João Santos Filipe PolíticaSalário mínimo | Lam Lon Wai pede aumento e quer comissão especializada O legislador ligado aos Operários considera necessário copiar o mecanismo de revisão do salário mínimo de Hong Kong, depois da RAEHK ter anunciado, há dias, o aumento do salário mínimo. Em Macau, o valor está congelado desde 2019 O deputado Lam Lon Wai, ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), defende a criação de uma comissão especializada para avaliar o aumento do ordenado mínimo. A ideia foi defendida numa interpelação, em que Lam pede que se siga o exemplo de Hong Kong. Desde que a lei do salário mínimo entrou em vigor, em Novembro de 2020, o Governo ficou obrigado a fazer uma revisão do montante a cada dois anos, “de acordo com a situação do desenvolvimento económico”. A decisão pode sempre passar por manter tudo igual, como aconteceu na primeira vez em que foi realizada uma avaliação sobre a revisão. No entanto, Lam Lon Wai deixou críticas ao mecanismo interno para aumentar o ordenado mínimo, por considerar que os procedimentos não são conhecidos pela população, ou mesmo pelos deputados, nem tão pouco são claros. Neste sentido, o legislador pediu ao Governo que esclareça como são conduzidos internamente os trabalhos de avaliação do salário mínimo da RAEM, e que avance com uma estimativa sobre a duração de todo o processo. A demora do procedimento de proposta de aumento mínimo é um tema que preocupa Lam. O deputado pró-trabalhadores explicou que o facto de o assunto ter de ser discutido na Concertação Social e na Assembleia Legislativa, onde se espera sempre muita oposição a qualquer aumento, vai contribuir para atrasar o processo. Período de estagnação Em relação ao mecanismo em vigor, Lam Lon Wai deixou igualmente críticas, por considerar que não é eficaz para aumentar os vencimentos mais baixos. E para sustentar a opinião, o deputado fez uma comparação com Hong Kong. Segundo Lam, há dias que o Governo da RAEHK, através da comissão especializada sobre o assunto, definiu que o salário mínimo vai ser aumentado do valor de 37,5 dólares de Hong Kong por hora para 40 dólares por hora. Além disso, o legislador apontou também que na RAEHK, desde que a legislação em vigor foi aprovada, em 2011, houve seis aumentos. Mesmo em 2019, com a pandemia à porta, houve aumentos do salário, embora outros benefícios tivessem ficado congelados. Ao mesmo tempo, em Macau, Lam argumenta que desde 2019 o valor do salário é mantido em 32 patacas por hora. Como também não espera que até ao final do ano aconteça um novo aumento, visto que o processo é demorado, o deputado considera que o mecanismo peca por falta de eficácia. Neste cenário, Lam Lon Wai questiona se o Governo vai criar uma comissão especializada para avaliar o aumento dos ordenados e se pondera mudar o mecanismo em vigor, para o tornar mais eficaz.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteMacaenses | Miguel de Senna Fernandes fala de “apelo” da comunidade face a Administração chinesa Foi no colóquio “Mobilidade em Macau: vertentes do fenómeno migratório”, que decorreu quarta-feira em Lisboa, que Miguel de Senna Fernandes defendeu que hoje, mais do que nunca, os macaenses têm de “fazer um apelo” e afirmarem-se como tal perante a Administração chinesa, uma vez que estão em minoria. O colóquio abordou o fenómeno migratório dos macaenses, tido como intrínseco à comunidade desde a fundação de Hong Kong Debater a comunidade macaense e as fases de emigração que ocorreram ao longo dos tempos foi o objectivo principal do colóquio “Mobilidade em Macau: vertentes do fenómeno migratório”, que teve lugar esta quarta-feira na Sociedade de Geografia de Lisboa. Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses (ADM), falou da “Mobilidade em Macau: vertentes do fenómeno migratório”, onde defendeu que a comunidade macaense tem hoje de se afirmar como tal num território sob Administração chinesa desde 1999. “Temos uma identidade e mais nada do que isso. Mesmo em Macau, e agora que a Administração é chinesa, temos de fazer um apelo e dizer que somos macaenses, porque esta terra não é nossa. Antes, na Administração portuguesa, não tínhamos de o fazer, mas hoje em dia sim. Temos de explicar.” Nesse contexto, o também advogado adiantou que, ao contrário dos cidadãos de outros países, o macaense não tem uma entidade oficial que o represente. “Não temos embaixadas, não há uma nacionalidade macaense, não há consulados. Invocamos sempre uma nacionalidade emprestada. Temos sempre de invocar algo que não é necessariamente nosso. Apenas temos as Casas de Macau, que são organizações culturais e sociais dos macaenses. Fora isso, não temos mais nada. Isso tem a ver com a emigração, porque é através dessas Casas de Macau que se devem reforçar esses dois pólos, sendo o chão comum dos macaenses, a cultura e a identidade”, adiantou. Ainda sobre o fenómeno da emigração, Miguel de Senna Fernandes deixou um alerta sobre o risco da perda progressiva de identidade. “A emigração pode ter um impacto na cultura dos emigrantes, e no caso específico da comunidade macaense. Mas é fundamental que tenhamos a consciência da nossa pertença, para que não haja o prejuízo da perda de identidade.” Miguel de Senna Fernandes denotou que “em todos os fenómenos migratórios as pessoas levam consigo as suas culturas”, mas que, no caso da emigração dos macaenses, “muitos tiveram de sacrificar as suas tradições para sobreviver socialmente”. Para trás ficaram a manutenção de alguns hábitos gastronómicos, familiares ou a própria aprendizagem do português. “Despiram-se de muitas das suas tradições. Muitos deles não falam português porque é complicado falar a língua nos países anglo-saxónicos, por exemplo. A maior parte da comunidade macaense da Diáspora, à excepção de Portugal e Brasil, não fala português. Vemos interferências das culturas de acolhimento à cultura do macaense. Aí encontramos o primeiro grande impacto na cultura [da emigração]”, frisou. O responsável e dirigente associativo diz mesmo que esse “abandono” das tradições macaenses se nota na realização dos encontros anuais da comunidade macaense, onde se “podem ver grandes diferenças de entendimento do que é ser macaense e da própria cultura”. “Temos várias comunidades macaenses”, acrescentou. Desde a origem Se Miguel de Senna Fernandes apontou Portugal como fazendo parte da Diáspora macaense, o antropólogo Carlos Piteira discordou. “O macaense deixou de estar só fechado em Macau, espalhou-se pelo mundo, tendo aqui uma forte componente migratória. Mas tenho a dizer que os macaenses em Portugal não pertencem à Diáspora, ao contrário dos restantes espalhados pelo mundo, sendo uma extensão dos macaenses de Macau, parte integrante da comunidade macaense na sua génese. Virem para Portugal era virem para a sua terra.” Carlos Piteira, que fez a apresentação “Macau, terra de migrações: Uma narrativa singular”, falou do território como sendo uma “terra de emigrações na sua origem”, por ser “um pedaço de terra com emigrações continentais, com os próprios chineses de Cantão que começaram a emigrar, os chamados agricultores do Sul”. “A origem da população de Macau é, logo à partida, baseada na emigração”, descreveu, falando da mestiçagem como uma característica muito própria do macaense e, portanto, aquela que lhe garante uma “característica de diferenciação”. “Logo no início de Macau os macaenses afirmam-se como os mestiços, intérpretes, tradutores, e designam-se como macaenses. Quanto à emigração, este ponto é fundamental, o surgimento de macaenses na Ásia que depois se situam em Macau, juntando-se à população chinesa que não era significativa na altura [século XVI]. Isso permitiu que os mestiços macaenses se consolidassem no território. A importância dos macaenses em Macau tem a ver com esse fenómeno migratório e a forma como ele se conflui e estabiliza, e só mais tarde é que começa a haver uma estratégia de ampliação”, acrescentou Carlos Piteira. Adaptação constante Ao longo dos séculos, e entre diversos fenómenos de emigração, os macaenses conseguiram sempre adaptar-se às diversas realidades. “Só quando os macaenses se vêem ameaçados pelos chineses e pela presença portuguesa, e sentem que vão estando, aos poucos, em minoria, adoptam uma estratégia de abertura a grupos de acolhimento. Começam a aceitar os oriundos das famílias tradicionais e ampliam esta configuração para aquilo que são casamentos mestiços com chineses, algo mais recente, pois haveria alguma inconveniência da parte das chinesas em casar com portugueses.” Na formação da sociedade de Macau existe, portanto, um triângulo composto por macaenses, chineses e portugueses. “Macau tem a génese populacional nos macaenses. Somos o início da população de Macau em termos da sua composição alargada além dos chineses e portugueses. Depois, os macaenses tiveram importância na governação do território através da representatividade no Leal Senado. Na Administração portuguesa, vemos a deambulação entre portugueses, chineses e macaenses. É esse triângulo que dá o aspecto de singularidade a Macau”, rematou. Desde a primeira Guerra do Ópio que o macaense emigra, tendo-se espalhado pelo mundo. No entanto, Miguel de Senna Fernandes denota que persiste sempre um sentimento de pertença à terra onde quer que o macaense esteja emigrado. “Não há macaense que não tenha um forte sentido de pertença à sua terra. Pode ter nascido em Macau ou ser descendente de alguém nascido em Macau. Existe uma ligação quase umbilical com a sua terra. Não interessa a língua que o macaense fala, existe entre nós algo que nos faz ligar a um espaço cultural mais amplo. Portugal tem um papel importantíssimo. Há um espaço cultural no qual Portugal tem um papel de referência”, rematou. O colóquio durou apenas um dia e teve ainda outras intervenções, nomeadamente da parte de Maria Antónia Espadinha, que falou da “Migração estudantil, outras percepções de quem aprende em outras geografias”, e da escritora Maria Helena do Carmo, que falou de “Odisseias: memórias de uma viajante no Oriente”. As duas últimas apresentações do colóquio foram dedicadas ao patuá, com as intervenções de Raul Leal Gaião, “Patuá: Códigos do falar” e Álvaro Augusto Rosa, “O linguajar do português de Macau”. A organização do evento esteve a cargo de Joaquim Ng Pereira, membro da Sociedade de Geografia de Lisboa e dirigente associativo, ligado à comunidade macaense em Lisboa.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesA visibilidade trans As mulheres trans são continuamente excluídas e discriminadas. A probabilidade de um adolescente trans desenvolver ideação suicida, ou tentar o suicídio, é de 5 a 7 vezes maior ao de um adolescente heterossexual e cisgénero, isto é, que se identifica com o género designado à nascença. A discriminação está no acesso ao trabalho, na educação ou na saúde. Uma discriminação estrutural que retira espaço ao direito de se ser trans. No dia 19 de Janeiro, no Teatro São Luiz em Lisboa, uma mulher trans assaltou o palco. Em cena estava uma peça com duas personagens trans em que uma era representada por uma actriz trans, e a outra, a personagem principal, por um actor cis. A Keyla Brasil num acto de coragem saltou para o palco e conseguiu trazer ao holofote teatral uma tendência discriminatória e de exclusão, que ainda não tinha entrado no debate público: as histórias e narrativas trans precisam de ser contadas pelos corpos trans, até nas artes performativas. A produção da peça vai agora contratar uma actriz trans para ser a personagem principal. Uns aplaudiram a coragem. Foi uma batalha vencida pela representatividade e visibilidade que não descura a reforma necessária no processo de selecção de artistas. Outros mostraram indignação pela forma como esta batalha foi ganha. A Keyla apareceu no palco semi-nua, expondo toda a violência a que é diariamente submetida. Falou do sexo oral que faz em troco de dinheiro, pelas poucas oportunidades no mundo do trabalho, falou da arma que lhe apontaram à cabeça, falou dos assassinatos constantes, violentos, nas tentativas de apagamento que ela, e muitas outras, estão sujeitas. Apontou o dedo ao homem que foi escolhido para o papel e quis responsabilizá-lo pelo apagamento das vivências e narrativas trans. A forma poderosa como esta batalha foi ganha, ainda que falte travar uma guerra, foi alvo de intenso escrutínio público. Muitos queixaram-se que foi um método “violento”, apesar de concordarem com a premissa de base: se não é com a história de uma mulher trans que o corpo e a alma trans têm visibilidade, então quando? Muitas activistas trans já tinham contactado a companhia de teatro exigindo respostas e mudança. Sugeriram boicotes e nada aconteceu. A mudança só veio depois, com a acção “violenta” da Keyla, carregada de tensão, antagonismo e conflito daquele que provoca desconforto. Mas esta “violência” é só um sintoma, uma resposta à violência que é vivida. De um lugar onde a outra realidade mundana nada se assemelha porque se vive distante. A “violência” de ver uma peça de teatro abruptamente terminada é que parece mais importante para os proponentes desta discussão. Quando os actores cisgénero recebem papéis trans, eles encaram-nos como o desafio da sua carreira. Jared Leto ganhou um Óscar ao fazê-lo. Mas esta não é uma condição de desafio que possa ser apropriada pela indústria criativa sem uma reflexão profunda sobre o seu papel na contínua exclusão de artistas trans nos seus projectos. A condição trans não é um adereço, como activistas reclamam, para catapultar carreiras. Muitas vezes produtores optam por homens e vestem-nos de mulheres, porque as actrizes trans não reflectem os seus próprios estereótipos ou ideias pré-concebidas. A máquina de exclusão está oleada e em funcionamento, não é a responsabilidade de uma pessoa transfóbica. Desde os produtores, ao encenador e até ao actor que aceita fazer o papel, todos contribuem para isso. Recentemente Hale Berry e a Scarlet Johanson recusaram papeis de homens trans porque foram confrontadas com a pouca representatividade trans em diálogo com as pessoas que mais são afectadas por estas escolhas. Mas a minha voz não é a que mais interessa neste debate, ouçam as pessoas trans que tentam consciencializar sobre as muitas formas de como estão a ser invisibilizadas. Elas lutam de muitas outras formas também, fazem-no na discussão de ideias, na academia, nas manifestações na rua e no seu dia-a-dia. O confronto ou a violência é tão parte desta luta como a diplomacia. Neste caso, a suposta “violência” foi o resultado de uma não-escuta. Do outro lado onde nos situamos, pede-se reflexão. Se vos chocou, confrontem o desconforto e interroguem-se de onde vem. Reflictam sobre as oportunidades perdidas de fazer de forma diferente, e de dar espaço a outras pessoas ou realidades. Nós não vemos pessoas trans em posições de destaque, protagonizando séries, a serem pivots de telejornal ou a contracenarem em peças de teatro. Com os níveis de saúde mental desta minoria sexual absolutamente desastrosos (e vergonhosos nos olhos de qualquer profissional de saúde), as pessoas trans precisam de saber que o mundo deve ter – e tem – espaço para todas.
Hoje Macau EventosFilme português nomeado para os Óscares Pela primeira vez, há um filme de produção portuguesa a integrar os nomeados para os Óscares, com “Ice Merchants”, realizado por João Gonzalez, candidato ao prémio de melhor curta-metragem de animação. “Ice Merchants” é o terceiro filme de João Gonzalez, tem produção portuguesa de Bruno Caetano, pela Cola Animation, e coprodução com França e Reino Unido. O filme, sem diálogos, tem como ponto de partida a imagem de uma casa numa montanha, debruçada num precipício. A partir daí, o realizador desenvolveu a história de um pai e um filho, que produzem gelo na casa inóspita onde vivem, e de onde saltam todos os dias de paraquedas para o vender na aldeia, no sopé da montanha. João Gonzalez assina a realização e a banda sonora do filme e divide a animação, em 2D, com a polaca Ala Nunu. Antes de chegar às nomeações dos Óscares, “Ice Merchants” teve uma estreia premiada em 2022 na Semana da Crítica no Festival de Cinema de Cannes, em França. Spielberg e companhia A lista dos nomeados para 95.º edição dos Óscares, um dos mais importantes prémios do cinema, foi conhecida esta terça-feira. O filme “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”, de Daniel Kwan e Daniel Scheinert, lidera a corrida aos Óscares, com 11 nomeações. “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”, uma produção independente de ficção científica sobre universos paralelos, está indicada para os Óscares de Melhor Filme ou Realização e também nas categorias de representação, nomeadamente para Michelle Yeoh, Jamie Lee Curtis, Stephanie Hsu e Ke Huy Quan, o actor que em criança entrou em “Indiana Jones e o Templo Perdido” (1984). Para o Óscar de Melhor Filme, estão também nomeados “Os Espíritos de Inisherin” (Martin McDonagh), “Os Fablemans” (Steven Spielberg), “Tár” (Todd Field), “A Oeste Nada de Novo” (Edward Berger), “Top Gun: Maverick” (Joseph Kosinski), “Elvis” (Baz Luhrmann), “Avatar: O Caminho da Água” (James Cameron), “A Voz das Mulheres” (Sarah Polley) e “Triângulo da Tristeza” (Ruben Ostlund). Para o Óscar de Melhor Realização competem Martin McDonagh, Daniel Kwan e Daniel Scheinert, Steven Spielberg, Todd Field e Ruben Ostlund. O ‘biopic” de Baz Luhrmann sobre Elvis Presley soma oito nomeações, nomeadamente para Austin Butler como Melhor Actor, e “Os Fablemans”, o filme semibiográfico de Steven Spielberg segue com sete nomeações, entre as quais para Melhor Banda Sonora, de John Williams. A cerimónia dos Óscares está marcada para 12 de Março, com apresentação de Jimmy Kimmel.
Andreia Sofia Silva EventosBerlim | Antropólogo de Macau exibe filmes locais em nova exposição Cheong Kin Man, antropólogo natural de Macau e residente em Berlim há vários anos, promove amanhã a exposição intitulada “As Intervenções Utópicas nas Paisagens de Berlim”, que será acompanhada pela projecção de filmes de Macau, entre outros com origens diversas. Trabalhos de realizadores como Tracy Choi, Nancy Io ou Lei Cheok Mei serão dados a conhecer ao público berlinense Habituado a dar a conhecer lá fora o nome de Macau e algumas das coisas feitas na área das artes, Cheong Kin Man, antropólogo, residente de Macau, volta a fazê-lo num novo projecto na capital alemã. Amanhã será apresentada, no Fórum da Sociedade Cooperativa de Berlim, a exposição “As Intervenções Utópicas nas Paisagens de Berlim”, uma mostra que nasce de um colectivo de artistas onde se inclui o próprio Cheong Kin Man. A acompanhar esta iniciativa será feita uma projecção de filmes de Macau e também outros internacionais. Na lista de filmes inclui-se o documentário “Os Meus Dias num Apartamento”, de Lei Cheok Mei, que, para Cheong Kin Man, é de “excelente qualidade”. “Espero que o filme possa ser apresentado noutras exposições de artes na Alemanha e Polónia que vamos organizar”, adiantou o antropólogo. Destaque ainda para a exibição do filme “O Jogador que Perdeu o Sentido da Vida”, da aclamada realizadora Tracy Choi, que realizou este trabalho a convite do Centro de Aconselhamento sobre o Jogo e de Apoio à Família de Sheng Kung Hui. Este filme estreou em Macau em 2015 nos cinemas UA Galaxy. Será também exibida a curta-metragem “Ma Ma”, de Nancy Io. Este é o resultado de um projecto desenvolvido pela realizadora no âmbito do mestrado em cinema que concluiu na Universidade Nacional de Artes de Taiwan. O filme foi apresentado na edição de 2020 do Festival Internacional de Cinema de Macau, além de ter sido recentemente nomeado para um dos “Golden Harvest Awards”, em Taiwan. Serão ainda projectados dois filmes da autoria de Noah Ng, curador principal do Armazém do Boi, “Critical Moment and Participant” e “Ferriage”. O cartaz encerra com a exibição de “Uma Ficção Inútil”, a etnografia viusal experimental de Cheong Kin Man que já correu o mundo, bem como filmes e vídeos de Deborah Uhde (Alemanha), Hengame Hosseini (Irão), James Bascara (EUA), Low Pey Sien (Malásia) ou Rusnė Dragūnevičiūtė (Lituânia). Esta é a primeira vez que os trabalhos de Tracy Choi, Nancy Io, Noah Ng e Lei Cheok Mei são exibidos na Alemanha, sendo que todo o cartaz de exibições contará com comentários da cineasta alemã Deborah Uhde e da filósofa alemã Lisa Schmidt-Herzog. Vídeos e companhia Relativamente à mostra “As Intervenções Utópicas nas Paisagens de Berlim”, nasce de um colectivo de artistas berlinenses intitulado “Arbeitspause”, que em português significa “pausa no trabalho”, do qual faz parte Cheong Kin Man. Neste projecto, o antropólogo voltou a trabalhar com a artista polaca Marta Stanisława Sala, com quem já desenvolveu outras iniciativas artísticas, bem como com Johanna Reichhart, da Alemanha, e Marcos García Pérez, de Espanha. O evento exibe 30 trabalhos de autores internacionais como colagens, desenhos, fotografias, instalações, trajectórias e vídeos. Uma fotografia do fotógrafo português Jorge Veiga Alves estará em exibição em conjunto com outros trabalhos das fotógrafas japonesas e americanas, Hoshino Saki e Jennifer Liu. Inclui-se ainda, nesta mostra, uma colagem de Cheong Kin Man e Marta Sala, com o nome “Os Signos Utópicos”, que não é mais do que uma publicação com cerca de uma centena de ideogramas fictícios com uma linguagem “utópica”. Esta mostra, bem como a exibição dos filmes de Macau, contam com o apoio do Fórum da Sociedade Cooperativa de Berlim, criada entre 1993 e 1994 e que reúne 49 cooperativas de habitação de Berlim e de Brandemburgo.
Sérgio Fonseca Desporto MancheteGP | FIA decide em Fevereiro sobre a Taça do Mundo de F3 Oficialmente, o Grande Prémio de Macau de 2023 ainda não consta do calendário internacional da Federação Internacional do Automóvel (FIA). Contudo, Gian Carlo Minardi, o presidente da Comissão de Monolugares da FIA, afirma que a reputação do Grande Prémio de Macau continua intacta e a confirmação do regresso da Taça do Mundo de Fórmula 3 da FIA ao Circuito da Guia deverá acontecer no próximo mês “Existe actualmente o Campeonato de Fórmula 3 na pirâmide da FIA [cujo calendário já é conhecido], mas a Taça do Mundo está sujeita a confirmação na reunião da Comissão de Monolugares da FIA de 7 de Fevereiro”, esclareceu ao HM o presidente da Comissão de Monolugares da FIA, uma posição que no passado foi ocupada por Barry Bland, Gerhard Berger ou Michael Masi. No paddock do Campeonato de Fórmula 3 da FIA, as equipas aguardam um anúncio para breve sobre o muito ansiado regresso do Circuito da Guia no mês de Novembro. Apesar da RAEM ter ficado afastada da rota das principais competições automóveis mundiais por três anos consecutivos, o apelo do seu evento não parece ter esmorecido. “Não creio que três anos de inactividade tenham diminuído o prestígio do Grande Prémio de Macau, que foi sempre como uma final mundial da categoria”, esclarece o influente Gian Carlo Minardi, fundador da extinta Minardi, uma equipa que entrou no campeonato mundial de F1 em 1985 e que hoje, após duas trocas de proprietário, se chama Scuderia AlphaTauri. Apesar do optimismo no retorno da Taça do Mundo, Gian Carlo Minardi voltou a tocar num ponto muito importante e que em 2019 foi motivo de várias discussões, a segurança do Circuito da Guia. “Talvez o foco devesse ser a segurança e se os actuais monolugares de F3 estão ou não sobredimensionados para estes circuitos urbanos, mas isso também depende de avaliações a serem abordadas pela Comissão de Segurança de Circuitos da FIA”, referiu o italiano. Recorde-se que a introdução destes carros mais potentes na 4.ª edição da mais recente iteração da Taça do Mundo de F3 da FIA foi tudo menos consensual. Várias questões de segurança foram levantadas devido às elevadas velocidades que estes monolugares construídos pela Dallara atingem. Felizmente, a edição de 2019 correu dentro da normalidade, mas para ser aprovado, o Circuito da Guia teve que receber uma nova homologação da FIA, passando de Grau 3 para Grau 2 após algumas alterações pontuais no circuito. F4 é para os nacionais Nos últimos três anos a prova principal do Grande Prémio ficou entregue aos monolugares de Fórmula 4 do campeonato nacional chinês, mas a categoria introdutória para os jovens pilotos provenientes do karting não deverá ganhar um protagonismo muito maior no futuro. Em Outubro de 2016, a FIA registou na Direcção dos Serviços de Economia de Macau a marca “F4 World Final”, mas a visão de hoje da FIA para esta categoria de promoção é que esta esteja confinada a campeonatos nacionais ou regionais. “Hoje, a F4 é a fórmula mais propedêutica do mundo, mas penso que neste momento deve permanecer em campeonatos nacionais e não se tornar num Campeonato Mundial ou combiná-la com a Fórmula 1 [como a Fórmula 3 e Fórmula 2]. Temos a tarefa de salvaguardar, não só a segurança, mas também os custos e permitir que o maior número possível de pilotos se aproxime do nosso desporto”, concluiu Gian Carlo Minardi.
Hoje Macau China / ÁsiaCELAC | Xi Jinping apoia a integração da América Latina na cimeira O Presidente chinês expressou ontem o apoio do país à integração regional da América Latina e do Caribe, no âmbito da VII Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da CELAC, realizada em Buenos Aires. “A China atribui grande importância ao desenvolvimento das relações com a CELAC [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos], que considera um parceiro importante para consolidar a unidade entre os países em desenvolvimento e promover a cooperação Sul – Sul”, afirmou Xi Jinping, numa mensagem gravada dirigida aos países membros. O líder chinês observou que a China trabalhou activamente com a região para promover uma “nova era” nas relações entre os dois lados, caracterizada por “igualdade, benefício mútuo, inovação, abertura e bem-estar dos povos”. “Um número crescente de países da América Latina e Caribe (ALC) estabeleceu ou restabeleceu relações diplomáticas com a China e está a trabalhar em conjunto com a China na construção da comunidade China – ALC com um futuro partilhado”, afirmou Xi Jinping. O Presidente chinês também saudou a “construção conjunta” da iniciativa ‘uma faixa, uma rota’, o projecto internacional de infra-estruturas lançado por Pequim, e a participação da região na Iniciativa de Desenvolvimento Global e na Iniciativa para a Segurança Global, ambos promovidos pelo governo chinês. Os países latino-americanos e caribenhos “são uma parte importante do mundo em desenvolvimento” e são “participantes activos na governação dos assuntos globais”, algo necessário num mundo que entrou num “novo período de turbulências e transformações”, apontou Xi. “Estamos dispostos a manter a solidariedade com os países da região e a avançar juntos, valorizando os valores comuns da humanidade de paz, desenvolvimento, equidade, justiça, democracia e liberdade, e promover o desenvolvimento dos mercados mundiais”, afirmou.
Hoje Macau China / ÁsiaZâmbia | FMI confiante que credores internacionais cheguem a acordo A directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, disse na terça-feira em Lusaca estar “confiante” que possa ser alcançado um acordo entre a Zâmbia e os seus credores, incluindo a China. Em 2020, a Zâmbia, um dos maiores produtores mundiais de cobre, foi o primeiro país africano a entrar em incumprimento no pagamento da sua dívida externa – estimada em 17,3 mil milhões de dólares – desde o início da pandemia de covid-19. “Estou confiante de que os credores chegarão a um acordo” com o país, disse Georgieva numa conferência de imprensa em Lusaca, no decorrer de uma visita à Zâmbia. “Ficou claro para mim durante esta visita que a Zâmbia está a fazer o que deve, por isso encorajo fortemente os credores a seguir em frente”, acrescentou. Washington fez pressões para obter da parte dos credores, particularmente da China, “a redução da dívida da Zâmbia”, disse na segunda-feira a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, também em Lusaca no decurso da visita que está a efetuar a vários países africanos. A Zâmbia melhorou as relações com os seus credores internacionais desde a eleição em 2021 do Presidente Hakainde Hichilema, um antigo empresário, que prometeu erradicar a corrupção e ressuscitar a economia. A dívida explodiu sob a Presidência de Edgar Lungu, que fez empréstimos maciços para financiar uma série de projectos de infraestrutura durante os seus seis anos na chefia do Estado.
Hoje Macau China / ÁsiaNigéria | Investimento de 1,3 mil milhões em porto financiado pela China O investimento chinês no continente africano continua em alta com apoios financeiros em projectos de desenvolvimento de infra-estruturas O Presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, anunciou na terça-feira a abertura de um porto marítimo em Lagos, um investimento de 1,5 mil milhões de dólares, financiado pela China, que ajudará ao crescimento da economia do país. O Porto Lekki Deep Sea é um dos maiores da África Ocidental e criará centenas de milhares de empregos, além de aliviar o congestionamento de cargas que custa milhares de milhões de dólares em receitas anuais ao país, disse o governador de Lagos, Babajide Sanwo-Olu, na segunda-feira. O porto, cujo terminal de contentores terá capacidade para movimentar pelo menos 2,5 milhões de unidades padrão de 20 pés por ano, será operado e gerido por uma ‘joint-venture’ (sociedade em parceria) criada entre o Governo nigeriano, o estado de Lagos, o Tolaram Group, com sede em Singapura, e a estatal China Harbor Engineering Company, em que as duas empresas estrangeiras têm uma participação maioritária de 75 por cento. A Nigéria é a maior economia da África, mas o crescimento está estagnado há muitos anos por causa de infraestruturas precárias e má gestão. Embora tenha seis grandes portos marítimos, mais de 80 por cento das importações do país são movimentadas por apenas dois dos portos de Lagos, onde o congestionamento levou a uma enorme perda de receitas, já que as cargas são muitas vezes desviadas para outras nações da África Ocidental. As autoridades do país dizem que o novo porto marítimo profundo na zona leste de Lagos desviará o tráfego dos portos congestionados e aumentará os ganhos, com benefícios económicos esperados de mais de 360 mil milhões de dólares para a economia nigeriana. Mas alguns especialistas argumentam que trará uma “diferença mínima” se os obstáculos existentes não forem ultrapassados, incluindo a garantia de conexões entre portos e áreas interiores. “Há uma rede ferroviária pobre e com pouco investimento e as estradas não estão em boas condições”, afirmou Ayotunde Abiodun, analista económico da empresa SBM Intelligence, com sede em Lagos. Catapulta económica O porto começa a operar com a chegada do primeiro navio comercial, no domingo, e o governador de Lagos disse que os barcos que atracam no porto “podem ter até quatro vezes o tamanho dos navios que actualmente atracam nos portos de Tin Can e Apapa”, os outros dois portos em Lagos. O projecto impulsionará o desenvolvimento económico não apenas de Lagos, mas de todo o país, de acordo com Cui Jianchun, embaixador chinês na Nigéria. “Este é (o) motor da economia não apenas para (o) governo de Lagos, mas também para a República Federal da Nigéria”, disse Jianchun. “Isso é capital de investimento. Não é um empréstimo”, frisou o diplomata. O porto tem um “potencial imenso” para a economia da Nigéria, que luta contra uma taxa de desemprego de 33 por cento e uma economia em crise, disse Abiodun.
Rui Cascais Via do MeioDias melancólicos se encontram no Outono NASCIDO EM 1963, em Zigong na província de Sichuan, Zhen Danyi, vive actualmente em Hong Kong, onde publica na Sixthfingerpress, uma editora-oásis, digamos assim, no ténue contexto cultural de Hong Kong. A sua mãe era actriz, uma intelectual que a Revolução Cultural poupou lançando-a para uma fábrica de açúcar para o resto da vida. Algumas das primeiras palavras que Danyi disse quando nos encontrámos foram: “odeio açúcar”.Os poemas aqui apresentados são de “Wings of Summer”, uma colectânea que reúne poesia de 1984 a 1997 em tradução inglesa de Luo Hui. É curioso encontrar um poeta que, ao contrário do cinismo em moda na Europa, não aposta em desdenhar do seu ofício. Em Portugal, por exemplo, tornou-se fino entre poetas dizer que “a poesia não interessa” (um famoso dictum de T.S. Eliot). Até faz sentido, para quem escreve nos subúrbios da vida, por tédio. Não no caso de Zheng Danyi, onde a escrita e a vida não são separáveis. Na sua poesia, como em muita da arte contemporânea chinesa, há uma crueza e um desassombro por vezes quase brutais que têm obtido uma recensão fora da China que as considera como violência gratuita ou como estranheza deliberada. Mas que outra coisa esperar de uma crítica e de uma sociedade que se habituaram a ver a arte como mero exercício? Como posso fazer-te acreditar que isto é o /Outono Quando tudo aqui Prova o oposto! Quando a mais fria água pega fogo Quem sabe – colo o meu ouvido A um sino. Quem sabe – Encomendei uma rajada de vento! Num mês As folhas caíram O sino esgotou o seu repique Como pode ter sido vinho A privar-me do meu desgosto! Como podes tu, caminhando sozinho Ter-te tornado escravo da tua alma Como podem os pássaros, mortos há muito Subitamente reaparecer no céu? Outono. Dias indescritíveis Dias em que o fogo extingue fogo Não, como posso fazer-te acreditar Que estes são dias em que electricidade se / dobra em metal! Estes são dias de apocalipse! Quando eu, / para ti Escancaro a porta da morte… Agora entra. Perplexas faces, gloriosas faces Dias melancólicos se encontram no Outono! QUANTOS OUVIDOS DA ALMA OUVEM Quantos ouvidos da alma ouvem idade Ou solidão? A última, a única liberdade Está desfeita. Quando intoxicada No cume da felicidade Nas profundezas de enormes plantas Quantos ouvidos da alma ouvem Rodas de pequenos dentes, girando Infinitamente girando Violentas línguas enredadas sob água Prodigalizando flores e interminável / bom vinho Porém cada nascer é um salvamento Como banquetes, uns a seguir doutros Pois o terror é bastante. Pois a terra Rouba antes de dar de novo Demasiado obsoleto! Por favor – Quantos ouvidos da alma ouvem O seu próprio arquejar, ou as batidas / do coração De crianças cantando Em punido ar A derradeira canção de inocência PRIMAVERA Como uma palavra de veias cortadas Isto é Primavera Após numerosas Primaveras Certos inimigos acordam Como um suave jardim Ervas, chuva, ou uma aguda vedação Tais coisas, no passado poderiam ter sido Espadas e adagas Amor, solidão… deixa estar Entre sonhos e fantasias Estão essas flamejantes pétalas Línguas traindo o amor Ou veias Secretamente quebradas? O vidro faz progressos Carregado com órgãos internos…Árvores / palácios Fazem progressos Em direção a gentileza, ou a cristal ou sal? Olha, vermiculares dedos, rostos Como Terreiros de execução – Meras folhas de papel branco Como poderemos suportar assaltos de sangue Olha, o que faz Este planeta de valas comuns entontecer, / cansar Não! Certamente não Costumes, morte, nascimento…ou um jardim Nas margens da carne destinadas a rebentar A terra está preparar, a devorar Outra Primavera CONHEÇO OS SONHOS DESTA REGIÃO Conheço os sonhos desta região Ao lado de uma ave fugitiva e de um sino / que toca Em Nanjing. Rochas para rochas se retiraram De Edifício graves Deixando muito espaço para árvores Flor de primavera, lua de Outono, ano sim, / ano não Paisagem e beleza desfilam, ar púrpura Fugindo de templo e igreja Buscando um cheiro, um bando de corvos Paira sobre o quarteirão…Um bando / de corvos Relutantes na partida, até Turistas serem trazidos ao alto do monte A mais bela Capital que já vi – a invernosa Najing Na margem da morte Mostrando paisagem. Secreta, serena…Até Carnudos remoinhos São trazidos de labirintos subterrâneos Abrupto ar de entardecer espalha ansiedade / e medo Uma ave fugitiva Sonhos de um sino que toca A capital foi para norte, as pessoas / ergueram-se E eu sei segredos mais profundos Para além da vista. Em delapidados Palácios, uma pérola única Ou uma cabeça tombada Causaram enorme incêndio Em Nanjing, metade do fogo penetrou / a poesia. A outra metade Contida por montes e lagos Imagens rectificadas por paisagem Torre subidas para ver – Nunca curta semana, a frente fria cruzou / o Yangtze Vestido em roupa almofadada Eu regressei À outra margem da morte…Oh Os meus passos apressados me envolveram Em sonhos desta região. Buscando um cheiro Repetindo faces fictícias A última noite trouxe grande neve Um par de sapatos de algodão me acenou Adeus às portas da cidade… A ave fugitiva, de novo, sonhou com um sino tocando Janeiro de 1989 OITO POEMAS CHAMADOS ESTILHAÇOS 1. O VENTO BATE COM SUAVES CASCOS O vento bate com suaves cascos nos vidros / da minha janela Eu balanço como água num copo No corredor branco do tempo Como um copo de água não me posso / inclinar O vento, depois dos bosques, varre agora / as ruas…. O vento, saindo da cidade…a um distante / vale Abre: castanha felicidade engarrafada Olho para dentro de mim…O vento Fica no copo, por isso só posso tremer Tremer. Ecoar O som das rochas despejadas nos tímpanos / do vale 2. POESIA O horário marcado, papel preparado, sangue / grita em calma Um som inclina-se para a frente Uma sombra varrendo diz: Agora A escrita começa Quando o vale mistura a sinfonia das canções / de amanhã Rasgo as ligaduras Rasgo a pele da dor para veres – Olha, aqui Poesia – este pássaro a ficar cor-de-rosa Penas cheias, músculos fortes, ossos / embrulhados Cordas vocais prateadas e finas como asas / de cigarra Todo completo…E aqui O crescimento no céu E fundos arranhões que deixou no papel… 3. RECUSA Toneladas de gelo flutuando no céu Chamamos-lhe nuvem Toneladas de raiva agitando-se no céu Chamamos-lhe trovão No cálice do universo Relâmpago gelado junta-se de novo a carne Toneladas de carne Chamamos-lhe amor Chamamos-lhe: qualquer coisa – Até que finalmente lhe chamamos; ódio Flutuando no coração Um pedaço de rugoso osso Entre estas linhas Nuvens de diferentes designações recusam-se / a fundir 4. VOCABULÁRIO BRANCO Então, deve ser assim que se cospe gravilha “Sobe rochas, esmaga…” Então, deve ser assim que se limpam / feridas mortas “Luvas, rochas, serra eléctrica…” Já não sonhamos para além de amanhã Nas rochas, vocabulário branco Paciente aguarda que a ordem esguiche, / em massa 5. MAS UM POETA É SÓ Mas um poeta é só um rádio amador No coração de sal e cristal, rápido nevoeiro / prevalece Cristal, olhos translúcidos, fixa blocos / de cimento Organizados como caixões ao longo / do céu Mais alto, num inferno de cimento, é salve-se / quem puder Mas um poeta pode voar – no sonho De um objeto voador feito de gralhas e papel / encharcado Mas um poeta é só alguém que fala no / nevoeiro Só um falante Em espesso nevoeiro Um archaeopteryx, exalando quentes / baforadas 6. COM POESIA Escuridão. Escuridão continua Um brilho branco no crânio Nunca pode ser esmagado Começo a limpar sangue em cadáveres Com poesia, começo a rezar Deixo sair calor aprisionado nos membros / de vocabulário Com poesia – o radiador inquebrado Quando no meu vas deferens algo se agita… 7. VIDA Vida, o que podes espremer agora A parte perecível pereceu A parte que abana foi abanada O que pode ser perdido, perdido O que pode ser sobreviver, sobrevive… Oh, Vida, a que me espreme Mas já não podes espremer mais, nem sequer Uma lágrima forçada 8. APARTAMENTOS DE CIMENTO Recuas perante ti mesmo, recebes O lençol branco com clavículas As portas estão sendo instaladas, uma a uma A cama, amarando as suas oito pernas, / não está disposta a suportar – Um frio Desejo de se erguer ocupa o leito de morte Desnecessariamente largo Com expressões presas e câmara lenta Novos inquilinos estão-se a mudar Erguendo-se, caindo, em fila As portas estão numeradas por dentro, / com endereços… Como pedras tumulares erigidas na mente “Não mais escrita – não mais!” Um cheiro ardente penetra as narinas Ela jaz na cama como suave fio Queimado por um sonho de alta voltagem… Maio de 1985 De Dezasseis Poemas, 1988 Introdução e Tradução de Rui Cascais
Hoje Macau SociedadeAlmeida Ribeiro | Encerramento elogiado por associações Uma alternativa para promover o turismo e que pode ser estendida a outra zonas da cidade, de maneira a criar uma nova dinâmica na economia. Foi desta forma que o sector do turismo avaliou o impacto do encerramento da Avenida Almeida Ribeiro. Ao jornal Ou Mun, o presidente da Associação de Sabedoria Colectiva de Macau, Yang Jun, considerou que a iniciativa de permitir que os turistas ocupassem a zona criou novos pontos interesse na cidade, aumentou o interesse dos turistas e impulsionou os negócios naquela área. Assim sendo, Yang propôs ao Governo que pondere a continuação do projecto, criando mais áreas pedonais durante os feriados ou fins-de-semana, em cooperação com o sector do turismo, que assim pode criar novos roteiros. Também o vice-presidente da Associação dos Embaixadores do Património de Macau, Carlos Lo, concordou com a opinião de que a iniciativa permite criar novos roteiros de turismo. Contudo, considerou que é possível melhorar a iniciativa, também de forma a evitar a excessiva concentração de turistas. Finalmente, Wong Man Pan, vogal do Conselho Consultivo do Trânsito, considerou a decisão um sucesso. Porém, alertou que no caso de se pretender prolongar o projecto, é necessário ter muita atenção para evitar a criação de novos engarrafamentos na cidade. Como o plano vai ser reiniciado a 4 e 5 de Fevereiro, Wong Man Pan admite que possa ser criada maior confusão no trânsito, por isso deixa o alerta para que as autoridades planeiem bem a iniciativa.
Hoje Macau Manchete SociedadeFundação Oriente | Catarina Cottinelli assume funções de delegada em Abril A instituição justificou a nova escolha com os objectivos de “dar continuidade ao plano de actividades culturais, educativas e sociais e da promoção da língua e da cultura portuguesas” A Fundação Oriente anunciou o reforço da estrutura em Macau com a nomeação de Catarina Cottinelli como nova delegada, a partir de Abril. A notícia foi divulgada pela instituição na semana passada, através de um comunicado enviado às redacções. “A escolha de Catarina Cottinelli decorre em linha com os objectivos estratégicos da delegação na Região Administrativa Especial de Macau, nomeadamente dar continuidade ao plano de actividades culturais, educativas e sociais e da promoção da língua e da cultura portuguesas, tanto através de iniciativas próprias, como por via de parcerias com entidades locais ou da concessão de subsídios”, foi justificado de acordo com o comunicado da Fundação Oriente. Bilhete de identidade Licenciada em Arquitectura pela Universidade Técnica de Lisboa (UTL), com especial foco na vertente da Renovação Urbana e Arquitectónica, a nova Delegada da Fundação Oriente em Macau tem ainda, entre outros, o mestrado em Cor na Arquitectura, na Faculdade de Arquitectura de Lisboa, e o doutoramento em Design, tendo obtido o grau de Estudos Avançados em Design, também na Faculdade de Arquitectura de Lisboa. No comunicado em que foi divulgada a notícia, Catarina Cottinelli considera que a função vai ser “um novo desafio pessoal e profissional”. “Assumo as novas funções também com o intuito de divulgar e promover o espólio da Fundação Oriente que merece ser conhecido e experienciado por todos”, afirmou. Na sua actividade profissional conta com colaborações em ateliers de Arquitectura, participações em projectos de mobiliário para o Centro Cultural de Belém, assim como em projectos de urbanismo, de que é exemplo o Plano Director Municipal de Vila Real de Santo António, no Algarve. Em Macau desde Abril de 2018, Catarina Cottinelli leccionou na Universidade de São José. A Fundação Oriente tem sede em Lisboa e, através de delegações, está presente em Macau, na China, em Goa, na Índia e em Timor-Leste. Com um carácter educacional e didáctico, desenvolve acções culturais, educativas, artísticas, científicas, sociais e filantrópicas, que têm em vista a valorização e a continuidade das relações históricas e culturais entre Portugal e o Oriente. A anterior delegada, Ana Paula Cleto, assumiu as funções em 2010.
João Santos Filipe SociedadeAcidente com esquentador mata três pessoas na zona de S. Domingos Três pessoas perderam a vida no sábado, devido à inalação de monóxido de carbono, libertado por um esquentador. A tragédia foi descoberta pela empregada de limpeza, que quando entrou na habitação, situada no Largo de São Domingos, encontrou a mãe, o filho, no chão, e um amigo da mãe, no sofá, sem vida. De acordo com a informação publicada pelo jornal Ou Mun, no domingo, o problema que levou à concentração elevada de monóxido de carbono ainda não era conhecido. Quando se deu a fuga, encontravam-se na habitação uma mulher de 28 anos, o filho, de quatro anos, e ainda um amigo da família, com 31 anos. Estas três pessoas foram encontradas sem vida, em diferentes divisões da casa, pela empregada de limpeza, quando se deslocou ao local para trabalhar. No local, a mulher chamou imediatamente a mãe da mulher, enquanto os vizinhos contactaram as autoridades. Chegados ao local, os bombeiros transportaram as vítimas para o hospital. Contudo, a deslocação pouco mais serviu do que para confirmar as mortes e apontar como causa o envenenamento por monóxido de carbono, dado os elevados níveis desta substância no sangue das vítimas. Concentração perigosa Em casa das vítimas, as equipas de salvamento fizeram a medição dos níveis de monóxido de carbono e confirmaram uma elevada concentração deste gás, conhecido como assassino silencioso. O monóxido de carbono envenena as vítimas, sem que estas, na maior parte dos casos, se apercebam do que está a acontecer, ao induzir alguns sintomas como fadiga, vontade de dormir ou náuseas. Segundo a Comissão de Segurança no Consumo de Produtos, dos Estados Unidos, a exposição a níveis superiores a 150 partes por milhão é fatal. Quando fizeram a mediação, a concentração mais elevada foi detectada nos quartos da casa, com os valores a serem de 150 e 62 partes por milhão. Na casa-de-banho e na cozinha os valores da concentração foram de 28 partes por milhão e 34 partes por milhão, respectivamente. No entanto, as medições foram feitas numa altura em que por motivos de segurança duas botijas de gás tinham sido levadas da cozinha para a varanda e as equipas de salvamento tinham retirado do local os corpos das vítimas.
Hoje Macau Manchete SociedadeHong Kong | Regresso das ligações com Macau ameaça golfinhos A directora-adjunta da Sociedade para a Protecção dos Golfinhos de Hong Kong, Viena Mak Hei-man, alertou que as ligações entre Macau e Sheung Wan cortam a meio um dos principais habitats do golfinho branco Uma investigadora portuguesa considerou que o regresso das ligações marítimas entre Macau e Hong Kong vai ameaçar ainda mais a sobrevivência dos golfinhos brancos chineses na região do Delta do Rio das Pérolas. As viagens de barco rápido entre a península de Macau e Sheung Wan, no centro de Hong Kong, foram retomadas na quinta-feira, após quase três anos de interrupção devido à pandemia de covid-19. São más notícias para os golfinhos, lamentou a directora adjunta da Sociedade para a Protecção dos Golfinhos de Hong Kong (HKDCS, na sigla em inglês), após recolher equipamento colocado no mar para detectar sons dos mamíferos junto a Tuen Mun, no noroeste da região administrativa chinesa. Viena Mak Hei-man sublinhou que a rota da carreira marítima “corta a meio” aquele que é “um importante habitat” dos golfinhos brancos, entre a ponta sudoeste da ilha de Lantau e as ilhotas Soko, no sul de Hong Kong. Regresso interrompido A investigadora disse que a interrupção das ligações marítimas entre Macau e Hong Kong, a partir de Fevereiro de 2020, permitiu aos animais voltarem “de forma muito mais frequente” às Soko, “um local muito bom para os golfinhos socializarem e alimentarem as crias”. O ano de 2020 registou um aumento “muito significativo” da actividade dos golfinhos brancos, incluindo de grupos maiores, algo que deixou Viena Mak Hei-man, que investiga estes mamíferos há quase dez anos, “muito esperançosa”. Mas o número de golfinhos avistados durante as viagens regulares da HKDCS caiu de 52 em 2019 para 37 no primeiro ano da pandemia, antes de subir para 40 em 2022. Ainda assim muito longe do máximo histórico de 188 registado em 2003. “Os grandes mamíferos marinhos precisam de mais tempo para reagir” ao impacto da actividade humana, incluindo a construção de grandes infra-estruturas e projectos de recuperação de terrenos ao mar, disse. A investigadora lamentou que as autoridades de Hong Kong tenham rejeitado uma proposta, já feita em 2017, para desviar para sul a rota dos barcos, algo que “custaria à operadora talvez mais 10 minutos de viagem e um pouco mais de combustível” até Macau. As ligações marítimas entre Macau e Hong Kong são feitas pela Turbojet, que faz parte do império fundado pelo magnata Stanley Ho Hung-sun, falecido em 2020, e que abrange a operação de 13 casinos em Macau e do Casino de Lisboa e Casino do Estoril, em Portugal. Menos conforto O Departamento Marinho de Hong Kong respondeu que levar a rota para mais longe da costa, para águas mais turbulentas, “poderia tornar a experiência de viagem mais desconfortável para os passageiros”, recordou a investigadora. O optimismo da portuguesa levou um novo rombo com o quase desaparecimento dos golfinhos chineses das águas a norte da ilha de Lantau, devido à construção da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, que arrancou em 2009. “Se nada for feito de forma urgente, vai ser muito difícil manter a população actual” de golfinhos brancos, avisou Viena Mak Hei-man. “O Governo continua a propor mais projectos de aterros e mais pontes (…). Este tipo de construção não é sustentável”, lamentou a investigadora.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeAngola | Contas em Macau associadas a esquema offshore Uma notícia do semanário Expresso dá conta que o angolano Orlando José Afonso, sócio do antigo vice-presidente de Angola e ex-dirigente da Sonangol, Manuel Vicente, escondeu vários milhões de euros em contas offshore numa rede criada a partir das Ilhas Caimão, onde se incluem duas contas bancárias em Macau, nos bancos Millenium BCP e ICBC Macau surge no rasto do dinheiro ligado à Sonangol, empresa petrolífera estatal angolana, quando esta era controlada por Manuel Vicente, antigo vice-presidente de Angola. Segundo uma notícia da última edição do semanário Expresso, Orlando José Afonso, sócio de Manuel Vicente, terá criado uma estrutura offshore a partir das Ilhas Caimão para esconder vários milhões de euros, onde se incluem duas contas bancárias em Macau, no Millenium BCP e no ICBC – Industrial and Commercial Bank of China. O semanário português teve acesso a documentos que mostram que o esquema para ocultar o dinheiro foi criado em 2018, depois de Manuel Domingos Vicente ter deixado a vice-presidência de Angola. Os documentos em causa surgem da Genesis Trust & Corporate Services, uma empresa que fornece serviços de incorporação e gestão de estruturas offshore nas ilhas Caimão. Na correspondência surge a referência a Orlando José Afonso “apenas pelas iniciais do seu nome, OJV, Orlando José Veloso, identificado como um cliente PEP, isto é, uma pessoa politicamente exposta”, lê-se na notícia. A encomenda para criar este esquema surgiu de um escritório de advogados sediado no Dubai. A referida empresa criou um trust nas Ilhas Caimão com o nome Purple Rose Star Trust, que ficou responsável pelo controlo de sete empresas offshore sediadas em diversas jurisdições, que detinham várias contas bancárias e investimentos imobiliários em vários países, onde se incluem as contas de Macau e ainda uma conta no Deutsche Bank em Portugal. Há também registo de contas no Banco da China. Muitos milhões Corria o ano de 2016 quando Orlando José Afonso deixou de ser presidente da empresa responsável pelos investimentos imobiliários feitos em nome da Sonangol, de nome SONIP. Foi nesse ano que Isabel dos Santos, filha do já falecido ex-presidente José Eduardo dos Santos, passou a ser CEO da Sonangol. Orlando José Afonso estava, à data, na Sonangol desde 1994 e era tido como alguém muito próximo de Manuel Vicente, antigo CEO e vice-presidente a partir de 2012. Há muito que a Sonangol está associada a esquemas de desvio de dinheiros públicos. Rafael Marques, jornalista de investigação angolano que mais tem denunciado esquemas de corrupção, escreveu vários artigos de investigação sobre a cedência de dezenas de milhões de euros directamente da Sonangol, em forma de contratos, a empresas de Manuel Vicente e Orlando José Veloso.
João Santos Filipe Manchete PolíticaNovo Ano | Ho Iat Seng quer resolver problemas “arreigados” na sociedade Na mensagem de entrada no Ano do Coelho, o Chefe do Executivo voltou a mostrar confiança no futuro e apontou à recuperação económica. Ho Iat Seng reconheceu também a necessidade de resolver problemas há muito enraizados na sociedade Na mensagem de entrada no Novo Ano Lunar, o Chefe do Executivo prometeu tentar resolver “conflitos e problemas profundamente arreigados” na sociedade, resultantes do desenvolvimento económico e social. Na comunicação, além do compromisso, sem promessas de resultados, foi também destacado o caminho da integração no Interior. “Procuraremos, igualmente, resolver os conflitos e problemas profundamente arreigados no desenvolvimento económico e social, e iremos tirar pleno proveito das nossas próprias vantagens e características com vista a uma melhor integração de Macau na conjuntura do desenvolvimento nacional e à criação de uma nova conjuntura para a prática de um País, dois sistemas com características de Macau!”, prometeu Ho Iat Seng. Contudo, na mensagem, o Chefe do Executivo nunca indicou quais os problemas nem os conflitos que considera necessário resolver. Ho Iat Seng destacou que o ambiente económico vai melhorar no Ano do Coelho e que é necessário “persistir”, porque só assim se consegue alcançar o sucesso. “A persistência é a chave do sucesso. Perspectiva-se para o novo ano a dissipação gradual da névoa da pandemia”, vincou. “Estão a surgir múltiplos factores positivos que darão um forte impulso ao desenvolvimento de Macau, nomeadamente a concretização progressiva dos novos planos de investimento e desenvolvimento das empresas concessionárias de exploração de jogos e a implementação das várias políticas e medidas do Governo Central para apoiar o desenvolvimento de Macau”, acrescentou. “Macau irá superar definitivamente todas as adversidades e entrar numa nova fase de desenvolvimento!”, atirou. Ainda sobre as tarefas para este ano, Ho prometeu uma “governação sólida e estável”, o empenho na “recuperação económica”, a aceleração da diversificação da economia e a consolidação da construção da Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin. O reforço da Administração Pública, “melhoria das condições de vida dos residentes” e a “firme defesa da segurança nacional” são outros pontos em destaque na agenda do Governo. Apoios e afectos Sobre o balanço do ano que agora terminou, marcado por uma grave crise económica e um aumento elevado do número de suicídios, Ho Iat Seng considerou que as medidas do Governo permitiram ultrapassar os desafios de forma eficaz. “Fazendo uma retrospectiva do ano que passou, constatamos que foi um ano de desafios devido à volatilidade da pandemia e ao abrandamento da economia. Com o forte apoio e afecto do Governo Central, o Governo da RAEM coordenou eficazmente tanto as acções de prevenção e controlo da pandemia como as de recuperação económica”, considerou o líder do Governo. Além dos tradicionais agradecimentos ao Governo Central, Ho reconheceu também o contributo da população local. “Todos os residentes e sectores sociais, unidos, ajudaram-se mutuamente, superando o grande choque da pandemia”, sublinhou. Retoma de excursões do Interior é grande incógnita Apesar de ter sido prometida para os meses de Outubro ou Novembro do ano passado, a retoma das excursões vindas do Interior ainda está por implementar, e não há qualquer previsão sobre a aplicação da medida. Em declarações aos jornalistas, Ho Iat Seng reconheceu que também ele não sabe quando vai ser possível a retoma das excursões do Interior, embora tenha partilhado a crença de que isso possa acontecer “em breve”. Questionado sobre o assunto, o Chefe do Executivo afirmou que o Governo está em “contactos, recentes, com os serviços competentes do Interior da China sobre a retoma das excursões para Macau” e que “face ao lançamento das políticas nacionais e à situação estável da pandemia no país” acredita que o fim da suspensão de viagem das excursões do Interior “esteja para breve”. Nesta fase, em que se celebra o Ano Novo Lunar, Ho desvalorizou o impacto dsa excursões, por considerar que o preço dos hotéis é elevado o que faz com que esta não seja a melhor altura para “para promover viagens de excursões”. O Chefe do Executivo indicou também que a decisão do Interior para permitir as viagens vai depender da situação de Macau. “A retoma das excursões depende da situação em Macau, e se se atrasar um pouco a implementação desta medida, será melhor e o ideal para o custo ou preço das excursões, contribuindo para uma melhor transição entre o pico que se vive agora e uma altura mais tranquila no sector de turismo”, argumentou. Sem medo Actualmente, os turistas do Interior que pretendem viajar para Hong Kong precisam de realizar um teste de ácido nucleico na passagem fronteiriça. Por esse motivo, Macau foi um destino mais popular e teve menos concorrência, durante as festividades. Ho Iat Seng foi questionado se no futuro as alterações das medidas para viajar para Hong Kong poderão prejudicar o turismo de Macau, tornando a RAEM um destino menos apelativo face à região vizinha. Contudo, para Ho Iat Seng o efeito até poderá ser contrário. Ho disse “acreditar que, quando for retomada a normalidade da circulação entre o Interior da China e Hong Kong sem necessidade de testes, mais turistas vão viajar para a região vizinha, situação que pode trazer também mais turistas a Macau”. O líder do Governo defendeu este ponto de vista com a tendência que se verificava em 2019, antes da pandemia.
João Santos Filipe Grande Plano MancheteNovo Ano Lunar | Três anos depois a cidade volta a encher-se de turistas Ruas a abarrotar, controlos de circulação implementados, e muitas filas de espera. Com o Novo Ano Lunar vieram a Macau mais de 250 mil turistas, numa região administrativa especial que aparenta cada vez mais estar de regresso à normalidade Desde sábado, até ontem, mais de 250 mil turistas visitaram Macau para celebrar o Ano do Coelho, de acordo com os dados divulgados pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP). Com o fim das restrições de viagem no Interior, os turistas vieram celebrar o novo ano para uma cidade que em muitos aspectos regressou à vida pré-pandemia. Este ano, como tradicionalmente acontecia antes da covid-19, o dragão gigante dourado desfilou pelas ruas de Macau para assinalar o primeiro dia do ano do Coelho, numa cidade cheia de turistas, regressados depois do fim das restrições impostas pela política “zero covid”. Com 238 metros de comprimento e acompanhado por 18 leões, o dragão dourado partiu das Ruínas de São Paulo, fez um percurso pela zona histórica da cidade para transmitir votos de boa fortuna a todos os residentes e visitantes, afastando-se depois do centro para terminar junto à Torre de Macau. O regresso aproximado à “normalidade” foi possível porque desde o início de Dezembro, quando as autoridades do território anunciaram o cancelamento da maioria das medidas de prevenção e contenção da covid-19, à semelhança do que aconteceu na China, depois de quase três anos de rigorosas restrições, o número de visitantes tem vindo a aumentar gradualmente. Sempre a subir Em ambiente de festa, até às 11h, do primeiro dia do novo ano, tinham entrado 10.022 turistas em Macau, com as autoridades a esperarem, nessa altura, um máximo de 50 mil visitantes diários, menos 70 por cento do que antes da pandemia. A cautela nas previsões era justificada com a “situação ainda irregular dos transportes marítimos e aéreos”. No entanto, as melhores previsões do Governo foram ultrapassadas logo nos primeiros três dias do novo ano. Se no último dia do Ano do Tigre, sábado, “só” entraram 32.512 visitantes na RAEM, no domingo, segunda-feira, terça-feira a previsão oficial de 50 mil entradas foi sempre batida, com os registos a serem de 50.090 turistas, 71.672 e 90.416, respectivamente. A grande afluência nas ruas, e principalmente na Avenida Almeida Ribeiro, que esteve fechada ao trânsito e permitiu a circulação de peões, fez com que na terça-feira, a partir das 15h30, as autoridades tivessem mesmo de limitar a circulação. A partir dessa altura, as pessoas só podiam circular a partir do Edifício do Leal Senado em direcção ao Porto Interior, o que impedia que voltassem para trás por aquela artéria. Surpresa agradável Há mais de uma semana, em 13 de Janeiro, Macau tinha recebido quase 47 mil visitantes, o valor diário mais elevado no território desde que foi detectado o primeiro caso de covid-19, há quase três anos, indicou a Direcção dos Serviços de Turismo (DST). Na altura, o director substituto da DST, Cheng Wai Tong, afirmou que não ia ser possível “de um momento para o outro registar o mesmo número de visitantes” que no período do ano novo lunar de 2019, em que visitaram Macau 170 mil turistas por dia. “Não vamos conseguir ter todas as carreiras de ‘ferries’ a funcionar como antes da pandemia [de covid-19]. É impossível a retoma total dos voos e, por isso, é mais uma questão dos transportes que trazem os turistas”, considerou. No entanto, e no que não deixa de ser uma boa notícia para a economia da região, os números foram bastante mais elevados. Relativamente às reservas hoteleiras para a época festiva, o representante da DST sublinhou que, naquele momento, a taxa situava-se entre os 30 e os 50 por cento. Cidade em festa Nos primeiros dias do Festival da Primavera, vários eventos decorreram em toda a cidade, como o desfile do Dragão, a realização de espectáculos de fogo-de-artifício, o encerramento da Avenida Almeida Ribeiro e vários concertos. A animação vai continuar até ao fim-de-semana. Para os apreciadores de diferentes tipos de música, também não vão faltar alternativas. Os amantes do pop chinês contam com os espectáculos de George Lam, que actua hoje e amanhã, às 20h, no MGM Theater. Por sua vez, Grady Guan vai estar amanhã no Studio City, às 19h30. Fora do estilo pop, na sexta-feira, a Igreja de São Domingos vai ser o palco do concerto com “Melodias Inesquecíveis” associadas a esta época festiva. Ainda dentro do capítulo musical, no sábado, o Venetian recebe “Night of Fortune Lunar New Year Concert”. Sábado é também dia de repetição da Parada de Celebração do Ano do Coelho, desta feita no Norte da cidade, entre a Rua Norte do Patane e o Jardim do Mercado do Iao Hon, e o dia do último espectáculo de fogo-de-artifício. No domingo, realiza-se também uma parada, mas desta feita com motociclos, que vão circular nas imediações do Centro de Ciências de Macau. Finalmente, para quem deixou passar a experiência de caminhar na Avenida Almeida Ribeiro, a iniciativa vai ser repetida a 4 e 5 de Fevereiro, sábado e domingo, respectivamente. San Ma Lo atraiu turistas, políticos e até houve quem jogasse Mahjong As celebrações do Ano do Coelho ficaram marcadas pela iniciativa de encerramento ao trânsito da Avenida Almeida Ribeiro, o que permitiu que os peões pudessem circular. A iniciativa do Instituto Cultural foi altamente popular e encheu-se com muitos residentes e turistas, o que inclusive levou à necessidade de implementar num dos dias controlos de circulação. Além de nuvens suspensas, bancos e outras instalações artísticas, a avenida acolheu ainda actuações da Banda de Música do Corpo de Polícia de Segurança Pública e espectáculos de concessionárias, com shows alusivos ao Novo Ano, que contaram com a presença do “Deus da Fortuna”. No meio de tanto furor, não faltou a presença de membros do governo, atraídos pela popularidade do local. Numa presença altamente coreografada, em que se fez acompanhar pela mulher, Cheng Soo Ching, Ho Iat Seng desfilou pelo local para desejar um bom ano para os comerciantes e ouvir turistas e residentes. Integraram também a comitiva, que se fez acompanhar por vários seguranças, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, a chefe do Gabinete do Chefe do Executivo, Hoi Lai Fong, e a presidente do Instituto Cultural, Deland Leong Wai Man. Outro membro do Governo que fez questão de ser fotografado na avenida, foi Wong Sio Chak, secretário para a Segurança. A deslocação, que fez parte de visitas a outros postos fronteiriços, foi justificada com a necessidade de verificar a situação de segurança in loco e de agradecer pessoalmente aos seguranças que passaram as festividades a trabalhar. Ao longo do trajecto, o secretário terá ainda destacado “o sacrifício da vida privada em prol dos interesses públicos nos dias festivos” dos trabalhadores da sua tutela. Se por um lado, houve quem aproveitasse o encerramento ao trânsito da avenida conhecida em chinês como San Ma Lo (Estrada Nova), por outro, houve quem aproveitasse o espaço para outras actividades recreativas. A altas horas da madrugada, um grupo de amigos fotografou-se em frente do Edifício do Leal Senado à volta de uma mesa a jogar Mahjong. E embora não se saiba se o jogo foi levado até ao fim, a imagem rapidamente se tornou viral nas redes sociais. DSEC | Menos 85% de visitantes face a 2019 Macau recebeu menos 85,5 por cento de visitantes em 2022 do que no último ano antes da pandemia, segundo dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). O ano passado, a região administrativa especial chinesa perdeu 33,7 milhões de visitantes, quando se compara com os números de 2019, ano em que se registou o recorde de 39,4 milhões de visitantes. Mas, de acordo com os dados da DSEC, o número de visitantes em 2022 (5,7 milhões) caiu também 26 por cento face a 2021. Em Dezembro, o número ainda decresceu 52,6 por cento em relação ao mesmo mês de 2021, devido às restrições fronteiriças e à vaga de casos de covid-19 que atingia a China continental, de onde chega a esmagadora maioria dos visitantes. Praticamente isolada desde o início de 2020, devido às medidas de prevenção contra a pandemia, Macau levantou restrições à entrada no território no final de Dezembro. Com Lusa
Hoje Macau China / ÁsiaCovid-19 | Coreia do Norte ordena confinamento em Pyongyang por cinco dias As autoridades norte-coreanas ordenaram um confinamento de cinco dias a partir de hoje em Pyongyang, após o aumento das infeções de uma doença respiratória não especificada, divulgou hoje o meio de comunicação especializado NK News. A decisão determinou que os cidadãos devem permanecer nas suas casas até ao próximo domingo e ainda enviar às autoridades a temperatura corporal várias vezes ao dia, de acordo com o NK News, que teve acesso à comunicação oficial do Governo norte-coreano. As autoridades norte-coreanas indicaram que tais medidas foram tomadas devido ao “aumento” de casos de doenças respiratórias, como o resfriado comum, embora não tenham mencionado a covid-19. No momento, não se sabe se há outras áreas do país sujeitas ao confinamento, que é semelhante a outro que ocorreu em maio de 2022, quando o regime reconheceu a propagação do SARS-CoV-2 no país. A Coreia do Norte anunciou em agosto passado que havia erradicado completamente o vírus do seu território, uma afirmação que foi colocada em dúvida por muitos especialistas devido às condições do sistema de saúde do país e pela falta de vacinas e testes, entre outros fatores. O líder norte-coreano, Kim Jong-un, declarou a “vitória” sobre a covid-19 e ordenou o levantamento das medidas de restrição mais graves, apenas três meses depois de o país ter detetado oficialmente o seu primeiro caso do novo coronavírus. O regime disse que, naquele período, cerca de 4,7 milhões de pessoas – ou 20% da população do país – tiveram a doença e que mais de 20 morreram, dados que não se encaixam na evolução da pandemia em outros países e que leva os especialistas a pensar que muitos dos casos contabilizados como suspeitos poderiam ser de febre tifoide. Da mesma forma, na segunda-feira, a televisão estatal norte-coreana transmitiu um documentário exaltando a forma como foi tratada a covid-19 no país, um “evento sem precedentes” que levou o país a um encerramento total das suas fronteiras.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeProjectos arquitectónicos de Rui Leão e Carlotta Bruni distinguidos Dois projectos arquitectónicos desenvolvidos pelo atelier LBA – Arquitectura e Planeamento, de Rui Leão e Carlotta Bruni, ganharam os prémios de Ouro e Prata dos Prémios ADC [Architecture and Design Community] de 2022. O projecto do Centro Modal de Transportes da Barra ganhou a distinção Ouro, tal como o projecto do complexo habitacional do Fai Chi Kei, enquanto a renovação de um edifício de serviços no centro histórico de Macau obteve a distinção Prata. De frisar que este projecto foi recentemente distinguido pela UNESCO. Sobre os Prémios ADC, Rui Leão disse ao HM que “representam o trabalho feito pelo atelier nos últimos anos e é um reconhecimento internacional muito importante”, além de serem uma verificação “da arquitectura que produzimos, que mostra que aquilo que fazemos tem qualidade”. O arquitecto não está surpreendido por ter obtido a distinção Ouro com o Centro Modal de Transportes da Barra, pois trata-se de “um projecto muito bom enquanto desenho de arquitectura”. Rui Leão recorda “um projecto difícil, pois a execução da obra foi difícil e demorada. Custou-nos um pouco isso porque houve um grande investimento do projecto”, com a coordenação de diversas entidades públicas. “Se demorou muito tempo foi porque houve muitos problemas na construção. Mas é importante que o projecto seja reconhecido e, para nós, é uma forma de reconciliação com tudo isto.” “Agarrar” a cidade Em relação ao complexo habitacional do Fai Chi Kei, já distinguido anteriormente, Rui Leão destaca sobretudo a ligação com a cidade. “Apesar de ter sido concluído em 2014 é um projecto que se mantém muito actual, porque tem uma exploração a nível do espaço comum e do público, pela maneira como agarra a cidade. A importância que atribuo ao projecto do Fai Chi Kei é o facto de fazer isso mesmo, desenhar a cidade e ter preocupações de integração social. O arquitecto aponta que, nos últimos 10 a 15 anos, a forma de construir foi mudando. “Macau evoluiu muito nestes últimos anos e a maneira como se trabalha, em termos de exigência técnica para a área de projecto, aumentou muito nos últimos 10 a 15 anos, e isso está associado à construção dos grandes casinos, que têm uma escala muito diferente e maiores controlos de qualidade. Toda a indústria teve de acompanhar esse ritmo e o próprio Governo foi atrás dessa prática internacional associada aos casinos”, concluiu.
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesDepois da pandemia A epidemia da Gripe Espanhola (1918 to 1920) provocou um número de infecções e de mortes sem precedentes. Foi considerada a mais mortal depois da Peste Negra (uma epidemia global da praga bubónica que atingiu a Europa e a Ásia em meados do séc. XIV). Os impactos da Gripe Espanhola não foram de modo algum inferiores aos da actual COVID-19. A partir do século passado, diversas pandemias assolaram a humanidade como a SARS, a MERS, a Gripe das Aves, a Gripe A, a Cólera e a SIDA, ameaças que persistem até aos nossos dias e que assustam a população mundial. Para além da pandemia, as questões políticas também ameaçam vir a causar mudanças sem precedentes na ordem mundial, que permaneceu praticamente invariável ao longo do último século. Em 1911, a Revolução na China, também conhecida como Revolução Xinhai, pôs fim ao regime imperial, permitindo que o país enveredasse por um caminho que o conduziria à República. No entanto, a esta revolução seguiu-se a restauração do regime imperial, ao qual sucedeu um período de domínio dos senhores da guerra. Todas estas convulsões não tinham tido precedentes na História da China. Na Europa, a Primeira Guerra Mundial (1914 to 1918) deu origem ao primeiro país comunista, a União Soviética, que trouxe mudanças sem precedentes no sistema político a nível mundial. A Segunda Guerra Mundial e a Guerra Civil Chinesa (travada entre o Governo liderado pelo Kuomintang e as forças da República da China e o as do Partido Comunista Chinês) trouxeram mudanças que ainda hoje se continuam a desenrolar. As mudanças podem ser uma bênção ou uma maldição dependendo de quem as lidera e assume o poder. O ano de 2023 será difícil. A operação militar especial das forças russas na Ucrânia, que já dura há praticamente um ano, deve ter consumido muitas vidas e recursos militares do país. Só as despesas que a Rússia tem com os mercenários do Wagner Group representam custos astronómicos. O uso de Putin dos recursos energéticos como arma (o petróleo e o gás natural) para ameaçar os países europeus perdeu força devido a um Inverno com temperaturas amenas. Pelo contrário, a dependência energética europeia da Rússia está a mudar e as sanções dos países ocidentais contra a Rússia mantêm-se firmes. Desde que a Ucrânia não envie tropas para atacar a Rússia, e se limite a defender e tentar recuperar os seus próprios territórios, não há qualquer razão para a Rússia lançar ataques nucleares. Se Putin lançar um ataque nuclear apressadamente, está condenado a falhar. A guerra russo-ucraniana não vai durar para sempre. A melhor forma seria terminar a guerra através de conversações de paz, mediadas por um terceiro país ou pelas Nações Unidas e proceder a uma retirada bem calculada. Caso contrário, em breve teremos uma guerra desastrosa como já não se via há um século. Mas para além da ameaça da guerra, a segurança nacional também pode ser abalada por problemas de ordem económica. De acordo com os dados divulgados, no dia 17 deste mês, pelo Serviço Nacional de Estatística e Censos da China o crescimento económico do país em 2022 foi de 3 por cento, muito abaixo dos 5.5 por cento esperados. Em termos demográficos, a China registou um crescimento negativo pela primeira vez em 61 anos, com um decréscimo de 850.000 pessoas. Isto significa que a China perdeu o seu dividendo demográfico e entrou numa era de envelhecimento da população. Se o crescimento demográfico negativo se tornar uma tendência, o que acontecerá à China no futuro? A China declarou há algum tempo que o seu crescimento económico anual deveria ser mantido pelo menos nos 6 por cento, caso contrário, surgiriam problemas socio-económicos. Infelizmente, acabou por pagar um preço muito elevado depois de adoptar a política nacional da “meta dinâmica de infecção zero” durante três anos para combater a pandemia. Mas acredito que serão feitos ajustes às políticas vigentes na reunião do Congresso Nacional Popular e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, que terão lugar no próximo mês de Março, para que a economia chinesa e os vários aspectos de ordem social possam voltar ao normal o mais rapidamente possível, uma vez que estas alterações criarão condições favoráveis para um desenvolvimento positivo. Depois de ajustar as medidas de combate à pandemia, Macau está a esforçar-se para obter uma receita anual, a partir da taxação sobre o jogo, de 130 mil milhões de patacas em 2023, o que é uma abordagem pragmática. As centenas de milhões da reserva financeira obtidas pelos dois anteriores Chefes do Executivo da cidade podem não conseguir suportar as enormes despesas anuais do Governo da RAEM por muito mais tempo. Uma vez que a economia é a base da estabilidade social, se o Governo conseguir impedir a deterioração da qualidade de vida dos residentes e lutar pelo objectivo de uma governação orientada para o serviço social para evitar o caos, estará a dar a maior contribuição para a segurança nacional.
José Simões Morais Via do Meio2023 Ano de Água Coelho O ano lunar de 2023 começa a 22 de Janeiro e terminará a 8 de Fevereiro de 2024, sendo que para o Feng Shui o início do ano do Coelho é o dia 4 de Fevereiro de 2023, quando se celebra o Lichun, Princípio da Primavera. Este ano haverá um duplo Lichun, por isso será bom para casar e um duplo mês lunar a ocorrer na segunda lua. A China, com uma existência de setenta e oito ciclos, cada um de 60 anos, para este ano apresenta o número 40 a corresponder a Gui Mao (癸卯, em cantonense kouai máo), ‘Coelho correndo para a floresta’. No Caule Celeste, o Elemento Gui (癸), Água yin, tem a direcção Norte, e no Ramo Terrestre, Mao (卯) Coelho/Lebre (nome comum Tù) é regido pelo Elemento Madeira yin, com direcção Leste. Água alimenta a Madeira, o que é uma boa cooperação entre os elementos, mas o problema está na Água yin pois é pouca e é toda absorvida pela madeira, o que representa o ano a manter-se ainda seco. 2023 será uma cópia do ano de 2022, com a diferença de ser menos intenso, pois o ano transacto era Água yang e Madeira yang e este ano será de Água yin e Madeira yin. Assim os problemas ocorridos no ano anterior, as catástrofes, como a guerra, tremores de terra, erupções de vulcões, desastres de avião e a pandemia continuarão, mas serão mais leves e diluídos. Gui Mao (癸卯 Água yin e Madeira yin) combinado com a palavra-chave de pandemia Wu Xu (戊戌) leva à manutenção da situação de Fogo, mas tudo irá continuar a ocorrer, no entanto, com menor intensidade. Devido aos três anos de pandemia e aos problemas económicos por ela causados, que levaram a um buraco negro financeiro, já com as pessoas habituadas à recessão, tal não as apavora, nem provocará nenhum choque e assim a confiança pode voltar a aparecer, sendo a saúde o foco principal para 2023. FUN TAI SOI Este ano o Tai Soi (Deus do Ano) localiza-se na região Leste (75°-105°), devendo evitar-se a direcção oposta (255°-285°) para praticar actividades de peso e fazer reconstruções. Os efeitos do Tai Soi começam após o Lichun, 4 de Fevereiro de 2023, quando se inicia a Primavera, no momento em que o Sol está em 315° da eclíptica. No Fan Tai Soi (ofende o Deus do Ano), o Coelho encontra-se em Zhi Tai Soi, contra o Deus do Ano e em oposição, o Galo está em Chong Tai Soi, a colidir com o Tai Soi do Ano. Já o Rato, está em Xing Tai Soi, significando Xing ser julgado pelo Deus do Ano. Em Po Tai Soi estão os nativos de Cavalo sendo por isso fácil ocorrer-lhes danos, devidos a encontrarem-se entre os seis que se combinam (no grupo de Rato, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo). Os nativos de Dragão estão em Hai Tai Soi, magoado pelo Tai Soi pois o animal com que combina, o Galo está a colidir com o Tai Soi do Ano. O mês do Coelho ocorre entre 6 de Março e 4 de Abril de 2023. Nos dias de Coelho e de Galo deve evitar-se iniciar qualquer actividade e em 2023 eles ocorrem no dia 8 de Fevereiro, o do Galo, e seis dias depois, 14 de Fevereiro o dia de Coelho. Também entre as 5 e as 7 horas da manhã (Coelho) ou 17 e 19 horas da tarde (Galo) são períodos a evitar tomar decisões. Para o ano de Água Coelho, os nativos de Macaco e Cabra estarão no topo da boa sorte, sendo os melhores colocados no Zodíaco. Os nativos de Cão e Tigre estão propensos a saltitar por entre namoricos. Já os nativos de Búfalo e Serpente não contarão com a ajuda de boas estrelas da sorte. Os nativos de Porco, se fugirem para fora do habitual e fizerem algo que normalmente não realizam terão surpresas e sucesso. Macau está em Fan Tai Soi, pois renasceu no ano do Coelho em 20 de Dezembro de 1999, e o seu bazi não gosta nada de Água, como ocorreu em 2022 com forte Água (yang), sendo o de 2023 Água yin, o que leva a que este ano tudo seja menos complicado, mas falta-lhe Fogo, para conseguir recuperar os níveis que anteriormente alcançou. Tal só ocorrerá em pleno no ano de 2026, Bingwu (丙午), cujo ramo terreste é Wu (午), cavalo, Elemento fogo yang e direcção Sul e caule celeste Bing(丙) Fogo yang, com a direcção Sul. PI SHI, DEUS DO ANO O Deus do Ano (Tai Sui, em cantonense Tai Soi) de 2023 é o Grande General Pi Shi, reconhecido por acções militares heróicas e administrar com justiça o território a si confiado, no entanto, no fim da vida desgraçou-se devido ao consumo de muito vinho, sendo açoitado com vara de bétula após constantes bebedeiras. Pi Shi nasceu com o nome Pi Xi em Yu Yang (hoje arredores de Tianjin) na dinastia Wei do Norte (386-534) filho do General Pi Bao Zi, que logo com tenra idade o colocou a praticar artes marciais, onde ganhou competências tácticas e ampla visão estratégica. Daí a facilidade com que foi promovido a general, atribuindo-lhe o Imperador Wen Cheng Di (Gaozong, cujo nome próprio era Tuoba Jun, 452-465) o mais alto grau da carreira militar. Vivia-se uma época muito turbulenta, com constantes mudanças políticas e sociais e a dinastia Wei do Norte procurava unificar o Norte da China e terminar com o caótico período dos Dezasseis Reinos. Pi Xi era um guerreiro muito competente e conseguiu impressionantes vitórias nas batalhas que travou. Conteve a invasão da tribo estrangeira Tuyuhun à região que representa hoje a prefeitura de Wuwei na província de Gansu e consolidou as fronteiras. Ao ganhar esse conflito, o Imperador colocou-o à frente da guarnição de Cinco Zhou (Cinco Estados). Como era justo e um bom organizador, os locais ficaram muito contentes e agradecidos pelo seu excelente trabalho, contribuindo para dar dignidade à carreira militar. Assim, conquistou um forte apoio das populações locais, sendo glorificado ainda em vida por todo o seu percurso meritório. Uma das suas maiores proezas ocorreu em Novembro do ano 477 na área de Chouchi [onde se situava o antigo Reino de Chouchi (c.184-371), hoje a prefeitura de Cheng (Cheng Xian) em Gansu] quando o então Imperador Xiao Wen Di (471-499), na Era Taihe (477-499) o enviou para aí combater uma rebelião chefiada por Yang Wen Du. No mês seguinte dominou a revolta e após capturar o líder, cortou-lhe a cabeça e enviou-a para a capital Datong. Devido a tal sucesso, foi colocado a governar em vários outros locais, mas em Yuzhou acabou por cair em desgraça, sendo uma das principais razões beber de mais. Foi punido com açoites, os seus títulos retirados e acabou por ser demitido. Por volta do ano 484, Pi Xi passou desta vida já com uma idade avançada, mas manteve a reputação de herói. As suas contribuições nunca foram esquecidas e, após a sua morte, recuperou a honra e o bom nome e o governo restitui-lhe a sua posição como Grande General, oferecendo-lhe o título de Gonggong pelos grandes serviços prestados ao Reino Wei do Norte. O dia de ir ao templo oferecer sacrifícios ao Deus do Ano General Pi Shi é o oitavo da primeira Lua, que ocorre a 29 de Janeiro de 2023.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeAno Novo Lunar | Hotéis cheios, mas Governo deixa alertas Helena de Senna Fernandes, directora da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), adiantou ontem, à margem de um evento público, que grande parte dos quartos de hotel já estão reservados para os dias de Ano Novo Chinês. No entanto, segundo a TDM Rádio Macau, a governante deixou o alerta para que os hotéis não trabalhem com plataformas digitais de marcação de quartos de hotel que estão a cobrar cerca de 70 mil dólares de Hong Kong por quarto em algumas reservas. “Vemos que há plataformas online que vendem quartos de hotel por 70 mil dólares de Hong Kong por quarto, que não se situam no Cotai. Alertamos para que os hotéis discutam com essas plataformas, porque achamos que os valores não estão dentro do normal. Sei que há muito hotéis que estão atentos a isso e, de facto, algumas plataformas corrigiram essa situação. Alertamos para que os hotéis não trabalhem com as plataformas que não querem colaborar.” Helena de Senna Fernandes disse ainda esperar cerca de 80 mil pessoas durante as tradicionais paradas do Ano Novo Chinês. “Mesmo no ano passado vi as ruas cheias de pessoas e penso que não há possibilidade de aumentar muito mais o número de pessoas. Queremos que as pessoas da Grande Baía assistam às paradas, embora seja sempre difícil aumentar o espaço.”
João Luz Manchete SociedadePonte 16 | Executivo optimista sobre futuro dos casinos Pode haver vida para os casinos-satélite depois dos três anos de transição para o modelo de gestão, pelo menos de acordo um executivo da empresa que gere o casino Ponte 16. Para tal, é preciso que o mercado de massas regresse a volumes pré-pandémicos e seja conseguido um “desempenho histórico” Após um processo legislativo que colocou em causa a sobrevivência dos casinos-satélite, pode haver uma luz ao fundo do túnel. Pelo menos, na óptica de Hoffman Ma Ho Man, vice-presidente do Success Universe Group Ltd, que gere o casino Ponte 16, ao abrigo da licença de jogo da SJM Holdings Ltd. “Se o mercado de jogo se mostrar rentável nos próximos três anos, é ainda possível que os casinos-satélite considerem a transição para um modelo empresarial de gestão”, apontou o responsável ao portal GGRAsia. As empresas que gerem este tipo de casinos costumam partilhar com as concessionárias que detinham as licenças de jogo as receitas apuradas nas mesas que operavam. Porém, com a revisão da lei do jogo, terminado o período de transição de três anos, as empresas responsáveis pelos casinos-satélite apenas vão ter direito a cobrar despesas de gestão às concessionárias (que recebem a totalidade dos lucros da exploração de jogo). Outra condição para se manterem no negócio, é que o Chefe do Executivo aprove o contrato de gestão firmado entre as empresas que gerem os casinos-satélite e as concessionárias. “Mesmo com a aplicação do modelo de taxa fixa de gestão às empresas findo o período de transição, esse acordo pode ainda ser exequível se o operador do casino-satélite conseguir um desempenho histórico nos próximos três anos”, indicou Hoffman Ma Ho Man acrescentando que tal registo lucrativo poderia dar margem de manobra negocial para fixar a taxa de gestão futura. Lei do mais forte Uma coisa parece certa e transversal a todo o sector. A sobrevivência depende das receitas feitas com o segmento de massas. “Se o desempenho da indústria em Macau conseguir recuperar para níveis pré-pandémicos, em particular no segmento de massas, penso que os casinos-satélite que ainda existem têm uma boa chance de transitarem para o modelo empresarial de gestão”, prevê o responsável pelas operações do casino Ponte 16. Um dos maiores desafios que estas empresas vão enfrentar é a dura competição com os grandes resorts pela captura do mercado de massas, sem poder recorrer à angariação de jogadores VIP. Com a aprovação da nova lei do jogo, sete casinos-satélite fecharam portas e 11 mantiveram operações ao abrigo das novas concessões de jogo, que entraram em vigor no passado dia 1 de Janeiro. Dos 11 ainda em activo, nove dependem da licença da SJM Holdings para operar. Além do Ponte 16, continuam sobre a alçada da SJM o Casino Grandview na Taipa, e o Casino Landmark, Casino Casa Real, Casino Kam Pek Paradise, Casino Fortuna, Casino Emperor Palace, Casino L’Arc Macau, e Casino Legend Palace na península de Macau. O Casino Waldo, no centro de Macau, opera sob a licença do Galaxy Entertainment Group Ltd, enquanto o Casino Grand Dragon, na Taipa explora jogo ao abrigo da licença da Melco.
Hoje Macau DesportoFutebol | Torneio do Coelho com equipas de Cantão e Hong Kong A partir do dia 28 de Janeiro, o Instituto do Desporto (ID) vai começar a distribuir gratuitamente bilhetes para os jogos de futebol Torneio de Comemoração do Ano do Coelho – Taça de Cantão, Hong Kong e Macau 2023. Os amigáveis vão decorrer no dia 5 de Fevereiro, no Estádio Olímpico da Taipa, e contam com a participação de equipas de Macau, Hong Kong e do Interior. Da liga de futebol da província de Cantão vêm à RAEM as formações do RTFC de Guangdong e a Zhuhai 2030. Estas equipas não participam na principal liga chinesa. Hong Kong é representada pelo Eastern Football Club, enquanto o Chao Pak Kei, campeão da Macau no ano passado, vai representar Macau. Segundo o ID, o torneio de cariz distrital tem como objectivo permitir aos cidadãos “sentirem o entusiasmo e vitalidade” do desporto. Chao Pak Kei e Zhuhai 2030 são as primeiras equipas a entrar em campo, às 14h. RTFC de Guangdong e Eastern Football Club defrontam-se ás 16h15. Todos os bilhetes são gratuitos e cada residente ou turista pode levar um máximo de quatro ingressos. Segundo o presidente do ID, o torneio faz parte das actividades Recreativas e Desportivas da Festividade do Ano Novo Lunar de 2023, que contam com um orçamento de 900 mil patacas. Além de um torneio de futebol, as actividades organizadas pelo ID apresentam igualmente um desfile de motos, que acontece a 29 de Janeiro, uma actividade de cicloturismo, agendada para 24 de Janeiro ás 9h no Cotai, e ainda um festival de desporto, marcado para a Praça de Iao Hon, também a 24 de Janeiro, entre as 14h e as 17h.