É isto um festival

[dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]rande parte da vida de um escritor é feita de outras coisas que não a escrita. Trabalhar é uma delas, e é uma realidade com a qual os escritores têm de conviver a maior parte da vida, porque aquilo que recebem pela sua actividade literária é, na maior parte das vezes, insuficiente até para levar a mais frugal das vidas em regime de campismo selvagem.

Outra das coisas que de certo modo constituem a carcaça daquilo que pode ser chamado “a carreira do escritor” são os festivais literários. Estes multiplicaram-se consideravelmente nos últimos dez anos. Neste momento, há dezenas de festivais por ano, muitos deles organizados sob a alçada da autarquia da cidade em que se inserem, o que acaba por revelar – perspectiva optimista – o reconhecimento por parte da classe dirigente do interesse crescente da população pelo mundo da cultura, em geral, e para a constelação livro, em particular. Ou – perspectiva pessimista – tudo não passa de uma moda contagiosa que a qualquer momento se vê ser substituída por feiras do chocolate, feiras medievais ou encontros de medicinas alternativas. O tempo o dirá.

Um festival literário é uma experiência diferente para cada escritor convidado. Uns, recusam sempre (o Herberto, por exemplo, termina uma carta de resposta a um convite escrevendo “a minha ambição é não aparecer”). Outros, aceitam de bom grado todos os convites porque estes se transformam numa oportunidade de conviver com os seus públicos, de ver ou rever amigos escritores, ou simplesmente de comer e beber à pala durante o decurso do festival. Para muitos, as razões sobrepõem-se num cocktail mais ou menos homogéneo de motivações equitativamente distribuídas.

Há um aspecto a ter também em conta: o escritor faz também parte de um determinado público de leitura e de leitores, embora numa categoria de “leitor especializado”. Ele próprio pode ter, em condições privilegiadas, a oportunidade de conhecer os escritores que admira. Lembro-me de quando conheci o Ruy Castro em Óbidos, há cerca de dois anos (o grande biógrafo em língua portuguesa, que escreveu uma biografia que muito me impressionou, a do Garrincha). E lembro-me de ter ficado com uma cara semelhante àquela que um adolescente dos nineties faria se estivesse frente a frente com o Kurt Cobain. E de ter sentido que disse tontices ainda maiores do que é costume. Not my finnest moment. Adiante.

Por vezes, quando as coisas correm menos bem, há muito pouco público e este dá a sensação de ter vindo ao engano. O moderador fez o trabalho de casa com demasiado afinco e vai desfiando penosamente e sem critério todos os acontecimentos de vida de todos os convidados. No tempo que resta para o debate propriamente dito, os convidados descobrem que se detestam e passam os quinze minutos sobrantes a insultarem-se uns aos outros, a despeito das tentativas canhotas de o moderador pôr alguma água na fervura. No final, ninguém esconde o alívio de ver aquele espectáculo chegar ao fim.

Às três da manhã, no hall do hotel, os mesmos escritores que tinham descoberto serem inimigos de infância abraçam-se e brindam à amizade e ao futuro.

31 Out 2017

A Sombra de Teseu [Terceiro Estásimo]

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]IPÓLITO

Muito obrigado, Teseu! Decidiste justamente.

TESEU

Continuo a acreditar em Fedra, Hipólito! Mas estás certo quando referes os diferentes comprimentos do fio de espada. Aguardemos que Fedra chegue.

(algum silêncio e Fedra entra em cena)

FEDRA

Que desejas de mim, meu marido? (vê Hipólito e fica surpresa e contrariada) Que faz ele aqui, meu amor?

TESEU

Fedra, Hipólito lembrou-me os ensinamentos que eu mesmo lhe dei: podemos ajuizar erradamente, mas não podemos ajuizar negligentemente. Por isso, quero exigir de ambos o mesmo comprimento de espada: factos e palavras. Já sei da tua parte do relato, quero agora escutar a de Hipólito e que estejas presente, para contrariar com factos, se possível, ou argumentando acerca da mentira das palavras dele.

FEDRA

Minha parte? Agora aquilo que digo é a minha parte e não a verdade? Desde quando a minha palavra ficou no mesmo chão de um cão sem dono?

TESEU

Por muito que me custe, Fedra, este é o preceito, este é o modo justo de proceder em relação a algo tão grave.

 FEDRA (furiosa)

Não me vou prestar a isto! E se queres saber, Teseu, não me importa se acreditas ou não em mim. Se preferes acreditar nele, acredita, e toma as providências necessárias a essa decisão, mas eu não vou ficar aqui, vou embora. (e sai)

HIPÓLITO

Não achas este comportamento estranho, Teseu?

TESEU

Deixemo-nos de hermenêuticas estéreis. Já escutei a parte dela, conta-me então agora a tua!

HIPÓLITO

Como tentei dizer-te antes, ainda nem o sol deu uma volta completa à Terra e Fedra estava no pequeno jardim do palácio tentando seduzir-me. Acabou mesmo por me dar um beijo na boca. Empurrei-a e fugi. Envergonhado com tudo.

TESEU

Envergonhado com o quê?

HIPÓLITO

Envergonhado com isso ter acontecido. Envergonhado por tudo. Por ti, por mim, por ela, por esta casa…

TESEU

Se o que dizes é verdade, então porque razão Fedra inventaria outra história, em que ela mesma sai prejudicada?

HIPÓLITO

Não vês, Teseu, que ainda que ela saia prejudicada, eu fico muito pior, nessa história que ela conta? Ela pode até acabar com o vosso casamento, mas acaba também com a minha vida.

TESEU

E por que razão ela quereria acabar com a tua vida, se tivesse acontecido aquilo que me contas? Por tê-la empurrado? Por tê-la rejeitado?

HIPÓLITO

Que sei eu do que pensa uma mulher, Teseu?

TESEU

Mas para quem não sabe, adiantas muitas conjecturas…

HIPÓLITO

Não são conjecturas, mas pura dedução.

TESEU

Pura dedução, disseste? Pura dedução? Pura dedução, Hipólito?

(desembainha a espada e rasga os intestinos de Hipólito; entra o coro de mulheres)

QUARTO ESTÁSIMO

CORO DE MULHERES

Pobre desgraçado, Hipólito!

Julgava estar protegido

Pela devoção a Ártemis,

Mas ninguém tem mais artimanhas

Do que a deusa Afrodite.

Contra ela nenhuma razão

Um dia irá ter efeito.

A intempérie duma paixão

Arrasará até amores;

De qualquer pai pelos seus filhos

Ou dum marido pela mulher.

Que mortal pode se defender

Deste tão poderoso ataque,

Se não arrancar os seus olhos?

É sempre por uma imagem

Que a história começa.

Também se conta que escutar

Pode ser mal de Afrodite.

Pois há palavras que não são

Nem neste mundo nem em outro,

Apenas mentira, ilusão.

Com uma palavra se morre,

 Se Afrodite assim quiser.

CORIFEU

Como vós estais enganadas!

Fedra, a única culpada,

É bem pior do q’ Afrodite.

Digo: foi ela e só ela

Que destruiu a sua casa!

A deusa acendeu-lhe o corpo,

Mas não acende a todos nós?

E destes todos, quantos cedem

À tentação de continuar

Até que não haja mais volta?

Nenhum deus tem esse poder

De sem nossa ajuda nos matar.

31 Out 2017

Barcos da Volvo Ocean Race completaram primeira etapa

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s sete barcos da Volvo Ocean Race completaram sábado a primeira etapa, que ligou Alicante, em Espanha, a Lisboa, com o Vestas a ser o primeiro a cortar a meta.

O barco britânico, liderado pelo ‘skipper’ Charlie Enright, precisou de 138:08.26 horas para percorrer as 1.450 milhas náuticas (2.690 quilómetros). Na segunda posição, a 2:33.03 horas do Vestas, chegou o espanhol MAPFRE, com os chineses do Dongfeng a cortarem a meta 2:48.39 depois dos britânicos.

Os holandeses do AkzoNobel cortaram a meta 4:00.13 horas depois do Vestas, o Team Sun Hung Kai/Scallywag, de Hong Kong, precisou de mais 4:47.42, e o holandês Team Brunel gastou mais 6:19.37

A correr com a bandeira das Nações Unidas, o Turn the The Tide on Plastic, que tem o português Bernardo Freitas, foi o último a chegar à doca de Pedrouços, 6:30.44 horas depois do Vestas.

A chegada ao estuário do Tejo aconteceu três dias antes do previsto, uma vez que a abertura oficial do recinto está agendada apenas para terça-feira. O ‘stopover’ decorre até 5 de Novembro, dia em que as embarcações partem para uma ligação transatlântica até à Cidade do Cabo, na África do Sul. Dois dias antes haverá a corrida de porto.

A Volvo Ocean Race, antiga Whitbread, é a maior competição de vela oceânica do mundo. Esta edição tem chegada prevista para Haia (Holanda), a 30 de Junho de 2018, depois de 11 etapas em 12 países, com um total de 83.400 quilómetros (45.000 milhas náuticas).

31 Out 2017

WTCC no Japão | Tiago Monteiro cai para quarto lugar

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] húngaro Norbert Michelisz (Honda) e britânico Tom Chilton (Citröen) venceram este domingo as corridas japonesas do campeonato do mundo de carros de turismo (WTCC), no qual o português Tiago Monteiro (Honda), ausente por lesão, caiu para quarto.

No circuito de Motegi, Chilton venceu a primeira manga e Michelisz a corrida principal, enquanto o sueco Thed Bjork (Volvo), quarto e quinto, respectivamente, reforçou a liderança do campeonato, com 228,5 pontos.

Após oito das 10 provas do Mundial de WTCC, Tiago Monteiro, que falhou as últimas duas por estar a recuperar de um violento acidente ocorrido em 7 de Setembro, numa sessão de testes da Honda, em Barcelona, caiu para o quarto lugar, a 28,5 pontos do líder.

Michelisz subiu ao segundo lugar, com 212, mesmo depois de terem sido subtraídos os pontos conquistados na China pela Honda, devido a irregularidades nos injectores, e o holandês Nicky Catsburg (Volvo) ao terceiro, com 209,5

O Mundial de WTCC prossegue em Macau, entre 17 e 19 de Novembro, e termina no Qatar, entre 30 de Novembro e 1 de Dezembro.

31 Out 2017

Pólo-aquático | Macau com medalha em Hong Kong

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] equipa sénior de pólo-aquático Fishballs Macau conquistou a medalha de prata na Taça Lufthansa do 5.º Torneio Internacional de Pólo-Aquático de Praia de Hong Kong, frente a equipas locais, da China Continental e do Japão, este fim-de-semana em Repulse Bay.

O conjunto do Clube Internacional de Pólo-Aquático de Macau perdeu a final do troféu num disputado encontro frente à equipa da South China Athletic Association (SCAA), de Hong Kong. O clube de Macau levou igualmente ao torneio uma equipa júnior, que assegurou também a medalha de prata no seu escalão.

Num comunicado, a equipa Fishballs Macau considera que a “prova decorreu de forma satisfatória, tendo em conta que se apresentou bastante desfalcada, por impedimentos vários de alguns dos seus principais atletas”.

“Os Fishballs puderam colmatar as ausências graças à possibilidade de alinhar na equipa principal elementos do seu conjunto júnior que, com grande esforço e entrega, participaram nos jogos de ambos os escalões”, defendem ainda.

No sábado a equipa de Macau jogou com o BGI, de Hong Kong, em apenas dois parciais (3-0 e 5-1). Nesse mesmo dia somaram-se duas derrotas contra as equipas Beach Uncles e Beach Dudes, ambos de Hong Kong, e Poseidon, de Xangai.

À beira do ouro

“A vitória no primeiro encontro, contudo, permitiu à equipa de Macau apurar-se como terceiro classificado no seu grupo, para a disputa da Taça Lufthansa.”

No domingo “a equipa de Macau discutiu com a SCAA e com a Universidade de Ciência e Tecnologia (UST), dois disputados encontros que terminaram com empates só desfeitos no saldo de golos, contra e a favor dos Fishballs, respectivamente.”

Na final, Fishbals e SCAA voltaram a defrontar-se, com a equipa de Hong Kong a vencer o primeiro parcial (4-2) e os de Macau a dominarem o segundo (3-0), sucumbindo depois ao desgaste no terceiro período (3-0), em que a SCAA assegurou o troféu.

No escalão júnior, os Fishballs Macau viram-se também afastados do ouro pela formação das camadas jovens da SCAA.

31 Out 2017

Justiça ameaçada

[dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]ecentemente soube-se por um jornal de Hong Kong que um homem, empunhando uma faca, tinha ameaçado um juiz no Supremo Tribunal.

Operário da construção civil, Yu Zulin, de 53 anos, foi acusado de ameaçar o juiz Wilson Chan Ka-shun, com insultos pessoais, numa tentativa de intimidação. Os acontecimentos ocorreram dia 17 deste mês, nas instalações do Supremo Tribunal. O homem, que se encontrava apenas a dois metros de distância do juiz, empunhava uma faca de 20cm de comprimento. O juiz estava no Tribunal para presidir ao julgamento de um caso de Direito Civil.

Por volta das 10h da manhã, Yu encontrava-se na galeria pública da sala de audiências nº 13, onde o juiz Wilson presidia ao julgamento. De repente, Yu puxou de uma faca e gritou para o juiz em mandarim:

“Vendido! Pensavas que eu não te ia encontrar!”

O juiz não respondeu e abandonou a sala de imediato. Nessa altura Yu também saiu a correr. Os funcionários do Tribunal chamaram a polícia. Quase de imediato chegaram ao local dezenas de polícias que se puseram à procura do homem.

Polícias à paisana fizeram buscas em todos os andares do edifício, inclusivamente no 5º andar, onde o antigo Chefe do Executivo  Donald Tsang Yam-kuen estava a ser julgado por corrupção. A audiência não foi interrompida.

O Inspector-Chefe Dilys Lo Shui-lin, da Polícia Central, comunicou que tinham revistado o edifício por duas vezes, mas que não tinham encontrado ninguém suspeito.

Yu acabou por se render ao fim de oito horas. Na esquadra explicou à polícia as razões do seu comportamento e foi conduzido ao Tribunal de Magistrados, no passado dia 19. O delegado do Ministério Púbico declarou,

“Este crime foi planeado, ao contrário de outras situações de ameaça.”

Yu foi preso pelo crime de intimidação. O apelo para sair em liberdade condicional foi rejeitado pelo Tribunal de Magistrados.

No entanto Yu afirmou que:

“Agi por impulso. Peço desculpa ao juiz e à população de Hong Kong pelos meus actos. Estou arrependido. Não vou oferecer resistência.”

Este caso resume-se à insatisfação de alguém com a sentença de um juiz e que, em consequência disso, o ameaça.

Em Hong Kong, existe um sistema bem estruturado que permite apresentar queixa da actuação dos magistrados, caso a pessoa se sinta lesada por uma decisão injusta. Nessa altura o juiz será sujeito a um inquérito. Teria sido melhor para Yu se se tivesse informado sobre o funcionamento do sistema legal de Hong Kong, antes de ter partido para acções desadequadas.

Agora Yu vai ter de enfrentar consequências graves. Como afirmou o delegado do Ministério Público, este caso excede a acção de intimidação habitual. Foi premeditado e houve intenção de agressão. Em causa está, não só, a ameaça feita ao juiz, mas também o estado de direito em Hong Kong. De acordo com a seriedade da situação, a hipótese de o réu vir a ser preso é elevada. A sentença não se limitará ao pagamento de uma multa. A data para o encarceramento do réu será anunciada posteriormente pelo magistrado.

Como já referimos por diversas vezes, condenamos em absoluto qualquer tipo de ameaças feitas a representantes da justiça. Devemos dar o nosso melhor para que sejam criadas todas as condições que permitam aos juízes deliberar de acordo com a lei. Qualquer demonstração de desagrado em relação às decisões do juiz, dentro ou fora da sala de audiências, ou qualquer tipo de ameaça, são comportamentos condenáveis.

Se o juiz:

for pressionado, ou
sentir que a sua vida corre perigo, ou
sofrer qualquer represália pós julgamento, ou
for despedido na sequência de uma sentença

acabará por ficar condicionado e deixa de haver garantias de que as suas decisões não estão a ser determinadas pelo medo. O interesse da justiça deixará de estar protegido. Será isto a que queremos assistir?

As situações que atrás mencionámos devem ser evitadas, porque só assim o juiz estará livre para deliberar de acordo com a lei, sem qualquer tipo de pressão. O interesse das partes envolvidas estará protegido e as pessoas acreditarão que a lei é um instrumento de que nos servimos para resolver contendas. Se a população confiar nas decisões dos juízes, o estado de direito fica garantido. É preciso que nunca nos esqueçamos que o “estado de direito” não se impõe pelas armas, mas sim pela nossa crença na sua necessidade.

Embora o caso relatado não seja complexo, não deixa de ser muitíssimo sério. Se toda a gente que fica insatisfeita com a decisão de um Tribunal agisse desta forma, imagine-se o tipo de sociedade que teríamos.

31 Out 2017

Coreia do Norte | Pyongyang diz que vai lançar mais satélites

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Coreia do Norte garantiu ontem que vai lançar mais satélites, apesar da pressão internacional, com o objectivo de contribuir para o desenvolvimento económico em virtude do “direito de explorar o Espaço” como nação soberana.

Pyongyang considerou que “promover o desenvolvimento económico através do desenvolvimento espacial” tem-se transformado “numa tendência internacional”, pelo que, à luz do plano quinquenal sobre a matéria, irá proceder ao lançamento de mais satélites, incluindo um geoestacionário, de acordo com um artigo publicado pelo jornal oficial Rodong Sinmun.

O regime norte-coreano acusou Washington de obstaculizar tanto o seu programa espacial como o de países em vias de desenvolvimento, por via da imposição de “condições irracionais para impedir que concretizem as suas ambições” espaciais.

“Manipular as resoluções de sanções da ONU e impedir o desenvolvimento espacial de um Estado soberano legítimo constituem um acto inaceitável e uma violação dos seus direitos ao desenvolvimento”, referiu o mesmo texto citado pela agência de notícias espanhola Efe.

O país asiático colocou em órbita dois satélites, o Kwangmyongsong-1 (Estrela Brilhante-1, nome que faz referência ao falecido Kim Jong-il, pai do actual líder) em Agosto de 1998. Em Fevereiro de 2016, lançou o Kwangmyongsong-4.

Enquanto Pyongyang reivindica o direito ao desenvolvimento espacial com fins pacíficos, a maioria da comunidade internacional vê neste tipo de lançamentos um teste encoberto e ilegal de mísseis de longo alcance, dado que a tecnologia dos seus foguetões é idêntica à dos mísseis balísticos intercontinentais

31 Out 2017

UMEAL | Exposição junta medicina e arte no Albergue SCM

[dropcap style≠’circle’]“M[/dropcap]acau, medicina e criatividade” dá nome ao XI Congresso da União de Médicos Escritores e Artistas Lusófonos (UMEAL) que decorre amanhã nas instalações do Albergue SCM.

De acordo com o comunicado oficial, a iniciativa pretende “promover a actividade artística dos médicos de Macau, debater a importância da criatividade na actividade médico-científica e mostrar as capacidades literárias e artísticas de um grupo profissional que a sociedade esperava que fosse somente científica mas que busca na arte uma forma de realização pessoal”.

Para o efeito, a exposição que abre portas amanhã, é uma mostra variada e capaz de reflectir a “diversidade de pensares e modos de estar das várias comunidades existentes no território”. A ideia é ainda dar a conhecer “a pluralidade criativa dos homens e mulheres da Ciência”. Em exibição estarão trabalhos de médicos e enfermeiros artistas como é o caso de Arlinda Frota, Chow Kam Ching, Choi Weng Chi, Elizabeth Fernandes, Ip Chi Tat, Josefine Ho, Lei Chio Leong, Mui Lei Chui Ha e Wong Keong.

A UMEAL é uma entidade que congrega médicos escritores e artistas que falam a língua portuguesa. Foi fundada em 1992 e integra associações médicas de Portugal (Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos – SOPEAM), do Brasil (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES) e de Moçambique (Associação Moçambicana de Escritores e Artistas Médicos – AMEAM).

31 Out 2017

China | Cooperação marítima “essencial” na colaboração com Portugal

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] director da Administração do Oceano do Estado chinês (SOA), Wang Hong, disse ontem que a cooperação marítima é “parte essencial” da colaboração entre Portugal e a China, apontando o novo perfil da diplomacia chinesa.

“O oceano é uma porta importante para a China abraçar todo o mundo”, lembrou Hong, durante um seminário em Pequim, que contou com a presença da ministra do Mar portuguesa, Ana Paula Vitorino.

Vitorino encontra-se numa visita de oito dias à China, com uma comitiva que inclui 39 empresas portuguesas.

Wang Hong afirmou que o “Governo chinês está disposto a definir um novo quadro de parceria azul com diferentes países”, visando uma globalização económica “mais aberta, exclusiva e benéfica para todos”.

Pequim investiu nos últimos anos em dezenas de portos por todo o mundo, desde a Austrália à Europa, convertendo os operadores portuários chineses em líderes mundiais.

Em 2015, quase dois terços dos 50 maiores portos de contentores do mundo tinham recebido investimento chinês, segundo uma pesquisa realizada pelo jornal Financial Times.

Os investimentos fazem parte da nova dinâmica da diplomacia da China, que desde a ascensão ao poder do Presidente Xi Jinping quebrou com a presença discreta na cena internacional, para se assumir como uma grande potência, pronta a intervir nas questões globais.

Grande plano

O seminário de ontem foi dedicado à cooperação marítima entre Portugal e a China no âmbito de um gigante projecto de infra-estruturas lançado por Xi, que coloca a China no centro da futura ordem mundial.

Designado ‘Faixa e Rota’, o plano visa reactivar a antiga via comercial entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e sudeste Asiático.

Inclui uma malha ferroviária de alta velocidade, portos e auto-estradas, e vai abranger 65 países e 4,4 mil milhões de pessoas – cerca de 60% da população mundial.

Portugal já afirmou por várias vezes a intenção de integrar a iniciativa, com a inclusão do porto de Sines.

Na sua intervenção, Ana Paula Vitorino lembrou que “Portugal se quer afirmar como um ‘hub’ logístico e global na área atlântica” e “duplicar o valor da economia azul”, para passar a figurar entre as cinco economias do mundo em que as actividades marítimas têm maior peso no conjunto da economia.

“Somos um pequeno país em área imersa e um grande país já hoje em toda a área sob soberania nacional”, disse.

31 Out 2017

BMW tinha outros planos para Félix da Costa

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] lista de inscritos da 10ª edição da Taça GT Macau e 3ª edição da Taça do Mundo FIA de GT é uma das mais fortes, talvez mesmo a mais forte, do programa da 64ª edição do Grande Prémio de Macau. Contudo, há uma ausência que se destaca entre tantos nomes sonantes, o de António Félix da Costa.

Com dois triunfos no Grande Prémio de Fórmula 3, o piloto português era uma opção evidente para a BMW para a prova de Grande Turismo do território, mas o construtor de Munique acabou por apostar no brasileiro Augusto Farfus Jr, no alemão Marco Wittmann e no australiano Chaz Mostert para conduzirem os BMW M6 GT3 oficiais, ou semi-oficiais, nas ruas do território.

Félix da Costa ficou obviamente desapontado com a escolha da BMW Motorsport, mas está consciente que o construtor germânico tem outras prioridades delineadas para si. “Infelizmente este ano não vou correr em Macau, pois é um evento muito especial ao qual adoraria regressar nos GTs”, revelou o piloto da linha de Cascais ao HM, explicando que “temos compromissos de Fórmula E nessa altura e o campeonato começa logo no fim-de-semana seguinte, pelo que a BMW optou por outros pilotos, de forma a que eu me possa concentrar na Fórmula E!”

Félix da Costa renovou com a MS&AD Andretti, a equipa oficial da BMW Motorsport na competição de carros eléctricos cuja quarta temporada arranca no fim-de-semana de 2 e 3 de Dezembro aqui ao lado nas ruas de Hong Kong.

Em Macau para ensinar

Apesar de não ter responsabilidades ao volante de 16 a 19 de Novembro, o piloto luso deverá estar presente no evento, numa função bastante diferente, mas igualmente importante. “É quase certo que esteja em Macau, mas do lado de fora, com outras funções”, disse ainda Félix da Costa ao HM.  Dada a sua rapidez e experiência neste circuito singular aos comandos dos Dallara de Fórmula 3, o piloto luso tem sido requisitado por vários pilotos e equipas para exercer a posição de “driver coach”.

Além do envolvimento no Campeonato FIA de Fórmula E, Félix da Costa também exerce um papel preponderante no novo programa desportivo da BMW Motorsport no Campeonato do Mundo FIA de Endurance, sendo um dos pilotos de testes do novo BMW M8 GTE.

27 Out 2017

Futebol de Sete | Desperdício leonino coloca meias-finais em risco

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Sporting de Macau mostrou-se muito perdulário diante do Ka I e com uma derrota por 2-1 fica a precisar de ganhar ao Benfica para sonhar com as meias do Torneio de Futebol de Sete.

O Ka I derrotou o Sporting por 2-1 e está a um “pequeno” passo de garantir a presença nas meias-finais do Torneio de Futebol de Sete. Na quarta-feira, no Canídromo, os comandados por Josecler não facilitaram, principalmente na altura de concretizar, e levaram de vencida os leões, numa partida equilibrada e bem disputada.

Para o Sporting o encontro era o primeiro de dois match-points para garantir o apuramento. Com a derrota, os jogadores treinados por Nuno Capela precisam de ganhar ao Benfica, em jogo que ainda não tem data definida. Já o Ka I conseguiu o triunfo que lhe permite estar novamente em posição de apuramento para as “meias”.

Na quarta-feira à noite, Samoel Ramosoeu foi o atleta em maior destaque, mas nem sempre pelos melhores motivos. O jogador apontou dois golos, mas foi também o responsável pela perda de bola que permitiu a Cissé marcar para o Sporting.

Apesar dos leões terem entrado melhor na partida, foi Ramosoeu que inaugurou o marcador, aos 16 minutos, colocando na altura o Ka I a vencer por 1-0. Já no segundo tempo, Cissé respondeu, aos 24 minutos, mas Ramosoeu emendou o erro, e aos 27 minutos fez o golo da vitória.

“O Sporting teve duas oportunidades muito claras de golo, creio que através de Fabrício. Mas por felicidade não sofremos golo, e depois conseguimos fazer o 1-0. O Samoel ainda teve depois uma jogada em que perdeu a bola que permitiu o empate, mas redimiu-se com o golo da vitória”, disse Josecler, ao HM.

“Foi um bom jogo e acredito que a vitória foi merecida. Era um jogo que precisávamos de ganhar para nos apurarmos e conseguimos. Pode haver outras leituras, mas acho que controlámos bem o jogo e agora que temos de ganhar à Polícia”, acrescentou.

Também o técnico do Sporting, Nuno Capela, reclamou o domínio do encontro, considerando que a equipa teve o melhor desempenho do torneio.

A equipa trabalhou bem e está de parabéns. Soube perceber o jogo, soube dominar, mas faltou marcar mais. Fomos infelizes, porque depois em situações em que devíamos ter sido mais agressivos a lutar pela bola sofremos dois golos”, explicou Nuno Capela, ao HM.

“Temos mais uma oportunidade diante do Benfica e acredito que depois desta exibição contra o Ka I, que a equipa sente que é capaz de jogar de igual para igual com qualquer equipa”, acrescentou.

Nos restantes encontros de quarta-feira referentes ao Grupo B, o Benfica superiorizou-se à Polícia A, com golos, ainda na primeira parte, de Carlos Leonel, aos 10 minutos, e Nikki Torrão, aos 16.

Cheng Fung e Kei Lun apurados

Antes dos jogos de hoje, Ka I, Sporting e Benfica estão na frente com seis pontos, seguidos por Polícia e Chiba, com um ponto, cada. Hoje, entram em acção no Canídromo, a partir das 18h30, Polícia A e Ka I, e às 19h30, Benfica e Chiba. Caso Ka I e Benfica ganhem os respectivos encontros, o jogo em atraso entre águias e leões torna-se decisivo para escolher a equipa que se junta ao Ka I nas meiasfinais.

No Grupo A, Cheng Fung e Kei Lun já garantiram o apuramento, depois de na quarta-feira, o Cheng Fung ter batido a Polícia B por 1-0, com um golo de Chao Long Hong, e selou o apuramento das duas formações. No outro encontro, Monte Carlo e Lam Pak empataram a uma bola.

Nesta altura, o Cheng Fung lidera o grupo com nove pontos, seguido de Kei Lun com seis pontos. Polícia B e Lam Pak estão nas posições seguintes, com dois pontos, sendo que os últimos lugares do grupo são ocupados por Sub-23 e Monte Carlo, com um ponto. Hoje o Kei Lun defronta os Sub-23, e o Lam Pak tem pela frente o Cheng Fung.

27 Out 2017

Xian Xing Hai ao serviço da Revolução

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] génio de Xian Xing Hai (冼星海), como músico e compositor, contrasta com as grandes privações e dificuldades materiais por que passou durante toda a vida e a sua luta quotidiana, levada pela vontade de aprender e de aperfeiçoamento, transmitiu-a pela acção política, aliando-a com a sua obra artística. No artigo da semana passada, escrevemos sobre a sua vida, desde 1905, quando nasceu em Macau, onde passou os primeiros seis anos, até regressar com trinta anos a Xangai, após os estudos feitos em Singapura, Cantão e Pequim e entre 1929 e 1935 em Paris. As criações durante a estadia em França marcaram a primeira das suas quatro fases musicais e “inclinam-se para o recital, o canto e a música de câmara”, como refere Wang Ci Zhao no artigo ‘A Vida e a Obra do Compositor Xian Xing Hai’ (R.C. n.º 26, II Série), de onde retiramos as citações.

Já em Xangai, no Verão de 1935 começou a trabalhar no manuscrito que viria a ser a sua primeira sinfonia, terminando dois anos depois o esboço inicial da partitura da obra ‘Emancipação Nacional’, ou ‘Libertação do Povo’.

Em 1936, “com o apoio de amigos conseguiu colocação na Companhia de Discos Bai Dai e na Companhia Cinematográfica Xin Hua, como compositor”, segundo Wang Ci Zhao, que adita, “Quando começou a guerra de resistência contra o Japão, em 1937, participou na ‘Associação de Canto para a Salvação Nacional’ de Xangai, como funcionário dos Assuntos Gerais. Deixou Xangai com o ‘II Grupo Ambulante de Teatro no Tempo da Guerra’ e passou por Suzhou, Nanjing, Kaifeng e Luoyang, para chegar em Outubro a Wuhan, centro da resistência”.

Veiga Jardim no artigo ‘Três Compositores de Macau’, na Revista Macau de Fevereiro 1994, refere, “Nessa época turbulenta, a sua arma foi a música, através da qual retratava os anseios de liberdade da nação chinesa. Compõe neste período a obra que o tornaria imortal: a Cantata do Rio Amarelo, mais tarde transformada, por membros da Sociedade Filarmónica Central da China, no Concerto para piano do mesmo nome. Após um breve período a trabalhar em estúdios de cinema, em 1938 é apontado director da Academia de Música da cidade de Lu Hsun (Yanan).” Já Wang Ci Zhao diz, “Em Abril de 1938, ingressou na III Repartição do Departamento de Política do Conselho Militar do Governo Nacionalista, dirigida por Guo Moruo [que em conjunto com Lu Xun, pseudónimo literário de Zhou Shuren, entre 1927 e 1928 tinham desencadeado o movimento literário revolucionário] e assumiu, juntamente com Zhang Chu, as responsabilidades do Trabalho Musical da Guerra de Resistência, ao mesmo tempo que se dedica às actividades de criação musical”. Nesta segunda fase, “As criações realizadas durante a estadia em Xangai e Wuhan, de 1935 a 1938, são principalmente adaptações musicais para o cinema progressista e canções de salvação nacional. O estilo é claramente influenciado pela nova música da China, cujo autor mais representativo é Nie Er. O seu conteúdo reflecte o ardor patriótico e as exigências anti-monárquicas e anti-feudalistas”, Wang Ci Zhao.

Em Wuhan, conheceu Qian Yun Ling (钱韵玲), filha de Qian Yi Shi (um conhecido membro do Partido Comunista) e a 20 Julho de 1938 celebraram o noivado, tendo Zhou Enlai patrocinado a viagem de lua-de-mel. Assim partiram de Wuhan para Xian e encontrava-se já casado quando chegou a Yanan.

“Em Novembro de 1938 aceitou o convite do recém-criado Instituto de Artes de Lu Xun, de Yanan, para onde se deslocou com a mulher para desempenhar as funções de professor do Departamento de Música, assumindo a responsabilidade pedagógica dos cursos principais, nas áreas de Teoria da Composição, História da Música e Direcção de Orquestra”, segundo Wang Ci Zhao.

A situação na China

Desde a morte de Sun Yat-Sen em 1925, na China vivia-se tempos difíceis, ocorrendo a luta interna no Guomintang, liderado por Chiang Kai-shek (1887-1975), que em 1927 expulsou os comunistas do Partido Nacionalista.

A 18 de Setembro de 1931 o exército japonês invadiu Shenyang, ocupando em quatro meses todo o Nordeste chinês (Liaoning, Jilin e Heilongjiang), cometendo graves atrocidades contra o povo chinês. Depois criaram o Estado do Manchukuo (1932-1945), com a capital em Changchun, na província de Jilin e colocaram o antigo imperador manchu Pu Yi, destronado em 1912 pela República de Sun Yat-sen, de novo como imperador, agora da Manchúria.

Wang Ming (1905-1974), chefe do Partido Comunista entre 1931 a 1935, era um dirigente pró-soviético e encontrava-se quase sempre em Moscovo. Por isso, em Janeiro de 1935 Mao Zedong ficou como líder do Partido Comunista e do Exército Vermelho. Tal deveu-se aos muitos erros estratégicos de comando em Outubro de 1934, quando o Exército Vermelho teve de retirar-se das províncias de Fujian e Jiangxi, dando-se início à Longa Marcha, que ocorreu até 1936 e durante a qual os comunistas, liderados por Mao Zedong, conseguiram evitar ser aniquilados pelas tropas de Chiang Kai-shek. Dos iniciais 130 mil participantes sobreviveram 30 mil, com quem Mao montou o seu exército.

Esperava-se que a Guerra Civil travada na China entre o Partido Nacionalista (GMT) e o Comunista (PCC) fosse suspensa para combater os invasores japoneses, mas tal não aconteceu. Os estudantes, descontentes com a política do Guomintang de não resistência à ocupação japonesa e virado apenas para o combate contra o PCC, a 9 de Dezembro de 1935 saíram em protesto à rua em Beiping (Beijing). Conhecido por Movimento de 9 de Dezembro de 1935, este movimento estudantil, que se estendeu a outras cidades, procurou colocar o foco na resistência à invasão japonesa. Também a tentativa do Partido Comunista, em conjunto com muitos dos líderes do GMT, para terminar com a guerra civil e combaterem juntos os japoneses, foi minada por Chiang Kai-shek. Este, tirando partido dessa aliança, tentou derrotar as forças comunistas em 31 de Outubro de 1936, quando deu ordens aos seus exércitos para atacarem o dividido Exército Vermelho, que em conjunto com as tropas do GMT combatiam os japoneses. Valeu ao Exército Vermelho os generais Zhang Xueliang e Yang Hucheng, à frente do exército nacionalista da região centro, não acatarem as ordens e assim conseguiu sair incólume do episódio conhecido por Incidente de Xian. Em 12 de Dezembro 1936, com a prisão de Chiang Kai-shek (libertado uma semana depois) e outros 12 comandantes, terminou a guerra civil, passando-se então a combater os japoneses. Mas era já demasiado tarde!

A 7 de Julho de 1937 os japoneses invadiram Beijing (Pequim) e depois atacaram o resto do país. Em 12 de Novembro de 1937 conquistaram Shanghai (Xangai), tendo morrido 60 mil pessoas e daí dirigiram-se para a capital da China, Nanjing, onde o Guomintang estabelecera a sua capital em 1928. Após um cerco, a 13 de Dezembro a cidade cedeu e deu-se o massacre de Nanjing.

Os japoneses ocuparam grande parte da China até ao fim da II Guerra Mundial, quando o Japão se rendeu incondicionalmente em 1945, ano em que faleceu Xian Xing Hai.

“Em Novembro de 1938 aceitou o convite do recém-criado Instituto de Artes de Lu Xun, de Yanan, para onde se deslocou com a mulher para desempenhar as funções de professor do Departamento de Música, assumindo a responsabilidade pedagógica dos cursos principais, nas áreas de Teoria da Composição, História da Música e Direcção de Orquestra.”

Wang Ci Zhao

27 Out 2017

Ideias de ver a deus

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]deus é uma palavra tão em desuso.

Fico aqui a pensar, agora que me sento finalmente aqui, junto às palavras. Elas a brincar em redor, umas, a seduzir-me, outras, a fugir, uma boa parte delas. E submersas, aquelas outras. Como a parte maior, mergulhada fundo e a desconhecer. Dos icebergues. A não deixar, como estes, começar a perder a sua natureza e mudar toda a outra. Degelar por toda a terra e mar a subir. E que estas palavras eram para ser um pouco outras, logo no início. Tantas vezes acontece. Como as cerejas que sempre trazem outras alegremente agarradas. A fazer força para acompanhar as que partem levadas por mão amante, ou para ficar como se todas ou nenhuma. Fossem sempre as palavras tão belas e saborosas como cerejas. Quando são boas. E quando são boas, são – santo deus – tão boas. Sentei-me aqui a pensar em deus. Em Deus, talvez. A pensar como e quando penso em deus, porque será que penso. Andei a pensar nisto ao longo do dia. Como penso ao longo de outros dias. Aos pedaços, entremeando tantos outros pensamentos e tantas outras coisas que coladas fizeram o dia. E sempre a pensar e sem conseguir distingui-lo com a maiúscula inicial. E sempre sem ter a certeza de que o pensava em minúsculas.

E, repentinamente, salta como uma suave intrusa esta outra palavra cuja ligação à ideia que trazia – eu – me distrai – ela – no pensar que talvez dizer adeus seja, por defeito, dizer até sempre. Ligando essa ilusão de eternidade com que a ideia de deus anda a par – e com que se beija à despedida aqueles de quem gostamos muito e para os quais queremos existir sempre e para sempre – a um instante de ausência eminente. Porque dizer adeus parece uma expressão carregada de inexistência a vir, maculada de uma tonalidade definitiva e talvez mesmo por isso tão menos usada hoje. Em que mundo se corre como se não houvesse distância, em que o éter do espaço cibernético nos traz vozes longínquas a qualquer momento como se no quarto ao lado e em que tudo parece tão transitório que nada se sabe sobre o devir de uma palavra de despedida.

E depois penso, que todas as palavras em momentos importantes, deveriam ser como as roupas de ver a deus. As melhores as mais límpidas e reservadas para nos apresentarmos sem mácula, no nosso melhor. Como antigamente se guardava o melhor fato para ir à missa. Ou, numa acepção mais ampla, para os domingos. Talvez os dias, então, das coisas maiores da vida. E aí, sem fingimentos, sem teatralização de nenhum sentir, as pessoas apresentavam-se, por vezes, como nunca nos outros dias. Algumas com os únicos sapatos menos castigados pelo tempo e o trabalho, e, mesmo velhos de anos, engraxados a brilhar como estrelas. A camisa branca de casamentos e funerais, imaculada. Mesmo se puída nos punhos e colarinhos. E uma alma, capaz de confessar todos os pecados e começar de novo. A semana. Ver a deus. Essa possibilidade de transcendência da insignificância que se sente ser. Talvez. De esperança.  Que não tenho.

Às vezes tenho pena. Uma pena enorme de não o sentir. Mas é uma imagem pejada de monstruosidades egocêntricas. Formulada pela natureza humana à sua imagem e semelhança. Ameaçadora de uma natureza vigilante e castigadora. Num sistema de trocas. Tudo o que me faz detestar uma ideia que faz jus á escala humana. O humano na tentativa de formular o transcendente. De o enquadrar numa moldura reconhecível em que a pintura não é bela. Mas há outras ideias soltas e possíveis. Para quem tenha uma fé, não reduzida a essa imagem. Ideias possíveis, que talvez um dia envolvam um espectador desprevenido num conforto etéreo e acalentador. Parece-me uma paisagem possível de vir à mente e se instalar como tantas outras igualmente fugidias ao tacto. Não penso que me venha a acontecer. Não espero. Não desejo. Mas é possível.

Não posso dizer que quando penso nele, ou Nele, procure um sentido qualquer que me falte. Ou mesmo que esse me falte, ou quando me falta, para além da profunda certeza de que a vida em si basta para se justificar a si própria em continuidade. É, na verdade um pensamento de que se me entretém a alma, sobretudo em momentos de alguma serenidade. O que explica que não me observo num interesse por um fenómeno que, se em si me intriga, o seja por razões de procura nesse lugar conceptual, que algo me acuda. À angústia, ao medo, ao desassossego ou ao desespero. A minha perplexidade é por pensar nele. E pensar se, só em si, esse não é um dos fundamentos de uma existência, que ao ser negada, se baseia numa outra expectativa, fórmula, imagem ou fantasia, em que – nessa – se diz e digo não se acreditar.

Não sei porque penso nele.

Sei que não acredito que acredite nele. Mas não me atormenta o assunto. Só não sei porque penso nele. E é isso que me faz reflectir. Que entre a comunidade científica muitos há que deixam em aberto a hipótese da existência, e que alguns, mesmo, fundamentem a inevitabilidade dessa, é um facto. Muitos filósofos encontram também argumentos e fundamentos para tal. Mas o que sempre me atormenta, é reconhecer em todos aqueles que mais reflectem neste assunto e muito mais sabem do que eu, a mesma e limitada contingência que me tolhe. Uma estrutura de pensamento que não pode transcender as fronteiras da razão culturalmente baseada na linguagem. Formuladas nas suas bases fundadoras por nós e para nós. Num circuito fechado de humanidade. Na impossibilidade de encontrar termos novos para o que é tão difícil de explicar senão à imagem do que se conhece. E ele, a ele, não se conhece. Ou a matemática. Esse outro mistério de abstracção cuja ligação ao real é tão difícil de absorver. Padrões, leis, equações complicadas como uma língua estranha a demonstrar modelos do universo. Uma noção do tempo e do espaço, que a nossa ínfima dimensão e experiência torna limítrofe. Como nos subúrbios de uma cidade maior. Haverá qualquer coisa de inexplicável com os curtos artefactos com que lidamos. Mais além. Para lá do abismo. À beira do qual ficamos a tentar alcançar com os sentidos, a explicar com as palavras que servem os rios mas não o sentido dos rios e o tempo antes dos rios. E bastaria pensar no tempo. Ficamos à beira. Talvez de deus. Sem alcançar.

No fundo, não me importa por hoje, avaliar a consistência do que não é demonstrável, mas possível, para além da capacidade conceptual com que tentamos entender todo este enorme fenómeno que é o universo. Essa enormidade basta para preencher a minha perplexidade, de abismais perguntas que não tenho dimensão para entender. A própria vida, exige respostas sem claramente formular as perguntas. Todos os dias. Deus, é só um ponto eventual e longínquo, mais atrás no antes do tempo. E que, a ser assim, ficará para muito depois, no depois do tempo. E que me intriga. Mas tão longe.

27 Out 2017

Caminhos tomados. Percursos feitos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]lex Cross (Morgan Freeman): Tu fazes o que és, Jezzie.

Jezzie Flannigan (Monica Potter): Queres dizer tu és o que fazes.

Alex Cross: Não. Eu quero dizer que tu fazes o que tu és, se nasceste com um dom. De outro modo, tornaste boa em qualquer coisa ao longo da vida. E aquilo em que tu fores boa, não podes tomar como garantido. Não o trais.

Jezzie Flannigan: E se tu traíres o teu dom?

Alex Cross: Então, trais-te a ti própria. É triste.

In A Conspiração da Aranha (Along Came a Spider, 2001)

Somos o que fazemos. É inexorável. “Fazer” tem múltiplos sentidos. “Fazer” pode ser exercer uma profissão, executar tarefas, desempenhar funções. Tem um sentido eminentemente pragmático. “Fazer” pode querer dizer “agir”. “Agir” é “pôr em prática”, mas também “omitir”. É dizer palavras da boca para fora ou cheias de significado. Ou calar-se. “Fazer” exprime acções aparentemente incompreensíveis. É quando se pergunta o que alguém está a fazer. É o que sempre fazemos e temos feito. Fazemos também nada ou tudo e mais alguma coisa.

Há uma razão para reduzirmos “ser” a “fazer”. O que é feito tem conteúdos e diversos, tem diversas camadas. Fazer enquanto trabalhar, produzir, agir, actuar, deixar estar tem o seu próprio sujeito. Somos o que fazemos em múltiplas frentes. O registo é biográfico. O seu espectro tão amplo quanto pode ser amplo tudo o que fazemos. Os interesses que temos, os nossos gostos, preferências, inclinações. O que fazemos resulta numa expressão de nós próprios. Fazer exprime o nosso ser. A nossa biblioteca de livros lidos, a discoteca com a banda sonora da nossa vida, os amigos que temos, toda a nossa produção profissional, consoante as profissões. Fazer é ser em acção. Mas pode ser também todas as palavras que pronunciamos e as que nem percebemos como nos vieram à cabeça. O que é feito, o que se faz, tem um conteúdo específico. Pode ser altamente especializado. Pode ser banal, como o café da manhã.

Quando somos o que fazemos, num sentido mais radical, não queremos dizer que somos o conteúdo do que fazemos. Não é o trabalho feito, independentemente das mais diversas profissões. Há profissões quase que exclusivamente remetidas para os outros e percebe-se que não somos os pacientes curados, os alunos formados, os clientes satisfeitos, os cidadãos felizes. Todas as profissões e trabalhos têm o outro como pano de fundo, mas directamente podem não estar ao serviço do público. Há quem trabalhe no escritório, portanto, indirectamente com o público e quem atenda ao público.

Fazer implica sempre um conteúdo e tempo, muito ou pouco. Pode fazer-se sempre a mesma coisa e pode fazer-se uma coisa uma vez na vida. O que se faz ou tem feito depende assim da vida que se leva. O próprio conteúdo da vida, fixo em diários, agendas e biografias, com o seu ritmo e o seu tempo- é o que fazemos.

O que fazemos não é assim apenas o que produzimos, o resultado do trabalho, pensamento, palavras, actos e omissões. É também o tempo do lazer, quando não fazemos nada, desanuviamos, espraiamos, vamos apanhar ar. Há quem não faça nada a vida inteira. Há quem esteja sempre a fazer coisas. Ainda assim, oscilamos entre as horas em que fazemos o que fazemos e as horas em que não fazemos nada. Estamos sempre a fazer alguma coisa, então. A vida que temos é a vida que levamos. Todas as nossas acções resultam de escolhas. As escolhas implicam acções.

Mas se somos o que fazemos, parece que reduzimos todo o nosso ser, a vida que levamos e temos, à ponta de um Iceberg. É, sem dúvida, a nossa realidade. Não podemos negar que fazemos o que fazemos, porque é esse o conteúdo das nossas vidas. O que fazemos expressa como conteúdo a nossa vida. E, contudo, há um elemento casual, acidental, no que fazemos. Os outros que encontramos influenciam as nossas escolhas. Seguimos rumos numa direcção e não noutras. Retomamos possibilidades abandonadas no caminho. Outras rejeitamos para sempre.

Podemos fazer o que somos? Pode o fundo do nosso ser acontecer-nos primariamente e só depois pôr em prática o que quer que isso seja? Podemos ocupar-nos e todos temos de trabalhar, podemos fazer a vida inteira tudo sem termos sido nós próprios? A saudade de um talento nunca tido, a possibilidade de um dom nunca reconhecido, a oportunidade de uma abertura nunca havida.

A vida pode ser o nada que é feito por não ter havido nada para ser. E, contudo, estamos continuamente forçados a ser, a ter de ser. Mesmo sem nunca termos sido nós próprios, até quando nunca pudemos fazer nada. Somos nada, quando nada fizemos. Somos nada, tendo tudo feito?

27 Out 2017

Cinema | Extensão de Macau do DocLisboa arranca na segunda-feira

A grande festa lisboeta do cinema documental chega a Macau pela quinta vez. De 30 de Outubro a 4 de Novembro serão exibidas nove películas de realizadores portugueses apresentadas na 14ª edição do DocLisboa, assim como quadro filmes produzidos localmente

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s amantes do cinema documental têm motivos para estarem contentes com a semana que se aproxima. Segunda-feira começa a extensão de Macau do festival DocLisboa, uma parceria que já vai na quinta edição e que conta com um cartaz com projecções até sábado dia 4 de Novembro.

O evento organizado pelo IPOR, e que se realiza na Sala Dr. Stanley Ho, no Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, contará com nove obras de realizadores portugueses que já apresentaram as suas obras no XIV Festival Internacional de Cinema DocLisboa. Serão igualmente apresentados quatro filmes produzidos em Macau no âmbito da colaboração com o Programa Académico da União Europeia em Macau, a Creative Macau e a Inner Harbour.

A sessão que marca o arranque do festival tem no cartaz o filme “Crash” de Hong Heng Fai, “Outlander” de Lam Sin Tong, Jiang Minling, Kwok Fu Wa, “The Real Beauty Be Yourself”, de Cory Chio, Sandra Mo, Tania Tan, Betty Tam “Layla e Lancelot”, da portuguesa Joana Linda.

Na próxima terça-feira será a vez do multipremiado filme “Ama-San” de Cláudia Varejão, que arrebatou o melhor filme da Secção de Competição Portuguesa do Doclisboa. A película mostra a visão da cineasta sobre a vida de três mulheres que fazem pesca de mergulho em conjunto há três décadas na vila piscatória da Península de Shima, no Japão.   

Cartaz de peso

Entre os nomes dos cineastas que apresentam as suas obras em Macau destaque para Luciana Fina, Marília Rocha, Bruno Ferreira, Celso Rosa, Kate Saragaço-Gomes e Ana Isabel Freitas.

O festival encerrará com chave de ouro com o filme “O Espectador Espantado” de Edgar Pêra, uma película que inverte a lógica da visualização audiovisual virando a lente para quem vê um filme. A obra do conhecido realizador é uma espécie de manifesto ou ensaio de investigação sobre a natureza do espectador de cinema nas suas diferentes formas.

Na sessão de fecho será exibido também um filme local, “Macau, Música é Diferença”, de Catarina Cortesão Terra e Tomé Quadros. A película é um retrato da atmosfera cultural da cidade.

Em comunicado, o director do IPOR, João Neves, destaca o caminho e o carácter da extensão da conhecida mostra de cinema documental. É também dado destaque à forma como a criação documental portuguesa, local e do Interior da China se misturam num cartaz heterogéneo de qualidade.

27 Out 2017

PCC exalta Presidente Xi Jinping como pensador marxista

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Partido Comunista Chinês (PCC) elogiou ontem Xi Jinping como um “pensador marxista”, parte da intensa propaganda em torno da imagem do Presidente da China difundida pelo regime no arranque do seu segundo mandato.

O partido acrescentou o nome de Xi à constituição da formação política esta semana, numa decisão que o porta-voz do PCC Wang Xiaohui justificou pela sua “enorme contribuição” para a ideologia da organização.

A propaganda oficial tem promovido a imagem pessoal de Xi com uma intensidade inédita desde Mao Zedong, o fundador da República Popular, levando alguns analistas a sugerir que Xi está a construir um culto de personalidade ao estilo de Mao.

Wang rejeitou essa possibilidade, afirmando que Xi é o núcleo de uma liderança colectiva, e não um homem-forte isolado.

Xi Jinping, 64 anos, tornou-se esta semana no terceiro líder a acrescentar o seu nome à constituição do PCC, depois de Mao e Deng Xiaoping, o arquitecto-chefe das reformas económicas que transformaram a China.

A referência à Teoria de Deng Xiaoping foi acrescentada apenas após a sua morte. Antes de Xi, apenas Mao teve o seu nome inserido na constituição do partido ainda em vida.

“Usar os nomes de líderes do partido para teoria ou orientação ideológica é uma prática comum no movimento comunista internacional. Por exemplo, Marxismo, Leninismo, ou no nosso país o Pensamento de Mao Zedong ou a Teoria de Deng Xiaoping”, disse Wang Xiaohui, numa conferência difundida pela televisão.

Nome do saber

“O ‘socialismo com características chinesas numa nova era’ é a cristalização da sabedoria do partido e das massas”, acrescentou.

Wang lembrou que “[Xi] fez uma contribuição significativa para a criação desta teoria” e que, “por isso, o uso do seu nome é merecido”.

Termos associados aos antecessores de Xi – Jiang Zemin e Hu Jintao – foram acrescentados à constituição do partido, mas nenhum teve o seu nome mencionado.

Xi é o secretário-geral, Presidente e comandante-chefe das forças armadas chinesas, sendo o líder chinês que mais poderes acumulou desde Deng.

A sua campanha anticorrupção puniu 1,5 milhões de membros do partido, incluindo altas patentes do exército e um antigo membro do Comité Permanente do Politburo, afastando rivais políticos e possíveis sucessores.

O segundo mandato permitirá a Xi governar até 2022, mas a ausência de um sucessor óbvio entre a nova cúpula do regime leva observadores a apontarem que este tentará ficar no poder além dessa data, algo inédito na China nos últimos vinte anos.

27 Out 2017

Mais de metade das empresas financiadas pelo Fundo de Indústrias Culturais sem lucros

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de 60 por cento dos projectos financiados pelo Fundo das Indústrias Criativas (FIC) ainda não está a obter lucros. A informação foi deixada ontem por um membro do fundo, Davina Chu num encontro com a comunicação social.

“Neste momento só temos os relatórios de 70 projectos e destes mais de 60 por cento mostram que as empresas não têm tido lucros”, afirmou a responsável.

São 70 empresas ligadas às indústrias criativas, de entre os 133 projectos, que receberam financiamento desde 2013 do fundo criado para ajudar no desenvolvimento das indústrias culturais, de acordo com a política ligada à diversificação da economia.

A justificação para a falta de lucros dada por Davina Chu tem que ver com o facto de as empresas terem iniciado a actividade ainda “há pouco tempo”.

Os projectos que já apresentam resultados positivos são aqueles que “iniciaram actividade há mais tempo, por exemplo há dois anos, ou que já estavam activos antes mesmo de pedir apoio ao FIC”, referiu.

Apoios aos milhões

De Janeiro a Outubro deste ano, o FIC avaliou um total de 62 projectos candidatos a financiamento em que 53 foram aprovados, obtendo, no total, um apoio de 124 milhões de patacas. Deste montante, 76 milhões foram concedidos enquanto subsídio a fundo perdido e 47 milhões como empréstimos sem juros.

As áreas mais apoiadas pelo FIC, este ano, foram as do design criativo e media digital, e grande parte dos projectos aprovados é de empresas criadas recentemente, muitas delas no último ano.

De acordo com Davina Chu, “há cada vez mais empresas a recorrer ao financiamento disponibilizado pelo FIC o que mostra um interesse cada vez maior no investimento das industrias criativas locais”.

Desde que começou com o programa de apoios à indústrias culturais, o FIC apoiou um total de 133 projectos tendo disponibilizado 263 milhões de patacas. Destes apoios, mais de metade foi a fundo perdido e o restante em empréstimos sem juros.

O FIC não detectou até agora nenhuma falha nos compromissos assumidos pelas empresas ou irregularidades no cumprimento das suas obrigações.

No entanto, salientou a representante do Fundo, “caso venham a ser registadas situações que não estejam em conformidade com as regras do financiamento, o apoio é imediatamente cancelado e os valores adiantados têm de ser devolvidos”. Davina Chu esclareceu ainda que o FIC tem um processo de fiscalização que acompanha os trabalhos das empresas que financia.

O FIC tem um orçamento anual de 200 milhões de patacas e o financiamento a cada empresa tem um tecto máximo de nove milhões de patacas.

Futuro integrado

Para 2018, o Fundo pretende apoiar projectos mais específicos e as apostas são direccionadas a empresas com iniciativas comunitárias para “encorajar as empresas nos bairros a aperfeiçoar os programas culturais”. Outra das prioridades é o apoio na constituição de marcas locais, nomeadamente nos sectores do design de moda, exposições e espectáculos culturais ao mesmo tempo em que incentiva as empresas a adaptarem os seus produtos às políticas “Uma Faixa , Uma Rota”, e “A Grande Baía Guandong-Hong Kong-Macau”. De acordo com Davina Chu, a ideia é promover planos de apoio às empresas “que reúnam as condições para executarem projectos de cooperação”.

27 Out 2017

Atracções inglesas vão inspirar renovação de Sands Cotai Central

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] concessionária Sands China vai transformar o Sands Cotai Central num hotel inspirado em Londres, que vai ter como nome Londoner, ou seja Londrino, em português. A revelação foi feita na madrugada de ontem, com a apresentação dos resultados das empresa durante o terceiro trimestre.

A empresa desvendou um plano para investir 1,1 mil milhões de dólares norte-americanos na renovação de alguns dos espaços que controla em Macau, nos próximos três anos. Desse valor, cerca de 700 milhões vão ser utilizados na criação do Londoner.

A concessionária aposta em desenvolver mais um hotel inspirado em cidades europeias, depois de já ter construído o Venetian e o Parisian, à imagem de Veneza e Paris.

“Com três hotéis icónicos inspirados em destinos turísticos europeus vamos reforçar o nosso serviços aos clientes e a capacidade de promoção ao nível de marketing. Acreditamos que desta forma nos vamos posicionar para crescer mais depressa do que o mercado em Macau”, afirmou Sheldon Adelson, presidente da empresa.

Entre o investimento de 1,1 milhões consta igualmente um plano para expandir o Hotel Four Seasons com a criação de mais 295 quartos de hotel, numa torre separada. Esta operação terá um custo aproximado de 250 milhões de dólares.

Segundo as informações avançadas na apresentação dos resultados por Sheldon Adelson, as obras vão começar no segundo trimestre do próximo ano e vão durar entre um ano e meio e dois anos para serem finalizadas.

Lucros a subir

Em relação aos lucros no terceiro trimestre do ano, a Sands China, empresa detém a licença de jogo para Macau, viu os lucros crescerem 24,4 por cento para os 403 milhões de dólares-norte americanos. Um valor que tinha sido de 324 milhões no mesmo período do ano passado.

No comunicado de ontem à Bolsa de Hong Kong, Sheldon Adelson definiu o trimestre entre Julho e Setembro deste ano como o melhor desde 2014. O magnata do jogo de 84 anos explicou igualmente que face ao ano passado número de visitantes aos hotéis e casinos da operadora cresceu 26 por cento.

27 Out 2017

Condução | Governo quer reconhecer cartas do Continente

O Executivo está a negociar um plano de reconhecimento mútuo das cartas de condução entre Macau e o Interior da China, que vai permitir a todas as pessoas do Continente conduzirem no território

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s cidadãos do Interior da China vão passar a ter a carta de condução para veículos ligeiros reconhecida em Macau, o que os vai habilitar a conduzir no território. É esta a intenção do Governo, que está a negociar com as autoridades do Continente um plano para o reconhecimento mútuo de cartas de condução.

A medida vai igualmente ser aplicada aos residentes permanentes que queiram conduzir no outro lado da fronteira e foi anunciada, ontem, por Lam Hin San, director da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Trânsito, no final do  Conselho Consultivo de Trânsito.

De acordo com o director da DSAT, a medida visa ajudar os residentes de Macau que querem ter a sua carta reconhecida no Interior da China. O número de pessoas que se propôs a exame de condução no Interior foi de seis mil, ou seja menos de um por cento da população.

“Vai ser uma medida muito benéfica para os jovens de Macau que no futuro vão poder conduzir na zona da Grande Baía”, começou por argumentar Lam Hin San. “As pessoas até vão poder conduzir em Pequim e Xangai”, acrescentou.

O director da DSAT rejeitou ainda qualquer ameaça à segurança na estrada, pelo facto de haver mais pessoas do Interior a conduzir em Macau. Segundo o responsável, o Governo estima que os acidentes aumentem menos de um por cento: “Toda a gente ama a sua vida, ninguém é maluco!”, sublinhou sobre a cautela do Governo com as questões de segurança.

Argumentos não convencem

No entanto, o argumento não convenceu dois dos membros do Conselho Consultivo de Trânsito, que recusaram, por agora, dar o aval à decisão. O responsável sublinhou ainda que os exames de condução no Interior estão cada vez mais rigorosos.

“Os dois membros estão preocupados com o aumento do número de acidentes se vierem os residentes do Interior”, contou.

Por outro lado, Lam Hin San apontou o exemplo de Hong Kong, que já aplicou esta a medida há cerca de três anos: “Tomámos Hong Kong como referência e nos três anos e não vemos grandes problemas. Para nós este exemplo é a prova de que não vai haver problemas”, frisou.

A medida não se aplica a cartas para veículos pesados nem vai permitir a entrada de carros do Interior da China, sem matrícula dupla, em Macau. Por agora, os pormenores sobre as formalidades são escassos, uma vez que, explicou Lam Hin San, as negociações com as autoridades do Interior ainda estão a decorrer.

Também ontem no Conselho Consultivo de Trânsito foi discutida a introdução de um mecanismo nos autocarros que vai permitir contar o número de pessoas dentro dos veículos. O objectivo da proposta passa por ajudar o Governo a perceber se é necessário reforçar as rotas. Ao mesmo tempo, as pessoas também vão ter acesso à informação, através dos dispositivos móveis, para saberem se o autocarro que querem apanhar está cheio.

Parques fecham com sinal n.º 3

Os parques de estacionamento públicos subterrâneos vão passar a encerrar quando for içado o sinal número 3 de tufão ou for lançado o aviso de “storm surge” número dois. Segundo um estudo do Governo, existem 13 parques que podem ser afectados por tufão ou chuvas intensas, pelo que o Conselho Consultivo de Trânsito concorda que os espaços sejam encerrados para evitar que as pessoas fiquem presas. As instalações de retenção de águas destes parques vão igualmente ser aumentados até 1,5 metros. As obras de melhoria devem ficar concluídas até meados do próximo ano.

Condutor pára em passadeira e ataca carro

Um condutor parou o carro bruscamente em cima de uma passadeira e atirou-se, a pé juntos, contra o capot de outra viatura, na zona do Patane. O caso foi revelado ontem nas redes sociais, através de um vídeo captado pela pessoa que conduzia a viatura atacada. Depois do ataque, o agressor deslocou-se aos gritos para a porta do condutor da viatura atacada, altura em que o vídeo acaba. Segundo a data que consta nas imagens, o caso terá acontecido ontem de manhã, por volta das 8h00.

27 Out 2017

Deficiência | Ho Ion Sang pede medidas eficazes de inclusão

Mais formação e interação para portadores de deficiência é o pedido de Ho Ion Sang. O deputado considera que o Governo não tem investido esforços suficientes neste sector. Há acções oficiais a decorrer, que, contudo , não atingem objectivos reais. Ho Ion Sang quer ainda mais profissionais a prestar serviço no ensino especial

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Ho Ion Sang pede mais integração laboral para os portadores de deficiência. A ideia é deixada em interpelação escrita onde o deputado acusa o Governo de não adoptar medidas efectivas para favorecer a integração de deficientes.

Para o tribuno, “os problemas existentes em matéria de protecção e emprego das pessoas com deficiência são, sem dúvida, ignorados”, lê-se no documento. Mais grave é, considera, quando se trata de uma faixa que já representa cerca de dois por cento da população, sendo que os dados estatísticos apontam para a existência de mais de 11 mil casos no território.

As políticas que têm sido adoptadas relativamente à integração dos deficientes não estão em consonância com o desenvolvimento económico local, que Macau “tem registado depois da transferência de administração”, refere. Ho Ion Sang lamenta que a situação dos portadores de deficiência seja “mais relevante que nunca”.

Emprego digno

O emprego surge como o meio mais eficaz para garantir a integração. No entanto a contratação desta faixa da população que apresenta condições para trabalhar é ainda muito precária e os maiores problemas residem na instabilidade dos empregos e no facto de as suas funções serem “muito simples”.

Com base nos dados estatísticos, e apesar das medidas que têm sido adoptadas, os números de trabalhadores portadores de deficiência, entre 2010 e 2016, indicavam a contratação de 288 pessoas. No que respeita aos programas de integração escolar, no ano passado o registo apontou apenas para 58 alunos que conseguiram emprego através do programa levado a cabo pelo Executivo. Os dados revelam que só metade dos alunos inscritos conseguiram ter trabalho através da iniciativa do Governo.

Serviços descomprometidos

A função pública, enquanto uma das maiores entidades empregadoras locais deveria dar o exemplo, no entanto, diz Ho Ion Sang, “há cerca de 70 pessoas portadoras de deficiência nos serviços públicos o que representa 0,23 por cento dos funcionários”.

Apesar de se tratar de uma população que apresenta limitações, esta não pode ser uma justificação para a situação de precariedade local.

As escolas devem ser o primeiro lugar onde a exclusão deve ser combatida. E o deputado manifesta o seu desagrado perante o facto de existirem ainda estabelecimentos de ensino a não acolherem mais deficientes. A razão aponta, é a falta de profissionais na área do ensino especial.

Neste sentido, o deputado apela ao Executivo a um maior investimento para que possam ser contratados especialistas. “Além disso, a falta de formação profissional em Macau também afecta directamente a empregabilidade e a escolha profissional de pessoas com deficiência”, acrescenta.

É preciso acção

Para resolver a situação, o tribuno questiona o Executivo acerca das medidas concretas a desenvolver neste sector dado que se trata de uma questão, além de carácter social, de justiça. “A justiça na educação e no emprego é a base para garantir a plena participação das pessoas com deficiência na sociedade e capaz de promover os seus interesses vitais”, pelo que, questiona, se o Executivo tem na agenda algumas medidas políticas capazes de promover a formação e empregabilidade nesta faixa.

Por outro lado, para Ho Ion Sang, é ainda importante ter em conta questões particulares a este assunto. O deputado apela ainda a melhorias nas condições de mobilidade capazes de favorecer a deslocação para os locais de trabalho daqueles que sofrem de deficiência.

27 Out 2017

AL | Coutinho entrega cartas a exigir reuniões abertas das comissões

O deputado José Pereira Coutinho entregou duas cartas para que a terceira e a segunda comissão permanente da Assembleia Legislativa passem a ter reuniões abertas, uma hipótese já levantada pelo presidente Ho Iat Seng

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á muito que se fala na necessidade de tornar públicas as reuniões das comissões permanentes da Assembleia Legislativa (AL), além das informações que são transmitidas aos jornalistas no final de cada encontro. Depois do presidente do hemiciclo, Ho Iat Seng, ter dito que o fim das reuniões à porta fechada poderiam ser uma realidade, mediante a iniciativa dos presidentes das comissões, o deputado José Pereira Coutinho decidiu avançar.

“Enviámos duas cartas para os presidentes da segunda e terceira comissões permanentes (Chan Chak Mo e Wong In Fai) solicitando a abertura das comissões”, disse ontem o deputado, e membro da terceira comissão, à margem de uma conferência de imprensa.

Coutinho garantiu que o facto de integrar apenas a terceira comissão não o impede de pedir a abertura de portas das reuniões da comissão presidida por Chan Chak Mo.

“[Chan Chak Mo] Não recebeu nenhum pedido e decidi mandar [a carta]. Sendo a AL a casa do povo deve estar disponível para toda a população. Não tenho nenhum impedimento, em termos de Regimento, para fazer pedidos pelas comissões das quais não faço parte”, frisou.

José Pereira Coutinho fez o mesmo pedido para a comissão de acompanhamento dos assuntos de administração pública, a que pertence, e que é presidida por Si Ka Lon.

“Sei que o deputado Si Ka Lon está aberto [a essa questão], mas vamos esperar”, acrescentou o deputado, cuja carta também faz referência às reuniões da comissão de acompanhamento dos assuntos de finanças públicas.

Apoios da lei sindical

É hoje apresentada, pela décima vez, a proposta de lei sindical no plenário da AL. José Pereira Coutinho mostra-se expectante quanto aos apoios que poderá obter.

“Falei com os democratas, acho que vão votar a favor, e os chamados tradicionais também. Vamos ver qual será o comportamento dos chamados liberais, como Agnes Lam. Os deputados de Fujian não apoiam, vamos ver qual será a atitude dos nomeados. Veremos se são académicos ou se são apoiantes de determinados sectores”, adiantou.

Coutinho assegurou ainda que “não gosta de perder tempo”. “Vamos ver se aquilo que disseram na campanha eleitoral corresponde à realidade”, frisou.

O deputado deu ontem uma conferência de imprensa na qualidade de presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), onde anunciou que esta entidade vai estar representada no Congresso da Internacional dos Serviços Públicos (Public Services International). Neste encontro José Pereira Coutinho vai abordar o sistema de queixas criado pela Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) e a ausência de uma legislação que proteja os funcionários públicos.

27 Out 2017

Ella Lei queixa-se de falta de acção contra condutores ilegais

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada ligada à Federação das Associações dos Moradores de Macau (FAOM), Ella Lei, exige que o Governo tome medidas activas de combate aos condutores não-residentes de veículos pesados que abusam do sistema de licenças especiais. É este o conteúdo de uma interpelação escrita enviada ao Executivo pela deputada.

No documento a legisladora justifica que devido a “normas ambíguas” e falta de um mecanismo de acompanhamento das licenças especiais, que nunca foi instituído, os condutores não-residentes acabam por prestar serviços de forma ilegal no território.

“De acordo com a lei, os não-residentes não podem trabalhar como motoristas em Macau. Contudo, devido a várias falhas na lei e uma supervisão deficiente, os condutores não-residentes abusam do sistema de licenças especiais”, começa por apontar Ella Lei.

“Será que a administração já tomou medidas claras para que não haja abusos nas licenças especiais?”, questiona a deputada

Caso único

Informa também Ella Lei, que em resposta a uma interpelação anterior, a Direcção de Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) revelou que entre Janeiro e Julho foram conduzidas 327 operações de inspecção a condutores de veículos pesados. Essas operações resultaram na detenção de um trabalhador ilegal e na detecção de 35 infracções. Porém, os números não convenceram a deputada, que refere que estes dados não reflectem a realidade do território.

Na interpelação, Ella Lei questiona também quando é que o Governo vai fazer uma revisão da lei que define as autorizações especiais para condução de veículos pesados por parte de não-residentes e recorda que a intenção de “aperfeiçoar” o estatuto foi anunciada há oito anos pelo Governo para combater a escalada deste fenómeno, mas que até agora a proposta ainda não foi apresentada.

27 Out 2017

Gabinetes de Ligação | Directores no Comité Central pode indicar aperto a Hong Kong

Com a entrada dos directores dos Gabinetes de Ligação de Macau e Hong Kong para o Comité Central do Partido Comunista Chinês a atenção de Pequim sobre as duas regiões especiais vai aumentar. Por cá, prevê-se que se intensifique o controlo económico, enquanto que na região vizinha o foco será político

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] anúncio no final do Congresso do Partido Comunista Central (PCC) dos membros que vão integrar o Comité Central indica um fortalecimento dos elos entre Pequim e as regiões administrativas especiais. Entre os 204 membros vão estar os directores dos gabinetes de ligação do Governo Central de Macau e Hong Kong, Zheng Xiaosong e Wang Zhimin, assim como o antigo director do organismo do território vizinho.

Os vários analistas da região compreendem esta medida como uma forma de aproximação de Pequim numa perspectiva de desenvolvimento da Grande Baía Guangdong – Hong Kong – Macau.

Para Larry So a entrada dos directores no seio do partido tem duas vertentes diferentes para as duas regiões, mas trará uma realidade conjunta: “haverá mais directivas concretas a vir directamente do Governo Central”. Porém, o académico entende que em Hong Kong, devido ao maior potencial de turbulência política, Pequim terá um controlo de natureza ideológica mais apertado.

Larry So acha que por cá “não há esse problema, uma vez que o território já tem um grande autocontrolo, mas em termos económicos Macau pode precisar de ajuda, incentivo e direcção do Governo Central”.

António Katchi entende que o controlo do PCC sobre as regiões administrativas especiais “já é imenso e salta à vista desarmada a submissão dos seus governantes à casta dirigente do PCC”. Por outro lado, o jurista acha que “os Governos de Macau e de Hong Kong não aproveitam plenamente a margem de autonomia que as Leis Básicas lhes concedem”.

Período de transição

Teme-se que esta inclusão no Comité Central seja mais uma manifestação da erosão dos segundos sistemas. No entanto, Larry So acha que essa possibilidade só poderá acontecer “se algo de muito severo ocorrer, um acontecimento incontrolável como aconteceu com a questão da Catalunha”.

Além disso, há um factor cultural a ter em conta neste aspecto: perder a face, ou manchar a reputação. “Em termos internacionais voltar atrás neste compromisso e encurtar o período de transição seria o equivalente a perder a face”, teoriza o académico.

António Katchi vê a questão da perspectiva jurídica. “A China está internacionalmente vinculada a manter o estatuto de Hong Kong e de Macau como regiões administrativas especiais até ao último minuto dos dias 30 de Junho de 2047 e 19 de Dezembro de 2049”, comenta. A revogação unilateral dos acordos teria à luz do direito internacional licitude duvidosa.

No entanto, o jurista não coloca as mãos no fogo, tanto mais que “a China não ratificou a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, a qual define em termos bastante limitativos as possibilidades de denúncia”.

27 Out 2017

LAG | Período de auscultações chegou ao fim. Será este o melhor modelo?

Terminou esta semana a ronda de reuniões do Chefe do Executivo com associações para a preparação das Linhas de Acção Governativa para 2018. Analistas consideram que este modelo de auscultação de opiniões para a preparação das principais políticas do território funciona, ainda que já quase tudo esteja definido à partida

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hama-se Linhas de Acção Governativa (LAG) e não é mais do que o principal pacotes de medidas que o Governo se propõe implementar num ano, pelas cinco tutelas.

Antes de anunciar o plano governativo, o Chefe do Executivo reúne-se com um grupo de associações, na sua maioria ligadas aos sectores mais tradicionais de Macau, sem esquecer as associações que representam os trabalhadores da Função Pública.

As LAG para 2018 serão apresentadas no próximo dia 14 de Novembro e a ronda de auscultações terminou esta semana. Das inúmeras associações que existem em Macau, Chui Sai On optou por reunir-se com nove delas (ver texto secundário).

O HM questionou o gabinete do Chefe do Executivo para saber se haverá margem de mudança relativamente ao modelo existente, com a inclusão de mais e novas entidades associativas.

O Executivo considera, no entanto, que este processo de auscultação funciona e é abrangente. “No dia-a-dia o Chefe do Executivo e a sua equipa acolhem opiniões da sociedade como um todo, para além de um amplo leque de associações. O Governo da RAEM recolhe percepções do público normalmente, até mesmo fora de um calendário regular.”

Larry So

Além das associações, o Governo lembra que “tem estado a reunir impressões dos moradores”.

O académico Larry So considera que o Chefe do Executivo tem ouvido todos os sectores. “Todas estas associações, nas suas diferentes categorias, incluindo os pró-democratas, são ouvidos. A Associação Novo Macau não foi, mas José Pereira Coutinho (na qualidade de presidente da ATFPM), foi”, exemplificou.

O que falha é o facto das LAG já estarem, há muito, definidas, o que faz com que estes encontros acabem por não mudar o que já foi estabelecido, defendeu Larry So, que considera este processo uma espécie de “proforma”.

“Vejo as coisas desta maneira: o que esteve a ser feito agora, durante este mês, é uma forma suplementar de ter acesso a estas opiniões. Neste momento as LAG já estão delineadas e mesmo escritas, e não é com o que estão a ouvir agora que vão fazer alterações ao que já está estipulado”, acrescentou o académico.

Isto porque “a recolha de opiniões para as LAG tem de estar feita muito antes desta altura, pelo menos alguns meses”, frisou.

Para Larry So, “com esta recolha de opiniões o Governo está a vender a ideia de que está mais perto da comunidade. Pode ter [as opiniões] em conta para o futuro, mas não para as LAG deste ano”.

Jorge Fão, membro da direcção da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), que todos os anos é ouvida, acredita que estas reuniões não são uma mera formalidade.

“Não é bem assim. No passado não tem sido assim. Algumas propostas feitas pela APOMAC foram atendidas. Podem não vir a ser atendidas as propostas de todos.”

Como escolher?

Jorge Fão considera difícil definir que novas associações poderiam ser ouvidas.

“Existem cerca de oito mil associações em Macau. Quais deveriam ser escutadas? É sempre uma questão discutível. É difícil fazer uma opção, agrada a uns e não agrada a outros. As associações que foram ouvidas já o foram no passado, e o Governo naturalmente entendeu que são as mais representativas para aquilo que deseja saber. Podem aparecer outras, mas essas vieram depois, porque aqui nascem associações como cogumelos.”

O antigo deputado à Assembleia Legislativa considera até que a política de associativismo actualmente existente “limita, de alguma forma, a actuação do Governo”.

Jorge Fão

“O facto de existirem muitas vozes a falar acaba por condicionar a acção do Governo. Não há uma regra que limite a criação de associações. Ninguém sabe se funcionam, se têm sede. Há muitas associações fantasma. Têm os seus interesses ou os interesses dos seus grupos. E pergunto: o Governo consegue satisfazer os interesses de toda a gente? Ponho um ponto de interrogação.”

Jorge Fão dá até o exemplo das associações de croupiers, que se formaram nos anos recentes e que têm sido socialmente, e até politicamente, activas, tendo algumas delas reunido pontualmente com Chui Sai On.

“Vamos supor que as associações que já se formaram, ligadas aos croupiers, decidem fazer uma greve geral. O que vai acontecer? Vai derrubar o sector [do jogo]. A Lei Básica não proíbe manifestações e o exercício do direito à greve. Vamos imaginar que essas associações, movidas por interesses não sei de quem, [faziam essas exigências]. Poderia haver uma destruição das nossas receitas.”

“Amanhã [o Chefe do Executivo] até pode entender que já não tem intenções de ouvir a APOMAC, por mim tudo bem. Só tenho de aceitar”, rematou Jorge Fão.

Nestas reuniões o Chefe do Executivo faz-se sempre acompanhar, estando muitas vezes presente a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, ou a sua chefe de gabinete, O Lam. Mediante o assunto em causa, Chui Sai On é acompanhado por outros secretários.

Os encontros decorrem à porta fechada e não são divulgados previamente junto da imprensa, existindo apenas um comunicado oficial sobre os assuntos debatidos nessas reuniões, divulgado posteriormente.

 

Mais de duas mil opiniões

Nem só de associações se faz a recolha de opiniões para as LAG. Segundo um comunicado ontem difundido, o Governo terá recebido mais de duas mil opiniões entre os dias 11 e 25 de Outubro, pelo que o processo de recolha de opiniões “obteve resposta positiva por parte de todos os sectores da sociedade”. “Do rol de opiniões positivas apresentadas em relação ao Relatório das LAG, muitas incluem opiniões e sugestões que se centram na habitação, transporte, assistência médica, educação, segurança social e diversos tipos de medidas benéficas à população.”

Associações ouvidas

União das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM, ou Kaifong)

Associação Comercial de Macau (ACM)

Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM)

Federação da Juventude da China (FJC)

Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM)

Associação dos Técnicos de Administração Pública de Macau (ATAPM)

Associação dos Trabalhadores de Origem Chinesa de Macau (ATFOPC)

Associação Geral das Mulheres de Macau (AGM)

Associação dos Aposentados, Reformas e Pensionistas de Macau (APOMAC)

Paul Pun, secretário-geral da Caritas de Macau

O que as associações sugeriram ao Chefe do Executivo

Aperfeiçoamento do sistema jurídico (UGAMM)

Facilitar as condições de deslocação dos cidadãos (UGAMM)

Resolver o problema das inundações e aperfeiçoamento do mecanismo de resposta a catástrofes (UGAMM)

Aceleramento dos trabalhos de ordenamento do terminal de autocarros das Portas do Cerco (UGAMM)

Ajustamento salarial dos trabalhadores da Função Pública (ATFPM, ATFPOC e ATAPM)

Criação de um prémio de excelência para os funcionários públicos que participaram nos trabalhos de socorro do tufão Hato (ATFPOC)

Reforço da formação de quadros bilingues (ATFPM)

Uniformização interna do regime do pessoal do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (ATFPM)

Criação de uma entidade de formação no seio da Administração pública (ATAPM)

Reforço do ensino de prevenção de catástrofes junto de escolas (APOMAC)

Revisão do regime de pensão de sobrevivência e elevação do montante da pensão de idosos (APOMAC)

Reforço do ensino da história e cultura (FJC)

Mais estágios e intercâmbios com base na cooperação entre o Governo e o grupo Alibaba (FJC)

Criação de subsídios a rendas de lojas (FJC)

Revogar as limitações de importação a motoristas profissionais (ACM)

Assegurar a sobrevivência das PME após o tufão (ACM)

Fiscalização do mercado dos trabalhadores domésticos, através de legislação, nomeadamente da definição das responsabilidades das agências de emprego (AGM)

Melhoria da rede de transportes urbano para facilitar a deslocação dos cidadãos (AGM)

Promoção de um sistema de partilha de transporte (Paul Pun)

27 Out 2017