Filipa Araújo SociedadeTV Cabo | Chui Sai On admite erro e promete melhorias [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Chefe do Executivo, Chui Sai On, garantiu que o Governo respeita “a independência judicial” e que, por isso mesmo, a Administração teve de “cumprir a sentença” do Tribunal de Segunda Instância (TSI) que ordenava o pagamento de 200 milhões de patacas à TV Cabo Macau pelos prejuízos que causou ao aceitar a retransmissão ilegal de canais pelos anteneiros, quando a empresa tinha um contrato de exclusividade. Em declarações à comunicação social, à margem da primeira reunião plenária do Conselho para o Desenvolvimento Económico, o líder de Macau explicou que, tanto neste como em todos os governos assumiu-se como objectivo a permissão de manter que a população pudesse ter acesso aos canais de televisão. “O processo demorou algum tempo devido a vários factores, sejam históricos ou judiciais”, disse, frisando o “empenho e dedicação” do próprio Governo na resolução do problema. “Respeitamos a independência judicial, sabemos que não há mais espaço para recurso, portanto sendo esta a decisão final nós temos de cumprir a sentença”, afirmou Chui Sai On. Estudar para o futuro Assumindo o comportamento errado, o Governo vai agora analisar todo o processo e perceber que medidas tomar no futuro, avaliação que caberá ao Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, fazer. “Já fiz um despacho para o Secretário para os Transportes e Obras Públicas para avaliar o processo inteiro e avaliar a situação, para saber o que é que é possível fazer no futuro, quais as medidas de prevenção”, indicou, admitindo que a questão dos anteneiros tem-se arrastado por muitos anos. A guerra judicial, que começou em Dezembro de 2012, com a decisão do tribunal arbitral em condenar a RAEM ao pagamento de uma indemnização de 200 milhões de patacas, termina, três anos depois, exactamente com a mesma decisão e já com o pagamento feito do Governo à operadora. No segundo trimestre do ano passado, foi renovado o contrato de concessão à TV Cabo por mais cinco anos.
Flora Fong PolíticaAL | Ma Chi Seng denuncia pressões na análise de propostas de lei polémicas [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]deputado nomeado Ma Chi Seng afirmou que sentiu pressões ao ser membro da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), quando foram discutidas propostas de lei mais polémicas. O deputado afirma ainda que houve opiniões de que algumas leis deveriam ser pesadas. Num balanço à sessão passada da AL feito ao Jornal Ou Mun, o deputado recordou que foram aprovadas 14 propostas de lei, além das relacionadas com o salário mínimo e com o erro médico, identificando as mais polémicas como as da violência doméstica e a de protecção de animais, em discussão em especialidade na Comissão de que faz parte. Ma Chi Seng fala de incidentes que “adicionaram pólvora” ao debate das propostas, tais como o caso da filha que bateu na mãe e os vários cães atirados de um edifício de habitação pública. Estes foram os casos que, diz o deputado, causaram pressão. “A 1.ª Comissão Permanente nunca foi preguiçosa e realizou muitas reuniões. As duas propostas da lei [acima referidas] não são fáceis e envolvem hábitos da vida quotidiana da população, o que leva os legisladores a ter muito cuidado e a auscultar opiniões dos cidadãos e do Governo.” Ma avançou ainda que, durante a discussão das propostas de lei, existiram opiniões que consideravam que as punições de ambas as leis eram leves demais. O deputado diz que há tendências da sociedade pedir uma “legislação rigorosa”, mas como as duas propostas de lei envolvem questões já reguladas pelo Código Penal, devem ser mais “equilibradas”. Ma Chi Seng disse ainda que existe, na sua opinião, espaço para melhorias no que às medidas de apoio aos jovens e empresas diz respeito. “É necessário que o Governo implemente medidas de apoio de lojas velhas características, criando uma rua onde estejam apenas as lojas antigas de Macau. É preciso que os organismos competentes tenham um mecanismo de acompanhamento aos jovens, aumentando a taxa de sobrevivência dos seus negócios”, rematou.
Leonor Sá Machado Eventos MancheteXing Danwen, artista contemporânea, chama a atenção para inversão de valores na China Xing Dawen nasceu na província de Xi’an durante a Revolução Cultural e os seus trabalhos roçam o estilo pós-modernista e comportam uma forte crítica às mudanças sociais que a China tem vindo a sofrer. Exemplo disso são as colecções Duplication ou Urban Fictions. A culpa é não só da globalização, mas também do crescimento acelerado do país, diz Um dos seus trabalhos mais recentes é “Urban Fictions”, uma série composta de fotografias alteradas em computador e que têm como principal elemento maquetes de arquitectura. Como é que a ideia para esta obra surgiu? Antes de mais, é importante perceber as minhas origens. Vim de uma cidade muito antiga na China, em Xi’an. Ao crescer, acabei por me afastar da minha terra natal e mudei-me para Pequim e fora da China, para a Europa. Para mim, assistir à modernização das cidades foi uma experiência única, falo da minha experiência enquanto emigrante de uma província chinesa para uma grande cidade e, mais tarde, para a Europa. Depois da viagem, quando voltei para Pequim, apercebi-me de que a cidade já não era aquilo que eu tinha deixado: uma cidade pequena. Transformou-se num local contemporâneo e foi assim que comecei a ficar muito interessada acerca da mudança e desenvolvimento urbano. Essas mudanças tiveram um grande impacto na minha geração. A ideia em si surgiu a partir da observação do indivíduo e a parte da maquete tem como base a prática das agências imobiliárias chinesas terem o hábito de mostrar, a possíveis clientes, as maquetes dos apartamentos à venda. Às vezes até um andar modelo, de como aquela casa poderia ficar decorada. Tudo isto transmite às pessoas o ideal de vida que ali podia nascer. Mas de que forma representam a sociedade actual? Além das maquetes serem réplicas das construções, têm nomes ocidentais como Upper East Side, SoHo, MoMa, que em Nova Iorque é um museu, mas em Pequim significa ‘riqueza’. Basicamente é desta forma que entram e atraem o mercado. Tem temas específicos que digam respeito não só à vivência em cada um dos apartamentos, mas à própria mudança urbana? À mudança urbana em si, penso que não. É mais acerca da alteração do estilo de vida e da inversão do conceito de valor e daquilo que tem valor na sociedade. A casa no apartamento do SoHo, por exemplo, retrata uma família tipicamente yuppie. O meu objectivo é expor a solidão nesta enorme cidade. Nas fotografias, estão várias figuras pequeninas e várias delas sozinhas. Mesmo as que estão acompanhadas, não têm ligação entre si, mesmo naqueles pequenos apartamentos. Grande parte dos seus trabalhos acontece em suporte fotográfico. Como é que o interesse começou? Enquanto adolescente, estudei Pintura na Academia de Belas Artes de Xi’an, mas não fotografia. Sempre me dediquei à pintura e a fotografia veio depois. Nos seus trabalhos, parece imperar a lógica do ready-made, dos elementos do mundo globalizado. Um dos exemplos é Duplication, uma série com partes do corpo de bonecos. Como é que a ideia surgiu? Essa série começou depois da Disconnection, uma série onde junto peças de computador e questões relacionadas com formas de reciclagem muito primitivas. Este trabalho começou com uma série fotográfica em Cantão. Fui lá várias vezes e percebi que se tratava de um negócio muito grande de reciclagem, com muito lixo diferente. Um dia por acaso descobri a parte dos brinquedos, mas acho que a vontade de criar este projecto já existia antes. De que forma? Tenho-me vindo a aperceber de uma tendência crescente da sociedade actual, que tem a possibilidade de ser tudo o que quiser, de se moldar e transformar. A ideia de nos querermos transformar em algo que não somos tem origem na vontade de ser parte do standard. Tudo isto está relacionado com o conceito de estética que, por sua vez, tem origem no mundo ocidental, no padrão do mundo ocidental. Este tem vindo a influenciar cada vez mais o mercado de consumo oriental, principalmente na China. Tudo tem que ter um nome ocidentalizado, as revistas têm sempre celebridades europeias na capa. As pessoas começam a acreditar que serão mais bem sucedidas se seguirem estes conceitos. Para Duplication, pus-me a pensar na forma como a sociedade está actualmente categorizada, a noção de indivíduo está a desaparecer. Isso quer dizer que a rota conceptual do estilo de vida e de consumo começa no Ocidente e acaba aqui? Sim, exactamente. Uma das coisas que mais me surpreendeu foi o facto de não haver Barbies chinesas: 99% delas são caucasianas e têm olhos azuis, as restantes são africanas, mas não há nenhuma chinesa. Cheguei a ir a uma feira de bonecos, onde é possível ver que todas as encomendas de grandes lojas são de Barbies brancas. Porquê? Parti desta premissa. Sente que as tradições estão a ser postas de lado na China? As pessoas continuam a usar a Medicina Chinesa e a não querer apanhar sol para permanecer com a pele branca… Penso que, ao nível da Medicina, a tradição continua forte. Mas isto é porque reavivar o antigo é a nova tendência. Antigamente, os tecidos sintéticos eram os mais caros, usados só por quem tinha dinheiro e o algodão significava que se era pobre. O mesmo acontece com a alimentação. Quando era criança, era tão caro comer pão branco e o escuro era muito mais barato e posto de lado. Hoje em dia é ao contrário. As prioridades inverteram-se. É muito interessante perceber isto. Os valores foram-se invertendo devido à influência do exterior e outro dos exemplos é o da lã e da seda. Na altura, eram produtos muito baratos, mas hoje em dia encareceram bastante devido à popularidade que ganharam no Ocidente. Existe então um retorno às origens no Ocidente e uma cópia desta tendência na China. Sim, de certa forma. A sociedade chinesa é interessante na fusão que faz do tradicional com o moderno. O Google está banido da China e o único motor de busca que temos é o Baidu. Esta estratégia não faz sentido, porque as pessoas acabam por só ter conhecimento das coisas através de uma fonte altamente filtrada. Os meus tios e primos estariam dispostos a pagar 2000 yuan por uma caxemira e eu pago 300 pela mesma porque sei onde comprar mais barato. A questão está no valor: dá lugar a uma distorção num ambiente realmente controlado. Ou seja, as pessoas conhecem uma realidade que não é a real. Hoje em dia, a sociedade chinesa dá valor ao que custa mais. Em Macau, os supermercados colocam grandes avisos a mostrar quais as embalagens de carne que vêm do estrangeiro e aquelas que vêm da China e as de fora são sempre mais caras. Acho que a China padece de falta de credibilidade. As pessoas estão a começar a perder a confiança e a credibilidade umas nas outras. Perdem-se tradições, cultura e até a alma. Perde-se a alma e deixa de se ter ideologia. E esta tendência deve-se a quê? Julgo que se deve ao crescimento acelerado e deficiente da sociedade. Se todos nós sentirmos mais segurança dada pelo país, acredito que as pessoas podem estabelecer melhores relações pessoais. Mas acredito que é uma fase transitória. Nasceu durante a Revolução Cultural e fez parte da primeira vaga da sub-cultura de artistas de Pequim. Havia, no entanto, uma barreira a todas as pessoas do exterior… E eu era parte da própria cultura como artista. Na década de 90, tinha acabado de me formar na Academia e a cena cultural em Pequim era muito reduzida, com umas cem pessoas. Também me formei numa das melhores academias de arte chinesas e lidava com uma série de artistas que hoje são conhecidos. No final, claro que as minhas ligações e os meus amigos eram todos da mesma origem. Como era viver um pouco à margem de tudo isso e ser parte do início? Éramos um grupo problemático, estávamos sempre metidos em confusões com a polícia. Não éramos bem aceites pela sociedade devido à forma como pensávamos, vivíamos muito à margem, sim. Foram tempos muito difíceis, porque não tínhamos dinheiro e o futuro era incerto, havia ainda muita censura. Tínhamos, contudo, um forte sentimento de paixão e a vontade de ser famosos. Não acha que é, de certa forma, irónico que actualmente Pequim tenha dedicado um único distrito à arte e cultura? A arte contemporânea noutros locais tem, frequentemente, uma forte componente de crítica social ou política, algo que na China é ainda impensável. Antigamente, a comunidade artística era diminuta, éramos uma sub-cultura escondida. Mas hoje em dia democratizou-se. Quando mostro as fotografias da altura aos meus amigos, eles não acreditam, porque não conseguem imaginar aquelas coisas a terem lugar na Pequim de antigamente. Acho positivo que agora haja uma plataforma aberta à cultura, à venda no mercado cultural. Isto desempenha um papel fundamental para a cultura de massas, porque este é o tipo de pessoas que não paga para ir a museus ou galerias. Curiosamente, o Distrito 798 parece um zoo, sempre cheio. E o que quer isto dizer? Que a cultura se democratizou? Sim, como se as pessoas assumissem o nome do MoMa a tudo o que tivesse ‘riqueza’ implícita e não ao museu nova-iorquino. Tudo o que é especial e fashion, é aceite. O 798 está sempre cheio de gente jovem e tem vários turistas, como se fossem fazer compras em grupo num distrito cultural. Tornou-se num ponto turístico essencial. Mas isto é positivo? Julgo que sim, porque é uma forma fácil de dar a conhecer a arte aos mais jovens, só assim é que eles se tornam parte do mundo da arte contemporânea. Esta democratização é inegável. Terá também trazido mais abertura ou ainda há censura? Continua a haver censura, mas ela existe em todo o lado. Mas sente-se livre para fazer os seus trabalhos na mesma? Sim, até porque a censura só se foca em duas coisas: política e pornografia ou sexo. Se os artistas não trouxerem o seu trabalho a público – a maioria prefere ser discreto a esse nível – e se o fizerem na sua privacidade, está tudo bem. Se quiserem expor algo, terão, naturalmente, que ir ao encontro das directrizes governamentais. Prefere expor na Europa ou na China? Deixou de ser importante para mim. O que interessa é que em todos os meus trabalhos consigo detectar as minhas próprias experiências. Estas, por sua vez, tiveram origem no conflito social e cultural no meu país, entre o tradicional e o contemporâneo. De quando voltou da Europa para Pequim… Sim, acredito que todos estes elementos desempenham um papel fundamental em todos os meus trabalhos. E no que toca a Macau. Já cá tinha estado? Sim, no ano passado, através de José Drummond. Faz parte do projecto Influxus, da Babel, como? Através de convite, mas estava nervosa porque não sabia bem que trabalho devia desenvolver no âmbito deste projecto. Devo dizer que me sinto agradecida por fazer parte do Influxus. É um programa que nos permite viajar pelas raízes da cultura portuguesa e foi nesse âmbito que fui ao Porto pela primeira vez. Talvez seja da minha má memória, mas recordo-me da primeira vez que fui a Itália. Em Roma, fiquei com a impressão de que tudo era muito velho e saí de lá com uma impressão negativa do conceito de cidade antiga. Desta vez, no Porto, senti-me bem por estar numa cidade do género. Talvez pelo facto de Roma estar pouco cuidada… Não sei porque não fiquei com vontade de lá voltar. Agora no Porto, as pessoas parecem viver contemporaneamente dentro da cidade antiga. Aí gostava de voltar.
Flora Fong PolíticaFunção Pública | Proposta de ajustamento de salário em Outubro Sónia Chan não fala em números, mas promete uma proposta de aumento dos salários da Função Pública no próximo mês. A Secretária assegura que vai ter em conta todos os factores, mas não responde se vai ter também o da “austeridade” [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, disse ontem que, no próximo mês, poderá haver já uma proposta de ajustamento dos salários da Função Pública. Em declarações à Rádio Macau, a responsável deu Outubro como previsão para a tão esperada proposta de aumento. O pedido de aumento é anual e, recentemente, a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) pediu ao Governo que este fosse de, pelo menos, 6%. Isto para que pudesse ser ao nível da inflação. Sónia Chan não fala de números mas, quando questionada sobre se a proposta de aumento vai ser de um valor menor do que o ano passado devido às recentes medidas de austeridade implementadas pelo Governo, a Secretária afirmou apenas “que vai fazer a análise considerando todo o ambiente económico”. Chan frisou que ainda não há decisão sobre o nível de ajustamento, mas defende que vai considerar “todos os aspectos”. O ano passado, recorde-se, o aumento dos funcionários públicos foi de 5,71% e este ano, em Janeiro, de 6,75%, o que fez com que os funcionários passassem a receber 79 patacas por hora. Quanto ao Acordo de Cooperação Judiciária em Matéria Penal, a Secretária para a Administração e Justiça frisou que os governos de Macau e Hong Kong já encontraram um consenso, estando agora a negociar os detalhes, como por exemplo a revisão dos artigos. Face à possibilidade de criação de um órgão municipal sem poder político, a Secretária disse esperar que possa começar consultas públicas no próximo ano sobre o assunto.
Flora Fong Manchete SociedadeTelecomunicações | Governo confirma ligação entre empresas. Mtel desmente O Governo diz que sim, mas a Mtel diz que não: ainda há problemas na ligação entre a nova empresa de telecomunicações e a CTM, de quem está dependente [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]director dos Serviços de Regulamentação de Telecomunicações (DSRT), Hoi Chi Leong, defende que não existe qualquer problema na ligação entre a Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) e a Mtel. Esta, contudo, desmente. Em causa está o atraso na instalação da rede da Mtel, sendo que o director assegurou, em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, que está a ser feito um esforço para acelerar as obras, confessando que se trata de um trabalho complexo por envolver tubos de combustível, água e de electricidade. Hoi Chi Leong foi questionado sobre o assunto ontem, à margem do 12º Fórum do Desenvolvimento das Telecomunicações e das Tecnologias da Informação e Comunicação da Ásia-Pacífico. Recorde-se que o deputado Au Kam San criticou, numa interpelação escrita, a fraca ligação entre a CTM e a Mtel, acusando a DSRT de ignorar o problema. O director defendeu que o Governo já coordenou os trabalhos de acordo com o Regime de Interligação de Redes Públicas de Telecomunicações e disse, uma vez mais, que não existem problemas de maior. Contudo, o consultor especial do gabinete executivo da Mtel, Alex Choi afirmou ao HM que a CTM ainda não respondeu ao pedido da ligação, pelo que a Mtel continua a aguardar pela interferência da DSRT. Sem contacto Até ao momento, confirmou, não há qualquer ligação. “Estamos totalmente preparados para a ligação com a CTM. Antes dos nossos serviços entrarem em funcionamento, já tínhamos apresentado o pedido à DSRT, o que regulamenta na proposta do concurso e do regulamento administrativo”, admitiu Alex Choi. Alex Choi ilustra a falta de ligação com o facto de parte dos servidores estarem sob poder da CTM e surgirem vários casos de falhas no download de email de pessoas que usam a banda larga da Mtel. O responsável acrescenta que alguns websites estrangeiros estão consignados às páginas da CTM e os clientes da Mtel não conseguem abri-las. “Como não há ligação, os nossos serviços podem ser mais lentos e menos completos”, frisou. 4G | Plano de uma das empresas aprovado Quanto aos serviços 4G, o director da DSRT referiu que de entre quatro operadoras, o plano de preços de uma delas já foi aprovado. Dois outros estão na apreciação e a última ainda não apresentou o seu plano, mas o director não referiu os nomes das empresas. Hoi Chi Leong defende que os serviços de 4G continuam a respeitar as medidas de protecção de clientes e mantêm o uso de dados móveis nas 500 patacas.
Flora Fong Manchete SociedadeCaso Dore | Especialistas falam de risco de perda de confiança O caso Dore pode vir a provocar uma onda de retirada de dinheiro das salas VIP de outras empresas, de acordo com especialistas locais. Ainda não foi detectado um grande movimento neste sentido, mas pode estar para breve [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]specialistas do sector do Jogo acreditam que o roubo de milhões de dólares de Hong Kong de uma sala VIP da Dore do Wynn pode criar uma onda de levantamentos por parte dos investidores que investiram o seu dinheiro noutras salas. O desvio de mais de mil milhões de dólares de Hong Kong por uma contabilista da sala VIP da empresa de junkets já fez com que alguns investidores – “poucos” – corressem às salas para tirar o seu dinheiro das contas de depósito. É neste sentido que alguns especialistas do sector prevêem que a percentagem destas pessoas cresça, uma vez que vão perdendo a confiança na empresa-mãe. As receitas deste tipo de negócio, dizem, estavam já a decair e a presente situação está a piorar. Um especialista da área, cujo nome não está identificado, disse no Jornal Ou Mun que prevê que 80% do total dos depósitos venham a ser retirados das salas nos próximos meses. O mesmo especialista acrescenta que a situação das salas VIP vai sofrer um declínio numa situação que era, já por si, difícil. O risco principal é o da impossibilidade destas salas angariarem capital suficiente pata emprestar aos jogadores e investir no mercado imobiliário ou na bolsa. “Os representantes que receberam os investimentos dos clientes podem não ser os principais responsáveis das empresas de junkets”, destacou ao Ou Mun. Ao contactar Billy Song, director da Associação de Jogos com Responsabilidade de Macau, este disse ao HM que ainda não viu sinais de uma grande baixa nos depósitos. “Até ao momento, ainda não observei nem ouvi alguém dizer que foi levantado um montante elevado de várias salas VIP”, apontou. No entanto, o director mostrou-se preocupado com o facto deste escândalo poder vir a causar um choque ao nível do movimento de capitais nas salas VIP. Kuok Chi Chong, presidente da Associação de Mediadores de Jogos e Entretenimento de Macau, partilha da mesma opinião. Kuok acha, no entanto, que é “muito provável que as pessoas percam confiança” no patronato das salas. “Não é de estranhar que mais clientes retirem dinheiro das empresas de junkets”, sublinhou. Saber escolher No entanto, Kuok Chi Chong considera ser mais importante que os investidores saibam como escolher as salas, no sentido de serem ou não de confiança. Esta é a forma que o especialista considera ser a mais fiável para evitar o desvio de dinheiro por uma só pessoa. “É necessário verificar-se se os procedimentos de investimentos ou depósitos são normais”, destacou. Questionado sobre se concorda com uma maior supervisão das empresas de junkets, o presidente concorda. Este considera, inclusive, que o Governo deve “cooperar com as empresas na revisão e melhoria” dos diplomas legais. “Na minha opinião, é difícil alterar a actual forma de investimento nas salas VIP, porque actualmente os clientes investem como apostam no Jogo e a taxa de retorno é alta. Até ao momento, ainda não há medidas de alteração do modelo de ‘depósitos’ nas salas VIP”, afirmou ao HM. Charlie Choi – que falou na qualidade de presidente da Associação de Informações de Jogo de Macau – também assegurou não ter recebido qualquer aviso de um grande número de pessoas a tentarem tirar o seu dinheiro destas salas. No entanto, tal como os restantes especialistas contactados pelo HM, também Choi acredita que “é muito possível” que tal se torne uma tendência. As pessoas, explica, deixaram de ver este tipo de investimento como algo seguro. O presidente defende que o Executivo deve rever as leis para garantir a segurança tanto dos investidores como das empresa de junkets.
Hoje Macau SociedadeEstoril | Processo parado devido a petição. Visita de Siza adiada A entrega de uma petição para avaliar o possível valor patrimonial do Hotel Estoril está a atrasar o projecto do Governo para o antigo edifício [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, afirmou que a visita do arquitecto Siza Vieira, profissional convidado para elaborar o projecto que vai substituir o antigo Hotel Estoril, poderá ter de ser adiada devido a uma petição que pretende avaliar o valor patrimonial do edifício. De acordo com a Rádio Macau, o projecto do Governo está parado por causa de uma “minoria”. Na semana passada, uma petição da associação de urbanistas Macau Root Planning, que quer avaliar o valor do edifício. O processo só vai entrar numa nova fase depois de analisada a petição. “Eu não queria que as pessoas dissessem que o Governo quer forçar. Não quero. Só quero dizer que este processo fica prejudicado por causa de pouca gente, uma minoria. Mas grande parte das pessoas está connosco”, disse o Secretário em declarações à Rádio Macau. “O Executivo está a respeitar esta iniciativa.” Com a necessidade de efectuar a avaliação requerida, o futuro do Hotel Estoril fica adiado assim bem como, possivelmente, a visita do arquitecto Siza Vieira, que deveria chegar a Macau no próximo mês. Costa Antunes assume funções como assessor O actual coordenador do Grande Prémio e engenheiro de estruturas João Manuel Costa Antunes vai assumir funções de assessor do Gabinete para os Assuntos Sociais e Cultura, dirigido pelo Secretário Alexis Tam. O engenheiro vai ficar responsável por obras como o projecto do Hotel Estoril e o novo hospital das Ilhas. A notícia foi avançada ontem na voz do próprio Secretário. “Ele vai ficar no meu gabinete como meu assessor. Temos muito projectos, por exemplo, este projecto da construção do Centro de Actividades para Jovens e mais, também outros projectos enormes. Por isso o engenheiro Costa Antunes vai ficar muito bem na minha tutela”, disse à Rádio Macau. Costa Antunes irá assumir funções depois de abandonar o cargo actual.
Filipa Araújo Manchete PolíticaLeis | Regime de Indemnização da RAEM esquecido na gaveta O Governo prometeu que daria início ao processo legislativo sobre a indemnização vinda da Administração há mais de 15 anos. Foi em 2005 que o processo teve início e em 2010 colocado na gaveta. Cinco anos depois o Governo ainda está a pensar sobre o assunto [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ouco ou nada se tem falado do Regime de Indemnização da RAEM. Em 2009, a na altura deputada Leong Iok Wa interrogou o Governo, numa interpelação escrita, sobre a calendarização dos trabalhos relativos a este regime. A resposta era de que iria ser dado início à legislação, mas a verdade é que o regime continua por existir. “O Governo afirmou em 2005 que ia elaborar uma lei de indemnização mais conveniente para aplicar na RAEM, a fim de definir disposições mais concretas e claras para o regime de responsabilidades da RAEM. Afinal, qual é o ponto de situação desse trabalho? Quando é que a fase de elaboração da referida lei será dada por concluída?”, questionava a, então, deputada. O Governo anunciou, em 2005, pela voz do então director dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ), André Cheong, a intenção de avançar com o processo legislativo sobre o regime por não existir um regime unitário e integral de indemnização do território. O que existe são dispositivos dispersos na legislação vigente, tais como o Regime da Responsabilidade Civil por Actos de Gestão Pública, outros no Código Civil, no Código de Processo Penal e no Estatuto dos Magistrados, entre outros. “As normas relativas ao regime de indemnização do Governo estão espalhadas pelas várias leis e códigos, não existindo quaisquer normas especiais que regulem a forma, o âmbito, nem as formas de cálculo da indemnização”, argumentava a ex-deputada. Este tipo de lacuna na lei, defendia ainda Leong Iok Wa, acarreta problemas tantos aos cidadãos que se vêem envolvidos em processos legais, como aos “órgãos e entidades que conhecem claramente as suas responsabilidades”. O Governo confirmou a necessidade da existência de um regime mais concreto e claro para os “diversos mecanismos de indemnização”, referindo ainda que já estaria a elaborar uma Lei de Indemnização. Batata quente Num estudo sobre o Aperfeiçoamento do Regime de Indemnização da RAEM, conduzido pelo professor auxiliar da Faculdade de Direito da Universidade da Ciência e Tecnologia de Macau, Zhao Linlin, o doutorado em Direito clarifica que “indemnização do Estado, diferente da indemnização civil, não é apenas uma responsabilidade derivada do acto ilícito baseado no poder público, também é uma responsabilidade pelo risco causado pela perigosidade potencial no exercício do poder público, ou uma responsabilidade de compensação justa, resultante dos danos causado”. Na opinião do docente, os artigos que existem neste momento “são demasiado simples, sendo difícil adaptá-los à tendência e às necessidades do desenvolvimento social”. Documentos a que o HM teve acesso, do Conselho Executivo, indicam que inicialmente, em 2005, foi realizada uma análise preliminar sobre os respectivos diplomas legais da China, Hong Kong, Portugal e Taiwan. Em 2010, apenas cinco anos depois, a pedido do gabinete da DSAJ, foi enviado o anteprojecto da proposta de lei que se encontrava “na fase de discussão do gabinete, através de correio electrónico”. Em Fevereiro desse mesmo ano, depois dos projectos da proposta de Lei sobre o Apoio Judiciário, assim como o projecto de Regulamento Administrativo sobre Seguro de Responsabilidade Civil Profissional dos Serviços de Saúde (SS), e, por fim, do regime de seguro de responsabilidade civil profissional para o pessoal dos SS, foi oficialmente entregue a proposta à DSAJ. Até agora, quase concluídos cinco anos, o Governo está a estudar a proposta de lei, sem apresentar qualquer data para a sua decisão. Pontos nos is Em termos simples, explica um advogado ligado à área, o que se pretende, é que “a RAEM seja responsabilizada” quando “um representante da RAEM, um funcionário da RAEM, ou alguém com vínculo à RAEM, cometer um acto ilícito”. “A ideia da nova lei são as ideias que existem internacionalmente, não é [só] quando alguém pratica um acto que é nitidamente ilegal. Muitas vezes a Administração Pública, em várias matérias, prejudica as pessoas, prejudica a vida das pessoas e, portanto, é preciso garantir que estas situações estejam previstas na lei e que se faça actuar um direito para a acusação. Esta, por sua vez, poderá activar um mecanismo para os factos, cumprindo a lei, ou seja, responsabilizar”, explica. O jurista exemplifica com o polémico caso das apostas nas salas VIP, nos casinos de Macau. “Esta é uma actividade muitíssimo regulamentada e fiscalizada, mas já não é a primeira vez que acontece um problema qualquer com as salas VIP em que as pessoas ficam sem dinheiro e as entidades fogem das responsabilidades. Os casinos dizem que não são responsáveis e, no meio disto está uma actividade extremamente regulamentada e fiscalizada e, claro, na vértice desta fiscalização deve estar a RAEM, porque licencia a actividade. Se alguém, durante uma série de meses, pratica actos ilegais sem que sejam fiscalizados e em resultado disso existe prejuízo sobre terceiros, não podemos permitir que as vítimas sejam prejudicadas. É neste tipo de casos que, se os particulares tiverem que esperar pela justiça, podem esperar anos. É neste tipo de situações que, se a RAEM tem o dever de garantir que as condições todas são respeitadas, então tem também de responder pela responsabilidade”, argumenta. Com ou sem responsabilidade, a proposta de lei continua esquecida na gaveta.
Joana Freitas Manchete PolíticaDiscurso de Chen Zuoer não se adapta a Macau, dizem politólogos Macau é um “bom menino” e, por isso mesmo, as recentes acusações “de falta de descolonização” em HK nunca se poderiam adaptar ao território [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s declarações de Chen Zuoer sobre Hong Kong que ontem fizeram capa da imprensa da região vizinha não se podem aplicar a Macau. É o que defendem figuras da política do território, que dizem que a comparação é quase impossível. Foi no domingo que o ex-director-adjunto do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado da China disse que, na RAEHK, não tinha havido ainda a “descolonização” e que isso estaria a magoar o território vizinho. Num seminário, o também presidente da Associação de Estudos Macau-Hong Kong da China continental, frisou que Hong Kong estaria a ser levado por forças “localistas” e que o princípio de “dois sistemas” dentro do lema que rege as duas regiões “estava a ser prejudicado”. Que há uma certa similaridade entre as duas regiões é, para os especialistas ouvidos pelo HM, um facto inegável. Como diz Larry So, politólogo e comentador, “foram ambas colonizadas há muitos anos por poderes ocidentais”. Mas “há um desenvolvimento diferente” em Macau e Hong Kong. Por isso mesmo, este discurso – que ataca principalmente as recentes manifestações na RAEHK – não poderia acontecer em Macau, da forma como o território é actualmente. Até porque, aos olhos de especialistas políticos, Macau é menos rebelde do que Hong Kong. “Macau é um aluno muito mais obediente, ou filho se assim quisermos, frente à China do que Hong Kong. Ninguém em Macau, nem mesmo os mais ‘radicais’, como se dizem, iriam fazer algo contra o Governo e pedir a independência, ou dizer que gostariam de voltar a ser governados por Portugal.” A questão da “independência” em Hong Kong não é exactamente ver a região separar-se da China, mas é uma das mensagens que passam as manifestações da RAEHK aos olhos de Pequim. E Pequim não gosta. “[O discurso de Chen Zouer] não foi só para assustar, mas também para tentar estigmatizar estas pessoas, de forma que o resto da população não se queira juntar. E dizer-lhes que, se juntarem, estão à procura de sarilhos porque estão no ‘movimento independência’. Esse conceito de que ‘não existiu descolonização’ é visto como querer a independência. É, no fundo, para que não tentem nada nesse sentido. A China não quer nada nesse sentido, ainda que isso venha de uma minoria mesmo muito pequena. Em Macau, só falar em independência, é tabu. As pessoas de Macau, se alguém tentasse isso, iam soltar aquele ‘uauuu’”, ironiza Larry So. [quote_box_left]“Ninguém em Macau, nem mesmo os mais ‘radicais’, como se dizem, iriam fazer algo contra o Governo e pedir a independência, ou dizer que gostariam de voltar a ser governados por Portugal” – Larry So, politólogo[/quote_box_left] Todos diferentes, mesmo diferentes A diferença na forma como se sentem as pessoas das duas regiões é precisamente a justificação mais encontrada pelos especialistas ouvidos pelo HM. No domingo, Chen Zouer dizia que um do sinais da tal falta de descolonização era “haver objectos que deveriam estar em museus nas ruas”, como a bandeira britânica utilizada nas manifestações. Outro seria a falta de revisão de leis ainda da época britânica. Chen elogiava Macau dizendo que o território enfrentou “dificuldades através de uma série de reformas na lei”. Chan Kin San, professor de Administração Pública na Universidade de Macau, concorda. “Ao longo do tempo, o Governo Central quis deixar que o Governo de Hong Kong resolvesse os seus problemas internos, mas actualmente, parece que considera que o Governo de Hong Kong já não consegue resolver os problemas de forma eficaz, pelo que tomou mais medidas”, diz ao HM. “Exceptuando o problema da habitação, podemos ver que o Governo [de Macau] reage atempadamente a outras necessidades sociais. Comparativamente a Hong Kong, a divergência política é mais grave, o que faz com que a eficiência administrativa seja mais baixa, mostrando a imagem de que o Governo de Hong Kong não consegue resolver os problemas sociais”, frisa, referindo, como Larry So, que nunca iria haver manifestações tão grandes como as da região vizinha. Para Jason Chao, uma das caras conhecidas das manifestações de Macau, esta falta de resolução dos problemas é o que leva HK a receber recados deste género. Ainda que não necessariamente justos, na sua óptica. “Esta é uma forma de divergir a atenção dos verdadeiros problemas da actual governação. Em ambos os governos, de Macau e HK, há problemas, e em vez de se focarem no assunto verdadeiro, que é a falta de democracia e da [luta] pelos direitos, apontam o dedo a alguns”, diz ao HM. Questionado sobre se Macau poderia ser alvo do mesmo discurso, caso as manifestações da RAEM fossem semelhantes às de HK, o activista diz que não. “Até em Hong Kong é difícil falar [de determinados assuntos], porque há diversas ideias políticas. Em Macau, há pessoas que gostam da autonomia, mas também temos uma grande proporção de pessoas submissas à autoridade do Governo Central.” Muito a mudar Larry So diz que, para qualquer oficial de Pequim vir a público fazer um discurso semelhante, teria muita coisa de mudar em Macau. “As culturas são diferentes, a forma de viver, o conhecimento… É muito diferente.” A aceitação de chineses do continente e das normas chinesas, muitas vezes contestadas pelos residentes de Hong Kong, não é vista pelos três entrevistados do HM como algo apontado como um erro por Pequim, até porque todos concordam que também Macau tem pessoas que não gostam dos conterrâneos. Algo “ridículo” aos olhos de Larry So, já que a maioria dos cidadãos das duas regiões é migrante da China continental. Onde está, então, o problema? Em quem administrou as duas regiões antes de Pequim. “O governo britânico colonial interferiu e interfere mais e ficou mais tempo do que o português. Portugal, nos anos 1970, já estava a preparar-se para entregar Macau à China. É a chamada política colonial: os de Hong Kong são mais receptivos à cultura britânica do que os de Macau à portuguesa”, explica Larry So. Chan Kin San acrescenta: “Hong Kong sofria com dificuldades económicas mesmo depois da transferência de soberania, em 1997, e só melhorou depois de 2003, portanto, uma parte das pessoas tem sempre saudades do ambiente antes da transferência de soberania. Em Macau, antes de 1999, o ambiente político e social era mais instável comparado com o tempo depois da transferência. Por este motivo, poucas pessoas em Macau preferem a época da ‘colonização’.” À acusação de que as manifestações em HK estariam a “magoar os dois sistemas”, como disse Chen, Jason Chao defende apenas uma ideia: não concorda. “Se virmos a Lei Básica de Macau, as coisas deveriam estar todas nas mãos das pessoas de Macau. É por aí que surgem as manifestações”, frisa, acrescentando que discorda também da acusação de que HK estará a sofrer uma “desChinalização” (de-sinofication, nas palavras de Chen), por considerar que a própria China e regiões a ela pertencentes têm cada uma as suas características.
Flora Fong BrevesSugerida investigação sobre consumo em Macau O deputado Mak Soi Kun sugere que o Governo faça uma investigação sobre as necessidades de consumo de cidadãos e turistas, indicando as vantagens e desvantagens do mercado do consumo, dos serviços e do turismo local. Numa interpelação escrita, Mak Soi Kun apontou que o Governo tem-se esforçado para aumentar a atracção do sector turístico de Macau, mas diz que o tempo médio de estadia de visitantes é de 1,2 dias, números insuficientes para o deputado. “O número de turistas diminuiu nos últimos meses, mas o facto é que só existe qualidade quando há números, só a qualidade pode atrair mais turistas de nível mais elevado. Na fase actual, o Governo deve, através do aumento da qualidade de turismo, recuperar o número de turistas”, apontou. O deputado acha que o Governo deve ter um pensamento mais pioneiro, considerando por isso a elaboração de um estudo sobre o consumo, tanto dos cidadãos como dos turistas, compreendendo as necessidades de consumo.
Joana Freitas EventosFIIM | Concertos clássicos a abrir Outubro O FIMM abre as hostes com concertos liderados por maestros locais, de Hong Kong e da China, contando ainda com a presença de nomes internacionais. O clássico é o estilo mais forte no FIIM, que arranca a 4 de Outubro [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]O XXIX Festival Internacional de Música de Macau (FIMM) tem início no próximo dia 4 de Outubro e abre com concertos de música clássica por maestros locais e da região. Pelas 20h00 do primeiro dia de FIMM, a Orquestra de Macau e o Coro Juvenil apresentam Gustav Mahler – Sinfonia No 3, uma das obras mais extensas da história da música. “Nesta magnum opus, Mahler expressa com mestria o seu profundo afecto pela natureza, pela humanidade e por Deus, celebrando, no final da obra, o estado supremo para o qual Deus e o homem confluem”, explica a organização em comunicado. Esta é a mais longa de todas as sinfonias de Mahler e requer, diz o CCM, uma orquestra de grandes dimensões com mais de cem músicos e quase uma centena de cantoras e um coro infantil. O concerto de abertura conta com a participação da meio-soprano de renome mundial Charlotte Hellekant, que dá voz aos solos da sinfonia, sendo que a Orquestra de Macau é liderada pelo maestro Lü Jia. Integrados no Festival estão ainda dois concertos liderados por maestros da China e de Hong Kong. O primeiro acontece às 20h00 de 6 de Outubro e trata-se de uma performance da Orquestra Chinesa de Hong Kong. O segundo, que pretende ser em jeito de comemoração da vitória na Guerra de Resistência Contra a Agressão Japonesa, terá lugar às 20h00 de dia 15, sendo conduzido por Xian Xinghai e Liu Tianhua. “Apresentando uma série de maestros e solistas de renome, estes são dois concertos que os entusiastas da música tradicional não vão querer perder”, adverte a organização. O concerto da orquestra da RAEHK, intitulado Jing • Qi • Shen, vai contar com música folclórica tradicional, mas também com obras contemporâneas. O maestro principal do colectivo “foi agraciado com o título de Maestro Nacional de 1ª Classe na Primeira Avaliação Profissional da China em 1987”, destaca o Instituto Cultural, entidade responsável pela organização do FIMM. O segundo espectáculo é fruto de uma colaboração musical entre a Orquestra Chinesa de Macau, a Orquestra Chinesa do Grupo de Artes Performativas da Província de Jiangsu, a Orquestra Chinesa Zhonghua de Taiwan e o Ensemble de Música Chinesa de Sopros de Hong Kong. Sob a batuta dos maestros Pang Ka Pang, Wang Aikang, Huang Kuang-Yu e Ho Man-Chuen, as orquestras irão interpretar clássicos como “O Rio Amarelo”, “Noite Bela”, “Cavalos de Guerra Galopantes” e “Canto de Uma Vida de Lazer”. A 30 de Outubro às 20h00 segue-se a ópera Fausto, com a Orquestra de Macau, sob a direcção de Lü Jia, a juntar-se ao Coro Lirico Siciliano e à Lyric Opera of Chicago. “Charles Gounod criou uma fusão extraordinária de melodia sublime, desafio vocal e poder dramático. O drama centra-se num académico desiludido que vende a sua alma ao diabo em troca da juventude e do amor de uma bela rapariga”, explica o CCM. A entrada para cada um dos espectáculos vai das cem às 200 patacas.
Filipa Araújo EventosOktoberfest | Sétima edição arranca a 15 de Outubro [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]ão 11 dias de festa. Uma vez mais o MGM, juntamente com o Consulado-Geral da Alemanha em Hong Kong, a Associação Alemã de Negócios em Macau e a Direcção de Turismo, organiza aquela que é a sétima edição do festival alemão de cerveja, o Oktoberfest. A começar no dia 15 de Outubro, terminando a 25 do mesmo mês, o festival irá trazer a Macau uma réplica daquele que é um tão característico momento festivaleiro alemão. Cerveja, animação e comida típica: a organização promete que não irá faltar nada. O ambiente será de festa, garante, e o convite para se juntar às danças típicas está feito. Tal como nos outras edições, o MGM tem mostrado o sucesso da organização do Oktoberfest, tendo recebido mais de 77 mil visitantes e servido mais de 74 mil litros de cerveja e 32 mil quilos de comida. “Este ano o Oktoberfest promete ser ainda maior, melhor e festivo do que alguma vez”, garante a organização em comunicado à imprensa. Os bilhetes já estão à venda, assim como os cupões de comida e cerveja. Cada entrada tem um custo de 130 patacas, com oferta de uma bebida.
Flora Fong SociedadeEspectáculos de Rua | Artistas apoiam legalização mas com limitações Si Ka Lon quer mais espectáculos pelas ruas desta cidade fora e alguns artistas apoiam a iniciativa, mas há quem prefira que o Governo resolva primeiro outros problemas antes de licenciar quem tem talento na calçada [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]deputado Si Ka Lon defende a desburocratização dos espectáculos de rua e pede uma legislação que regulamente esta prática. Prova disso é uma interpelação escrita do deputado, pedindo ao Governo que considere esta prática, através de uma legislação que permita a emissão de licenças. A ideia é clarificar e simplificar o sistema em vigor e em jeito de apoio à ideia do deputado está o director do Centro de Design de Macau (CDM), James Chu, e a co-fundadora da Babel, Margarida Saraiva. Esta iniciativa já existe em cidades como Londres, Paris ou Lisboa. No entanto, James Chu adverte para a questão de que Macau precisa de resolver “muitos outros assuntos” antes de dar atenção a esta matéria. Em causa está, por exemplo, a desburocratização dos pedidos para realização de espectáculos. Margarida Saraiva partilha da mesma opinião. “É absolutamente imprescindível que os processos [de aprovação] sejam facilitados”, começa a também curadora por dizer. A Babel está neste momento a organizar um evento que compreende um “conjunto de intervenções no espaço público da cidade” e que passam, naturalmente, por todos os trâmites legais. “Encontrámos muitas dificuldades”, informa a fundadora da organização cultural. Entre eles estão, no caso do aluguer de um espaço, o preenchimento de um formulário e aprovação do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais. Muitas vezes, o sistema obriga a que os papéis passem por terceiras entidades, como o Instituto Cultural, as Obras Públicas ou até mesmo os Serviços para os Assuntos de Tráfego. Para a Babel, a par da impossibilidade de ir ao encontro dos preços “completamente incomportáveis” praticados pelas entidades privadas, estão as barreiras governamentais. “A obtenção de licenças para instalar obras de arte são muito complexas”, explica Margarida Saraiva. James Chu não deixa, contudo, de defender os benefícios de uma ideia deste género. “Claro que é bom [para Macau]”, explicou. Ao HM, disse ainda lamentar que os processos de aluguer e aprovação sejam tão lentos e tenham “de passar por tantas entidades” até levarem um carimbo verde. “Há demasiada gente a gerir um só assunto ou problema”, acrescentou o director do CDM. O artista acredita que a cidade não está totalmente preparada para receber esta iniciativa, embora reconheça ser “bastante positiva”, destacando benefícios para as indústrias culturais e criativas. Na rua, mas sem baldas Si Ka Lon pediu ainda que sejam levantadas várias restrições impostas aos artistas de rua, nomeadamente a obrigatoriedade de pagamentos de multas quando detidos a executar uma performance sem pedido prévio. Sobre este assunto, James Chu aponta para uma outra questão: geralmente é o Governo quem contrata artistas para tocar ou expor obras de arte. Este pode, disse, ser um sinal de que a cidade é ainda pouco madura na matéria. Já para o deputado, basta apenas que os actos de artistas locais sejam legalizados, através de uma lei que possibilite a emissão de licenças. Além disso, afirma já ter recebido cartas de vários cidadãos a denunciar a realização de espectáculos ilegais que não passaram pela aprovação do Governo. Esta prática só tem lugar, na sua opinião, devido à existência de “uma zona cinzenta” na legislação actual. Sobre esta questão, Margarida Saraiva sugere ainda a criação de uma licença especial para as associações dedicadas às artes visuais e performativas e justifica a medida pela vontade de “aproximar a arte do cidadão através da utilização do espaço público”. A curadora destaca ainda que “não há nesta utilização qualquer intenção política”. Sensibilização de consciências Questionada sobre se a população local está aberta a este tipo de iniciativa, a fundadora da Babel coloca duas hipóteses em cima da mesma: ou se educa as pessoas a irem a museus e galerias, ou se trazem estas eventos para a rua. “Isto tem a vantagem de abarcar um público muito diversificado, pessoas que à partida não estariam interessadas em arte contemporânea de, quase sem querer, passarem na rua e beneficiarem dessas intervenções”, explica Margarida. Adjacente à realização de actividades no espaço público está a preocupação de criar nas pessoas a motivação para irem mais longe. No fundo, de aguçar o seu interesse. “É de acesso mais fácil e imediato porque [este método] já de si está preparado para popularizar a arte”, esclarece. Para Si Ka Lon, as artes de rua ajudam à tomada de consciência colectiva da sociedade, melhorando a comunicação entre as pessoas. O deputado destaca a arte de rua enquanto elemento crucial do lema de Centro Mundial de Turismo e Lazer e questiona o Governo se será possível ter os exemplos de Taiwan ou Singapura como base. No mesmo documento, o deputado pede ainda ao Governo que repense a questão de abrir mais espaços ao ar para a realização de actividades por associações.
Hoje Macau Vozes“Aprende com o material geológico sob os teus pés” * Mário Duarte Duque [dropcap style=’circle’]”[/dropcap]Aprende com o material geológico sob os teus pés” era a proposição 33 das 50 Ideas for the New City, in The Urbanomnibus net, 2011 [https://urbanomnibus.net/ideas/]. Proposição que assentava no princípio de que o que permite fazer melhores escolhas sobre o modo de construir é a compreensão sobre a constituição e sobre o modo como os impactos do tempo geológico afectam o nosso ambiente edificado. Tais processos, designados por geomorfológicos, desenvolvem-se em diferentes escalas de tempo e de espaço, que tanto podem respeitar a uma região como apenas a um local dessa região, mas também processos que tanto se podem manifestar num instante, como numa escala temporal tão dilatada que os tornam imperceptíveis ao longo de gerações. Disso resulta que a interpretação e a definição desses enquadramentos geográficos e temporais, constitui uma base de conhecimento próprio que é intrínseca e essencial desenvolver e organizar em cada localização urbana. Ou seja, o património geológico faz parte da tradição urbanística e física dos lugares, tal como a paisagem edificada e a paisagem natural sobre as quais já recaem convenções de protecção. Por isso, o património geológico, no qual também se inclui o património hídrico, deveriam ser igualmente contemplados como acervo de um grupo cultural. Chegados aqui, a entrevista do Sr. Eng. Lee Hay Ip publicada ontem neste jornal, é pertinente porque não só denuncia a falta de sensibilidade para as questões da geotecnia na RAEM, mas também, senão principalmente, denuncia ignorância dos actuais habitantes da RAEM no que diz respeito a essa realidade que é intrínseca à cultural local. Em verdade, o conhecimento de que era lodo, grande percentagem do solo no local designado hoje para o parque de materiais e oficina do metro ligeiro, poderá ter sido uma incógnita para o Gabinete para as Infra-Estruturas de Transportes (GIT), mas já não seria incógnita para qualquer pescador da região com 60 anos, que poderia assegurar que já não era possível aproximar-se de barco do istmo entre taipa e Coloane, antes da construção do aterro do COTAI, exactamente por causa do lodo. Como está ao alcance de qualquer um interpretar que as encostas de granito da ilha da Taipa descem até ao actual aterro do COTAI, aí afundam, para voltar a emergir na ilha de Coloane. E que, assim sendo, é sob o COTAI que está o vale mais profundo dessa formação rochosa e onde terão que se cravar as estacas mais profundas. Tirando pela distância entre as ilhas, por mera lógica morfológica, admitir-se-ia até que tais estacas fossem as mais profundas que alguma vez se cravaram na RAEM. Mas também nada que qualquer empreendimento efectuado em torno não pudesse confirmar em função das prospecções que necessariamente tiveram que mandar efectuar ao solo. E é assim que, em vez de as sociedades desenvolverem soluções mais adequadas e melhor suportadas no que já deveriam conhecer, protelam tais soluções, porque primeiro há que recuperar o que entretanto desaprenderam.
Flora Fong PolíticaAcadémico sugere colocar todos os Secretários no Conselho Executivo Lou Shenghua defende que os cinco Secretários deveriam fazer parte do Conselho Executivo, que acompanha Chui Sai On. Desta forma, defende o comentador político, todos sabiam de todos os processos [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]ou Shenghua considera que todos os Secretários do Governo deveriam ter funções no Conselho Executivo. O professor de Administração Pública do Instituto Politécnico de Macau (IPM) defende que este seria um método mais prático para que os responsáveis das cinco secretarias estivessem ao corrente de tudo o que se passa. “Actualmente, apenas um Secretário é membro do Conselho Executivo, mas este não coordena os assuntos com os outros Secretários”, começou por dizer Lou Shenghua no domingo passado, num Seminário sobre a implementação do princípio ‘Um país, dois sistemas’ e sobre a Lei Básica, em Shenzhen. Citado pelo jornal Ou Mun, o académico sugeriu colocar todos os cinco Secretários no Conselho Executivo para “resolver o problema da coordenação interdepartamental”. Actualmente, só Lionel Leong faz parte do Conselho Executivo. Pelos ajustes Shenghua participava no colóquio com um trabalho sobre a “análise à reforma da estrutura administrativa do Governo da RAEM do ponto de vista da capacidade”. O também comentador político aponta que, no que toca à gestão governamental, não é difícil descobrir dificuldades no tratamento de assuntos que precisam da interferência de vários departamentos. O Governo, diz, deveria “limpar” as funções de cada departamento, juntá-las ou reorganizar as que tenham funções semelhantes e até mesmo repetidas e ainda criar novamente um órgão municipal sem poder politico, como era a antiga Câmara Municipal Provisória de Macau. Lou Shenghua acha ainda necessário que se criem diversos ajustes, entre os quais a própria função do Conselho Executivo. A ideia de ter todos os responsáveis das tutelas no mesmo grupo teria como objectivo tornar “aquele conselho num espaço deliberativo onde são realizadas reuniões sobre assuntos governativos e entre Secretários”, afirmou Lou Shenghua, citado pelo Jornal Ou Mun. O académico sugere ainda que sejam eliminados os serviços de apoio técnico ou administrativo dos Fundos e dos Conselhos Consultivos, sendo este apoio oferecido antes pelos departamentos responsáveis pelo âmbito onde se inserem esses fundos e conselhos.
Boi Luxo h | Artes, Letras e IdeiasÍndia [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Uma das prendas que o cinema, como arte simples e acessível, oferece a um público largo, é a possibilidade de aceder a impressões profundas de países e lugares não visitados ou pouco conhecidos. Um admirador de Bergman conhece, sem nunca ter ido à Suécia, o efeito que uma brisa de fim de uma tarde de Verão provoca como anunciadora do Outono assim como um seguidor de Ozu sentirá sem dificuldade, sem nunca ter estado no Japão, o odor húmido de um jardim, também no Verão, e a resignação no olhar das suas personagens simples e em geral boas. O cinema condenou-se desde cedo a ser uma arte sensual. Poder-se-iam acrescentar muitos outros exemplos de como o cinema nos permite entrar facilmente na casa de um parvenu senegalês ou num bordel do Arkansas. Wadjad, de Haifaa al-Mansour (2012) mostra que as ruas de Riyadh não estão pavimentadas a ouro mas demonstram uma inesperada pobreza urbana. Bastam 20 minutos para que se alterem ideias sobre um país. Um dos países que melhor conheço, sem nunca lá ter estado, é a Índia, uma Índia que se começou a insinuar suavemente em mim através dos filmes de Satyajit Ray e que com o concurso de outros autores é uma referência cinematográfica e civilizacional fundamental. Satyajit Ray cumpriu, junto de um público mundial, o mesmo papel que Kurosawa (especialmente através de Rashomon) preenchera como foco de atenção para com o cinema japonês. Mas se no Japão Mizoguchi e Ozu se insinuaram também como responsáveis por esta onda de interesse, não se pode dizer que Ritwik Ghatak, Mehboob Khan, Raj Kapoor ou Mrinal Sen tenham ultrapassado, como aconteceu com os dois autores japoneses acima indicados, um injusto anonimato internacional.* No que pertence ao cinema, em particular, a Índia – como a Rússia, o Japão, os Estados Unidos ou a Itália – tem filmes cujo desconhecimento impossibilita qualquer tentativa de perceber minimamente esta popular forma de entretenimento (assim como um desconhecimento do cinema mudo o provoca). Nesta página só se falou de filmes de Ray, provavelmente porque o cinema indiano provoca em mim um desfalecimento iluminado que o tem impedido e porque o acesso a outros filmes deste país nem sempre é fácil. O cinema indiano provoca um conhecimento do mundo que previne que se descorra sobre ele. Subarnarekha é um filme em bengali, de Ritwik Ghatak, realizado durante uma das épocas de ouro do cinema indiano, os anos 60.** Nele se discorre sobre a prepotência exercida pelos poderosos sobre os desprotegidos e a perda de inocência dos sonhadores. Como acontece com alguns filmes de Ray, Subarnarekha tem o poder de, subitamente, no meio do abandono a que nos deixara, nos espantar com uma revelação. O crescimento de Sita, de uma pequena criança para uma jovem mulher é um pequeno milagre, como milagre é o equilíbrio que tantas vezes neste cinema se consegue entre o filme de denúncia social e o de uma poderosa força poética. Parte do encanto desta cinematografia vem sua da música e é difícil não lembrar Bruce Chatwin (mesmo que esteja errado, Chatwin tem o poder de nos convencer ou de nos deixar seduzir por algo em que não acreditamos) quando este argumenta que as línguas nasceram da canção, assim como é indispensável, ao receber o cinema indiano, deixarmo-nos arrastar pela força fluvial da sua música. Como por milagre, a história de Sita e Abhiram transforma-se numa história de amor. Talvez seja melhor nunca ir à Índia. O Rio Subarnarekha não podia levar-nos senão na direcção de uma outra transformação, esta trágica. Uma pequena revelação e o sistema de castas toma conta de todo o filme.*** Esta é a história de Sita mas também a história do irmão, Ishwar Chakraborty, e o comércio que faz da sua integridade revolucionária por uma vida de conforto e sucesso material. Nenhuma delas se conta aqui com pormenor, mas avisa-se que os indianos têm uma capacidade firme para transformar uma história quase banal numa de pertinência universal. O modo como as curvas do rio (que aqui não é um rio sedutor e solar mas, ao invés, agreste) se definem é o modo como se vão mostrando as curvas da vida de Sita e do irmão Ishwar. Seria útil, e não muito difícil, fazer um trabalho em que se explicasse com detalhe como o cinema indiano e o cinema japonês dedicam uma atenção persistente à glorificação da mulher e das suas conquistas. Lembro poucos filmes indianos onde a sua presença não seja determinante. * Pather Panchali, de S. Ray, é de 1955. Foi visto, e nunca mais esquecido, no Festival de Cannes de 1956. Rashomon, de Kurosawa, que o Festival de Veneza lançou internacionalmente, é de 1950. ** dois dos filmes de Ray de que aqui já se falou são dos anos 60, Charulata e Mahanagar. Outro, Jalsaghar, é de 1958. São os três em bengali (Ray tem apenas um filme em hindi, Sadgati/The Deliverance e um outro, o exemplar Ghare Baire/The Home and the World, falado em hindi, urdu e inglês. Todos os outros são em bengali ou, três deles, em inglês). *** desde cedo que o cinema indiano tomou o tema das castas como assunto. É um exemplo de como esta cinematografia se debruça sobre a força do preconceito e a persistência de certo tipo de interditos cuja quebra promove a queda, a glória ou o martírio. É preciso, no entanto, lembrar que sendo a Índia o país que mais filmes produz anualmente, estes assumem expressões muito diversificadas.
Joana Freitas PolíticaJogo | Lionel Leong promete aperfeiçoar legislação [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Secretário para a Economia e Finanças prometeu ontem aperfeiçoar a legislação e a fiscalização dentro do sector do Jogo. Num discurso durante a abertura do Fórum de Cooperação entre Guangdong-Macau, em Guangdong, o Secretário frisou estar atento aos problemas por que a indústria atravessa. “Sendo o sector do Jogo uma indústria importante para Macau, o Governo irá prestar atenção e aperfeiçoar, em termos da execução da lei, a fiscalização e a legislação”, pode ler-se num comunicado que cita o Secretário. “O desenvolvimento de todas as indústrias necessita de ser feito de acordo com a lei, pelo que o Governo irá manter o trabalho de fiscalização e os departamentos de fiscalização irão acompanhar os casos por base das competências atribuídas pela lei e pelos sistemas.” As declarações de Lionel Leong foram feitas quando o responsável da tutela da Economia e Finanças foi questionado sobre o caso da empresa promotora Dore. O aperfeiçoamento da legislação relacionada com o Jogo tem vindo a ser pedido por alguns especialistas da área e por deputados, mas o Governo nunca se mostrou tão aberto a tal como agora. Contar com os vizinhos A economia da região não ficou de fora do discurso de Leong, que disse acreditar que a indústria principal de Macau vai “desenvolver-se de forma saudável” e mostrou-se confiante face às finanças da RAEM. “Setembro não costuma ser o período de pico de turismo, pelo que o Governo promete prestar atenção às mudanças do sector turístico e às receitas do jogo, bem como às quedas provisórias na economia local e ao ajustamento do sector do jogo”, pode ler-se no comunicado. No discurso do responsável, disponibilizado em Português, Lionel Leong fez ainda questão de frisar que o desenvolvimento económico de Macau passa, e muito, pela colaboração com as regiões vizinhas. “Tenho confiança de que Qingyuan se tornará num local que poderá oferecer inúmeras oportunidades para os empresários e os jovens de Guangdong, Hong Kong e Macau, quer no âmbito de criação de negócios, quer no de expansão das actividades operadas, e também uma das plataformas estratégicas para o fomento da cooperação das três partes. Assim sendo, pretendemos aproveitar a participação neste Fórum e a realização de visita de estudo por ocasião deste evento para prospecção de novos espaços de cooperação entre Qingyuan e Macau”, frisou no Fórum. Para Lionel Leong, só com ajuda regional e as oportunidades transfronteiriças é que a RAEM consegue atingir um patamar estável, até porque, diz, “há incertezas sobre as perspectivas” económicas.
José Simões Morais Perspectivas VozesMigração questão milenar “JHA is a fragmented policy field that responds to different policy-making rules (intergovernmental and supranational. The development of a JHA external dimension is dependent upon two variables: states’ preferences and historical legacies. The different combination of those variables border management, counter-terrorism and rule of law promotion leads to different patterns and trends. The most general trend identified is that the JHA external dimension, applied to the Mediterranean region, is more dependent upon institutional processes (historical legacies and Member states’ preferences) than upon ideational elements. Contrary to widespread belief, the development of a JHA external dimension started well before 9/11 and was the result of various institutional factors, in particular path-dependency and states’ preferences.” The Mediterranean Dimension of the European Union’s Internal Security Sarah Wolff [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]maior parte das vezes por necessidade, outros obrigados por outros conflitos e guerras, e umas quantas mais pelo desejo de alargar o seu poder, há milhares de anos o ser humano tem emigrado, ou foi deslocado pela força para novos locais ou países, sendo um fenómeno que se repete actualmente, com o fluxo descomunal de cidadãos provenientes de África e do Médio Oriente para a Europa. As previsões da “Organização Internacional para as Migrações (OIM) ”, calculam que mais de quatrocentas e trinta mil pessoas atravessaram o Mediterrâneo para a Europa, desde o início do ano, e cerca de duas mil e oitocentas pessoas morreram ou desapareceram nessa tentativa, e cujo número aumenta diariamente. As previsões podem estar muito aquém do número real, pois milhares de pessoas têm atravessado as fronteiras a pé, provenientes da Síria, Iraque, Afeganistão, Irão e Paquistão à procura de um futuro melhor para si e suas famílias e, muitas das vezes fugindo de conflitos, perseguições e da crise económica. Assim aconteceu na antiguidade com grandes migrações, e movimentos de deslocamento relativamente recentes como as duas grandes guerras mundiais ou a crise dos refugiados na antiga república da Jugoslávia, em que desenraizados carregando nas costas os seus poucos pertences, se sujeitaram a caminhadas enormes de centenas ou milhares de quilómetros. O Alto-comissário das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) estima que existem cinquenta milhões de vítimas de deslocação forçada, incluindo refugiados, requerentes de asilo, apátridas e deslocados internos. As primeiras migrações deram-se há milhares de anos de África para a Europa e Ásia, assim como, deste último continente para a América, através do Estreito de Bering, aproveitando o congelamento do mar e o menor nível das águas. É de considerar os povos asiáticos que povoaram partes da Europa. Há mais de dois milénios, indo-europeus que inicialmente podem ter vindo de regiões da Ásia estenderam-se pelo centro e sul da Europa e assim nasceu o mundo greco-latino, embora para o Ocidente foram outros, conhecidos como celtas e germânicos. Os povos gregos e fenícios habitaram extensas terras do norte da África e outras regiões no território europeu e fundaram as “polis”, termo que passou a denominar as primeiras cidades antigas. Ainda existem alguns indícios, de que os Vikings, povos do norte da Europa, pudessem ter chegado ao que é actualmente a América do Norte, muito antes de Cristóvão Colombo, e dessas supostas viagens não existem indicações de que tal facto, tenha criado uma migração, como aconteceu depois da primeira viagem dos genoveses em 1492. Os “Descobrimentos” deram lugar a um grande movimento migratório dos países europeus, liderados por Portugal, Espanha e Inglaterra para o “Novo Mundo”. A extensão do território americano e a sua imensa riqueza natural, também, deram origem à chegada de todo o tipo de europeus que não vieram necessariamente com boas intenções, como ficou provado pela devastação de muitos povos da América Central e do Sul. O capítulo mais vergonhoso da humanidade, após a descoberta da América, foi o tráfico de negros de África para trabalhar e explorar os recursos naturais do novo continente, uma vez que a subjugação dos povos indígenas não foi suficiente para fornecer mão-de-obra para a grande quantidade de trabalho existente. A escravidão que se deu, desde 1500 até 1850, fez chegar doze milhões de negros ao continente americano. Ainda que o descobrimento da América tenha gerado vagas sucessivas de emigrantes europeus, o grande fluxo de pessoas em busca de outras oportunidades no “Novo Mundo”, ocorreu depois de 1800 e não conseguiu parar até à primeira metade do século XX. Estima-se que em quase um século e meio vieram para a América cinquenta e cinco milhões de pessoas. Aos Estados Unidos, desde o final do século XIX chegaram mais de um milhão de emigrantes por ano, particularmente ingleses, irlandeses, italianos, austríacos e gregos que se instalaram inicialmente na costa leste e centro do país, embora muitos tenham atravessado o país para Ocidente, onde a corrida ao ouro durou várias décadas. A primeira e a segunda Guerra Mundial foram, por causa do seu impacto e brevidade, as duas fontes de deslocação e migração dentro da Europa e de outros continentes por comunidades expulsas. Os movimentos que foram criados pelos dois conflitos e que também incluía a redefinição das fronteiras de muitos países são estimados em quarenta e cinco milhões de pessoas. A Guerra Civil espanhola foi um conflito que resultou no exílio de mais de um milhão de pessoas que foram principalmente para a América e, em menor grau para outros países europeus. A independência, e posterior divisão do subcontinente indiano, levou ao deslocamento de mais de quinze milhões de pessoas, principalmente por motivos religiosos, dois anos após o término da II Guerra Mundial. A guerra de três anos e a posterior divisão da Coreia em duas, em 1953, foi também motivo de deslocamento de aproximadamente quatro milhões de pessoas. Os conflitos nos Balcãs, que ocorreram na década de 1990, através de um conjunto de guerras étnicas e religiosas, e que causou a fragmentação da República da Jugoslávia, deixaram quatro milhões de pessoas deslocadas. A África foi assolada por vários conflitos que ocorreram no Sudão, Libéria, Ruanda, Serra Leoa, Tanzânia, Guiné e Etiópia, dos quais resultaram dez milhões de refugiados e pessoas deslocadas. O “Conselho Europeu para a Justiça e Assuntos Internos” reuniu-se em Bruxelas, a 14 de Setembro de 2015, para debater a actual crise de migração, sabendo que a União Europeia (UE) se encontra profundamente dividida quanto à gestão da maior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial. A Alemanha tinha anunciado que iria proceder à reinstalação dos controlos na sua fronteira sul com a Áustria. A Áustria, de seguida instalou o mesmo procedimento na sua fronteira com a Hungria e a Eslováquia. A Holanda reforçou os seus controlos e a Polónia e a Bélgica estudam semelhantes medidas. Os ministros do Interior e da Justiça da UE, perante este trágico cenário não conseguiram chegar a um acordo sobre a distribuição de cento e vinte mil refugiados, que seriam adicionados aos quarenta mil que tinham sido aceites em Maio de 2015, dado não ter havido unanimidade, porque a Hungria, Eslováquia, Polónia, República Checa e Letónia, recusaram a proposta. A Presidência do Conselho concordou que antes da realização de uma cimeira de líderes, existiria uma nova reunião a 8 de Outubro de 2015, na qual se poderia votar por uma decisão que não carecia de unanimidade, e o grupo de Estados-membros que se recusaram a aceitar a proposta apresentada, não constituem uma maioria que impeça a aprovação das medidas postas a discussão. Os ministros apenas aprovaram um conjunto de medidas, a maioria quanto ao encerramento de fronteiras e impedimento da chegada de mais refugiados, sendo um dos principais pontos de consenso, a construção de centros de retenção na Grécia e Itália e a detenção de quem pise solo europeu, para separar os refugiados com direito a asilo dos emigrantes económicos. É de recordar que entre os refugiados se encontram muitos terroristas do estado islâmico, que as autoridades europeias se recusam a aceitar, apesar dos avisos de todos os quadrantes, incluindo do Papa Francisco. Os emigrantes económicos estão sujeitos à repatriação. A Alemanha quer incluir na lista dos países donde provêem os refugiados com direito a asilo, o Iraque, dado ter mais de três milhões de pessoas deslocadas internamente, e trezentas e setenta mil refugiados no exterior, sendo lar de duzentos e cinquenta mil refugiados sírios, e ter mais de oito milhões de pessoas a precisar de assistência humanitária e o estado islâmico controlar quase um terço do território. A Turquia não estaria em princípio na lista dada a situação dos curdos. Além disso, não haveria nenhuma distribuição dos refugiados na Europa até os centros de retenção estarem a operar e as fronteiras externas estarem mais cerradas. A Itália solicitou que a “Frontex”, a agência de controlo da fronteira europeia, seja responsável pelo repatriamento de emigrantes sem direito de asilo e que sejam financiados com fundos comunitários. Os ministros também estudaram a criação de mais campos de refugiados na África e no Médio Oriente para declarar que quem se encontre nesses campos não estaria em perigo e, logo, não tem direito de asilo. Além disso, concordaram em aumentar os fundos europeus para o “ACNUR” com o fim de melhorar a vida em campos de refugiados nos países vizinhos da Síria, Turquia, Líbano e Jordânia. A Turquia podia cooperar impedindo a saída de barcos das suas costas. A UE aprovou a segunda fase da operação militar EUNAVFOR Med, destinada a combater militarmente as máfias de traficantes de pessoas no Mediterrâneo. A primeira fase que se iniciou há quatro meses, apenas realizou a vigilância área e marítima, enquanto a segunda fase terá por objectivo deter os traficantes de pessoas e desmantelar o seu modelo económico. A missão só actuará em águas internacionais em virtude da ONU se negar a fazer aprovar uma resolução que permita ao dispositivo europeu a entrada em águas territoriais da Líbia. A hipotética terceira fase incluiria a inutilização nos seus portos, por meios militares, das embarcações que servem de transporte a emigrantes e refugiados desde a Líbia até Itália, mas para ser activada carece de um pedido expresso do governo líbio ou de uma resolução da ONU. As questões relacionadas com a migração serão objecto de novo debate no Conselho JAI de 8 de Outubro de 2015 e no Conselho Europeu, de 15 e 16 de Outubro de 2015. A cimeira especial sobre a migração, realizar-se-á, em La Valetta, a 11 e 12 de Novembro de 2015. Em Setembro de 2010, Kadafi ameaçou a UE de que a Europa se tornaria um continente negro se não lhe fossem pagos cinco mil milhões de euros por ano para parar a vaga de emigrantes de África para a Europa. Esta anedota, que agora pode ser meditada a partir da perspectiva da guerra na Líbia, é realmente triste e sintomática das contradições das políticas da UE para a região ao longo dos últimos anos. O espírito positivo inicial do “Processo de Barcelona” foi ultrapassado por preocupações da “realpolitik” que levaram os europeus a ser menos contundentes sobre a promoção de princípios normativos, tais como a democratização. Em vez disso, parece que as preocupações da migração, controlo de fronteiras e segurança interna da UE tomaram precedência sobre a promoção do Estado de direito e da democratização. Talvez tenha chegado a hora de rever a política externa e de segurança da UE para a região e investigar como as políticas JAI não só devem servir a segurança interna da Europa, mas também poderem contribuir para a segurança dos cidadãos da região. O objectivo de acelerar a liberdade, segurança e justiça na região é mais do que nunca desejável.
Hoje Macau SociedadeUSJ | Stilwell disponível para ficar e à espera de 60 alunos do continente [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Universidade de São José (USJ) espera ter quota para 60 novos alunos da China continental no próximo ano. O reitor da entidade falava à margem de uma visita ao novo campus da instituição, na Ilha Verde. Só as instituições de ensino superior públicas podem receber alunos da China continental. Mas o Governo já apresentou uma proposta, em Pequim, para mudar as regras e Alexis Tam mostra-se confiante no processo. “Temos a consciência que os alunos que vêm da China continental precisam de um tratamento especial. Falam Mandarim, precisam da integração social, precisam de ser acompanhados aqui nas suas residências, portanto não quisemos ter uma espécie de tsunami de estudantes a quem depois não pudéssemos dar o apoio de qualidade que gostaríamos de dar”, disse Peter Stilwell, reitor da USJ, em declarações à Rádio Macau. O reitor falava aos jornalistas durante a visita às futuras novas instalações da instituição de ensino, na Ilha Verde, que, apesar de atrasadas, se prevêem que respeitem o valor orçamentado inicialmente. Português e creches na mira Sobre o apoio do Governo dado a esta universidade, o Secretário indica que isto acontece devido ao plano da Administração de aposta na Língua Portuguesa. “Queria tornar Macau num centro de formação da Língua Portuguesa na Ásia Pacífico, nesta região. A Universidade de Macau não chega, por isso esta universidade também vai ser nossa parceira”, explicou Alexis Tam. O Secretário explicou ainda que parte das antigas instalações da USJ irão servir para uma nova creche que irá aumentar o número de vagas para o próximo ano lectivo. Ainda assim, esta hipótese ainda está a ser estudada e discutida pelo Instituto de Acção Social e pela USJ. Reitor disponível O actual reitor mostrou-se disponível para assumir um segundo mandato. “Acho que seria pouco elegante construir isto, até esta fase e, depois, bater a porta e ir-me embora”, disse Peter Stilwell, à Rádio Macau, frisando que não depende da sua vontade. “Não me compete dizer se continuo ou não. Quem convida são os meus superiores: a Fundação Católica e o chanceler que, neste momento, ainda é o patriarca de Lisboa”, explicou Stilwell. Apesar do atraso, está prevista a conclusão da obra no final do ano.
Joana Freitas BrevesTaxa de inflação acima dos 5% A taxa de inflação em Macau nos 12 meses terminados em Agosto, face aos 12 meses anteriores, fixou-se em 5,21% devido ao aumento dos preços em secções como a “habitação e combustíveis”. Dados oficiais ontem revelados pelos Serviços de Estatística e Censos de Macau indicam que os preços em “habitação e combustíveis” subiram 10,43%, na “saúde” 5,47%, nos “produtos alimentares e bebidas não alcoólicas” 5,38% e nas “bebidas alcoólicas e tabaco” 5,32%. Nos oito primeiros meses de 2015, o Índice de Preços no Consumidor de Macau subiu 4,86%, em termos anuais, com aumentos nas secções da “habitação e combustíveis”, “bebidas alcoólicas e tabaco” e “saúde” de 9,68%, 7,39% e 5,81%, respectivamente. Só no mês de Agosto deste ano, contra o mesmo período de 2014, os preços subiram 4,64%, enquanto na comparação com Julho o aumento foi de 0,19%.
Leonor Sá Machado Manchete SociedadeCaso Dore | Lesados podem seguir para tribunal. Depósitos podem ter sido ilegais A ATFPM pede ao Governo que investigue o caso do roubo de milhões da empresa de junkets Dore. Mais de 60% dos lesados são residentes e há quem se assuma perto da ruína. Pereira Coutinho vai mais longe e pede a responsabilização das concessionárias e a revisão da Lei do Jogo [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] escândalo do roubo de milhões de patacas de investidores da uma sala VIP da Dore na Wynn continua a trazer caras novas a público. Desta vez, foi na sede da Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) que várias vítimas pediram o seu dinheiro de volta, mas também uma investigação oficial. Para o líder da Associação, esta deve ser levado a cabo pela Autoridade Monetária (AMCM), pelo Governo e pela Polícia Judiciária, na qual já se encontram parte das queixas. Cerca de 66% das vítimas são residentes da RAEM, seja por terem nascido no território ou simplesmente por cá terem investido avultadas quantias na compra de casas ou outro tipo de investimentos. Até ao passado dia 17, a empresa contabilizava uma perda de mais de mil milhões de dólares de Hong Kong, valor contido num comunicado onde a própria Dore se considerava como uma das entidades lesadas. As vítimas – presentes numa conferência na ATFPM na sexta-feira – confirmaram que existem mesmo comprovativos, em papel, das transacções e depósitos efectuados. Sem legislação Indiscutível é o facto destes investidores – alguns deles com três milhões de patacas lá colocados – terem perdido grandes somas de forma repentina e sem aviso prévio. Mas será este tipo de investimento totalmente legal? O HM contactou um jurista do território especialista na área do Jogo e a resposta é clara: “Actualmente, não há qualquer regulamentação desta actividade”. Tal significa, então, que o investimento em salas VIP de empresas de junkets, com sucursais em funcionamento dentro de casinos locais, não é fiscalizado por uma entidade oficial. Assume-se, portanto, que quem investiu do seu bolso – sejam as poupanças de uma vida ou os frutos de uma aposta sortuda – fê-lo por sua conta e risco, sem que qualquer entidade tenha agora a obrigação legal de monitorizar o percurso deste dinheiro. E a culpa é minha? São ainda desconhecidas as percentagens de juro de retorno que os investidores podem receber e o trajecto que estes milhões fazem desde que são depositados em contas da empresa até voltarem ao bolso dos seus proprietários. “As pessoas depositam dinheiro na sala VIP e os junkets utilizam os montantes como ‘cash-flow, que é normalmente utilizado para emprestar aos jogadores e pagar ao casino”, explica o advogado, que não quis ser identificado, contactado pelo HM. A culpa, neste momento, é atribuída a Chao Ioc Mei, ex-contabilista chefe da Dore Entertainment. No entanto, a quem deverá ser atribuída a responsabilidade judicial? De acordo com o jurista, estarão três hipóteses em cima da mesa. “Quem comete o crime é aparentemente a responsável pelo desvio (…). A haver responsabilidade dos junkets e alguma irregularidade por parte destes, não implica, necessariamente, a responsabilização da operadora”, destaca o mesmo especialista. No entanto, acrescenta, “em determinadas circunstâncias, a operadora responde solidariamente”. Isto faz com que a dívida dos junkets “deva também ser imputada à operadora” em questão. Tudo dependerá da infracção em causa, que está ainda por apurar. O HM tentou contactar a Polícia Judiciária, mas tal não foi possível. Uma é pouco, três são demais Pereira Coutinho insiste que também a Sociedade de Jogos de Macau (SJM) e a MGM têm salas VIP desta empresa nas suas instalações. E todas elas ainda em funcionamento. O HM tentou obter confirmação deste facto junto das duas operadoras, mas desde quinta-feira que nenhuma resposta chegou à redacção. Na passada sexta-feira, estavam na sede da ATFPM cerca de 60 pessoas, quase todas de cara tapada e todas dizendo-se vítimas de roubo de milhões de patacas. Em regime de anonimato, três dos lesados falaram publicamente, pedindo o seu dinheiro de volta. Duas das vítimas – residentes, com idades compreendidas entre os 50 e os 70 anos – queixavam-se de terem investido na Dore as suas poupanças. O homem e mulher, visivelmente indignados, expuseram o seu caso: em causa estavam poupanças de uma vida e até a hipoteca de uma casa. “Em Setembro do ano passado, tirei o dinheiro do banco, hipotecando a minha casa para obter um valor que depositei na sala do Wynn”, confessou uma das mulheres, que perdeu agora três milhões. Em Mandarim, expôs a sua história, contando que usava aquele dinheiro para emprestar a jogadores que vinham do continente. “Este ano, tive vários registos e, a 10 de Setembro, fui lá para tirar o dinheiro e disseram-me que a minha conta não tinha mais dinheiro, pelo que fiquei muito surpreendida e não quis acreditar”, lamentou. Sem mais esclarecimentos por parte da empresa, mostrou-se indignada pelo facto do Governo não fiscalizar estas matérias. “O Governo dá a licença ao Wynn e [a operadora] pode fazer o que quiser?”, questionou. Em seguida foi a vez de um outro lesado falar da sua situação. O idoso investiu 300 mil dólares de Hong Kong na sala Dore do Wynn. “No passado dia 10 fui lá verificar e o montante continua registado, mas não há dinheiro para devolver”, explicou. “O dinheiro faz-me muita falta porque preciso de tratar da minha saúde.” Os intervenientes pedem que os princípios de protecção de propriedade e herança da Lei Básica sejam respeitados. Há ainda quem some perdas até quatro milhões. Um mar de soluções Entre desgraças tantas, Pereira Coutinho sugere que sejam tomadas uma série de medidas. O deputado da AL aproveitou para insistir, uma vez mais, na necessidade da revisão da Lei do Jogo. “Tenho vindo a lutar para que as apostas de Jogo sejam reconhecidas como empréstimo. Muitas salas de Jogo estão endividadas até ao pescoço porque não conseguem cobrar, por via legal, os empréstimos concedidos aos jogadores”, apontou. “Não podemos dizer que o Governo desconhece o que se passa dentro das salas de Jogo”, sublinha Pereira Coutinho. O deputado argumenta que, para efeito do imposto sobre o Jogo e contagens mensais das receitas, o Executivo terá que saber tudo o que se passa nos casinos. O líder da ATFPM alega “irracionalidade” na lógica da cobrança do imposto de Jogo às operadoras, mas um pulso pouco firme na cobrança das dívidas dos junkets. Os lesados presentes na ATFPM asseguram que poderão vir a tomar outras medidas para reaver o dinheiro, entre as quais seguir para tribunal. Pedida transformação de salas VIP em instituições de crédito O deputado Si Ka Lon quer saber se o Governo considera classificar as futuras salas VIP e empresas junket como instituições de crédito de forma a facilitar a supervisão destes locais. O deputado pede ainda que sejam emitidas licenças para os colaboradores dos promotores de jogo. Numa interpelação escrita, Si Ka Lon faz uso do caso de desvio de mil milhões de dólares de Hong Kong por uma contabilista da empresa Dore para dizer que se deveria ajustar o sector. Para o deputado, as salas VIP contribuíram muito para o desenvolvimento da indústria de Jogo, mas, devido ao ajustamento do sector, os problemas de “angariar capital através da oferta de juros altos” e “a dificuldade em recuperar os empréstimos oferecidos pelos colaboradores de promotores” tem-se demonstrado cada vez mais. O número três de Chan Meng Kam considera que o Governo necessita de consolidar a supervisão das salas VIP aproveitando a revisão das licenças de Jogo que agora está a ser levada a cabo. O deputado quer saber como é que o Executivo vai ajudar as vítimas do caso Dore a recuperar o dinheiro investido nas salas VIP e diz que considerar transformar as empresas junket em instituições de crédito, poderá proteger o investimento dos residentes de melhor forma, uma vez que funcionaria como forma de depósito num banco. Além disso, como actualmente existem colaboradores de promotores de Jogo a oferecer empréstimos e a receber comissões, o deputado questiona se o Governo vai rever o Regime de Jogo de forma a emitir licenças e exigir tributação destes. DICJ identifica ilegalidades e colabora com PJ Depois dos lesados da Dore terem pedido ao Governo para dar a cara e falar sobre o caso, a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) lançou um comunicado onde assegura que a recolha de dinheiro pela empresa promotora de jogo é ilegal. “De acordo com o Regime Jurídico de Sistema Financeiro, só as instituições de crédito regularmente constituídas e autorizadas nos termos do mesmo diploma ou em legislação especial podem exercer uma actividade que compreenda a recepção, do público, de depósitos ou outros fundos reembolsáveis”, começa por apontar o organismo. Ainda assim, pouco ou nada haverá a fazer face ao dinheiro perdido pelos lesados. É que, como diz a DICJ, a “angariação de fundos” através da contrapartida “de se tornar sócio de um promotor de jogo” deve ser feita por uma entidade que submeta à DICJ um formulário que comprove a sua idoneidade e dos seus sócios. “Ou seja, qualquer sócio ou administrador que não tenha sido sujeito ao processo de verificação de idoneidade realizado pelo Governo não será reconhecido legalmente”, explica o organismo. A DICJ afirma que vai colaborar com a Polícia Judiciária, ainda que “dentro das suas competências”. O organismo liderado por Manuel Joaquim das Neves assegura ainda que a PJ já está a investigar. J.F.
Hoje Macau SociedadeCanídromo | Associações internacionais criticam Chui Sai On [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]rganizações internacionais de defesa dos animais criticaram Chui Sai On por, na semana passada, ter dito que “não é justo” encerrar “de um dia para o outro” o Canídromo, cujo contrato de concessão termina em Dezembro. “Compreendo que Chui Sai On tem de ter muitos factores em consideração, mas a história das corridas de cães em Macau deve, de facto, ser um dos motivos mais fortes para apoiar o encerramento do Canídromo”, afirmou, em resposta à agência Lusa, Lyn White, representante da Animals Australia, uma das nove organizações envolvidas na campanha para encerrar a pista de corrida de galgos. Lyn White reagia às palavras do Líder do Executivo que, na quinta-feira, sugeriu que o Canídromo pudesse não ser encerrado no final do ano, ao fim de 50 anos de funcionamento. “A indústria de jogo foi sempre a indústria principal de Macau. As corridas de galgos têm a sua história e são uma componente importante para a diversificação do sector. Não é de um dia para o outro que vamos suspender as corridas de galgos, isso também não é justo”, disse aos jornalistas, indicando, ao mesmo tempo, que foi encomendado um estudo sobre o assunto a uma universidade local. A representante da maior organização de defesa dos animais da Austrália, de onde chega a maioria dos cães que corre em Macau, lembrou que “há mais de quatro décadas que [o Canídromo] mantém dezenas de milhares de cães em condições miseráveis e inapropriadas, ao mesmo tempo que matou milhares de animais cujo único ‘crime’ foi não correrem rápido o suficiente”. Lyn White disse ainda que, mesmo sabendo que o prazo da concessão estava a chegar ao fim, os operadores do Canídromo, a Companhia de Corridas de Galgos de Macau (Yat Yuen), “falharam em apresentar uma única razão legítima para que continue a operar” e, assim sendo, “a não renovação da concessão não pode ser vista como súbita ou injusta”. “O facto de o Canídromo continuar descaradamente a importar cães, sabendo que as instalações podem vir a fechar, revela como não se importam com as vidas e o bem-estar destes animais. Pedimos a Chui Sai On que suspenda imediatamente a importação de mais galgos para Macau, enquanto os estudos encomendados pelo Governo estão a ser conduzidos”, apelou. De todos os lados Reacção semelhante teve a presidente da Grey2K USA, Christine Dorchak: “O Canídromo é a pior pista de corrida de cães do mundo porque nenhum cão sai de lá vivo”. Reafirmando os esforços da organização norte-americana para o encerramento do espaço, Dorchak lembrou a vigília que se realiza no dia 30 deste mês, em homenagem aos galgos de Macau e que vai decorrer em 26 cidades mundiais. Nestas vigílias, será lida uma carta do presidente da associação local Anima, Albano Martins. O documento indica que cerca de 30 animais são mortos por mês, quando deixam de ser competitivos. “Só nos últimos dez anos, estimamos que o número de animais mortos chegou aos quatro mil”, lê-se na carta, que termina com um pedido de apoio à petição que insta o Governo de Macau a não renovar a concessão, uma campanha já com 340 mil apoiantes. Além das questões do bem-estar animal – a Anima estima que só este ano tenham sido abatidos 160 a 170 cães -, Albano Martins invocou ainda motivos de ordem financeira e comunitária. O Canídromo está localizado na zona norte da cidade, a mais densamente populosa do mundo, onde escasseiam espaços públicos. “Qual é a razão para que uma área daquelas, que não tem equipamentos sociais, que não tem zonas verdes, continue a ter às suas portas animais a ganir a noite inteira e, sobretudo, instalações totalmente degradadas, e uma das pistas consideradas das piores do mundo?”, questionou. O canídromo paga também menos impostos que os outros espaços de jogo, disse Martins: 25% ao invés de cerca de 40%. Para o presidente da Anima, só com esta benesse é que o espaço pode operar.
Flora Fong Manchete SociedadeCaso Dore | Contabilista “tentou pedir empréstimo” antes de desviar dinheiro [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]harlie Choi, o alegado responsável do Wonderful World site onde eram expostas informações dos devedores da indústria do Jogo, revelou ontem que a ex-funcionária da Dore que desviou mais de mil milhões de dólares de Hong Kong da empresa pediu dinheiro emprestado antes de cometer o crime. De acordo com Choi, a necessidade de dinheiro terá a ver com um problema nos empréstimos que a contabilista oferecia a investidores da China continental. “Há cerca de um mês, [a contabilista] disse precisar urgentemente de dinheiro e pediu-me dinheiro para um movimento de capital. Acredito firmemente que ela teve algum problema em empréstimos que ofereceu e acredito que seja possível que esse problema foi com investidores da China continental”, disse Choi ao jornal online Bastille Post, com quem falou na qualidade de presidente da Associação de Informações de Jogo de Macau. Charlie Choi – condenado a pena suspensa de prisão de seis meses por controlar o site dos devedores dos casinos – revelou que Chao Ioc Mei, a ex-funcionária, lhe pediu dinheiro pessoalmente e a outras pessoas do sector. A mulher precisaria de “cinco a dez milhões de dólares de Hong Kong o mês passado”. Questionado sobre se considera existirem falhas no actual funcionamento das salas VIP, Charlie Choi diz que o problema não é único das empresas junket, ainda que tenha admitido a necessidade de melhorias. “Até nos bancos, se os chefes desviarem o dinheiro, pode acontecer a mesma situação”, frisou, defendendo que a maioria das salas VIP tem um funcionamento estável, ainda que ache necessário melhorar as leis que regulamentam as empresas junket.
Flora Fong Manchete SociedadeLee Hay Ip, Presidente da Associação de Engenharia Geotécnica e membro do CPU Obrigar as construtoras a contratar profissionais específicos para avaliar o solo antes de qualquer construção é uma das sugestões de Lee Hay Ip, que diz que, durante anos, nunca se prestou muita atenção a este problema. O engenheiro diz ainda que a construção de mais uma ponte para ligar Macau à Taipa seria mais viável do que um túnel [dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uais são os trabalhos principais da Associação de Engenharia Geotécnica de Macau? A nossa Associação já foi fundada há cerca de oito anos e é constituída por membros de diferentes áreas, como engenheiros civis, funcionários da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), professores da Universidade de Macau e empreiteiros. Trocamos experiências, por exemplo eu sou conselheiro de design. Todos nós temos interesse na área geotécnica, que é a construção das fundações de um edifício. Ao longo do tempo em Macau, não tem vindo a ser dada muita atenção à engenharia geotécnica. Antigamente os edifícios não eram altos, os mais altos tinham apenas cerca de dez andares e não tinham muitos problemas. Mas depois da transferência de soberania e da abertura das licenças de Jogo, foram construídos muitos prédios altos, começando pela Torre de Macau, que foi o segundo projecto em Macau no qual participei na construção, em 1999. Depois, os casinos, o metro ligeiro, o Terminal do Pac On, entre outros. Podemos observar que acontecem várias vezes a prorrogação e excesso de despesas das obras de grandes dimensões e 80% foram por causa da engenharia geotécnica. Portanto, o objectivo da nossa Associação é aumentar a consciência dos residentes de Macau face à importância desta engenharia geotécnica, bem como aumentar o nível de conhecimento dos engenheiros do sector, através da realização de seminários anuais. A Associação participou em algumas obras públicas nos últimos anos? Não participámos através da Associação. Macau ainda não chegou a este nível, nem tem este hábito. Se tivermos em conta Hong Kong e Taiwan, as associações podem participar na construção de obras, ainda que sem fins lucrativos. Seria bom se Macau pudesse atingir esse nível? Sim, e acredito que vai ser desenvolvido gradualmente. Por exemplo, a Associação de Engenharia Geotécnica de Macau foi convidada para avaliar os concursos da construção do Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa Guangdong-Macau na Ilha da Montanha. Isto acontece pela primeira vez e espero que, quando abrirem concursos públicos de obras de grande dimensão em Macau, o Governo possa convidar mais as associações para avaliação, aumentando a imparcialidade. A questão do problema de solo no parque de materiais e oficina do metro ligeiro – grande percentagem do solo era lodo, não permitindo a fixação das estacas – já foi admitido pelo Gabinete para as Infra-Estruturas e Transportes (GIT), ainda que o organismo tenha já garantido que as fundações já encontraram a rocha mãe e a aplicação das estacas já foi concluída no essencial. Tem conhecimento desta questão? Não participei na obra, apenas li notícias. Na minha opinião, este projecto é um óptimo exemplo para mostrar a importância de se investirem mais recursos na engenharia geotécnica no início de uma obra. Um dos trabalhos importantes é a investigação do solo, antes de se construir, para saber não só de que é composta a terra, bem como onde está a rocha. Seria melhor se todas obras fossem investigadas por engenheiros civis e geotécnicos devidamente licenciados. Portanto actualmente em Macau não se faz uma investigação desse tipo ao solo? Não. O Governo recruta apenas as empresas de construção para investigar o solo. Como o Regime de Qualificações nos Domínios da Construção Urbana e do Urbanismo entrou em vigor em Julho, existe uma tendência para melhorar, mas o regime ainda não regulamenta isso, porque entre os 13 domínios não são classificados os engenheiros civis e os geotécnicos. Espero mesmo que se aprenda com tantos problemas que têm acontecido nas obras e se adicione a engenharia geotécnica entre as profissões necessárias, assegurando a segurança e a qualidade das obras. O contrato de exclusividade do Canídromo vai expirar no final do ano e existem diversas opiniões sobre preservar o negócio ou alterar o local noutras instalações. Qual a sua opinião? É uma boa oportunidade para aproveitar o espaço subterrâneo para resolver o problema das inundações, que tem influenciado as zonas mais baixas e o porto interior quando há tufão. Acho considerável que, no espaço subterrâneo da área de 200 mil quilómetros quadrados do Canídromo, se construa uma grande piscina para escoar as águas da inundação, até porque as propostas do Governo para resolver o problema não têm funcionado. A largura da barragem [pensada pelo Executivo] poderá impedir o funcionamento da via marítima, os barcos e os bens transportados, além de que existe um potencial risco de falha da barragem, o que pode piorar a situação da inundação. Sobre as estações de bombeamento a ideia não é completa o suficiente, sobretudo quando houver tufões, porque o nível de água é muito alto. Assim, poderia bombear-se a água para um determinado espaço, de forma temporária, que seria o do Canídromo. O terreno do Canídromo é adequado para construir a piscina que apontou? Essa é uma boa questão, porque através de um mapa geológico de Macau que a nossa Associação fez em 2013, o Canídromo pertence a uma zona de aterro e existe condições de se construir por baixo do campo desportivo dentro do Canídromo, como por exemplo o Auto-Silo da Nam Van (Pak Wu) que também pertence à zona de aterro e foi escavado vários andares subterrâneos sem problemas. Pela minha análise preliminar, a piscina poderia ter até quatro metros de altura e ocupar um terço da área toda do campo, que já seria suficiente para guardar a água das inundações. Se for construída isso iria não só resolver o problema das inundações, mas também iria permitir que a água pudesse ser utilizada para regar as plantas. É também membro do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU). A DSSOPT afirmou numa reunião recente que a elaboração do plano director vai precisar de três a cinco anos para ser feita. Qual é a sua opinião? Parece-me um pouco devagar demais e mostra que a ordem das coisas foi trocada. Normalmente, os planeamentos de cada zona são elaborados após um plano director. Aqui, temos o exemplo das consultas públicas sobre o planeamento das várias zonas dos novos aterros, que acabaram há pouco tempo. Muitas pessoas acham que as etapas estão ao contrário. Mas não podemos esperar e não fazer nada antes de sair o plano director, Portanto, o Governo não tem escolha, a construção de 32 mil habitações na Zona A deve começar já, bem como outros planeamentos. Esta troca na ordem das coisas pode causar conflitos ou falta de coordenação entre os planeamentos preparados para as diversas zonas e o plano director? De certeza que vai acontecer isso, mas é a escolha de esperar ou desenvolver. Macau tem um desenvolvimento rápido, está carente de habitações e cheio de problemas de trânsito. Vale a pena colocar a qualidade de vida em modo de espera por causa do plano director? Isso é inevitável. No que toca à quarta passagem entre Macau e Taipa, a DSSOPT vai decidir a construção em ponte ou túnel no final deste ano. Tem preferência? Pela minha experiência em engenharia há mais de trinta anos, a forma mais viável é a ponte. Em primeiro lugar, construir pontes é mais barato do que construir um túnel. Depois, de forma geral, um túnel é construído apenas quando não puder ser construída uma ponte. Como por exemplo em Hong Kong, no porto de Victoria não há pontes mas foram construídos vários túneis, porque as pessoas não gostam de pontes que podem tapar a vista e não deixar passar iates grandes. Em Macau é diferente e, pelas informações que obtive, não vi razões para não se construir uma quarta ponte. Além disso, o nível da dificuldade na construção de um túnel da futura zona A para zona E é alto devido à sua inclinação necessária, que implicaria utilizar mais espaço nos dois lados da ponte. É também melhor pôr o metro ligeiro a funcionar de forma elevada do que subterrâneo? Neste caso não, porque construir passadiços elevados ao longo das estradas causa um grande impacto no trânsito e faz as ruas ficarem mais estreitas. É melhor os traçados construídos pela forma subterrânea na península de Macau. No entanto, as leis de Macau não permitem que o Governo possa aproveitar todo o espaço subterrâneo, por exemplo o dos terrenos privados. Só a revisão das leis poderia que as passagens do metro fossem construídas totalmente em subterrâneo.