“A revolução de 1383” de António Borges Coelho

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]ntónio Borges Coelho é natural de Murça, distrito de Vila Real em Trás-os-Montes onde nasceu em 1928. Tendo-se dedicado a várias actividades literárias tais como a poesia e o teatro é porém como historiador que produziu as suas obras mais significativas. Dessa obra variada e multifacetada destaco, A Revolução de 1383, uma das primeiras obras do autor datada de 1965, As Raízes da Expansão Portuguesa de 1964, Portugal na Espanha Árabe publicada entre 1972 e 1975, Comunas ou Concelhos de 1973, obra de referência para a compreensão social do fenómeno das cartas de foral atribuídas em Portugal ao logo da Idade Média, A Inquisição em Évora de 1987, que constituiu o tema da sua dissertação de doutoramento, na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa. Dedica-se actualmente à elaboração e publicação de uma História de Portugal da qual saíram já alguns volumes. Foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Santiago e recebeu o Prémio da Fundação Internacional Racionalista.

A revolução paradigmática

Para Borges Coelho, tal como para António Sérgio e Álvaro Cunhal, a revolução de 1383 foi sobretudo orientada pela burguesia comercial e marítima e em certa medida instrumentalizada por esta classe social. Apesar de nenhum destes autores utilizar o conceito de sobredeterminação ou de causa em última instância, é esse o tipo de compreensão que resulta. Para Joel Serrão, que se opõe às teses dominantes, a revolução foi essencialmente popular e a verdade é que houve momentos em que o povo foi mesmo o único braço a abraçar a causa da revolução sem ambiguidades, mas a verdade também é que o plano foi gizado por Álvaro Pais e que o apoio da burguesia foi determinante. Quer dizer, apesar do papel importantíssimo do povo, a revolução foi, às claras algumas vezes e na sombra outras, desencadeada e alimentada pela estratégia e pelos interesses da classe média, o que quer dizer que foi em última instância liderada pela burguesia e sobredeterminada pelos seus interesses.

É justamente isso que nos mostra a obra de António Borges Coelho.

Nota adicional: Borges Coelho seguiu de perto a crónica de Fernão Lopes. Porquê? Desde logo porque é o grande documento da época e provavelmente o mais fiável. António Borges Coelho defende Fernão Lopes dos seus «detractores». E porque é que são «detractores»? Porque «o que a muitos dói é o conteúdo revolucionário da crónica que é a história da primeira revolução burguesa nacional». Porquê esta defesa tão apaixonada de Fernão Lopes? Possivelmente porque, como Álvaro Cunhal tinha afirmado, «o testemunho de Fernão Lopes é uma contribuição decisiva para a compreensão do carácter de classe da revolução». Ou provavelmente apenas porque Fernão Lopes é um cronista em vias de o não ser e a sua modernidade teria que ser tida em conta. Borges Coelho não foi o primeiro a incensar Fernão Lopes e seguramente que também não foi o último. A verdade é que o processo complexo que agita a sociedade portuguesa na antecâmara da Idade Moderna possui os contornos inequívocos de um processo revolucionário e é isso que incomoda algumas consciências. E a revolução de 1383 foi até uma revolução muito paradigmática pois não excluiu o plano do afrontamento social e o plano do confronto não apenas ideológico mas com recurso a uma violência que não deixa margem para dúvidas relativamente ao seu carácter revolucionário e radical. O assassinato do Bispo da Sé de Lisboa assim como a coacção sobre muitos alcaides que hesitavam em tomar partido pelo Mestre de Aviz, e alguns deles foram identicamente assassinados, são a par da fuga para Castela de figuras gradas da nobreza da época, sinais claros de que a revolução de 1383 apresentou todas as características de um processo revolucionário de classe. Pelo que me parece portanto que a análise de Borges Coelho é acertada, tanto na ênfase revolucionária, como na sua característica subordinada à luta de classes.

Quanto ao valor da crónica de D. João I e do próprio Fernão Lopes Borges Coelho não foge à questão e no prólogo à segunda edição da obra diz:

“Em que base se apoia «A Revolução de 1383»? No poço sem fundo em que mergulharam e beberam todos os comentadores: a Crónica de D. João I de Fernão Lopes. E não se envergonha do facto. Não tem complexos por isso. Quem desdenha da Crónica ou é tolo ou tem medo das cargas explosivas que transporta no seu ventre”.

Mas diz ainda referindo-se a outras fontes da sua obra:

“Mas o livro não enjeitou outras informações nem fugiu, muito menos, à contraprova documental. Embora não tivesse hibernado nos arquivos, utilizou os cinco livros da Chancelaria de D. João I conservados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo; analisou numerosos documentos laboriosamente recolhidos por Silva Marques nos Descobrimentos Portugueses; por Gama Barros na História da Administração Pública em Portugal, por José Soares da Silva nas Memórias para a História…; por Caetano de Sousa na História Genealógica da Casa Real Portuguesa – Provas… E não só.

Bebeu ainda, contestando, nos diferentes autores que abordaram o que alguns ainda hoje designam, pudicamente e por hábito, como «crise». Cito, em especial, as Crónicas de Pedro Lopes de Ayala e Jean Froissart, A História da Sociedade em Portugal no século XV de Costa Lobo, As Lutas Sociais em Portugal na Idade Média de Álvaro Cunhal, a História da Cultura em Portugal de António José Saraiva, o prefácio à Crónica de D. João I de António Sérgio, O Carácter Social da Revolução de 1383 de Joel Serrão, etc”.

Com estas considerações o autor abre-se a uma ampla bibliografia sobre o estudo do tema e desse modo situa o seu livro no duplo papel de interpretação original a partir das fontes mas também o seu papel de síntese centrada nas múltiplas abordagens levadas a cabo pela historiografia e pelo ensaísmo nacional ao longo do século XX.

29 Set 2015

Em Trabalhos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]sexo pode ser muita coisa, um trabalho também. O sexo dá trabalho, claro, não fosse uma actividade física de alto rendimento calórico. Mas o sexo é trabalho para muita gente. A indústria do sexo gera uma quantia generosa por ano porque há quem goste de consumir, e muito. Na minha limitação de conceitos de economia, consigo bem entender a lei da procura e da oferta: se há quem quer, há quem faça. Mas quem são estas pessoas que o fazem? De onde vêm, como se vêem, como as entendemos?
Os mais atentos devem-se ter deparado com a notícia que recentemente correu sobre uma professora de música do ensino secundário nos Estados Unidos da América a quem a vida na pornografia foi desvendada e consequentemente, viu-se obrigada a desistir do seu emprego diurno. Nas mais variadas descrições do sucedido houve uma especial preocupação em incluir uma linha como ‘os adolescentes com quem a professora trabalhava, estão livres de perigo’ ou qualquer coisa como ‘estão seguros’.
Outro exemplo controverso nos Estados Unidos da América foi o da Belle Knox, uma aluna de direito na Universidade que achou por bem seguir um part-time na pornografia para pagar os seus estudos. Porque vejamos, render-lhe-ia muito mais do que trabalhar como empregada de mesa num qualquer restaurante perto do campus universitário. Quando descoberta, por outro qualquer aluno consumidor de pornografia, foi alvo de ameaças bastante violentas e, assim, ostracizada por todos em redor. maxresdefault
Parece que há uma tendência natural em lidar com as pessoas que dão a cara à indústria como se de presidiários se tratassem. Pessoas de uma má influência brutal e, por isso, dignas de ser evitadas e privadas da vida que cada um de nós leva. Estas pessoas são socialmente pressionadas a levar uma vida à parte, num mundo à parte. O mundo do sexo que existe por aí, mas não sabemos bem como.

[quote_box_left]”Na minha limitação de conceitos de economia, consigo bem entender a lei da procura e da oferta: se há quem quer, há quem faça. Mas quem são estas pessoas que o fazem? De onde vêm, como se vêem, como as entendemos?”[/quote_box_left]

Se já divaguei o suficiente sobre os prós os contras da pornografia anteriormente, tenho a acrescentar esta pequena reflexão acerca de quem para ela trabalha. E, julgo eu, enaltecer o facto de que se tratam de pessoas que não têm como principal objectivo de vida depravar todos aqueles que os rodeiam, ou seja, levar para esta vida pornográfica todos os amigos, colegas de trabalho ou alunos. São pessoas que estão lá porque há outras que gostam de ver pornografia, que até em quantidades saudáveis dão uma outra pimenta saudável ao sexo. São pessoas, espero eu, que fazem o que fazem porque gostam de fazê-lo. E não porque a vida depravada os levou a fazê-lo. Mas eu entendo, não é a carreira de sonho que gostaríamos que uma filha ou filho tivessem. However, people gotta do what people gotta do.
Por exemplo, vem-me à cabeça o Lars von Trier que nos últimos filmes, sem pudor nenhum, tem mostrado uma tendência erótico-pornográfica que não é necessariamente má. Má no mesmo sentido com que a pornografia é vista, e de quem a faz. Controversa, sem dúvida, mas não é por isso que pomos os pobres actores à margem da sociedade e a carregar a cruz da taradice. Isto para dizer que trabalho é trabalho com a dedicação que lhe queremos dar, por isso façam o favor de deixar os actores pornográficos em paz e deixem-se de conservadorismo.
Estou a pensar na pornografia que dentro das suas especificidades e pressupostos leva a uma discussão diferente do que se pensarmos nos outros produtos e trabalhadores da indústria. Se nos estendermos ao negócio dos brinquedos sexuais, por exemplo, já existe uma tentativa de tornar normal a forma como potencialmente se inclui no nosso rotineiro dia-a-dia. Estou a pensar nas reuniões à lá ‘reuniões tupperware’ com uma demonstração divertida e moderna de criatividade sexual (com acessórios) às mulheres mais interessadas. Uma forma mais discreta para adquirir os produtos mais desejados sem ter que entrar em lojas de montras negras onde temos a sensação que só os sofredores de parafilias entram. Lá está o estigma a atacar as alminhas que tentam apimentar a sua relação romântica ou só mesmo sexual.
Claro que se começarmos a procurar sofisticação, sofisticação na indústria, em geral, aparecerá. Porque se há uma tendência para a ver como degradante, para quem consome e para quem a faz, talvez seja interessante desenvolver repostas em tom de contestação. Na esperança de aparecer pornografia de melhor qualidade, feita pelos melhores a ser dada aos melhores. Sem remorsos, sem as nuvens negras da desonra, sem a marca penitenciária do sexo.

29 Set 2015

IPM | Durão Barroso vai receber título de professor honorário

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso vai receber a 20 de Outubro o título de Professor Coordenador Honorário do Instituto Politécnico de Macau (IPM), revelou à agência Lusa o presidente da instituição académica.
Lei Heong Iok explicou que Durão Barroso receberá o título de professor coordenador honorário e, depois, irá proferir uma conferência sob o tema “Globalização do século XXI: Novas Rotas da Seda, Outras Ligações entre os Continentes”.
“Para nós, IPM, será uma cerimónia com grande significado porque Durão Barroso, como antigo primeiro-ministro de Portugal e antigo presidente da Comissão Europeia, é uma figura portuguesa de prestígio internacional”, explicou.
O presidente do Politécnico acrescentou que Durão Barroso “é também um amigo da China e ao longo dos anos, nos diversos cargos que ocupou, contribuiu também para fortalecer a amizade e as boas relações económicas e culturais entre a China, Portugal e toda a União Europeia”.
“É uma forma de reconhecimento pelo seu trabalho”, concluiu.
A cerimónia de distinção de Durão Barroso será presidida pelo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam.

29 Set 2015

Legislativas | José Cesário acredita na continuidade do actual Governo

[dropcap style=’circle’]J[/dropcap]osé Cesário não comenta se houve negociações com José Pereira Coutinho para uma possível participação do deputado de Macau na coligação “Portugal à Frente” (PAF). Em entrevista à Rádio Macau, o cabeça-de-lista da PAF pelo Círculo de Fora da Europa diz não colocar em causa a legitimidade da candidatura de Pereira Coutinho, mas mostra dúvidas em relação à possibilidade de se ser deputado, ao mesmo tempo, em dois parlamentos.
“Prefere ser candidato à Assembleia da República do que ser deputado em Macau, é legítimo, não tenho mais nenhuma consideração a fazer. Parece-me que não é possível estar nos dois parlamentos, mas não sou jurista. É uma questão que depois será analisada por quem de direito”, afirma, citado pela rádio.
O também Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas diz que a candidatura de Pereira Coutinho pelo movimento “Nós, Cidadãos!” não terá impacto no resultado que a coligação vai ter em Macau.
“Muito francamente acho que não. A candidatura de Pereira Coutinho, fruto do recenseamento que foi feito, terá votos novos, pessoas que se recensearam de novo. Dificilmente retirará votos em relação aos que já tivemos”.
No programa Rádio Macau Entrevista Especial, Cesário frisou ainda que acredita que o actual Governo vai continuar no poder depois das eleições de 4 de Outubro. “De um modo geral, aquilo que fizemos era aquilo de que o país necessitava e as pessoas reconhecem isso – a maioria das pessoas reconhece isso. É por isso que acho que a maioria das pessoas vai dar a confiança para que este Governo continue”, vinca.
Sobre o processo eleitoral, José Cesário defende que é necessário pensar no voto electrónico, mas propõe uma solução mista para minimizar os problemas que se têm sentido.
“Uma coisa que deveríamos fazer no imediato é avançar para um método misto, que concilie a votação presencial para quem está próximo dos postos consulares com a votação por correspondência para quem está longe, embora o objectivo seja podermos evoluir, a prazo, para o método de votação electrónica”, sugere Cesário, citado pela rádio.

Consulado melhor, mas a precisar de mais

Vítor Sereno fez um bom trabalho de aproximação do Consulado-geral de Macau à comunidade, mas há aspectos da representação diplomática que precisam de ser melhorados. É o que defende José Cesário à Rádio Macau, dizendo que o “atendimento do Consulado, que já melhorou muito, tem de melhorar ainda mais. Precisamos de fazer ainda mais, no sentido de, tanto quanto possível, personalizar mais o atendimento”, diz. “Há pouco entrei no Consulado-geral em Macau e fiquei muito satisfeito por ver já os nossos funcionários com crachá identificativo, com o nome de cada um, a começar pelo cônsul-geral”, acrescenta.
Para o ainda secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, “Vítor Sereno fez aqui um trabalho muito importante, muito interessante de aproximação do consulado aos diversos sectores da comunidade”, mas é preciso mais. “Não está em causa só o número de funcionários, está em causa a própria organização do posto”.

29 Set 2015

Legislativas | “Nós, Cidadãos!” admite impugnar eleições pelo círculo Fora da Europa

Os erros nos boletins de voto levaram o partido por que José Pereira Coutinho se candidata às legislativas portuguesas a fazer queixa à Comissão Nacional de Eleições. O “Nós, Cidadãos!” diz que a situação compromete objectivamente, “e de forma ilegal”, a participação dos eleitores

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]líder do partido “Nós, Cidadãos!”, Mendo Castro Henriques, admitiu a impugnação da eleição pelo círculo Fora da Europa, caso venham a confirmar-se “irregularidades” nas votações dos emigrantes para as eleições legislativas. O partido apresentou ainda, na quinta-feira, uma queixa à Comissão Nacional de Eleições motivada pelas falhas “gravíssimas” que têm marcado a votação.
“Queremos acreditar que haja falta de meios, não queremos dar uma interpretação pior, mas é inaceitável”, disse Mendo Castro Henriques, acrescentando que o partido admite a impugnação da eleição do deputado pelo círculo Fora da Europa, em caso de “irregularidades”.
Em conferência de imprensa à porta do Banco de Portugal, em Lisboa, o também cabeça de lista do partido por Lisboa adiantou que a impugnação da eleição por Fora da Europa será tomada depois das eleições legislativas de 4 de Outubro, tendo em conta que, neste momento, quer “acreditar que [as dificuldades sentidas com a votação no exterior] é uma disfunção do sistema”.
Realçando ser possível a eleição do candidato do “Nós, Cidadãos!” pelo círculo Fora da Europa, José Pereira Coutinho, o dirigente do partido considerou “escandaloso” o que se está a passar com a votação dos emigrantes. eleições legislativas voto
“Esperemos que venha a ser revertida a situação que se está a passar, são vários os problemas. Em primeiro lugar, o atraso no envio dos boletins, depois as cartas de endereço não vêm sequer com a palavra Portugal e, em terceiro lugar, há moradas erradas, isto é, pessoas com cartas extraviadas”, afirmou. Para o partido, “a situação compromete objectivamente, e de forma ilegal a participação dos eleitores recenseados nestes círculos”.
Já José Pereira Coutinho tinha referido ao HM acreditar que os erros “não foram inocentes”.

Macau às pingas

O partido apresentou uma queixa à Comissão Nacional de Eleições relativa às “irregularidades gravíssimas”, depois de, nas redes sociais, vários cidadãos eleitores portugueses residentes em Macau terem revelado que os boletins de voto ainda não chegaram, uma situação que pode também derivar de algum erro nas moradas.
Na quarta-feira, os Serviços de Correios de Macau informaram que os eleitores portugueses residentes no território deveriam enviar até sábado os boletins de voto das legislativas para Lisboa, devido aos feriados que serão celebrados na cidade na próxima semana.
Na sexta-feira, a agência Lusa noticiou que os boletins para os emigrantes recenseados em Timor-Leste já tinham sido enviados há mais de uma semana, mas ainda não tinham chegado a Díli, sendo difícil garantir que, depois de preenchidos, possam chegar a Portugal a tempo.

29 Set 2015

Tiago Pereira, secretário-coordenador do PS em Macau: “Não queremos promover a emigração”

O engenheiro Tiago Pereira foi nomeado secretário-coordenador da secção do Partido Socialista em Macau em Janeiro deste ano. Ao HM, diz concordar com António Costa no regresso dos emigrantes para Portugal que, diz, são dos mais qualificados da História

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]omeço por lhe pedir um balanço dos trabalhos desde Janeiro, mês em que assumiu a pasta de secretário-coordenador da secção do PS em Macau.
Desde Janeiro, o que procurámos fazer – e que acho que, em certa medida, temos estado a conseguir – foi aumentar e dinamizar a secção. Isto é algo que não foi levado a cabo exclusivamente pelo novo Secretariado da secção, mas sim já planeado anteriormente e sido feito com todos os simpatizantes e militantes. Criámos um blogue, um grupo no Facebook e fazemos, como sempre, jantares e tertúlias onde se juntam todos e que conta com a participação de 25 a 30 pessoas. Sempre que possível temos convidados também. Julgo que temos andado a conseguir atrair a atenção e o interesse das pessoas, que é o principal objectivo, o de dar a conhecer e discutir política portuguesa em Portugal e em Macau.

Que planos estão agendados para o futuro do PS de Macau, pós-Legislativas?
Esta dinamização não tem sido feita a pensar nas eleições. Queremos continuar a sensibilizar o partido em Portugal e que em princípio tem interesse nos problemas fora de Portugal. Neste caso, nos de Macau, mas também de outras regiões da Ásia. Estamos muito longe de Portugal, mas existe a convicção do PS que tem que ser dada outra atenção às comunidades portugueses residentes no estrangeiro. É preciso dinamizar a política de internacionalização do país e isso ao nível da economia, do desenvolvimento e da promoção e divulgação da marca Portugal.

Isso de um ponto de vista global, incluindo Portugal…
O programa do PS tem várias coisas relacionadas com isto e falámos precisamente da RTP Internacional, que está no programa. É preciso fazer uma reprogramação completa do canal.

Que é uma coisa que tem vindo a ser discutida há vários anos.
É urgente, porque a RTP Internacional não está a cumprir, nem de perto, o propósito que tem de, fundamentalmente, prestar serviço às comunidades portuguesas no estrangeiro e promover a marcar de Portugal.

Diria que representa muito mal o país?
Sim. Claramente, precisa de ser repensada.

Estes são os principais objectivos do PS?
Não exactamente. No PS de Macau temos vindo a desenvolver contactos com associações e instituições de matriz portuguesa e aproveitámos a vinda da nossa cabeça de lista para fazer avançar estes contactos e promover a mensagem que o PS quer fazer passar a essas associações. Queremos ouvir as comunidades portuguesas no estrangeiro e perceber, da parte delas, o que é que gostariam de ver no Governo português e, ao mesmo tempo, a política que o PS quer implementar no próximo Governo. A secção de Macau quer reunir toda a informação possível e trabalhar com os pontos de ligação em Portugal a quem queremos passar a mensagem. Queremos ainda atrair a participação local dos portugueses em Macau. É este o objectivo, dentro das limitações que temos por sermos uma comunidade estrangeira e termos que respeitar a legislação e Governo locais, que consideramos decisivo. Ainda para mais sabermos o problema que temos da abstenção. Nas últimas eleições foi elevadíssima. Se pensarmos nos jovens que emigraram, teremos o dobro de abstenções nestas eleições. Isso é um problema muito grande, porque tem origem em vários outros.

Como por exemplo?
Por um lado, podemos falar da descredibilização dos partidos e, por outro, da banalização de ideias comuns, que não são exactamente verdade. Há, por exemplo, aquela ideia muitas vezes promovida de que não vale a pena uma pessoa pensar muito nisso, porque é tudo igual. Tiago Pereira_PS_GLP_06

Como é que seria possível dar a volta a essa situação?
Estamos em campanha e isto vai soar a isso mesmo, mas a verdade é que é procurando não fazer promessas sem saber se as conseguimos efectivamente cumprir. Ainda há pouco tempo criticavam António Costa por não fazer promessas e ele disse “eu não gosto de fazer promessas. Pode-se olhar para a Câmara de Lisboa, porque prefiro fazer mais do que aquilo que prometo”. A verdade é que a própria evolução das eleições assim o demonstrou: começou com 29%, depois cerca de 40% e, finalmente, nas últimas eleições, teve maioria absoluta. Ganhou esse capital junto da população reconhecendo esta postura. Por outro lado, o programa eleitoral do PS é dito normal. Lista as propostas do partido, mas depois tem o tal aspecto inovador através do complemento de um estudo do impacto financeiro das propostas que são feitas. Isto provocou a situação caricata da campanha a que estamos a assistir.

Que situação?
Depois do primeiro debate televisivo, a campanha está centrada no programa do PS. É o único programa que está devidamente estruturado. É preciso procurar ganhar credibilidade, mas mostrando seriedade na forma como se faz política. Este é um trabalho lento e passa muito pela promoção da participação das pessoas. É essa tendência negativa que queremos contrariar.

Como é que vê Alzira Silva como cabeça de lista do círculo Fora da Europa do PS?
É um enorme prazer trabalhar com a professora Alzira, que conheci pessoalmente há um mês. O círculo Fora da Europa é, obviamente, muito vasto. Estamos a falar de uma política para as comunidades que vão desde o Canadá, passando por Angola e Macau e ter uma cabeça de lista que tenha experiência com comunidades de vários pontos do mundo é uma mais-valia. É uma pessoa com muitos anos de experiência nesta área.

Ponderou a hipótese de ser cabeça de lista deste círculo?
Não e nem ambicionava fazer parte da lista de candidatos. Fui eleito e isso faz com que seja uma honra ainda maior.

Quais foram as principais preocupações que lhe foram transmitidas por cidadãos portugueses residentes em Macau?
Esta questão é fácil, porque também sou um. Não há nada que nós, enquanto partido, possamos fazer alguma coisa em relação ao custo de vida e aos preços do imobiliário. Depois é a ligação com Portugal. Muitos novos residentes portugueses em Macau vieram para cá há pouco tempo e pensam qualquer dia voltar, portanto a preocupação com a política não existe. Vivendo em Macau, há um desejo de atraírem a atenção de Portugal, ao nível da instituições respectivas como é o caso do Consulado, mas também de visitas de membros do Governo a Macau. Há algum desejo de ter uma atenção especial porque estamos longe e Macau é uma cidade muito importante para Portugal, tanto cultural como comercial e diplomaticamente. Não queremos ver situações como a que aconteceu no ano passado, com a vinda de Paulo Portas a Macau. Foi um caso extremo, de enorme desrespeito pelas autoridades de Macau.

Uma das principais preocupações da comunidade está relacionada com o excesso de tempo de espera na emissão de documentos oficiais, que por sua vez tem que ver com a falta de recursos humanos. O PS tem alguma medida em mente para resolver esta situação?
O PS tem um plano geral para a maioria dos serviços consulares e a utilização de plataformas informáticas para melhorar a eficiência dos serviços. Depois há a questão dos próprios funcionários consulares, o que constitui um grande problema.

Esta situação acontece só em Macau ou noutros consulados?
Não será só aqui, mas duvido que haja um caso tão extremo como o de Macau, dada a receita que o Consulado de Macau gera. Já para não falar nos investimentos brutais que passam por Macau. Isto, contraposto com a subida do nível de vida e com os cortes orçamentais feitos ao Consulado, sem qualquer critério. As coisas não podem ser feitas assim. O PS pretende corrigir situações como a de Macau.

Diria então que se trata de um problema do Governo português e não de má gestão do Consulado…
Isto é público, até porque toda a gente conhece os cortes orçamentais que foram feitos. O Cônsul-geral já várias vezes veio falar sobre isso.

[quote_box_left]“O PS recusa-se terminantemente a aceitar, como este Governo claramente aceita, taxas de desemprego na ordem dos dois dígitos. Não nos conformamos com esta situação, de todo. Isto é o que põe em causa o actual sistema de segurança social”[/quote_box_left]

António Costa tem vindo a defender o regresso dos emigrantes portugueses a viver no estrangeiro. Qual é a sua perspectiva sobre esta vontade do candidato?
Apoio esta medida. Por um lado, muitos destes emigrantes são jovens altamente qualificados. Há uma questão básica: não queremos promover a emigração, como este Governo fez. Por outro lado, a saída destas pessoas fez com que perdêssemos uma grande massa de trabalhadores. Em Portugal, temos um problema de fundo na nossa economia. Ao contrário do que este Governo pretende dizer – aliás, não diz porque não toca no assunto –, passámos quatro anos a ouvir falar de reformas estruturais nenhum delas foi realmente feita.

Que reformas estruturais?
Um dos problemas chave da economia portuguesa e que depois está ligado a várias outras coisas, é que é muito baseada na procura interna. Mudar o paradigma da economia do país passa pelo desenvolvimento de mais-valias e por uma mudança sectorial da nossa indústria e nos nossos serviços. Isto implica investimentos na área do desenvolvimento e da investigação no ensino, o que por sua vez exige jovens altamente qualificados. Temos a geração melhor qualificada da história portuguesa e desenvolver o país passa por isso, por empregar estes jovens nesta reforma estrutural da qual precisamos. A forma de ultrapassar a crise e implementar estas reformas passa precisamente por isso: por tomar partido das infra-estruturas que Portugal hoje em dia tem, por tomar partido do capital humano do país e apostas decisivas nestes sectores podem representar mais-valias para a nossa indústria. O regresso dos emigrantes faz parte desta necessidade de reestruturação.

E que consequências teve a saída das pessoas para fora?
Esta saída massiva de pessoas contribuiu para criar este problema sério que temos com a sustentabilidade de segurança social. O PS recusa-se terminantemente a aceitar, como este Governo claramente aceita, taxas de desemprego na ordem dos dois dígitos. Não nos conformamos com esta situação, de todo. Isto é o que põe em causa o actual sistema de segurança social.

Acha que a coligação “Portugal À Frente” não está disposta a alterar esta tendência?
É isso mesmo que o programa da coligação mostra. Em vez de combater esta questão, de querer combater a baixa natalidade… É que problema da segurança social põe-se a médio-prazo, não é agora. Em projecções futuras do desemprego do FMI, o desemprego só volta às taxas de 2008, em 2035… Nós não aceitamos isto e temos que mudar o cenário. Se mantivermos as políticas como estão, o actual será o futuro cenário de Portugal. O programa da coligação assume estes cenários e a resposta que encontra é fazer cortes, como o de 600 milhões (de euros), que o PS já assumiu que não vai cumprir.

Qual é a natureza das propostas do PS?
As propostas do PS são progressivas e que favoreçam a mudança do paradigma económico português, que aposta no emprego e na mudança sectorial da nossa economia.

A integração de José Pereira Coutinho no partido “Nós, Cidadãos!” vem colocar Macau no mapa político de Portugal?
O PS Macau já disse o que tinha a dizer sobre isto. Quando Pereira Coutinho anunciou a sua intenção de se candidatar, imediatamente emitimos um comunicado em que referimos várias coisas que nos fizeram tomar uma posição. Não queremos discutir porque este assunto ultrapassa a questão das eleições. A candidatura de Pereira Coutinho não é acompanhada por qualquer projecto político. O debate político não entra nesta questão e isto pode ganhar outros contornos, pelo que é algo que não julgo que deva ser discutido neste contexto. É algo que tem sido discutido na comunicação social em Portugal, mas não é posto em termos políticos.

Há muita gente que acusa os partidos políticos portugueses de só se preocuparem com Macau de quatro em quatro anos. Como comenta esta questão?
Em relação ao PS, acho que essa questão nunca se pôs, porque estamos aqui em Macau, desenvolvendo a actividade cá como sempre fizemos. Simplesmente estamos agora em período de eleições e temos Alzira Silva de visita ao território.

Macau nunca foi um local com grande expressão eleitoral, com a Venezuela ou o Canadá a reunirem muito mais votantes. Isto poderá mudar, com o aumento do número de recenseados?
Possivelmente sim. À partida, isto fará com que mais gente vá votar.

28 Set 2015

Legislativas | José Cesário lamenta erro nos boletins de voto

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]cabeça de lista da coligação “Portugal à Frente” pelo círculo Fora da Europa, José Cesário, chegou ontem a Macau, onde ficará até dia 26 de Setembro. Cesário lamenta a omissão do país de destino nos envelopes de voto para as eleições legislativas portuguesas, mas considera que esta situação “não leva a que [os boletins] não cheguem a tempo”.
“Há outros [problemas] que sempre se verificaram no passado. Sabemos que há países, como é o caso da Venezuela, por exemplo, fruto do mau funcionamento dos correios, de onde provavelmente não virá um voto. Se vierem, serão muito poucos. Também sabemos que em África há problemas sérios. Até há data de hoje há eleitores que ainda não receberam o voto. Esse é um factor que já conhecido. Este factor da não colocação do país no endereço do postal não nos parece que venha a limitar a chegada de qualquer voto a Portugal”, afirmou o candidato às legislativas de 4 de Outubro à rádio Macau.
Em campanha eleitoral, o candidato às legislativas portuguesas visitou ontem o Consulado Geral de Portugal em Macau, passando ainda pela Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), Casa de Portugal, Instituto Internacional de Macau. Houve ainda tempo para uma arruada na Taipa velha, terminando o primeiro dia com a visita à Feira da Gastronomia na Doca dos Pescadores.
Hoje, o tempo é de visita ao Instituto de Estudos Europeus de Macau, assinalando os 40 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a União Europeia. O almoço será com os órgãos sociais da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM). Durante a tarde, José Cesário marcará presença na Santa Casa da Misericórdia, passando pela casa na Sé Catedral, Associação dos Macaenses e nova arruada pelo Largo do Senado e centro de Macau. A noite termina com um jantar de apoio à coligação no Portus Cale, no jockey Club.
Como tem sido hábito nas suas visitas, José Cesário, também Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, aproveitará o último dia para visitar a comunidade portuguesa em Hong Kong.

28 Set 2015

AL | Saída de Coutinho levará a novas eleições. Associações abertas a candidaturas

No caso de Pereira Coutinho ser eleito para a Assembleia da República, poderão ter de existir novas eleições para o hemiciclo de Macau. Com um lugar vago para preencher, associações não fecham a porta à nova oportunidade

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]saída de José Pereira Coutinho, deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM), da Assembleia Legislativa (AL) poderá implicar eleições suplementares, apurou o HM. A hipótese de associações de deputados já eleitos concorrerem ao novo lugar não está posta de parte, mas também as de associações que não conseguiram um lugar na primeira ronda.
À frente de Pereira Coutinho estão dois caminhos: a não eleição para a Assembleia da República (AR) e a continuidade das suas funções como deputado ou a eleição para a AR e o abandono, como manda a lei, do seu lugar na AL de Macau.

Oportunidades à vista

Em caso de vitória do candidato independente do partido “Nós, Cidadãos!”, o HM quis saber quem anseia o lugar de Pereira Coutinho. Questionado sobre a possibilidade da Associação Novo Macau avançar com uma candidatura, Jason Chao, vice-presidente, não nega.
“Teremos que analisar, neste momento ainda não sabemos, até porque não sabíamos que era uma possibilidade. Mas claro, se avançarem com eleições para a Assembleia teremos de avaliar essa possibilidade”, afirmou, sem dar garantias, mas garantindo que “há uma possibilidade”.
A deputada Kwan Tsui Hang, eleita pela União para o Desenvolvimento, afirma que o melhor é esperar que Pereira Coutinho seja eleito no próximo dia 4 de Outubro e só depois tomar uma decisão. Mas também não nega.
“É uma hipótese, se formos a eleições a equipa irá considerar vários factores”, indicou.
A número dois de Chan Meng Kam, Song Pek Kei, indicou que para já não existe uma decisão da equipa mas “não está excluída esta hipótese [de candidatura]”. O mais sensato será, diz, esperar que o deputado Pereira Coutinho vá para Portugal e depois avançar com a candidatura.
“Não está excluída a hipótese de escolhermos uma nova pessoa para o lugar vago”, diz. Na hipótese de eleição de um quarto membro da lista liderada por Chan Meng Kam, a Associação dos Cidadãos Unidos de Macau seria o grupo com maior número de representantes na AL.
Em 2013, Chan Meng Kam surpreendeu com a eleição de três deputados, algo nunca antes verificado. O empresário angariou mais de 26 mil votos. Também nas eleições desse ano nove deputados entre uma minoria de 14 foram reeleitos através de sufrágio directo, incluindo Pereira Coutinho, que conseguiu a eleição inédita de mais um candidato da sua lista.
As candidaturas pró-democratas e dos operários foram as grandes derrotadas ao perderem um deputado cada uma, sendo que, no primeiro caso, Ng Kuok Cheong e Au Kam San foram reeleitos e, no segundo, apenas Kwan Tsui Hang garantiu um lugar por mais quatro anos na Assembleia Legislativa.
O sufrágio directo contou com uma taxa de afluência de 55,02%, a mais baixa desde a transferência de soberania portuguesa do território para a China.

Ponto nos is

É ainda preciso esclarecer a grande dúvida: haverá ou não eleições? Segundo o artigo 19º do Estatuto para os deputados da AL, relativamente à perda do mandato, e o artigo 81º da Lei Básica, o deputado em causa perde o seu direito se for declarada incompatibilidade de cargo prevista nesta mesma lei. O que se verifica, porque – segundo a lei de Macau – os deputados não podem acumular cargos noutro países, logo Pereira Coutinho terá de abdicar de um deles.
Indo mais longe, dando-se o caso de incompatibilidade de cargo, o deputado em causa é condenado a uma “pena”, segundo o artigo 20 do mesmo regulamento, prevista no artigo 307º do Código Penal, que indica que “sem prejuízo de regimes especiais previstos na lei (…) pode ser incapacitado para eleger membros do órgão legislativo ou para ser eleito como tal, por período de dois a 10 anos”.
Definida a incompatibilidade de cargo do deputado, o mesmo Estatuto dos deputados para a AL explica que “procede-se a eleição suplementar ou a nova nomeação, conforme o caso”. Nesta situação será eleição pelo facto de Pereira Coutinho ser deputado eleito.
Assim, o Governo tem 180 dias para avançar com novas eleições para ocupar o lugar deixado em aberto, sendo estas denominadas de eleições suplementares.

28 Set 2015

Nam Van | Ng Kuok Cheong questiona o que vai acontecer nas zonas dos lagos

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]uma interpelação escrita, Ng Kuok Cheong citou informações da Direcção dos Serviços de Cartografia e Cadastro para acusar o Governo de nada fazer com 14 dos lotes das zonas C e D dos Lagos Nam Van. As duas zonas estão divididas em mais de 20 lotes, três dos quais albergam o edifício da Assembleia Legislativa (AL), o edifício dos Tribunais de Segunda e Última Instância e a Torre de Macau. Quatro deles não foram concedidos e outros 14 lotes, cujos direitos de concessão já foram cedidos a vários empresários em 2001, não têm qualquer movimento. O prazo disponível para o desenvolvimento de projectos nestes lotes acabou em 2005 e Ng Kuok Cheong critica o facto de nada se saber sobre eles. ng kuok cheong
“Suspeita-se que estes grandes lotes desocupados desapareceram da lista dos 48 terrenos que não foram aproveitados por culpa dos concessionários para declarar a caducidade, pelo que devem ser recuperados pelo Governo”, determinou o deputado.
O pró-democrata lamenta ainda que não haja sequer um metro quadrado dos terrenos com construção, sejam um estabelecimento comercial, hotel, parque de estacionamento ou habitação. Ng acrescenta que ali poderiam ser construídos vários destes projectos nos 300 mil quadrados disponíveis. Assim, questiona o Governo e pede um estudo oficial acerca da situação destes 14 lotes. Além disso, o deputado lembra que o Governo revogou os Regulamentos dos Planos de Pormenor do Plano de Reordenamento da Baía da Praia Grande e alterou o limite da altura da construção de 50 para 150 metros. Posto isto, quer saber se o Governo continua empenhado na protecção da paisagem de forma a diminuir, novamente, o limite de altura. Deste modo, explicou o deputado, eliminam-se algumas suspeitas de conluio entre o Governo e os grandes empresários locais.

28 Set 2015

Mtel | Falta da interligação com CTM afecta serviços

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]companhia de telecomunicações Mtel voltou a frisar que existe dificuldades de ligação à internet, algo que tem também afectado os serviços públicos. Tudo porque, como já tinha sido avançado pelo HM, apesar dos Serviços de Regulamentação de Telecomunicações (DSRT) terem dito que não existe qualquer problema na ligação, a Mtel confirmou que não há qualquer interligação com a CTM, já que a empresa não respondeu ao pedido da ligação. A empresa diz ainda que está à espera da coordenação do Governo, desmentindo mesmo o director da DSRT.
O chefe do gabinete do director executivo da companhia de telecomunicações Mtel, Leong Cheok Teng, convocou ontem uma conferência de imprensa onde explicou que vários sites dos serviços públicos, tais como o Portal do Governo da RAEM e o da Direcção dos Serviços para Assuntos de Tráfego, que utilizam a rede fornecida pela CTM à Mtel, estão a queixar-se de net muito lenta.
“Esperamos que a DSRT coordene o mais rápido possível os trabalhos da interligação entre as duas empresas. Caso rejeitar ser apenas intermediário, não podemos fazer nada face a este problema”, disse o responsável.

28 Set 2015

Hotel Estoril | Alexis Tam frisa que reaproveitamento corre dentro dos conformes

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]processo de reaproveitamento do Hotel Estoril tem sido transparente desde o início, defende o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, ao canal chinês da Rádio Macau. As declarações tiveram origem num telefonema que o próprio líder fez para o programa Macau Talk, onde afirmou que todo as alternativas foram debatidas publicamente e contaram com a participação da população. Alexis Tam lembrou ainda que o caso foi bastante discutido na comunicação social local e lamentou que alguns internautas o tenham atacado sobre o processo de reaproveitamento daquele edifício. hotel estoril
De acordo com os dados do Secretário, 120 dos inquiridos durante a consulta pública quer dar início ao processo de avaliação para que este possa ser classificado enquanto património. Foi nesta nota que voltou a frisar a necessidade de ouvir as opiniões da população, insistindo na ideia de que será feita a vontade da sociedade, independentemente desta ser o reaproveitamento. O Governo irá, sublinhou, fazer tudo para preservar a obra arquitectónica.
O activista Sou Ka Hou enviou a Alexis Tam uma carta, no sentido de chamar a atenção do Secretário para a consideração de que a posição do Governo sempre esteve tomada, mesmo antes da população ser ouvida. Para fundamentar a sua acusação, Sou Ka Hou perguntou ao Secretário porque revelou a sua opinião sobre o destino do antigo hotel antes da auscultação encerrar.

28 Set 2015

SS | Distribuídos 24,5 milhões. Mais de 30 grávidas com rastreios gratuitos

Os SS gastaram, no segundo trimestre deste ano, mais de 20 milhões de patacas na atribuição de subsídios a associações locais no âmbito da saúde. Entre esta despesa, estão 27,5 mil patacas destinadas à realização de exames de diagnóstico do Síndrome de Down para grávidas residentes, que não conseguiram ser feitos no público

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) distribuíram 24,5 milhões de patacas por várias associações locais no âmbito da saúde. A lista de subsídios atribuídos foi publicada em Boletim Oficial esta quarta-feira e mostra que ao Hospital Kiang Wu foram atribuídas 275 mil patacas na forma de apoio financeiro para a prestação do serviço de análise laboratorial do cancro cervical em mulheres.
Só a Federação das Associações de Operários de Macau (FAOM) teve direito a 11,31 milhões de patacas em subsídios para apoio financeiro à Clínica dos Operários. A Associação de Beneficência Tung Sin Tong voltou a arrecadar uma soma elevada de 5,8 milhões de patacas para consultas infantis e de estomatologia. Também a Associação de Estudantes do Instituto de Enfermagem Kiang Wu de Macau teve direito a 11,9 mil patacas para as suas actividades. Este ano, os cuidados de saúde relacionados com a SIDA tiveram uma grande ajuda do Governo, tendo este despendido um montante total de 669,2 mil patacas para um “projecto educativo sobre a SIDA”, que teve lugar em 2014. A Cruz Vermelha conseguiu cerca de um milhão para o transporte de doentes, com a Associação Nova Juventude Chinesa de Macau a arrecadar montante semelhante.

Gravidez assegurada

Outro dos abonos com significativa expressão foi aquele atribuído às clínicas e hospitais de associações privadas destinado a financiar o rastreio do Síndrome de Down em mulheres grávidas. O Executivo gastou um total de 27,5 mil patacas nos actividades de rastreio a 31 mulheres. Este plano foi anunciado em Janeiro deste ano pelos SS, notícia que surgiu depois de várias pré-mamãs se terem queixado da inexistência deste teste gratuito. De acordo com o manual de cuidados das grávidas do organismo estatal, está em causa a oferta de um exame entre as 10 e as 14 semanas de gestação. Estes exames foram complementados com um teste ao sangue entre as 15 e as 20 semanas, tudo no sentido de perceber se o feto sofre alguma deficiência.
“Ambos os exames têm uma taxa de fiabilidade de 70% para o diagnóstico do Síndrome de Down e quando feitos conjuntamente, podem aumentar esta percentagem até aos 86%”, disse o director do Hospital Conde S. Januário, Chan Wai Sin, à data da implementação desta medida. “Ambos serão fornecidos a mulheres grávidas até aos 35 anos e, para mães mais velhas, lançámos um serviço de teste de ADN como alternativa, uma vez que tem uma taxa de fiabilidade ainda maior”, destacou.

28 Set 2015

Tabaco | Proibição total só afecta receitas de Jogo em 5%, dizem SS

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) defenderam que a implementação da proibição total de fumar nos casinos influencia negativamente as receitas do Jogo em apenas 4,6%. A medida pode ainda atrair a massa de clientela não fumadora e melhorar o número de turistas, frisam.
Numa resposta a uma interpelação escrita de Si Ka Lon, onde o deputado pediu que o Governo fornecesse números e uma justificação sobre como é que a proibição de fumo nos casinos não prejudica as receitas do Jogo, o director dos SS, Lei Chin Ion, citou dados de uma avaliação preliminar da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), que sublinha que cerca de 23% do número total de visitantes são fumadores, sendo que 30 a 50% destes fumam enquanto apostam. O mesmo relatório determina que o consumo dos jogadores fumadores é o dobro do dos não fumadores. A avaliação estima que quando 20% dos jogadores fumadores não jogam em Macau, o impacto nas receitas fica-se entre os 2,76% e os 4,6%. tabaco fumo
Lei Chin Ion  avança que, num inquérito feito a turistas sobre as medidas de controlo de tabaco nos casinos, realizado pelos SS em Dezembro do ano passado, apenas 13,6% dos turistas fumadores deixaram de ir a casinos da região devido à proibição imposta. O director considera que a implementação da medida pode vir a diminuir a vontade dos jogadores fumadores cá virem, mas poderá ajudar a atrair mais clientes não fumadores, melhorando a proporção no número de visitantes. O mesmo responsável espera realizar a meta final da proibição total de tabaco para concretizar uma cidade saudável sem fumo.
 

28 Set 2015

Sun Yat-sen | Relíquias em cinco museus de três regiões

A filha de Sun Yat-sen, a sua vivência enquanto casada e a ligação ao pai dão o mote para uma exposição que chega a Macau vinda de outras regiões

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Museu de Macau vai receber a exposição “Casal Notável – Artefactos de Sun Wan, segunda filha de Sun Yat-sen e do seu marido Tai Ensai”, mostra co-organizada pelo Instituto Cultural, pelo Leisure and Cultural Services Department do Governo de Hong Kong, pelo Museu de Shenzhen, pelo Museu da História Revolucionária de Guangdong e pelo Museu Memorial da Mansão do Generalíssimo Sun Yat-sen, e concebida pelo Museu de Sun Yat-sen de Hong Kong e pelo Museu de Macau.
Com inauguração marcada para hoje, no Museu de Macau, a mostra centra-se em Sun Wan, segunda filha do Presidente Provisório da República da China e revolucionário chinês Sun Yat-sen, e do seu marido Tai Ensai, revelando aspectos da sua vida enquanto casal e de Sun Yat-sen, bem como os esforços de Lu Muzhen para criar a filha Sun Wan.
Sun Wan partiu na infância para o exterior para viver com a mãe, conhecendo o seu pai, o famoso revolucionário chinês, apenas com cinco anos já durante a revolução, indo posteriormente estudar para os Estados Unidos e estabelecendo-se em Macau após o seu casamento com Tai Ensai. Ensai também estudou nos Estados Unidos, regressando ao país para um posto governamental e mantendo, durante esse período, relações próximas com Sun Yat-sen. Após a morte de Tai Ensai e de Sun Wan, os seus pertences foram recolhidos por museus de Guangdong, Hong Kong e Macau. 01-081
A exposição mostra as relíquias do espólio de cinco museus de Guangdong, Hong Kong e Macau, entre as quais uma máquina fotográfica Kodak de Tai Ensai e um Dicionário Mundial Conciso Inglês-Chinês frequentemente utilizado por Sun Wan.
Patente até 10 de Janeiro de 2016, as exposições irão permitir aos visitantes ficarem a conhecer mais a fundo a vida de Sun Yat-sen e da sua família. A exposição é um projecto que nasceu da cooperação de museus de Guangdong, Hong Kong e Macau, estando anteriormente patente em Shenzhen, Cantão e Hong Kong e chegando este mês ao Museu de Macau. A fim de manter atractividade e interesse para o público, o conteúdo das exposições divergiu entre os quatro locais de modo a incorporar as especificidades de cada museu e os respectivos espólios.

Ouvir para perceber

Para além da exposição, o Museu de Macau organiza ainda duas palestras temáticas: “Valores de Família do Dr. Sun Yat-sen – tendo como centro Sun Yat-sen, Lu Muzhen e os seus filhos” e “As Tristezas e Alegrias da Vida de Sun Wan, filha do Dr. Sun Yat-sen”, nos dias 10 de Outubro e 14 de Novembro, respectivamente, das 15h00 às 17h00, no auditório do Museu de Macau. Ambas são conduzidas em Mandarim e contarão com Cai Huiyao, vice-director do Museu de Shenzhen, e Sun Xiao, Investigador e Curador-chefe fundador de Museu Histórico Rua de Zhong-Ying, como oradoers. Os lugares são limitados, devendo os interessados marcar a sua reserva.

Workshops em dias diferentes

A organização realiza ainda, nos dias 25 de Outubro, 22 de Novembro e 13 de Dezembro, entre as 14h00 e as 15h00 horas e entre as 15h30 e as 16h30 horas, duas sessões diárias de um workshop para famílias, intitulado “Tigela Cheia de Amor”, no qual as crianças usam os artigos em exposição como protótipos para a criação de uma “tigela” para a sua família de forma a enriquecer a sua experiência de visita.

28 Set 2015

Notícia da explosão antes dela ocorrer

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o início de Outubro de 1850, o Tenente Luís Maria Bordalo em Macau acabava de receber uma carta do irmão, escrita em Lisboa entre finais de Agosto e princípios de Setembro. Francisco Maria Bordalo mostrava-se preocupado pois na capital corria o rumor sobre uma explosão na fragata D. Maria II estacionada em Macau. Perguntava-lhe pela saúde, como desejo de resposta ao acontecimento que escutara. Estranha história a que leu sobre tais rumores e logo na fragata D. Maria II em que andava embarcado.
Os territórios portugueses do ultramar eram desde há muito cobiçados por holandeses, ingleses e franceses e como elemento dissuasor, em meados do século XIX foram “estabelecidas as estações navais, isto é, agrupamentos de um ou mais navios cujas missões eram coordenadas pelo comandante do navio mais antigo e que permaneciam na área durante um período prolongado”, como explica Rodrigues da Costa. Já Luís Gonzaga Gomes referia que a 10 de Setembro de 1850, a estação naval compunha-se da fragata D. Maria II e das corvetas à vela Iris e D. João I, tendo os três navios 559 praças de guarnição.
Esta imponente fragata, construída por volta de 1810 em madeira teca, fora comprada à Inglaterra em 1831 pelo Rei D. Pedro IV. Tinha então o nome de Ásia, sendo também na mesma altura adquirido o navio Congress. Mudaram ambos o nome, ficando a fragata a chamar-se D. Maria II, nome da filha de D. Pedro e que seria coroada a 15 de Setembro de 1834, passando o Congress a ter o nome de Rainha de Portugal.
Estes dois navios eram os principais da esquadra liberal e a fragata D. Maria II estivera nos momentos decisivos da restauração do regime liberal, em 1832. Primeiro, na Ilha Terceira nos Açores, depois no desembarque das tropas liberais de D. Pedro na Praia do Mindelo para irem ocupar a cidade do Porto e por fim, nos bloqueios do Tejo. Após terminada esta guerra entre D. Pedro e D. Miguel, ambos filhos de D. João VI e com a nova Constituição Setembrista de 1838, que representou a primeira tentativa de reconciliação entre as duas posições constitucionais antagónicas (a democrática de 1822 e a realista de 1826), a fragata fez três viagens até à Índia. Entre 1846 e 1847 participara nos combates contra a Junta Revolucionária de tendência miguelista.
Voltou a fragata à Índia em 1849 sendo então comandada pelo Capitão-tenente Francisco de Assis e Silva. Estando em Goa, foi requisitada para Macau onde a 22 de Agosto de 1849 o Governador Ferreira do Amaral tinha sido assassinado. Aqui chegada a 3 de Junho de 1850, a fragata D. Maria II com os seus quarenta e dois canhões integrou a Estação Naval de Macau, conjuntamente com as corvetas à vela Iris e D. João I.

Explosão na Fragata

Francisco Maria Bordalo, no seu livro ‘Um passeio de sete mil léguas’ descreve que: “Em mais de metade do seu curso ia o dia 29 de Outubro de 1850. Um formoso sol alumiava a enseada da Taipa, onde se baloiçavam dois vasos de guerra, vistosamente adornados de flâmulas e galhardetes, trajando suas melhores galas, e saudando com o ribombo do canhão o aniversário de um rei filósofo e artista. Acabavam de soar duas horas e meia nos sinos das embarcações, quando uma delas se ergueu com todo o seu peso sobre o dorso das águas, despedaçou-se com um estampido medonho, e de entre colunas de fumo e fogo arrojou para longe de si madeiros, canhões, ferragem e cordoalha…”
Ocorreu essa violenta explosão na fragata portuguesa D. Maria II, fundeada na Taipa, em frente de Macau, onde se encontrava ancorada no dia do aniversário do Rei D. Fernando (segundo marido da Rainha D. Maria II), quando estava em vésperas de largar para a Índia. Explosão Fragata D Maria II
“Da corveta americana Marion, que ali se encontrava também ancorada, correndo grande risco, acudiram com destemida coragem os seus oficiais e marinheiros, porém, apenas puderam recolher os restos mortais de algumas das vítimas” Luís Gonzaga Gomes. A corveta Marion escapou com muita sorte ao iminente perigo pois, estava fundeada a pouca distância da fragata e viu passar a artilharia desta entre os seus mastros, ficando apenas com cabos cortados e um ferido. Os marinheiros da corveta, ainda havia pequenas explosões e já arriscando as suas vidas, prestavam socorro, conseguindo retirar dez homens do que restava da fragata, encontrando-se todos muito feridos.
Carlos José Caldeira, no seu livro ‘Apontamentos de uma Viagem de Lisboa à China e da China a Lisboa’, refere encontrar-se no palácio episcopal quando escutou um grande estrondo e detonação que abalou a cidade quebrando vidraças, “indo às janelas que deitavam para a Taipa, vi uma espessa e negra nuvem de fumo na direcção em que estava a fragata, e quando foi correndo vagarosamente com o vento, apareceu apenas uma parte da popa do navio, que daí a pouco começou a arder. Corri à Praia Grande e encontrei o ajudante do governador Leite a embarcar numa lorcha para o lugar do desastre; acompanhei-o, e presenciámos ainda no caminho duas explosões parciais. Fomos os primeiros que de Macau chegámos a bordo da Marion, e vi o mais doloroso espectáculo que jamais presenciei. Os corpos de dez homens desfigurados, e com os membros quase todos despedaçados, jaziam no convés banhado de sangue, dando os mais lamentosos gritos; era uma cena de cortar o coração. Tinham sido tirados dos restos da fragata, ou do mar pelos escaleres da Marion; entre eles havia o tenente mouro ou lascar Vsangi, e o guarda-marinha João Bernardo da Silva Pereira, que estava de quarto, e que morreu à minha vista em tormentos horríveis.
Daí a pouco chegaram os escaleres da Íris e da D. João, e o próprio comandante da estação, e em seguida foram os feridos conduzidos para o hospital em terra, onde depois todos vieram a morrer, à excepção de um grumete português.”
Segundo o que conta Marques Pereira, pereceram “cento e oitenta e oito vidas da guarnição, proximamente quarenta de chineses que estavam a bordo, ou junto do navio, e de três marinheiros franceses, presos. Escapou vivo da catástrofe só um grumete, chamado Barbosa”. Manuel Teixeira refere que os três marinheiros da galera francesa Chilli estavam na fragata detidos. “Dos salvados porém viveram cinco, sendo deste número dois chinas dos trinta que, se supõem, estavam a bordo, e nas embarcações que se achavam atracadas à fragata, os quais, com a única excepção daqueles dois, pereceram todos.”
Por se encontrarem em terra, da guarnição escaparam à explosão trinta e seis praças e entre eles o segundo-tenente João Maria Celestino e o Aspirante Francisco Assis da Silva, filho do Comandante, que doente estava no hospital.
À noite, a parte da fragata à tona continuava numa grande fogueira de madeira teca no “meio da água, como luz sinistra, ou tocha funerária ardendo sobre o sepulcro de tantas vítimas” na escuridão de um episódio de má memória.

O suspeito responsável pela explosão

Se a maior parte dos corpos ficaram despedaçados pela explosão e desapareceram nas águas, setenta e um cadáveres foram sepultados, sendo oito provenientes dos que tinham sido salvos pela corveta americana Marion, mas desses, apenas sobreviveram dois chineses.
O cadáver do Comandante, o Capitão Tenente Francisco de Assis e Silva, foi encontrado dois dias depois, sendo sepultado no Cemitério de S. Paulo com todas as honras que lhe eram devidas.
Segundo o Boletim do Governo da Província de Macau, Timor e Solor de 16 de Novembro de 1850: “Impossível é explicar a causa da horrível catástrofe. Sendo bem sabida a severa disciplina, e a boa ordem que o Comandante Assis mantinha a bordo do seu navio, não se pode atribuir aquele desastroso acontecimento a algum descuido havido na ocasião da Salva, que nesse dia se fez a bordo; muito especialmente se nos lembrarmos que a explosão teve lugar duas horas depois não se tendo observado sinal ou indício algum de incêndio a bordo, nem de bordo da Corveta Americana Marion, que estava fundeada mui próximo da fragata, nem do posto da Taipa; o que faz crer que a explosão foi efeito de fogo lançado no paiol da pólvora; mas como, ou por cuja agência, só Deus sabe, e é possível que nunca venha a descobrir-se.”
Assim, a causa da explosão no paiol onde se encontravam trezentos barris de pólvora deveu-se a alguém ter aí posto fogo. Carlos José Caldeira no seu livro diz: “A fragata foi destruída pela explosão do paiol da pólvora, onde se levou fogo de propósito, ou por descuido; pelo que disseram os que sobreviveram algum tempo a esta catástrofe, torna-se provável a primeira hipótese: o fiel da artilharia era um conhecido malvado, bêbedo relaxado, e tinham-se-lhe ouvido ameaças de praticar tal atrocidade, por ocasião de receber alguns castigos; naquele mesmo dia antes da salva, parece que o próprio comandante lhe puxara pelas barbas, por alguma falta no serviço.”
Carlos José Caldeira refere: “O grumete português Barbosa, único que sobreviveu a esta espantosa catástrofe, foi por uma leve falta chibatado a bordo da D. João pouco tempo depois de restabelecido, e daí a pouco desertou do serviço. Teve razão de fugir por tal acto de barbarismo, ou de inadvertência.”

Um estranho enigma

O texto oficial que narra o acontecimento apareceu no Boletim do Governo da Província de Macau, Timor e Solor de 15 de Fevereiro de 1851 e terá sido escrito por Carlos José Caldeira, na altura responsável pela redacção do Boletim do Governo da Província de Macau, Timor e Solor, como refere Rogério Beltrão Coelho na Revista Macau de Janeiro 98 ao falar do Livro “Memória de 1850” de Carlos José Caldeira editado em 1997 pela Quetzal.
Nesse Boletim do Governo lê-se uma notícia do Friend of China de 22 de Janeiro de 1851 onde se refere o seguinte: “Cinco dias antes da explosão da Fragata D. Maria II, na Taipa, uma nau Turca de primeira ordem, com 104 canhões e 700 homens e o Vice-Almirante a bordo, voou pelos ares em Constantinopla. O Malta Times de 12 de Novembro refere que a nau se denominava Neiri Cheykit e que além dos 700 homens da tripulação havia a bordo 200 recrutas de outros navios. O Sultão tinha tido grande desgosto com este desastre e com a sua liberalidade costumada, mandara 100 000 piastras do seu bolsinho para distribuir entre as viúvas e os órfãos da tripulação e tinha ordenado que de todos se fizesse uma relação com o fim de lhes conceder pensões. Nesta catástrofe se perdeu a flor da oficialidade da Marinha Otomana.”
Segue-se outra notícia do China Mail de 23, o Daily News de 20 de Novembro, diz: “Notícias recebidas pela mala da Índias Ocidentais nos referem o facto que no dia 24 de Agosto de 1850 a bordo do navio de guerra inglês Sieift, tendo sido repreendido por negligência nas suas obrigações o Fiel de artilharia Villiam Muir, dirigiu-se este ao fogão da proa, acendeu um murrão e foi descoberto pelo cabo do destacamento no acto de entrar no paiol, com a intenção de fazer voar o Navio.”
E continuando no Boletim do Governo: “São bem singulares as circunstâncias deste facto, pela semelhança que apresentam, com as que provavelmente precederam a explosão da Fragata D. Maria 2a., segundo a conjectura mais provável que pode explicar aquele terrível sucesso e que o atribui ao Fiel da Artilharia da mesma Fragata que, além do seu péssimo carácter, também fora repreendido asperamente depois da salva ao meio-dia de 29 de Outubro. Custaria até aqui conceber tanta maldade no coração de um homem, mas o acontecimento referido, mostra bem que há na espécie humana monstros capazes das mais horríveis acções. Virá aqui a propósito referir outra extraordinária coincidência relativa ao mesmo sucesso.”
Voltemos à carta de Lisboa recebida pela mala que chegou a Macau nos inícios de Outubro de 1850, quase meio mês antes da explosão acorrer. Quando o Tenente Luís Maria Bordalo leu o que seu irmão Francisco escrevera sobre os rumores que circulavam em Lisboa, por ser muito singular o dito oficial mostrou a alguns dos seus camaradas, pois falava da notícia de uma explosão na fragata D. Maria II. Estranho quando só dois meses depois tal se veio a verificar a 3600 léguas de distância, tendo o Tenente Luís Maria Bordalo morrido na explosão.
Na ilha da Taipa, junto à fortaleza, encontra-se escrito em português e chinês um memorial às vítimas da explosão da fragata D. Maria II erecto em 1851. No entanto, todas as datas em ambas as línguas, que na pedra granítica foram gravadas, estavam erradas e após terem sido emendadas muito mais tarde, não se conseguem agora ler com nitidez.

28 Set 2015

Advogados de HK querem “ajudar” Ng Lap Seng

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m advogado de Hong Kong telefonou ontem ao HM procurando contactos para conseguir ajudar Ng Lap Seng, empresário de Macau detido nos EUA por levar para o país grandes montantes de dinheiro de forma alegadamente ilegal. Ng Lap Seng – membro do Conselho Eleitoral do Chefe do Executivo e delegado de Macau na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês – foi preso sábado e não lhe foi concedida a saída sob fiança.
Nick Chan, advogado em Hong Kong, ligou para o HM com objectivo de contactar amigos ou familiares de Ng Lap Seng. O homem diz não estar sozinho: “há mais de mil advogados na cidade vizinha à espera para ajudar o empresário”, frisou ao HM. Chan assegura ter trabalhado há vários para o empresário, também nos EUA, mas disse que não tinha conseguido contacto desta vez para o “conseguir ajudar”. Daí ter começado a contactar órgãos de comunicação social do território, entre os quais o HM.
“Ng Lap Seng está preso e não tem grande hipótese de contactar advogados. Ele ainda não foi condenado, é considerado inocente, mas os Estados Unidos não permitem que ele encontre advogados. Portanto esperamos contactar pessoas próximas de Ng e ajudar no caso”, frisou.
A situação é, no mínimo, caricata, uma vez que, de acordo com a agência Reuters – que avançou a notícia da detenção – Ng Lap Seng tem como advogado Kevin Tung, que tem respondido aos média em nome do empresário.

Sem fiança

E foi precisamente Kevin Tung, segundo a Reuters, que disse que a detenção de Ng tinha sido “um mal entendido por ele vir de uma cultura diferente”. Evocando a função que o empresário tem no Conselho que escolhe o líder do Governo, que o advogado disse ser “semelhante a um senador ou congressista”, Tung disse que “o facto dele ser rico não significa que seja um criminoso”. O advogado foi mais longe. “Há uma diferença cultural que leva a que as pessoas não compreendam que quando vêm para este país [EUA] com muito dinheiro pode haver problemas.”
O empresário não conseguiu sair sob fiança e a justificação foi simples. “Ele tem diferentes recursos, fundos significantes, inúmeros aviões e passaportes e é cidadão de diversos países que não cooperam com os EUA, caso quisesse fugir e radicar-se nesses países. Não acredito que haja condições para que possa ficar descansada de que ele ficará no país a enfrentar as acusações”, disse a parte da acusação, através da advogada Janis Echenberg.
Ainda assim, o tribunal disse que iria considerar soltar Ng Lap Seng sob o pagamento de um milhão de dólares americanos, sendo que o Ministério Público tem até hoje para analisar a petição.

Assistente fala em “actividades ilegais”

Entretanto, sob interrogação, o assistente tido como o braço direito de Ng Lap Seng, o jovem de 29 anos Jeff Yin, admitiu aos investigadores que “estaria a transferir dinheiro em nome de Ng Lap Seng para pagar a pessoas por coisas ilegais, entre outras”, avança a Reuters, citando Daniel Richenthal, advogado assistente no processo. A acusação indica que Ng conseguiu transferir para o país 19 milhões de dólares americanos para bancos norte-americanos e pessoas. Os dois homens estavam a sair dos EUA num avião privado quando foram detidos.

28 Set 2015

Nem a luz

[dropcap style=’circle’]G[/dropcap]ostar de conduzir. Um paradigma onírico de infância que seria fácil de explicar. A ver com mais nada do que comigo própria. Nenhum intuito de poder. Nenhuma ilusão megalómana de mostrar caminhos, dominar existências. Conduzir como caminhar, num veículo como uma segunda pele. Mas também conduzir passos por entre as margens de indeterminação de alguns momentos, como modo de resistir à convergência excessiva de outros. Outra maneira de deixar passar o tempo. Menos sombria do que na noite e menos saída do curso dinâmico daquele, é caminhar pelo dia. Igual a deixar a noite caminhar por nós. Igual a não fazer nada e ficar simplesmente a imbuir-nos do fluir da vida como se nada nos obrigasse. Igual à noite na sua ausência possível do elaborar. Mas mais luminoso. Caminhar o dia inteiro como se mais nada houvesse. Uma coisa solar. Coisa racional. Que limpa de escolhos quotidianos e em que se depara com a inutilidade do sonho de domar a existência. Que é quem nos leva. Contrariar esta exaustão de tantas coisas que não são nada. Uma luta inglória, mas da qual não há que fugir. Algo se constrói, que não pode ser tudo o que o sonho e os compromissos delinearam. Mas o caminho é turvo, e demolidor, introduz com intencionalidade farpas que nos impelem para a frente. Que obrigam a correr. Por isso é preciso sair. Regularmente como quem leva um cão a passeio. Sair dos moldes diários e ensaiar um arremedo de liberdade. Limpar a alma de círculos viciosos, etéreas amarras, que marcam e ferem como cordas apertadas, a pele.
Este brilho mais suave da luz, quase de Outono. Sem a dureza do Verão que obriga a caminhar rente às paredes como na cidade da minha infância. Branca como não há outra aqui. Noutras paragens sim. Branca, incendiada, acesa com toda a luz possível e pequenas sombras de início da tarde. Caminhos escuros nas beiras de fachadas imaculadamente caiadas e com amor. Ano após ano o banho de luz de uma cal fina. E eu, meio estrangeira, caminhava entre casas de avós e tios-avós, renitente ao apagamento da sesta. E também orgulhosa de lhe saber os caminhos tão bem, dentro e fora das muralhas, como se fosse minha. A cidade de primas e primas-avós de nomes luminosos como Cândida, Aurora, Estrela, Felizarda, Esperança. E nomes de flores. Mas isso é uma outra estória num outro lugar de tios e primos.
Essa luz excessiva a compensar o facto de a cidade mergulhar na terra arenosa e plana, longe da água. Alguém me dizia, por uma vez dever tentar escrever algo luminoso. Recuar até alguma memória que o fosse. O que fiz. A luz, a luz e as suas sombras. Inseparáveis. Porque nem a luz. Nem ela na sua plenitude que tudo faz e desfaz, nos seus excessos, é dissociável das trevas que são o seu reverso.
Como fugir aos cantos escuros das coisas, sem uma dose impensável de distância anestésica, e como abstrair-me do olhar que tenho sobre os limites. Meus e de outros. Como não reconhecer os lados de trás, mesmo das coisas mais luminosas e como não temer o dia que ainda se insinua, e já é definido por um esboço incontornável de premeditação. Fazer minhas, realidades alheias, sentir com tristeza o evoluir inexorável de um comboio que irá para além de mim e ao qual a minha indiferença é apesar de tudo uma impossibilidade. Como?…
Aquilo de que quereria falar, é da luz objectiva, que incide nas coisas e as dá a ver. Da luz que lembrei ao desfolhar esse pequeno museu de memórias. De cidades. Da luz que ilumina fisicamente e apaga os fantasmas da noite. Da luz que é estar aqui e não debaixo de terra. E que, pouco ou muito, tem que ser estímulo prosaico e suficiente.
Memórias lá muito atrás, parecem estar lá em baixo. Longínquas e muitas com esta luz de Évora sempre. Mas tantas sombras inerentes. A infância não é paradigmática senão pela completa abstracção de tempo passado e futuro. Para além disso tem cores tão sombrias como pode ter qualquer outro momento da vida. Tudo o que lembro está envolto numa luz. Diurna. Ou na sua ausência, numa penumbra suave, ou numa quase escuridão de onde se autonomizam formas essenciais. Daquelas que não precisam sequer de iluminação porque mesmo mergulhadas no abismo escuro, são alcançáveis pelo tacto. As outras que são imprecisas e talvez inexistentes, nascem da escuridão e apagam-se com a luz. Curiosa inversão de coisas. Claro que ela é o revelador. Mas tem uma consistência própria como se uma matéria têxtil que se estende sobre todas as coisas cobrindo-as de uma interpretação particular. A luz é amante táctil das superfícies e dos recantos onde se recusa a entrar. Ou talvez se esconda neles. Invisível e lúdica. É uma espécie de olhar irónico ou caloroso e sorridente a descrever tudo por onde passa. Gosto desta luz mais suave. Da mesma forma diferenciada a produzir brilhos nas transparências de cada folha fina de árvore.
O mais luminoso que encontrei, metáfora dos passos que quero leves. Há na matéria orgânica que nos compõe uma formação, atávica, genética, de apelo à sobrevivência. E à morte. Há dias em que não sei viver, para além da inércia a que não consigo subtrair-me, excepto na escolha radical entre luz e sombra. O tudo e o nada que gere e gera esta página da vida, noutros dias em cinzas, hoje entre a luz e a escuridão total. Quando as margens são as do abismo , não há meio termo. Vida e morte andam por aí.
O que sinto, queria, prefiro nessa outra língua mais redonda, sucinta e suave. Lost. No demasiado conhecido. Sinto. A razão a encaminhar passos surdos, que se quereriam perder porque essa é a metáfora do momento. A da luz, senhora das mais ricas e essenciais conotações. Vida, saber. E os seus contrários, sem os quais não há sentidos tão densos.
E todos os caminhos que os meus passos ensaiam acabam por ir dar ao rio. E o rio, são os dias líquidos a correr. O segredo é não definir uma geografia possível, não definir um limite e não ter objectivos. Mas há uma inclinação que faz resvalar mesmo a partir de dentro para o rio. Não saberia viver numa cidade interior. Só à noite e mesmo assim sabendo-o ali mais abaixo. Noutro tempo, em Macau lá longe, no primeiro ano todas as manhãs, muito cedo, descia da Penha em direcção ao rio, uma enorme mancha lisa de um branco prateado, sem o mais leve irisado, da mesma cor do céu, mas com um brilho ténue e a mesma mansidão alastrada à cidade nas imediações, quase sem cores para além dos cinzas suaves. É como o lembro de então. E desembocava na baía contornando-lhe o recorte que já não existe, o mais possível encostada a ele. As árvores de S. José, os homens dos passarinhos contemplativos. Até que, mais à frente tinha que inverter para dentro da malha urbana, para chegar ao meu destino. À noite a mesma coisa mas de noite. Aulas nocturnas, então. Meia hora para lá e meia hora para cá.
Três cidades. E uma quarta em que nasci por acaso e que visitei miúda, naquela curiosidade afectiva de ser dali. E com a megalomania inocente de criança, orgulhosa de esta ter nada menos do que as portas do sol. Os socalcos sobre o rio um pouco assoreado, pequenino ali, e que eu não entendia como se tornava enorme aqui mais abaixo. Olhei-o como rio-criança. E áquilo a que resumi a minha cidade de nascença, com um nome luminoso e uma amplidão de vista mesmo de fora que é só o que recordo, uma semelhança lírica com a cidade perdida dos Incas. Fantasia curta e maravilhada de pré-adolescência. Analogia feita mais tarde, certamente mas ainda com a mesma ingenuidade. Cidades brancas como a luz. Lá atrás. Num ângulo particular, uma hora do dia e da memória, uma estação do ano e da vida.
A luz, que resiste indecisa entre a sua natureza simbólica e a sua natureza metafórica. Falar na luz e no seu contrário, a sombra que dá existência às coisas fugidias, irreais e mutáveis. Segundo a sabedoria dicotómica oriental, o estudo das sombras é o yin, na base da geomancia antiga e portanto da orientação. Ao contrário da conotação ocidental com símbolos do mal, da perdição e da morte. Nos evangelhos, como no Corão, nos textos taoistas, ou textos filosófico religiosos budistas, sempre a eterna e universal oposição entre luz e trevas. Figurada poeticamente no ocidente por aquela entre anjos e demónios, ou na China pelas influências celestes ou terrestres, sendo que a terra designa as trevas e a ignorância e o céu a luz e a sabedoria. E são da mesma natureza, fazendo parte do mesmo caminho de busca do conhecimento. Tal como na gnose ismaelita a oposição é a do corpo e do espírito, princípios luminosos e obscuros coexistentes no mesmo ser, a dualidade Yin e Yang chinesa em que em cada um contém traços do outro. No Islão é espírito. Segundo S. João, identificada ao verbo. Este simbolismo da luz-conhecimento, sem refracção, ou seja apercebida sem intermediários deformadores e por intuição directa, define o carácter da iluminação iniciática. Esse conhecimento imediato, que é luz solar opõe-se à luz lunar, que sendo reflectida figura o conhecimento discursivo e racional. A luz sucede às trevas tanto na ordem da manifestação cósmica como da iluminação interior. (Post tenebras lux)
Por isso ver a continuidade dos dias com a sua enorme carga de obscuridade e de desconhecido. Ao invés do desalento imiscuído na certeza da infelicidade, da configuração de uma linha de vida à luz de um olhar fatalista, em que o desenho esboçado parece fazer antever com toda a nitidez a perpetuação dos motivos que nos tolhem. E do saber, fazer parte o enorme quinhão de ignorância como forma aberta. Só assim suportável caminhar até ao dia seguinte. A primeira coisa pela manhã, é lavar o rosto do torpor do sono, da má vontade de acordar. Uma frescura boa para recomeçar, e no caminhar lavar também a alma das marcas de todas as certezas demolidoras. Diluí-las, no olhar para as coisas de sempre mas sempre outras, as mesmas coisas como a mesma água fresca da manhã. Tudo igual, mas subtilmente como se fosse o início de todo. O mesmo brilho da luz nas coisas, a mesma cidade, o mesmo rio, a mesma pessoa. Outro dia. E o espaço vazio para algo diferente se aconchegar no seio de tanta mágoa acumulada. E pensar que desistir, só ontem ou amanhã.
Se muitas vezes não se pode ver a realidade a uma luz diferente da que nos fere, há que não olhar. Fazer tréguas sem pesar. Perder momentaneamente o apego àquela melancolia ancorada no sentido de se estar na razão ao ser infeliz. Este país de gente a rebentar pelas costuras de não caber na ordem de penas que lhe cabem, de gente sem uma luz vinda lá de longe, não se sabe sequer de onde poderia sonhar-se. De gente que não consegue deixar de se permitir estragar o pouco de reservas de bem- estar, que fica doente também da mente, que se aliena no próprio circuito fechado da dor e da alienação, não conseguindo já destreza para encarar tudo como um mal de saúde entre outros mas que não precisaria de o ser. E a luz, que o é sempre e é gratuita, e já não conforta nem consola quem prefere sucumbir ao peso dessa inércia, a aceitar que ela pode ser adiada para o momento anterior ou seguinte. E entre eles algo de silenciosamente nulo a poder ser a trégua entre batalhas. “A existência não é mais do que um curto-circuito entre duas eternidades de escuridão”. Palavras de Nabokov. E quando parece não haver nada a fazer, há que caminhar entre as duas eternidades. De uma para a outra. Mesmo não lhes sabendo os limites, início e o fim. Mas entre ambas. No lado iluminado das coisas, mesmo que este se restrinja à crua realidade da luz solar, do dia claro ou ensombrado de nuvens. Sempre uma luz a opor-se às trevas maiores.
Deverá haver na felicidade absoluta uma demência e uma alienação egocêntrica que não é nem paradigma possível. Ter a luz e as respectivas trevas como reverso. E luminosidade garantida, essencial e diária. A possibilidade de olhar simplesmente este intervalo de luz real, sair em parte dos trilhos sofridos e viver à luz da metáfora inesgotável o momento raro de estar aqui. Raro e precário. Raro e breve. Olhar a luz e as suas revelações físicas, concretas e conhecidas, ou pequenas novidades no conhecido na sua incompletude, ou simbolicamente no muito que significa só por ser universalmente o registo de estar. De ver. Por agora e enquanto é possível. Não será talvez uma construção. Não num sentido sólido, estruturado e articulado. Tão só, talvez a desconstrução da inércia desesperante dos dias que se sucedem indomáveis inglórios e frustrantes. O poder não está do lado luminoso. As grandes decisões competem a quem tem as motivações mais sombrias. Resiliência é ser momentaneamente e serenamente feliz a prazo apesar de tudo. Por momentos. Passar é o que se faz. Deixar pegadas ou não, não é um acto de vontade. Nada mais forte visceral e absoluto.
Olhando o comum cenário lavado das contingências existenciais. As ruas, as fachadas de vidas sabe-se lá quanto mais difíceis, os caminhos urbanos, a opaca realidade das pedras, a depurada, embora por vezes sem futuro, premência das formas naturais, a alternância dos dias e das noites, da luz sobre as coisas e da morte sucessiva das mesmas. A luz. Enquanto o sol durar pendurado nos dias, é bom sinal. E caminhar. Como mantra ou desassossego.

28 Set 2015

Os janízaros

À medida que o desenvolvimento social cresce, os núcleos expandem-se, por vezes através da migração e por vezes da cópia ou inovação independente levada a cabo pelos vizinhos. As técnicas que funcionaram bem num núcleo mais antigo – quer essas técnicas sejam a agricultura e a vida nas aldeias, as cidades ou estados, os grandes impérios ou a indústria pesada – disseminam-se por novas sociedades, novos ambientes. Por vezes essas técnicas florescem no seu novo enquadramento; por vezes, avançam aos tropeções; e, por vezes, precisam de modificações gigantescas para funcionar de todo.
Ian Morris in “O Domínio do Ocidente”

[dropcap style=’circle’]K[/dropcap]ublai Khan, neto de Gengis Khan, fundou formalmente a dinastia Yuan (1271-1368), a primeira experiência de “achinesamento” da cultura nómada dos mongóis por uma outra, bem mais poderosa, a que se poderá chamar, com propriedade, a cultura Han, ou seja, a cultura e civilização multimilenária da China.
Sucedendo aos Song, os Yuan depressa foram envolvidos pelo nacarado da ostra chinesa e, num breve espaço de meros 97 anos, brilharam efemeramente no universo chinês. O retorno à cultura Han sucedeu-lhe prontamente, por via da emergência dos Ming (1368-1644), mas de novo veio a queda do Mandato Celestial, agora em favor dos nómadas provenientes da Manchúria, os Qing (1644-1912). A corrupção e a decadência deram origem então à emergência de um conceito ocidental, inteiramente estranho à China: a República que, após alguns percalços, se iria manter e progredir até aos dias de hoje.
Se a “sinificação” por poderio cultural englobou mongóis e manchus, isto é, quando os conquistadores se tornam reféns da cultura do território conquistado, o processo subsequente constituiu – através das atribulações dos finais da última dinastia – a lenta emergência do Ocidente no Celeste Império. Efectivamente desde a China dos Tang, séc. VIII que comunidades de Judeus se instalaram na China, precedendo Marco Polo, século XIII e Matteo Ricci, século XVI, este talvez o mais completo e antigo caso de transculturação na cultura chinesa, como conselheiro do imperador Wan Li.

[quote_box_left]Macau precisa de identificar sociologicamente os diversos grupos da sua população para que a operacionalidade dos seus actores anónimos possa integrar-se nos objectivos, direitos e deveres que a consciência da cidadania exige[/quote_box_left]

Se a presença de Marco Polo, Matteo Ricci e, no século XIX, as forças ocidentais a imporem os resultados da Revolução Industrial num Império tornado progressivamente obsoleto e culminando nas práticas da regente Tzu Shi, o que se testemunha no dealbar do século XX é a ocidentalização do pai da China Republicana, e dos seus camaradas. Gente culta que curiosamente passou por Macau e a este Território esteve ligada, tanto quanto Matteo Ricci, prontamente decretou a excisão de todas as tranças da subjugação manchú e a adopção de trajes ocidentais. OttomanJanissariesAndDefendingKnightsOfStJohnSiegeOfRhodes1522 copy
Porém, e dando o salto para a evolução histórica da Grande China e a recente emergência das sociedades de consumo provenientes da economia socialista de mercado, parece existir em Macau uma faixa de gente que se desligou das suas próprias raízes, para abraçar um mundo global cuja complexidade não domina. Este grupo, cuja leitura do mundo é unidimensional, sem domínio de uma segunda ou terceira língua, constitui um desafio sócio-educativo-cultural a merecer ser objecto de um estudo sociológico que permita identificar os diversos graus de absorção do que já se tornou híbrido, e que em quantidades diferentes habitam esta percentagem da população.
Daria a este grupo o nome adaptado de Janízaros1 por ter ocorrido neles uma captura da sua cultura original e o trânsito para um patamar ocidentalizado, cuja apreensão tem características de incompletude no processo de apreensão e transição para Ocidente.
Assim, os instrumentos e saberes que os informam estão sujeitos a interpretações oscilantes, mediante a perplexidade que cada tema lhes suscita.
Macau precisa de identificar sociologicamente os diversos grupos da sua população para que a operacionalidade dos seus actores anónimos possa integrar-se nos objectivos, direitos e deveres que a consciência da cidadania exige.
Hoje em dia espera-se por uma Cidadania integrada no global e não na exclusão por incompletude.
Dez sultões Otomanos criaram uma força de elite conhecida por Janízaros, formada por homens que tinham sido raptados em crianças, geralmente gregos de famílias de fé católica, educando-os na lei do Islão, no idioma turco e no manejo de armas e artes militares.

28 Set 2015

Perturbações nas margens do Lago Nam Van

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]pesar do progressivo declínio das receitas do Jogo que se tem verificado, acredita-se que o governo da RAEM ainda possa continuar a viver desta actividade enquanto o saldo fiscal for positivo. Este período irá desafiar as capacidades das autoridades governamentais de Macau e pôr à prova o seu patriotismo.
Será que este ano vai haver aumento nos salários dos funcionários públicos? Se esta questão se colocasse ao nível do sector privado, a resposta seria: se a empresa está a enfrentar dificuldades é uma sorte não haver despedimentos colectivos! Os aumentos de salários estão dependentes da capacidade financeira das empresas. Mas efectivamente a posição das associações representativas do funcionalismo público é sempre a defesa dos aumentos salariais. E quanto ao Plano de Comparticipação Pecuniária no Desenvolvimento Económico, será que vai continuar? Se a questão de divisão da riqueza se colocar no seio de uma família, compreende-se facilmente que se os rendimentos dos pais diminuírem a mesada dos filhos terá de baixar! Mas na realidade as organizações laborais exigem a manutenção do Plano. É compreensível que seja bom para os trabalhadores haver aumentos salariais todos os anos e que as crianças não se importem de receber mesadas maiores. Mas se nos colocarmos na perspectiva do governo, a que fontes iremos buscar os financiamentos? De momento esta situação faz-me lembrar um velho ditado chinês: é fácil dividir a riqueza, difícil é dividir as dificuldades.
Por falar em dividir dificuldades, algo de novo se passa nas forças da cena política “Liberal e Aberta” de Macau. Em primeiro lugar, a Associação para o Desenvolvimento Comunitário de Macau foi fundada oficialmente e o seu núcleo é formado por membros veteranos e ex-membros da Associação Novo Macau. Em segundo lugar, o presidente da Associação Novo Macau, Sou Ka Hou, saiu do gabinete para prosseguir os seus estudos em Taiwan. O vice-presidente Scott Chiang interrompeu os estudos por um ano e foi eleito para substituir Sou Ka Hou. Estas duas associações passaram a actuar desta forma em Setembro de 2015. A reestruturação foi atribuída a reeorganizações individuais. Mas na realidade representa uma preparação para as eleições para a Assembleia Legislativa, agendada para 2017.
Quando associações pró-governamentais se candidatam à eleição para a Assembleia Legislativa têm, frequentemente, apoio financeiro do governo. E por mais que muitas delas tenham prestado um serviço púbico válido, este apoio reforça a sua imagem junto da comunidade. Na medida em que a Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa da RAEM não foi revista, o facto de um líder de uma destas associações se candidatar à eleição para a Assembleia Legislativa continua a provocar controvérsia sobre a imparcialidade e a justiça. De facto, estas organizações pró-governamentais têm vindo a organizar as sua campanhas para a corrida à Assembleia Legislativa de forma “invisível” já há muito tempo. Comparadas com estas associações e com os grupos políticos apoiados nos bastidores por interesses ligados ao jogo, as forças da cena política “Liberal e Aberta” estão em desvantagem na corrida para a eleição à Assembleia Legislativa. A Associação de Novo Macau está limitada a nível de recursos e também por estratégias que adoptou no passado, e não tem um apoio sólido da comunidade. Na eleição para a Assembleia Legislativa de 2013, a Associação obteve menos votos do que em anos anteriores. Este facto foi um sinal de alerta. Embora este retrocesso pudesse ter sido transformado numa motivação para o aperfeiçoamento, após as mudanças na liderança da Associação em 2014, os problemas de longa data continuaram por resolver e os seus membros mais “seniores” decidiram organizar uma nova frente de serviço comunitário já que não conseguiam colaborar com os novos líderes.
A evolução destas associações segue um padrão, que leva à sua continuação ou à sua dissolução. A Associação de Novo Macau evoluiu de um grupo politico único para dois grupos. Se olharmos pelo lado negativo pudemos ver uma divisão de poder, mas pelo lado positivo observamos um crescimento em separado. De facto a Associação ganhou mais poder por ter dois grupos no seu seio!
Ultimamente ocorreram alterações individuais na Associação de Novo Macau. Ainda é cedo para afirmar se estas mudanças serão pontuais ou se se transformarão numa força com capacidade de conduzir Macau a mudanças políticas efectivas. Com Sou Ka Hou, o antigo presidente da Associação de Novo Macau, prosseguindo os seus estudos em Taiwan e, observando a forma serena como Scott Chiang, o substituto de Sou, agiu durante a entrevista que deu ao canal português de TV da TDM, leva-nos a crer que a nova geração da Associação de Novo Macau amadureceu depois de passar por algumas provas e atribulações. É possível que tenham algumas hipóteses de ganhar a eleição para a Assembleia Legislativa, agendada para daqui a dois anos.
Não é necessariamente mau as receitas do jogo caírem.

28 Set 2015

Malaca assegura futuro do Circuito de Zhuhai

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]fantasma da demolição que há mais de uma década paira sobre o Circuito Internacional de Zhuhai, a única infra-estrutura permanente para a prática de automobilismo e motociclismo nos arredores de Macau, terá por agora desaparecido com o memorando de entendimento assinado este fim-de-semana em Malaca pela LBS Bina Group Bhd, os proprietários do circuito e os seus parceiros locais, a Zhuhai Jiuzhou Group Holdings Ltd. A assinatura deste memorando – intitulado “Paradigma do Circuito Urbano Integrado no Desenvolvimento da China” – contou com a presença de Tun Mohd Khalil Yaakob, o Governador de Malaca, e de Zhu Xiaodan, Governador da Província de Guangdong.
“As duas empresas vão integrar os desportos motorizados na vida urbana moderna de uma forma aberta, através da demolição dos existentes muros em redor do circuito”, lia-se no comunicado enviado às redacções.
O memorando compreende áreas tão diferentes como a promoção dos desportos motorizados, turismo e as relações económicas entre a Malásia e a China. Entre os planos está a criação de um Centro de Turismo, com especial foco na promoção do Distrito Norte de Zhuhai, estabelecer um centro multicultural que encoraje as trocas culturais entre os dois países e um museu.
Tan Sri Lim Hock San, o director executivo da empresa malaia, disse que “o LBS Bina Group está a desempenhar um importante papel no reforço da transformação de laços comerciais bilaterais entre a China e Malásia”.
“Usando Guangdong como um corredor para formar uma ligação mais estreita, pretendemos estabelecer um museu cultural, um centro multi-cultural e uma sala de exposições dentro Circuito Internacional de Zhuhai. Isto só é possível com o forte apoio do Governo de Malaca”, acrescentou.
Lim também confirmou a construção de um Museu, que irá mostrar a cultura e tradições de Malaca, um centro mercantil onde os portugueses criaram um importante entreposto comercial nos séculos XVI e XVII, e que ajudará promover os laços culturais entre a Malásia e a China. Isto, esperam os responsáveis, irá fortalecer a indústria do turismo da Malásia e atrair no futuro mais empresas internacionais a investir no país.
Já antes tinha sido  anunciado um parque temático e um hotel nas premissas do circuito. O ZIC Ltd resulta de uma joint venture entre o LBS Bina Group Bhd e a Zhuhai Jiuzhou Holdings. Com uma presença de 15 anos em Zhuhai, a LBS é uma das dezoito empresas que actualmente têm investimentos na cidade.
Erguido em 1996 com o intuito de receber o primeiro Grande Prémio da China de Fórmula 1, algo que nunca viria a acontecer, o Circuito de Zhuhai foi no entanto o primeiro circuito permanente do continente. Desde a sua fundação recebeu várias provas internacionais, como o FIA GT, A1 GP ou Intercontinental Le Mans Series. Nos últimos anos a pista tem optado por organizar os seus próprios eventos, abdicando das provas internacionais.
O ano passado, tanto o poderoso campeonato alemão de carros de turismo DTM, como o mundial da especialidade, o FIA WTCC, estiveram próximos de ter eventos na cidade, o que por razões diferentes não se concretizou. Recorde-se que no início do ano a Associação Geral Automóvel de Macau-China e o ZIC Ltd fizeram uma parceria que permitiu o regresso do Campeonato de Macau de Carros de Turismo (MTCS), num acordo que, segundo os responsáveis de ambas as partes, segue a linha de aproximação entre as duas cidades vizinhas que, com o intuito de expandir as corridas de automóveis e a sua cultura, pretendem aumentar o intercâmbio e cooperação de forma a que ambas as partes possam usufruir de vantagens complementares, dando assim uma nova forma e impulso à indústria dos automóveis de competição no delta do Rio da Pérolas. O Circuito de Zhuhai é igualmente importante para as equipas de Macau, visto que são várias as estruturas da RAEM, profissionais e amadoras, que lá têm as suas bases operacionais.

28 Set 2015

Da podridão

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap]como se só o dinheiro contasse. Só o dinheiro tem valor nesta esquizofrenia em que Macau se tem arrastado. O dinheiro dos outros é muito e o meu não, o dinheiro que se deu a ganhar aos outros foi tanto e fez o meu dinheiro ser menos. Mas depois vem a austeridade e, afinal, não é nada bom que os outros não façam muito dinheiro, porque se os outros não têm muito dinheiro eu terei ainda menos, eu que conto os trocos que trago no bolso do casaco. Macau vive nesta coisa de não saber como sair da monotonia financeira, a chatice da pataca, a pataca, a pataca, só a pataca. E o dólar de Hong Kong também.
Macau não se diversificou (jargão político número um) e Macau viu o fosso entre ricos e pobres aumentar consideravelmente nos últimos anos (jargão político número dois). Macau não aproveitou os anos do crescimento económico pujante (que agora, ao que parece, as vacas são magras) para trabalhar nas áreas em que mais mudanças são necessárias: a segurança social, o direito do trabalho e a educação sobretudo daqueles que mandam, directa ou indirectamente. Não se aproveitaram os dias de glória para negociar a favor de quem não tem cartas na manga. 25915P22T1
Ainda a protecção da parentalidade. Na semana passada, uma mulher, mãe de filhos, mulher de empresário, caridosa de profissão, deputada à Assembleia Legislativa, veio defender publicamente que a licença de maternidade – esses dois meses incompletos em casa a que as mulheres têm direito – não deve ser aumentada. Melinda Chan tem um argumento: as dificuldades com que se deparam as pequenas e médias empresas. Esta nobre causa económica move-a muito mais do que as dificuldades das pequenas, médias e grandes famílias. O que é preciso é produzir, preferencialmente sem grandes custos. No fim do dia, as patacas é que contam.

[quote_box_left]Agora que órfãos, viúvas e desprotegidos choram sobre as previsões trágicas para a economia local, aqueles a quem não interessa que Macau saia da idade das trevas põem o nariz de fora à descarada e abrem a boca sem pudor. Macau que continue a ser das trevas, que as patacas é que importam[/quote_box_left]

Fosse Melinda Chan um caso raro e estaríamos nós, todos nós, muito bem. Sucede que não é – a filosofia dominante entre quem manda, directa ou indirectamente, consiste na pouca consideração pelos problemas dos mais fracos. É a lei da pataca, que o dinheiro é que conta. Não se aproveitaram os dias de glória dos casinos para se mudar mentalidades na concertação social.
Agora que órfãos, viúvas e desprotegidos choram sobre as previsões trágicas para a economia local, aqueles a quem não interessa que Macau saia da idade das trevas põem o nariz de fora à descarada e abrem a boca sem pudor. Macau que continue a ser das trevas, que as patacas é que importam, os filhos dos outros crescem com mãe ou sem mãe em casa, com o pai presente ou noutro sítio qualquer.
Patrões e trabalhadores não se conseguiram entender, ao longo destes anos, em relação ao que devem ser as contribuições para a segurança social. Patrões e trabalhadores ainda não foram capazes de definir um salário mínimo universal que tenha, entre outras virtudes, a capacidade de disfarçar a desfaçatez. Patrões e trabalhadores não se entendem e o Governo, sujeito passivo nestes processos de negociação, foi deixando correr a tinta como mais jeito deu a quem mais manda.
Depois há casos como o Dore, que revelam a dificuldade em aceitar que o teu Mercedes é muito maior do que o meu. Numa cidade em que o dinheiro é fácil, não há que seguir pelas estradas mais difíceis, atalha-se e isto vai correr bem, há histórias no passado que acabaram mal mas o passado já passou, vou ali remediado e às tantas ainda volto rico. Alguns não voltaram porque se esqueceram que, em mundos de contornos difíceis, as coisas nunca são como parecem e já se sabia que, mais cedo ou mais tarde, algo deste género iria acontecer. Nesta cidade não há santos e a caridade pratica-se ao estilo de Melinda Chan.
A ditadura das estatísticas assusta os mais optimistas e há mesmo quem diga que isto já deu o que tinha a dar. O pessimismo que se instalou é de uma extraordinária conveniência à manutenção da podridão. Este Governo de boas intenções feito vai ter a tarefa dificultada por quem não quer, de modo algum, deixar de ganhar patacas, muitas patacas, dinheiro, imenso dinheiro. Afinal, pobres dos pequenos e médios e grandes empresários que já se vêem em apuros porque as mulheres engravidam e ficam confortavelmente em casa a olhar para desinteressantes recém-nascidos, num desmerecido ócio subsidiado com o suor dos patrões que labutam de sol a sol. E ainda há quem ande por aí a falar de salário mínimo. São as patacas, estúpido.

28 Set 2015

Angeline Silva, educadora de infância: “A oportunidade que nunca tive”

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap]o olhar mais recente que a equipa do HM tem a oportunidade de partilhar. Chama-se Angeline Silva, mas é por Angie que a tratamos. Foi em Fevereiro que visitou pela primeira vez Macau.
“O meu marido veio trabalhar para um projecto aqui em Macau”, começa por explicar. Um projecto que deu frutos e abriu a porta à possibilidade de Angie se ficar pelo território.
“Vir para Macau tornou-se um objectivo pela presença do meu marido aqui, isso e a falta de oportunidades em Portugal”, partilha. A conversa começou logo ali, num parque exterior carregado de baloiços e risadas de mais de 20 crianças. Um choro aqui, um corrida para ali, o ambiente não podia ser mais descontraído e isso era evidente na cara de Angie: as crianças são a sua praia.
“Tenho de colocar os meus meninos na aula de Mandarim, já volto”. É assim que a educadora de infância interrompe a conversa com o HM. Ao seu lado uma criança chorava, outra sentava-se no chão sem vontade de parar de brincar. Em Inglês, Português e noutras expressões que, para nós, são difíceis de perceber, Angie coloca ordem na turma e todos focam a atenção na aula que ia começar.

Oportunidade de ouro

“Adoro o que faço”, reinicia a conversa, explicando que as aulas começaram há poucas semanas e que todas as crianças ainda estão em fase de adaptação. “São muito pequeninos, é uma nova fase da vida deles é normal”, explica quando percebe que à nossa volta estavam pelo menos três crianças a chorar.
Numa sala que parecia de contos encantados, em cadeiras para pessoas de tamanho pequeno, a educadora mostra o brilho do olhar típico de quem acabou de aterrar no território.
“Gosto muito de estar cá, não tive medo nenhum em vir viver para aqui”, indica. A verdade, confessa, é que Macau deu à educadora “a oportunidade que Portugal nunca deu”. Angie está a fazer o que realmente gosta: ser educadora de infância, algo que nunca conseguiu naquele país.
“A crise, mais a vontade de estar com o meu marido, trouxe-me aqui. E gosto”, partilha.
Num cenário cheio de cor, numa mesa com sete pratos pequenos, sete colheres e sete guardanapos para um almoço que iria acontecer num par de horas, Angie ri-se ao contar que está em fase de adaptação.

Sim, Yes, Ci

Um dos maiores desafios que esta aventura lhe trouxe foi a multiculturalidade existente na turma pela qual é responsável. “Aquilo fala-se em Chinês, Inglês e Português, tem sido um desafio. Quando dou por mim estou a dizer ‘sim’ e olho para o lado e digo ‘yes’”, relata.
A sua turma tem meninos chineses que nada falam em Inglês e por isso Angie tem-se esforçado para captar e aprender a língua, permitindo uma comunicação para além de gestual com essas crianças. “Já vou percebendo palavras soltas, já reconheço alguns sons e sei o que eles querem dizer com isso, mesmo que não os consiga perceber. Mas quero tentar aprender a língua local”, adianta. O jardim de infância proporciona a cada sala uma auxiliar intérprete para melhor facilitar a comunicação, algo que tem sido uma ferramenta muito útil.

Mudam-se os hábitos

O trânsito é de facto o que mais estranheza lhe causa. “Nunca vi um sítio assim, mesmo que tente não sei explicar como é que eles conduzem. Os taxistas… Já para não falar dos condutores de autocarros em que as pessoas, com as travagens bruscas, com os buracos, balançam como bailarinas”, relata, entre gargalhadas.
A massa populacional é também uma novidade para a educadora. “Nunca vi tanta gente em ruas tão pequenas e parece que eles se movem de forma automática, nem olham para os lados ou para a frente, e se for preciso vão contra as pessoas”, brinca.
O mar, esse é o que mais falta lhe faz. “Vivia perto do mar, tenho uma ligação muito forte com o mar. Sempre que me sentia triste, ou precisava de pensar em alguma coisa, ou só porque sim, ia passear à beira-mar, ia ver o meu mar. Aqui não posso fazer isso”, anota.
Curiosamente, Angie conseguiu encontrar um substituto para o seu mar. É um espaço que não se assemelha a ele, mas que o substituiu. O Bellini. “Eu sei que é estranho, mas agora é um ritual. Todas as quartas feiras vou àquele bar, dançar, ouvir música. Descontrai-me”, anota. Entre passos de dança e rodopios, Angie vai-se adaptando ao novo mundo que a acabou de receber.

28 Set 2015

Função Pública | Aumento salarial pode gerar conflitos sociais, diz politólogo

Não é justo e não condiz com a implementação de medidas de austeridade. É a reacção de Larry So ao anúncio de possibilidade de aumento dos salários dos funcionários públicos

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s opiniões divergem. Para o presidente da Associação das Políticas Públicas de Macau, Sunny Chan, o aumento do salário dos trabalhadores da Função Pública, consoante ao aumento da inflação, faz sentido. Já para o politólogo Larry So é inapropriado o aumento numa altura de medidas de austeridade, até porque isso, diz, poderá trazer conflitos sociais.
A Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) pediu um aumento de 6% nos salários da Função Pública e a Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, já confirmou que será apresentada uma proposta de ajustamento já no próximo mês.
Segundo o Jornal do Cidadão, Sunny Chan apontou que Macau não tem uma comissão que faça a revisão das remunerações do mercado privado para decidir o aumento do salário da Função Pública, como a cidade vizinha Hong Kong. O presidente considera que o Governo “não está pobre” para pagar aos serviços públicos mesmo com a diminuição das receitas do Jogo, por isso poderá aumentar os salários, funcionando também como uma motivação extra aos funcionários públicos.

Do contra

Por outro lado, o ex-professor de Administração do Instituto Politécnico de Macau (IPM) e comentador político Larry So não acha que o momento seja oportuno para avançar com um aumento. Isto, diz, poderá trazer uma imagem de que os “funcionários públicos podem não enfrentar a austeridade juntamente com os cidadãos”, sendo, diz, uma injustiça na disparidade de tratamento.
O politólogo considera que o Governo deve criar um regime de aumento de salário por classificação de funcionários. Sugeriu, assim, que os que ganham mensalmente mais de 20 mil patacas não possam ser aumentados, mas os que ganham menos de 20 mil podem receber um ajuste de acordo com a inflação.
“Caso o Governo implemente o aumento do salário para todos os funcionários públicos, os cidadãos irão reagir de forma desagradável, não vão ficar contentes. Isto pode causar conflitos entre trabalhadores públicos e privados, assim como descredibiliza a imagem do Governo que anunciou medidas de austeridade há pouco tempo”, afirmou.

28 Set 2015

Alzira Silva quer dar “mais atenção” a residentes no exterior

Numa visita fugaz a Macau, a cabeça de lista socialista afirma que Portugal terá de dar mais atenção ao território, à comunidade portuguesa e ao Consulado. Alterações e revisões são muito necessárias perante o “amadorismo” mostrado até agora

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m dois dias de visita, Alzira Silva, cabeça de lista do Partido Socialista (PS) para a eleições legislativas do Círculo Fora da Europa, veio ao território “para ouvir” o que a comunidade portuguesa residente em Macau tem para dizer. “Uma comunidade completamente diferente de todas”, como a ex-directora da Comissão Interministerial para as Migrações e Comunidades Portuguesas classifica Macau.
“Aqui não existem propriamente portugueses carenciados, como existem noutros países que tenho visitado. Aqui não existem muitos registos de dificuldades de adaptação, porque compreendemos que todos os portugueses que cá estão, estão à vontade, como os que nasceram e sempre viveram aqui. Noto também essa integração plena. Em termos de dificuldades não tenho ouvido muitas, excepto algum distanciamento, alguma desconsideração do Governo português relativamente a esta presença portuguesa em Macau”, anotou a cabeça de lista.
A falta de respeito, de auscultação e a não tentativa de acompanhar a par e passo a comunidade portuguesa fazem com que a massa de portugueses residentes não se sinta satisfeita.
“Portugal tem uma dívida enorme relativamente a todas as comunidades dispersas pelo mundo, designadamente esta, porque esta, por aquilo que eu percebo, não pede nada a Portugal, mas tem muito a oferecer”, reforçou. alzira silva

Lista de prioridades

O estreitamento de laços é, por isso, a maior meta a atingir. “Penso que o estreitamento de laços é necessário construir, ou melhor, reconstruir e também este viver acompanhado, para que o português de Macau não sinta que está mais distanciado do que outros portugueses. Portanto, [para] sentir-se acompanhado pelas instituições portuguesas”, defendeu.
Para a candidata, é preciso “suscitar nos próprios portugueses esta admiração, consideração, respeito e acompanhamento [às comunidades] para que nos sintamos todos mais Portugal, mesmo fora de Portugal”. Só assim, diz, tanto cidadãos, como residentes portugueses no estrangeiro vão sentir-se como um todo.
Em termos práticos, é necessário, explica, conduzir “uma grande campanha de informação em Portugal, principalmente, começando pelas (…) próprias instituições e órgãos da comunicação social, tentando que em Portugal se comece a ter outra noção do que é esta comunidade, com um conhecimento e divulgação nas redes sociais”. Assim, defende, “poderá mostrar-se o pulsar da vida aqui, que é diferente e enriquecedora para um país que tem historicamente acumulado diversidades culturais”, argumenta.
Redes sociais, órgãos de comunicação social e instituições são as ferramentas de trabalho e promoção em que Alzira Silva quer apostar. “No caso de ser eleita haverá também uma instituição que me permitirá fazer comunicações e divulgar exactamente o que aqui for feito”, indicou a socialista, como primeira medida para fortalecer os laços. Um trabalho de mãos dadas com o Governo, caso António Costa, líder do PS, seja eleito como Primeiro-Ministro, é outra das medidas que Alzira Silva aponta.
O Português é também um aposta dos socialistas. A língua, o seu reforço e outra acessibilidade aos apoios são pontos a melhorar.
“Temos também uma medida prevista no nosso manifesto que diz respeito a facilitar o empreendedorismo e consequentemente o investimento”, avançou, sublinhando a importância que a medida pode ter em Macau, por existir uma comunidade “rica e, eventualmente, interessada em expandir negócios”.
Do manifesto socialista faz ainda parte a vontade de rever os apoios sociais, focando-se mais em idosos e famílias carenciadas. “Sabemos que esta medida não irá afectar grandemente a sociedade portuguesa em Macau, (…) ouvi que a comunidade está satisfeita com o resultado que tem acontecido às reformas da Caixa Geral de Aposentações”, diz.

Recenseamento diferente

Questionada sobre quais as propostas com que irá avançar, em caso de eleição, relativamente às leis que contemplam as comunidades portugueses, a líder sublinha a necessidade de alterar a forma de eleição.
“Temos de mudar a forma de eleição para credibilizá-la, para abrir mais a eleição no sentido de suscitar mais recenseamentos e uma maior participação das comunidades residentes fora da Europa na vida portuguesa, na participação cívica e política. Esta é uma das nossas prioridades”, frisou.
Como segundo ponto, apesar de estar em processo de resolução, Alzira Silva defende a “abertura dos candidatos a cidadãos com dupla nacionalidade”, dando as comunidades da América do Norte como exemplo.

[quote_box_left]“Portugal tem uma dívida enorme relativamente a todas as comunidades dispersas pelo mundo, designadamente esta, porque esta, por aquilo que eu percebo, não pede nada a Portugal, mas tem muito a oferecer”[/quote_box_left]

Conselho alterado

Na opinião da socialista é crucial que o Conselho das Comunidades Portuguesas seja de forma profunda alterado. “O CCP tem tido uma vida flutuante, com diferentes modelos de acesso, de votação, de participação à sua competência consultiva e, portanto, de uma maneira geral, é um órgão que precisa de ser profundamente reflectido e alterado”, diz.
Toda a máquina dos conselhos das comunidades portuguesas parece estar, diz, aquém daquilo que poderá ser. “Está também muito além do espírito legislador quando foi criado o CCP”, afirma, sublinhando o “desfasamento e contradição entre a prática e o espírito legislador e aquilo que o conselho tem realmente feito”. Alzira Silva_PS_GLP_04

Um cenário que vai mudar

Com um maior número de recenseados no círculo Fora da Europa, Alzira Silva acredita que o cenário político irá mudar.
“Acredito numa mudança nos resultados destas eleições, acredito que Macau poderá ter uma participação nessa mudança, acredito que outras comunidades podem ter uma participação nessa mudança, acredito que o próprio eleitorado do Brasil venha introduzir algumas mudanças no seu sentido de voto, acredito ainda que a tendência que se tem mostrado nos actos eleitorais venha a ser invertida com um maior número de recenseamentos e de consciencialização eleitoral”, afirmou.
É em Macau que termina um mês de visitas às comunidades portuguesas fora da Europa, com a líder socialista a acreditar que será a América do Norte a atribuir-lhe mais votos.

“Erro nos boletins de voto é amadorismo”

Alzira Silva admite ainda não estar preocupada com a possível perda de votos devido ao erro nos boletins, que não contêm Portugal como país receptor. “Como é que Portugal, como é que os serviços do Governo fazem um erro destes? Fico perplexa. E não vou adiantar mais adjectivos”, afirmou. A falta de um pedido de desculpas por parte do Governo é outro motivo que deixa a candidata “perplexa”. “Isto é quase uma desresponsabilização [do Governo], levando para os consulados e para o cidadão a solução de um problema que foi criado lá [em Portugal]”, afirmou. Nem todos os consulados, diz, têm capacidade para divulgar a informação e, entre outras burocracias, muitos eleitores não irão ter acesso à informação. “Deixar aos cidadãos e aos consulados a responsabilidade de remediar esta falhar, penso que é uma desresponsabilização muito grande e de um amadorismo incrível e incompreensível nos nossos dias”, remata.

Consulados precisam de reavaliação e de ser corrigidos

Relativamente às sensibilidades sentidas no Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, tais como a falta de recursos humanos pelos salários insuficientes, a cabeça de lista defende que é necessário fazer uma primeira reavaliação de todos os serviços consulares, “no sentido de adequar – em termos humanos e técnicos – os serviços à realidade das áreas em que estão implantados”. Só assim, diz, conseguirão servir convenientemente os cidadãos portugueses. “Temos consciência daquilo que se está a passar em Macau, há de facto uma desadequação profunda, designadamente no vencimento dos servidores do Estado português, e essa desadequação leva a que os funcionários procurem uma vida melhor noutros meios com outras possibilidades (…) portanto obviamente que isso tem de ser equacionado muito rapidamente”, afirmou, sublinhando a necessidade de “corrigir o que está errado”.

24 Set 2015