IACM | Mercado de Patane abre na terça-feira

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] novo mercado do Patane vai abrir oficialmente na terça-feira, anunciou, ontem, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), em comunicado. As novas instalações têm 13 pisos e uma área com mais de 20 mil metros quadrados.

A zona do mercado propriamente dita fica situada entre o rés-do-chão e o segundo andar do edifício. No rés-do-chão estão disponíveis 92 bancas para venda de pescado. Já no primeiro andar estão 54 bancas para comercialização de carne de porco e vaca, carnes congeladas, carnes assadas, vegetais, frutas e artigos de mercearia. Finalmente, o segundo andar terá nove bancas de carnes refrigeradas, e três, de comida cozinhada, além de 64 lugares para que precise de se sentar.

Além do mercado, o edifício proporciona à população um auto-silo público, com 116 lugares para viaturas ligeiras e 195 para motociclos.

No nono andar fica situado o Centro de Actividades, com um auditório, uma zona de leitura com jornais, revistas e computadores, uma sala multiusos, equipada com televisores e máquinas de massagem. A utilização é para pessoas com mais de 60 anos. Contudo, esta infraestrutura só vai abrir ao público no segundo trimestre do ano.

“O IACM acredita que este edifício pode vir a servir à população como uma instalação comunitária multifunções e tornar-se um local ideal para os cidadãos poderem fazer compras e relaxar”, lê-se no comunicado do Governo. Ao mesmo tempo o IACM espera que o novo mercado tenha “capacidade para responder a todas as necessidades dos moradores da zona, promovendo uma maior integração do bairro e elevando a qualidade de vida dos cidadãos”.

1 Mar 2018

Jogo | Lucros da Galaxy disparam com recuperação geral do sector

Os resultados da operadora controlada por Lui Che Woo registaram um crescimento de 67 por cento no ano passado e dispararam para os 10,5 mil milhões de dólares de Hong Kong

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] operada do jogo Galaxy registou um aumento nos lucros de 67 por cento, no ano passado. Segundo os números apresentados ontem, ao longo de 2017 os lucros atingiram os 10,5 mil milhões de dólares de Hong Kong, quando em 2016 tinham ficado nos 6,3 mil milhões. Os resultados foram conseguidos, apesar da concessionária de Hong Kong considerar que teve azar nas mesas de jogo.

No ano passado os lucros da operadora controlada por Lui Che Woo acompanharam a tendência do mercado e explicam-se em grande parte com um aumento das receitas, resultado da recuperação do sector do jogo.

“As receitas ligadas ao jogo em 2017 foram de 58 mil milhões de dólares de Hong Kong, o que representa um aumento de 17 por cento face ao período homólogo. As receitas no sector de massas foram de 24,2 mil milhões, aumentando 15 por cento face ao período homólogo. No segmento VIP as receitas atingiram os 31,6 mil milhões, um aumento de 19 por cento face ao período homólogo”, informou a Galaxy, em comunicado.

Os resultados foram alcançados apesar dos lucros antes juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) ajustado terem sido afectados em 37 milhões de dólares de Hong Kong, devido à “falta” de sorte da operadora nas mesas do jogo.

Empresa confiante

Após serem conhecidos os resultados, o presidente do grupo, Lui Che Woo, mostrou-se esperançado face ao futuro da principal indústria do território. “Estou confiante no mercado de Macau a médio e longo prazo. Esta confiança tem por base o desempenho sólido da economia do Interior da China e a dimensão dos mercados a que ainda não chegamos, não só na China, como também na Ásia”, afirmou.

“Além disso, a abertura de novos casinos em Macau em 2018 e o lançamento da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau devem estimular o crescimento da indústria a curto prazo”, acrescentou.

Ao mesmo tempo, a Galaxy mostrou-se comprometida com a política de transformar Macau num Centro Mundial de Turismo e Lazer, assim como participar na política nacional Uma Faixa, Uma Rota.

“Apoiamos a visão do Governo de Macau de transformar o território num Centro Mundial de Turismo e Lazer, como fica demonstrado pelos planos para a fase 3 e 4 do casino Galaxy, assim como com o nosso projecto para Hengqin”, sublinhou Lui Che Woo.

No que diz respeito à política Uma Faixa, Uma Rota, o responsável mencionou o investimento num hotel com casino à beira-mar em Boracay, nas Filipinas. O projecto nas Filipinas deve representar um investimento entre 300 e 500 milhões de dólares norte-americanos.

 

SJM vê ganhos caírem 15,6 por cento

Apesar do mercado ter crescido no ano passado, a SJM registou uma quebra nos lucros de 15,6 por cento, que passaram de 2,33 mil milhões de dólares de Hong Kong para 1,96 mil milhões. Os resultados foram anunciados, ontem à tarde. Em comunicado, Ambrose So, director executivo da empresa, sublinhou que “apesar dos desafios” foram alcançados “progressos substanciais” na construção do casino Grand Lisboa Palace, no Cotai. Ambrose So disse ainda estar optimista sobre o futuro de Macau e da SJM.

1 Mar 2018

Jogo | Polícia que roubou 800 mil apanha 1 ano e 9 meses

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] polícia de Hong Kong que foi apanhado a roubar 800 mil patacas, em fichas de jogo, a um homem do Interior da China foi condenado com uma pena de 1 ano e 9 meses.

A sentença foi lida ontem no Tribunal Judicial de Base, com o colectivo de juízes a considerar que o arguido de 27 anos, com o apelido Ip, cometeu um crime de furto qualificado de valor consideravelmente elevado. O caso aconteceu em Setembro do ano passado no casino Venetian.

Após ter perdido dinheiro em apostas, o polícia da região vizinha tentou roubar as fichas do jogador do Interior da China. As fichas encontravam-se na mesa em que estava o turista. O indivíduo foi preso logo na altura, pela segurança do casino.

1 Mar 2018

AL | Deputados aprovam aumento do subsídio de nascimento mas pedem mais medidas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s deputados aprovaram ontem, por unanimidade, na especialidade, o aumento do montante do subsídio de nascimento para os funcionários públicos, mas pediram uma política mais abrangente se o objectivo da lei passa por incentivar a taxa de natalidade.

“O Governo não deve apenas focar-se na atribuição de subsídios para incentivar os nascimentos. Há que prestar apoio noutras vertentes, como ao nível da habitação ou dos cuidados de saúde”, defendeu Ella Lei, numa declaração de voto, após a aprovação do diploma. Leong Sun Iok também espera que possam ser lançadas mais políticas, pedindo em concreto mais apoio para as mães que trabalham. Igual posição foi manifestada por Pereira Coutinho: “O Governo tem de ter em mente um pacote, precisa de ter uma política geral. Esta medida não chega. Há que ter outras medidas complementares em simultâneo” para incentivar a natalidade. Lei Chan U, que assinou uma declaração de voto com Lam Lon Wai, também defendeu mais políticas direccionadas para a família, como o aumento da licença de maternidade.

Outro ponto abordado pelos deputados foi a diferença entre o sector público e o privado. “Deve chegar a um consenso para estudar a criação de um mecanismo para equiparar automaticamente os subsídios [de nascimento] atribuídos” de modo a evitar que no mesmo ordenamento jurídico “existam dois sistemas diferentes”, afirmou Wong Kit Cheng.

O diploma, cujos efeitos retroagem a 1 de Janeiro, define que o subsídio de nascimento passa a equivaler a 60 por cento do índice 100 da tabela indiciária da Administração Pública, ao invés de 45, ou seja, vai passar a corresponder a 5.100 patacas. A proposta de lei surgiu na sequência do anúncio, em Novembro, aquando das Linhas de Acção Governativa, de uma actualização do subsídio de nascimento atribuído pelo Fundo de Segurança Social de 5000 patacas.

1 Mar 2018

Deputado Mak Soi Kun quer referência explícita à “República Popular da China” nos BIR

O Bilhete de Identidade de Residente (BIR) devia ter, à semelhança do passaporte da RAEM, a “indicação nítida” de República Popular da China, defende o deputado, para quem tal serviria para elevar a “consciência de identidade nacional”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]pesar de, nos últimos anos, o Governo ter lançado iniciativas para “promover e divulgar a educação do amor pela Pátria e por Macau”, com acções de divulgação da Constituição da República Popular da China e da Lei Básica, bem como das leis da bandeira e do hino, Mak Soi Kun entende que estas medidas não chegam. Para elevar a “consciência de identidade nacional”, o deputado propõe que seja feito um estudo para analisar a viabilidade de se escrever, com todas as letras, “República Popular da China” no BIR e nos salvo-condutos.

“Já se passaram mais de 18 anos desde a transferência da soberania mas, neste momento, nos documentos de identificação de residente de Macau, apenas o passaporte da RAEM tem a indicação nítida de ‘República Popular da China’, mas o Bilhete de Identidade de Residente e o salvo-conduto não a têm”, observou na sua intervenção antes da ordem do dia no plenário de ontem na Assembleia Legislativa (AL). Tal reveste-se de particular importância porque esses figuram como os documentos de identificação com os quais os jovens têm o “primeiro contacto”, pelo que as informações deles constantes poderão “afectar directamente os seus conhecimentos sobre a sua identidade”, disse.

Voz do povo

“Se estes documentos não dispuserem de uma indicação nítida do país, isto poderá levá-los a reconhecer que eles próprios são pessoas da China em Macau e não pessoas de Macau na China”, insistiu. Mak Soi Kun assume-se como mensageiro, dando voz aos “muitos residentes” que “sugerem que o Governo da RAEM deve comunicar, quanto antes, com os serviços competentes do Estado, para efectuar um estudo aprofundado sobre a viabilidade de inserir, nos BIR e nos salvos-condutos, a indicação nacional de “’República Popular da China’”. O deputado refere ainda que a alteração tem como objectivo “incentivar as novas gerações a terem amor pelo Estado e por Macau”.

“Os conhecimentos da nova geração de Macau quanto à identidade nacional e à história do país ainda precisam de ser aprofundados”, afirmou, apoiando-se em dados de inquéritos à luz dos quais “há ainda cerca de 30 por cento dos jovens que não assumem bem a sua identidade chinesa”.

1 Mar 2018

Pró-democratas insistem que solução passa por oferta de habitação acessível

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]g Kuok Cheong e Au Kam San qualificaram as recentes medidas apresentadas pelo Governo para refrear o mercado imobiliário como meramente “decorativas”. A solução passa, defendem, por aumentar a oferta de habitação acessível para a classe média. “Face ao incandescente estado do mercado imobiliário, o Governo tem lançado várias medidas drásticas, que fizeram diminuir muito as transacções, mas não conseguiram baixar o preço das casas”, afirmou ontem Au Kam San na sua intervenção antes da ordem do dia na Assembleia Legislativa.

Os elevados preços devem-se não apenas à especulação, mas também ao “desequilíbrio do mercado”, disse, apontado o dedo aos promotores que, nos últimos dez anos, “movidos pela grande margem de lucros, preferiram construir casas caras, inacessíveis para a maioria”, as quais “acabaram por predominar no mercado”. Para efectivamente controlar os preços “deve-se resolver a insuficiência na oferta de casas de preço médio e baixo”, defendeu.

“É difícil o Governo recorrer a ordens executivas para controlar o preço das casas ou ordenar aos investidores a construção de habitações de acordo com o poder de compra dos locais”, comentou Au Kam San. O pró-democrata acrescenta que, contudo, o Executivo “consegue ajustar e controlar as habitações públicas, o que pode ter efeito de alavanca no mercado das privadas”, pedindo que sejam definidos, o mais rapidamente possível, planos de oferta e o rácio entre fracções sociais e económicas.

Ng Kuok Cheong subscreveu, instando o Executivo a criar “mecanismos para estabilizar a confiança dos residentes sobre a oferta de habitação. Focando-se em particular nos novos aterros, insistiu que as “mais de 50 mil fracções” projectadas, que “ocupam um quinto da totalidade da RAEM”, independentemente de serem públicas ou privadas, devem ser “utilizadas para responder às necessidades dos residentes”. Neste âmbito, insta o Governo a “estabelecer antecipadamente regimes para restringir a aquisição de fracções”, sugerindo, por exemplo, para afastar especuladores, que se consagre que os residentes permanentes podem adquirir o direito de propriedade de uma fracção nos novos aterros desde que não tenham mais de uma casa em Macau.

1 Mar 2018

Turismo | Deputados preocupados com elevado número de visitantes no Ano Novo Chinês

As multidões que tomaram as ruas de Macau durante o Ano Novo Chinês serviram ontem de mote a uma série de intervenções dos deputados que expressaram preocupação com o cenário vivido durante a semana dourada

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s incómodos causados aos residentes ou as recorrentes queixas de abusos na cobrança de tarifas por parte de taxistas e preços inflacionados nos restaurantes e hotéis foram alguns dos problemas identificados pelos deputados durante a semana dourada, que trouxe a Macau mais de 960 mil visitantes. Um número que representa um aumento de 6,5 por cento face ao mesmo período do ano passado.

Apesar de reconhecer que as medidas de controlo de multidões no centro produziram “certos efeitos para escoar os turistas e assegurar a ordem e a segurança nas horas de ponta”, Ho Ion Sang recordou que os turistas concentram-se particularmente em três pontos – Almeida Ribeira, Ruínas de S. Paulo e Leal Senado – o que “afecta não só trânsito e a vida diária dos residentes, como também as experiências dos turistas”.

Além disso, foram “muitas” as “notícias negativas” que surgiram depois dos feriados do Ano Novo Chinês, como as de que os restaurantes “aumentaram os preços de forma abusiva” e as de que os quartos dos hotéis estavam ao “preço do marisco”. Em paralelo, enquanto o metro ligeiro não chega, “os transportes públicos existentes”, ou seja, os autocarros e os táxis, mesmo somados aos ‘shuttle’ dos casinos, “não conseguem, sem dúvida, resolver as deslocações de 30 milhões de turistas por ano, sustentou o deputado.

“Para Macau ser um verdadeiro Centro Internacional de Turismo e Lazer, além da necessidade de resolver o problema do grande número de visitantes, deve também encontrar novos recursos turísticos e criar condições, de modo a atrair os turistas para irem a outros bairros”, defendeu, por seu turno, Kou Hoi In, antes da ordem do dia na Assembleia Legislativa. Uma intervenção subscrita também pelos deputados Chui Sai Peng e Ip Sio Kai. “Já apresentamos muitas sugestões: por exemplo, transformar a Avenida Almeida Ribeiro numa zona pedonal em certos períodos, durante os feriados e domingos”, continuou. No entanto, “o Governo não implementou nenhum plano substancial”, constatou.

Lei Chan U chamou a atenção para o “fenómeno de abuso na cobrança de tarifas e recusa de transporte por parte dos táxis e de cobrança desregrada de taxas adicionais por parte dos restaurantes” algo que, a seu ver, criou “uma experiência pouco feliz, tanto para residentes como para visitantes. Este fenómeno não é novo, mas um mal irreversível”, especialmente no que toca aos táxis, afirmou, destacando que, entre 14 e 19 de Fevereiro, a PSP sinalizou 254 irregularidades, a maioria das quais por abuso de cobrança de tarifas.

Outro tema de “acesa discussão na sociedade” prende-se com a cobrança desregrada de taxas adicionais” por parte dos estabelecimentos de comida que, segundo a imprensa, foi na ordem dos 10 a 20 por cento, afirmou o deputado dos Operários, indicando que o Conselho de Consumidores recebeu 58 consultas e queixas, dois terços das quais de turistas. “Durante as festividades, Macau demonstrou que tem muitas carências ao nível da qualidade dos serviços prestados”, resumiu.

 

 

Aprovado Regime de Garantia de Depósitos

Os deputados aprovaram ontem, por unanimidade, na especialidade, a proposta de lei de alteração ao Regime de Garantia de Depósitos, sem que tenha havido qualquer intervenção por parte dos deputados. O diploma, que entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação em Boletim Oficial, propõe que na determinação do valor da compensação a pagar sejam levados em conta os saldos dos depósitos acrescidos dos juros contados até à data de accionamento da garantia pelo Fundo de Garantia de Depósitos. O regime prevê um limite máximo de reembolso de 500 mil patacas a cada depositante e por banco.

1 Mar 2018

Função Pública | Deputados querem uniformizar licenças de maternidade

A proposta de revisão do Estatuto dos Trabalhadores da Função Pública de Macau prevê apenas sete a 30 dias de licença de maternidade pagos em caso de abortos espontâneos, quando a lei laboral prevê um período de 56 dias. Os deputados questionaram o Governo sobre esta “discrepância”

 

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]er um aborto espontâneo, quando se é trabalhadora pública, dá direito a uma licença de maternidade de entre sete a 30 dias, de acordo com a actual proposta de revisão do Estatuto dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ETAPM). Já no caso de se tratar de um parto normal, a trabalhadora tem direito a 90 dias de licença de maternidade, sendo que a lei das relações do trabalho prevê um máximo de 56 dias para o sector privado.

Os deputados que pertencem à 3ª comissão permanente da Assembleia Legislativa (AL), e que estão a analisar este diploma na especialidade, questionaram o Governo sobre esta matéria. Vong Hin Fai, deputado que preside à comissão, falou da existência de “discrepâncias” que não se compreendem.

“A comissão está atenta a este aspecto e quer perguntar ao Governo porque é que não introduziu esta alteração na proposta de lei. A comissão acha importante este ponto porque se trata de um assunto mais grave. As mulheres necessitam de recuperar psicologicamente em relação a um nascimento normal. Parece haver aqui uma discrepância em relação à lei laboral e vamos perguntar ao Governo se pretende alterar este ponto”, explicou o deputado.

Relativamente à amamentação, os deputados também têm dúvidas, uma vez que as versões chinesa e portuguesa levam a diferentes interpretações dos horários disponibilizados às mulheres.

“A comissão concorda com este incentivo à amamentação porque é uma política do Governo. Mas na proposta de lei lê-se que esta medida se aplica ‘à mãe que amamenta o filho’. Parece que, por cada filho, a mãe tem direito a uma hora para amamentar.”

Os deputados analisaram também o facto de cada serviço público ter uma interpretação diferente nesta matéria.

“A comissão teve conhecimento de que os serviços públicos têm diferentes interpretações desta norma. Na versão chinesa o estatuto diz que as mães têm apenas uma hora por dia para amamentar, mas na versão portuguesa parece que as mães têm direito a uma hora por filho. Há que clarificar os pressupostos desta norma”, explica o deputado.

Os deputados não avançaram com nenhuma proposta concreta quanto à clarificação do horário para amamentação. “A comissão não se pronunciou sobre se uma hora é ou não suficiente para amamentar. Queremos ter um diálogo concreto com o Governo para apresentarmos as nossas propostas”, esclarece Vong Hin Fai.

Modos de pagamento

Da reunião de ontem resultou também um diálogo quanto à questão das indemnizações a pagar a trabalhadores sinistrados. Vong Hin Fai referiu que há dúvidas quanto ao pagamento da indemnização.

“Nos casos de incapacidade permanente e parcial, a proposta de lei define um regime para o Governo atribuir ao trabalhador sinistrado uma compensação pecuniária, fixada por despacho do Chefe do Executivo. A comissão questiona se esta compensação será atribuída de uma só vez ou se será paga periodicamente, para que se garanta o uso racional do erário público?”, apontou o deputado.

Ontem terminou o prazo de recolha de opiniões junto de associações e cidadãos no âmbito da revisão do ETAPM, tendo sido recebidas um total de 31 opiniões. Estas incidiram, sobretudo, sobre o regime de faltas, de turnos e disponibilidade.

“Vamos primeiro analisar as opiniões recebidas e só depois é que vamos reunir com associações, ainda não sabemos se existe ou não essa necessidade”, apontou Vong Hin Fai.

Uma “lei complexa”

O presidente da 3ª comissão permanente da AL adiantou também que foi pedido um prolongamento de dois meses ao presidente do hemiciclo, Ho Iat Seng, para a conclusão da análise na especialidade da proposta de lei.

Ainda assim, Vong Hin Fai não soube dar certezas quanto à data de conclusão do diploma.

“O prazo foi fixado para o dia 19 de Março, mas devido ao andamento dos trabalhos a comissão vai pedir ao presidente a prorrogação do prazo para mais dois meses. Esta lei é muito complexa e, se calhar, em Maio pode não ser possível concluir o trabalho”, rematou.

 

Consulta | ATFPM lança farpas a Vong Hin Fai

Uma das associações que tornou ontem pública a sua posição relativamente à alteração do Estatuto dos Trabalhadores da Função Pública foi a Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM) que, em várias páginas, criticou os artigos da proposta de lei, relativos ao regime de faltas, horários de trabalho ou turnos. A associação aponta actos discriminatórios.

Na carta, assinada por Rita Santos, presidente da assembleia-geral da ATFPM, é feita uma crítica ao processo de auscultação levado a cabo pela 3ª comissão permanente, presidida por Vong Hin Fai.

“A ATFPM nunca foi consultada sobre a proposta de lei, presumindo-se que as cerca de 30 associações representativas dos trabalhadores da Função Pública também não tenham sido consultadas.”

É estabelecido um ponto de comparação com outras comissões do hemiciclo. “Também lamentamos o facto da 3ª comissão permanente não ter concedido a oportunidade das associações de trabalhadores de exporem na comissão as suas preocupações em relação à proposta de lei. Ao contrário das outras comissões da AL que tiveram a oportunidade de ouvir, de viva voz, as diferentes associações dos sectores de actividade comercial, profissional e social no caso da proposta de lei do regime de acreditação profissional e inscrição para assistente social.”

1 Mar 2018

Partos no hospital público podem custar nove vezes mais para não residentes

Os Serviços de Saúde anunciaram ontem que pretendem aumentar em nove vezes as taxas moderadoras a pagar pelas grávidas portadoras de blue card e também para as que são portadoras de passaporte estrangeiro. Com a medida, um parto normal passa a custar mais de oito mil patacas para quem é não residente. Associações falam de injustiça e discriminação, mas há quem concorde com o Executivo

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois dos autocarros, os partos no hospital público. O Governo prepara-se para implementar uma medida que, aos olhos de muitos, é discriminatória para quem é portador do visto de trabalho, o chamado blue card. De acordo com a Rádio Macau, os Serviços de Saúde (SS) apresentaram uma proposta ao secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, para aumentar as taxas moderadoras dos partos realizados no Centro Hospitalar Conde de São Januário, não só para as turistas que aqui vêm ter os seus filhos como para as trabalhadoras não-residentes (TNR).

Na prática, é um aumento nove vezes superior aos preços que já são praticados. Uma TNR paga, actualmente, 957 patacas para ter o seu filho no São Januário, mas, se Alexis Tam aprovar a medida, passa a pagar 8.755 patacas. Caso necessite de uma cesariana, passa a ter de desembolsar 17.550 patacas em vez das actuais 3.900 patacas.

Se uma mulher com passaporte do exterior se deslocar ao hospital público para dar à luz, o valor a pagar será bem superior. Um parto normal deixa de custar 1.950 patacas e sobe para 17.550 patacas. Quanto às cesarianas, passam a custar 35.100, em vez das 3.900 patacas actuais.

Mais sorte têm as mulheres que são casadas com residentes que não pagam qualquer taxa, tal como as mulheres residentes, que têm o direito a ter os seus filhos gratuitamente.

A medida pretende controlar o número de nascimentos de mães que não são naturais de Macau, como explicou Ho Ioc San, subdirectora dos SS, em declarações reproduzidas pela Rádio Macau.

“Com o aumento da necessidade dos serviços é difícil acompanharmos e satisfazermos totalmente esta necessidade. A intenção do hospital é orientar e levar estas pessoas para os locais onde supostamente devem dar à luz”, afirmou.

No mesmo grupo de pessoas inserem-se não apenas as TNR que têm residência e trabalho no território como as mulheres do exterior que vêm a Macau de propósito para dar à luz, situação bastante comum também em Hong Kong, território escolhido por muitas chinesas do continente.

Os SS avançaram ontem dados que mostram que apenas oito por cento dos partos foram de mães TNR a morar em Macau, enquanto que os partos realizados a mulheres do exterior representaram 20 por cento do total.

A subdirectora dos SS acrescentou que o fim da política do filho único na China trouxe o receio de que poderá haver mais partos em Macau, além de que o decreto-lei de 1986, que regula o acesso aos cuidados de saúde, dá o privilégio aos residentes, explicou.

Na conferência de imprensa de ontem, foi também revelado que não só não haverá uma consulta pública sobre a matéria como foram ouvidas apenas duas associações tradicionais de Macau, que não representam as trabalhadoras migrantes: a Associação Geral de Moradores (kaifong) e a Associação das Mulheres, ligadas aos deputados Ho Ion Sang e Wong Kit Cheng.

“Se fôssemos ouvir as opiniões deles claro que estariam contra. Ninguém gosta de aumentos”, justificou a sub-directora dos SS. 

Sair de Macau é opção

Ana Fivilia, representante de uma associação ligada à comunidade filipina, e que se insere na plataforma “Umbrella Migrant Workers”, criticou duramente esta postura dos SS ao não ouvir associações que poderiam ter uma opinião diferente.

“É muito injusto que o Governo não tenha ouvido as nossas associações. Estamos registados e temos trabalhado em prol do desenvolvimento das condições de trabalho em Macau, é muito injusto”, defendeu ao HM.

Apesar dos partos das trabalhadoras migrantes representarem apenas oito por cento dos partos efectuados no serviço de obstetrícia do São Januário, esta medida afecta quem cá mora e não ganha, muitas vezes, mais do que quatro mil patacas por mês.

“Claro que será algo muito difícil [de suportar] para aqueles que são TNR”, disse Ana Fivilia. “A maioria preferem ter os seus filhos no hospital público porque os valores são mais baixos do que nos hospitais privados. Uma vez que o Governo agora quer aumentar as taxas moderadoras, e falo em nome das portadores de blue card, será muito complicado para estas mulheres.”

Caso os aumentos sejam aprovados, Ana Fivilia não tem dúvidas de que a única opção para estas mulheres é dar à luz nos seus países de origem, tal como os SS pretendem.

“Talvez tenham de regressar a casa, será a melhor opção. Mesmo as mulheres que têm blue card sabem que os seus filhos não terão direito ao BIR, por isso é uma medida que não faz qualquer sentido. Acho que é uma boa maneira para controlar os nascimentos de quem vem do continente, mas não para quem vive em Macau.”

No universo TNR não cabem apenas trabalhadoras migrantes de origem filipina, indonésia ou vietnamita, mas também mulheres das comunidades de expatriados, incluindo portuguesas. A advogada Amélia António criticou duramente esta medida. Para a também presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), esta é uma proposta que vai contra muitas leis em vigor, incluindo a Lei Básica que define, claramente, que não deve existir discriminação social.

“Não se pode meter tudo no mesmo saco, turistas e TNR. Sabemos que aqui pode haver um certo abuso da vinda a Macau para usufruírem dos benefícios do tratamento médico e essa distinção entendo, porque são pessoas que não fazem parte do território. Os TNR, sejam eles de que origem for, não acho que seja admissível fazer esse tipo de discriminação. São pessoas que são fundamentais para a economia e que, normalmente, são as mais mal pagas.”

Amélia António fala de sinais graves de uma mudança social que tem vindo a acontecer em Macau, de que a proposta de aumento das tarifas de autocarros é apenas um exemplo.

“Essa discriminação, mais uma vez, vai agravar a situação [dos trabalhadores] e insere-se num conjunto de coisas que têm vindo a acontecer e que notamos que, por detrás delas existe um espírito discriminatório. Até um bocadinho mais.”

Amélia António, radicada há mais de três décadas no território, confessou que nunca viu estas situações acontecerem, uma vez que Macau sempre foi conhecida por receber bem. 

“Estou há 35 anos em Macau e era impensável ouvir as coisas que se têm ouvido ultimamente, deste ponto de vista social, de discriminação e uma maneira xenófoba de olhar para quem não é chinês. A maioria das pessoas que emite essas opiniões esquece-se que eles também não são de Macau, vieram para cá, com a família ou não. Os chineses de Macau não tomam esse tipo de posições, nunca tomaram e não têm essa educação.”

Quem tem vindo a propor estas medidas “são gerações mais novas que vieram para Macau em circunstâncias similares às dos TNR”, teoriza Amélia António.

Problemas familiares

Se em Macau os preços para ter filhos passam a ser proibitivos para as famílias de trabalhadores migrantes, impera a obrigatoriedade das grávidas se dirigirem aos seus países de origem, deixarem temporariamente os seus empregos e os seus familiares e só voltarem meses depois.

Na visão de Ana Fivilia, isto pode gerar problemas sociais e familiares. “Nas Filipinas, ou na Indonésia, as mulheres pagam muito pouco para terem os seus filhos, comparando com o que se paga aqui. Tudo vai depender do acordo que se estabelece com o empregador, porque as trabalhadoras terão de ficar uns meses fora. Se os patrões concordarem, penso que não haverá problemas. Pelo que sei, os patrões costumam arranjar uma outra empregada doméstica para a substituir durante esse período.”

Também Amélia António teme casos de turbulência social. “É evidente que isto gera problemas, porque se as pessoas estão aqui a trabalhar, têm de interromper o seu trabalho para ter o filho fora e depois não os podem trazer de volta. Tudo isso vai gerar problemas sociais, familiares, dramas pessoais, que não favorecem as pessoas em si nem a sua prestação de trabalho no território. Isso também é mau para a economia, além do ponto de vista humano.”

Amélia António considera “pior que caricato” o facto dos SS não terem ouvido outras associações. Até porque tanto os Kaifong, como a Associação Geral das Mulheres “estão pouco preocupados com quem vem nessas circunstâncias [grávidas do continente]. Quem vem do continente para ter aqui os seus filhos se calhar até pode pagar. E é por isso que não se pode olhar para esta situação como um todo.”

A advogada espera que Alexis Tam não aprove estes aumentos. “Tenho alguma esperança que esta medida não passe nestes termos, porque nem é próprio da maneira de estar e de olhar para o mundo do secretário, pelo que conhecemos dele.”

Primeiros os autocarros

Eric Lestari é presidente da Overseas Workers Association, mais ligada à comunidade indonésia. Ao HM, disse que muitas das mães optam por ter os seus filhos fora de Macau, porque, à partida, não são aconselhadas a ter filhos durante o período contratual.

Sofia Margarida Mota

“São poucos os patrões ou empresas que permitem às mulheres engravidar durante o contrato e muitos optam por despedi-las se descobrem que estão grávidas, ou então são enviadas de volta para os seus países para terem os seus filhos e depois regressam ao trabalho.”

Ainda assim, Eric Lestari critica duramente a postura do Executivo. “Primeiro foram as tarifas dos autocarros, agora as taxas moderadoras para os partos, e o que é que vão fazer connosco a seguir? É uma pena [esta proposta] e é simplesmente discriminatório. Há dez anos que pedimos aumentos salariais e não temos resposta em relação a uma maior protecção laboral”, frisou.

Eliana Calderon, presidente da Macau Child Development Association, referiu que estamos perante “uma injustiça social e uma discriminação para os pais e filhos também”.

“Macau não se desenvolveria, as pessoas não poderiam ter trabalhos se não fosse a comunidade de migrantes. As leis internacionais dizem que não se pode discriminar uma mulher grávida. O Governo não tem capacidade para dar resposta nem sequer para os locais.”

Os que concordam

O HM ouviu também Rebbecca Glade, presidente do International Ladies Club de Macau (ILCM), uma associação com fins de caridade e apoio social que representa, na sua maioria, mulheres expatriadas. Rebbecca Glade não quis comentar a possível injustiça para com as mães migrantes com baixos salários, tendo defendido a medida proposta pelo Governo.

“Apoiamos a decisão do Governo, uma vez que coloca o hospital público na mesma linha dos restantes hospitais em termos de taxas moderadoras para partos. Não tenho filhos, mas sei que muitas mulheres que fazem parte do ILCM tiveram os seus bebés no hospital São Januário e que foram boas experiências com o pessoal de enfermagem e os restantes funcionários. Muitos dos nossos membros expatriados têm seguro de saúde que deverá cobrir estes aumentos”, referiu.

Num comunicado divulgado, os SS apontam que “realizaram uma consulta a diferentes associações, além de que anteriormente receberam queixas de cidadãos alegando que os recursos de obstetrícia do São Januário estavam a ser ocupados por parturientes não residentes”.

Os SS deixaram ainda bem claro que esta proposta “não visa o aumento de receitas, mas sim assegurar às parturientes locais a utilização dos serviços de parto do Centro Hospitalar Conde de São Januário”.

1 Mar 2018

Acordo de cooperação científica este ano entre Macau e Portugal

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia (FDCT) de Macau anunciou hoje que vai assinar este ano um memorando de cooperação científica com a Fundação para a Ciência e Tecnologia de Portugal.
Em conferência de imprensa, o conselho de administração do FDCT explicou tratar-se de um plano de apoio financeiro conjunto ainda por definir, mas que deverá começar “este ano e no máximo por três anos”.
O presidente do FDCT, Ma Chi Ngai, disse que o acordo de cooperação só avançar depois de “definido um orçamento e de escolhidos os temas de estudo, em áreas como ambiente, tecnologias de informação ou medicina, as universidades ou instituições científicas de Macau e de Portugal podem estabelecer protocolos entre elas”.
Se um projeto for aceite, “Macau vai subsidiar com um milhão de patacas e Portugal com 100 mil euros”, explicou Cheang Kun Wai, membro do conselho de administração.
No balanço relativo a 2017, o FDCT aprovou 400 de 744 candidaturas, num montante de cerca de 200 milhões de patacas (20 milhões de euros).
“Temos reduzido o número de projetos aprovados e o montante financiado devido a uma taxa de aprovação mais rigorosa”, sublinhou Ma Chi Ngai.
O FDCT lançou ainda, em 2017, os projetos de financiamento para pesquisa e desenvolvimento inovadores de empresa, e de apoio financeiro para a cidade inteligente, tendo nesta última área aprovado 14 candidaturas, no montante de mais de quatro milhões de patacas.
“O centro piloto de computação em nuvem vai ser instalado no complexo do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e começar a fase de testes em abril próximo”, disse Chan Wan Hei, administrador do FDCT.
Em agosto último, o Governo de Macau e o grupo Alibaba assinaram um acordo-quadro que prevê o estabelecimento de um centro de computação em nuvem e de uma plataforma de megadados para a criação de uma cidade inteligente, em duas fases, ao longo de quatro anos.
A primeira – até junho de 2019 – prevê a criação de um centro de computação em nuvem e de uma plataforma de megadados e o início gradual de projetos de utilização dos mesmos em seis domínios: promoção do turismo, formação de talentos, gestão do trânsito, serviços de assistência médica, gestão integrada urbana e prestação de serviços urbanos integrados e tecnologia financeira.
A segunda etapa – de julho de 2019 a junho de 2021 – compreende o aperfeiçoamento do centro de computação em nuvem (conjunto de servidores remotos alojados na Internet para armazenar, gerir e processar dados em vez dos servidores locais ou de computadores pessoais) e da plataforma de megadados, abrangendo outras áreas como proteção ambiental, passagem fronteiriça e previsões económicas.
Por outro lado, em relação à promoção do estabelecimento dos laboratórios de referência do Estado em Macau, o FDCT aprovou o financiamento da operação, respetivamente, em medicina chinesa e em microeletrónica, no montante de 90 milhões de patacas.
O FDCT e o departamento de Ciências e Tecnologia da província de Guangdong (sul) “estão a explorar” a viabilidade de financiamento conjunto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, e também “a participação ativa” no mecanismo de cooperação “Uma Faixa, Uma Rota”, criado pela Fundação para a Ciência Natural da China, para incentivar a cooperação científica e tecnológica multilateral.
28 Fev 2018

Lucros recorde para a banca no ano passado

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] sector bancário de Macau tem-se pautado por “um crescimento evidente”, afirmou ontem o presidente da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), Benjamin Chan, dando como exemplo dos “satisfatórios resultados” o recorde, “em termos históricos”, dos lucros antes de impostos, que ascenderam a 14,8 mil milhões de patacas no ano passado.

Com a recuperação económica, além da “contínua manutenção da boa qualidade dos activos”, “a dimensão e o nível dos lucros do sector bancário foram, igualmente, marcados por novos recordes”, realçou, durante um almoço oferecido pela Associação de Bancos de Macau. Apesar dos sinais favoráveis de 2017, Benjamin Chan advertiu para os desafios com que a banca se depara, principalmente vindos de fora.

“Como é sabido, devemos estar redobradamente vigilantes”, atenção reforçada por “estarmos no Ano Lunar do Cão, um animal sempre alerta, a mostrar-nos a necessidade de prestar maior atenção às mudanças e flutuações que possam ocorrer nos mercados financeiros internacionais”, isto apesar da “grande confiança no desenvolvimento” da China e de Macau, afirmou.

“Como resultado do surgimento de mais restrições nas políticas monetárias das economias desenvolvidas, este cenário é caracterizado pelo início da subida das taxas de juros, pela contracção da liquidez e por flutuações muito frequentes nos mercados de capitais”, sublinhou, apontando que são desafios para os bancos nas áreas operacionais e da gestão do risco.

28 Fev 2018

Roots Macau, restaurante de fusão | Katie McCann, relações públicas

O restaurante Roots Macau promete trazer uma nova experiência gastronómica para Macau. A aposta é feita nos menus de degustação e na cozinha de fusão que lembra os sabores europeus. O chefe Anthony Sousa Tam é macaense e não esqueceu as suas raízes

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s anos que passou na Europa e em viagens diversas não o afastaram da terra que o viu nascer, muito menos dos sabores com os quais cresceu. Contudo, Anthony Sousa Tam, filho da terra, decidiu fazer diferente num território onde muitos dos turistas chegam só para provar a comida portuguesa.

A história do Roots Macau é contada pela relações públicas do espaço e esposa do proprietário, Katie McCan. “Decidimos apostar nos menus de degustação, e a ideia por detrás disso passa por servirmos os melhores ingredientes da época e dar aos nossos clientes uma grande experiência com os nossos pratos. Temos entre oito a dez pratos, cinco por almoço”, disse ao HM.

No Roots Macau serve-se cozinha de fusão com sabores europeus, novas interpretações em que os tradicionais noodles ganham nova roupagem e cada prato promete ter um toque e sabor único. Tudo isso foi adquirido com as viagens e experiência pessoal de Anthony Sousa Tam.

“A ligação à cozinha europeia aconteceu porque o nosso chefe, Anthony, trabalhou em Londres durante 20 anos, ele é macaense, e tem raízes portuguesas, e claro que é um grande viajante e já trabalhou em vários países europeus e até asiáticos, então teve contacto com essas experiências gastronómicas.”

Os sabores da culinária local podem ser experienciados, ainda que não sejam servidos na sua originalidade. “Gostamos de ter alguns elementos da comida macaense, mas servimos apenas os tais menus de degustação, e mudamos os menus várias vezes, sempre que podemos. Temos também alguns pratos de assinatura.”

O nome do espaço acabou por ser uma escolha natural, dado o facto de Anthony ter ligação ao território. Mas não só. “No nosso restaurante também temos uma grande ligação à natureza, uma vez que todos os ingredientes são bastante frescos. Os vegetais são muito importantes nos nossos pratos.”

Diferença na terra dos hotéis

No Roots Macau a comida serve-se em pequenas quantidades e com uma apresentação exemplar, para que se possa marcar a diferença. Katie McCan garante que o projecto marca a diferença num território onde a comida de assinatura existe sobretudo nas grandes cadeias de hotéis de nome internacional.

“Acredito que o nosso restaurante tem vindo a ser cotado em muitas revistas da especialidade. É difícil encontrar um espaço como este fora dos hotéis, é algo muito personalizado, o ambiente, a decoração e o serviço que providenciamos. Apresentamos novos pratos com novos ingredientes, novas maneiras de cozinhar, e isso não é muito fácil de encontrar por parte dos nossos clientes fora das grandes cadeias de hotel.”

Os pratos mais procurados têm sido o bife fumado, uma receita já muito conhecida nesta zona do mundo mas que ganhou uma nova versão com as mãos de Anthony. Os noodles com lula são também muito apreciados.

Apesar de terem o restaurante aberto há poucos meses, a gerência procura criar novos pratos e diferentes combinações de ingredientes, para que o factor surpresa esteja sempre presente em cada garfada.

“Mudamos os nossos menus todos os meses para podermos responder aos pedidos dos nossos clientes mais regulares, para todos os que vêm mais do que uma vez por mês. Tentamos providenciar-lhes novas experiências.”

Apesar de estar situado na terra do turismo, a maioria dos clientes acaba por viver em Macau. “Ficamos muito felizes com isso”, frisou Katie McCan.

O Roots Macau promete participar num concurso gastronómico já no final de Março com uma criação de Anthony Sousa Tam.

28 Fev 2018

Do Prato para o Sexo

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] comida com ou sem sexo poderia ser uma questão útil, mas raramente o é. Estou a ver muitas ligações entre uma coisa e outra, os dois são necessários (talvez um mais do que o outro) e dão prazer. Se pudermos juntar os dois prazeres numa experiência conjunta teremos prazer ao quadrado, diriam os matemáticos. Mas como é que se quantifica o prazer gustativo e o prazer sensual, e de que forma se equacionam estas propriedades do prazer na recriação da experiência humana?

Já todos ouviram falar do chocolate, certamente. O chocolate produz químicos nos nossos cérebros que são os mesmos do prazer sexual. Mas comer chocolate não é a mesma coisa que a penetração de corpos. Podia ser a mesma coisa, mas certamente que não é. Um ‘foodgasm’ não é um orgasmo, nem a pornografia tem muito que ver com a tão recentemente popularizada ‘food porn’. O sexo é particular a uma intimidade das gentes e do tesão. A comida é prazerosa de uma forma não sexual, ou não sensual, ou será que é?

As ostras parecem vulvas descobertas, as bananas e os pepinos são (escandalosamente) fálicos. O abacate e a papaia desenham vaginas, as tartes de maçã… não se parecem com nada, mas já iniciaram a sexualidade de certos jovens de uma certa realidade cinematográfica. O estímulo visual pode provocar a imaginação, mas o melhor são as propriedades ditas afrodisíacas de certos alimentos. São precisos nutrientes que mantêm a erecção e lubrificação. Dizem os especialistas que os espargos, por exemplo, fálicos e cheios de vitamina E e potássio são óptimos para manter a irrigação sanguínea nas partes que interessam. Os abacates e as ostras ajudam na produção de testosterona, os morangos, um clássico do romance, estão cheios de coisas boas para a produção de hormonas. Enfim, já perceberam a ideia, não quero ser uma enciclopédia nutricional. Mas por favor, deixem-me constatar o óbvio que falta ser reforçado: comidinha saudável, corpo são e o sexo acompanha os benefícios. Para ninguém se convencer que comer abacates em quantidades industriais tem o mesmo efeito instantâneo que o Popeye e os espinafres.

Falta a comida no sexo – a comida que acompanha a penetração que referi há pouco. Talvez um clássico de morangos com chantilly, ou uma prática para dias especiais, para quando se precisa de um ‘picante’ na relação sexual. Picante esse, acautelem-se, para ser consumido e não ser esfregado em lugar nenhum. Os mais cautelosos ainda sugerem que comida nenhuma poderá ser inserida nas partes íntimas, mas que pode (e deve) ser abusada na pele. Para os interessados na logística, esta não é uma actividade para quem gosta das coisas limpas. Porque corpos nus, esfregadelas e uns amassos com comida à mistura, vai certamente deixar muita desarrumação e sujidade. Lençóis, o chão, ou qualquer outra superfície manchados de chocolate líquido e outros que tais… Mas para quem não tem problemas com isso, regozigem-se com a exploração oral de corpos e sabores. Aliás, parece que os japoneses têm tradições gustativas ainda mais requintadas. O nyotaimori que até já chegou ao ocidente (apesar de ter sido recebido com muitos protestos) é a prática de usar mulheres nuas como pratos de sushi. Ou outra – e esta não percebi se era verdade ou não – de usar o pequeno recipiente que as pernas fechadas de uma mulher criam, e lá verter licor para ser cuidadosamente consumido em infusão com a penugem típica da região.

Isto é só puxar pela imaginação e aproveitar as propriedades nutricionais e quiçá afrodisíacas para uma sexualidade e alimentação feliz. A equação que leva o prato ao sexo não é complexa, é simples, é só juntar os ingredientes e ter a vontade certa. Prazer ao quadrado, será?

28 Fev 2018

Equipa do Sporting Clube de Portugal vem jogar a Macau

Convite partiu do embaixador chinês em Lisboa e visa celebrar o 40.º aniversário da primeira visita de uma equipa europeia de futebol à China, que foi realizada pelo clube de Alvalade

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Sporting Clube de Portugal vai visitar o território entre Maio e Junho, a convite do embaixador chinês em Portugal, Cai Run. Esta é a forma encontrada pelo clube e pelas autoridades chinesas para celebrarem o 40.º aniversário da primeira visita de uma equipa de futebol europeia à China. Na altura, a 25 de Junho de 1978, foi Sporting.

A visita foi anunciada, na Segunda-feira, pelos leões, numa conferência de imprensa em Lisboa, no Auditório Artur Agostinho. A visita a Macau integra uma digressão à China de 10 dias do clube de Alvalade, que vai passar ainda por Pequim e Xangai, com a realização de jogos nas três cidades chinesas.

“Levaremos uma equipa à China para disputar encontros, que não podem ser considerados contra conjuntos amadores porque a realidade da Liga Chinesa ganhou uma outra dimensão”, disse Carlos Vieira, vice-presidente do Sporting e administração da SAD, durante a apresentação dos eventos.

“Foi uma visita histórica e sem precedentes. Não promoveu apenas a colaboração e o câmbio na área do futebol, mas também o conhecimento mútuo e a amizade entre os povos”, considerou, por sua vez, Cai Run, sobre a visita de há quarenta anos que contou com a participação de históricos do clube de Alvalade como Manuel Fernandes ou Augusto Inácio.

Além da visita da equipa de futebol, vai haver uma exposição itinerante sobre a primeira viagem à China, que chega a Macau a 1 de Julho. Antes, a 10 de Junho, dia de Portugal, vai estar exposta em Pequim e a 29 de Junho passa por Xangai.

 

Expectativa no Sporting de Macau

A novidade anunciada pelo Sporting de Portugal foi recebida com entusiasmo e expectativa junto da filial do clube em Macau. No entanto, neste altura, é muito pouco provável que haja um jogo entre as duas formações, reconheceu José Reis, director dos leões locais, ao HM.

“A existência de um jogo em Macau é muito aliciante e o Sporting de Macau está disponível para colaborar com digressão. Consideramos difícil que haja um jogo entre as equipas devido ao evidente desnível”, afirmou José Reis. “Estes são jogos de demonstração para entreter o público, mas também têm uma componente desportiva, por isso é importante que sejam entre equipas equilibradas”, frisou.

Por outro lado, o director fala em diferentes maneiras, do SCM participar na digressão, entre as quais a oportunidade de visitas dos atletas à academia local ou a realização de um jantar de convívio.

Entretanto, foi pedido ao SCM que nomeie alguns nomes para integrarem a comissão de honra da celebração dos 40 anos da primeira visita à China.

 

Augusto Inácio ficou encantado há 40 anos

Entre a comitiva do Sporting que visitou a China há 40 anos estava integrado Augusto Inácio, antigo jogador e treinador dos leões. Ao HM, o actual comentador desportivo recordou a alegria do território e as quatro horas passadas no Casino Lisboa.

“Na altura, Macau era completamente diferente da China. Era uma cidade completamente aberta. Lembro-me da alegria da cidade, do jogo e de ter passado quatro horas no Casino Lisboa”, afirmou Augusto Inácio, a rir.

“Macau era uma cidade apaixonante, tinha tudo a mais do que a China, era uma cidade muito alegre, viva e muito virada para o Ocidente. Fiquei muito encantando”, acrescentou.

Já em relação à visita ao Interior da China, Augusto Inácio realça a simpatia dos chineses e a forma como sabem receber os visitantes.

“Foi uma viagem fantástica, em que correu tudo bem. Deu para percebermos que o povo chinês é muito simpático e acolhedor. Tentámos retribuir a simpatia com a nossa maneira de ser e de estar”, recordou.

“Era uma China muito diferente. Na altura, estava em desenvolvimento, era um país muito fechado. O Sporting deu um passo importante para contribuir para as relações diplomáticas entre a República Popular da China e Portugal”, considerou o ex-jogador.

Depois da década de 70, Augusto Inácio não regressou à China, nem a Macau. Contudo, se for convidado e não estiver impedido por motivos profissionais, espera integrar a comitiva.

Ao HM, afirmou ainda ter disponibilidade para assumir as funções de treinador na China: “No passado, chegou a haver a possibilidade a nível profissional de voltar, mais do que uma vez. Gostaria muito de regressar, mesmo que fosse a nível profissional”, apontou.

28 Fev 2018

Aparelhado para gostar de passarinhos

Metro, Lisboa, 21 Fevereiro

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]ue imagens nos podem ainda chocar se a cada segundo o horror sobe e desce nos ecrãs que se fizeram pele do mundo? Da Síria chega-nos a conta-gotas cada um dos sinais da catástrofe, mas a nossa indiferença responde como tão bem sabe: quieta. Habituámo-nos à guerra, na lonjura ou no íntimo. Há 60 anos, lembro-me como ontem, em manifestada marcha contra o armamento nuclear, nascia um símbolo que me está algures tatuado.

O designer e objector de consciência à II Guerra Mundial, insisto, na segunda das grandes, Gerald Holtom (1914-1985) achou que a Campaign for Nuclear Disarmament (CND) precisava de um sinal gráfico que dissesse não. Começou por pensar na omnipresente cruz, mas afastou a ideia por cheirar a cruzadas. O desânimo que experimentava trouxe-lhe Goya e o desespero do camponês enfrentando o pelotão de fuzilamento, braços no ar e, com eles, o grito suspenso, juntou-lhe a sinalética das bandeiras dos navios para dizer o N e D, para Nuclear Disarmament, logo a antena ganhou raízes no globo, e assim concebeu forma universal de dizer paz. Os hippies tomaram-no de empréstimo para assinalar o coração e não mais deixou de vociferar esperança. Pode um símbolo vencer a realidade?

Correntes d’Escritas, Vermar, Póvoa, 21 Fevereiro

Entrada a pés juntos no festival deste ano, com tripla função logo à chegada: entalada entre a gravação do Obra Aberta, com a Manuela Ribeiro trazendo infâncias e o Afonso Cruz nomadismos, e a esforçada tentativa de conversa, sob o mote «as palavras são música de ninguém», com o Valério [Romão] e Valter Lobo, intérprete à guitarra de virtual Mediterrâneo, deu-se o lançamento do muito esperado fecho da trilogia Paternidades Falhadas, do Valério, de par com Rua Antes do Céu, do José Luiz [Tavares]. Arménio Vieira concentrou o seu olhar no percurso do conterrâneo, pouco entrando em obra, que resulta, afinal e ironicamente, da leitura autor sobre o seu próprio amadurecimento. Eric Nepomuceno, do seu lado, compôs calorosa canção em torno do romance. No meio da confusão habitual de bar subindo a noite, rasgaram-se relâmpagos que revelaram carne e ossatura de duas vozes únicas, irmanadas na invencionática.

Correntes, Garrett, Póvoa, 22 Fevereiro

Nunca havia atravessado a fronteira de vidro, subido as escadinhas do palco, escuro nas costas, a luz de frente, também ela quase fronteira, a tombar negro sobre os rostos em face. Desta vez, o reóstato modulou a visão da sala e a temperatura do orador, tornando aquela mais visível, e outra mais quente. A organização conhecia-me e reescreveu o nome no verso da minha legenda, assim diminuindo o risco de me esquecer de quem era, no momento de falar precisamente do que nada sei: «Escrevo para dizer aquilo que não sei». Ao meu lado, as ondas dos parceiros fizeram-se e desfizeram-se em curiosos murmúrios de m, de mar, de moçambique, de memória, de música. Geometricamente, agora que a minha escrita vai sendo sobretudo texto de outrem, falei das linhas onde me lêem, do campónio labor semanal desta hesitante escritura, caminho de mãos na terra, fiel companhia nas eróticas solidões, modos de reescrever sentidos em terreno onde talvez não se dêem. (Veja-se a foto assinada pelo arquivo da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, embora me tivesse parecido ver fotógrafo.) Ainda me despi, para a câmara do mano Luís [Gouveia Monteiro], em pequeno filme no qual vou retirando de um saco a colheita de minutos breves incarnando à minha volta o respigador cansado de simbólicos desperdícios.

Queria que servisse de pano de fundo a exercício de improvisação sobre o suposto tema, tornado prática habitual no miradouro de autores em que me encontro, embora nublado nos últimos meses. Falhou-me a coragem ou o contexto para o usar. Adiante veremos. Limitei-me a desferir o ar com golpes de verbo que só disseram de faces da letra e da vida desarrumada. Nada que não estivesse de maneira melhor nesta pedra que é O apanhador de desperdícios, de Manoel de Barros, lido com sotaque de quem se deixa afundar no céu pelo peso da voz. «Uso a palavra para compor meus silêncios./ Não gosto das palavras/ fatigadas de informar./ Dou mais respeito/ às que vivem de barriga no chão/ tipo água pedra sapo./ Entendo bem o sotaque das águas/ Dou respeito às coisas desimportantes/ e aos seres desimportantes./ Prezo insetos mais que aviões./ Prezo a velocidade/ das tartarugas mais que a dos mísseis./ Tenho em mim um atraso de nascença./ Eu fui aparelhado/ para gostar de passarinhos./ Tenho abundância de ser feliz por isso./ Meu quintal é maior do que o mundo./ Sou um apanhador de desperdícios:/ Amo os restos/ como as boas moscas./ Queria que a minha voz tivesse um formato/ de canto./ Porque eu não sou da informática:/ eu sou da invencionática./ Só uso a palavra para compor meus silêncios.»

Correntes, Garrett, Póvoa, 23 Fevereiro

Podem os dias ser raio deste calibre, deslize que nos livra das amarras da realidade feita cais de sal. Ver a Isabela Figueiredo tornar revolução visceral, portanto ao pé de casa, o alegre resgate por cactos de floreira pública e abandonada. Tocar o encantamento na voz de Mû Mbana desfiando as canções da sua Guiné natal, acerca do peso da beleza ou da língua estrangeira da infância, sem conseguir evitar cantá-las. Ouvir o Valério contar de encontro «verdadeiro» com personagem sua, alguém que pressentia na esquizofrenia um acto de Deus e que capturou com a pele o insuportável escaravelho da existência. Saborear o Jorge de Sousa Braga a falar de versos e estranhezas das bocas do corpo. E por junto sentir perfumes. O cacto exala?

Coquelicot, Póvoa, 23 Fevereiro

Que enormes! são os braços da Carla [Craveiro], pois se neles cabem as múltiplas e abysmadas vozes da Inês [Fonseca Santos], do Carlos [Quiroga], do Renato [Filipe Cardoso], e do João [Rios], e do Luís [Carmelo], ou do José Luiz ou do Valério, estrumando poemas seus, ou mais que seus, em meio de delicatessen, como sendo-o, que são, autores e poemas. E que bem se aconchegam os livros naquela ameaçadora! floresta de sentidos e sabores! Não esquecerei, por escrevê-lo, nem os mimos nem o saboroso que resultou de assistir à surpresa do Arménio [Vieira] vendo a Filipa [Leal] atirar-lhe de cor um dos seus, que o próprio temeu ser dos piores: «Menos que a chama de um fósforo/ é quanto dura o teu orgasmo/ À tua colecção de vidas breves/ acrescenta o amor/e a borboleta». O contexto em perfume afirmava-o: impossível ser dos piores.

28 Fev 2018

Feira de Arte em Hong Kong revela 59 filmes com curadoria de Li Zhenhua

No quinto ano de presença em Hong Kong, a Art Basel traz também uma extensa mostra de cinema. O público poderá ver, de forma gratuita, um total de 59 filmes, sete deles “exibições especiais”, com curadoria do artista e cineasta Li Zhenhua. A sétima arte estará patente entre 29 e 31 de Março

 

[dropcap style≠‘circle’]É[/dropcap] considerada uma das maiores feiras de arte em todo o mundo e, pela quinta vez consecutiva, volta a marcar presença em Hong Kong. A Art Basel regressa ao Centro de Convenções e Exposições de Hong Kong entre os dias 29 e 31 de Março e, além de trazer obras de diversos artistas, tem também um programa destinado ao cinema, revelado ontem.

O público poderá ver, de forma totalmente gratuita, um total de 59 filmes “inspirados pelo actual clima sociopolítico” e apresentados pelas 38 galerias que terão presença na Art Basel. Há também sete “exibições especiais” escolhidas a dedo por Li Zhenhua, um artista multimédia e também produtor de cinema.

Está prevista uma colaboração com a Videotage, uma organização não-governamental de Hong Kong especializada na área do vídeo e novos media.

É graças a esta organização que serão exibidos os trabalhos de vídeo de Nam June Paik, bem como de outros artistas de Hong Kong e da China cujo trabalho tem vindo a ser influenciado por este artista.

A película “The Future is in the Past” traça um retrato das colecções de vídeo-arte que foram iniciadas por esta ONG e também pelo Centro de Arte Nam June Paik, entidade que homenageia o artista nascido em 1932 e falecido em 2006.

“Futuro Imaginado’ vai revelar os trabalhos de vídeo feitos em Hong Kong e inspirados por Paik. A exibição será seguida de ‘Imaginaries Beyond the Past’, que apresenta uma nova geração de jovens artistas do continente e de Hong Kong que trabalham com vídeo ou com imagens em movimento”, aponta um comunicado.

Sete filmes, três dias

‘Days Gone By – Yu Hong’, feito em 2009 pelo cineasta Wang Xiaoshuai, abre o programa dedicado aos setes filmes, que arranca na quarta-feira, dia 28 de Março. A película conta a história da artista contemporânea chinesa com o mesmo nome.

“O filme não retrata apenas a vida de uma artista individual mas também mostra o crescimento do panorama artístico na China durante uma Era de mudanças dramáticas.”

Segue-se um conjunto de filmes que fazem uma “fusão de cortes tradicionais com experiências visuais em 3D”, tal como “Time Spy”, de Sun Xun, que será exibido ao público no dia 29 de Março, Quinta-feira.

A Sexta-feira, dia 30, é dia de ver “Deep Gold” de Julian Rosefeldt, e “Mrs. Fang”, de Wang Bing. Este documentário ganhou o Leopardo de Ouro no Festival de Filmes de Locarno o ano passado e conta a história da última fase da vida de uma camponesa que sofre de Alzheimer.

O público poderá ainda ver uma selecção de filmes onde se inclui “The War That Never Was”, uma selecção de obras de Edgardo Aragón, Bae Yoon Hwan, Chien-Chi Chang e Sutthirat Supaparinya.

Há também lugar à visualização de “Looking for Mushrooms”, de Bruce Conner, ou “A Sense of Warmth”, que incorpora um total de dez filmes que exploram relações sociais de autoria de Nevin Aladağ.

Em “How Happy a Thing Can Be” podem ser vistos filmes que mostram como objectos físicos e situações determinam “emoções e crenças”.

Além de fazer o trabalho de curadoria desta mostra, Li Zhenhua promove uma palestra no Sábado, dia 31 de Março, às 16 horas, com a presença de Isaac Leung, presidente da Videotage . O tema da conversa será “O conteúdo social na Era da distribuição digital”.

28 Fev 2018

Investigação à guerra contra droga nas Filipinas só se excluir relatora da ONU

As Filipinas só aceitarão uma investigação da ONU à “guerra contra as drogas”, liderada pelo Presidente Rodrigo Duterte, se a actual relatora das Nações Unidas sobre execuções extrajudiciais, Agnès Callamard, for excluída

 

[dropcap style≠‘circle’]S[/dropcap]egundo o porta-voz presidencial, Harry Roque, as Filipinas não se opõem à investigação à campanha antidroga, a que se atribuem mais de 7.000 mortos em ano e meio. Mas, para tal, Manila exige que a ONU envie um novo relator “fiável, objectivo e imparcial” e que seja “uma autoridade neste domínio”.

“Não. Definitivamente, não Agnès Callamard”, frisou o porta-voz de Duterte, referindo-se à relatora a quem o presidente filipino ameaçou “esbofetear” no ano passado.

Durante o trabalho desenvolvido, a relatora da ONU sobre execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias nas Filipinas tem denunciado “inúmeras violações” desde o início do mandato de Duterte, em Junho de 2016.

A “ofensiva” contra a droga foi uma das promessas de Duterte durante a campanha eleitoral, que culminou com a sua eleição como Presidente, garantindo que iria “limpar o país de narcotraficantes e de toxicodependentes”.

Em Dezembro de 2017, o Governo filipino considerou que as acusações apresentadas pela investigadora francesa são “arbitrárias” e exigiu “desculpas públicas”.

“É por sua culpa [de Callamard] que o Estado (objecto da investigação) não a quer”, sublinhou hoje o porta-voz presidencial filipino.

 

Só a convite

O primeiro “choque frontal” da relatora da ONU com o Governo filipino ocorreu em Maio de 2017 quando, a convite de um grupo independente de advogados progressistas das Filipinas, Callamard efetuou uma visita extraoficial ao país e acabou por denunciar a existência de execuções extrajudiciais. Na sequência dessas declarações, Duterte ameaçou “esbofetear” Callamard se a relatora da ONU investigasse os seus métodos para erradicar a droga e o crime. O Governo filipino pediu, então, que Callamard não regressasse ao país sem ser convidada.

Dados oficiais indicam que mais de 3900 suspeitos foram mortos em rusgas da polícia na “guerra contra as drogas”, embora se estime que o número de seja superior a 7000.

Além da ONU e da União Europeia (UE), vários países e organizações, como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, têm denunciado alegadas violações aos direitos humanos e irregularidades na acção de Duterte.

28 Fev 2018

Activista e advogado chinês morre em circunstâncias misteriosas

[dropcap style≠‘circle’]U[/dropcap]m importante advogado e activista chinês para os direitos humanos, Li Baiguang, morreu no Domingo num hospital militar na China na sequência de condições “misteriosas”, disse o presidente de uma associação que pediu a responsabilização do regime.

Li Baiguang, que representou agricultores e pastores cristãos, morreu poucas horas depois de dar entrada num hospital militar na província oriental de Jiangsu.

Através de um comunicado, Bob Fu, um activista religioso e presidente da associação não-governamental China Aid, apontou que “o regime chinês deve ser responsabilizado” pela súbita e “misteriosa” morte de Li.

“O hospital alegou que ele tinha um problema no fígado e que sangrou até à morte, mas Li estava saudável”, disse Fu, que acusou a China de ter “um histórico de negligenciar cuidados médicos a activistas dos direitos humanos até à sua morte ou de declarar pessoas anteriormente saudáveis como mortas.

Segundo a agência noticiosa AP, um funcionário do departamento de comunicação do hospital disse não ter ouvido do caso de Li Baiguang. “Não sei de quem se trata”, disse o funcionário, de apelido Yang, que acrescentou que a morte e as causas de morte são “assuntos privados”.

 

Teoria da incerteza

Devido ao seu trabalho e à defesa de pastores cristãos, Li recebeu várias lesões após ter sido, alegadamente, atacado por agentes de segurança à paisana em Outubro de 2017.

“Não sabemos exatamente se estas lesões contribuíram para o declínio da sua saúde, mas enquanto membro da convenção das Nações Unidas contra a tortura, o Governo chinês deve conduzir uma investigação imediata e imparcial para determinar se estes ferimentos determinaram a morte” de Li, disse William Nee, um investigador da Amnistia Internacional.

“O Governo tem a obrigação de assegurar que os advogados conseguem realizar os seus deveres profissionais sem medo de intimidação ou de interferência, e sem serem identificados com os seus clientes ou causas”, acrescentou Nee.

Em 2008, como resultado do trabalho na luta para a liberdade religiosa, Li Baiguang foi distinguido pela Fundação Nacional para a Democracia dos Estados Unidos.

28 Fev 2018

Intelectuais pedem voto contra fim da limitação de mandatos

Um grupo de intelectuais chineses, encabeçado pelo colunista Li Datong, pediu a vários legisladores chineses que impeçam a emenda constitucional que prevê remover o limite de dois mandatos no exercício de cargo de Presidente

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] emenda, cuja proposta foi tornada pública no Domingo pelo Comité Central do Partido Comunista Chinês, permitirá ao atual Presidente chinês, Xi Jinping, ficar no cargo depois de 2023, quando termina o seu segundo mandato.

Será votada em Março, na sessão anual da Assembleia Nacional Popular (ANP), o órgão máximo legislativo da China, que é composto sobretudo por membros do PCC, pelo que é certa a sua aprovação.

Numa carta difundida através da rede social Twitter, que está bloqueada na China, Li Datong, o antigo editor da “Bingdian”, revista próxima à Juventude Comunista da China, e outros intelectuais, advertem que a emenda “causará o ridículo entre todos os países civilizados do mundo” e “será um passo atrás na História que poderá semear o caos”.

A carta encabeçada por Li, um colaborador habitual da publicação britânica openDemocracy, defende que a limitação de dois mandatos (cinco anos cada um) foi introduzida em 1982 na Constituição para “evitar a ditadura pessoal e que um indivíduo possa sobrepor-se ao partido”.

 

Posição tomada

A alteração desse princípio pode “causar danos intermináveis”, pelo que Li pede aos legisladores de Pequim (uma pequena parte dos cerca de 3.000 que participarão na sessão anual da ANP), que votem contra.

A limitação de mandatos vigora na política chinesa desde os anos 1980, visando prevenir os desastres causados pelo totalitarismo de Mao Zedong (governou entre 1949 e 1976).

Xi Jinping, o mais forte líder chinês das últimas décadas, afastou já os principais rivais políticos, enquanto legitimou a sua liderança aos olhos da população, através da mais ampla e persistente campanha anticorrupção de que há memória na China, que puniu já mais de 1,5 milhões de membros do PCC, incluindo 400 altos quadros do regime.

28 Fev 2018

Cabo Verde distingue David Chow com medalha de mérito turístico

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Governo de Cabo Verde atribuiu ao empresário luso-chinês David Chow, promotor do empreendimento Gamboa/ilhéu de Santa Maria, a medalha de mérito turístico pelo seu contributo para o desenvolvimento económico do país.

A distinção ao empresário, proprietário do grupo Macau Legend, foi aprovada, na Sexta-feira, pelo primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva e publicada no Boletim Oficial.

A Macau Legend está a construir, na cidade da Praia, um complexo turístico, que inclui hotel, marina, centro de convenções e casino.

Trata-se do maior empreendimento turístico previsto para Cabo Verde, num investimento, estimado em 250 milhões de dólares, que representa cerca de 15 por cento do Produto Interno Bruto de Cabo Verde.

A distinção, segundo o despacho governamental, visa “reconhecer o extraordinário papel” de David Chow no desenvolvimento “económico e social do Estado” cabo-verdiano e fazer “uma justa homenagem” ao empresário pelo “relevante serviço prestado no fomento da indústria do turismo”.

David Chow Kam Fai, 68 anos, empresário luso-chinês nos sectores do turismo, entretenimento e jogos em Macau, iniciou os primeiros contactos com Cabo Verde em 2001, quando assumiu funções de cônsul honorário de Cabo Verde. Em 2015, acordou com as autoridades cabo-verdianas a construção do empreendimento Gamboa/Ilhéu de Santa Maria, cuja primeira pedra foi lançada em fevereiro de 2016.

Há uma semana, o empresário esteve em Cabo Verde para relançar o empreendimento, cujo projecto sofreu algumas alterações, e anunciou ter cumprido todos os requisitos junto do banco central cabo-verdiano (BCV) para a abertura de uma instituição bancária no país. Anunciou igualmente a intenção de diversificar os investimentos em Cabo Verde, nomeadamente através da aposta em sectores como a agricultura e as energias renováveis.

28 Fev 2018

Conterrâneos de Kong Mun constroem centro de idosos no Sin Fong Garden

A associação que tem como vice-presidente o deputado Mak Soi Kun vai assinar hoje o contrato para a entrega de um donativo que cobre 60 por cento do custo da reconstrução do edifício Sin Fong Garden

 

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Associação de Conterrâneos de Kong Mun assina hoje um acordo com os moradores do edifício Sin Fong Garden para a reconstrução do prédio, que vai passar a ter um centro de idosos. Segundo o vice-presidente da associação, Mak Soi Kun, o passo vai ser dado depois de ter havido uma visita ao Ministério Público, que permitiu concluir que a recolha de provas sobre o processo está praticamente terminada.

“Fizemos uma visita ao Ministério Público e viemos a saber que a recolha de provas e os procedimentos administrativos [a cargo do MP] estão quase concluídos. Por isso, amanhã [hoje] vamos ter uma cerimónia de assinatura do contrato para a entrega do donativo que vai ajudar na reconstrução do edifício”, disse Mak Soi Kun, à margem do almoço dos deputados com a comunicação social.

“As pessoas devem ter as casas disponíveis dentro de três ou quatro anos. Mas é um processo que leva algum tempo porque é necessário demolir o edifício e reconstrui-lo. Também muitos moradores ainda precisam de recolher o financiamento para as obras”, apontou. “Agora, queremos construir um centro de idosos no edifício”, acrescentou.

Anteriormente a Associação de Kong Mung tinha assumido o compromisso de pagar 60 por cento do valor das obras, que na altura foram avaliadas em 200 milhões de patacas. Ontem, Mak Soi Kun afirmou não esperar diferenças no orçamento e apelou ao Governo para seja célere a tratar de todos os procedimentos.

“Todos conseguem imaginar o impacto que tem para a vidas das pessoas comprar uma casa e depois não poder viver nela. Este é um caso que já se arrasta há anos, quanto tempo ainda temos de esperar? Esperamos que o Governo possa dar uma atenção especial para acelerar o processo”, sublinhou.

O caso Sin Fong Garden surgiu em Outubro de 2012, quando cerca de 144 famílias tiveram de ser retiradas do edifício, por haver perigo de um dos pilares colapsar. O MP está neste momento a tentar apurar a responsabilidade do sucedido.

 

Casas para habitar

Mak Soi Kun voltou a abordar o mercado do imobiliário e a defender-se das imagens manipuladas em que aparecia a dizer que em Macau as casas servem para especular.

“Grande parte da população considera que o mercado do imobiliário está muito virado para a especulação. Esta é uma situação que não é normal. Tem de haver uma maior oferta de habitação para resolver o problema”, disse o deputado. “As casas não são para especular”, sublinhou.

O legislador defendeu que o Governo pode considerar entregar os terrenos a associações de solidariedade, como uma forma destas resolverem o problema da habitação.

Na mesma conversa, Mak Soi Kun recordou que a primeira casa que comprou em Macau foi com recurso ao crédito, ainda antes da transição da soberania, e que teve de poupar para conseguir pagar a entrada.

28 Fev 2018

Exposições e conferências com fim do ano em alta

[dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]o quarto trimestre, o número de reuniões e conferências aumentou em termos anuais, tendo atingido 86.000 participantes (+23,8 por cento), em virtude do acréscimo de 34 por cento nos participantes dos eventos com 200 ou mais indivíduos (72.000). De acordo com os dados divulgados ontem pelo Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC), realizaram-se 244 reuniões e conferências (-8, em termos homólogos). A duração média geral de reuniões e conferências foi de 1,6 dias, permanecendo no nível do trimestre homólogo de 2016. No trimestre de referência foram realizadas 18 exposições (+2, em termos anuais), em que participaram 591.000 visitantes (+45,8 por cento). Destaca-se que 16 exposições foram organizadas por entidades não governamentais, tendo atraído 459.000 visitantes (+31,0 por cento), enquanto duas exposições foram organizadas por entidades governamentais, tendo atraído 132.000 visitantes, com um crescimento acentuado de 140,7 por cento.

De acordo com informações recolhidas junto das entidades organizadoras das 18 exposições, no quarto trimestre as receitas e despesas das exposições cifraram-se em 76,73 milhões e 114 milhões de patacas, respectivamente. Refira-se que as receitas eram provenientes, principalmente, dos “subsídios concedidos pelo Governo e por outras instituições” (75,3 por cento do total), enquanto as despesas eram efectuadas essencialmente em “serviços de produção, construção e decoração” (27,1 por cento).

Em 2017, realizaram-se um total de 1.381 reuniões, conferências, exposições e eventos de incentivo (+105, em termos anuais), que tiveram 1.901.000 participantes e visitantes (+10,4 por cento, em termos homólogos).

De acordo com as informações recolhidas junto das entidades organizadoras das 51 exposições realizadas em 2017, as receitas cifraram-se em 184 milhões de patacas,

28 Fev 2018

Proprietários da Lai Si negam acusações de manipulação de valor das acções

Os responsáveis da Lai Si, Harry Lai, representante de Macau na CCPPC da Província de Cantão, e o pai, Lai Ieng Man, negam qualquer prática ilegal e dizem que estão a ser vítimas de um “ataque intencional”

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] construtora Lai Si nega estar envolvida em actividades de manipulação do valor das suas acções na bolsa de Hong Kong. A posição da empresa de Macau, ligada a Harry Lai foi assumida através de um anúncio, publicado ontem na imprensa local. Harry Lai é um dos 35 representantes do território no Comité Permanente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês de Cantão (CPCCPPC).

Segundo um comunicado da Lai Si, com a data da semana passada, Harry Lai, na qualidade de director executivo, e Lai Ieng Man, presidente e pai de Harry, estão a ser acusados de terem manipulado o preço das acções. A queixa terá partido de um grupo de accionistas minoritários e foi apresentada junto do regulador da bolsa de Hong Kong.

Consta na documentação alegadamente apresentada ao regulador que o presidente da Lai Si e o director executivo, Harry Lai Meng San, teriam prometido que as acções iam valorizar entre oito a dez vezes, antes da entrada na bolsa. Além disso, havia, alegadamente, uma garantia de retorno de 20 mil patacas por título. Lai Ieng Man e Harry Lai são ainda acusados de ter chegado a acordo com dois indivíduos para venderem metade da sua participação na empresa.

As queixas foram desmentidas na semana passada, mas a empresa voltou ontem à carga, num comunicado assinado por Lai Ieng Man e Harry Lai.

“Tanto Lai Ieng Meng, como Lai Meng San, nunca manipularam, de nenhuma maneira, o preço das acções da empresa”, pode ler-se. “A participação de 75 por cento na empresa do clã Lai nunca esteve à venda e não há qualquer intenção de reduzir a participação. Não há qualquer prova para justificar as alegações de que o clã Lai tenha prometido vender acções correspondentes a 37,5 por cento do capital da empresa”, é acrescentado.

Queixa na PJ

Na defesa de Harry Lai e Lai Ieng Man é clarificado que a Lai Si recorreu a empresas licenciadas, junto do regulador de Hong Kong, para tratar do processo de entrada da bolsa, que aconteceu em Fevereiro do ano passado. Segundo o clã Lai, foram igualmente pagas legalmente todas as comissões necessárias.

Por outro lado, os visados falam de um “processo difamatório” e de um “ataque intencional” e referem que o caso vai ser tratado pela Polícia Judiciária, a quem já apresentaram queixa.

No mesmo comunicado é sublinhado que a situação financeira da empresa é “saudável” e é feito um apelo para que as pessoas confiem nos directores.

Em Fevereiro, as acções da Lai Si valiam 1,74 dólares de Hong Kong, quando a empresa entrou para a bolsa, ontem fecharam a valer 0,85.

28 Fev 2018

Concessão do Macau Jockey Club renovada por mais 24 anos e meio

Um plano de investimento de 1,5 mil milhões de patacas convenceu o Governo a renovar o contrato de exploração das corridas de cavalos do Macau Jockey Club, que expirava hoje, até 31 de Agosto de 2042

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] contrato de concessão da Companhia de Corridas de Cavalos, que opera o Macau Jockey Club, vai ser prorrogado por 24 anos e seis meses, anunciou ontem o Secretário para a Economia e Finanças. Lionel Leong justificou o longo período com a promessa de um forte investimento por parte da empresa concessionária, incluindo na componente extrajogo.

“O investimento que vai fazer é de 1,5 mil milhões e também vai alargá-lo ao não-jogo, por isso, [tomámos] esta decisão”, argumentou Lionel Leong, apontando que a empresa “tem que mostrar essa capacidade financeira”. Neste sentido, o Governo exige-lhe que, durante o processo de investimento, cumpra os prazos estipulados para cada tranche, sob pena de ver suspensa a prorrogação do contrato.

Embora remetendo os detalhes para o contrato, que vai ser publicado hoje em Boletim Oficial, o Secretário para a Economia e Finanças sinalizou mexidas nas cláusulas. “Vamos reduzir o tempo de reembolso”, indicou Lionel Leong, referindo-se ao prazo para a liquidação do imposto em falta.

Em breves declarações aos jornalistas, à margem de um almoço da Associação de Bancos de Macau, o Secretário para a Economia e Finanças manifestou ainda confiança de que o plano apresentado pela Companhia de Corridas de Cavalos possa contribuir para recompor as suas contas, que estão no ‘vermelho’ desde 2005.

“Como sabem, no passado, houve prejuízos. Esperamos que, com este grande investimento, possa inverter a sua situação financeira e, mais importante, que a sua existência possa contribuir para a RAEM com elementos não-jogo”, observou.

O plano de investimento “favorece o desenvolvimento da RAEM como Centro Mundial de Turismo e Lazer”, complementou a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) em comunicado, indicando que visa “o melhoramento das instalações” e “o desenvolvimento de mais actividades correlativas não-jogo”, com vista a “intensificar a competitividade” da empresa e a “proporcionar mais escolhas de entretenimento e lazer aos residentes e visitantes de Macau”.

O Macau Jockey Club, ligado ao universo de Stanley Ho, tem como vice-presidente do conselho de administração e administradora executiva Angela Leong, quarta mulher do magnata e deputada à Assembleia Legislativa.

 

Equitação e lojas

Apesar de afirmar desconhecer os “assuntos em concreto”, Angela Leong levantou um pouco o véu sobre os planos delineados para viabilizar o Macau Jockey Club. “Vamos introduzir factores diversificados”, afirmou, mencionando uma escola de equitação e um centro comercial.

“Nós, como investidores, apoiamos todas as políticas de investimento da companhia”, disse a deputada à margem de um almoço da Assembleia Legislativa, falando em “mais de 2 mil milhões de patacas” – um valor superior ao referido tanto pelo Secretário para a Economia e Finanças como pela DICJ.

Angela Leong, “muito contente” com a prorrogação do contrato até 31 de Agosto de 2042, também se mostrou confiante de que a empresa vai “ultrapassar” a actual situação de avultadas perdas e garantiu que, apesar da pressão, não há lugar a cortes de pessoal. Isto graças a “Stanley Ho, que não quis ver funcionários do Macau Jockey Club despedidos”. “Espero que continuem a ter emprego” e que “trabalhem com alegria”, afirmou a empresária.

A Companhia de Corridas de Cavalos fechou 2016 com prejuízos acumulados de mais de 4 mil milhões de patacas. De acordo com as contas auditadas e aprovadas pela assembleia-geral de accionistas, em finais de Março do ano passado, registou também um passivo de 1,3 mil milhões de patacas.

Os dados relativos ao exercício de 2017 ainda não são conhecidos. Neste momento, sabe-se apenas, por via dos dados publicados pela DICJ, que as receitas das corridas de cavalos foram de 104 milhões de patacas – menos 26,2 por cento face aos 141 milhões arrecadados no ano anterior –, com o volume de apostas a cair de 709 milhões para 517 milhões.

A primeira concessão do exclusivo da corrida de cavalos remonta a 1978, tendo o contrato sido alvo de prorrogações, e por vezes revisões, até aos dias de hoje. O mais recente, que expirava precisamente hoje, tinha a validade de apenas seis meses, enquanto o imediatamente anterior uma duração dois anos.

A favor e contra

As reacções à renovação da concessão do Macau Jockey Club divergem. Para Davis Fong, deputado e director do Instituto de Estudos sobre a Indústria de Jogo na Universidade de Macau, é uma “boa notícia”. Por um lado, porque é “um grande investimento” e que, portanto, precisa de “algum tempo para ter retorno”. Por outro, porque “Macau não é uma cidade que se cinge apenas aos casinos”, mas que tem também outras actividades de jogo, como as apostas em corridas de cavalos, que representam alguma diversificação.

Agnes Lam mostrou-se mais cautelosa. “Se o Governo renovou o contrato, tendo em conta o negócio, pode ser positivo porque aquela zona pode vir a ter outras actividades”, observou a deputada, ressalvando, porém, ser preciso ver com cuidado a intenção final. Neste sentido, afirmou esperar que “o Governo não use este tipo de renovações de forma a que a concessão do terreno se possa também tornar vitalícia ou para assegurar algum tipo de monopólio”, defendendo ainda que o tratamento dado aos cavalos deve ser alvo de atenção por parte do Executivo.

Albano Martins lamenta a opacidade do processo: “Não há transparência nenhuma e é lamentável que uma decisão desse tipo surja nas costas de toda a gente”. O presidente da Anima – Sociedade Protectora dos Animais entende que a renovação por quase 25 anos serve “para dizer que é apenas uma concessão de terreno”.

“Para mim é muito simples: daqui a uns anos, provavelmente não agora porque daria demasiado nas vistas, dizem que [o modelo] não funciona e que querem reconverter a área para mais imobiliário e, portanto, ficam com todo o terreno, que é valiosíssimo, para a exploração de imobiliário”, disse Albano Martins. O economista lamenta a oportunidade perdida, porque aquela zona seria ideal para escolas ou para habitação para a classe média. “Pelos vistos outros valores mais altos se levantaram”, criticou.

O investimento anunciado também desperta a curiosidade de Albano Martins. “É tudo muito esquisito. Se vão fazer investimento de 1,5 mil milhões é só para pagar as dívidas? Então e o resto?”, questiona o economista, defendendo que “é preciso que a DICJ explique tudo muito bem”.

As “condições degradantes” do Macau Jockey Club, cujos estábulos continuam por recuperar apesar das promessas, também preocupam Albano Martins, a par do tratamento dado aos cavalos, sobretudo aos que são retirados das corridas. “Há dias soube que os animais são abatidos em cima do cimento. Com a convulsão da morte batem com a cabeça várias vezes no solo, quando há relva um pouco ao lado – é completamente desumano”.

“Não acredito nada que façam qualquer coisa para melhorar o negócio. O que querem é o terreno”, afirmou.

28 Fev 2018