Lei | Governo rejeita diferenciar graus de deficiência no benefício fiscal à contratação

O Governo afastou a possibilidade de diferenciar o benefício fiscal a atribuir às empresas com base no grau de deficiência dos trabalhadores contratados, após preocupação ter sido levantada pelos deputados

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) entende que o benefício fiscal a conceder às empresas que contratem deficientes deve “ter em conta” o grau de deficiência do trabalhador, mas o Governo afastou essa possibilidade. Em causa figura a proposta de lei, actualmente em análise em sede de especialidade, que prevê uma dedução fiscal de até 5.000 patacas por ano e por cada trabalhador contratado.

“Este benefício é uniforme, ou seja, não faz distinção dos graus de deficiência, [pelo que] o empregador pode obter uma dedução fiscal de 5.000 patacas por ano desde que contrate uma pessoa avaliada pelo Instituto de Acção Social (IAS) e preencha os requisitos previstos”, afirmou ontem o presidente da 3ª Comissão Permanente da AL, após uma reunião com representantes do Governo. A preocupação dos deputados reside na possibilidade de as empresas optarem por contratar apenas portadores de deficiência ligeira, mas o Executivo rejeitou a hipótese de fazer uma diferenciação.

“O Governo deu uma resposta muito detalhada, dizendo que é difícil criar uma articulação entre os graus de deficiência, o posto [que vai ocupar] e a capacidade de trabalho dos portadores de deficiência”, explicou Vong Hin Fai. Segundo o presidente da 3ª Comissão Permanente da AL, o Executivo argumentou que existem portadores de deficiência grave que têm uma elevada capacidade de trabalho, tendo citado, aliás, como exemplo o físico britânico Stephen Hawking, que morreu em Março último. Face ao exposto, o Governo considera ser “difícil proceder à avaliação dessa situação”, pelo que “decidiu manter a sua decisão, explicou.

Em sentido inverso, acolheu a opinião dos deputados de que o montante do benefício fiscal deve ser fixado através da lei e não por despacho do Chefe do Executivo a publicar em Boletim Oficial, como prevê a versão inicial da proposta em causa, aprovada na generalidade em Novembro. Outro ponto que o Executivo acedeu prende-se com os requisitos para a concessão do benefício fiscal, dado que o articulado apenas define que os portadores de deficiência contratados têm de trabalhar no mínimo e cumulativamente 128 horas semanais.

Incentivo ao contrato

Segundo Vong Hin Fai, a 3ª Comissão Permanente da AL advertiu anteriormente ser preciso observar o previsto no decreto-lei de 1995, relativo às regras da suspensão das relações de trabalho e na redução dos horários, tendo o Governo atendido à sugestão dos deputados. Tanto que na nova versão de trabalho, entretanto elaborada, “foram já elencadas uma por uma todas as situações [ali] referidas e que têm de ser consideradas”, explicou o mesmo responsável.

Foi também abordado o ano da dedução. Ao abrigo da proposta de lei, o valor do imposto é aplicável ao ano do exercício a que se reporta o benefício fiscal, mas o Executivo aceitou a sugestão dos deputados e vai poder ser acumulado até cinco anos. “Se uma empresa tiver prejuízos não precisa de pagar o imposto [complementar de rendimentos], [pelo que], se tiver contratado um deficiente, o valor da dedução pode ser utilizado noutro ano”, exemplificou Vong Hin Fai. Segundo o presidente da 3ª Comissão Permanente da AL, a nova versão de trabalho vem também clarificar melhor que se [o trabalhador não atingir as 128 horas mensais definidas o benefício fiscal “é apurado proporcionalmente”.

Dado que o diploma pretende incentivar as empresas a contratar deficientes, os deputados questionaram o Governo sobre se dispõe, em paralelo, de políticas, para incentivar e/ou apoiar os deficientes a ingressarem no mercado de trabalho. O Governo respondeu afirmativamente, dando conta de que vários serviços públicos, lançaram medidas para o efeito. Face à resposta, Vong Hin Fai indicou que “não se afasta a possibilidade” de a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública da AL, da qual faz parte, vir então acompanhar a implementação das referidas medidas.

Questionado sobre o número de portadores de deficiência que integram actualmente o mercado de trabalho, Vong Hin Fai afirmou que o Governo não facultou dados a esse respeito. Foi apenas referido que, nos últimos três anos, mais de 100 foram encaminhados para empresas por sete centros de reabilitação, incluindo geridos por organizações sem fins lucrativos que oferecem cursos de formação, dos quais entre “50 a 60 por cento” foram então efectivamente contratados.

Aquando da apresentação da proposta de lei, em Outubro, o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, indicou que 78 empresas empregavam 325 pessoas com deficiência, sendo que, de acordo com estimativas oficiais, existem cerca de 12 mil nessa condição em Macau.

30 Mai 2018

Caso Sulu Sou | “Não somos culpados”, diz deputado suspenso

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ara o deputado suspenso, nem ele nem Scott Chiang são culpados do crime de manifestação e reunião ilegal, apesar da condenação do Tribunal Judicial de Base. “Como dissemos no início, continuamos a achar que não somos culpados, estávamos a exercer a prática de um direito fundamental.

Não podemos dizer que concordamos com a decisão”, disse Sulu Sou. “Considero que este caso teve algum impacto na sociedade civil e desde o início que pensamos que houve razões políticas por parte da polícia [neste processo]”, vincou.

Sobre a possibilidade de recurso, Sulu Sou explicou que ainda vai pensar sobre esse assunto e que não consegue prever como o Ministério Público agirá: “Ainda vamos discutir se vamos recorrer. Temos 20 dias. Também não consigo prever se o MP vai recorrer, são eles que devem responder directamente à pergunta”, considerou.

Sobre as suas acções políticas no futuro, Sulu Sou fez questão de sublinhar que não se vai restringir e que mais importante do que o seu lugar na Assembleia Legislativa são as liberdades da população.

“Estamos preocupados que o espaço para a liberdade de expressão e opinião possa ficar diminuído após este caso e que qualquer pessoa possa correr um grande risco, quando decide exprimir a sua opinião sem autorização das autoridades. Esta é uma grande preocupação”, explicou.

“O mandato de deputado não é o mais importante para mim. O mais importante para nós é que os cidadãos não tenham medo de exprimir as suas opiniões e possam exercer os seus direitos civis. É também este ponto que vai ser tido como referência para a decisão sobre o recurso”, revelou.

Porém, o deputado ligada à Associação Novo Macau reconheceu que tinha havido respostas positivas à decisão do tribunal. “Concordo que muitos dos nossos apoiantes se sentem contentes após terem ouvido a decisão da primeira instância, porque posso voltar à Assembleia Legislativa”, admitiu.

Scott Chiang: Pronto para ser sacrificado

O ex-presidente da Novo Macau afirmou não ter medo de ir para à prisão para defender os ideais democráticos e que não se importa de ser um sacrificado, mesmo que tenha uma filha com menos de dois anos e um outro filho em vias de nascer. “Ser detido não me impede de ser pai. Eles não podem prender-me para sempre. E mesmo que tenham outros casos focados noutras pessoas que participaram no protesto, não nos podem matar a todos. Essa é a ideia, e as ideias não se matam”, afirmou Scott Chiang, negando ter medo de ser detido.

“Podes tentar encolher a margem de manobra que as pessoas têm para praticar direitos fundamentais, mas não podes de facto impedi-las de ter outra ideia diferente em relação ao que o Governo pensa. Há muitas pessoas lá fora”, frisou.

Já sobre a sentença, Scott Chiang afirmou que não tinha expectativas, mas que está consciente que este pode não ser derradeiro veredicto: “Todos sabemos que esta decisão pode não ser final, por isso, vou manter uma mente aberta. É uma batalha dentro de toda uma guerra. É uma luta perpétua caso não abandones o combate a meio, nem morras prematuramente. É um combate para vida”, apontou.

Pedro Leal: Esperava absolvição

No final do julgamento, numa breve declaração, o advogado de Scott Chiang revelou que esperava que o seu cliente fosse absolvido. “Eu não estava à espera. Foi uma decisão negativa e que não esperava. Estava à espera de absolvição”, afirmou Pedro Leal. O advogado atirou também a decisão sobre a apresentação de um eventual recurso para o seu cliente: “A sentença é grande. É uma decisão com 60 páginas, todas escritas em chinês. É muito difícil dizer, para já, se vamos recorrer. Depois, não é uma decisão nossa. É uma decisão dos arguidos. Eles é que sabem as consequências que poderão ter em relação ao recurso”, justificou.

Jorge Menezes: Não estou satisfeito

Jorge Menezes, advogado de defesa de Sulu Sou, revelou no final da sessão não ter ficado satisfeito com a decisão. O causídico também esperava ver o seu cliente declarado inocente pela juíza: “Não estou satisfeito. Evidentemente que estava à espera da absolvição”, disse no final do julgamento.

 

Reacções

 

Agnes Lam

“Considero [ a decisão do tribunal] positiva”. Foi desta forma que a deputada Agnes Lam comentou a notícia da condenação de Sulu Sou com uma pena de 120 dias de multa.

Ho Iat Seng, presidente da AL:

“Ainda não sei se as duas partes vão apresentar recurso, por isso, não posso comentar [o caso] porque ainda está a decorrer o processo judicial” 

Leonel Alves, advogado e ex-deputado:

“É porque há motivos suficientemente fortes para não se recorrer à punição mais severa. Se é razoável, ou não, eu não tenho bases para tecer qualquer tipo de comentário. Sinceramente, não posso dar opinião (se é muito ou pouco) porque não estou dentro da factualidade e também não sou criminalista. Lido muito pouco com processos penais de maneira que não posso objectivamente dizer nada de concreto. O que posso dizer é que o Ministério Público pediu prisão efectiva, o tribunal não seguiu essa ideia, o que demonstra que o tribunal ponderou devidamente os factos e encontrou esta solução. A defesa, obviamente, que defendia a absolvição, de maneira que creio que irá haver matéria de recurso.

José Pereira Coutinho, deputado:

“Acho que vamos ainda ter de esperar porque, muito provavelmente, o Ministério Público vai recorrer da decisão. Enquanto a sentença não for transitada em julgado, vamos ter, de facto, de esperar para ver o que vai acontecer”

Podemos falar numa pequena vitória?

“Não, acho que, de qualquer forma, foi pesada, porque se compararmos as sentenças mais ou menos parecidas que aconteceram com o edifício Sin Fong e os casos de brutalidade com o edifício Politex, em que ficaram danificadas várias viaturas policiais e alguns agentes da autoridade sofreram pequenas lesões, acho que este caso foi algo exagerado. Mas, em todo o caso, do mal o menos. De todos os males esse é o mal menor, pelo menos é uma pena de multa. Vamos ter que aguardar até que a sentença transite em julgado para ver qual vai ser, de facto, o resultado”

Frederico Rato, advogado:
Gonçalo Lobo Pinheiro

Acho que é uma decisão muito acertada. Acho que está de acordo com a jurisprudência dos tribunais de Macau relativamente a este tipo de crime quando o arguido é primário. Além de tudo o mais, existe também aí alguma justiça que eu digo de natureza substancial, porque o caso teve grandes repercussões na opinião pública e era preciso através de uma decisão judicial clara, simples, transparente e tranquila devolver à opinião pública a importância e a valoração penal desse tipo legal de crime. Por isso, fico muito satisfeito. Espero que o Ministério Público tenha o bom senso de superar os exageros da pena que pediu nas alegações finais e aceitar a decisão judicial como uma decisão justa e dela não recorrer para terminarmos com esse folhetim e o deputado Sulu Sou retomar de pleno as suas funções na Assembleia Legislativa, para as quais foi eleito pelo voto popular.

30 Mai 2018

Caso Sulu Sou | TJB abre a porta ao regresso do deputado à AL

Eram acusados de um crime de desobediência qualificada pelo Ministério Público, mas Sulu Sou e Scott Chiang acabaram condenados a 120 dias de multa, pela prática de um crime de manifestação ilegal. A decisão permite a Sulu Sou regressar à Assembleia Legislativa, mas o Ministério Público, que pediu a prisão efectiva do deputado, pode recorrer nos próximos 20 dias

 

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ulu Sou foi condenado a uma pena de 120 dias de multa por ter cometido um crime de reunião e manifestação ilegal. A sentença foi lida ontem no Tribunal Judicial de Base (TJB), numa sessão que durou perto de uma hora. O outro arguido do caso, Scott Chiang, foi também punido com uma pena de 120 dias de multa.

Os valores das multas aplicadas aos arguidos são diferentes, uma vez que os tribunais tiveram em consideração os diferentes rendimentos. Sulu Sou vai ter de pagar 40.800 patacas, equivalente a uma multa diária de 340 patacas, e Scott Chiang vai pagar 27.600 patacas, o equivalente 230 patacas por dia. No caso do não pagamento da multa, os dois arguidos são obrigados a passar 80 dias na prisão.

A decisão tomada pela juíza Cheong Weng Tong permite a Sulu Sou regressar à Assembleia Legislativa sem ter de enfrentar um eventual processo de expulsão do hemiciclo. Contudo, a sentença poderá ainda não ser final, uma vez que a partir de hoje, e até dia 18 de Junho, tanto os arguidos, como o Ministério Público podem apresentar recurso da decisão. Até ao final do dia de ontem não havia uma decisão sobre se os arguidos tinham a intenção de recorrer, nem era conhecida a intenção do MP. Recorde-se que a delegada do procurador tinha feito questão de pedir uma condenação com pena de prisão.

Manifestação ilegal

Ontem, durante a leitura da sentença, Cheong Weng Tong referiu que os factos da acusação ficaram todos provados e que ambos agiram com dolo e conhecimento de que estavam a praticar uma conduta ilegal. Contudo, a juíza decidiu que o crime que estava em causa era o de reunião e manifestação ilegal, porque o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) não tinha autorizado uma manifestação naquela zona. A moldura penal é a mesma para ambos os casos e vai até uma pena máxima de dois anos de prisão ou 240 dias de multa.

“Não se trata de um crime de desobediência qualificada, mas de reunião ilegal, que é equiparado a desobediência qualificada”, afirmou a juíza. “Os arguidos sabiam que o IACM proibia a reunião no Jardim da Penha e sabiam que o Palacete não recebia petições. Mas foram e incentivaram mais 20 a 30 pessoas. Reuniram-se e não houve um aviso prévio”, apontou.

Por outro lado, o tribunal não colheu o argumento da defesa sobre o fim da manifestação na tenda branca de Nam Van. Nos vídeos ouvia-se Sulu Sou e Scott Chiang a informar que o protesto tinham chegado ao fim, mas depois disso ainda houve discursos. Foi ainda dito que alguns dos participantes iriam, de forma individual, entregar uma carta ao Palacete do Chefe do Executivo.

“O anúncio do fim da manifestação [na tenda branca] foi uma declaração formal. Mas não coincidiu com o fim da manifestação. Só no fim dos discursos é que se pode considerar que chegou ao fim a manifestação”, considerou a juíza.

“[Na tenda branca] tentaram incentivar o estado emocional dos participantes para que eles entendessem que estavam proibidos de ir ao Palacete e aderissem ao protesto. Se não tivessem a intenção de promover a manifestação [ilegal] não precisavam de ter mencionado essa informação”, justificou.

O tribunal considerou que a partir do momento que abandonaram o percurso que tinha sido comunicado, que os indivíduos tiveram sempre num acto de reunião ilegal. Para o tribunal, o crime só terminou junto ao Palacete, quando, após atirarem os folhetins da manifestação em forma de aviões de papel, os arguidos e os restantes 20 a 30 demonstrantes saíram do local.

Protestos restringidos

Ao mesmo tempo que culpou os indivíduos pela promoção da manifestação ilegal, Cheong Weng Tong defendeu que o direito de reunião e manifestação só pode ser exercido dentro da lei e que esta impõe restrições.

“O exercício do direito de manifestação tem de ser dentro do enquadramento jurídico. Os manifestantes não podem reunir-se de livre vontade. As reuniões que violam a lei têm de ser proibidas”, sustentou na sentença.

“O tribunal tem que salientar que a lei não permite que qualquer pessoa possa agir de livre vontade e que há regras, mesmo que em nome da lei ou de um interesse público. Todo o cidadão é igual perante a lei. A nossa sociedade é controlada pela lei, não é por determinada pessoa”, vincou.

Na sentença ficou também escrito que o tribunal teve de transmitir uma mensagem importante em relação a esta conduta, mesmo que os manifestantes tenham agido em defesa do interesse público.

Apesar disso, a própria juíza ressalvou que a reunião ilegal “não foi violenta nem prolongada” e que isso foi tido em conta na decisão da pena. Também foi ponderado o facto de ambos não terem antecedentes criminais, apesar de existirem outros processos em fase de inquérito.

Mensagem final

Já depois de ter dado a conhecer as penas, Cheong Weng Tong deixou uma mensagem a Sulu Sou e a Scott Chiang, aconselhando o deputado suspenso e o activista a não repetirem as condutas no futuro.

“Independentemente do recurso, os arguidos tem que assumir a responsabilidade pelas suas condutas. Independentemente da vontade de defenderem o interesse público, têm de agir de acordo com a lei”, começou por dizer nesta altura. “Vocês é que sabem se vale a pena continuar com estas condutas, mas espero que no futuro não as repitam”, aconselhou.

Os factos que resultaram na condenação do deputado suspenso e de Scott Chiang ocorreram a 15 de Maio de 2016. Na altura, a Associação Novo Macau organizou uma manifestação contra o donativo da Fundação Macau no valor de 100 milhões de yuan à Universidade de Jinan. Durante os protestos, os manifestantes pediram a demissão do Chefe do Executivo, Chui Sai On, que era, ao mesmo tempo, presidente do Conselho Geral de Curadores da Fundação Macau e vice-presidente da Conselho Geral da universidade. Os manifestantes acreditavam que existe conflito de interesses, uma acusação que o Comissariado Contra a Corrupção, prontamente, negou.

 

Líder da Novo Macau arrisca acusação

A juíza Cheong Weng Tong ordenou que fossem retiradas certidões do processo para enviar ao Ministério Público, que terá de decidir se há matéria de facto para acusar outros cinco participantes na manifestação ilegal. Entre os cerca de cinco suspeitos constam os nomes da actual presidente da Novo Macau, Kam Sut Leng, Alan Lam – co-arguido com Scott Chiang no caso da faixa no Hotel Estoril contra Alexis Tam – e um indivíduo conhecido como Roberto, que apareceu em várias imagens captadas pela polícia no Palacete entre Scott e Sulu, na manifestação ilegal julgada.

 

Palacete não é um lugar de trabalho

Para a juíza do caso Sulu Sou, o Palacete do Governo não é um lugar de trabalho, mas um sítio onde o Chefe do Executivo descansa e recebe convidados. Foi por essa razão, que Cheong Weng Tong considerou que Scott Chiang e Sulu Sou não poderiam ter ido ao local para deixar o panfleto, mas antes à sede do Governo. “O Palacete é um local para o Chefe do Executivo descansar e receber convidados. Não é um local de trabalho”, considerou.

 

Regresso à AL vai demorar mais de 20 dias

Mesmo que não haja recursos por parte do Ministério Público, nem dos dois arguidos, o deputado suspenso Sulu Sou nunca vai regressar ao seu assento na Assembleia Legislativa nos próximos 20 dias. Isto porque é esse o tempo necessário para que a sentença transite em julgado, ou seja considerada final. Mesmo depois desse prazo, Sulu Sou terá 10 dias para fazer o pagamento da multa. Só depois de cumpridos esses requisitos o tribunal poderá comunicar o fim do processo ao hemiciclo e o deputado poderá regressar ao lugar para o qual foi eleito com cerca de 9 mil votos.

 

Sulu Sou com quatro processo em fase de inquérito

O primeiro de muitos. A condenação de Sulu Sou neste processo poderá ser apenas a primeira entre muitas. Na altura em que disse à juíza que este era o primeiro caso em que tinha de comparecer em julgamento na condição de arguido, o deputado revelou que recaem sobre ele quatro processos-crime, todos em fase de inquérito e relacionados com o período da campanha eleitoral. Caso o juiz de instrução considere que existem motivos para levar o deputado novamente a julgamento, e sem o estatuto de primário, o deputado pode mesmo acabar ser condenado a pena de prisão e arriscar perder definitivamente o seu lugar na Assembleia Legislativa.

30 Mai 2018

Tiago Apolónia e Shao Jieni seguem em frente na qualificação do Open da China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s portugueses Tiago Apolónia e Shao Jieni seguiram hoje em frente na fase de qualificação para o Open da China de ténis de mesa, que está a ser disputado em Shenzen.

Na primeira ronda das fases preliminares do quadro masculino, Tiago Apolónia, 41.º do ‘ranking’ mundial, afastou o indonésio Donny Aji, 436.º, por 4-0 (11-6, 11-1, 11-6, 11-5), defrontando na próxima eliminatória o belga Florent Lambiet, 86.º.

Já João Monteiro, 63.º mundial, foi eliminado pelo sul-coreano Hwang Minha, por 4-2 (9-11, 11-8, 6-11, 11-9, 11-9, 11-6).

No quadro feminino, Shao Jieni, 153.º do ‘ranking’, venceu Lin Chia-Hsuan, de Taiwan, 98.ª, por 4-1 (12-10, 11-6, 6-11, 11-8, 11-4, e vai defrontar no próximo encontro a sul-coreana Jeon Jihee, 28.ª.

29 Mai 2018

Obra completa de Maria Judite de Carvalho publicada nos 20 anos da sua morte

[dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]inte anos após a sua morte, Maria Judite de Carvalho, a escritora do silêncio e da solidão, dona de uma escrita “acutilante e atenta ao pormenor quotidiano”, vai ter a sua obra completa, e quase desconhecida, publicada na íntegra.

O primeiro volume, que inclui as suas primeiras coletâneas de contos – “Tanta Gente, Mariana” (1959) e “As Palavras Poupadas” (1961), esta última vencedora do Prémio Camilo Castelo Branco -, chegou hoje às livrarias.

A aposta na obra desta autora é da Almedina, que, através da chancela Minotauro, se prepara para lançar, até ao final do próximo ano, seis volumes que incluem a obra completa de Maria Judite de Carvalho (1921-1998), considerada pela crítica uma das escritoras mais proeminentes da literatura nacional do século XX, não obstante ser pouco conhecida do público em geral.

Apelidada por Agustina Bessa-Luís como “flor discreta da nossa literatura”, Maria Judite de Carvalho, também jornalista, dedicou trinta anos da sua vida à carreira literária, durante a qual publicou 13 livros, privilegiando as novelas, as crónicas e os contos, e escreveu sobre a solidão, histórias sombrias da vida quotidiana que observava.

A editora apercebeu-se de que a escritora “já estava na sombra há demasiado tempo”, e aproveitou o facto de alguns contos terem surgido nos manuais do ensino secundário, embora a maioria continue fora do mercado e das livrarias há muito tempo.

“Decidimos que seria a altura ideal, 20 anos após a sua morte, para fazer renascer a sua obra, e para apresentá-la a esta nova geração de leitores, que começa a ler Maria Judite de Carvalho na escola e que nas livrarias não iria ter acesso a toda a sua escrita em vida, portanto estamos a querer juntar toda a sua obra em seis volumes”, disse à Lusa Sara Lutas, editora da Almedina.

A editora entrou em contacto com Isabel Fraga, filha de Maria Judite de Carvalho e do também escritor Urbano Tavares Rodrigues, que lhe apresentou toda a obra da mãe.

Dona de uma personalidade “recatada” e “zelosa da sua privacidade”, Maria Judite de Carvalho nunca gostou de se expor, e “a obra dela sempre falou por si mesma”, explica Sara Lutas, que decidiu, por isso, respeitar essa vontade e não dar grande destaque à figura da escritora, que é apresentada na badana dos livros “de forma discreta e bastante lírica”.

A obra vai ser publicada cronologicamente, e a autora vai “envelhecendo” nas fotografias escolhidas e nos retratos que ilustram as capas e os separadores dos livros, revelando outra faceta da escritora: o desenho e a pintura.

“As capas, em vez de ter em grande plano a autora, são quadros dela, que também pintava, e decidimos dar uma roupagem diferente às obras dela através de uma Maria de Judite de Carvalho pintora”, explica Sara Lutas.

O próprio marido de Maria Judite de Carvalho conhecia o seu jeito para o desenho, antes de descobrir o seu talento para a escrita, o que aconteceu quando ela lhe leu “Tanta Gente Mariana”.

Inês Fraga, neta da autora, recorda que Urbano Tavares Rodrigues “era um leitor extremamente generoso, hiperbólico no elogio e que amava profundamente a literatura”, e que foi graças à leitura dele que Maria Judite de Carvalho publicou, porque “ele disse ‘este livro é maravilhoso, tu tens que publicar isto, isto é genial’”.

Este episódio reflete aquilo que foi a personalidade da própria Maria Judite de Carvalho, “uma pessoa e autora quase etérea”.

“Era fácil, numa era em que cada vez mais a escrita está ligada à promoção da imagem do indivíduo – para além do que escreve, do indivíduo que escreve -, que com uma personagem tão etérea, a própria obra se começasse a desmaterializar, e creio que foi por isso, embora tenha sido profundamente reconhecida no seu tempo, que não chegou ao grande publico”, afirma.

A projeção de Urbano Tavares Rodrigues e o recato a que se remetia Maria Judite de Carvalho têm levado a que se julgue que a autora teria sido sempre colocada na sombra do marido, o que a família nega.

Não só foi sempre o seu primeiro leitor – a filha era a segunda –, como foi “o grande promotor da obra dela”, e embora possa ter ficado conhecida como “a mulher do Urbano”, isso “não influiu na projeção que teria ou não”, porque a verdade é que Maria Judite de Carvalho “foi educada para a discrição”, conta a neta.

Maria Judite de Carvalho foi educada por três tias, numa “atmosfera escura e sombria”, como descreveu certa vez Urbano Tavares Rodrigues.

Essas tias eram “mulheres muito sensatas e antiquadas”, e quando Maria Judite de Carvalho ponderou ir para Belas Artes, a ideia foi afastada, porque “uma mulher séria não ia para Belas Artes, ia para Letras”, afirma Inês Fraga, explicando que o gosto e a prática do desenho e da pintura ficaram sempre, mas como um prazer e um passatempo, já que sempre os desvalorizou em termos de qualidade.

No entanto, estes desenhos que fazia, em circunstâncias tão banais como a conversar ou a falar ao telefone, refletiam o seu universo interior que era o mesmo que projetou na escrita, o universo feminino, povoado por mulheres “muito diferentes e muito iguais nessa diferença”.

“As mulheres nos quadros são uma outra abordagem às personagens femininas e à sua imobilidade. Portanto, na literatura, as mulheres da minha avó, da Maria Judite de Carvalho, surgem fechadas naqueles retângulos que são as janelas que as protegem do exterior, nas suas casas, nessas redomas, nos seus pequenos castelos, que são as suas casas, e aqui aparecem também pautadas pela imobilidade, estáticas, dentro daqueles retângulos que são as molduras dos quadros ou até a própria folha de papel”.

A editora Sara Lutas especifica, por sua vez, que as temáticas tratadas, “a forma como as suas personagens pensam e agem na vida teriam sempre esta postura de reclusão e de silêncio”.

A escrita é “acutilante”, “muito atenta à sua realidade, que permanece”, e “convoca imenso o leitor, porque só nos diz até um determinado ponto, o outro tem de ser o leitor a desvendar”, descreve Inês Fraga.

Outras singularidades da escrita de Maria Judite de Carvalho são a atenção ao pormenor do quotidiano e “as personagens, para as quais se calhar não olharíamos duas vezes, não só personagens femininas, mas personagens urbanas, as mais diversas, desde o homem que trabalha na loja, ao que abre a porta de um hotel”.

29 Mai 2018

Estatística | Taxa de desemprego manteve-se estável

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntre Fevereiro e Abril de 2018, a taxa de desemprego (1,9 por cento) e a taxa de desemprego dos residentes (2,6 por cento), manteve-se estável. Já a taxa de subemprego (0,5 por cento) desceu 0,1 pontos percentuais, de acordo com dados dos Serviços de Estatística e Censos.

No período em análise, a população activa totalizou 388.900 indivíduos e a taxa de actividade foi de 70,5 por cento. A população desempregada era composta por 7.400 indivíduos, menos 100 pessoas, face ao período transacto. O número de desempregados à procura do primeiro emprego representou 5,1 por cento do total da população desempregada, tendo descido 1,7 pontos percentuais.

Em comparação com o período de Fevereiro a Abril de 2017, a taxa de actividade e a taxa de desemprego caíram 0,6 e 0,1 pontos percentuais, respectivamente, enquanto que a taxa de subemprego se manteve no mesmo nível.

29 Mai 2018

Saúde | Mais de metade das residentes não sabe o que é uma mamografia

Mais de metade das mulheres residentes, com idades entre os 40 e 60 anos, não sabe o que é uma mamografia. Por outro lado, 66,9 por cento admite nunca ter feito este tipo de exame ao longo da sua vida. Estas são as conclusões de um estudo que traça um cenário negro sobre a realidade do cancro da mama em Macau

 

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de 60 por cento das mulheres residentes de Macau, com idades entre os 40 e 60 anos, nunca realizou uma mamografia, o exame que permite fazer o rastreio do cancro da mama. A conclusão faz parte de um estudo publicado este mês na revista científica Revista de Saúde Pública (Journal of Public Health), em que se analisou a atitude das residentes do território perante as diferentes formas de rastreio do cancro da mama.

Para a realização do trabalho académico, com o título Exame ao Cancro da Mama em Macau (Breast Cancer Screening in Macao), foram feitos 417 inquéritos a mulheres com o estatuto residente e de etnia chinesa. Das pessoas ouvidas, 257 nunca tinham feito qualquer mamografia, ou seja 61,8 por cento das mulheres. Entre essas, 245 residentes, ou seja 58,8 por cento, não sabiam sequer o que era uma mamografia e quais os objectivos deste exame.

Entre o universo de mulheres que afirmou não ter realizado qualquer mamografia, 66,9 por cento explicaram esse facto por nunca terem ouvido falar do exame, 17,1 por cento consideraram não ser necessário e 3,9 por cento disseram que nunca tinham tido essa recomendação por parte dos médicos.

Em relação às mulheres que realizaram mamografias, os números são relativamente reduzidos. Apenas 10,8 por cento, ou seja 45, afirmaram fazer uma mamografia por ano, 13,9 por cento fizeram uma mamografia nos últimos dois anos e 13,5 por cento disseram ter feito o exame uma vez num período de três ou mais anos. Entre as residentes inquiridas, uma preferiu não responder à questão.

Padrões de Hong Kong

Os autores do estudo explicam também que os Serviços de Saúde de Macau não dão instruções aos médico sobre a frequência com que as residentes devem fazer os diferentes tipos de rastreio do cancro da mama. Por essa razão, os profissionais do sector fazem as recomendações com base nos padrões em vigor em Hong Kong, também pelas proximidades culturais com o território. Segundo esses padrões, é recomendado que as mulheres com mais de 40 anos devem fazer uma mamografia a cada dois anos. Além disso, são aconselhadas consultas médicas. No caso dos auto-exames, em que se procuram anomalias com base na observação e no toque do peito, este deve ser feito uma vez por mês, segundo as recomendações de Hong Kong.

“O estudo mostra que a maioria das mulheres de meia-idade não segue as recomendações sobre a realização do rastreio. Em particular, apenas um quarto das participantes efectuaram mamografias dentro das recomendações”, é explicado pelos autores, onde se inclui Lao Cheng Kin, académico da Instituto Politécnico de Macau.

No que diz respeito ao auto-exame da mama, o conhecimento é muito maior. Cerca de 81 por cento das mulheres admitiu conhecer esse tipo de rastreio. No entanto, 30,7 por cento, ou seja 128 inquiridas, admitiu nunca o ter feito. Por outro lado, 38,4 por cento afirmou fazer o auto-exame uma vez por mês, 18,5 por cento fizeram-no mais de uma vez por ano, 11,5 por cento disseram que procedem à autoanálise uma vez por ano e 0,7 por cento disse ter feito uma vez num período de 3 a 4 anos.

Entre as razões apontadas para não ser feito o auto-rastreio, as principais foram o desconhecimento desta forma de exame, usada como justificação em 60,9 por cento dos casos, o desconhecimento de como fazer este tipo de rastreio, em 14,1 por cento das respostas, e o facto de ser considerada uma forma de exame desnecessária, em 10,2 por cento.

Finalmente, quanto à realização de exames clínicos, ou seja quando é o médico a procurar anomalias sem a realização de mamografia, 72,4 por cento das mulheres com idades entre os 40 e 60 anos admitiram conhecer o método. Contudo, também neste capítulo mais de um terço (36,5 por cento) nunca tinha sido observada clinicamente. Entre essas pessoas, 75,7 por cento referiram não conhecer a possibilidade de serem observadas clinicamente, 9,2 por cento disseram não ser necessária a observação e 3,9 por cento dispensaram o exame por não terem encontrado anomalias no auto-exame.

Exames gratuitos

Em relação aos exames clínicos, ao autores destacam que em Macau existe a possibilidade de serem feitos de forma gratuita. No entanto, é explicado que as longas filas de espera nos centros de saúde e clínicas locais e a falta de consciencialização dos benefícios dos exames são algumas das razões que contribuem para a baixa taxa de realização do rastreio.

“O baixo cumprimento das recomendações [de Hong Kong] entre os residentes de Macau talvez se fique a dever aos longos tempos de espera em alguns dos serviços de saúde gratuitos, a uma falta de conhecimento dos benefícios dos exames e a um conhecimento muito limitado sobre a existência dos mecanismos existentes, assim como os elevados custos do sector privado”, é apontado no estudo.

Por outro lado, é explicado que esta tendência de baixa frequência de realização de rastreios não é exclusiva de Macau, e que pode ser encontrada também no Interior da China, Taiwan e mesmo entre as mulheres de etnia chinesa dos Estados Unidos.

“É uma crença popular da cultura Chinesa que se não existem dores ou doenças graves não se deve visitar um médico. Também existe a crença cultural de que falar de uma doença pode fazer com que ela se desenvolva”, é acrescentado pelos autores, dos quais fazem parte ainda Gan Xiang Yan e Alexandre Chan, do Centro Nacional de Cancro de Singapura.

As explicações têm como base o facto de 53,5 por cento das inquiridas terem considerado que só vão ao médico quando têm um problema de saúde e por 61,6 por cento das residentes ouvidas terem afirmado que se não sentem nenhum problema não precisam de ir ao médico fazer exames.

Bons níveis de conhecimento

Por outro lado, os autores concluem ainda que as pessoas de Macau estão informadas sobre o cancro da mama e que percebem a gravidade da doença. Porém, a falha está nos comportamentos de prevenção e na altura de fazer os exames. “A maior parte das mulheres tem um bom conhecimento sobre o cancro da mama, mas tem atitudes negativas em relação aos exames”, é apontado.

Com base no relatório sobre o cancro elaborado pelo Governo em 2016, com dados de 2014, este tipo de cancro é apontado como o terceiro mais mortal entre as mulheres residentes.

Face às conclusões do estudo, os autores alertam o Governo para a necessidade de se proceder a uma campanha de informação sobre a necessidade das residentes fazerem os exames com regularidade.

“Como a incidência do cancro da mama em Macau está a aumentar, a necessidade de detectar os casos numa fase precoce do desenvolvimento é uma importante estratégia de controlo da doença. Uma campanha de educação elaborada tendo em conta os factores culturais devia ser uma das prioridades do Governo para alertar a população para a doença e as práticas de examinação”, é sugerido.

“Devia haver um esforço maior para educar as pessoas locais sobre os exames disponíveis assim como os diferentes benefícios dos tipos de análises. Ao mesmo tempo, os profissionais do sector médico de todos os níveis devia receber uma formação maior, para dar resposta Às preocupações da população e fornecerem as recomendações apropriadas em relação aos exames” é acrescentado.

 

 

Cancro com maior incidência

Em 2015, o cancro da mama foi o tipo da doença que mais casos novos registou entre das mulheres do território, segundo os números mais recentes disponibilizados no portal dos Serviços de Saúde. Num total de 810 novos cancros diagnosticados, 178 foram na mama, o que representa uma proporção de 22 por cento. Entre os três tipos de cancros mais comuns em 2015, figuraram o cancro colorretal, ou seja no cólon ou recto, com 110 casos novos, que representou uma proporção de 13,5 por cento. De seguida, os tipos de cancro mais frequentes foram dos brônquios e pulmões, com 78 casos novos, e uma proporção de 9,6 por cento.

 

Cancro da mama causou 25 mortes

No que diz respeito às mortes por cancro da mama, este foi o terceiro tipo mais mortal da doença entre as mulheres de Macau, com 25 casos em 2015, os dados disponíveis mais recentes. Os tipos de cancro mais mortais para as residentes foram nos brônquios e pulmões com 63 mortes, seguido pelo cancro colorretal, ou seja no cólon ou recto, que causou 42 mortes.

 

719 pessoas morreram em 2015

Foram 719 as pessoas que perderam a vida devido a diferentes tipos de cancros em Macau durante 2015. Numa análise em que os dos géneros aparecem juntos, o cancro mais mortal foi o dos pulmões, com os casos de mortes de cancros de brônquios e pulmões a serem de 207, ou seja 28,8 por cento. O cancro colorretal foi o segundo mais mortal com 99 mortes, seguido pelo cancro do fígado com 83 casos, o que representa uma proporção de 11,8 por cento.

 

Brônquios e pulmões mais fatais

No que diz respeito aos residentes do género masculino, o cancro nos brônquios e pulmões foi o mais fatal, resultando na morte de 144 residentes, num total de 456 casos registados, o que representa uma proporção de 31,6 por cento, ou seja quase um terço. A segunda doença oncológica mais mortal foi o cancro no fígado, com 68 mortes, seguido pelo colorretal com 57 mortes. Em 2015, foram ainda registados 844 casos novos de cancro entre os homens, dos quais 212 foram cancros nos brônquios e pulmões, seguidos por 140 casos de cancros colorretais e 72 casos de cancro no fígado.

29 Mai 2018

Itália | Presidente convida Cottarelli a formar Governo de transição

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap[ Presidente italiano, Sergio Mattarella, encarregou ontem Carlo Cottarelli, um antigo responsável do Fundo Monetário Internacional (FMI) de formar um Governo tecnocrata, anunciou a presidência. “O Presidente Mattarella recebeu o doutor Cottarelli e pediu-lhe que formasse um Governo”, anunciou aos jornalistas o secretário-geral da presidência, Ugo Zampetti, à saída de um encontro entre os dois homens.

A decisão de Mattarella se reunir com Carlo Cottarelli acontece um dia depois de o Presidente italiano ter recusado assinar a lista de ministros do Governo de coligação entre a Liga Norte e o Movimento 5 Estrelas. Da coligação faz parte Paolo Savona, 81 anos, eurocético e crítico da moeda única, que tinha sido proposto para o cargo de ministro da Economia.

Carlo Cotarelli é actualmente director do Observatório das Contas Públicas da Universidade Católica de Milão e foi director do Departamento de Assuntos Fiscais do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em 2013, o então chefe do Governo, Enrico Letta, nomeou Cotarelli comissário para a implementação de um plano de redução dos gastos públicos, cargo que manteve até à tomada de posse de Matteo Renzi como primeiro-ministro.

Cottarelli é um dos economistas mais críticos das propostas económicas do programa de Governo acordado entre a Liga Norte e o Movimento 5 Estrelas.

Entretanto, a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, disse hoje em Bruxelas esperar que o novo Governo italiano seja “pró-europeu e estável”.

“Todos esperamos que o Presidente [Sergio] Matarella consiga pôr de pé um Governo que seja pró-europeu e estável”, disse Zacarias aos jornalistas, no final de um Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE.

“A Itália é um país importantíssimo no contexto europeu”, salientou, adiantando esperar que o país “consiga fazer o seu caminho e encontrar soluções” que “permitam a todos fazer um caminho comum, o que não é fácil dentro do quadro europeu perante os desafios que temos pela frente”.

O chefe de Estado Sergio Mattarella encarregou hoje Carlo Cottarelli, um antigo responsável do Fundo Monetário Internacional (FMI) de formar um Governo tecnocrata, anunciou a presidência, em Roma.

“O Presidente Mattarella recebeu o doutor Cottarelli e pediu-lhe que formasse um Governo”, anunciou aos jornalistas o secretário-geral da presidência, Ugo Zampetti, à saída de um encontro entre os dois homens.

29 Mai 2018

Seul confirma encontro entre EUA e Coreia do Norte

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Ministério dos Negócios Estrangeiros sul-coreano afirmou ontem estarem a decorrer conversações entre representantes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte, em Panmunjom, na fronteira entre as duas Coreias. A reunião tem o objectivo de preparar a cimeira entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un.

Para além da localização, o Ministério sul-coreano não forneceu mais detalhes sobre as conversações, de acordo com a nota enviada à imprensa.

No domingo, o Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, disse que Washington e Pyongyang iam começar em breve conversações ao mais alto nível para acertar agendas e outros preparativos para a cimeira, prevista a 12 de Junho, em Singapura. Na passada quinta-feira, Trump tinha anunciado não estarem reunidas as condições para a concretização da histórica cimeira, mas em menos de 24 horas admitiu a realização do encontro. Também este domingo, Donald Trump informou que uma equipa dos norte-americana estava na Coreia do Norte a negociar com representantes norte-coreanos a cimeira entre os dois líderes.

Através da rede social Twitter, Trump sublinhou que a Coreia do Norte “tem um brilhante potencial e que será um dia uma nação de grande pujança económica e financeira”.

O Departamento de Estado norte-americano já informara, no início de domingo, que uma equipa negocial se encontrava em Panmunjom, localidade na zona desmilitarizada e fronteira entre as duas Coreias. No entanto, a confirmação veio do próprio Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que corroborou que uma delegação norte-americana foi a Pyongyang para preparar a cimeira histórica com o líder norte-coreano, Kim Jong-un.

Trump afirmou no Twitter que “a delegação norte-americana chegou à Coreia do Norte para os preparativos da cimeira” de 12 de Junho, em Singapura, cancelada pelo chefe de Estado norte-americano na quinta-feira.

“Kim Jong-un estará de acordo comigo. Isso vai acontecer”, escreveu Donald Trump, que, no sábado, tinha afirmado que as negociações sobre a cimeira com o líder norte-coreano estão “a correr bem”. “Há muita gente a trabalhar nisso e está a avançar. Estamos a apontar para 12 de Junho em Singapura e isso não mudou”, afirmou Donald Trump aos jornalistas presentes na recepção ao preso norte-americano libertado pela Venezuela, Joshua Holt.

29 Mai 2018

Hong Kong | Português que furtou táxi sai em liberdade

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m português acusado de cumplicidade no furto de um táxi em Hong Kong, em 17 de Março, foi condenado ontem a 60 dias de prisão e saiu em liberdade por ter cumprido a pena em regime de detenção preventiva.

Fonte ligada ao processo revelou que o cidadão português, natural da Póvoa de Varzim, foi igualmente sentenciado ao pagamento de 1.000 dólares de Hong Kong (109 euros). A sentença foi ditada pelo tribunal de pequena criminalidade da região administrativa especial da China e o consulado de Portugal em Macau prestou apoio consular ao português, desde a detenção.

O português, de 28 anos, e o sul-africano, de 26, foram detidos pela polícia de Hong Kong nas primeiras horas da madrugada de 17 de Março, depois de o táxi onde seguiam, que furtaram em Sheung Wan, ter embatido contra outra viatura de aluguer.

A polícia deteve os dois homens em Connaught Road West e o teste de alcoolemia realizado ao sul-africano foi positivo, com um nível de álcool no sangue acima do limite.

O sul-africano foi acusado de condução em estado de embriaguez, apropriação ilegítima de veículo, falta de pagamento e não paragem após o acidente de viação com outro táxi. O português foi indiciado de cumplicidade no furto de veículo, ausência de pagamento do frete e fuga do local do acidente com outra viatura.

29 Mai 2018

As imagens interditas do Tribunal

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o dia 23 de Maio, o jornal de Hong Kong “Apple Daily”, publicou uma notícia sobre umas fotografias que tinham sido tiradas em Tribunal, durante o julgamento de pessoas envolvidas nos motins de Mongkok. O juiz, Chan Hing Wai, pediu explicações à “fotógrafa”, ao que a mulher respondeu:

“Gosto de tirar fotografias. Se eu quiser, posso tirar uma foto consigo, Sr. Dr. Juiz.”

A mulher adiantou que era chinesa, com cartão de identidade de Hong Kong, embora sem residência permanente. Acabou por nunca responder directamente ao juiz. Limitou-se a repetir a pergunta e a afirmar que o Tribunal é um espaço público e que tirar fotografias é uma coisa muito comum.

O juiz explicou-lhe imediatamente que tirar fotografias numa sala de audiências não é de todo comum. É alias grave, porque nas fotografias poderão aparecer os rostos dos jurados. O magistrado marcou para as 16h30, do mesmo dia, a audição do caso desta mulher, que ficou imediatamente proibida de sair de Hong Kong. O telemóvel foi-lhe temporariamente confiscado. O juiz informou-a que, se não se apresentasse a horas, seria emitido um mandato.

O julgamento decorreu na sexta-feira, mas, na altura, não foi tomada nenhuma decisão. Este caso pode vir a arrastar-se por algum tempo.

A Secção 7 da Ordenança de Crimes Sumários Cap. 228, do Código Penal de Kong considera crime tirar fotografias numa sala de audiências, incorrendo o transgressor no pagamento de multa, que poderá ascender a 250 HKD. Não se surpreendam os leitores com este valor tão diminuto, é que a lei data de 1949.

Este foi a terceira vez, num espaço de três meses, em que ocorreram episódios desta natureza numa sala de Tribunal. Todos estes episódios sucederam durante os julgamentos de casos relacionados com os motins de Mongkok.

Em meados de Fevereiro, na terceira sessão do julgamento dos envolvidos nos motins, um homem do continente, sentado na galeria do público, foi apanhado a fotografar os jurados e a enviar as fotos através do Wechat. No entanto, o oficial de justiça não registou os seus dados e deixou-o sair em liberdade. A juiza, Ms. Pang, afirmou que acreditava que o incidente tinha ocorrido de forma “inadvertida” e que esperava que os jurados não se preocupassem.

No início de Março, cinco jurados foram informados, por uma pessoa que estava na galeria, que estariam a ser fotografados. Nessa altura, a polícia deteve de imediato um homem do continente, mas não encontrou nenhuma foto incriminadora, nem sinais de quaisquer fotos apagadas.

Em meados de Maio, enquanto o juiz se dirigia ao júri, alguém percebeu que um homem estava a tirar fotografias. A pessoa que deu o alerta, gritou “alguém está a tirar uma foto”. No entanto, os seguranças não conseguiram apanhar logo o culpado. Foi o que bastou para o homem apagar a imagem. Posteriormente foi libertado. Sexta-feira passada, quando foi emitido o veredicto dos envolvidos nos motins de Mongkok, alguém enviou um e-mail anónimo para o Tribunal com a fotografia dos jurados, onde se podia ler “ainda existem muitos …”. O juiz chamou de imediato a polícia e pediu que os jurados abandonassem a sala, escoltados pelos agentes.

Nos Tribunais existem diversos avisos, bem visíveis, de proibição de fotografar.

No caso Regina v Vincent (fotografia ilegal) CACD 2004, o juiz salientou que os Tribunais têm de estar atentos a situações de intimidação de jurados e das testemunhas. As fotografias tiradas durante um julgamento podem ser usadas para ameaçar o juiz, os advogados, os jurados, etc.

Além disso, é uma forma de identificar as testemunhas, os funcionários do Departamento dos Serviços Correcionais ou os agentes da polícia. É óbvio que tirar fotografias em Tribunal põe em risco o julgamento.

Um das razões que leva à proibição de fotografar no Tribunal, é a preservação da solenidade da Lei e o garante de que o julgamento não virá a ser afectado. Como em Hong Kong é actualmente implementado o sistema da Lei Comum, o júri está presente no julgamento. Os jurados precisam de protecção. Recentemente, foram tiradas fotografias em Tribunal por diversas vezes. Alguém chegou a enviar algumas destas fotos por email ao juiz. Se estas acções não forem travadas de imediato, não só verá o Tribunal a sua dignidade diminuída, como acabará por haver interferência nos julgamentos.

A abertura dos Tribunais destina-se a permitir que o público possa ter mais informação sobre a aplicação da justiça. No entanto, as pessoas devem respeitar o Tribunal e obedecer à lei. A privacidade dos envolvidos também terá de ser protegida. Interferir nos interrogatórios e subestimar a correcção dos Tribunais só irá afectar Hong Kong.

O mesmo princípio é aplicável a todos os Tribunais, em qualquer parte. A protecção de quem está envolvido no processo jurídico é necessária. Se esta garantia não for dada, ninguém vai querer trabalhar nesta área. E se isso vier a acontecer, teremos um mundo sem lei nem ordem.

29 Mai 2018

A vida vai ao cinema e o António Cabrita também

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]oje vamos viajar por um livro muito especial. Um livro que parte de um personagem de cinema para levantar voo numas reflexão e diversão acerca do nosso contemporâneo, com os pólos no cinema em geral e João César Monteiro em particular, e arte e literatura em geral e Fernando Pessoa em particular.

É assim como que um livro que vai ao cinema, com toda a confluência de artes que o cinema tem. E antes de entrarmos neste texto de António Cabrita, talvez até em todos os outros que ele escreveu, convém não trazer consigo a realidade. Deixemo-la à porta. Mas se a realidade não é para aqui chamada, também não é menos verdade que ela pode ver-se reflectida aqui. Não que o texto seja ou não um reflexo da realidade, mas que esta pode ver-se reflectida nele, se tentar espreitar.

Assim, e para ser conforme a António Cabrita, que é prolixo de intertextualidades, diria mesmo que é um mestre nas intertextualidades, pois não usa outros textos para se mostrar, mas para mostrar o que está a fazer, também eu vou tentar aproximar-me de outros textos para melhor mostrar aquele que estou aqui a fazer. No seu célebre livro, Ou-Ou. Um Fragmento de Vida, a um dado momento Kierkegaard debate-se com uma tentativa de nos mostrar que o Don Juan de Mozart é a obra das obras, o clássico dos clássicos. Depois de várias páginas, reconhece que não pode apresentar prova e escreve: “Contudo, desisto de toda esta investigação.

Está escrita apenas para apaixonados. E tal como uma criança com pouco se alegra, também assim acontece, como é sabido, que uma coisa amiúde muitíssimo estranha pode alegrar os apaixonados. É como uma calorosa disputa de amor sobre coisa nenhuma, e não deixa, contudo, de ter o seu valor – para os amantes.” (p. 94) Sem dúvida, também nós ao falarmos acerca deste texto de Cabrita, deparamo-nos com o mesmo paradoxo dos amantes: o mínimo gesto tem um valor absoluto, mas ninguém repara nele sem estar apaixonado. Um pouco mais adiante, Kierkegaard escreve aquilo que dará, agora sim, entrada à nossa leitura deste livro de António Cabrita: “Qualquer leitor que ache que brincar é uma maçada, não é obviamente cá dos meus, não lhe atribui qualquer significado e, contudo, aplica-se aqui como em toda a parte: as crianças parecidas brincam melhor.” (p. 95)

Ora para Cabrita, brincar é tudo menos uma maçada. Podemos até ir mais longe e dizer que, para o autor, brincar é a verdadeira dimensão do humano. O humano aprende para poder brincar melhor. Mais: tudo no humano tem como finalidade um brincar melhor. Todo o esforço humano vai nesse sentido, mesmo que ele não se dê conta disso. Porque a brincar, o humano não só se descobre a si mesmo, como também se melhora a si mesmo.

E não foi Fernando Pessoa quem melhor nos ensinou isto? Não é o jogo da heteronímia pessoana um enorme jogo que ele construiu para poder brincar melhor, para poder ser melhor, inventando outras crianças com quem brincar, porque as “crianças parecidas brincam melhor”? Pois e a verdade é que a raiz literária de Cabrita é Pessoa, ou pelo menos uma das raízes. E isto podemo-lo ver bem neste livro. Reparemos nisto: João César Monteiro faz de João de Deus um heterónimo seu – embora lhe chamem alter-ego – e Cabrita faz dos dois e dele mesmo heterónimos de si mesmo. Sim, porque em Cabrita – se não em todos nós – a memória é sempre heteronímica. Em Cabrita, tudo vale a pena se a brincadeira não for pequena.

“Eu, João de Deus, um dos homens mais espertos da minha pessoa, estava entregue à paródia (…)” (p. 63) O jogo de Cabrita com Pessoa – crianças parecidas brincam melhor – começa logo no início e percorre o livro todo. Aliás, A Paixão de João de Deus começa com alguém a tocar realejo e a recitar o poema “Tabacaria”, de Fernando Pessoa. Mas leia-se, literalmente, como se inicia o livro: “Numa amolecida manhã de domingo de 2004, de malas já aviadas para o Báltico, flanava pela Baixa. Despedia-me dos lugares e murmúrios de meia vida; esquecido de ser lince, diluído no branco imponderável do Verão; sonâmbulo, sem pressa ou rumo.

Desperta-me, algures, a repetida ladainha de um realejo. O Anacronismo levou-me até à esquina da Rua da Prata com a dos Retroseiros. Aí, um homem magro, meio encurvado, narigudo, de óculos escuros e rosto bexigoso, dava à manivela num realejo velho poisado sobre uma caixa de electricidade, ao mesmo tempo que, quase em surdina, recitava algo. Apurei o ouvido: era a Tabacaria, de Pessoa.” Daqui até cairmos num anúncio de jornal para tentar encontrar a rapariga suja que comia chocolates na “Tabacaria” de Pessoa, é uma estação de metro.

O livro convida-nos a aceitar tratar-se de uma entrevista, ou do que resultou dela, a um personagem chamado João de Deus. E a primeira frase que este personagem diz, ainda antes do livro começar, ainda quando entrevistador e entrevistado estão em negociações, é uma citação de Fernando Pessoa: “Morrer é não ser visto.” Por conseguinte, a partir daqui, se aceitarmos brincar, vamos entrar num escorrega quase infinito pela contemporaneidade e as suas incongruências. O narrador a partir daqui é João de Deus / João César Monteiro / António Cabrita / Memórias de António Cabrita / Sombra Fantasmática de Fernando Pessoa.

E a técnica preferencialmente utilizada é a da aglutinação frásica de mundos completamente distintos, que exige do leitor conhecimentos prévios vários, do mesmo modo que quando se vai brincar às Escondidas ou ao Amocha (Cá vai alho!) ou à Cabra Cega tem de se saber as regras do jogo. Aqui a regra é ter estado exposto à intempérie cultural do século XX, como por exemplo na cena entre o narrador e uma loura, ao balcão de uma tasca, em que ele, de modo a impressioná-la, vai antecipando as cenas do filme que passa na televisão, The Maltese Falcon (Relíquia Macabra, em Portugal, e O Falcão de Malta, no Brasil, que é como aparece no livro do Cabrita).

Como é sabido, é um filme icónico de John Huston, com o Humphrey Bogart e a Laureen Bacall, que ainda não eram um casal, mas passaram a ser, durante anos e anos, até à morte de Bogart. E a célebre frase do filme, dita por Bacall, aparece escrita no livro: “Já sabes, se precisares de alguma coisa é só assobiares… sabes como se assobia? Põe-se assim os lábios e sopra-se…” O leitor não precisa de ter visto o filme, mas ganha em tê-lo visto, evidentemente. Assim como em relação ao compositor Robert Gerhard, bem menos conhecido do que o filme atrás mencionado. Ou em relação aos inúmeros livros, autores, quadros (estou a lembrar-me, por exemplo, da Ofélia, de John Everett Millais).

Poder-se-á objectar com a célebre tautologia de que não é um livro para todos? É evidente que não! Mas quem é que quer escrever um livro para todos? Somente um deste dois: ou Deus ou um imbecil. Por outro lado, e de um modo mais modesto, poder-se-ia ainda perguntar se todas estas intertextualidades são necessárias. Mas então, para sermos honestos connosco e com a escrita, devemos também perguntar se o que um homem vive é necessário à escrita da sua biografia. Ora, o personagem de Cabrita viveu o século XX até ao tutano do que lhe foi possível – e é sabido que o tutano do século XX tem muitos outros séculos –, espremeu os limões do cinema, da literatura, da pintura e da música como pôde. E a vida dele não é possível de ser contada apartada disso. Um homem não é apenas aquilo que come e que bebe, é também aquilo que lê e que ouve. E cá temos outra vez o fantasma de Pessoa.

Não percamos mais tempo com tautologias e adiantemos um exemplo daquele que é o recurso maior e mais característico da escrita de Cabrita: “Falta à miniatura japonesa a gordura que faz da picanha um menu e que entreabre o barroco ao infinito.” Ainda que esta frase nos chegue aqui fora de contexto, e independentemente de estar certa ou errada – como se houvesse certo ou errado numa brincadeira, a não ser tentar prolongá-la até ao infinito, até que nunca se volte a cair na hora da sesta –, veja-se os três mundos que nos abre: Haiku (a miniatura japonesa a que o autor se refere é essa forma poética); a gordura da picanha; barroco e infinito.

Ou seja, passamos da arte à sensualidade da mesa e desta à estética (enquanto reflexão sobre a arte) e à filosofia. Uma só frase dá de comer a muita gente. É um festim. Fosse eu outro, e diria que é uma frase extremamente sinestésica. Uma frase cheia de sinestesia, que nos desperta todos os cinco sentido que temos, e mais alguns. Mas reparemos melhor nesta técnica, que não é “apenas” a junção de quatro realidades distintas (haiku, picanha, barroco e infinito). Para além da metáfora, que veste esta frase, cada um dos elementos deste quarteto aparecem ainda com os ornamentos da metonímia e da sinédoque.

Por exemplo, o haiku, que nos mostra não apenas a si mesmo, mas também o bonsai e por arrasto todo o Japão; ou a gordura da picanha que nos leva para a América do Sul e para um churrasco, o calor das brasas e o barulho da gordura sobre o fogo; ou o Barroco, que nos leva para o passado e para a exuberância do detalhe, viagem que nos é imediatamente contrariada com a ideia de infinito, que aparece como que em forma de antítese. Assim, e numa mesma frase, pequena, vamos do Japão ao infinito, passando pela picanha, com uma pequena paragem na América do Sul e no barroco.

E julgo que estamos aqui diante do que podemos chamar de tipicamente cabritiano: uma sinestesia metafísica. Ou, de um outro modo, muito mais cabritiano: o mundo de calções a cavalo numa trotineta, a descer para a praia com o Louvre, Hollywood e um quarteto de cordas no bolso, e a mascar pastilha elástica Gorila. Diz o narrador para a loiraça, sentado ao balcão da tasca: “O cinema é a vida e a vida sabe-se de cor.” Se antes nos aproximámos daquilo que é a arte de Cabrita, agora aproximamo-nos do que é o Leitmotiv deste livro.

Do mesmo modo que podemos dizer que ler não é apenas ler, ler é viver, pois cada um de nós lê com o que põe na sua leitura, quer seja leituras anteriores, quer seja amores perdidos, braços partidos ou um filho morto, também o cinema não é apenas o que se vê, naquele momento em que se abrem as imagens diante dos olhos. No fundo, aquilo que perpassa por todo este livro de Cabrita é que o nosso ponto de vista existencial é hermenêutico, isto é, tudo chega até nós pela interpretação que fazemos. E tanto faz que seja através de um filme, como através de um livro, ou de um quadro, de uma pessoa ou de um grupo de pessoas. Nós estamos sempre a ler, a interpretar, a calcorrear o mundo e nós mesmos com pés de Hermes.

O livro é absolutamente estonteante, repleto de episódios, a um mesmo momento divertidos e reflexivos, como o do hotel com o chinês Min Lau e a evocação de Genet, ou os sucessivos episódios de Porto-Sudão, onde se lê esta pequena passagem tão distante da pacata Lisboa: “Nesta vertigem, senti: a vida humana vale menos do que a de um cachorro e senti-me a perder a linguagem.” (p. 77) E, por falar em linguagem, aproveito a deixa para terminar com esta frase enigmática: “Se contar se fundisse com o que aconteceu seria proibitivo pois as retinas dos leitores seriam respigadas de cal viva.”

29 Mai 2018

Automobilismo | Primeiro “Festival de Corridas de Macau” de 2018 em Zhuhai

O Circuito Internacional de Zhuhai foi palco da primeira jornada dupla das duas categoria que compõem o Campeonato de Carros de Turismo de Macau (MTCS, na sigla inglesa). Em disputa estão as trinta e seis vagas para a Taça de Carros de Turismo de Macau do 65º Grande Prémio de Macau

 

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi com muito calor, dentro e fora da pista, amenizado por uma chuva perturbadora no domingo, que se disputou, no fim-de-semana, o primeiro “Festival de Corridas de Macau” de 2018. A competição organizada pela Associação Geral de Automóvel de Macau-China (AAMC) que este ano está novamente dividida em duas classes – “AAMC Challenge 1.6 Turbo” e “AAMC Challenge 1950cc ou Superior” (anteriormente designada como Roadsport Challenge) – teve quatro corridas e quatro vencedores diferentes.

Para os pilotos macaenses, este primeiro embate da temporada teve sensações mistas, mas praticamente todos os nomes portugueses em pista deram passos importantes rumo a um lugar na grelha de partida do grande evento do mês de Novembro. Dois terminaram mesmo em lugares do pódio.

Domínio de Hong Kong

A classe “AAMC Challenge 1.6 Turbo” reuniu vinte e sete participantes, menos três que o ano passado, e neste primeiro confronto os representantes da região vizinha foram claramente mais forte. Apenas Hélder Assunção foi capaz de travar o ímpeto dos poucos mas fortes concorrentes de Hong Kong.

Na primeira corrida, no tarde de sábado, três Peugeot RCZ da Suncity Racing Team monopolizaram as três posições do pódio, com Paul Poon a ver a bandeira de xadrez à frente dos colegas de equipa Alex Fung e Andrew Lo. Ao terminar no quarto lugar, Ip Tak Meng (Ford Fiesta ST), naquele que foi o seu melhor resultado no MTCS até hoje, acabou por ser o melhor classificado dos pilotos da RAEM. Jerónimo Badaraco (Chevrolet Cruze), vencedor da classe na Taça CTM na edição passada, foi o 6º classicado, ao passo que o seu companheiro de equipa Filipe Souza, que se tinha qualificado na segunda posição, foi apenas o 8º classificado, tendo-se atrasado devido a um problema no turbo do seu Chevrolet Cruze.

Com a chegada da chuva, no domingo, a vantagem dos Peugeot RCZ da Suncity Racing Team deixou de ser tão evidente, mas se Alex Fung conquistou a sua primeira vitória no MTCS, desta vez a cerimónia do pódio teve um intruso. Assunção, cujo o Ford Fiesta ST tinha terminado no 9º lugar na primeira corrida do fim-de-semana, foi o segundo classificado a apenas meio segundo do vencedor. Paul Poon completou o pódio. Badaraco e Souza foram quinto e sexto, respectivamente, com este ultimo novamente a braços com problemas no turbo do seu carro.

Fora do top-10 em ambas as corridas ficaram Eurico de Jesus (Ford Fiesta ST), que somou um 11º e um 14º lugar, e Célio Alves Dias (MINI Cooper S) que ficou 13º e 11º lugar.

Rui Valente, que este ano celebra trinta anos de carreira, teve um fim-de-semana difícil. O colector do escape do MINI Cooper S estalou e estragou a corrida de sábado do piloto português. Depois de uma noitada a reparar a viatura, Valente regressou no domingo para terminar no 17º lugar, o que o obrigará a um esforço suplementar nas duas corridas que faltam para conseguir o apuramento.

“Prata da Casa” impõe-se

Na mais numerosa categoria “AAMC Challenge 1950cc ou Superior”, onde cinquenta concorrentes lutam por apenas dezoito vagas, o pelotão teve, a exemplo do ano transacto, que ser dividido em dois nas sessões de qualificação, onde só os mais rápidos tiveram acesso às corridas. Os pilotos de Macau dominaram.

No sábado, numa corrida realizada sob temperaturas nada simpáticas para as viaturas de preparação local, os pilotos de Macau chamaram a si todas as posições do pódio, com o veterano Wong Wan Long (Mitsubishi Evo10) a levar a melhor sobre o surpreendente Delfim Mendonça Choi (Mitsubishi Evo7) e Chan Chi Ha (Mitsubishi Evo8).

No domingo, com a chuva a tomar o papel de principal protagonista, dando uma vantagem mais clara aos carros com tracção total sob os duas rodas motrizes, Ng Kin Veng (Mitsubishi Evo9) destacou-se na qualificação matinal, mas, nas 12 voltas de corrida, Leong Ian Veng (Mitsubishi Evo9) impôs-se sobre Wong Wan Long e Veng. Delfim Mendonça Choi arrancou do terceiro lugar, mas acabaria por cair das posições do pódio, cortando mesmo assim a linha de meta num positivo quarto lugar.

No que respeita aos pilotos macaenses, o experiente Jo Merszei (Mitsubishi Evo9) conseguiu um 13º e um 16º lugares , ao passo que Luciano Lameiras (Mitsubishi Evo9) ficou em branco em ambas as corridas, complicando as contas do apuramento.

Os pilotos e máquinas terão agora um interregno de um mês para recuperar energias e preparar o segundo e decisivo Festival de Corridas de Macau, agendado para o fim-de-semana de 30 de Junho e 1 de Julho.

29 Mai 2018

Música | Grupo sul-coreano chega ao topo de vendas nos Estados Unidos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] grupo de pop sul-coreano BTS, formado por sete adolescentes, tornou-se o primeiro do género a alcançar o topo de vendas nos Estados Unidos, com o último álbum a vender mais de 130.000 cópias.

De acordo com a Billboard, revista norte-americana que lista semanalmente os 200 álbuns mais vendidos no país, o fenómeno sul-coreano foi também o primeiro de língua estrangeira a atingir, em 12 anos, o topo da tabela. Conhecidos pelas exuberantes coreografias, os sete jovens ilustram a popularidade do género conhecido como K-Pop, que nasceu na Coreia do Sul, mas tem angariado fãs em todo o mundo.

Segundo analistas, o grupo BTS foi o fenómeno mais falado na rede Twitter em 2017, com o dobro de menções na rede social do que o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o cantor pop canadiano Justin Bieber, juntos. O álbum “Love Yourself: Tear” destronou assim o “Beerpong and Bentleys”, dos Post Malone.

29 Mai 2018

Sismo | Abalo de magnitude 5,1 registado no nordeste da China

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m sismo de magnitude 5,1 na escala de Richter atingiu ontem o nordeste da China, segundo o Serviço Geológico norte-americano, desconhecendo-se, até agora, se causou vítimas ou danos materiais.

O abalo ocorreu às 01h50 perto da cidade de Songyuan, na província de Jilin, a uma profundidade de 10 quilómetros. De acordo com relatos de órgãos de comunicação, equipas de resgate chegaram a responder aos tremores, que obrigaram à retirada de alguns moradores.

A agência de notícias oficial Xinhua dá conta de que o fornecimento de energia não foi afectado, embora algumas comunicações móveis tenham sido interrompidas. Um sismo no nordeste da China, em 1976, matou pelo menos 250 mil pessoas.

29 Mai 2018

Mar do Sul da China | Pequim critica entrada de navios dos Estados Unidos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo chinês mostrou “grande insatisfação” e “firme oposição” perante a entrada de navios de guerra norte-americanos em águas territoriais das ilhas Paracel (Xisha, para os chineses), no mar do Sul da China.

“A China apela aos Estados Unidos para que interrompam imediatamente este tipo de operações provocadoras que violam a soberania da China e ameaçam a sua segurança”, afirmou Lu Kang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, num comunicado difundido no domingo à noite.

O Ministério afirmou que os navios entraram em águas territoriais da China sem a autorização de Pequim, pelo que as autoridades chinesas expulsaram as embarcações.

As ilhas Paracel, cuja soberania é reclamada também pelo Vietname e por Taiwan, são “território inerente” da China desde 1996, afirmou Lu. O porta-voz afirmou que a China tomará todas as medidas necessárias para defender a sua soberania e segurança nacional.

“Os EUA enviaram uma vez mais navios para entrar em águas territoriais da China, nas ilhas Paracel, sem autorização, o que viola a lei chinesa e também importantes leis internacionais”, afirmou.

Pequim reclama a quase totalidade do mar do Sul da China, apesar dos protestos dos países vizinhos.

29 Mai 2018

Diplomacia | Presidente iraniano reúne com Xi Jinping e Vladimir Putin em Junho

Com a crescente pressão norte-americana sobre Teerão, depois de Donald Trump rasgar o acordo nuclear assinado pelo antecessor Barak Obama, as autoridades iranianas recorrem aos seus velhos aliados em busca de apoio. Como tal, a China acolherá um encontro entre Rohani, Putin e Xi Jinping

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente iraniano, Hassan Rohani, vai participar num encontro com os seus homólogos chinês e russo em Junho na China numa tentativa de salvar o acordo nuclear, ameaçado recentemente pela retirada dos EUA, foi ontem anunciado em Pequim. “O Presidente Rohani vai reunir-se com o homólogo chinês Xi Jinping à margem da cimeira de Chefes de Estado da Organização de Cooperação de Xangai (SCO) a 9 e 10 de Junho em Qingdao”, disse o ministro das Relações Exteriores da China Wang Yi. “O presidente russo, Vladimir Putin, também estará presente na cimeira”, disse Wang.

A Organização de Cooperação de Xangai (SCO) é uma organização regional intergovernamental que reúne oito países, incluindo as antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central, Rússia, China e Índia. O Irão tem estatuto de Estado observador.

O ministro chinês não disse se o acordo nuclear com o Irão estará na agenda do encontro.

À espera de Bruxelas

A UE, a China e a Rússia querem que o Irão permaneça no acordo. No entanto, Teerão disse esperar acções concretas dos europeus para decidir se o acordo pode ser salvo.

O acordo foi concluído em Julho de 2015 entre o Irão e o grupo 5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – EUA, Rússia, China, França e Reino Unido –, mais a Alemanha) e visa, em troca de um levantamento progressivo das sanções internacionais, assegurar que o Irão não desenvolva armas nucleares.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou a 8 de Maio a retirada dos Estados Unidos do acordo de 2015 sobre o programa nuclear iraniano, destinado a impedir a República Islâmica de se dotar de armas nucleares, por considera-lo demasiado brando.

29 Mai 2018

Instituto Cultural | Executivo promove divulgação do património intangível

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s próximos dias 9 e 10 de Junho vão ser assinalados com um programa de divulgação do património intangível de Macau. “Dia do Património Cultural e Natural da China” é a iniciativa promovida pelo Instituto Cultural (IC) que vai ter lugar na Casa do Mandarim e no Largo do Lilau, com o objectivo de “promover um ambiente propício à salvaguarda do património, bem como de elevar o conhecimento do público sobre os itens do património cultural intangível local”, refere o comunicado oficial.

De acordo com a organização, o evento apresenta um leque variado de actividades, incluindo cabines de jogos, exposições, palestras temáticas, workshops e actuações apresentadas por diversas organizações. No cartaz do evento destaca-se a Ópera Cantonense, Dança do Dragão Embriagado, Naamyam Cantonense (canções narrativas), música ritual taoista, entre outros.

Serão ainda organizadas palestras, sendo que a organização destaca a conversa “Panorama do Património Cultural Intangível de Macau”, a cargo do professor associado do Centro de Estudos das Culturas Sino-Ocidentais do Instituto Politécnico de Macau, Lam Fat Iam. “Crenças e Costumes de Na Tcha”, é o momento que vai contar com a participação de Chiang Kun Kuong e Ip Tat. O bambu também vai ser abordado com o workshop “Arte dos Andaimes de Bambu”.

29 Mai 2018

Arquitectura | Exposição dos alunos da USJ é inaugurada amanhã

A “USJ Architecture Program Exhibition”, exposição que reúne os trabalhos finais dos alunos de arquitectura da Universidade de São José, vai ser inaugurada amanhã na Creative Macau. A iniciativa realiza-se anualmente e pretende mostrar algumas ideias dos futuros arquitectos de Macau

 

[dropcap style≠’circle’]À[/dropcap] semelhança de anos anteriores, e chegado o final das aulas, a Creative Macau recebe os projectos de fim de curso dos alunos do último ano de arquitectura da Universidade de São José (USJ). A exposição deste ano, “USJ Architecture Program Exhibition”, é inaugurada amanhã às 18h30.

A mostra divide-se em dois momentos expositivos. Num primeiro espaço, vai estar patente ao público uma peça concebida em conjunto. “É um trabalho absolutamente conceptual em que os alunos não propõem nenhum tipo de edifício”, refere a responsável pela Creative Macau, Lúcia Lemos, ao HM.

Trata-se de uma obra que tem, por princípio, de ser concebida em bambu, assim tem sido todos os anos. A razão da escolha deste material é óbvia: “No oriente é o bambu que sustenta o processo de construção e há uma ligação muito forte com este material”, diz Lúcia Lemos.

Ao mesmo tempo, os alunos de arquitectura da USJ desenvolvem ao longo do percurso académico uma forte relação com o material e com quem o trabalha, de acordo com a directora da Creative Macau.

A produção deste momento expositivo está intimamente relacionada com o desenvolvimento de uma maior ligação ao artesanato, aponta Lúcia Lemos. “A montagem dos andaimes em bambu requer muita técnica e muito trabalho manual, desde a forma como a estrutura vários objectos da arquitectura erefere o comunicado oficial.)IC) trabalho, jtrar o que os futuros arquitecto s de Macau é montada aos modos de junção das canas”, explica.

Para ajudar na montagem desta peça, os alunos tiveram a ajuda dos mestres que dedicaram a sua vida profissional a trabalhar na construção e com o auxílio dos professores no apoio à concepção “mais intelectual”.

“Podemos dizer que é um trabalho da área da arquitectura urbanística, no sentido de que algo pode ser projectado para um espaço público sem ter de possuir uma utilidade prática”, refere a responsável pela associação.

A segunda parte da exposição é constituída pelos trabalhos de final de curso dos alunos. Os projectos que vão ser apresentados podem abranger vários objectos da arquitectura com a finalidade de mostrar o que os estudantes, ainda sem experiência no mercado de trabalho, já conseguem idealizar. “Estamos a falar de pessoas muito jovens que ainda estão a estudar. Fazem o seu trabalho dentro do possível e podemos mesmo dizer que há aqui alguma inovação”, descreve Lúcia Lemos.

Parceria útil

A cooperação entre a Creative Macau e a USJ não é uma aliança formalizada através de protocolos, mas isso não impede o desenvolvimento de iniciativas conjuntas. “Faz parte do nosso projecto estarmos a par daquilo que se faz em Macau. Desde há muito tempo que temos esta iniciativa com os alunos de arquitectura e de design de comunicação”, aponta.

Para Lúcia Lemos, esta colaboração “faz todo o sentido”, até porque “é uma forma de trazer estes trabalhos para o público em geral”.

Mas o que surpreende a responsável pela Creative Macau é a forte adesão por parte de estudantes do ensino secundário. “Estas exposições têm muitos visitantes, mesmo de alunos das escolas secundárias”, refere. Na opinião de Lúcia Lemos, esta adesão pode ser explicada pelo facto deste tipo de iniciativas poderem ajudar os estudantes que se encontram numa fase de escolha de carreira.

 

Arquitectura | USJ presente na Bienal de Veneza

O Departamento de Arquitectura da Universidade de São José participou na Bienal de Arquitectura de Veneza 2018, entre 26 a 28 de Maio, com “URBAN CATALYST: SHAPING THE FUTURE OF MEDINI CITY”. O projecto foi desenvolvido pelo estúdio de design urbano da universidade liderado por Nuno Soares. Este projecto estará integrado no Programa de Sessões da Bienal de ISKANDAR PUTERI 100YC, como uma proposta conceptual ao desafio de design global apresentado às principais escolas internacionais de Arquitectura. “URBAN CATALYST: SHAPING THE FUTURE OF MEDINI CITY” oferece formas arquitectónicas e urbanas originais para a nova Cidade de Medini, o futuro Distrito Comercial Empresarial de Iskandar Puteri, concebido a partir da sua estrutura essencial, e visando criar um plano director alternativo como ponto de partida para esta nova comunidade urbana nos próximos 100 anos. O Iskandar Puteri 100YC (100 Year Cities) é uma colaboração global de investigação liderada pela RMIT (Instituto Real de Tecnologia de Melbourne) e pela Nextdor Property Communications Sdn Bhd. O seu principal objectivo é promover o pensamento multidisciplinar e a colaboração como as principais qualificações para a inovação futura, reunindo os visionários de hoje e as escolas de arquitectura internacionais mais progressistas do mundo em busca de futuros optimistas e ideais originais para as cidades, refere o comunicado oficial.

29 Mai 2018

Exposição de caligrafia chinesa patente em Aveiro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] exposição de caligrafia chinesa intitulada “Um Janus Cultural: A Complexidade de Macau em exibição caligráfica” foi inaugurada no passado dia 18 no Museu de Santa Joana de Aveiro. De acordo com um comunicado, “as obras expostas versam sobre temas de Macau, poemas ou escritos antigos sobre a cidade que o artista fez bem em evocar, especialmente poemas e comentários de letrados chineses sobre a coexistência pacífica entre as comunidades e sobre o modo de vida de macaenses”.

O evento foi co-organizado com a Fundação Jorge Álvares e o Instituto Milénio de Macau, uma instituição de ensino superior privada.

29 Mai 2018

Bilinguismo | Universidade Cidade de Macau e Fórum Macau assinam acordo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau) e a Universidade da Cidade de Macau assinaram, na sexta-feira, um acordo de cooperação no âmbito da formação de quadros bilingues.

De acordo com a secretária-geral do Fórum Macau, Xu Yingzhen, a cooperação bilateral poderá contribuir para a elevação de Macau como plataforma na formação de quadros bilingues em chinês e português, enunciado na quinta conferência ministerial da China.

Na ocasião, Xu Yingzhen agradeceu à Universidade os colóquios realizados nesta área e a criação do Instituto para a Investigação dos Países de Língua Oficial Portuguesa.

29 Mai 2018

Amianto | DSSOPT diz que poluição junto a escola diminuiu

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) e Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) emitiram ontem um comunicado onde garantem que a poluição causada pela utilização de amianto, junto ao Colégio Anglicano de Macau, tem vindo a diminuir.

O terreno encontra-se localizado na Avenida Padre Tomás Pereira, na Taipa. “A DSPA, em conjunto com a DSSOPT, empreendeu e exigiu que o empreiteiro tomasse, o mais rápido possível, medidas necessárias para diminuir a poluição originada por amianto, de acordo com o plano autorizado. Durante a implementação destas medidas, os serviços públicos competentes e o organismo profissional de consultoria fiscalizavam todo o procedimento de limpeza. Os trabalhos foram concluídos em meados de Maio do corrente ano.”

O mesmo comunicado aponta ainda que “após os resultados das análises feitas pelos profissionais de consultoria encarregados pelo Governo, e conjugando com a realidade observada durante a visita feita ao local, até que seja assegurado o cumprimento dos critérios internacionais e das disposições de segurança no estaleiro em causa, será efectuada a remoção dos andaimes e telas de lona do estaleiro por parte do empreiteiro, sob supervisão do organismo profissional de consultoria”.

29 Mai 2018

DICJ obrigada pelos juízes a divulgar lista de junkets de um casino

A Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos foi obrigada a emitir, no prazo de dez dias, a lista de junkets ligados a uma concessionária ao advogado de uma outra operadora de jogo. O advogado necessitava dos dados para dar abertura a um processo, mas o organismo dirigido por Paulo Martins Chan nunca deu uma resposta

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) obrigou a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) a divulgar, junto de um casino, a lista de promotores de jogo ligada a uma outra concessionária. De acordo com o acórdão ontem divulgado, os juízes decretaram um prazo de dez dias para a DICJ enviar a lista.

Tudo começou quando o advogado da concessionária pediu à DICJ a referida lista, que contém “informação sobre todos os promotores de jogo, pessoas singulares ou colectivas, registados junto duma companhia concessionária de jogo (designada por B), de modo a preparar uma acção judicial a instaurar eventualmente em Tribunal”. Como não obteve resposta, o advogado da concessionária decidiu levar o caso a tribunal, tendo o Tribunal Administrativo, em Dezembro do ano passado, proferido a sentença a favor da entrega dos dados pedidos.

Os juízes do TSI consideraram que, ao abrigo do Estatuto dos Advogados, “no exercício da sua profissão, o causídico pode solicitar em qualquer tribunal, ou repartição pública, o exame de processos, livros ou documentos que não tenham carácter reservado ou secreto, bem como requerer verbalmente, ou por escrito, a passagem de certidões, sem necessidade de exibir procuração”.

Além disso, “o recorrente requereu junto da DICJ apenas uma lista dos promotores de jogo registados e não informação específica sobre o modo como os promotores estavam a exercer a sua actividade ou as relações especiais estabelecidas entre eles e a concessionária, nem sobre a situação dos lucros e perdas verificados na sua exploração”.

Informação acessível

Os juízes da Segunda Instância consideraram ainda que a lista pedida pelo advogado “não pôde revelar a quota de mercado real ou pôr em causa o volume efectivo de mercado da B [concessionária], nem pôde afectar a valorização em bolsa das acções da B em termos de lesarem gravemente os seus interesses económicos”.

Desta forma, “a lista de todos os promotores de jogo registados junto de companhia concessionária de jogo não constitui matéria reservada ou secreta, e as informações requeridas pelo recorrente junto da Administração não têm a ver com a vida interna da empresa, as informações financeiras, as estratégias empresariais ou comerciais, a lista completa dos seus clientes. Daí que a divulgação da lista dos promotores de jogo não consubstancie violação do segredo comercial.”

29 Mai 2018