Felizes para sempre

[dropcap]O[/dropcap] casamento sugere que encontrámos a pessoa perfeita para as nossas vidas, e que vamos viver felizes para sempre. Há quem queira ser romântico e veja o casamento como a prova última do amor. Tal como o tamanho do anel de noivado, ou o tamanho do gesto romântico que um pedido de casamento implica. Os preparativos, a festa, os convidados ou o dinheiro que se gasta, realça que não há nada mais romântico do que partilhar a vida com alguém para sempre. Mas também não há nada mais assustador do que partilhar a vida com alguém para sempre.

O casamento transforma-nos nesse alguém. Um peão numa díade de intimidade. Ganha-se um título que será vivido em função das expectativas monogâmicas vigentes. Todos os rituais maritais e pré-maritais são importantes para o luto dos amores que não se viverão. Não que a monogamia não exista no pré-casamento, mas a ligação torna-se mais rígida. Tornamo-nos fiéis àquela relação num contrato legal e religioso que é tido como um sinal de maturidade. Como os católicos dizem, um vínculo de estabilidade para lidar com o(s) pecado(s) do mundo.

A teorização religiosa do casamento é bastante complexa. O casamento serve um propósito. Mas para os não-religiosos o casamento parece ainda ser um ritual irreflectido, como o Natal para quem não acredita no menino Jesus. Um passo burocrático para os que querem poupar nos impostos, ou uma forma de garantir residência na instabilidade das geografias actuais. Um rito de passagem para um caminho prototípico.

Nascemos, crescemos, encontramos alguém para sexar para sempre, e morremos. A simplicidade da vida parece incluir este contrato e torna-se num objectivo de vida porque o contruímos como um objectivo de vida. Só que a naturalidade do processo revela a dificuldade do processo também. O casamento sobreviveu até aos dias de hoje com base em expectativas heteronormativas de família, e em muitos lugares do mundo, outras formas de família ainda não são vistas como legítimas para este vínculo. O casamento, apesar de necessitar de uma reinvenção, ainda não é um direito de todos. Talvez quando for, é que poderemos abalar o conceito.

A ideia de que a felicidade vem com o casamento, ou uma relação íntima estável, monogâmica e duradoura, precisa de ser mais flexível. Para fugir ao estigma que ser solteira implica, recentemente a Emma Watson autodenominou-se de self-partnered, i.e., parceira de si própria. A procura de legitimidade de estados solteiros saudáveis e felizes precisa de ser incluída no diálogo da vida adulta também. Uma vida madura e relacional não se pode limitar a um namoro estável ou ao casamento. Despirmo-nos destas expectativas é despirmo-nos de ideias pré-históricas de que estamos programados para um único curso de vida.

‘Supostamente’, as pessoas organizam-se em parelhas porque é melhor existirem duas pessoas de vinculação segura para a sobrevivência da espécie (neste momento, combater as alterações climáticas será mais eficaz à sobrevivência da espécie, mas essas são outras conversas). Da mesma forma: a parentalidade, que muitos acreditam ser essencial à existência, não precisa de ser.

As novas formas de vida, seja sozinho, com amigos, ou com os gatos, são formas legitimas de felicidade. É importante começar a reescrever narrativas para desconstruir a pressão social de certos rituais – ao entendermo-los à luz das expectativas individuais e colectivas. Cabe a cada um de nós perceber como é que o casamento faz parte de um plano de felicidade, ou como a ausência de casamento também pode fazer parte de uma vida completa e satisfatória.

20 Nov 2019

Democracias há muitas

[dropcap]A[/dropcap] questão da democracia tem muito que se lhe diga, é certo, mas é muito mais importante é o que se faz. Um exemplo que vem de dois países europeus com posturas radicalmente diferentes perante o mundo.

O primeiro é Portugal que, mal conseguiu implantar um regime democrático, teve como preocupação central acabar com as colónias, na medida em que a sua existência repugnava aos nossos dirigentes. Demos imediatamente a independência a todas chamadas províncias ultramarinas, se calhar nem sempre respeitando os “timings” correctos, mas a verdade é que fomos dignos de usar o nome de “democratas”.

Já a Inglaterra, que é suposto ser uma democracia há muito mais tempo, agarrou-se o mais possível às suas possessões ultramarinas e criou sempre problemas de modo a dizer-se que depois da sua saída (geralmente forçada) era o caos. De forma iníqua, pois os ingleses sempre acreditaram firmemente na sua superioridade em relação a “brancos” e, sobretudo, “não brancos”, quiseram sempre manter as relações coloniais com os que consideravam súbditos ( e não cidadãos, tanto que nunca outorgaram cidadania aos colonizados) da sua esclerosada rainha.

Daí também que Macau nada tenha a ver com Hong Kong e que por aqui reine há muito tempo o princípio “um país, dois sistemas” e é de tal forma bem sucedido que ninguém (ou quase) dá por ele. Há que afastarmo-nos das influências perniciosas da ex-colónia britânica se aqui queremos sobreviver como comunidade. Tal qual fazemos há cinco séculos, muito antes dos ingleses saberem que a China existia.

20 Nov 2019

Diários Turcos (I)

[dropcap]O[/dropcap] que é que jantámos na nossa primeira noite em Istambul? Pizza. Very typical. Na recepção, um senhor chama-me umas seis vezes pelos nomes do meio, como se fossem um só e ele não conseguisse ler nem o meu primeiro nem o meu último nome.

Chego, sento-me no sofá contemplando a hora de jantar.

— Então, Gisela, que fazes?
— Estou apenas…
— Estás a rir sozinha?

Estava a olhar para o telemóvel. Éramos cinco à mesa. Alguém me chamou. Levantei o rosto e duas pessoas queriam oferecer-me uvas. Uma tinha duas, roubadas à que tinha umas dez num cachito. Sem saber o que fazer, perante aqueles olhares ansiosos e braços estáticos, aceitei tudo. Um outro interveniente disse, de quem tinha mais, “Ele só queria oferecer-te uma.” Rimos. La Fontaine revisitado.

Nos lavabos públicos, rapazes adolescentes e homens descalçam-se e lavam os pés, recolhendo os casacos pendurados à saída. Em sua casa, Zafer dispensa-nos de descalçar os sapatos, por cortesia. Chove e faz frio, mas nem isso impede os gatos de frequentarem a universidade à noite. Somos revistados à entrada dos museus e dos centro comerciais. Fotografo a Lígia no meio de oito chineses, cinco de um lado e três do outro, todos sentados e ela no meio. Quase todos me olham ao mesmo tempo sem combinar e sem desviar a atenção, como se nos conhecêssemos. Fotografo a Lígia a descalçar-se cinco vezes por entre túmulos e mesquitas; por vezes há um extintor ou uma roseira a compor o quadro. Dizem-nos “Quero saber a vossa religião. São cristãs? Porque eu sou muçulmano mas não sou um terrorista.” Mais tarde, numa escola, perguntar-me-ão se sou muçulmana. Mais tarde, numa igreja e numa escola, alguém levará a mão ao peito em vez de no-la apertar, deixando-nos penduradas e perplexas. Zafer disse-me, ontem: “Ainda não te sentiste estrangeira aqui.”

À hora de almoço:

— Isto é tão bom, lembra-me algo.
— É leite condensado cozido.
— Pois é.
— Comemos quando alguém morre.
— Então… Quem morreu?

Finalmente cedo e digo, numa sessão escolar e em turco, que İsmet Özel (cuja obra desconheço) é o maior poeta turco. A multidão vibra. Yaya diz-me, através de notas num bloco que ainda tenho, que Rıdvan lhe confessou que quer casar comigo, porque o fiz feliz ao dizer esta frase que me vinha repetindo há dias. Há uma foto do momento preciso em que leio essa frase e rio: é uma das melhores fotos desta viagem.

No aeroporto:
— Eventualmente todos os turcos vão embora.
— Excepto tu.

No palácio:
— É pá, a bandeira e todas estas luas lembram a Sailor Moon, não achas?
— Pois é.

Ao fim de um tempo teríamos de ceder às casas de banho à la Bairro Alto. Nem sei como demorámos cinco dias a atingir este marco.

Domingo a Turquia fez anos. Segunda, fiz eu.

Já me perguntaram algumas vezes se estou aborrecida. Normalmente é quando me calo. Ou há pouco, porque estava em pé lá na rede expressos enquanto fazíamos tempo. Acho que é isso que querem dizer porque fazem a pergunta ao contrário, perguntam, “Estás a aborrecer-nos?”. Espero que não. Respondo que nunca me aborreço e que dentro da minha cabeça estou sempre bastante entretida. A Esra, a nossa intérprete, anui com a cabeça e sorri, acho que começa a conhecer-me.

No autocarro para Gaziantep, agora somos nove, (comento com a Lígia que isto é a Sete Rios cá do sítio) sentados à espera que parta, e estou a tagarelar fluentemente, como sempre. Dizem-me, “Esta avó…” e eu penso, deve querer que eu me cale, afinal só se ouve a minha voz, “…Diz que te ama.” Gargalhada geral, e a senhora vai repetindo os seus afectos instantâneos em turco. Vão ser umas lindas seis horas de viagem.

Novos diálogos de Konya:
— Este catering só no Alfa.
— Wifi no expresso para Melgaço.

A Lígia bate-me ao de leve no ombro. Passa-me um phone. Notorious B.I.G, “Big Poppa”. Gosto desta miúda. Estamos um pouco lost in translation, tempo e espaço. Já não sabemos bem que dia da semana é nem que horas são em Portugal. Ao telefone a minha amiga diz que são quatro da tarde. Aqui, sete. Não há horário de Inverno, só o Inverno em si. No meio de nenhures, paramos rapidamente pela segunda vez. Desta vez saímos. O rapaz das uvas não fala inglês. Oferece-me o maço. Eu não fumo, digo (pensava que já teriam reparado por esta altura, considerando que sou realmente a única que não fuma). Porquê?! Pergunta um outro. Ouvem-se tambores. Dizem-me que é uma celebração, uma despedida, um rapaz vai para o exército, como é costume aqui quando aos vinte ainda não se foi para a universidade. WC Bayan é casa de banho das senhoras. Dão-me uma moeda para a mão. A sério? Olá, Santa Apolónia nos anos 90, com porteiro e guichet nos lavabos. Por algum motivo agora só me apetece ouvir Beatles: “Here, there and everywhere.” Seguimos caminho.

20 Nov 2019

Todos os mapas vão dar ao destino

Metro, Lisboa, 13 Novembro

 

[dropcap]A[/dropcap]li por alturas do Rossio tudo me desapareceu menos as lágrimas não devia ter sido em dia treze para brutos que nem nós desacreditando nas superstições rindo ainda que conservando pedra de desconfiança no sapato que las hay las hay nosotros que enfrentamos mistérios saltando sobre eles com o pára-quedas da inteligência e da desconfiança mesmo deixando aberta a janela tem um canivete e o bombeiro perguntava com calma tão parva quanto a pergunta e de súbito a porta ao lado a de velho serviços neonizou-se qual entrada veloz de cabaré a porta desfeita chão ruído e vermelhos equipados e brancos e até azuis-celeste por que raio deve a polícia vestir o céu dançando de rompante mano o chão feito planície fria e infinda o eco do mano a brilhar nos teus olhos a procurar outro território menos frio respondendo à graça deslocada com sporting dentro fagulha de entendimento sem ninguém aceitar que se sentia o sopro daquela que deles se alimenta fugia-te o dia da semana mas não o nome sempre completo e fardado todos os dias fugiam debaixo dos nossos pés o chão mano e olhas com a mão esquerda procurando a que te desobedecia e as perguntas e o exército inteiro a sugerir isto e aquilo e hospitais nosotros agarrados à alegria de respirares chovia a dos tolos tantos carros e luzes e sons por ti provocados quando querias discrição silêncios feitos tranquilidade bálsamo da raiva contra a bruta injustiça a impotência saltando com o pára-quedas da inteligência a falhar o oxigénio a gastar-se e a descompreendermos o tecido do possível a desejares coreografia romântica de final em tons de branco o lençol monta uma dignidade mínima e da cor da maca sobre a qual aceitas as orientações rendes-te a novas hierarquias sem patente óbvia deixas-te ir sob a chuva de tolos a coreografia dos gestos em câmara demasiado lenta que mais tarde quereremos esconder mais as preparações a triagem os exames e as seringas e o que não vemos mais a vontade evaporando o chão mano telefonemas de longe a família alargando-se em vasos oxigenando os cuidados não ris estás por fim o doente que não querias nunca ser uma bandeira sobre ataúde de formas macias ainda não o pressentíamos apesar de tudo apesar dos pesares trouxeste do sul a morena alegria de estar à mesa de contar histórias e alimentar indignações tanto sabias que nenhum nome te escapava construías pontes a cada conversa ligavas por fios cada membro das famílias dos podres poderes e segredos antecipavas escândalos mais para o recente quando o entorno se desagregava homens maduros soltaram lágrimas convulsivas no meu ombro tocaste tantos com generosidade fértil outros te foram falhando mas carregaste forno fogão capaz de cozinhar vanguardas soubera eu então que antecipava recentes apetites mano o chão feito céu forma nuvens esse derradeiro que não adivinhávamos futuro feito presente desfeito aprendeste a múltipla combinação dos sabores que apuraste desde essa inusitada vez que mulheres e filha gastavam noite em hospital enquanto nos perdíamos em refeição e palavra nas quais se resume a passagem por dias talvez curtos que me faltaram para te entender que algo ficou por alinhavar dureza de uns e alegria de outros momentos dançando ao redor desenhando contornos desenhados à mão no nada no céu negro havia lua havia branco na palavra urgências haverá sempre o teu riso rasgando céus e um gesto de mãos ágeis um peito a dizer parede um olhar parceiro chão mano por que raio o chão as campainhas a tocar tarde sem respeitar as convenções sempre foi assim sempre será a memória de dedo na beira da porta a mandar abrir para discutirmos sem concordância possível a mais saborosa das discordâncias não fui ao Lobito contigo fui tantas vezes ao Lobito contigo acreditavas que as minhas palavras poderiam ser chão esticando a distância e mergulhando fundo contraindo-se ou estendendo horizontes abracei-te feliz tantas as vezes no casamento que foi esperança trouxeste-me no braço no colo a tua irmã enquanto a miúda azamboava ainda sem birra a miúda em Praga de azul com a avó as mudanças a dança e a dança das casas e o mar os barcos que nunca te satisfizeram os mapas que amavas e teimavas que captasse cada detalhe da geometria ainda ontem te liguei para te entusiasmar com mapa que o Tubarão da Brandoa acabava de resgatar ao pó do esquecimento o chão mano por que raio o chão frio os pulmões a arder a mansidão esculpida nos lábios última imagem para esquecer o teu olhar sem latitude nem longitude nunca fomos ao Lobito mas tatuámos Alentejo na pele toda deste-me a mão ágil a esquerda e disseste no intervalo de navalha tem canivete estou fodido não perguntavas nem afirmavas talvez te conformasses estou fodido olhando-me a lua brilhava e não merecias aquele corredor de campanha a inteligência ardia e as minhas lágrimas serviam de pouco onde descarrilaram as linhas do destino não fui ao sul contigo mas desenhámos mapas com os nossos passos bebi do teu entusiamo a servir uma ideia uma réstia que fosse uma razão que alimentasse a fogueira de certa maneira de erguer corpo em uníssono em grupo nunca deixaste de me oferecer música e mesa de abrir a porta o telemóvel lá dentro a tocar tem um canivete a chave na porta a lua esta porta cede merecias uma mão novo projecto para além das geografias das seguranças das defesas das estratégias falhámos-te ficámos a dever-te a empresa onde te cumprires tu que colocavas as ideias sobre arame de funâmbulo a iluminar possibilidades um saber ágil que não sei dizer não sairá daqui retrato nenhum ziguezagueaste nos múltiplos amparos e nenhum te devolveu a possibilidade tantas curvas na derradeira viagem o dia caindo chuva de tolos a dança no miolo do socorro motorizado os médicos perguntando sem um brilho de inteligência sabendo tu quanto havia por saber acerca dela a que se alimenta do bafo não devia ter sido a treze aprendi a soletrar família de mil maneiras contigo assim o mar a desfazer-se vezes sem conta a pedir atenção e a devolver milhentas maneiras vou voltar-me de súbito ver-te em cada instante a esbanjar orgulho as casas de portas abertas o aroma do café os copos os inesgotáveis serviços de peças partidas e prestes a quebrar o caril a perfumar as palavras para prazer de novo o movediço intervalo entre engenhoso previsto para a nação e um sentido gritante do indivíduo um sabre oferecido a bússola perdida a raiva do incumprido em lume brando além da iniquidade do mal que nos possui que nos risca os mapas o chão

20 Nov 2019

Aqui, Rádio Cabeça

[dropcap]Q[/dropcap]ue o mundo não está a facilitar a vida já nós o sabemos. Calamidades sortidas, raiva e desespero abundam numa altura em que os seres humanos preferem construir trincheiras onde deveriam existir pontes. Enfim, o leitor saberá porque para o saber basta estar vivo. Mas nada nos prepara, acreditem, para acordar com uma canção dos Supertramp a bailar-nos na cabeça. Nada.

Aconteceu-me a mim. Sem pretexto ou causa à vista, uma pessoa abre penosamente os olhos à realidade e leva como banda sonora o It’s Raining Again, vinda das profundezas de nós. Com a letra completa, por Deus.

Aqui chegado terei de pedir desculpa aos admiradores desta banda mas não me incluo entre eles. De facto, acho a canção que me perseguiu durante todo o dia – e ameaça, insidiosa, regressar à medida que escrevo estas palavras – uma estupenda pepineira. Opiniões, claro. Mas para o que para aqui interessa é que não a ouvia há décadas. Procurei na memória a razão deste fenómeno: teria sido uma conversa, um excerto da canção ouvido ao acaso numa rádio, uma viagem de táxi mais traumática? Zero. E o problema é que não é a primeira vez e nem sequer a pior. Recentemente dei por mim no duche a cantar uma única frase de um anúncio (“Dreams/are my reality” lalalala….Um tormento). Mas aqui identifiquei a raiz do mal: tinha sido exposto ao anúncio na internet e daí ter retido este naco precioso que veio macular o meu repertório ducheano (que inclui êxitos obscuros como o magnífico Baby I Don’t Care, de Elvis Presley. Obrigado por não perguntarem). Já com a canção supracitada o mistério permanece.

O fenómeno, no entanto, é comum. O leitor já terá sofrido semelhante flagelo, dando por si a certa altura com o conhecimento involuntário da obra completa de Quim Barreiros ou coisa semelhante. E esta condição tem nome: Stuck Song Syndrome (Síndrome da Canção Encalhada, numa tradução colorida). Está bem identificada por psicólogos, psiquiatras e neurocientistas que associam o fenómeno a earworms (ou, na maravilhosa tradução de Miguel Esteves Cardoso, otovermes) que podem disparar estas pérolas dos confins do nosso inferno. Segundo o British Journal of General Practice, os otovermes estão associados à memória mas também a situações de stress. O mais impressionante é que quanto mais o cérebro tenta parar essa informação mais ela se torna mais forte, num loop interno criado pelo próprio Satanás. No limite são sintomas de Perturbação Obsessiva Compulsiva mas em 98 por cento dos casos é uma situação perfeitamente normal e não patológica.

Pois sim, acredito. Mas não o mereço. Porque é que a mesma condição não me leva a recordar todas as deixas de Clifton Webb no filme Laura, ou todos os aforismos de Wilde ou um detalhe soberbo de uma pintura de Caravaggio ? Com isto poderia eu viver bem durante todo o dia. É por isso que apelo à comunidade científica que prossiga com afinco os estudos sobre o mais negro e misterioso órgão do ser humano: o cérebro. É uma questão de prioridades, de saúde pública. O mundo já é o que é, volto a dizer. Ninguém precisa de levar comigo a trautear um êxito de José Malhoa durante 24 horas. Vejam lá isso.

20 Nov 2019

ONU apela a “diálogo inclusivo” entre sectores sociais e Governo de Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap] Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) instou ontem o Governo de Hong Kong para que reúna todos os sectores sociais “num diálogo inclusivo para procurar uma solução pacífica” para os protestos.

“Instamos o Governo a redobrar os seus esforços para conciliar todos os sectores da sociedade, incluindo estudantes, empresários, líderes políticos e outros, num diálogo inclusivo para procurar uma solução pacífica para o descontentamento expresso por muitos cidadãos de Hong Kong”, pediu o porta-voz do ACNUDH, Rupert Colville.

“A crescente violência de grupos de jovens envolvidos nos protestos” deixa a organização preocupada com um aumento das tensões no contexto do actual confronto na Universidade Politécnica de Hong Kong.

Numa conferência de imprensa em Genebra, o porta-voz condenou a “violência extrema” de uma minoria dos participantes nos protestos que afectam a cidade há oito meses, “algo que é profundamente lamentável e com o qual não se pode consentir”.

Colville pediu que “todos os envolvidos nos protestos renunciem ao uso da violência e a condenem” e, ao mesmo tempo, instou as autoridades de Hong Kong para fazerem todos os possíveis para reduzir as tensões no campus da universidade.

A escalada

As manifestações na região administrativa especial começaram como resultado de um controverso projecto-lei de extradição, já retirado pelo Governo, mas têm mudado até se converterem num movimento que pretende uma melhoria dos mecanismos democráticos de Hong Kong e uma oposição à crescente interferência da China.

No entanto, alguns manifestantes optaram por tácticas mais radicais do que protestos pacíficos e os confrontos violentos com a polícia tornaram-se habituais.

O epicentro das tensões nos últimos dias tem sido a Universidade Politécnica, onde vários manifestantes barricados no campus universitário confrontam as autoridades, que já prenderam 1.100 pessoas e apreenderam 3.900 ‘cocktails molotov’.

Segundo Colville, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos continua preocupado com uma possível escalada da violência em Hong Kong.

20 Nov 2019

ONU apela a "diálogo inclusivo" entre sectores sociais e Governo de Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap] Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) instou ontem o Governo de Hong Kong para que reúna todos os sectores sociais “num diálogo inclusivo para procurar uma solução pacífica” para os protestos.
“Instamos o Governo a redobrar os seus esforços para conciliar todos os sectores da sociedade, incluindo estudantes, empresários, líderes políticos e outros, num diálogo inclusivo para procurar uma solução pacífica para o descontentamento expresso por muitos cidadãos de Hong Kong”, pediu o porta-voz do ACNUDH, Rupert Colville.
“A crescente violência de grupos de jovens envolvidos nos protestos” deixa a organização preocupada com um aumento das tensões no contexto do actual confronto na Universidade Politécnica de Hong Kong.
Numa conferência de imprensa em Genebra, o porta-voz condenou a “violência extrema” de uma minoria dos participantes nos protestos que afectam a cidade há oito meses, “algo que é profundamente lamentável e com o qual não se pode consentir”.
Colville pediu que “todos os envolvidos nos protestos renunciem ao uso da violência e a condenem” e, ao mesmo tempo, instou as autoridades de Hong Kong para fazerem todos os possíveis para reduzir as tensões no campus da universidade.

A escalada

As manifestações na região administrativa especial começaram como resultado de um controverso projecto-lei de extradição, já retirado pelo Governo, mas têm mudado até se converterem num movimento que pretende uma melhoria dos mecanismos democráticos de Hong Kong e uma oposição à crescente interferência da China.
No entanto, alguns manifestantes optaram por tácticas mais radicais do que protestos pacíficos e os confrontos violentos com a polícia tornaram-se habituais.
O epicentro das tensões nos últimos dias tem sido a Universidade Politécnica, onde vários manifestantes barricados no campus universitário confrontam as autoridades, que já prenderam 1.100 pessoas e apreenderam 3.900 ‘cocktails molotov’.
Segundo Colville, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos continua preocupado com uma possível escalada da violência em Hong Kong.

20 Nov 2019

CCM | Peça “O Sr. Shi e o Seu Amante” em cena este fim-de-semana 

[dropcap]É[/dropcap] já este fim-de-semana que estreia a peça “O Sr. Shi e o Seu Amante” no Centro Cultural de Macau (CCM), com encenação de Tam Chi Chun. De acordo com uma nota oficial do CCM, as sete cenas desta peça de teatro incorporam “muitos elementos tradicionais do Ocidente e do Oriente para dar forma ao cenário espaço-temporal”.

No entanto, o foco não é feito exclusivamente na ópera ocidental ou de Pequim. “Em vez disso, utilizamos o espaço que nos é concedido pelo arranjo e composição do teatro contemporâneo para reflectir a ideologia e o mundo interior das personagens. Finalmente, esperamos que as questões levantadas em O Sr. Shi e o Seu Amante deixem o público a ponderar sobre relações interpessoais, orientação sexual, valor artístico, nacionalismo e amor”, acrescenta a mesma nota.

“O Sr. Shi e o Seu Amante” é inspirado na história real de Shi Pei Pu, um cantor de ópera chinesa, e Bernard Boursicot, um diplomata francês. Os dois viveram uma relação romântica na altura em que Boursicot exercia funções na China e, no início da relação, Shi anunciou que estava grávida e que o pai seria Boursicot. Em 1983 o diplomata foi acusado de passar informação confidencial aos chineses através de Shi, e o casal foi detido pelo governo francês, acusado de espionagem. O julgamento que se seguiu produziu títulos na imprensa internacional graças a um pormenor singular: ao longo do processo, foi revelado que Shi era um homem e que Boursicot acreditou tratar-se de uma mulher ao longo de 20 anos de relacionamento.

20 Nov 2019

CCM | Peça “O Sr. Shi e o Seu Amante” em cena este fim-de-semana 

[dropcap]É[/dropcap] já este fim-de-semana que estreia a peça “O Sr. Shi e o Seu Amante” no Centro Cultural de Macau (CCM), com encenação de Tam Chi Chun. De acordo com uma nota oficial do CCM, as sete cenas desta peça de teatro incorporam “muitos elementos tradicionais do Ocidente e do Oriente para dar forma ao cenário espaço-temporal”.
No entanto, o foco não é feito exclusivamente na ópera ocidental ou de Pequim. “Em vez disso, utilizamos o espaço que nos é concedido pelo arranjo e composição do teatro contemporâneo para reflectir a ideologia e o mundo interior das personagens. Finalmente, esperamos que as questões levantadas em O Sr. Shi e o Seu Amante deixem o público a ponderar sobre relações interpessoais, orientação sexual, valor artístico, nacionalismo e amor”, acrescenta a mesma nota.
“O Sr. Shi e o Seu Amante” é inspirado na história real de Shi Pei Pu, um cantor de ópera chinesa, e Bernard Boursicot, um diplomata francês. Os dois viveram uma relação romântica na altura em que Boursicot exercia funções na China e, no início da relação, Shi anunciou que estava grávida e que o pai seria Boursicot. Em 1983 o diplomata foi acusado de passar informação confidencial aos chineses através de Shi, e o casal foi detido pelo governo francês, acusado de espionagem. O julgamento que se seguiu produziu títulos na imprensa internacional graças a um pormenor singular: ao longo do processo, foi revelado que Shi era um homem e que Boursicot acreditou tratar-se de uma mulher ao longo de 20 anos de relacionamento.

20 Nov 2019

Cinema | Filme português “A Herdade” na edição deste ano do IFFAM 

[dropcap]F[/dropcap]oi ontem anunciado que a quarta edição do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM, na sigla inglesa), que acontece entre os dias 5 e 10 de Dezembro, conta com um programa actualizado que inclui o filme português “A Herdade”, de Tiago Guedes, que tem recebido inúmeros elogios em Portugal e que estreou no Festival de Cinema de Veneza.

O filme, protagonizado por Albano Jerónimo, conta a história de um proprietário de uma herdade em pleno Alentejo que passa por um tumulto causado pelo 25 de Abril, sem esquecer a tragédia da própria família.

O cartaz do IFFAM inclui também o filme “I’m Livin It”, com direcção de Wong Hing-Fan e protagonizado por Aaron Kwok, estrela do cinema de Hong Kong. Aaron Kwok foi o Embaixador Talento do IFFAM o ano passado e, no filme, actua ao lado de Miriam Yueng, que foi Embaixadora Talento do IFFAM em 2017.

“Dark Waters”, de Todd Haynes, é outro dos filmes incluídos no programa do festival, protagonizado pelos actores Mark Ruffalo e Anne Hathaway. Esta será a apresentação especial de Hollywood da edição deste ano do IFFAM.

O mais recente filme de Terrence Malick, “A Hidden Life”, também integra o cartaz deste ano do IFFAM. A película conta a história de um jovem austríaco, muito católico, de nome Franz Jagerstatter, que se recusa a lutar a favor dos Nazis na II Guerra Mundial. O filme estreou no Festival de Cinema de Cannes, sendo esta a sua estreia na Ásia.

“Flowers of Shanghai”, de Hou Hsiao-hsien, a versão deste clássico datada de 1998, será exibida no festival como apresentação especial do Festival Internacional de Cinema de Xangai. O filme remete para o século XIX em que jovens cortesãs recebiam propostas de homens em “casas de flores”.

Na secção “Escolha do Director” o destaque é para “Blow-Up”, que será apresentado pelo seu director Wang Xiaoshuai no dia 9 de Dezembro. Na secção “Novo Cinema Chinês” destaque ainda para o filme “Over the Sea”.

20 Nov 2019

Cinema | Filme português “A Herdade” na edição deste ano do IFFAM 

[dropcap]F[/dropcap]oi ontem anunciado que a quarta edição do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM, na sigla inglesa), que acontece entre os dias 5 e 10 de Dezembro, conta com um programa actualizado que inclui o filme português “A Herdade”, de Tiago Guedes, que tem recebido inúmeros elogios em Portugal e que estreou no Festival de Cinema de Veneza.
O filme, protagonizado por Albano Jerónimo, conta a história de um proprietário de uma herdade em pleno Alentejo que passa por um tumulto causado pelo 25 de Abril, sem esquecer a tragédia da própria família.
O cartaz do IFFAM inclui também o filme “I’m Livin It”, com direcção de Wong Hing-Fan e protagonizado por Aaron Kwok, estrela do cinema de Hong Kong. Aaron Kwok foi o Embaixador Talento do IFFAM o ano passado e, no filme, actua ao lado de Miriam Yueng, que foi Embaixadora Talento do IFFAM em 2017.
“Dark Waters”, de Todd Haynes, é outro dos filmes incluídos no programa do festival, protagonizado pelos actores Mark Ruffalo e Anne Hathaway. Esta será a apresentação especial de Hollywood da edição deste ano do IFFAM.
O mais recente filme de Terrence Malick, “A Hidden Life”, também integra o cartaz deste ano do IFFAM. A película conta a história de um jovem austríaco, muito católico, de nome Franz Jagerstatter, que se recusa a lutar a favor dos Nazis na II Guerra Mundial. O filme estreou no Festival de Cinema de Cannes, sendo esta a sua estreia na Ásia.
“Flowers of Shanghai”, de Hou Hsiao-hsien, a versão deste clássico datada de 1998, será exibida no festival como apresentação especial do Festival Internacional de Cinema de Xangai. O filme remete para o século XIX em que jovens cortesãs recebiam propostas de homens em “casas de flores”.
Na secção “Escolha do Director” o destaque é para “Blow-Up”, que será apresentado pelo seu director Wang Xiaoshuai no dia 9 de Dezembro. Na secção “Novo Cinema Chinês” destaque ainda para o filme “Over the Sea”.

20 Nov 2019

This is My City | Música, cinema e fotografia têm encontro marcado em Macau e Zhuhai

Não só de Conan Osíris será feito o festival This is My City que decorre entre 25 e 30 de Novembro em Macau e Zhuhai. Na verdade, além da música, que tem já confirmadas nas suas pautas, a banda chinesa Wu Tia Ren, Surma e DJ Kitten, a programação inclui também uma instalação de fotografia e uma selecção documental que inclui obras de realizadores portugueses

 

[dropcap]C[/dropcap]onan Osíris estreia-se no final de Novembro na China, por ocasião do festival This is My City (TIMC). No entanto, há muito mais para estimular os sentidos neste festival nascido e criado em Macau desde 2006 e já viajado por outras salas e palcos, não só na China, mas também em Portugal e no Brasil.

“O TIMC é um festival que procura reflectir a diversidade cultural e social que as cidades representam. Às vezes é um desafio, mas é também este lado mais orgânico que o festival quer representar e por isso não se limita a ser um festival de música ou de fotografia. De ano para ano o TIMC vai mudando, vai procurando o seu caminho e a sua identidade”, disse ao HM o cofundador do evento Manuel Correia Silva.

A fotografia dará mesmo o mote para a abertura do festival no dia 25 de Novembro, em Macau, com a inauguração da instalação fotográfica de António Falcão, intitulada LOYÅM. Acerca da exposição fotográfica que estará nas Oficinas Navais N2 o artista explicou no comunicado divulgado pelo TIMC que “Loy & Lam são duas dissimulações da realidade do mundo” que abordam a temática do fim da Humanidade.

Logo a partir da tarde do primeiro dia de Festival será também possível decantar uma arte diferente: o cinema. Neste caso, documental. Entre os dias 25 e 27 de Novembro, serão assim três documentários que terão, não só Macau como pano de fundo, mas também 13 vídeos criados por realizadores portugueses para cada um dos temas editados pela banda Rollana Beat.

No dia 25, será projectado o documentário “Macau: Electronic Music”, de Tracy Choi e, no dia seguinte, será a vez do projecto “Os Resistentes: Retratos de Macau”, do realizador António Faria, uma série documental, que procura recuperar os velhos ofícios locais de Macau.

“É um trabalho sobre lojas e o comércio local que tem tendência a desaparecer e que, na verdade, é aquilo que caracteriza verdadeiramente uma cidade e aquilo que a pode diferenciar”, explicou ao HM Manuel Correia Silva acerca da obra de António Faria.

Por fim, no dia 27, serão exibidos os 13 vídeos criados para cada um dos temas editados pela banda portuguesa Rollana Beat e que contaram com a colaboração de alguns realizadores portugueses como Edgar Pêra, Isabel Aboim Inglês e Leonor Noivo.

Juntar para criar

Na música, além da incontornável actuação de Conan Osíris agendada para o dia 28 de Novembro, o destaque do programa deste ano do TIMC vai para a banda chinesa Wu Tiao Ren e para a cantora portuguesa Surma, que actuam a solo e também em conjunto. No dia 28, os Wu Tiao Ren tocam em Zhuhai, no Live House Let’s Cultural District, enquanto que a 29 estarão nas Oficinas Navais Nº2 em Macau. Já a artista de Leiria, Surma, estará também no mesmo espaço no dia 29 de Novembro.

“O que vai acontecer no dia 29 com os Wu Tiao Ren e a Surma é inovador porque coloca artistas diferentes a trabalhar juntos, neste caso em Macau, a partir da criação de novos conteúdos”, frisou Manuel Correia Silva ao HM.

Também nas Oficinas Navais Nº2 vai ser possível assistir às actuações do músico japonês residente em Macau AKI, no dia 29. No dia 30 o espaço estará reservado para os Why Oceans e os Ariclan.
Outro dos nomes do cartaz musical deste ano é João Vieira, fundador dos X-Wife, que regressa a Macau como DJ Kitten, para tocar no dia 28, no London Lounge, em Zhuhai, e no dia 30, em Macau, na discoteca D2.

De frisar ainda que, pela primeira vez, os concertos promovidos pelo TIMC serão pagos, sendo que os preços dos bilhetes variam entre as 150 patacas, para dois dias, ou 100 patacas, para um dia. Apontando que o preço dos bilhetes é “bastante acessível”, o cofundador do festival justifica o facto com a “oferta de um programa de qualidade e diferenciado” e pela necessidade prática de “diversifcar as fontes de rendimento do festival”.

20 Nov 2019

This is My City | Música, cinema e fotografia têm encontro marcado em Macau e Zhuhai

Não só de Conan Osíris será feito o festival This is My City que decorre entre 25 e 30 de Novembro em Macau e Zhuhai. Na verdade, além da música, que tem já confirmadas nas suas pautas, a banda chinesa Wu Tia Ren, Surma e DJ Kitten, a programação inclui também uma instalação de fotografia e uma selecção documental que inclui obras de realizadores portugueses

 
[dropcap]C[/dropcap]onan Osíris estreia-se no final de Novembro na China, por ocasião do festival This is My City (TIMC). No entanto, há muito mais para estimular os sentidos neste festival nascido e criado em Macau desde 2006 e já viajado por outras salas e palcos, não só na China, mas também em Portugal e no Brasil.
“O TIMC é um festival que procura reflectir a diversidade cultural e social que as cidades representam. Às vezes é um desafio, mas é também este lado mais orgânico que o festival quer representar e por isso não se limita a ser um festival de música ou de fotografia. De ano para ano o TIMC vai mudando, vai procurando o seu caminho e a sua identidade”, disse ao HM o cofundador do evento Manuel Correia Silva.
A fotografia dará mesmo o mote para a abertura do festival no dia 25 de Novembro, em Macau, com a inauguração da instalação fotográfica de António Falcão, intitulada LOYÅM. Acerca da exposição fotográfica que estará nas Oficinas Navais N2 o artista explicou no comunicado divulgado pelo TIMC que “Loy & Lam são duas dissimulações da realidade do mundo” que abordam a temática do fim da Humanidade.
Logo a partir da tarde do primeiro dia de Festival será também possível decantar uma arte diferente: o cinema. Neste caso, documental. Entre os dias 25 e 27 de Novembro, serão assim três documentários que terão, não só Macau como pano de fundo, mas também 13 vídeos criados por realizadores portugueses para cada um dos temas editados pela banda Rollana Beat.
No dia 25, será projectado o documentário “Macau: Electronic Music”, de Tracy Choi e, no dia seguinte, será a vez do projecto “Os Resistentes: Retratos de Macau”, do realizador António Faria, uma série documental, que procura recuperar os velhos ofícios locais de Macau.
“É um trabalho sobre lojas e o comércio local que tem tendência a desaparecer e que, na verdade, é aquilo que caracteriza verdadeiramente uma cidade e aquilo que a pode diferenciar”, explicou ao HM Manuel Correia Silva acerca da obra de António Faria.
Por fim, no dia 27, serão exibidos os 13 vídeos criados para cada um dos temas editados pela banda portuguesa Rollana Beat e que contaram com a colaboração de alguns realizadores portugueses como Edgar Pêra, Isabel Aboim Inglês e Leonor Noivo.

Juntar para criar

Na música, além da incontornável actuação de Conan Osíris agendada para o dia 28 de Novembro, o destaque do programa deste ano do TIMC vai para a banda chinesa Wu Tiao Ren e para a cantora portuguesa Surma, que actuam a solo e também em conjunto. No dia 28, os Wu Tiao Ren tocam em Zhuhai, no Live House Let’s Cultural District, enquanto que a 29 estarão nas Oficinas Navais Nº2 em Macau. Já a artista de Leiria, Surma, estará também no mesmo espaço no dia 29 de Novembro.
“O que vai acontecer no dia 29 com os Wu Tiao Ren e a Surma é inovador porque coloca artistas diferentes a trabalhar juntos, neste caso em Macau, a partir da criação de novos conteúdos”, frisou Manuel Correia Silva ao HM.
Também nas Oficinas Navais Nº2 vai ser possível assistir às actuações do músico japonês residente em Macau AKI, no dia 29. No dia 30 o espaço estará reservado para os Why Oceans e os Ariclan.
Outro dos nomes do cartaz musical deste ano é João Vieira, fundador dos X-Wife, que regressa a Macau como DJ Kitten, para tocar no dia 28, no London Lounge, em Zhuhai, e no dia 30, em Macau, na discoteca D2.
De frisar ainda que, pela primeira vez, os concertos promovidos pelo TIMC serão pagos, sendo que os preços dos bilhetes variam entre as 150 patacas, para dois dias, ou 100 patacas, para um dia. Apontando que o preço dos bilhetes é “bastante acessível”, o cofundador do festival justifica o facto com a “oferta de um programa de qualidade e diferenciado” e pela necessidade prática de “diversifcar as fontes de rendimento do festival”.

20 Nov 2019

Músico português José Mário Branco morreu ontem aos 77 anos 

Nome marcante da música de intervenção em Portugal, sobretudo no período da Revolução do 25 de Abril, José Mário Branco faleceu ontem com 77 anos de idade, vítima de um acidente vascular cerebral. Durante décadas cantou com outros nomes sonantes da música portuguesa

 

[dropcap]O[/dropcap] músico, compositor e cantor José Mário Branco morreu esta terça-feira aos 77 anos. A notícia foi confirmada à Agência Lusa pelo seu manager, Paulo Salgado. Nascido no Porto, em Maio de 1942, José Mário Branco é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, em particular no período da Revolução de Abril de 1974, cujo trabalho se estende também ao cinema, ao teatro e à acção cultural. Sempre achou, como disse no disco lançado em 1976, que A Cantiga é uma Arma.

Foi fundador do Grupo de Acção Cultural (GAC), fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo, a União Portuguesa de Artistas e Variedades e colaborou na produção musical para outros artistas, nomeadamente Camané, Amélia Muge, Samuel e Nathalie.

O último álbum de originais, “Resistir é vencer”, data já de 2004. Depois disso, José Mário Branco participou no projecto Três Cantos, ao lado de Sérgio Godinho e Fausto Bordalo Dias, que resultou numa série de concertos, um álbum e um DVD.

José Mário Branco editou o primeiro longa-duração, “Mudam-se os tempos mudam-se as vontades”, ainda no exílio em França, em 1971, musicando textos de Natália Correia, Alexandre O’Neill, Luís de Camões e Sérgio Godinho. O músico foi militante do Partido Comunista Português, foi perseguido pela Polícia de Intervenção e Defesa do Estado (PIDE), associada ao Estado Novo de Salazar, e exilou-se em França em 1963, só regressando a Portugal em 1974.

Os 50 anos de vida musical do autor português são marcados a partir da gravação em 1967 do primeiro EP, “Seis cantigas de amigo”, editado dois anos depois pelos Arquivos Sonoros Portugueses. A edição de “Ser solidário”, de 1982, inclui a gravação de “FMI”, uma das composições mais célebres de José Mário Branco, focada na crise económica portuguesa vivida no início da década de 80.

Em 2016, José Mário Branco assegurou a direcção musical do filme “Alfama em si”, de Diogo Varela Silva. A vida de José Mário Branco foi passada em revista, com a participação do próprio músico, no documentário “Mudar de vida”, de Nelson Guerreiro e Pedro Fidalgo.

Recordar e viver

Em 2018, José Mário Branco cumpriu meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999. A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e um ao vivo, de um período que vai de 1971 e 2004.

Este ano, mais de dez artistas, como Osso Vaidoso, Ermo, Camané ou Walkabouts interpretaram temas de José Mário Branco, num disco-tributo. “O objetivo era mostrar a plasticidade da música do Zé Mário Branco, é muito abrangente e inspirou muita gente de várias gerações. A obra dele é um mundo”, afirmou à agência Lusa Rui Portulez, produtor executivo do álbum.

“Depois de José Afonso, é este José o nome mais importante a fixar na música de intervenção, em particular, e como referência incontornável da música portuguesa, em geral”, afirma Rui Portulez num dos textos que acompanham o álbum.

Em 2018, em declarações à Lusa, José Mário Branco dizia que não dava qualquer importância a efemérides e celebrações de datas redondas. “Não são coisas que me motivem muito, tenho respeito pelo respeito das pessoas, mas essas histórias das efemérides…”, afirmou.

O compositor não mostrava, então, pressas em gravar coisas novas, por preferir trabalhar para outros músicos – “Não me sinto menos interessado por não ser eu a cantar” – e a isto juntava ainda uma certa resistência em subir a um palco.

“Comecei a sentir-me um bocado museológico em cima do palco. Há uns tempos que eu não faço concertos nem recitais, mas felizmente não paro de trabalhar e de fazer coisas de que gosto imenso”, disse.
Em Agosto, a RTP1 estreou um documentário sobre José Mário Branco, que fez parte da série de produções “Vejam Bem”. O episódio encontra-se disponível na plataforma RTP Play.

“Um lutador”

O Presidente da República lamentou ontem a morte do músico José Mário Branco, aos 77 anos, lembrando-o como “um lutador” na oposição à ditadura e depois da revolução e uma voz “inconfundível” de uma “geração de Abril”.

Em declarações aos jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa descreveu José Mário Branco como alguém “sempre insatisfeito”, para quem “havia uma parte de Abril que estava por realizar”.

“E, nesse sentido, foi um símbolo de resistência, um símbolo de luta, um símbolo de esperança e um símbolo de permanente exigência à democracia portuguesa”, considerou o chefe de Estado.

“Um resistente”

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou ontem a morte do músico e produtor José Mário Branco, dizendo que “resistir, em Portugal, terá sempre um disco [seu] como banda sonora”. Numa mensagem publicada na conta oficial do ministério, na rede social Twitter, José Mário Branco é lembrado como um “nome maior da música portuguesa” e uma “voz de luta e de intervenção”. “[A] Ministra da Cultura lamenta profundamente a morte de José Mário Branco, nome maior da música portuguesa. Voz de luta e de intervenção, o seu legado é intemporal e é património colectivo”, acrescentou, na mesma mensagem.

20 Nov 2019

Restaurante O Santos celebra 30 anos de existência 

Espaço icónico de comida portuguesa em Macau, o restaurante O Santos celebra hoje 30 anos de existência sempre com Santos Pinto a comandar as operações na cozinha e fora dela. Nestas três décadas O Santos já recebeu os Rolling Stones, a selecção portuguesa de futebol e o Benfica. No entanto, a parte mais especial é sempre quando um amigo entra porta adentro

 

[dropcap]N[/dropcap]ão se assume como chefe de cozinha mas como cozinheiro. As definições pouco importam, pois a verdade é que Santos Pinto mantém há 30 anos o seu restaurante O Santos na Rua do Cunha sempre com muitos clientes que adoram a sua comida tipicamente portuguesa. Os tempos, hoje, são outros, diz. No restaurante, Santos Pinto, alentejano da cidade de Montemor-o-Novo, diz ter passado os melhores e os piores momentos da sua vida.

“Abri a tasca no dia 20 de Novembro de 1989. Não tem sido fácil. Graças a Deus estou feliz porque o meu objectivo era ficar aqui até poder e sinto-me bem. Espero fazer a grande festa dos 30 anos, mas assustei-me quando vi as fotos da festa dos 20 anos, porque vi muitos amigos que já não estão cá, mas a vida é mesmo assim”, confessou ao HM.

Ao longo dos anos, o seu restaurante foi-se tornando uma espécie de santuário dos adeptos do Sport Lisboa e Benfica. Há cachecóis do clube por toda a parte (e de outros clubes também) e é ali que se celebram as vitórias. Já recebeu jogadores e dirigentes, e assume-se como benfiquista fervoroso.

“Todos me dizem que tenho a sorte de estar na Rua do Cunha, mas eu é que digo que a Rua do Cunha é que tem a sorte de ter o Santos, mas é a brincar. São 30 anos dedicados só a esta casa, são muitas horas de trabalho, a minha vida mudou de rumo uma série de vezes, mas consegui levar sempre esta casa para a frente. Fiz muitos amigos que estão espalhados pelo mundo, além dos famosos, mas esses são amigos do povo.”

A história do restaurante começou com Santos Pinto a querer alistar-se na Marinha Portuguesa, nos idos anos 70. “Queria ser fuzileiro e disseram-me para escolher a profissão de cozinheiro, que ninguém queria. E concorri, fiz o curso de cozinheiro. Andei 20 anos na marinha a cozinhar, daí a experiência que tenho.”

Quando chegou a hora da filha mais velha seguir os estudos superiores, Santos Pinto decidiu manter-se em Macau, pois ela teria mais facilidades de acesso à universidade em Portugal. Foi aí que abriu o restaurante.
“Consegui o trespasse desta casa. Não foi difícil para mim também porque durante seis anos na messe da marinha servíamos refeições para os funcionários públicos, as marmitas. Teve aqui uma rapariga há pouco tempo que se lembrava disso.”

Depois de tantos anos na cozinha, Santos Pinto já não faz tudo sozinho, mas ainda vigia os tachos. “Agora faço algumas coisas, gosto sempre de passar e cheirar. Noto se a sopa está salgada ou não, são muitos anos e sabemos. Há dias o arroz de pato começou a voltar para trás, porque a qualidade do pato agora é diferente e as pessoas estavam habituadas ao outro pato. Tive que explicar ao rapaz como fazer. Temos de ver porque é que os pratos chegam para trás, se o cliente rapou o tacho ou não…”

Os Rolling Stones

Santos Pinto recebe toda a gente no seu restaurante com um sorriso no rosto. É comum sentar-se à mesa para um ou dois dedos de conversa. Se no início o espaço era maioritariamente frequentado por portugueses, o boom do turismo alterou a clientela.

“Os clientes agora são coreanos, japoneses. Quando abri a tasca, 90 por cento da malta que vinha aqui eram portugueses, trabalhavam nas empresas de construção e tinha também juízes, advogados e funcionários públicos. Agora é o contrário, 90 por cento de chineses e dez por cento de portugueses.”

Em 2014, O Santos recebeu o mais improvável dos clientes: a banda Rolling Stones. Tudo aconteceu com uma mera marcação e só quando Mick Jagger e os seus companheiros entraram no restaurante é que Santos Pinto percebeu para quem era a mesa reservada.

“Para mim foi um momento especial, não foi o mais importante, porque para mim mais importante é quando vem um amigo aqui ao restaurante. Só que foi muito falado em toda a parte. Não paravam de me ligar da minha terra quando se soube”, contou.

Sejam ou não famosos, Santos Pinto recebe sempre bem todos os clientes. “É sempre uma surpresa quando entra alguém. Nunca sabemos quem é e temos de ter cuidado na forma como abordamos as pessoas. A comida é importante, mas ser atencioso com as pessoas não custa nada e as pessoas vão felizes.”

Depois de 50 anos de volta dos tachos e das panelas, Santos Pinto assume não ter segredos a cozinhar, reproduzindo boas velhas fórmulas. “Não tenho segredos. Tenho a minha forma de cozinhar e de temperar, o segredo está no tempero e na qualidade dos produtos. Não invento, a gastronomia não tem segredos, é a boa qualidade dos produtos, o paladar e a experiência de muitos anos.”

20 Nov 2019

Turismo | Despesas de visitantes caíram 17,2%

[dropcap]N[/dropcap]o terceiro trimestre deste ano a despesa total dos visitantes (excluindo a despesa no jogo) cifrou-se em 15,20 mil milhões de patacas, ou seja, uma quebra de 17,2 por cento, em termos anuais. A despesa total dos turistas (12,19 mil milhões de patacas) e a dos excursionistas (3,01 mil milhões de patacas) desceram 20 e 3,2 por cento, respectivamente, em termos anuais.

Nos três primeiros trimestres deste ano a despesa total dos visitantes atingiu 47,83 mil milhões de patacas, correspondendo a um decréscimo de 6,7 por cento, face ao mesmo período do ano passado. A despesa total dos turistas (37,39 mil milhões de patacas) diminuiu 9,4 por cento, enquanto a dos excursionistas (10,45 mil milhões de patacas) registou um acréscimo homólogo de 4,6 por cento. O resultado foi impulsionado pelo aumento significativo de 30,6 por cento do número de excursionistas, segundo comunicado emitido pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC).

A despesa per capita dos visitantes situou-se em 1.532 patacas, menos 24,9 por cento, em termos anuais, registando-se decréscimos homólogos nos últimos quatro trimestres.
Quanto ao tipo de despesas, as compras foi onde gastara mais (45,2 por cento do total), seguindo do alojamento (26,9 por cento) e alimentação (20,5 por cento).

20 Nov 2019

Plástico | Muitos levaram saco próprio no primeiro dia de cobrança por supermercados

Esta segunda-feira entrou em vigor a lei que obriga os consumidores ao pagamento de uma pataca por cada saco de plástico. Muitos levaram o seu próprio saco de casa e os supermercados notaram uma redução no uso do plástico. O activista Joe Chan pede um ajustamento do valor cobrado a cada cinco anos, enquanto que associações defendem mudanças na lei

 

[dropcap]P[/dropcap]oucas queixas e aceitação. No primeiro dia em que os supermercados e lojas começaram a cobrar uma pataca por saco de plástico, muitos dos clientes optaram por levar o seu saco de casa, tendo sido registada uma redução no uso do plástico.

Amisha Gurung, de 27 anos e natural da Índia, trabalha na caixa de um supermercado em Macau e assistiu com os seus próprios olhos ao primeiro dia da aplicação da nova lei. “A maioria das pessoas traz o seu próprio saco de plástico, diria mesmo que 95 por cento das pessoas traz o seu saco de plástico. Só cinco por cento não traz e acabam por ter de o comprar”, contou ao HM.

Na opinião de Amisha, os clientes a residir em Macau mostraram estar bem informados da entrada em vigor da nova lei. “A maioria das pessoas que não trouxe saco era oriunda da China e de Hong Kong e desconhecia a lei. Muitos perguntavam porque lhes estava a cobrar uma pataca e eu tive de lhes explicar que era o primeiro dia. Alguns mostraram-se chateados.”

Também Joe Chan, activista ligado às questões ambientais, disse ao HM que, com base nas suas observações, os supermercados terão reduzido o uso de sacos de plástico em 50 por cento.

“Penso que a maior parte das pessoas estão conscientes da mudança e notei que a maior parte das pessoas estão cooperantes. A maior parte dos jovens aceita esta medida e os mais velhos demoram mais tempo a aceitar, mas não se queixam”, apontou.

Para Joe Chan, o Governo deve levar a cabo uma revisão periódica desta lei, sob pena do valor de cada saco de plástico se tornar desajustado com o passar dos anos. “Esta lei tem de ser revista a cada cinco ou dez anos porque o preço de uma pataca tem de ser ajustado. Tem de haver regulação do comportamento das pessoas porque se o preço for muito baixo as pessoas não se preocupam.”

Sucesso em Hong Kong

Um residente de Macau de 32 anos, que não quis ser identificado, disse ao HM que esta “é uma boa medida”, tendo colocado duas embalagens de massa e uma garrafa de água no saco que trouxe consigo de casa. Pelo contrário, outro homem, na casa dos 40 anos, que também não quis dizer o nome, teve de pagar os sacos.

“Saí agora do trabalho e vim directamente às compras, daí não ter trazido saco.”
O pagamento dos sacos de plástico não surpreendeu uma cliente oriunda de Hong Kong, onde há muito tempo existe a medida. Tem sempre consigo um saco de pano.

“Acho que é uma boa medida, que pode ter um impacto ambiental importante, uma vez que os sacos de plástico são uma grande fonte de poluição. Não me importo de pagar uma pataca se me esquecer do meu saco.”

No caso de Hong Kong, “esta medida funciona muito bem, toda a gente aderiu e no geral as pessoas sentem-se bem por estarem a ajudar o ambiente e a reduzir o uso de sacos de plástico”, acrescentou.

Tal como Joe Chan, também a Associação Nova Juventude Chinesa de Macau defende, de acordo com o jornal Ou Mun, que a lei deve ser revista, não pelo valor, mas pela forma como ele está a ser cobrado. As patacas “não deviam ser cobradas pelos lojistas, mas sim pelo Governo”, para que este valor seja aplicado em projectos de protecção ambiental. “O Governo não regulou correctamente a questão da cobrança dos sacos de plástico”, frisou Wong Chi Choi, membro da associação.

Já Cheong Sok Leng, vice-presidente do Centro da Política da Sabedoria Colectiva, considerou, também de acordo com o jornal Ou Mun, que podem existir abusos na cobrança dos valores pelos sacos de plástico, uma vez que a lei possui zonas cinzentas. O responsável pede ainda mais medidas de sensibilização por parte do Governo.

20 Nov 2019

Analistas estimam que este será o pior mês de receitas dos casinos

[dropcap]A[/dropcap]s correctoras Nomura e Sanford C. Bernstein Ltd. estimam que Novembro será o mês de 2019 com maiores quebras nas receitas dos casinos de Macau devido ao pessimismo dos consumidores chineses provocados por factores macroeconómicos.

“Os protestos em Hong Kong podem ter causado problemas nos transportes e nas visitas para Hong Kong, mas acreditamos que o impacto da turbulência nas receitas será pequeno”, pode-se ler na nota da Sanford Bernstein, citada pelo portal GGRAsia.

Igualmente, indicações de gestores de casinos e analistas de investimento comentaram que a situação na região vizinha tem tido pouco ou nenhum impacto nas receitas.

Os analistas da Nomura estimam que as receitas brutas das concessionárias de jogo sofram quebras entre os 8 e 10 por cento durante o mês de Novembro, quando comparado com o período homólogo em 2018. Por outras palavras, a maior contração mensal de 2019. Até agora, Agosto tinha sido o mês com maiores quebras de receitas, quando foram arrecadadas 24.26 mil milhões de patacas, uma descida de 8,6 por cento em relação a Agosto de 2018.

Em relação aos resultados do corrente mês, os analistas da Nomura destacam as estimativas para as quebras do segmento VIP, algo que reforça a tese de que Hong Kong não está a ter impacto, uma vez que os apostadores que compram pacotes turísticos que englobam as duas regiões administrativas especiais alimentam o mercado de massas.

De acordo com a avaliação dos analistas da Sanford, entre 11 e 17 de Novembro o segmento de massas registou ganhos menores a 10 por cento, enquanto o sector VIP teve quebras mais de 30 por cento em relação ao período homólogo do ano passado.

Jogo da moeda

Na análise da Nomura, durante o mesmo período de sete dias, as receitas do segmento de massas caíram entre 8 e 10 por cento ao ano, enquanto as receitas apuradas pelo sector VIP registaram quebras entre os 31 e 32 por cento. “Prevemos que as receitas brutas para o mês se situem entre 22.5 mil milhões e 23 mil milhões de patacas”, estimam os analistas.

Além do enfraquecimento da economia chinesa, sente-se o efeito de outros factores nas receitas. O continuado declínio de valor da moeda chinesa é outro dos factores com influência. A Sanford Bernstein nota mesmo a correlação histórica entre as receitas do jogo e as taxas cambiais do renminbi, Dólar de Hong Kong e Dólar americano.

20 Nov 2019

Escola Pui Ching | Professor ameaça processar críticos após posts polémicos

Depois de publicar mensagens com teor e linguagem violenta, um professor da Escola Secundária Pui Ching ameaçou processar judicialmente um ex-aluno que o criticou. As publicações do professor referem-se à situação vivida em Hong Kong. Hoje, um grupo de ex-alunos entrega uma carta e petição na escola

 

[dropcap]O[/dropcap]s que concordam com os manifestantes são heróis, os que discordam são idiotas azuis. Todos os dias falam de 31.8 e de 18.9. Se detestam os polícias porque não usam AK47? Sinto nojo quando os vejo destruir lojas”. Este foi o conteúdo de uma das publicações de Facebook de um professor da prestigiada Escola Secundária Pui Ching que lançou a polémica nas redes sociais desde a semana passada.
Além desta publicação, o professor referiu-se ainda aos manifestantes como “baratas”, juntou um emoji coração ao mencionar bombas incendiárias, entre outras mensagens com teor e retórica violentas.

Um grupo de ex-alunos entrega hoje uma petição e carta a denunciar o comportamento do docente a “espalhar o ódio”, exigem um pedido de desculpas do professor e pedem que a escola lide com a situação, sem especificar de que forma.

“Não temos intenção de interromper o direito do professor de partilhar o seu ponto de vista político, mas temos de salientar que as posições e ideologias diferentes devem ser respeitadas. Comentários irracionais apenas fortalecem o ódio”. Lê-se na missiva que é hoje entregue à direcção da Escola Secundária Pui Ching e à qual o HM teve acesso. O HM contactou a escola no sentido de obter uma reacção, mas até ao fecho da edição não obteve qualquer resposta.

Batalha no Facebook

Depois da polémica online, o docente passou a insurgir-se contra quem o criticou. Em especial contra um ex-aluno, de apelido Leon, que assinou uma carta de repúdio à actuação pública do professor da escola que frequentou. Depois de publicar a missiva, Leon declarou que ele e a sua família foram pressionados pelo professor, nomeadamente através de chamadas e mensagens de texto a pressionar o ex-aluno a apagar a publicação da carta do Facebook. Segundo o jornal All About Macau, o docente terá escrito “se não retirares a carta, processo-te”.

Depois da pressão exercida, Leon apagou a carta e publicou uma declaração a referir que não tinha intenção de difamar ninguém e pediu desculpas se a missiva que escreveu trouxe consequências negativas para alguém. Leon especificou mesmo que esperava que o deixassem a si e à família em paz, sem deixar de enfatizar a veracidade do conteúdo da carta.

Leon não foi o único a manifestar-se contra o professor da Escola Pui Ching. Um internauta de apelido Cheong, ex-aluno da escola em questão, criticou a forma como o docente reagiu à polémica, em especial como actuou face à publicação de Leon. “Em vez de resolver o problema, calou a pessoa que o criticou. Não quero acreditar que este seja o estilo da minha alma mater. O professor é o modelo dos alunos em termos de comportamentos, publicou comentários extremos e molestou a família daquele antigo aluno, já foi ultrapassada a norma dum professor. Tenho também pena que a escola não tenha respondido”.

20 Nov 2019

Escola Pui Ching | Professor ameaça processar críticos após posts polémicos

Depois de publicar mensagens com teor e linguagem violenta, um professor da Escola Secundária Pui Ching ameaçou processar judicialmente um ex-aluno que o criticou. As publicações do professor referem-se à situação vivida em Hong Kong. Hoje, um grupo de ex-alunos entrega uma carta e petição na escola

 
[dropcap]O[/dropcap]s que concordam com os manifestantes são heróis, os que discordam são idiotas azuis. Todos os dias falam de 31.8 e de 18.9. Se detestam os polícias porque não usam AK47? Sinto nojo quando os vejo destruir lojas”. Este foi o conteúdo de uma das publicações de Facebook de um professor da prestigiada Escola Secundária Pui Ching que lançou a polémica nas redes sociais desde a semana passada.
Além desta publicação, o professor referiu-se ainda aos manifestantes como “baratas”, juntou um emoji coração ao mencionar bombas incendiárias, entre outras mensagens com teor e retórica violentas.
Um grupo de ex-alunos entrega hoje uma petição e carta a denunciar o comportamento do docente a “espalhar o ódio”, exigem um pedido de desculpas do professor e pedem que a escola lide com a situação, sem especificar de que forma.
“Não temos intenção de interromper o direito do professor de partilhar o seu ponto de vista político, mas temos de salientar que as posições e ideologias diferentes devem ser respeitadas. Comentários irracionais apenas fortalecem o ódio”. Lê-se na missiva que é hoje entregue à direcção da Escola Secundária Pui Ching e à qual o HM teve acesso. O HM contactou a escola no sentido de obter uma reacção, mas até ao fecho da edição não obteve qualquer resposta.

Batalha no Facebook

Depois da polémica online, o docente passou a insurgir-se contra quem o criticou. Em especial contra um ex-aluno, de apelido Leon, que assinou uma carta de repúdio à actuação pública do professor da escola que frequentou. Depois de publicar a missiva, Leon declarou que ele e a sua família foram pressionados pelo professor, nomeadamente através de chamadas e mensagens de texto a pressionar o ex-aluno a apagar a publicação da carta do Facebook. Segundo o jornal All About Macau, o docente terá escrito “se não retirares a carta, processo-te”.
Depois da pressão exercida, Leon apagou a carta e publicou uma declaração a referir que não tinha intenção de difamar ninguém e pediu desculpas se a missiva que escreveu trouxe consequências negativas para alguém. Leon especificou mesmo que esperava que o deixassem a si e à família em paz, sem deixar de enfatizar a veracidade do conteúdo da carta.
Leon não foi o único a manifestar-se contra o professor da Escola Pui Ching. Um internauta de apelido Cheong, ex-aluno da escola em questão, criticou a forma como o docente reagiu à polémica, em especial como actuou face à publicação de Leon. “Em vez de resolver o problema, calou a pessoa que o criticou. Não quero acreditar que este seja o estilo da minha alma mater. O professor é o modelo dos alunos em termos de comportamentos, publicou comentários extremos e molestou a família daquele antigo aluno, já foi ultrapassada a norma dum professor. Tenho também pena que a escola não tenha respondido”.

20 Nov 2019

Novo Macau | Defendido cancelamento de “teste” do reconhecimento facial

Sulu Sou considera que as autoridades não têm satisfeito as dúvidas da população e dão respostas limitadas ao “senso comum” face a perguntas específicas. O deputado questiona ainda a supervisão do Gabinete para a Protecção dos Dados Pessoais

 

[dropcap]A[/dropcap] Novo Macau pede ao Governo que suspenda os planos para testar as câmaras de videovigilância com reconhecimento facial no início do próximo trimestre. Numa conferência de imprensa liderada pelo deputado Sulu Sou, foi defendido que as dúvidas sobre a protecção dos dados pessoais e a privacidade dos residentes não foram esclarecidas pelo Executivo, pelo que não há condições para avançar com o plano.

“Pedimos ao Governo para explicar em detalhe a base legal para a implementação do sistema de reconhecimento facial, o plano específico da concretização e o mecanismo de supervisão pelo público”, apelou Sulu Sou. “Caso contrário, o teste deve ser suspenso”, sublinhou.

De acordo a Associação Novo Macau, já no passado houve vários pedidos de esclarecimento pelos vários sectores da população, nomeadamente no que diz respeito à protecção dos dados pessoais e da privacidade dos residentes, mas as autoridades não têm esclarecido as dúvidas levantadas.

“Este sistema levanta muitas dúvidas aos cidadãos, mas depois de emitir dois comunicados sobre o assunto, o Governo não esclareceu as dúvidas existentes”, começou por acusar o deputado. “Foi explicado que o sistema vai funcionar em background. Mas isto é uma explicação do senso comum. Claro que vai funcionar em background, o reconhecimento facial não está instalado nas câmaras, é analisado depois no servidor com as imagens. As autoridades não explicam a situação de forma clara e limita-se a repetir factos do senso comum”, acrescentou.

Ainda sobre este assunto Sulu Sou apontou que as autoridades se escudam sempre na “segurança interna” e no “segredo de justiça” para actuarem sem prestarem esclarecimentos.

Tigre sem dentes

Outro dos aspectos criticados pelo deputado prende-se com a crença que o Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP) não tem os mecanismos para exercer uma supervisão eficaz. Segundo Sulu Sou, no passado o GPDP afirmou ter recusado pedidos para a instalação de câmaras de videovigilância.
Contudo, quando o legislador pediu para ter acesso às comunicações entre a polícia e o GPDP foi-lhe dito que não havida documentos escritos, porque a comunicação tinha sido oral.

Sobre os efeitos deste sistema em Macau, Sulu Sou disse acreditar que pode fazer com que as pessoas deixem de participar em manifestações ou actividades políticas e apelou às autoridades para que façam uma conferência de imprensa para explicar abertamente o alcance do sistema de videovigilância com reconhecimento facial.

Por fim, a Novo Macau apontou vários exemplos, como o do Interior da China, em que os cidadãos recorreram aos tribunais para questionar a legalidade do reconhecimento facial. O deputado recordou ainda que em São Francisco este tipo de recurso de vigilância foi considerado ilegal.

20 Nov 2019

Deputado Lei Chan U questiona peso excessivo das mochilas dos alunos

[dropcap]L[/dropcap]ei Chan U interpelou a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) sobre as medidas que estão a ser implementadas para reduzir o peso nas mochilas dos alunos. O deputado citou um estudo que revela que mais de 75 por cento dos alunos tem peso a mais nas suas mochilas, além de que, quanto menor é o ano de escolaridade, mais peso o estudante carrega.

Como exemplo, o estudo revela que, no primeiro ano de escolaridade primária, os alunos chegam a carregar um peso superior ao peso corporal em 20 por cento.

Lei Chan U está também preocupado com o facto de os alunos não dormirem as oito horas de sono diárias recomendadas, dado o excesso de trabalhos de casa pedidos pelos professores. Desta forma, o deputado ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau pede que a DSEJ elimine o regulamento que determina o número de trabalhos de casa constante no “Guia de Funcionamento das Escolas”.

20 Nov 2019

Escolas | Património de privadas congelado em caso de falência

O objectivo da medida passa por garantir que há fundos para cobrir os custos de operação até ao final do ano lectivo. A medida só se aplica às escolas privadas sem fins lucrativos e o diploma está a ser debatido na Assembleia Legislativa

 

[dropcap]A[/dropcap]s escolas privadas e sem fins lucrativos que receberem subsídios do Governo vão ficar impedidas de retirar qualquer tipo de património da instituição enquanto estiverem a funcionar. O objectivo da medida que está a ser discutida em sede de comissão na Assembleia Legislativa passa por assegurar que mesmo em caso de falência as instituições têm uma forma de cobrir as despesas até ao final do ano lectivo para os alunos não serem prejudicados.

Assim sendo, o património deverá ser utilizado para pagar as despesas do funcionamento das escolas e, depois, para cobrir eventuais dívidas a credores. No entanto, o último aspecto não é muito claro para os deputados, como admitiu o presidente da 2.ª Comissão Permanente da AL, Chan Chak Mo, que orienta os trabalhos de discussão da proposta de Lei Estatuto das Escolas Particulares do Ensino Não Superior.

A reunião de ontem aconteceu depois de no mês passado o Executivo ter entregue à comissão a terceira versão do diploma: “A versão anterior da lei dizia que os ‘bens’ não poderiam ser removidos antes do encerramento da escola. Agora, o diploma define que o ‘património’ não pode ser retirado durante o funcionamento da escola”, explicou Chan Chak Mo. “Mas não é muito claro como vai ser feito o pagamento das dívidas, por exemplo, com os bancos ou outros. Será que se segue as normas do Código Comercial para saber quem recebe primeiro ou há outras orientações? Temos de perceber melhor este aspecto”, reconheceu. “Se houver uma situação de falência de uma escola, o Governo pode recorrer ao património para assegurar que as aulas continuam dentro da normalidade, enquanto procura uma solução ou um novo titular. Assim protege-se o interesse dos estudantes”, acrescentou. Ainda de acordo com Chan Chak Mo, não existem casos da falência de escolas em Macau.

Contas à parte

Outro dos aspectos ontem debatido foi a independência financeira entre as escolas e entidades titulares, ou seja, as pessoas colectivas ou singulares que são proprietários.

Em relação a este aspecto, os membros do conselho de administração das escolas podem ser pagos por actividades que desenvolvam não relacionadas com as aulas, mas o diploma define que os pagamentos têm de partir das finanças das entidades titulares.

“Em relação aos pagamentos, se forem feitos por trabalhos fora das aulas a origem do dinheiro tem de vir das finanças das entidades titulares e não podem integrar as despesas das escolas”, indicou o deputado.
De acordo com a explicação do legislador, já existem mecanismos em vigor que permitem que as contas sejam separadas e que os subsídios do Governo não sejam desviados para gastos diferentes dos inicialmente previstos.

20 Nov 2019

Richard Hardiman, professor universitário e consultor na área do ambiente: “China está a repetir erros do Ocidente”

Inglês com nacionalidade israelita, Richard Hardiman tem uma intensa relação com a China, onde trabalhou e viveu durante 25 anos. Doutorado em química, com especialização na área do ambiente e recursos hídricos, o professor universitário foi consultor para vários projectos ambientais e de desenvolvimento no país. Richard Hardiman fala dos riscos ambientais causados pela política “Uma Faixa, Uma Rota” e de como a China se preocupa mais com a estabilidade social, associada à problemática da poluição do ar, do que com as alterações climáticas

 

Viveu cerca de 25 anos na China, incluindo no Tibete. Como aconteceu essa jornada?

[dropcap]S[/dropcap]empre quis trabalhar com países em desenvolvimento e fiz o meu doutoramento em Israel na área da agricultura sustentável. Trabalhei também na Índia, um país extremamente difícil para trabalhar. Não conhecia nada sobre a China, não falava mandarim, mas queria ir para lá e fui convidado por uma empresa australiana para trabalhar numa pequena aldeia no noroeste do país. Era o coração da China, o coração das pessoas, a vivência da agricultura, mãos duras, grandes sorrisos. Uma pronúncia muito acentuada. Na altura, a China era um país difícil, não havia electricidade, todos os bens como café ou manteiga eram raros. Tínhamos de ir a Hong Kong buscar tudo isso.

Porque decidiu enveredar pelo estudo do ambiente e alterações climáticas?

Na China quis perceber como é que a população ia ser alimentada, tendo em conta a sua enorme dimensão. A minha especialização estava relacionada com a água, que se relaciona com as alterações climáticas, que por sua vez se liga com a energia e depois com políticas ambientais. Nesta fase olho para todos os aspectos relacionados com o ambiente na China, do ponto de vista de políticas, governança, leis, poluição do ar, dos solos e da água. Tudo isto tem um enorme impacto político em todo o mundo, temos as relações com países como a Rússia, Curdistão, Turquemenistão, com a política “Uma Faixa, Uma Rota” no topo de tudo isso. É algo que não pára de crescer.

Comecemos com essa ideia de que falou, de como se pode alimentar a China. O desenvolvimento económico levou milhões de pessoas dos campos para as cidades. A China encontrou o caminho ideal para dar resposta a esse crescimento de forma sustentável?

O lado sustentável não é uma questão, mas em termos de desenvolvimento económico é claro que há uma estratégia. Os limites de cada aspecto das políticas chinesas, a forma de pensar do Governo, tudo isso está relacionado com a estabilidade social. Quando Mao Zedong estava no Governo, a estabilidade social estava absolutamente controlada. Depois apareceu Deng Xiaoping que disse que, em prol do crescimento económico, para colocar o dinheiro nos bolsos das pessoas, deveria haver estabilidade social. E esse tem sido o pensamento seguido pelos líderes que lhe seguiram. Mas a questão ambiental surgiu no horizonte, as pessoas começaram a dizer “sim, temos dinheiro nos nossos bolsos, temos carros, mas não conseguimos respirar”. Então o ambiente tornou-se uma questão. Actualmente todas as políticas ambientais visam tornar a situação melhor, mas o limite é sempre a estabilidade social. Se olharmos para tudo o que está a acontecer, a política “Uma Faixa, Uma Rota”, é a mesma política que já foi introduzida, que é pegar na energia e materiais, transformá-los em projectos com valor e exportá-los. Tudo está a acontecer do ponto de vista ambiental e de uma forma muito pouco sustentável. A China está a repetir todos os erros do Ocidente, para minha frustração, pois esse foi o meu trabalho lá, mostrar quais foram os nossos erros como ocidentais e como as coisas deveriam ser feitas. Mas não ninguém ouviu essa perspectiva, ficou sempre a ideia do “agora é a nossa vez”.

As pessoas começam a falar dos problemas ambientais que a política “Uma Faixa, Uma Rota” pode trazer. Acredita que ainda é possível reverter a situação?

É muito possível, a questão é se há esse desejo. Xi Jinping disse várias vezes de que a aposta seria em prol da sustentabilidade e todas essas ideias, mas não há provas disso. Muito do financiamento está a ir para projectos ligados à energia, e muitos deles ligados a energias fósseis.  Estes são financiados por bancos estatais e tentam obter os 86 por cento dos financiamentos no âmbito da política “Uma Faixa, Uma Rota”. Claro que há alguns projectos ligados às energias renováveis, mas a maior parte está ligado às energias fósseis, e isso é assustador. É quase como replicar o que aconteceu na China, mas a um nível global.

Há muitos acordos assinados com países africanos. Acredita que África será o continente que mais irá sofrer as consequências ambientais destes investimentos?

Não apenas África. Temos o exemplo do Tajiquistão, que vai receber uma central eléctrica no centro da cidade. No caso do Cambodja, o pior cenário é causado por centrais nucleares localizadas na China, que estão a ser encerradas e desmanteladas e vendidas para o Cambodja, passam de lixo para tesouro. Estes cenários não nos dão uma boa previsão do que vai acontecer. Estou muito preocupado com isso.

Existe uma contradição na forma como a China está a levar a cabo as suas políticas ambientais e a postura internacional ao nível das alterações climáticas? A China critica os Estados Unidos por ter abandonado o Acordo de Paris, mas depois na política “Um Faixa, Uma Rota” toma más decisões?

Há uma contradição, absolutamente. A China é muito cuidadosa em relação ao facto de aquilo que é feito estar de acordo com o que é dito. Por exemplo, criaram este conceito, a intensidade do carbono. O que foi afirmado que o país iria reduzir as emissões em cerca de 45 por cento em termos da intensidade do carbono, que é uma forma de reduzir as emissões de carbono em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). A China diz querer reduzir esse rácio em 45 por cento até 2020, e 65 por cento até 2030. É um termo muito inteligente, porque o que diz é “podemos aumentar o PIB até um nível superior em relação ao aumento dos níveis de dióxido de carbono”. E fizeram-no. No que diz respeito ao Acordo de Paris, transferiram as indústrias pesadas para indústrias mais ligadas à alta tecnologia. As emissões de carbono têm vindo a aumentar, mas não tanto como se esperava.

Uma vez que os EUA saíram do Acordo de Paris, a China tem a oportunidade de liderar o processo, podendo talvez trabalhar num novo Acordo?

Não me parece que a China se preocupe com as alterações climáticas.

É propaganda?

Não, mas simplesmente não se preocupam. O que se preocupam é em relação à estabilidade social, a poluição do ar, aquilo em que os seus cidadãos estão a pensar. Do meu ponto de vista a poluição do ar não é a mesma coisa que as emissões de dióxido de carbono, pois a poluição do ar está relacionada com partículas, mas há uma relação entre as duas partes. O que eles fizeram nesta área foi notável, uma vez que desceram dos 80 por cento de dependência de energias fósseis para 65 por cento. Mas o limite é ter ar limpo e cidadãos satisfeitos, esse é o foco principal. As alterações climáticas ou a redução das emissões de carbono é um subproduto disso.

Não estão então interessados em liderar nenhum processo global desse tipo?

Não há indicação. Se liderarem, e falo de alterações climáticas, e não falo de mudanças económicas, é mais para estarem no topo, mas porque a China quereria isso? Se voltarmos um pouco atrás à conferência anual, em Copenhaga (em 2009), a China colocou-se nos ombros da Índia e disse: “nós somos países em desenvolvimento, representamos o mundo em desenvolvimento e insistimos que os países desenvolvidos ajam em conjunto e reduzam as emissões de dióxido de carbono”. Afirmaram não estar de acordo com o Protocolo de Quioto. Classificar-se a si mesmo como um país em desenvolvimento não constitui um problema, isso foi em 2009. Mas permitir que os países desenvolvidos reduzissem as suas emissões de dióxido de carbono fez com que se tenha reduzido o poder das indústrias do Ocidente e isso permitiu à China desenvolver muitos aspectos.

A Índia está numa situação pior ao nível das questões climáticas em relação à China? Recentemente vimos a vaga de nuvens de fumo registadas em Nova Deli?

Sim. A Índia está fora de controlo, o país não está assim tão desenvolvido. Quando a China tem uma política preocupa-se com ela e impõe-na. Mas na Índia é uma confusão democrática e não posso dizer que tenha uma política ambiental. Se olharmos para o mapa da poluição do ar, em primeiro lugar surge Nova Deli e o resto da Índia não apresenta problemas. O problema na Índia é que não vejo nenhuma acção conjunta a nível ambiental.

Como ficam os EUA depois de deixarem o Acordo de Paris? Sem Donald Trump é possível voltar atrás?

Não sou adivinho, mas tudo depende de quem chegar ao poder. Nos EUA as emissões por PIB são enormes, estão fora de controlo. O que mais me impressiona é que nos filmes têm sempre céus azuis (risos). Poderiam facilmente reduzir essas emissões, mas o facto de não possuírem uma estratégia, de dependerem dos combustíveis fósseis, sabendo as tecnologias amigas do ambiente estão a ser desenvolvidas lá fora, vai fazer com que o país acabe por perder o barco.

Tendo como base o caso dos EUA, que deixaram o Acordo de Paris com Donald Trump, e a situação dos fogos na floresta da Amazónia, no Brasil presidido por Jair Bolsonaro, acredita que o populismo, e o seu aumento no Ocidente, pode trazer impactos negativos para as políticas ambientais? Há uma relação?

O facto é que todos somos responsáveis. Os nossos carros, os nossos frigoríficos, telemóveis, todas as tecnologias de que somos dependentes, estão a causar esta situação. Os acordos ligados às alterações climáticas, quer seja o de Paris ou Copenhaga, afirmam que os países industrializados não estão dispostos a mudar o seu estilo de vida. A economia está dependente do consumismo, é tudo conduzido dessa forma. Não estamos a avaliar bem as consequências. O Brasil, a situação na Amazónia, as florestas que estão a ser cortadas, é tudo parte de nós. Se os Governos nada fazem as pessoas têm de pressionar as autoridades para que se faça alguma coisa. Se olharmos para a história das políticas ambientais, estas têm sido iniciadas pelas massas. Churchill tornou-se primeiro-ministro do Reino Unido a seguir à II Guerra Mundial, e quando Londres começou a sofrer com as nuvens de fumo causadas pelas indústrias, ele disse que o carvão era o centro da nação, das indústrias, e que nada iria mudar. Em 1952 surgiu uma horrível nuvem de fumo que matou mais de quatro mil pessoas e então houve uma revolta social. Aí surgiu um decreto que proibia o uso do carvão nas casas e nas fábricas, e tudo mudou. A poluição do ar é uma porta de entrada para questões como segurança no trabalho, licença de maternidade, melhores condições de trabalho. Foi isso que levou a uma mudança na China, na Europa, no Japão. As pessoas podem insistir numa mudança e os Governos devem ouvi-las, sobretudo os Governos democráticos.

20 Nov 2019