Arnaldo Gonçalves VozesGrécia: o fracasso europeu [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]epois de semanas de intensas negociações o diálogo Grécia-Eurogrupo à volta da dívida grega fracassou. De várias proveniências choveram acusações de responsabilidade pelo insucesso. Formaram-se, entretanto, dois blocos distintos que cavaram trincheiras e preparam-se paras novas ondas de assalto como se a discussão à volta do incumprimento de uma dívida de um estado soberano fosse uma guerra, com munições, salvas de artilharia, ataques aéreos e congeminações com aliados de ocasião. Quer uns quer outros estão errados pois a crise grega não está delimitada. Sobre ela assenta a saúde do sistema financeiro europeu, a credibilidade da Europa como identidade, a sorte do Eurogrupo e a possibilidade, nas próximas décadas, de um alargamento a sudeste ao espaço da antiga Jugoslávia e à Turquia. É isto que os governos do centro-direita e os seus aliados socialistas não compreenderam. Vamos por partes. Comecemos pelo bloco anti-Syrisa que condena, em uníssono, a posição da Grécia e a decisão aprovada pelo parlamento de convocação do referendo para dia 5 de Julho. Cruzam-se no arsenal de críticas a Atenas argumentos económicos, políticos e tiros no escuro. Comecemos pelos primeiros. A dívida foi contraída por vários governos gregos e tem de ser liquidada, pois a Grécia assumiu por escrito a responsabilidade de a liquidar, em determinadas tranches e datas. O país depende do financiamento do sistema bancário e este alimenta-se do refinanciamento da banca internacional e em certas condições do Banco Central Europeu. A Grécia – se quiser sobreviver – tem de aceitar a oferta dos credores: o problema grego é económico e nada tem de político. Depois os argumentos políticos. A negociação do Syrisa foi irresponsável, Tsipras é um socialista radical que quer o fim do Eurogrupo e, a prazo, da União Europeia. O referendo grego é inútil. Finalmente, os argumentos de ‘wishful thinking’: a Grécia vai ser forçada a sair do Eurogrupo. A Grécia não tem mais trunfos, vai ajoelhar. Passemos ao bloco pró-Syrisa que apoia, com algumas nuances, a posição e estratégia de Tsipras. Os argumentos económicos, a começar: a proposta grega foi legítima e razoável; representa uma evolução séria desde o começo das negociações. Não é sustentável uma política de austeridade que penalize os estratos mais débeis da população como a evolução do caso grego demonstra. Depois os políticos: um país não pode ser obrigado a pagar uma dívida em condições que não pode suportar. A negociação foi conduzida de forma construtiva e Tsipras negociou com pragmatismo. A Europa é que perde com a saída da Grécia do Eurogrupo. Finalmente os argumentos de ‘wishful thinking’: a Grécia não está nas mãos dos credores e há fontes de financiamento alternativas (China, Rússia, no limite os Estados Unidos, parceiro na NATO). A Grécia pode encarar a saída do Eurogrupo sem problemas de maior desde que tenha a confiança do povo grego. O referendo de domingo irá reforçar a legitimidade do Syrisa. A política europeia, como a política internacional, não é um jogo de soma nula, em que uns ganham e outros perdem. É normalmente um jogo em que alguns perdem alguma coisa e outros ganham alguma coisa. Tem sido, assim, desde a criação das Comunidades Europeias, passando pela fundação da União, os sucessivos alargamentos e a Convenção sobre o Futuro da Europa. Por uma razão intuitiva, embora esquecida muitas vezes: a União Europeia é uma construção de interesses contraditórios mas não é uma inevitabilidade, uma realidade sine qua non. Quer dizer, no momento em que os países que formaram a União não a quiserem, os estados-membros regressam ao estado anterior à confederação. Com custos significativos mas não constituindo uma impossibilidade. Apenas não aconteceu até agora. [quote_box_left]A Europa não precisa de arautos da desgraça. Precisa de líderes realistas que ajudem a construir uma solução plausível que compatibilize as obrigações financeiras tomadas pelas Estados e a salvaguarda da sua dignidade e condições de sobrevivência[/quote_box_left] A dívida grega é de 315 mil milhões de euros, o que corresponde a 176% do PIB, o que quer dizer que a dívida é uma vez e meia o que o país produz num ano e esse valor tende a agravar-se com os encargos da dívida (4.3% do PIB). A situação é insustentável no médio prazo – nenhum país conseguiu estar muito tempo numa situação de endividamento crónico, porque o funcionamento da economia exige financiamento e este advém dos bancos, refinanciados pelo sistema bancário internacional. Ninguém empresta dinheiro se não tiver uma probabilidade razoável de o reaver, num curto espaço de tempo. A Grécia não é contudo o único país devedor da coalizão Comissão Europeia-FMI- Banco Central Europeu. Portugal tem uma dívida de 215 mil milhões de euros, o que equivale a 131.4% do PIB. A Itália tem uma dívida correspondente a 132%. Também a França com 93.6% e a Alemanha com 74% dos respectivos PIB têm dívidas nacionais significativas. Dia 30 de Junho venceu-se o programa de assistência de emergência já que a Grécia deveria ter entregue 1600 milhões de euros ao FMI, entrando, assim, em ‘default’, isto é, em mora de cumprimento. Nessa data venceu-se, também, o resgate da União Europeia quanto ao empréstimo concedido. A única possibilidade de ser desbloqueada uma nova injecção de 7200 milhões de euros, indispensável à economia grega, era ter sido aceite a proposta final do Eurogrupo que exige compromissos no corte das pensões, o congelamento do salário mínimo, a subida do IVA, a eliminação da sobretaxa sobre as empresas (e grandes fortunas) proposta pelo governo grego, o corte das despesas militares. Com a suspensão das negociações com o Eurogrupo e os países (credores individuais) a situação ficou num ‘stand still’, num impasse. Na verdade, o sistema financeiro não tem mecanismo para executar um país por dívidas acumuladas – não existe a hipoteca de países. Mas tem uma arma letal importante: o torniquete do financiamento. Naturalmente, num dado tempo os países nessa situação podem emitir moeda para financiar a sua economia. Mas no sistema monetário europeu esse poder está atribuído, em exclusividade ao Banco Central Europeu, que já disse que não coopera. O que coloca a Grécia numa encruzilha de três caminhos. Primeiro caminho: regressar à mesa de negociações se o povo grego por exemplo disser ‘não’ à posição do governo do Syrisa de recusar o acordo proposto pelo Eurogrupo. Segundo caminho: obter financiamento de urgência por parte de terceiros, se o referendo lhe for favorável. É o caso da China que já se ofereceu para ajudar o país mas não disse ‘quanto’ e em que condições. Ocupando já uma posição proeminente no porto do Pireu por via da COSCO, a empresa estatal, a China pode subir a parada, disponibilizando o referido valor de 7200 milhões de euros em troca do reforço da posição accionista no porto. O porto dar-lhe-ia o acesso ao norte do Mediterrâneo e ao estratégico canal do Suez; a partir daí ‘atacaria’ o mercado europeu. Terceiro caminho: sair do Eurogrupo, voltar a cunhar dracmas e condicionar todas as decisões europeias que a nível do Conselho Europeu exijam a unanimidade dos 28 estados-membros (e que são o essencial de política externa e da governabilidade económica da União). Esta é uma verdadeira bomba atómica, pois paralisaria o funcionamento da União Europeia e empurraria a Grécia para fora da NATO. Mas essa saída nunca será permitida pelos Estados Unidos para quem a Grécia é indispensável na insegura fronteira do sudeste da Aliança Atlântica perante a ameaça da Rússia e a irresolução estratégica da Turquia. Ficam assim as duas primeiras opções. Quer dizer de repente uma questão económica transformou-se num resfriado estratégico para o Ocidente e a aliança Estados Unidos-Europa. As próximas semanas serão decisivas para a Grécia mas também para a União Económica e Monetária. A Europa não precisa de arautos da desgraça. Precisa de líderes realistas que ajudem a construir uma solução plausível que compatibilize as obrigações financeiras tomadas pelas Estados e a salvaguarda da sua dignidade e condições de sobrevivência. Talvez seja esse o papel reservado à Alemanha.
Carlos Morais José EditorialA saúde está doente [dropcap style=’circle’]É[/dropcap] louvável o optimismo do novo director do hospital público de Macau, demonstrado na entrevista que ontem publicámos neste jornal. Kuok é falado como sendo um bom gestor, por isso não seria difícil acreditar que as suas expectativas fossem realmente fundamentadas. Contudo, contra ele, está essa coisa aborrecida e difícil a que damos o nome de realidade. Quanto ao estado das coisas, ele é praticamente indefensável. Os casos, documentados pela imprensa ou meramente passados de boca a ouvido, são inúmeros. Ainda ontem o JTM narrava um evento, no mínimo, de assombrar, passado nas assombrosas urgências, que Kuok garantia estarem em condições, se não perfeitas, pelo menos aceitáveis. Para além do atendimento médico, muitos se queixam igualmente do estado de conservação do material hospitalar, incluindo lençóis, almofadas, etc.. É natural que o novo director não queira espetar a faca no passado, mas também não pode dourar a pílula do presente, sob pena de não conseguirmos acreditar que seja capaz das melhorias que os cidadãos entendem como essenciais no futuro, num território cuja riqueza obriga o Governo a proporcionar aos seus cidadãos excelentes cuidados de saúde. Todos sabemos, da Praia Grande a Zhongnanhai, que a maior dificuldade dos serviços públicos de saúde na RAEM se prende com os serviços de saúde privados da RAEM. É o não-dito da situação, tão difícil de chamar pelo nome que se assemelha ao cancro. O seu efeito no sector público não deixa de ser algo parecido à doença oncológica, embora uma comparação com certas formas de parasitismo também não fosse de descurar. E não nos parece uma doença fácil de curar. Pelo contrário, inventam-se paliativos que, curiosamente, ao invés de resolver a situação, fortalecem a doença e enfraquecem o paciente. Não sabemos se Kuok pode ou quer resolver o estado das coisas. Provavelmente sim, contornando como puder os ditames do Altíssimo. Inegável é que, 15 anos depois da transferência de soberania, a saúde está doente.
Hoje Macau PolíticaGui Amabis – “Graxa e Sal” “Graxa e Sal” Ela é simples graxa e sal Faz o mal Mas é bom Se derrete na textura De um corpo Ou da rua Gui Amabis
Carlos Morais José EditorialA vergonha acabou [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ão aceitar que a dívida soberana dos Estado é, antes de mais, uma dívida dos bancos privados, que esses mesmos estados tiveram de resgatar, é querer tapar o sol com a peneira. E, de facto, é isso mesmo que a propaganda oficial europeia anda a fazer há muito tempo, estribada na imprensa neo-liberal, ela própria nas mãos de interesses financeiros: tentar atribuir as culpas da crise às pessoas, ao facto de terem gasto acima das suas possibilidades, quando é o sistema financeiro o principal responsável pelo estado atroz do sítio. As falácias são muitas. O desejo dos senhores do Eurogrupo e do FMI seria manter alguns povos europeus na situação de eternos devedores, ou seja, fazer de tal modo que as crianças nascidas em 2050 ainda estariam vinculadas a pagar esta dívida que é, nas condições exigidas pelas troikas, impagável. Quem pode aceitar este tipo de situação, para além dos nossos Passos Coelhos e Marias Luís? Quem pode vender o país aos pedaços, prescindir das pescas, da agricultura, da indústria e, sobretudo, de empresas públicas lucrativas? Ninguém com espinha vertebral e o mínimo de amor ao seu povo e aos seu país. A questão hoje coloca-se, afinal, em saber quem manda na Europa: a economia ou a política? Manter a Grécia no Euro e na UE seria claramente uma decisão política, que faria com que os gregos não necessitassem de aproximações demasiado perigosas à Rússia de Putin ou mesmo à China. Levar a Grécia até à porta e aos repelões só pode ser uma decisão que não tem em conta os interesses geo-estratégicos, portanto derivada de quem unicamente equaciona o lucro como valor. O preço poderá ser no futuro muito mais alto. Mas, quando olhamos para as notícias, é-nos realmente difícil vislumbrar políticos, homens de causas, de paixões, de ideais. Vemos uns serventes do sistema financeiro, encolhidos nos seus fatos, a seguir atentivamente as boutades da senhora Lagarde ou do senhor Schaulbe. Não surge ninguém com a autoridade e a força moral capazes de libertar a Europa do espartilho bancário, desta sangria de gente, desta desonra inaceitável. Sem política, a Europa torna-se num mero mecanismo de favorecimentos financeiros, como o Tratado de Lisboa (artigo 123) plenamente demonstra. O que mais me admira é os seus mentores darem palmadas nas costas uns dos outros, como Sócrates e Barroso, sem nunca demonstrarem um pingo de vergonha. Esta, ao que parece, acabou.
Leonor Sá Machado EventosMAM | Série de actividades para miúdos e graúdos começa em Julho [dropcap style’circle’]O[/dropcap] Museu de Arte de Macau enche Julho e Agosto de actividades semanais relacionadas com a arte e que exploram técnicas de arquitectura, de bordar, de criar instalações multimédia, de pintar e até mesmo de fazer bules de argila. As vagas são limitadas O Museu de Arte de Macau (MAM) apresenta uma série de cursos e workshops de Verão focados na Arte e embora a maioria se destine a adultos, há também espaço para as crianças. Da pintura à fotografia e passando pela arquitectura e plataformas multimédia, o MAM quer dar a oportunidade aos residentes de mostrarem o seu lado mais talentoso, com sessões de aprendizagem que vão até final do Verão. Para as crianças, existem dois cursos distintos: o primeiro é um workshop de “figuras maravilhosas” e o segundo ensina a pintura com toalha papel. “Neste workshop, pais e filhos irão pintar em lenços de papel com tintas acrílicas. Para além disso terão ainda oportunidade de criar padrões e com eles através da repetição criar grande painéis em mosaicos”, refere o MAM. A iniciativa, que tem lugar todos os domingos, até inícios de Agosto, custa 200 patacas e destina-se a crianças até aos 12 anos de idade, tendo como professor Dennis Murrell. Para os adolescentes, o MAM oferece um curso de encadernação de livros, embora seja leccionado em Cantonês. Este tem início a 13 do próximo mês e prolonga-se até 5 de Agosto, com Bonnie Leong como tutora. “Os alunos irão aprender as diferentes técnicas de encadernação e também a tingir papel e a imprimir padrões, obtendo assim livros de formato peculiar a partir de materiais variados”, explica a organização. Para adultos há dez cursos disponíveis, mas apenas três deles são em língua inglesa, pelo que os restantes acontecem em Cantonês ou Mandarim. No entanto e embora a língua seja a principal ferramenta de comunicação, é a arte que aqui importa. Além de workshops de pintura como são o de Caligrafia Ocidental, de Pintura de Sacos Pequenos ou Pintura de Acrílico e Caixas de Ovos, há espaço para um curso de Fotografia em Relevo, de Desenho dos Templos de Macau e Apreciação Arquitectónica e de Introdução à Arte em Vídeo e Instalação. A maioria destas actividades requer que os participantes levem os seus próprios materiais, pelo que as informações estão disponíveis no website oficial do MAM. A 13 de Julho estreia o curso sobre Bules de Areia Púrpura, que o museu diz serem tipicamente chineses. Os alunos poderão, depois de aprenderem as técnicas tradicionais, fazer o seu próprio bule, com recursos a argila de cor púrpura. A Arte do Bordado Criativo acontece às quintas-feiras, a partir de 16 de Julho e é dado em Inglês. Estes workshops custam entre 200 e 550 patacas, dependendo da mestria, do tema, do tutor e da dificuldade do workshop. Estas informações podem ser igualmente consultadas no website do MAM.
Hoje Macau EventosCCM | Teatro para bebés convida pais e pequeninos para experiência mútua [dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uem disse que o teatro é só para os mais crescidos, desengane-se. O Centro Cultural de Macau (CCM) quer provar isso mesmo e estende, de 23 a 26 de Julho, o evento “O Céu Aqui Tão Alto”, dedicado especialmente a bebés e “gatinhantes” até aos 12 meses. A actividade vai permitir aos bebés ficar à solta num mundo de almofadas, balões e luzes suaves, diz a organização, concebido especialmente para satisfazer os sentidos. “Ansiosos por descobrir uma miríade de formas, cores, sombras e cheiros, os nossos tesourinhos estarão livres para explorar uma atmosfera sonora e visual em movimento”, indica o CCM. A ideia é fazer com que pais e crianças partilhem uma experiência mútua, com “O Céu Aqui Tão Alto” a proporcionar uma aventura imersiva, “criada para ser a primeira experiência performativa do seu bebé”. Uma sessão de teatro, “especialmente concebida para apaziguar a curiosidade natural dos bebés”. Com estreia no Festival de Melbourne em 2012, o espectáculo é uma peça contemporânea e uma experiência de arte participativa para pequenos bebés e famílias. A peça é levada ao palco pelo Teatro Polyglot, uma companhia australiana que tem utilizado ideias simples e abordagens arrojadas para conceber este tipo de actividades. “Os pais e as mães vão-se divertir a valer e talvez até se revejam quando eram ainda pequeninos, a preparar-se para a vida”, explica o CCM. O espaço onde decorre o espectáculo inclui uma zona de interacção para os bebés e de quem cuida deles, com lugares de observadores montados especialmente para outros membros da família. Os bilhetes para as crianças custam 250 patacas, sendo que os pais pagam 60 como observadores. Os horários ainda não estão disponíveis, sendo que podem ser consultados no site do CCM.
Filipa Araújo Manchete SociedadeKuok Cheong U, director do Centro Hospitalar Conde de São Januário Kuok Cheong U, o novo director do hospital público, mostra-se confiante na melhoria dos serviços médicos. Mais trabalho de equipa, uma academia de formação médica, escoamento de pacientes mais eficaz e serviços com horários prolongados são alguns dos pontos que defende. Para ele, a RAEM tem de contar com os seus recursos e não esperar por “milagres”, vindos de Pequim ou de Portugal [dropcap]O[/dropcap] cirurgião Rui Furtado afirmou que no atendimento no serviço de urgências só existem médicos não diferenciados, ou seja, sem especialidade, algo que, na sua opinião, põe em causa o diagnóstico. Isto é verdade? Temos médicos especialistas em serviço nas urgências, sempre tivemos. Comecei a trabalhar neste hospital em 1992, comecei como médico especialista em Macau em 1986 e antes disso trabalhava no Kiang Wu, portanto conheço os dois sistemas hospitalares muito bem. No início, o médico especialista de serviço, incluindo todas as especialidades e não só o serviço de urgência, trabalhava segundo o sistema de médico por chamada, ou seja, podia não estar no hospital mas se fosse necessário era contactado e tinha que se apresentar no serviço. Com isto, o que acontecia é que os médicos de clínica geral estavam no serviço, nessa altura, falo dos anos 90. Mas depois disso percebeu-se a tendência mundial de melhorar o sistema de saúde incluindo o serviço de urgência e começámos a estabelecer médicos especialistas neste serviço. Temos seis médicos especialistas no serviço de urgência que cumprem o seu serviço em turnos de 24 horas, durante todo o ano. Temos um plano de escalas, um relatório do trabalho dos médicos… Portanto, temos sim médicos especialistas competentes no nosso serviço de urgência. Foi ainda dito que o serviço de urgência tem vindo a aumentar o número de camas… É preciso esclarecer que o aumento de camas não é do serviço de urgência mas sim das salas de observação em que os doentes estão, como o nome indica, em observação até ser determinado o seu problema. É aí que se percebe o que é que o doente precisa, se é necessário um tratamento urgente ou se passa para a especialidade. Neste período de tempo precisamos de camas para ter os doentes. Nas salas de observação, no início, nos anos 90, tínhamos cerca de dez camas, mas depois com o desenvolvimento económico de Macau e o aumento da densidade populacional, precisávamos de melhorar a nossa capacidade de recepção de doentes. Portanto fomos aumentando consoante a necessidade, passo a passo, de dez camas, para 20, 30 até às cem. Mas este aumento entope o serviço, porque a especialidade não tem a mesma capacidade para receber. Concordo com o que o dr. Furtado disse: o número de camas é excessivo. Temos que considerar como contornar a situação não só para expandir mas como controlar, e como, claro, usar os recursos da melhor forma. Isto é o que eu vou fazer e estou confiante que o consigo fazer. É um facto a incapacidade que temos de momento em fazer circular os pacientes. Este é o problema. O que estou a tentar é resolvê-lo, como tentar diminuir o tempo em que os pacientes estão na sala de observação. Isto é algo que temos que fazer, melhorar a comunicação entre as especialidades e a emergência. Temos que nos reconectar. Quero resolver esta questão nos próximos três meses. Portanto o problema do número de camas insuficiente, em todas as especialidades, mantém-se? Sim, mantém-se. Estamos a tentar resolvê-lo de várias formas. Uma delas é tentar organizar e equilibrar as salas de observação. Estamos também a tentar aproveitar alguns espaços desaproveitados do hospital mas, claro, é preciso ter em conta os recursos humanos existentes. Portanto, temos muito trabalho pela frente. Assumiu o cargo há pouco tempo. Quais as medidas prioritárias a tomar? Neste momento ainda estamos na fase de planeamento. Disse-lhe que estou confiante, porque há de facto uma excelente comunicação entre mim, como director do hospital, o director dos Serviços de Saúde e o Gabinete do Secretário. Neste momento todos sabemos que a economia de Macau não está numa fase muito estável e, por isso, temos que considerar [a execução do plano] de forma mais cuidadosa. Temos vários planos, mas um plano é um plano. Sabemos também que as pessoas estão muito atentas a este assunto e queremos ir ao encontro das preocupações da população. Mas, no imediato, o que pretende fazer? Por exemplo, anunciámos que vamos alargar o horário do alguns departamentos. Porquê? Porque queremos ganhar tempo perante o cenário da lista de espera para a especialidade. Esta lista é um pouco longa e achamos que conseguimos resolver isso tendo um horário mais alargado. Este é o ponto um. Sempre tendo em conta que aumentar o horário não pode implicar aumentar a carga de trabalho dos recursos humanos, não só médicos, mas também dos enfermeiros e auxiliares. Temos que ter muito cuidado. Por isso é que vamos tentar em quatro departamentos primeiro, como um teste. Quais os departamentos? Cardiologia, Ortopedia, Fisioterapia e Radiologia. A lista de espera de Ortopedia é muito grande, é de mais de cem dias. Claro que comparado com outras cidades, como Hong Kong, não é assim tão longa, mas em Macau é de facto grande. Vamos tentar aproveitar e organizar o horário, administrando-o da melhor forma possível. Na minha opinião temos espaço para crescer, para melhorar. Nas áreas de Cardiologia e Radiologia estou bastante familiarizado e sei que conseguimos diminuir o tempo de espera. Estes quatro departamentos são os meus alvos de teste para me responder às perguntas: como conseguimos diminuir e se efectivamente conseguimos da forma adequada e sem aumentar a pressão nos recursos humanos. Pretende-se criar turnos rotativos, o que significa que vamos manter o pessoal, toda a equipa, médicos e enfermeiros, 24 horas por semana. Assim consigo não aumentar a pressão nos recursos e ao mesmo tempo melhorar a performance dos profissionais. E o segundo ponto? Queremos também tomar esta medida, não só pelas listas de espera, mas também pelo novo Hospital das Ilhas. Não sou engenheiro, não estou dentro da construção, mas o meu trabalho é preparar uma equipa profissional para trabalhar lá. Como é que o vai fazer? Se não tivermos tempo, se não tivermos espaço não consigo preparar uma equipa local. Não podemos esperar ajuda de Pequim ou de Portugal porque eles têm os seus trabalhos, os seus problemas. Temos que nos preparar a nós mesmos. Portanto, se conseguir prolongar a hora de trabalho em todos os departamentos significa que terei mais um período de tempo para os novos trabalhadores, usando as mesmas instalações para fazerem o seu trabalho. Se eles conseguirem fazer um turno, terei uma segunda equipa preparada. E quando o hospital estiver pronto terei uma equipa para enviar para lá. Quando é que acha que o novo hospital estará pronto? Não sou eu que lhe posso dar essa resposta porque não sou engenheiro. Mas o meu trabalho é preparar os profissionais e isso já está a ser feito. Mas claro, antes de me empenhar a 100% nisto, tenho que fazer alguns testes. Tenho que perceber qual a resposta da população. Por exemplo, um paciente tem uma dor, ele irá preferir ir ao hospital depois das 18 horas ou espera até ao dia seguinte? Tenho que perceber o comportamento da sociedade, tenho ainda que ouvir os médicos, colaboradores, enfermeiros, auxiliares e as suas opiniões. Eles também têm famílias. É um trabalho de equipa, temos que trabalhar como tal e assumir que aqui se trabalha assim. Discute-se a acreditação dos médicos. O director sempre defendeu a avaliação dos mesmos. Quem faz esta avaliação? O próprio hospital? Até agora, desde que vim para este hospital, passei por um período bem difícil de treino – faz parte -, de estágios e exames. Compreendo a lei e a regulação de forma clara e concordo com ela. Todos os médicos neste hospital, incluindo eu próprio, estamos conforme a lei. A avaliação é feita por especialistas de fora e locais que trabalham em equipa. [quote_box_left]”Estamos a tentar incluir médicos com excelentes qualidades, independente da sua nacionalidade, da sua língua. Estamos a tentar tornar o sistema internacional. Desde que assumi funções, todas as comunicações, reuniões e decisões são feitas em inglês e é assim que deve continuar”[/quote_box_left] E sobre a acreditação do hospital atribuída por uma empresa australiana. Foi comprada conforme acusam? Tenho uma resposta da empresa, sobre um artigo que saiu no vosso jornal sobre este assunto que diz, passo a citar, “a organização pode comprar o serviço de acreditação, mas nunca o resultado final”, palavras de Christine Dennis, CEO da Australian Council on Healthcare Standards (ACHS), a empresa responsável pela acreditação. Acho que isto é uma afirmação muito importante. Por exemplo, podemos comprar um Ferrari mas nunca compraremos um campeonato. Certo? As alterações propostas pela empresa serviram apenas para conseguir a acreditação ou ainda estão a ser respeitadas? O hospital foi acusado de as ter esquecido logo depois de conseguir a acreditação. É verdade? Não creio. Aqui trabalha-se em equipa e num sentido geral trata-se de uma atmosfera muito boa, embora haja casos em que algumas boas pessoas não são assim tão bons colegas de equipa. Alguns deles, quer [o hospital] tenha ou não acreditação podem não dar o seu melhor e nós temos que estar de olho neles, para garantir o trabalho certo. Por isso é que existe um director, para garantir que as coisas funcionam e são cumpridas. Se não estiverem a funcionar correctamente é necessário marcar uma reunião para resolver o problema. Esse encontro vai-nos dizer se estamos a dar um bom apoio e se estamos a seguir os conselhos da [empresa de] acreditação. Porém sei que alguns departamentos não têm recursos humanos suficientes, nem espaço suficiente para trabalhar. Mas estamos a tentar fazer uma reforma nesse sentido…é para isso que aqui estou. A quantidade de dinheiro público, em fundos do Governo, que é entregue ao hospital privado Kiang Wu, é bastante volumosa. Esse dinheiro não deveria ser empregue nas instalações públicas? Aqui neste hospital? Essa é uma questão que deve ser feita ao director dos Serviços de Saúde. A minha opinião é que existe um orçamento limitado. Por exemplo, no caso do hospital, este edifício não pode aumentar, por ser localizado numa zona em que é preciso manter o tamanho actual. O facto de não poder crescer vai implicar a compra de serviços ao exterior. Sabemos que Macau é uma terra pequena e que a densidade populacional está a crescer cada vez mais, tornando-se uma das maiores do mundo. Este é um serviço de saúde, estabelecido nos anos 80, e é preciso perceber como é que pode ir ao encontro deste aumento da população. Uma das soluções é abrir outro hospital, já o estamos a fazer. Mas antes disso é preciso alargar o horário do funcionamento dos serviços. Segundo ponto, comprar serviços. A questão que deve ser considerada é quanto é preciso pagar por isso. Entrando em algumas especialidades, como a Obstetrícia e Ginecologia. Não foi feito a mais de 500 mulheres o primeiro ultra-som fetal. Como é que se justifica esta ausência de comunicação entre médico e paciente? Há diferentes níveis deste ultra-som fetal, nós fazemo-lo em três níveis: nos primeiros três meses, nos três meses do meio e nos últimos três meses. Não fazer o primeiro não traz qualquer problema. Normalmente não é necessário. À excepção de alguns casos em que algo possa correr mal, um sangramento, por exemplo. Segundo sei, não há obrigatoriedade no exame nos primeiros três meses. Podemos pensar assim: os seres humanos nem sempre tiveram ao seu dispor máquinas de ultra-som e continuámos a crescer na mesma. O ultra-som é algo que os médicos podem usar como um acrescento, não precisamos do ultra-som para manter a gravidez estável. Se a grávida se sentir bem e estiver tudo bem, o primeiro exame pode não ser feito, não há necessidade. Já no segundo período da gravidez podemos utilizar este exame para perceber o estado do feto, se é normal ou se poderá ter um problema grave no futuro. Na fase final nem sempre é preciso. A segunda fase é a mais importante, porque, no caso de ser preciso fazer uma intervenção, é mais fácil nesta altura do que mais tarde. Futuramente, com o desenvolvimento da medicina, talvez nem seja necessário o ultra-som. Estavam de saída alguns médicos desta especialidade. Já foram substituídos? Sim, neste momento temos 16 obstetras e ginecologistas a trabalhar neste hospital. Nos últimos dois anos saíram seis e foram recrutados cinco. Falando de uma maternidade mais humanizada… Está disponível neste hospital a epidoral para as mulheres em trabalho de parto? Passa por elas a decisão de receber a anestesia ou não? Sim, claro que temos, mas a opção de administrar passa pelo ginecologista ou obstetra em questão. Claro que a opinião da mãe e da família é tida em conta, mas trata-se de uma decisão médica. Os cursos pré-natais, disponíveis neste hospital, são dirigidos apenas em cantonês. Num sistema de saúde que se quer internacional, como é que isto acontece? Desconhecia e garanto que vou resolver a questão. Daqui a três meses volte a perguntar-me isso. (risos) Ainda no idioma, porque é que o hospital não está no seu todo equipado pelo menos com as duas línguas? Há corredores e especialidades só na língua chinesa. Quero estabelecer uma melhor comunicação com as pessoas e isso já está a acontecer, como por exemplo, na entrada do hospital coloquei informações de uma exposição em três línguas: Chinês, Português e Inglês. Essa é uma aposta minha. Não sei falar em Português, mas quero muito alcançar este objectivo de pelo menos duas línguas. Pretende colocar profissionais portugueses e chineses a liderar equipas? Faz questão que haja essa permanência das duas línguas? Estamos a tentar incluir médicos com excelentes qualidades, independente da sua nacionalidade, da sua língua. Estamos a tentar tornar o sistema internacional. Desde que assumi funções, todas as comunicações, reuniões e decisões são feitas em inglês e é assim que deve continuar. Chegou um caso ao HM de uma paciente que não conseguiu fazer o tratamento na especialidade de Nefrologia e teve que ir para o privado fazer. Há falta de equipamento? De facto, temos máquinas, mas é certo que não são suficientes, por isso é que temos que comprar o serviço ao hospital Kiang Wu, embora seja bastante caro. Queremos expandir os nossos serviços de hemodiálise para que os pacientes possam de forma autónoma fazer o seu tratamento. Isto não é algo novo em Macau, é uma tendência mundial. A necessidade de passar quatro ou cinco horas de dois em dois dias num hospital para tratamento é algo que temos que combater, proporcionando ao paciente outras formas de fazer a hemodiálise. Estamos a tentar perceber se há uma área em que isto possa ser feito. Num sistema de saúde perfeito, o público não terá que comprar ao privado. Concorda? Não ignoro os serviços privados, eles fazem parte de Macau, são um recurso da população. Serviços e médicos, privados ou não, pertencem a Macau. Por isso, acho que devemos trabalhar em equipa. Concorda com a vontade de ser criada uma Faculdade de Medicina? Não. Acho que há um mal entendido entre academia, escola e universidade. Alexis Tam disse que vamos ter uma academia médica em Macau e isso eu apoio e dedicar-me-ei a 100% nesse projecto. Macau é um terra pequena e talvez faça sentido no futuro ter uma Faculdade de Medicina, mas não agora. Não temos recursos, não temos as condições para levar este projecto para a frente. A não ser que cresçamos a nível de volume e que, efectivamente, haja essa necessidade. Mas concorda com a academia médica? Sim, acho que é preciso uma academia que dê formação contínua aos profissionais já existentes. Precisamos de um organismo de acreditação profissional e essa academia vai convidar especialistas de fora, seja dos EUA ou de outro lado. Vamos tentar convidá-los para gerir esta academia e os programas de formação deverão ser acreditados a nível internacional. Estamos sempre a querer que em Macau o sistema de saúde seja acreditado internacionalmente, por isso, julgo que este é o caminho a seguir. Por exemplo, a lei de Macau não é a lei de Hong Kong mas de qualquer forma, e mesmo que eu não queira lá trabalhar, quero que o meu estatuto profissional seja reconhecido em Hong Kong. Quando é que esta academia estará pronta? Este é um grande trabalho, um grande projecto, que não espero que aconteça em três meses, mas sim, em dois, três ou quatro anos. Concorda com a Lei do Erro Médico? No meu ponto de vista, não é uma prioridade. Nem todos os países têm esta lei, por exemplo, Hong Kong não tem, porque está contemplado no Código Civil. Não deve ser uma prioridade, mas temos espaço para a discutir, temos espaços para a perceber. Está aberto para discussão mas não é prioritário. Em caso de saída de Lei Chin Ion, poderá aceitar assumir o cargo como director dos SS? Ainda é cedo para falar sobre isso, ainda agora me sentei nesta cadeira e tenho muito trabalho pela frente. Como disse há muita coisa para fazer, quero muito fazer o meu trabalho bem e sei que o vou fazer. “Os próximos cinco anos serão a era mais brilhante da saúde”, defendeu Alexis Tam. Quer comentar? É preciso uma correcção na interpretação dessa expressão. Antes de aceitar este cargo, trabalhei no gabinete portanto percebo perfeitamente o que o Secretário quer dizer com essa expressão. O que é o brilhante? O brilhante refere-se à construção. Há muitos planos de construção, tanto eu como o Secretário sabíamos isso, portanto, serão anos brilhantes no que respeita à construção. Agora posso dizer-lhe que faremos o nosso melhor para acompanhar esta tendência de evolução, esta construção. Não somos engenheiros, mas como é que vamos equilibrar o crescimento com a construção? Com os nossos planos para melhorar os serviços, não só no hospital mas também nos Serviços de Saúde. Estou confiante nesta era brilhante que agora começa.
Filipa Araújo Manchete PolíticaMenores | Christophe Bernasconi, secretário-geral da Conferência de Haia, critica RAEM Macau precisa de estar mais atento e preparado para resolver questões ligadas à protecção das crianças. Ainda não foi desta que o território ratificou a Convenção de Haia de 1996 que regula assuntos como a responsabilidade parental e medidas de protecção dos menores. Enquanto isso as falhas vão continuar a existir, ainda que possam ser corrigidas [dropcap type=”2″]”S[/dropcap]im, existe uma falha no sistema de protecção de crianças” em Macau. Assim defende Christophe Bernasconi, secretário-geral da Conferência de Haia do Direito Internacional Privado. Com a não ratificação da Convenção de 1996, que regula a cooperação entre países e regiões sobre a responsabilidade parental e das medidas de protecção das crianças, Macau pode não conseguir resolver vários problemas relativos aos menores, como por exemplo quais as autoridades competentes para tomar decisões, qual a lei a aplicar nos diversos casos que possam surgir ou ainda como reconhecer e impor uma estratégia de protecção – particularmente as mais urgentes. “Macau não tem este conjunto de regras que são capazes de encontrar e definir soluções”, argumenta Bernasconi, que esteve no território para participar no seminário “Rumo à felicidade infantil através das Convenções de Haia relativas ao Rapto de Crianças e à Protecção das Crianças”, que aconteceu na quinta e sexta-feira na RAEM. Sublinhando a importância de se ratificar a Convenção de 1996, o secretário-geral explicou ao HM que situações como a possibilidade das crianças passarem as fronteiras sem autorização dos pais podem continuar a acontecer devido a esta falha, tal como o HM já tinha noticiado anteriormente. “Apesar de Macau ter ferramentas, como a Convenção de 1980, que permitem a protecção de crianças, há de facto uma falha que se pode sentir, por exemplo, na possibilidade de as crianças passaram as fronteiras sem autorização dos pais. Esta falha, pode ser rematada pela ratificação da Convenção de 1996, que disponibiliza uma estrutura sólida de regras que poderiam ser aplicadas em situações transfronteiriças”, disse. Questionado sobre o facto da fronteira ser com a China, país fora da conferência, Christophe Bernasconi clarificou que a Convenção pode apenas servir de guia. “[As regras] não se aplicariam necessariamente entre a fronteira da China e Macau, mas poderiam ser tomadas como fonte de inspiração para um tipo de acordo entre a China continental e o território. Sabemos que as convenções têm servido como modelo para acordos entre regiões. A possibilidade existe”, rematou. Pequenos passos É de lembrar que Macau e Hong Kong assinaram a Convenção de 1980 que regula os aspectos civis de rapto internacional de crianças e apesar de ainda não pertencer ao grupo de países e regiões que ratificaram a Convenção de 1996, foi o território que acolheu o seminário. Num resumo, o secretário-geral afirma que o “que aconteceu foi extremamente significante”, pois “mais de 130 participantes, representando 23 países e regiões partilharam as diferenças e experiências entre si”. “Este seminário foi muito importante para que os países que assinaram estas convenções possam dar o seu testemunho e exemplo aos países e regiões que ainda não assinaram mas mostram vontade de o fazer”, argumentou, caracterizando o saldo final como “muito positivo”. “Os participantes gostaram e querem mais, Macau foi um óptimo anfitrião”, rematou. Recorde-se que na cerimónia de inauguração do seminário, a Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, argumentou que o momento representava uma oportunidade “valiosa para que os peritos na área jurídica do Governo da RAEM possam aprender com as boas práticas e experiências de outros países e regiões”. A China continua a ser uma peça mistério, mantendo-se afastada mas assumindo-se atenta. “O país está atento ao problema das crianças e famílias que cruzam fronteiras”, defendeu Lu Zhenhua, representante do ministério dos Negócios Estrangeiros da China em Macau, citado pelo jornal Ponto Final. “Queremos aprender como proteger melhor os direitos das crianças e esta é uma excelente oportunidade”, rematou. Para Christophe Bernasconi os pontos são claros: a Ásia deve estar mais atenta e activa. “Os casos das crianças refugiadas, fugitivas, vítimas de exploração económica e sexual e as sequestradas exigem que os países enfrentem as suas responsabilidades e implementem medidas práticas para o seu combate”, defendeu. A Conferência de Haia de Direito Internacional Privado surgiu em 1893 e dedica-se à protecção internacional das crianças e das famílias, às leis de comércio e finança internacional e à cooperação internacional em litígios. Dela fazem parte 79 membros de 67 países que já assinaram ou ratificaram as suas convenções. ___________________________________________________________________________________ Direitos Humanos | Macau com capacidade limitada face ao Governo, diz relatório O Departamento de Estado norte-americano refere a “limitada capacidade” dos cidadãos de Macau para mudarem os respectivos governos como um dos problemas dos direitos humanos nas regiões chinesas, no relatório anual divulgado na quinta-feira. O Departamento de Estado dos EUA refere que em 2014 “foram reportados limites à capacidade da população de mudar o seu governo”. Chui Sai On, recorde-se, foi eleito a 31 de Agosto para um segundo e último mandato como Chefe do Executivo, por um colégio eleitoral composto pela primeira vez por 400 membros, mais cem do que em 2009. O relatório norte-americano observa igualmente “constrangimentos à liberdade de imprensa e liberdade académica e falhas na implementação total da legislação no que diz respeito aos direitos dos trabalhadores” em Macau. Em 2014, “o tráfico humano continuou a ser um problema, apesar das autoridades estarem a aumentar a capacidade” para combater estes casos, acrescenta o documento. Os EUA mantêm ainda preocupações relativamente à Lei de Defesa da Segurança do Estado aprovada em 2009, de acordo com o artigo 23.º da Lei Básica, de que esta possa limitar ou comprometer várias liberdades civis, apesar de ao longo dos anos a mesma legislação nunca ter sido utilizada para acusar ninguém. Por outro lado, o Departamento de Estado norte-americano destaca que “o Governo de Macau deu passos para processar e punir dirigentes que cometeram abusos”. O Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau já respondeu ao relatório, dizendo que não lhe compete interferir nos assuntos do território e até que “os EUA distorceram factos”.
Joana Freitas PolíticaHabitação Económica | Governo não quer mudar sistema de candidatura [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Lei da Habitação Económica vai manter-se como está, ainda que algumas alterações que favoreçam os candidatos estejam a ser pensadas. O Instituto de Habitação (IH) concluiu a análise às opiniões retiradas da auscultação pública sobre o tema e diz não querer regressar ao sistema antigo de atribuição de habitações consoante a necessidade do candidato. “Ao considerar o restabelecimento do sistema anterior de ‘ordenação por classificação’, esta alteração toca no conteúdo principal e no regime fundamental da Lei da Habitação Económica. (…) A introdução de alterações pode causar um impacto directo sobre a política de habitação pública e nos interesses dos candidatos. O restabelecimento [deste sistema pode fazer com que o] tempo de apreciação seja prolongado, adiando o tempo da atribuição das fracções aos agregados familiares. O objectivo principal do Governo é resolver os problemas habitacionais dos residentes, [pelo que] entendemos que o actual sistema está em conformidade com a actual situação da sociedade”, pode ler-se no relatório do IH. Segundo a conclusão do IH, o método de classificação e ordenação é mais científico e pode servir como meio do IH ter um conhecimento mais objectivo das candidaturas e as necessidades dos grupos-alvo. Há quem não concorde, com cerca de 6% das opiniões a dizerem que a classificação actual é complicada e difícil de ser justa. Este resultado não agradou a Au Kam San, que diz que esta é apenas uma forma do Governo se escapar a oferecer mais casas. “A situação actual é criar uma lista de candidaturas quando houver habitações e desfazer a lista depois de fazer sorteio. Desta forma, o Governo pode ter uma desculpa de escapar à responsabilidade de oferecer mais habitações” disse, acrescentando que o sistema de ordenação por classificação tinha sucesso na altura da governação portuguesa. Já Kwan Tsui Hang admite também que a ordenação por classificação é o modelo mais justo e avançado, mas acredita que o Governo não tem condições em voltar a usar este sistema, porque “pode causar acumulação de candidatos” em espera, algo defendido pelo Governo. A população não se entende também face ao cancelamento do limite de rendimentos mínimos para a candidatura, com o documento do IH a revelar que “as opiniões recolhidas da consulta reflectem que na fase actual os sectores sociais ainda não chegaram a um consenso”. O Governo quer, por isso, manter o limite mínimo do rendimento dos candidatos à habitação económica, mas pondera criar um outro regime que permita resolver os problemas habitacionais de residentes que não conseguem candidatar-se. Entre as 269 opiniões recolhidas – 46 de associações – pode concluir-se que, por causa dos recursos limitados de terrenos, o aumento da quantidade de oferta das fracções de habitação económica poderá causar impactos, pelo que a população pede que o Governo dê prioridade às questões mais urgentes e vá resolvendo os problemas desta forma.
David Chan Macau Visto de Hong KongComo vai o mega-empreendimento funerário afectar a relação entre Hong Kong e Shenzhen? [dropcap]H[/dropcap]oje vamos analisar um artigo publicado no dia 18 de Junho pelo site “passiontimes.com”, de Hong Kong, em que foi revelada a intenção, por parte das autoridades locais, de construir um mega-empreendimento funerário na zona de Lo Wu. De acordo com a Wikipedia, os “serviços funerários” são designados como “negócios especializados em fornecer enterros ou outros tipo de soluções para o armazenamento de cadáveres, assim como a organização de velórios ou outro tipo de serviços religiosos de forma a marcar o falecimento de um indivíduo, assim como o acompanhamento dos seus familiares. Um exemplo normal deste tipo de serviços incluiria o velório do morto, acompanhado do respectivo funeral, contando ainda com a reserva de uma capela para a celebração de uma missa durante o funeral. As agências funerárias coordenam o serviço de acordo com os desejos dos familiares ou amigos da pessoa falecida. Ao mesmo tempo, esta entidade trata de toda a documentação necessária, assim como de eventuais licenças e ainda outros detalhes adicionais, como por exemplo a coordenação com o cemitério ou a comunicação social, para a possível disseminação de obituários”. De acordo com as notícias avançadas por esta mesma fonte este enorme empreendimento funerário vai começar as suas operações em 2022. Nessa altura, deverão estar disponíveis no mínimo 200 mil jazigos para o armazenamento de cinzas, espera-se ainda que o empreendimento possa suportar 178 mil cremações por ano. De momento, Hong Kong dispões de 6 locais distintos para cremações, assim como de 134 igrejas onde se possam realizar serviços funerários, tudo isto para albergar os 42.100 falecimentos que se registam, em média, todos os anos nesta cidade. Pode-se assim concluir que a RAEHK dispõe no presente de mais oferta do que procura nesta área. O mesmo artigo referia ainda que, em 2012, as autoridades locais decidiram fazer uma auscultação pública justo dos moradores de Sandy Ridge, a zona onde vai ficar localizado este empreendimento. E, apesar de nessa altura ainda haver muita gente reticente quanto ao futuro deste projecto, a maioria destes acabou por concordar na sua realização, facto este que foi comunicado ao Legislative Council no dia 9 de Janeiro de 2013. Mesmo assim, foi concordado que mais discussões sobre o assunto viriam a ser agendadas. Com a concordância dos residentes de Sandy Ridge, o governo de Hong Kong não deve vir a enfrentar nenhuma dificuldade de maior quando começar a construção deste projecto funerário. Porém, outras vozes se levantaram em protesto, sendo que desta vez a maioria da posição é proveniente de Shenzhen. De acordo com Wang Rui, o representante do Comité Permanente do Congresso Municipal Popular, foi entregue uma proposta ao Governo de Shenzhen solicitando a oposição a este desenvolvimento. As principais razões apontadas para justificar esta tomada de posse prendiam-se com o mau cheiro que os residentes de Lo Wu e Shekou teriam de enfrentar, como resultados das inúmeras cremações que iriam aí ser realizadas, especialmente quando estes locais são assolados por ventos provenientes de sudoeste ou de sudeste. Outro factor determinante tem a ver com a possível depreciação do mercado imobiliário nestas zonas, tendo em conta que ninguém gosta de ter milhares de túmulos como eventuais vizinhos. O caso ganhou entretanto uma grande popularidade e recentemente tem sido alvo de grande discussão em fóruns da internet. Não é de estranhar que seja o lado chinês a levantar objecções, pois para além das razões já apontadas, para os chineses os funerais não são vistos com bom olhos, sendo mesmo um tópico tabu para algumas pessoas. O impacto psicológico é tal que algumas famílias chinesas chegam mesmo a proibir os seus filhos de trabalharem como agentes funerários. Até ao presente momento, as discussões e as respectivas objecções existem apenas do domínio da internet. Mas as implicações que motivaram estas tomadas de posição são vitais. A maior parte dos nossos leitores ainda se devem lembrar dos acontecimentos do dia 8 de Fevereiro do corrente ano, em que mais de 100 residentes de Hong Kong realizaram uma manifestação em Tuen Mun contra os comerciantes suspeitos de estar envolvidos na importação paralela de bens. A maioria destes compra os itens em Hong Kong para que os mesmos possam depois ser revendidos na China, o que obviamente cria uma série de problemas aos residentes da RAEHK, tais como o aumento do custo das rendas e o congestionamento do tráfego nessas localidades, além da degradação da higiene pública e a eventual escassez de bens de necessidade diária como o leite em pó e alguns medicamentos, entre muitos outros. Para resolver o problema, o “visto de visita individual” que permitiam entradas múltiplas foram mudados em Abril deste ano, tendo na altura sido substituídos por vistos que permitiam apenas uma visita por semana. Estas novas medidas foram implementadas com efeito imediato, não tendo as autoridades procedido a nenhum tipo de consulta pública prévia. Os cidadãos de Shenzhen foram os mais afectados por estes desenvolvimentos, especialmente porque a grande maioria de comerciantes envolvidos neste tipo de negócio eram provenientes da RAEHK. Ficaram na verdade bastante insatisfeitos, pois sentiam que haviam sido prejudicados pelos seus vizinhos de Hong Kong, que eram a real motivação para a nova política de imigração. Apesar de na altura não terem sido forçados a aceitar esta nova medida, temos de nos questionar sobre o seu estado de espírito, especialmente por terem permanecido tão silenciosos na altura. Agora, com um mega-empreendimento funerário destinado a ser construído em Lo Wu, na fronteira entre Hong Kong e Shenzhen, o seu descontentamento parece ser ainda mais difícil de conter, visto este projecto não trazer nenhuma vantagem para os residentes do continente. Ainda mais difícil é de compreender se atendermos ao facto que até alguns residentes de Hong Kong se mostraram reluctantes em aceitar esta iniciativa. Esta nova farpa no relacionamento entre a RAEHK e Shenzhen, ainda por cima depois do escândalo relativo à importação paralela que resultou num maior controle nas fronteiras, faz com que a harmonia entre estas duas cidades passe no futuro a assumir um papel de extrema importância para todos nós. Nenhum de nós gosta de ver conflictos e discordância. Se usarmos uma família como exemplo, e imaginarmos uma situação em que o irmão mais velho discute com regularidade com o mais novo, podemos facilmente concluir que isto acarretaria um enorme desgosto para os pais de ambos. Historicamente, Shenzhen tem prestado uma grande assistência a Hong Kong. Mas o esperado aumento na procura de serviços funerários no futuro torna uma recusa deste projecto praticamente impossível. Tendo em conta os desenvolvimentos recentes, talvez este seja um bom momento para os governantes da RAEHK começarem a escutar com atenção os seus conterrâneos de Shenzhen. Mais ainda, o governo de Hong Kong vai ter saber como minimizar ou cancelar os eventuais inconvenientes que este projecto pode vir a trazer aos residentes de Shenzhen. Que tipo de medidas devem então ser tomadas para garantir uma resolução que possa ser vista com bons olhos pelos cidadãos de ambos os lados da fronteira? Esta questão requer não só uma abordagem do ponto de vista legal, mas vai também testar o talento político e ainda as relações interpessoais dos governantes da RAEHK. Seria então uma boa ideia que os mesmos usassem a relação harmoniosa que se verifica entre Macau e Zhuhai como um exemplo a ser estudado.
Hoje Macau PolíticaEntrega de prisioneiros | Macau e Hong podem estar próximos de celebrar acordo [dropcap style=’circle’]Sónia Chan e Rimsky Yuen Kwok-keung encontraram-se em Macau na semana passada, numa reunião que terá servido para conversações sobre o acordo de entrega de prisioneiros em fuga entre as duas regiões. A reunião aconteceu 48 horas depois de Keith Yeung Kar-hung, procurador da região vizinha, ter anunciado que em menos de três meses vai saber-se se o anterior Chefe do Executivo da RAEHK, Donald Tsang, será acusado de alegados crimes que podem ter acontecido em Macau. Não foi emitido nenhum comunicado oficial sobre o encontro, mas de acordo com o jornal de Hong Kong South China Morning Post – que cita fontes próximas do processo – os dois homólogos discutiram eventuais progressos no trabalho de celebração de um acordo de cooperação judiciária entre as duas regiões. “A reunião não significa necessariamente que [a assinatura] de um acordo esteja iminente, mas poderá demonstrar progressos”, cita o jornal, que indica ainda que os assessores do Secretário da RAEHK revelaram que os dois responsáveis se encontraram para “discutir matérias de interesse mútuo”. Em Julho, recorde-se, o responsável de Hong Kong disse que as negociações tinham chegado a uma fase madura, acrescentando que as duas regiões “estavam a rever e ultimar” a redacção do documento. Yuen, lembra o South China, também disse que o acordo estipula “como é que os casos passados devem ser tratados”. Fonte próxima do jornal disse que o acordo poderia ter retroactividade. Joseph Lau e Steven Lo, recorde-se, foram dois condenados que não estão a cumprir pena precisamente devido à falta de um acordo entre as duas regiões. Os empresários de Hong Kong foram considerados culpados de corrupção em Macau, no âmbito do caso La Scala, onde esteve envolvido o ex-Secretário Ao Man Long, condenado a 29 anos e meio de cadeia. Quanto a Donald Tsang, fruto de uma investigação de três anos, sabe-se daqui a menos de três meses se vai ou não ser acusado de crimes que também estarão relacionados com corrupção.
Andreia Sofia Silva PolíticaHabitação | Governo quer novo modelo. Deputados com dúvidas O Executivo decidiu recuar e já não vai implementar o Plano de Aquisição de Imóveis, comprometendo-se agora a criar um novo modelo de habitação para residentes que não têm acesso à habitação económica, nem dinheiro para comprar casa. Deputados temem que se esteja a falar de “coisas vazias” [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo já não vai avançar com o Plano de Aquisição de Imóveis e compromete-se a criar um novo modelo de habitação para residentes que não cumprem os requisitos para a habitação económica, mas que também não conseguem comprar casa. Segundo o relatório final de consulta pública sobre o assunto, difundido pelo Instituto da Habitação (IH), “propõe-se apresentar um novo tipo de habitação pública para os que não têm rendimento suficiente para comprar uma habitação no mercado privado e não reúnem requisitos para se candidatarem à habitação social”. Ficou ainda a garantia de que a curto prazo os trabalhos de estudo sobre as novas tipologias de habitação irão iniciar-se, bem como uma revisão sobre o regime de habitação. Para o Executivo, o objectivo é “apoiar os residentes com reais necessidades habitacionais e resolver o seu problema de habitação”. Em declarações ao jornal Ou Mun, os deputados Ho Ion Sang, da União Geral dos Moradores de Macau (Kaifong), e Si Ka Lon, número três de Chan Meng Kam, dizem-se preocupados que o Governo esteja a “falar de coisas vazias” quando impulsiona a realização de consultas públicas sobre novas tipologias de habitação, quando nem sequer há terrenos suficientes. “Caso o Executivo não consiga explicar bem a oferta de terrenos, não deve apresentar nenhuma proposta. As consultas públicas parecem mostrar políticas que brincam com a população, que tinha grande esperança no Plano de Aquisição de Imóveis, mas agora a esperança é menor”, disse Si Ka Lon. Já Ho Ion Sang referiu que já tinha dúvidas quanto às condições de implementação do Plano de Aquisição de Imóveis, uma vez que o problema da oferta de terrenos para a habitação pública ainda não foi resolvido. O deputado lembrou também que um grande número de terras está nas mãos dos empresários. Ho Ion Sang diz concordar com Si Ka Lon e pede que o Executivo “expresse de forma clara” o número de terrenos disponíveis para habitação. Leong Kuai Peng, vogal do Conselho para os Assuntos de Habitação Pública, disse ao Ou Mun que deve haver um planeamento conjunto de habitação privada e pública, em vez de se resolver o problema apenas através das casas do Governo. No relatório de consulta, pode ler-se que a falta de consenso foi um dos motivos para o Governo não avançar com o Plano de Aquisição de Imóveis. “Ao considerar que a implementação do Plano vai influenciar profundamente as políticas de habitação de Macau, e sendo o objectivo principal do Governo resolver as necessidades habitacionais dos residentes, sob o pressuposto de não haver consenso entre os vários sectores da sociedade, entende-se que actualmente não há condições para implementar o Plano.” Quem se mostrou contra entendeu que “o Plano iria entrar em concorrência com os recursos de habitação pública”, tendo questionado o sucesso prático da medida.
Flora Fong Manchete PolíticaAnimais | Maior manifestação de sempre pede prisão para maus tratos Depois dos recentes maus tratos a animais e das diminuições nas penalidades na lei que os vai proteger, milhares de pessoas saíram ontem à rua para pedir ao Governo que volte atrás [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi a segunda este ano e a oitava desde 2008, mas a manifestação de ontem da Associação de Protecção aos Animais Abandonados de Macau (AAPAM) apresentou-se como a maior de sempre. Milhares de pessoas juntaram-se para pedir mais celeridade na aprovação da Lei de Protecção dos Animais, mas também para solicitar a manutenção de algumas penalidades que o Governo foi retirando da lei, por vezes a pedido de deputados. Num protesto que começou na Tap Seac, e debaixo de altas temperaturas, os manifestantes marcharam até à Assembleia Legislativa, onde se discute actualmente na especialidade o diploma. Ao longo do caminho, a AAPAM recolheu assinaturas de apoio de residentes. A Associação estima que o número de participantes tenha sido de mais de três mil pessoas – algumas com os seus animais -, sendo este o maior registo de participantes em manifestações anteriores em prol dos animais. A PSP estima que tenham sido 1500 participantes. Seja qual for o número real, os milhares de pessoas que marcharam ontem pedem o mesmo: que a pena mínima de prisão de três anos para quem maltratar animais se mantenha, que a execução da lei possa ser feita pela Polícia de Segurança Pública e que não se baixem as multas anteriormente estipuladas. A vice-presidente da Associação, Josephine Lau, afirmou ao HM que, caso a pena mínima de prisão diminua para um ano ou multa,não haverá efeito dissuasório suficiente. Ao mesmo tempo, a organizadora diz ainda esperar que não seja o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) a executar a lei, mas a PSP, para que a protecção aos animais seja mais eficaz. Recorde-se que o Governo acedeu ao pedido dos deputados em baixar as penas para maus tratos e para abandono, por estas serem “muito elevadas”. Por sua vez, o Governo decidiu cancelar a obrigatoriedade de esterilização obrigatória de cães em lotes de construção e em espaços para carros ou materiais abandonados, algo com que os deputados discordam. E que faz Josephine Lau mostrar-se desiludida. “As fontes de cães abandonados são principalmente estes espaços. Quando não se faz a esterilização, os cães têm crias, muitas vezes ao longo de anos. Acredito que, se a esterilização desses cães for obrigatória, o número [de cães abandonados] poderá diminuir metade, pelo menos.” A vice-presidente da AAPAM disse ainda que encontrou obstáculos na realização desta manifestação. “Os residentes referiram que os cartazes desta manifestação foram retirados depois de colocados uma noite em espaços públicos, enquanto outros cartazes ao lado não foram eliminados.” Anónimos e não só Entre os manifestantes, encontrámos Denis Chan, que saiu à rua pela primeira vez com duas acompanhantes: a namorada e a gata. Ao HM, o jovem referiu que depois de ter lido sobre os vários casos recentes de animais que foram atirados de edifícios altos e que a lei que está a ser discutida na AL vai ver diminuídas as penalidades, decidiu que era hora de protestar, por nada disto ser aceitável. “Animais não são seres humanos, mas quando são mortos por pessoas, a penalidade não deve ser apenas um ano de prisão, porque isso pode passar a mensagem de que matar animais não é algo grave”, disse, esperando que se mantenha a pena mínima de três anos de prisão. A manifestação contou ainda com caras conhecidas, tais como os deputados José Pereira Coutinho, Au Kam San, Rita Santos, o presidente da Associação Novo Macau, Sou Ka Hou, o líder do grupo Forefront of the Macao Gaming, Ieong Man Teng, entre outros. Depois da entrega à carta à AL, o presidente da AAPAM, Yoko Choi, acrescentou ainda que discordava da mais recente sugestão do Governo em relação à oferta de descontos nas multas para infractores que paguem dentro de dez dias. O Executivo justificou que queria, com isto, incentivar ao pagamento das multas. Já Choi considera que mal tratar ou matar animais não deve ser penalizado da mesma forma de uma multa de trânsito – sistema em que se baseou o Governo. O presidente da APAAM acha está uma ideia “ridícula” e defende que “os animais são também vida”.
Joana Freitas BrevesNovo campus da UCM abre no próximo ano O novo campus da Universidade Cidade de Macau (UCM), ligada ao deputado e empresário Chan Meng Kam, deverá abrir portas em Setembro do próximo ano. A notícia é avançada pela TDM, que confirmou que a instituição académica alugou oito edifícios do antigo campus da Universidade de Macau (UM), na Taipa, onde espera acolher seis mil alunos, contra os quatro mil que possui actualmente. Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, esteve presente na cerimónia de graduação de alunos, ocorrida na passada sexta-feira, e disse esperar que a UCM “com as condições optimizadas, possa aproveitar bem os recursos”, para que “adoptem um espírito de progresso, baseiem-se em servir Macau e a pátria e transformem a universidade numa instituição de ensino superior de alta qualidade e com características singulares”. Alexis Tam considerou ainda que os cursos da UCM “correspondem às necessidades de desenvolvimento social de Macau”.
Joana Freitas BrevesMeteorologia | SMG assinam acordo com Guangdong sobre previsão técnica Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos de Macau (SMG) assinaram um acordo de cooperação com a entidade homóloga de Guangdong que prevê a adaptação de um projecto laboratorial pelos SMG. Esta acção pretende ajudar a elevar a qualidade das técnicas de previsão meteorológica empregues nos dois territórios. O projecto, intitulado “Técnicas Laboratoriais Cruciais para a Previsão Meteorológica Regional Numérica”, envolve uma série de questões específicas da observação meteorológica nas zonas exteriores do estuário do Rio das Pérolas, seja nas plataformas petrolíferas ou nas bóias de navegação. “Além disso, as duas partes irão iniciar o intercâmbio de múltiplas perspectivas e sustentabilidade, bem como as cooperações relacionadas com a alteração climática e contra os extremos meteorológicos urbanos”, explicam os SMG em comunicado.
Joana Freitas BrevesGripe | Resultados de infecção colectiva no EPM dão H3N2 O recente caso de gripe colectiva no Estabelecimento Prisional de Macau (EPM) deu resultados positivos para a estirpe H3N2, revelam os Serviços de Saúde (SS). A situação, que envolveu 12 presos – seis mulheres e seis homens -, com idades compreendidas entre os 21 e os 69 anos, estendeu-se agora a mais reclusos, passando para 83 o número de prisioneiros com sintomas de gripe que estão internados na prisão e foram submetidos a tratamento. Não houve registo de casos com complicações graves, dizem os SS, sendo que, apesar dos sintomas de febre e tosse, a maioria dos casos é ligeiro. Cerca de 29 prisioneiros ainda estão em isolamento e o EPM garante ter aplicado medidas de controlo, como a limpeza e manutenção da ventilação de ar no interior das instalações, o reforço na desinfecção e a suspensão temporária das actividades colectivas dos reclusos e recepção das visitas das associações exteriores. Desde o dia 15 de Junho que o EPM tem vindo a registar casos de infecção colectiva.
Hoje Macau SociedadeJockey Club de Macau | Membros acusam Administração de má gestão Depois da polémica por causa do estado de saúde do cavalo que mais dinheiro fez na história do Jockey Clube de Macau, o espaço é agora acusado de má gestão e de descurar as instalações [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Administração do Jockey Club de Macau foi acusada, por um grupo de 19 membros da associação, de má gestão. Os protestantes justificam que os cortes no orçamento do clube foram a principal causa dessa gestão negativa, que levou o clube a um estado “deplorável”, de acordo com notícia do jornal South China Morning Post. As reclamações surgiram em forma de carta aberta enviada à direcção, depois do mesmo jornal ter avançado que o estado de saúde de um dos cavalos de corrida mais conhecidos do mundo, o Viva Pataca, que está já reformado, estaria a deteriorar-se no clube local. Perante as acusações, um porta-voz do Jockey Club veio a público dizer que as preocupações dos membros já haviam sido atendidas e que nenhuma das reclamações tinha fundamento. Falta de dinheiro e um tecto A mesma notícia explica que o Jockey Club não lucra com este desporto há mais de dez anos, tendo o prejuízo chegado aos 3,8 mil milhões de patacas. Só em 2013, o grupo perdeu mais de 41 mil milhões de patacas. No mesmo documento, os membros pedem que “os seus direitos sejam respeitados”, pedindo ao Governo explicações sobre as condições do clube após uma gestão “pavorosa”, “défices a longo-prazo” bastante visíveis e que prejudicaram “os interesses do público e dos proprietários dos animais”. Uma das principais preocupações dos 19 membros é a falta de actividades e corridas de forma sazonal, defendendo que o facto dos cavalos estarem sem correr pode afectar a performance destes animais a longo-prazo. A carta começa por exigir explicações à administração a membros que se descrevem como donos de cavalos corredores. “Nós, proprietários de cavalos, temos direito a filiação de primeira e queremos aqui expressar a nossa desilusão e desespero”, começa a carta por dizer. Adiante, o documento acusa a direcção de apenas se lembrar de fazer cortes orçamentais sem ponderar diferentes soluções, como a de chamar novos membros. Segundo o South China Morning Post, a porta-voz do clube, Amanda Savage assegurou ter já respondido, acrescentando que os membros estavam agora satisfeitos. No entanto, esta informação vai contra as declarações do representante dos 19 indivíduos: de acordo com Francis Tin, o grupo não recebeu qualquer resposta por parte da direcção desde o envio da carta aberta. “Tudo o que [o clube] disse é mentira”, disse Tin. E este não é o único que está insatisfeito. Também um outro membro, que preferiu ficar no anonimato, mencionou um recente caso em que o tecto de um dos estábulos desabou, ferindo um cavalo. “Não é a primeira vez que cai um pedaço de tecto. Já aconteceu muitas vezes e foi uma sorte nenhum cavalo ter sido atingido”, atirou. Neste caso, foi The Alfonso quem sofreu, tendo sido tratado a um corte. O animal, que venceu já várias corridas e venceu 1,3 milhões de dólares de Hong Kong no Derby de Macau desta temporada, é co-propriedade de Eric Lung. O dono de The Alfonso receia agora que a performance do animal na pista seja prejudicada.
Gonçalo Lobo Pinheiro Desporto MancheteMarco Meireles, centro-campista do Benfica de Macau Nascido na Amadora, Marco Meireles foi uma das boas surpresas da Liga de Elite deste ano. Evoluiu e ajudou o Benfica a sagrar-se bi-campeão. Aos 25 anos, o jogador formado no FC Porto, não fecha as portas a uma segunda época em Macau mas está com alguns convites em carteira. Desde o tempo em que começou como jogador de futsal até que, aos 14 anos, decidiu que o ringue era pequeno de mais para o seu futebol e decidiu envergar as cores do CAC da Pontinha, Marco Meireles traça um perfil da sua carreira [dropcap]Q[/dropcap]uem é o Marco Meireles? Sou uma pessoa simples, divertida também e amigo do seu amigo. Sou, ao fim ao cabo, uma pessoa diferente. Não tenho medo da opinião dos outros. Por norma, faço o que quero e assumo. Contudo, se a opinião dos outros for para ajudar, considero. As andanças do futebol começaram quando? Quando tinha seis anos comecei a jogar futsal. Joguei no ABCD na Amadora. Depois, aos 14 anos, tentei ingressar no futebol de 11 e bati à porta do Real Massamá e eles gostaram de mim. Só que fizemos um jogo treino contra o CAC da Pontinha e, como era iniciado e o CAC jogava o Campeonato nacional, optei por ir para a Pontinha. Fiquei lá dois anos e fui para o FC Porto. Numa daquelas observações que acontecem, os dirigentes portistas gostaram de mim e mudei-me para o norte onde fiquei também dois anos. Aos 18 anos, a concorrência era muito forte e tanto eu como o clube optámos que um empréstimo seria bom e acabei por ir para o Nacional da Madeira, onde fiz época de júnior de primeiro ano. Gostei muito da Madeira e adaptei-me bem. Aliás, até foi lá que conheci a minha esposa e onde nasceu o meu filho. Depois, voltei ao FC Porto e ainda fiz um torneio na Malásia. Mas, por essa altura, o Nacional volta a contactar-me e oferece um contrato profissional com opção para os seniores. Voltei à Madeira. Nos juniores de último ano, parti o pé e fiquei de fora cinco meses. Com essa contrariedade, o treinador dos seniores, Jokanovic, decidiu emprestar-me ao Machico, do Campeonato Nacional de Seniores onde acabei por ficar três épocas. Ainda passei pelo Aljustrelense e voltei à Madeira para representar o Ribeira Brava. Portanto, um percurso baseado na Madeira? Sim, gosto muito da ilha, das pessoas e tenho lá a família. A seguir ao Ribeira Brava, onde fiz uma boa época, optei por emigrar para a Finlândia, para jogar na II Liga. O clube que representei foi o Sporting Kristina e a aventura correu bem, apesar do frio. As condições lá são muito boas e o futebol, apesar de físico, e muito rápido. Estávamos em 2013 e fiz o campeonato todo, que dura cerca de seis meses. Depois disso, recebi um contacto do Brasil para ir jogar para o Grémio Barueri, treinado pelo português Paulo Fernando, uma equipa com bastantes pergaminhos mas que naquela altura estava na Série D. Grémio Barueri, que já esteve na Série A do Brasileirão, inclusive. Exactamente. Contudo, essa experiência apesar de interessante não foi fácil. O Brasil tem muitos jogadores [risos]. A equipa, no primeiro treino, tinha mais de 35 jogadores. Então médios eram muitos e, tanto eu como o meu colega [Filipe Aguiar] que foi comigo, estávamos apreensivos. Como havia muitos jogadores na minha posição, acabei por jogar a lateral-direito. Não fiz muitos jogos e, por isso, fiquei cinco meses. Foi nessa altura que surgiu Macau? Quando estava no Brasil já tinha conversado com o mister Bruno [Álvares], através do meu empresário, que me disse que o Benfica de Macau estava a precisar de jogadores para a época que iria começar. O mister foi uma pessoa muito importante em todo este processo, desde a negociação até à minha adaptação. Estou eternamente agradecido a ele. É que, para quem não sabe, é complicado gerir uma equipa com diversos estrangeiros e, jogando uns, jogando outros, penso que ele geriu com mestria os jogadores estrangeiros. Bem ou mal, eles fez as suas escolhas e penso que fez bem. Quer dizer então que há uma porta aberta para continuar em Macau ou existem outras possibilidades? Penso que cumpri com o que me foi pedido nesta minha primeira época em Macau. As pessoas, julgo que, gostam de mim e do meu trabalho. Penso que a porta está e fica aberta. Claro que, como profissionais de futebol, queremos sempre mais. Houve algumas abordagens de Portugal nos últimos tempos mas para regressar só mesmo para uma equipa profissional e a II Liga é o mínimo dos mínimos. Mas para já, não há nada formal. Quando houver um convite directo, poderei falar disso. Contudo, ainda estou a competir aqui por causa da Taça de Macau e, a seguir, vem a Liga Asiática, algo também muito interessante. É como lhe digo, temos de ver bem o futuro e as oportunidades que surgirem, mas claro, não fecho as portas ao Benfica e a Macau. O meu empresário [Luís Lousa] está a tratar da minha vida. A época está a correr bem. Como disse, ainda faltam alguns objectivos mas a Liga de Elite já está conquistada, apesar de alguns sobressaltos pelo caminho. Verdade. Ainda queremos conquistar a Taça de Macau, fazendo a dobradinha. Mas, claro, até ao momento o balanço é muito positivo. A equipa sempre trabalhou para alcançar o título. Tivemos uma fase, não digo má, mas menos boa em que perdemos com o Ka I e empatámos com o Lai Chi, mas voltamos a encontrarmo-nos e, naturalmente, com alguma sorte também, a chegar ao cimo da classificação. O plantel do Benfica é muito forte. Existem diversas boas opções para as mesmas zonas do terreno. Todos nós trabalhámos, sem desistir, com o intuito de sermos campeões e tudo correu bem. Já conhecia alguns dos seus colegas de equipa? Não conhecia. Naturalmente, que o capitão Filipe Duarte, até pelo seu currículo, já tinha ouvido falar e o Luisinho das lides do Campeonato Nacional de Seniores, e tem o mesmo empresário que eu. Quem conhecia bem era o Pio Júnior, que jogou no Benfica em 2013, e com quem conversei algumas vezes antes de aceitar vir para Macau. O que é que achou das condições do futebol de Macau? Fiz algum trabalho de casa e já vinha um pouco preparado. Naturalmente, que vendo as coisas ‘in loco’ fiquei apreensivo. Existem poucos campos e os relvados não estão com a relva toda igual. Os jogadores que vêm de fora e estão habituados a outro tipo de condições têm de saber fazer um sacrifício para que tudo corra bem. Depois, é preciso que as autoridades apostem mais no futebol. Macau tem todas as condições para, por exemplo, ter um campeonato muito mais conceituado do que o de Hong Kong. A Associação de Futebol de Macau tem de fazer um pouco mais. Que se sentem à mesa com o Governo e com o clubes e encontrem soluções para melhorar o futebol. E Macau? O que posso dizer é que este é um território único no mundo. Aqui vi coisas que nunca vi. Vi carros de alta gama a andar por estas ruas. E a noite de Macau pode, de facto, estoirar com a carreira de um jogador de futebol que for fraco mentalmente. Quem não souber fazer as coisas com conta, peso e medida pode estragar a sua carreira. Fora isso, é uma cidade tranquila, segura. O clima é complicado, mas é secundário. Gostei muito desta experiência. Quem é o seu ídolo? O meu ídolo é o Ricardo Quaresma. Quando cheguei ao FC Porto vi-o jogar muitas vezes. Era um regalo ver jogar e treinar um jogador tão talentoso. À minha maneira, quando jogo na posição dele, tento fazer coisas parecidas. Também gosto muito do Cristiano Ronaldo, que é o melhor do mundo, mas o Quaresma não teve, na minha opinião, a ajuda necessária que o Ronaldo teve. Na eterna questão do melhor do mundo, o Marco adiantou-se e disse logo que o CR7 estava na dianteira... Sem dúvidas. Ambos são fantásticos mas o Ronaldo é mais completo que o Messi. Apesar do argentino ser um jogador que resolve jogos sempre que quer, o Cristiano cabeceia bem, é bom de esquerdo e de direito, finaliza, finta, é mais veloz, defende melhor. Com o estatuto e a qualidade destes dois grandes jogadores, será difícil aparecerem melhores no futuro. Vamos ver. Futebol em Portugal. Que achou desta época que agora terminou? Apesar de ser portista, acho que o Benfica foi um justo vencedor porque foi a equipa mais regular, coerente. O FC Porto, com o melhor plantel da I Liga, teve um trajecto de altos e baixos. E as novidades do defeso? Normais. Só mesmo em Portugal é que se dá tanta importância a isso. Se o Jorge Jesus treinasse o Manchester United e fosse para o Chelsea, ok até se podia falar comentar mas nunca com tanta polémica como sucedeu em Portugal. Em relação a casos concretos, penso que o Jorge Jesus vai melhorar e muito o futebol do Sporting. Não sei se para serem campeões, mas o Jesus têm uma cultura táctica muito boa e consegue transformar jogadores. Vai ser engraçado ver o que irá acontecer na próxima época, até porque não vejo o Sporting como os coitadinhos. Não. O Sporting tem bons jogadores, muito novos é certo, mas com muito valor.
Hoje Macau Manchete SociedadePatrimónio | “Resultados positivos”, mas relatório ainda está a ser avaliado Feng Jing, do Centro do Património Mundial, considera que a RAEM já alcançou resultados positivos no que à protecção do património diz respeito, mas – numa altura em que o Governo admite estar consciente que é preciso fazer mais – ainda continua por se saber o resultado da avaliação do plano de salvaguarda de Macau [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] relatório sobre o plano de salvaguarda do Centro Histórico ainda está a ser avaliado, mas há “coisas positivas”, dez anos depois da classificação pela UNESCO, disse à Lusa Feng Jing, do Centro do Património Mundial. “Em dez anos, houve um reforço da protecção dos bens. As autoridades reforçaram a legislação para os bens culturais e também melhoraram o planeamento urbano. São coisas positivas para a protecção do Centro Histórico de Macau”, explicou o director da secção Ásia-Pacífico do Centro do Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Feng Jing precisou que o plano de salvaguarda e gestão do Centro Histórico ainda está a ser analisado pelo órgão consultivo do Comité do Património Mundial, o Conselho Internacional para Monumentos e Sítios (ICOMOS na sigla inglesa). O responsável do Centro do Património Mundial adiantou que o relatório sobre o plano não está na agenda da 39.ª sessão do Centro do Património Mundial, que vai decorrer em Bona, na Alemanha, entre 28 Junho e 08 de Julho. Contactados pela Lusa, os responsáveis do ICOMOS recusaram comentar a avaliação ao relatório apresentado em Janeiro, depois da UNESCO ter recomendado um novo plano para a salvaguarda e gestão do centro histórico por considerar o existente “insuficiente para a sua protecção eficaz”. Na altura, o Comité do Património Mundial da UNESCO deu conta de “dois factores que estão a afectar” o património, nomeadamente “eventuais impactos negativos do desenvolvimento de projectos em áreas circundantes às zonas tampão sobre a integridade visual do património” e “a aparente inadequação do sistema de gestão”. Questionado sobre as garantias que foram dadas pelo Governo local à UNESCO nesta matéria, Roni Amelan, do serviço de imprensa da instituição sediada em Paris, explicou à Lusa que “o comité não exige garantias” porque se trata antes “de uma cooperação baseada no compromisso dos Estados para preservar os locais que eles próprios escolheram inscrever na Lista do Património”. Directrizes especiais Já o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura defendeu ontem que a entrada do património de Macau na lista da UNESCO constituiu uma “nova marca identitária” da cidade. Para Alexis Tam, a decisão da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), a 15 de Julho de 2005, “marcou uma viragem na forma como o mundo via Macau”. “Passámos a ter uma nova marca identitária, tornámo-nos conhecidos também como cidade de cultura onde se combina, como em nenhum outro sítio do mundo e de uma forma muito peculiar, a cultura oriental com a ocidental”, afirmou. Numa declaração a propósito do 10.º aniversário da inscrição do Património na lista da UNESCO de Património da Humanidade, Alexis Tam valorizou o património cultural português e chinês do território. O mais recente relatório sobre o estado de conservação do Centro Histórico, publicado em Janeiro na página do Comité do Património Mundial, referia que “o Partido Estatal – no que diz respeito à Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural e às suas directrizes operacionais, assim como às decisões do Comité do Património Mundial – tem estado empenhado em melhorar a conservação e a gestão do sítio”, sublinhando a entrada em vigor a 1 de Março de 2014 da Lei de Salvaguarda do Património Cultural e da Lei do Planeamento Urbanístico. Feng Jing, do Centro do Património Mundial, reconheceu como “positivo” que “a questão do impacto ambiental no património” esteja incluída na legislação mas alertou que “é preciso reforçá-la e aplicá-la”, quando questionado sobre as prioridades de actuação do Governo com vista a melhores resultados na protecção do património. “Por agora, não há pedidos relativos ao património imaterial de Macau”, adiantou, por sua vez, Roni Amelan, em referência a pedidos relativos “às práticas e saberes”, depois de se ter falado na candidatura da gastronomia macaense e do teatro em patuá a Património Cultural Imaterial da UNESCO, dois temas que figuram na lista do Património Cultural Imaterial da RAEM. Ciente da responsabilidade Por outro lado, Alexis Tam disse que Macau está ciente das “responsabilidades, dos desafios e das exigências decorrentes daquela classificação, tarefas que não são incompatíveis, mas sim complementares com uma estratégia de crescimento e de desenvolvimento sustentável” preconizada pelo Governo. Mas, vincou, a distinção “implicou novos desafios e responsabilidades”, como “reformas e investimento público” na área do património e ao nível legislativo. Alexis Tam lembrou que o reconhecimento internacional do valor do património de Macau, de origem chinesa e portuguesa, “teve como resultado imediato uma ampla campanha de divulgação da sua singularidade, que resultou também num aumento da consciência ao nível interno para com a necessidade da sua protecção, conservação e valorização”. E os edifícios portugueses, só folclore? Dez anos após a inscrição do Centro Histórico como Património da Humanidade, os especialistas preocupam-se mais com os imóveis que têm valor cultural mas não estão protegidos, incluindo cerca de 30 de matriz portuguesa. “Corre-se o risco de os edifícios portugueses desaparecerem aos poucos e de só ficarem as igrejas, como se fossemos todos padres”, lamenta o arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro, autor de vários projectos de reabilitação em Macau. O actual professor na Universidade de São José estima que os cerca de 30 imóveis de herança portuguesa, não classificados, mas com elevado valor cultural, vão acabar demolidos ou apenas com as fachadas intactas, às quais se podem adicionar elementos modernos, como aconteceu ao edifício do Banco Nacional Ultramarino e se planeia fazer com o Quartel de São Francisco. Quando se assinalarem os 20 anos da classificação da UNESCO, Macau vai “ter apenas o folclore português”, ironiza.
Joana Freitas BrevesPlano Director dos Novos Aterros “em fase final” O Governo garante já estar na fase final de elaboração do Plano Director dos Novos Aterros, depois de “ter encomendado a um grupo de especialistas para o inicio da elaboração do Plano”. Segundo um comunicado, “o seu projecto já reúne as condições para a sua concretização, pelo que se entrará na fase final da elaboração do Plano Director”. Para já, o projecto vai ser alvo de uma terceira fase de consulta pública, que arranca amanhã e termina a 8 de Agosto. “Os resultados e o consenso alcançados com a presente auscultação pública permitirão promover o desenvolvimento e a execução das obras destes novos bairros urbanos, assim como permitirá a definição do calendário para a realização dos respectivos trabalhos, de modo a dar com a maior brevidade possível início à execução do plano de pormenor dos novos aterros, promovendo assim à sua urbanização”, aponta o Executivo.
Hoje Macau China / ÁsiaTaiwan | Explosão causou mais de 500 feridos [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma explosão num parque de diversões em Taiwan, registada no sábado quando pó colorido lançado sobre a multidão se incendiou, causou mais de 500 feridos, 188 dos quais em estado grave, indica um novo balanço divulgado ontem pelas autoridades locais. Até ao fecho desta edição, 516 pessoas encontravam-se no hospital. Segundo Lee Lih-jong, vice-director dos serviços de saúde da cidade de Nova Taipé, nos arredores de Taipé, os quase 200 feridos graves estavam na manhã de ontem a receber tratamento em 37 hospitais. Uma ‘bola de fogo’ atravessou a multidão no parque de diversões da Ilha Formosa, descreve a agência AFP. Imagens difundidas nas televisões locais mostram participantes na festa a dançarem sob uma nuvem de pó multicolor, que de repente se incendeia e transforma as vítimas, a maioria em fato de banho, em tochas humanas. “A razão pela qual as queimaduras foram tão graves é porque, além de queimaduras na pele, houve também lesões nos órgãos respiratórios dada a elevada quantidade de cor em pó inalado,” disse Lee à AFP. “As próximas 24 horas vão ser críticas para os que ficaram gravemente feridos”, acrescentou. Lee indicou que os detalhes sobre as idades das vítimas não estavam ainda disponíveis, mas que “eles pareciam todos muito jovens, na casa dos 20 anos, ou mesmo mais novos”. O fogo foi rapidamente extinto, segundo as autoridades. Cerca de mil pessoas participavam no festival “Color Play Asia” no parque aquático Formosa Fun Coast, nos arredores de Taipé.
Joana Freitas BrevesCEM implementa lâmpadas LED A Companhia de Electricidade de Macau (CEM) lançou um concurso para fornecimento de 341 postes de iluminação pública que passarão a utilizar diodos emissores de luz (LED) em detrimento das lâmpadas de vapor de sódio. Dados fornecidos à agência Lusa pelo concessionário de serviço público de produção e distribuição de electricidade indicam que o concurso prevê a entrega de postes que irão receber as luminárias LED, que serão instaladas na zona dos Novos Aterros do Porto Exterior (NAPE) até ao final do ano. A tecnologia LED permite, segundo a própria empresa, um gasto de cerca de um décimo da energia das lâmpadas convencionais, além de possuírem uma duração 40 vezes superior. Macau tem instalados nas ruas cerca de 16.600 postes de iluminação e cerca de dois mil postes – nomeadamente em zonas novas como a habitação pública em Seac Pai Van – já possuem iluminação LED. Os restantes postes que ainda utilizam lâmpadas de vapor de sódio serão gradualmente substituídos pela CEM.
Joana Freitas BrevesKwan Tsui Hang por maior transparência no CPU A deputada Kwan Tsui Hang entregou uma interpelação escrita onde pede ao Governo para publicar todos os registos das reuniões do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU), a fim de manter o princípio da transparência e para fomentar a participação pública. Kwan Tsui Hang pede que todos os registos das reuniões do CPU sejam publicados no website do Conselho por forma a facilitar a participação dos residentes. A deputada questiona mesmo se é possível adoptar o mesmo processo que já existe em Hong Kong, onde são disponibilizadas as gravações das reuniões online. A transmissão das reuniões em directo é outra das possibilidades levantadas pela deputada. Kwan Tsui Hang considera que as opiniões dos membros do CPU são importantes não só para a elaboração do novo Plano Director como para a elaboração das Plantas de Condições Urbanísticas de cada projecto. Contudo, a deputada entende que não existem meios para o público compreender todos os processos de discussão e o real andamento das discussões. Para a deputada, tal não corresponde aos ideais de “transparência” e “participação do público”, princípios que constam na Lei do Planeamento Urbanístico.
Flora Fong SociedadeTabaco | Seguranças de casinos a favor das salas de fumo [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Macau General Federation of Security Practitioners considera que a criação de salas de fumo nos casinos pode “não influenciar a saúde dos trabalhadores nem a performance dos apostadores”, fazendo com que a rotina das operadoras de Jogo se mantenha de forma fluente. O mesmo colectivo espera que o Governo ausculte mais opiniões de diferentes classes do sector. Numa declaração publicada no Jornal Ou Mun, a Federação apresentou opiniões e sugestões sobre a intenção do Executivo em implementar a medida de proibição total de fumo nos casinos, referindo que a maioria dos seus membros trabalha nas zonas de Jogo dos casinos e concorda com a proibição de fumar fora de salas desenhadas para esse efeito. É que, de acordo com estes funcionários, o número de trabalhadores que fumava passivamente diminuiu bastante. O sector de seguranças considera que as operadoras de Jogo já “cumpriram os regulamentos do regime com rigor e investiram avultados recursos financeiros na criação de salas de fumo, a fim de beneficiar os clientes, operadoras e funcionários”. Assim, o sector de segurança espera que o Governo possa negociar outras formas de resolver o problema com as concessionárias, permitindo que estas mantenham ou criem as salas para o efeito, nomeadamente nas zonas VIP. A mesma Federação pede também que se estudem mecanismos mais actualizados de purificação do ar. Além disso, apontou que caso todas as salas existentes forem encerradas, os jogadores fumadores têm que ir para o exterior do casino, o que acreditam poder vir a influenciar a performance das salas VIP. “A criação de salas de fumo é a melhor resolução para manter necessidades de cada parte”, argumentou a Federação, em declarações ao Ou Mun. De acordo com a notícia, os seguranças consideram que a existência de salas VIP beneficia tanto trabalhadores como jogadores, uma vez que permite que ambos exerçam os seus direitos a um ambiente limpo e a fumar.