Filipa Araújo Manchete SociedadeÁlvaro Barbosa, director da Faculdade de Indústrias Criativas da USJ As indústrias criativas seguem em bom percurso, mas são áreas que por si só implicam tempo. Álvaro Barbosa, director da Faculdade das Indústrias Criativas da USJ e docente, defende a utilização da criatividade como chave para encontrar soluções para gestão de políticas e problemáticas públicas e anuncia ainda a intenção de criar um curso de Cinema – uma proposta a ser entregue ao GAES em breve [dropcap style=’circle’]H[/dropcap]á anos que se fala nas indústrias criativas como alternativa ao sector do Jogo. Já defendeu várias vezes que não é possível, ainda assim mantemo-nos no mesmo caminho. Continua com a mesma opinião? Essa é uma questão que já nos colocámos muitas vezes. O meu entender é que não existe nenhuma alternativa viável no sentido de substituir a indústria do Jogo, por uma razão simples: é que há muito poucas indústrias que proporcionam o tipo de rendimentos que esta indústria de entretenimento e Jogo proporciona em Macau. Muito dificilmente haverá enquadramento em Macau para haver uma indústria que seja alternativa ao Jogo. Falamos então de algo complementar… Quando se coloca esta questão não pode ser de alternativa, sim de complementaridade. Penso que é preciso encontrar indústrias que de alguma forma tenham alguma relação, alguma articulação, com esta indústria que é central em Macau e que proporcionem uma diversificação da economia. Mas não numa lógica de substituir o Jogo, no sentido de que – se um dia esta indústria deixar de funcionar – Macau vai manter o seu nível de rendimentos. Acho que isso seria muito difícil num território desta dimensão. O apoio que o Governo diz atribuir às indústrias criativas está a acontecer da forma correcta? O que o Governo está a fazer é mais do que proporcionar apoio. Há alguns anos houve um entendimento de que as indústrias criativas são uma área que se estão a desenvolver pelo mundo fora, como uma área que é relevante e que tem impacto. E faz sentido no mundo actual, em que os serviços e produtos começam a entrar numa certa velocidade de cruzeiro e numa certa redundância e, por isso, a questão da criatividade torna-se essencial para a inovação. As indústrias criativas são essenciais para a inovação e para o empreendedorismo nos dias de hoje. A criatividade tem um papel muito importante e, consequentemente, as indústrias criativas. Em Macau, as pessoas sabem o que se passa no mundo e perceberam que isto é uma das indústrias que é vital em regiões desenvolvidas. Aqui, esta indústria do Jogo e entretenimento parece ser um casamento que faz sentido. A ideia de que podemos ter um conjunto de actividades complementares relacionadas com as indústrias criativas fez com que o Governo percebesse que seria uma aposta que faz sentido. Actividades complementares como por exemplo… Turismo, património, gastronomia, design, arquitectura. Diz que não é só apoio… O que foi feito não foi propriamente um apoio, em primeiro lugar houve um estudo e uma comissão criada no sentido de tentar perceber qual o enquadramento que existia em Macau. Porque estas coisas, mais do que em outras áreas, fazem-se de baixo para cima, e não de cima para baixo. É preciso primeiro perceber o que é que existe e depois configurar algo que faça sentido. Houve primeiro uma etapa em que foi criada essa comissão e foram desenvolvidos um conjunto de subsectores, que fazia sentido em Macau, pelo seu enquadramento e massa crítica. Com base nesse primeiro passo foi criado, num segundo momento, um mecanismo de apoio, nomeadamente financeiro para alavancar o desenvolvimento de projectos nestas áreas. O apoio está portanto a acontecer. Daí a criação do Fundo para as Indústrias Criativas… Sim, está a financiar projectos, dando os primeiros passo. Estas coisas demoram tempo, não se fazem instantaneamente. Penso que o caminho que está a ser percorrido é o caminho correcto, com os seus solavancos normais do desenvolvimento de uma área. É uma área que está a ser desenvolvida pelo mundo fora. Claro, que em alguns países está um pouco mais consolidada, mas penso que não há ninguém no mundo que possa dizer que já fez tudo o que há para fazer nesta área. Dinheiro é a única coisa precisa para apoiar este projectos? O que poderia ser feito e está a ser feito é perceber que, tal como nos outros sítios, o essencial neste tipo de desenvolvimento é a educação. As infra-estruturas de ensino estarem direccionadas e recentradas nestas dinâmicas. Se a aposta da economia de Macau vai neste sentido, então as universidades e o ensino secundário devem de alguma forma abraçar e reflectir essas dinâmicas. Portanto faria pouco sentido Macau investir em áreas de tecnologia aeroespacial, por exemplo. O que faz sentido é que as universidade e as escolas sejam canalizadas para reforçar e criar uma cultura social nesta área. É preciso perceber que estas ideia das indústrias criativas tem de ser levada a par com uma dinâmica integrada com as universidades. E isso está a acontecer? Penso que estamos a trabalhar nesse sentido. Por parte da Universidade de São José posso dizer que foi uma aposta deste mandato investir nesta área. A tradição da Universidade Católica tem sido investir na cultura e da criatividade. Tem sido esta a tradição, investir em áreas que não estão a ser desenvolvidas em outras universidades de ensino público e que têm a ver com a cultura e arte. Faz sentido apostar. Indústrias culturais e criativas são coisas diferentes? Não, são áreas que se relacionam. Costumo explicar desta forma: as indústrias culturais podem ser vistas como um subconjunto das criativas. As culturais dizem respeito às dimensões que nós, enquanto seres humanos, necessitamos como cidadãos, as nossas necessidades culturais – museus, património, artes performativas, músicas. É uma tipologia de indústria que normalmente, e é assim que devem ser visto embora as pessoas não queiram aceitar, são subvencionadas por fundos públicos. Em todo o mundo. O caso dos Estados Unidos – em que se dá a entender que os museus são apoiados pelo privado – é preciso ver que há uma nuance. O sector privado que financia as instituições culturais tem uma lei do mecenato que os favorece imenso. Portanto os descontos que obtêm com o seu apoio nos seus impostos, acabam no fundo por ser suportados pelo Estado. As criativas? As criativas vão para além disso. Estão mais relacionadas com as nossas necessidades enquanto consumidores. Os consumidores consomem produtos de design, online, digital, jogos de entretenimento. Há uma diferença no que é o domínio das artes performativas no plano cultural e no plano do entretenimento. Em geral o conceito abrange, de certa forma, as indústrias culturais. Onde é incluída a música, as artes performativas, etc. Que tipo de criatividade está a precisar Macau? É preciso esclarecer uma coisa. Normalmente as pessoas pensam que a criatividade é uma espécie de talento, que há umas pessoas que a têm e os outros não, que está relacionada com as artes. Não entendo a criatividade nesse sentido. Para mim criatividade é um processo, que se pode aplicar e praticar. Tem aplicações em muitos domínios, em muitas disciplinas, inclusivamente em indústrias que até parece não fazerem uso da criatividade. Hoje em dia, penso que o contexto em que a criatividade é mais essencial é na inovação. Em qualquer indústria. É preciso as indústrias posicionarem-se de forma competitiva. Só há três formas: relação com os clientes, preço e inovação. Para conseguir a inovação é preciso transformar cidades e problemas em oportunidades, para isso é preciso criatividade. Aplicável em todos os sentidos… Aplicável em todos os domínios, por exemplo, se quisermos resolver o problema do trânsito em Macau é preciso criatividade. Como é que se resolve? (risos) Acho que muitas vezes a solução de problemas, se seguir precisamente a ideia da criatividade sistemática, começa por nos focarmos no problema. Proponho é que antes de passarmos para a solução de aumentarmos as taxas para ver se as pessoas deixam de comprar mais carros, algo que parece não acontecer porque em Macau existe bastante capacidade financeira, o caminho é sempre tentar encontrar, antes de avançar para uma solução, várias potenciais soluções. E depois a solução que vamos encontrar não é uma, normalmente é uma solução multidimensional. A criatividade é isto. O que falta em Macau? O que falta é utilizar a criatividade como um recurso. Como um recurso que pode ser utilizado num processo e de forma sistemática. Isso aplica-se em todos os domínios, até na banca. Desde que seja enfocada nesta forma. Os jovens têm essa noção? Normalmente nas minhas aulas dou o exemplo de Macau. Não me foco tanto no negócio mas sim na solução de problemas. Na criatividade sistemática como a metodologia de solução de problemas. E o exemplo do trânsito é muito usado, porque é uma das dificuldades que a sociedade tem. Temos chegado a soluções óbvias e a outras muito criativas. Problemas complexos nunca têm só uma solução. Na Holanda têm um departamento nesta área e que utilizam precisamente para encontrar soluções de gestão de políticas públicas que são mais eficazes e eficientes do que aquelas que seguem os processos tradicionais de solução de problemas. Faria sentido esse departamento em Macau? Absolutamente. Faria todo o sentido, a gestão dos serviços públicos em Macau é eficaz mas poderia ser muito mais eficaz, muito mais sustentável. Temos tido, não no sector público, algumas solicitações de departamentos de formação das corporações, nomeadamente casinos, para darmos formação. Portanto há abertura? Naturalmente. Estamos a falar da criatividade sistemática que tem uma aplicação fora das indústrias culturais. A ideia de instituir a criatividade sistemática na gestão das instituições está mais do que identificado, mesmo na China. Conheço várias empresas em Shenzen que são de consultadoria nesta área. Em Macau faz sentido e naturalmente irá acontecer. Se Macau quer ser competitivo tem de ser diferente. Como é que se consegue? Já é (risos). A forma como Macau se distancia dos seus concorrentes já está estabelecida e é diferente dos olhos para que ela olham. Temos a consciência que na China continental o apelo de Macau, aos turistas e investidores, não é exactamente o mesmo que na Europa, por exemplo, que olha para Macau pela sua integração na China. Já na China, Macau tem o seu encanto através da sua relação com a Europa. Aqui, a competitividade tem de ser pensada pelos seus segmentos. Pensar que a China imita e não cria é um erro? É uma ideia que já nos remete para o passado. É preciso ver que a China imita, mas todos imitamos. A verdade é que a única possibilidade para sermos criativos é copiando, adaptando ou misturando. São as três receitas para a criatividade. O que a China faz, se calhar fez durante algum tempo de forma menos encapsulada, não é mais do que foi feito por todo mundo. A ideia da originalidade absoluta é uma ideia romântica. Essa ideia de que a China copia é um estigma um pouco exagerado. O que acontece é que muitas vezes há uma réplica literal e há uma tentativa de falsificação. Mas não existe só aqui. Talvez se note mais porque tem a maior infra-estrutura de produção da região e talvez do mundo, de produtos. O que está acontecer é que a China está a emergir para as áreas de serviços, principalmente na área do design, da comunicação digital. Casos como o Alibaba… Sim, grandes exemplos como desta dinâmica. O Wechat, o Alibaba, há também uma aposta na impressão em 3D, na área da microelectrónica. A ideia de que a China é apenas um país que se copia está a esvanecer. Falando da USJ: quais os projectos que abraçaram agora? O primeiro mandato foi no sentido de definir uma estratégia, dentro da Faculdade de Indústrias Criativas consolidámos as três grandes áreas que tínhamos: comunicação e media, arquitectura e design e iniciámos um processo de ter uma constelação de áreas que fizesse com que esta faculdade contemplasse os grandes vectores de indústrias criativas que fazem sentido em Macau. Iniciámos um processo de novos programas e isso é uma coisa que leva o seu tempo. Por exemplo, faz sentido haver uma escola de cinema, Licenciatura de Realização e Produção de Cinema e estamos a avançar com a proposta de um curso que será submetido ao GAES [Gabinete de Apoio ao Ensino Superior] e a nossa expectativa é introduzi-lo no próximo ano, em 2017.
Hoje Macau Desporto MancheteLiga de Elite | Benfica, 14 – Casa de Portugal, 0 Não se esperavam grandes dificuldades para o Benfica mas, provavelmente, também não se esperariam tantas facilidade. Uma hiper-goleada num jogo de sentido único, em cima de um relvado num estado lastimável, onde a Casa de Portugal surgiu com apenas dois suplentes e praticamente não atacou. O Benfica apresentou um onze diferente do normal com alguns titulares habituais a ficarem no banco. Também ontem, o Sporting despachou o Kei Lun com sete golos sem resposta. O Benfica continua na frente do campeonato [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]os 47 segundos de jogo já o Benfica mostrava ao que vinha. Uma arrancada rápida pelo lado direito de Chan Man que entrou sozinho pela área dentro desferindo um remate cruzado sem qualquer oposição mas que viria a embater no poste. A Casa de Portugal defendia como podia, com destaque para o defesa central Turay, sempre muito activo a controlar as operações da equipa na defesa e, logo aos quatro minutos, Vini cruzava da direita para Alison Brito encostar e fazer o primeiro golo. A Casa de Portugal continuava a tentar deter os ataques encarnados deixando apenas o avançado Miguel Ângelo na frente, uma ou outra vez com a companhia de Duarte Pinheiro Torres e, aos 24 minutos, Alison Brito fazia o segundo da sua conta pessoal e da equipa. Apenas à meia hora de jogo a Casa de Portugal conseguia o primeiro ataque mas sem consequências dignas de nota. Aos 37 minutos, o Benfica chegaria ao terceiro golo por Aguiar que aproveitaria da melhor forma uma defesa incompleta do guarda-redes da Casa de Portugal a um remate cruzado de Lei Kam Hong da direita. Já perto do intervalo, a Casa Portugal tentou mais uma aproximação à baliza do Benfica mas, na resposta, a equipa encarnada desenvolveu um contra ataque rápido com a bola a ser enviada paras a costas da defesa resultando num golo fácil para Lei Kam Hong. Vinha aí um tsunami Com o resultado em 4-0 ao intervalo e as facilidades com que o Benfica chegava à baliza da Casa de Portugal, seria legítimo esperar mais golos encarnados na segunda parte mas, provavelmente, poucos esperariam mais 10. A expulsão de Wong U Cheng logo as 54 minutos e a lesão mais tarde de Turay fazendo com que a Casa de Portugal terminasse o jogo com nove jogadores também terão tido alguma coisa a ver com o assunto. Além disso, nem o guarda-redes escapou pois viria a lesionar-se cerca dos 70 minutos de jogo terminando em clara inferioridade física. Aos 50 minutos chegava o quinto do Benfica numa jogada rápida de contra-ataque de Lei Kam Hong que sentou um defesa e depois rematou forte e sem hipóteses para o guarda-redes. Dois minutos depois e surgia um belo remate de cabeça de Bernardo Marques na sequência de um canto para o sexto da contagem. Mais dois minutos e mais um golo, desta feita de penálti, por mão de um defesa, e que viria a ser convertido por Edgar Teixeira com o guarda redes a ficar estático a ver a bola passar para o canto inferior esquerdo da sua baliza. O jogo continuava com o Benfica a lançar constantes assaltos à baliza da Casa de Portugal e, aos 65 minutos, surge o que foi, provavelmente, o melhor golo da partida num remate em arco de Lei Kam Hong que resultou numa valente chapelada ao guarda redes que bem voou mas em vão. Dois minutos passados e mais um golo do Benfica com Filipe Aguiar a aproveitar um bom cruzamento da esquerda. Mais dois minutos e o mesmo jogador viria a facturar o seu quarto golo ao apanhar a defesa da Casa de Portugal desprevenida e rematar colocado. Aos 71, mais um penálti assinalado contra a Casa por derrube de um jogador do Benfica, cabendo desta vez a Chan Man as honras do momento. Bola para um lado, guarda-redes para um lado bola para o outro, clássico. Aos 73 chegava a dúzia com Carlos Góis e aos 76 minutos, um canto da esquerda do ataque do Benfica para a zona da pequena área permite a Bernardo Marques entrar outra vez bem de cabeça e fazer um golo parecido com o seu anterior, momento em que o guarda-redes da Casa de Portugal fica a coxear. Aos 85 minutos uma bola picada da esquerda para a direita permite a entrada de Carlos Góis que fecharia a contagem beneficiando também da apatia do guarda-redes que mal se fez ao lance por estar em manifestas dificuldades físicas. Henrique Nunes, treinador do Benfica: “O campeonato começa agora” Para o responsável encarnado era um jogo teoricamente fácil mas que “ficou ainda mais facilitado depois da expulsão e da lesão”, disse. O estado relvado também não fugiu à análise de Henrique Nunes que classificou de “muito mau”. O treinador do Benfica destacou ainda o profissionalismo da equipa que “do princípio ao fim do jogo mostrou querer jogar e marcar sempre mais golos”. Em relação às contas do título, Henrique Nunes considera que vão entrar na fase crucial da prova com os jogos contra o Ka I, o CPK e o Sporting, dizendo que “são estes jogos que vão decidir o campeão”. Acredita que tem plantel para lutar pelo título mas “existem outras equipas boas”, disse, e nem o Monte Carlos retira das contas porque, adianta, “apesar de estarem a oito pontos de nós, têm uma sequência de jogos mais fáceis pela frente. Sean Kilker, treinador adjunto da Casa de Portugal: “Lutar até ao fim” Sean Kilke em declarações ao Hoje Macau pois o treinador Pelé tinha um jogo de sub 16 a começar no Canídromo considerou que foi um jogo muito difícil para a equipa. Para este responsável da Casa de Portugal o facto de terem muitos jogadores não disponíveis para o encontro dificultou-lhes ainda mais o trabalho porque jogar “com apenas dois suplentes contra o Benfica ia ser complicado”. Em relação aos objectivos da equipa Kilker é claro no desejo de se manterem na primeira divisão mas só se equipa lutar. “Se os rapazes lutarem até ao fim, vamos conseguir”, disse. Rui Vitória | «Benfica está a jogar um futebol mais fácil» Instado a identificar o que mudou no Benfica depois do empate (0-0) com o União, na Madeira, Rui Vitória fez notar que os resultados e exibições que se seguiram ao encontro da 7.ª jornada da Liga foram o corolário da evolução da equipa. «Os resultados ajudam e o trabalho dos jogadores também. Esse jogo não pode ser um marco no sentido de dizer que a partir dali as coisas aconteceram melhor. O trabalho foi dando os seus frutos, o tempo vai ajudando a que as coisas fiquem muito mais estáveis e que o rendimento comece a aparecer», constatou, prosseguindo: «A alegria dos jogadores, a confiança que foram ganhando, o envolvimento entre nós juntamente com os nossos adeptos, ajuda a que tudo seja mais fácil.» Aos olhos de Rui Vitória, o Benfica joga hoje «um futebol mais fácil, cria oportunidades de golo com mais facilidades e os jogadores estão alegres em campo». «Gosto de ver este envolvimento e empatia entre a equipa e os adeptos», realçou. FIFA | Infantino rejeita comparações com Blatter O que têm Jospeh Blatter e Gianni Infantino em comum além da nacionalidade? Pouco ou nada, segundo o novo presidente da FIFA que pretende apenas, tal como o antecessor, marcar uma nova era no organismo que tutela o futebol mundial. «Infantino é Infantino, Blatter é Blatter», começou por dizer o suíço, eleito novo presidente da FIFA na última sexta-feira, em Zurique, rejeitando comparações com o homem que deixou o cargo envolto em polémica devido a escândalos de corrupção. «Blatter marcou uma era na FIFA e eu espero marcar uma nova era. Penso pela minha cabeça, de outra forma não tinha sido eleito», disse em declarações ao Sonntags Blick. Infantino confessou ainda que «não estava confiante na vitória», pelo que não interiorizou a dimensão do que acabou de alcançar: Praticamente não dormi, talvez alguns minutos. Tudo se posiciona algures entre um sonho e a realidade. Ainda não percebi bem o que aconteceu. Sou muito emocional mas estou cheio de energia e vontade. Ronaldo clarifica declarações polémicas: «Não sou melhor que ninguém…» «Se todos estivessem ao meu nível, iríamos em primeiro». As palavras, polémicas, de Cristiano Ronaldo no final do `derby´ com o Atlético Madrid caíram como uma bomba em Espanha, com ondas de choque um pouco por todo o mundo. Ouvido pelo diário Marca, o internacional português garantiu não ter tido a intenção de diminuir os colegas de equipa. «Referia-me ao nível físico, não de jogo. Não sou melhor que nenhum dos meus companheiros», frisou.
Hoje Macau BrevesAutocarros públicos envolvidos em mais acidentes Os autocarros públicos estiveram envolvidos em mais acidentes em 2015. Dados avançados pela Rádio Macau, que cita a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), mostram que, no passado, foram registados 773 acidentes, mais 25 que em 2014. O aumento, contudo, não é igual no que às vítimas mortais diz respeito: o ano passado registou-se uma morte, menos uma do que em 2014. Segundo a rádio, a DSAT não especifica quantos motoristas acabaram suspensos ou despedidos na sequência dos acidentes, porque essa informação, explica o organismo, só pode ser dada pelas três companhias de autocarro.
Flora Fong BrevesIPM diz querer que maioria dos estudantes seja local O reitor do Instituto Politécnico de Macau (IPM), Lei Heong Iok, frisou que a orientação da instituição é “que, entre os estudantes, a maioria seja local”. Segundo o Jornal do Cidadão, o reitor foi questionado no Dia Aberto do IPM, no sábado passado, face à ideia do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, em aumentar a admissão de estudantes do interior da China. Lei Heong Iok referiu que o IPM todos os anos recebe 700 estudantes locais, mas admitiu que, com a diminuição futura do número de alunos que vai sair das escolas secundárias, vai ser um grande desafio para as instituições de ensino superior manter os números. Contudo, o responsável diz que, ainda assim, vai ser garantida a política inicial do IPM: “servir pessoas de Macau” e, portanto, ter os estudantes locais como uma maioria. “Actualmente os estudantes locais ocupam 85%, os restantes 15% são estrangeiros. O IPM vai manter esta orientação”, afirmou.
Joana Freitas Manchete PolíticaEstudantes | Vistos autorizados por “importância” e “necessidade” Os Serviços de Migração garantem que cumprem a lei na atribuição de vistos a estudantes – mas esta não especifica nem a duração, nem o teor que o curso tem de ter para a emissão desta autorização. “Necessidade” ou “importância” estão também na base de decisão [dropcap]A[/dropcap] atribuição de vistos a estudantes não tem como base apenas a lei, mas uma avaliação dos próprios Serviços de Migração à “necessidade” ou “importância” dos cursos. É o que explica o organismo, que admite que há casos em que o que conta – além dos regimes em vigor – é o teor do curso. “De acordo com o Regulamento Administrativo [sobre a entrada, permanência e autorização de residência] e dependendo das condições – que incluem a importância do curso e a necessidade de ficar em Macau para frequentar o curso – as autoridades garantem a estes não-residentes a extensão da estadia depois de entrarem em Macau para fazer esses cursos. Ainda assim, também não concedemos autorização a determinadas aplicações, ou porque as justificações entregues com o pedido não eram suficientes ou porque não vimos que era essencial para esses estudantes ficar em Macau”, pode ler-se na resposta ao HM. Este jornal questionou o organismo sobre casos em que estudantes que frequentam cursos de curta-duração têm de sair do território antes mesmo de os terminarem, por não lhes ser possível obter a prorrogação do visto de aluno. Foi o caso de Anthony (nome fictício), um estudante indiano que está em Macau a frequentar dois cursos. O jovem, licenciado em Gestão Hoteleira na Suíça, deixou o seu emprego no Dubai para ter a experiência de reforçar a sua formação em Macau, mas foi obrigado a deixar a RAEM antes do fim dos cursos em que se inscreveu no Instituto de Formação Turística (IFT). Um deles era de Chinês, o outro de Vinhos e Bebidas Espirituosas – nenhum dos dois foi concluído, apesar de Anthony ter recebido pela parte da instituição de ensino um comprovativo de admissão nos cursos, nos quais fez ainda o primeiro nível. Saiu para Hong Kong e voltou, tendo recebido mais 20 dias para estar em Macau – isto em Fevereiro, quando os cursos, contudo, duram até Maio e Abril. Quando o jovem pediu para ter o prazo de autorização de permanência prorrogado – para que pudesse acabar o curso – o pedido foi indeferido porque a “razão não era essencial”, como o HM pôde comprovar com o acesso ao documento entregue a Anthony. A lei diz que “o pedido de autorização de permanência para fins de estudo é instruído com documento comprovativo de inscrição ou matrícula em estabelecimento de ensino superior da RAEM e documento que ateste a duração total do curso respectivo”, mas o comprovativo do IFT – que determina a matrícula nos cursos e a data de realização dos mesmos – não terá sido aceite pelas autoridades de Macau. Não havia necessidade Sobre o que entendem por “necessidade” ou “importância do curso”, os Serviços de Migração nada dizem. O organismo frisa até que, com base no Regime de Entrada, Permanência e Fixação de Residência em Macau, “é raro haver estudantes que vêem a sua entrada no território barrada” e indica que “de acordo com os registos dos últimos anos, a maioria dos pedidos tem sido aprovado, excepto nos casos em que o candidato [ao pedido] tenha um perfil duvidoso.” Ao que o HM apurou, Anthony não terá qualquer “perfil duvidoso”, nem cadastro na RAEM, nem em Hong Kong, onde estudou por seis meses. A lei actual não especifica qualquer duração dos cursos para que os estudantes possam ter visto e os próprios Serviços de Migração dizem que “depois de anos de prática, revisões e consultas, tem sido concedida aos estudantes não-residentes uma autorização especial de permanência”, quer eles estejam a “frequentar cursos de longa ou curta-duração”. O organismo diz até que “um grande número de estudantes não-residentes tem vindo para Macau em programas de intercâmbio ou cursos de curta-duração nas instituições de ensino superior”, ainda que frise que “vai ser sempre considerado se é essencial ao estudante ficar em Macau”, além, obviamente, do “cadastro”. Anthony, contudo, continua a ser tratado como turista porque as autoridades lhe terão dito que o seu curso não estava elegível para ter visto de estudante, algo que, portanto, a lei não especifica. Com Manuel Nunes
Filipa Araújo PolíticaRenovação Urbana | Conselho avança em breve “O mais breve possível” é o tempo que Leong Heng, porta-voz do Conselho Executivo, dá para a entrada em vigor do Conselho de Renovação Urbana. A discussão do Conselho Executivo quanto à criação deste grupo está concluída e define que terá como competências “emitir pareceres, promover estudos e formular propostas e recomendações sobre todos os assuntos respeitantes à renovação urbana”. O Conselho terá como presidente Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, e Li Canfeng, director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes como vice-presidente. Para além destes o Conselho será constituído por até 27 vogais, sendo que o Governo tentará “não nomear os mesmos membros da já extinta Comissão de Reordenamento dos Bairros Antigos”. Ainda assim, justifica Leong Heng Teng, “Macau é um sítio pequeno”. O novo Conselho terá, pelo menos, seis reuniões anuais e funcionará em grupos especializados, sendo que cada um irá dispor de um coordenador e de um coordenador-adjunto. O projecto apresentado prevê ainda que irá competir à DSSOPT prestar apoio técnico-administrativo. Este grupo chega depois da extinção da Comissão de Reordenamento dos Bairros Antigos.
Filipa Araújo BrevesCondomínios | Fundo especial não é necessário, diz Comissão A 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), presidida por Chan Chak Mo, diz que não é necessário “o artigo 11, que prevê a criação de um fundo especial, quando se verifique um saldo positivo nas contas do condomínio”. Na análise na especialidade ao Regime Jurídico da Administração das Partes Comuns do Condomínio, os deputados dizem que “o fundo comum de reserva [definido pelo artigo número 10] já abrange muitas matérias (…)”, pelo que “não há necessidade para criar [o especial]”. Para a Comissão, “quando as contas de um condomínio têm um resultado líquido positivo há que criar este fundo especial, o qual se destina a suportar eventuais despesas que excedam o valor orçamentado. Se não houver saldo, quer dizer que este fundo é escusado, desnecessário”, indicou o presidente. Em discussão esteve também a afixação de publicidade ou informações que, segundo o regime, só pode acontecer se o rés-do-chão for para fins industriais e comerciais. Ainda assim, indica o presidente, a publicidade terá de estar relacionada com a natureza da actividade exercida. As reuniões vão continuar, sendo que a Comissão afirmou que irá pedir uma reunião com o Governo, para este explicar a necessidade do fundo especial.
Filipa Araújo PolíticaGAES com novo lugar e mais funções O Conselho Executivo já concluiu a discussão do regulamento administrativo da alteração ao decreto que criou o Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES), trazendo algumas mudanças. Ao GAES será acrescentado um novo lugar de coordenador-adjunto e extinta a Secção Administrativa e Financeira, continuando a manter-se o mesmo número de funcionários. Numa apresentação à imprensa, o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, justificou a necessidade de “aumentar e alterar as atribuições do GAES”, tal como também defendido nas Linhas de Acção Governativa. Em causa estão, como indica um documento entregue aos jornalistas, sete alterações estruturais. A partir da entrada em vigor, caberá ao GAES “conceber e propor estratégias para o desenvolvimento e internacionalização do ensino superior”, passando por elaborar acções de planeamento e de estudos sobre modernização e diversificação do ensino superior. O Gabinete irá também “apoiar o funcionamento das instituições de ensino”, sem nunca, como garantiu Leong Heng Teng, colocar em causa a autonomia das mesmas. Coordenar formas de cooperação local, regional e internacional, prestar apoio técnico e administrativo, organizar e manter actualizadas as bases de dados de pessoas docentes e não docentes, promover o desenvolvimento do ensino superior e realizar estudo de identificação das áreas de maior necessidade de formação são as restantes alterações propostas pelo Governo.
Filipa Araújo Manchete PolíticaLei dos Animais | Governo avança com açaimes obrigatórios O Governo quer que todos os cães usem açaime em espaços públicos e elevadores. Até agora, a medida contemplava apenas animais com 23kg ou mais, mas a Administração decidiu voltar atrás e incluir qualquer peso. Em causa, diz, está o respeito e o não prejudicar outras pessoas A análise à proposta de Lei de Protecção dos Animais continua a dar que falar. Na segunda reunião da semana da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), presidida pela deputada Kwan Tsui Hang, o Governo avançou com algumas mudanças. “Desta vez discutimos pouca coisa”, começou por indicar a presidente, afirmando que na reunião de ontem apenas dois tópicos estiveram em foco: a utilização dos animais na área científica e o uso de açaimes. Inicialmente estava proposto que “os animais com mais de 23 quilos” tivessem de usar açaimes em locais públicos, algo que vai mudar. Segundo a nova proposta todos os cães terão de usar açaime sempre que estiverem em locais públicos “ou elevadores”. A razão, aponta Kwan, é simples. “A Assembleia recebeu muitas queixas de pessoas que não têm animais (…) não são só as crianças que têm medo [de animais], os adultos também”, justificou. “Este peso [imposto na proposta anterior] é difícil de perceber. Se a pessoa quiser fazer uma queixa não sabe se o cão pesa os 23 quilos”, acrescentou. Quando questionada, Kwan Tsui Hang admitiu que as medidas de segurança contemplam todos os animais, mas que, ainda assim, a questão do açaime é maioritariamente referente a cães. “No caso dos cães muito pequenos [ou outros animais] com pouco peso o Governo disse que vai rever a melhor maneira (…) talvez a utilização de um cesto ou gaiola quando for no elevador”, clarificou a deputada. Tudo explicado Ainda em discussão esteve a utilização de símios, cães e gatos para investigação científica, ficando definido, nesta proposta, que qualquer instituição terá de pedir autorização ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e apresentar também um relatório anual. A formação da futura lei nas escolas que tenham áreas científicas é também um passo importante que deve ser tido em conta, apontou a presidente. Durante a reunião foram ainda analisadas as cláusulas que dizem respeito aos deveres dos donos, tais como as condições para a posse de um animal de estimação, como por exemplo, acesso “à água potável e espaço” disponível para o animal. A análise do articulado irá continuar já no próximo mês.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteJohn Ap, docente do IFT: “Serviço turístico é inconstante” Com quase duas décadas de experiência na área do Turismo, o professor do Instituto de Formação Turística acredita que a detenção do antigo director do Hotel Lisboa teve pouco impacto no sector do turismo, mas contribuiu para limpar a imagem de Macau como um lugar de prostituição. John Ap pede mais formação para funcionários do sector e defende pacotes turísticos focados no património [dropcap]D[/dropcap]epois de um ano muito difícil para o sector do Jogo, com grandes quebras nas receitas, que expectativas coloca para o desempenho dos casinos este ano? Penso que vai continuar a ser um ano com desafios e temos de compreender que este negócio é feito de ciclos, especialmente se compararmos com os anos anteriores, em que existia um crescimento sólido, registado depois da quebra de 2009. Penso que é um bom grito de alerta para Macau, para não estar tão dependente das receitas do Jogo e para diversificar a economia o melhor possível. O sector tem sido dominado pelo mercado chinês e os turistas começaram a ir para outros destinos. Temos de optimizar e não ficar estáticos num só mercado, porque o panorama vai mudar. O Jogo cresceu muito depressa e tornou-se dominante, as pessoas não esperavam isso, comparando com outros países. Temos de pensar a curto e longo prazo e a longo prazo precisamos de pensar noutros mercados. E a curto prazo? É uma questão de fazermos ajustamentos em relação ao número de receitas e de visitantes. O que deve existir a curto prazo é uma melhoria dos serviços de turismo que são proporcionados, uma melhoria constante. Isso será melhor para Macau em vez de se limitar a receber mais turistas. Também temos de começar a pensar na forma como servimos os turistas, porque uma coisa que notei é que o serviço turístico é inconstante. Como assim? Os condutores de táxi, por exemplo, não ajudam os turistas com a bagagem, e até os podem expulsar do veículo. Depois há a questão dos autocarros públicos que estão sempre cheios ou os condutores simplesmente ignoram e fecham a porta. São pequenos pormenores que temos de melhorar para termos um melhor serviço. Macau é uma cidade muito chinesa e para quem não lê Chinês pode ser desafiante fazer turismo. Muitos restaurantes continuam a ter menus em Chinês. São pequenas coisas que devem ser feitas para facilitar a vida aos visitantes. Temos mercados emergentes como a Índia, Japão e Coreia e temos de pensar nestas coisas para tornar Macau num lugar mais atractivo e melhorar o ambiente. A falta de atenção a estes pequenos detalhes pode piorar a imagem de Macau lá fora? A imagem que Macau tem perante o mundo é de um lugar de Jogo. Isso está cimentado e aqui existem lugares históricos que tendem a ficar em segundo plano. Deveríamos promover o património através de pacotes turísticos específicos para esse fim, para um mercado muito específico. Acho que passear no meio de casas históricas e monumentos é bastante gratificante. Dá-nos a sensação de um lugar único, comparando com Hong Kong, por exemplo. O Governo tentou promover o património com o programa “Sentir Macau passo a passo”, mas falhou por falta de adesão. Como é que o Executivo pode de facto promover mais esses lugares históricos? Temos de ver o que falhou. E uma das razões para ter falhado tem a ver com a predominância do sector do Jogo. Agora que o sector está a decrescer, devemos fazer mais investigação na área do turismo para ajudar o Executivo a ver o que os potenciais turistas pensam. Temos de fazer uma investigação turística mais extensiva, para perceber porque é que os turistas vêm ou não vêm a Macau. Os acessos ao território sempre constituíram um problema, especialmente para o mercado internacional, porque o mercado chinês chega através das fronteiras. É importante ter mais voos internacionais. Sim. O Aeroporto Internacional de Macau é pequeno e tem um número limitado de voos e de companhias aéreas a operar. Depois há o sistema dos ferries que também precisa de ser melhorado. Macau tem de apostar na melhoria dos acessos, com serviços eficientes e melhores, com preços mais competitivos. O fecho das salas VIP dos casinos deve também representar um grito de alerta junto do Executivo? Sim. Mas isso está relacionado com as medidas anti-corrupção introduzidas por Pequim, que estão a ser positivas para a China, não tanto para Macau (risos). Essa questão sempre foi levantada, sobre qual seria a percentagem do dinheiro vindo da China que estaria envolvido em sistemas de lavagem de dinheiro. Esse deve ser um ajustamento feito a longo prazo e Macau terá de se ajustar a essa realidade. Após a abertura de todos os empreendimentos de Jogo no Cotai vamos ter um mercado estável, mas com menos visitantes? Qual a sua previsão? O sector do Jogo vai ajustar-se como fez em 2009 com a crise económica global. Se olharmos para as bases do mercado de Macau em termos de estadia é baixo, porque a maior parte dos visitantes fica no território apenas um dia, um dia e meio. Mas mesmo mantendo uma taxa de ocupação de 80% é bom, porque a média a nível mundial é de cerca de 60%. Na área hoteleira Macau está a ter um bom desempenho e com mais hotéis e quartos isso pode levar as pessoas a ficar mais tempo, porque quanto mais tempo ficarem, mais vão gastar, embora o mercado do Jogo fique estável. Será difícil ter recursos humanos suficientes para responder à procura e às necessidades que o Cotai vai trazer? Esse será outro desafio. Devemos estabelecer uma força de trabalho estável que tenha formação e as competências necessárias para dar resposta a um serviço de luxo que os turistas estão à espera. Parte do problema em Macau é que as pessoas que trabalham na indústria do turismo não olham para o serviço como algo que deva ser de luxo. Não basta sorrir para o cliente e muitas vezes notamos comportamentos que são semelhantes a robots e não se olha para as necessidades do cliente. Temos de dar formação também aos supervisores e funcionários da linha da frente. Isso é muito importante para manter os clientes. Alan Ho, antigo director do Hotel Lisboa, está neste momento a ser julgado por alegadamente pertencer a um grupo organizado de incitamento à prostituição. Que impacto é que esse caso teve, se é que teve, junto do sector do Turismo? O impacto é mais para a família do que para o sector. A prostituição é das profissões mais antigas do mundo e vai sempre existir nas suas diferentes formas. Tem algum impacto ao limpar um pouco a imagem internacional de Macau, que é um lugar conhecido por ter prostitutas e casas de massagens. Esta semana um especialista disse que os confrontos em Mong Kok, Hong Kong, atraíram mais turistas para Macau na Semana Dourada. Acredita que os tumultos vividos na região vizinha podem trazer, de facto, mais turistas? Esse confronto mostrou algum descontentamento da população e tem de haver diálogo. Durante o Occupy Central muitas pessoas pensaram tratar-se de algo violento, quando o mais violento que aconteceu foi o uso de gás pimenta, aquilo não passou de uma demonstração ou manifestação. Mas Hong Kong continua a ser um lugar seguro, tudo depende das zonas. Penso que a imagem internacional de Hong Kong não ficou afectada e penso que isso não vai ajudar assim tanto Macau. Olhando para o património, novamente apostaria na criação de pacotes turísticos em Macau, como algo para trazer pessoas do mercado de Hong Kong. Centro de formação a funcionar este ano Há poucos meses no IFT, John Ap tem estado a trabalhar no arranque do Centro Global de Formação e Educação no Turismo, anunciado em Outubro do ano passado no âmbito do Fórum de Economia Global. Ao HM, John Ap confirmou que este Centro visa criar programas de formação para membros dos governos de outros países. “Prevemos que vá entrar em funcionamento em Junho e vamos ter o primeiro grupo de formandos do Camboja e depois mais um programa de formação para formandos do Afeganistão”, apontou.
Filipa Araújo Manchete PolíticaLei para congelamento de bens avança com carácter urgente Com carácter urgente, a proposta de lei que define o Regime de Execução de Congelamento de Bens vai seguir “já” para a Assembleia Legislativa. As Nações Unidas e a RAEM poderão congelar os bens de uma pessoa ou entidade em caso de suspeita de actos de terrorismo “Sim, é urgente”. As palavras são de Leong Heng Teng, porta-voz do Conselho Executivo, aquando da apresentação da proposta de Regime de Execução de Congelamento de Bens, numa conferência que se realizou ontem na Sede do Governo. “O Governo Central tem vindo a ordenar a aplicação à RAEM de várias resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas (…) em matéria de combate ao terrorismo (…) e no âmbito do combate à proliferação de armas de destruição maciça”, começou por justificar o porta-voz. Com este regime, está em causa a implementação de dois mecanismos de congelamento de bens em situações distintas. Uma primeira refere-se ao “congelamento de bens pertencentes a uma pessoa ou entidade designada pelo Conselho da ONU” e outra do “congelamento de bens pertencentes a uma pessoa ou entidade designada pela RAEM”. Em termos práticos, é proposta a criação de uma Comissão Coordenadora do Regime de Congelamento, “à qual caberá coadjuvar a nível técnico o Chefe do Executivo [Chui Sai On] na execução de decisões de congelamento de bens, bem como desempenhar outras funções indicadas na lei”, sendo que a decisão caberá precisamente ao líder do Governo. Leong Heng Teng clarificou que o que é proposto é que depois da publicação do “acto de designação de uma pessoa ou entidade”, irá proceder-se “imediatamente” ao congelamento de bens que sejam “sua propriedade ou que estejam sob o seu controlo, directo ou indirecto, e de bens derivados ou gerados a partir desses bens”. “Para impedir que os seus destinatários tenham acesso a quaisquer meios que lhes possam permitir a prática das actividades proibidas pelo Conselho da ONU nas suas resoluções, encontra-se igualmente vedada a possibilidade de serem colocados bens à sua disposição, sendo, em certos casos, ainda proibido prestar-lhes serviços financeiros”, aponta um documento entregue aos jornalistas. Com a aprovação desta proposta, existirão dois tipos de comandos normativos de congelamento – o específico e o geral. O primeiro acontece quando os bens pertencem a uma pessoa ou entendida designada pelo Conselho da ONU ou por um dos seus Comités de Sanções. Neste caso “são estipuladas regras específicas quanto à notificação, proposta de designação em lista, ao procedimento de acesso a bens e à retirada da lista”. No segundo caso, ou seja, no comando normativo geral, os bens pertencem a uma pessoa ou entidade designada pela RAEM, em conformidade com as directrizes das Nações Unidas. Nestas situações, é Chui Sai On que irá “proceder à designação de pessoas singulares, colectivas ou entidades quando tenha fundadas razões para crer que estas cometam, tentem cometer, facilitem ou participem em qualquer dos actos de terrorismo”, previstos na Lei de Prevenção e Repressão dos Crimes de Terrorismo. A decisão de congelamento terá a duração de dois anos, período que pode ser renovado, pelo Chefe do Executivo, por um máximo de um ano. A proposta de lei também regula matérias como a notificação, a apreensão ou perda de bens, o procedimento de acesso a bens, a revogação do acto de designação, pedidos de recursos, erros de identificação, entre outros.
Tomás Chio SociedadeRendas | Associação defende que limites trazem “mais competição” Ip Kin Wa, presidente da Associação Geral do Sector Imobiliário de Macau, enviou uma carta ao jornal Ou Mun onde defende que o controlo dos aumentos das rendas vai destruir o sector imobiliário, agravando a competição. Para Ip Kin Wa, a imposição de limites nas rendas vai fazer com que os proprietários acabem por habitar mais as suas casas ou que decidam arrendá-las mas apenas por um período de um ano. Para o responsável, isso levará a um menor número de casas para arrendar no mercado e uma subida contínua da renda ou, por oposição, a mudanças anuais de casa. Os arrendatários vão procurar outra maneira para discutir o valor da renda, porque acreditam que os proprietários nunca vão baixar esse valor, defendeu na carta. Ip Kin Wa referiu que a imposição de limites aos aumentos das rendas é uma política que já foi implementada em muitos países estrangeiros, mas defendeu que “arrendatários e proprietários não tiram partido” da medida. “A economia de Macau está numa situação de declínio neste momento e as rendas já baixaram cerca de 30%. Se o Governo limitar o aumento das rendas, o Governo vai também fixar um limite para a quebra das rendas?”, questionou. Ip Kin Wa deu como exemplo as consequências negativas de outros diplomas. “No caso da Lei do Salário Mínimo, os trabalhadores de segurança mais velhos foram substituídos por pessoas mais jovens”, exemplificou. O responsável defendeu ainda que a exigência de um contrato de arrendamento reconhecido pelo notário é uma medida que causa “incómodo”. “O recurso ao notariado traz mais gastos para os proprietários e arrendatários. Os mediadores das agências têm de lidar com mais documentos e isso aumenta o volume de trabalho nos cartórios notariais”, rematou.
Flora Fong Manchete SociedadeConstrução Civil | Sector vai ter “sempre” falta de trabalhadores O economista Joey Lao defendeu num seminário que o sector da construção civil vai ter sempre falta de mão-de-obra pelo facto dos jovens locais não escolherem trabalhos “difíceis, perigosos e sujos”. No debate foi pedido ao Governo políticas mais “transparentes” para a contratação de TNR Joey Lao, economista e presidente da Associação de Economia de Macau, defendeu ontem num seminário que o sector da construção civil terá “sempre” falta de recursos humanos, porque os jovens locais não escolhem o trabalho do tipo 3D (Difficult, Dangerous, Dirty – difícil, perigoso e sujo). Para o economista, o Governo deve tomar medidas diversas para atrair as novas gerações para este sector. No âmbito de um seminário sobre o tema, promovido pela Associação de Engenharia e Construção de Macau, Joey Lao disse que o sector da construção civil é o segundo maior no território, tanto em termos do número de trabalhadores como da percentagem que ocupa no Produto Interno Bruto (PIB). O economista disse que, embora diversos empreendimentos de Jogo fiquem concluídos nos próximos três anos, o sector da construção civil vai continuar a crescer, graças às obras dos novos aterros, o plano de renovação urbana ou a construção de mais habitações públicas. Segundo dados de Joey Lau, embora o número de trabalhadores tenha “diminuído muito” no quarto trimestre de 2015, face a 2014, ainda existem 52 mil trabalhadores, incluindo mais de 40 mil trabalhadores não residentes (TNR). O economista referiu que o número de TNR registou a maior quebra, mas que os trabalhadores locais não foram afectados. Tang Hon Cheong, presidente da Associação que promoveu o seminário, espera que o Executivo crie melhores políticas de recursos humanos, criticando que as medidas actualmente existentes são “pendentes” e não funcionam de forma transparente. O responsável afirmou que, devido à expansão do sector, foi adoptada a medida de contratação de TNR, mas acredita que, na prática, esta política é difícil de pôr em prática por parte dos empresários. Isso traz problemas como a necessidade de prorrogação das obras, conflitos laborais ou a existência de trabalhadores ilegais. Salários desiguais Ella Lei, deputada à Assembleia Legislativa (AL), também participou no seminário, tendo referido que os locais não têm trabalhos estáveis devido à introdução de TNR. “Olhando para os dados estatísticos, a situação dos trabalhadores locais é positiva. Mas ao longo do tempo o Governo não se preparou para formar tantos profissionais, apenas pode introduzir TNR. O problema é que o índice salarial mensal para um TNR é de 11,7 mil patacas, um valor de 2005, mas que as empresas ainda estão a pagar. Isso faz com que o salário dos trabalhadores locais seja o dobro daquele que é pago aos TNR”, referiu a deputada. Ella Lei referiu ainda que recebeu no seu gabinete muitas queixas de locais que dizem não poder trabalhar no mesmo projecto depois dos dias feriados, falando de situações de despedimento sem justa causa quando as empresas conseguem obter as quotas para a contratação de TNR. A deputada espera que o Governo ajude a criar uma “imagem profissional” para o sector da construção civil, para que mais jovens tenham interesse nesta área.
Hoje Macau SociedadeMorte cerebral | Alexis Tam promete directrizes “para breve” Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, garantiu que “os critérios de morte cerebral e as directrizes para a determinação da morte cerebral irão ser publicadas em breve”. Falando na qualidade de presidente da Comissão de Ética para as Ciências da Vida, Alexis Tam disse ainda que “estas directrizes são muito rigorosas e reúnem regras de procedimentos científicos e respondem, ainda, à necessidade do desenvolvimento de medicina em Macau, sendo por isso um marco no desenvolvimento do transplante de órgãos em Macau”. Segundo um comunicado, o Secretário referiu que o “transplante de órgãos acarreta algumas questões”: o fornecimento de órgãos, pois a procura é sempre superior à oferta, as despesas de tratamento “altíssimas”, o consentimento informado quanto à doação de órgãos, a determinação da morte cerebral ou a venda clandestina de órgãos. O Secretário referiu que as situações “devem ser enfrentadas e solucionadas de modo a promover o desenvolvimento do transplante de órgãos”. Estas declarações foram proferidas no âmbito de palestra proferida ontem e que contou com a presença de Huang Jiefu, presidente do Conselho de Doação e Transplante de Órgãos da China e director-geral da direcção da Fundação de Desenvolvimento de Transplante de Órgãos da China. Para Alexis Tam, Huang Jiefu “vai dar um grande apoio ao desenvolvimento dos transplantes de órgãos em Macau”, algo que ainda não existe em Macau e que leva os doentes necessitados às regiões vizinhas como Hong Kong.
Flora Fong SociedadeMTEL diz que tem “mais pedidos do que a oferta” O director-executivo da operadora de telecomunicações MTEL, Miguel Choi, garantiu que a empresa tem tido “mais pedidos do que oferta”. A MTEL tem actualmente mais de dez mil requisições para serviços de banda larga de fibra óptica, mas devido aos limites existentes apenas consegue dar resposta a 1500 clientes. À margem do jantar de Primavera com os jornalistas, esta quarta-feira, Miguel Choi falou ainda da existência de “limites” ao nível dos recursos humanos. Para já a MTEL tem 30 funcionários ao seu serviço, tendo a concessionária pedido quotas ao Gabinete de Recursos Humanos (GRH) para a contratação de trabalhadores não residentes. Contudo, apenas um pedido foi aprovado. Miguel Choi explicou ainda que a cobertura actual dos cabos de fibra óptica na península de Macau já chegou aos 46,8%, sendo que nas zonas de Taipa e Coloane é de 40 e 50%, respectivamente. O responsável garantiu que os números ainda não atingiram as exigências do Governo no processo de concessão, que pediu 70% de cobertura. Contudo, o director-executivo “tem confiança” de que até ao final deste ano esse nível possa ser atingido. Em competição Garantindo que a operadora tem preços “competitivos”, Miguel Choi referiu que este ano vão ser investidas cem milhões de patacas, sendo que um dos planos da MTEL é a criação de uma rede de ‘cloud computing’ para a área das indústrias culturais e criativas. Com a entrada da Hong Kong Elegant Way International na estrutura accionista da empresa, a MTEL espera que o projecto possa avançar já em Março, depois da apreciação do Executivo. A concessionária espera ainda que mais accionistas possam investir antes de 2017. A MTEL defende ainda a criação de um “centro de intercâmbio da internet” em Macau, dando o exemplo do que já acontece em Hong Kong, cujo centro está localizado na Universidade Chinesa de Hong Kong. Miguel Choi sugere que este centro possa ser criado numa instituição sem fins lucrativos, para que se possa promover a troca de informações.
Andreia Sofia Silva SociedadeMacau Water | Previsto aumento do consumo até 3% para este ano Não reduziu o ano passado e vai aumentar este ano. A abertura de mais casinos vai ajudar à subida do consumo de água, diz a directora da Macau Water A Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau (SAAM) prevê um aumento do consumo de água no território até um limite máximo de 3%. A garantia foi dada ontem por Kuan Sio Peng, directora-executiva da empresa, que explica que os empreendimentos no Cotai vão ajudar à subida. “Devido à abertura dos novos casinos esperamos um aumento do consumo de água este ano na volta dos 2 a 3%”, disse a responsável à margem de um almoço de Primavera com os meios de comunicação social. Relativamente ao ano passado, o consumo de água teve um aumento “modesto” de 1,7%. “Apesar de ter havido um decréscimo do volume de negócios, a verdade é que o consumo de água continuou a aumentar, devido à abertura dos novos casinos e algumas infra-estruturas construídas pelo Governo. Foi um ano bom para a Macau Water”, disse Kuan Sio Peng. Não se confirmaram assim as previsões de redução do consumo em 2015 feitas há um ano pelo então director da Macau Water, Félix Fan, que disse que a empresa previa uma redução do consumo de água no ano passado devido ao alargamento dos horários das fronteiras, que incentivam trabalhadores em Macau a viverem na China continental. Baixa pressão O aumento das tarifas pagas pelo Governo à concessionária, em Outubro, ajudou a “aliviar as pressões de operação”, sendo que a Macau Water não tenciona, para já, pedir ao Executivo um novo ajustamento da tarifa, revelou Kuan Sio Peng. Os resultados financeiros da empresa relativos a 2015 vão ser revelados em Março, mas a directora-executiva da empresa garantiu que o ano passado a empresa registou “um bom crescimento”. Até final deste ano, a Macau Water tenciona dar início à construção da quarta estação de tratamento de água em Seac Pai Van, a fim de assegurar com “maior segurança o abastecimento de água estável e o desenvolvimento global das ilhas”. Dividida em duas fases, a primeira fase deste projecto deverá ficar concluída já em 2019. A Macau Water garante que após a construção do quarto tubo de água bruta, uma iniciativa conjunta dos governos da província de Guangdong e Macau, o território terá então um sistema de abastecimento de água abrangente, cobrindo o sul e o norte da região, “facilitando o desenvolvimento sustentável e diversificado da cidade”, apontou a empresa em comunicado.
Hoje Macau China / ÁsiaEmpresa chinesa desiste de aquisição nos EUA por causa de escrutínio Uma empresa chinesa do ramo tecnológico desistiu de um investimento multimilionário num fabricante de discos rígidos dos Estados Unidos da América devido ao escrutínio imposto por legisladores norte-americanos, noticiou ontem a imprensa estatal da China. A Unisplendour Corp (UNIS) cancelou uma oferta de 3,8 mil milhões de dólares por aproximadamente 15% da Western Digital, uma empresa sediada no Estado da Califórnia. A decisão surge após o anúncio de que a Comissão para os Investimentos Estrangeiros nos Estados Unidos (CFIUS, no acrónimo em inglês) iria rever o negócio. Aquele grupo, que inclui responsáveis do Departamento da Defesa, Estado e Segurança Nacional, é responsável por analisar se os investimentos propostos por empresas estrangeiras colocam em causa a segurança dos EUA. A notícia terá levado a empresa chinesa, subsidiária da estatal Tsinghua Unisplendour Group, a accionar uma cláusula que lhe permite desistir do negócio, segundo um comunicado emitido pela Western Digital. A CFIUS tem aumentado o escrutínio sobre as empresas chinesas, acompanhando o crescente fluxo de investimento oriundo do “gigante asiático” nos últimos anos. Em 2014, a China foi o maior país comprador estrangeiro de empresas norte-americanas pelo terceiro ano consecutivo, segundo dados oficiais. Com este investimento, a Unisplendour passaria a ter um lugar na administração da Western Digital e tornar-se-ia o maior accionista da empresa, cuja área de negócio principal são discos rígidos e dispositivos de armazenamento. Negócios aéreos Na semana passada, o grupo chinês HNA – empresa matriz da companhia aérea Hainan Airlines e futuros accionistas da TAP – concordou em pagar 6.000 milhões de dólares pela distribuidora de tecnologia norte-americana Ingram Micro. A Ingram Micro é responsável pela distribuição de produtos da Apple, Microsoft, IBM e Cisco, entre outras firmas do setor, e tem 200 mil clientes espalhados por cerca de 160 países, segundo o ‘site’ oficial. Segundo um comunicado emitido em meados deste mês pelo HNA, o grupo compromete-se a realizar um empréstimo de 120 milhões de euros à companhia aérea brasileira Azul, destinado à compra de obrigações convertíveis da TAP a 10 anos. A empresa assegurará assim 6,4% do direito de voto na TAP e 55% dos benefícios económicos, lê-se na mesma nota. Além desse empréstimo, com maturidade de 181 dias e taxa de juros anual fixada em 14,25%, o HNA prevê mais um financiamento de 300 milhões de dólares à Azul, visando tornar-se accionista da empresa. Desde que a China Three Gorges comprou 21,3% da EDP, em 2012, o montante do investimento chinês em Portugal já ultrapassou os 10.000 milhões de euros.
Hoje Macau EventosPrémios de cinema de Taiwan e Hong Kong banidos na China As causas são políticas, naturalmente. O problema com Hong Kong é o filme “Dez Anos”, passado num futuro distópico em que a antiga colónia inglesa se vê a braços com um opressor regime comunista. Já em relação a Taiwan, a culpa é de Tsai Ing-wen, a nova presidente da ilha rebelde e de quem Pequim não gosta. Por cá, a reacção de alguns realizadores é de repúdio mas de que também estão a chegar ventos de mudança Primeiro foi a CCTV, que emite a cerimónia de entrega de prémios Hong Kong desde 1991, a anunciar o boicote. Depois seguiu-se a Tencent que, apesar do contrato que detém, resolveu boicotar a emissão que estava agendada para o QQ. A decisão das duas operadoras surgiu na sequência do comunicado da SAPPRFT, a autoridade chinesa para audiovisual, no dia 21 deste mês (ver caixa). No entanto, tudo indica que a culpa é do filme “Dez Anos” nomeado para melhor filme do ano nos Hong Kong Film Awards, que serão entregues no próximo dia 4 de Abril. O filme traz-nos uma história que nos leva a Hong Kong daqui a dez anos quando a cidade se encontra debaixo de um impiedoso regime comunista, com lojas a serem atacadas por soldados por venderem materiais proibidos e activistas a imolarem-se como uma declaração de independência. “Têm medo de quê?” Para o jornal South China Morning Post, o filme é “uma advertência sobre o poder do cinema independente e inteligente como veículo para a crítica política e social”. Apesar de ter tido exibições limitadas e ter sido feito com um orçamento de apenas 600 mil dólares de Hong Kong, já conseguiu facturar seis milhões em bilheteira. As razões do sucesso terão muito ver com o facto da história impactar a população de Hong Kong tendo-se já visto pessoas a deixarem o cinema em lágrimas. Já na China, as lágrimas são de raiva: o jornal Global Times, por exemplo, classificou “Dez Anos” como “um vírus da mente” e culpa-o mesmo pelos recentes desacatos em Mong Kok. “É muito estranho. Estão com medo do quê?” disse à imprensa Ng Ka-leung, um dos cinco realizadores do filme sobre o boicote chinês. “É apenas um pequeno filme independente mas com esta atenção toda só fazem as pessoas ainda mais curiosas”, disse ainda Ng Ka-leung. Falar verdade na “prisão” “É uma loucura!” diz Vincent Hoi (Sio Lio), realizador local, considerando que os festivais de Taiwan e Hong Kong são os mais significativos para o mundo chinês e chegando mesmo ao ponto de dizer que “a China é uma prisão” para ilustrar as limitações criativas que se colocam aos cineastas. Harriet Wong, realizadora, não estava a par do assunto mas está bem ligada ao que se passa no meio do cinema na China já que estudou em Pequim e por lá tem vivido bastante tempo. Desmultiplica a situação dizendo que tanto ela como os meus colegas também nunca vêem televisão. “A CCTV, para nós, é só o espectáculo de fim de ano. Em relação a outros temas, há sempre uma forma de vermos o que queremos na internet. Usamos todos VPN”. A realizadora fez-nos uma revelação interessante quando falamos de censura dizendo-nos ter vários colegas do curso de Cinema que foram trabalhar para a censura na esperança de mudar as coisas a partir de dentro, alguns mesmo com projectos de filmes. “Pelo que sei”, diz Harriet, “há um processo de renovação em curso. A geração dos mais velhos tem um passado histórico que nós temos”, explica Harriet, anunciando como que uma “guerra de gerações” em curso. Por isso, acredita que as coisas têm tendência para mudar. “É como uma pequena luz na escuridão”, diz-nos, porque a vontade de mudar é grande. “Todos nós temos vontade de falar a verdade”, garante Harriet. Para Tracy Choi, outra realizadora local, o boicote não é nenhuma novidade: “É a forma que eles têm de fazer as coisas”, diz, mas a sua opinião em relação ao assunto é clara: “não faz sentido nenhum. É um bocado estranho tudo isto”, diz, lamentando que os cineastas não sejam livres para escolherem os seus próprios temas. Além disso, as dificuldades começam logo quando se procura um investidor, como diz Harriet, que também reconhece que se se pretende ter um filme na China tem de se passar por isso. “O problema maior são os investidores”, diz Tracy, “porque se ficam com medo dos temas nem chegamos a fazer o filme. E aí a solução é fazermos filmes de baixo orçamento”, explica. Foi o caso de “Dez Anos”. Harriet e Tracy não viram o filme, mas Vincent viu e considera que toda gente em Macau, Taiwan e Hong Kong também o deveria ver. A realização é um bocado imberbe, diz, mas o tema genial: “porque não é apenas algo que possa acontecer daqui a dez anos”, garante Vincent Hoi, “Está a acontecer agora.” “Com esta presidente, não” Mas se “Dez Anos” pode ajudar a explicar o boicote a Hong Kong, em relação aos Taiwan Golden Horses, a história é outra – de acordo com o China Digital Times, a cerimónia de Novembro também não irá passar na China, o que parece também pacífico de inferir a partir do comunicado dos SAPPRFT. As razões ninguém as esclarece de forma clara, mas tudo indicia que a chegada de Tsai Ing-wen à presidência estará intimamente ligada a isso, pois a sua eleição não caiu bem em Pequim e os cavalos, apesar de ouro, também devem acabar na lista negra. Comunicado da SAPPRFT Devido às mudanças sociais registadas em Hong Kong e Taiwan este ano, e para prevenir as influências negativas de discursos, filmes e televisões que não se conformem com as condições nacionais, todos os principais websites e todas as aplicações móveis devem suspender qualquer transmissão directa ou em diferido dos “Hong Kong Film Awards” em Abril e dos “Taiwan Golden Horse Awards” no final deste ano.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasOs primeiros católicos na China No artigo da semana passada, “Os primeiros cristãos na China”, deixamos a História quando os cristãos nestorianos, referenciados na estela do século VIII enterrada pouco depois do Decreto de proibição das religiões de 845, se viram forçados a fugir para as estepes do Norte. Aí se juntaram a algumas tribos nómadas mongóis e por volta do ano mil converteram os Merquites e Keraítas ao cristianismo nestoriano. Temujin pretendia no Kuriltai (Grande Conselho mongol) de 1196 ser designado Khan, mas só em 1206, após as lutas pela unificação das tribos das estepes do Norte, ficou como senhor da Mongólia, Genghis Khan, dando assim início ao Império Mongol. Em 1211 começou a invasão da China e conseguindo dois anos mais tarde atravessar a muralha, ocupou Beijing em 1215. Até ao final da sua vida conquistou o Norte da China e as cidades do Leste do Irão, Afeganistão, Uzbequistão e Sibéria, contando com um exército de apenas 129 mil homens. Antes de morrer, em 1227, pelos seus quatro filhos dividiu em Khanatos o imenso território já conquistado em todas as direcções a partir da Mongólia. Nos cinquenta anos seguintes, os mongóis conquistaram toda a China e o Norte do Vietname, o Afeganistão e parte do Paquistão, o Cáucaso, a Rússia, a Ucrânia, o Irão, o Iraque, a Síria e a Hungria. Estava Batu Khan e as suas tropas em 1241 às portas de Viena, quando morreu o segundo Khan do Império Mongol, Ogodai (Gedei, com nome de Templo Tai Zong, 1229-1241), que promovera ataques contra a China do Norte, conquistando-a até Kaifeng, onde chegou em 1234 e para Leste, submeteu a Coreia. O seu sobrinho Batu Khan (filho de Juli ou Jochi, primogénito de Genghis Khan mas que falecera antes dele) conquistara os Búlgaros do Volga em 1236/7 e Kiev em 1240, seguindo-se a Polónia, a Hungria e Roménia, e quando estava às portas de Viena, Batu Khan sabendo da morte de Ogodai regressou à Mongólia, onde se ia fazer a escolha de um novo Khan. Para aí também se dirigiram emissários de todo o mundo, representantes do Império Romano do Oriente, da Igreja de Roma e dos Ortodoxos Russos, tendo encontrado na capital do Império Mongol, Karokurum, os nestorianos com uma tenda como igreja, ao lado da tenda imperial. Tal, muito se devia a Sorkaktani (Sorghaghtani Beki, 1198-1252), princesa da tribo nestoriana dos Keraítas (uma das tribos pertencentes à Confederação Mongol) e que era desde 1203 casada com Tului Khan (1192-1232), o mais novo dos quatro filhos de Genghis Khan e da sua principal esposa Borte. A nestoriana Sorkaktani foi mãe de Mongke, Kublai, Hugalu (Hulagu) e Arik Boke, que haveriam de ser, os três primeiros, grandes chefes mongóis. Segundo Miguel Urbano Rodrigues “De acordo com a lei mongol, não era ao primogénito que cabia o quinhão principal da herança paternal, mas ao mais jovem”… “Essa tradição, mantida pelos descendentes de Gengis Khan nas primeiras gerações, pesou muito no rumo do Império.” O Papa Inocêncio IV em 5 de Março de 1245 designou como embaixador ao Khan dos mongóis o franciscano Frei Lourenço de Portugal, que tinha sido ministro provincial da Província de Santiago de Compostela. Mas este não pode ir pois estava como Penitenciário Apostólico em S. João de Latrão, onde passou dois anos como Legado Apostólico no Oriente, durante o conflito que se instalou entre Roma e Bizâncio e só regressou à Santa Sé em 1248. Por isso, o mesmo Papa pediu ajuda aos franciscanos e em 1245 enviou o italiano Giovanni del Carpine, acompanhado pelo boémio Estêvão e o polaco Bento à corte mongol. Aí chegaram a 22 de Julho de 1246, não havendo ainda Khan. Nestorianos na corte mongol Com a Pax Mongolorum entre os meados dos séculos XII e XIV, a unidade territorial que os mongóis conseguiram manter desde o Pacífico à fronteira Leste da Europa abriu de novo os caminhos terrestres da seda à proliferação de ideias e conhecimentos provenientes da China. Muitos viajantes, mercadores e religiosos (peregrinos, missionários ou refugiados) chegavam à China. Como pastores nómadas guerreiros, os mongóis eram tolerantes para quem aceitava a sua soberania, mas impiedosos e bárbaros para quem se lhes opunha. Como nada sabiam sobre administração, comércio, agricultura e cultura, necessitaram de quem lhes tratasse dessas questões e assim, “os nestorianos gozaram da confiança dos soberanos e chefes mongóis, fossem ou não cristãos. O principal lugar-tenente de Hugalu, na Síria, por exemplo, o general Kitbuka, era um cristão nestoriano, o que terá reforçado a crença, tanto do Ocidente como do Oriente, que a campanha mongol era uma espécie de guerra santa contra o Islão, em simetria com as expedições francas”, como escreve António Carmo. Os mongóis eram sobretudo Animistas e por isso, a sua relação às religiões era tolerante, o que permitiu às igrejas nestoriana e católica expandirem-se pela Ásia até meados do século XIV. A 24 de Agosto de 1246 foi eleito o Khan Guyuk, cinco anos após a morte do anterior khan, seu pai Ogodai, terceiro filho de Genghis Khan com Borte. “Simon de Saint Quentin relata assim o início do Kuriltai que elegeu Guyuk Khan como sucessor de Ogodai: ” Miguel Urbano Rodrigues. E com ele seguindo, “Pian del Carpine conta o que viu: .” O franciscano Giovanni Da Pian del Carpine (c.1182/85-1252), autor do mais antigo relato europeu sobre a Ásia e um dos primeiros discípulos de Francisco de Assis, trazia uma carta para o “Rei e povo tártaro”, pois pensava-se que a campanha mongol era contra o Islão e por isso, vinha negociar com o novo Khan. Mas o emissário não conseguiu nada. Para além de não enviar presentes, também não prestou homenagem, não se tendo prostrado perante o khan, já que só se prostrava perante Deus. Assim falhou a conversão do Khan e um ano depois, os franciscanos reentravam na Europa. Sete anos mais tarde, em 1252, foi o Rei de França Luís IX quem enviou o frade franciscano flamengo Guilherme de Ruysbroeck (Rubrouk), com mais quatro companheiros à corte dos Khan, devido a rumores que aí havia cristãos. Chegaram no final do ano seguinte e junto à corte ficaram durante dois anos, tendo apenas baptizado cinco pessoas e convertido um padre nestoriano. Em Karokorum encontraram uma grande tolerância, havendo nestorianos, budistas e islamitas e durante a sua permanência realizou-se um debate sobre as diferentes religiões, presidido pelo próprio Khan Mongke. Os resultados dessa missão foram iguais aos da primeira. Para fazer comércio entraram ao reino dos mongóis os irmãos Polo, Maffeo e Nicoolò, o pai de Marco Polo e encontraram-se com os nestorianos, assim como foram recebidos pelo Imperador Shi Zu (Kubilai), o fundador da dinastia Yuan, na sua nova capital, Dadu (até então Khanbaliq, cidade dos khan), actualmente Beijing. Kubilai Khan em 1269 nomeou-os embaixadores e partiram para em nome do Imperador da China pedirem ao Papa o envio de cem sábios. Este mandou apenas dois dominicanos, que nunca lá chegaram. Arcebispo de Pequim Em 1286, o Khan da Pérsia, Argun enviou a Roma o nestoriano Bispo Rabban Sauma (Bar Sauma, 1225-1294, que mais tarde recebeu o título de Vigário-Geral da China, conferido pelo Patriarca nestoriano de Bagdad, segundo António Carmo) a dizer que o Imperador mongol Kublai Khan, estava disposto a receber os católicos. O primeiro Papa franciscano, Nicolau IV, como Giovanni Moncorvino se encontrava em Roma escolheu-o, “enviando-o como Legado e Núncio da Santa Sé e cheio de presentes e revestido de toda a autoridade para tratar com o grande Khan. Partiu para a sua viagem em 1291, munido de cartas para o Khan Argun, para o grande Imperador Kublai Khan, para Kaidu, príncipe dos Tártaros, para o Rei da Arménia e para o Patriarca dos Jacobitas. Os seus companheiros eram o dominicano Nicolau de Pistoia e o comerciante Pedro de Lucalongo”, segundo refere o P. Manuel Teixeira. Giovanni da Montecorvino (1246/7-1328/30), o primeiro missionário católico na China, nasceu em Itália e tornou-se franciscano em 1272. Encarregue pela Santa Sé para missionar no Oriente, começou na Pérsia e daí, “por mar para a Índia onde pregou por treze meses e baptizou umas cem pessoas. Aqui lhe morreu também o seu companheiro Nicolau. Viajando de Meliapor por mar, alcançou a China em 1294, vindo a saber então que Kublai Khan tinha morrido e Timurleng (1294-1307) sucedera no trono. Este, (o Imperador Cheng Zong) não abraçou o Cristianismo, contudo não pôs obstáculos ao zelo missionário que ali se estabeleceu e pôde pregar livremente o Evangelho. A despeito da oposição dos nestorianos, Montecorvino depressa ganhou a confiança do Imperador e em 1299, oito anos depois de ter partido da Europa e seis após ter entrado na China, pôde construir uma igreja em Dadu (Grande Capital, hoje Beijing), tendo já a esta data baptizado seis mil cristãos. Em 1305 levantou uma segunda igreja mesmo em frente do palácio do Imperador, juntamente com oficinas e habitações para duzentas pessoas. Aqui reuniu cerca de cento e cinquenta rapazes, de sete a onze anos de idade, ensinou-lhes latim e o grego e estabeleceu as horas canónicas cantadas, como nos seus conventos da Europa, com grande gosto do Imperador, que se deleitava a ouvir as vozes melodiosas das crianças. Eram também estas crianças que faziam o ofício de acólitos, ajudando à missa”, como refere o Padre Manuel Teixeira. Giovanni da Montecorvino “familiarizou-se com a língua nativa, podendo assim pregar e traduzir para chinês o Novo Testamento e os Salmos. As maiores dificuldades e os maiores obstáculos que encontrou na árdua empresa da evangelização da China vieram-lhe da parte dos nestorianos que então abundavam na China. Devido às calúnias que lhe levantaram os sectários do Nestorianismo, ele teve de passar por muitas humilhações e ignomínias e de comparecer como criminoso ante os tribunais. Mas, por último, pela confissão dum mesmo nestoriano, o Imperador reconheceu a falsidade das acusações e desterrou os acusadores. Deu-lhe até assento e poisada na Corte Imperial como Legado do Sumo Pontífice, com maiores honras que os restantes prelados das demais religiões”, P. Manuel Teixeira. Nos onze primeiros anos em que trabalhou sozinho, converteu seis mil pessoas e só em 1304 apareceu, para o ajudar, o alemão Arnoldo de Colónia. O Papa Clemento V, altamente satisfeito com os sucessos do missionário, em 1307 enviou-lhe sete bispos franciscanos, mas apenas três chegaram, tendo estes consagrado em 1308 Giovani Montecorvino como Arcebispo de Pequim e Patriarca de todo o Oriente, pela bula Summus Archiepiscopus. Em 1312, o Primaz de Pequim e de todo o Extremo Oriente recebia mais três novos prelados franciscanos e instituía novas dioceses, para além das já existentes, como a de Quanzhou. Depois de trinta e oito anos de vida apostólica na China, Giovanni Montecorvino, com 81 anos, morreu na sua sede Arquiepiscopal de Pequim em 1328. Dez anos após a sua morte, o último dos soberanos da dinastia mongol Yuan, Shun Di, enviou ao Papa uma embaixada, pedindo a sua bênção e solicitando o envio de mais missionários e um outro legado pontifício. Apelo correspondido. O Papa Bento XII nomeou João de Marignoli legado pontifício e com ele seguiram mais vinte e dois padres, que chegaram em 1342 a Dadu, após uma viagem de quatro anos. Marignolli apercebendo-se que os tempos eram de borrasca, já que os mongóis nunca conseguiram conquistar a estima das populações que ocupavam, regressou à Europa em 1345. Então, o Papa Inocêncio VI ordenou ao superior dos franciscanos o envio de missionários para a China, sendo três bispos para a Sé de Dadu nomeados, mas nenhum aí chegou. O Khan da Pérsia, Timur (1336-1405) em 1362 começou a perseguir os cristãos, o que levou à dispersão destas comunidades para a Índia do Sul. Quando o católico quarto bispo de Quanzhou, Giacomo da Firenze foi martirizado em 1363, encerrou-se mais um ciclo da evangelização cristã na China. Com a queda da dinastia Yuan em 1368 e a chegada dos sedentários chineses Han, que formaram a dinastia Ming, os cristãos saíram do país e voltaram para as terras do Norte. Durante oitenta e oito anos, os franciscanos converteram mais de trinta mil chineses, maioritariamente de etnia mongol e como os católicos foram seus protegidos, a dinastia Ming expulsou-os e destruiu todos os vestígios do Cristianismo nestas paragens. Só duzentos anos depois, em 1583, o jesuíta Matteu Ricci conseguiu reestruturar a missão Católica na China, esquecido que estava aquele período de terror e em que a população chinesa Han se encontrava no nível mais baixo do escalão social mongol.
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasQuarta-feira de cinzas Porque eu sei que o tempo É sempre o tempo E o lugar É sempre e apenas o lugar E o que É real É real apenas por uma vez E apenas para um lugar Regozijo-me que as coisas sejam como são e Renuncio ao rosto abençoado T S Eliot, in Quarta-feira de Cinzas [dropcap]H[/dropcap]oje é um dia especial na liturgia católica mas não será exactamente isso que inspira este instante, ou seja, é isso, dez, como o decálogo dos mandamentos , mas sim o poema de T. S. Elliot, exactamente chamado «Quarta-feira de Cinzas», um poema tutelar que abarca a Cultura Ocidental, feito por um poeta que bem pode estar ao lado dos profetas, pois que é demasiado fascinante para ser abordado sem uma profunda experiência do mundo. Este poema, que faz parte das células do imaginário, tem, claro está, num dia assim mais sentido. Vive-se nele o dia todo e quase a primeira essência se dissipa sem contudo nos dissociarmos face ao que o poeta dele instituiu. Entra-se num momento que nos reporta ao número quarenta, a Quaresma, a quarentena, uma passagem de dias, de anos, como forma de abordar ciclos vitais, tanto pode ser um poema elegíaco como um metadiscurso entre leituras comparadas. “Porque eu não espero voltar Porque eu não espero Porque eu não espero conhecer de novo a glória frágil da hora concreta.” O Livro de Ezequiel – 37- dá-nos a tónica do poema em ossos, os ossos daqueles que retornam à vida e fazem parte do corpo de um povo naquela planície de ossos onde um sopro lhes dá a vida nova em corpo e forma. O profeta Elias, subjugado por tristezas várias, pede para morrer debaixo de um zimbro e a cena é marejada de sofrimento e dor, como uma implorante profecia na linguagem do poeta: “Debaixo de um zimbro os ossos cantavam dispersos e brilhantes, regozijamo-nos por estar dispersos, pouco bem fazíamos uns aos outros, debaixo de uma árvore à friagem do dia, com a bênção da areia esquecidos de si próprios e uns dos outros, unidos, na quietude do deserto. Esta é a terra que tu partilharás em lotes. Recebemos a nossa herança” É toda a estranheza do verbo que com o sopro se faz carne e mora nos Homens que aqui se bem diz e elucida. Já não podendo mais, Elias fora arrebatado por um carro de fogo e não mais voltou àquele local. Ainda hoje é esperado com entusiasmo e fé por aqueles que crêem que o desaparecimento faz parte do plano dos que não aguentando são, por forças divinas, arrebatados da sua desdita: pois que “eu não espero voltar, porque eu não espero”. Mas nós esperamo-lo! – Elias… Elias… Ele fala com Elias. – Na fronteira, Elias fala ainda aos que estão na linhagem desta imensa história de não retorno. O poema levanta contudo muitas perturbações, e até formas nunca reveladas pelo poeta, pois que Eliot era parco a fornecer explicações da sua obra, na medida em que nada de conclusivo se pode tirar de um texto que passa em muito o factor surpresa, de uma voragem feita por leopardos na friagem do dia que se alimentavam até à saciedade de pernas, de coração e de fígados, daí os ossos, daí aquela necrópole improvável. Se fôramos cera, arderíamos apenas, mas este comerem-nos até à saciedade levanta o problema de termos sido ultrapassados nas leis não naturais. «Este é o meu corpo, comei e bebei». Nós estaremos nesse alimento de que se alimenta o poema e da minha vida ficará o tributo a um bem que todos podem partilhar, por isso o roteiro de jejuns que o próprio dia fornece, para lembrar os que têm fome e da nossa mortalidade em cinzas. Aparece uma Senhora no poema – senhora dos silêncios calma e perturbada dilacerada e ilesa preocupada em repousa a Rosa única que era agora o Jardim – jardim esse, onde todo o amor finda terminado o tormento do amor insaciado e ainda o tormento maior do amor saciado fim do infindável, jornada para parte alguma conclusão de tudo o que é inconcludente … Graças à Mãe pelo jardim onde todo o amor finda. Quem finda nesta voragem e o quê? Oh, meu Povo, que fiz eu de Ti? O que é isto de tão arrepiante mente ilusório, de tão assombrosamente maternal? Esta abundância de estranheza não dá para definir nem um Reino nem um Povo nem um Poeta nem um Profeta, mas as datas continuam charneiras a este tecido. Comecemos numa indigestão de coisas articuladas pois que ao princípio da divindade subjaz a grande fúria. Aqui, neste poema, a grande deidade não está em paz, nem morre de fastio, pois que usa a vida como alimento e nutre-se de si mesma. Não será afinal este efeito maior o que faz de Eliot o enigma desta quarta-feira? Já em «Terra sem vida» ele fala com as pedras e o mesmo povo devorado e que se articula com carnes nos ossos, faz as pedras brotarem água pela vara de Moisés. Talvez isto explique que não há poeta sem esta imensa área de mergulho na sua história civilizacional e tudo o que se faz à revelia deste caminho acabe inexoravelmente morto e invertebrado. Aquelas pedras são gotas de água. Tudo neste poeta está sempre por dizer, pois ele disse aquilo que ninguém sabe da sua própria Cultura. Eles vêm dizer-nos que se não for por estes passos que nos dilaceram por vezes os sentidos os poetas não têm razão de se apelidar assim e que quando eles desaparecem o mundo estará tão perdido que as rotas se transformarão em vãos desígnios de vociferação indistinta. Nascido no ano de Fernando Pessoa, ambos trilharam caminhos que nos colocam agora neste dia em face do seu mistério. Tudo aconteceu para que sejam eles a revisitar na sua ânsia de não perder o fio de prumo à espectacular forma da natureza humana. Há quem não queira mais, sim, e implore sair, e quem queira tudo e nada implore. Há os pacíficos que transbordam de tédio e os enaltecidos que usurpam os lugares que habilmente a indigência preparou, conquanto, se houver ainda um roteiro que nos transcenda, as coisas e até os ossos terão no tempo o seu lugar. Não mais voltar ao local de um crime, mas os criminosos voltam sempre. É por isso que os seus crimes não compensam, dado que a segurança dos predadores é também a sua derrota. Quem não quer voltar sabe que fez o melhor e se for arrebatado é porque não se extinguiu no asfalto onde todo o sonho morre e a lembrança de que um deus não é a palavra que o designa, mas algo mais que convém estar atento, não vá o manto do nada apanhar-nos neste lugar sem força para implorar uma saída. São os quarenta anos, e os quarenta dias e as quarentenas dos que andam a somar dias aos seus inesgotáveis esforços, mas a força aplica-se só, e somente, onde houver uma pedra, um osso, uma estrutura. E sem os nossos colossos e palmares de sonho e colunas, nada deste dia restaria se não a cinza de uma lembrança que julgáramos morta pela vitória de uma razão que afinal, está muito aquém de fazer um poema como este.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA China entre o optimismo e a retracção “Industrialization is necessary. But if this industrialization is connected with the new global division of labor, China will bear a greater cost compared with traditional industrialization in terms of the exhaustion of energy resources, the exploitation of cheap labor, damage to the environment and the loss of labor protections.” China’s Twentieth Century: Revolution, Retreat and the Road to Equality Wang Hui O mundo divide-se entre optimistas e pessimistas e alguns países são extremamente optimistas sobre o futuro da humanidade, e outros crêem que estamos praticamente condenados. Alguns países têm as melhores e as piores expectativas no que diz respeito ao futuro da humanidade. A sondagem realizada pela “YouGov”, e cujo relatório foi publicado, a 20 de Janeiro de 2016, inquiriu mais de dezoito mil pessoas, revelando que entre os dezassete países estudados, a China é o país mais optimista do mundo, tendo mais de 40 por cento de cibernautas chineses, afirmado que o mundo está cada vez melhor em termos gerais, quase o dobro que o segundo país mais optimista, a Indonésia. A percentagem de optimistas na China representa quatro vezes a média mundial que é de 10 por cento. Os países mais pessimistas do mundo são a França, Hong Kong, Austrália e Tailândia. O mundo, em geral, está equilibrado, uma vez que a sondagem mostra que 50 por cento da população mundial, é pessimista relativamente ao seu futuro. O relatório ressalta o facto de que não parece existir uma relação, ou uma muito pequena, entre o PIB e o optimismo. Os Estados Unidos são mais ricos que o Reino Unido, com um PIB de cinquenta e três, e quarenta e dois mil dólares, respectivamente, apesar de se encontrarem empatados quanto ao pessimismo. A Austrália, por outro lado, possui um PIB “per capita”, vinte vezes maior que o segundo país mais optimista. A grande diferença da China para com os restantes países, pode dever-se ao facto, de que tem um crescimento económico muito alto, em comparação com o resto do mundo, e dá prioridade ao seu sistema de saúde. A combinação facilita a realização de objectivos pessoais que podem contribuir para o optimismo dos asiáticos. O ser pessimista a respeito do futuro da humanidade, parece ser algo lógico, sobretudo, em França devido aos ataques terroristas que sofreu, e em particular, no respeitante aos problemas climáticos e às ameaças que se prevêem para os próximos anos. Todavia, alguns dados, permitem interrogar o pessimismo, e a ONU deu a conhecer que em 2012 a pobreza reduziu para 12,7 por cento, quando em 1981 era quatro vezes superior, ainda que existam oitocentos milhões de pessoas que passam fome e que no inicio do milénio, cerca de trinta e quatro milhões de crianças tiveram acesso ao sistema educativo, em parte, devido ao facto de muitos países terem conseguido atingir os “Objectivos de Desenvolvimento do Milénio”, promovido pela ONU. As previsões do crescimento mundial não são tão optimistas, pois é atenuada a procura. O crescimento mundial, que as previsões actuais situam em 3,1 por cento para 2015, alcançaria 3,4 por cento em 2016 e 3,6 por cento em 2017. É de prever que a recuperação da actividade mundial será mais gradual que o previsto nas das “Perspectivas da Economia Mundial -World Economic Outlook Report”, de Outubro de 2015, do Fundo Monetário Internacional, especialmente no caso das economias de mercados emergentes e em desenvolvimento. É de prever que as economias avançadas, continuem a recuperar-se de forma moderada e desigual, e que as diferenças dos seus produtos continuem a reduzir-se gradualmente. O cenário das economias de mercados emergentes e em desenvolvimento é diverso, mas em muitos casos, coloca desafios. A desaceleração e o reequilíbrio da economia Chinesa, a queda dos preços das matérias-primas e as pressões a que se encontram submetidas as principais economias de mercados emergentes, continuarão a constranger as perspectivas de crescimento em 2016 e 2017. A retoma do crescimento projectado para os próximos dois anos, apesar da desaceleração que está a sofrer a China, reflecte principalmente um prognóstico de melhoria gradual das taxas de crescimento dos países que estão a sofrer pressões económicas, especialmente o Brasil, Rússia e alguns países do Médio Oriente, ainda que, que tal recuperação parcial projectada, poderá fracassar por novos choques económicos e políticos. Os riscos para as perspectivas mundiais continuam a tender para a diminuição, e estão relacionados com os ajustes que se estão a dar na economia mundial, como a desaceleração generalizada das economias de mercados emergentes, o reequilíbrio da economia chinesa, a queda dos preços das matérias-primas e a retirada gradual das condições monetárias extraordinariamente acomodatícias nos Estados Unidos. Se estes desafios essenciais não forem geridos adequadamente, o crescimento mundial descarrilará. A actividade económica internacional manteve o abrandamento, em 2015. As economias dos mercados emergentes e em desenvolvimento, apesar de contribuírem com mais de 70 por cento para o crescimento mundial, desaceleraram pelo quinto ano consecutivo, tendo as economias avançadas continuado a registar uma ligeira recuperação. As perspectivas mundiais continuam a ser determinadas por tês rotas críticas, como a desaceleração e reequilíbrio gradual da actividade económica da China, que se está a afastar do investimento e da manufactura, direccionando-se ao consumo e serviços, a redução dos preços da energia e de outras matérias-primas, e o endurecimento gradual da política monetária dos Estados Unidos, no contexto de uma resiliente recuperação económica, no momento em que os bancos centrais de outras importantes economias avançadas, continuam a relaxar a política monetária. O crescimento global da China, em geral, está a evoluir, ainda que as importações e as exportações estejam a reduzir com maior rapidez do que se esperava, em parte como consequência da contracção do investimento e da actividade manufactureira. Esta situação, adicionada às inquietações do mercado em torno do futuro desempenho da economia chinesa, está a criar o efeito de contágio a outras economias através das vias comerciais, e da queda dos preços das matérias-primas, assim como, devido a uma menor confiança e um aumento da volatilidade dos mercados financeiros. A actividade manufactureira e o comércio continuam a ser débeis em todo o mundo, devido não apenas à situação da China, mas também à fraqueza da procura mundial e do investimento a nível mais alargado, e especialmente, a contracção do investimento nas indústrias extractivas. A queda violenta das importações num conjunto de economias de mercados emergentes e em desenvolvimento a sofrer pressões económicas, também, estão a afectar negativamente o comércio mundial. Os preços do petróleo têm vindo a sofrer uma considerável redução desde Setembro de 2015, devido à expectativa de que continuaria a aumentar a produção, por parte dos membros da “Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) ”, dentro de um contexto no qual, a produção mundial de petróleo continua a superar o consumo. Os mercados de futuros, neste momento, apontam para aumentos leves dos preços, em 2016 e 2017. Os preços de outras matérias-primas, especialmente os metais, também diminuíram. A queda dos preços de petróleo está a exercer pressão nos saldos fiscais dos exportadores de combustíveis, e está a turvar as suas perspectivas de crescimento, e ao mesmo tempo, a suportar a procura de habitações e a fazer diminuir o custo comercial da energia nos países importadores, especialmente nas economias avançadas, onde os utilizadores finais beneficiam inteiramente deste embaratecimento. A descida dos preços do petróleo, impulsionado por um aumento da oferta, deveria suportar a procura mundial, uma vez que os importadores de petróleo têm uma maior tendência ao consumo que os exportadores, e nas circunstâncias actuais, existem vários factores que têm reduzido o impacto positivo da queda dos preços de petróleo. É de ter em consideração, como consequência das pressões financeiras que estão a viver muitos exportadores de petróleo, tem uma menor margem para amortecer o choque, o qual contém uma contradição substancial da procura interna. O embaratecimento do petróleo tem produzido um notável impacto no investimento na extracção de petróleo e gás, o qual também, tem afectado a procura agregada mundial. A retoma do consumo dos importadores de petróleo, tem sido menor do que se esperava, tendo em conta outros acontecimentos de quedas de preço no passado, possivelmente, devido a que algumas dessas economias, ainda se encontrem em processo de desendividamento. É possível que em várias economias de mercados emergentes e em desenvolvimento, a transmissão do embaratecimento aos consumidores tenha sido limitada. A distensão da política monetária, em geral, empreendida pela zona euro e Japão contínua, enquanto a Reserva Federal dos Estados Unidos, subiu a taxa de juros dos fundos federais, que durante sete anos, e até Dezembro de 2015, se tinha mantido em quase zero, para sustentar a recuperação. As condições financeiras, em geral, continuam a ser muito acomodatícias nas economias avançadas. As perspectivas de um aumento gradual das taxas de juros, como evolução da estratégia de política monetária nos Estados Unidos, assim como estrépitos da volatilidade financeira num contexto marcado pelas inquietações, à volta do futuro crescimento dos mercados emergentes, têm contribuído para condições financeiras externas mais restritivas, menores fluxos de capital e novas depreciações das moedas de muitas economias de mercados emergentes. O nível geral da inflação moveu-se lateralmente na maioria dos países, em termos amplos, sendo provável que desça, tendo em conta que as novas quedas dos preços das matérias-primas e a fragilidade da manufactura mundial que estão a exercer pressão sobre os preços dos bens negociados. As taxas de inflação subjacente mantêm-se muito abaixo dos objectivos das economias avançadas. A evolução desigual da inflação nas economias de mercados emergentes reflecte, por um lado, as implicações de uma procura interna débil e da queda dos preços das matérias-primas e, por outro lado, as pronunciadas depreciações cambiais ocorridas no curso do ano de 2015. O crescimento nas economias avançadas aumentaria 0,2 por cento em 2016, a 2,1 por cento, e manter-se-ia sem alterações em 2017. A actividade global conserva a robustez nos Estados Unidos, graças a condições financeiras que ainda são favoráveis e ao fortalecimento do mercado imobiliário e do trabalho. A fortaleza do dólar está a sobrecarregar a actividade manufactureira, e o recuo dos preços do petróleo está a travar o investimento em estruturas e equipamentos de mineração. O fortalecimento do consumo privado, na zona euro, estimulado pelo embaratecimento do petróleo e as condições financeiras favoráveis, está a compensar a fragilidade das exportações líquidas. É de acreditar no crescimento do Japão em 2016, por força do suporte fiscal, queda dos preços de petróleo, condições financeiras acomodatícias e aumento das receitas. O crescimento das economias de mercados emergentes e em desenvolvimento, aumentará de 4 por cento em 2015, o nível mais baixo desde a crise financeira de 2008 a 2009, a 4,3 por cento, e 4, 7 por cento em 2016 e 2017, respectivamente. É de prever que o crescimento da China diminua para 6,3 por cento em 2016, e 6 por cento em 2017, devido ao crescimento baixo do investimento, à medida que a economia continua a reequilibrar-se. A Índia e as restantes das economias emergentes da Ásia terão uma continuação do crescimento robusto, ainda que alguns países, venham a enfrentar fortes ventos contrários, criados pelo reequilíbrio da economia chinesa e a fragilidade da indústria manufactureira mundial. Assim, dar-se-á uma desaceleração mais marcada do que o esperado, enquanto a China, leva a cabo a transição necessária para um crescimento mais equilibrado, com maiores efeitos de contágio internacional por via do comércio, os preços das matérias-primas, confiança, e os efeitos consequentes nos mercados financeiros internacionais e de valorização das moedas.
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesIntenções duvidosas Um acontecimento político ocasional não consegue verdadeiramente congregar os partidos e associações que o integram, já que cada grupo tende a desconfiar das intenções dos restantes. Quanto mais significativas forem as alterações registadas na cena politica, maior tendência terão os partidos para “dançar conforme a música”, num jogo óbvio de namoro ao poder. Toda a gente sabe que os factos históricos têm sido, desde sempre, intencionalmente distorcidos. A História contada pelos vencedores é sempre manipulada a seu favor, não deixando lugar à existência de outras interpretações. O Poder teme que a mais pequena centelha possa causar um incêndio. Quem persistir em defender os seus ideais, e não quiser colaborar com a “situação”, acaba por ser empurrado para fora do barco até porque, hoje em dia, o patriotismo já foi “privatizado”. Vivemos uma era sem monarquias absolutas, mas também vivemos o período mais autocrático de sempre. É, no entanto, hora de despertar as consciências, hora de agir e lutar por uma democracia que tanto tem custado a conquistar. Ninguém até agora abdicou facilmente do Poder, porque o Poder implica dinheiro, estatuto, influência e o mais variado tipo de regalias. Qualquer coisa que lembra “O Triunfo dos Porcos” de George Orwell, está a tomar forma por esse mundo fora, em nome dos mais variados “ismos”. As pessoas assemelham-se cada vez mais aos pais do protagonista do filme de animação japonês “Spirited Away”, que se empanturravam até não poder mais, ao ponto de parecerem porcos prontos para a matança. Os que estão agarrados ao poder, ou os que ignoram totalmente o sofrimento de quem vive abaixo da linha da pobreza, todos os dias recebem louvores na imprensa. Ninguém está interessado em perceber as causas da pobreza sistemática e das dificuldades permanentes de tantos milhões de seres humanos, quando está a sondar o mercado para comprar um apartamento. É muito mais fácil deixar ao abandono lotes de terreno do que construir, até porque a erva daninha está baratíssima se comparamos com as despesas de uma família normal. Quando a pressão exercida pela lava na crosta da Terra não pára de aumentar, os vulcões sofrem erupções e os terramotos acontecem. Quando os edifícios construídos com materiais deficitários se cruzam com um terramoto, caem inevitavelmente. Se queremos evitar as tragédias, temos de eliminar os riscos. Infelizmente, existem precedentes históricos que nos mostram ser habitual culpar as vítimas pelas consequências das calamidades. A seguir ao grande incêndio de Roma, Nero não criou uma Comissão de Inquérito Independente e declarou que os cristãos tinham sido os responsáveis. Na “Noite dos Cristais” do Reich (Reichskristallnacht) em Munique, os judeus foram as vítimas. O mais certo é também não ter sido criada nenhuma Comissão de Inquérito para apurar a identidade dos culpados. Sobre os confrontos entre a polícia e os manifestantes, ocorridos no primeiro dia do Ano Novo Chinês em Hong Kong, os noticiários oficiais declararam que nenhum dos vendedores ambulantes tinha sido formalmente acusado. Antes pelo contrário, os detidos encontram-se entre o grupo de pessoas que se mobilizaram via internet para apoiar a causa dos vendedores ambulantes e organizaram este suposto “motim”. Afirmar que os Serviços de Informação da Polícia não conseguiram ser eficazes e reunir material relevante sobre esta “mobilização de massas”, seria um insulto à competência da Polícia e ao bom senso dos cidadãos. Em 2015, na altura do movimento “Occupy Central”, todos os participantes foram identificados e listados. Podem sofrer restrições se quiserem visitar a China continental ou apenas dar um salto a Macau. É natural que, como quase meio milhão de habitantes de Hong Kong protestou contra a implementação de leis criadas a partir do Artigo 23 da Lei de Bases de Hong Kong, a China continental tenha passado a prestar particular atenção às questões políticas da região e que esteja muito bem informada sobre os movimentos de oposição em Hong Kong. O Governo Central poderá saber mais sobre estes movimentos do que os seus próprios membros. Em qualquer jogo de xadrez, seja chinês ou ocidental, as peças mais numerosas são os peões. Existe um ditado chinês que reza o seguinte: “o soldado que atravessou o rio não tem forma de voltar atrás”. Os agentes da polícia que cumpriram as ordens dos seus superiores, são obviamente seres humanos com sentimentos, como qualquer outro cidadão, manifestante ou agitador. É, portanto, indispensável que, quer a vida, quer os direitos, de todas as pessoas sejam respeitados. Um certo intelectual de Hong Kong escreveu uma história sobre formigas. Umas eram vermelhas e outras pretas e, por causa de terem sido instigadas, envolveram-se numa grande luta. Embora os seres humanos sejam superiores às formigas, não conseguiram impedir que se disparasse o primeiro tiro em Sarajevo, que conduziu à I Guerra Mundial. Será esta a tragédia da Humanidade, ou antes um destino urdido por esquemas e intrigas que tecemos uns contra os outros?
Andreia Sofia Silva Perfil PessoasDavid Marques, professor | De Macau ao Canadá David Marques tem um nome absolutamente português, mas só aprendeu o idioma durante dois meses na escola, quando era criança. Nascido em Macau e com amigos de diversas nacionalidades, David Marques fala com os amigos portugueses em Inglês, embora perceba uma ou outra palavra do que está a ser dito na língua de Camões. Percebe e sorri, piscando o olho, como quem brinca a um jogo de palavras. Para contarmos a história de David Marques, teremos de ir ao Canadá muitas vezes e voltar. Teremos de ir buscar percursos familiares aqui e lá. David foi para o Canadá com a família quando tinha apenas nove meses de idade. Depois regressou a Macau e frequentou a escola durante algum tempo. Depois decidiu partir de novo. “Estudei Ciência Política na Universidade de Calgary, em Alberta, no Canadá. A primeira vez que deixei Macau não tive escolha, tinha nove meses de idade e, assim, fomos para o Canadá. Quando tinha quase cinco anos fiz aqui a escola primária. Passei aqui a minha adolescência e quando tinha cerca de 14 anos decidi regressar e fiz lá a minha escola secundária. Porquê? Porque é muito mais divertido lá. E também me oferecia outras oportunidades. Fui para lá porque sentia também um pouco de nostalgia. Foi divertido, mas chegou a um momento em que era sempre a mesma coisa”, contou ao HM. No Canadá viveu com a avó. “Foi assim que aprendi a cozinhar”, garante. Contudo, quando lhe perguntamos que pratos aprendeu, não são as receitas macaenses que vêm ao de cima. “Claro que a minha avó me ensinou a fazer creme brulée, uma receita muito importante. Também me ensinou a fazer puré de batata.” Desconstruír a língua Regressado ao território, David Marques dá aulas de Inglês a crianças em várias escolas e até ensina Chinês a estrangeiros com um método muito próprio. Na aula, cada caracter é desconstruído com recurso a desenhos e significados que levam a pessoa a memorizá-lo mais facilmente. A fazer um doutoramento em Educação na Universidade de São José (USJ), David Marques pretende, no próximo ano, realizar workshops na área criativa e deixar de lado as aulas. O jovem tem uma resposta muito simples quando perguntamos porque é que aqui os expatriados demoram a aprender Chinês. “Não há um sistema de apoio para que as pessoas aprendam Chinês ou para o compreender. Não há programas de apoio à emigração, há alguns grupos, mas não há um apoio forte. No Canadá trabalhei com ONGs que ajudavam os emigrantes a integrarem-se no sistema do país.” No seu caso, conta, nunca precisou de aprender Português. “E é como as outras pessoas, que não precisam de aprender Chinês, porque o nosso estilo de vida não exige isso. Em Hong Kong as coisas são diferentes, porque é fácil usar o Inglês também. Se formos para Zhuhai, temos de aprender Chinês numa semana.” O legado em Coloane Pelo meio, a Ciência Política foi ficando pelo caminho. David afirma que aquilo que aprendeu não se pode aplicar ao sistema político de Macau, embora, há muito tempo, tenha escrito artigos de opinião num jornal chinês. Mas a experiência não durou muito. “Um dia escrevi um artigo sobre a necessidade de uma maior liberdade de imprensa, mas depois disseram-me no dia seguinte que estavam a reestruturar o jornal e que já não precisavam de mim”, diz com ironia. Confessa que há sempre um caminho a traçar para se ser Chefe do Executivo e que nem todos podem ou conseguem traçá-lo. David Marques vive sozinho em Coloane na casa da família. Com frequência organiza festas para pessoas muito diferentes, mais ou menos próximos. O que interessa é que haja divertimento e uma boa conversa, porque aquilo que mais gosta de fazer é de conversar e partilhar pontos de vista. A vida no campo deu-lhe outros projectos. “A casa é um legado da minha família, estou a aprender a desenvolver algumas capacidades enquanto projecto pessoal numa comunidade pequena.” A agricultura é um exemplo disso: às vezes trabalha ele próprio a terra.
Joana Freitas SociedadeSaúde | Doenças crónicas continuam a ser problema Governo vai implementar medidas para continuar a fazer com que a população detecte doenças crónicas precocemente [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s doenças crónicas continuam na liderança dos problemas de saúde dos cidadãos, o que vai fazer com que o Governo implemente mais projectos para despistagem destas enfermidades. Numa reunião da Comissão de Prevenção e Controlo das Doenças Crónicas, que contou com a presença de Alexis Tam, o Secretário defendeu a existência de melhorias no estado da saúde em Macau. “As doenças crónicas constituem ainda os principais problemas de saúde pública no território, sendo os factores de risco que afectam o desenvolvimento sustentável da sociedade. Daí que seja necessário que todos os sectores colaborem em conjunto, [é preciso que] toda a sociedade aja contra essa problemática”, pode ler-se num comunicado. “Dado que não existem quaisquer sintomas no início da maioria das doenças crónicas, que só são detectadas em períodos posteriores, o Governo desenvolveu em 2015 os projectos ‘A minha saúde depende de mim’ e o ‘Projecto Piloto de Despistagem do Cancro Colo-rectal’, esperando que com estas iniciativas possa ser detectada a doença no período inicial e iniciado o tratamento de forma atempada, diminuindo os impactos, agravamento e sequelas resultantes da doença.” Este ano, o Executivo promete a implementação de mais medidas – como o “Projecto Piloto de Despistagem do Cancro Colo-rectal” e “Curso de Auto-Gestão das Doenças Crónicas” – para “estabelecer uma estratégia preventiva de três níveis: descobrir precocemente, diagnosticar precocemente e tratar precocemente, de modo a reduzir a morbilidade e mortalidade”, avança. Alexis Tam continua a defender que os serviços de assistência médica e de cuidados de saúde têm melhorado “constantemente” e que Macau pode mesmo comparar-se às regiões mais desenvolvidas. “Os serviços de cuidados de saúde de Macau figuram em lugares avançados da lista mundial, ou seja, muitos indicadores de saúde já conseguiram ser comparáveis aos de regiões desenvolvidas”, pode ler-se no comunicado, onde o Secretário apela ainda à população para que “possa compreender e apreciar os contributos e esforços exercidos pelos profissionais de saúde, colaborando com as medidas e recomendações do Governo e aproveitando os recursos sociais para cuidar bem da sua própria saúde”. Na reunião foi ainda discutida a necessidade de elaborar mais recomendações mundiais sobre a alimentação saudável, para que a Comissão alerte a população de Macau. “Neste contexto, o Chefe do Centro de Prevenção e Controlo da Doença, Lam Chong, e [a médica] Chan Tan Mui apresentaram orientações actualizadas sobre a alimentação saudável que foram implementadas nos Estados Unidos da América e nas regiões chinesas.”