Letras&Companhia | Luísa Sobral no Teatro D. Pedro V este sábado

Luísa Sobral, cantora e romancista, está em Macau para participar em mais uma edição do festival literário infanto-juvenil “Letras&Companhia”, organizado pelo IPOR. A primeira actuação decorre este sábado no Teatro D. Pedro V, com o espectáculo “Coisas Pequenas”. Segue-se, na terça-feira, a apresentação do seu livro “O Peso das Palavras”

 

O Instituto Português do Oriente (IPOR) volta a apresentar, a partir desta sexta-feira, mais uma edição do festival literário inteiramente dedicado a crianças, jovens e suas famílias, intitulado “Letras&Companhia”. E no meio de workshops de escrita e leitura, exposições e actividades em torno do tema da educação e inteligência artificial, há um destaque no programa: a presença da cantora portuguesa e romancista Luísa Sobral.

Luísa Sobral, que tem uma carreira como compositora e cantora já de alguns anos, traz a Macau o seu “concerto intimista”, intitulado “Coisas Pequenas”, que acontece este sábado a partir das 20h no Teatro D. Pedro V.

Segundo o cartaz do “Letras&Companhia”, este espectáculo traz a Macau “um reportório constituído por músicas dos sete álbuns lançados em nome próprio, canções que escreveu para outros e por algumas composições musicais que a marcaram”.

Desta forma, “será um momento musical de partilha de histórias e memórias, pautado pela poesia das ‘coisas pequeninas’ que participam na beleza da vida”. Além disso, o concerto conta com a presença de Mina Pang, dos Cotton Kids, a acompanhar um tema em palco. Mas Luísa Sobral faz ainda uma segunda participação no “Letras&Companhia”, apresentando o seu livro infantil “O Peso das Palavras”, na próxima terça-feira, na Livraria Portuguesa, a partir das 18h30.

Esta obra, que é ilustrada por “Ligeiramente Canhoto”, inclui a história “do (super)poder das palavras”, escreveu a Lusa, descrevendo que “rouxinóis e um elefante convidam o leitor a reflectir sobre o impacto que a escolha das palavras pode ter no quotidiano”.

Elefantes e rouxinóis

“O Peso das Palavras” nasce “da preocupação em mostrar aos mais novos como algumas palavras têm a capacidade de nos fazer sentir leves como rouxinóis, enquanto outras nos fazem sentir tão pesados como elefantes”, informa a nota de imprensa que acompanha o lançamento da obra.

Luísa Sobral explica que “este poema nasceu de uma conversa que tive com a minha filha quando fez um comentário sobre outra menina”. “Nesse momento, senti a necessidade de lhe explicar de forma simples e descomplicada que as palavras têm um peso e que podem magoar ou ser boas. Que através da palavra podemos fazer bem ou mal às pessoas à nossa volta e que, por isso, é muito importante termos noção das palavras que usamos”, acrescentou, citada pela Lusa.

“Acredito que a ilustração do livro acrescenta uma nova e importante camada à história, explicando que vamos sempre ouvir palavras que não queremos ouvir, “palavras elefante”. Mas que também faz parte da vida saber lidar com esses “elefantes” até porque querer uma vida repleta de “rouxinóis”, não é realista”, acrescenta a compositora e cantora portuguesa.

Árvores e outras histórias

Além de “O Peso das Palavras”, Luísa Sobral lançou, mais recentemente, o seu primeiro romance, desta vez para um público mais adulto, chamado “Nem todas as árvores morrem de pé”.

“Os meus amigos de vez em quando lêem notícias e coisas que acham que podem ser inspiradoras para canções”, então uma amiga enviou a história de “um casal com o apelido Feliz, mas que decidira terminar a vida junto, ou seja, terminar-se”, em Vila Real, onde vivia na altura, disse a cantora em entrevista à agência Lusa.

“Eu achei isso super irónico e poético ao mesmo tempo, então decidi escrever uma canção [‘Maria Feliz’] sobre isso. Só que todos os meus assuntos ficam resolvidos nas canções, mas este não ficou. Foi uma história que parecia que continuava em mim a querer ser mais alguma coisa. Então, decidi começar a escrever um texto que eu achei que ia ser uma peça de teatro, porque eu já ando há um tempo a querer escrever uma peça de teatro, e comecei a escrever, e de repente percebi – eu acho que os personagens aqui têm muita vontade própria – que não queriam ser só canção, depois não queriam ser peça de teatro, quiseram ser romance”, rematou.

A narrativa é construída com base em duas histórias paralelas, uma das quais, acompanha Emmi, nascida antes do início da Segunda Guerra Mundial, com uma adolescência difícil e pobre, que se casa com um homem de Berlim Leste e vai viver para a RDA, até que a construção do muro, a separação da família e uma carta anónima a enterram numa profunda depressão.

A outra, acompanha M., nascida após a divisão das Alemanhas, educada por uma ama, numa família onde imperam os valores do socialismo. M. vive no total desconhecimento do mundo ocidental e ao sabor de uma realidade distorcida, até ouvir um testemunho de uma rapariga, que mudará a sua vida.

Automobilismo | Leong repete troféu Lamborghini com a Theodore

A Lamborghini Super Trofeo Asia arranca este fim de semana na Austrália. A competição monomarca do prestigiado construtor de superdesportivos contará, mais uma vez, com uma representação da RAEM. Charles Leong Hon Chio estará novamente ao serviço da SJM Theodore Racing.

Depois de, na temporada passada, Charles Leong e a SJM Theodore Racing terem lutado pelo título da classe PRO até à derradeira corrida, esta dupla continuará em 2025. No entanto, o vencedor do Grande Prémio de Macau de Fórmula 4 em 2020 e 2021 não voltará a formar equipa com a japonesa Miki Koyama. Ao seu lado, o piloto de Macau terá agora o jovem irlandês Alex Denning, que no ano passado competiu na GT4 European Series e que, este ano, fará a sua estreia nas pistas asiáticas.

Outra novidade está na equipa de assistência da SJM Theodore Racing, que deixa de ser a Iron Lynx – estrutura que, desde 2021, controla a Prema Powerteam através da empresa suíça DC Racing Solutions Ltd. A relação da Iron Lynx com a Lamborghini Squadra Corse, entidade responsável pelo desporto automóvel da marca italiana, deteriorou-se drasticamente no final do ano passado devido a um conflito relacionado com o programa do Campeonato do Mundo FIA de Endurance (WEC). Como consequência, a Iron Lynx abandonou todas as atividades com a marca de Sant’Agata Bolognese a nível global.

Perante este cenário, para garantir a assistência técnica ao seu Lamborghini Huracán Super Trofeo EVO 2, a SJM Theodore Racing contará, nesta temporada, com os serviços da DW Evans GT, a equipa que, no ano passado, venceu o campeonato de equipas e a classe PRO do troféu asiático, com o inglês radicado em Hong Kong e co-proprietário da equipa, Dan Wells.

Não há coincidência com o GP

O Lamborghini Super Trofeo Asia pretende manter o seu ímpeto em 2025, com um calendário composto por seis eventos em seis países diferentes. A temporada arrancará, pela primeira vez, na Austrália, com o histórico Sydney Motorsport Park a receber a primeira jornada dupla. De seguida, a competição ruma a Xangai, na China, para a segunda ronda no fim de semana de 16 a 18 de Junho, marcando o seu regresso ao calendário em 2024 após uma ausência de quatro anos. O Japão será o anfitrião da terceira ronda duas semanas depois, na icónica pista de Fuji, enquanto o Inje Speedium, na Coreia do Sul, entra no calendário no final de Julho.

Depois de ter anteriormente acolhido a ronda de abertura da temporada, Sepang, na Malásia, passa para setembro em 2025, ocupando a quinta ronda do calendário. A sexta e última prova terá lugar no circuito de Misano, em Itália, em conjunto com as Finais Mundiais da Lamborghini. Pela primeira vez em vários anos, o evento não coincidirá com o Grande Prémio de Macau, disputando-se no fim de semana anterior.

Ausência de vulto

Vencedor da classe PRO-AM em 2024, ao lado do chinês Jason Fangping Chen, André Couto não estará presente na edição deste ano do Lamborghini Super Trofeo Asia. A Madness Racing Team, pela qual o piloto português do território competiu na época passada, abandonou o troféu e ainda não definiu o seu projecto desportivo para 2025. Para esta primeira prova do campeonato, na Austrália, estão vinte e três carros que serão conduzidos por trinta e nove pilotos.

Hong Kong | Substituído chefe da polícia Raymond Siu Chak-yee

O Governo de Hong Kong anunciou ontem a substituição do chefe da polícia, Raymond Siu Chak-yee. O Chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee Ka-chiu, disse, em comunicado, que Raymond Siu “entrou hoje em licença de pré-reforma, depois de servir o Corpo de Polícia de Hong Kong durante 36 anos”.

O comissário “demonstrou uma dedicação e determinação inabaláveis para proteger Hong Kong e defender o Estado de Direito ao lidar com a agitação social”, disse John Lee, numa referência às enormes manifestações antigovernamentais, por vezes violentas, de 2019.

O anúncio surge dois dias depois dos Estados Unidos terem imposto sanções ao chefe da polícia e a cinco dirigentes públicos de Hong Kong, incluindo o secretário para a Justiça, Paul Lam Ting-Kwok, ao abrigo de uma lei norte-americana que defende a democracia na região chinesa.

Na terça-feira, Hong Kong condenou a imposição de sanções e acusou Washington de tentar “intimidar os dirigentes encarregados de protegerem a segurança nacional” da China. “Isto expôs claramente a barbárie dos EUA (…) exactamente a mesma que as recentes táticas de intimidação e coação de vários países e regiões”, disse o Governo da região administrativa especial chinesa.

As autoridades de Hong Kong indicaram ainda que o Governo Central chinês aprovou a nomeação de Joe Chow Yat-ming, até agora comissário adjunto, para liderar a polícia do território. John Lee salientou que Joe Chow, de 52 anos, tem “uma vasta experiência em investigação criminal, recolha de informações, formulação de políticas, bem como gestão de pessoal”.

De acordo com a imprensa de Hong Kong, ontem, na primeira conferência como novo comissário, Chow apontou a segurança nacional como a prioridade, face ao que chamou de “correntes ocultas” de resistência ao actual regime.

O dirigente criticou as sanções contra Raymond Siu como um acto de intimidação e defendeu serem um reflexo do êxito dos esforços da polícia de Hong Kong para capturar fugitivos à justiça.

Banguecoque | China insta empresas a respeitarem leis após queda de torre

A embaixada da China na Tailândia apelou às empresas chinesas no país para que “respeitem as leis locais”, após ter sido lançada uma investigação sobre o colapso de um bloco de apartamentos em Banguecoque, que matou cerca de 10 pessoas.

Pequim “insta constantemente as empresas chinesas no estrangeiro a respeitarem as leis locais e a contribuírem positivamente para a sociedade”, afirmou ontem a chancelaria na sua página no Facebook.

A construção da torre, situada perto do popular mercado de Chatuchak, no norte de Banguecoque, envolveu uma filial da empresa estatal chinesa China Railway Group (CREC) e o seu parceiro local Italian-Thai Development (ITD).

Os tremores reduziram a estrutura a uma pilha de escombros numa questão de segundos, provocando a morte de cerca de dez pessoas, com esperanças cada vez menores para as mais de 70 pessoas que se presume estarem ainda encurraladas nos escombros.

A maioria das vítimas eram trabalhadores de nacionalidade birmanesa, laociana, cambojana e tailandesa. O edifício de 30 andares visava albergar gabinetes governamentais.

“Temos de determinar onde ocorreu o erro”, afirmou a primeira-ministra tailandesa, Paetongtarn Shinawatra, que na segunda-feira ordenou uma investigação sobre os materiais e as normas de segurança no local por um grupo de peritos que lhe deverá apresentar um relatório esta semana.

Pequim enviou uma equipa para Banguecoque, incluindo equipas de salvamento, e prometeu “continuar a apoiar a Tailândia, se necessário”. A China é a maior fonte de investimento directo estrangeiro da Tailândia, com 2 mil milhões de dólares injectados no reino até 2024, de acordo com o fornecedor de dados Open Development Thailand.

Paetongtarn Shinawatra anunciou na terça-feira que a investigação não será “específica a um país”. “Não queremos que nenhum país em particular pense que estamos apenas a olhar para eles”, afirmou.

Taiwan | Pequim condena críticas às manobras em redor da ilha

O Governo chinês criticou ontem “uma minoria de países” de interferência nos assuntos internos da China, depois de algumas nações terem condenado as manobras do Exército chinês em torno de Taiwan. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Guo Jiakun disse, em conferência de imprensa, que “a questão de Taiwan é um assunto puramente interno da China e não admite interferência estrangeira”. Guo afirmou que “o que mina a paz e a estabilidade no estreito de Taiwan são as actividades ‘separatistas’ a favor da independência de Taiwan e a conivência e apoio de forças externas”.

“Se querem realmente a paz e a estabilidade no estreito de Taiwan, têm de seguir a tendência geral da comunidade internacional”, acrescentou o porta-voz, apelando ao “respeito pela soberania e integridade territorial da China”.

Guo disse que “defender a independência de Taiwan é dividir o país, apoiá-la é interferir nos assuntos internos da China e aprová-la é minar a estabilidade no estreito de Taiwan” e salientou que as manobras das forças chinesas constituem “uma acção disciplinar resoluta contra as provocações” da administração liderada pelo líder de Taiwan, William Lai, pelas “tentativas desenfreadas de independência”.

“Enquanto as provocações a favor da independência de Taiwan continuarem, o castigo contra os ‘independentistas’ não cessará”, advertiu o porta-voz, afirmando que Pequim “nunca permitirá que alguém ou qualquer força separe Taiwan da China por qualquer meio”.

Na terça-feira, Washington condenou as manobras chinesas em torno de Taiwan e garantiu que o Presidente norte-americano, Donald Trump, insiste na importância de “manter a paz” no estreito. Por seu lado, o Serviço de Acção Externa da União Europeia lamentou que as manobras chinesas “aumentem as tensões no estreito de Taiwan”.

Com continuação

O Exército chinês anunciou ontem de manhã a realização de novos exercícios militares no centro e no sul do estreito de Taiwan para “testar as capacidades das tropas”, na sequência das manobras de terça-feira.

Os exercícios, designados “Straits Thunder-2025A”, centraram-se em tarefas de “identificação e verificação”, “aviso e expulsão” e “intercepção e detenção” para “testar as capacidades das tropas” em domínios como “controlo aéreo, bloqueio e ataques de precisão contra alvos-chave”.

Especialistas citados na imprensa oficial chinesa afirmaram que os exercícios mostram que os militares chineses têm “amplas opções de dissuasão” e que Pequim optou por “apertar o cerco às forças secessionistas” com “medidas mais duras e acções enérgicas”.

Os exercícios estão a decorrer semanas depois de William Lai, considerado “pró-independência e desordeiro” pelas autoridades chinesas, ter apelidado a China de “força externa hostil” e anunciado iniciativas para travar as operações “de infiltração” de Pequim na ilha.

Myanmar | Sismo faz mais de 2.700 mortos e milhares de feridos

O número de mortos do terramoto de magnitude 7,7 que atingiu Myanmar ultrapassou os 2.700, com milhares de feridos, mas foi encontrada ontem uma sobrevivente, anunciaram as autoridades do país do Sudeste Asiático.

O chefe da Junta Militar, general Min Aung Hlaing, disse num fórum na capital, Naypyidaw, que 2.719 pessoas foram encontradas mortas, com 4.521 feridos e 441 desaparecidos, segundo a agência de notícias norte-americana Associated Press (AP).

Mas as equipas de salvamento continuam a encontrar sobreviventes e retiraram ontem com vida uma mulher de 63 anos dos escombros de um edifício em Naypyidaw. Os bombeiros de Naypyidaw informaram que a mulher foi retirada dos escombros 91 horas depois de ter ficado soterrada quando o edifício ruiu na sequência do sismo de sexta-feira, noticiou a AP.

Outros balanços

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 10.000 edifícios desabaram ou ficaram gravemente danificados no centro e noroeste de Myanmar.

O terramoto também abalou a vizinha Tailândia e provocou a queda de um edifício em construção, soterrando muitos trabalhadores. Dois corpos foram retirados dos escombros na segunda-feira e outro foi recuperado ontem, mas dezenas de pessoas continuavam desaparecidas.

O balanço em Banguecoque era ontem de 21 mortos e 34 feridos, principalmente no local da construção. “Até ao momento, conseguimos mobilizar o pessoal e o material que temos no país”, disse o coordenador humanitário da ONU na antiga Birmânia, Marcoluigi Corsi, numa teleconferência a partir de Rangum.

Corsi disse, no entanto, que o material provém dos recursos que a ONU tinha planeado utilizar para as vítimas do conflito armado. “Temos de pensar em reabastecer estes fornecimentos”, afirmou, citado pela agência de notícias espanhola EFE.

As autoridades de Myanmar afirmaram que mais de 8,5 milhões de pessoas foram directamente afectadas pelo sismo que atingiu a região centro-norte do país na sexta-feira.

Academia Internacional de Hong Kong contra a Corrupção (I)

A 21 de Fevereiro de 2024, foi criada a “Hong Kong International Academy Against Corruption” (a HKIAAC) (Academia Internacional de Hong Kong Contra a Corrupção). Hu Yingming, director da Hong Kong’s Independent Commission Against Corruption (HKICAC) (Comissão Independente de Hong Kong Contra a Corrupção) assinalou numa entrevista que a HKICAC e a HKIAAC são instituições que podem fornecer bons relatos da China e de Hong Kong.

O HKICAC é um departamento do Governo de Hong Kong que combate a corrupção através das forças da lei e de estratégias preventivas e pedagógicas, tornando Hong Kong num dos locais mais livres de corrupção de todo o mundo. A HKICAC tem quatro departamentos, um dos quais é o “International Cooperation and Institutional Affairs Department” (Departamento Internacional dos Assuntos Institucionais e de Cooperação). A HKIAAC é afiliada ao Departamento Internacional dos Assuntos Institucionais e de Cooperação.

Porque é que Kong criou a HKICAC? O website da Academia explica o motivo:

“A corrupção era galopante no sector público. As equipas das ambulâncias exigiam gorjetas antes de ir buscar um doente. Até mesmo o pessoal auxiliar do hospital pedia gorjetas antes de dar aos pacientes alguma comida ou um copo de água. Era também necessário oferecer subornos aos funcionários certos quando alguém se candidatava a habitação, educação e outros serviços públicos. A corrupção era particularmente grave nas forças policiais. ”

O website também salienta que o que desencadeou a criação da HKICAC foi o incidente com Peter Godber:

“Em 1973, descobriu-se que Peter Godber, Superintendente da Polícia de Hong Kong, possuía uma fortuna superior a 4,3 milhões de dólares de Hong Kong, que se suspeitava ter sido obtida através de subornos. O secretário da Justiça pediu a Godber que provasse a origem da sua fortuna no prazo de uma semana. No entanto, durante esse período, Godber fugiu sem dificuldade de Hong Kong para o Reino Unido. A fuga de Godber fez explodir a indignação que já há muito o público vinha a acumular.”

Nessa altura, as exigências para “combater a corrupção e apanhar Godber” ouviam-se por toda a parte. A HKICAC foi criada a 15 de Fevereiro de 1974. Cumpriu a sua missão e conseguiu que Peter Godber comparecesse perante a justiça.

Há muitos filmes de Hong Kong que são baseados neste caso e que também mostram os pacientes a darem gorjetas aos auxiliares hospitalares a fim de poderem ter um pouco de água fervida ou uma arrastadeira. Embora os conteúdos dos filmes sejam exagerados e destinados ao entretenimento, revelam a dimensão da corrupção na sociedade de Hong Kong naquela época.

Após o incidente de Peter Godber, a HKICAC investigou muitos casos empresariais famosos, como: a fraude comercial do Carrian Group, o caso de suborno do alto funcionário do Departamento de Justiça Warwick Reid, o caso do oficial de polícia sénior Xian Jinhua, o caso do artista Nicholas Tse, o caso de suborno do famoso professor de língua chinesa Xiao Yuan, etc. Entre os sujeitos investigados podemos encontrar funcionários governamentais de topo, celebridades, executivos séniores de grupos empresariais, artistas, professores, etc. Ao resolver estes casos, a HKICAC ganhou o reconhecimento e os elogios da sociedade e conseguiu tornar Hong Kong num dos locais mais livres de corrupção de todo o mundo.

A Lei Básica de Hong Kong comtempla a manutenção da HKICAC. O artigo 57.º estipula que o HKICAC opera de forma independente e é directamente responsável perante o Chefe do Executivo, ou seja, reporta a John Lee, Chefe do Governo da região. O artigo 101.º da Lei Básica de Hong Kong estipula que o Chefe da Comissão Independente contra a Corrupção deve ser um cidadão chinês residente permanente em Hong Kong e não pode ter residência em nenhum país estrangeiro.

Na próxima semana, analisaremos a Comissão Independente de Macau contra a Corrupção.

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Faculdade de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau
Email: cbchan@mpu.edu.mo

Concerto com Jean-Yves Thibaudet dia 19 no CCM

O pianista francês Jean-Yves Thibaudet actua em Macau no próximo dia 19 de Abril, sábado, ao lado da Orquestra de Macau, no grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM). O espectáculo intitula-se “A Sagração da Primavera”, sendo interpretadas composições como “Concerto para Piano nº 5 – O Egípcio”, de Camille Saint-Saëns.

O programa inclui também a obra “A Sagração da Primavera”, de Igor Stravinsky, considerada uma das obras mais marcantes do início do século XX e reconhecida pela sua grandiosa orquestração e estilo inovador, descreve o Instituto Cultural (IC) numa nota. Apresenta-se ainda “O Grande Bazar”, de Fazıl Say.

“Reconhecida pela sua instrumentação complexa e ritmos imprevisíveis, ‘A Sagração da Primavera’ exige aos músicos uma grande coordenação e mestria técnica. Esta obra inovadora rompeu com as convenções da música clássica e tornou-se uma referência para a música vanguardista e cinematográfica das gerações futuras”, lê-se ainda.

A Orquestra de Macau irá ter em palco uma formação superior a cem músicos, “proporcionando ao público uma experiência intensa e arrebatadora”, é descrito.

O melhor dos melhores

Jean-Yves Thibaudet é amplamente reconhecido como “um dos melhores pianistas do mundo”, gozando de grande prestígio no panorama da música clássica. Com uma vasta discografia, participou em mais de 70 gravações e bandas sonoras de seis filmes.

Foi nomeado duas vezes para os Prémios Grammy e recebeu diversos galardões, incluindo o Prémio da Crítica Discográfica Alemã, o Diapasão de Ouro (França), o Grande Prémio da Música Clássica (França), o Prémio Edison (Amesterdão), o Prémio Gramophone (Reino Unido) e o Prémio Echo Klassik (Alemanha). Destacou–se ainda como solista de piano na banda sonora do filme vencedor de Óscar “Orgulho e Preconceito”.

Este espectáculo integra-se na temporada de concertos da Orquestra de Macau para os anos de 2024 e 2025. Os bilhetes já estão à venda e os preços variam entre 150 e 300 patacas.

FRC | Debate sobre dados e cidades sustentáveis hoje ao fim da tarde

“O Poder dos Dados: Construir Cidades Inteligentes e Sustentáveis” é o nome da palestra que acontece hoje, a partir das 18h30, na Fundação Rui Cunha. A conversa decorre com dois académicos e analistas, Miguel de Castro Neto, director da Escola de Gestão e Informação da Universidade Nova de Lisboa, e André Barriguinha, director-executivo do Nova Cidade Urban Analytics Lab, ligado à mesma instituição de ensino

 

A Fundação Rui Cunha (FRC) apresenta hoje, a partir das 18h30, uma sessão de debate sobre cidades mais sustentáveis e dados, integrada no ciclo “Roda de Ideias”. A conversa intitula-se “The Power of Data: Building Smart and Sustainable Cities” [O Poder dos Dados: Construir Cidades Inteligentes e Sustentáveis” e é protagonizada por Miguel de Castro Neto, director da NOVA Information Management School (NOVA IMS) [Escola de Gestão e Informação] da Universidade Nova de Lisboa, e André Barriguinha, director-executivo do Nova Cidade Urban Analytics Lab, também ligado à Universidade Nova de Lisboa.

A moderação ficará a cargo de José C. Alves, reitor da Faculdade de Gestão da Universidade da Cidade de Macau, co-organizadora do evento.

Segundo uma nota de imprensa da FRC, os oradores “pretendem trazer ao território uma reflexão sobre o futuro das cidades inteligentes e sustentáveis”, destacando-se “a importância da análise tecnológica de dados” que pode “contribuir, não só para o progresso ambiental, mas também para a inclusão social, a resiliência económica e a confiança dos cidadãos” na estrutura e organização das sociedades.

A ideia é partilhar o modelo seguido na Universidade Nova de Lisboa quanto ao “tratamento e aplicação de dados informáticos com um propósito definido”. “Mais do que analisar números, criamos valor, transformando os dados em conhecimento prático, o que impulsiona uma melhor governação, a tomada de decisões informadas e a inovação pública”, referem os oradores, citados pela mesma nota.

Os académicos dizem acreditar que “desde melhorar a forma como as pessoas se movimentam, vivem, trabalham e se envolvem, os dados são um factor essencial para sociedades mais transparentes e impactantes”.

Que desafios?

Para os analistas da Universidade Nova de Lisboa, o desafio actual neste campo obriga a “repensar o papel dos dados na construção de um mundo mais inteligente, ético e sustentável”, pois “desde os avanços impulsionados pela Inteligência Artificial na área da saúde, até ao poder dos dados na tomada de decisões a nível global, como as alterações climáticas e a resiliência económica, o foco está nas escolhas que são feitas hoje e no seu impacto para o futuro”.

Miguel de Castro Neto é, além de director da referida Escola, professor associado da mesma instituição de ensino. Criou e lidera o NOVA Cidade – Urban Analytics Lab, dedicado às cidades inteligentes e analítica urbana. Além disso, dirige o mestrado em Gestão de Informação e as Pós-Graduações em Smart Cities e Busines Analytics for Hospitality and Tourism.

Foi Secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza nos XIX e XX Governos portugueses e considerado “Personalidade Smart Cities do Ano 2017” (Green Business Week/Fundação AIP).

Por sua vez, André Barriguinha é doutorado em Gestão de Informação – Geoinformática, mestre em Ciência e Sistemas de Informação Geográfica e licenciado em Engenharia Agrícola. É também docente na NOVA IMS da Universidade Nova de Lisboa e investigador integrado no Information Management Research Center (MagIC) e Director Executivo do NOVA Cidade – Urban Analytics Lab, onde desenvolve trabalho em sistemas de informação geográfica, gestão de informação, inteligência artificial geoespacial e analítica urbana e territorial.

Taiwan | Pequim considera manobras em redor da ilha “necessárias e legítimas”

O Governo chinês afirmou ontem que as manobras do Exército chinês em torno de Taiwan “são legítimas e necessárias para defender e manter a soberania e a unidade nacional”.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Guo Jiakun disse em conferência de imprensa que os exercícios militares “constituem um aviso sério e um poderoso dissuasor para as forças separatistas”.

“Taiwan é uma parte inalienável do território chinês” e as questões relacionadas com a ilha “são um assunto puramente interno da China que não admite qualquer interferência externa”, disse.

“As autoridades do Partido Democrático Progressista (DPP) insistem teimosamente na sua posição pró-independência”, acrescentou o porta-voz, avisando que “estão condenadas ao fracasso”. Guo declarou que “a tendência histórica da ‘reunificação’ da China é imparável”.

A China anunciou ontem o início de novos exercícios militares em torno de Taiwan com unidades do exército, marinha, força aérea e força de foguetões para “se aproximarem da ilha a partir de várias direcções” e “emitirem um aviso sério às forças separatistas que procuram a independência”.

O líder de Taiwan, William Lai, proferiu recentemente um dos seus mais duros discursos contra a China. Pela primeira vez, classificou a China como uma “força externa hostil”, o que foi interpretado por alguns analistas como uma mudança nas políticas defendidas pelo seu antecessor e uma tentativa de alterar o estatuto de Taiwan.

China quer contribuir para o fim da guerra na Ucrânia

A China está disposta a desempenhar um “papel construtivo” para pôr fim ao conflito na Ucrânia, apoiando Moscovo na defesa dos seus interesses, afirmou ontem o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi.

Durante uma reunião com o homólogo russo em Moscovo, Serguei Lavrov, Wang afirmou que a China país irá trabalhar com a Rússia para contribuir para a paz. A cooperação com Moscovo será “certamente renovada com uma nova vitalidade e entrará numa nova fase”, afirmou Wang, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).

Lavrov congratulou-se por as relações entre os dois países terem atingido “um novo nível” e afirmou que continuarão a desenvolver-se “em todas as frentes”.

“Vemos também a responsabilidade de Moscovo e Pequim em manter uma estreita coordenação na arena internacional”, afirmou Lavrov, citado pela agência espanhola EFE. “Os países da maioria mundial vêem nisto, seguramente, o mais importante factor de estabilização nestes momentos difíceis do desenvolvimento da política mundial”, acrescentou.

Lavrov disse que iria discutir com Wang os preparativos para o encontro entre os Presidentes russo, Vladimir Putin, e chinês, Xi Jinping, em Moscovo, por ocasião do 80.º aniversário da vitória do Exército Vermelho sobre a Alemanha nazi, em 09 de Maio.

“Os encontros entre Putin e Xi dão sempre um impulso importante ao desenvolvimento das relações bilaterais”, afirmou Lavrov.

Outros passos

O ministro chinês disse que Pequim está disposta a trabalhar com Moscovo “para contribuir para um mundo multipolar e para a democratização das relações internacionais”. Wang Yi efectua uma visita a Moscovo esta semana para conversações não só com Lavrov, mas também com Putin.

“Trabalharemos em conjunto para contribuir ainda mais para a causa da paz e do desenvolvimento humano”, afirmou Wang durante a reunião com Lavrov. O Presidente norte-americano, Donald Trump, tem apelado a um rápido fim da guerra na Ucrânia, mas a sua administração não conseguiu alcançar um avanço decisivo apesar das negociações com Kiev e Moscovo.

Pequim declarou que Wang manterá “conversações aprofundadas sobre a próxima fase do desenvolvimento das relações sino-russas e sobre questões internacionais e regionais de interesse comum” durante a visita.

HK / EUA | Condenadas sanções contra chefe da polícia

O executivo de John Lee acusa Washington de tentar coagir países e regiões e de assumir um “comportamento desprezível”

 

Hong Kong condenou ontem “de forma veemente” os Estados Unidos por terem imposto sanções ao chefe da polícia e a cinco dirigentes públicos do território. Num comunicado, o Governo da região semiautónoma chinesa acusou Washington de tentar “intimidar os dirigentes encarregados de protegerem a segurança nacional” da China.

As sanções, impostas na segunda-feira, ao abrigo de uma lei norte-americana que defende a democracia na região administrativa especial chinesa, visam o comissário da polícia, Raymond Siu Chak-yee, e o secretário para a Justiça de Hong Kong, Paul Lam Ting-Kwok.

“Isto expôs claramente a barbárie dos EUA sob a sua hegemonia, que é exactamente a mesma que as suas recentes tácticas de intimidação e coação de vários países e regiões”, disse o Governo da região chinesa.

O Chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee Ka-chiu, encontrava-se já sujeito a sanções dos EUA, mas as autoridades da cidade garantiram que “não se deixam intimidar por este comportamento desprezível”.

As sanções “demonstram o empenho da administração Trump em responsabilizar aqueles que privam os residentes de Hong Kong dos direitos e liberdades protegidos ou que cometem actos de repressão transnacional em solo americano ou contra pessoas americanas”, afirmou o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, em comunicado.

Segurança em causa

O Governo de Hong Kong descreveu as pessoas mencionadas pelos Estados Unidos como fugitivos com mandados de captura, mas “não porque exerceram a sua liberdade de expressão”.

Eles “continuam a envolver-se descaradamente em actividades que colocam em risco a segurança nacional, incluindo incitar a secessão e solicitar que países estrangeiros imponham ‘sanções’ ou bloqueios e se envolvam em outras actividades hostis” contra a China e Hong Kong, referiu o comunicado.

“Os EUA difamaram e espalharam deliberadamente comentários irresponsáveis ​​sobre as medidas e acções tomadas pelo Governo (…), numa tentativa de enganar o público”, lamentaram as autoridades de Hong Kong. As sanções norte-americanas têm por efeito o congelamento dos bens de todos estes indivíduos nos Estados Unidos e a proibição de quaisquer transações financeiras com os visados.

“Os EUA têm ignorado o princípio da não interferência ao abrigo do direito internacional, interferindo nos assuntos internos de outros países, aliciando agentes, instigando ‘revoluções coloridas'”, disse o Governo de Hong Kong.

Uma Perspectiva Filosófica sobre A Nova Rota Marítima da Seda e o princípio da Conectividade

* Investigadora Auxiliar e Coordenadora do Centro Científico e Cultural de Macau

I

As Antigas Rotas da Seda

Duas rotas ligaram a dinastia Han ao Ocidente a partir do século II a.C. a Rota do Sul e a do Norte, ambas se estendiam de Chang´ an/Xi´na até ao Ocidente, a do Norte através da Ásia central, do Mar Cáspio e do Mar Negro, a do Sul conduzia ao mediterrâneo, a Génova e Veneza, via Irão e Iraque. Historicamente, a antiga Rota da Seda dividiu-se em quatro períodos:

Do século II a.C ao século VI, tendo como pontos altos a difusão do Budismo e emergência do Islamismo;

2) Do início do século VII a finais do século X, sendo o ponto alto a difusão da porcelana;

3) do século XI a Século XV, com o apogeu da difusão das religiões islâmica e hindu e do comércio tributário na Ásia Oriental, as relíquias dos naufrágios e as 7 viagens do almirante Zheng He (鄭和), entre 1405-1431, bem como o surgimento de comunidades multiculturais como as de Guangzhou, Malaca (Malásia) e Galle (Sri Lanka);

4) Meados do séc. XV ao XIX, com ênfase para a troca de mercadorias porcelanas, pimentas e especiarias, globalização das rotas e difusão do Catolicismo, e a predominância de outras rotas, como as abertas pelos portugueses no Atlântico até ao Pacífico, passando pelo Índico, sobretudo a Rota do Cabo. Esta rota iniciada nos séculos XV e XVI em Lisboa atingiu a Índia, a China e o Japão, particularmente Nagasáqui, e mais além, Timor, num projeto que começa a ser delineado por D. joão II em 1487, sendo concretizado por D. Manuel 1, com a frota comandada por Vasco da Gama que nos conduziria à Índia, próximo de Calecute a 17 de maio de 1498. Mas haveríamos de chegar mais longe, a Macau, onde nos estabelecemos entre 1555 e 1557, havendo estudiosos, como Eduardo Kol de Carvalho, que defendem a interessante tese de tal ter sucedido para assegurar a Rota do Japão, aberta a partir de 1543 e garantida pela Nau do Trato, que fazia a ligação entre a Índia e o Japão, tendo elegido Macau para entreposto comercial necessário à nova rota marítima da seda portuguesa “Deste comércio nasce o território de Macau em 1557, a base que os portugueses fundam na costa chinesa para apoiarem o trato” (Carvalho, 2018, 77).

Por estes canais das antigas rotas da seda chinesa, a seda, a laca, a porcelana e o chá chegavam à Europa, sendo transmitidos para a China o vidro, as gemas ou pedras preciosas, certos frutos e frutos secos, especialmente uvas, goiabas, pepinos, bem como outros produtos hortícolas, por exemplo, o alho e as cenouras. Além das trocas agrícolas, também as invenções tecnológicas chinesas, como a pólvora, o fabrico do papel, a impressão e a bússola, ou a circulação de ideias e, sobretudo, das que compunham filosofias religiosas. Depois, com rota marítima da seda portuguesa, entre os séculos XV e XVI o comércio globalizou-se inteiramente, tudo se trocava e negociava, se transmitia e influenciava.

II

A Nova Rota da Seda, incluindo as marítimas do século XXI

Se o termo “rota da seda” remonta aos antigos geógrafos gregos e, em especial, a Marinus, já “rota marítima da seda”, é do século XX, uma nomenclatura surgida numa aliança entre o sinólogo francês Édouard Chavannes (1865-1918) e os japoneses com os seus estudos do comércio de porcelana marítima na década de 60 do século XX.

Os chineses começam a mencionar a “rota da seda do mar” em 1974, primeiro com o estudioso Jao Tsung-I (饒宗頤, 1917-2018), depois explicitamente com Chen Yan ( 陳炎) “Rota Marítima da Seda” (丝绸之路) a partir de 1980.

A versão “renovada” que nasceu em 2013, anunciada no Cazaquistão, enquanto Faixa e Rota (一带一路) por iniciativa do atual presidente chinês, Xi Jinping (习近平), assentando no princípio da conectividade, tem como objetivo conectar a Ásia, Europa e África através de rotas terrestres e marítimas.

Os seis corredores terrestres bem e resumidamente sistematizados pela Professora Fernanda Ilhéu em “A Última Rota da Seda que a História Conheceu e a Nova Rota da Seda que a História vai Conhecer” (Ilhéu, 2018: 145) são:

China-Mongólia-Rússia;

2) China-Paquistão;

3) China-Bangladesh-Índia- Myanmar;

4) China- Península da Indochina;

5) Nova Ponte Terrestre Euroasiática;

6) China-Ásia Central-Ásia Ocidental.

Convergem todas as faixas para a Europa, Duisburg, na Alemanha, incluindo a marítima, de grande importância para a China, já que 90% do comércio chinês é realizado por esta via. Naturalmente que a China pretende garantir as suas fontes de fornecimento energéticas, quer de petróleo, quer de gás natural, para as quais contribui um hub de alguns países da Ásia Central, como sejam o Turquemenistão, o Cazaquistão, o Uzbequistão e a Rússia, “sendo a China desde 2014 o maior importador mundial de petróleo” (Ibidem).

Ainda segundo dados fornecidos por Fernanda ilhéu, desde que a China aderiu à Organização Mundial do Comércio em 2001, foi preparando o seu caminho de modo a tornar-se uma economia cada vez mais internacional, atingindo em 2010 o estatuto de segunda economia mundial (Ilhéu, 2018, 147). O país para manter este estatuto, ou quem sabe até superá-lo, precisa de continuar com o seu plano das 4 ou 5 modernizações, mantendo a ligação ao exterior para esse efeito, ou seja, a política de going out tem de continuar. Transita assim de uma primeira fase de globalização, a das exportações ativas diretas e do investimento direto estrangeiro no exterior (IDEE), para uma segunda fase de globalização, como salienta Ilhéu (2018, 149) na forma de fusões e aquisições na Ásia, na Europa e em África, bem como nas Américas ou Oceânia.

Surge então uma Nova Rota Marítima da Seda que se estende de Chongqing até Fuzhou no Sul da China, passa por Malaca na Malásia, segue para Mombaça no Quénia (ramificação para Cabo Verde e Santos no Brasil), dirige-se para a base militar africana chinesa em Djibouti, daí para o porto de Pireu na Grécia (Ramificações para Madrid e Sines e Brasil), para Veneza em Itália e Roterdão na Holanda (ramificações para o Panamá e países da América do Sul).

Locais relacionados com a Rota Marítima da Seda dentro da China são as regiões costeiras de Hebei, Jiangsu, Xangai, Zhejiang, Fujian, Guangdong, Guangxi, Hainan e região Administrativa Especial de Macau, bem como os Mares Huang-Bohai, Bacia do Rio Changjiang, Mar da China Oriental e Estreito de Taiwan, mar da China Meridional, Arquipélago do Japão, península da Coreia, sendo esta a placa da Ásia Oriental.

Entretanto, começa a desenhar-se uma nova Rota da Seda Marítima, a Rota da Seda Polar, que supõe parecerias da China com a Rússia, Noruega e Gronelândia, via Ártico, para facilitar o comércio entre a Ásia, a Europa e a América. A rota do Ártico sai de Xangai passa pelo Alaska atravessa o Polo Norte rumo à Dinamarca até Roterdão, e daí pode seguir por terra, passando por Moscovo até à China, ou utilizando a rota da seda marítima que de Roterdão vai para o Pireu, atravessa o Canal do Suez, Mombaça, Kolkata (Índia), estreito de Malaca, Jakarta até Zhanjiang (China).

A evolução da Nova Rota da Seda na próxima década vai depender do crescimento da economia chinesa, que segundo Thiago Codongo, gerente comercial da China Link, terá de crescer mais de 6% ao ano para sustentar apoios e investimentos, como os que tem realizado em Angola, Venezuela, Paquistão e Mongólia, todos estes países com grandes dívidas para com a China.

Como bem viu o Professor Carlos Gaspar (2020) em O Mundo de Amanhã: Geopolítica Contemporânea, a China realiza através da Iniciativa da Faixa e da Rota (BRI) dos seus vários corredores da seda, terrestres, marítima e polar, uma estratégia de conectividade política, económica, cultural e tecnológica. Aqui se distinguem avanços notáveis nas telecomunicações móveis, como a rede 5G e, também, nas infraestruturas portuárias e ferroviárias. Além do mais, possui o controlo dos principais portos marítimos de Darwin no Pacífico, hambantota no Índico, Pireu no Mediterrâneo, Kirkenes no Ártico, tendo construído no Cazaquistão o porto seco de Khorgos, além do porto seco de Duisburg na Alemanha.

Note-se que estas rotas são essencialmente comerciais e o seu impacto no comércio exterior é imenso, desenvolvendo-se a partir da compra e aquisição de portos. Ainda segundo Thiago Codongo, “Para a China também é muito mais interessante ter o controle marítimo de vários mares, lagos e estreitos que são importantes para as suas mercadorias, tanto para adquirir quanto para poder vender”. Entre estes portos, encontram-se: os já citados porto de Pireu na Grécia (60%); muitos portos africanos entre os quais o maior, o porto de Djibouti, próximo da Etiópia no Nordeste africano, construído pelos chineses, além de portos na Etiópia e no Uganda e, em muitos outros países africanos, entre os quais Guiné, Angola e Moçambique. A China tem fornecido ajuda, em termos de construção de infraestruturas concretas, aos países menos favorecidos, sendo de realçar a edificação de Addis Ababa na Etiópia. Ainda a respeito de portos, destacam-se no Brasil, o porto de Paranaguá (90%), no Estado de Paraná.

Segundo investigação da jornalista Cecília Barría, eram em 2021 cerca de 115 portos em mais de 60 países, além de possuir sete dos dez principais portos do mundo, a saber: 1) Xangai; 2) Ningbo-Zhoushan; 3) Shenzhen; 4) Qingdao; 5) Guangzhou; 6) Tianjin e 7) Hong Kong. De acordo com dados mais recentes fornecidos por Zongyuan Zoe Liu de 26 de agosto de 2024, o país tem 129 projetos de portos, dos quais 115 estarão ativos, entre estes haverá portos em que terá maior ou menor participação, ou até 17 com posse total ou maioritária dos mesmos, os 14 remanescentes terão sido suspensos ou cancelados, como por exemplo o do porto khalifa nos Emirados Árabes.

Ainda de acordo com os dados apresentados por Zongyuan Zoe Liu, o país está a investir em portos com altos índices de conectividade de transporte regular, indicados entre parêntesis: Coreia do Sul (640); Singapura (586); Estados Unidos (504); Malásia (486); Japão (423); Vietname (403); Reino Unido (381); Países Baixos (380); Hong Kong (376); Bélgica (343); Índia (342); Taiwan (340); Alemanha (305), Emirados Árabes (296); Itália (286); Turquia (283); Tailândia (267); França (263); Marrocos (263) (https://www.cfr.org/tracker/china-overseas-ports)

Paira o receio de que a estratégia chinesa de aquisição de portos seja dupla, militar e comercial, e que em caso de conflito generalizado as empresas portuárias possam ser utilizadas pelo governo chinês e, sobretudo, pelos navios de marinha de guerra do Exército de Libertação Popular. E citam-se exemplos: porto de Singapura, de Dar es Salaam na Tanzânia, do Pireu na Grécia, de Haifa em Israel, de Veracruz no México, ou de Balboa no Panamá, estes últimos perto de importantes bases navais. Recorde-se que relativamente, por exemplo, ao Canal do Panamá, o país marcou presença em dois portos, o de Colón e o de Balboa. Um outro porto altamente estratégico para a China é o Freeport nas Bahamas, Caraíbe.

Há, ainda, uma outra questão relevante, as dívidas financeiras de certos países de economia fragilizada para com a China, alguns exemplos a ter em conta são: o Sri Lanka que arrendou o seu porto por 99 anos como modo compensatório da sua dívida, bem os já mencionados países muito endividados: Angola, Mongólia, Paquistão e Venezuela.

Entre portos importantes na América do Sul, destacam-se um no Peru, perto de Lima, o terminal portuário multipropósito de Chancay, 100% privado e detido pela Cosco Shipping (China Ocean Shipping Company).Há também a referir o Porto multipropósito de Rio Grande na Argentina.

A propriedade chinesa no setor portuário encontra-se sobretudo nas seguintes empresas: 1) Cosco, estatal; China Merchants, estatal e 3) Hutchinson Ports, privada. Na estratégia de controlo de portos estão envolvidas empresas como a Cosco (portos de Pireu e Hamburgo) e o Shanghai International Port Group (porto israelita de Haifa). Em Portugal operam a Cosco, através da Agência Marítima Euronave do Porto, situada em Matosinhos e há, ainda, investimentos relativos ao porto de Sines, tais como a fábrica de baterias para carros elétricos Calb, bem como interesse manifestado na expansão deste porto.

Do memorando de entendimento bilateral celebrado entre a China e Portugal em 2018, constam 17 acordos, dos quais o primeiro é relativo à chamada Nova Rota da Seda, nas suas vertentes terrestre e marítima, enfatizando nesta cooperação bilateral a “conectividade” e a “mobilidade elétrica” 1.

De acordo com Yuan Peng, Vice-Presidente do Instituto de Relações Internacionais Contemporâneas a nova ordem mundial, segundo a visão chinesa do mundo, caracteriza-se por uma estrutura de círculos concêntricos, pertencendo à China três anéis: o anel interior dos 14 países com fronteira com a China; o anel intermédio de países marítimos vizinhos, as áreas do Pacífico Oriental, Oceano Índico e Médio Oriente, incluindo Ásia Central e Rússia, e o anel exterior ao qual pertencem a África, a Europa, América e os dois polos.

A grande questão é a de se saber se o domínio dos mares equivale ao do mundo, o que na era espacial não parecer ser o caso, muito embora a China tenha vindo a rivalizar com os Estados Unidos também neste domínio, e não apenas na qualidade da segunda maior potência económica, as ambições são igualmente políticas desejando oferecer uma contrapartida a uma ordem unipolar longamente dominada pelos EUA. Nos dias de hoje e, sobretudo, no nundo de amanhã, como enfatiza o Professor Carlos Gaspar, as ambições políticas quer da Rússia quer da China favorecem um quadro geoestratégico multipolar, no mínimo bi ou tripolar, com três grandes potências em lugar de destaque: Os Estados Unidos, a Rússia e a China. Se estas duas últimas potências entrassem em ligação duradoira, o que não parece ser o caso, haveria uma alternativa ao poder americano pelo eixo euroasiático. No entanto, a China necessita de consolidar a sua posição como principal potência asiática, ligando a Ásia Oriental à Ásia do Sul, sendo atualmente o principal parceiro económico de países asiáticos tão importantes como a Coreia do Sul, as Filipinas e a Tailândia, entre outros.

Que a China deseja oferecer-se como uma alternativa pacífica ao poder hegemónico dos Estados Unidos, parece não restarem dúvidas, até pelo insistente cultivo de uma política de neutralidade no país liderado pelo presidente Xi Jinping.

Há ainda um outro aspeto importante a salientar: a Iniciativa da Faixa e da Rota (BRI) com as suas ligações marítimas e terrestres, surge na sequência de um movimento interno da China em relação com o seu desenvolvimento e reação a “um século de humilhações”, o XIX das duas Guerras do Ópio.

Quando a meio do século XX, em 1949, o PCC tomou o poder na China iniciou o primeiro ciclo de poder da “nova era”, como bem notou o Professor Carlos Gaspar2, o Maoísmo de Mao Zedong, que teve em vista a unificação do estado chinês, ao qual se seguiu o segundo ciclo de florescimento económico do país levado a cabo por Deng Xiaoping, culminando nas celebração dos 100 anos do PCC em 2021, ao que se seguiu o terceiro ciclo, após 2013, com a ascensão do presidente Xi Jinping, que procura concretizar cabalmente o objetivo de erguer a China à categoria de Grande Potência, ciclo este possivelmente muito desenvolvido ou até concluído em 2049 para celebração dos 100 anos da chegada do PCC ao poder.(Gaspar, 2020, 44), cumprindo-se assim o “sonho chinês” da entrada “numa nova era”, que implica o renascimento da China como grande potência e, quem sabe, até a reunificação com Taiwan.

Por fim, resta saber de que modo ficaremos todos conectados, se a bem de uma nova ordem mundial e de um futuro compartilhado, se a mando autocrático de uma potência dominante sobre as restantes. Invocando a bondade de intenções, acredito que não vamos assistir à emergência de uma nova potência imperial com conexões a todos os cantos do globo, auxiliada pelo uso indevido das novas tecnologias, mas antes de uma conectividade de um país que se estende em rede por motivos económicos, respeitador da soberania dos restantes estados, que evitará ingerências políticas internas, praticando uma política de estrita neutralidade em nome de antigos princípios confucionistas, que privilegiam a Humanidade e a Harmonia, bem como outras virtudes constantes: os Ritos, a Sabedoria, a Confiança e a Justiça.

Referências bibliográficas

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A Fosun é a maior empresa privada chinesa a investir em Portugal a operar especialmente nas áreas dos seguros, bancos e saúde. Portugal tem recursos interessantes para a China nos domínios das energias renováveis, sobretudo eólica e fotovoltaica. Relativamente aos recursos energéticos são conhecidos os investimentos chineses na EDP e na REN através da State Grid. Está também em curso a construção de um Parque para empresas chinesas, o Parque Empresarial de Oeiras, entre a China Construction e a Teixeira Duarte.

Textos a consultar: Andrew Erickson (2019) “China”; Cui Liru (2018) China’s”Period of Historic Opportunities”; Jonathan Holslag (2019) The Silk Road Trap; Mathieu Duchâtel (2017) Géopolitique de la Chine; Nadège Rolland (2017) Eurasian Integration “a la Chinese”; Richard McGregor (2019) Xi Jinping:The Backlash; Veerle Nouwens (2019) China’s 21st Century Maritime Silk Road; William Callahan(2014) China Dreams; Yan Xuetong (2019) Leadership and the Rise of Great Powers.

Despejo | Terreno recuperado na Taipa

O Governo realizou ontem uma acção de despejo para recuperar um terreno do Estado ilegalmente ocupado, com uma área de cerca de 1.111 metros quadrados. O terreno em questão, situado entre a Rua Fernão Mendes Pinto e a Estrada Governador Nobre de Carvalho na Taipa, estava vedado com portão e tapumes metálicos e era usado para o depósito de contentores e estacionamento de veículos.

Além disso, segundo indicou ontem a Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana, no local foi construída uma barraca composta por suporte e cobertura metálicos e tapumes.

Antes do despejo, as autoridades exigiram aos ocupantes ilegais que desocupassem e devolvessem o terreno dentro de um determinado prazo. As exigências do Governo não foram atendidas.

Droga / HK | Duas portuguesas arriscam prisão perpétua

Os serviços de alfândega de Hong Kong detiveram no último sábado duas passageiras portuguesas que tinham, nas suas bagagens, 81 quilos de ketamina.

Segundo um comunicado das autoridades, as duas mulheres foram ontem presentes ao juiz, pela primeira vez, no Tribunal de Magistrados de West Kowloon, estando acusadas do crime de tráfico de estupefacientes perigosos.

As duas jovens ficam em prisão preventiva até ao julgamento, que arranca a 24 de Junho. Josiane Alexandre Borges da Costa, de 23 anos, e Alexandra Miriam Silva Lopes Correia, com a mesma idade, viajavam de Frankfurt, na Alemanha, para a região vizinha. No processo de desalfandegamento, no aeroporto, foi detectada a droga.

Segundo a legislação de Hong Kong, o tráfico de drogas perigosas é considerado infracção grave, com a pena máxima a ser prisão perpétua ou uma coima de cinco milhões de dólares.

Jogo | Receitas de Março com subida de 0,8%

As receitas do primeiro trimestre do ano apresentam um aumento de 0,6 face ao período homólogo. No entanto, os valores que entram nos casinos continuam longe da realidade pré-pandemia

 

Em Março as receitas brutas do jogo atingiram 19,66 mil milhões de patacas, o que representou um ligeiro aumento de 0,8 por cento em comparação com Março de 2024. Os dados foram divulgados ontem pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), através do portal oficial.

Em Março do ano passado, os casinos registaram receitas brutas de jogo de 19,50 mil milhões de patacas, o que indicou uma tendência de crescimento de 12,74 por cento face a Março de 2023. Recorde-se que Março de 2023 foi um dos primeiros meses em que os casinos voltaram a beneficiar da fronteira sem restrições, depois dos condicionamentos, e até encerramentos, que vigoraram entre o início de 2020 e Janeiro de 2023.

No entanto, os valores das receitas ainda estão longe do que acontecia em Março de 2019, antes do impacto da pandemia na economia de Macau. Nesse mês, as receitas dos casinos atingiram 25,84 mil milhões de patacas, 31,4 por cento, ou 6,18 mil milhões de patacas, acima dos valores mais recentes apresentados pela DICJ.

Quando a comparação é feita com Fevereiro deste ano, mês em que as receita foram de 19,74 mil milhões de patacas, Março apresentou uma tendência de quebra de 0,4 por cento das receitas. Contudo, parte do início de Fevereiro coincidiu com alguns dos dias dos feriados do Ano Novo Lunar no Interior, que tradicionalmente é uma das épocas mais altas para os casinos.

Ano mais gordo

Com os dados divulgados ontem pela DICJ foram também conhecidas as receitas brutas do jogo durante o primeiro trimestre do ano.

Os números mostram que nos primeiros três meses do ano houve um aumento das receitas de 0,6 por cento, em comparação com o período homólogo, para 57,66 mil milhões de patacas. No primeiro trimestre de 2024, as receitas dos casinos tinham sido de 57,33 mil milhões de patacas.

A análise trimestral mostra também que as receitas da indústria estão longe do que era habitual antes da pandemia, das campanhas contra os promotores do jogo e das alterações legislativas que tornaram o exercício da profissão muito mais difícil. Entre Janeiro de Março de 2019, os casinos apresentaram receitas de 76,15 mil milhões de patacas. A comparação com o cenário actual mostra uma diferença de 18,49 mil milhões de patacas, no que significa uma redução de 24,3 por cento.

As estimativas do Governo a nível das receitas do jogo para este ano apontam para cerca de 240 mil milhões de patacas, o que representa um aumento de 6 por cento face a 2024.

Creche Smart | IAS acusado de não respeitar primado da lei

A Creche Smart, ligada à associação Zonta Club de Macau, acusou o Instituto de Acção Social (IAS) de não respeitar o primado da lei. A acusação consta de um comunicado publicado nas redes sociais e surge em reacção à decisão do IAS de cortar o financiamento e recuperar as instalações desta creche subsidiada.

“Manifestamos a nossa preocupação pela falta de adesão do IAS aos princípios do Estado de Direito em Macau e da boa-fé estipulados no acordo [de financiamento da creche]”, é indicado no comunicado. “A actuação inadequada e ilegal do IAS prejudicou os interesses de todas as partes envolvidas. A associação Zonta Club de Macau ficou estupefacta e lamenta esta actuação”, foi acrescentado.

A associação indica ainda que o diferendo com o IAS sobre a renovação do acordo de financiamento da creche se deve a motivos de contabilidade e de aplicação da lei, mas nunca a questões de princípio, pelo que não compreende a decisão do IAS de romper com o acordo.

A mensagem assinada pela presidente da Zonta Club de Macau, Christiana Ieong, apela igualmente ao “IAS para manter a calma, objectividade, justiça e lidar com o assunto”. Além disso, a Zonta garante que vai tomar todas as medidas legais para proteger os seus direitos. Ao mesmo tempo, a mensagem garante que a creche está a funcionar normalmente e que vai continuar assim.

Quando anunciou o fim das negociações para a renovação do acordo, o IAS tinha colocado a hipótese de a creche ser encerrada, mas garantiu aos encarregados de educação existirem vagas suficientes na Taipa para transferir as crianças.

Fronteira | Estimadas 700 mil travessias no feriado

A Administração Nacional para a Imigração prevê um aumento dos movimentos fronteiriços no feriado do Cheng Ming. As autoridades estimam que na sexta-feira, as fronteiras entre Zhuhai e Macau registem cerca de 700 mil travessias, mais de metade através de Gongbei. A nível nacional, a estimativa aponta para um aumento superior a 20 por cento

 

A Administração Nacional para a Imigração prevê que durante o Cheng Ming, o feriado que se assinala na sexta-feira o Dia dos Finados, as fronteiras entre Zhuhai e Macau registem cerca de 700 mil travessias. O Cheng Ming é um festival tradicional chinês de reverência aos antepassados, que se celebra no início de Abril, quando as famílias visitam cemitérios para limpar os túmulos. Como tal, gera um grande fluxo de viagens, impulsionado pelo facto de ser feriado nacional.

Segundo um comunicado emitido ontem pela Administração Nacional para a Imigração, é previsto que o posto fronteiriço de Gongbei registe cerca de 367 mil movimentos fronteiriços, o mais movimentado, seguido da Ponte de Hong Kong-Zhuhai-Macau com 123 mil travessias. Em terceiro lugar, as autoridades colocam a fronteira de Qingmao com uma estimativa de 114 mil travessias e, finalmente, Hengqin com 95 mil.

A Administração Nacional de Imigração tomou medidas especiais em relação às inspecções fronteiriças para este fim-de-semana prolongado, exigindo aos agentes o reforço da monitorização do tráfego e a divulgação atempada sobre o fluxo de passageiros de entrada e saída nos postos, de forma a permitir informação detalhada às pessoas para planearem os seus itinerários.

Alargando o escopo

A entidade nacional acrescentou que espera um aumento significativo de entradas no Interior da China, sobretudo de pessoas vindas de Hong Kong, Macau, Taiwan e de chineses ultramarinos.

Além disso, a Administração Nacional para a Imigração garante que vai abrir o maior número possível de corredores de inspecção nas fronteiras com Hong Kong e Macau e nos aeroportos com voos directos para Taiwan. No cômputo geral, a entidade prevê que 2,1 milhões de pessoas atravesse fronteiras para a China na sexta-feira, o que representa um aumento de 21,4 por cento face ao ano passado.

No que se refere a Macau, nos primeiros dois meses deste ano houve um aumento de 10 por cento da entrada de turistas. Após o feriado do Dia dos Finados, o fim-de-semana da Páscoa é um período quente do mercado turístico, apesar da Páscoa não ser um feriado nacional. Porém, Macau tem contado tradicionalmente com uma significativa proporção de turistas vindos de Hong Kong, algo que pode ser impulsionado este ano pelas campanhas de promoção e descontos do Governo na região vizinha.

Segundo o presidente da Associação de Indústria Turística de Macau, Andy Wu, o número de turistas durante o fim-de-semana da Páscoa pode aumentar cerca de 10 por cento em termos anuais.

Segurança | Deputado pede desactivação de elevadores não inspeccionados

Terminou ontem o período de transição dado a proprietários e administrações de condomínios para procederem à inspecção anual dos elevadores. De acordo com o regime jurídico de segurança dos ascensores, aprovado há três anos, os elevadores que não tenham passado na inspecção devem suspender o funcionamento.

Em declarações ao jornal do Cidadão, o deputado Wu Chou Kit defendeu que o Governo deve ser rigoroso e exigir a suspensão dos elevadores que não foram submetidos a inspecções de segurança.

Quanto ao custo da inspecção de elevadores, Wu Chou Kit considera que os preços praticados em Macau são razoáveis e geralmente inferiores aos critérios de cobrança elaborados pelo Governo.

Recentemente, o deputado Leong Sun Iok revelou ter recebido queixas de residentes sobre a falta de transparência na fixação de preços por parte de entidades inspectoras de elevadores. Além disso, o deputado dos Operários indicou que por vezes os residentes ou administrações de condomínios são obrigados a esperar muito tempo para obter um orçamento.

DSEDJ | Jovens “patriotas” convidados para canal consultivo

Apesar de convidar os cidadãos a apresentarem as suas candidaturas, a DSEDJ tem um canal especial de recomendação de membros pelas associações locais e associações de estudantes

 

A Direcção de Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) está a criar um grupo para ouvir os jovens com idades entre os 18 e 30 anos, mas só vai aceitar as inscrições dos jovens “patriotas” e que se identifiquem com o “valor nuclear” do Amor pelo País e por Macau. O anúncio da abertura das candidaturas foi feito através de um comunicado publicado na segunda-feira à tarde, apenas divulgado em chinês.

Segundo a informação oficial, o Grupo Consultivo Para Jovens tem como objectivo reforçar a capacidade de ouvir as vozes mais novas da população e aumentar o número de canais para a “interacção positiva” com o Governo. Além disso, indica a DSEDJ, este é um esforço que se enquadra no espírito do Executivo de “trabalhar arduamente” em prol dos jovens.

A criação do grupo é igualmente enquadrada na Política de Juventude de Macau (2021-2030) e no objectivo de aumentar a cooperação entre o Governo e os jovens para “melhorar a participação social e a integração no desenvolvimento nacional”.

O grupo organizado pela DSEDJ vai ainda servir para “proporcionar uma plataforma” e “oportunidades” para os jovens de Macau “apresentarem opiniões e sugestões sobre estudos, emprego, empreendedorismo, direito de propriedade e desenvolvimento pessoal” e participarem na construção da Grande Baía.

Prioridade às associações

O patriotismo é assim o principal critério de selecção, mas o Governo exige também “experiência em serviços sociais”, conhecimento sobre as políticas de juventude, boa capacidade de comunicação e capacidade de análise. O peso de cada critério na selecção não foi indicado no comunicado.

A DSEDJ indica que as candidaturas estão abertas aos jovens cidadãos individuais, mas o comunicado destaca, em primeiro lugar, a possibilidade de as propostas dos membros partirem das associações locais ou associações de estudantes das universidades locais. As associações têm de levantar um formulário que depois é enviado por correio electrónico.

Os cidadãos individuais podem apresentar as suas candidaturas através da Conta Única, sendo o prazo limite 11 de Abril, uma sexta-feira, que também é o limite para as “recomendações” das associações.

Os jovens inscritos com sucesso vão ser notificados, e depois haverá um concurso de reuniões de que vão ser realizadas, como fase de apuramento, no final de Abril. A lista de candidatos admitidos é revelada no portal da DSEDJ.

Economia | Secretário alerta para receitas da Administração

O secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, deixou ontem um alerta sobre o desempenho do sector do jogo, com impacto aquém do esperado para as receitas obtidas pelo Governo. “Reparámos que nos primeiros três meses de 2025 as receitas brutas dos jogos atingiram 57,66 mil milhões de patacas, permanecendo o valor praticamente inalterado em termos anuais, não alcançando ainda a esperada média mensal de 20 mil milhões de patacas”.

Assim, Tai Kin Ip deixa o alerta de que “as receitas financeiras do corrente ano poderão não ser tão optimistas como o previsto”, sendo necessário “estudar seriamente a futura situação económica e persistir na gestão dos recursos financeiros com prudência”.

Estas ideias foram proferidas no âmbito de um discurso proferido na palestra anual para o sector industrial e comercial organizada ontem pela Associação Comercial de Macau. Tai Kin Ip não esqueceu as medidas proteccionistas dos EUA e os sinais negativos que trazem a Macau. “Actualmente, o unilateralismo e o proteccionismo estão a crescer, com o desenvolvimento económico global a enfrentar muitas volatilidades e incertezas”, disse.

Assim, “Macau, sendo uma microeconomia virada ao exterior e altamente aberta, não consegue escapar a estas influências”, adiantou o secretário, alertando para a “grande mudança nos padrões e conceitos dos visitantes”, pois “a despesa per capita dos visitantes caiu 14,6 por cento em termos anuais, para 2157 patacas”.

Zhongshan | Sam Hou Fai aposta em cooperação económica

O Chefe do Executivo quer que empresas de Zhongshan aproveitem Macau para entrar nos mercados dos países de língua portuguesa. Sam Hou Fai destacou também que as melhorias nos transportes na Grande Baía estão a aproximar todas as cidades

 

O Chefe do Executivo defendeu o aprofundamento da cooperação entre Macau e Zhongshan, a sua terra natal, como forma de desenvolver a economia das duas cidades. A opinião foi expressa durante um encontro com o secretário do Comité Municipal de Zhongshan do Partido Comunista Chinês (PCC) e presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Municipal de Zhongshan, Guo Wenhai.

A reunião aconteceu na sede do Governo e, de acordo com a versão oficial, Sam Hou Fai começou por considerar que “Macau e Zhongshan têm mantido uma relação estreita e boa” com um intercâmbio e uma cooperação “em várias áreas” e com “uma base sólida”.

O dirigente do Governo de Macau indicou ainda que no futuro espera que “ambas as partes” continuem a aplicar “o princípio de benefícios mútuos” para poderem “potenciar as suas próprias vantagens industriais, impulsionar de forma abrangente, o reforço da cooperação dos dois territórios na área da economia e comércio, biomedicina, cultura e turismo, tecnologia de ponta e ensino superior”.

O governante da RAEM destacou igualmente que na “área da cultura e turismo” com “a entrada em funcionamento da Ponte Shenzhen-Zhongshan” as cidades da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau ficaram mais próximas, pelo que espera um maior impulso no “fluxo de visitantes dentro da Grande Baía” e “novos resultados da cooperação regional”. Ainda assim, Sam Hou Fai realçou que é necessária uma maior “facilitação dos transportes”.

Aproveitar as vantagens

Por outro lado, o Chefe do Governo afirmou esperar que “as empresas do município de Zhongshan aproveitem melhor as vantagens de Macau como Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa” e que alarguem “a relação de cooperação com os Países de Língua Portuguesa na área de comércio e investimento”.

Além do Chefe do Executivo, estiveram no encontro pelo lado de Macau a chefe do gabinete do Chefe do Executivo, Chan Kak, o director dos Serviços de Estudo de Políticas e Desenvolvimento Regional, Cheong Chok Man, e o director dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico, Yau Yun Wah.

No lado de Zhongshan estiverem presentes o vice-secretário do grupo de liderança do partido e vice-presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular do Município de Zhongshan, Li Changchun, a membro do Comité Permanente do PCC do Comité Municipal de Zhongshan e directora do departamento de trabalho da frente unida de Zhongshan, Liu Meixin, o vice-presidente do Governo do município de Zhongshan, Ou Yang Jinquan, e a vice-presidente da CCPPC do município de Zhongshan, Feng Jinyi.

Livro | Mark O’Neill conta a história dos europeus nos primórdios de Hong Kong

“Europeans in Hong Kong” é o 18º e novo livro do escritor e jornalista britânico Mark O’Neill, que vive na região vizinha. Ao HM, confessa que começou por escrever a história dos irlandeses, mas o projecto acabou por se expandir. Como tal, focou-se nas histórias de europeus que deixaram a sua marca em Hong Kong, incluindo portugueses

 

Hong Kong, a cidade da banca, das finanças e do comércio, um entreposto mundial durante séculos e uma porta de entrada para a China. Tem sido assim a região vizinha ao longo dos tempos, desde a sua instituição, em 1841. Desde sempre, Hong Kong foi um território internacional povoado por europeus de várias nacionalidades, muito mais do que os britânicos que administraram o território até 1997.

Faltava contar a sua história, e Mark O’Neill, autor e jornalista britânico, a residir em Hong Kong desde finais dos anos 70, fá-lo agora com “Europeans in Hong Kong” [Europeus em Hong Kong], que inclui inclusivamente um capítulo sobre os portugueses.

Em mais uma obra que acaba de sair para as bancas, o autor confessa ao HM que começou por escrever a história dos irlandeses em Hong Kong, cuja contribuição para o território “foi enorme”. Essa obra não chegou a ser publicada, nascendo depois a ideia de fazer algo maior.

“Escolhi as figuras que deram os maiores contributos, especialmente a nível religioso, ou professores, escritores, grandes figuras do mundo dos negócios e aqueles cujos legados ainda perduram”, confessou.

Mark O’Neill destaca que o grande contributo dos europeus na região vizinha deu-se na área educativa, mas não só. “O contributo mais duradouro foi dado pelas escolas, universidades, hospitais, lares de idosos, instituições de assistência social e algumas empresas. Embora se tratem de entidades que, actualmente, são geridas, em grande parte, por pessoas de Hong Kong, foram fundadas e alimentadas por europeus.”

O autor explica que a história mais impressionante associada ao legado dos franceses surge na capa do livro. “No século XIX, as freiras francesas adoptaram dezenas de milhares de raparigas chinesas que tinham sido abandonadas e deram-lhes uma boa vida. Sem elas, as raparigas teriam morrido ou trabalhado como mão-de-obra infantil, empregadas domésticas ou prostitutas”, disse.

Uma outra casa

Questionado sobre as novas percepções que o livro pode trazer para o público em geral, Mark O’Neill entende que este está hoje “familiarizado com a história dos britânicos em Hong Kong, mas não com a história da Europa continental”.

Assim, o autir diz esperar que “o livro os ajude a compreender a sua história, especialmente o seu contributo”.

Em termos gerais, “nas primeiras décadas [da fundação de Hong Kong], os europeus eram, sobretudo, homens de negócios e missionários, tanto católicos como protestantes”. Depois, a região cresceu “como grande cidade asiática e, a partir dos anos 50, a comunidade expandiu-se”. “Actualmente, temos arquitectos, engenheiros, músicos, professores, donos de restaurantes, médicos, advogados, especialistas em arte e pessoas em todos os domínios da vida”, disse o autor.

Outra figura de destaque em “Europeans in Hong Kong” é o padre jesuíta húngaro Laszlo Ladany, tido como o “maior observador da China em todo o mundo durante trinta anos”, e Anders Nelsson, “o cantor sueco e residente de longa data em Hong Kong, bem conhecido dos habitantes locais”, descreve-se na introdução da obra.

“A maioria das pessoas pensa que Hong Kong foi construída pelos chineses durante os 150 anos de domínio britânico, o que não é inteiramente exacto. Como o leitor descobrirá, muitas das escolas, hospitais, instituições de assistência social, edifícios e empresas da cidade foram fundados e geridos por pessoas da Europa (definida aqui como ‘a leste de Calais’). Muitos viveram aqui toda a sua vida adulta e só regressaram ‘a casa’ quando a guerra ou a doença o obrigaram”, é descrito na mesma introdução.

Mark O’Neill descreve também que os cemitérios de Hong Kong contêm vestígios dessa presença, pois “os europeus ficaram a gostar mais da cidade e das suas gentes do que da sua terra natal”. A presença europeia aumentou na região vizinha a partir de 1949, quando é fundada a República Popular da China, pois “o novo Governo chinês fechou as portas a estrangeiros, com a excepção de um pequeno número de pessoas provenientes de outros países socialistas”. Assim, “desejosos de permanecer na China e no mundo chinês, muitos europeus mudaram-se da China continental para Hong Kong”, é referido.

O legado macaense

O quarto capítulo é inteiramente dedicado à comunidade portuguesa e macaense de Hong Kong, tida como “pilar da sociedade” durante muitos anos. “Durante 150 anos, os portugueses foram, depois dos britânicos, a maior comunidade não chinesa em Hong Kong”, lê-se na obra, que traça o perfil de cinco personalidades e descreve dois clubes sociais, onde a comunidade se encontrava.

No tocante às personalidades, é referido o exemplo de José Pedro Braga, o primeiro português a fazer parte do Conselho Legislativo, entre os anos de 1927 e 1937; Sir Roger Lobo, membro do Conselho Executivo entre 1967 e 1985; e o Comendador Arnaldo de Oliveira Sales, primeiro presidente do Conselho Urbano entre 1973 e 1981.

“Os portugueses desempenharam um papel fundamental no Governo, nos bancos, nas profissões liberais e nas empresas comerciais. Viveram aqui durante muitas gerações. A maior parte dos expatriados ficava apenas o tempo da sua missão; quando se reformavam, partiam e regressavam à Grã-Bretanha ou a outro país da Europa. Os portugueses, por outro lado, tinham as suas próprias escolas, igrejas, clubes sociais e desportivos e a sua própria língua”, refere-se no livro.

Relativamente à origem desta comunidade, descreve-se como uma “raça mista”, ou macaenses, mas também portugueses com origens asiáticas. “A sua história remonta a centenas de anos, aos primeiros tempos do comércio e da exploração portugueses. No século XVI, Portugal estabeleceu entrepostos comerciais e missões religiosas em Goa, Malaca, Macau e Nagasaki. Os colonos portugueses casaram com mulheres locais, criando uma população mista com raízes na Índia, na Malásia, na China e no Japão. Em 1639, o Governo japonês expulsou todos os estrangeiros e isolou o país do resto do mundo.”

Macau surge intimamente ligado a esta comunidade, pois tornou-se, em meados do século XVI, “a base de Portugal na Ásia Oriental”, depois dos holandeses terem bloqueado Goa e conquistado Malaca.

“Os macaenses começaram a formar-se como uma comunidade coesa – partilhando laços com Portugal, a religião católica, uma língua e uma cozinha comuns e um sentimento de distinção em relação aos portugueses coloniais e aos seus vizinhos chineses. Eram as únicas pessoas em Macau que falavam português e cantonês, o que lhes conferia um papel de intermediários essenciais para o bom funcionamento do Governo e dos negócios”, é explicado.

O facto de “a fundação de Hong Kong ter devastado a economia de Macau” fez com que muitos macaenses tenham começado a mudar-se de armas e bagagens para uma zona com uma economia bem mais fulgurante. Afinal de contas, “a apenas 66 quilómetros de distância [Hong Kong] era o melhor porto de águas profundas a sul da China dentro das leis, administração e protecção militar no maior império do mundo”.

Mar do Sul | Pequim descobre grande jazida de petróleo

A companhia petrolífera chinesa CNOOC descobriu um importante campo de petróleo no leste do mar do Sul da China, com reservas comprovadas de mais de 100 milhões de toneladas, informou ontem a imprensa estatal.

De acordo com a agência de notícias oficial chinesa Xinhua, o campo identificado, Huizhou 19-6, situa-se a cerca de 170 quilómetros da cidade de Shenzhen, no sul do país. As perfurações de teste produziram 413 barris de crude e 68 mil metros cúbicos de gás natural por dia, segundo a mesma fonte.

As reservas comprovadas do campo petrolífero, ou seja, a quantidade de hidrocarbonetos cuja recuperação pode ser estimada com quase certeza utilizando as técnicas actuais, ascendem a mais de 100 milhões de toneladas, segundo as informações citadas pela Xinhua.

O subsolo do mar do Sul da China está em grande parte subexplorado devido a disputas territoriais, mas a maioria dos depósitos de petróleo e gás conhecidos encontra-se em áreas não contestadas, segundo a Administração de Informação sobre Energia dos Estados Unidos.

Pequim reivindica a soberania de quase todo o mar, sobre o qual as Filipinas, a Malásia, o Vietname, a Indonésia e o Brunei também têm reivindicações.