A nau catrineta

[dropcap style=’circle’]L[/dropcap]onge vão os tempos em que a língua falada era um legado de fábulas e um canto em verso que se soletrava em forma de uma Constituição oral das regras de um país, de maneira a produzir uma receptividade comunicante de unidade e completude de esfera onírica, no tempo da Barcarolas, dos Cânticos, dos Trovadores, das Orações e das Trovas.
Ela articulava-se para produzir efeitos, desejar bênçãos, aperfeiçoar a melodia interna, profetizar e unir o inconsciente colectivo. Tudo isto foi a um tempo bem distinto da linguagem do agora, com ritmos e ciclos outros, que dava ao Verbo o papel de profecia. A cultura era também esta maneira de oralidade imensamente poética que merece ser vista com alguma consciência mais precisa quando falamos deste género literário. Vivemos hoje o fim de todo este ciclo: a língua não serve mais este propósito ou estes vários propósitos, tendo, na era da comunicação, sido práticamente abolida a sua imanência. Continuamos arduamente a produzir cultura, ferreamente empenhados em compreender tudo de todas as maneiras, a falar como nunca, a produzir sons e a jogar todos os verbos de forma a comunicar sempre mais, não se sabendo exactamente o quê.
Com o recurso ao pensamento individual todas as formas de relato são agora possíveis, todas as misturas argumentativas, todos os diálogos, todas as línguas, toda a verificação automática da sua norma, enfim, querer ser compreendido por meio da palavra tornou-se uma obsessão ilimitada e quase perturbadora. Informar, passar a mensagem, factualizar, argumentar, dizer, desdizer, tudo isso os discursos abusivos e a comunicação aceleram numa vertigem sem paralelo.
Estamos então no tempo de todos os recursos linguísticos e fonadores, pois que o Homem é o resultado da linguagem e o seu cérebro vai-se desocultando no exercício dela, de forma quantas vezes imprevisível , como no tempo em que o cérebro ainda possuía alucinações auditivas e os patriarcas, xamãs, profetas as ouviam a partir do seu lóbulo frontal e escreviam e ditavam coisas que ainda agora nos deleitamos e curvamos de pura admiração. Ora os seus cérebros estavam formados para outros raios comunicantes sem dúvida, porque hoje, não ouvimos mais essas “vozes”, nem elas nos ditam coisa nenhuma. Ficamos a sós uns com os outros a falar, por vezes mesmo a sós, outras porque nos disseram que não podemos estar calados, que todos temos uma palavra a dizer e assim por diante. As “vozes” hoje são ouvidas por escribas de editoras que lhes dita um outro, tão humano quanto ele, para relatar algo, que certamente vende e enche o mundo de papel, histórias essas quase sempre plausíveis, chamando para o poder humano aquele que algures tinham Deus e outras sublimes forças.
Um escriba já não é o homem com acesso ao vocabulário e ao sinais gráficos mas um ente que escrevinha o que um outro pensa muitas vezes de si mesmo. Esta total separação de fontes ordenou que todos tentassem escrever a sua história em moldes e formas unitárias, tiradas de todos, para que todos possam participar na vida uns dos outros em depoimento humano tão falível quanto as narrativas não batem certo. Os Faraós, que tinham linguagens e formas de lucubração metodológica talvez pouco desenvoltas e não estariam propriamente a falar com o redactor, este teria também que saber interpretar a voz de um “deus”. Não se sabe muito bem o que é que os Faraós disseram, a não ser aquele, o Aqueneton, que resolveu acabar com a casta sacerdotal, talvez demasiado palavrosa para as suas ideias monoteístas. Mas havia o labor do escriba! 9715P11T1
A dialéctica, essa arte da oratória, cresceu não como factualidade de enumerar coisas, mas tão somente pela “beauté do verbe”. Falar era uma arte maior, que não tinha de contar factos ou dizer o que se sabia. Era a pura interpretação inteligente da maneira de argumentar sem um sentido pré-determinado: poder-se-ia falar da coisa falada e renunciar a ela num atalho da própria matéria verbal. Devia ser delicioso. Ajudava a dar ao pensamento a antecipação de uma acção, a percorrer memorandos de informação, que são cultura armazenada. Aliás, as religiões monoteístas aplicaram brilhantemente estes princípios nas orações, nas preces, nos salmos e na retórica que transmitiam com bases sólidas das fontes linguísticas que foram o latim e o grego.
Esqueçamos tudo isto, porque o que não se exercita se esquece, claro, e vamos para o hoje do mundo falante. Nada disto parece sequer fazer sentido, nós os detentores da informação estamos tão nus destas verdades como despidos face a nós mesmos, as línguas são agora ferramentas ao serviço da nossa escalada de solidões várias, onde não vem colmatar nenhuma esfera desprotegida e direi até grandiosa. O que se disse hoje, amanhã diz-se de novo de outra maneira para assim nos dar a sensação que dizemos coisas novas. Meia perversa meia grotesca, serve-se dos acontecimentos ao redor (ao redor agora é a Terra toda) dando o brilho artificial de que quase sempre a própria informação se reveste.
Há o lado monocórdico, que tanto fala da morte como da vida, como do sexo como da paz, com a mesma inexpressiva dose informática, de modo que tudo se resume a acontecimentos no grande entulho das coisas sensíveis, factuais, os responsos a estas várias desgraças há muito que foram esquecidas e a felicidade é tudo quanto se almeja. Só que para ela há códigos que não lembram ao diabo, erguidos como grandes paragonas, tão politicamente correctos que ninguém ousa desafiar. Caso o faça, fica morto porque, quem não fala assim, não está do lado certo da jornada.
Olhando apenas o factor som do aparelho fonador, descobriu-se que a voz feminina pode provocar depressão nos homens e que pode estar associada ao grande número de agressões por parte destes. É uma conclusão que aponta para um total reaccionarismo mas que não deixa de ser interessante, porque corrobora com a ideia de Lou Salomé quando afirmou que a loucura afecta o desregramento vocabular na mulher enquanto que nos homens lhes retrai o dom da palavra, ou seja, a um provoca autismo, a outro a obsessão linguística.
Estou certa que o futuro ditará novas abordagens no fenómeno comunicante, outros órgãos que ainda desconhecemos se irão aos poucos desenvolver deste aparelho, quiçá ainda rudimentar, se ampliarão outros, com novos símbolos gráficos como acesso à telepatia, onde o poder comunicante se desenvolverá como hoje só é possível nas máquinas de sonhar e que todo este ruído a que fomos sujeitos findará, porque não foi afinal por causa dele que fomos enquanto criaturas melhor compreendidos. Aliás, nunca os afectos recuaram tanto perante a exigência de os analisar, nunca tantos se entenderam tão mal. Aqueles que nos dizem o que é essencial saber, reunir-se-ão na nossa esfera de empatias melhoradas, sem longe e sem distância, como um Fernão Capelo Gaivota, para nos sussurrarem ao ouvido o seu precioso entendimento e dele nascerá a esfera de um conhecimento que amplia a linguagem em muitos saberes.
Levados pelas vozes de uma esquecida Nau Catrineta talvez as histórias sejam então de pasmar.

Que queres então, meu gajeiro?
Que alvissaras te hei-de dar?
Quero só a tua alma para comigo levar.
Pegou-lhe um anjo nos braços, não o deixou afogar.
Deu um estouro o demónio.
E sossegou logo o mar.

9 Jul 2015

Habitação Económica | Secretário assume insuficiência legislativa

Uma lei que precisa de ser melhorada. É assim que Raimundo do Rosário explica a incapacidade do Governo em solucionar a questão da não ocupação das fracções atribuídas. O IH está a trabalhar no assunto e não se fecha a hipótese a uma revisão parcial da lei, enquanto a global não está concluída

[dropcap type=”3″]“A[/dropcap] Lei da Habitação Económica que está em vigor não permite ao Governo resolver o problema de forma eficaz”. Quem o afirmou foi o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, que falava ontem sobre a não ocupação das fracções de habitação económica pelos candidatos a quem foram atribuídas estas casas.

Apesar de na lei em vigor estar definido que este tipo de habitação é destinada a uma residência efectiva e permanente, esta nem sempre é respeitada. “Não há dúvida que o artigo 5 desta lei diz que estas habitações se destinam a residência efectiva e permanente, no entanto na parte das sanções não está prevista nenhuma para esta situação [da não ocupação da habitação]. Estão previstas as sanções aos ocupantes que destinem a fracção para outros usos que não a habitação, está também prevista uma sanção [em caso de] sub-arrendamento, mas não está prevista nenhuma sanção para a não habitação”, explicou o Secretário aos jornalistas, depois da segunda reunião da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública.

[quote_box_right]Uma lei que precisa de ser melhorada. É assim que Raimundo do Rosário explica a incapacidade do Governo em solucionar a questão da não ocupação das fracções atribuídas. O IH está a trabalhar no assunto e não se fecha a hipótese a uma revisão parcial da lei, enquanto a global não está concluída [/quote_box_right]

Não existindo ainda uma definição clara do que é efectivamente uma habitação não ocupada, Raimundo do Rosário admite uma “insuficiência legislativa” que necessita de clarificação. O Secretário explicou que o Governo terá que tomar agora uma decisão de fazer uma revisão parcial – relativa a esta matéria – antes da revisão global da lei.

“Está a decorrer uma consulta pública sobre a revisão da Lei de Habitação Social e segue-se uma revisão da Lei da Habitação Económica e a decisão a tomar é se o assunto merece ou não um tratamento independente, isto é, não esperar pela revisão global da lei e proceder já a uma revisão parcial para tratar desta matéria”, argumentou.

O presidente da Comissão de Acompanhamento, Chan Meng Kam, explicou aos jornalistas que o Governo está mais inclinado para esperar pela revisão global. O também deputado frisou que a Comissão considera que é necessário simplificar o processo burocrático de candidatura e por isso é possível, sem especificar quais, que se “levantem algumas restrições” para as candidaturas da habitação social.

Um segundo ponto em análise na reunião foi a capacidade de resposta do Instituto de Habitação (IH). Conforme explicou o Secretário, apesar da existência desta insuficiência legislativa isto “não significa que o IH não esteja a fazer nada”.

Desde o princípio do ano, afirmou Raimundo do Rosário, o instituto tem levado a cabo vários inquéritos, verbais ou escritos, sobre os motivos que levam os candidatos seleccionados a não ocuparem as casas.

“A [justificação] mais vulgar é que [os ocupantes] estão a fazer uma renovação das suas habitações”, explicou o Secretário, garantido que o Governo vai continuar a fazer o acompanhamento e fiscalização.

9 Jul 2015

Ensino | Cursos Associados poderão integrar todas as instituições

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]nova opção de estudo no ensino superior – os cursos associativos – foi o tema central da última reunião da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), presidida por Chan Chak Mo, que decorreu ontem.
“Trocámos impressões, com os deputados, sobre o projecto de Lei do Ensino Superior, em especial sobre o terceiro capítulo, que está relacionado com os cursos e os graus”, começou por explicar Sou Chio Fai, coordenador do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES).
A existir apenas no Instituto Milénio, o Governo tem intenção de colocar esta opção em prática em todos os estabelecimentos de ensino superior, e, por isso, a reunião serviu para responder a algumas perguntas da Comissão. “Os deputados fizeram algumas perguntas sobre a ligação com o resto dos cursos, tal como os cursos de licenciatura, mestrado e doutoramento, e qual a ligação com deste cursos [associados] com outros países ou regiões”, adicionou o coordenador.
Os cursos associados têm duração de dois anos e não equivalem à licenciatura. “Este tipo de acordo não existe em Portugal, mas existe na América e Hong Kong (…) e tem duração de dois anos. Depois de acabados, com o diploma de associados, os [alunos] podem fazer o terceiro ano do curso de licenciatura”, explicou.
Para o coordenador, este tipo de curso traz várias vantagens, como por exemplo, a possibilidade de obter um diploma [de associado] sem fazer os quatro anos de licenciatura. “Os alunos antes de acabar um curso de quatro anos, da licenciatura, podem depois de dois anos ter um diploma de associado. Segunda [vantagem] é a mobilidade internacional e regional”, aponta, explicando que depois de obter o diploma os alunos podem obter créditos para terminar uma licenciatura em outros países. Os alunos que estudam e não têm tempo para acabar uma licenciatura de quatro anos, podem também usufruir com este tipo de curso.
Relativamente à cedência de oito edifícios do antigo campus da Universidade de Macau (UM) para a Universidade da Cidade de Macau (UCM), o coordenador explicou que ainda não existe data para a assinatura do acordo, mas será antes do próximo ano lectivo. sou chio fai
Depois das várias críticas apresentadas à UCM, Sou Chio Fai explicou que efectivamente existe margem de manobra de todas as instituição para melhorias. “Não posso dizer qual é a situação ideal da qualidade do ensino superior, posso dizer que todas as instituições de ensino superior em Macau têm espaço para melhoramento em termos de qualidade de ensino. O Governo está a tomar várias medidas para melhorar a qualidade do ensino superior”, defendeu.
A UCM é uma das instituições públicas do ensino superior e de serviços governamentais que vai receber parte das instalações, decisão que não só foi feita de acordo com “estudos”, mas também mereceu o acordo, em 2014, do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, tendo sido aprovada pelo Chefe do Executivo.
Recorde-se que o arrendamento de oito edifícios do antigo campus pela UCM tornou-se bastante polémico por esta instituição de ensino estar ligada ao deputado e empresário Chan Meng Kam. A UCM deverá abrir portas em Setembro do próximo ano e espera acolher seis mil alunos, mais dois mil do que os que possui actualmente.

9 Jul 2015

Aterros | Prédios altos na zona B alimentam discórdia

Continua a causar controvérsia a construção dos prédios judiciais com cem metros de altura na zona junto à Torre de Macau. Governo diz que há condições e que não se pode ir só pelos gostos, mas residentes e deputados não concordam

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) garante que há condições para se erguerem prédios altos na Zona B dos novos aterros, apesar das críticas de residentes e deputados de que os empreendimentos vão obstruir a vista da Igreja da Penha.
No programa “Macau Talk” de ontem do canal chinês da Rádio Macau, um ouvinte com apelido Sou mostrou-se preocupado com o que diz ser falta de coordenação entre o limite de cem metros de altura de edifícios que vão surgir na Zona B dos novos aterros, ao lado da Torre de Macau, e a Colina da Penha, que tem apenas 60 metros da altura. As mesmas críticas já tinham vindo a ser feitas pelos activistas da Macau Concelears e deputados, mas o Executivo garante que já tudo foi analisado.
Ao responder, o vice-director substituto da DSSOPT, Cheong Ion Man, defendeu que a construção naquela zona está em primeiro lugar na lista de trabalhos dos novos aterros, sendo este o local onde vão ficar os edifícios destinados a órgãos políticos e judiciais. O responsável diz que foi tida em conta a vista da Colina e até a chamada “lei da sombra”.
Face ao limite de altura, Cheong assegura que, quando o plano director dos novos aterros foi elaborado, foram considerados os factores de questões aeronáuticas e a visibilidade do património mundial, que não pode – de acordo com a UNESCO – ser tapado.
Cheong Ion Man diz ainda que foi feita uma análise por um grupo interdepartamental e especialistas que mostra que “a Zona B tem condições técnicas para se construírem prédios altos”, sobretudo nos espaços perto da Torre Macau, e que “já foram analisadas as propostas mais viáveis”.

Eles não sabem tudo

Apesar de ontem o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, ter explicado que ainda não há decisão sobre a altura dos prédios no local, até porque é necessário terminar as consultas públicas, o responsável também aponta que a população em geral não tem conhecimentos técnicos e profissionais. Raimundo diz que “alguns irão dar a opinião conforme o seu gosto pessoal e a matéria de consulta implica muitos factores técnicos e por isso nem sempre a população em geral tem o entendimento necessário, pelo que o Governo vai elaborar as políticas, tendo em consideração o resultado obtido na consulta pública, acompanhado de estudos técnico-profissionais e só assim sairá a versão final”.
Mesmo assim, os deputados Kwan Tsui Hang e Pereira Coutinho não estão contentes e ontem também se insurgiram contra a altura dos prédios da Zona B impedirem a vista da Colina da Penha.
Ao Jornal do Cidadão, Kwan Tsui Hang disse considerar que estes edifícios devem ser integrados nas zonas ao redor do local, sendo que não há ali prédios com tanta altura.
Mais ainda, como Macau irá poder gerir as suas próprias águas marítimas, Kwan prevê que o território tem condições para aumentar a área de terrenos. Assim, pede que o Governo pensa de novo no design de toda a cidade, sem aumentar a altura das construções e destruir os raros espaços de lazer em Macau. “A sociedade já aceita que na Zona A se vá construir um grande número de habitações, resolvendo a necessidade urgente da população.”
Também o deputado Pereira Coutinho deixou criticas no mesmo meio de comunicação sobre o limite de cem metros de altura destruir a vista da zona dos Lagos Nam Van e pediu que o planeamento da área tenha como prioridade a protecção do património e as características culturais do local.
Hoje em dia, recorde-se, o espaço está a servir de estacionamento para os autocarros, tendo em redor diversos espaços de lazer, como campos desportivos.
Cheong Ion Man lembrou que na 2ª fase de consultas públicas já foi apresentado o projecto de criação de um “corredor visual de paisagens” para assegurar a protecção da vista da Colina da Penha e do Porto Exterior. O subdirector substituto frisou também que em todos os novos aterros ainda não existem casos de concessão de terrenos.

9 Jul 2015

CCP | Recenseados no Consulado-Geral aumentaram 43,5%

O Consulado-Geral de Portugal em Macau conseguiu aumentar os eleitores recenseados em 43,5%. Contudo, Vítor Sereno garante que a campanha em prol do recenseamento não vai ficar por aqui

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]epois de uma intensa campanha em prol do recenseamento, Vítor Sereno, cônsul-geral de Portugal em Macau, é um homem satisfeito. Em declarações à imprensa, Sereno confirmou que o número de eleitores aumentou 43,5% face a Abril, quando apenas pouco mais de 11 mil pessoas estavam recenseadas no Consulado. Actualmente são 15.795 recenseados, incluindo 4799 novos eleitores. Os dados foram avançados depois dos cadernos eleitorais terem sido encerrados, no âmbito da campanha em prol do recenseamento obrigatório, condição essencial para votar nas eleições para o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), depois da mudança na lei.
“Este foi um processo novo e estou satisfeito pela capacidade de resposta das associações e pela minha equipa de trabalho. Uma subida de 43,5% é significativa em termos de todos os postos consulares do mundo”, referiu Vítor Sereno.
O cônsul-geral de Portugal em Macau não deixou de agradecer às associações de matriz portuguesa que colaboraram com o processo. A Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM), Casa de Portugal em Macau (CPM) e Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC) colaboraram enviando os seus representantes para dar uma ajuda, pelo período de uma quinzena por associação. A Associação dos Macaenses (ADM), Santa Casa da Misericórdia (SCM) e Escola Portuguesa de Macau (EPM) também participaram.
Apesar do processo para o CCP estar concluído, Vítor Sereno garante que a campanha pelo recenseamento não acaba aqui. “Quero continuar a apelar ao recenseamento, porque temos mais dois actos eleitorais importantes. O grande fluxo de eleitores deu-se agora, mas queremos deixar a mensagem de que o recenseamento continuará aberto”, disse Sereno, referindo-se às legislativas e presidenciais em Portugal.
Depois de José Pereira Coutinho, líder da lista candidata ao CCP, ter revelado receios sobre a grande afluência às urnas no consulado, a 6 de Setembro, devido à falta de pessoal, Vítor Sereno garante que tudo será resolvido. “Vamos preparar-nos para um cenário de grande afluência às urnas”, disse, esperando muitos votos para o CCP. “Mesmo com uma única lista candidata espero que tenha o maior número de votos possível, porque é um sinal de vitalidade do posto consular e da nossa comunidade.” Recorde-se que no último acto eleitoral para o CCP votaram cerca de duas mil pessoas. Para este ano, a equipa de Coutinho espera mais 40 a 50% de eleitores.

Resposta a Pereira Coutinho

Vítor Sereno não quis fazer grandes comentários às críticas de Pereira Coutinho sobre o funcionamento do Consulado-Geral. “Penso que os números são inequívocos e não posso fazer qualquer comentário. Só pretendo providenciar o maior número de serviços aos cidadãos portugueses. Estamos no bom caminho e se hoje olharmos para trás estamos melhores. Há dois anos, a imagem de marca deste Consulado eram as filas que se formavam às 5h30 da manhã que, com todo o respeito, me faziam lembrar os países africanos onde servi. Hoje isso não acontece.” Sereno também não comentou as declarações de Coutinho, que defendeu a “prata da casa” para representar Portugal junto do Fórum Macau, ou seja, um representante bilingue e mais conhecedor do terreno.

Novos funcionários escolhidos

Sereno confirmou também que já estão escolhidos os cinco novos funcionários que irão trabalhar no Consulado, sobretudo na área do registo civil, que ficou “bastante deficitária” desde as saídas de trabalhadores. Actualmente existem mil processos em atraso nesta área.

9 Jul 2015

Sónia Chan em Pequim para falar de acordo judiciário

Sónia Chan foi a Pequim esta semana para visitar o Ministério da Segurança Pública e outros serviços relacionados, a fim de aprofundar mais os debates sobre assuntos de cooperação judiciária. Segundo um comunicado, é apenas revelado que as questões “importantes do acordo” estão a seguir a bom ritmo, mas nada mais. O acordo, recorde-se, refere-se à entrega de infractores em fuga. “Chen Zhimin, Vice-Ministro do Ministério da Segurança Pública, recebeu a Secretária para a Administração e Justiça e ambas as partes trocaram opiniões sobre o reforço do intercâmbio dos regimes jurídicos entre o interior da China e a RAEM, bem como melhoramento do mecanismo da cooperação judiciária na matéria penal”, pode ler-se.

9 Jul 2015

Fumos Oleosos | Associação pede urgência nas Normas de Emissão

A Associação Profissional de Equipamento Ambiental coloca em causa a determinação do Regime das Normas de Emissão de Fumos Oleosos e, por isso, apela a que a entrega da proposta à Assembleia Legislativa (AL) aconteça o mais rápido possível.
Terminada as consultas públicas sobre o regime, levadas a cabo pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), o presidente da Associação em causa, Chan Lin Chong, mostrou-se desconfiado da verdadeira intenção do Governo em melhorar o problema da emissão dos fumos oleosos dos estabelecimentos de comidas e bebidas. O presidente justifica a sua suspeita, segundo cita o Jornal Exmoo, pela ausência de qualquer informação quatro meses depois de terminadas as consultas.
Chan Lin Chong explicou que entre os seis mil estabelecimentos que viram ser-lhes emitidas licenças de negócio, quatro mil já montaram equipamentos qualificados para o tratamento de fumos oleosos, permitindo que 90% dos fumos possam ser eliminados caso os equipamentos tenham manutenção e limpeza, por pessoal qualificado, de forma periódica.
O presidente apela a que o Governo acelere a implementação das normas e a sua supervisão, sugerindo que quando os estabelecimentos pedirem ou renovarem as licenças de negócio lhe seja exigida a montagem de equipamentos qualificados.

9 Jul 2015

Jogo | Lançado livro sobre manifestações e “ilegalidades”

É a segunda obra sobre manifestações em Macau e é da autoria de Lei Kuok Keong, vice-presidente do Forefront of the Macao Gaming. O autor fala de ilegalidades “que não são tratadas” dentro do sector

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]vice-presidente do grupo Forefront of the Macao Gaming, Lei Kuok Keong, publicou um livro onde descreve e regista os protestos levados a cabo por trabalhadores de Jogo no ano passado e este ano. Lei Kuok Keong aponta as dificuldades destes funcionários e fala ainda da “face obscura” desta indústria de Macau.
Chama-se “Início e Fim dos Movimentos dos Trabalhadores de Jogo – a Escuridão da Indústria de Jogo de Macau” e o autor refere que a obra testemunha o ambiente social depois do desenvolvimento do sector predominante desta cidade. Foi lançado já no início deste mês e Lei prevê que vá vender apenas cem exemplares da obra.
Em declarações ao HM, Lei Kuok Keong afirmou que o “fim” é apenas a maré de movimentos dos trabalhadores que começou em Junho e acabou em Setembro do ano passado, sendo que este fim não significa a desistência de uma luta.
“A luta ou a expressão destes pedidos razoáveis dos funcionários das operadoras de Jogo vai depender da situação da economia. Como actualmente não está muito positiva, a urgência em sair à rua não é tão grande como no ano passado, mas não significa que não aconteçam mais movimentos no futuro”, revela.

Por baixo da mesa

No que toca à outra parte do nome do livro – escuridão da indústria de Jogo -, Lei revelou que o livro aponta “ilegalidades existentes nos casinos”. Exemplificando, o responsável fala da existência de uma maneira de “jogar por baixo da mesa”, ou seja, através das operadoras de Jogo como intermediário, e de donos de salas VIP ou de associações que jogam com clientes “em segredo”, obtendo assim mais lucro e fugindo do alto imposto do Governo.
Lei diz que essa ilegalidade nunca foi combatida já desde há muitos anos, apesar do Governo Central estar a tentar combater a corrupção. Lei quer através do livro questionar a Polícia Judiciária (PJ) sobre a não tomada de medidas eficazes no combate a esta ilegalidade. 
Apesar disso, o autor admitiu ainda que existem outras ilegalidades que são do conhecimento de todos os trabalhadores do sector, ainda que o livro não as registe devido à falta de provas e por uma questão de “segurança”.
O deputado Ng Kuok Cheong escreveu também um prefácio para o livro, onde foi apontado o problema grave de capacidade de suporte de Macau depois do aumento das mesas de Jogo e do número de turistas. O deputado aponta ainda como uma estratégia o investimento duplo nos empreendimentos do Cotai que, diz, “é obviamente para manter as licenças de Jogo”.   

9 Jul 2015

Hotel Estoril | Defendida demolição do prédio e fachada

[dropcap style=’circle’]R[/dropcap]ealizou-se ontem a segunda reunião plenária do Conselho do Património Cultural (CPC), tendo sido apresentado pela primeira vez o projecto de renovação do edifício do antigo Hotel Estoril. Apenas três membros deram a sua opinião no sentido de se realizar uma total demolição da actual estrutura, incluindo o deputado nomeado Lau Veng Seng, também empresário do ramo imobiliário.
“Se pudéssemos coordenar com outras instalações à volta seria muito bom, uma vez que a área utilizada não é muito grande. Como uma área tão pequena acho que vai ser difícil [recuperar], era bom conseguir aproveitar os recursos do solo. Se o mural deve ser conservado? Temos de ouvir as opiniões, mas a minha é que é melhor demolir e depois reconstruir”, disse o deputado nomeado pelo Chefe do Executivo.
Outro membro disse não considerar “muito adequado recuperar o edifício porque está num estado degradado”, sendo que “para um melhor aproveitamento do solo é melhor a reconstrução”.
Outro integrante do CPC pediu mais estudos sobre o assunto. “Estou de acordo com o planeamento proposto, mas para o desenvolvimento desta área temos de fazer um estudo sobre o valor arquitectónico e teremos de ver como preservar o edifício. Muitas pessoas dizem que é um espaço com memória colectiva mas do meu ponto de vista temos de estudar se é mesmo importante do ponto de vista arquitectónico”, apontou.

Vista protegida

Na apresentação do projecto, feita pelo Chefe de Gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Lai Ieng Kit, foi apresentado um edifício cujo interior está “em ruínas há algum tempo, numa situação muito degradante”. Quanto à fachada do hotel, concluída em 1965, “algumas pessoas acham que a fachada original deve ser mantida por forma a manter a memória colectiva, mas muitos defendem a sua destruição e desenvolvimento”, explicitou Lai Ieng Kit.
O Chefe de Gabinete de Alexis Tam garantiu que o novo projecto não irá pôr em causa a visualização da colina da guia. “Temos rigorosamente de proteger a vista da colina da guia, que tem 70 metros de altura e temos de seguir esse principio quando reconstruirmos. Prevemos uma reconstrução com uma altura não superior à actual (16 metros), uma vez que o espaço disponível é limitado”, concluiu.

Escavações em Coloane concluídas este mês

A reunião de ontem serviu para também para apresentar os mais recentes resultados da segunda fase das escavações arqueológicas que estão a decorrer na Rua do Estaleiro, em Coloane. A responsável pela apresentação do Governo garantiu que “este mês vamos conseguir concluir esses trabalhos”. Os especialistas vindos da China propuseram a realização de escavações mais profundas e demarcação de zonas. A reunião serviu ainda para a apresentação dos trabalhos no Beco Central e Rua das Estalagens, e ainda sobre a 39ª reunião do Comité do Património Mundial da UNESCO.

9 Jul 2015

Lixo | Serviço da CSR é “de nível médio alto”

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]qualidade dos serviços da Companhia de Resíduos Sólidos de Macau (CRS) foi avaliada como de nível médio alto, mas há aspectos a melhorar. O anúncio foi feito através de comunicado pelo Executivo, que não identifica a entidade que fez a avaliação. O Governo situa o desempenho da empresa em “médio”.
“Os aspectos sobre o nível das condições de higiene e limpeza das ruas, a rapidez e a qualidade da intervenção em casos de emergência, bem como o controlo de odores e as suas medidas de atenuação são trabalhos que ainda têm de ser melhorados”, pode ler-se no comunicado do Executivo.
Esta é a primeira avaliação da CRS desde que a empresa voltou a ficar com o serviço de limpeza urbana, recolha e transporte de resíduos em Abril do ano passado. Depois de meses de suspensão, por causa de um recurso que corria em tribunal interposto por outra empresa que não aceitou a decisão do Executivo em adjudicar os serviços à CSR, a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) anunciou em 2012 que seria novamente esta empresa – que ficou ligada ao caso de corrupção do ex-Secretário Ao Man Long – a ficar com o serviço por ter tido a avaliação mais alta no concurso. lixo_DSPA
No comunicado, o Governo explica que a avaliação foi feita “independentemente por terceiros”, referindo-se a uma “instituição académica” cuja identidade não revela. A avaliação baseou-se em 30 factores relacionados com a limpeza urbana, a manutenção e gestão, a preservação do ambiente, entre outros, de forma a avaliar os níveis das condições de higiene e limpeza.
“Com a fiscalização in loco de todas as zonas e a recolha dos respectivos dados, o relatório desta avaliação contribui para proporcionar, de uma maneira objectiva, mais dados quantitativos sobre a qualidade e o desempenho dos serviços prestados neste ramo”, assegura o Governo, que diz que foram apresentadas sugestões à CRS, como aperfeiçoar o planeamento das rotas de veículos de transporte de resíduos, acrescentar e actualizar atempadamente os equipamentos e melhorar os serviços.
A companhia tem um contrato com o Governo de dez anos e o Executivo garante que vai exigir que esta continue a elevar a qualidade de serviços e a fiscalizar o trabalho.

9 Jul 2015

Jockey Club | Companhia quer ver contrato renovado

A Companhia de Corridas de Cavalos de Macau perdeu mais de 50 milhões de patacas em 2014, mas ainda assim quer ver o seu contrato renovado este ano. Os dados fazem parte do Relatório Anual da empresa referente ao ano passado, ontem publicado ao Boletim Oficial. Até 31 de Dezembro de 2014, a empresa que gere o Jockey Club de Macau perdeu 51,25 milhões de patacas, mais dez milhões do que o ano passado. A empresa, que recebeu a primeira concessão 1978, “está a preparar para aplicar a renovação do contrato de concessão de corridas pelo Governo da RAEM”, que termina a 31 de Agosto deste ano, depois de anos de renovações. A empresa, administrada por Angela Leong, é a segunda relacionada com corridas de animais que tem vindo a perder receitas, já que também o canídromo tem visto também os números baixar.

9 Jul 2015

O espírito do Renascimento

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]arguerite Yourcenar (1903-1987), de seu nome, Marguerite de Crayencour, nasceu em Bruxelas a 8 de Junho de 1903, de pai francês e mãe belga. É uma escritora francesa naturalizada americana em 1947, autora de romances, contos e de obras autobiográficas, foi também poeta, tradutora, ensaísta e crítica literária. Da sua vasta obra que a autora confessa ter sido escrita “com um pé na erudição e outro na magia”, constam títulos como As Memória de Adriano, A Obra ao Negro, O Tempo, Esse Grande Escultor, Contos Orientais, O Golpe de Misericórdia – obra adaptada ao cinema pelo realizador alemão Volker Schlöndorff, Mishima ou a Visão do Vazio, entre outros. Considerada como a última dos Humanistas, Marguerite Yourcenar foi a primeira mulher eleita para a Academia Francesa, a 6 de Março de 1980. Morre na Ilha dos Montes Desertos, no Maine (Estados Unidos) a 17 de Dezembro de 1987, com 84 anos. Marguerite Yourcenar foi educada de forma privada e de maneira excepcional: lia Jean Racine com oito anos de idade, e o seu pai ensinou-lhe latim e grego em tenra idade. Em 1929, publicou o seu primeiro romance, Alexis ou o Tratado do Vão Combate  influenciada pela leitura de Gide, escrito num estilo muito rigoroso e clássico. Trata-se de uma longa carta em que um homem, músico de largo reconhecimento, confessa à sua esposa a sua homossexualidade e a decisão de a deixar. Na década de 1930, escreve e publica Fogos (1936), composto por textos de inspiração mitológica e religiosa, em que a autora trata de diversas formas o tema do desespero amoroso e dos sofrimentos sentimentais, tema que foi retomado mais tarde em Le Coup de grâce (1939), romance curto sobre um triângulo amoroso durante a guerra russo-polaca de 1920. Em 1939, publicou os Contos Orientais a partir da experiência das suas viagens pelo Oriente. Em 1939, dez anos depois da morte de seu pai e com a Europa conturbada pela proximidade da Segunda Guerra Mundial, mudou-se para os Estados Unidos, onde passou o resto de sua vida, obtendo a cidadania em 1947 e ensinando literatura francesa até 1949. As suas Mémoires d´Hadrien (Memórias de Adriano), de 1951, tornaram-na internacionalmente conhecida. Este sucesso seria confirmado com L’Œuvre au Noir (A Obra em Negro, 1968), uma biografia de um herói do século XVI, chamado Zénon, atraído pelo hermetismo e a ciência. Publicou ainda poemas, ensaios (Sous bénéfice d’inventaire, 1978) e memórias (Arquivos do Norte, 1977), manifestando uma atracção pela Grécia e pelo misticismo oriental patente em trabalhos como Mishima ou A Visão do Vazio (1981) e Como a Água que Corre (1982).

O espírito do Renascimento

A Obra ao Negro é o testemunho histórico de uma época – estamos no início do Século XVI – onde se cruzam alguns obscurantismos medievais e os conflitos dos tempos modernos, com a afirmação de novos regimes e Estados, perdidos em constantes guerras e conflitos. A visão de um Renascimento de luz é abafada, nesta obra de Yourcenar pelos conflitos em torno da questão religiosa, fruto da reforma protestante e da contra-reforma.
Em A Obra ao Negro acompanhamos a vida de Zenão, médico, filósofo e alquimista, quando este, após levar uma vida inspirada no hedonismo, cultivada por uma profunda reflexão interior, temperada contudo pelo espírito pragmático do Renascimento, se estabelece em Bruges, sua cidade natal. Valendo-se de uma falsa identidade (a do médico Sebastião Theus), é perseguido pela Inquisição, e acaba por sofrer junto da mesa do Santo Ofício a condenação à morte. Tal como Sócrates, Zenão, na sua última expressão de liberdade, escolhe o suicídio em vez da dolorosa morte pelo fogo. Yourcenar retrata de modo ímpar diversos aspectos da história, da sociedade e da vida durante o Renascimento. No grande palco de A Obra ao Negro assistimos às rivalidades entre Francisco I, rei de França e de Carlos V, soberano do Sacro Império Romano Germânico, aos longos debates do Concílio de Trento, mas também aos conflitos nascentes entre os trabalhadores das tradicionais tecelagens flamengas com a chegada das inovações técnicas, e logo na primeira linha aos conflitos religiosos após o cisma que causou a Reforma e a importância da Inquisição cujo poder, à época, extrapolava a esfera espiritual, estabelecendo alianças temporais capazes de decidir o destino das sociedades.
Convém notar que a História não é aqui uma tela de fundo, onde Yourcenar faz viver Zenão, o seu protagonista. Não é também uma mera ilustração da época, mas o próprio mundo em que age e pensa Zenão.
Yourcenar explicita muito do esforço por ela empreendido para dar vida e cor a Zenão, na “Nota da Autora” que se encontra no fim do romance:
“[…] para dar à sua personagem fictícia aquela realidade específica, condicionada pelo tempo e o lugar, sem o que o ‘romance histórico’ não passa de um baile de máscaras bem ou mal sucedido, [a romancista] não teve à sua disposição senão factos e datas da vida passada, isto é, a História” (p.319).

9 Jul 2015

(Con)Tradições (Vivam as Forças Armadas!)

Recordo-me de quando tinha os meus sete ou oito anos os meus avós levarem-me à Tourada, na Praça de Touros Amadeu Gaudêncio, no Montijo. Recordo-me ainda de ter adorado lá ir, de berrar tantos “olés” que demorava dias até recuperar a voz. Depois deixei de ir, por razões várias, mas continuaria a tomar contacto com a Tourada através da televisão, e já mesmo antes de entrar na adolescência, não conseguia perceber o que me tinha levado a berrar aqueles “olés” todos durante a infância – será porque no pequeno ecrã a sensação é diferente do que ao vivo, na Praça de Touros? Foi já em 1996, em Macau, que voltei a ir à Tourada, na arena improvisada montada no antigo Campo dos Operários, exactamente no mesmo local onde se situa hoje o Grand Lisboa, e mais uma vez, nada. Nem um olézinho para a mostra, e saí dali com a mesma sensação de quem vai ao futebol e o jogo termina a zeros, sem uma única oportunidade de golo para ambas as equipas.
Cheguei à conclusão que se calhar não gosto de Tourada. Enfim, não me enche as medidas, e se me fazia vibrar quando tinha sete ou oito anos, talvez seja um espectáculo indicado para essa idade, não sei, pelo menos para mim foi assim, e pode ser que haja algo ali que me tenha escapado. Ou então faz apenas parte daquilo que eu sou, e se mais ninguém tem nada a ver com isso, também não me assiste o direito impor isso a ninguém. Só que aos olhos do politicamente correcto, pós-moderno, neo-higienista e afinal-quando-é-que-estes-gajos-se-calam, no momento em que eu tomo consciência de que não gosto de Tourada devo, aliás tenho a obrigação de exigir o fim desse espectáculo – o que não pode ser bom para mim, não pode ser bom para ninguém, é claro. É? Claro que não. Que soberba mais fascista seria essa, da minha parte.
Mas à revelia, ou ao “que se lixem” os tipos que até gostam de ver a besta ali às voltas com um cavalo e um indivíduo montado nele trajando uma indumentária sexualmente ambígua, há outros que também pensam deste modo, e em Portugal algumas celebridades juntam-se ao coro da indignação anti-Tourada, exigindo o fim das transmissões televisivas das mesmas (um pequeno passo para acabar com a programação medíocre, bastando para tal exigi-lo?), bem como o aumento da idade mínima para se poder entrar num destes espectáculos, que é actualmente de seis anos. Valham-nos as celebridades para nos dizer como devemos agir e pensar. Afinal, os pais e encarregados de educação daquele país não têm o discernimento ou bom senso para determinar ao que devem os seus filhos assistir, ou não. Se calhar não sabem o que passa na Praça de Touros, e julgam tratar-se da distribuiçāo gratuita de rebuçados! E de facto nem eu pensava estar exposto a tal violência naquela idade tão sensível, em que as crianças são tão influenciáveis. Devia ser uma criança problemática, visto que após ver uma tourada não tinha vontade de espetar bandarilhas nos costados dos meus amiguinhos, nem marrar com a professora, lá na escola. 9715P15T1
Não posso ser a favor da Tourada, pois além da componente sádica, o espectáculo em si é um tanto ou quanto rústico, a atirar para o marialva e para o chuleco. Mas também já não há tantas corridas de touros como havia antigamente; há 20 anos havia mais, há 50 muito mais e há 100 nem se fala, e não foi graças ao activismo que o número se tem vindo a reduzir. Estive em Barcelona há coisa de seis ou sete anos, e pela cidade via-se cartazes anunciando uma dessas corridas, e actualmente as Touradas estão banidas em toda a Catalunha, e não se realizam em muitas outras províncias de Espanha, supostamente por falta de interesse. Assim é, uma vez que o público se vai tornando mais consciente e exigente, além de ter dois olhos na cara para constatar o óbvio, sem que ninguém os oriente, como se fossem invisuais ou retardados mentais. É a evolução natural das coisas, para quê apressar? Porque é mais divertido confrontar, molestar e insultar quem (ainda) gosta?
Não dá para alinhar com os partidários da anti-Tourada, e especialmente por esse mesmo motivo: julgam-se os donos e senhores do bom gosto, o pináculo da modernidade, dispostos a mostrar o caminho certo como quem toca uma manada. Fazem-se comparações absurdas com o Circo Romano ou o sacrifício de Virgens, outras “tradições” do passado, segundo eles, mas talvez fosse bom lembrar que até 1948, data em que se assinou a declaração universal dos direitos do Homem, com a carta da ONU, não havia assim tanto respeito pela vida humana como se vê hoje de entusiasmo pela taurina. Quiçá os touros precisam da sua própria organização, a “Omuuu”.
E é um animal que teima em não colaborar, aquele. Apregoa-se a “horrível crueldade” que o espectáculo representa, mas depois de levar com o primeiro ferro no lombo, o bicho continua para ali a correr como se nada fosse, quando o ideal seria ficar no chão a mugir de dores, tão alto que não deixasse ninguém indiferente. Parece que logo aí acabam as comparações com os humanos, que nem com dois ou três casacos de cabedal aguentariam uma investida deste tipo na coiraça. Os indecisos juntam à indecisão também alguma estupefacção: “Afinal onde é que está a hedionda tortura? É muito pior assistir a um frango degolado a estrebuchar”. Ah, mas aí justifica-se, pois é para comer! Que alívio, e assim até parece que a criatura que ali está a desesperar enquanto se desvanece o seu sopro de vida fica sorridente e tudo. Da única vez que tive curiosidade em saber para onde vão os touros depois da lida, disseram-me que “iam para o matadouro”, e mais tarde a sua carne seria “oferecida a um orfanato”. Parece-me bem, pois assim as refeições dos pequenotes menos afortunados variam do habitual pão…que o diabo amassou.
Caminhamos a passos largos para a ditadura das boas vontades, atrás de elites de arengue que só botam faladura, e ainda se aproveitam da facilidade com que as massas se agitam, sem procurar ir ao fundo das questões – afinal são tantas, desde o franguinho da guia que passou a “cadáver” até mais recentemente aos caracóis, que levaram a que um grupo de alucinados protestasse a favor destas criaturas exibindo cartazes onde se lia “E você? Gostava de ser cozido vivo?”. Demos graças pelas Forças Armadas, pois por muito que não simpatizemos com a ideia, são o único garante da democracia, dotando-nos de protecção contra esta corja de mortos-vivos. Olé!

9 Jul 2015

LMA | Festival “Kill The Silence” chega a Macau para quatro dias de festa

Música ao vivo, filmes e sessões com artistas. Está aí o Festival “Kill The Silence”, que traz a Macau quatro dias de entretenimento no espaço da LMA

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]steve em Hong Kong nos últimos dois anos, quando começou, mas agora chega a Macau. O Festival “Kill The Silence” – “O Silêncio Não é Opção, em Português” – acontece na Live Music Association (LMA) durante quatro dias este mês e promete trazer música, filmes e muito mais ao território.
“Kill The Silence” é um festival experimental de arte, que mistura diferentes géneros de actividades. Este ano, à RAEM, chegam artistas de Portugal, EUA, Suíça e Itália, além dos locais que representam Macau e Hong Kong. rtistas1
A abrir, no dia 12 de Julho, está o tema “Música em Filmes”. Das 21h00 à meia-noite, pode assistir-se a espectáculos musicais que vão actuar como bandas sonoras ao vivo, já que acompanham filmes e vídeos experimentais de Macau e Hong Kong. A banda de rock local ‘Forget the G’ vai acompanhar os filmes do produtor cinematográfico de Macau Ao Ieong Weng Fong, enquanto Kai-Ho, realizador de Hong Kong, apresenta as suas curtas-metragens pela primeira vez, ao som da música de improviso de Wilmer Chan.
O segundo dia, 14 de Julho, e o terceiro, 17 de Julho, são dedicados ao tema “Swiss Underground” e apresentam, das 20h00 às 24h00, o grupo LUFF – Lausanne Underground Film & Music Festival e o So-so Film de Macau com curtas metragens seleccionadas. O evento terá ainda música ao vivo, com o co-programador musical . . . (a.k.a. Nikola Mounoud) e será seguido de uma sessão sobre cinema.
O quarto dia, marcado para o dia 18, encerra o “Kill The Silence” e prolonga-se, por isso, das 19h00 às 4h00 com música ao vivo. Nesta noite, actuam Mounoud (da Suíça), Caligine + Callum Duo (Itália e EUA), Underture (Hong Kong e Macau), Grand Guignol (Macau), open& (Portugal), KUNG Chi-Shing + Nerve (Hong Kong) e Faslane, Sinking Summer, N1D, Noise808 e Faye, todos de Macau. artistas2
“Convidámos artistas que cobrem uma abrangente diversidade de géneros, desde o experimental, ao Freeform Jazz ao EDM”, explica a organização, da qual faz parte o grupo MoWave, em comunicado “Nos últimos dois anos, conseguimos trazer mais de 42 grupos de artistas de diferentes locais à volta do mundo. O ‘Kill The Silence’ vai permitir aos espectadores ter acesso a estilos de músicas diferentes e de diferentes locais do mundo.”
Os bilhetes estão já à venda, sendo que o passe de quatro dias – à venda até 11 de Julho – custa 250 patacas. Os bilhetes individuais custam 120 patacas para o dia 12, 50 para os dias 14 e 17 de Julho e 180 patacas para o dia do encerramento. Os bilhetes podem ser comprados na Livraria Portuguesa e na Livraria Pinto, podendo ainda ser adquiridos na porta da LMA.

9 Jul 2015

CCM | Peça de teatro “A Falta” no palco em Setembro

A peça de teatro “A Falta” sobe ao palco do Centro Cultural de Macau (CCM) em Setembro. Concebida pelo Teatro Gecko, a obra – “uma peça de teatro físico” – envolve dança, arte circense e mímica.
“Levando o público às profundezas da psique de Lily, uma mulher que decide voltar atrás no tempo para explorar as suas memórias mais íntimas, ‘A Falta’ é uma combinação de imagens e movimentos, música e efeitos sonoros, já descrita como uma manta viva de ilusões visuais”, realça a organização.
Apresentada através de diversas expressões artísticas, a peça é dirigida pelo director artístico Amit Lahav. O Teatro Gecko é uma companhia britânica multi-premiada e internacionalmente reconhecida. A peça que traz agora a Macau já “foi um sucesso no Festival Show Case de Edimburgo em 2013 e aplaudida desde então em diversas salas e festivais, tendo andado em digressões pelo Reino Unido e entre continentes, da América do Sul à Ásia”. ccm2_ccm
Além do espectáculo, os actores do Teatro Gecko orientam ainda um workshop de teatro físico concebido para explorar fisicalidade, foco, trabalho de equipa e improvisação. Dedicada a participantes com experiência teatral, a sessão decorre no dia 4 de Setembro de 2015 e as inscrições custam cem patacas. Incluída na mesma série de actividades, o CCM apresenta uma tertúlia pré-espectáculo sobre teatro físico, que tem entrada livre.
A peça está marcada para o dia 5 de Setembro, pelas 20h00 e é aconselhável para maiores de 13 anos. Os bilhetes custam 180 patacas e estão já à venda.

9 Jul 2015

Apetites Sexuais

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]xistem expectativas (talvez demasiadas) para a intensidade do desejo sexual de acordo com género, orientação sexual e faixa etária. Estamos habituados a pensar na sexualidade dos jovens adultos como o vibrante tempo de um apogeu sexual sem igual, que mais tarde entra em declínio. Por razões de cariz biológico e social, há quem se veja menos inclinado à dita actividade quando rugas e momentos de impotência atacam. Compreensível. Nas minhas viagens já comuns e tempos de lazer obrigatórios à frente de um ecrã cheio de possibilidades cinematográficas, vi-me especialmente interessada nestas representações de amor e de sexo na terceira idade quando surgiu a oportunidade de rever os meus queridos Shirley Maclaine e Christopher Plummer num romance-drama septuagenário. Uma apaixonada por cinema de algumas décadas atrás como sou e conhecedora das suas carreiras no seus tempos áureos, ver dois grandes actores nos seus corpos actuais, que lembram o da minha avó (por razões óbvias), foi estranho, mas ainda assim, agradável de se ver. Surpreendeu-me especialmente a tentativa de recriação da famosa cena na Fonte de Trevi do filme La Dolce Vita de Federico Fellini, enquanto viajavam em Roma, no seu momento de loucura ‘carpe diem’. Com uma sexualidade assumida e um decote de dimensões invejáveis, Maclaine e Plummer vibram com a possibilidade de um final feliz, para todo o sempre e além. Com aquele brilhozinho nos olhos que persiste há décadas.

Apesar de diversas fontes de entretenimento terem-se debruçado sobre esta temática da sexualidade dos mais velhos (vários filmes e séries ultimamente), muitos ainda atribuem o rótulo de tarados a quem se considera que a vontade para sexo já deveria ter caído em desuso. Está mal, porque a fornicação não é coisa dos mais novos. Até mesmo aqueles com distúrbios na aprendizagem, a sexualidade e o desejo existem e não são fáceis de explicar nem eles próprios do entenderem. Muitos são os técnicos que trabalham com esta população e que tentam incutir a uma sociedade superficial e dada à juventude que todos eles têm certas vontades. Parece que a taradice também fica para quem não se enquadra nas expectativas do indivíduo ‘funcional’ (seja lá o que isso for). Em Londres trabalha uma amiga onde se estabelecem programas de educação sexual para pais de jovens com dificuldades mentais, também sugerindo o recurso a profissionais do sexo, ademais a formação destes prestadores de serviços para lidar com os desafios das pessoas diferentes, com concepções sexuais diferentes, mas deveras com o mesma vontade de sexar como qualquer um de nós.

Isto das expectativas lixam-nos a vida, sem dúvida. Vai dos homens serem ‘uber’ sexuais e estarem sempre prontos, a mulheres serem recatadas e constantemente com dores de cabeça. E se o contrário acontecer é porque os homens são impotentes e as mulheres uma safadas. Por mais críticos que sejamos relativamente à sexualidade em geral, parece impossível não nos deixarmos infectar com estes macaquinhos na cabeça. Quantas (quantas!) vezes não ouvi das minhas queridas amigas discursos que os perpetuam? Eu incluída. Há um sentimento de surpresa e confusão se um homem está sem vontade. Proveniente de muitas coisas, muitas vidas. Mas confusão porque nos põe num papel de pro-actividade que nos torna nas taradas da relação. Se mentes tradicionais vêem promiscuidade, eu vejo empowerment. Porque se há injustiça neste mundo, são destas mesmas mulheres que se vêem numa encruzilhada moral por quererem mais sexo e não se sentirem na posição de incitar. Um empowerment sexual genuíno de consequências, às vezes, frustrantes, mas possíveis de serem solucionadas. A forma mais original li de alguns terapeutas sexuais que sugerem dar de comer um ao outro (literalmente, dar comida à boca) para a restabelecer o apetite sexual no casal. A ligação que não me foi muito clara, mas de apetite em apetite alguma coisa se arranja.

9 Jul 2015

Pleonaxia ou a vontade de tudo possuir

[dropcap style=’circle’]J[/dropcap]á que falamos tanto da Grécia, recuemos até 550 anos antes da nossa era quando os filósofos entenderam estar perante uma doença caracterizada pela “vontade de tudo possuir”. Mas como era possível haver gente nesse tempo com a veleidade de tudo ter, com uma sede interminável de posse, com um abismo cravado em si de insaciabilidade perante os bens do mundo?
Jean Paul Vernant, um grande helenista, explica : “A riqueza substitui todos os valores porque ela tudo pode comprar. É então que o dinheiro conta, o dinheiro faz o homem. Ora, contrariamente a todos os “outros poderes”, a riqueza não comporta qualquer limite: nada nela marca o seu termo, os seus limites, o seu fim. A essência da riqueza é a desmedida”.
A riqueza, o desejo de possuir mais, instala-se como uma febre, uma loucura, e tal foi percebido melhor pelos filósofos da Antiguidade grega do que pelos homens contemporâneos. Quantos vemos a correr até ao fim da vida, com o único fito de acumularem mais dinheiro que não lhes vai servir para nada?
Nesse delírio, os homens de hoje esmagam quem estiver no seu caminho, não olham a danos colaterais. Nem sequer aos danos que infligem neles mesmos. rodriguez_avarice1
Finalmente, a pleonaxia é uma doença mental que se aproxima do desespero, que é irmã da gula e prima da inveja. Com o advento do capitalismo como regime dominante, assistimos à sua transformação em ideologia superior. Atascados numa espécie de darwinismo social, esses doentes afirmam a pleonaxia como sentido máximo da vida, não entendendo que a doença os impede de viver.
Seriam coitados se à sua volta não espalhassem o mal, não destruíssem os valores alheios, as vidas dos outros, em nome da sua pleonaxia. São, é certo, lamentáveis enquanto seres humanos, prisioneiros que estão de uma cegueira, de um traço de paranóia anal (cumulativa), neles instilado por uma sociedade também doente, fixada nas contas e na acumulação.
O mundo precisa de crescer e as pessoas de analisar as suas acções para não se deixarem submergir com algo que lhes foi imposto mas que eles julgam ser o zénite de uma vida quando, na verdade, se limitam a atingir o seu nadir.

9 Jul 2015

MUST | Aumenta desconfiança face à economia

A confiança dos consumidores em relação à economia, emprego e aquisição de imóveis voltou a baixar face ao primeiro trimestre do ano, segundo o inquérito promovido pela Universidade de Ciências e Tecnologia (MUST) que testa a confiança dos consumidores de Macau. O índice de confiança ficou abaixo dos cem pontos, quanto o máximo são 200 pontos. Enquanto que o índice de emprego se situou nos 118,17 pontos, o de compra de casa ficou apenas nos 51,2 pontos. Quanto à confiança sobre os preços, aumentou de forma ligeira.

9 Jul 2015

Transporte de doentes por bombeiros aumentou 8,83%

Dados do Corpo de Bombeiros referentes ao primeiro semestre revelam que as saídas de ambulância para transporte de doentes aumentou 8,83% face a 2014, registando-se um total de 19.751 casos. Já os incêndios sofreram uma quebra de 8,17% face ao ano passado, num total de 528 ocorrências. Segundo o CB, “as principais causas de incêndios prendem-se com actividades domésticas quotidianas relacionadas com esquecimento do fogão ligado e negligência em deixar chamas. O decréscimo do número de incêndios mostra o resultado dos nossos trabalhos de sensibilização e da colaboração dos cidadãos”. O CB realizou, nos primeiros seis meses do ano, um total de 696 operações de salvamento, mais 17,97%, e 1982 serviços especiais, mais 0,92%. No geral, o CB tratou de 22.958 ocorrências, mais 7,9%.

9 Jul 2015

“SomBento”, organização de eventos | Luís Bento, proprietário

A empresa SomBento não tem mãos a medir. Num território que reúne as condições perfeitas para a organização de eventos, Luís Bento disponibiliza material musical e electrónico, entre outros. A meta é uma: proporcionar um excelente espectáculo

[dropcap style=’circle’]“[/dropcap]Foi o acaso que fez nascer esta empresa, foi quase por acidente ou necessidade, não era algo pensado, com um plano de negócios.” Assim começa por explicar ao HM Luís Bento, proprietário da empresa SomBento dedicada à organização de eventos.
Antes de ser empresário, Luís Bento sempre se dedicou à música. Aqui em Macau faz parte de vários projectos músicas, sendo um deles bem conhecido na comunidade portuguesa – a banda ‘80&Tal’. Em Portugal, Luís Bento, em 2003, começou a comprar algum equipamento musical que o faz ter neste momento uma diversidade invejável.
“Comecei a comprar vários instrumentos musicais e outro tipo de equipamento para dar resposta aos eventos a que ia. Fossem eles aniversários, casamentos, conferências, ou outro tipo de eventos. Aos poucos fui comprando material e quando dei por mim tinha um armazém cheio de equipamento”, relembra.
A oportunidade para vir para Macau surgiu em 2013 e foi nesse mesmo ano que Luís Bento registou a sua empresa, por sentir que o mesmo acontecia no território. “Durante dez anos em Portugal trabalhei no sistema de recibos verdes com a SomBento, era uma simples prestação de serviços ou aluguer de material. Em Macau, percebi que este sistema tem pernas para andar e o território precisa disto, portanto foi quando cheguei que registei a empresa”, explica o empresário.

Um bocadinho de tudo

Com um crescimento notável, Luís Bento começou aos poucos e poucos. No início os eventos eram dirigidos a 200 ou 300 pessoas e agora têm capacidade para mil, duas mil “ou muito mais”. Sombento Vektor Logo
Algum do material o empresário trouxe de Portugal e precisamente este mês chegará um novo contentor com mais equipamento. “A SomBento tem um bocadinho de tudo. Fazemos casamentos, baptizados, jantares, apresentações, lançamento de produtos, tudo o que esteja relacionado com som e a parte audiovisual”, enumera.
Na bagagem a empresa tem “todo o tipo de aluguer”, seja para bandas de jazz, rock ou música clássica. “Quando é pedido algum tipo de equipamento que não faz parte das opções disponíveis, é fornecido de igual forma ao cliente recorrendo a outras colaborações”, adiciona o empresário.
A agenda está mensalmente ocupada e apesar da empresa só ter um colaborador, o próprio proprietário, é através da contratação pontual que tudo acontece. “A empresa recorre sempre a mão-de-obra local conforme cada evento, porque há vários tipos de eventos e nalguns são precisas mais pessoas”, explica.

Um submundo deslumbrante

“Quando cheguei a Macau deparei-me com um submundo que não está à vista das maioria das pessoas. São as salas de eventos dos casinos. Erradamente pensamos que os casinos se resumem apenas a Jogo, bares e a estada no hotel. Não, é errado. Nos primeiros eventos que fiz fiquei super surpreendido com o facto de entrar numa sala e estar a acontecer um evento para 200 pessoas e ao lado, com mais quatro ou cinco salas, decorrerem eventos com cem ou mil pessoas”, aponta o músico.
Dentro dos meandros da organização e dos próprios eventos, Luís Bento afirma que “Macau reúne as condições todas para suportar e organizar eventos não só locais mas internacionais”.
Eventos organizados por países como a Índia, Brasil, China, Itália, América foram apenas alguns que a SomBento já acolheu. Apesar disso, são as conferências e encontros profissionais para a zona da Ásia o tipo de eventos que mais estão sob a alçada da empresa de Luís Bento.
Há no entanto um problema no mercado. “O equipamento no território, ou a gestão desse mesmo equipamento não é bem feita. Um exemplo simples, um concerto de uma banda de jazz para a inauguração de uma galeria não necessita do mesmo número de equipamento para um concerto para duas mil pessoas”, clarifica. Situação, aponta que acontece no território. “Uma das coisas que a SomBento faz é dimensionar cada equipa e cada set de equipamento ao evento, sem ter que estar a sobredimensionar”, aponta.
Este mês, dia de 14 de Julho, as luzes e música da SomBento vão estar atrás da organização de um evento na piscina do Hotel Sheraton. Apesar das horas de trabalho serem muitas e a pressão também, o objectivo é sempre cumprido: proporcionar um evento de qualidade, em que as pessoas se possam divertir.

8 Jul 2015

Ego

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]iddhartha Gautama Shakyamuni (o sábio dos Shakyas) viveu entre os séculos VI e IV a.C., não se sabendo ao certo a data do seu nascimento ou morte. Sabe-se apenas que era filho de rei e que se fez pobre e sábio, acabando por atingir a iluminação debaixo de uma figueira.

Curiosamente, a Bíblia é omissa quanto à vida de Yehoshua Ben Yosef – da tribo de David, aspirante a carpinteiro – dos doze aos 30 anos. Algumas teorias dizem que o jovem que discutia no templo com os doutores da lei foi levado para a Índia por um dos viajantes indianos que cruzavam aquele território, onde terá sido exposto ao hinduismo e, necessariamente, ao budismo, tendo ficado conhecido por Issa.

Quando regressa à sua terra, inicia a sua prática e os seus sermões, seleccionando gente a quem faz o velho desafio “larga tudo e todos e segue-me”, tão à maneira dos mendicantes budistas.

O momento que atravessamos assemelha-se à adoração dos ídolos de ouro que Moshe veio encontrar quando descia do Monte Sinai com as tábuas da Lei.

É o culto das ilusões, da eleição da matéria, do ganho, do Eu acima de todas as coisas.

Assim, e porque o mundo vive uma enorme crise, manchada pelo materialismo e pelo Egoísmo, parece oportuno transcrever, retirado da obra “Buda e os seus Ensinamentos” de Samuel Bercholz e Sherab Chodzin Kohn, os ensinamentos do Mestre Tibetano Chogyam Trumpa (1940-1987), um dos primeiros da sua tradição a assimilar plenamente a mentalidade ocidental. Deste modo, foi capaz de formular os ensinamentos budistas tradicionais de uma forma nova, falando directamente ao ocidental. Temos assim uma lição da psicologia básica budista.

“Uma das ideias budistas mais centrais é a de que o eu não existe. O sentido do eu a que ingenuamente nos agarramos é visto pelo olho nu da meditação como sendo apenas uma amálgama ténue, sempre mutável de elementos psicológicos, conhecidos tradicionalmente como os cinco skandhas ou «montões»”. Aqui, Trungpa apresenta-os como forma, sentimento, percepção, conceito e consciência e fornece um íntimo relato interior do seu desenvolvimento.

“Um ponto-chave é a dualidade que se ergue ao nível do primeiro skandha, forma. A dualidade é uma descrição da característica mais básica do mundo confuso do ego, o bloco rudimentar edificador do mundo sofredor do samsara. É o sentido fundamental de que há «algo mais». O sentido desse «algo mais» torna consciente o aspecto directo e primordial do aqui e agora. Percebe o «outro» e, em pânico, percebe-se a si próprio como um outro oposto ao outro. Neste ponto, temos uma situação de dualidade, do eu e do outro, e assim começa a luta de se relacionar com um mundo estranho que deve ser captado, contra o qual se deve defender ou que deve ser ignorado”. Trungpa relaciona este facto com o momento do nascimento do tempo.

”Penso que seria melhor começar com algo de muito concreto e realista, o campo que vamos cultivar. Seria loucura estudar assuntos mais avançados antes de nos familiarizarmos com o ponto de partida, a natureza do ego. No Tibete, temos o ditado de que, «sem a cabeça estar bem cozida, não vale a pena comer a língua». Qualquer prática espiritual precisa desta compreensão básica do ponto de partida, o material com o qual vamos trabalhar.

Se não conhecermos o material com que estamos a trabalhar, então o nosso estudo é inútil; as especulações sobre o objectivo tomam-se mera fantasia. As especulações podem assumir a forma de ideias avançadas e de descrições de experiências espirituais, mas exploram apenas os aspectos mais fracos da natureza humana, as nossas expectativas e desejos de ver e ouvir algo de interessante, algo de extraordinário. Se começarmos o nosso estudo com estes sonhos de «iluminação» extraordinária e experiências dramáticas, então iremos edificar as nossas expectativas e preconceitos de tal maneira que, mais tarde, quando estivermos realmente no caminho, as nossas mentes estarão grandemente ocupadas com o que será em vez de com aquilo que é. É destrutivo e injusto para as pessoas brincar com as suas fraquezas, as suas expectativas e sonhos, em vez de lhes apresentar o ponto de partida realista daquilo que elas são…

Fundamentalmente, há apenas espaço aberto, o terreno básico, aquilo que realmente somos. O nosso estado de mente mais fundamental, antes da criação do ego, é tal que há abertura básica, liberdade básica, uma qualidade espaçosa; e temos agora, como sempre tivemos, esta abertura. Tome-se, por exemplo, a nossa vida do dia-a-dia e os padrões de pensamento. Quando “vemos um objecto, em primeiro lugar dá-se uma percepção que não tem de modo nenhum qualquer lógica ou conceptualização com ele; apenas percebemos a coisa em terreno aberto. Depois, entramos imediatamente em pânico e apressamo-nos a tentar acrescentar-lhe alguma coisa, ou procuramos encontrar-lhe um nome ou tentamos receptáculos em que o possamos localizar ou categorizar. Gradualmente, as coisas desenvolvem-se a partir daí.

Este desenvolvimento não assume a forma de uma entidade sólida. Pelo contrário, este desenvolvimento é ilusório, a crença errada num «ego» ou «eu». A mente confusa inclina-se a ver-se como uma coisa sólida, contínua, mas ela é apenas um conjunto de tendências, acontecimentos. Na terminologia budista, designamos este conjunto como os cinco skandhas, ou cinco montões. Analisemos, então, esses cinco skandhas.

[quote_box_left]O momento que atravessamos assemelha-se à adoração dos ídolos de ouro que Moshe veio encontrar quando descia do Monte Sinai com as tábuas da Lei. É o culto das ilusões, da eleição da matéria, do ganho, do Eu acima de todas as coisas[/quote_box_left]

O ponto de partida é que existe espaço aberto, não pertencente a ninguém. Há sempre inteligência primordial ligada ao espaço e à abertura, vidya – que significa «inteligência» em sânscrito, precisão, nitidez, nitidez de espaço, nitidez do espaço onde colocar as coisas, onde trocar as coisas. É como uma sala espaçosa em que há espaço para aí se dançar, onde não há perigo de se derrubar as coisas ou de se ir contra elas, pois há um espaço completamente aberto. Nós somos esse espaço, somos um com ele, com a vidya, a inteligência e a abertura.

Mas se somos sempre isso, de onde vem a confusão, para onde foi o espaço, o que aconteceu? De facto, nada aconteceu. Tornámo-nos simplesmente demasiado activos nesse espaço. Como é espaçoso, inspira-nos a dançarmos nele; mas a nossa dança torna-se demasiado activa, começamos a girar mais do que o necessário para expressar o espaço. Neste ponto, tornamo-nos auto-conscientes, conscientes de que «eu» estou a dançar no espaço.

Neste momento, o espaço deixa de ser espaço enquanto tal. Torna-se sólido. Em vez de sermos um com o espaço, sentimos o espaço sólido como uma entidade separada, tangível. Esta é a primeira experiência da dualidade – o espaço e eu, eu estou a dançar neste espaço e este espaço é uma coisa sólida, separada. A dualidade significa «espaço e eu», em vez de sermos completamente um com o espaço. É o nascimento da «forma» do «outro».

Então ocorre uma espécie de blackout no sentido em que nos esquecemos do que estávamos a fazer. Há uma pausa súbita, uma paragem; e viramo-nos e «descobrimos» o espaço sólido, como se nunca antes tivéssemos feito fosse o que fosse, como se não fôssemos os criadores de toda essa solidez. Há um intervalo. Tendo já criado o espaço solidificado, então ficamos esmagados por ele e começamos a sentir-nos perdidos nele. Dá-se um blackout e depois, repentinamente, um despertar.

Quando despertamos, recusamo-nos a ver o espaço como abertura, recusamo-nos a ver a sua qualidade suave e arejada. Ignoramo-lo por completo e a isso se chama avidya. A significa «negação», vidya significa «inteligência», pelo que estamos a falar de «ininteligência». Como esta inteligência extrema se transforma na percepção do espaço sólido, como esta inteligência enquanto qualidade luminosa aguda, precisa e fluente ficou estática, é, portanto, chamada avidya, «ignorância». Ignoramos deliberadamente. Não nos satisfazemos em apenas dançar no espaço mas queremos um parceiro e assim escolhemos o espaço como nosso parceiro. Se escolhemos o espaço como parceiro da dança, então naturalmente queremos que ele dance connosco. A fim de o possuir como parceiro, temos de o solidificar e de ignorar a sua fluência, a sua qualidade aberta. Isso é avidya, ignorância, ignorar a inteligência. É o culminar do primeiro skandha, a criação da ignorância-forma.

De facto, este skandha, o skandha da ignorância-forma, tem três diferentes aspectos ou estágios que podemos examinar através do uso de outra metáfora. Suponhamos que no início há uma planície aberta sem montanhas ou árvores, terra completamente aberta, um simples deserto sem qualquer característica particular. É assim que somos o que somos. Somos muito simples e básicos. E, no entanto, há um Sol que brilha, uma Lua que brilha e há luzes e cores, a textura do deserto. Haverá também algum sentimento da energia que se manifesta entre o céu e a terra. E isto continua sem parar.

Então, estranhamente, alguém de repente repara em tudo isso. É como se um dos grãos de areia tivesse esticado o pescoço e começasse a olhar à sua volta. Somos esse grão de areia, chegando à conclusão da nossa separação. É o «nascimento da ignorância» no seu primeiro estágio, uma espécie de reacção química. A dualidade começou.

O segundo estágio da ignorância-forma chama-se «a ignorância nascida por dentro». Tendo notado que somos separados, então adquirimos a sensação de que sempre o fomos. É uma grosseria, o instinto virado para a auto-consciência. É também a nossa desculpa para permanecermos separados, um grão individual de areia. É um tipo agressivo de ignorância, embora não exactamente agressivo no sentido da ira; não se desenvolveu a esse ponto. É antes agressão no sentido em que nos sentimos desequilibrados, desajeitados e tentamos segurar-nos ao nosso chão, criar um abrigo para nós próprios. É a atitude de sermos um indivíduo confuso e separado e que é tudo quanto somos.

Identificamo-nos a nós mesmos como separados da paisagem básica do espaço e abertura.

O terceiro tipo de ignorância é a «ignorância auto-observadora», que se observa a si própria. É o sentimento de nos vermos como um objecto externo, que conduz à primeira noção do «outro». Começamos a ter uma relação com o chamado mundo «exterior». É por isso que estes três estágios de ignorância constituem o skandha da ignorância-forma; começamos a criar o mundo das formas.

Quando falamos de «ignorância», não nos referimos à estupidez em si. Em certo sentido, a ignorância é muito inteligente, mas é uma inteligência completamente biunívoca. Isto é, reagimos puramente às nossas projecções em vez de simplesmente vermos o que é. Não há uma situação do «deixar ser», porque durante todo esse tempo ignoramos o que somos. Essa é a definição básica de ignorância.

O passo seguinte é o estabelecimento de um mecanismo de defesa de protecção da nossa ignorância. Este mecanismo de defesa é o sentimento, o segundo skandha. Como ignorámos o espaço aberto, a seguir, gostamos de sentir as qualidades do espaço sólido, a fim de realizarmos completamente a qualidade de posse que estamos a desenvolver. Claro que o espaço não significa apenas espaço vazio, pois contém cor e energia magníficas. Há tremendas e magníficas manifestações de cor e energia, lindas e grandiosas. Mas ignorámo-las totalmente. Em vez disso, temos apenas uma versão solidificada dessa cor, e a cor transforma-se em cor capturada e a energia transforma-se em energia capturada, porque solidificámos o espaço inteiro e transformámo-lo no «outro». Assim, começamos a tentar sentir as qualidades do «outro». Ao fazer isto, garantimos a nós mesmos que existimos. «Se posso sentir algo lá fora, então eu devo estar aqui.»

O mecanismo seguinte no estabelecimento do eu é o terceiro skandha, percepção-impulso. Começamos a ficar fascinados com a nossa própria criação, as cores estáticas, as energias estáticas.

Queremos relacionar-nos com elas, e por isso começamos gradualmente a explorar a nossa criação.

Se sentimos a situação e a consideramos ameaçadora, então, afastamo-la de nós. Se a consideramos sedutora, então atraímo-la a nós. Se verificamos que é neutra, tornamo-nos indiferentes. Esses são os três tipos de impulso: ódio, desejo e estupidez. Assim, a percepção refere-se à recepção de informação do mundo exterior e o impulso refere-se à nossa reacção a essa informação.

O desenvolvimento seguinte é o quarto skandha, conceito.

A percepção-impulso é uma reacção automática à sensação intuitiva. Contudo, este tipo de reacção automática não é uma defesa realmente suficiente para proteger a nossa ignorância e garantir-nos segurança. A fim de realmente proteger-nos e enganar-nos completa e adequadamente, precisamos do intelecto, da capacidade de dar nomes e categorias às coisas. Assim, etiquetamos as coisas e acontecimentos como «bons», «maus», bonitos», «feios», etc., de acordo com o impulso que achamos apropriado.

Assim, a estrutura do ego torna-se gradualmente mais pesada, mais forte. Até este ponto, o desenvolvimento do ego tem sido puramente um processo de acção e reacção; mas, a partir de agora, o ego desenvolve-se gradualmente para além do instinto animal e torna-se mais sofisticado. Começamos a experimentar a especulação intelectual, confirmando ou interpretando-nos a nós mesmos, colocando-nos em certas situações lógicas, interpretativas. A natureza básica do intelecto é muito lógica.

Em certo sentido, deve dizer-se que a inteligência primordial está sempre em operação, mas está a ser utilizada pela fixação dualista, pela ignorância. Nos estágios iniciais do desenvolvimento do ego, esta inteligência opera com a agudez intuitiva da sensação.

Mais tarde, actua na forma de intelecto. Realmente, parece que afinal não existe ego; não existe o «eu sou». É uma acumulação de uma porção de material. É uma «brilhante obra de arte», um produto do intelecto que diz: «Vamos dar-lhe um nome, vamos chamar-lhe qualquer coisa, vamos chamar-lhe “eu sou”», o que é muito inteligente. O «eu» é o produto do intelecto, a etiqueta que unifica num todo único o desenvolvimento desorganizado e disperso do ego.

O último estágio do desenvolvimento do ego é o quinto skandha, consciência. A este nível, ocorre uma amalgamação: a inteligência intuitiva do segundo skandha, a energia do terceiro e a intelectualização do quarto combinam-se para produzir pensamentos e emoções. Assim, ao nível do quinto skandha, descobrimos os seis domínios bem como os padrões incontroláveis e ilógicos do pensamento discursivo.

Este é o quadro completo do ego. É a este estado que todos chegámos no nosso estudo da psicologia e meditação budista.”

E nestas breves mas longas deambulações se introduz a complexidade simples dos mecanismos que o budismo, naquela busca próxima do descascar da cebola, vai operando para o homem se perceber a si mesmo.

8 Jul 2015

Cabo Verde | Exposição na Casa Garden para celebrar independência

Uma figura incontornável que merece destaque no dia em que se celebra a independência de Cabo Verde. É o que diz a Associação de Divulgação da Cultura Cabo-verdiana sobre Amílcar Cabral, cujos pensamentos vão estar expostos em diversos materiais na Casa Garden

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Casa Garden recebe a partir deste fim-de-semana e até ao final do mês uma exposição para celebrar a independência de Cabo Verde. “O Legado de Amílcar Cabral” é o título da mostra, que inaugura amanhã e fica patente até 31 de Julho.
Organizada pela Associação de Divulgação da Cultura Cabo-verdiana, a exposição assinala o 40º aniversário da independência de Cabo Verde, que se comemorou a 5 de Julho, e traz 27 cartazes e um catálogo, construídos a partir do material documental recolhido pela associação junto da Fundação Amílcar Cabral, com sede na cidade da Praia, e da Unidade de Coordenação da Reforma do Estado do Governo de Cabo Verde. Na exposição estão reunidos documentos, imagens, escritos e testemunhos que procuram não só evidenciar a actualidade do pensamento de Amílcar Cabral, mas também a sua importância para Cabo Verde e como líder africano, como indica a organização. Amilcar-Cabral
Nascido na Guiné, Amílcar Cabral mudou-se aos oito anos para Cabo Verde. Em Setembro de 1956 cria, em conjunto com outros, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, também conhecido pela sigla PAIGC. Foi este o movimento que organizou a luta pela independência de Cabo Verde (e da Guiné Bissau), que era colónia de Portugal.
A 20 de Janeiro de 1973, Amílcar Cabral é assassinado em Conacri, por dois membros de seu próprio partido. Amílcar Cabral profetizara seu fim, ao afirmar: “Se alguém me há de fazer mal, é quem está aqui entre nós. Ninguém mais pode estragar o PAIGC, só nós próprios.”
A Associação de Divulgação da Cultura Cabo-verdiana pretende “homenagear essa figura incontornável da história africana do século XX que foi Amílcar Cabral e, por via dele, todo o povo cabo-verdiano e a sua História”. Uma história que chega à RAEM, já que o povo de Cabo-Verde, relembra a organização, “ousou construir uma pátria feita, hoje, de uma nação dispersa pelo mundo e presente também aqui em Macau”.
A abertura da exposição, que decorre na Casa Garden, está marcada para as 18h30 de amanhã e tem entrada livre. Está patente até ao fim do mês.

8 Jul 2015

Ensino Especial | Alexis Tam quer reforço na qualidade e quadros

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]lexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, quer mais reforço no ensino especial em Macau, incluindo o aumento dos quadros qualificados especializados para a área do ensino. As declarações surgem depois da visita de ontem do Secretário à Escola Luso-Chinesa de Coloane de ensino especial.
O Governo, disse, está empenhado em desenvolver e optimizar o ensino especial, sendo necessário que o serviço de educação tenha boas perspectivas para definir um planeamento de desenvolvimento de médio e longo prazo, acompanhando sempre as mudanças da sociedade e o aumento das necessidades educativas, a fim de planear atempadamente a aposta e distribuição dos recursos educativos.
O Secretário garantiu ainda que a Administração vai dar maior importância à formação de terapeutas profissionais e professores de ensino especial, desejando que mais quadros profissionais optem por se dedicar ao ensino especial. alexis tam
A Escola Luso-Chinesa de Coloane oferece serviços educativos a alunos com idade entre os 16 e os 21 anos que necessitam de ensino especial. Actualmente estão inscritos 65 alunos, sendo esta uma escola que “goza de grande prestígio e confiança por parte dos encarregados de educação”, de acordo com um comunicado do Executivo.
No mesmo dia, Alexis Tam visitou o terreno para fins educativos, no Lote CN6a em Seac Pai Van, onde garantiu que “irá envidar todos os esforços para acelerar o andamento da construção das infra-estruturas”. Recorde-se que neste local está prevista a construção de um escola pública – com os ensinos de pré-primária e primária – um centro de formação prática de ensino profissional e um centro de formação de línguas.
Sobre a conclusão da construção, Alexis Tam afirmou que as instalações educativas do lote devem estar disponíveis para a comunidade “em tempo oportuno”, mas não deu um prazo.

8 Jul 2015

Órgãos | Novo hospital poderá ter centro de transplantes

Os Serviços de Saúde garantem que poderão criar um centro de transplantes de órgãos no novo Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas, estando ainda a ser estudada a legislação sobre morte cerebral e doação de órgãos. O anúncio é feito depois de os SS terem dito que não têm sequer condições para tal

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]inda não está preparada para o processo clínico, mas a RAEM poderá mesmo ter num futuro próximo um centro de transplantes no novo hospital público. A garantia foi dada ao HM pelos Serviços de Saúde (SS).

“No futuro Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas está prevista a existência de um centro de transplante de órgãos que se responsabilizará pela coordenação da actividade a respeito de transplantação de órgãos. Se forem definidos os critérios, legislação e diplomas legais, a RAEM será capaz de desenvolver uma parte de transplantação e a mensagem sobre a dádiva de órgãos terá de ser veiculada junto do público”, apontou o organismo em resposta escrita. A mesma garantia já tinha sido dada ao deputado Si Ka Lon, que havia entregue uma interpelação escrita ao Governo.

A criação dessa legislação está a ser estudada pela Comissão de Ética para as Ciências da Vida, cujos novos membros foram nomeados em Outubro do ano passado. As discussões sobre as futuras regras em casos de morte cerebral ou a colheita, dádiva e transplante de órgãos continuam, não tendo sido adiantada uma data para que o processo legislativo sobre o assunto esteja concluído.

Segundo os SS, o assunto continua por concluir por se tratar de uma matéria sensível. “A definição de morte cerebral é um tema rigoroso e altamente científico, que implica vários factores, tais como, ciência e tecnologia, ética, cultura ou religião, sendo controversa a definição de morte. Pelo exposto, em Macau, ainda não existem critérios e regras relativos à morte cerebral, ou seja, na prática, ainda não é permitida a colheita de órgãos em cadáveres. Por outro lado, quando há uma doação, a colheita e transplante de órgãos, necessita da avaliação de diversos factores, nomeadamente, o uso de doação, a existência ou não de destinatário adequado e as condições para a realização da transplantação”, explicou o organismo.

[quote_box_right]“Se forem definidos os critérios, legislação e diplomas legais, a RAEM será capaz de desenvolver uma parte de transplantação” – Serviços de Saúde[/quote_box_right]

Recorde-se que, há cerca de um mês, o HM noticiou que, em cinco anos, 23 pessoas foram enviadas para o exterior para serem sujeitos a um transplante de órgãos, tendo sido referidas as mesmas dificuldades de ordem ética para chegar a uma conclusão.

O processo de transplante deve respeitar duas fases. Uma diz respeito à colheita dos órgãos ainda em vida, a qual deve ser feita mediante um documento de consentimento assinado pelo doador ou autorizado por um juiz. Quanto à colheita de órgãos em mortos, só poderá ser feita quando declarada morte cerebral do paciente.

Mais de 600 doaram medula óssea

O transplante de medula óssea é um procedimento clínico que também tem de ser feito no exterior. No âmbito do “Memorando sobre o Registo de Doadores de Medula Óssea em Macau”, assinado em 2012 com a Autoridade Hospitalar de Hong Kong, um total de 667 pessoas, de entre 703 cidadãos inscritos no Centro de Transfusões de Sangue de Macau, foram doadores de medula óssea e de células estaminais. Os dados são referentes até Dezembro do ano passado.

8 Jul 2015