Andreia Sofia Silva VozesAlguém se lembra? [dropcap]A[/dropcap]s eleições legislativas para a Assembleia da República (AR) em Portugal sempre tiveram pouca adesão por parte dos portadores de passaporte português que residem em Macau. Os motivos são vários e já foram espelhados em vários artigos jornalísticos deste e de outros jornais. Mas não deixa de ser curioso o facto de, em tempos, o CDS-PP ter sido um partido com expressão em Macau, tendo inclusivamente estado ligado ao estabelecimento da associação de cariz político ADIM (Associação para a Defesa dos Interesses de Macau), fundada por um grupo de macaenses, onde se inclui Carlos D’Assumpção, e que chegou a eleger um deputado à Assembleia Legislativa. Com o passar dos anos, a ADIM desapareceu e o CDS-PP parece ter perdido alguma expressão política no território a favor do PSD, ao ponto de só este ano voltar em força com a candidata local Joana Alves Cardoso. Há uns tempos, em entrevista, Ribeiro e Castro, ex-líder do partido, falava da importância que a ADIM tinha tido para o partido. Hoje, o CDS-PP nem sequer tem uma secção do partido em Macau, ao contrário do PS e do PSD. Trata-se de falta de estratégia do CDS-PP, ou a comunidade macaense, e também portuguesa, resolveu olhar para outras facções políticas? Joana Alves Cardoso disse que os resultados nas legislativas para a AR podem ditar, ou não, o estabelecimento de uma secção do partido no território. Veremos se haverá mais um capítulo nesta história.
Hoje Macau VozesProtestos em Hong Kong | A perspectiva de Pequim, no jornal Diário do Povo [dropcap]N[/dropcap]os últimos dois meses, actos violentos de manifestantes radicais em Hong Kong aumentaram, causando cada vez mais danos sociais. A polícia de Hong Kong afirmou que quase 900 pessoas foram presas até agora e pretendem fazer cumprir a lei rigorosamente para levar os criminosos à justiça. O Comité Central do Partido Comunista da China (PCC) apoia firmemente o governo da Região Administrativa Especial (RAE) de Hong Kong e a força policial na luta contra a violência de acordo com a lei, salvaguardando resolutamente a soberania nacional, a segurança, os interesses de desenvolvimento e a prosperidade e estabilidade de Hong Kong, e nunca permitirá o rapto violento do futuro de Hong Kong. É inegável que a sociedade de Hong Kong tem várias exigências, mas o maior anseio da população é alcançar a estabilidade e a paz. Algumas pessoas afirmam que “esta tempestade violenta alcançou proporções maiores do que o surto de epidemia SARS em Hong Kong (no ano de 2003)”, porque uma vez que a reputação da cidade foi danificada, será muito difícil de recuperá-la; algumas pessoas ponderam que se a violência e o caos continuarem, resultará na decadência de todos os aspectos da vida em Hong Kong e no desemprego. Qualquer forma de amenizar a violência é uma indulgência da violência. Algumas contradições profundas em Hong Kong precisam ser resolvidas por todos os sectores da comunidade, mas a violência nunca será uma “opção razoável”. Se as pessoas com diferentes opiniões políticas e apelos justificam o uso da violência para obter “justiça”, então a sociedade de Hong Kong nunca será pacífica? Qualquer compromisso baseado na violência só encorajará mais violência. Decididamente dizer “não” à violência é a linha de fundo de uma sociedade governada pela lei e o consenso de uma sociedade civilizada. Hoje em dia, as tentativas de violência radicais e oposição são bem conhecidas. Descobriu-se que a sua “regra anti-revisão” original era apenas uma desculpa. Quando o governo da RAE parou de alterar seus regulamentos, eles gritaram palavras de ordem extremas como “Recuperação de Hong Kong, Revolução dos Tempos” e desafiou seriamente a soberania nacional. O objectivo do aumento da violência é paralisar o governo da RAE e a força policial, mergulhar Hong Kong na anarquia e competir com as autoridades centrais para a governança de Hong Kong. Tendo visto isto claramente, será que podemos afastar-nos desta ameaça política irracional, radical e infundada? Poderá haver algum compromisso junto a este ato ilegal, que desafie seriamente o princípio “um país, dois sistemas”? A resposta é absolutamente negativa. Se alguém se julgar esperto a ponto de pensar que o agravamento da violência obrigará o governo central a abdicar do princípio, está imensamente enganado. Se houver agitação para além do controle do governo da RAE de Hong Kong, o Comité Central do PCCh jamais ficará de braços cruzados. De acordo com as disposições da lei fundamental, o Comité Central dispõe de medidas e de forças poderosas suficientes para reprimir rapidamente todas as perturbações possíveis. O futuro de Hong Kong reside na prevenção de motins. Prestamos homenagem à força policial de Hong Kong e às forças patrióticas que defendem o Estado de Direito. Vocês estão defendendo o alicerce da prosperidade e estabilidade de Hong Kong, protegendo a posição de Hong Kong como um centro financeiro, comercial e marítimo internacional, e salvaguardando os interesses comuns da sociedade de Hong Kong e dos investidores estrangeiros. Devemos alertar todas as forças “caóticas anti-China” que não julguem erroneamente a situação, nem tratem a contenção como fraqueza, ou subestimem a vontade e determinação do governo central e do povo de todo o país para salvaguardar a soberania nacional, a segurança e a unidade e manter a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong. in Diário do Povo
Hoje Macau VozesProtestos em Hong Kong | A perspectiva de Pequim, no jornal Diário do Povo [dropcap]N[/dropcap]os últimos dois meses, actos violentos de manifestantes radicais em Hong Kong aumentaram, causando cada vez mais danos sociais. A polícia de Hong Kong afirmou que quase 900 pessoas foram presas até agora e pretendem fazer cumprir a lei rigorosamente para levar os criminosos à justiça. O Comité Central do Partido Comunista da China (PCC) apoia firmemente o governo da Região Administrativa Especial (RAE) de Hong Kong e a força policial na luta contra a violência de acordo com a lei, salvaguardando resolutamente a soberania nacional, a segurança, os interesses de desenvolvimento e a prosperidade e estabilidade de Hong Kong, e nunca permitirá o rapto violento do futuro de Hong Kong. É inegável que a sociedade de Hong Kong tem várias exigências, mas o maior anseio da população é alcançar a estabilidade e a paz. Algumas pessoas afirmam que “esta tempestade violenta alcançou proporções maiores do que o surto de epidemia SARS em Hong Kong (no ano de 2003)”, porque uma vez que a reputação da cidade foi danificada, será muito difícil de recuperá-la; algumas pessoas ponderam que se a violência e o caos continuarem, resultará na decadência de todos os aspectos da vida em Hong Kong e no desemprego. Qualquer forma de amenizar a violência é uma indulgência da violência. Algumas contradições profundas em Hong Kong precisam ser resolvidas por todos os sectores da comunidade, mas a violência nunca será uma “opção razoável”. Se as pessoas com diferentes opiniões políticas e apelos justificam o uso da violência para obter “justiça”, então a sociedade de Hong Kong nunca será pacífica? Qualquer compromisso baseado na violência só encorajará mais violência. Decididamente dizer “não” à violência é a linha de fundo de uma sociedade governada pela lei e o consenso de uma sociedade civilizada. Hoje em dia, as tentativas de violência radicais e oposição são bem conhecidas. Descobriu-se que a sua “regra anti-revisão” original era apenas uma desculpa. Quando o governo da RAE parou de alterar seus regulamentos, eles gritaram palavras de ordem extremas como “Recuperação de Hong Kong, Revolução dos Tempos” e desafiou seriamente a soberania nacional. O objectivo do aumento da violência é paralisar o governo da RAE e a força policial, mergulhar Hong Kong na anarquia e competir com as autoridades centrais para a governança de Hong Kong. Tendo visto isto claramente, será que podemos afastar-nos desta ameaça política irracional, radical e infundada? Poderá haver algum compromisso junto a este ato ilegal, que desafie seriamente o princípio “um país, dois sistemas”? A resposta é absolutamente negativa. Se alguém se julgar esperto a ponto de pensar que o agravamento da violência obrigará o governo central a abdicar do princípio, está imensamente enganado. Se houver agitação para além do controle do governo da RAE de Hong Kong, o Comité Central do PCCh jamais ficará de braços cruzados. De acordo com as disposições da lei fundamental, o Comité Central dispõe de medidas e de forças poderosas suficientes para reprimir rapidamente todas as perturbações possíveis. O futuro de Hong Kong reside na prevenção de motins. Prestamos homenagem à força policial de Hong Kong e às forças patrióticas que defendem o Estado de Direito. Vocês estão defendendo o alicerce da prosperidade e estabilidade de Hong Kong, protegendo a posição de Hong Kong como um centro financeiro, comercial e marítimo internacional, e salvaguardando os interesses comuns da sociedade de Hong Kong e dos investidores estrangeiros. Devemos alertar todas as forças “caóticas anti-China” que não julguem erroneamente a situação, nem tratem a contenção como fraqueza, ou subestimem a vontade e determinação do governo central e do povo de todo o país para salvaguardar a soberania nacional, a segurança e a unidade e manter a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong. in Diário do Povo
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesVer e aprender [dropcap]A[/dropcap]ntes do mais, quero felicitar Ho Iat Seng por ter ganho a eleição para o 5.º mandato de Chefe do Executivo da RAEM, ao obter 392 votos dos membros da Comissão Eleitoral para o Chefe do Executivo. Em segundo lugar, quero manifestar a minha satisfação por lhe ter sido dada a oportunidade de tirar ensinamentos, a partir da experiência de terceiros, antes de tomar posse. É difícil liderar um país, mas também é difícil liderar uma região. Embora Macau seja uma pequena cidade, com uma população reduzida e uma economia estável, não quer dizer que não tenha problemas. Sempre que exista um grupo de pessoas, vão existir opiniões e exigências diferentes. A prioridade para qualquer líder é conhecer a fundo as principais linhas de força da sociedade, de forma a ir ao encontro da vontade da maioria sem deixar de estabelecer pontes de entendimento com as opiniões das minorias. É evidente que isto é mais fácil de dizer do que de fazer. Mas, felizmente, os dois antecessores de Ho Iat Seng, Edmund Ho e Chui Sai On, mostraram-lhe o caminho para pôr este princípio em prática. Simultaneamente, a actuação de Carrie Lam durante os últimos acontecimentos de Hong Kong, também lhe poderá servir de exemplo. Nunca duvidei do desempenho administrativo de Carrie Lam, mas desempenho administrativo e capacidade de governar são duas coisas distintas. Um bom líder não tem de fazer tudo sozinho, tem sim de escolher as pessoas certas e as soluções adequadas, solucionar os problemas no local e no tempo certos e, desta forma, tudo decorrerá tranquilamente. Um par de mãos não pode abarcar o universo, mas, com amor, pode conquistar o mundo. Até agora, não existe qualquer sinal de instabilidade social em Macau. Mas, tendo em conta a curva ascendente de violência e caos a que assistimos em Hong Kong, devemos pensar que prevenir é melhor do que remediar, e que é preferível abordar os problemas antes que eles fiquem fora de controle. Ou seja, os líderes devem aperceber-se dos sinais desencadeadores das crises em vez de serem auto-centrados e opinativos. Os polícias são funcionários públicos que defendem as vidas e a propriedade da população. Exercem o poder que lhes foi conferido dentro dos limites da lei. Devem fazer com que toda a gente respeite as forças da ordem, independentemente da sua raça, opiniões políticas, género, ou de qualquer outra variante. Levar a polícia a lidar com problemas de ordem política só pode gerar tensões e, inclusivamente, confrontos com a população. É da responsabilidade do Governo, e não da polícia, dar resposta às reclamações do público. Tendo em mente o que foi dito, é importante que se impeça os outros países de colocarem Macau na lista dos locais turísticos não recomendáveis. É imperativo criar uma plataforma de díalogo entre o Governo e a população. Neste aspecto, Ho Iat Seng tem efectivamente muito que aprender. Como líder, não se pode dar ao luxo de chegar a conclusões após ter ouvido apenas uma versão dos acontecimentos. Tem de procurar oportunidades, ou mesmo de criá-las, para dialogar com pessoas oriundas dos diversos espectros sociais. Além disso, deve visitar os bairros de Macau e falar com os seus residentes. Precisa ainda de fazer um esforço para comunicar directamente com as pessoas, pelo menos, algumas vezes ao longo do ano, sem grandes preocupações de fazer desses momentos assunto para a comunicação social. Além de cumprir as suas funções administrativas, o Chefe do Executivo de Macau necessita de estabelecer contacto directo com as gerações mais jovens, já que elas terão um papel preponderante na estruturação do futuro. A diferença de idade não é o principal factor que determina os abismos geracionais, mas sim a diferença de mentalidade e de atitude. O Chefe do Executivo tem de querer comprometer-se com os jovens e tomar iniciativas para conhecer os círculos em que se movem, sejam eles a rua, a escola, os recintos desportivos ou as salas de concertos, em vez de realizar reuniões à porta fechada com meia dúzia de associações juvenis, ou promover algumas sessões oficiais de diálogo com jovens. Se optar por este caminho de abertura poderá conhecer as necessidades dos jovens, evitando problemas que possam vir a alastrar à cidade. Se um dia as pessoas puderem encontrar-se com o Chefe do Executivo nas ruas, ou os jovens puderem conviver com ele e falar da sua realidade, significa que ele estará em sintonia com o seu próprio discurso de apresentação de candidatura e com o seu programa politico, que tem por temas «Sinergias e Avanço, Mudanças e Inovação», «Consolidação do Sucesso, Continuidade da Conjuntura Harmoniosa» e ainda “criar um novo tipo de habitação para pessoas com rendimentos considerados medianos”. Um dia, se Carrie Lam puder descer a Queensway, na companhia de jovens vestidos de negro e de jovens vestidos de branco, como uma mãe faz com os seus filhos, acredito que Hong Kong, distinguida com o epíteto de Pérola do Oriente, voltará a cintilar.
João Luz VozesQuem vê caras [dropcap]P[/dropcap]rosseguindo a contradição das políticas de segurança de Macau, que apregoam harmonia e estabilidade enquanto apertam o cerco securitário, as câmaras com tecnologia que permite reconhecimento facial estão prestes a tornar-se uma realidade. Enquanto o fantasma do alargamento do sistema de crédito social paira como uma alma penada por cima das nossas cabeças, em prol da integração e cuspindo no segundo sistema, a prioridade de enfraquecer de direitos, liberdades e garantias ganha cada vez mais terreno à vontade de resolver os reais problemas da cidade. Nesta história toda, o que me diverte mais é a postura do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP), esse carimbo do Governo que jamais verá qualquer problema, a não ser que estejamos a falar de spam de cabeleireiros e serviços de unhas de gel. O GPDP é o equivalente a um bully medroso que, por temer crianças da sua idade, vai aterrorizar meninos da 1ª classe. Quando estão em causa privacidade e direitos individuais, a passividade é absoluta e reveladora da falta de independência de um organismo que deveria ser fiscalizador. É por isso que o sistema de checks and balances funciona. Enfim, também não me parece que em Macau os residentes tenham qualquer problema em abdicar, e entregar de mão beijada, direitos fundamentais à paranoia securitária do Amor. Depois de contar os caracteres desta coluna, olhei para cima e li Protecção de Dados Pessoais e dei uma gargalhada.
Andreia Sofia Silva VozesQuase psicopatas [dropcap]S[/dropcap]omos todos seres humanos e atentos ao mundo que nos rodeia, até ao dia em que nos esquecemos disso mesmo. E, por norma, esse esquecimento ocorre com frequência nas redes sociais, onde nos atacamos quase sem dar por isso. Há uns tempos, um leitor enfurecido decidiu escrever na página oficial do Hoje Macau, no Facebook, que nós merecíamos levar com uma bomba, uma publicação feita na caixa de comentários de uma notícia sobre ataques na zona da Faixa de Gaza. Bastante elucidativo. Agora, são os protestos em Hong Kong que geram uma onda de revolta individual e quase colectiva contra os manifestantes. Há dias, um leitor escrevia que os tiros dados pela polícia não deveriam ter sido feitos para o ar, mas directamente para quem estava a protestar. Tipo arma de fogo, morriam logo vários de seguida. Aposto que se trata de um bom residente, cumpridor das regras sociais e defensor da harmonia de Macau. Só não lhe dêem uma arma para as mãos. Somos todos bonzinhos e respeitadores, até termos acesso a uma rede social. Aí, destilamos ódio, somos uns quase psicopatas sem nos apercebermos. Seríamos incapazes de matar, mas nas redes sociais, não faz mal nenhum ameaçar. Serve para descomprimir das agruras da vida…
João Luz VozesNotícias fofas [dropcap]O[/dropcap]ntem, por volta das 19h, um gatinho persa foi a coisinha mais fofa que já se viu. Segundo fontes conhecedoras da matéria ouvidas pelo HM, a amorosa bola de pêlo espreguiçou-se e emitiu um miado que derreteu 94 por cento corações na zona da Ilha Verde, infectando de ternura incontrolável toda a zona oeste da península de Macau. As autoridades foram chamadas ao local e, em declarações aos órgãos de comunicação social, o comandante da PSP deixou no ar a questão: “Quem tem o focinho mais querido do mundo?! Quem tem? Quem?” Alarmado pela quantidade de emojis com corações e gatinhos que inundaram as redes sociais, o Gabinete de Ligação do Governo Central alertou para a possibilidade de interferência externa num focinho que dá vontade de comer de tão fofo que é. Por outro lado, o gabinete do secretário para a Segurança advertiu para os níveis perigosos de ternura deste tipo de patinhas que teriam de ser barradas no Terminal Marítimo do Porto Exterior devido a fortes indícios de perturbação da segurança interna de Macau. Um deputado ligado aos Operários interpelou o Executivo questionando se o felino-não-residente iria roupar o protagonismo e as festas na barriga aos talentos de quatro patas locais e pediu uma quota limite de emojis com gatos estrangeiros. Numa toada mais preventiva, um legislador representante da comunidade de Jiangmen sublinhou que é imperativo reforçar o amor à pátria. Além disso, o legislador mostrou-se preocupado com as fezes e a urina produzidas pelo gatinho, pediu o reforço das caixas de areia públicas e subsídios para a compra de Whiskas e novelos de lã.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesTodos no mesmo barco (II) [dropcap]C[/dropcap]omo vimos na semana passada, criou-se um movimento na internet apelando aos cidadãos de Hong Kong que retirassem o dinheiro dos Bancos, para pressionar as instituições, diminuir a confiança que as pessoas nelas depositam, afectando directamente o estatuto de Hong Kong como centro financeiro e, muito provavelmente, prejudicando também outros locais. Além das consequências que se podem constatar directamente, este tipo de comportamento destrói completamente as conquistas consagradas na canção “Under the Lion Rock” que os hongkongers tanto trabalharam para alcançar. Estes comportamentos e a filosofia de “arrasar tudo e morrer unidos”, destruirá completamente o espírito nuclear e os ideais da Hong Kong do passado. Este movimento advoga um ideário divisionista e a divisão empurrará a cidade para um abismo sem retorno. Se assim for, Hong Kong deixará de ter qualquer futuro. Vai ser impossível preservar a imagem do território, mesmo que seja apenas para manter o status quo. Tudo isto trará danos irreparáveis a Hong Kong. Xu Guanjie, o deus da música de Hong Kong compôs a canção “Together in the same boat” nos anos 90. A intenção do poema era incentivar as pessoas a não emigrarem e permanecerem na cidade. A letra tem muitos pontos de contacto com a de “Under the Lion Rock”: “Sigo contigo neste barco, por ondas impiedosas fustigado, No horizonte, só vento e chuva nunca vistos, tudo se afigura caótico. Não sei o que nos espera. Mas decidimos continuar a navegar e tornar o nosso barco inquebrável, Luta para enfrentar as dificuldades e os desafios, Assim o barco nunca se afundará.” Aqueles que querem recorrer à violência para destruir Hong Kong, ou que incentivam as pessoas a tirar as suas poupanças dos Bancos, para criar o pânico financeiro, deveriam compreender que, enquanto viverem em Hong Kong, precisam de unir esforços para melhorar a cidade, essa é a sua obrigação. Qualquer forma de destruição só fará as coisas irem de mal a pior. Estas acções não irão ter qualquer tipo de reconhecimento. Só quando todos se puderem inter-ajudar e se mantiver acesa a chama e o espírito de Under the Lion Rock, Hong Kong poderá vir a ter um futuro grandioso. Na situação actual, é impossível solucionar os problemas com uma panaceia. Dado que toda a gente reconhece que esta é uma situação impossível, que caminho seguir? Em resposta, continuo a citar a letra da canção de Xu Guanjie, “Together in the same boat”: “Sigamos confiantes e reforcemos as fundações. Se cada um fizer a sua parte, abriremos caminho através da escuridão. ” “O espelho quebrado amanhã estará intacto e tudo irá melhorar. Com esperança, comecemos de novo, Conservemos para sempre o nosso barco aquecido. ” Desde que os hongkongers estejam confiantes, vão sempre esforçar-se por conseguir o melhor e trabalharão com afinco para criarem segundas oportunidades brilhantes. Juntos, sob o espírito de “Under the Lion Rock” – encorajamento, ajuda e entusiasmo mútuos, a população de Hong Kong vai fazer prevalecer a sua opinião. Os problemas que não puderem ser resolvidos hoje, se-lo-ão amanhã. Se cada facção se agarrar ao seu ponto de vista, excluindo o compromisso, puser de lado a cooperação, ou partir simplesmente para a destruição, o futuro de Hong Kong vai descrever-se apenas numa única palavra – “escuridão”. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado do Instituto Politécnico de Macau Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk
Andreia Sofia Silva VozesContradições da Novo Macau [dropcap]S[/dropcap]ão muitas as vozes que dizem que as sociedades de Macau e de Hong Kong são bastante diferentes. E este domingo foi mais uma prova viva de que em Macau está tudo calmo, tranquilo. De um lado, vota-se no único candidato a Chefe do Executivo, fazem-se os rituais do costume, promessas. Do outro, o território arde, manda-se gás pimenta para cima de multidões, ouvem-se gritos de revolta. Ao lado, os jovens vão para a rua, organizam-se, criam objectivos de luta. Em Macau, a única associação que poderia dar apoio aos protestos cala-se, alegando falta de meios e de recursos humanos. Então o deputado Sulu Sou, que dá a cara por quase todas as causas, não dá a voz aos líderes pro-democracia do território vizinho? Não há um dia da semana ou três horas para emitir um comunicado, ou realizar uma conferência de imprensa? Há também a questão do referendo. Em 2014, houve detenções. Desta vez, ninguém foi preso, o que mostra que é pouco provável que o director do Gabinete de Protecção de Dados Pessoais chegue a secretário. Mas depois, eis que o referendo termina antes do tempo, não se divulgam resultados no dia da eleição de Ho Iat Seng, alegadamente por motivos técnicos. Jason Chao diz que está tudo a funcionar e mostra-se “chocado” com a decisão. Em que ficamos, Novo Macau? Sulu Sou, que foi e continua a ser o mártir da injustiça no hemiciclo e feroz defensor da democracia, continua calado e pouco activo face ao que acontece em Hong Kong? São contradições que não se percebem.
João Luz VozesO futuro [dropcap]H[/dropcap]oje é um novo dia. Como a naturalidade do crepúsculo e da noite que antecede o nascer do sol, a sucessão de poder aconteceu. O candidato abençoado pelos deuses desceu à terra para se apresentar à cidade. Ho Iat Seng ficou a conhecer mercados, Porto Interior, Iao Hon, a Areia Preta, as instituições de apoio social e os eternamente esquecidos pela política e ficou a ter uma ideia de como se vive em Macau. Outro avanço substancial desde que desceu do trono da Assembleia Legislativa foi ter aprendido a sorrir. Agora um pouco mais a sério e sem fazer juízos precipitados, porque não houve, nem é necessário, qualquer compromisso político com os governados, espero, do fundo do coração, que o próximo Executivo governe com justiça, transparência, integridade, profissionalismo e que dê prioridade ao gritante fosso económico entre milionários e desfavorecidos. Compreendo o distanciamento provocado por um sistema político sem qualquer contrato social entre Governo e governados, mas com um dos maiores PIB per capita do mundo, é vergonhoso que em Macau as mesmas estradas sejam partilhadas por Lamborghinis e catadores de papelão vergados pelo peso dos carros que empurram. Durante a campanha, o novo Chefe do Executivo prometeu dar ao território a tão almejada Lei Sindical, fazendo a preocupante ressalva para a existência de legislação semelhante no resto da China. Bem… no Norte não há propriamente sindicatos, o poder económico e político, qual monstro siamês, não permite espaço à reivindicação laboral. O trabalhador é unidade de produção sem voto, literalmente, na matéria que é a sua vida. Que o digam os bravos que tombam na batalha operária mesmo aqui ao lado em Shenzhen. Outro dos temas preferidos durante o período de metamorfose, antes da saída do casulo, foi a habitação para a classe média. A ideia é boa, apesar de limitada pela escassez natural de terrenos. Em termos habitacionais, grande parte da zona A dos novos aterros está destinada à habitação social e económica e, a manter-se a procura deste segmento da população, pode haver excedente para a classe média. Esta ideia assenta na projecção optimista de bons e estáveis ventos económicos, numa altura em que a instabilidade é a brisa dominante. Mas é preciso esperar para ver. Uma ideia que pareceu dominante durante a campanha, e mesmo no dia da coroação, foi a ausência de real compromisso com medidas concretas. Em demasiadas áreas fundamentais da governação nada de substancial foi dito, circunstâncias em que não havia uma opinião formada (como o caso da licença de maternidade) e que noutra realidade política seriam violentamente escrutinadas. Mas essa não é a realidade de Macau. Aqui só há um requisito para se ascender ao topo da pirâmide política e não é um programa político não é esse requisito. Além disso, a quantidade de gafes e o desfasamento com a realidade que Ho Iat Seng demonstrou teria constituído uma montanha de motivos para desqualificação imediata. Confessar nunca ter ido a um mercado, não conhecer o Iao Hon, achar natural que uma mulher não tenha tantas oportunidades profissionais por ter de cuidar dos filhos, tratar da casa, revela não só distanciamento face a uma parte substancial dos residentes, como à época que vivemos… há bastante tempo. Assumir esta dissonância com a realidade da cidade que vai governar (porque a cidade não é composta de sociedades anónimas cotadas em bolsa, por estranho que pareça) é de uma candura e inocência assinaláveis. Deu, a tempos, a ideia de que simplesmente não sabia que lá em baixo viviam pessoas. Uma coisa é certa. Vai haver muito amor, ainda para mais face ao que se passa ali ao lado em Hong Kong. A lavagem nacionalista vai sobrepor-se ainda mais à educação e ao ensino, porque a docilidade canina da população é bem mais importante que a partilha do conhecimento que não conhece cor ideológica. A sabedoria e a instrução não cabem nesta Nárnia académica onde o El Dourado é o “Talento”. Além disso, o conhecimento liberta e a sapiência é uma amante que o Amor não permite. Mas estas são contas para um rosário futuro. O mais importante é que Macau ande para a frente, que encare com sabedoria, coragem e discernimento os desafios que se avizinham. Espero que o “segundo sistema” seja muito mais do que um mantra vazio e que sejam salvaguardados os direitos fundamentais que fazem de Macau uma jurisdição com condições excepcionais. Confesso não ter muita fé neste ponto. Espero também que o sorriso de Ho Iat Seng não se extinga a partir de hoje e que nos dê a todos razões para também sorrir.
Sofia Margarida Mota VozesAté já camaradas [dropcap]H[/dropcap]oje é o meu último dia ao serviço do Hoje Macau. Despedidas nunca me agradaram, muito menos de um lugar que cedo se transformou em “casa”. Ninguém se despede de uma casa. O Hoje Macau deu-me uma “família” e desde logo me ensinou a tentar entender o mundo, este daqui, que me era tão estranho à chegada. Em três anos vivi aqui uma vida inteira e ganhei asas. Esta “Vida de cão” não é uma despedida, é sim um grande obrigada. Em modo aleatório, obrigada à dupla Paulo e Rómulo por tornarem a paginação num quotidiano delirante, ao José por ser um “mano velho” e doce desde o primeiro dia. Obrigada João por teres sido uma surpresa que agora me enche o coração. E a ti, outro João, que do outro lado do computador consegues sempre dar o mimo parvo e essencial para continuar. Andreia e esse humor entre extremos, por se ter tornado tão familiar é agora um aconchego. Obrigada Madalena pelo contacto com a realidade macaense e Richard por não falhares com nada. Juana por essa alegria saltitante e Vitor que nos deixaste há pouco e contigo foi uma bondade que se guarda. Obrigada Diana, que ainda é como se cá estivesses, sem nunca esqueceres de dar uma mãozinha. Filipa, sempre pela sociedade, Flora e Thomas por me terem acolhido. Obrigada Eloy, por seres prévio, durante e póstumo a esta experiência. Vincent por nunca te esqueceres de nós quando regressas dos teus barcos do dragão. Obrigada Carlos, por tudo e mais umas coisas. Até já camaradas e um grande bem hajam.
João Romão VozesTóquio Lab [dropcap]É[/dropcap] a maior área metropolitana do mundo, com os seus 38 milhões de pessoas em intenso, acelerado e permanente movimento. Quase metade (48 por cento) desta gigantesca população desloca-se diariamente em transportes ferroviários, comboios e metropolitanos que compõem uma complexa e intrincada rede e substituem com amplas vantagens os modos de transporte rodoviários: apenas 12 por cento das deslocações se fazem em automóvel e mesmo os autocarros só são usados por 3 por cento da população. Numa cidade que parece sempre ultra-congestionada, acaba por haver espaço público suficiente (ou quase) para deslocações em bicicleta (14 por cento) e a pé (23 por cento). Em todo o caso, é a hegemonia da mobilidade ferroviária que marca a singularidade do sistema de transportes desta metrópole, onde se concentram 26 das 50 estações de comboios mais utilizadas no mundo, incluindo as três primeiras deste ranking (Shinjuku, Shibuya e Ikebukuro). Não é isento de problemas, em todo o caso, este padrão de mobilidade urbana: são internacionalmente famosas as imagens de hora de ponta no metropolitano de Tóquio em que se vêem diligentes e eficazes funcionários das estações a empurrar passageiros para dentro das carruagens, uma densa amálgama de gente assustadoramente comprimida na sua deslocação para o trabalho. Não deixa também de ser curiosa esta intensa proximidade e contacto físico – ultrapassando largamente a capacidade oficial das carruagens – num país onde as normas de segurança são levadas ao máximo extremo nas mais variadas actividades quotidianas e os contactos físicos entre pessoas são culturalmente reduzidos ao mínimo – ou a zero – nas relações sociais. Na realidade, mesmo fora das horas de máxima utilização, é frequente as carruagens e estações funcionarem a 200 por cento ou 250 por cento da sua capacidade – chegando mesmo aos 400 por cento em momentos de maior intensidade. A um ano dos Jogos Olímpicos que Tóquio vai acolher em 2020, é intensa e gigantesca a renovação em curso nas estações ferroviárias da cidade – sendo que, na maior parte dos casos, uma estação não é apenas um lugar onde se entra e sai de um transporte público: é um complexo de centros comerciais, com dezenas ou centenas de lojas acumuladas em torres de sofisticada arquitectura e avançadas engenharias que previnem os impactos dos regulares terramotos que caracterizam uma região situada na confluência de três placas tectónicas (Eurásia, Filipinas e Pacífico). Estas gigantescas infraestruturas – cuja utilização requer cuidada e permanente atenção às dezenas de entradas, saídas e acessos a diferentes ruas ou edifícios circundantes – estão hoje em renovação profunda: novas linhas e plataformas, novos painéis informativos (mais digitais e multi-linguísticos) e também novas lojas, novos restaurantes, novos centros comerciais, novos edifícios de escritórios em novas ou renovadas torres de várias partes da cidade. É sobretudo disto que se fazem os grandes eventos globais, culturais ou desportivos, nas metrópoles contemporâneas: uma mobilização massiva e coordenada de recursos para renovar as cidades, transformando-as temporariamente num diversificado e multissectorial centro de negócios, um catalisador de investimentos através das chamadas parcerias público-privadas que vão alimentando o crescimento económico e também a especulação imobiliária e financeira. Neste momento, o impacto deste súbito aumento da oferta de serviços diversos é facilmente visível para quem visita Tóquio e pode, por exemplo, encontrar magníficos novos restaurante com belas vistas panorâmicas, atencioso serviço e deliciosa comida por um preço relativamente modesto, tendo em conta os padrões locais. Outra coisa será o que se vai passar durante os Jogos, nesse Verão muito quente que se avizinha em 2020, em plena época alta das temperaturas e da humidade relativa. A imprensa vai publicando opiniões de especialistas ou resultados de estudos diversos sobre os impactos previstos das Olimpíadas e há relevantes pontos comuns a várias publicações de que vou tendo conhecimento: a rede de transportes – que já opera na maior parte do tempo muito acima da capacidade recomendada – não será suficiente para acolher os movimentos quotidianos dos residentes, os fluxos dos turistas habituais e ainda os dos visitantes dos Jogos, em particular no acesso aos principais eventos; esse super-congestionamento dos transportes coloca particulares problemas no contexto das temperaturas e humidade relativa muito elevadas que caracterizam Tóquio em Agosto; o alojamento hoteleiro, normalmente já muito caro na cidade, será ainda mais caro; a renovada oferta de serviços diversos, incluindo restauração e animação, terá nessa altura a necessária procura. Outra coisa ainda é o que se passará a seguir às Olimpíadas. O Japão já atingiu os 20 milhões de turistas por ano que se tinham definido como objectivo até 2020 – e na cidade de Tóquio já se atingiram os 15 milhões projectados. A menos que após os Jogos haja um aumento muito significativo dos turistas vindos da Europa ou da América, estes fluxos (até agora com origem na Ásia em 85 por cento dos casos) não deverão aumentar muito significativamente. Internamente, o envelhecimento populacional que caracteriza a sociedade japonesa faz com Tóquio seja das raríssimas grandes metrópoles a nível mundial que arrisca perder população nas próximas décadas. Para que servirão então estas mega-infraestruturas actualmente em construção ou renovação – incluindo as novas habitações na zona da Baía onde se vão instalar mais de 5.000 participantes nos Jogos – é uma questão que torna esta metrópole um interessante laboratório para as políticas urbanas do futuro. Até – ou sobretudo – para se discutirem os limites destas mega-operações de requalificação urbanística e especulação imobiliária com base nas internacionalmente famosas “parcerias público-privadas” e na mobilização de capitais financeiros internacionais.
João Luz VozesSer morninho [dropcap]H[/dropcap]á coisas que não se tomam às metades, que não permitem fragmentação, relativização, venda, aluguer, concessão, diluição. Não é possível defender pela rama princípios e conceitos como “Liberdade”, “Estado de Direito”, “Justiça”, entre outros. Estes são absolutos, definitivos, intransigentes, pairam acima de qualquer sentido de pragmatismo. Da mesma forma que não é possível amar um bocadinho, também não se nasce, vive, morre temporariamente e aos poucos, em doses moderadas e de toma regular. Caminhar para o fim não é finar, isso é definitivo, definhar é outro campeonato. Não se pode conceder em coisas absolutas, pensar que isso é possível é não querer admitir a relatividade, a ausência desse bem, valor, princípio inalienável. Não se pode defender a liberdade piscando o olho à tirania, amando secretamente o cárcere. Lutar pela supremacia da lei é incompatível com escancarar a porta ao capricho egoísta da arbitrariedade. Não se pode ser um bocadinho imparcial, ou justo, da mesma forma que nunca existiu neste planeta um gajo ligeiramente filho da puta. Não se pode ser só um bocadinho, ou existir apenas ao fim-de-semana (não falo no sentido figurativo, claro). Não há meios assassinatos, pedaços de concepções, revoluções fragmentadas, ou valores de part-time, vinho com gasosa ou whisky com água. Liberdade, Justiça e Primado da Lei são shots de um trago que nunca deixam de arder nos nossos ventres. São desejos insaciáveis, amores eternos.
Andreia Sofia Silva VozesEstranho, muito estranho [dropcap]É[/dropcap] interessante acompanhar, ainda que ao longe, esta campanha do candidato Ho Iat Seng ao cargo de Chefe do Executivo. Comparando com a campanha do actual Chefe do Executivo de 2014, a única que acompanhei como jornalista, parece-me que Ho Iat Seng está a ser um candidato mais próximo das pessoas que comenta tudo o que acontece. Não sei se esta característica lhe pode ser favorável, uma vez que comenta alguns assuntos ainda ligados ao Governo de Chui Sai On e penso que não lhe fica bem fazê-lo. Relativamente ao encontro com membros da comunidade lusófona, é de ressalvar o facto de Ho Iat Seng ter procurado encontrar-se com estas pessoas mesmo depois do que aconteceu na Assembleia Legislativa, relativamente à não renovação do contrato dos juristas Paulo Cardinal e Paulo Taipa. Mais surpreendida fiquei pelo facto de este assunto não ter sido abordado por nenhum dos presentes, nem outros relativos à comunidade portuguesa em si. José Pereira Coutinho, que é conselheiro das comunidades portuguesas, optou por ficar calado, pois quis dar a hipótese a outros. Estranho, quando é alguém habituado aos holofotes. Aguardemos pelos episódios que restam desta campanha eleitoral.
João Luz VozesContradições [dropcap]A[/dropcap] coluna de hoje é um elogio à contradição. Na noite de segunda-feira, a polícia lançou uma operação de larga escala na Praça do Leal Senado para controlar um acontecimento que não deixou acontecer. Temeu que uma vigília contra a violência tivesse consequências violentas. Como tal, e para proteger a estabilidade de Macau, decidiu destabilizar a noite de todos os que circundaram uma das praças mais movimentadas da cidade. De forma a proteger a harmonia que reina no território agiu de forma desequilibrada, detendo pessoas por terem autocolantes em mochilas. Com o objectivo de conter a contaminação contestatária de Hong Kong, a polícia de Macau fez exactamente o contrário e tentou apagar com gasolina um fogo em vias de extinção. Quem teme o enfraquecimento do segundo sistema, não fica mais descansado com operações policiais deste calibre, nem com o atropelo a direitos fundamentais com justificações que ficam entre a vidência do pré-crime e as razões holísticas de uma harmonia podre, sustentada no medo e na mordaça. Portanto, sejamos honestos quando apregoamos aos sete ventos as vantagens únicas trazidas pelo segundo sistema. Outro paradoxo no meio disto tudo foi o ajuntamento de malta de camisola branca a cirandar pelas redondezas. Pelos vistos, uma forma de expressão silenciosa e pacífica é o suficiente para meter todos os quadrantes do status quo político e social em pé de guerra. O conceito local de harmonia é qualquer coisa de extraordinário.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesTodos no mesmo barco (I) [dropcap]N[/dropcap]o passado dia 16, alguns hongkongers lançaram através da internet um apelo designado “816 Withdrawal Day”, instando todos os residentes da cidade a levantar o dinheiro do Banco e, de preferência, a trocá-lo por dólares americanos. Este movimento pretende pressionar o sistema financeiro de Hong Kong e forçar o Governo a dar resposta ao cinco pontos da agenda dos manifestantes contra a Lei de Extradição dos Condenados em Fuga. Até ao momento, os Bancos da cidade não registaram qualquer movimentação fora do normal. Hong Kong começou a implementar o sistema indexado de câmbio a 17 de Outubro de 1983. Os três Bancos emissores de moeda em Hong Kong, o Bank of China, o HSBC e o Standard Chartered Bank, precisam de ter em depósito dólares americanos para cobrirem a emissão da moeda local, emissão que é feita sob a supervisão da Autoridade Monetária de Hong Kong. A taxa de conversão é fixa; 1US dólar equivale a 7,8 HK dólares. Até ao momento, o sistema indexado de câmbio tem funcionado bem, sem quaisquer efeitos adversos. A grande vantagem deste sistema é a paridade entre as duas moedas em termos de confiança. Quem confia na moeda americana, confia na moeda de Hong Kong. Os Bancos emissores de moeda em Macau, o BNU e o Banco da China (Filial de Macau) emitem moeda, contra a entrega na Autoridade Monetária de HK dólares. A taxa de câmbio é fixa; 1,03 pataca equivale a 1 HK dólar. No sistema indexado de câmbio, o dólar americano representa a reserva financeira do dólar de Hong Kong, pela mesma lógica, o HK dólar é a reserva financeira na emissão da moeda em Macau, ao abrigo do sistema indexado câmbio desta cidade. Acreditar no valor da pataca significa acreditar no valor do HK dólar e do dólar americano. A confiança é o valor mais importante de qualquer moeda. Quem não confia na moeda, prefere apostar noutros bens, como por exemplo imobiliária, ouro, jóias, etc. E agora há quem queira lançar uma campanha para retirar o dinheiro dos bancos, para criar de forma maliciosa tensões financeiras, caos e mesmo o pânico em Hong Kong. Este movimento tende a afectar directamente o estatuto de Hong Kong como centro financeiro. Estas pessoas procuram lutar pelos seus objectivos destruindo Hong Kong. Contudo, ao destruirem Hong Kong, também vão afectar Macau. Tudo isto é totalmente desnecessário. Até ao momento, não há notícias de qualquer prejuízo causado em Macau. É sem dúvida algo de positivo. A série de incidentes, desencadeada em Hong Kong pela revisão da Lei de Extradição, não afectou, nem irá afectar Macau. Hong Kong tornou-se um centro financeiro a nível mundial devido aos esforços que desenvolveu ao longo de vários anos. Não é um objectivo que se possa atingir de um dia para o outro. O factor mais importante em qualquer sistema financeiro é a confiança que as pessoas nele depositam. Uma vez que essa confiança se perde, todos os sistemas financeiros colapsam. Se Hong Kong vier a ter problemas de ordem financeira e perder o seu estatuto de centro financeiro mundial, que mais valia lhe vai restar? Hong Kong não tem recursos naturais, as conquistas que alcançou foram obtidas com muito esforço, durante muitos anos. Os hongkongers alcançaram estas metas porque durante muito tempo possuiram espírito de inter-ajuda, encorajamento mutúo e, depois, colheram juntos os frutos do seu suor. Os hongkongers também preferem “navegar no mesmo barco”. Nos anos 70, acreditavam que quem trabalhasse com afinco, teria um futuro brilhante. Por isso, a partir dessa altura Hong Kong desenvolveu o espírito consagrado na canção “Under the Lion Rock”. A letra desta canção, interpretada pelo famoso cantor “Luo Wen”, já falecido, dizia o seguinte: “Evitem os conflitos e persigam juntos os vossos ideais Estamos no mesmo barco, jurámos não ter medo e permanecer unidos Deste lado do Cabo, demos as mãos e enfrentemos as intempéries, Trabalhamos com afinco e escrevemos a história da Imortal Hong Kong” Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado do Instituto Politécnico de Macau Blog:http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk
Andreia Sofia Silva VozesMelhor que nada [dropcap]D[/dropcap]iz o deputado José Pereira Coutinho que Portugal pode ser um exemplo em matéria de lei sindical. Pode, de facto, porque em Macau esse direito existe na Lei Básica, mas não está sequer legislado. Mas, repare-se no que aconteceu na última semana: mesmo com uma lei, tentou-se de tudo para que os motoristas de matérias perigosas não avançassem para a greve. Fizeram-se mil e um encontros para que não acontecesse o exercício de um direito, que foi questionado por muitos, apesar de termos uma lei e de vivermos numa sociedade supostamente livre. Sim, a lei sindical em Portugal é um exemplo, mas há que reflectir sobre a sua aplicação prática e o olhar que políticos e população depositam sobre ela. Não basta a existência de uma lei, é importante a formação cívica. O direito à greve não deve ser encarado com dúvidas ou rejeitado quando for mais conveniente. No caso de Macau, há muito que a lei sindical é uma batata quente passada de mão em mão, e todos sabemos como se lidam com as batatas quentes no território: passam-se, mas não se comem, que é como quem diz, não se resolvem os problemas. Ao invés, estuda-se, estuda-se eternamente. Ho Iat Seng é, além de político, um empresário ligado às elites. Não sei se está pronto para fazer uma lei que permita a existência de greves em Macau, esse bicho papão que iria afectar as bilionárias receitas do jogo e demais sectores da economia. Enquanto isso, os trabalhadores sujeitam-se ao que há, em pleno século XXI.
João Luz VozesLei do mais forte [dropcap]N[/dropcap]a semana passada o Corpo da Polícia de Segurança Pública de Macau usou, de forma preguiçosa e pouco precisa, a lei para justificar uma decisão política. Dias negros se anunciam quando forças policiais tomam decisões políticas. Não vou discutir aqui os méritos, ou deméritos, da vigília que estava marcada para esta segunda-feira. A coluna de hoje serve só para perguntar para que serve a Lei Básica e a ilusão de que vivemos num Estado de Direito. A existência de um sistema judicial isento de arbitrariedade é condição essencial à fixação de empresas, à prosperidade económica e a uma relação saudável entre cidadão, sociedade e o poder. É o que separa uma sociedade civilizada da barbárie. A decisão da polícia assentou numa interpretação da intenção do protesto, de que a vigília era uma espécie de elogio à ilegalidade (qual? Não interessa). Além disso, apesar da vigília anunciada ser silenciosa e pacífica, diz-se que pode perturbar a paz social. Quão frágil é a mui apregoada harmonia de Macau se fica gravemente abalada por pessoas sentadas em silêncio? E sejamos francos. Teme-se a violência de uma manifestação pacífica e silenciosa, ou a reacção que esta pode provocar? Se a segunda hipótese for a mais provável, a harmonia de Macau está presa por pinças e explode ao mínimo sinal de opinião oposta ao status quo político. Esta é a mensagem que o poder está a passar. Finalmente, podemos concordar que o ordenamento jurídico de Macau deixa de ter aplicabilidade quando o assunto assume um cariz ligeiramente político? Resta-nos continuar a ouvir elogios à Lei Básica e ao princípio “Um País, Dois Sistemas” por aqueles que os deitam abaixo constantemente.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA nova era da globalização e governança global (II) “China’s participation in global governance reflects the mutually interactive processes of China’s own socialization into the global community and the simultaneous adaptation of global institutions and actors to China’s growing activism. Both China and the international system are internally complex. Hence, Chinese engagement varies across economic regimes, yielding different results in terms of Chinese compliance, its influence on regimes, and the extent of cooperation and conflict in addressing challenges in international society.” Global Governance and China: The Dragon’s Learning Curve Scott Kennedy [dropcap]O[/dropcap]s líderes presentes, incluindo o falecido primeiro-ministro Zhou Enlai, propuseram um conjunto de políticas externas em nome dos países emergentes, visando a coexistência e o desenvolvimento pacífico com os países ocidentais. A China vê as suas relações com o mundo exterior, inclusive com outras grandes potências como os Estados Unidos, através do prisma das suas tradições e valores culturais. Muitas vezes, o ADN cultural reflecte os pensamentos dos fundadores sobre o desenvolvimento humano e com o passar do tempo, esses instintos psicológicos centrais tornam-se profundamente enraizados, formando as normas culturais de diferentes sociedades e orientando praticamente tudo o que acontece, inclusivamente as respostas de uma sociedade aos desafios externos. Existem quatro conceitos fundamentais que formam o ADN cultural da China que são a integridade e conectividade; tolerância e inclusão; harmonia e paz; e uma abordagem holística para assuntos mundiais que estão entrelaçados uns com os outros. Esses princípios básicos do ADN cultural da China são visivelmente exibidos na estratégia de desenvolvimento e na diplomacia do país e moldarão o seu novo papel na governança global. A história da China moderna e o seu envolvimento mais profundo e o crescente papel de liderança na governança global, especialmente desde 2008, mostraram que a China é e continuará a ser um actor importante na governança global e na definição da ordem mundial emergente para o progresso da humanidade. O futuro é brilhante e o caminho é longo, mas estamos confiantes de que a humanidade tem sabedoria suficiente para construir “uma comunidade de futuro compartilhado”, como o proposto pelo Presidente Xi Jinping. A China, na última década começou a desfrutar de maior atenção e influência global, em particular desde 2008, quando o Ocidente, representado pelo Grupo dos Sete (G7), ou o “clube dos ricos”, foi incapaz de lidar com a crise financeira e com o sistema de governança existente. O G20 tem uma representação melhor e mais equilibrada entre países avançados e em desenvolvimento e, assim, capturou a atenção do mundo na realização do levantamento do peso necessário para enfrentar um desafio global tão difundido e chocante, que somente uma “frente única” de todos os países sistemicamente importantes podiam ser capazes de gerir. A China foi naturalmente chamada a desempenhar um papel essencial no contexto do G20 para fornecer liderança e orientação, juntamente com outras grandes economias, para gerir as terríveis consequências das crises financeiras e económicas globais, que são um desafio imediato e urgente para o mundo. É por tal motivo que o ano de 2008 é frequentemente citado como um ponto de viragem para a China no seu profundo envolvimento na governança global, sendo que da mesma forma, 2001 também é um ano chave, uma vez que a entrada da China na OMC é o momento crítico para a participação da China na governança global e na globalização. Não se tratava apenas da China, mas sim da partilha do poder económico global e da governança da economia mundial por todos os países, grandes ou pequenos, ricos ou pobres, como membros iguais da comunidade internacional. O mecanismo do G20 foi criado em 1999, após a crise financeira asiática de 1997 e 1998, como um fórum para discussão de assuntos económicos globais entre ministros das finanças e governadores dos bancos centrais de dezanove países e a União Europeia (UE), mas não foi concebido como um órgão de tomada de decisões ou mesmo de coordenação. A suposição de decisões económicas do G20 em face da crise financeira foi tanto uma resposta improvisada, quanto uma solução de longo prazo para a deficiência da governança global de um mundo em desordem. A China levou o G20 e o seu novo papel na governança global de maneira séria e positiva, não apenas porque era a única instituição disponível naquela época, que estava razoavelmente composta por uma mistura equilibrada de países desenvolvidos e em desenvolvimento, mas também porque reflectia o início de uma nova era na governança global, uma transição da “governança económica global liderada pelos Estados Unidos ou destes” para a “co-governança tanto do Ocidente quanto do Oriente”, uma transição que começou no final do século XX e continuou em ritmo acelerado nas primeiras quase duas décadas do século XXI. É esse o processo pelo qual o papel da China na governança económica global foi fortalecido e um novo papel, mais pró-activo, está aguardando a China, pelo que certamente não é algo que foi perseguido voluntariamente e intencionalmente pelos países ocidentais liderados pelos Estados Unidos. Foi porque sabiam quando a crise financeira explodiu que sem a participação pró-activa da China, Índia, Brasil e outras economias emergentes e em desenvolvimento, não haveria possibilidade de reverter a crise financeira e o crescimento económico global simplesmente estagnaria, pelo que foi de facto um ponto de viragem para a China e um alerta para o Ocidente na governança global. É de considerar que naquela época, os Estados Unidos defendiam a ideia de transformar o G20 na principal plataforma de governança económica global e apoiaram a China no papel mais importante. Os Estados Unidos, com uma avaliação estratégica realista da crise financeira e da devastação que causam, chegaram à conclusão de que era de interesse estratégico que a China desempenhasse um papel secundário dentro do sistema. Além disso, as relações económicas e financeiras entre os Estados Unidos e a China tinham-se tornado tão interligadas que era fundamental para a China estender uma mão para salvar o mercado financeiro americano de um colapso total. A China possuía a maior quantidade de reservas estrangeiras investidas principalmente em títulos do tesouro americano, e os Estados Unidos precisavam da sua cooperação para evitar um colapso total do seu sistema financeiro. Assim, de facto, no final de 2008, o então presidente George Bush enviou o seu secretário do Tesouro para China para procurar garantias do governo chinês. A China entendeu claramente que estava tão intimamente ligada ao sistema financeiro liderado pelos Estados Unidos que, se o sistema falhasse, a China estaria entre as primeiras potências a sofrer as terríveis consequências. Tal relação económica interdependente e cada vez mais importante, combinada com uma relação política e militar mais complicada, tornou-se uma marca da nova era que exige o estabelecimento de uma nova relação de poder entre os dois países. Os Estados Unidos também viram a rápida ascensão do euro como uma ameaça à posição de moeda dominante do dólar americano, pois em 2007 e 2008, o euro estava próximo de representar 20 por cento do total das reservas mundiais, o que era considerado um patamar crítico pelos Estados Unidos. Assim, em discussões sobre a ordem mundial emergente, o termo “Modelo China” apareceu com muita frequência na última década, geralmente em associação com o seu sucesso impactando e influenciando o curso futuro da ordem emergente, à medida que a China ganha tanto “poder coercitivo” quanto “poder de convencimento” ou seja, há dois desenvolvimentos que deixaram uma grande pegada na governança global. Por um lado, é facto que a crise financeira de 2008 colocou um grande ponto de interrogação sobre a viabilidade do neoliberalismo americano como princípio económico orientador da governança económica global. A credibilidade da política económica neoliberal tem estado sob fogo há alguns anos. Por outro lado, a China vem crescendo notavelmente, aproveitando a onda da globalização, provando ser nada menos que um milagre económico. Muitos países, em particular os em desenvolvimento, começaram a interrogar-se se o “modelo chinês” é uma alternativa ao neoliberalismo. Deveria haver um “Consenso de Pequim” em vez do “Consenso de Washington”? Tem sido essa a situação, embora os líderes chineses continuem a enfatizar que a China não tem intenção de exportar o “modelo chinês”, porque o seu sucesso na governança doméstica mostra que a trajectória de desenvolvimento da China com garantias do seu sistema político é a “receita” certa para a China e talvez para alguns países subdesenvolvidos. A China, surpreendentemente é um modelo para o crescimento económico, mas também equilibra a eficiência do mercado e a justiça social, reduzindo a pobreza nas últimas décadas. Além disso, na última década, a China começou a desenvolver e a contribuir para o “património global” por meio de ideias e planos criativos e inovadores na governança global. A “Iniciativa Faixa e Rota (BRI na sigla inglesa)” é apenas um exemplo brilhante que transcende as diferenças ideológicas, económicas e culturais para fornecer uma nova plataforma para intercâmbios transculturais e cooperação económica que, quando implementados com sucesso, beneficiará os países e regiões participantes. A contribuição da China para a governança global é aberta e inclusiva. Além do BRI, a China também está comprometida em construir parcerias globais e criar uma nova estrutura de segurança colectiva e em Janeiro de 2017, o Presidente Xi Jinping proferiu uma série de discursos de abertura na ONU e Davos e certamente não é exagero sugerir que o “modelo chinês”, se realmente existe tal modelo, servirá ao mundo e, sem dúvida, abrirá um novo capítulo na história da humanidade. A ordem mundial emergente, então, será moldada por tais interacções positivas entre países com um destino compartilhado de viver em paz e prosperidade duradouras. Algumas potências ocidentais estão ansiosas há duas décadas pelo facto de a China estar a fortalecer-se ano após ano, e a apresentar propostas cada vez mais voltadas para uma melhor governança global e questionam se a China continuará a ser cooperativa dentro do sistema de governança global existente ou tentará derrubar o sistema e criar um novo. Na verdade, não há motivos de preocupação, pois a China tem sido uma grande beneficiária do sistema actual e da arquitectura de governança global e portanto, não tem desejo nem interesse em “virar a mesa” do sistema de governança global existente. Temos todos os motivos para acreditar que o envolvimento maior e mais profundo da China na governança global ajudará a melhorar o mundo.
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesLições do sol e do vento [dropcap]Q[/dropcap]uando estava na escola primária, fiquei particularmente impressionado com uma história que o professor nos contou e que me deu uma lição de vida. Era sobre um homem que ia a passear no campo, com um casaco vestido. O Vento e o Sol repararam na presença do homem e apostaram quem seria capaz de lhe tirar primeiro o casaco. O Vento entrou logo em acção, soprou forte, lançou rajadas de ar, tentando arrancar o casaco do corpo do homem. Mas, quanto mais o vento soprava, mais o homem apertava o casaco em torno do corpo, para impedir que voasse. Então o Vento deu a vez ao Sol, que se pôs a brilhar o mais que podia para fazer o homem ficar cheio de calor. Incapaz de aguentar a temperatura, que não parava de subir, o homem, por sua iniciativa, despiu o casaco. A lição desta história é a seguinte: existem certas coisas que não podem ser alcançadas à força, temos de procurar uma forma eficaz para as fazer acontecer. Desde então, sempre acreditei na moral desta história. O uso da razão é preferível ao uso da força. Mas, posteriormente, fiz uma nova interpretação do seu sentido. Inicialmente, o homem não intencionava despir o casaco. Mas, depois, o Sol e o Vento usaram-no para provar qual deles era o mais forte. Ganhava, quem primeiro conseguisse tirar-lhe o casaco. Nenhum deles tomou em consideração os desejos do homem, nem lhe pediram autorização para a experiência. De acordo com o código de ética, mesmo que a finalidade seja razoável, se os meios usados para a obter forem errados, não existem vencedores, apenas vítimas, que, no caso desta história, era o homem. Mas, além disso, inventei um novo final para a história, a saber: quando o Vento se apercebe que o Sol ganhou a aposta, fica enfurecido e põe-se a soprar uma ventania gelada. O homem fica cheio de frio e veste rapidamente o casaco outra vez. O Vento desata a rir às gargalhadas e troça do Sol, que fica incapaz de voltar a gerar mais calor. O pobre homem vai para casa e desenvolve uma pneumonia aguda, depois de ter sido exposto a extremos climáticos, e morre. Aposto que ninguém gosta deste fim trágico, no entanto, há quem tente “abrilhantar” alguns fins tristes, tal como o que se tem passado em Hong Kong nos últimos dois meses, acontecimentos que foram desencadeados pela luta contra a revisão da lei de extradição. Como Hong Kong não tem condições para declarar a independência, e não existe possibilidade de vir a haver uma revolução que derrube o Governo em funções, porque será que os dirigentes de Hong Kong continuam a recusar-se a dar uma resposta positiva aos cinco pontos da agenda dos manifestantes? Se o Governo declarasse oficialmente que a revisão da lei de extradição estava definitivamente afastada e garantisse que iria criar uma comissão independente para averiguar os incidentes que estão por esclarecer, acredito que grande parte da agitação acalmaria imediatamente e, enquanto sociedade, Hong Kong teria uma pausa para reflectir. Em Macau, o Governo enviou uma carta à Assembleia Legislativa a requerer, de acordo com o Regimento da Assembleia Legislativa, a eliminação das duas ordens de trabalhos, originalmente previstas para a debate em reunião plenária, no dia 7 de Agosto, incluindo a apresentação, discussão e votação, na generalidade, da proposta de lei intitulada “Alteração do Orçamento de 2019” e da proposta de lei intitulada “Alteração à Lei n.º 11/2009 – Lei de combate à criminalidade informática”, para impedir que, através destas duas propostas de lei, e na ausência de mecanismos de consulta e comunicação, fossem desencadeados conflitos sociais desnecessários. Parece ser evidente que o Governo de Macau tomou em consideração o interesse da população e, numa certa medida, os pontos de vista das minorias. Um dos principais problemas de Hong Kong, deriva do facto de as pessoas serem muito auto-centradas e focadas nos seus próprios objectivos. Acabam por recorrer a todos os meios para conseguirem atingir as suas metas. Deixa de haver espaço para a comunicação e para o compromisso, tal e qual como na fábula do Sol e do Vento. Uma pérola precisa de cuidados e manutenção apropriada para poder brilhar, o mesmo se passa com uma cidade. Se as pessoas que lutam contra a lei da extradição se servirem apenas da violência para defenderem as suas ideias e puserem de lado qualquer espécie de diálogo, nada irá sobreviver. No momento em que toda esta agitação chegar ao fim, a cidade vai estar morta e o sistema “Um País, Dois Sistemas” terá falhado rotundamente. Imagino como Deng Xiaoping iria lamentar esse dia tão negro para Hong Kong.
Sofia Margarida Mota VozesA primeira vez [dropcap]H[/dropcap]á sempre uma primeira vez para tudo. No caso do único candidato ao mais alto cargo do Governo, esta campanha eleitoral está-se a revelar uma fonte de descobertas no que respeita à dimensão dos comuns mortais que habitam o território. Ho Iat Seng foi pela primeira vez a um mercado na semana passada. Acho muito bem que tenha ido, mas quando se pensa em alguém que aqui nasceu, nunca ter ido a um mercado, é caso para equacionar as dimensões paralelas que coexistem em Macau. Num dos lados da força está quem governa esta pequena e rica RAEM, enquanto o outro abarca quem tem todos os dias de se limitar ao comum da existência. De modo a ter pelo menos um “cheirinho” do que é ser mortal por cá, porque não, pedir a quem aqui vai mandar, que viva uns dias nesta dimensão desconhecida? Uns dias, numa casa comum, a ter que ir para o emprego num autocarro mundano liderado por condutores que de volante pouco percebem – talentos – e comer nas tascas da esquina. Uns dias a querer apanhar um táxi naquele momento em que desabou uma chuvada e em que nenhum motorista para. Sei lá, ter que alugar uma casinha para a família com o dinheiro mais contado nos bolsos ou precisar de cuidados de saúde e não ter outra hipótese se não sujeitar-se aos diagnósticos aleatórios dos hospitais locais. Seria uma série de “primeiras vezes” que, caso não tivessem frutos efectivos, pelo menos dariam uma pequena noção de realidade a quem vive noutras bolhas.
Sérgio de Almeida Correia VozesVamos ao que interessa [dropcap]O[/dropcap] candidato único ao quinto mandato de Chefe do Executivo (CE) da RAEM, Ho Iat Seng, veio finalmente apresentar as linhas mestras do seu programa político-eleitoral. Falou, respondeu a algumas questões, umas mais pertinentes do que outras, sorriu muito, deixou a opinião pública com um conjunto de ideias daquilo que virá a ser o fio condutor do seu programa de governo para os próximos anos. Importa agora passar em revista as principais ideias que resultaram do seu encontro com os membros da Comissão Eleitoral na perspectiva dos direitos e interesses dos residentes de Macau, ou seja, aqueles que serão os destinatários da sua futura boa ou má governação, o que em muito dependerá daquilo que se mostrar capaz de fazer e da equipa que formar. 1. Reforma da Administração Pública: saúde-se quanto ao essencial o que o candidato disse sobre esta matéria. Há muito que a Administração Pública cresce sem que preste, salvo cada vez mais raras excepções, um melhor serviço aos cidadãos. O serviço tem vindo a piorar, mais moroso, excessivamente burocratizado e muitas vezes com exigências sem cobertura legal que não fazem qualquer sentido. Já estivemos melhor. É evidentemente necessário melhorar a formação dos funcionários, incluindo no domínio das línguas oficiais (são duas), aumentando o grau de exigência e de transparência das decisões, responsabilizando dirigentes superiores e intermédios. Informatizar procedimentos e racionalizar, diminuindo o número de direcções de serviços, institutos e comissões. Será um bom princípio. 2. Habitação: trata-se de uma área crucial da acção governativa. Muita da contestação social tem resultado da falta de alternativas condignas e a preços suportáveis para a generalidade dos cidadãos. É necessário construir mais e melhor, com preços acessíveis e cujo custo corresponda efectivamente ao que se constrói. A recorrente má qualidade da construção, que tem estado na origem de inúmeras queixas e processos judiciais, e os preços elevadíssimos da habitação, tanto para vender como para arrendamento, não se devem só à escassez de terrenos. A má gestão que deles foi feita pelas entidades públicas, a corrupção que já levou à cadeia altos dirigentes, e a ganância especulativa da protegida elite empresarial e política fizeram o resto. O sucesso da sua acção passará por aqui e pela forma como se mostre capaz de controlar especuladores, construtores e mediadores imobiliários. 3. Transportes: é hoje um dos cancros da RAEM, também eles com um longo historial de desperdícios e má gestão. Carreiras de autocarros às moscas, outras superlotadas e a qualquer dia ou hora, longos tempos de espera, veículos altamente poluentes, condução aos soluços, desrespeito pelos peões e pelas regras de circulação nas rotundas, táxis praticamente inexistentes e ineficientes, motoristas rudes, ordinários, mal-educados e pouco prestáveis, sem conhecimentos linguísticos numa cidade que se quer virada para o turismo, desrespeitando as regras da condução. O candidato mostrou estar sensibilizado para estes problemas. Esperemos pela concretização do programa pois que as Direcções de Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes e dos Serviços para os Assuntos de Tráfego são das que têm dado maiores provas de ineficiência. 4. Lei Sindical: o candidato confessou uma vergonha há muito conhecida, a de que a RAEM é a única região da China sem uma lei sindical. Deixou a ideia de que vai avançar rapidamente com a regulamentação de um dos direitos fundamentais da Lei Básica e que 20 anos depois, vergonhosamente, continua a aguardar concretização. O actual CE e todos aqueles que chumbaram os projectos anteriormente apresentados devem ter ficado com as orelhas a arder devido ao mau serviço que prestaram a Macau e à RPC nesta matéria. 5. Proteccionismo laboral: o candidato não se comprometeu. Fez muito bem, mas não pela peregrina razão de que poderia ser criticado pela sociedade. No segundo sistema a crítica faz parte das regras do jogo, não é crime, e quando fundamentada é um exercício saudável de cidadania, um contributo para o progresso. Seria bom que frisasse que o segundo sistema e as necessidades da RAEM em matéria de pessoal qualificado não podem ficar reféns da falta de qualificação e de brio profissional de alguns trabalhadores residentes. A incompetência é sempre má, ainda mais se for residente porque temos de conviver com ela. Ainda que a deputada Song Pek Kei possa não perceber isto, a incompetência não pode ser protegida só por ser local. 6. Turismo e turistas: dizer que o número de turistas é exagerado para a dimensão da RAEM já todos se tinham apercebido, com excepção da DST que deve achar normal um cidadão andar nas ruas em manada, aos encontrões e a levar com as malas dos “turistas” nos pés e tornozelos. Mas se limitar o número de entradas não for solução, vai-se então aguardar para ver como o candidato irá fazer a quadratura do círculo de maneira a que a entrada de “turistas” do Continente não continue a prejudicar a qualidade de vida dos residentes e a baixar o nível do turismo que por cá temos. 7. Reforma democrática: uma singela declaração de intenções que precisa de ser concretizada. Não acredito em milagres, muito menos por acto magnânimo do CE da RAEM. Não é pelo facto de os poderes coloniais não terem legado o sufrágio universal e directo que os residentes de Macau e Hong Kong e as futuras gerações têm de ficar limitados nos seus sonhos ou penar pela falta de exigência cívica dos seus antepassados. Convém, no entanto, recordar que, de acordo com a LB a iniciativa da mudança não tem de partir de Pequim. Tanto quanto à alteração da metodologia para escolha do Chefe do Executivo como para a constituição da Assembleia Legislativa a iniciativa deverá ser de Macau, com as alterações aprovadas por 2/3 da AL e a merecerem a concordância do CE. O Comité Permanente da APN será depois informado das alterações, para efeitos de ratificação e de registo, consoante seja o caso. O candidato não pode colocar as coisas ao contrário se não quiser ficar na história por ter sido ele quem deu o golpe de misericórdia na tão maltratada autonomia da RAEM. 8. Cidade verde: é algo pelo qual todos esperam e anseiam. A má qualidade do ar e das águas circundantes não depende só de Macau, embora muito possa e deva ser feito para atalhar aos dislates (crimes?) que se cometeram ao logo dos anos em matéria ambiental. Da patente falta de higiene urbana à autorização da entrada e circulação de autocarros e táxis poluentes, enganando-se os cidadãos quanto ao tratamento das suas águas e à capacidade da ETAR de Macau, deixando-se os peixes morrer, permitindo que as suas escassas praias se tornassem em vazadouros de detritos, onde toda a espécie de fungos, bactérias e vírus se podem reproduzir, tudo foi possível sem que ninguém fosse responsabilizado. Ficamos a aguardar que o candidato se deixe de generalidades e passe às acções para atalhar a estes problemas e reduzir os espaços de reprodução de roedores e baratas. 9. Jogo: pouco ou nada disse para além do óbvio. Será necessário aguardar para se perceber como pretende aumentar a competitividade do sector e melhorar a exploração dos jogos de casino num local que é só o mais competitivo do mundo na sua área de negócio e destronou Las Vegas. 10. Justiça: estranha-se a ausência de uma agenda nesta matéria, tantos e tão graves são os seus problemas. Das conservatórias aos notários públicos, cujos prazos são terceiro-mundistas. No prospecto que distribuiu, o candidato refere singelamente “prosseguir com a construção do sistema jurídico” e “salvaguardar o poder judicial independente”, mas estranhamente mistura estes dois pontos com o reforço da interacção e da “cooperação entre o Executivo e o Legislativo”. Ainda mais, pergunto eu? Mas que tem isto a ver com os tribunais, com a justiça? Existe uma coisa chamada separação de poderes e há respostas que urgem. Para primeiras impressões dir-se-ia que o candidato tomou boa nota dos tópicos. Aguardam-se também desenvolvimentos em matéria de saúde, educação e segurança, precisando de fazer uma revisão do seu programa depois de ouvir as críticas. Desenvolvendo-o, dando-lhe consistência através da apresentação de propostas credíveis e exequíveis, expurgando-o de banalidades, ao mesmo tempo rodeando-se de gente qualificada, de quem compreenda o princípio “um país, dois sistemas” e, em especial, o funcionamento do segundo sistema. Espera-se que o candidato Ho Iat Seng, futuro CE, não se esqueça de que a boa governação é que trará consigo o bem-estar aos residentes e a satisfação ao povo. O patriotismo chegará por acréscimo. Nenhum patriota, por mais convicto, talentoso e delirante, resistirá eternamente à má governação, à falta de transparência, à falta de respostas e de prestação de contas, ao nepotismo, à corrupção e ao autoritarismo policial desenfreado. O patriotismo sempre casou mal com a má governação. E se imposto pela força, num cenário de falta de respostas, nunca será genuíno. O candidato Ho Iat Seng, futuro CE da RAEM, tem o dever, este sim patriótico, de nos fazer esquecer a última década de incompetência política e governativa. E não pode cometer em Macau os erros que se viram, e vêem, em Hong Kong. Um lençol pelo qual estamos todos a pagar: a RPC, HK e a RAEM. Resta saber até quando e com que custo final em matéria de autonomia, direitos, liberdades e qualidade de vida.
João Luz VozesInter-nacional [dropcap]H[/dropcap]oje, esta coluna saco de pulgas é dedicada a um dos mais ouvidos chavões locais despegados da realidade: A internacionalidade de Macau. Com um passado, relativamente recente, em que foi uma cidade ponto de contacto entre Ocidente e a hermética e misteriosa China, Macau tem vindo progressivamente a fechar-se em si mesma. A administração portuguesa abdicou dessa função, batendo recordes de ingerência, numa altura em que Hong Kong não passava de um enorme pântano, ilhas dispersas com aldeias de pescadores. Hoje em dia, apesar dos discursos vazios, Macau é tudo menos internacional. O pendor global apenas se pressente nos negócios, e mesmo assim timidamente. O amor à pátria é de tal ordem assolapado, que mesmo projectos como a Grande Baía, com pretensões de atingir a escala global e competir com outras zonas (muito mais abertas), acabam por deixar cair o inter em internacional. Tudo é absolutamente nacionalista. O projecto de integração é isso mesmo, um processo de osmose, apesar de se falar muito da capacidade de atracção de investimento internacional e do papel de Macau nesse objectivo. Sinceramente, não vejo de que forma Macau é mais internacional que Shenzhen, por exemplo. Hoje em dia restam as ruínas, a arquitectura, os vestígios portugueses como o pastel de nata e pouco mais. Tudo o resto que vem de fora é visto com intensa suspeita e a cidade mundial de turismo e lazer encerra-se em si mesma, celebrando o provincianismo.
Andreia Sofia Silva VozesQue grande chatice [dropcap]B[/dropcap]em podem ir para a rua, vão conseguir alguma coisa?” “Tu já viste isto, agora fazem esta greve? E as pessoas?” Estas são algumas das frases ou questões que tenho ouvido ou lido nas redes sociais, não só sobre a greve dos motoristas que se vive em Portugal, mas também sobre o que se está a passar em Hong Kong. São dois mundos diferentes, bem sei, mas repare-se no pensamento que está por detrás disto: mais vale estar calado e não ir contra a ordem estabelecida porque depois o aeroporto para, a economia mexe, o combustível não chega para todos e o dia-a-dia normal agita-se. É importante uma manifestação, fazer-se ouvir, marcar a diferença, sempre de maneira ponderada, com objectivos concretos e uma agenda bem definida. Caso contrário, para que serviram as revoluções? Para que serve legislar-se o direito à greve, à manifestação, à liberdade de expressão? Já não vale a pena lutar por nada e ficarmos à mercê de um sistema com o qual não concordamos? Seremos apenas lutadores de Facebook e do Twitter, escondidos por detrás de um ecrã, apontando o dedo sem nada fazer e sem nada apoiar? Com a luta de uns ganham-se os direitos de todos. Os meios não justificam os fins, mas há coisas pelas quais se devem lutar sempre.