Motoristas | Autocarros e táxis empregam 5% de jovens licenciados que optam pela profissão

Não foi fácil, mas conseguimos. O sector dos transportes tem reclamado que não há jovens que queiram ser condutores de autocarros, nem taxistas. Estes existem, ainda que numa pequena percentagem, e são licenciados. Podiam ter sido professores, jornalistas, psicológicos ou croupiers, mas optaram por trabalhar atrás de um volante: não se ganha mal, tem-se mais tempo livre e há vida para além dos casinos

 
[dropcap style=’cricle’]N[/dropcap]os últimos anos, as três empresas de autocarros locais têm vindo a queixar-se que os condutores são todos de idade avançada e cada vez menos jovens entram no sector. O mesmo tem acontecido com associações de taxistas e de camionistas. O HM tentou apurar se essa é realmente uma tendência. A verdade é que, nas visitas aos terminais de autocarros da Barra, Fai Chi Kei e Bacia Norte do Patane, pudemos observar que quase todos os condutores têm entre 40 a 60 anos da idade. Só no das Portas do Cerco é que encontrámos um condutor mais novo, Lao, de 29 anos, que trabalha para Transmac há apenas dois meses. O facto prova que há, na verdade, dificuldades em encontrar jovens que queiram ser motoristas, mas também é verdade que a tendência parece estar a alterar-se.
Lao conta-nos que sai sempre à pressa quando chega de um terminal para outro. Quer ir para casa. Trabalhou como croupier durante vários anos, mas estava farto do modo de vida, o que o levou a deixar o trabalho. Agora, é melhor.
“Agora o trabalho não é como no casino. Para mim, era difícil sentar-me oito horas à frente de uma mesa”, disse, mostrando que gostaria de continuar a trabalhar onde está.

Números que não mentem

Segundo dados fornecidos pelas três empresas, o número médio de condutores jovens de autocarros é de cerca de 5%. Na Sociedade de Transportes Colectivos de Macau (TCM), existem cinco condutores com idades entre os 20 e os 39 anos, ocupando apenas 2,2% do número total, enquanto os restantes 80% têm entre 40 a 59 anos.
A situação melhora quando se consulta a Nova Era de Autocarros Públicos, que tem 25 condutores dos 25 aos 35 anos da idade, o que perfaz 5,8% de todos os condutores. Da parte da Companhia de Transportes Urbanos de Macau (Transmac), existem 14 condutores com idade inferior a 35 anos e 19 têm entre 35 a 40 anos, ou seja 3,28% e 4,45% do número total dos condutores da empresa, respectivamente.  
A Câmara de Comércio de Camiões Transfronteiriços Guangdong-Macau já disse, em público, que espera que o Governo crie formações do sector para atrair jovens. A Associação Geral dos Proprietários de Táxis de Macau afirmam também que, entre os 1200 táxis existentes, 10% estão desocupados devido à falta de taxistas e uma parte saíram para conduzir autocarros de casinos. “Menos de 1%” dos que conduzem táxis são jovens.

Perder a face?

Ao contactar com a Nova Era, conseguimos falar com um condutor de 34 anos. Lam Ka Cheng trabalha na empresa apenas há meio ano, mas já era fazia entregas ao volante noutra empresa há mais de três anos. Lam resolveu conduzir autocarros públicos porque o trabalho lhe dava uma remuneração mais fixa. “Acredito que não serei despedido caso não cometa erros grandes”, disse, defendendo que, assim, consegue um salário mais estável e poderá olhar para o futuro.
Em Macau, os casinos e hotéis parecem ser os sectores mais atraentes para muitas pessoas, mas não para Lam. “Não gosto de trabalhar nessas áreas. Prefiro ser condutor, é mais livre e menos controlado por superiores.”
O jovem afirmou ainda que nunca teve um acidente nem queixas de passageiros. Mas está preparado para tal. “Em qualquer situação, devemos tratar os assuntos de forma calma e razoável.” 
Entre os condutores com que falámos, está Kaxia Chao, o mais novo, que tem apenas 24 anos. Já consegue ganhar mais de 30 mil patacas por mês. “Trabalho todos os dias três horas como condutor de camiões e outras quatro horas em autocarros públicos, a tempo parcial.”
Kaxia tirou a carta de condução quando tinha 22 anos. No início, não tinha ideias de ser condutor, mas quando os amigos criaram uma empresa de logística e não encontraram condutores, Kaxia resolveu ajudar. 
O jovem explica-nos que o sector tem falta de condutores no geral, o que faz com que o salário seja mais alto do que em outros sectores. Diz ainda que a profissão deveria ser tida como uma “área especializada”, porque nem todos podem ou querem conduzir autocarros e camiões.
“Os condutores mais velhos já não querem entrar e sair dos locais de construção porque é muito fácil os camiões capotarem. Cada vez mais os condutores saem desta profissão e, assim, o nível de salário subiu, comparado com os trabalhos nos casinos. Por isso, prefiro o sector de transportes.”
Para Kaxia, conduzir autocarros é uma preferência, porque o “veículo é mais duro e consegue controlar melhor”. Mas como o salário de conduzir camiões é mais alto, opta por manter os dois trabalhos. O jovem já foi trabalhador de casinos, de restaurantes, de locais de diversão nocturna e até poderia ter sido psicólogo. condutores motoristas
“Tirei o curso de Psicologia numa universidade local, mas não gosto tanto dessa área, não me dediquei a ela”, diz-nos, admitindo que está a trabalhar numa profissão que é vista por outros jovens como sendo uma vergonha.
“Muitos licenciados podem trabalhar como condutores por terem carta de condução, mas importam-se mais com a identidade e não têm coragem de conduzir autocarros ou camiões, acham que é perder a face quando os conhecidos ficam a saber da sua profissão.”
A família de Kaxia é mais tradicional e discordava muito da sua opção por se tornar condutor, mas lentamente foram descobrindo que não seria um grande problema: a remuneração até é melhor do que outros sectores e, por isso, as queixas diminuíram.
Kaxia diz ser impossível ser condutor durante toda a vida e espera subir a posições mais altas no sector, como fazer parte da administração. “Sou muito jovem e tenho experiência em conduzir, posso ser melhor do que os licenciados que não saibam nada do sector mas querem mesmo ser administradores” afirmou. 

Interesse VS pressão

Phoenix Chan tem 27 anos. É professor de Matemática de uma escola secundária. Mas, recentemente, surgiu-lhe a ideia de ser condutor. Até porque sempre teve interesse.
“Desde a infância, sempre gostei de autocarros. Decidi fazer um exame para tirar a carta de condução de autocarros no Verão do ano passado. Depois, achei uma pena se não conduzisse autocarros após ter tirado a licença, portanto arranjei tempo para ser condutor a tempo parcial depois da escola.”
Desde Março que trabalha assim, mas devido ao acumulado de trabalhos na escola, desistiu do trabalho na Transmac em Agosto. Mas esta não foi a única razão.
“A pressão de conduzir autocarros públicos é grande, porque os passageiros são pouco sensatos, zangam-se com os condutores por causa dos longos tempo de espera, sobretudo na paragem da Praça Ferreira Amaral. Queixam-se também se pararmos mais à frente ou mais atrás nas paragens, do ar-condicionado não estar frio suficiente… Queixam-se de tudo. Ouvi também condutores mais velhos a contarem que foram agredidos quando estes passageiros entravam nos autocarros”, afirmou.
Phoenix avançou que os condutores só têm meia hora para almoçar ou jantar durante as horas de pico. Embora sejam fixadas oito horas para o trabalho, muitas vezes trabalham durante dez a 11 horas e não têm intervalos, caso haja muito trânsito ou acidentes e cheguem mais tarde ao terminal. “Já cheguei a não descansar durante mais de quatro horas”, confessa-nos. “Poucas pessoas têm licenças para conduzir autocarros e as três empresas de autocarros estão carentes de condutores, sobretudo os nocturnas, pelo que muitos precisam de preencher as horas quando faltam condutores”, avançou. O horário nocturno é também o mais indicado para os jovens, como o HM pôde constatar.
Phoenix explica que, a tempo parcial, ganha-se 90 patacas por hora a conduzir, sendo que um condutor a tempo inteiro ganha a partir de 25 mil patacas por mês. Phoenix é de opinião contrária dos colegas e diz que a remuneração “não consegue atrair” mais jovens para a área.
Para este professor, o controlo de horas de trabalho é um dos pontos para atrair mais jovens a serem condutores de autocarros, ao mesmo tempo que a menor pressão. “Os serviços de autocarros em Macau são definidos pelo Governo, incluindo o número diário de saídas de autocarros. Comparado com os autocarros de casinos, que vão directamente de locais a locais, os autocarros param em todas as paragens, é mais chato e difícil”.

De jornalista a taxista

O presidente da Federação dos Negócios de Táxis de Macau, Wong Peng Kei, explica-nos que é difícil contar quantos taxistas jovens existem porque esses não gostam de ser membros da Federação. Segundo a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), actualmente existem 13 mil pessoas com carteiras profissionais de taxistas. TCM autocarros
Tony Kuok, presidente da Associação de Mútuo Auxílio de Condutores de Táxis afirmou ao HM que os jovens taxistas não ocupam mais de 1% do número total. “Muitos jovens trabalham como taxistas a tempo parcial, alguns deles porque foram despedidos [com o encerramento] de salas VIP. Esta profissão é apenas uma transição para eles, porque podem ainda escolher muitos sectores”.
Arlok Ao é o único taxista jovem que falou connosco. De 30 anos, começou a ser taxista desde Junho deste ano. “O que posso fazer quando não quero trabalhar nos casinos?”. É assim que inicia a conversa, dando a entender que este é o único sector que ainda compensa para os locais.
“Gostei sempre de conduzir e com o trabalho de taxista tenho mais tempo livre. Mas o que me dá mais força é a vida. Tenho de sobreviver. ”
Arlok ganha mais de 20 mil patacas por mês, mas não acha suficiente o dinheiro. As taxas que tem de pagar pelo uso do táxi ocupam-lhe grande parte do rendimento, pelo que quer arranjar mais um trabalho a tempo parcial. 
O jovem conta-nos que é licenciado em Comunicação e até trabalhou como jornalista na TDM, tendo sido ainda anteriormente Chefe de Operações de Transportes Marítimos. Para este novo taxista, é muito difícil atrair jovens para o sector, porque, às vezes, as horas de trabalho são longas e o trabalho é aborrecido. Ainda assim, são vários os que têm optado por passar para o sector da condução. Quem sabe, o futuro é na área dos transportes e cada vez mais poderemos ver jovens ao volante quando apanhamos um autocarro.
 

9 Out 2015

De não saber o que nos espera

[dropcap style=’cricle’]1[/dropcap]. Desisti. Desisti na medida em que posso desistir, dadas as obrigações profissionais. Não quero saber. Digam-me quando se perceber o que foi isto, o que vai ser isto, o que foram estas eleições em Portugal. Não questiono resultados – cada um vota como quer, à direita ou à esquerda, no centro ou nos extremos. É a beleza da democracia, esta liberdade de ideias, por mais estranhas que nos possam parecer. É a liberdade de acreditar nas politicamente correctas inverdades que melhor nos soam.
O pior veio depois, veio agora, está para vir. Nada é irrevogável. Nem ninguém. As propostas de ontem hoje já não têm qualquer interesse – o poder apaga tudo, condiciona tudo, muda tudo e todos.
Desisti. Desisti de querer saber. Já sei o que me interessa: os próximos dois anos vão ser mais 24 meses de dias perdidos. Vão ser dias perdidos para quem lá está e para quem, como eu, não está mas gostaria que Portugal fosse uma opção, porque não é. Andamos sempre a ir à guerra sem ajuda.

2. Nas contas que alguma imprensa portuguesa tem feito esta semana, Macau entra na equação como sendo a incógnita. Os votos ainda não estão contados e ainda faltam uns dias para se saber do sucesso de José Pereira Coutinho.
Estranho caso este que só as regras da mais deselegante política permitem compreender: um deputado de uma região administrativa especial de um país candidata-se ao parlamento de outro país. Avisa que, se ganhar, não pretende ocupar o cargo. Os eleitores que votaram nele não votaram bem nele, mas sim noutro qualquer que o vai substituir. 91015P22T1
Continuo sem perceber o que ganha Pereira Coutinho com esta candidatura, cabeça de lista de um movimento político sem qualquer expressão. Percebe-se o que ganha a candidatura, ao apostar em Macau num homem com capacidade de mobilização eleitoral. Os lucros políticos de Coutinho poderão ser muitos e vantajosos, mas com tudo isto ficou a perder, ao ser protagonista de uma dança que só lhe fica mal.

3. Mas por cá é mais Nova Iorque, corrupção, Nações Unidas. Ng Lap Seng ocupou a semana à imprensa, o caso está bicudo, afinal já não são só alegadas falsas declarações na alfândega norte-americana, afinal isto já mete corrupção, dinheiro gordo, pessoal diplomático, Macau.
Como seria de esperar, aqui ninguém sabe de nada, o silêncio é um bom parceiro, nos negócios também, eles às vezes é que se esquecem disso. E um dia destes já ninguém se lembra – é o deixa andar a ver se passa.
Ainda bem que vem aí o Grande Prémio, que Macau anda pelas ruas da amargura nas agências de notícias e nos jornais lá de fora, e a gente gosta que a terra faça boa figura. Depois do jogo que já não é infinito, dos junkets e dos escândalos, Ng Lap Seng não veio ajudar ao noticiário local de desgraças. Macau, terra harmoniosa e de gente séria. Ao volante e no Circuito da Guia a coisa vai correr melhor.

4. Antigamente era no salão nobre do Leal Senado, a emprestar alguma dignidade à coisa e à causa lusófonas. Este ano foi diferente – a conferência de imprensa do Festival da Lusofonia foi realizada no auditório do Mercado de São Domingos. Foi um momento oficial num local raras vezes usado para estes fins, sem sequer contar com a presença das associações que também se juntam à festa.
Quem lá esteve diz que foi um acontecimento pouco lusófono e nada feliz. Apesar do cheiro a peixe que pode sempre fazer pensar no mar, o mar que permitiu que a língua andasse por aí, que a cultura andasse por aí, que se construísse este estranho conceito que não entendo. Apesar do cheiro a peixe.

9 Out 2015

Depois das Eleições Legislativas em Portugal

[dropcap style=’circle’]1[/dropcap]Chamados às urnas os portugueses elegeram, a 4 de Outubro, os seus representantes no Parlamento com base nos quais se formará o governo que dirigirá os nossos destinos colectivos, nos próximos quatro anos.
As propostas submetidas a escrutínio eram basicamente duas: o afastamento do governo de direita e o fim da política de austeridade em nome de um crescimento imediato sustentado na Fé; a prossecução de um novo mandato focado em potenciar os sacrifícios pedidos aos portugueses em razão dos compromissos com a Troika e a devolução gradual dos rendimentos que foi imperativo captar para o reequilíbrio orçamental e o pagamento do dinheiro pedido emprestado.
A escolha dos portugueses foi clara. Ganhou a Coligação Portugal à Frente com 38,55% do total dos escrutínios, ficando o PS em segundo lugar com 32,88% dos votos, seguindo-se o Bloco de Esquerda e o PCP (sob a capa da CDU) com 10,22% e 8,27%, respectivamente. Face ao que haviam sido as balizas propostas para o julgamento dos eleitores – maioria significativa pedida pela Coligação, maioria absoluta e derrota da direita pedida pelo PS – a vontade dos eleitores expressa nas urnas foi transparente: a Coligação tem agora um novo mandato como força mais votada para constituir governo, o PS foi derrotado nos seus marcos eleitorais e tem um responsável que se chama António Costa.
Diferentemente do que expressaram os resultados eleitorais, a esquerda radical procurou, nos momentos seguintes, extrair uma outra leitura: que a Coligação apesar de ter conquistado 104 deputados no Parlamento e o PS ter ficado apenas com 85, não teria legitimidade para governar mas sim a esquerda que passara a deter uma maioria negativa. Ou seja o que valera para os governos de Mário Soares, António Guterres e José Sócrates (que governaram em minoria) não valeria para o governo de Passos Coelho, porque as esquerdas odeiam Passos Coelho.
Quer dizer, a Constituição valerá quando joga nos propósitos das esquerdas mas nada vale quando favorece o centro-direita. Catarina Martins – a teatral líder do Bloco de Esquerda e do espaço político BE-CDU – reivindicava-se dessa leitura messiânica às primeiras horas da noite eleitoral, levando o Partido Comunista a reboque.
2. Não se pode desconhecer, contudo, que o quadro global de governabilidade se modificou, significativamente, com a composição da Assembleia da República. Com uma minoria aritmética de votos no Parlamento, o centro-direita terá de encontrar um novo estilo de governabilidade, de aplicação do programa eleitoral que submeteu aos portugueses e que recolheu o aplauso de 38% dos eleitores votantes, isto é dois milhões e sessenta e sete mil eleitores.
Terá que saber negociar com a esquerda moderada, criando sinergias e ultrapassando fossos que não são tão grandes quanto isso (como aqui escrevi em crónica anterior) em matéria de programa económico e alinhamento ao Tratado Orçamental, às directivas da zona Euro. Os sinais que António Costa deu, na noite eleitoral, são promissores e a menos que o PS obreirista lhe imponha uma linha de convergência com as esquerdas comunistas, a negociação é possível e será, apesar de difícil, concretizável. Teremos o programa de governo aprovado no Parlamento e muito provavelmente o Orçamento com a abstenção do PS.
É esse o quadro que Passos Coelho irá colocar ao Presidente da República e não tenho dúvidas que Cavaco Silva irá criar condições para que o governo da Coligação, legitimada por uma vantagem de seis pontos percentuais sobre o segundo concorrente, o PS, possa governar em concertação permanente.
Espera-se que com a moderação, visão estratégica e discernimento que revelou na condução da campanha eleitoral – e cujo veredicto é em larga medida um vitória pessoal – Passos Coelho constitua um governo expedito, pragmático, formado por políticos profissionais, melhor ajustado aos dossiers sociais e que conduza o país, sustentado em bases seguras, a um ciclo de crescimento e progresso.
O recuo do apoio nos eleitorados urbanos de Lisboa, Porto e Coimbra, com perda de 7, 4 e 2 deputados para o conjunto da Coligação, deve merecer uma atenção particular das directorias dos dois partidos e o procurar de um novo contrato de governabilidade com estes eleitores, onde se alicerça a base eleitoral do Partido Social-Democrata e o seu futuro.
3. As eleições mostraram duas coisas complementares. A primeira que as sondagens revelaram, com relativa proximidade, a sensibilidade aprofundada do país ao contrário do que afirmavam as esquerdas. A segunda que a opinião veiculada pela comunicação social, pelas televisões e pelas comunidades sociais em nada expressaram o sentir mediano dos portugueses. Elas foram, sobretudo, instrumentos de propaganda – logo sectários e parciais – de profissionais de marketing político, contratados pelos partidos da esquerda ou profissionais que ecoam agendas político-partidárias em vez de cumprirem a sua missão de informar, com isenção e imparcialidade. E se esse foi um efeito perverso em outras eleições mostrou-se com maior gravidade, nestas. Como alguém escrevia, a maioria silenciosa dos eleitores votou e escolheu o novo governo de Portugal mas ela não teve eco na informação que nos foi prestada. O que as eleições provaram é que esse jogo do engano e da mentira não vinga e que os eleitores, no fim, sabem muito bem fazer um juízo convergente aos interesses dos país.
4. No momento que escrevo esta crónica não são conhecidos os resultados dos círculos eleitorais da Europa e de Fora da Europa. São 4 lugares de deputados que estão em causa e que a confirmar-se a tendência nacional darão 2 a 3 deputados à Coligação Portugal a Frente e 1 ao PS. Esse é o meu prognóstico. Se assim for, a distribuição de lugares no Parlamento passará para 107 deputados para a Coligação, 86 para o PS, mantendo-se a restante distribuição pelo Bloco de Esquerda, a CDU e mais um deputado pelo PAN. Não creio que os eleitores do circulo Fora da Europa tenham acolhido os manobrismos rasteiros de quem, não se conseguindo fazer eleger nos principais partidos, escolheu o expediente de se propor como candidato por um partido que ninguém conhece e que captou 0.3% dos votos expressos, para se alcandorar aos ombros de quem controla politicamente no microcosmos de Macau, a um lugar de representação nacional. Seria um absurdo, uma mistificação e a violação de 40 anos de história da democracia portuguesa. As reclamações que intenta apresentar terão o resultado que espera sempre os populistas e os demagogos: o fracasso e a gargalhada.

9 Out 2015

Jogo | Receitas da Semana Dourada subiram 50% e atingem ponto de viragem

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s bancos de investimento estrangeiros dizem que as receitas do Jogo atingiram lucros de 800 milhões de patacas só durante a Semana Dourada, o que aponta para uma melhoria de 50% das receitas, comparando com as registadas no mês passado. No entanto, afirmam, a indústria não vai sair deste dilema até 2016.
O banco japonês de investimento Daiwa Securities publicou recentemente um relatório onde mostra que, nos primeiros dias de Outubro, as receitas de Jogo de Macau estiveram entre os 800 e os 900 milhões de patacas, registando-se um aumento entre 40% e 58% comparado com o valor médio do de Setembro passado. No entanto, nem todos os investidores estavam confiantes de que as receitas iriam realmente subir durante este período, pelo que previram um número muito aquém do verificado. No entanto, o Daiwa Securities observou que o número de apostas nas zonas de massas e nas salas VIP dos empreendimentos do Cotai aumentou recentemente. jogo casino
O mesmo banco prevê que as receitas deste mês de Outubro fiquem nos 19,5 mil milhões de patacas, aumentando 10% comparado com o mês passado mas diminuindo 30% em termos anuais. Já o banco de investimento de Hong Kong J.P Morgan publicou outro relatório, onde considera que a indústria ainda não saiu do dilema da queda de receitas, mas já atingiu um ponto de viragem.
No documento, o banco refere que o lucro das zonas de massas já viu uma recuperação, prevendo que o sector tenha aumentos entre o quarto trimestre deste ano ou início do próximo. Em simultâneo, as receitas destas zonas de apostas deverão passar de negativo para positivo.

8 Out 2015

Pearl Horizon | Governo pondera renovação da concessão

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) afirmou ontem que vai estudar a possibilidade de proceder à renovação da concessão do edifício Pearl Horizon, na Areia Preta, cujo prazo de aproveitamento caduca no final do ano. O anúncio é feito no mesmo dia em que se sabe que há mais três lotes em situação semelhante ao do edifício.
A Chefe do Departamento de Gestão de Solos da DSSOPT, Lo Hio Chan, a vice-presidente da Associação dos Empresários do Sector Imobiliário e a deputada Kwan Tsui Hang foram ontem ao programa Fórum Macau do canal chinês da Rádio Macau, onde discutiram a questão do prazo de aproveitamento de terrenos que expiram este ano. Vários ouvintes defendiam em directo que não se deve discutir de quem é a culpa, mas pensar numa solução para o problema. É que o prédio já deveria estar pronto, mas só tem as fundações e algumas fracções já foram compradas em regime de pré-venda.
Figuras do sector imobiliário consideram que o problema está nas leis, mas a deputada Kwan Tsui Hang contesta essa opinião e defende que, em caso algum – mesmo havendo proprietários prejudicados – se pode passar acima da lei e que os terrenos devem ser recuperados. A Lei de Terras, recorde-se, impede a renovação do contrato de concessão se o terreno não for aproveitado no prazo estipulado.

Falhas de ligação

Willian Kuan, por exemplo, considera que o problema deriva da falta de ligação das antiga e nova Leis de Terras. Frisa que o Governo deve esclarecer de quem é a responsabilidade sobre a falta de conclusão das obras e a seguir estudar se é possível conceder novamente os lotes. William Kuan, que foi candidato à Assembleia Legislativa em 2013, é contudo parte interessada, já que um dos terrenos “em situação semelhante” pertence à sua empresa.
Kwan Tsui Hang, que aponta que as cláusulas de aproveitamento de terreno nos dois diplomas eram semelhantes, discorda com a revisão da lei, como tem sido falado, de acrescentar um artigo que diga respeito a um período de transição, que daria mais tempo aos proprietários para construir.
Lo Hio Chan explicou que normalmente o período da concessão de arrendamento de terreno é de 25 anos. Conforme a nova Lei de Terras, caso a necessidade de prorrogação para o desenvolvimento do terreno não seja culpa do construtor, o Governo pode prolongar o período de utilização, mas caso o período de arrendamento expire e não haja qualquer aproveitamento, deverá declarar-se a caducidade.
“A prolongação não pode ultrapassar o período da concessão de arrendamento. Portanto, como o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, disse, de acordo com o artigo 48º da Lei de Terras, devemos exercer os processos de declaração de caducidade da concessão, conforme a lei.”
Questionada sobre se o lote do Pearl Horizon pode ver renovada a sua concessão, contudo, a responsável disse que o caso está a ser estudado pelos Secretários.
Ainda assim, disse Lo, apesar de ter havido isenção de concurso público de concessão, caso haja renovação o construtor precisa ainda de pagar novo prémio, que pode chegar aos cem milhões de patacas. “A possibilidade de concessão nova foca-se na protecção de interesses de proprietários de pré-vendas”, rematou a Chefe, deixando no ar a possibilidade.

8 Out 2015

FRC | “A Arte da Ilustração em Macau e Portugal” em exposição até final do mês

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]“A Arte da Ilustração em Macau e Portugal”, exposição que reúne 40 obras de um total de 20 artistas, inaugurou ontem na Fundação Rui Cunha (FRC), depois de ter estreado, no Verão, no Porto. Da iniciativa da Associação Cultural Yun Yi, a mostra vai estar patente até ao dia 31 de Outubro.
“Foi sempre nossa missão facultar uma plataforma para o intercâmbio entre artistas de Macau e de outros países/cidades. Esperamos trazer talentos do estrangeiro para mostrar a Macau as novas tendências, tradições artísticas de outros países e, ao mesmo tempo, levar a nossa arte local lá fora”, afirmou Christine Hong Barbosa, fundadora da Associação e uma das curadoras da exposição.
Neste sentido, Portugal surgiu como uma escolha “muito natural” como primeiro destino nomeadamente pela “longa relação” e pelo background histórico. O Porto foi o palco da estreia, em particular.
“Esta exposição é muito significativa. É o primeiro ano que fazemos. Vamos tentar com que seja anual e tentar escolher outro país/cidade para aplicar o mesmo conceito. O nosso objectivo é que para o ano tenha lugar em Nova Iorque”, explicou Christine Hong Barbosa à agência Lusa. “Estamos a planear: depende do financiamento, dos participantes e, se tudo correr como esperado, espero que tenha lugar no Verão e depois novamente no Outono em Macau”.
A exposição não tem uma temática comum, tendo os 20 ilustradores ou grupos de ilustração de Portugal e Macau (dez de cada) sido convidados a apresentar os trabalhos que acabam, portanto, por ser “muito diferentes” desde logo do ponto de vista das técnicas, já que havia apenas um requisito – o tamanho – imposto para evitar dificuldades logísticas.
De Portugal chegam os trabalhos de André da Loba, Catarina Sobral, Nicolau, Rui Vitorino dos Santos, José Cardoso, Marta Monteiro, Lord Mantraste, Júlio Dolbeth, Pedro Lourenço e João Drumond. De Macau participam Eric Fok, Tun Ho, Rui Rasquinho, Kay Dung, Siomeng Chan, Kun Lam, Tim Chan, Aquino da Silva, 2UP e Chan VaiChun & Henry Chan.

8 Out 2015

Ng Lap Seng acusado de corrupção por subornar oficiais da ONU

Ng Lap Seng está oficialmente acusado de corrupção, a mesma acusação deduzida a John Ashe, ex-embaixador da ONU. O caso está ligado à construção de um centro de conferências em Macau e a outros projectos de imobiliário. O Governo diz não saber de nada e não tecer comentários. O CCAC também não quis falar. A empresa de Ng Lap Seng foi expulsa de um programa da ONU este ano

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]orrupção. É esta uma das acusações que Ng Lap Seng enfrenta nos EUA na sequência de pagamentos de subornos a funcionários e ex-funcionários da ONU. O empresário e representante político de Macau foi detido nos EUA no mês passado, depois de ser acusado de levar ilegalmente grandes quantias de dinheiro para o país e ocultar as suas verdadeiras intenções às autoridades norte-americanas. Agora, uma investigação relacionada culminou na nova acusação, ontem tornada oficial.
A notícia é avançada pela imprensa norte-americana e pela agência Reuters, que escrevem que também o presidente da Assembleia Geral da ONU em Barbuda e Antigua, John Ashe, e “muitos outros oficiais” da organização foram acusados terça-feira (quarta em Macau) de corrupção. Estes terão aceite subornos no valor de mais de um milhão de dólares de empresários chineses, onde se inclui Ng Lap Seng.
John Ashe foi detido em casa e acusado de ter “transformado a ONU numa plataforma para lucros”. O crime: aceitar cerca de 1,3 milhões de dólares em subornos de empresários chineses. Do total, 500 mil dólares foram pagos por Ng Lap Seng, para que o embaixador da ONU intercedesse junto do Secretário-Geral da organização para a construção de um Centro de Conferências “multimilionário” em Macau. Centro que seria patrocinado pela ONU e investimento de Ng Lap Seng, que terá dito – segundo o assistente também detido, Jeff Yin – que este era um dos legados que queria deixar no território. Jeff Yin admitiu também que o patrão “fez pagamentos nesse sentido”.
O dinheiro terá sido gasto por Ashe numa casa, em relógios Rolex, num BMW, em férias familiares e na construção de um campo de basquetebol em casa. Ashe terá de pagar um milhão de dólares para poder ficar em prisão domiciliária. O advogado já disse que Ashe tem imunidade diplomática, não podendo ser acusado.

Por cá nada se sabe

Até agora, foram formalmente acusados cinco oficiais da ONU, mas as autoridades norte-americanas avançam que a investigação continua e que poderá haver mais envolvidos.
Outro dos ontem acusados é Francis Lorenzo, um embaixador da ONU na República Dominicana, que terá sido o intermediário de Ng Lap Seng no pagamento a Ashe. Ng pagaria, segundo as autoridades, “20 mil dólares por mês a Lorenzo”, como “presidente honorário” de uma das suas organizações em Nova Iorque, a South-South News (ver coluna). A empresa de Ng em Macau, a Sun Kian Ip Group, tem “diversos” embaixadores da ONU com funções de líderes nas representações nos EUA. Mas, ao que o HM apurou, empresa foi retirada da lista de um programa da ONU em Abril deste ano (ver texto secundário).
Fontes de Macau não identificadas, citadas pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post, indicam que há ainda alegações de que os subornos incluam construções “em ou perto de património protegido pela UNESCO”.
Willian Kuan, também parceiro de Ng no Grupo Sun Kian Ip, afirmou ontem ao canal chinês da Rádio Macau que é parceiro de negócios de Ng, mas nunca ouviu falar de um projecto para um centro de conferências em Macau. Também Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU, disse não conhecer o caso.
Willian Kuan, que foi candidato às eleições da AL em 2013, disse ainda não conseguir contactar Ng Lap Seng desde que este foi preso nos Estados Unidos, mas assegura que o caso não influencia o funcionamento da empresa. 

Para as autoridades norte-americanas, o caso vai permitir saber se “a corrupção é uma prática comum na ONU”. Se for dado como provado, “fica comprovado que o cancro da corrupção que mina demasiados governos infecta também a ONU”.
O HM pediu esclarecimentos junto do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), que disse “não ter, de momento, quaisquer comentários a fazer” e frisou que “se, e quando, existir qualquer informação a prestar procederá à sua divulgação através da sua comunicação à imprensa”. Já do Gabinete do Chefe do Executivo chega a resposta de que “tendo em consideração que o assunto é objecto de procedimento judicial, o Governo não tece comentários”, mas também que “não dispõe de informação alguma sobre os factos mencionados”.

Empresa expulsa de programa das Nações Unidas

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m Abril de 2015, a Sun Kian Ip Group de Ng Lap Seng foi expulsa do programa Global Compact da ONU. Ao que o HM conseguiu apurar, a expulsão da empresa foi assinada este ano, dois anos depois desta se ter juntado ao programa.
Numa visita ao site da Global Compact da ONU, é possível ver que a estratégia do programa é chamar empresas internacionais a alinharem em princípios que visam os direitos humanos, o ambiente e a luta anti-corrupção e a tomar acções contra isso mesmo. Numa carta a que o HM teve acesso, assinada por Ng Lap Seng, é possível ver o empresário e representante político de Macau em Pequim e na Comissão Eleitoral que escolhe o Chefe do Executivo a comprometer-se com estes princípios. ONU
“Tenho o prazer de informar que a Sun Kian Ip Group apoia os dez princípios da Global Compact, no que respeita aos direitos humanos, trabalho, ambiente e anti-corrupção. Com este comunicado, expressamos a nossa intenção de integrar esses princípios na nossa esfera de influência. Comprometemo-nos a fazer dos princípios da Global Compact parte da estratégia e cultura rotineira da nossa empresa. (…) Demonstraremos o nosso compromisso ao público e aos nossos accionistas”, pode ler-se no documento.
Contudo, um carimbo vermelho dá a empresa como expulsa em Abril de 2015 por “ter falhado em comunicar progressos” nesse sentido. A expulsão da ONU não foi fundamentada além desta justificação. É que, de acordo com os princípios do programa da ONU – e como Ng Lap Seng admite na carta enviada a Ban Ki-moon, Secretário-Geral da organização – as empresas têm de enviar relatórios anuais que descrevam “os esforços da empresa” na implementação dos dez princípios. A Sun Kian Ip comprometeu-se a fazê-lo em 2013, mas nunca o fez.

Encontro em Agosto junta Ashe, Lorenzo e Ng Lap Seng

Em Agosto deste ano, John Ashe, Francis Lorenzo e Ng Lap Seng estiveram reunidos em Macau, num Fórum para a Cooperação Sul-Sul das Nações Unidas. O encontro reuniu uma centena de embaixadores e aconteceu no Grand Hyatt. De acordo com o site South-South News, que se especifica em actividades da ONU, foi patrocinado pela Fundação Sun Kiap Ip Group, a empresa de Ng Lap Seng. A South-South News, que fica em Nova Iorque onde ficam outras sedes da ONU, pertence, de acordo com a imprensa norte-americana, a Ng Lap Seng, mas este é descrito no próprio site da South-South como “um apoiante” da empresa.

Centro em Macau era promovido desde 2010

Segundo a Rádio Macau, que cita o documento da queixa-crime das autoridades norte-americanas, Ng Lap Seng estava “a encorajar a construção” do centro de conferências da ONU em Macau “pelo menos desde 2010”. O espaço tinha já um nome preparado – Centro Internacional de Conferências Permanente para a Cooperação Sul-Sul das Nações Unidas – e foi promovido através de uma brochura no qual era visto como um local que poderia acolher, entre outras coisas, uma “Incubadora de Negócios Globais”, com a missão de “servir de facilitador a governos e ao sector privado para construir a capacidade dos países da Cooperação Sul-Sul para alavancar a inovação e a criatividade na realização dos Objectivos do Milénio”, cita a Rádio. John Ashe, que seria um dos intermediários de Ng Lap Seng para convencer a ONU sobre a necessidade da construção do centro em Macau, terá começado a divulgar o espaço em Setembro de 2011. No ano seguinte, diz a Rádio, Ashe apresentou um documento oficial da ONU no qual propunha “um centro de convenções e exposições permanente”.  A empresa de Ng Lap Seng, Sun Kian Ip Group, serviria de “representante para a implementação do projecto”.

Ban Ki-moon “chocado”

O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou-se “chocado e profundamente perturbado” com as acusações de corrupção que pesam sobre John Ashe, ex-presidente da Assembleia-geral das Nações Unidas.
As acusações vão “ao coração da integridade das Nações Unidas”, segundo o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, que disse ter sabido do caso ontem pela comunicação social e assegurou não ter sido contactado pelas autoridades norte-americanas.

8 Out 2015

Concessões de terrenos do Windsor Arch e de hotel na Taipa “na mesma situação do Pearl Horizon”

* MODIFICADO: CORRECÇÃO = TERRENO DE HOTEL NA TAIPA, NÃO DO EMPREENDIMENTO LA SCALA

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Chefe do Departamento de Gestão de Solos da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), Lo Hio Chan, revelou ontem existirem mais três terrenos cujas concessões expiram no final do ano sem que o espaço tenha sido devidamente aproveitado. Ao que o HM conseguiu apurar, todos eles foram concedidos por Ao Man Long, antigo Secretário para as Obras Públicas e Transportes condenado por corrupção, e pertencem a empresários conhecidos de Macau.
Um dos terrenos diz respeito ao lote com cerca de 19 mil metros quadrados, na Estrada Governador Albano de Oliveira, na Taipa, que pertence à Empresa de Desenvolvimento Predial Vitória. Esta empresa tem como administradores William Kuan, parceiro de negócios de Ng Lap Seng, e Jorge Neto Valente, advogado. O próprio Ng Lap Seng estava identificado em 2009 como director-geral da empresa.
O terreno estava destinado à construção de um complexo de habitação, comércio e estacionamento e de um hotel, mas a concessionária quis alterar parcialmente a finalidade da concessão e modificar o aproveitamento do terreno, com a construção de um edifício de habitação, comércio e estacionamento com maiores áreas, como indica um despacho publicado em Boletim Oficial. Submeteu esse pedido em 2005 à DSSOPT, que foi aprovado em 2006. Segundo o que o HM conseguiu apurar este lote é onde está construído o empreendimento Windsor Arch, que criou bastante polémica em 2008 devido à altura, e que se encontra, actualmente, quase concluído.
As informações sobre estes três terrenos foram ontem cedidas aos jornalistas em formato de anúncios no Boletim Oficial, com Lio Hio Chan a realçar que os progressos das obras são melhores que os do Pearl Horizon, que ainda prepara as fundações.

No mesmo tom

Outro dos terrenos é um dos lotes pertencentes às empresas Kam Pou Loi e Tai Lei Toi, com 3701 metros quadrados, situado na Avenida Wai Long, em frente ao aeroporto. O lote foi um dos concedidos à CAM — Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau, tendo sido posteriormente reduzido e dividido em espaços atribuídos a diferentes sociedades. Este é um dos terrenos pertencentes à CAM onde iriam ser erguidos empreendimentos, neste caso um hotel.
Pretendendo aproveitar o terreno com a construção de um edifício destinado a hotel de três estrelas e estacionamento, as empresas solicitaram também autorização para modificação do aproveitamento do terreno em 2006.
Outro dos casos diz respeito a um lote concedido por arrendamento na Estrada dos Sete Tanques na Taipa. No local seriam construídos três prédios com dez andares, com a área global de 5412 metros quadrados. A detentora do terreno é a Sociedade Hotelpor Hotelaria, Importação e Exportação.
Em Setembro de 2005, a concessionária solicitou a modificação do aproveitamento do terreno para a construção de três torres com 41 pisos cada. A empresa pediu mais um terreno por causa “de condicionalismos” arquitectónicos do local e, tendo em consideração que o sistema de radar utilizado pela Administração de Aeroportos se encontrava instalado no terreno junto aos edifícios a construir, a empresa comprometia-se a suportar os encargos com a sua substituição. Assim, em 2006, conseguiu obter autorização para a construção.

8 Out 2015

SIDA | Registados 25 novos casos. Incidência menor que em 2014

Continuam a surgir novos casos de pessoas infectadas com o VIH, mas há registados menos casos este ano do que em 2014. As relações sexuais continuam a ser a principal via de transmissão e os homens são os mais afectados

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]número de pessoas infectadas com o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) registou 25 novos casos entre Janeiro a Setembro deste ano. No entanto, a incidência tem sido menor, já que durante todo o ano 2014 foram registados quase o dobro dos casos, 48. De acordo com declarações de Lam Chong, Secretário-geral da Comissão de Luta Contra a SIDA, à margem de uma cerimónia de entrega de prémios, 18 dos novos casos deste ano dizem respeito ao sexo masculino, enquanto outras sete vítimas são mulheres. “Catorze são residentes de Macau e os restantes são não residentes”, acrescentou o responsável.
A principal via de transmissão foi, como tem sido em anos anteriores, o contacto sexual, com oito dos residentes infectados a declararem terem contraído o VIH através de relações homossexuais.
Não obstante a diminuição em termos anuais, o número de pessoas infectadas continua a crescer a dever-se principalmente ao contacto sexual, por sua vez relacionado com a indústria da prostituição na RAEM. “Cada novo caso que surge é tão importante [como os outros] porque é preciso prestar apoio a estas pessoas durante toda a sua vida”, disse Lam Chong.

Luta premiada

A cerimónia serviu para premiar vários cidadãos que contribuíram, através de criação de campanhas de sensibilização, para a prevenção contra a SIDA e o VIH. De acordo com os números dos Serviços de Saúde (SS), de 1986 a 2000 foram registados 256 casos de pessoas infectadas com VIH ou SIDA, o que demonstra que a taxa anual de contágio não subiu. O mesmo já não acontece em anos seguintes: os dados de 2006 contam 402 casos de infecção desde 1986, concluindo-se que em seis anos o vírus se propagou mais facilmente do que em 15. Isto porque as estatísticas revelam um aumento de 146 de 2000 a 2006.
Olhando para os mesmos valores, é possível perceber que a principal via de transmissão é, desde 1986, o contacto sexual. No entanto, embora as relações entre homem e mulher continuem na linha da frente, tem-se verificado um aumento de casos do vírus contraído através de relações homossexuais. Comparando os valores desde há 29 anos, a tendência também tem vindo a sofrer alterações: é a classe de residentes que mais contrai o vírus e tem SIDA, enquanto os primeiros números indicam uma incidência de 69,4% no grupo de trabalhadores não residentes dos casinos. Na década de 80, um dos poucos casinos erigidos era o Hotel Lisboa, que foi construído em 1970.

8 Out 2015

Pac On | Zonas principais “concluídas”. Entrega em Dezembro

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]construtor do Terminal Marítimo do Pac On afirmou ontem que o salão de imigração e a zona de escritórios de organismos públicos no novo terminal já estão concluídas, garantindo ainda que entregará as primeiras fases da obra ao Governo já em Dezembro deste ano. Recorde-se que o as obras para o novo terminal começaram já em 2005, prevendo-se a sua conclusão em 2007. Sucessivos atrasos originaram novas datas de forma consecutiva e, dez anos depois, parece que o terminal estará finalmente concluído.  
O anúncio da entrega do terminal ao Governo foi ontem publicado no site oficial da empresa, onde se pode ler que o Secretário Raimundo do Rosário e o coordenador do Gabinete de Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI), Chao Wai Man, visitaram o Terminal Marítimo do Pac On em meados de Setembro, tendo inspeccionado o salão de imigração e a zona de escritórios das entidades públicas, que já estão basicamente concluídas. A sala de espera dos ferries e o heliporto vão ser concluídos no final do ano, avança ainda a empresa.

Outra dimensão

Em 2013, o projecto mudou a sua natureza de terminal temporário para se transformar num dos principais terminais marítimos, tendo a dimensão da obra “alargado várias vezes”, bem como o seu orçamento. Estava previstos serem gastos 580 milhões de patacas, mas o valor aumentou aproximadamente cinco vezes, para 3,28 mil milhões de patacas, como revelava um relatório do Comissariado de Auditoria em Julho de 2013. Sobre eventuais novos excessos de despesas, o GDI frisou ao Jornal Ou Mun que está a contar com o aumento das despesas e que vai tratar desse assunto tendo em conta o contrato com a empresa.
Em Abril deste ano, o Secretário para Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, disse que o mesmo terminal poderia estar concluído dentro deste ano e entrar em funcionamento em meados do próximo ano. Contudo, afirmou que seria necessário o Governo pagar mais ao construtor da obra, a Companhia de Construção Zhen Hwa.

No site, o director-geral da empresa, Wan Wei, confirmou que, pelo menos a 1ª a 2ª fase do Terminal Marítimo do Pac On, estarão concluídas no fim de Dezembro, de forma a dar uma resposta “satisfatória” tanto ao Governo como à população de Macau. Wan Wei disse ainda que recebeu agradecimentos da parte do Governo.
“Os responsáveis mostraram agradecimento à empresa Zhen Hwa pelos esforços. O Secretário Raimundo do Rosário compreendeu que o projecto é complicado, desafiante e simbólico para Macau e disse esperar que a empresa acelere e aperfeiçoe as obras tendo em conta os princípios de segurança e qualidade”, lê-se no site.
  

8 Out 2015

GP | Novas corridas na Guia e os grandes nomes de sempre

A 62ª edição do Grande Prémio de Macau regressa ao território entre os dias 19 a 22 de Novembro. Há novidades no Circuito da Guia, com a saída da prova WTCC e o arranque da Taça do Mundo de GT da FIA

[dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]Na sua última edição encabeçada por João Manuel Costa Antunes, o Grande Prémio de Macau (GP) apresenta a primeira edição da Taça do Mundo de GT da FIA com cinco equipas – Aston Martin, Audi, Mclaren, Porsche e Mercedes-Benz – e 24 pilotos. Com o habitual Grande Prémio de Motas de Macau e o Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 – Taça Intercontinental da Federação Internacional de Automóvel (FIA), a 62ª edição do GP não vai, contudo, contar com a até então habitual corrida de WTCC.
No Circuito da Guia voltam a correr nomes como o de Félix Rosenqvist, vencedor de Fórmula 3 o ano passado, ou Michael Rutter, habitual vencedor no Grande Prémio de Motos, e Edoardo Mortara. De Portugal chegam os pilotos Álvaro Parente, Nuno Caetano e André Pires. Por Macau, correm André Couto, Rodolfo Ávila, Rui Valente e Álvaro Mourato, entre outros nomes já habituais na Guia.
Com um orçamento de cerca de 210 milhões de patacas, semelhante ao de 2014, a Comissão do GP anunciou ontem que foram geradas mais 3% de receitas no campeonato do ano passado. Aos jornalistas, João Manuel Costa Antunes mostrou-se optimista quanto às novidades no Circuito da Guia.
“Este ano temos duas corridas novas, duas estreias em Macau e a nível mundial. A Corrida da Guia, que é tradicionalmente uma corrida de carros de turismo, deu a oportunidade para que a série TCR tenha aqui a sua final e trata-se de um tipo de viaturas que é mais acessível para que os pilotos da zona asiática, e de Macau, possam evoluir para outros níveis. Penso que pelos resultados que verificámos até agora vamos ter uma grande corrida no Circuito da Guia”, disse.

Reconhecimento

Quanto à Taça GT do Mundo da FIA, “vem quase como uma consequência do projecto que se iniciou em 2008, com as provas GT Macau, em que a nível internacional fomos atraindo cada vez mais as atenções das marcas e dos pilotos”, adiantou Costa Antunes. “Grande parte dos pilotos que vêm para a taça do mundo de TG são pilotos que já correram em Macau. São pilotos que reconhecem a validade e interesse do nosso circuito”.
O facto da Ferrari não estar presente nesta competição não constitui um problema para Christian Schacht, presidente da Comissão GT da Fia. “Teremos de perguntar à Ferrari [por que não vem]. Com todos os esforços que fizemos estou muito contente por termos um projecto que começou em Julho. O sucesso e os resultados que tivemos deixam-me muito contente”, apontou.
Costa Antunes disse ainda ter “uma grande alegria ao ver pilotos de Macau e de Portugal”. “Grande parte dos que vêm competir no GP têm alguma experiência no circuito e portanto temos sempre uma grande esperança”, apontou, tendo falado da entrada de técnicos internacionais no Circuito da Guia.
“Ao longo dos anos temos evoluído e estamos num patamar em que cerca de 900 técnicos desportivos estão à volta do circuito e como o GP é uma prova verdadeiramente internacional, sentimos a necessidade de termos técnicos internacionais, porque seguem os vários campeonatos. São os técnicos que a FIA indica”, rematou.

Grande Prémio no ID “não perde autonomia”

No final deste ano, a Comissão do GP passa a estar sob alçada do Instituto do Desporto, mas Costa Antunes desvaloriza uma eventual perda de autonomia. “Não acho que haja uma perda de autonomia, penso que a estrutura organizativa vai ser de outra forma. A Comissão do GP já viveu no passado outras estruturas. Começou por ser liderado por uma comissão quase independente, depois esteve ligado ao Leal Senado e depois passou a ser coordenado por um departamento do turismo. Depois entendeu-se que deveria ser autónomo e agora, por uma questão de racionalização de meios, entendeu-se que deveria estar dentro de um departamento do ID”, lembrou.

8 Out 2015

Creative | Hoi Chong inaugura “Suspensão” hoje

Hoi Chong inaugura, às 18h30 de hoje, a mostra “Suspensão”, que faz uso de uma série de formas de arte, incluindo pintura e ilustração. Hoi começa por explicar que “a suspensão é um modo de vida, através da relação entre prazer e tempo”, pelo que a exposição vai englobar várias peças que vão desde grafittis a fotografias, ilustrações, música ambiente preparada para o efeito, instalações e pintura.
“Entre os vários tipos de suportes, o grafitti é o que melhor consegue expressão a conotação de ‘suspensão’, pois embora não seja considerada uma forma de arte mainstream, é frequentemente usada para representada noções de espaço e inovação”, escreve a organização. O trabalho de Hoi, explica a Creative, torna visível o descontentamento do artista perante a sociedade actual. A presente mostra é tida como “uma fase determinante” na vida do artista.
O artista local cumpre funções de designer gráfico freelancer baseado na RAEM e interessa-se pelas áreas da música electrónica, da arte e do cinema. Com os amigos, formou um colectivo de designers gráficos, os Hexa, cujo propósito é popularizar esta área artística como alternativa ao mundo do Jogo. A Creative chama a esta mostra um “encontro de formatos multimédia”. A entrada é livre e a exposição estará patente até dia 31 de Outubro.

8 Out 2015

CCM | Comédia familiar apresentada em Dezembro

A Orquestra de Macau apresenta em Dezembro “Viagem ao Mundo da Música – O Elefante Perdido, o Concerto Comédia”. A ter lugar no Centro Cultural de Macau (CCM), no dia 6 pelas 15h00, o espectáculo combina mímica, contos de fadas e música clássica. Trazida a Macau pelo artista americano Dan Kamin, que se estreia no território, “O Elefante Perdido” promete ao público um espectáculo divertido, adequado para adultos e crianças com mais de três anos. Kamin dedica-se activamente ao cinema e ao teatro, sendo autor das sequências de comédia física Chaplin e Benny and Joon, enquanto o seu entusiasmo pela música clássica faz com que apareça em palcos de salas de concerto em todo o mundo. Dan apresentou-se em concertos e digressões com orquestras sinfónicas em Singapura, Xangai, Malásia e Filadélfia, entre outros. Os bilhetes para o concerto custam 150 patacas e estão já à venda, sendo que há descontos especiais para famílias.

8 Out 2015

Signum Living Store | “Scape”, de Rui Rasquinho, inaugura quarta-feira

Na próxima quarta-feira, dia 14, inaugura na Signum Living Store a exposição “Scape”, do ilustrador Rui Rasquinho. São desenhos de paisagens imaginadas e sentidas pelo autor, que apenas querem levar o público a fazer uma própria interpretação daquilo que vê

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]á cerca de quatro anos que o ilustrador Rui Rasquinho não expõe o seu trabalho junto do público, apesar de colaborar regularmente com diversas publicações. Desta vez, o artista quebra esse jejum e apresenta na Signum Living Store a exposição “Scape”, que inaugura na próxima quarta-feira, dia 14, e que estará patente até Dezembro.
“Scape” é uma exposição cheia de obras que não foram feitas para esse fim, mas que fazem parte de um “projecto maior” que Rui Rasquinho está a desenvolver e que será composto também por fotografia e vídeo. O que o público vai poder apreciar na galeria de arte é apenas “uma experiência e uma investigação” para aquilo que ainda há-de vir, contou o artista ao HM. rasquinho
Apesar do nome da iniciativa remeter para paisagens, não são os espaços físicos que “Scape” aborda. “Este projecto tem a ver com paisagens interiores, o que a pessoa pensa, o seu estado de espírito e a forma como isso se expressa. Uma das ideias é ter um espaço grande para a interpretação sobe as obras em si, não só do artista mas das pessoas que vão ver. Há um espaço grande para as pessoas verem o que quiserem e puderem ver, onde as coisas não são completamente figurativas ou abstractas”, explicou Rui Rasquinho.
O ilustrador prefere chamar às 14 obras expostas “desenhos”, que podem fazer lembrar à partida pintura tradicional chinesa. Mas não é disso que se trata. “Neste caso são desenhos porque é a linha que define tudo, o estilo e a mensagem. Mas há referências múltiplas, inclusive referências da pintura histórica, chinesa, mas também ocidental e outras coisas”, acrescentou.

Uma catarse

Tendo sido convidado pela galeria Signum Living Store e a revista Macau Closer a realizar esta exposição, Rui Rasquinho apresentou assim o resultado de uma espécie de catarse do artista.
“Este trabalho tem uma componente importante, que é o desenho como prática obsessiva, como catarse. É também o processo da busca de um ideal, que pode ser fictício e inatingível, entre o figurativo e a abstracção. O que interessa aqui é o processo de busca dessa ideia, não exactamente a ideia em si. Daí aquele espaço vasto que é deixado para a interpretação”, revelou Rui Rasquinho.
Questionado sobre as expectativas que deposita nessa própria interpretação que o público irá fazer, o ilustrador garante que nem sequer pensa nisso. “A ideia é que seja um espaço de interpretação e que as pessoas encontrem sentidos lá. A minha única expectativa é essa, que em vez de se guiarem por frases que o artista ou a galeria fazem, tenham um espaço para fazer a sua própria interpretação”, concluiu.

8 Out 2015

Novo contrato com a TCM já está em vigor

O Governo já reviu o contrato de exploração de autocarros com concessionária TCM, o qual se encontra em vigor desde o dia 1 de Outubro. O contrato, publicado ontem em Boletim Oficial (BO), prevê a exploração de 22 carreiras por parte da operadora, para além de prever a entrega de um relatório mensal à Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT). Este documento deve conter “dados constantes do sistema referente às informações de exploração”, como as horas das partidas das carreiras, o número de partidas ou a duração do percurso. Incluem-se neste relatório as despesas financeiras da empresa. Para além disso, a DSAT obriga a TCM a “elaborar trimestralmente um plano genérico de trabalhos, do qual deve constar a organização e elaboração do programa de exploração de carreiras, mobilização de recursos, manutenção e reparação, limpeza e serviço prestado ao cliente, bem como outras medidas de trabalho, para prestar serviço de melhor qualidade e mais profissional”, pode ler-se.

8 Out 2015

CTM já reparou cabo que causou problemas de ligação

A Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) já reparou o cabo SEA-ME-WE3 que causou problemas de acesso à internet por ter sofrido uma danificação a 24 de Setembro. A reparação teve lugar entre a meia-noite e as 5h00 de ontem e a CTM assegura que foram tomadas “medidas de contingência para fazer face aos problemas” verificados por vários clientes, ainda que se tenha notado falhas na ligação. O referido cabo está localizado perto de Singapura e afectou as ligações de Shan Tou, Macau, Hong Kong, Singapura, Filipinas e Vietname. Foi ainda enviado um navio com uma equipa de manutenção ao local para verificar o grau de danos causados ao cabo.

8 Out 2015

Ana Luísa Amaral, escritora e docente de Literatura

O ano de 2015 está a revelar-se um ano produtivo para a carreira de Ana Luísa Amaral como poetisa, mas sobretudo como escritora. A editora Oxbow Press vai publicar uma antologia dos seus poemas em Inglaterra, enquanto que a editora europeia Peter Lang está a preparar um livro de ensaios sobre a sua obra, a sair este ano ou em 2016. A autora de “Minha Senhora de Quê”, o seu primeiro livro, continua a não assumir nada na sua carreira literária e a considerar as palavras que escreve como um “destino”

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ublicou, aos 33 anos, o seu primeiro livro, “Minha Senhora de Quê”. Muitos livros e palavras depois, que senhora é hoje?
Uma pessoa diferente, claro, até porque 25 anos se passaram… Gosto mais de “pessoa” do que de “senhora” (aliás, esse “minha senhora” foi sempre irónico). Diria, até, que sou, sobretudo, uma mulher diferente. Sou uma mulher com uma linguagem que necessariamente mudou, com a passagem dos anos e o acréscimo de experiências, com a vida, com o mundo. Mas sou, todavia, estruturalmente, semelhante ao que era então, nesse ano de 1990, com semelhantes preocupações éticas e poéticas. Talvez a grande diferença é que hoje tenho menos medos.

Se tivesse de escrever o mesmo livro actualmente, como o faria?
Não sei, sinceramente. O tempo do livro foi aquele tempo, não este. Este é o tempo de livros como “Escuro”, ou “Ara”, ou “E Todavia”. Cada livro tem o seu tempo. Talvez por isso, quando reúno os livros em antologias (já foram duas, “Poesia Reunida – 1990-2010”, de 2010, e “Inversos – Poesia 1990-2015” e a próxima, que surgirá para o ano, pela Assírio & Alvim, irá chamar-se “Em Suma”), nunca mudo os poemas, nunca os reescrevo. Nunca escreveria novamente esse livro – nem nenhum dos outros que se seguiram.

[quote_box_left]“A minha relação com as palavras foi sempre de amor à mistura com o que sinto quase como uma espécie de necessidade, a ananké grega, ou seja, quase um destino”[/quote_box_left]

Foi em 2013 que escreveu “Ara”, o seu primeiro romance. Sentiu que tinha chegado a altura de escrever prosa? Como foi o processo de criação dessa história?
Os capítulos desse romance foram sendo escritos ao longo dos anos, durante bastante tempo. Não foi, portanto, um romance escrito de uma forma cronológica, nem com aquela dedicação de escrita de que geralmente falam os romancistas. Talvez essa seja uma explicação para o facto de o livro abrir assim: “Mas as coisas não giram ao nosso compasso. Eu não sou romancista. Se fosse romancista, dividia-me em nomes de ficção e disso não sou capaz.” Este não é, pois, um romance no sentido mais tradicional do termo e a sua escrita foi-me muito rente à escrita da poesia. Assim, mais do que sentir que tinha chegado a altura de escrever prosa, o que senti foi que tinha chegado a altura de dar forma àquele “romance” e de publicar aquele livro.

Numa entrevista que deu há alguns anos, disse que sentia falta de ter tempo, por sentir dificuldades em conciliar a vida pessoal com a escrita e as aulas na faculdade. Ainda sente isso?
Sim, sinto isso ainda hoje. Talvez menos, do ponto de vista familiar, porque quando dei essa entrevista, a minha filha era ainda pequena, e agora tem 30 anos. Mas continua a ser difícil conciliar a minha vida profissional (os projectos que coordeno, as teses que oriento, os contínuos pedidos que recebo para avaliações) com a escrita – que é sempre algo para mim muito mais “puro”.

Continua a sentir-se mais docente do que escritora, como disse numa entrevista? Porque é que não se assume ao contrário?
Penso que nunca disse exactamente isso, ou se disse, disse mal, e o que queria era dizer que a minha profissão é ser docente e investigadora. Quanto à escrita, sou “amadora”, no sentido de que fala Clarice Lispector, ou seja, aquela que ama a palavra e a escrita. E não assumo nada: escrevo porque preciso de escrever, como preciso de respirar. É-me tão essencial como a vida. Por vezes, é mais do que a vida…

A sua relação com as palavras tem vindo a mudar ao longo dos tempos? Como a descreve?
A minha relação com as palavras foi sempre de amor à mistura com o que sinto quase como uma espécie de necessidade, a ananké grega, ou seja, quase um destino. O que é algo estranho para alguém que, como eu, duvida do determinismo… O que é certo é que tenho um poema que começa assim “Desejava esquecer, mas elas não me deixam, / chegam com seu tear e sua mãe cruel, / e sobre mim ensaiam um cansaço que há séculos / lhes tem sido alimento”. O poema chama-se “Os teares de memória: Mnémosine e suas filhas” e fala da memória e do que sinto como a inevitabilidade da escrita. E devo dizer-lhe que sempre assim foi.

Como olha para o lançamento deste livro cheio de ensaios sobre a sua obra, que vai sair este ano? O que sente perante estas retrospectivas sobre as palavras já escritas? Uma ponta de nostalgia, ou sobretudo uma auto-reflexão?
Sinto alegria, sinto alguma nostalgia, claro, porque isto significa que eu escrevi bastante e que, portanto, o tempo passou. Mas sinto sobretudo uma grande alegria. E também gratidão por este livro estar a ser preparado e pelo reconhecimento. E ainda algum orgulho pelos nomes das pessoas que escreveram sobre a minha obra e que lá estão, nesse livro. Mais não sei dizer, acho que da minha obra falarão os ensaios. Além disso, acabo de saber que vai sair também, pela Oxbow Press, uma antologia da minha poesia, traduzida por Margaret Jull Costa. Essa é uma grande alegria. ana_luc3adsa_amaral_at_gc3b6teborg_book_fair_2013_02

Como surgiu esse projecto?
Esse projecto surgiu inicialmente pela mão de Teresa Louro, que esteve na Universidade de Londres a fazer pesquisa sobre a minha poesia, acabando por escrever um belo ensaio sobre o meu livro “A Génese do Amor”. Depois, a ela juntou-se Claire Williams, da Universidade de Oxford, a primeira pessoa a escrever um ensaio que explora a relação entre mãe e filha na minha poesia (algo que ninguém tinha feito e que é, portanto, profundamente original). O ensaio chama-se “Educating Rita” (o nome da minha filha…). São elas as organizadoras desse volume.

Todos os anos se celebra o Dia Internacional da Mulher. Os discursos e as necessidades continuam a ser as mesmas, em prol da igualdade salarial e de oportunidades. É preciso mudar algo a este nível? As vozes que pedem essas melhorias devem mudar de estratégia, para que exista, de facto, uma mudança?
Amartya Sen diz que para haver justiça não chega haver voto, é preciso haver voz. Muitas, muitas mulheres, mesmo tendo direito ao voto, não têm ainda voz. Quando deixar de se celebrar esse dia, chegaremos a um ponto de viragem muito importante, em que as diferenças passarão a ser a indiferença. Porque ninguém celebra O Dia Internacional do Homem (aliás, mesmo esta palavra, “Homem”, pareceria logo que tinha a ver com a espécie humana). Há muito a fazer ainda, sim.

Fazem falta mais mulheres na literatura portuguesa e mundial? Tanto na poesia, como na prosa?
Pois claro que sim. Mas cabe às mulheres publicarem mais e às editoras divulgá-las melhor.

Que autores contemporâneos costuma ler?
Maria Velho da Costa, Nuno Júdice, Lídia Jorge, Hélia Correia, Jane Smiley, Mário de Carvalho… E depois, os clássicos, que não me canso de reler: Camões, Pessoa, Sá-Carneiro, Emily Dickinson, William Blake, William Shakespeare, Dostoievsky…

Depois da morte de nomes como Manuel António Pina, Mário Cesariny ou António Ramos Rosa, sem esquecer Saramago, podemos falar de uma nova fase da literatura portuguesa, com novas formas de escrever? Sobretudo, de uma boa fase da literatura em Português?
A literatura portuguesa sempre foi riquíssima, em especial a poesia. Não creio que poetas como Sophia [de Mello Breyner], Fiama [Hasse de Pais Brandão], ou Jorge de Sena tivessem eclipsado os seus contemporâneos. Portanto, depois desses extraordinários poetas que morreram, houve outros poetas. E haverá sempre mais poetas…

Na qualidade de docente do curso de Literatura Inglesa e Americana na Universidade do Porto, que análise faz aos alunos que hoje em dia escolhem essa área? São alunos que escrevem, que debatem ideias?
Nem sempre, infelizmente. Os melhores alunos que tenho tido são os que escolhem Literatura Comparada. Fazem muito bem, na minha opinião: a literatura não conhece fronteiras, nem lealdades. A literatura é múltipla, sendo uma.

É necessário fazer alterações aos cursos de Literatura actualmente leccionados em Portugal?
Julgo que uma das coisas mais importantes (mas isso tem a ver com algo mais amplo do que os cursos de Literatura propriamente ditos) seria valorizar as Humanidades e a Literatura, em particular. Passar a mensagem de que a Economia, ou a Engenharia, ou a Tecnologia são mais importantes (e rentáveis) do que as palavras (neste caso, a palavra poética, no sentido lato do termo) é um enorme erro. Porque, sendo aparentemente menos útil, a literatura é o mais poderoso veículo humano que possuímos para simultaneamente comunicar, pensar e imaginar. E a imaginação é essencial, o simbólico é essencial: é aquilo que nos torna humanos. Enfraquecer a cultura é enfraquecer a memória e enfraquecer a memória é enfraquecer os povos.

A crise económica em Portugal afastou ainda mais as pessoas da leitura, sobretudo os jovens? Como mudar esse paradigma?
Esse afastamento é relativo. Porque há os blogues, todo o suporte informático a que os jovens cada vez recorrem mais. O livro, sim, como objecto, esse tem sofrido bastante, porque a capacidade de compra está cada vez mais reduzida e as pessoas fazem uma selecção entre o que consideram ser o essencial e o que pode ser visto como o supérfluo, ou o adicional. E o Estado, na forma de escola pública e de bibliotecas, embora tenhamos uma excelente rede de bibliotecas, também não fomenta a leitura. Mas nunca no meu país se assistiu a tantas leituras de poesia em cafés, pequenos bares, sítios mais alternativos. Como se a arte fosse uma tábua de salvação para estes tempos tão cruéis, em que os estados e os povos deixaram de ter importância, ficando à mercê das indústrias financeiras. A arte é impossível de conter, de controlar, como um rio: se encontrar obstáculos, correrá noutra direcção, procurará outros leitos.

Como escritora de contos infantis, como olha para a política da leitura nas escolas? É cada vez mais difícil pôr os miúdos a ler, com as novas tecnologias?
As tecnologias, ou tudo o que o ser humano inventou, podem sempre ser usadas de uma forma maravilhosa, tal como podem ser usadas de forma danosa. Mas, quando são usadas de uma maneira engenhosa e delicada, são maravilhosas. Dou um exemplo bem simples. Tenho um livro que se chama “Como Tu”, que tem um CD. Os poemas desse livro são lidos por dois actores (Pedro Lamares e Rute Pimenta), acompanhados ao piano por Álvaro Teixeira Lopes, tocando música de António Pinho Vargas. Quando vou a escolas, ponho muitas vezes esse CD e as crianças adoram. O mesmo se passa com um outro livro, “A história da Aranha Leopoldina”, que tem também um CD. Mas já me aconteceu falar para crianças surdas. Aí, a imagem e as palavras projectadas num ecrã gigante (porque, na maior parte das vezes, no início do encontro, eles não têm o livro) são fundamentais.

Sendo este um jornal de Língua Portuguesa em Macau, perguntava-lhe se já visitou o território, ou a China.
Já fui a Macau, sim. Em 2006, por ocasião dos I Jogos da Lusofonia.

Sobre a China, como vê o crescimento do país a presença crescente em Portugal? Sem esquecer a literatura chinesa: vai, cada vez mais, dominar o panorama mundial das letras?
Não sei, mas imagino que sim. Em primeiro lugar, sabemos hoje que a China tem um fortíssimo poder económico. Depois, no que se refere à poesia, estive agora em Setembro no 2º Festival de Poesia de Atenas e conheci um poeta chinês absolutamente extraordinário: Ouyang Jianghe. Fiquei fascinada com a poesia dele. E pensei em como realmente sabemos tão pouco sobre o “outro”. Em quão pouco eu sei…

8 Out 2015

Dinâmica das origens da nação

[dropcap style=’circle’]J[/dropcap]aime Zuzarte Cortesão (Ançã, Cantanhede, 29 de Abril de 1884 — Lisboa, 14 de Agosto de 1960[) foi um médico, político, escritor e historiador português. Filho do filólogo António Augusto Cortesão, foi irmão do historiador Armando Cortesão e pai da renomeada ecologista Maria Judith Zuzarte Cortesão. Estudou no Porto, em Coimbra e em Lisboa, vindo a formar-se em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra em 1909. Leccionou no Porto de 1911 a 1915, quando foi eleito deputado por aquela cidade. Em plena Primeira Guerra Mundial defendeu a participação do país no conflito, tendo participado como voluntário do Corpo Expedicionário Português, no posto de capitão médico, tendo publicado as memórias dessa experiência. [ ]Fundou, com Leonardo Coimbra e outros intelectuais, em 1907 a revista Nova Silva: revista ilustrada. Em 1910, com Teixeira de Pascoaes, colaborou na fundação da revista A Águia, e, em 1912 iniciou Renascença Portuguesa, que publicava o boletim A Vida Portuguesa. Teve igualmente colaboração nas revistas Atlantida[4] (1915-1920), Ilustração (1926-), Illustração portugueza (1903-1924)) e na revista Serões (1901-1911). Em 1919 foi nomeado director da Biblioteca Nacional de Portugal e a 28 de Junho desse ano foi feito Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.[5] Em 1921, abandonando a Renascença Portuguesa, foi um dos fundadores da revista Seara Nova. Participou numa tentativa de derrube da ditadura militar portuguesa, presidindo a Junta Revolucionária estabelecida no Porto. Por esse motivo foi demitido de seu cargo na Biblioteca Nacional de Lisboa (1927), vindo a exilar-se em França, de onde saiu em 1940, quando da invasão daquele país pelas forças da Alemanha Nazi no contexto da Segunda Guerra Mundial. Dirigiu-se para o Brasil através de Portugal, onde veio a estar detido por um curto espaço de tempo.[ No Brasil, fixou-se no Rio de Janeiro, dedicando-se ao ensino universitário, especializando-se na história dos Descobrimentos Portugueses (de que resultou a publicação da obra homónima) e na formação territorial do Brasil. Em 1952, organizou a Exposição Histórica de São Paulo, para comemorar o 4.º centenário da fundação da cidade. Regressou a Portugal em 1957. Envolvendo-se na campanha de Humberto Delgado, foi preso por 4 dias com António Sérgio, Vieira de Almeida e Azevedo Gomes em 1958, ano em que veio a ser eleito presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores.
Obras mais significativas: A Expedição de Pedro Álvares Cabral e o Descobrimento do Brasil (Lisboa, 1922); A Expansão dos Portugueses na História da Civilização (Lisboa, 1983 (1ª ed., 1930); Os Factores Democráticos na Formação de Portugal (Lisboa, 1964 (1ª ed., 1930); História da expansão portuguesa (Lisboa, 1993), colaboração na História de Portugal dirigida por Damião Peres, 1931-1934; Influência dos Descobrimentos Portugueses na História da Civilização (Lisboa, 1993), colaboração no vol. IV da História de Portugal dirigida por Damião Peres, 1932; Teoria Geral dos Descobrimentos Portugueses – A Geografia e a Economia da Restauração (Lisboa, 1940); Os Descobrimentos pré colombinos dos Portugueses (Lisboa, 1997 (1ª ed., 1947); Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid (Lisboa, 1950); O Sentido da Cultura em Portugal no século XIV (Lisboa, 1956); A Política de Sigilo nos Descobrimentos nos Tempos do Infante D. Henrique e de D. João II (Lisboa, 1960); Os Descobrimentos Portugueses, 2 vols., (Lisboa, 1960-1962); O Humanismo Universalista dos Portugueses (Lisboa, 1965).

Os “Factores Democráticos na Formação de Portugal” é uma obra de referência no que diz respeito à compreensão das origens de Portugal. O tema é controverso e tem merecido a reflexão de muitos intelectuais portugueses, desde o humanista da renascença André de Resende até a autores contemporâneos como José Matoso e Orlando Ribeiro, passando pelos grandes pensadores dos séculos XIX, Alexandre Herculano e Oliveira Martins e muitos cientistas sociais do princípio do século XX, que seria difícil enumerar.
A obra de Jaime Cortesão é uma das mais complexas e portanto uma das menos dogmáticas e unilateraiss, já que ao invés da maioria dos autores não centra a sua interpretação numa única perspectiva, seja ela histórica, geográfica ou antropológica, mas num complexo de elementos civilizacionais de vária procedência. É verdade que valoriza antes de mais a dinâmica própria da sociedade medieval portuguesa associando-a ao movimento democrático dos concelhos, contudo não despreza os aspectos mais arcaicos, como seja o caso da romanização e até elementos pré-históricos.
Os concelhos foram vivificados por uma população que abandonou a economia agrícola e doméstica e protagonizou o surto das cidades onde se desenvolveram o tráfico e as actividades artesanais fomentando o comércio marítimo, e sendo por ele estimuladas. Foram estas as tendências que se desenvolveram durante a Idade Média em Portugal que eclodiram e triunfaram definitivamente durante a revolução que levou o Mestre de Avis ao poder, o que determinou a formação do grupo social dominante, assim como a perspectiva histórica e o carácter da Nação.  CORTESAO0001
Relativamente à colonização romana, Jaime Cortesão salvaguarda a administração dos conventos romanos, associando o território nacional às fronteiras de influência dos mosteiros ocidentais: Bracarense, Scalabicense e Pacense, respectivamente, Braga ou seja Bracara Augustae, Santarém ou seja Scalabis e Beja ou seja Pax Julia. Porém relativamente à colonização romana, o autor salfaguarda também a construção de uma rede viária atlântica, que estruturalmente promoveu uma verdadeira atlantização do território que iria persistir até aos nossos dias.
Relativamente aos elementos arcaicos o autor evidencia a existência de uma civilização megalítica dolménica e atlântica, a civilização dos menhires, antas e dólmens, mas também a existência na fachada atlântica de uma língua forjada no tempo, com características próprias, o designado Rimance Românico do Ocidente.
Quando nos debruçamos seriamente sobre a conveniência ou inconveniência das fronteiras próprias destes fenómenos civilizacionais com as fronteiras actuais de Portugal, verificamos que não existe uma clara e inequívoca convergência com as fronteiras políticas da nação portuguesa e do território associado ao estado português, tanto medieval quanto moderno. As fronteiras interiores de Portugal não correspondem estritamente às fronteiras delimitadas pelos conventos ocidentais, assim como também não correspondem aos limites de influência tanto da civilização megalítica ocidental como da civilização linguística e literária evidenciada. E também não é menos evidente que a rede viária atlântica só muito aproximativamente estabelece uma linha de conexão entre o Norte e o Sul de Portugal, sendo que a Sul essa rede se interioriza em consonância com a situação geográfica da capital da Lusitânia, ou seja Mérida, na Estremadura espanhola.
Contudo, atrevo-me a considerar que a teoria de Jaime Cortesão funciona bem como pista de trabalho e abre perspectivas dinâmicas para a compreensão dos enlaces estruturais entre a História, a Geografia e a Civilização e nesse plano cumpre de modo notável o seu papael de estímulo à multímoda reflexão sobre a originalidade de Portugal.
Manuel Afonso Costa

8 Out 2015

Antiga empresa de Pedro Chiang autorizada a construir prédio

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo anunciou ontem ter dado autorização à Companhia de Desenvolvimento Predial Citiport para a construção de um edifício de sete pisos destinado a habitação e comércio. A Citiport pertencia ao empresário Pedro Chiang, condenado por corrupção na sequência do escândalo Ao Man Long, sendo agora detida pelo filho, Chan Kin Tong, e pelo pai, Lam Him – absolvido pelo tribunal. São ambos gerentes da sociedade.
A Citiport Macau detinha já um terreno de 334 metros quadrados na Rua Cinco de Outubro e outro de 254 metros quadrados. A empresa pediu ao Governo autorização para alterações ao projecto de aproveitamento, em 2009, tendo submetido novas alterações na arquitectura em 2010 e 2011. Os dois terrenos, contudo, pertenciam à Citiport em regimes jurídicos diferentes, pelo que a anexação dos lotes – pedida por Chan Tin Kong – não era possível. Para contornar a situação, a Citiport decidiu ceder, de forma gratuita, duas parcelas do terreno ao Governo, solicitando ao mesmo tempo o seu arrendamento. Dois outros pedaços de terra, de cerca de 60 metros quadrados, foram cedidos para servirem de via pública.
A Comissão de Terras emitiu parecer favorável ao pedido em 2015, tendo sido depois dado o aval do Chefe do Executivo e do Secretário para os Transportes e Obras Públicas. A Citiport teve, então, de pagar um prémio de 9,1 milhões de patacas. O arrendamento do terreno é válido por 25 anos e a empresa tem 36 meses para concluir o aproveitamento, pagando, por isso, uma renda de 3800 patacas.

Projectos adiados

De acordo com uma notícia publicada no ano passado pelo jornal Ponto Final, o processo fez com que a concessão inicial dos lotes fosse revogada. Estes estariam entregues à Companhia de Fomento Predial Meng Fat, extinta em 2008, num contrato que previa, em 1994, a construção de um hotel de duas estrelas, com oito pisos. O projecto nunca foi concretizado e os dois prédios no espaço foram demolidos, mas não antes de serem comprados pela Citiport e pela Companhia de Construção e Fomento Predial Mei Mei.
Pedro Chiang, recorde-se, deixou a Citiport depois de ser condenado por corrupção. O empresário de Macau foi condenado a seis anos e dez meses de prisão numa primeira vez, levando mais três anos e três meses num outro caso conexo, mas nunca cumpriu pena por não ter sido notificado formalmente da sua condenação, uma vez que não se encontra em Macau e não ter morada conhecida. J.F.

8 Out 2015

…E os votos foram p’rós cães

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s resultados das eleições legislativas do último domingo em Portugal levam-me a tirar algumas conclusões, o que daqui à distância de Macau pode parecer algum atrevimento da minha parte, longe que estou dessa grande tropa fandanga que é a realidade lusitana. Mas pronto, faço-o na mesma, so what? Vão fazer o quê, “castigar-me nas urnas”, como disseram que faziam com o Coelho e com o Portas? Era o castigas, e a julgar pelos MAIS DE DOIS MILHÕES DE VOTOS que a coligação “Portugal à Frente” (nome foleiro, diga-se de passagem) obteve nestas eleições, tenho carta branca para dizer mal do que quiser e de quem quiser, que no fim ainda me pagam um jantar. Ou dois. Bem, ponto por ponto, é assim:
– Já é habitual ouvir-se por altura das eleições que “a abstenção é à partida a grande vencedora”. Acontece que essa frase feita entoada sempre com um tom mais ou menos fatalista é tecnicamente uma mentira, um engodo. A participação ficou pelos 57%, apenas menos um ponto que as eleições de 2011, e apesar da insistência nessa ladainha de que os portugueses estão cansados da política e dos políticos, mais de cinco milhões deles foram votar. Seremos um hipócrita, medroso e fanfarrão? Nada disso, que exagero – somos uns vivaços, isso sim. Fossem fazer um inquérito para saber a principal causa da abstenção, e “preguiça” surgiria à cabeça (isto se as respostas fossem sinceras, claro, e claro que nunca seriam).
– Ao contrário das competições desportivas, em que ganha quem marca mais golos, faz mais pontos, salta mais alto ou corre mais rápido, na política é tudo “relativo”. Das forças partidárias representadas no Parlamento, a coligação foi a única que perdeu votos e mandatos em relação a 2011, e mesmo assim pode-se dizer que saiu vencedora. O PS subiu quatro pontos percentuais e conseguiu mais 11 mandatos, mas António Costa pode estar de saída, o que seria mais ou menos como José Mourinho ganhar todos os jogos com o seu Chelsea, e no fim ser despedido por causa dos “maus resultados”.
– Mas em política é mesmo assim, tudo muito esquisito; imaginem que em pleno século XXI, ano da graça de 2015, há um indivíduo com uma aparência semelhante ao Conde Drácula que chama as pessoas de “povo” e “camaradas” – claro que me refiro a Jerónimo de Sousa, o torneiro mecânico que se promete eternizar na liderança dos comunistas portugueses que aos 68 anos, e pela bitola marxista, é considerado “uma jovem promessa”. Por outro lado o Bloco de Esquerda obteve o seu melhor resultado de sempre, o que me deixa perplexo; depois de vários anos com o demagogo mas simpático Francisco Louçã na liderança, surge uma barata-tonta ainda mais demagoga, uma tal Catarina Martins, que parece excitar ainda mais as paixões populares. Vá-se lá entender porquê, pronto, é a “democracia” em todo o seu esplendor.
– E por falar em “demagogia” e afins, uma das queixas mais comuns dos eleitores portugueses é a “falta de alternativas”, isto referindo-se, obviamente, à sempre-mesmice do “ora agora sacas tu, ora agora saco eu” dos partidos do arco da governação. Ora alternativas é coisa que não falta, e mais uma vez o freguês tinha ao seu dispor nada mais nada menos do que 16 (dezasseis) quadrados no boletim de voto onde colocar a cruzinha. Só que aquilo que se afigura como solução acaba apenas por tornar as coisas ainda piores, o que me leva ao ponto seguinte. 81015P19T1
– Confesso que fiquei preocupado com a possibilidade do Partido Nacional Renovador (PNR), o tal da extrema-direita cor-de-rosa-choque, vencer as eleições com maioria absoluta. Sim, a sério, pois a julgar pelas preocupações expressas pelos portugueses nos últimos meses, com os refugiados, imigrantes e beneficiários do Rendimento Social de Inserção a servirem de bode-expiatório para todos os males do mundo, julguei que fossem votar em massa nos fachizóides. Afinal enganei-me, e os gajos tiveram menos de metade dos votos do PCTP/MRPP. Folgo em saber que ainda há mais portugueses que acreditam no maoísmo e na ditadura do proletariado, do que nos delírios dos nazistas de papelão.
– Os que realmente quiseram demonstrar o seu desagrado com o negro quadro da política em Portugal foram votar em branco, ou desenharam cornos, bigodes o outras inanidades no boletim, o que levou a que o já célebre “Nulos” obtivesse um resultado melhor que meia dúzia de partidos, movimentos e outras plataformas ditas “alternativas” todas juntas. Melhor do que este “Nulos” só mesmo o partido dos “Fantasmas”. Sim, pois li algures que em Portugal existem nos cadernos eleitorais “mais de dois milhões de eleitores fantasma”. Desconfio que foi graças a estes que o Cavaco venceu as presidenciais. Só um palpite, não me levem a mal.
– Finalmente os votos que foram para os cães, literalmente. Esqueçam os reformados, os imigrantes ou outros expedientes que visam nada mais do que obter um tacho: chegou o Partido “Pessoas-Animais-Natureza”, ou PAN, que já há quatro anos esteve muito perto de obter um mandato. Desta vez bastaram 2% dos votos no círculo eleitoral de Lisboa para conseguir um dos 47 assentos reservados para a capital do país, mas no fim fiquei desiludido com o nome do candidato eleito pelo PAN: André Lourenço e Silva? Que raio de nomes andam as pessoas a dar aos bicharocos, com franqueza. E que tal “Piloto”, “Bolinhas”, “Tareco” ou “Milú”? Não tinha muito mais piada?
E foram assim as eleições legislativas em Portugal. Não queria deixar de mencionar os mandatos ainda por apurar, nomeadamente os dois reservados ao círculo da imigração fora do espaço europeu, onde o aliciante será saber se o “nosso” José Pereira Coutinho consegue ou não a eleição. Coutinho, candidato pela plataforma “Nós, Cidadãos” diz-se prejudicado com a forma como decorreu o processo eleitoral, com atrasos na entrega dos boletins, etc., etc. (o costume…), e ameaça mesmo “impugnar as eleições”. Ui, fosse isso assim tão fácil, impugnar as eleições legislativas em Portugal, e nem consigo imaginar o que é necessário para que se cometa tal proeza. Talvez fosse melhor perguntar aos SAFP. Aos SAFP?!?! Porquê aos SAFP??? Sim, aos SAFP lá de Portugal, não aos de Macau, é óbvio. Então, falamos a sério ou andamos a mangar com a tropa?

8 Out 2015

A árvore

Uma folha quando cai do ramo
retorna às raízes.
Provérbio chinês

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]esde a Edénica macieira, antiga, enorme e frondosa, à Sephirot, a árvore da vida do judaísmo esotérico que, organizada em três colunas, representa as divinas emanações da criação de deus (ex nihilo), cuja natureza transcende a da macieira no que tem de construção simbólica: a natureza da divindade revelada, a alma humana e o caminho espiritual para a ascensão do homem.
Terão sido os chineses a criar, há quinze séculos, aquilo que chamamos de árvore genealógica. Deixavam escritas no mesmo caderno de família, guardado no templo da aldeia natal, o registo de todos os nascimentos através dos séculos, indicando os parentescos em que são tão confucianamente precisos, e a mobilidade ancestral.
Abrem-se milenares árvores, numa abundância de ramos, nascidos de poderosos troncos, prenhes de seiva percorrendo o frondoso emaranhado nascido do tempo. Em cada árvore se manifesta o ciclo da vida. Na sua imobilidade e enorme vitalidade, que nos transporta para a metáfora da existência e nos remete para a reflexão da razão, a árvore incorporou a presença da divindade.
E como diz o provérbio chinês, quando da copa da frondosa árvore da vida se destaca um folha, ela retorna às suas raízes, essa outra copa submersa que, sustentando a visível, existe e sem a qual tudo feneceria.
Neste ciclo, ocorre-me a árvore criada pelo imaginário de James Cameron no filme “Avatar”, uma obra que segue de perto a pista deixada por “Matrix” de Lana e Lawrence Wachowski, onde a mente protagoniza no imenso império da ilusão.
Nessa imensa árvore, réplica da macieira e, porque não, da Sephirot, estabelece-se uma outra premissa, o Tempo, a adicionar às três dimensões com que habitualmente lidamos.
Será a incomensurabilidade deste Tempo (“deve ser o antepassado dos deuses”) o invisível e inominável nome de deus? Sendo inominável, apenas nos resta o acto de intuir, de compreender que a essência não reside na ilusória realidade do mundo que conhecemos, mas, antes, na indizível linguagem que se não pronuncia?
Assim, a árvore significa a intrincada dimensão da divindade, da ancestralidade, do amplexo enorme, frondoso.
Não deixa de ser curioso como as lendas das manifestações divinas se associam a árvores, arbustos em chamas, ou como em Fátima é a azinheira o púlpito da aparição, ainda Matrix ou Avatar não tinham sido pensados.
E nesta mobilidade enclausurada pela obscuridade a que a humanidade está votada, é imperioso proteger a árvore, mesmo que a ignorância já impere, atolada nos meandros de si mesma, embrenhando-se cada vez mais na esterilidade do breu, malefício do mal, prado onde os ignaros se agigantam com pernas de girafa, pastando ousadias.
E, assim, o mal subsiste pela ignorância. E o bem, maniqueisticamente falando, busca ansiosamente a aspiração de uma essência (quase) inatingível, face aos malefícios da ilusão, que provocam nos sentidos dos que prosseguem o difícil trilho do conhecimento.
E enquanto as sombras pairam, o verdadeiro retorno à raiz apenas sucede às folhas que tenham aspirado tal aroma. O resto é apenas gravidade.

8 Out 2015

O príncipe

“Meu Deus, como a sua presença eleva o nível da conversa!”, disse-me Swann como que para se desculpar diante de Bergotte, ele que no meio dos Guermantes adquirira o hábito de receber os grandes artistas como bons amigos a quem se procura apenas dar a comer os pratos de que gostam, jogar os jogos ou, no campo, praticar os desportos que lhes agradam. (…) Eu dissera-lhe tudo o que sentia com uma liberdade que me surpreendera (…). Do mesmo modo que os padres, que têm a maior experiência do coração, podem melhor perdoar os pecados que não cometem, também o génio, que tem a maior experiência da inteligência, pode compreender melhor as ideias mais opostas às que constituem o fundo das suas próprias obras.” – Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido, Volume II, À Sombra das Raparigas em Flor 
 
[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]onheci-o em Novembro de 1986, num jantar em casa de um companheiro da juventude de meu pai. Eu chegara à cidade no dia anterior. Tinha vinte e quatro anos. Quando me conheceu perguntou-me o que fazia. Tímido, acabado de aterrar, lá lhe respondi, com a deferência devida para com quem é simpático, agradável, e nos recebe em terra estranha fazendo jus a um sorriso largo e bondoso sem nos conhecer de lado nenhum. Como se me conhecesse há uma eternidade. Disse-me para no dia seguinte ir ter com ele, ou quando quisesse, para tomarmos um café, ele estaria por lá. Lá era o Banco Nacional Ultramarino, em Macau. E ele era uma estrela. Ele era o Brás Gomes.
Frequentara a Escola Naval, de onde não saiu almirante, mas como em todos os locais por onde passava deixou um rasto de amigos, de companheiros, de conhecidos e desconhecidos que o admiravam. Pela simplicidade, pelo trato, pela educação. Com amigos comuns no ramo naval, nesse tempo voltámos a ver-nos várias vezes, nas mais diversas circunstâncias, em reuniões de amigos e em cerimónias oficiais. Sempre jovial, sempre bem disposto, uma referência onde quer que estivesse. bras gomes
Amante das coisas boas da vida, gostava de estar com os seus amigos, de um bom convívio, de uma boa gargalhada, de uma refeição generosa ou de um vinho de excepção, transportava consigo toda a herança de um império. Da Índia aos pântanos da Guiné-Bissau, por onde andou no tempo da outra senhora. Tinha histórias e recordações de todo o lado, que relatava com prazer enquanto puxava do seu Lancero ou do seu Churchill.  
Quando Carlos Móia, de quem era amigo, chegou à vice-presidência do Benfica, conseguiu convencê-lo a trazer a equipa de futebol a Macau. Então treinada pelo grande capitão, Mário Wilson, tive o prazer de com ele ver, num épico final de tarde, o Benfica golear (8-0) a jovem e inexperiente Selecção de Macau.
O José Manuel Brás Gomes era a porta para tudo. Pelo BNU, em Macau, passou muita gente, muitos directores, mas ali Portugal tinha sempre um rosto e um nome: o dele.
Certamente que haverá pelas pátrias desse mundo outros parecidos com o José Manuel. Duvido é que haja algum igual. E nem sei se Portugal, algum dia, depois de ficar sem império, voltará a ter outro assim. Conhecia meio-mundo, e não precisava de conhecer a outra metade porque, em contrapartida, todo o mundo o conhecia. Não havia quem chegasse de Portugal, da China, do Brasil ou dos Estados Unidos, sem nunca ter posto os pés em Macau, que não trouxesse um cartão, uma carta, uma recomendação ou o número de telefone dele. Para simplesmente falar com ele, levar-lhe um abraço de alguém, encontrar um parceiro de negócios ou ser aconselhado sobre um bom restaurante. O número de negócios que proporcionou entre portugueses, chineses, macaenses e até alguns marcianos que lhe apareceram à frente é incontável. E a muitos ajudou a construírem fortunas.
Não havia vez alguma que o encontrasse que não tivesse um sorriso, uma palavra amiga, um abraço para oferecer. Até quando o Benfica perdia. Um dia, depois de alguns anos infindáveis e miseráveis, disse-lhe que se quisesse ser candidato eu apoiá-lo-ia para a presidência. Há tempos repeti-o entre amigos. Ele sorria, ria-se, piscava-me o olho e arrancava mais uma fumaça.
Apaixonado pelo ténis e pelo golfe, que praticava com assiduidade, recordo-me de com ele ter acompanhado o primeiro Open de Macau a contar para o circuito internacional. Corria mundo para jogar golfe. Um dia encontrei-o em Guam com a sua inseparável companheira, sua mulher, onde tinha ido experimentar os novos campos. Recordo-me, também, de uma manhã ter ido ter com ele ao banco, tendo ele acabado de chegar de férias. Perguntei-lhe onde tinha estado dessa vez. O olhar cintilante e um sorriso ainda mais largo abriram-se para me dizer duas palavras mágicas: St. Andrews! “Mas estava frio”, acrescentou logo a seguir.
Não sei ao certo quantos governadores de Macau passaram por ele. Não sei quantos lhe ficaram a dever favores, muitos, atenções, gentileza, simpatia, boa educação. Nunca cobrou nada a ninguém. Nem aos chatos. E fazia questão que fosse mesmo assim. Era um tipo de uma seriedade à prova de bala. Podia ter saído do BNU e ter tido todas as “avenças” que quisesse, só que a sua liberdade, o seu espírito livre e rebelde, a sua honradez e o seu carácter nunca o permitiram. O José Manuel Brás Gomes podia ter sido Governador de Macau. E teria sido, seguramente, o melhor Governador de Macau. Porque o José Manuel Brás Gomes era acima de tudo um construtor de pontes, de estruturas sólidas e duradouras, que ainda por cima sabia conservar com elegância.  
De vez em quando contava histórias do fim do mundo, fazia-nos rir a bom rir. E, todavia, nunca ninguém lhe ouviu uma inconfidência ou soube da boca dele o que não pudesse ser conhecido. Sabia histórias de reis e de rainhas, de ricos e de pelintras simpáticos, do Spínola, de comandos e de fuzileiros, porque teve de lá andar com eles, e também de sacanas da pior espécie e de filhos da puta, que ele também conheceu alguns e distinguia-os à légua. Sabia os nomes deles todos. E gostava tanto de esquerdistas, comunistas ou de socialistas, entre os quais sabia que eu me incluía, como gostava de sportinguistas. Porém, duvido que algum tivesse deixado de ser seu amigo ou de lhe dar um abraço por essa razão. O José Manuel era franco, leal, directo, um modelo de cavalheiro. Um senhor.
Ultimamente tive o privilégio de estar com ele com mais frequência. Estava com mais disponibilidade, fosse no Clube Militar, do qual era membro da direcção, ou noutro lado qualquer. Encontrava-o regularmente às sextas-feiras, nas reuniões do nosso “Comité Central”. Nos últimos tempos não apareceu. Não podia. Falei com ele ao telefone, há duas semanas, como muitas vezes fazemos com os “camaradas” ausentes sempre que nos reunimos. Não sabia quando regressaria. Avisei-o de que iria ver os jogos com o Galatasaray e o Boavista. Confidenciou-me que ainda estaria por Lisboa nessa altura. Disse-me para lhe ligar quando chegasse, para irmos almoçar. Já não chegarei a tempo.
O príncipe, o José Manuel Brás Gomes, foi-se hoje embora. Vamos todos sentir a sua falta. A esta hora estará a cear noutras paragens, construindo novas pontes. Ou a acender um charuto entre amigos. Rindo a bom rir, espalhando classe, educação e muita liberdade. Era o que melhor sabia fazer.
Portugal, mais do que a muitos outros, fica a dever-lhe o fim honroso do império. Sozinho ele valia por um exército.

8 Out 2015

Entre isto e outra coisa qualquer (Sobre o novo livro de Tiago Saldanha Quadros)

[dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uando em 2013 iniciámos o processo de concepção do livro Macau Sessions. Dialogues on Architecture and Society queríamos de alguma forma dar corpo, reunir, arquivar, partilhar uma espécie de estado da arte no que ao urbanismo e arquitetura de Macau diz respeito, numa perspectiva contemporânea e acessível ao público em geral, de forma a permitir o alargamento do debate de questões que afinal são do interesse de todos.
Sentíamos que o conhecimento que se produz sobre Macau nesta área do saber estava muito disperso, sendo publicado por autores e especialistas sediados em Macau, mas também nos Estados Unidos, na Austrália, em Singapura, Hong Kong, China e Portugal.
Como poderíamos nós reunir, compilar, partilhar esse conhecimento no sentido de iniciar uma reflexão e um debate que fosse mais universal, mais abrangente, mais relevante e sobretudo mais inclusivo?
Explorámos ideias, alternativas, modalidades. Tratando o livro, como projecto curatorial, e seguindo o exemplo de Hans Ulrich Obrist, optámos pela entrevista, explorando “the idea of an interview with an artist (architect) as a medium” e assumindo que todo aquele que intervém na cidade participa e colabora na criação daquilo que desejaríamos que fosse uma obra de arte.

A entrevista – entre o olhar de um e de outro

Uma entrevista é um diálogo e situa-se entre o que um vê e o que vê o outro (entre-vistas). O diálogo é, por oposição ao discurso, a forma mais dinâmica da inteligência humana, é a inteligência interrompida, interrogada, e por isso estimulada à sua máxima expressão, acuidade, a assertividade no imediato da conversação. Diria mesmo que o diálogo é a inteligência em movimento.
Como método de investigação a entrevista permite enunciar elementos de reflexão extremamente ricos. Há na entrevista, conversação, diálogo um contacto entre o investigador e os seus interlocutores, que obriga a uma sistematização e clarificação dos conteúdos muitas vezes difíceis de encontrar em textos de natureza académica, facilitando por isso um debate mais alargado, mais inclusivo. tiago quadros
Por outro lado, a entrevista permitiria aos entrevistados a partilha de uma dimensão mais humanizada das suas práticas, da análise de problemas específicos, reconstituindo processos de acção, de experiências ou acontecimentos do passado.

A assemblage

Este livro transformou-se numa assemblage: pedaços de “coisas” que se reuniram num único contexto. O conjunto, agrupamento ou reunião dessas “coisas”, “ideias”, “pensamentos”, “práticas”, “pontos de vista” ou “pontos entre vistas” pode revelar e gerar um qualquer número de “efeitos”:

In a book, as in all things, there are lines of articulation or segmentarity, strata and territories; but also lines of flight, movements of deterritorialization and destratification. Comparative rates of flow on these lines produce phenomena of relative slowness and viscosity, or, on the contrary, of acceleration and rupture. All this, lines and measurable speeds constitutes an assemblage. A book is an assemblage of this kind, and as such is unattributable. It is a multiplicity — but we don’t know yet what the multiple entails when it is no longer attributed, that is, after it has been elevated to the status of the substantive. On side of a machinic assemblage faces the strata, which doubtless make it a kind of organism, or signifying totality, or determination attributable to a subject; it also has a side facing a body without organs, which is continually dismantling the organism, causing a signifying particles or pure intensities or circulate, and attributing to itself subjects what it leaves with nothing more than a name as the trace of an intensity… (Deleuze)

Entendido deleuzianamente, este livro pode produzir, pelo menos assim o desejamos, um número infindo de efeitos, em vez de se apresentar como um todo organizado e coerente que procura apresentar uma visão única e dominante. A beleza desta abordagem reside exactamente na liberdade obtida por via da falta de organização sistemática, permitindo a inclusão no seu corpo de um número muito diverso de elementos, que podem aglomerar-se entre si ou entrar noutras assemblages com os seus leitores, livrarias, ou bibliotecas.
Ser curador, na sua dimensão mais contemporânea, significa preservar, no sentido de preservar o património, a arte; significa seleccionar novos trabalhos, ideias, pensamentos, ligá-los à história da arte e das ideias e da filosofia; e apresentá-los de forma única ao mundo, exibindo-os, partilhando-os.
Joseph Beuys falou-nos na ideia de expandir a noção de arte. Gilles Deleuze procurou expandir a noção de livro e Hans Ulrich Obrist expandiu a noção de curadoria. Aqui procurámos situar-nos entre isto e outra coisa qualquer. Ou seja, procurámos o lugar da cidade enquanto obra de arte pública (no sentido em que todos podem/devem participar, colaborar), a entrevista enquanto médium e o livro enquanto assemblage deleuziana ou projecto de curadoria obristiana.
Entre isto e tudo o que este livro assim concebido puder ou conseguir despertar, dar existência.
Enfim, entre isto e outra coisa qualquer, porque ser-se entre, é ser-se por definição indefinido.

Margarida Saraiva
Directora Artística
BABEL – Organização Cultural

8 Out 2015

A última traição do PS

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]povo português votou maioritariamente contra a coligação PSD-CDS, contra as mentiras sistemáticas e compulsivas, contra a austeridade e a falsa recuperação económica do país. É certo que não votou de forma ordeira, alinhada, porque a nossa esquerda é um saco de individualidades cujos egos, paradoxalmente, os impedem de se juntar sob a mesma bandeira. No entanto, se abstrairmos as concepções teóricas mais longínquas, existe um fundo comum entre o Bloco de Esquerda, a CDU, o Livre, o Agir e etc.

Esse fundo comum passa, por exemplo, pela salvação do que resta do Estado Social, pelo fim da sangria das privatizações incompreensíveis, pelo aumento do salário mínimo, a reposição das pensões, a fiscalização severa da actividade bancária, entre outras medidas. Esta esquerda não terá dúvidas quanto à necessidade, para salvar a economia das pessoas (não as finanças dos corruptos) de implementar uma série de medidas que, na sua “radicalidade”, não irão além de algum keynesianismo. O fantasma da colectivização, da saída inconsequente do Euro, o papão do “comunismo” já não colhem junto de mentalidade contemporâneas esclarecidas e servem apenas para assustar espectadores de algo similar à Fox News.

Hoje ser de esquerda significa muito, para além da solidariedade e da igualdade de oportunidades, ser por uma fiscalização democrática dos processos político-estatais, das compras e das vendas, dos negócios e das negociatas e, sobretudo, colocar um freio nos desmandos que a alta finança tem provocado nas economias, com o conluio dos boys dos partidos do arco da governação, para não ir mais alto.

Os resultados eleitorais são claros: o povo português votou contra aquilo que entende ser uma política de direita neo-liberal, subvencionada pelos poderes europeus para deixar Portugal à mercê dos investidores e das corporações estrangeiras, pela criação de um país de salários baixos e propriedade em queda. O povo português votou na esquerda e deu-lhe uma maioria.

Só que esse mesmo povo (ou grande parte dele) considera o PS um partido de esquerda, cuja acção não poderia nunca ir contra o Estado Social e que estaria obviamente de acordo com as medidas que acima expusemos como sendo consensuais ao resto da esquerda. Para o eleitorado, o PS não poderia nunca pactuar com esta política de austeridade mais merkeliana que a Merkel, com este desprezo absoluto pelas condições de vida dos cidadãos. Por isso, trinta e tal por cento ainda deram o seu voto a António Costa.

Qual não terá sido a desilusão geral quando o chefe do partido mais votado da esquerda, vem à ribalta no pós-eleitoral reconhecer uma derrota e, mais grave, mostrar-se disposto a permitir um governo de direita, ao invés de negociar um governo à esquerda, contrariando assim a vontade expressa do povo. Terá isto alguma coisa a ver com a passagem de António Costa pelo Bilderberg?

Esta “traição” à vontade popular atira de vez o PS para a insignificância política pois deixa bem claro a todos que, sob a liderança de António Costa, não é alternativa à direita, na medida em que não pretende deixar de comer da farta gamela do arco da governação. PSD-CDS e PS são actores de uma e mesma política: a dos tachos, a do segura-te ao poder a todo o custo, já lá voltamos mas tudo ficará na mesma — alheios que estão os valores, as ideias e as visões de uma sociedade mais justa.

Se Costa alinhar com a direita, ao invés de ser primeiro-ministro de um governo de esquerda, estará a trair os seus eleitores e não se auguram bons tempos para o PS. Os elementos mais direita rapidamente verão as vantagens de alinharem com o PSD-CDS, enquanto que os outros, as bases, preferirão votar no Bloco de Esquerda ou na CDU. Ou seja, está no horizonte a “pasokisação” do Partido Socialista, na medida em que condiciona a sua presença a ser cada vez mais irrelevante no espectro político nacional.

Afinal, é natural: os fenómenos europeus tendem a chegar tarde a Portugal. Mas, em geral, chegam. Esta poderá ter sido mesmo a última vez em que o PS teve oportunidade para trair.

7 Out 2015