Flora Fong SociedadeSin Fong | Histórias dos moradores inspiraram peça de teatro [dropcap style=circle’]”[/dropcap]Se a sua casa se transformar num edifício perigoso e se tiver apenas 15 minutos para deixar a sua casa para sempre, o que quer levar?”. Foi assim a primeira frase da peça de teatro “Sin Fong”, levada ao palco pelo grupo Macau Experimental Theatre. A peça pretendeu chamar a atenção dos cidadãos para o caso do edifício em risco de ruína, contando as histórias reais dos moradores que tiveram que ser retirados do edifício em 2012. Nicole Wong, uma das coordenadoras do projecto, disse ao HM que a sociedade não está a dar muita atenção ao caso Sin Fong Garden, ainda que tenham passado três anos com poucas soluções para os moradores. “Queremos que o teatro aborde a situação de uma pessoa que perde a sua casa e quais os problemas envolvidos. Na verdade, apesar de haver mais de 140 famílias no edifício, cada uma tem a sua própria história, que ninguém contou. Nós conversámos com os verdadeiros moradores, tentámos compreender os seus problemas e a sua vida, e os actores interpretaram isso de forma directa”, contou Nicole Wong. Nicole Wong, que foi também narradora durante a peça, contou que “alguns moradores já não têm casa em Macau e acabaram por ir viver para o interior da China. “Outros discutiram muito com familiares e os idosos foram obrigados a ficar em lares. Há ainda jovens que estão a enfrentar uma pressão como nunca encontraram, mas há também moradores optimistas, só porque a família está bem”, disse ainda. A peça de teatro serviu ainda para os moradores apresentarem perguntas e darem opiniões sobre o tema. “Na altura os moradores do Sin Fong Garden só tiveram 15 minutos para chegar a casa e retirarem as suas coisas. No teatro, apresentamos um dilema para que os espectadores escolham o que querem tirar de casa e a peça continua consoante o que eles escolherem”, explicou ainda. A peça de teatro, apresentada no Jardim Luís de Camões e Edifício Hou Kuong no domingo e segunda-feira, fez parte do projecto “Arte na Comunidade”, do Macau Experimental Theatre.
Joana Freitas BrevesHabitação Social | Valores máximos de rendimentos aumentam em Janeiro Os valores máximos dos rendimentos dos candidatos a uma habitação social vão ser ligeiramente elevados a partir de 1 de Janeiro, permitindo que um maior número de agregados familiares se torne elegível. Um despacho do Chefe do Executivo publicado ontem em Boletim Oficial estabelece que uma pessoa que vive sozinha e com um rendimento mensal máximo de 9560 patacas e um património líquido de 206.500 patacas vai poder candidatar-se a um apartamento social, quando os tectos actualmente em vigor correspondem, respectivamente, a 9340 patacas e a 201.800 patacas. Já um agregado familiar composto por dois elementos vai tornar-se elegível caso os seus rendimentos mensais não sejam superiores a 14.810 patacas e o seu património líquido não exceda 319.900 patacas, montantes que reflectem um aumento de 350 patacas e de 7500 patacas face aos limites actualmente em vigor. Rendimentos mensais de até 20.040 patacas e um património líquido total de até 432.900 patacas permitem a candidatura de uma família com três membros, enquanto para um agregado composto por sete ou mais elementos, o tecto dos rendimentos mensais é fixado em 29.460 patacas e o total do património líquido em 636.400 patacas.
Joana Freitas BrevesAumento de 9% na mão de obra importada O universo de mão-de-obra importada mantém-se alto, com o número de trabalhadores não residentes a aumentar 8,9% em Novembro, em termos anuais homólogos, para 182.246, indicam dados oficiais. De acordo com dados da Polícia de Segurança Pública (PSP), disponíveis no portal do Gabinete para os Recursos Humanos, 182.246 trabalhadores não residentes integravam o mercado laboral, equivalendo a 45,3% da população activa e a 46,1% da população empregada, estimadas no final de Outubro. No intervalo de um ano, Macau ganhou, assim, 14.974 trabalhadores não residentes, ou seja, uma média de 41 por dia. Face a Outubro, o universo de mão-de-obra importada teve um reforço de 111 pessoas. O interior da China continua a ser a principal fonte de trabalhadores recrutados ao exterior, com 116.941 (64,1% do total), mantendo uma larga distância das Filipinas, que ocupa o segundo lugar (24.547) num pódio que se completa com o Vietname (14.742). O sector dos hotéis, restaurantes e similares continua a figurar como o que mais absorve mão-de-obra importada (48.135), seguido do da construção (44.576). O universo de trabalhadores não residentes galgou a barreira psicológica dos cem mil pela primeira vez na história da RAEM em Setembro de 2008, a qual voltou a ser ultrapassada em Maio de 2012, numa tendência não mais invertida em termos anuais homólogos.
Leonor Sá Machado SociedadePatrimónio | Nova Casa-Museu de Penhores abre portas em Janeiro [dropcap style=circle’]J[/dropcap]aneiro arranca com a inauguração de uma Casa-Museu de Penhores, que vai abrir ao público no primeiro dia do ano e mostra a vida e carreira do negócio de penhores, tradicional na cidade. O agora museu foi transformado a partir da conhecida loja de penhores Tak Seng On – Virtude e Sucesso, fundada por Kou Ho Neng e Wong Hung Shan no início do século XX. Em 1993, verificou-se um declínio neste ramo de negócios e vários espaços que outrora estavam lotados de clientela, ficaram então vazios, o que obrigou ao encerramentos dos estabelecimentos. Foi em 2000 que o Instituto Cultural olhou para aquele espaço e decidiu restaurá-lo com a ideia de o transformar num espaço de cultura e história. O edifício, localizado na Avenida Almeida Ribeiro, é operado conjuntamente pelo IC e por uma outra entidade privada. O espaço museológico alberga agora uma exposição com objectos da época constituída por dois blocos. “O bloco anterior era uma loja de penhores e banco com três andares e o outro bloco era constituído por um armazém com sete andares. O rés-do-chão da casa de penhores, assim como alguns dos andares do armazém, encontram-se abertos ao público”, explica o IC em comunicado. A Tak Seng On tem já uma menção honrosa da UNESCO pela conservação do património cultural, em 2004, tendo sido igualmente seleccionada como zona de boas práticas urbanas pela Expo Mundial de Xangai, em 2010. A Casa-Museu está aberta das 10h30 às 19h00 diariamente, encerrando à segunda-feira. L.S.M. Consulado das Filipinas participa nas Casas-Museu da Taipa O Consulado-geral das Filipinas em Macau foi convidado a participar no projecto de reabilitação das Casas-Museu da Taipa. A garantia foi feita à TDM por Lilybeth Deapera, Cônsul do país. “O [Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam] convidou-nos para aderirmos ao projecto das Casas-Museu da Taipa, para um festival gastronómico, para exposições de pintura e esse género de actividades. Vamos continuar a analisar a forma como podemos trazer artistas das Filipinas para exporem aqui ou fazer uso do restaurante para um festival gastronómico. O Secretário também convidou outros Consulados-gerais de outros países para terem os seus eventos em Macau”, explicou Lilybeth Deapera.
Leonor Sá Machado BrevesTurismo | Número de visitantes diminui mais de 7% Em Novembro registou-se uma queda de 7,6% no número de entradas de turistas no território, principalmente de excursionistas. No entanto, a entrada em grupos continua a ser a forma como mais pessoas visitam Macau, perfazendo quase 52% das entradas de Novembro. No mês passado, a cidade recebeu menos 14% dos excursionistas, mas mais 0,4% turistas, ou seja, 1,2 milhões de pessoas, comparando com os 1,3 milhões de pessoas em excursão. O período de permanência em Macau continua a ser semelhante ao de meses passados, de cerca de um dia e meio. A esmagadora maioria dos turistas continua a provir da China (1,7 milhões), mas também estes diminuíram 12,6%. As províncias que mais pessoas trouxeram à cidade foram Guangdong, Hunan e Fujian, embora outros 512 mil visitantes tenham chegado de Hong Kong. Novembro deste ano viu mais turistas japoneses, da Coreia e de Taiwan do que no mesmo mês de 2014, com aumento entre os 0,9% e os 10,8%. Também os turistas oriundos dos EUA, da Austrália e do Canadá aumentaram, com acréscimos entre os 6200 e os 18,6 mil. Segundo os Serviços de Estatística e Censos, 1,4 milhões das pessoas entraram em Macau pelas fronteiras a pé, enquanto 939,7 mil outros atracaram no Porto Exterior e no da Taipa, tendo-se registado uma queda de cerca de 5%. Os números mostram ainda que entraram, entre Janeiro e Agosto deste ano, mais de 28 milhões de pessoas em turismo no território, com 15,1 milhões em excursão e 12,9 visitantes.
Flora Fong BrevesBanco alimentar | Pedidos mantêm-se mesmo com descida de receitas O secretário-geral da Cáritas, Paul Pun, afirmou ontem que recebeu mais pedidos de mais de duas mil famílias, que procuravam apoio do banco alimentar. Ainda assim, o responsável assegura que a quebra das receitas do Jogo não está a ter impacto no número de pedidos. Segundo o Jornal do Cidadão, Paul Pun referiu que, desde o início do serviço de fornecimento temporário de alimentos em 2011, mais de sete mil famílias já foram beneficiadas. Até ao dia 26 deste mês, a Caritas recebeu pedidos de mais de duas mil famílias, tendo oferecido o serviço a 3700 pessoas. Mas o secretário-geral vê o número como um valor “estável” que não aumentou por causa da descida nas receitas. Actualmente, existem três pontos de serviço do banco alimentar localizados nas zonas norte e central. Paul Pun frisou, contudo, que, como cada vez mais idosos vivem agora na habitação pública de Seac Pai Van, o número de pedidos dos cidadãos da Taipa vai aumentar, pelo que a Cáritas está à espera que o Governo arrende um espaço para servir de escritório permanente do banco alimentar nas ilhas. O serviço do fornecimento temporário de alimentos da Cáritas termina na quinta-feira, mas Paul Pun mostra-se confiante com a renovação do serviço pelo Governo.
Flora Fong Manchete PolíticaPassaporte de Macau | Ng Kuok Cheong fala de problemas com emigração noutros países Recusa de vistos, proibição de entrada e Macau fora da lista. Serão vários os problemas para quem tem passaporte da RAEM, alerta Ng Kuok Cheong [dropcap style=circle’]N[/dropcap]g Kuok Cheong denunciou ontem ao Governo que estarão a acontecer muitos problemas com a isenção de vistos de entrada em alguns locais do globo, quando os visitantes são portadores do passaporte de Macau. O deputado diz mesmo que, embora os residentes com o passaporte da RAEM possam, de acordo com o Executivo, entrar em mais de 76 países sem necessidade de visto, em alguns deles o processo de entrada acaba por não acontecer de forma tão suave, devido aos problemas na emigração. O pró-democrata apela ao acompanhamento dos casos por parte do Governo de Macau. Ng Kuok Cheong assegura que nalguns países onde supostamente haveria isenção de visto as pessoas estão a ser impedidas de entrar a menos que paguem as despesas. O deputado deu como exemplo países como a Tânzania, em que portadores de passaporte de Macau tiveram de pagar despesas do visto à chegada, e de países como o Azerbaijão, Uzbequistão, Cazaquistão e Bielorrússia, entre outros, onde o pedido de visto – que deve ser emitido à chegada – foi mesmo recusado aos portadores de passaporte de Macau, por “não haver cartas de convite” desses países. O deputado apontou ainda que existem residentes que passaram pela Indonésia e entraram em Timor-Leste por via terrestre aos quais não foram concedidos vistos. Ng Kuok Cheong avançou ainda que países como o Senegal ou o Gâmbia possuem a emissão do visto de chegada gratuito para os visitantes de todos os países, sendo que Macau não está incluído na lista. Enquanto isso, países como a Índia, Quénia, Sri Lanka, Zâmbia, Myanmar ou Camboja já implementaram os vistos electrónicos, mas Ng Kuok Cheong critica o facto do Governo de Macau ainda não ter confirmado essas informações através do site oficial. “Será que o Governo pode acompanhar esta situação e tentar melhorar a implementação da isenção do visto ou a atribuição do visto de chegada para os passaportes da RAEM, para que os processos sejam mais completos?”, questionou o deputado.
Pedro Lystmann h | Artes, Letras e IdeiasA beleza das cidades. Happy City. [dropcap style=circle’]P[/dropcap]or alturas da publicação nestas páginas de um artigo que chamava a atenção para as insuficiências que impedem um usufruto mais confortável da cidade, numa edição de fim de semana de um jornal inglês de longa história, subtil influência e cor salmão, saía um artigo sobre a beleza das cidades. Esta prende-se muito com a sua personalidade e o seu rosto próprio. Há cidades que têm monumentos históricos, como Praga, Dresden ou Londres. Outras, em grande número porque foi difícil recusar este apelo que não é meramente económico, situam-se junto a rios ou mares, como Lisboa, Istambul ou Sidney e tornou-se lendário a elas chegar por via poética. Umas, como Tóquio, Hong Kong, Berlim ou Nova Iorque, além da água, tremem pela sua frenética vida financeira, artística, económica e cultural. Ao primeiro critério, que é de imitação impossível e de subtração insensata, só acedem as cidades que tiveram a sorte de manter a sua monumentalia. É o que acontece com Macau. O segundo, de ordem puramente geográfica, de impossível reprodução. O terceiro constrói-se mas apenas em locais onde se promoveu durante séculos (mesmo que poucos) um espírito empreendedor que encontrou solo para prosperar. Em Macau causa interesse lembrar que quase todas estas circunstâncias ocorrem, mas de um modo tímido, quase imperceptível e inconsequente. Há rio, ou mar, mas sujo. Manteve-se um conjunto monumentário não só decente como único em toda a Ásia de exemplos chineses, europeus e sincréticos. Não existindo actividade cultural que a distinga, a cidade montou-se em torno de uma actividade lucrativa mas um pouco absurda – o jogo. Não existem muitas cidades assim, que vivam exclusivamente da fortuna daqueles que resolvem jogá-la. É fácil fazer o exercício que nos permita ver com clareza o absurdo de tudo isto: a região administrativa especial em questão gera receitas altas (mesmo que mais baixas que há 2 anos) porque fica com o dinheiro dos outros. Tornou-se, deste modo, numa cidade arranjada em torno do turista e não do residente. Esta mecânica sublinha uma vocação que já aqui se identificou nestas páginas, uma tendência absorvente e côncava. O que seria de esperar é que a esta circunstância côncava que o morcego da entrada do Hotel Lisboa e o desenho da moeda local tão bem exemplificam, fosse acompanhada de uma administração adulta e com visão. O livro de Charles Montgomery, Happy City, ensina que é inegável que por vezes a transformação se dá impulsionada pela visão de uma pessoa, como se aprecia na história de Enrique Peñalosa, o conhecido ex-presidente de câmara de Bogotá cuja visão serviu de inspiração para várias municipalidades. O que se salienta nas duas Regiões, de Macau e Hong Kong, é a total ausência, há várias décadas, de um governante com a mínima visão. Estima-se que o visionário presidente de câmara tenha influenciado mais de 100 cidades. Jacarta, Deli, Lagos e Manila introduziram melhoramentos inspirados no seu exemplo. Pequenos acrescentos podem servir interesses vastos da população, como a limitação do acesso de carros privados a certas zonas da cidade, a criação de vias para bicicletas (centenas de quilómetros no caso de Bogotá), parques, praças para peões, bibliotecas, escolas e um sistema de transportes públicos decente. A motivação básica de Peñalosa centrou-se em combater a ocupação da cidade pelo automóvel privado e permitir que os residentes usufruíssem dela de uma maneira mais limpa. No princípio do século XX as ruas da cidade pertenciam ainda à comunidade e o automóvel privado não passava de uma anormalidade facilmente contornável. Aos poucos esta situação começou a mudar e o automóvel, por trás do qual se montaram interesses económicos poderosos que ainda persistem, reclamou cada vez mais espaço e mais velocidade à medida que o transporte público, os ciclistas e os peões foram sendo empurrados do espaço público que era a rua. Este movimento tem um nome: Motordom. Ainda vivemos nesse modelo, se bem que as coisas estejam a mudar um pouco em várias cidades da Europa, América e Ásia Extrema. O Alcaide de Bogotá tornou-se, em pouco tempo, numa cidade conhecida pela falta de segurança e pela poluição, num herói. De acordo com o seu plano, e como nos mostra Montgomery com entusiasmo, a cidade tornara-se mais feliz. “Peñalosa has become one of the central figures in a movement that is changing cities around the world” (pg.2). Central ao seu projecto foi a ideia de que a cidade deve ser inclusiva, a de que a cidade deve ser para todos – o que se consegue criando espaços públicos de qualidade, não prometendo o impossível à população e criando um entusiasmo pela elevação do status social de hábitos anteriormente associados exclusivamente à pobreza (como o uso da bicicleta ou do transporte público). Uma cidade onde existam menos diferenças sociais (como Copenhaga) elimina com mais facilidade o stress associado à consciência de que se é ostensivamente mais pobre que os outros – um problema crescente nos Estados Unidos da América, mostra-nos Montgomery, e certamente crescente na Ásia, onde o contraste entre os que têm (e ostentam) e os que não têm (mas vêem outros ter, o que aumenta o nível de desconforto social e stress) é cada vez maior. Pg.250 – “American cities have actually been getting more segregated by income class for the past three decades”. Para lá do senso comum provou-se que um contacto directo e persistente com a natureza, sob a forma de jardins, parques ou simples ajardinamentos, tem um efeito benéfico sobre os residentes a nível do seu bem estar mas também a nível do seu comportamento. A privação da natureza leva mais rapidamente ao cansaço, à agressividade e até ao crime e esta deve estar presente não apenas em parques ou jardins, que podem ser de acesso mais difícil, mas o mais possível integradas na malha urbana. Tem de haver proximidade.* Não se pretende dizer que a distracção e o lazer constituem medida única para o avanço do bem estar mas este deve ser complemento importante de um ambiente em que se propicia o avanço profissional, uma escolha diversa de oportunidades que tragam sentido ao quotidiano e um sistema que tolere e proteja de modo inequívoco escolhas alternativas ou desprotegidas de vida. Um dos pontos mais interessantes por que Montgomery se estende tem que ver com a importância da confiança por oposição à importância de considerações materiais. O modo como nos relacionamos com os outros habitantes da cidade deve criar uma rede de confiança nas pessoas e instituições que rodeiam o residente, seja a polícia, o governo ou os vizinhos e amigos. O relacionamento com os outros é mais importante que o ganho material. Não poderia faltar o exemplo dinamarquês. O caso chinês é paradigmático (como se aponta no Capítulo I). Se o acesso a bens de consumo aumentou de um modo nunca visto, o mesmo não se passa a nível da satisfação com a vida, um padrão que se descobre em muitos outros países. No terceiro capítulo o autor demonstra como um quotidiano ligado a grandes ligações diárias por carro esvaziam a componente social da vida urbana e tendem a criar desconfianças nas pessoas e no sistema. Outro paradigma de construção recente aparece ligado também a um indivíduo – Lee Myung Bak, o presidente de câmara de Seul que ousou demolir quilómetros de viadutos numa área de imobiliário de alto preço para que o rio Cheonggyecheon reganhasse luminosidade natural. Hoje é uma zona naturalizada com arbustos, relva, zonas de água, pássaros e peixe. Não foi esta a única intervenção significativa do presidente de câmara (2001 a 2006) que veio depois a ser eleito presidente do país. No que respeita ao valor da convivialidade Happy City sublinha uma constante interessante. A de que as pessoas muito rapidamente se adaptam a inovações assim que descobrem as suas vantagens, muitas das quais tendem a criar modos de pôr as pessoas em contacto em espaços públicos (e mesmo que estas possam encontrar uma resistência inicial, como acontece, por exemplo, com alguns planos de pedonização ou redistribuição de fluxos de tráfego). Montgomery, para o fim do livro, chama a atenção para um fenómeno que parece vir contra a eficácia do redesenhar das cidades de modo a torná-las mais inclusivas. Quando o centro da cidade e algumas das suas zonas mais degradadas começam a tornar-se mais atraentes os preços sobem e os habitantes dessas zonas podem-se ver obrigados a abandoná-las. Se o autor não insiste muito nisto é porque Happy City é mais um livro sobre design que sobre políticas sociais. Aconteceu em Vancouver, em Bogotá e em Melbourne. Em Hong Kong há exemplos muito recentes. Em Kreuzberg, em Berlim, tentou travar-se esta gentrificação. Mais uma vez, o que se deseja é uma política de inclusão e uma cidade pensada pelos seus habitantes. * Curiosamente este é um dos termos chave de um livro de Edward Glaser já aqui apreciado, Triumph of the City, onde, no seu elogio à cidade, se encontra copiosamente a referência à proximidade física permitida pela cidade vertical e o efeito que esta tem na sociabilização, no excitar da circulação e na criação de ideias, da inovação e da criatividade. Montgomery mostra-se mais inclinado para um modelo entre a cidade vertical e a cidade horizontal, como se lê no Capítulo 6 – intitulado How to be Closer (“If you search hard enough for places that balance our competing needs for privacy, nature, conviviality and convenience, you hand up with a hybrid, somewhere between the vertical and the horizontal city”. pg.139). Não parece haver diferenças no modo como ambos entendem a cidade vertical como a opção mais verde.
Joana Freitas BrevesAdministração com menos 29,9% de receitas A Administração encerrou os primeiros 11 meses do ano com receitas totais de 102.168 milhões de patacas, uma queda de 29,9% em termos anuais homólogos, indicam dados oficiais ontem divulgados. Dados provisórios da execução orçamental publicados no portal da Direcção dos Serviços de Finanças indicam que as receitas totais arrecadadas entre Janeiro e Novembro correspondem a 95,7% do previsto para todo o ano de 2015. Os impostos directos sobre o jogo – no valor de 35% sobre as receitas brutas dos casinos – foram de 78.540 milhões de patacas, reflectindo uma redução de 34,7% face aos primeiros 11 meses de 2014 e uma taxa de execução de 91,4%. Na rubrica da despesa indica-se que, entre Janeiro e Novembro, foram gastos 62.197 milhões de patacas, mais 17,3% do que no período homólogo do ano passado, reflectindo uma execução de 70,7% relativamente ao valor do orçamento autorizado. O Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA), cumprido até Novembro em apenas 23,6% face ao orçamentado, equivalia a 3467 milhões de patacas, mais 37,3% face ao período homólogo de 2014. Ainda assim, entre receitas e despesas, a Administração de Macau acumulou um saldo positivo de 39.971 milhões de patacas, excedendo o previsto para todo o ano, com a taxa de execução a atingir 212,6% do orçamentado, isto apesar de ter visto a almofada financeira emagrecer 56,9% face aos primeiros 11 meses do ano passado.
António Conceição Júnior VozesUrbanidades [dropcap style=circle’]A[/dropcap]noiteceu cedo, como é habitual nesta altura do ano, embora aqui o calor retire ao bafo da vaca do presépio o conjunto de clichés que nos foram impondo. Estava fora, e isso também fazia alguma diferença nos hábitos. A entrada do hotel patenteava uma árvore natalícia gigante. Um piano ecoava pelo enorme átrio onde se cruzava uma multidão díspar que, tal como eu, aproveitava a época para sair do repetitivo quotidiano. Lá fora, onde de dia se nadava, acendiam-se velas que bruxuleavam no escuro, expressando os festivos desejos habituais. Senti-me algo perdido naquela multidão enquanto esperava que nos agrupássemos para o jantar. Mas uma como que frequência chegou-me aos ouvidos na forma de um sinal quase insonoro, que se afirmava pelas vibrações que sobre mim exercia, como que uma membrana de uma coluna de som a vibrar. O fenómeno transbordou, percorreu-me a mente, os membros, o corpo. Subitamente, observei o que me rodeava de um outro modo, como se não fizesse parte daquele cenário. Vislumbrei então, vindo na minha direcção, um homem estranho, que se movia deslizando, sem se lhe ver os pés. Tinha uma tez de cera, vestia uma sobrecasaca preta, gola de veludo, um colete escuro. O mais insólito era o cabelo frisado, já ralo, e uma barba longa, encimada por um bigode farto e branco, todo ele saído da era Vitoriana. Olhava-me fixamente à medida que se aproximava, atravessando as pessoas sem que elas dessem conta dessa extraordinária visão. Não falámos. O extraordinário é que comunicou de uma forma que eu ouvia sem que houvesse som. “I bid you good evening, my dear fellow” disse-me, e cada palavra como que vibrava dentro da minha cabeça. “Good evening” respondi-lhe estupefacto, porque apenas pensara as palavras. Comunicávamos pelo pensamento, algo, para mim, deveras surpreendente. “I have been around for quite a while but these days I find all this a little too odd for my liking” retorquiu. “Anyway, my dear sir, my name is Charles. You may call me Charles given these uninformal days you live in”. O ar era sisudo, as pálpebras descaíam sobre um olhar pesado, talvez mesmo cansado. Aquele rosto era-me familiar, mas não com tanta idade. Arrisquei: “I presume, if my memory does not betray me, that you are Mr. Dickens, Mr. Charles Dickens”. O meu interlocutor fitou-me com um semblante algo triste. “In fact I created Ebenezer Scrooge, and since then all they know about me is the Christmas Carol. Well, I guess one cannot escape one’s destiny”. Tossiu, pigarreou, olhou para mim e disse: “Não sei porque estou a falar inglês quando posso falar qualquer língua”. “Mas venha”. Agarrando o meu antebraço, começámos a elevar-nos por sobre as pessoas no átrio, dirigimo-nos para a enorme parede de vidro que atravessámos sem custo, olhei a piscina iluminada de velinhas flutuantes. Não senti medo. Acostumara-me à vibração que me percorria, como uma corrente de energia cuja origem era insondável. Ascendíamos sem parar, lentamente, numa trajectória oblíqua. Estávamos sobre o mar. Olhei para cima, mas fui interrompido: “Neste plano, ascender ou descender não tem significado. Não existe o acima nem o abaixo, o atrás ou o a frente, a esquerda ou a direita. Quando habitamos o humano, a nossa compreensão tem limites impostos pelo mundo em que crescemos e vivemos. A matéria ilude-nos e formata-nos. Escrevi sobre Ebenezer Scrooge e a sua avareza, que era material, e o seu arrependimento”. Olhei-o, enquanto continuávamos a subir. “Então quer dizer que neste momento estou materialmente tão… emaciado quanto o senhor?”. Sorriu-me, cofiou a barba e disse-me: “A morte material é uma realidade humana incontornável, mas tão natural como o nascimento. É a passagem pelo mundo plano e primário da matéria. Apontou-me para o gigantesco globo que tínhamos à nossa frente, a lua, que nunca tinha visto assim, enorme. Daí já podia contemplar um pouco mais do Universo. Não muito mais. Lendo o meu pensamento, pegou-me no pulso e deslocámo-nos a uma velocidade inimaginável. Abrandámos e, de súbito, estacámos no vácuo. Um panorama deslumbrante abria-se perante os meus olhos de mortal. Enormes galáxias em forma de nuvem, estrelas poderosas emitindo explosões de si próprias, planetas gigantes, outros menores, chuvas de meteoritos passavam perante o meu extasiado olhar. “Veja, estamos num ponto do Universo em expansão. Aqui não existe nem bem nem mal, nem aqui nem em lado nenhum. Não há agendas nem desejos. A matéria é uma consequência, não um fim. Apenas os espíritos muito primários alimentam guerras e usufruem delas, falam de paz e lucram com ela, arrancam confissões, combatem por deuses diferentes ou por matérias que destroem o seu próprio habitat. Oprimem e orgulham-se disso. Agarram-se ao poder com ambas as mãos. Matam, matando-se. Criam o inferno, o verdadeiro inferno” Olhou-me com o seu olhar entristecido, de pálpebras descaídas. “A matéria é energia acumulada. E isso é o que ilude no plano terrestre. Há outros planos de consciência, mas geralmente só se ascende a eles quando o espírito se liberta da matéria”. “Aqui onde estamos, percorre uma energia extraordinária que se chama Amor. Mas esta não é perceptível à maioria dos que dele falam. É demasiado poderosa para ser compreendida por seres incipientes”. E, sem mais, em um tempo que não é tempo, estávamos de volta ao átrio do hotel. Talvez não tivesse passado um segundo. Mas o que é o tempo? Fui cear com muitas interrogações e um olhar desconfiado para tudo o que o Natal representa de consumismo. Mas não deixei de, bem comportadamente, manifestar os meus votos de paz e amor.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeUber | CCAC já recebeu queixa formal contra Governo O Comissariado contra a Corrupção recebeu em meados de Novembro uma queixa formal da Uber contra as acções das autoridades. Dois meses depois da entrada no mercado, a Uber diz que os locais representam 70% dos passageiros [dropcap style=circle’]É[/dropcap]oficial: a Uber, empresa que disponibiliza serviços de transporte através de uma aplicação de telemóvel, já apresentou uma queixa formal contra a actuação do Governo aquando da sua entrada no mercado. Ao HM, Harold Li, porta-voz da Uber em Macau, confirmou que a queixa foi entregue ao Comissariado contra a Corrupção (CCAC) em meados de Novembro, não estando prevista qualquer acção judicial. “Trabalhamos em conjunto com as agências de viagens que são nossas parceiras na apresentação de uma queixa junto do CCAC, para a defesa dos direitos dos condutores”, apontou Harold Li. A queixa apresentada ao CCAC surge no seguimento das acções dos agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP), que aplicaram multas de 30 mil patacas cada a dois condutores, uma semana após o início das operações da Uber. Segundo o Executivo, o serviço da transportadora é ilegal, a menos que esta funcione em parcerias com quem tem licenças para este tipo de transporte, como agências de viagem ou empresas de táxis. A Uber sempre descartou preocupações sobre a actividade, assegurando sempre que a iria manter. E dois meses depois de ter entrado no mercado de transportes local, o porta-voz da Uber garante que o negócio está a correr de vento em popa. “Estamos felizes por partilhar o facto de que muitas agências de viagens continuam a trabalhar em parceria com a Uber em Macau”, disse Harold Li, sem adiantar, contudo, o número exacto de agências com as quais a Uber está a operar. “Desde o nosso lançamento, há dois meses, que a Uber já providenciou centenas de transportes, sendo que os residentes de Macau representam 70% dos nossos passageiros. Esperamos poder trabalhar com o Governo e outros parceiros locais para melhorar e introduzir grandes inovações em termos de transporte”, apontou ao HM, acrescentando que a resposta de Macau tem sido “tremenda”. “Passageiros, condutores e outros em Macau mostraram-nos que estavam ansiosos por ter mais e melhores opções de transporte e a Uber compromete-se a continuar o trabalho árduo para providenciar serviços para estas pessoas”, acrescentou o porta-voz da Uber para Hong Kong e Macau. As declarações de Harold Li contradizem a opinião de Tony Kuok, presidente da Associação de Mútuo Auxílio dos Condutores de Táxi, que esta semana referiu ao Jornal do Cidadão que a Uber não veio afectar o sector. “Muitos dos residentes escolhem deslocar-se com motos ou carros e outros apanham autocarros. Raramente apanham táxis a ir ou a sair do trabalho”, rematou.
Leonor Sá Machado EventosReveillon 2016 | Festas temáticas e buffets de marisco invadem o território Este ano não há desculpas para não entrar em 2016 com elegância, já que são mais de uma dezena as festas temáticas e jantares de marisco espalhados pela cidade. Até Kelis trará “Milkshake” ao Studio City [dropcap style=circle’]E[/dropcap]nquanto no Grand Coloane se festeja a passagem de ano com um jantar de marisco e vinho à descrição, seguido de uma festa temática dos anos 70, o ritmo da Big Apple promete não passar despercebido no Studio City. Ao mesmo tempo, vários restaurantes do Grand Hyatt, da Doca dos Pescadores, do Sofitel e do MGM oferecem menus de buffet e de reveillon para todos os gostos, desde gastronomia tradicional chinesa, a francesa ou de marisco, bastando aos interessados ligar para efectuar a reserva de mesa. O Baccara, no Sofitel, oferece uma festa cheia de brilho e ritmo, com danças brasileiras, música de Julian Ortiz e um buffet com vinho à descrição por 688 patacas por pessoa, que se prolonga das 18h00 às 1h00. É também no Sofitel que tem lugar um menu de jantar intimista com o chef francês Jean-François Nulli, no Privé. O restaurante situa-se no sexto andar e cobra 588 patacas com um custo adicional de 199 patacas pelo vinho de acompanhamento. Ao estilo ocidental Já o MGM aposta na temática dos antigos cabaret franceses, com uma decoração ao estilo Moulin Rouge que inclui tártaro de vieiras, ostras, lagosta, consomé de pato, caviar e sorvete de limão. A refeição pode ir das 888 patacas às 1388 patacas. O Rossio também oferece menus, com queijos, marisco e sobremesas em conjuntos que oscilam entre as 298 e as 728 patacas por pessoa, enquanto o Bar Lion’s cobra 350 patacas à entrada com uma bebida incluída para uma viragem de ano cheio de música e dança. Na mesma linha está a Doca dos Pescadores, com dois menus de jantar: o primeiro acontece no Vic’s do Rocks Hotel e dica a 250 patacas, pelo que o segundo se realiza no Praha do recém-inaugurado Harbourview, a 450 patacas. Na mesa estarão disponíveis ostras, lagosta, carneiro frito e várias outras delícias. No entanto, o grupo não se fica por aqui, já que se dedica à realização de uma série de concertos nessa mesma noite. Em palco estarão mais de dez artistas, incluindo Kenneth Ma, Colleen Lau, Mandy Wong, Galactic Cluster e Benjamin Yeung a partir das 20h45 na zona exterior da Doca. Do outro lado da região estará a ter lugar a festa de anos 70 do Grand Coloane Hotel, que se segue a um jantar de buffet. A “Motown” pede roupas à medida e 288 patacas à porta. O jantar de luxo de marisco fica por 788 patacas e, tal como a festa, também ele se estende até às 00h00. A badalar ao estilo americano estará o Studio City. Como é já da sua natureza, o complexo homenageia a cidade de Nova Iorque com toda a popa e circunstância da passagem de ano em Times Square. O local terá mesmo uma bola de espelhos a descer, de uma altura de 150 metros, durante a contagem decrescente para a entrada em 2016. Presente estará a artista norte-americana Kelis, conhecida pelo êxito do início do milénio, “Milkshake”. A zona de comidas e bebidas do Studio City disponibiliza um menu de 280 patacas com champanhe, mas é a partir das 22h00 que as celebrações começam: por todas as ruas do complexo haverá decoração e música alusiva à cidade norte-americana durante este noite especial do ano, que termina no Pacha com um convidado especial: Dj Rehab. Quem também não fica fora do Reveillon é o Grand Lisboa, que oferece aos fãs de música e dança um espectáculo com os artistas As One, A2A e Stephanie Ho. Finalmente, para quem prefere somente um final de noite mexido, mas gratuito e ao ar livre, o Governo organiza um espectáculo nas Casas-Museu da Taipa com o português João Gomes e a Banda, Willy, Chu Mi Mi, Josie Santos, Beat It e vários outros artistas. A festa tem início às 21h30 e acaba às 00h15. Eason Chan em concerto no Venetian O cantor Eason Chan sobe ao palco da Cotai Arena nos dias 30 e 31 deste mês, com bilhetes entre as 380 e as 1680 patacas. Chan é de Hong Kong e ficou conhecido com uma série de êxitos na RAEHK e na China. Agora, na casa dos 40, continua a fazer digressões pela Ásia e escolheu Macau para entrar em 2016. Considerado pelos media de Hong Kong como o “terceiro deus da música”, fica assim ao lado de Samuel Hui e Jacky Cheung. O artista tem, no entanto, outras vertentes educativas, tendo-se licenciado em Arquitectura na Universidade de Kingston. Em 2006, Eason Chan casa-se com a sua namorada de criança e em 2009 teve a honra de carregar a tocha olímpica em Montreal, tornando-se na primeira pessoa de ascendência chinesa a levar as tochas de Inverno e de Verão. Em 2005, o seu único álbum em Cantonês foi considerado pela Time Magazine como top cinco das recomendações em discos asiáticos, mas também foi galardoado com o Prémio Golden Melody. O sucesso foi continuando, até que em 2009 e 2015 venceu os galardões de Melhor Álbum em Mandarim e Melhor Cantor Masculino de Mandarim. Os concertos acontecem às 20h00 de dia 20 e às 21h30 de dia 31. Bar Heart abre portas na passagem do ano O hotel Ascott, localizado na zona dos NAPE, abre oficialmente o seu novo bar na noite de passagem do ano. Na entrada para 2016, o bar Heart trará sons de Djs internacionais, como é o caso de Soulboy, Kensho, vindo do Reino Unido, e Kangol, oriundo de Portugal. O evento, que se realiza em parceria com a revista Macau Closer, Global Club Night e Dj Network Sideshow Kuts, promete ainda mais convidados, cujos nomes só serão divulgados posteriormente. A entrada é livre, com a oferta de um copo de champanhe.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesSexy 2016 – Nunca gostei das festas. – Festas? – Sim, as festas natalícias. O tempo em que se festeja a possibilidade de procriação assexuada. Uma mitose espontânea, que nem a biologia sabe explicar muito bem. – Pois. O Antisexo. – Somos obrigados a ver a família e a fazer revisões anuais. – Claro… e as recordações de 2015? – Sexo a mais e sexo a menos, dependendo do mês. Cinema e umas leituras. Ainda tive umas viagens por aí. Momentos de genialidade alcóolica, mas raros, porque a regularidade levar-me-ia ao alcoolismo. O teu? – O meu ano foi aborrecido. Pessoas aborrecidas, trabalhos aborrecidos, encontros aborrecidos. Não sei que te diga para além de que 2015 foi uma merda. – De que signo és? Posso ver o que te reserva para o próximo ano. A astrologia não foi afectada pelo meu cepticismo. – Eu só quero saber de sexo. Não quero saber de amor, quero saber de sexo. Não sei se é uma opção. – Queres um 2016 exclusivamente sexual? – Nem sei o que isso quer dizer, mas talvez. – Queres foder todos os dias? Com pessoas diferentes? Ter a excitação de corpos novos contanstantemente ou ter o conforto de um a quem já lhe conheces os cantos. – Talvez. Quero que 2016 traga a revolução no sexo ou… a re-significação do sexo. Justifico-me com a minha constante depressão, mas quero daquelas epifanias sexuais que tornam a metafísica do mundo reduzida ao glorioso acto de foder. – Não sei se isso te faz um tarado ou intelectualmente interessante. – Gosto de acreditar que faz de mim um e outro, em simultâneo. – E vais chegar à restruturação do significado do sexo como, exactamente? – Espero que com muito sexo e muita introspecção. – Não percebo como é que chegaste a esta necessidade de filosofar sexualmente. Não que o sexo e a filosofia se oponham, mas tão pouco são compatíveis, talvez complementares. Parece que te obrigas ao dualismo razão/emoção com a desculpa que queres foder bastante. – Se calhar deverias pensar o que queres que 2016 te traga, sexualmente. Talvez assim me compreendas melhor. – Nem é preciso pensar muito: um menáge à trois. Sou muito mais prática a operacionalizar os meus desejos sexuais. Um menáge à trois ainda não está na lista de experiências sexuais vividas. – Pois, ok. Tens algum amante regular agora? Quem seriam os participantes? – Não, não tenho. Estou a pensar ser o elemento extra de um qualquer casal. – E pronto? – Pois. – Vais o quê? Pôr um anúncio? ‘Disponibilidade para noite louca de sexo com casal que procure expandir a sua lista de experiências’. – Epá… não faço ideia. Tu é que me pediste a resolução sexual para o próximo ano, ainda não ruminei a ideia. Não sei como se faz, ou como se começa, só sei que gostaria. – Bem, se entretanto arranjar uma amante e ela estiver para isso, informar-te-ei com todo o gosto desta possibilidade. – Achas que pode contribuir de alguma forma para a transcendência sexual que procuras para o próximo ano? – Tenho a absoluta certeza de que sim. – Depois como seria? Eu, tu e esta hipotética outra. – Não sei. Imagino que jantariamos os três juntos, alguma conversa e intimidade não magoaria e depois… minha casa. – Mas marcávamos um dia? Ou sairíamos várias vezes os três a ver no que dava? Se haveria química. – Boa pergunta. – Para além do mais, precisariamos de um encontro de discussão de logística. Definir o que é ou não permitido. – Estás a destruir toda a minha fantasia pornográfica. – Não percebo porque é que o meu pragmatismo o magoaria. Mas preciso de saber as regras, nós três precisamos de perceber as regras. Há risco de cairmos em constrangimento. Tipo, sexo vaginal depois de anal é expressamente proibido. Ainda pior inter-participantes. – Tu… Já estiveste com uma mulher? Sabes como se faz? – Como se faz o quê? – Enfim, estar com uma mulher. – Fazer-lhe um minete? – Sim… – Essa é mesmo uma preocupação real? – Não, só curiosidade. – Sabes tu? – Acho que sim. Nunca se queixaram. – Se de facto estás a propor-te como um participante para a minha experiência de 2016, porque não um homem? – Hein? – Eu, tu e um hipotético outro. – Estás a destruir a minha fantasia pornográfica de novo. – E dupla penetração? Não estou a ver o que seja mais pornográfico que isso. – Pois, está bem. Mas não sei se conseguiria estar na presença de um pênis erecto, para além do meu. – Ok. Entendi. E nós? – Nós? – Claro. Sei lá eu se o nosso tesão vale a pena. – Isso é um convite para experimentar? – Talvez.
Sérgio Fonseca Desporto MancheteGP | Motociclistas acidentados na Guia recuperam bem, mas Mountford desiste de correr [dropcap style=circle’]R[/dropcap]uss ‘Monty’ Mountford foi um dos dois motociclistas azarados na 49ª edição do Grande Prémio de Motos de Macau. O britânico teve um aparatoso acidente na zona sinuosa do Circuito da Guia durante os primeiros treinos de qualificação, que se saldou em várias fracturas na bacia, externo, perna esquerda e algumas vértebras. Depois de ter sido operado por uma equipa de cirurgiões do Centro Hospitalar Conde de São Januário e após uma semana de convalescença em Macau, Mountford regressou a casa, à cidade de Wigan, onde decidiu colocou colocar um ponto final na sua carreira. Na véspera de Natal, o motociclista britânico anunciou na rede social Twitter que seguiu o conselho do seu cirurgião. “Decidi retirar-me”, escreveu, para depois falar ao jornal Wigan Today, reforçando a ideia deixada na RAEM, onde afirmou aos jornalistas ter sido este “o acidente mais grave da carreira”. Mountford foi operado novamente à bacia no regresso à terra natal, tendo passado mais duas semanas na Wigan Infirmary, sendo que irá novamente ser intervencionado em breve, pois o dedo mindinho esquerdo precisa de mais uma cirurgia. Os médicos reconhecem que o motociclista de 33 anos, pai de duas crianças, precisará de mais quatro meses para voltar a caminhar normalmente. “Já praticamente decidi que acabaram as corridas de estrada para mim. Venho a correr há muito tempo e não será justo colocar a minha família na possibilidade de passar por isto outra vez. Nunca tinha experimentado nada parecido com a quantidade de dor em que tenho estado nas últimas cinco semanas”, afirmou Mountford à publicação de língua inglesa. “Obviamente eu fazia isto para viver e agora terei que encontrar um trabalho. Os próximos seis meses vão ser duros, mas eu quero concentrar-me na minha família”, concluiu Mountford, que antes de enveredar profissionalmente pelas corridas de motos trabalhava numa tipografia. McHale quer continuar Pelo Centro Hospitalar Conde de São Januário também passou Tom McHale, que protagonizou um acidente ainda mais grave. O estreante britânico perdeu o controlo da sua Honda na Curva do Mandarim a mais de 230km/h, batendo com gravidade nas barreiras de protecção. Segundo os pais do motociclista de 31 anos, que assistiram ao acidente através das televisões colocadas nas boxes, este demorou sete dias até reconhecer a família, fracturou vinte e quatro ossos, incluindo cinco vértebras, rasgou o céu da boca e teve um hematoma no cérebro e outro no fígado. Segundo a equipa responsável do hospital público do território, as lesões mais graves foram mesmo as duas fracturas na coluna vertebral, que poderiam ter consequências nefastas caso não tivessem sido logo tratadas. Contudo, este acidente no Circuito da Guia não tirou pitada de motivação a McHale, que à imprensa do seu país disse que conta os dias para voltar à competição. “Preciso de esperar para que o meu braço recupere. Se recuperar bem, vou estar de volta no próximo ano. O objectivo é competir nas provas de estrada no próximo ano. Só o movimento das minhas mãos é que me impedirá”, explicou McHale ao jornal North-West Evening Mail, resumindo assim o por quê de tanta pressa em regressar ao activo: “Quando se gosta mesmo de fazer algo, isto torna-se a nossa paixão.”
Hoje Macau Manchete SociedadeLuso-descendentes asiáticos criticam CPLP [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]uso-asiáticos de dez países estão a organizar-se em bloco em resposta ao que consideram ser o esquecimento da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), voltada para as “nações ricas”, segundo o lusodescendente Joseph Sta Maria. O também representante das minorias junto da administração de Malaca e autor do livro “Pessoas Proeminentes na Comunidade Portuguesa em Malaca”, disse que os luso-descendentes de dez países asiáticos estão a organizar a primeira Cimeira da Comunidade dos Portugueses Asiáticos. O encontro, adiantou, terá lugar em Malaca, onde reside uma das maiores comunidades de descendentes de portugueses, por altura da festa do São Pedro, entre “23 e 29 de Junho” do próximo ano. O bloco terá representantes da Malásia (Malaca), Índia (Goa, Damão e Diu), Sri Lanka, Singapura, China (Macau), Tailândia (Banguecoque), Austrália (Perth), Indonésia (Jacarta, Ambon e Flores), Timor-Leste e Myanmar. O luso-descendente afirmou que o bloco poderá vir a ter “muito mais” membros, por acreditar que ainda existem grupos de descendentes de portugueses por identificar. Joseph Sta Maria, que está a liderar a iniciativa, adiantou que vai convidar para a cimeira o primeiro-ministro português, o “mestiço” António Costa, porque também ele é um luso-asiático com antepassados goeses. O mesmo responsável justificou esta decisão “rebelde” com o facto de a CPLP “estar interessada nas nações ricas”, como a Guiné Equatorial, onde a língua oficial é o espanhol. “Eu não sei se eles [CPLP] sabem que nós existimos”, questionou. O lusodescendente reconheceu que os euro-asiáticos em causa são minorias sem força política, ou seja, não administram países e, como tal, não podem ser incluídas como membros na CPLP. O representante das minorias em Malaca frisou que o facto de haver comunidades como a sua, que “mantém a cultura portuguesa há cinco séculos e vive num ambiente de comunidade, comunicando em português [crioulo malaio-português]”, é algo que “não tem preço”. Deu ainda o exemplo dos portugueses negros de Tugu, que “foram levados como escravos para a Batávia [antiga Jacarta], forçados a converterem-se ao protestantismo e a mudarem os seus nomes para nomes holandeses” e que, mesmo assim, “ainda se sentem orgulhosos por serem chamados de portugueses”. “Portugal não se sente orgulhoso disto?”, questionou, considerando que o país “tem uma responsabilidade moral” para com os seus “filhos” espalhados pelo mundo. Após reconhecer que Portugal enfrenta dificuldades, o autor destacou que a “CPLP tem nações ricas”, como o Brasil. Questionado sobre ajudas concretas, Joseph Sta Maria deu a ideia de “montar uma aldeia cultural dos portugueses asiáticos” na Ásia, caso “Portugal e os seus parceiros da CPLP” estejam interessados. Essa aldeia de “80 a 100 hectares” totalmente portuguesa seria “um negócio muito lucrativo para a CPLP e para organizações ricas no mundo, com as fundações [Calouste] Gulbenkian e Oriente”, prosseguiu. O projecto, reforçou, seria útil para disseminar a cultura e a língua portuguesas e o catolicismo, ao atrair turistas de todo o mundo. Os portugueses foram responsáveis por muitos dos primeiros contactos dos europeus com o Oriente e chegaram a administrar várias zonas na região, desde Malaca e Timor-Leste a Macau.
Filipa Araújo SociedadeMadeira de agar entregue à Alfândega [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Ministério Público (MP) respondeu finalmente às perguntas do deputado Chan Meng Kam sobre o destino dado a cerca de 120 mil milhões de patacas em madeira de agar, confiscada em Maio e Dezembro de 2013: uma parte foi entregue aos Serviços de Alfândega, outra aguarda decisão do Tribunal Judicial de Base. Num comunicado à imprensa, o MP indica que dos dois casos autuados pela entidade, em 2013 e 2014, um foi já viu proferido o despacho de arquivamento pelo juiz do juízo de instrução criminal e a madeira de agar foi entregue aos Serviços de Alfândega. O outro caso foi remetido ao Tribunal Judicial de Base em Julho de 2015, para o agendamento de julgamento, sendo que se transferiu a respectiva madeira de agar para este tribunal, onde aguarda tratamento. Chan Meng Kam acusou, em Setembro passado, os Serviços de Alfândega de não actualizarem a informação na sua página electrónica e, por isso, de não darem as informações à população. “O Governo deveria ser mais transparente e tornar as suas acções públicas, ou seja, a página electrónica deveria funcionar como uma janela para os assuntos públicos e governamentais”, afirmou, na altura, Chan Meng Kam. A madeira de agar é considerada um dos recursos naturais mais caros do mundo e desde 1995 é considerada uma espécie ameaçada, marcando presença na lista da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção. O agar é uma madeira resinosa de árvores nativas do sudoeste asiático cuja fragrância distinta é usada em perfumes e incensos e também na medicina tradicional chinesa.
Joana Freitas BrevesPJ desmantelou o segundo maior caso de droga em Macau A Polícia Judiciária (PJ) apreendeu ontem 9,3 quilos de cocaína, no valor de 25 milhões de patacas, tendo sido detidos três homens, um da Turquia e dois residentes de Hong Kong. Este é o segundo maior caso de tráfico de droga depois da transferência da soberania de Macau. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, a PJ referiu que a droga foi embalada num lençol, saindo do Brasil e passando no Dubai, e em Taipei, acabando por entrar em Macau através de bagagem de mão. O homem turco admitiu ter sido recrutado por um grupo criminoso estrangeiro, recebendo cinco mil dólares americanos para transportar a cocaína para o território. Os dois residentes de Hong Kong admitiram também serem pagos para transportar a droga para a região vizinha. A PJ avançou que vai investigar o destino final da droga, estando já em contacto com as autoridades policiais de Hong Kong.
Joana Freitas BrevesPolícia investiga afogamento de bebé Um bebé de quatro meses de idade morreu afogado no hotel Conrad, no Cotai, na madrugada do dia 25. A criança era de nacionalidade japonesa e morreu enquanto tomava banho com os pais no quarto de hotel. O casal consumiu álcool e adormeceu na banheira com a criança, que acabou por se afogar. As autoridades dizem que os pais adormeceram por apenas uns minutos e continuam a investigar o caso.
Joana Freitas BrevesPavilhão de Santa Sancha vai ser ampliado A Companhia de Engenharia Chi Hou será a responsável pelo projecto de ampliação do Pavilhão do Palacete de Santa Sancha, tendo sido a empresa escolhida de um total de duas candidatas, com a proposta mais baixa. Segundo um despacho publicado em Boletim Oficial (BO), o projecto irá custar pouco mais de 24 milhões de patacas, sendo pagos cinco milhões já este ano e o restante montante no próximo ano.
Joana Freitas BrevesSacos plásticos | Consulta até Fevereiro O Governo lançou a semana passada uma consulta pública sobre o uso de sacos de plástico, instando a população a manifestar-se designadamente sobre a cobrança de taxas na hora das compras em estabelecimentos comerciais. O texto de consulta foi apresentado pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), que incumbiu uma instituição de consultadoria profissional de realizar um estudo que mostra que cada residente utiliza, diariamente e em média 2,2 sacos de plástico, o que perfaz uma quantidade total anual de 450 milhões de sacos. Após considerar a prática das regiões adjacentes, como interior da China e Taiwan (que permitem aos estabelecimentos comerciais definirem os próprios preços), a DSPA propõe que seja adoptado o modelo da vizinha Hong Kong, ou seja, que se estabeleça um valor mínimo para a cobrança, sugerindo, em concreto, que a taxa por cada saco não seja inferior a uma pataca. O documento de consulta contempla um total de seis perguntas, que versam, além da taxa, sobre o tipo de estabelecimentos comerciais a serem abrangidos, eventuais isenções e regime regulador, que incluiria fiscalização e multas com um valor fixo. A consulta pública termina a 5 de Fevereiro. Não existe em Macau qualquer fábrica de produção de sacos de plástico, pelo que o fornecimento depende da importação, nomeadamente da China, Vietname e Hong Kong.
Flora Fong SociedadePearl Horizon | Obra suspensa. Camiões continuam a trabalhar [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]concessão do terreno onde estava a ser construído o edifício Pearl Horizon já terminou há vários dias, mas ainda há camiões das obras a entrarem e saírem livremente do local. Isto porque a empresa construtora, o Grupo Polytec, ainda não terá recebido o documento oficial da retirada do terreno pelo Executivo. Segundo o Jornal do Cidadão, ainda se registava algum movimento no local no passado sábado, com retroescavadoras a trabalhar e camiões a entrar e a sair, ainda que o Grupo Polytec tenha confirmado que a obra do Pearl Horizon já foi suspensa. A Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) já explicou ao Jornal do Cidadão que nos casos de declaração de caducidade de um terreno é necessário elaborar um relatório, a ser aprovado pela tutela e publicado em Boletim Oficial (BO). A concessão do terreno terminou oficialmente no passado dia 25, tendo dezenas de proprietários de apartamentos protestado com cartazes e tentado entrar no terreno, por forma a falar com Or Wai Sheun, presidente do Grupo Polytec. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, os agentes policiais aconselharam os protestantes a sair do local. Jornalistas criticam manifestação A Associação de Jornalistas de Macau emitiu uma declaração onde critica os “actos violentos” dos proprietários do Pearl Horizon na manifestação ocorrida no passado dia 20. O comunicado explica que vários jornalistas foram agredidos por manifestantes e alvo de ameaças verbais, sendo que a associação apela a que não seja violada a liberdade de imprensa. A associação suspeita ainda que um jornalista de Hong Kong tenha visto recusada a sua entrada em Macau no próprio dia, acusando as autoridades policiais de “abusarem da Lei de Bases de Segurança Interna”. Acções da Polytec em queda na bolsa Os protestos em torno do caso Pearl Horizon já se fizeram sentir na bolsa de valores de Hong Kong, uma vez que as acções do Grupo Polytec caíram 7,2%. Ella Lei pede informações sobre casos semelhantes ao Pearl A deputada Ella Lei considera que o Governo deve informar a população de quais os terrenos onde estão a ser construídos edifícios com fracções já vendidas e que estão à beira da data de caducidade da concessão. Ella Lei defende que o Governo deve publicar todas estas informações, incluindo as aprovações das plantas de construção, para evitar casos como o do Pearl Horizon, onde mais de três mil proprietários ficaram sem as casas que compraram. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Ella Lei indicou que a construtora, o Grupo Polytec, tem outros projectos de edifícios habitacionais – com mais de duas mil fracções – na Rua Central da Areia Preta, sendo que as fracções foram vendidas também antes da implementação do Regime Jurídico da Promessa de Transmissão de Edifícios em Construção em 2013. Acontece que em 2017 também este período de concessão vai chegar ao fim e o projecto vai apenas na primeira fase de construção. “A Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) tem a responsabilidade de verificar se os construtores aproveitaram os terrenos conforme os contratos de concessão, bem como publicar os processos de edifícios em construção para que os proprietários de fracções percebam o que está a acontecer”, defendeu.
Leonor Sá Machado China / Ásia MancheteMulheres de conforto | Amnistia Internacional teme que Japão não assuma responsabilização legal Japão e Coreia do Sul reúnem-se hoje para mais uma vez abordar a questão das “mulheres de conforto”, usadas pelo exército nipónico como escravas sexuais durante a II Guerra Mundial. Tóquio propõe um fundo de 100 milhões de yens para ajudar as vítimas, mas a Amnistia Internacional quer responsabilização legal [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s ministros dos Negócios Estrangeiros japonês Fumio Kishida e sul-coreano Yun Byung Se terão hoje uma reunião para resolver uma questão que vem sendo tabu – e até negada pelo Japão – entre os dois países: as “mulheres de conforto”. A ideia deste encontro, avançou ontem a AFP, é definir um novo fundo monetário para ajudar as vítimas, cifrado nos 100 milhões de yens para os japoneses. No entanto, a Coreia atira o montante para lá dos 1000 milhões de yens, de acordo com fontes diplomáticas citadas pela agência Kyodo. O HM falou com Hiroka Shoji, representante da Amnistia Internacional (AI) no Sudeste Asiático, que não se mostrou muito confiante quanto a resultados efectivos do encontro. O ponto fulcral, defende, é que o Japão assuma responsabilidade legal pelo flagelo causado. No entanto, Shoji mostrou-se céptica perante esse cenário, embora não descarte a possibilidade de Shinzo Abe se mostrar solidário com o sofrimento das vítimas. “É pouco provável que ouçamos um verdadeiro pedido de desculpas”, completou, acrescentando que a AI entende que “o Japão não fez progressos” reais. “Estamos muito preocupados com dois pontos: o primeiro é o facto do acordo poder não trazer uma solução efectiva, porque o governo japonês tem vindo a negar a responsabilidade legal há anos e o segundo tem que ver aquilo que o povo sul-coreano entende ser uma recompensa monetária para comprar o seu silêncio”, continuou a representante. As vítimas da situação continuam a exigir um pedido de desculpas, mesmo depois do Japão o ter feito em 1993 e o HM quis saber, junto de Shoji, qual a razão para a insistência. “Foi um acto simbólico no sentido em que os japoneses reconheceram o seu envolvimento nos actos de violência, mas não assumiram, verdadeiramente, a sua responsabilidade perante as atrocidades cometidas que eles próprios cometeram ao violar estas mulheres”, explicou a responsável. A questão tem-se arrastado desde o final do conflito, tendo mesmo havido japoneses a negar a factualidade das violações. “As ‘mulheres de conforto’ não eram escravas sexuais, mas sim prostitutas em alturas de guerra que gostavam de passar o tempo com pessoas que lhes pagavam recompensas bastante elevadas por esse tempo”, disse Yumiko Yamamoto, presidente do grupo japonês de defesa das mulheres Nadeshiko Action durante uma cimeira das Nações Unidas (ONU) em Julho de 2014. Foi durante o mesmo debate que o especialista britânico Nigel Rodley defendeu que as famílias e vítimas do flagelo “precisam de um pedido de desculpas oficial, claro e de reconhecimento de total responsabilidade por as terem [às mulheres sul-coreanas] a participar em actividades que podiam ter destruído completamente as suas vidas”. Esperar para ver A reunião de hoje deverá servir para os dois governos decidirem se abordam, a 31 de Março do próximo ano, esta questão numa cimeira nuclear com líderes mundiais em Washington. Este é um dos assuntos que mais controvérsia tem trazido às relações bilaterais entre os dois países. A cimeira contará com a participação da presidente sul-coreana Park Geun-hye e o Primeiro-Ministro do Japão, Shinzo Abe, de acordo com informação avançada pela agência noticiosa Kyodo. A representante do Clube Zonta de Macau, Christiana Ieong, coloca a questão da seguinte forma: “A reunião é, sem dúvida, um grande progresso na resolução do problema, mas a soma sugerida pelo Japão pode fazer com que surjam dúvidas quanto à honestidade das suas intenções”. Para Christiana Ieong, a ideia passa pela aceitação por parte do Japão de que a história é inegável. “Factos são factos e não podem ser apagados”, reitera. A responsável sublinha mesmo que é “crucial” que se utilize esta calamidade para mostrar “às gerações futuras” os despojos de uma guerra. É que, tal como adianta a representante do Clube Zonta, várias vítimas reclamam que a criação de um fundo monetário não resolve os problemas que enfrentam, entre os quais humilhação, perda de reputação, danos morais, mentais e físicos. Além disso, sublinha Christiana Ieong, é preciso não esquecer que se trata “de um problema internacional”, pois não envolveu apenas mulheres sul-coreanas, mas também filipinas, malaias, birmanesas e chinesas. “É preciso ver esta questão como um problema mundial, mas isso só vai acontecer quando o Japão aceitar que estas mulheres não eram prostitutas por vontade própria, mas sim escravas sexuais”, adiantou. Já no ano passado a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying, veio apoiar a luta da Coreia do Sul, repreendendo o passado do Japão. “O recrutamento forçado de mulheres de conforto foi um crime atroz e desumano cometido pelo regime imperialista nipónico contra vítimas de países asiáticos. Esperamos que o lado japonês possa lidar correctamente com as questões deixadas pela história”. Nipónicos e coreanos Não é, contudo, a primeira vez que se fala de arranjar uma solução para aquilo a que muitos apelidam de disputa. Foi acordada uma normalização diplomática em 1965, mas a presidente sul-coreana insiste numa solução que “agrade às vítimas e ao povo coreano”. Em Novembro passado, a representante reuniu-se com o seu homólogo japonês pela primeira vez em três anos. “Ambos os países concordaram que é precisam acelerar as conversações – sobre as chamadas ‘mulheres de conforto’ e tentar chegar a um acordo o mais breve possível”, disse a presidente. Park recusou-se a fazer previsões sobre quando a disputa estaria resolvida, acrescentando apenas que esperava soluções ainda este ano. “Devíamos fazê-lo este ano, já que é o 50º aniversário das relações diplomáticas, um ponto de viragem para se avançar”. Terror que fica Pelas chamadas estações de conforto foram passando mulheres de toda a Ásia. No entanto, a esmagadora maioria era originária da Coreia do Sul. A tendência de recrutar mulheres, contra a sua vontade, para satisfazer os desejos dos soldados japoneses em combate pela Ásia democratizou-se depois do Massacre de Nanjing, em Dezembro de 1937. Vários são os relatos de centenas de mulheres que contaram ao mundo a sua história nas estações de conforto, onde era frequente terem de satisfazer 30 a 40 homens por dia, de acordo com investigações académicas feitas desde então. Esta tendência viu o seu final em 1945, quando foram libertadas pelas forças aliadas e seguiram as suas vidas para outros países asiáticos. Estima-se que estiveram envolvidas no processo entre 80 mil e 200 mil mulheres sul-coreanas. Park Young-Shim | Por essa China fora Uma das vítimas que em 2005 deu a cara pela promessa de não morrer antes de ouvir um pedido formal de desculpas do Japão é Park Young-Shim, capturada em sua casa em 1938, numa província de Pyongyang. Park trabalhava então como empregada doméstica na sua cidade quando um polícia japonês a colocou dentro de um comboio e a levou para a China. “Ele disse que me ia introduzir um novo emprego, que seria bom para mim”, recorda a vítima num testemunho de há 10 anos. Algumas horas de viagem chegaram para que percebesse que estava em Nanjing, onde foi colocada num quarto com uma cama, localizada num espaço denominado “Estação de Conforto Geumsuro”. Park ficou “extremamente chocada” ao entrar no quarto que seria a partir daí o seu. “Pouco depois, um soldado japonês veio ter comigo e percebi o que ia passar-se”, adiantou no depoimento. Várias foram as sessões de abuso sexual e violência corporal levada a cabo a um ritmo diário. “Fiquei tão doente que nem tomar ópio me tirava as dores, pelo que tentei, por várias vezes suicidar-me, mas nem isso era possível”, lamentou. A situação estendeu-se até ao fim da guerra, período durante o qual Park foi obrigada a servir soldados de várias estações por todo o interior da China. Kim Tokchin | Uma promessa de trabalho Kim Tokchin é outra das “mulheres de conforto”. Fazia frio em Incheon, quando em Fevereiro de 1937 a jovem de 17 anos ouviu falar de um homem japonês que prometia trabalho em fábricas nipónicas. Kim foi ao seu encontro e recebeu alojamento e comida até ao dia seguinte, quando foi levada para “um barco enorme”, onde seria feita a travessia até Nagasaki. “Naquela altura os jovens não sabiam nada do mundo e eu, que não tinha ido à escola, não sabia nada. A única coisa que sabia era que iria para uma fábrica ganhar dinheiro, nunca pensei que seria perigoso”, começou Kim por declarar num depoimento para efeitos académicos. Finda a viagem marítima e chegadas a uma casa em Nagasaki, Kim e outras raparigas foram violadas consecutiva e seguidamente numa base diária, até serem transportadas até Xangai, onde encontraram mais duas mulheres japonesas e 20 coreanas. “Acordávamos às sete da manhã, lavávamo-nos e comíamos o pequeno-almoço em turnos. A partir das 9h00 começavam a chegar soldados que formavam filas indianas, mas os oficiais de alta patentes só chegavam às 18h00 e alguns passavam lá a noite”, continua Kim. A atenção à protecção contra doenças venéreas era “quase sempre tida em conta”, mas havia quem não se importasse, já que esperava morrer em combate. “Cada uma tinha que servir entre 30 a 40 homens por dia, mas o número era menor quando havia uma batalha nesse dia. Cada quarto tinha uma caixa de preservativos que era reposta frequentemente e àqueles que recusavam usar, eu dizia-lhes que tinha doenças sexualmente transmissíveis e costumava funcionar”, acrescentou a vítima.
Filipa Araújo PolíticaPequim | Visita de Chui Sai On com balanço positivo Um bom trabalho: é o que o Governo Central considera que o Governo de Macau tem feito. A olhar para o futuro e avaliando o passado, Xi Jinping considera que Chui Sai On conseguiu manter a economia estável, apesar das circunstâncias [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]urante uma semana, Chui Sai On, Chefe do Executivo, visitou a capital chinesa, sendo recebido pelo presidente Xi Jinping e outras figuras de cargos do Governo Central, tais como Li Keqiang, primeiro-ministro chinês. O balanço? É positivo, garante o Governo. Chui Sai On admitiu que o Governo Central tem vindo a reconhecer o “trabalho da RAEM” e por isso é intenção dos governos manter todos os esforços para “apoiar o desenvolvimento económico de Macau”, melhorando assim a qualidade de vida da população. Xi Jinping elogiou o trabalho levado a cabo pelo Chefe do Executivo, caracterizando a sua liderança como “estável” e marcada por uma posição activa no desenvolvimento do território. Admitindo as dificuldades do actual momento económico vivido em Macau, o Presidente chinês frisou a posição estabilizada em que se encontra o território, mas disse ser preciso que a sociedade tenha mais confiança e aproveite as oportunidades patentes na economia do território. “Apesar de a economia de Macau ter testemunhado um abrandamento consecutivo devido a diversos factores, a sociedade mantém-se estável e depara-se com novas oportunidades com uma economia resistente à pressão”, cita a Xinhua, agência de notícias chinesa. Contas a bater certo Li Keqiang atribuiu, depois de uma reunião com Chui Sai On, na passada quarta-feira, nota positiva à situação económica de Macau. O Primeiro-Ministro indicou que, apesar do cenário actual, o Governo conseguiu manter as reservas financeiras. Garantindo o apoio ao território, Li Keqiang frisou a oportunidade que o Plano Quinquenal da China continental representa para o Governo local, devendo este canalizar os seus esforços para o sucesso. O plano, indicou ainda o represente chinês, serve também para a “promoção do desenvolvimento das duas partes”. Num balanço final da visita oficial, Chui Sai On reforçou as felicitações recebidas pelo Presidente e Primeiro-Ministro chineses pelo trabalho desenvolvido no ano que termina, prometendo, indicou ainda, um empenho do próprio Governo Central no desenvolvimento económico de Macau e na melhoria da qualidade de vida dos seus residentes. O Chefe do Executivo acrescentou ainda que, depois de regressar a Macau, irá discutir e estudar, com o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, “assuntos relacionados com a diversificação adequada e ajustamento profundo da economia, bem como o apoio a jovens e pequenas e médias empresas (PME), para em seguida ser elaborada a respectiva proposta e entregue ao Governo Central”. Será ainda, indicou o líder do território, lançado um estudo sobre a diversificação adequada e o ajustamento profundo da economia, “pelo qual entregará a devida proposta ao Governo Central”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaCódigo Penal | Revisão prevê três novos tipos de crime sexuais Prostituição e pornografia com menores e importunação sexual são os dois novos crimes previstos na revisão do Código Penal. O Governo quer ainda incluir na lei todas as formas de violação que possam ocorrer [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]á está online o processo de consulta pública sobre a revisão do Código Penal (CP), que dura até Fevereiro. São conhecidas as alterações que o Executivo pretende fazer em matéria de crimes sexuais e, segundo o documento de consulta, o Governo quer criar dois novos tipos de crimes: o de recurso à prostituição de menor e o crime de pornografia de menor. O Executivo propõe ainda que estes sejam crimes públicos. “Propõe-se a introdução de um novo artigo no CP que criminalize a prática, mediante pagamento ou outra contrapartida, de cópula, coito anal ou oral, acto sexual de relevo ou de introdução vaginal ou anal de partes do corpo ou objectos com menor entre os 14 e os 18 anos”, pode ler-se, com uma pena de prisão que pode ir até aos quatro anos. O Executivo quer ainda implementar a “criminalização de novas condutas relacionadas com material pornográfico que envolva menores de 18 anos”, não apenas a sua produção e distribuição, mas também a “aquisição ou detenção desse material”. As molduras penais para o crime de pornografia de menor poderão chegar aos oito anos de prisão. É ainda criado o crime de “importunação sexual”, o qual “responsabiliza penalmente o agente que fizer com que outra pessoa sofra ou fizer com que outra pessoa sofra ou realize, contra a sua vontade, contacto físico de natureza sexual com outrem”. O Governo considera que devem ser criminalizados de forma expressa os “denominados comportamentos de ofensa indecente, sempre que se traduzam na prática contactos físicos de natureza sexual” e deixa ainda a promessa de que “será atribuída às vítimas uma maior protecção penal e o agente do crime será devidamente punido”. No geral, a revisão do CP inclui “seis orientações”, as quais incluem a eliminação da diferenciação do género nos crimes sexuais. É ainda consagrado na lei o “coito oral” e o “acto sexual com penetração” como “comportamentos sexuais, sendo-lhes atribuída uma punição intensificada”. Pretende-se ainda, com esta revisão, “dar resposta às exigências da população em relação à revisão dos crimes sexuais”, o “cumprimento de determinadas obrigações impostas pelo Direito Internacional” e ainda estabelecer “o reforço da protecção de menores”. Algumas críticas Ao canal chinês da Rádio Macau, Ng Chi Leng, presidente da Associação de Mulheres Jovens de Macau, considera irracional que o novo crime de importunação sexual não inclua o assédio verbal ou escrito, defendendo que a revisão do CP deve “avançar mais”. “Todas as mensagens enviadas através das redes sociais têm o seu registo e, se puderem constituir provas de importunação sexual, será fácil acusar o autor do crime. Sugiro que todas as maneiras de assédio sexual, incluindo linguagem ou imagens, sejam incluídas”, apontou. Também Ai Lin Zhi, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Macau (UM), defende que o Governo deve tratar todas as formas de importunação sexual da mesma maneira, incluindo mensagens de telemóvel ou emails, não devendo apenas criminalizar o assédio físico. Ai Lin Zhi lembrou que, actualmente, os crimes de difamação e de injúria também são feitos de forma verbal. “O mais importante não é a questão de instrução, mas ter em conta o bem jurídico das vítimas”, frisou. Wong Kit Cheng espera que o crime de assédio sexual a menores seja público. A deputada defende ainda que o facto do crime de importunação sexual ter apenas em conta o contacto físico é algo pouco abrangente, defendendo uma forma mais completa para abordar outros tipos de assédio sexual. Lio Sio Wa, presidente da Associação dos Familiares Encarregados dos Deficientes Mentais de Macau, pediu que o assédio sexual a portadores de deficiência seja considerado crime público, tendo frisado que já aconteceram casos em que as vítimas não conseguiram expressar os detalhes do assédio de que foram alvo às autoridades. Por isso, Lio Sio Wa pede que estas pessoas sejam acompanhadas por assistentes sociais ou os seus tutores. Por outro lado, Chio Kuok Keong, presidente honorário da Associação de Estudo de Direito Criminal de Macau, pensa que a definição de importunação sexual é abrangente, não estando apenas limitada em actos físicos. No entanto, apontou que essas formas de assédio não são consideradas crimes em muitos países, defendendo que não é adequado incluir as ofensas verbais ou linguísticas de teor sexual na lei.