Diogo Cardoso, autor de “Os efeitos da covid-19 na transformação da Health Silk Road”: “Covid zero teve custos muitos elevados”

Acaba de ser lançado, com a chancela da editora brasileira “Novas Edições Académicas”, o livro “Os efeitos da covid-19 na transformação da Health Silk Road”, resultado da tese de mestrado do doutorando Diogo Cardoso, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. O trabalho conclui que a China teve melhores resultados na chamada diplomacia da máscara do que na da vacina, além de que o país é ainda “incipiente” na liderança mundial na área da saúde

 

Uma das conclusões do seu estudo é que a chamada “diplomacia da máscara” teve bons resultados no país, mas a “diplomacia da vacina” não tanto. Em que sentido?

Dividi a pandemia em quatro fases. Numa primeira fase, no início da pandemia, alguns países mobilizaram ajuda, com o envio de máscaras e materiais médicos para ajudar a China quando ainda se pensava que a covid seria um problema interno do país. A segunda fase foi marcada pela diplomacia da máscara e, depois, a terceira fase com a diplomacia da vacina. A quarta fase, que desenvolvo menos no livro, é a do pós-covid, com a política de covid zero e a guerra na Ucrânia. A diplomacia da máscara foi um conceito para descrever a ajuda que a China prestou a todo o mundo, e surge pela escassez que existia de materiais médicos e ventiladores, que, em grande parte, eram produzidos no país. Esta diplomacia da máscara acabou por ser mais desenvolvida do ponto de vista bilateral com os países.

Ao invés de multilateral.

Para compreendermos a questão da diplomacia da máscara é necessário ir além das duas posições antagónicas em que, por um lado, temos algumas pessoas que falaram em propaganda da parte da China e, por outro, pessoas mais cépticas que falavam em oportunismo por parte do país. A diplomacia da máscara deve ser vista, a meu ver, como uma adaptação das práticas diplomáticas contemporâneas que, em conjunto com a pandemia, deram à China uma oportunidade para o país provar as suas capacidades de mobilização e cooperação internacional. Permitiu também provar a flexibilidade da Rota da Seda da Saúde. Deve-se reconhecer, neste período, todas as conquistas conseguidas pela China no que diz respeito à rápida activação de todos os actores envolvidos [no processo de ajuda durante a pandemia].

Como é que se passou depois para a diplomacia da vacina?

Posteriormente, quando já não havia escassez de materiais, dá-se a transição de necessidades para a tal diplomacia da vacina, com a produção e entrega de vacinas como um bem de saúde pública. Este é um campo onde a China tem vindo a dar cartas de forma positiva, com apoios e desenvolvimento de campanhas internacionais em vários países. Segundo alguns dados públicos, até Março de 2021 a China produziu 170 milhões de doses e em Junho desse ano havia fornecido mais de 350 milhões de doses a mais de 80 nações e exportando para 40 países. Apesar da falta de alguns dados públicos, as vacinas chinesas ofereciam diversas vantagens para os países em desenvolvimento, com fornecimentos da Sinovac e Sinopharm prontamente disponíveis, numa altura em que as alternativas ocidentais eram escassas. Falamos de uma altura em que os EUA saem temporariamente da Organização Mundial de Saúde (OMS), em que os líderes pedem vacinas como bens públicos globais, mas, de forma egoísta, compraram mais vacinas do que necessitavam, dando origem a um vazio que a China consegue preencher. Nesta fase, houve uma grande fragmentação nas respostas na diplomacia global da saúde, como, por exemplo, os mecanismos de saúde da União Europeia (UE) ou a venda prioritária da venda de doses da Pfizer e Moderna. Com a chegada da variante Ómicron percebe-se que, no caso das vacinas chinesas, a imunidade passa para valores demasiado baixos, o que faz com que alguns países que tinham adquirido vacinas chinesas passem a fazer o reforço com uma vacina ocidental.

Na diplomacia da vacina questionou-se, da parte de alguns países ocidentais, a eficácia das vacinas chinesas, mas a UE acabou por aprovar o licenciamento da Sinovac. Os laboratórios chineses vão, um dia, liderar mais neste campo?

Vale a pena realçar que a diplomacia da vacina diz mais respeito à ajuda humanitária, em que a vacina é vista como um bem de saúde pública global. Além disso, a China já está envolvida nas questões da saúde global desde os anos 60 quando o país começou a enviar equipas médicas para África, o que, na altura, foi uma prática inovadora para fomentar a cooperação Sul-Sul, e em 1963 foi enviada a primeira equipa para a Argélia. A abordagem chinesa à cooperação mundial na área da saúde tem vindo a evoluir no sentido positivo. O envolvimento da China na diplomacia da vacina não é algo novo, mas com a pandemia foi reavivado. A menor eficácia das vacinas chinesas em relação às novas variantes da covid foi o factor que desencadeou estes desenvolvimentos na diplomacia da vacina chinesa, que surgem no período covid, e que fizeram com que a China, em parte, tenha perdido algum do espaço ganho neste período. O país tem uma grande parte dos ingredientes químicos e naturais necessários para as vacinas e cada vez mais investe em investigação. Não será de todo impossível que, com o passar dos anos, e com a China a demonstrar maior credibilidade neste campo, com mais tecnologias e equipamentos, que a UE não aprove novos medicamentos ou vacinas chinesas. As questões de saúde devem ser concertadas a nível mundial. Os resultados serão melhores se partilhados. O caminho, nas questões de saúde, é mesmo a globalização.

O livro aponta que o papel da China na chamada “governança global da saúde” é ainda “incipiente”. O que pode ser feito para o país reforçar a sua influência nesta área?

A retirada dos EUA da OMS e o facto de se ter isolado, em parte, para tratar internamente da pandemia, sem concertar uma resposta global, deu à China espaço para mostrar as suas capacidades e liderar, em parte, a luta contra a pandemia. O programa “Healthy China 2030” é muito abrangente, define metas de desenvolvimento para o sistema de saúde interno do país e é aqui que está a grande chave. Há notícias que referem o facto de o país já investir mais em investigação do que os EUA, e é aqui que percebemos que a China está a investir fortemente nas questões da saúde e na construção de um “agenda-setting” da saúde internacional. O país investe na ideia de que não basta apenas aplicar as melhores práticas, mas é necessário também ter um papel activo na definição dos padrões internacionais. O investimento na investigação e capacitação do sistema de saúde interno, bem como o papel que tem tido na definição dos padrões globais de saúde, podem preparar melhor a China para adquirir uma posição mais activa nesta área. Por outro lado, está a investir na dinamização da medicina tradicional chinesa que, em parte, pode alavancar uma diferenciação em algumas práticas médicas que outros países não têm.

Outra das conclusões é que a pandemia permitiu à China mostrar uma posição de liderança numa primeira fase, mas depois revelou algumas fragilidades internas do país.

Olhamos para a China e temos de perceber que em Portugal somos dez milhões, mas na China são 1.4 biliões de pessoas. Há uma escala populacional completamente diferente. Existiu, de facto, uma posição inicial de liderança, porque a maior parte dos materiais médicos era produzida no país. Muito rapidamente a China desenvolveu os trâmites de ajuda e os mecanismos de logística. Com os confinamentos, a covid estava controlada e a China mostrou ao mundo que era capaz de construir grandes hospitais em tempo recorde. Com a covid zero, [a situação] foi certamente muito complicada para a população chinesa, inclusivamente a de Macau. Teve custos económicos, políticos e sociais muito elevados. A economia chinesa pagou fortemente por isso. Fazendo uma ligação com as vacinas, falamos de uma enorme produção de doses tendo em conta a população chinesa. A capacidade de produção é grande, mas não infinita, e houve escolhas que tiveram de ser feitas.

Diz que a Rota da Seda da saúde ganhou uma maior institucionalização nos últimos anos, com a criação de fóruns com diversos países, e estando mais global, com presença em novos mercados. É uma política que vai ter maior desenvolvimento?

A iniciativa “uma faixa, uma rota” foi apresentada em 2013, e a Rota da Seda da Saúde foi-o em 2016 no Uzbequistão. Esta, antes da pandemia, já apresentava um bom nível de desenvolvimento, em grande parte devido às décadas de experiência da China no combate às doenças infecciosas e na posição que tinha no fornecimento de ajuda a países em desenvolvimento. A Rota da Seda pretende institucionalizar estes mecanismos não como uma alternativa à OMS, mas sim como um complemento. Com a pandemia, este mecanismo acaba por ganhar um novo ímpeto, e com a criação de alguns fóruns multilaterais com outros países a China pôde desenvolver ainda mais esta iniciativa diplomática. Acredito que, no futuro, estas bases lançadas desde 2016 possam alavancar ainda mais a Rota da Seda da Saúde com mais participantes, iniciativas e desenvolvimentos favoráveis a todo o mundo.

Defende que deve ser dada maior importância à governança global da saúde com uma maior cooperação com a OMS e ONU, mas, ao mesmo tempo, a China deve desenvolver o seu sistema de saúde interno. A OMS e ONU estão dispostas a esta colaboração?

Deve haver, de facto, uma maior concertação entre os actores envolvidos para eventuais respostas a emergências globais. Neste campo a China fez um óptimo trabalho e demonstrou, à partida, que queria que a Rota da Seda da Saúde estivesse ligada a todos os outros mecanismos existentes, como a OMS e a Agenda de Desenvolvimento Sustentável da ONU de 2030. Isso mostra que a China pretende continuar a integrar a ordem internacional liberal, onde participa activamente, e a Rota da Seda da Saúde começa a afirmar-se como uma iniciativa “win-win” [ganhos para as duas partes] que permite à China alcançar um lugar mais preponderante a nível mundial na área da saúde e a todos os outros Estados o desenvolvimento dos sistemas de saúde e práticas médicas. Parece-me que há vontade das instituições internacionais em cooperar com a China.

27 Abr 2023

Covid-19 | Governo nega encobrimento de número de mortos

As autoridades de saúde precisam de mais tempo para avaliar “a taxa de excesso de mortalidade relacionada com a pandemia”. Apesar de o número de óbitos ter aumentado exponencialmente durante o maior pico de infecções por covid-19, Macau apresenta uma taxa de mortalidade muito abaixo de outros países e regiões

 

“Não há qualquer encobrimento de casos de morte causados por infecção por covid-19, sendo que o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus tem divulgado, ao longo dos anos, os casos de morte devido à infecção por covid-19”, asseguraram os Serviços de Saúde ao HM.

Ao longo dos três anos de pandemia, Macau registou 121 óbitos relacionados com infecções por covid-19. Depois do pico pandémico no Natal, na sequência do levantamento das restrições da política de zero casos de covid-19, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong, admitia que cerca de 70 por cento da população de Macau estava ou já tinha sido infectada com covid-19. A governante ressalvou que não podia garantir com rigor o número de infectados, porque esta estatística dependia da declaração voluntária.

Partindo da estimativa de Elsie Ao Ieong, adiantada no início de Janeiro, nessa altura o número de infecções rondaria os 470.960 casos. Face ao número total de óbitos avançados pelo centro de coordenação de contingência, podemos verificar que a taxa de mortalidade relacionada com covid-19 em Macau foi de 0,025 por cento, percentagem francamente inferior comparada com outros países e regiões. Por exemplo, já com a ómicron a ser variante dominante, no final de Abril do ano passado, a taxa de mortalidade no Japão era de 0,38 por cento, em Portugal 0,58 por cento, em Singapura 0,11 por cento e na Coreia do Sul 0,13 por cento.

A baixa incidência de óbitos relacionados com covid-19 em Macau pode ser explicada pelas apertadas restrições fronteiriças, o elevado índice de vacinação e a primeira grande vaga de infecções se ter verificado com a variante ómicron, mais contagiosa, mas menos letal que as anteriores.

Neste domínio, as autoridades de saúde acrescentam que, “ao longo dos anos, as políticas de prevenção de epidemias de Macau e da China têm sido consistentes, com a adopção de políticas de prevenção de epidemias, com a meta dinâmica de infecção zero, de modo a evitar a ocorrência da epidemia, durante um período em que a força patogénica do vírus, é muito elevada”.

Além disso, os SS sublinham as campanhas de incentivo à vacinação contra a covid-19, que deram “tempo ao sistema de saúde de Macau” para se preparar, “de modo a minimizar o impacto da epidemia do novo tipo de coronavírus em Macau”.

Mudança de paradigma

Apesar de o número de óbitos resultantes de doenças respiratórias ter aumentado significativamente em Dezembro e Janeiro, as autoridades não conseguem ainda contabilizar até que ponto a pandemia representou um factor determinante para o aumento. Recorde-se que em Janeiro, o número de óbitos provocados por doenças respiratórias subiu quase 1.700 por cento face ao mesmo mês em 2022.

Sobre a metodologia usada pela RAEM neste campo, os SS indicaram ao HM que é baseada na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde da Organização Mundial de Saúde e nas disposições nacionais.

“As estatísticas da causa de morte devem ser definidas com base na ‘causa principal’. Se o doente sofrer de outras doenças, como sejam as de natureza crónica ou as de tumores em fase terminal, e vier a falecer devido à pneumonia causada pelo covid-19 ou, pelo agravamento das doenças crónicas, a causa principal da morte é a doença crónica ou que padeça previamente de tumor”, é explicado pelos SS.

Contas por fazer

No ano passado morreram 2.992 pessoas em Macau. O registo não tem paralelo na história do território desde 1970, quando começaram a ser registados os dados oficiais. O pico de mortes foi atingido em Dezembro, quando morreram 773 pessoas, recorde mensal face ao segundo pior mês, ocorrido em Janeiro de 2016, quando se registaram 250 óbitos.

Tendo em conta o pico pandémico de Dezembro e Janeiro, o HM perguntou aos SS e ao gabinete da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura quantas pessoas infectadas com covid-19 teriam morrido em Macau, independentemente da causa de morte, sem obter resposta.

Durante esta fase, as pessoas admitidas nos hospitais e instalações dos Serviços de Saúde, assim como os visitantes, teriam de ser testadas à covid-19, ou mostrar teste rápido de antigénio negativo. Ou seja, mesmo que a causa de morte não fosse atribuída à pandemia, seria possível saber quantos pacientes hospitalizados teriam testado positivo à covid-19 antes de ser declarado o óbito.

Os Serviços de Saúde acrescentam que para ter um panorama mais concreto sobre a mortalidade relacionada com a pandemia é preciso “avaliar o impacto da epidemia de doenças infeciosas no número de mortes numa região” e calcular a “taxa de excesso de mortalidade”.

Para tal é preciso contabilizar “o número de mortes no período de um ano após o surgimento da epidemia, com a diferença entre o número de mortes ocorridas no mesmo período e as que ocorreram por doenças infecciosas, incluindo as mortes relacionadas com a Covid-19, o agravamento das doenças crónicas, o impacto da pandemia no sistema de saúde e na sociedade”.

Neste domínio, as autoridades indicam que “Macau precisa de mais tempo para avaliar de modo objectivo, a taxa de excesso de mortalidade relacionada com a pandemia”.

27 Mar 2023

Negócios | Êxodo lusófono da China durante pandemia é obstáculo

Empresários disseram à Lusa que o êxodo de cidadãos lusófonos da China durante a pandemia de covid-19 pode atrasar o reforço dos laços económicos entre os dois lados durante a retoma da economia chinesa.

O presidente da Câmara Brasil-China de Comércio, Indústria, Serviço e Inovação (BraCham, na sigla em inglês) estima que entre 30 por cento a 40 por cento dos “200 e poucos” empresários brasileiros partiram devido às restrições impostas por Pequim para controlar o novo coronavírus.

“Por questões familiares, acabaram por abandonar a China e voltaram ao Brasil”, explicou à Lusa Henry Osvald, empresário radicado em Guangzhou.

Entre 15 a 20 por cento das empresas brasileiras na China acabaram por fechar portas e, no caso de mais “20 a 30 por cento”, o proprietário preferiu continuar as operações a partir do Brasil, referiu o líder da Bracham.

Mas Henry Osvald prevê que, dos empresários brasileiros que residiam na China antes da pandemia, “pouquíssimos devem regressar”, até porque o custo de vida nas grandes cidades chinesas “é bastante elevado comparado com o Brasil”.

Também em Macau se notou durante a pandemia um agravamento da tendência de “saída de portugueses” sem serem “substituídos por novos portugueses”, disse à Lusa o secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa. “Essa é uma grande dificuldade de um empresário [português] interessado em constituir uma empresa em Macau: encontrar talento disponível para fazer a gestão dos seus interesses”, lamentou Bernardo Mendia.

O empresário espera que, durante a visita de Ho Iat Seng a Portugal, entre 18 e 22 de Abril, haja uma “conjugação de esforços” para “apostar mais no uso da língua portuguesa e na atracção de talentos que falem português”. Inverter a tendência de êxodo lusófono, algo que “coloca em causa a singularidade de Macau”, serviria também para “reforçar o próprio projecto” do Fórum Macau, acrescentou.

27 Mar 2023

Covid-19 | Mais de 60% dos profissionais de saúde com esgotamento

Um estudo elaborado por académicos da Universidade de Macau revela que os trabalhadores do sector público enfrentam condições mais propensas ao desenvolvimento de esgotamentos. O estudo foi realizado no final de 2021

 

Mais de metade dos profissionais de saúde de Macau admitiram sofrer esgotamentos cerebrais (burnout em inglês) durante as fases menos intensas da pandemia. A conclusão faz parte do estudo “Esgotamento dos Profissionais de Saúde durante a Covid-19”, elaborado por académicos da Universidade de Macau, que inquiriu quase 498 trabalhadores no território, entre Outubro e Novembro de 2021.

“O estudo permite concluir que os trabalhadores de saúde enfrentaram esgotamentos psicológicos relacionados com motivos pessoais (60,4 por cento dos inquiridos), profissionais (50,6 por cento), e devido aos pacientes (31,5 por cento) durante uma fase menos intensa da pandemia”, consta no documento publicado na revista Plos One, que tem sede em São Francisco, nos Estados Unidos.

Nos casos de esgotamentos foram igualmente identificados sintomas de depressão (63,4 por cento) e ansiedade (60,6 por cento). “A ansiedade e a depressão estão muito associadas a todos os tipos de esgotamento detectados”, foi justificado.

A maior parte dos inquiridos era do sexo feminino, médicos ou enfermeiros, com idades entre 25 e 44 anos. Trabalhavam todos em Macau, e mais de 50 por cento nos dois hospitais do território.

Foi ainda revelado pelo estudo que os esgotamentos afectaram mais as pessoas directamente envolvidas nos trabalhos de resposta à pandemia, do que os profissionais que não tiveram directamente envolvidos. “Os profissionais de saúde que participaram nos trabalhos ligados à covid-19 estavam mais vulneráveis ao desenvolvimento de esgotamentos em comparação com os colegas que não assumiam essas funções”, foi escrito.

Pior no sector público

O estudo conclui ainda que as condições para os médicos e enfermeiros no sector público, liderado por Alvis Lo, director dos Serviços de Saúde, estiveram na origem de mais esgotamentos do que as condições verificadas no sector privado.

“A probabilidade de desenvolver um esgotamento está mais associada ao trabalho no sector público, no contexto de hospital, e no desempenho de funções relacionadas directamente com a covid-19”, é revelado. “À semelhança de várias outras partes do mundo, Macau tinha falta de experiência e capacidade para lidar com uma pandemia como a covid-19. Como consequência, foi necessário reorganizar a distribuição dos profissionais de saúde”, foi dito sobre os maiores desafios do sector público.

Face a estas conclusões, os autores aconselham que a resposta ao desenvolvimento de esgotamentos mentais do pessoal médico e enfermeiro seja considerado uma prioridade, porque no futuro pode ter potencial para afectar a capacidade de resposta a pandemias.

O estudo tem como autores Zheng Yu, Tang Pou Kuan, Lin Guohua, Hu Hao, Liu Jiayu, Anise Wu Man Sze e Carolina Ung Oi Lam, todos eles académicos na Universidade de Macau.

21 Mar 2023

Covid-19 | Rondas de máscaras e testes continuam. Novos picos esperados

O alívio de medidas contra a covid-19 não significa que a pandemia passou, indicou ontem Alvis Lo. O director dos Serviços de Saúde alerta para a hipótese de reinfecções com novas variantes e garante prontidão para novos picos pandémicos. A taxa de infecção actual deve rondar 0,5 por cento da população

 

Actualmente, um em cada 200 testes à covid-19 feitos em Macau dão positivo, o que significa que, pelo menos, 0,5 por cento da população está infectada, revelou ontem o director dos Serviços de Saúde (SS), Alvis Lo, à margem de uma reunião de comissão permanente da Assembleia Legislativa. O responsável adiantou ainda que nesta altura quase ninguém declara infecções de covid-19 na plataforma online criada para o efeito.

Apesar dos diminutos índices de infecção, que podem também resultar da baixa testagem, Alvis Lo salienta que o alívio das medidas de combate não significa que a pandemia tenha terminado. Depois da infecção generalizada da população de Macau, entre Dezembro e Janeiro, com uma elevada taxa de propagação, o director dos SS alerta para o declínio imunológico passados entre três a seis meses da infecção. “As pessoas podem também ser reinfectadas com novas variantes do coronavírus. Estimamos que no futuro se registem ocasionais picos de infecção pandémica”, alerta o responsável.

Protecção devida

Para fazer face ao inevitável retorno da pandemia, Alvis Lo voltou a apelar à vacinação, referindo que actualmente apenas 57 por cento da população foi inoculada com três doses da vacina contra a covid-19, número que caiu ainda mais considerando a quarta dose.

“Apesar dos cíclicos picos infecciosos poderem não ser de uma dimensão tão grande como no passado, ainda subsistem riscos e apelamos ao público para não baixar a guarda e tomar as terceiras e quartas doses da vacina para reforçarem as suas defesas”, solicitou o responsável.

Alvis Lo garantiu também que o Governo vai continuar a lançar novas rondas dos programas de fornecimento testes rápidos de antigénio e máscaras, apesar da procura ter baixado nos últimos tempos, e assegurar que as reservas de fármacos e materiais de prevenção e tratamento são suficientes para lidar com um novo surto pandémico.

16 Mar 2023

USJ quer ajudar brasileiros com covid-19 prolongada

Um novo laboratório da Universidade de São José (USJ) vai investigar a potencial utilização de neurociências aplicadas para ajudar doentes que sofrem de covid-19 prolongada no Brasil, disse um académico à Lusa.

O director do laboratório de neurociências aplicadas da USJ, Alexandre Lobo, falava à margem da cerimónia de inauguração do Centro. Cerca de 145 milhões de pessoas em todo o mundo sofreram sintomas de covid-19 de longo prazo nos primeiros dois anos da pandemia, incluindo fadiga com dores no corpo, alterações de humor, problemas cognitivos e falta de ar, segundo um estudo divulgado em Setembro.

Alexandre Lobo disse acreditar que a tecnologia de neurociências aplicadas já desenvolvida pelos investigadores da USJ pode ajudar a mitigar os “enormes impactos cognitivos nos pacientes” com covid-19 prolongada. De acordo com dados oficiais, o Brasil registou mais de 36,9 milhões de casos confirmados de covid-19. Um estudo brasileiro concluiu que quase 60 por cento das pessoas que contraíram a doença tiveram sintomas de longo prazo.

Acordo com Brasil

A investigação, que nasceu de um acordo já existente entre a USJ e a Universidade Federal do Ceará (UFC), no nordeste do Brasil, “ainda está muito numa fase inicial, na fase de design”, sublinhou Lobo. A USJ tem alunos de doutoramento na área de neurociências aplicadas na UFC e “a ideia é que possam dar apoio” ao Hospital Universitário Walter Cantídio, explicou o académico.

O director lembrou que a universidade com sede em Macau já tinha lançado, com a UFC e o Instituto da Primeira Infância, com sede em Fortaleza, um projecto de pesquisa com famílias carentes brasileiras, “submetidas a stress crónico”.

O projecto usou equipamento de monitorização das ondas cerebrais, para avaliar a reacção dos membros de famílias carentes quando eram submetidas a sessões de relaxamento, referiu o director do laboratório.

A USJ pretende “incrementar mais ainda” a investigação sobre o stress crónico das famílias carentes brasileiras, nomeadamente através da utilização de tecnologia de realidade virtual, disse Alexandre Lobo.

1 Mar 2023

Pandemia | Uso de máscara ao ar livre deixa de ser recomendado

As autoridades de saúde ajustaram as regras para o uso de máscara. Assim, a partir de hoje, deixa de ser recomendado, “em circunstâncias normais”, usar máscara ao ar livre, caindo também o uso nas escolas. Esta continua a ser obrigatória em instituições de saúde, lares, táxis e nos tribunais, sendo que, no caso dos espaços fechados e transportes públicos, as “autoridades vão avaliar e decidir”

 

Numa altura em que o território voltou à normalidade no que à covid-19 diz respeito, o Centro de coordenação e de contingência do novo tipo de coronavírus decidiu ajustar as regras para o uso de máscara. Assim, a partir de hoje, determina-se que, “em circunstâncias normais, não é recomendado o uso de máscara para todas as pessoas em espaços ao ar livre”. Bebés e crianças com menos de três anos também deixam de ser obrigadas a usar máscara.

Quanto ao uso em espaços fechados, como estabelecimentos, ou meios de transportes, caberá às “autoridades competentes avaliar e decidir” se é necessário ou não o uso de máscara. Tudo dependerá de factores como “a situação epidemiológica da altura, a ventilação do ar em estabelecimentos ou meios de transporte, o número e a densidade das pessoas, bem como a natureza e a duração das actividades”.

Sempre que for necessário o uso de máscara nestes locais “as entidades competentes devem divulgar ou notificar as pessoas, de forma adequada”, aponta uma nota divulgada este fim-de-semana.

No caso das escolas, tanto pais como alunos deixam de ter de usar máscara nas aulas e demais actividades lectivas. Num comunicado, a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEJ) esclarece que “o afrouxamento das medidas do uso de máscara beneficia o crescimento e o desenvolvimento físico e mental dos alunos e favorece, em particular, o melhoramento dos resultados no ensino e na aprendizagem das crianças, também ao nível das línguas”.

Quando se usa?

O Centro de coordenação definiu que a máscara tem de continuar a ser utilizada sempre que haja deslocações a instituições médicas, lares de idosos e de reabilitação, com excepção dos doentes internados ou dos utentes que residem nos lares, bem como os condutores e passageiros de transportes públicos, com excepção dos táxis.

Além disso, o uso de máscara em espaços fechados será também obrigatório “em circunstâncias específicas”, como é o caso da “realização de actividades de grande aglomeração de pessoas, a ocorrência de casos de infecção colectiva em creches e instituições de ensino não superior, ou quando se verifica o período de pico epidémico em Macau”. Fica também determinado que as pessoas devem usar máscara sempre que apresentem sintomas de gripe ou febre.

Docentes e alunos devem continuar a usar máscara “nos autocarros escolares e transportes públicos”, bem como na ocorrência de “situações de má disposição ou com sintomas de gripe” e outros locais onde o seu uso é obrigatório. A DSEDJ determina que “os docentes e alunos devem preparar máscaras para o uso diário” caso ocorra uma alteração da situação pandémica.

No caso dos tribunais, determina-se a continuação da obrigatoriedade do uso de máscara para as pessoas “que pretendam apresentar documentos às diversas secretarias dos tribunais, entrar nas instalações dos tribunais das três instâncias, participar nas actividades processuais ou assistir às audiências de julgamento”.

No caso do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) é recomendado o uso de máscara para entrar nas instalações deste serviço público, sendo o seu uso obrigatório sempre que as pessoas apresentem sintomas de gripe.

Haverá sempre um ajustamento destas medidas “no caso de evolução epidémica”, pelo que se aconselha os cidadãos “a levarem as máscaras sempre que saírem, para eventual caso de necessidade, bem como a reservarem em casa uma quantia mínima de máscaras que possibilite o seu uso por duas semanas, para os casos de emergência”.

Relativamente aos testes, sugere-se que cada pessoa se teste sempre que tiver algum sintoma da doença, anotando depois os resultados na plataforma de declaração do teste de antigénio dos Serviços de Saúde de Macau.

27 Fev 2023

Covid-19 | Infecção de variante ómicron BA.1 confere menor imunidade

As infecções provocadas pelas variantes alfa, beta e delta do SARS-CoV-2 protegiam muito mais contra reinfecções do que a variante ómicron BA.1. A conclusão consta de um estudo, publicado na The Lancet, que analisa dados recolhidos em 65 outros estudos, referentes a 19 países, naquela que é a mais exaustiva investigação sobre imunidade natural

 

Ao longo das sucessivas ondas pandémicas, um pouco por todo o mundo, a imunidade de grupo gerada pela infecção natural por covid-19 foi sendo apregoada como um mal que vinha para o bem. No entanto, a constante mutação do novo tipo de coronavírus, e outros factores como a vacinação em massa, entraram na equação.

Na semana passada, a prestigiada revista científica The Lancet publicou um dos mais exaustivos estudos sobre a graduação da imunidade conferida por infecções das diversas variantes de SARS-CoV-2.

O estudo resulta da análise a uma compilação de 65 estudos, realizados em 19 países, que compararam os riscos de contrair covid-19 entre pessoas que já foram infectadas previamente e entre quem nunca foi infectado. As investigações científicas que se debruçaram sobre a chamada imunidade híbrida (combinação de imunidade natural e vacinação) não foram tidas em consideração para este estudo, financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates.

Os cientistas procuraram respostas para várias questões, entre elas quanto tempo dura a protecção conferida por uma infecção de SARS-CoV-2, até que ponto somos susceptíveis a novas variantes e se a imunidade natural reduz as probabilidades de infecções severas.

O estudo procurou ainda avaliar os diferentes graus de imunidade entre variantes e a forma como se vão desvanecendo com o tempo.

O largo escopo da investigação analisou dados de estudos realizados desde o início da pandemia até Setembro do ano passado, incidindo principalmente sobre as variantes alfa, beta, delta e ómicron BA.1.

Leis da gravidade

O grupo de cientistas da COVID-19 Forecasting Team separou dados relativos a protecção contra reinfecções, das consequências sintomáticas da doença e dos casos severos de covid-19 (definidos pela necessidade de hospitalização ou morte).

Um dos resultados mais relevantes indica que infecções produzidas pelas variantes alfa, beta e delta conferiam maior grau de imunidade natural, em comparação com a variante ómicron BA.1. Contrair covid-19 com as variantes pré-omicrónicas conferia uma protecção elevada para novas infecções sintomáticas (82 por cento), face à protecção moderada (45 por cento) resultante da infecção pela variante ómicron BA.1.

Também a duração do período de elevada protecção imunológica difere. Nas primeiras variantes, os estudos indicam que as defesas contra novas infecções baixam para 78,6 por cento passados 10 meses, enquanto na variante ómicron BA.1 a protecção baixava mais rapidamente para 36,1 por cento passados 10 meses.

No que diz respeito à severidade da doença, os dados indicam que as variantes pré-omicrónicas conferem 90 por cento de protecção nos 10 meses seguintes, e 88 por cento para a ómicron BA.1, apesar de diferentes graus de quebra imunológica após esse período.

Os resultados revelaram também que a protecção contra doenças graves após infecção natural é comparável à imunidade recebida pela toma de duas doses de vacina, para todas as variantes da SARS-CoV-2.

À procura de sentido

A avaliação ao progresso de uma doença respiratória altamente contagiosa é uma tarefa complicada, ainda para mais quando esta doença atinge o patamar de transmissibilidade como a SARS-CoV-2, que se tornou progressivamente mais contagiosa e capaz de contornar a resposta imunológica gerada por infecções das primeiras variantes.

Enquanto perspectiva de fundo, o estudo refere que os anticorpos neutralizantes gerados após uma infecção viral anterior são importantes para prevenir a entrada subsequente do vírus em células susceptíveis. Estas moléculas em Y reconhecem proteínas intactas do exterior do vírus e ligam-se a elas, impedindo que o vírus se agarre ao receptor celular necessário para a infecção.

Mas, para persistirem e sobreviverem, vírus como o SARS-CoV-2 introduzem no seu genoma mutações aleatórias quando se replicam, procurando dessa forma alterar as suas proteínas de forma a escapar à detecção da resposta imunológica, numa luta pela sobrevivência que ocorre à dimensão microscópica.

A especificidade das várias linhagens da variante ómicron resultam de muitas mutações tornando-as substancialmente diferentes das variantes anteriores, permitindo a evasão ao sistema imunológico.

Não baixar a guarda

“A vacinação é o modo mais seguro de conseguir imunidade, enquanto a obtenção da imunidade natural (através do contágio) deve ser ponderada face aos riscos de doença grave e morte associados à infecção inicial”, diz Stephen Lim, do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME, na sigla em inglês) na Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, o autor principal da análise, citado no comunicado que divulga o estudo.

Caroline Stein, também do IHME e co-autora do estudo, assinala que “as vacinas continuam a ser importantes para todos” para proteger quer as populações de alto risco, como os maiores de 60 anos e os que já têm outras doenças.

“Isto também inclui populações que não foram infectadas anteriormente e grupos não vacinados, bem como os que foram infectados ou receberam a última dose da vacina há mais de seis meses”, adianta, defendendo que a imunidade natural e a situação em relação à vacinação devem ser tidas em conta para “obter uma imagem completa do perfil de imunidade de um indivíduo”.

Segundo outro dos co-autores do estudo, Hasan Nassereldine, do IHME, a menor protecção das infecções com as estirpes ancestrais em relação à variante ómicron e às suas sub-linhagens reflecte as mutações que ocorreram e que lhes permitem “escapar da imunidade adquirida mais facilmente do que outras variantes”.

“Os dados limitados que temos sobre a protecção da imunidade natural da variante ómicron e das suas sub-linhagens sublinham a importância de uma avaliação contínua, principalmente porque se calcula que tenham infectado 46 por cento da população em todo o mundo entre Novembro de 2021 e Junho de 2022”, diz o cientista, adiantando serem também necessárias mais investigações para “avaliar a imunidade natural de variantes emergentes e analisar a protecção fornecida por combinações de vacinação e infecção natural”.

Buracos na estrada

Os autores do estudo “Protecção da infecção com SARS-CoV-2 contra a reinfecção: uma revisão sistemática e meta-análise” observam que o trabalho tem algumas limitações, dado serem limitados os dados sobre a variante ómicron BA.1 e as suas sub-linhagens, bem como sobre situação em África.

Os analistas adiantam também que os cálculos sobre a protecção podem ter sido influenciados por serem limitados os dados disponíveis além dos 10 meses após a infecção inicial, bem como por serem registadas de modo diferente ou incompleto informações, por exemplo, sobre uma infecção anterior ou internamentos hospitalares.

Desde 1 de Junho de 2022, estima-se que a pandemia de covid-19 causou 17,2 milhões de mortes (6,88 milhões das quais foram registadas) e 7,63 mil milhões de infecções e reinfecções, segundo o estudo, que adianta que “uma grande proporção dessas infecções ocorreu após 14 de Novembro de 2022”.

“A imunidade conferida por infecções deve ser ponderada juntamente com a protecção conseguida com a vacinação na avaliação dos encargos futuros com a covid-19, fornecendo indicações sobre quando os indivíduos devem ser vacinados e sobre políticas que tornem a vacinação obrigatória para trabalhadores ou restrinjam o acesso a locais onde o risco de transmissão é alto (…), com base no estado imunológico”. Com Lusa

27 Fev 2023

Covid-19 | Estudo enumera “problemas” e “contradições” no surto de Junho

“Insuficiências” ou “contradição entre as medidas de prevenção adoptadas” são alguns dos problemas verificados no surto de covid-19 de Junho de 2022 enumerados num estudo publicado na última edição da revista Administração. A conclusão aponta para que na “fase inicial” do surto, de 19 de Junho a 3 de Julho, as medidas “não tiveram resultados satisfatórios”

 

Foram muitos os “problemas” e “contradições” verificados no surto epidémico de Junho do ano passado. Pelo menos de acordo com um trabalho publicado na última edição de Dezembro da revista “Administração”, editada pelos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), intitulado “Estudo sobre as medidas de prevenção da epidemia causada pelo novo tipo de coronavírus em Macau: Análise dos dados com base na epidemia de 18 de Junho”.

Os académicos propuseram-se analisar a eficácia das medidas adoptadas pelo Governo e a relação com o número de casos covid-19 registados. Da autoria dos académicos Tong Chi Man, Cheong Pui Man e Kou Seng Man, o estudo quantitativo recorre ainda a dados estatísticos oficiais para estabelecer uma correlação entre casos positivos registados, separando-os em sete categorias diferentes e dividindo o período de surto em diversas fases.

Nesta parte, os dados fornecidos pelos Serviços de Saúde são analisados com recurso ao programa de dados estatísticos SPSS 27.0, tendo os académicos categorizado os casos covid-19 da seguinte forma: “Novos casos registados diariamente no sexo feminino; Novos casos registados diariamente no sexo masculino; Novos casos registados diariamente; Novos casos de infecção sintomática registados diariamente; Novos casos de infecção assintomática registados diariamente; Casos detectados diariamente na comunidade; Casos encontrados diariamente no âmbito da gestão e controlo.”

O trabalho conclui que nem tudo correu bem na chamada “fase inicial” do surto, que durou entre 19 de Junho e 3 de Julho. “O estudo mostra que as medidas adoptadas na ‘fase intermédia’, na ‘fase relativamente estática’ e na ‘fase de consolidação’ atingiram relativamente bons resultados, enquanto as medidas adoptadas ‘na fase inicial’ não tiveram resultados satisfatórios”.

Assim, conclui-se que diversos factores, “como as insuficiências verificadas nos hotéis de observação médica, as medidas de prevenção contraditórias, as insuficiências na realização dos testes em massa (…) poderão, possivelmente, ter conduzido aos problemas referidos, o que resultou nas sugestões da manutenção, com uma elevada uniformidade, [de medidas de acordo] com a política nacional de prevenção da epidemia”, lê-se no documento.

Acima de tudo, o surto de Junho “foi controlado graças ao empenho do pessoal da linha da frente e à colaboração activa por parte dos residentes, em conjugação com a realização dos testes em massa e a implementação da medida de controlo e bloqueio na comunidade e, ainda, à organização eficaz da sujeição dos pacientes ao tratamento”.

No entanto, “há quem entenda que existem ainda muitos aspectos insuficientes que merecem ser supridos e medidas implementadas susceptíveis de terem sido contraditórias, apesar de o Governo ter agido de imediato e tomado decisões imediatas como resposta à pandemia”.

Ausência de “normalidade”

Para este trabalho contou-se o período entre 19 de Junho, quando começam a registar-se os casos após a descoberta da primeira infecção no dia anterior, e 1 de Agosto.

Os autores do trabalho nomearam várias fases para este período, nomeadamente a “fase inicial de prevenção epidémica”, que vai de 19 de Junho a 3 de Julho e a “fase intermédia, de 4 a 10 de Julho, quando se aumentou a frequência dos testes de ácido nucleico e rápidos realizados. Por sua vez, o dia 11 de Julho de 2022 integra-se na “fase relativamente estática”, quando passou a ser exigido aos residentes o uso da máscara KN95 e a realização de vários testes aos trabalhadores das áreas da segurança, administração de condomínios e limpeza.

Por sua vez, os dias 11 a 22 de Julho correspondem à “fase relativamente estática”, com a suspensão de algumas actividades económicas e negócios, dando-se depois a “fase de consolidação”, entre os dias 23 de Julho e 1 de Agosto já com o alívio de algumas medidas, como a reabertura de alguns negócios e permissão para sair de casa.

Os autores dizem “ser possível” que, no surto de Junho, o Governo “não tenha funcionado com normalidade e tenha perdido o controlo da evolução da pandemia”, além de se ter verificado “um fenómeno de anomia na sociedade e de instabilidade social”.

“As insuficiências”

Os académicos apontam as “insuficiências” verificadas no trabalho diário dos hotéis designados para quarentena, nomeadamente o facto de “o pessoal do hotel onde foi aplicada a medida de circuito fechado não ter lidado de forma adequada com os trabalhos de prevenção”, que culminou na infecção de “uma parte dos trabalhadores e alguns hóspedes”.

Além disso, verificaram-se ainda “deficiências” como os “trabalhadores responsáveis pelo registo [dos hóspedes] colocados no balcão de recepção do hotel terem apenas uma máscara e não disporem de mais equipamentos de protecção”.

O estudo fala também da “contradição” verificada nas “medidas de prevenção adoptadas” pelo Executivo, onde se inclui o “alojamento de dois pacientes desconhecidos num mesmo quarto de hotel de isolamento”, ou “exigir aos residentes a redução das saídas, mas não dar ordens para suspender o exercício de trabalho nem de confinamento”.
Incluem-se nesta lista as “orientações do Governo, destinadas às instituições civis e públicas, terem sido divergentes e com parâmetros diferentes” ou a exigência de testes com validade de 48 horas aos trabalhadores dos casinos e da construção civil para poderem trabalhar. Destaca-se ainda “a continuação do exercício de funções no posto de trabalho de indivíduos com código de saúde amarelo após a negociação com o patrão da empresa ou o responsável pelo serviço”.

O estudo refere também “a cobertura não completa das medidas de assistência económica”, uma vez que “as camadas sociais mais vulneráveis não tiveram apoio”, nomeadamente os trabalhadores não-residentes, que não foram abrangidos, por exemplo, pelo programa dos cartões de consumo. Os académicos concluiram ainda que “os problemas higiénicos nos bairros antigos deverem ser melhorados”, e que estes ficaram mais expostos quando alguns edifícios da zona norte da península foram confinados. Um dos exemplos apontados é a “acumulação de lixos” ou a “proliferação de mosquitos”, bem como a necessidade de reparação dos edifícios.

Seguir o país

Desta forma, uma das conclusões aponta para a importância da “manutenção de um alto grau de coerência com as políticas nacionais de prevenção da pandemia”. Isto porque, com base nos dados analisados, conclui-se que “na ‘fase inicial’ deviam ter surgido diversos problemas reveladores de componentes insuficientes no nosso ‘plano de resposta de emergência’ que mereciam ser melhorados”.

Uma vez que Macau já se encontra “numa fase posterior à epidemia, cheia de incertezas”, o estudo refere a necessidade “da importância emergente da implementação de medidas de prevenção e controlo idênticas às medidas nacionais”, além de se dever fazer “um balanço das experiências de Macau”.

A análise dos dados relativos ao número de casos mostra ainda que as “insuficiências” verificadas nos hotéis de quarentena se deveram “possivelmente à falta de eficácia dos trabalhos de prevenção epidémica implementados na ‘fase inicial'”. Assim, é sugerido o aperfeiçoamento “do regime de responsabilidade e sistema de gestão” nos hotéis de quarentena em períodos de surto, assim como o reforço da formação dos funcionários.

“Sugere-se que o Governo defina, o quanto antes, medidas científicas para a prevenção da pandemia”, como é o caso da “instalação de mais postos de testes de ácido nucleico, o prolongamento do seu horário de funcionamento” ou ainda “que seja apenas exigida a realização de testes rápidos aos trabalhadores dos casinos e do sector da construção civil”. Deve ainda “ser preparado um número suficiente de quartos de hotel de isolamento para satisfazer as necessidades”, além de ser importante “dar o apoio adequado aos indivíduos em quarentena e às pessoas em zonas de bloqueio”.

Mais apoios

Além de sugerir a melhoria do sistema de testes em massa, o estudo dá conta da importância de alargar o leque de apoios financeiros concedidos no futuro em contextos semelhantes.

“Os estudiosos esperam que o Governo possa auscultar as opiniões de todos os sectores e optimizar ainda mais as medidas de apoio financeiro, para que a população em geral possa beneficiar desse apoio”, pode ler-se. É também proposta a realização de uma “ampla recolha de opiniões na sociedade” e que seja prestada “atenção aos sectores, empresas e profissionais liberais que eventualmente possam não ter beneficiado do apoio cedido, sendo-lhes atribuídos apoios adequados”.

O estudo chama a atenção para a necessidade de reforçar “os apoios aos grupos especiais, tais como jovens, aposentados, desempregados, subempregados, indivíduos em licença sem vencimento e com baixos rendimentos, de modo a resolver as dificuldades dos cidadãos, bem como dos comerciantes”.

Sobre os autores do estudo, todos eles são ligados ao Instituto Internacional de Investigações Académicas (Macau), sendo que Kou Seng Man preside à entidade e Tong Chi Man é também académico visitante da Faculdade de Ciências Sociais e Educação da Universidade de São José.

21 Fev 2023

Hospitais chineses registaram 83 mil mortes desde o fim da estratégia ‘zero covid’

Os hospitais chineses registaram 83.150 mortes causadas por infeção pela covid-19, entre 08 de dezembro, altura em que começou a desmantelar a estratégia ‘zero covid’, e 09 de fevereiro, segundo dados oficiais hoje divulgados.

Cerca de 90% das mortes foram causadas pelo agravamento de uma doença subjacente combinada com a infeção pelo novo coronavírus, detalhou o Centro de Controlo de Doenças (CDC) da China.

As restantes mortes ocorreram sobretudo por insuficiência respiratória causada pelo coronavírus, que se espalhou rapidamente pelo país durante dezembro e janeiro, após Pequim ter posto fim a quase três anos da política de ‘zero casos’ de covid-19.

O CDC informou, na semana passada, que o número de mortes por covid-19 em clínicas no país caiu 97,6% até 06 de fevereiro, face ao pico de 4.273 óbitos registado em 04 de janeiro.

O número de internamentos devido a infeção pela covid-19 atingiu o pico de 1,6 milhão, em 05 de janeiro, quando começou a cair, até atingir 60 mil, em 06 de fevereiro.

No âmbito da política de ‘zero casos’ de covid-19, várias cidades chinesas foram submetidas a rigorosos bloqueios, ao longo de semanas ou meses, e impuseram um regime de testes de ácido nucleico obrigatório para toda a população.

O levantamento das restrições ocorreu após protestos em larga escala, realizados em várias cidades da China. Alguns dos manifestantes gritaram palavras de ordem contra o Partido Comunista e o líder chinês, Xi Jinping, que assumiu a estratégia ‘zero covid’ como um trunfo político e prova da superioridade do modelo de governação autoritário da China, após o país conter com sucesso os surtos iniciais da doença.

15 Fev 2023

Covid-19 | País regressa esta semana às aulas presenciais

Mais de 300 milhões de pessoas, entre professores e alunos, regressam esta semana às aulas presenciais na China, depois do fim da política de ‘zero covid’ e das férias do Ano Novo Lunar.

O semestre arranca em datas diferentes, dependendo do calendário definido por cada província. Trata-se do primeiro período lectivo desde que o país decidiu desmantelar a estratégia ‘zero covid’, no início de Dezembro passado.

Em Pequim, mais de um milhão de alunos, desde o ensino primário ao secundário, retornaram ontem às aulas, de acordo com o jornal oficial China Daily. Pela primeira vez em meses, os alunos não vão ter que apresentar resultados negativos em testes de ácido nucleico para a covid-19 para entrar na escola.

O início do novo semestre representa mais um passo no regresso à normalidade no país asiático, após as férias do Ano Novo Lunar, que calharam, este ano, entre 21 e 27 de Janeiro, período em que alguns especialistas previam uma nova vaga de infecções e de pressão hospitalar nas zonas rurais, onde os recursos de saúde são mais escassos.

No entanto, segundo o Centro de Controlo de Doenças da China (CDC), o pico de mortes em hospitais por covid-19 foi atingido no dia 4 de Janeiro, quando o país somou 4.273 óbitos devido a infecção pela doença. O número de internamentos atingiu o pico no dia 5 de Janeiro, ascendendo a 1,6 milhão.

Segundo os últimos números oficiais divulgados pelo CDC este fim de semana, um total de 912 pessoas morreram de covid-19, nos hospitais do país, entre 3 e 9 de Fevereiro.

14 Fev 2023

Deputado afirma que máscaras impedem alunos de fazerem amigos

As crianças do ensino primário são incapazes de identificar expressões faciais, reconhecer emoções e fazer amigos. Na origem do problema, está a utilização de máscaras nas escolas, de acordo com o deputado Lam Lon Wai

 

Os excessos das medidas de prevenção estão a prejudicar a aprendizagem das crianças, principalmente no ensino de línguas e na interacção com o reconhecimento de emoções. O impacto está a ser sentido numa altura em que o Governo promove a ideia de Macau como Centro Mundial de Lazer e tenta internacionalizar o mercado do turismo.

A revelação do impacto na aprendizagem de línguas foi feita ontem pelo deputado Lam Lon Wai, na Assembleia Legislativa, com base em relatos de professores, mas também no Relatório da Avaliação da Condição Física da População de Macau 2020.

“O desenvolvimento físico e mental dos alunos durante a epidemia foi muito afectado. Segundo o ‘Relatório da Avaliação da Condição Física da População de Macau 2020’, divulgado recentemente, o nível geral subiu ligeiramente, mas o das crianças e dos jovens e adolescentes (estudantes) diminuiu”, afirmou Lam Lon Wai.

O também subdirector da Escola Secundária para Filhos e Irmãos dos Operários, mencionou ainda que a utilização de máscaras tem levado a que as crianças tenham dificuldade na aprendizagem de línguas e em fazer amigos. “Segundo alguns professores, este ano, o nível de aprendizagem de línguas dos alunos do 1.º ano do ensino primário diminuiu, e devido ao uso de máscara, as crianças não conseguem ver as expressões faciais nem as caras, o que afectou a sua capacidade de reconhecer as emoções e fazer amigos”, sublinhou.

Menos restrições

Apesar de identificar o problema, o deputado dos Moradores não apelou directamente ao Governo para que as crianças deixem de ser obrigadas a usar máscara nas escolas.

Contudo, apelou para que sejam levantadas mais restrições, tal como aconteceu recentemente com a Direcção de Serviços de Educação e Desenvolvimento de Juventude (DSEDJ) a deixar cair a exigência da realização de testes rápidos, para quem não tivesse sido infectado com covid-19.

“Vi que os Serviços de Educação estão a ajustar gradualmente as medidas, e espero que continuem a comunicar com as escolas, pais e alunos, para relaxar gradualmente as medidas de prevenção epidémica nas escolas, para que o funcionamento volte à normalidade, permitindo que os alunos retomem a sua vida escolar normal”, desejou Lam.

9 Fev 2023

Covid-19 | China regista mais de três mil mortes entre 27 de Janeiro e 2 de Fevereiro

O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da China (CDC) registou, no sábado, 3.278 mortes por covid-19 em hospitais entre 27 de Janeiro e 2 de Fevereiro, foi hoje noticiado. Entre as quase 6.500 mortes hospitalares, o CDC chinês indicou que 289 óbitos foram causados diretamente pela covid-19 e 3.147 indiretamente.

O número de mortes durante o período de sete dias representa uma queda de quase 50% em relação aos sete dias anteriores, entre 20 e 26 de Janeiro, quando foram registados 6.364 óbitos, de acordo com os meios de comunicação social estatais. Na última atualização, o CDC acrescentou que, cerca de 99 mil pessoas foram hospitalizadas devido à covid-19 em todo o país, desde 2 de Fevereiro, incluindo 653 em estado grave.

Desde o final de Dezembro, a China deixou os boletins diários sobre casos e óbitos devido ao SARS-CoV-2 e passou a divulgar boletins semanais, em parte porque o fim dos testes PCR de rotina para grande parte da população significava que a propagação do vírus não podia ser rastreada com precisão.

O último boletim semanal já não inclui o recentemente concluído período de férias do Ano Novo Lunar, entre 21 e 27 do mês passado, mas permanece dentro do chamado “chunyun”, o pico da migração humana sazonal para as férias desta época, que termina no dia 15 deste mês.

Especialistas chineses e internacionais alertaram que aquele período podia causar uma nova onda de infeções e pressão hospitalar nas zonas rurais, com recursos de saúde escassos, devido ao elevado número de deslocamentos.

A empresa britânica de análise de dados na área da saúde Airfinity previu que o país podia registar cerca de 36 mil mortes por dia, naquela semana de férias.

Depois de quase três anos de rigorosas medidas antipandemia, como confinamentos e encerramentos fronteiriços quase totais, a China começou a abandonar a política ‘zero covid’, no início de dezembro, e a 08 de janeiro baixou a gestão da doença da categoria A – o nível de perigo mais elevado – para a categoria B, marcando efetivamente o fim desta estratégia.

5 Fev 2023

Covid-19 | Académicos projectam pequena segunda vaga em Maio

Académicos da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau estimam que Macau atravesse uma segunda vaga de infecções de covid-19 no próximo mês de Maio, de menor dimensão da vivida na altura do Natal, com cerca de 5 por cento da população infectada, à medida que a imunidade vai baixando

 

Dois anos e meio depois de Portugal ter registado uma segunda vaga de infecções de covid-19, Macau pode passar por uma situação semelhante no próximo mês de Maio. Pelo menos, de acordo com as estimativas de académicos Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST na sigla em inglês).

Segundo as previsões de um centro da Faculdade de Engenharia e Inovação da MUST que estuda fenómenos pandémicos, Macau não deverá ser afectado por uma nova variante da SARS-CoV-2, mas é expectável que em meados de Maio a resistência imunológica da população do território seja baixa, abrindo caminho a uma nova vaga de infecções.

Em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, o professor Han Zitian, da Faculdade de Engenharia e Inovação da MUST, estimou que o território seja afectado por uma vaga de menor dimensão da verificada no Natal passado, mas com capacidade para infectar cerca de 5 por cento da população. Outra diferença apontada pelo académico em relação à primeira vaga pandémica, é a redução da velocidade de transmissão do vírus, com o pico de infecções diárias a atingir cerca de 6.000 pessoas.

Por etapas

O académico da MUST realça que Macau entrou numa nova fase depois da vaga de Dezembro do ano passado, rumo à imunidade de grupo. Segundo Han Zitian, antes da vaga de infecções que se seguiu ao levantamento de restrições de controlo e prevenção, a larga maioria da população encontrava-se numa situação de elevada propensão a ser infectada por não ter anticorpos. O docente estima que no passado mês de Dezembro, cada caso positivo tenha contagiado entre nove a 12 pessoas, contribuindo para a elevada e veloz taxa de propagação do vírus, algo que não se deverá verificar em Maio.

Por esta altura, Han Zitian calcula que entre 80 a 90 por cento da população de Macau tenha sido infectada com covid-19.

Na generalidade, os sintomas verificados nos casos positivos de Dezembro de 2022 foram mais severos que os da gripe comum, com a recuperação também a ser mais longa e a chegar quase a um mês, indicou Iam Lap Fong, médico do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar Conde de S. Januário.

Em declarações à mesma fonte, o médico do hospital público procurou apaziguar os receios da população em relação à covid longa, ou seja, infecções que podem produzir sintomas durante três meses.

“Até agora, a larga maioria dos casos reportados de covid longa dizem respeito a variantes como a Delta, e às variantes anteriores. Existem poucos casos reportados de covid longa nas variantes BA.1 e BA.2 da Ómicron também resultaram poucas. Em relação à BA.4 da Ómicro, não circula há tempo suficiente para termos dados”, explicou Iam Lap Fong.

3 Fev 2023

Ano Novo Lunar | Pequim assegura que não houve nova vaga de covid-19

O período de festividades na entrada no Ano do Coelho decorreu de acordo com as previsões, não tendo sido registado o aparecimento de novas variantes do coronavírus, nem o aumento significativo de casos

 

O Centro de Controlo de Doenças da China (CDC) disse ontem que a vaga de casos de covid-19 no país “não registou uma subida significativa” durante as férias do Ano Novo Lunar, terminadas no sábado.

“A actual vaga na China está a chegar ao fim”, afirmou o CDC, na última edição da revista semanal. A agência explicou que “não foram encontradas novas variantes” do coronavírus e o pico da actual vaga “foi atingido no final de Dezembro passado”. Até ao final de Janeiro, “o número de novos casos diários caiu” e a “pressão hospitalar reduziu-se”, indicou a mesma fonte.

O número diário de óbitos nos hospitais causados pela doença atingiu o pico a 4 de Janeiro, quando 4.273 pessoas morreram, de acordo com o CDC.

Face ao descontentamento popular e à queda dos dados económicos, as autoridades chinesas optaram por um desmantelamento acelerado da estratégia ‘zero covid’, que vigorou no país ao longo de quase três anos e incluía o isolamento de todos os casos positivos e contactos próximos, bloqueio de cidades inteiras durante semanas ou meses, a realização constante de testes em massa e o encerramento das fronteiras.

Pior já passou

A súbita retirada das restrições, no início de Dezembro, sem estratégias de mitigação, resultou numa vaga de infecções que inundou o sistema hospitalar e os crematórios do país.

O CDC apontou que o pico de pacientes em estado grave foi registado no dia 5 de Janeiro, quando atingiu os 128 mil.
O número de visitas hospitalares por motivos de febre “caiu mais de 90 por cento”, a partir do final de Dezembro, acrescentou.

Os especialistas chineses alertaram para uma possível propagação do vírus durante as férias do Ano Novo Lunar, entre 21 e 27 deste mês. Durante este período, centenas de milhões de chineses regressaram às respectivas terras natais.

As autoridades de saúde pediram às zonas rurais que se preparassem para a propagação do vírus localmente, onde os recursos dos cuidados de saúde são escassos.

A empresa britânica de análise de dados de saúde Airfinity estimou que o número de mortes diárias durante aquele período terá chegado a cerca de 36 mil por dia. De acordo com os dados oficiais, 6.364 pessoas morreram em hospitais devido à doença, entre 20 e 26 de Janeiro.

31 Jan 2023

Covid-19 | Registadas 6.364 mortes numa semana

A China anunciou ontem que registou 6.364 mortes por covid-19 entre 20 e 26 de Janeiro. As autoridades afirmaram que 289 mortes foram causadas diretamente pela covid-19 e que nos restantes 6.075 óbitos outras condições subjacentes também desempenharam um papel.

O número de mortes durante o período de sete dias representa uma queda de quase 50 por cento em relação aos sete dias anteriores, quando foram registados 12.658 óbitos.

A última actualização das autoridades reporta a quase 216.000 hospitalizados par covid-19 a nível nacional a 26 de Janeiro, dos quais cerca de 1.894 se encontravam em estado grave.

Durante a semana de feriados foram registadas 308 milhões de viagens, mais 23,1 por cento do que no mesmo período em 2022, quando os limites de mobilidade estavam em vigor durante a política “zero covid”.

Após quase três anos de duras restrições, confinamentos e encerramentos fronteiriços quase totais que acabaram por se materializar em protestos em várias partes do país, a China começou a desmantelar a política de “zero covid” no início de Dezembro.

30 Jan 2023

Covid-19 | Família impedida de se despedir de ente falecido

Uma família está a ser impedida de dizer o último adeus a um ente, devido à implementação das medidas de segurança por mortes causadas pela covid-19. Porém, o relatório da autópsia não menciona o vírus como causa de morte

 

Uma família está a ser impedida de se despedir do ente falecido em câmara ardente, uma vez que a morte do idoso, cuja idade não foi revelada, foi causada pela covid-19. No entanto, o relatório da autópsia nunca menciona a covid-19 e aponta antes uma “pneumonia” como causa da morte.

A situação foi revelada ontem pelo jornal All About Macau, que recebeu uma denúncia da família frustrada com toda a situação e com os impedimentos, que considera não fazerem sentido, uma vez que a causa oficial de morte não foi a covid-19.

De acordo com informação recebida pelos familiares, os protocolos em vigor definem que corpos das vítimas de covid-19 não podem ficar em câmara ardente antes do funeral e têm de permanecer selados dentro da mortalha. Também o funeral não pode ser feito através da tradicional cremação, optando-se pelo enterro, com o corpo a ser selado com cimento dentro da cova.

Estas medidas foram definidas numa altura em que o território adoptava a política de zero casos. A mudança da política para a convivência com o vírus ainda não alterou esta situação.

Confusão da autópsia

No entanto, a família, que tem o funeral planeado para o próximo mês, contesta a situação e levanta dúvidas sobre todo o procedimento porque a covid-19 não é mencionada no relatório da autópsia.

“O certificado de óbito que recebemos descreve a causa de morte como pneumonia, e não como covid-19. Então porque é que é adoptado este tratamento?”, questionou o denunciante, em declarações ao All About Macau. “Quando recebi o certificado de óbito, a causa da morte apontada é uma pneumonia em vez da covid-19”, reiterou.

Desde que o território começou a conviver com o vírus que o Governo alterou os critérios da definição de mortes por covid-19.

Porém, no hospital, a situação foi diferente. O idoso foi infectado com covid-19 em Dezembro. Numa questão de horas, a situação agravou-se, os sintomas pioraram, e o homem teve de ser transportado em estado crítico para o Centro Hospitalar Conde de São Januário, onde veio a falecer, dias depois.

Na altura da morte, o denunciante conseguiu ver o familiar pela última vez, antes do corpo ser levado para a morgue.
Após a primeira vaga de infecções por covid-19, em Dezembro, as morgues locais ficaram rapidamente com falta de espaço. Chegaram inclusive a surgir rumores, negados pelos Serviços de Saúde, sobre a perda de cadáveres.

Tempos de frustração

Depois da morte, mais nenhum familiar conseguiu ver o ente falecido, e também os pedidos feitos para entrar na morgue foram recusados. Por sua vez, um agente da funerária informou a família que os mortos por covid-19 têm sempre de ficar fechados dentro de um saco especial até à altura em que são enterrados. Esta exigência, faz com que não possa haver a tradicional despedida com o corpo em câmara ardente.

Impedida de cumprir com a tradição, mesmo podendo recorrer à cremação, ao contrário do que acontece com as vítimas de covid-19, a família do idoso considera que está a ser impossibilitada de organizar uma cerimónia de despedida condigna.

Segundo o denunciante ouvido pela publicação local, a família considera ainda incompreensível que as medidas que impedem o último adeus estejam em vigor, até porque o Governo definiu que a covid-19 se tornou endémica.

Pandemia | Mais duas mortes quarta-feira

Na quarta-feira morreram mais duas pessoas vítimas de covid-19, de acordo com a informação divulgada ontem pelo Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus. As vítimas são do sexo feminino e tinham 60 anos e 95 anos, estando ambas vacinadas contra o vírus. Tinham antecedentes de doenças crónicas.

Desde o surgimento da pandemia, em 2019, os números oficiais apontam para a morte de 120 pessoas por covid-19. Os critérios para definir uma morte por covid-19 foram alterados antes do território começar a conviver com o vírus. Ainda de acordo com as informações oficiais, na quarta-feira foram também confirmados mais três casos de covid-19, que foram encaminhados para as instalações de isolamento e tratamento dos Serviços de Saúde.

27 Jan 2023

Depois da pandemia

A epidemia da Gripe Espanhola (1918 to 1920) provocou um número de infecções e de mortes sem precedentes. Foi considerada a mais mortal depois da Peste Negra (uma epidemia global da praga bubónica que atingiu a Europa e a Ásia em meados do séc. XIV). Os impactos da Gripe Espanhola não foram de modo algum inferiores aos da actual COVID-19. A partir do século passado, diversas pandemias assolaram a humanidade como a SARS, a MERS, a Gripe das Aves, a Gripe A, a Cólera e a SIDA, ameaças que persistem até aos nossos dias e que assustam a população mundial. Para além da pandemia, as questões políticas também ameaçam vir a causar mudanças sem precedentes na ordem mundial, que permaneceu praticamente invariável ao longo do último século.

Em 1911, a Revolução na China, também conhecida como Revolução Xinhai, pôs fim ao regime imperial, permitindo que o país enveredasse por um caminho que o conduziria à República. No entanto, a esta revolução seguiu-se a restauração do regime imperial, ao qual sucedeu um período de domínio dos senhores da guerra. Todas estas convulsões não tinham tido precedentes na História da China. Na Europa, a Primeira Guerra Mundial (1914 to 1918) deu origem ao primeiro país comunista, a União Soviética, que trouxe mudanças sem precedentes no sistema político a nível mundial.

A Segunda Guerra Mundial e a Guerra Civil Chinesa (travada entre o Governo liderado pelo Kuomintang e as forças da República da China e o as do Partido Comunista Chinês) trouxeram mudanças que ainda hoje se continuam a desenrolar. As mudanças podem ser uma bênção ou uma maldição dependendo de quem as lidera e assume o poder.

O ano de 2023 será difícil. A operação militar especial das forças russas na Ucrânia, que já dura há praticamente um ano, deve ter consumido muitas vidas e recursos militares do país. Só as despesas que a Rússia tem com os mercenários do Wagner Group representam custos astronómicos. O uso de Putin dos recursos energéticos como arma (o petróleo e o gás natural) para ameaçar os países europeus perdeu força devido a um Inverno com temperaturas amenas.

Pelo contrário, a dependência energética europeia da Rússia está a mudar e as sanções dos países ocidentais contra a Rússia mantêm-se firmes. Desde que a Ucrânia não envie tropas para atacar a Rússia, e se limite a defender e tentar recuperar os seus próprios territórios, não há qualquer razão para a Rússia lançar ataques nucleares. Se Putin lançar um ataque nuclear apressadamente, está condenado a falhar. A guerra russo-ucraniana não vai durar para sempre. A melhor forma seria terminar a guerra através de conversações de paz, mediadas por um terceiro país ou pelas Nações Unidas e proceder a uma retirada bem calculada. Caso contrário, em breve teremos uma guerra desastrosa como já não se via há um século.

Mas para além da ameaça da guerra, a segurança nacional também pode ser abalada por problemas de ordem económica. De acordo com os dados divulgados, no dia 17 deste mês, pelo Serviço Nacional de Estatística e Censos da China o crescimento económico do país em 2022 foi de 3 por cento, muito abaixo dos 5.5 por cento esperados. Em termos demográficos, a China registou um crescimento negativo pela primeira vez em 61 anos, com um decréscimo de 850.000 pessoas. Isto significa que a China perdeu o seu dividendo demográfico e entrou numa era de envelhecimento da população. Se o crescimento demográfico negativo se tornar uma tendência, o que acontecerá à China no futuro?

A China declarou há algum tempo que o seu crescimento económico anual deveria ser mantido pelo menos nos 6 por cento, caso contrário, surgiriam problemas socio-económicos. Infelizmente, acabou por pagar um preço muito elevado depois de adoptar a política nacional da “meta dinâmica de infecção zero” durante três anos para combater a pandemia. Mas acredito que serão feitos ajustes às políticas vigentes na reunião do Congresso Nacional Popular e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, que terão lugar no próximo mês de Março, para que a economia chinesa e os vários aspectos de ordem social possam voltar ao normal o mais rapidamente possível, uma vez que estas alterações criarão condições favoráveis para um desenvolvimento positivo.

Depois de ajustar as medidas de combate à pandemia, Macau está a esforçar-se para obter uma receita anual, a partir da taxação sobre o jogo, de 130 mil milhões de patacas em 2023, o que é uma abordagem pragmática. As centenas de milhões da reserva financeira obtidas pelos dois anteriores Chefes do Executivo da cidade podem não conseguir suportar as enormes despesas anuais do Governo da RAEM por muito mais tempo. Uma vez que a economia é a base da estabilidade social, se o Governo conseguir impedir a deterioração da qualidade de vida dos residentes e lutar pelo objectivo de uma governação orientada para o serviço social para evitar o caos, estará a dar a maior contribuição para a segurança nacional.

25 Jan 2023

Mortalidade | Cadáveres por levantar mais do que duplicaram

Só nos primeiros dias de Janeiro, e em comparação com os primeiros seis meses do ano passado, o registo de cadáveres por levantar no território mais do que duplicou

 

Só nos primeiros 19 dias de Janeiro o número de cadáveres por levantar no território, em comparação com os primeiros seis meses do ano passado, mais do que duplicou. Os números, compilados pelo HM, têm em conta os avisos publicados pelos Serviços de Saúde (SSM) na plataforma do Gabinete de Comunicação Social desde Janeiro do ano passado.

Desde o início do corrente mês, e numa altura em que Macau começou a conviver com a covid-19, os Serviços de Saúde emitiram sete avisos para o levantamento de cadáveres. Os anúncios foram publicados a 12, 16 e 19 de Janeiro.

No primeiro dos dias foram feitos dois avisos, no segundo mais outros dois avisos, e ontem foram publicados mais três, o registo mais elevado.

Por contraste, no ano passado, em Janeiro não se registou qualquer aviso, tal como no período até ao final de Março, ou seja, no primeiro trimestre. Foi preciso chegar a Abril para que aparecesse a primeira publicação. A partir dessa altura, e até Junho, foi publicado um anúncio por mês, num total de três avisos.

Tendência de crescimento

Quando a comparação é feita com todo o ano passado, faltam mais quatro avisos para que o registo seja igualado. Ao longo dos 12 meses do ano transacto foram publicados 11 avisos de cadáveres por levantar.

Apesar de nos primeiros seis meses de 2022 apenas terem sido publicados três avisos, na segunda metade do ano a tendência conheceu um aceleramento. Em Julho e Agosto, altura que coincidiu com um surto local de covid-19 e o período de confinamento, foram publicados dois e três avisos, respectivamente, num total de cinco.

Depois do pico de Agosto, nos restantes quatro meses houve três anúncios em quatro meses, em Setembro, Outubro e Dezembro. Novembro foi o único mês do segundo semestre do ano sem qualquer anúncio.

Focando os avisos emitidos nos primeiros 19 dias de Janeiro deste ano, os cadáveres por levantar eram de pessoas com idades entre os 28 anos e 90 anos. Entre os falecidos, sete eram do sexo masculino e um do feminino.

No caso de os cadáveres não serem levantados no prazo de sete dias após o anúncio dos Serviços de Saúde, os cadáveres são tratados como não reclamados. Além disso, no caso de o cadáver ter pertences, estes são dados como perdidos, após o prazo de um ano.

19 Jan 2023

Covid-19 | Ligações marítimas reúnem famílias de Macau e Hong Kong

Foram ontem retomadas as ligações marítimas entre Porto Exterior, na península de Macau, e Sheung Wan no centro da ilha de Hong Kong. Para muitos residentes, chega ao fim uma separação de três anos em que estiveram impedidos de ver os familiares

 

As ligações marítimas entre a península de Macau e Hong Kong foram ontem retomadas, permitindo o reencontro de familiares que, durante quase três anos estiveram separados, a apenas 60 quilómetros de distância, devido à pandemia da covid-19.

Já há dias que os cerca de 300 bilhetes para a primeira viagem do dia entre o terminal marítimo do Porto Exterior, em Macau, e Sheung Wan, no centro de Hong Kong, estavam esgotados.

Quatro dos bilhetes foram para a família de Abigail, que até faltou às aulas no Jardim de Infância Dom José da Costa Nunes, o único infantário de língua portuguesa em Macau. “Vou ver o meu avô e a minha avó e os meus tios”, disse rapidamente à Lusa a menina, de “quase 5 anos”, que desde 2019 não está com os familiares de Hong Kong.

“Sinto muito a falta deles”, confessou Abigail, por detrás de uma máscara decorada com figuras do Ano Novo Lunar. “Já vamos almoçar com eles, mas primeiro temos de ir renovar o teu BIR [Bilhete de Identidade de Residente de Hong Kong]”, prometeu a mãe.

Também há três anos que Kei Kei, de 28 anos, não via o padrasto, a trabalhar na logística de mercadorias em Hong Kong, um dos maiores portos do mundo. “Ele já tem alguma idade e nem eu nem a minha mãe queríamos que ele andasse a fazer quarentenas tão longas. Eu trabalho com idosos, em lares e centros de reabilitação e não podia deixá-los durante tanto tempo”, disse à Lusa.

As ligações marítimas entre as duas regiões administrativas estavam suspensas desde Fevereiro de 2020, deixando a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau como única ligação, ainda assim com quarentenas obrigatórias, que chegaram a ser de 28 dias, à entrada em Macau.

“Quando isto [a pandemia] começou, não fazíamos ideia que ia ser tão duro”, disse Kei Kei com um suspiro. “Pensámos que ia ser só uns meses no máximo”, acrescentou.

Casamento limitado

À semelhança da China continental, Macau seguiu até meados de Dezembro a política ‘zero covid’, apostando em testagens em massa, confinamentos de zonas de risco e quarentenas à chegada. O fim destas medidas chegou no mês passado, depois de quase três anos de restrições rigorosas.

Restrições que fizeram mesmo com que o padrasto não pudesse estar presente quando Kei Kei se casou com um cidadão luso-brasileiro, em Outubro de 2021, no Consulado-geral de Portugal em Cantão, capital da província vizinha de Macau. “Foi uma cerimónia pequena e rápida, mas ele não pôde vir”, lamentou a jovem.

No final de Dezembro, Macau retomou a ligação marítima com o aeroporto de Hong Kong, com duas viagens de ida e volta semanais entre o terminal do Pac On, na Taipa, e o Skypier do aeroporto.

Já em Janeiro foi a vez de regressarem as ligações entre o terminal marítimo de passageiros da Taipa e o de Sheung Wan, com cerca de dez carreiras de ida e volta.

A operadora é a Turbojet, que faz parte do império fundado pelo magnata Stanley Ho, falecido em 2020, e que abrange a operação de 13 casinos em Macau e em Portugal, do Casino de Lisboa e do Casino do Estoril.

De acordo com os Serviços de Saúde de Macau, 114 pessoas morreram de covid-19 no território desde o início da pandemia, em 11 de Março de 2021.

19 Jan 2023

Bombeiros | Metade das chamadas em 2022 foram desnecessárias

Dados divulgados ontem pelo Corpo de Bombeiros (CB) relativos aos trabalhos desenvolvidos no ano passado mostram que metade das chamadas realizadas pela população com queixas relativas à covid-19 no último mês revelaram-se desnecessárias.

Segundo o portal Macau News Agency, o número de chamadas feitas para os bombeiros aumentou significativamente, com chamadas de ambulâncias a aumentar 24,72 por cento e pedidos especiais a subirem 46,21 por cento.

A larga maioria das chamadas de ambulância, de um universo de 39.113 pedidos, ocorreu nos meses de Junho e Dezembro, precisamente quando houve dois surtos de covid-19 no território. O CB aponta que cerca de metade dessas chamadas foram desnecessárias.

Leong Iok Sam, dirigente do CB, disse que, no pico de casos covid, foram realizados 400 percursos de ambulância diários. “A situação voltou ao normal nos últimos dias, quando passámos a ter apenas 100 percursos por dia”, adiantou. Foi ainda revelado que cerca de 70 a 80 por cento dos bombeiros e restantes funcionários estiveram doentes com covid-19.

19 Jan 2023

Política da China à COVID-19 é científica, direcionada e eficaz

Liu Xianfa*

Recentemente, à luz da evolução da situação, a China vem aprimorando as suas políticas à COVID-19 que adoptam as medidas contra a Classe B, em vez das doenças infecciosas mais graves da Classe A, de acordo com a lei. Este é um ajustamento na abordagem de resposta da China com base numa avaliação abrangente da mutação do vírus, da situação da COVID-19 e dos esforços de resposta contínuos, incluindo uma alta taxa de vacinas. Isso ajuda a tornar a resposta mais baseada na ciência, direccionada e eficaz, restaurar a normalidade no trabalho e na vida do povo, atender às necessidades médicas e de saúde regulares e minimizar o impacto da COVID-19 nas operações económicas e sociais.

No entanto, alguns países, desconsiderando a ciência e os fatos, insistiram em tomar medidas discriminatórias de entrada com restrição contra a China. Alguns medias ocidentais desacreditaram o ajustamento da política à COVID-19 da China, alegando que a resposta da China falhou. Eles exageraram deliberadamente e até deturparam o ajustamento da política na China, mas evitaram relatar as deficiências e o alto preço pago na resposta à COVID-19 nos seus próprios países.

Na verdade, isso não passa de padrões duplos e é claramente contra a ética jornalística.

Desde que a COVID-19 começou, a China sempre colocou a vida do seu povo acima de tudo, fez o melhor esforço para proteger a vida e a saúde do povo e despejou todos os recursos no tratamento de todos os pacientes. Nos últimos três anos, temos respondendo com eficácia a cinco ondas globais da COVID-19 e evitando infecções generalizadas com a cepa original e a variante de Delta, que são relativamente mais patogénicas do que as outras variantes. A China reduziu muito o número de casos graves e mortes, ganhou um tempo precioso para o desenvolvimento, aplicação de vacinas e terapêuticas, e para preparar suprimentos médicos e outros recursos. As conquistas estão aí para todos verem.

Recentemente, à medida que a virulência das subvariantes de Omicron diminui, a experiência de resposta e absorção de vacinas chinesas aumentam, a China rebaixou o gerenciamento do vírus e mudou o foco para a proteção da saúde e a prevenção de casos graves. Trata-se de uma mudança oportuna e necessária, fundamentada na ciência e adoptada numa perspectiva de longo prazo, ainda tendo o povo como centro. Não significa de forma alguma o abandono do vírus ou a saída total das medidas de prevenção e controle. Continuamos a fazer todos os esforços para atender às necessidades de drogas do povo e proteger grupos-chave e residentes rurais, para garantir que suas medidas sejam bem direccionadas e eficazes.

Muitas províncias passaram já pelo pico de infecção e a vida das pessoas está gradualmente voltando ao normal. Os factos provaram que a China está bem preparada para a batalha e nós temos confiança e capacidade para conquistar novas vitórias. Aqueles que exageram que “o sistema médico da China está entrando em colapso” são meros boatos.

Desde o início da COVID-19, a China não apenas protegeu a vida, a saúde e a segurança do próprio povo, mas também ressaltou activamente à comunidade internacional que se unisse na luta contra a epidemia. Assumimos primeiramente vacinas como bens públicos internacionais. Até agora, fornecemos 2,2 mil milhões de doses de vacinas e uma grande quantidade de materiais anti-epidémicos para o mundo, especialmente países em desenvolvimento.

Como o trabalho de prevenção e controlo entrou em um novo estágio, a China implementou novas políticas de maneira suave e ordenada e optimizou ainda mais as políticas de entrada e saída, tornando os intercâmbios de pessoal chinês e estrangeiro mais fácil. O nosso potencial económico e a nossa vitalidade serão libertados ainda mais, e uma série de políticas recém-introduzidas terá um efeito sobreposto, que continuará a trazer mais benefícios para manter a estabilidade e a suavidade das cadeias internacionais de abastecimento e indústria, promovendo uma cooperação mutuamente benéfica entre os países, e impulsionando a recuperação e o crescimento da economia mundial.

Acções falam mais alto que palavras. Com os factos acima mencionados, todas as pessoas sem preconceito obterão uma compreensão objectiva e abrangente do ajustamento da política da China. Acreditamos firmemente que, com base na experiência da luta contra a COVID-19 nos últimos três anos, a China será capaz de coordenar efetivamente a prevenção e o controle da epidemia com os desenvolvimentos económico e social e obter a vitória final na luta contra a epidemia. A optimização e o ajustamento contínuos das políticas de prevenção e controlo da epidemia da China também fornecerão uma turbina mais estável e confiável para a recuperação da economia mundial e ajudarão o mundo a acabar com a epidemia o mais rápido possível.

*Comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros em Macau

18 Jan 2023

Covid-19 | China anuncia 60.000 mortes desde levantamento das restrições

A China registou quase 60.000 mortes nos hospitais ligadas à pandemia de covid-19 desde o levantamento das rígidas restrições para combater a doença feito no país há um mês, anunciaram no sábado as autoridades.

“Um total de 59.938 [mortes] foi registado entre 8 de dezembro de 2022 e 12 de janeiro de 2023”, avançou à imprensa o responsável da Comissão Nacional Sanitária da China, Jiao Yahui, referindo que o registo não tem em consideração as mortes que aconteceram fora das estruturas médicas.

A Comissão Sanitária Nacional da China anunciou neste sábado um total de 59.938 mortes relacionadas à covid entre 8 de dezembro, quando as autoridades começaram a relaxar as restrições que mantinham contra a pandemia, e 12 de janeiro deste ano.

A China aboliu, no início de dezembro, várias medidas de prevenção contra a covid-19, incluindo o isolamento em instalações designadas de todos os casos positivos, sinalizando o fim da estratégia ‘zero casos’, que se tornou fonte de descontentamento popular.

Na altura, o Conselho de Estado (executivo) anunciou que quem testasse positivo para infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2 podia passar a cumprir isolamento em casa, em vez de ser enviado para instalações designadas, e que as escolas que ainda não tinham tido surtos iam voltar ao ensino presencial.

De acordo com os dados avançados, citados pelo jornal Global Times, a idade média dos mortos registados nos centros médicos foi de 80,3 anos, sendo que 90,1% tinham mais de 65 anos e mais de 90% sofriam de doenças subjacentes.

A comissão sanitária esclareceu ainda que realiza testes de PCR para classificar se as mortes tiveram origem na covid-19 e que as principais causas diretas foram insuficiência respiratória (5.503) ou doenças anteriores que pioraram após o desenvolvimento da infeção pandémica (54.435).

16 Jan 2023

Milhões de chineses receosos no regresso a casa após fim de restrições

Por estrada ou por mar, de avião ou de comboio, milhões de chineses estão a caminho da terra natal para festejar a passagem do ano lunar com a família, na maior migração interna do planeta.

O ‘chunyun’, a temporada de viagens por ocasião do Ano Novo Lunar que arrancou no sábado passado, coincide este ano com o fim da política de ‘zero casos’ de covid-19, suscitando um aumento no fluxo de viajantes e desafios para as zonas rurais da China, com menos recursos de saúde.

“Estive com 40 graus de febre, mas estou feliz”, descreveu à Lusa um chinês residente em Pequim, que recuperou recentemente de uma infecção pela covid-19. “Finalmente posso movimentar-me”, disse.

Para a chinesa Xiaowang, que vai percorrer de comboio os mais de 2.000 quilómetros que separam Pequim e a sua terra natal, na província de Sichuan, esta é a primeira vez que vai a casa no espaço de dois anos. “É fatigante”, admitiu, sobre a jornada de 20 horas. “Mas esta data é muito importante para os chineses: é quando nos reunimos com a família”, contou.

Segundo a agência noticiosa oficial Xinhua, no total, foram realizadas 34,7 milhões de viagens no último sábado, o primeiro dia de um período de 40 dias em que centenas de milhões de chineses regressam às respetivas terras natais.

Aquele número representa um aumento de 38,2 por cento, em relação a 2022, depois de, nos últimos dois anos, a temporada de viagens ter sido afectada pelas medidas de prevenção contra a covid-19 que vigoraram na China.

Em Dezembro, no âmbito do fim da política de ‘zero covid’, o governo chinês retirou as restrições às viagens internas, que incluíam a exigência de testes PCR negativos para viajar de avião ou comboio e o registo das deslocações através de uma aplicação de localização.

Cada cidade ou província tinha também as suas próprias políticas: Pequim, por exemplo, não permitia a entrada de viajantes vindos de áreas onde tivessem sido registados casos de covid-19. Outros locais exigiam quarentena em instalações designadas ou em casa, para quem vinha de zonas com surtos activos.

Fluxo de receios

O fim das restrições suscitou uma vaga de infecções sem precedentes e o intenso período de viagens, que ocorre entre os dias 7 de Janeiro e 15 de Fevereiro, está também a suscitar preocupações. “É assustador”, resumiu à Lusa Zhao Yang, residente em Pequim. “Esperei com entusiasmo pelo fim dos bloqueios, mas face a este súbito fluxo de pessoas a viajar, sinto-me receoso”, frisou.

O Ministério dos Transportes chinês previu que o número de viagens durante a temporada do Ano Novo Lunar quase duplicará, face ao ano passado, para 2,095 mil milhões. Este número marcaria uma recuperação para 70 por cento do tráfego verificado em 2019, o último ano antes do início da pandemia.

A principal festa das famílias chinesas, equivalente ao natal nos países ocidentais, calha este ano entre os dias 21 e 27 de Janeiro, sob o signo do Coelho, um dos doze animais do milenar zodíaco chinês. Na China e em todas as ‘chinatown’ espalhadas pelo mundo, os edifícios são engalanados com lanternas vermelhas, enquanto nas ruas se lançam petardos e fogo-de-artifício para “afugentar os maus espíritos’.

Espera-se também que as viagens para o exterior subam, depois de o país ter reaberto as fronteiras, que estiveram fechadas durante quase três anos. Quem chegava à China era submetido a um período de quarentena em instalações designadas que, em algumas províncias, chegava aos 28 dias.

O número de reservas de viagens internacionais para a semana até 27 de Janeiro foi seis vezes superior, face ao feriado do Ano Novo Lunar de 2022, de acordo com o portal de reservas chinês Trip.com. O destino mais popular é a Austrália, seguida pela Tailândia e Japão.

“Este ano vou certamente viajar além-fronteiras”, explicou à Lusa Han Qing, um chinês natural de Pequim. “Está na altura de reconectar com o mundo”.

16 Jan 2023