Hoje Macau SociedadeCrime | Homem recorreu a faca para fazer refém [dropcap]U[/dropcap]m homem de 50 anos fez uma refém, depois de ameaçá-la com uma faca, no sábado à noite, por volta das 21h00, junto ao Jardim da Montanha Russa. As razões que levaram o homem residente a atacar a mulher de 28 anos, também ela residente, ainda não são conhecidas e estão a ser investigadas. Contudo, as autoridades suspeitam que o homem tem problemas mentais, uma vez que agiu de forma emotiva, mesmo quando estava a falar com a polícia sem que para isso tivesse justificação. Também de acordo com o chefe do departamento de serviços familiares e comunitários, Tang Yuk Wa, citado pelo Jornal do Cidadão, a polícia suspeita que o homem era uma pessoa com deficiência auditiva, dado que mandou um tradutor de língua gestual ajudar no caso. Por sua vez, a mulher afirmou que não conhecia o homem antes da ocorrência. O homem de 50 anos acabou reencaminhado para o Hospital Conde São Januário e as autoridades estão agora à espera que recupere para o poderem interrogar.
João Santos Filipe Manchete SociedadeAgiotas sequestram, torturam e matam homem por 57 mil patacas Entre os três criminosos, um estava ilegal no território desde Março e já tinha sido expulso no ano passado. Os outros dois tinham visto de entrada e, além da agiotagem, ganhavam a vida a pedir nas mesas de jogo dos casinos [dropcap]U[/dropcap]m grupo de três agiotas raptou, torturou, filmou e matou um homem a quem tinha emprestado 50 mil patacas para o jogo. O caso foi revelado na sexta-feira à noite pelas autoridades, depois do corpo ter sido encontrado no Pensão Va Fat, na Praia Grande. De acordo com a informação divulgada pela Polícia Judiciária, o rapto aconteceu no dia 1 de Maio, por volta das 6 da manhã. Até essa altura, o homem tinha estado a jogar num casino no centro de Macau e pediu 50 mil patacas de empréstimo, aos três agiotas. Durante o tempo em que demorou a perder todo o dinheiro, o jogador, que tinha cerca de 40 anos, acumulou uma dívida em juros de 7 mil patacas. Foi com essa dívida adicional que o jogador foi levado para a Pensão Va Fat. No quarto de hotel foi-lhe colocada uma toalha na boca e começou a ser espancado, com cintos, chinelos, murros e pontapés. Ao mesmo tempo, os agiotas fizeram igualmente vídeos do espancamento para enviarem aos familiares do jogador, para que estes saldassem as dívidas. As agressões foram-se repetindo até sexta-feira de manhã, quando o jogador acabou por morrer. Perante este cenário, os agiotas cobriram o corpo com o cobertor do hotel e fugiram, já por volta das 7h00 da manhã de sexta-feira, altura em que também terá sido dado o alerta às autoridades, alegadamente por um dos três agiotas. Perante a denúncia anónima, as autoridades deslocaram-se rapidamente para o local e interceptaram os três indivíduos, nas imediações do hotel. Ao mesmo tempo, os bombeiros entraram no quarto e depararam-se com o cadáver na cama do hotel. Os trabalhos de investigação duraram cerca de seis horas e segundo a PJ o cadáver apresentava várias nódoas negras e sinais de violência, principalmente na cabeça e nas mãos. Ilegal em Macau De acordo com a informação revelada pela PJ, pelo menos um dos homicidas encontrava-se de forma ilegal no território e já tinha sido expulso, anteriormente. O homem em causa tem 31 anos, vivia no Interior da China, onde estava desempregado, e já no ano passado tinha sido reencaminhado para o outro lado da fronteira, também por estar envolvido em actividades de agiotagem. Porém, segundo a PJ, terá reentrado de forma ilegal em Macau em Março deste ano, conseguindo durante mais de dois meses enganar as forças comandadas por Wong Sio Chak, até ter cometido o crime. Os restantes agiotas têm 34 e 29 anos, tinham os documentos que lhes permitiam entrar em Macau e ganhavam a vida a pedir nos casinos. Este é um tipo de actividade muito frequente em Macau, em que as pessoas andam a circular nas áreas de jogo e que quando vêem alguém ganhar, aproximam-se para pedir ou exigir o pagamento de uma “gorjeta”. O caso foi reencaminhado para o Ministério Público, os suspeitos enfrentam acusações da prática dos crimes de sequestro que resultou em morte, punida com pena entre 5 a 15 anos de prisão, usura agravada, punida com pena que vai até aos 5 anos de prisão, usura para o jogo, punida com pena que também pode chegar aos 5 anos e ainda associação criminosa, cuja penalização vai dos 3 aos 12 anos de prisão.
Hoje Macau SociedadeNovo mestrado da USJ vai ensinar patuá O patuá vai ser “estudado e falado” no futuro mestrado em estudos lusófonos da Universidade de São José (USJ), numa tentativa de preservar a língua a um passo da extinção, disse um dos coordenadores [dropcap]”T[/dropcap]anto quanto sei, é o primeiro curso oficial com este conteúdo. É uma primeira tentativa, ao nível da pós-graduação, de estudar, falar e tratar do maquista”, explicou Alan Baxter, um dos coordenadores do novo mestrado da USJ, em entrevista à agência Lusa. O especialista em crioulos de base portuguesa, que regressou a Macau em 2016 para dirigir a Faculdade de Humanidades daquela universidade, assumiu preferir o termo maquista, já que este “radica a língua dentro de uma tradição local”. Para Alan Baxter, “o patuá merece um lugar oficial e de reconhecimento na educação superior”. Assim, esta língua, em tempos corrente na comunidade macaense, é um dos nove módulos da especialização em linguística do novo mestrado da USJ, mas é também opcional para os que optam pela outra especialização, literatura. Derivado do crioulo de Malaca, o kristang, uma “língua ainda viva”, o patuá não sobreviveu a “atitudes ignorantes e colonialistas”, tendo “sido suprimido” com o passar dos anos, referiu Baxter. Há quase uma década, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) classificou-o como “gravemente ameaçado”, o último patamar antes de uma língua se extinguir por completo. Uma posição que tem vindo a ser reiterada por vários linguistas. Em Setembro passado, também o investigador da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Hugo Cardoso tinha dito, em entrevista à Lusa, que esta “fase avançada de declínio” motivou, entre a comunidade macaense, “um movimento de reapropriação da língua”. Assim, e apesar do perigo de extinção, Alan Baxter afirmou que houve, desde então, alguns avanços. “Há mais interesse agora do que havia. Há um interesse visível, sobretudo em termos demográficos”, frisou o antigo director do Departamento de Português da Universidade de Macau (2007–2011). Teatro vivo Actualmente, o patuá é preservado essencialmente através do grupo de teatro Dóci Papiaçam di Macau, que encena uma peça por ano maioritariamente falada em crioulo. A próxima está em cena nos próximos dias 18 e 19. Para o especialista, o “grupo de pessoas envolvidas no teatro” nos últimos anos é um dos exemplos dessas “mudanças de atitude”. O novo mestrado da USJ foi aprovado no mês passado pelo Governo de Macau e as candidaturas já estão abertas. Quanto ao público-alvo, Baxter sublinhou que o objectivo é “fomentar o interesse da comunidade macaense”, mas também “de outras pessoas”. Em 2017, o curso que leccionou na USJ sobre patuá, teve uma adesão surpreendente: houve um manifesto “interesse da parte da comunidade chinesa”, recordou. “Há dois anos ofereci um curso de extensão sobre o patuá, e apanhei um susto porque houve muito interesse. Acho que tivemos 22 pessoas que chegaram a fazer o curso”, acrescentou. Apesar destes esforços, Alan Baxter realçou a importância da documentação, isto é, de “elaborar materiais interactivos audiovisuais”. “Na verdade, há poucas pessoas capazes de manter uma conversa nesta língua hoje em dia, infelizmente. Esse tipo de material é fundamental”, sustentou. Em contrapartida, a gramática do kristang, que ainda “é uma língua viva e falada”, é “muito parecida” com a do patuá, por isso, todos os interessados podem aprender muito com o crioulo de Malaca, defendeu. Baxter deixou uma sugestão: “Se há um grupo de jovens interessados, é possível, colaborando com a comunidade de Malaca, enviar um grupo para lá”. “A pronúncia é diferente, mas a gramática e o léxico” são semelhantes, “daria para fazer a transição e ganhar um grau de influência que não é possível conseguir em Macau”, concluiu.
Hoje Macau PolíticaChefe do Executivo quer jovens activos na “grandiosa revitalização da nação” [dropcap]O[/dropcap] chefe do Governo exortou os jovens do território a contribuírem para a “grandiosa revitalização da nação chinesa”. O apelo de Chui Sai On foi feito na véspera do Dia da Juventude, uma celebração chinesa fundada no “Movimento Quatro de Maio”, de inspiração anti-imperialista, cultural e política que cresceu de manifestações estudantis em Pequim. “Espero sinceramente que a nossa geração de jovens continue a promover o ‘espírito do Quatro de Maio’, a transmitir o sentimento de pertença nacional, a promover a continuidade da tradição honrosa do amor à pátria e a Macau, a apreender conhecimentos tecnológicos modernos e a preparar-se a todos os níveis para se integrar no desenvolvimento nacional”, afirmou em comunicado. Chui Sai On lembrou a sua última ida a Pequim, na qual sentiu a “capacidade de liderança e de influência da China enquanto grande potência”, e alertou os jovens a seguirem as palavras do Presidente Xi Jinping: “amar fervorosamente a pátria é um alicerce para viver na sociedade e para obter sucesso na vida”. O Movimento Quatro de Maio celebra o seu centenário no ano em que se assinala o 70.º aniversário da fundação da República Popular da China. Bandeira no Fórum Macau A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) promoveu no sábado, junto ao Fórum Macau, a cerimónia do hastear da bandeira para celebrar os 100 anos do Movimento de 4 de Maio. De acordo com um comunicado oficial, a cerimónia serviu para “promover a educação do amor pela Pátria e por Macau e reforçar os conhecimentos dos alunos sobre o espírito e a história do Movimento do 4 de Maio”, bem como “prosseguir o seu espírito patriótico e contribuir para a materialização do sonho chinês de revitalização da nação chinesa”. Estiveram presentes comitivas de 82 escolas e representantes de 28 associações juvenis, num total superior a duas mil pessoas. A DSEJ notou que “todas as escolas de Macau içaram ou exibiram também a Bandeira Nacional no Dia da Juventude de 2019, e organizaram grupos de docentes e alunos para participarem na cerimónia do hastear da Bandeira Nacional, com vista a divulgar o ‘espírito do 4 de Maio’, reforçar a educação sobre a Bandeira Nacional, cultivar o amor dos alunos pela Pátria, contribuir para o progresso social e prosseguir o caminho da democracia e da ciência”.
Hoje Macau PolíticaTaxa de Turismo | Mak Soi Kun defende isenção para residentes [dropcap]O[/dropcap] deputado Mak Soi Kun defende que os residentes não devem pagar taxa de turismo quando consomem em locais como bares, hotéis, restaurantes, entre outros, que ficam em locais classificados como pertencentes à indústria turística. É este o conteúdo da última interpelação escrita assinada pelo legislador ligado à Associação de Conterrâneos de Jiangmen, que tem por base os pedidos de residentes que sentem que não acederam ao desenvolvimento económico do território. “O Governo vai alterar a lei para não cobrar a taxa turística aos residentes?”, questiona Mak. Segundo o deputado, bastava que no momento do consumo os residentes mostrassem o BIR de forma a ficarem isentos do pagamento. Actualmente, mesmo os residentes que consumam em espaços do turismo têm de pagar uma taxa adicional de 5 por cento sobre o preço dos bens consumidos. Por exemplo, se uma bebida custar 100 patacas, o preço sobe para 105 patacas devido ao imposto.
Sofia Margarida Mota PolíticaTurismo | Leong Sun Iok quer combater guias ilegais A DST tem de promover mais medidas de combate à entrada de grupos de turistas conduzidos por guias ilegais. O apelo é do deputado Leong Sun Iok, que alerta para o aumento de guias ilegais no território, factor com impacto negativo na imagem de Macau e na vida da população [dropcap]O[/dropcap] deputado Leong Sun Iok pede ao Governo mais medidas para evitar a entrada de guias turísticos ilegais em Macau. Em interpelação escrita, o deputado ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) recorda que o problema dos guias turísticos ilegais já é antigo e que “tem vindo a piorar”. Uma das causas do fenómeno é a abertura da Ponte HKZM que fez disparar o número de viagens de um dia de grupos de visitantes do continente. Esta situação tem possibilitado a entrada de cada vez mais grupos acompanhados por guias turísticos ilegais, considera o deputado tendo em conta queixas recebidas. “De acordo com a indústria de viagens, a situação dos guias turísticos ilegais tornou-se cada vez mais desenfreada”, aponta Leong, promovendo uma “concorrência feroz”, aos profissionais de Macau. Para Leong Sun Iok, esta situação está a afectar negativamente a imagem do território enquanto capital internacional de turismo e lazer. “Alguns guias locais relataram que estes guias turísticos ilegais tentam economizar tempo e custos promovendo mesmo almoços nas calçadas das ruas”, ilustra. Vias alternativas Acresce ainda o facto destas excursões não organizadas se dirigiram muitas vezes a destinos que não estão definidos, acabando por perturbar a comunidade local. “Os grupos ilegais de visitantes são diferentes dos grupos de turismo tradicional. Os autocarros para fazer as tours não são alugados com antecedência, e as rotas turísticas e atracções a visitar não são fixas”. Tudo isto “perturba a ordem da comunidade e faz com que estes visitantes acabem por concorrer com os residentes no acesso aos transportes públicos”, exemplifica. No entanto, as queixas à Direcção dos Serviços de Turismo não representam a realidade, pelo que apela a uma maior inspecção nesta matéria e a mais medidas de modo a detectar grupos de turistas ilegalmente acompanhados.
Sofia Margarida Mota PolíticaPassaportes | Macau com novas medidas de segurança [dropcap]O[/dropcap]s passaportes e títulos de viagem vão passar a ser mais seguros. A ideia foi deixada na passada sexta-feira pelo porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, depois da aprovação do regulamento administrativo que prevê novas regras para estes documentos. “O modelo é praticamente idêntico ao actual, tendo sido apenas reforçadas as características contra a falsificação do design original”, ou seja, é adoptado o uso de um chip mais moderno com técnicas de encriptação reformadas, hologramas e impressão ultravioleta apenas visível sob a iluminação à luz ultravioleta”, apontou. O objectivo é “acompanhar a evolução da tecnologia contra a falsificação de documentos de viagem e elevar integralmente o nível de qualidade e segurança”, acrescentou Leong Heng Teng. Com estas alterações as taxas de emissão dos documentos vão aumentar. O passaporte passa a ter um custo de 430 patacas, mais 130 patacas do que o custo actual, e o título de viagem, destinado a cidadãos chineses residentes não permanentes em Macau e sem direito a passaporte, aumenta de 250 patacas para 360 patacas. As novas regras entram em vigor em Dezembro, mas os passaportes que ainda estejam dentro da validade podem continuar a ser utilizados até que esta termine. Actualmente, 410 mil pessoas têm passaporte de Macau e 20 mil residentes o título de viagem.
Hoje Macau PolíticaSalário Mínimo | Ponderada inclusão de trabalhadores domésticos [dropcap]O[/dropcap] subdirector da Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), Chan Un Tong, afirmou ao Jornal do Cidadão que o alargamento aos trabalhadores domésticos no âmbito da criação do salário mínimo vai ser estudado tendo em conta as diferentes opiniões da população. Na proposta inicial, os trabalhadores domésticos e com deficiências ficavam de fora, mas a DSAL quer ouvir melhor a opinião pública antes de tomar uma decisão definitiva. Ainda em relação à aprovação da lei este ano, Chan citou o Chefe do Executivo, nas LAG, quando apontou que a medida fazia parte do Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM, que se prolonga até 2020. Tendo em conta esta resposta, poderá ser mesmo o próximo Chefe do Executivo a criar o salário mínimo. Segundo as estatísticas da Direcção de Serviços de Estatística e Censos, a taxa de desemprego foi de 1,7 por cento. Em relação a estes resultados, Chan Un Tong afirmou que a RAEM vive uma situação de pleno emprego.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaConselho Executivo | Luz verde para crematórios fora de cemitérios A alteração regulamentar que vai permitir a construção de crematórios fora de cemitérios em Macau foi aprovada pelo Conselho Executivo na passada sexta-feira. Em 2018, dois terços dos cadáveres de residentes foram cremados no continente [dropcap]O[/dropcap] Conselho Executivo terminou a discussão do decreto-lei que vai permitir a construção de crematórios fora de cemitérios. “O projecto propõe o alargamento do âmbito da seleccção de locais para crematório, sendo permitida a instalação de crematórios também nos terrenos que satisfaçam a finalidade e as condições de uso e aproveitamento correspondentes, para além dos cemitérios, que disponham de condições técnicas adequadas”, disse o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, em conferência de imprensa. Esta alteração surge na sequência dos problemas quanto à instalação de um crematório no cemitério de Sa Kong, quando este plano foi anunciado em Junho do ano passado. Recorde-se que o projecto foi suspenso depois do manifesto desagrado da população que vive nas imediações daquele cemitério na sequência da divulgação dos planos do Governo. Na altura, o Executivo revelou que para resolver o problema iria rever a legislação. No entanto, apesar de ser admitida agora a construção de crematórios em terrenos fora de cemitérios, ainda não existe qualquer definição das características que estes terrenos devem ter. “Mesmo o diploma de 1985 não prevê este tipo de condições. Mas o Governo tem tido em conta as vozes da sociedade”, revelou Leong Heng Teng. Esta alteração vai “permitir mais espaços viáveis para construir um crematório”, até porque “com a urbanização de Macau, os cemitérios estão muito próximos das zonas residenciais”, acrescentou. Precauções tomadas A alteração do diploma acrescenta ainda “a cremação como forma de tratamento de cadáveres que ponham em perigo a saúde pública e dos restos mortais não reclamados”. Esta alteração é de relevo, salientou o porta-voz do Conselho Executivo. “O acordo de transladação com o continente já previa que em caso de morte por doenças contagiosas os cadáveres não poderiam ir para a China por porem em causa a saúde pública”, disse. Estes corpos acabam por ser enterrados em Macau. Depois da construção de um crematório no território, esta questão não se coloca e vai permitir “o reforço da saúde pública”, apontou Leong Heng Teng. “Não queremos que os cadáveres dos que morrerem devido a epidemias fiquem em Macau e por isso devem ser cremados”, frisou. De acordo com os dados facultados pela representante do Instituto para os Assuntos Municipais, também presente na conferência de imprensa, no ano passado das 2.100 mortes de residentes, cerca de 75 por cento dos corpos foram transladados para o continente para serem cremados. Recorde-se que o projecto para a construção de um crematório em Macau data dos anos 90. O novo regulamento entra em vigor 30 dias após a publicação em Boletim Oficial.
Sofia Margarida Mota PolíticaColégio Eleitoral | CAECE alerta que candidaturas terminam amanhã [dropcap]O[/dropcap] prazo de entrega da candidatura para participar nas eleições dos membros da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo termina no próximo dia 7 de Maio, alertou a presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo (CAECE), Song Man Lei, na passada sexta-feira após mais uma reunião do organismo. Durante o encontro foi discutido o design do boletim de voto para as eleições do dia 16 de Junho. Para facilitar o processo de entrega de candidaturas os Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) estiveram abertos durante o fim-de-semana. Até às 11h horas de sexta-feira, os serviços tinham recebido um total de 192 boletins de candidatura. Nomes portugueses Entretanto, já se conhecem alguns nomes que apresentaram a sua candidatura, ligados à comunidade portuguesa. De acordo com a Rádio Macau, Jorge Neto Valente e Paulino Comandante candidatam-se pelo sector profissional. Neto Valente candidata-se enquanto representante da Associação dos Advogados de Macau. Já o também advogado Paulino Comandante é candidato pela Associação dos Investigadores, Praticantes e Promotores da Medicina Tradicional Chinesa. Mónica Cordeiro é a candidata da Associação do Pessoal de Enfermagem de Macau. O sector profissional pode ter 43 representantes no Colégio Eleitoral. Pelo sector do trabalho, que pode eleger 59 representantes, concorre Rita Santos, pela Associação dos Trabalhadores da Função Pública. Um dos 50 lugares destinados ao sector social pode vir a ser preenchido pelo provedor da Santa Casa da Misericórdia, António José de Freitas. Ambrose So é candidato pelo sector cultural enquanto representante do Clube Militar de Macau. Os candidatos precisam do apoio de, pelo menos, 20 por cento do total das associações do sector que representam.
João Santos Filipe PolíticaFugitivos | Sulu Sou quer explicações sobre acordos com Pequim Sulu Sou está preocupado com violações aos direitos humanos de residentes de Macau que sejam entregues ao Interior da China. O deputado pró-democrata pede igualmente o acesso à proposta do Executivo de 2015, que acabou por ser retirada [dropcap]O[/dropcap] deputado Sulu Sou está preocupado com o secretismo das conversações entre o Executivo local e o Governo Central sobre a transferência de fugitivos. Como tal, escreveu uma interpelação ao Executivo a pedir esclarecimentos. No texto revelado ontem, o pró-democrata alerta que a transferência de fugitivos pode representar uma ameaça ao Segundo Sistema, uma forma “disfarçada” de aplicar aos residentes de Macau o sistema judicial do Primeiro Sistema, razão pela qual quer garantias que os direitos humanos dos fugitivos vão ser respeitados. “Se as restrições na entrega de fugitivos e de pessoas forem levantadas e os cidadãos da RAEM forem enviados para o Interior da China sem critério, o sistema criminal do Interior da China vai começar a aplicar-se em Macau de forma disfarçada”, começa por realçar o deputado ligado à Associação Novo Macau. “Se este for o caso, vai verificar-se uma violação do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ e os direitos fundamentais, as liberdades e garantias não passarão de palavras num documento de papel”, é sublinhado. Sulu Sou destaca igualmente a falta de independência da Justiça do Continente, em que os tribunais estão subordinados ao órgãos políticos. “Se olharmos para os governantes do Interior da China, e mesmo para as principais figuras do sistema judiciário, de certo em certo tempo enfatizam a responsabilidade política dos tribunais, assim como o controlo do Partido [Comunista] sobre os tribunais. Mas este princípio é contrário aos valores-chave dos tribunais de Macau, em que a independência é fundamental”, defende. Direitos humanos O deputado pró-democrata exige que o Governo garanta que no caso de haver transferência de residentes de Macau para o Interior da China os seus direitos humanos são respeitados: “O princípio da protecção dos direitos humanos para a entrega de fugitivos está consagrado na Lei da Cooperação Judiciária em Matéria Penal. O Governo vai respeitar estes princípios nas futuras propostas legislativas e acordos relacionados com a cooperação judiciária?”, é questionado. No mesmo documento, o deputado cita também frases atribuídas a governantes de Pequim onde a independência dos tribunais é sempre rejeitada. Por isso, o deputado pergunta como podem ser dadas garantias que os direitos fundamentais vão ser respeitados e se sem independência dos tribunais no Interior da China faz sentido o Governo da RAEM considerar a transferência de fugitivos. Sulu Sou queixa-se ainda que já tentou por várias vezes sem sucesso aceder a proposta de lei de 2015 sobre este tema. O documento chegou a ser entregue à Assembleia Legislativa, mas depois foi retirado. Sulu Sou diz que o acesso foi negado por Ho Iat Seng, que justificou que os deputados só podem aceder às propostas de lei relacionadas com o corrente ano legislativo. Por sua vez, o Governo, citado na interpelação, considera que disponibilizar o conteúdo dessa proposta antiga “não é adequado”. Face a esta resposta, o legislador questiona o próprio Governo se este não estará a infringir as leis do território. Face à falta de resposta, Sulu Sou considera que o clima de “segredos” contribui para que a população fique mais preocupada com as discussões entre os dois governos.
Hoje Macau China / ÁsiaEmigração | Portugueses em Xangai, entre o chegar e o partir Xangai, a maior cidade da China, é o grande centro financeiro do país e um destino para muitos portugueses, mas a volatilidade dos mercados também se estende aos emigrantes, que ora chegam, ora partem [dropcap]C[/dropcap]elso Benídio chegou no dia anterior, enquanto Bruno Colaço parte após seis anos. São os extremos da comunidade portuguesa em Xangai, limitada pelas dificuldades em obter vistos e a fraca presença empresarial portuguesa. No Consulado-Geral de Portugal em Xangai, que cobre também as províncias vizinhas de Jiangsu, Zhejiang, Anhui e Jiangxi, estão registados cerca de 580 portugueses. Mas o próprio cônsul-geral Israel Saraiva admite que haja muitos que tenham partido sem avisar as autoridades. A comunidade estará mais perto das 300 pessoas, estima Bruno Colaço, um dos fundadores do Clube Português de Xangai. O número de portugueses registados no consulado estagnou desde 2017, coincidindo com um período em que a comunidade estrangeira em Xangai tem vindo a decrescer, diz Israel Saraiva. Uma das explicações, refere o diplomata, é a “questão complexa” dos vistos de trabalho para a China. No caso de Celso Benídio, a empresa suíça que contratou o especialista em tecnologia já investiu mais de mil euros para conseguir um visto. “Podes ser muito talentoso mas se não falas a língua a tua empresa tem que explicar muito bem porque vai contratar um estrangeiro e não um local”, diz o português. “Temos visto esta dinâmica a acentuar-se, sobretudo nos últimos três anos”, confirma Bruno Colaço. O gestor lamenta que a comunidade esteja também limitada pela falta de uma diáspora empresarial na China. “Não há uma câmara de comércio e contam-se pelos dedos de uma mão o número de empresas portuguesas presentes efectivamente na China, com uma representação própria, um escritório e uma empresa legalmente estabelecida”, diz Bruno. “Embora haja promessas e mais promessas, o quadro regulatório da China permanece relativamente complexo, o que não tem criado facilidades para as empresas”, explica Israel Saraiva. Ainda assim, o cônsul acredita a pressão externa, nomeadamente da União Europeia, tem levado a novas leis que vão no sentido de “tornar o ambiente regulatório mais previsível e menos aleatório”. Marcelo e a reviravolta Durante a visita oficial à China, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que existe “uma empatia” ao mais alto nível político nas relações luso-chinesas e pediu aos empresários que aproveitem este momento para “ir mais longe e ir mais depressa” nos negócios. As declarações foram proferidas, na semana passada, em Xangai, aquando da abertura de um seminário económico, perante empresários portugueses e chineses. “É um momento que não podemos desperdiçar. Porque há a memória de um conhecimento recíproco, uma capacidade de compreensão também singular, porque há uma confiança que se criou. E a confiança é crucial. Está criada a confiança, a todos os níveis”, considerou. Segundo o Presidente da República, nas recentes visitas recíprocas entre titulares do poder político de Portugal e da China, “entre primeiros-ministros, como desde logo entre presidentes da República, nasceu uma empatia, renovou-se uma empatia”. “O quadro hoje é um quadro de excelência nas relações políticas institucionais. E é um quadro de excelência na empatia pessoal”, reforçou. O chefe de Estado defendeu que “isso é importante” para as empresas, argumentando que “a empatia no quadro político institucional pode facilitar ou dificultar as relações empresariais”. Dirigindo-se aos empresários dos dois países, deixou-lhes um desafio: “É ir mais longe e ir mais depressa, porque a velocidade neste tempo é outra, e não há vazios, os vazios têm de ser preenchidos. Não podemos perder um minuto. Não podem perder um minuto na concretização dos vossos projectos”. “Foi essa a mensagem que quis aqui trazer com a minha presença. Quis dizer que, naquilo que depende dos presidentes, nós estamos presentes: está presente o Presidente Xi, estou presente eu. Naquilo que depende dos poderes políticos, estamos presentes. Agora, a vida não se faz nem só nem sobretudo com os poderes políticos, faz-se com as pessoas, faz-se com os empresários, faz-se com aqueles que criam riqueza”, acrescentou. Oscilações de números Apesar dos discursos políticos, e face às dificuldades burocráticas de fixação na China, o número de portugueses em Xangai continua instável. No terreno o resultado dessas dificuldades é uma comunidade portuguesa flutuante, composta sobretudo por estudantes e profissionais a trabalhar para empresas multinacionais, como é o caso do marido de Patrícia Dias. “A nossa estadia aqui não será para a vida, ele tem um contrato de quatro anos e depois logo se vê”, diz a enfermeira, que está a estudar acupuntura em Xangai. “Não é surpreendente que as pessoas estejam cá só um ano ou dois”, diz Israel Saraiva. “Estão integradas num projecto profissional, adquirem experiência, adquirem currículo e surge-lhes uma oportunidade noutro sítio, para porventura daqui a uns anos regressarem cá”, explica o cônsul. É o caso de Henrique Dias, que veio há um mês do Dubai para Xangai, após ter trabalhado anteriormente em Guangzhou. “Acredito mesmo que neste momento no mundo só a China e a Índia têm potencial para continuar a crescer”, explica o arquitecto. Íman do Yuan Apesar do recente abrandamento económico, a China continua a ser para muitos portugueses um lugar de futuro. “Quando se fala de inovação em tecnologia, a China é a mais avançada em muitas áreas, nomeadamente aquelas viradas para o consumidor”, diz Celso Benídio. João Graça Gomes, bolseiro da China Three Gorges, accionista da EDP – Energias de Portugal, está também optimista. “Assim que eu anunciei no LinkedIn que ia começar a estudar na Universidade Jiaotong de Xangai, recebi logo duas ofertas de emprego na China de uma empresa norte-americana”, revela o investigador em energias renováveis. Ao ver o investimento chinês a chegar a Portugal, João já tinha começado a aprender mandarim no Instituto Confúcio em Lisboa. E não é o único a encarar a língua chinesa como uma vantagem competitiva. A filha de Patrícia Dias, de nove anos, frequenta uma escola internacional em Xangai onde está a aprender mandarim, falado e escrito. Mesmo Henrique Dias garante que a filha, com apenas nove meses, irá no futuro aprender a língua chinesa. Entre chegadas e partidas, a maioria dos portugueses parece ter uma certeza, a de não ter planos para regressar ao país natal. “Aqui tenho a possibilidade de trabalhar no futebol de formação a tempo inteiro, o que não acontece em Portugal”, explica Rui Vitorino. “No nosso nível ninguém fica rico, mas dá-nos qualidade de vida”, diz o treinador dos sub-15 da zona de Yangpu. “Adorava contribuir para o meu país mas não necessariamente voltar”, diz Celso Benídio. “Agora, trabalhar para uma empresa portuguesa e estar focado em Portugal, isso não, de todo”. Metrópole em expansão Hoje em dia, Xangai é um dos incontornáveis pólos financeiros numa época em que o centro de gravidade da economia global se desloca para o oriente. Xangai tem uma população de cerca de 24 milhões de habitantes e está previsto que até 2050 dê o salto demográfico para uma marca algures entre os 35 e os 45 milhões de habitantes. Importante referir que no contexto circundante do Delta do Rio Yangtze, se estima que o número de habitantes ascenda aos 200 milhões. A taxa de crescimento da cidade tem-se mantido estável e consistente desde a década de 1980, quando a população era menos de metade da actual. Apesar do crescimento do número de habitantes, Xangai soube reinventar-se para acompanhar este pulo demográfico. Por exemplo, a rede de metro da cidade, com comboios a circular em 12 linhas, é a mais extensa do mundo. Facto notável, principalmente se tivermos em conta que a primeira linha abriu apenas em 1993. Neste aspecto, importa referir que existem mais quatro linhas em construção, e cinco das existentes estão em expansão. Este exemplo é demonstrativo da forma como a cidade se soube equipar para fazer face ao salto demográfico. Actualmente, Xangai de uma taxa de crescimento de entre 700 a 800 mil pessoas por ano. Em termos comparativos, Toronto é o centro urbano que regista maiores taxas de crescimento demográfico na América do Norte e Europa, com uma taxa entre 100 a 125 mil por ano. Se a tendência continuar, estima-se que até 2025, mil milhões de pessoas vão viver nas grandes cidades chinesas.
Hoje Macau China / ÁsiaRei Vajiralongkorn da Tailândia coroado em cerimónia no Grande Palácio Real [dropcap]O[/dropcap] rei Vajiralongkorn da Tailândia foi ontem coroado numa sumptuosa cerimónia no Grande Palácio Real, em Banguecoque, quase três anos depois de ter sido proclamado rei após a morte do seu pai, Bhumibol Adulyadej. O monarca de 66 anos foi acompanhado pela sua mulher, a rainha Suthida, general da força de segurança do palácio e ex-comissária de bordo, com quem casou na semana passada. Para além de Suthida, estiveram ainda presentes membros do Governo e do Conselho Privado do rei. Pelo menos 10 mil membros das forças de segurança foram mobilizados em torno do palácio, onde as cerimónias de coroação durarão até segunda-feira com um orçamento de 1.000 milhões de bat. Vajiralongkorn, décimo monarca da dinastia Chakri, foi proclamado rei em dezembro de 2016, três meses após a morte de seu pai, o rei Bhumibol Adulyadej, que reinou por sete décadas. O rei, de 66 anos, deverá enfrentar comparações em relação ao seu pai, que foi muito trabalhador e profundamente respeitado pelos tailandeses. Vajiralongkorn passa longos períodos no estrangeiro, pelo que conquistar a sua posição entre a população tailandesa poderá levar tempo. O soberano participou em dois eventos de alto nível em 2015, levando milhares de tailandeses em massa a eventos de ciclismo para marcar os aniversários dos seus pais. Na sexta-feira, Vajiralongkorn aprovou um decreto real que concede um indulto em massa, que poderá beneficiar centenas de prisioneiros tailandeses. “O rei está consciente de que a auspiciosa ocasião da coroação é considerada um evento especial e, num acto de graça real, considerou adequado conceder indultos para presos que lhes dão a oportunidade de ser bons cidadãos que fazem boas acções para o futuro da nação”, refere o decreto publicado na Gazeta Real. Desconhece-se o número de preso que poderão beneficiar do indulto, que entrará em vigor a partir de sábado. Segundo o decreto real, os beneficiados serão, entre outros, condenados em liberdade condicional, os maiores de 60 anos que têm de cumprir menos de três anos de pena ou os menores de 20 anos que tenham sido condenados pela primeira vez e tenham cumprido metade das suas sentenças. Por outro lado, os condenados à morte verão a sua sentença comutada para prisão perpétua, contanto que não tenham beneficiado de um indulto anterior.
Hoje Macau SociedadeTSI | Dezoito condenados pela prática de fraude de jogo em hotel [dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) julgou improcedentes os recursos dos 18 arguidos envolvidos num caso de fraude que tem por base a transformação da suite de um hotel numa sala de jogo VIP. De acordo com um comunicado, os arguidos foram condenados a penas de prisão efectiva de entre 2 a 5 anos e 3 meses. Em causa está o aluguer de uma “suite” num hotel local e a sua transformação numa sala de jogo VIP. Os arguidos fingiam ser donos da sala de jogo tendo constituído uma equipa de colaboradores nas áreas de relações públicas, de tesouraria, croupiers, segurança e empregados de mesa. O negócio processava-se através da angariação de jogadores do continente que nunca tivessem vindo a Macau nem conhecessem o negócio VIP do jogo. A primeira queixa feita à Polícia Judiciária (PJ) em 2017 por um destes jogadores a quem foram prometidas fichas no valor de quatro milhões de dólares de Hong Kong para apostar, caso pagasse previamente quatrocentos mil renminbi. O jogador concordou, e quando foi jogar na falsa sala VIP perdeu o dinheiro investido – quatrocentos mil renminbi – em menos de duas horas. Ao suspeitar que tinha sido burlado fez queixa à PJ.
Hoje Macau SociedadeMuseu do Grande Prémio vai custar mais de 800 milhões de patacas [dropcap]A[/dropcap] reestruturação do Museu do Grande Prémio de Macau vai custar cerca de 92 milhões de euros, afirmou ontem uma representante dos Serviços de Turismo (DST), acrescentando que o espaço deverá abrir antes do final do ano. “Este número [830 milhões de patacas] diz respeito ao projecto total, mas ainda é uma estimativa”, indicou Wan Wai, em conferência de imprensa sobre o dia internacional dos museus. O Governo avançou com a reestruturação deste espaço museológico em 2016, altura em que propôs um orçamento quase três vezes inferior. Num edifício de quatro andares, o novo museu vai dividir-se em “diferentes zonas, conforme as corridas”. O GP de Macau inclui três corridas de carros, as taças do mundo de Fórmula 3, GT e de carros de turismo (WTCR), e o Grande Prémio de motos, além da taça de carros de turismo de Macau e a taça da Grande Baía. “Vamos também acrescentar elementos multimédia, apresentando a história do Museu e a história da corrida”, acrescentou Wan Wai. O Museu do Grande Prémio de Macau foi inaugurado em 1993, em comemoração do 40.º aniversário do maior evento desportivo do território. Quanto à inauguração do novo espaço, Wai apontou: “talvez Novembro ou Dezembro, não temos ainda uma data definida porque as obras ainda estão em processo”. Disputado no icónico traçado citadino de 6,12 quilómetros, o Grande Prémio de Macau é considerado uma das mais perigosas provas de automobilismo do mundo. Este ano realiza-se entre os dias 14 e 17 de Novembro. Na conferência de imprensa, o director do Museu de Arte de Macau (MAM), Loi Chi Pang, anunciou que 14 museus temáticos locais vão participar na “Feira do Dia Internacional dos Museus de Macau 2019”, no dia 12 de Maio, no espaço Anim’Arte Nam Van. O programa prevê actividades com recurso à tecnologia de realidade virtual, disse.
João Romão VozesA elite turística [dropcap]1[/dropcap]400 milhões de chegadas em voos internacionais contou a Organização Mundial de Turismo (OMT) durante o ano de 2018, um número que assinala a expansão continuada da actividade turística no planeta: estão muito distantes, no tempo e na magnitude, os 25 milhões de voos internacionais que se tinham registado em 1950. O fim do século XX e o início do XXI foram de crescimento generalizado e sistemático do turismo, do recreio, da valorização dos consumos culturais, da “experiência” ou da imaterialidade feita transação comercial, hoje no centro das preocupações do marketing turístico. Esta expansão do número de viajantes tem inevitáveis implicações económicas e vai reformatando estruturas produtivas um pouco por todo o mundo: reclama a OMT que o turismo representa actualmente 10% do valor acrescentado e do emprego no planeta e mais de 30% das exportações de serviços a nível global. Mas também há implicações ecológicas: este intenso tráfego aéreo internacional parece ser responsável, pelo menos, por 5% das emissões de CO2 na atmosfera. Esse valor parece ir inevitavelmente aumentar com o crescimento aparentemente imparável do turismo internacional. Há nesta acelerada massificação uma falsa ideia de democratização do turismo internacional. Sendo verdade que o chamado “rendimento discricionário” (correspondente ao que não é utilizado com necessidades primárias de sobrevivência) tem aumentado para uma significativa parte da população global, é também certo que o acesso regular ao turismo internacional continua a ser um privilégio de uma elite socioeconómica do planeta – mesmo que esta elite não se reconheça como tal quando usa serviços de baixo custo e qualidade duvidosa. As contas não são difíceis: aos tais 1400 milhões de chegadas internacionais correspondem 700 milhões de viagens, com ida e volta desde o lugar de residência de cada viajante. Mas nem sempre esses voos vão directamente ao destino final: pode haver escalas pelo caminho, e não há dados particularmente fiáveis sobre o seu número. Em todo o caso, é certo que a generalização dos voos de baixo custo se faz sobretudo de ligações directas entre a origem e o destino dos turistas e que essa é uma fatia cada vez maior do tráfego turístico global. Suponhamos então, modestamente, que as escalas representem apenas 15% do total de voos internacionais – e que em vez dos tais 700 milhões tenhamos 600 milhões de viagens por ano. Depois há os viajantes mais frequentes, que acumulam milhas e benefícios em cartões de fidelização – e os mais esporádicos e ocasionais. Não é raro haver quem faça viagens internacionais para negócios e outros afazeres profissionais todos os meses. E assim sendo, os tais 600 milhões de viagens não correspondem ao mesmo número de pessoas. Mantendo o mesmo critério modesto para compensar a ausência de dados objectivos e fiáveis sobre o assunto, suponhamos então que o número total de pessoas que faz pelo menos uma viagem internacional por ano é de 500 milhões, uma estimativa certamente sobrevalorizada. Parecendo muito, estes 500 milhões de pessoas representam pouco mais de 6% dos 7,7 mil milhões de habitantes deste precário planeta. A esmagadora maioria dos humanos (94%, pelo menos), não faz sequer uma viagem internacional por ano. Por muito que os números da massificação em curso – e o comportamento de alguns viajantes – possam criar uma impressão contrárias, o turismo internacional continua a ser privilégio de uma elite económica e social do planeta. E é essa elite, já agora, que é responsável pelas emissões de CO2 inerentes ao tráfego aéreo contemporâneo. É também verdade que o acelerado crescimento económico a que se tem assistido em países asiáticos como a China, a Índia, a Tailândia ou o Vietname sugere que novas franjas das populações destes países passem em breve a ter acesso a rendimentos que lhes permitam uma participação mais activa e regular no turismo internacional. Nesse sentido, a democratização vai-se fazendo, lentamente. Mas isso também significará um aumento dos impactos ambientais do tráfego aéreo, aparentemente incompatível com protecção da vida no planeta. Cedo ou tarde, a regulação e limitação do número de voos terá que ser feita. E se essa regulação implicar um aumento significativo dos preços, o turismo internacional será no futuro, ainda mais, coisa de uma certa elite deste planeta. Em todo o caso – pelo menos em países como Portugal – todos os contribuintes são por enquanto chamados a contribuir para pagar os custos do tráfego internacional, mesmo quando não viajam. Na realidade, as ligações “low cost” que se generalizaram a partir do norte da Europa para diversos destinos nacionais são, em geral, subsidiadas pelas associações regionais de promoção turística (as chamadas “Regiões de Turismo”), que em larga medida dependem de financiamentos públicos. Viajando ou não, quem vive e paga impostos em Portugal contribui para a massificação de um turismo de que não vai, necessariamente, beneficiar (na realidade, até pode prejudicar).
Fernando Sobral Folhetim h | Artes, Letras e IdeiasA grande dama do chá [CAPÍTULO ANTERIOR] [dropcap]D[/dropcap]o hotel Riviera podia ver-se o mundo. Os portugueses que viviam em Macau acreditavam nisso. Todos os finais de tarde dirigiam-se para ali, vestidos a rigor. José Prazeres da Costa, elegante no seu fato branco de linho e fumando um charuto filipino, sempre desdenhara dessa ideia. Mas não resistia à tentação de estar ali. De pernas cruzadas assistia ao concerto da Benny Spade Orchestra. Muitos pares tinham estado a dançar e agora descansavam um pouco. Ele apenas observava. Escutou uma voz, vinda do palco, em inglês: – Say, you guys want have a little fun? E a música recomeçou. Benny Spade morrera há um par de anos, mas o nome mantivera-se. Um outro americano, Charlie Powell, tomara conta da banda. Nada mudara. O objectivo era colocar os corpos a dançar, muito próximos, e a não temerem o contacto físico. O grupo tinha chegado de Xangai uns meses antes, onde tocara nos hotéis Cathay e Metrópole da Concessão Internacional. Alguns dos músicos tinham tocado também no Ciro’s, o clube nocturno conhecido pelo seu ar condicionado, onde os taipans britânicos e os gangsters chineses entravam à noite, com as suas mulheres ou amantes. À porta do Ciro’s estavam sempre russos de uniforme, garantindo a segurança. Todos eles diziam ser antigos generais do czar e, com o seu olhar impiedoso, travavam os pedintes chineses. Lá dentro, muitas russas desdobravam-se em sorrisos e galanteios aos visitantes. Era um estilo de vida que se adaptava aos edifícios de arquitectura europeia que se impunham no Bund, a famosa frente ribeirinha da cidade. Tudo parecia sólido e perene. A Xangai moderna era uma criação ocidental e não chinesa. O Céu e a Terra uniam-se naquela cidade. Mas tudo mudara com a chegada dos japoneses a Xangai. E já nem o jazz unia um mundo que se quebrava como uma bola de cristal. Sentada, Jin Shizin assistia à dança de homens e mulheres que se recusavam a acreditar que a guerra existia ali ao lado. No pequeno palco, ao lado dos seus companheiros da Benny Spade Orchestra, Cândido Vilaça, conhecido como Cat, tocava saxofone. Olhou para a sala e não deixou de reparar na chinesa. Conhecia-a de um outro lugar. Quando ela se levantou para dançar com um português bastante mais velho do que ela, lembrou-se. A sua forma de dançar, ousada e radiosa, não escapava à atenção. Vira-a em Xangai, nas noites no Ciro’s. Mais tarde, quando deixou o palco e reparou que a chinesa estava sozinha, aproximou-se, com descaramento, da mesa onde estava sentada a fumar e disse-lhe, em inglês: – Boa tarde, gostou? Os olhos cor de amêndoa de Jin semicerraram-se e fixaram-no como se fosse um alvo. A sua face era sólida e esbelta e o seu cabelo preto era moldado por uma franja que caia sobre os olhos. Cândido percebeu: era uma mulher invulnerável. Ou quase. Ela sorriu polidamente, e respondeu num português quase perfeito: – Gostei. – Estava a dançar. – Foi um acaso. Não costumo dançar. – Não? Não gosta do que tocamos? Ela voltou a fitá-lo friamente depois de ter soprado o fumo do cigarro para o espaço que os separava. – A vossa música traz-me demasiadas memórias. – De que não deseja recordar-se. – Não. De que eu me quero sempre recordar. Cândido Vilaça fingiu não perceber. Não queria dizer de onde a conhecia. Fez menção de se sentar. – Preciso de beber algo antes de voltar para o palco. – Acredito. Mas nessa cadeira está sentado o senhor que está comigo. Cândido Vilaça recuou na sua intenção. Foi então que, olhando para trás, viu um japonês que olhava fixamente para ele. Não se lembrava de alguma vez o ter visto. – As minhas desculpas. Mas foi um prazer. O companheiro da chinesa aproximava-se e Cândido afastou-se. Foi até ao balcão do bar e pediu um uísque. José Prazeres da Costa aproximou-se dele e deu-lhe uma pequena cotovelada. – Não tiveste sorte com a chinesa? – Não tentei nada. Prazeres da Costa sorriu, desafiador. – Não? Olha que ela, a Grande Dama do Chá como é conhecida, tem sólidas amizades. Não as desafies. Neste pequeno meio português todos conhecem todos. A intriga é o seu jogo de cartas preferido. Cândido deu uma pequena gargalhada. – Meu caro, eu sei que o amor, em tempos de guerra, é uma coisa impossível. – O amor é sempre uma coisa impossível. Nunca desafies esta máxima. Conheciam-se desde que Cândido chegara a Macau. Prazeres da Costa gostava de jazz. E de mulheres. E de dinheiro. Não por esta ordem, é claro. Este encostou as costas ao balcão e olhou para a sala. O seu olhar cruzou-se com o do japonês. Conheciam-se, mas não se falaram. Como se evitassem que alguém os relacionasse. Cândido reparou na troca de olhares, mas não queria conhecer o mundo secreto de Macau. Tinha outras preocupações. Como tinha o sono muito leve, dormitava e não dormia. As olheiras sustentavam a sua vida. Diziam que os homens de jazz envelheciam mais depressa do que os outros. Sabia porquê. Interpretavam canções sobre mulheres magoadas e sobre os homens que elas tinham amado. Ele também era assim. Abandonava as mulheres sem olhar para trás. Era egoísta. Não inspirava confiança nem segurança. Escutou a voz da cantora que estava no palco. Vestida com um traje chinês, apesar de ser filipina, cantava em português, com um sotaque: “Se eu tiver de mentir, Aos que amam a verdade Farei isso Se eu mentir Será um dever Será por saber A verdade sem a sentir Se eu quiser mentir Será antes de partir.” Ficou com a letra na memória. Assobiou-a baixinho, para se recordar. Gostava de cantoras assim. Descrentes e com a voz carregada pelas dores alheias. Foi até à varanda, seguido por Prazeres da Costa, funcionário do Governo, mas sem grande convicção. Estiveram ali durante alguns minutos, falando de coisas banais. A banda de Cândido já tinha terminado a sua actuação diária e, por isso, saiu dali e foi em busca da noite. Prazeres da Costa disse-lhe que ia para casa. Forma de dizer que ia ter com a amante. Quando chegou à casa de ópio na Rua da Felicidade, o músico entrou e avançou pelo meio do fumo, pediu uma cerveja e sentou-se numa cadeira disponível. O mundo deslizava à sua volta. Nada lhe importava. Sentiu um aroma conhecido e, levantando-se, foi em busca de conforto numa sala escondida por um biombo. Quando se ergueu da pequena cama, lá fora, o escuro da noite cedera o lugar aquela luz indecifrável que antecede o amanhecer. [CONTINUAÇÃO]
José Navarro de Andrade h | Artes, Letras e IdeiasO que diz Tavares [dropcap]D[/dropcap]iz Tavares: “Os leitores estão cansados, as pessoas trabalham muito, têm vidas duras e há uma literatura para cansados, para pessoas que vêm do trabalho e que querem ler um livro como quem quer ter uma massagem ao final do dia. Mas a função da arte e da literatura não é descansar. É acordar, perturbar, reflectir. Não deveríamos ver arte ou ler livros quando estamos cansados. A literatura e a arte exigem muito de nós.” De tão iterado e brandido o mantra da arte – e concomitantemente do artista – como ventoinha ou despertador das consciências, ele já ascendeu a esse grau superior do consenso e nível zero da inteligência que é o lugar-comum. Contudo, a putativa evidência e a pressuposta unanimidade de tal função não resiste ao escrutínio de uma mesmo que módica racionalidade. Ia a dizer Tavares: “Mas a função da arte e da literatura não é […]” – alto aí… O quer que ele diga a seguir virá na sequência de um passo em falso que é o de jungir a arte a um “deve ser.” Logo ela tão predisposta a nunca ficar onde a querem pôr e a transbordar as margens em que a tentem conter. Delibera Tavares: arte “é acordar, perturbar, reflectir”. Priva-se, então, da qualidade de arte aquela que demande o sublime? Não pode a arte avocar-se como pesquisa, experiência ou experimentação formal? E porque se estreita a categoria de arte – que é como quem diz: acomoda-se – à finalidade de inquietar, desafiar, desacatar, criar desconforto, ou até invectivar, afrontar e amotinar? Destitui-se de ser arte a obra que se concebe e oferece como consolação? Precisamente a missão de consolar os “cansados” que tanto precisam do refrigério que só a arte entrega. À rédea curta a que Tavares vincula a arte é indispensável o contributo do chicote com que ele, o soberbo e esclarecido artista, se atribui a missão de flagelar os “cansados”. “Mutatis mutantis” esta atitude reproduz um método antigo aplicado com grande êxito pela Inquisição: se macerares a carne, desprendida dos pecados do corpo a alma se libertar-se-á e só assim estará afim de contemplar a maravilhosa verdade. Reitera Tavares: “Está a fazer-se cinema e literatura para cansados, no sentido em que é entretenimento, que serve para acalmar. […] Se for um livro forte ninguém cansado o consegue ler.” Definitivamente Tavares não escreve para os leitores que há. Apieda-se deles, os “cansados,” e não os culpa, coitados, do cansaço que sofrem nem das escolhas a que este os sujeita – o desmiolado “entretenimento.” Mas, tenham lá paciência, enjeita-os sem dó – acha-os incapazes de ler um “livro forte”. Tavares presume, portanto, escrever para um leitor que esteja ao seu nível embora constate a sua inexistência. Deste postulado logicamente deriva que Tavares adjudica a si a prerrogativa de julgar quem se elevará a esse seu nível de exigência. Esta fraude é usual chamar-lhe “criação de novos públicos.” Não é difícil perceber que só considera terapêutico arremessar um “murro no estômago” – execrável clichê – de outrem, quem não seja espancado pela vida das 9 às 5 ou em horário alargado. Quem se põe para além das cólicas e constipações do homem comum – o “cansado.” Ora isto traz a lume a questão da legitimidade que Tavares arroga. Que deus, pacto social ou constituição agraciou Tavares como “conducator” dos leitores? Quem o nomeou sherpa do escrúpulo e da lucidez? Que foro lhe outorgou a distinção de vate dos porvires? Quem o designou com a santificada vestal da grei? Pois nada nem ninguém. O que Tavares sobretudo demonstra é a contumaz falta de generosidade que em demasiados casos é característica do artista contemporâneo, em particular o que opera nas artes narrativas. Esta pungente supressão de empatia com o leitor que se lhe apresenta decorre do movimento tectónico que tem vindo a reposicionar a manifestação da arte não como um processo e uma dinâmica de partilha, mas como um exercício narcisista e misantrópico de expressão pessoal e egocêntrica. O problema não são os leitores “cansados,” o problema são os Tavares de quem afinal os leitores estão deveras cansados de ouvir.
Valério Romão h | Artes, Letras e IdeiasBrasil em auto-ficção [dropcap]E[/dropcap]steve há poucos dias em Portugal um amigo meu, o Eric Nepomuceno, para um encontro no âmbito das comemorações do 25 de Abril de 1974, chamado “Resistências pacíficas: o valor da liberdade”, no Auditório Municipal Fernando Lopes-Graça, em Almada. O Eric, com setenta anos, conheceu de perto da ditadura brasileira e os seus efeitos. Os seus artigos contra o regime militar valeram-lhe um exílio em Buenos Aires. No que concerne ditaduras e ausência de liberdade de expressão, Eric sabe do que fala. Perguntei-lhe pela situação no Brasil e o Eric respondeu-me “você não faz ideia”. Disse-lhe que temos acompanhado a situação pelas notícias que nos vão chegando e que de facto a coisa parece ainda pior do que antecipáramos. “Sim”, contrapôs, “as notícias são importantes, mas só revelam uma camada das muitas mudanças que todos os dias vão ocorrendo, e as mais brutais por vezes são as mais subtis, que ficam de fora da agenda jornalística”. Contou-me que há dias estava numa tabacaria para comprar um maço de cigarros, na “fila dos velhinhos”, como a apelidou, e que teve de sair para trocar dinheiro ali perto, “pois a menina não tinha troco”. Quando regressou, o tipo que antes estava atrás dele na fila pagava uma conta qualquer – a tabacaria, além de vender cigarros, também serve para comprar jornais e pagar contas da luz, do telefone, da água, etc – atirou-lhe “Você foi rápido”. “Sim, fui perto, e estava vazio”, respondeu Eric. “Pensei que tinha ido buscar dinheiro no Lula”, foi a resposta do tipo. Assim, do nada. Sem que Eric fizesse qualquer declaração de intenções ou esboçasse qualquer provocação. O Eric, versado por razões biográficas em conflitos de toda a espécie, respondeu “Não, fui na sua mãe, ela não pagou por ontem à noite”. A coisa felizmente acabou bem. Os insultos não passaram do modo caixinha de comentários. Mas a sucessão de bravatas podia ter tido um desfecho distinto. De facto não temos qualquer experiência da realidade quotidiana dos brasileiros que se opõem ao regime de Bolsonaro. As notícias que nos chegam são sobre as decisões mais ou menos incompreensíveis tomadas pelo governo actual. De fora ficam a o dia-a-dia e os seus conflitos. E são esses que na verdade mais interessam a um escritor. Num futuro mais ou menos próximo alguém escreverá sobre o quotidiano deste período sombrio da história do Brasil. Este período que está muito mais perto de se tornar uma ditadura de cariz teológico semelhante à narrada no Handsmaid’s Tale do que num regime fascista comparável aos do século XX. A história das nações é uma sucessão de factos e das relações nem sempre claras que os unem. Mas a história das pessoas de todos os dias, dos seus conflitos, das suas pequenas vitórias e derrotas é a literatura que em grande parte a tece, e é através desta que acedemos a uma compreensão mais vasta de um determinado período histórico. Quando alguém pergunta para que serve a literatura (que, em boa verdade, deve estar primeiramente ausente de qualquer propósito ou função), podemos sempre dizer que a literatura se pode constituir como ponto de vista privilegiado sobre a memória. Mesmo que não servisse para mais nada, já teria a utilidade funcional que a nossa época tão preocupada com a produtividade reclama. Entretanto, e enquanto estamos imersos no processo de transformação do Brasil que conhecemos noutra-coisa-qualquer, o Eric confidenciou-me a sua vontade e disponibilidade para escrever crónicas sobre o dia-a-dia deste Brasil em mudança. E disse-me que o faria “bem baratinho”. Se estivesse num lugar de chefia de um periódico português, escrevia-lhe já um mail. Além de saber do que fala, o Eric é um escritor do caraças.
António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasObituário. [dropcap]A[/dropcap]pagaste-te nesta Páscoa. Não sabíamos de ti. E. ligou-te muitas vezes desde quinta-feira santa até Domingo. Talvez tivesses ido à pesca. Foste até aos noventa. É muita maré. Lembro-me daquela rua. Não era bem uma rua. Era um caminho. Fomos vizinhos durante muito tempo como se fosse uma comunidade. A princípio, encontrávamo-nos só no verão, quando éramos jovens imortais. Depois, quase todo o ano, durante alguns fins-de-semana. Sempre tinha havido os muito velhos, aqueles que tinham um quotidiano moderado, sensato. Ou então se calhar era outra coisa, era a velhice a “dar-lhes” já. Que é feito dessa gente? Pouco menos de vinte anos tinha eu e eles eram já tão velhos. Subsistem ainda na minha memória, mas não podem continuar ainda vivos. Revisito esses tempos. Lembro-me da rua antes de ser habitada, quando ainda era só um pinhal, prestes a ser colonizado, como se fôramos colonizadores do Sudoeste português. Estava deitado numa cama de rede. Olhava o céu azul, plano de fundo para árvores recortadas nas suas formas. Eram castanhas, quase negras, e verdes. O que se vê a olhar o céu é virgem. É igual ao que tantas gerações de homens viram, sem fios ou parabólicas, postes de electricidade ou o que tiver sido feito pelo ser humano. Tive essa percepção. A natureza tem outro tempo e outra história, diferente da do ser humano. Antecipei o que aí vinha. Ano após anos viríamos de férias, haveria festa e romance, descanso. Os pais tinham uma outra experiência de férias. Os miúdos viviam as férias grandes do mundo. E vieram anos atrás de anos. Sestas dormidas e mergulhos dados, bebedeiras e romance. Aprendizagem difícil de ser-se fora de si e ao mesmo tempo estar-se em si, ser-se o próprio, o único com quem se tinha intimidade e ao mesmo tempo aquela remissão ancestral, arquetípica, primordial e proto qualquer coisa que nos atirava para o outro, a outra pessoa. O desejo que nascia e não era um acrescento, algo que queríamos ter a mais. Era a falta de outra pessoa, a falta inteira de sermos outros, uma outra versão completamente diferente de nós mesmos e que passava pelo outro que queríamos encontrar e só inventávamos no sonho. Era isso que eu via a olhar deitado de costas o céu azul, plano de fundo daquela percepção com formas de árvores, pinheiros e eucaliptos. Era o princípio informe de qualquer coisa que iria acontecer, a história, a minha biografia. Tudo aquilo iria transformar-se com os 15 anos que viriam e depois os 16 e os 17 com fim do liceu e a faculdade. Tudo a perder de vista, perdido da vista, longe da vista, estava já naquela percepção daquela tarde do início de Agosto em que a nossa rua não existia ainda. Os dias seguir-se-iam. Depois, o tempo entre o fim das férias grandes e o princípio das férias do ano seguinte. Amizades que se mantinham à distância temporal de um ano. Sentia-se a transformação. Ela ligou-te para te desejar boa páscoa. Começou a ligar-te na quinta-feira santa e continuou até Domingo. Já não nos víamos há algum tempo. O tempo passa. Já não há a nossa rua. Desfizeram-na, quando transplantamos as nossas vidas para outras ruas e as casas foram dadas ou deixadas ao abandono. A rua já nem sequer é insólita como nas noites de inverno, despovoadas de gente, vividas a pão e vinho e conversa. Aquecíamo-nos como podíamos. Ainda tínhamos tempo. Ainda viria um verão e outro. Depois, os velhos começaram a morrer. Os outros, os das outras famílias. As casas, pouco a pouco, começaram a ficar desabitadas. Primeiro, ainda bem conservadas. Algum dos mais novos vinha e ainda passava lá um fim de semana, limpava a casa, fechava a casa. Era uma casa habitada mas pouco frequentada. Os mais novos emigraram ou perdiam o interesse, deixavam de pagar a renda ou esqueciam e abandonavam as casas. Abandonar uma casa é abandonar uma legião de famílias. A casa esperava as famílias o ano inteiro e despedia-se delas no fim do verão. As casas ficaram decrépitas. Mais velhos morreram. A maior parte dos jovens envelheceram e quiseram ir viver para outras ruas, outros bairros, outras vilas, outras cidades. Tudo envelheceu. Já não testemunhei a vinda de mais novos. Também acabei por fazer o que fizeste. Não emigrei, mas dei a casa. Ninguém ma comprava e para não a deixar abandonada, dei-a a quem mais precisava. Foi um descanso. As memórias seriam intoleráveis. Preferi lembrar-me da casa desde o primeiro dia até ao último dia. Foram mais de três décadas felizes. Vivas dadas ao Verão e o gosto por regressar para a rentrée. Telefonei-te para te desejar boa páscoa. Estaríamos lá naquela rua se fossem outros tempos, quando era o princípio antes de estar definido e quando começou a estar definido. Os tempos da estabilidade quando eu próprio deixei há já muito os meus 14 anos. Alguém atendeu o ™. Era uma sobrinha tua. Disseram-me que foste ao hospital para um exame de rotina. Abriram-te. Fecharam-te. Duraste mais três dias e morreste. Ressuscitaste escandalosamente para mim, que não te via há quase cinco anos. Não ver alguém é deixar alguém no campo de latência que é idêntico à morte. Ressuscitaste-me também aquela rua onde passamos férias durante mais de três décadas. Vi-a, como se fosse daquela primeira vez, sem casas, nem pessoas. Só o céu azul e árvores. A floresta tornara-se virgem, de novo. Nunca nada nem ninguém testemunha a nossa infância ou juventude ou idade adulta já. É tudo como se não tivéssemos sido. Quase como se não tivéssemos sido. Agora, tu habitas em mim esse olhar. Não és visto, mas vives comigo no meu olhar. É um olhar à distância. Não é perceptivo. Nem é só o da lembrança. Sou eu no meu futuro despovoado de ti, mas a fazer vida ainda.
Hoje Macau EventosMuseus | Dia Internacional celebrado com Carnaval a 12 de Maio [dropcap]O[/dropcap] Dia Internacional dos Museus, efeméride com data de 18 de Maio, vai ser celebrado em Macau já a partir de dia 12, domingo, com a anual festa de “carnaval”, designação do evento co-organizado pelo Instituto Cultural, este ano dedicado ao tema “O Museu Móvel – Praia Grande x Hub Cultural”. O centro das cerimónias vai ser o Anim’Arte Nam Van, em frente aos lagos artificiais, onde uma série de actividades e alguns objectos vão ser trazidos dos museus para interagirem com crianças e famílias, através de jogos, workshops, conversas e brincadeiras. Além dos planos para animar a Praia Grande, os espaços museológicos também vão ter novidades para os visitantes, conforme a informação divulgada ontem em conferência de imprensa. Estão incluídos neste projecto as seguintes entidades: Museu de Macau, Museu de Arte de Macau, Centro de Ciência de Macau, Museu Marítimo, Museu das Comunicações, Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau, Museu do Grande Prémio, Museu dos Bombeiros, Museu da História da Taipa e Coloane, Museu Memorial Lin Zexu de Macau, Museu do Vinho, Casas da Taipa, Galeria do Arquivo Histórico de Tung Sin Tong, e Espaço Patrimonial – Uma Casa de Penhores Tradicional.
João Luz EventosFestival | Shi Fu Miz 2019 este fim-de-semana na ilha de Cheung Chau [dropcap]M[/dropcap]úsica electrónica underground, sessões de percussão, workshops, instalações artísticas e yoga são alguns dos ingredientes do Festival Shi Fu Miz 2019, que acontece no sábado e domingo em Hong Kong, na ilha de Cheung Chau. O evento terá lugar na bela Sai Yuen Farm, que se situa na ponta sudoeste da ilha, e que, segundo a organização “é o sítio perfeito para relaxar e entrar em contacto com a natureza”. Dos nomes que compõem o cartaz, destaque para a dupla Shuya Okino, formada pelos irmãos Shuya e Yoshi Okino, que constituem também os Kyoto Jazz Massive. A dupla aquece pistas de dança desde o início dos anos 90 e é conhecida como um dos projectos mais inovadores que ajudou a dar vida à mistura entre Jazz e música electrónica. Aliás, Shuya é um também o rosto do The Room Club em Shibuya, um espaço de eleição para as sonoridades de fusão na música de dança japonesa. Outro dos destaques é o projecto Palms Trax, nome de guerra de Jay Donaldson, um DJ baseado em Berlim que se dedica ao house. Os bilhetes para o festival custam para os dois dias 680 HKD, no próprio dia 880 HKD. Os ingressos para um dia custam 480 HKD e para um dia 580 HKD. O campismo custa 300 HKD para quem levar a sua própria tenda.
Hoje Macau Eventos“Arte Macau” vai ter eventos ao longo do Verão [dropcap]A[/dropcap] inauguração está marcada para o dia 6 de Junho, mas já arrancaram pré-eventos pela cidade que podem ser vistos pelo público em diversos locais. Até Outubro, a cultura vai estar nos museus, nas ruas, nos hotéis, para atrair residentes e turistas. “Arte Macau” é o nome do festival internacional de artes e cultura, que atravessa o Verão de Junho a Outubro, com uma série de eventos que incluem várias exposições, espectáculos, festivais internacionais juvenis e mostras de instituições do ensino superior. Este encontro de artes tem uma dimensão sem precedentes, que se propõe colocar Macau na rota do turismo cultural, contando para isso com o apoio da indústria de hotelaria e de entretenimento do território, refere a nota de imprensa do Instituto Cultural (IC), co-organizador a par da Direcção dos Serviços do Turismo (DST). No âmbito desta iniciativa, a inaugurar no dia 6 de Junho, também abre as portas a exposição “Arte Macau: Exposição Internacional de Arte”, no Museu de Arte de Macau (MAC) que é o principal local de encontro para o conjunto de eventos. A mostra reúne “um conjunto de obras valiosas de várias operadoras de estâncias turísticas e empresas hoteleiras, incluindo obras de pintura, cerâmica, escultura, instalações interactivas e multimédia, evidenciando, de forma diversificada, o fascínio das artes visuais contemporâneas”. E há mais A par desta exposição haverá eventos artísticos, espectáculos e outras mostras patentes em unidades hoteleiras e espaços de diversão, bem como instalações de arte ao ar livre ou noutros pontos de interesse na cidade, reunindo obras de arte antigas e contemporâneas de artistas chineses e estrangeiros. O destaque vai também para a temporada de concertos da Orquestra de Macau e da Orquestra Chinesa de Macau, o Festival Juvenil Internacional de Dança, o Festival Juvenil Internacional de Música, o Festival Juvenil Internacional de Teatro e outras actividades. Ao todo, estão previstos 31 programas, incluindo 18 exposições e 10 espectáculos de grande dimensão, os quais terão lugar em 33 locais por toda a cidade. Entretanto, estrearam já em Abril exposições, a título de pré-evento, como os “Desenhos da Renascença Italiana do British Museum”, a “Beleza na Nova Era – Obras-primas da Colecção do Museu Nacional de Arte da China”, ou “Reminiscências da Rota da Seda – Exposição de Relíquias Culturais da Dinastia Xia do Oeste”, no MAM. Sob o patrocínio da Secretaria para os Assuntos Sociais e Cultura, a iniciativa “Arte Macau” conta ainda com a colaboração da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) e da Direcção dos Serviços do Ensino Superior (DSES).
Raquel Moz EventosHong Kong | Arte multimédia revisita obra de Van Gogh É a exposição de arte multi-sensorial mais visitada no mundo e pode ser vista diariamente em Hong Kong. Chegou em Abril à baía de Kowloon e vai ficar por lá até ao dia 7 de Julho. Entrar dentro de quadros como “A Noite Estrelada” ou “Os Girassóis” era até aqui imaginação apenas. Agora é só dar um salto ali ao lado [dropcap]A[/dropcap] experiência de arte imersiva sobre um dos mais ilustres pintores holandeses está a dar que falar no vizinho território, depois de ter passado por mais de 40 cidades internacionais e atraído cerca de quatro milhões de visitantes em todo o mundo. “Van Gogh Alive” é como assistir em três dimensões às várias fases da obra do pintor, onde três mil imagens são projectadas nas paredes, colunas, chão e tecto, criando movimentos que se transformam através das galerias e transcendem a noção de tempo e do espaço. Poder estar dentro dos famosos quadros do pintor pós-impressionista é uma nova sensação para os visitantes, que se passeiam pelo “Campo de Trigo com Corvos”, as “Amendoeiras em Flor”, o “Quarto em Arles” ou a “Estrada com Cipreste e Estrela”, amplificados nos murais de LED com quase dez metros de altura. São mais de uma centena de telas que acompanham a vida e obra de Van Gogh, durante o período de 1880 a 1890, integrando as paisagens de Arles, Saint-Rémy-de-Provence e Auvers-sur-Oise, lugares onde se refugiou nos últimos anos de vida e onde criou os seus quadros mais icónicos. O clássico mundo das artes abre-se com este espectáculo às grandes audiências, saindo do espaço de silêncio dos museus, onde a distância de protecção entre o público e a obra não admite a proximidade aqui conseguida. Este novo conceito de arte, como experiência para as massas, é possível graças a um sistema de tecnologia único, o Sensory4, que permite combinar as imagens gráficas em movimento com sons de alta-fidelidade, através de canais múltiplos com qualidade de cinema, que são projectados em ecrãs gigantes de alta resolução. A dinâmica visual é o resultado desta experiência, com imagens incrivelmente detalhadas, num espaço saturado de cor e som, onde a cada canto se pode encontrar um novo ponto de vista ou um especial pormenor, nos conhecidos quadros do pintor que tantas obras-primas deixou, entre paisagens, naturezas mortas, retratos e auto-retratos, com orelha e sem orelha. Viagem pelo mundo A exposição chegou à FTLife Tower de Hong Kong, em Kowloon, no passado mês de Abril e vai ficar por lá até ao dia 7 de Julho. Entretanto, percorreu várias cidades como Madrid, Roma, Berlim, Atenas, Istambul, Moscovo, Varsóvia, Dubai, Singapura, Tel Aviv, São Petersburgo e, só no continente chinês, Xangai, Xiamen, Hangzhou ou Qingdao. Também em Lisboa, a exposição passou já pela Cordoaria Nacional, no verão de 2017. Em Hong Kong está em exibição de segunda a quinta, das 10h às 21h, sextas a domingos, ou feriados, das 10h às 22h. Os bilhetes custam 230 dólares de Hong Kong, por adulto, e 190 para menores de 15 e maiores de 65 anos.