Macau arranca com primeira competição de ‘startups’ para universidades lusófonas e chinesas

A primeira competição de ‘startups’ universitárias entre os países de língua portuguesa e a China dá pelo nome de “928 challenge” e vai decorrer em Macau ao longo do mês de Outubro, com o objectivo de promover negócios orientados para a sustentabilidade e encontrar investidores para projectos promissores.

“Temos já 14 equipas registadas, sete da China e, as restantes, de universidades de Moçambique, Cabo Verde, Portugal, Brasil e São Tomé e Príncipe”, nesta competição, que este ano abre só para universidades “para criar ideias de ‘startups'”.

A informação foi revelada à Lusa na passada sexta-feira por Marco Duarte Rizzolio, da Universidade Cidade de Macau (CityU), um dos coordenadores do “928 challenge”. “Para o próximo ano queremos abrir [a competição] a empresas”, adiantou o responsável.

Denominado “928 challenge”, por integrar nove cidades da Área da Grande Baía, duas regiões administrativas especiais chinesas e oito países de língua portuguesa, o “concurso pretende reforçar o espírito de empreendedorismo, inovação e cooperação entre universidades” lusófonas e chinesas.

Até final deste mês decorrem as inscrições para um ‘bootcamp online’ de 15 dias, previsto entre 4 e 15 de Outubro, durante o qual os participantes, deverão “criar planos de negócios que promovam a sustentabilidade e a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa”.

À procura de investidores

Na primeira semana, o ‘bootcamp’ vai servir para partilhar a realidade dos países lusófonos e da China com as equipas participantes que, na segunda semana, irão desenvolver uma ideia de negócio para apresentar a possíveis investidores, explicou Rizzolio, que co-fundou o “928 challenge” com o director da Faculdade de Business da CityU, José Alves.

“Estamos à espera, no máximo, de 20 equipas para a final”, que vai decorrer no dia 23 de Outubro, durante a Feira Internacional de Macau (MIF), indicou.

O primeiro prémio é de dez mil patacas, o segundo de sete mil e o terceiro de cinco mil. A final será “offline e presencial” para as universidades chinesas, que virão a Macau, acrescentou.

No painel de juízes contam-se o presidente e CEO do Banco Nacional Ultramarino (BNU), Carlos Cid Álvares, o presidente e CEO da CESL Asia, António Trindade, ou o presidente da KNJ Investment Limited, Kevin Ho, entre outros, referiu Marco Rizzolio.

Além de permitir aprofundar colaborações académicas entre instituições do ensino superior da Grande Baía e dos países lusófonos, a organização pretende identificar projectos de ‘startup’ com potencial para serem implementados e apoiados por investidores de Macau, da Grande Baía ou de países de língua portuguesa.

6 Set 2021

Crime | Mulher detida e acusada de agredir a filha de dois anos

A suspeita tem antecedentes criminais, tendo sido presa em 2018, por ter abandonado a filha que agora foi vítima de agressões. A mulher é uma trabalhadora-não residente libertada há seis meses

 

Uma mulher com 30 anos foi detida pelas autoridades e é suspeita de ter agredido a filha de dois anos, na segunda-feira passada, de acordo com as informações reveladas pela Polícia Judiciária (PJ). A trabalhadora não-residente tem antecedentes criminais e há cerca de dois anos tinha sido presa por ter abandonado a filha, que agora agrediu.

“A suspeita é a mãe. Estavam num centro de acolhimento e no dia 30 de Agosto, enquanto a vítima e a suspeita estavam juntas, cometeu actos de violência contra a vítima”, afirmou Chong Kam Leung, porta-voz da Polícia Judiciária, na apresentação do caso, que foi revelado apenas na sexta-feira.

Na origem do ataque terá estado o facto de a mãe ter considerado que a filha não estava a acatar as suas instruções. As agressões foram detectadas por um trabalhador do centro e fizeram com que a bebé tivesse de ser levada para o hospital. “A vítima foi levada para o hospital com ferimentos num braço. O incidente foi testemunhado por um membro da equipa, que parou a agressão e mandou a vítima para o hospital”, foi relatado pela PJ, citada pela TDM.

No hospital, foi confirmado que a vítima tinha sido atacada e apresentava uma mancha negra no braço com sete centímetros de diâmetro. A PJ relatou ainda que os ataques tinham sido captados pelas câmaras de videovigilância.

Abandono em 2018

A mulher do Myamar estava em liberdade desde Junho deste ano, após ter cumprido uma pena de dois anos e seis meses por abandono da bebé. A primeira detenção tinha acontecido a 13 de Dezembro de 2018.

Em 2018, a trabalhadora não-residente foi para a casa-de-banho da casa onde exercia as funções de doméstica. Como demorou a sair, o incidente acabou por levantar suspeitas, com patroa a entrar na casa-de-banho e a ver a mulher a limpar manchas de sangue. Na altura, a empregada recusou ter dado à luz.

No entanto, à noite, a proprietária ouviu uma criança a chorar. Foi à casa-de-banho e do lado de fora da janela, no parapeito do ar-condicionado, acabou por encontrar a recém-nascida. Estavam 13 graus na rua. Na sequência do primeiro crime, a mulher foi condenada a uma pena de dois anos e seis meses. O caso foi entregue ao Ministério Pública (MP) que vai agora proceder com as investigações.

6 Set 2021

Ilha Verde | Moradores alertam para nova ocupação ilegal e criticam Governo

Uma associação de moradores criticou o Executivo pela inacção e incapacidade para remover um contentor deixado na Colina da Ilha Verde, suspeito de ser usado para habitação clandestina. O Instituto Cultural diz estar atento e a acompanhar o caso

 

Os moradores alertaram para uma nova ocupação ilegal da Colina da Ilha Verde e consideram que o Governo tem culpas no cartório. O caso foi revelado no sábado, por Chan Fong, vice-presidente Associação de Beneficência e Assistência Mútua dos Moradores do Bairro da Ilha Verde, ao jornal Ou Mun.

Segundo o relato, nos últimos dias houve pessoas que tentaram deixar de forma ilegal contentores na Colina da Ilha Verde. A operação acabou por ser interrompida pela acção da associação e do proprietário dos terrenos, e as autoridades foram chamadas ao local.

Contudo, a intervenção da associação não conseguiu evitar que fosse instalado no local um dos contentores com janelas e ventoinhas para extracção de ar, o que deixa a entender que pode ser utilizado para habitação.

Além da polícia, foram notificados outro serviços e institutos públicos, que, segundo Chan Fong, não fizeram nada. Entre as instituições chamadas estão o Instituto Cultural (IC), Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) e Instituto para os Assuntos Municipais (IAM).

Chan Fong, dos Kaifong, acha incompreensível a falta da acção dos departamentos governamentais, face aos pedidos de auxílio. Além dos Moradores, também a Companhia de Desenvolvimento Wui San, proprietária de parte da Colina Verde, chamou as autoridades ao local e criticou a sua inacção.

Passividade tradicional

Ao Ou Mun, um porta-voz da empresa atacou o que disse ser o “caos na Colina da Ilha Verde” e culpou a inércia das autoridades pela situação.

Segundo o porta-voz, a polícia foi chamada, mas respondeu que ainda há um processo a decorrer nos tribunais. Ainda de acordo com as autoridades, sem o processo ser resolvido, não pode haver ordem de despejo ou remoção do contentor.

Face à nova ocupação, o representante do proprietário lamentou que ao longo dos anos a DSSOPT não tenha aprovado o pedido da planta de condições urbanísticas. Para a empresa, uma planta e a respectiva construção impediriam novas ocupações ilegais.

Sobre a conduta do IC, o porta-voz disse que apenas se limitam a pedir que os trabalhos de conservação do convento sejam realizados. “A ocupação ilegal prejudica obviamente o ambiente da colina. Nós impedimos [a ocupação ilegal], mas os nossos direitos têm sido ignorados. Se esta situação se mantém, como é que podemos conservar a Colina da Ilha Verde?”, questionou.

Face à ocupação, o IC enviou técnicos ao local para reencaminhar queixas dos envolvidos aos vários serviços competentes e prometeu acompanhar a situação do contentor deixado no terreno.

6 Set 2021

Turismo | Excursões locais dependem do aval dos Serviços de Saúde

O plano de excursões locais só será reactivado após a autorização dos Serviços de Saúde. Segundo Helena de Senna Fernandes o regresso do programa incluirá actividades diárias. A responsável estima que Macau receberá entre 20 a 30 mil visitantes diários durante a Semana Dourada

 

A directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes revelou na passada sexta-feira que a retoma do plano de excursões locais “Passeios, Gastronomia e estadia para Residentes de Macau” está dependente da autorização dos Serviços de Saúde (SSM).

À TDM-Canal Macau, a responsável afirmou também que, assim que a retoma do plano for aprovada pelas autoridades de saúde, as excursões locais serão reactivadas numa base diária, para que seja possível colmatar os prejuízos que resultaram do novo surto de covid-19 registado no início de Agosto em Macau.

Além disso, lembrou Senna Fernandes, nem todos os residentes de Macau estão ocupados durante a semana e essa é uma situação que pode ser aproveitada. “Sabemos que nem todos os residentes de Macau trabalham ou estudam.

Por isso, podem participar, durante os dias úteis, nos roteiros. Alguns, por exemplo, poderão mesmo participar nos populares cruzeiros de barco, depois do trabalho. Esta modalidade pode conferir mais margem ao sector do turismo, para apoiar os negócios. Vamos contactar todos os participantes e inquirir sobre a possibilidade de cancelar a respectiva vaga ou escolher outra”, apontou.

Segundo a TDM-Canal Macau, o interregno do programa de excursões locais durante um mês, terá afectado cerca de 10.000 participantes.

Garimpeiros a postos

Questionada sobre as previsões de entrada de turistas em Macau durante a Semana Dourada de Outubro, Maria Helena de Senna Fernandes apontou que são esperados entre 20 e 30 mil visitantes por dia.
A pensar nos feriados de Outubro e para atrair mais visitantes, a responsável avançou que, no imediato, a prioridade passa por restabelecer a confiança dos turistas do Interior da China.

“Desde o dia 18 de Agosto, depois de Macau aliviar gradualmente as restrições implementadas por causa da pandemia, temos trabalhado no sentido de consolidar a confiança dos turistas do Continente no turismo de Macau e de estabelecer uma imagem de turismo saudável e seguro, a pensar na semana de 1 de Outubro. Esperamos que durante a Semana Dourada possamos voltar a ter visitantes entre os 20 mil e os 30 mil ou até mais de 30 mil, nalguns dias. Para o sector do turismo vai ser uma grande ajuda”, sublinhou Helena de Senna Fernandes.

Recorde-se que, depois do novo surto de covid-19 em Macau, o número de turistas caiu 47 por cento e a ocupação hoteleira caiu de 63 para 35 por cento, em relação a Julho.

6 Set 2021

Eleições | Ella Lei e Leong Sun Iok querem novo cartão de consumo

A menos de uma semana das eleições, os candidatos metem a carne toda no assador. Os representantes da FAOM pedem mais um cartão de consumo de 8 mil patacas, enquanto Agnes Lam quer ver o problema das cheias resolvido

 

Ella Lei e Leong Sun Iok, da lista União Para O Desenvolvimento, defendem que o Governo tem a obrigação de lançar uma nova ronda do cartão de consumo com pelo menos 8 mil patacas por residente. O apelo foi deixado, no sábado, no Mercado do Iao Hon, onde a lista apoiada pela Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) realizou uma acção de campanha.

Segundo os argumentos apresentados pelos candidatos e deputados, o Governo tem a obrigação de garantir a estabilidade económica e proteger os empregos. Por isso, exigem que haja uma nova ronda do cartão de consumo de 8 mil patacas para “aliviar a pressão” na vida dos residentes.

Uma das preocupações mostrada por Leong foi o desemprego. O deputado diz que há cada vez mais desempregados de longo prazo e pessoas obrigadas a tirar licenças sem vencimento.

Ella Lei e Leong Sun Iok exigem que haja um controlo dos preços, para impedir aumentos nos combustíveis, como dizem estar a acontecer. Segundo esta versão, a gasolina e o gasóleo sobem sempre de forma muito rápida, mas o mesmo não acontece quando é para fazer descer os preços.

Combate às cheias

Em campanha no mesmo dia, mas no Largo do Pagode do Bazar, Agnes Lam, deputada e cabeça-de-lista da Observatório Cívico, considerou que um dos assuntos mais urgentes é resolução do problema das cheias no Porto Interior.

Segundo a candidata, todos os Verões há cheias e é necessário haver medidas concretas e mais determinadas para aumentar a capacidade de retenção de água e drenagem. Por isso, Agnes Lam apelou a que essa construção seja acelerada, ao mesmo tempo que se melhorem as rotas de evacuação e planos de salvamento.

Ainda sobre as cheias, Lam colocou-se ao lado dos comerciantes das zonas mais atingidas e afirmou que os subsídios monetários para pagar os danos não são suficientes. Segundo a candidata, os comerciantes das zonas com cheias vivem um ciclo vicioso em que pedem subsídios e mal os acabam de pagar, precisam de pedir outro novamente, porque voltou a haver cheias. Face a este cenário, Lam apelou ao Executivo para resolver o problema de uma vez por todas.

Progresso só no Interior

À mesma hora, a União Promotora para o Progresso, lista apoiada pelos Kai Fong, estava na Praça do Tap Seac a afirmar que só a integração na Grande Baía vai contribuir para criar oportunidades para os mais novos.

Nos discursos de campanha, os candidatos número um, Leong Hong Sai, e número dois, Ngan Iek Hang, afirmaram que a mobilidade social em Macau está cada vez pior e que é necessário prestar mais atenção às oportunidades dos mais jovens. Por esse motivo, prometeram dedicar grande atenção às políticas de integração de Macau no Interior e na Grande Baía, que dizem ser a única via para os mais jovens melhorarem profissionalmente.

Ainda sobre os assuntos dos mais jovens, a lista União Promotora para o Progresso, representada na Assembleia Legislativa há mais de 30 anos, prometeu fazer tudo para obrigar o Executivo a finalmente resolver os problemas de habitação, que se foram agravando com o desenvolvimento económico.

6 Set 2021

Pastelaria Trigo d’Ouro nasceu na pandemia para trazer o doce de Portugal

Aberta desde Setembro de 2020 em Seac Pai Van, a pastelaria Trigo d’Ouro expandiu-se em Julho para a Península. Nos dias que correm, a Trigo d’Ouro é exemplo de um negócio que tem crescido, apesar do contexto de crise generalizada

 

Em tempo de pandemia, um passeio pelas zonas mais turísticas da cidade revela várias lojas fechadas e espaços para arrendar. Mas, no meio das dificuldades, há quem esteja em contraciclo e encontre oportunidades para montar negócio e fazê-lo crescer. É o caso da pastelaria e padaria de produtos portugueses Trigo d’Ouro, que em Setembro de 2020 abriu em Seac Pai Van e em Julho expandiu para a Península, na Avenida Comercial de Macau, perto da AIA Tower.

A proprietária Vânia Vieira, em parceria com o marido Diogo Vieira, explicou ao HM a aposta em contraciclo com as condições da comunidade portuguesa, que devido a quarentenas se encontra, em muitos casos, impossibilitada de viajar para Portugal.

“Claro que houve algum receio abrir um negócio na altura da pandemia. Só que achámos que como a comunidade não pode sair de Macau, seria uma boa aposta levar às pessoas a proximidade de Portugal. Sentimos que seria benéfico”, afirmou Vânia Vieira, que reside em Macau há seis anos. “Muitas pessoas estão presas em Macau, não podem sair, e este negócio foi feito a pensar na comunidade. Felizmente, tem corrido bem”, acrescentou.

Também os produtos vendidos, e para garantir a qualidade, são importados de Portugal. A opção tem por base os conhecimentos e experiência de Vânia Vieira, que fez carreira no sector da restauração e geriu a cadeia de saladas Vitaminas.

“Os nossos produtos são ultracongelados e importados de Portugal, depois são cozinhados nas nossas cozinhas. Acreditamos que com a importação a qualidade é superior”, afirmou a proprietária. “Nem sempre é fácil encontrar em Macau os ingredientes necessários, e às vezes basta a água ser diferente para alterar o produto. Com a importação queremos manter a consistência, se vier comer hoje um palmier recheado e amanhã a qualidade é igual”, justificou.

Café ao balcão

Com a comunidade em mente, a pastelaria Trigo d’Ouro faz questão de permitir que as pessoas bebam o café ao balcão. “É uma forma muito portuguesa de beber o café e temos disponível nos dois espaços. Em Macau, os clientes podem mesmo ficar nas mesas, no piso de cima. Em Seac Pai Van, o conceito é diferente, mais virado para o takeaway ou só para o consumo ao balcão”, informou Vânia Vieira.

Se, por um lado, a comunidade portuguesa foi a principal aposta, por outro, as outras comunidades locais também não foram ignoradas. E apesar do receito que os produtos fossem muito doces para os consumidores chineses, a Trigo d’Ouro tem clientes de todas as origens.

“As pessoas quando vêm à Trigo d’Ouro esperam ter a experiência verdadeira da pastelaria portuguesa. Por isso, o feedback tem sido bom. Os nossos clientes são 50/50, e eles gostam dos produtos, até as tendências de consumo são as mesmas”, indicou. “No início, os clientes chineses escolhem produtos que já conhecem, mas depois acabam por experimentar outras coisas, como palmiers, bolos de coco. Na verdade, também esperava que a comunidade chinesa pudesse achar os bolos muito doces, mas até agora a resposta tem sido positiva”, reconheceu.

3 Set 2021

Descendentes de Fundadores do Teatro D. Pedro V criticam utilização

Exposições com porcos de peluches, ornamentos com desenhos animados japoneses e misses do Vietname. A utilização do Teatro D. Pedro V está a ser criticada por falta de elementos que respeitem o seu passado cultural. No entanto, um representante da associação de proprietários diz que estas actividades são “expressões da cultura chinesa”

 

Descendentes dos fundadores do Teatro D. Pedro V criticam a forma como o espaço está a ser utilizado, principalmente devido a exposições e ornamentos que não respeitam o que consideram ser a sua tradição artística. Em causa está uma exposição organizada em 2019, com peluches de porcos e fotografias de misses (alguns dos materiais ainda estão no espaço), assim como desenhos animados japoneses e outras decorações, que adornam o teatro construído em 1860.

Ao HM, Henrique Nolasco da Silva, bisneto de um dos fundadores e filho de antigo presidente da Direcção da Associação dos Proprietários do Teatro D. Pedro V, aponta que a decoração desprestigia o espaço. “Essas exposições nada têm a ver com o património cultural de Macau, considerando que se trata de um edifício classificado como tendo valor cultural, não só para a RAEM como também para a Humanidade”, começou por considerar Nolasco da Silva. “Nenhum daqueles temas tem alguma relação, próxima ou remota, com Macau. São realizações que desprestigiam o imóvel, desvirtuam o fim para que ele foi construído e subvertem os pressupostos da sua classificação pela UNESCO”, acrescentou.

Questionado sobre se o espaço tem ignorado as comunidades portuguesa e macaense, Henrique Nolasco da Silva aceitou a hipótese e promete acompanhar o caso: “Completamente [ignoradas]. As exposições e actividades que ali estão a ser realizadas são legítimas, mas noutro local, não ali. Os porcos de peluche cor-de-rosa, por exemplo, podem ficar enquadrados numa feira de domingo no Tap Seac, mas não ali”, disse. “Esta questão do Teatro D. Pedro V deve ser objecto de uma reflexão colectiva, pelo que o grupo de descendentes dos fundadores e dirigentes históricos do Teatro vai continuar a dedicar-lhe particular atenção”, prometeu.

Elogios ao Instituto Cultural

Também Catarina Canavarro Ramos, neta de outros dos fundadores, afirmou estar preocupada com a utilização do espaço. “A preservação física do imóvel está bem feita, mérito do Instituto Cultural e a sua utilização pelo IC respeita a história do Teatro, mas a utilização feita pela suposta Direcção da Associação dos Proprietários do Teatro D. Pedro V é, como já foi dito, absolutamente imprópria, só possível por parte de quem não faça ideia do passado do Teatro”, apontou a descendente.

“O indivíduo que se apresenta como Presidente da Direcção tentou vendê-lo ao IC. Não é por acaso. Deve referir-se que essa má utilização pode estar a ser feita com o apoio ou, pelo menos, a inércia do Clube Macau que ocupava uma parte do edifício”, acrescentou. “Portanto, o espaço, embora preservado fisicamente, é culturalmente abusado por essas pessoas e, nessa medida, não está a ser preservado”, concluiu.

Responsabilidades alheias

Confrontado com as críticas, Ma Lin Chong, representante da Direcção da Associação dos Proprietários do Teatro D. Pedro V, explicou que o conteúdo das exposições é dos organizadores, a quem o espaço é disponibilizado sem qualquer custo. “A exposição já foi um evento de 2019, o espaço serve principalmente a finalidade para emprestar.

Se pergunta se os conteúdos da exposição são correctos ou não, se pergunta se as pessoas se queixam ou não, cada um tem sua opinião”, afirmou Ma. “Os membros da associação de proprietários têm autonomia para decidir, e a nossa prática é deixar o público utilizar o espaço para qualquer actividade, desde que não violem as leis”, acrescentou.

Nas declarações prestadas ao HM, em momento alguns os descendentes dos fundadores do Teatro D. Pedro V questionaram actividades ligadas à cultura chinesa, como as estátuas taoistas, símbolos nacionais ou a realização de ópera cantonesa. A postura demonstrada foi de aceitação da expressão artística das várias comunidades de Macau.

Porém, Ma Lin Chong considera que o problema dos fundadores é de promoção dos valores chineses, como diz ter acontecido na exposição com fotografias de misses do Vietname: “A escultura em bambu [com misses do Vietname e porcos de peluche] é uma das artes da China. Acho que estas queixas são 100 por cento injustas. Na verdade, a soberania de Macau já foi transferida [para a China], e a divulgação da cultura chinesa corresponde à tendência corrente”, respondeu.

3 Set 2021

Património | Governo retira calçada e asfalta Rua de Eduardo Marques

A opção é justificada com a segurança de quem anda de moto na zona e não foi afastada a possibilidade de a calçada deixar de existir em mais zonas da cidade para proteger os motociclistas. A medida gerou críticas entre a população e candidatos eleitorais

 

O Governo mandou retirar a calçada portuguesa da Rua de Eduardo Marques e asfaltar a artéria situada na zona de Protecção do Centro Histórico de Macau. Nas últimas semanas, quem passava na zona podia ver a calçada ser retirada e trocada pelo asfalto, mas, na quarta-feira, foi confirmado que a calçada já não volta.

Segundo as explicações avançadas pelo Executivo, durante uma reunião do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários da Zona Central, a escolha prendeu-se com a opção de privilegiar a “segurança” em vez de um troço que não é visto como património.

No final da reunião, Lei Chong In, membro do conselho, relatou o conteúdo do encontro e explicou que a preocupação das autoridades prende-se com as chuvas e o facto de a calçada ser considerada escorregadia para os motociclos, que na opinião das autoridades, tem sido responsável por vários acidentes. Em Maio de 2020, o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), através de José Tavares, já tinha afirmado que pretendia remover a calçada por esse motivo. Porém, no mês seguinte, em Junho de 2020, segundo o jornal Cheng Pou, Tavares voltou atrás e prometeu que as características portuguesas das ruas iam ser mantidas. Um ano passou, e o presidente do IAM actuou contra o prometido.

Segundo Lei Chong In, o Instituto Cultural, liderado por Mok Ian Ian, aprovou a remoção da calçada, por considerar que não ia ter impacto na zona, que é de Protecção do Centro Histórico. Já durante a noite de ontem, o IC fez saber que a retirada da calçada tinha a ver precisamente com o objectivo de evitar acidentes.

Por sua vez, outro membro do conselho consultivo, Chang Ka Wa afirmou que o Governo confirmou que a substituição da calçada pode não ficar por aqui, e há a possibilidade de ser estendida para outras zonas inclinadas da cidade.

Chuva de críticas

Na opinião de José Pereira Coutinho, deputado e candidato da Lista Nova Esperança, deviam ter sido equacionadas outras alternativas para reforçar a segurança: “Hoje em dia existem outras formas de garantir a segurança neste tipo de superfície, para evitar que seja tão escorregadia”, indicou.

Coutinho fez ainda uma analogia entre a solução e um paciente que vai ao dentista para arranjar um dente: “Tomaram a opção de arrancar o dente [do paciente], mas isso não resolve o problema. O que se devia ter feito era encontrar alternativas para que o paciente ficasse com o dente, neste caso a calçada”, vincou.

O candidato mostrou-se preocupado com a facilidade com que se muda o ambiente da cidade. “Todo o ambiente onde está inserido esta calçada vai ficar modificado. As ruas não vão ser as mesmas. E isso é muito prejudicial para Macau, que pretende ser uma cidade internacional com características próximas da cultura portuguesa”, afirmou.
Pong Chio Fai, presidente da Associação para a Reinvenção de Estudos do Património Cultural de Macau, também se mostrou incomodado com as alterações. Em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, Pong considerou que as mudanças tiveram um impacto negativo para o ambiente “tradicional” da Freguesia São Lázaro. Por isso, o representante da associação deixou o desejo que antes de fazer alterações tão profundas o Executivo oiça a população.

As críticas sobre as alterações não passaram à margem das redes sociais, onde vários comentários sobre o assunto se tornaram virais. Por exemplo, o deputado Sulu Sou aproveitou para fazer uma sondagem sobre as opiniões contra ou a favor de remover a calçada portuguesa, com recurso aos diferentes tipos de “gostos”. Às 18H, além de quase 500 comentários ao posto, houve 1700 pessoas a expressarem-se contra a remoção da calçada e 480 a favor.

Rua do Governador

A Rua Eduardo Augusto Marques tem o nome actual desde 7 de Janeiro de 1933 e evoca o antigo Governador de Macau. Antes, a artéria que começa na Estrada do Cemitério e se estende até à Calçada da Igreja de São Lázaro e Rua de São Miguel tinha como nome Rua do Asilo. Eduardo Augusto Marques nasceu em 1867 em Mafra e foi Governador de Timor, entre 1908 e 1909. Depois, entre 1909 e 1910, governou Macau. Apoiante da Ditadura Militar de 1926, foi umas das figuras do Estado Novo, principalmente nas questões coloniais, tendo assumido o cargo de Ministro das Colónias entre 1929 e 1931.

Piso escorregadio

O Instituto Cultural (IC) justifica a aprovação da remoção da calçada portuguesa na Rua de Eduardo Marques com a necessidade de evitar os acidentes na área devido ao piso escorregadio, sem que daí decorra qualquer impacto negativo sobre o património em causa.

Em comunicado, o IC diz que “relativamente às obras de melhoramento da Rua de Eduardo Marques, desenvolvidas pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), que tem causado vários acidentes de viação e incidentes de segurança de peões, especialmente em dias de chuva, a situação torna-se mais grave, pelo que o IAM pretende proceder à substituição do pavimento da via, a fim de reduzir os acidentes de viação e pedonais causados por condições escorregadias e húmidas.

Tendo em conta que, em diferentes épocas, foram utilizados diferentes materiais de pavimentação naquela rua, sendo o revestimento de calçada portuguesa foi colocado nas obras de repavimentação posteriormente, e que as respectivas obras de optimização não tiveram impacto negativo sobre os bens imóveis classificados nas imediações, e têm ainda um efeito positivo na segurança pedonal e rodoviária, pelo que o IC não se opôs à obra em causa.”

3 Set 2021

HM/20 anos | Edições iniciais mostram primeiros passos da RAEM e história circular

Volvidas duas décadas sobre o nascimento do Hoje Macau, olhámos para as primeiras edições do jornal que testemunham os passos inaugurais da RAEM e notícias que atestam a natureza cíclica da história. Macau preparava-se para as primeiras eleições desde a transferência de soberania, os Censos tinham sido um sucesso e, enquanto se caminhava para a liberalização do jogo, o Hoje Macau esclarecia a natureza da concessão do antigo Hotel Bela Vista

 

 

No dia 5 de Setembro de 2001 era publicada a edição inaugural do Hoje Macau, com a capa a incidir sobre a polémica questão da titularidade do antigo Hotel Bela Vista, que passou a ser a residência consular de Portugal em Macau, uma entrevista a Ng Kuok Cheong e a notícia do encerramento de websites “críticos à adesão de capitalistas ao Partido Comunista Chinês”.

Numa altura em que a Região Administrativa Especial de Macau tinha pouco mais de um ano e meio de idade, a actualidade local vivia dos primordiais passos institucionais e económicos, com destaque para as primeiras eleições para a Assembleia Legislativa desde a transferência e o aceleramento do processo de liberalização do jogo.

Lá fora, a Europa preparava-se para a revolução cambial da chegada do Euro, António Guterres, longe dos horizontes internacionais da ONU, visitava as obras da Barragem do Alqueva na condição de primeiro-ministro e o mundo estava prestes a ser abalado pelo ataque terrorista que derrubou as Torres Gémeas em Nova Iorque. No Afeganistão, os talibãs governavam, como uma espécie de testemunho do tempo.

Numa altura de ressaca do êxodo de parte da comunidade portuguesa pós-1999, a manchete inaugural do Hoje Macau trazia claridade a um assunto que agigantava boatos e sentimentos crispados. A questão da propriedade do edifício do antigo Hotel Bela Vista abria chagas emocionais entre as comunidades, nos primeiros tempos em que a presença oficial portuguesa no território passava para o âmbito diplomático.

O HM publicou o documento da Conservatória do Registo Predial que atesta que o edifício da residência do cônsul de Portugal em Macau não era propriedade do Estado português, mas uma concessão gratuita, com o prazo de arrendamento até 19 de Dezembro de 2042. O documento especifica que o edifício é “afecto às instalações do Consulado-Geral da República Portuguesa em Macau, nomeadamente como residências do Cônsul-Geral e de outros membros do Consulado-Geral”.

Na segunda edição do HM, é acrescentada a voz do cônsul-geral da altura, Carlos Frota, confessando pensar que a publicidade à situação jurídica do edifício teria ficado resolvida com a publicação em Boletim Oficial, a 10 de Dezembro de 1997, do acordo alcançado sobre as instalações consulares.

No dia seguinte, 7 de Setembro, o assunto ainda mexia, mas apenas no formato leve de uma breve opinativa que comentava o facto de o jornal Ou Mun ter publicado a “não novidade” de que o antigo Hotel Bela Vista não pertencia ao Estado português.

Voto na matéria

Também em destaque no número um do HM, esteve a entrevista a Ng Kuok Cheong, candidato que viria a ser o mais votado nas eleições que se avizinhavam. Em discurso directo, o histórico deputado dava voz a algumas das reivindicações que marcaram a sua carreira na vida política.

Afastando radicalismos, Ng Kuok Cheong gostava que em 2009 o Chefe do Executivo fosse eleito por sufrágio directo, desejo que seria usado, 20 anos depois, para o desqualificar das eleições. De resto, o deputado almejava à abertura das comissões da Assembleia Legislativa, criticava a falta de eficácia da fiscalização do poder legislativo e defendia que a língua portuguesa devia continuar a ser oficial. Dois dias depois, o HM colocava Ng Kuok Cheong “em alta” na “bolsa de valores”, uma coluna de opinião, como um político “mais crescido, mais lúcido, menos radical” e com uma visão “correcta e desassombrada da comunidade portuguesa”.

No capítulo das eleições, a comissão eleitoral já se pautava pela confusa regulamentação e vigilância do que era permitido e proibido durante a campanha. O HM citou mesmo uma fonte que dava conta da “fobia regulamentadora da comissão”, que “acabou por ter um resultado castrador nas acções de propaganda das listas, mesmo em pleno período de campanha eleitoral”.

Ainda assim, nem tudo era cinzento na actuação da comissão eleitoral em 2021, como demonstra a notícia de 7 de Setembro onde se refere que a entidade teria chegado a acordo com as companhias de transportes públicos para não se pagar bilhete entre as 09h e as 20h do dia das eleições.

Coisas da política e da terra

Na terceira página do segundo número do HM, o assunto de um pequeno artigo viria a mudar para sempre a face de Macau. O texto versava sobre o aceleramento do processo de liberalização do jogo, uma semana depois da aprovação da lei que permitiria transformar Macau na capital mundial do jogo. O secretário para a Economia e Finanças da altura, Francis Tam, anunciava que estavam em curso “trabalhos para a respectiva regulamentação e para a criação de um grupo coordenador para o efeito”.

Fora dos assuntos eleitorais e das questões locais, Macau abraçava e era abraçado pela China e projectava-se no plano global enquanto RAEM. O HM noticiava no dia 10, na sua primeira edição de segunda-feira, a visita de Florinda Chan, secretária para a Administração e Justiça a Pequim para participar no Fórum Internacional “A China e o Mundo no século XXI”. A reunião teria a participação de figuras internacionais como Helmut Kohl, Jacques Santer, Boutros Ghali e Henry Kissinger.

Voltando à natureza cíclica da história, há 20 anos, as autoridades agradeciam à população a colaboração nos Censos 2001.

No plano desportivo, a grande notícia local era a ausência do piloto português André Couto do Grande Prémio de Macau 2001, depois da participação vitoriosa no ano anterior.

Entre notícias sobre novos métodos usados no Matadouro, o desejo da Casa de Portugal em Macau em conseguir voos charters para fazer viagens entre Lisboa e Macau no Natal de 2001, ou uma burla com água mineralizada importada de Zhuhai que afinal era da torneira, o HM surge num momento de ruptura da cena internacional.

Com laivos premonitórios, a quinta edição do HM dava conta de um surto de cólera em Hong Kong, a um ano do grande pavor em que a SARS mergulhou a região, lançando alertas que chegaram rapidamente a Macau. Ainda assim, à altura, sem confirmação de casos pelos Serviços de Saúde, uma fonte do HM garantia que Macau não tinha “condições técnicas e de monitorização para fazer face a um hipotético surto de cólera com maiores dimensões”.

Este artigo foi publicado no dia 11 de Setembro. No dia seguinte, Osama Bin Laden tornava-se no homem mais procurado do mundo.

Planeta de ontem

Quanto a notícias sobre Portugal, o futebol era um dos maiores elos de ligação, o cordão umbilical desportivo, com notícias que relatavam as lesões de Mantorras, os voos goleadores de Jardel e os desaires da selecção nacional orientada por António Oliveira.

No plano político, o primeiro HM divulgava o aparato de segurança que implicava a chegada do euro a Portugal. O artigo não era sobre o campeonato europeu de futebol, mas sobre a revolução económica, política e cambial do fim da moeda escudo e o início do euro. A operação implicou a chegada de aviões carregados de dinheiro, destinado ao Banco de Portugal e à banca privada, à Base Aérea de Alcochete, com supervisão militar e de grupos privados.

Na segunda edição, este jornal noticiava a visita do Engenheiro António Guterres, enquanto primeiro-ministro, às obras da barragem do Alqueva.

Porém, o mundo estava prestes a ser abalado por um sismo geopolítico com epicentro em Manhattan.
No dia 12 de Setembro, a sexta edição do HM, na capa lia-se “Terror na América – Milhares de Mortos”, com a manchete “Apocalypse Now” e a ilustração mostrava três momentos, desde os embates dos aviões nas Torres Gémeas à derrocada.

O mundo mudava, atirando estilhaços que ainda hoje se sentem, moldando a nova configuração da geopolítica e da forma como é concebida a política internacional.

Uma mudança de viragem de século, que o HM testemunhou, como tantas outras que foram passando pelas nossas páginas nos últimos 20 anos.

3 Set 2021

HM/20 anos | O jornal e o elefante

2001. Ano da Serpente. No dia 5 de Setembro nascia o Hoje Macau.
Não eram tempos fáceis os primeiros anos da RAEM, sobretudo para a comunidade portuguesa remanescente. Muitos esqueceram, outros ainda se lembram. Da sensação de orfandade e da incerteza reinantes, se bem que habitadas por uma réstia de esperança misturada com amor à terra, que nos levara a ficar. Não sabíamos o que poderia acontecer, apesar dos discursos oficiais, ou como a população reagiria à nossa presença.

Ouviam-se, por vezes, algumas vozes antiportuguesas, embora nunca tenham feito um coro suficientemente forte para apagar as palavras reconfortantes e securizantes que o então Chefe do Executivo Edmund Ho esporadicamente emitia.

Eram tempos incertos quando o Hoje Macau nasceu. Tempos de luta e afirmação, de recolocação de pessoas em diferentes lugares, de emergência de novas elites, de conflitos dentro da própria comunicação social, de sedimentação de projectos em contexto de mudança extrema. Todos apalpávamos o terreno, na posse de poucas certezas. Nós, o Governo e a população. Lá fora, nesse mundo próximo e distante, seis dias depois de ter saído o primeiro número do Hoje Macau, acontecia o 11 de Setembro.

(É agora tempo, vinte anos depois, de homenagear e agradecer a João Severino, proprietário e director do Macau Hoje, publicação que este jornal veio substituir. Foi graças a ele que o Hoje Macau nasceu e deu os primeiros passos, ainda amparado pela sua mão generosa. Durante o largo período que permaneceu em Macau, João Severino deixou uma marca indelével no jornalismo local que grande parte dos leitores lembra com saudade e que a História recordará.)

Foi somente em 2003, depois do Governo Central ter designado Macau como ponte entre a China e os Países de Língua Portuguesa (PLP), que a nossa comunidade entendeu ter aqui uma plataforma de trabalho e a possibilidade de um contributo real para o crescimento e desenvolvimento da RAEM. Com estas directivas, Macau reafirmava a sua identidade única no contexto da nação chinesa, identidade que obrigatoriamente passava pela língua portuguesa e pela existência de relações de raízes seculares.

A comunidade portuguesa poderia agora assumir um papel relevante na construção dos pilares e do tabuleiro das pontes que Pequim encarregava a RAEM de estabelecer. Por outras palavras, o Governo Central dava-nos argumentos para justificar a nossa presença. Ou, resumindo, a criação do Fórum Macau e a constante afirmação da RAEM como ponte para a Lusofonia fez-nos exalar um enorme e sincero suspiro de alívio.

Nos anos seguintes, Macau entrou num processo desenfreado de crescimento que viria a durar cerca de década e meia. A liberalização do Jogo mudou o panorama da cidade em numerosos e profundos aspectos. Novos casinos e novas lojas mudaram o centro da cidade, o COTAI nasceu. Milhares de empregos bem remunerados elevaram de forma radical o nível de vida da população. Nem sempre o crescimento foi acompanhado por um desenvolvimento ecologicamente sustentado ou sequer preocupado com a qualidade de vida da população, mas Macau conheceu uma prosperidade fabulosa, que adveio do facto de se transformar na mais lucrativa praça de casinos do mundo.

Entretanto, em 2008, estalava mais uma crise global. Nada que por aqui nos preocupasse. Mas Portugal entrou em profunda recessão, o que motivou uma emigração em massa, parte da qual aterrou em Macau onde, de uma forma geral, foi bem acolhida e encontrou meios para sobreviver. Eram pessoas diferentes das que por aqui haviam ficado, mais novas, com outros saberes e outros fazeres. A chegada de mais duas mil pessoas reforçou de forma significativa a nossa comunidade e foi motivo de regozijo generalizado, sobretudo para quem considera importante manter a inopinada presença lusófona, idosa de 500 anos, nesta pequena cidade do sul da China.

Durante todo este período, a imprensa em língua portuguesa, ao contrário do que havia sido previsto, prosperou e consolidou-se. Três jornais diários, um semanário católico, outro bilingue, uma estação de rádio e outra de televisão, compõem o ramalhete de órgãos de comunicação social em língua portuguesa existente em Macau. O Hoje Macau foi lendo a realidade circundante, reflectindo sobre o seu papel e adoptando a forma que entendemos ser mais conveniente, útil aos nossos leitores e que nos agrada produzir. Assim, focámos a nossa atenção basicamente em assuntos locais, sejam eles de política, sociedade, desporto ou cultura. Se damos menos atenção a notícias internacionais ou de Portugal é porque sabemos terem os nossos leitores acesso a essa informação através de outros media melhor qualificados para o efeito. Assim, se exceptuarmos as notícias locais, o Hoje Macau preocupa-se em dar notícias da China e da Ásia, na medida em que são escassas no mundo de língua portuguesa, e em publicar artigos ou entrevistas cujo conteúdo ultrapassa a mera informação local e procuram, outrossim, estabelecer padrões éticos e políticos de comportamentos, de acordo com a nossa linha editorial, expressa desde o nosso primeiro número.

Por outro lado, criámos a secção h, de artes, letras e ideias, na qual já contribuíram e contribuem escritores, artistas, pensadores e poetas relevantes da Lusofonia, fazendo assim com que o nome de Macau continuamente ressoe nos círculos literários e filosóficos dos PLP. Nesta mesma secção, promovemos ao longo dos anos a tradução sistemática de clássicos da poesia e do pensamento chinês, além de artigos sobre História de Macau e cultura chinesa de uma forma geral.

Como diria Jacques de La Palice, tudo corria bem até começar a correr mal. Desde o início que sabíamos existirem em Hong Kong forças (estrangeiras, de Taiwan ou locais) que cuidavam poder fazer da RAEHK uma plataforma para atacar o Governo Central e o próprio país, ao abrigo da liberdade de expressão garantida pelo princípio “um país, dois sistemas”. Esses ataques foram tomando várias formas e exibindo variados pretextos mas alcançaram um ponto de viragem importante após 2016 e as mudanças operadas no contexto internacional, nomeadamente a postura muito mais agressiva dos Estados Unidos face à China, explanada em diversas campanhas internacionais e as acções de ONG’s patrocinadas pela CIA, o Congresso americano ou seus derivados. Hong Kong era o terreno ideal para lançar sombras sobre as esperadas acções do Governo chinês. Ideias de mais autonomia e até independência começaram a ser veiculadas em vários níveis comunicacionais mas que tinham sempre como alvo preferencial a juventude. Os 1000 (!) funcionários do consulado dos EUA em Hong Kong não ficaram inactivos e de mãos a abanar.

Na óptica chinesa, as garantias e os direitos vigentes no segundo sistema não podiam de modo nenhum ser utilizados para atacar o país ou o seu Governo. Pequim compreendeu a situação e exigiu “patriotismo” aos candidatos a Chefe do Executivo nas eleições de 2017. A rua explodiu, o Governo local estremeceu e as eleições nunca chegaram a acontecer.

O pretexto seguinte foi uma “casca de banana” chamada lei da extradição, na qual o Governo de Hong Kong escorregou sem pensar duas vezes. Pedida pela justiça de Taiwan para obter a extradição de um cidadão de Hong Kong, que alegadamente assassinara uma jovem na Formosa, o Governo entendeu, obviamente, que a lei não podia ignorar também a extradição para o Interior da China. E nestes termos a elaborou. Mal deu entrada no Conselho Legislativo, a rua explodiu. O governo recuou mas parte da rua, parte dos dois milhões que se manifestara contra a lei, recusou voltar para casa e entendeu pedir tudo o que sabia ser impossível de obter.

Contudo, desta vez, as coisas estavam muito mais bem montadas. Nas manifestações surgiam kits especialmente preparados, enveredava-se pela violência, dividia-se a cidade em dois (azuis e amarelos), os principais activistas desdobravam-se em viagens internacionais para obter visibilidade, apoio e sanções contra a RAEHK e o país, portanto, tudo indicava estarmos perante esquemas bem planeados e preparados para manter o caos vivo nas ruas da cidade.

E, durante meses, assim aconteceu. Hong Kong manteve-se paralisada e o seu Governo mostrou-se impotente para resolver o problema. Do lado dos activistas e, sobretudo, dos seus títeres, anunciavam-se tanques e tropas do outro lado da fronteira, rezava-se por uma intervenção militar que reavivasse os fantasmas de Tiananmen. Mas Pequim não mandou tropas, mandou uma lei. Chamou-lhe “de segurança nacional”. E com isto deixou todos com as calças na mão e a caminho do tribunal. Do resto rezará a História, conforme quem a contar.

Poderia Macau passar incólume face aos problemas da ex-colónia britânica? Sabemos que não. Nunca assim foi, desde 1848, data da fundação de Hong Kong, e nunca assim será. Em primeiro lugar, a referida lei de segurança nacional foi dotada de extraterritorialidade, o que significa que pode ser aplicada fora de Hong Kong, isto é, por exemplo, em Macau. Mas, em segundo lugar, a lei é um aspecto da questão e o ano de 2021 foi fértil em mostrar-nos outros aspectos, talvez mais sombrios, quiçá mais preocupantes, que a mera extensão de uma lei, aliás desnecessária na RAEM, quer em termos jurídicos, quer em termos político-sociais.

Antes de mais, teremos de referir os dois acontecimentos que mais ondas levantaram durante este ano: o caso TDM e a exclusão de candidatos às eleições para a Assembleia Legislativa.
Claramente, o caso TDM, que se refere aos canais em língua portuguesa, está relacionado com a cobertura noticiosa que os canais efectuaram dos conflitos em Hong Kong, bem como do tom empregue em certas notícias claramente contrárias às posições do Governo chinês, que reproduziam a narrativa dos EUA e dos seus aliados sobre questões como Taiwan, Tibete ou o Xinjiang. Sendo a TDM um órgão de comunicação social que pertence, maioritariamente, ao Governo da RAEM, podemos imaginar que tipo de reacções terão existido da parte de um Gabinete de Ligação do Governo Central e de um Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros cada vez mais atentos e bem equipados com pessoal capaz de ler e entender português, ao ver que um canal de televisão de um governo local exprimia posições e opiniões, na sua maioria, contrárias à narrativa nacional.

Ora, se até certa altura o que era publicado em língua portuguesa parecia não afectar as autoridades chinesas, a partir dos eventos de Hong Kong operou-se uma mudança significativa, na medida em que a China considera, provavelmente com razão, que se encontra sob um ataque “frio” do Ocidente e de modo nenhum quer admitir no seu território um espaço que apoie, abrigue ou fomente esse ataque.

Obviamente, a recém-nomeada administração da TDM vinha com a missão de regular o estado do sítio. Não o conseguiu, contudo, fazer sem levantar ondas, de forma pacífica e harmoniosa. Ao sublinhar perante a redacção constituída por jornalistas portugueses que o patriotismo era um valor a respeitar, entre outras afirmações lost in translation, levou a uma série de demissões e rectificações na cadeia de comando da emissora. A administração da TDM pretendia uma linha editorial mais de acordo com as orientações nacionais, sobretudo em temas não relacionados com Macau mas com o país.

Muito então se questionou e berrou que a liberdade de imprensa tinha acabado em Macau, que o segundo sistema já era. O que não é verdade, porque além da TDM, os outros media não foram chamados, não foram avisados, condicionados ou censurados prévia ou posteriormente no sentido de estabelecer esta ou aquela narrativa sobre este ou aquele acontecimento. É certo que são mantidas (e ainda bem) numerosas conversas e contactos com as autoridades, que se esforçam, como em qualquer lugar do mundo, por passar a sua versão dos factos. Cabe aos jornalistas fazer o rastreio final e assim temos feito no nosso jornal sem problemas.

O que de algum modo se estranha é a surpresa que estes eventos causaram nalguns, como se não fosse prática comum dos governos em geral intervir nos media que controlam. Talvez, por inocência ou ignorância, julgassem que Macau é uma terra utópica onde as práticas banais de controlo por parte do poder não existem, que a TDM é uma cooperativa de jornalistas e que o segundo sistema (ou seja, a manutenção, em termos largos, do mesmo regime que existia antes da transferência de soberania) garante uma terra de leite e mel, onde a liberdade jorra abundante das fontes como nunca jorrou em local conhecido do Homem.

Não se lembram, por exemplo, do férreo controlo noticioso nos mesmos canais da TDM durante a vigência da administração portuguesa, que incluiu censura, despedimentos e um total servilismo ao governo, “a bem da nação” e por “patriotismo”. Isto para não falar da censura exercida sobre o canal chinês da mesma empresa. Há muita gente esquecida (ou ignorante) nesta terra…

Mas o que estava para vir não tinha a ver com jornalismo. Era pior e mais preocupante do que os acontecimentos na TDM.

Ora, em Hong Kong, juntamente com a lei de segurança nacional, emergiu no discurso político de forma radical, como resposta a expressões de maior autonomia ou independência, o conceito de “patriotismo”. Portanto, Hong Kong deixa de ser governado “pelas suas gentes” e passa a ser governado pelas suas gentes sim, mas desde que sejam “patriotas”. Neste sentido, foi nomeada uma comissão para avaliar o patriotismo dos candidatos às eleições e excluir os que não satisfaziam os critérios ou tinham um historial criticável para evitar que elementos anti-China ou anti-Governo Central chegassem a lugares de poder, como acontecera nas eleições anteriores.

(É fácil de perceber, por quem se interessa por História, que o conceito de “hai guo” [à letra, amar o país; patriotismo] encontra reverberações na alma chinesa distintas das que se verificam nas suas congéneres ocidentais. Isto porque, além do que as autoridades classificam como “século de humilhação” e que vai da Guerra do Ópio (1848) até à fundação da República Popular em 1949, a China esteve submetida, desde o século XIII, ao domínio mongol e depois manchu, com um breve intervalo de três séculos de dinastia Ming. Durante o “século da humilhação”, o País do Meio, esta civilização de cinco mil anos, viu-se repartido, invadido e espoliado por potências estrangeiras. É por isso muito natural que o conceito de “patriotismo” cale fundo na alma chinesa contemporânea, agora que o país recuperou a sua grandeza e lugar de destaque no contexto global.)

Se em Hong Kong o Governo Central poderá entender que pulula gente anti-patriótica, a soldo de interesses estrangeiros, sustentado por ONG’s duvidosas e com meios para convocar manifestações violentas e garantir excelentes resultados eleitorais, tal caso não se verifica, nem se verificou, em Macau. Nesta cidade, por motivos demográficos, entre outros, existe uma população na qual não se detecta a desconfiança e animosidade contra a China e o Partido Comunista que encontramos em Hong Kong. Nem os membros das chamadas “associações democráticas”, de uma forma geral, jamais tiveram um comportamento anti-patriótico que pusesse em questão, por exemplo, a pertença de Macau à China ou a legitimidade do Partido Comunista.

Talvez tal tenha acontecido mas disso não temos memória. A sua acção, embora pecando por escassa, limitou-se a um útil papel de vigilância de acções governativas que em nada questionaram os valores essenciais da RAEM. Só a realização das vigílias do 4 de Junho e um esporádico, quase ritual, pedido de eleições directas para o Chefe do Executivo (que, aliás, felizmente não vêm consagradas na Lei Básica), marcaram de outro modo as acções dos ditos “democratas”.

Seriam razões suficientes para os excluir das próximas eleições, importando de Hong Kong a “prova de patriotismo”? Não estará Macau a navegar sobre escusadas ondas e a criar uma desnecessária desarmonia? Por outro lado, não estará o círculo de poder na RAEM cada vez mais restrito aos poderosos que logo se apressam a exibir fulgente o seu “patriotismo”, até porque este lhes permite afastar vozes inconvenientes não para os interesses do país ou da população de Macau, mas para os seus próprios interesses.

Esta limitação de candidatos às eleições para a Assembleia Legislativa leva-nos a pedir o que sempre pedimos às autoridades da RAEM. Não é mais democracia, nem mais liberdade, mas sim mais transparência governativa. É nossa vontade confiar plenamente no Governo e nas autoridades judiciais. Por isso, urgia compreender as razões, os critérios, os pecados, que levaram às exclusões. Para termos todos a certeza de que vivemos no primado da lei.

Entretanto, as coisas são o que são e não outra coisa. O senhor Jacques continua a acompanhar este texto. E neste momento, como há vinte anos, vivemos tempos incertos. A pandemia deixou-nos financeiramente de rastos e não se entrevê uma luz segura no fundo deste túnel. A comunidade portuguesa enfrenta este tempo de pandemia sem uma aberta há quase dois anos para visitar o seu país ou, simplesmente, passar umas férias que não seja na China. O que não pode garantir muita saúde mental.

A verdade é que a saída de jornalistas, pelo seu pé, da TDM e as acções desenvolvidas junto da Assembleia da República em Lisboa, bem como a publicação de artigos de opinião e reportagens nos jornais em Portugal, críticos da situação de Macau, alvoraçaram o ambiente no seio da comunidade portuguesa, provocando intensos debates, questionamentos e até desistências.

Liberdade para frente, direitos para trás, segurança para um lado, bem-estar para o outro, etc. & tal, e mais alguma coisa. Vozes ultrajadas, olhos arregalados de conjuntivite, pularam bravas em defesa da Declaração Conjunta, da Lei Básica, do derrube dos comunistas e, na onda, talvez do governo socialista de António Costa. Sem se preocuparem com o elefante.

Felizmente, tanto o governo português como a Assembleia da República, entenderam que, campanhas internacionais aparte e delírios egóicos esgotados, o problema era outro, precisamente o elefante; o que está no meio desta sala, a quem alguns unicamente sentem a cauda, outros a tromba, sem realmente compreenderem que se trata de um elefante e que importa mantê-lo vivo: a nossa comunidade.

É que, na rugosidade do actual contexto internacional e regional, de modo nenhum, a comunidade portuguesa de Macau poderia ser vista por Pequim como um ponta-de-lança local de interesses estrangeiros. De modo nenhum, a comunidade portuguesa de Macau, com uma presença de 500 anos, poderia ser tomada por “inimiga” e, aos poucos, convidada a procurar outras paragens.

Ora, também para este jornal, a manutenção da comunidade portuguesa em Macau é um dos nossos principais desideratos e responsabilidade (esta sim, patriótica). Neste sentido, entendemos que não nos cabe a nós, comunidade portuguesa de Macau, como nunca coube, por aqui derrubar ou prejudicar dinastias ou regimes. Demo-nos com os Ming, depois com os Qing, a seguir com as duas repúblicas, e aqui continuamos em paz para cooperar e viver neste grande país, independentemente das atribulações políticas nacionais ou internacionais. O nosso objectivo é criar laços, ligar e construir, do modo que for mais conveniente ao desenvolvimento da RAEM, nomeadamente através da divulgação da civilização e da cultura chinesas em língua portuguesa.

É isso que o Hoje Macau, a par com um jornalismo independente e rigoroso, ao serviço da população, aqui faz há vinte anos. E, com a vossa ajuda, se propõe fazer por muitos mais, nesta quinta era do mundo.

3 Set 2021

Covid-19 | Alunos de Macau mais informados que colegas de Zhuhai

Um estudo de um grupo de académicos da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau e do Colégio de Ciências e Tecnologia de Zhuhai mostra que os estudantes universitários da RAEM estão um pouco mais informados sobre a covid-19, principalmente em vertentes técnicas

 

Os estudantes universitários de Macau são mais conhecedores das medidas de prevenção da covid-19 do que os colegas de Zhuhai. A conclusão faz parte de um estudo elaborado em parceria por um grupo de oitos académicos de Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau e do Colégio de Ciências e Tecnologia de Zhuhai.

Segundo o método de pesquisa, 977 alunos de Macau e 2.818 de Zhuhai responderam a um inquérito de resposta múltipla, em que lhes foi pedido para identificarem comportamentos ou condições que contribuíam para evitar a transmissão do vírus. As perguntas incidiram sobre os componentes dos desinfectantes, condições de inactivação da covid-19 no ambiente, contactos de transmissão e medidas de precaução quanto à utilização de máscaras quando se tem tosse ou espirros.

A principal diferença entre os frequentadores do ensino universitário de Macau e Zhuhai surgiu nas perguntas com carácter mais técnico, ou seja, sobre os componentes dos desinfectantes. Em ambos os casos, menos de um quarto dos alunos acertou na questão, em Macau 24,6 por cento conseguiram com sucesso identificar os componentes que não “matam o vírus”, enquanto em Zhuhai o número foi de 17,5 por cento.

Ao nível das formas de transmissão do covid-19 os inquiridos mostraram-se bem mais informados, com 84,5 por cento dos alunos a responderem correctamente. Entre os educandos do outro lado da fronteira o número foi relativamente mais baixo de 76,9 por cento.

Conhecimentos semelhantes

Se no que diz respeito às formas de transmissão do vírus e aos componentes dos desinfectantes que não são eficazes, os residentes locais estão melhor informados, o mesmo não acontece nas condições em que o vírus morre no ambiente. Neste capítulo, em Zhuhai 76,9 por cento das respostas foram correctas, contra 76,8 por cento em Macau.

Os dados foram também muito semelhantes a nível dos comportamentos a adoptar em caso de espirros ou tosse, com 75,9 por cento dos estudantes de Macau a darem as respostas certas, e 75,0 por cento dos colegas de Zhuhai a mostrarem conhecer os hábitos mais saudáveis.

Os inquéritos foram realizados em Agosto do ano passado, quando ainda não tinha passado um ano do início da pandemia, e os resultados foram publicados em Agosto deste ano, na revista científica online PeerJ. O artigo tem como título “Um Estudo Comparativo entre os Conhecimentos de Prevenção da Covid-19 dos alunos de Macau e Zhuhai”, e foi assinado pelos académicos Tao Xiaoyu, Chan Dong, Liang Rining, Zhang Xiaoyu, Yu Xi, Chung Sookja, Yu Yaqin e Xiao Ying.

2 Set 2021

Jogo | Receitas com quebra de quase 50 por cento em Agosto

As receitas brutas dos casinos de Macau registaram em Agosto o pior resultado do ano. Apesar da subida em termos anuais ser de 234 por cento, as 4,44 mil milhões de patacas facturadas em Agosto representam uma quebra de 47,4 por cento em relação a Julho. Na base do decréscimo está o surto local de covid-19 do início do mês

 

Agosto foi o pior mês do ano a nível das receitas do jogo, com o montante a não ir além de 4,44 mil milhões de patacas. Até ao último mês, o pior registo do ano tinha sido estabelecido em Junho, quando foram apuradas 6,53 mil milhões de patacas.

Os dados publicados ontem pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) indicam que as receitas do jogo em Macau desceram 47,4 por cento em Agosto relativamente ao mês anterior, subindo, no entanto, 234 por cento em termos anuais. Em Agosto de 2020, as receitas tinham sido de 1,33 mil milhões de patacas.

Nos primeiros oito meses do ano, os casinos registaram uma subida de 70,1 por cento nas receitas comparativamente a igual período do ano passado, com 61,9 mil milhões de patacas de receitas brutas acumuladas contra 36,3 mil milhões de patacas no mesmo período de 2020.

A culpa é do surto

Os números apresentados ontem foram influenciados por um surto de covid-19 em Macau. No mês passado, uma família de quatro pessoas, regressada do Interior da China, foi diagnosticada com a variante delta do novo coronavírus, o que levou as autoridades a declararem o “estado de prevenção imediata” por considerarem que o território estava “em risco de sofrer um surto comunitário” de covid-19, reforçando as restrições na cidade.

O território foi notificado, a 3 de Agosto, pelas autoridades de Zhuhai de que dois residentes de Macau tinham testado positivo à covid-19, um deles um motorista dos Serviços de Saúde.

As autoridades pediram à população para não sair de Macau, anunciaram o encerramento de espaços culturais, desportivos e de diversão, à excepção dos casinos, bem como a suspensão ou cancelamento de actividades que levassem à aglomeração de pessoas.

A situação levou também as autoridades a desencadearem uma operação maciça de testes à população, com resultados negativos em mais de 710 mil testes. Com mais de 680 mil habitantes, Macau registou, desde o início da pandemia, apenas 63 casos.

2 Set 2021

Debate | Lee Sio Kuan impedido de entrar em estúdio da TDM

Na impossibilidade de o cabeça de lista da Ou Mun Kong I participar num debate na TDM, o mandatário Lee Sio Kuan foi impedido de entrar em estúdio, onde pretendia tirar uma fotografia. Lee referiu que a justificação da CAEAL para a sua desqualificação enquanto candidato foi ter participado numa manifestação, em 2010, em que foi ferido por um canhão de água

 

O mandatário e candidato desqualificado da lista Ou Mun Kong I, Lee Sio Kuan, foi impedido na terça-feira de entrar nas instalações da TDM, onde pretendia exibir cartazes de campanha no início de um debate televisivo. Nesse dia, o cabeça de lista Ma Kuok Choi não pode comparecer ao debate por motivo de doença, circunstância que levou Lee Sio Kuan às instalações da emissora pública.

De acordo com o jornal Exmoo, na impossibilidade de o cabeça de lista da Ou Mun Kong I participar no debate televisivo agendado para a tarde de terça-feira, com os candidatos das listas Poder da Sinergia, Força do Diálogo e União Promotora para o Progresso e Aliança de Bom Lar, Lee Sio Kuan decidiu comparecer na TDM com cartazes de campanha e a intenção de tirar algumas fotografias no estúdio.

No entanto, o candidato excluído pela Comissão dos Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), por não ser fiel a Macau e à Lei Básica e que chegou a ser cabeça de lista, foi impedido de entrar nas instalações da TDM.

“O primeiro candidato é idoso e ficou doente com um problema lombar. Eu já tinha indicado que ia ao local para mostrar alguns cartazes com menções ao programa político e tirar fotografias. Era simples”, começou por dizer Lee Sio Kuan ao HM.

“Cheguei a dizer aos seguranças da TDM que, se não acreditavam em mim, podia levá-los a casa do cabeça de lista para confirmar. As eleições para a Assembleia Legislativa também são feitas pelas equipas”, acrescentou o mandatário da Ou Mun Kong I.

Recorde-se que Lee Sio Kuan, candidato às eleições de 2017, anunciou em Junho, antes de formalizar a nova candidatura, que pretendia revolucionar a campanha eleitoral com algo que designou como a “Estratégia Cão Louco”.

Corpo marcado

No sábado passado, na Praça do Tap Seac, aquando do início da campanha eleitoral, Lee Sio Kuan tirou a camisola para exibir a cicatriz que tem nas costas. Isto, enquanto afixava um cartaz no painel instalado na praça dedicado às eleições legislativas.

A cicatriz, explicou ao HM, foi o resultado de um ferimento sofrido numa intervenção policial com canhões de água durante a manifestação do 1º de Maio de 2010. A participação nessa manifestação e o facto de ter atirado uma bandeira da China ao chão, foi o argumento usado pela CAEAL para o desqualificar.

“Tenho tornado a minha vida difícil intencionalmente para me dedicar aos residentes de Macau. Enfrentei aquele canhão de água, tenho mazelas há mais de 10 anos e acabei mesmo por ser operado”, partilhou Lee Sio Kuan.

Sobre a sua desqualificação, o ex-candidato da Ou Mun Kong I diz ter sido usado para “apanhar o peixe graúdo” dos candidatos do campo democrata que foram considerados inelegíveis pela CAEAL.

“Não violei a Lei Básica e a Constituição. A CAEAL argumentou que, naquela manifestação do dia do trabalhador, abandonei a bandeira nacional, mas eu não fiz isso. Em mais de 10 anos nunca fui acusado. Acho que fui usado para apanhar o ‘peixe graúdo’ do campo democrata”, disse.

2 Set 2021

Eleições | CAEAL diz que voto em branco é legal e apela à participação

A comissão eleitoral esclareceu que ninguém será punido por votar em branco, mas defende que os eleitores devem usar o voto para escolher a lista que melhor os representa. Desde o início da campanha foram recebidas quatro queixas. Os eleitores em quarentena vão poder votar

 

A Comissão dos Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) esclareceu ontem votar em branco nas eleições legislativas do próximo dia 12 de Setembro não é ilegal.

Segundo o presidente da CAEAL, Tong Hio Fong, uma vez que o voto é anónimo, os eleitores têm a liberdade de optar pela lista que melhor os representa ou para simplesmente não votar. Contudo, o responsável considerou que aqueles que se dirigirem às assembleias de voto, devem exercer o seu direito.

“O voto é anónimo, não sabemos quem é que votou. Por isso não é ilegal, mas, como disse, os eleitores devem ir votar e utilizar o seu voto para escolher a lista que melhor os representam. Os eleitores podem decidir votar em qualquer lista ou até votar em branco. Isto é uma opção dos eleitores, uma vez que têm o direito de escolher”, apontou Tong Hio Fong.

Recorde-se que recentemente, segundo o South China Morning Post, a Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, anunciou que aqueles que abertamente incitarem eleitores a votar em branco, a não votar ou a produzir votos nulos podem sofrer consequências legais.

Questionado se o actual contexto político e as medidas de prevenção da pandemia podem contribuir para afastar os eleitores da actual campanha eleitoral e, no limite, da votação, o presidente da CAEAL afirmou não saber qual o actual estado de espírito dos votantes e que as medidas anti-epidémicas são “prioritárias” para o Governo.

“Se as pessoas estão ou não desmotivadas para ir votar, eu não sei. Ainda não chegámos ao dia das eleições e cada pessoa pode decidir se pretende ou não votar”, referiu.

E vão quatro

Em conferência de imprensa, a CAEAL revelou ainda que, desde o início da campanha eleitoral foram recebidas quatro queixas relacionadas com infracções cometidas por quatro listas candidatas. Sobre os casos, Tong Hio Fong escusou-se a identificar as listas em questão para não interferir com o processo eleitoral.

“Após o início do período de campanha eleitoral recebemos quatro queixas. Duas foram encaminhadas para investigação e duas recebemos hoje [ontem] e estamos neste momento a acompanhar. Não vou comentar esses casos, porque (…) não queremos afectar as listas, mas vamos seguir todos os procedimentos legais para tratar dessas queixas”, partilhou o responsável.

Segundo Tong, um caso relacionado com actos irregulares na internet seguiu para a PJ, outro caso foi para o CCAC e outros dois “estão relacionados com a violação das regras de afixação de cartazes”.

Foi ainda revelado que os eleitores que estiverem em quarentena nos hotéis designados estão autorizados a votar no dia 12 de Setembro, desde que assinem um pedido de mudança da assembleia de voto.

Caso o façam, explicou Tong, um a um, os eleitores em observação médica que queiram votar poderão dirigir-se às mesas de voto que serão instaladas no átrio dos respectivos hotéis para exercer o seu direito. O número total de eleitores em quarentena que desejam votar será calculado até às 23h59 do dia 11 de Setembro.

2 Set 2021

Ontem foi o derradeiro dia do Caravela, um marco da comunidade portuguesa

No dia 29 de Junho de 1995, com a transferência de soberania no horizonte e numa Macau bem mais turbulenta em comparação com os dias de hoje, abria a Pastelaria Caravela, no Pátio do Comandante Mata e Oliveira, bem no coração de Macau. Ontem, mais de um quarto de século depois, o espaço que se tornou num local de culto para as comunidades portuguesa e macaense abriu pela última vez.

Segundo apurou o HM, a renda elevada, um trespasse fracassado e crise a que a pandemia votou Macau estiveram na origem do naufrágio. Nem a bóia de salvação atirada pelo Governo, na forma de apoios às Pequenas e Médias Empresas, chegou para manter o Caravela à tona.

O último dia decorreu com a languidez e calmaria que viria a ditar o encerramento. Sentado na esplanada, o advogado António Lobo Vilela, em Macau há 25 anos, é apanhado de surpresa pelo encerramento da Pastelaria Caravela. “A sério, vai fechar? Não fazia ideia”, comenta surpreendido. “É passagem obrigatória, faz parte do percurso normal de um português em Macau”, comenta o cliente que todos os dias não dispensa uma bica.

A partir de agora, António Lobo Vilela não tem dúvidas de que a comunidade portuguesa ficará órfã do local no centro da cidade. Mas, sem dramas, antevê que a adaptação será rápida. “As pessoas vão lembrar-se do Caravela, mas haverá outro poiso”, projecta o jurista.

Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau, encara o fim do Caravela com emotividade. “Impressiona-me ver fechar este café, faz-me confusão. Tenho pena de ver fechar estes espaços, porque fazem parte da história da cidade e da sua diferença. Cada espaço destes que desaparece é um bocadinho da história e da identidade de Macau que se vai apagando”, reflecte Amélia António.

Cenas de filme e teatro

Em mais de 26 anos, o Caravela coleccionou histórias, dramas, celebrações e tudo o que se possa imaginar num lugar habitado por pessoas em transição. No Pátio do Comandante Mata e Oliveira nasceram histórias dos Dóci Papiaçam di Macau, “em ambiente de plena cavaqueira”. Miguel de Senna Fernandes recorda “as belas tardes que ali se passaram” e garante que irá guardar boas memórias do Caravela.

“Tenho muita pena que feche, porque as pessoas reuniam-se ali, conversavam, era um espaço de cavaqueira. Em Macau, são fundamentais espaços deste género, onde não é apenas a cusquice, mas sobretudo o convívio que marcam. As comunidades precisam sempre de espaços de referência onde possam conviver, e o Caravela era um desses espaços”, comenta o advogado e director do grupo de teatro que mantém vivo o patuá.

Face aos factos consumados do encerramento, Miguel de Senna Fernandes remata que “é mais um espaço que se perde, mais um que diz muito respeito às comunidades portuguesa e macaense”.

Porém, nem sempre de felizes cenas se fez o espaço. Albano Martins, que foi contabilista da sociedade que fundou o Caravela, com Francisco Cordeiro, Francisco Gonçalves e Adriano das Neves ao leme, recorda como um dia ficou cravada uma bala na coluna de entrada da pastelaria. Um guarda prisional acabaria por perder a vida no Caravela, na sequência do tiroteio.

Albano Martins estava em Pequim, quando foi informado do pânico que se instalara no pátio, em especial entre os empregados da pastelaria.

O economista lembra, inclusive, que o Caravela era bastante frequentado por agentes da Polícia Judiciária durante a violenta época de guerra de seitas, facto que terá mesmo afectado o negócio porque alguma clientela receava ser apanhada por uma bala perdida de um ajuste de contas que não eram as suas.

Na larga maioria dos dias dos primeiros anos do Caravela, o maior rebuliço era comercial, chávenas a tilintar e a máquina registadora a facturar, numa época em que “só o dinheiro das bicas dava para pagar todos os custos”, lembra o economista.

Cenário que contrasta com a tarde de ontem. Com a esplanada a meio gás, conversas cruzadas entre bicas, super bocks e tostas mistas. Como quem não quer a coisa, o assunto do fim passa ao de leve entre a freguesia, cristalizado na frase uma cliente que exclama “acabou-se a esplanada!”.

Com a chegada das 18h, a clientela habitual chega para beber um último copo, o da inadvertida despedida a um lugar que ficará para sempre ligado a tempos de mudança, a chegadas e partidas. Esta é só mais uma.

1 Set 2021

CTM | Escavação destrói ligações e causa apagão na Zona Central

As obras de construção na Rua da Sé deixaram o Centro de Macau sem telecomunicações durante várias horas, devido à destruição de um cabo. A CTM esteve no local a fazer reparações e diz que os custos vão ser discutidos com a construtora

 

A escavação numa obra na Rua da Sé destruiu um cabo de telecomunicações e causou um apagão que afectou mais de 1.000 utilizadores de serviços de comunicações e gerou 400 pedidos de esclarecimentos. O incidente aconteceu na segunda-feira, por volta das 17h00, e resultou em vários cabos de rede fixa de telefone, internet, serviços de televisão por cabo, entre outros, destruídos.

O apagão afectou residências, espaços comerciais e serviços da Administração e obrigou a Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) a fazer uma intervenção de emergência, que começou logo na segunda-feira e se prolongou até terça-feira, inclusive durante a madrugada. Nas reparações esteve envolvida uma equipa com cerca de 30 engenheiros.

Segundo os dados apresentados pela CTM, ao canal chinês da Rádio Macau, por volta das 08h30, ou seja, cerca de 12 horas depois do início dos trabalhos de reparação, 90 por cento dos serviços tinham sido reestabelecidos.

Contudo, muitos outros continuavam com problemas durante a maior parte do dia, como aconteceu na redacção do HM, que só voltou a ter acesso à internet cerca das 22h30.

Em contra-relógio

Após o sucedido, o vice-presidente do Serviço de Rede da CTM, Declan Leong, deslocou-se ao local na manhã de ontem para acompanhar o andamento das reparações e fazer um ponto da situação.

À emissora local, Declan Leong afirmou que tinham sido afectados cerca de 1.000 clientes da empresa e que houve mais de 400 pedidos de esclarecimento sobre o sucedido. Sobre as operações de reparação, o responsável afirmou que houve uma estratégia de dar prioridade aos serviços tidos como mais importantes, como os centros de saúde e Administração Pública.

Leong reconheceu ainda que os danos foram sérios e que a reparação é apenas uma solução temporária, o que significa que nos próximos dias a CTM vai pedir à empresa responsável pelas obras para fazer uma intervenção permanente.

O representante da CTM também não quis entrar em detalhes sobre eventuais compensações e custos de reparação do serviço, limitando-se a dizer que era uma questão que irá ser discutida com a construtora, nos próximos dias.

A CTM pareceu também afastar responsabilidades no sucedido, uma vez que segundo Declan Leong é disponibilizado às construtoras um mapa com a localização da passagem dos cabos e toda a informação considerada essencial para que não haja acidentes durante as escavações.

1 Set 2021

Eleições | Nelson Kot suspeito de fazer propaganda ilegal no Facebook

O cabeça de lista da “Poderes do Pensamento Político” é suspeito de violar a lei eleitoral ao ter promovido uma campanha de publicações pagas no Facebook. Em comunicado, a comissão eleitoral alertou que os candidatos não devem adquirir serviços de publicidade comercial em redes sociais ou orgãos de comunicação social sob pena de incorrerem no crime de desobediência qualificada

 

O primeiro candidato da lista “Poderes do Pensamento Político”, Nelson Kot está a ser investigado por alegada propaganda ilegal através da promoção de publicações pagas na rede social Facebook. O alerta foi dado ontem por leitores do portal Macau Concealers, após terem partilhado imagens de publicações “patrocinadas” do candidato às eleições do próximo dia 12 de Setembro.

Segundo a mesma fonte, a Comissão para os Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) notificou de seguida o cabeça de lista da candidatura “Poderes do Pensamento Político”, que de imediato terá removido o conteúdo patrocinado.

Ouvido pelo Macau Concealers, Nelson Kot apontou que a CAEAL “nunca esclareceu adequadamente os regulamentos afectos à publicidade comercial” e que existe outra lista de candidatura que também está “a gastar dinheiro” na divulgação de conteúdos nas redes sociais.

No seguimento do incidente, a CAEAL emitiu um comunicado onde esclarece que “as candidaturas e os candidatos não devem adquirir serviços de publicidade comercial junto das redes sociais e de quaisquer órgãos de comunicação social, para fins de propaganda eleitoral”.

“O artigo 80.º da Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa prevê que, a partir da publicação da ordem executiva (8 de Março de 2021) que marque a data das eleições, é proibida a propaganda eleitoral feita, directa ou indirectamente, através de quaisquer meios de publicidade comercial, em órgãos de comunicação social ou fora deles”, pode ler-se no comunicado.

Sob investigação

Na mesma nota, a CAEAL esclarece ainda que logo que se verifique que está a ser feita propaganda eleitoral através de publicidade comercial, o responsável está obrigado “a remover imediatamente os materiais de propaganda eleitoral”, sob pena de constituir o crime de desobediência qualificada.

Caso haja indícios de infracção, acrescenta a CAEAL, o caso será encaminhado “à autoridade policial para efeitos de acompanhamento e de investigação” com o objectivo de verificar se “as pessoas em causa e as redes sociais envolvidas contrariaram, ou não, a lei”.

1 Set 2021

Covid-19 | Governo apela a escolas para agirem com “responsabilidade”

Antes do regresso às aulas, DSEDJ apelou a professores para a necessidade de criar uma barreira imunológica e recorda que os profissionais do sector são responsáveis por contribuir para um ambiente seguro para os mais jovens

 

Criem uma barreira imunológica e adoptem comportamentos seguros face à pandemia da covid-19. Foi a principal mensagem deixada pelo Governo, antes do regresso às aulas presenciais do ensino não-superior, que está autorizado a partir de hoje.

No documento divulgado ontem, na versão portuguesa, foi recordado que “os profissionais da área educativa têm a responsabilidade de criar um ambiente de aprendizagem saudável e seguro para os estudantes”. Por isso, a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) deixou a mensagem de esperança para que seja o sector a contribuir para “o estabelecimento conjunto de uma barreira imunológica comunitária, para que a sociedade de Macau possa retomar a vida normal”.

A mensagem da DSEDJ refere ainda a possibilidade de as pessoas serem vacinadas, embora não seja feito apelo directo à vacinação. “Sob a conjuntura de normalização da prevenção e do controlo da epidemia, todos os sectores da sociedade contribuem, unidos e empenhados, para a criação duma barreira imunológica de grupo, sendo esta uma responsabilidade moral de cada profissional da área educativa”, pode ler-se na mensagem. “Actualmente, em todo o mundo, a inoculação é, na sua generalidade, considerada um meio eficaz e importante no combate à epidemia de Covid-19”, foi ainda acrescentado.

Desafios e surtos

Em relação às expectativas para o ano lectivo 2021/2022, a DSEDJ admite que vão ser vários os desafios, num mundo que não é o mesmo depois da covid-19. “A epidemia de pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus alterou a ordem quotidiana da educação no mundo, fazendo com que o desenvolvimento educativo enfrente vários desafios”, é afirmado.

No novo contexto, o Governo diz às escolas que precisam “de se ajustar, constantemente, seguindo as alterações na epidemia” e que “todos devem estar empenhados no desempenho das funções lectivas, assegurando continuamente o crescimento saudável dos estudantes”. Porém, a segurança dos próprios é também vista como essencial: “devem também proteger-se a si próprios e aos seus familiares, fazendo, rigorosa e convenientemente, os trabalhos de prevenção epidémica”, é igualmente indicado.

O apelo contra comportamentos de riscos em tempo da pandemia da covid-19 é feito depois de uma visita de estudo da Escola Hou Kong ter sido responsável pelo último surto na RAEM. Uma aluna de 12 anos que foi cantar ao Interior, mesmo depois da DSEDJ ter apelado para que as actividades fossem suspensas ou adiadas, foi infectada durante um voo, o que fez com que a família acabasse também infectada e toda a RAEM tivesse de ser testada, não havendo mais casos positivos.

1 Set 2021

Turismo de Macau | Livraria fecha portas em Lisboa. RAEM fora da Feira do Livro

O fim da representação do Turismo de Macau em Lisboa levou à ausência na Feira do Livro de Lisboa deste ano. A Delegação Económica e Comercial de Macau não deixa de lado a hipótese de voltar a participar no evento. A livraria fechou portas e, para já, não há planos de reabertura, estando “em análise” a continuação do projecto. Editores receberam cartas para levantar livros no prazo de um ano

 

Os livros que se editam em Macau, ou que versam sobre Macau, deixaram de ter o seu principal ponto de venda em Portugal desde o dia 16 de Junho. Isto, porque o fecho da representação do Turismo de Macau em Lisboa levou ao encerramento da livraria que funcionava nas instalações da Delegação Económica e Comercial de Macau (DECM) em Lisboa, na avenida 5 de Outubro.

A decisão do Governo de Macau fez também com que as obras editadas na RAEM não estejam representadas na edição deste ano da Feira do Livro de Lisboa. A DECM não está inscrita na APEL – Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, entidade responsável pela organização do evento. Na lista de associados da APEL não consta nenhuma outra entidade ou editora ligada a Macau.

Em resposta ao HM, a DECM garante estar “a equacionar a futura participação no evento”, enquanto que a reabertura da livraria parece estar fora da equação, uma vez que os editores foram notificados para levantar as suas obras no prazo de um ano.

“Foi dado início ao processo de transferência e liquidação do espólio da livraria da Representação do Turismo de Macau em Lisboa”, assegurou a DECM, sendo que “os livros consignados já se encontram em levantamento”. Este procedimento “tem vindo a desenvolver-se de forma muito positiva”, acrescentou a DECM.

O HM fez ainda uma pergunta adicional sobre as razões que levaram ao encerramento da livraria e se há possibilidade de esta vir a abrir portas noutro local, tendo a DECM dito apenas que “está em aberto e em análise a possível continuidade da mesma”.

O HM sabe ainda que a presença na Feira do Livro chegou a render receitas na ordem dos 10 mil euros (cerca de 100 mil patacas). Além do conjunto de obras que estava disponível para venda ao público, resta ainda um espólio de 25 mil livros que são propriedade do Governo da RAEM, mas que não estavam disponíveis para venda ao público.

Questionada sobre como será feita a promoção das obras de Macau em Portugal, a DECM apenas disse que o Governo da RAEM “continuará a promover os produtos e serviços turísticos e culturais de Macau no exterior, tendo em vista o reforço da imagem de Macau enquanto destino de qualidade”.

Sem acerto de contas

Rogério Beltrão Coelho foi um dos editores contactado para levantar o que resta em Lisboa das obras editadas pela Livros do Oriente que não foram vendidas. No entanto, este lamenta que o processo não tenha tido uma discussão prévia. “A DECM tem todo o direito de tomar as decisões que julgue mais convenientes, mas este processo foi feito de forma estranha e sem qualquer diálogo prévio com os editores de Macau, que se limitaram a receber uma carta solicitando que os livros fossem levantados. Em circunstância alguma foi colocada a hipótese de uma alternativa em prol da continuidade da livraria.”

O editor refere ainda que “não houve acerto de contas”, além de que “não se sabe em que estado estarão os livros”. O transporte e levantamento das obras também irá obrigar a uma “despesa inesperada, avultada e sem qualquer compensação”, lamentou.

No caso da Livros do Oriente, há mais de mil obras por levantar, o que implica “contratar uma empresa para o efeito e transportá-los para fora de Lisboa para o armazém” da própria editora.

Uma livraria diferente

Na visão de Rogério Beltrão Coelho, a livraria que funcionava nas instalações da DECM nunca funcionou na perfeição, pois cada cliente ou visitante tinha de se apresentar primeiro a um recepcionista. “Verificaram-se sempre vários factores que impediram que exercesse a sua função como qualquer outra livraria. A grande fragilidade foi a falta de promoção das edições de Macau.” No entanto, o editor destaca o facto de a livraria ter tido “o mérito de encaminhar para ela qualquer leitor de Portugal que contactasse as editoras interessado nos seus livros”.

Além disso, “muitas vezes era a única oportunidade para dar a conhecer os livros de Macau e servir de ponto de encontro para quem, estando em Portugal, vive ou passou por Macau”. Tendo sido “o único posto de venda organizado dos livros de Macau em Portugal”, é agora difícil integrar estas edições em outras livrarias.

“A intensa actividade editorial em Portugal, mesmo com pandemia, não permite às livrarias do país ter disponíveis todos os títulos editados, optando [estas] pelos mais comercializáveis, designadamente os dos autores mais conhecidos. Portanto, não dá para encaixar os livros de Macau neste circuito comercial”, frisou.

Que solução?

Na opinião do editor da Livros do Oriente, “Macau precisará sempre de uma livraria em Lisboa, no Porto ou em Coimbra”, mas num espaço que seja “de fácil e atraente acesso”, e onde o leitor possa encontrar “os livros que quer”. Beltrão Coelho diz ainda que a aposta deveria passar também por um serviço de vendas online e por “muitas acções de promoção”.

Só assim, e também com a presença na Feira do Livro de Lisboa, “se conseguirá manter e divulgar a presença lusófona de Macau e as edições chinesas produzidas” no território, apontou.

João Botas, jornalista e um dos autores de obras sobre a história de Macau, diz ter ficado surpreendido com o encerramento da representação dos Serviços de Turismo de Macau em Lisboa e, por consequência, da livraria.

“Respeito a decisão, mas não posso concordar [com ela], tendo em conta o elo especial que Portugal sempre teve e terá com Macau”, começou por dizer.

Com livros publicados com a chancela do Instituto Cultural e do Instituto Internacional de Macau, incluindo edições de autor, João Botas destaca o facto de, para alguém que escreve livros, ser sempre difícil o encerramento de uma livraria, tendo em conta “a especificidade” do mercado editorial de Macau.

João Botas frisou também “as múltiplas manifestações culturais sobre Macau que esta delegação fez ao longo das últimas décadas e que muito serviram para levar mais longe, de forma honrosa, o nome de Macau”.

Alterações espaciais

Numa entrevista concedida ao HM em Maio do ano passado, Paula Machado, então coordenadora da representação do Turismo de Macau em Lisboa, disse ter novos planos para dinamizar a livraria.

“Acaba por ser um importante complemento às nossas actividades promocionais, pois participamos na Feira do Livro de Lisboa e na Festa do Livro de Belém. Nestas feiras acabamos por vender mais livros do que em nos outros meses do ano. Ainda assim, penso que ainda há muito a fazer para atrair mais pessoas às nossas instalações”, defendeu.

Muito recentemente a livraria foi alvo de uma reestruturação, pedida por Paula Machado, tendo sido realizado um novo inventário, que implicou “a implementação de um novo sistema informático e o abate de livros antigos e desactualizados”.

Além disso, “foram feitas obras no armazém para podermos organizar os livros por ordem alfabética e por autor”. Na mesma entrevista, Paula Machado revelava a vontade de criar “um novo sistema de gestão das consignações em conformidade com o que se faz nas outras livrarias em Portugal”, bem como um site reestruturado para a venda de obras. Paula Machado não quis prestar novas declarações sobre o encerramento da livraria, por não se encontrar em funções.

O presidente da Casa de Macau em Portugal, Rodolfo Faustino, também se recusou a prestar comentários sobre o encerramento deste espaço. O HM tentou ainda chegar à fala com outras entidades ligadas a Macau, no sentido de perceber se uma nova livraria poderá abrir portas, mas até ao fecho desta edição não foram obtidas respostas.

1 Set 2021

Automobilismo | Regresso (pontual) de Isaías do Rosário às corridas em Portimão

Um convite inesperado levou Isaías do Rosário a regressar à competição automóvel no fim de semana de 21 e 22 de Agosto no Autódromo Internacional do Algarve. O piloto e comentador de automobilismo de Macau voltou a calçar as luvas e a colocar o capacete, alinhando à partida nas 12 Horas de Portimão, uma prova pontuável para o Troféu C1

 

Arredado das pistas há cerca de dez anos, o sócio fundador do Automóvel Clube de Macau foi convidado para participar na prova algarvia do troféu monomarca português que usa o modelo Citroen C1. Este convite surgiu por parte da equipa Silver Team, uma das trinta e seis formações inscritas no evento, tendo dividido a condução do pequeno carro francês com Miguel Pereira, Manuel Melo, João Silva e Raul Castro.

A corrida de doze horas no circuito de Fórmula 1 de Portimão foi dividida em duas corridas com a duração de seis horas. Na primeira corrida, Isaías do Rosário e os seus companheiros de equipa foram os décimos segundos classificados, enquanto que no segundo confronto terminaram no décimo sexto posto.

“O circuito não é fácil, pois tem várias zonas cegas. Não é fácil memorizar todas as curvas, mas com o tempo fui ganhando confiança e fui melhorando”, explicou ao HM o piloto da RAEM, que foi o segundo piloto do território a realizar uma corrida em Portimão, após a participação de Andy Chang na prova do europeu de Fórmula 3 em 2015.

Missão cumprida

Com pouco tempo de pista, Isaías do Rosário lamentou ter feito “pouco tempo de pista” nos treinos livres e nos treinos cronometrados “tivemos um problema com o carro”, o que atirou a equipa para a 28ª posição da grelha de partida.

Na primeira partida da prova de seis horas, que começou ao final da manhã de sábado e terminou já ao fim da tarde, Isaías do Rosário entrou para o quarto turno de condução. “Entreguei o carro em 13º, o que não foi nada mau. Quem veio atrás de mim ainda conseguiu ganhar uma posição e terminamos de 12º. Foi muito bom, porque saímos lá de trás”, rematou.

Na segunda parte da corrida, disputada no final do dia, o quinteto do Citroen C1 nº126 perdeu tempo com uma estratégia infeliz na escolha de pneus e depois acabou penalizada por não cumprir correctamente o procedimento do safety-car. “No cômputo geral até foi bom, pois começamos em 26º lugar e chegamos em 16º”.

No final da corrida, Isaías do Rosário admitiu que ficou com “a satisfação de terem visto na fase final da corrida, que eu era o quarto piloto mais rápido em pista. Ainda estou um pouco longe dos melhores pilotos, mas com um pouco mais de experiência e conhecimento do carro, que não é assim tão simples, poderia certamente rodar mais próximo dos pilotos da frente”.

Regressar à competição não está por agora nos planos de Isaías do Rosário que, no entanto, não fecha a porta “a futuros convites…”

31 Ago 2021

Qingmao | Posto fronteiriço abre dia 8 de Setembro

O posto fronteiriço de Qingmao vai começar a operar a 8 de Setembro às 15h, de acordo com um comunicado emitido ontem pelo Gabinete de Comunicação Social. Na manhã do dia 8 será organizada a cerimónia de inauguração do edifício situado no cruzamento entre a Avenida do Comendador Ho Yin e Estrada do Canal dos Patos na Ilha Verde.

As autoridades sublinham que esta estrutura será aberta com o propósito de aliviar o fluxo de pessoas das Portas do Cerco, e tem como mais-valia a proximidade com a estação de comboios de Zhuhai. Em termos da organização do espaço, o átrio das partidas fica no terceiro andar e o das chegadas no segundo andar, onde será aplicado o modelo “Inspecção Fronteiriça Integral” com a instalação de 50 canais de passagem automática,

A entrada em funcionamento do novo posto fronteiriço implica a redefinição da zona em termos de transportes e acessibilidades.

A Direcção dos Serviço para os Assuntos de Tráfego destacou que junto e dentro do posto existem cinco parques de estacionamento público, disponibilizando um total 4.782 lugares, incluindo 2.192 lugares para automóveis ligeiros e 2.590 lugares para motociclos e ciclomotores. Além disso, a zona será servida por um total de 16 carreiras de autocarro, com seis paragens nas imediações do posto.

31 Ago 2021

Covid-19 | Jovem que originou surto teve alta

A jovem de 12 anos, infectada com covid-19 depois de uma visita de estudo à China já teve alta, após ter testado negativo por duas vezes. O resto da família continua internada. Com as eleições à porta, continua a não se saber como vão votar os residentes em quarentena

 

Já teve alta a rapariga da família de quatro pessoas infectadas com covid-19. A jovem, de 12 anos, ficou infectada com o novo coronavírus depois de uma visita de estudo à China. Os familiares continuam internados.

“Temos ainda três pacientes [no Centro Clínico de Saúde Pública do Alto de Coloane], mas esta paciente fez três testes de ácido nucleico, dois com resultado negativo, e teve agora alta hospitalar, estando a cumprir o período de isolamento”, adiantou Leong Iek Hou, médica e coordenadora do Centro de Coordenação e de Contingência do novo tipo de coronavírus.

Os responsáveis do centro foram ainda questionados sobre a ausência de informações a duas semanas das eleições legislativas, nomeadamente sobre se será usado o carimbo nas mesas de voto, tocado por muitas pessoas, e como será garantida a votação aos residentes que se encontram a cumprir o período de quarentena obrigatório.

“A Comissão para os Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) manteve sempre contacto com os Serviços de Saúde e já realizamos várias reuniões sobre esta questão, mas há ainda muitos pormenores a discutir. Quando tivermos informações definidas vamos divulgá-las. Temos tempo para discutir medidas concretas. Os pormenores devem ser avançados pela CAEAL”, disse Leong Iek Hou.

70% vacinado

Tai Wa Hou, coordenador do programa de vacinação, mostrou-se satisfeito com o facto de cerca de 70 por cento dos profissionais de saúde já estar vacinado contra a covid-19. “Houve um avanço, porque antes a taxa rondava os 40 por cento. Falámos que estas pessoas devem ter sentido de responsabilidade”, frisou.

Relativamente ao regresso às aulas, e à necessidade de realização de testes, um total de 11 mil pessoas já submeteram o pedido, sendo que 80 por cento já foi testada. O Centro de Coordenação continua a reunir com as escolas para promover a vacinação no âmbito do serviço de proximidade. “O regresso às aulas irá fazer-se no tempo previsto”, foi referido na conferência de imprensa de ontem.

31 Ago 2021

Eleições | Associação de Jiangmen volta a oferecer lembranças

A Associação dos Conterrâneos de Jiangmen voltou a distribuir lembranças aos sócios no domingo, levando ao segundo caso em análise no CCAC relacionado com a entidade ligada à lista de Zheng Anting. As ofertas incluíram bolos lunares, guarda-chuvas, sacos para compras, ao mesmo tempo que foram dadas indicações em como votar na lista de Jiangmen

 

A benevolência da Associação dos Conterrâneos de Jiangmen antes das eleições legislativas voltou ao radar do Comissariado contra a Corrupção, depois de no passado domingo a entidade ligada à lista que tem Zheng Anting como líder ter organizado uma sessão de esclarecimento de como preencher o boletim de voto, com a entrega de um cabaz de ofertas.

Segundo o portal All About Macau, foram oferecidos bolos lunares, guarda-chuvas, máscaras, sacos reutilizáveis para compras, pequenas ventoinhas portáteis e folhetos informativos sobre a lista encabeçada por Zheng Anting.

Além disso, um dos participantes afirmou ao All About Macau que nas instalações foram dadas indicações sobre a forma correcta de votar na lista ligada aos conterrâneos de Jiangmen.

Cerca de duas centenas de pessoas acorreram ao local, na zona do Patane, formando filas na rua controladas por funcionários da associação, que informavam os participantes da possibilidade de receberem ofertas.

O All About Macau perguntou à Comissão dos Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) se este comportamento viola a lei eleitoral, ao que a entidade liderada por Tong Hio Fong respondeu afirmando que “as listas candidatas podem distribuir materiais promocionais durante o período da campanha das eleições”. Ainda assim, o caso foi reencaminhado para o Comissariado contra a Corrupção (CCAC).

O valor das coisas

A número dois da lista União de Macau-Guangdong, ligada à Associação de Conterrâneos de Jiangmen, Lo Choi In, relativizou o caso e referiu que o evento de domingo foi apenas uma actividade promocional e que os bens distribuídos não têm valor monetário. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Lo Choi In afirmou que os materiais promocionais foram declarados, de acordo com a lei, e verificados pelo CCAC e CAEAL.

Não foi a primeira vez que a lista ligada a Jiangmen organizou actividades que resultaram em casos reencaminhados para o CCAC, depois da oferta de vales de 100 patacas do supermercado Royal, verificada a meio de Junho.
Também nesse caso, apesar de enviar para o CCAC, o presidente da CAEAL negou a existência de indícios de corrupção eleitoral.

“A associação não apresentou um pedido para constituir uma comissão de candidatura. […] Sobre a eventualidade de haver corrupção, por enquanto, não verificamos indícios de corrupção eleitoral”, afirmou Tong Hio Fong, após a reunião de ontem da CAEAL. “Encaminhámos o caso ao CCAC e lembramos que esses actos, a oferta de lembranças e benefícios, não podem ter ligação com as actividades eleitorais”, acrescentou.

31 Ago 2021

Eleições | Coutinho assume-se como único candidato democrata

Caso seja eleito, Pereira Coutinho antevê uma vida “difícil” enquanto único deputado do campo democrata na Assembleia Legislativa. Apelando ao voto da comunidade portuguesa e macaense, promete “actuar” para resolver os problemas que assolam Macau, num momento político que considera “dramático”

 

O cabeça de lista da Nova Esperança, José Pereira Coutinho assumiu-se ontem como o único candidato do campo democrata e antevê dificuldades acrescidas na próxima legislatura, enquanto a “voz incómoda” que ainda resta na Assembleia Legislativa (AL).

Para Pereira Coutinho, o facto de a Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) ter considerado inelegíveis candidatos como Ng Kuok Cheong ou Sulu Sou é uma situação “triste”, que reflecte o “momento dramático” do contexto político que se vive actualmente em Macau.

“É evidente que vai ser difícil trabalhar sem os meus colegas e bons amigos democratas que estavam na AL. Como sabem eu entrei na AL em 2005 e tomei sempre como referência os deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San. Aprendi bastante com eles porque têm uma maneira de intervir bastante diferente, bastante incomodativa e sempre tive o apoio deles”, apontou ontem durante a apresentação do programa eleitoral e dos restantes candidatos da Nova Esperança.

“Nos últimos 16 anos, votei sempre em bloco [com os candidatos democratas]. Sinto pena por não poderem estar connosco. Se a Nova Esperança tiver uma voz na próxima legislatura, vai ser muito difícil, vai ser uma voz contra 32 dentro da AL. Nem quero imaginar”, acrescentou.

Pereira Coutinho revelou ainda que, na altura do anúncio da desqualificação, não foi capaz de falar porque ficou “triste” e “não estava em condições de dizer aquilo que ia dentro do coração”.

Apesar de tudo, o candidato considera que não é altura de “deitar a toalha ao chão” e apela, por isso, a que todos os eleitores exerçam o seu direito de voto no próximo dia 12 de Setembro, para que continue a existir uma “voz incómoda” dentro da AL, capaz de defender os interesses das comunidades portuguesa e macaense.

“Faço aqui um apelo a toda a comunidade portuguesa e macaense, mesmo os que não gostam ou discordam de nós. Estamos a viver momentos dramáticos em termos políticos. Precisamos que exista um candidato (…) na AL a falar português”, referiu Pereira Coutinho.

Da boca para fora

Durante a apresentação, Pereira Coutinho afirmou que, ao contrário das outras listas, a Nova Esperança está pronta para “actuar” em prol dos problemas de Macau como o desemprego, a responsabilização dos titulares dos principais cargos públicos ou o despesismo público.

“Nós fazemos, nós actuamos. Quantas vezes a Nova Esperança não entregou cartas na Sede do Governo. Nós não nos limitamos a falar como as outras listas, nós trabalhamos, nós insistimos, nós chamamos à pedra o senhor Chefe do Executivo e os secretários”, disse José Pereira Coutinho.

Sobre os resultados das eleições, o candidato assume estar “confiante”, embora acredite estar perante “as eleições mais difíceis” de que há memória devido à menor dispersão de votos por existirem menos 10 listas, relativamente às últimas eleições. Por isso, explica Coutinho, a expectativa actual é de eleger apenas um candidato.

“Hoje a situação é diferente. Estamos a falar de 14 listas e 320 mil eleitores, com uma taxa de votação que eu espero que seja de 60 por cento. Feitas as contas, precisamos de 13 mil votos para um lugar, por isso, as contas não são fáceis. Não é fácil, mas, por natureza, sou sempre positivo e, por isso, estou confiante. A nossa expectativa é conquistar um lugar”, apontou.

31 Ago 2021