Acções dos casinos sobem com alívio de restrições nas fronteiras

As acções das concessionárias de jogo deram sinais de optimismo face à atenuação das restrições fronteiriças anunciadas pelo Governo de Guangdong. A JPMorgan Chase prevê que as receitas brutas da indústria do jogo cresçam entre 20 a 25 por cento em comparação com os níveis registados no ano passado

 

[dropcap]S[/dropcap]em sinais de que a tempestade tenha terminado, mas com a bonança no horizonte, o índice Hang Seng da bolsa de Hong Kong revelou ontem sinais de optimismo para o sector do jogo de Macau, com valorizações significativas das acções das concessionárias. A esperança para a indústria renasceu com o anúncio do Governo de Guangdong de que seria dispensada a obrigatoriedade de cumprir quarentena de 14 dias para circular entre Macau e nove cidades da província vizinha (Guangzhou, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing).

Segundo a agência Bloomberg, as acções da Galaxy Entertainment Group e da Sands China valorizavam mais de 4 por cento ontem de manhã. A SJM Holdings Ltd e Melco International Development Ltd tiveram ganhos de, pelo menos, 6 por cento. Já os títulos da Wynn Macau valorizaram 16 por cento, conseguindo o melhor dia da concessionária de 2021.

O Índice da Bloomberg mostrava ontem os casinos de Macau com crescimento na ordem dos 12 por cento. A agência destacou a subida das acções das concessionárias norte-americanas no mercado bolsista dos Estados Unidos, com a MGM Resorts International a subir 6,8 por cento, enquanto a Melco Resorts & Entertainment’s deu um salto de 18 por cento.

Apesar do levantamento da obrigatoriedade de cumprir quarentena, que começa hoje, os visitantes precisam apresentar códigos de saúde verde e comprovativo de testes negativos à covid-19 feitos, pelo menos, sete dias antes de passar a fronteira.

Olha que bem

O alívio de restrições foi “uma surpresa agradável” e “mais um passo para a reabertura das fronteiras que irá conduzir ao crescimento do número de visitantes e dos lucros”, de acordo com Andrew Lee, analista do sector do jogo da consultora Jefferies, citado pelo South China Morning Post. O analista aponta a Sands China como a melhor aposta no mercado bolsista, mantendo algumas reservas em relação à performance dos títulos da Galaxy e Wynn Macau.

No que diz respeito às receitas brutas, a JPMorgan Chase estima recuperação na ordem entre 20 e 25 por cento, face aos níveis conseguidos em 2019. “Esperamos que alguma procura reprimida acorra a Macau rapidamente, à medida que as restrições são aligeiradas”, apontou um analista da Sanford C. Bernstein.

Apesar de os visitantes de fora de Guangdong ainda estarem obrigados a quarentena quando chegam a Macau, “a tendência geral é para progressos na direcção certa”.

As receitas do jogo caíram 97 por cento em Junho e mais de 77 por cento no primeiro semestre, em relação a iguais períodos de 2019. Se no primeiro semestre de 2019 as operadoras que exploram o jogo no território tinham arrecadado 149,5 mil milhões de patacas, no mesmo período de 2020 a receita bruta ficou-se pelos 33,7 mil milhões de patacas.

Segundo dados divulgados pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), o mês de Junho foi o pior do ano: os casinos tiveram receitas de apenas 716 milhões de patacas, menos cerca de 23 mil milhões de patacas do que em Junho de 2019.

15 Jul 2020

Fronteiras | Residentes estrangeiros fora das isenções para Guangdong

No dia seguinte ao anúncio da isenção de quarentena para quem vai de Macau para a província de Guangdong, a afluência aos postos de realização do teste de ácido nucleico foi massiva e a plataforma de marcação foi suspensa. A nova política fronteiriça começou hoje às 6h e deixa de fora residentes de Macau estrangeiros, por exemplo, com passaporte português

 

[dropcap]O[/dropcap]s residentes de Macau com nacionalidade estrangeira não vão poder usufruir da isenção de quarentena à entrada de Guangdong, por ainda não ter sido desbloqueada a concessão de vistos para a China. A confirmação foi deixada ontem pela médica Leong Iek Hou, por ocasião de uma conferência de imprensa convocada para esclarecer a nova medida que entra hoje em vigor a partir das 6h e que isenta de quarentena, todas as pessoas provenientes de Macau que pretendam circular nas nove cidades da Grande Baía.

“Os residentes de Macau não chineses, com passaporte português por exemplo, (…) não conseguem obter o visto de entrada. Suponhamos que têm passaporte português, mas sem visto de entrada na China já não podem entrar. Como estrangeiro a entrar de Macau ainda é proibida a sua entrada”, esclareceu a responsável.

Contudo a adesão foi considerável. Ainda o dia mal tinha começado quando esgotaram as quotas disponíveis para marcar o teste de ácido nucleico, cuja apresentação é obrigatória a partir das 6h de hoje para usufruir da isenção de quarentena à entrada na província de Guangdong.

Recorde-se que as autoridades de Guangdong anunciaram na noite de segunda-feira que a partir de hoje passam a estar isentas de quarentena, todas as pessoas provenientes de Macau que pretendam circular em nove cidades da província: Cantão, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing. A medida é recíproca e, para usufruir da isenção de quarentena, é preciso apresentar, na fronteira, o código de saúde e um resultado negativo ao teste de ácido nucleico efectuado nos últimos sete dias.

Com o alívio da política nas fronteiras no horizonte, reportou o canal chinês da TDM –Rádio Macau, mais de 60 pessoas já se encontravam por volta das 9h de ontem, no posto de testes de ácido nucleico do terminal marítimo do Pac On, aguardando por uma oportunidade de realizar o procedimento de despistagem à covid-19, mesmo antes da abertura do serviço ao público. Uma hora depois, o número de pessoas interessadas em fazer o teste já ultrapassava as 200.

Aumento faseado

Numa nota emitida na tarde de ontem, o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus confirmou a “enorme afluência de residentes que tentou marcar e efectuar o teste de ácido nucleico”, relatando que as vagas disponíveis foram preenchidas “num curto espaço de tempo”. Por essa razão, o organismo decidiu suspender os serviços de marcação do teste de ácido nucleico, sendo que a reabertura da plataforma será “anunciada posteriomente”.

Na mesma nota, o Centro de Coordenação esclarece que, apesar de Macau ter capacidade para realizar 16 mil testes de ácido nucleico por dia, os Serviços de Saúde (SS) vão manter disponíveis, temporariamente, apenas 5 mil vagas diárias. A decisão da abertura faseada de vagas é sustentada com a necessidade de “evitar a aglomeração de pessoas no Posto Fronteiriço entre Macau e a Província de Cantão” e dar tempo para os residentes se adaptarem às novas medidas de conversão entre o Código de Saúde de Macau e o Código de Saúde da Província de Cantão (Guangdong).

Ao final do dia, na conferência de imprensa de esclarecimento da nova medida, o médico Alvis Lo Iek Long, do Centro Hospitalar Conde de São Januário, afirmou que o número de vagas esgotou apenas em três minutos, insistiu nos mesmos argumentos, vincando que o objectivo é diminuir deslocações, e anunciou ainda que será criado um novo posto para a realização de testes.

“Não queremos que haja afluência porque a população não está habituada à conversão do código de saúde de Macau para Guangdong. Vamos acrescentar mais um posto de inspecção para fazer exames e, em princípio, vai ser no Fórum Macau. Temos mais de 600 mil habitantes mas não podemos supor que todos precisam de passar a fronteira”, explicou.

Além da apresentação do teste negativo de ácido nucleico, os requerentes da isenção de quarentena à entrada em Guangdong terão de obter o “Título para a passagem fronteiriça”, que mais não é do que a conversão do “Código de Saúde de Macau” para o “Código de Saúde de Guangdong”, que pode ser conseguida online.

Sempre contactável

Segundo as novas regras anunciadas por Guangdong e detalhadas pelo Centro de Coordenação, quem entrar numa das nove cidades da província terá também de ter consigo um telemóvel com um número do Interior da China, o qual deve ser mantido “válido e activo”. Leong Iek Ho,explicou tratar-se de uma exigência de Zhuhai.

“Exigimos um número de telemóvel do Interior da china porque se trata de uma medida de isenção e todos os que se deslocam ao Interior da china estão sujeitos (…) à entrada diária num sistema do código de saúde para declararem o estado de saúde nos 14 dias após a deslocação. Por isso é importante deixar esse número de contacto, para as autoridades terem acesso e saberem se vão permanecer em Guangdong”, partilhou Hou.

Turistas | Governo não prevê enchente da China

Apesar da nova medida que contempla também a isenção de quarentena para quem chega de Guangdong, o Governo não antecipa uma grande afluência de turistas provenientes da China. “Quanto aos vistos individuais e de grupos de excursões ainda não temos informações. Num curto espaço de tempo não estamos a contar com a vinda de muitos turistas da China”, afirmou ontem Inês Chan, Directora do Gabinete de Comunicação Social, por ocasião da conferência de imprensa de esclarecimento sobre a nova medida.

Casinos | Visitantes têm de apresentar teste

A partir de hoje, os visitantes dos casinos passam a ter de apresentar um certificado de teste de ácido nucleico. A Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) exige também a medição de temperatura corporal e a exibição de código de identificação de saúde. Já os trabalhadores dos casinos ficam, para já, isentos da apresentação do teste negativo de ácido nucleico, tendo de continuar a cumprir os procedimentos habituais. Contudo, a DICJ prevê organizar testes de despistagem para todos os funcionários de forma faseada e por grupos, dando prioridade aos “trabalhadores da linha de frente, nomeadamente os croupiers e o pessoal da segurança”, pode ler-se numa nota divulgada ontem. A intenção foi confirmada ao final da tarde de ontem por Leong Iek Hou, da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário.

15 Jul 2020

Caso IPIM | Curta estadia de arguido indicia falsa relação laboral

A acusação entende que empresas sob controlo de Ng Kuok Sao ajudaram um arguido a obter residência temporária de forma ilícita, questionando a validade da sua relação laboral e de documentos apresentados ao IPIM. Mas no caso discutido ontem não foram apresentadas provas de pagamentos ao empresário como contrapartida

 

[dropcap]O[/dropcap] Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) não conseguiu descobrir o montante pago por um dos requerentes de residência envolvido no alegado caso de corrupção no Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM). O processo em causa tem como protagonista Wang Youcheng, que ao pedir residência indicou ir trabalhar como gerente geral da Petroquímica Guangdong – empresa que a acusação argumenta estar sob o controlo de Ng Kuok Sao – com salário mensal de 45 mil patacas. O seu contrato foi assinado pelo arguido Tang Zhang Lu.

Questionado pelo advogado de Ng Kuok Sao, a testemunha do CCAC disse que “neste caso, não conseguimos encontrar o montante em concreto”, mas defende que os pagamentos existiram, ressalvando que os diálogos exibidos apontam para a “prestação de serviços”.

O contrato apresentado por Wang Youcheng dizia que iria trabalhar das 9h às 17h. Depois de receber os documentos, o IPIM disse que como o salário do requerente era superior à média lhe concedia autorização temporária por um período de três anos. No entanto, “durante os três anos não passava muito tempo em Macau”, explicou a testemunha, com base em dados dos postos fronteiriços que mostram que entre 2013 e 2016 os dias de permanência no território variaram entre 14 a 38 dias por ano. Por esse motivo, o CCAC suspeita que não conseguia cumprir os termos que vinham no contrato, nomeadamente o horário.

O IPIM também deu aval à primeira renovação da residência, com o pedido mais recente ainda em fase de apreciação. A mulher e as filhas também conseguiram residência. Relativamente à relação pela qual a renovação foi autorizada quando o arguido passou pouco tempo em Macau, a testemunha remeteu para o IPIM.

Salários simulados

De acordo com o CCAC, o salário do requerente era simulado através de depósitos na sua conta, com o mesmo valor a ser posteriormente levantado ao longo do mês em três tranches. Um cenário que se repetia. O cartão da conta estava na posse de uma funcionária de uma empresa de Ng Kuok Sao, e conversas exibidas em tribunal levam o CCAC a concluir que o requerente tinha conhecimento disso.

Foram também reveladas explicações de uma funcionária em como devia depositar o dinheiro “de uma só vez”, e que em vez de ser no multibanco deveria antes esperar na fila para ficar com talão de depósito.

Noutro momento, é exibida uma conversa em que se menciona o aumento do rigor dos processos de fixação de residência, com uma funcionária a dizer que ia falar com Wang Youcheng para este passar mais tempo em Macau.

Um vídeo do Banco da China mostrou uma mulher com folhas referentes a Wong Youcheng a fazer um levantamento, e a guardar o recibo, cartão e dinheiro num saco de plástico.

Os pagamentos salariais que o CCAC considera serem simulados chegaram ao fim em 2018. A testemunha exibiu os diálogos que considerou “mais especiais”, nos quais se encontram indicações de que os pagamentos iam terminar. O CCAC já tinha começado a investigar o caso e feito apreensões. O IPIM enviou uma carta a pedir mais documentos sobre o funcionamento da empresa, mas o alegado grupo que trabalhava com Ng Kuok Sao não enviou informações.

Por outro lado, vale a pena notar que Rui Moura, advogado de Júlia Chang, disse ontem em tribunal que vai ser substituído por Joana Chan. Apontou “questões pessoais e profissionais” para a necessidade de se ausentar de momento da defesa da filha de Jackson Chang.

Alertas do tribunal

Na sessão de ontem, a juíza voltou a alertar para a possibilidade de o Ministério Público investigar elementos que não constam da acusação. O advogado de Wu Shu Hua (mulher do empresário Ng Kuok Sao) mencionou a compra de passaportes, e a juíza questionou se queria que fosse analisado se isso é ilegal. Num incidente separado, quando a sessão retomou depois do intervalo, Wu Shu Hua quis esclarecer algo que a testemunha tida dito, mas acabou por optar por manter o silêncio depois de a juíza avisar que caso não o fizesse poderia ter de responder a perguntas.

15 Jul 2020

UNESCO, 15 anos | Quando o Centro Histórico de Macau ganhou ainda mais valor

Faz hoje 15 anos que o Centro Histórico de Macau entrou na lista de Património Mundial da UNESCO. O legado português deixado ao longo dos séculos, em fusão com as tradições chinesas e as memórias da cidade portuária, fizeram do Centro Histórico de Macau um tesouro a preservar. Arquitectos ouvidos pelo HM alertam para o trabalho de preservação que urge fazer

 

[dropcap]C[/dropcap]elebra-se hoje o 15º aniversário da inscrição do Centro Histórico de Macau na lista do Património Mundial da UNESCO. Tratando-se de um território que serviu como cidade portuária e ponto de ligação entre as culturas chinesa e portuguesa, sobreviveu um legado histórico que se impunha preservar.

Apesar de existir, já nos tempos da Administração portuguesa, alguma legislação que visava proteger o património, foi com a candidatura à UNESCO, aceite a 15 de Julho de 2005, que passou a existir o enquadramento e protecção de edifícios e monumentos entre as duas zonas principais da península de Macau, que incluem a Colina da Barra, a Colina do Monte e a Colina da Guia, sem esquecer as zonas mais antigas da cidade, onde estão as paróquias de Santo António, da Igreja da Sé e de S. Lourenço.

O percurso para conhecer o Centro Histórico de Macau pode começar no Templo de A-Má, no cimo da Colina da Barra, “a primeira zona que acompanha o traçado original da cidade, desde o porto chinês até ao coração da antiga cidade cristã, fazendo a ligação entre monumentos religiosos, militares e civis, de concepção estética com raízes ocidentais e chinesas”, descreve um documento oficial do Instituto Cultural (IC).

Segue-se aquela que é considerada a “acrópole” de Macau, na Colina do Monte, perto do Cemitério Protestante, situado junto ao edifício que hoje alberga a Fundação Oriente – Casa Garden. Este conjunto inclui monumentos como o Quartel dos Mouros, a Casa do Mandarim, a Igreja de S. Lourenço, a Igreja e Seminário de S. José, o Teatro D. Pedro V, a Biblioteca Sir Robert Ho Tung, a Igreja de Santo Agostinho, o Edifício do Leal Senado, o Sam Kai Vui Kun (Templo de Kuan Tai), a Santa Casa da Misericórdia, a Igreja da Sé, a Casa de Lou Kau, a Igreja de S. Domingos, as Ruínas de S. Paulo, o Templo de Na Tcha, a Secção das Antigas Muralhas de Defesa, a Fortaleza do Monte e a Igreja de Santo António.

Além disso, encontram-se neste percurso largos emblemático de Macau, como é o caso do Largo do Lilau, Largo da Barra ou Largo do Senado, entre outros, “que contribuem para a maior coesão dos monumentos históricos no seu ambiente urbano original”, aponta o IC.

O Centro Histórico de Macau inclui ainda outra zona, mais reduzida, definida pelos contornos naturais da Colina da Guia, onde se ergue a Fortaleza da Guia, que alberga Capela da Guia e o Farol da Guia.

Um longo processo

Após a transferência de soberania de Macau para a China, a 20 de Dezembro de 1999, iniciavam-se os preparativos para a candidatura formal do Centro Histórico de Macau à UNESCO, cujo dossier foi submetido pela China, através da Administração Estatal do Património Cultural, no princípio de 2002. No início de 2004, o Centro Histórico de Macau foi seleccionado pelo Governo Central como a única candidatura nacional, que viria a ser avaliada pelo Comité do Património Mundial em Julho de 2005.

O IC tentou convencer o organismo internacional descrevendo o Centro Histórico de Macau como “um retrato completo da permanência duradoura de uma colónia ocidental em território chinês”, um património com “grande variedade de estilos” e uma “perspectiva abrangente sobre as origens da antiga cidade portuária”. Além disso, o Centro Histórico “inclui os primeiros exemplos de arquitectura barroca e maneirista na China”, de que são exemplos a Igreja do Seminário de São José e a fachada da Igreja de S. Paulo.

Sem rei nem roque

O Farol da Guia já pouco se vislumbra, entalado entre prédios altos, enquanto em que em torno do Centro Histórico as mudanças urbanísticas são mais velozes do que as leis de protecção do património.

A arquitecta Maria José de Freitas assume que o património incluído na lista da UNESCO está preservado, mas que só isso não basta. “Quando se faz um pedido de inscrição de uma lista classificada há que considerar a área envolvente, e penso que a envolvente do Centro Histórico não está a ser acompanhada com a mesma profundidade”, confessou.

Da parte das autoridades há, segundo a arquitecta, uma atitude de “deixa andar”, de adiamento de decisões fundamentais, como é o caso da implementação do Plano de Salvaguarda e de Gestão do Património, prometido “para breve”, segundo declarações do Instituto Cultural (IC) em Setembro e que a UNESCO aguarda desde 2015. Continua também a não existir um Plano Director do território com medidas de protecção do património existente.

“Há sempre uma série de incógnitas e indefinições e isso reflecte-se na envolvente dos edifícios. Vemos que a UNESCO tem sido bastante incisiva, mas o Governo promete sempre que vai fazer qualquer coisa, o limite é no final do ano, mas o ano passa, a UNESCO torna a fazer pressão. Há este jogo de cintura, este adiamento sucessivo”, acrescentou a arquitecta.

Já o arquitecto André Ritchie lamenta que a preservação dos edifícios do Centro Histórico seja demasiado superficial. “Julgo que o que tem sido feito passa muito pela preservação da fachada apenas, permitindo-se depois a demolição total do que está dentro do edifício e isso como arquitecto custa-me um bocado aceitar. A arquitectura vive do espaço e não apenas da fachada.”

No caso do Leal Senado conseguiu-se manter a integridade do espaço, “mas os interiores dos edifícios já não são genuínos”. “O trabalho feito foi uma conquista importante há 15 anos, mas acho que a preservação tem-se limitado à fachada e não deveria, dada a vivência que os edifícios precisam de ter. É isso que falta trabalhar”, frisou.

Mau exemplo do Farol

O desaparecimento progressivo de corredores visuais em torno do Farol da Guia constitui um exemplo de violação das regras ditadas pela UNESCO, afirma Maria José de Freitas. “A visibilidade que o farol tinha no início já está afectada, pois há zonas onde só se veem prédios. Naturalmente que isto afecta o património mundial existente e os factores em que Macau consubstancia a sua classificação. Isso pode levar a sanções por parte da UNESCO.”

Também não está a ser equacionada, em toda a península de Macau, a “zona de transição de salvaguarda do património que integra [o Centro Histórico]”. “Permite-se até onde a lei deixa ir, e na ausência de lei permite-se tudo. Poucas ou nenhumas medidas provisórias foram adoptadas. Há uma decisão discricionária do IC face a determinadas situações, na ausência de lei faz-se o que o regulamento da DSSOPT permite, e sabemos que na DSSOPT qualquer empreiteiro quer é construir o máximo”, frisou.

Ainda em referência à zona envolvente do Farol da Guia, Maria José de Freitas lamenta que não tenha sido feito um estudo do impacto dos prédios já construídos ou em construção. Se isso tivesse acontecido, “os edifícios que lá estão não teriam sido construídos, porque o impacto é demasiado forte.”

Maria José de Freitas diz que “temos o património que foi possível manter” 15 anos depois, chamando a atenção para a importância da pressão e alertas que vários grupos e associações têm vindo a fazer junto da UNESCO sobre a protecção do património, nomeadamente para o caso do Farol da Guia.

Para o arquitecto Mário Duque, “a questão da protecção do Farol da Guia é a situação mais flagrante de que a protecção depende de planos de outra escala, nomeadamente de todos os planos de pormenor que se possam fazer em redor. Logo, depende de Plano Director da RAEM”, defendeu ao HM.

Má publicidade

Apesar de os edifícios na zona do Leal Senado estarem protegidos, a verdade é que um dos locais mais visitados de Macau foi, nos últimos anos, invadido por letreiros de publicidade.

Para o arquitecto André Ritchie, o espaço deve obedecer à inquebrável regra da homogeneidade. “O que vemos no Leal Senado é que se permite aos lojistas rebentarem por completo com a fachada original no rés-do-chão e ignorarem toda a arquitectura dos edifícios. Depois fazem umas montras com um enquadramento que não é diferente do que se faz num centro comercial”, exemplificou.

Mário Duque alerta que a publicidade “não deve obscurecer nem atentar contra o objectivo da classificação, seja no desenho ou na mensagem”, embora Macau tenha “tradição de letreiros, bem mais exuberante”, com o recurso ao néon, por exemplo. Sem incluir as lojas tradicionais, com letreiros característicos, houve, nos últimos anos, mudanças visíveis causadas pela chegada de cadeias de retalho. “Tudo o que apenas resulta da estratégia publicitária de um franchise invasor é passível de atentar contra o objecto da classificação. São um verdadeiro atentado”, acrescenta o arquitecto.

André Ritchie denota que, 15 anos depois, existe “maior consciencialização da população quanto ao valor que o património tem”. O arquitecto pede que o trabalho de preservação continue e que não se limite às edificações antigas.

“O que fazemos de novo é também património, podemos ter obras de arquitectura dignas de serem classificadas. Há edifícios de arquitectura moderna ou relativamente novos que têm o seu valor num contexto histórico e político e que merecem ser classificados. O trabalho tem de continuar”, rematou.

Farol da Guia | Grupo de Salvaguarda reúne hoje com IC

O Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia reúne hoje com responsáveis do Instituto Cultural (IC) relativamente à protecção do monumento e área envolvente, garantiu ao HM um representante do grupo. Em causa está uma carta que o grupo enviou à UNESCO a pedir intervenção urgente sobre a zona urbana em redor do Farol da Guia e o envio de uma equipa de peritos para avaliar o impacto causado pela construção de um edifício com 90 metros de altura.

15 Jul 2020

TSI | Culpado de atropelamento fatal apesar de passar com sinal verde

[dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) confirmou a culpa de um condutor que atropelou uma pessoa depois de passar um sinal verde. O acidente resultou na morte da vítima atropelada. O colectivo de juízes justificou a decisão com a obrigatoriedade de abrandar antes de entrar num cruzamento, algo que é agravado pelo facto de a viatura ser um pesado que circulava com 7,75 por cento de excesso de peso e problemas de travões.

Além disso, o tribunal acrescenta que a prudência de abrandar deveria ser reforçada pela má visibilidade e que “o arguido sabia que, na entrada do cruzamento, o veículo que ficara à sua frente e à sua direita lhe tapara a visão e o veículo que se encontrava a seu lado abrandara a velocidade para deixar passar a vítima com a sua bicicleta.”

O tribunal argumenta que o semáforo serve apenas para regular o fluxo das viaturas e que face a todas as variantes “o arguido tem culpa neste acidente de viação”, isto apesar de “a vítima ter tido culpa por entrar nesse cruzamento sem observar as regras de trânsito”. Assim sendo, o condutor teve a confirmação da condenação do crime de homicídio por negligência, embora a culpa do acidente não seja exclusivamente sua. Este crime tem uma moldura penal de até 3 anos de prisão.

O TSI manteve a decisão quanto à questão das despesas com o funeral, pensão alimentícia e indemnização por perda de vida. Em relação à indemnização pelo sofrimento causado à vítima desde a ocorrência do acidente até à sua morte, o TSI fixou o valor em 200 mil patacas.

14 Jul 2020

Caso IPIM | Tribunal quer mais informações sobre obras da Galaxy

É a segunda vez que o tribunal pede informações à Galaxy, desta vez para saber quem é o empreiteiro geral a quem foram adjudicadas obras da segunda fase do Galaxy. A sessão de ontem abordou um caso de fixação de residência suspeito com ligações à empresa Forever Creation

 

[dropcap]O[/dropcap] tribunal vai pedir à Galaxy informações sobre o empreiteiro geral a que foram adjudicadas as obras da segunda fase, entre 2013 e 2015. A operadora de jogo tem 20 dias para responder.

O pedido surge depois de uma testemunha do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) reconhecer que não apurou se as obras foram entregues a empresas com ligação a Ng Kuok Sao. Em causa está um alegado esquema para pedidos de residência junto do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM).

Neste âmbito, foi questionada a veracidade de comprovativos como a aquisição de equipamentos no valor de cerca de 689 mil patacas para obras do Galaxy.

O CCAC entende que a empresa de engenharia Forever Creation não tinha capacidade para assumir a obra de 60 milhões por falta de trabalhadores. De dez trabalhadores apresentados nos documentos de impostos profissionais, o CCAC indica que quatro não exerciam efectivamente funções na empresa e que os restantes permaneciam fora do território por muito tempo. Da parte da defesa, um dos advogados sugeriu que a empresa poderia contratar só depois de conseguir a obra.

Vale a pena notar que o tribunal já pediu anteriormente informações à Galaxy, dessa vez para perceber o envolvimento da empresa Hunan nas obras da segunda fase do casino.

Pedido rejeitado

Em foco esteve também um requerente de residência, cujo pedido referia deter 60 por cento das acções da empresa de engenharia Forever Creation, pretender aumentar o investimento na ordem de dezenas de milhões e contratar mais de 50 trabalhadores. No entanto, a testemunha do CCAC defendeu que esta pessoa “não tinha intenção de investir”.

Na base da argumentação está um acordo assinado pelo requerente, antes de apresentar o pedido, com um motorista de Ng Kuok Sao. O CCAC diz que o documento encontrado em buscas mostra que o requerente consentia em não assumir responsabilidades na empresa, pelo que entende que a transmissão de acções tinha apenas como objectivo a fixação de residência.

Para isso, iria fazer um pagamento superior a um milhão. O primeiro montante era de 400 mil renminbis, e seria devolvido caso não conseguisse a residência. O CCAC acredita que um cheque assinado por Ng Kuok Sao no valor de 230 mil dólares de Hong Kong consiste nessa restituição, já depois de descontadas as despesas de administração, uma vez que o pedido de residência foi rejeitado.

O CCAC disse ainda que entre 2014 a 2015 se registaram depósitos de valor mais elevado na conta da empresa para dar resposta a um pedido do IPIM desses documentos. “Vemos pela conta bancária que não tinha negócios”, disse a testemunha.

Depois da carta do IPIM terá sido feito um depósito de cerca de 2,8 milhões de patacas através da esposa de um parceiro de negócios de Ng Kuok Sao, declarado enquanto fundo para gerir a empresa. De acordo com o CCAC, depois do IPIM receber comprovativo do capital, o valor foi levantado.

Para além disso, terá sido simulado o depósito de cinco milhões, declarados a título de dinheiro para gestão da empresa. O montante acabou também por ser levantado. “Esses montantes não eram valores certos, o que fazia parecer serem normais, mas totalizavam cinco milhões”, disse a testemunha do CCAC, acrescentando que o dinheiro regressou a Ng Kuok Sao.

14 Jul 2020

Turismo | Preços do alojamento caem 20% no segundo trimestre

[dropcap]O[/dropcap] índice de preços do turismo durante o segundo trimestre de 2020 fez-se do equilíbrio entre a queda dos preços dos quartos de hotéis e do vestuário e a subida dos preços da joalharia e dos bilhetes de avião. De acordo com dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), entre Abril e Julho, o preço do alojamento desceu 19,37 por cento no segundo semestre, em comparação com o período homólogo do ano passado, e os preços do vestuário e calçado, registaram uma queda de 18,17 por cento. Do outro lado, os preços dos transportes e comunicações caíram 11,14 por cento.

Também em relação ao trimestre anterior, o período entre Abril e Julho registou uma quebra de 41,49 por cento no índice de preços do turismo, movido pela influência na hotelaria das restrições impostas pelo combate à pandemia.

Comparado com ao primeiro trimestre, durante o período em análise o preço dos quartos de hotel baixou 41,49 por cento.

Olhando para os resultados em termos semestrais, “os preços da secção vestuário e calçado e o da secção alojamento decresceram 15,92 por cento e 11,31 por cento, respectivamente.” Porém, os índices de preços das secções transportes e comunicações (+7,73 por cento) e bens diversos (+5,33 por cento) aumentaram.

14 Jul 2020

Galaxy | Trabalhadores locais em protesto após rescisão de contratos

Mais de 350 trabalhadores residentes afectos às obras de expansão da fase três do Hotel Galaxy terão sido despedidos. O protesto surgiu ao mesmo tempo que centenas de TNR receberam garantias de continuar a trabalhar na fase seguinte do projecto. A DSAL refere estar “muito preocupada” com a situação

 

[dropcap]O[/dropcap]ntem de manhã, mais de uma centena de trabalhadores residentes protestaram no estaleiro de obras da fase três do novo projecto do Hotel Galaxy, no Cotai. De acordo com informações avançadas pelo canal chinês da TDM – Rádio Macau, os trabalhadores locais queixam-se do facto de os contratos que tinham para continuar afectos à fase quatro da obra, terem sido rescindidos, ao contrário do que terá acontecido com centenas de trabalhadores não residentes (TNR).

De acordo com a mesma fonte, um trabalhador referiu que, no total, foram 350 os funcionários locais notificados entre os dias 7 e 9 de Julho acerca da rescisão do seu contrato de trabalho.

O grupo que esteve ontem concentrado no estaleiro de obras exige agora que o empregador dê explicações sobre a garantia de trabalho na fase quatro do projecto, concedida a vários TNR e pediu ainda a intervenção da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) para proteger a mão de obra local.

Reagindo ao conflito laboral, a DSAL emitiu um comunicado ao final da manhã de ontem, a declarar estar “muito preocupada” com a situação. A entidade revelou ainda ter recebido na sexta-feira um grupo de trabalhadores do estaleiro em questão e ter dado resposta pronta ao incidente, enviando técnicos para o terreno para averiguar a situação e prestar assistência aos trabalhadores.

“Após tomar conhecimento do incidente, a DSAL respondeu prontamente através do envio de pessoal para acompanhar e inspeccionar a situação e reunir com os empregadores e trabalhadores, para entender a especificidade do caso e solicitar o envio de informações”, pode ler-se no comunicado da DSAL.

Investigação em curso

Na mesma nota, a DSAL aponta ainda que, desde o dia 7 de Julho, prestou auxílio a 275 trabalhadores, nomeadamente encaminhando-os o registo de pedido de emprego e prestando esclarecimentos acerca da lei laboral.

Quanto às queixas apresentadas pelos trabalhadores, a DSAL aponta situações essencialmente relacionadas com indemnizações por despedimento, violação da lei de bases da política de emprego e direitos laborais e ainda, questões salariais.

Em comunicado, a DSAL acrescenta também que irá continuar a investigar o caso, com o objectivo de “assegurar os direitos e interesses legítimos dos trabalhadores.”

Citada pelo jornal do Cidadão, a Galaxy esclareceu ao final do dia que ainda não contratou qualquer TNR para a execução da fase quatro do projecto.

Recorde-se que no final de Junho, o organismo avançou em resposta à Lusa que, desde que se fez sentir o impacto económico provocado pela crise do novo tipo de coronavírus, no total, 5.064 permissões de emprego não foram renovadas.

14 Jul 2020

Director-executivo do grupo Suncity desmente ser alvo de investigação chinesa

[dropcap]O[/dropcap] maior angariador do mundo de grandes apostadores e que explora mais de 40% dos casinos em Macau desmentiu no domingo ser alvo de qualquer investigação por parte das autoridades chinesas.

O director-executivo, Alvin Chau, desmentiu “rumores falsos” que apontavam a empresa como alvo de uma operação anti-crime a nível nacional conduzida pelas autoridades chinesas e que o grupo estivesse a dar qualquer apoio aos manifestantes pró-democracia na vizinha cidade de Hong Kong.

“Os últimos rumores do grupo Suncity a subsidiar manifestantes em Hong Kong são extremamente absurdos e ilógicos. Profundamente enraizado em Macau, com uma devoção sincera à pátria, o Grupo Suncity nunca apoia ações que possam prejudicar o país”, assegurou Chau, citado num comunicado enviado à Lusa.

O mesmo responsável desmentiu também que as autoridades policiais da China continental possuam informações de clientes da empresa Suncity VIP Club, que gere o negócio em vários territórios asiáticos.

“Como uma instituição legalmente registada em Macau e regulamentada pela Lei de Proteção de Dados Pessoais de Macau, o Grupo Suncity está estritamente proibido de divulgar arbitrariamente qualquer informação dos clientes”, de acordo com a nota, a qual sublinha não existir registo de qualquer ataque informático que possibilitasse o roubo de dados.

O grupo salientou ainda a sua robustez financeira, negando ainda rumores de que a alegada investigação tivesse levado a uma corrida dos clientes para levantarem o dinheiro depositado.

O Suncity VIP Club possui uma reserva fiscal de 10,58 mil milhões de dólares de Hong Kong e o total de ativos compensa os depósitos dos clientes, perdas previsíveis e dívidas incobráveis, garantiu o grupo.

A Direcção de Coordenação e Inspecção de Jogos (DICJ) disse já desconhecer quaisquer irregularidades relacionadas com as atividades do grupo em Macau, noticiou o portal Macau News Agency. Há um ano, representantes do grupo foram ouvidos pela DICJ por alegada promoção ilegal do jogo ‘online’.

O Suncity também negou ter cometido qualquer ilegalidade, após um artigo do Economic Information Daily, um jornal afiliado da agência de notícias oficial chinesa Xinhua, ter denunciado o recrutamento de apostadores no interior da China por parte do grupo para atividades proibidas em Macau.

A 21 de Maio, em declarações à Lusa, o director executivo do Suncity anunciara a pretensão do grupo de concorrer às concessões de novas licenças de jogo em Macau, em 2022.

O concurso público para exploração do jogo em Macau está previsto para 2022, existindo actualmente três concessionárias (Sociedade de Jogos de Macau, Galaxy e Wynn resorts) e três subconcessionárias (Venetian, MGM Resorts e Melco).

13 Jul 2020

Anima | Billy Chan eleito para assumir a presidência da associação

Assume a presidência da Anima consciente de que a protecção dos animais é uma área com desafios. Billy Chan, que já foi vice-presidente, frisou o trabalho feito pela associação ao longo dos últimos anos. Albano Martins considera que foi “a escolha ideal”

 

[dropcap]B[/dropcap]illy Chan foi a pessoa escolhida para ocupar o cargo de presidente da Anima, cargo anteriormente ocupado por Albano Martins, noticiou a TDM Canal Macau. As eleições realizaram-se no sábado. Ao HM, o novo presidente descreve que “a protecção animal em Macau nunca vai ser um trabalho fácil”.

De entre os trabalhos desenvolvidos ao longo dos últimos anos, destacou que “a Anima tem salvo muitos animais”, apontando para um número superior a dez mil, nomeadamente ao ajudá-los a encontrar casa e assegurar que estão de boa saúde. Um caminho que quer manter. Apesar de já estar ligado à associação, a nível pessoal sente que a posição que passa a ocupar “é muito desafiante”.

Quando questionado sobre os principais desafios que a Anima enfrenta, a resposta é curta e grossa: “recursos”. Mas para além de temas como a necessidade de espaço para cuidar dos animais, Billy Chan também entende serem precisas mudanças no sentido de as pessoas compreenderem que os animais “devem fazer parte da sociedade humana” e ser protegidos.

Para além disso, reconheceu a importância da ajuda dada por Albano Martins e espera que se mantenha no futuro, para assegurar uma transição suave nos trabalhos da Anima. “Agora a posição dele é presidente honorário vitalício”.

Uma ligação para a vida

“São pessoas que conhecem a Anima desde longa data, da Comissão Executiva são quase todos eles trabalhadores da Anima. Portanto, conhecem já os meandros dos problemas que a Anima defronta”, descreveu Albano Martins, acrescentando que Billy Chan já foi vice-presidente da associação e “é uma pessoa cuidadosa, pragmática, defensora dos direitos dos animais desde longa data e a escolha ideal nesta fase”.

Enquanto presidente honorário vitalício, Albano Martins fica agarrado à Anima para toda a vida. Nos próximos meses, vai passar os dossiers e apoiar as pessoas que vão assumir as funções que desempenhava. “Ainda há muitos trabalhos que eu tenho que fazer por detrás, até termos a máquina toda preparada para poder executar isso. (…) Mas a responsabilidade será da Anima”, observou. Uma das questões que tem em mãos este mês é a apresentação do pedido de subsídio à Fundação Macau para 2021, em três línguas.

Quanto ao papel de liderança, mostrou confiança de que “pessoas jovens com o tempo vão lá chegar”, frisando que têm muito presente o quão fundamental é seguir o que está previsto no código de ética.

13 Jul 2020

Metro Ligeiro | Comunicação em causa após avaria não reportada

[dropcap]O[/dropcap] director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), Lam Hin San, admitiu existir margem para melhorar a comunicação do Metro Ligeiro, em caso de acidente ou avaria. Isto porque, de acordo com o jornal Cheng Pou, após duas avarias no espaço de três dias, o segundo incidente acabou por não ser comunicado ao público.

O primeiro incidente, reportado online, aconteceu no dia 7 de Julho e foi motivado por uma falha no fornecimento de energia eléctrica, o que obrigou os passageiros a serem transportados de autocarro. Já a segunda avaria, que nunca foi reportada, aconteceu no dia 9 de Julho, alegadamente motivada pelas mesmas razões.

Sobre a falta de comunicação com o exterior, Lam Hin San referiu a necessidade de coordenar melhor o mecanismo de interação entre todas as partes envolvidas, lembrando que o Metro Ligeiro é um projecto recente em Macau que está ainda a ser aperfeiçoado.

13 Jul 2020

Ambiente | Imposição de testes obriga a cancelar actividades de reciclagem

Iniciativas de reciclagem da Macau for Waste reduction foram canceladas depois da CPSP ter anunciado a exigência de todos os participantes apresentarem um teste de ácido nucleico negativo. A responsável do grupo, Capricorn Leong, diz estar chocada e não compreender os critérios das autoridades

 

[dropcap]D[/dropcap]uas actividades de reciclagem da Macau for Waste Reduction foram canceladas depois do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) ter notificado o grupo de que todos os participantes e voluntários das iniciativas estão obrigados a apresentar um teste de ácido nucleico negativo.

As estações de reciclagem ao ar-livre tinham como objectivo sensibilizar a população para a importância de reciclar e recolher lixo e estavam agendadas para os dias 11 e 18 de Julho na Praça de Jorge Álvares e na Taipa (Ocean Garden). A estação de recolha que permanecerá activa está marcada para o dia 18, sábado, na Escola Portuguesa de Macau.

Numa publicação no Facebook, onde dá conta da notificação da polícia, o grupo Macau for Waste Reduction justifica a decisão de cancelar as iniciativas com o facto de ser um pequeno grupo ambiental, “sem capacidade financeira para subsidiar os testes de ácido nucleico dos participantes”.

Contactada pelo HM, Capricorn Leong, activista e responsável pelo grupo diz estar chocada com a exigência das autoridades de apresentar um teste de despistagem à covid-19, porque, para além das estações de reciclagem serem eventos ao ar-livre, Macau já deu mostras de ter regressado à normalidade. “Estamos chocados e muito desiludidos. Pessoalmente, não consigo compreender qual é o critério aplicado, quando toda a gente sai à rua para jantar fora ou ir às compras, recorrendo muitas vezes a autocarros lotados para o fazer. Além disso, anteriormente expliquei ao Governo que a nossa actividade decorre com os participantes em constante movimento, sendo que a maior parte nem sequer iria ficar mais de 15 minutos”, explicou Capricorn Leong.

Tempos difíceis

Capricorn Leong refere ainda que a necessidade de realizar este tipo de eventos é da maior importância, pois se “todos evitassem produzir resíduos plásticos desnecessários”, não seria preciso realizar, “de forma tão urgente”, este tipo de iniciativas.

A activista lembra ainda que o critério de exigir a apresentação de testes de ácido nucleico “não se aplica a actividades com fins lucrativos” e dá o exemplo de um evento que decorreu no passado fim-de-semana na zona do Fisherman’s Wharf destinado ao comércio. “Se calhar, da próxima vez é melhor mudar o nome do nosso evento para ´Roadshow da consciência ambiental da Grande Baía’”, rematou Capricorn Leong.

Recorde-se que no passado mês de Junho, o CPSP já tinha impedido que fossem montadas outras estações de reciclagem em locais públicos, obrigando as mesmas a passar para locais privados.

13 Jul 2020

CCTV | Banco da China diz que câmaras não captam códigos nas máquinas ATM

O Banco da China assegura que as câmaras de videovigilância instaladas junto às máquinas ATM não têm capacidade para captar códigos de acesso dos clientes e servem apenas para garantir a segurança dos utilizadores. No entanto, numa sessão de julgamento do caso IPIM, foram exibidas imagens fornecidas pelo Banco da China onde é possível ver o código de acesso

 

[dropcap]A[/dropcap]s câmaras de videovigilância instaladas junto às máquinas ATM do Banco da China servem apenas para garantir a segurança dos utilizadores e não conseguem captar os códigos de acesso às contas bancárias. A garantia foi dada pelo gabinete de comunicação do Banco da China ao HM.

“O nosso banco valoriza sempre a protecção dos direitos dos clientes. As câmaras de videovigilância são instaladas nas caixas multibanco, gravando as imagens das pessoas que fazem levantamentos, a fim de saber se as caixas multibanco funcionam bem.”

Nesse sentido, “se o ângulo da gravação incluir a zona de digitação dos números, o sistema irá blindar essas imagens e será impossível obter os códigos de acesso dos clientes através das imagens da videovigilância”.

A resposta do Banco da China acrescenta que existe um sistema de alerta para que seja garantida a protecção dos dados pessoais dos clientes. “Antes do cliente digitar o código de acesso, no ecrã do multibanco surge de imediato um aviso de que é necessária maior protecção a fim de se evitar a divulgação das informações e do código.”

Código no caso IPIM

Apesar do Banco da China negar que as câmaras de videovigilância captam os códigos de acesso às máquinas ATM, a verdade é que na sessão de julgamento do caso IPIM, na passada quinta-feira, foram mostradas imagens fornecidas pela própria entidade bancária às autoridades onde é visível o código de acesso inserido pela empregada do empresário Ng Kuok Sao. Ng Kuok Sao é um dos arguidos no processo, acusado de criar uma rede criminosa de venda de autorizações de permanência em Macau.

O assunto acabou por não ser explorado em tribunal, mas a verdade é que o ângulo de uma das três câmaras instaladas pelo Banco da China, junto às caixas ATM, captou o código pin inserido pela utilizadora. Por esse motivo, as imagens da câmara que apontam ao painel de controlo têm no centro um quadrado preto a tapar o painel de controlo da máquina ATM, onde a empregada estava a inserir o código pin da conta.

A funcionária, que utilizava o multibanco, tinha em sua posse uma folha de papel com vários números inscritos. Recorrendo ao zoom das imagens de alta resolução, as autoridades conseguiram aceder a toda a informação contida no documento.

O HM contactou também o Gabinete de Protecção de Dados Pessoais e a Autoridade Monetária de Macau sobre este assunto na quinta-feira, mas até ao fecho desta edição não obteve resposta.

13 Jul 2020

Caso IPIM | Funcionário do CCAC admitiu hipótese de estarem a decorrer mais investigações

A defesa de Glória Batalha entende que “dezenas de pedidos ajuda” para fixação de residência fizeram parte das suas funções normais e questionou os motivos que levaram dois pedidos a chegarem ao tribunal. Um desses casos foi discutido à mesa do restaurante Robuchon Ao Dome, num jantar com uma conta de quase 8 mil patacas

 

[dropcap]H[/dropcap]á mais factos a serem investigados pelo Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) relacionados com processos de residência no Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM). As investigações foram dadas a entender por um funcionário do CCAC, ouvido na sexta-feira, quando testemunhava contra Glória Batalha Ung, ex-vogal do Conselho de Administração do IPIM, acusada dos crimes de abuso de poder e violação de segredo.

As afirmações do investigador identificado como CF Ng surgiram após ter sido confrontado com “dezenas de pedidos de ajuda” feitos por várias pessoas a Glória Batalha, que a defesa entende terem sido prestados no cumprimento das funções. Segundo o advogado Pedro Leal, um desses pedidos terá partido do Comandante do Corpo de Polícia de Segurança Pública, mas a data do mesmo não foi apontada.

Na sexta-feira, a defesa quis saber o que levou a investigação do CCAC a “filtrar” e “seleccionar” provas. “Há dezenas de chamadas e mensagens relacionadas com pedidos de ajuda de fixação de residência. […] Mas, aparentemente, houve casos que não interessaram e não estão nos autos. Porque é que seleccionaram estes dois?”, questionou Pedro Leal. “Houve uma selecção. O CCAC apreendeu os telemóveis e retirou o que lhe interessavam […] Houve outras conversas que não constam nos autos e houve uma filtragem”, sublinhou.

No entanto, a tese da “selecção” dos casos remetidos para o Ministério Público (MP) foi recusada pelo investigador CF Ng. “Os restantes casos [não estão neste processo]… não quer dizer que não sejam relevantes e que não haja outras investigações a decorrer…”, respondeu Ng.

Também o delegado do MP, Pak Wa Ngai, interveio na questão para defender a conduta do órgão de investigação. “O CCAC procedeu os trabalhos e cumpriu as suas funções. Mas a acusação é feita pelo MP,” realçou Pak. “Antes de haver uma acusação há segredo de justiça e não pode ser comentado…. há vários processos do IPIM que foram entregues para investigação. Mas, mesmo que não haja uma acusação não quer dizer que não tenha havido investigação”, sustentou.

Mensagens “indecifráveis”

Glória Batalha Ung está acusada da prática dos crimes de abuso de poder e violação de segredo, uma vez que o MP defende que a responsável violou as suas funções quando transmitiu informações de processo de fixação de residência que iam ser ou estavam a ser analisados pelo IPIM.

No âmbito da acusação, o principal método de prova apresentado em tribunal foram várias conversações de mensagens de voz e texto através da aplicação WeChat. No entanto, também estas mensagem levantaram polémica para a defesa, uma vez que nos casos que envolvem a acusação, o CCAC foi capaz de decifrar as mensagens. Porém, há mensagens “aleatórias” que não foram decifradas.

O investigador do CCAC foi com três exemplos da “prática”. Em dois casos, a conversação está toda decifrada, menos uma mensagem que surge no encalço da conversa. Num outro exemplo, são várias as mensagens, todas seguidas, que ficaram por decifrar. Na resposta, CF Ng indicou que o software do CCAC tem limitações.

Jantar de 8 mil patacas

Antes das alegadas incongruências evocadas pela defensa em relação à prova, os presentes na audiência foram confrontados com várias conversas e documentos que mostraram Glória Batalha a ajudar em dois pedidos de residência.

Em relação ao segundo caso, Glória Batalha foi ouvida a ajudar nos procedimentos para fixação de residência a Yan Peiyu, professora assistente na Universidade de Ciência e Tecnologia na área da Medicina Tradicional Chinesa.

A assistência foi fornecida a pedido de um amigo de Glória Batalha, um empresário chamado Zhang Hoi Pang, e o assunto foi abordado a primeira vez durante um jantar a 7 de Agosto de 2017, no restaurante Robuchon Ao Dome organizado por Zhang. Yan também esteve presente e a conta foi de 7.797 patacas.

Depois de ter sido informada por um subordinado que Yan Peiyu teria dificuldade a obter a residência, Glória Batalha contactou Zhang e perguntou-lhe qual era a relação entre os dois: “Qual é a vossa relação? Se for preciso, eu ajudo a pensar numa forma para obter residência, mas se não for preciso é melhor dizer-lhe que não consegue a residência”, disse Glória a Zhang, a 29 de Agosto de 2017. Na resposta, o empresário falou de uma relação muito próxima da sua família com Yan Peiyu e indicou ainda que a académica “precisava mesmo do Bilhete de Identidade de Residente”.

Com o auxílio de um subordinado, Tylar Ian, e após a persistência na recolha de documentos e inscrição em associações locais, Yan Peiyu conseguiu reunir as condições para ter parecer positivo do IPIM. O parecer positivo contou com o apoio de Irene Lau, que desempenhou as funções de presidente do IPIM depois de Jackson Chang ter sido afastado. O pedido de Yan, segundo a defesa, só foi aprovado pelos então secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On, já depois de Glória ter sido suspensa das funções.

Contactos com Ng Kuok Sao

No caso referente a uma pessoa com o nome Lau I Tak, foram ouvidas conversas entre Glória Batalha e Irene Iu, secretária de Ng Kuok Sao, o empresário acusado de criar uma rede criminosa para vender autorizações de permanência em Macau. Numa conversa datada de 26 de Outubro de 2015, Glória Batalha é ouvida a dizer que o candidato precisa de apresentar mais documentos. “Diz ao teu patrão […] tens que o informar que o salário [do candidato] é baixo. A experiência ainda não é suficiente, tem que apresentar mais documentos”, diz a ex-vogal do IPIM a Irene Iu.

Após a conversa, Lau I Tak acabou por apresentar a informação pedida, de forma voluntária, o que levou a acusação a considerar que houve acesso a informação privilegiada, que deveria ter passado pelos canais “oficiais” do IPIM.

Segundo a versão de Pedro Leal, a informação fornecida em ambos os casos poderia ter sido obtida através do portal online do IPIM, pelo que não houve qualquer segredo violado. Por outro lado, é defendido que fazia parte das funções de Glória Batalha ajudar as pessoas a obter residência por serem uma mais-valia para a RAEM e que havia mesmo um serviço de informações ao domicílio, que foi referido pelo Lionel Leong nas Linhas de Acção Governativa.

“Onde trabalho?”

Na sexta-feira à tarde, a acusação focou o empresário Tang Zhang Lu, que acredita ter fornecido informações falsas para obter o estatuto de residente em Macau. Tang estabeleceu três empresas com Ng Kuok Sao – principal arguido do processo -, entre as quais a Hunan, onde Kevin Ho também é accionista.

Porém, uma das conversas de WeChat mostram que Tang tinha dúvidas sobre a empresa onde tinha declarado trabalhar para obter residência. “Onde é que eu trabalho? E qual é o meu salário”, é ouvido a perguntar. Apesar destas dúvidas, o empresário não se coibiu de questionar se um amigo também poderia entrar para a empresa em causa.

Esposa chamada a depor

Apesar de ter sido vogal do IPIM vários anos e de ter assumido a presidência como substituta entre Outubro de 2018 e Maio deste ano, Irene Lau não era para ser ouvida como testemunha no processo. No entanto, o Ministério Público arrolou mesmo a ex-presidente do IPIM como testemunha por considerar necessários alguns esclarecimentos sobre os consensos no Conselho de Administração do IPIM mencionados por Glória Batalha. Outra das revelações das mensagens de WeChat ouvidas na sexta-feira permitiram perceber que entre alguns funcionários Irene Lau era tratada como “Esposa do Sr. Lau”. Foi o que aconteceu numa conversa entre Glória Batalha e o subordinado Tyler Ian. Irene Lau é casada com o empresário e ex-deputado Tommy Lau Veng Seng.

13 Jul 2020

Banco da China | Ângulo de CCTV capta PIN dos utilizadores no multibanco

[dropcap]D[/dropcap]urante a sessão de julgamento do caso IPIM, na quinta-feira, foram exibidas imagens fornecidas pelo Banco da China às autoridades, em que uma empregada do empresário Ng Kuok Sao utiliza o multibanco, em 2018. Apesar de a questão ter sido ignorada em tribunal, o ângulo de uma das três câmaras instaladas pelo Banco da China no local permite captar o código pin inserido pela utilizadora. Por esse motivo as imagens da câmara que apontam ao painel de controlo têm no centro um quadrado preto a tapar o painel de controlo da máquina ATM, onde a empregada estava a inserir o código pin da conta.

A mulher, que utilizava o multibanco da empresa, estava ainda acompanhada por uma folha com vários números. A partir do zoom das imagens, de alta resolução, as autoridades conseguiram aceder a todo o documento.

Ontem, o HM entrou em contacto com o Banco da China, já depois do horário do expediente, para perceber a necessidade de instalar um câmara de segurança que permite captar imagens do utilizador a inserir o código pin, mas até ao fecho da edição não recebeu qualquer resposta. As máquinas de multibanco aconselham as utilizadores a colocar a mão por cima do painel de controlo quando inserem o código, o que poderia impedir a captação do código pessoal.

Também o Gabinete de Protecção de Dados Pessoais e a Autoridade Monetária de Macau foram contactados sobre o mesmo assunto, durante o horário de trabalho, mas não houve qualquer resposta.

12 Jul 2020

Caritas | AIPIM consegue reunir mais de 23 mil patacas em donativos

[dropcap]A[/dropcap] Associação de Imprensa em Português em Inglês de Macau (AIPIM) entregou este sábado à Caritas Macau bens alimentares que adquiriu com as verbas da campanha solidária que lançou nas últimas semanas. Ao longo da campanha, que decorreu entre 12 de Junho e 9 de Julho, foram angariadas 23.600 patacas, aponta um comunicado.

Esta campanha contou com o apoio do Instituto para a Responsabilidade Social das Organizações na Grande China em Macau que fez um donativo de 7.500 patacas. O dinheiro dos donativos serviu para a AIPIM adquirir bens alimentares, tal como arroz e vários enlatados, que se destinam a famílias de residentes e não residentes que mais sofreram com o impacto da crise causada pela covid-19.

12 Jul 2020

Caso IPIM | Juíza considera que conversas no WeChat não são “escutas”

O Ministério Público decidiu ontem abrir mais uma investigação à empresa Hunan por suspeitar que foi obtido um empréstimo com base em obras nunca realizadas

 

[dropcap]
A[/dropcap]s conversas digitais e gravações de voz guardadas na aplicação WeChat dos telemóveis não são escutas telefónicas e podem ser utilizadas como prova em crimes com uma moldura penal inferior a três anos. A decisão foi tomada ontem pelo colectivo de juízes liderado por Leong Fong Meng, no âmbito do caso Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM).

Antes da pausa para o almoço na sessão de ontem, Pedro Leal, advogado de Glória Batalha, pediu para que as mensagens da aplicação WeChat não fossem utilizadas como prova contra a sua cliente, uma vez que a moldura para os crimes pelos quais está acusada, de violação de segredo e abuso de poder, é inferior a três anos.

Segundo o entendimento do advogado da antiga vogal do Conselho de Administração do IPIM, a intercepção ou gravação de comunicações telefónicas, ou meio técnico diferente, só pode ser feita para crimes com uma pena superior a três anos de prisão. Por este motivo, o causídico apontou que as mensagens de texto e de voz de WeChat de Glória Batalha não poderiam ser utilizadas como prova. “Independentemente da forma como foram obtidas as provas, os crimes são punidos com uma pena que não é superior a três anos e é por essa questão que as provas não podem ser utilizadas”, justificou o advogado.

Ouvido sobre o requerimento, o delegado do Ministério Público (MP), Pak Wa Ngai, defendeu a legalidade das provas. “Acho que esta é uma questão bastante pertinente”, começou por ressalvar. “Mas as disposições sobre as escutas não se aplicam porque estamos a falar de dados que foram obtidos nos telemóveis e nos backups dos telemóveis no material apreendido. As provas estão a ser utilizadas de forma legal”, indicou Pak.

Após o almoço, Leong Fong Meng anunciou a decisão e aceitou as provas: “O tribunal entende que não se tratam de escutas telefónicas. Os dados estavam no telemóvel, mas foram obtidos posteriormente […] Todos estes dados foram obtidos com autorização de um magistrado e passaram pelo Juízo de Instrução Criminal”, sublinhou.

Esta interpretação foi igualmente justificada com um acórdão de 2016 do Tribunal de Segunda Instância, que segundo a juíza decidiu que aos dados no telemóvel não se aplicam as disposições das escutas. A decisão pode agora ser recorrida durante um prazo de 20 dias.

Mais uma

Ontem, o MP decidiu também começar mais uma investigação relacionada à Companhia de Engenharia de Instalação de Equipamentos Hunan, por mais um crime de falsificação de documentos.

Em causa, está um documento apresentado na terça-feira pelo advogado de Wu Shu Hua, Kwong Kuok On, sobre uma carta enviada aos Serviços de Economia (DSE). Nesse documento, era focado um pedido de apoio para a compra de 12 máquinas para obras no casino Galaxy, no valor de 1,7 milhões de patacas.

A empresa Hunan tem como accionistas Ng Kuok Sao, Kevin Ho e um empresário do Interior Tang Zhang Lu, que são igualmente os únicos gerentes. Ainda esta semana Kevin Ho afirmou que apesar de ser accionista da empresa criada “há 11 ou 12 anos” nunca esteve envolvido na sua gestão.

A acusação acredita que a empresa Hunan era uma fachada para permitir que os clientes do esquema do empresário Ng Kuok Sao – o principal arguido do caso IPIM e acusado de liderar uma associação criminosa – obtivessem autorização de residência temporária em Macau.

Foi também por este motivo que o tribunal pediu anteriormente informações à operadora de jogo Galaxy, para perceber se a Hunan teve algum envolvimento nas obras da segunda fase do casino com o mesmo nome.

10 Jul 2020

DSEJ | Confirmado cancelamento de questionário que pedia opinião sobre deputados

[dropcap]E[/dropcap]m resposta ao HM, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) confirmou a interrupção do inquérito sobre a resposta do Governo à covid-19 que incluía duas questões destinadas a recolher opiniões sobre os deputados da Assembleia Legislativa (AL).

Quanto aos motivos que levaram a Escola para Filhos e Irmãos dos Operários a distribuir o questionário aos encarregados de educação e alunos do ensino secundário, a DSEJ diz ter entrado em contacto com o responsável da escola para averiguar mais detalhes. “O respectivo “inquérito” teve por objectivo elevar nos alunos do ensino secundário complementar a consciência cívica e incentivá-los, bem como, aos seus encarregados de educação, a prestarem atenção à sociedade, aos trabalhos do Governo contra a pandemia e aos relativos às linhas de acção governativa”.

Na mesma nota, a DSEJ lembra ainda que a resposta ao questionário não era obrigatória. Recorde-se que o inquérito, cujo título e primeiras cinco perguntas eram sobre a resposta à pandemia da covid-19, incluía duas questões sobre a popularidade dos deputados da Assembleia Legislativa (AL), ao jeito de sondagem.

Nomeadamente, pedia aos inquiridos para indicar “o nome dos três deputados que melhor conhecem” e para assinalar com uma cruz “três deputados cujo trabalho considera mais satisfatório”.

10 Jul 2020

Pornografia Infantil | Residente detido por divulgar conteúdo com menores

É o segundo caso em dois dias. Depois de informada pela Interpol, a PJ deteve mais uma pessoa por difusão de conteúdos pornográficos com menores. Desta feita, o suspeito é um residente de Macau de 65 anos. De acordo com as autoridades, o homem tem ainda na sua posse mais quatro vídeos e 70 fotografias da mesma natureza

 

[dropcap]U[/dropcap]m residente de Macau de 65 anos foi detido na passada quarta-feira após ter publicado online um vídeo pornográfico que conta com a participação de menores. De acordo com a Polícia Judiciária (PJ), a publicação, que foi feita com recurso à aplicação móvel de uma plataforma não especificada, revela um menor de idade a ter relações sexuais com uma mulher. Segundo as autoridades, o vídeo foi publicado pelo suspeito na segunda-feira. Os dois intervenientes, têm nacionalidade estrangeira e não têm qualquer ligação com Macau.

Recorde-se que o caso acontece um dia depois da detenção em Coloane de um trabalhador não residente (TNR) de nacionalidade filipina que tentou publicar um vídeo no Facebook, cujo conteúdo mostra uma rapariga com menos de 14 anos a ter relações sexuais com um homem.

Tal como no caso que envolveu o TNR, o alerta para a publicação de conteúdo relacionado com pornografia infantil por parte do residente de Macau, foi transmitido à PJ pela Organização Internacional de Polícia Criminal, Interpol.

Após ter sido notificada na terça-feira de que o endereço de IP fornecido pela Interpol pertencia a Macau, a PJ deteve o suspeito no interior do seu apartamento na zona envolvente à Avenida do Ouvidor Arriaga. No decorrer da investigação, a PJ encontrou o conteúdo incriminatório no telemóvel do suspeito, que admitiu, de seguida, ter descarregado o vídeo através de uma plataforma social estrangeira.

Para o fazer, depois de se registar gratuitamente como membro da plataforma em questão, o suspeito terá aderido a um grupo de conversação com mais de 100 participantes, onde o vídeo foi partilhado, permitindo-lhe assim fazer o download. No mesmo grupo, o suspeito teve ainda acesso a mais vídeos de índole pornográfica com menores, tendo inclusivamente partilhado outros dois conteúdos da mesma natureza, noutros dois grupos de conversação.

Imagens comprometedoras

Segundo a PJ, no decorrer da investigação, foram encontrados centenas de filmes e fotografias de cariz pornográfico, entre os quais foi possível confirmar que quatro vídeos e 70 fotografias estão relacionados com pornografia infantil. Afastado, para já, ficou o cenário de os conteúdos estarem de alguma forma relacionados com Macau.

O caso foi entregue ao Ministério Público, onde o suspeito vai responder pela prática de crimes relacionados com “Pornografia de Menor”, podendo ser punido com uma pena de prisão de 1 a 5 anos.

Em causa está o artigo do Código Penal que prevê a produção, distribuição, venda, importação, exportação ou difusão “a qualquer título ou por qualquer meio” ou aquisição e detenção para esses fins, de materiais relacionados com pornografia infantil.

10 Jul 2020

Sin Fong Garden | Ip Sio Kai espera consenso entre proprietários e comissão de condomínio 

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[/dropcap]O deputado Ip Sio Kai, também director-geral da sucursal do Banco da China em Macau, disse ontem esperar consenso entre proprietários e comissão de gestão do condomínio do edifício Sin Fong Garden no que diz respeito a empréstimos.

“Os proprietários e a comissão de gestão estão a discutir se vão pedir mais dinheiro para a reconstrução [do edifício]. Em primeiro lugar, deve ser obtido um consenso colectivo”, disse ontem o responsável à margem de uma reunião de comissão da Assembleia Legislativa.

Ip Sio Kai declarou que alguns proprietários fizeram empréstimos a título individual no passado para reconstruirem o prédio, mas que nesta fase é necessária vontade colectiva para aumentar o montante emprestado pelo banco. “Se alguns proprietários não concordarem será difícil atribuir esse montante. Li notícias de que ainda estão a discutir [o assunto]”, frisou.

Esta questão surgiu depois de a Associação de Conterrâneos de Jiangmen, ligada aos deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting, ter recuado na atribuição das 100 milhões de patacas para a reconstrução do prédio, uma promessa feita em 2018. Os proprietários correm agora o risco de ter de pagar um total de 170 milhões de patacas.

O director-geral da sucursal do Banco da China em Macau assegurou que os proprietários ainda não contactaram o banco. “Num empréstimo normal, e não apenas para o Sin Fong Garden, o banco tem em conta o ‘Loan to Value’ [garantias de quem pede o empréstimo] e a capacidade de pagamento. Se este processo for bem analisado, os riscos normais são evitáveis. Não deve haver grande diferença entre este empréstimo e o empréstimo comum para a compra de uma habitação”, rematou Ip Sio Kai.

10 Jul 2020

Corredor exclusivo | Pais de finalistas desejam intervenção do consulado 

O fim do corredor exclusivo entre Macau e o Aeroporto Internacional de Hong Kong vai afectar os planos de muitos finalistas do ensino secundário que tencionam estudar fora de Macau. Alguns pais ponderam pedir ajuda ao consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, mas Paulo Cunha Alves confirmou ao HM que não há, por enquanto, planos para negociar com as autoridades locais

 

[dropcap]A[/dropcap] partir da próxima quinta-feira, 16 de Julho, já não será possível aos residentes de Macau utilizar o corredor especial para o Aeroporto Internacional de Hong Kong, medida que altera os planos de muitos finalistas do ensino secundário que pretendem frequentar o ensino superior fora de Macau.

O HM falou com alguns pais de alunos da Escola Portuguesa de Macau (EPM) e da The International School of Macao (TIS), que defendem que o consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong deveria intervir para apoiar os finalistas a viajar para fora do território.

“Foi levantada ontem [quarta-feira] a possibilidade de os pais se juntarem e pedir ajuda ao consulado”, contou ao HM Andrea Magalhães, que frisou, no entanto, não estar ainda formalizado qualquer pedido de apoio.

“O consulado já deu apoio uma vez e desta vez pode ser que ajude todos os miúdos portugueses que são finalistas e que têm de ir para Portugal estudar. Vamos ver as hipóteses que se levantam”, disse Andrea Magalhães, mãe de uma aluna que frequenta o 12º ano na EPM e que, para já, está em fase de exames.

“Sei de pessoas que vão [sair de Macau] em finais de Agosto e a minha filha irá em princípios de Setembro. Tudo depende do que as autoridades decidirem, porque de um dia para o outro podem abrir o corredor especial”, adiantou.

No caso de Sandra Joaquim, o filho tenciona estudar na Holanda, onde inclusive já alugou casa. “Nesta altura, mesmo que quisesse aproveitar o corredor exclusivo, este termina já a 16 de Julho e ainda falta um mês e meio para ele ir para a Holanda. Vamos ver o que acontece no próximo mês e depois temos de ver o que podemos fazer.”

Sandra Joaquim também pensou falar com o consulado “para ver se têm alguma sugestão”. “Acredito que o meu filho não seja o único estudante do 12º ano que irá estudar para a Europa. Tenho esperança que o consulado possa ajudar”, acrescentou.

No caso de Celeste Monteiro, a matrícula do filho no curso de gestão, também numa universidade holandesa, teve mesmo de ser adiada por um ano, ficando provisoriamente na Universidade de São José (USJ). “Com toda esta situação, achamos melhor adiar por um ano. Penso que o consulado deveria intervir, pois faz parte dos deveres de um consulado”, defendeu ao HM.

Consulado sem planos

Contactado pelo HM, o consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong adiantou que, para já, não há planos para iniciar novas negociações com as autoridades. “Face à evolução da pandemia em Hong Kong, neste momento não existe a intenção, da parte deste Consulado Geral, de iniciar um novo processo negocial com as autoridades da RAEM e da RAEHK. Todos aqueles que pretendem assumir os riscos de viajar deverão fazê-lo até ao final do dia 16 de Julho.”

Filipe Regêncio Figueiredo, presidente da Associação de Pais da EPM, afirmou que actualmente há duas turmas a frequentar o 12º ano. “O corredor foi interrompido e não sabemos se daqui a duas semanas isto muda. Se não mudar, obviamente que para quem vai para a universidade ou para quem pretende ir para outro sítio isto é uma grande complicação.”

O responsável aponta que seria bom o consulado poder interceder neste caso, ainda que “seja uma decisão que não lhes cabe a eles”. “Esta situação [corredor exclusivo] não se pode manter indefinidamente, não só por causa desta situação [dos estudantes] mas de tudo o resto”, acrescentou.

O fim do corredor afecta também alunos do ensino superior que já estão matriculados em universidades no exterior. É o caso de Dinis Chan, finalista do curso de Direito em Lisboa, que não sabe quando poderá voltar a Portugal. “Reservei um voo e planeei regressar em Junho, mas o meu voo foi cancelado pela companhia aérea. Não sabemos como vai ficar a situação, talvez as aulas passem a funcionar online”, apontou.

O início das aulas de Dinis Chan está marcado para Outubro. “Perante este cenário não temos escolha e só podemos tomar as nossas próprias medidas para nos proteger. Não sabemos quando reabrem as fronteiras e as universidades regressam à normalidade”, frisou.

10 Jul 2020

Funeral de Stanley Ho | Analistas dizem que poder de Pansy Ho será reforçado

[dropcap]A[/dropcap]nalistas ouvidos pela Lusa consideram que a morte do magnata do jogo Stanley Ho, cujas cerimónias fúnebres se realizam hoje e na sexta-feira em Hong Kong, pode reforçar o poder de Pansy Ho, filha do empresário de Macau.

Pansy Ho, de 57 anos, foi a filha que anunciou aos ‘media’ a morte do pai, em 26 de Maio, e que hoje leu as mensagens de condolências na cerimónia de homenagem ao magnata de Macau, realizada em Hong Kong, enquanto “representante da família”, de acordo com um comunicado da empresa de assessoria.

Em 2019, a multimilionária e a Fundação Henry Fok passaram a assegurar 53,012% das ações da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), que já deteve o monopólio do jogo no território. A STDM, por sua vez, controla 54,11% da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) Holdings, com 22 casinos no território.

Pansy Ho, filha mais velha do segundo casamento do magnata, que detém ainda parte da norte-americana MGM China, deverá “tomar o controlo da SJM e consolidá-lo”, disse à Lusa Ben Lee, analista da consultora de jogo IGamix.

Recentemente, houve “movimentos que evidenciam que (…) os antigos aliados de Stanley Ho, a família Fok, redirigiram o apoio para Pansy”, considerada a favorita do magnata, “com a irmã, Daisy Ho, a ser nomeada co-presidente da SJM” em 2018, apontou Lee.

Pansy também vendeu parte da participação na MGM China, quando se sabe que a lei do jogo impede um accionista de deter mais de 5% em mais do que uma concessionária. “Estes movimentos sugerem que Pansy irá procurar assumir o controlo” e “consolidar” o seu poder sobre o antigo império de Stanley Ho, que inclui 22 casinos detidos pela SJM, interesses na subconcessionária norte-americana MGM Resorts International e nos ferries e helicópteros que ligam Macau e Hong Kong, através da empresa Shun Tak.

Para Ben Lee, tal poderá desembocar naquilo a que chama “a reintegração do antigo império” de Stanley Ho, que foi dividido em três componentes: SJM, STDM e Shun Tak. “Isso dar-lhe-á muito mais poder e influência do que tinha dividido”, considerou Lee, sublinhando que os investidores veem com bons olhos o reforço do poder de Pansy.

A SJM “tem estado num limbo desde que Stanley Ho ficou incapacitado [em 2009], não tem havido realmente qualquer direcção ou visão na empresa. A consolidação dos votos e procurações por detrás de Pansy Ho dar-lhe-á o controlo de que necessita para que a SJM ganhe uma nova dinâmica”, defendeu o analista.

A “dança das cadeiras” levará provavelmente à perda de poder da quarta mulher de Stanley Ho, Angela Leong, actualmente co-presidente da SJM, com Daisy Ho, irmã de Pansy. “Penso que o acordo [de poder] partilhado cessará quando Pansy Ho eventualmente se mudar para a SJM e assumir o controlo”, antecipou Lee.

O advogado em Macau e especialista na área do jogo Carlos Lobo é da mesma opinião. “A Angela é a pessoa que tem uma ligação maior a Macau, é deputada na assembleia legislativa há vários anos, e sempre liderou, enquanto Stanley Ho estava capaz, uma boa parte dos projectos da SJM”, lembrou o jurista. “Ganhou muita experiência e conseguiu navegar numa área extremamente complexa”, mas “está bastante enfraquecida e terá dificuldades em retomar a posição que tinha há alguns anos”, defendeu.

Lawrence Ho, irmão de Pansy, detentor de um concorrente da SJM em Macau, a sub-concessionária Melco Resorts & Entertainment, é uma incógnita no futuro xadrez. “Tenho visto muito pouca cooperação entre os dois, ele é muito independente”, apontou Lee.

Para Carlos Lobo, “não se pode descartar o facto de que Lawrence faz parte deste mesmo grupo de irmãos que está a tomar conta deste processo”, defendendo que tem “potencial para ser alguém que as pessoas em Macau revejam como o real sucessor do pai”.

Com as concessões atuais a chegarem ao fim em 2022, a SJM terá também de se preparar para alterações na repartição do mercado, segundo Lee, que prevê que os operadores norte-americanos venham a ser substituídos “por interesses mais amigos da China”.

Outra das incógnitas no horizonte dos casinos do antigo magnata, que deteve o monopólio do jogo em Macau até 2002, é a lei do jogo, que deverá ser alterada até 2022, quando as concessões chegam ao fim.

“O Governo anunciou que iria iniciar uma consulta pública este ano, mas já vamos em julho e ainda não começaram”, explicou Carlos Lobo, que participou na elaboração da lei do jogo ainda em vigor.

A disputa pelo poder no império de Stanley Ho acontece numa altura em que os casinos registam perdas recorde, por causa da pandemia, que atrasou a abertura de um empreendimento da SJM em Cotai (entre Taipa e Coloane).

“Temos visto a parte de mercado da SJM diminuir ao longo dos últimos anos”, salientou o especialista em Gestão Internacional de ‘Resorts’ Integrados da Universidade de Macau Glenn McCartney, recordando que, depois de Stanley Ho ter perdido o monopólio do jogo no território, passou a enfrentar cinco operadores, e essa concorrência “existe mesmo entre membros da família”.

Para a SJM crescer, “vai ter de aumentar a percentagem de mercado, atraindo novos clientes da China, ou ultrapassar os concorrentes, o que vai ser muito difícil”, num momento em que todos os operadores “estão desesperados por reconquistar os rendimentos perdidos com a covid-19”, com quebras de 97% por mês, disse.

9 Jul 2020

Funeral de Stanley Ho | Advogado diz que herança pode reavivar disputas familiares

[dropcap]O[/dropcap] advogado Carlos Lobo disse à Lusa que a repartição da herança de Stanley Ho, o magnata dos casinos de Macau que deixou três mulheres e 15 filhos vivos, levanta “incertezas jurídicas” e pode reavivar disputas familiares. “Sempre que há famílias, há problemas, e numa família tão grande, é expectável que nem todos concordem”, antecipou Carlos Lobo.

O jurista, que foi assessor do Governo de Macau, tendo participado na elaboração da lei do jogo e integrado em 2001-2002 a comissão do primeiro concurso público de concessão dos casinos, disse à Lusa que a partilha da fortuna de Stanley Ho “é um processo bastante complexo”, levantando questões sobre a jurisdição aplicável e a possibilidade de ser contestada por membros do clã.

Falecido em 26 de Maio, Stanley Ho, cujas cerimónias fúnebres se realizam hoje e na sexta-feira, em Hong Kong, deixou uma fortuna avaliada em cerca de 6,4 mil milhões de dólares, quando se reformou, em 2018.

O império do homem mais rico da Ásia originou disputas ainda em vida, após ter sofrido um acidente que o incapacitou, em 2009, e que o levaria finalmente a abdicar da presidência das ‘holdings’ dos seus casinos, em junho de 2018, com 96 anos, em favor da filha Daisy Ho.

Antes, em 2011, Stanley Ho chegou a processar a terceira mulher e os cinco filhos do segundo casamento, acusando-os de tentarem apropriar-se indevidamente dos seus bens, enquanto Angela Ho, filha mais velha do primeiro casamento, se queixava de que o pai não deixara nada à mãe, a macaense Clementina Leitão, considerada determinante na fortuna do magnata.

A herança poderá provocar novas guerras familiares, até pelo grande número de herdeiros do “rei dos casinos”: sobreviveram-lhe três das quatro mulheres e 15 dos 17 filhos.

Sublinhando que não se sabe se Stanley Ho deixou ou não testamento, o advogado considerou que, em qualquer caso, vai ser um processo “muitíssimo complicado”, a começar pela determinação da jurisdição aplicável.

“Stanley Ho era residente em Hong Kong, mas também em Macau”, disse Carlos Lobo à Lusa, recordando que os sistemas jurídicos das antigas colónias britânica e portuguesa “são completamente diferentes”.

“Em Hong Kong, que segue o regime da ‘common law’ britânica, a pessoa que faz o testamento pode fazer literalmente tudo o que quiser”, enquanto que em Macau, onde o direito da família é semelhante ao de Portugal, “não pode fazer tudo e mais alguma coisa, e não pode beneficiar uns filhos relativamente a outros”.

“Se Stanley Ho beneficiou filhos em detrimento de outros (…) alguém poderá ter legitimidade (…) para verificar se as coisas foram ou não bem feitas, e ser eventualmente ressarcido no seu dano”, preveniu.

O advogado apontou ainda que a localização de bens imóveis pode igualmente atrasar a repartição célere da fortuna. “Havendo bens em Macau que eram dele, aplica-se necessariamente a lei de Macau”, apontou.

As movimentações na luta pela herança começaram ainda antes do funeral de Stanley Ho, agendado para esta sexta-feira, em Hong Kong.

Onze dias após a morte do pai, Deborah Ho, a filha mais nova do primeiro casamento de Ho com Clementina Leitão apresentou um pedido no Registo de Sucessão de Hong Kong para que os seus advogados sejam informados de todas as movimentações relacionadas com a herança, de acordo com o diário South China Morning Post.

Dias depois, foi a vez de um sobrinho de Stanley Ho, Michael Hotung, apresentar igual pedido – o mesmo sobrinho que, no passado, reclamou 255 milhões de dólares (cerca de 225 milhões de euros) em dividendos da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), em nome da mãe, Winnie Ho, irmã de Stanley, falecida em 2017.

Para o jurista, apesar de parte da fortuna de Stanley Ho ter sido distribuída em vida, “é expectável que surjam pessoas e filhos que se julguem menos beneficiados relativamente aos outros irmãos e irmãs, e venham agora solicitar que o tribunal determine se aquilo que foi feito o foi de forma correta e justa”.

Um mês depois da morte de Stanley Ho, a família anunciou que o magnata tinha mais um filho que nunca foi apresentado ao público, o que “traz mais um elemento de incerteza para o processo”, considerou Carlos Lobo.

O até aqui desconhecido 17.º filho (15.º dos filhos vivos) chama-se Ho Yau-bong, informou, no final de junho, a mãe, Angela Leong, quarta mulher de Stanley Ho e atual diretora-executiva da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) Holdings, com 22 casinos no território.

A também deputada na Assembleia Legislativa de Macau precisou que o filho – que deverá ter 28 anos, segundo a imprensa local – não era um segredo para a família, e a identidade tinha sido protegida por causa de problemas de saúde.

Neste caso, a questão da repartição da fortuna poderá alargar-se a mais um membro da família, considerou Carlos Lobo.

”Terá havido partilhas em vida por parte de Stanley Ho relativamente aos filhos, nomeadamente a Pansy Ho [que controla, através da STDM, com a Fundação Fok, a maior parte da SJM, e detém parte da MGM China], a Daisy Ho [presidente da SJM Holdings] e Lawrence Ho [à frente da Melco Resorts & Entertainment]”, todos filhos da segunda mulher, Lucina Laam King Ying.

Para o jurista, a questão que se coloca é saber se Ho “fez partilhas relativamente a esse filho que ninguém sabia que existia”.

9 Jul 2020

Dois casos detectados de VIH pelo Centro de Transfusões de Sangue

[dropcap]N[/dropcap]o ano passado foram detectados 66 casos de VIH e 10 de SIDA. A maioria das ocorrências foi descoberta por entidades médicas ou voluntários para exames, mas houve também fontes menos comuns: dois dos casos de VIH foram detectados pelo Centro de Transfusões de Sangue, e um outro na prisão.

As informações do Centro de Prevenção e Controlo da Doenças disponibilizadas na página electrónica dos Serviços de Saúde revelam ainda que, no geral, cerca de 24 por cento dos casos de VIH e SIDA foram transmitidos por via desconhecida.

As principais formas de transmissão de VIH foram por contacto homossexual (31 casos), heterossexual (11 casos) e bissexual (seis). Mas houve mais cenários de transmissão. Uma pessoa contraiu o vírus por via de drogas injectáveis, tratando-se de alguém que foi diagnosticado na China Continental em 2007 e migrou no ano passado para Macau. Outros dois casos trataram-se de contacto com sangue, por transmissão através de equipamentos contaminados utilizados para tatuagem fora de Macau.

As situações descobertas no ano passado dizem respeito a pessoas de um leque etário alargado. Só não houve casos de VIH na faixa igual ou inferior a 19 anos. De resto, foram detectados trinta casos entre os 20 e os 29 anos, e três acima dos 70.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, no final do ano passado havia 38 milhões de pessoas a viver com VIH no mundo, 67 por cento das quais tinham acesso a terapia retroviral.

14 casos em 2020

Entre residentes locais e não residentes, na janela temporal entre Janeiro e Março deste ano, foram detectados 14 casos de VIH/SIDA, respeitantes a pessoas entre os 20 e os 39 anos, todas do sexo masculino. Registaram-se casos de transmissão por contacto homossexual, um por contacto heterossexual e outro bissexual. Foram descobertas situações de VIH e SIDA por entidades médicas, voluntários para exame e no estabelecimento prisional.

Note-se que os Serviços de Saúde têm indicação de oito locais onde as pessoas podem fazer testes rápidos de HIV de forma gratuita. É também disponibilizado um canal de acesso rápido para consultas médicas destinadas a pessoas suspeitas de estarem infectadas com HIV/SIDA.

9 Jul 2020