Max Verstappen condenado a dois dias de trabalho comunitário

[dropcap]O[/dropcap] holandês Max Verstappen (Red Bull) foi ontem sancionado com dois dias de trabalho comunitário pela Federação Internacional do Automóvel (FIA), depois de ter empurrado o francês Esteban Ocon, após o Grande Prémio do Brasil de Fórmula 1.

Verstappen foi confrontar o francês devido a um incidente entre os dois na 45.ª volta da corrida, que resultou na perda de liderança da prova por parte do holandês, vítima de um pião após toque no Force India de Ocon.

As imagens da altercação entre os dois, que envolveram três empurrões do piloto da Red Bull a Ocon, foram divulgadas pelo Canal+ francês.

Os comissários chamaram ambos os pilotos e, após uma hora de reunião, decidiram que Verstappen terá que passar por dois dias de serviço comunitário a ser designado pela FIA nos próximos seis meses. A decisão ainda é passível de recurso da Red Bull, a equipa do piloto holandês.

“Os comissários reviram provas em vídeo das câmaras de segurança da FIA e ouviram o piloto do carro 33 (Max Verstappen) e o piloto do carro 31 (Esteban Ocon) e os representantes das equipas. O piloto Max Verstappen entrou na garagem de pesagem da FIA, dirigindo-se ao piloto Esteban Ocon e, após algumas palavras, iniciou uma luta, empurrando ou batendo em Ocon com força várias vezes no peito”, lê-se no comunicado.

Os comissários realizaram uma audiência em que ambos os pilotos cooperaram, com os comissários a entenderem que Max Verstappen estava extremamente irritado com o incidente na pista durante a corrida e aceitou a explicação do oponente.

Apesar de aceitarem as justificações de Verstappen, os comissários determinaram que o holandês falhou na obrigação de ser um bom desportista e um modelo para todos os pilotos.

Os comissários, portanto, ordenaram que Max Verstappen fosse obrigado a executar dois dias de serviço comunitário.

12 Nov 2018

Museu do Fado celebra 20 anos com novos talentos e memória de Maria Teresa de Noronha

[dropcap]O[/dropcap] Museu do Fado, em Lisboa, celebra 20 anos com um programa que inclui a edição de um CD de novos talentos, como Diogo Varela e Francisco Salvação Barreto, e uma exposição sobre Maria Teresa de Noronha, entre outras iniciativas.

O programa de celebrações abre, no próximo dia 20, no Teatro Municipal de S. Luiz, com o espectáculo de apresentação do álbum de estreia do fadista Francisco Salvação Barreto, “Horas da Vida”, pela etiqueta do Museu do Fado, e que teve a direcção de voz de Camané, fadista distinguido este ano com o Prémio Manuel Simões-Melhor Álbum de Fado.

A chancela discográfica do Museu surgiu em Junho de 2016, tendo sido inaugurada pelo guitarrista José Manuel Neto, com o seu álbum de estreia, a solo, “Tons de Lisboa”.

De 23 a 27, a História do Fado é contada num espectáculo de ‘video-mapping’ projetado na fachada do Museu, em Alfama, três vezes por noite – às 20:30, 21:00 e 21:30 – com as participações dos fadistas Mariza, Camané e Carlos do Carmo, e do guitarrista José Manuel Neto.

No dia 23, é inaugurada uma exposição evocativa da fadista Maria Teresa de Noronha, cujo centenário do nascimento se comemora este ano. A exposição, que fica patente até ao final do ano, conta com a colaboração da Academia da Guitarra Portuguesa e do Fado.

No dia 24, o guitarrista Gaspar Varela, de 15 anos, apresenta, no pequeno auditório do Centro Cultural de Belém, o seu álbum de estreia, co-produzido pelo Museu, no âmbito do ciclo “Há Fado no Cais”.

O músico é bisneto da fadista Celeste Rodrigues, que morreu em Agosto último aos 95 anos, e apresentado pelo museu como “afilhado” artístico do guitarrista Paulo Parreira, distinguido em 2011 com o Prémio Amália para o Melhor instrumentista.

O Museu do Fado, instalado na antiga estação elevatória de águas de Alfama, abriu portas a 25 de setembro de 1998, e faz parte dos equipamentos culturais da Empresa de Gestão dos Equipamentos de Animação Cultural (EGEAC), da Câmara de Lisboa, sendo desde então dirigido pela historiadora de arte Sara Pereira.

Dez anos depois de ser inaugurado, o museu apresentou um novo programa museológico, do qual, entre outras obras de arte, faz parte o quadro “O Fado” (1910), de José Malhoa, e a litografia “Os Fadistas” (1873), de Rafael Bordalo Pinheiro.

O novo programa museológico abandonou, a nível conceptual, a recriação de ambientes, que segundo Sara Pereira, “constrangia um pouco em termos de espaço de exposição”, e passou a apresentar outro tipo de acervo, como telas, discos, fotografias e cartazes.

A aposta nas novas tecnologias é outra das características do renovado Museu do Fado, disponibilizando postos de consulta que permitem o acesso ao seu espólio, nomeadamente, imagens, repertório, registos áudio, biografia, programas de espetáculos e até a partituras que existirem.

Ao longo de 20 anos, o museu desenvolveu várias iniciativas, destacando-se a classificação do Fado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, em novembro de 2011, e o Arquivo Sonoro Digital.

Este arquivo disponibiliza cerca de 3.000 gravações, um projeto de proteção, estudo e valorização do património fonográfico português, desenvolvido em conformidade com as normas e protocolos da International Association of Sound and Audiovisual Archives [IASA], como disse Sara Pereira à agência Lusa, em 2016.

O arquivo insere-se no quadro do Plano de Salvaguarda inerente à inscrição do Fado na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade.

O acesso é livre e as gravações, “devidamente tratadas e digitalizadas”, situam-se, cronologicamente, entre 1900 e 1950, sendo “cerca de metade de ainda antes da gravação eléctrica, isto é, anterior a 1927”.

Este arquivo foi constituído, parcialmente, a partir da colecção de música portuguesa de Bruce Bastin, com cerca de 8.000 gravações, adquirida pelo Estado português, num investimento que contou com o apoio financeiro da EGEAC.

Outra iniciativa no percurso de 20 anos do museu, foi o colóquio “Paisagens Literárias e Percursos do Fado”, organizado em 2014, em parceria com o Instituto de Estudos de Literatura Tradicional da Universidade Nova de Lisboa, que reuniu investigadores das áreas da Literatura, Música, Etnomusicologia, Antropologia, História, Arquitetura, Artes Plásticas e Visuais.

A “presença de Lisboa na literatura, no fado e nas artes ao longo dos últimos dois séculos” esteve em debate durante dois dias naquele espaço em Alfama.

Fora de portas, o Museu do Fado levou a exposição “Com Esta Voz Me Visto – O Fado e a Moda”, ao Museu do Design e da Moda (MUDE), tendo recebido mais de 70 mil visitantes de Dezembro de 2012 a Abril de 2013.

O museu tem também apresentado, em parceria com a Imprensa Nacional, uma linha editorial, no âmbito da qual foi publicado o título “Poetas Populares do Fado”, de Francisco Mendes e Daniel Gouveia, e tem apoiado edições livreiras como “40 fados”, de José Luís Gordo e Arménio de Melo.

O Museu do Fado tem sido igualmente um espaço de encontro da comunidade fadista, onde se realizam colóquios e conferências por entidades como a Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, e celebrações como o centenário do editor discográfico Manuel Simões. Tem também acolhido várias exposições temporárias, subordinadas a temáticas diversas, do poeta David Mourão-Ferreira ao compositor Alain Oulman ou aos fadistas Berta Cardoso (1911-1997) e Carlos do Carmo.

12 Nov 2018

Coreia do Sul entrega milhares de tangerinas a Pyongyang

[dropcap]A[/dropcap] Coreia do Sul entregou milhares de caixas de tangerinas à Coreia do Norte em troca de grandes remessas de cogumelos, efectuadas em Setembro, anunciaram hoje as autoridades de Seul.

O Ministério da Defesa sul-coreano informou que o país vai enviar mais 200 toneladas de tangerinas para a Coreia do Norte esta tarde. No domingo, os aviões militares sul-coreanos voaram duas vezes para Pyongyang para entregar as frutas e vão voltar a fazer o mesmo durante a tarde de hoje.

O líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, assinaram em meados de Setembro uma declaração conjunta, que poderá ser importante para o futuro diálogo sobre a desnuclearização da península, entre Pyongyang e Washington.

Na sequência desta ocasião e como gesto de boa fé, a Coreia do Norte enviou duas toneladas de cogumelos aos vizinhos do Sul.

O transporte aéreo de tangerinas é um sinal que as duas Coreias estão a estreitar os laços, apesar das sanções internacionais e da pressão da comunidade internacional para que o Norte renuncie ao programa nuclear.

Na terça-feira passada, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, anunciou ter adiado um encontro com um alto dirigente norte-coreano.

Pompeo ia encontrar-se, em Nova Iorque, com Kim Yong-chol para discutir os progressos no desarmamento norte-coreano e preparar uma nova cimeira entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e Kim Jong-un.

Na sexta-feira, a Coreia do Norte advertiu que poderá reativar uma política de Estado dirigida a fortalecer o arsenal nuclear se os Estados Unidos não suspenderem as sanções económicas contra Pyongyang.

12 Nov 2018

Arnaldo Gonçalves lança livro “Macau, depois do adeus”

[dropcap]O[/dropcap] académico Arnaldo Gonçalves lança esta quarta-feira, na Fundação Rui Cunha, o livro “Macau, depois do adeus”, uma obra que constitui “um ensaio sobre os últimos 15 anos de Macau como região administrativa especial da República Popular da China”.

A obra, lançada pela editora Ipsis Verbis, é composta por textos que são “reflexões que o autor foi fazendo ao longo de década e meia em que trabalhou em Macau enquanto português, num sistema de matriz e lógica chinesas, mas que, por razões invulgares, se imagina de osmose entre uma antiga maneira de viver e o alinhamento às directrizes políticas da República Popular da China”.

O lançamento, agendado para as 18h30, irá contar com a apresentação do jurista Paulo Cardinal e da professora universitária Vanessa Amaro.

Arnaldo Gonçalves é professor convidado no Instituto Politécnico de Macau desde 2003, onde lecciona nas áreas do Direito, da filosofia e do pensamento político. É licenciado em direito pela Universidade de Lisboa e mestre e doutorado em Ciência Política pela Universidade Católica Portuguesa. É mestre em Estudo das Religiões pela Universidade de Gales, Trinity Saint-David.

Além de “Macau, depois do adeus”, Arnaldo Gonçalves já lançou nove livros nas áreas do Direito Constitucional e Direito europeu, do pensamento político, das relações internacionais e da sociologia das religiões. Como investigador, publica regularmente em revistas da sua especialidade na Polónia, Argentina, Portugal, Irlanda, Singapura e França. Foi assessor da administração portuguesa de Macau entre 1988 e 1997. É desde 2003 consultor no Instituto para os Assuntos Municipais de Macau.

12 Nov 2018

Portugal representado pela primeira vez no centenário do armistício em Hong Kong

[dropcap]P[/dropcap]ortugal esteve ontem representado pela primeira vez nas comemorações em Hong Kong do Dia do Armistício da I Guerra Mundial, numa estreia que um representante da Liga dos Combatentes considerou positiva para a imagem internacional do país.

A presença reveste-se de especial importância pela “projecção da imagem do país junto da comunidade internacional”, afirmou Vitório Rosário Cardoso, após a cerimónia, durante um encontro do representante português, o adido da Defesa da embaixada em Pequim, com membros da comunidade lusófona de Hong Kong, vizinha de Macau.

“Normalmente, nestas ocasiões, quem não aparece, não existe (…) no mundo diplomático e no circuito diplomático, seja militar ou político”, o que tem um significado muito importante porque (…) projectou o nome de Portugal junto de uma comunidade multissetorial”, acrescentou.

Para o adido da Defesa em Pequim, Mário Mendes Saraiva, esta primeira representação “é uma grande honra”, sobretudo pela “distinção que fez o representante inglês ao mencionar o nome da embaixada de Portugal, em detrimento de outras comunidades”.

Cem anos depois do fim simbólico da Primeira Guerra Mundial, milhares de pessoas reuniram-se ao largo do Cenotáfio de Hong Kong, bem no centro da cidade, para homenagear as vítimas das duas guerras mundiais.

A comemoração do aniversário do centenário prosseguiu no Club de Recreio de Hong Kong, de grande significado para a comunidade lusa, porque “recorda os portugueses em combate na I e II Guerra Mundial, esta última já sob bandeira britânica”, sublinhou Vitório Cardoso, responsável pela reactivação da delegação da Liga dos Combatentes em Macau e Hong Kong, e ainda de uma outra extensão em Timor-Leste.

De resto, destacou, “os próprios militares portugueses em Hong Kong formaram uma companhia só de portugueses no regimento real de Hong Kong”.

Neto de um soldado que combateu na I Guerra Mundial, Francisco Roza disse à Lusa que esta primeira representação portuguesa nas cerimónias tem um valor simbólico pessoal. “O meu avô esteve envolvido na I Guerra Mundial, tenho comigo o certificado: era soldado voluntário”, lembrou, emocionado.

Igualmente comovido, Anthony Cruz disse ter evocado a memória do pai e dos tios que combateram nas duas guerras mundiais. “Pela primeira vez, prestei hoje homenagem a todas as almas valentes” envolvidas nos conflitos e que “lutaram para sobreviver”, disse.

Conhecido como Tony Cruz, seis vezes campeão nas corridas de cavalos em Hong Kong, proeminente personalidade da comunidade portuguesa na antiga colónia britânica, o descendente luso salientou ter pena de que só agora Portugal tenha marcado presença nas cerimónias do Dia do Armistício.

“Já devíamos [descendentes de portugueses] ter sido representados antes, porque somos aqueles que ficámos, depois de todos terem emigrado para os países falantes de língua inglesa”, declarou.

Hoje está prevista uma cerimónia, ainda para assinalar o Dia do Armistício, na capela de São Miguel Arcanjo, em Macau.

12 Nov 2018

Tailândia | Detido soldado infectado com HIV por violar mais de 70 adolescentes

[dropcap]A[/dropcap] polícia tailandesa deteve um soldado de 43 anos, infectado com o vírus do HIV/Sida, acusado de chantagear e violar mais de 70 adolescentes, informaram sexta-feira as autoridades.

De acordo com um comunicado, a polícia local recebeu uma denúncia sobre o suspeito, identificado como Jakkrit, que usava perfis falsos na rede social Facebook e na aplicação móvel de encontros ´gay´ Blued, na qual aliciava as vítimas entre os 13 e os 18 anos e lhe pedia para enviarem fotografias nuas. Depois, ameaçava-as com a divulgação das imagens se estas se recusassem a fazer sexo com ele.

O Tenente-Coronel da polícia, Nacharot Kaewpetch, informou que as autoridades descobriram medicação para o tratamento da doença na casa do suspeito, na província de Khon Kaen, nordeste do país. Os testes confirmaram que estava infetado com o vírus.

As autoridades suspeitam que possa haver mais vítimas que não tenham apresentado denúncias, disse a polícia tailandesa. Jakkrit está acusado de seis crimes: falsa identidade, sexo com menores com ou sem consentimento, agressão, separação de um menor dos pais sem motivo, chantagem e coacção para realização de actos impróprios, afirmaram as autoridades.

12 Nov 2018

Fronteiras

[dropcap]E[/dropcap]ste país não é para vozes dissonantes, incapaz de lidar com divergência ou crítica. Para apaziguar a soma de todos estes medos, o país forte blindou-se ao pensamento através da doutrina oficial e fechou os olhos ao que se passa no mundo exterior. Em termos físicos, as protecções contra este imenso medo são a fronteira e a força, o equivalente geopolítico a correr para debaixo das saias da mamã. Deng Xiaoping abriu uma fresta da janela do enorme casarão do Império do Meio e tentou recentrar o mundo no grande gigante adormecido, depois do século de humilhação e da revolução que arrastou uma nação milenar para o obscurantismo isolacionista e indigente.

No meio desta ideia difusa de abertura há uma força da natureza indiferente à governação de longo-prazo, congressos e ciclos políticos: A liberdade. Como a água, imparável e avassaladora. A prosperidade que hoje em dia se vive na China, que elevou milhões das profundezas da miséria, traz a reboque uma outra fome insaciável que nenhuma doutrina consegue saciar. O irresistível apetite por liberdade é a prioridade do povo após a resolução das carências do corpo. Colmatadas as necessidades de tecto e mesa, alimentada a carne, o espírito faminto segue-se. Com dinheiro no bolso e capacidade para viajar e ver o mundo, o chinês deste famigerado ano de 2018 está a milhas de distância dos seus antepassados e quer ser livre.

Em Macau e Hong Kong, dois territórios privilegiados por terem historicamente um pé no mundo exterior, cade vez ganha mais força a tentação de correr para o morno amparo do aconchego nacionalista. O sentido de pertença a um planeta condenado a estar interligado não é sedutor para quem interpreta integração como absorção, para quem julga que o retorno à nação-útero, às estranhas da mãe pátria, é o único caminho possível para o futuro. Pelo meio, entoam-se liturgicamente algumas palavras mágicas sobre internacionalização como se o alcance das vistas chegasse muito além das Portas do Cerco.

Por todo o mundo, as fronteiras ganham altura enquanto o humanismo encolhe. Países que se construíram alicerçados em grandes fluxos migratórios sucumbem ao frenesim amedrontado de hordas fantasmas de invasores. Este pânico da invasão é particularmente sentido em países colonizadores, para gáudio dos adeptos da ironia. A falta de noção e vergonha tem destas coisas. A Europa, o continente antigo que atravessa períodos de autofagia periodicamente, sonha em transformar-se numa fortaleza. O berço do humanismo, renascença, iluminismo e da democracia treme de medo perante as consequências do pós-colonialismo e das guerras por petróleo, fechando os olhos às marés de mortos que desaguam nas suas praias.

Mesmo quando se fazem pontes, independentemente do propósito político, as restrições e fronteiras são os focos principais das estruturas. Como uma janela que tem o trinco como coração, ou um pássaro que voa com uma pata atada à gaiola.

O problema das delimitações que constrangem aquilo que é mais essencial ao ser humano está no poder indomável do espírito, fluído e selvagem como um leito de um rio que não se acanha em saltar as margens quando é apertado. Hoje podem barrar pessoas pelo pensamento que representam, podem mascarar a palavra e a discórdia como a mais perigosa arma, mas a verdadeira natureza violenta da repressão vem inevitavelmente ao de cima.

Depois há aqueles que defendem que devemos compreender a violência e a crueldade do poder que trata os governados como crianças incapazes. Mesmo alguns adeptos da liberdade proclamam que é necessário, mesmo fundamental, perceber e interpretar a barbárie à luz de um sentido paternalista de expatriado que luta por parecer tolerante. A vida é assim, a abertura faz-se devagar, preferencialmente ao dinheiro, que jamais será barrado e para sempre galgará fronteiras sem qualquer problema. Capital tem via verde, acesso vip, mesmo que viaje clandestino. A progressiva democratização é outra fantasia sem qualquer contacto com a realidade, uma vez que a supremacia da fronteira, a natureza do poder que confina e estrangula, não lida bem com antagonismos.

Casa com janelas desenhadas nas paredes, amplas portadas de delírio sem vista exterior, trancas, ferrolho duplo e cadeado reforçado. Abrigo blindado contra os perigos dos forasteiros e da liberdade dos moradores, onde o mofo é perfume.

12 Nov 2018

Fun Run | Iao Kuan Un e Hoi Long vencem na Guia

[dropcap]O[/dropcap] corredor Iao Kuan Un e a atleta Hoi Long foram os vencedores da corrida Fun Run, que se disputou ontem, pelas 6h30, ao longo dos 6,2 km traçado do Grande Prémio de Macau. No total 2 mil pessoas participaram na corrida, ou seja o número de vagas que foi aberto pela organização. Iao Kuan Un foi o mais rápido de todos a cumprir uma volta ao circuito com o tempo de 20 minutos e 05 segundos.

Na categoria masculina completaram o pódio Ip Seng Tou, com um tempo de 20 minutos e 53 segundos, e Chan Chong Ip, com um tempo de 20 minutos e 57 segundos. Na corrida feminina, Hoi Long venceu com o tempo de 23 minutos e 9 segundos, sendo seguida por Wu Yang Yang, com 24 minutos e 19 segundos, e Wong San San, que terminou a volta em 24 minutos e 43 segundos.

12 Nov 2018

GP Macau | Suncity Racing Team quer dominar Taça de Carros de Turismo

No ano passado o macaense Jerónimo Badaraco venceu a categoria de 1600T, à frente dos Peugeot RCZ. Mas a equipa de Hong Kong volta a apostar forte e está focada em recuperar o ceptro perdido

 

[dropcap]A[/dropcap] formação Suncity Racing Team parte para o Grande Prémio com a ambição de dominar por completo a Taça de Carros de Turismo de Macau e aponta à vitória nas categorias 1600 Turbo e superior a 1950cc. Na pista da Guia, os três Peugeot Sport RCZ da formação vão tentar roubar a vitória alcançada pelo macaense Jerónimo Badaraco, no ano passado.

Na categoria 1600T a formação Teamwork Motorsport, que nesta edição adopta o nome do principal patrocinador, inscreveu três Peugeot Sport RCZ, para Paul Poon, vencedor por seis vezes da categoria, Alex Fung e Andrew Lo.

À partida para a prova, Paul Poon, um dos grandes favoritos, acredita que tem todas as chances de alcançar a sétima vitória na Guia: “Desde que as categorias 1600T e superior a 1950cc começaram a correr juntas que a prova se tornou mais complicada. Mas acredito no trabalho da equipa na preparação dos RCZ e que tenho todas as hipóteses de chegar à sétima vitória”, afirmou o piloto, em declarações ao portal da formação de Hong Kong.

“Estou ansioso por finalmente irmos correr no circuito da Guia este fim-de-semana, após uma preparação muito intensa”, acrescentou.

A equipa esteve nas últimas semanas no Circuito Internacional de Zhuhai e nas garagens em Cantão a preparar o evento. Além disso conta nas fileiras, como piloto de testes, com Rob Huff, Campeão Mundial de Carros de Turismo (WTCR) em 2012.

Também por esta razão, os outros dois pilotos da formação, Andrew Lo e Alex Fung apontam que os carros da equipa deverão ter uma vantagem face à concorrência. A principal oposição para a formação de Hong Kong deverá partir da equipa Son Veng Racing Team, de Macau, que conta nas fileiras com José Badaraco, Lam Kui Pui, Chan Weng Tong e Wong Chun Hou. Também na categoria vai ainda participar o macaense Hélder de Assunção, aos comandos de um Fiesta ST, depois de no ano passado ter vencido a “ Taça da Corrida Chinesa”.

Mais cautelas

No que diz respeito à prova para carros com cilindrada superior a 1950cc, a Suncity Racing Team inscreveu dois veículos. Sunny Wong vai participar aos comandos de um Subaru Impreza. A outra viatura inscrita é um Audi TTRS, que vai ser tripulado por Samson Fung. Nesta categoria as palavras dos pilotos inscritos são mais cautelosas, mas o objectivo é o mesmo: ganhar.

“Este ano fizemos uma série de testes muito abrange antes do Grande Prémio. Se olharmos para os resultados dos ano passado, temos potencial para andar a disputar as vitórias”, apontou Fung. “Mas até à primeira sessão de treinos livros, não podemos com certeza definir objectivos”, sublinhou.

Já Sunny Wong destacou o facto de estar a conduzir a nova viatura da formação, o Subaru WRX STi: “Estou muito entusiasmado por ir correr com o novo carro que tem tracção integral. Por isso espero utilizar a experiência de 2015 e 2016 para alcançar um resultado que seja fantástico para a equipa”, apontou.
A corrida da Taça de Carros de Turismo de Macau está agendada para sábado, com um total de 12 voltas, que decorrem entre as 10h25 e as 11h25.

12 Nov 2018

O eu abreviado

[dropcap]Q[/dropcap]uando entro no café e peço uma água das pedras e uma bica, a menina que me atende sorri e eu sorrio de volta. Nenhum de nós imiscua no comércio da vida cotidiana aquilo que de mais pesado e verdadeiro transportamos todos os dias no coração como trocos na algibeira. A maior parte das nossas interacções rege-se pela batuta da cordialidade superficial. Aquilo que somos, aquilo que temos de verdadeiramente único, escondemo-lo. Às vezes, à vista de todos; outras, em sítios de que até nós nos esquecemos.

Manda a etiqueta da convivência social que não andemos nus. Não impomos a nossa intimidade física a outrem. É desadequado. É estranho. Há sítios remotos e cercados para onde vão as pessoas que têm vontade de andar em pêlo. Chamam-se colónias de nudistas e praias de nudistas. Com os nossos segredos, é muito assim; não os partilhamos desnecessariamente porque tal seria infringir um código não escrito e, simultaneamente, um sinal de vulnerabilidade e de desequilíbrio. Mas como são esses segredos que, em grande parte, nos definem, o seu radical escondimento acaba por no fundo configurar uma forma de mentira socialmente aceitável: respondemos afirmativamente às perguntas cotidianas sobre o nosso bem-estar, negamos a existência de problemas quando nos chamam a atenção pela nossa ausência, divergimos imediatamente de assunto quando confrontados com a possibilidade de alguém adquirir indevidamente informação que não pretendemos transmitir. E todos fazemos isso. O tempo todo, ou quase.

Estranha forma de vida, esta, e estranhamente bela. Passamos noventa e tal porcento do tempo a fingir o que não somos para termos oportunidade de sermos o que somos para pouquíssimas pessoas por pouquíssimo tempo. É como se a vida fosse uma espécie de mina de baixo rendimento onde é necessário processar dezenas de toneladas para obter um mísero grama de ouro. Uma mina com uma rentabilidade tão negativa como a nossa já teria sido fechada. A maior parte de nós, no entanto, opta manter as portas abertas, a despeito de por vezes ter imagens muito claras do logro enorme que são as relações humanas: uma gigantesca teia de formas que supostamente devemos assumir, de acções que supostamente devemos ter, de respostas que supostamente devemos dar. E nada disto é claro, e nada disto está escrito. O código mais complexo e poderoso de regulação social encontra-se ausente de qualquer manual.

De vez em quando, somos confrontados com pessoas que, em situações extremas, nos deixam nas mãos muito mais do que aquilo que tínhamos pedido. Que nos emprestam, contra a nossa vontade inicial, parte do peso que carregam e que se dispõem a receber da nossa parte a intolerância e a incompreensão ou a radical bondade de querer ajudar a encontrar no peso e na profundidade uma leveza ou um ângulo que facilite o transporte.

A vida que se diz passar à frente dos olhos quando a mente antecipa a morte não corresponde a mais do que meros segundos de experiências vividas. A uma sequência de imagens de que muitas vezes desconhecíamos a importância. O eu tem uma forma de escalonar a grandeza daquilo que vivemos e o cérebro parece ter outra. Ambas correspondem na forma: qualquer vida pode reduzir-se a um filme de 30 segundos. Esses trinta segundos são a sinopse daquilo que de facto nos faz sentir únicos. São os sete ou oito picos de intensidade no sismógrafo existencial que nos definem e definem em grande parte a nossa forma de agir. O resto, o filme em si, é o cotidiano. É a mentira.

12 Nov 2018

Alunos do programa de aperfeiçoamento contínuo obrigados a mostrar BIR em todas as aulas

[dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) garantiu que vai proceder a uma maior fiscalização dos cursos de desenvolvimento e aperfeiçoamento contínuo. A medida vai passar pela obrigatoriedade de apresentação do BIR por parte dos alunos em todas as aulas, uma vez que, actualmente, só é preciso mostrar o cartão de identificação no acto da inscrição, sendo que nas aulas é apenas necessária uma assinatura na folha de presenças.

A ideia foi deixada na passada sexta-feira, numa conferência de imprensa organizada pelos serviços em resposta ao caso divulgado no dia anterior relativo a uma burla que lesou a RAEM em 3,1 milhões de patacas.
O caso divulgado pelo Jornal Tribuna de Macau, apontava que, segundo uma investigação da Polícia Judiciária (PJ), três indivíduos passaram por funcionários de uma instituição educativa e conseguiram obter os dados de pessoas num parque situado na zona da Areia Preta. Esses dados pessoais foram depois entregues à instituição que os usou para pedir subsídios relativos ao plano de aperfeiçoamento e desenvolvimento contínuo.

A PJ descobriu ainda que a mesma instituição de ensino submeteu 1.623 pedidos de financiamento no âmbito do programa de formação da DSEJ, entre Janeiro a Agosto, e recebeu 3,1 milhões de patacas. A mesma instituição terá ainda falsificado os registos de presença e assinaturas.

De acordo com a mesma fonte, a PJ estima que 70 por cento dos cursos ministrados por esta escola dentro do plano do Governo sejam falsos, mas não foi ainda detido nenhum suspeito do estabelecimento de ensino. Já os três suspeitos identificados foram encaminhados para o Ministério Público.

Na conferência de imprensa do final da semana passada, a DSEJ informou ainda que até ao final do mês passado e no âmbito do programa de desenvolvimento contínuo, efectuou cerca de 2500 vistorias in loco, 18 mil verificações por amostragem e enviou 200 cartas de advertência escrita relativas a cursos que violaram as normas.

A entidade submeteu ainda 27 casos aos órgãos judiciais devido “a circunstâncias graves de infracção envolvendo falsificação de documentos, burla e realização fraudulenta de cursos”.

12 Nov 2018

Ferries | Cinco pessoas detidas por suspeita de especulação de bilhetes

Entre quarta e sexta-feira, a PSP e os Serviços de Alfândega foram aos locais de venda de bilhetes de ferry e detiveram cinco pessoas, que tinham 42 bilhetes para venda especulativa. Todos os ingressos tinham sido oferecidos gratuitamente pelos casinos

 

[dropcap]A[/dropcap] Polícia de Segurança Públicas (PSP) e os Serviços de Alfândega (SA) detiveram cinco pessoas por alegada especulação com os bilhetes de viagens de ferry. A informação foi avançada através de um comunicado da PSP, apenas disponibilizado em língua chinesa, e diz respeito a uma operação conjunta que decorreu entre quarta-feira e sexta-feira da semana passada.

Em relação ao primeiro dia das operações, o balanço feito pela PSP revela que foram detidos dois residentes. Os dois indivíduos tinham na sua posse 19 bilhetes de barco, que as autoridades acreditam terem como destino à venda fora das bilheteiras. Segundo a investigação das autoridades, os bilhetes tinham sido oferecidos pelos casinos e os preços originais variavam entre os 100 e 160 dólares de Hong Kong.

Se não quinta-feira as operações não tiveram resultados práticos, na sexta-feira registaram-se mais três detenções. O primeiro caso foi detectado pelos agentes dos Serviços de Alfândega, que encontraram um homem com seis bilhetes no Terminal Marítimo de Passageiros da Taipa. O objectivo do indivíduo era vender os bilhetes que tinha obtido junto dos casinos locais, de forma gratuita. Esses bilhetes acabaram mesmo vendidos por 140 dólares de Hong Kong, o que indica que a obtenção de um lucro de 840 dólares de Hong Kong.

Ainda no mesmo dia, mas no Terminal Marítimo de Passageiros do Porto Exterior, também a PSP procedeu a detenções. Neste caso, duas mulheres, uma local e outra do Interior da China. As duas tinham 17 bilhetes na sua posse e também neste caso o preço de venda era de 140 dólares de Hong Kong. À semelhança de todos os casos identificados, os bilhetes tinham sido oferecidos de forma gratuita pelos casinos locais.

Os cinco indivíduos foram levados ao Ministério Público (MP) e vão responder pela prática do crime de especulação sobre títulos de transporte. De acordo com a Lei n.º 7/96/M, este crime é punido com pena de prisão “até três anos insubstituível por multa”. A tentativa também é punível.

Apelo às denúncias

A situação da especulação de bilhetes de barco não é nova e é frequente a presença de especuladores junto aos locais de venda nos terminais marítimos de Macau e Hong Kong.

Em Novembro do ano passado, a directora da Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA), Susana Wong, havia comentado este tipo de situações. Na altura, apelou a que as pessoas denunciem as situações, quando se deparam com a venda ilegal.

“Considero que essa é uma prática ilegal. As pessoas devem queixar-se à polícia quando virem essas situações. Não me parece que a companhia tenha vontade que essa venda aconteça. É um acto ilegal. Tem de haver queixa às autoridades, quando as pessoas virem essas actividades”, afirmou a directora da DSAMA, na altura.

12 Nov 2018

LAG | Chui Sai On promete “medidas benéficas para a população”

Naquelas que serão as últimas Linhas de Acção Governativa de Chui Sai On, prestes a concluir o seu segundo mandato, o Chefe do Executivo prometeu apresentar, na próxima quinta-feira, um programa político com “medidas benéficas para a população”

 

[dropcap]A[/dropcap]ntes de partir para Pequim, onde participa nas actividades comemorativas do 40º aniversário da Reforma e Abertura Nacional, o Chefe do Executivo, Chui Sai On, falou aos jornalistas sobre o programa das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2019 que apresenta na próxima quinta-feira, 15, na Assembleia Legislativa.

Citado por um comunicado oficial, Chui Sai On referiu que as últimas LAG sob sua tutela “focam-se na promoção do desenvolvimento sustentável da economia e no aperfeiçoamento da qualidade de vida da população”. É objectivo do Governo “continuar a promover e melhorar os cinco mecanismos essenciais para o bem-estar da população, os quais despertam o interesse do público, bem como medidas benéficas para a população”.

Nas últimas semanas, o Chefe do Executivo tem vindo a reunir com associações e a recolher opiniões da sociedade para preparar o documento das LAG, tendo concluído que “os problemas que mais preocupam a população são nomeadamente a habitação, transporte, saúde e ensino”.

Na área da Função Pública, foi noticiado que Chui Sai On deverá aumentar os salários dos trabalhadores em 3,5 por cento, a partir do dia 1 de Janeiro de 2019.

Sem comentários

Questionado sobre a revisão da lei das relações de trabalho, no que diz respeito à proposta de selecção de alguns feriados obrigatórios, o Chefe do Executivo apontou que “há dois pontos a serem realçados”. Um deles é que, “mesmo com a revisão da lei, não será alterada o seu objectivo original, incluindo a salvaguarda dos empregadores”, além de que “o Governo está disponível para continuar a auscultar opiniões da sociedade em relação à revisão da lei”.

Num comunicado emitido pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) na passada sexta-feira, foi referido que a selecção dos feriados obrigatórios “não muda as disposições sobre a compensação após o trabalho prestado em dias de feriados obrigatórios previstos na actual Lei das Relações de Trabalho”. Dessa forma, “não há lugar à redução dos direitos e interesses dos trabalhadores ao gozo dos feriados obrigatórios”.

Chui Sai On foi também inquirido pelos jornalistas quanto ao caso de ilegalidades na atribuição de BIR cometidas por dirigentes do Instituto de Promoção e Comércio de Macau (IPIM). Contudo, como o caso está a ser investigado no âmbito de um processo disciplinar, o governante não quis adiantar mais detalhes.

“O Governo não comentará casos que já se encontrem em processo judicial, pelo que é necessário aguardar pela sentença final”, disse, citado pelo comunicado. O presidente do IPIM, Jackson Chang, Glória Batalha Ung e Miguel Ian Iat Chun estão suspensos das suas funções e proibidos de deixar o território, na sequência da suspeita da prática de “crimes funcionais”.

O Chefe do Executivo declarou ainda que “após a finalização do processo, o público terá acesso aos procedimentos do julgamento e à decisão final”.

12 Nov 2018

Táxis | Proprietários de licenças querem criminalizar “ovelhas negras”

Representantes de proprietários de licenças de táxis querem que a proposta de lei que vai regular o sector inclua a criminalização penal das “ovelhas negras”. A sugestão visa expurgar da profissão elementos que se comportam como “uma organização criminosa”

 

[dropcap]H[/dropcap]á taxistas que se comportam como uma verdadeira associação criminosa e, como tal, devem ser punidos criminalmente. A ideia foi deixada na passada sexta-feira pelas associações de proprietários de licenças de táxis durante a reunião com os deputados da 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, que analisa na especialidade a proposta de lei que vai regular a actividade.

“Sabemos que há no sector as chamadas ovelhas negras, ou seja, elementos que de forma organizada praticam infracções”, disse o presidente da 3ª Comissão Permanente, Vong Hin Fai, referindo-se aos comentários deixados pelas duas associações de proprietários. “Muitos destes condutores não são motoristas normais em termos de background. Por isso, estes sujeitos devem ser punidos criminalmente”, acrescentaram, disse Vong.

Para os proprietários de táxis, a penalização com multas não é “suficiente para travar estas ‘ovelhas negras’, e não vai ter efeitos dissuasores”. A solução, de acordo com os representantes dos proprietários de licenças, passa pela responsabilização penal e criminal dos infractores que deve estar prevista na proposta em análise.

Uma ideia que não faz sentido, de acordo com o presidente da 3ª Comissão Permanente. “Nós esclarecemos ao sector que, se os infractores forem conotados com a criminalidade organizada serão também sujeitos a punição conforme a legislação vigente, sendo possível punir os infractores dentro do regime legal actual do direito penal”, apontou Vong Hin Fai.

Licenças seguras

Os representantes mostraram-se ainda preocupados com o que vai acontecer às actuais licenças sem termo, uma vez que o novo regime prevê que deixem de existir. De acordo com Vong Hon Fai, o Governo já garantiu que estes casos vão permanecer inalterados mesmo com a entrada em vigor da nova lei.

O novo regime prevê ainda a exploração da actividade de acordo com o modelo empresarial, com a atribuição de alvarás a não ser dada através de concurso público, um detalhe que não agrada aos representantes do sector que receiam a possibilidade de monopólio na exploração da actividade. A este respeito, Vong Hin Fai revelou que há deputados da comissão que também não concordam com a ausência de concurso público.

Câmaras ligadas

Outra sugestão que regressa à discussão em torno da nova lei é a gravação de imagem dentro dos táxis. Os representantes dos proprietários reiteraram a necessidade de gravar em vídeo o que acontece dentro dos veículos para que, em caso de infracção, seja mais fácil a constituição de prova.

Segundo os representantes, a necessidade de gravar em vídeo é urgente tanto que, “no passado já houve motoristas que, por sua iniciativa, montaram dispositivos de gravação nos seus veículos”, disse Vong Hin Fai. No entanto, “estes motoristas receberam uma notificação do Gabinete de Dados Pessoais e desinstalaram os dispositivos”, acrescentou.

12 Nov 2018

Macau e Sichuan assinam acordos de cooperação

[dropcap]A[/dropcap] RAEM e a província de Sichuan assinaram na sexta-feira dois acordos de cooperação, intitulados “plano sobre o mecanismo de reunião de cooperação entre Sichuan e Macau” e ainda “memorando da primeira reunião de cooperação entre Sichuan e Macau”.

Na mesma reunião, que decorreu na sede do Governo, foi também criado o “mecanismo de reunião de cooperação entre Sichuan e Macau”. Na prática, as duas regiões vão passar a ter, “sempre que necessário”, reuniões de cooperação, além de que esta se irá fazer em diversas áreas, como finanças, investimento e medicina tradicional chinesa, entre outras.

Um dos objectivos é “alargar a liberdade de comércio, promover a prosperidade económica e fortalecer a confiança mútua nos assuntos governamentais”, entre outros.

12 Nov 2018

Hospital das Ilhas | Concurso público para o edifício principal arranca “em breve”

Depois das obras do Hospital das Ilhas terem começado pelo edifício do Instituto de Enfermagem – que vai ficar a cargo do Kiang Wu – o Governo vai lançar, “em breve”, o concurso público para a construção do edifício principal. O facto foi revelado por Raimundo do Rosário, em entrevista à TDM

 

[dropcap]O[/dropcap] concurso público para a atribuição da obra do edifício principal do Hospital das Ilhas vai ser lançado “em breve”. A promessa foi deixada pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, em entrevista à TDM, que revelou ainda que o mesmo concurso vai atribuir a edificação de outros dois blocos da estrutura.

O projecto do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas tem sete edifícios e neste momento apenas o Instituto de Enfermagem, que vai ser gerido pela Associação de Beneficência do Kiang Wu, está em curso. De acordo com as declarações de Raimundo do Rosário, o Governo vai lançar um único concurso público, “em breve”, para a construção de três infra-estruturas: o edifício principal, edifício de administração e multi-serviços e ainda o edifício de apoio logístico.

O secretário explicou também que ainda não é possível avançar com uma data para a conclusão das obras, uma vez que a segunda fase ainda nem está em fase de projecto: “O hospital tem duas fases. A primeira fase tem seis edifícios, a segunda fase tem um. A segunda fase ainda não se iniciou, nem sequer o projecto”, afirmou Raimundo do Rosário. “É impossível dar uma data para a conclusão”, admitiu.

No capítulo das obras públicas, o governante comentou as críticas que referem que os grandes projectos em Macau são da responsabilidade, quase sempre, das mesmas empresas. Raimundo do Rosário não contestou o facto, mas apontou para um mercado empresarial que não deixa grande margem de manobra. “Nós abrimos os concursos públicos e penso que nunca tivemos dez propostas. Quatro, cinco, seis ou sete… e não passa disto. E são as mesmas. Não há muitas empresas nesta área, porque Macau tem sempre um problema, que é a sua escala”, justificou.

Sobre o trabalho da tutela em matérias de obras, Raimundo do Rosário revelou que actualmente estão em curso 44 obras com um custo superior a 100 milhões de patacas e que há ainda 34 projectos para serem lançados que também ultrapassaram esse preço. Entre esses projectos poderá estar a futura central para resíduos alimentares, que também foi anunciada pelo secretário.

Balanço positivo

Na área dos transportes, o secretário da tutela frisou que o Governo não abdicou da Linha do Oeste, que vai fazer a ligação até às Portas do Cerco. Porém, a obra não vai arrancar até ao final do mandato de Chui Sai On, e do próprio Raimundo do Rosário.

“Neste mandato ficamos pela linha da Taipa, linha de Seac Pai Van, ligação a Macau e linha Este. […] Não foi decidido continuar nem deixar de continuar; apenas foi decidida uma prioridade e a prioridade foi esta”, explicou.

Por outro lado, têm havido críticas ao facto da construção do metro ter começado pela Taipa. Raimundo do Rosário negou responsabilidades nessa questão e recordou que a obra já tinha iniciado quando assumiu o cargo.

Finalmente, o secretário fez um balanço do mandato que iniciou no final de 2014, ao assumir a pasta que pertencia a Lau Si Io. “Eu não estava à espera de uma coisa fácil, mas penso que, com algumas limitações, temos conseguido, no essencial… Houve progressos em quase todas as áreas desta tutela”, disse, durante a entrevista à TDM. “Mas as pessoas, se calhar, querem mais, ou mais depressa, e, às vezes, não conseguimos”, confessou.

 

Instituto de Enfermagem concluído no próximo ano

As obras do Instituto de Enfermagem Kiang Wu, que fica no Hospital das Ilhas, vão ficar concluídas durante o próximo ano. Este facto foi realçado por Tommy Lau, presidente do Conselho de Administração do Instituto de Enfermagem Kiang Wu de Macau, durante uma visita ao Chefe do Executivo. De acordo com Lau, neste momento, estão a ser feitos trabalhos de design do interior do edifício. Chui Sai On fez questão de destacar que este bloco vai ser o primeiro a ser concluído no Hospital das Ilhas e que espera que o edifício “satisfaça as necessidades e crie boas condições para a formação dos profissionais de saúde locais”.

12 Nov 2018

Pearl Horizon | Propriedades da Polytex arrestadas a pedido dos lesados

[dropcap]U[/dropcap]m total de 70 lesados do projecto habitacional Pearl Horizon reuniram com os deputados Si Ka Lon, Chan Hong, Ella Lei, Wong Kit Cheng, Ho Ion Sang e Song Pek Kei na passada sexta-feira. Do encontro saiu a informação de que quatro lojas e mais de 200 lugares de estacionamento localizados no edifício La Baie du Noble, na Areia Preta, e propriedade da Polytex, vão ficar arrestados a pedido dos próprios lesados.

Segundo um comunicado, o advogado dos lesados apresentou, na reunião, a situação do processo, tendo divulgado que, sob autorização dos lesados , foram levantados procedimentos cautelares no início de Outubro.

Na sequência deste pedido aprovado pelo Tribunal Judicial de Base (TJB), serão arrestados estes bens da antiga concessionária do terreno onde iria nascer o projecto habitacional Pearl Horizon, sendo que na próxima fase dar-se-á início à acção principal do processo.

Os lesados ter-se-ão mostrado satisfeitos com a aprovação do requerimento de arresto dos bens e manifestaram-se contra a Polytex pelo facto de não assumir as suas responsabilidades e ter respondido de forma negativa.

Os seis deputados apelam à Polytex para que assuma as suas responsabilidades e resolva a questão do Pearl Horizon com sinceridade. O comunicado menciona ainda que os lesados que levantaram o processo terão de pagar apenas 100 patacas e que o resto das despesas será paga pelos “indivíduos com coração”, que, de forma voluntária, vão apoiar os lesados.

O HM tentou chegar à fala com Leonel Alves, advogado da Polytex, mas até ao fecho da edição não foi possível.

12 Nov 2018

Dinheiro de familiares de político português passou pelo BCP Macau

São cerca de 18 milhões de patacas que chegaram a ser depositadas numa conta na sucursal do Banco Comercial Português em 2008, quando ainda operava no ramo offshore. O Ministério Público suspeitou de “vantagens indevidas” aproveitadas por Luís Filipe Menezes, pois o seu pai e filho, titulares da conta, não tinham rendimentos que justificassem tal montante

 

[dropcap]O[/dropcap] jornal Público noticiou ontem que familiares de Luís Filipe Menezes, político português e ex-líder do Partido Social-Democrata, terão recebido quase dois milhões de euros (cerca de 18 milhões de patacas) num circuito offshore que passou por Macau.

Os dois milhões de euros tiveram origem numa sociedade offshore com o nome Longe Company LLC, com sede nos Estados Unidos, mas o jornal não conseguiu apurar a quem pertence essa empresa. Em Novembro de 2008, o dinheiro foi transferido para uma conta no Banco Comercial Português (BCP) em Macau, aberta dias antes dessa transacção, e que tinha como titular o pai de Luís Filipe Menezes e um dos seus filhos, de nome Pedro. Este montante passou depois para uma outra conta, também no BCP Macau, cujo titular era o advogado Amorim Pereira, que aparece associado a várias transacções.

Apesar do pai e do filho de Luís Filipe Menezes serem os titulares da conta, a verdade é que o Ministério Público (MP) não acreditou que o dinheiro fosse deles, após uma análise aos seus rendimentos obtidos ao longo dos anos.

O MP sempre questionou a origem do dinheiro, pois tanto o pai como o filho de Luís Filipe Menezes “não apresentavam proveitos que, minimamente, sustentem [o valor de dois milhões de euros]”, escreveu a procuradora do MP numa carta rogatória enviada aos Estados Unidos.

Depois de duas transacções feitas para o banco suíço UBS e banco Ing Luxembourg, o dinheiro foi para Portugal, tendo sido depositado numa conta aberta, dias antes, no antigo Banco Espírito Santo (hoje Novo Banco), e terá servido para comprar, em 2012, um apartamento de luxo na zona da Foz, no Porto, onde ainda vive Menezes, e que custou cerca de um milhão de euros. Parte do dinheiro transferido, quase 1.500 mil euros, foi sujeito ao pagamento de impostos.

Em Fevereiro de 2016, a Polícia Judiciária afirmou que era “convicção da investigação” que tanto as contas no BES e Luxemburgo eram controladas por Luís Filipe Menezes, que era “o detentor do respectivo controlo por intermédio de Amorim Pereira, procurador da conta com plenos poderes no que respeita a operações bancárias”.

O MP considerou ainda que “do confronto de todos os elementos resultam indícios de que Luís Filipe Menezes, em razão do cargo desempenhado [à época era presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia] ou por causa dele, terá auferido vantagens indevidas que escamoteou, canalizando-as, através de seu pai e filho, pelo menos em parte, para conta bancária no exterior”, lê-se na notícia.
O caso acabou por ser arquivado por falta de provas porque o MP não conseguiu “obter indícios suficientes da verificação de crime ou de quem foram os agentes”.

“Dinheiro é do meu pai”

Luís Filipe Menezes, que desde 2013 está afastado da política activa, disse que “nunca teve um tostão no estrangeiro”, tendo referido que o montante de dois milhões de euros não tem nenhuma ligação consigo. “O dinheiro é do meu pai. Se tinham alguma dúvida deviam ter chamado o meu pai e a mim e nunca o fizeram”, afirma o antigo presidente do PSD. De facto, nem Menezes, nem qualquer familiar seu foram inquiridos no processo, que nunca teve arguidos.

O político explicou que a sua mãe vendeu, em 1971, um colégio por oito mil escudos, o que hoje “seria equivalente a dois ou três milhões de euros”. Mas não explicou porque é que esse valor circulou em várias contas no estrangeiro. O MP nunca encontrou os documentos comprovativos dessa venda inicial, mas apenas de uma outra, posterior, realizada entre a Câmara Municipal de Ovar e o Ministério da Educação.

12 Nov 2018

José Anjos, poeta: “Escrevo para entender a morte”

O poeta José Anjos esteve em Macau a filmar com João Morais o que será um documentário informal de viagem. Do território leva um sentimento de estranheza que pretende renovar a cada regresso. Entretanto, a poesia que escreve e diz é um acto de sobrevivência e resistência

[dropcap]É[/dropcap] formado em Direito, exerceu advocacia e agora dedica-se à poesia. Como foi esta transição do Direito à poesia?
Acho que o Direito à poesia é fundamental (risos). Nem sei bem, confesso. Nem queria ser advogado, mas acabei por fazer o estágio e gostar muito. Depois fui integrado e iniciei uma carreira que se adivinhava ser para sempre. Acho que foi isso que me assustou. Em Portugal ainda vivemos uma ideia de vida muito linear, quer dizer, as pessoas tornam-se naquilo em que é suposto tornarem-se. Na altura, uma pessoa cumpria aquilo que tinha que cumprir: fazer o curso com bom aproveitamento. Não havia outra opção que não entrar dentro de um túnel gigantesco, tornar-se o melhor possível, cumprir as suas obrigações e depois, na verdade, já não se saía do doutro lado deste túnel. Acho que há pessoas que estão mais preparadas para isso e digo isto com admiração. Quanto a mim, fiz o estágio já a trabalhar praticamente como advogado, fiquei na sociedade de advogados onde estava, depois passei para director jurídico. Aos 29 anos era associado sénior de uma das maiores sociedades de advogados do país.

Uma carreia brilhante, mas que não chegava?
Sim. Cheguei a um ponto em que olhava à minha volta e pensava “agora é isto”. Tentava olhar em frente e não conseguia, não me identificava, não havia nada que me fizesse querer. Olhava para as pessoas com quem trabalhava, pessoas maravilhosas, mas não me via a fazer o que elas faziam e a ser quem elas eram com a idade delas. Sentia-me até mal com isso. No fundo, até me sentia bastante egoísta, sentia que não estava a cumprir o que me era suposto e que estava a ter pensamentos proibidos.

Quase um ingrato?
Exacto, quase um ingrato. Aliás, tanto que deixei a advocacia, mas também fui voltando a ela muitas vezes.

Porquê?
Era, de facto, aquilo que eu sabia fazer e obviamente que há uma parte do Direito que gosto muito. Mas a advocacia, em si mesma, tem características que são absolutamente contrárias à ideia que temos de uma relação não antagónica com os outros e com o nosso horizonte. A advocacia implica um contencioso, uma negociação que é absolutamente importante nalguns casos porque é preciso pugnar pela justiça em geral, mas também pelos direitos dos clientes em particular. Outras vezes é uma espécie de campo de batalha de egos e vaidades. É preciso criar um cinismo. O cinismo é visto como uma grande qualidade e eu não consigo fazer isso.. O Direito, não especificamente o que é exercido na advocacia, tem outro fundamento, outro substrato de verdade, quase mesmo de ingenuidade. A construção jurídica das sociedades é muito tributária daquilo que é o reconhecimento humano dos direitos do outro. O Direito faz-se através da delimitação negativa do meu espaço da minha esfera jurídica, da minha esfera de acção, enquanto que na advocacia é o contrario: quero aumentar os meus limites, quero aumentar os limites do espaço que habito para lá do dos outros. Daí ser importante o Direito, precisamente para definir onde está este limite, quais são os direitos que são intangíveis e quais são aqueles que devem soçobrar ou cair perante outros. Esta criação complexa de uma sociedade que funcione de uma forma, dentro dessa hierarquia axiológica móvel, é absolutamente apaixonante.

FOTO: Sofia Margarida Mota

E a poesia? Já existia?
Entretanto, comecei a ler alguma poesia, por volta dos 30 anos, porque me apaixonei. A poesia não está ligada obrigatoriamente à paixão, mas como não tinha tido nenhum contacto com poesia, tirando a que tinha dado na escola, nessa altura comecei a ter e foi quando comecei a escrever e a dizer poemas. Aliás, todas as cartas de amor acabam por ser poemas de certa forma. A poesia permite-me ligar às pessoas e criar em mim pontos de declinação com os outros e de inclinação para com os outros de uma forma não antagónica. Na advocacia era o contrário. Poesia e advocacia acabaram por se tornar incompatíveis.

O que lhe trouxe a poesia?
Acima de tudo, o que a poesia me permitiu foi a destruição de uma personalidade que tinha criado e que seria aquela que iria habitar até ao fim da vida. A poesia permitiu-me conhecer outra. Somos demasiado complexos e não temos personalidades unívocas. Seria impossível proibir a pluricidade das nossas personalidades. Por isso somos incoerentes, por isso somos instáveis. O Aldous Huxley dizia mesmo que o único homem verdadeiramente estável que ele tinha conhecido era um morto.

O José Anjos não é só conhecido pelo que escreve, mas também por colocar os poemas em voz alta em palco. Qual a diferença entre a poesia escrita e a dita para os outros?
O Leonard Cohen tem um texto chamado “Como se diz poesia” em que diz que “a língua original do poema é o silêncio”. O poema é escrito em silêncio como uma forma de mergulho e isso nunca vai mudar independentemente da forma como entregamos o poema. O poema escrito, o próprio acto de escrever já é uma interpretação, já é uma tradução. O poema faz-se de uma forma intuitiva, mais ou menos pensada, mais ou menos sentida, mas é uma coisa interior. Quase podemos dizer que vem de um sítio muito ruidoso dentro de nós, mas consegue sair cá para fora através de um apaziguamento, da organização desse ruído. Através de um silêncio que é construído e depois transformado em algo que cognoscível e que consegue exprimir sentidos e significados que vão para lá do gesto da expressão. Chamo a isso o milagre semântico. Escrevo uma palavra, e para uma pessoa que conheça aquela língua não estou apenas a juntar letras, mas estou a criar um sentido que abre uma porta que permite uma descoberta. A própria palavra, a poesia escrita, já é um caminho para a deturpação e tem que ser mesmo assim. Porque a palavra nem sempre tem um comportamento tão transparente como nós queríamos. Às vezes o equívoco da palavra serve um propósito. A grande tecnologia da linguagem é conseguir contar a história toda sem abdicar da sua ambiguidade. A poesia tenta através da metáfora e de outras figuras de estilo conseguir a transparência da palavra, ou seja, renegar a palavra. Um poema nunca é definitivo.

E o que acontece quando é dito para os outros?
O acto de dizer em voz alta poesia para o público é diferente do acto de dizer em voz alta sozinho. É mais um passo nesta linha de interpretação de algo. Uma interpretação das coisas como se lhes tentássemos dar uma voz para que elas se possam expressar e não o contrário. Não estamos, através do poema, a tentar expressar o que está dentro de nós. Estamos a servir de veículo, a inventar uma linguagem que permite às coisas expressarem-se. Há uma voz dentro das coisas. O leitor é o último degrau deste comboio de interpretação. Sem ele, o poema não existe. Ao dizer um poema cria-se uma urgência na leitura. Há pessoas que quando lêem um poema escrito não sentem nada. Quando o ouvem a ser dito por alguém, de repente abre-se um novo espaço e cria-se uma urgência na leitura. Hoje em dia, temos muito menos disponibilidade para nos sentarmos a ler. Temos uma velocidade interior que faz com que seja mais difícil parar e abrir espaço suficiente para a poesia entrar. Temos também mecanismos de defesa que não deixam as coisas entrarem. Curiosamente, quando estamos a ouvir um poema, estes mecanismos estão muito mais em baixo e a disponibilidade para ouvir é maior. Nos espaços onde a poesia é dita, as pessoas conseguem identificar-se mais porque estão mais vulneráveis. Há um contrato implícito das pessoas com o palco, um contrato de atenção e vulnerabilidade. Aqui a responsabilidade do artista é contemplar a realidade e a sua beleza terrível. Defini-la e torná-la acessível, primeiro a si próprio, como se estivesse a conter uma estrela para depois a poder mostrar aos outros sem que faça mal a ninguém. Há uma violência intrínseca nas coisas que a arte consegue transformar e transmitir com algum sentido. Estamos todos no caminho da autodestruição. A morte é disparada à nascença como um fio esticado. Somos o encaminhamento da morte. Mas, por outro lado, pensar na morte é também afastá-la, como afastamos o horizonte. É preciso dar ao horizonte a possibilidade de ele fugir de nós. A autodestruição é uma inevitabilidade. Leio para entender a vida, escrevo para entender a morte. O que nos pode salvar é que podemos escolher a inevitabilidade que nos cabe e podemos ser surpreendidos.

A poesia é um acto de resistência?
Exactamente. De várias resistências e também de resistência contra aquilo que entendemos que está mal no mundo. A humanidade é uma coisa insuportável. Ainda mais quando somos bombardeados com todo o tipo de crueldade e com todo o tipo de regressos de coisas horríveis. O mundo está muito melhor do que estava e é preciso relembrar isso. Só que nós agora temos muito mais informação.

Temos mais responsabilidades também.
Sim, e não estamos preparados para isso. Vivemos uma hiperestesia, principalmente aqueles que têm mais sensibilidade porque não conseguem deixar de ter empatia. O poema também é uma denúncia, uma denúncia daquilo que estou a sentir em relação a qualquer coisa. Mas é uma denúncia também do que está a acontecer e é preciso enunciar isso como algo que é mau. É preciso denunciar os sítios onde falta justiça e humanidade. A poesia tem uma eficácia limitada. Mas tem uma eficácia de criar um espaço em que os outros partilhem do meu pensamento, do meu sentimento e isso ganha força, e às vezes de uma maneira que dá a volta ao mundo e, mais importante, dá a volta ao medo.

Está em Macau a filmar com o João Morais. Qual vai ser o resultado?
Queremos fazer um documentário informal. Quando cá estive no ano passado, saí daqui com a ideia de que não tinha aproveitado para conhecer Macau. Mas gostei muito. Senti um sentimento de estranheza imenso que penso que pode ser o sentimento de estranheza do exílio e que é a mistura de algo que é absolutamente estrangeiro com aquilo que nos é familiar. Isto, mediado pela distância, faz com que esse sentimento fique dentro de nós. Tivemos agora a ideia de fazer um documentário informal, de viagem. Uma espécie de “on the road” para mostrar o que é ir a Macau ou tentar entender o que é Macau sem pretender entender Macau. Tentar ver como reagimos a estas realidades tão díspares num curto espaço de tempo. Isso permite um ímpeto de espanto, uma contemplação emocionalmente relevante sem tentar entender.

O que leva mais daqui?
Levo este sentimento de estranheza ainda mais vincado. Esta estranheza é um conceito sempre provisório. Quando percebemos que há certos sentimentos de estranheza que não vão a lado nenhum e que só vão criar ainda mais estranheza percebemos que as coisas não têm que ser entranhadas. Aliás, as coisas devem ser vividas como se fosse a primeira vez sem abdicar da bagagem que trazemos, o que é um pensamento também muito oriental. Nós vamos perdendo isso. Perdemos a capacidade e espanto. O que levo de Macau é este ímpeto de espanto que me permite, no fundo, voltar cá sempre a recomeçar.

12 Nov 2018

ONU | HRW exige defesa de uígures por parte de países muçulmanos

[dropcap]A[/dropcap] Human Rights Watch (HRW) emitiu esta sexta-feira um comunicado onde questiona as razões pelas quais os países muçulmanos não apoiaram abertamente a questão de Xinjiang durante o terceiro Exame Periódico Universal do Conselho dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Nem um único Governo da Organização para a Cooperação Islâmica [organização inter-governamental] exigiu abertamente explicações à China sobre os abusos chocantes perpetados a muçulmanos, o que tornou o caminho mais fácil para a China considerar esse criticismo como outra ‘conspiração do ocidente’”, lê-se.

A HRW frisa que “apenas a Turquia reconheceu o problema, tendo falado da ‘detenção de individuos sem mandatos de captura’ mas sem uma referência específica a Xinjiang”. Uma das razões apontadas pela HRW para o silêncio dos países muçulmanos prende-se com o facto de “alguns desses governos serem cúmplices com a campanha de Pequim, que tem obrigado ao regresso forçado de muçulmanos turcos, sobretudo uigures, para a China”. De acordo com o mesmo comunicado, a China também tem vindo a negar “a ida segura destas pessoas para terceiros países, sendo providenciada informação sobre estes individuos às autoridades chinesas”.

“Não é claro porque é que a defesa dos muçulmanos na China é um tema quase exclusivo dos governos ocidentais. Mas um fim à crise dessa comunidade irá exigir uma intervenção por parte de um coro estrangeiro”, aponta a HRW.

A delegação da China respondeu a um total de 300 perguntas de 150 países estrangeiros, tendo o debate ficado marcado pela questão dos direitos humanos na região autónoma de Xinjiang.

“De acordo com o que os diplomatas séniores chineses disseram no terceiro Exame Periódico Universal do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, Xinjiang é um lugar ‘muito bonito, seguro e estável’. Só se isso fosse verdade!”, conclui a organização não governamental.

11 Nov 2018

Gigantes norte-americanos do jogo garantem mais de metade das suas receitas em Macau

[dropcap]M[/dropcap]ais de metade das receitas dos três gigantes norte-americanos do jogo provêem de Macau e não dos Estados Unidos.

A Las Vegas Sands, MGM Resorts e o grupo Wynn Resorts apresentaram no terceiro trimestre do ano receitas em Macau de cerca de 4,05 mil milhões de dólares: um montante que representa 55,6% dos resultados globais que incluem o valor assegurado nos EUA.

Ao todo, os três grupos arrecadaram no terceiro trimestre 8,05 mil milhões de dólares nas operações em Macau, Estados Unidos e nos restantes países onde têm investimentos.

Dos três, o MGM foi o único que registou mais ganhos nos Estados Unidos do que em Macau: 2,39 mil milhões de dólares ganhos com os 15 ‘resorts integrados’ do grupo nos Estados Unidos, contra 606 milhões nos dois empreendimentos naquele território asiático. Apesar disso, o ‘resort integrado’ do grupo com mais receitas foi o MGM Macau (434 milhões de dólares).

Já a Wynn Resorts registou, em Macau, 76,4% do total das receitas do grupo no terceiro trimestre (1,7 mil milhões de dólares). Finalmente, a Las Vegas Sands obteve 3,37 mil milhões de dólares de receitas. Destas, 63,8% resultam das operações do grupo em Macau. Nos EUA o grupo arrecadou 444 milhões de dólares e em Singapura, através do seu ‘resort integrado’ Marina Bay Sands, 766 milhões de dólares entre julho e setembro de 2018.

“O desenvolvimento do jogo na Ásia esmaga o resto do mundo”, disse o analista de jogo Grant Govertsen, director-executivo da Union Gaming, no início do mês.

Num evento promovido pela Associação Comercial Britânica em Macau (BBAM, na sigla inglesa), Grant Govertsen apresentou dados que estimam que entre 2015 e 2021 vão ser investidos pelos operadores de jogo em Macau mais de 28 mil milhões de dólares em novas infraestruturas. Destes, mais de 10,5 mil milhões têm origem em investimento norte-americano.

Em resposta à Agência Lusa, o fundador da Newpage Consulting, consultora especializada em regulação de jogos no território, afirmou que no global “as receitas de jogo em Macau são pelo menos três vezes maiores do que em Nevada, Estados Unidos”.

Os casinos de Macau apresentaram receitas brutas acumuladas nos dez primeiros meses do ano de 251.383 milhões de patacas, um aumento de 14,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados oficiais divulgados.

11 Nov 2018

Global Media | Paulo Rego deixa de ser vice-presidente da comissão executiva

[dropcap]A[/dropcap] publicação Meios e Publicidade noticiou que Paulo Rego, ex-director do semanário Plataforma, vai deixar de ser vice-presidente da comissão executiva da Global Media, empresa que detém títulos como o Diário de Notícias, Jornal de Notícias (JN) e O Jogo, entre outros. Contudo, Paulo Rego deverá manter-se ligado à empresa mas na qualidade de administrador não executivo.

A Meios e Publicidade não conseguiu uma reacção da Global Media, que é detida em 30 por cento pelo empresário de Macau Kevin Ho, CEO da KNJ Investment. Contudo, uma fonte disse que a decisão “foi tomada por consenso entre todos os accionistas”, lê-se na notícia.

A comissão executiva da Global Media será composta por Vítor Ribeiro, que se mantém como CEO, e por Guilherme Pinheiro. A Meios e Publicidade escreveu ainda que não deverá ser nomeado mais ninguém para este órgão, sendo que o jornalista Afonso Camões, e ex-director do JN, fica responsável pelas questões editoriais e “operacionais” do grupo.

Paulo Rego era responsável pela área dos novos negócios e internacionalização, tendo lançado, no espaço de um ano, o projecto V Digital e o Plataforma Media, website que disponibiliza notícias sobre a China, Macau e a lusofonia em português e inglês. O HM tentou contactar Paulo Rego, mas tal não foi possível.

11 Nov 2018

Fernando Alonso nas 500 milhas de Indianápplos à procura da “tripla coroa”

[dropcap]O[/dropcap] piloto espanhol de Fórmula 1 Fernando Alonso vai disputar a próxima edição das 500 milhas de Indianápolis, nos Estados Unidos, integrado na sua actual equipa, a McLaren.

Alonso, que este ano terminará a sua carreira na Fórmula 1, vai assim competir na 103.ª edição da prova norte-americana, agendada para 26 de Maio. Em 2017, o espanhol, bicampeão mundial da categoria rainha do automobilismo de pista, liderou as 500 milhas de Indianápolis durante 27 voltas, mas foi forçado a abandonar a 21 voltas do final, devido a um problema no motor.

O objectivo de Alonso é conquistar a ‘tripla coroa’, atribuída aos vencedores do Grande Prémio do Mónaco, das 500 milhas de Indianápolis e das 24 Horas de Le Mans.

“Deixei claro que o meu objetivo é a ‘tripla coroa’. Tive uma experiência incrível em Indianápolis em 2017 e percebi que queria muito regressar àquela competição”, disse Alonso, em comunicado. O piloto espanhol já venceu duas vezes o Grande Prémio do Mónaco, em 2006 e 2007, e este ano triunfou nas 24 Horas de Le Mans.

11 Nov 2018

Donald Trump atribui medalha a mulher de Sheldon Adelson

[dropcap]D[/dropcap]onald Trump, presidente dos Estados Unidos, vai atribuir, na próxima sexta-feira, a Medalha Presidencial da Liberdade a Miriam Adelson, mulher do CEO e presidente da Las Vegas Sands, Sheldon Adelson, noticiou hoje o jornal Político.

Sheldon Adelson, que em Macau possui, através da Sands China, os empreendimentos de jogo Sands e Sands Cotai Central, é conhecido por ser um dos grandes financiadores das campanhas do partido republicano. Na terça-feira, no âmbito das eleições intercalares para o Congresso norte-americano, Sheldon Adelson esteve presente numa festa na residência oficial da Casa Branca.

O Político escreve que Miriam Adelson vai receber a medalha juntamente com outros “seis indivíduos distintos”, sendo esta entregue a pessoas que “realizaram contribuições meritórias tendo em conta a segurança e os interesses nacionais dos Estados Unidos, em prol da paz mundial e cultura, incluindo outros esforços públicos e privados”, aponta um comunicado oficial da Casa Branca.

Aos olhos do Governo norte-americano, Miriam Adelson é considerada “uma filantropa e humanitarista” bem como “um membro comprometido para com a comunidade judaico-americana”.

Os Adelson são apontados como os principais financiadores do partido republicano, tendo contribuído com mais de 113 milhões de dólares nas eleições intercalares deste ano. O casal também doou, em Julho, 25 milhões de dólares para o Fundo de Liderança do Senado, três milhões em Julho e Setembro para a Associação de Governadores Republicanos e cerca de 40 milhões de dólares entre Maio e Setembro para o Fundo de Liderança do Congresso.

Craig Holman, lobista na área dos assuntos governamentais ligado ao think tank Public Citizen, disse ao Político que a medalha em questão “sempre foi atribuída com base em serviços”. “Trump olha para as questões governamentais como um negócio em prol do seu auto-enriquecimento, então não surpreende o facto de ter sido atribuída uma medalha a Adelson com base em quem lhe dá mais dinheiro”, frisou Holman.

11 Nov 2018