Flora Fong SociedadeImóveis | CC recupera mais de um milhão em aquisições no continente [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Conselho de Consumidores (CC) conseguiu resolver dois casos de conflito de aquisição de imóveis de residentes de Macau no interior da China, em que foram recuperados um 1,2 milhões de patacas. O organismo classificou o resultado como fruto da cooperação entre as duas regiões e o anúncio do sucesso foi dado numa resposta a uma interpelação escrita do deputado Si Ka Lon. O deputado questionou quais as actividades de combate e os regulamentos que ambas as jurisdições dispunham para combater o grande número de vendas de edifícios em construção na Ilha de Montanha, que são ilegalmente vendidos em Macau. Quis saber o deputado se o CC dispõe de algum tipo de ajuda para os residentes permitindo que estes resolvam os conflitos decorrentes no processo de aquisição de imóveis fora de Macau. Em resposta, o presidente da Comissão Executiva do CC, Wong Hon Neng, referiu que depois da consulta de opiniões, levado a cabo pelo Instituto de Habitação (IH), o CC irá ficar responsável por receber as queixas de aquisição de imóveis fora do território e que estas serão transferidas para o organismo de consumidores do local onde aconteceu o caso. Caso seja necessário, o pessoal do CC irá acompanhar presencialmente os consumidores ao continente. Wong afirmou ainda que recentemente, através do mecanismo de cooperação, foram resolvidos dois conflitos relativamente à aquisição de imóveis por parte dos residentes de Macau no continente, levando a que estes conseguissem recuperar 1,2 milhões de patacas. O presidente acredita que com o melhoramento contínuo deste mecanismo de cooperação, sempre que os residentes de Macau tiverem algum conflito na compra dos bens imóveis no interior da China, poderão receber o apoio apropriado. Ainda assim, o CC admitiu que “é difícil gerir os bens imóveis fora de Macau através dos regulamentos do território”, porque os regimes de registo de imóveis de cada região e país são diferentes e ainda porque não foi criada uma integração ou rede deste tipo de negócio entre cada região e país.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesTáxis de Macau [dropcap style=’circle’]No[/dropcap]dia 6 de Julho deste ano, o jornal local “Hou Kong” publicou uma peça que continha a informação mais recente sobre a fiscalização efectuada aos táxis do território, tendo em especial atenção as recentes queixas de comportamento ilegal ou inapropriado por parte dos seus condutores. Segundo a mesma notícia, durante a primeira parte de 2015, a Polícia Judiciária e o Departamento de Trânsito conduziram operações conjuntas de forma a combater os operadores de táxis ilegais. No total realizaram-se 3.037 processos judiciais, cobrindo ofensas diversas, conforme especificado na tabela abaixo: Queixas apresentadas Número de casos processados Percentagem Cobrar em demasia 730 24.04% Recusar passageiros 919 30.26% Utilização de outro veículo 124 4.08% para transporte de passageiros Recolha de passageiros 100 3.29% em local indevido Outras 1.164 38.33% TOTAL 3.037 100% A mais recente operação deste género destinava-se não só a combater a operação de táxis ilegais, mas também a realização de ofensas por parte dos condutores devidamente registados, para desta forma melhorar a imagem dos transportes públicos de Macau e ainda para garantir a defesa dos direitos dos utentes deste tipo de transporte. Uma grande parte da população local tem vindo a manifestar o desejo de se proceder a uma maior inspecção e monitorização desta forma de transporte público. Nos meses transactos, tem sido praticamente impossível obter um táxi à noite, pois durante este período os condutores de táxis conseguem distinguir se o potencial passageiro é local ou porventura estrangeiro, grupo este que constitui o cliente preferencial dos taxistas, visto dirigem-se norma geral a um hotel, casino ou sauna, que são locais de fácil acesso. Já quanto aos residentes locais, nunca se sabe onde estes tencionam ir, e se surgir por exemplo a necessidade de se dirigirem ao Hospital Kiang Wu, o percurso já apresenta um maior número de problemas e de atrasos, tendo em conta as ruas apertadas e congestionadas que rodeiam este centro hospitalar local. Se a viagem for realizada durante o dia, podemos facilmente imaginar o condutor a reclamar, dizendo coisas como “não sei como, mas parece que segui pelo caminho errado, agora vamos ter de dar uma volta maior”. Este tipo de esquema costuma acontecer quando a tarifa a receber não cobre, no entender do taxista, todo o tempo despendido nessa viagem, facto que justifica este solicitar uma compensação maior, mas também por vezes resolvido com umas voltas adicionais de forma a encarecer o trajecto. Agora, estou convicto que o serviço prestado por estes taxistas tem vindo a registar uma melhoria em virtude da fiscalização recentemente efectuada. Ao que parece, e até mais ver, a maioria dos táxis tem estado a obedecer à lei desde então. Isto não quer dizer, contudo, que não possam ser feitas melhorias ao serviço, e para o efeito pretendo aqui fazer algumas observações que devem ser resolvidas no futuro. Em primeiro lugar, se observarmos a estação de táxis do Terminal Marítimo do Porto Exterior, assim como a que fica localizada nas Portas do Cerco, verificamos que os táxis seguem sempre em apenas uma faixa de rodagem, que é normalmente a do lado esquerdo. Assim, não é possível apanhar um táxi na faixa do lado direito, pois normalmente não se encontram aqui veículos a aguardar passageiros. Por estas razões, os taxistas costumam ter opiniões diversas sobre qual das duas faixas representa a possibilidade de maiores receitas, preferindo uns a faixa da direita e outros a da esquerda. Mas, regra geral, a faixa da esquerda é a mais procurada, pois regista um maior número de percursos longos, que são obviamente os mais rentáveis. Salientamos, porém, que isto não é uma regra matemática, nem sequer chega o Governo a fazer qualquer diferenciação, por meio de sinais, entre as duas faixas, depreendendo-se então que esta observação é derivada exclusivamente da experiência dos motoristas. Por fim, a dúvida permanece por esclarecer, não sendo possível determinar com exactidão qual das faixas permite um maior encaixe financeiro por táxi, nem sequer perceber se seria vantajoso ou não permitir a recolha de passageiros quer do lado direito como do lado esquerdo, ou se seria possível oferecer mais conveniência aos passageiros caso se invertesse a ordem agora verificada. Outro serviço que merece uma maior reflexão é o chamado tele-táxi. Muitos residentes têm manifestado o seu descontentamento por não conseguir a marcação de um táxi desta forma, apesar de inúmeras tentativas. Mas, após uma breve conversa com alguns motoristas locais, foi possível perceber as razões que impossibilitam uma melhor oferta deste tipo de serviço. Vamos aqui imaginar uma situação em que um passageiro telefona para reservar um veículo, sendo ao mesmo oferecido um táxi, aqui chamado de A. Porém, quando este chega ao local pré-determinado, este verifica que o passageiro em causa acabou na verdade por apanhar um outro táxi, B, que se encontrava vazio. Neste caso, é o passageiro que se encontra em falta, e não o táxi A. Mas o que pode ser feito para evitar a repetição deste tipo de situações? Se por um lado temos necessidade de combater aqueles motoristas que praticam ilegalidades, temos também a necessidade de recompensar aqueles outros que operam com rigor e pontualidade. Assim sendo, compreende-se que o passageiro em causa, que apanhou o táxi errado, deve naturalmente ser penalizado pelo incumprimento do contrato, mesmo que feito por via oral, pois tal facilitaria a repetição deste tipo de situações. Ultimamente, um outro tipo de modelo tem vindo a aparecer nas ruas da RAEM, em que carros particulares são utilizados para o transporte de passageiros, em substituição dos tradicionais táxis. Isto é mais frequente em certas zonas da cidade, e varia conforme a hora do dia. Certas manhãs, nas Portas do Cerco, é possível encontrar vários carros particulares a transportar clientes de um lado para o outro, serviço este que é remunerado por via monetária, entrando estes em competição directa com os táxis. Enquanto que certos passageiros preferem esta opção, visto os carros serem na maior parte dos casos mais confortáveis do que os táxis, outros há que não aceitam este desenvolvimento, pois consideram que os tais carros particulares não têm licença para operarem de uma maneira comercial, como aqui mesmo descrevemos. Além disso, as apólices de seguro de um e de outro não são iguais, nem e custo nem no tipo de cobertura oferecida. Regra geral, o seguro de um carro particular não cobre os passageiros, e no caso de um acidente, este não recebem nenhuma compensação por parte da seguradora. Este pode sempre optar por abrir um processo judicial para o efeito, mas não é garantido que venha a receber nenhum dinheiro, mesmo caso o Tribunal lhe venha a dar razão. Tendo isto em conta, sou da opinião que as autoridades não devem permitir o uso de carros particulares para o transporte comercial de passageiros, pois estes não se encontram devidamente assegurados, e também por isto vir na verdade a prejudicar financeiramente os condutores de táxis propriamente licenciados. Em forma de remate, acrescento aqui o meu agrado pessoal em verificar que a indústria de táxis de Macau está a ser fiscalizada, ao mesmo tempo que se têm verificado melhorias no serviço. Toda a população pretende ver a continuação desta tendência, pois não só os residentes como os próprios operadores de táxis só têm a beneficiar do adicional aperfeiçoamento da indústria.
Hoje Macau SociedadeEncontrados vestígios de cais por baixo da farmácia de Sun Yat-sen [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Instituto Cultural (IC) anunciou na sexta-feira a descoberta de vestígios arqueológicos do que terá sido o antigo cais da cidade, durante trabalhos de recuperação da antiga farmácia do médico Sun Yat-sen, primeiro Presidente da China. Em 2012 foi encontrada uma estrutura em pedra num nível abaixo das fundações originais, na parte traseira do edifício, revelou o IC. Já este ano, a equipa de restauro voltou a encontrar uma nova estrutura de pedra, de grande escala. “Pela dimensão dos blocos existentes, acredita-se que pode ter sido um pequeno cais ou parte de uma linha de água. Sabe-se que esta zona era alagada. Há muitos registos que tudo isto estava ligado ao Porto Interior”, explicou Carlos Marreiros, arquitecto e presidente do Conselho do Património. A antiga farmácia de Sun Yat-sen, com quase 120 anos, fica localizada na Rua das Estalagens, no coração do bazar chinês, uma zona que está a uns bons dez minutos a pé do cais actual. “Estávamos a trabalhar na estrutura da canalização [do edifício] quando descobrimos [as pedras]”, contou Leong Wai Man, do departamento do Património Cultural do IC. A nova descoberta veio atrasar os trabalhos de recuperação e consequente abertura de uma casa-museu. “Esperávamos abrir no próximo ano, mas agora é preciso ajustar, não só a exposição mas a construção”, explicou a especialista. O plano inicial era transformar o edifício, “um exemplo típico e representativo dos edifícios comerciais de Macau”, num “pequeno núcleo museológico, exibindo alguma parafernália relacionada com Sun Yat-sen”, mas os novos achados arqueológicos vão implicar mudanças, sublinhou Carlos Marreiros. Local de comércio Os especialistas não conseguem ainda datar este cais, garantindo apenas ser anterior ao edifício, do século XIX, mas lembram que era nessa zona marítima que se efectuava grande parte do comércio entre portugueses e chineses. “Planeávamos ter aqui uma exposição sobre Sun Yat-sen, talvez alguns medicamentos. Mas como encontrámos mais achados arqueológicos vamos ter de integrar mais informação sobre a história de Macau. Se for mesmo a frente marítima, teremos de mostrar mais sobre isso”, afirmou Leong Wai Man. O IC acredita que o número 80 da Rua das Estalagens tenha sido ocupado pelo fundador da República da China, que exerceu medicina em Macau e ali abriu a Farmácia Chong Sai, que disponibilizava medicamentos ocidentais, em 1892. A farmácia só terá funcionado durante cerca de um ano, motivo pelo qual se perdeu todo o recheio e mesmo a maior parte dos elementos decorativos. Actualmente, além das escavações, o IC tenta recuperar as paredes, feitas do tradicional tijolo cinzento chinês, muito deteriorado devido à água salgada do subsolo. As pinturas no tecto, as janelas, portadas e frisos vão também ser recuperados. Para Carlos Marreiros a aquisição do edifício em 2011 por 36 milhões de patacas foi a atitude correcta. O arquitecto considera que muitos outros espaços na cidade deviam ter o mesmo destino: “Além de representarem um tipo de vida, essa arquitectura dita chinesa do sul em Macau incorpora elementos portugueses.”
Andreia Sofia Silva SociedadePatrimónio | Arquitectos vão enviar recomendações ao Governo A Associação dos Arquitectos de Macau vai preparar algumas recomendações para enviar ao Executivo no âmbito da protecção do património, não descartando um contacto com a UNESCO. Outras associações do sector não têm os mesmos planos [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]nova direcção da Associação dos Arquitectos de Macau (AAM), eleita há cerca de uma semana, vai reunir com o intuito de preparar algumas recomendações a enviar ao Executivo, numa altura em que se celebram os dez anos da classificação do património de Macau na UNESCO. A garantia foi dada ao HM pelo novo presidente da AAM, Jonathan Wong Chung Yuen. “Estamos a preparar alguns comentários para enviar ao Governo, mas não nos queremos focar apenas numa área específica”, referiu sem adiantar mais pormenores sobre o que será incluído no documento. Em relação à UNESCO, a AAM também está a pensar enviar alguns comentários sobre os trabalhos feitos na área da protecção dos monumentos. “Penso que vamos preparar algo, mas antes teremos de fazer uma reunião com os membros da direcção, pois tomámos posse há pouco tempo”, disse ainda Jonathan Wong, que considerou ser importante a UNESCO falar com outras entidades além do Governo. “Se pudessem fazer isso, seria bom. Neste momento penso que a UNESCO fala directamente com o Governo. Poderia ajudar [se falasse com associações], se fosse [um processo] mais transparente”, apontou. Caso isolado Esta parece ser, para já, a única associação do sector com planos para falar com o Executivo ou a UNESCO sobre este assunto. O HM contactou várias entidades no sentido de perceber se vão tomar uma iniciativa semelhante à da Associação Novo Macau, que enviou um relatório não oficial a denunciar os perigos do desenvolvimento urbano para a paisagem nas zonas da Penha ou Guia, mas nem todos parecem querer fazê-lo. Dominic Choi, presidente da entidade Arquitectos sem Fronteiras, garantiu: “não temos um plano para falar com a UNESCO”. Contudo, admitiu que “talvez se possa ter uma discussão interna [sobre o assunto], mas não [vai] ser anunciada publicamente para já”. “Não planeámos discutir com a UNESCO, mas talvez possamos discutir algo com a associação de arquitectos. Não estamos neste momento a discutir questões ligadas à arquitectura local, por estarmos focados noutros projectos, mas talvez o possamos fazer mais tarde.” Derrick Tam, presidente da Associação dos Embaixadores do Património, também descartou, para já, um contacto com a UNESCO. “Tive conhecimento que a Novo Macau enviou um relatório não oficial à UNESCO, mas não planeámos fazer algo semelhante, uma vez que o plano na Doca dos Pescadores e o plano director para a Zona B dos novos aterros ainda não foram aprovados pelo Governo”, disse, em resposta escrita ao HM. Boa fé O presidente da Associação acredita nas boas intenções do Governo quanto à preservação da paisagem da Colina da Penha. “O Governo tem vindo a recolher as opiniões dos cidadãos sobre o plano para a Zona B e o Chefe do Executivo já afirmou que vai garantir que a altura dos edifícios para [essa zona] não vai afectar a protecção do património.” Apesar disso, Derrick Tam alerta para o facto da altura de cem metros poder, de facto, pôr o património em perigo. “Espero que os edifícios na Zona B tenham a altura máxima de 25 metros, tal como foi sugerido no segundo documento da consulta pública.” O HM contactou ainda o arquitecto Nuno Soares, responsável pelo Centro de Arquitectura e Urbanismo, que nos confirmou que não estão agendadas recomendações ao Governo ou à UNESCO, embora a entidade esteja a desenvolver trabalhos sobre esta matéria.
Hoje Macau SociedadeJogo | Bacará desce mas ainda é a maior fonte de receitas [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]sector do Jogo mantém uma forte dependência do bacará que contribuiu com quase 90% do total das receitas brutas apuradas no primeiro semestre do ano, indicam dados oficiais divulgados na semana passada. Os números dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos indicam que, entre Janeiro e Junho, o bacará ‘rendeu’ 108.189 milhões de patacas, dos quais 63,9% – 69.239 milhões de patacas – foram jogados nas salas VIP destinadas a grandes apostadores. O bacará ocupava um peso de 88,5% nas receitas brutas de todo o sector do Jogo – casinos, apostas em jogos de basquetebol e futebol, corridas de cavalos e cães e lotarias – e 88,9% do total das apuradas nos casinos no primeiro semestre do ano. Entre Janeiro e Junho de 2014, antes de as receitas iniciarem uma rota descendente, representava 90,9% dos proventos apurados nas salas de jogo. Até Junho, as receitas de todo o sector totalizavam 122.148 milhões de patacas, dos quais 99,5% (121.645 milhões de patacas) foram apuradas nos casinos, ou seja, menos um terço (36,9%) do que o ‘encaixado’ no período homólogo de 2014. Os dados mostram ainda uma diminuição em termos trimestrais, já que as receitas caíram de 65.032 milhões de patacas no primeiro trimestre para 57.116 milhões de patacas (6.573 milhões de euros) no segundo. A meio do ano, o valor apurado por todo o sector correspondia apenas a um terço das receitas arrecadadas no cômputo de 2014. No ‘ranking’ de todo o sector, depois dos casinos – mas a larga distância – figuram as apostas nos jogos de futebol que, no primeiro semestre do ano, renderam 264 milhões de patacas. Seguiram-se as corridas de cavalos, com cem milhões de patacas e as de galgos 66 milhões de patacas. Até ao final de Junho, estavam contabilizadas 5814 mesas de jogo e 14.192 ‘slot machines’ espalhadas por 35 casinos. As receitas dos casinos cumpriram o 13.º mês consecutivo de quedas homólogas, com Junho a figurar como o pior mês desde Novembro de 2010. Salas VIP continuam a fechar Promotores das salas VIP continuam a transferir o seu negócio de Macau para outros países asiáticos devido ao interesse dos jogadores e os entraves que têm acontecido a este negócio em Macau podem não melhorar com os novos projectos do Cotai. Um especialista do sector cujo nome não foi identificado disse ao jornal Ou Mun que, desde ano passado, as salas VIP foram fechadas gradualmente, sendo que alguns grupos passaram de seis salas para apenas uma e têm planos para fechar todas, a fim de mudar os negócios nas Filipinas, Vietname e outros países. “Onde os clientes vão, os negócios acompanham”, disse a fonte, explicando que os clientes ricos do interior da China “não sentem que as pessoas de Macau são simpáticas” e que a proibição total de tabaco nos casinos também afecta os seus interesses. Outra razão para o fecho das salas VIP tem a ver com o grande número de empréstimos a jogadores que não têm capacidade de pagar. No total, já fecharam mais de cem salas.
Rui Flores VozesConsequências do drama grego [dropcap style=’circle’]Os[/dropcap] dias de tremenda tensão negocial à volta da grave crise financeira da Grécia vieram pôr em evidência algumas tendências da “nova” Europa. Principalmente três. As tensões nacionalistas estão a crescer por toda a Europa. Os partidos políticos pró-europeus, aqueles a que nos habituámos a chamar do “centrão”, preocupados com o crescimento dos extremismos, tanto à direita como à esquerda, foram criando as condições para que a coligação da esquerda radical grega (o Syriza) não conseguisse chegar a bom porto. A estrutura político-administrativa da União Europeia é incapaz de gerar consensos políticos. Todas estas conclusões podem ser resumidas através de uma só ideia: a construção político-administrativa da União Europeia (UE) está em risco. A forma como os dirigentes nacionais vierem a lidar no curto prazo com os desafios que a crise grega lançou ditará o futuro da União. A Europa institucional lidou com o Syriza com muita condescendência. Desde as primeiras reuniões em Bruxelas, nas quais participaram Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis, no início do ano, que essa condescendência é visível. Deram aos radicais gregos o tratamento que era dispensado aos “miúdos” traquinas pelos directores de turma de um certo período da história (representados pela imagem do tradicional professor da escola primária, de régua na mão, sempre pronta a usar, mas não para medir uma qualquer distância entre dois pontos). A imagem do Presidente da Comissão Europeia numa dessas primeiras reuniões, abraçado a Tsipras, a puxar a sua própria gravata para ocupar o vazio da ausência de uma no colarinho do primeiro-ministro grego, acaba por ser uma excelente síntese da relação recente entre a União Europeia e a Grécia. Para dançar tango é preciso que haja uma convergência de vontades das duas personagens envolvidas. No caso de uma revisão estrutural da dívida grega e do processo de refinanciamento do país proposto pelo governo grego, Tsipras dançou sempre a solo. A UE, enquanto tal, optou por tocar uma outra música: a do pagamento dos empréstimos, no calendário que havia sido acordado com a Grécia no âmbito do primeiro e segundo resgates. Como se veio a ver mais tarde – através do olhar de fora da UE trazido para o debate político pelos relatórios do Fundo Monetário Internacional (FMI) – a ideia de uma reestruturação da dívida grega, leia-se perdão de dívida, não apenas fazia sentido como se tornou agora num imperativo que o FMI coloca como condição essencial para continuar a ser envolvido no affair grego. Como em quase tudo na vida, as análises externas dão-nos uma perspectiva muito mais realista sobre um qualquer conflito. É isso que explica, por exemplo, a popularidade dos conselheiros matrimoniais. Quando um casal deixa de conseguir lidar com as tensões internas e recorre a um serviço de aconselhamento profissional fá-lo, em muitos dos casos, para obter uma análise aprofundada das raízes do conflito na esperança de as poder resolver. Em muitas das situações – e não apenas na vida familiar –, essa perspectiva externa traz uma nova luz aos problemas, que as partes envolvidas, com interesses específicos no conflito, não conseguem ou não querem reconhecer. Na questão da crise europeia espoletada pela pré-insolvência grega, as análises mais certeiras e desapaixonadas que tenho tido a oportunidade de ler provêm de fora da UE. O FMI é uma dessas leituras obrigatórias. Até porque estão desprovidas das mensagens que o tal “centrão” europeu quer fazer passar. A dissimulada condescendência tinha apenas como objectivo fazer o Syriza saltar fora na primeira curva da estrada. A bem da “normalidade” política europeia, do pagamento dos empréstimos e da estabilidade do euro. Mas o problema grego veio, ao mesmo tempo, exacerbar um conflito latente entre nortistas e sulistas. Há uma linha de fractura que se agudiza entre o Norte e o Sul da Europa. Uma linha que teve na questão grega um momento de expressão das dissensões sobre o conteúdo da própria UE. A Europa é cada vez menos a Europa da solidariedade. Há uma narrativa que perpassa no Norte da Europa contra um Sul, imaginado a trabalhar menos horas, num ritmo mais descansado e que tem no Estado uma espécie de santo protector contra todas as intempéries. Esta narrativa fez escola quer nas elites, quer nas opiniões públicas da Alemanha, Holanda, Finlândia e Eslováquia, por exemplo, e foi escutada nas reuniões do Conselho Europeu pelo discurso de que já chegava de apoiar a Grécia. Este ressurgimento dos nacionalismos europeus não é de hoje. Agravou-se com a crise financeira que assola a Europa desde 2008. E põe autores credenciados a questionar se a Europa continuará em paz na ausência de prosperidade. O euro, infelizmente, ao contrário de ter aproximado as diferentes economias da Europa – ou as diferentes Europas – veio agudizar as diferenças entre elas. Em países onde o desemprego jovem chegou aos 50 por cento e a ausência de ocupação atinge um quarto da população, a crise potencia situações em que europeus acabam por ficar contra europeus. A tendência – com o aumento da dimensão eleitoral dos partidos nas extremidades do sistema – será a de o discurso contra a integração se tornar mais e mais popular. O futuro da Europa joga-se muito na resposta que os principais líderes políticos nacionais venham a dar às consequências que a crise grega teve nas estruturas político-administrativas da União Europeia. O combate aos nacionalismos emergentes não será fácil, sobretudo porque, a um certo nível, a construção europeia tem exaltado a existência do Estado-nação. A profusão de Estados-nação interessa naturalmente ao centro político-administrativo da União para reforçar o seu papel de facilitador de consensos. Mas esse é um dos seus principais problemas. A União não tem conseguido gerar consensos – além do caso grego, com todas as suas consequências políticas, outro exemplo recente é a abordagem ao fluxo de imigrantes africanos na Europa, em que a proposta inicial da Comissão foi simplesmente destruída pelos Estados-membros. Juncker é um eurocrata experiente, mas acaba de chegar à presidência da Comissão Europeia. Poderá estar a pagar o preço de uma certa indefinição de estilo inicial, mas o seu mandato adivinha-se extremamente difícil. E, no fundo, é a sobrevivência da própria União, tal como a conhecemos hoje, que poderá estar comprometida.
Flora Fong SociedadeAssédio Sexual | Vítimas denunciam assédio e pedem lei mais rápida [dropcap style=’circle’]T[/dropcap]rês alunas de 17 anos terão sido sexualmente assediadas recentemente. As três jovens, que não quiseram ser identificadas, contaram ontem a sua história através de um encontro promovido pela Associação Novo Macau, onde se fizeram acompanhar por uma assistente social. As jovens pedem que legislação apropriada para este tipo de crime seja rapidamente implementada em Macau, porque se queixam, entre outras questões, da burocracia. O HM ouviu uma das três alunas, que diz ter sido apalpada por um rapaz que vestia um uniforme de uma escola, junto a um edifício no Fai Chi Kei. A jovem diz que gritou, mas não conseguiu ver a cara do agressor. Ainda assim, fez queixa na Polícia Judiciária, mas o tempo que demorou o processo não agradou à rapariga. “A denúncia na PJ demorou mais de três horas e ainda me pediram que fizesse um exame para ver se tinha ferimentos no Hospital de S. Januário. Foram outras três horas. Como não existe uma lei sobre o assédio sexual em Macau, não posso denunciar o caso, nem como ofensa à integridade física.” A aluna disse considerar ridículo o exame no hospital, já que o facto de ter sido apalpada não deixa marcas. A jovem quer continuar a acompanhar o caso, mas a família não a apoia. “A minha família disse que não sabemos como é o rapaz e disse que é melhor não denunciar. Mas eu vou continuar, caso contrário vai haver mais vítimas”, disse, defendendo que um dia foi um apalpão, mas como não há lei que puna o assédio sexual, não há protecção para nada do que aconteça quando as mulheres saem à rua. Kam Sui Mei, assistente social que acompanhou as vítimas, considera que actualmente as medidas de tratamento dadas aos casos de assédio sexual não conseguem ajudar as vítimas, mas também aponta o dedo à atitude das famílias e das autoridades policiais. “A polícia sabe que o caso é de assédio sexual mas apenas pode ser denunciado como crime de ofensa à integridade física. Gastam-se horas e horas para examinar ferimentos, mas todos sabemos que não existem feridos concretos [em casos de assédio]”, frisou. Kam espera que os professores de ensino sexual das escolas secundárias possam ensinar os alunos a denunciar casos, evitando ficar calados e deixar que o agressor passe impune. A assistente aconselhou também a que a Escola Superior das Forças de Segurança ofereça formação às agentes femininas, de forma a que estas possam ter mais sensibilidade na prestação de Socorro às vítimas. O fetiche por “meias brancas” Um jovem de 19 anos foi detido pela Polícia Judiciária depois de ter tentado coagir vários alunos menores a ter relações sexuais com ele por mais de 30 vezes. Tudo, porque as crianças usavam meias brancas em conjunto com o uniforme da escola. O caso foi publicado pela imprensa chinesa, que dá conta que o homem, desempregado, foi detido depois de, na Rua de Sacadura Cabral, ter parado um aluno de 12 anos: disse-lhe que lhe tinha caído uma moeda dentro dos sapatos e acabou por levar o menor para um edifício, onde o obrigou “a usar as pernas em comportamentos indecentes”. A PJ já recebeu denúncias de três pais de alunos. O homem assumiu sentir um fetiche com os alunos que calçam meias brancas e que isso dava azo a fantasias sexuais. Os alvos eram sobretudo rapazes com cerca de dez anos.
Andreia Sofia Silva PolíticaSecretariado do Conselho da Ciência e Tecnologia extinto O secretariado do Conselho da Ciência e Tecnologia vai deixar de existir, passando os 18 funcionários a trabalhar para o Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e Tecnologia. Leong Heng Teng diz que mais secretariados podem ser eliminados [dropcap style=’circle’]É[/dropcap]mais uma medida em prol da racionalização dos custos na Função Pública, devido à quebra das receitas do Jogo. O Governo decidiu pôr fim ao secretariado do Conselho de Ciência e Tecnologia (CCT), passando o Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e Tecnologia (FDCT) a prestar o apoio administrativo necessário ao Conselho. Segundo apresentação do porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, a medida visa responder “às acções de racionalização dos quadros e de simplificação administrativa”. Actualmente, trabalhavam 18 funcionários no secretariado do CCT, sendo que os “trabalhadores providos em regime de contrato além do quadro e de assalariamento transitarão para o FDCT, passando a ser recrutados por contrato individual de trabalho”. Trata-se do segundo secretariado que é extinto desde que o Governo assumiu funções, sendo que Leong Heng Teng confirmou que mais acções do género poderão vir a ocorrer no futuro. “Tendo em conta a racionalização dos quadros, de certeza que este tipo de acções vão continuar no futuro. Não nego a possibilidade de que mais secretariados venham a ser extintos no futuro”, disse o porta-voz em conferência de imprensa. Em Março a extinção do secretariado do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) originou polémica, tendo a Associação Novo Macau (ANM) entregue uma petição ao Comissariado contra a Corrupção (CCAC), a pedir uma investigação. Os activistas consideraram que o facto dos membros do CPU não terem sido consultados sobre o facto poderia constituir uma violação do Código do Procedimento Administrativo e que teria como objectivo a diminuição do poder de fiscalização do CPU em relação aos projectos de construção em curso.
Joana Freitas BrevesTribunal rejeita recurso de Joseph Lau e Steven Lo O Tribunal de Segunda Instância (TSI) rejeitou o recurso interposto para a redução da pena de Steven Lo e Joseph Lau, empresários de Hong Kong condenados a cinco anos e três meses de prisão no processo La Scala por corrupção e branqueamento de capitais. O acórdão não se encontrava disponível em Português, mas de acordo com a imprensa local, os dois homens alegaram que o Tribunal Judicial de Base não teve em conta o princípio de presunção de inocência, algo que o TSI considera não ter fundamento. A Segunda Instância entendeu que ficaram provados os factos relacionados com o pagamento de subornos ao antigo Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long, e disse ainda que não é possível que a pena seja mais leve do que a decidida pelo outro tribunal, até porque, no caso de Lau, nem sequer esteve presente em tribunal, não cooperou e não reconheceu culpa, o que não dá lugar a pena suspensa, segundo cita a TDM. Recorde-se que os dois queriam reduzir a pena de cadeia para três anos ou menos ou até que esta fosse suspensa. O tribunal diz ainda que os crimes cometidos foram muito graves. Segundo a TDM, não é possível recorrer desta decisão.
Joana Freitas BrevesCentros de Saúde até às 22h00 a partir de hoje A partir de hoje é prolongado o horário de serviço do Centro de Saúde de Tap Seac e do Centro de Saúde do Jardim de Oceano. “Esta medida destina-se a responder à contínua procura da população e à mudança dos hábitos de vida”, anunciam os Serviços de Saúde. O organismo diz ainda que o prolongamento do horário de serviço não vai aumentar as horas de trabalho dos profissionais de saúde.
Joana Freitas SociedadeHabitação Pública | Governo vai promover investigação à água Depois do susto em Hong Kong, as autoridades de Macau asseguram que tudo parece estar bem com as águas dos canos da habitação pública. O Governo diz que vai analisar a água [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Executivo assegura que leva a cabo uma investigação à água que corre nos canos das fracções de habitação pública, depois de em Hong Kong se ter confirmado a presença de níveis excessivos de chumbo na água das torneiras de edifícios de habitação pública. Instituto de Habitação (IH), Direcção dos Serviços dos Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA), Serviços de Saúde (SS), Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) e Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) juntaram-se para discutirem como se pode apertar a fiscalização e garantir a qualidade da água. Os problemas da qualidade no abastecimento de água dos edifícios de habitação pública em Hong Kong têm vindo a provocar preocupações em alguns moradores de habitação pública no território, sendo que a União Geral das Associações dos Moradores de Macau (Kaifong) já pediu ao Governo para intensificar as inspecções periódicas, sobretudo nos edifícios mais antigos de habitação pública. Algo que o Executivo diz que vai fazer. “O Governo irá proceder à análise de amostras da qualidade de água no sistema de abastecimento de água no interior dos edifícios de habitação pública recém-construídos, a fim de assegurar que a qualidade de água esteja dentro dos critérios de higiene e irá publicar de forma oportuna as respectivas informações, para atenuar as preocupações do público”, pode ler-se num comunicado. O Governo assegura que as autoridades tiveram uma reunião extraordinária interdepartamental, para uma troca de informações “sobre este assunto e a discussão sobre a organização dos trabalhos”, bem como para planear “sobre o procedimento de análise de amostras nos edifícios de habitação pública recém-construídos de Macau, de modo a garantir que a qualidade de água esteja dentro dos critérios de higiene”. Segundo o comunicado, foi apresentada a forma como é feita a inspecção actualmente e que passa, de acordo com o comunicado, pela avaliação diária da qualidade de água dos reservatórios pela Sociedade de Abastecimento de Água (SAAM), que “apresenta periodicamente relatórios de qualidade de água à DSAMA e ao IACM”. O Laboratório do IACM, além de proceder a avaliações de rotina às águas dos reservatórios e das redes de abastecimento de água, “também avalia periodicamente o elemento de metais pesados nas águas”, assegura ainda o Governo, que descarta, assim, grandes motivos de alarme. “De acordo com as informações das avaliações realizadas ao longo do tempo, a qualidade no abastecimento de água, em termos de nível de metais pesados, desde sempre esteve dentro dos critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da segurança da qualidade de água.” A DSAMA assegura ainda que solicitou à SAAM o reforço dos trabalhos relativos às avaliações de rotina da qualidade de água, de modo a garantir a qualidade e segurança no abastecimento público.
Flora Fong Manchete PolíticaEleições AL | Funcionários de associação de apoio a Chan Meng Kam condenados Duas pessoas que angariavam votos para Chan Meng Kam foram condenadas a mais de um ano de prisão por corrupção eleitoral. Os deputados envolvidos não comentamPasso atrás O TJB deu ainda como provado que o cancelamento da reserva no restaurante onde ia acontecer um dos encontros da lista aconteceu porque os dois arguidos foram presos no dia anterior. Mais ainda, o colectivo diz que, devido a isto, os veículos de transporte gratuito vistos no local foram cancelados e foi colocado um cartaz que dizia “manter eleições limpas, refeições pagas por cada um” à porta do restaurante. Embora os defensores apresentassem provas de testemunhas que não receberam telefonemas de oferta de refeições em troca de votos, o juiz disse que não se podia excluir a verdade de outras telefonemas, onde esses factos aconteceram. A chamada para o funcionário do CCAC, Io Fu Chun, foi a que mais peso teve. “O tribunal acredita que ele não denunciou os residentes para conseguir vantagens no trabalho. O facto é um crime de corrupção nas eleições e mesmo que refeições gratuitas não sejam grandes incentivos de voto para os residentes, de acordo com as leis, podem levar a uma condenação até oito anos de prisão”, pode ler-se na imprensa. O juiz fez ainda questão de dizer que, em eleições passadas, foram tomadas muita acções incorrectas, mas que a cultura está a melhorar. “Muitas pessoas já sabem que não podem fazer corrupção senão são condenadas. Os deputados representam os residentes e fazem decisões legislativas, a corrupção influencia a justiça nas eleições e todo o futuro da sociedade. As eleições limpas são para todos os residentes cumprirem” disse, acrescentando que a Lei Eleitoral protege deveres diferentes de outras leis e que, portanto não pode haver suspensão da condenação. O juiz defendeu ainda que a condenação já é leve. O funcionário de apelido Ho já apresentou recurso. O HM quis saber se haverá repercussões nos cargos dos deputados, mas não foi possível devido a ser fim-de-semana.
Filipa Araújo Manchete SociedadeFilipa Guadalupe, coordenadora do Centro de Reflexão, Estudo e Difusão do Direito de Macau A coordenadora de um dos poucos centros que se dedica à promoção do Direito descreve o Direito de Macau como um “adolescente”, que poderá ser uma excelente mais valia para o Governo Central. Filipa Guadalupe diz que é preciso fazer mais, até porque a sociedade ainda não tem totalmente interesse na questão Ao final de três anos, qual o balanço que se pode fazer do CREDDM? Este é um centro que faz parte da Fundação Rui Cunha mas que tem um regulamento próprio, sendo uma unidade orgânica. Foi criado precisamente porque o escopo móvel principal da Fundação é a preservação e difusão do Direito de Macau. Entendeu-se por isso que seria importante automatizar, criar uma centralidade dentro Fundação só dedicada a essa área e daí nasceu há três anos e meio este centro. Há quem defenda que o Direito de Macau tem mais de 450 anos, mas não é verdade. Este Direito tem de facto uma herança portuguesa, mas faz este ano 15 anos. Antes da transição era tudo muito fácil, tudo se resolvia em Lisboa. Precisávamos de uma decisão judicial, o Supremo Tribunal de Justiça ou o Tribunal da Relação de Lisboa resolvia, precisávamos de uma lei, a Assembleia da República resolvia. Depois da transferência da soberania, Macau começou a ter órgãos próprios – como a Assembleia Legislativa (AL) e os tribunais – mas faltava-lhe o mais importante: o background, substratos. Os juízes não tinham como fundamentar as suas decisões, a AL recorria à herança portuguesa mas era uma herança que cada vez mais se ia afastando da realidade local. Era preciso criar coisas novas… Sim era preciso dotar o território de instrumentos que serviam não só para desenvolver, criar e expandir, mas acima de tudo que trouxessem às pessoas que aqui moram o conhecimento que elas precisam de ter do Direito que têm. O que se passa é que não só os operadores jurídicos estão órfãos e têm falta de meios para trabalhar, como a população – esmagadora maioria chinesa – não faz a mínima ideia do que é o Direito de Macau. A partir deste princípio nasceu este Centro e é criada uma política de reflexão, estudo e difusão. [quote_box_left]“As pessoas ainda não têm interesse em perceber porque é que as coisas são A e não B. Há temas mais quentes que outros, claro, e aí vê-se algum movimento, mas as pessoas ainda não sabem como reagir, como intervir”[/quote_box_left] Em termos práticos o que é que o centro faz em cada uma dessas três áreas? O Centro organiza-se nestas três partes. Achámos que para tudo é preciso reflectir, portanto esse é o primeiro passo. É preciso ouvir as pessoas, olhar para a sociedade e ver o que faz falta, é preciso ver quais as tendências e qual o caminho a seguir. Isto só se faz a pensar em voz alta e em Macau, pela sociedade que é muito mais comedida, ainda há a ideia que falar é ser contestatário, ou contra o sistema, o que é errado. Aqui pretende-se ser construtivo, portanto o Centro quer dar palco a todos os que queiram contribuir de uma forma positiva para a construção de uma sociedade melhor. Portanto nesta parte organizamos conferências e seminários. Normalmente fazemos ao final do dia, na biblioteca da Fundação, tentamos sempre ter convidados internacionais com locais para que se consigam juntar os pontos de vista e perceber o que é que existe aqui e o que existe lá fora e como conseguimos congregar essas mesmas ideias. Sempre em duas línguas? Sim, todas as conferências, seminários e debates são bilingues, ou seja, se os oradores não forem de nacionalidades diferentes há sempre tradução simultânea. Esta é a tentativa de alargar sempre o mais possível as nossas iniciativas. Sendo que toda esta parte de reflexão é transmitida em directo pelo nosso site. Posteriormente ao evento é feita uma revista, a ‘A pensar Direito’, também bilingue e que é uma súmula do que aconteceu, das ideias e do que se decidiu. E nas duas outras áreas? Na parte do estudo, temos protocolos com instituições locais e internacionais que nos permitem no território fazer formações práticas, todas dentro da área jurídica. Nestas formações convidamos juízes, professores e advogados mais experientes para darem um conjunto de aulas – normalmente de oito ou dez horas – sempre com tradução. Estas actividades não pretendem substituir-se ao que é ensinado na universidade, mas sim preencher o espaço vazio que existe entre o mercado do trabalho e a saída da universidade, que também acontece em Portugal. No caso de uma revisão à lei é também feita uma formação para que os actuais profissionais percebam o que foi alterado e quais as implicações que isso traz. A difusão é precisamente a criação de lastro, ou seja, não se consegue perpetuar o Direito só pelo passa palavra, temos que criar alicerces, e no Direito estes alicerces criam-se com a chamada doutrina e jurisprudência. A doutrina é o que sai das universidades, a jurisprudência é o trabalho dos tribunais. Isto só existe se existirem meios para editar. O que acontece em Macau é que há um número muito pequeno de manuais jurídicos. O que o Centro fez foi criar uma editora jurídica em que, à medida das nossas possibilidades, vamos publicando manuais, teses de doutoramento feitas por professores e alunos locais e outras publicações periódicas. Estamos a construir um arquivo e uma biblioteca de artigos técnicos que podem ser utilizados por qualquer pessoa. Quem é o vosso público alvo? A sociedade. Pensar que as nossas conferências ou formações são só para juristas é um erro. Depende do tema. Vamos discutir o património de Macau, claro que vamos fazer uma conferência com arquitectos e com um jurista da AL que esteja responsável pela elaboração daquela lei. Queremos sempre ter o outro lado, o lado da pessoa que na prática vai ter a preocupação sobre aquele tema. Há conferências em que não participa nenhum advogado ou jurista. Isto é muito importante, porque vem ajudar os que fazem as leis. Há leis mal feitas porque as pessoas não têm conhecimento do terreno, um jurista é jurista mas não é especialista em engenharia, ambiente, património cultural. Precisa de quem o ajude, quem lhe explique. Tudo isto partindo do princípio que não há sociedade sem Direito, tudo são regras. Pretendemos assim que o Direito de Macau seja o que as pessoas queiram que ele seja e que melhor sirva às pessoas do território. Claro que para isto tem que existir esta participação entre todos. Como é que se chega às pessoas? Como é que se ensinam as pessoas sobre o seu Direito? O Centro tenta ensinar começando nos mais novos, tentamos sempre ir para a rua. Temos programas com as escolas, por exemplo o ‘Fazer Justiça’ para os alunos do secundário em que eles simulam durante meses um julgamento e no final a sessão pública desse mesmo julgamento. Isto não é só uma peça de teatro, estão envolvidos juízes e juristas que vão ensinar este jovens, que lhes transmitem a noções do Direito. São três meses de trabalho de partilha e ensino que permitem aos alunos assumirem os papéis activos. Para os mais novos, os da primárias, temos formações de Educação Cívica, coisas muito simples, como por exemplo, passar a rua na passadeira, explicar porque é que no autocarro me devo levantar para as pessoas mais velhas se sentarem, educação ambiental. Abordamos inúmeras áreas para que todas estas crianças sejam educadas pelo Direito de Macau e no futuro não seja algo que desconhecem. Naturalmente assim se constrói uma sociedade mais consciente daquilo que tem. Voltando à origem, é errado compararmos o Direito de Macau com o português? Sim, é. Por duas razões. Até 1999 Macau tinha o Direito antigo português. Portugal também mudou em 1986 com a entrada na União Europeia e isso veio mudar tudo. Portanto, em Macau o que tínhamos era um Direito português antes de 1986, só por aí já há uma enorme diferença, porque mesmo depois de 1999 – ainda que Macau quisesse recorrer ao Direito de Portugal – este já tinha ido por caminhos diferentes. Logo aqui há uma separação. Segunda razão: Macau reinventou-se a partir da transferência e criou o seu Direito. Temos uma região administrativa especial que faz parte da China, portanto tem sempre um pai. Nunca nos podemos esquecer que, apesar da nossa autonomia, há sempre o Governo Central, as directrizes mestras são as da China. Até 2049 foi-nos dada a possibilidade de continuarmos com um Direito especial com a Lei Básica, portanto conseguimos ter um Direito ocidentalizado sem perder a consciência que é um Direito chinês. O que é que Macau deve fazer? É preciso ir construindo o Direito de Macau à medida em que a sociedade vai crescendo. Este Direito era novo e agora é um adolescente, ainda com muitos problemas da adolescência, que tem uma coisa boa: uns pais poderosos, a China e Portugal. Mas sem nunca esquecer que é um desafio muito difícil manter a singularidade que temos, até pelos nossos vizinhos: Hong Kong e a China. O desafio é continuar a manter a identidade sem cair na tentação do fácil, que será a absorção. Como é que se consegue isso? Com muito trabalho mas sobretudo a dar a conhecer à população a importância disso mesmo. Como é que a sociedade tem reagido? Estamos a falar de uma área técnica portanto dentro dos operadores jurídicos estão a reagir espectacularmente bem. Temos uma excelente receptividade de todos, quer dos institucionais, quer das associações, entidades governamentais, etc. Aderem em massa. A população é muito mais difícil, tem que ser aos poucos e poucos e temos nós que chegar até eles através destas acções muitos específicas nas escolas, nos mais jovens. Falou nos problemas de um Direito adolescente. Que dificuldades enfrenta Macau? Primeiro é ter especialistas nesse Direito. Neste caso fazemos o nosso Direito com as pessoas locais e estas pessoas tiveram que se adaptar a uma nova realidade, porque estavam habituadas a um conforto que vinha de Portugal. O maior desafio é pensar para onde é que queremos ir de que forma, depois é ir construindo. Temos que perceber os problemas reais da sociedade, perceber o que nos faz falta, estudar os melhores exemplos internacionais e adaptá-los a esta realidade. Macau pode ir buscar os bons exemplos, algo que não está a acontecer, por exemplo no Direito Ambiental. Como é que uma terra tão pequena e com tanto poder económico não pode fazer disto um exemplo ambiental? Não se percebe. [quote_box_right]“Se a China perceber que o Direito de Macau está a funcionar bem e que é um bom aliado na ligação comercial e económica acredito perfeitamente que ele se perpetue”[/quote_box_right] Um Direito que se vai experimentando… Sim, claro. Nada se faz bem à primeira. Macau tem que perceber os seus erros e ir aperfeiçoando com debate e auscultação. Podemos ter uma óptima ideia mas não ser a melhor para o território. Macau tem que perceber que não pode fazer uma lei e ela ficar imutável para todo o sempre, não. É preciso perceber todo o cenário. Tendo como exemplo a Lei da Violência Doméstica que há três anos que está a ser estudada. Faz sentido tanto tempo? Justifica-se? Acho que sim, porque para nós [portugueses] é muito complicado percebermos isso porque vimos de um país ancestral e Macau também o é. Mas o que é um facto é que tudo isto é novo, as coisas vão mudando, a terra mudou, a economia, o Jogo, as pessoas. Houve um avanço muito rápido. Imagino que não deva ser fácil construir uma sociedade com tantas informações exteriores. Não deve ser fácil, ainda por cima numa população que tem pouco interesse em discutir este tipo de coisas. As pessoas ainda não têm interesse em perceber porque é que as coisas são A e não B. Há temas mais quentes que outros, claro, e aí vê-se algum movimento, mas as pessoas ainda não sabem como reagir, como intervir. Tudo isto são coisas que têm de ser ensinadas e partilhadas, mas é preciso tempo. Muito tempo. Não nos podemos ainda esquecer que não somos um país, estamos dependentes. No geral, apesar de tudo, as coisas estão a caminhar bem. O Direito de Macau pode fazer a diferença se for mantido? Sim. Este Direito tem que existir, porque a China entende que não só a população o quer, mas também é uma mais valia para o próprio país. Como é que isso pode ser? Nesta tal ligação com os países lusófonos, nesta plataforma internacional que a China tanto quer e em que o Direito de Macau pode ser essa diferença. Se a China perceber que o Direito de Macau está a funcionar bem e que é um bom aliado na ligação comercial e económica acredito perfeitamente que ele se perpetue. Mas é preciso mostrar a diferença. Teremos Direito de Macau depois de 2049? Tenho fé nisso e todos nós trabalhamos para que isso aconteça. Também acredito que todos os que trabalham no terreno querem isso, mas é preciso democratizar, é preciso alastrar, é preciso que a população também queira e faça por isso. Curso jurídico em Português “é um sucesso” Filipa Guadalupe afirma ainda que o “Português Jurídico” é uma das formações do CREDDM com mais sucesso. Um curso que, como indica a coordenadora ao HM, é totalmente dedicado à comunidade chinesa, ainda que seja dado em Português. “Temos imensas inscrições de recém-licenciados, juristas e muitos tradutores. O que se pretende é desmistificar as figuras jurídicas portuguesa de uma forma simples. Por norma, um jurista chinês tenta perceber o que significa o que está a ler para Inglês, isto é um erro porque o Direito em Inglês é muito simples, há palavras que significam várias coisas, ou que em Português usamos [de forma] diferente”, explica. “Por exemplo ‘rent’ que significa aluguer ou arrendamento é usado – em Inglês – para tudo, isso não acontece em Português, em que temos o aluguer, o arrendar ou até a alocação.” O curso, diz Filipa Guadalupe, tem sido um sucesso e até já há novos planos para este ano. “Vamos fazer uma parceria com a Universidade de São José que se irá focar na parte mais técnica, análise de documentos, por exemplo”, frisa ao HM. Nova actividade para a população A partir de Setembro, o CREDDM vai começar a reproduzir 12 programas, na TV Cabo, sobre Direito, totalmente em Chinês. “Será uma espécie de ‘talk show’ em que temos três convidados – dois advogados, mas assumem-se como juristas – e é dado um caso da vida quotidiana, por exemplo, um acidente de viação. Eles explicam quais os direitos e quais os deveres”, refere Filipa Guadalupe. “No fundo é tentar ir chegando à comunidade chinesa através destas pequenas coisas diárias, afastando-nos da lei para um estilo mais prático e simples.”
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaEleições | Rita Santos afasta candidatura às legislativas em Portugal O semanário O Clarim avançou que Rita Santos poderia vir a integrar a lista do Partido Social Democrata às eleições para a Assembleia da República. Rita Santos nega qualquer convite, que também não queria [dropcap style=’circle’]R[/dropcap]ita Santos já é comendadora pelo Governo da RAEM, foi secretária-geral adjunta do Fórum Macau e integra a lista candidata ao Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), mas poderia também ser deputada em Portugal. Poderia, mas não quer. Segundo disse ao HM, Rita Santos descarta qualquer hipótese de ser deputada pelo Partido Social Democrata (PSD) na Assembleia da República (AR), pelo círculo fora da Europa, negando a notícia avançada pelo semanário O Clarim na sexta-feira. “Não pretendo e nunca pensei em participar em nenhumas eleições em Portugal. Estou mais interessada em trabalhar em Macau ajudando José Pereira Coutinho e Leong Veng Chai no atendimento aos cidadãos de Macau diariamente. Também estou a dar apoio à lista liderada por Coutinho nas eleições para o CCP”, disse. O semanário escreveu que o nome de Rita Santos está a ser pensado para integrar a lista do PSD desde que a comendadora deixou o cargo no Fórum Macau, tendo o seu nome sido aconselhado por José Cesário, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, junto do Conselho Nacional do partido. O Clarim escreve mesmo que as eleições para o CCP têm sido o “balão de ensaio” para a jogada política. Rita Santos diz que não recebeu qualquer proposta nem aceitaria um convite de José Cesário para este fim. “Nunca aceitaria porque eu não pertenço a nenhum partido, nem quero pertencer, porque sou amiga de todos. Porque é que tenho de ter afiliação a um partido?”, questionou, referindo que a Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM), à qual pertence, também não está ligada ao PSD. “Não temos nenhuma ligação partidária e todos sabem que também me dou bem com Paulo Portas, dos tempos em que trabalhei no Fórum Macau. A ATFPM e a Rita Santos não estão ligados a nenhum partido político português. O que me interessa mais é trabalhar em Macau.” Segundo O Clarim, a grande questão à volta do nome de Rita Santos na AR é o CDS-PP, escrevendo o jornal que “poderá facilmente ser desbloqueada devido à relação privilegiada que mantém com Paulo Portas e o facto do CDS-PP não indicar ninguém para os círculos eleitorais onde o PSD teve maioria absoluta nas eleições de 2011”. Rita Santos nega uma ligação partidária à direita e diz que até é próxima de pessoas do Partido Socialista (PS). “Sou amiga de todos os partidos políticos em Portugal. Aliás todos sabem que na fase de transição de soberania o PS deu grande apoio na integração dos funcionários públicos em Portugal e na continuação dos funcionários em Macau, incluindo a localização dos quadros e os aposentados que recebem as suas pensões. Todos os que estão no PS são meus amigos, aliás um deles é marido de uma amiga, Vitalino Canas, mais Jorge Coelho (ex-ministro das Obras Públicas).” Além disso, diz, a “ATFPM, durante a fase de transição, visitou todos os partidos políticos em Portugal para a resolução dos problemas da transição”. O HM tentou chegar à fala com José Cesário, mas o Secretário de Estado não se mostrou disponível.
Joana Freitas SociedadeCooperação | Assinado acordo com Cabo-Verde e pedido centro de estudos na UM [dropcap style=’circle’]W[/dropcap]ei Zhao, reitor da Universidade de Macau (UM), assinou um acordo de cooperação no âmbito académico com as autoridades de Cabo Verde, numa visita em que Alexis Tam ouviu das autoridades da Praia desejos de mais intercâmbios e presença cabo-verdiana na RAEM. As promessas de Wei Zhai incluíam o ensino da Língua Portuguesa e foram deixadas num discurso em Português, segundo um comunicado oficial, na sessão solene de abertura do XXV Encontro da AULP, realizada no passado dia 15 de Julho, na cidade da Praia, em Cabo Verde. “No seu discurso, o reitor da UM destacou o facto de a UM ter assumido a presidência da AULP após 28 anos de acompanhamento da vida da [AULP]. O mesmo responsável salientou que o Português é uma das línguas oficiais de Macau e a UM é a instituição de ensino superior da Ásia com maior presença da Língua Portuguesa, em particular nos cursos ministrados pela Faculdade de Direito e pelo Departamento de Português”, começa por avançar o comunicado do Governo. “O dirigente afirmou ainda que a UM continuará a desenvolver todos os esforços necessários para ampliar a comunicação entre as universidades membros da AULP, em prol do desenvolvimento colectivo do ensino e da Língua Portuguesa no mundo.” Foi ainda assinado o Acordo de Cooperação entre a Direcção-Geral do Ensino Superior do Ministério do Ensino Superior, Ciência e Inovação de Cabo Verde e a Universidade de Macau, que tem como objectivo fomentar a colaboração académica entre as duas partes, nomeadamente através da formação de estudantes. Centro na UM Presente na cerimónia esteve ainda o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, além do primeiro-ministro da República de Cabo Verde, José Maria Neves, e do Ministro do Ensino Superior, Ciência e Inovação de Cabo Verde, António Correia e Silva. Tam reuniu-se com Correia da Silva, num encontro que serviu para “reconhecer que a educação e a cultura têm estado bastante presentes no relacionamento entre Cabo Verde e a RAEM”. Assim, sabe-se que, de entre os projectos que Cabo Verde pretende ver aprofundados, “está o da mobilidade de estudantes pós-universitários nas áreas tecnológicas, urbanismo, ambiente, turismo e línguas”, como frisa o comunicado. Mas o desejo mais recente é o de não só estabelecer um relacionamento mais próximo entre a recém-criada Escola de Turismo e o Instituto de Formação Turística, mas também a criação de um centro de estudos cabo-verdianos na UM. Os dois governantes visitaram ainda o Centro de Ciência da Cidade da Praia, onde foi deixado o desejo de estabelecer uma relação mais próxima com o Centro de Ciência de Macau.
Joana Freitas PolíticaCurrículos das escolas passam a ser regulados por lei Já esteve em fase de teste e passa agora a ser uma aplicação prática: os currículos das escolas serão definidos por lei neste novo ano lectivo [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Conselho Executivo concluiu a discussão sobre o regulamento administrativo que vai implementar as “exigências das competências académicas básicas da educação regular do regime escolar local”. Estas têm sido testadas desde 2011 em algumas escolas e agora vão entrar em vigor, de forma faseada, a partir de Setembro, no novo ano lectivo de 2015/2016. Com o novo regime, com o mesmo nome, vão ser reguladas as exigências das competências académicas básicas do ensino infantil ao ensino secundário complementar da educação regular das escolas oficiais e particulares, de forma a que as competências essenciais exigidas aos alunos após terminarem a aprendizagem de cada nível de ensino sejam semelhantes. Cada escola terá de cumprir estas exigências com materiais didácticos e outras actividades e a ideia do Governo é que, por um lado, “as escolas e docentes [possam] definir planos pedagógicos e currículos das diversas áreas de aprendizagem e disciplinas” e que estes assegurem “a formação básica e completa dos alunos, melhorando a qualidade da formação de talentos”. Cada aluno deverá, assim, cumprir as exigências definidas pelo Governo quando acabar o ano lectivo, as quais incluem “conhecimentos, habilidades, capacidades, emoções, atitudes e valores fundamentais”. Em relação ao ensino técnico-profissional e ensino especial, as exigências serão reguladas com um diploma à parte. O Governo assegura que ouviu opiniões de profissionais, académicos e do sector educativo e que teve como base as experiências da reforma curricular acumuladas pelas escolas e docentes ao longo destes anos em que o projecto piloto de reforma esteve activo. O Executivo vai ter um papel essencial. “Propõe-se que os conteúdos específicos das exigências das competências académicas básicas do ensino infantil ao ensino secundário complementar sejam definidos, de forma ordenada, por despacho do Secretário que tutela a área da Educação”, pode ler-se no comunicado que acompanhou o anúncio da conclusão da discussão. O Governo garantiu que não basta um aluno dominar a parte académica mas que é importante uma aposta na formação pessoal e nos valores morais. A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) promete avançar mais dados esta semana. Mudança de mentalidades4> O vice-director da Associação de Educação de Macau, Vong Kuoc Ieng, espera que os encarregados de educação e professores de Macau mudem a sua atitude e mentalidade para que seja possível a correcção de um problema que acontece nos jardins de infância: estes assumirem as funções das escolas primárias. Isso mesmo explicou ao jornal Ou Mun, após o anúncio de que vai ser implementado no novo ano lectivo o novo regime de competências. No entanto, confrontado com o mesmo problema, o também director da Escola Choi Nong Chi Tai considera que esta é uma falha difícil de corrigir através de regulamentos, por isso é importante ter o apoio dos encarregados de educação e professores. “Existem pais que querem que os seus filhos aprendam a soletrar as palavras em Inglês e a escrever os seus nomes logo no primeiro ano [do jardim de infância]. Os professores e os encarregados de educação devem abandonar esta ideia do que era o ensino tradicional. É preciso que eles apoiem e concordem com a nova reforma, que permite criar mais actividades para que os alunos possam aprender e que traz ainda uma avaliação diversificada”, disse. F.F.
Joana Freitas BrevesMuseu de Arte | Exposição de fotografia sobre animais Inaugurou no Museu de Arte de Macau (MAM) a exposição “Formas de Animais” de Wong Wang Lap. A mostra é de entrada livre aos domingos e feriados, sendo que custa cinco patacas nos restantes dias, e decorrerá até ao final de Agosto. Como parte integrante da Montra de Artes de Macau 2015, a exposição em causa tem os seus alicerces nas mensagens subjacentes às formas dos animais enquanto objectos. A particularidade desta mostra é que, apesar do foco principal ser os animais, nela não estão incluídas fotografias de animais vivos. Todos os animais apresentados foram captados como objectos inanimados, sendo a maior parte especímenes zoológicos, modelos e até cadáveres. ‘Formas de Animais’ é uma série que faz parte do trabalho “Forma” do fotógrafo local e tem como principal objectivo estudar as formas de diferentes sujeitos. Wong Wang Lap observa e estuda estes objectos inanimados que o fazem repensar o significado e as razões de vida. O fotógrafo nasceu em Macau e licenciou-se em Fotografia na Universidade de East London. Está actualmente em Newport a fazer o mestrado também em Fotografia na Universidade de South Wales.
Sérgio Fonseca DesportoJovem piloto de Macau Andy Chang voltou a competir [dropcap style=’circle’]W[/dropcap]ing Ching Chang, ou Andy Chang, como é conhecido no mundo automobilístico internacional, regressou no passado fim-de-semana à competição. O jovem piloto da RAEM que, desde da estreia no Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 o ano passado, andava afastado das pistas, participou na prova do Campeonato da Europa FIA de Fórmula 3, que no fim-de-semana se disputou em Zandvoort, na Holanda. Arredado da competição automóvel ao mais alto nível devido à falta de apoios para participar na temporada completa do competitivo europeu da especialidade, Chang juntou-se à equipa inglesa Fortec Motorsport para fazer o restante da temporada no lugar que até aqui pertencia ao chinês Cao Hongwei, sendo presença quase garantida na corrida de final de ano nas ruas de Macau. Num fim-de-semana composto por três corridas, entre 34 concorrentes, Chang partiu para a primeira corrida do 32º lugar para subir doze posições durante a acidentada corrida e terminar no “top-20” da classificação. Na segunda corrida, marcada pela intervenção do “Safety-Car” em duas ocasiões, o piloto do território foi o 26º da geral, quatro posições acima do seu lugar de partida. Por fim, na derradeira corrida no sempre difícil traçado holandês, o piloto de 18 anos que reside em Oxford, terminou novamente no 26º posto. O Campeonato da Europa FIA de Fórmula 3 regressa no primeiro fim-de-semana de Agosto a Spielberg, na Áustria, e depois segue para Portugal, para uma ronda no Autódromo do Algarve. Entretanto, Chang está esta semana na Alemanha com a sua equipa a testar um Fórmula Renault 2.0 no circuito de Nurburgring para preparar a prova de Setembro no mítico circuito germânico. Entretanto, as inscrições para o Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 – Suncity Grupo – Taça Intercontinental de F3 da FIA arrancam em Agosto. O director do Departamento do Circuito de Campeonatos e Secretário Geral Desportivo da FIA, Frederic Bertrand, afirmou na Conferência de Imprensa de apresentação do evento realizada em Abril que a Fórmula 3 teve sempre um enorme sucesso em Macau e, hoje, a categoria está muito forte no Japão, como na Europa. Bertrand disse ainda acreditar que a Taça Intercontinental de F3 da FIA irá, uma vez mais, atrair uma lista de inscritos forte e as corridas serão um espectáculo fabuloso. O 62º Grande Prémio de Macau realiza-se entre os dias 19 e 22 de Novembro deste ano.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasA segunda embaixada portuguesa à China [dropcap style=’circle’]”[/dropcap]A 10 de Julho de 1522 saiu do porto de Malaca para a China, Martim Afonso de Mello Coutinho, com seis navios, de que eram capitães ele e Vasco Fernandes Coutinho e Diogo de Mello Coutinho, seus irmãos, com Pedro Homem, Duarte Coelho e Ambrósio do Rego” segundo refere Marques Pereira. E com ele continuando: “Esta expedição, ordenada por el-Rei D. Manuel, é considerada pelos historiadores como a segunda embaixada de Portugal a este império” (à China). “Em 1521 D. Manuel procurava controlar o comércio com a China tendo concebido duas rotas para a pimenta, uma entre Cochim e Lisboa e outra entre Pacém e Cantão”. Já João Paulo Oliveira e Costa assinala: “Quando morreu, a 13 de Dezembro de 1521, D. Manuel I estava certamente convencido de que a influência portuguesa se estendera definitivamente até à Ásia Oriental. Mas quando o soberano despachava as armadas no seu reino do Extremo Ocidente, os acontecimentos precipitavam-se no Extremo Oriente; a política manuelina caminhava aí para o fracasso”. A frota partira de Lisboa para a Índia a 5 de Abril de 1521 e como Embaixador do Rei D. Manuel à China ia Martim Afonso de Melo, o qual era fidalgo da sua casa e tinha o porte e entendimento para esta negociação. Fora nomeado para, após findar o trabalho de Embaixador, ser Capitão da fortaleza a edificar na costa chinesa, sem estar sobre a alçada da Índia, pois levava poderes semelhantes aos desses governantes. Para consolidar e aumentar os conhecimentos da construção naval que Fernão Peres de Andrade tinha trazido da China, pretendia-se aí construir um navio, para o qual seguia Manuel Mendes de Vasconcelos como capitão dessa futura embarcação. “A bordo da nau Conceição ia Martim Afonso de Melo e estava acompanhado pelos seus irmãos, Vasco Fernandes Coutinho e Diogo Melo (nomeado para feitor dessa fortaleza), um cunhado, Simão de Miranda e muitos criados que há muito serviam na família”, como escreve Marques Pereira. Em Chaul, na Índia, Martim Afonso de Melo encontrou-se com Simão de Andrade, que deixara “a orla costeira chinesa, na monção de 1520, sem que se agudizasse a reacção chinesa, o que só aconteceu alguns meses depois” logo, “desconhecedor dos eventos ocorridos depois da sua partida”. E continuando com João Paulo Oliveira e Costa: “Simão de Andrade, certamente entusiasmado com o negócio que realizara e com a forma autoritária como se impusera, transmitiu na Índia a Martim Afonso de Melo uma imagem optimista da situação. E Martim Afonso seguiu viagem disposto a construir a primeira fortaleza na China, conforme lhe ordenara o rei” e esperava vir a encontrar Tomé Pires já regressado a Cantão. A sombra de Simão de Andrade Encontrava-se o Embaixador Tomé Pires em Beijing desde meados de 1520, ou Janeiro de 1521 como as fontes portuguesas indicam, à espera de ser recebido pelo Imperador Zhengde. Os memorandos que iam aí chegando relatando os distúrbios provocados por Simão de Andrade e os seus homens em Tamão, assim como a conquista de Malaca pelos portugueses, um porto tributário da China, colocaram em maus lençóis a Embaixada. Com o falecimento do Imperador Zhengde em 20 de Abril de 1521, logo foi esta obrigada a sair da capital, devido à suspensão obrigatória de todas as actividades e regressar a Guangzhou. Numa viagem muito lenta, só lá chegaram a 22 de Setembro de 1521, permitindo aos mensageiros da corte de Beijing muito antecipadamente entregar as instruções para o governo de Guangzhou, mas não trazendo ordem para prender a Embaixada. Os anteriores desmandos de Simão de Andrade, de pura pirataria, criaram o primeiro equívoco grave nas relações com as autoridades locais, trazendo-lhes graves problemas pois tinham sido responsáveis pelo arranjar de uma solução forjada para a Embaixada de Tomé Pires ter podido seguir até Beijing. “A complexidade da questão deve ter beneficiado Simão de Andrade que, assim, não foi imediatamente atacado por forças imperiais, mantendo a prática dos abusos” como refere Gonçalo Mesquitela e com ele continuando: “O simples facto de tais factos sucederem implicava uma imensa responsabilidade das autoridades respectivas que, antes de um acto de força, a autorizar ou ordenado por Pequim, eram os primeiros a estar interessados em resolver a situação…” A primeira batalha entre portugueses e chineses Simão de Andrade deixou por volta de Setembro de 1520 a orla costeira chinesa sem ter esperado pelo regresso do Embaixador Tomé Pires, que por essa altura estaria na capital da China. Se a embaixada passou em Beijing quase um ano, ou apenas três meses, não há até agora como confirmar, e por morte do Imperador Zhengde teve que daí sair a 22 de Abril de 1521, só chegando a Guangzhou em 22 de Setembro de 1521, como diz A. Cortesão. “Entretanto, antes de Tomé Pires chegara a Cantão Diogo Calvo, com alguns navios” segundo L. Albuquerque, mas Cortesão diz que chegou “a Tamão a nau Madalena, pertencente a D. Nuno Manuel, a qual viera de Lisboa sob o comando de Diogo Calvo. Outros navios se lhe tinham junto em Malaca, entre eles, um de Jorge Álvares que, no ano anterior, não pudera ir com a esquadra de Simão de Andrade por o seu junco ter aberto uma veia de água. Quando (entre finais de Maio e Junho) em Cantão foram recebidas as instruções enviadas de Pequim contra os portugueses, juntamente com a notícia da morte do Imperador, os chineses imediatamente se apoderaram de Vasco Calvo, irmão de Diogo Calvo, e de outros nossos compatriotas que se encontravam comerciando na cidade” A. Cortesão. E prosseguindo com este venerável historiador investigador: “Além de apreenderem alguns dos navios portugueses, os chineses, com uma grande armada de juncos, bloquearam a Madalena e outros navios nossos que se encontravam em Tamão, entre os quais dois juncos que, em 27 de Junho de 1521, haviam aportado com Duarte Coelho. Poucas semanas depois chegou Ambrósio do Rêgo, com dois outros navios”. Luís Gonzaga Gomes refere: “Em 27 de Junho de 1521, Duarte Coelho chegou a Tamão, num junco, acompanhado doutro, pertencente aos moradores de Malaca, ambos fortemente armados. Ao saber do ânimo predispostamente hostil em que os chineses se encontravam contra os nossos, Duarte Coelho pretendeu sair, mas, verificando que os juncos que se encontravam no porto não possuíam armamento suficiente para repelir uma agressão, deixou-se ficar, para os ajudar a escapar e principalmente, pelo facto de Jorge Álvares, seu íntimo amigo, se encontrar tão doente, que veio a falecer, onze dias após a sua chegada…” Segundo uma nota de João Paulo Oliveira e Costa: “Foram precisamente Ambrósio do Rego e Duarte Coelho que abriram as hostilidades junto a Cantão”. E regressando ao que diz A. Cortesão: “Tantos eram já os tripulantes portugueses mortos em combate, ou aprisionados e depois chacinados, que nessa altura já não havia bastantes para todas as embarcações, de modo que Diogo Calvo, Coelho e Rêgo resolveram abandonar os juncos a fim de melhor guarnecer os três principais navios. Assim se fizeram à vela em 7 de Setembro, mas logo foram atacados pela esquadra chinesa. Contudo, conseguiram escapar, graças a um tufão providencial (, segundo Barros opina) que dispersou os juncos inimigos, aportando a Malaca em Outubro de 1521.” João Paulo Oliveira e Costa diz: “No ano de 1521, as águas de Cantão só foram visitadas por mercadores privados e pelos navios da feitoria de Malaca.” Algo estranho são os cerca de setenta dias de perseguição das autoridades chinesas a estes mercadores até eles fugirem. Como conseguiu Duarte Coelho sepultar Jorge Álvares a 8 de Julho de 1521 em Tamão, onze dias depois da refrega? Questões que não vimos explicadas! Segundo L. Albuquerque: “Duas semanas depois da partida destas naus, Tomé Pires e os seus companheiros chegaram a Cantão. Estavam irremediavelmente entregues à sua trágica sorte.” “Do navio de Diogo Calvo ficaram presos, além de Vasco Calvo, sete outros portugueses e quatro servidores, os quais escaparam à matança por dizerem que pertenciam à Embaixada de Tomé Pires” A. Cortesão. O triste fim da Segunda Embaixada Voltamos agora à segunda Embaixada, com que iniciamos este artigo e que, de Lisboa fora enviada à China a 5 de Abril de 1521 pelo Rei D. Manuel. Um ano após Martim Afonso de Melo Coutinho ter saído de Lisboa “com a missão de consolidar a amizade que julgava já estabelecida entre portugueses e chineses, e conduzir novo embaixador, pois tinha como certo que nessa altura Tomé Pires estaria de regresso” segundo A. Cortesão, de Cochim partiu em Abril de 1522 com quatro barcos e em Pacém carregou pimenta, tendo chegado a Malaca em Julho. Nessa praça, Martim Afonso de Melo tomou conhecimento dos incidentes ocorridos no Verão do ano anterior em Cantão. Acautelado em Malaca, aí reforçou a sua armada e juntou o junco comandado por Duarte Coelho e o barco Santiago capitaneado por Ambrósio do Rego (que já tinha sido feitor e provedor da Fazenda em Malaca), os mesmos que abriram as hostilidades contra os chineses em 1521 nas águas em frente ao porto de Tunmen. Saiu a frota de Malaca no dia 10 de Julho de 1522 para a ilha de Tamau (Lantau). Levava Martim Afonso de Melo Coutinho ordem do Rei D. Manuel (que já tinha morrido a 13 de Dezembro de 1521 e agora era D. João III o Rei de Portugal) para ir “ao porto de Tamou, e procurando amizade com o rei daquela grande província, a China, edificar nele, ou noutro lugar que mais acomodado parecesse, uma fortaleza em que ele ficasse por capitão. Facilitava o negócio ter mandado Fernão Peres de Andrade um embaixador ao mesmo rei, que foi Tomé Pires; e não havia até então novas do que mal lhe saíra a jornada” segundo refere o Frei Luís de Sousa, nos Annaes de D. João III. A 4 de Agosto de 1522 chegou Martim Afonso de Melo “à ilha de Tamou (Tamão), e entrou no porto acompanhado de Diogo de Melo, e Pedro Homem, com tanta confiança e descuido, como se entrara na barra de Goa. E foi na pior conjunção que pudera ser, porque em terra nadavam os chineses encarniçados na prisão do embaixador Tomé Pires e seus companheiros, e muito mais no roubo de seu fato e fazenda, que era muita e boa; e no mar corria a costa uma armada grossa da mesma província, por ser monção em que acudiam àquele porto navios de várias nações a fazer seu trato.” E continuando com Frei Luís de Sousa: “Procurou Martim Afonso tomar língua da terra; mandou um barco e outro ao general da armada. Não lhe tornando nenhum, entendeu que estava tudo de guerra, e que fizera erro em se meter no porto. Determinou sair-se ao mar largo. Não esperavam mais os chineses que ver o movimento que fazia. Tanto que viram que os nossos se faziam à vela, foram sobre eles com todo seu poder, disparando muita artilharia. Era o partido muito desigual, e acrescentou a desigualdade um desastre; deu fogo na pólvora do navio de Diogo de Melo, voaram as cobertas para o céu, e foi toda a gente ao mar, uns mortos, outros nadando. Era Pedro Homem tão animoso que lhe não tolheu a vista de tantos inimigos mandar alguns homens no batel a ver se podia salvar Diogo de Mello e foi parte a falta deles para ser acometido com mais ousadia dos chineses, e com menos dificuldade entrado. Era Pedro Homem de corpo agigantado, e de forças e ânimo igual. Pelejou de maneira, que se o não acabara um tiro de fogo, contra quem não valem forças nem esforço, pudéramos dá-lo por vencedor de um exército inteiro. E isto é certo, que tiveram tanto que fazer os chineses com ele só, e com o seu navio, que isso valeu a Martim Afonso para não se entenderem com ele. Assim vendo que não tinha outro remédio, (Martim Afonso de Melo) se fez à vela para donde viera, e chegou a Malaca em meados de Outubro do mesmo ano; e daí se passou à Índia na monção. E deste modo se malogrou também a segunda embaixada portuguesa à China.” Annaes de D. João III. Jorge dos Santos Alves resume: “Nas duas semanas que se deteve naquela zona, os navios de Martim Afonso enfrentaram dezenas de juncos” e “incapazes de manter os adversários à distância sofreram a abordagem e então os combatentes portugueses foram literalmente submersos por vagas sucessivas de assaltantes.” “A armada chegou à China a 4 de Agosto de 1522, mas só se deteve aí 14 dias, retirando-se de seguida, deixando para trás dois navios afundados e um grande número de mortos, entre eles Diogo de Melo e Pero Homem.” Num ápice de um ano, tinham falhado as duas primeiras embaixadas portuguesas ao Império do Meio e os chineses vencido duas batalhas navais.
Joana Freitas PolíticaTerrenos | Leong Veng Chai quer responsabilização dos altos cargos [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]eong Veng Chai quer que o Governo assaque responsabilidades sobre os 16 terrenos não recuperados pelo Executivo por não corresponderem aos requisitos de declaração de caducidade. O assunto já foi falado na Assembleia Legislativa, discutido em sede de Comissão de Acompanhamento das Concessões Públicas e os deputados democratas já pediram uma audição em plenário, mas continua a causar dores de cabeça aos membros do hemiciclo. Ontem, Leong Veng Chai, número dois de José Pereira Coutinho, voltou a fazer uma interpelação sobre os terrenos, pedindo ao Executivo que indique quem foram os responsáveis pelas falhas que impediram que os lotes – alguns deles não aproveitados a tempo – pudessem regressar ao poder do Governo. “O Governo deve responsabilizar os dirigentes em causa, nos termos do Estatuto dos Titulares dos Principais Cargos da RAEM e das Normas de Conduta dos Titulares dos Principais Cargos e justificar-se perante a população”, começa por indicar Leong Veng Chai, também membro da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau. “Vai fazê-lo?” O deputado pede ainda que os serviços responsáveis pelas concessões “revejam as lacunas nos procedimentos administrativos”, por forma a assegurar que sejam dadas respostas atempadas e que “os concessionários consigam aproveitar os terrenos no devido tempo”. Leong Veng Chai aponta o dedo ao Executivo e diz que o caso já gerou uma desconfiança total do público face ao Governo, que “só divulgou informações depois de críticas furiosas da sociedade” e que estas eram tão pouco detalhadas que é impossível recuperar a confiança da sociedade. “Até hoje, ainda não vimos o ex-governante [Lau Si Io] a assumir as responsabilidades, portanto o Estatuto dos Titulares e as Normas de Conduta, em vigor há mais de seis anos, não passam de lixo”, atira ainda. Leong quer que seja Lau Si Io, ex-Secretário para as Obras Públicas e Transportes, a assumir responsabilidades e critica-o por “apesar de tantos pedidos de deputados, nunca ter apresentado à Assembleia Legislativa o ponto de situação dos trabalhos de recuperação dos terrenos”. Algo que o deputado diz ter sido demonstrada uma clara vontade de “fugir ao assunto”. Recorde-se que, no total, há 113 terrenos que deveriam ser recuperados, mas 16 deles não podem sê-lo por falhas do Governo na emissão de plantas urbanísticas e licenças.
Anabela Canas de tudo e de nada h | Artes, Letras e IdeiasCem mil anos. Quase [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]ento-me na varanda ampla, com um cigarro. Consolo breve e repetido. E penso nos cem mil anos que passaram desde que amei aquele homem. Pela primeira vez. Que um dia chegou terrível e partiu a minha vida em duas, antes e depois. Dor e esquecimento. E em cada um desses lugares – porque o são – eu. Metade de mim. E só quando no esquecimento se dilui a consciência de que o é, algo se reconstrói. Penso se valeu a pena querer morrer. Penso se valeu a pena esquecer para depois voltar a amar com o mesmo desespero. Porque o desespero tem um rosto particular para cada amor. Digo, para cada pessoa. Sou eu que sou desistente, ou, pelo contrário, uma amante que assume repetidamente o fardo doce de amar a sós…para depois percorrer o caminho de retorno à solidão a sós. Cem mil anos sem conseguir amar para sempre, esquecer para sempre, nem morrer como tal. Vem-me à memória o poema de Poe: “From childhood’s hour I have not been As others were; I have not seen As others saw; I could not bring From the same source I have not taken My sorrow; I could not awaken My heart to joy at the same tone; And all I loved, I loved alone.” E dele, a dizer, só que chegou e partiu bem antes. Envolto na suas trevas. Sento-me olhando a praça velha, a torre do relógio, e espero. Ele viria às seis. Disse. Mas às quatro já eu comecei a ser infeliz. Porque a minha espera sabe-se em vão. Olho para baixo demasiadas vezes para a descrença que tenho de o ver surgir de uma das esquinas. E eu sei que terei que esperar a lentidão do avanço perverso do tempo, para às seis começar a confirmar essa certeza incrédula. E só lá para as dez conseguirei deixar de esperar. Nesta, como em outras alturas da vida, seria melhor parar o relógio, e fingir que nada se sucede a nada. E ser, quanto muito apanhada dramaticamente no inesperado. E de cada vez que me debruço da varanda, sinto-me como Nástienca de Noites Brancas, inclinada da ponte sobre o Neva, a ser quanto muito encontrada pelo Sonhador. Lembro-me então que há muito não consulto o Livro de Areia, não me debruço sobre o acaso que é a alma desse pequeno oráculo que surgiu como tal, não sei se pelo meu fascínio pelas demandas, que parecem estabelecer linhas de um destino que não controlo e está traçado, se pelo desespero de respostas siderais ao meu vazio de orientação. A mala negra de viagem, jaz de entranhas em desalinho desde o primeiro dia, no sítio em que foi poisada. E dela extraio o pequeno livrinho de capa negra de cartolina mate, e folhas finas de um azul triste. E deslavado nas pontas, por efeito da luz. Amarelado, melhor dizendo. Concentro-me como sempre no amor que tenho a esse pequeno livro de um grande escritor. Abarco-o com as mãos quase enclavinhadas de expectativa, como sempre. Lembro que das últimas vezes que o fiz, e repetidamente, abri o livro das respostas, de olhos fechados como é do meu ritual, e apontei um dedo às cegas. Inacreditavelmente o meu dedo apontava um ponto cego numa página azul e vazia entre capítulos. Fazia o sentido que fazia. Reafirmado e confirmado. Nada a fazer. Hoje, o mesmo procedimento, e o oráculo foi firme na resposta: “Chamo-lhe Utopia”. Lendo o resto da frase: “voz grega que significa não existe um tal lugar”. Com assinatura: Quevedo. É mais uma vez uma página de início de capítulo. E este aparece um pouco acima daquele ponto preciso em que apontei o dedo com a força, já o disse, do desespero. E a este cabe o título: “Utopia de um homem que está cansado”. Borges nunca me falha na emoção de nele me encontrar. Na realidade há muitos anos que o leio assim. De forma errática. Falta-me o tempo. Aquele tempo de que ele me fala ao coração. A mistura dos tempos. E há um sabor particular nesta forma de abordar o texto, baralhando uma ordem que, sendo inevitável, em Borges parece apelar à subversão. A essa mecânica do olhar sem ordem pré-estabelecida, que se prende tanto com a sua explicação do tempo. A tarde fez-se noite entretanto, prolongada até ao limite que a melancolia devida àquele dia, permitiu. E de súbito, como um animal instintivo sem razão, levantei-me sem saber porquê naquele exacto instante e não antes ou ligeiramente depois, e entrei. Naquele quarto de hotel no centro de Praga, amplo, confortável, no seu requinte retro e no seu desgaste. Dependendo da luz e do olhar, mas sobretudo do fio de pensamento imediatamente anterior, propício a enlevar o espírito a um estar melancólico, decadente e nostálgico, ou a tombar sem apelo num completo desalento. A pensar no que não foi, que sendo para não ser, apesar de tudo determinou a específica tonalidade deste início de noite. Que não teve contudo a qualidade de ser perda. Porque, “Mesmo que os anos da (…) vida fossem três mil ou dez vezes três mil, (…) ninguém perde outra vida senão a que vive agora nem vive outra senão a que perde. O termo mais longo e o mais breve portanto são iguais; morrer é perder o presente, que é um lapso de tempo brevíssimo. Ninguém perde o passado nem o futuro, pois a ninguém podem tirar o que ele não tem. (…) todas as coisas giram e voltam a girar pelas mesmas órbitas” (Marco Aurélio). Passo pela mesa baixa logo imediatamente em frente à janela, e apalpo um fruto da taça decorativa – incrível como os frutos têm também esse pendor de adorno – um pêssego enorme e aveludado como era de esperar. O aroma intenso e inimitável, excepto talvez na tonalidade de uma pele, a remeter para a memória do perfume, que me lembra de súbito qualquer coisa para lá do alcançável, provavelmente na infância. E coloco-o de novo mansamente na taça. Sem apetite, por agora. O olhar sem se prender a nada, faz-me girar como em torno de um eixo, de forma algo automática e sem ânimo, e retomar a moldura da janela. Pensar naquele meu amor. E naquele meu amado, o que não é a mesma coisa. Aquele amor que, disse-o Borges na voz de Quevedo, é a utopia. Muitas emoções a somar, no mesmo dia em que visito Kafka no cemitério. Um pouco depois deito-me sobre a cama e quero morrer, mas simplesmente adormeço. Até aqui, ele o adjectivou, sem querer. Acordo lentamente como vinda de um lugar longínquo, e, desentranhada à força, retorno ao embalo agradavelmente preenchido pelo ruído do comboio em andamento. (E, do registo imaginado de duas vidas, vagamente contidas sua representação em duas páginas, que se deixam engolir pela ficção de duas linhas finais, chego ao ponto de onde parti). Aqui houve noite. Amanheceu.
Hoje Macau PolíticaSérgio Godinho – “Espalhem a Notícia” “Espalhem a Notícia” Espalhem a notícia do mistério da delícia desse ventre Espalhem a notícia do que é quente e se parece com o que é firme e com o que é vago esse ventre que eu afago que eu bebia de um só trago se pudesse Divulguem o encanto o ventre de que canto que hoje toco a pele onde à tardinha desemboco tão cansado esse ventre vagabundo que foi rente e foi fecundo que eu bebia até ao fundo saciado Eu fui ao fim do mundo eu vou ao fundo de mim vou ao fundo do mar vou ao fundo do mar no corpo de uma mulher vou ao fundo do mar no corpo de uma mulher bonita A terra tremeu ontem não mais do que anteontem pressenti-o O ventre de que falo como um rio transbordou e o tremor que anunciava era fogo e era lava era a terra que abalava no que sou Depois de entre os escombros ergueram-se dois ombros num murmúrio e o sol, como é costume, foi um augúrio de bonança sãos e salvos, felizmente e como o riso vem ao ventre assim veio de repente uma criança Eu fui ao fim do mundo eu vou ao fundo de mim vou ao fundo do mar vou ao fundo do mar no corpo de uma mulher vou ao fundo do mar no corpo de uma mulher bonita Falei-vos desse ventre quem quiser que acrescente da sua lavra que a bom entendedor meia palavra basta, é só adivinhar o que há mais os segredos dos locais que no fundo são iguais em todos nós Eu fui ao fim do mundo eu vou ao fundo de mim vou ao fundo do mar vou ao fundo do mar no corpo de uma mulher vou ao fundo do mar no corpo de uma mulher bonita Sérgio Godinho
Flora Fong Manchete SociedadeAlimentos | Mais de 20% dos resíduos são comida que podia ser transformada em adubo Tratar dos resíduos de comida em Macau ainda não é uma moda que tenha pegado e, todos os dias, milhares de alimentos vão para o lixo. Por vezes tão intactos que poderiam ser aproveitados para alimentar outras bocas. O IFT aposta na transformação de comida em adubo e existem hotéis que pedem a recolha destes restos. Toneladas vão parar onde não devem [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m todas as casas, restaurantes, escolas e mercados o desperdício de comida é geral. No mundo desenvolvido, em todos os países onde a cultura do buffet é apreciada, quilos e quilos de comida vão para o lixo. Macau não é excepção. Diminuir este desperdício seria algo relativamente fácil, mas é algo que depende da consciência das pessoas. Do total do lixo produzido em Macau, cerca de um terço diz respeito a resíduos alimentares. Uma enorme quantidade segundo especialistas ouvidas pelo HM, num território onde a recolha deste ‘lixo’ e a tecnologia de processamento da comida em adubo ainda não está popularizada – apenas algumas escolas, mercados e hotéis a praticam. Segundo os dados da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), o Centro de Incineração de Resíduos Sólidos tratou, no ano passado, 1240 toneladas de resíduos. Os restos de comida ocuparam 20% a 40% dos resíduos – entre 248 a 496 toneladas. Para o presidente da Associação de Ecologia de Macau, Ho Wai Tim, a quantidade é substancial. O especialista indica, contudo, que este tipo de restos contêm muita água, o que faz a máquina de incineração precisar de mais combustível e utilizar uma grande carga de electricidade. Contudo, na realidade, como o HM testemunhou, o tratamento dos desperdícios alimentares pode não ser assim tão difícil. Prova disso mesmo é a existência de máquinas de desintegração de resíduos alimentares: uma existe no centro de incineração e outras estão colocadas em sete mercados públicos, no Instituto de Formação Turística (IFT) e em vários hotéis. Frida Law é técnica superior do IFT e acompanha-nos numa visita ao campus da instituição. Desde o local onde é feita a separação dos resíduos de comida, até à máquina de reciclagem destes, o HM é convidado a ver tudo. “Na cantina, a comida é oferecida em forma de buffet. Pedimos aos nossos estudantes que valorizem os alimentos e só levem a quantidade de comida que conseguirem acabar. E. quando terminam as refeições e precisam de despejar os restos, estes têm de ser postos em diferentes caixotes”, começa por nos dizer. O primeiro recolhe arroz, massa, legumes e carne, mas não sopas, para evitar o mau cheio. Outro recolhe ossos e peles de fruta, alimentos que são mais duros e que precisam de ser desfeitos pela máquina de trituração, antes de passar para a máquina de desintegração. Frida explica-nos que, através da tecnologia biodegradável da máquina, entre seis a 24 horas, oito quilos de resíduos tornam-se num quilo de adubo. Adubo que serve como fertilizante para todas as plantas do campus. [quote_box_right]“No interior da China, o Governo e as associações sem fins lucrativos contactam directamente os hotéis para que os restos limpos da comida de buffet sejam transportados para lares de idosos, ou centros de portadores de deficiência” – Ho Wai Tim, presidente da Associação de Ecologia de Macau[/quote_box_right] Sistema parado A Divisão de Higiene Ambiental do Instituto para os Assuntos Cívicos Municipais (IACM) assegura ao HM que existem as mesmas máquinas do IFT nos setes mercados públicos – no Iao Hon, Taipa e Patane, Toi San, S. Domingos, S. Lourenço e até no Mercado Abastecedor Nam Yue. No entanto, a recolha dos resíduos dos vendedores de legumes ou carnes e de comidas cozinhadas não é obrigatória. Apenas “aconselhável”. E o tratamento dos resíduos não tem acontecido. Ao visitar o mercado de S. Lourenço, testemunhámos que o sistema está parado. Empregadas de limpeza e vendedores disseram ao HM que a máquina de reciclagem dos alimentos parou de funcionar há mais de um mês, devido às “queixas de mau cheiro”. Confrontado com a questão, Ho Wai Tim concorda. Considera que essas máquinas não são adequadas, nem têm aceitação popular, porque ficam perto das casas da população. O presidente da Associação de Ecologia sugere que os resíduos dos mercados sejam antes recolhidos pela DSPA e, ao mesmo tempo, que seja criado um centro único de tratamento destes desperdícios alimentares. “Acredito que a tecnologia já está madura em Macau. Prevejo que, no início da criação desse centro, poderiam ser tratadas 25 toneladas de alimentos. Mais tarde cem toneladas e até se poderia atingir as 300 toneladas – o total dos resíduos de Macau”, frisa, convicto. Já o IACM explica que, “de facto, o cheiro não é tão mau, mas os vendedores acham que pode influenciar os seus negócios”. O IACM assegura ao HM que vai melhorar “a ventilação do sítio onde está colocada a máquina” e que esta vai ser ligada novamente. Se a reacção face a esta máquina parece menos boa da parte de quem produz mais deste tipo de resíduos, o IFT não parece estar muito preocupado com a situação. Frida Law assegura-nos que todos os estudantes têm em conta as regras e que a máquina “não produz mau cheiro, nem é assim tão nojenta”. “Para mim é como assar um porco”, disse, enquanto abria a tampa da máquina do campus. Lá dentro, podemos ver um pó de cor castanha escura. Frida explica-nos que todas as quartas-feiras e sábados de tarde não se despejam resíduos no espaço, para que os que ainda lá estão assentem. O processo pode parecer complicado, diz-nos, mas basta saber as técnicas. Uma delas, curiosamente, é perceber por exemplo que os adubos feitos nestas máquinas podem estragar as plantas se os ‘ingredientes’ utilizados não forem bem misturados. “[Uma vez] não equilibramos a proporção de resíduos de legumes e carne e os adubos tinham muita acidez. As plantas morreram depois de serem plantadas com aqueles adubos. Desde então sabemos a necessidade dessa neutralização”, explica-nos. Frida Law considera que, sendo o IFT uma instituição pública, tem a responsabilidade em educar e promover a valorização de comida. Isto, porque a utilização da máquina pode não só reutilizar comida que iria para o lixo, mas também diminuir a quantidade dos alimentos que teriam esse fim. “No início da utilização da máquina, em 2011, todos os dias recolhíamos 25 quilos de resíduos. Gradualmente, com a promoção aos estudantes, os resíduos diários chegaram aos 11 quilos diários. Isso mostra que a consciência deles aumentou.” Consciência que, na opinião da responsável, não existe, porque as coisas ainda funcionam muito à base do desconhecido. “Porco cru, galinha morta, gordura, sopas e comida cozida… tudo é posto na máquina, claro que há mau cheiro. Se fizessem a separação que fazemos, como não colocar lá a sopa, o cheiro seria evitável. Creio que se apenas as empregadas fazem a separação, é muito difícil. Se todos ajudarem, passa a ser fácil. Não é complicado, é uma questão de consciência” disse, quando soube que a máquina de separação do mercado está parada devido às queixas de mau cheiro. Frida não tem dúvidas: as pessoas sabem o que é despejado nas máquinas e é só por isso que as queixas surgem. Além disso, os mercados fazem negócios e isso é prioridade. Tantos restos Além dos mercados e das instituições de ensino superior, os hotéis e os estabelecimentos de comidas e bebidas – sobretudo os que oferecem buffet – são os que produzem mais desperdícios de comida. Num local como Macau – onde os buffets ultrapassam uma dezena -, a DSPA criou um Prémio de Hotel Verde de forma a “elogiar os empreendimentos que cumpram a responsabilidade social de protecção ambiental e valorização de comida”. O índice “diminuição de resíduos de cozinha” faz parte da avaliação, mas as coisas nem sempre funcionam como na teoria. No total, há cinco hotéis – Taipa Square, Grandview, Grand Emperor, Waldo e Beverly Plaza – que incumbiram a DSPA de recolher estes resíduos. O Hotel Galaxy, que ganhou o prémio de prata do Hotel Verde em 2014, reutiliza os restos de comida dos restaurantes para a cantina de funcionários, “quando assegura a higiene da comida e a quantidade suficiente”, enquanto os restaurantes de outros empreendimentos, como da Sands, não enviam a comida nem para a cantina dos funcionários, nem para outros sítios. Ao HM explicam que “fazem o melhor para minimizar os restos de cozinha e de buffet”. Ao consultar os restaurantes dos hotéis que oferecem buffet, o HM conseguiu perceber que o Grand Orbit e o 360 Café na Torre Macau não recolhem os resíduos de comida. Já o Hotel Sofitel do Ponte 16 – que ganhou também o prémio de bronze de Hotel Verde em 2013 – não foi capaz de nos dar uma resposta concreta. A funcionária das relações públicas, de nome Tracy Tam, respondeu-nos que, devido à actualização do sistema de tratamento de resíduos e à alteração do pessoal da direcção, não há disponibilidade para oferecer informações sobre o assunto. Foi, contudo, um dos restaurantes deste local que despertou a atenção de uma residente local, que contou ao HM o que viu após um buffet de almoço. “É demasiado desperdício alimentar. Tínhamos acabado de almoçar, passava das 14h30 e o buffet estava quase a fechar. Havia imensa comida, incluindo pão e sobremesas, e tudo, tudo, estava a ser empurrado para dentro de caixotes cinzentos de plástico. Ia tudo para o lixo. E era comida intacta. Estava boa. Até perguntei porque é que não a davam ao lar de idosos em frente, ou até aos funcionários. A resposta: não pode ser”, conta-nos Rita. A história não é a única. Un Cheng trabalha como empregada numa sala de banquetes do Hotel Wynn – o qual nunca ganhou o Prémio do Hotel Verde desde a criação em 2012 – e contou-nos que a quantidade de pratos nas festas chinesas é grande e normalmente os convidados não conseguem acabar todos os pratos. “No tipo chinês de banquete, existem 14 pratos para cada mesa de 12 pessoas, incluindo leitão, frango, peixe, arroz, massa, legumes, frutas e sobremesas. São muitos, quase nenhuma mesa consegue acabar toda a comida”, revela, contando-nos que, muitas vezes, os empregados guardam o resto dos pratos em segredo. “Alguns restos de comida são muito preciosos, aproveitamos e comemo-los atrás da sala. Mesmo assim, não conseguimos acabar a comida, só que temos de a deitar no lixo. Se fôssemos descobertos pelos gerentes [a comer], ou a levar alimentos para fora do hotel podíamos ser despedidos.” A trabalhadora não sabe se existe reciclagem dos desperdícios alimentares, mas reparou que as empregadas da lavagem apenas despejam os resíduos num caixote, sem separação de outros tipos de lixo. Mas o que é certo para ela é que a quantidade de resíduos é grande. [quote_box_left]“Em Macau, os hotéis têm medo dos perigos de higiene e preferem deitar [a comida] nos caixotes em vez de a oferecer a outros. Isto é uma questão de responsabilidade social” – Ho Wai Tim, presidente da Associação de Ecologia de Macau[/quote_box_left] Tratamento não chega à população O presidente da Associação de Ecologia de Macau considera que o Governo não toma medidas suficientes para evitar o grande desperdício alimentar produzido por hotéis. E Ho Wai Tim concorda exactamente com o que Rita pensa. “No interior da China, o Governo e as associações sem fins lucrativos contactam directamente os hotéis para que os restos limpos da comida de buffet sejam transportados para lares de idosos, ou centros de portadores de deficiência. É muito comum. Mas em Macau, os hotéis têm medo de assumir os perigos de higiene e preferem despejar nos caixotes em vez de oferecer a outros. Isso é uma questão de responsabilidade social.” Ho Wai Tim sugere que o Governo crie instruções de higiene para que os hotéis eliminem os receios e que o transporte de restos de comida possa ser feito para outras instituições. Mas, apesar de todos os equipamentos existentes, será que a recolha de restos de comida pode chegar a cada casa de Macau? A Divisão de Higiene Ambiental do IACM admite que o tratamento ecológico dos resíduos de cozinha ainda não pode ser popularizado em geral, sendo que só o organismo é que recolhe os restos em associações sem fins lucrativos como lares de idosos, jardins de infância e escolas. Mas tudo depende da capacidade e “a capacidade da máquina principal da Taipa é limitada”, pelo que “não podem ser recolhidos todos os resíduos de cozinha feitos pela população, portanto actualmente só vêm de certos lugares”, como nos diz o organismo. No futuro, o IACM pensa em implementar também máquinas de desintegração de desperdícios alimentares em edifícios habitacionais, para que a tecnologia possa ser promovida entre os residentes em geral. Ho Wai Tim acredita também que essas instalações podem ser integradas na vida da população gradualmente: por exemplo, primeiro nas habitações públicas e depois nas privadas.
Joana Freitas PolíticaVisita | Alexis Tam firma cooperação na educação com Nuno Crato O ensino especial e o da Língua Portuguesa estiveram em foco numa visita de Alexis Tam a Portugal, onde o Secretário referiu precisar da assistência do país na contratação de profissionais [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura encontrou-se esta terça-feira com o Ministro da Educação e Ciência português, numa reunião que serviu sobretudo para discutir a cooperação na área do ensino. Alexis Tam e Nuno Crato estiveram juntos no âmbito de uma visita do Secretário de Macau a Lisboa, onde Tam também visitou a Fundação Champalimaud. O anúncio foi feito através de uma nota de imprensa do Gabinete do Secretário, onde se pode ler que Macau e Portugal discutiram “projectos de cooperação na área da educação, nomeadamente na educação especial e ensino do Português”. A troca de experiências e intercâmbio de profissionais foi outro dos assuntos em cima da mesa. “O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura afirmou, durante o encontro, que Macau necessita de técnicos especialistas nas áreas da terapia da fala e da terapia ocupacional. Nesse sentido, a cooperação com Portugal através da mobilidade de profissionais e especialistas nas áreas da educação especial, permitiria reforçar a formação de quadros qualificados e servir melhor a população de Macau”, escreve o Gabinete. Segundo o comunicado, o Ministro Nuno Crato mostrou-se “receptivo” a ajudar a RAEM, tanto que será o Ministério da Educação a tratar de todos os trâmites para facilitar o processo de cooperação. “Esta solução permitirá conseguir resultados concretos mais rapidamente”, sublinha o Executivo. Para Nuno Crato, Macau tem todo o potencial “para ser a porta para o ensino do Português na China”, pelo que a cooperação entre os governos de Macau e Portugal, disse, “é essencial”. O Ministro fez questão de ressalvar a questão da continuidade da cooperação nesta área, até porque, como referiu, já há “uma boa relação com o Instituto Politécnico de Macau e a Universidade de Macau”. Recorde-se que a intenção do Governo é reforçar ainda mais o ensino da língua lusa, ao mesmo tempo que quer facilitar e permitir o reconhecimento de licenciaturas e documentos. Alexis Tam disse ao responsável português que pretende transformar Macau “num centro de excelência na formação da Língua Portuguesa na região da Ásia-Pacífico” e garantiu que esta tarefa conta “com a qualidade das instituições públicas e privadas existentes no território”. Medicina na mira Alexis Tam teve ainda tempo de ouvir Nuno Crato agradecer ao Governo da RAEM pelo apoio dado à Escola Portuguesa de Macau, nomeadamente na resolução da questão das instalações da instituição. O Secretário assegurou que a EPM continuará a receber o “apoio necessário” por parte do Governo da RAEM para o desenvolvimento das suas actividades. Depois deste primeiro encontro, o Secretário visitou ainda a Associação Portuguesa de Agentes de Viagem “para apresentar Macau como um dos destinos do projecto turístico delineado pelo Governo Central: a Rota da Seda”, sendo que se deslocou também às instalações da Delegação Económica e Comercial de Macau (DECM) em Lisboa. Na agenda de Tam esteve ainda uma visita à Fundação Champalimaud, onde o Secretário teve oportunidade de se debruçar sobre a questão da medicina, área que tutela também em Macau. “Alexis Tam teve oportunidade de conhecer as instalações e os projectos de investigação e tratamento desenvolvidos pela Fundação, nomeadamente o centro clínico, o serviço de prevenção de risco e de diagnóstico de cancro, assim como os laboratórios de neurociências e as instalações de pesquisa científica”, pode ler-se no comunicado. O Secretário vai ainda ter, em Portugal, um encontro com o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira.