Sexy 2016

– Nunca gostei das festas.
– Festas?
– Sim, as festas natalícias. O tempo em que se festeja a possibilidade de procriação assexuada. Uma mitose espontânea, que nem a biologia sabe explicar muito bem.
– Pois. O Antisexo.
– Somos obrigados a ver a família e a fazer revisões anuais.
– Claro… e as recordações de 2015?
– Sexo a mais e sexo a menos, dependendo do mês. Cinema e umas leituras. Ainda tive umas viagens por aí. Momentos de genialidade alcóolica, mas raros, porque a regularidade levar-me-ia ao alcoolismo. O teu?
– O meu ano foi aborrecido. Pessoas aborrecidas, trabalhos aborrecidos, encontros aborrecidos. Não sei que te diga para além de que 2015 foi uma merda.
– De que signo és? Posso ver o que te reserva para o próximo ano. A astrologia não foi afectada pelo meu cepticismo.
– Eu só quero saber de sexo. Não quero saber de amor, quero saber de sexo. Não sei se é uma opção.
– Queres um 2016 exclusivamente sexual?
– Nem sei o que isso quer dizer, mas talvez.
– Queres foder todos os dias? Com pessoas diferentes? Ter a excitação de corpos novos contanstantemente ou ter o conforto de um a quem já lhe conheces os cantos.
– Talvez. Quero que 2016 traga a revolução no sexo ou… a re-significação do sexo. Justifico-me com a minha constante depressão, mas quero daquelas epifanias sexuais que tornam a metafísica do mundo reduzida ao glorioso acto de foder.
– Não sei se isso te faz um tarado ou intelectualmente interessante.
– Gosto de acreditar que faz de mim um e outro, em simultâneo.
– E vais chegar à restruturação do significado do sexo como, exactamente?
– Espero que com muito sexo e muita introspecção.
– Não percebo como é que chegaste a esta necessidade de filosofar sexualmente. Não que o sexo e a filosofia se oponham, mas tão pouco são compatíveis, talvez complementares. Parece que te obrigas ao dualismo razão/emoção com a desculpa que queres foder bastante.
– Se calhar deverias pensar o que queres que 2016 te traga, sexualmente. Talvez assim me compreendas melhor.
– Nem é preciso pensar muito: um menáge à trois. Sou muito mais prática a operacionalizar os meus desejos sexuais. Um menáge à trois ainda não está na lista de experiências sexuais vividas.
– Pois, ok. Tens algum amante regular agora? Quem seriam os participantes?
– Não, não tenho. Estou a pensar ser o elemento extra de um qualquer casal.
– E pronto?
– Pois.
– Vais o quê? Pôr um anúncio? ‘Disponibilidade para noite louca de sexo com casal que procure expandir a sua lista de experiências’.
– Epá… não faço ideia. Tu é que me pediste a resolução sexual para o próximo ano, ainda não ruminei a ideia. Não sei como se faz, ou como se começa, só sei que gostaria.
– Bem, se entretanto arranjar uma amante e ela estiver para isso, informar-te-ei com todo o gosto desta possibilidade.
– Achas que pode contribuir de alguma forma para a transcendência sexual que procuras para o próximo ano?
– Tenho a absoluta certeza de que sim.
– Depois como seria? Eu, tu e esta hipotética outra.
– Não sei. Imagino que jantariamos os três juntos, alguma conversa e intimidade não magoaria e depois… minha casa.
– Mas marcávamos um dia? Ou sairíamos várias vezes os três a ver no que dava? Se haveria química.
– Boa pergunta.
– Para além do mais, precisariamos de um encontro de discussão de logística. Definir o que é ou não permitido.
– Estás a destruir toda a minha fantasia pornográfica.
– Não percebo porque é que o meu pragmatismo o magoaria. Mas preciso de saber as regras, nós três precisamos de perceber as regras. Há risco de cairmos em constrangimento. Tipo, sexo vaginal depois de anal é expressamente proibido. Ainda pior inter-participantes.
– Tu… Já estiveste com uma mulher? Sabes como se faz?
– Como se faz o quê?
– Enfim, estar com uma mulher.
– Fazer-lhe um minete?
– Sim…
– Essa é mesmo uma preocupação real?
– Não, só curiosidade.
– Sabes tu?
– Acho que sim. Nunca se queixaram.
– Se de facto estás a propor-te como um participante para a minha experiência de 2016, porque não um homem?
– Hein?
– Eu, tu e um hipotético outro.
– Estás a destruir a minha fantasia pornográfica de novo.
– E dupla penetração? Não estou a ver o que seja mais pornográfico que isso.
– Pois, está bem. Mas não sei se conseguiria estar na presença de um pênis erecto, para além do meu.
– Ok. Entendi. E nós?
– Nós?
– Claro. Sei lá eu se o nosso tesão vale a pena.
– Isso é um convite para experimentar?
– Talvez.

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