Extensão a Macau do DocLisboa em exibição entre 15 e 19 de Novembro

Está aí a Extensão a Macau do festival DocLisboa, com a exibição de dez filmes entre os dias 15 e 19 de Novembro no auditório Dr. Stanley Ho, do Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong. “Meia-Luz”, de Maria Patrão, é a película de abertura do evento e a obra que arrebatou o prémio de “Melhor Filme Português” no Festival Internacional de Cinema Doclisboa

 

 

Na próxima semana, entre 15 e 19 de Novembro, regressa a Extensão a Macau do XIX Festival Internacional de Cinema DocLisboa, o evento que foi ganhando paulatinamente visibilidade no panorama do filme documental. Este ano, serão exibidas 10 obras de realizadores portugueses e estrangeiros da selecção do DocLisboa e duas produções de realizadores locais no auditório Dr. Stanley Ho, no Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong.

A sessão inaugural da mostra, que contará com a presença de alguns realizadores dos filmes do dia, está marcada para 15 de Novembro, cabendo as honras de abertura ao filme “Meia-Luz”, de Maria Patrão, que conquistou o prémio “Melhor Filme Português” no Festival Internacional de Cinema Doclisboa. No mesmo dia serão exibidos os filmes “Empty Sky”, realizado por Chian Kun Ieong, vencedor do Prémio do Público no Festival Internacional de Curtas de Macau, e “Unsettled”, de Ho Cheok Pan, vencedor do prémio Melhor Filme Local também no Festival Internacional de Curtas de Macau.

O filme de estreia, “Meia-Luz”, é inspirado nas imagens que a autora, Maria Patrão, descobriu no primeiro filme de António Reis. O resultado é uma reflexão sobre o cinema, através de imagens, sons, silêncios e a luz.

O dia de estreia espelha bem a maratona de cinema que se espera para a próxima semana, se bem que todas as obras apresentadas no primeiro dia de Extensão a Macau do DocLisboa são curtas-metragens.

Às 21h do dia 15 de Novembro, é ainda exibido “O Resto”, do jovem cineasta brasileiro Pedro Gonçalves Ribeiro, que está radicado em Portugal. “O Resto” conta a estória macabra de Iolanda Bambirra, que foi declarada morta por engano e que vive uma existência fantasmagórica entre a vida e a morte. O filme tem como pano de fundo Belo Horizonte, a metrópole no centro do Estado de Minas Gerais, um dos mais abastados do Brasil, mas que ainda assim é uma cidade em ruínas, onde o tempo perde fluidez.

A fechar o primeiro dia de cinema no auditório Dr. Stanley Ho, é exibido “O Alto do Mártir”, da portuguesa Carolina Costa. Mantendo a toada temática, este filme conta a história de um velho casal que viu o seu bairro inteiro transformar-se num cemitério.

 

De Alcindo a Eunice

No segundo dia do evento, marcado para a próxima quinta-feira, é exibido apenas um filme: “Alcindo”, de Miguel Dores. A sessão começa às 19h.

O documentário recorda a trágica morte de Alcindo Monteiro, um português de origem cabo-verdiano brutalmente assassinado em 1995 por skinheads.

A tragédia aconteceu a 10 de Junho de 1995, quando “para celebrar o Dia da Raça e a vitória na Taça de Portugal do Sporting, um grupo de etno-nacionalistas portugueses sai às ruas do Bairro Alto, em Lisboa, para espancar pessoas negras. O resultado oficial foram 11 vítimas, uma delas mortal”, descreve a organização.

Num artigo de opinião escrito no podcast de jornalismo Fumaça, o cineasta e antropólogo Miguel Dores explicou o processo como nasceu o documentário “Alcindo”.

“Aos 14 anos, levado pelo meu irmão pela primeira vez ao Bairro Alto com um grupo de amigos mais velhos, foi-me contada a história de Alcindo Monteiro, in loco, com o dedo indicador apontado às esquinas onde não deveria passar sozinho, para o caso de estarem por lá grupos nacionalistas”, indicou Miguel Dores.

Na sexta-feira, 18 de Novembro, são exibidos três filmes. Às 19h, o ecrã do auditório Dr. Stanley Ho projecta “Fora da Bouça”, de Mário Veloso, seguido de “Paz” de José Oliveira e Marta Ramos.

O “prato principal” do dia é servido por último, com a exibição de “Eunice ou Carta a Uma Jovem Actriz”, de Tiago Durão. A obra revisita a vida de Eunice Muñoz através das memórias privadas da sua casa.

A organização da mostra de documentários indica que a obra revela “o lado íntimo da actriz, que aqui não representa nenhum papel que não seja o de ser quem é ao lado de quem ama”.

 

Fim de festa

A culminar a Extensão a Macau do DocLisboa, são exibidos no último dia do evento dos filmes “Meio Ano-Luz”, do brasileiro Leonardo Mouramateus, “Distopia” de Tiago Afonso e “Arquitectura em Português – Diálogos Emergentes”, filme que conta com a organização do Conselho Internacional de Arquitectos de Língua Portuguesa e coordenação de Rui Leão.

O evento é uma iniciativa do Instituto Português do Oriente (IPOR), com o apoio do Instituto Cultural.

Numa nota divulgada à imprensa, o director do IPOR, Joaquim Ramos, destaca a importância da realização de eventos como a mostra documental, em particular num momento como este. “O ano de 2022 assinala mais um ano de pandemia cujas limitações teimam em não nos deixar – isto apesar do desenvolvimento de vacinas, das novas abordagens profiláticas e terapêuticas conhecidas e de uma cada vez maior normalização da vida, reconhecidamente aceite a nível internacional”, contextualiza o responsável.

Joaquim Ramos prossegue realçando o papel da cultura neste panorama.

“No contexto de apatia expectante em que, forçosamente, estamos plantados, a cultura e as artes são balões de oxigénio que vão permitindo uma respiração um pouco menos forçada, um pouco menos angustiante. É neste panorama – e também com esta intencionalidade de serviço à comunidade – que emerge a edição 2022 do DocLisboa – extensão a Macau”.

As sessões têm entrada livre.

10 Nov 2022

CUT organiza Kino Macau para celebrar cinema alemão até 20 de Novembro

Até ao próximo dia 20 de Novembro, o Cinema Alegria e o espaço da CUT acolhem o Kino Macao 2022, o festival que celebra o cinema alemão. A edição deste ano exibe uma selecção de filmes que retratam o período de profunda convulsão entre o final da 2.ª Grande Guerra e a queda do Muro de Berlim

 

 

Arrancou no sábado a sétima edição do Kino Macao, a grande festa do cinema alemão, co-organizado pela Associação Audio-Visual CUT, em parceria com o Goethe Institut de Hong Kong, que irá exibir filmes de autores germânicos até dia 20 de Novembro no Cinema Alegria e no espaço da CUT, no andar acima da Livraria Pin-to, na Rua de Coelho do Amaral.

“2022 ainda é um ano cheio de desafios e incertezas, e talvez uma retrospectiva seja o melhor que podemos fazer agora. Este ano, o festival irá apresentar vários filmes de um dos mais importantes períodos históricos da Alemanha: entre o final da 2.ª Grande Guerra Mundial e a reunificação da Alemanha. Sugerimos ao público um passeio por este período histórico através de películas que retratam o quotidiano de pessoas normais e das circunstâncias de pessoas ‘especiais’, para aferir como o povo alemão trabalhou arduamente durante uma longa e sombria época”, descreve a organização do evento, que conta com a curadoria e coordenação de Rita Wong.

Na próxima sexta-feira às 21h30, a sala 2 do Cinema Alegria acolhe a estreia de “Great Freedom”, obra realizada por Sebastian Meise que fez furor no Festival de Cinema de Cannes no ano passado e que foi seleccionada pela academia que atribui os óscares como um dos 15 melhores filmes internacionais.

Protagonizado por um dos actores alemães mais aclamados na actualidade, Franz Rogowski, “Great Freedom” conta a história de quem ficou de fora da libertação trazida pela vitória dos Aliados na 2.ª Grande Guerra Mundial. O personagem desempenhado por Rogowski é então acusado de um crime que nada tem a ver com o conflito ou política: ser homossexual.

Ainda de acordo com o velho Código Penal alemão, que datava do século XIX, a homossexualidade era um crime punido com pena de prisão. Depois de décadas de vigilância, o protagonista acaba por ser detido múltiplas vezes, acabando por desenvolver uma relação muito próxima com o companheiro de cela condenado pelo crime de homicídio a pena perpétua.

“Great Freedom” é uma história de tenacidade e resistência do espírito humano, de amor que nasce de violência sistémica e do tempo que escapa veloz sem que ninguém dê por isso.

 

Adeus a uma Era

No sábado, às 21h, também no Cinema Alegria é exibido “Dear Thomas”, do realizador Andreas Kleinert, filme centrado na ascensão de um poeta rebelde que luta pela liberdade no cenário de censura imposta pelo regime comunista da Alemanha de leste.

“Dear Thomas” é um filme biográfico baseado na vida e obra de Thomas Brasch, que vai além de um tributo fílmico ao poeta que foi continuamente sabotado por um Governo omnipotente, que recupera uma época histórica e repõe o valor e a coragem do autor.

A película que se segue no cartaz deste ano do Kino é “Transit”, o drama de 2018 realizado por Christian Petzold, apresentado no domingo, às 16h30. Também com Franz Rogowski no principal papel, este filme recupera a atmosfera estética do cinema noir através da sufocante paranoia e perseguição kafkiana de um homem traumatizado por opressão e violência política, que tenta escapar às forças nazis durante a ocupação de França.

À noite, às 20h, o cinema germânico invade as instalações da CUT com “Coming Out”, de Heiner Carow, filme que retrata a luta de um jovem professor, que vive na Alemanha de leste, com a sua homossexualidade reprimida.

Na segunda-feira, às 19h30, a CUT acolhe a exibição de “The Bicycle”.

No dia 18, sexta-feira, pelas 21h30 o Cinema Alegria apresenta “The Last Execution”, de Franziska Stünkel, que conta a história de um ambicioso cientista que passa da academia para os serviços de inteligência da República Democrática Alemã. Depois de prestar lealdade à Stasi, o académico acaba por integrar a máquina de opressão e perseguição de dissidentes, num crescendo de violência que irá esbarrar nos limites da moralidade do personagem.

No último fim-de-semana do Kino, dias 19 e 20 de Novembro, serão exibidos “Undine” e o já clássico “Goodbye Lenin!”.

8 Nov 2022

João Pedro Rodrigues filma o que lhe apetece e desta vez é um conto de fadas queer

Por Sílvia Borges da Silva, da agência Lusa

 

O realizador João Pedro Rodrigues estreia na próxima quinta-feira, em Portugal, o filme “Fogo-Fátuo”, que é “declaradamente uma comédia”, um conto de fadas queer no qual entram ainda incêndios, alterações climáticas, monarquia e colonialismos.

“Fogo-Fátuo” chega aos cinemas portugueses depois de ter aberto a Quinzena dos Realizadores, em Cannes, de já ter tido estreia em salas francesas e de estar a fazer um intenso e elogiado percurso por outros festivais.

João Pedro Rodrigues, nascido em Lisboa em 1966, já não assinava uma longa-metragem em nome próprio desde 2016, ano em que venceu o prémio de melhor realização com “O Ornitólogo”, no Festival de Locarno. Assinou algumas ‘curtas’ e fez o documentário “Onde fica esta rua?”, com o realizador, produtor e companheiro João Rui Guerra da Mata, também já exibido este ano em festivais.

A fazer filmes desde finais dos anos 1990, João Pedro Rodrigues entrou agora, pela primeira vez, no registo de comédia com esta longa-metragem, que o próprio descreve como uma “fantasia musical”, sobre um jovem príncipe que quer ajudar o país a livrar-se do flagelo dos incêndios e que acaba por se apaixonar por um bombeiro.

A relação entre aqueles dois homens “é o que mantém o filme de pé, mas também é uma história de amor entre um príncipe e um bombeiro e, além disso, acho que só pode ser tratado de uma forma cómica, em particular em Portugal. O tom da comédia está certo para isto. É um bocadinho conto de fadas”, afirmou o realizador, em entrevista à agência Lusa.

“Fogo-Fátuo”, protagonizado por Mauro Costa e André Cabral, “é uma comédia muito da palavra, do diálogo e da escrita”, que faz rir e pensar sobre a relação de Portugal com o passado monárquico, colonialista, sobre preconceitos, homossexualidade, sobre a incúria dos incêndios florestais, sobre a realidade das alterações climáticas.

“Eu não sou muito programático. A minha aproximação à minha criação no cinema não é teórica. Eu vou contando as histórias que têm a ver comigo no momento em que eu as quero contar e que me estão próximas. Sempre fiz os filmes que queria fazer. Felizmente vivemos num país onde existe liberdade e nunca tive nenhuma condicionante”, explicou o realizador.

João Pedro Rodrigues lembra que não se desvia do que lhe é essencial: “O que sinto que estou a fazer nos meus filmes é o meu ponto de vista perante o mundo, mas eu não o tenho de explicar. Faço os meus filmes para os outros e para que sejam vistos, mas depois cada um tem liberdade de fazer o que quiser”.

O realizador de “Odete” (2005), “Morrer como um homem” (2009) e “A última vez que vi Macau” (2012), correalizado com João Rui Guerra da Mata, admite que, ainda assim, quer libertar-se do que já fez.

“Por isso é que se calhar os meus filmes são tão diferentes uns dos outros. Eu não quero sentir-me confortável num estilo ou numa maneira de fazer os filmes. Eu quero sempre questionar-me”, sublinhou.

João Pedro Rodrigues tem andado quase sempre em viagem, a divulgar e a falar sobre “Fogo-Fátuo” com diferentes públicos, enquanto planeia o próximo projeto, em montagem financeira, intitulado “O Sorriso de Afonso”.

“Vou fazer um filme que se passa durante o 25 de Abril [de 1974]. É a história de um adolescente que descobre a sexualidade nesse período revolucionário. (…) Eu acho que temos uma dificuldade em falar do nosso passado presente e discute-se pouco. Na ficção temos dificuldade em voltar ao nosso passado recente. A mim apetece-me falar sobre isso”, disse.

E justifica as escolhas para o próximo filme: “Logo após o 25 de Abril, há um grupo de trabalho homossexual que escreveu um manifesto publicado no Diário de Lisboa, para defender os direitos do homossexuais, e veio o Galvão de Melo [militar que pertenceu à Junta de Salvação Nacional, de onde viria a ser excluído no final de setembro de 1974] à televisão dizer que a revolução não foi feita para prostitutas e homossexuais. Se pensarmos, a homossexualidade só foi legalizada nos anos 1980. A revolução é liberdade, mas a liberdade não era para todos”.

Depois de um problema com o produtor do filme anterior, “Ornitólogo”, que está ainda a decorrer em tribunal, João Pedro Rodrigues passou a assumir também o papel de coprodutor das suas obras e não descarta qualquer convite para, por exemplo, trabalhar diretamente para ‘streaming’.

“Não digo ‘não’ a nada, a mim interessa-me a variedade e a diversidade. Depende do grau de liberdade que eu pudesse ter. Uma das coisas que fazem com que o cinema português seja reconhecido lá fora é precisamente a sua diferença, são universos particulares. Os filmes não se parecem com outros filmes. E é isso que interessa às pessoas”, sublinhou.

25 Set 2022

A Fundação Rui Cunha abre o apetite com filme “Pranzo di Ferragosto”  

A Fundação Rui Cunha apresenta esta tarde, às 18h30, o filme “Pranzo di Ferragosto” (Mid-August Lunch, em inglês), o quarto de uma série de seis sobre o tema Gastronomia e Cinema. A película é assinada pelo realizador Gianni di Gregorio, que é também o escritor do guião e o protagonista da fita italiana. A entrada é livre, mas limitada a 25 espectadores.

O tema do filme, apresentado com legendas em em inglês, alude ao feriado católico da Assunção de Nossa Senhora, que se celebra a 15 de Agosto em países como Itália, Espanha ou Portugal.

Ao longo dos cerca de 75 minutos da duração da exibição, Gianni di Gregorio faz uma incursão por valores como a tolerância, o envelhecimento, a solidão, num tom bem-humorado, que surpreende pelos momentos únicos e edificantes.

A história narra as peripécias de Gianni, um homem de meia-idade, desempregado e solteiro, que aceita tomar conta de quatro senhoras idosas para ajudar a pagar algumas dívidas, durante o feriado em meados de Agosto.

Quando todos os italianos fogem do calor para as praias da costa, Gianni é chantageado pelos seus credores para hospedar as respectivas mães em Roma, onde mora com a sua exigente progenitora. Falido e sem argumentos, aceita a difícil responsabilidade, que acaba por resultar numa casa cheia, onde todos se acomodam e entreajudam, gerindo os caprichos que vêm com a idade, cozinhando a refeição do Dia da Assunção e divertindo-se mais do que o esperado.

Experiência biográfica

O director Gianni Di Gregorio escreveu o argumento baseado num incidente retirado da sua vida, com um baixo orçamento e muito improviso, actuando como protagonista no seu próprio apartamento e recrutando as demais actrizes entre centenas de não profissionais. Contratou-as num lar próximo, para garantir a espontaneidade, e ficou encantado com a alegria e o humor que trouxeram à fita. Só a actriz que representou a sua mãe, Valeria De Franciscis, era de facto profissional, entretanto falecida em 2014 aos 98 anos.

O filme conquistou diversos galardões entre 2008 e 2009, nomeadamente o Grande Prémio do Público no Bratislava International Film Festival, o Prémio de Melhor Realizador Emergente pela FICE – Federazione Italiana Cinema d’Essai, o Prémio de Melhor Realizador Emergente pelo Italian National Syndicate of Film Journalists, o Prémio Especial para Melhor Primeira Metragem no Italian Online Movie Awards (IOMA), o Prémio Satyajit Ray no London Film Festival, o AITS Award para Melhor Som noRome Film Fest, e ainda o Luigi De Laurentiis Award para Melhor Primeiro Filme, o Young Cinema Award para Melhor Filme Italiano e o Pasinetti Award para Melhor Filme no Festival de Cinema de Veneza.

24 Ago 2022

Cinema | Seis realizadores de Macau mostram as belezas naturais de Zhuhai

Seis jovens cineastas da Universidade Cidade de Macau vão participar no Hong Kong, Macao & Taiwan Youth Image Program 2022, um evento organizado em colaboração com a Beijing Normal University de Zhuhai e a universidade local. O desafio lançado aos jovens criadores é retratar em filme as histórias dos moradores da Ilha de Wailingding, em Zhuhai

 

A Ilha de Wailingding, no arquipélago vizinho de Wanshan em Zhuhai, é a musa de um evento cinematográfico que pretende juntar trabalhos de jovens realizadores de Macau, Hong Kong e Taiwan. De acordo com informação veiculada pelo Governo da cidade de Zhuhai, seis jovens realizadores da Universidade da Cidade de Macau irão cooperar com oito produtores de filmes da Beijing Normal University em Zhuhai (BNU Zhuhai) na edição deste ano do Hong Kong, Macao & Taiwan Youth Image Program.

As autoridades da cidade vizinha acrescentam que o objectivo é a produção de curtas-metragens documentais, com cerca de 10 minutos de duração, que captem e demonstrem a beleza das paisagens rurais da Ilha Wailingding, distinguida a nível nacional como um local de extrema beleza e interesse cultural.

O evento conta com a organização conjunta do Centro de Investigação de Comunicação de Imagem da Cultura Chinesa do BNU e pela Faculdade de Humanidades e Ciências Sociais da Universidade da Cidade de Macau.

No programa de recolha de curtas-metragens deste ano, os participantes foram desafiados a apresentar histórias emocionantes sobre os residentes da ilha, como o carteiro, o médico e professores da aldeia e os papéis que desempenharam no desenvolvimento da Ilha de Wailingding.

O programa, que é um dos principais focos do centro de investigação, foi iniciado em 2019. Ao longo da sua curta vida, as entidades organizadoras do evento convidaram mais de meia centena de jovens realizadores de Macau, Hong Kong e Taiwan para retratarem em formato de curta documental aspectos da cultura chinesa. Os filmes foram disponibilizados nas várias plataformas online através dos canais oficiais das universidades de Macau, Hong Kong, Taiwan e Guangdong.

Numa curta declaração citada pelo portal noticioso do Governo de Zhuhai, Li Huaizhi, director executivo do centro de investigação, manifestou a esperança de que os realizadores de Macau possam contar histórias únicas sobre a ilha de Wailingding, para que os jovens de Macau possam ter uma melhor compreensão da vida rural.

Inspiração insular

Mas afinal, o que tem de especial a Ilha de Wailingding? Situada a 10 quilómetros a sul da ilha de Cheung Chau (Hong Kong), Wailingding é um sítio pitoresco com uma aldeia piscatória como ponto nevrálgico no sopé da pequena montanha que ocupa o centro da ilha. Com apenas 4 quilómetros quadrados de área, não faltam paisagens e riqueza natural para atrair turistas.

Quase à semelhança de Cheung Chau, quem sai do ferry em Wailingding tem uma rua costeira repleta de restaurantes onde o marisco e o peixe são reis, em particular uma iguaria muito apreciada por portugueses: percebes.

Com uma vida vagarosa, longe da confusão urbana, Wailingding tem uma pequena praia, uma avenida com um “local cénico para amantes” e as suas contas em redes sociais, um parque com gravuras em rochas, o Sino Madrugador do Monte do Imperador do Norte, o Pico Lingding e as baías de Tawan e Dadong.
Wailingding é uma das 10 maiores ilhas de Zhuhai, que tem mais de uma centena de ilhas.

28 Jun 2022

Perante o teu rosto 1

De Hong Sang-Soo e da sua trintena de filmes só me calhou ver cinco filmes e felizmente que um deles é o Perante o Teu Rosto, a muitas milhas dos outros, e definitivamente uma obra-prima, no seio do “sistema” Hong Sang-Soo, e fora dele.

Podia o cineasta não fazer mais nada, mereceria sempre a nossa gratidão.

Para explicar porquê, vou começar por falar de um conto breve de Dalton Trevisan, A Sopa, e lembrar uma verdade de La Palice: o crédito dado a uma narrativa não falece enquanto se mantiver um clima no qual os personagens estão predispostos a aguentar um máximo de tensão.

O que falta a demasiadas fitas que vemos e esquecemos no dia seguinte. Porque a tensão não nasce de uma montagem rápida ou de um suspense tecnicamente logrado, mas de um fluxo onde colidam expectativas emocionais e valores morais traduzíveis em atritos ou nas expectativas reflectidas numa conduta.

O brevíssimo conto de Dalton Trevisan –do livro Histórias Nada Exemplares –, onde, à roda de uma mesa de cozinha, se mostra a fugaz discussão entre pai, mãe e filho, oferece mais conflito, intensidade e aceleração emocionais que muitas perseguições de carro em filmes medíocres. É assim que começa:

«Subiu lentamente a escada, arrastando os pés. Estacou para respirar apenas uma vez, no meio dos trinta degraus: ainda era um homem. Entrou na cozinha e, sem olhar para a mulher, sem lavar as mãos, sentou-se à mesa. Ela encheu o prato de sopa, colocou-o diante do marido.

Olho vermelho de dorminhoco, o filho saiu do quarto e atravessou a cozinha. O homem batia as pálpebras, embevecido com os vapores capitosos.
— Aonde é que vai?
O filho abriu a torneira do banheiro:
— Fazer a barba.
— Hora da janta. Vem comer.
Demorava-se o rapaz, torneira fechada. Com a toalha no pescoço, não olhou o pai.
— Não quero jantar. Sem fome.
O homem suspendeu a colher:
— Não quer jantar, mas vem para a mesa.

Todas as noites, esfomeado. Enchia a colher, aspirava o caldo de feijão e, fazendo bico nos lábios; grossos, tragava-o com delícia. O filho desenhava com o garfo na toalha de flores estampadas. A mulher, essa, contemplava o fogo, mão no queixo.
— Dar uma volta.

O homem sugava ruidosamente e, a cada chupão, o filho revolvia a ponta do garfo no coração das margaridas.»
A concisão desta escrita é como uma pirâmide que esconde em sombra outra invertida; a sua rede de imagens subsume um feixe de interacções emocionais que, de um modo posicional, motiva cada palavra e contribui para esticar a tensão entre as personagens.

Em dezanove linhas apresentam-se quatro conflitos: a do pai com a sua condição física e com a sua imagem de poderoso pater familias (“ainda era um homem”; “sem olhar para a mulher, sem lavar as mãos, sentou-se à mesa”), conflito com o filho, condensado em acções mudas (“Demorava-se o rapaz, torneira fechada”; “a cada chupão, o filho revolvia a ponta do garfo no coração das margaridas”), conflito não declarado da mulher com ele (“A mulher, essa, contemplava o fogo, mão no queixo”), enquanto ela mira a chama que, inconsumível, crepita no seu íntimo, até à explosão final.

Cada palavra em Dalton Trevisan leva o sangue à guelra do peixe.
Veja-se o oposto disso. Se alguém escreve: “Adalberto viu Rita pela primeira vez na esplanada” e assim continua, sei-me diante de um burocrata do aparo com hábitos de voyeurismo. Nada se implica na frase, nem o narrador, nem as personagens entre si; nada se desencadeia: a descrição é um arabesco na congelada pista dum mundo reificado.

Se, ao invés, o relato se iniciasse assim:”Os seios dela olharam argutamente para mim”, o escritor situava-nos face a uma relação, algo se pôs em movimento e envolve ambas as personagens, sem a intermediação distanciada do narrador. E a frase imprimiria uma aceleração narrativa: a primeira hipótese exige mais dez linhas antes de se chegar ao ponto (o telos), nesta hipótese parte-se do ponto.

A primeira frase nada comunica e a sua famigerada mensagem é tão vaga como a abstenção do narrador, que aí não mete prego ou estopa. Encontraram-se na esplanada e so what? Que se passa em seguida, quais as motivações das personagens, que as vai unir ou separar, etc? Foi tudo adiado, a mensagem patina no vazio, ou antes, processa uma procrastinação.

Já na segunda hipótese presenciamos um acto de economia narrativa: as motivações das personagens imbricam-se na forma da frase, tornam essa expressão a única possível e, inclusive, de forma implícita, a frase comunica-nos a temporalidade da acção: se fosse inverno os escultóricos peitos da rapariga estariam tapados por sobretudos e cachecóis e não teriam o efeito devastador que aí se adivinham, provocando mudanças na vida das personagens. Adoptando a sinédoque, tomando a parte (os seios) pelo todo (a Gisela, para lhe dar um nome), numa frase menos vulgar, comunicamos afinal muitíssimo mais, em intensidade e de chofre.

Afinal, não estávamos a falar de seios – ainda que seja exaltante a sugestão de Alexandre O´Neil de que pela manhã nos deveriam servir seios em vez de pãezinhos quentes – mas de procedimentos narrativos.

E se a narrativa de Trevisan parece jogar-se num tabuleiro realista, num registo refém da objectividade, é apenas um engano: não há uma única frase no conto que não esteja prenhe da emocionalidade referente a cada personagem – é esse o génio do narrador. Como na fita de Moebius, o que é dado a ver como morfologia das acções objectivas, exteriores, só incarna afinal o não-dito das interacções humana, o seu subtexto, uma inconfessada intencionalidade vertida num “estilo indirecto livre”.

Este mecanismo engendra uma tensão interna à narrativa e imprime-lhe um ritmo. O mesmo se passa num filme e este pode até passar-se à mesa que o seu ritmo interno funciona como um acelerador na percepção do espectador.

23 Jun 2022

Casa Garden | Curtas-metragens em exibição no fim-de-semana

A Casa Garden vai exibir, amanhã e domingo, 14 curtas-metragens selecionadas do New York Portuguese Short Film Festival e do Festival de Cinema dos Países de Língua Portuguesa. As sessões começam às 17h30 e têm entrada gratuita

 

A Casa Garden irá exibir um ciclo de curtas-metragens amanhã e no domingo, com 14 películas seleccionadas do New York Portuguese Short Film Festival e do Festival de Cinema dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A iniciativa é organizada pela Fundação Oriente, o Arte Institute e a Casa de Portugal em Macau, com o apoio institucional do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, do Instituto Português do Oriente e da AICEP.

Na sessão marcada para amanhã, serão exibidas 14 obras de realizadores portugueses, que fizeram parte do New York Portuguese Short Film Festival. A sessão começa com “Paralympia”, do Coletivo Hyperion, um filme lançado no ano passado que conta a história de dois atletas paralímpicos. A película é uma espécie de ensaio histórico desportivo, recheada de emotividade, com os dois atletas a recordarem as provas em que competiram num diálogo acompanhado pelo visionamento simultâneo de imagens de arquivo.

Numa perspectiva completamente diferente e demonstrando o ecletismo do cartaz, a curta-metragem que se segue é “The Girl from Saturn”, de Gonçalo Almeida, um filme que abre portas à fantasia. A narrativa tem no epicentro Luís, um rapaz que vive em Portugal numa zona rural. Um episódio aparentemente inocente vira de pernas para o ar a vida de Luís, quando a mãe lhe pede para acompanhar uma rapariga que não conhece. A partir daí, o jovem embarca numa viagem cósmica que lhe irá marcar a vida para sempre.

A curta que se segue é “My Castle, My home”, de José Mira, uma obra com contornos autobiográficos centrada na vida atlética de um adolescente de 13 anos, Guilherme, e na forma como a prática do ténis degenera numa miríade de pesadelos e fobias. Atormentado pelo seu treinador, o jovem começa a ser aterrorizado por criaturas que têm raquetes em vez de mãos, que o perseguem ao longo dos corredores de casa. Num ambiente de terror sufocante, a casa de Guilherme transforma-se num labirinto. A única salvação é o aconchego materno.

O cartaz prossegue com a exibição de “Two Cartoonists”, de Bruno Teixeira, “Ouro Sobre Azul”, de Andreia Pereira da Silva, “The Coop” da autoria de Rita Al Cunha, “A Straight Story” de João Garcia Neto, “Her name is Carla” de Cátia Biscaia e “Still Life” de Francisca Coutinho.

Das lusófonas

No domingo, também na Casa Garden, o dia será dedicado às curtas-metragens produzidas no universo lusófono.
Piscando o olho ao imaginário dos The Beatles, será exibido “Lúcia no céu com semáforos”, uma curta-metragem com produção angolana, realizada por Ery Claver e Gretel Marín Palacio. O filme conta a história de um ser que apenas existe corporeamente, como um objecto-vivo cuja existência tem como objectivo único a satisfação das necessidades e desejos dos outros.

No ecrã, Lúcia mantém sempre um olhar distante que esconde gritos, medos e explosões, traçando uma alegoria da mulher que se cinge a um papel funcional, sem o direito a existir, viver, pensar ou exprimir o que sente.

Um dos destaques da sessão de domingo é “Tradição e Imaginação”, da realizadora guineense Vanessa Fernandes que viveu em Macau.

Nesta obra, a autora conduz o espectador até ao Benim, na África Ocidental, numa viagem marcada pelo passado de escravatura, uma memória que perdura nas memórias dos mais velhos.

Outro dos filmes do dia é “The Flight of the Manta Rays”, uma animação surrealista com produção luso-espanhola, realizada por Bruno Carnide. Uma imagem fantástica de enormes raias a voar pelos céus, passa da fantasia para a realidade, produzindo cenários de sonho.

“Sentado no sofá, imaginei uma raia, em toda a sua beleza e magnificência, que em vez de nadar nas profundezas do mar voava na imensidão dos céus. A partir daí, comecei a desenhar”, escreveu Bruno Carnide na plataforma da Mailuki Filmes, uma agência de distribuição de filmes para festivais de cinema.

No domingo serão ainda exibidos “Simpatia do Limão”, do brasileiro Miguel de Oliveira e “Dona Mónica”, do cabo-verdiano Carlos Yuri Ceuninck.

10 Jun 2022

Big Fish & Begonia

ou Tudo o que a Felicidade Precisa é de se Perder na Água

O Cinema é um formato belo e único. É simultaneamente um jogo e um transformador desse mesmo jogo. Nesta série, a autora e pensadora visual, Julie Oyang, apresenta 12 realizadores chineses, as suas obras e as suas invenções estéticas, que acabam por se revelar as invenções estéticas de antigos filósofos.

 

O filme de anime chinês Big Fish & Begonia é um espectáculo intensamente visual. Baseado no conceito de reencarnação, desenrola-se num mundo místico habitado pelos Outros, entidades que velam pelo mundo humano ao aceitarem as Leis da Natureza.

Uma rapariga chamada Chun é submetida ao rito de passagem ao entrar no reino humano por sua conta e risco. Quando é confrontada com um acontecimento fatal, é salva por um rapaz. O jovem acaba por se afogar no mar.

Sentindo-se culpada, Chun procura o Guardião das Almas, que se assemelha a um dragão chinês agachado – uma criatura mítica que resulta do cruzamento de espécies – a quem pede que ressuscite o rapaz. Ela paga este favor com metade da sua vida. Ao interferir com o curso dos acontecimentos, Chun provocou inadvertidamente repercussões no seu próprio povo. Nesta altura, a história sofre uma reviravolta sombria e Chun apercebe-se que tem de sacrificar todos para salvar o homem que ama e que tem de abdicar da sua obrigação como guardiã da ordem natural.

A um nível muito mais profundo, Big Fish & Begonia celebra a fluidez da água: o grande mestre Tao visualizado por Zhuang Zi, o influente filósofo chinês que viveu no séc. IV A.C.

O pensamento de Zhuang Zi foi introduzido na história através do nome do protagonista masculino. “Um peixe do Oceano Norte que dá pelo nome de Kun,” com um tamanho “demasiado grande para ser medido,” como se pode ler na legenda do ecrã de abertura. Numa introdução assombrosa, Chun, a protagonista feminina, fala do futuro, agora com 117 anos de idade, e diz acreditar que a existência de cada ser humano se assemelha a um peixe gigante que nada no mar. Recorda, da sua juventude, grandes peixes a conversar enquanto caíam do céu para saudar a constância da Mudança, o conceito Taoista de ordem natural. A Mudança está constantemente em acção, causando a metamorfose fluída. Com um design que lembra faiscantes gravuras em madeira ukiyo-e, o filme faz-nos mergulhar num tempo primordial em que a água cobria a superfície da Terra e as almas dos seres vivos vagueavam em forma de peixes gigantes em busca de significado e de respostas.

A “Begónia” é uma poderosa árvore cor de rosa vivo que nasce do poder colectivo dos Outros – que não é estranha à natureza, mas sim uma parte essencial. O poder colectivo dos Outros protege misteriosamente as espécies cruzadas em espaços multi-facetados, onde se entrelaçam os mundos conhecidos e os desconhecidos.

Há duzentos anos, Zhuang Zi escreveu: “Os homens veneram o que se encontra dentro da sua esfera de conhecimento, mas não se apercebem o quão dependentes estão do que se encontram para além disso.” A sua visão do mundo era vertiginosa e serena, uma mistura holística da terra, do vento, do fogo, da madeira, do metal e da água.

Os elementos da vida ocupam cada reino, numa míriade de infinitas e sedutoras tonalidades de azul à qual está ligado o destino de cada ser vivo.

“Recompensas e castigos são a pior forma de educação,” escreveu Zhuang Zi. O domínio cintilante e espontâneo das espécies cruzadas, envolve cada objecto com o brilho da possibilidade: a possibilidade de ser feliz. Um acto altruísta conduz a outro, de forma a procurar a felicidade escondida à espera de ser encontrada.

Onde está Tao? Zhuang Zi respondeu: “Em lado nenhum, não existe… Está no mijo e na merda.” A tristeza e a felicidade são duas faces da mesma moeda. A Felicidade é parte das Leis da Natureza “demasiado grande para ser medida” e não pode ser, nem deve ser, reclamada ou possuída.

Citações famosas de Zhuang Zi para reter na memória:

🌸 A felicidade é a ausência de luta para a alcançar.
🌸 Agarramo-nos aos nossos pontos de vista, como se tudo dependesse disso. No entanto, as nossas opiniões não são permanentes; como o Outono e o Inverno, vão gradualmente passando.
🌸 Reconheço a alegria dos peixes na água através da minha própria alegria, enquanto vou caminhando ao longo do mesmo rio.
🌸 Segue o curso dos acontecimentos e deixa a tua mente ser livre. Mantém-te centrado, aceitando o que quer que faças. Isto é o mais importante de tudo.
🌸 Onde é que posso encontrar um homem que se tenha esquecido das palavras para conversar com ele?

{{ Julie Oyang é uma autora de naturalidade chinesa, artista e argumentista. É ainda colunista multilingue e formadora em criatividade. As suas curtas metragens foram selecciondas para o Festival de Vídeo de Artistas Femininas e também para a Chinese Fans United Nations Budapest Culture Week. Actualmente, é professora convidada da Saint Joseph University, em Macau. Gosta especialmente de partilhar histórias inesperadas, contadas a partir de perspectivas particularmente distintas. Divide a sua vida entre Amsterdão, na Holanda, e Copenhaga, na Dinamarca.}

 

JULIE OYANG Writer | Artist | Namer of clouds
www.julieoyang.com | Instagram: _o_writes

5 Mai 2022

Quatro filmes de ficar com água na boca

O Cinema é um formato belo e único. É simultaneamente um jogo e um transformador desse mesmo jogo. Nesta série, a autora e pensadora visual, Julie Oyang, apresenta 12 realizadores chineses, as suas obras e as suas invenções estéticas, que acabam por se revelar as invenções estéticas de antigos filósofos.

Os chineses acreditam que é importante equilibrar o yin e o yang no nosso corpo, e esse equilíbrio pode ser alcançado se ingerirmos os alimentos certos. Os alimentos yang podem ser doces, picantes e acres e têm cores quentes como vermelho e o laranja. Muitas das vezes, crescem no solo em ambiente seco. São disso exemplo a batata, a papaia, a malagueta e a carne de borrego. Ao contrário, os alimentos yin são mais amargos e salgados e geralmente têm um maior grau de humidade, costumam ser verdes ou de cores frias. Estes alimentos por norma crescem em ambiente húmido. Entre os alimentos yin podemos encontrar o pepino, o tofu, o lótus e os legumes verdes. Para além disso, a forma como se cozinha pode ser mais yin ou mais yang. Fritar e assar é considerado yang, ao passo que cozer em água ou vapor é tido como yin. Esta antiga escola de pensamento é conhecida como Taoísmo, na qual a Medicina Tradicional Chinesa é em grande parte inspirada.

Quer seja um gourmet ou um fã da cozinha chinesa, pode celebrar as artes culinárias e familiarizar-se com a filosofia chinesa através destes filmes maravilhosos. Está na hora de trocar as pipocas por alguns saborosos dumplings e noodles!

Eat Drink Man Woman (1994)

O Chef Chu, pai de três filhas, cozinha-lhes todos os domingos banquetes deliciosos. Enquanto estão à mesa, discutem as mudanças ocorridas nas suas vidas, a que assistiremos ao longo do filme. A cena de abertura é espantosa, consiste em sequências de preparação dos alimentos, filmadas em grandes planos. Por oposição à facilidade e ao talento com que o Chefe confecciona refeições deliciosas, o realizador analisa o isolamento emocional dos protagonistas, revelando a verdadeira intenção do filme.

Rice Rhapsody (2004)

O Chefe sino-americano Martin Yan interpreta Kim Chui, dono de um restaurante que enfrenta algumas dificuldades e não consegue competir com o congénere de maior sucesso, de que é proprietária Jen, a personagem principal do filme, famosa por confeccionar o melhor arroz de galinha Hainanese da zona. Entre os dois chefes começa a crescer uma grande rivalidade quando Kim Chui cria um prato semelhante, o arroz de pato Hainanese, que se torna rapidamente muito popular na cidade. O filme atinge o auge durante um concurso gastronómico onde se procura eleger o melhor prato tradicional de Singapura. Mas um outro sub-enredo atravessa o filme, centra-se na luta travada por Jen para aceitar o facto de os seus três filhos serem gay.

The Chinese Feast (1995)

As competições gastronómicas são um tema recorrente em The Chinese Feast. Quando Au, dono de um restaurante, é abordado pelo representante de uma empresa que quer transformar todos os restaurantes chineses num monopólio, faz-lhe frente e propõe-lhe um desafio; confeccionar o impressionante Banquete Imperial Manchu ou perder o restaurante. Decide então reunir uma equipa de Chefes de topo, na qual se inclui o Master Chefe Kit, que precisa de trabalhar com a mulher para ressuscitar o seu amor pela culinária. As cenas na cozinha são incrivelmente inspiradoras e só nos apetece começar a cozinhar imediatamente.

The God of Cookery (1996)

Nesta comédia cantonesa, o célebre Chefe conhecido como ‘Deus da Culinária’ é o reflexo da moderna indústria da gastronomia. Depois de ter sido expulso por fraude, e impedido de cozinhar, Chow ingressa secretamente numa escola de culinária para aprender a dominar esta arte. Depois regressa a Hong Kong pronto para se vingar dos seus rivais e voltar a ganhar o direito ao epíteto ‘Deus da Culinária’.

Citações famosas sobre comida para guardar na memória:
🌸 Para os governantes, o povo é o paraíso; para o povo, o paraíso é a comida
🌸 Governar um grande país é como cozinhar um peixe pequeno – se for muito manuseado vai estragar-se.
🌸 A forma com que cortas a carne reflecte a forma como que vives.
🌸 Em terra nascem três tipos de criaturas. Algumas têm asas e voam. Outras têm pelo e correm. Outras ainda movem os lábios e falam. Todas elas precisam de comer e de beber para sobreviver.
🌸 Falar não cozinha o arroz.

 

{{ Julie Oyang é uma autora de naturalidade chinesa, artista e argumentista. É ainda colunista multilingue e formadora em criatividade. As suas curtas metragens foram seleccionadas para o Festival de Vídeo de Artistas Femininas e também para a Chinese Fans United Nations Budapest Culture Week. Actualmente, é professora convidada da Saint Joseph University, em Macau. Gosta especialmente de partilhar histórias inesperadas, contadas a partir de perspectivas particularmente distintas. Divide a sua vida entre Amsterdão, na Holanda, e Copenhaga, na Dinamarca.}

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22 Abr 2022

Cinema | João Nuno Brochado leva “Herança de Família” ao CCM 

“Herança de Família” é a curta-metragem do realizador e docente João Nuno Brochado integrante do cartaz da próxima edição de “Macau – O Poder da Imagem”, que decorre no Centro Cultural de Macau. Esta é a história de um idoso solitário que quer deixar a herança familiar a alguém de confiança. O argumento espelha também as ligações seculares entre Portugal e a China

 

Um idoso, que vive sozinho, sem família ou amigos, quer deixar a sua herança familiar a alguém de confiança. Todos os dias encontra-se com potenciais candidatos, mas torna-se difícil atingir o seu objectivo. Até que um dia conhece uma família portuguesa e, mesmo sem conseguir comunicar com ela por palavras, por dominarem línguas diferentes, cria-se uma ligação.

Esta é a história por detrás de “Herança de Família”, a curta-metragem que João Nuno Brochado, realizador e docente da Universidade de São José (USJ), leva aos ecrãs do Centro Cultural de Macau (CCM) no âmbito da 14.ª edição do festival “Macau – O Poder da Imagem”, organizado pelo Instituto Cultural (IC).

Ao HM, João Nuno Brochado revelou os detalhes de um projecto cinematográfico que começou a ser pensado antes da pandemia.

“Dou aulas na USJ, onde coordeno o programa de cinema, e costumava convidar alguns professores para darem aulas cá. Uma das docentes colaborou comigo na escrita deste argumento, e quisemos desenvolver ideias sobre algumas coisas que observamos em Macau. Uma delas é o facto de os idosos terem uma boa qualidade de vida, pois passam o dia-a-dia nos parques, fazem mais exercício e são mais activos do que os idosos em Portugal, por exemplo.”

“Queríamos retratar essa imagem de Macau que não é tão comum e se afasta da imagem dos casinos. Queremos retratar essa vida pacata que Macau também tem, nos parques. Assistimos também a algo engraçado, que foi uma senhora que passeava uma tartaruga na rua, e quisemos colocar essa imagem engraçada no filme”, frisou o realizador, que defende que este é também um filme sobre a relação histórica entre Macau e Portugal e as relações pessoais que se foram criando.

“O facto de sermos portugueses e estarmos aqui levou-nos a fazer uma história que retratasse esta ligação que Portugal ainda mantém com a China através de Macau. Foi a ideia de um entre culturas que continua a existir.”
Explorar a temática da terceira idade acabou por ser uma decisão natural, tendo em conta que no panorama cinéfilo local esse é um assunto pouco explorado.

“A terceira idade é uma temática pouco explorada no cinema de Macau. O facto de eu não ter nascido em Macau permite-me ter uma perspectiva diferente sobre a cidade e a cultura local. Penso que as pessoas que trabalham na área do cinema estão muito interessadas no facto de Macau ser um território que vive do entretenimento e do jogo.”

Desta forma, “uma grande parte dos filmes que são feitos aqui giram em torno de temáticas como o jogo, o crime ou a prostituição”.

“Herança de Família” contém elementos musicais e de imagem que mostram a presença das culturas portuguesa e chinesa. Com este projecto, João Nuno Brochado quis, sobretudo, trazer um filme seu cá para fora.

“Esta não foi só uma oportunidade de fazer o filme, mas sim de cruzar este projecto com a produção que se faz localmente. É importante que possa passar esta experiência aos meus alunos. Os meus objectivos já foram cumpridos, que era fazer o filme e transmitir esta experiência. Espero poder enviar este filme para outros festivais.”

Poucos mas bons

Com a pandemia e as restrições nas fronteiras, João Nuno Brochado destaca a diminuição de visitas de realizadores e docentes de cinema vindos do exterior e menos oportunidades de trabalhar com personalidades da indústria do cinema de Hong Kong. Ainda assim, em Macau têm-se feito poucos filmes, mas bons, assume.

“Não se pode dizer que em Macau exista uma indústria de cinema, porque é uma cidade muito pequena, ao contrário de Hong Kong. Mas acho que se fazem coisas com muita qualidade, apesar de poucas. Não há muita projecção lá fora porque não há apoios, vivendo as produções de subsídios do Governo ou de entidades privadas. Os financiamentos são, por norma, para a produção e não para a divulgação.”

O docente da USJ acrescenta que estas limitações fazem com que o cinema produzido em Macau “não saia muito de Hong Kong ou da região da Grande Baía”.

“Acho que tem havido um crescimento lento. Há mais jovens interessados no cinema e esta iniciativa do IC é muito importante. Têm-se criado equipas fortes na produção de cinema. O facto de os filmes não serem feitos em mandarim faz com que seja difícil a entrada no mercado chinês”, rematou.

O festival “Macau – O Poder da Imagem” decorre entre os dias 5 e 8 de Maio, apresentando um conjunto de curtas-metragens produzidas localmente.

22 Abr 2022

Cinema | FRC apresenta filme japonês “Tampopo”

Na próxima terça-feira, às 18h30, será apresentado o segundo filme do ciclo “Gastronomia e Cinema”. Trata-se da produção japonesa “Tampopo”, de Jûzô Itami, uma “elegante” comédia em que a arte culinária constitui um fio condutor entre diversas narrativas.

A história principal gira à volta de dois amigos: um camionista e o seu companheiro que um dia, ao pararem num restaurante, são confrontados uma das suas piores experiências degustativas após provarem um intragável Ramen (sopa de macarrão), feito pela proprietária, Tampopo (Nobuko Miyamoto).

Tampopo é uma simpática viúva, que perante o seu falhanço culinário, pede-lhes ajuda para melhorar o seu método de confecção. É então que começa um verdadeiro périplo por vários restaurantes, pesquisando, investigando e descobrindo segredos com vista à confecção do Ramen perfeito.

Paralelamente à saga de Tampopo e seus amigos, são apresentadas outras pequenas narrativas, as quais se desenrolam sempre à volta da alimentação e seus rituais, com especial destaque para a relação sensorial entre as pessoas e a comida, salientando a importância da gastronomia na cultura e sociedade japonesas.

Antes de ser exibido, o filme terá ainda uma pequena apresentação por Dennis Tou Kuok Keong, Chef do restaurante de Ramen Sio Seng Hin, na Taipa.

13 Abr 2022

Parte 8.: “As pessoas nascem boas”

O Cinema é um formato belo e único. É simultaneamente um jogo e um transformador desse mesmo jogo. Nesta série, a autora e pensadora visual, Julie Oyang, apresenta 12 realizadores chineses, as suas obras e as suas invenções estéticas, que acabam por se revelar as invenções estéticas de antigos filósofos.

O título foi retirado de um excerto da formação da moral humana de Confúcio. Confúcio nasceu no séc. VI AC, um homem que acreditava que a bondade se podia alcançar desde que os homens fossem distribuídos pela ordem hierárquica correcta.

Nascida em Pequim em 1982, a realizadora sino-americana Chloé Zhao conta que foi uma adolescente rebelde interessada no desenho de manga e na escrita de fanfiction. Quando tinha 15 anos, os pais puseram-na a estudar num colégio interno no Reino Unido. Após este período frequentou a Universidade e a escola de cinema nos EUA.

Muitos dos seus filmes retratam o Oeste Americano, que Zhao compara à Mongólia interior, um local que ela visitava nas viagens escolares. Ambos os locais estão impregnados de mitos e liberdade, dominados por extensões amplas e paisagens acidentadas. A sua primeira obra, Songs My Brothers Taught Me (2015), foi filmada na reserva Sioux de Lakota. A segunda, The Rider (2017), que conta a história de uma jovem vedeta de rodeo, estreou no Festival de Cannes, e recebeu nomeações na 33ª edição dos Independent Spirit Awards. O filme mais recente de Zhao, Nomadland (2020), que nos fala dos americanos que vivem em caravanas e que procuram trabalho sazonal, ganhou o Globo de Ouro para melhor realização.

Nomadland parece ser uma experimentação social em escala cinematográfica, uma fantasia onde a sabedoria oriental e o modelo ocidental se combinam harmoniosamente. Uma história sobre todos aqueles que têm fé e coragem para se apegarem ao bem que têm dentro de si e para defender a bondade dos outros, por mais difícil que isso seja.

Parte de uma premissa lógica, relacionada com a transformação económica causada pela recessão financeira de 2008, que fez com que muitas pessoas tenham perdido as economias, os negócios, as casas e que tenham ficado impossibilitadas, especialmente as mais idosas, de obter empréstimos para comprar uma casa mesmo que modesta. O sonho americano – que é na verdade uma máquina económica – em transformação. Estas pessoas viram-se obrigadas a ir para a estrada viver em caravanas e em camiões, deambulando em busca de trabalhos temporários e sazonais no Midwest americano. São os sobreviventes do séc. XXI. Os novos Beduínos”.

Em vez de apresentar o colapso da vida humana através de uma perspectica trágica, Zhao retrata a bondade radiosa e a esperança que guiam as pessoas pelo caminho da construção de uma vida nova. A arte torna-se vida e a vida torna-se arte, o princípio básico da filosofia estética oriental fala bem alto no coração do Oeste Americano.

A vida como fonte de beleza cristaliza-se através dos seus três filmes. O estilo de vida minimalista e austero enriquece as profundezas do ser. A virtude, por assim dizer.

Isto traz-nos inadvertidamente ecos da virtude em Aristóteles: os mais virtuosos não procuram agir.

Citações famosas de Chloé Zhao para guardar na memória
🌸 Um realizador de documentários não pode deixar de usar a poesia para contar uma história. Trago verdade à minha ficção. Estas coisas andam a par e passo.
🌸 Modifico-me constantemente. Esta característica tem aspectos negativos porque estou sempre a tentar descobrir quem sou, mas ao mesmo tempo, sou abençoada pela ausência de um pano de fundo estático.
🌸 Sou fortemente influenciada pelo cinema europeu e pelo cinema americano, mas quanto mais avanço na minha carreira, mais dou comigo a olhar para trás à procura da inspiração oriental.
🌸 Infelizmente, acho que por ter andado tanto à deriva quando era criança não criei um sentimento forte de identidade. Não me sinto em casa em lado nenhum e, por causa disso, acho que sou mais ou menos um camaleão.
🌸 Algumas das pessoas mais trabalhadoras e mais generosas que conheci em toda a minha vida não queriam votar nele. O meu desejo é compreender o outro lado, humanizar e retratar as lutas de muitas das pessoas que votaram em Trump.
🌸 A não perder:
2015 Songs My Brothers Taught Me
2017 The Rider
2020 Nomadland

 

{Julie Oyang é uma autora de naturalidade chinesa, artista e argumentista. É ainda colunista multilingue e formadora em criatividade. As suas curtas metragens foram selecciondas para o Festival de Vídeo de Artistas Femininas e também para a Chinese Fans United Nations Budapest Culture Week. Actualmente, é professora convidada da Saint Joseph University, em Macau. Gosta especialmente de partilhar histórias inesperadas, contadas a partir de perspectivas particularmente distintas. Divide a sua vida entre Amsterdão, na Holanda, e Copenhaga, na Dinamarca.}

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25 Mar 2022

“CODA” vence prémio da Associação de Produtores em antecipação aos Óscares

O filme “CODA – No Ritmo do Coração” foi o grande vencedor da 33.ª edição dos Prémios da Associação de Produtores (PGA, na sigla inglesa), a penúltima paragem antes dos Óscares que a Academia entrega a 27 de Março.

O Prémio Darryl F. Zanuck para Melhor Produção de Longa-Metragem é considerado um dos mais fortes indicadores do filme que vai vencer os Óscares. Nos últimos 13 anos, apenas por três vezes o título que recebeu este prémio não coincidiu com o que viria a obter o Óscar de Melhor Filme.

“CODA”, com argumento e realização de Siân Heder, é protagonizado por Emilia Jones, Marlee Matlin, Daniel Durant e Troy Kotsur e conta a história de uma família de surdos em que a adolescente Ruby é o único membro que consegue ouvir.

O filme da plataforma de streaming Apple TV+ já tinha vencido o Prémio do Sindicato dos Atores (SAG) e bateu “O Poder do Cão”, até aqui considerado o favorito ao Óscar de Melhor Filme, na mais elevada distinção da Associações de Produtores.

Na gala que decorreu esta madrugada no Fairmont City Plaza, em Los Angeles, os Prémios PGA foram entregues aos produtores que mais se distinguiram no último ano em Hollywood, tanto no cinema como na televisão.

No cinema, além de “CODA”, foram distinguidos os produtores do filme de animação “Encanto”, da Walt Disney Pictures – que teve a participação do artista de iluminação luso-americano Afonso Salcedo – e do documentário “Summer of Soul”. Ambos são considerados favoritos para os Óscares.

No pequeno

Na ficção para televisão, as estatuetas foram atribuídas aos produtores de “Succession” para Melhor Drama (HBO), “Ted Lasso” para Melhor Comédia (Apple TV+) e “Mare of Easttown” para Melhor Minissérie (HBO).

Já “The Beatles: Get Back” venceu na categoria de não-ficção (Disney+), “Last Week Tonight with John Oliver” foi o melhor na categoria de variedades (HBO) e o filme documental “Tom Petty, Somewhere You Feel Free” venceu o prémio para Melhor Filme para televisão ou streaming.

A cerimónia atraiu alguns dos maiores nomes da indústria e os protagonistas dos títulos mais cotados este ano, como Will Smith, Jessica Chastain, Kristen Stewart, Lin-Manuel Miranda, Andrew Garfield, Jamie Dornan e Marlee Matlin.

O evento incluiu ainda um Prémio Carreira para George Lucas e Kathleen Kennedy, a atual presidente da Lucasfilm, apresentado pelo realizador Steven Spielberg.

“O meu desejo é que vocês sintam o impacto que ele teve na vossa vida, e nas vidas dos vossos filhos e netos”, disse Spielberg sobre o trabalho de George Lucas. “E sim, George, estamos na idade em que os bisnetos estão a ver ‘A Guerra das Estrelas’ pela primeira vez”.

A Associação de Produtores entregou também o Prémio Visionário a Issa Rae, o Prémio Stanley Kramer a Rita Moreno pela carreira e activismo, o Prémio Norman Lear a Greg Berlanti pelo seu trabalho em televisão, e o Prémio David O. Selznick a Mary Parent pelo seu trabalho no cinema.

22 Mar 2022

Parte 7. A mulher chinesa fatal segundo Feng Xiaogang

O Cinema é um formato belo e único. É simultaneamente um jogo e um transformador desse mesmo jogo. Nesta série, a autora e pensadora visual, Julie Oyang, apresenta 12 realizadores chineses, as suas obras e as suas invenções estéticas, que acabam por se revelar as invenções estéticas de antigos filósofos.

 

Em 1969, ao cair da noite, um homem entrou sorrateiramente numa fábrica de papel no sudoeste da China. Na fábrica estavam guardados livros proibidos, dispostos em montes, à espera de serem cortados em finas tiras de papel e depois serem reciclados. O homem que se esgueirou para dentro da fábrica queria deitar a mão a um livro em particular.

O Lótus Dourado – Jin Ping Mei em chinês – é considerado o quinto romance clássico, a seguir aos Quatro Grandes Romances Clássicos. A sua representação graficamente explícita da sexualidade fez com que o livro ganhasse um nível de notoriedade na China equivalente ao de Madame Bovary no Ocidente. Desde a sua publicação no séc. XVII, o livro foi banido, vendido, comprado e circulou livremente.

Aos cinéfilos estrangeiros pode ter escapado esta referência do filme de Feng Xiaogang Não Sou Madame Bovary, em parte porque o realizador não está a invocar a personagem titular de Gustave Flaubert, mas sim a mais inesquecível heroína da literatura chinesa, Pan Jinlian, do romance Lótus Dourado. O título do filme em chinês é Não Sou Pan Jinlian. Embora tanto Madame Bovary como Pan Jinlian tenham sido acusadas ao longo dos tempos de depravação moral, a natureza das suas personalidades é diferente.

Pan é literalmente uma femme fatale, com pés pequeninos e uma luxúria insaciável, treinada para cantar e tocar o tipo de música associada a artistas de reputação duvidosa. Se quisermos, uma Madame Bovary dura e expedita.

No seu filme, Feng retrata a protagonista Li Xuelian (Lótus de Neve), interpretada por Fan Bingbing, como uma mulher que tenta quebrar O Sistema. Assim sendo, o filme, à semelhança do romance Lótus Dourado, é uma história sobre o tecido social. Feng Xiaogang aborda a natureza da burocracia e a incansável luta de uma mulher contra a sociedade chinesa. Este factor faz o filme parecer político e pesado, mas a história desenrola-se como uma comédia, uma sátira mordaz ao Estado opressivo e à incompetência e indolência dos funcionários do Governo.

Feng Xiaogang escolheu dar tratamento singular às suas imagens. As cenas campestres são visualizadas através de uma forma circular, eliminando a periferia do ecrã, o que nos dá a sensação de estarmos a olhar para uma pintura chinesa ancestral, poética e deslumbrante. Quando ela chega a Pequim, a forma circular desaparece e o enquadramento passa a ser um quadrado perfeito, representando o mundo muito mais vasto onde ela se vai inserir.

Poderemos ser criticamente poéticos ou poeticamente críticos? Bem, desde os tempos ancestrais, a elite chinesa certamente terá encontrado uma forma de expressão útil e criativa para o definir.

Citação famosa de Feng Xiaogang para guardar na memória
🌸 Só os mais impulsivos podem pensar que sou um mestre. Não sou um mestre pura e simplesmente porque o nosso tempo não produz quaisquer mestres.
🌸 A não perder:
2006 O Banquete
2016 Não Sou Madame Bovary
2017 Juventude

{ Julie Oyang é uma autora de naturalidade chinesa, artista e argumentista. É ainda colunista multilingue e formadora em criatividade. As suas curtas metragens foram selecciondas para o Festival de Vídeo de Artistas Femininas e também para a Chinese Fans United Nations Budapest Culture Week. Actualmente, é professora convidada da Saint Joseph University, em Macau. Gosta especialmente de partilhar histórias inesperadas, contadas a partir de perspectivas particularmente distintas. Divide a sua vida entre Amsterdão, na Holanda, e Copenhaga, na Dinamarca.}

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18 Mar 2022

Parte 6. Ang Lee: A doçura do vinagre

O Cinema é um formato belo e único. É simultaneamente um jogo e um transformador desse mesmo jogo. Nesta série, a autora e pensadora visual, Julie Oyang, apresenta 12 realizadores chineses, as suas obras e as suas invenções estéticas, que acabam por se revelar as invenções estéticas de antigos filósofos.

 

Surgiu como um dos realizadores mais versáteis, populares e aplaudidos pela crítica. Reconhecido pela capacidade de transcender fronteiras culturais e estilísticas, Ang Lee (n. 1954) construiu uma obra diversa, que inclui filmes que falam de choques culturais e globalização Eat Drink Man Woman, 1994, The Wedding Banquet, 1993), o drama de época Sense and Sensibility, 1995, o épico de artes marciais Crouching Tiger, Hidden Dragon, (2000), o filme a partir da banda desenhada Hulk, 2003, o western Brokeback Mountain, 2005, e a aventura mágica em 3D The Life of Pi, 2012.

Lee vai beber tanto à tradição filosófica oriental, como à tradição filosófica ocidental, para abordar as suas temáticas. Neste artigo vamos focar-nos na forma como ele “negoceia” os pontos de vistas orientais no universo do cinema e como de forma criativa trata questões sensíveis em Brokeback Mountain.

O filme, realizado em 2005, é uma adaptação do romance de Annie Proulx sobre a relação intensa entre dois cowboys, que se conhecem enquanto pastoreiam gado numa montanha do Wyoming, em 1963. Tanto o filme como o romance realçam a natureza complexa da relação emocional e sexual entre eles ao longo de vinte anos, durante os quais lutam contra a desaprovação social e tentam manter viva a chama do primeiro encontro.

Contudo, o filme de Lee interliga o género western com a filosofia oriental, o que permite que os espectadores vejam a homossexualidade sobre uma nova perspectiva.

A representação tradicional do cowboy no Ocidente corresponde ao arquétipo heterossexual. Esta representação vai sem dúvida colidir com o conceito “queer” de género e sexualidade. Mas em vez de reproduzir o arquétipo ocidental ou o conceito “queer”, Brokeback Mountain transporta o western numa direcção diferente e inovadora.

Em formato cinematográfico, Lee ajuda-nos a compreender a simbiose entre o conceito primordial de amizade e o conceito de ren: o ser humano enquanto ser social e não como um objecto que consome e é consumido pela sexualidade. Quando a noção de género pré-determinado está ausente, não existe necessidade de um conceito “queer” para explicar a homossexualidade.

Para ilustrar a ancestral tolerância chinesa em relação às preferências sexuais, que não coloca um rótulo na homossexualidade, vamos examinar uma conhecida pintura chinesa, os Provadores de Vinagre.

A composição alegórica leva-nos a compreender como o Taoísmo difere das outras crenças. Os Provadores de Vinagre reproduz três homens em torno de um barril de vinagre. Cada um deles representa um dos três pilares da sabedoria chinesa – o Confucionismo, o Budismo e o Taoísmo – e o vinagre representa a “essência da vida”.

Um dos homens, Confúcio, reage como se tivesse provado algo azedo, o segundo, Buda, reage como se tivesse provado algo amargo e o último, Lao Zi, reage como se tivesse provado algo doce. O Confucionismo considera a vida azeda, necessitada de regras para corrigir a degeneração humana. O Budismo diz-nos que a vida é amarga, cheia de dor e sofrimento, causados por uma ligação excessiva aos bens e aos desejos materiais. O Taoísmo vê a doçura da vida porque a considera perfeita no seu estado natural.

Citações famosas de Ang Lee para reter na memória:

• De facto, o medo torna-nos genuínos.
• Gosto de pensar que não sou categorizável.
• Um filme é pura provocação. Não é uma mensagem, não é a afirmação de um ponto de vista.
• Cresci pacificamente, à maneira oriental. Resolvemos problemas facilmente e acreditamos na harmonia. Reduzimos os conflitos, obedecemos a ordens até ao dia em que somos nós a dá-las.
• A luta de identidade representou um papel importante na minha vida.

A NÃO PERDER: 1993 The Wedding Banquet, 1994 Eat Drink Man Woman, 1997 The Ice Storm, 2000 Crouching Tiger, Hidden Dragon, 2005 Brokeback Mountain, 2007 Lust, Caution, 2012 Life of Pi

 

Julie Oyang é uma autora de naturalidade chinesa, artista e argumentista. É ainda colunista multilingue e formadora em criatividade. As suas curtas metragens foram selecciondas para o Festival de Vídeo de Artistas Femininas e também para a Chinese Fans United Nations Budapest Culture Week. Actualmente, é professora convidada da Saint Joseph University, em Macau. Gosta especialmente de partilhar histórias inesperadas, contadas a partir de perspectivas particularmente distintas. Divide a sua vida entre Amsterdão, na Holanda, e Copenhaga, na Dinamarca.

10 Mar 2022

Cultura chinesa | Antropólogo de Macau dá cursos em Berlim

Cheong Kin Man, antropólogo natural de Macau a residir em Berlim vai ministrar, até Maio, cursos que versam sobre a cultura chinesa, nomeadamente sobre o cinema e os caracteres sino-asiáticos, incluindo Macau.

Segundo um comunicado, um dos cursos intitula-se “Cinema de Língua Chinesa – Perspectivas do Extremo-Oriente” e irá focar-se “nas várias problemáticas sobre a cultura como o humor em cantonês, as cores ou a lógica do storytelling no cinema em língua chinesa”. O cinema feito em Macau terá também um lugar de destaque.

Com o curso “Caracteres Chineses – Um Workshop sobre os Signos e os Significado”, Cheong Kin Man vai procurar “relacionar as semelhanças entre os ideogramas primitivos chineses com os sinais e símbolos modernos do design no contexto europeu”.

Estas acções formativas decorrem no âmbito da formação contínua promovida pela Universidade Popular de Reinickendorf.

Além de doutorado em Antropologia pela Universidade Livre de Berlim, Cheong Kin Man é também artista e tradutor, escrevendo vários artigos sobre diversos temas culturais em várias línguas. Este é licenciado em Estudos Portugueses pela Universidade de Macau e mestre em Antropologia Visual. Com apoio financeiro do Governo, o autor produziu o filme experimental “Uma Ficção Inútil”, além de realizar um trabalho de investigação nas áreas da Etimologia, media audiovisuais, descolonização e pós-colonialismo.

14 Fev 2022

Cinema | “Eu e o meu pai motorista”, de Niko Ho, seleccionado para apoio do IC

O Instituto Cultural (IC) escolheu o projecto cinematográfico “Eu e o meu pai motorista”, de Niko Ho, natural de Macau, para o prémio de melhor argumento. Niko Ho recebe agora 60 mil patacas no âmbito do “Programa avançado de argumentos cinematográficos”, uma iniciativa conjunta do IC com a Administração de Cinema da província de Guangdong e Create Hong Kong.

“Eu e o meu pai motorista” conta o dia-a-dia de uma família de três pessoas sustentada pela actividade comercial de uma frutaria depois de esta ter passado pelo tufão Hato. Este projecto de Niko Ho foi também seleccionado pela China Film Director’s Guild para integrar a lista de 20 melhores filmes do programa “Young Shoots”.

Outro projecto escolhido foi “Silent Few”, do realizador Li Jing, natural de Guangdong. Esta produção baseia-se numa história verídica e contém uma narrativa sobre o esforço e o contributo de um advogado especializado em assistência jurídica na promoção do estabelecimento do sistema jurídico em regiões de etnias minoritárias da China.

Estes dois projectos foram escolhidos de um total de seis candidatos, que receberam ainda um curso de formação nesta área, realizado entre os meses de Junho e Setembro do ano passado. De Macau concorreram quatro realizadores.

O objectivo do “programa avançado de argumentos cinematográficos” é “facultar orientações sobre argumentos, com o objectivo de fomentar o talento no âmbito da criação cinematográfica e de gerar um maior número de filmes criativos, a fim de estimular o desenvolvimento da indústria cinematográfica”. O júri foi composto pelo ex-director assistente da Create Hong Kong, Wellington Fung, pelo produtor experiente de Hong Kong, John Chong, e pela guionista do Interior da China, Yuan Yuan.

23 Jan 2022

Cinema espiritual: Red Cliff de John Woo

O Cinema é um formato belo e único. É simultaneamente um jogo e um transformador desse mesmo jogo. Nesta série, a autora e pensadora visual, Julie Oyang, apresenta 12 realizadores chineses, as suas obras e as suas invenções estéticas, que acabam por se revelar as invenções estéticas de antigos filósofos.

 

John Woo é um realizador imensamente prolífico, além de escritor e produtor. Realizou 37 filmes desde a sua estreia em 1968. Embora tenha nascido na China continental, Woo estava mais associado à indústria cinematográfica de Hong Kong quando ingressou em Hollywood. O mestre dos filmes de acção é também conhecido pela elaboração e pelo realismo que põe em cada cena. No entanto, a sua segunda carreira nos Estados Unidos frustrou-o e, já há muito tempo, decidiu voltar às películas de temática chinesa. O seu filme Red Cliff  ilustra uma batalha épica travada durante a guerra que teve lugar há 18 séculos.

Red Cliff não é um filme de Hong Kong estilisticamente promíscuo, embora – inevitavelmente – seja um filme de época que retrata um romance célebre. Red Cliff não parece ser suficientemente avassalador e caótico para nos fazer evocar a lama, o sangue e o terror de um cenário de combate. Enquanto escrevo estas palavras, sinto que, de alguma forma, há algo que me escapa. Esta saga com milhares de figurantes, que se concentra apenas em quatro personagens, não pretende alcançar o espectáculo da guerra nem um estilo artístico extravagante, à la Zhang Yimou.

A história baseia-se em acontecimentos reais. Cao Cao, o desagradável primeiro-ministro do Império Han (séc. III DC), tinha ambição de conquistar dois pequenos reinos. Nesse sentido, enviou uma armada através do rio Yangtze para atacar os governantes desses territórios, Liu Bei e Sun Quan, que desempenham papéis secundários no filme. A aliança crucial contra Cao Cao foi estabelecida entre os dois líderes estratégicos, Zhuge Liang e Zhou Yu. A quarta personagem principal é a bela Xiao Qiao, mulher de Zhou Yu. Cao Cao há muito que cobiçava Xiao, e por isso ela é a opção lógica para desviar as atenções do invasor, enquanto Zhuge e Zhou preparam o contra-ataque final.

Entretanto, vamos assistindo ao bramir das espadas em câmara lenta, à recitação de poesia, à caligrafia, à cerimónia do chá, e pombas que representam a paz celestial no meio da carnificina terrena. Assistimos ainda ao surgimento de uma intensa e espirituosa amizade masculina durante um dueto de cítara. Depois de terem chegado a um entendimento, os dois estrategas começam a planear as duas grandes linhas de acção do filme. Na primeira, usam “a formação tartaruga” para repelir e finalmente cercar os soldados de Cao Cao, em número superior. A segunda linha de acção envolve barcos, fogos e uma mudança oportuna da direcção dos ventos. Zhuge revela-se um metereologista com um conhecimento de primeira sobre o comportamento e a natureza dos ventos.

Considerado o filme chinês mais caro de sempre, Red Cliff impressiona pela amplitude, escala e precisão. Todo o aparato do filme lembra-me um jogo Go no mundo real.

O Go é mais simples que o xadrez e no entanto mais complexo. Mais simples porque todas as peças são iguais, embora existam peças brancas e peças pretas. Neste jogo as peças não se movem através do tabuleiro. Aqui, o Go, como um sistema bem equilibrado que tivesse uma falha, permite que um jogador mais forte (Cao Cao) jogue em pé de igualdade com um jogador mais fraco (Aliança Zhuge & Sun Quan) e que seja vencido.

Red Cliff é suficientemente grandioso para entreter, mas emocionalmente distante e pouco profundo para chegar a ser emocionante. A narrativa também parece estar mais focada na táctica militar do que na dinâmica do desenvolvimento das personagens, nas batalhas psicológicas ou na dimensão moral. Woo tenta ser um pioneiro do espiritualismo – mostrar o “coração” oriental ou o “coração” chinês, por assim dizer – o que pode acabar por ser uma forma entediante, mas bastante aventureira de fazer cinema.

  • A não perder: The Killer (1989), Face/Off (1997), Red Cliff: Parte 1 (2008), Red Cliff: Parte 2 (2009)
    Citações famosas de John Woo para reter
  • Posso usar o cinema como uma linguagem. Não só posso enviar uma mensagem positiva, como posso transmitir às pessoas o que penso, como vejo o mundo, como vejo a cor, como vejo a música, como vejo todas as coisas.
  • Os filmes que gosto de fazer são muito ricos e repletos de paixão. Algumas pessoas vêem-me como um realizador de filmes de acção, mas a acção não é o único elemento dos meus filmes. Gosto sempre de mostrar a natureza humana – qualquer coisa de profundo dentro do coração.
  • Também quero que as pessoas saibam que na verdade o futebol começou na China há cerca de 3.000 anos.
  • Penso que fui rotulado em Hollywood como realizador de filmes de acção, por isso só me davam argumentos desse género.
  • Os meus filmes têm sempre a ver com a família, a amizade, a honra e o patriotismo.

 

Julie Oyang é uma autora de naturalidade chinesa, artista e argumentista. É ainda colunista multilingue e formadora em criatividade. As suas curtas metragens foram selecciondas para o Festival de Vídeo de Artistas Femininas e também para a Chinese Fans United Nations Budapest Culture Week. Actualmente, é professora convidada da Saint Joseph University, em Macau. Gosta especialmente de partilhar histórias inesperadas, contadas a partir de perspectivas particularmente distintas. Divide a sua vida entre Amsterdão, na Holanda, e Copenhaga, na Dinamarca.

Writer | Artist | Namer of clouds
www.julieoyang.com | Instagram: _o_writes

21 Jan 2022

Cineasta Zhang Yimou dirige cerimónia de abertura de Pequim 2022

O cineasta chinês Zhang Yimou, premiado em diversos festivais internacionais, vai dirigir a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno Pequim2022, noticiou um portal sobre cultura do país.

Yimou, que já tinha sido responsável pela cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos Pequim2008, é autor de filmes aclamados como Esposas e concubinas e Herói, apresentando em várias obras coreografias espetaculares e trechos de bailado. Os Jogos Olímpicos de Inverno Pequim 2022 vão realizar-se entre 04 e 20 de fevereiro.

13 Jan 2022

Cinema | Propaganda do Estado Novo analisada em seminários

A Casa Garden é anfitriã de uma série de seminários que mostram como o Estado Novo usou o cinema para impor uma imagem de Portugal enquanto país pluricontinental e multirracial. “Azuis ultramarinos – Re-imaginar o império pela análise das projecções (anti-) coloniais no cinema” é o resultado de anos de pesquisa da académica Maria do Carmo Piçarra

Na próxima quarta-feira, a partir das 18h30, realiza-se a segunda parte de uma série de quatro seminários sobre o papel do cinema na propaganda usada pelo Estado Novo para transmitir uma imagem positiva do exercício do poder nas antigas colónias, incluindo no Oriente. Com o título “Azuis ultramarinos – Re-imaginar o império pela análise das projecções (anti-) coloniais no cinema”, e apresentação da académica Maria do Carmo Piçarra, os seminários estão divididos em quatro partes. A primeira decorreu ontem, e as próximas serão apresentadas na próxima quarta-feira, a partir das 18h30, e nos dias 1 e 9 de Dezembro à mesma hora.

Além da possibilidade de serem seguidos online, através do Zoom, os seminários serão transmitidos em directo na Casa Garden.

As quatro sessões resultam de anos de pesquisa da investigadora da Faculdade de Ciência Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

“Estes seminários são quase uma síntese de uma década e meia de pesquisas, em que andei por arquivos militares, da cinemateca, museu de etnologia, para perceber como o Estado Novo usou o cinema para veicular um determinado tipo de propaganda”, conta ao HM Maria do Carmo Piçarra. No grande ecrã era transmitida uma narrativa estatal, que o espectador recebia, pela via do entretenimento, e assumia como sua, sem se aperceber que o discurso lhe estava a ser incutido.

A produção audiovisual da máquina de propaganda do Estado Novo só começou a promover a realização de filmes no Oriente a partir de 1951, sobretudo documentários. “Em relação a Macau, o discurso era um bocadinho sobre o exotismo e as particularidades do território. Já sobre Goa, os filmes davam muito enfoque à questão dos templos e à suposta aceitação do regime português da diversidade religiosa”, conta a investigadora, que aponta também a intensificação da propaganda nos retratos de Timor-Leste.

A caminho de Oz

Em Macau, e nas restantes colónias a Oriente, Maria do Carmo Piçarra destaca na produção fílmica desta época dois grandes nomes: Ricardo Malheiro e Miguel Spiegel.

Em 1952, estreava “Macau, Cidade do Nome de Deus”. Na locução do filme documental, Fernando Pessa apresentava a cidade desta forma: “Na placidez das águas dos mares do sul da China, animadas pelo exotismo dos seus barcos e rodeadas pelo encanto das suas ilhas e costas verdejantes e coloridas, ergue-se uma velha e maravilhosa cidade portuguesa, rica de colorido e ineditismo, e diferente, muito diferente de todas as outras cidades portuguesas. Essa cidade é Macau, terra de colinas e outeiros, de jardins de sonho e frondoso arvoredo com um governo português que conta quatrocentos anos.”

Era desta forma complacente que se apresentava o território. “Joia do Oriente”, de Miguel Spiegel é outro exemplo do tipo de produção que fez durante o período de pré-guerra colonial.

Estes filmes mostravam as colónias portuguesas, também em África, “focando as especificidades de cada uma, mas também sempre com a ideia luso-tropicalista de que o colonialismo português era diferente, mais brando, de aceitação da diversidade cultural, racial e religiosa”, conta.

No entanto, a académica recorda que eram produzidos outro tipo de filmes, altamente controlados pelas autoridades.

“Por um lado, havia vontade de promover as ofertas turísticas de territórios como Macau, Angola, Moçambique ou Timor. Por outro lado, nunca se queria mostrar (em Macau isso é óbvio) os bairros onde viviam pessoas em situações de grande pobreza”, afirma Maria do Carmo Piçarra.

A académica encontrou nos arquivos de Macau referências expressas, por exemplo, a locais onde era proibido filmar, acrescentando que “havia sempre alguém do Centro de Informação e Turismo, destacado para acompanhar as equipas de rodagem quando iam fazer a repérage[escolha dos locais de rodagem] dos sítios em que se podia filmar”.

Estas produções privadas, muitas vezes estrangeiras (em particular de Hong Kong), eram escrutinadas até ao limite. As próprias histórias não podiam retratar aspectos negativos das colónias. Em Macau, tudo era controlado. Delegados do Centro de Informação e Turismo faziam relatórios detalhados sobre a produção, que iam parar às mãos do Governador, e que incluíam mesmo informação sobre os hotéis onde as equipas de produção ficavam instaladas.

Com organização do Centro de Investigação para Estudos Luso-Asiáticos, Fundação Oriente e Universidade de Macau, o ciclo de seminários será ministrado em português e a entrada é livre. De frisar que as próximas sessões deste seminário, ou seja, da segunda à quarta sessão, serão transmitidas exclusivamente online, via Zoom. As ligações para as sessões podem ser consultadas neste link.

18 Nov 2021

KINO | Festival começa amanhã e traz o clássico “Metropolis”, de Fritz Lang 

Pela sexta vez, o festival de cinema alemão chega a Macau fruto da parceria entre a associação CUT e o Instituto Goethe de Hong Kong. O KINO destaca o movimento expressionista do cinema alemão e traz ao território o clássico “Metropolis”, de Fritz Lang. As exibições têm lugar no Cinema Alegria e na Casa Garden

 

A associação CUT, que geriu anteriormente a Cinemateca Paixão, traz de volta a Macau o festival de cinema alemão KINO. A sexta edição arranca amanhã e apresenta cinco novos filmes além de clássicos do Expressionismo alemão, como “Metropolis”, de Fritz Lang. As exibições acontecem entre esta sexta-feira e domingo, e ainda entre os dias 12 a 14 de Novembro, no Cinema Alegria e na Casa Garden.

Os cinco novos filmes apresentados são a expressão de vários géneros cinematográficos e temas, como ficção científica, comédia, amor ou história. O cartaz inclui também quatro clássicos do Expressionismo alemão, onde, além de “Metropolis”, figuram “The Cabinet of Dr. Caligari”, “Nosferatu” e “The Golem: How He Came into the World”, títulos que acabaram por influenciar realizadores contemporâneos como David Lynch e Tim Burton. Estes clássicos alemães deixaram também a sua marca no clássico de Ridley Scott “Blade Runner”, por exemplo.

Os bilhetes estão à venda desde o dia 25 de Outubro e podem ser adquiridos online, tendo um custo de 70 patacas.
O cartaz começa esta sexta-feira, às 19h30, com a exibição de “Kiss me Before it Blows Up!”, um filme de 2020 de Gershon Klein. Este filme retrata uma história de amor que ultrapassa fronteiras e culturas, com a história de amor de duas mulheres israelitas que se apaixonam por uma mulher alemã e um homem da Palestina. Depressa as diferenças sócio-culturais entre famílias se tornam demasiado evidentes, gerando situações de tensão. No domingo é dia de exibir, também no Cinema Alegria, às 16h30, o filme “The Kangaroo Chronicles”. Ainda neste dia, o público poderá ver, às 19h30 na Casa Garden, o clássico “Nosferatu”, que inspirou muitos outros filme de terror. “Nosferatu” conta a história de um vampiro que vive luxuosamente no seu castelo e que procura o sangue de uma bela mulher, enquanto espera uma oportunidade para regressar ao mundo.

Já “The Cabinet of Dr. Caligari” é exibido no sábado, às 19h30, também na Casa Garden, retrata a vida de um homem sonâmbulo que hipnotizado comete uma série de crimes. Este filme é visto como uma metáfora do crescimento do Nazismo na Alemanha nos anos 30 e sobre os acontecimentos que antecederam a II Guerra Mundial – uma submissão quase irracional a uma nova autoridade fascista.

O KINO prossegue no fim-de-semana seguinte com a exibição, dia 12, de “The German Lesson”, que se baseia num dos mais famosos romances alemães da literatura do pós-II Guerra Mundial.

A história passa-se, portanto, no período pós-1945, quando Siggi Jepsen, um jovem detido, tem de escrever um ensaio, que só consegue ver a luz do dia quando o seu autor se encontra preso. Depressa vêm ao de cima as memórias do seu pai, polícia, que teve de banir uma pintura do artista expressionista Max Ludwig Nansen para responder aos desígnios nazis. Siggi, então com 11 anos de idade, depressa se vê envolvido num conflito que lhe traz as tristes memórias do passado. “The German Lesson” venceu dois prémios e recebeu três nomeações em festivais.

Metropolis no Alegria

O KINO volta a acontecer no sábado dia 13, na Casa Garden, com a exibição, às 15h, do filme “Berlin Alexanderplatz”, seguindo-se, no domingo, “Tides”, exibido no Cinema Alegria às 16h30. Este é um filme que explora a temática actual do abuso de recursos naturais e da necessidade de protecção do meio ambiente, decorrendo numa altura em que o planeta Terra é afectado por uma catástrofe global. É então que a colónia espacial Kepler resolve organizar uma missão para analisar em que condições se encontra o planeta, onde a vida humana se tornou impossível.

Também no dia 13, é exibido “Metropolis”, às 21h30, à volta do qual foi construída toda a imagem gráfica do KINO. Nesta obra-prima do cinema, Fritz Lang experimenta, pela primeira vez, efeitos especiais que mais tarde se tornariam comuns para muitos realizadores. “Metropolis” é um filme distópico e futurista que conta a história de um mundo que se divide em duas classes sociais: os que se divertem e bebem a toda a hora, e os restantes que trabalham até à morte. Em “Metropolis”, Fritz Lang imagina um mundo com robots sem pensamento próprio, que se limitam a cumprir as regras impostas por um regime. Mesmo aqueles que outrora se rebelavam contra o sistema.
Domingo, dia 14, é exibido, na Casa Garden e às 19h30, mais um clássico: “The Golem: How he came into the world”, filmado em Praga. Esta obra foi realizada por Karl Freund e traz novamente para o ecrã leituras sobre o período político da Alemanha à época, marcado pelo anti-semitismo e pelo nazismo.

Além da exibição dos filmes, o KINO apresenta também uma palestra, protagonizada por Derek Lam, onde os amantes do cinema poderão aprender mais sobre o movimento expressionista alemão. Esta palestra será transmitida online e está agendada para sábado, dia 19h, entre as 18h e as 19h.

3 Nov 2021

Les beaux yeux noirs

O Cinema é um formato belo e único. É simultaneamente um jogo e um transformador desse mesmo jogo. Nesta série, a autora e pensadora visual, Julie Oyang, apresenta 12 realizadores chineses, as suas obras e as suas invenções estéticas, que acabam por se revelar as invenções estéticas de antigos filósofos.

 

Parte 1 – Guia do estilo de Wong Kar-Wai: Tudo o que precisa de saber

Chamar a Wong Kar-Wai um revolucionário romântico será quase um eufemismo. O realizador natural de Hong Kong criou um universo que “trouxe conforto aos espectadores e desconforto às personagens principais.” A provocação cultural chinesa que se encontra em filmes como Chungking Express e In the Mood of Love, passando por várias produções Wuxia de artes marciais, transformou-se numa espécie de culto ao longo dos anos e emergiu como um ícone do cinema chinês contemporâneo para o grupo dos seus muito devotos seguidores internacionais. Wong é um modernista, ou na verdade pretende criar uma relação com a ancestral tradição visual chinesa, sob uma fachada enigmática e divertida? Venham daí.

Como identificar um filme de Wong Kar-Wai?
Espectro de Néons

Segundo Ridley Scott, Hong Kong inventou o néon. O clássico de Ridley Scott Blade Runner foi filmado em Hong Kong. Blade Runner realça a estética inebriante da cidade asiática, com a panorâmica das ruas icónicas da década de 80 num cenário retro-futurista. No entanto, este léxico cinematográfico torna-se inexoravelmente verdadeiro e intemporal pela mão de Wong Kar-Wai, que tenta constantemente reimaginá-lo em novos contextos: “Eu queria encontrar o meu próprio espectro de néons.”

O mundo de Wong, embora intensamente iluminado por lâmpadas fluorescentes e néons incandescentes, não deixa de estar repleto de estranhos recantos escuros e de vielas inquietantes. Em vez da visão distanciada de Scott, em Wong o objectivo é defender o conforto trazido pelo cheiro característico do gengibre e das especiarias, que se liberta da cozinha ruídosa e fumacenta do pequeno restaurante na esquina da ruela, abençoada pelo desconcertante, mas no entanto bem-vindo Caos.

O Voo do Falcão

Às vezes gostaria de lhe enviar um email para lhe perguntar se os filmes colocaram limitações na sua obra. Imagino que a sua resposta seria: “Não existem limites.” Sendo eu própria possuidora de uma mente experimental, tenho constantemente fome de novos meios de expressão. Penso que ele poderia ser um indie game designer de sucesso.

Um outro tipo de jogo, mas com a marca inconfundível de Wong Kar-Wai. Ignorando com frequência as idiossincrasias do género de artes marciais Wuxia, Wong usa uma imaginação inconformista e sem fronteiras, enraizada na herança cultural chinesa, e eleva o género Wuxia para um plano romanticamente surreal. Os títulos dos seus filmes fazem com frequência alusão a este processo. Ashes of Time (As Cinzas do Tempo), Chinese Odyssey (Odisseia Chinesa), The Grandmaster (O Grão-Mestre) são exemplos invulgares da máxima “o gosto faz o género, o género faz o gosto”. Podemos esperar que a sua obra seja sempre transformadora do jogo, quer seja cinema quer seja um jogo de vídeo.

Assimétrico

Famoso pela utilização da música, Wong introduz a banda sonora como mais uma voz narrativa, exuberante e simples, mas que por vezes preenche recantos emocionais inesperados. Nunca trilhando caminhos convencionais, Wong descarta qualquer necessidade de simetria – ou, na verdade, a forma padronizada de usar o cinema como uma expressão visual. O efeito assemelha-se bastante à bossa nova: a voz do cantor está em contraponto com a viola, o que – surpreendentemente – resulta num casamento perfeito.

A mulher

O filósofo taoísta Zhuang Zi, que viveu no séc.V A.C., contou uma história que ficou famosa sobre uma borboleta que lhe apareceu em sonhos. Quando acordou, o filósofo perguntou-se se a borboleta teria sonhado que era humana, ou se tinha sido ele a sonhar que era uma borboleta. O caracter chinês original para sonho mostra uma figura deitada numa cama com os olhos abertos como se estivesse a explorar o seu mundo interior. Zhuang Zi compreendeu que existia necessariamente uma diferença entre si próprio e a borboleta, e ao fazê-lo, o filósofo captou um dos mais importantes significados do sonho: a transformação. A transformação é uma alteração da consciência entre a realidade e a ilusão e aí reside a liberdade de escolha.

Nos filmes de Wong Kar-Wai, o filósofo é a borboleta no meio dos paradoxos da vida asiática. Uma mulher. Veste o último grito da moda parisiense e usa enormes óculos de sol. Está de pé, de frente para o mar, torcendo um lenço de seda entre os dedos delicados. A sua mente é uma tela em branco, parada e vazia contra um fundo de flores de néon e legendas. Uma tela que pode ser pintada com infinitas possibilidades, múltiplas e espontâneas. Ela não tem consciência de quebrar todas as formalidades que a auto-limitam, no entanto é precisamente o que faz.

Wong Kar-wai nasceu a 17 de Julho de 1958 em Xangai. Emigrou para a então colónia britânica de Hon Kong com a família, quando era criança. Começou a carreira como argumentista de soap operas antes de se ter estreado como realizador, como o policial dramático As Tears Go By (1988).

A não perder: Chungking Express (1994) Fallen Angels (1995) Happy Together (1997) In the Mood for Love (2000) 2046 (2004) The Grandmaster (2013)

Citações famosas de Wong Kar Wai para guardar na memória

  • O amor depende da ocasião. Não é bom conhecermos a pessoa certa demasiado cedo nem demasiado tarde.
  • Não vim de nenhuma escola de cinema., Aprendi nas salas, a ver filmes.
  • Os meus filmes nunca são sobre Hong Kong como ela é, ou qualquer coisa que se aproxime de um retrato realista, mas sim sobre o que eu penso de Hong Kong e sobre o que eu quero que seja.
  • O que faz com que o cinema seja tão atractivo, tão fascinante, é não ser um processo acumulativo. É uma química entre, palavras, ideias e imagens.
  • Todos nós já fomos infelizes no amor. Quando isso me acontece, vou correr. O corpo perde água quando corremos e desta forma não nos sobram lágrimas.
  • Penso sempre que filmar cenas de acção não depende dos duplos. Depende mais da expressividade e da imaginação.
29 Out 2021

Cinema | Festival de Cut que chega em Dezembro recebe obras locais

Programado para Dezembro, o Macao Films & Videos Panorama está a aceitar filmes produzidos em Macau até 25 de Setembro. Segundo a directora de operações da CUT, Rita Wong, são esperados mais de 50 trabalhos locais, dos quais será feita uma selecção a exibir juntamente com películas distinguidas em Hong Kong, Taiwan e da China

 

Desde que deixou os comandos da Cinemateca Paixão, é a primeira vez que a CUT organiza em nome próprio, o Macao Films & Videos Panorama. Apesar de ainda não ter datas fixas, o festival, que conta com o apoio do Instituto Cultural (IC) e está programado para o início de Dezembro, assume-se uma vez mais como plataforma de exibição de obras locais do sector cinematográfico.

“Acho que na última década, os produtores locais têm crescido e desenvolvido muito as suas apetências graças aos vários subsídios do Governo e ao trabalho independente que têm feito. Por isso, considero ser muito importante existir esta plataforma para exibir as suas obras”, começou por dizer Rita Wong ao HM.

Para a directora de operações da CUT, apesar da visível evolução dos últimos anos, “ainda existe a necessidade de criar esta plataforma destinada aos produtores locais e ao seu trabalho”, até porque é uma fórmula que permite aos filmes de Macau “atravessar fronteiras” e ser vistos por realizadores e produtores profissionais de outras geografias.

O período para submeter trabalhos começou na segunda-feira e estende-se até 25 de Setembro, sendo esperada a recepção de “mais de 50 filmes” realizados em Macau. A amostra servirá de base para criar uma selecção de filmes locais a exibir na secção “Local Indies Force” do festival. Para Rita Wong, os filmes de estudantes e recém-licenciados são os mais aguardadas e que criam maior expectativa.

“Estou muito expectante relativamente às obras que vão chegar, porque sempre que temos este tipo de iniciativa acabamos por ser surpreendidos, especialmente por parte de estudantes e recém-licenciados locais ou que estão a frequentar cursos no estrangeiro. Têm sempre surpresas guardadas para nós porque, além das iniciativas do IC, desenvolvem habitualmente outros trabalhos a título pessoal. Por isso estamos à espera de grandes surpresas”, partilhou Rita Wong.

A selecção dos filmes que irão compor a lista final da secção local ficará a cargo de Joyce Yang, curadora veterana de Hong Kong que trabalha há largos anos com a CUT.

“Convidámos a Joyce Yang para que ela possa ver como é que os produtores e realizadores de Macau estão a trabalhar actualmente e dê conselhos sobre o produto das obras locais”.

As obras locais concorrem ainda ao “Grande Prémio do Júri”, que irá atribuir ao filme seleccionado um montante de 10.000 patacas. O melhor filme local será escolhido por um painel de júris composto por realizadores de Hong Kong, Taiwan e China,

Do bom e do melhor

Para além da secção “Local Indies Force”, o Macao Films & Videos Panorama inclui ainda sessões exclusivamente dedicadas às obras produzidas e recomendadas pelas universidades do território. O objectivo, segundo Rita Wong, passa por auscultar novas tendências e promover o intercâmbio entre alunos e realizadores locais.

“Vamos convidar as universidades a recomendar os melhores trabalhos audiovisuais produzidos ao longo do ano para serem exibidos no festival. Criámos esta secção porque queremos saber o que aí vem. Estas sessões vão ser gratuitas e, através delas, pretendemos criar algumas dinâmicas de intercâmbio entre alunos e realizadores”, explicou.

Outra secção será dedicada à exibição de filmes que fizeram parte do cartaz de festivais de cinema do Interior da China , Taiwan e Hong Kong e que contam igualmente com a curadoria de Joyce Yang. Apesar de não ter adiantado que títulos irão ser exibidos em Macau, Rita Wong assegura que o que aí vem é “muito bom”.

“Estou ansiosa por ver os filmes de Taiwan, Hong Kong e da China que serão seleccionados para o nosso festival. São todos filmes muito bons e devem ser vistos em Macau e servir de modelo. Já os vi e são trabalhos muito bons”, rematou.

1 Set 2021

Cinemateca | Novidades a caminho após “ano difícil”

Ao fim de um primeiro ano “difícil”, a nova gestora da Cinemateca Paixão faz um balanço positivo dos resultados alcançados e considera ter sido capaz de se “reconectar com os cineastas locais” e exibir obras apreciadas pelo público. Na calha, revelou Jenny Ip ao HM, está um Festival de Cinema dedicado às artes marciais chinesas, japonesas e westerns e ainda uma mostra de cinema em português. Sobre o orçamento, a responsável considera ser “suficiente”

 

 

Continuar a aprender para fazer melhor. É desta forma que a responsável pela gestão da Cinemateca Paixão, Jenny Ip, olha em retrospectiva para o primeiro ano de operações da Companhia de Produção de Entretenimento e Cultura In Limitada. Para a responsável, apesar de haver ainda “muito trabalho para fazer”, há motivos para sorrir após o início conturbado que marcou a passagem do testemunho que sobrou da Cut Limitada.

Isto, quando foi possível restabelecer a relação com a comunidade cineasta local, que se mostrou desde logo céptica em relação à nova gestão, e o feedback positivo que tem chegado sobre a programação apresentada.

“Foi um ano difícil mas, olhando em retrospectiva, estamos mais confiantes em relação aos nossos pontos fortes”, começou por dizer Jenny Ip. “O feedback que temos recebido sobre a programação tem sido bom. As pessoas adoram a programação e o facto de ser diversificada. Lançámos o programa “Cinema Asiático Hoje” onde exibimos obras de todo o sudoeste asiático”, acrecentou.

Sobre a relação com os produtores locais, Jenny Ip apontou que o facto de, no decorrer do último ano, a Cinemateca Paixão ter sido capaz de envolver o sector nos eventos e actividades realizadas foi determinante para reatar o contacto e iniciar um caminho “positivo”. Cineastas como Tracy Choi, Emily Chan e Harriet Wong Teng Teng são algumas das figuras do sector que têm colaborado com a Cinemateca Paixão nos últimos meses.

“Ainda há muito trabalho para fazer, mas considero que conseguimos reconectar-nos com os cineastas locais. É um trabalho em curso que está a seguir um caminho positivo. Sempre que convidamos os cineastas locais eles mostram-se disponíveis e ficam contentes por falar connosco. Acho que reconhecem o esforço que estamos a fazer para que a Cinemateca seja cada vez mais frequentada por residentes de Macau e reconhecida além-fronteiras”, explicou.

Outro exemplo do esforço da criação de laços com a comunidade local, apontou Jenny Ip é o “Festival de Cinema da Juventude de Macau”, mostra em curso até ao dia 16 de Julho que, além da exibição de obras locais como “Ina and the Blue Tiger Sauna” (2019) ou “Our Seventeen” (2017) permite ao público assistir a curtas-metragens produzidas por estudantes, onde se incluem trabalhos de alunos da Universidade de Macau (UM), Universidade de São José (USJ), Instituto Politécnico de Macau (IPM) e Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST). A ideia é para repetir no próximo ano.

“O objectivo deste festival passa por preencher a lacuna de permitir que os novos talentos locais na área do cinema tenham uma boa oportunidade de expor o seu trabalho (…), pois não é comum que estes filmes sejam vistos por muitas pessoas, pois, normalmente, acabam por ser exibidos apenas nas suas próprias universidades”, referiu.

Questionada sobre se, um ano depois, há motivos para dar razão aos críticos que consideraram que o orçamento de 15 milhões de patacas para três anos seria insuficiente para manter a qualidade dos conteúdos exibidos na Cinemateca Paixão, Jenny Ip respondeu assim: “O orçamento é suficiente para não comprometer a qualidade da programação”.

Punhos, espadas e Cowboys

Jenny Ip revelou ainda que a partir de 31 de Julho e até 18 de Setembro será realizado em conjunto com o Instituto Cultural (IC) o festival “A Sombra da Katana•Pistolas•Espadas – Festival de cinema de Artes Marciais, Samurais e Westerns”.

Segundo a responsável, durante a mostra serão exibidos mais de 25 filmes, entre clássicos e obras mais recentes dentro dos três géneros. A abertura do festival ficará a cargo obra dos anos 70 “A Touch of Zen” realizada por King Hu.

“Fizemos questão de abrir o festival com um filme dedicado às artes marciais chinesas e um western para o encerramento, estilos que se inspiraram mutuamente. Queremos quebrar alguns preconceitos que existem em torno deste tipo de filmes comerciais (…) e que têm qualidades artísticas que não devem tapadas por preconceitos”, partilhou.

Até ao final do ano, desvendou ainda Jenny Ip, haverá ainda uma programação dedicada ao cinema em língua portuguesa.

“Em conjunto com o IC, haverá uma programação dedicada ao cinema em português, mas neste momento temos de esperar pela confirmação do IC para anunciar”, rematou.

9 Jul 2021