Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA Grande América (II) “What is great about America? Slavery, Hiroshima, Nagasaki, Indian Removal, segregation, Vietnam War, Watergate.” Anthony Galli A primeira resposta, paradoxal, explica-se pelo instinto de compensação. O suicídio, em duas fases, de todas as antigas potências continentais entre 1914 e 1945, mergulhadas do estatuto mundial para o estatuto regional na mais vertical das catástrofes, suscita a necessidade de uma recompensa. Psicogeopolítica de massas. Se, enquanto Estado, já não é protagonista, o salto de escala (virtual) da nação para a Europa parece gratificante. Além disso, a vantagem de se apresentar como participante de uma civilização de apelo incomensurável, e não de uma estrutura política transitória e mensurável, garante contra as refutações da história. A entidade que não existe não pode morrer. O “projecto europeu” decorre desta astuta auto-representação. Seja qual for o significado deste génio, é sempre in fieri. Sol do futuro que conforta tibiamente o presente. Acto de boa fé até para os ateus. O seu santo padroeiro, o Barão de Münchausen, sabe como se livrar de areias movediças pelos cabelos. O único problema é que nenhum actor geopolítico externo leva-o a sério. Muito menos os Estados Unidos e a Rússia. Quanto à segunda tentativa de resposta, trata-se de vestir a roupa americana. Não nos detenhamos nas razões que levaram Washington a permanecer na Europa Ocidental em 1945. A principal é indiscutível que foi impedir que os soviéticos a tomassem. Fiquemos no presente. Para facilitar a nossa tarefa, peguemos num mapa da Europa vista dos Estados Unidos e deixemo-nos guiar por um Virgílio de segura empatia trumpiana, Sumantra Maitra, director de pesquisa e divulgação do “American Ideas Institute”. O trabalho enquadra a fachada ocidental da Eurásia fotografada a partir do espaço. Perspectiva Starlink. Vai do Atlântico à profunda planície Sármata e à zona do Cáspio-Cáucaso, passando pelo Mediterrâneo, cuja vocação médio-oceânica é imediatamente apreendida pelo olhar talassocrático das estrelas e riscas. A OTAN surge assim na sua ambiguidade estratégica. Não existindo uma potência europeia, nem satélites continentais americanos capazes de se protegerem sozinhos, para Washington este espaço estruturalmente defensivo pode tornar-se ofensivo, se necessário. Ou seja, no sacrifício de nós, europeus, para a salvação da América. Por detrás da afirmação de Trump de que todos os parceiros atlânticos gastem 5 por cento do seu PIB na defesa, esconde-se a sombra da doutrina Norstad, assim chamada em homenagem ao então vice-comandante supremo da OTAN, antigo organizador dos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki. Que, com um eterno cigarro na ponta dos lábios, interrompeu, em 1954, uma disputa académica entre colegas europeus sobre quem deveria decidir sobre a utilização da bomba dizendo “Meus Senhores, pedimos-vos que garantissem a defesa da Europa com um certo número de divisões. O senhor disse-nos que, por razões económicas, financeiras e políticas, não nos pode dar esse número de divisões. Não queremos discutir as vossas razões. Aceitamo-las. Mas não se esqueçam de que, com isso, autorizaram-nos implicitamente a utilizar a arma nuclear para a defesa da Europa”. Ou seja, da América. Dualidade do guarda-chuva nuclear americano, animada pelo novo presidente contra o “Inimigo” ou com o “Inimigo” contra nós. Iluminados por Trump/Norstad, veja-se o mapa de perto. O desdobramento atlântico parece côncavo. Destinada a absorver um improvável assalto russo ao “Velho Continente” e uma menos improvável penetração chinesa, utilizando a Federação Russa como aríete e explorando os seus postos avançados africanos, apontados ao coração da Europa. Para nos atrair para um ecúmeno sinocêntrico com a persuasão do comércio e a ameaça da força. Esta interpretação, que prevalece actualmente na América, pode facilmente desviar-se para a ofensiva. Basta conceber as alas Escandinava e Anatólia como dedicadas ao cerco de Moscovo. Muitos nortenhos, especialmente suecos, que foram campeões atlânticos durante a Guerra Fria no gelo, ficariam encantados. Muito menos os turcos salvo uma revolução colorida em Ancara (o fantasma de Fethullah Gülen, ou um golpe americano, continua a agitar o sono dos estrategas imperiais). O centro do mapa, dividido em flancos esquerdo e direito, é ocupado pelo triângulo estratégico Trieste-Danzig-Constança. O porto juliano, miradouro marítimo das bases de Aviano e Vicenza ligadas a Ramstein a mãe de todas as instalações americanas na Europa, é o pivot para onde convergem os portos de escala Bálticos e Eusino. Aqui, os atlantistas estão ocupados a reforçar a infra-estrutura militar por detrás do duplo véu (a separação civil/militar é para fins académicos e de camuflagem táctica). Trieste é o jogador em torno do qual gira a equipa da OTAN, com Gdansk e Constanta como alas avançadas. Alinhada com Trieste está Lviv, a capital da Galiza ucraniana, um posto avançado indispensável para Washington. Quando os russos tentaram um golpe de Estado em Kiev, a 24 de Fevereiro de 2022, foi de facto em Lviv que os americanos e os britânicos quiseram transferir Zelensky como chefe do governo legítimo. Trieste é, finalmente, a trave-mestra defensiva da Europa Central, o baluarte extremo depois do eixo Gdansk-Constança e da linha virtual entre o Categate e os Dardanelos. O flanco esquerdo prevalece sobre o direito. O seu valor estratégico é função da contenção da Rússia e da China enquanto potências árcticas que avançam em direcção à América graças à fusão acelerada dos gelos polares. O flanco direito é muito mais fraco, exposto à convergência da guerra na Ucrânia, das tensões na Geórgia-Cáucaso e dos conflitos em torno de Israel. Estamos na falha sísmica movida pela fricção entre a Ordolândia e a Caoslândia. O Estreito da Sicília, passagem obrigatória do Sul do Oceano Médio em direcção ao Oceano Índico, está muito mais exposto do que o Canal da Mancha, reprojectado pela ala Escandinava e pelo Báltico, festivamente ligado à OTAN. Tendo traçado o pano de fundo, é de deixar a Sumantra Maitra a tarefa de aprofundar a perspectiva das estrelas e riscas a partir da lógica trumpiana. Depois de ter tido uma indigestão de países da OTAN, desde os doze fundadores até aos actuais trinta e dois, sem contar com a Ucrânia e a Geórgia que batem em vão à porta meio fechada, Washington está a traçar linhas informais no organismo do Atlântico Norte. A começar pelo óbvio que é a pletórica OTAN atlântica não escapa à lei de qualquer aliança, que distingue cavalos de cavaleiros (muitas vezes apenas um). O que é novo em Trump é que as hierarquias não dependem tanto do valor estratégico dos parceiros individuais como da vontade do cidadão americano de pagar o que for necessário para os defender, mesmo com sangue. Uma disposição de espírito que agora é rara. Se o “Cavaleiro Estrelado” se recusar a lutar pela salvação de qualquer um dos trinta e um cavalos, é como se estivessem duplamente em perigo como membros da Aliança, considerados um “Inimigo” absoluto pela Rússia, e porque são dispensáveis pelo “Número Um”, cuidadoso em não impor uma provação insuportável na frente interna. Como explica Sumantra Maitra, nenhum patriota americano pensaria em morrer pelos Estados bálticos ou pelo Donbas, enquanto poderia sacrificar-se, “com alguma hesitação”, por Londres, Paris ou Roma.
Duarte Drumond Braga VozesDaniel Pires, editor de Pessanha O evento que aconteceu no início deste ano na Biblioteca Nacional, Daniel Pires, mestre de investigadores celebrou um percurso discreto, muito ligado a Macau. Não apenas por isso, mas poucos nomes estão tão ligados à figura de Camilo Pessanha quanto o de Daniel Pires, que se tornou, ao longo de décadas, mais do que um leitor e um editor, o generoso construtor de ferramentas com que outros puderam ler o poeta. Quem já leu autores, com vontade de os estudar, sabe o quão precioso é haver em final de livros um índice onomástico. Do reino do papel, quase defunto, foi substituído por outras coisas. Mas diria eu que a principal atividade de Daniel Pires, em torno de Camilo Pessanha, é, sobretudo, a criação de instrumentos de investigação, a exemplo de um índice onomástico. Não são visíveis, não são vistosos, não são sequer autorais muitas vezes, e no entanto são fulcrais. As suas atividades em torno da obra de Pessanha não se encontram encerradas, sempre in fieri. Assim, não diremos “foram”, pois continuam: organizar e editar a prosa, construir uma cronologia da vida e da obra, reunir e catalogar a biblioteca privada do poeta, editar a correspondência. Por exemplo, o trabalho de reconstituição da biblioteca pessoal do poeta, publicado no volume Clepsydra 1920-2020 – Estudos e Revisões (Documenta, 2020), organizado por Catarina Nunes de Almeida, e de que versões prévias haviam saído em outros locais. Já a cronologia da vida e da obra de Pessanha segue um percurso paralelo, iniciado com a Exposição Biobibliográfica Itinerante (1991), organizada por Pires em Macau, onde se publicou o seu catálogo, e aprofundada ao longo dos anos em vários outros suportes, culminando numa versão amadurecida no volume Correspondência, Dedicatória e Outros Textos (BNP, 2012). Essa cronologia — longe de ser uma repetição das que saíram nas edições anteriores —é, na verdade, uma versão cada vez mais alentada. O retrato do poeta que, graças a Daniel Pires, se afastou da figura abúlica com que a crítica tantas vezes nos deixou. Hoje sabemos, com documentos na mão, que Pessanha participou ativamente na vida cívica de Macau, envolveu-se em comissões, foi professor, juiz, tradutor, membro da Sociedade de Geografia (sócio nº 4421, como descobriu o próprio Pires), e manteve uma rede de relações profissionais e políticas que fazem dele um agente do seu tempo. A correspondência editada em 2012 revela, com clareza, o patriotismo republicano e laico de quem denunciou o desinteresse do Estado português por Macau e procurou melhorar o funcionamento do sistema judiciário e pedagógico local. Importa também notar o valor das dedicatórias do poeta, cuidadosamente reunidas por Pires nesse mesmo volume. Num autor de escrita tão contida, essas breves ofertas manuscritas de livro são documentos que ampliam a espessura da obra, revelando muito das redes pessoais e intelectuais de Pessanha. A intervenção de Daniel Pires no domínio editorial inclui ainda a coletânea Homenagem a Camilo Pessanha (1991), organizada com o Instituto Português do Oriente e o Instituto Cultural de Macau, e sobretudo Camilo Pessanha, Prosador e Tradutor (1993), também publicado no território, onde pela primeira vez se reúne de forma sistemática a prosa e as traduções do poeta. Esta edição permanece, ainda hoje, a recolha de referência da prosa de Pessanha — uma obra que merecia ter conhecido edição em Portugal, o que, inexplicavelmente, nunca aconteceu. Apenas os textos sobre a China foram republicados pela Vega, também em 1993, numa edição intitulada “segunda”, embora a primeira tenha saído em 1944, pela Agência Geral das Colónias, e da responsabilidade de outro organizador. Mesmo a Clepsydra, território sensível e disputado por tantos editores, não lhe escapou. Veja-se a sua proposta de edição, publicada pela Livros Horizonte em 2007 com belas ilustrações de Rui Campos Matos. O ouro da Clepsydra foi sempre o mais cobiçado. Mas Daniel Pires mostrou-nos que também na prata da prosa e no bronze dos textos aparentemente secundários como cartas e documentação árida se esconde ouro de não menor fulgor.
Hoje Macau VozesEsclarecimento A propósito da polémica lançada a respeito dos painéis alusivos à história da aviação em Macau e do seu desaparecimento, e porque me encontro atualmente em Macau procurei saber in loco o que se passava. No entanto foi-me negada autorização para aceder ao “lado ar” do Aeroporto Internacional de Macau [AIM], embora tenha sido autora de alguns projetos de remodelação interior, designadamente para o corredor estéril em 2013, onde incorporei painéis alusivos à história da aviação em Macau, com base no livro “Aviação em Macau – Um século de Aventuras” de Luís Andrade de Sá (1990). Nos finais de 2024 ao ter percorrido o corredor estéril, após uma chegada a Macau, verifiquei que as paredes laterais do mesmo não incluíam o design que na altura havia concebido, alusivo à história da aviação em Macau e com valor cultural, o que me deixou apreensiva e tive ocasião de explicitar essa minha insatisfação no decorrer de uma conferencia online, ocorrida no Centro Científico e Cultural de Macau por ocasião das Conferências da Primavera 2025. A situação foi igualmente relatada num artigo de Andreia Silva no jornal Hoje Macau de 20 de março 2025, sob o título “Aviação I Maria José de Freitas lamenta retirada de painéis do aeroporto”. Um dos leitores do jornal fez um comentário mencionando que os painéis alusivos à história da aviação em Macau ainda estavam expostos nas paredes do corredor estéril, admitindo que eu pudesse ter chegado pela nova extensão do corredor, onde de facto não existem painéis com o aludido desenho. Após confirmação com os serviços da CAM soube que foi isso mesmo que aconteceu, ou seja, a extensão do corredor estéril praticamente duplicou nos anos recentes, a parte inicial do corredor ainda contém os painéis, sendo que a parte nova não inclui desenho algum. Foi o que pude confirmar. Senti algum consolo, mas no decorrer da investigação que fiz soube mais ainda: está em curso uma remodelação no aeroporto que vai englobar todo o corredor estéril e os desenhos que projetei em 2013 e que tinham a ver com uma parte significativa, e pouco divulgada, da história da aviação em Macau, serão retirados de forma progressiva e substituídos por outros, alusivos a temas generalistas, talvez incluindo o skyline da cidade, ou outras imagens mais banais. Por tudo isto valido a minha afirmação inicial: lamento que sejam retirados os painéis do aeroporto e eliminadas as imagens relativas à história da cidade e, no caso vertente, à história da aviação em Macau, cujo protagonismo foi evidente nos anos 20 do século passado, como dizia a historiadora Cátia Reis na comunicação que apresentou no Centro Científico e Cultural de Macau, em 2025. Se havia lugar para que esta narrativa tivesse visibilidade era ali naquele longo percurso denominado “corredor estéril” que passaria a ser um inovador “corredor histórico e cultural”! Maria José de Freitas Arquiteta, PhD Presidente ICOMOS-ISCSBH
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesFelicidade em Hong Kong As Nações Unidas designaram o dia 20 de Março como “Dia Internacional da Felicidade”. O Relatório Mundial de Felicidade em 2025, publicado pelo ONU é também lançado nesse dia. Na elaboração do relatório são considerados vários critérios para calcular o nível de felicidade de uma sociedade, como apoio social, PBI per capita, saúde, liberdade, generosidade, integridade, emoções positivas, emoções negativas, doações e capacidade de ajudar desconhecidos. O relatório actual usou dados recolhidos entre 2022 e 2024. Foi apurado que a Finlândia encabeça a lista dos 147 países e regiões do mundo, pela oitava vez consecutiva, seguida pela Dinamarca, Islândia, Suécia, Holanda, Costa Rica e Noruega. O Reino Unido ocupa o 23.º lugar, os Estados Unidos o 24.º e o Afeganistão surge em último lugar. Na Ásia, Taiwan, China, ocupa o 27.º lugar do nível de felicidade mundial, Singapura o 34.º, o Vietname o 46.º, a Tailândia ocupa o 49.º lugar, o Japão o 55.º, a Coreia do Sul o 58.º, e a China continental o 68.º. A classificação de Hong Kong caiu pelo quarto ano consecutivo, ocupando agora o 88.º lugar. No primeiro relatório publicado em 2012, Hong Kong estava em 67.º lugar. Desde então, tem-se situado entre 71.º e 78.º. No entanto, desde 2021, a sua posição caiu abaixo do 77.º lugar, o que representa um mínimo histórico. O relatório reflecte a situação geral e baseia-se nos resultados de dados estatísticos. É difícil explicar muito detalhadamente porque é que as pessoas se sentem felizes ou infelizes. Hoje, vamos tentar explorar as razões para a quebra continuada do nível de felicidade das gentes de Hong Kong a partir de uma nova perspectiva. Eva Bogut, uma celebridade russa da internet com mais de 230.000 seguidores, trabalha em Hong Kong, onde vive desde a segunda metade de 2023. Quando chegou à cidade, manifestou o seu amor a Hong Kong na sua rede social e declarou que desejava ardentemente tornar-se uma Hongkonger. Mas no passado dia 11 de Março, reverteu estas declarações e decidiu despedir-se e regressar a Moscovo. Eva declarou ao Telegram que existiam quatro problemas em Hong Kong que a levaram a tomar a decisão de sair da cidade. Primeiro, o custo de vida é muito elevado. Deu como exemplo o preço de vários produtos: duas pizzas vulgares, atingem os 7.000 rublos (cerca 648 dólares de Hong Kong); um pão com melhor textura e que não cheire a plástico custa cerca de 800 rublos (à volta de 74 HKD); um maço de cigarros chega aos 1.300 rublos (cerca de 120 HKD) e a renda de uma casa com 26 metros quadrados atinge os 2.000 USD (cerca de 15.549 HKD). Estes custos são excessivamente altos e demonstram como é caro viver em Hong Kong, que aparece em segundo lugar como a cidade mais dispendiosa do mundo depois de Nova Iorque. Em segundo lugar, é difícil encontrar um equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. Eva afirma que as pessoas de Hong Kong são viciadas no trabalho. Geralmente, a hora de almoço não é contabilizada como horário laboral. Só existem 14 feriados públicos por ano e o tempo de descanso é bastante limitado. Embora em Hong Kong o salário médio seja alto, não sobra tempo para fazer o que se gosta e os rendimentos altos perdem o seu propósito. A situação de Eva assemelha-se à dos entregadores de comida que abordámos no artigo anterior “Limites do Trabalho”. as pessoas escolhem aquela função porque lhes dá uma noção exacta de quando o trabalho começa e de quando acaba. Depois de despirem os uniformes, ficam de novo imediatamente livres. A visão de Eva e dos entregadores de comida reflecte os pensamentos de algumas pessoas de Hong Kong. Em terceiro lugar, Eva acredita que o sistema de saúde de Hong Kong é mundialmente famoso, com um elevado número de serviços de urgência e de cuidados intensivos, mas fica muito caro tratar certas doenças e os médicos fazem apenas diagnósticos rápidos e geralmente não prescrevem análises e exames detalhados. Por último, embora as pessoas de Hong Kong sejam muito educadas, são também muito indiferentes, e muitos são introvertidos, imersos no universo do telemóvel. Nesta comunidade muito fechada, todos trabalham imenso e têm relutância em sair e conviver com os amigos, por isso enviar mensagens e usar o telemóvel tornou-se o principal meio de comunicação. Por tudo isto Eva acredita que Hong Kong é uma “terra de zombies”. Os dados estatísticos do relatório e a partida de Eva, serão a razão que justifica o sentimento de infelicidade das pessoas de Hong Kong? Não sabemos. Se o nível de felicidade dos habitantes de Hong Kong continuar a cair, será um fenómeno a que ninguém quer assistir. A sociedade da cidade deve adoptar políticas pragmáticas para reduzir o custo de vida, melhorar a inclusão cultural e ainda conquistar o apoio de celebridades da internet para promover o desenvolvimento económico e melhorar as condições de vida. A saída de Eva de Hong Kong representa a perda de uma embaixadora da cidade. À medida que estrangeiros talentosos forem gradualmente saindo, o estatuto de Hong Kong como “metrópole internacional” irá inevitavelmente ser posto em causa. Actualmente, Hong Kong depara-se com o problema do que deve fazer de futuro para reter todas as “Evas”. No futuro, Hong Kong não precisará de olhar para o relatório. Desde que consiga reter todas as “Evas” e conquistar as suas recomendações, significará que os níveis de felicidade terão aumentado. Nessa altura, Hong Kong saberá que é feliz. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado da Faculdade de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA Grande América (I) “There is a Providence that protects idiots, drunkards, children and the United States of America.” Otto von Bismarck A América em “Primeiro Lugar” tem a ver com o despertar do orgulho de um povo conhecido por ser um farol de humanidade, hoje inclinado à auto-piedade ou à vingança. Fragmentado em dezenas de afiliações mentais e sociais entrincheiradas em perímetros repelentes. Cada um com o seu “poder”. Estranhos uns aos outros. O excepcionalismo de Trump é territorial. A América como lar. Espaço preservado por Deus para o benefício do patriota cristão branco. A ideia não é suficiente para o que resta dela. Alvo da “Grande América” proprietária do semicontinente americano. Protegida por direitos e tarifas. Fortaleza impenetrável. Daí a guarnição da imensidão árctica, ameaçada pela penetração chinesa que avança coberta pela Rússia ao longo da rota setentrional, o curto trajecto entre o Extremo Oriente e a América, em breve emancipado dos gelos impeditivos. Washington quer alargar a sua soberania ao Canadá, a ser comprado, e à Gronelândia, a ser tomada pela força se a Dinamarca resistir. Finalmente, uma fronteira de defesa para os Estados Unidos imperial, entre o Árctico e o Rio Grande/Bravo. Além disso, o exclave do Panamá a curta distância entre os dois oceanos, para protecção contra intrusos. Núcleo com recursos suficientes para dominar os rivais, desde que não sucumba à tentação de os eliminar ou, pior, de os converter. Pax Americana que Trump, monomaníaco de acordos, pretende estabelecer um após outro. Arma em cima da mesa. Nada de novo sob o sol. Grande parte do território federal foi adquirido através de acordos com o Estado cedente, por vezes recompensado com gratificações em dinheiro, muitas vezes persuadido pela força ou pela ameaça. Transacções imobiliárias. A cessão da Louisiana de Napoleão aos Estados Unidos destaca-se de todas as outras. Mais de dois milhões de quilómetros quadrados, incluindo a estratégica bacia do Mississipi, que teria feito da França a superpotência mundial. Comprada por quinze milhões de dólares em 1803, o equivalente a quatrocentos e vinte milhões actualmente. Nem sequer um décimo do valor médio de um clube da NBA (4,6 mil milhões). A falta de continuidade territorial na “Grande América” segundo Trump. Entre a selva desgrenhada de Darién, a barreira entre o Panamá e a Colômbia, onde o asfalto da estrada pan-americana que liga o Alasca à Argentina dá lugar, ao longo de cento e cinco quilómetros, a trilhos intransitáveis percorridos por migrantes a caminho do El Dorado e o Rio Grande/Bravo estão os Estados da América Central e o gigante mexicano. Na lógica da fortaleza, pareceria natural secar este pântano infectado, para o descrever no jargão trumpiano. Pelo menos, tomar o México. Mas não. A razão é que os cento e trinta milhões de mexicanos violam o cânone racial americano. Os hispânicos de credo e tom católico, misturados com os remanescentes ameríndios, se adicionados aos quarenta milhões de companheiros anteriormente entrincheirados nos Estados Unidos, formariam um bloco inassimilável pelas “Vespas” em declínio. As fronteiras da “Grande América” são estabelecidas primeiro pela raça, depois pelos imperativos estratégicos. Sem uma demografia homogénea suficiente não há nação e sem uma nação dominante não há império. A raça desenhou o país, decreta Daniel Immerwahr, historiador da “Grande América”. O perfil megamericano é ocultado pelo mapa do logótipo que reduz os Estados Unidos ao continente. Dissimulação. A América é geopoliticamente correcta, portanto falsa, útil para difundir a imagem de uma república continental, sem o Alasca, o Havai ou a infinidade de territórios oceânicos que pontilham o império em negação. Um império que não se pode revelar a si próprio, porque os seus cidadãos não têm o tique imperialista criado pelo antigo senhor britânico, herdado nessas antigas colónias apenas por uma combativa minoria político-militar inspirada por visionários febris. A “Grande América” é um império disfarçado de nação. Dá prioridade à coesão dos seus habitantes, decidida pela raça, no sentido cultural do termo. Confirmando que Trump tem um fraquinho por Platão, descobre-se na “República” (IV, 423b-c) o preceito socrático que modula a sua verve expansionista que é “Aumentar o Estado até que possa, à medida que cresce, permanecer uno”. Daí o Canadá, como país de brancos suficientemente anglo-saxónicos, embora com manchas de francófonos e católicos. A Gronelândia também, porque está meio vazia (uns insignificantes cinquenta e sete mil seres humanos, na sua maioria nativos interessados no estatuto e no dólar) mas é rica em recursos naturais, bases e instalações militares incluindo túneis subterrâneos construídos desde que Roosevelt tratou a maior ilha do mundo como propriedade nacional durante a II Guerra Mundial para evitar que caísse nas mãos de Hitler. O México não o faz. Excluído por ser um portador de indesejáveis. A ser mantido sob controlo através da ameaça de expedições punitivas à caça de imigrantes ilegais. Justificado pela intenção de atingir os cartéis de droga que traficam fentanil e outros opiáceos sintéticos cujos precursores químicos vêm da China segundo afirma Trump para todos os Estados, por isso, considerados “organizações terroristas” por Trump. Como corolário, o México é um Estado que encobre os terroristas. Justificados pela doutrina Bush, proclamada após o 11 de Setembro, os militares americanos que patrulham a frente Rio Grande/Bravo estão habilitados a efectuar rusgas antiterroristas num México pouco soberano. Finalmente, o subtexto racial da expansão evoca a “Anglosfera”, uma apresentação geopolítica rap de fascínio antigo que os círculos trumpistas cantam império exterior da “Grande América”. Uma confederação entre os Estados Unidos com o Canadá, a Groenlândia e o Panamá anexados, o Reino Unido, a Austrália e a Nova Zelândia. Um branco deslumbrante, quase totalitário. Uma família unida pela língua, pela história e pela familiaridade. Fundada na confiança mútua. Já estruturada como uma burocracia intergovernamental em termos de inteligência e muito mais. Uma conclusão pouco gratificante para nós, europeus. Esta América de combate está interessada em nós como ferramentas, não como parceiros. Trump quer uma América americana, não uma América ocidental. Num sentido geopolítico e cultural. A Europa está fora do radar. Somos responsáveis por esta desvalorização. A Europa está fora de contacto com a história. Pior ainda, não quer conhecê-la. Tapa os olhos e os ouvidos para se iludir de que existe. De que vale a pena. Mas, à margem do mundo moderno, dominada e dividida durante cinco séculos pelos seus impérios, continua a sonhar consigo própria como a dona da humanidade. Paradigma supremo. Ilha sofisticada do “Bem” no arquipélago caótico e bélico do “Mal”. O Homo europaeus nunca admitirá, como Carl Schmitt que “Sou um vencido. Duas guerras mundiais perdidas, duas”. A inércia da glória, um dia conquistada nos campos de batalha, transcende a pretensão de ser um modelo universal. Tendo renunciado à profissão das armas, a nossa pretensa grandeza reside em irradiar a ordem da paz, de que nos damos o exemplo. Com desprezo pelo ridículo. Como o cavaleiro de Orlando Enamorado escrito por Matteo Boiardo e publicado em 1495, afirmando que “não se apercebeu do golpe, mas continuou a combater, e estava morto (…) e fez morrer de riso os que o viram”. Ou talvez nós, europeus, estejamos a viver uma dessas experiências de quase-morte sobre as quais os neurocientistas se debruçam. Auras de serenidade descritas por aqueles que saem do coma e recordam a vida depois da morte, luz no túnel da inconsciência. Milagres de um tempo suspenso que comprime as dificuldades de uma vida em momentos de êxtase. Praticamos, sem dúvida, a eliminação bem sucedida da realidade. O psicanalista e psico-historiador, Franco Fornari em “ The Psychoanalysis of War” consciente de que são os códigos afectivos que movem a história, estudou o sono da Europa há quase meio século para determinar que sonhos continha. Descobriu os pesadelos. Rimos se através da síndrome da insensibilidade emocional da mesma forma que um camponês que trabalha com as mãos desenvolve calos na pele, também a pessoa que recebe continuamente informações desagradáveis é induzida a desenvolver calos no cérebro. Trata-se de uma forma de defesa. A síndrome dos calos emocionais desenvolveu-se paralelamente à expansão dos meios de informação e comunicação de massas. Diagnóstico tópico. Para não ver o caos dentro de nós e à nossa volta, somos tentados a abandonar o excesso de “informação” que inunda o nosso psiquismo. Com o risco de uma alienação emocional que nos protege dos factos. E, portanto, do dever de os interpretar. A história cai na prescrição. E com ela a nossa responsabilidade. Somos como Neo no Matrix, chamados a escolher entre a pílula azul e a pílula vermelha. A pílula azul, sedativo, permite-lhe convencer-se de que as más experiências que viveu são alucinações, para se adaptar à pseudo-realidade da Matrix. A vermelha fá-lo regressar à terrível realidade. Ao contrário de Neo (Keanu Reeves), que escolhe lidar com o seu mundo do próximo século tal como ele é no filme e talvez venha a ser na realidade, humanos em guerra contra a inteligência artificial que se virou contra ele, o europeu das últimas três gerações prefere a pílula azul que o prende à ficção matricial. Será que a azul é a cor da Europa virtual? A graciosa União Europeia (UE), que, não por abreviatura, baptizamos de “Europa”. Com todos os valores, o peso histórico, a pretensão pedagógica que o “Continente” se atribuiu. Se a Europa, em vez de ser um mito, fosse um actor geopolítico, o trauma de Trump deveria trazer-nos de volta à realidade. Fora da tagarelice do “projecto europeu” de que ninguém conhece o texto, a irrupção da terrível simplificação deveria recordar-nos o lema do ex-boxeador americano Mike Tyson de que “Todos têm um plano até levarem um murro na boca”. No nosso caso, o risco é não levarmos esse murro salutar porque para Trump nem mais nem menos nós existimos. Tal como teme Zelensky, o mundo poderia “continuar sem a Europa”. Não porque será cancelada. Porque não há, nem nunca houve, um sujeito da Europa, como atesta a leitura de qualquer atlas histórico (será também por isso que já quase não se publica nenhum?). O arranhão de Richard von Metternich como “expressão geográfica” aplicar-se-ia melhor à Europa. Aqueles que, como Napoleão e Hitler, estiveram mais perto de ocupar todo o espaço, que um curioso cânone francês quer estender do Atlântico aos Urais, consideraram-no, de facto, o tema do seu tema. Expansão do seu próprio Estado. Foi preciso um império inventado na América por europeus em fuga para englobar no seu arco hegemónico a quase totalidade da geografia do continente. Quanto ao império russo, estamos na “Frente Asiática”. Cauda peninsular da “Grande Mãe”. A UE vê Trump como o diabo. Porque, uma vez removida a máscara do internacionalismo liberal, a América revela a face pouco apresentável da ficção comunitarista. Subverte as suas premissas, expõe as suas traições e os seus limites macroscópicos. A falta de legitimidade democrática, impossível sem um povo europeu; a tentativa (mal sucedida) de abrir as fronteiras internas sem assegurar as externas; a exigência de que os novos membros da Europa Central e Oriental, expressão de nacionalismos exasperados pela longa subjugação a impérios hostis, se adaptem às “normas da UE” que esses mesmos etnicismos gostariam de liquidar. Paradoxo extremo, reivindicar a “soberania” europeia sem um soberano. Os sujeitos da UE continuam a ser os seus fundadores; os Estados. Cada um com o seu próprio estilo, empenhado em utilizar os recursos comunitários para os seus próprios fins. Por isso, falar de “defesa europeia” sem um Estado europeu, pertencente ao império americano na sua versão militar (OTAN), não faz sentido. Ignoramos que na origem do “projecto europeu” está a América, interessada em estruturar a sua vanguarda na Eurásia. E que nós, europeus, não só aceitámos como quisemos o “Pacto Atlântico”, cada um em seu benefício. De tantas aporias, o nascimento do “bom monstro de Bruxelas”. Arquitectura em permanente progresso ao estilo da “Sagrada Família” que, aliás, se anuncia concluída em 2026 uma espécie de ONU regional com características marcadamente tardo-soviéticas. Em suma, uma construção quase jurídica, sem alicerces nem alma política. Definitivamente inacabada. Portanto, estéril ou, pior ainda, explorável para os interesses de outros. Um motor do caos, tudo menos a ordem. Até ontem, o barco europeu estava a flutuar. Hoje, sob a pressão da dupla revolução geopolítica e tecnológica, a “potência suave”, acena sem bússola. Margaret Verstager, antiga Comissária da UE, confessou: “A Europa diz-se uma superpotência reguladora. Mas podemos regular coisas que sabemos. É muito difícil regulamentar o que não se conhece”. Acrescentaríamos e que nem sequer vos pertencem. Para aqueles de nós que se sentem europeus como nacionais dos diversos 27 Estados, e não vice-versa, o advento de Trump é apocalítico no sentido original do termo, revelador. Uma oportunidade para reflectir sobre o lugar que ocuparemos na reestruturação do império americano, se este sobreviver. E, sobretudo, sobre o papel que desempenharemos nesse esforço. Prefácio, fora da Europa, quase ninguém acredita que a conquista de territórios deva seguir regras, antes pelo contrário. Nem que seja reservada aos Estados. Os grandes oligarcas americanos têm o poder de fogo financeiro para comprar África ou a América Latina. Desistir da retórica do ius publicum europaeum. Reentrar na constituição material da política internacional. Agora que nos descobrimos nus, para reagir temos de responder a três perguntas: porque é que estamos confusos na auto-ilusão de ser Europa; como é que os Estados Unidos nos vêem; o que é que isso significa para nós, europeus?
André Namora Ai Portugal VozesProfessores envergonhados Os professores são estudo, conhecimento, cultura, dedicação e sofrimento. Não existem dois professores iguais. Uns do sexo feminino e outros do masculino. Em Portugal assistimos a professores, com filhos, a serem colocados a 300 quilómetros de casa. A chegarem ao local de ensino e não terem as mínimas condições de habitabilidade. Os professores são o fundamental da formação dos nossos filhos. Muitos pais não compreendem que a formação dos seus descendentes tem a ver com os professores e que a educação tem de ser feita no seio familiar. Os professores devem ter sido a classe profissional que durante muitos anos foi a mais prejudicada e que mais manifestações de protesto realizou. Os seus protestos visaram a correcção da situação de milhares de professores que foram ultrapassados na carreira por colegas com menos tempo de serviço. Desde 2018, cerca de 50.000 professores não foram devidamente reposicionados, resultando na colocação de docentes com o mesmo tempo de serviço em escalões distintos, devido exclusivamente a normativos legais. Os professores sempre sublinharam que não lutavam por mais dinheiro, mas sim por justiça. Houve professores que estiveram mais de 30 anos no 10.º escalão quando já deviam ter sido colocados no sétimo escalão. No ano passado realizou-se, em Lisboa, uma gigantesca manifestação com professores de todo o país, num encontro realizado pela Federação Nacional dos Professores (FENPROF) e o líder Mário Nogueira defendeu que era preciso criar uma carreira mais atractiva que mantivesse os que ainda estavam nas escolas e que atraísse os jovens e os que optaram por abandonar a profissão antes do tempo. Os professores através dos seus representantes têm conquistado algumas reivindicações. No entanto, as escolas continuam a ser locais de grande preocupação. Os alunos perderam o respeito pelos professores e têm havido vários casos de violência em que alunos agridem professores. Não é fácil ser-se professor nos dias de hoje. Todavia, na semana passada toda a classe dos professores deve ter ficado muito envergonhada. E é triste saber de professores envergonhados. Porquê? Porque foi divulgado nas redes sociais que uma professora teve um comportamento ignóbil de puro racismo. A docente, de alunos muito jovens, pediu que todos os presentes na aula afirmassem o que sonhavam para a sua vida adulta. Os alunos foram respondendo o que pensavam e quando chegou a vez de um aluno com raízes africanas, a professora retorquiu: “Tu, não vale a pena falares porque os fulanos da tua cor acabam todos no álcool e na miséria…”. Fez-se um silêncio sepulcral na sala de aula e o miúdo africano levantou-se e disse: “A senhora professora está muito enganada. A senhora vai acabar na miséria muito primeiro que eu porque fique sabendo que eu era órfão e fui adoptado por uma família muito rica, os meus avós são riquíssimos e os meus pais são muito, mesmo muito ricos e eu sou o neto e o filho único que receberei várias fortunas…”. Este caso, tem chocado muitas comunidades e muitos professores ficaram envergonhados porque é inadmissível que uma professora seja racista ao ponto de poder traumatizar um aluno para o resto da vida. O racismo existe, sempre existiu. Mas, uma professora não pode dar um exemplo tão negativo da verdadeira função de formação numa sala de aula. O racismo é combatido por quantos defendem os direitos humanos e democráticos. Em Portugal temos um partido de extrema direita com laivos de racista. Possivelmente a professora em causa é eleitora desse partido. Quase que não se acredita que uma professora rejeite a palavra de um aluno “preto” apenas porque é “preto” e lhe diga que irá acabar no álcool e na miséria como todos os “pretos”. A professora mostrou não ter o mínimo conhecimento do mundo que a rodeia ou, então, é mesmo racista radical. Temos africanos milionários, advogados, engenheiros, arquitectos, médicos, jornalistas, deputados, líderes de grandes empresas, polícias, todos excelentes e, felizmente, temos portugueses de origem africana na maioria das profissões. Esta professora não pode continuar a envergonhar os seus colegas. A docente tem de ser alvo de um processo disciplinar que vise ser expulsa da profissão e os pais do jovem ofendido deviam mover um processo-crime contra a professora pelas vias judiciais. Tratou-se de um caso lamentável e fica a pergunta: quantos mais casos semelhantes acontecerão pelas escolas de todo o país? Uma discriminação desta natureza, tão grave, não devia ficar impune e os directores das escolas têm de ter o completo conhecimento de que tipo de docentes têm nas suas escolas para poderem terminar com factos inadmissíveis como este que vos relatámos. Ai, Portugal, Portugal… P.S. – Em crónica anterior escrevemos sobre as ilegalidades que se processavam nas prisões portuguesas. Na semana passada, a Polícia Judiciária levou a efeito uma mega operação em várias prisões e foram detidos dois guardas prisionais e um agente da PSP, conotados com a entrada de droga e telemóveis nos presídios.
Paul Chan Wai Chi Um Grito no DesertoMacau, a história bem contada No dia 14 de Abril, o Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, apresentará o “Relatório de Linhas de Acção Governativa para o Ano financeiro de 2025”, exactamente uma semana após a “Black Monday”, durante a qual o Index Hang Seng de Hong Kong afundou para os 13,74 por cento. O maior desafio do Chefe do Executivo é construir uma narrativa positiva sobre Macau no Relatório das Linhas de Acção Governativa, para que os cidadãos possam ter um sentimento de ganho, de felicidade e de segurança. Contar bem uma história e fazer algo bem feito são dois conceitos distintos e de dois níveis diferentes. Por exemplo, quando um vendedor tenta que um cliente lhe compre um carro, irá dissertar sobre a superioridade da qualidade e do desempenho do veículo que, além disso, estará com um preço muito apelativo. No entanto, quando o comprador finalmente usa o carro pode vir a constatar que aquilo que o vendedor disse não passava de uma bonita história. O ditado “a prática é o único teste à verdade” continua válido. Aprecio a honestidade do actual secretário para a Economia e Finanças, que deixou claro que as receitas do ano fiscal de 2025 podem não vir a atingir as expectativas. Depois de Macau se ter libertado da pandemia de COVID-19, a recuperação total da sua economia fica dependente dos esforços do actual Governo da RAE. Confrontado com a actual situação de Macau, o Governo da RAE não pode usar as desculpas da complexidade e motilidade do cenário internacional e da existência de vários factores internos instáveis para se esquivar de suas responsabilidades. Afinal de contas, sob o princípio orientador “Macau governado por patriotas”, a fraca governação de Macau é um problema de quem estiver no poder. Assim, espero que no seu primeiro Relatório das Linhas de Acção Governativa, Sam Hou Fai possa realmente delinear uma forma de realizar os principais pontos propostos no seu programa político durante a campanha eleitoral, entre os quais: “trabalho, orientado para a subsistência das pessoas”, “distribuição de receitas, orientada para a subsistência das pessoas”, “desenvolvimento urbano, orientado para a subsistência das pessoas” e “salvaguarda da segurança, crucial para a subsistência das pessoas”. Ao utilizar eficazmente as vantagens institucionais de Macau como uma plataforma de oportunidades de negócio, o Governo da RAEM pode escrever um novo capítulo na prática de “um país, dois sistemas” e transformar Macau numa cidade feliz. A apresentação do “Relatório das Linhas de Acção Governativa para o ano financeiro de 2025” é de grande importância para Macau. Os 15ºs Jogos Nacionais da R.P. da China são também um importante evento do corrente ano, que Macau vai organizar e receber em conjunto com Guangdong e Hong Kong, mas ainda mais importante serão as Eleições para a 8.ª Assembleia Legislativa da RAEM, marcadas para 14 de Setembro próximo. Como em 2025 existirão eleições para o Conselho Legislativo de Hong Kong e para a Assembleia Legislativa da RAEM, é importante que sejam bem-sucedidas, particularmente a escolha dos deputados da Assembleia Legislativa da RAEM, eleitos por sufrágio directo, para demonstrar o sucesso da concretização do conceito “um país, dois sistemas”, mediante o qual “Hong Kong é governado por gentes de Hong Kong” e “Macau é governado por gentes de Macau” e pelo princípio orientador “Hong Kong governado por patriotas” e “Macau governado por patriotas”. A história sobre as Eleições para a 8.ª Assembleia Legislativa da RAEM não só deve ser bem contada, mas também deve ser bem executada para obter a confiança do Governo Central. Porque se recebe um concerto não significa a que o público compareça, pois isso depende de quem actua. Para a eleição dos deputados por sufrágio directo para a Assembleia Legislativa de 2025, prevejo que haja mais de 14 listas de candidaturas, considerando os esforços actualmente desenvolvidos por várias associações e a inclusão de listas das candidaturas para a eleição dos deputados por sufrágio directo à Assembleia Legislativa de 2021 que não foram eleitos. Os residentes permanentes da Região Administrativa Especial de Macau têm o direito de eleger e de ser eleitos, nos termos da lei. Estes direitos são-lhes garantidos pela Lei Básica de Macau.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA ordem e o caos não existem (continuação da edição de 3 de Abril) A América, a China e a Rússia temem pela sua existência. Nestes graus de auto consciência, só se considera vivo quem é uma grande potência. Se formos reduzidos a um nível inferior, somos tentados a cometer suicídio (Experientia docet da União Soviética). Deixamo-nos ir. Daí a “Grande Guerra” em vários teatros, quentes ou mornos, que se não forem suspensos se transformarão em “Total”. A desordem abre buracos que convidam os ambiciosos. Antigos impérios já diagnosticados como estando em desarmamento irreversível (Turquia, Japão), antigas colónias que se redescobrem como Estados civilizados (Índia/Bharat), nações humilhadas e ofendidas em ascensão devido à infracção dos seus vizinhos (por exemplo, a Polónia). Enquanto os protagonistas de anteontem se debatem, desde da Inglaterra penúltima hegemonia ao falso casal França-Alemanha, confinados em “simul stabunt simul cadent”. As ondas do caos engolfam terras neutras ou negligenciadas reduzem as distâncias entre os “Três Grandes”, cotovelo a cotovelo nos mares da China, na Ucrânia, em breve no Árctico. A transição hegemónica flui da América para o caos. E aí permanecerá durante muito tempo. Um colosso sem rival não se dissolve de um dia para o outro, sobretudo se for capaz de arrastar o resto do mundo para o desastre. Quando chegar a sua hora, o seu último desejo será o de impedir que outros ocupem o seu trono. A América está em luta consigo própria. Conflito épico, ao qual se aplicam os versos esotéricos de Theodor Däubler, austríaco de Trieste, que afirma que “O inimigo é a figura da nossa própria matéria/ e ele nos perseguirá, e nós a ele, até ao fim ”. Na luta pela sobrevivência, a América sabe que o seu mal interior é curado em relação ao mundo, mas só depois de restaurada a ordem natural das coisas. Nós, Europeus à frente, os outros atrás ou contra. A nova combinação vencedora de elites pós-liberais e tecno-estrelas desinibidas, híbridos anarco-autoritários, está convencida disso, reforçada pelo entusiasmo vingativo das classes médias-baixas frustradas pela globalização, pela “invasão” de alergénios não assimilados no cânone Wasp e pelo declínio do seu próprio estilo de vida. Esta estranha aliança encontrou em Donald Trump o seu exuberante campeão. Profeta do “senso comum”. Brutal na lógica e nos gestos. Encarnação do “terrível simplificador”, o tipo ideal do demagogo violador de regras evocado com horror pelo historiador suíço Jakob Burckhardt no final do século XIX. Inspirado pela República de Platão diria que “A justiça não é senão o proveito do mais forte”. Baptiza-se a si como um “génio muito estável”. Escolhido por Deus, que desviou a bala com que o “Estado Profundo” satânico o queria liquidar. A história dirá. Entretanto, notemos que há génio nas suas acções terrivelmente simplificadas. Para levar à letra. O primeiro acto do segundo Trump, subversivo e homem da ordem, é muito cénico. Frenético. A doença da América requer curas perigosas. Um presidente de quase 80 anos, com apenas quatro anos de mandato pela frente partindo do princípio de que não vai acabar por reinterpretar a Constituição, inventando uma terceira tem de se preocupar. Ele parte de onde pode colher recompensas imediatas que é o mito americano. A sua narrativa exalta a vontade e, por conseguinte, a certeza de voltar a ser grande. Para Trump, querer é poder. Querer é sonhar e fazer sonhar. Revelar o “Destino Manifesto 2.0” aos seus compatriotas. Nova fronteira necessária. Objectivo operacional. Ergo, o domínio do Espaço para controlar a Terra e arrebatar o público com a lenda marciana contada por Musk; supremacia reforçada na IA para governar o ciberespaço, liderar a revolução tecnológica, reinventar a indústria sobre princípios inéditos, talvez fantásticos evitando descobri-los demasiado cedo para não alienar os operários; apagar os incêndios ucranianos e do Médio Oriente e preparar as guerras do futuro cuja aurora mal podemos vislumbrar. Possivelmente sem as combater, graças ao restabelecimento da dissuasão perdida. O alfa e o ómega desta narrativa são os anúncios rápidos através das redes sociais. As estrelas da tecnologia presidem aos capítulos do mito. São os generais que lideram as respectivas vanguardas nas frentes tecnológicas de valor estratégico. Poderes quase autónomos que Trump pretende explorar, controlar e dominar à medida que penetram informalmente nas estruturas em ruínas do Estado. Anuncia uma batalha entre tribos trumpianas por competências e poderes públicos e privados. Melhor, público-privado, dada a sobreposição de funções e responsabilidades. Jogo sem regras. Mais cedo ou mais tarde, o confronto entre Trump e Musk, o mais célebre e poderoso dos oligarcas da fronteira tecnológica, que o presidente mimou ou frustrou dia sim, dia não, parece inevitável. Um confronto decisivo, porque sem a estrela tecnológica o sonho trumpiano transformar-se-ia num pesadelo. Trump, o revolucionário, raro mas verdadeiro em que o sucesso ou o fracasso de um indivíduo afectará o destino da nação e do mundo. A prova de quão profundo e estrutural é o colapso emocional dos americanos. A revolta de uma corte de ricos imundos, entediados pelo dinheiro e energizados pelo poder, destruiu o exausto establishment centrista. Os hologramas da administração Biden estão a desfrutar de um descanso imerecido. Enquanto as burocracias federais e dos Estados azuis se envolvem numa guerra de guerrilha partidária com o apoio da linha dura. Uma guerra civil de baixa intensidade. O magnata nova-iorquino quer cortar o nó górdio que está a estrangular a América que é a incompatibilidade entre excepcionalismo e universalismo. Complexio oppositorum como chamou Jung por conter os opostos dentro de si e inscrito pelos Pais Fundadores no código genético das estrelas e riscas, que fez dos Estados Unidos um espécime único no bestiário das potências. Tornar a América grande de novo significa optar pelo excepcionalismo em vez do universalismo. Estabelecer-se de forma insuperável no topo do mundo tal como é, e não redimi-lo como deveria ser. Se quiserem reafirmar-se como o número um, mantendo os chineses à distância, não podem consumir-se em guerras intermináveis, muitas vezes perdidas e, na melhor das hipóteses, reprimidas. Nem transformar outras tiranias em democracias, violar tribos em nações, transmutar a miséria de outras pessoas em prosperidade à custa das suas próprias meias-vidas.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesA psicologia da atração à primeira vista A “atração à primeira vista” é um fenómeno que fascina toda a gente. As comédias românticas retratam-na como um momento de ligação instantânea e incontrolável entre duas pessoas. Cabe-me agora desvendar as possíveis explicações por detrás deste fenómeno, recorrendo a duas grandes escolas de pensamento: a psicologia cognitiva — que desenvolve metodologias empíricas para testar hipóteses sobre o tema — e a abordagem psicodinâmica — que trabalha com bases interpretativas. Ambas as perspetivas constroem metáforas que nos ajudam a interpretar estes processos. Assim, podemos oscilar entre duas propostas: a atração à primeira vista será um produto de mecanismos inconscientes profundamente enraizados ou, pelo contrário, uma construção romântica a posteriori, baseada em processos sensoriais e cognitivos? A psicologia cognitiva sugere que a “atração à primeira vista” pode resultar de um processamento rápido de informação sensorial e emocional. O cérebro humano está programado para reconhecer padrões e categorizar informações de forma eficiente, o que nos permite avaliar alguém em frações de segundo, com base em traços faciais, expressões ou linguagem corporal. Estudos sobre perceção social confirmam que formulamos juízos imediatos sobre os outros. Do ponto de vista biológico, este fenómeno pode estar ligado à ativação do sistema dopaminérgico, responsável pela regulação do prazer e da recompensa. Quando encontramos alguém que consideramos atraente, o cérebro liberta dopamina, desencadeando um desejo de proximidade. Além disso, investigação sobre feromonas indicam que somos inconscientemente atraídos por parceiros cujo sistema imunitário complementa o nosso, favorecendo a diversidade genética na descendência. Por outro lado, a abordagem psicodinâmica, enraizada na psicanálise de Sigmund Freud, explica a atração à primeira vista através de mecanismos inconscientes. Segundo esta perspetiva, as experiências passadas — sobretudo as da infância — moldam os nossos padrões de atração. Quando nos sentimos instantaneamente atraídos por alguém, pode ser porque essa pessoa ativa memórias ou emoções associadas a figuras de vinculação primárias, como pais ou cuidadores. A atração não se centra no outro enquanto pessoa real, mas na forma como ele ressoa dentro da nossa estrutura inconsciente de desejo. O outro pode simbolizar algo que nos falta, algo interdito ou uma questão emocional ainda não resolvida. Esse mecanismo, conhecido como identificação projetiva, explica como podemos sentir uma forte atração por alguém que representa, de forma inconsciente, partes significativas da nossa história psíquica. Segundo esta teoria, raramente nos apaixonamos por quem a pessoa realmente é, mas sim pela maneira como projetamos nela as nossas necessidades emocionais não resolvidas. A atração é por isso um encontro de inconscientes, onde ambos projetam padrões familiares um no outro. Claro que as crenças também moldam expectativas românticas. Se acreditamos que a atração instantânea é um sinal de destino, tendemos a atribuir-lhe significado emocional. O impacto da cultura e das normas sociais mostra como a perceção do “amor à primeira vista” pode ser influenciada por narrativas romantizadas. Por exemplo, em livros, filmes ou publicidade romantiza-se a ideia da atração à primeira vista, criando uma narrativa que leva as pessoas a idealizar e a esperar ligações emocionais intensas e imediatas. Esta expectativa cultural pode influenciar a forma como interpretamos encontros reais — se alguém vive sintonizado com ideais românticos, é mais provável que atribua significado emocional a uma atração instantânea, encarando-a como algo “destinado a acontecer” ou “predestinado”. A psicologia cognitiva encara o fenómeno de forma mais pragmática, quase despojando-o do seu romantismo: tudo depende do nosso processamento mental e do que consideramos relevante. Já a psicanálise articula melhor o cruzamento entre fantasia e realidade, propondo que, embora a atração à primeira vista seja composta por elementos projetivos e fantasiosos, estes não estão totalmente dissociados do encontro em si. Há algo de significativo nessa dinâmica; caso contrário, as pessoas não se apaixonariam. Como diria um psicanalista, somos atraídos por quem consegue nutrir as nossas feridas psíquicas — o que, mais tarde, pode revelar-se a causa de disfunções no casal. Existe um domínio intangível que comunica subtilmente quem somos, de onde viemos e como nos podemos completar. Em suma, enquanto a neurociência e a psicologia cognitiva destacam reações automáticas e hormonais, a psicodinâmica enfatiza o papel do inconsciente e das experiências passadas. Embora a psicologia cognitiva e a psicodinâmica possam parecer opostas – uma focando-se em processos conscientes e observáveis e a outra em mecanismos inconscientes e emocionais –, existe potencial para sobreposição, e reconhecer isso poderia tornar a explicação mais robusta. A perspetiva cognitiva sobre a atração, que enfatiza julgamentos rápidos e automáticos baseados em sinais físicos e respostas emocionais, pode ser entendida como o processamento inicial e superficial que é complementado pelos processos inconscientes. Mas a minha proposta é outra: mostrar que a forma como olhamos para o fenómeno afecta a forma como o vivemos. Cada explicação poderá adaptar-se melhor às vivências de cada pessoa. Estará a atração à primeira vista enraizada num desejo autêntico e profundo, ou será uma ilusão alimentada pela necessidade humana de conexão e significado? A resposta talvez resida na imaginação e riqueza emocional de cada um. Em última análise, a maneira como interpretamos o fenómeno da “atração à primeira vista” pode ser profundamente influenciada pelos mecanismos cerebrais e inconscientes discutidos, mas também pelas narrativas culturais que internalizamos. Assim, a experiência será sempre uma intersecção entre o que sentimos e como aprendemos a sentir.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesAcademia Internacional de Hong Kong contra a Corrupção (II) A semana passada, debatemos a Independent Commission Against Corruption of Hong Kong” (HKICAC) (Comissão Independente de Hong Kong Contra a Corrupção) e a “Hong Kong International Academy Against Corruption” (HKIAAC) (Academia Internacional de Hong Kong Contra a Corrupção) e apresentámos sucintamente as suas origens. Hoje, iremos analisar o Comissariado de Macau contra a Corrupção, (CCAC). Em 1975, durante a administração portuguesa de Macau, o combate à corrupção era levado a cabo pela Polícia Judiciária. Em 1992, o então Governo de Macau criou o Alto Comissariado Contra a Corrupção e a Ilegalidade Administrativa. Tendo como referência a experiência de Hong Kong, que se tinha tornado um dos locais do mundo mais impolutos, no momento de redigir a Lei Básica de Macau, foi claramente estipulado que teria de ser criado o CCAC. O website do CCAC sublinha o trabalho empenhado que desenvolve para rever a lei e fortalecer a luta contra a corrupção. Um dos casos mais ilustrativos é o de Ao Man Long: “A investigação do caso de corrupção a Ao Man Long teve início em 2005, quando no decorrer da investigação de um caso de corrupção com base na informação entretanto disponível, o CCAC descobriu que o então Secretário para os Transportes e Obras Públicas estava envolvido por suspeitas de abuso de poder. Terá aceitado subornos de montantes avultados oferecidos por empresários da construção civil e indicado os vencedores de concursos de adjudicação de grandes obras do Governo.” (Em Abril de 2007, foi concluída a primeira fase do inquérito contra Ao Man Long. Descobriu-se que, no período em que exerceu funções do Secretário, o seu património atingiu um total de 800 milhões de patacas, ou seja, 57 vezes superior às remunerações do cargo. Na sua residência, foram encontrados dinheiro, títulos de valor, abalones, barbatanas de tubarão, relógios de luxo, garrafas de vinho tinto caríssimas e outros objectos. No passado dia 30 de Janeiro, o TUI condenou Ao Man Long, por 57 crimes de corrupção passiva, branqueamento de capitais, abuso de poder e outros, à pena de prisão de 27 anos e ao pagamento de uma indemnização de 240 mil patacas ao Governo da RAEM, sendo declarados perdidos a favor do Governo todos os bens provenientes dos actos ilícitos.) Isto mostra que o CCAC alcançou resultados extraordinários no seu trabalho de combate à corrupção. Em 2006, foi criada em Pequim, a Associação Internacional de Autoridades Anti-Corrupção (IAACA sigla em inglês). É a primeira organização internacional anti-corrupção do mundo com agências de vários países membros. Visa promover activamente a “Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção” e reforçar a cooperação internacional entre as agências congéneres de vários países. Cao Jianming, Procurador-Geral da Procuradoria Popular Suprema da China, foi eleito Presidente da IAACA por duas vezes, a 5 de Novembro de 2010 e a 24 de Novembro de 2013. O mandato do Presidente da IAACA é de três anos. A 5 de Janeiro de 2022, o Comissário da Comissão Independente contra a Corrupção de Hong Kong, Bai Yunliu, foi eleito como novo presidente. Mais tarde, Bai Yunliu aposentou-se. A 1 de Setembro de 2023, Hu Yingming assumiu o cargo de presidente da IAACA. A IAACA tem um “Secretariado da Federação”, criado pelo HKICAC a 6 de Janeiro de 2022 para apoiar o Comissário do HKICAC no exercício das suas funções como Presidente da IAACA. A principal responsabilidade da Secretaria da Federação é apoiar ou organizar actividades. O HKIAAC é afiliado à Divisão de Cooperação Internacional e Assuntos Institucionais do HKICAC e desempenha parte das funções do Secretariado da Federação. O Chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, acredita que, além de cooperar com o trabalho e as políticas anti-corrupção da China, o HKICAC também coopera com organizações de todo o mundo para promover conjuntamente a causa anti-corrupção a nível global. O HKICAC pode ajudar a aperfeiçoar a luta contra a corrupção em Hong Kong, promover o ambiente impoluto da região e promover a estabilidade, a integridade e o Estado de direito da sociedade de Hong Kong. Actualmente, o HKICAC já deu formação em mais de 70 países. Em Fevereiro de 2024, o HKICAC coorganizou um “Curso Internacional Anti-corrupção sobre Investigação Financeira e Perseguição de Fugitivos e Recuperação de Activos Roubados”, com duração de nove dias, em colaboração com a “Rede Operacional de Agências de Aplicação da Lei Anti-corrupção do Escritório de Drogas e Crime” das Nações Unidas. Em Março de 2024, o HKICAC abriu um curso profissional anti-corrupção de cinco dias para mais de 90 funcionários do “Gabinete de Combate ao Enriquecimento Ilegal” no Mali, cobrindo tópicos como técnicas de investigação, gestão da integridade e educação pública. No início de Abril de 2024, o HKICAC enviou pessoal para o Cazaquistão, na Ásia Central, para realizar cursos para quase 200 funcionários de agências locais anti-corrupção. Em Maio de 2024, o HKICAC assinou um memorando de cooperação com a Rede Operacional de Agências de Aplicação da Lei Anti-Corrupção do Gabinete das Nações Unidas contra as Drogas e o Crime. Em Maio de 2025, auxiliou-a na redação das “Directrizes de Gestão de Risco de Corrupção Prisional”. Um porta-voz do HKICAC assinalou: “O HKICAC valoriza a operacionalidade que combina a teoria com a prática, cumpra activamente a sua missão anti-corrupção, construa uma plataforma internacional de integridade, promova o desenvolvimento da causa anti-corrupção a nível global e contribua inequivocamente para o avanço desta em todo o mundo.” O HKICAC forneceu várias formações anti-corrupção em muitos países e trabalhou afincadamente para combater a corrupção global. Estas conquistas foram feitas sob a liderança da China. A partir de agora, o HKICAC não só continuará a desenvolver com competência este trabalho, como a sua existência falará em prol da história da China e de Hong Kong. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado da Faculdade de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau Email: cbchan@mpu.edu.mo
André Namora Ai Portugal VozesSondagens da treta O que é uma sondagem? É um inquérito realizado por empresas criadas para indagar junto das pessoas algo de que se pretende ter uma ideia generalizada. Bem, generalizada nunca é possível. Porque a maioria das sondagens políticas é uma treta. Existem os mais variados tipos de sondagens: encomendadas pelos partidos políticos, por canais de televisão e de rádio, por jornais e algumas simplesmente por grupos económicos. As sondagens políticas em Portugal têm sido um chorrilho de enganos relativamente ao resultado final em dia de eleições. Houve um ano, em que as sondagens todas realizadas junto dos inquiridos davam a vitória ao Partido Socialista e quem venceu as eleições foi o PSD. E o contrário também já aconteceu. As sondagens que ultimamente têm sido divulgadas, em relação à próximas eleições legislativas antecipadas e marcadas para o próximo dia 18 de Maio, têm deixado a maioria da população desorientada. E porquê? Ora, porque as sondagens são uma treta. Algumas sondagens têm sido realizadas – numa população de milhões de pessoas – junto de 500, 800 ou 1000 pessoas, com a agravante de os contactos serem efectuados para números de telefones fixos. E quem é que tem hoje em dia telefone fixo? Uns quantos velhotes e pouco mais. Ora, uma sondagem deste género, incrivelmente encomendada por uma estação de televisão, outra de rádio e um jornal diário, tem alguma credibilidade? Não tem, mas influencia o potencial eleitorado. E aqui é que está o busílis da questão. Há sondagens que apenas visam a influência mental dos eleitores. Existem sondagens para todos os gostos. Chega mesmo a ser vergonhoso. Certas sondagens sabemos que estão pagas à nascença por certo partido político e apresentam sempre esse partido à frente. É a manipulação total. Temos tido outras sondagens que são a disparidade total. Umas dão a vitória à coligação PSD-CDS por seis pontos à frente do Partido Socialista. Outras, apresentam a vitória do PS com três pontos percentuais sobre o PSD-CDS. Há sondagens que dão ao Chega 12,3 por cento enquanto outras fornecem um resultado aos populistas de 18,5 por cento. Obviamente que algo está errado. Até a Universidade Católica que sempre teve a maior credibilidade junto dos portugueses no que respeita a sondagens, para que desta vez não errasse, apresenta um empate técnico entre o PS e o PSD-CDS. A maioria das sondagens é manipuladora do voto futuro do eleitor. A diferença numérica entre as diferentes empresas de sondagens, mostra bem que não bate a bota com a perdigota. Lembramo-nos perfeitamente do que aconteceu nas eleições de 2022, quando os socialistas conquistaram a maioria absoluta com todas as sondagens a darem a vitória ao PSD? O PS acabou por ter mais 5,5 por cento do que aquilo que as sondagens previam e o PSD teve menos 5,5 por cento. As sondagens foram manipuladas para assustar as pessoas e levá-las a votar de uma determinada maneira. O PS nunca teria tido maioria absoluta, se as empresas de sondagens como a Intercampus e não só, não andassem a falar num empate técnico e num taco-a-taco entre PS e PSD, que pura e simplesmente não existia. Um erro colossal, um desfasamento clamoroso entre as sondagens e o que aconteceu na realidade, ou resulta de um festival de incompetência, ou foi uma estratégia criminosa de manipulação geral do eleitorado, leia-se uma burla colossal. No primeiro caso essas empresas de sondagens nunca mais deviam ser contratadas, no segundo teria de haver perdas de alvará. E em ambos os casos, sugerimos que se acabe com a divulgação de sondagens tanto na pré, como em plena campanha eleitoral. Está bem à vista de todos o que se está a passar para as eleições de 18 de Maio. Algumas empresas de sondagens estão mesmo a manipular o eleitorado, inclusivamente quanto ao número de indecisos. Umas sondagens opinam que existem ainda 18 por cento de indecisos, outras dizem que os indecisos andam à volta de 3 ou 4 por cento. Está mais que provado que na maioria dos casos estamos perante sondagens da treta. Porque manipulam, mentem e obedecem a quem encomenda. Por outro lado, temos dirigentes partidários que se riem dos resultados de algumas sondagens. É sabido que os partidos políticos encomendam sondagens apenas para análise interna. E em certos casos, há partidos que têm sondagens bem realizadas e com um vasto número de inquiridos e sabem que a intenção do voto dos portugueses é absolutamente contrária ao que está a ser divulgado por certos canais de televisão e certos jornais. Entretanto, o Partido Popular Monárquico, que foi afastado da AD, contestou judicialmente que o nome Aliança Democrática (AD) continuasse a figurar nos boletins de voto para 18 de Maio. E o tribunal deu-lhe razão e o PSD e o CDS foram proibidos de usar a sigla Aliança Democrática. Mas, como em política a vilanagem é uma constante, logo os dirigentes do PSD e do CDS inventaram uma manobra, para que o Tribunal Constitucional não pudesse reprovar. E apresentaram a denominação “AD-coligação PSD-CDS”. Pronto, venceu a esperteza saloia. Acontece é que existem em Portugal muitos mais monárquicos do que votantes no CDS. Mesmo assim, o PPM já recorreu judicialmente no sentido de suportar que é ilegal manter a sigla AD. Esta campanha eleitoral vai ser dura. Luís Montenegro será confrontado com todos os cambalachos que lhe incumbem. Pedro Nuno Santos não se salvará de ser acusado de inventar três aeroportos para Lisboa de um dia para o outro e de ter prejudicado o país com tudo o que se passou na TAP. E o André Ventura? Bem, esse está a perder eleitores em cada mês que passa e hoje diz uma coisa e amanhã outra. A credibilidade do seu Chega está a baixar paulatinamente, porque também não lhe têm faltados os casos e casinhos, tais como deputado que roubava malas, outro que é suspeito de pedofilia e tantos outros factos que têm levado potenciais eleitores para outras paragens.
Olavo Rasquinho VozesA administração Trump e a sustentabilidade do globo O período relativamente curto desde que a administração Trump tomou o poder nos EUA já deu para ver que os próximos quatro anos serão de continuação do ataque contra o bom senso, entre outros aspetos, no que se refere à sustentabilidade do nosso planeta. Em vez de se seguirem as recomendações de várias agências especializadas da ONU, baseadas em estudos científicos, vão ocorrer mais medidas no sentido de incrementar a exploração dos combustíveis fósseis. Trump decretou, pela segunda vez, logo no primeiro dia do seu segundo mandato, a saída do Acordo de Paris. E fê-lo provocatoriamente, perante as câmaras de televisão. Além da retirada de outras instituições da ONU, como a Organização Mundial de Saúde e o Comité dos Direitos Humanos, a sua administração está a tomar medidas no sentido de asfixiar projetos nas áreas relacionadas com o ambiente. Outros sintomas da aversão de Trump à ciência consistem no facto da tomada de medidas para que se deixe de recorrer a expressões como “alterações climáticas” e “aquecimento global”, nos documentos das agências estatais americanas que lidam com a atmosfera, os oceanos e o clima. Também outras instituições, como a Agência de Proteção Ambiental, o Departamento do Interior e o Departamento de Energia foram notificadas no mesmo sentido. Não se trata de medidas puramente semânticas, mas de instruções bem concretas para tentar reverter a luta que se está a travar à escala global contra o uso e abuso dos combustíveis fósseis, os quais, como se sabe, são a principal causa do efeito de estufa que está na base das alterações climáticas. Este comportamento do governo da potência mais poderosa do globo, e a segunda que mais injeta gases de efeito de estufa (GEE) na atmosfera, configura o que deveria ser classificado como crime não só contra a humanidade, mas também contra a biodiversidade, o ambiente e a sustentabilidade do nosso planeta. A explicação desta atitude poderá ser encontrada quando se investiga quais os principais apoiantes de Trump, entre os quais se contam não só os eleitores do mundo rural, facilmente manipuláveis através das redes sociais, mas também personalidades da alta finança e magnatas envolvidos na exploração de combustíveis fósseis. Estes têm muito a lucrar com esta política, como o intrépido Elon Musk, um dos principais financiadores da campanha eleitoral que antecedeu a tomada do poder por uma oligarquia sedenta do lucro fácil. Ainda está na nossa memória a promessa de oferta de um milhão de dólares a alguns dos eleitores que assinaram uma petição de apoio ao candidato Donald Trump. Os favores pagam-se com favores, e eis Trump, recentemente, a fazer publicidade a automóveis Tesla. É provável que a intensificação da exploração dos combustíveis fósseis, preconizada pela nova administração americana, ajude a contrariar temporariamente a subida do preço da energia, uma vez que a transição energética preconizada pelas mais variadas agências das Nações Unidas fica relativamente cara aos cidadãos. Entretanto, as energias renováveis estão a tornar-se cada vez mais económicas e competitivas, o que implica, a médio e longo prazo, que os preços diminuam significativamente, atendendo a que as principais fontes de energia renováveis (radiação solar, vento, recursos hídricos, ondas e marés, biomassa, geotermismo) são inesgotáveis. Além dos oligarcas e dos cidadãos com nível de instrução relativamente baixo, também contribuíram para esta situação os promotores da tenebrosa teoria da conspiração promovida pelo movimento QAnon1 que, através da Internet, desenvolve atividades com base em notícias falsas, as famosas “fake news”. Consta também que a Federação Russa não é alheia às manobras que levaram Trump ao poder, como aconteceu em 2016, recorrendo a ataques cibernéticos que prejudicaram a candidata Hillary Clinton. Tudo isto se passa numa altura em que o nosso planeta caminha perigosamente para um ponto crítico em que será cada vez mais difícil reverter os danos causados às várias componentes do sistema climático: a atmosfera está cada vez mais impregnada de GEE; na hidrosfera a acidez e a poluição dos oceanos aumenta perigosamente; na biosfera as florestas são dizimadas por incêndios e por desflorestação, e a biodiversidade sofre degradação acelerada; na litosfera, o solo está parcialmente impregnado de produtos tóxicos, entre os quais metais pesados provenientes das atividades humanas, os quais são suscetíveis de serem absorvidos pelas plantas e entrarem na cadeia alimentar de animais e seres humanos; a criosfera funde parcialmente provocando perigosamente o aumento do nível médio do mar. Segundo a Organização Meteorológica Mundial e o Serviço Mundial de Monitorização dos Glaciares verificou-se, no período 2022-2024, a maior perda de massa glaciar jamais registada em três anos, antevendo-se que em muitas regiões os glaciares não conseguirão perdurar para além do século XXI. É dececionante que um conjunto de oligarcas, que só tem em perspetiva o lucro a curto prazo, esteja a contribuir para arrastar o nosso planeta para tempos cada vez mais difíceis. A fatura a pagar será tanto mais grave quanto mais tempo essa administração, e outras semelhantes, estiverem no poder. Em vez da recente visita provocatória do vice-presidente dos EUA à Gronelândia, talvez tivesse sido melhor ideia ter visitado a Islândia, onde se encontra uma placa no local onde existiu o glaciar “Okjökull” (também designado por “Ok”), o primeiro glaciar islandês a desaparecer devido às alterações climáticas. Está nela escrito um texto, em islandês e inglês, com o título “Uma carta para o Futuro” que consta do seguinte: “Ok é o primeiro glaciar islandês a perder o seu estatuto de glaciar. Estima-se que, nos próximos 200 anos, todos os nossos glaciares sigam o mesmo caminho. Este monumento é para dar a conhecer que sabemos o que está a acontecer e o que é necessário ser feito. Só você sabe se nós o fizemos”. *Meteorologista QAnon – movimento de extrema-direita surgido na Internet em 1917, nos EUA, que recorre frequentemente a notícias falsas que fomentam a crença de que existe uma conspiração secreta à escala global fomentada por elites, políticos e figuras do meio intelectual e artístico que estariam envolvidas em atividades relacionadas com pedofilia, tráfico de crianças e rituais satânicos.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA ordem e o caos não existem “Chaos is the domain of ignorance, the unexplored. Order, on the other hand, is like an explored territory, it’s the hierarchy, the organisation, the environment of mastery, in which you know and understand.” Jordan Peterson Existem interpretações. Muitas vezes instrumentais. A minha ordem é o teu caos e vice-versa. Os conflitos entre e dentro dos grupos humanos têm a ver com a distribuição desigual da ordem e da desordem. Nunca é óptimo. O resultado é uma instabilidade permanente enquanto houver vida na Terra. O oposto também é verdadeiro pois a guerra para acabar com todas as guerras é a guerra para acabar com o mundo. E da nossa espécie. Desde que, entretanto, inspirados por Elon Musk, não nos tenhamos implantado noutros planetas. Até meados do século XX, estas eram especulações ao serviço das idolatrias modernas que postulavam a possibilidade do impossível e refreavam a concretização do possível. Nunca definitivamente limitado. A partir de Hiroshima, sabemos que não há limite para a nossa capacidade de luta e de auto-destruição. Ao contrário das teorias que ansiavam pelo fim da história, hoje as práticas de redistribuição da ordem e do caos podem efectivamente acabar com ela. A vantagem dos outros animais sobre nós, sapientes, é que eles ousam o impossível. O que não os imuniza das nossas possíveis loucuras. Um pesadelo que pode ser alargado a toda a natureza, à qual recusamos pertencer porque afirmamos que ela nos pertence, permitindo-nos assim saqueá-la como seus autoproclamados senhores. É suficiente, cremos, para medir a arrogância dos poderes que disputam a supremacia no seu campeonato exclusivo. Esta corrida ao “Santo Graal” pode fazer-nos descarrilar para sempre. Deve haver loucura em tanto método. Robert Ardrey, etólogo, dramaturgo e inspirador da peça, “Star Spangled”, que estreou na Broadway em 1935, fixou que “a sociedade é um grupo de seres desiguais organizados tendo em vista a unidade de necessidades”. Retiramos a dolorosa conclusão de que a sociedade dos humanos não existe por falta de objectivos comuns. Ficaríamos muito gratos a quem pudesse provar que a nossa espécie persegue os mesmos objectivos, pelo que somos todos irmãos. Excluímos da competição a Inteligência Artificial (IA), cuja tendência para fazer batota é típica dos hiper-poderosos que tememos. Entretanto, somos chamados a interpretar. Em que ponto se situa a luta entre poderes para obter o melhor equilíbrio entre a ordem e o caos? Depende de como os competidores retratam para si o padrão ideal de tal mistura manipulável. Não há um “eu” absoluto seguro dos dois paradigmas, apenas ajustes mútuos provisórios. Dialéctica de gémeos siameses. Para que a ordem total seja igual ao caos total. Constrangimento do espelho. Os dois pólos são faces de Jano, deus romano das portas e das passagens, guardião dos limiares, do limite (substantivo e verbo). Nosso lar adoptivo. O caos é a ordem dinâmica do mundo. Incontrolável em categorias científicas porque agitado pela história. Ordenar o caos interno é uma tarefa a que se deve dedicar qualquer sociedade que queira ser um sujeito geopolítico. Para poder competir na conquista de espaços territoriais e espirituais, contados como Estados ou contestáveis. Nenhum sujeito soberano pode aspirar a dominar tudo e todos. Nem pode estabelecer-se acima da rede de conexões que informa qualquer sistema, do corpo humano ao social. A mente suprema da autoridade absoluta é uma ficção tragicómica. O patologista/filósofo Neil Theise adverte que “O cérebro está na rede e é actuado à medida que trabalha. Não é simplesmente a mente a escrutinar o resto do corpo a partir do seu trono no crânio”. Somos uma arquitectura de órgãos com funções específicas. Nenhum funciona sozinho. Todas as interacções são locais. Cada elemento do sistema complexo interage com todos os outros elementos graças a redes tecidas de ligações locais. Traduzido em geopolítica, ninguém pode exercer um domínio completo sobre a sua sociedade, e ainda menos sobre esse arquipélago composto de comunidades periféricas centradas no líder que quer ser um império. Um domínio que os cépticos incuráveis estendem a Deus. Se Ele existisse, teria de se limitar a si próprio para prover às suas criaturas numa expansão desenfreada, dedicada a destruir a Criação. Negaria assim a sua própria divindade. Ou exercê-la-ia numa escala reduzida. Se Deus existe, é um semideus. Parece-lhe familiar? Estamos a viver um excesso de caos produzido pela crise simultânea do “Número Um” e dos seus adversários.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesAcademia Internacional de Hong Kong contra a Corrupção (I) A 21 de Fevereiro de 2024, foi criada a “Hong Kong International Academy Against Corruption” (a HKIAAC) (Academia Internacional de Hong Kong Contra a Corrupção). Hu Yingming, director da Hong Kong’s Independent Commission Against Corruption (HKICAC) (Comissão Independente de Hong Kong Contra a Corrupção) assinalou numa entrevista que a HKICAC e a HKIAAC são instituições que podem fornecer bons relatos da China e de Hong Kong. O HKICAC é um departamento do Governo de Hong Kong que combate a corrupção através das forças da lei e de estratégias preventivas e pedagógicas, tornando Hong Kong num dos locais mais livres de corrupção de todo o mundo. A HKICAC tem quatro departamentos, um dos quais é o “International Cooperation and Institutional Affairs Department” (Departamento Internacional dos Assuntos Institucionais e de Cooperação). A HKIAAC é afiliada ao Departamento Internacional dos Assuntos Institucionais e de Cooperação. Porque é que Kong criou a HKICAC? O website da Academia explica o motivo: “A corrupção era galopante no sector público. As equipas das ambulâncias exigiam gorjetas antes de ir buscar um doente. Até mesmo o pessoal auxiliar do hospital pedia gorjetas antes de dar aos pacientes alguma comida ou um copo de água. Era também necessário oferecer subornos aos funcionários certos quando alguém se candidatava a habitação, educação e outros serviços públicos. A corrupção era particularmente grave nas forças policiais. ” O website também salienta que o que desencadeou a criação da HKICAC foi o incidente com Peter Godber: “Em 1973, descobriu-se que Peter Godber, Superintendente da Polícia de Hong Kong, possuía uma fortuna superior a 4,3 milhões de dólares de Hong Kong, que se suspeitava ter sido obtida através de subornos. O secretário da Justiça pediu a Godber que provasse a origem da sua fortuna no prazo de uma semana. No entanto, durante esse período, Godber fugiu sem dificuldade de Hong Kong para o Reino Unido. A fuga de Godber fez explodir a indignação que já há muito o público vinha a acumular.” Nessa altura, as exigências para “combater a corrupção e apanhar Godber” ouviam-se por toda a parte. A HKICAC foi criada a 15 de Fevereiro de 1974. Cumpriu a sua missão e conseguiu que Peter Godber comparecesse perante a justiça. Há muitos filmes de Hong Kong que são baseados neste caso e que também mostram os pacientes a darem gorjetas aos auxiliares hospitalares a fim de poderem ter um pouco de água fervida ou uma arrastadeira. Embora os conteúdos dos filmes sejam exagerados e destinados ao entretenimento, revelam a dimensão da corrupção na sociedade de Hong Kong naquela época. Após o incidente de Peter Godber, a HKICAC investigou muitos casos empresariais famosos, como: a fraude comercial do Carrian Group, o caso de suborno do alto funcionário do Departamento de Justiça Warwick Reid, o caso do oficial de polícia sénior Xian Jinhua, o caso do artista Nicholas Tse, o caso de suborno do famoso professor de língua chinesa Xiao Yuan, etc. Entre os sujeitos investigados podemos encontrar funcionários governamentais de topo, celebridades, executivos séniores de grupos empresariais, artistas, professores, etc. Ao resolver estes casos, a HKICAC ganhou o reconhecimento e os elogios da sociedade e conseguiu tornar Hong Kong num dos locais mais livres de corrupção de todo o mundo. A Lei Básica de Hong Kong comtempla a manutenção da HKICAC. O artigo 57.º estipula que o HKICAC opera de forma independente e é directamente responsável perante o Chefe do Executivo, ou seja, reporta a John Lee, Chefe do Governo da região. O artigo 101.º da Lei Básica de Hong Kong estipula que o Chefe da Comissão Independente contra a Corrupção deve ser um cidadão chinês residente permanente em Hong Kong e não pode ter residência em nenhum país estrangeiro. Na próxima semana, analisaremos a Comissão Independente de Macau contra a Corrupção. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado da Faculdade de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau Email: cbchan@mpu.edu.mo
André Namora Ai Portugal VozesApito Bidourado Todos nós nos lembramos do caso ‘Apito Dourado’ que envolveu o antigo presidente do Futebol Clube do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa. O caso era grave e a acusação ao dirigente portista envolvia várias suspeitas, a principal de corrupção para com os árbitros, a fim de que os rivais não conquistassem campeonatos. O caso foi notícia durante meses e uma das testemunhas em tribunal foi o antigo presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Gilberto Madail. Este, nada disse que pudesse incriminar Pinto da Costa porque também tinha telhados de vidro. Recordamo-nos perfeitamente da organização do Euro 2004, em Portugal, onde o presidente da FPF era precisamente Gilberto Madail. O povinho ficou atónito com a construção e renovação de dez estádios de futebol para a realização do Euro’04. Quatro estádios eram da propriedade do Benfica, FC Porto, Sporting e Boavista, enquanto o investimento público foi inserido nos estádios de Braga, Guimarães, Aveiro, Coimbra, Leiria e Algarve. Na altura, foi debatido na comunicação social o investimento exageradíssimo para um país tão pequeno e pobre e ficou a convicção de que a corrupção teria andado ao redor do investimento. Hoje, os estádios de Leiria, Aveiro e Algarve estão praticamente abandonados. A corrupção sempre esteve ligada ao futebol, não só institucionalmente como através dos inúmeros negócios que se realizam nos clubes com a compra e venda de jogadores. Quanto à arbitragem é melhor nem salientar os escândalos a que assistimos quase semanalmente. A 17 de Dezembro de 2011, Fernando Gomes tomou posse como presidente da FPF e as suas responsabilidades foram imensas ao longo de todos estes anos, já que recentemente passou a bola para o ex-árbitro Pedro Proença, que por sua vez já vinha de presidente da Liga de Futebol. Fernando Gomes foi um presidente polémico e não podemos esquecer que a seriedade não imperou quando Fernando Santos foi o seleccionador da equipa nacional. Na semana passada, o país ficou atónito porque ao fim de tantos anos, uma equipa de 65 inspectores da Polícia Judiciária (PJ), 15 especialistas de polícia científica da PJ, cinco juízes de instrução criminal, seis magistrados do Ministério Público e quatro representantes da Ordem dos Advogados deram início à megaoperação a que deram o nome “Mais-Valia”. Esteve em causa a suspeita de corrupção na Federação Portuguesa de Futebol, tendo sido desencadeados 20 mandados de busca e apreensão em domicílios, instituição bancária e sociedades de advogados nos distritos de Lisboa, Setúbal e Santarém. Então, o que é que estava em causa? Nada mais, nada menos que a suspeita de avultadas comissões recebidas por dirigentes da FPF e intermediários na venda do edifício da antiga sede da FPF, em Abril de 2018, por 11 milhões e 250 mil euros e que nesse negócio as comissões podem ter ultrapassado os dois milhões de euros. O período sob investigação incide entre os anos de 2016 e 2020, durante o segundo mandato de Fernando Gomes como presidente da FPF. No entanto, os magistrados e inspetores não conseguiram ter acesso a todos os documentos sobre a venda da antiga sede e que algumas informações terão desaparecido. O que foi confirmado é que o intermediário no negócio da venda do edifício da FPF, António Gameiro, antigo deputado do Partido Socialista, recebeu da FPF 249 mil euros, e ainda mais 492 mil euros de quem comprou o edifício. Ao fim e ao cabo, o imbróglio é enorme porque envolveu mais suspeitos tanto no interior da FPF como no exterior e as investigações estão a ser muito complexas. Mas, como na vida nunca vimos tudo, qual não foi a maior surpresa, escandalosa e vergonhosa para a PJ, quando os jornalistas que se preparavam para reportar a cerimónia de posse de Fernando Gomes como presidente do Comité Olímpico português, eis que chega o director nacional da PJ, Luís Neves – recentemente reconduzido no cargo – com Fernando Gomes ao seu lado e começa a disparar um discurso absolutamente absurdo no sentido de esclarecer de imediato que existem investigações de suspeita de corrupção na FPF mas, há sempre um mas, que o ex-presidente Fernando Gomes está ilibado de qualquer suspeita e consequentemente inocente. Leram bem? Como é que o director da PJ podia assegurar a inocência total de Fernando Gomes quando ainda estavam a decorrer as investigações na Cidade do Futebol, onde foram recolhidos computadores, telemóveis e documentação vária? Quando os inspectores ainda estavam a solicitar o acesso ao email de Fernando Gomes? Bem, caros leitores, o que sabemos é que foi a primeira vez que um director da PJ veio a público com um potencial suspeito de investigações que ainda decorriam, colocar a cabeça no cepo pelo potencial suspeito. Obviamente que as nossas fontes junto do Ministério Público transmitiram-nos que a atitude do director da PJ causou um imenso mal-estar no interior da investigação judicial “Mais-Valia”. Um caso nunca visto. Afinal, será que a corrupção está em todo o lado e que em vez de um Apito Bidourado teremos um Apito Tridourado?…
Amélia Vieira VozesEmboscada Quando o perigo espreita é o corpo que fala. Somos capazes de decifrar em tempo recorde nossos poderosos transmissores que nunca saberemos exactamente de onde vêm. A impressionante capacidade de precisão é talvez a marca do pensamento para se ajustar ao improvável, uma rede genial de componentes que se agregam antes de qualquer análise: podemos designar como presciência, ângulo forte, talento inato para sobreviver. No entanto será sempre sobrenatural, pois que a natureza não necessita em sua constância de tais rasgos, que viver, afinal nem constitui um grande perigo, só que há momentos. Assim como as comportas da vida se nos abrem, também em nosso favor se agregam recursos, e a esta sucessão chamamos milagre, essa aritmética que devemos não indagar demasiado para que constitua sempre a sua própria atmosfera. Há muito que a Europa cultural de ramificações constantes e quase lendárias não reúne os seus papéis no quotidiano na vida das Nações, e passou a um embalo de entretenimento ofensivo nessas hostes, muitas vezes de um pretensiosismo difícil de interpretar, e não se revê a Leste e a Oeste, ao Centro, ou nos limites da sua periferia. Os dogmas lançados adormeceram o seu encanto cultural que nenhuma clarividência já pode despertar, que um certo hedonismo de base atravessou tudo para que mais ninguém sinta tempos vazios nas muitas entusiastas existências, e isto, começa como estamos vendo, a ruir de modos vários. Olhando melhor (longe para sempre qualquer teoria da conspiração, modelo enfático, superficial, delirante…) quando só nos resta uma certa e incisiva observação dos acontecimentos, sabemos que há muito mais de não revelado. Não há agora nenhuma análise que supere a grande conclusão de René Char: «os perigos vêm sempre de um ângulo de que não estávamos à espera». Para quem se entretém nesta amálgama de mudanças súbitas, para aqueles que se abrigam no chapéu-de-chuva das Nações, o que desconhecem do propósito inicial é tão grande, que correm o perigo de uma emboscada. É como a Rota da Seda, a China trazia um produto que chegando ao Mediterrânio, povos do deserto e de outras estradas de Damasco, encontravam, sem nunca se ver os verdadeiros rostos que fizeram da pilhagem uma arte maior. A Mongólia subia lá para cima com algumas afinidades com estas tribos nómadas, e ninguém concluiu ainda que toda esta região mais cá para baixo não tivesse estado no domínio do grande bicho-da-seda. Mais: que fora dela pioneira. E que fazem agora os nossos superlativos amigos que desdenham a Europa como quem esconde um escravo? Isso, ninguém sabe. Mas afinal, para que quereriam a Europa? Para nada. O facto de estarmos a ser reduzidos desta maneira é já extrema perfídia só mesmo comparada àquela majestosa frase romana «os deuses enlouquecem antes aqueles que querem perder». Se estivermos pensando que somos de uma atratividade inquestionável, o problema para além de patético, será ainda neste momento trágico, risível. Em última instância, e para não saturar ainda mais o mundo das estratégias, quem nos diz que são humanos os que representam os factores destas abruptas mudanças? A Inteligência Artificial pode estar bem mais adiantada, e nunca excluir participação extraterrestre nos domínios do agora. Nas nossas lides pessoais as coisas também não são melhores; estamos repletos de emboscadas, complexidades viciantes, delírios, que um continente tão velho de gentes, e tão atónito face à sua presunção, é agora incapaz de reagir com as prerrogativas que façam qualquer organismo defensivo. Estamos paralisados. Vamos e vimos na hora do chá, apertamos as mãos, esqueletos futuros, e sorrimos como se não quiséssemos entender mais nada. No entanto, fomos somente um Mercado Comum. A nossa moderna condição não chegou a ser mais nada, e como devemos calcular, o Mercado é sempre muito pouco. Partilhámos os bens comuns, iludimos a guerra, fizemos do desporto armações de antigos exércitos, só que nada disto agora importa, nem o atómico incentivo francês, que estas defensivas devemos entendê-las somente como a um perigo acrescido. Zelensky é um judeu em luta fora de uma terra já não prometida, mas tempo houve em que a Crimeia poderia ter sido o seu Estado. Tudo isto acabou e já passou do tempo, mas todos nos comportamos como se fosse uma realidade. A China suavemente não diz nada até cairmos todos inanimados em nossos dizeres. Há qualquer coisa muito mais vasta que todas estas tomadas de posição. Quando tudo nos começar a fugir como destino, devemos ter a circunspeção que nos possa fazer entender este novo mundo modificado.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesInteligência Artificial na culinária de Macau (Continuação da edição de 20 de Março) À medida que a indústria alimentar se adapta às novas tecnologias, os chefes assumem novos papéis como curadores de experiências em vez de meros produtores de pratos. A combinação da criatividade humana com as capacidades da IA pode conduzir a ofertas gastronómicas sem paralelo. O impacto da IA no comportamento dos consumidores não pode ser ignorado. O surgimento de aplicações móveis que utilizam algoritmos de IA para prever as preferências gastronómicas pode mudar a forma como os residentes e os turistas experimentam a comida em Macau. Os serviços de entrega de comida, como o Foodpanda e o Uber Eats que ainda não operam em Macau, utilizam a IA para sugerir restaurantes com base nos hábitos e preferências dos utilizadores. Esta personalização aumenta a satisfação do cliente ao apresentar opções que se alinham de perto com os gostos individuais. Além disso, a sustentabilidade alimentar é outra área crítica para a qual a IA pode contribuir de forma positiva. Em Macau, tal como noutras regiões, há uma sensibilização crescente para o impacto ambiental da produção e do desperdício de alimentos. A IA pode optimizar a logística da cadeia de abastecimento, prever a procura e reduzir os excessos, conduzindo a práticas mais sustentáveis. Por exemplo, os algoritmos podem analisar as tendências sazonais para sugerir menus que se alinham com os ingredientes disponíveis, reduzindo o desperdício e garantindo que os clientes recebem ofertas frescas. A colaboração entre marcas alimentares e empresas de desenvolvimento de IA também está a tornar-se predominante. Podem surgir parcerias com o objectivo de criar produtos culinários inovadores que capitalizam os dados e os conhecimentos de IA. Por exemplo, as colaborações entre chefes de cozinha e empresas de tecnologia podem resultar em produtos concebidos especificamente para a cozinha macaense, combinando receitas tradicionais com recomendações geradas pela IA para a aquisição e utilização de ingredientes. O futuro da IA na paisagem gastronómica de Macau é promissor. Com os avanços contínuos na aprendizagem automática e na análise de dados, podemos esperar uma integração ainda maior da IA nas cozinhas. Por exemplo, os robots de cozinha que podem replicar a precisão dos chefes humanos podem tornar-se comuns. Estes robots poderão aperfeiçoar técnicas como a cozedura e o empratamento preciso, melhorando a consistência da produção alimentar. Além disso, a realidade virtual e a IA podem juntar-se para revolucionar as experiências gastronómicas em Macau. Imaginemos que os clientes podem participar em aulas de culinária virtuais orientadas por chefes de topo, aprendendo a preparar pratos tradicionais enquanto exploram a integração de receitas geradas por IA em tempo real. Estas experiências promoveriam a educação culinária, mantendo a essência do património. À luz de tais avanços, as considerações éticas em torno da IA nas artes culinárias também devem ser cuidadosamente analisadas. A questão da deslocação de postos de trabalho devido à automatização é uma preocupação premente. À medida que a IA assume tarefas tradicionalmente desempenhadas por humanos, os chefes e o pessoal de cozinha podem ver as suas funções evoluir. A formação e a melhoria das competências tornar-se-ão fundamentais para garantir que os profissionais da culinária possam prosperar num ambiente melhorado pela IA. As instituições de ensino em Macau devem responder a esta necessidade, incorporando cursos de tecnologia culinária nos seus currículos. Esta iniciativa irá preparar os aspirantes a chefes não só a dominarem as técnicas tradicionais de cozinha, mas também a compreenderem o papel da IA na cozinha moderna. Ao combinar o ensino tradicional das artes culinárias com a tecnologia, a próxima geração de chefes pode aproveitar o melhor dos dois mundos. A utilização da IA na cozinha de Macau significa um ponto de viragem importante na forma como a comida é preparada, servida e experimentada. Ao melhorar a eficiência operacional e personalizar as experiências gastronómicas, a IA traz uma nova era de possibilidades culinárias. Chefes influentes como André Chiang estão a liderar o processo, demonstrando como a tecnologia pode coexistir com a tradição. No entanto, a autenticidade da cozinha macaense deve ser preservada à medida que adoptamos estas inovações. Ao abordar esta integração de forma ponderada, Macau pode continuar a ser um centro gastronómico vibrante, equilibrando a riqueza do seu património com as possibilidades excitantes da era digital. A interacção entre a IA e a cozinha tradicional em Macau é um reflexo de tendências mais amplas nas artes culinárias a nível global. A viagem de misturar a IA com o património cultural de Macau está apenas a começar, mas tem um vasto potencial para moldar o futuro da alimentação. A resistência a abraçá-la pode significar estagnação, enquanto a abertura à inovação pode levar a um cenário culinário próspero e dinâmico no futuro.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesLimites do trabalho No dia 17 de Março, o Departamento de Censos e Estatísticas de Hong Kong divulgou dados que mostram que aproximadamente 12.900 pessoas trabalharam em plataformas digitais de entrega de alimentos e outros bens durante o último ano. 52,5 por cento destes trabalhadores têm entre 15 e 39 anos, mais de metade tem menos de 40 e 24,2 por cento mais de 50 anos. 64.7 por cento dos inquiridos afirmaram que este trabalho é a sua principal fonte de rendimentos, 61 por cento recebe menos de 5.000 dólares de Hong Kong (HKD) por mês e 37.1 por cento ganha mais de 15.000 HKD mensais. 53.9 por cento trabalham menos de 44 horas por semana, 24.9 por cento mais de 44 horas semanais e 21.2 por cento destes trabalhadores declaram não ter horário fixo. 68.6 por cento trabalham apenas para uma plataforma de entregas a cada dia. 91.3 por cento dos inquiridos dizem ter começado a trabalhar neste ramo por ser de fácil ingresso, ter um método de trabalho flexível e por terem um grande controlo sobre os métodos e procedimentos. 98.2 por cento afirmam ter mais campo de manobra para equilibrar o trabalho com a vida pessoal. 45 por cento sentem-se atraídos por este trabalho devido ao salário. Outros dados emitidos anteriormente pelo Governo de Hong Kong mostram que o salário médio destes trabalhadores foi de 22.000 USD entre Outubro e Dezembro de 2024. Em comparação, apenas 37,1 por cento ganham mais de 15.000 USD, o que mostra que recebem geralmente salários inferiores à média. Os empregados de escritório em Hong Kong trabalham geralmente das 9h às 18h durante a semana e mais quatro horas aos sábados, o que significa um total de 49 horas de trabalho semanal. Excluindo a pausa de uma hora para almoço de segunda a sexta-feira, faz exactamente 44 horas. Como 53,9 por cento dos distribuidores trabalham menos de 44 horas semanais, é razoável que seus salários sejam inferiores à média do mercado. 98,2 por cento das pessoas que fazem entregas afirmam fazer este serviço por lhes dar mais espaço para equilibrar o trabalho com a vida familiar. Isso demonstra que a nova geração presta mais atenção ao equilíbrio entre o trabalho e vida pessoal, um fenómeno diferente do “tele-trabalho” que surgiu durante a epidemia. O “tele-trabalho” significa trabalhar a partir de casa pelo que é difícil avaliar o limite entre o trabalho e a vida familiar. Como as pessoas que trabalham em plataformas de entrega podem controlar o seu horário de trabalho, o problema de definir a fronteira entre o trabalho e o lazer é muito reduzido. Os três principais limites que definem o exercício das funções laborais são psicológicos, temporais e físicos. Os limites psicológicos são regras criadas por indivíduos que determinam pensamentos, comportamentos e emoções específicas, o que significa que se deve ter uma atitude racional quando se trabalha e uma atitude emocional quando se está em família. Limites de tempo significam definir horários de trabalho, desligar das funções fora desse horário e, dedicar esse tempo extra laboral à casa e à família. O limite físico é definido pelo local de trabalho. Quando se vai para o escritório vai-se trabalhar, quando se sai o trabalho terminou. Os dados estatísticos das plataformas de entrega mostram que as pessoas escolhem colaborar com eles principalmente por terem mais espaço para controlar o seu horário e modelo de trabalho. Este fenómeno indica que a nova geração valoriza a existência de limites ao tempo laboral e, em termos de limites psicológicos, procura ter mais controlo sobre o seu trabalho. Na era pós-epidemia, é dada maior importância ao equilíbrio entre carreira profissional e família. A teoria dos limites ajuda as empresas a compreender e gerir melhor as fronteiras entre trabalho e família, alcançando assim um melhor equilíbrio e permitindo que a qualidade de vida dos trabalhadores melhore. Em Hong Kong, os distribuidores das plataformas de entrega ganham menos. Embora tenha uma noção melhor dos limites do trabalho e uma vida familiar mais feliz, os bens materiais que podem dar à família são limitados. Estes trabalhadores precisam que alcançar o equilíbrio entre a vida familiar e os bens materiais. Do ponto de vista empresarial, dar mais espaço e flexibilidade aos trabalhadores, bem como fronteiras mais amplas, irá ajudar a recrutar uma nova geração de funcionários. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado da Faculdade de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau Email: cbchan@mpu.edu.mo
André Namora Ai Portugal VozesMata menor, na prisão “suicidou-se” A criminalidade familiar ou passional está a aumentar todos os anos. As autoridades não têm mãos a medir para investigar as causas dos crimes, e na maioria dos casos, os investigadores ficam-se pela percepção. Há pessoas que matam ou mandam matar os seus companheiros, alegadamente, por amor. É uma realidade transversal a todas as faixas etárias e a todos os estratos sociais, e que acontece ao longo de todo o ano. O crime passional acontece por ciúmes, vingança, por um sentimento de posse levado ao extremo, ou simplesmente porque a relação terminou e não se consegue viver sem a presença da outra pessoa – a maioria dos autores destes crimes passionais são imputáveis sendo raros os casos de inconsciência por causas patológicas. Quem decide castigar desta forma os seus companheiros ou ex-companheiros, encontra sempre uma razão que legitima a morte do outro. Acontece muitas vezes o homicida, suicidar-se de seguida. Os dados mais recentes apontam para um aumento no homicídio conjugal em Portugal, nos últimos dez anos. O pior de tudo é quando o crime passional insere a morte dos filhos pequenos. Há psicólogos que ainda não arranjaram explicação cabal que justifique como é que um pai consegue matar um filho menor. As nossas prisões estão cheias de criminosos, mas nos presídios há um “estatuto” muito especial para os reclusos que mataram a companheira ou um filho, tal como irão saber mais à frente. Esse estatuto interno é justiceiro para quem, mesmo tendo cometido outra espécie de crime, não aceita nem admite que se mate uma criança. As prisões do nosso país já foram dezenas de vezes notícia nos diversos órgãos de comunicação social. Ou porque têm reclusos a mais, sem condições de higiene, sem comida com o mínimo de qualidade, com pouco tempo de recreio, com adiamento de apoio médico, enfim, uma panóplia de lacunas que coloca Portugal na cauda dos países que não cumprem as regras dos direitos humanos. Os presídios portugueses são um mundo à parte, onde acontece de tudo um pouco e até fugas de tal forma escandalosas que são notícia internacional. Tivemos recentemente aquela fuga de Vale dos Judeus, onde cinco dos maiores criminosos detidos conseguiram fugir enquanto um vigilante comia um pastel de nata… Por sinal, junto de nós reside um chefe guarda prisional e um dia destes convidei-o para tomar um café. Por acaso, eu bebi o café mas ele bebeu umas seis cervejas. Tudo bem. A conversa demonstra bem o que se passa no submundo das prisões. Então, vocês agora tiveram um aumento. Não foi mau? Ah!… O senhor pensa que o aumento no salário foi alguma coisa que resolva a vida difícil que temos? Nem pensar. E o subsídio de risco? Olhe, ainda não recebi nada e pelo que ouvi lá na prisão de Monsanto, o subsídio de risco é uma treta… Diga-me uma coisa: como é que foi possível que aqueles criminosos perigosos tivessem conseguido fugir de Vale dos Judeus? E porque não estavam em Monsanto? Bem, em primeiro lugar também nunca percebi como é que o pior deles estava na minha prisão de Monsanto e foi transferido para Vale de Judeus, onde tinha amigos… de certeza que houve movimentos de muito dinheiro… Para quem? Bem, isso agora não lhe posso dizer, mas o senhor imagina certamente que quem manda nas prisões não são santinhos nenhuns… E aquela fuga foi muito bem preparada com o apoio mafioso do exterior. Mas, vocês guardas prisionais é que têm a fama de serem corruptos. De levarem a droga, de introduzirem os telemóveis e outros objectos letais… Não é bem assim. Não podemos tomar um ramo seco pela árvore. Claro, que tenho colegas que ganham bom dinheiro com o que acaba de dizer, mas não são todos. E sobre os telemóveis e drogas, posso dizer-lhe que já apanhámos mulheres de reclusos que iam à visita e tinham tudo isso no interior da vagina… Um telemóvel? Exactamente! Nada de especial para algumas… Outra coisa, vocês correm ou não perigo de vida, ou têm um “acordo” com os chefes dos presos? Nós corremos risco de vida se fizermos a vida negra aos reclusos. Há muitos que não brincam em serviço, há muitos que controlam o negócio da droga através de mensagens codificadas para o exterior, há chefes mesmo mafiosos que controlam a vida no interior das prisões em todos os aspectos e até controlam a actividade no exterior. Dou-lhe um exemplo: nas prisões existe um certo “estatuto” entre os presidiários. Esses chefes dos reclusos não admitem nem por nada aqueles que vão para a prisão por matarem a mulher ou um filho pequenito… aí, não conseguimos fazer nada, mesmo se colocamos esses que mataram os filhos em solitária… eles lá arranjam maneira de quando é a hora do banho lhes tratarem da saúde. Levam pancadaria? Pancadaria? Muita e não só. Enfiam-lhes com um pau pelo rabo a dentro, obrigam-nos a sexo oral e sempre que podem matam-nos… E a notícia não é dada à família e ao público? Claro, que é dada a informação. Mas sempre da mesma maneira. Como? Que o recluso se suicidou… – E vocês, guardas prisionais, caladinhos… Obviamente. O senhor também não tem família? Está a perceber-me? Em absoluto. Gostava de lhe perguntar outra coisa: existe muita homossexualidade nas prisões. Vocês permitem? Não é uma questão de permitirmos. Isso acontece durante o banho, nas celas com mais de um preso, nos trabalhos no campo e até nas bibliotecas, especialmente o sexo oral. Vê alguma solução para que a vida nas prisões possa ter mais qualidade e mais direitos humanos? Não vejo. Daqui para a frente será sempre pior porque não se constroem novas prisões como, por exemplo, nos países nórdicos. Agradeço este encontro e posso informá-lo que a nossa conversa vai ser lida em Macau, mas esteja descansado que o seu nome não existe. Obrigado. Tive prazer em conhecê-lo melhor.
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesSejamos práticos A sessão plenária anual do Congresso Nacional Popular e do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, realizada em Pequim, terminou recentemente. Uma das principais preocupações dos representantes de Macau foi a “integração de Macau e Hengqin”. Passo a transcrever um excerto de uma conversa que ouvi enquanto tomava o pequeno almoço, “Vais comprar um apartamento em Hengqin?” “Não, se quisesse uma casa comprava em Zhuhai, porque fica mais perto de Macau”. Viver em Hengqin tem certamente as suas vantagens. Muitos estudantes vindos da China que estudam nas universidades de Macau vivem em Hengqin e apanham o autocarro para a Taipa todos os dias. Há também muitos residentes e pessoas recém-chegadas a viver em Hengqin por motivos relacionados com o trabalho ou com a escola dos filhos. Mas mesmo que os cheguem a viver em Hengqin, que tem uma área de 106,46 quilómetros quadrados, 100.000 pessoas, ou mesmo mais de 200.000, ainda assim não é muito. Na altura em que as fracções habitacionais do “Novo Bairro de Macau” ficaram à venda, havia muitas restrições, que foram sendo levantadas ao longo do tempo sob a alegação de “mudanças de políticas em consonância com o desenvolvimento”. Mas, no fundo, são “políticas que cedem à realidade”. Na verdade, quer se trate de política ou de economia, o sentido prático impõe-se. Não me oponho à melhoria do enquadramento legal que visa a “integração de Macau e Hengqin,” já que é necessário esclarecer a diferença entre “Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin” e “Zona Nova de Hengqin”. Se pensarmos nos esforços que estão a ser desenvolvidos para a “integração de Macau e Hengqin,” veremos que Macau tem desempenhado um papel mais activo do que a Província de Guangdong. No caso de Macau, sugiro que se permita a circulação em Hengqin de todo o tipo de veículos provenientes da cidade. No entanto, como é que Hengqin pode atrair residentes de Macau para lá viverem e contribuírem para o seu desenvolvimento se não existe sequer um parque de estacionamento público para os veículos de Macau no Posto Fronteiriço de Hengqin? Se há quem questione que a política de “Circulação de Veículos de Macau na Província de Guangdong” já dificultou a sobrevivência das empresas da Zona Norte de Macau, então, se estes veículos forem autorizados a circular em Hengqin, isso não trará ainda mais consequências negativas para a economia de Macau? Na minha opinião, a introdução de reformas no sector comercial é apenas uma forma de sair da sua situação actual. É prioritário acabar com o monopólio do sector comercial, abrir a economia a mercados diferentes, desenvolver e utilizar tanto quanto possível os terrenos desocupados, ao mesmo tempo que se reduz o impacto negativo das “obras viárias” nas empresas e nos proprietários de lojas. Por exemplo, o Jockey Clube de Macau está encerrado desde o ano passado e as pistas estão cobertas de relva. No entanto, O Governo de Macau não anunciou nenhum plano de desenvolvimento para o local, estando assim a desperdiçar-se recursos de valiosos. Talvez o Governo de Macau possa inspira-se na gestão operacional do “Kai Tak Sports Park” de Hong Kong. Quanto a este assunto, o Executivo de Macau pode conceder a uma das seis empresas de resort e lazer integrados os direitos de desenvolvimento e gestão dos terrenos do Jockey Clube de Macau por um período de tempo determinado, o que pode, de certa forma, ajudar a criar uma nova zona comercial que atraia o consumo de mais turistas. Também seria importante a criação de incentivos políticos e/ou a flexibilização das restrições às empresas para atrair comerciantes a instalarem-se nos bairros antigos e nos bairros comunitários espalhados pela cidade. Se olharmos para o “Reordenamento da Rua da Emenda e outras quatro ruas da Freguesia de Santo António” que se realizou há alguns anos, e compararmos o ambiente agitado que existia antes e depois do Reordenamento, torna-se evidente que as “ideias” que saem daqueles que “estão sentados nos seus gabinetes” têm de ser postas à prova para serem eficazes. Impormo-nos à realidade só resulta habitualmente em desastre. A “integração de Hengqin e Macau” é um empreendimento ambicioso que a Pátria confiou a Macau. Antes de Hengqin estar oficialmente sob a jurisdição de Macau, o mais importante é preservar e desenvolver Macau.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesInteligência Artificial na culinária de Macau “Macau’s opulent fine dining scene is using AI to tackle sustainability: how restaurants in Galaxy Macau, Sands China and Grand Lisboa are leading the green march forward”. Amanda Sheppard A cena culinária de Macau, uma região conhecida pela sua vibrante mistura de influências portuguesas e chinesas, está a dar os primeiros passos em uma revolução tecnológica com a integração da Inteligência Artificial (IA). A IA entrou no mundo da culinária como uma ferramenta de eficiência e inovação. Em Macau, um território com um património culinário diversificado, a aplicação da IA poderá remodelar as abordagens tradicionais à comida. A fusão da tecnologia avançada com as ricas tradições culinárias cria uma paisagem única, oferecendo tanto oportunidades como desafios. Os antecedentes históricos da cozinha em Macau realçam a identidade única da região. Macau foi uma colónia portuguesa durante mais de quatro séculos, criando uma mistura intrincada de práticas culinárias asiáticas e europeias. Esta mistura formou uma rica tapeçaria culinária, com pratos como o bacalhau e o minchi macaense a ganharem fama local e internacional. Ao examinarmos esta história, apreciamos as características únicas da cozinha de Macau, que as tecnologias de IA estão agora preparadas para melhorar. Nos últimos anos, a crescente adopção de tecnologias de IA na cena gastronómica global marcou uma mudança significativa. Os restaurantes começaram a utilizar a IA para vários fins, como a melhoria da experiência do cliente e a racionalização dos processos de preparação de alimentos. Os chatbots alimentados por IA, por exemplo, entraram no mundo dos serviços alimentares, fornecendo aos clientes assistência imediata para navegar nos menus, fazer encomendas e efectuar reservas. Esta tecnologia elimina as barreiras linguísticas, permitindo que os turistas e os habitantes locais se envolvam com as ofertas culinárias sem problemas. Além disso, o sector da preparação de alimentos está a assistir à influência da robótica e do equipamento inteligente. Os algoritmos de IA podem optimizar os processos de cozinha através da análise de dados sobre ingredientes, tempos de cozedura e preferências dos consumidores. Esta abordagem baseada em dados permite que os chefes se concentrem na criatividade, minimizando os riscos de erro humano. Por exemplo, restaurantes com estrelas Michelin, como o Seasons do Chefe Tam, o Robuchon au Dôme da SJM, o Andaz Kitchen da Galaxy e o Churchill’s Table do The Londoner, estão todos a estimular a mudança e receberam elogios por utilizarem a IA para melhorar a eficiência operacional e manter elevados padrões de qualidade alimentar. Os Chefes António Coelho, Sally Jimenez e Cristiano Tavares do Lisboeta estudam a introdução da IA nas suas práticas culinárias. O Chefe André Chiang do Mizumi está a fazer progressos no mundo da culinária com a tecnologia. Conhecido pela sua abordagem inovadora à gastronomia, o Chefe Chiang tem tirado partido da IA nos seus empreendimentos culinários. O seu restaurante japonês na Wynn Macau usa tecnologias inteligentes para aperfeiçoar as técnicas de cozinha tradicionais. Ao utilizar ferramentas de IA para analisar as reacções dos clientes e os padrões de serviço, pode melhorar continuamente a experiência gastronómica. As perspectivas sobre o papel da IA na cozinha de Macau variam entre os profissionais do sector. Alguns chefes adoptam a integração da tecnologia, encarando-a como uma forma de ultrapassar os limites da culinária. Os apoiantes argumentam que a IA pode ajudar a manter a essência cultural da comida macaense, ao mesmo tempo que inova com novos sabores e estilos de apresentação. Ao analisar grandes quantidades de dados culinários, a IA pode sugerir combinações únicas de ingredientes que poderiam não ocorrer aos chefes humanos. Por outro lado, há quem manifeste preocupação com a potencial perda de autenticidade. Os críticos argumentam que confiar demasiado na tecnologia pode prejudicar os métodos de cozinha tradicionais e o toque humano que faz parte integrante das artes culinárias. O seu ponto de vista sublinha a importância de preservar o património e as ligações emocionais associadas à comida feita à mão. Apesar destas diferentes perspectivas, a tese continua a ser que o papel da IA na indústria culinária de Macau pode representar uma evolução fascinante e não uma substituição da habilidade humana. (continua)
Amélia Vieira VozesUm libreto de perdição Alguns de nós pertence àquela geração que passava as férias de Verão a ler «Os Cinco» e eram tantas as aventuras, tão perigosos os caminhos, tão suculentos os piqueniques, que engordávamos pelas descrições muito inglesas daqueles deleites nessas tardes onde ninguém queria saber de nós para além do essencial, mas queríamos exactamente como nestes livros, frascos de compotas, sandes, leite, ovos, bacon, pão e scones. Por cada passagem, depois de descobertas as fontes criminais, apetite redobrado e toalha no chão. O quinto elemento deste grupo era um cão que tudo anunciava, previa, e instigava os petizes. Aquilo era tão hipnótico que nunca soubemos o porquê da Zé querer ser um rapaz. Agora à distância poderemos falar de uma personagem andrógina que jamais se vinculou ao seu género feminil, onde Ana, híper-sensível, denotava um padrão mais intuitivo que se impunha a um grupo altamente apaixonante e disfuncional. Poderia ser um libreto para o pentágono perturbador de uma realidade nacional que culmina sempre em cinco mas jamais com ânsias infanto-juvenis. No entanto, é bom lembrar que há ainda um muito recente e tresloucado Sebastião que caberia nesta prosódia onde quinas e coisas estranhas se encaixariam na perfeição. Estamos em Março e lembramos como se a vida fosse uma eterna primeira vez. Depois disto vem logo Camilo Castelo Branco, e tudo se encaminhou para outra tónica bem mais radical que uma qualquer aventura entre primos, férias, contrabandistas, e é aí que entendemos que uma etapa acabou para entrarmos noutra, mais grave, complexa e ferozmente apaixonada. Damo-nos conta que as aventuras nunca nos fizeram chorar, mas que os nossos membros em crescimento e a dor de tudo isso, pela primeira vez destilam outras lágrimas que trariam também aquele elemento desconhecido que é o primeiro amor. Entrávamos na puberdade com um livro em chamas: «Amor de Perdição». Para não magoar os inúmeros “camilianos” de passagem pelo seu aniversário, vale a pena recordar neste instante Alexandre Cabral, e também o libreto de António S. Ribeiro, uma peça baseada no romance que fez estreia no Teatro de São Carlos em 1991, que é de facto uma preciosa síntese da narrativa de um cárcere que teve de alongar os fios condutores de um tempo morto na masmorra: os diálogos preciosos trazem-nos à ideia todas as passagens do romance e deixam-nos num assombro que já não esperávamos. As leituras nesta releitura tornam-se intérpretes da mesma voltagem. Integração, desintegração, e o texto continua. E é aqui que começa o acto literário: já não falamos das nossas vidas, das emoções, das coisas, mas de um arquétipo abstrato, sensível e maior que produz uma metalinguagem passível de nos interpelar como uma vibração humana que só um grande autor sabe como conduzir. Foi a golpes de fero destino que Camilo acorda para um processo amoroso absolutamente monumental onde as feridas mais tardias de Ana Plácido sempre serão coisas menores. Foi essa dimensão entre o amante liberal, boémio, jovem e belo, e a seiva graciosa de Teresa de Albuquerque, refém de absolutistas e seus reacionários dirigentes, que o drama se dá como vitória de elementos desencontrados. O mesmo país que não permitia o amor continua estranhamente sem saber amar. Este amor é um acto de unicidade e dele devemos colectivamente tirar as devidas elações. É também a ternura da fresca Primavera da vida que faz dos desejos uma lei maior, mas…: e é aqui que esbarramos com a dúplice condição. Que faz Mariana como elemento deste enredo? Estamos na presença de um grande arquétipo sacrificial. Camilo nunca deixou de ser polígamo, e o seu transcendente desejo de ser amado encontra por fim a vítima preferencial. Amiga! Minha amiga! Agora toco-te e tu és real E queimas mais que o delírio antigo. Agora olhas-me e eu cresço Cresço alto e muito Mais que a espuma do mar! Simão Botelho partiria para as Índias numa madrugada de 17 de Março, Teresa Albuquerque morreria, Mariana segui-lo-ia até o Oceano lhes servir de mortalha. É de facto um monumental instante. Camilo Castelo Branco era um profissional da escrita, e não um “parvenu”. Escrever é uma profissão, e por isso nada é mais digno que o seu exemplo feito de forma absolutamente talentosa. Todas as considerações morais distam agora de um espaço de duzentos anos, e o mais impressionante é ainda o termos de saber de todas as paralelas outras coisas. Quando perguntam; és um robot? Digo não. Somente por ter lido «Amor de Perdição».
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesOrçamento de Hong Kong para 2025-2026 Recentemente, o Governo de Hong Kong apresentou o seu orçamento. No ano fiscal de 2024-2025, obteve uma receita de 559.6 mil milhões de dólares de Hong Kong, a despesa ascendeu aos 754.8 mil milhões, as acções emitidas atingiram o valor de 130 mil milhões, os reembolsos da dívida foram de 22,1 mil milhões, o défice fiscal situou-se nos 87.2 mil milhões e as reservas fiscais nos 647,3 mil milhões. As receitas fiscais caíram 45 por cento ao longo dos últimos seis anos. O déficit fiscal ficou a dever-se à queda dos impostos sobre a venda de terrenos pouco lucrativos e ao contínuo aumento dos gastos em infra-estruturas, investimentos e serviços de saúde. No orçamento de 2025-2026, o Governo de Hong Kong estima que as receitas atinjam os 659.4 mil milhões de HKD, as despesas sejam na ordem dos 822,3 mil milhões, as acções emitidas cheguem aos 150 mil milhões, os reembolsos da dívida se fiquem nos 54,1 mil milhões, o défice fiscal na ordem dos 67 mil milhões e as reservas fiscais atinjam os 580,3 mil milhões. Para reduzir o défice fiscal para 67 mil milhões, o Governo propôs medidas para aumentar as receitas e reduzir os custos. Para aumentar as receitas, as principais medidas serão o aumento da emissão de acções de 150 mil milhões para 195 mil milhões num período de cinco anos, com prazo de vencimento superior a três e a cinco anos, principalmente para projectos de longo prazo como a área metropolitana do Norte e para pagamento de dívidas de curto prazo. Outra medida que está a ser considerada é a aplicação de “cobrança de taxas fronteiriças aos automóveis particulares que saem”, cobrando 200 HKD por viatura, embora os autocarros turísticos e os camiões fiquem isentos desta taxa. Quanto às despesas, o Governo prevê baixá-las para 113.4 mil milhões ao longo dos próximos anos, congelando os salários dos funcionários públicos, e eliminando 10.000 postos de trabalho nos próximos dois anos, rever o “regime de concessão de tarifas reduzida para os transportes públicos aos idosos e pessoas com deficiência” e reduzir o financiamento às universidades. Após implementar estas medidas, o Governo espera atingir o equilíbrio orçamental três anos mais tarde, ou seja, em 2028-2029, colocando-se em linha com os preceitos da Lei Básica de Hong Kong que estipula que se deve viver dentro das possibilidades. Olhando para o orçamento na sua totalidade, existem três pontos dignos de atenção. O primeiro é que as reservas fiscais são insuficientes para fazer face a despesas avultadas inesperadas. As despesas do ano fiscal de 2024-2025 foram de 754,8 mil milhões, mas as actuais reservais fiscais ficam-se pelos 647.3 mil milhões. Se o Governo não tiver receitas durante um ano, as reservas fiscais não chegam para cobrir as despesas. Isto também significa que se houver uma emergência que implique grandes despesas entre 2025 e 2026, como por exemplo se a pandemia voltar a estar activa, o Governo terá recursos financeiros muito limitados ao seu dispor. O segundo é a não existência de capital negativo. No ano fiscal de 2025-2026, as receitas foram de 659,4 mil milhões e a despesa de 822,3 mil milhões. A diferença entre as receitas e a despesa foi de 162,9 mil milhões, o que representa 25 por cento do total da despesa. Durante este período, a principal fonte de receitas do Governo proveio dos “impostos pessoais” e dos “impostos sobre o lucro”, que atingiu cerca de 301,2 mil milhões. Como a população de Hong Kong está gradualmente a envelhecer o Governo continua a cortar nos impostos para beneficiar as pessoas, e o montante dos “impostos pessoais” e dos “impostos sobre o lucro” irá sendo reduzido. Emitir acções é uma forma de contrair um empréstimo. Embora possa resolver os problemas fiscais a curto prazo e garantir que o Governo tenha fluxo de caixa suficiente, não resolve o problema do défice orçamental e as reservas fiscais continuarão a diminuir. A longo prazo, estes dois factores podem afectar o estatuto de Hong Kong como centro financeiro internacional. A forma mais viável de resolver o défice orçamental é assegurar que as receitas sejam superiores à despesa. “Cobrar taxas fronteiriças aos automóveis particulares que saem” pode ser uma medida eficaz para aumentar as receitas governamentais e ao mesmo tempo encorajar as pessoas a fazerem as suas compras em Hong Kong, o que irá sem dúvida ajudar a economia da cidade. Claro que esta medida pode ter algum impacto na integração de Hong Kong na Área da Grande Baía. A terceira questão é o número de medidas para reduzir despesas que podem ser tomadas. O Governo está a pensar congelar os salários dos funcionários públicos, e também eliminar alguns postos de trabalho da função pública reduzindo as despesas de subsistência e de segurança social. Como a população está a envelhecer, os gastos com os benefícios destinados à subsistência aumentam progressivamente e não há muito espaço para cortes nos benefícios destinados ao bem-estar. A longo prazo, pode não ser fácil conseguir a meta do equilíbrio entre receitas e despesa reduzindo os gastos governamentais através de medidas de austeridade. Com uma população envelhecida e com as despesas a aumentar, o problema financeiro só se agravará. Para obter o equilíbrio orçamental, o Governo terá de ter recitas fiscais estáveis e de longa duração. Há alguns anos, o Governo estudou a possibilidade de aplicar uma “taxa para partidas por terra e por mar”, semelhante à “cobrança de taxas de fronteiriças aos automóveis particulares que saem”. No entanto, como a “taxa para partidas por terra e por mar ” é calculada numa base per capita, com o número de carros de Hong Kong que se deslocam para norte, para os residentes da cidade fazerem compras na China continental, esta taxa traria consideráveis receitas ao Governo de Hong Kong e incentivaria as pessoas a consumirem na cidade ajudando a sua economia. Um outro imposto que chegou a ser considerado foi a taxa sobre vendas, uma forma de garantir ao Governo receitas estáveis de longa duração. De acordo com um estudo de 2003, se a taxa sobre vendas fosse de 5 por cento, o governo arrecadaria cerca de 30 mil milhões em receitas fiscais por ano. Com este imposto, o défice fiscal pode ser reduzido. Além disso, o Governo pode impor taxas mais elevadas nos produtos mais caros e mais baixas nos produtos de primeira necessidade, alcançando desta forma o objectivo da redistribuição da riqueza e da redução do fosso entre os pobres e os ricos. Olhando para o orçamento na sua totalidade, se o Governo não aumentar as receitas não conseguirá fazer face às despesas. Se esta situação continuar, esgotará facilmente as reservas fiscais. Por conseguinte, só aumentando as receitas poderá gradualmente sair de uma situação financeira complicada. Além disso, o progresso social e as várias medidas destinadas ao bem-estar da população requerem capital. Se o problema financeiro não for resolvido, a governação será difícil. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado da Faculdade de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau Email: cbchan@mpu.edu.mo
André Namora Ai Portugal VozesCaiu da cadeira do poder Possivelmente os leitores mais jovens nem saberão bem a história do ditador António Oliveira Salazar. Mas, eu conto-vos uma estória trágico-cómica que aconteceu com o antigo presidente do Conselho de Ministros durante o tempo da ditadura que reinou antes do 25 de Abril de 1974. Fontes próximas da ama do ditador, Dona Maria, contaram-nos que o ditador era ouvinte diário dos programas humorísticos dos ‘Parodiantes de Lisboa’. Num belo dia, o ditador estava no ripanço do Forte de São Julião da Barra, sentado numa cadeira de lona, a apanhar os seus raios de sol e a escutar um programa de rádio da equipa dos humoristas lisboetas. A dada altura, achou tanta graça a uma rubrica do programa radiofónico que deu várias gargalhadas e caiu da cadeira batendo com a cabeça na pedra do chão e nunca mais recuperou da lesão cerebral. Agora, passados mais de 50 anos, outro chefe de governo também caiu da cadeira, mas esta, a do poder. Luís Montenegro quando tomou posse como primeiro-ministro, devido à vitória tangencial da AD, afirmou que estava pronto para governar por quatro anos com transparência e estabilidade. Dois termos da maior importância em política, mas que em nada foram cumpridos pelo primeiro-ministro. Na semana passada, Luís Montenegro caiu da cadeira do poder por culpa exclusiva sua. O político, líder do PSD e primeiro-ministro em gestão começou a andar nas bocas do mundo por falta de transparência nos seus negócios que alegadamente continuaram quando enveredou pela política a sério e pela falta de estabilidade no seu governo devido aos muitos casos que se registaram em pouco mais de 300 dias de governação, nomeadamente os 16 portugueses que morreram por o INEM ter levado a efeito uma greve e não ter dado apoio clínico a essas pessoas. Sobre transparência parece-me que está tudo dito e na última crónica especificámos em pormenor os cambalachos da sua empresa familiar e sobre as imobiliárias dos políticos que os fazem pertencer, enquanto cai uma estrela cadente, em homens abastados com casas de luxo, boas quintas ou um monte no Alentejo. Aconteceu que depois de duas moções de censura ao Governo terem sido chumbadas, o Partido Socialista entrou na Assembleia da República com um requerimento potestativo para uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as dúvidas existentes na actividade da empresa familiar do primeiro-ministro e às quais nunca quis responder na totalidade. Em face da atitude socialista, Luís Montenegro resolveu reunir o Conselho de Ministros e anunciar a apresentação de uma moção de confiança no parlamento. Pronto, estava o caldo entornado. Toda a gente viu que Luís Montenegro tinha enveredado pela chantagem e iria confrontar os socialistas no sentido se estes retirassem o requerimento para uma Comissão Parlamentar de Inquérito, ele também recolhia a moção de confiança. A sessão parlamentar que discutiu e votou a moção de confiança foi uma vergonha na história de 50 anos de democracia. O Governo e o líder parlamentar do PSD fizeram uma figura tristíssima e repugnante que levou à condenação de todos os parlamentares, excepto um grupelho chamado Iniciativa Liberal que ainda tem esperança de se aliar à AD e um dia ir para o governo de Portugal. Com a votação expressa em maioria absoluta contra a moção de confiança assistimos à queda de Montenegro, e seus pares, da cadeira do poder. Depois, o Presidente da República, que sempre discordou de Montenegro na apresentação de uma moção de confiança, recebeu os partidos e reuniu o Conselho de Estado anunciando que as eleições se realizarão no dia 18 de Maio. A bagunça da campanha eleitoral para dar fim a um ciclo de eleições nunca visto, vai começar. Montenegro está convencido que vai ganhar e Pedro Nuno Santos convencido está. Há sondagens para todos os gostos, umas dão vitória à AD e outras ao Partido Socialista. Uma coisa é certa: o Chega irá ter muito menos deputados do que tinha nesta legislatura que agora termina. Superamos agora a turbulência eleitoral registada na segunda metade da I República, de má memória. Nesse período foram convocadas quatro eleições gerais para preencher assentos parlamentares: em Maio de 1919, Julho de 1921, Janeiro de 1922 e Novembro de 1925. Quatro actos eleitorais em seis anos e seis meses. Apesar de tudo, num intervalo mais dilatado do que a alucinante série de recentes eleições legislativas: Outubro de 2019, Janeiro de 2022, Março de 2024 e as que vão seguir-se no dia 18 de Maio. Há cem anos, nada de substancial ia sendo solucionado com as sucessivas chamadas às urnas. Pelo contrário, cada toque a rebate eleitoral deixava o quadro político e governativo sempre mais convulso. A história parece indicar que tudo se vai repetir. Os políticos dos nossos dias, sejam de que quadrante forem, deviam assimilar as lições da história. Antes, porém, é indispensável conhecê-la…