Carlos Morais José Editorial VozesA maioridade [dropcap]H[/dropcap]oje fazemos 18 anos. Pelos padrões actuais, se fossemos uma pessoa, atingíamos a maturidade. Mas não somos uma pessoa, somos um jornal. E as coisas são diferentes para as pessoas e para os jornais. Por exemplo, os jornais são como os cavalos: mal nascem, é suposto saberem andar e pelo seu pé. Já os humanos precisam de um ano e tal para se conseguirem firmar nas pernas. Os jornais nunca conhecem um estado de graça infantil, em que as pessoas se riem dos disparates e estimulam as piadas. Não. Os jornais são criticados pelo que fazem (“porque fazem mal”) e pelo que não fazem (“porque não fazem”). E não há saída para isto. Os jornais, quando aparecem, já vêm pintalgados de cãs e vergados pela gravitas da responsabilidade de ser público e a consciência de nunca agradar a gregos e ainda menos a troianos. Resta-nos, então, a “verdade”, essa bóia de salvação dos jornalistas… ou será que… ? Por exemplo: “Estudantes, de idades compreendidas entre os 13 e os 15 anos, foram agredidos pela polícia em Hong Kong, à porta de um estabelecimento de ensino” ou “Polícia impede estudantes, de idades compreendidas entre os 13 e 15 anos, de invadirem estabelecimento de ensino a que não pertenciam”. Ora ambas as frases são verdadeiras mas, relatando o mesmo facto, adoptam perspectivas diferentes. Percebem? A verdade não se exprime de forma fácil porque ela é de tal modo complexa e subordinada às nossas estruturas expressivas que de verdadeiro tem, em geral, muito pouco. Quase tudo fica de fora. O nosso trabalho é de minúcia, de leitura de pistas subtis, que nos permitam levantar um pouco mais o véu, iluminar outro canto, outro pedaço de realidade e da História que ajudamos a escrever. A nossa maioridade enquanto jornalistas é conseguir ler, interpretar e transmitir algum sentido no caos geral da informação. Ou seja, por outras palavras, não pretender “dizer a verdade” mas lançar de tal modo luz (informação credível e confirmada, tendo em conta o contexto histórico-político e económico-social, bem como o enquadramento cultural) sobre um assunto, uma questão, um problema, que permita ao leitor formar uma opinião abalizada. Um jornal deve preocupar-se mais em informar do que em enformar, em criar cidadãos e não seguidores. E é por isso que a comunicação social é fundamental em democracia. No melhor dos mundos seria assim. Mas como não é o dr. Pangloss — esse eterno optimista voltairiano que sempre viveu “no melhor dos mundos” — que chefia este jornal, sabemos muito bem que tal erigimos apenas como horizonte e que todos os dias é nessa via que tentamos caminhar. Tão só e apenas. Sem pretender que esgotamos a realidade com as nossas notícias ou que a sabemos ler com a perspectiva final e absoluta. Não somos, com certeza, heróis nem cruzados. E ainda menos temos certezas definitivas sobre este ou aquele assunto. Esta descrença faz parte da nossa cartilha, sobretudo quando é aplicada a nós mesmos. * O regresso da racionalidade — com o fim da II Guerra Mundial e a constatação de Auschwitz, e o ocaso do combate ideológico com a queda do Muro de Berlim — permitiria sonhar com uma civilização planetária amadurecida, cansada das guerras e desconfiada das ideologias, baseada numa economia de mercado alicerçada em paradigmas ético-ecológicos. Nos EUA alcançara-se a democracia eleitoral plena em 1968, com a inclusão dos afro-americanos nos cadernos eleitorais de todos os estados da União. A África do Sul eliminou o apartheid em…1993! Apesar da proximidade temporal, racismo, machismo, fanatismo religioso, pareciam ser já coisas do passado, tão fora do âmbito da política contemporânea como a peste negra da medicina actual. Mas nada disso. A maturidade não só não foi alcançada como deparamos com uma espantosa e inesperada regressão de valores e a emergência de personagens como Trump e Bolsonaro, que representam a persistência do pior da Humanidade. A História não terminou, como pretendia Francis Fukyama porque a democracia de tipo ocidental se encontrou refém do neo-liberalismo, cuja falta de ética e erosão de valores construiu uma sociedade unicamente baseada no lucro e sem rédeas para controlar os detentores do capital, nomeadamente a banca e outros serviços financeiros. O neo-liberalismo roeu por dentro o Ocidente e instigou a criação, uma vez mais, de movimentos de índole fascista, cujo objectivo é provar a impossibilidade da democracia e a emergência do caos, de modo a surgirem como os garantes de uma futura ordem. Ao apresentar a TINA (there is no alternative) como um dado de facto, o neo-liberalismo mais não fez que criar grupos de desesperados, descamisados, sem horizonte de esperança, ou seja, o terreno ideal para o recrutamento de extremistas. Enquanto que a social-democracia assentava numa sociedade solidária e inclusiva, o neo-liberalismo, sem produzir grande teoria, cria as condições para o aparecimento de uma sociedade profundamente injusta e corrupta, um enorme fosso social e, pior que tudo, uma sensação de impotência e falta de esperança face ao imparável desenrolar dos acontecimentos, expurgados pela excessiva rapidez da informação (e proliferação de falsas notícias) nas redes sociais. É o caso do actual movimento de “camisas pretas” em Hong Kong que, sob a fachada de palavras de ordem pela democracia, impedem qualquer tipo de progresso na instauração de uma ordem democrática na cidade e apelam simplesmente à destruição e ao caos. O que começou ali na região vizinha como um movimento popular legítimo de recusa da lei da extradição para a China, plenamente justificado pela História e pelo presente, descambou em acções violentas, claramente manipuladas pelos Steve Bannon deste mundo, que na realidade pretendem impedir o estabelecimento de qualquer evolução democrática em Hong Kong. As más condições de vida na ex-colónia britânica foram precisamente criadas por essa tendência neo-liberal, com profundas raízes colonialistas, a quem não importa absolutamente nada que milhões não tenham uma habitação condigna e passem várias horas do dia em transportes para chegar a um emprego cujo salário não é suficiente para fazer face ao custo de vida que os mesmos amos impõem. Causa por isso indignação deparar com bandeiras americanas e do Reino Unido nas manifestações de Hong Kong. É como se os negros nos EUA lutassem pelo regresso da escravatura. E como deve ser aborrecido para os jovens de Hong Kong verem que os seus vizinhos de Shenzhen têm muito maior poder de compra e vivem em casas dignas desse nome e não em cubículos infestados de pessoas e de ratos, ou seja que, apesar da falta de liberdades fundamentais de que eles em Hong Kong usufruem, muita gente da classe média no continente tem uma qualidade de vida muito melhor que os seus congéneres da ex-colónia britânica! Mas é mesmo assim. Nas últimas décadas, a China e o seu primeiro sistema tirou da pobreza centenas de milhões de pessoas, enquanto que o segundo sistema de Hong Kong se afundava em crise atrás de crise. Das quais, aliás, nunca teriam saído sem o auxílio financeiro de Pequim. Não quero dizer com isto que perfilhamos um regime com tiques do primeiro sistema, mas que rejeitamos com certeza um segundo sistema baseado na concorrência selvagem e sem regras que permitam uma normal ascensão social, incluindo uma discriminação positiva para os que não nascem em berço de ouro e de colher de prata na boca. Como se sabe desde o século XIX, o mercado é autofágico e precisa de regras para não se devorar a si próprio e, no processo, destruir milhões de vidas nas sociedades onde se encontra implantado. As últimas crises, provocadas pelos magos das finanças, foram superadas através da injecção de capital estatal, incluindo nos EUA, o que representa uma gigantesca contradição para os neo-liberais que pretendem o mais possível um Estado não interventivo. Menos quando isso lhes convém ou tina. * A maioridade é um problema. Implica responsabilidade e a capacidade de fazer promessas, de criar expectativas nos outros e cumprir essas mesmas expectativas. Não é fácil porque ser humano não é fácil. Nascemos em sociedades já formadas que não escolhemos. E se, por um lado, essas sociedades nos dão aquilo de que necessitamos para nos transformarmos em pessoas; por outro, muitas vezes nos colocam em situações desesperadas, cujos contornos nem sempre são óbvios de discernir. Também é para isso que aqui estamos faz hoje 18 anos. Para informar a população de Macau, usufruindo da liberdade de expressão que a Lei Básica nos garante e que até hoje não foi violada. Infelizmente, em grande parte por causa dos acontecimentos de Hong Kong, a RAEM pouco evoluiu em termos de democracia eleitoral. No entanto, temos de reconhecer que o Governo procura ouvir a população, embora normalmente decida a favor dos interesses instalados. Felizmente para nós, Macau tem a capacidade financeira para proporcionar uma vida digna às pessoas. E só não o faz melhor porque tem estado submetida a uma oligarquia que pensa primeiro nos seus interesses e só depois nos modos de manter a harmonia social. A RAEM não atingiu com certeza a sua maturidade. Pelo contrário, revela algum infantilismo quando consideramos projectos como o metro ligeiro (um comboio de brincar à volta de uma ilha, servindo primordialmente os casinos), o hospital da Taipa (que não cresce nem aparece) ou o preço da habitação (que serve os especuladores do imobiliário). Mas da maioridade também faz parte a aquisição de alguma paciência e a compreensão das situações concretas nas quais nos encontramos. A situação não é clara. Esperemos pois para ver o que o futuro nos reserva. O Hoje Macau pretende acompanhar-vos nessa caminhada. Com rigor jornalístico, determinação social e também alguma loucura sem a qual a maioridade se torna cinzenta e chata. Não matemos a criança que, até ao dia da nossa morte, sempre habita em nós. É ela que torna tudo isto suportável, ainda que para isso precise muitas vezes de brincar às escondidas. E, nesse espaço de profunda intimidade, erigir sempre como valor supremo a liberdade.
Andreia Sofia Silva VozesLevantar a lebre [dropcap]A[/dropcap] apresentação do troço do metro ligeiro deixou a população de Macau quase satisfeita, não fossem os enormes atrasos e as derrapagens. Terminada a festa, restam inúmeras dúvidas sobre o seguimento do projecto, apesar de o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, sempre ter garantido uma execução faseada do projecto, numa dose pragmática de optimismo. Mas eis senão quando, o jornal Ou Mun publica uma notícia que vem desvendar um fantasma antigo, relacionado com a suposta falta de capacidade da ponte Sai Van para suportar o troço do metro ligeiro. Depois do Governo ter garantido que existe capacidade para aguentar a passagem das carruagens, vem agora o arquitecto responsável pela obra dizer que não. A população pára, então, para pensar: confiamos no Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes, que já nos causou derrapagens orçamentais e inúmeros atrasos na obra, ou no arquitecto que fez a ponte? Há aqui uma lebre qualquer que se quer levantar, como se diz em bom português. Convém recordar que a notícia saiu no jornal Ou Mun, o diário de língua chinesa mais lido e influente do território, e o que está mais próximo das autoridades que nos governam. Resta-nos esperar por desenvolvimentos em novos capítulos de uma novela que promete não ter fim.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesA urgência da paz [dropcap]N[/dropcap]o dia 30 de Agosto, seis líderes religiosos de Hong Kong pediram publicamente aos beligerantes que fizessem um período de tréguas de dois meses. A pausa destinar-se-ia à reflexão e à procura de consensos. Este grupo de religiosos era composto pelo Presidente da Associação Budista de Hong Kong, pelo Grande Mestre da Associação Budista de Hong Kong, por John Tong Hon, Cardeal da Diocese Católica de Hong Kong, por Tang Enjia, Deão do Instituto Confúcio, por Sa Zhisheng, Presidente da Sociedade Muçulmana Chinesa, por Su Chengyi, Presidente da Associação Cristã de Hong Kong, e por Dao Dehua, líder da Assoiação Taoísta. Estes homens, como todos os habitantes de Hong Kong, foram testemunhas de uma série de episódios violentos desencadeados pela revisão da Lei de Extradição. Estes distúrbios causaram sérios transtornos em todos os sectores da comunidade. O pedido de tréguas, endereçado ao Governo e aos manifestantes, prevê, para já, um período de dois meses de “paz”, tendo em vista o bem-estar da sociedade de Hong Kong, no seu todo. Este período também deverá destinar-se à reflexão e à procura de consensos. Todos aqueles que consideram Hong Kong como o seu lar deverão dar ouvidos a este apelo. Na verdade, a proposta é altamente exequível. Na situação que Hong Kong atravessa actualmente, se não se encontrarem soluções compatíveis com os interesses dos principais sectores da sociedade, a violência só terá tendência para escalar. A manutenção da violência vai continuar a desgastar Hong Kong a cada dia que passa. A declaração de um período de tréguas seria extremamente benéfica para a cidade. A reflexão proposta pelos religiosos, e a procura de consensos, também parece ser uma boa sugestão. A avaliar pelos últimos acontecimentos, se todos os fins de semana se registarem situações violentas, Hong Kong acabará por ser destruída. A continuidade da violência vai esgotar as forças da ordem. É difícil calcular o número de pessoas envolvidas nos desacatos, mas a força policial de Hong Kong conta apenas com 30.000 efectivos. Pensar que com este número de agentes se pode acabar com a violência é irrealista. É imperativo que as pessoas compreendam que a violência não é a solução para as divergências. Nenhum Governo pode ceder a este tipo de pressão, porque se cede uma vez terá de ceder muito mais vezes, e a violência não parará de aumentar. É um trunfo que não se pode dar a multidões enraivecidas. Se através do terror se puder impôr reivindicações de natureza política o terror não terá fim. O apelo dos religiosos é simples e fácil de compreender. É totalmente bem intencionado. No entanto, poderá ser um pouco irrealista. Pedir a pessoas enfurecidas que parem de lutar, é talvez um pouco ilusório. Além disso, esta multidão revoltosa não fala a uma única voz. Não defendem todos a mesma estratégia. Mesmo que alguns aceitem as tréguas a maioria não o fará e, infelizmente, este ambicionado período de pacificação não passará de mais um slogan politico, muito difícil de levar à prática. Nunca ouvi dizer que a destruição de uma família torne o seu futuro melhor, mas parece que actualmente há muita gente em Hong Kong que defende esta ideia perversa. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz e macau Professor Associado do Instituto Plitécnico de Macau Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk
João Luz VozesEixo do mal [dropcap]O[/dropcap] início das aulas em Hong Kong foi marcado por mais um protesto em massa, para prosseguir a agenda de Washington. Também pessoal médico de muitos dos hospitais da região vizinha voltou a protestar, juntando-se a outras organizações terroristas como mães, donos de animais, entidades religiosas, associações de deficientes, por aí fora, nessa salganhada de belzebus. Tendo em conta a manifestação com maior adesão (mais de 2 milhões de pessoas), e duvidando que todos os descontentes com o Governo de Lam tenham saído à rua no mesmo dia, é razão para dizer que as forças estrangeiras têm total domínio sobre, pelo menos, metade da população de Hong Kong. O eixo CIA, Steve Bannon e ISIS está a vencer, avançando a agenda da independência em segredo, numa táctica confusa em que parecem lutar em silêncio por algo que nunca foi dito, excepto na Xinhua (que, se calhar, também está metida nisto). Apesar deste eixo ser aparentemente antagónico, não é de fiar na perfídia destas forças externas que há décadas andam a mexer cordelinhos para orquestrar a instabilidade na harmonia celestial. Bannon nunca foi de extrema-direita, nem nunca mandou abaixo os serviços de inteligência e o FBI. Tudo uma jogada de espelhos e fumo, barulho das luzes para ludibriar a opinião pública de Hong Kong. Às tantas o Trump é mesmo um génio disfarçado de idiota, de forma a meter o bedelho na política da China. Completamente maquiavélico. Democracia acaba em CIA. #AgoraPensa
João Luz VozesNo meio dos impérios [dropcap]C[/dropcap]oração GT acelera prego a fundo, ardente de desejo de colisão. Mira apontada ao ponto que separa os dois eixos que dominam o mundo, bisturi que separa os dois monstros siameses. Velocidade que galga estrada rumo à inevitável vitória contra as forças do Mal e do Passado. A velha dicotomia relativista de escolha necessária do mal menor tem os dias contados, o mundo a branco e preto onde se escolhe um dos impérios, arrastando princípios e decência para a sarjeta, não consegue conter a erupção do vulcão multicolor. Vivemos ensanduichados entre impérios. O mero desdém por autocracia e absolutismo não é suficiente neste novo mundo ultra-político e, como tal, monocromático. Hitler ou Estaline, cancro no pâncreas ou tumor cerebral? Se crítico um deve ser porque concordo com o outro. É assim que se justificam massacres, simplesmente entoando “então e não sei o quê?”, desviando a atenção do essencial com o whataboutism de que falam os anglófonos. Não tenho nem quero escolher entre os Estados Unidos e a China. Apontar os crimes e atentados aos direitos humanos de um, não iliba as atrocidades do outro. Que raio de lógica é esta?! É a lógica de caixa de comentário de rede social, o mecanismo primário de defesa do status quo, a relativização apologética dos fanáticos que revitalizaram idiotas como os terraplanistas e os movimentos anti-conhecimento. Prefiro a fome a ver-me forçado à escolha entre uma sandes de merda e uma tosta de bosta. Permitam-me um sonho violento de visões tensas de pré-apocalipse. Quem vive sem solo debaixo dos pés, sem contratos, sem tecto fixo, sem projectos de longo prazo, sem confiança no poder, não tem de escolher o menor de dois males. Esse conformismo está reservado para a comodidade de quem não quer chatices. O novo século trouxe-nos a primeira geração que é mais pobre que os seus pais em muito tempo, depois do século do grande crescimento económico e tecnológico. Uma geração perdida que vive a angústia da aniquilação do planeta, que arde com as florestas tropicais e derrete com os glaciares. Esta inquietude é gasolina, é cisão do átomo, é ansiedade que não permite concessões a escolhas predeterminadas, nem meias verdades impostas que mancham a liberdade. O desespero é a exterminadora espada cuja lâmina anseia as carótidas dos dois dragões imperiais. Só sei que venceremos, não no sentido militar, não precisamos disso. A nossa “energia” simplesmente prevalecerá face aos monólitos do passado, o poder cinético da força dos tempos impele-nos, o “agora” está do nosso lado, nós somos o zeitgeist, o espírito dos tempos, a fruta madura da época. Cavalgamos juntos esse deslumbrante tsunami que vai destruir os edifícios bolorentos do relativismo burguês. (obrigado pela boleia, Hunter. Vou voltar ao volante). Atentem nesta geração que nasceu com a repulsa iconográfica à rebeldia mercantilizada do punk vendido pela H&M, à arte de rua abençoada pelo Estado, às golas altas das gerações que se esqueceram de como lutar contra os vampiros. Eles continuam a comer tudo, ainda com maior voracidade. A vossa revolução deu-nos o neoliberalismo e a prostração mansa que abriu portas ao renascimento do fascismo. As nossas paixões são destrutivas, temos a morte a dissolver debaixo da língua para mais rápida absorção. Sonhamos com novo terror jacobino, a purificação pelo fogo, a queda dos impérios. Todos! Não temos facínoras favoritos, nem atribuímos valor de mercado a sangue derramado. Preferimos pessoas que vendem no mercado a mercados que vendem pessoas. Mas nada disto é novo. Todos os sistemas calcinados precisam, de tempos a tempos, de um pontapé nos tomates, um murro certeiro no fígado inchado por vintages desferido por mãos gretadas por aguardente rasca para se lembrarem que estamos aqui e que não vamos a lado nenhum. Este texto não tem qualquer relação com o que se passa em Hong Kong, e está muito além dos protestos na região vizinha. Zoom out!
Andreia Sofia Silva VozesAlguém se lembra? [dropcap]A[/dropcap]s eleições legislativas para a Assembleia da República (AR) em Portugal sempre tiveram pouca adesão por parte dos portadores de passaporte português que residem em Macau. Os motivos são vários e já foram espelhados em vários artigos jornalísticos deste e de outros jornais. Mas não deixa de ser curioso o facto de, em tempos, o CDS-PP ter sido um partido com expressão em Macau, tendo inclusivamente estado ligado ao estabelecimento da associação de cariz político ADIM (Associação para a Defesa dos Interesses de Macau), fundada por um grupo de macaenses, onde se inclui Carlos D’Assumpção, e que chegou a eleger um deputado à Assembleia Legislativa. Com o passar dos anos, a ADIM desapareceu e o CDS-PP parece ter perdido alguma expressão política no território a favor do PSD, ao ponto de só este ano voltar em força com a candidata local Joana Alves Cardoso. Há uns tempos, em entrevista, Ribeiro e Castro, ex-líder do partido, falava da importância que a ADIM tinha tido para o partido. Hoje, o CDS-PP nem sequer tem uma secção do partido em Macau, ao contrário do PS e do PSD. Trata-se de falta de estratégia do CDS-PP, ou a comunidade macaense, e também portuguesa, resolveu olhar para outras facções políticas? Joana Alves Cardoso disse que os resultados nas legislativas para a AR podem ditar, ou não, o estabelecimento de uma secção do partido no território. Veremos se haverá mais um capítulo nesta história.
Hoje Macau VozesProtestos em Hong Kong | A perspectiva de Pequim, no jornal Diário do Povo [dropcap]N[/dropcap]os últimos dois meses, actos violentos de manifestantes radicais em Hong Kong aumentaram, causando cada vez mais danos sociais. A polícia de Hong Kong afirmou que quase 900 pessoas foram presas até agora e pretendem fazer cumprir a lei rigorosamente para levar os criminosos à justiça. O Comité Central do Partido Comunista da China (PCC) apoia firmemente o governo da Região Administrativa Especial (RAE) de Hong Kong e a força policial na luta contra a violência de acordo com a lei, salvaguardando resolutamente a soberania nacional, a segurança, os interesses de desenvolvimento e a prosperidade e estabilidade de Hong Kong, e nunca permitirá o rapto violento do futuro de Hong Kong. É inegável que a sociedade de Hong Kong tem várias exigências, mas o maior anseio da população é alcançar a estabilidade e a paz. Algumas pessoas afirmam que “esta tempestade violenta alcançou proporções maiores do que o surto de epidemia SARS em Hong Kong (no ano de 2003)”, porque uma vez que a reputação da cidade foi danificada, será muito difícil de recuperá-la; algumas pessoas ponderam que se a violência e o caos continuarem, resultará na decadência de todos os aspectos da vida em Hong Kong e no desemprego. Qualquer forma de amenizar a violência é uma indulgência da violência. Algumas contradições profundas em Hong Kong precisam ser resolvidas por todos os sectores da comunidade, mas a violência nunca será uma “opção razoável”. Se as pessoas com diferentes opiniões políticas e apelos justificam o uso da violência para obter “justiça”, então a sociedade de Hong Kong nunca será pacífica? Qualquer compromisso baseado na violência só encorajará mais violência. Decididamente dizer “não” à violência é a linha de fundo de uma sociedade governada pela lei e o consenso de uma sociedade civilizada. Hoje em dia, as tentativas de violência radicais e oposição são bem conhecidas. Descobriu-se que a sua “regra anti-revisão” original era apenas uma desculpa. Quando o governo da RAE parou de alterar seus regulamentos, eles gritaram palavras de ordem extremas como “Recuperação de Hong Kong, Revolução dos Tempos” e desafiou seriamente a soberania nacional. O objectivo do aumento da violência é paralisar o governo da RAE e a força policial, mergulhar Hong Kong na anarquia e competir com as autoridades centrais para a governança de Hong Kong. Tendo visto isto claramente, será que podemos afastar-nos desta ameaça política irracional, radical e infundada? Poderá haver algum compromisso junto a este ato ilegal, que desafie seriamente o princípio “um país, dois sistemas”? A resposta é absolutamente negativa. Se alguém se julgar esperto a ponto de pensar que o agravamento da violência obrigará o governo central a abdicar do princípio, está imensamente enganado. Se houver agitação para além do controle do governo da RAE de Hong Kong, o Comité Central do PCCh jamais ficará de braços cruzados. De acordo com as disposições da lei fundamental, o Comité Central dispõe de medidas e de forças poderosas suficientes para reprimir rapidamente todas as perturbações possíveis. O futuro de Hong Kong reside na prevenção de motins. Prestamos homenagem à força policial de Hong Kong e às forças patrióticas que defendem o Estado de Direito. Vocês estão defendendo o alicerce da prosperidade e estabilidade de Hong Kong, protegendo a posição de Hong Kong como um centro financeiro, comercial e marítimo internacional, e salvaguardando os interesses comuns da sociedade de Hong Kong e dos investidores estrangeiros. Devemos alertar todas as forças “caóticas anti-China” que não julguem erroneamente a situação, nem tratem a contenção como fraqueza, ou subestimem a vontade e determinação do governo central e do povo de todo o país para salvaguardar a soberania nacional, a segurança e a unidade e manter a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong. in Diário do Povo
Hoje Macau VozesProtestos em Hong Kong | A perspectiva de Pequim, no jornal Diário do Povo [dropcap]N[/dropcap]os últimos dois meses, actos violentos de manifestantes radicais em Hong Kong aumentaram, causando cada vez mais danos sociais. A polícia de Hong Kong afirmou que quase 900 pessoas foram presas até agora e pretendem fazer cumprir a lei rigorosamente para levar os criminosos à justiça. O Comité Central do Partido Comunista da China (PCC) apoia firmemente o governo da Região Administrativa Especial (RAE) de Hong Kong e a força policial na luta contra a violência de acordo com a lei, salvaguardando resolutamente a soberania nacional, a segurança, os interesses de desenvolvimento e a prosperidade e estabilidade de Hong Kong, e nunca permitirá o rapto violento do futuro de Hong Kong. É inegável que a sociedade de Hong Kong tem várias exigências, mas o maior anseio da população é alcançar a estabilidade e a paz. Algumas pessoas afirmam que “esta tempestade violenta alcançou proporções maiores do que o surto de epidemia SARS em Hong Kong (no ano de 2003)”, porque uma vez que a reputação da cidade foi danificada, será muito difícil de recuperá-la; algumas pessoas ponderam que se a violência e o caos continuarem, resultará na decadência de todos os aspectos da vida em Hong Kong e no desemprego. Qualquer forma de amenizar a violência é uma indulgência da violência. Algumas contradições profundas em Hong Kong precisam ser resolvidas por todos os sectores da comunidade, mas a violência nunca será uma “opção razoável”. Se as pessoas com diferentes opiniões políticas e apelos justificam o uso da violência para obter “justiça”, então a sociedade de Hong Kong nunca será pacífica? Qualquer compromisso baseado na violência só encorajará mais violência. Decididamente dizer “não” à violência é a linha de fundo de uma sociedade governada pela lei e o consenso de uma sociedade civilizada. Hoje em dia, as tentativas de violência radicais e oposição são bem conhecidas. Descobriu-se que a sua “regra anti-revisão” original era apenas uma desculpa. Quando o governo da RAE parou de alterar seus regulamentos, eles gritaram palavras de ordem extremas como “Recuperação de Hong Kong, Revolução dos Tempos” e desafiou seriamente a soberania nacional. O objectivo do aumento da violência é paralisar o governo da RAE e a força policial, mergulhar Hong Kong na anarquia e competir com as autoridades centrais para a governança de Hong Kong. Tendo visto isto claramente, será que podemos afastar-nos desta ameaça política irracional, radical e infundada? Poderá haver algum compromisso junto a este ato ilegal, que desafie seriamente o princípio “um país, dois sistemas”? A resposta é absolutamente negativa. Se alguém se julgar esperto a ponto de pensar que o agravamento da violência obrigará o governo central a abdicar do princípio, está imensamente enganado. Se houver agitação para além do controle do governo da RAE de Hong Kong, o Comité Central do PCCh jamais ficará de braços cruzados. De acordo com as disposições da lei fundamental, o Comité Central dispõe de medidas e de forças poderosas suficientes para reprimir rapidamente todas as perturbações possíveis. O futuro de Hong Kong reside na prevenção de motins. Prestamos homenagem à força policial de Hong Kong e às forças patrióticas que defendem o Estado de Direito. Vocês estão defendendo o alicerce da prosperidade e estabilidade de Hong Kong, protegendo a posição de Hong Kong como um centro financeiro, comercial e marítimo internacional, e salvaguardando os interesses comuns da sociedade de Hong Kong e dos investidores estrangeiros. Devemos alertar todas as forças “caóticas anti-China” que não julguem erroneamente a situação, nem tratem a contenção como fraqueza, ou subestimem a vontade e determinação do governo central e do povo de todo o país para salvaguardar a soberania nacional, a segurança e a unidade e manter a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong. in Diário do Povo
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesVer e aprender [dropcap]A[/dropcap]ntes do mais, quero felicitar Ho Iat Seng por ter ganho a eleição para o 5.º mandato de Chefe do Executivo da RAEM, ao obter 392 votos dos membros da Comissão Eleitoral para o Chefe do Executivo. Em segundo lugar, quero manifestar a minha satisfação por lhe ter sido dada a oportunidade de tirar ensinamentos, a partir da experiência de terceiros, antes de tomar posse. É difícil liderar um país, mas também é difícil liderar uma região. Embora Macau seja uma pequena cidade, com uma população reduzida e uma economia estável, não quer dizer que não tenha problemas. Sempre que exista um grupo de pessoas, vão existir opiniões e exigências diferentes. A prioridade para qualquer líder é conhecer a fundo as principais linhas de força da sociedade, de forma a ir ao encontro da vontade da maioria sem deixar de estabelecer pontes de entendimento com as opiniões das minorias. É evidente que isto é mais fácil de dizer do que de fazer. Mas, felizmente, os dois antecessores de Ho Iat Seng, Edmund Ho e Chui Sai On, mostraram-lhe o caminho para pôr este princípio em prática. Simultaneamente, a actuação de Carrie Lam durante os últimos acontecimentos de Hong Kong, também lhe poderá servir de exemplo. Nunca duvidei do desempenho administrativo de Carrie Lam, mas desempenho administrativo e capacidade de governar são duas coisas distintas. Um bom líder não tem de fazer tudo sozinho, tem sim de escolher as pessoas certas e as soluções adequadas, solucionar os problemas no local e no tempo certos e, desta forma, tudo decorrerá tranquilamente. Um par de mãos não pode abarcar o universo, mas, com amor, pode conquistar o mundo. Até agora, não existe qualquer sinal de instabilidade social em Macau. Mas, tendo em conta a curva ascendente de violência e caos a que assistimos em Hong Kong, devemos pensar que prevenir é melhor do que remediar, e que é preferível abordar os problemas antes que eles fiquem fora de controle. Ou seja, os líderes devem aperceber-se dos sinais desencadeadores das crises em vez de serem auto-centrados e opinativos. Os polícias são funcionários públicos que defendem as vidas e a propriedade da população. Exercem o poder que lhes foi conferido dentro dos limites da lei. Devem fazer com que toda a gente respeite as forças da ordem, independentemente da sua raça, opiniões políticas, género, ou de qualquer outra variante. Levar a polícia a lidar com problemas de ordem política só pode gerar tensões e, inclusivamente, confrontos com a população. É da responsabilidade do Governo, e não da polícia, dar resposta às reclamações do público. Tendo em mente o que foi dito, é importante que se impeça os outros países de colocarem Macau na lista dos locais turísticos não recomendáveis. É imperativo criar uma plataforma de díalogo entre o Governo e a população. Neste aspecto, Ho Iat Seng tem efectivamente muito que aprender. Como líder, não se pode dar ao luxo de chegar a conclusões após ter ouvido apenas uma versão dos acontecimentos. Tem de procurar oportunidades, ou mesmo de criá-las, para dialogar com pessoas oriundas dos diversos espectros sociais. Além disso, deve visitar os bairros de Macau e falar com os seus residentes. Precisa ainda de fazer um esforço para comunicar directamente com as pessoas, pelo menos, algumas vezes ao longo do ano, sem grandes preocupações de fazer desses momentos assunto para a comunicação social. Além de cumprir as suas funções administrativas, o Chefe do Executivo de Macau necessita de estabelecer contacto directo com as gerações mais jovens, já que elas terão um papel preponderante na estruturação do futuro. A diferença de idade não é o principal factor que determina os abismos geracionais, mas sim a diferença de mentalidade e de atitude. O Chefe do Executivo tem de querer comprometer-se com os jovens e tomar iniciativas para conhecer os círculos em que se movem, sejam eles a rua, a escola, os recintos desportivos ou as salas de concertos, em vez de realizar reuniões à porta fechada com meia dúzia de associações juvenis, ou promover algumas sessões oficiais de diálogo com jovens. Se optar por este caminho de abertura poderá conhecer as necessidades dos jovens, evitando problemas que possam vir a alastrar à cidade. Se um dia as pessoas puderem encontrar-se com o Chefe do Executivo nas ruas, ou os jovens puderem conviver com ele e falar da sua realidade, significa que ele estará em sintonia com o seu próprio discurso de apresentação de candidatura e com o seu programa politico, que tem por temas «Sinergias e Avanço, Mudanças e Inovação», «Consolidação do Sucesso, Continuidade da Conjuntura Harmoniosa» e ainda “criar um novo tipo de habitação para pessoas com rendimentos considerados medianos”. Um dia, se Carrie Lam puder descer a Queensway, na companhia de jovens vestidos de negro e de jovens vestidos de branco, como uma mãe faz com os seus filhos, acredito que Hong Kong, distinguida com o epíteto de Pérola do Oriente, voltará a cintilar.
João Luz VozesQuem vê caras [dropcap]P[/dropcap]rosseguindo a contradição das políticas de segurança de Macau, que apregoam harmonia e estabilidade enquanto apertam o cerco securitário, as câmaras com tecnologia que permite reconhecimento facial estão prestes a tornar-se uma realidade. Enquanto o fantasma do alargamento do sistema de crédito social paira como uma alma penada por cima das nossas cabeças, em prol da integração e cuspindo no segundo sistema, a prioridade de enfraquecer de direitos, liberdades e garantias ganha cada vez mais terreno à vontade de resolver os reais problemas da cidade. Nesta história toda, o que me diverte mais é a postura do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP), esse carimbo do Governo que jamais verá qualquer problema, a não ser que estejamos a falar de spam de cabeleireiros e serviços de unhas de gel. O GPDP é o equivalente a um bully medroso que, por temer crianças da sua idade, vai aterrorizar meninos da 1ª classe. Quando estão em causa privacidade e direitos individuais, a passividade é absoluta e reveladora da falta de independência de um organismo que deveria ser fiscalizador. É por isso que o sistema de checks and balances funciona. Enfim, também não me parece que em Macau os residentes tenham qualquer problema em abdicar, e entregar de mão beijada, direitos fundamentais à paranoia securitária do Amor. Depois de contar os caracteres desta coluna, olhei para cima e li Protecção de Dados Pessoais e dei uma gargalhada.
Andreia Sofia Silva VozesQuase psicopatas [dropcap]S[/dropcap]omos todos seres humanos e atentos ao mundo que nos rodeia, até ao dia em que nos esquecemos disso mesmo. E, por norma, esse esquecimento ocorre com frequência nas redes sociais, onde nos atacamos quase sem dar por isso. Há uns tempos, um leitor enfurecido decidiu escrever na página oficial do Hoje Macau, no Facebook, que nós merecíamos levar com uma bomba, uma publicação feita na caixa de comentários de uma notícia sobre ataques na zona da Faixa de Gaza. Bastante elucidativo. Agora, são os protestos em Hong Kong que geram uma onda de revolta individual e quase colectiva contra os manifestantes. Há dias, um leitor escrevia que os tiros dados pela polícia não deveriam ter sido feitos para o ar, mas directamente para quem estava a protestar. Tipo arma de fogo, morriam logo vários de seguida. Aposto que se trata de um bom residente, cumpridor das regras sociais e defensor da harmonia de Macau. Só não lhe dêem uma arma para as mãos. Somos todos bonzinhos e respeitadores, até termos acesso a uma rede social. Aí, destilamos ódio, somos uns quase psicopatas sem nos apercebermos. Seríamos incapazes de matar, mas nas redes sociais, não faz mal nenhum ameaçar. Serve para descomprimir das agruras da vida…
João Luz VozesNotícias fofas [dropcap]O[/dropcap]ntem, por volta das 19h, um gatinho persa foi a coisinha mais fofa que já se viu. Segundo fontes conhecedoras da matéria ouvidas pelo HM, a amorosa bola de pêlo espreguiçou-se e emitiu um miado que derreteu 94 por cento corações na zona da Ilha Verde, infectando de ternura incontrolável toda a zona oeste da península de Macau. As autoridades foram chamadas ao local e, em declarações aos órgãos de comunicação social, o comandante da PSP deixou no ar a questão: “Quem tem o focinho mais querido do mundo?! Quem tem? Quem?” Alarmado pela quantidade de emojis com corações e gatinhos que inundaram as redes sociais, o Gabinete de Ligação do Governo Central alertou para a possibilidade de interferência externa num focinho que dá vontade de comer de tão fofo que é. Por outro lado, o gabinete do secretário para a Segurança advertiu para os níveis perigosos de ternura deste tipo de patinhas que teriam de ser barradas no Terminal Marítimo do Porto Exterior devido a fortes indícios de perturbação da segurança interna de Macau. Um deputado ligado aos Operários interpelou o Executivo questionando se o felino-não-residente iria roupar o protagonismo e as festas na barriga aos talentos de quatro patas locais e pediu uma quota limite de emojis com gatos estrangeiros. Numa toada mais preventiva, um legislador representante da comunidade de Jiangmen sublinhou que é imperativo reforçar o amor à pátria. Além disso, o legislador mostrou-se preocupado com as fezes e a urina produzidas pelo gatinho, pediu o reforço das caixas de areia públicas e subsídios para a compra de Whiskas e novelos de lã.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesTodos no mesmo barco (II) [dropcap]C[/dropcap]omo vimos na semana passada, criou-se um movimento na internet apelando aos cidadãos de Hong Kong que retirassem o dinheiro dos Bancos, para pressionar as instituições, diminuir a confiança que as pessoas nelas depositam, afectando directamente o estatuto de Hong Kong como centro financeiro e, muito provavelmente, prejudicando também outros locais. Além das consequências que se podem constatar directamente, este tipo de comportamento destrói completamente as conquistas consagradas na canção “Under the Lion Rock” que os hongkongers tanto trabalharam para alcançar. Estes comportamentos e a filosofia de “arrasar tudo e morrer unidos”, destruirá completamente o espírito nuclear e os ideais da Hong Kong do passado. Este movimento advoga um ideário divisionista e a divisão empurrará a cidade para um abismo sem retorno. Se assim for, Hong Kong deixará de ter qualquer futuro. Vai ser impossível preservar a imagem do território, mesmo que seja apenas para manter o status quo. Tudo isto trará danos irreparáveis a Hong Kong. Xu Guanjie, o deus da música de Hong Kong compôs a canção “Together in the same boat” nos anos 90. A intenção do poema era incentivar as pessoas a não emigrarem e permanecerem na cidade. A letra tem muitos pontos de contacto com a de “Under the Lion Rock”: “Sigo contigo neste barco, por ondas impiedosas fustigado, No horizonte, só vento e chuva nunca vistos, tudo se afigura caótico. Não sei o que nos espera. Mas decidimos continuar a navegar e tornar o nosso barco inquebrável, Luta para enfrentar as dificuldades e os desafios, Assim o barco nunca se afundará.” Aqueles que querem recorrer à violência para destruir Hong Kong, ou que incentivam as pessoas a tirar as suas poupanças dos Bancos, para criar o pânico financeiro, deveriam compreender que, enquanto viverem em Hong Kong, precisam de unir esforços para melhorar a cidade, essa é a sua obrigação. Qualquer forma de destruição só fará as coisas irem de mal a pior. Estas acções não irão ter qualquer tipo de reconhecimento. Só quando todos se puderem inter-ajudar e se mantiver acesa a chama e o espírito de Under the Lion Rock, Hong Kong poderá vir a ter um futuro grandioso. Na situação actual, é impossível solucionar os problemas com uma panaceia. Dado que toda a gente reconhece que esta é uma situação impossível, que caminho seguir? Em resposta, continuo a citar a letra da canção de Xu Guanjie, “Together in the same boat”: “Sigamos confiantes e reforcemos as fundações. Se cada um fizer a sua parte, abriremos caminho através da escuridão. ” “O espelho quebrado amanhã estará intacto e tudo irá melhorar. Com esperança, comecemos de novo, Conservemos para sempre o nosso barco aquecido. ” Desde que os hongkongers estejam confiantes, vão sempre esforçar-se por conseguir o melhor e trabalharão com afinco para criarem segundas oportunidades brilhantes. Juntos, sob o espírito de “Under the Lion Rock” – encorajamento, ajuda e entusiasmo mútuos, a população de Hong Kong vai fazer prevalecer a sua opinião. Os problemas que não puderem ser resolvidos hoje, se-lo-ão amanhã. Se cada facção se agarrar ao seu ponto de vista, excluindo o compromisso, puser de lado a cooperação, ou partir simplesmente para a destruição, o futuro de Hong Kong vai descrever-se apenas numa única palavra – “escuridão”. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado do Instituto Politécnico de Macau Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk
Andreia Sofia Silva VozesContradições da Novo Macau [dropcap]S[/dropcap]ão muitas as vozes que dizem que as sociedades de Macau e de Hong Kong são bastante diferentes. E este domingo foi mais uma prova viva de que em Macau está tudo calmo, tranquilo. De um lado, vota-se no único candidato a Chefe do Executivo, fazem-se os rituais do costume, promessas. Do outro, o território arde, manda-se gás pimenta para cima de multidões, ouvem-se gritos de revolta. Ao lado, os jovens vão para a rua, organizam-se, criam objectivos de luta. Em Macau, a única associação que poderia dar apoio aos protestos cala-se, alegando falta de meios e de recursos humanos. Então o deputado Sulu Sou, que dá a cara por quase todas as causas, não dá a voz aos líderes pro-democracia do território vizinho? Não há um dia da semana ou três horas para emitir um comunicado, ou realizar uma conferência de imprensa? Há também a questão do referendo. Em 2014, houve detenções. Desta vez, ninguém foi preso, o que mostra que é pouco provável que o director do Gabinete de Protecção de Dados Pessoais chegue a secretário. Mas depois, eis que o referendo termina antes do tempo, não se divulgam resultados no dia da eleição de Ho Iat Seng, alegadamente por motivos técnicos. Jason Chao diz que está tudo a funcionar e mostra-se “chocado” com a decisão. Em que ficamos, Novo Macau? Sulu Sou, que foi e continua a ser o mártir da injustiça no hemiciclo e feroz defensor da democracia, continua calado e pouco activo face ao que acontece em Hong Kong? São contradições que não se percebem.
João Luz VozesO futuro [dropcap]H[/dropcap]oje é um novo dia. Como a naturalidade do crepúsculo e da noite que antecede o nascer do sol, a sucessão de poder aconteceu. O candidato abençoado pelos deuses desceu à terra para se apresentar à cidade. Ho Iat Seng ficou a conhecer mercados, Porto Interior, Iao Hon, a Areia Preta, as instituições de apoio social e os eternamente esquecidos pela política e ficou a ter uma ideia de como se vive em Macau. Outro avanço substancial desde que desceu do trono da Assembleia Legislativa foi ter aprendido a sorrir. Agora um pouco mais a sério e sem fazer juízos precipitados, porque não houve, nem é necessário, qualquer compromisso político com os governados, espero, do fundo do coração, que o próximo Executivo governe com justiça, transparência, integridade, profissionalismo e que dê prioridade ao gritante fosso económico entre milionários e desfavorecidos. Compreendo o distanciamento provocado por um sistema político sem qualquer contrato social entre Governo e governados, mas com um dos maiores PIB per capita do mundo, é vergonhoso que em Macau as mesmas estradas sejam partilhadas por Lamborghinis e catadores de papelão vergados pelo peso dos carros que empurram. Durante a campanha, o novo Chefe do Executivo prometeu dar ao território a tão almejada Lei Sindical, fazendo a preocupante ressalva para a existência de legislação semelhante no resto da China. Bem… no Norte não há propriamente sindicatos, o poder económico e político, qual monstro siamês, não permite espaço à reivindicação laboral. O trabalhador é unidade de produção sem voto, literalmente, na matéria que é a sua vida. Que o digam os bravos que tombam na batalha operária mesmo aqui ao lado em Shenzhen. Outro dos temas preferidos durante o período de metamorfose, antes da saída do casulo, foi a habitação para a classe média. A ideia é boa, apesar de limitada pela escassez natural de terrenos. Em termos habitacionais, grande parte da zona A dos novos aterros está destinada à habitação social e económica e, a manter-se a procura deste segmento da população, pode haver excedente para a classe média. Esta ideia assenta na projecção optimista de bons e estáveis ventos económicos, numa altura em que a instabilidade é a brisa dominante. Mas é preciso esperar para ver. Uma ideia que pareceu dominante durante a campanha, e mesmo no dia da coroação, foi a ausência de real compromisso com medidas concretas. Em demasiadas áreas fundamentais da governação nada de substancial foi dito, circunstâncias em que não havia uma opinião formada (como o caso da licença de maternidade) e que noutra realidade política seriam violentamente escrutinadas. Mas essa não é a realidade de Macau. Aqui só há um requisito para se ascender ao topo da pirâmide política e não é um programa político não é esse requisito. Além disso, a quantidade de gafes e o desfasamento com a realidade que Ho Iat Seng demonstrou teria constituído uma montanha de motivos para desqualificação imediata. Confessar nunca ter ido a um mercado, não conhecer o Iao Hon, achar natural que uma mulher não tenha tantas oportunidades profissionais por ter de cuidar dos filhos, tratar da casa, revela não só distanciamento face a uma parte substancial dos residentes, como à época que vivemos… há bastante tempo. Assumir esta dissonância com a realidade da cidade que vai governar (porque a cidade não é composta de sociedades anónimas cotadas em bolsa, por estranho que pareça) é de uma candura e inocência assinaláveis. Deu, a tempos, a ideia de que simplesmente não sabia que lá em baixo viviam pessoas. Uma coisa é certa. Vai haver muito amor, ainda para mais face ao que se passa ali ao lado em Hong Kong. A lavagem nacionalista vai sobrepor-se ainda mais à educação e ao ensino, porque a docilidade canina da população é bem mais importante que a partilha do conhecimento que não conhece cor ideológica. A sabedoria e a instrução não cabem nesta Nárnia académica onde o El Dourado é o “Talento”. Além disso, o conhecimento liberta e a sapiência é uma amante que o Amor não permite. Mas estas são contas para um rosário futuro. O mais importante é que Macau ande para a frente, que encare com sabedoria, coragem e discernimento os desafios que se avizinham. Espero que o “segundo sistema” seja muito mais do que um mantra vazio e que sejam salvaguardados os direitos fundamentais que fazem de Macau uma jurisdição com condições excepcionais. Confesso não ter muita fé neste ponto. Espero também que o sorriso de Ho Iat Seng não se extinga a partir de hoje e que nos dê a todos razões para também sorrir.
Sofia Margarida Mota VozesAté já camaradas [dropcap]H[/dropcap]oje é o meu último dia ao serviço do Hoje Macau. Despedidas nunca me agradaram, muito menos de um lugar que cedo se transformou em “casa”. Ninguém se despede de uma casa. O Hoje Macau deu-me uma “família” e desde logo me ensinou a tentar entender o mundo, este daqui, que me era tão estranho à chegada. Em três anos vivi aqui uma vida inteira e ganhei asas. Esta “Vida de cão” não é uma despedida, é sim um grande obrigada. Em modo aleatório, obrigada à dupla Paulo e Rómulo por tornarem a paginação num quotidiano delirante, ao José por ser um “mano velho” e doce desde o primeiro dia. Obrigada João por teres sido uma surpresa que agora me enche o coração. E a ti, outro João, que do outro lado do computador consegues sempre dar o mimo parvo e essencial para continuar. Andreia e esse humor entre extremos, por se ter tornado tão familiar é agora um aconchego. Obrigada Madalena pelo contacto com a realidade macaense e Richard por não falhares com nada. Juana por essa alegria saltitante e Vitor que nos deixaste há pouco e contigo foi uma bondade que se guarda. Obrigada Diana, que ainda é como se cá estivesses, sem nunca esqueceres de dar uma mãozinha. Filipa, sempre pela sociedade, Flora e Thomas por me terem acolhido. Obrigada Eloy, por seres prévio, durante e póstumo a esta experiência. Vincent por nunca te esqueceres de nós quando regressas dos teus barcos do dragão. Obrigada Carlos, por tudo e mais umas coisas. Até já camaradas e um grande bem hajam.
João Romão VozesTóquio Lab [dropcap]É[/dropcap] a maior área metropolitana do mundo, com os seus 38 milhões de pessoas em intenso, acelerado e permanente movimento. Quase metade (48 por cento) desta gigantesca população desloca-se diariamente em transportes ferroviários, comboios e metropolitanos que compõem uma complexa e intrincada rede e substituem com amplas vantagens os modos de transporte rodoviários: apenas 12 por cento das deslocações se fazem em automóvel e mesmo os autocarros só são usados por 3 por cento da população. Numa cidade que parece sempre ultra-congestionada, acaba por haver espaço público suficiente (ou quase) para deslocações em bicicleta (14 por cento) e a pé (23 por cento). Em todo o caso, é a hegemonia da mobilidade ferroviária que marca a singularidade do sistema de transportes desta metrópole, onde se concentram 26 das 50 estações de comboios mais utilizadas no mundo, incluindo as três primeiras deste ranking (Shinjuku, Shibuya e Ikebukuro). Não é isento de problemas, em todo o caso, este padrão de mobilidade urbana: são internacionalmente famosas as imagens de hora de ponta no metropolitano de Tóquio em que se vêem diligentes e eficazes funcionários das estações a empurrar passageiros para dentro das carruagens, uma densa amálgama de gente assustadoramente comprimida na sua deslocação para o trabalho. Não deixa também de ser curiosa esta intensa proximidade e contacto físico – ultrapassando largamente a capacidade oficial das carruagens – num país onde as normas de segurança são levadas ao máximo extremo nas mais variadas actividades quotidianas e os contactos físicos entre pessoas são culturalmente reduzidos ao mínimo – ou a zero – nas relações sociais. Na realidade, mesmo fora das horas de máxima utilização, é frequente as carruagens e estações funcionarem a 200 por cento ou 250 por cento da sua capacidade – chegando mesmo aos 400 por cento em momentos de maior intensidade. A um ano dos Jogos Olímpicos que Tóquio vai acolher em 2020, é intensa e gigantesca a renovação em curso nas estações ferroviárias da cidade – sendo que, na maior parte dos casos, uma estação não é apenas um lugar onde se entra e sai de um transporte público: é um complexo de centros comerciais, com dezenas ou centenas de lojas acumuladas em torres de sofisticada arquitectura e avançadas engenharias que previnem os impactos dos regulares terramotos que caracterizam uma região situada na confluência de três placas tectónicas (Eurásia, Filipinas e Pacífico). Estas gigantescas infraestruturas – cuja utilização requer cuidada e permanente atenção às dezenas de entradas, saídas e acessos a diferentes ruas ou edifícios circundantes – estão hoje em renovação profunda: novas linhas e plataformas, novos painéis informativos (mais digitais e multi-linguísticos) e também novas lojas, novos restaurantes, novos centros comerciais, novos edifícios de escritórios em novas ou renovadas torres de várias partes da cidade. É sobretudo disto que se fazem os grandes eventos globais, culturais ou desportivos, nas metrópoles contemporâneas: uma mobilização massiva e coordenada de recursos para renovar as cidades, transformando-as temporariamente num diversificado e multissectorial centro de negócios, um catalisador de investimentos através das chamadas parcerias público-privadas que vão alimentando o crescimento económico e também a especulação imobiliária e financeira. Neste momento, o impacto deste súbito aumento da oferta de serviços diversos é facilmente visível para quem visita Tóquio e pode, por exemplo, encontrar magníficos novos restaurante com belas vistas panorâmicas, atencioso serviço e deliciosa comida por um preço relativamente modesto, tendo em conta os padrões locais. Outra coisa será o que se vai passar durante os Jogos, nesse Verão muito quente que se avizinha em 2020, em plena época alta das temperaturas e da humidade relativa. A imprensa vai publicando opiniões de especialistas ou resultados de estudos diversos sobre os impactos previstos das Olimpíadas e há relevantes pontos comuns a várias publicações de que vou tendo conhecimento: a rede de transportes – que já opera na maior parte do tempo muito acima da capacidade recomendada – não será suficiente para acolher os movimentos quotidianos dos residentes, os fluxos dos turistas habituais e ainda os dos visitantes dos Jogos, em particular no acesso aos principais eventos; esse super-congestionamento dos transportes coloca particulares problemas no contexto das temperaturas e humidade relativa muito elevadas que caracterizam Tóquio em Agosto; o alojamento hoteleiro, normalmente já muito caro na cidade, será ainda mais caro; a renovada oferta de serviços diversos, incluindo restauração e animação, terá nessa altura a necessária procura. Outra coisa ainda é o que se passará a seguir às Olimpíadas. O Japão já atingiu os 20 milhões de turistas por ano que se tinham definido como objectivo até 2020 – e na cidade de Tóquio já se atingiram os 15 milhões projectados. A menos que após os Jogos haja um aumento muito significativo dos turistas vindos da Europa ou da América, estes fluxos (até agora com origem na Ásia em 85 por cento dos casos) não deverão aumentar muito significativamente. Internamente, o envelhecimento populacional que caracteriza a sociedade japonesa faz com Tóquio seja das raríssimas grandes metrópoles a nível mundial que arrisca perder população nas próximas décadas. Para que servirão então estas mega-infraestruturas actualmente em construção ou renovação – incluindo as novas habitações na zona da Baía onde se vão instalar mais de 5.000 participantes nos Jogos – é uma questão que torna esta metrópole um interessante laboratório para as políticas urbanas do futuro. Até – ou sobretudo – para se discutirem os limites destas mega-operações de requalificação urbanística e especulação imobiliária com base nas internacionalmente famosas “parcerias público-privadas” e na mobilização de capitais financeiros internacionais.
João Luz VozesSer morninho [dropcap]H[/dropcap]á coisas que não se tomam às metades, que não permitem fragmentação, relativização, venda, aluguer, concessão, diluição. Não é possível defender pela rama princípios e conceitos como “Liberdade”, “Estado de Direito”, “Justiça”, entre outros. Estes são absolutos, definitivos, intransigentes, pairam acima de qualquer sentido de pragmatismo. Da mesma forma que não é possível amar um bocadinho, também não se nasce, vive, morre temporariamente e aos poucos, em doses moderadas e de toma regular. Caminhar para o fim não é finar, isso é definitivo, definhar é outro campeonato. Não se pode conceder em coisas absolutas, pensar que isso é possível é não querer admitir a relatividade, a ausência desse bem, valor, princípio inalienável. Não se pode defender a liberdade piscando o olho à tirania, amando secretamente o cárcere. Lutar pela supremacia da lei é incompatível com escancarar a porta ao capricho egoísta da arbitrariedade. Não se pode ser um bocadinho imparcial, ou justo, da mesma forma que nunca existiu neste planeta um gajo ligeiramente filho da puta. Não se pode ser só um bocadinho, ou existir apenas ao fim-de-semana (não falo no sentido figurativo, claro). Não há meios assassinatos, pedaços de concepções, revoluções fragmentadas, ou valores de part-time, vinho com gasosa ou whisky com água. Liberdade, Justiça e Primado da Lei são shots de um trago que nunca deixam de arder nos nossos ventres. São desejos insaciáveis, amores eternos.
Andreia Sofia Silva VozesEstranho, muito estranho [dropcap]É[/dropcap] interessante acompanhar, ainda que ao longe, esta campanha do candidato Ho Iat Seng ao cargo de Chefe do Executivo. Comparando com a campanha do actual Chefe do Executivo de 2014, a única que acompanhei como jornalista, parece-me que Ho Iat Seng está a ser um candidato mais próximo das pessoas que comenta tudo o que acontece. Não sei se esta característica lhe pode ser favorável, uma vez que comenta alguns assuntos ainda ligados ao Governo de Chui Sai On e penso que não lhe fica bem fazê-lo. Relativamente ao encontro com membros da comunidade lusófona, é de ressalvar o facto de Ho Iat Seng ter procurado encontrar-se com estas pessoas mesmo depois do que aconteceu na Assembleia Legislativa, relativamente à não renovação do contrato dos juristas Paulo Cardinal e Paulo Taipa. Mais surpreendida fiquei pelo facto de este assunto não ter sido abordado por nenhum dos presentes, nem outros relativos à comunidade portuguesa em si. José Pereira Coutinho, que é conselheiro das comunidades portuguesas, optou por ficar calado, pois quis dar a hipótese a outros. Estranho, quando é alguém habituado aos holofotes. Aguardemos pelos episódios que restam desta campanha eleitoral.
João Luz VozesContradições [dropcap]A[/dropcap] coluna de hoje é um elogio à contradição. Na noite de segunda-feira, a polícia lançou uma operação de larga escala na Praça do Leal Senado para controlar um acontecimento que não deixou acontecer. Temeu que uma vigília contra a violência tivesse consequências violentas. Como tal, e para proteger a estabilidade de Macau, decidiu destabilizar a noite de todos os que circundaram uma das praças mais movimentadas da cidade. De forma a proteger a harmonia que reina no território agiu de forma desequilibrada, detendo pessoas por terem autocolantes em mochilas. Com o objectivo de conter a contaminação contestatária de Hong Kong, a polícia de Macau fez exactamente o contrário e tentou apagar com gasolina um fogo em vias de extinção. Quem teme o enfraquecimento do segundo sistema, não fica mais descansado com operações policiais deste calibre, nem com o atropelo a direitos fundamentais com justificações que ficam entre a vidência do pré-crime e as razões holísticas de uma harmonia podre, sustentada no medo e na mordaça. Portanto, sejamos honestos quando apregoamos aos sete ventos as vantagens únicas trazidas pelo segundo sistema. Outro paradoxo no meio disto tudo foi o ajuntamento de malta de camisola branca a cirandar pelas redondezas. Pelos vistos, uma forma de expressão silenciosa e pacífica é o suficiente para meter todos os quadrantes do status quo político e social em pé de guerra. O conceito local de harmonia é qualquer coisa de extraordinário.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesTodos no mesmo barco (I) [dropcap]N[/dropcap]o passado dia 16, alguns hongkongers lançaram através da internet um apelo designado “816 Withdrawal Day”, instando todos os residentes da cidade a levantar o dinheiro do Banco e, de preferência, a trocá-lo por dólares americanos. Este movimento pretende pressionar o sistema financeiro de Hong Kong e forçar o Governo a dar resposta ao cinco pontos da agenda dos manifestantes contra a Lei de Extradição dos Condenados em Fuga. Até ao momento, os Bancos da cidade não registaram qualquer movimentação fora do normal. Hong Kong começou a implementar o sistema indexado de câmbio a 17 de Outubro de 1983. Os três Bancos emissores de moeda em Hong Kong, o Bank of China, o HSBC e o Standard Chartered Bank, precisam de ter em depósito dólares americanos para cobrirem a emissão da moeda local, emissão que é feita sob a supervisão da Autoridade Monetária de Hong Kong. A taxa de conversão é fixa; 1US dólar equivale a 7,8 HK dólares. Até ao momento, o sistema indexado de câmbio tem funcionado bem, sem quaisquer efeitos adversos. A grande vantagem deste sistema é a paridade entre as duas moedas em termos de confiança. Quem confia na moeda americana, confia na moeda de Hong Kong. Os Bancos emissores de moeda em Macau, o BNU e o Banco da China (Filial de Macau) emitem moeda, contra a entrega na Autoridade Monetária de HK dólares. A taxa de câmbio é fixa; 1,03 pataca equivale a 1 HK dólar. No sistema indexado de câmbio, o dólar americano representa a reserva financeira do dólar de Hong Kong, pela mesma lógica, o HK dólar é a reserva financeira na emissão da moeda em Macau, ao abrigo do sistema indexado câmbio desta cidade. Acreditar no valor da pataca significa acreditar no valor do HK dólar e do dólar americano. A confiança é o valor mais importante de qualquer moeda. Quem não confia na moeda, prefere apostar noutros bens, como por exemplo imobiliária, ouro, jóias, etc. E agora há quem queira lançar uma campanha para retirar o dinheiro dos bancos, para criar de forma maliciosa tensões financeiras, caos e mesmo o pânico em Hong Kong. Este movimento tende a afectar directamente o estatuto de Hong Kong como centro financeiro. Estas pessoas procuram lutar pelos seus objectivos destruindo Hong Kong. Contudo, ao destruirem Hong Kong, também vão afectar Macau. Tudo isto é totalmente desnecessário. Até ao momento, não há notícias de qualquer prejuízo causado em Macau. É sem dúvida algo de positivo. A série de incidentes, desencadeada em Hong Kong pela revisão da Lei de Extradição, não afectou, nem irá afectar Macau. Hong Kong tornou-se um centro financeiro a nível mundial devido aos esforços que desenvolveu ao longo de vários anos. Não é um objectivo que se possa atingir de um dia para o outro. O factor mais importante em qualquer sistema financeiro é a confiança que as pessoas nele depositam. Uma vez que essa confiança se perde, todos os sistemas financeiros colapsam. Se Hong Kong vier a ter problemas de ordem financeira e perder o seu estatuto de centro financeiro mundial, que mais valia lhe vai restar? Hong Kong não tem recursos naturais, as conquistas que alcançou foram obtidas com muito esforço, durante muitos anos. Os hongkongers alcançaram estas metas porque durante muito tempo possuiram espírito de inter-ajuda, encorajamento mutúo e, depois, colheram juntos os frutos do seu suor. Os hongkongers também preferem “navegar no mesmo barco”. Nos anos 70, acreditavam que quem trabalhasse com afinco, teria um futuro brilhante. Por isso, a partir dessa altura Hong Kong desenvolveu o espírito consagrado na canção “Under the Lion Rock”. A letra desta canção, interpretada pelo famoso cantor “Luo Wen”, já falecido, dizia o seguinte: “Evitem os conflitos e persigam juntos os vossos ideais Estamos no mesmo barco, jurámos não ter medo e permanecer unidos Deste lado do Cabo, demos as mãos e enfrentemos as intempéries, Trabalhamos com afinco e escrevemos a história da Imortal Hong Kong” Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado do Instituto Politécnico de Macau Blog:http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk
Andreia Sofia Silva VozesMelhor que nada [dropcap]D[/dropcap]iz o deputado José Pereira Coutinho que Portugal pode ser um exemplo em matéria de lei sindical. Pode, de facto, porque em Macau esse direito existe na Lei Básica, mas não está sequer legislado. Mas, repare-se no que aconteceu na última semana: mesmo com uma lei, tentou-se de tudo para que os motoristas de matérias perigosas não avançassem para a greve. Fizeram-se mil e um encontros para que não acontecesse o exercício de um direito, que foi questionado por muitos, apesar de termos uma lei e de vivermos numa sociedade supostamente livre. Sim, a lei sindical em Portugal é um exemplo, mas há que reflectir sobre a sua aplicação prática e o olhar que políticos e população depositam sobre ela. Não basta a existência de uma lei, é importante a formação cívica. O direito à greve não deve ser encarado com dúvidas ou rejeitado quando for mais conveniente. No caso de Macau, há muito que a lei sindical é uma batata quente passada de mão em mão, e todos sabemos como se lidam com as batatas quentes no território: passam-se, mas não se comem, que é como quem diz, não se resolvem os problemas. Ao invés, estuda-se, estuda-se eternamente. Ho Iat Seng é, além de político, um empresário ligado às elites. Não sei se está pronto para fazer uma lei que permita a existência de greves em Macau, esse bicho papão que iria afectar as bilionárias receitas do jogo e demais sectores da economia. Enquanto isso, os trabalhadores sujeitam-se ao que há, em pleno século XXI.
João Luz VozesLei do mais forte [dropcap]N[/dropcap]a semana passada o Corpo da Polícia de Segurança Pública de Macau usou, de forma preguiçosa e pouco precisa, a lei para justificar uma decisão política. Dias negros se anunciam quando forças policiais tomam decisões políticas. Não vou discutir aqui os méritos, ou deméritos, da vigília que estava marcada para esta segunda-feira. A coluna de hoje serve só para perguntar para que serve a Lei Básica e a ilusão de que vivemos num Estado de Direito. A existência de um sistema judicial isento de arbitrariedade é condição essencial à fixação de empresas, à prosperidade económica e a uma relação saudável entre cidadão, sociedade e o poder. É o que separa uma sociedade civilizada da barbárie. A decisão da polícia assentou numa interpretação da intenção do protesto, de que a vigília era uma espécie de elogio à ilegalidade (qual? Não interessa). Além disso, apesar da vigília anunciada ser silenciosa e pacífica, diz-se que pode perturbar a paz social. Quão frágil é a mui apregoada harmonia de Macau se fica gravemente abalada por pessoas sentadas em silêncio? E sejamos francos. Teme-se a violência de uma manifestação pacífica e silenciosa, ou a reacção que esta pode provocar? Se a segunda hipótese for a mais provável, a harmonia de Macau está presa por pinças e explode ao mínimo sinal de opinião oposta ao status quo político. Esta é a mensagem que o poder está a passar. Finalmente, podemos concordar que o ordenamento jurídico de Macau deixa de ter aplicabilidade quando o assunto assume um cariz ligeiramente político? Resta-nos continuar a ouvir elogios à Lei Básica e ao princípio “Um País, Dois Sistemas” por aqueles que os deitam abaixo constantemente.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA nova era da globalização e governança global (II) “China’s participation in global governance reflects the mutually interactive processes of China’s own socialization into the global community and the simultaneous adaptation of global institutions and actors to China’s growing activism. Both China and the international system are internally complex. Hence, Chinese engagement varies across economic regimes, yielding different results in terms of Chinese compliance, its influence on regimes, and the extent of cooperation and conflict in addressing challenges in international society.” Global Governance and China: The Dragon’s Learning Curve Scott Kennedy [dropcap]O[/dropcap]s líderes presentes, incluindo o falecido primeiro-ministro Zhou Enlai, propuseram um conjunto de políticas externas em nome dos países emergentes, visando a coexistência e o desenvolvimento pacífico com os países ocidentais. A China vê as suas relações com o mundo exterior, inclusive com outras grandes potências como os Estados Unidos, através do prisma das suas tradições e valores culturais. Muitas vezes, o ADN cultural reflecte os pensamentos dos fundadores sobre o desenvolvimento humano e com o passar do tempo, esses instintos psicológicos centrais tornam-se profundamente enraizados, formando as normas culturais de diferentes sociedades e orientando praticamente tudo o que acontece, inclusivamente as respostas de uma sociedade aos desafios externos. Existem quatro conceitos fundamentais que formam o ADN cultural da China que são a integridade e conectividade; tolerância e inclusão; harmonia e paz; e uma abordagem holística para assuntos mundiais que estão entrelaçados uns com os outros. Esses princípios básicos do ADN cultural da China são visivelmente exibidos na estratégia de desenvolvimento e na diplomacia do país e moldarão o seu novo papel na governança global. A história da China moderna e o seu envolvimento mais profundo e o crescente papel de liderança na governança global, especialmente desde 2008, mostraram que a China é e continuará a ser um actor importante na governança global e na definição da ordem mundial emergente para o progresso da humanidade. O futuro é brilhante e o caminho é longo, mas estamos confiantes de que a humanidade tem sabedoria suficiente para construir “uma comunidade de futuro compartilhado”, como o proposto pelo Presidente Xi Jinping. A China, na última década começou a desfrutar de maior atenção e influência global, em particular desde 2008, quando o Ocidente, representado pelo Grupo dos Sete (G7), ou o “clube dos ricos”, foi incapaz de lidar com a crise financeira e com o sistema de governança existente. O G20 tem uma representação melhor e mais equilibrada entre países avançados e em desenvolvimento e, assim, capturou a atenção do mundo na realização do levantamento do peso necessário para enfrentar um desafio global tão difundido e chocante, que somente uma “frente única” de todos os países sistemicamente importantes podiam ser capazes de gerir. A China foi naturalmente chamada a desempenhar um papel essencial no contexto do G20 para fornecer liderança e orientação, juntamente com outras grandes economias, para gerir as terríveis consequências das crises financeiras e económicas globais, que são um desafio imediato e urgente para o mundo. É por tal motivo que o ano de 2008 é frequentemente citado como um ponto de viragem para a China no seu profundo envolvimento na governança global, sendo que da mesma forma, 2001 também é um ano chave, uma vez que a entrada da China na OMC é o momento crítico para a participação da China na governança global e na globalização. Não se tratava apenas da China, mas sim da partilha do poder económico global e da governança da economia mundial por todos os países, grandes ou pequenos, ricos ou pobres, como membros iguais da comunidade internacional. O mecanismo do G20 foi criado em 1999, após a crise financeira asiática de 1997 e 1998, como um fórum para discussão de assuntos económicos globais entre ministros das finanças e governadores dos bancos centrais de dezanove países e a União Europeia (UE), mas não foi concebido como um órgão de tomada de decisões ou mesmo de coordenação. A suposição de decisões económicas do G20 em face da crise financeira foi tanto uma resposta improvisada, quanto uma solução de longo prazo para a deficiência da governança global de um mundo em desordem. A China levou o G20 e o seu novo papel na governança global de maneira séria e positiva, não apenas porque era a única instituição disponível naquela época, que estava razoavelmente composta por uma mistura equilibrada de países desenvolvidos e em desenvolvimento, mas também porque reflectia o início de uma nova era na governança global, uma transição da “governança económica global liderada pelos Estados Unidos ou destes” para a “co-governança tanto do Ocidente quanto do Oriente”, uma transição que começou no final do século XX e continuou em ritmo acelerado nas primeiras quase duas décadas do século XXI. É esse o processo pelo qual o papel da China na governança económica global foi fortalecido e um novo papel, mais pró-activo, está aguardando a China, pelo que certamente não é algo que foi perseguido voluntariamente e intencionalmente pelos países ocidentais liderados pelos Estados Unidos. Foi porque sabiam quando a crise financeira explodiu que sem a participação pró-activa da China, Índia, Brasil e outras economias emergentes e em desenvolvimento, não haveria possibilidade de reverter a crise financeira e o crescimento económico global simplesmente estagnaria, pelo que foi de facto um ponto de viragem para a China e um alerta para o Ocidente na governança global. É de considerar que naquela época, os Estados Unidos defendiam a ideia de transformar o G20 na principal plataforma de governança económica global e apoiaram a China no papel mais importante. Os Estados Unidos, com uma avaliação estratégica realista da crise financeira e da devastação que causam, chegaram à conclusão de que era de interesse estratégico que a China desempenhasse um papel secundário dentro do sistema. Além disso, as relações económicas e financeiras entre os Estados Unidos e a China tinham-se tornado tão interligadas que era fundamental para a China estender uma mão para salvar o mercado financeiro americano de um colapso total. A China possuía a maior quantidade de reservas estrangeiras investidas principalmente em títulos do tesouro americano, e os Estados Unidos precisavam da sua cooperação para evitar um colapso total do seu sistema financeiro. Assim, de facto, no final de 2008, o então presidente George Bush enviou o seu secretário do Tesouro para China para procurar garantias do governo chinês. A China entendeu claramente que estava tão intimamente ligada ao sistema financeiro liderado pelos Estados Unidos que, se o sistema falhasse, a China estaria entre as primeiras potências a sofrer as terríveis consequências. Tal relação económica interdependente e cada vez mais importante, combinada com uma relação política e militar mais complicada, tornou-se uma marca da nova era que exige o estabelecimento de uma nova relação de poder entre os dois países. Os Estados Unidos também viram a rápida ascensão do euro como uma ameaça à posição de moeda dominante do dólar americano, pois em 2007 e 2008, o euro estava próximo de representar 20 por cento do total das reservas mundiais, o que era considerado um patamar crítico pelos Estados Unidos. Assim, em discussões sobre a ordem mundial emergente, o termo “Modelo China” apareceu com muita frequência na última década, geralmente em associação com o seu sucesso impactando e influenciando o curso futuro da ordem emergente, à medida que a China ganha tanto “poder coercitivo” quanto “poder de convencimento” ou seja, há dois desenvolvimentos que deixaram uma grande pegada na governança global. Por um lado, é facto que a crise financeira de 2008 colocou um grande ponto de interrogação sobre a viabilidade do neoliberalismo americano como princípio económico orientador da governança económica global. A credibilidade da política económica neoliberal tem estado sob fogo há alguns anos. Por outro lado, a China vem crescendo notavelmente, aproveitando a onda da globalização, provando ser nada menos que um milagre económico. Muitos países, em particular os em desenvolvimento, começaram a interrogar-se se o “modelo chinês” é uma alternativa ao neoliberalismo. Deveria haver um “Consenso de Pequim” em vez do “Consenso de Washington”? Tem sido essa a situação, embora os líderes chineses continuem a enfatizar que a China não tem intenção de exportar o “modelo chinês”, porque o seu sucesso na governança doméstica mostra que a trajectória de desenvolvimento da China com garantias do seu sistema político é a “receita” certa para a China e talvez para alguns países subdesenvolvidos. A China, surpreendentemente é um modelo para o crescimento económico, mas também equilibra a eficiência do mercado e a justiça social, reduzindo a pobreza nas últimas décadas. Além disso, na última década, a China começou a desenvolver e a contribuir para o “património global” por meio de ideias e planos criativos e inovadores na governança global. A “Iniciativa Faixa e Rota (BRI na sigla inglesa)” é apenas um exemplo brilhante que transcende as diferenças ideológicas, económicas e culturais para fornecer uma nova plataforma para intercâmbios transculturais e cooperação económica que, quando implementados com sucesso, beneficiará os países e regiões participantes. A contribuição da China para a governança global é aberta e inclusiva. Além do BRI, a China também está comprometida em construir parcerias globais e criar uma nova estrutura de segurança colectiva e em Janeiro de 2017, o Presidente Xi Jinping proferiu uma série de discursos de abertura na ONU e Davos e certamente não é exagero sugerir que o “modelo chinês”, se realmente existe tal modelo, servirá ao mundo e, sem dúvida, abrirá um novo capítulo na história da humanidade. A ordem mundial emergente, então, será moldada por tais interacções positivas entre países com um destino compartilhado de viver em paz e prosperidade duradouras. Algumas potências ocidentais estão ansiosas há duas décadas pelo facto de a China estar a fortalecer-se ano após ano, e a apresentar propostas cada vez mais voltadas para uma melhor governança global e questionam se a China continuará a ser cooperativa dentro do sistema de governança global existente ou tentará derrubar o sistema e criar um novo. Na verdade, não há motivos de preocupação, pois a China tem sido uma grande beneficiária do sistema actual e da arquitectura de governança global e portanto, não tem desejo nem interesse em “virar a mesa” do sistema de governança global existente. Temos todos os motivos para acreditar que o envolvimento maior e mais profundo da China na governança global ajudará a melhorar o mundo.