Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA China e a liderança na Ásia Oriental (I) “China’s rising power is chipping away at the unipolar structure of the world. The power gap between China and the United States continues to shrink. China’s rise will challenge the U.S policy of maintaining the balance of power in Asia. President Obama’s “pivot” to Asia is an effort to rebalance the distribution of power in the region. Most Asian nations prefer to have the United States as an offshore balancer, an option that they did not have in their pre-modern history. A security dilemma is operating in U.S.-China relations, causing a deepening strategic distrust between the two countries.” “Managing Hegemony in East Asia: China’s Rise in Historical Perspective” – Yuan-kang Wang [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China foi o poder dominante na Ásia Oriental durante séculos antes da chegada do imperialismo ocidental no século XIX. Após quase trinta anos de crescimento económico espectacular, a China está novamente preparada para retomar o seu lugar, como poder hegemónico regional. O argumento advém do facto da China, apesar das suas aspirações a um novo domínio na Ásia Oriental, ainda não estar em condições de desafiar a preponderância militar dos Estados Unidos no Pacífico Ocidental. Fazendo uso da epistemologia objectiva do neorrealismo e das ferramentas teóricas do realismo ofensivo, damo-nos conta das razões que motivam a China a querer ser o poder regional dominante. O desejo de hegemonia levou a acções contudentes nos mares do Leste e do Sul da China, bem como a um crescimento do nacionalismo chinês, o que conduziu alguns países da região a reforçar os seus laços com os Estados Unidos, aumentando as probabilidades da tentativa de formação de uma coligação de equilibrio, para conter a ideia da China de domínio regional. Todavia, é reconhecido que o crescimento aparentemente imparável da economia chinesa, em conjunto com o aumento dos gastos com a defesa, pode ser uma força irresistível a longo prazo, o que pode levar a uma situação, em que a maioria dos actores regionais concilie a necessidade económica, bem como a realidade militar, e aceite a primazia chinesa no Leste Asiático, conjuntamente com o aumento das despesas de defesa. A definição proeminente de hegemonia tem subjacente a ideia neo-gramsciana do consentimento, o que significa a aceitação do pensamento de hegemonia a liderar as forças sociais dentro de um determinado Estado. O termo mais correcto, é o proposto pelo cientista político americano, John Mearsheimer, que claramente o define no texto “The Gathering Storm: China’s Challenge to US Power in Asia” de 2010, desenvolvido no seu livro “The Tragedy of Great Power Politics”, e que desde 2001, data em que lançou a primeira versão da sua teoria sobre o realismo ofensivo, defende que a hegemonia é o facto de um país ser tão poderoso que domina todos os outros, ou seja, nenhum outro país tem os recursos militares para o enfrentar em um conflito sério. É de considerar que em essência, uma hegemonia é o único grande poder no sistema, pois de acordo com a teoria do realismo ofensivo, é natural que uma grande potência como a China procure a hegemonia regional, que é uma posição que os Estados Unidos actualmente detém no Hemisfério Ocidental. Ainda, considerando um sistema internacional anárquico, sem autoridade principal para recorrer, a sobrevivência é o principal objectivo, uma vez que os países nunca podem ter a certeza das intenções de outros actores. Assim, em um mundo de auto-ajuda, a China ganha por ser o poder mais seguro, económico e militar. Chegar à posição de ser uma hegemonia regional sem concorrentes de igual peso, dar-lhe-ia a capacidade de alterar o equilíbrio de poder em outras regiões do mundo. O neorrealismo, alternadamente chamado de realismo defensivo, difere nesta matéria do realismo ofensivo. O americano, neo-realista ou realista estrutural, cientista de relações internacionais, Kenneth Waltz, argumenta que um poder excessivo pode induzir outros países a aumentar os seus aliados e a agrupar os esforços e segundo essa visão, podem formar uma “coligação de equilíbrio” para evitar o aumento de um poder dominante. Tendo em conta essas premissas, seria bastante racional para a China não antagonizar os seus vizinhos construindo um predomínio de poder que juntamente com os Estados Unidos, levem a formar uma aliança contra si. Os realistas ofensivos, no entanto, argumentam que a hegemonia regional é a única forma segura de manter a sobrevivência. Os actores estatais, portanto, devem estar sempre atentos a momentos oportunos para maximizar o seu poder. Talvez, tenha sido a perda da hegemonia regional da China, em meados do século XIX e o subsequente “século de humilhação”, que ilustra perfeitamente esta situação. Por mais de dois mil anos, a China e a civilização sínica foram a força política e cultural dominante na Ásia Oriental. A sua hegemonia sobre a região foi demonstrada pelo sistema de tributo institucionalizado, após o qual as nações estrangeiras reconheciam o seu estatuto inferior em comparação com os chineses. Uma das formas como o faziam era enviando missões diplomáticas ao imperador chinês. Essas missões levaram consigo presentes caros e incluíam elaborados procedimentos de subserviência ao imperador, que deveriam ser conduzidos por embaixadores estrangeiros para que as relações comerciais se iniciassem. É de referir que esse sistema esteve activo, e impediu que as guerras interestaduais se estendessem e até mesmo restringissem o comportamento chinês, em relação aos seus vizinhos mais fracos. Mas essa ideia de um sistema regional pacífico sob hegemonia chinesa é negada pela estimativa de que os estados chineses lutaram em três mil e setecentas e cinquenta e seis guerras desde de 770 aC até 1912, com uma média de 1.4 guerras por ano. O sistema de tributo ainda era uma ordem internacional de natureza anárquica, mas com um arranjo hierárquico que tinha a China como o poder predominante, e que por força desse poder e recursos esmagadores, desenvolveu um conjunto de regras e instituições para governar as ligações entre si e os outros actores políticos. A China desenvolveu relações externas dentros dos seus canônes, o que sem dúvida, poderia explicar a razão pela qual a Ásia Oriental era pacífica, sob o domínio chinês, não sendo tão consensual quanto submissa diante de uma poderosa hegemonia. A predominância de poder da China, em termos neorrealistas, era o garante da paz, pois nenhuma combinação de actores regionais poderia coligar-se contra si. Todavia, nas áreas onde estavam em desvantagem militar, como, por exemplo, contra as tribos nómadas do norte, que tinham um excelente conhecimento táctico da guerra de cavalaria, o conflito não foi evitado, porque os nómadas se recusaram a aceitar a superioridade chinesa. O problema psicológico que o sistema de tributo pode ter causado, foi de que a China não se apercebeu do quanto dominante era, tendo ficado em situação de negligência com a sua primazia regional. Assim, quando o imperialismo ocidental chegou à Ásia Oriental no século XIX, o pensamento chinês era muito intuitivo para poder enfrentar o desafio da superioridade tecnológica do Ocidente. Os acontecimentos do passado foram demonstrados pela humilhação da China ao ser derrotada pela Grã-Bretanha na Primeira Guerra do Ópio de 1840 a 1842, tendo nas décadas subsequentes produzido a abertura do país pelos europeus e americanos, em uma série de tratados desiguais. Talvez, a lição mais importante que os chineses tenham aprendido sobre a necessidade de acumular o máximo de poder possível, foi a da ocupação humilhante que o Império japonês lhes infligiu, após o incidente da Ponte Marco Polo, em 1937. Os fortes sentimentos negativos da ocupação japonesam, estão na memória dos chineses, e foi demonstrado pelos tumultos anti-japoneses de 2005. Tal, ocorreu depois do Japão introduzir um livro escolar em que os crimes de guerra japoneses cometidos na China, estavam amenizados. O nacionalismo está em ascensão na China em paralelo com o seu ressurgimento como potência regional e mundial. É a ferramenta usada para legitimar a regra do Partido Comunista Chinês, embora, até à década de 2000, a China ainda estivesse a seguir a estratégia de Deng Xiaoping para facilitar o seu crescimento, traduzido na máxima de observar com calma; assegurar a posição do país; lidar com os assuntos tranquilamente; esconder as capacidades e aguardar pelo melhor tempo; manter um baixo perfil e nunca reivindicar a liderança. A China é uma potência muito mais forte do que há três décadas e, até 2010, graças às reformas económicas de Deng em 1978, é a segunda maior economia do mundo. A conquista do crescimento económico tem sido tremenda, sendo o PIB da China em 1979 de apenas 10 por cento do Japão. O seu PIB, actualmente, é duas vezes e meia maior que o do Japão. Alguns intelectuais chineses pediram uma nova ordem internacional hierárquica inspirada no termo relativo ao antigo conceito cultural chinês, denominado de “Sob o céu” ou “Tianxia”, que conota o mundo geográfico ou o reino metafísico dos mortais, e mais tarde foi associado à soberania política e que teria melhor capacidade de resolver os conflitos do mundo que a ONU, podendo ajudar a criar uma utopia pacífica mundial. O mais provável, é que “Tianxia” não é mais que uma nova hegemonia que reproduz o império hierárquico da China para o século XXI. Todavia, existe indubitavelmente um desejo na China de mudar a ordem internacional dominada pelo Ocidente. O enfraquecimento percebido dos Estados Unidos após a crise financeira de 2008, tornou a China mais confiante em afirmar os seus interesses na Ásia Oriental e sabemos que no início da década e milénio, o país era muito mais conciliador para com os seus vizinhos e quando se juntou ao Tratado de Amizade e Cooperação (TAC) da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN na sigla em inglês), em 2003, parecia estar a aceitar um mundo de instituições multilaterais sob o domínio americano. A China, entretanto, tornou-se mais poderosa e desenvolveu uma posição cada vez mais forte em relação aos seus vizinhos, podendo-se afirmar que segue na direcção da teoria do realismo ofensivo. À medida que ganha mais poder, bem como interesses globais, é provável que deseje dominar a sua região para garantir a sua segurança, começando por tentar resolver as disputas territoriais segundo as suas regras. Os três principais conflitos que a China tem são com o Japão no Mar da China Oriental e com as Filipinas e o Vietname no Mar da China Meridional. As relações sino-japonesas, foram as mais amargas e contenciosas por vários motivos históricos. A China em 2004, foi oficialmente considerada como uma ameaça à segurança pelo Japão. A China considera fortemente a reivindicação do Japão às Ilhas Diaoyu/Senkaku, alegando que só foram entregues, após a guerra sino-japonesa de 1894-1895 e deveriam ter sido devolvidas à China, após a II Guerra Mundial. As reivindicações de reservas de petróleo na área variam entre os sessenta e cem milhões de barris calculados pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos e mais de cem mil milhões de barris calculados pela China. O nacionalismo também tem sido um factor igualmente importante na disputa, não estando nenhum dos lados disposto a mostrar qualquer fraqueza. No entanto, a falta de vontade da China de impulsionar a sua reivindicação fora dos limites do direito internacional, mostra o respeito pelas Forças de Autodefesa do Japão, e uma cautela quanto à estreita aliança do Japão com os Estados Unidos, sendo um exemplo de como a China ainda não atingiu o poderio suficiente para ser poder hegemónico na Ásia Oriental, mas acabará por sê-lo a seu tempo. [CONTINUAR A LEITURA]
João Luz Perfil PessoasFilipe Chan, intérprete e tradutor: “Os portugueses falam de tudo” [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]resceu numa Macau da qual existem poucos vestígios, visíveis apenas ao olhar mais atento. Hoje em dia, Filipe Chan, com 37 anos, ainda consegue sentir alguma dessa velha cidade que o viu crescer, evocando as brincadeiras em torno do Jardim Vasco da Gama. “Aquela zona junto ao Lago Sai Van, a Avenida da República, ainda se pode sentir um bocado da antiga Macau”, conta o intérprete num exímio português. Filipe recorda-se dos tempos, antes da construção da Torre de Macau, em que a vista do lago se estendia desimpedida até ao rio. “A paisagem sem aquela torre fica na memórias das pessoas”, recorda. Cresceu, sobretudo, com crianças de origem chinesa e macaense e lembra com ternura os passeios dados nos riquexós que se encontram, ainda hoje, perto do Hotel Lisboa. Esses passeios de recreio eram algo muito familiar, hoje em dia funcionam mais como uma oportunidade para turistas tirarem selfies. O português entra na vida do tradutor através de um curso que lhe surgiu no caminho, sendo que, até à altura, a única ligação que tinha a Portugal era o padrinho português da sua mãe. Ainda não lhe passava pela cabeça seguir uma carreira profissional baseada na língua de Camões. “Como os meus pais não dominavam o português, pensei que era bom para eles terem um filho que conhecesse a língua”, explica. O momento em que estreitou contacto com colegas lusos foi na altura em começou a estudar para o teste de português. “Não percebia muito bem, tinha muitas dúvidas e tentei entrar mais na cultura e língua para conseguir perceber as obras que tinha de estudar, como “Os Maias” e “Viagens da minha terra”. Rodear-se de dicionários não estava a resultar, faltava-lhe o poder de expressão, o entendimento. Os colegas com raízes europeias ajudaram-no a compreender melhor as subtilezas linguísticas de Eça de Queiroz e Almeida Garrett. Pode-se dizer que Filipe Chan entrou no português pela porta grande dos clássicos, tendo mais tarde dado uma guinada para manifestações de portugalidade mais populares. Garagem da vizinha Mais tarde Filipe entraria a fundo naquilo que é ser português, ou seja, tornou-se um adepto e seguidor do campeonato português de futebol. A sua primeira simpatia foi para o Futebol Clube do Porto, mas mais tarde mudaria para o Sporting. “A partir daí procurei conhecer um pouco mais de Portugal, mas nessa altura ainda não tinha lá ido nenhuma vez”, algo que faria uma mão cheia de vezes. Numa altura em que não havia tanto dinheiro para sair à noite com os amigos, saídas que não dispensa hoje em dia, Filipe ficava no sofá colado ao ecrã a vibrar com um campeonato a meio mundo de distância. “Antigamente a TDM dava dois jogos por semana”, lembra. Apesar de gostar muito de futebol, o intérprete não se deixa afectar muito, sendo-lhe difícil de compreender o exagero a que o fanatismo desportivo chega. Porém, acha curioso a forma apaixonada como os portugueses falam de futebol. “As pessoas chegam a irritar-se umas com as outras por uma questão de rivalidade clubística, ou por causa de um penálti mal marcado”, diz. Apesar de estar familiarizado com a forma como o sangue de um adepto ferrenho ferve, Filipe Chan acha incrível como é possível “pais e filhos zangarem-se ao discutir o desempenho de um árbitro, ou um lance duvidoso”. Outra manifestação profundamente “tuga” à qual sucumbiu foi a música de Quim Barreiros, também mostrada pelo mesmo amigo que o convenceu a ser portista por uns tempos. “A primeira música que ouvi foi ‘A garagem da vizinha’, põe o carro, tira o carro, achei muito cómico e procurei mais músicas”, conta. Quando por vezes não compreendia onde estava o trocadilho, perguntava ao amigo que se prontificava a explicar-lhe. As viagens são um dos prazeres que não dispensa, em particular à Europa. Os seus países preferidos são Itália, França e, claro está, Portugal. “As pessoas são muito simpáticas, principalmente quando começo a falar português. Ficam com muita curiosidade como alguém asiático fala a sua língua”, conta. Durante as idas a Portugal, que já vão em cinco, aproveita para degustar a gastronomia lusa. “Gosto de bacalhau, lulas, polvo e, especialmente, marisco”. Na relação com “tugas” destaca a forma aberta como se relacionam com o outro. “Os portugueses falam de tudo, mesmo as coisas mais íntimas, os chineses só o fazem com amigos mais próximos”, compara.
Hoje Macau SociedadeMedia | Grupo lança Macau News Agency a partir de 1 de Novembro [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] grupo Project Asia Corporation lança a 1 de Novembro o projecto Macau News Agency, que pretende operar como uma agência de notícias não intermediada com “notícias ao minuto”, em inglês, confirmou ontem o empresário Paulo Azevedo. Com o projecto agora apresentado, o grupo de ‘media’ de Macau, dono das revistas Macau Business, Business Intelligence e Essencial Macau, extingue o jornal económico Business Daily e transfere os seus recursos, incluindo cinco jornalistas, para a Macau News Agency. Paulo Azevedo, que na quarta-feira apresentou o projecto ao Canal Macau da emissora pública TDM, especificou que se trata de uma agência noticiosa, apesar da particularidade de não vender conteúdo a órgãos de comunicação social. “O nosso consumidor é o leitor normal, o leitor de jornais. Tudo aquilo que vamos oferecer é gratuito, não vendemos nada, não é intermediado. Sejam as nossas histórias, sejam as que compramos a outros parceiros, nomeadamente a agências de notícias – Lusa, Reuters, Bloomberg, France Presse. Compramos, mas depois pomos na nossa linha aberta para qualquer consumidor de jornal”, explicou à Lusa. Mini- Bloomberg O empresário e jornalista diz ter sentido que havia “necessidade de avançar com um novo produto em Macau”, já que “não há uma agência de notícias” no território, apenas delegações de agências internacionais. A Macau News Agency vai manter o pendor económico de grande parte dos produtos do Project Asia Corporation, mas pretende ser mais generalista que o jornal Macau Business Daily, passando a abranger também áreas sociais e culturais. “[Queremos ser] uma espécie de Bloomberg de tamanho sardinha muito pequenina (…) Com notícias ao minuto, quer nossas, quer globais”, comentou. Um portal agregador vai juntar todos os produtos do grupo, incluindo a MB.tv, um projecto televisivo online que passa também a contar com três jornalistas fixos. Regularmente, a Macau News Agency – que pode ser visualizada numa página independente – vai receber contribuições de profissionais que trabalham para outros títulos do grupo. A redacção vai focar-se em produzir conteúdos de Macau, e Azevedo não receia sobreposição com os vários meios de comunicação do território. “Isso era um problema se fosse um jornal. Já há muitos. Há 14 chineses, cinco portugueses e ainda há três jornais ingleses, e isto é uma cidadezinha pequena. Mas como agência [em inglês] vamos praticamente ser os primeiros”, afirmou. “[O conteúdo] não será muito diferente [daquele que os jornais produzem]. A única diferença é que antes estávamos a trabalhar com esta mesma equipa para publicar sensivelmente a história que os outros publicam, mais vocacionada para a economia. Mas publicávamos só 24 horas depois, num jornal como todos os outros, e agora seremos praticamente os primeiros. Iremos eventualmente competir a nível de rapidez com a Lusa – mas a Lusa é em português – ou com a Rádio Macau – mas mais uma vez é em português e chinês. E eventualmente com o portal de jogo GGRAsia, mas eles são só da área de jogo”, explicou. As receitas virão exclusivamente da publicidade, já que as publicações lideradas por Paulo Azevedo não recebem subsídio do Governo, por não serem publicadas numa das duas línguas oficiais de Macau, o português e o chinês. “Se formos mal sucedidos, fechamos”, rematou.
Hoje Macau EventosPortugueses lançam portal de turismo “Follow me Macau” [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ois portugueses lançaram um portal para vender experiências de lazer em Macau, com os olhos postos no mercado chinês. Desde sexta-feira quem deseje visitar Macau pode adquirir, através do portal “Follow Me Macau”, actividades que abrangem tanto experiências gastronómicas, como culturais, desportivas, de aventura ou mesmo de beleza e relaxamento. “É uma plataforma que agrupa todas as experiências de entretenimento e lazer em Macau. Vai daquelas ‘mainstream’, desde o [espectáculo] House of Dancing Water ou o salto da Torre de Macau, a outras, que podem ser um jogo de ténis, um ‘biking tour’ ou um ‘hiking’ em Coloane”, explicou à Lusa o fundador da ‘start-up’, Marco Duarte Rizzolio. Segundo o empresário, as actividades podem ainda abranger os casinos ou “experiências fornecidas por pequenas e médias empresas, como [actividades com] ‘personal trainers’ ou, por exemplo, ioga”, O “Follow Me Macau” foi lançado na passada sexta-feira durante a Feira Internacional de Macau e inspirou-se em projectos como o “A Vida é Bela” ou “Odisseias”. A diferença é que estes produtos apenas podem ser adquiridos ‘online’, disse Rizzolio. Actualmente há 60 experiências à venda. “Mas nos próximos meses vamos chegar rapidamente a mais de 100”, sublinhou, já que estão a ser ultimados contratos com várias grandes empresas, nomeadamente operadoras de jogo. Entre as “top experiencies” estão uma refeição no restaurante giratório da Torre de Macau, um passeio num junco, um ‘bootcamp’ urbano, uma viagem de limusine ou num iate, ou ‘paintball’, entre outras. O portal está disponível em inglês e em chinês tradicional e simplificado. Segundo Rizzolio, o público-alvo são os turistas chineses, já que representam a maioria do grande mercado turístico de Macau. “Se juntarmos Macau e Hong Kong temos aqui o maior ‘hub’ de visitantes do mundo. É um mercado muito grande, considerando os 30 quilómetros quadrados deste território”, apontou. Além do potencial numérico, Rizzolio salientou também o facto de os chineses terem uma nova geração que “está sempre conectada à Internet” e é adepta das compras ‘online’. Com o aumento gradual do poder de compra dos chineses, estes estão também a investir cada vez mais em lazer e entretenimento, destacou. Actualmente, o “Follow Me Macau” conta com quatro funcionários, três em Macau e um em Xangai (leste da China). A expansão do conceito para outros países, como o Brasil, é uma possibilidade, mas “numa segunda fase”. “Agora queremos é sobreviver”, disse.
Hoje Macau SociedadeCasinos investem em autocarros eléctricos [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s seis operadoras de jogo de Macau comprometeram-se a converter 15% da sua frota de ‘shuttles’ em autocarros eléctricos, ou abastecidos por combustíveis renováveis, foi ontem anunciado. Macau, com cerca de 30 quilómetros quadrados, conta com 40 casinos, distribuídos por seis operadoras de jogo que fornecem transporte gratuito – pensado para os seus clientes, mas que pode ser usado por toda a gente – através de ‘shuttles’, que são frequentemente apontados como um dos principais causadores dos problemas de trânsito da cidade. Ontem, num comunicado conjunto, as seis operadoras de jogo – Galaxy, Melco, MGM, Sociedade de Jogos de Macau, Sands e Wynn – anunciaram a introdução de “serviços de ‘shuttle’” ecológicos e comprometeram-se, junto do Governo de Macau, que “pelo menos 15% dos autocarros de passageiros de cada operadora vão ser com novas energias/eléctricos até Maio de 2018”. Segundo o mesmo comunicado, um projecto-piloto com estes autocarros entrou em vigor a 19 de Setembro e está a ser monitorizado. “Espera-se que o novo serviço de ‘shuttles’ com novas energias/eléctricos vá optimizar os transportes de Macau, melhorar o ambiente geral para residentes e visitantes, e apoiar o desenvolvimento de Macau numa capital mundial de turismo verde”, pode ler-se.
Hoje Macau EventosColóquio | IPM vai discutir Camilo Pessanha [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Politécnico de Macau (IPM) vai organizar um colóquio sobre o poeta Camilo Pessanha nos dias 13 e 14 de Novembro, disse à Lusa fonte da organização. A conferência, a propósito dos 150 anos do nascimento de Pessanha, vai contar com 12 oradores: quatro de Portugal e oito de Macau. Um deles será José Carlos Seabra Pereira, especialista em simbolismo, corrente literária a que pertence o poeta. Segundo a mesma fonte, com excepção de Seabra Pereira, o colóquio contará com intervenções de “pessoas que não têm o hábito de se dedicar a Camilo Pessanha”, como será o caso do Carlos André, director do Centro Pedagógico e Científico de Língua Portuguesa do IPM. Nam Van | Energia para animar o lago [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s obras no sistema de energia eléctrica arrancam no fim deste mês no Anim’Arte NAM VAN. A intervenção abrange a escavação de valas para instalação de cabos e tubos, a substituição das tampas dos cabos eléctricos e a repavimentação de passeios. Durante o período da execução das obras, a “Feira de Artesanato do Lago Nam Van aos Fins-de-Semana” e os workshops programados são realizados conforme previsto. Os espaços expositivos da Galeria Junto ao Lago, a Loja Temática do “Mapa Cultural e Criativo de Macau” e o Smiling Workshop continuam a funcionar como habitualmente. Por sua vez, o IFT Café encerrará de 6 a 11 de Novembro.
Hoje Macau EventosCompanhia argentina no palco do CCM em Dezembro [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hama-se “Deseos” e é o nome do espectáculo que vem directamente da Argentina para Macau, pela mão da companhia Estampas Porteñas, e que sobe ao palco nos dias 26 e 27 de Dezembro. Segundo um comunicado do Instituto Cultural (IC), o espectáculo, que terá lugar no Centro Cultural de Macau, terá “um sólido elenco de bailarinos, músicos e um cantor a adornar uma sequência coreográfica de canções românticas e fatalistas, mesclando projecções interactivas com uma paleta de temas, alguns dos quais remontam aos anos 30”. A história passa-se entre uma aldeia rural e Buenos Aires, capital argentina. “A trama desta peça de dança e teatro leva-nos numa viagem pelo tempo, das tradições folclóricas do Malambo gaúcho (cowboy sul-americano) à música de Astor Piazzolla. “A acção é desencadeada quando Margot, a protagonista, decide mudar-se para a grande cidade, deixando tudo para trás. Pleno de paixão, ciúme e dança ardente, Deseos é uma produção de técnica primorosa e emocionante que nos leva através das inúmeras expressões do tango, demonstrando uma multiplicidade de passos e estilos”, explica o IC. Por todo o mundo A Estampas Porteñas foi fundada em 1997 por Carolina Soler, uma premiada directora artística cuja carreira se iniciou no ballet clássico. Desde então, a companhia tem actuado pelo mundo inteiro tendo subido aos palcos em mais de 20 países pelos cinco continentes. Além dos dois dias de espectáculo, vão ser promovidas “diversas actividades, incluindo um workshop ministrado por bailarinos da Estampas Porteñas, concebido para desvendar alguns dos passos e técnicas aos entusiastas da dança”. No dia da estreia irá decorrer “uma tertúlia pré-espectáculo”. Os bilhetes estarão à venda a partir de 29 de Outubro, disponíveis a vários preços (entre 150 e 300 patacas) e descontos nas bilheteiras do CCM e aos balcões da Rede Bilheteira de Macau.
Hoje Macau EventosPrémio José Saramago | Brasileiro Julián Fuks é o vencedor deste ano [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m valor superior a 230 mil patacas será entregue ao escritor brasileiro pelo romance “A Resistência”, publicado em 2015. Esta é a segunda vez que a obra é premiada. O Prémio José Saramago 2017, no valor pecuniário de 25 mil euros (mais de 230 mil patacas), distinguiu o romance “A Resistência” do autor brasileiro Julián Fuks, foi ontem anunciado na Casa dos Bicos, em Lisboa, sede da Fundação José Saramago. “Estamos perante um excelente romance. Colocando-se no registo de atestação de uma experiência pessoal intensa, Julián Fuks conseguiu alcançar em ‘A Resistência’ o difícil patamar da contenção discursiva no interior daquele arco simultaneamente emocional e intelectual que define as construções literárias mais cativantes”, afirma, na sua declaração, o crítico literário Manuel Frias Martins, um dos membros do júri. O Prémio José Saramago foi instituído pela Fundação Círculo de Leitores, em 1999, com o objectivo de distinguir jovens escritores de língua portuguesa, cuja idade não ultrapasse os 35 anos, aquando da publicação da obra. A obra “A Resistência”, de Fuks, publicada em 2015, recebeu no ano passado, no Brasil, o Prémio Jabuti para o Melhor Romance. Em “A Resistência”, segundo a Fundação Círculo de Leitores, o autor desenvolve a história de uma família argentina a partir de 1976, quando se deu o golpe de Estado que derrubou a Presidente María Estela Perón, e instaurou o poder ditatorial de uma junta militar, que governou o país até Dezembro de 1983. “‘Meu irmão é adoptado, mas não posso e não quero dizer que meu irmão é adoptado’, anuncia, logo no início, o narrador deste romance. O leitor descobre-se à partida imerso numa memória pessoal que se revela também social e política”, lê-se na mesma informação à imprensa. “Do drama de um país, a Argentina a partir do golpe de 1976, desenvolve-se a história de uma família, num retrato denso e emocionante. Adoptado por um casal de intelectuais que logo iria procurar exílio no Brasil, o rapaz cresce, ganha irmãos e as relações familiares tornam-se complexas. Cabe então ao irmão mais novo o exame desse passado e, mais importante, a reescrita do próprio enredo familiar”, refere o mesmo comunicado, que remata: “Um livro em que emoção e inteligência andam de mãos dadas, tocando o coração e a cabeça dos leitores”. Percurso feliz Julián Fuks, filho de pais argentinos, nasceu em São Paulo, no Brasil, em 1981. O autor publicou o primeiro livro, “Fragmentos de Alberto, Ulisses, Carolina e eu”, em 2004, tendo ganhado o Prémio Nascente da Universidade de São Paulo. Em 2007 e 2012 foi finalista do Prémio Jabuti, com os livros “Histórias de Literatura” e “Cegueira”, respectivamente. O autor foi também finalista do Prémio Portugal Telecom, actual Oceanos, e do Prémio São Paulo de Literatura, com “Procura do romance”. A revista Granta apontou-o como um dos vinte melhores jovens escritores brasileiros. “A Resistência” é o seu quarto romance, com o qual recebeu o Prémio Jabuti Melhor Romance, se classificou entre os finalistas do Prémio Oceanos, no ano passado, e pelo qual recebeu a Menção Honrosa no Prémio Rio de Literatura. O júri da edição deste ano do Prémio José Saramago foi constituído pela poetisa angolana Ana Paula Tavares, pela professora de Estudos Portugueses da Universidade Nova de Lisboa Paula Cristina Costa, pelo escritor português António Mega Ferreira, pela investigadora Nazaré Gomes dos Santos, da Universidade Autónoma de Lisboa, além de Manuel Frias Martins, crítico literário e ensaísta, doutorado em Teoria da Literatura e vice-presidente da Associação Portuguesa dos Críticos Literários, de Pilar del Rio, presidente da Fundação José Saramago, e da escritora Nelida Piñon. O Prémio Saramago é bienal e, nas edições anteriores, distinguiu os escritores Paulo José Miranda, José Luís Peixoto, Adriana Lisboa, Gonçalo M. Tavares, Valter Hugo Mãe, João Tordo, Andréa del Fuego, Ondjaki e Bruno Viera Amaral.
Hoje Macau China / ÁsiaGoverno diz que Gui Minhai deixou o país após ser libertado [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo chinês assegurou ontem que o activista e livreiro sueco de origem chinesa Gui Minhai deixou o país, após ter sido libertado na semana passada, enquanto a família diz desconhecer o seu paradeiro. “Gui Minhai deixou o país após ter sido libertado, depois de dois anos preso por causar acidentes de trânsito”, afirmou em conferência de imprensa um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Geng Shuang. Gui Minhai, de 53 anos, é um dos cinco livreiros da “Mighty Current” – editora de Hong Kong conhecida por publicar livros críticos dos líderes chineses -, que desapareceram no final de 2015. Gui desapareceu quando passava férias na Tailândia, tendo aparecido mais tarde na televisão estatal chinesa CCTV a confessar que se entregou às autoridades pelo atropelamento e morte de uma jovem em 2004. O Governo sueco anunciou na terça-feira que as autoridades chinesas confirmaram a libertação do activista. A sua filha, Angela Gui, não confirmou, no entanto, a libertação do pai, afirmando que não foi ainda contactada por ele. “Nem eu, nem nenhum dos membros da minha família, ou algum dos seus amigos, fomos contactados” afirmou Angela Gui, em comunicado. “Ainda não sabemos onde ele está. Estou profundamente preocupada com a sua saúde”, disse. O consulado da Suécia em Xangai informou esta segunda-feira ter recebido uma “chamada estranha” de alguém que dizia ser livreiro e afirmou que iria pedir um passaporte sueco dentro de um ou dois meses, mas que antes queria passar tempo com a sua mãe, que estava doente. Angela desmentiu, entretanto, essa possibilidade.
Hoje Macau China / ÁsiaEncerradas 2.802 minas de carvão nos últimos cinco anos [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m total de 2.802 minas de carvão foram encerradas na China, nos últimos cinco anos, para combater a poluição e fomentar o crescimento sustentável, informou ontem a Associação Nacional de Carvão do país. Entre 2012 e 2016, o número de produtores de carvão passou de 7.869 a 5.067 e o Governo chinês estima que até ao final deste ano sejam encerradas mais mil minas, distribuídas por doze regiões do país. Nos primeiros sete meses do ano, a capacidade produtiva do país reduziu-se em 128 milhões de toneladas de carvão, o equivalente a 85% da meta anual fixada pelo Governo. Na última conferência de empresários das economias do G20, celebrada em Hamburgo, na Alemanha, em Julho passado, Xi Jinping reconheceu que o modelo económico da China não é sustentável e anunciou várias reformas para o sector do carvão. Quase dois terços da energia consumida na China assenta na queima do carvão. A China é o maior emissor mundial de gases poluentes. O Presidente chinês apontou como meta reduzir em 500 milhões de toneladas a capacidade de produção do país, através do encerramento de minas, e outros 500 milhões de toneladas através de reestruturações. Apesar dos esforços de Pequim para reduzir o consumo de carvão e melhorar a eficiência no uso de energias renováveis, as grandes produtoras de carvão reportaram lucros, na primeira metade do ano, de 147.480 milhões de yuan, segundo a Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento.
Hoje Macau China / ÁsiaDaniel Russel | Washington não vai sacrificar Taiwan [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Estados Unidos “não vão sacrificar os interesses de Taiwan” em troca de melhores relações com a China, afirmou ontem, em Taipé, o ex-subsecretário de Estado adjunto para a Ásia Oriental e Pacífico. Daniel Russel, que se encontra em visita à ilha, fez estas declarações após as recentes palavras do Presidente chinês, Xi Jinping, contra a independência da ilha, durante o XIX Congresso do Partido Comunista, e nas vésperas da deslocação à China do Presidente de Estados Unidos, Donald Trump. Quanto ao papel da China em relação a Washington e Taipé, Russel disse que o país asiático adquiriu nos últimos anos uma força económica e activismo internacional sem precedentes. No entanto, as fortes relações e interesses partilhados entre Taiwan e Estados Unidos “garantem que as melhorias nas relações entre os Estados Unidos e a China não serão feitas à custa de Taiwan”, disse Russel, que foi secretário de Estado adjunto até Março. Apesar das alterações na administração norte-americana, o que não mudou “é o interesse permanente dos Estados Unidos no êxito contínuo, prosperidade e a autodeterminação do povo de Taiwan”, acrescentou o antigo responsável norte-americano para a diplomacia na Ásia. Parceiro de força Os Estados Unidos são o principal garante da segurança de Taiwan, com a qual está comprometido por um acordo de 1979, e é um dos seus principais parceiros económicos. Em Taiwan, perante o crescente poder económico e militar da China e a intensificação da intimidação militar e o cerco diplomático à ilha, teme-se que Washington utilize Taipé como carta de negociação com Pequim. Em especial, há receios de que Trump assine um novo comunicado conjunto com a China, tal como sugerem estrategas norte-americanos como Henry Kissinger, que manteve recentes contactos com o Presidente do seu país. Na passada semana, o porta-voz diplomático de Taiwan Andrew Lee afirmou que Washington garantiu que não assinará um quarto comunicado conjunto com a China, depois dos subscritos em 1972, 1979 e 1982.
Hoje Macau China / ÁsiaPCC | Presença feminina continua a ser irrelevante [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] cúpula do Partido Comunista Chinês (PCC) continua a ter uma presença feminina irrelevante, mesmo após a sua renovação, com apenas uma mulher entre os 25 membros do Politburo. Sun Chunlan, dirigente do sindicato único do regime, é a única mulher que integra a nova formação do Politburo do PCC, escolhida durante o XIX Congresso do partido. A formação anterior contava com duas mulheres. Já o Comité Permanente do Politburo, composto pelos sete líderes máximos do regime, não inclui nenhuma mulher, prolongando uma tendência que perdura desde a fundação da China comunista, em 1949. No Comité Central do partido, apenas dez dos 205 membros são mulheres. Apesar de Xi ter defendido em várias ocasiões o seu compromisso com a igualdade de género, os altos cargos do regime continuam a ser exclusivamente ocupados por homens. Rússia | Putin felicita Presidente pela reeleição [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente russo, Vladimir Putin, felicitou ontem o seu homólogo chinês, Xi Jinping, pela sua reeleição como secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC), anunciou o Kremlin num comunicado. Na mensagem, Putin afirma que “os resultados da votação confirmaram plenamente a autoridade política de Xi Jinping e o amplo apoio à sua política de desenvolvimento socioeconómico da China e de fortalecimento das suas posições internacionais”. O Presidente russo disse-se convicto de que as decisões do “verdadeiro acontecimento histórico” que foi o XIX Congresso do PCC vão contribuir para fortalecer as relações de “associação integral e de confiança” entre a Rússia e a China. Imprensa | Criticado “veto” a meios de comunicação [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Clube de Correspondentes Estrangeiros na China alertou ontem que vários órgãos de comunicação, como a BBC ou o Financial Times, foram excluídos da apresentação da nova cúpula do regime chinês, no encerramento do XIX Congresso do Partido Comunista. “Vários órgãos de imprensa estrangeiros foram excluídos de cobrir a conferência de imprensa do Comité Permanente do Politburo”, destacou em comunicado a organização. Entre os meios que não conseguiram aceder ao evento constam o canal de televisão BBC e os diários The Economist, Financial Times, The Guardian e The New York Times. Segundo a organização, aqueles meios “terão sido escolhidos para enviar um aviso” aos restantes. O Clube de Correspondentes Estrangeiros adverte que restringir o acesso à informação, como forma de punir jornalistas por estes cobrirem temas que o Governo não aprova, “é uma grave violação dos princípios de liberdade de imprensa”. Na apresentação do novo Comité Permanente do Politburo, o Presidente chinês, Xi Jinping deu as boas-vindas aos jornalistas para cobrirem o desenvolvimento chinês, de forma “objectiva” e “construtiva”.
Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping revela composição da cúpula do regime [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, apresentou ontem aos jornalistas os novos membros da cúpula do poder chinês, que o acompanharão durante um segundo mandato, cuja agenda inclui erradicar a pobreza e aumentar a influência internacional do país. Durante o XIX Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), Xi obteve um segundo mandato de cinco anos e viu o seu estatuto elevado para o nível de Mao Zedong e Deng Xiaoping, ao incluir o seu nome e teoria na constituição do partido. Na prática, a inclusão do “pensamento de Xi Jinping” nas directrizes da organização torna qualquer oposição a este no equivalente a um ataque ao próprio PCC. Xi isola-se assim de disputas entre facções rivais do partido. Perante centenas de jornalistas chineses e estrangeiros, no Grande Palácio do Povo, Xi Jinping prometeu continuar a reformar o PCC, para que este “continue a ser o motor de progresso e desenvolvimento” da China. “A História torna bastante claro que o PCC é capaz não só de conduzir uma grande revolução, mas também impor uma grande reforma sobre si mesmo”, afirmou XI. “Como o maior partido político do mundo, o PCC deve agir de acordo com o seu estatuto”. “Devemos eliminar qualquer vírus que corroa a estrutura do partido”, acrescentou Xi Jinping, cuja campanha anticorrupção puniu já 1,5 milhão de membros do partido, incluindo altas patentes do exército e um antigo membro do Comité Permanente do Politburo. Objectivos definidos O Partido Comunista Chinês (PCC) celebra cem anos desde a sua fundação em 2021. Xi Jinping estabeleceu como meta para esse ano a erradicação da pobreza na China “Devemos ser uma sociedade que é desfrutada por todos nós, no caminho da prosperidade comum, ninguém deve ser deixado para trás”, afirmou o secretário-geral do PCC. Para além de Xi, apenas o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, renovou o seu mandato de cinco anos como membro do Comité Permanente do Politburo, a cúpula do poder na China, que é composto por sete membros. Zhao Leji, que até à data foi chefe do Departamento de Organização do Partido, foi nomeado para dirigir a poderosa Comissão Central de Inspecção e Disciplina do PCC, o órgão máximo anticorrupção do partido. Xi, filho de um antigo vice-primeiro-ministro, descreveu a sua teoria como central para a China assegurar “uma vitória decisiva na construção de uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos”, até meados deste século. No núcleo desta visão está o PCC, que mantém controlo absoluto sobre tudo, desde os padrões morais dos chineses à defesa da segurança do país. Sem sucessão A nova formação do Politburo inclui membros associados aos antecessores de Xi, Jiang Zemin e Hu Jintao, contrariando a análise de que o actual Presidente chinês iria preencher os cargos mais importantes do regime com homens da sua confiança. Entre os cinco novos membros, apenas Zhao e Li Zhanshu são vistos como próximos do Presidente. No entanto, observadores notam que nenhum dos novos membros da cúpula do regime surge em posição para ser sucessor de Xi na liderança do partido. Para Joseph Fewsmith, um especialista em política chinesa da Universidade de Boston, a ausência de um sucessor óbvio revela as ambições de Xi para além dos dois mandatos. “Sugere que Xi terá um terceiro mandato e que nomeará o seu próprio sucessor. Isso já não acontecia há 20 anos”, lembrou Fewsmith.
João Santos Filipe Manchete SociedadePrémios para resultados de excelência em exames de línguas Residentes que conseguirem bons resultados nos exames de avaliação do conhecimento das línguas portuguesa, inglesa e chinesa vão receber recompensas financeiras [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Governo vai atribuir prémios de mil patacas aos residentes com mais de 15 anos que tiverem resultados de excelência nos testes para avaliação dos conhecimentos de mandarim, português e inglês. O programa piloto, que no futuro poderá abarcar outras áreas, começa no início do próximo mês e foi apresentado ontem, na sede da Comissão de Desenvolvimento de Talentos. O projecto tem como nome “Programa de Estímulo à Formação e aos Exames de Credenciação dos Quadros Qualificados” e visa “cultivar e promover os residentes a terem diferentes técnicas em diversos domínios”. A iniciativa é organizada pela Comissão de Desenvolvimento de Talentos, Direcção de Serviços de Educação e Juventude e Fundação Macau. “As mil patacas são um estímulo, um incentivo. É um valor simbólico, mas queremos que as pessoas que fazem estes testes tenham resultados mais elevados”, disse Lei Lai Keng, técnica superior da Comissão de Desenvolvimento de Talentos, durante a conferência de imprensa para anunciar o programa. De acordo com a responsável, a primeira fase vai começar em Novembro e prolonga-se até 30 de Junho do próximo ano. Neste período, a responsável da comissão revelou esperar que sejam entregues cerca de mil prémios, o que representa um milhão de patacas. “Para esta estimativa tivemos por base os dados estatísticos das pessoas que realizam os testes. De acordo com as nossas estimativas acreditamos que cerca de mil pessoas vão poder reclamar os prémios”, indicou Lei Lai Keng. Na avaliação dos conhecimentos de português, os estudantes precisam de atingir o nível DIPLE no exame do Centro de Avaliação de Português Língua Estrangeira (CAPLE) para poder reclamar o prémio. Em relação à língua inglesa, os candidatos precisam de atingir sete valores no exame IELTS, ou 750 pontos no TOEIC. Finalmente nos dois exames de mandarim, o Teste de Proficiência em Mandarim, da Comissão Estatal dos Trabalhos de Língua, e o Teste de Proficiência e Língua Chinesa, do Instituto Confúcio, os examinados têm de conseguir um resultado nos Nível II-B ou Nível IV, respectivamente. Dinheiro não cobre custos Os participantes apenas podem candidatar-se ao prémio pecuniário uma vez por cada teste. Contudo, na maior parte dos casos, a recompensa financeira não chega para cobrir o valor de inscrição. Por exemplo, o teste de português tem um custo de 110 euros, ou seja cerca de 1040 patacas. O Teste de Proficiência em Mandarim custa 1000 patacas e o IELTS 2330 patacas. Apenas o TOEIC tem um valor abaixo do prémio, que rondas as 680 patacas. Por sua vez, Kong Ngai, chefe da Divisão de Extensão Educativa da DSEJ, apontou que como os exames são internacionalmente padronizados, mesmo que sejam realizados fora de Macau, os residentes podem reclamar os prémios. No futuro, também exames ligado à área da electricidade, mecânica e cozinha poderão igualmente valer prémios: “Temos estado a discutir o projecto no seio da comissão [de Desenvolvimento de Talentos] e pretendemos, no futuro, alargar o âmbito do programa à vertente técnico-profissional”, revelou Lei Lai Keng. “Neste momento estamos a discutir a possibilidade de os prémios abrangerem as áreas da electricidade, mecânica ou confecção de comidas, ou seja cozinheiros”, acrescentou.
Hoje Macau SociedadeSaldo muito positivo nas receitas [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]s receitas públicas de Macau subiram 14,5 por cento até Setembro, em termos anuais homólogos, em linha com o aumento da verba arrecadada com os impostos directos cobrados sobre a indústria do jogo, indicam dados oficiais ontem divulgados. De acordo com dados provisórios disponíveis no portal da Direcção dos Serviços de Finanças, a Administração de Macau fechou os primeiros nove meses do ano com receitas totais de 84.889 milhões de patacas, valor que traduz uma execução de 93,4 por cento. Os impostos directos sobre o jogo – 35 por cento sobre as receitas brutas dos casinos – foram de 68.641 milhões de patacas, reflectindo um aumento de 17,5 por cento relativamente ao mesmo período do ano passado e uma execução de 95,5 por cento face ao orçamento autorizado para 2017. A importância do jogo reflecte-se no peso que detém no orçamento: 80,8 por cento nas receitas totais, 81,03 por cento nas correntes e 92,7 por cento nas derivadas dos impostos directos. Já as despesas cifraram-se em 49.944 milhões de patacas nos primeiros nove meses do ano, menos 4,9 por cento em termos anuais homólogos, estando cumpridas em 58,6 por cento. Nesta rubrica destacaram-se os gastos ao abrigo do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) que alcançaram 8.131 milhões de patacas, traduzindo um aumento de 167,3 por cento e uma execução de 53,3 por cento. Entre receitas e despesas, a Administração de Macau acumulava até Setembro um saldo positivo de 34.945 milhões de patacas, um aumento de 61,9 por cento em relação aos primeiros nove meses de 2016. A almofada financeira excede em muito o previsto para todo o ano, 5.567 milhões de patacas. A taxa de execução corresponde já a 627,6 por cento do orçamentado.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeArquitectos apontam insuficiências de planeamento dos novos aterros Francisco Vizeu Pinheiro considera que o Governo deveria pensar o planeamento do território mediante dois prazos: 2030 e 2050. O arquitecto, que assina um parecer sobre os novos aterros com Gao Wuzhou e Li Chuanyi, acredita que o actual plano não é sustentável e que a Ilha da Montanha deve ser uma alternativa [dropcap style≠‘circle’]“S[/dropcap]ugestões do novo planeamento da cidade de Macau” é o nome do parecer que Francisco Vizeu Pinheiro, Gao Wuzhou e Li Chuanyi assinaram e apresentaram na fase de consulta pública sobre o planeamento dos novos aterros, e que foi agora inserido na última edição do Boletim de Estudos sobre Macau, editado pela Fundação Macau. Este trabalho foi desenvolvido pelos três arquitectos na qualidade de membros da Associação dos Arquitectos da Ásia-Pacífico. Ao HM, Francisco Vizeu Pinheiro defendeu que o actual plano dos novos aterros não é sustentável a longo prazo. “Vai existir maior capacidade turística e os trabalhadores não residentes vão ter de ser incorporados no mercado de trabalho. Deve ser considerado um cenário a 20 anos e outro para 2050. O Governo só está a fazer planos para 2030 que é um prazo muito curto, porque Macau cresce rapidamente.” O arquitecto estimou que em 2030 o território tenha cerca de 820 mil habitantes, número que deverá chegar a um milhão de pessoas em 2050. Para colmatar o longo período de construção dos novos aterros, Francisco Vizeu Pinheiro considera que deve ser criado um sistema de aquisição de terrenos na Ilha de Hengqin. “O actual plano não é sustentável, vai ficar tudo cheio de habitação se não se resolver o problema. A Ilha da Montanha tem de ser realmente a solução porque os novos aterros demoram muito tempo a construir.” O arquitecto lembrou que só a zona A dos novos aterros terá 90 mil habitantes, “uma elevada densidade populacional”. “Tem que se estudar a hipótese de haver habitação em Macau segundo o modelo de compra de terrenos na Ilha da Montanha. Defendemos um novo sistema, porque os aterros destroem o rio e as montanhas e demoram tempo. É mais rápido fazer uma ponte e construir.” Metro para todos O parecer da Associação de Arquitectos da Ásia-Pacífico defende ainda a criação de uma rede interligada de transportes, pensada para o futuro. “A linha de metro ligeiro é muito restrita porque basicamente faz a ligação entre as Portas do Cerco, Sai Van e a zona dos casinos. Era preciso servir o centro da cidade e servir a zona do porto interior, onde há também uma alta densidade populacional.” O arquitecto lembrou também que é preciso garantir a ventilação entre edifícios. “Falei sobre a disposição de edifícios com paredes que cortam a ventilação. Era importante que, com o planeamento, se preservassem os corredores naturais de ventilação, de acordo com o mapa climático feito por professores de universidades de Hong Kong. Esse levantamento já está feito, o que era preciso era incluir isso no Plano Director do território”, frisou. Tecnologia anti-inundações O documento sugere ainda a adopção de uma tecnologia de “desenvolvimento de baixo impacto” para evitar inundações. “Os terrenos deveriam ser mais permeáveis. A chuva deve penetrar no solo em vez de escorrer toda para os esgotos. Assim muita da chuva intensa não provocaria inundações e ficaria no local sem se concentrar nas zonas baixas.” Para que este sistema fosse uma realidade, seria necessário criar novas normativas na actual legislação que rege os trabalhos de construção civil. “É algo low-tech, tinham de ser incluídas normativas de construção civil, o tipo de pavimento tem de ser poroso, mas isso é aplicado a zonas verdes, a zonas de absorção”, rematou Francisco Vizeu Pinheiro.
Hoje Macau SociedadeTrabalhadores não residentes a diminuir [dropcap style≠‘circle’]M[/dropcap]acau perdeu 3.611 trabalhadores contratados ao exterior no intervalo de um ano, contando com 176.666 no final de Setembro, indicam dados oficiais divulgados ontem e que indicam uma queda em dois por cento relativamente ao memo período no ano passado. De acordo com dados da Polícia de Segurança Pública (PSP), disponíveis no portal da Direção dos Serviços para os Assuntos Laborais, Macau registava ainda menos 223 trabalhadores em termos mensais, ou seja, comparativamente a Agosto. O continente continua a ser a principal fonte de mão-de-obra importada de Macau, com 111.619 trabalhadores (63,1 por cento do total), mantendo uma larga distância das Filipinas, que ocupa o segundo lugar com 27.878, num pódio que se completa com o Vietname (14.734). O sector dos hotéis, restaurantes e similares absorve a maior fatia de mão-de-obra importada com 50.126 trabalhadores, seguido do da construção com 30.756. A construção continua a ser o ramo com a maior queda: no intervalo de um ano perdeu 8.591 trabalhadores. As actividades culturais e recreativas, lotarias e outros serviços agrupavam 13.438 trabalhadores do exterior – menos 90 face a Setembro de 2016 –, dos quais 834 eram trabalhadores da construção civil contratados directamente pelas empresas. Já o ramo dos hotéis, restaurantes e similares teve mais 680 trabalhadores no mesmo hiato temporal, um aumento que não foi suficiente para compensar a diminuição sentida no sector da construção, que abrandou nomeadamente com a conclusão de novos projectos turísticos. A mão-de-obra importada equivalia a 45 por cento da população activa e a 45,9 por cento da população empregada, estimadas no final de Agosto.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaANM | Pró-democratas querem mecanismo de sinalização de tufões revisto Sem descurar a responsabilidade do ex-director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos, a Associação Novo Macau considera que o problema é mais profundo. A responsabilidade deveria ser partilhada colectivamente e a maior falha é não existir um mecanismo de sinalização eficaz de tufões [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]ong Soi Kun tem responsabilidade nas falhas associadas à sinalização do tufão Hato, mas não é o único. A ideia foi deixada ontem em conferência de imprensa pelo ainda presidente da Associação Novo Macau (ANM), Scott Chiang. Para o responsável há vários factores de relevo que não são mencionados no relatório recentemente divulgado pelo Comissariado Contra a Corrupção (CCAC). “O mecanismo que está por detrás da tomada de decisão quanto ao sinal a ser içado é muito fraco”, disse Scott Chiang. Em causa está o facto de a responsabilidade ser apenas dirigida a uma só pessoa. “A responsabilidade da decisão final recai só sobre uma pessoa que neste caso é Fong Soi Kun. Esta situação, não só não é a ideal, como não se compreende”, apontou. Para Scott Chiang, deveria existir um mecanismo que permitisse uma responsabilidade colectiva quando se trata de assinalar tufões. Cientistas desconhecidos No entender do ainda presidente da ANM, trata-se de uma decisão que deveria ser científica e não política. “É suposto que seja uma decisão feita por todo um departamento técnico. O sinal do tufão deve ser baseado em indicadores mensuráveis e científicos e zelar pela segurança da cidade”, referiu. Neste sentido, estão em causa vários factores. O conhecimento científico, considera Scott Chiang é um deles e pode garantir que “as decisões não sejam radicais, aleatórias ou emocionais”. “Uma coisa é o director fazer uma proposta ou sugestão de actuação perante determinada situação que depois é acatada por uma equipa científica, outra é decidir sozinho o que fazer”, explica. Por outro lado, e de acordo com o relatório do CCAC, Fong Si Kun teve uma série de comportamentos que podem ser recrimináveis. No entanto, salvaguarda Scott Chiang, não são comportamentos que se possam considerar irregulares até porque “Fong Soi Kun tem muita matéria para ser considerado culpado mas tecnicamente não há nenhuma regulamentação que ele tenha violado”. O facto de o ex-director ter ficado em casa a trabalhar a partir das ligações de internet e telefónicas não é o comportamento ideal, mas o maior problema é não existir “regulamentação que diga que numa situação destas o departamento deveria estar ao serviço no local”. Por isso, considera, tecnicamente o ex-director dos SMG não terá infringido qualquer regra. A ANM reitera que Fong Soi Kun, a seu ver, também é culpado, mas, mais importante “é perceber quais as circunstâncias que deram origem a tal desastre”, diz Scott Chiang, pelo que apela a mais regulamentação clara e definida. Equipamentos duvidosos Outro ponto a assinalar e que “é completamente ignorado no relatório do CCAC” tem que ver com o estado dos equipamentos utilizados para fazer as medições necessárias em situação de tufão. Não há, de acordo com o responsável da ANM, qualquer medida que garanta que os equipamentos estejam a funcionar nas melhores condições, especialmente durante o período de tufões. “Aqui há também uma responsabilidade que tem de ser assumida e cabe aos serviços garantir a aquisição do equipamento adequado e manter o seu bom funcionamento pelo menos nos períodos críticos”, diz, ao mesmo tempo que lamenta que “toda a informação acerca dos erros dados pelos equipamentos não apareça no relatório no CCAC e são coisas que deveriam lá estar”. Para Scott Chiang, Fong Soi Kun pode estar a ser, “sem que seja intencionalmente, uma espécie de bode expiatório” da catástrofe que aconteceu com a passagem do Hato no território, “até porque o seu comportamento não foi o mais adequado e acreditamos que teve muito que ver com o resultado da situação”. No entanto, reitera, “há circunstâncias estruturais que levaram ao desastre com as dimensões que teve”. “Tanto o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário como o próprio Chefe do Executivo deveriam ter em conta todo um conjunto de situações e perceber que há muito a reformular dentro do funcionamento dos serviços meteorológicos locais”, rematou Scott Chiang.
Sofia Margarida Mota PolíticaLAG 2018 | Paul Pun sugere medidas inovadoras para os transportes locais [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] encontro entre Paul Pun, o secretário-geral da Cáritas Macau, e o Chefe do Executivo, Chui Sai On, para recolha de sugestões para as próximas Linhas de Acção Governativa (LAG), ficou marcado por sugestões que, além das habituais referências à melhoria dos apoios aos mais necessitados, focaram, desta vez, os problemas de trânsito locais. ”Desta vez sugeri a criação de um sistema de transporte idêntico aos táxis mas com o uso de motocicletas”, disse ao HM. A ideia é criar um sistema de moto táxis capaz de integrar “um plano geral de facilitação dos transportes do território”. Ao contrário dos táxis do território, cada mota só levaria um passageiro e seriam adoptados diferentes modelos para que se pudessem responder a diferentes necessidades da população. Carros partilhados Outra sugestão para as próximas LAG deixada ao Chefe do Executivo pelo secretário-geral da Cáritas Macau foi a promoção de um sistema de partilha de transporte. A ideia é a criação de uma rede em que as pessoas partilham as viagens que fazem no seu carro pessoal quando têm um mesmo destino. “Não se trata de um sistema idêntico ao da Uber. Aqui não há um pagamento mas sim uma troca pelo mesmo tipo de serviço”, explicou Paul Pun. “Por exemplo, quando os pais levam os filhos à escola, podem alternar e levar, à vez, as crianças dos seus vizinhos e amigos”, ilustrou. Para Paul Pun, trata-se de um conjunto de medidas que poderiam vir a ter um efeito muito positivo no trânsito local. A alteração do tecto dos rendimentos para candidatura à habitação social foi outra das sugestões de Paul Pun. O objectivo é facilitar o acesso à habitação por parte da classe média local. “É uma faixa da sociedade que não tem capacidade económica suficiente para ter acesso a casa no território nem consegue ter rendimentos que lhe permitam poder candidatar-se às casas do Governo”, disse. A par destas questões, Paul Pun mantem as preocupações relacionadas com a ajuda aos mais necessitados e aos idosos. Chui Sai On, refere Paul Pun, mostrou “uma atitude positiva perante as sugestões”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaFronteira | Figuras de Hong Kong não compreendem proibições de entrada Kenneth Chan, docente e deputado, e Martin Lee, fundador do Partido Democrático de Hong Kong, dizem não compreender as proibições de entrada em Macau a activistas, deputados e jornalistas. Isto porque, na China, nunca se verificou esta questão [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]uito antes das autoridades de Macau terem barrado dezenas de pessoas na fronteira em poucos meses, já Kenneth Chan tinha sido proibido de entrar no território. Professor associado da Universidade Baptista de Hong Kong, Kenneth Chan é presidente do Partido Cívico, além de deputado. Ao HM, disse não compreender a decisão das autoridades de Macau em barrar activistas, deputados ou mesmo jornalistas. “Claro que me senti muito infeliz e frustrado sobre a decisão”, contou à margem do ciclo anual de conferências promovido pela Associação de Ciência Política de Hong Kong. “Nunca fui proibido de entrar na China mas fui proibido de entrar em Macau, o que é muito interessante e também contraditório. O significado da política ‘Um País, Dois Sistemas’ é permitir que Macau e Hong Kong sejam territórios diferentes da China. São cidades irmãs, é mesmo desnecessário banirem pessoas como eu, activistas políticos ou mesmo jornalistas”, defendeu. Até agora o Governo da RAEM nunca confirmou a existência de uma lista negra de pessoas e nunca deu esclarecimentos claros sobre as proibições na fronteira. “Estamos perante uma mistura de questões relacionadas com Macau e o continente. As autoridades foram alertadas para terem cuidado, para estarem atentas ao facto das pessoas de Hong Kong puderem causar alguns problemas. Eles perceberam a mensagem, mas a maneira como reagem é exagerada”, acrescentou. Kenneth Chan recorda a conversa que teve com as autoridades para dizer que talvez Macau tenha receio de arcar com responsabilidades. “Estive uma hora na fronteira. A questão que me foi colocada foi se eu ia para a China via Macau. E eu respondi que não precisava de fazer isso, posso viajar para lá de onde eu quiser. Isto significa que as autoridades podem recear que se faça algo de errado na China e que as culpas acabem por cair em Macau.” “E é também desnecessário, todos têm de assumir as suas responsabilidades em termos de comportamento e não temos quaisquer intenções de causar problemas em Macau”, frisou Kenneth Chan. Do exagero Martin Lee, fundador do Partido Democrático de Hong Kong e considerado o pai do movimento democrático na RAEHK, foi um dos oradores na conferência anual e não teve dúvidas em afirmar que “a maior parte das pessoas que foram proibidas de entrar em Macau podem entrar na China”. “Não compreendo porque é que o Governo de Macau tem vindo a exagerar nesta questão”, acrescentou ao HM. Para Martin Lee, os dois territórios são diferentes, mas em ambos a democracia é importante. “Esta diferença é interessante. Muitas pessoas dizem em Hong Kong para não lutarmos contra Pequim pela democracia. Que quanto mais lutamos, menos temos, e se formos obedientes vão-nos dar mais coisas, e que há o exemplo de Macau. São bons rapazes, não causam transtornos ao Governo Central, mas será que merecem menos democracia do que nós? A resposta é não. Se queremos democracia temos de lutar, fazer sacrifícios e ir para a prisão se for preciso”, frisou. Sem radicalização Kenneth Chan garante que não há qualquer tentativa de mudar as mentalidades do campo pró-democracia de Macau, que já mostrou, aliás, estar afastado do movimento pró-independência de Hong Kong. “Em Macau acredita-se que nós iremos radicalizar o campo pró-democracia, em grupos ou mesmo individualmente. Mas, vá lá, deveriam ter um pouco mais de fé nas pessoas de Hong Kong (risos) e confiar nas suas próprias pessoas”, ironizou. O político e docente adiantou que barrar pessoas na fronteira não muda nada, porque, afinal de contas, a população de Macau continua a ter acesso aos jornais e canais de televisão da região vizinha. “Podem compreender o que estamos a fazer e o que defendemos. Se é essa a razão, se não querem que haja uma ligação, então cortem o acesso às notícias, proíbam todas as pessoas de entrar. Até onde iremos? O próximo passo seria Macau considerar que as notícias de Hong Kong são demasiado perigosas para serem lidas ou ouvidas. Isso seria o fim de Macau e da política ‘Um Pais, Dois Sistemas’”, concluiu Kenneth Chan.
João Luz Manchete SociedadeAnálise | Futura crise chinesa pode ter consequências severas para Macau Apesar das taxas de crescimento e do índice de confiança dos consumidores, a China enfrentará no futuro consequências de problemas económicos endémicos que necessitam de reforma. Opacidade do sistema bancário, dívida galopante, taxa de desemprego manipulada podem empurrar o gigante chinês para uma depressão que arrastará Macau se nada for feito [dropcap style≠’circle’]À[/dropcap] medida que a China se prepara para reformular o seu tecido económico, não se baseando exclusivamente nas exportações, mas optando pela tradicional via da economia sustentada no consumo interno, alguns fantasmas começam a surgir no horizonte. Uma das prioridades de Xi Jinping é a preparação para um abrandamento do crescimento do produto interno bruto (pib) chinês. Outra das grandes políticas das próximas décadas é a criação de uma rede de segurança social que proteja os mais velhos, principalmente tendo em conta o envelhecimento populacional e a diminuição da força produtiva com menos pessoas a trabalhar. Além disso, existe uma grande opacidade a vários níveis económicos que podem esconder autênticas armadilhas futuras e consequentemente desencadear uma diminuição do consumo interno dos chineses. Ora, estas podem ser más notícias para a saúde financeira e social de Macau devido à óbvia dependência e exposição ao que se passa na China, principalmente ao nível das receitas apuradas pelo sector do jogo e turismo os dois pilares económicos locais. Para já, a segunda maior economia mundial encontra-se de boa saúde, com indicadores que continuam a desafiar expectativas. Mas até que ponto este crescimento é sustentado? Albano Martins entende que “a China tem o problema de ter crescido mas não se ter desenvolvido, isto porque o desenvolvimento não implica apenas a componente económica mas também social, cultural, assim como uma série de componentes que são difíceis de medir no espaço chinês”. A opacidade do sector bancário, os números do desemprego que não contabilizam as áreas rurais, o crédito malparado que é um incógnita e a falta de uma rede de segurança social que proteja os mais velhos são alguns dos problemas apontados pelo economista. Se juntarmos a isto uma gigantesca bolha imobiliária, a nebulosa política cambial e uma possível futura queda do consumo interno, temos lenha suficiente para queimar Macau economicamente. Agora, ok la Para já, a economia chinesa está de boa saúde com o Partido Comunista Chinês a dar uma lição de capitalismo ao mundo financeiro. Ainda assim, o terceiro trimestre deste ano foi de ligeiro abrandamento do crescimento, como era esperado, à medida que Pequim tenta controlar o mercado imobiliário e a exposição à dívida. Em relação ao período homólogo do ano passado, o terceiro trimestre de 2017 teve um crescimento de 6,8 por cento de acordo com o Instituto Nacional de Estatística. O número ficou um pouco aquém do previsto pelo governador do Banco Popular da China que havia previsto que o PIB cresceria a uma taxa de 7 por cento na segunda metade deste ano. O abrandamento do crescimento tem sido algo previsto pelos analistas que explicam o fenómeno com o desaceleramento em investimentos imobiliários e construção à medida que cada vez mais cidades tentam limitar os preços do mercado. Outro factor é a campanha de Pequim para controlar empréstimos arriscados, aumentando os custos de acesso ao crédito. Ao mesmo tempo, aumentam as preocupações com o crescente papel do Estado no crescimento económico, com o investimento público a ultrapassar o privado no passado mês de Setembro. Esta política motivou os alertas do Fundo Monetário Internacional para que Pequim tenha atenção aos métodos usados para fixar as taxas de crescimento económico com estímulos sustentados no aumento da dívida pública. No discurso de abertura do XIX Congresso do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping prometeu profundas reformas económicas e a abertura dos mercados ao investimento estrangeiro, alterando o paradigma do crescimento rápido para o crescimento de qualidade. Ao mesmo tempo, o secretário-geral expressou vontade de fortalecer as empresas estatais, o que parece enunciar mais investimento público. “Para não baixar os índices de crescimento o Estado chinês inunda a economia com fundos colossais que substituem a procura que privadamente não existiria, cria procura porque injecta dinheiro no mercado que depois volta a entrar no sistema”, explica Albano Martins. Impacto demográfico Um dos factores que pode afectar o consumo interno chinês, assim como a economia de Macau, é o envelhecimento populacional sem a existência de uma rede de segurança social. Mesmo que o turismo e o jogo que alimentam o território não sejam suportados primordialmente por idosos, as faixas etárias mais novas terão custos acrescidos de impostos para fazer face à bomba demográfica que está armada. Seguindo uma tendência mundial, aliado ao aumento da esperança de vida a baixa da natalidade foi um dos resultados óbvios das políticas do filho único. O académico Newman Lam recorda que “no panorama global, o maior boom de natalidade ocorreu em 1957, o que significa que de 2023 em diante estaremos no pico da crise das reformas”. O docente da Universidade de Macau prevê que “a China ainda vai conseguir seguir a actual onda económica por mais quatro ou cinco anos depois disso, até os problemas começarem a emergir”. Problemas esses que se estenderão a Macau. “A implicação é simples, quando se tem uma população envelhecida tem-se muito maior percentagem de reformados do que a população activa empregada, isso vai trazer um maior fardo nas finanças públicas”, explica Newman Lam. O académico acrescenta que esta realidade pode levar “ao aumento significativo dos impostos o que traz um problema maior: o declínio de consumo interno”. O professor universitário entende que “Macau está a chegar a um ponto em que se nada for feito as consequências podem ser severas. Provavelmente não será nos próximos anos, mas dentro de uma década poderá ser problemático”. Albano Martins afina pelo mesmo diapasão. “A experiência aqui ensina-me que quando a China tem problemas, Macau tem problemas. É quase imediato”, explica. O economista recorda que “nos anos 90 tivemos uma recessão de vários anos, na sequência do fecho de portas do sistema chinês à vinda de capitais para Macau, o que resultou na morte do imobiliário”. O mercado do jogo VIP também foi severamente afectado. Dar a volta “A China precisa de reestruturar a sua economia e Macau tem de fazer o mesmo, ou entramos em declínio”, comenta Newman Lam. O académico defende que o Governo deve dar passos firmes na reestruturação do sector do turismo para preparar um arrefecimento do consumo chinês, algo que tem vindo a ser projectado pelas autoridades. Um dos chavões mais ouvidos em Macau é o da diversificação económica, algo que terá de sair do plano abstracto se se quiser atacar uma crise vindoura. Nesse aspecto, as teorias económicas colocam o Governo num papel de fomentador da iniciativa privada que ficou debilitada pela falta de liquidez. Neste sentido, Albano Martins entende que caberá ao Governo intervir na economia criando procura e oferta e dinamizar o empreendedorismo chamando os agentes económicos a participarem na vida activa. Porém, o economista alerta que esta intervenção tem de ser feita de forma inteligente, saindo do paradigma de “uma economia que está totalmente nas mãos de um punhado de empresários próximos do poder”, ou seja, longe de “uma diversificação ilusória”. O economista acrescenta que estes “são períodos temporários em que o Governo tem de injectar dinheiro na economia, esse dinheiro não se vai perder”. Esta espécie de lei de Lavoisier económica só é possível devido aos cofres recheados que a RAEM tem. “Temos centenas de biliões arrecadados, esse dinheiro é para ser posto a funcionar em períodos difíceis”, comenta Albano Martins. Apesar de haver reservas suficientes para segurar a saúde da economia de Macau durante anos, estas injecções de capital devem ser feitas de forma racional, escapando às lógicas de compadrio entre o sector empresarial e o Governo.
Julie Oyang h | Artes, Letras e IdeiasRevisitar Rashomon na era dos factos alternativos [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] jovem estonteante da porta ao lado morreu durante a noite. De manhã, a vizinhança reuniu-se para tentar descobrir a causa. Em baixo estão algumas das declarações registadas pela polícia: – Eu vi-a sozinha no bar ontem ao fim da tarde. Tinha a cara completamente alterada. Deve ter sido intoxicação alcoólica. – Ela esteve recentemente envolvida com vários homens. Deve ter sido um crime passional. -Cruzei-me com ela no hospital a semana passada. Acho que foi fazer um teste ao HIV. -Há anos que sofria de depressão. Acabou por se suicidar. A verdade? Tinha morrido num acidente de viação. A verdade só pode ser uma, mas a sua narrativa pode acabar por ser uma mentira. A ficção é a prova de que uma mentira tão elaborada e refinada pode ser tida como verdade. Este fenómeno é conhecido por Rashomon, cujo nome deriva do conto homónimo, passado ao cinema em 1950. Quando alguém Rashomina é porque não pode ter a certeza do que está a dizer. Akutagawa Ryunosuke (1892-1927) publicou Rashomon em 1915. Ficou conhecido como um “génio com ideias bizarras”, ideias que serviam para “escavar” a natureza humana e exprimi-la de forma única plena de interioridade e inteligência. Rashomon dá-nos uma alternativa moral. O conto tem sete protagonistas que se encontram para resolver o assassínio de um samurai. 1. O lenhador foi o primeiro a encontrar o corpo do samurai “com uma faca enterrada no peito e folhas de bambu ensopadas em sangue à volta”. Perto do corpo encontravam-se cordas e um pente de mulher. O lenhador declarou-se inocente. 2. O monge contou aos outros que há poucos dias atrás tinha visto o samurai a cavalo na companhia de uma mulher. O monge declarou-se inocente. 3. O carcereiro informou que tinha prendido o ladrão que cometera assassínios por luxúria. Tinha morto mulheres e raparigas de forma extremamente cruel. A seu ver, este assassinato devia estar relacionado com o célebre ladrão. 4. A mulher idosa assinalou que o falecido era seu genro. Tinha um nome e 26 anos de idade. Era bondoso. Estava casado com a sua filha de 19 anos, uma mulher dura. 5. No final, o célebre ladrão confessa que matou o samurai porque o viu violar a mulher. Nessa altura decidiu matá-lo e casar-se com a viúva. Contudo, deu-lhe uma hipótese e desafiou-o em duelo. Lutaram durante 23 rounds até finalmente o aniquilar. Mas agora a mulher fugiu, deixando para trás o seu cavalo a mordiscar a vegetação da orla do bosque. Nesta altura o leitor fica tentado a acreditar que o ladrão está a falar verdade. MAS, 6. A mulher aparece, e conta que o ladrão a violou e obrigou o marido a assistir. Profundamente envergonhada, agarrou na sua faca e matou o marido. O relato da mulher contradiz obviamente o do ladrão. 7. Surge então o fantasma do morto e conta que a mulher era maldosa e que contratou o ladrão para o matar. O ladrão suspeitou dos motivos da mulher e mandou-a embora. Ela aproveitou a oportunidade para fugir. A seguir o ladrão perguntou ao samurai o que queria que ele fizesse com a mulher. Deveria matá-la ou deixá-la ir? Comovido com a atitude do ladrão, o marido prontificou-se a perdoá-lo. Finalmente o ladrão decidiu partir. O samurai resolveu matar-se com a faca que a mulher tinha deixado ficar para trás. Akutagawa desafia a noção da “verdade única”. Em Rashomon a verdade encontra-se escondida no epílogo. No epílogo os mentirosos prestam juramento. E é aqui que começam a acreditar na sua própria realidade fabricada.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasEnsaios sobre a ordem e a desordem 2 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mais das vezes, pensar é emboscar-se. Emboscar-se sob bancos de corais já formatados e cujo resguardo compensa a nossa dependência externa com um aparato de coerência interna. Aí “pensamos” para reflectir a ordem estabelecida pelo repertório a que aderimos – um partido, um determinado modo de vida, uma igreja, uma convicção escolástica: todas as respostas-pronto-a-vestir que nos tragam conforto – e não como seria desejável para explorarmos a fundo o “caos” do pensamento pensante. Ao “pensarmos de um modo assistido” inserimo-nos, certificamos que pertencemos ao sistema de interesses instalados. E embora nos galvanize a nossa satisfação, dado que os elementos de persuasão montam uma viva aparência retórica, esquecemo-nos de que um dos efeitos eficazes da ideologia é apagar o seu rasto e fazer-nos crer que estamos estanques à auto-ilusão. Ora, demonstrou-o René Girard, nós, no mais das vezes, não queremos pensar, queremos apenas pertencer. Daí a importância da mimetização nas virtualidades do jogo social. E a boa execução da mimetização recompensa-nos com a possibilidade de sermos populares. Eis um dos significados da palavra «popular». Outros significados florescem no mesmo tronco semântico. Ser popular significa algo ou alguém ser muito conhecido, como designa o que seja próprio de uma classe social particular, a mais desfavorecida da organização social. Donde decorre, um terceiro sentido: a pertinência de algo “não elaborado”. Roger Pouivet, num ensaio em que descreve a mudança das agulhas que faz a arte popular deslocar-se para os carris das artes de massas, esclarece – a arte popular deve reunir duas condições de acessibilidade: a primeira é económica, a segunda condição é cognitiva. Uma arte popular não exige uma cultura de segundo nível, uma cultura clássica – a qual supõe sempre uma aprendizagem de que está arredada a maior parte das pessoas. No feliz exemplo de Pouivet, um novo registo das Variações Goldberg, de Bach, não custa mais caro que um novo cd da Celine Dion. Mas captar a diferença entre a nova interpretação da obra de Bach e os registos anteriores da mesma obra é cognitivamente inacessível à maior parte das pessoas. Eis uma razão para haver menos compradores para esta obra do que para a de Celine Dion. Embora Bach tenha hoje mais compradores do que nunca, persistir em ouvir música clássica e tirar o pleno proveito da mesma já exige um manejo cognitivo cujo acesso só será franqueado pelos que se tornarem amadores de música e forem pacientes para estudar os vários níveis de leitura das obras – o que não se compadece com a lógica aditiva da massificação nem com a ansiedade da novidade que as indústrias culturais herdaram das vanguardas artísticas. A arte de massas oferece-nos o que seja consumido rapidamente e não necessite do esforço da interpretação – e, por sua vez, para o consumidor, ter obnubilada a necessidade de compreender. Para ajudar-nos a entender a emergência sufocante da cultura de massas sobre os demais regimes culturais, será útil socorrermo-nos da tipologia estabelecida pelo alemão Hans Ulrich Gumbrecht, o qual defende que o mundo está polarizado entre as culturas do sentido e as culturas da presença. As primeiras desenvolveram as tradições hermenêuticas e uma certa racionalidade afim da lógica e do discursivo. Já as culturas da presença são mais performáticas, associam-se ao corpo e desenvolvem um tipo de inteligência mais holística. O que importa realçar é que Gumbrecht sintoniza com Pouivet neste diagnóstico sobre um dos principais motivos para a adesão “sem espinhas” à arte de massas: «As finalidades da música de massas – e das artes de massas mais gerais – não são cognitivas, morais, religiosas, sociais, históricas, como o são as obras da cultura humanística. Elas são fundamentalmente afectivas» (e, neste sentido, poderão ser até terapêuticas). O segundo grande motivo para uma adesão decapitadora associa-se a um vector básico que separa a arte popular da arte de massas. As artes populares são de comum expressões de comunidades de que elas emanam. Há um lastro identitário. O que nos autoriza a localizar as origens do fado, do folk, da morna, do flamenco ou do sushi. Pelo contrário, as artes de massa não reflectem as comunidades que com elas se identificam. Os U2 são ouvidos por jovens holandeses, chineses ou africanos. Talvez por causa do que adianta Pouivet: «As obras da arte de massas dirigem-se ao comum denominador de seres que não partilham uma mesma cultura, no sentido humanístico, que não falam as mesmas línguas, que não vivem da mesma maneira. Madonna, os Rolling Stones, U2, mas também Matrix ou O Silêncio dos Inocentes, romance ou filme, interessam todos os seres humanos dos mais jovens aos mais idosos. Eles dirigem-se ao seu mais pequeno denominador comum não cultural.» E para interessarem a todos, esclarece o francês, a estética destes produtos desenvolve aquilo que se chamam os efeitos genéricos do humano: a amizade, o medo, a alegria, o amor, o fascínio pelas máquinas, etc. Por efeitos genéricos entenda-se o grosso modo: daí que hoje nas obras se privilegiem a estrutura sobre a linguagem e o detalhe, a funcionalidade sobre a deriva romanesca. As grandes subtilezas ficam do lado da poesia, ou do romance de cariz humanístico. Porque na verdade, mais de metade dos romances de hoje não passam do que dantes se chamavam as novelizações, ou seja, as adaptações dos filmes de êxito. Mas como vendem e estando o esforço de classificar fora de moda – ao arrepio de uma corrente que privilegia os matizes da «presença» – então os media tomam tudo por igual. E isto ajuda-nos a discernir porque, a) um novo “romance” de John Grishman, ancorado ao “género” e ao cinema, conhecerá maior sempre cobertura mediática do que uma tradução, esta sim louvável, de uma obra de Arno Schmidt, b) porque a maioria expressiva dos jornais generalistas prefere tratar preferencialmente a cultura alheia do que a nossa, dando uma menor visibilidade, atenção e credibilidade ao que se produz na nossa língua. Mas não nos adiantemos.
João Santos Filipe DesportoAtleta de Macau aponta ao primeiro lugar no Open de Taekwondo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Open Internacional de Macau de Taekwondo começa no sábado, no Centro Olímpico de Macau, e Nikola Maricic definiu como objectivo a conquista do ouro. O atleta que representa Macau, apesar de ter nascido na Croácia, vai actuar na classe Poomsae, em que os lutadores estão sozinhos a simular movimentos de combate e são avaliados com base nos movimentos técnicos. “Estou à espera lutar pela medalha de ouro e conquistá-la. Considero que é um objectivo possível, se durante a performance não cometer muitos erros, nem me sentir muito ansioso”, confessou, ontem, Nikola Maricic, ao HM. O atleta chega à competição do território, após ter alcançado o bronze no Campeonato Internacional de Taekwondo da Malásia, que decorreu em Agosto, na cidade de Kuala Lumpur. Na altura, Maricic tentava defender a medalha de ouro conquistada na edição do ano anterior. Contudo, o facto de não ter conseguido o objectivo, não o levou a alterar de forma radical a preparação para o torneio de Macau. “Não mudei nada na minha preparação depois do torneio em Kuala Lumpur. Na altura, apesar de não ter conquistado o ouro, fiquei contente com o bronze, por isso continuei a fazer os meus treinos com a selecção, como faço sempre. Além disso realizo as minhas sessões de treino individuais”, contou o praticante de 48 anos, que vai competir na categoria para atletas com idades entre os 41 e 50 anos. Questão de equilíbrio Porém, como a simulação de combate para este torneio vai exigir aos atletas um maior equilíbrio, esse foi um dos aspectos que o praticante trabalhou de forma mais intensa. “Desta vez apostei muito mais no equilíbrio, porque de acordo com as regras para esta competição, vai ser um dos principais aspectos a ser avaliado. Normalmente a importância atribuída aos critérios de avaliação muda consoante o torneio, assim trabalhei muito o equilíbrio de olhos fechados”, explicou Nikola Maricic. “Quero conseguir uma pontuação de oito pontos, o que no Taekwondo é uma nota mesmo muito elevada. Para se ter uma ideia, os campeões mundiais, e estamos a falar de atletas de topo, não vão além dos 8,20 ou 8,30”, acrescentou. Além de competir no sábado, Nikola Maricic vai ser júri de outras competições nos restantes dias. Uma tarefa a que está acostumado, e que diz contribuir para ser um treinador melhor. “É uma posição muito exigente porque temos de acompanhar todos os movimentos dos atletas, é um grande esforço. É também uma grande responsabilidade porque temos de estar atentos para retirar pontos sempre que é cometido um erro, mesmo que seja uma coisa de pormenor”, apontou. “É uma vertente muito importante, principalmente como treinador. Se não formos bons a saber avaliar os atletas também é mais complicado conseguir ensinar bem os nossos alunos”, frisou.