言géyán), provérbios (語俗Súyǔ), cuja tradução literal é “dizeres comuns” ou “ditos coloquiais” , bem como de histórias proverbiais, condensadas em 4 caracteres, os Chéngyǔ (成語), que têm implícito no caractere chéng (成), a meu ver, o potencial desenvolvimento da história, tantas vezes real, para a qual remetem com uma finalidade moral indisfarçável.

Comecemos por provérbios retirados ao Clássico das Mutações (易經Yì jīng), onde o princípio da Unidade (同心 Tóng Xīn) se assume como valor fundamental do pensamento chinês, procurando associar este modo proverbial de apresentar a filosofia, com alcance tão vasto quanto a comunidade chinesa o permite, aos cinco elementos (五行Wǔ Xíng) constantes na filosofia chinesa, a saber: a Terra (土 Tǔ), a Madeira (木Mù) (que corresponde ao Ar no Ocidente), o Fogo (火 Huǒ), a Água (水 Shuǐ) e o Metal (金 Jīn) para que não nos percamos no que se adivinha ser labirinto dos provérbios filosóficos. Ora estes elementos são os representantes do pensamento filosófico que será condensado ritmicamente em frases sugestivas e de fácil memorização para o povo e letrados de todos os tempos.

Penso que não será difícil associar um ou mais elementos a cada uma das principais escolas filosóficas clássicas que têm como ponto de partida o Clássico das Mutações, pelo menos o Confucionismo e o Taoísmo dependem diretamente desta obra.

O Clássico das Mutações inaugura com o Hexagrama do Criativo, composto por dois Trigramas de Céu (乾 Qián), que nos chama a atenção para a importância do Céu e dos seus decretos como condutor essencial dos destinos humanos, desde que as pessoas o saibam entender e, por isso, lemos o seguinte provérbio “Alegremo-nos com o Céu e seus Decretos para que não nos venhamos a arrepender” (樂天知命故不憂Lè Tiān zhī Mìng gù bù yōu). O Criativo é a força divina e inspiradora, a abertura que existe em cada um de nós, sendo representado por 3 linhas contínuas, masculinas. No que respeita às transformações, é o começo, é forte, e, do ponto de vista da relação familiar, é o pai.

Ele é a energia que inicia a transformação no Céu, na Terra e no Homem. A sua cor é o branco, as propriedades: a atividade, a criatividade e a firmeza, expressando-se pela razão, força e durabilidade. Corresponde-lhe em termos de corpo natural a cabeça, sendo o seu animal o cavalo, ainda que também tenha o dragão como imagem, o correspondente natural é o gelo. O Céu é, portanto, o começo, a abertura, a primeira transformação, que se vai conjugar com a segunda transformação, a Terra, para originar os restantes seis trigramas. O Céu, pelo seu poder criativo, energia e durabilidade estabelece uma estreita relação com o Metal, sendo superior a este, como verificamos no seguinte provérbio, que reitera a unidade essencial: “Quando duas pessoas se unem a sua acutilância consegue dividir o metal” (二人同心◦其利斷金◦Èr rén tóngxīn, qí lì duàn jīn), diríamos nós num equivalente possível em Português que “a União faz a força”, sendo superior à pulsão bruta. E, como não podia deixar de ser, há um provérbio para os elementos do Fogo e da Água, figurados no sol e na lua e na constante mutação que estes pelas suas relações cósmicas proporcionam “o sol e a lua girando, o calor e o frio alternando” (日月运行◦一寒一暑◦) organizam e compõem o mundo em nosso redor.

Se no Clássico das Mutações encontramos vários elementos expressos através do pensamento proverbial, já na filosofia confucionista domina o elemento da Terra e a Humanidade que lhe dá o seu máximo sentido, por isso os provérbios possuem quase todos um intuito ético-moral orientado para fins políticos.

A melhor terra será aquela onde foi implementado um sistema benevolente dominado pelas principais virtudes confucionistas com a Benevolência (仁Rén) em lugar de destaque. Esta expressa e associa-se à Tolerância (恕 Shù) e respeito para com os outros, sendo célebre o seguinte aforismo atribuído a Confúcio (孔子, 551-479 a.C.) no Capítulo dos Analectos Senhor Wei Ling, 24: “Não faças aos outros o que não desejas para ti” (Yǐ suǒ bù yù, wù shī yú rén) (論語•衞靈公第十五——二十四). De facto, e se pensarmos bem a Benevolência tem uma tradução prática no relacionamento com os outros onde a captamos como uma forma de tolerância, como nos é dito neste texto que acompanha o aforismo: “Zi Gong perguntou, ‘Existe alguma palavra que uma pessoa possa seguir como princípio orientador de vida? ’Confúcio respondeu: ‘Sim. Será talvez a palavra “tolerância”. Não faças aos outros o que não desejas para ti próprio’ ”.

Passando agora o segundo grande mestre da Escola Confucionista, Mâncio (孟子c.372/289 a.C) encontramos ditos e histórias proverbiais na obra homónima Mencius《孟子》. A este filósofo associo sobretudo os elementos Terra e Madeira.

O autor, cuja influência se prolonga pela tradição, por exemplo no manual para o ensino elementar de pendor filosófico, O Clássico Trimétrico (《三字经》) , onde podemos ler logo na primeira frase do Clássico, que terá grande repercussão a partir dos tempos medievais, a adopção do princípio filosófico fundamental de Mâncio, transformado em provérbio para toda a posteridade chinesa: “A Natureza humana é boa” (人之初、性本善Rén zhī chū, xìng běn shàn).

Nos múltiplos provérbios do texto de Mâncio sempre ligados a uma mundividência agrícola, nota-se a referência a crianças que não caem aos poços, porque a bondade inata das pessoas não o permite, já que mesmo os fora-da-lei, considerados maus, se prontificarão a socorrê-las em tais circunstâncias extremas, porque são afinal naturalmente bons, ou quando o deixam de ser, não é por culpa do Céu, mas sim das más práticas humanas, tal como sucede no Monte Niu (牛山 Niú Shān) , numa parábola em que as pessoas são como árvores, que vão sendo devastadas e roubadas ao monte, que acaba deserto e, portanto, totalmente abandonado e perdido, representando já a ausência do bem.

Entre os ditos, gostaria de destacar uma história proverbial, muito ligada aos elementos Terra e Madeira, para figurar mais uma vez, como a acção humana pode degradar, interromper e aniquilar uma tendência inata para o bem, na qual o Céu dita o tempo certo, a fim de que os seres se desenvolvam, bem como às suas virtudes morais. É então pelo respeito à ordem natural que todos os viventes alcançarão a sua melhor realização.

O Chéngyǔ (成語) é “Ajudando os Rebentos a Crescer” (揠苗助長 Yàmiáo-zhùzhǎng), que se encontra em Gongsun Chou, Primeira parte, Segundo Capítulo (《孟子•公孫丑上篇第二章). Aqui se conta a história de um homem do Estado de Song, que muito impaciente por os brotos de arroz demorarem a crescer, foi para o arrozal, ajudá-los a desenvolverem-se, resultado, matou-os, porque a acção humana sem respeito pelo tempo da natureza acaba por ter consequências trágicas.

Para Mâncio este é um exemplo claro de que somos comandados por ordem superior, através de um Mandato Celestial (天命Tianmìng), que se expressa não só em cada um de nós, na nossa natureza inata, mas também através do povo, pelo que mais importante do que os governantes será a população, já que a suas acções e reacções espontâneas se ligam a essa ordem natural divina. É o que nós ocidentais chamaríamos, mutatis mutandis, “vox populi vox dei”, ou seja, para Mâncio o povo sabe e será sempre quem tem a última palavra porque se mantém espontaneamente imerso e ligado ao Céu.

Continuando, na busca filosófica com características chinesas por via proverbial, encontramos uma outra filosofia, desta feita a taoista, onde também abundam os ditos e as histórias proverbiais, e não nos deixemos enganar pelo o facto de apenas se mencionar uma outra considerada mais exemplar no que respeita à ligação entre os princípios filosóficos e os elementos que melhor traduzem o pensar filosófico destas escolas.

O elemento preferido pelo alegado fundador do Taoísmo, Laozi (老子) para expressar a sua filosofia é a Água, que é empregue como imagem metafórica para representar o bem supremo, na sequência de duas outras expressões proverbiais conhecidas por todos os chineses, com as quais inaugura o Clássico da Via e da Virtude (《道德經•第一》) :“O Tao/Dao que se pode indicar não é o verdadeiro Tao. O nome que pode ser dito, não é o verdadeiro nome” (道可道,非常道。名可名,非常名Dào kě dào, fēicháng dào. Míng kě míng, fēicháng míng).

Seguindo esta lógica, compreendemos por que motivo nos surge o seguinte dito no Capítulo VIII (《道德經•第八》) “O Bem Supremo é como a água” (Shàng shàn rú shuǐ). Depois, pelo desenvolvimento do texto, somos esclarecidos relativamente à imagem, porque o filósofo recorre às características deste elemento que se adequam perfeitamente à expressão da bondade máxima de acordo com o seu modo de pensar, senão vejamos, a água nutre, beneficiando todos os seres, tem uma natureza flexível, não entra em conflito, penetrando em toda a parte, mesmo nos lugares que as pessoas desprezam

A Água torna-se assim a imagem modelar do bem supremo mas também do agir do Santo Taoista (聖人 Shèng Rén), que é espontaneamente bom, sendo a sua maior força a aparente fraqueza e flexibilidade, sem se impor a ninguém, nem exercer a força ou o poder, consegue que tudo siga o seu rumo natural sem que nada fique por fazer.

Gostaria ainda de referir a filosofia proverbial do segundo maior filósofo taoista, Zhuangzi (莊子,396-286 a.C) onde encontramos uma aliança entre os elementos da Água e da Madeira/Ar, com predominância para os seres do ar. O melhor exemplo do espaço onírico em que Zhuangzi se move é, sem dúvida, a história proverbial “Zhuangzhou sonha que é uma borboleta”(莊周夢蝶Zhuāngzhōu-mèngdié ) , que surge no livro homónimo nos Capítulos Interiores,

Segundo Capítulo, intitulado “A Uniformidade de Todas as Coisas” (《莊子•内篇•齊物論第二》), no qual o filósofo conta que sonhou ter-se transformado numa borboleta para defender a sua tese principal que há uma uniformidade essencial entre todos os seres, estes diferem apenas no acidental, mas não no essencial e, por isso, recorrendo às práticas físicas e mentais correctas se podem transformar uns nos outros, porque o essencial está na raiz o Tao, que nos nutre a todos, viabilizando qualquer transformação..

Seguindo esta lógica, apresenta-se uma outra proverbial, com a qual se estreia a obra, pelo que atente-se à importância da mesma, retirada do primeiro capítulo, intitulado “Vagueando em Absoluta Liberdade”, dos Capítulos Interiores de Zhuangzi (《莊子•内篇•逍遙遊論第一》), a saber, “No Mar do Norte Há um Peixe” (北冥有魚 Běimíng -yǒuyú), que aqui se resume:. no Mar do Norte existia um peixe muito grande chamado kun (鲲) que se metamorfoseou num pássaro igualmente grande denominado peng (鹏), esta possibilidade de mudar de elemento, da Água para a Madeira/Ar e de peixe para pássaro foi-lhe oferecida pela uniformidade básica dos seres, quer dizer, por estarmos todos dependentes da mesma raiz, o Tao, no entanto quanto maior for a metamorfose mais nos aproximamos do princípio divino e maiores maravilhas poderemos operar, mais filosóficos nos tornamos.

Mas para tal é preciso criar as condições e a postura existencial correta, se não o fizermos, nasceremos e morremos peixinhos, nunca alcançaremos o nível de enorme peixe das profundezas oceânicas, nem tão pouco seremos capazes de nos transformar em enormes pássaros que percorrem o mundo vagueando a seu bel-prazer ou em total liberdade.

Concluindo, observa-se nesta filosofia proverbial clássica chinesa, retirada do Clássico das Mutações e das escolas confucionista e taoista um pendor acentuado para o estabelecimento da relação com os elementos do mundo natural circundante, especialmente com os Cinco Elementos básicos, o pensador nunca está sozinho, encontra-se atento ao meio que o rodeia, expressando através de ditos, muitas vezes associados a pequenas histórias proverbiais, princípios filosóficos abstractos que assim ganham corpo, podendo mais facilmente ser transmitidos a toda a coletividade que os recebe com imenso agrado devido ao ritmo e cor naturais com que são ilustrados os fundamentos teóricos destas filosofias.

 

Bibliografia

Abreu Graça de, António (Trad e Org). 2013. Laozi. Tao Te Ching. O Livro da Via e da Virtude. Lisboa: Vega.
Alves, Ana Cristina. 2005. A Sabedoria Chinesa. Casa das Letras.

《論語》1994. Analects of Confucius. Tradução. para Inglês de Lai Bo (赖波) e Xia Yu He(夏玉和) e para Chinês Moderno de Cai Xiqin (蔡希勤) 北京,華語教學出版社.

蔡志忠. 2008. 《中國思想隨身大全》Portable Chinese Classics in Comics. 台北: 英屬蓋曼群島商網路與書服份有限公司.

Smith H., Arthur. 1988. Pearls of Wisdom from China. Singapura: Graham Brash.
Wilhelm, Richard. 1989. I Ching or Book of Changes, versão inglesa de Cary F. Baynes, Prefácio de C.G Jung, 4ª ed. London: Arkana Penguin Books.

Zhuangzi (《庄子》). 1999. Vol. I e II Tradução para Inglês de Wang Rongpei (汪榕培) e para Chinês moderno de Qin Xuqing e Sun Yongchang. (秦旭卿、孙雍长) .Hunan, Beijing: Hunan People’s Publishing House, Foreign Language Press.

 

Referências

Citação do excerto do capítulo O Senhor Wei Ling, 24, dos Analectos: 子貢問曰: “有一言而可以終身行之者乎?子曰:其恕乎!已所不欲,勿施於人”
A primeira edição do Clássico Trimétrico foi compilada na dinastia Song do Sul (1127-1279 ) por Wang Yinglin (王應麟,1223-1296), tendo sido completada posteriormente até aos tempos da primeira república chinesa.
Citação do excerto do capítulo VIII do Clássico da Via e da Virtude: 《上善如水˙水善利萬物˙而不争˙處衆人之所惡˙》
O excerto de Zhuangzi, retirado do Segundo Capítulo, dos Capítulos Interiores: 《昔者莊周夢為蝴蝶栩栩然蝴蝶也,自喻適志與!不知周也。俄然覺,則蘧蘧然周也。不知周之夢為蝴蝶與,蝴蝶之夢為周?週與蝴蝶,則必有分矣。此之謂物化。 》
O excerto de Zhuangzi, retirado da abertura do Primeiro Capítulo, dos Capítulos Interiores: “北冥有魚,其名為鯤,鯤之大,不知其幾千里也;化而為鳥,其名為鵬,鵬之背,不知其幾千里也。恕而飛,其翼若垂天之雲。是鳥也,海運則徒於南冥者,天池也。”

2 Fev 2023

Saúde | Adolescente intoxicada com monóxido de carbono

Os Serviços de Saúde indicaram ontem terem sido notificados de mais um caso de intoxicação por monóxido de carbono num apartamento em Macau, depois de na semana passada terem falecido três pessoas devido à inalação de gases produzidos por um esquentador. Desta feita, não se registaram mortes e apenas uma rapariga de 13 anos foi afectada pelo incidente.

O caso ocorreu num apartamento na Areia Preta, mais concretamente no Complexo Residencial LA CITÉ, na Avenida 1.º de Maio, quando uma jovem residente secava o cabelo depois de tomar duche numa casa-de-banho onde está instalado um esquentador a gás. Passada uma hora, começou a sentir tonturas e fraqueza e acabou por cair inanimada no chão.

Depois de ser encontrada por um familiar, foi chamada uma ambulância que a levou para as urgências do Hospital Kiang Wu para tratamento. Após a realização de testes laboratoriais, foram detectadas concentrações de hemoglobina de monóxido de carbono, e a jovem foi diagnosticada como um caso de intoxicação por monóxido de carbono.

A doente recebeu tratamento de oxigenoterapia hiperbárica e encontra-se neste momento em estado estável. Os familiares co-abitantes não apresentaram sintomas de indisposição. Os Serviços de Saúde concluíram que o incidente foi causado pela acumulação de gás residual nocivo num ambiente com má ventilação.

2 Fev 2023

Estoril-Sol | Grupo ganha nova concessão. “Longa” batalha judicial na calha

O grupo Estoril-Sol acaba de ganhar uma nova concessão para operar, em Portugal, os casinos Lisboa e Estoril até 2037, mas a concorrente, Bidluck, já apresentou uma providência cautelar para anular a decisão. O advogado Óscar Madureira lamenta que o concurso não tenha conseguido atrair mais concorrentes internacionais

 

Foi anunciada, esta segunda-feira, a atribuição de uma nova concessão para a operação dos casinos Lisboa e Estoril ao grupo Estoril-Sol, que tem Pansy Ho, directora-executiva da MGM China, como presidente do conselho de administração e Ambrose So, vice-presidente e director-executivo da Sociedade de Jogos de Macau, como vogal.

Em comunicado, foi declarado que o novo contrato de concessão, com duração até 2037, contou com as assinaturas, esta segunda-feira, do Governo português e da Estoril Sol (III) – Turismo, Animação e Jogo S.A., subsidiária do grupo. Para operar o casino da Figueira da Foz, surgiu apenas um concorrente, a Sociedade Figueira Praia, da Amorim Turismo, actual concessionária.

No entanto, esta concessão será contestada nos tribunais pela Bidluck, a outra empresa concorrente, afastada do concurso pelo facto da sua proposta de terreno para albergar um novo casino em Lisboa não ter ido de encontro à vontade das autoridades portuguesas. Segundo a imprensa portuguesa, a Bidluck apresentou uma providência cautelar para anular esta decisão, falando de “cumplicidade entre o Governo e a Estoril-Sol”.

Contactado pelo HM para comentar este caso, o advogado Óscar Madureira assegura que iremos assistir a uma “longa” batalha judicial, lamentando que o Estado português não tenha conseguido atrair mais concorrentes internacionais para este concurso.

“O Estado português poderia ter aproveitado esta oportunidade e o facto de Portugal ser um destino turístico apetecível para lançar um concurso público que fosse atractivo do ponto de vista económico e financeiro, a fim de atrair grandes empresas e operadoras internacionais. Isso não aconteceu, o que é demonstrativo da falta de interesse que um concurso destes espoletou. Talvez seja um caso raríssimo no mundo tendo em conta as infra-estruturas que Portugal tem e o facto de ser um grande destino turístico.”

Óscar Madureira entende que o grupo Estoril-Sol ganhou “por exclusão de partes” e devido à questão específica do terreno, uma vez que a proposta da Bidluck era até melhor do ponto de vista financeiro.

O advogado recorda que a anterior concessão terminava em Dezembro e foi prolongada por mais dois anos tendo em conta a pandemia e outros contextos. Ainda assim, na sua visão, o Estado português teve tempo para fazer um concurso “mais apetecível para ter mais entidades interessadas” além do grupo Estoril-Sol, como grandes operadores de jogo americanos ou asiáticos, por exemplo.

“Os termos do concurso parecem financeiramente e economicamente pouco apetecíveis para outras empresas além do grupo Estoril-Sol. Tenho esse feeedback de entidades que eu sabia estarem interessadas em concorrer”, declarou.

Da estagnação

É histórica a ligação do grupo Estoril-Sol em Portugal devido à figura carismática de Stanley Ho, cujo legado é agora seguido pela filha, Pansy Ho. No entanto, Óscar Madureira entende que, nos dez anos que antecederam 2020, a empresa não soube inovar no mercado do jogo.

“Nos últimos anos o grupo poderia ter feito mais para tentar adaptar a oferta do produto que opera junto dos clientes. Os tempos não foram fáceis, e não incluo aqui o período da pandemia. Mas antes disso, talvez nos últimos dez anos até 2020, o grupo acabou por não tentar modernizar-se ou oferecer algo diferente. Mas atribuo também alguma responsabilidade ao Estado português por não ter tentado motivar o grupo no sentido de lhes fazer ver que Portugal teria outras possibilidades, rematou.

2 Fev 2023

Advogados | Vong Hin Fai acredita na expansão para a Grande Baía

O deputado Vong Hin Fai, que assumiu recentemente a liderança da Associação dos Advogados de Macau, projecta para 2023 o objectivo de impulsionar a entrada na advocacia de mais jovens.

À margem do Almoço de Primavera da Assembleia Legislativa, o também advogado destacou o momento oportuno para a classe, com a eliminação das restrições de controlo e prevenção da pandemia, que permitem o retorno dos negócios em Macau e na zona da Grande Baía.

Vong Hin Fai destacou a importância do exame do Departamento de Justiça Estatal, que permite que advogados de Macau e Hong Kong exerçam na Grande Baía, e que os profissionais do direito devem conhecer bem as leis de Macau, mas também estudar as leis do Interior da China para passar os exames.

Vong Hin Fai referiu ainda que durante os três anos de pandemia, a associação registou um ligeiro declínio do número de advogados, com particular incidência sobre profissionais portugueses que regressaram a Portugal, enquanto outros mudaram de carreira para se tornarem assessores jurídicos do Governo.

“Neste momento, há cerca de 440 advogados inscritos na associação, o que representa uma redução em comparação com cerca de 500 advogados antes da pandemia”, afirmou. Porém, este ano, aumentaram as inscrições para o exame de estágio, com um total de 110 candidatos.

2 Fev 2023

Banca | BCP e Banco Comercial Hua Nan acumulam lucros

Os lucros do Banco Comercial Português e do Banco Comercial Hua Nan ultrapassaram 140 milhões de patacas o ano passado.

No caso da sucursal de Macau do Banco Comercial Português, foi registado um lucro de 123,02 milhões de patacas, de acordo com os dados publicados no Boletim Oficial. Este resultado demonstra que a sucursal do BCP melhorou os resultados em comparação com 2021, quando atingiu lucros de 112,03 milhões de patacas. Entre 2021 e 2022, os lucros do banco com sede em Portugal cresceram 9,8 por cento, em contraciclo com a economia do território. A sucursal do Banco Comercial Português em Macau foi estabelecida em Maio de 1993, como uma unidade bancária offshore.

Já a sucursal de Macau do Banco Comercial Hua Nan, registou um lucro de 21,04 milhões de patacas ao longo do ano passado, também de acordo com o Boletim Oficial. No ano findo, o Hua Nan teve receitas de 76,98 milhões de patacas e despesas de 55,94 milhões de patacas. Estabelecido em Macau em 2011, o banco tem sede em Taiwan, onde ocupa um dos principais edifícios de Taipé, no Centro Comercial da cidade.

2 Fev 2023

DSAL | Governo e Newland criam programa de estágios

A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) e a Newland Technology Group lançaram um plano de estágios que vai permitir a 30 jovens locais deslocaram-se a Fujian para adquirirem experiência na empresa chinesa. A revelação foi feita ontem através de um comunicado emitido pela DSAL.

A iniciativa tem como objectivo “optimizar a estrutura das indústrias e acelerar a formação de talentos”, segundo os organizadores, e visa contribuir para a política de desenvolvimento diversificado da economia, com a formação de quadros qualificados.

Segundo o plano proposto, a DSAL cria 30 vagas de estágio na empresa do Interior, que tem como área de negócio o desenvolvimento de plataformas de pagamento electrónico.

O programa “visa permitir que os jovens de Macau conheçam (…) o novo modelo de negócio da indústria de alta tecnologia digital no Interior da China” e permitir-lhes desenvolverem capacidades nessa área.

As inscrições para o plano encontram-se abertas desde ontem e prolongam-se a 15 de Fevereiro, podendo os interessados aceder à página electrónica do programa para se inscreverem.

A DSAL atribui aos participantes um subsídio mensal de 5 mil patacas e um subsídio único de 3 mil patacas para transporte e seguro de viagem. Por sua vez, a Newland atribui um subsídio mensal de estágio de 3 500 renminbis, sendo as restantes despesas suportadas pelos estagiários.

2 Fev 2023