Festival de Veneza | Bong Joon Ho, realizador de “Parasitas”, preside ao júri     

O realizador sul-coreano Bong Joon Ho vai presidir, em Setembro, ao júri do 78.º Festival Internacional de cinema de Veneza, em Itália, anunciou a direcção. “Como presidente do júri – e mais importante, como um eterno cinéfilo – estou pronto para contemplar e aplaudir todos os óptimos filmes seleccionados pelo festival”, disse o realizador de “Parasitas”, em comunicado.

O festival de cinema de Veneza decorrerá de 1 a 11 de Setembro e o júri, que Bong Joon Ho vai presidir, atribuirá vários prémios aos filmes da competição, entre os quais o Leão de Ouro.

Bong Joon Ho, 51 anos, fez os primeiros filmes na década de 1990, contando na filmografia com obras como “Memories of murder” (2003), premiado em San Sebastian (Espanha), “The Host – A criatura” (2006), “Mother – Uma força única” (2009), ambos estreados em Cannes (França).

Em 2013 assinou a primeira produção internacional, com elenco ocidental, com “Snowpiercer – O expresso do amanhã” (2013), seguindo-se “Okja” (2017), o filme que causou polémica por ter estreado em Cannes e apenas na plataforma Netflix.

A consagração internacional deu-se com “Parasitas” (2019), uma comédia, tragédia sul-coreana, reflexão sobre ricos e pobres e diferenciação social, que em 2020 conquistou vários prémios, entre os quais a Palma de Ouro em Cannes, e fez história nos Óscares, porque nunca antes um filme estrangeiro tinha vencido o prémio de melhor filme. “Parasitas” venceu ainda os Óscares de Melhor Realização, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Argumento Original.

18 Jan 2021

Exposição | Galeria At Light reúne artistas lusófonos em “Cor da Vida”

No próximo dia 23 é inaugurada na Galeria At Light a exposição “Cor da Vida”, com obras de artistas lusófonos e curadoria de José Isaac Duarte. A mostra foi organizada a partir de um acervo já existente no território. Para Joey Ho, responsável pela galeria, ligada à associação Arts Empowering Lab, recorda que Macau possui há muito uma ligação próxima com a lusofonia

 

A Galeria At Light, ligada à associação Arts Empowering Lab, inaugura no próximo dia 23 de Janeiro a exposição “Cor da Vida – Exposição dos Artistas dos Países de Língua Portuguesa”, que inclui trabalhos de autores como Damião Porto, Malé, Pedro Proença, entre outros. A mostra, que pode ser visitada até ao dia 6 de Março, tem a curadoria de José Isaac Duarte.

“Havia o interesse de fazer uma exposição de artistas lusófonos na galeria. Tudo foi feito com base em acervos que existem em Macau e montou-se uma exposição com dois artistas de cada país. O resultado é uma pequena amostra da diversidade artística dos países de expressão portuguesa”, contou ao HM.

Sem apontar uma obra de maior relevo, José Isaac Duarte confessou que quis mostrar a diversidade e a cor da arte que se faz nos países de expressão portuguesa. “Naturalmente que é importante uma galeria querer fazer esta exposição. Acho que é importante uma galeria não institucional que queira apresentar artistas lusófonos.”

Joey Ho decidiu avançar para a organização desta mostra dadas as ligações históricas que Macau possui com a lusofonia. “Macau tem uma longa conexão com os países de língua portuguesa. A relação tem incluído também uma partilha a nível artístico. Esta exposição é parte desse movimento e um vislumbre da vitalidade das artes visuais desses países”, disse.

Os artistas

Sem qualquer artista de Macau representado, “Cor da Vida” apresenta trabalhos de conceituados pintores que há muito palmilham o caminho das artes. É o caso de Pedro Proença, nascido em Angola em 1962, devido ao facto de o pai ter sido mobilizado para a Guerra Colonial. Anos mais tarde voltaria para Lisboa e, além de artista plástico, é também escritor, músico e tipógrafo.

No caso de Damião Porto, nascido em Portugal, a sua obra tem uma forte presença figurativa, conforme disse numa entrevista ao portal Minho Digital. “O que fundamenta geralmente o meu trabalho, tanto nas pinturas como nos desenhos é uma forte presença figurativa e, simultaneamente, persegue os limites do expressionismo chegando próximo do informal, ou seja, a neofiguração.”

Natural de São Tomé e Príncipe, Malé, cujo primeiro nome é Eduardo, reside hoje na Batalha, em Portugal. Nascido em 1973, Malé fez os cursos de Design de Equipamento (Escola Secundária de Artes António Arroio, Lisboa, 2000), Artes Plásticas (Escola Superior de Arte e Design, nas Caldas da Rainha, 2006), Formação Artística (SNBA, Lisboa, 1998).

Nomes como Abel Júpiter, Kwame Sousa, Roberto Chichorro e Sidney Cerqueira fazem também parte da mostra, sem esquecer Malangatana Ngwenya, artista plástico e poeta moçambicano que faleceu em 2011.

15 Jan 2021

Exposição | Ilustração e perfumaria recontam lenda da Caixa de Pandora

E se uma imagem tivesse cheiro? Esta foi a base do conceito para “MY.THOLOGY – Pandora’s Box”, um par de ilustrações de Annie Long Jor que inspiraram a criação dos perfumes “Curse” e “Hope”, da autoria de Suki Man. A exposição pode ser visitada no Pace Coffe, na Rua dos Ervanários, até 7 de Fevereiro

 

Quem percorrer a Rua dos Ervanários, nos dias que correm, tem uma pequena feira de rua com banquinhas para passear os olhos e tentar o paladar. Um dos tesouros escondidos, entre cafés, lojas antiguidades e tendas de mahjong é uma banca ao lado do Pace Coffee onde está patente “MY.THOLOGY – Pandora’s Box”, uma experiência sensorial que junta a ilustração e perfumaria num conceito único.

A partir do tema recorrente da pandemia, presente na vida de todos, a ilustradora Annie Long Jor decidiu juntar a imagem à perfumaria, com a ajuda de Suki Man. Apesar de Macau se manter como um porto de abrigo, sem casos positivos de covid-19, as famílias separadas e a “impossibilidade de viajar e sair para ver exposições” obrigaram à clausura o que acabou por inspirar a criação artística.

“O tema desta exposição é baseado numa história que todos conhecemos, a lenda da Caixa de Pandora. Na mitologia, quando Pandora abre a caixa liberta todas as maldições e assustada, fecha-a de imediato, deixando lá dentro a esperança”, conta ao HM Annie Long Jor. A ilustradora viu na lenda um reflexo de tudo o que se passou.

“Na sequência do que a pandemia nos obriga a passar, com todo o mal e separação de famílias, parece que as pragas e maldições saíram da caixa.” Porém, na versão de Annie Long Jor, a ilustração conta outra história, com a caixa a permanecer aberta e a esperança libertada. “Acho que é uma história boa para começar 2021, é o que precisamos para o nosso futuro e para lidar com este ano”, vaticina a artista.

Este foi o mote para os dois desenhos, que representam “Curse” (maldição) e “Hope” (esperança), aos quais correspondem dois perfumes da autoria de Suki Man. “Como sou muito fascinada por esta história e por mitologia, pensei numa forma de a melhorar, com toda a energia positiva que conseguir colocar no projecto”, conta a ilustradora.

Próximos capítulos

O plano original da dupla de criadoras era servir esta mostra como um aperitivo para algo mais alargado. Nesse sentido, Annie Long Jor revela-se esperançada de que ainda durante este ano possa mostrar a Macau o segundo capítulo de mitos ilustrados e perfumados. Quanto às narrativas, a ilustradora levanta a ponta do véu e adianta que está a “pensar em histórias e personagens, como Cupido, e outras figuras mitológicas”.

A exposição pode ser vista até 7 de Fevereiro, de segunda-feira a domingo, na Rua dos Ervanários entre as 12h e as 19h. “Esperamos que as pessoas apreciem em simultâneo as ilustrações e os perfumes. Essa é a parte que achamos mais interessante. Cada um tem as suas próprias memórias e personalidade. Gostaríamos que o público misturasse o que vê ao que cheira e que, a partir daí, construísse um novo espaço no seu imaginário”, aponta a ilustradora.

14 Jan 2021

Livros | IIM lança obra sobre o missionário Júlio Massa

O Instituto Internacional de Macau apresenta na próxima, terça-feira, dia 19 de Janeiro, o livro “Júlio Augusto Massa – Missionário pensador”. Segundo uma nota oficial divulgada ontem, aquele que é o 12º. volume da colecção “Missionários para o Século XXI”, da autoria do prof. António Aresta, constitui uma biografia do missionário transmontano de Freixo de Espada à Cinta, que chegou a Macau em 1935, tornando-se depois sacerdote e professor interino do Liceu de Macau, leccionando português e latim.

Fundador do jornal “O Clarim”, o Pe. Júlio Massa era também “um pensador com grandes afinidades com o existencialismo cristão, entrelaçado com as paisagens exteriores da vida”, que teve sempre Macau no seu imaginário, tendo deixado poemas escritos.

Além de contar com transcrições de alguns desses poemas, o livro “Júlio Augusto Massa – Missionário pensador” conta ainda com testemunhos dos seus alunos, o padre Américo Casado e Eduardo Francisco Tavares, entre outros reunidos e recordados pelos membros da Associação dos Antigos Alunos do Seminário de S. José de Macau e por muitas outras pessoas.

No dia do lançamento, a apresentação ficará a cargo de Tereza Sena, investigadora de História, havendo ainda lugar para uma mensagem em vídeo da presidente da Câmara do Freixo de Espada à Cinta, Maria do Céu Quintas, terra natal do Pe. Júlio Massa.

13 Jan 2021

Festival Fringe sai à rua para ensinar Macau a dançar

Integrada na 20.ª edição do Festival Fringe, a série “On Site” arranca já na próxima semana, focada em levar a dança contemporânea às ruas de Macau. Para o director artístico da iniciativa, Mao Wei, esta é uma boa forma de ensinar “o que é um espectáculo de dança”. Os nove programas previstos incluem ainda workshops, espaços de conversa, espectáculos de dança, jogos e actuações improvisadas

 

“Porque é que as pessoas querem ir ao cinema ver filmes e não querem ir ao teatro assistir a um espectáculo de dança contemporânea, inclusivamente quando os bilhetes são mais baratos?”

A pergunta é de Mao Wei, director artístico da iniciativa “On Site”, uma série de espectáculos dedicados à dança contemporânea, que marcam o início da 20.ª edição do Festival Fringe na próxima semana.

Para Wei, uma iniciativa como o “On Site” é extremamente importante para Macau, sobretudo porque “a adesão à dança contemporânea em Macau é muito mais lenta do que nos países americanos ou europeus”.

“As pessoas não têm o hábito de ir assistir a um espectáculo de dança, nem conhecimento para deslindar o que significa ‘contemporâneo’ neste contexto. Na minha opinião isto acontece porque, muitas vezes, as pessoas não sabem o que é um espectáculo de dança, nem o que se passa dentro de uma sala de espectáculos”, disse ontem Mao Wei ao HM, antes de uma conferência de imprensa que serviu para detalhar a programação da série “On Site”.

Por isso mesmo, a iniciativa inclui nove programas que prometem transplantar dançarinos de Macau e da China, dos palcos para a malha urbana da cidade. Além de espectáculos de música e dança, estão ainda previstos workshops de prática corporal, espaços de conversa, jogos e actuações improvisadas onde todos podem participar.

“Viajante do Corpo” é uma dessas performances que vai tomar as ruas de Macau em quatro geografias diferentes, nos dias 22 e 23 de Janeiro. Sem iluminação ou cenografia, o Largo de S.Domingos (11h do dia 22), o Largo do Pagode do Bazar (15h do dia 22), o Jardim da Fortaleza do Monte (11h do dia 23) e o terraço da Ponte 9 (15h do dia 23) farão de palco para as interpretações de peças de dança executadas por Lin Ting-Syu, bailarino indicado para o Prémio Artístico Taishin, Yang Shih Hao, artista de roda acrobática, o Ghost Group, grupo de dança contemporânea e outros artistas.

Para Tracy Wong, curadora da iniciativa “On Site”, “Viajante do Corpo” é a “introdução ideal para quem não sabe nada de dança contemporânea”, porque, além de ser uma experiência única ao ar livre, tem o condão de aglutinar diferentes estilos de dança.

“No teatro só é possível ver o corpo dos artistas, a forma como ele pressente as emoções e o significado dos movimentos. Mas quando levamos o espectáculo para a frente de edifícios ou vistas e Macau, há uma química diferente (…) é possível apercebermo-nos do panorama geral e sentir o momento por inteiro, o céu, talvez os pássaros e as pessoas à volta”, partilhou com o HM.

Improvisos e prazos de validade

Agendado para as 15h00 do dia 21 de Janeiro, a iniciativa baseada no conceito de improvisação “ImprovFlashMob”, pretende propõe que o público se junte ao músico local Bruce Pun, para dar corpo ao som e improvisar danças no largo de S. Domingos.

Aberta à criatividade dos particiantes está também a iniciativa “Open Space”, prevista para os dias 22 e 23, e que será um espaço de dança livre ao som de música contemporânea, que ficará, uma vez mais, a cargo de Bruce Pun.

Já para “aqueles que depois dos espectáculos ficaram interessados em saber como é que os artistas desenvolvem o corpo ou o próprio conceito artístico”, explica Tracy Wong, estão previstos três workshops entre as 20h30 e as 22h00 dos dias 19, 20 e 21. As sessões ficarão a cargo de Dong Jilan, Wang Peixian e Allen Zhou.

Outro dos destaques, desta vez debaixo do tecto das Oficinas Navais Nº1 do Centro de Arte Contemporânea de Macau, é o espectáculo “Um Passo para o Teatro: Prazo de Validade”. Com espectáculos agendados para as 20h00 dos próximos dias 22 e 23, a ideia passa, segundo a curadoria, “por abordar a necessidade de aproveitar o momento e de não pensar demasiadamente no futuro”. Conceito que ganha novos contornos, quando enquadrada no actual contexto da pandemia.

“A pandemia levou-nos a pensar muito sobre distanciamentos e que tudo na vida tem um prazo de validade, quer seja a comida que compramos ou os telemóveis que usamos. Não vale a pena pensar quando é que isto vai acabar.

Ninguém sabe. É como um relacionamento. É impossível saber durante quanto tempo consegues manter uma relação. Escolhemos este espectáculo para fazer as pessoas pensar sobre o que é o prazo de validade e o que vem depois disso”, explicou Tracy Wong.

Ao longo de toda a iniciativa será ainda possível participar no jogo “Pegadas On Site”, em que os participantes poderão recolher autocolantes que podem ser trocados por bilhetes para o espectáculo “Um Passo para o Teatro: Prazo de Validade” e para o evento “Espaço de conversa”, onde é possível interagir com artistas.

13 Jan 2021

Museu do Louvre com quebra de 72% de visitantes em 2020

O Museu do Louvre, em Paris, o maior e mais visitado do mundo, sofreu uma quebra de 72% de visitantes em 2020, com 2,7 milhões de entradas face às 9,6 milhões registadas em 2019, segundo números oficiais.
Museu do Louvre com quebra de 72% de visitantes em 2020

Devido à pandemia de covid-19, o Museu do Louvre esteve fechado durante seis meses, e a forte quebra de turistas estrangeiros levou a uma descida inédita de visitas num espaço museológico que chegou a receber 10,2 milhões de pessoas em 2018, o recorde absoluto.

A perda de receitas no museu ascende a 90 milhões de euros, tendo o Estado francês prestado um apoio de 46 milhões de euros.

Com as viagens internacionais praticamente paralisadas, o Louvre ficou privado dos turistas americanos, chineses, japoneses e brasileiros que habitualmente o procuram, rondando 75% das entradas, mas a frequência do turismo nacional subiu para os 84%.

Na mesma linha, o Palácio de Versalhes, na região de Paris, um dos espaços culturais mais visitados em França, que em 2019 recebeu 8,2 milhões de visitantes, desceu para cerca de dois milhões no ano passado, enquanto o Museu d’Orsay teve uma queda de 77% comparando com 2019, e o Centro Cultural Pompidou registou menos 72% de visitantes.

Devido à incerteza que as circunstâncias da pandemia geraram, muitas exposições importantes abriram, mas ficaram sem público pouco depois, como a dedicada aos artistas renascentistas Donatello e Miguel Ângelo, no Louvre, ou a dedicada ao modernista Henri Matisse no Centro Pompidou.

12 Jan 2021

A desconhecida “Aldeia Portuguesa” em Jacarta, Indonésia

Fotos e artigo – Ritchie Lek Chi, Chan

A Indonésia sempre passou uma imagem de que está cheia de histórias sobre a era do domínio ultramarino chinês e holandês, dominado por holandeses ou indonésios a lutar pela independência. Muitas pessoas não sabem, que o primeiro país europeu a contactar a Indonésia foi Portugal, e que tinha uma boa relação com a dinastia Sudanesa da época. Os portugueses deixaram muitos vestígios culturais depois de passarem pela Indonésia, o que prova que os portugueses chegaram ao Sudeste Asiático durante a Idade Média e utilizaram-no como base para explorar e expandir as suas rotas marítimas até à costa da China e ao Leste Asiático. Essas histórias sempre despertaram o interesse de estudiosos, media e exploradores estrangeiros, que fazem o possível para descobrir preciosos materiais históricos nesta área.

A partir da “Descoberta Geográfica”

Este artigo apresenta a “Aldeia Portuguesa” localizada no norte de Jacarta, perto do maior porto de carga da Indonésia – Tanjung Priok. Esta pequena aldeia reflete o envolvimento dos portugueses no Sudeste Asiático e os feitos históricos dos dois impérios marítimos de Portugal e da Holanda a competir por colónias no Sudeste Asiático.
A Aldeia Portuguesa tem uma história de mais de 360 ​​anos e foi incluída na Lista do Património Mundial da UNESCO em 1999. Os residentes locais chamam a aldeia de Kampong Tugu, “kampong” significa “aldeia”, “tugu” significa “estela de pedra”. O nome chinês mais simples é “Aldeia Tugu”.

Durante a “Grande Descoberta Geográfica” da Idade Média, a Indonésia foi um importante ponto de trânsito entre a Europa e o Extremo Oriente e também um dos principais campos de batalha das potências europeias para competir pela fonte de especiarias. Siga a rota dos portugueses de Goa a Malaca, depois à Indonésia e finalmente a rota ao norte. Podemos constatar que a história da “Aldeia Tugu” está intimamente relacionada com a Aldeia Portuguesa em Malaca e a Macaense em Macau. Este é um tema fascinante. Explorar três etnias mistas que vivem em lugares diferentes, mas com a mesma origem, o que também fornece um importante material histórico para o estudo dos portugueses medievais que vieram para o Sudeste Asiático e áreas costeiras da China.

Entrada como não conquistador

Em 1963, o historiador de Macau, Padre Manuel Teixeira publicou “MACAU E A SUA DIOCESE” em Lisboa. Neste artigo, muitas páginas são usadas para descrever em detalhe a sociedade “macaense” em Batávia (Jacarta).

No início do artigo podemos ler que “Os portugueses nunca se instalaram na Batávia. Era é uma colónia holandesa conhecida como a ‘Rainha do Oriente’. Se os portugueses nunca entraram na Batávia como conquistadores então são prisioneiros de guerra e mercadores (Nota 1)”. Por outras palavras, os portugueses vieram para Jacarta e estabeleceram apenas como prisioneiros de guerra e mercadores, não como os holandeses que viveram na Batávia como conquistadores.

No início do século XV, depois do navegador chinês Zheng He fazer sete viagens para o Ocidente, a carreira de navegação da China foi interrompida devido à Dinastia Ming que fechou ao mundo, sem contactos com países estrangeiros. Após oitenta anos, por volta do final do século XV, foi substituído pelo surgimento das “Grandes Descobertas Geográficas” europeias. Portugal, como pioneiro desta tendência entusiástica, abriu as portas ao mistério do Extremo Oriente com fortes veleiros, duras crenças religiosas e uma grande procura de especiarias e ouro. O navio de três mastros de Portugal contornou o perigoso Cabo da Boa Esperança na África do Sul, romperam as ondas do Oceano Índico e alcançaram Goa, na Índia e outros pequenos países da Indochina. Depois chegaram a Malaca, na Malásia, e viajaram ao longo do estreito de Sunda até às ilhas pontilhadas da Indonésia. A populosa Ilha de Java era uma paragem obrigatória.

Especiarias, negócios e missão

De 1511 a 1526, os portugueses só vinham esporadicamente às áreas costeiras da China para realizar comércio marítimo com mercadores chineses (Nota 2). Nesta época, os chineses ainda não tinham imigrado para este “país das dez mil ilhas” em grande número (Nota 3). A frota portuguesa partiu de Malaca para explorar e aterrar em algumas ilhas e portos indonésios ao longo da rota oriental, de forma a compreender melhor o transporte marítimo nesta área, obter mais recursos de especiarias e ao mesmo tempo promover a fé católica pelo caminho.

O Padre Manuel Teixeira publicou um artigo “A Diocese Portuguesa de Malaca” no Boletim eclesiástico da Diocese de Macau em 1957, no capítulo XVIII, “Os Jesuítas nas Molucas”, pode-se compreender que os jesuítas seguiram a rota dos portugueses, o seu poder em expansão e atividades missionárias em algumas ilhas. Além disso, de destacar também “Jesuítas na Ásia” (Nota 4), escrita pelo falecido sinólogo português José Maria Braga em Hong Kong. O conteúdo deste livro é mais detalhado, lista as ilhas e portos controlados pelos portugueses na Indonésia naquela época.

A maioria das relíquias culturais na Indonésia

De acordo com os dados recolhidos até agora, os locais onde os portugueses comercializavam e espalhavam as actividades religiosas na Indonésia são aproximadamente os seguintes: Aceh em Sumatra, Cirebon em Java, Banten e Sunda Kelapa em Jacarta, Ilhas Banda, Ilhas Flores, Solor, ilha principal das Molucas, Halmahera, a segunda maior cidade das ilhas Molucas, Ternate, Seram, Damer, Ambon, Papua Nova Guiné e Timor, que são familiares aos cidadãos de Macau (Timor) etc.,  Halmahera, a segunda maior cidade das ilhas canadianas, Ternate, Seram, Damer, Ambon, Papua Nova Guiné e Timor que os cidadãos de Macau conhecem bem.

Notas :

1.《Macau e a sua Diocese》, P. Manuel Texeira,  Agência Geral, Lisboa, 1963, P. 85;
2. “Uma breve discussão sobre as características das primeiras relações entre a China e Portugal 1513-1643”, Zhuang Guotu, “Revista de Cultura”, Vol. No. 18, p. 4-8;
3.Wikipedia, a enciclopédia livre “Indonésio Chinês”, 1. História: 1.4 período colonial holandês, 1.4.1 O primeiro favor dos holandeses;
4. Jesuítas na Ásia, 1998, publicado em conjunto pela Fundação Macau, Universidade de Macau e Instituto Politécnico de Macau, o autor José Maria Braga é um académico português nascido em Hong Kong;
5. Asia Oceania: Portuguese Heritage Around the World: Architecture and Urbanism》, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisbon, 2011.

*Artigo publicado no Macau Daily Newspaper em 8 de Novembro de 2020

12 Jan 2021

Escultura | Creative Macau acolhe trabalhos de Eloi Scarva e Chan Un Man

A partir de quinta-feira o espaço da Creative Macau inaugura a exposição “Capsule Formation & Asymbiotic Germination”. A mostra, que inclui trabalhos escultóricos dos artistas Eloi Scarva (Macau) e Chan Un Man (China), pretende ser uma alegoria ao confinamento que o mundo atravessa, procurando novas vias de ligar o Homem à natureza

“Co-existimos neste espaço colectivo abrigados de uma pandemia mundial, redescobrindo a nossa moradia com diferentes olhos, de quem não tem liberdade, numa cela a céu aberto de uma escala absurda, calculamos as nossas prioridades, reflectimos na nossa irmandade e questionamos o futuro”.

O mote é dado por Eloi Scarva, numa nota enviada pela organização. Através da sua obra, criada especialmente para a exposição “Capsule Formation & Asymbiotic Germination”, o artista de Macau pretende, a partir da mistura entre o cimento e material orgânico, como folhas, criar objectos arquitectónicos com o condão de “enclausurar uma síntese” da actual situação de Macau, marcada pelo enclausuramento e a pandemia.

O resultado, após a recolha de materiais um pouco por todo o território, são cápsulas que apresentam Macau fechada “dentro de uma prisão de cimento, polimero e aço” e na forma de “objecto-metáfora da actual situação nacional”.

Para Lúcia Lemos, coordenadora da Creative Macau, espaço que acolhe a exposição a partir de quinta-feira, o trabalho de Eloi tem o condão de “abordar o tema do confinamento e os sentimentos que isso desponta, mas observando, contudo, a natureza”.

“O Eloi resolveu criar esculturas em cimento e incluir elementos da natureza, como folhas, materiais orgânicos e outros feitos pelo homem. A ideia é juntar dois elementos numa situação drástica, à semelhança daquilo que o mundo está a sofrer. Nesse sentido, talvez as pessoas possam virar-se para dentro, de forma a estarem mais próximas da natureza”, partilhou com o HM.

Chan Un Man é o outro artista cujos trabalhos poderão ser vistos no espaço da Creative Macau. No caso de Man, explica Lúcia Lemos, apesar de abordar também a temática da natureza, as suas esculturas exploraram igualmente “o que é artificial”. “As esculturas, em si, são em madeira e depois encrostadas numa base de madeira com acrílico também como suporte”, acrescentou.

Subjacente está também a ideia da “germinação”, ou seja, da semente como génese das árvores, de onde se extraiu a madeira para as obras.

Equilibrios e forças

Outra das temáticas abordadas pelo artista chinês, Chan Un Man, prende-se com a ligação das suas obras ao místico e ao sagrado, sobretudo pelo facto de os troncos e madeira que acabou por usar na produção das peças, estarem originalmente destinados à criação de esculturas sagradas no Japão.

“Tive muita sorte (…) por ter comprado essa madeira para criações futuras. Dado que a madeira tinha uma missão sagrada, decidi dar-lhes vida, esculpindo-as”, apontou Chan Un Man numa nota oficial da organização.

Em comum, explicou Lúcia Lemos ao HM, através das suas obras, os dois artistas partilham a ideia de “procurar, no mundo em que vivemos, estar junto da natureza, com a certeza de que o progresso é irreversível”. “Os trabalhos de Eloi Scarva e Chan Un Man estão relacionados com todo esse equilíbrio e forças”, sublinhou ainda a responsável.

A exposição “Capsule Formation & Asymbiotic Germination” tem inauguração agendada para quinta-feira às 18h30 e pode ser vista até ao dia 27 de Fevereiro.

12 Jan 2021

Críticos americanos votam “Vitalina Varela” como quarto melhor filme de língua estrangeira

O filme “Vitalina Varela”, de Pedro Costa, foi votado o quarto melhor de língua estrangeira do ano pela Sociedade Nacional de Críticos de Cinema dos Estados Unidos. O anúncio, que colocou “Vitalina Varela” atrás do romeno “Collective”, de Alexander Nanau, do brasileiro “Bacurau”, de Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, e do russo “Beanpole”, de Kantemir Balagov, foi feito através da conta de Twitter da organização, depois da reunião dos 55.º prémios anuais.

Segundo a votação, “Collective” reuniu 38 pontos, enquanto “Bacurau” e “Beanpole” conseguiram 36 pontos ‘ex aequo’, seguindo-se “Vitalina Varela” com 32 pontos.

O filme de Pedro Costa foi ainda o terceiro classificado na categoria de melhor cinematografia, com o director de fotografia Leonardo Simões a ser superado por James Richards (de “Nomadland”) e Shabier Kirchner (de “Lovers Rock”). “Nomadland”, de Chloé Zhao, foi o grande vencedor destes galardões, tendo conquistado também as categorias de melhor filme, melhor realização, e melhor actriz, atribuído a Frances McDormand.

De acordo com a sociedade de críticos, o processo foi conduzido por um sistema de votação ponderada, com os participantes a votarem nas suas três escolhas para cada categoria (três pontos para a primeira escolha, dois para a segunda e um para a terceira). “O nomeado com mais pontos e que apareça na maioria dos boletins de voto vence”, explicou a sociedade.

Reconhecimento internacional

Candidato português à nomeação para Óscar de Melhor Filme Internacional, “Vitalina Varela” teve estreia mundial em Agosto de 2019 no Festival de Cinema de Locarno, na Suíça, onde arrecadou os principais prémios: Leopardo de Ouro e Leopardo de melhor interpretação feminina.

Desde então, tem sido exibido e recebido vários prémios em diversos festivais internacionais de cinema, além de ter aparecido em múltiplas listas de melhores do ano. A publicação especializada Variety colocou-o, há dias, em 19.º na lista de possíveis candidatos ao Óscar de Melhor Filme Internacional.

Pedro Costa conheceu Vitalina Varela quando rodava “Cavalo Dinheiro”, acabando por incluir parte da sua história na narrativa, dando-lhe depois protagonismo no filme seguinte. A narrativa centra-se numa mulher cabo-verdiana que chega a Portugal três dias após a morte do marido, depois de ter estado 25 anos à espera de um bilhete de avião.

Em Locarno, Pedro Costa explicou que os filmes sobre a comunidade cabo-verdiana não são documentários: “Estamos a fazer algo um pouco mais épico”, com base numa relação que existe há 25 anos. “Falo de pessoas que vivem hoje no esquecimento, dormem nas ruas, são torturados. O cinema pode protegê-los, de certa forma vingar uma parte desta situação, porque pode ser exibido em qualquer lado”, disse.

11 Jan 2021

Projecto mao-mao quer fazer espectáculos com poesia de trabalhadores chineses

O escritor Valério Romão integra, juntamente com o poeta José Anjos, Pedro Salazar, Paula Cortes e Sandra Martins o projecto mao-mao, que dá uma roupagem musical a poemas escritos por trabalhadores de fábricas chinesas. Depois do lançamento de dois vídeos online o grupo quer dar concertos em Portugal, revelando, através da música e das palavras, um outro mundo da China dos dias de hoje

 

Muito antes de conhecer Eleanor Goodmand pessoalmente, em Macau, já o escritor Valério Romão tinha tido contacto com a colectânea de poemas escritos por trabalhadores chineses, intitulada “Iron Moon: An Anthology of Chinese Worker Poetry”. Daí até musicar e tocar em palco alguns desses poemas foi um pequeno passo.

Depois de um vídeo lançado em Dezembro, e de estar agendado o lançamento de um outro ainda este mês, o projecto mao-mao pretende dar concertos em Portugal assim que a pandemia da covid-19 permitir mais deslocações e espectáculos. O grupo mao-mao é composto por Valério Romão, que traduziu alguns poemas da versão inglesa para português, José Anjos, musico e poeta, Paula Cortes, Sandra Martins e Pedro Salazar.

Ao HM, Valério Romão confessou ter ficado “muito impressionado com a força daqueles poemas”. “Tivemos um apoio pontual do Fundo das Artes do Ministério da Cultura e conseguimos montar um espectáculo com base nas poesias destes trabalhadores, que são tão inesperadas quanto a força que têm”, adiantou. Além do apoio institucional do Ministério da Cultura em Portugal, os mao-mao contam também com a ajuda do departamento cultural da APIOT – Associação para a Igualdade de Oportunidades no Turismo.

Neste projecto, Valério Romão destaca os poemas de Xu Lizhi, um trabalhador da FoxConn, onde são produzidos os produtos da Apple, que cometeu suicídio aos 24 anos. “Era um daqueles trabalhadores migrantes que existem aos milhões na China, com condições muito precárias. O nome da antologia é retirado de um verso de um poema dele e revela muito bem a força daquela poesia, o desespero e as condições em que os trabalhadores vivem.”

“Não sendo uma poesia estritamente documental é impossível não ver nela uma leitura muito crua e honesta e com muita força da realidade deste mundo globalizado”, acrescentou Valério Romão.

A outra China

“Filho” é o nome do tema de apresentação dos mao-mao e foi composto a partir de um poema de Chen Nianxi, trabalhador mineiro nascido em 1970 na província de Xianxim. Este tema fez parte do primeiro vídeo do projecto divulgado nas redes sociais em Dezembro, tendo sido gravado na Escola de Mulheres – Oficina de Teatro em Agosto do ano passado.

Para Valério Romão, o projecto Mao-Mao acaba por mostrar um outro lado da China contemporânea que nem sempre os portugueses e os ocidentais, no geral, conseguem ver, apesar das notícias diárias que enchem os media.

“Vai ajudar, de certa forma, a humanizar o desconhecido, porque a China é ainda o outro lado do mundo. Vai ajudar a compreender também de onde vêm as coisas que se compram muito baratas. É importante que as pessoas percebam isso, que haja essa percepção de que as condições de trabalho não são iguais em todos os lugares do mundo.”

Valério Romão defende que os poemas musicados de “Iron Moon” revelam uma realidade semelhante à de muitos ocidentais, que se deparam com difíceis condições de vida, baixos salários e condições precárias de trabalho.

“Embora estes poemas não tenham sido, de todo, alvo de tentativas de silenciamento, de certa forma mostram uma face menos bonita da China contemporânea, apesar do lustro das suas cidades cosmopolitas, gigantes e aparentemente super modernas. Tudo isso tem um custo e esse custo muitas vezes não aparece no enquadramento da fotografia que a China passa para o resto do mundo”, rematou.

11 Jan 2021

Escultor português João Cutileiro morreu ontem aos 83 anos 

O escultor português João Cutileiro morreu esta terça-feira aos 83 anos, em Lisboa. A confirmação do óbito foi feita à agência Lusa por Ana Paula Amendoeira, directora regional de cultura do Alentejo. Segundo Ana Paula Amendoeira, João Cutileiro estava internado num hospital de Lisboa com graves problemas do foro respiratório. O jornal Público escreveu que o seu falecimento se deveu a complicações provocadas por um enfisema pulmonar.

O trabalho de Cutileiro chegou a estar presente em Macau por diversas vezes. Uma delas foi em 1999, no ano da transferência de soberania do território para a China, quando foi instalado, no jardim do Centro Cultural de Macau, um barco de pedra e cavaleiros preparados para a guerra. O grupo escultórico seria inaugurado nesse ano, a 19 de Março, pelo então Presidente da República portuguesa, Jorge Sampaio.

Esse trabalho de João Cutileiro foi inspirado nos guerreiros de terracota de Xian – os cavaleiros – e no barco do lago do Palácio de Verão de Pequim, e tem um peso de 79 toneladas. As peças foram esculpidas em ruivina e mármore cinzento de Estremoz durante um período de três anos.

À época, as esculturas dos cavaleiros e o barco estavam colocadas frente a frente e “preparadas para a guerra” num lago artificial que será equipado com jogos de água que vão criar uma neblina em volta das peças.

Em Macau, João Cutileiro desenvolveu ainda uma peça exposta no átrio do Centro Hospitalar Conde de São Januário, que custou ao Executivo cerca de três milhões de patacas. “Dragão”, outra peça datada de 1999 e criada a pedido do arquitecto Francisco Caldeira Cabral, foi também desenvolvida por Cutileiro para a zona do Canal dos Patos.

Natural do Alentejo

João Cutileiro era um dos mais importantes escultores portugueses. Sobre ele, Ana Paula Amendoeira destacou a particularidade do seu trabalho, cujo método “não era vulgar” entre “outros artistas”. “João [Cutileiro] tem o hábito de fazer maquetas reais, em pedra, das suas obras. No fundo, são esculturas, obras originais, a uma escala menor do que aquelas que ficam nos locais públicos”, indicou. Cutileiro trabalhou sobretudo com mármore e ao longo da sua carreira fez várias obras sobre a identidade e história de Portugal. Um dos exemplos é o monumento ao 25 de Abril, instalado no Parque Eduardo VII, em Lisboa. O escultor era irmão do diplomata e escritor José Cutileiro, que morreu em Maio de 2020.

Nascido em Pavia, no concelho de Mora, no ano de 1937, João Cutileiro estava radicado na cidade de Évora onde tinha uma oficina desde 1980. Foi graças a uma viagem a Itália, mais particularmente a Florença, no início da década de 50, que o escultor decidiu inscrever-se na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa onde, no entanto, esteve apenas dois anos.

6 Jan 2021

Arte contemporânea | Intercâmbio entre Macau e Taiwan leva pintura e fotografia ao Museu Sun Iat Sen

Até ao final do mês, a Casa-Museu do Dr. Sun Iat Sen irá acolher a exposição “The Other Side”. A mostra inclui cerca de 50 obras de sete artistas de Macau e Taiwan, em áreas como a fotografia, ilustração, aguarela e pintura a óleo. Para a curadora e artista, Gigi Lee, o tema da exposição, resulta da vontade de, perante a pandemia, almejarmos chegar a lugares inacessíveis, mesmo aqui ao lado

 

O outro lado é muitas vezes uma questão de perspectiva, ainda para mais quando parece estar já ali. Fruto de um intercâmbio entre artistas de Macau e Taiwan, “The Other Side” é uma exposição que inclui, no total, 50 criações produzidas por sete artistas dos dois territórios. A mostra, inaugurada no primeiro dia do ano, está patente na Casa-Museu do Dr. Sun Iat Sen até ao final de Janeiro.

De acordo com a curadora da exposição, Gigi Lee, natural de Macau e uma das artistas com obras expostas no evento, a realização de “The Other Side” é uma “boa oportunidade” para expor juntamente com outros artistas de Taiwan, já que este ano ficaram impossibilitados de vir a Macau, devido às restrições que têm vindo a ser impostas, em virtude do surto de covid-19.

Quanto à escolha do tema que empresta o nome à exposição, Gigi Lee explica que pode ter um duplo significado, dado o contexto que atravessamos marcado pela pandemia, mas também relacionado com a vida depois da morte.

“O tema ‘The Other Side’ é uma ideia minha. Como no ano passado não nos conseguimos ver uns aos outros, apesar de estarmos tão perto em territórios como Macau, Taiwan e Hong Kong, tive a ideia de propor este tema. Na verdade, é o mesmo sentimento que temos quando queremos chegar a algum lugar inalcançável. Além disso, em chinês, o termo ‘The Other Side’ tem uma conotação religiosa, pois simboliza o lugar para onde se vai depois de morrer ou o momento da chegada a um local idílico”, partilhou com o HM.

A curadora refere ainda que, na prática, o “outro lado” no contexto da exposição poder simplesmente ser “o lugar onde não se pode ir” e que, mesmo estando perto, “está muito longe”.

Referindo que “todos os trabalhos expostos são bidimensionais”, Lee partilhou ainda que aqueles que visitarem nos próximos dias a Casa-Museu do Dr. Sun Iat Sen, irão deparar-se com “uma mostra completa e muito variada”, que inclui trabalhos de fotografia, pintura, aguarela, pintura a óleo, ilustrações, colagens e litografias.

“Tendo em conta os diferentes tipos de materiais utilizados na exposição, acho que é uma mostra completa, que inclui temas alegres e outros mais sérios. É também possível ver expressões diferentes ao nível da ilustração, com alguns deles a serem baseados num método de impressão tradicional. O estilo que podemos ver é muito variado”, acrescentou Lee.

Sete magníficos

Para além de Gigi Lee, estão contempladas na exposição as obras de mais três artistas locais Yolanda Kog, Cai Gou Jie e Francisco António Ricarte. Se Francisco António Ricarte participa na exposição com quatro fotografias, Yolanda Kog foi responsável por materializar nove ilustrações patentes em “The Other Side”.

De Taiwan, chegaram a Macau obras dos artistas, Leanne Chang, Lin Chun Yung e Lai Hsin-Lung. Do expólio de cerca de 30 peças de Taiwan que pode ser visto até 31 de Janeiro, Gigi Lee destaca as 10 peças de acrílico da autoria de Lai Hsin-Lung, que se debruçam sobre a temática dos “tipos de vegetais que se podem encontrar em Taiwan”.

Lai Hsin-Lung é um artista galardoado e com uma vasta experiência, tendo já visto as suas obras expostas em Pequim, Estados Unidos, Reino Unido, Malásia, Japão e Coreia do Sul. Além disso, o artista é considerado um pioneiro sobre as teorias de arte pública, tendo publicado diversos artigos académicos sobre o tema.

6 Jan 2021

Cinema | Festival dedicado à dança exibe mais de 100 filmes

O Rollout Dance Film Festival está de volta. Ao todo, o festival que pretende celebrar a dança em vários espaços de Macau inclui 87 selecções oficiais, 28 filmes a concurso e ainda cinco exibições especiais. A 3.ª edição do Rollout decorre até 31 de Janeiro

 

O corpo balança ao sabor da música, do vento, às vezes do silêncio ou, quem sabe, do ritmo ditado por um confinamento. A pandemia deixou marcas profundas e isso é visível até mesmo em quem dança. Dos 1.100 filmes provindos de 89 países que a organização do Rollout Dance Film Festival recebeu para a edição deste ano, muitos foram os que não deixaram passar em claro os desafios que a covid-19 colocou à prática da sua arte ao longo de quase um ano.

“Atravessar esta metamorfose global não é algo que se possa fazer sem contratempos, mas ainda assim foi possível ver beleza na forma como a essência daquilo que é uma ‘ligação’ e as várias faces do conceito de ‘presença’ foram redefinidas em simultâneo com todas as transformações, que foram incorporadas em muitas das obras submetidas na edição deste ano do Rollout”, escreve a organização numa nota publicada no portal do evento.

Dos 1.100 filmes, sobraram 28 obras a concurso e outras 87 integradas na “Selecção Oficial”, todas elas a serem exibidas até 31 de Janeiro em vários espaços de Macau, como a Casa Garden, o Cinema Alegria ou a Sala de Cinema da MUST.

Das obras a concurso, todas elas curtas-metragens, destaque para “co-vid.mp4” (Reino Unido), ANNEX (Portugal), APORIA (Itália) e “X.Y” (China). Os vencedores serão anunciados no próximo domingo, distribuídos pelas categorias “Prémio do Júri”, “Escolha do Público”, “Prémio Inovação” e “Prémio de Recomendação do Júri”.

Por seu turno, os 87 filmes da “Selecção Oficial”, estão enquadrados em nove categorias, com destaque para a secção “Dance in Time of Lockdown”, que inclui obras como “The Quarantine Diaries” (França/Bélgica), “Silence is still talking” (Argentina), “Virus” (Reino Unido) e “Solitude Fantasy” (Macau).

Apontando que “Dance in Time of Lockdown” é um dos temas em destaque da edição deste ano, a curadoria do evento sublinha que “tal como outras formas de arte, os filmes de dança foram usados para estudar, compreender, pressentir e chamar a atenção para a vida e os acontecimentos que nos circundam”.

“O distanciamento social não é um obstáculo à criação, mas antes uma condição sobre a qual os artistas reflectem através das suas práticas criativas”, acrescenta a organização.

Amanhã, no Cinema Alegria, terá lugar a mostra dedicada às categorias “World Kaleidoscope” e “Portuguese Dance Film Pulse”, respectivamente às 19h15 e 21h00. Do conjunto de obras feitas em Portugal será possível assitir a “Transitions” (Ana Barroso), “Nude Landscapes” (Luís Damas), “The Grid” (Sebastian Bolenius), “Self” (Tiago Xavier) e ainda “We are all on the same bus” (Nuno Serrão).

Os três dias seguintes serão dedicados à exibição na Casa Garden de obras seleccionadas por curadores internacionais, incluindo películas produzidas nas Filipinas, Indonésia, Singapura, Tailândia, Taiwan e Hong Kong.

Fechar o Foco

Por seu turno, o Cinema Alegria e a Sala de Cinema da MUST irão acolher as longas-metragens incluídas nas “Exibições Especiais”, havendo também a possibilidade de visionar as obras em casa, através de uma plataforma online.

Hoje mesmo, no Cinema Alegria, pelas 19h30, será exibido o filme “Gracefully” , uma obra produzida no Irão que conta a história de um homem de 80 anos conhecido pelos espectáculos de dança em que costumava participar vestido de mulher. Contudo, após a dança em público ter sido proibida no Irão em 1979, o homem foi obrigado a trabalhar na agricultura.

Já “Cunningham” (Estados Unidos), que conta a história do icónico coreógrafo Merce Cunningham, será exibido no dia 13 de Dezembro na Sala de Cinema da MUST. O mesmo espaço irá acolher ainda “Womb” (Suíça), uma experiência imersiva e audiovisual intensa onde três personagens procuram descobrir qual o volume do mundo.

Exclusivamente online será exibido “Aviva” (Estados Unidos), uma obra que incorpora “sequências de dança memoráveis” para narrar uma história de amor complexa, onde o papel das duas personagens principais é representado por quatro actores, explorando o lado masculino e feminino de cada um.

De França chega “Jérôme Bel”. Apesar de já ter sido exibida no Cinema Alegria no dia 29 de Dezembro, a obra sobre o coreógrafo com o mesmo nome poderá também ser vista online.

5 Jan 2021

AFA | Leong Fei In e Zhang Xinjun seleccionados para intercâmbio artístico

Os artistas Leong Fei In e Zhang Xinjun apresentam uma exposição no Macau Art Garden, que cria uma história visual sobre uma ilha desconhecida e reúne também memórias de Macau. Durante este ano vão realizar uma residência artística e uma nova exposição conjunta

 

A exposição “One Plus One · Macau and Overseas Artists Exchanged Exhibition: Island”, organizada pela Art For All Society (AFA), está aberta ao público até dia 27 de Janeiro no Tak Chun Macau Art Garden. É a segunda edição de um programa de intercâmbio cultural, que conta desta vez com obras da artista local Leong Fei In, e do artista Zhang Xinjun, da China Continental.

No local da exposição nasceram nove pequenas ilhas de tamanhos e formatos distintos, construídas a partir de materiais como areia de quartzo tingida e especiarias antigas. As paredes revelam agora diferentes montanhas pintadas em cores vivas, acompanhadas de algumas palavras. Durante a visita, o público pode andar entre o trabalho.

“Leong Fei In alargou o conceito de ‘ilha’ a um sentido do corpo e visão do mundo, usando dados históricos das ilhas de Macau e do Sudeste Asiático que foram afectadas durante a era náutica, como pano de fundo para criar a história visual virtual ‘ilha desconhecida’”, comunicou a AFA.

Por sua vez, Zhang Xinjun juntou imagens relacionadas com a história, paisagens e pessoas de Macau. O artista organizou assim memórias do território, que assumem forma visual de tecido, em que os traços foram feitos através de queima de incenso. Estas imagens, explica a nota da AFA, “advieram de mal-entendidos do artista sobre o território através de informação indirecta”.

Em 2019 realizou-se pela primeira vez a exposição “one plus one”, com artistas de Macau e do exterior, em Pequim. A mostra da nova edição foi inaugurada no final de 2020, e está patente ao público entre as 11h e 19h, de segunda a sábado.

Tempo para criar

Ao longo de 2021, os dois artistas seleccionados vão realizar residências artísticas em Macau e uma nova exposição conjunta numa galeria local. O “One Plus One” é um programa de intercâmbio cultural, que pretende fortalecer as trocas artísticas e culturais entre Macau e artistas do exterior. Neste âmbito, a cada dois anos, a AFA seleciona um artista em representação de Macau e outro do exterior, cooperando com institutos artísticos da China Continental, Hong Kong ou do estrangeiro para organizar uma exposição conjunta.

Desta vez, foram Leong Fei In e Zhang Xinjun os eleitos. “Através deste projecto, a AFA espera trazer mais estímulos externos aos artistas [locais], dando-lhes uma oportunidade de ganharem mais experiências fora de Macau e obterem uma experiência criativa numa cena artística mais ampla”, indicou a entidade.

A artista Leong Fei In concluiu o mestrado em Artes Visuais na University of the Arts London, em 2016. O seu trabalho abrange técnicas como gravuras, livros, esculturas de papel e instalações, através das quais explora temas como espaço, memória e tensão. As exposições a solo incluem “In between”, em Kyoto no ano de 2017, ou “The Weight of Context” na AFA, em 2018.

O artista Zhang Xinjun nasceu em Zhengzhou, Henan. Terminou a formação na Academia de Belas Artes de Sichuan em 2005, e na Academia Central de Belas Artes em 2009. “Mine”, na Alemanha, ou “Hou Zhairen not surnamed Hou”, em Pequim, são exemplos de exposições a solo.

4 Jan 2021

Cinemateca | Selecções de Janeiro com obras locais e de todo o mundo

A co-produção britânica e norte-americana “Never Rarely Sometimes Always” é um dos filmes em destaque na Cinemateca para receber o novo ano. Além de cinema local, em cartaz, estarão ainda películas do Japão, Hong Kong, Coreia do Sul Israel, França e Alemanha. Estão ainda previstas conversas com realizadores do território após algumas exibições

 

A Cinemateca Paixão vai receber 2021 com a prata da casa, mas também com uma pitada do mundo. Ao todo, o cartaz de Janeiro inclui sete novas selecções, onde, para além de “Years of Macao”, um compêndio de curtas metragens da autoria de vários realizadores locais, serão exibidas obras do Japão, Hong Kong, Coreia do Sul, Israel, França, Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido.

Fruto de uma co-produção britânica e norte-americana, “Never Rarely Sometimes Always” leva à Travessa da Paixão as temáticas da gravidez na adolescência e do aborto. Escrito e realizado por Eliza Hittman, a obra acompanha a história de Autumn Callahan, de 17 anos, que, após descobrir que está grávida, vê-se impedida de fazer um aborto na sua terra natal, Pensilvânia, sem o consentimento dos seus pais. Após tentar interromper a gravidez pelas próprias mãos, com recurso a comprimidos e auto-flagelação, Autumn decide rumar a Nova Iorque com sua prima Skylar.

“Never Rarely Sometimes Always” será exibido na Cinemateca nos dias 2 (16h30), 10 (16h30), 14 (19h30) e 23 (21h00) de Janeiro.

Por sua vez “Waltz with Bashir” é uma longa metragem de animação que resulta de uma colaboração entre Israel, França e Alemanha. Vencedor da Palma de Ouro em 2008 e do Óscar de melhor filme estrangeiro em 2009, “Waltz with Bashir” é uma obra que coloca o próprio realizador, Ari Folman, no centro do enredo. Isto dado que o filme retrata as tentativas de Folman, veterano da Guerra do Líbano (1982) de recuperar as suas memórias perdidas dos eventos que marcaram os massacres de Sabra e Shatila. “Waltz with Bashir” será exibido nos dias 8 e 16 de Janeiro na Cinemateca Paixão, pelas 21h30.

De Hong Kong chega “Bamboo Theatre”, um documentário da autoria de Cheung Cheuk, que seguiu durante dois anos os rituais e as práticas em várias aldeias e ilhas remotas do território durante a construção de teatros de bambu, espaços improvisados onde habita a ópera chinesa, e que contrastam com as infraestruturas sofisticadas das grandes metrópoles. “Bamboo Theatre” será exibido na Cinemateca nos dias 7 e 9 de Janeiro, às 19h30.

Destaque ainda para “True Mothers”. Oriunda do Japão, esta película realizada por Naomi Kawase aborda a temática da adopção e as implicações inerentes ao facto de, mais tarde, a mãe biológica partir em busca de reconectar-se com o seu filho.

Presente na Selecção Oficial do Festival de Cinema de Cannes em 2020 “True Mothers” será exibido nos dias 21 (21h00) e 24 (16h00) de Janeiro.

O cartaz de Janeiro da Cinemateca Paixão é completado pelos filmes “Undine”, uma produção franco-alemã sobre uma mulher que está obrigada a matar todos os homens que a traem e ainda “The Woman Who Ran”, realizado pelo coreano Hong Sang Soo e que aborda a história de Gamhee, que se predispõe a visitar três amigos, enquanto o marido está numa viagem de negócios.

À conversa

Previsto para ser exibido nos dias 1 (19h00), 3 (21h30), 5 (19h30) e 6 (19h30), “Years of Macao” é outros dos destaques da programação de Janeiro da Cinemateca Paixão e vai contar com mais alguns extras.

Isto porque após a exibição do dia 5 de Janeiro, a plateia poderá conversar com os realizadores de algumas das curtas presentes na obra como Tou Kin Hong, Penny Lam Kin Kuan e Tracy Choi.

No dia seguinte, após a exibição de “Years of Macao” haverá lugar a uma troca de ideias com os realizadores António Caetano de Faria, Albert Chu Iao Ian, Tou Kin Hong e Penny Lam Kin.

Recorde-se que “Years of Macao” é uma antologia materializada em nove curtas metragens que pretendem retratar Macau entre 1999 e 2019: “Go Back Home”, “REC-Last Days”, “Sparkling Mind”, “The Last Show”, “Till the End of World”, “The First Cigarette”, “A Moment”, “Dirty Laundry” e “Summer”.

31 Dez 2020

Livros | Centenário da publicação de “Clepsydra” celebrado na Casa de Portugal

Por ocasião dos 100 anos da publicação da obra única de Camilo Pessanha, foram lançadas as obras “Clepsydra 1920-2020 – estudos e revisões” e “Ladrão de Tempo”. Entre académicos, especialistas e escritores, um dos maiores legados da “obra imortal” do escritor foi colocar Macau no mapa da literatura lusófona

 

“Já gostava muito da poesia de Camilo Pessanha antes de vir para Macau, mas depois de ter vindo e sentido a presença dele na cidade, compreendi melhor os seus poemas e a sua sensibilidade”, disse Carlos Morais José, director do Hoje Macau e autor de “Ladrão de Tempo”, uma das duas obras lançadas ontem na Casa de Portugal, para assinalar os 100 anos da publicação de “Clepsydra”.

Além de “Ladrão de Tempo”, que reúne uma série de textos e artigos sobre Camilo Pessanha, publicados ao longo de vários anos por Carlos Morais José, foi também apresentada ontem a obra “Clepsydra 1920-2020 – estudos e revisões”. Esta última, abarca uma colecção de ensaios sobre a vida e a obra de Pessanha, sob coordenação de Catarina Nunes de Almeida (Faculdade de Letras de Lisboa), que conta com textos de Carlos Morais José, Catarina Nunes de Almeida, Daniel Pires, Duarte Drumond Braga, Fernando Cabral Martins, Paulo Franchetti, Pedro Eiras, Ricardo Marques, Rogério Miguel Puga e Serena Cacchioli.

“Em ‘Ladrão de Tempo’, os leitores podem aprender um pouco das minhas teorias sobre a vida e obra de Camilo Pessanha. No outro livro que publicámos, feito por académicos de grande competência existem textos realmente importantes para uma melhor compreensão da obra de Pessanha”, explicou Carlos Morais José.

O autor fez ainda questão de sublinhar a importância de Pessanha “não só para a literatura portuguesa, mas também para Macau”, pois através da sua obra “foi possível colocar Macau no mapa da literatura lusófona”. “Macau será sempre lembrada como um local onde floresceu a literatura em língua portuguesa pela pena de Camilo Pessanha, quer se queira, quer não”, acrescentou.

Por seu turno, Catarina Nunes de Almeida, que marcou presença no evento através de uma plataforma online, lembrou que a “Clepsydra é, não só um livrinho que traduz o expoente máximo do simbolismo em língua portuguesa, mas também uma obra máxima de todos os tempos” e que Camilo Pessanha foi um “mestre” para nomes como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Eugénio de Andrade.

Sobre a vida omissa e mística do escritor, acrescenta que Pessanha é inclusivamente personagem de romances e novelas, como é o caso de “A 5ª essência” de Agustina Bessa-Luís ou de “O Mal”, de Paulo José Miranda.

“A biografia de Camilo Pessanha continua a ser compensada por muitas suposições e lacunas. Há muitas brechas ao longo da sua vivência em Macau e da metrópole e a literatura tem aproveitado para criar uma série de ficções e de se deleitar com esses espaços em branco”, apontou a coordenadora de “Clepsydra 1920-2020 – Estudos e revisões”.

Intervindo também via online, Duarte Drumond Braga, fez questão de frisar o percurso “activo” de Camilo Pessanha na sociedade de Macau, onde foi professor e juiz, por oposição à imagem de “lenda” que foi sendo criada em torno do escritor.

Nas entrelinhas

Durante a sua intervenção, Duarte Drumond Braga assinalou ainda que a China não está presente na obra de Camilo Pessanha “de forma directa”, mas apenas “de forma subtil”.

Sobre o tema, Carlos Morais José referiu que, apesar de os sinais não serem declarados, “nota-se a presença de um outro lugar, ou seja a presença do exilado numa cidade estranha”.

“Aconselhava as pessoas a encontrar a sua própria experiência pessoal, sobretudo aqueles que estão em Macau. Se passearem pela cidade, saindo fora dos circuitos habituais, perdendo-se pela cidade chinesa de Macau, penso que talvez encontrem essa sensibilidade. Não é uma coisa que se atinge só pela razão ou pela leitura mas que se atinge muito pela sensibilidade e pela empatia com a cidade e a obra do autor”, acrescentou.

Referindo-se a “Clepsydra”, o autor de “Ladrão de Tempo” aponta ainda que “a grande poesia é infinita nas interpretações que se podem fazer dela”, tal como acontece com Camões ou Fernando Pessoa.

“É sempre possível encontrar novas leituras, novas explicações e, sobretudo, novas sensações e penso que isso torna este livro numa obra imortal”, rematou Carlos Morais José.

Na linha da frente

Marcando presença no evento, a presidente da Casa de Portugal, Amélia António vincou que “Pessanha é indissociável de Macau”, que a sua obra “extravasa” os limites do território e que, por isso mesmo, era importante “estar na linha da frente” para assinalar os 100 anos da publicação de “Clepsydra”.

Por seu turno, José Tavares, presidente do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) frisou que “ainda há muito por descobrir” sobre um “escritor da terra” que deixou obra feita e que está sepultado em Macau.
Sobre a iniciativa vincou que “é um trabalho contínuo”, que é preciso “valorizar e apoiar”.

30 Dez 2020

Fotografia | “Estrada: Stand Point” na Casa Garden até 31 de Janeiro 

A Associação Cultural 10 Marias apresenta, até ao dia 31 de Janeiro, a exposição de fotografia “Estrada: Stand Point”, com trabalhos da fotógrafa Marjonele Estrada. Uma mostra onde a juventude de Macau e a sua relação com o território assume o papel principal

 

A primeira exposição individual de Marjolene Estrada está patente na Casa Garden, sede da Fundação Oriente em Macau, até ao dia 31 de Janeiro. A mostra de fotografia centra-se nos jovens do território e tem a curadoria de Mónica Coteriano e Patrícia Soares, ligadas à Associação Cultural 10 Marias.

Ao HM, Patrícia Soares falou de um trabalho que captou a atenção das curadoras desde o início. “Queríamos pegar no tema dos jovens em Macau e encontramos a Marjolene, que já fazia bastantes fotografias de uma forma profissional, mas mais ligada aos eventos. Depois [o seu trabalho] tem também um lado mais conceptual, artístico e achámos isso bastante interessante, porque ela tem um background bastante multicultural.”

Marjolene Estrada trabalha sobretudo com o retrato e, nesta exposição, o público poderá ver algumas das sequências construídas pela fotógrafa, com base em histórias. “Ela fotografa muito em série, escolhe um tema dentro da juventude e depois constrói histórias. Há uma série com cerca de 90 fotografias em miniatura, feitas numa praia. [Esta série] retrata uma visão do seu próprio eu, da descoberta, do sentimento de pertença e de não pertença.”

O trabalho de Marjolene Estrada revela também uma reflexão sobre a relação dos jovens com o território onde habitam. São fotografias que contam “como é que alguém se sente ligado a Macau sendo de uma etnia diferente”. “São pessoas reais retratadas mas que reflectem várias questões da juventude em Macau”, frisou Patrícia Soares.

Em “Estrada: Stand Point” está também patente uma série com fotografias de nus. “Achamos muito interessante a naturalidade com que ela fotografou e fez uma alusão ao universo LGBT.”

A multiculturalidade

Concretizar “Estrada: Stand Point” partiu também de uma vontade da Associação Cultural 10 Marias em ter no seu portfólio uma mostra sobre a juventude. “É super interessante olharmos para dentro e darmos palco e oportunidade aos novos talentos em Macau. E também dar um empurrão no cenário artístico e cultural de Macau”, explicou Patrícia Soares.

A escolha do trabalho de Marjolene Estrada é também exemplificativo da sua multiculturalidade, uma vez que é filha de pais filipinos, nascida em Macau. “É uma das jovens em Macau em contacto com várias comunidades, a portuguesa, a filipina, a chinesa, a estrangeira de um modo geral. Ela é uma pessoa bastante integrada nesta multiculturalidade que Macau às vezes nos dá.”

“Achámos interessante fazer uma exposição sobre a juventude, mas do ponto de vista dela. Aproveitámos o nome, Estrada, e mostramos o caminho que ela faz e o olhar que tem sobre a juventude em Macau, dentro do contexto dos meios onde ela se move e dos grupos onde está inserida. O seu ponto de vista acabou por se revelar bastante interessante”, rematou Patrícia Soares.

29 Dez 2020

Miro e Cátia gravam música para levar esperança em tempos de pandemia

Lançado no dia 24 de Dezembro, o videoclip foi feito a pensar nos Países de Língua Portuguesa e conta com a participação de algumas caras locais, como Carlos Marreiros, José Sales Marques e Bruno Nunes

 

“Transmitir uma mensagem positiva e de esperança”. É este o objectivo principal do videoclip “Distante de Nós”, produzido por Casimiro Pinto e a filha Cátia, lançado a 24 de Dezembro. Num ano em que as celebrações de Natal sofreram alterações em todo o mundo, devido ao impacto da pandemia da covid-19, Casimiro e Cátia lançaram um vídeo a pensar não só na família em Portugal, mas também em todos os que falam português.

Inicialmente, o vídeo era para ser feito a pensar na família, e principalmente nos primos de Cátia, uma vez que os condicionamentos da pandemia impedem a deslocação a Portugal.

“A Cátia era para ir a Portugal visitar os primos, mas não pode ir por causa da pandemia. Por isso, quis gravar a canção para oferecer uma prenda de Natal aos familiares”, contou Casimiro Pinto, pai e também conhecido como Miro, ao HM. “Durante a produção adoptámos uma visão mais alargada, e pensamos que se poderia tornar numa mensagem de Macau para o mundo lusófono. Quisemos deixar uma mensagem de esperança para todos e sublinhar que apesar de a situação ser séria, é possível sairmos bem”, acrescentou.

Além disso, a data escolhida para o lançamento foi 24 de Dezembro, como prenda de Natal e pela importância desta celebração para os países de língua portuguesa. “Decidimos que o dia do lançamento seria a 24 de Dezembro, porque achamos que o Natal é um dia especial para todos, e em especial para os Países de Língua Portuguesa e para a cultural ocidental”, explicou.

Projecto em crescendo

A música cantada por Cátia Pinto, composta e escrita pelo pai e Ernesto Leite, é original. No entanto, a versão portuguesa começou a ser elaborada a partir de uma versão em mandarim, que foi criada para encorajar os trabalhadores envolvidos no mecanismo de prevenção e combate à pandemia da covid-19.

“Entre Maio e Junho escrevi uma canção na versão em mandarim. Lancei o tema para encorajar e ter uma mensagem de solidariedade para Macau e para as pessoas. Também foi uma dedicatória para todos que estiveram na linha da frente a combater a covid-19”, revelou sobre a origem do tema “Distante de Nós”.

No entanto, como a filha frequenta a Escola Portuguesa, “Miro” considerou que poderia haver uma versão na língua de Camões, para chegar ainda a mais gente. “Como a minha filha estuda na Escola Portuguesa achei que era interessante que ela fizesse uma canção com duas versões, nas duas línguas. Depois de termos feito a versão em chinês, começámos logo a trabalhar na versão em português, que demorou mais ou menos dois meses. Foi um período para ensaios, gravação, produção do vídeo”, indicou.

Só que o projecto acabou por crescer e ao longo dos dois meses de trabalho envolveu personalidades da comunidade macaense e também de pessoas em Portugal.

Por esse motivo, o videoclip conta com a participação de personalidades como o arquitecto Carlos Marreiros, José Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus, ou ainda de Bruno Nunes, advogado e conselheiro do Instituto para os Assuntos Municipais. Os envolvidos escreveram mesmo mensagens que são mostradas durante o vídeo.

Fotografias de Portugal

Mas a movimentação à volta da causa foi mais longe e chegou a Portugal, com a ajuda de um conhecido que se mobilizou no sentido de arranjar fotografias de pessoas interessadas em participar na mensagem de esperança.

“Cerca de 99 por cento das fotografias que surgem no vídeo são de Portugal e de pessoas que não conheço. Foi um amigo, professor e fotógrafo, que recolheu as imagens e eu fiz um esforço para colocá-las quase todas”, confessou Casimiro Pinto.

Apesar da tentativa, houve fotografias que acabaram mesmo por ficar de fora, o que o realizador explica com o tempo limitado da música. “A canção tem cerca de três minutos e houve uma altura em que simplesmente tive de parar de meter fotografias porque não havia mais espaço… Mas esperamos que tenha sido uma prenda com algum significado. É o nosso desejo”, sublinhou.

Ainda sobre a realização, Miro explicou que houve o cuidado de mostrar pessoas sorridentes, para vincular a mensagem: “O vídeo aposta mais nos sorrisos das pessoas, em vez de focar o aspecto mais sério da questão. Sabemos que a situação é séria e complicada, mas temos uma abordagem positiva, para as pessoas saberem que há esperança. Acreditamos que vamos receber um futuro melhor”, justificou. Nos primeiros três dias no canal de youtube de Cátia Pinto, o vídeo somava mais de duas mil visualizações.

28 Dez 2020

CCM | Orquestra de Macau celebra Mozart em Janeiro

A Orquestra de Macau (OM) actua a 23 de Janeiro no grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) num concerto que conta também com a presença do maestro e pianista chinês Xu Zhong. O espectáculo, intitulado “A lenda de Mozart”, marca o 230.º aniversário da morte do compositor austríaco e apresenta a famosa Abertura de “Don Giovanni” e a Sinfonia n.º 41, “Júpiter”.

Neste concerto Xu Zhong executará o Concerto para Piano n.º 9 “Jeunehomme” de Mozart. Xu Zhong é o primeiro maestro chinês a ser director artístico e maestro principal do Teatro Massimo Bellini, em Itália, e é também o actual maestro principal do Festival e da Ópera Arena di Verona, em Itália. Os bilhetes para este concerto começam a ser vendidos a partir do próximo sábado, dia 26, e os preços variam entre as 150 e as 250 patacas.

Além deste espectáculo, a OM irá protagonizar ainda vários concertos no próximo mês. Um deles é “Artes Florescentes”, agendado para o dia 9 de Janeiro pelas 20h, e que decorre na Aula Magna da Universidade de Macau (UM). O concerto “Quando a Música Fala – Descubra Mozart”, um dos destaques da temporada, terá lugar no dia 16 de Janeiro, pelas 20h, também na Aula Magna da UM.

Além disso, o concerto “Música em Património Mundial” terá lugar no dia 30 de Janeiro, pelas 20h, no Teatro Dom Pedro V, onde a OM apresentará um repertório de sopros compostos por Mozart, Haydn, Poulenc e Bach. Estes espectáculos têm entrada gratuita, estando os bilhetes já disponíveis para levantamento.

21 Dez 2020

Albergue SCM | Poeta Yao Feng apresenta primeira exposição individual

Yao Feng, pseudónimo de Yao Jingming, académico, tradutor e poeta, apresenta na próxima quarta-feira, 23, a sua primeira exposição a título individual. Em “Não Conjuntivo – Exposição de Arte de Yao Feng”, são reveladas 58 obras de fotografia, pintura e instalação com curadoria de Guilherme Ung Vai Meng, ex-presidente do Instituto Cultural

 

Professor catedrático da Universidade de Macau (UM) e tradutor de grandes poetas portugueses para chinês, Yao Jingming aventura-se agora noutra vertente do mundo das artes. Na próxima quarta-feira, dia 23, sob o pseudónimo de Yao Feng, Yao Jingming inaugura a sua primeira exposição individual no Albergue SCM, que conta com curadoria do também artista e ex-presidente do Instituto Cultural Guilherme Ung Vai Meng.

A mostra tem como nome “Não Conjuntivo – Exposição de Arte de Yao Feng” e é composta por 58 obras que vão desde a fotografia à pintura e instalação. A exposição “explora uma linguagem plástica e pictográfica na qual o figurativo e o abstracto se fundem num encontro cultural herdeiro de influências orientais e ocidentais, propondo novas dinâmicas”, explica um comunicado do Albergue SCM. A mostra estará patente até ao dia 21 de Fevereiro do próximo ano e conta com o apoio da Fundação Macau, marcando os 21 anos da transferência de soberania de Macau para a China.

Fotografia foi o início

Apesar de esta ser a primeira mostra individual de Yao Feng, a verdade é que o poeta e artista há muito que se dedica ao mundo artístico, nomeadamente da fotografia. Muitos dos seus livros incluem imagens da sua autoria, além de ter feito uma exposição de fotografia juntamente com o poeta Yu Jian.

Nascido em Pequim, Yao Jingming vive em Macau desde 1992 e é doutorado em literatura comparada. Além de ser um dos poetas mais consagrados da China, já publicou 13 livros de poesia, em chinês e em português, e recebeu vários prémios. Dedica-se à investigação da literatura portuguesa e à tradução, tendo publicado dezenas de livros.

Em 2006 foi agraciado com a medalha da Ordem Militar de Santiago de Espada, atribuída pelo Presidente de Portugal.

21 Dez 2020

Fotografia | Exposição sobre 21º aniversário da RAEM no Largo do Leal Senado

A galeria do edifício Ritz, no Largo do Leal Senado, recebe uma exposição de fotografia sobre o 21º aniversário da RAEM, que vai estar aberta ao público até 27 de Dezembro, noticiou o canal chinês da Rádio Macau. O organizador, Yau Tin Kwai, apontou que se sente honrado por poder gravar e mostrar as fotografias históricas da transferência de soberania de Macau em 1999.

O também fotógrafo do Gabinete de Coordenação da Cerimónia de Transferência considera que Macau apresenta grandes mudanças nas áreas social e económica antes e depois da transferência, com a sociedade a tornar-se mais “estável” e “harmoniosa”. Yau deseja que a exposição estimule a memória de quem presenciou o momento e dê a conhecer aos jovens de Macau o seu significado.

A mostra inclui 99 obras, incluindo a preparação do Edifício da Cerimónia de Transferência de Poderes por parte da então administração portuguesa, e as actividades cerimoniais de cada sector social.

20 Dez 2020

Jazz | Tributo a Armandinho reúne músicos locais no D2

A carreira do “mestre do jazz” Armando Araújo, mais conhecido por Armandinho será celebrada no dia 26 de Dezembro no D2 e conta com a participação de mais de 25 artistas locais. José Chan, baixista dos The Bridge, considera que, independentemente da idade, o jeito inconfundível de Armandinho na bateria “continua lá”

 

1, 2, 3, 4, 5 minutos de jazz ao ritmo das baquetas de Armandinho bastariam para apreciar o génio do “mestre do jazz” de Macau. Mas está para breve uma oportunidade para ter a experiência completa ao longo de uma noite inteira. No dia 26 de Dezembro, o espaço do D2 irá acolher, a partir das 22h um tributo ao lendário baterista Armando Araújo, mais conhecido por Armandinho.

Para celebrar a carreira do baterista brasileiro radicado em Macau desde os anos 70, o evento irá contar com mais de 25 músicos locais, que entram em cena, logo após a actuação de abertura a cargo dos The Bridge, o grupo de Armandinho.

“A abrir vamos ter a banda do Armandinho, que são os The Bridge, formação residente do Jazz Club de Macau, e depois vai haver uma espécie de ‘Jam Session’ com várias bandas locais que decidiram associar-se a esta celebração”, disse ao HM Rui Farinha, um dos organizadores do evento.

Dos grupos que vão marcar presença no evento fazem parte os Groove Ensemble, os Hot Dog Express, Groovy Ghosts e “outras bandas ad-hoc criadas especialmente para o efeito”, esclareceu o responsável.

Afirmando que a ideia não é de agora, mas que “desta vez não havia desculpas” para não se fazer um tributo a Armando Araújo, Rui Farinha destaca a importância da celebração especialmente para o artista “se sentir querido” e comprovar “que as pessoas ainda se lembram dele como um grande músico que sempre demonstrou ser”.

“Todas as pessoas com quem falamos sobre o Armando têm um carinho muito especial e sabem quem ele é. Aliás, ele é inclusivamente um músico famoso fora de Macau e bastante conhecido em toda a Ásia”, acrescentou.

Rui Farinha aponta ainda a entrega “absolutamente fantástica” do artista em palco, lugar onde demonstrou sempre ser “afável” e “solidário”. “Lembro-me de o ver muitas vezes, no intervalo entre as músicas, a explicar um pouco o conceito das letras ou estilo que estava a tocar na bateria. Sempre teve este lado um bocadinho pedagógico”, sublinhou.

Ginga peculiar

José Chan, baixista dos The Bridge, que se juntou a Armandinho no Jazz Club de Macau em 1988, faz questão de vincar que as origens do “mestre do jazz” conferem um toque único à música que o artista emana.

“O Armando, como é brasileiro, tem uma maneira de tocar que é diferente dos americanos ou dos europeus e isso faz com que a música tenha uma outra forma. Apesar de ser jazz, tem um toque mais latino”, partilhou Chan.

Apontando ser um tributo “mais que merecido” por ser se tratar de um marco da música de Macau, o baixista lembra a influência incontornável que Armandinho teve no panorama musical de Macau, especialmente ao nível da música brasileira que havia no território.

Questionado sobre como é tocar ao lado de Armandinho, José Chan lembra a forma como artista influenciou toda a sua carreira musical e como, “apesar de já ter mais idade, o jeito de tocar continua lá”. Quanto ao trato, Chan destaca o facto de Armandinho ser “um cara muito bacana” e a abrangência que conquistou ao longo dos anos.

“Como foi dos músicos que chegou a Macau há mais tempo, muita gente o conhece na comunidade chinesa, macaense ou portuguesa porque já está cá há mais de 40 anos. O Armandinho é abrangente nas pessoas que o conhecem e que reconhecem o seu talento”, remata.

20 Dez 2020

Festival Fringe | Criatividade inunda a cidade entre 20 e 31 de Janeiro

A 20.ª edição do Festival Fringe foi ontem apresentada, ocupando o calendário artístico de Macau entre os dias 20 e 31 de Janeiro. Com um cartaz composto pela “prata da casa”, o evento volta a desafiar as barreiras criadas pelos conceitos de palco, artista e público, com espectáculos espalhados por toda a cidade

“Em 1999, uma ‘criança travessa’ do teatro nasceu em Macau”. Foi assim que Mok Ian Ian, presidente do Instituto Cultural, começou por apresentar a 20.º edição do Festival Fringe. A celebração da arte contemporânea que decorre entre 20 e 31 de Janeiro, tem um cartaz composto por 18 programas extraordinários e 17 actividades de extensão, que se multiplicam em mais de 200 sessões.
Quanto ao orçamento, a 20.º edição vai custar o mesmo que a anterior: 3,2 milhões de patacas.
Depois de um ano marcado pela pandemia, o próprio Fringe reflecte de alguma forma as restrições a que todos são obrigados. Em primeiro lugar, em termos organizacionais, como Mok Ian Ian admitiu. “As dificuldades levaram a que colegas do Interior da China não pudessem vir a Macau, por não terem condições para chegar, mas contribuíram de outra forma. Além disso, a participação de artistas locais foi muito elevada”, explicou a presidente do IC. Este ano, o peso da “prata da casa” no cartaz é de 83 por cento.
Não está previsto que nenhum artista convidado seja obrigado a fazer quarentena, sendo o caso mais flagrante o de um artista de Hong Kong. Como vive há muitos anos em Cantão, não terá de fazer quarentena para participar no Fringe.

Crème de la Fringe

Um dos vértices fundamentais do festival é a interacção entre público e performer. Seguindo a filosofia típica do evento, a arte vai sair à rua, em múltiplas instâncias. De regresso ao cartaz do Fringe, esta edição volta a oferecer, pela terceira vez, a série “On Site”, uma experiência que aspira a que “um dia seja tão fácil assistir a apresentações de dança contemporânea em Macau como assistir a um filme”, descreve Tracy Wong, a curadora do “On Site”.
Saindo dos palcos de teatro e dos centros culturais para o contexto urbano, dançarinos de Macau e do Interior da China, vão juntar-se ao músico local Bruce Pun, para dar corpo ao som e improvisar danças que prometem surpreender o público.
“Viajante do corpo” é mais uma performance que vai tomar as ruas, nos dias 22 e 23 de Janeiro, com interpretações de peças de dança executadas por Lin Ting-Syu, bailarino indicado para o Prémio Artístico Taishin, Yang Shih Hao, artista de roda acrobática, o Ghost Group, grupo de dança contemporânea, além de outros artistas.

Artes com todos

O Fringe tem uma secção inclusiva que traz ao palco pessoas portadoras de deficiência mental e física, e idosos. Com a curadoria de Jeny Mok, presidente da Associação de Arte e Cultura Comuna de Pedra, a secção nasceu de uma série de questões da artista e coreógrafa. “De quem são as rotinas de dança executadas pelos participantes? A dança deve ser executada por corpos bem constituídos por meio de um trabalho de pés preciso e composições envolventes? O que torna um desempenho emocionante e agradável? Por que será que algumas pessoas não são capazes de se expressar diante de um público?”
As respostas para estas questões vão levar artistas ao espéctaculo “A Tarefa Interminável do Momento”, da responsabilidade da Comuna de Pedra e da Associação dos Familiares Encarregados dos Deficientes Mentais de Macau. Os intérpretes vão “partilhar as suas histórias de vida através da dança com os seus corpos, e serão executadas no seu próprio estilo de dança”, explica Jenny Mok. A actuação está marcada para o palco do Teatro Caixa Preta, no Edifício do Antigo Tribunal, às 20h dos dias 20 e 21 de Janeiro.
Nos dias 23 e 24 de Janeiro, o Jardim Lou Lim Ieoc recebe a performance “Treetalk”, organizada pela Unlock Dancing Plaza e a Associação das Idosas de Fu Lun de Macau. A ideia é transportar para a dança a passagem do tempo, visível nos anéis das árvores, mas também no corpo humano. O espectáculo procura despertar a apreciação da beleza do corpo envelhecido e alterar estereótipos em relação aos idosos.
Uma das mais originais propostas da 20.º edição do Fringe é o “F’art for U”, um nome inspirado numa aplicação para encomendar comida, sem qualquer outra influência gastrointestinal. A ideia assemelha-se à realidade de encomendar comida através de uma conhecida aplicação, algo que se tornou ainda mais popular em tempo de pandemia. A diferença está na comida, que é real, e entregue por um artista que actua na casa do cliente/espectador. O menu artístico oferece ópera chinesa, dança, teatro ao preço de 19 patacas, sem contar com a refeição.
Com um cartaz diversificado e fortemente local, onde não vão faltar também workshops e palestras, Mok Ian Ian deixou ainda a ideia de dar continuidade aos eventos mais populares do cartaz desta edição do Fringe e levá-los até ao próximo Festival de Artes de Macau.

17 Dez 2020

Armazém do Boi | Exposição alia memórias de infância a cores dos casinos

A artista Wong Weng Io debruçou-se sob a discriminação subtil que sentiu quando era jovem, associada ao trabalho dos pais em casinos, num trabalho que é hoje inaugurado no “Post-Ox Warehouse Experimental Site”

O Armazém do Boi inaugura hoje, às 18h30, a exposição “All Memories Will Be Good In the End”, no “Post-Ox Warehouse Experimental Site”, situado na Rua do Volong. A mostra é composta por trabalhos que transportam o público ao passado, às memórias de Wong Weng Io. A artista procurou saber mais sobre si própria e perceber o que moldou a sua identidade, ao investigar as memórias de infância, olhando para álbuns de fotografia da família. Com o retorno às raízes, Wong Weng Io olha sobre outra perspectiva para emoções e memórias da juventude.
O trabalho dos pais em casinos vem representado nos trabalhos finais, nomeadamente na escolha de cores. “Esta série experimental tem como objectivo desafiar convenções pré-existentes: o padrão dos trabalhos de tapeçaria são retirados do álbum da família da artista, em que as sombras iniciais das fotografias são substituídas pelo esquema de cores garridas que frequentemente se encontram nos casinos de Macau – uma aplicação psicológica que ‘deliberadamente se articula com mau gosto” para fabricar uma atmosfera alegre, febril”, descreve o Armazém do Boi em comunicado.
A escolha do tema para a exposição surgiu da experiência pessoal da artista ligada ao trabalho dos pais. “Experienciei uma discriminação muito subtil enquanto estava a crescer. E pensei que este tipo de coisa pudesse ter acontecido a outras pessoas”, descreveu Wong Weng Io ao HM.
É por causa do grau de subtileza da discriminação sentido que Wong Weng Io considera que não há muitas pessoas dispostas a falar sobre o tema. A artista recorda-se de pais de amigos lhe dizerem para não trabalhar em casinos, sem saberem que era esse o local de emprego dos seus pais.
Um episódio específico deu lugar a uma das obras. “Um dos trabalhos na exposição é na verdade a resposta a uma frase que ouvi quando estava no secundário. O meu professor de secundário estava a falar disto na aula e disse que a família das pessoas que trabalham em casinos não seria muito feliz”, explicou. A resposta? Durante o processo de preparar a exposição, ao ver as fotografias do álbum de família descobriu “que na verdade era muito feliz durante a infância”.

Afastar o pessimismo

A nota do Armazém do Boi descreve como decorações e padrões encontrados nos casinos “iriam recordar a artista da natureza de Macau: uma fachada brilhante que oculta o seu vazio, ou mesmo, uma cidade movimentada que está a entorpecer os seus residentes. Mas ao longo da manufactura de carpetes, ao ponderar sobre como as memórias – e os seus desvios – influenciaram a sua identidade, a artista “passou a acreditar que, talvez, as nossas memórias podem não ser tão pessimistas e drásticas como estamos convencidos”.
Wong Weng Io indicou que as memórias podem ser vistas de perspectivas diferentes, já que “podem ser muito subjectivas”. Na escolha das fotografias que inspiraram os trabalhos, tiveram influência a intuição e a procura de elementos que representem a geração da artista.
Uma delas foi a imagem que deu origem ao cartaz da exposição: trata-se da artista com o primo a celebrar um aniversário no MacDonalds. “Muitas crianças da minha geração em Macau ou até mesmo agora, quando são jovens celebram o aniversário no MacDonalds. São memórias privadas e ao mesmo tempo muito comuns ou muito simbólicas da nossa geração, de quando éramos jovens”, partilhou.
A mostra fica patente ao público até 6 de Fevereiro do próximo ano.

16 Dez 2020