Filipa Bento, professora de música

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi no envolvente Largo do Lilau que Filipa Bento agendou connosco a sua entrevista. “Este é um dos meus sítios favoritos em Macau”, partilhou, sem esconder que a lista é grande.
A paixão pelo território é impossível esconder e a professora de música, mais precisamente de violino, faz questão de gritar aos sete ventos que adora “viver aqui”.
A ideia de abraçar uma aventura no estrangeiro há muito que residia no coração de Filipa. “Durante muito tempo falei com o Luís (marido) para emigrarmos, não sei explicar bem porquê. As coisas estavam a piorar em Portugal – apesar de estar numa situação muito confortável – e tinha algumas dúvidas para o futuro”, partilha.
Filipa Bento era professora no Conservatório de Sintra, escola e equipa que mais saudades lhe traz depois de dois anos em Macau. “Vou esta semana a Portugal ao final de dois anos e de facto tenho muitas saudades daquela equipa espectacular que tinha de colegas, chefes e directores. Éramos uma espécie de família, ainda hoje digo a ‘minha directora’ ou os ‘meus colegas’. Sei que vou entrar lá e estarei em casa, passe o tempo que passar”, frisa.
O marido da professora, também ele do mundo da música já que é baterista, sempre se mostrou um pouco mais reticente perante a ideia de sair do seu país natal. “Ele sempre me disse que emigraria se eu conseguisse arranjar um sítio qualquer, um país, um lugar qualquer onde se falasse Português e [para o qual] toda a sua banda pudesse também emigrar. O desafio era enorme, mas nunca desisti de convencer a banda e ao final de pouco tempo já todos queriam emigrar. Perceberam que em Portugal iria ser difícil”, relembra.

Bilhete de ida

Um dia, habituando-se à ideia que emigrar não estaria nos próximos planos do casal, é o marido de Filipa que vê um anúncio que pedia uma banda portuguesa para o território. “O Luís chegou a casa e perguntou-me: queres ir para Macau? A minha reacção foi pensar ‘caramba tinha mesmo que ser a China?’”, conta.
Em poucos meses, marido e banda voavam para este lado do mundo, mas Filipa ficou em Portugal com a única filha do casal. “Quisemos perceber as condições que existiam aqui, se havia possibilidade para mim a nível profissional e também condições para a nossa filha. Estivemos três meses separados e foi o momento mais difícil”, conta a violinista, frisando que Macau já estava a marcar a sua vida sem que ela sequer conhecesse o território.
O clima, a comida, os hábitos e costumes da sociedade fizeram com que Filipa se apaixonasse desde o momento em que chegou. “Adoro este clima”, diz ao HM, entre palavras soltas.
Ao olhar em redor, Filipa Bento observa uma mesa composta por residentes a conversar e, atrás de si, uma outra pessoa, sentada num banco confortavelmente. Ao fundo, duas adolescentes passeavam os cães de estimação. “Isto tudo”, apontou, “eu gosto disto tudo, dos residentes, do tipo de vida, desta humidade, gosto de não ter que me preocupar em usar casaco, gosto de estar na rua à noite, gosto de conseguir passear com a minha filha”.

Um amor para sempre

Mas nem tudo foi fácil. “A fase mais difícil foi toda a parte burocrática. Vim para cá, porque como casal achámos que a distância iria trazer marcas irremediáveis, e quisemos estar juntos. Portanto vim para cá sem trabalho, fiz vida de ‘dondoca’, ia para o café o dia todo para não ficar trancada em casa – que era outro problema”, lembra.
Filipa e Luís deixaram uma casa de “várias assoalhadas, espaçosa e com muita luz exterior” na zona de Oeiras e vieram para uma casa “muito local”, apenas com duas janelas.
Depois de algum tempo neste sistema que “mexeu muito com os sentimentos” da professora de música, Filipa Bento começou a ter propostas de trabalho para dar aulas privadas de violino. “Não o podia fazer porque ainda estava à espera dos papéis para os documentos de residente e isso irritava-me profundamente, sentia-me sempre pressionada. Tinha vindo de uma vida totalmente independente, em que andava sempre a mil à hora, e de um dia para o outro estava sem ter um rendimento mensal e sem actividade”, aponta.
Ao final de um ano, os documentos saíram e Filipa conseguiu abraçar os projectos para os quais tinha sido convidada, que por sua vez começaram a crescer cada vez mais. No dia em que conversou com o HM, a professora vinha do seu último dia de trabalho antes da férias. Este ano fez parte de vários projectos de diferentes escolas de Macau, dando aulas a alunos de todas as nacionalidades. “Foi um desafio, por muito que me esforce em aprender a falar Chinês há muitas coisas que não consigo, então tenho que criar meios de comunicação”, acrescenta. Vídeo, imagens, gestos e som são uma constante nas suas aulas.
Depois de muitas aventuras – e de muitas provas de amizade entre Macau e Portugal – Filipa Bento está rendida ao território. “Desde a directora do Conservatório me colocar no quadro da escola e aceitar uma licença sem vencimento durante dois anos, para que eu pudesse ter certeza que é em Macau que quero estar, até ao mínimo pormenor, tudo aconteceu. E tenho certeza que é aqui que vou ficar. Já não me imagino a viver em Portugal”, termina de sorriso rasgado.

17 Jul 2015

Terra de azar

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se Chyn, tem três meses de existência incompletos e uma vida cheia de azares. A bebé que esta semana mereceu a atenção dos jornais nasceu com uma série de problemas de saúde – problemas graves de saúde. Tem síndrome de Down, malformação cardíaca congénita, deficiência na artéria do ventrículo direito e hipertensão pulmonar. Como se não lhe bastasse a má sorte de ter nascido frágil, Chyn teve ainda o azar de nascer em Macau. Um azar nunca vem só.
Chyn é filha de filipinos. Lia ontem num jornal que os pais vivem em Macau há mais de dez anos, um facto que não tem qualquer importância para o sistema. São trabalhadores não residentes e, nessa estranha condição em que se encontram, não têm direito a cuidados de saúde para a filha. Chyn precisou de assistência médica à nascença e continua a precisar. Pelo que sei, os pais necessitam de 300 mil patacas para que possa ser operada, para que tenha uma vida mais ou menos condigna, no quadro de azares com que nasceu. É dinheiro que não têm, dinheiro impossível de ganhar com os salários que lhes são pagos. Chyn nasceu em Macau mas não é de cá – o sistema não a reconhece como sendo de cá. Chyn não é de lugar algum.
Não aceito o argumento da abertura de precedentes: não me interessa se o caso de Chyn poderá causar um problema ao Governo. Esta bebé precisa de ajuda, precisa de assistência médica que os pais não podem pagar, e as autoridades de Macau devem apoiar esta família. É a obrigação moral de quem tem responsabilidades políticas.
Macau não pode continuar a ser a terra onde nascer pode ser sinónimo de azar. Cabe ao Chefe do Executivo e ao secretário para os Assuntos Sociais e Cultura definirem, com urgência, uma nova política de saúde para os trabalhadores não residentes e para os seus filhos. As consultas públicas sobre a matéria são perfeitamente dispensáveis: todos sabemos já que há uma série de deputados e alguns sectores em Macau que são contra um catálogo de direitos mínimos para os trabalhadores não residentes. Para as Ellas Lei desta cidade, os trabalhadores não residentes têm apenas o direito a serem remunerados pelo trabalho que fazem, de preferência a valores mais baixos do que aqueles que cá residem. O resto não interessa.
Porque a melhoria de condições para os trabalhadores não residentes jamais será motivada por uma mudança de mentalidades, por um apelo social mais ou menos generalizado, torna-se ainda mais importante que seja o Governo a tomar uma decisão política, por mais difícil que possa ser. A crise no jogo também não serve de desculpa: Macau continua a ter dinheiro para que possam ser respeitados os mais básicos direitos dos homens. 17715P17T1
É urgente inventar um sistema para que os trabalhadores não residentes tenham apoios diferentes das pessoas que estão aqui de passagem. Recorrendo a um jargão político muito apreciado localmente: o contributo dos pais de Chyn para Macau é muito maior do que o de um turista que passa uma noite na cidade, entre as Ruínas de São Paulo e um casino no Cotai. Trabalhadores com bluecard, crianças nascidas em Macau e turistas não podem ser metidos no mesmo saco no que diz respeito à saúde. Invente-se um sistema – e outro para que os filhos dos não residentes tenham acesso à educação.
O argumento da sobrecarga dos serviços – de saúde e de educação – também não me convence. A maioria dos trabalhadores não residentes opta por deixar os filhos no país de origem. Os custos da saúde e da educação contribuem para esta opção, mas as questões práticas da vida quotidiana pesam ainda mais. Macau não ia ter uma enchente de bebés filipinos na pediatria do São Januário se fossem alteradas as regras com que se joga com quem tem muito pouco.
Inventem um sistema qualquer. Já. Hoje, de preferência. Há uma bebé nascida em Macau ignorada por Macau – valer-lhe-á a solidariedade de Macau, da Macau dos cidadãos, não da Macau política, aquela que devia estar cá para todos os cidadãos, independentemente da cor do cartão que transportam na carteira.
Macau hoje envergonha-me. E sei que vai continuar a envergonhar.

17 Jul 2015

Óbito | Morreu Wan Li, ex-presidente do Comité Permanente da APN

Morreu o homem que Chui Sai On diz ter apoiado a implementação da política de ‘Um País, Dois Sistemas’ e que se “empenhou de corpo e alma na elaboração da Lei Básica de Macau”. Wan Li tinha 98 anos e ficou marcado como um dos reformistas mais liberais da China

[dropcap style=’circle’]W[/dropcap]an Li, ex-presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN), faleceu esta quarta-feira na capital chinesa. A notícia foi dada pelo filho de Li, que indica que o pai morreu aos 98 anos de “doença não especificada”.
Wan Li era uma figura incontornável no seio político do Partido Comunista da China, tendo desempenhado o cargo de Ministro dos Transportes e de vice-primeiro-ministro da China. Era visto como uma “voz liberal” na liderança comunista e foi o responsável por diversas reformas que tiveram lugar no continente.
Wan era tido como “um dos oito imortais” – uma referência a um grupo de idosos revolucionários que sobreviveram às “limpezas” maoístas, como caracteriza a Agência France Press, e que ajudaram Deng Xiaoping, membro do grupo, subir ao poder.
Foi presidente do Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular desde 1988 e durante cinco anos, tendo desempenhado o cargo quando se deu o Massacre da Praça de Tiananmen, em Pequim, em 1989. Nunca foi oficialmente conhecida a posição de Wan face aos protestos estudantis mas, ainda que não tivesse tentado opor-se ao massacre, Wan era um aliado do secretário-geral do Partido Comunista da altura, Zhao Ziyang, que foi deposto do cargo por manifestar apoio aos estudantes, tendo sido detido em prisão domiciliário até à sua morte em 2005. wan li
Wan Li chegou a ser perseguido em 1966-1976, durante a Revolução Cultural, especialmente porque nos anos 1970 começou a implementar reformas políticas, nomeadamente na parte mais rural da China. Segundo a AFP, Wan foi dos primeiros líderes do país a reformar-se dos cargos do Governo, instando a que os cargos não fossem desempenhados pela mesma pessoa durante toda a sua vida, como era comum na China.
Ontem, o Chefe do Executivo manifestou os seus pêsames pela morte do ex-presidente do Comité Permanente, fazendo questão de ressalvar que “Wan Li sempre promoveu a política nacional de abertura e reforma”. Em nota de imprensa, Chui Sai On diz que Wan prestou contributos de grande importância para o desenvolvimento da China, “inclusive para a construção de um sistema democrático” no país.
O líder do Governo acrescentou ainda que Wan Li apoiou a implementação da política de ‘Um País, Dois Sistemas’, além de se ter “empenhando de corpo e alma na elaboração da Lei Básica de Macau”.

17 Jul 2015

Wikileaks | Novo Macau exige investigação do Ministério Público

A Associação Novo Macau quer que o Ministério Público investigue a alegada intenção de aquisição por parte do CCAC e da PJ de um sistema de controlo de telecomunicações. Jason Chao acredita que a Associação é o principal alvo. CCAC não comenta. PJ diz que não possui o software

[dropcap style=’circle’]I[/dropcap]p Son Sang, Procurador do Ministério Público (MP) da RAEM, recebeu ontem à tarde documentos do website Wikileaks das mãos da Associação Novo Macau (ANM), para que leve a cabo uma investigação. Em causa estão os emails revelados pelo projecto de Julian Assange, que mostram que o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) e a Polícia Judiciária (PJ) mantiveram contactos com a empresa italiana Hacking Team no sentido de adquirir um software que permite controlar todas as formas de comunicação através da internet.
O caso foi noticiado ontem pelo jornal Ponto Final, sendo que em Hong Kong a entidade homóloga do CCAC terá mantido conversações semelhantes, segundo o South China Morning Post.
Jason Chao, membro da direcção da ANM, garante que o caso é “preocupante”, pois visa controlar “cidadãos, jornalistas e activistas” e viola normas que constam no Código Penal e no artigo “ilegítima intercepção de dados informáticos”, da lei que combate o crime informático.
“As capacidades do sistema vão além dos métodos legais de investigação. Então porque é que a PJ tem vindo a desenvolver conversações no sentido de adquirir o sistema? Trata-se de algo ofensivo e intrusivo e claramente não é permitido no âmbito das leis de Macau”, começa por dizer. “Vamos entregar materiais ao Procurador para que leve a cabo uma investigação sobre a utilização deste sistema por parte da PJ. Descobrimos que o CCAC também teve contactos, mas não há documentos que revelem a aquisição do sistema”, acrescentou o activista.
Jason Chao diz acreditar que a aquisição deste software visa controlar as actividades e contactos da ANM. “Não posso rejeitar essa possibilidade [da Novo Macau ser um dos alvos]. O que dizemos ao público é baseado com os documentos que vemos no Wikileaks. Não temos provas, mas não posso recusar essa possibilidade. Pessoalmente acredito nisso.”
Apesar do pedido, a Novo Macau não acredita que o MP possa desenvolver uma investigação isenta. “Segundo a minha experiência, não espero [uma investigação independente]. Claro que esperamos sempre que o MP olhe para esta questão de forma parcial.”
Depois deste pedido de investigação, os membros da direcção da ANM vão testar os seus telemóveis. “Se encontrarmos uma empresa de confiança vamos bloquear os telefones, caso estejam a ser espiados”, disse Jason Chao.

CCAC atento, mas não comenta

Entretanto o CCAC já reagiu às notícias através de um comunicado, onde diz estar atento às últimas novidades no que diz respeito à tecnologia utilizada para combater o crime, não comentando uma eventual aquisição.
“Para exercer as suas competências na investigação criminal de forma legal e eficaz, todos os meios e técnicas adoptadas nas diligências do CCAC são de natureza confidencial. Pelo exposto, o CCAC não vai comentar ou responder a perguntas relativas aos métodos concretos adoptados na sua investigação.”
A entidade liderada por André Cheong refere ainda que “o CCAC tem de conhecer e entender a evolução das tecnologias na perspectiva da investigação e da contra-investigação”, sendo que “todos os meios e diligências de investigação adoptados estão em rigorosa conformidade com a lei, sobretudo com o disposto nos Códigos Penal, Código de Processo Penal e Lei de combate à criminalidade informática”.
O HM contactou ainda a PJ, mas apenas nos foi garantido que, até ao momento, a PJ ainda não adquiriu nenhum software. Em comunicado, a PJ referiu ainda que “todos os trabalhos de detenção são executados de acordo com as leis e supervisionados pelos órgãos judiciais. No que diz respeito à monitorização de telecomunicações para investigação, esta deve ser aprovada pelo juiz”. À semelhança do CCAC, a PJ referiu que “precisa de consolidar os conhecimentos sobre novas tecnologias” no combate ao crime.
Segundo os emails citados pelo Ponto Final, elementos do CCAC terão estado reunidos com responsáveis da empresa italiana em Outubro de 2013, em Singapura, para conhecer a tecnologia RCS (Remote Control System), que permite controlar qualquer tipo de comunicação via online, seja de telemóvel, skype ou emails, entre outros. Representantes da Hacking Team terão estado em Macau a pedido do CCAC para outra acção de demonstração também em 2013. Os emails revelam que o CCAC terá interesse em controlar os smartphones e pediu a máxima confidencialidade sobre o assunto.

17 Jul 2015

Turistas consideram património de Macau “muito diferente” do da China

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]ntes de entrar para a universidade, Liu Ziliang queria “conhecer o mundo” e decidiu, por isso, juntar-se ontem à primeira “visita guiada aprofundada” ao património de Macau que, devido “à influência portuguesa” considera “diferente da China”. Desde ontem e até ao fim do mês, o Instituto Cultural (IC) organiza, em parceria com uma agência de viagens, visitas guiadas ao património, incluídas no programa de celebração dos dez anos da classificação da UNESCO.
Ontem, 65 turistas, a maioria da China e cerca de 20 de outros países, visitaram o Templo de A-Má, a Casa do Mandarim, o Largo do Lilau e a igreja e o Seminário de São José, terminando o passeio no Teatro D. Pedro V.
“Este sítio era muito importante para a comunidade portuguesa”, explicou Leong In Fan, representante do departamento do património cultural do IC, perante o grupo de turistas que se abanavam com os panfletos informativos para afastar o calor, num dia em que as temperaturas chegaram aos 33 ºC e 95% de humidade.
O primeiro teatro de estilo ocidental na China acolheu um grupo já cansado do passeio a pé e que só aproveitou o ar condicionado durante cerca de 20 minutos – o suficiente para algumas fotografias à sala que acolheu o “Crazy Paris Show”, de Guy Lesquoy, o primeiro espectáculo de cabaret na Ásia.
À porta do teatro, Liu Ziliang, de 17 anos, mostrava-se satisfeito com a visita que lhe deu a conhecer “a parte mais antiga e mais bonita de Macau”, uma cidade que apenas tinha visitado uma vez, em criança, quando veio com a família “fazer compras”. “Nessa altura não liguei ao Centro Histórico”, admite.
Limpando o suor da testa, o jovem explicou que Macau é o primeiro lugar que visita desde que terminou os exames de acesso à universidade. turistas património
A Igreja de São José, “muito grande e bonita”, foi o ponto que mais gostou – a igreja e seminário foram construídos pelos jesuítas em Macau no século XVIII e fazem parte da lista de imóveis classificados pela UNESCO em 2005.
Edifícios como este levaram o jovem a considerar que Macau tem “o seu estilo”, com “muita influência portuguesa” que torna a cidade “diferente da China”.
Candy Kong foi responsável pela visita turística criada especialmente para o 10.º aniversário da classificação do património de Macau.
“[Os turistas] ficaram muito surpreendidos que num sítio tão pequeno haja tanto património. Tudo lhes pareceu novo por causa da mistura do oriental e ocidental, que acham muito interessante”, descreveu a guia, ressalvando, no entanto, que foi o calor e humidade intensos que mais geraram reações dos visitantes.
Wu Keng Kuong, director da agência de viagens que, em parceria com o IC, organiza estas visitas, garante não ser verdade que a maioria dos turistas apenas deseje fazer compras em Macau, onde impostos mais reduzidos e uma maior confiança na legitimidade dos produtos tornam as lojas atractivas.
“Uma parte dos turistas quer fazer compras mas uma grande fatia quer conhecer o património de Macau. Os turistas estrangeiros gostam mais da construção oriental, enquanto os chineses preferem a de estilo ocidental”, descreveu.

 

16 Jul 2015

Plenitude e Nulificação

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]rimo Levi nasceu em 1919, no seio de uma família judia liberal, na cidade de Turim. Em 1934 entrou para o liceu onde foi aluno do filósofo Norberto Bobbio e do grande escritor Cesare Pavese. Primo Levi acabou os estudos secundários em 1937 e entrou para a Universidade de Turim, para estudar química, onde se formaria em 1941. Depois da fundação da República Social Italiana liderada por Mussolini, Levi juntou-se ao movimento da resistência, aos partisans portanto, designado Movimento Justiça e Liberdade. Primo Levi e muitos outros militantes da resistência, foram presos pelas milícias fascistas e enviados para o campo de detenção de Fossoli, perto de Modena; e em 1944 foram enviados para Auschwitz. Ao fim de onze meses terríveis Levi, tendo sobrevivido, foi libertado pelo Exército Vermelho. Dos 650 judeus italianos mandados para Auschwitz com Levi, apenas vinte sobreviveram. Assim que voltou à Itália, Levi começou a escrever sobre suas experiências no campo de concentração e sobre sua jornada de regresso a Itália. Desse trabalho ficaram dois clássicos: Se Isto é um Homem e A trégua. Publicou mais livros mas quase todos sem sucesso, salvo a obra O Sistema Periódico que foi considerado pela Academia de Londres o melhor livro de ciência alguma vez escrito. Levi morreu a 11 de Abril de 1987, depois de cair no vão da escada interna do prédio de três andares onde vivia, duvidando-se até hoje que não tenha sido suicídio. Sobre isso Elie Wiesel disse que “Primo Levi morreu em Auschwitz quarenta anos antes”.

Plenitude e nulificação

Se Isto é um Homem de Primo Levi, deve ler-se com o estômago vazio e numa fase da nossa existência marcada pelo equilíbrio, pois o conteúdo desta obra pode revolver as tripas e perturbar de uma forma irreversível. Eu, com total sinceridade, nem me preocupo que o conteúdo deste texto esteja relacionado com o que se passou no âmbito da Segunda Guerra Mundial e portanto no quadro das práticas nazis. Isso para mim seria reduzir o significado do texto assim como a sua exemplaridade universal. Isto passou-se vezes sem conta e infelizmente voltará a passar-se. 16715P12T1
Penso que Primo Levi, apesar de confessar que jamais perdoou aos alemães o que passou e sofreu no campo de concentração de Auschwitz, não descreveu a sua experiência como forma de retaliação ou vingança mas na perspectiva da denúncia de que os homens podem atentar contra a humanidade quer na pessoa dos outros quer na sua própria pessoa. Tenho tendência a ler o livro na sua dimensão ambivalente. O homem que ali, desde o título é equacionado e posto em causa, embora com juízos morais distintos, inequivocamente distintos, é o carrasco e a vítima. É difícil aceitar como sendo homem aquele que submete o Outro (homem) aos tratos a que foram submetidos nos campos de concentração, e não apenas os judeus, mas também os russos e os ciganos, por exemplo. E é ainda difícil continuar a ver um homem na vítima destruída de toda a sua humanidade; na vítima reduzida a coisa, coisa que não conta para nada, coisa inútil. É evidente que o adjectivo ‘inútil’ é neste caso redundante quando nos estamos a referir a pessoas pois uma pessoa não pode nem deve ser instrumentalizada, na medida em que o respeito pela pessoa humana reside na liberdade da sua finalidade própria, como muito bem diz o Imperativo Categórico de Kant na sua segunda formulação. De facto os juízos são muito diferentes neste nosso caso. Por um lado, um ser humano, no caso o judeu e em particular Primo Levi, é esvaziado da sua humanidade através da violência e do sofrimento que lhe é infligido e que pretende anulá-lo, reduzi-lo a coisa sem o mínimo valor e por outro lado, outro ser humano, no caso os alemães, mas não só como mostra Levi, auto esvazia-se da sua humanidade através da imoralidade radical dos seus actos. Neste segundo caso a nulificação advém paradoxalmente do exercício de uma plenitude, a plenitude absoluta do mal.
Vale a pena transcrever este curtíssimo texto de Primo Levi e que antecede a narrativa propriamente dita. Sem mais palavras:

Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:

Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no Inverno.

Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração
Estando em casa andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.

Ou então que desmorone a vossa casa,
Que a doença vos entreve,
Que os vossos filhos vos virem a cara.

Parecem palavras bíblicas, mas são de uma outra dimensão. Esta mensagem é do homem e em nome do homem. Esta mensagem bem que podia encabeçar um dia um catecismo secular e humanista.

16 Jul 2015

Pedido esclarecimento sobre “Bairro de Macau” na Ilha de Montanha

O deputado Si Ka Lon pede ao Governo explicações directas e claras sobre o projecto “Novo Bairro de Macau” previsto para a Ilha da Montanha. O deputado indaga a Administração sobre o funcionamento dos serviços sociais, a gestão e as leis a aplicar no projecto. Numa interpelação escrita, Si Ka Lon lembrou que a Comissão de Gestão da Nova Zona da Ilha de Montanha referiu, há pouco tempo, que o projecto inclui um lote de 200 metros quadrados para instalações de idosos, habitação e educação. Está ainda previsto que os residentes de Macau que vivam e trabalham na Ilha da Montanha possam usufruir dos serviços, que se pretendem iguais aos de Macau. No entanto, Si Ka Lon apontou que para além do plano de um hospital e dos lares de idosos, o conteúdo do projecto continua incompleto. Pergunta o deputado se os governos das duas regiões já chegaram a acordo em relação ao princípio de desenvolvimento e escolha do local para o projecto. Si Ka Lon quer ainda saber como irá funcionar a gestão do bairro.

16 Jul 2015

Nomeada nova Chefe de Divisão do Turismo de Negócios

Tong Heong In é a nova chefe da Divisão do Turismo de Negócios e Eventos da Direcção dos Serviços de Turismo, um cargo que vai desempenhar até 20 de Julho de 2016. Num despacho ontem publicado no Boletim Oficial, e assinado pelo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, Tong Heong In é a escolhida com base na vacatura do cargo, mas também “pela reconhecida competência profissional e aptidão para o exercício do cargo”. Tong em mestrado em Gestão de Empresas pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, um Bachelor of Arts — Advertising da National Chengchi University Taiwan, reconhecido como licenciatura pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior, e começou no Governo como adjunta-técnica da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, em 2006 e até 2008. Neste ano passou a técnica superior da Direcção dos Serviços de Turismo, lugar onde ficou até agora.

16 Jul 2015

Condomínios | Governo questionado sobre atraso na revisão de Regime

A consulta pública terminou o ano passado, mas ainda nada se sabe sobre a revisão do Regime Jurídico da Administração das Partes Comuns do Condomínio. Leong Veng Chai pede contas ao Governo sobre um diploma que diz que vai complicar a vida à população

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]deputado Leong Veng Chai quer que o Governo se justifique perante o atraso à revisão do Regime Jurídico da Administração das Partes Comuns do Condomínio. Com o fim da consulta pública, que aconteceu no ano passado, o deputado questiona a Administração quanto à calendarização do trabalho.
“Qual é o ponto da situação legislativa do regime e quando é que este pode ser apresentado à Assembleia Legislativa (AL) para apreciação?”, indaga o deputado. “Estamos agora em meados de 2015 e já se passaram seis meses, no entanto, ainda não foi apresentada a referida proposta de lei à AL, nem se registaram quaisquer avanços”, argumenta Leong Veng Chai, assinalando que “devido ao curto espaço de tempo é pouco provável que a respectiva iniciativa legislativa seja concluída ainda durante o corrente ano”. prédios macau
Numa interpelação ao Governo, o deputado defende que a futura aprovação desta lei irá provocar o aumento do número de órgãos administrativos dos edifícios, algo que trará dúvidas à população sobre a composição e funcionamento dos mesmos. Assim, questiona o deputado, terá o Governo os meios disponíveis para prestar assistência e apoios técnicos garantindo o bom funcionamento dos órgãos?
Ainda na mesma linha, Leong Veng Chai, indaga a Administração relativamente aos meios de incentivo aos proprietários dos edifícios para constituírem órgãos administrativos. “O facto de, durante anos, muitos edifícios baixos e velhos de Macau não terem uma boa administração predial deve-se à falta da constituição dos seus órgãos administrativos. (…) A fim de assegurar a segurança pública e sensibilizar, ao mesmo tempo, os proprietários para assumirem as suas responsabilidades, de que medidas dispõe o Governo para incentivar os proprietários desses edifícios a constituírem órgãos administrativos?”, questiona.

16 Jul 2015

Terrenos | Pró-democratas pedem audição sobre não recuperados

Os deputados da bancada pró-democrata querem o Governo no hemiciclo a dar explicações sobre os terrenos que acabaram por não ser recuperados e querem não só os actuais responsáveis da pasta, mas também os antigos

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]g Kuok Cheong e Au Kam San apresentaram em conjunto uma moção de audição na Assembleia Legislativa para que sejam dadas explicações sobre os terrenos que não foram recuperados pelo Governo por “não reunirem condições de declaração de caducidade”. Os dois deputados da bancada democrata querem uma investigação sobre os 16 lotes e querem ouvir da boca do Governo informações sobre o assunto.
Mas, Au Kam San e Ng Kuok Cheong não querem apenas os actuais responsáveis do Executivo no hemiciclo. Os dois deputados querem também os anteriores, como Lau Si Io, ex-Secretário para os Transportes e Obras Públicas, e Jaime Carion, ex-director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Recorde-se que, ao anunciar que os terrenos não podiam ser recuperados por não preencherem os requisitos de caducidade, Raimundo do Rosário, actual responsável pela pasta, admitiu que as falhas tinham sido do Governo, por este não ter emitido plantas urbanísticas e licenças a tempo.
Ontem, numa nota justificativa apresentada à Assembleia Legislativa (AL), os dois deputados recordaram que já em 2010 tinham sido apreciados 113 lotes desocupados que não foram desenvolvidos de acordo com os contratos. Só um ano depois foi confirmado que destes, 48 terrenos poderiam ser recuperados dos concessionários.

A luta continua

Este tem sido sempre o cavalo de batalha dos dois deputados que, na nota justificativa que acompanha o pedido de audição, apontam ainda que as autoridades “nunca revelaram as situações dos lotes, mesmo quando a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas fez perguntas sobre os detalhes”.
Os dois democratas acham ainda que o anúncio “repentino” de Raimundo do Rosário fez o público suspeitar que os processos entre Executivo e os concessionários foram feitos por “debaixo da mesa”.
“De facto, nas informações dadas aos deputados pelo Governo antes de se alterar o mandato dos titulares dos principais cargos, disseram que não existiam terrenos desocupados que não reuniam as condições para recuperação. No entanto, o actual Secretário vem dizer que há 16 lotes e que estas foram decisões do antigo Governo. O Secretário está a fugir da responsabilidade, ou isto foi feito às escondidas de propósito?”, frisa a nota.
O pedido de audição ainda não foi aceite no hemiciclo, sendo que depois ainda terá de ir a apreciação e votação no plenário. Recorde-se que, da lista dos que não foram recuperados, fazem parte terrenos que pertencem, pelo menos, a três deputados que ainda se encontram em mandato na AL.
Ng Kuok Cheong e Au Kam San consideram este um tema de interesse público e consideram, por isso, que vale a pena fazer a audição. Os deputados pedem ainda que seja criada uma comissão especializada para investigar as informações detalhadas destes 113 terrenos desocupados.

16 Jul 2015

Salário mínimo | Deputada apela a apoio para trabalhadores não abrangidos

A deputada Song Pek Kei considera que os trabalhadores que ganhem um salário baixo e não são abrangidos pela Lei do Salário Mínimo – a entrar em vigor em Janeiro do próximo ano – devem receber um apoio financeiro até o regime ser implementado em todos os sectores.
Tal como já noticiado, o regime em causa será implementado no próximo ano e inicialmente abrangerá apenas os trabalhadores de limpeza e segurança. O salário mínimo corresponderá assim a 30 patacas por hora, 240 patacas por dia ou a 6240 patacas por mês, dependendo da forma de pagamento.
Numa interpelação escrita, a deputada relembrou que os trabalhadores de limpeza e de segurança recrutados por edifícios comerciais e industriais em autogestão, assim como 13 mil trabalhadores de outros sectores, estão a receber uma remuneração mais baixa do que o ordenado mínimo agora definido.
Perante a situação, Song Pek Kei apela ao Governo que tome medidas de apoio para estes trabalhadores antes da lei em causa ser estendida para os outros sectores, tal como prometido pela Administração. Algo que só deverá ser aplicado em 2018.
Como último ponto, a deputada quer ainda saber se a autoridade já elaborou uma proposta que trate dos conflitos de gestão predial trazidos pela implementação da Lei do Salário Mínimo.

16 Jul 2015

Associações de Coloane entregam plano a Chui Sai On

Seis associações de Coloane entregaram ontem um plano de desenvolvimento do local ao líder máximo de Macau, num encontro com Chui Sai On. Com o objectivo de melhorar as condições de Coloane, os representantes entregaram um plano “que se resume em acelerar o processo de desenvolvimento do centro e plano de desenvolvimento das vilas, tornar mais célere o reconhecimento dos direitos de propriedade com fins habitacionais, acelerar o desenvolvimento de infra-estruturas públicas para a população usufruir, além de aperfeiçoar as instalações turísticas e de lazer”. Num comunicado à imprensa, o Governo explica que Chui Sai On garantiu, durante o encontro, que o Governo está atento e empenhado no aperfeiçoamento das infra-estruturas e na optimização do meio ambiente. Relativamente às questões do passado ainda não resolvidas e às condições de vida inerentes a esta herança, o Governo continua, defendeu, a ter firmeza em resolver em conjunto com a população, “de acordo com a lei e procedimentos existentes, os problemas conforme as prioridades”.

16 Jul 2015

Macau Investimento e Desenvolvimento com novo administrador

A empresa Macau Investimento e Desenvolvimento, S.A. vai passar a ter Lo Chi Fai como administrador do Conselho de Administração em vez de Sam Kam San. O anúncio foi ontem feito em Boletim Oficial, num despacho assinado por Lionel Leong, Secretário para a Economia e Finanças. A publicação não indica o motivo da substituição, mas descreve que Lo Chi Fai vai desempenhar este cargo em regime de acumulação de funções. Recorde-se que a Macau Investimento e Desenvolvimento tem como presidente do Conselho de Administração Sou Tim Peng, director dos Serviços de Economia e Sam Kam San, também vogal do Fundo de Segurança Social, era um dos administradores. Lo Chi Fai, que agora ocupa este cargo, é delegado do Governo junto da Companhia de Corridas de Galgos Macau Yat Yuen. A Macau Investimento e Desenvolvimento é uma sociedade comercial criada em Junho pelo Executivo, que é responsável pela exploração e gestão da área da Ilha da Montanha e dos projectos a desenvolver conjuntamente entre a RAEM e a região vizinha.

16 Jul 2015

Devaneios fálicos

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]espedidas de solteira convidam a um exagero fálico, quer queiramos ou não. Tivemos a sorte de a meio da organização de uma despedida de solteira de referências sci-fi a pedido da noiva, caírem do céu uns bilhetes para um espectáculo musical com homens nus. Muito apropriado. Lá fomos ver e ouvir as danças e canções de um grupo de homens que orgulhosamente exibiam os seus pénis. Provavelmente foi esta a primeira oportunidade de ficar a admirar assim de certa distância pénis na sua pluralidade e diferença. Timidamente (a corar!) ficámos a calcular proporções entre alturas e tamanhos quando estrategicamente alinhados estes homens nus ficavam cantarolando versos contra o preconceito do nu masculino.

Tenho ideia que é generalizado que o pénis é objectivamente feio (note-se: a vulva também). Não erecto então, é ainda mais aborrecido, sem graça e sem jeito definido. Houve quem então se focasse nos rabinhos, outras nas barrigas semi-tonificadas ou tonificadas de todo. Um festival para os olhos, passe a expressão inglesa. E dançavam bastante, abanavam-se bastante. Enfim, foi tema de conversa para este grupo de mulheres todo um fim-de-semana. Devaneios fálicos na sua mais pura forma de partilhas e confissões que não o seriam de outra forma, se não tivessem um contexto tão óbvio. Desde pénis com formas de lápis invertido, virado para a esquerda ou para a direita, em todas as tonalidades de cor-de-rosa. Há de tudo.

[quote_box_right]Entenda-se que há mulheres para toda uma diversidade de critérios, por isso, e por razões óbvias, não há uma fórmula universal para uma masculinidade atraente, e é o que nos salva, porque senão andávamos sempre atrás dos mesmos espécimes[/quote_box_right]

Claro que estas conversas tiveram que passar pelas múltiplas definições de masculinidade e atracção. A conclusão a que chego é que nós (o nosso grupinho de mulheres) não precisamos de provas empíricas de um pénis lustroso e gigantesco para uma masculinidade assumida. O Paul Newman em “Cool Hand Luke”, parece que assume uma masculinidade normalmente entendida e suportada por homens, da qual eu pouco entendo. Quem conhece o filme há-de saber. O que há de heróico em comer muitos ovos de uma só vez? Não sei, digam-me vocês. Pelo Paul Newman derreto-me totalmente, mas pela sensibilidade e o sentido artístico que um actor de tamanhas proporções e tamanha beleza podem esperar. Mas esta sensibilidade artística a roçar o romântica já faz parte das expectativas de muitas mulheres, com mais ou menos legitimidade. Ou seja, se cruzarmos as expectativas de engate entre homens e mulheres muito provavelmente encontramos discrepâncias. Entenda-se que há mulheres para toda uma diversidade de critérios, por isso, e por razões óbvias, não há uma fórmula universal para uma masculinidade atraente, e é o que nos salva, porque senão andávamos sempre atrás dos mesmos espécimes.

Recentemente à conversa com uma conhecida numa festa qualquer, vim a descobrir que ela participava num fórum de ajuda aos homens. Nada de patológico ou especialmente grave, mas é qualquer coisa como uma plataforma onde homens expressam as suas dúvidas e pedem conselhos na busca de coragem – para abordar aquela gaja toda boa, com classe e confiança. Baixos, gordinhos, carecas, o que quer que seja. O objectivo é explicar ao sexo masculino sobre a atracção na mais óbvia das concepções, i.e., segurança e auto-estima. De bem verdade que há concepções masculinas sobre a masculinidade na minha opinião deveras preocupantes, e.g., os homens que se ficam na fundamental estupidez quando pensam que conseguem comprar alguém no séc. XXI no mundo ocidental. Talvez em países de percepção mais tradicional de género como, por exemplo, na China, onde se acredita que os homens mais ricos presenteiam orgasmos muito mais potentes – dizem os estudos “científicos” – nunca confessados na minha estadia na China continental. Uma apropriação evolutiva, quem sabe. E assim vos deixo com o Hallelujah na versão mangalho: Maaan-galho, maaaaan-galho, man-galho, man-galho, man-ga-lho-o!.

16 Jul 2015

Juvenis, Delirantes, Juvenis

[dropcap style=’circle’]J[/dropcap]oshua Wong Chi-Fung, natural de Hong Kong, 18 anos de idade, estudante e activista, doravante referido pelo nome de “Joshua”. Amos Yee Pang-San, natural de Singapura, 16 anos de idade, estudante, doravante referido apenas pelo seu nome inglês “Amos”. Dois jovens, duas caras larocas, duas cabecinhas pensadoras, só que muito confusas. Joshua e Amos são o paradigma do jovem ideólogo da burguesia nas cidades mais capitalistas da Ásia. Se no clássico de 1955 que o imortalizou, James Dean era o “rebelde sem causa”, estes serão com toda a certeza os “rebeldes sem causa alguma” – e andam desesperadamente procurando uma.
Joshua apareceu em 2011 durante os protestos contra o plano de Pequim de implementar nas escolas de Hong Kong uma disciplina de Educação Patriótica, algo que nesta região do sul da China tem inevitavellmente a conotação de “lavagem cerebral”. Com apenas 14 anos de idade na altura, o jovem Joshua destacou-se pela sua postura de confrontação com as autoridades, que muito provavelmente ficaram saber como lidar com a situação – afinal era uma criança que ali estava. Além da componente de “street fighter”, sempre de megafone em punho e rosto pueril, que mal consegue segurar os óculos, o activista adolescente destacou-se ainda pelos seus dotes de retórica, bastante desenvolvidos para a idade. Enquanto os outros jovens de 14 anos escutavam Justin Bieber e seguiam apaixonadamente a quadrologia “Twilight”, Joshua fazia activismo político, e chegou mesmo a fundar um movimento a que se deu o nome de “schoolarism”, e quando ouvi falar disto pela primeira vez, juro que pensei tratar-se de uma escola de pensamento já existente. Poucos se podem orgulhar de ter fundado uma ideologia antes de ter barba. james dean
Só que nem Joshua tem barba, nem a sua retórica pernas para andar. Foi um nascimento prematuro. Comecei a seguir de perto a sua actividade há pouco mais de um ano, e fiquei espantado com a forma como debita as frases feitas colhidas do jardim da pró-democracia chinesa, um eufemismo que designa o que não passa de oposição ao Governo Central, e ao próprio regime. Abandonado o plano de Pequim no sentido de “ensinar” aos patriotas de Hong Kong como a mãe deles é uma mãe, como tal deve ser respeitada, surgiu o fenómeno “Occupy Central”, que paralisou o centro financeiro de Hong Kong durante semanas em nome de coisa nenhuma, a não ser a prática de um desporto radical muito na berra aqui na região: “chatear a China”. Joshua exibiu o seu imberbe ego de uma forma que se pode considerar quase pornográfica, demonstrando muita vontade de derrubar, nenhuma de construir, e ainda menos em propor alternativas. O pináculo do ridículo deu-se quando levou a cabo uma greve de fome que nem chegou a cinco dias, pois aparentemente esta modalidade de activismo dá “fome” – o que ajuda a explicar o sentido do seu nome. O preocupante é a forma como fala de “desobediência civil”, que confunde com uma espécie de “birra do sono”. O melhor era alguém lhe explicar que se tudo o que se lê nos livros fosse aplicável por qualquer um, bastando para tal apenas “querer”, aprendia-se qualquer língua lendo uma vez uma vez um dicionário dessa mesma língua. Ou em alternativa podiam ver se ele tem chichi.

[quote_box_left]“Nem Joshua tem barba, nem a sua retórica pernas para andar. Foi um nascimento prematuro”[/quote_box_left]

Amos é uma variante de Joshua que se pode considerar na linha do “same same, but different”. Ambos adolescentes (Joshua é dois anos menos novo), ambos de etnia chinesa, ambos muito longe de saber o que implica nascer de etnia chinesa para um quinto da população mundial. A diferença entre os dois génios ingénuos? O “habitat”: o “quasi-homo protestis paranadis” conhecido por Amos move-se por Singapura, a cidade-estado por excelência, que para os olhos de muitos ocidentais é uma sociedade faraónica onde o povo leva chicotadas todo o dia, todos os dias, enquanto arrasta os blocos de pedra para construir as pirâmides. O “faraó”, para uns, e “pai de Singapura” para outros foi Lee Kuan Yew, desaparecido a 23 de Março último aos 91 anos, mais de uma década depois de se retirar da cena política. Enquanto primeiro-ministro de Singapura, Lee foi muitas vezes acusado de excesso de autoridade, ficando talvez um patamar acima do ditador comum, com a diferença dos singaporeanos que supostamente o deviam temer viverem uma vida consideravelmente próspera.
Se em termos de qualidade da democracia em Singapura, ou da falta dela, ninguém melhor que os próprios singaporeanos para julgar, e talvez a maior parte não tenha razão de queixa – digo eu, que não tenho percepção de qualquer estrangulamento das liberdades civis naquele local em particular, e mesmo tendo lá estado, não dei conta de um povo oprimido. Mas quem sou eu, quando Amos, que tinha cinco ou seis quando Lee saiu de cena, consegue em 15 segundos dizer dele o que nem o mais audaz dos seus opositores diria em dez anos? Decorriam ainda as cerimónias fúnebres do fundador da cidade estado, e este jovem, que chegou a ganhar um prémio de realização quando tinha 11 anos, faz um vídeo onde insulta Lee a um ponto que mesmo em qualquer democracia ocidental lhe valeria um belo sarilho. Não foi esfolado e mergulhado em sal, e foi necessário recorrer a uma tecnalidade para agir judicialmente contra ele. As imagens de Amos ao lado dos pais cada vez que vai responder a tribunal dizem tudo; um casal com um rosto pesaroso, furioso até, e ele sorridente, como quem pregou uma partida que fez toda a gente rir. Pobres pais.
É possível que muito boa gente com mais que idade para ter juízo aprecie este tipo de chicana política, e mesmo muitos jovens batem palmas a estes dois exemplares do que a “democracia” representa nesta região do globo. Para mim não passa senão de aparecer num jogo decisivo e da maior responsabilidade, a contar para o campeonato da gente grande, e apresentar em campo a equipa de juvenis. Sai goleada, certamente.

16 Jul 2015

PJ | Crimes de Jogo voltam a aumentar

Os crimes de Jogo, incluindo a agiotagem, voltaram a aumentar no primeiro semestre do ano. A Polícia Judiciária registou mais 108 inquéritos ou denúncias face a 2014 e diz ser necessário prestar mais atenção ao ajustamento do sector dos casinos

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]ados da Polícia Judiciária (PJ) ontem divulgados revelam que os crimes relacionados com o Jogo continuaram a subir no primeiro semestre do ano, face ao igual período do ano passado. De um total de 463 inquéritos ou denúncias a PJ recebeu um total de 571 nos primeiros seis meses, ou seja, mais 108. Só o crime de agiotagem levou a mais 37 inquéritos ou denúncias, para um total de 108 casos nesse período.
Os dados foram divulgados no âmbito das celebrações do Dia da PJ, tendo o seu director, Chau Wai Kuong, chamado a atenção para a necessidade das autoridades prestarem mais atenção ao ajustamento do sector do Jogo.
“Estes dados revelam que a segurança em Macau manteve-se estável e os crimes graves diminuíram. No entanto, os crimes relacionados com o Jogo, crimes informáticos e burlas mantiveram a tendência para subir. Isto significa que se torna necessário, para os órgãos policiais, prestar a máxima atenção aos reajustamentos no sector do Jogo, que poderão dar origem a impactos na segurança”, referiu Chau Wai Kuong no seu discurso. jogo casinos
O director da PJ considerou ainda ser “necessário fazer o combate e prevenção eficaz no crime transfronteiriço praticado por não residentes e nos casos em que tanto as vítimas, como os autores do crime, não são de Macau”.

Mais do mesmo

Recorde-se que já em Fevereiro, no balanço anual da actividade criminosa referente a 2014, a PJ apresentou um aumento de 16,3% dos crimes relacionados com o Jogo, um total de 3023 crimes ao longo do ano. A PJ garantiu que esses números se devem “à fase de ajustamento” do sector, que tem vindo a sofrer quebras consecutivas nas receitas há vários meses.
Olhando para o cenário fora dos casinos, o director da PJ concluiu que a segurança continua a existir no território. “Registaram-se diferentes níveis de queda noutros crimes graves, nomeadamente, narcotráfico, extorsão, fogo posto, furto e roubo, entre estes, houve uma descida de 38% nos casos de narcotráfico, assinalou-se uma descida de 30% nos casos de crime organizado e associação criminosa, uma redução de 18% no furto, uma queda de 28% no roubo, enquanto que a situação dos outros tipos de crime é semelhante à do ano anterior.”
Apesar disso, os crimes de burla e ligados ao meio informático mantiveram a tendência de subida, alertou Chau Wai Kuong. “Foram registados 655 casos relativos aos processos (inquéritos) de burla em telecomunicações, os quais sofreram um aumento de mais de 10% em igual período do ano passado. Isto demonstra que o sentido de segurança na área cibernética e de prevenção das burlas continuam escassos, por isso se deve trabalhar neste aspecto.”
Em relação aos crimes praticados por menores de 21 anos, os relacionados com a droga são os mais comuns, mas ainda assim diminuíram, de 12 casos para apenas nove no primeiro semestre. Houve menos três casos de furto, tendo ocorrido mais cinco casos de burla.
Em relação aos crimes de teor sexual, os casos de violação tiveram uma ligeira subida, de nove para 12, enquanto que ocorreram apenas três casos de abuso sexual de crianças, número semelhante a 2014.

Acusação no Sin Fong Garden “não é política”

O procurador do Ministério Público (MP), Ip Son Sang, disse ontem à imprensa chinesa que a acusação feita a sete moradores do edifício Sin Fong Garden é “para manter as regras do Direito” e não é uma “acusação política”. Recorde-se que os moradores foram acusados do crime de desobediência qualificada por causa da manifestação realizada o ano passado em frente ao edifício.

16 Jul 2015

Novo Macau entregou relatório voluntário à UNESCO

A Associação Novo Macau entregou ontem um relatório à UNESCO que denuncia a possibilidade da paisagem das zonas da Penha e da Guia ficar afectada com a renovação da Doca dos Pescadores e a Zona B dos novos aterros

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]uma altura em que se celebram os dez anos de classificação do património de Macau pela UNESCO, a Associação Novo Macau (ANM) entende que nem todas as informações correctas estão a passar lá para fora e decidiu entregar ontem um relatório à entidade. Nele, expõe os projectos urbanísticos que podem pôr em causa a paisagem da Colina da Guia e Igreja da Penha, como é o caso da renovação da Doca dos Pescadores ou a construção dos edifícios com cem metros de altura na Zona B dos novos aterros. A ANM não esquece também a construção do edifício do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM.
“É nosso dever cívico enviar este relatório”, disse Scott Chiang, membro da direcção da ANM. “O que pretendemos com este relatório é que a UNESCO olhe, de facto, para a situação geral [da protecção do património], porque acreditamos que há informações que têm sido escondidas da UNESCO e pensamos que assim podem fazer uma análise mais justa”, acrescentou.
A ANM lembra que o Governo está “obrigado”, pela ratificação da Convenção da UNESCO, a proteger toda a área envolvente dos edifícios históricos. “A negligência pelo contexto histórico e as reacções públicas em relação às paisagens da Colina da Guia e da Igreja da Penha pelo Governo revelam a ausência de um compromisso para com a sua conservação”, defendem.
Scott Chiang frisou ainda que já reuniram com o Governo, a quem pediram para “tomar passos sérios” na protecção dos locais históricos. “Não basta preservar o património mas há que proteger a paisagem à volta e deixar as pessoas visitarem e conhecerem. Foi nisso que o Governo falhou e foi isso que foi assinado na convenção da UNESCO. E é isso que denunciamos neste relatório.”

[quote_box_left]“A negligência pelo contexto histórico e as reacções públicas em relação às paisagens da Colina da Guia e da Igreja da Penha pelo Governo revelam a ausência de um compromisso para com a sua conservação”
Associação Novo Macau[/quote_box_left]

Pelos negócios

O Executivo é ainda acusado pela ANM de ser pouco transparente. “Os relatórios oficiais, que nenhum de nós leu, foram bem recebidos nos encontros internacionais e decidiram que não havia necessidade de discutir a preservação. Mas no relatório que enviámos vemos que há muitos problemas por resolver, o que nos leva a pensar [sobre] o que constará nos relatórios enviados. Suspeitamos que o Governo não revelou todas as informações e apenas mostrou o outro lado a nível internacional.”
Os activistas acusam ainda o Governo de se ter aproveitado do conceito de património mundial para o favorecimento dos “interesses” do sector do turismo. “O Governo explorou o conceito de património mundial e não vemos que tenha havido nos últimos anos uma verdadeira motivação para proteger o património”, disse Jason Chao, membro da ANM, que não põe de parte a possibilidade de vir a realizar mais iniciativas para chamar a atenção sobre a questão.

16 Jul 2015

Ensino | Pedida mais fiscalização para cursos do exterior

Só no primeiro semestre, o Governo autorizou a abertura de quatro novos cursos de mestrado em Macau, ministrados por universidades do exterior, em parceria com a FAOM. A académica Teresa Vong defende uma maior fiscalização destas ofertas educativas

[dropcap style=’circle’]A[/dropca]pesar da existência de quase uma dezena de universidades locais, o Governo autoriza a abertura de cursos do ensino superior ministrados por universidades do exterior, em parceria com o Centro de Estudos Amador da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM). Nos primeiros seis meses do ano foram criados quatro novos mestrados, nas áreas da Tecnologia, Direito, Gestão Empresarial e Arquitectura, cuja responsabilidade pertence à South China Normal University e à Huaqiao University. Só no ano passado, segundo dados disponibilizados pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES), foram criados 11 novos cursos, licenciaturas, mestrados e doutoramentos, não só de universidades do continente mas também de Hong Kong e de Portugal.
Para Teresa Vong, directora do Centro de Investigação em Educação da Universidade de Macau (UM), o Executivo deveria fiscalizar mais este tipo de oferta formativa.
“Esta situação em Macau é única e muito complicada. Sim, deveria existir um maior controlo da qualidade dos cursos que são oferecidos. Contudo, se olharmos para trás, o Centro de Estudos Amador da FAOM tem um longo historial de colaboração com universidades, especialmente com a South China Normal University na China, até antes da transferência de soberania. Será fácil ter um maior controlo agora?”, questionou a académica, em declarações ao HM. “Penso que o Governo deveria ter a responsabilidade de aprovar cursos com qualidade por forma a salvaguardar os direitos dos cidadãos”, disse ainda.

Poucas palavras

O HM pediu uma entrevista ao responsável pelo Centro da FAOM, a qual foi recusada. O GAES não deu qualquer informação quanto a uma maior fiscalização, tendo apenas referido que a nova Lei do Ensino Superior irá continuar a regular estes cursos. “As acções académicas e os trabalhos didácticos são da responsabilidade da respectiva instituição do ensino superior do exterior. Aliás, compete, ainda, à sua entidade colaborante, em Macau, tratar dos assuntos administrativos gerais. Os destinatários dos cursos do ensino superior não locais são, principalmente, os estudantes de Macau.”
Teresa Vong não deixa de lembrar que este fenómeno é também resultado da “globalização” do ensino superior, que se tornou num mercado para muitas universidades. Para além disso, “apesar de termos 12 instituições do ensino superior em Macau, os cursos que temos são muito semelhantes ou limitados. Isso significa que não temos muitas escolhas”, diz. A académica defende ainda que “para a perspectiva de Macau, os cursos dirigidos por instituições de fora, em termos de custos assumidos pelo Governo, são relativamente mais baratos do que os oferecidos localmente”.
O HM tentou contactar as deputadas Kwan Tsui Hang e Ella Lei, da FAOM, mas até ao fecho da edição não se mostraram disponíveis para prestar declarações.

16 Jul 2015

Património | Casino Lisboa poderá fazer parte da lista, mas não deve ser o único

A ideia de classificar o Casino Lisboa como património de Macau não causou surpresa e é defendida por arquitectos locais. A necessidade de um estudo independente é defendido pelos profissionais, que sugerem ainda que outros edifícios sejam classificados também

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ão está excluída a hipótese de incluir o Casino Lisboa – o primeiro no território – na nova lista de bens imóveis do património de Macau. A ideia foi, de acordo com o jornal Ponto Final, avançada no passado domingo pelo académico e membro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios Michael Turner, e foi ontem reforçada pelo Instituto Cultural (IC) numa resposta ao HM.
O instituto explica que já recebeu opiniões – duas – nesse sentido e que por isso vai proceder “ao estudo e à análise do valor das informações e opiniões”. No dia de ontem, durante o debate levado a cabo pela Rádio Macau sobre os dez anos de classificação do património mundial pela UNESCO, os arquitectos Vizeu Pinheiro, Rui Leão e Maria de José de Freitas concordaram com esta ideia.
“Quando de fora se fala de Macau, o que vem à cabeça das pessoas é a imagem do Lisboa. É incontornável”, afirmou Rui Leão. “O hotel Lisboa não sai do nada. Havia as casas de fan-tan, de jogo tradicional, umas duzentas no Porto Interior e agora só há uma na Rua 5 de Outubro”, defendeu Vizeu Pinheiro, assinalando a necessidade do Governo estar mais atento à questão.
Em declarações ao jornal Ponto Final, o mesmo arquitecto explicou a classificação “faz sentido” mas, partindo do princípio da iniciativa da “narrativa da história dos casinos” é necessário que outros edifícios estejam incluídos na mesma lista. O arquitecto apontou o edifício da farmácia na Avenida 5 de Outubro – devido à sua ligação com o Jogo – como um dos edifícios a acrescentar.

Ícones da cidade

Para Maria José de Freitas o mais antigo casino local “é um dos edifícios mais emblemáticos de Macau”, logo faz sentido estar incluído os imóveis protegidos, mas ainda assim é “importante entender Macau como um todo e olhar também para as zonas de transição”.
Recorde-se que a arquitecta defendeu anteriormente que a classificação é exagerada se tiver como base da escolha “os postais e imagens promocionais” do casino. Maria José de Freitas acredita que é necessário um estudo intensivo “tendo em conta as características culturais do edifício e não só porque a sua imagem é conhecida”.
O mesmo estudo foi ainda defendido por Rui Leão que explicou à publicação local que é necessário que o processo de classificação esteja liberto da ideia de “que não se pode mexer em nada”.
“O hotel transporta a ideia de um edifício em constante transformação. A classificação nunca pode passar pela ideia de cristalizar o edifício porque isso iria ser uma negação da própria estrutura pela maneira como ela existe”, defendeu, sublinhando a importância da classificação “por ser uma representação daquilo que a indústria do Jogo trouxe a Macau”.

Por um novo modelo de gestão

Em declarações à Rádio Macau, durante a participação no debate dos dez anos de património mundial, o arquitecto Vizeu Pinheiro apelou a um novo modelo de gestão do património local, criticando o poder centralizado do IC.
“Isto vai contra o modelo aprovado pela UNESCO, que era a de uma gestão colegial. O património é de todos, não é do IC”, disse, sublinhando a existência de um instituo que possa gerir o património. “[O IC] não deve ser o senhor absoluto, que é o que está a acontecer”. O arquitecto foi mais longe frisando que “a grande pergunta é quem é que fiscaliza o fiscalizador. Quem controla o Instituto Cultural?”

O drama do plano de gestão

Ainda na área da gestão, a arquitecta Maria José Freitas, no mesmo debate, frisou a urgência de um plano de gestão do património, apontando várias falhas à recente Lei do Património. “Estamos a viver com uma lei de 2013 mas que ainda não tem uma lista de edifícios classificados e que, no fim, está a funcionar com a lista de 1992. Parece-me que isto é um pouco dramático. Macau está a passar por uma fase com enormes desafios do ponto de vista do planeamento urbano com os novos aterros e, portanto, a não existência de um plano de gestão resulta numa falta de eficácia”, argumentou durante o debate.

16 Jul 2015

Deputados pedem planos para trânsito no Cotai

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s deputados questionaram ontem o Governo quanto à elaboração de planos a longo prazo para o controlo do trânsito na zona do Cotai. Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, explicou que o Governo “encomendou a uma empresa de consultadoria, entre 2009 e 2010, um estudo sobre o trânsito nas ilhas para apresentar propostas de melhoria das redes viárias da vila da Taipa e do Cotai, incluindo a construção de túneis e viadutos, entre outras redes viárias desniveladas”. Contudo, a resposta não satisfez alguns deputados, incluindo o vice-presidente da Assembleia Legislativa (AL), Lam Heong Sang.
“Solicito ao Secretário para nos disponibilizar mais informações. O problema na Taipa tem a ver com os bairros antigos e vai haver problemas no Cotai, pois o fluxo de veículos e peões vai ser elevado. Com as obras do metro ligeiro algumas ruas já estão vedadas e por isso há uma circulação lenta de veículos. O desenvolvimento é muito rápido”, frisou. carros
Já o deputado Leong Veng Chai acusou o Executivo de não ter um plano de longo prazo para a zona do Cotai. “Vão ser as concessionárias de Jogo a construir os viadutos? Caso contrário haverá grandes congestionamentos naquela zona”, disse.
O Governo avançou que, para já, a Galaxy irá ser responsável pela construção de um viaduto de ligação junto à piscina olímpica. Quanto à zona de habitação pública de Seac Pai Van, a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) tem um plano para a construção de um viaduto para peões, mas diz não ver muitos peões “a passar por lá, pelo que neste momento não é urgente”, daí não ter sido tomada nenhuma decisão.
O Secretário confirmou ainda que “em finais de Agosto, princípios de Setembro vai haver zonas libertas na Taipa para as viaturas”, tendo em conta a conclusão de algumas obras do segmento do metro ligeiro no local.  

15 Jul 2015

Governo sem perspectivas de melhoria das obras nas via pública

Num ano, as obras nas vias públicas diminuíram de 840 para 608, mas o Executivo assumiu que o número ainda “é elevado”. Deputados pedem maior coordenação por parte do Governo. Secretário lembrou dificuldades logísticas com nova Lei do Ruído

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o segundo dia de debate na Assembleia Legislativa (AL) dedicado às interpelações dos deputados, o Governo assumiu que o número de obras que decorrem nas vias públicas ainda é elevado. Contudo, o Executivo admite que dificilmente o problema poderá ser resolvido a curto prazo.
“No primeiro semestre deste ano verificou-se uma redução do número de obras nas vias públicas de 840 para 608, face ao igual período do ano passado. Apesar de reconhecermos que este número ainda é elevado, tendo em conta a dimensão da RAEM, não há perspectivas de melhorar muito mais esta situação, dada a necessidade das concessionárias dos serviços de utilidade pública concluírem os respectivos trabalhos”, disse o Secretário para as Obras Públicas e Transportes, Raimundo do Rosário, em resposta ao deputado Si Ka Lon. obras
O Secretário referiu ainda existir a possibilidade de se vir a construir uma “galeria técnica comum” para as infra-estruturas urbanas, tendo a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) já encomendado “um estudo de viabilidade”. Sem as devidas condições para a construir em Macau, a construção dessa galeria “será viável nos novos aterros”, confirmou Raimundo do Rosário.
Durante o debate, os deputados chamaram a atenção para o facto de se realizarem muitas obras ao mesmo tempo, coordenadas por diferentes serviços públicos, o que faz aumentar o caos na cidade.
“[Antes] era o Leal Senado que coordenava as obras e havia uma visão conjunta. Sei que há mais empresas de telecomunicações a fazerem instalações [para a rede 4G], mas é possível uma coordenação. A população teme que, passados dois meses, comecem novas escavações. Há que ter uma entidade a coordenar”, defendeu o deputado Au Kam San.
Para agravar a situação, a nova Lei do Ruído, implementada há poucos meses, proíbe a realização de obras durante a noite, facto para o qual alertou o Secretário. “Em relação às obras nocturnas, a Lei do Ruído é mais rigorosa. Para realizar obras durante a noite há que pedir uma autorização especial ao Chefe do Executivo. Vamos acompanhar a situação passo a passo e em relação às novas obras vamos indicar o seu início e o fim, mas isso não será feito tudo de uma vez. Trata-se de uma responsabilidade para o empreiteiro e para a parte fiscalizadora”, concluiu Raimundo do Rosário.
   

15 Jul 2015

MASDAW lança sorteio para ajudar animais de rua

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]omeçou ontem e termina a 4 de Outubro o período de venda de senhas para um sorteio a ser organizado pela Associação para os Cães de Rua e Bem-Estar Animal (MASDAW, na sigla inglesa), que se dedica ao auxílio dos animais abandonados.
“Cada senha tem um preço de 20 patacas – ou patinhas como lhe demos o nome – e irá permitir a quem comprar ganhar prémios no sorteio que irá acontecer [na urbanização] One Oasis [no dia 4 de Outubro] à tarde”, conta Fátima Galvão, presidente da Associação, ao HM.
O objectivo é claro: angariar 400 mil patacas que permitam garantir a alimentação, desparasitação e outros tratamentos a animais que possam precisar. A Associação, que funciona em regime de voluntariado, vai distribuir diariamente comida nas ruas de Macau e, quando necessário, resgata aqueles que correm risco de vida. Mas não é possível, para já, saber quantos animais sofrem com estes tipos de problemas.
“Como não temos um abrigo, um espaço para ter os animais, é-nos difícil calcular o número de animais – na maioria cães – que estamos a tratar”, explica Fátima Galvão. “Por exemplo, existem muitos com febre da carraça, que é altamente perigosa, e são muitos os animais que precisam de tratamento. Ainda há pouco tempo resgatámos um cão que parecia ter uma infecção num olho e, ao ser examinado, o veterinário informou-nos que ele foi vítima de algum tipo de violência provocando-lhe uma fractura num osso que por sua vez estava a ferir-lhe a vista. Teve que ser submetido a cirurgia e a tratamento. Isto custa dinheiro”, relata.
A actividade pretende chamar a atenção da sociedade para a problemática social. “Estamos a precisar de famílias de acolhimento, neste momento já estamos a colocar os animais em lojas de animais e isso está também muito caro”, refere.
Os prémios para os sorteados ainda não estão totalmente decididos. Para já, a MASDAW conta com a doação de algumas obras da autoria de artistas locais e vales para refeições em restaurantes patrocinadores, mas espera estender o leque de prémios.

15 Jul 2015

Democratas apelam à libertação de advogados chineses

A Comissão de Desenvolvimento Democrático de Macau criticou o Governo Central por prender advogados que defendem os direitos da população. A Comissão pretende que o Governo Central suspenda as perseguições políticas a estas pessoas e a outros activistas.
Numa declaração enviada para os meios de comunicação, a Comissão – liderada pelos deputados democratas Au Kam San e Ng Kuok Cheong – aponta que 81 advogados do interior da China foram presos por defenderem direitos humanos, enquanto pelo menos seis destes foram detidos. O grupo considera que isto é resultado das “loucuras das autoridades de Pequim”.
“A Advocacia é considerada a profissão mais perigosa na China, sobretudo para aqueles que defendem os direitos a população em geral, aquela que não tem grande poder. É um fenómeno ridículo”, pode ler-se na carta. Mesmo que Macau esteja longe da capital do país, a Comissão apela desde aqui que o Governo Central suspenda este “rapto ilegal” dos advogados, liberando-os de imediato. 

15 Jul 2015

Estacionamento | Passes mensais actuais não são cancelados. Novos sim

O Secretário para os Transportes e Obras Públicas decidiu cancelar a emissão de novos passes mensais de estacionamento, mas quem já tem o passe poderá continuar a utilizá-lo. A garantia foi dada ontem na Assembleia Legislativa (AL), depois do Secretário ter dado a entender publicamente que todos os passes mensais seriam cancelados. “Relativamente aos passes mensais, os novos parques públicos já não oferecem essa modalidade de pagamento. No entanto, quem já tem esses passes continuará a mantê-los, se assim o entender”, disse, em resposta à interpelação da deputada Wong Kit Cheng. Caso os passes mensais já existentes fossem cancelados, isso iria libertar quase dois mil lugares de estacionamento para veículos e 498 lugares para motociclos.

15 Jul 2015