Accionista da TAP quer vender imobiliário para enfrentar dívida

O grupo chinês HNA, accionista indireto da TAP, quer-se desfazer de quase 5.000 milhões de euros em activos imobiliários em todo o mundo, numa altura em que enfrenta problemas de liquidez, informou a imprensa chinesa.

 

[dropcap style≠‘circle’]S[/dropcap]egundo o portal de notícias The Paper, uma subsidiária do grupo vendeu já um edifício de escritórios em Manhattan, Nova Iorque, por 246 milhões de euros. Outra subsidiária do HNA vendeu também recentemente um edifício de escritórios em Sydney, por 130 milhões de euros, e um arranha-céus detido pelo grupo na West Madison Street, em Chicago, está também à venda.

As vendas fazem parte do plano do grupo de venda de activos próprios e das suas subsidiárias, visando enfrentar uma grave crise de liquidez.

Alguns bancos chineses denunciaram já as dificuldades de subsidiárias do grupo em saldar as suas dívidas, depois de nos últimos anos o HNA ter investido um total de 33 mil milhões de euros além-fronteiras.

Em Portugal, a empresa detém indirectamente cerca de 20 por cento do capital da TAP, através de uma participação de 13 por cento na Azul (companhia do brasileiro David Neelman que integra a Atlantic Gateway) e uma participação de 7 por cento na Atlantic Gateway.

 

Investimentos irracionais

Uma das suas subsidiárias, a Capital Airlines, inaugurou em Julho passado o primeiro voo direto entre a China e Portugal. O grupo tem ainda importantes participações em firmas como Hilton Hotels, Swissport ou Deutsche Bank.

Em Janeiro passado, anunciou que contratou os bancos de investimento nova-iorquinos JP Morgan y Benedetto Gartland para venderem a sua participação de 29,3 por cento no grupo hoteleiro espanhol NH.

O HNA é um dos principais visados das advertências das autoridades chinesas sobre “investimentos irracionais” no estrangeiro, que podem “acarretar riscos” para o sistema financeiro chinês.

No final de Novembro de 2017, as dívidas do grupo ascendiam a 637.500 milhões de yuan (81.900 milhões de euros). No mesmo mês, o grupo emitiu títulos a 363 dias, no mercado de dívida, com uma elevada taxa, de 8,87 por cento.

No final de Janeiro passado, a agência de ‘rating’ Standard & Poor’s baixou a nota da dívida do grupo de B+ para B, no nível “lixo”.

A HNA foi fundada em 1993 e tem sede em Haikou, capital da província de Hainan.

2 Mar 2018

Cinemateca Paixão celebra aniversário ciclo de cinema sobre comida

[dropcap style≠‘circle’]“B[/dropcap]eber-Beber, Comer-Comer!” é um ciclo de filmes totalmente dedicado à gastronomia. O evento, que começa no dia 16, serve de mote à celebração do primeiro aniversário da Cinemateca Paixão. Quem estiver interessado pode adquirir os bilhetes que vão estar disponíveis para venda já a partir de amanhã.

De acordo com um comunicado, o ciclo “Beber-Beber, Comer-Comer” é composto por seis filmes “dedicados à gastronomia”, estando também prevista a realização de seis “workshops de sabores”. O objectivo é “expandir a inspiração [dos espectadores] do sabor do cinema para o sabor do mundo lá fora”.

O programa contém três documentários e três longas-metragens, tais como “Kampai! Pelo Amor do Sakê”, que revela “o declínio e o renascimento da indústria japonesa do sakê”. Um outro documentário que poderá ser visionado na Cinemateca Paixão chama-se “Cidade do Ouro”, que conta a história do crítico Jonathan Gold, vencedor de um prémio Pulitzer.

O terceiro documentário inserido neste ciclo de cinema intitula-se “Formigas num Camarão”, a obra mostra os bastidores “do processo de mudança do melhor restaurante nórdico do mundo, o NOMA, para Tóquio”. No capítulo das longas-metragens, destaque para “Tampopo”, “uma obra prima japonesa clássica” que foi considerada o primeiro “Ramen Western”. Outro dos filmes a ter em atenção é “A Marmita”, uma obra premiada “que inverte a percepção geral do cinema indiano” e ainda “Tostas”, uma adaptação de um filme televisivo baseado na autobiografia do premiado escritor culinário inglês, Nigel Slater.

Para acompanhar o cinema estão também programados seis “workshops de sabores”, pensados “para levar o público para fora do cinema, numa exploração de diversos restaurantes únicos da cidade”.

“O crítico gastronómico local, OB, levar-nos-á a um restaurante nepalês, onde provaremos os exóticos momos. Chakra Space, um fantástico café vegan, que enfatiza uma cozinha minimalista, preparará um menu especial para nós.”

Outros estabelecimentos participam também neste evento, como é o caso da Old House Bakery, que “criará toda a espécie de pastelaria para um delicado chá da tarde”. Já o restaurante de ramen Furu Furu e o restaurante indiano Taste of Índia prometem servir “pratos únicos”.

No dia da abertura do ciclo de cinema que celebra o primeiro aniversário da Cinemateca Paixão, haverá uma festa, onde Eric Leong, “amante e perito de sakê” irá “partilhar o seu profundo conhecimento e paixão por aquela bebida”.

A Cinemateca Paixão, no seu primeiro ano de existência, “tem oferecido uma selecção única de cinema não comercial ao público de Macau”, assim como uma “séries de palestras, festivais de cinema e workshops”. “Temo-nos empenhado em promover continuamente o cinema, os documentários e os filmes de animação locais”, referiu a organização da Cinemateca Paixão.

2 Mar 2018

Exposição “Shaping Dream” inaugurada hoje no Clube Militar

A dias de arrancar a primeira edição da Photo Macau Fair, o Clube Militar acolhe uma exposição que é quase uma experiência daquilo que poderá ser visto no Venetian. “Shaping Dream” é o nome da exposição que é hoje inaugurada e que estará patente apenas até domingo

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] fotógrafo Gonçalo Lobo Pinheiro é dos participantes na exposição “Shaping Dream”, que é hoje inaugurada no Clube Militar e que dura apenas três dias. A exposição tem como resultado uma competição de imagens artísticas, cujo prazo terminou no passado dia 31 de Janeiro, e que antecede a primeira edição da Photo Macau Fair, organizada, entre outras figuras e entidades, pela artista Cecília Ho.

Gonçalo Lobo Pinheiro, radicado em Macau há alguns anos, trabalha sobretudo nas áreas do fotojornalismo e documentário, mas resolveu arriscar com três trabalhos.

“Enviei cinco imagens, três foram seleccionadas. São três retratos, e penso que um deles já foi exposto. Com um dos retratos recebi uma menção honrosa numa exposição”, contou ao HM.

Apesar de não trabalhar com a fotografia artística, Gonçalo Lobo Pinheiro tentou fazer com que o seu trabalho se adequasse ao que era pedido nesta competição. O sonho e a imaginação foram o mote para a escolha das imagens.

“Duas fotos são com crianças e, logo aí, há sempre um sonho implícito. Uma delas é de Macau, outra foi tirada no Myanmar. A curadoria procura uma abordagem mais artística da foto, que é uma coisa que eu não faço, mas dentro daquilo que é o meu trabalho procurei imagens que fizessem esse compromisso artístico”, acrescentou o fotógrafo.

“Penso que a feira é mais virada para a fotografia enquanto arte. As vertentes de fotojornalismo, documentário ou reportagem, que são as vertentes com as quais trabalho mais, talvez não sejam bem o público-alvo da feira em si. Dentro do tema, decidi ir para a categoria do retrato, que também mostrassem alguma ilusão e sonho das pessoas que estão a ser retratadas”, referiu Gonçalo Lobo Pinheiro.

De acordo com um comunicado, a exposição é organizada pela Art Beyond Walls Association e visa “descobrir os trabalhos dos talentosos fotógrafos de Macau”. “Além de promovermos a fotografia enquanto meio queremos, ao mesmo tempo, mostrar o trabalho dos fotógrafos vencedores”, reforça o comunicado.

Um júri de fora

A competição estava aberta a profissionais e amadores e desafiava os participantes a serem inovadores e criativos. O júri que vai seleccionar as melhores obras é composto por Alvin Yip, curador independente e que esteve ligado à organização do pavilhão de Hong Kong presente na Bienal de Veneza, em 2006, entre outros projectos.

Joerg Bader é outro nome presente no júri, tendo no currículo o cargo de director do Geneva Center for Photography desde 2001. Johann Nowak, curador independente e fundador de uma galeria, é outro dos nomes presentes no painel de júris.

Cecilia Ho, artista de Macau e curadora, completa o painel dos júris. Cecilia foi a primeira artista chinesa a marcar presença na Real Academia de Artes de Londres, tendo participado em múltiplas exposições de Verão nos anos de 1996, 1997, 1998 e 1999).

2 Mar 2018

Ellie Cheng representa Macau em concurso de beleza transexual

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]os 24 anos, Ellie Cheng vai ser a primeira participante de Macau no concurso para transexuais Miss International Queen, que se realiza a 9 de Março, em Pattaya. Apesar de ter nascido homem, aos 15 anos Ellie começou a ser acompanhada por uma equipa médica e, quando já frequentava o ensino universitário, deslocou-se à Tailândia, para efectuar a operação de mudança de sexo.

Agora, depois de ter deixado para trás mais de 1000 candidatas, de outros países, Ellie vai representar o território na fase final da competição.

“Estou muito feliz por ter a oportunidade de representar Macau na competição Miss International Queen 2018”, afirmou Ellie Cheng, em declarações aos organizadores do evento.

“Muitas pessoas talvez se questionem como é que eu tenho a ousadia de participar neste evento e assumir aquilo que sou. Mas, para dizer a verdade, sinto-me muito orgulhosa por poder fazer parte deste grupo LGBT [sigla que em inglês significa Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgéneros] e por poder participar na competição que distingue as mulheres transexuais mais bonitas do mundo”, explicou.

 

28 concorrentes

Na final vão participar 28 concorrentes, vindas de destinos como Japão, Tailândia, Brasil, Austrália, Argentina ou França.

Em entrevista à revista Newsweek de Hong Kong, Ellie Cheng afirmou que a parte do corpo em que tem mais confiança são as pernas. No entanto, admitiu que a cintura ainda não está com as dimensões desejáveis e que vai seguir uma dieta rigorosa até ao dia da competição.

Em relação à sua infância, a residente comentou que nunca se sentiu um rapaz normal, uma vez que preferia assistir aos desenhamos animados Navegante da Lua e com três anos já queria utilizar os sapatos de saltos altos da mãe.

Sobre a operação de mudança de sexo, Ellie reconheceu que no início não contou com o apoio da família, mas que com o passar do tempo acabou por ter a compreensão e o apoio dos familiares mais próximos.

A representante de Macau contou ainda que não tem tido problemas em ter namorados, mas que actualmente está solteira. A última relação acabou, segundo Ellie, por motivos de desgaste, comuns a todas as relações ditas convencionais.

2 Mar 2018

Assistente de Ng Lap Seng condenado a sete meses de prisão por evasão fiscal

Acordo com a justiça norte-americana permitiu a Jeff Yin, ex-assistente de Ng Lap Seng, evitar ser condenado por corrupção de altos dirigentes da Organização das Nações Unidas. O empresário de Macau vai conhecer a pena a 23 de Março

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] assistente de Ng Lap Seng, Jeff Yin, foi condenado com uma pena de sete meses de prisão pela prática de um crime de evasão fiscal. O julgamento teve lugar na madrugada de ontem, em Nova Iorque.

De acordo com a Reuters, na altura de explicar as razões para os actos praticados, o norte-americano, de 32 anos e de etnia chinesa, justificou em parte o crime pelo facto de ter crescido com uma educação tradicional chinesa.

“Não paguei os meus impostos e honestamente quero pedir desculpa”, afirmou Yin, momentos antes de ver lida a sentença.

Em tribunal, Jeff Yin admitiu que os salários que recebeu da organização ligada a Ng Lap Seng, empresário de Macau, eram pagos em cheque e transformados em numerário. O objectivo, clarificou, passava por evitar o pagamento de impostos. Contudo, recusou ter estado envolvido em qualquer esquema de corrupção.

Após ter sido conhecida a sentença, a advogada de defesa, Sabrina Shroff, disse que pretendia que o seu cliente cumprisse a pena numa instituição de reabilitação social. O juiz admitir considerar o pedido feito pela Defesa.

Como parte do acordo feito com a justiça norte-americana pela cooperação na investigação, Yin assumiu o compromisso de não recorrer da pena de prisão, se esta fosse inferior a dois anos e meio.

Em relação ao facto de nunca ter questionado o seu patrão sobre a forma como recebia o salário, Yin defendeu-se dizendo que foi “em parte”, porque nasceu “numa família sino-americana muito tradicional”.

 

Menos dois anos

A pena fica aquém do pretendido pelo Ministério Público norte-americano, que queria que Yin fosse condenado a dois anos de prisão. Durante o julgamento, o procurador público, Daniel Richenthak, fez questão de sublinhar que Yin fez parte do esquema que permitiu a Ng corromper John Ashe e outros altos funcionários das Nações Unidas.

No entanto, Yin conseguiu evitar ser condenado pela prática de corrupção, apesar do MP norte-americano considerar que Yin, em conjunto com Ng Lap Seng, foram responsáveis pela corrupção de responsáveis das Nações Unidas. O objectivo passava por conseguir os apoios políticos para a construção de um centro de conferências da ONU, em Macau.

Segundo a investigação, os principais corrompidos foram Francis Lorenzo, representante da República Dominicana na ONU, e John Ashe, presidente da Assembleia Geral do organismo. Ng pretendia “ganhar mais fama e aumentar a sua fortuna”, ao transformar Macau na Genebra da Ásia.

Lorenzo chegou a um acordo com a justiça americana para testemunhar contra Ng Lap Seng e admitiu a prática dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

O outro alegado corrompido, Ashe, morreu acidentalmente em casa, segundo os relatórios oficiais, quando deixou uma barra de pesos cair em cima do pescoço.

Ng Lap Seng foi considerado culpado por ter pago subornos que ultrapassaram os 1,7 milhões de dólares. O residente de Macau, que está em prisão domiciliária, vai conhecer a sentença no próximo dia 23 de Março.

2 Mar 2018

Número de excursionistas sobe 49,8 por cento em Janeiro

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] crescimento de 49,8 por cento no número de excursionistas do Interior da China fez disparar, em Janeiro, o número de visitantes que se deslocaram ao território. Os dados foram anunciados ontem pela Direcção de Serviços de Estatística e Censos (DSEC).

Segundo as informações oficiais, no primeiro mês do ano as excursões trouxeram a Macau 755 mil turistas, o que representa um aumento de 41,4 por cento. Em relação aos turistas do outro lado da fronteira, o aumento foi de 49,8 por cento contribuindo para um total de 603 mil indivíduos.

No entanto, o Interior da China não foi o único mercado a apresentar uma melhoria. Também houve um aumento de 41 por cento no número de excursionistas de Taiwan, que atingiu os 47 mil. Uma tendência acompanhada pela Coreia do Sul, com 50 mil indivíduos, um aumento de 13,5 por cento.

No entanto, no que diz respeito a viagens por excursão por parte de residentes de Macau, houve uma quebra de 4,7 por cento em Janeiro deste ano. Mesmo assim, 44 mil residentes viajaram em excursão, com 26 mil a ter como destino a China Continental.

Ao mesmo tempo, foi lançada pela DSEC a informação sobre a ocupação das unidades hoteleiras locais. Em Janeiro pernoitaram nos hotéis e pensões locais cerca de 1,17 milhões de pessoas. Este número representa uma subida de 12,9 por cento.

A taxa de ocupação média dos hotéis e pensões atingiu 90,3 por cento, ou seja um crescimento de 8,7 pontos percentuais, em termos anuais, com os hotéis de 5 estrelas a ter uma ocupação de 93,5 por cento e os de 4 estrelas de 91,9 por cento. O período médio de permanência dos hóspedes ficou-se em 1,4 noites.

2 Mar 2018

Bangsil acusa operadora Wynn de deixá-lo isolado

Ex-funcionário de regulador das filipinas, Rogelio Yusi Bangsil Jr, exige o pagamento de uma indemnização à Wynn Macau, por considerar que foi prejudicado por uma fuga de informação da operadora

[dropcap style≠‘circle’]”L[/dropcap]epra social” foi a expressão usada para descrever o que aconteceu a um ex-regulador de jogo das Filipinas após a transmissão de informações pessoais recolhidos em Macau. Em causa está um relatório sobre práticas suspeitas na indústria levado a cabo pela operadora Wynn. A tese foi sustentada, ontem, durante as alegações finais do julgamento em que o ex-regulador filipino, Rogelio Yusi Bangsil Jr, exige uma indemnização de 10 milhões de patacas à concessionária Wynn por danos materiais e não-materiais.

No relatório, publicado em 2012 nos Estados Unidos, consta que um dos accionistas da Wynn à altura, Kazuo Okada, teria feito ofertas suspeitas a reguladores filipinos. Entre os nomeados está Bangsil, assim como a esposa e a filha. O queixoso diz que o documento forçou a sua saída da Pagcor, regulador do jogo das Filipinas.

“O autor [do pedido de indemnização] ficou quase remetido a uma lepra social, que teve como fonte a Ré [Wynn], que usou dados que não eram seus. Permitir que uma empresa privada forneça dados pessoais para o fim que quer é um sinal perigosíssimo”, defendeu o advogado de Bangsil, José Leitão.

“O relatório não teria sido elaborado se os dados não tivessem sido facultados pela Ré e se esta tivesse respeitado as regras da RAEM”, acrescentou.

Em 2012, Steve Wynn e o parceiro japonês Kazuo Okada estavam numa luta interna. A publicação do relatório, que foi elaborado pelo ex-investigador do FBI, Louis Freeh, obrigou Okada a vender a sua participação de 30 por cento na operadora de jogo.

Por essa razão, o advogado considerou que Bangsil e a família “foram os danos colaterais” de um disputa entre accionistas. “O autor e a família foram peões em guerras societárias. Houve uma erosão significativa das suas vidas pessoais”, destacou.

O advogado de Bangsil mandou ainda uma farpa à Wynn devido ao escândalo sexual em que o anterior CEO do grupo, Steve Wynn, está envolvido e que forçou a sua demissão: “Os danos causados para o autor deviam ser fáceis de reconhecer por parte da Wynn porque o C.E.O. da empresa [Steve Wynn] teve de se demitir devido a alegações, que não foram provadas”, apontou José Leitão.

 

Anel Cartier

Por sua vez, a defesa da operadora de jogo, a cargo do advogado Rui Simões, questionou os depoimentos das testemunhas e os danos reclamados. Durante o julgamento, a mulher de Bangsil afirmou que devido ao despedimento do marido teve de deixar os cuidados intensivos de um hospital em que se encontrava. Rui Simões apontou o facto da esposa do filipino reclamar que não tinham dinheiro para as despesas, mas, três meses depois, ter oferecido um anel da marca Cartier à filha.

“A esposa estava internada numa clínica e diz que teve de sair porque o marido deixou de ter dinheiro para pagar. Também lhe foi perguntado se ela tinha um anel da Cartier. Ela respondeu que se tivesse um anel dessa marca, que não o oferecia por ser de valor elevado”, começou por dizer o advogado da Wynn.

“Mas quando a filha testemunhou disse que a mãe, três meses depois de ter saído do hospital, lhe ofereceu o anel da Cartier. São prioridades, uns preferem a saúde, outros os anéis. Não julgo”, apontou.

Por outro lado, a defesa de Wynn negou as consequências para a reputação de Bangsil, recordando que o ex-regulador já tinha tido outros problemas e investigações internas por ligações suspeitas a uma operadora coreana. A defesa da Wynn questionou ainda como é que o ex-funcionário do regulador teria capacidade para ter um consumo de 500 mil patacas durante quatros dias passados no hotel da Wynn em Macau, que representava 44 vezes o seu salário mensal.

Em relação a este caso, a Wynn Macau foi multada em 20 mil patacas, em Março de 2012, pelo Gabinete de Protecção de Dados Pessoais, devido a duas violações da Lei de Protecção de Dados Pessoais.

2 Mar 2018

Anulada adjudicação da obra do parque de materiais e oficina do metro

O Tribunal de Segunda Instância anulou a adjudicação de uma empreitada fundamental para o metro ligeiro, validada pelo Chefe do Executivo em 2016. Segundo a decisão judicial, a Comissão de Avaliação das Propostas violou critérios previamente definidos e a obra vai ter de voltar a ser atribuída

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] adjudicação da empreitada de construção da superstrutura do parque de materiais e oficina do sistema de metro ligeiro foi anulada. Segundo o Tribunal de Segunda Instância (TSI), a Comissão de Avaliação violou a lei, porque falhou em apreciar as propostas à luz dos critérios previamente definidos. Assim, a obra tem de voltar a ser adjudicada após novo cálculo da pontuação das empresas consultadas

A decisão do TSI, divulgada ontem, dá razão à China Road and Bridge Corporation que, depois de ter ficado em segundo lugar, interpôs recurso, alegando que a Administração não observou os critérios de avaliação formulados no anúncio e no programa de consulta. A obra foi adjudicada em Julho de 2016 à Companhia de Engenharia e de Construção da China, por mais de mil milhões de patacas.

O tribunal entendeu que a Comissão de Avaliação de Propostas violou “os critérios previamente definidos” ao apreciar a experiência em obra e a do quadro técnico que, no caso da empresa que recorreu, terão sido subavaliadas na pontuação.

À luz das regras, cada obra dava direito a dois pontos até um limite de dez, sendo que, em caso de consórcio, o cálculo seria feito com base na participação da empresa no mesmo. Ora, a China Road and Bridge Corporation apresentou exemplos de duas empreitadas, obtendo zero pontos por uma e 0,2 por outra, isto quando deveria ter tido 1,4 por cada, segundo o tribunal. Em contraste, aplicando-se o mesmo raciocínio, a adjudicatária só deveria ter recebido 0,4 pontos por cada uma das empreitadas. “O acto recorrido incorreu, obviamente, no vício da violação da lei”, diz o TSI.

A China Road and Bridge Corporation também teve zero na modalidade de experiência do quadro técnico quando poderia ter obtido 2,5 pontos, dado que, tanto o adjunto de director de obra, como o adjunto de encarregado geral trabalhavam há mais de 15 anos ao serviço da empresa. A Comissão de Avaliação de Propostas considerou que “não exerceram a sua profissão na representação permanente” da empresa em Macau, mas apenas na de Guangdong, violando “mais uma vez” os critérios previamente definidos.

Dado que os requisitos não previam “qualquer distinção entre trabalhadores que exercem profissão na sociedade-mãe e nas representações permanentes”, a experiência de ambos “deve ser valorada em conformidade com os critérios” previamente definidos.

“Não tendo a Comissão de Avaliação apreciado as propostas das consultadas em conformidade com os critérios de avaliação anunciados há violação de lei”, sintetizou o TSI, que anulou, por conseguinte, a adjudicação. O colectivo determinou ainda que se deve “proceder a novo cálculo da pontuação final obtida pelos concorrentes em conformidade com o decidido” no acórdão e “apurar qual a proposta que obtém pontuação mais elevada para adjudicar a respectiva empreitada à proposta vencedora”.

De acordo com a nota atribuída pela Comissão de Avaliação de Propostas, a primeira e a segunda classificadas ficaram separadas por 1,92 pontos: a Companhia de Engenharia e de Construção da China conquistou 86,14 pontos – contra os 84,22 da China Road and Bridge Corporation. O Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT) fez consulta escrita a sete empresas, depois de o Chefe do Executivo ter autorizado a dispensa de realização de concurso público.

Esta decisão judicial inflige mais um golpe numa obra que parece amaldiçoada. O parque de materiais e oficina, que desempenha “um papel fundamental no funcionamento do sistema de metro ligeiro de Macau, como descreve o GIT, esteve paralisado durante anos. Em 2016, o Governo rescindiu o contrato com o então empreiteiro, o consórcio Top Builders/Mei Cheong, pagando 85 milhões de patacas como compensação.

2 Mar 2018

Receitas dos casinos subiram 5,7 por cento em Fevereiro

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s casinos fecharam o mês de Fevereiro com receitas de 24.300 milhões de patacas. Apesar do aumento de 5,7 por cento em termos anuais homólogos, o valor fica aquém das expectativas normalmente geradas em torno da “semana dourada” do Ano Novo Chinês.

Além disso, ficou abaixo do valor arrecadado em Janeiro (26.260 milhões de patacas), mês em que se registou um crescimento a dois dígitos. Em termos acumulados, as receitas dos casinos ascenderam assim a 50.560 milhões de patacas – mais 19,7 por cento face aos primeiros dois meses de 2017 –, segundo os dados divulgados ontem pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ).

O Secretário para a Economia e Finanças relativizou o aparente fraco efeito da semana dourada – que trouxe a Macau 963.265 visitantes entre 15 e 21 de Fevereiro – nas receitas da indústria de jogo. “Temos que ter o trimestre todo”, porque, “às vezes, o Ano Novo Chinês reflecte-se em Janeiro ou antes ou durante ou depois”. Dado que “essa flutuação pode variar”, “é mais científico ver trimestralmente do que mensalmente”, comentou Lionel Leong, aos jornalistas, à margem de uma reunião da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas da Assembleia Legislativa (AL).

2 Mar 2018

Reservas financeiras com rentabilidade mais elevada de sempre em 2017

A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) levou ontem uma boa notícia à Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas da Assembleia Legislativa: a taxa de rentabilidade da Reserva Financeira foi de 4,8 por cento no ano passado – a mais elevada de sempre

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] taxa de rentabilidade dos investimentos da Reserva Financeira foi de 4,8 por cento no ano passado, reflectindo “o desempenho bastante satisfatório dos mercados a nível mundial”, afirmou ontem o presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas da Assembleia Legislativa (AL), após a reunião com representantes do Governo. Apesar de observar que “os resultados pretendidos foram conseguidos”, Mak Soi Kun não destacou, porém, que esta foi a taxa de retorno mais elevada de sempre. Isto é, desde que a Reserva Financeira foi constituída, em 2012, com a missão de gerir os excedentes financeiros acumulados.

Segundo os números facultados aos deputados pela AMCM, os rendimentos ascenderam a 22,07 mil milhões de patacas no ano passado. A grande fatia procedeu de investimentos no mercado bolsista (15,1 mil milhões) e em títulos de dívida (4,5 mil milhões), aos quais se somaram os proveitos derivados dos juros de depósitos (4,1 mil milhões). Já o investimento em divisas voltou a ser a única rubrica a registar prejuízos (1,6 mil milhões), de acordo com os dados ainda não auditados.

Até finais de Dezembro, a Reserva Financeira foi estimada em 490 mil milhões de patacas – mais 11,7 por cento comparativamente ao ano anterior. A Reserva Financeira, criada em Fevereiro de 2012, é constituída por uma reserva básica, equivalente a 150 por cento da totalidade das dotações da despesa dos serviços centrais, constante do último orçamento aprovado pela Assembleia Legislativa. Mas também compreende uma reserva extraordinária, equivalente aos saldos remanescentes após a satisfação da reserva básica. A primeira correspondia a 127,9 mil milhões; enquanto a segunda a 362,1 mil milhões, segundo as estimativas preliminares da AMCM.

As baixas taxas de retorno das aplicações da Reserva Financeira foram, por diversas vezes, alvo de repetidas críticas dos deputados, até porque desde que foi criada nunca superou a barreira dos 3 por cento. Em 2016, por exemplo, correspondeu apenas a 0,8 por cento.

Mak Soi Kun também transmitiu os dados da AMCM sobre a reserva cambial, com uma rentabilidade na ordem dos 3,5 mil milhões de patacas em 2017 – mais 2,3 por cento.

 

Sem dados

A fiscalização das empresas de capitais públicos foi outro dos pontos abordados pela Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas da AL na reunião de ontem. “Procuramos saber, por exemplo, quantas são as empresas de capitais públicos, a sua composição, participação no capital social e quantas filiais foram constituídas”.

No entanto, “o Governo não conseguiu responder” ontem, afirmou Mak Soi Kun, apontando que os deputados também tentaram perceber se os delegados do Executivo que integram os conselhos de administração dessas empresas têm desempenhado bem o seu papel.

“Precisamos saber como é que o erário público está a ser utilizado”, insistiu, apontando que “há uma certa dificuldade e falta de informações para fazer essa fiscalização” e que o secretário da tutela “reconheceu que há necessidade de [a] reforçar”.

“Neste momento, cada secretaria do Governo pode por si constituir empresa com participação de capitais públicos”, disse, defendendo que tem de “haver uma coordenação entre as diferentes secretarias e serviços para se saber qual a situação de cada uma delas”, nomeadamente no que toca à distribuição de lucros. Isto para “estar em linha com a nova Lei do Enquadramento Orçamental”, em vigor desde 1 de Janeiro, sublinhou o presidente da comissão.

Com efeito, o parecer sobre essa lei notava um desvio relativamente à prática internacional, apontando que, em Macau, não há, por exemplo, uma “definição da percentagem de acções necessária para uma empresa ser considerada pública nem regulamentação sobre as diversas matérias relacionadas”, como “a quota de lucros e o valor que deve ser entregue ao Governo”.

Além de abordar a fiscalização às empresas de capitais públicos, a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas também se debruçou sobre a baixa taxa de execução do Orçamento e do Plano de Investimento e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) em 2016.

2 Mar 2018

Aprovado acordo que facilita viagens entre Taiwan e Estados Unidos

O Senado norte-americano aprovou ontem, por unanimidade, o Taiwan Travel Act, que só terá figura de lei quando Donald Trump a aprovar. O acto representa não só a oficialização de viagens entre Estados Unidos e a Ilha Formosa, mas encoraja o estabelecimento de negócios em solo americano. Como seria de esperar, a acção não agradou à China

 

[dropcap style≠‘circle’]É[/dropcap] certo que os Estados Unidos nunca disseram, preto no branco, estarem contra a noção de “uma só China”. É também certo que o país não tem relações diplomáticas com Taiwan desde 1979, mas sempre houve uma aproximação entre os dois territórios, que ganhou relevo desde a eleição de Donald Trump.

Primeiro foi o telefonema entre o presidente norte-americano, com Tsai ing-wen, presidente da Ilha Formosa, em Dezembro, que não agradou à República Popular da China. Agora, chegou outro sinal que pode cair mal junto do Governo de Xi Jinping.

Esta Quarta-feira, o Senado norte-americano aprovou, por unanimidade, o Taiwan Travel Act. De acordo com a agência Reuters, trata-se da oficialização de um acordo que vai permitir uma maior facilidade nas viagens entre os dois países, sobretudo as que forem realizadas por altos dirigentes com os seus homónimos.

O Taiwan Travel Act encoraja também a que figuras dos meios cultural e económico de Taiwan possam estabelecer-se com uma maior facilidade nos Estados Unidos. Esta proposta de lei terá agora de ser aprovada pelo presidente Donald Trump, sendo que, de acordo com a Reuters, é pouco provável que o diploma seja chumbado, pois não é comum à presidência norte-americana chumbar algo que foi aprovado por unanimidade. Além disso, essa unanimidade já tinha sido verificada numa primeira aprovação câmara baixa do Congresso norte-americano.

De acordo com a edição online do Taipei Times, jornal da capital de Taiwan, Ed Royce, presidente do House Foreign Affairs Committee, disse que “os Estados Unidos e Taiwan partilham o compromisso para com a democracia, o Estado de Direito e os direitos humanos”.

“Deveríamos apoiar os países que buscam a democracia e que servem de inspiração para estes valores em toda a região da Ásia-Pacífico”, disse Ed Royce durante o acto de votação da proposta de lei.

O diploma aponta ainda para o facto das relações entre os dois territórios terem sofrido com a falta de contactos de alto nível desde 1979, devido às restrições impostas pelos Estados Unidos nas visitas oficiais realizadas a Taiwan, escreve o Taipei Times.

A China não gostou e já reagiu. A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, revelou que a RPC ficou “fortemente insatisfeita” com esta aprovação, uma vez que “viola seriamente” o princípio de Uma Só China, ou seja, a ideia de que a RPC e Taiwan (República da China) são um só país. A China apresentou mesmo um protesto diplomático relativamente a este acto.

Um mau lobby

Todd Lyle Sandel, docente especialista em estudos de Taiwan da Universidade de Macau (UM), classifica a aprovação por parte do Senado norte-americano como um sinal de que algo vai muito mal no Governo liderado por Donald Trump.

“Isso demonstra a fraqueza dos Estados Unidos, porque se o país tivesse um presidente normal, como Obama ou Bush, haveria um maior retrocesso [quanto à aprovação]. Isso pode potencialmente ferir as relações com a China, o que num contexto global é muito pior do que ter relações com Taiwan.”

Numa altura em que os olhos do mundo estão postos na China, que sustenta a sua posição no quadro diplomático através do estabelecimento de fortes relações bilaterais com muitos países, o académico acredita que o Taiwan Travel Act pode trazer problemas na relação com os Estados Unidos. Porém, o académico considera que Xi Jinping tem capacidade para ir além disso.

“Donald Trump tem uma série de problemas. A minha opinião pessoal é que Pequim tem muito mais influência nas suas relações diplomáticas do que os Estados Unidos, além disso, a economia chinesa tem vindo a crescer. A China tem, neste momento, um estatuto mais internacional.”

Para o académico, estamos também perante um acto de lobbying por parte do Governo da Ilha Formosa. “É lobby do Governo taiwanês para aumentar a sua influência, tendo em conta as ligações com o partido Republicano nos Estados Unidos. Isto é apenas parte do caos desta Administração Trump. Presidentes como Obama ou Clinton estariam mais conscientes [das consequências desta aprovação]. É um pequeno passo que pode trazer mais problemas do que coisas boas. É algo que fica mal à Administração Trump”, defendeu ao HM.

Apesar do Taiwan Travel Act encorajar o estabelecimento de novas empresas taiwanesas nos Estados Unidos, a verdade é que pouco ou nada vai mudar em termos económicos, defende o professor da UM, uma vez que Taiwan e os norte-americanos sempre tiveram laços firmados.

“Não sei muito sobre o lado económico que esta aprovação pode ter, penso que nunca houve grandes problemas do ponto de vista dos negócios, uma vez que a economia de Taiwan sempre esteve muito ligada aos Estados Unidos. Pelo que li, este acordo está relacionado com a permissão de entrada nos Estados Unidos de altos oficiais taiwaneses. Os Estados Unidos sempre realizaram visitas não oficiais. Penso que não terá grande impacto em termos de criação de novos negócios.”

Uma ajudinha na OMS

Os altos dirigentes de Taiwan têm vindo a ser barrados por Washington nas suas tentativas de estabelecerem ligações diplomáticas, sendo que os governantes norte-americanos não visitam Taiwan desde 1979.

O presidente do US-Taiwan Business Council, Rupert Hammond-Chambers, disse que esta entidade apoia a proposta de lei. “Acreditamos que vai melhorar as comunicações entre Taiwan e os Estados Unidos, especificamente ao nível da compreensão da situação de Taiwan junto dos decisores de Washington”, lê-se no Taipei Times.

Mais do que facilitar contactos oficiais, este diploma poderá fazer com que Taiwan tenha o estatuto de território observador junto da Organização Mundial de Saúde (OMS). O escritório económico e cultural de Taiwan em Washington já expressou o “agradecimento” em relação ao Congresso norte-americano pelo elevado apoio que mostrou em relação à Ilha Formosa durante este processo legislativo, aponta o Taipei Times.

Apesar do significado diplomático que a aprovação do Taiwan Travel Act contém, Todd Lyle Sandel afirma que os taiwaneses estão bem mais preocupados com os baixos salários e as fracas oportunidades de emprego.

“Estive em Taiwan recentemente e penso que a maioria das pessoas não se preocupa com isso. A maior questão são as grandes diferenças salariais, há muita insatisfação quanto a isso. Isso está mais ligado à estrutura económica e à ligação de Taiwan com a China, e há muita gente a mudar-se para a China para terem mais oportunidades de trabalho. A maioria dos taiwaneses não se preocupa com este tipo de acordos e políticas”, rematou.

Antes do telefonema feito à actual presidente Tsai ing-wen (que é a favor da independência do território), os Estados Unidos aprovaram a venda de armas a Taiwan no valor de 1,4 mil milhões de dólares.

Nauert disse que a aprovação da venda não viola a lei que define os contactos dos Estados Unidos com a ilha. “Acreditamos que mostra o nosso apoio à habilidade de Taiwan de manter uma política de autodefesa capaz”, acrescentou.

O Ministério da Defesa de Taiwan agradeceu aos Estados Unidos: “A venda de armas vai ajudar a reforçar a nossa capacidade de autodefesa e a manter a paz no Estreito de Taiwan”.

A China opõe-se firmemente à venda de armamento a Taiwan. Em Março de 2017, e na sequência de informações de que Washington preparava um negócio com a Ilha Formosa, Pequim veio contestar publicamente, renovando os apelos para que Washington respeite o princípio “uma só China”. No óptica de Pequim, esta é uma questão fundamental para preservar as relações bilaterais com os Estados Unidos e manter a estabilidade no Estreito de Taiwan.

2 Mar 2018

Cansaço, simplesmente cansaço

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]ansaço de mim mesmo ou de mim próprio? Vai dar no mesmo, um estuário de fadiga, num espelho desidratado.

O Pessoa arranjou os heterónimos para se aliviar destes sarilhos. Punha a mesma gabardina mas mudava de borsalino como os polígamos. Era como um búzio com várias cabeças. Sou demasiado macambúzio para o ardil resultar comigo, ou tão prestável que acabaria por inevitavelmente emprestar a chave do meu quarto a um heterónimo para ele ir lá dormir com companhia e acabaria à chuva, no cacimbo da noite, por extrema delicadeza.

Cansaço, e do mais impuro. Para já só descortino uma medida que me poderia salvar. Se eu casasse com a Dora Maar. Por vários motivos, ela tinha uma imaginação desatada e gostava de falar. Ora, eu pélo-me por falar menos. Ela mobilava a casa de palavras num instante e não se importaria com o meu silêncio porque como roçava o desequilíbrio, estaria tantas vezes ocupada em recuperar algum tino que nem daria pelo meu alheamento; por outro lado, ela reunia os encantos suficientes para compensarem a aragem inflamada com que às vezes o seu juízo desbordava. Claro que tudo isto parece um bocado egoísta, mas não é, repare-se, as ausências que ela me permitiria estariam fundidas nas frequentas ralações com que eu me ocuparia dela, seja por amor, ou por sobrevivência, para que as coisas corressem nalguma fluidez, sem estorvos.

Portanto, o meu aparente egoísmo ser-lhe-ia afinal vital porque me alienaria nela, por ela, com ela, numa presença contínua junto dela que de outro modo me seria insuportável.

Cansaço. Como o dela, imagino depois de ter sido durante anos amante do Picasso e deste a ter trocado pela jovem Françoise Gilot, o que a arrastou para uma crise.

Ou pior, muito pior. Porque ter uma relação com o Picasso e ficar cansada é normal, não será distinto de ter de lavar todas as janelas de um arranha-céus de duzentos andares na duração de um relâmpago, mas enfim, a perspectiva lá de cima há-de ter ganhos – não se há-de ficar com uma visão solteira. Muito mais complicado é ter uma relação a sós com a minha árida solidão e não ficar cansado de montar a tenda e de aplainar dunas, não convém nem ao mesmo e nem ao próprio e fica-se com o cérebro seco como as axilas do escorpião.

Era a mulher que me convinha. Bonita, altiva, de marés sempre vivas nas epístolas do desejo, com uma imaginação ímpar, iria de bom grado ao caixote de Picasso para resgatar esta fotógrafa delirante e modelo (nu) em repetidas sessões de Man Ray, a única mulher do pintor que esteve à altura do seu génio.

Se os meus amigos conseguirem localizá-la, informem-me. Há-de ter reencarnado.

Porque estou tão cansado que acabei de escrever como posfácio para um livro de poesia que vai sair daqui a dois meses:

«A amiba que desfez o cérebro daquela criança ilustrava um princípio gelatinoso. De uma simplicidade que abisma. O que é fascinante e horrendo.

Foi numa piscina, na Argentina, que o insigne animal, imaginemos que avançando em mariposa, penetrou pela narina da criança para depois se acomodar fazendo das suas.

Das notícias que mais me perturbaram neste começo do ano.

Observável apenas com a ajuda de microscópio, a amiba é um protozoário cuja vida remonta ao período de origem do nosso planeta. Como ser unicelular, movimenta-se e “captura” os alimentos emitindo prolongamentos citoplasmáticos – os pseudópodes –, os quais envolvem as partículas alimentares e incorporam-nas na sua massa gelatinosa, informe. Como parasita instala-se no intestino da mosca, quando esta suga o sangue de algum mamífero infectado, ou no cérebro das crianças, que desfaz. Para uma amiba nada nos distingue de uma mosca. Só nos resta acolher uma infinita humildade.

Creio que a poesia é uma amiba de efeito ao retardador.

Pode ser extremamente benigna para quem a lê, mas é refractária e sujeita a servidão o seu portador. E ameaça, não propriamente enchafurdar-nos no silêncio mas com uma pronta liquidificação das cabeças. A amiba, na sua simplicidade, rechaça quaisquer imprevistos. Foi sempre sob ameaça que escrevi, vivo amiúde nesse gume. Com a exaltação que antecede os fracassos.

Se pudesse não tinha escrito estes livros (são dois reunidos num volume). Foram-me impostos. Não lastimo, certifico. Não reivindico qualquer daimon. Possui-me uma amiba, e, cego desde o seu aparecer, corro contra ela. Imponho-lhe um ritmo embora tenha sido ela quem me obrigou a adoptar um passo de corrida. Por enquanto não ultrapassou a cavidade nasal, onde fez estalagem. O tempo é para ela um arco de luz?

Também eu gostava de dizer “gosto das formas que se tornam outras”. Mas quando o enigma foi desregulado por uma amiba vacilo sobre em que lado da forma ficar. Volteio entre as imagens sem subtileza, aristotelicamente.

Gostava de não vos afligir, mas a minha fatuidade é total e só me ocorre: cuidado com os contágios!»

Pior, a minha fadiga é tão grande que acredito piamente nisto.

Tal como creio no que escrevi no poema de outro livro: «Eu também não gosto dela./ Ao ser lida, porém, com um total desprezo, descobre-se/ apesar de tudo que o genuíno aí tem o seu lugar:/ escreveu Marianne Moore, num poema intitulado POESIA./ Esta declaração é um divisor de água./ Eu também detesto a poesia, posso lá eu relacionar-me/ com algo que me trata como um cão de cego?/ Gosto é de espreitar à socapa no espelho/ a ver se alguém que não eu, em gestos/ e expressões que me não pertencem, me perscruta./ À socapa, se ela sabe (a poesia) faz-me o escalpe.»

O ideal era conseguir calar-me (- Como se cala um pobre? Só os ricos se podem dar a esse luxo!), fazer do nevoeiro gabardina e escapulir-me. Ou perder-me entre os olhos redondos e os pés esguios de Dora Maar.

Quem (me) achar o seu endereço será o meu padrinho de casamento.

1 Mar 2018

O factor Pi(çarra)

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá aí o Festival RTP da Canção, que teve as suas duas meias-finais nas últimas duas madrugadas de Domingo para segunda, a horas indecentes em Macau. O festival é daquelas coisas que ou se gosta, ou se detesta, e entre estes últimos há quem mesmo assim veja, para depois dizer horrores, e quem não veja mas diga mal na mesma. Importa mesmo é dizer mal, e chamar àquilo “foleiro”, e “pimbalheiro” – digam lá se é ou não é?

Este ano o certame tem um novo aliciante, pois o Festival da Eurovisão realiza-se este ano em Lisboa, pois como estão recordados, no ano passado Salvador Sobral foi a Kiev matar esse borrego do rebanho do nosso miserabilismo, e atreveu-se a ganhar a Eurovisão. Já no ano anterior a selecção de futebol foi a Paris conquistar o seu primeiro grande título internacional, e numa questão de meses os portugueses ficaram sem dois brinquedos para jogar às lamentações.

Pode ser que organizar o Festival da Eurovisão seja considerado para alguns uma coisa de somenos, ou até um despesismo desnecessário, uma coisa que sai “dos nossos impostos”, oh oh oh. Só que em termos de promoção internacional para o país, o festival tem que se lhe diga, pois é visto por 200 milhões de telespectadores em todo o mundo. Para que vejam que estou a falar a sério, o Festival da Eurovisão de 2012 foi realizado em Baku, capital do Azerbaijão, e graças a ele fiquei com a ideia de que aquele país era um paraíso na Terra. Adiante.

Uma vez que Portugal organiza pela primeira vez este evento sexagenário, o factor casa implica que a canção representante nacional passe directamente para a final de 12 de Maio, e se quisermos outro milagre de Fátima como em 2017, convém encontrar um digno sucessor para “Amar pelos dois”, o êxito que Salvador imortalizou, e deixou o cançonetisto nacional no topo do mundo. Do escrutínio propriamente dito, vi por alto algumas canções e alguns intérpretes, e comentários à parte, penso que é um ano com mais qualidade que o habitual. Uma colheita mais ou menos, digamos. Dá para gostar de algumas entradas, e nota-se que pela primeira vez em muitos anos há uma mão cheia de artistas interessados em ganhar o festival.

Polémicas, claro que não podiam faltar. Depois de um equívoco na votação da primeira meia-final, estava servido o aperitivo para o prato principal: a “barraca” da canção de Diogo Piçarra. O cantor que esteve em Macau no último Festival da Lusofonia, e provavelmente o artista de maior “pedigree” em competição, trouxe um tema simples, que obteve o maior parte dos votos tanto do júri, como do público. Só que a “Canção do Fim” de Piçarra era mesmo tão simples, que já existia. Primeiro apareceu uma versão da IURD, pasme-se, datada de 1979, e depois outras anteriores a essa, em línguas estrangeiras. Surgiram imediatamente acusações de plágio, mas eu não ia tão longe; o Diogo Piçarra é um compositor com provas dadas, e as comparações com Tony Carreira são no mínimo injustas. O que se passou foi que desta vez o Piçarra não tentou. Não estava para ali virado, pronto. Picasso, que também começa com “pi”, não ficou famoso a pintar quadros que já existiam.

Depois de dois dias de vendaval na imprensa e nas redes sociais, Piçarra fez o melhor que tinha a fazer, e retirou-se da corrida à Eurovisão, enumerando as suas razões numa nota publicada no Facebook. Palmas para ele, por não ser teimoso. Ficasse a canção no festival, e provavelmente ganhava, podendo mais tarde ser desqualificada na final, o que seria uma vergonha. E porque é que ia ganhar? Porque nós iamos votar nela, ora essa. Porque nos disseram para não votar, e isso era o que faltava! Somos mesmo assim, nada a fazer. Agora pelo amor do Buda, vejam lá se fazem alguma coisa de jeito em Maio, para que o mundo fique pelo menos com a impressão de que somos um país de gente simpática, bem disposta e de bem com a vida. Assim como o Azerbaijão, vá lá.

1 Mar 2018

Automobilismo | Rodolfo Ávila gostava de voltar com a SAIC VW

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a sua primeira participação a tempo inteiro no Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC), em 2017, Rodolfo Ávila garantiu o vice-campeonato ao serviço da equipa oficial da SAIC Volkswagen. O piloto do território ainda não tem a época desportiva de 2018 definida, mas admite estar em negociações para repetir a participação no CTCC com a SV333 Racing.

Sem adiantar muito, Ávila revelou ao HM que, neste momento, está a “discutir a possibilidade de regressar ao CTCC com a SAIC Volkswagen”. O piloto da RAEM reconhece que “gostaria muito de continuar no campeonato depois da experiência do ano passado.”

Após duas provas com a SW333 Racing em 2016, o piloto de Macau foi convidado a fazer a temporada completa daquele que é o campeonato de automobilismo mais popular da República Popular da China ao volante de um dos quatro Volkswagen Lamando GTS oficiais. Com o objectivo único de ajudar a SAIC Volkswagen a triunfar no campeonato de Construtores, objectivo esse que foi cumprido, Ávila subiu por três ocasiões ao pódio, tendo terminado na segunda posição do campeonato e como melhor representante da equipa que contou em algumas provas com os serviços do campeão do mundo de carros de Turismo de 2012 e recordista de triunfos no Circuito da Guia, o inglês Rob Huff.

Tradicionalmente, só depois do Ano Novo Lunar é que as equipas do CTCC confirmam os seus pilotos, divulgam os seus projectos e iniciam o seu programa de testes de pré-temporada. O calendário do CTCC de 2018 ainda não foi dado a conhecer à imprensa, mas deverá compreender novamente oito eventos, em circuitos permanentes e citadinos, todos na China Continental.

Perninha nos GT

O piloto português do território teve algumas incursões nas corridas de GT o ano passado, conduzindo um Aston Martin Vantage GT4 no Campeonato da China de GT e um KTM X-BOW no campeonato GT Masters. No início do presente ano, Ávila testou no circuito malaio de Sepang o novo Audi R8 LMS GT4 e não descarta, de acordo com a sua disponibilidade, a possibilidade de voltar a correr em provas soltas dos campeonatos de Grande Turismo na região.

“Gostaria de fazer algumas corridas de carros de GT, porque as experiências e os resultados que consegui o ano passado foram interessantes”, esclarece, deixando claro que por agora não tem nada ainda em concreto, pois “terei que procurar oportunidades ao longo da época”.

Ávila tem uma vasta experiência em provas de GT, tendo vencido, ao volante de um Ferrari, o Asian SuperCar Championship em 2008, e sido vice-campeão da Taça Porsche Carrera Ásia em 2011.

1 Mar 2018

Um Mundo em Queda, ou a curiosa figura de Ramiro, o alfarrabista

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]osse mais comprido e poderia ser este o nome do mais recente filme de Manuel Mozos, com estreia comercial no dia 1 de Março em nove ecrãs na área metropolitana de Lisboa e Porto.

O filme viu iniciada a sua carreira internacional na Bienal de Veneza, no festival de Sevilha, no Festival Mar del Plata, em São Paulo, e foi o filme de abertura do Doc.Lisboa 2017.

RAMIRO, é este o nome do filme, inscreve-se na tradição do cinema europeu pós-II guerra mundial que trabalha as pequenas narrativas, histórias de livros de bolso de gare de estação, movimento iniciado com o grupo de cineastas da revista “Cahiers do Cinéma” fundada em 1951. Um cinema que abandona as grandes obras literárias para se focar em histórias de pequenos heróis, do herói relutante, um cinema de pessoas e quotidianos que se advinham possíveis e palpáveis em singulares realidades quotidianas.

RAMIRO é a história de um alfarrabista em Lisboa, poeta em bloqueio criativo, que vive um desconforto almofadado entre a loja e a tasca, acompanhado pelo cão, pelos companheiros de copos e modos de sentir, em que a vizinha adolescente e grávida e a avó, esta a recuperar de um AVC, tem um lugar particular na sua constelação de afectos. Há aqui um universo que se aproxima de uma certa Lisboa do fado, no entanto não há guitarras nem a fatalidade ou o destino e a desgraça são exatamente o campo onde o filme se move. O cartaz que apresenta o filme assinala-o como pertencendo ao género comédia delicada, estamos no terreno onde o irónico é dominante.

Aristóteles, na sua Poética, diz-nos que na comédia é o território do homem comum. RAMIRO é um autor que não publica e nem ele sabe se vai ou não escrever. É autor de um livro de que tem uns tantos exemplares numa gaveta na loja que não expõe nem vende. A ideia de escrever é uma pequena tortura. Vive os dias na loja e as noites nos copos. É amigo e o encarregado de educação de Daniela, a jovem adolescente grávida, cujo pai está na prisão a cumprir pena de homicídio por esfaqueamento da mulher.

Com este alinhamento narrativo o filme podia ser tudo, uma cavalgada emocional com picos e arcos narrativos bem definidos, misturando géneros, o drama e a comédia, não o faz. É um filme de emoções contidas, de coabitação sensata em bairro de gente remediada.

Ao realizador parece interessar estes mundos quase quietos em desfasamento com a velocidade, a hibridez e a necessidade multi-skills do contemporâneo. A vida acontece e é aceite sem interrogações, não se interroga como cresce um filho sem pai e de mãe ainda adolescente. Os laços de vida bairro são suficientes para o amparo à chegada de um novo ser, sem dramas ou outros entusiasmos que não os previsíveis. As vidas são o que são e quando acontecem, mas também não parece ser uma abordagem fenomenológica o que o filme procura.

Há citações, como sempre, a primeira e mais permanente, materializada numa fotografia de considerável dimensão com o retrato do personagem Jaime França, que é na realidade uma fotografia com o notável produtor de cinema Henrique Espírito Santo, da Prole Filme, ou o incontornável Godard, com uma citação ao filme Band à Part (1964).

 

Dizia o Manuel Mozos, três horas antes da ante-estreia na sala 6 dos cinemas no El Corte Inglês, no pátio da esplanada da Cinemateca, esse lugar santuário do cinema, em breve conversa acompanhada por uma leve chuva, em resposta a três perguntas.

— O que é este filme?

— É sobretudo um filme sobre um personagem com as suas motivações e desmotivações. O que me interessa e, mais do que o desenvolvimento de uma narrativa, é um olhar centrado nas peripécias do personagem e à sua volta. Os meus outros filmes também são centrados numa personagem. O que sucede ao longo do filme é sobretudo um acompanhar com a camera o conforto e desconforto do personagem na sua vida banal, quotidiana . O foco é a personagem, o RAMIRO, é ele o objecto da atenção da câmara. Ele vive desfasado da realidade contemporânea, não sabe conduzir, não sabe fazer o IRS, é um alfarrabista, um métier em desaparecimento no tecido urbano da cidade contemporânea que é Lisboa. O negócio das primeiras edições e edições de luxo vai continuar, mas isso é outra realidade.

Ao longo do filme vemos a materialidade dos espaços, interessa-me um cinema em que o décor é também uma fala. Neste mundo em transformação acelerada o Raimundo é um personagem parado no tempo, que embora não sendo saudosista tem no entanto uma relação nostálgica. Vive numa espécie de bolha na qual está confortável.

Interessou-me filmar Lisboa em planos não muito abertos, mesmo os planos de conjunto são fechados, pareceu-me que dessa forma conseguia filmar melhor o misterioso, as camadas de pele que se agarram nas pedras.

Estou mais preocupado com uma certa fidelidade a uma ideia, ao simbólico, do que a veracidade do raccord. Em Ramiro há um outro tempo, o tempo passado, estamos próximos da resistência, voltamos a olhar para o que já fomos, voltamos a ser outra vez: a uma existência para além dos aparelhos, é um pequeno elogio a um quotidiano perdido, talvez na subtil na esperança da permanência de um tempo que se esvai, e que o cinema permite resgatar interrogando a cidade que queremos.

— Filmaste uma Lisboa que já não existe?

— Ainda existe, só que cada vez é mais reduzida e em alguns aspectos corre o risco de desaparecimento. Sempre me interessou a relação do cinema com o arquivo, como se pode confirmar com o meu filme documentário Ruínas, e outros filmes em que trabalho com próprio arquivo. Aliás eu trabalho, sou funcionário do ANIM ( Arquivo Nacional Imagens em Movimento) .

— Como vês os próximos tempos do cinema Português?

— Parece-me que essa espécie de guerra entre uma ideia de cinema comercial e de autor está ultrapassada ou em vias disso, até porque os cineastas mais novos, os vão chegando, se os deixarem à profissão, já não alimentam essa discussão. O cinema é, como sempre foi, cinemas. As questões mais complexas tem a ver com as condições de produção dado sermos um país com muitas dificuldades de financiamento e onde o cinema é visto de forma periférica, para Portugal e para os portugueses o cinema não tem nem expressão nem manifesto interesse. É verdade que o circuito de festivais e até alguns festivais classe A estão com com o cinema Português, mas essa visibilidade internacional não é, ou não tem sido capitalizada. Para além da questão do financiamento da produção há a questão central que é a distribuição comercial; por um lado internamente, o mercado interno é ingrato para os filmes portugueses, muitas vezes os filmes são trucidados logo no lançamento, nós não temos verbas para campanhas de marketing e publicidade e coisa anda aos solavancos, quando anda. No mercado internacional a distribuição é ainda mais complicada, aí ou se está de forma inteiramente profissionalizada, o que obriga a custos e estruturas que ainda não temos, ou temos as alegrias e tristezas da corrente que os ventos sopram. A questão é que não há ainda uma política consistente da parte do Estado sobre o cinema quanto à produção nem quanto à distribuição e provavelmente – quanto ao interesse do próprio Estado quanto ao cinema. Ou seja, o cinema é uma porta, uma enorme possibilidade e talvez até uma enorme necessidade para Portugal, mas que continua fechada.

Em Ramiro há um outro tempo, estamos num plano de resistência, voltamos a olhar para o que já fomos, voltamos a ser outra vez: existimos para além dos aparelhos do universo da sociedade tecnológica.

Mozos faz com Ramiro um elogio de um quotidiano em queda, talvez na subtil na esperança da permanência de um tempo que se esvai, mas que o cinema permite viver e interrogar: como e que cidade queremos?

 

Realização

MANUEL MOZOS

argumento

MARIANA RICARDO, TELMO CHURRO

fotografia

JOÃO RIBEIRO

assistente de realização

BRUNO LOURENÇO

anotação

TELMO CHURRO

som

MIGUEL MARTINS

direcção artística

ARTUR PINHEIRO

guarda-roupa

LUCHA D’OREY

caracterização

RITA CASTRO

montagem

PEDRO FILIPE MARQUES

direcção de produção

EMÍDIO MIGUEL

produtores

LUÍS URBANO, SANDRO AGUILAR

Cor | 104’ | DCP

© O SOM E A FÚRIA 2017

1 Mar 2018

Transportes | Voo entre China e Portugal com taxa de ocupação superior a 80 por cento

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] voo directo entre a China e Portugal registou uma taxa de ocupação superior a 80 por cento, nos primeiros seis meses desde a inauguração, disse ontem à agência Lusa fonte da companhia aérea chinesa Capital Airlines.

No total, a primeira ligação directa entre os dois países transportou cerca de 40.000 pessoas, revelou fonte do departamento de marketing da empresa.

O voo, que tem três frequências por semana, entre a cidade de Hangzhou, na costa leste da China, e Lisboa, com paragem em Pequim, arrancou a 26 de Julho.

Coincidindo com a ligação a Lisboa, a companhia aérea abriu também um voo entre Macau e a capital chinesa, de forma a servir também os 15.000 portugueses que vivem no território outrora administrado por Portugal.

Em 2017, o número de chineses que visitaram Portugal cresceu 40,7 por cento, para 256.735, segundo dados das autoridades portuguesas, que atribuem o aumento à abertura da ligação aérea directa.

De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística, os turistas chineses foram responsáveis por 415.882 dormidas em Portugal, mais 109 240 “noites” do que em 2016.

A consultora Global Blue revela ainda que, em média, cada turista oriundo da China gastou 642 euros por dia em Portugal.

A China é já o maior emissor mundial de turistas e, segundo dados do Governo chinês, 129 milhões de chineses viajaram para o estrangeiro em 2017, mais 5,7 por cento do que no ano anterior.

A Capital Airlines é uma das subsidiárias do grupo chinês HNA, accionista da TAP, através do consórcio Atlantic Gateway e da companhia brasileira Azul.

1 Mar 2018

China quer “provas sólidas” de que Pyongyang forneceu armas à Síria

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo chinês disse ontem esperar que as informações sobre uma possível ligação entre a Coreia do Norte e as armas químicas do regime sírio se baseiem em “provas sólidas”.

“Esperamos que as partes implicadas possam fornecer provas sólidas, em vez de adoptar acções a partir do nada”, afirmou o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Lu Kang.

O jornal norte-americano The New York Times (NYT) avançou que Pyongyang forneceu a Damasco materiais habitualmente utilizados no fabrico de armas químicas, citando um relatório de especialistas das Nações Unidas, que não foi ainda divulgado. Segundo o jornal, o documento detalha que o regime de Kim Jong-un forneceu válvulas, lajes e termómetros resistentes a ácidos, habitualmente usados na produção de armamento químico.

A fonte citada pelo NYT ressalva, no entanto, que não há provas concludentes de que os materiais tiveram aquele uso.

O mesmo documento revela que uma empresa de navios chinesa participou no transporte dos materiais.

“Se há pessoas ou empresas chinesas que violaram as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, a China tomará medidas de acordo com as suas leis e as resoluções pertinentes” das Nações Unidas, afirmou Lu.

1 Mar 2018

Xi Jinping | Exército apoia fim da limitação de mandatos para Presidente

O exército chinês expressou o seu apoio à exclusão na Constituição do país do limite de dois mandatos para o cargo de Presidente, que permitirá ao actual chefe de Estado, Xi Jinping, perpetuar-se no poder

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] reforma constitucional, proposta no Domingo pelo Comité Central do Partido Comunista Chinês, é “muito necessária” e chega “no momento certo”, afirma o jornal oficial do Exército de Libertação Popular.

Em editorial, o PLA Daily escreve que a reforma “está em linha com as principais políticas e opiniões do Partido Comunista, adoptadas durante o XIX Congresso” e “reflecte os novos feitos, experiências e necessidades de desenvolvimento das forças armadas e do país”.

Realizado em Novembro passado, o XIX Congresso do PCC consagrou Xi Jinping como o mais forte líder chinês das últimas décadas, ao incluir o nome e teoria deste na Constituição do partido.

O exército chinês, um dos principais núcleos de poder na China, apoia assim uma proposta que despertou preocupação entre os intelectuais chineses e observadores internacionais, que consideram tratar-se de uma regressão na política chinesa, rumo a um sistema mais autoritário e uma ditadura pessoal.

A limitação de mandatos vigora na política chinesa desde os anos 1980, visando prevenir os desastres causados pelo totalitarismo de Mao Zedong (governou entre 1949 e 1976).

A purga

Xi, que já acumulou mais poder do que os seus dois antecessores, Jiang Zemin e Hu Jintao, promoveu nos últimos anos uma campanha anticorrupção a mais ampla campanha anticorrupção de que há memória na China, e que atingiu também alta patentes do exército, até há pouco tempo considerado intocável.

Nos últimos anos, dois ex-vice-presidentes da Comissão Militar Central – braço político do exército -, os generais Guo Boxiong e Xu Caihou, foram acusados de corrupção.

O primeiro foi condenado a prisão perpétua, em 2016, e o segundo morreu no ano anterior, antes de ser julgado.

1 Mar 2018

China | Actividade industrial cai para ritmo mais lento dos últimos 19 meses

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] actividade da indústria manufatureira da China abrandou em Fevereiro para o ritmo mais lento dos últimos 19 meses, devido ao impacto sazonal do Ano Novo Lunar, cujas festividades duram uma semana, segundo dados divulgados ontem.

Depois de em Janeiro se ter fixado nos 51,3 pontos, o índice que mede a actividade nas fábricas, oficinas e minas da segunda maior economia mundial recuou este mês para 50,3 pontos.

No entanto, a actividade manufatureira da China continua a expandir-se, visto que quando se encontra acima dos 50 pontos, aquele índice sugere uma expansão do sector, enquanto abaixo dessa barreira pressupõe uma contracção da actividade.

O índice é tido como um importante indicador mensal da economia chinesa, o principal motor da recuperação global após a crise financeira internacional de 2008.

Economistas alertam, no entanto, para o impacto sazonal do Ano Novo Lunar, que este ano se celebrou entre os dias 15 e 21 de Fevereiro.

Durante a principal festa das famílias chinesas, que todos os anos calha em dias diferentes dos meses de Janeiro ou Fevereiro, centenas de milhões de trabalhadores chineses gozam uma semana de férias, levando as fábricas a suspender ou reduzir a produção naquele período.

“O período das festividades é tradicionalmente uma época fraca para os negócios. As empresas por norma interrompem o seu trabalho ou reduzem a produção e a actividade do mercado abranda”, explicou o analista Zhao Qinghe, do Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês, que publicou os dados online.

Os números revelam ainda um abrandamento no sector dos serviços, cujo ritmo caiu para 54.4 pontos, em Fevereiro, depois de se ter fixado nos 55.3 pontos, no mês anterior.

1 Mar 2018

China | Armazenamento dos dados da Apple gera preocupação sobre privacidade

O serviço de armazenamento da Apple, o “iCloud”, na China, passa a partir de hoje a ser operado por uma empresa chinesa, possibilitando às autoridades do país ter acesso ao conteúdo dos utilizadores, advertem organizações internacionais

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] “iCloud” na China é agora operado por um parceiro local, o Guizhou-Cloud Big Data Industry (GCBD). Esta mudança implica que todos os dados que sejam armazenados naquele serviço na China – incluindo fotos, vídeos, documentos e cópias de segurança – estarão sujeitos a novos termos e condições.

“Quando as autoridades solicitarem informação ao GCBD sobre um utilizador do ‘iCloud’, para efeito de investigação criminal, a empresa terá a obrigação legal de partilhar o conteúdo”, alerta a Amnistia Internacional (AI), em comunicado.

Apesar de a Apple gozar de boa reputação na defensa da privacidade e segurança, sobretudo depois de em 2016 ter apelado a uma ordem judicial de um tribunal norte-americano, que permitia ao FBI evadir a segurança dos telemóveis, na China a situação é diferente.

O gigante tecnológico norte-americano foi criticado por bloquear o acesso dos utilizadores chineses a aplicações de mensagens instantâneas, como o Whatsapp, ou de eliminar da Apple Store as VPN, um mecanismo que permite aceder à internet através de um servidor localizado fora da China, contornando assim a censura do regime.

Estas mudanças “são o sinal mais recente de que o aparelho repressivo legal da China está a tornar difícil à Apple manter os seus compromissos com a segurança e privacidade dos utilizadores”, escreve a AI.

À chinesa

A organização afirma que o Governo chinês tem agora acesso praticamente ilimitado aos dados dos usuários armazenados dentro do país, que “carece de uma protecção adequada aos direitos à privacidade, liberdade de expressão e outros direitos humanos fundamentais”.

“A polícia chinesa disfruta de amplos poderes discricionários, e aplica leis e regulamentos amplos e ambiguamente articulados para silenciar a dissidência, restringir ou censurar informação e perseguir e processar os defensores dos direitos humanos, e outros, em nome da segurança nacional’ e outros supostos crimes”, escreve.

Isto leva a que internautas chineses “possam ser detidos e presos simplesmente por difundir, comunicar ou aceder a informação e ideias que as autoridades não aprovam”, acrescenta a AI.

Aprovadas em 2017, as novas regulações do país exigem que as empresas armazenem todos os dados de utilizadores chineses dentro da China.

A Apple informou os seus clientes sobre a alteração que ontem entra em vigor, justificando com a necessidade de “cumprir com as normativas chinesas”.

A China é o terceiro maior mercado da Apple, a seguir aos Estados Unidos e Europa.

1 Mar 2018

Exposição | Bienal de Mulheres Artistas inaugurada dia 8 no MAM

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] já no próximo dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, que o Museu de Arte de Macau (MAM) acolhe, em parceria com o Albergue SCM e o Instituto Cultural (IC), a exposição colectiva “Mulheres Artistas – I Bienal Internacional de Macau”. A mostra estará patente até ao dia 13 de Maio.

A mostra incluiu, além do trabalho da reconhecida pintora portuguesa Paula Rêgo, um total de 142 obras de 132 mulheres realizadas desde os anos 70 até aos dias de hoje. Estas artistas representam um total de 23 países, e estão incluídos trabalhos que vão desde a pintura à serigrafia, desenho, escultura, instalação e vídeo.

De acordo com um comunicado do Instituto Cultural, “esta exposição tem como objectivo elevar a visibilidade das mulheres artistas contemporâneas e dar a conhecer a sua influência criativa na sociedade e cultura, bem como revelar os diversos papéis da identidade feminina, as diferentes interpretações do feminino e as práticas artísticas que transcendem as diferenças de género”.

Vindas de regiões tão diferentes como o Interior da China, Macau, Hong Kong, Taiwan, Coreia do Sul, Japão, Timor-Leste, Rússia, Índia ou Irão, as artistas integrantes desta exposição “pertencem a diferentes épocas, regiões e contextos culturais, tendo cada qual emoções e métodos criativos individuais, e as suas obras revelam ao público o mundo artístico único das mulheres”.

A mostra “Mulheres Artistas – I Bienal Internacional de Macau” será dividida em duas partes. A primeira “é composta por 41 peças da colecção do MAM, produzidas entre a década de 1970 e os dias de hoje, dispostas por períodos de dez anos, dando a conhecer ao público os êxitos do MAM no seu estudo de obras de mulheres artistas de vanguarda e da história da arte de Macau”.

“As obras expostas incluem obras seleccionadas de séries de trabalhos produzidos pelas artistas bem como obras de grande escala de artistas convidadas. Na segunda secção são expostas obras de 101 mulheres artistas activas nos círculos artísticos internacionais provenientes da colecção do Albergue SCM”, acrescenta o comunicado.

Esta não é a primeira vez que tanto o IC como o Albergue SCM exploram o universo feminino da arte. O ano passado decorreu, no Albergue, a exposição “28 Artistas + 28 Obras em Feminino”, onde foram reveladas obras de 28 mulheres de Macau e de países de língua portuguesa. Foi esta a génese da bienal que agora se inicia.

“Ambas as exposições focaram a sua atenção na posição da mulher no mundo da arte contemporânea bem como em outros elementos complementares. Neste contexto, estas duas entidades contribuíram com ideias e perspectivas diferenciadas para lançar a mais abrangente “Mulheres Artistas – I Bienal Internacional de Macau”, remata o comunicado.

1 Mar 2018

Paula Rego em destaque na Tate em mostra coletiva com Freud e Bacon

Cinco obras de Paula Rego figuram, num espaço dedicado à pintora portuguesa, na exposição coletiva “All Too Human – Bacon, Freud and a Century of Painting Life”, que abriu ontem no museu Tate Britain, em Londres

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] exposição reúne cerca de cem obras de 22 pintores, entre os quais alguns dos mais célebres artistas britânicos modernos, com destaque para Lucian Freud e Francis Bacon, mas também Walter Sickert, Stanley Spencer, Michael Andrews, Frank Auerbach, Francis Newton Souza ou Leon Kossoff.

A exposição tem por objetivo mostrar como artistas de diferentes gerações ao longo do século XX e XXI conseguiram retratar pessoas, locais, eventos ou relações pessoais e transmitir as respetivas experiências e sensações através da tinta e das diferentes técnicas.

Mais de metade das obras em exposição são emprestadas por colecionadores privados ou outras instituições, algumas foram raramente vistas em público, e várias não eram expostas há décadas.

A curadora Elena Crippa disse à agência Lusa acreditar existir uma tradição britânica no uso de modelos vivos e de paisagens, para os artistas se exprimirem e retratar a atmosfera social e pessoal em que viviam, atravessando mesmo correntes artísticas.

Por exemplo, Francis Bacon e Alberto Giacometti são reconhecidos por criarem, nos anos de 1950, quadros com figuras em estado de isolamento e angústia, transmitindo, de certa forma, o ambiente de ansiedade após a Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, acrescentou, também quis promover uma mensagem simples numa Era de excesso de informação cada vez menos relevante para as pessoas enquanto seres humanos.

“Sinto que o que estes pintores nos dão através deste trabalho é esta afinidade com o que nos interessa como indivíduos no quotidiano: é sobre tu e eu, é sobre o espaço onde vivemos, é sobre o grupo de pessoas com quem interagimos e com quem nos relacionamos. Espero que as pessoas se identifiquem com este desejo de restabelecer uma ligação simples à natureza humana”, resumiu.

Paredes meias

Lucian Freud é um dos artistas britânicos mais proeminentes e está representado em dois períodos, o primeiro influenciado por William Coldstream, no olhar analítico da cena e das pessoas, e um segundo, após os anos 1960.

Trocando pincéis finos por outros mais grossos e a posição sentada pela postura em pé resultou em perspectivas que enfatizam os volumes dos corpos e a carga psicológica dos retratos, vários dos quais de pessoas completamente nuas, como o amigo David Dawson.

Amigo e assistente entre 1990 até morte de Freud, em 2011, foi protagonista de “David and Eli”, onde é retratado deitado junto com o cão de estimação.

“Estar em frente a este quadro, que eu já não via há tantos anos, é muito emocionante. Traz à memória a altura em que foi pintado, em 2003. Ao todo, posei para nove quadros. Acho que já não via este quadro há pelo menos uns dez anos, mas reconheço-me perfeitamente nele”, contou Dawson à Lusa.

Sobre o espaço dado às cinco obras de Paula Rego, uma das quais um tríptico, Elena Crippa defende o papel que a artista portuguesa tem na arte não só britânica, mas a nível internacional, por ter rompido com o domínio até então masculino na pintura.

Telas no feminino

“Ela é uma artista que, numa altura em que a pintura ainda era uma actividade dominada por homens, surgiu como uma pintora feminina que conseguia produzir quadros de grande dimensão, de forma confiante, com composições lindíssimas, e de certa forma deu às mulheres pintoras a oportunidade de dizer que a pintura não está reservada a um género”, salientou.

A curadora da Tate elogia a forma como a portuguesa usa, nos seus quadros, personagens femininas, sejam vítimas ou culpadas ou retratadas de uma forma sexualizada em composições encenadas, criando um novo estilo. “De certa forma, sinto que são mulheres que apenas uma artista mulher poderia conceber. E ela tem não só este toque de mulher, mas um toque feminino, que foi muito importante para outras pintoras de gerações mais jovens”, vincou.

Uma das telas de Paula Rego em exposição é “A Família”, de 1988, em que um homem é dominado por duas figuras femininas, enquanto uma terceira observa, num ambiente doméstico, no qual se lêem sentimentos como amor, ressentimento e dor.

A cena retrata alegadamente os momentos derradeiros do marido de Rego, Victor Willing, antes da morte por doença degenerativa, a ser ajudado pela pintora e pela filha, mas a cena torna-se complexa e ambígua, devido à presença de referências a Joana d’Arc, São Jorge e à fabula do Corvo e da Raposa.

Num texto publicado no jornal The Guardian, na semana passada, a propósito da abertura desta exposição, Paula Rego disse estar sempre a contar uma história nos seus quadros, mesmo que essa história vá mudando ou que só seja descoberta no final do processo de criação.

“As histórias têm pessoas nelas”, escreveu, então desenha pessoas a fazer coisas umas às outras, lembrando que recorre a contos do folclore português e a histórias como as de Eça de Queirós.

A exposição “All Too Human” mantém-se no museu Tate Britain até 27 de agosto, viajando depois para o Museu de Belas Artes de Budapeste, no final deste ano.

1 Mar 2018

Assédio sexual | Mulher diz que engravidou após ter sido violada por Steve Wynn

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Sexo consentido

Em relação ao segundo caso, a alegada vítima, que trabalhava como croupier no Casino Golden Nugget do magnata, admite que teve várias vezes relações sexuais consentidas com Steve Wynn. Contudo, diz ter-se sentido coagida e que, por isso, decidiu recusar novas investidas. O caso aconteceu no Verão de 1976, nas traseiras do casino. Quando Wynn pediu à mulher que o acompanhasse, ela terá dito: “não”. Momentos depois, foi acusada de ter roubado 40 dólares de uma mesa e foi obrigada a demitir-se.

Um porta-voz da empresa recusou comentar o caso à AP.

Os casos em causa não vão ser investigados pelas autoridades norte-americanas, uma vez que no Nevada os crimes em causa têm um período de prescrição de 20 anos.

1 Mar 2018

Julgamento | Defesa diz que MP procurou uma vítima na DSAMA para sacrificar

Advogada de Ip Va Hung aponta que era prática comum na DSAMA aceitar-se o pagamento de jantares e bilhetes de barco, mas que o arguido foi o único a ser responsabilizado penalmente. O Ministério Público pede condenação para o ex-chefe de departamento

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a Direcção de Serviços de Assuntos Marítimos e Água (DSAMA) era prática corrente aceitar-se o pagamento de jantares e pedir bilhetes às transportadoras de ferries. Ip Va Hung foi a vítima escolhida para sacrificar no altar da justiça de Macau. A tese foi apresentada, ontem, pela defesa durante as alegações finais do julgamento do ex-chefe do Departamento de Apoio Técnico Marítimo da Capitania dos Portos.

“Houve provas importantes [recibos de jantares e pedidos de bilhetes] que ficaram de fora da acusação. Foram colocadas nos apensos. Ficou claro que o MP desconsiderou documentos e factos importantes”, disse, ontem, Márcia Costa, advogada de defesa de Ip Va Hung, sobre práticas que também envolveram a directora da DSAMA, Susana Wong, e o ex-director Vong Kam Fai. “A acusação é uma história que escolheu uma vítima para sacrificar”, acrescentou.

A causídica acusou o Ministério Público de fazer uma acusação demasiado focada nas questões pessoais. “É uma história que inclui uma relação extraconjugal e uma filha fora do matrimónio. Mas isso não é matéria para o tribunal julgar”, sublinhou.

Ip Va Hung é acusado de se ter corrompido com bilhetes de ferry, com um jantar que não pagou para três pessoas, no valor de 1.500 patacas e ainda por aceitar que lhe pagassem a inspecção do carro, uma consulta médica e dois quartos de hotéis. Em causa estão no total cerca de 16 mil patacas. Ip admite o pagamento de ferries e do jantar, mas sobre os restantes factos sustenta que foi ele quem pagou.

Por outro lado, a advogada recordou que o arguido recebia 60 mil patacas por mês, um valor superior aos subornos: “Não se pode acreditar que qualquer homem numa posição média colocasse em causa o seu futuro por 16 mil patacas”, frisou.

Dinheiro por devolver

Sobre a relação com Li Mianxiong, ex-funcionário da transportadora Cotai Chu Kong e o segundo arguido do caso, acusado de corrupção activa, a defesa falou de uma amizade “talvez menos própria e desadequada”. Contudo, insistiu que não houve benefícios nem se demonstraram as contrapartidas.

Já o Ministério Público considerou que ficou provado que Ip foi corrompido e que cometeu os crimes de que é acusado. Segundo o MP, Ip beneficiou a Cotai Chu Kong, violando as leis “da justiça e equidade”. Sobre o pagamento das consultas, hotéis e inspecção do carro, o MP apontou que não há provas que mostrem que o montante pago foi devolvido.

O ex-chefe de departamento da DSAMA é acusado de um crime de corrupção passiva para acto ilícito, punível com uma pena de prisão de 1 a 8 anos, e de um de abuso de poder, com uma pena que vai até 3 anos de prisão.

 

 

Susana Wong não abre emails

Ip Va Hung foi acusado de ter estado por trás de um contrato de concessão para o transporte de passageiros, que impedia que houvesse subconcessão de qualquer parte dos serviços prestados. No entanto, acabou mesmo por haver subconcessão. Ip é acusado de não ter feito nada para impedir isso. Ontem a defesa recordou que os dirigentes e os subordinados da DSAMA estavam cientes da situação. A própria directora Susana Wong teria conhecimento do caso: “Foram enviados emails [com conhecimento para ela]. A directora disse que não abre emails e que não tinha conhecimento da situação. Mas isso não é um problema do arguido”, afirmou Márcia Costa. A causídica lembrou também que as condições do contrato foram decididos por uma comissão.

Dias santos

“O próprio Vong Kam Fai pediu bilhetes para feriados e fins-de-semana. Mas as autoridades admitiram que não investigaram estes pedidos”, a revelação foi feita pela defesa de Ip Va Hung, ontem. “A investigadora disse que só investigaram o arguido. Isto mostra que é uma prática generalizada, questionável, mas não é uma troca de contrapartidas”, defendeu.

1 Mar 2018