Orquestra de Macau | Música de câmara no Teatro Dom Pedro V

A Orquestra de Macau sobe ao palco do Teatro Dom Pedro V no sábado. Com um concerto de música de câmara, intitulado “Hurra! Música Moderna!”, o grupo apresenta três obras de música de câmara do séc. XX. “Além dos afamados compositores Bach, Beethoven e Tchaikovski, muitos foram os compositores rivais que início do séc. XX vieram influenciar o desenvolvimento da música. Este concerto é dirigido pelo Maestro Assistente da Orquestra de Macu, Francis Kan, e inclui três obras de música de câmara moderna de diferentes estilos”, explica o Instituto Cultural (IC), em comunicado. O espectáculo inclui ainda uma interpretação da obra “Four Outings for Brass”, do compositor norte-americano André Previn, que iniciou a sua carreira nos círculos musicais dos filmes de Hollywood, “Suite para 13 Instrumentos de Sopro op. 4”, de Richard Strauss, e “Dixtuor para Sopros, op, 1”4, do compositor romeno George Enescu. O concerto acontece às 20h00 e os bilhetes estão já à venda, com preços que vão desde as 80 às cem patacas.

1 Jul 2015

EPM | Rixas e morte na prisão

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]passada segunda-feira foi negra para o Estabelecimento Prisional de Macau (EPM), quando no mesmo dia um recluso morreu e outros dois se envolveram numa rixa que acabou com a agressão a um guarda prisional.
Em comunicado à imprensa, o EPM explica que um recluso, submetido a um transplante cardíaco em 2014, foi encontrado em coma na casa de banho depois de nos dias anteriores se ter queixado de algumas dores de peito e dificuldades de respiração. O recluso cumpria uma pena de 20 dias por violação da Lei do Trânsito Rodoviário. Depois de ter sido levado para uma consulta de urgência no Hospital Conde de São Januário e de ter feito exames que não apresentaram “anormalidades” a vítima pediu e assinou a alta médica e regressou ao EPM. Horas depois foi encontrado em coma na casa de banho e transportado de novo para o hospital onde foi oficializada a morte duas horas depois. “(…) Quanto à verdadeira causa de morte, aguarda-se a confirmação do hospital”, pode ler-se no comunicado do EPM.
No mesmo dia um desentendimento entre dois reclusos resultou numa rixa com ferimentos ligeiros para ambos. Os reclusos foram vistos pela equipa médica do estabelecimento e regressaram às suas celas. “E, ao elaborar os autos da ocorrência, um recluso perdeu subitamente o controlo emocional, agrediu o guarda, causando-lhe ferimentos”, explica o EPM.
O guarda agredido de imediato recebeu assistência médica e não apresentou problemas graves. Um dos reclusos foi condenado por crimes de extorsão, condução em estado de embriaguez e furto qualificado, o outro é um reincidente e está a cumprir pena por crimes de reentrada ilegal e de ofensa grave à integridade física.
“O EPM já enviou o caso à Secção Psiquiátrica para acompanhamento e, entretanto, foi instaurado processo de inquérito e informado aos Serviços Judiciários para acompanhamento”, pode ler-se no documento.

1 Jul 2015

Wynn oferece estadias especiais para residentes

A Wynn Macau vai oferecer aos residentes preços especiais em alojamento, jantares e Spa. A partir de hoje e até 30 de Setembro, os portadores de BIR podem ficar no hotel do Wynn por 1888 patacas, com estadia até às 15h00, pequeno-almoço e outras comodidades. Já no que às refeições diz respeito, cerca de quatro restaurantes no empreendimento oferecem menus desde as 188 às 688 patacas, sendo que a escolha vai desde a comida chinesa à italiana. Para quem quiser usufruir do Spa, no mesmo período, haverá descontos de 20%.

1 Jul 2015

Um país, três sistemas

Jules Romain - "Dr. Knock"
Jules Romain – “Dr. Knock”
[dropcap style=’circle’]R[/dropcap]econheço que reflecti várias vezes sobre a publicação destas linhas. Resolvido o meu problema poderia ter silenciado, abalado, ido à minha vida. Há, todavia, um pequeno senão. Vivo em comunidade e não sou ninguém sem os que me rodeiam. São estes que dão sentido à minha existência como cidadão e advogado. É com eles que partilho sucessos e insucessos, lágrimas e sorrisos, e é a eles que me acolho quando preciso. São eles que me confortam e prolongam os dias. Também confesso que não sei bem em qual das qualidades escrevo, embora saiba que sou antes de tudo um cidadão, e que a protecção corporativa não me esvazia dessa condição. Sem tal estatuto, que tanto quanto possível faço por merecer, dar sentido à aristotélica vida boa passa por assumir essa condição em toda e qualquer situação. E sei, sem claudicar nem esmorecer, que não dormiria tranquilo se ignorasse o que aqui deixo.

Posto isto, tenho de dizer que depois da perplexidade que me varreu quando nos primeiros dias de Janeiro escutei Alexis Tam – esforçado tenista e pessoa por quem tenho a maior estima e admiração –, dar um voto de confiança a quem tinha acabado de ser acusado de incompetência e sido demitido em directo, perante as câmaras de televisão, fiquei posteriormente incrédulo ao saber, no final da primeira quinzena de Abril, que aquele mesmo governante decidiu antecipar uma parte do futuro promovendo a substituição de Chan Wai Sin por Kuok Cheong U. De qualquer modo, gostei do anúncio de um conjunto de medidas que passarão pela contratação de mais, melhores e mais competentes, assim o espero, profissionais de saúde, por uma melhoria das instalações e dos processos de triagem, redução dos tempos de espera nas farmácias dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), urgências mais eficientes e céleres e uma renovação dos carenciadíssimos serviços das especialidades. Quando vi o número 529 como sendo o dos profissionais a contratar até me assustei. Vinha aí uma revolução, pensei, e ainda mais depressa isso foi confirmado pelo próprio Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura ao assumir a ambição da empreitada e o risco de afirmar, nem mais nem menos, que “os próximos cinco anos serão a era mais brilhante da saúde” (Lusa, 13/04/2015).

Já tinha havido uma nova era nos aviões, para onde voaram sem retorno umas centenas de milhões. Depois veio uma nova era nos autocarros. A dos táxis já foi encomendada e está em curso, pelo que logo a seguir, para não se perder a embalagem, virá a da Saúde.

Isto é bonito. E será ainda mais bonito quando, após todos os milhões que a Região já enterrou num novo hospital, sem que a coisa dê sinais de se estar a levantar ou aqueles a reproduzirem-se, a referida ambição, isto é, os sonhos, “a era mais brilhante”, tiver concretização prática. Mas como ainda falta algum tempo para que essa nova era da saúde pública, que transportará Macau para o Guiness, colocando a saúde de qualquer outro país da Ásia a anos-luz da excelência desta pequena e festivaleira península, o melhor é começarmos por questões básicas e de rápida resolução.

Vi-me ultimamente confrontado com uma arreliadora lesão do tendão de Aquiles, a qual me impede de poder desafiar o Secretário para uma partida de ténis, e foi por via dela que, por mero acaso, descobri o terceiro sistema. Presumo que Alexis Tam não o conheça, por isso irei resumidamente explicá-lo.

Devido aos atrasos na marcação de consultas, a que como cidadão desta cidade também tenho direito – o estatuto de cidadania não nos impõe só deveres – aproveitei uma deslocação ao exterior para fazer uma ecografia. No regresso, já com um diagnóstico, contactei um clínico local. Especialista e privado. Depois de feito o indispensável exame foi-me passada uma receita e fui à farmácia. E não é que não houve ninguém que me aviasse a receita? Até que uma alma caridosa, sabendo do meu sofrer e incompreensão, me deu conta da existência do terceiro sistema, ao qual eu poderia recorrer para me desenvencilhar do problema. Graças ao meu informado interlocutor, pelo menos em matéria de medicamentos, fiquei a saber que há um sistema de saúde pública, um sistema de saúde privada, e um terceiro sistema que é o “salve-se quem puder”.

Com efeito, o medicamento que me foi receitado (não sei quantos mais haverá na mesma situação, mas isso fica para o Secretário e o CCAC investigarem), de nome Viartril-S, em saquetas de 1500 mg, é exclusivo para o sistema de saúde pública, só pode ser receitado em unidades dos SSM e, ainda mais exclusivo, só é acessível a funcionários públicos e equiparados, isto é, a titulares do “cartão verde”.

Ainda sem saber como aliviar a dor, propus-me adquirir o medicamento ao farmacêutico pagando a integralidade do seu custo. Qual não é o meu espanto quando sou esclarecido, para desgosto do farmacêutico, de que esse medicamento, embora acessível a funcionários públicos, não é sequer vendável. Com ou sem receita médica. Quem tem acesso ao cartão verde pode recebê-lo gratuitamente; os outros, os que não são funcionários públicos, nem equiparados, não têm acesso ao medicamento. Nem sequer pagando. Porque o acordo feito entre os SSM e o fornecedor de Hong Kong da Rottapharma não permite a sua comercialização a terceiros. Há sucedâneos mas não são a mesma coisa nem têm a mesma dosagem.

Creio que a situação descrita é do desconhecimento de Alexis Tam e do Chefe do Executivo, só podendo ser imputada à “má gestão”, à existência de “zonas de tragédia” e aos maus gestores que precisam, urgentemente, de ser ajudados pelos bons gestores do gabinete do Secretário.

E escrevo isto convicto de que nem mesmo as “boas intenções” de Lei Chin Ion (Tribuna de Macau, 16/04/2015) conseguirão uma interpretação do artigo 25.º da Lei Básica que salve tamanha iniquidade que afecta o grosso dos cidadãos, aliás candidamente confirmada pelo próprio médico dos SSM quando me apresentei a uma consulta, conseguida in extremis, para obter uma receita que me permitisse levar a cabo o tratamento prescrito.

Eu não quero que os SSM acabem com a prescrição do medicamento e que todos fiquem impedidos de a ele aceder. E até posso admitir que uma mentalidade canhestra consiga perceber as razões para que exista um tratamento – ilegal e intolerável, sublinhe-se – tão discriminatório entre funcionários públicos e equiparados titulares do cartão verde, por um lado, e a generalidade dos cidadãos, pelo outro lado, que como cidadãos têm direito ao mesmo acesso à saúde, aos meios de diagnóstico e à assistência medicamentosa que os seus impostos ajudam a pagar.

Mas o que não aceito, nem ninguém de boa consciência pode aceitar, é que sejam os próprios SSM a violarem de forma tão flagrante o princípio da igualdade, introduzindo um sistema de tal forma discriminatório e distorcido que até quem pode arcar com o custo dos medicamentos está impedido de a estes aceder – para proteger quem? – pagando o respectivo custo.

[quote_box_left]“Fiquei a saber que há um sistema de saúde pública, um sistema de saúde privada, e um terceiro sistema que é o “salve-se quem puder”[/quote_box_left]

Não sei se as luminárias que pensaram e permitiram que tamanha discriminação entre cidadãos fosse levada à prática em matéria de medicamentos terão a noção da gravidade do que está em causa. Nem se Alexis Tam já se apercebeu da dimensão da tragédia a que se chegou em matéria de assistência médica e medicamentosa na RAEM. Desconheço em nome de que princípio se pode permitir tamanho entorse a um princípio estruturante da RPC, da própria RAEM e de qualquer nação civilizada. Seria o mesmo que ter medicamentos só para brancos ou só para nazis, deixando negros e judeus de fora.

Todos os cidadãos contribuem em igual medida para o PIB de Macau, sejam funcionários públicos ou a gente sem eira nem beira que dorme nas camaratas urbanas da Nova City, e que é vergonhosamente explorada de sol a sol para acarretar calhaus nas obras dos casinos que irão encher os cofres da RAEM. Não vejo por que razão os funcionários públicos hão-de ser de tal forma privilegiados que seja necessário impedir o acesso a determinados medicamentos aos médicos que estejam na actividade privada e à maioria dos cidadãos o direito à cura das suas maleitas com os medicamentos prescritos.

A discriminação no acesso à saúde e aos medicamentos entre cidadãos nunca deveria ter acontecido. E não pode continuar. Ela constitui uma infâmia, uma aberração em pleno século XXI, uma afronta aos cidadãos de Macau, uma vergonha para qualquer Estado de direito, e representa algo que a velha administração portuguesa, com todos os seus defeitos, jamais permitiu que acontecesse. Não acredito que uma situação desta gravidade possa ser tolerada em Beijing. A forma como a liderança do Partido Comunista Chinês tem combatido a corrupção, o nepotismo e a existência de privilégios de casta, seja de que casta for, não me permite pensar de outra forma, tanto mais que o Politburo, na reunião de 26 de Junho pp., até introduziu um sistema para premiar os bons dirigentes e punir os maus (SCMP, 27/06/2015, p.3), não sendo necessário dar-lhes sucessivas oportunidades para mostrarem a sua inaptidão no tratamento dos interesses públicos.

Se a situação não for rápida e prontamente corrigida, começando-se pela área do medicamento e devolvendo-se às farmácias a sua função social – que é a de vender medicamentos a qualquer cidadão, e não a de dizerem que “esse não há” e serem mais um supermercado para os “mainlanders” irem arrastar as chinelas e comprar leite em pó – não auguro nada de bom para a prometida “nova era da saúde”. E se está em marcha uma revolução no sistema de saúde da RAEM, então o melhor é começar já por aqui, pela política do medicamento, repondo a igualdade e a justiça entre todos os cidadãos. De outro modo, a distribuição de vouchers e de cheques ao domicílio não passará de uma forma de aligeirar o peso da incompetência e de aliviar consciências.

1 Jul 2015

Para lá do euro, eis os militares que se agitam

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]ento e cinquenta oficiais das Forças Armadas portuguesas reuniram-se na semana passada, em Lisboa, para, mais uma vez, alertarem para aquilo que consideram ser uma degradação da qualidade dos militares lusos. O responsável por este estado de coisas é o governo, dizem, que tem vindo a adoptar um conjunto de medidas que visam a reestruturação das forças armadas.
É sempre preocupante quando militares se reúnem e expressam o seu descontentamento. A reunião em si não é grave. O objectivo há-de ser o de chamar a atenção da opinião pública para a sua condição e lembrar ao governo o seu desagrado. Mais significativo é o facto de – justa ou injustamente – afirmarem publicamente que a acção do poder político tem contribuído para diminuir a eficácia operativa das Forças Armadas.
Segundo dados do Instituto Internacional de Pesquisas da Paz, de Estocolmo, os orçamentos militares europeus têm vindo a diminuir nos últimos anos – consequência natural das crises financeira, económica e social que afectam a Europa desde 2008.
A crise na Ucrânia levou a que NATO reafirmasse a promessa de os Estados-membros dedicarem mais de 2 por cento do total do seu Produto Interno Bruto (PIB) aos orçamentos militares. Devido a uma reforma em curso na Polónia – acelerada na sequência da anexação da Crimeia por Putin – Varsóvia, país vizinho da Rússia, irá pela primeira vez em 2015 alcançar esse objectivo.
Neste momento, na NATO há apenas cinco países que se mantêm acima dos 2 por cento do total do PIB com gastos militares. Além naturalmente dos Estados Unidos da América (EUA), a maior potência militar mundial, com 3.5 por cento do PIB em gastos militares, na Europa comunitária há apenas quatro outros Estados-membros que gastam com os seus exércitos mais do que 2 por cento, a fasquia requerida à Aliança Atlântica para fazer face a uma possível ameaça russa: Estónia (2 por cento), França, Reino Unido e Grécia (2.2 por cento cada). A Grécia, uma antiga ditadura militar – que está esta semana, mais do que nunca, sob a atenção da imprensa internacional tendo em conta o seu iminente incumprimento financeiro –, com sensivelmente o mesmo número de habitantes do que Portugal, gasta mais 1.2 mil milhões de euros em despesas militares do que Lisboa.
Este cenário talvez estivesse a mudar. Nas recentes negociações com os credores, o governo do primeiro-ministro Tsipras havia incluído no pacote de cortes acordado “em princípio” com a Comissão Europeia um abatimento considerável nas despesas militares. Agora que a decisão da continuidade da Grécia no euro será decidida pelo povo, nunca se saberá o que vai acontecer e esta alegada diminuição das despesas militares gregas talvez já não se venha a concretizar.
Quando os Estados estão limitados de um modo supra-nacional com objectivos financeiros anuais, a questão dos seus orçamentos militares é sempre relegada para segundo plano. Outras prioridades (saúde, educação) se elevam. Afinal, o princípio Kantiano da paz perpétua entre democracias fez escola. É difícil para uma democracia justificar aos seus eleitores a necessidade de aumentar o seu orçamento militar quando está rodeada por outras democracias que se regem pelos mesmos valores. Esse princípio tem influenciado as decisões políticas de muitos países europeus em matéria militar e contribuído para a gradual diminuição, paulatina mas consistente, quer dos orçamentos quer da importância das forças armadas.
Um recente estudo do Pew Research Centre (com mais de 40 mil entrevistados) revela que 68 por cento dos europeus confiam que os Estados Unidos intervirão em sua defesa, caso sejam alvo de uma ameaça séria. Mas apenas 48 por cento considera que o seu próprio Estado deve agir em caso de necessidade de defesa dos seus aliados.
Fazer parte de uma aliança implica empenhamento. Implica compromisso. É como se a soberania se estendesse para lá das fronteiras. Em matérias militares, o dever não é só em relação a um povo, governo ou território. Vai para lá disso. A defesa de um Estado passa também pela manutenção da estabilidade ao nível sub-regional – no caso de Portugal, ao nível do continente europeu – através de uma activa participação nas responsabilidades internacionais.
Respondendo às movimentações a leste, a NATO acaba de anunciar a constituição de uma força de intervenção rápida de 40 mil homens. Especialistas em matérias militares têm dúvidas se este número de operacionais será alguma vez alcançado.
A participação frequente das forças armadas portuguesas em intervenções de manutenção de paz, quer sob mandato do Conselho de Segurança das Nações Unidas quer sob o estandarte da União Europeia, deve ser a regra. Mas, em ano eleitoral, num contexto de austeridade, é fácil ir atrás das opiniões públicas e contribuir para a diminuição da importância dos militares. Não se afirma aqui que Portugal tenha falhado nesta matéria. Mas a percepção de que os oficiais estão descontentes está aí. E sem militares motivados a situação complica-se. Um pouco. 

1 Jul 2015

“7 Burguer”, restaurante e espaço de festas | Roy Ho, co-proprietário

O restaurante “7 Burguer” abriu há precisamente um ano e oferece à clientela uma vasta variedade de comidas. O menu é extenso, mas o que importa mesmo são os hambúrgueres do novo espaço de dois pisos, que dá mesmo para as Ruínas de S. Paulo. Ali quer-se um espaço confortavelmente internacionalizado

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi Roy Ho que, de boné em riste e calças descontraídas, aceitou estar à conversa sobre a criação do “7 Burguer”, uma das poucas hamburguerias de Macau situada na zona mais turística e movimentada da cidade: na rua que desemboca nas Ruínas de S. Paulo. O espaço é grande, ocupando dois pisos inteiros de um prédio restaurado, mesmo à direita do conhecido monumento.
O objectivo, começou Ho por explicar ao HM, é atrair gentes de todo o mundo que por cá passem, não apenas pessoas de Macau. “A ideia é internacionalizar o espaço e o tipo de clientes que temos, não apenas locais e é isso que sentimos que faltava em Macau: um restaurante que apelasse à fome de estrangeiros”, justifica o co-proprietário.
De entre as nacionalidades frequentes estão pessoas de Hong Kong, da Coreia, de Taiwan e até alguns ocidentais. Entre pequenos autocarros ao estilo londrino, ursos de peluche de diferentes tamanhos, cartazes promocionais, rede de internet gratuita e lustrosas escadas convidativas, o “7 Burguer” vai de vento em popa, como nos diz Ho, que acredita estar não só a desenvolver, como a oferecer a quem lá entra, uma experiência como poucas em Macau.
A localização atira qualquer um para preços de renda exorbitantes, mas a verdade é que “isso não é um problema”, uma vez que a quantia mais avultada está a ser paga pelos proprietários de uma nova loja que nasceu no rés-do-chão. Roy detém o restaurante com mais uma pessoa e juntos foram introduzindo algumas alterações ao espaço. A decoração foi pensada para fazer com que os clientes queiram por lá ficar na conversa ou até mesmo a entreterem-se com jogos de tabuleiro e outros, que estão organizados numa estante ao lado da janela. hm3
“Optámos por decorar o espaço com motivos mais ocidentais porque servimos comida europeia e mesmo os hambúrgueres são estilo inglês, não americano”, disse o jovem. Ar fresco, música ambiente e muita luz é aquilo que se pode encontrar no “7 Burguer”, que foi baptizado com este nome em jeito de trocadilho em mandarim. É que a fonética que corresponde ao número “sete” também vai ao encontro daquela que forma uma das sílabas da palavra “hambúrguer”.

Um espaço além-fome

No entanto, o “7 Burguer” não serve apenas como restaurante, mas também como espaço de aluguer de festas. Os preços parecem acessíveis, se se pensar na escassez de locais do género. “O aluguer do espaço para 30 a 40 pessoas, com comida de buffet incluída, ronda as 200 patacas por pessoa”, explica Roy Ho.
Em jeito de brincadeira, diz mesmo que pode ser feito um desconto se o grupo pedir bebidas extra. A conversa decorreu numa das várias mesas espalhadas pelo sítio e a vontade de trincar uma das delícias do menu aumentou à medida que os pedidos da clientela foram chegando. A página de Facebook do restaurante está perfilado de fotografias de festas e encontros, a mais visível sendo a de Natal, que teve lugar durante esta época festiva, no ano passado. O espaço encheu-se de pessoas e o ambiente foi “festivo”, a vermelho e verde. À parte dos hambúrgueres, há ainda quem prefira as sopas, as sobremesas ou simplesmente um copo de vinho, algo fácil de encontrar por ali, já que várias estantes mostram aquilo que de melhor a casa tem para oferecer.

Muito mais virá

Tal como nos animais e nos seres humanos, também nos locais e nos negócios a evolução desempenha um papel crucial. Neste caso, o que mais pode ser feito dentro de um espaço que serve comida e oferece conforto? “Começámos a ter música acústica ao vivo e embora neste momento tenhamos apenas um cantor filipino, qualquer pessoa que saiba cantar, pode vir falar connosco e talvez até ficar para tocar”, diz Ho. Os sets de música ao vivo acontecem todas as sextas-feiras e sábados, geralmente desde a hora de jantar até à hora de fecho, às 22h00. No entanto, até isso os proprietários querem alterar. “Estamos a pensar acrescentar algo mais ao conceito que já temos e queríamos alargar o horário para abrir às 11h00 e fechar perto das 2h00 da manhã”, continuou o dono por dizer.

1 Jul 2015

Cidadãos de Macau atacam locais em discoteca de Pattaya

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]polícia de Pattaya está actualmente à procura de um grupo de dez homens residentes em Macau e que alegadamente atacaram cinco cidadãos tailandeses numa das discotecas mais populares da zona norte de Pattaya, durante a madrugada de segunda-feira. De acordo com notícia avançada pelo jornal tailandês One Pattaya, o incidente ocorreu no espaço nocturno Star Dice e o gangue provocou ferimentos a Khun Chardee, um guia turístico de 22 anos que costuma acompanhar falantes de Chinês. O tailandês estava na discoteca com o seu irmão e outros quatro amigos, todos eles na casa dos 20.
A mesma notícia relata que o acontecimento ocorreu quando um dos jovens embateu acidentalmente num dos residentes da RAEM, tendo-se seguido uma troca de galhardetes verbais que quase levaram a altercações físicas, mas a situação parecia ter ficado resolvida. No entanto, e enquanto o grupo de locais estava a sair do bar, foram rodeados por um grupo de dez homens, com os relatos a indicarem que terão sido utilizadas garrafas de cerveja para atirar aos cidadãos da Tailândia. O irmão do guia turístico foi atingido na cabeça por uma das garrafas, acção que o deixou inconsciente por algum tempo.
Embora as autoridades locais tenham já visto as gravações de vídeo daquela discoteca, ainda ninguém foi detido, de acordo com o One Pattaya.

1 Jul 2015

Partido Comunista Chinês com mais de 87 milhões de filiados

Apesar do crescimento registar algum abrandamento, segundo o PCC, a estrutura interna apresenta francas melhorias denotando o “reforço da sua vitalidade”

[dropcap style=‘circle’]O[/dropcap]Partido Comunista Chinês (PCC) recrutou 2,057 milhões de novos militantes em 2014, elevando para 87,793 milhões o número de membros da organização, mas como a economia da China, o seu ritmo de crescimento está a abrandar.
De acordo com os dados divulgados na imprensa oficial ontem – véspera do 94.º aniversário do PCC – em 2014, o partido recrutou menos 351.000 pessoas do que em 2013, o que acontece pelo segundo ano consecutivo.
Mais de três quartos dos novos filiados (82%) têm menos de 35 anos de idade e 38,8% deles têm educação superior, indicou a mesma fonte.
No conjunto, as mulheres constituem cerca de um quarto dos militantes do PCC (24,6%).
Cerca de 2,25 milhões dos filiados são estudantes e 16,216 milhões são identificados como reformados.
Quanto ao estatuto profissional, “camponeses, pastores e pescadores” ocupam o primeiro lugar da lista, com 29,5% do total, seguidos dos “empregados administrativos” e “funcionários do Partido e dos órgãos do Estado” (18,6%).
“Operários” e “outros profissionais” representam 8,3% e 14,2%, respectivamente.

[quote_box_left]Mais de três quartos dos novos filiados (82%) têm menos de 35 anos de idade e 38,8% deles têm educação superior[/quote_box_left]

Desde o XVI Congresso do PCC, em 2002, os empresários privados, mesmo os mais ricos, já podem filiar-se no partido.
Fundado no dia 01 de Julho de 1921 por 13 delegados representativos dos 53 militantes organizados em todo o país, o PCC é hoje a maior organização política do mundo e uma das que se mantém há mais tempo no poder.
O ritmo de crescimento do PCC está a abrandar, mas segundo o departamento de organização do partido, a estrutura interna “melhorou”, evidenciado o “reforço da sua vitalidade”.
Se fosse um país, o PCC seria um dos mais populosos do mundo.
Além da própria China, que ocupa o primeiro lugar, com cerca de 1.350 milhões de habitantes, apenas treze países têm mais de 87 milhões.
No poder desde 1949, o PCC é dirigido no dia-a-dia pelo Comité Permanente do Politburo, órgão composto por sete elementos – todos homens – e encabeçado pelo secretário-geral do partido, Xi Jinping, o cargo mais importante do país.
Xi Jinping, 62 anos, assumiu a chefia do PCC em Novembro de 2012.
Em 2014, a economia chinesa cresceu 7,4%, menos 0,3 pontos percentuais do que em 2013 e o valor mais baixo dos últimos 24 anos.

1 Jul 2015

Just one of those things

Para Cole Porter, com mesurada vénia

10322479_691569474242100_3500601554843429294_n[dropcap style=‘circle’]É[/dropcap]só mais uma daquelas coisas. Daquelas que começam de repente sem aviso nem sufrágio. Não conseguimos perceber bem de onde vêm. Sabemos que chegam e invadem os territórios que cuidávamos sagrados. São hábeis, são cruéis de tão belas, dotadas de graça sem consciência do mal bom que disseminam.

É só mais uma daquelas coisas. Daquelas que nos deixam uma certa cicatriz, um sulco inolvidável, um cheiro que teima em persistir depois de uma catarata de remorsos nos ter passado pelo corpo. É bom e é inútil na sua inevitabilidade. Não nos larga e não nos agarra. Permanece sem querer e parte quando exprime o desejo de ficar.

É só mais uma daquelas coisas. Daquelas que não podemos controlar, que nos possuem num ápice e cujo desaparecimento anunciado nos aterroriza. São assim essas coisas que são só mais uma: belas e terríveis, doces e amargas, indecentes e sem pecado. Deixam-nos calados e fazem-nos falar como se fôramos possuídos. Não sabemos o que dizemos, mas há um pânico que nos impele, uma porta que se fecha no horizonte e onde teremos rapidamente de chegar, como no mais insone dos nossos pesadelos.

É só mais uma daquelas coisas. Daquelas que nos ultrapassam pela esquerda baixa e sem contemplações. Como a tempestade que se forma sobre o mar. É o poente. E nada mais. Só uma daquelas coisas, só um Verão oculto nas promessas de uma divindade inexistente.

É só mais uma daquelas coisas. É só mais uma daquelas coisas…

1 Jul 2015

Deficiência mental | Deputados pedem acompanhamento e mais apoios 

Uma unidade psiquiátrica comunitária e apoios mais específicos é o que pedem Mak Soi Kun e Ella Lei, que consideram que Macau ainda não consegue atender às necessidades dos que precisam mais de ajuda

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s deputados Ella Lei e Mak Soi Kun querem mais apoios aos deficientes mentais e consideram que o Governo não está a oferecer apoio psicológico suficiente à comunidade. Numa interpelação escrita, os dois deputados queixam-se ainda da falta de uma entidade específica para acompanhar os casos.
Foi o recente caso de maus tratos de uma filha à mãe idosa na zona norte que deu o mote para a interpelação. Apesar de o Instituto de Acção Social (IAS) já ter dito que presta todos os cuidados necessários, Ella Lei e Mak Soi Kun consideram que os residentes que têm a seus cuidados familiares com doenças mentais – como é o caso da mulher, que terá a seu cuidado um irmão com este problema, além dos dois pais idosos – precisam de apoio mais específico.
Ella Lei aponta mesmo que o problema da saúde mental e a pressão dos residentes de Macau é preocupante e, mesmo que os Serviços de Saúde (SS) tenham aumentado o poder de prevenção e tratamento das doenças mentais, a deputada lamenta que Macau ainda não tenha criado uma unidade psiquiátrica comunitária.
“A criação de uma unidade psiquiátrica comunitária é o meio de ajuda mais imediato para quem necessitar, já que oferece tratamento o mais rápido possível. A seguir, oferecendo apoios a pacientes e os seus familiares, ajudando ou ensinando como comunicar, por exemplo, e como conviver e cuidar dos doentes, diminui-se a taxa de hospitalização e a pressão”, escreve.
Ella Lei acrescentou que a entidade deve acompanhar activamente todos os casos psicológicos, não recorrendo apenas aos serviços do IAS.

Falta de atenção

Noutra interpelação também escrita, o deputado Mak Soi Kun considera que há falta de preocupação, de cuidado e de apoio às famílias problemáticas e aos grupos vulneráveis por trás de toda “a sociedade rica de Macau”. O deputado quer saber quantos casos desses foram já agarrados pelo Governo e se este já fez ou vai fazer uma avaliação do apoio actualmente dado a estes grupos, e como é feito o acompanhamento a longo prazo. Mak Soi Kun questionou ainda se existem recursos humanos suficientes que ofereçam apoios físicos e mentais a todos os casos. “Caso [o Executivo] não possa resolver com prioridade estes problemas, terá outras medidas para ajudar as famílias vulneráveis e os idosos com dificuldade?”, rematou.

30 Jun 2015

Saúde | Sugerida criação de “oficial de comunicação” entre médicos e pacientes

Agnes Lam considera necessário ter um “oficial de comunicação” para ajudar na relação entre médicos e pacientes. A sugestão sai de uma mesa redonda focada na saúde, onde outros presentes alinharam pela mesma ideia. Presente na discussão, Chui Sai Peng disse concordar com a necessidade de que a Comissão de Perícia tenha especialistas de fora, algo que não agrada a todos

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]gnes Lam defende a criação de um novo cargo no sector da saúde: o de um “oficial de comunicação” entre médicos e pacientes e é disso que o serviço de saúde local precisa.
“Este funcionaria como uma espécie de psicólogo para facilitar a comunicação entre médico e paciente, nomeadamente que ajudasse a esclarecer dúvidas do paciente sem precisar de passar novamente pelo médico”, explicou a académica e ex-candidata a deputada ao HM, após um debate que teve lugar no passado domingo e que foi organizado pela Associação Energia Cívica, da qual faz parte Lam.
Na mesa redonda, houve ainda quem sugerisse que este oficial deveria vir do ramo da Medicina, de forma a não só ajudar o paciente com questões frequentes, mas também técnicas, como “a quantidade de gotas para os olhos que um paciente tem que tomar ou como resolver a alergia provocada pelo medicamento receitado durante a consulta”, esclareceu.
Agnes Lam sugeriu que fossem contratados mais psicólogos ou assistentes desta área para criar um contacto mais estreito com os doentes. É que, de acordo com a académica da Universidade de Macau (UM), um dos problemas correntes nos serviços locais tem que ver com a falta de comunicação e contacto entre médicos e doentes. A nomenclatura de “oficial de comunicação” existe em Hong Kong e outros locais.
Para a mesa redonda foram ainda convidados o médico local Chu Ge Jin e a deputada e enfermeira Wong Kit Cheng. A deputada mostrou-se mais preocupada em melhorar a qualidade e credibilidade do centro de mediação de conflitos actualmente existentes, fazendo com os processos judiciais não se arrastem por muito tempo. Já o médico refere, no entanto, que a lei “não vai poder resolver todos os problemas”, considerando importante investir na melhoria das relações entre médicos e doentes.
“Esta não é uma relação meramente de serviços, mas sim entre tutor e paciente”, argumentou, numa ideia que vai ao encontro daquela expressa por Agnes Lam.
Para a académica, “os médicos não estão a dar a informação suficiente aos doentes”, mas também é preciso “aliviar a pressão” que estes profissionais sentem, voltando a defender a criação do cargo de oficial de comunicação. Este lidaria, durante o período pós-consulta e em tratamento, com os pacientes, de forma a esclarecê-los de quaisquer dúvidas relacionadas com os medicamentos, os métodos de tratamento, entre outras.

[quote_box_left]”Se formos contratar um médico de uma cidade pequena dos EUA que não esteja habituado a lidar com um sistema que receba tanta gente como o nosso, talvez não saiba lidar com isso”[/quote_box_left]

O que é crime?

Em cima da mesa estiveram ainda questões relacionadas com a criminalização do erro médico, com os presentes a relembrarem casos como erros em situações de falhas técnicas ou de material.
“Discutimos o conteúdo da futura Lei do Erro Médico e as formas como esta pode ajudar à real protecção dos pacientes de Macau, assegurando também a protecção dos médicos”, começou Agnes Lam por dizer ao HM. “Uma falha destas seria muito complicada, se pegarmos num exemplo como o de não ter equipamentos suficientes para fazer o diagnóstico do paciente”.
Neste caso, explicou, um dos médicos presentes na iniciativa sugeriu que um eventual erro de diagnóstico por falta de equipamento deveria ser considerado como uma “falha técnica” e, por isso mesmo, não criminalizado. “Estes casos deviam ser remetidos para a Comissão de Perícia, que resolveria a questão, mas também devia haver uma formação para que os profissionais soubessem que equipamentos precisam e para onde devem reencaminhar os pacientes”, esclareceu a responsável.

Problemas acrescidos

Entre os presentes, estava o deputado José Chui Sai Peng, que disse concordar com a necessidade de haver especialistas de fora na Comissão que avalia o erro médico, a ser estabelecida pelo regime actualmente em discussão e sugerida recentemente pelos deputados. No entanto, outros intervenientes argumentaram que é “preciso ter cuidado” aquando da contratação de especialistas do exterior, correndo-se o risco destes não estarem a par da realidade de Macau.
“Se formos contratar um médico de uma cidade pequena dos EUA que não esteja habituado a lidar com um sistema que receba tanta gente como o nosso, talvez não saiba lidar com isso”, ilustrou a docente da UM.
De acordo com notícia publicado no Jornal do Cidadão, o advogado Hong Weng Kuan mostrou-se preocupado com a integração dos médicos estrangeiros na Comissão de Perícia do erro médico, receando que esta solução possa implicar um desperdício do erário público. Hong considera que esta pode ser constituída por especialistas locais e só mais tarde, caso uma das partes suspeite do resultado do relatório final da Comissão, se deve pedir ajuda a pessoal de fora.

30 Jun 2015

Mulher inocentada pelo TJB sujeita a detenção por mais de 48 horas e a pena de prisão preventiva

Uma residente de Macau foi abordada pela PJ à entrada do território, acusada de um crime que diz não ter cometido. A mulher terá estado mais de 72 horas trancada numa sala sem comunicar com o exterior e sem saber o que se passava e a pagar a alimentação. Levada ao MP, o juiz decidiu pela prisão preventiva. Seis meses de cadeia depois, em condições “pouco humanas”, a mulher foi afinal declarada inocente pelo TJB

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]um dia que parecia normal, Kim Lu foi abordada pela Política Judiciária (PJ) na fronteira do Terminal Marítimo do Porto Exterior, vinda de Hong Kong. A razão: era suspeita num caso de fraude. A mulher acabou presa mais tempo do que o que a lei permite: primeiro pela PJ, depois na cadeia de Macau.
Kim (nome fictício), de 50 anos, foi proprietária de um imóvel que foi vendido em 2012. Uma denúncia feita por um professor amigo da suspeita, levou a que a que a PJ detivesse a mulher – residente em Macau – pelo desaparecimento de um abastada quantia.
Mas, as informações sobre os motivos de detenção surgiram apenas três dias depois. “Quando me abordaram na fronteira disseram-me que eu tinha que ir com eles (PJ) e não me respondiam às perguntas, nem me deixaram ligar a ninguém. Tiraram-me a carteira e só me diziam ‘é melhor confessar o que fez’”, começou por contar ao HM a residente de Macau.
Sem perceber o que se passava efectivamente, Kim terá sido transportada para as instalações da PJ, onde permaneceu durante 72 horas até ser ouvida pelo Ministério Público (MP). Recorde-se que, segundo o Código do Processo Penal, os suspeitos só podem estar até 48 horas detidos até serem apresentados ao MP.
“Foi horrível, deixaram-me numa sala com uma campainha. Eu tocava sempre e perguntava o que se passava, pedia para chamar alguém e ninguém me dava respostas. Só me disseram que era por causa do imóvel e que estava a ser acusada de fraude, para eu dizer a verdade”, relatou.
Em sua posse tinha algum dinheiro, que um agente da PJ lhe deu quando lhe apreenderam os bens pessoais. E esse foi necessário até enquanto detida. “Foi com aquele dinheiro que comprava comida e papel. Eu tocava à campainha e eles metiam comida por uma janela e pediam-me dinheiro”, afirmou ao HM.

[quote_box_left]“Quando me abordaram na fronteira disseram-me que eu tinha que ir com eles (PJ) e não me respondiam às perguntas, nem me deixaram ligar a ninguém. Tiraram-me a carteira e só me diziam ‘é melhor confessar o que fez’”[/quote_box_left]

Desespero a bater à porta

Ao final de três “longos” dias, Kim pôde fazer o seu primeiro telefonema. “Liguei à minha família a contar o que estava a acontecer e a dizer que precisava de um advogado”, relembra. Nesse dia, a suspeita foi apresentada ao MP “bastante desesperada” mas sempre certa da sua inocência.
“Estava muito nervosa, não conseguia dizer nada, só dizia que estava inocente”, diz. O juiz de instrução criminal decidiu pela prisão preventiva até julgamento.
“Não percebo a justiça de Macau, o que o [Governo] quer é mostrar que não há crime em Macau e metem culpados e inocentes na prisão, isto está errado. Há pessoas inocentes na prisão”, argumenta.
A associação que está a tratar de ajudar Kim Lu, e que à semelhança da mulher prefere manter o anonimato, explicou que esta é apenas “a ponta do iceberg de uma situação muito delicada”. A associação pretende que Kim Lu seja indemnizada pelos transtornos, mas mais que isso “é preciso que Kim consiga um trabalho e volte a ter uma vida normal”. Kim

Um cenário do inferno

Segundo o que relata Kim, foram seis meses de prisão preventiva, meio ano em situações que a mulher caracteriza como “pouco humanas”. “As coisas funcionam de forma estranha dentro da prisão, era recém presidiária e enquanto estava à espera de julgamento fiquei numa cela com pelo menos outras 18 mulheres. Nós [as novas] tínhamos que ir distribuir a comida a todos os andares da prisão, era um trabalho de força. As presidiárias que estão ali há mais tempo são amigas das guardas e têm privilégios que nós não tínhamos”, partilha.
As visitas do advogado não eram animadoras. “A minha família contratou um advogado português que durante as visitas me disse que talvez fosse melhor eu assumir, mesmo não tendo culpa porque podia ser mais fácil para mim”, conta, frisando que nunca o aceitou fazer. “Onde estão os direitos das pessoas? Era culpada de quê? De não ter feito nada? De ter ficado calada em frente ao juiz do MP?”, relembra.
Apresentada ao Tribunal Judicial de Base, o juiz não teve dúvidas: Kim Lu estava inocente. “Foi um alívio”, frisa.
Ainda que esta tenha sido uma situação que parece ter terminado bem, a mulher garante que não é a única a sofrer este tipo de injustiças.
“Esta é apenas a minha história, há muitas histórias destas, muitas. O Governo só quer enganar as pessoas, mostrar que Macau não tem crime. As coisas não podem ser assim, não se pode prender as pessoas sem investigação. O meu caso só foi investigado depois de eu estar meses presa. Não é justo, não é justo”, defende.
A associação confirma ao HM que o caso vai seguir para os tribunais e espera que este seja o primeiro de vários casos que diz encobertos a ser tornado público. “A decisão dos juízes de aplicarem a prisão preventiva por tudo e por nada não faz sentido. Existem outras medidas, fianças, apresentação periódica, por exemplo, em vez desta. A prisão de Macau está lotada e inocentes podem estar à espera atrás das grades”, argumenta um dos responsáveis do grupo.
Contactada pelo HM, a PJ afirmou que “as autoridades seguem o Código de Processo Penal e os suspeitos são apresentados ao MP em 48 horas” em todos os casos. Sobre este em especifico, as autoridades não prestaram qualquer declaração alegando não terem dados suficientes.

30 Jun 2015

Aterros | Mais de cem mil podem ocupar novos espaços

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s novos aterros vão poder receber mais de 160 mil pessoas, depois de um revisão feita pelo Governo sobre o novo espaço. Segundo notícia da Rádio Macau, o número de habitações vai aumentar também, num sítio que será visto como uma cidade virada para o mar.

Assim, a Zona A é onde vai estar concentrado o maior número de pessoas. O projecto do Governo para os novos aterros – que entra hoje na última fase da consulta pública – sobe para 54 mil as fracções a ser construídas, 32 mil só na Zona A, que fica no norte da cidade. Segundo o plano, ontem apresentado pelo Executivo aos membros do Conselho do Planeamento Urbanístico, há espaço suficiente para 162 mil residentes.

A rádio avança ainda que o Governo promete novas zonas urbanas, tendo em consideração as necessidades de habitação e o problema dos transportes. É que para sair ou entrar daqui, os residentes deverão dar primazia aos autocarros e ao metro, já que é ideia da Administração fazer com que as pessoas deixem o carro em casa.

Na terra reclamada ao mar – algo que acontece na Zona A, nos NAPE e na Taipa -, haverá equipamentos sociais, espaços verdes e comércio, adianta a rádio. Não se sabe, contudo, quando vão ser aproveitados, já que a Zona A ainda está atrasada devido à falta de areia.

Este espaço vai ter, contudo, acesso à quarta ligação entre Macau e Taipa, algo que não se sabe ainda se será ponte ou túnel – algo que Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, promete desvendar até ao fim do ano.

Com dúvidas

O plano para os novos aterros – que vão oferecer mais de 300 hectares a Macau – entra hoje em consulta pública, a terceira e última sobre o tema. Mas, à Rádio Macau, Rui Leão, arquitecto e membro do Conselho do Planeamento Urbanístico não se mostrou satisfeito com a decisão do Governo em levar o projecto a consulta pública um dia depois de o apresentar a este grupo.

Leão diz que é preciso ter cuidado em garantir que o acesso à agua não seja vedado às pessoas, algo que parece vir a acontecer de acordo com o plano do Governo.

“Da maneira como está desenhado leva-me a pensar que será dificilmente praticável a utilização do perímetro verde [na Zona A], o das outras zonas parece mais sério”, começou por dizer à rádio. “Está sobrecarregado com uma estrada de circulação rápida, que põe em risco o acessos das cidades à beira água”, diz, esperando que a via rápida não vá bloquear o acesso à água.

Rui Leão pede ainda que seja feita a construção de um parque, já que há zonas “que não faz sentido serem todas da mesma magreza”, como avança a rádio. “Se calhar deveria haver um [parque] que faça a ligação visual entre o reservatório e aterro da ponte Hong Kong-Macau. Um que tenha uma dimensão de parque urbano e não apenas um passeio largo com árvores.”

Ainda assim, o arquitecto diz ser positivo que haja uma melhor ligação dos novos aterros aos meios de transporte como é o metro.

30 Jun 2015

Função Pública | Apenas 50 serviços fazem avaliação de desempenho

O Estatuto do Pessoal de Direcção e Chefia da Função Pública prevê uma avaliação de desempenho não obrigatória. Os SAFP confirmam que apenas 50 serviços o fazem. Dirigentes associativos pedem maior abrangência, transparência e melhorias visíveis

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) confirmaram ao HM que actualmente só o pessoal de chefia de 50 departamentos públicos “é sujeito à apreciação do desempenho”, do total de todos os mais de cem departamentos existentes na Função Pública do território. A avaliação do desempenho não é obrigatória e é feita anualmente, constando no Estatuto do Pessoal de Direcção e Chefia. Só em 2013 foi publicado o modelo base de elaboração do respectivo relatório de avaliação, “através do qual é apreciada, segundo indicadores diversificados, a capacidade do pessoal de direcção”.
Contactado pelo HM, Lei Kong Wong, secretário-geral da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Origem Chinesa, considera que os números apresentados pelos SAFP “não são grandes” se for feita uma comparação com todos os serviços existentes na Função Pública.
Para Lei Kong Wong, esta é ainda uma “política piloto”, tratando-se de “uma boa medida”.
“Segundo os regulamentos e restantes leis da Função Pública, apenas com o nível médio [de avaliação] se pode fazer a execução de medidas, sendo que a avaliação serve unicamente para se verificar o esforço feito no trabalho, a pontualidade ou a atitude de boa educação face aos superiores. Contudo, os técnicos de primeira classe, os chefes de departamento ou os directores de serviços é que apresentam trabalhos decisivos para o Governo e por isso é que existe a necessidade de apreciação do seu desempenho todos os anos”, disse o responsável ao HM.

Falta de critério

Lei Kong Wong referiu ainda que “deveria ser criado um critério de apreciação para os responsáveis das direcções”, estabelecendo-se uma diferenciação em relação a outras categorias de trabalhadores. Para o secretário-geral da Associação, os Secretários não fizeram uma apreciação do desempenho do pessoal das direcções, “quando os seus trabalhos são os que mais coordenação têm com o Governo”.
Já o director da Associação dos Técnicos da Administração Pública de Macau, Kun Sai Hoi, considera que este mecanismo de avaliação “devia ser mais abrangente e completo”. O responsável considera que a avaliação deveria estar ligada a um sistema de prémios e às possíveis novas nomeações, por forma a coadunar a avaliação com as necessidades da Função Pública. “Espero que o nível de transparência possa ser mais elevado, para que o público também possa fazer a supervisão do pessoal”, disse ao HM.
José Pereira Coutinho, deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFP), diz não dar atenção ao sistema de avaliações. “Quer façam avaliação ou não, muitos dos serviços públicos pecam pela disponibilização de serviços com fraca qualidade, a começar pelo respeito das línguas oficiais. Depois há falta de informação disponível sobre questões pertinentes. Portanto quer a avaliação seja boa ou má, o resultado da avaliação não se vê.”
Para o deputado, a preocupação deveria centrar-se no estatuto e regulamento dos titulares dos principais cargos. “Se não houver cumprimento desse estatuto, para quê retirar responsabilidade dos seus inferiores? É injusto”, concluiu Coutinho.

30 Jun 2015

Jogo | Cheung Chi-tai acusado de branqueamento de capitais

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]heung Chi-tai, promotor de jogo de Macau, está a ser acusado de três diferentes crimes de branqueamento de capitais. De acordo com notícia avançada pela agência noticiosa Reuters, Cheung branqueou capitais através de contas de bancos na RAEHK, no valor de 1,8 mil milhões de dólares de Hong Kong. Os dados surgiram em documentos do tribunal esta semana. A investigação que envolve Cheung teve início em Novembro do ano passado e foi feita pelas autoridades de Hong Kong. Os bens do accionista foram congelados durante o processo. Recorde-se que Cheung já havia sido acusado de estar envolvido num outro caso, desta vez do outro lado do mundo, nos EUA.
O acusado foi identificado, em 1992, por uma comissão de investigação do Senado, como um dos dirigentes da tríade Wo Hop. A mesma notícia refere que a mais recente acusação talhou um “caminho escuro” pelos meandros da cultura das tríades, da lavagem de dinheiro e da corrupção e que relaciona empresários e figuras influentes de Hong Kong, Macau e do continente. Acredita-se que o junket possa ter estado igualmente implicado no caso de branqueamento de capitais que tinha Carson Yeung, ex-presidente do clube de futebol Birmingham City, como figura principal. No entanto, o accionista do Grupo Neptuno não esteve presente no julgamento.
A Reuters afirma ainda que num “relatório especial” da agência – de 2010 –, existem provas que ligam Cheung a gangues de crime organizado e à gigante Las Vegas Sands. Tal informação junta-se então à confirmação, dada pelas autoridades norte-americanas, de que o junket tinha relações directas com estes grupos. Entre os bancos que receberam o dinheiro de Cheung estão o Banco da China e o Banco Chong Hing, com sucursais em Hong Kong. Quando questionado pela Reuters, o Grupo Neptuno negou qualquer ligação com o acusado. Neste momento, este encontra-se a aguardar julgamento, já marcado para dia 24 de Setembro, tendo saído sob pagamento de uma fiança de 200 mil dólares de Hong Kong.

30 Jun 2015

DSPA | Secretário reconhece dificuldades em proteger o ambiente

Tomaram ontem posse os novos responsáveis da DSPA, que têm já prioridades traçadas, como é o caso de arranjar um espaço para os resíduos de construção. Raimundo do Rosário responsável por esta pasta admitiu que Macau ainda enfrenta dificuldades na protecção ambiental

[dropcap style=’circle’]R[/dropcap]aimundo do Rosário disse ontem reconhecer que a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) não está a conseguir acompanhar o “crescimento constante” de consumo de recursos e produção de resíduos da RAEM. Assim, o responsável considera ser urgente a implementação de novas estratégias de gestão.
O Secretário para os Transportes e Obras Públicas referiu ainda que os resultados até agora alcançados “não são ainda os desejáveis”, embora a DSPA tenha já procedido à construção de uma série de infra-estruturas ambientais, sem esquecer as campanhas de sensibilização do público.
As declarações tiveram lugar ontem, durante o discurso de Rosário na tomada de posse dos novos director e subdirector da DSPA, os engenheiros Vai Hoi Ieong e Ip Kuong Lam, respectivamente.

Pressões e dependências

O Secretário começou por explicar que o ambiente de Macau, que não “se pode dissociar” do desenvolvimento da zona circundante, tem sofrido pressões, além de estar bastante dependente de recursos naturais do continente, como acontece com a distribuição de água e de electricidade. Uma das justificações para a implementação “inadiável” de novas estratégias é a falta de revisão periódica dos sistemas de tratamento de resíduos do território.
Durante a mesma cerimónia, Vai Hoi Ieong sublinhou que a principal prioridade da DSPA é o transporte e tratamento de resíduos de materiais de construção, assunto que deverá merecer uma consulta pública até Dezembro. À Rádio Macau, o novo director garantiu que a recolha será feita junto ao Aeroporto. “Este ano, esperamos, ter já uma forma de classificação para diferentes  resíduos de materiais de construção. E depois de termos este método para fazer a distribuição de resíduos de materiais de construção, vamos dar início aos trabalhos sobre o transporte desses resíduos. Esperamos que no próximo ano a província de Guangdong possa utilizar esses resíduos para aterros” adiantou Vai Hoi Ioeng à Rádio.
Questionado sobre as cinzas volantes, Vai assegurou que o local onde actualmente estão guardados “80 sacos” deste lixo pode ser utilizado por mais 15 anos.

Poluição | Diploma de responsabilização em 2016

De acordo com o novo director dos Serviços de Protecção Ambiental, Vai Hoi Ieong, o Governo quer criar um diploma legal que responsabilize os cidadãos pela poluição da cidade e este poderá estar pronto já para o ano. No entanto, e como a maioria da legislação, também este vai primeiro a consulta pública, tendo a DSPA já estudado casos como os de Taiwan ou Hong Kong. “Quanto à forma de cobrança de taxa aos consumidores vamos estudar e temos de ter em conta a realidade de Macau. Claro que ainda temos de ouvir as opiniões do sector e da população”, adiantou Vai à Rádio Macau. A auscultação pública deverá ter início em breve, de acordo com o mesmo responsável, que falou aos jornalistas depois do seu discurso de tomada de posse como director do organismo.

30 Jun 2015

Mercado do Patane | CCECC recebe mais de 200 milhões para reconstrução

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stá finalmente adjudicada a reconstrução do Mercado Municipal do Patane e a empresa vencedora é a Companhia de Construção e Engenharia Civil China (CCECC Macau). Esta é uma das empresas que se viu envolvida num dos casos de corrupção ligados ao ex-Secretário Ao Man Long.
Segundo um despacho ontem publicado em Boletim Oficial, a obra vai custar mais de 200 milhões de patacas. Os pagamentos vão ser feitos desde este ano até 2017, o que indica que as obras só deverão terminar nesse ano.
A adjudicação da reconstrução do Mercado do Patane foi feita através de concurso público, sendo que o ano passado, em Dezembro, Alex Vong, presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) anunciou que as obras iriam atrasar-se. Na altura, o presidente da entidade responsável pela obra justificou-se com o facto de que a concessão “iria estar apenas concluída na primeira metade” deste ano. O IACM ainda manifestou desejo que as obras de reconstrução iniciassem este ano, mas sem sucesso.
Antes de se saber que seria a CCECC Macau a ficar a cargo da reconstrução – e pela qual recebe 217,7 milhões de patacas -, um despacho de 2011 dava conta que seria a CAA, Planeamento e Engenharia, Consultores Limitada a responsável pela elaboração de projectos de especialidades da reconstrução do mercado municipal. Esta empresa pertence ao deputado José Chui Sai Peng.

Ligações perigosas

Responsáveis da CCECC Macau estiveram envolvidos no caso Ao Man Long, depois da empresa ter conseguido a adjudicação da gestão e manutenção e das ETAR do Parque Industrial Transfronteiriço e de Coloane, num consórcio com a Waterleau e a ATAL Engineering. Dois dos responsáveis da empresa foram condenados pelo crime de corrupção activa.
Agora, como nada impede a empresa de participar em concursos públicos, a CCECC Macau recebe este ano 54,5 milhões pelas obras, 108,8 milhões no próximo ano e o mesmo valor que este ano em 2017.
O novo Mercado Municipal vai ser instalado num complexo de 12 andares, sendo três deles reservados para o uso do mercado, cinco para estacionamento e quatro para instalações comunitárias.

30 Jun 2015

Rugby | Macau vence “Plate Final” e Kowloon leva “Cup” para casa

A equipa de Macau venceu este fim-de-semana uma das últimas etapas do Torneio Anual de Rugby Tens, conseguindo levar para casa o troféu do ‘Plate Final’. A equipa local venceu num jogo contra o Rocky Rugby Football Club, num jogo que terminou a 17-12 para regozijo de Macau. A ‘Cup Final’ foi ganha pela equipa Kowloon Specials, num jogo renhido contra os Shenzhen Dragons. A equipa da RAEHK venceu por 7-0. Organizado pelo Macau Rugby Football Club (MRFU), o torneio teve lugar no Canídromo e recebeu equipas de Hong Kong, Shenzhen e Guangzhou, além das duas equipas do território, tanto em divisões seniores como em sub-19. Os mais novos competiram em seis jogos, com o Hong Kong Football Club a levar a melhor, depois de mostrar “uma forte técnica” em todos os confrontos contra a equipa da Polícia e contra os Discovery Bay Pirates (ambas de Hong Kong).

30 Jun 2015

USJ | Cursos intensivos de Português em Julho e Setembro

A Universidade de São José (USJ) abre em Setembro um curso intensivo de Português, para pessoas cuja língua materna não seja a portuguesa. A universidade abre ainda um outro curso de Verão, que decorre entre 13 a 24 de Julho. O primeiro está vocacionado para pessoas que pretendam obter o nível de proficiência necessário para se candidatarem a licenciaturas em universidades de Macau ou portuguesas, assegura a organização, sendo que este vai ainda “ajudar a preparar talentos bilingues com a fluência necessária para a Administração”. Já o curso intensivo de Verão, aberto a maiores de 16 anos, permite o contacto com a língua durante 45 horas. Em nenhum dos cursos é necessário conhecimento prévio de Português. Em Setembro abre ainda um mestrado em Literatura Lusófona.

30 Jun 2015

Património | Farol da Guia vai estar aberto nos fins-de-semana de Julho

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Farol da Guia faz no próximo mês 150 anos e o Instituto Cultural (IC) festeja a data com a abertura do local, até ao topo, todos os sábados e domingos, até final de Julho. Durante a sessão de apresentação da iniciativa, o IC descreveu o Farol enquanto “testemunha silenciosa” da evolução desta cidade. Os visitantes vão assim ter a oportunidade de experienciar um das vistas mais únicas de Macau, tanto em termos de perspectivas paisagística, como de oportunidade, já que o edifício do Farol está normalmente vedado ao acesso público.
A abertura acontece das 10h00 às 17h30, entre 4 e 26 de Julho deste mês, sendo a entrada gratuita. “Durante o período de abertura ao público, os cidadãos poderão visitar o interior do Farol, normalmente não aberto aos visitantes, podendo inclusivamente subir ao topo do mesmo e apreciar a paisagem de Macau”, referiu o IC.
O Farol terá ainda em exposição antigos sistemas de luzes, “dando oportunidade aos cidadãos para compreenderem a história e o desenvolvimento” da utilização daquele local, tão emblemático no desenho urbano da cidade. Nos dias 18 e 19 de Julho vai realizar-se um workshop de construção de um modelo mais pequeno do farol em barro e um jogo de manipulação de embarcações na água, no Museu Marítimo. Além disso, vai ainda ser lançada, em conjunto com os Correios, uma emissão filatélica de selos, no próximo dia 8. Foi Wong Ho Sang, fotógrafo contemporâneo de Macau, que ficou encarregue pela ilustração. “Esta emissão é composta por um conjunto de dois selos e um bloco filatélico, cujo design ilustra, de vários ângulos, o Farol da Guia, o ponto mais elevado da península de Macau, dentro da Fortaleza da Guia e ao lado da Capela de Nossa Senhora da Guia.
A iniciativa compreende também a entrada gratuita noutros locais, como são o Quartel dos Mouros, as Oficinas Navais, o Museu Marítimo e a Doca da Ilha Verde.

30 Jun 2015

Yogaloft | Workshops de meditação gratuitos em Julho

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]espaço Yogaloft vai oferecer workshops de meditação gratuitos em Julho. Os mini-cursos ficarão a cargo de Kim Hughes, praticante da actividade e autora do livro “The Journey Within – Extraordinary Conversations with Uncommon People”, focado no mesmo tema.
Os workshops acontecem na sexta-feira, dia 3 de Julho, pelas 19h30, havendo ainda duas sessões no sábado, dia 4 de Julho, às 9h30 e às 19h30. Uma sessão adicional acontece ainda no dia 5 de Julho, sendo esta especialmente dedicada à Meditação em Grupo. Neste dia, marcada para as 10h00, a actividade é virada para aqueles que completem o workshop de três dias. Sahaj Marg
“Se houver interesse, levaremos a cabo meditações em grupo e sessões de purificação mais regulares e gratuitas, semanalmente, com base no que for mais conveniente para os membros do grupo”, avança ainda a organização em comunicado.
Os interessados podem inscrever-se a partir de hoje e, ainda que o possam fazer em sessões individuais, é aconselhável a participação nos três workshops, como alerta a responsável pelos mini-cursos. “O workshop é gratuito, mas os participantes deverão participar nas três sessões para um maior benefício. Se não puderem participar nas três sessões, o nome ficará numa lista de espera”, pode ler-se num comunicado enviado pela organização. Os interessados podem enviar a inscrição para kim4meditation@gmail.com, já que as vagas são limitadas.

[quote_box_left]Os mini-cursos ficarão a cargo de Kim Hughes, praticante da actividade e autora do livro “The Journey Within – Extraordinary Conversations with Uncommon People”, focado no mesmo tema[/quote_box_left]

Contra o stress

O tipo de meditação a ser ensinado vai seguir os princípios do Sahaj Marg, literalmente “O Caminho Natural”, uma forma de “raja yoga facilmente integrado nos horários de uma vida ocupada, ajudando a lidar com o stress e a manter o equilíbrio”.
Kim Hughes é uma académica norte-americana a residir em Macau há mais de uma década, tendo lançado recentemente o livro “The Journey Within: Extraordinary Conversations with Uncommon People”, uma obra que reúne 16 entrevistas com praticantes deste tipo de meditação e onde estes se debruçam sobre a sua vida antes e depois da meditação e experiências no Sahaj Marg.
Os workshops têm lugar no Yogaloft, perto do Leal Senado.

30 Jun 2015

São João | Arraial com balanço positivo. Maior dimensão em 2016

Em 2016 celebram-se dez anos desde a primeira realização do arraial de São João no Bairro do São Lázaro. Organizadores querem trazer novidades e criar um evento ainda maior, com mais música, participantes e barraquinhas

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap]certo que ainda se está na ressaca da edição deste ano do arraial de São João, que decorreu no passado fim-de-semana no Bairro de São Lázaro, mas os seus organizadores já estão a pensar na organização do evento em 2016. A festa será especial, uma vez que se comemoram dez anos desde a sua primeira realização. Ainda sem poderem adiantar detalhes, Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses (ADM), e Amélia António, da Casa de Portugal em Macau (CPM), garantiram ao HM que pretendem expandir o que se tem vindo a fazer.
“Seguramente vai ser uma festa bem comemorada, porque é um marco. Dez anos não é muito tempo mas é um passo significativo, por isso no próximo ano, haja sol ou chuva, vamos arranjar uma festa de arromba. Vai com certeza ter outras dimensões e tudo depende da afluência das pessoas. Estamos apostados em ter um maior número de tendas e mais espaço de festa”, disse Miguel de Senna Fernandes. “A nossa intenção é dar mais força e visibilidade, ter algo diferente e novo, mas não podemos adiantar”, frisou Amélia António. são joão

Mais e melhor

Em jeito de balanço do evento deste ano, a presidente da CPM fala de maior participação, com a meteorologia a dar uma ajuda. “Houve mais gente a querer estar presente em termos de representação de barraquinhas e os visitantes também foram mais. O que tentamos é que as pessoas tenham uma grande expectativa, de encontrarem bons petiscos e a parte de animação. Nota-se que de ano para ano essa procura e esse gosto de aproveitar aquele espaço e o tempo.”
“Foi uma coisa boa, o tempo ajudou imenso, aquilo é para ficar e crescer ainda mais. Vamos ver o que vamos fazer no próximo ano, porque precisamos de apoios”, acrescentou Miguel de Senna Fernandes.

Sair de São Lázaro?

Com uma festa ainda maior, será que o arraial de São João poderá sair do Bairro de São Lázaro? Miguel de Senna Fernandes mostra-se aberto a todas as possibilidades. “São sempre hipóteses em aberto, porque no fundo não tem de ser São Lázaro. Mas escolheu-se [o Bairro] porque nos dá aquele ambiente arquitectónico e ligado à cultura portuguesa. Mas pode haver outros sítios, desde que se reúnam condições. Quanto a mim estou aberto [a uma mudança].”
Já Amélia António considera que o Bairro de São Lázaro é o espaço ideal para continuar a receber o arraial. “É difícil haver espaços com aquelas características. Nada daquilo terá a mesma graça noutro espaço mais largo, incaracterístico, sem identidade própria. Já várias vezes foi abordado, mas penso que descaracteriza a festa.”
Olhando para os últimos dez anos, ambos os dirigentes associativos falam de uma festa que nem sempre foi compreendida e que ainda não chamou toda a atenção da comunidade chinesa.
“Nos primeiros tempos, se calhar o Governo não sabia o que isto era, as pessoas não estavam sensibilizadas, ainda olhavam com alguma desconfiança. Oxalá que dentro de pouco tempo consigamos que os moradores compreendam a festa. Este é um arraial de Macau e não é de portugueses em Macau”, disse Miguel de Senna Fernandes.
Em termos de apoios institucionais, Amélia António apenas se queixa da falta de colaboração do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). “Sempre houve uma falta de colaboração total do IACM, em termos do fornecimento de equipamentos. Mas das outras entidades oficiais temos tido todo o apoio. Não temos do que nos queixar”, rematou.

30 Jun 2015

A propósito de Alan Turing

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m longo artigo de Christian Caryl* vem generosamente juntar-se ao muito que se tem escrito ultimamente sobre Alan Turing. Reabilitado com alguma fanfarra pela rainha em 2013, a sua história vem lembrar quanto as transformações de mentalidade por vezes se desenvolvem num período curto, isto numa altura em que, na semana passada, se estende a todos os Estados Unidos da América o direito ao casamento entre parceiros do mesmo sexo.

O artigo de Caryl parte da apreciação de um filme recente, The Imitation Game, de Morten Tyldum, e de dois livros sobre o cientista inglês, Alan Turing: The Enigma, de Andrew Hodges, e Alan Turing: Pioneer of the Information Age, de B. Jack Copeland.

Tanto os livros como o filme sublinham com intensidade a importância de Turing como descodificador do sistema de códigos usado pelos alemães durante a segunda guerra mundial (Enigma) mas também como importante cientista nas áreas da ciência de computadores e inteligência artificial e como impulsionador da ideia das bases matemáticas da vida.

O artigo constante da NYRB de Fevereiro acrescenta que os smartphones, tablets, ou laptops de hoje devem muito ao trabalho de Turing como investigador na área dos computadores. Como se tudo isso não bastasse, Caryl informa, com um entusiasmo que vem dos anos 80, altura em que foi publicado o livro de Hodges, que o cientista britânico foi um corredor de longa distância de competência olímpica.

[quote_box_right]Pensar em Turing e ver um filme de televisão dos anos 90 cria uma aproximação mais honesta. Este tem o tom de um filme que se vê em casa durante a tarde de um domingo de chuva quando ainda se fumava em frente das crianças[/quote_box_right]

Ironicamente, o facto de ser homossexual, e a pena a que se viu condenado por isso, pode ser o que contribuiu para a sua fama recente. Não tivesse sido sujeito a um tratamento que a nossa sensibilidade contemporânea tem até dificuldade em compreender, e não tivesse terminado a sua vida (aos 41 anos) aparentemente como resultado desse tratamento, a sua biografia não teria o elemento dramático que o tornou numa figura que suscita uma curiosidade cada vez mais alargada.

Caryl não é amável para com o filme, onde detecta muitas falhas. A maior será a de que o filme de Tyldum reduz a figura do retratado à caricatura de um génio torturado, um excêntrico coitadinho pouco à-vontade no seu mundo. Esta é, segundo o autor do artigo, apenas a história de uma vitimização.
Há muitas outras críticas. A de que o filme apresenta um Turing lavadinho e bem vestido (saído de um catálogo da Burberry, diz o autor do artigo), interpretado por um actor que parece que é famoso no mundo limpinho e aborrecido de grande parte do cinema de hoje (esta parte é minha), quando o descuido de Turing com a sua aparência física, vestuário e higiene pessoal é bem conhecida. É um tipo de lavagem que vende bilhetes.

Junta-se o aviso de muitas outras falhas a nível histórico, sobre a história pessoal de Turing (nomeadamente no que pertence às circunstâncias que rodearam a sua morte, que Copeland, no seu livro, explica que pode não ter sido um suicídio) e sobre a história da sua actividade profissional e vastos interesses científicos e filosóficos.

O autor do artigo parece especialmente indignado pelo retrato que o filme faz do último ano de vida do matemático (monstrous hogwash nas suas palavras) em que este, completamente contrário ao que o filme relata, terá mantido a total posse das suas capacidades mentais e continuação entusiástica de vários projectos pessoais.

Do que ninguém se parece lembrar, e esta longa introdução parece adiar, é que existe um outro filme para televisão, não muito antigo, sobre o agora famoso matemático. Breaking the Code é um filme de 1996 de Herbert Wise, um realizador nascido na Áustria mas de obra desenvolvida no Reino Unido, com uma longa carreira no filme para televisão – é o realizador, por exemplo, da série I, Claudius, de 1976.

Importante será notar que há 19 anos alguém se interessou o suficiente por Turing para fazer um retrato fílmico da sua vida.

Seria fácil partir da vontade de contrastar um filme recente e bem arranjadinho, menos honesto na sua intenção, com uma visão autorizada por um realizador há 19 anos e valorizar esta pelo pioneirismo e pela patine acrescentada. Este pequeno artigo não é uma comparação porque nem sequer conheço o filme recente.

Pensar em Turing e ver um filme de televisão dos anos 90 cria uma aproximação mais honesta. Este tem o tom de um filme que se vê em casa durante a tarde de um domingo de chuva quando ainda se fumava em frente das crianças.

Grande parte dele concentra-se, de um modo afável mas não paternalista, na sua condição de homossexual e na importância da matemática, as cenas referentes à sua adolescência sendo bastante poéticas e inocentes e as cenas que ilustram o seu recrutamento cheias de uma conversa matemática e filosófica felizmente exagerada para as exigências de um filme de televisão. É de louvar.

Paralelamente – e é por aí que o filme começa – a componente policial da história, em torno do roubo que levou ao conhecimento público da sua orientação sexual, tem um peso compreensível num filme para televisão.

Menos habitual é que nele se incluam 2 ou 3 cenas com longos monólogos (menos possível no cinema para crianças ou no Cinema Burberry que hoje se pratica em larga escala) em que se afirma sobretudo a determinação de Turing, o seu amor pela matemática, a necessidade imperiosa da criação de uma máquina que lidasse de modo rápido com os dados necessários à decifração e a sua implacável devoção ao país que depois o castigará por um pormenor da sua vida privada.

Moderno no filme de Wise é a dedicação à exposição da sedução dos estudos de matemática, uma que tem conhecido, no século XXI, um incremento quase pop no culto a Turing e, por exemplo, Kurt Gödel, e na ideia de que não há maneira de dizer, à partida, que problemas são passíveis de serem ou não provados.**

Turing não é apresentado como um grande excêntrico mas como um homem de idade (a trama parte dos anos 50, muito depois da sua contribuição para o esforço de guerra) e usa várias analepses. Este homem de idade não é, como parece ser em The Imitation Game, um homem com extraordinárias desadequações sociais, e o desmazelo – que lhe vinha da adolescência – é parte considerável da sua descrição, que é intensa. Praticamente não há cenas em que Turing não apareça – a roer as unhas e mal vestido.

O filme de Herbert Wise é profundamente simpático para com a figura de Turing e muito íntimo na sua apresentação, quase sem cenas de exteriores, com poucos actores e com uma tonalidade próxima do teatro (Derek Jacobi participou numa produção teatral sobre a vida de Turing onde também o interpretou – a história não é tão desconhecida na Grã-Bretanha quanto o era no resto do mundo até há pouco tempo). Insiste-se, num outro longo e apaixonado monólogo, na extrema necessidade de criar uma máquina (o computador de hoje) que permita lidar rápida e eficientemente com problemas de decifração que poderiam mudar o rumo da guerra.***

Finalmente, a hipótese da sua morte não ter sido causada por suicídio é mais do que aflorada. A figura da mãe tem, para o fim da história, uma importância cada vez mais explícita e é esta que se insurge contra esta improvável hipótese.
Pode ser que o futuro nos reserve a revelação de novos dados sobre a sua morte.

*NYRB, February 5-18, 2015, Vol. LXII, Number 2.
** aconselha-se o seguinte aliciante e longo livro de banda desenhada que usa a vida de Bertrand Russell para nos mostrar uma história da matemática dos séculos XIX e XX: Logicomix, An Epic Search for Truth, de Apostolos Doxiadis e Christos Papadimitriou (onde se fala e desenha longamente sobre Gödel e Wittgenstein, também objectos de discussão e admiração em Breaking the Code).
*** uma interessante discussão que se não aflora no filme (e que, concedamos, seria excessiva à matéria primária em questão) é a da lenta destruição da importância do pensamento matemático alemão e austríaco por parte do opressivo regime anti-judeu nazi que obrigou à fuga, para os Estados Unidos, dos seus nomes mais ilustres e à transferência para este país deste complexo de pensamento.

30 Jun 2015

A cidade feliz

“É conhecida como a Las Vegas da Ásia mas, para os visitantes não-jogadores, Macau é tudo menos isso. Apesar de fazer mais dinheiro do que a cidade-pecado do Nevada, Macau não tem nem a vibração electrizante das festas da Meca do jogo do deserto nem o glamour dos tempos passados que os Casinos à beira mar, estilo Mónaco, exibiam.” Tiffany Ap CNN. 26 Jun 2015

[dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uando Deng Xiao Ping elaborou o princípio de “Um país, dois sistemas,” provavelmente uma das criações políticas mais brilhantes do séc. XX, estaria, com certeza, longe de imaginar que Macau conseguiria ir mais à frente e inventar um terceiro sistema: um sistema caracterizado pela ignorância, pela falta de visão e pela cupidez. Um sistema cujo único objectivo, contrariamente ao de progresso preconizado pelo velho estadista, tem sido o da destruição sistemática de uma cidade, de uma forma de vida ou, como Esopo escrevia, desenhado para matar a galinha dos ovos de ouro. Um sistema responsável pela dissolução de uma cidade histórica num pastiche cada vez mais incaracterístico e, de arrasto, por comprometer seriamente o seu próprio futuro como entidade cultural e pela ruína da qualidade de vida dos seus cidadãos, porque o dinheiro, como é de ver, não é sinonimo de qualidade.

Antes Macau queixava-se que ninguém queria saber da terra e que a imprensa internacional não se interessava por nada que aqui se passasse. Mas o terceiro sistema conseguiu resolver o problema. A questão agora é que quando Macau é referenciado na imprensa internacional muitas das vezes não é pelas melhores razões: ou é pela falha no sistema de protecção às crianças, pela incrível incapacidade de regular a violência doméstica, pela incapacidade de gerir e conservar património cultural ou mesmo para ser ridicularizado pelas suas opções estratégicas de turismo como acontece neste artigo da CNN sob o título “Macau 2.0: Gambling mecca’s shiny, crazy, new attractions”e do qual extraí o texto de abertura. Um artigo que termina de forma algo irónica com uma citação do Secretário Alexis Tam que terá dito: “Vamos transformar Macau numa cidade feliz.” Caro secretário, custa-me dizer isto porque estava quase convencido que finalmente tínhamos um governante capaz de arrumar a casa, mas a única felicidade que essa declaração me provoca é uma vontade enorme de rir. Mas um rir triste, um rir de quem não quer chorar pois Macau era uma cidade feliz antes do terceiro sistema ter sido implementado. Macau tinha espírito, as pessoas gostavam de cá viver, de cá voltar e existia sempre na ideia do mundo a imagem de uma cidade sem igual, meio mediterrânica, meio chinesa. Agora é um estaleiro permanente sem um qualquer sentido que se vislumbre. A cidade feliz que agora se anuncia não é uma cidade, é um parque de diversões, caro secretário.

[quote_box_left]”A vaca sagrada. Ou o governo faz ou ninguém faz. Em qualquer outro país, especialmente naqueles mais virados para o turismo, organizações privadas podem utilizar o espaço público (mediante regras, naturalmente) para organizar eventos e intervenções como, por exemplo ainda agora o escorrega de água em Vila Nova de Gaia, concertos.. o que for. Em Macau não. Em Macau não vale a pena ter ideias. Em Macau não vale a pena propor. Em Macau é governo, governo, governo e nada mais do que governo. Cansa.”[/quote_box_left]

Conforme é enunciado no artigo da CNN não há qualquer interesse específico em visitar Macau nos dias que corre. Hotéis faiscantes, Torres Eiffeis de pacotilha e quejandos há (ou pode haver) em qualquer lado. O que não há é uma terra como Macau já foi. Macau vai perdendo a sua autenticidade a um ritmo diário. Ao ritmo de mais uma construção sem sentido, ao ritmo do abandono da cidade pelos próprios locais pois é cada vez mais frequente ouvir os naturais da terra, chineses ou macaenses, ou outros, dizerem que já não aguentam mais, que mais vale irem passar o resto dos seus dias para Phuket, regressarem a Portugal ou irem para qualquer outro lado. E isso não faz uma cidade feliz. Isso não faz sequer uma cidade. E se não se pretender debandar para muito longe, Zhuhai é cada vez mais uma opção. Uma cidade bem planeada, com obras de vulto assinadas por arquitectos de renome internacional e que aos poucos vai envergonhando a outrora orgulhosa cidade de Macau.
Senão analisemos sucintamente a “cidade feliz” em meia dúzia de áreas vitais:

Património Cultural e afins

Como dizia o arquitecto Vizeu Pinheiro há dias, “qualquer dia só restam as igrejas” ou parafraseando o também arquitecto André Ritchie vivemos de fachada. O largo do Leal Senado parece uma feira cheia de reclamos, em qualquer lugar do mundo (até na China) um lugar classificado não se compadece com isso. Que faz Macau? Empurra com a barriga. Depois entramos no património. Que há lá dentro? Nada. A Casa do Mandarim ou a mansão Lou Lim Ioc, por exemplo, são apenas conchas vazias. Todavia, se tivermos a ousadia de propor filmar lá dentro ou organizar um evento não nos autorizam a tocar em nenhuma das relíquias (leia-se flores de plástico e prateleiras de alumínio). Em Portugal, que neste caso podia muito bem servir de exemplo, no auge do movimento rave, as maiores, com milhares de pessoas a dançarem, foram organizadas dentro de castelos (património mundial) como o Castelo de Santa Maria da Feira ou o de Montemor-o-Velho por entidades privadas. Em Macau, perdoem-me a expressão, nem um peido se pode dar junto do património. As Casas do Lilau são outro exemplo de inépcia. É só fachada. Mesmo.

Saúde

É preciso dizer alguma coisa sobre isto?

Trânsito

Quando é que há tomates, repito, tomates para se fechar a Almeida Ribeiro ao trânsito, a Rua da Felicidade ou a rua do Campo? Macau é assim tão grande que não se possa andar a pé? Alguém já reparou como a presença massiva dos carros e seus ares condicionados contribuem, em muito, para o aumento de temperatura da cidade, já para não falar da poluição? Porque não se criam circuitos pedonais? E se a preocupação é mesmo a saúde a julgar pela draconiana lei do fumo, porque ninguém se preocupa em tirar carros da rua?! Porque é que os ciclomotores de 50cc (altamente poluentes) ainda são permitidos?! Porque não se abrem as ruas à bicicletas? Porque não existem autocarros amigos do ambiente? Porquê, porquê?…

Diversificação económica

Desenhada para os mesmos fazerem mais do mesmo.

Indústrias culturais

Gadgets, lembranças e sucedâneos e nenhuma visão politica sobre o assunto. Concursos de filmes disparatados lançados pelo IC e pouco mais.

Arquitectura

Para além das obras públicas, Macau podia preocupar-se com a arquitectura dos prédios de habitação que vão surgindo. Mas não, apenas saem caixotes atrás de caixotes ao nível do pior que se faz na China. Já alguém se deu ao trabalho de olhar para as novas urbanizações em Zhuhai? Não deixam de ser prédios com muitos andares mas nas zonas nobres, como Gongbei, não são propriamente caixotes…

Ordenamento urbano

Tapumes de zinco ferrugentos e mal amanhados, autocarros amontoados em zonas nobres (quando podia, por exemplo ter sido planeado um espaço na Ilha da Montanha). Obras por todo o lado… Já alguém reparou como se delimitam as zonas de obras em HK? Porque é que Macau continua a ser terceiro mundista até nisto? Porque não se aproveitam os painéis para propor aos artistas da cidade que os decorem? Porque não se arranja uma solução para os pinos de trânsito na Av. da Amizade? Porque é que é tudo sempre uma grande salganhada? Dá algum prazer andar pela cidade?…

Fumo e drogas leves

Faz algum sentido o finca-pé do governo? Faz algum sentido chamar a Macau a cidade do lazer e uma pessoa ser multada à chegada ao aeroporto (por causa da pala)? Faz algum sentido vir a uma terra para descontrair e não poder fumar numa discoteca ou num bar? Falam do Japão?… Alguém tem a lata de falar no Japão quando por lá quase todos os restaurantes têm zonas de fumo, quando se pode fumar nos bares e discotecas, quando todas as estações de comboios e outros locais públicos têm salas de fumo? Casinos onde se joga e não se pode fumar sem ter de se parar de jogar? Mas isto cabe na cabeça de alguém? Não cabe porque não pode caber. É mais um tiro no pé a grande especialidade do governo de Macau. Fala-se até que vão aumentar os impostos (outra vez) sobre o tabaco. Para quê?! Acham mesmo que as pessoas vão deixar de fumar? Ou vão começar a contrabandear tabaco e a comprá-lo em Zhuhai? Se se preocupam tanto com a saúde, sabendo como o tabaco é feito na China, isso não preocupa? Aumentar taxas é sempre a solução mais fácil, é sempre a solução utilizada quando não se sabe o que fazer.
Em relação às drogas leves, quando o mundo inteiro despenaliza Macau agrava as sentenças? Nem no mundo das leis segue o seu legado? Que diabo…

Espaço Público

A vaca sagrada. Ou o governo faz ou ninguém faz. Em qualquer outro país, especialmente naqueles mais virados para o turismo, organizações privadas podem utilizar o espaço público (mediante regras, naturalmente) para organizar eventos e intervenções como, por exemplo ainda agora o escorrega de água em Vila Nova de Gaia, concertos.. o que for. Em Macau não. Em Macau não vale a pena ter ideias. Em Macau não vale a pena propor. Em Macau é governo, governo, governo e nada mais do que governo. Cansa.

Organização Administrativa

Toda a gente sabe que um dos problemas graves de funcionamento do governo é a rivalidade entre departamentos. Falta de comunicação, bloqueios, “o meu departamento é melhor que o teu” o que piora quando se tratam de departamentos de secretários deferentes. Pergunta: de que está o governo às espera para construir um espaço onde consiga albergar o governo todo? Porque diabo ainda temos serviços aqui e servicinhos ali? Não seria melhor? Não facilitaria a comunicação? Não aproximaria os sectores? Não libertaria imóveis, que poderiam ser úteis para outras coisas? Não contribuiria para aliviar a pressão no imobiliário?

Com todas estas tromboses, como é possível Macau imaginar sequer poder atrair turistas que não os campónios da China? Porque os turistas de elite (o jargão do momento) nem da China nem de lado nenhuma para aqui vêm. Alguém com o mínimo de gosto quererá vir passar o seu precioso tempo de férias a um lugar que não é nem carne nem peixe e em permanente estado de sítio? Não será melhor ir para Singapura, por exemplo? O terceiro sistema, este sistema macaíno da imbecilidade por mais que batam no peito e façam, juras de amor à pátria, em tudo contraria o velho Deng ao mandar para fora da China os visitantes que aqui poderiam deixar as suas divisas e mesmo ao dinamitar a política de hoje do governo Chinês que pretende Macau como a plataforma de contacto para os países de língua portuguesa. Ao matarem o espírito da cidade também isso matam. Com todo o dinheiro que Macau fez nestes últimos anos tinha a obrigação de ter sido capaz de criar uma cidade sem paralelo, uma verdadeira cidade feliz. Mas não. Agora os poderes entreolham-se e pensam como sair do buraco que cavaram. Não ajudam nem a pátria nem os que cá estão.

Fiquei cansado. Não me apetece dizer mais nada. São muitas as perguntas sem resposta. A estupidez cansa.

MÚSICA DA SEMANA

“Requiem for a Dream” de Clint Mansell interpretado pelo Kronos Quartet.
Tenha uma boa semana caro leitor. Se for possível.

30 Jun 2015