Eleição CE | Mai Man Ieng volta a presidir Assembleia de Apuramento Geral

[dropcap]F[/dropcap]oram ontem revelados os nomes dos elementos que vão compor a Assembleia de Apuramento Geral das eleições dos Membros da Comissão Eleitoral e da eleição para o cargo de Chefe do Executivo.

De acordo com um despacho assinado por Chui Sai On, e publicado ontem em Boletim Oficial, o presidente será o procurador-adjunto Mai Man Ieng, que ocupou o mesmo cargo durante a eleição de 2009.

Os restantes elementos da assembleia são Kuok Kin Hong, delegado do procurador, Joana Maria Noronha, subdirectora dos Serviços da Administração e Função Pública, Cheng I Wan, subdirectora dos Serviços de Estatística e Censos e Cheong Sek Lun, chefe da Divisão de Apoio Técnico-Eleitoral dos Serviços da Administração e Função Pública.

7 Mai 2019

Grande Baía | Livre circulação fundamental para cooperação regional

Promover a livre circulação de pessoas e bens é fundamental para a concretização do projecto de cooperação inter-regional da Grande Baía. A ideia foi deixada ontem na apresentação das Linhas Gerais da Grande Baía pelo sub-director da Comissão Nacional para o Desenvolvimento e Reforma

 

[dropcap]A[/dropcap] Grande Baía pode ser palco de inúmeras oportunidades, mas, para já, representa um grande desafio para as regiões abrangidas. Para que o projecto tenha uma dimensão competitiva a nível internacional são necessárias políticas e acções capazes de dinamizar o desenvolvimento das regiões envolvidas.

Um dos primeiros obstáculos a superar tem que ver com a livre circulação de pessoas e bens entre Macau, Hong Kong e as nove cidades de Guangdong. A ideia foi deixada ontem pelo sub-director da Comissão Nacional para o Desenvolvimento e Reforma, Luo Wen, na apresentação das Linhas Gerais de Desenvolvimento da Grande Baía, em Macau. “Existem obstáculos de circulação que temos que ultrapassar” apontou o responsável. O dirigente pretende que se alcance uma maior amplitude de acção principalmente dos residentes das três regiões. “Hong Kong está saturada e os jovens de agora já não veem grandes oportunidades de desenvolvimento naquele território.

Macau é limitado, principalmente no que respeita a terrenos e as cidades do continente também enfrentam dificuldades, pelo que é necessário permitir maior circulação de pessoas”, justificou.

Para o efeito são necessárias reformas no que a vistos diz respeito, referiu Luo Wen. “Há que adoptar, o mais cedo possível, medidas que permitam aos jovens aceder ao empreendedorismo na Grande Baía”, referiu.

Um ponto igualmente reforçado pelo Presidente Xi Jingping que “deu ordens para facilitar a circulação de modo a resolver estes problemas básicos”.

A facilitação de circulação tem também de abranger mercadorias. Para o efeito, é necessário baixar os custos da passagem de bens entre as três regiões. O mesmo se aplica à circulação de moeda e de informação apontou. “Em Hong Kong e Macau os impostos e direitos aduaneiros são mais baixos que no Delta do Rio das Pérolas que tem impostos altos”, acrescentou referindo-se às diferenças a serem superadas. “Trata-se de um país, dois sistemas e três zonas de comércio”, disse, destacando que tal situação particular não tem um exemplo que lhe possa servir de referência, aumentando o desafio que se coloca.

“É preciso minimizar as diferenças que advêm da política ‘Um País, Dois Sistemas’”, disse. O caminho é o amor à pátria. “Temos de insistir no patriotismo para podermos participar na cooperação e concorrer internacionalmente. Precisamos de um novo palco para podermos actuar e o Estado tem de ter um planeamento mais estratégico nacional. Com a liderança do Governo Central podemos aprender a conquistar as nossas metas”, referiu

Via verde

O desenvolvimento de infra-estruturas do sector dos transportes também está incluída na estratégia para melhorar a circulação entre Macau, Hong Kong e as cidades de Guangdong. Em foco estará o desenvolvimento das ligações marítimas e aéreas, mas também da construção de autoestradas que unam as regiões de modo a promover trocas comerciais e intercâmbio empresarial.

Aliás, o desenvolvimento empresarial é fulcral para que a Grande Baía venha a ser competitiva com outras baías mundiais, como a de Nove Iorque, Tóquio e São Francisco, apontou Luo Wen. “A baía de Tóquio conta com 95 empresas internacionais, e a de São Francisco com cerca de 85”, disse. Na Grande Baía esta empresas “são ainda muito poucas”. A Grande Baía tem que criar condições para se posicionar no panorama internacional, visto que “Nova Iorque é uma baía financeira, a de São Francisco é tecnológica e a de Tóquio é uma baía económica e industrial com destaque para as indústrias naval e do aço”.

Vantagens raras

Apesar de os obstáculos serem ainda muitos, o projecto regional apresenta vantagens se comparado com as restantes quatro baías internacionais.

O sub-director da Comissão Nacional para o Desenvolvimento e Reforma, apontou a população e a área como pontos fortes a serem explorados. “Temos 70 milhões de pessoas e uma área geográfica muito maior, mas há muito a fazer”, reforçou.

A inovação é outro desafio para o projecto, sendo “preciso mais investigação científica, mais capacidade de inovação empresarial e mais suporte para a inovação tecnológica e financeira”, apontou Luo.

Quanto a Macau, os esforços devem ir no sentido de manter as suas vantagens enquanto plataforma de ligação com o mundo e em particular com os países e língua portuguesa, sublinhou, pelo que deve continuar a desenvolver a cooperação com outras regiões e países.

No que diz respeito à economia local ficou o alerta: “É preciso diversificar”. A apresentação de ontem das Linhas Gerais de Desenvolvimento da Grande Baía teve lugar no Dome, e contou com a presença de 800 convidados, dos quais fez parte o Chefe do Executivo, Chui Sai On, assim como outros membros do Governo e representantes associativos.

7 Mai 2019

Justiça | RAEM e Portugal assinam pré-acordo de cooperação

[dropcap]M[/dropcap]acau e Portugal chegaram a um pré-acordo para reforçar a cooperação mútua na área judiciária em matéria penal e no combate à criminalidade.

Este foi o resultado de um encontro entre o Grupo de Trabalho para a Cooperação Judiciária Internacional da RAEM e uma Delegação de Portugal, que decorreu entre 29 de Abril e 3 de Maio, quando esta delegação esteve em Macau, a propósito do Acordo sobre o Auxílio Judiciário Mútuo em Matéria Penal.

A informação foi divulgada através de um comunicado do Gabinete da secretária para a Administração e Justiça e as duas partes comprometeram-se a “adoptar as diligências necessárias com vista a agilizar os procedimentos internos, em prol da assinatura formal do acordo, com a maior brevidade possível”.

7 Mai 2019

Fundo de Reparação Predial | Song Pek Kei pede ajudas para edifícios antigos

[dropcap]A[/dropcap] falta de manutenção dos edifícios em Macau tem originado situações perigosas nos prédios antigos, de acordo com Song Pek Kei. Exemplo disso é a perda de tinta nas “paredes externas de edifícios, infiltrações de água, envelhecimento de elevadores e de sistemas de protecção contra incêndios”.

A denúncia é feita por Song Pek Kei, em interpelação escrita, que recorda que “nos últimos anos, muitos prédios em Macau sofreram acidentes causados pelo envelhecimento das instalações que carecem de restauro e manutenção”, aponta.

De acordo com alguns proprietários dos edifícios antigos que terão contactado com a deputada, o financiamento para manutenção é escasso e os procedimentos administrativos são demasiados complicados.

Face a esta situação, a deputada apela ao Governo para que tome medidas e reformule as políticas do Fundo de Reparação Predial de modo a aumentar a sua abrangência e flexibilidade.

7 Mai 2019

Mak Soi Kun eleito presidente de associação ambiental

[dropcap]O[/dropcap] deputado Mak Soi Kun foi eleito, o mês passado, para a presidência da Associação para a Protecção Ambiental Industrial de Macau. De acordo com a imprensa chinesa, a reunião foi dirigida pelo empresário Kevin Ho, que também se manteve nos órgãos dirigentes da associação, assim como Ma Chi Tat.

Na qualidade de novo presidente da associação, fundada em 2003, Mak Soi Kun destacou o sucesso da publicação da revista “Indústria Ambiental”, que já vai na 21.ª edição, e agradeceu ao anterior presidente, Kevin Ho, pelo trabalho realizado. Além disso, o deputado à Assembleia Legislativa (AL) destacou o sucesso da realização do Fórum Internacional de Cooperação Ambiental (MIECF, na sigla inglesa), bem como os apoios concedidos pelo Governo.

Kevin Ho, que se mantem como presidente da direção, disse esperar que o Executivo implemente mais medidas de apoio à indústria ambiental, e que a associação possa ser um exemplo nas políticas ligadas ao meio ambiente, nomeadamente através da utilização de produtos e técnicas mais avançados nessa área.

O empresário, sobrinho do ex-Chefe do Executivo Edmund Ho, adiantou ainda que a associação participou na MIECF durante 12 anos e pretende reforçar a cooperação e intercâmbio sobre assuntos ambientais.

7 Mai 2019

Táxis | Associação exige directrizes à DSAT sobre gravações dentro de veículos

A nova lei dos táxis está prestes a entrar em vigor, mas Tony Kuok, presidente da Associação de Mútuo Condutores de Táxi de Macau, diz que a DSAT ainda não deu explicações sobre as regras para instalar equipamentos de gravação de som e imagem dentro dos táxis. Tony Kuok diz-se preocupado sobre a implementação do diploma

 

[dropcap]E[/dropcap]ntra em vigor no próximo dia 3 de Junho a nova lei dos táxis, mas muitos condutores continuam sem saber as regras concretas para a instalação de equipamentos de gravação de som e imagem, uma das novidades introduzidas pelo diploma.

Tony Kuok, presidente da Associação de Mútuo Auxílio de Condutores de Táxi, revelou, citado pela imprensa chinesa, que já questionou diversas vezes a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) sobre as medidas a adoptar, mas que ainda não obteve respostas concretas.

“Tenho preocupações sobre a forma como a lei será implementada no futuro”, admitiu o presidente, que disse também esperar que a DSAT venha a estender o prazo para os taxistas que não consigam instalar os equipamentos e que reclamem do processo.

Tony Kuok acredita que a DSAT venha a concluir a instalação de todos os equipamentos de gravação dentro de um ano e meio, uma vez que ainda se encontra em fase de concurso público.

Nesse sentido, o dirigente associativo sugere a contratação de dois ou três técnicos para a instalação dos equipamentos.

Diálogos com Wong

Tony Kuok adiantou que tem vindo a dialogar com o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, no sentido de que seja criada uma plataforma que ajude os taxistas que apresentem reclamações a resolver os seus problemas. Uma das possíveis queixas originadas pela entrada em vigor da nova lei diz respeito ao transporte de bagagens, uma vez que muitos dos taxistas podem não ter condições físicas para o fazer.

Sobre os acidentes ocorridos em Macau nos últimos dias, o vogal da direcção da Associação dos Engenheiros de Macau, Wong Seng Fat, indicou que, para diminuir os acidentes de trânsito, os departamentos do Governo deveriam cooperar para melhorar o trânsito de Macau e recorrer aos dados pessoais para contabilizar o número de veículos e definir novas zonas para peões.

7 Mai 2019

PJ recusa comissão para avaliar autorizações de escutas

O relatório da consulta pública sobre a Lei da Intercepção e Protecção de Comunicações foi revelado ontem. O Governo aceitou deixar cair a intenção de obrigar os arguidos a fornecerem os seus logins de acesso a redes sociais ou telemóveis a pedido de um juiz

 

[dropcap]A[/dropcap] Polícia Judiciária (PJ) considera desnecessária a criação de uma comissão para supervisionar as aprovações das escutas de telecomunicações por parte dos juízes. Segundo o relatório da consulta pública do Regime Jurídico da Intercepção e Protecção de Comunicações, a opinião da PJ é de que a legislação de Macau já tem em vigor um mecanismo que garante uma “melhor supervisão”.

Durante a consulta pública sobre a lei da intercepção das telecomunicações foi sugerida a criação de uma comissão para analisar os pedidos de intercepção aprovados pelos juízes. O sistema seria uma imitação do implementado em Hong Kong com o “Commissioner on Interception of Communications and Surveillance”. Esta comissão avalia a pertinência da autorização e intercepção das comunicações.

No entanto, para as autoridades, Macau tem um sistema melhor uma vez que há três níveis de decisão, antes de uma comunicação poder ser interceptada: “Aceitamos a opinião segundo a qual, não há necessidade em criar uma entidade de fiscalização dependente relativa à intercepção de comunicações, porque já existe em Macau um melhor mecanismo de supervisão, pois, a supervisão de juízes e magistrados do Ministério Público já está estipulada na lei”, afirma a PJ no relatório da consulta pública.

A autoridade explica o mecanismo em vigor, em que o pedido de intercepção é primeiramente avaliado por “um investigador de alto nível” da PJ. Após este passo segue para o MP, mas só com a autorização da direcção da mesma força de investigação. Já no MP, o pedido tem de ser aprovado por um magistrado e só depois é remetido para o juiz de instrução criminal que volta a avaliar o pedido e tem a palavra final.

O relatório cita também opiniões da área jurídica que encararam a criação de comissão semelhante à de Hong Kong como uma ameaça à independência dos juízes. “Em Macau existe uma dupla apreciação por parte dos órgãos judiciais, não havendo, portanto, necessidade e nem devendo assim aparecer situações em que caiba ao ‘commissioner’ supervisionar o juiz, sob pena de isto colidir com o princípio de independência judicial”, é acrescentado.

No entanto, a PJ concorda que é necessário um mecanismo para que um juiz possa exigir relatórios e pedir mais explicações sobre os pedidos de intercepção. Por outro lado, vai ficar consagrado a divulgação de forma regular de informação sobre os pedidos de intercepção de comunicações, desde que não coloquem em causa o segredo de justiça.

Login do Facebook

Na consulta pública foram ouvidas 4.325 opiniões num total de 550 inquéritos enviados por cidadãos, órgãos do governo, associações locais e empresas do sector. Algumas destas contribuíram para o recuo do Governo sobre a intenção de um juiz poder obrigar os utilizadores e os fabricantes de equipamentos electrónicos a fornecerem os dados de acesso a redes sociais ou a smartphones ou tablets, entre outros.

Esta intenção tinha partido do caso em que as autoridades de um país estrangeiro não conseguiram obrigar uma pessoa a fornecer os dados de acesso ao telemóvel, assim como também não conseguiram convencer o fabricante a ajudá-las a ultrapassar a segurança do dispositivo. O Governo de Macau pretendia ter um caminho para ultrapassar estes “obstáculos”.

Porém, ouvidas as opiniões, que a PJ diz serem maioritariamente a favor da obrigatoriedade, houve um recuo por falta de consenso. “Depois de ter escutado as opiniões do sector judicial e das telecomunicações, do pessoal da área jurídica e do público, defendemos que […] o direito ao silêncio não é absoluto, mas concordamos na eliminação desta sugestão dado que não se chegou, entre vários sectores, nomeadamente nos sectores profissionais, ao consenso geral acerca da questão em causa”, foi explicado.

Ainda no que diz respeito às redes sociais, nomeadamente ao Facebook, as opiniões da população revelaram preocupação com a possibilidade das autoridades interceptarem as mensagens publicadas em fóruns de discussão da internet ou grupos privados de discussão.

No entanto, a PJ explica que estas mensagens não caem no âmbito deste diploma, mas antes na Lei de Combate à Criminalidade Informática. “Relativamente à questão se as mensagens publicadas ou mensagens reservadas à leitura só após login, em fóruns de discussão ou em plataformas sociais […] são consideradas completas, não se trata, pois, do âmbito da intercepção das comunicações. Se houver mensagens que envolvem crimes, irá ser efectuada uma apreensão do sistema informático em causa conforme a ‘Lei de Combate à Criminalidade Informática’ para efeitos de recolha de provas”, é sustentado.

Esta parte não evita que a troca de mensagens com recurso ao facebook seja interceptada, até porque a lei permite que todos os tipos de comunicação sejam abrangidos.

Medida de último recurso

Na futura proposta de lei vai ainda ficar consagrado que a intercepção de comunicações é uma medida para utilizar quando todas as outras falham. Esta é uma opção que segue o “princípio de intervenção mínima” e responde às opiniões consultadas.

“Durante a consulta, considera-se que […] a intercepção das comunicações tem que obedecer ao princípio de intervenção mínima”, reconhece a PJ. “Iremos estudar, tomando como referência algumas disposições legais aplicadas em Portugal, onde o regime jurídico é semelhante ao da RAEM, e que estipula expressamente que a intercepção das comunicações só pode ser efectuada se houver razões para crer que a diligência se revelará de grande interesse para a descoberta da verdade, ou é impossível ou muito difícil recolher provas mediante outros meios”, comprometem-se as autoridades.

Segundo o relatório, se forem aplicados estas duas regras gerais, inspiradas no modelo português, assegura-se que “o princípio de intervenção mínima irá ser mais explicito no futuro regime da intercepção das comunicações da RAEM”.

Mais crimes

No que diz respeito ao tipo de crimes em que a intercepção de comunicações pode ser aplicada ficam abrangidos os seguintes: “crime organizado”, “crimes relativos ao branqueamento de capitais”, “crimes relativos ao terrorismo”, “crimes relativos ao tráfico de pessoas”, “crimes contra a segurança nacional”, “crime informático”, “crimes de injúrias, de ameaças, de coacção, de violação de domicílio, e de intromissão na vida privada, quando cometidos através de telecomunicações”.

Todos tiveram um apoio das opiniões ouvidas superior a 80 por cento. No mesmo sentido, a eliminação do crime de contrabando no âmbito do diploma também conseguiu um apoio superior a 80 por cento dos ouvidos. Porém, em relação a esta eliminação a PJ considera não haver motivos para a sua implementação. “Apesar das opiniões apresentadas serem, em geral, a favor da eliminação do crime de contrabando, ouvidos os pareceres dos profissionais da área judicial, concordamos com as opiniões e os motivos para manter este crime no âmbito da aplicação da intercepção das comunicações”, pode ler-se no relatório da PJ.

Entrada em vigor polémica

O ponto mais polémico da consulta pública foi a entrada em vigor do diploma, após este ser aprovado pela Assembleia Legislativa. Se para a população, segundo o relatório de consulta, existe a maior urgência, o mesmo não acontece com as operadoras de comunicações, que defendem precisar de mais de 90 dias para assegurar a instalação de equipamentos e outros procedimentos.

Por isso mesmo, a PJ evita tomar uma posição e adia uma decisão. “Quanto ao período de transição, se é essencial ou não definir uma data concreta para evitar possíveis controvérsias, vai ser ponderado no avanço da revisão da proposta da lei”, foi admitido.

7 Mai 2019

“Sou eu agora com tudo o que já fui”, diz Lena d’Água sobre o novo álbum

[dropcap]A[/dropcap]os 62 anos, Lena d’Água edita “Desalmadamente”, um álbum escrito por Pedro da Silva Martins para ela, sem saudosismos nem regressos ao passado. “Isto sou eu agora, com tudo aquilo que já fui”, contou à agência Lusa.

“Desalmadamente”, que sai na sexta-feira, tem dez canções originais compostas por Pedro da Silva Martins (Deolinda), produzidas e interpretadas por um grupo de músicos com quem Lena d’Água se cruzou recentemente e que tinham vontade de trabalhar com ela: Francisca Cortesão, Mariana Ricardo, Benjamim e Sérgio Nascimento.

“Não tenho palavras para lhes agradecer. (…) Eles têm metade da minha idade, mas têm uma sabedoria, uma musicalidade, um talento e um jeito. Foi tão bom. Senti-me dirigida de uma maneira muito firme e muito doce”, afirma a cantora, figura pioneira do rock pop dos anos 1980.

Lena d’Água rejeita qualquer ideia de regresso à música portuguesa, porque esteve sempre activa, talvez com menor visibilidade pública. Aliás, diz que nunca se foi embora, citando a música que levou ao Festival da Canção em 2017, fruto da primeira experiência com composição de Pedro da Silva Martins e participação daqueles músicos.

“‘Isto’ foram muitos encontros, nós fomos experimentando as canções do Pedro, a ver quais as que queríamos mais, aquelas que me diziam mais fortemente e depois fomos fazendo experiências, acertar a tonalidade de cada canção, os andamentos”, explicou.

Além de dar nome ao disco, “Desalmadamente” é também título de uma das canções novas. Esteve para ser a escolhida para o Festival da Canção, mas acabou convertida em disco. Nela, Lena d’Água canta “O corpo lá responde ao pensamento, ó ai / que julga ainda ter só 20 anos, ui / e às vezes vai / tropegamente / ganha ligeireza e assim flui”.

“Ter 60 [anos], já não tenho nem 20, 30, 40, ok, mas agora apesar de o meu corpo ter decaído um bocado, de ter ganho peso, sou mais feliz. Eu era amada pelos motivos errados, naquela altura. Nunca foram amores felizes, foram sempre desencontros. Eu por dentro sou a mesma que fui quando tinha 20 anos, e foi isso que o Pedro percebeu”, afirmou a cantora.

Lena d’Água começou nos Beatnicks – é considerada a primeira mulher portuguesa a integrar uma banda rock -, foi co.fundadora dos Salada de Frutas, passou pelos Atlântida, cantou António Variações, interpretou canções para crianças e ficou conhecida sobretudo pelos temas compostos por Luís Pedro Fonseca.

“Os meus discos dos anos 1980, para mim, tiveram uma parte de sofrimento muito grande, a minha relação com o Luís Pedro era um bocadinho difícil, porque era uma relação afectiva, e depois ele era um bocado bruto como dizia as coisas. Eu não me sentia livre, à vontade, estava em estúdio sempre em grande sofrimento e a achar-me uma merda. É verdade!”, exclama a cantora.

Foi “um tempo muito rico e muito forte na música portuguesa” e que diz ter ficado tatuado nela para sempre. Ainda hoje sobrevivem músicas como “Sempre que o amor me quiser”, “Perto de ti” ou “Robot”, mas sobre essa época não há qualquer nostalgia.

“Os primeiros discos ficaram perfeitos, mas foram difíceis de fazer, sofri bastante em todos eles. E agora no ‘Desalmadamente’, o único sofrimento foi a parte da espera para continuar um trabalho que eu tinha a certeza que ia ficar brutal”, contou.

Num tempo em que a música portuguesa era feita sobretudo por homens, Lena d’Água recorda que “o país era um bocado atrasado”, porque se interessava mais pelas pernas de uma cantora do que por aquilo que cantava.

Hoje vê tudo mais diverso, rico e multiplicado na música portuguesa e não se cansa de sublinhar a participação de duas mulheres na construção do novo disco, com Francisca Cortesão e Mariana Ricardo.

Lena d’Água quer agora levar “Desalmadamente” para o palco, com “a banda desalmada”. “Espero muito que nos queiram ver ao vivo”, disse.

O concerto de apresentação está marcado para 4 de Junho, no Teatro Villaret, em Lisboa, e esperam-se novas datas nos próximos meses com as canções novas. Enquanto isso, Lena d’Água manterá ainda alguns concertos já marcados com Primeira Dama (projecto de Manuel Lourenço) e a banda Xita, uma colaboração que se tem estendido desde 2018, com interpretação de repertório de ambos: este mês estarão no festival Aleste, na Madeira, e, em Junho, no Festival Primavera Sound, no Porto.

6 Mai 2019

“Think small” e a comunicação via tweet

[dropcap]H[/dropcap]á sete décadas, a fórmula “Think small” resultou num grande sucesso no campo da publicidade. Foi essa ideia que coroou a entrada em cena e em força da Volkswagen nos EUA. Mais tarde, já nos anos sessenta, a campanha “Lemon” aprofundou o mesmo minimalismo, aliás contemporâneo da Pop Art. O design destas campanhas foi particularmente revolucionário na época. A economia da fórmula falava por si: as imagens isolavam num espaço branco uma pequena fotografia de um automóvel novo que contrastava radicalmente com a dimensão e a escala da tradição de Detroit, dotada com o fulgor quase fáustico do pós-guerra.

A carreira do ‘minúsculo’ no campo do design não passou pelos melhores dias nos anos setenta e no revivalismo intenso e paródico dos eighties. Foi preciso chegarmos ao mundo dos chips, no ‘turn’ dos anos noventa do século passado, para que ela voltasse a aflorar. Hoje em dia, tudo é ‘nano’, tudo é fragmento, tudo é descontínuo: é esse o apelo expressivo que a tecnologia e o cibermundo passaram a veicular à nossa própria expressão do dia-a-dia. Na primeira década do século, a blogosfera reflectiu esse espírito comunicacional. Desde o final dessa mesma década, ferramentas como o Facebook o Twitter e, a seu modo, o Instagram, têm estado a traduzir este renovado design baseado na fórmula vintage “Think small” (enfim, o verbo ‘pensar’ é francamente excessivo para o uso que nestes apressados hiatos da rede lhe é dado).

Atentemos à realidade Twitter que, nos últimos anos, passou a galvanizar a comunicação da política mundial, sobretudo desde o início da era Trump. Destacaria três aspectos para este novo artesanado do ápice e do minúsculo.

Em primeiro lugar, parece óbvio que os tweets estão a deslocar a urgência da actualidade para um outro espaço. Podemos chamar-lhe o espaço do aceno que se caracteriza por um efémero flash (quase devorado antes da devoração) que não chega sequer a ganhar corpo. Nele não há tempo para contextos, nem para pré-avisos: apenas iminência e resposta de tipo fugaz. Nada fica por reflectir e para saborear. É a chamada ‘iminência do coelho’.

Em segundo lugar, os tweets sofrem de remissão obsessiva (os links e os índices presentes na mensagem apontam quase apenas para outros links e índices). No tempo das narrativas orgânicas, tudo apontava para âncoras fixas e claramente posicionadas. Agora, os signos constróem-se através de pontes muito frágeis entre continentes que mal se distinguem. A ideia é mesmo essa: dar a ver a onda através da sugestão do seu contorno (necessariamente) fluido. Para quem tem muito pouco a dizer – o que se adequa na perfeição ao modo como a política hoje se apresenta diante de todos nós – é o modelo ideal.

Em terceiro lugar, o universo twitter baseia-se na elipse e na – chamemos-lhe – irradiação metonímica. Por outras palavras: aquilo que é transmitido permite conjecturar territórios próximos e contíguos. O olhar como que desliza para onde (não) é chamado, sem muitas vezes dar por isso. Nessa medida, o twitter pode ser muito eficaz na sua economia própria. Devido a esta extrema economia, os tweets requerem, portanto, menos ‘dito’ e mais ‘não dito’ (mesmo se não intencionado). Chegam, por isso mesmo, quase a aproximar-se da ideia de fractal: uma unidade mínima e discreta que convive em sistemas diversos, com rostos variados e flutuações intermitentes. Surf e liquidez errante, obviamente.

Concluindo, poderíamos afirmar que o Twitter se converteu, hoje em dia, na versão expressiva e social do “Think small” de há pouco mais de meio século. O desígnio e o design são similares à partida, embora a encarnação da fórmula na nossa era seja, de facto, radicalmente outra. Nos anos cinquenta do século XX, gerava uma atmosfera de fascínio devido ao contraste que exprimia; no nosso tempo, está a gerar aquele impacto fugidio que é próprio da actividade da consciência nuclear.

Repare-se no modo como os efeitos de sentido realmente se alteraram: do contraste do “Think small” dos anos cinquenta  – que tinha o seu tempo próprio e era sempre susceptível de uma dada ponderação sensorial (não foi por acaso que a pintura romântica abraçou sempre os grandes contrastes) – passou-se para uma gramática de acenos flagrantes (ou, adoptando a palavra “flagrante”, não como adjectivo, mas enquanto substantivo abstracto,  dir-se-ia que se passou para uma gramática do flagrante que visa tão-só o flagrante, sem qualquer preocupação em deixar vestígios para arqueologias futuras).

Talvez o “Think small” tenha sido a última aparição moderna do romantismo. O contraste cromático que Caspar David Friedrich registou, em 1818, na sua obra ‘O Peregrino sobre o mar da névoa’ não deixa dúvidas sobre o tempo que é reservado à contemplação dos sentidos (que se realiza sobretudo através da figura do contraste). Um tweet, por outro lado, recebe todo o seu pasmo ao diluir-se nessa mesma reserva temporal: o que dele sobra é sempre e só o espaço para um outro tweet. O que nós passámos e vivemos, enquanto espécie, para, de novo, nos vermos forçados a inventar o jogo do pingue-pongue.

6 Mai 2019

Um volte face

[dropcap]O[/dropcap] general Wu Sangui (1612-1678), estacionado na Passagem de Shanhaiguan, tinha sobre o seu comando o único exército capaz de fazer frente, tanto ao dos rebeldes comandados por Li Zicheng, que com 60 mil homens cercava Beijing, como ao dos manchus, à frente do qual estava Dorgon, o Príncipe de Rui regente da manchu Dinastia Qing, que no outro lado da Grande Muralha esperava uma oportunidade para invadir a China. Após o Imperador Chongzhen se enforcar, encontrava-se o filho, o príncipe Zhu Cilang, prisioneiro de Li, que entrara triunfante na capital. Wu, que se recusara a enviar o seu exército para ajudar o imperador, agora negociava alianças, primeiro com Li, para este lhe entregar o herdeiro ming com o título de Príncipe e conceder-lhe o poder feudal sobre as províncias ocidentais, comprometendo-se a não o hostilizar quando como imperador subisse ao trono. Li convencido ter força bastante para derrotar Wu não aceitou e avançou para a guerra, mas o general fizera também um acordo com Dorgon e numa aliança, aceitou o título de príncipe feudal manchu, abrindo as portas da Grande Muralha em Shanhaiguan para o exército qing entrar na China.

Quando Li Zicheng iniciou o combate e de repente apareceu a cavalaria manchu percebeu ser melhor retirar-se para Beijing e cumprir o acordo, enviando o príncipe herdeiro a Wu Sangui. Este logo proclamou Zhu Cilang imperador e assumiu-se seu regente, negociando a paz com Li; permitiu-lhe ficar com o produto do saque, mas teria de se retirar de Beijing para as províncias do Oeste, dividindo a China entre os dois. Esta a solução mais conveniente para Wu pois, em vez de ser príncipe feudatário dos manchus, tornava-se regente do imperador ming.

Sem suspeitar do acordo entre Wu e Li, Dorgon preparava a invasão a Beijing, mas a retirada de Li da capital, levou-o a imediatamente seguir com o seu exército e cercar a cidade. Encontrava-se o acampamento de Wu nos arredores, fazendo-se os preparativos para no dia seguinte ser o Imperador Zhu Cilang colocado no Trono do Dragão. Sabendo de tal, o Príncipe de Rui proibiu o acesso do general Wu e do jovem soberano ao Palácio Imperial e no dia 6 de Junho de 1644 foi buscar ao acampamento o general e com ele seguiu para a Sala do Trono do Palácio, onde como regente do Imperador Shunzhi aceitou em nome deste o trono. O primeiro acto foi “conceder a Wu o principado prometido e logo a seguir ordenar-lhe que perseguisse e derrotasse Li e trouxesse de volta o tesouro roubado e o produto do saque de Pequim.”

Seguiam os revoltosos liderados por Li Zicheng para Oeste, a caminho de Shaanxi, quando as tropas manchus e ming unidas os perseguiram e onde hoje é a província de Hubei, Li foi morto numa batalha no Monte Jiugong, com a idade de 39 anos, encontrando-se o seu mausoléu no distrito de Tongshan. No entanto Gonçalo Mesquitela tem outra versão e refere, “Numa série sucessiva de acções, Li foi derrotado e teve que se refugiar na longínqua província de Shaanxi, depois de perder tudo de que se apropriara. Dois anos depois entrava para a vida monástica, no Sul de Hunan, no Monte Chia, em Au-Fu, onde se refugiara. Ali viveu mais 28 anos, como monge anónimo, até morrer em 1674.”

Fim da Dinastia Ming do Sul

Os manchus conquistaram a capital e capturaram os dois filhos do Imperador Chongzhen, fazendo-os desaparecer. Extinguia-se a linha directa do último imperador ming, mas tal não significou ficarem os manchus a controlar a China, pois muitos dos oficiais ming preferiram, em vez de colaborar com os usurpadores bárbaros e manter os privilégios, apoiar os descendentes da família real que pelo Centro e Sul ergueram a Dinastia Ming do Sul (1644-1662).

Curtos e sucessivos reinos ming foram criados, sendo o primeiro estabelecido em Nanjing e durou um ano, terminando no Verão de 1645, seguindo-se a conquista pelos manchus dos reinos de Shaoxing e de Fuzhou (Fujian), onde em Outubro de 1646 foi executado o Imperador Long Wu (Zhu Yujian, Príncipe de Tang). O seu irmão mais novo, Zhu Yuyue escapando de barco chegou a Guangzhou onde fundou um novo estado Ming, tendo a 11 de Dezembro de 1646 ficado com o título de reinado Shao Wu. Mas em Zhaoqing, capital da província de Guangdong e Guangxi, já se encontrava Zhu Youlang como imperador. Guerreavam-se ambos pelo trono quando em Janeiro de 1647 o exército manchu liderado por Li Chengdong tomou Cantão e matou Shao Wu.

Sobrava Zhu Youlang (1623-1662), Príncipe de Yongming e neto de Wanli (14.º imperador ming entre 1573 e 1620), que desde 18 de Novembro de 1646 ostentava o título de Imperador Yong Li (1646-1662) e fora para Zhaoqing devido ao suporte de Qu Shisi, oficial militar ming com o cargo da defesa dessa província. Era também ajudado por três mandarins convertidos ao Cristianismo, assim como pelo eunuco Pang Tianshou, baptizado em 1628 pelo jesuíta Longobardi em Beijing, que o acompanhou sempre com grande fidelidade.

Li Chengdong, ex-comandante da Dinastia Ming do Sul que liderava um grupo de tropas Qing, após capturar Cantão seguiu para Zhaoqing, de onde Yong Li se retirou e fugiu para Guilin. Em auxílio do imperador Macau enviou 300 soldados portugueses, sobretudo artilheiros, comandados por Nicolau Ferreira e ajudados por missionários jesuítas, que conseguiram acabar em Julho com o cerco feito desde Março de 1647 à cidade de Guilin. Expulsos os manchus, esta vitória foi o sinal para a revolta geral na China e não somente em Guangdong.

Os manchus tinham deixado nos postos os governadores ming que se lhes submeteram, mas estes colocaram-se ao lado do Imperador Yong Li quando se começou a acreditar ser possível voltar a restabelecer a Dinastia Ming. Até 1649 os governantes de sete províncias (Yunnan, Guizhou, Guangdong, Guangxi, Hunan, Jiangxi, Sichuan) e de três províncias no Norte, Shaanxi, Shanxi e Gansu, assim como Fujian e Zhejiang, juntaram-se ao Imperador. Às suas forças aliaram-se ainda as do exército armado de camponeses que integrara o grupo de Li Zicheng e as tropas ming, até então associadas com as dos manchus.

Em Guilin, o jesuíta alemão André Koffler baptizou em 1648 a Imperatriz Helena, esposa de Yong Li, assim como Ana, a mãe deste e o filho herdeiro, Constantino.

Em 1650, os manchus atacaram de novo Cantão com dois exércitos, capitaneados por Geng Jimao e Shang Kexi, cercando-a durante nove meses. A cidade foi conquistada em 25 de Novembro, morrendo mais de cem mil pessoas e três dias mais tarde, os manchus tomavam e saqueavam Guilin. Nos finais de 1651 estava Yong Li reduzido às províncias de Yunnan e Guizhou e mesmo aí perseguido.

Em 1656 o general Sun Kewang quis ocupar o lugar de Yong Li, sendo este protegido pelo general Li Dingguo que, após uma batalha, o levou para Yunnan. Derrotado, Sun Kewang passou com o seu exército para o lado dos manchu e perseguiu o imperador, que teve de fugir para Burma. Em 1661, Yong Li foi entregue aos manchus e por ordem do general Wu Sangui estrangulado em Yunnan a 11 de Junho de 1662.

6 Mai 2019

Venezuela: Padre luso-descendente considera alarmante violência nas igrejas

Por João Pedro Fonseca e Felipe Gouveia, da agência Lusa

 

[dropcap]O[/dropcap] pároco da missão católica portuguesa em Caracas, Alexandre Mendonça, considera “alarmante que na celebração de uma missa as pessoas tenham de suportar gás lacrimogéneo e agressividade” policial, mas considera uma inevitabilidade, porque “ninguém escapa à realidade do país”.

A invasão de uma igreja, em San Cristobal, no Estado de Táchira, por parte de militares e polícias, na passada quarta-feira, já não surpreende o padre Alexandre Mendonça: “É uma realidade, a igreja está no país, e o país tem muita violência e em qualquer sítio podem acontecer coisas destas…”.

A Igreja Católica tomou uma posição veemente sobre estes acontecimentos de San Cristobal, mas não chegou nenhuma resposta do Governo de Nicolás Maduro. Alexandre Mendonça não se surpreende com isso.

“Do Governo, a palavra paz ouve-se a cada instante. Mas, se se preparam para a guerra, eu creio que o caminho da paz não é por aí. O caminho da paz é a construir justiça, fraternidade, perdão, solidariedade. Preparar para a guerra para alcançar paz para mim é contraditório”, clarifica.

O padre Alexandre, que celebrou este domingo uma missa na capela do Centro Português, em Macaraquai, utilizou várias metáforas na homilia, recorrendo a textos bíblicos. Questionado sobre esta mensagem, Alexandre Mendonça explicou que a missão da igreja é transmitir mensagens positivas.

“Todas estas calamidades que estamos a viver têm uma resposta precisamente naquilo que veio a vencer o pecado, a morte e a escuridão, para falarmos de luz, perdão e vida e aí encontramos força para o presente e, também, coragem para enfrentar um futuro, ainda que esteja marcada por grande incerteza”, disse.

O padre Alexandre, que durante a homilia se referiu à situação difícil que se vive no país, lembrou um pensamento da Madre Teresa de Calcutá e que o Papa Francisco tem usado e que também diz usar: “Quem não vive para servir não serve para viver”.

Sobre os actos de violência que se registaram nos últimos dias, o pároco disse que é preciso deixar “tanta soberba, orgulho, vaidade. O nosso coração, que é de pedra, tem de transformar-se em coração de carne, para que o amor ao próximo passe a ser uma verdade tangível e não palavras vãs que o vento as leva”.

Falou também nas ideologias: “Quando abandonamos Deus na nossa vida. Quando queremos substituí-lo por ideologias, quaisquer que elas sejam, passamos a acreditar num Deus que não existe. Pôr em prática aquilo que não é real leva-nos ao caminho do engano e do sofrimento”.

Habituado a ver o lado positivo das coisas, lembra: “nestas circunstâncias tão difíceis, se algo há de positivo é que aprendemos a olhar mais para os que estão ao nosso lado.

O padre luso-descendente afirma que os acontecimentos de dia 30, com a posição política de Juan Guaidó, não são garantia de mudanças. “Honestamente, digo-vos que já São 50 anos de Venezuela. Não creio. Não é que não me afete, mas esperar que aquilo que se passou, que foi doloroso, até com mortos, vai trazer mudanças… Se o coração do homem não se transforma, a vida que o circunda também não se transforma”.

O padre referiu-se na missa à angústia vivida em Turumo, onde celebrou uma missa também nesta manhã de domingo, e onde lhe foi passada a informação de que existiam ameaças do Governo da Venezuela por causa do dinheiro do Novo Banco retido em Portugal. Que poderia haver uma retaliação do Governo através da expropriação do Centro Português.

Esse rumor, defende o padre, não tem qualquer base factual, pelo que pediu prudência. “Não se deve inventar desgraças maiores. É nosso dever minimizar e aliviar a angústia que as pessoas já levam no seu dia a dia”.

Juan Guaidó desencadeou na madrugada da passada terça-feira um golpe de força contra o regime, em que envolveu militares e apelou à adesão popular.

A iniciativa da passada terça-feira constituiu o arranque da denominada “Operação Liberdade”, que, segundo Guaidó, visa pôr termo ao que chama de “usurpação” da presidência por Nicolás Maduro.

A presidência interina de Guaidó é reconhecida por cerca de 50 países, incluindo os Estados Unidos da América, enquanto Maduro, que tem o apoio da Rússia, além de Cuba, Irão, Turquia e alguns outros países, considerou que a “Operação Liberdade” configura uma tentativa de golpe de Estado.

Nicolás Maduro, que tem sido alvo de forte contestação nas ruas, mas que aparentemente mantém o controlo das instituições, continua a contar, aparentemente, com a lealdade das chefias militares, mantendo o país num impasse.

Os confrontos registados desde a madrugada da passada terça-feira provocaram a morte de cinco manifestantes, três dos quais menores, e 239 ficaram feridos, segundo informações das Nações Unidas.

6 Mai 2019

Líder norte-coreano supervisionou no sábado múltiplos disparos em direcção ao mar do Japão

[dropcap]A[/dropcap] Coreia do Norte procedeu a ensaios de lança-foguetes múltiplos de longo alcance e de armas tácticas teleguiadas no decurso de exercícios supervisionados pelo líder Kim Jong-un, referiu no sábado a agência noticiosa estatal KCNA.

A agência precisou que os disparos ocorreram no sábado, quando a Coreia do Norte também efectuou disparos de projécteis de curto alcance em direcção ao mar do Japão.

“Após determinar a ordem e o procedimento de ataque, [Kim Jong-un] deu a ordem de fogo”, revelou a agência.

“O objectivo destes exercícios consistiu em inspeccionar as capacidades operacionais e a precisão do disparo de lança-foguetes múltiplos de grande calibre e de longo alcance e ainda armas tácticas dirigidas”, indicou a KCNA, acrescentando que os disparos foram enviados na direcção do mar do Japão.

Seul instou no sábado Pyongyang “a pôr fim a acções que activam a tensão”, referindo-se ao lançamento de mísseis de curto alcance, na mensagem mais dura de Seul desde que se iniciou a aproximação entre as duas Coreias.

“O lançamento de vários mísseis de curto alcance da Coreia do Norte viola o espírito do acordo de 19 de Setembro”, é referido num comunicado do Governo sul-coreano, referindo-se à declaração assinada na cimeira entre as duas Coreias em Pyongyang do ano passado.

Este lançamento de mísseis pela Coreia do Norte ocorre numa altura de estagnação no diálogo sobre a desnuclearização com os Estados Unidos e parece indicar uma crescente impaciência de Pyongyang, que exige a Washington uma proposta de desarmamento mais flexível e acompanhada de um levantamento gradual das sanções.

O lançamento de sábado aconteceu pouco mais de uma semana depois da cimeira entre o presidente da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e o presidente russo, Vladimir Putin, em Vladivostok.

A Coreia do Norte tem exigido que cessem “totalmente” as sanções que a ONU impôs ao regime de Pyongyang devido aos testes nucleares e balísticos iniciados em 2006.

A Casa Branca, no entanto, mantém a posição de não ceder a essa pressão enquanto Pyongyang não tomar medidas concretas para desmantelar o seu arsenal nuclear.

6 Mai 2019

Linguista teme efeito dos atentados no Sri Lanka na preservação do crioulo português

[dropcap]O[/dropcap] linguista Alan Baxter disse à Lusa temer que os atentados no Sri Lanka, no domingo de Páscoa, tenham afectado falantes do crioulo de base portuguesa na região, que pertencem a comunidades pequenas e maioritariamente católicas.

“Quantos falantes – e falantes idosos – estavam naquela igreja”, questionou o especialista australiano em crioulos de base portuguesa, em entrevista à Lusa, referindo-se à igreja de São Sebastião, em Negombo, um dos locais atingidos pelos atentados à bomba que provocaram pelo menos 257 mortos no dia 21 de Abril.

O crioulo português do Sri Lanka, antigo Ceilão, é uma herança da expansão marítima portuguesa no século XVI, quando nasceu como língua de contacto entre cingaleses e portugueses, os primeiros europeus a lá chegar.

A colonização portuguesa da ilha não durou mais de 150 anos, mas, mais de meio século depois, este crioulo continua a ser falado no seio das comunidades burghers, tradicionalmente católicas.

“É uma preocupação, é um risco. Porque os melhores falantes e os mais religiosos são os idosos, as pessoas que mais tendem a frequentar a igreja nessas ocasiões especiais [domingo de Páscoa]”, alertou o director da Faculdade de Humanidades de Universidade de São José (USJ) em Macau, referindo-se aos factores de risco que ameaçam extinguir estas línguas de contacto, que se estenderam pela costa da Ásia e do Pacífico a partir do século XVI.

Por seu lado, o investigador da Universidade de Lisboa Hugo Cardoso indicou que nos crioulos luso-asiáticos, em particular, “há o risco de as comunidades serem relativamente reduzidas”.

“Independentemente do grau de vitalidade e robustez da transmissão, sempre fragiliza qualquer comunidade linguística”, apontou Cardoso, também especializado em crioulos de base portuguesa nesta região e que esteve em Macau, no ano passado, para um seminário de documentação linguística.

E quando as comunidades linguísticas são pequenas, factores de risco como desastres naturais ou ataques terroristas representam uma ameaça ainda maior. A língua tambora, por exemplo, falada na ilha indonésia de Sumbawa, desapareceu por completo na sequência da erupção do Monte Tambora, em 1815.

“Muitas vezes, o efeito decisivo de uma catástrofe natural para a extinção de uma língua pode não ser imediato, mas resultar de uma redução significativa da comunidade de fala ou da sua dispersão após o evento”, ressalvou Hugo Cardoso.

No Sri Lanka, desconhece-se ainda quantos falantes do crioulo com origem portuguesa terão morrido na sequência dos ataques, os piores de que há memória naquele país desde o fim da guerra civil, em 2009.

Em todo o caso, para Alan Baxter os principais desafios dos crioulos “são socioeconómicos”. É o caso da educação, do enriquecimento e da expansão das línguas dominantes.

Sobre Malaca, na Malásia, o investigador contou à Lusa como “todo o processo dos aterros”, a partir da década de 1970, levou ao declínio da pesca e à ascensão do turismo.

“O kristang (língua cristã de Malaca) ia muito bem quando era língua de pescadores, não era uma vida fácil, era uma vida mais simples e a língua servia para aquele contexto, para aquelas funções”, disse.

Entre 1979 e 1981, período em que viveu naquela antiga colónia portuguesa, Baxter lembrou que o nível escolar “era mínimo”, mas que hoje em dia “é muito diferente”.

Mais tarde, o enriquecimento da comunidade, ligado à educação e ao turismo, exerceu naturalmente “uma influência negativa relativamente ao uso” da língua, uma vez que as famílias “veem as oportunidades dos filhos crescer se dominarem o inglês”.

Hoje, Malaca não é “a favela” de 1980. “Hoje em dia, você vai [a Malaca] e todas as casas foram alvo de restauro”, descreveu Baxter do sítio que é hoje património da UNESCO. Ainda assim, “o kristang é ainda uma língua viva e falada”.

Já em Macau, até há 20 anos sob administração portuguesa, o contexto para a perda da língua, como língua comunitária, foi um pouco diferente.

“Imagino que houve uma atitude negativa fomentada por atitudes ignorantes e atitudes colonialistas (…) e o patuá foi suprimido”, afirmou o linguista, que vai dirigir um novo mestrado da USJ que tem este crioulo de base portuguesa no currículo.

“Para trabalhar na administração colonial, era preciso falar português. Então imagino que no século XIX, e durante o século XX, houvesse pessoas a criticar e a falar mal do patuá”, disse.

Com a extinção destas línguas, perdem-se “culturas e maneiras de pensar”, advertiu.

“Quando se perde uma língua, perde-se a representação de toda uma semântica cultural. Áreas culturais, área de pensamento que você não pode representar de nenhuma outra maneira, estão na língua”, disse.

6 Mai 2019

EUA vão aumentar para 25% as taxas aduaneiras de diversos produtos comerciais chineses

[dropcap]O[/dropcap]s EUA vão aumentar na sexta-feira de 10% para 25% as taxas aduaneiras sobre o equivalente a 200 mil milhões de dólares de bens chineses importados, anunciou ontem o Presidente Donald Trump.

Esta sanção, também justificada pelo “avanço demasiado lento” das negociações comercias entre os dois países, surge quando uma importante delegação de responsáveis chineses é esperada em Washington na quarta-feira para conversações, até agora apresentadas como finais e que poderiam resultar num acordo comercial.

“Durante 10 meses a China pagou taxas alfandegárias aos Estados Unidos de 25% sobre 50 mil milhões de dólares de [bens] tecnológicos, e 10% sobre 200 mil milhões de dólares de outros bens”, escreveu o Presidente norte-americano no Twitter. “Os 10% vão ser aumentados para 25% na sexta-feira”, acrescentou.

No início de Dezembro o Presidente norte-americano decidiu suspender o aumento destas taxas devido ao recomeço das negociações comerciais que até esta semana estavam a ser apresentadas como “frutuosas” e com fortes hipóteses de resultarem num acordo.

“O acordo comercial com a China avança, mas demasiado lentamente, e quando eles tentam renegociar. Não!”, referiu Trump.

O Presidente republicano pretende reduzir o colossal défice comercial dos Estados Unidos com a China. Para além de uma maior abertura do mercado chinês aos produtos norte-americanos, Trump também exige de Pequim mudanças estruturais que terminem com a transferência forçada de tecnologia norte-americana, roubo de propriedade intelectual ou as subvenções às empresas estatais.

O líder da Casa Branca, que desencadeou a guerra comercial através de taxas aduaneiras punitivas, também ameaça taxar a totalidade das importações chinesas, avaliadas em 539,5 mil milhões de dólares em 2018.

6 Mai 2019

Lisboa não tem moral para dar lições a Pequim sobre Macau

[dropcap]P[/dropcap]or ocasião da visita do presidente Marcelo, entendem alguns que Lisboa não faz o suficiente para deter o que vêem como um erodir dos valores democráticos em Macau, tal como foram proclamados na Declaração Conjunta e plasmados na Lei Básica.

Por exemplo, Marco Carvalho escreve no seu blogue: “Para Lisboa, o facto da ideia de democratização só pontificar, em Macau, nos dicionários é uma circunstância que nem aquece, nem arrefece. O Chefe do Executivo é eleito por 400 predestinados? A Assembleia Legislativa está nas mãos de acólitos nomeados pelo Governo ou eleitos por via indirecta? Os trabalhadores não são livres para se constituir em sindicatos e o direito à greve não está legislado? E então?”, dando a entender que perante estes aspectos descritos deveriam o Presidente da República e o Governo português tomar uma dura posição.

Ora parece-me existir aqui um pensamento apressado, órfão da história, bem intencionado no seu âmago, é certo, mas ainda assim atascado em preconceitos que ignoram de onde vimos e como chegámos aqui. Ou seja, por outras palavras, que cidade, que sistema político, que economia, que práticas administrativas e correntes, receberam os actuais donos da RAEM há 20 anos?

Primeiro, a questão da eleição do Chefe do Executivo. Como se sabe, o Governador português era nomeado pelo Presidente da República, escolhia discricionariamente os seus Secretários e caía aqui de pára-quedas. Ponto. A tal comissão de “400 predestinados” é, ainda assim, um passo positivo no sentido da representividade democrática e se não estamos este ano a votar para eleger um novo Chefe, entre candidatos não rejeitados por Pequim, tal deve-se à praga amarela que infestou Hong Kong e impediu a ex-colónia britânica de dar mais um passo no sentido do sufrágio universal.

Um passo muito mais importante do que nos tentam impingir os vendedores de democracia enlatada e de consequências imprevisíveis, pois os cenários daí resultantes repousariam na imponderabilidade do acto eleitoral. Por contágio, por medo, sem uma razão da mesma ordem, Macau viu igualmente o caminho para o sufrágio universal suspenso.

Na mesma várzea, seria igualmente importante reflectir se o sufrágio universal tem aplicabilidade numa região especial como Macau, cuja economia depende quase exclusivamente do Jogo, cujos lucros atingem valores astronómicos e cuja população apresenta uma maturidade cívica e política que a prática eleitoral tem demonstrado assustadora.

Poderá esta cidade ser deixada entregue a si própria quando, enquanto porto franco de vários comércios e espaço de Jogo, está aberta e sujeita à erupção de fenómenos que fundem política e crime? Não assistimos já a tentativas no passado, com ramificações podadas no presente? Fica o repto.

Quanto à Assembleia Legislativa, assistimos neste vinte anos a um alargar tímido da representividade democrática. Sem pôr em questão o sistema, o peso dos deputados eleitos directamente cresceu, o que em muito pouco alterou ao hemiciclo o papel de “carimbo” das políticas e das propostas de lei do Governo. Como sempre o fora.

É preciso compreender que “segundo sistema” foi o nome dado às práticas políticas, cívicas, económicas e sociais que vigoravam em Macau e Hong Kong antes das transferências de soberania e estas não eram propriamente um hino à democracia, em termos de representatividade, nem os Governos agiam de forma transparente e democrática.

Havia, com certeza, nas duas últimas décadas de presença europeia, liberdade de expressão, de reunião, de imprensa, etc., mas o povo não escolhia os seus representantes, não piava quanto às políticas implementadas e o seu voto só preenchia uma parte menor dos respectivos hemiciclos.

A Assembleia Legislativa sempre esteve “nas mãos de acólitos nomeados pelo Governo ou eleitos por via indirecta” (isto é o segundo sistema!), embora nestes 20 anos se tenha relativamente “democratizado”, sem que isso tenha beliscado os interesses instalados. Portanto, estamos a falar de quê?

Queriam que Lisboa exigisse a Pequim o que nunca exigiu a si mesma? Ou esquecemos que o nosso segundo sistema era uma quase ditadura militar, infestada por corruptos e especialista no abuso de poder contra os que não alinhavam e não eram “bons portugueses”? A quantos despedimentos do estilo Cardinal-Taipa ou pior, em que se perseguia toda a família, não assistimos nos anos 90?

Ou seja, por que razão estranha e descabida Macau — a cidade-casino, frequentada por tríades e empresários de reputação duvidosa, cuja população, na sua maioria chegada há uma geração, nem identidade local tem e vota nos seus conterrâneos — se tornaria numa democracia plena, em roda livre governada pelas suas gentes, nas costas de Pequim? Era esta gente que ia gerir à tripa-forra o patacame do Jogo? Havia de ser lindo…

Mantenham-se os direitos políticos e civis garantidos pela Lei Básica, aprofunde-se a participação cívica e que venha o sufrágio universal, restrito a candidatos não rejeitados por Pequim. Outros caminhos conduzem à catástrofe.

E, nem que seja por pudor, já que realismo parece não funcionar, inibam-se os que entendem estar Portugal em posição de dar lições à China sobre Macau. Não está. Se a língua portuguesa aqui ainda é falada e tem estatuto, isso deve-se a Pequim e não a Lisboa. Entre muitos outros aspectos que negar roça, no mínimo, a ingratidão…

6 Mai 2019

Marcelo

[dropcap]P[/dropcap]or vezes só precisamos mesmo de um abraço. A vinda de Marcelo Rebelo de Sousa a Macau foi um festim de política emocional no seu aspecto mais benigno, um aconchego institucional à carência desterrada. Primeiro, alastrou-se um leve resmungo de protesto, pelos cantos até chegar à superfície, face ao pouco tempo que o Presidente estaria no território, como um pai que se ausenta em negócios a maior parte do ano. Depois tudo ficou para trás face ao calor do abraço presidencial.

Marcelo é um emo-presidente, a consubstanciação política do sentimento que brota do solo nutrido por anos de presença paternal televisiva e relativo afastamento da arena ideológica. Na realidade, o professor nunca se coibiu de ter uma voz política, mas fê-lo, quase sempre, de uma forma supra-partidária, pairando acima do lodo partidário, como um ente supremo e omnipresente, sorrindo em horário nobre a uma nação de pupilos.

A sua presidência mantém essa qualidade paternal, não no sentido pernicioso do único salvador capaz de proteger a ninhada contra o mundo iníquo dos predadores sanguinários, mas como uma âncora afectiva que nos amarra a um porto de decência e compreensão.

Os jornais multiplicam-se em letras gordas que anunciam afectos, como se a amor fosse uma ferramenta política despida da necessidade de acção. Em Macau não há desemprego, nem salários de 700 euros para pagar rendas de 300. Por cá, sente-se a vertigem da opulência e a facilidade de um conforto exilado. Não precisamos tanto de actos, de acção de um Estado que nos valha. Mas, pelos vistos, precisamos muito de colinho, somos carentes politicamente, queremos mimo e reconhecimento de existência do coração português. Queremos encurtar a distância com empatia institucional, algo que sempre nos foi vedado por gerações de políticos frios e padrastos na acepção ruim dos contos de fadas. É desta familiaridade entre o tosco e o amoroso que somos carentes. Investimentos financeiros, apoios à fixação de empresas, relações diplomáticas, visões geopolíticas e economia global são minudências de circunstância face à necessidade de calor humano, uma selfie e uma simples troca de palavras de apreço.

Queremos amor do Chefe de Estado, carinho do mais alto magistrado da nação. Continuamos a precisar de um pater politicus, da autoridade que nos assegure que tudo vai ficar bem no fim, que com fé e aplicação as nossas preces serão ouvidas, a figura sebastiânica que nos segure pela mão e nos guie face à evidência de que não somos suficientes para acudir às nossas próprias aflições.

Marcelo é também um político que soube ler o zeitgeist. Voltámos a uma era de política identitária e emocional. Discursos ideológicos são coisas do passado. Nestes dias queremos panaceias para os mil e um medos que cultivamos, procuramos remédios para os traumas e carências afectivas que enfrentamos. Vivemos num tempo em que as soluções pragmáticas e científicas são vistas pelo prisma da frieza tecnocrática. Queremos uma reforma do coração, algo de mais fofo que nos toque, que puxe ao sentimento, não fossemos nós uma nação sentimentalona de gargantas de fado embargadas pelo emoção e olhos sempre à beira do dilúvio.

Felizmente, esta necessidade de submissão à política emocional ainda não nos levou para os braços de um padrasto vingador, do punho autoritário que nos puxa do parque porque todos os outros meninos são uma ameaça às nossas fronteiras emocionais e aos nossos recursos de nervo e pulso.

Para já, um Marcelo chega bem, sem fazer lembrar outros Marcelos. Para já, este abraço aquece sem sufocar, puxa-nos para perto do peito sem nos esmagar. Mas andaremos sempre a passear numa linha ténue entre a perdição e a liberdade quando somos tomados pela paixão desmedida e a carência de colo político.

6 Mai 2019

Automobilismo | Pilotos lusófonos dão boa conta de si

[dropcap]O[/dropcap] período festivo da “Semana Dourada” do 1º de Maio foi bastante agitado para os pilotos lusófonos de automobilismo de Macau, com André Couto, Filipe Souza e Rui Valente a competirem em diferentes palcos.

Couto regressou ao Japão para a segunda prova da temporada de 2019 do campeonato nipónico Super GT para disputar os “500 km de Fuji”. Depois do início de época em Abril, numa corrida encurtada no circuito de Okayama, em que ficou no 16º lugar, Couto e todo o pelotão do campeonato viram-se novamente a braços com condições climatéricas desfavoráveis na pista localizada nos arredores do icónico Monte Fuji. A forte chuva obrigou mesmo a que a corrida realizada na tarde de sábado fosse momentaneamente interrompida.

O Lamborghini Huracan GT3 do piloto português arrancou do 19º lugar da grelha de partida, entre os concorrentes da categoria GT300, e foi dos últimos carros da classe a realizar a primeira paragem nas boxes. Esta estratégia arrojada de manter Couto ao volante do carro italiano nº87 da equipa JLOC o maior tempo possível, resultou na medida que o Huracan GT3 vermelho rodou dentro dos lugares pontuáveis na classe nos turnos dos pilotos nipónicos Tsubasa Takahashi e Kiyoto Fujinami. Contudo, já nas voltas finais da corrida, este acabaria por cair para o 11º lugar, a primeira posição fora dos pontos.

Couto voltará ao Japão para a terceira jornada da temporada no último fim-de-semana de Maio, mas já esta semana viaja até à Tailândia para participar na segunda prova do campeonato Blancpain GT World Challenge Asia no traçado de Buriram.

Souza faz pódio em Zhuhai

Filipe Clemente Souza aproveitou o regresso este fim-de-semana do campeonato TCR Asia Series ao Circuito Internacional de Zhuhai para conduzir novamente o Audi RS3 LMS TCR que tripulou no passado mês de Novembro no Circuito da Guia. Numa jornada que era também pontuável para o campeonato TCR China, Souza esteve em destaque ao conquistar o quarto lugar à geral na corrida disputada na tarde da pretérita sexta-feira, o que lhe valeu um lugar no pódio entre os participantes do campeonato chinês.

Na corrida de sábado, o experiente piloto macaense foi um dos vários desafortunados traídos pelas condições escorregadias da pista, tendo abandonado numa das escapatórias do circuito permanente da cidade chinesa adjacente a Macau. Souza não foi o único piloto da RAEM em pista, tendo Alex Liu Lic Ka, em Cupra TCR, completado a segunda corrida no nono posto.

E Valente faz o mesmo em Zhaoqing

Ainda no Sul da China, nas redondezas da cidade de Zhaoqing, para ganhar ritmo de competição para a mini-temporada que aí vem do Campeonato de Macau de Carros de Turismo (MTCS), Rui Valente participou na corrida de resistência de uma hora no Circuito Internacional de Guangdong.

Correndo a solo e com o seu inseparável Honda Integra DC5 (N2000), o veterano piloto português terminou na segunda posição da geral, a uma volta do carro vencedor, um mais potente e moderno Volkswagen Golf TCR, conduzido pelos pilotos chineses do território Ng Kin Veng e Ip Tak Meng.

6 Mai 2019

«Um Chouriço é tão Poético como uma Rosa»

[dropcap]V[/dropcap]inde cá, meu tão certo secretário, e de mansinho, aconchegado, acolhei estoutros versos que são teus; é que, se tudo vai sendo feito de mudança, tomando-se sempre de novas qualidades, se se converte, é certo, em choro, o doce canto, e a neve, como previsto, se sobrepõe ao verde manto; a bem da verdade, mesmo que tudo se transmude, sim, como soía, essa mudança, faz-se, ‘inda assim, de maior espanto.

Debaixo do mesmo sol, a metamorfose é regra, não novidade: a crosta, sabemo-lo, altera-se mutante, encerrando no imo a mesma matéria. A pedra fóssil recobre o bicho antigo; o âmbar sobrepõe-se à resina; e é próprio da pérola ter o empedernido coração de um grão de areia.

Assim corre a vida, também a poesia. A poesia está aí, no mundo, e mutatis mutandis, se rege pelas mesmas regras, mesma ciência: como ele, é cíclica, sim, em mutação, mas, no fundo, a mesma, sempre girando em torno da palavra, como a terra à roda do sol. Retoma novos atributos, sem perder os antigos. Tantas vezes, à poesia, então, não lhe basta por isso ser lida; há que ser manuseada, mas usando o corpo todo e os sentidos, para que lê-la seja literalmente testar-lhe as formas, os contornos e alterá-la, sim. A poesia, por vezes não se conforma à língua (um absurdo: o mesmo é que o dia não se queira sujeitar ao sol…). Mas o certo é que alguns leitores lhe adivinham o incorformismo; procuram, mansamente, satisfazer-lhe os desejos. Meu tão certo secretário, perguntais, já: «A que vem isto agora?». Que não? Que não perguntastes nada, que pensáveis até noutra coisa, distraído?… Pois tende paciência, e prestai atenção, que ainda assim te respondo:

Tudo isto vem propósito de Alberto Pimenta, para quem «uma rosa é tão poética como um chouriço», tal como, para o outro, o binómio de Newton ganhava aos pontos à Vénus de Milo…

Alberto Pimenta foi por estes dias duas vezes lido, duas vezes metamorfoseado, tomando-se sempre de novas qualidades, sem deixar, no entanto, de se mostrar como soía. A sua poética foi por duas vezes tomada e tornada corpo de performance. Dois modos distintos de a ler, mas mantidos num elo triangular, que fazem da poesia de Pimenta massa de modelar: poesia em processo de mutação e metamorfose; formas de leitura que actuam performativamente, poeticamente, até, nos seus próprios textos: em primeiro lugar, o filme (que não documentário) de Edgar Pêra (com argumento do próprio Pêra e de Manuel Rodrigues), a que foi dado o título «O Homem-Pykante- Diálogos Kom Pimenta», e que estreou no «Indie», 2018 e que teve, agora, a sua estreia comercial. Esta leitura da sua obra transmutada em filme é uma poesia-performance em movimento, em que o acto de montagem se transfigura no procedimento de montagem/colagem da própria linguagem poética de Alberto Pimenta. Tratar-se-á da sua poesia feita corpo-em-movimento, sempre dando conta da incomodidade da língua, em que a poesia vive. Sim, há sempre que fazer sentir o peso da língua; este grilhão de que o poeta não se livra. Alberto Pimenta bem foi escrevendo, avisado, que «não há opressão maior/e mais infame que a da língua.».

Mas outra leitura-metamorfoseada foi lançada também por estes dias: a publicação de «Anastática para Alberto Pimenta», antologia poética de Manuel Rodrigues (Abysmo, 2019) e dedicada a Pimenta, com prefácio e selecção de Edgar Pêra. Estes poemas, assim dispostos, \assumem novamente um corpo performativo, de duplo efeito; por um lado, são lidos inevitavelmente com a voz espectral de Pimenta a assombrá-los; por outro, obrigam, em simultâneo, a reler a sua poesia, através do eco de Manuel Rodrigues. E, ao assumir-se Pimenta e a sua poética múltipla, prenhe de estilos, como o destinatário único de cada poema, ergue-se, audivelmente, do livro, um diálogo, a que o leitor assiste como espectador de uma cena dramática que se liberta das páginas. Poemas, portanto, que se tornam cena em acto, como se a língua não se bastasse a si mesma e se procurasse no texto o espectro de um corpo-destinatário:

«Para Tal te Evitar»

se eu pudesse morreria ao escrever
um pintor que poderia desejar senão
uma morte d’óleo diante à tela
pianista o piano e cigala em cantante
amador a mando que ama a valer

_que quererão para boa morte_
esses povos sob mitos de recitar?
ora, diz-me lá tu, que leste mais
como crês que preferirão morrer
os exércitos de guerreiros ávidos
com tanta guerrilha ainda a devir?
eu, se pudesse, escreveria sempre»

(Manuel Rodrigues, Anastática, Abysmo, 2019)

Bem o sabemos, desde Lavoisier, que nada é novo e tudo se transforma; mas que fazer, se nós, leitores e habitantes do mundo, todos à uma, vamos vivendo como se a vida e a poesia fora coisa nova, exultando-as, em plena liberdade do espírito: Assumimos o mesmo exacto espanto perante um poema (escrito, claro está, com a mesma massa da língua que nos oprime), assim como perante o sol nascente por cima de cada manhã, gratos pela beleza que mais não é, afinal, do que a prova do tempo a morder-nos as canelas..«[…]/Pois é: sempre o mesmo e/ sempre desencontrado, o tempo/com o tempo.//Ele destrói tudo./Destrói tudo./Destrói tudo.// Como não havia de destruir-se a si mesmo? Levantar paredes/e deitá-las abaixo, /para poder levantar de novo…// – Não é o princípio/das estações do ano?/De que te queixas? » (Alberto Pimenta, Nove fabulo, o mea vox/De novo falo a meia voz, Pianola, 2016).

A previsibilidade do sol, consabido, requentado, a pontuar de laranja o fundo do horizonte traz a mesmíssima novidade de um poema. Atrás de um, a angústia do tempo passando, atrás de outro, as grilhetas da língua, asfixiando: e perante esse espectáculo triste, nós leitores e habitantes do mundo, celebramos o espanto, ainda assim. Por isso, estas insistências, absurdas, mas tão essenciais, em transformar a obra em metamorfoses, oferendas, tributos, palimpsestos, como se pretendesse alongar o efeito do nascer do sol. Na sua lição de sapiência, na Universidade Nova de Lisboa, Pimenta explica, a dada altura, que os poetas seriam importantes para exprimirem o indizível: se fosse para dizer, tão só, o dizível, explicava, então, «não seriam necessários poetas, bastar-nos-ia a prosa.» Mas, atrever-me-ia a dizer que, neste ponto, talvez Alberto Pimenta não tivesse razão: os poetas não procuram sequer dizer o indizível. Pelo contrário, procuram criá-lo e fazer crer ao mundo a sua existência. Na verdade, todos sabemos que, provavelmente, no princípio não estava sequer o verbo. Mas quem sabe se estará no fim? Por isso, só por isso, não basta ler os poetas: às vezes é preciso transformá-los, continuá-los, para que o ciclo não se acabe, nunca.

6 Mai 2019

Museu do Oriente adquire e mostra peças da Colecção Cunha Alves

[dropcap]O[/dropcap] Museu do Oriente inaugura a exposição “Um Mundo de Porcelana Chinesa – A Antiga Colecção Cunha Alves”, no dia 9 de Maio, quinta-feira, com cerca de 180 peças de porcelana de exportação, decorada com cenas europeias, datada dos séculos XVII a XIX, que a Fundação Oriente adquiriu no ano de 2018.

O conjunto faz agora parte integrante do acervo museológico, segundo informa a instituição. A Colecção Cunha Alves é “uma das maiores e mais completas colecções de porcelana chinesa de exportação existente na Europa, que passa a estar integrada na exposição permanente dedicada à presença portuguesa na Ásia”. Foi adquirida ao coleccionador e diplomata Paulo Cunha Alves, que a constituiu ao longo de 25 anos, em países como Portugal, Bélgica, Estados Unidos, França, Países Baixos, Reino Unido e Austrália.

A aquisição constitui um importante marco para a instituição. Trata-se de um conjunto expressivo de peças que, pela sua raridade, qualidade e quantidade, constitui um dos mais valiosos núcleos de porcelana chinesa de encomenda no contexto nacional. A mostra dá a conhecer diferentes formas e motivos decorativos que foram resultado de encomendas inspiradas em distintas fontes iconográficas europeias.

O que se encontra neste conjunto são “imagens ao gosto europeu que os artesãos chineses copiaram deixando transparecer no traço a pouca familiaridade para com este tipo de representação, muitas vezes conotada com costumes e hábitos ocidentais”, revela o comunicado do Museu do Oriente.

“Desenhos, gravuras e pequenas pinturas a óleo, tendo por base modelos em prata, faiança, porcelana, estanho e madeira, eram enviados para serem copiados pelos artesãos chineses, resultando em coloridas representações a azul e branco sob o vidrado, e a esmaltes da “família rosa”, grisaille, preto e sépia, rosa carmim e dourado, sobre o vidrado”, conforme exemplifica a instituição.

A exposição vai estar agrupada de acordo com os temas “Expansão da Fé Cristã”, “Os Deuses do Olimpo” e “Prazeres da Vida ao Ar Livre”.

Arte por encomenda

A chegada de Vasco da Gama à Índia, em 1498, e a conquista de Malaca em 1511, marcaram o início das encomendas de porcelana chinesa para o mercado ocidental, onde Portugal desempenhou um papel pioneiro, recorda o museu.

“Foi na dinastia Ming que os portugueses procederam à encomenda de uma série de porcelanas personalizadas, as mais antigas a ostentarem formas ou decorações europeias, como as armas reais portuguesas, (…), a esfera armilar, o monograma IHS, heráldica de nobres e ordens religiosas e inscrições em português e latim”, lê-se no documento.

Sob a dinastia Qing, “a porcelana atingiu uma perfeição incomparável no âmbito da técnica”. “Todos os problemas foram resolvidos, desde os da matéria aos do fogo, e o gosto pela cor domina, tendo sido inventados novos tons até então desconhecidos”.

A produção sob a dinastia Qing foi extremamente abundante, tendo sido exportada em massa para a Europa pelas diferentes Companhias das Índias europeias e, posteriormente, para os Estados Unidos da América, recorda ainda o museu.

6 Mai 2019

Palestra | O património desaparecido revisitado por um macaense

“A Mansão do Poço da Velha” é o tema da palestra que António Conceição Júnior leva esta quarta-feira, 8 de Maio pelas 18h30, à Fundação Rui Cunha. As memórias do orador vão recordar outros tempos da cidade, outra gente e outros lugares que existiram ali na baía da Praia Grande, a mesma onde agora acontece este encontro

 

[dropcap]”M[/dropcap]acau é um lugar por onde perpassam vários planos de memórias. Algumas foram sendo esquecidas ou então são ignoradas pela mudança das gentes que o povoam, que a terra foi, desde sempre, local de passagem”, lê-se na nota de imprensa da Fundação Rui Cunha (FRC), que convidou António Conceição Júnior para o próximo ciclo “Pauta de Histórias”, quarta-feira ao final da tarde.

“A Mansão do Poço da Velha” é o mote da conversa sobre as recordações de um património desaparecido, que o artista macaense – autor de uma extensa obra artística de ilustração, pintura, fotografia, artes gráficas, e também ex-dirigente cultural por muitos anos no território – ainda guarda no seu baú de narrativas.

E esta história é sobre “uma parte do património de Macau” e sobre uma antiga “mansão onde vivi quando era criança, aqui em Macau, e a que chamei Mansão do Poço da Velha”, desvenda Conceição Júnior ao Hoje Macau, sem querer revelar muito mais. O casarão já não existe. Mas é também sobre isso que vai falar na palestra.

Afinal, os tempos mudaram. E a baía, onde hoje fica a sede da Fundação, foi outrora lugar de palacetes e mansões opulentas, tal como testemunha a prolífera obra do pintor inglês do século XIX que encontrou no território a sua morada e aqui veio a falecer. “Toda a Praia Grande, se for ver as pinturas de George Chinnery, verá que era constituída por palacetes com mobiliário vindo de Portugal. Estamos a falar do século XVIII, século XIX. E nos princípios do século XX, ainda havia palacetes”, conta Conceição Júnior.

A conversa será sobre muito mais. “É de facto a revelação de um espaço e de uma forma de vida dos macaenses. Porque eu acho que, hoje em dia, as pessoas não sabem o que era a comunidade portuguesa de Macau e, dentro dessa comunidade portuguesa, a comunidade macaense. Sobretudo, aquela que era, digamos, a elite macaense, que vivia muito bem, vivia de uma forma esplêndida”.

E acrescenta, “a comunidade macaense era de tal forma pujante, até aos anos 60, que todos os portugueses – e eram muito poucos aqueles que vinham para Macau – eram imediata e prontamente absorvidos pela comunidade. Entre essas pessoas contam-se o Manuel da Silva Mendes ou o Camilo Pessanha, que são pessoas que, passe a expressão, se tornaram macaenses.

Não por nascimento, mas pelo afecto. São só dois exemplos de um período mais distante, mas houve outros, como o Joaquim Morais Alves, noutro período, que foi presidente do Leal Senado, e por aí fora”.

Memórias de menino

António Conceição Júnior nasceu em Macau, em Dezembro de 1951. Licenciado em Artes Plásticas e Design, pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, veio a ser dirigente cultural em Macau desde 1978, responsável por muita da formulação da política cultural do território. Pelo meio, “viveu em diversos espaços e cresceu com lembranças que lhe foram legadas. Em menino ouvia o seu pai e amigos conversarem sobre Manuel da Silva Mendes [professor, sinólogo, filósofo], Camilo Pessanha [poeta, advogado, juiz, professor], de quem fora aluno, ou José Vicente Jorge [intérprete e tradutor de assuntos políticos]”, personalidades que marcaram a política e a sociedade da época.

“Conviveu com personalidades do círculo mais erudito de Macau, tendo tido acesso, por exemplo, a Luís Gonzaga Gomes e às primeiras edições das suas obras, saídas do prelo na colecção “Notícias de Macau”, jornal propriedade de Herman Machado Monteiro, e em cuja redacção os pais de Conceição Júnior, ambos jornalistas, se casaram”, conforme relata o comunicado da FRC.

Se dúvidas houvesse, aqui se encontram razões de sobra para não faltar a este encontro de fim de tarde. A entrada é livre.

6 Mai 2019

Estacionamento | Novas câmaras para detectar ilegalidades

[dropcap]A[/dropcap] zona do NAPE, junto do edifício China Civil Plaza e a Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues estão agora equipadas com novas câmaras de vigilância para detectar carros ilegalmente estacionados, apontou a Rádio Macau.

Esta é a terceira versão do sistema de detecção de estacionamento ilegal e é constituída por quatro câmaras que registam imagens fotográficas e de vídeo com melhor resolução do que os equipamentos já instalados noutros pontos da cidade.

O sistema utiliza um novo método em que identifica a matrícula, sem identificar o condutor. O objectivo é aumentar a eficácia da autuação electrónica, segundo a mesma fonte. As autoridades acreditam que este sistema terá efeitos dissuasores.

No troço da Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, as câmaras cobrem a paragem de autocarro e a zona de estacionamento do Centro de Transfusões de Sangue, e o centro comercial do Grupo Brilhantismo. Já na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, apanham o edifício da Nam Kwong e a paragem de autocarro. No centro, a área fiscalizada pelo novo equipamento abrange a paragem do edifício comercial Si Toi.

As quatro câmaras custaram 130 mil patacas. O sistema começou a ser instalado pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) em 2011 e encontra-se em funcionamento em 19 locais. As multas para quem parar ou estacionar ilegalmente variam entre 300 e 600 patacas. No ano passado foram aplicadas quase 20 mil multas.

6 Mai 2019

Saúde | Detectados mais dois casos de rubéola

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde de Macau (SSM) foram notificados, na passada sexta-feira, sobre a ocorrência de mais dois casos de rubéola no território, sendo que neste momento já foram diagnosticados 33 casos desde o início do ano.

O primeiro caso foi diagnosticado num homem de 41 anos, residente de Macau e que trabalha no Casino Landmark. Na noite de 28 de Abril o paciente apresentou dores de cabeça, dores nas articulações dos membros e erupções cutâneas na perna, tendo recorrido, numa primeira fase, a uma clínica privada e depois ao centro de saúde da Ilha Verde no dia seguinte.

Só na quinta-feira, 2 de Maio, é que o doente se dirigiu ao serviço de urgência do Centro Hospitalar Conde de São Januário. Actualmente, o paciente “ainda apresenta erupções cutâneas, sem febre, sendo o estado de saúde considerado normal”.

O segundo caso foi detectado num homem com 48 anos de idade, topógrafo, residente de Macau. No dia 22 de Abril, durante uma viagem ao exterior manifestou sintomas de calafrios e fadiga. “Neste momento o paciente já não tem febre nem erupções cutâneas, sendo o estado de saúde considerado normal”, aponta um comunicado, que explica ainda que os “familiares de ambos os doentes não apresentaram sintomas semelhantes”.

6 Mai 2019

Grande Baía | Shenzhen procura atrair talentos de Macau e Hong Kong

As autoridades de Shenzhen anunciaram um pacote de medidas que visam atrair os jovens talentos de Macau e Hong Kong. Entre os incentivos contam-se baixas rendas, subsídios, apoios nos custos dos transportes e recompensas em dinheiro vivo

 

[dropcap]N[/dropcap]o total, são 36 as medidas avançadas pelas autoridades da zona económica especial de Qianhai, em Shenzhen, para atrair jovens empreendedores de Macau e Hong Kong, com idades entre os 18 e os 45 anos, segundo uma notícia publicada no South China Morning Post.

As autoridades de Shenzhen vão atribuir subsídios, recompensas em dinheiro vivo que ascendem a vários milhões de yuan, alojamentos de rendas baixas e apoios nos transportes. As medidas destinam-se a servir de chamariz para os jovens que queiram sediar o seu negócio nos 15 quilómetros quadrados da zona de comércio livre de Qianhai, na costa oeste de Shenzhen.

“Os incentivos foram pensados para criar um clima favorável para que os jovens de Macau e Hong Kong se integrem no desenvolvimento nacional”, lê-se num comunicado emitido pelas autoridades de Qianhai.

A iniciativa surge semanas depois da divulgação do alívio fiscal que saiu da segunda reunião de planeamento do grupo de desenvolvimento do projecto da Grande Baía. Os baixos impostos têm a mesma intenção de encorajar os jovens das regiões administrativas especiais a desenvolver inovação na região.

Mundos e fundos

De acordo com o comunicado emitido pela Autoridade de Qianhai, será criado um fundo com cerca de 58.2 milhões de HKD destinados às start-ups das regiões administrativas especiais.

Empresas criadas por jovens de Macau e Hong Kong em Qianhai podem ser recompensadas até 2 milhões de yuan se forem aceites nas bolsas de valores de Xangai, Shenzhen, Hong Kong, Tóquio e Nova Iorque.

Os incentivos também se vão estender a profissionais oriundos das regiões administrativas especiais, assim como aos empregadores de Qianhai que os contratarem, com a atribuição de apoios entre os 20 mil e os 50 mil yuan, dependendo do grau académico do empregado.

Num outro patamar, o South China Morning Post dá conta do plano de construção de apartamentos pensados para profissionais de Hong Kong, e a possibilidade de arrendar apartamentos de renda baixa com contratos de três anos.

Finalmente, serão prestados apoios ao nível dos transportes, como a agilização na passagem da fronteira, criação de autocarros shuttle e apoios monetários.

De acordo com o South China Morning Post, as autoridades de Shenzhen vão divulgar, num futuro próximo, mais detalhes concretos.

6 Mai 2019

Segurança | Wong Chi Fai é o novo subdirector da ESFSM

[dropcap]F[/dropcap]oi realizada, na passada sexta-feira, a cerimónia de posse do novo subdirector da Escola Superior das Forças de Segurança de Macau (ESFSM), Wong Chi Fai, de acordo com um comunicado.

Segundo o despacho do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, o Intendente Wong Chi Fai foi nomeado, em comissão de serviço, pelo período de um ano com efeitos desde 1 de Maio. Wong Chi Fai é licenciado em Ciências Policiais e possui igualmente licenciatura e mestrado em Direito em Língua Chinesa.

Desempenhou as funções de Chefe do Centro de Instrução Conjunto da ESFSM, de Chefe, interino, da Divisão de Investigação e Informações do Departamento de Informações do Corpo de Polícia de Segurança Pública, de Chefe do Comissariado Policial n.º 1 do Departamento Policial de Macau, de Adjunto do chefe do Departamento Policial de Macau, de Chefe do Departamento de Informações, de Assessor do Gabinete do Secretário para a Segurança, e o cargo de Subdirector do CPSP.

6 Mai 2019