Hoje Macau MancheteONU | Governo diz que houve “discussão interactiva” em Genebra [dropcap]T[/dropcap]erminou na sexta-feira o terceiro Exame Periódico Universal do Conselho dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), realizado em Genebra, Suíça, e onde Macau esteve presente inserida na delegação chinesa. De acordo com um comunicado do gabinete da secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, “durante a sessão houve uma discussão interactiva”, tendo a delegação da Chia “apresentado integralmente o sucesso alcançado no país, incluindo a RAEM e Hong Kong, desde a última avaliação em 2013 na área dos direitos humanos”. Apenas dois países questionaram Macau nesta matéria. As Filipinas quis saber as experiências do território na área do combate ao consumo de droga, tendo a secretária falado do projecto Casa de Educação Vida Sadia, sob alçada do Instituto de Acção Social. Além disso, a Irlanda questionou o território sobre a legislação anti-discriminação implementada pelas autoridades. Sónia Chan “sublinhou ainda que os princípios da igualdade e da não-discriminação estão plasmados em diversos diplomas legislativos da RAEM”. A delegação chinesa respondeu a mais de 300 perguntas submetidas por 150 países, tendo o debate ficado marcado pelas questões relativas à situação dos direitos humanos vivida na região autónoma de Xinjiang e no Tibete. Além disso, a China foi também bastante questionada sobre a manutenção dos direitos de liberdade de expressão e autonomia do território respeitantes a Hong Kong. O terceiro relatório de avaliação da ONU relativo à China foi concluído no sábado, tendo o Governo chinês “dado alta importância a esta avaliação”, aponta o mesmo comunicado. Este relatório foi preparado por um grupo de trabalho composto pela Hungria, Quénia e Arábia Saudita, sendo agora submetido em Março do próximo ano à Assembleia Geral do Conselho dos Direito do Homem das Nações Unidas para aprovação formal.
Hoje Macau DesportoVettel punido com reprimenda e multa mantém segundo lugar na grelha para GP Brasil [dropcap]O[/dropcap] alemão Sebastian Vettel, da Ferrari, foi sancionado com uma reprimenda e uma multa, depois da qualificação para o Grande Prémio do Brasil de Fórmula 1, mas segurou o segundo lugar da grelha de partida. O piloto da Ferrari foi visado pelos comissários depois de ter danificado a balança que pesa os monolugares em vários momentos ao longo do fim de semana, por não respeitar os procedimentos da pesagem. Vettel não concordou com a chamada entre a segunda e a terceira fase da qualificação, pois temia que a chuva começasse a cair e não tivesse tempo de trocar de pneus. “Não é a melhor altura para chamar pilotos [para a pesagem]”, comentou o alemão. Os comissários abriram uma investigação ao incidente, que terminou com uma reprimenda e uma multa, permitindo ao germânico manter o segundo lugar da grelha de partida conquistado em pista. Vettel partirá ao lado do britânico Lewis Hamilton, que foi o mais rápido por apenas 0,093 segundos relativamente ao corredor da Ferrari, conquistando a centésima ‘pole position’ da Mercedes no Mundial de Fórmula 1. O Grande Prémio do Brasil, que este domingo se disputa no circuito de Interlagos, em São Paulo, é a 20.ª e penúltima corrida da temporada. Lewis Hamilton, já campeão desde a prova anterior, no México, garantiu hoje a décima ‘pole’ da temporada.
Hoje Macau EventosBiografia de José Saramago, o homem e o escritor, vai ser apresentada na terça-feira [dropcap]A[/dropcap] biografia de José Saramago, um retrato do percurso criativo e privado do Prémio Nobel da Literatura Português, já chegou às livrarias e vai ser apresentada na terça-feira, em Lisboa. “José Saramago: rota de vida” é o título da biografia, escrita por Joaquim Vieira e editada pela Livros Horizonte, que traça o percurso de uma personalidade única da cultura portuguesa, debruçando-se tanto sobre a sua intensa actividade criativa como sobre a sua atribulada vida privada, descreve a editora. Único português, até à data, a vencer o Prémio Nobel da Literatura – o que aconteceu há 20 anos – e autor de romances como “Memorial do Convento”, “O Ano da Morte de Ricardo Reis” ou “Ensaio sobre a Cegueira”, Saramago conquistou por mérito próprio “um estatuto de primordial relevo” na História recente, acrescenta. A editora destaca, contudo, que José Saramago trilhou “um caminho árduo” até atingir a consagração, já que nasceu num seio de uma família de trabalhadores rurais ribatejanos, estudou apenas para serralheiro mecânico e fez toda a sua formação intelectual como auto-didacta. O autor manteve-se na obscuridade durante a maior parte da sua carreira, fosse como funcionário de escritório, responsável por uma editora ou até enquanto editorialista, que não assinava os seus textos, e só por volta dos 60 anos ganhou notoriedade como romancista. “É um percurso muito rico de vida, sobretudo porque há uma parte que é menos conhecida das pessoas, porque Saramago praticamente só ganhou projecção aos 60 anos, há todo um percurso de evolução até aí que eu acho fascinante”, disse Joaquim Vieira, em entrevista à Lusa. E explica: “Como é que uma pessoa está na obscuridade durante a maior parte da sua vida e, de repente, começa uma ascensão até chegar ao Nobel? Isso é o que eu acho talvez mais interessante na vida de Saramago, mas interessou-me muito esse primeiro meio século da sua vida, como é que foi a sua formação, para chegar a uma altura e fazer a caminhada para o Nobel”. Viu-se envolvido em polémicas que mobilizaram as atenções nacionais: foi acusado de praticar censura e de afastar jornalistas como director-adjunto do Diário de Notícias. No entanto, ele próprio viria a queixar-se, anos mais tarde, de o Governo lhe censurar um livro, o que o levaria a tomar a decisão de se afastar do país. Joaquim Vieira refere-se a esse episódio, passado no chamado “verão quente” de 1975, do saneamento de jornalistas que exigiam mais pluralismo, como tendo sido “muito complicado” na vida de Saramago, que ainda se tentou distanciar desse acto, afirmando que não tinha responsabilidades. “Mas não é essa a ideia que se tira, quando se investiga o assunto e se fala com pessoas que viveram isso também. A ideia que se tira é que ele teve responsabilidades”, afirma Joaquim Vieira, argumentando, contudo, que é preciso perceber o que se passou, “no contexto da época”. Eram tempos de muita agitação, em que toda a gente tomava posição, e Saramago esteve também envolvido em toda essa agitação, escrevia editoriais que defendiam opiniões “incendiárias no contexto da época do PREC [Período Revolucionário em Curso]”. Na altura, dizia-se que o jornal estava na mão do PCP e, de facto, José Saramago era militante do partido, “só que aqueles editoriais escritos por ele eram mais radicais do que a posição do PCP, o que causou até incómodos ao próprio Partido Comunista”, contou Joaquim Vieira, confessando que desconhecia este pormenor. A biografia de José Saramago revela também um homem com uma relação “um pouco atribulada” com mulheres, com quem teve “muitos actos de sedução ao longo da vida”. “Há muitas histórias de Saramago com mulheres”, histórias que, hoje em dia, na era do movimento ‘#metoo’, possivelmente ganhariam “um outro significado”. “As pessoas farão os seus juízos, não o acuso de assédio, mas descrevo certos episódios e depois as pessoas tiram as suas conclusões”, afirmou Vieira, frisando que nenhuma das pessoas que entrevistou acusou o escritor de assédio, de “maneira explicita”, mas contaram “situações que são um bocado complicadas”. Apesar destes episódios, Joaquim Vieira salienta que “o fundamental” da biografia de Saramago é a obra, a escrita e a literatura. O jornalista, que já foi biógrafo de Mário Soares e Francisco Pinto Balsemão, assumiu a empreitada de escrever a biografia de José Saramago, a convite da editora Livros Horizonte, tarefa que lhe demorou três anos de trabalho e que chegou este mês às livrarias.
Hoje Macau EventosIlustradora Catarina Sobral distinguida na China [dropcap]A[/dropcap] autora e ilustradora portuguesa Catarina Sobral foi distinguida na China, na Feira Internacional do Livro Infantil de Xangai, com o livro “Comment ça, il a renoncé?”, ainda inédito em Portugal. A feira do livro começou sexta-feira, tendo anunciado os vencedores dos prémios internacionais para jovens ilustradores, com Catarina Sobral a receber uma menção especial pelo álbum ilustrado “Comment ça, il a renoncé?”. O livro foi publicado este ano originalmente pela editora suíça Éditions Notari, e ainda está inédito em Portugal. Ancorada na realidade, esta é uma “história contemporânea, surreal e perturbadora, sobre o tema do desenvolvimento sustentável”, refere a editora suíça. Catarina Sobral recebe a menção especial depois de ter sido uma das 50 finalistas ao prémio da feira literária chinesa, juntamente com a ilustradora portuguesa Carolina Celas, que concorreu com o livro “Horizonte”. Catarina Sobral, que teve a obra visual em destaque durante o mês de outubro no Teatro Luís de Camões – LU.CA, em Lisboa, tem cerca de uma dezena de livros ilustrados, a maioria já traduzidos e editados noutros países, como Coreia do Sul, Japão, Brasil, Espanha e Suíça. Alguns deles, como “Achimpa” e “O meu avô”, valeram-lhe prémios internacionais. O livro “Vazio” (2014) deu origem a um filme de animação, o “Razão entre dois volumes”, já apresentado em festivais. Recentemente editou o livro “Impossível”, sobre a origem do universo, já transposto para palco. A Feira Internacional do Livro Infantil de Xangai, que aconteceu pela primeira vez em 2013, termina no domingo.
Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping diz que China e EUA devem avaliar correctamente intenções estratégicas [dropcap]O[/dropcap] presidente chinês afirmou que Pequim e Washington devem “avaliar correctamente” as intenções estratégicas de cada um, numa altura de renovadas tensões entre as duas potências, face às ambições tecnológicas e militares da China. Xi Jinping, que vai reunir-se com o homólogo norte-americano, Donald Trump, no final deste mês, falava durante um encontro com o antigo secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger. O líder chinês afirmou que Pequim quer resolver os problemas através do diálogo, mas que Washington deve respeitar o percurso do desenvolvimento e os interesses da China. “A China está comprometida a trabalhar com o EUA para alcançar uma cooperação de mútuo benefício, não confrontacional, e com respeito mútuo”, afirmou Xi Jinping. As relações entre China e EUA atravessam um período de renovadas tensões, depois de Trump ter imposto taxas alfandegárias até 25% sobre quase metade das importações oriundas da China. Em causa está a política de Pequim para o sector tecnológico, nomeadamente o plano “Made in China 2025”, que visa transformar as firmas estatais do país em importantes actores globais em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos. Os EUA consideram que aquele plano, impulsionado pelo Estado chinês, viola os compromissos da China em abrir o seu mercado, nomeadamente ao forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia e ao atribuir subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege da competição externa. Washington tem ainda reafirmado o seu compromisso em defender Taiwan, que Pequim considera uma província chinesa e ameaça usar a força caso declare independência, e insistido na navegação no Mar do Sul da China, que a China reclama quase na totalidade, apesar do protesto dos países vizinhos. “Há já algum tempo que existem vozes negativas nos Estados Unidos contra a China, às quais se deve ter atenção”, disse Kissinger, de 95 anos, a Xi Jinping, no Grande Palácio do Povo, em Pequim. Citado pela agência noticiosa Xinhua, o antigo secretário de Estado disse que a China e os EUA deviam usar um “pensamento estratégico” e pôr as coisas em perspectiva, visando entender melhor o outro lado, expandir interesses mútuos e gerir as suas diferenças. Kissinger, que em 1972 negociou um encontro histórico entre o então presidente norte-americano Richard Nixon, e o fundador da República Popular da China, Mao Zedong, continua a visitar o país asiático frequentemente.
Hoje Macau China / ÁsiaTibetano auto-imolou-se pelo fogo em apelo ao regresso de Dalai Lama [dropcap]U[/dropcap]m tibetano auto-imolou-se pelo fogo esta semana, num apelo ao regresso do líder espiritual dos tibetanos, Dalai Lama, que vive exilado na Índia na sequência de uma frustrada rebelião contra a administração chinesa, em 1959. Segundo a organização com sede em Washington International Campaign for Tibet, o homem, de 23 anos, chamado Dorbe, auto-imolou-se no domingo, no condado de Ngaba, uma região habitada por tibetanos, na província de Sichuan, sudoeste da China. O grupo revelou que Dorbe gritou longa vida a Dalai Lama antes de se auto-imolar. Mais de 150 tibetanos imolaram-se pelo fogo desde Fevereiro de 2009, em protestos contra o que classificam de opressão do Governo Chinês, indicou a International Campaign for Tibete, num comunicado. Com cerca de três milhões de habitantes, o Tibete é uma das regiões chinesas mais vulneráveis ao separatismo, com os locais a argumentarem que o território foi durante muito tempo independente até à sua ocupação pelas tropas chinesas em 1951. Por outro lado, Pequim considera que a região é, desde há séculos, parte do território chinês. O líder político e espiritual dos tibetanos, o Dalai Lama, que Pequim acusa de ter “uma postura separatista”, vive exilado na vizinha Índia, na sequência de uma frustrada rebelião contra a administração chinesa em 1959. Seguidores do Dalai Lama, que em 1989 foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz, acusam Pequim de tentar destruir a identidade religiosa e cultural do Tibete. As auto-imolações tornaram-se raras nos últimos anos e a sua verificação é quase impossível, já que a região está fechada à imprensa estrangeira.
Hoje Macau China / ÁsiaJair Bolsonaro nega problemas com China e diz que quer negociar sem “viés ideológico” [dropcap]O[/dropcap] presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, negou na sexta-feira, na sua conta de Facebook, ter problemas com a China e afirmou querer estabelecer comércio com vários países sem “viés ideológico”. “Alguma imprensa fala que vamos ter problemas com a China. Não temos problemas nenhuns com a China. Recebi na semana passada o embaixador da China e conversámos bastante. Já recebi também o embaixador dos Estados Unidos da América. (…) Alguns países estão muito felizes com a nossa eleição porque deixarão de fazer comércio com o Brasil com o viés ideológico”, afirmou Jair Bolsonaro. O recém-eleito presidente disse que deseja que os produtos brasileiros sejam exportados ao melhor preço possível, acrescentando que o país deve tentar “agregar valor” aos produtos. A questão do conflito de ideologias tem sido um ponto em que Bolsonaro tem insistido nas suas manifestações públicas. Durante a tarde de sexta-feira, o antigo capitão do Exército escreveu uma mensagem na sua conta do Twitter em que afirmou que a ausência de viés ideológicos beneficiará o comércio entre o Brasil e outros países. “Após as eleições, grandes empresas já anunciaram milhões em investimentos no Brasil nos próximos anos. É só o começo. Comércio com o mundo todo sem viés ideológico, a somar com a redução de impostos mais a desburocratização, resultará em mais confiança, mais investimentos e mais empregos”, disse o futuro chefe de Estado. Foi através da publicação de um editorial no principal jornal estatal chinês, o China Daily, na edição inglesa, que a China avisou Jair Bolsonaro de que se seguir a linha do Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, e romper acordos com Pequim, quem sofrerá será a economia brasileira. De acordo com o editorial, as exportações brasileiras “não ajudaram apenas a alimentar o rápido crescimento da China, mas também apoiaram o forte crescimento do Brasil”. Jair Bolsonaro criticou a China durante toda a sua campanha presidencial. Antes, em Fevereiro, o político da extrema-direita visitou ainda a região de Taiwan, o que não agradou a Pequim. Para os chineses, as críticas a Pequim “podem servir para algum objectivo político específico”, mas “o custo económico pode ser duro para a economia brasileira, que acaba de sair da sua pior recessão da história”, pode ler-se no texto publicado no jornal que serve de porta-voz do governo chinês para o mundo e é utilizado para mandar mensagens a parceiros. O editorial do jornal chinês deixou ainda uma chamada de atenção para a importância da China na economia brasileira: “Ainda assim, esperamos que quando ele assumir a liderança da oitava maior economia do mundo, Bolsonaro olhe de forma racional e objectiva para o estado das relações Brasil-China. (…) A China é o seu maior mercado exportador e a primeira fonte comercial”, lê-se.
Hoje Macau MancheteEventos cancelados em Hong Kong reacendem preocupação com liberdade de expressão [dropcap]O[/dropcap] cancelamento de eventos literários e artísticos e a recusa em permitir a entrada de um jornalista do Financial Times em Hong Kong reacenderam a preocupação com a liberdade de expressão na região vizinha. Aquando da transferência da administração de Hong Kong em 1997 foi prometida uma semi-autonomia durante 50 anos, que lhe permitiria manter os direitos de reunião e liberdade de expressão, mas o suspeito sequestro em 2015 pelas forças de segurança chinesas de editores de trabalhos críticos dos líderes do país e o julgamento de organizadores de protestos anti-Pequim vieram sublinhar as preocupações nesta matéria. Uma decisão de última hora tomada na sexta-feira para restabelecer um evento literário e as recentes pressões de Pequim para impedir atividades da ‘sociedade civil’ ilustra o debate crescente sobre esta questão, numa semana marcada por novos desenvolvimentos. Um espaço artístico de Hong Kong voltou a permitir ao escritor chinês exilado Ma Jian que falasse num festival literário, depois de cancelar sua presença no início da semana. Ma chegou em Hong Kong no final da tarde de sexta-feira e disse aos jornalistas que uma ‘mão invisível’ estava a controlar as condições sob as quais ele poderia aparecer. “A palestra, definitivamente, vai acontecer”, disse. “Se houver uma única pessoa de Hong Kong que esteja disposta a ouvir, ou um único leitor que me contacte, eu estarei lá”, acrescentou. Cerca de duas horas depois, o Festival Literário Internacional de Hong Kong anunciou que o Centro de Património e Artes do Tai Kwun havia decidido permitir que Ma aparecesse, afinal. “Os princípios da liberdade de expressão e expressão cultural são centrais para nossa missão como festival literário internacional”, pode ler-se num comunicado de imprensa do festival, no qual se pedem desculpas pela incerteza nos últimos dias. Ma, de 65 anos, é conhecido pelos seus romances nos quais critica o Partido Comunista da China. Os seus seis romances foram proibidos na China continental e o autor chegou a afirmar que não conseguiu encontrar uma editora de língua chinesa em Hong Kong para publicar o seu trabalho mais recente, “China Dream”. O livro, que foi comparado aos trabalhos de George Orwell na sua descrição contundente do governo autoritário, foi publicado em inglês com um desenho de capa do artista dissidente Ai Weiwei, que também vive fora da China. Já o Financial Times deu conta de que o seu editor de notícias para a Ásia, Victor Mallet, tinha sido barrado na fronteira na quinta-feira quando tentou voltar a entrar em Hong Kong como visitante. O episódio aconteceu depois de Mallet ter sido forçado a deixar Hong Kong após o Governo se ter recusado a renovar seu visto de trabalho, no que parece ser uma retaliação pelo facto deste ter promovido no Clube de Correspondentes Estrangeiros uma palestra do líder de um partido político, Andy Chan, agora banido, que defende a independência do território. A autoridade de imigração de Hong Kong não deu nenhuma explicação para sua expulsão e na sexta-feira respondeu ao episódio com uma declaração na qual garantia “agir de acordo com as leis e políticas” Grupos de jornalistas de Hong Kong enviaram uma carta de protesto ao Governo de Hong Kong sobre a expulsão, afirmando que a decisão prejudica a reputação do território, que deve ser governado pela lei onde a liberdade de expressão é protegida. Grupos de direitos humanos classificaram a rejeição do visto do jornalista como o mais recente sinal da expansão das restrições de Pequim no território. Uma exposição do artista chinês-australiano (conhecido como Badiucao) prevista para 03 de novembro foi cancelada depois dos organizadores terem recebido ameaças “feitas pelas autoridades chinesas relativas ao artista.” Hong Kong Free Press, Amnistia Internacional e Repórteres Sem Fronteiras eram os organizadores do evento que, num comunicado conjunto justificaram o cancelamento da exposição com “questões de segurança”. Os cartoons de Badiucao satirizam os líderes da China e o estabelecimento de uma sociedade de vigilância. Na sua página na internet, o autor escreve que “usa a sua arte para desafiar a censura e a ditadura na China”. Badiucao já tinha afirmado que não marcaria presença na exposição por medo de ser sequestrado, ele que não nunca revelou a sua identidade.
Hoje Macau ReportagemDo topo da torre ao prédio devoluto, 40 anos de China capitalista em perspectiva Por João Pimenta, da agência Lusa [dropcap]N[/dropcap]o distrito financeiro de Shenzhen ou nos antigos bairros operários de Pequim, as opiniões divergem sobre as profundas transformações ocorridas na China desde que, há quarenta anos, aderiu à iniciativa privada, rompendo com o maoismo. Voltada para sul, no pico do monte Lianhua, centro de Shenzhen, ergue-se uma estátua com seis metros de altura, em bronze, de Deng Xiaoping, o arquitecto-chefe das reformas económicas iniciadas na cidade, em 1979. Em frente à estátua, um corredor cruza a densa malha urbana de Shenzhen, que entretanto se converteu numa das mais prósperas cidades da Ásia, símbolo do milagre económico que transformou a China. “Nenhum dos edifícios na mira frontal da estátua de Deng Xiaoping se pode sobrepor a esta”, explica Lizhang, especialista em urbanização, à agência Lusa, 550 metros acima do solo, no topo do Ping An Finance Center, o quarto arranha-céus mais alto mundo. “As pessoas referem-se a Mao [Zedong] como o líder histórico da China, mas Deng Xiaoping é altamente respeitado em Shenzhen”, nota. Afastado duas vezes por Mao, Deng, outrora acusado de ser um “seguidor do capitalismo”, assumiu o poder poucos anos após a morte do fundador da República Popular. O “papel dirigente” do Partido Comunista continuou a ser “um princípio cardeal”, mas ao contrário do que acontecia durante a liderança de Mao, o desenvolvimento económico – e não o “aprofundamento da luta de classes” – tornou-se “a tarefa central”. Shenzhen, então uma vila pacata, deliberadamente por desenvolver – os comunistas, que receavam “contaminação” política e económica via Hong Kong, designaram-na de “fronteira de defesa política” – serviu então de laboratório à abertura da China à economia de mercado. “As pessoas viviam da pesca”, lembra um taxista local, “mas Deng Xiaoping idealizou esta cidade e fê-la nascer”. Em 2017, o Produto Interno Bruto de Shenzhen ultrapassou os 338 mil milhões de dólares, à frente de Hong Kong ou Singapura, dois importantes centros financeiros da Ásia. Entre os chineses rurais, o ‘boom’ de Shenzhen inspirou fábulas e lendas: o trabalhador migrante que se tornou milionário ou a jovem secretária que ascendeu ao topo de uma empresa. “As pessoas chegam a Shenzhen com o sonho de enriquecer”, descreve uma arquitecta portuguesa radicada na cidade há seis anos. Tang Zhongcheng, co-fundador do grupo Cowin Capital, uma das maiores empresas de gestão de capital privado da China, resume assim a “fórmula” de Shenzhen: “Os investimentos e os negócios são orientados por regras puramente mercantilistas”. “Quando procuramos investimentos, não recorremos ao Governo”, explica à Lusa. Erguido no centro de Pequim, em 1958, o edifício ‘Fusuijing’ foi inspirado no “Grande Salto em Frente”, uma campanha lançada por Mao para “acelerar a transição para o comunismo”, através da colectivização dos meios de produção. “Não importava qual a posição ou autoridade de quem vinha para aqui morar: as casas eram gradualmente ocupadas, sem olhar a classes”, conta à Lusa Zhang Qiwei, 60 anos, que viveu quase toda a vida no prédio. Nenhum dos apartamentos no ‘Fusuijing’ tem cozinha: os habitantes comiam juntos numa cantina comum, segundo o espírito revolucionário da época. Espaços para ler, jogar xadrez ou para as crianças brincarem eram também partilhados. “Alguns populares viviam até em casas melhores do que membros da marinha, exército ou força aérea”, diz Zhang, para logo a seguir denunciar: “Agora, os funcionários do partido moram em vivendas, enquanto o trabalhador não tem onde viver”. Emaranhados de fios eléctricos, paredes descascadas e tralha amontoada nas escadas ilustram a degradação do edifício, situado a poucos quilómetros de Fuxingmen, sede de algumas das maiores empresas da China. Para os chineses da geração de Zhang Qiwei, formados num ambiente de extrema politização, a realidade gerada pelas reformas económicas promovidas por Deng Xiaoping é difícil de aceitar. “O povo está dividido; existe um materialismo excessivo. No tempo de Mao, trabalhava-se arduamente sem se pensar em dinheiro”, diz. “Lutava-se por um ideal comum”.
Hoje Macau China / ÁsiaExportações para EUA aceleram para evitar aumento das taxas [dropcap]A[/dropcap]s exportações chinesas para os Estados Unidos aumentaram, em Outubro, à medida que as fábricas do país apressam a entrega de ordens para evitar o aumento das taxas alfandegárias impostas pelo Presidente norte-americano, Donald Trump. Dados das alfandegas chinesas ontem publicados revelam que as exportações para os EUA subiram 13,3 por cento, face ao mesmo mês do ano passado, para 42,7 mil milhões de dólares, acima da subida homóloga de 13 por cento, registada em Setembro. No mesmo mês, as importações pela China de bens norte-americanos aumentaram 8,5 por cento, para 10,9 mil milhões de dólares, depois de terem crescido 9 por cento, em Setembro. O superavit chinês nas trocas comerciais com os EUA fixou-se assim nos 31,8 mil milhões de dólares, depois do valor recorde atingido em Setembro, de 34,1 mil milhões. Economistas do banco de investimento ING consideram que os exportadores chineses estão a tentar colmatar a subida de taxas alfandegárias nos EUA, que entram em vigor em Janeiro, prevendo que o encontro entre Trump e o homólogo chinês, Xi Jinping, marcado para este mês, na Argentina, não produzirá resultados positivos. Os governos das duas maiores economias do mundo impuseram já taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de dólares das exportações de cada um.
Hoje Macau PolíticaLei da contratação pública | Dois deputados questionam diploma [dropcap]O[/dropcap]deputado Leong Sun Iok disse ao Jornal do Cidadão estar preocupado com a existência de zonas cinzentas na proposta de lei da contratação pública que o Governo apresentou esta semana, e que está actualmente em consulta pública. Ao jornal de língua chinesa, o deputado referiu que a proposta não abrange os projectos transfronteiriços, o que pode causar problemas na sequência do desenvolvimento do projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e da cooperação regional. Nesse sentido, Leong Sun Iok teme que a fiscalização venha a ser contornada nesse tipo de projectos. Ao mesmo jornal, o deputado Au Kam San teme o possível agravamento de irregularidades na sequência do aumento dos valores praticados nos concursos públicos. O legislador entende que é compreensível elevar seis vezes os valores limite dos concursos públicos para obras, mas salientou que é importante travar irregularidades. Au Kam San lembrou que, no passado, houve casos em que se dividiam obras por forma a evitar a realização de concurso público. Nesse sentido, com o aumento dos valores, o deputado teme que essa situação possa continuar a existir. Lam U Tou, ex-candidato às eleições legislativas e presidente da Associação Sinergia Macau, referiu que é importante criar um mecanismo que garanta a transparência de informações, uma vez que este pode ser o fundamento necessário para aumentar os valores praticados nos concursos. A um outro jornal chinês, Lam U Tou defendeu que devem ser asseguradas questões como a eficiência, justiça e transparência nos processos de contratações, tendo pedido a publicação de todas as informações, incluindo documentos, valores das propostas e resultados dos concursos públicos.
Hoje Macau SociedadeLucros da Melco Resorts em queda [dropcap]A[/dropcap]operadora de jogo Melco Resorts & Entertainment apresentou ontem lucros de 9,6 milhões de dólares no terceiro trimestre do ano, menos de um décimo do resultado alcançado no período homólogo do ano passado. Entre Julho e Setembro de 2017, o grupo liderado por Lawrence Ho, filho de Stanley Ho tinha alcançado lucros de 115,9 milhões de dólares. As receitas do grupo, com casinos e hotéis em Macau e nas Filipinas, foram de 1,2 mil milhões de dólares, uma diminuição de 11por cento em comparação com o terceiro trimestre do ano passado. De acordo com o comunicado do grupo, no terceiro trimestre, a Melco apresentou 295,4 milhões de dólares de EBITDA ajustado (resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações), uma queda de mais de cem milhões de dólares em relação ao período homólogo de 2017. A grande fatia das receitas do grupo veio através do jogo (mil milhões de dólares), que também diminuíram face aos meses de Julho a Setembro de 2017. No ano passado, a operadora de jogo tinha registado receitas de jogo na ordem dos 1,3 mil milhões de dólares. Lawrence Ho tem manifestado por diversas ocasiões a intenção do grupo garantir uma licença no Japão, depois de o parlamento nipónico ter aprovado a abertura de três casinos a partir de meados de 2020, uma ambição uma vez mais patente no comunicado divulgado ontem: “o Japão continua a ser um foco central para nós”, disse.
Sérgio Fonseca DesportoEdoardo Mortara não prevê facilidades na batalha para a renovação do título [dropcap]E[/dropcap]doardo Mortara será certamente um dos nomes que iremos ouvir repetidamente durante a próxima semana de Grande Prémio de Macau. O italiano, conhecido pela alcunha de “Sr. Macau”, graças aos seis triunfos que amealhou na última década, não antevê facilidades na sua tentativa de reconquistar este ano a Taça GT Macau – Taça do Mundo FIA de GT, uma corrida que nesta edição inclui a participação de cinco construtores automóveis. A Mercedes AMG irá regressar a Macau para defender o título ganho o ano passado, num assalto com três carros apoiados pela casa alemã. Mortara irá conduzir pela Mercedes AMG Team GruppeM Racing, apontando para outra vitória para juntar ao seu par de triunfos no Grande Prémio de Fórmula 3 (2009 e 2010) e às suas quatro vitórias na Taça GT Macau – Taça do Mundo FIA de GT (2011, 2012, 2013 e 2017). Os outros dois Mercedes-AMG GT3 serão inscritos para o vencedor de 2014, o alemão Maro Engel, e para o jovem italiano Raffaele Marciello, o campeão à geral do Blancpain GT Series na Europa. “Eu adoro o Grande Prémio de Macau e fico muito feliz por competir aqui”, diz Mortara que estará este fim-de-semana em Hong Kong para actividades promocionais. Sobre a edição deste ano da mais importante competição mundial de sprint com carros da categoria FIA GT3, Mortara prevê que “não será certamente fácil. Um simples olhar para os inscritos é suficiente para ver que o nível competitivo da corrida de GT está a ficar mais alto de ano para ano.” Contudo, o piloto que irá na próxima temporada definitivamente trocar o DTM pelo campeonato de carros eléctricos Fórmula E, realça que “nós também estamos numa posição forte. O Maro também venceu aqui duas vezes e o Raffaele teve uma estreia muito forte o ano passado”. O título da Taça do Mundo FIA de GT irá para o construtor do carro conduzido pelo piloto vencedor. A Corrida de Qualificação de 12 voltas no sábado irá determinar a grelha de partida decisiva corrida a disputar ao longo de 18 voltas no domingo antes do Grande Prémio de Macau de Fórmula 3. Sem segredos Raras foram as vezes em que “Edo” visitou Macau e não saboreou o champanhe da vitória. Depois dos triunfos na Fórmula 3, o “Sr Macau” tornou-se um especialista da corrida de carros Grande Turismo (GT) do Circuito da Guia, triunfando por quatro ocasiões, três pela Audi e uma pela Mercedes AMG. E qual o segredo para estas vitórias? “Quase não há oportunidades para ultrapassagens. É por isso que é especialmente importante estar no grupo da frente desde o início – idealmente nos treinos livres e na fase de qualificação”, afirma o piloto de 31 anos. “Eu consegui isso brilhantemente em 2017, e na corrida, consegui controlar o pelotão perseguidor estando à frente. Ao longo da distância relativamente curta da corrida, é importante começar rapidamente com um bom ritmo de ataque, controlar e estar totalmente focado. Não podes dar-te ao luxo de cometer um único erro em Macau”, afirma o piloto de 31 anos. A corrida deste ano conta com apenas quinze concorrentes à partida, o número mais baixo da história da prova, algo que faz Mortara desvaloriza e diz até sentir-se mais “aliviado” porque a pista “já por si é apertada que chegue”.
Andreia Sofia Silva PolíticaSaúde | Deputados pedem simplificação de categorias profissionais [dropcap]O[/dropcap]s deputados da 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) discutiram ontem o regime legal da qualificação e inscrição para o exercício de actividade dos profissionais de saúde, que está a ser analisado na especialidade no hemiciclo. Parte dos membros da comissão pediu uma simplificação das categorias profissionais da área da saúde que constam no diploma. “Sabemos que o Governo incluiu 15 categorias profissionais e alguns deputados dizem que há necessidade de simplificar este artigo. Alguns deputados querem simplificação, outros querem pormenorização, porque há profissionais que não estão aqui especificados”, explicou Chan Chak Mo, deputado e presidente da comissão. Também ao nível do exercício da profissão, os deputados pretendem saber quais as áreas que serão abrangidas por regulamento administrativo. “No futuro vão ser elaborados dez regulamentos e parece que o Governo quer empacotar tudo. Se não houver uma definição clara não se sabe qual o âmbito do exercício profissional, porque não sabemos quais os regulamentos que vamos ter no futuro. Vamos perguntar ao Governo qual o ponto de situação e quais são as matérias que vão ser regulamentadas desta forma”, rematou Chan Chak Mo. Além disso, os assessores da AL que estão a trabalhar na proposta de lei defendem que o título do diploma deve ser alterado por considerarem que é restrito tendo em conta o conteúdo.
Hoje Macau China / ÁsiaLivro | Poluição na Índia mata mais do que o terrorismo [dropcap]O[/dropcap]especialista em políticas climáticas Siddharth Singh, que acaba de publicar o livro “The Great Smog of Índia”, adverte que a poluição do ar é um “assassino silencioso” que mata mais pessoas do que o terrorismo no seu país. “Mais pessoas morrem da poluição do ar do que do terrorismo ou de todas as guerras entre a Índia e o Paquistão juntas”, explicou o escritor em entrevista à agência espanhola Efe em Nova Deli, cuja camada de poluição no ar que ali se regista é confundida com um denso nevoeiro. Singh culpa o desdém com que a questão é encarada pelas autoridades, já que não são confrontadas com mortes “espetaculares”, agravando principalmente doenças preexistentes ou provocando outras mais tarde. Além disso, os ‘media’, os centros de pesquisa e os políticos colocam o foco da poluição na capital, mas a verdade é que “a qualidade do ar nas aldeias do norte da Índia é similar ou às vezes muito pior do que a das cidades”, defendeu. “Embora as emissões industriais ‘per capita’ sejam muito baixas em comparação com a Europa e a base industrial da Índia também seja baixa em comparação com muitos países, a crise da poluição do ar na Índia é pior”, afirmou Singh, atribuindo esse resultado ao uso de tecnologias ineficientes.
José Navarro de Andrade h | Artes, Letras e IdeiasRoteiro de uma novela [dropcap]P[/dropcap]or uma manhã de 1948 estava Marta no mercado a sopesar a frescura das toranjas quando do fundo do corredor esbravejou uma voz masculina: “Mentiras, Martas, mentiras! Acredita que eu nunca tive sífilis!” Era Arnold – septuagenário, cabeça de Pierrot, calva lunar – quem assim ralhava de maneira tão destemperada. A Marta dirigia o escândalo, causando-lhe grande embaraço e estupefacção nos outros clientes. Mas ao contrário destes, intrigados com o desacato, seria doido?, estaria bêbado?, Marta percebeu tudo. Arnold referia-se a Adrian, personagem central do último romance de Thomas, que nalguns traços é verdade que poderia ser um avatar de Arnold. Desencadeado o drama passemos às apresentações. Marta, de nome completo Marta Feuchtwanger, era mulher e musa de Lion, mentor de Brecht e escritor a quem os arbítrios da história não entronizaram no Panteão da literatura à medida do prestígio que gozava na época. Arnold era Schoenberg, o Pedro fundador da música ainda hoje chamada de contemporânea, demiurgo e sumo pontífice da atonalidade e do dodecafonismo. Como boa parte dos criadores, sobretudo os que geram doutrina e se crêem deturpados por epígonos, sentia-se invariavelmente incompreendido. Dissabor que amiúde exprimia com um proverbial mau feitio. O romance que Schoenberg invectivara era “Doutor Fausto” da autoria de Thomas Mann, publicado no ano anterior. Glosando a lenda de Fausto, o livro narra os sucessos de um compositor, o tal Adrian Leverkühn, que num pacto com Mefistófeles contrai sífilis para que a loucura lhe potencie o génio. Assim é que inventa um novo sistema musical, o dodecafonismo – não haveria Arnold de se sentir insultado? À data, Schoenberg e Mann, em virtude da obra já fabricada, vasta e basilar, eram duas torres que deitavam sombra imensa na cultura alemã do século. E se na geometria instável e variável das relações humanas, sobretudo entre cabeças de cartaz com cismas de prima-dona, ora se conciliavam, ora gelavam, o certo é que as suas relações iam para além de um mero “passou bem” e conviviam nas soirées dos Feuchtwanger, nem que fosse para se evitarem e formarem círculo em salas diferentes. Estas tertúlias que o desvelo e a encantadora personalidade de Marta promoviam – “tem o perfil de uma princesa egípcia”, diria dela Thomas – celebrizaram-se por a elas acorrer o who’s who da intelectualidade germânica: além de Thomas o seu irmão Heinrich Mann, Bertolt Brecht, Horkheimer, Theodore Adorno, Kurt Weill e a formidável Alma Mahler-Werfel, que à época já fora viúva do compositor Gustav Mahler, ex-amante de Walter Grupius e de novo viúva do escritor Franz Werfel. Introduzidos os protagonistas talvez seja o momento de desferir um golpe de teatro. O cenário em que se deu a truculenta peripécia entre Arnold e Marta não era o de alguma cidade em escombros e miasmática na devastada Alemanha de 48. Aconteceu sim no refinado Brentwood County Market, num dos bairros mais gentrificados de Los Angeles. E todos os nomes atrás evocados, além de outros de menor, mas não menos certa fama, igualmente domiciliavam em Pacific Palissades, onde a vida espairecia ao rumor das palmeiras, temperada pela suave brisa do Pacífico e o prazenteiro sol da Califórnia. É fácil depreender que esta fina-flor ali viera culminar não de vilegiatura, como se em estância de repouso e lazer numa montanha mágica, mas por obséquio do cabo Adolfo. Entre as incontáveis patifarias por ele perpetradas contra a humanidade em geral conta-se esta em particular de ter estropiado de maneira irreversível a cultura alemã em nome de uma pureza primordial, de uma autenticidade acrisolada, de um integrismo inabalável. Como todas as novelas também esta há-de ter moralidade. Ainda hoje quem traga no bolso cinco melréis de mel coado de snobismo olha por cima do ombro para Los Angeles como para um descampado cultural. Imagine-se em 1948. Hitler votava pela América o desapreço que lhe merecia um povo rafeiro e sem raízes, uma nação dominada por plutocratas e judeus. Do ponto de vista cultural sintetizava-a como “uma anedota estúpida”: “o que é a América senão concursos de beleza, milionários, música idiota e Hollywood?” Em resumo: “uma sinfonia de Beethoven tem mais cultura do que tudo o que a América produziu até hoje.” Convenhamos que esta opinião calava fundo não só na Alemanha nazi, como em muitos círculos intelectuais europeus. Também alguma intelligentzia nova iorquina a partilhava em relação ao que provinha da Califórnia. O sulco deixado por estas luminárias germânicas nas universidades da Costa Oeste – e não tanto nos filmes, porque aí foram outros alemães que marcaram – foi indelével e contribuiu sobremaneira para dar à América uma primazia ainda hoje incólume. Por mais que cegos não a queiram ver.
João Romão h | Artes, Letras e IdeiasManga pró menino e prá menina [dropcap]C[/dropcap]omo aficcionado de longa data de banda desenhada, até com vagas incursões pela escrita de argumentos, cedo me fascinou a manga japonesa, desde as robóticas e futuristas aventuras que me animaram a infância e o início da adolescência até às ficções urbanas que iam tardiamente chegando a Portugal, como a magnífica série Akira, originalmente editada no Japão nos anos 1980 mas que só nos 90 seria publicada em Portugal, motivando expectantes visitas às livrarias na esperança de ter chegado mais um volume, com calendário mais ou menos irregular, durante uns dois anos. Jamais suspeitaria na altura que décadas depois iria viver no Japão e ainda menos que a minha simpatia por este fantástico género literário havia de diminuir muito bruscamente depois de cá estar. Na realidade, o alerta foi-me dado num simpático e bem regado almoço lisboeta com o autor de banda desenhada com quem trabalhei esporadicamente, que me chamou a atenção para a particularidade da representação do corpo feminino na manga: quase invariavelmente, e independentemente do conteúdo de cada história, as personagens femininas são sexualizadas ao extremo e representadas por traços comuns à generalidade dos autores, com olhos muito grandes e voluptuosos volumes torácicos, por assim dizer. Quando cheguei ao Japão não foi difícil constatar que o público de manga é muito maioritariamente masculino: as revistas vendem-se nas lojas de produtos essenciais convenientemente distribuídas por todos os bairros de todas as cidades e vêem-se muito regularmente rapazes japoneses a consultar e a comprar as edições recém-chegadas, sendo muito raro ver raparigas nessa diligente procura pelas últimas novidades. Não foi difícil concluir, depois de meia-dúzia de conversas, que os ideais de beleza transmitidos pela representação do corpo feminino na manga alimentam uma generalizada frustração. É verdade que em todo o lado os padrões de beleza física tendem a promover a idealização de corpos raramente existentes na realidade quotidiana (há “Barbies” e “Kens” em todo o lado), mas no caso da manga essa representação leva o ideal de beleza feminina a um extremo quase oposto ao dos traços morfológicos dominantes nas mulheres japonesas. Dessa preguiça que se traduz em repetir generalizadamente o mesmo padrão resulta com frequência uma permanente insatisfação: nem os rapazes encontram as raparigas com que se habituaram a sonhar, nem as raparigas se acham suficientemente dignas do interesse masculino (de outras particularidades das relações amorosas e familiares no Japão contemporâneo falarei um destes dias). Em todo o caso, num mercado tão massificado há também espaço para alternativas. Na realidade, desde os anos 1970 foi-se desenvolvendo um sub-género (shoujo-manga) especificamente orientado para raparigas, cuja evolução está relativamente bem documentada em estudos e ensaios recentes. Parece consensual que as a representação das mulheres evoluiu da vinculação aos seus papéis sociais tradicionais para a sua discussão e questionamento em abordagens mais recentes, incluindo naturalmente aspetos relacionados com a sexualidade. Também a representação anatómica evoluiu, desde os iniciais lacinhos, uniformes escolares e predominância do cor-de-rosa, até uma evidente mistura de traços masculinos e femininos ou interessantes explorações sobre os limites do binarismo de género, questionando uma cultura dominante hegemonicamente masculina. Ainda assim, mesmo se o volume torácico diminui significativamente nas personagens femininas da shoujo-manga, já os olhos sobredimensionados continuam a ser um traço característico generalizado. Também parece consensual que a shoujo-manga tem muito reduzida popularidade entre o público masculino, ainda que os temas não sejam necessariamente “femininos” – na realidade, os temas abordados são bastante variados e as reflexões que possam suscitar sobre a sociedade contemporânea são passíveis de ter interesse para qualquer pessoa (já agora: talvez não fosse inoportuna uma publicação deste género em português). Mas esta clara divisão de géneros literários e respectivas audiências não deixa também de ser reveladora da persistência de uma profunda divisão entre os papéis dos homens e das mulheres na sociedade japonesa contemporânea. Não será só no Japão, evidentemente: na realidade, os movimentos feministas que foram assumindo protagonismo nos continentes europeu e americano nos últimos 50 anos não tiveram a mesma dimensão e impacto na Ásia. Mas não deixa de ser surpreendente observar tão abismal disparidade entre os papéis sociais de homens e mulheres numa sociedade tão rica, tecnologicamente desenvolvida e com tão altos níveis de educação como a japonesa. Voltarei ao assunto no futuro mas adianto que apenas 30% das mulheres em idade activa trabalham no Japão.
António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasDeslocação e viagem I [dropcap]D[/dropcap]emora-se muito mais tempo a chegar a um sítio do que se pode pensar. Mesmo que o não pensemos explicitamente, há claramente uma diferença entre deslocação por locomoção e viagem. Não estou a falar necessariamente da diferença que existe entre viagem interior e deslocação no espaço exterior. Não, se decorrerem no mesmo tempo. À chegada, percebemos que estivemos sem prestar atenção à paisagem. Nem há que pensar que estivemos a ouvir música ou a ver filmes, se fôssemos conduzidos e não os próprios condutores. A sensação do tempo da deslocação pode dar a noção de que decorreu depressa, nem demos conta do tempo. Mas também pode arrastar-se, parece que nunca mais chegamos. Há, em todo o caso, uma diferença entre a deslocação por locomoção e o transcurso temporal da viagem. Se preparamos o que chamamos uma viagem de fim de semana, de férias ou ao estrangeiro, estamos já virados para a possibilidade efectiva do que vai acontecer semanas antes. Não quero dizer que seja uma preparação minuciosa, ou de uma viagem que venha efetivamente a acontecer. Podemos considerar essa hipótese como que a sonhar ou como um desejo ou um voto. Mas consideremos a antecipação das férias, por exemplo. Pode requerer mais ou menos preparação. Podemos ir só com uma mala com artigos indispensáveis. Podemos ir por uma semana ou mês. Contudo, uma semana antes ou nos dias que antecedem a partida, estamos completamente virados para esse dia futuro. Estamos ainda a cumprir calendário, com uma agenda própria, a trabalhar, com as atividades normais que temos, com os nossos hábitos nos sítios a que vamos, com os horários que temos. Ainda assim, estamos já em contagem decrescente para o dia e hora da partida. Estamos na antecipação já na expectativa do que vai acontecer. E ainda faltam dias para a partida. Não começamos a deslocar-nos ainda, não fomos, por assim dizer. Podemos até nem nunca partir. Mas a viagem já começou. Os preparativos mesmo apenas mentais estão já a criar tensão. Podem ser despedidos, podemos não pensar neles, mas estão já a formar-se no espírito, temo-los em mente. As vésperas de viagem estão já a construir a própria viagem. Viajaremos nós ainda? Podemos correr mundo e apenas deslocar-nos. É tudo velho de mais e o que encontramos tem diferenças mas não são muito acentuadas se viajarmos sob o planeamento de roteiros de viagem feitos para sítios diferentes sempre com uma mesma linha de edição, gizada por alguém que nunca saiu do seu quarto, podendo até viajar mais do que quem de facto viagem. Ou não: alguém que nunca saiu do seu bairro e quer ver em todo o universo à imagem e semelhança do seu sítio. Talvez possamos viajar e fazer a jornada. A deslocação pode ser não apenas a anulação da distância entre o sítio da partida e o sítio da chegada. Pode ser uma viagem, uma jornada, onde encontramos pessoas e não apenas passageiros, condutores. Podemos encontrar sítios e não localidades com longitude e latitude. Podemos chegar diferentes, como quem entra numa dimensão completamente diferente do que aquela em que se encontrava quando partiu. Não chegamos também apenas quando o percurso foi feito e o caminho galgado. Demora tempo a chegar e a esquecer velhos hábitos. É assim: para sítios, para pessoas, para coisas, para nós.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasEmigração chinesa para o Brasil [dropcap]O[/dropcap]s monopólios dos bens essenciais encontram-se na ordem do dia quando em 1894 Camilo Pessanha chega a Macau, mas o negócio de Ópio e dos Cules anda ainda pelas páginas dos jornais. O assunto da emigração de trabalhadores chineses, conhecidos por cules, reaparecera nas páginas dos jornais da cidade pois, Mr. Hippisley, comissário da alfândega da Lapa, no seu relatório respeitante ao ano de 1893 refere o envio de emigrantes chineses de Macau para o Brasil e insinua a má-fé do agente da Companhia Metropolitana do Rio de Janeiro, promotora dessa expatriação. Tal devia-se ao Sr. Hippisley “entender que Macau não tem o direito de deixar embarcar colonos chineses para o Brasil, porque esta república não tem tratado com a China a esse respeito. É verdade que um tratado negociado entre a China e o Brasil em 1881, nada estipular sobre a emigração”, segundo o Echo Macaense, que prossegue, essa “insuficiência e a necessidade de uma especial convenção suplementar a fim de obter os trabalhadores que se desejam, foram reconhecidas pelo Brasil, que enviou à China para este fim um Enviado especial, que se achava em caminho. O Brasil não tinha representante na China, nem a China tinha algum agente acreditado junto ao Brasil, para velar pelos interesses dos emigrantes.” (…) “O facto da companhia se recusar a esperar pela vinda do Enviado e pela conclusão das negociações que o seu governo julgou necessárias, naturalmente despertou a suspeita sobre a boa-fé.” A 17 de Outubro de 1893 partiram de Macau para o Rio de Janeiro 475 emigrantes chineses, mandados ir pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Porciuncula, para no Brasil trabalharem na agricultura. Transportados no fretado vapor alemão Tetartos, desembarcaram no porto de Imbetiba em Macahe no dia 5, ou 11 de Dezembro de 1893 e com eles veio um carregamento de arroz. De Macahe, divididos em dois grupos, seguiram pela estrada de ferro Macahe e Campos, ramal de Frade e passaram para o estabelecimento de emigração em Cabiunas, de onde foram distribuídos aos agricultores. O Echo Macaense, rebatendo o relatório do Sr. Hippisley, argumenta, “Estamos certos que melhor tratamento não teriam eles recebido se tivessem emigrado para Singapura, ou outras possessões inglesas, onde têm de trabalhar muito arduamente até reunir o preço das suas passagens.” Clandestina emigração O Governo da dinastia Qing proibia a emigração de trabalhadores chineses, mas quando a Companhia das Índias Orientais (EIC) em 1786 fez de Penang uma sua colónia, o governador dessa ilha pediu “ao representante da EIC, em Cantão, para recrutar artesãos e lavradores chineses e transportá-los para Penang através dos navios da companhia”, segundo Liu Cong e Leonor Diaz de Seabra, que referem, “Em 1805, o governador de Penang, informava o representante da Companhia das Índias Orientais (EIC) de que o governador da Índia Britânica planeava recrutar trabalhadores chineses para a colónia britânica de Trinidad. Foi proposto que os trabalhadores chineses se juntassem primeiro em Macau e, depois, fossem transportados para Penang por um navio português, a fim de evitar conflitos com o governo chinês.” (…) “Além dos ingleses, os próprios portugueses, em Macau, também recrutavam emigrantes chineses para as colónias portuguesas (Brasil, Timor, entre outras), através de Macau. Em 1812, chegaram ao Rio de Janeiro 300 chineses cultivadores de chá.” Benjamim Videira Pires refere que “o povoamento do Brasil, no tempo de D. João VI, e por iniciativa do Conde de Linhares, se fez por meio dos chineses. Eles introduziram, no Jardim Botânico e na ex-fazenda dos Jesuítas Santa Cruz, do Rio de Janeiro, a cultura do chá. As plantações ocupavam muitos acres de um morro cheio de pedras, semelhante ao habitar da planta na China.” Adita Leonor Seabra e Liu Cong, “Numa carta enviada, em 1815, para o ouvidor de Macau, Miguel de Arriaga Brum da Silveira, o ‘cabeça’ dos trabalhadores chineses no Brasil lamentava-se da vida dura no Brasil, que não estava de acordo com o que se estipulara no contrato.” Emigração para o Brasil Sobre a emigração chinesa para o Brasil, o Echo Macaense de 29 de Agosto de 1893 começa por dizer, “noutros tempos, quando havia guerras, o excesso da população chinesa era tal que podiam emigrar milhões de chineses, com mais razão deve haver agora muita gente para emigrar, porque tem havido vinte anos de paz e não tem havido iniciativa da parte dos capitalistas para dar impulso a empresas agrícolas, o que é devido talvez a ter havido ultimamente tantos abusos e tantas companhias malogradas. Nestas circunstâncias o Brasil convida os trabalhadores chineses para irem arrotear os campos daquele imenso país, que ocupa mais de metade da América do Sul, onde o solo é fertilíssimo, e rico em ouro e diamantes, arroz, trigo, madeiras, café, açúcar, etc.. Foi em 1531 que começou a colonização portuguesa no Brasil, mas até hoje existem numerosos terrenos incultos, e para os cultivar os capitalistas daquela república resolveram convidar trabalhadores chineses, tendo para esse fim primeiramente pedido ao Presidente da República que fizesse uma convenção com o governo chinês sobre este assunto. O Tsung-Li-Yamen já deu a sua anuência, e por isso vai haver uma legação brasileira em Peking e cônsules em Cantão, Amoy e Shanghae. O artigo 13.º do tratado de Brasil com a China, celebrado em 1881, estipula que os chineses no Brasil gozarão dos mesmos direitos e privilégios que os brasileiros e os súbditos da nação mais favorecida, por isso a nova convenção servirá só para garantir ainda mais o bom tratamento dos chineses. Se esta emigração for feita pelo porto de Macau, onde já se acha um agente do Brasil, as autoridades portuguesas serão muito vigilantes para evitar todos os abusos, pois que em Macau os emigrantes são primeiramente examinados na Procuratura dos Negócios Sínicos, e só depois de verificada a sua espontaneidade é que se lhes concede o passaporte. Nas vésperas da partida do vapor, são de novo interrogados a bordo pelo capitão do porto, que faz desembarcar aqueles que não quiserem seguir viagem, donde se vê a imparcialidade e a justiça que presidem à fiscalização deste ramo de serviço; portanto poderão os mandarins ficar bem descansados a este respeito.” (…) “Seguem-se depois umas breves referências à Historia do Brasil, e a sua transformação moderna de império em república, faz ponderações sobre as garantias que oferece esta emigração feita com protecção do governo chinês, sobre a plena liberdade com que ela é feita, e sobre a conveniência de se aproveitar desta emigração para dar ocupação a tanta gente que não tem meios de subsistência, e para a qual os outros países estão fechados; e conclui por assegurar que o jornal advogará sempre os interesses dos oprimidos se alguém for violentado ou maltratado.” Estão memórias de uma triste História, escondida por detrás destas palavras.
João Santos Filipe SociedadeWynn admite contracção no mercado VIP e acções afundam O director-executivo da Wynn, Matthew Maddox, diz que o jogo VIP está a contrair e a quebra nas acções não se fez esperar. Só na bolsa de Hong Kong, os títulos da concessionária registaram uma quebra de quase 10 por cento [dropcap]A[/dropcap]operadora Wynn está a sentir uma “contracção” nas receitas do jogo em Macau nos segmentos VIP e premium de massas, ou seja entre as camadas do mercados que apostam valores mais elevados. A tendência começou após a Semana Dourada, que decorreu entre 1 e 8 de Outubro, e o facto foi revelado, ontem, durante a apresentação dos resultados da empresa. “Assistimos a um abrandamento após a Semana Dourada, principalmente nos segmentos de topo do mercado, nomeadamente no segmento premium de massas, premium de slot machines e VIP, que são as fontes da maioria das nossas receitas”, afirmou Matthew Maddox, director executivo da empresa. “Não estamos a antecipar uma perda de quota do mercado ao longo do quarto trimestre, mas achamos que as receitas nos segmentos mais altos do sector estão mais fracas e por isso estamos a esperar um abrandamento”, acrescentou. Contudo, Matthew Maddox afastou qualquer comparação com o período de 2014, quando começou a recessão no sector do jogo devido à campanha anti-corrupção de Xi Jinping. “O sentimento é muito diferente de 2014”, frisou. As causas do abrandamento do jogo não foram abordadas, nem Maddox referiu em algum momento a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, que se espera que afecte as duas economias. Por outro lado, o director-executivo da operadora de jogo defendeu que Macau vai continuar a ser o melhor mercado para estar e que a “contracção”, segundo as palavras do mesmo, será passageira. “Este abrandamento é definitivamente temporário. O crescimento de Macau está vivo e vai continuar na direcção certa. E nós estamos bem posicionados para aproveitar esse crescimento nos próximos cinco anos”, apontou. Ao HM, Albano Martins reconheceu que poderá haver uma redução conjuntural, mas que a nível estrutural, de acordo com as informação disponibilizadas pelo Governo, apenas se vê uma desaceleração do crescimento. Porém, sublinhou que as receitas absolutas estão em níveis muito mais elevados do que durante o período de contracção. Impacto na bolsa Durante a apresentação dos resultados, Matthew Maddox sublinhou por várias vezes as perspectivas positivas para o mercado de Macau. Contudo, a bolsa de Hong Kong teve uma reacção negativa às declarações. Ontem, os títulos da Wynn Macau registaram uma quebra de 9,74 por cento para os 17,060 dólares de Hong Kong. Esta tendência alastrou-se às outras operadoras presentes na bolsa do território vizinho, que registaram quebras entre 3,15 por cento e 4,71 por cento. Em relação aos resultados para o terceiro trimestre, a subsidiária de Macau da Wynn Resorts teve lucros de 223,5 milhões de dólares norte-americanos, uma subida de 148 por cento, face ao valor de 89,99 milhões registado no mesmo período do ano passado. Mais 1.300 quartos em 2020 Até 2020, a Wynn espera começar as obras de construção de mais duas torres no Cotai, naquela que será a segunda fase do hotel e casino Wynn Palace. O objectivo é aumentar o número de quartos de 1.700 para 3.000. Expansão que a empresa espera permitir passar a barreira dos mil milhões de dólares norte-americanos em termos de receitas antes de impostos.
Diana do Mar SociedadeExército chinês em Macau participou pela primeira vez em exercício Um atentado terrorista num concerto com 5.000 espectadores foi simulado ontem na Nave Desportiva dos Jogos de Ásia Oriental. O exercício, que durou aproximadamente duas horas e juntou quase mil operacionais, teve duas estreias: foi o primeiro a envolver armas químicas e o primeiro a contar com a Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês [dropcap]T[/dropcap]udo começou à entrada, quando seis terroristas tentam aceder ao espaço do concerto, mas acabam descobertos durante o controlo de segurança. A confusão instala-se depois de uma lata com explosivos cair no chão, libertando gases tóxicos. Quatro terroristas sequestram seguranças e fazem reféns os espectadores que já tinham entrado, num processo em que duas pessoas acabam baleadas, enquanto os restantes dois malfeitores fogem do local de carro. A acção principal desenrola-se no interior da Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental. Os reféns encontram-se sentados nas bancadas, com as mãos agarradas à cabeça, com armas apontadas, ameaçados verbalmente de morte, enquanto os três seguranças sequestrados estão aninhados no chão do recinto. Os terroristas recolhem os telemóveis dos reféns, advertindo-os, com tiros para o ar, que não saem dali com vida se não colaborarem. Seguem-se as exigências: um carro, um barco e 50 milhões. A Polícia de Segurança Pública (PSP), Corpo de Bombeiros (CB) e Polícia Judiciária (PJ) enviam meios para desencadear as operações de salvamento e resgate, bloqueando as entradas e saídas do local, a evacuação, bem como o tratamento dos feridos, que ainda não tinham entrado para o espectáculo, afectados nomeadamente por inalação de gases tóxicos. Envergando fatos anti-radiação, os bombeiros vão buscar os feridos, encaminhados um a um para uma espécie de triagem e, mais à frente, encontram-se a postos equipas dos Serviços de Saúde. Chega a vez da Unidade Táctica de Intervenção da Polícia (UTIP) entrar no complexo, onde os movimentos dos quatro terroristas são acompanhados pelas autoridades por câmaras de vigilância. No exterior está estacionado um veículo de comando móvel, onde os líderes das diferentes forças de segurança se reúnem para discutir o plano para fazer face aos terroristas. É chamado a intervir o grupo de negociações para situações de crise da PJ, criado em 2001. Iniciam-se as conversações, as autoridades convencem os terroristas a libertar um ferido, que foi alvejado, e uma vez verificada a presença de armas químicas, na sequência da deflagração na arena de uma bomba de dispersão radiológica, as autoridades decidem pedir o auxílio da Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês. Quarenta e nove militares, apoiados por um total de sete veículos, chegam ao local. Lá dentro, desliga-se o ar condicionado, de modo a não propagar os químicos. Eis que se ouve um tiro, disparado por um ‘sniper’, que atinge num braço um dos terroristas, abrindo caminho à entrada do Grupo de Operações Especiais (GOE) que domina os restantes terroristas e dá como controlada a situação. Os reféns são chamados a abandonar o espaço ordeiramente, com prioridade para os feridos, sendo os terroristas detidos os últimos a sair. Bombeiros entram no recinto, munidos de medidores de radiação e confirmada a sua presença tal é comunicado ao centro de comando que, por sua vez, convoca os militares para procederem à descontaminação do pavilhão. O cenário de crise estava, contudo, longe de terminar. Após a retirada, os reféns voltam a ser alvo de revista, sendo instados a deixar os objectos pessoais dentro de sacos de plástico face à possibilidade de contaminação química. Esta etapa revelaria nova surpresa, com as autoridades a descobrirem um detonador na posse de um dos indivíduos que tenta fugir, mas em vão. A PJ inicia os trabalhos de investigação, recolhe impressões digitais e amostras de ADN, e, durante o interrogatório ao homem apanhado na revista fica-se a saber que a intenção dos terroristas era explodir outra bomba no parque de estacionamento ao ar livre de modo a causar um maior número de vítimas. A PJ comunica a revelação à UTIP que destacou o pelotão cinotécnico e a equipa de inactivação de explosivos. Encontrado o engenho e, uma vez atestado tratar-se de uma bomba, foi enviado um robô para proceder à explosão em segurança. A PJ avança, de seguida, com a recolha de provas, como o invólucro e fios eléctricos, e, de seguida, bombeiros e militares levam a cabo operações de inspecção no local, de tratamento de resíduos radioactivos e de limpeza do espaço. A faltar estavam os dois terroristas que se colocaram em fuga no início do ataque, localizados com recurso a informações recolhidas através de ‘drones’ lançados pelos Serviços de Alfândega e do sistema de videovigilância em espaços públicos fornecidas pela PSP. Um terrorista foi interceptado na zona costeira, enquanto outro capturado numa embarcação em alto mar. Nenhum dos dois tinha armas ou documentos de identificação na sua posse. Após uma investigação preliminar, foi detido ainda um outro homem suspeito de prestar apoio aos dois terroristas no âmbito da entrada e saída ilegais do território. O exercício, denominado de “cão espirituoso”, que durou cerca de duas horas e juntou aproximadamente mil operacionais, simulou a existência de 211 feridos, dos quais sete sofreram ferimentos de bala. Sem ameaça de atentados “Até ao momento, não há qualquer informação” que aponte para a possibilidade de Macau ser alvo de um ataque, afirmou ontem o director dos Serviços de Polícia Unitários, Ma Io Kun. Em breves declarações aos jornalistas antes do início da manobra de grande dimensão, o comandante dos SPU apontou que o principal objectivo do exercício passa por elevar a capacidade de resposta das autoridades e testar a coordenação entre os diferentes departamentos, enfatizando também o facto de se ter realizado pela primeira vez um exercício envolvendo armas químicas. Foi, aliás, por esta razão que a Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês foi chamada a intervir. “Mobilizámos 49 agentes e sete veículos equipados diferentes, para desenvolver principalmente tarefas como inspecção e detecção de materiais perigosos (substâncias/gases químicos e/ou radioactivos), busca de amostra, análise, inspecção do estado de contaminação e processo de descontaminação das pessoas e do pavilhão”, explicou, por seu turno, o Chefe do Estado-Maior da Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês, Zhu Anping. Esta foi a primeira vez que os militares realizaram, em conjunto com os serviços de segurança, um exercício real. Tal teve lugar na sequência do pedido do Chefe do Executivo da RAEM e após obtida a autorização da Comissão Militar Central da República Popular da China e do Comando do Teatro do Sul do Exército de Libertação do Povo Chinês. Em comunicado, enviado ao final do dia de ontem, os SPU consideraram que o exercício, que decorreu sem sobressaltos, alcançou os resultados previstos.
Hoje Macau SociedadeQualidade do ar | DSPA vai realizar estudo de poluentes ambientais [dropcap]A[/dropcap]Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) contratou uma empresa para realizar um estudo que avalie a distribuição de poluentes ambientais atmosféricos no território. De acordo com um comunicado da DSPA, serão realizados “trabalhos de monitorização em determinadas áreas de Macau, utilizando um veículo de monitorização móvel do ambiente atmosférico”. O plano da investigação deverá ser realizado em quatro fases, “numa área específica de Macau”. A primeira fase será realizada de 13 a 19 de Novembro. A Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos emitiram um comunicado a constatar a má qualidade do ar que se registou ontem. A concentração de partículas inaláveis (PM) revelaram níveis de má qualidade do ar três vezes superiores ao que é recomendado pela Organização Mundial de Saúde. Tal contribuiu para uma baixa visibilidade no exterior, e foi aconselhado que se evitassem actividades ao ar livre e o fecho de janelas.
Sofia Margarida Mota Especial Festival Internacional de CinemaMIFF | Novidade e qualidade marcam terceira edição do evento [dropcap]O[/dropcap]Festival Internacional vai continuar com a “mesma receita”. A ideia foi deixada ontem pelo director artístico do evento, Mike Goodridge, à margem da apresentação da terceira edição do certame. “A receita do festival continua a ser a mesma, ou seja tentamos ir à procura dos melhores filmes que encontramos”, disse o britânico. Para o responsável, o objectivo é “ir sempre à procura dos filmes mais recentes” tendo o olho naqueles que podem estar a caminho dos Óscares. “Novas Vias para o Mundo dos Filmes” é o tema da edição deste ano que vai abrir com “Green Book”, de Peter Farrelly. O evento vai contar com a projecção de 54 filmes entre os quais onze vão estar na principal competição do evento. O júri tem como presidente o realizador chinês galardoado com a Palma de Ouro em Cannes, em 1993, Chen Kaige, com o filme “Adeus, minha concubina”. Acompanham Kaige, Mabel Cheung, Paul Currie e Tillotama Shome. Aos mais de 50 filmes em exibição, juntam-se 14 películas locais que integram a rúbrica “O Poder da Imagem”. Representação local “Nobody Nose”, protagonizado pela estrela de Hong Kong, Gordon Lam, e “Hotel Império”, do realizador Ivo Ferreira são os filmes locais que integram a programação de mais uma edição do festival. De acordo com Goodridge “o ‘Hotel Império’ de Ivo Ferreira é um filme absolutamente incrível de se ver em que o realizador consegue captar coisas únicas sobre Macau. É incrível”, referiu. Em língua portuguesa vai ser exibida a produção luso-brasileira “Diamantino”. Das estrelas escolhidas para promover o MIFF, e que a organização denomina de embaixadores, o destaque vai para o norte-americano galardoado, Nicolas Cage. Além de Cage são ainda embaixadores do evento, este ano, o cantor e actor de Hong Kong Aaron Kowk e a actriz coreana Lim Yoon A. Nicolas Cage vai ainda ser o orador de uma masterclass a decorrer durante o festival. Tal como nas edições anteriores o evento conta ainda com apresentações especiais, Galas temáticas, e a rubrica Flying Draggers. Este ano, foram escolhidos para esta secção seis filmes, três ocidentais e três orientais. O orçamento deste ano é semelhante ao das edições anteriores, referiu a directora dos Serviços de Turismo e presidente da Comissão Organizadora do Festival Internacional de Cinema, Helena de Senna Fernandes, e ronda os 55 milhões de patacas. Deste valor, 20 milhões são assegurados pelos Serviços de Turismo. Os bilhetes para o festival estão à venda a partir de hoje, com o valor de 60 patacas por sessão. Júri de Luxo Chen Kaige Chen Kaige é um dos mais conhecidos e galardoados cineastas chineses, sendo o único realizador do continente a vencer a Palma de Ouro em Cannes, em 1993, com “Adeus, minha concubina”. Filho de um cineasta, Chen estudou em Pequim e depois foi para a fronteira da província de Yunnan, enquanto jovem intelectual durante a Revolução Cultural. Mais tarde, juntou-se ao Exército de Libertação. Ao regressar a Pequim, foi admitido na direcção da Academia de Cinema, tornando-se um dos primeiros realizadores formados depois da Revolução Cultural. O seu primeiro filme, “Terra Amarela” foi feito em 1984 e marcou a quinta geração de realizadores chineses. “Terra Amarela” ganhou o Golden Rooster como melhor filme e foi incluído entre os dez filmes asiáticos do século pela Asia Week e nos dez filmes mais vistos da China nos últimos 90 anos. Chen acabou por se tornar numa figura presente no circuito de festivais internacionais, sendo o primeiro realizador chinês na competição em Cannes em 1988 com “King Of The Children” e novamente em 1991 com “Life On A String”. A filmografia de Chen inclui também “The Big Parade” (1985), “Temptress Moon” (1996), “O Imperador e o Assassino” (1999), “Together” (2002), “The Promise” (2005), “Forever Enthralled” (2008), “Sacrifice” (2010), “Monk Comes Down The Mountain” (2015) e o épico sobre a dinastia Tang “Legend Of The Demon Cat” (2017). Mabel Cheung Mabel Cheung é a realizadora de Hong Kong que alcançou o sucesso com a exibição do seu primeiro filme, “The Illegal Immigrant” em 1985, conquistando o prémio de melhor realizador no Hong Kong Film Awards e um prémio especial do júri no 30º Festival de Cinema da Ásia-Pacífico. A sua segunda longa-metragem, “An Autumn’s Tale” (1987) arrecadou o galardão para o melhor filme e melhor argumento no Hong Kong Film Awards. Os seus trabalhos incluem ainda “The Soong Sisters” (1997), “City Of Glass” (1998), “Beijing Rocks” (2001) e “Traces Of A Dragon” (2003). Paul Currie O australiano Paul Currie é produtor e realizador com trabalho reconhecido na concepção de séries, filmes, eventos e anúncios publicitários. No início de carreira, produziu o filme de acção “Under The Gun”, co-escreveu o livro “A Hero’s Journey” e dirigiu os documentários “Lionheart – The Jesse Martin Story” e “Every Heart Beats True: The Jim Stynes Story”. Recentemente, produziu “Bleeding Steel”, um filme chinês de grande orçamento e que conta com a participação de Jackie Chan. Tillotama Shome A actriz indiana Tillotama Shome alcançou o sucesso com o seu papel como empregada doméstica em “Monsoon Wedding” vencedor do Golden Lion em 2001. Após a fama inicial, Shome deixou o cinema para fazer o mestrado em teatro na New York University, tendo passado a trabalhar como professora em Nova Iorque, explorando questões como a violência e a sexualidade. Mais tarde voltou à sétima arte e entre os filmes em que participou, destaca-se “Death In The Gunj” (2016), de Konkona SenSharma e “Rohena Gera’s Sir” (2018), seleccionado para a Semana da Crítica em Cannes, este ano.
Hoje Macau EventosDisco de estreia do saxofonista Ricardo Toscano lançado hoje [dropcap]O[/dropcap]saxofonista Ricardo Toscano, de 25 anos, que tem no jazz a “banda sonora da infância”, edita hoje o álbum de estreia, em quarteto, ao fim de quase dez anos dedicado à música de forma profissional. A ligação de Ricardo Toscano ao jazz começou no berço e soube ainda na infância que um dia seria saxofonista de jazz, sem nunca ter definido um plano B, caso tudo falhasse. A paixão que tem pelo jazz mais tradicional foi-lhe passada pelo pai, “saxofonista, músico profissional, e um apaixonado” por aquele estilo musical. “A banda sonora da minha infância foi o jazz. Se não fosse o meu pai, eu nem tocava. Ele diz que me adormecia, quando eu era bebé, a ouvir o Cannonball Adderley, o [John] Coltrane [saxofonistas norte-americanos] e essa malta”, partilhou, em entrevista à Lusa, reforçando que aquele estilo musical “fez sempre parte” da sua “memória auditiva”. Aos oito anos, na Amora, concelho do Seixal, começou a “tocar clarinete, na Filarmónica”. “Desde cedo, embora, tivesse começado a tocar clarinete – e toquei música clássica -, eu já sabia que ia ser saxofonista de jazz. Estava na minha consciência, sabia que ia fazer o que faço hoje em dia”, recordou, convicto. O disco de estreia chega agora, em modo quarteto. “É o nosso disco. Isto é a malta com quem eu mais gosto de tocar, são os meus amigos, temos evoluído juntos, já tocamos juntos há cinco anos, é um caminho nosso, embora cada um tenha evoluído na sua direcção, e a piada também é essa. Assim temos mais para trazer para o colectivo”, referiu. O quarteto é formado, além de Ricardo Toscano, por João Pedro Coelho (piano), Romeu Tristão (contrabaixo) e João Lopes Pereira (bateria). Embora a composição de cinco dos seis temas seja da responsabilidade de Ricardo Toscano e seja dele o nome do quarteto, “sozinho não fazia nada disto”. Tudo aquilo que Ricardo Toscano fez para o disco “é uma consequência de todas as coisas” de que gosta e de todas as suas “influências”. “Aquilo tudo que nós fizemos, e que eu fiz, é o registar de um processo”, disse. Desse processo fazem parte, por exemplo, viagens do quarteto numa minidigressão em Espanha, onde passaram por paisagens desérticas, e de Ricardo Toscano a Angola. O tema “Almeria” “é a mistura daquela paisagem com uma linha baixo com uma clave mais africana”. “Grito Mudo” é uma visão do saxofonista de si mesmo, “quando estava a passar por uma fase menos boa”, contrastando com “Our Dance”, um tema “que é feliz, tem coisas bonitas, é uma dança”. Já “Lament”, “tem a sua parecença com o fado, mas ao mesmo tempo homenageia aquele som do quarteto do Coltrane nos anos 60”. No disco “Ricardo Toscano Quartet” um dos temas, “The Sorcerer”, é do pianista Herbie Hancock, que “é o maior, ponto”.