Michel Reis h | Artes, Letras e IdeiasO divertissement de Ravel [dropcap]Q[/dropcap]uando Maurice Ravel começou a planear o Concerto para Piano e Orquestra em Sol Maior em 1928, estava no auge da sua carreira, sendo a sua música o centro das atenções em numerosos festivais e celebrações, incluindo estas um doutoramento honorário pela Universidade de Oxford. Ravel decidiu que queria escrever um concerto para ele próprio interpretar numa digressão mundial de concertos planeada, e em 1929, pôs mãos à obra, tarefa no entanto interrompida pelo encomenda do pianista austríaco Paul Wittgenstein do Concerto para a Mão Esquerda. O compositor trabalhou furiosamente nos dois anos que se seguiram na composição simultânea dos dois concertos enquanto honrava compromissos de direcção e gravação. O Concerto em Sol Maior foi eventualmente concluído em 1931, mas devido à sua já delicada saúde, a estreia foi confiada à pianista a quem a obra foi dedicada, Marguerite Long, sob a direcção de Ravel, que teve lugar na Salle Pleyel, em Paris, no dia 14 de Janeiro de 1932, com a Orquestra Lamoureux, e que constituiu um sucesso imediato. O Concerto para a Mão Esquerda tinha sido estreado em Viena no dia 5 de Janeiro do mesmo ano. Os planos de Ravel de fazer uma digressão mundial com o Concerto em Sol Maior nunca se concretizaram, embora o compositor tivesse dirigido várias apresentações em vinte cidades europeias com Marguerite Long – a última em Novembro de 1933 – antes da sua saúde o ter levado a abandonar os palcos completamente. Entre as últimas obras completas de Ravel, o concerto sintetiza muitos dos seus traços mais característicos: sonoridades orquestrais sumptuosas, jazz, música espanhola, e a elegância oitocentista. O efeito geral do concerto é de uma obra impressionista com bastante impacto, uma das melhores de Ravel. Concebendo a obra com um divertissement, Ravel enquadrou este concerto de acordo com o plano clássico tradicional rápido-lento-rápido no qual o Allegramente de abertura delineia a forma-sonata, o segundo andamento apresenta um interlúdio pensativo, enquanto o finale explosivo borbulha de virtuosismo exuberante. De acordo com a máxima de Ravel “complexo mas não complicado”, a obra exibe novas texturas de cor tanto para a orquestra como para o pianista, combinado os dois numa pareceria equilibrada. A obra foi profundamente influenciada por expressões e harmonias de jazz, que na época eram muito populares em Paris e nos Estados Unidos, onde Ravel tinha viajado em digressão de recitais, observando estar surpreso que tão poucos americanos fossem influenciados por este género. O primeiro andamento, marcado Allegramente, inicia-se subitamente com o som de um chicote. O solista ao piano apresenta imediatamente o enérgico tema de abertura através de uma série de arpejos floridos no registo agudo, interrompido por um tema sonhador de blues, inspirado no jazz, o primeiro solo de piano. Segue-se uma secção jazzy que recorda as viagens do compositor pelos Estados Unidos, incluindo no entanto algumas breves citações de Rachmaninov e de um dos temas do primeiro quadro do ballet Petrushka de Stravinsky. Estas duas secções lentas representam o âmago expressivo do andamento e são o foco de uma série de efeitos tímbricos inovadores, imbuídos de coloração bitonal, tanto na orquestra como no piano. Tanto o primeiro como o último andamento (Allegramente e Presto) estão bastante imbuídos de excitantes melodias ao estilo do jazz, embora conservando elementos clássicos. O primeiro andamento é uma peça fluida e vivaz com harmonias que recordam as futuras de Aaron Copland; para logo finalizar numa estrondosa coda em modo frigio, que caracteriza Ravel em muitas obras e que o vinculam de uma maneira especial com a música popular espanhola. O formoso e contemplativo segundo andamento em Mi Maior (Adagio assai) mostra o Impressionismo típico de Ravel, iniciando-se com uma extensa melodia lírica no piano solo que, de acordo com Ravel, foi inspirada no Larghetto do Quinteto para Clarinete de Mozart. Enganador na sua simplicidade, pois as cadências estão entre as mais difíceis do repertório, este nostálgico tema é apropriado pelas madeiras, com um extenso solo de corne inglês que toca fluidas linhas de fusas, durante o qual o solista ao piano toma um papel secundário de acompanhamento. O incrivelmente rápido finale, marcado Presto, é um catalogo de virtuosismo para solista e orquestra, que emprega muitas melodias equilibradas e ligeiras combinadas com outras mais poderosas e ritmos percurssivos que a tornam uma experiência arriscada de tocar. Sugestão de audição: Ravel: Piano Concerto in G/ Rachmaninov: Piano Concerto No. 4 Arturo Benedetti Michelangeli, piano, Philharmonia Orchestra, Ettore Gracis – EMI, 1958
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasA quinta essência [dropcap]D[/dropcap]eixa para trás o filho frágil por que na natureza é preciso caminhar, e essa indiferença contida de mãe em andamento ensombra por instantes todas as ideias das maternais delícias, e só escutamos as leis mais simples, crueldade a que tudo preside sem tréguas e mistério – leis são carrascos de imposições maiores. Resistir. Sentimos que levam a dor como um peso caminhante, e não lhes é possível olhar para trás, nem sucumbir a ela. São algumas regras naturais a cuja vontade a dor não se dobra mas que vai pisando toda a esteira do mundo percorrido. São sinais de alarme para quem se foi desconfigurando da carga dura de tudo isto, que é certamente belo, mas padece de perfeição. E foi por um impulso todo ele antinatural que a Humanidade munida de contradição pôde existir; foi quando revertemos a lei natural e fomos formando as nossas próprias leis. As primeiras leis humanas fazem-se em defesa dos mais frágeis e desprotegidos – uma verdadeira lei de bases- com esse elemento alongado que não preside à Criação e talvez sem grande esperança, algum amargo cepticismo e uma luta contínua que arrasa a capacidade daquele que se ama sentir humano, pois que é este desvio que celebra o espaço para toda a civilidade. E já nestas alturas carregadas de humanidade parece estar-se sempre a principiar, aperfeiçoando, compondo, lembrando, pois que é severa a evolução para que se apaguem as réstias do sobrevivente da manada… ela anda descalça no fundo da nossa memória e não sabemos como apagar tão duro vestígio, nem concebemos alguém que esteja ligado à vida por frágeis fios… mas temos leis conquistadas capazes de quebrar aquelas outras que não teriam permitido tal evolução. Depois da infância somos os únicos que brincamos, arrastámos o lúdico com efeitos contrariantes ao natural, e se o fizemos, foi em busca dessa noção de empatia que melhora a qualidade do clã, olhando-nos com um elemento novo chamado emoção. Com este inssurecto instinto descobrimos a transcendência, alinhámos pelo amor incondicional, e talhámos as oferendas ao bem que nos ajudou num tal propósito, e neste momento demo-nos conta de um elemento que se estava fazendo: a ideia de Deus, que começa por ser um assombro e passa a progressivo fazer, quando ele em nós, também ia tomando parte na sua própria criação. Quem se recusava a participar seria então a presa débil, o abandonado, ou o condenado à morte, mas também nessa amargura há o silêncio que elucida da lei severa com a ferida aberta deste recanto do Universo tão denso onde lhe foi muito menos difícil a representação do Inferno. Não nos chegam de fora vozes outras, a pluridimensionalidade é que se abre, há muitas realidades no espectro não visível pois que estamos tridimensionais, ainda… mas quando se fazem sentir, sabemos que tudo se recobre de múltiplos significados, significando a luta antinatural a sua escalada mais ampla. Aferrolhados estivemos na nossa humanidade, mas as bases estavam lançadas para percorrer todos os lances que desvanecessem as sombras. E aqui o Amor fala, na ânsia de iluminar toda a parte de escuridão, porque mesmo transversal ao sentido da vida, é ele que vai elucidar da ruptura com a brava natureza, esse demónio vivo com a beleza das feras. O Eldorado, a parte visível da busca, precisou da regra de Ouro que nos desvincula-se das cicatrizes das chacinas, atravessámos este asfalto ainda com o anátema da morte – lei total- toda a morte é natural na medida em que sempre se morre, e quanto aos anátemas do filho enjeitado ainda descobrimos a força de uma estrela que o recolhe-se na viagem, que as aves morrem no ar, e quando são vistas em terra não nos parecem naturais. Guindastes como sentinelas e Jacob próximo das pedras onde vê a escada luta com o Anjo, fere o calcanhar, e perfaz a fixação à terra, coxeando, e não tarda que esta marcha irregular suba a pendurar o Amor onde ficará suspenso com os pés longe do chão. As escadas caíram, tudo desce, só o Amor ficou assim, sem atributos naturais que lhe permitisse voltar a tocar a terra fresca. Temo-lo ali, como a evidência mais que conseguida de que não deve baixar.
Paulo José Miranda h | Artes, Letras e IdeiasA solidão doméstica [dropcap]M[/dropcap]arianne Harrison, canadiana de nascimento, passou a viver nos EUA com os pais desde os 9 anos. Aí cresceu e estudou. Em meados dos anos 70 do século passado, dava a lume o seu belo e claustrofóbico “A Solidão Doméstica”. O livro retratava a vida de Mary desde os dias em que conhecera Roger Coleman no liceu, em finais dos anos 50. Sem ter ido para universidade, Mary Coleman casa com Roger e passa a ser uma mulher dedicada à família. Durante os vinte anos seguintes, a sua vida é literalmente de casa para o mercado, para as escolas dos filhos e de volta para casa. Há momentos em que ela se lembra da rapariga que tinha sido, dos sonhos, do que pensava que poderia ter sido a vida. Pensava até no que nunca poderia saber ou ter pensado, mas que se fazia sentir como um desconhecido fabuloso, “a sensação de que é à frente que vamos ser felizes”. Aos 42 anos, vê-se completamente sozinha em casa, sem nenhum interesse, vagando pelo triângulo cozinha, televisor, leito de dormir. Os filhos já não estão e o marido passa o tempo entre o trabalho, num escritório de advocacia, e os campos de golf. Descrito assim, parece tratar-se de mais um pouco estimulante livro de realismo doméstico ou realismo de subúrbios. Mas o modo como Marianne nos conduz ao interior de Mary muda tudo. Passamos a ver, a sentir e a falar através da protagonista. Tornamo-nos nela. Queria ter sido alguém, queria ter feito algo mais do que ter sido mãe. Pensa, e nós com ela, “que pena não ter nascido homem”, enquanto coloca a loiça na máquina que o marido tinha comprado e fazia a inveja das mulheres dos amigos do marido, quando iam jantar a casa. Nada lhe faltava. Não se podia queixar. Não tinha sequer a quem se queixar. “Quem me pode entender? Nada me falta, nada me dói… nem eu mesma sei o que é isto em que estou a pensar. Porque me atormentam estas ideias, meu Deus?” Muitas são as frases que Mary diz e pensa, que nos tocam profundamente. A minha preferida, e que é também o êxtase do romance, surge quase no final, quando aos 62 anos, aceitando a derrota para o cancro cerebral, numa cama de uma clínica, e segurando a mão de Roger, Mary lhe diz “Se ao menos a vida tivesse valido a pena…”. Nesse momento somos nós que sentimos a nossa própria vida perdida. Por instantes, tornamo-nos essa vida perdida. Aquilo não só nos dói, como – assim que nos recuperamos –, nos pomos a rever a nossa própria vida, a ver se vale a pena, perguntamos: se estivéssemos agora a morrer, também diríamos com Mary “Se ao menos a vida tivesse valido a pena…”. Além da importância literária de “A Solidão Doméstica”, hoje, tem também uma importância histórica. Há não tanto tempo atrás, havia mulheres que entristeciam por não terem nascido homens, porque só sendo homens a sociedade lhes dava a possibilidade de fazerem o que lhes era de direito fazer. Este livro de Marianne, que na época em que saiu foi completamente esquecido, é recuperado em finais dos anos 90, precisamente por este lado histórico, menos literário, embora não menos importante. De qualquer modo, e sem menosprezar o seu lado histórico, que é necessário nunca esquecer – porque a mulher poder ser o que quiser pode voltar a perder-se – a grandiosidade do livro passa pelo seu carácter existencial, ontológico. “A Solidão Doméstica” mostra-nos, ao detalhe, ao pormenor sempre angustiante, que a cada instante podemos tomar uma decisão que nos irá fazer arrepender de ter vivido. Errar na vida pode não ter conserto, apesar de também não se saber o que seria não errar. O que Marianne nos mostra através das mais de 500 páginas de “A Solidão Doméstica” é que, apesar de todos os cuidados nas decisões, apesar de toda a diversão que possamos usar para esquecer uma vida mal decidida, no final saberemos o que fizemos a nós mesmos. Valeu a pena ter vivido? Acompanhar aquela mulher ao longo das páginas, perceber que não foi quem poderia ter sido por imposição social, por expectativas familiares, por convenção, por regras que ela não criou, nem votou, vê-la a sofrer horrores aos sessenta anos, e depois ainda ouvi-la dizer ao marido “se ao menos a vida tivesse valido a pena”, talvez nos ensine tanto como a leitura de Beauvoir, Sartre e Heidegger juntos. Marianne, ela mesma, teve uma vida semelhante à de Mary, e só escreveu “A Solidão Doméstica” no fim. Foi o seu único livro, provavelmente autobiográfico, apesar de ter estudado Literatura Inglesa. Morreu de problemas no coração um ano depois da publicação do livro, com 71 anos. É ler, meus amigos, ou, se for caso disso, reler.
Rui Filipe Torres h | Artes, Letras e IdeiasParasite – Money – O Vírus Humano [dropcap]Q[/dropcap]uando o Festival de Cannes de 2019, presidido por Alejandro González Iñárritu, entrega a Palma de Ouro ao filme PARASITE, confirma de forma canónica a mestria do olhar cinematográfico sobre a espécie humana do realizador coreano Bong Joon-ho, olhar sem concessão a futuros radiosos nem finais felizes. — Sim, ter conhecimento, entrar no ensino superior, mas primeiro, ganhar dinheiro. É-nos dito, em jeito de frase de epílogo, por Ki-woo, interpretado por Choi Woo-shi, 29 anos, o personagem que ao longo do filme nos conduz neste labiríntico habitar subterrâneo, jardim armadilhado em que o Minotauro é o bezerro de ouro contemporâneo, a moeda e a acumulação de capital. É certo que a motivação para o traçar deste caminho prende-se com a necessidade de capital para libertar o pai do subterrâneo na casa milionária construção de arquitecto, e da experiência da sua vida com cheiro a pobreza entranhado na roupa, do em quotidiano vivido em cave de prédio em bairro periférico. Só comprando a luxuosa mansão, é possível o reencontro com o pai. É provável que a apetência para a acumulação presente no nosso estilo de vida seja ainda a continuação de necessidades arcaicas que se advinham facilmente no tempo distante em que habitávamos em pequenos grupos numa natureza sem mediação por vezes generosa e outras hostil. O certo é que não seja por vontade e consentimento humano, nem capitalismo , nem qualquer outro sistema/modelo de organização da sociedade se torna viável e possível. E hoje, money, money, é grito da multidão ávida do acesso ao prazer, à distinção, ao luxo, antes apenas vislumbrado nos castelos dos senhores, hoje anunciado de meia em meia hora nos canais tv, e mostrado nas montras dos artigos de luxo nas avenidas enfeitadas de colares eléctricos em todas as cidades do mundo. No filme “ Amar ou Morrer”, que o empenho zeloso da burocracia do ICA no ano de 2019 pontapeou para fora do concurso de apoio à produção, o que diz muito sobre como funciona , ou melhor, não funciona , a política pública de apoio ao cinema em Portugal, tema de muito interesse, mas que não é o nosso assunto neste texto, numa cena desse “filme”, diz o Pita, um personagem criado pelo Raúl Brandão: “ Quando a vida era uma passagem e a dor mais negra, maior era o prazer na vida eterna, a coisa andava. Destruíram essa ilusão e agora são milhões os ávidos de gozo.” Em Parasite, filme com um argumento magnífico e de igual adjectivação na realização, são os milhões dos muitos em escassez e dos alguns com vida sem faltas, o tema da história. Filmado com fina e radical ironia, numa verticalidade do visível e do invisível, materializada na visibilidade dos jardins e dos andares à superfície da mansão luxuosa, luminosa e modernista e no habitar do bunker subterrâneo da mesma mansão luxuosa. Na vida nas caves dos milhões disponíveis para o mercado de trabalho que permite o sonho do consumo, e que, no esgravatar constante na tentativa de ultrapassar o sufoco e a miséria, não negam a trapaça ou a faca, o sangue, o assassinato do igual, para a subida à mesa sem faltas dos herdeiros da sorte, da saúde, e da boa aventurança da conta bancária sem faltas, dos que habitam as zonas ricas da cidade. O crítico do The New York Times, descreve o filme como “filme extremamente divertido, o tipo de filme inteligente, generoso e esteticamente energizado que elimina as cansadas distinções entre filmes de arte e filmes de pipoca” Facto é que esta produção de 11 milhões de dólares rodada em aproximadamente dois meses e meio, sem estrelas do panteão de Hollywood e em língua coreana, conta já com uma facturação próxima dos 100 milhões de dólares. Em Toronto, em San Sebastian, em Sydney, em Munique, em todos os festivais onde esteve, foi premiado. Para o OSCAR de 2020, dia 9 de Fevereiro, está indicado para as categorias de; Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento Original, Melhor Montagem, Melhor Direcção de Arte, Melhor Filme Internacional. Não colherá, todas as estatuetas, há outros filmes na corrida com grande mérito, mas algumas, e muito merecidas, e com grande aplauso, serão suas. Este é um dos gigantes da produção cinematográfica estreada em 2019. Não perca. (Nota do editor: O artigo foi escrito antes da cerimónia dos Óscares. O filme sul-coreano viria a conquistar 4 estatuetas:: Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento Original e Melhor Filme Internacional) * Rui Filipe Torres – Cineasta, Jornalista. Doutorando em Estudos Artísticos – Estudos Fílmicos e da Imagem – FL -Universidade de Coimbra Mestre em Estudos Culturais Aplicados em Cinema – Desenvolvimento de Projecto Cinematográfico – ESTC – Instituto Politécnico de Lisboa. Licenciado em Ciências da Comunicação – ISCSP – Universidade de Lisboa
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasXunzi 荀子 – Elementos de ética, visões do Caminho Tradução de Rui Cascais [dropcap]O[/dropcap] ritual é aquilo que serve para corrigirmos a nossa pessoa. O mestre é aquele que serve para corrigir a nossa prática ritual. Sem ritual, como corrigirás a tua pessoa? Sem mestre, como saberás que praticas correctamente o ritual? Quando o ritual é correcto e tu és correcto, tal significa que a tua disposição é conforme ao ritual. Quando o mestre explica correctamente e também tu explicas correctamente, tal significa que a tua compreensão é exactamente como a compreensão do teu mestre. Se a tua disposição for conforme ao ritual e a tua compreensão como a compreensão do teu mestre, é isso que significa ser sage. Contradizer o ritual é ser desprovido do modelo adequado e contradizer o teu mestre é ser sem mestre. Se não fores conforme ao teu mestre e ao modelo adequado, preferindo usar do teu próprio juízo, tal é como confiar num cego para distinguir cores, ou num surdo para distinguir sons. Tudo o que conseguirás obter será caos e imprudência. Por isso, no estudo, o ritual é o teu modelo adequado e o mestre é alguém que tomas como bitola correcta e com quem aspiras estar em conformidade. As Odes dizem, “Na ignorância, na ausência de compreensão, escolhe seguir os princípios de Shang Di.” Isto exprime o que quero dizer. Se fores escrupuloso, honesto, agires com obediência adequada e fores um bom irmão mais novo, podes então ser chamado um jovem bom. Se, para além disso, tiveres amor pelo estudo, capacidade de aceitação e uma mente arguta, então terás talentos iguais àqueles a quem ninguém é superior, podendo usar [os teus talentos] para te tornares uma pessoa exemplar. Se fores preguiçoso e cobarde, desavergonhado e preocupado só com comida e bebida, então mereces ser chamado um jovem mau. Se, para além disso, fores ferozmente desobediente e perigoso, desrespeitando vilmente teus irmãos mais velhos, então mereces ser chamado de jovem aziago, podendo mesmo chegar à circunstância de te veres aplicada a pena capital. Quando se trata os velhos como os velhos merecem, a nós virão aqueles que se encontram no seu auge. Se não afligires aqueles que já se encontram em profunda aflição, a ti virão os bem-sucedidos. Se trabalhares na obscuridade e praticares a bondade sem expectativa de recompensa, tanto merecedores como desmerecedores te seguirão unanimemente. Quem se reger por estes três tipos de conduta não será punido pelo Céu, ainda que cometa um qualquer erro grave. Na busca de lucro, a pessoa exemplar age com contenção. No evitar de males, age cedo. No evitar da desgraça, age com temor. Na prossecução do Caminho, age corajosamente. Mesmo vivendo em pobreza, as intenções da pessoa exemplar permanecem grandiosas. Mesmo coberta de riqueza e honrarias, a sua postura permanece reverente. Mesmo vivendo em lazer, o seu sangue e qi não são ociosos. Mesmo cansada de labutar, a sua atitude não é desagradável. Quando irada não é excessivamente severa e, quando feliz, não é excessivamente indulgente. A pessoa exemplar mantém intenções grandiosas mesmo na miséria pois exalta a ren [humanidade; benevolência]. Mantém uma postura reverente mesmo coberta de riqueza e honrarias pois reage com leveza às contingências da fortuna. O seu sangue e qi não se tornam ociosos mesmo no lazer pois se dedica à boa ordem. A sua atitude não é desagradável mesmo cansada de labutar pois lhe agradam as boas relações. Não é nem excessivamente severa quando irada nem excessivamente indulgente quando feliz pois a sua aderência ao modelo adequado suplanta qualquer capricho pessoal. Os Documentos dizem: Não cries novos gostos. Segue a via do rei. Não cries novos desgostos. Atém-te à via do rei. Isto significa que, evitando a parcialidade e recorrendo a yi [propriedade], a pessoa exemplar suplanta os desejos pessoais caprichosos. Nota Xunzi (荀子, Mestre Xun; de seu nome Xun Kuang, 荀況) viveu no século III Antes da Era Comum (circa 310 ACE – 238 ACE). Filósofo confucionista, é considerado, juntamente com o próprio Confúcio e Mencius, como o terceiro expoente mais importante daquela corrente fundadora do pensamento e ética chineses. Todavia, como vários autores assinalam, Xunzi só muito recentemente obteve o devido reconhecimento no contexto do pensamento chinês, o que talvez se deva à sua rejeição da perspectiva de Mencius relativamente aos ensinamentos e doutrina de Mestre Kong. A versão agora apresentada baseia-se na tradução de Eric L. Hutton publicada pela Princeton University Press em 2016.
Nuno Miguel Guedes Divina Comédia h | Artes, Letras e IdeiasO outro que há em nós [dropcap]E[/dropcap]u não sei nem quero saber da vida social de ninguém, amigos. Por vezes nem da minha, que poderia ser descrita de forma geral como a de um monge que entra numa discoteca. Muitos conhecidos, outros que querem conhecer-nos; mas os amigos estão noutro lugar, para onde se foge mal se possa. E aí nos encontramos e recebemos santuário, nessas catedrais familiares e modestas onde podemos partilhar silêncios. Mas divago. Apesar de tudo devemos estar expostos aos outros, numa dose sensata. Cada um terá a sua e longe de mim querer ser exemplar. Afinal de contas o conceito de alteridade – esse que proclama que o ser humano age intersocialmente e na interdependência do outro – não só existe como muitas vezes é inconveniente e inoportuno. Falo por mim, claro. Mas podemos ser apanhados de surpresa, sobretudo quando procuramos refúgio dentro de nós mas no meio dos que estão à nossa volta. Alguns darão por isso; outros não e são esses que no meio da nossa odisseia imaginária, onde desbastamos as selvas das angústias e alegrias esquecendo-nos facilmente do lugar terreno onde nesse momento temos de pertencer – são esses, dizia, que sem medo ou má vontade nos atiram perguntas como esta: “Alguma vez pensaste em ser outra pessoa?”. Sim, eu sei: as minhas companhias tendem a ser bizarras. Mas com sorte até oferecem temas para estas crónicas de forma involuntária. Além de que, neste caso concreto, trata-se de uma boa pergunta. Efectue o leitor amigo esse mesmo exercício e verá que a resposta não é fácil. Pela minha parte, a primeira reacção foi típica: como de certa forma vivo numa biblioteca itinerante o meu cérebro, em vez de tentar responder à pergunta, preferiu fazer uma pesquisa exaustiva a todos os livros e letras de canções que encontrou pelo caminho. E lá veio Borges a falar com Borges no maravilhoso conto O Outro; e lá vieram mil e uma recordações de filmes que abordavam o tema do doppelgänger ou de livros que me são caros, como Dr.Jekkill e Mr.Hyde ou O Retrato de Dorian Gray. Esta petulância intelectual, tão sintomática como verdadeira, impediu-me mais uma vez de dar a resposta mais óbvia: não, nunca desejei ser outra pessoa. Zanguei-me tantas vezes com quem sou que perdi a conta. Deixei de me falar durante semanas. Mas não: nunca desejei ser outro nem perdi tempo com essa possibilidade. Mais: muitas vezes fiquei grato a essa não-possibilidade. Há um provérbio inglês, com origem no século XVI e que sempre me tocou fundo: ao encontrar alguém mais desafortunado, dizem “There, but for the grace of God, go I”. Eu poderia ser aquele, não fora a graça de Deus. Mesmo os não-crentes compreendem a essência do que se diz nesta paráfrase bíblica: estamos sempre à mercê de algo maior e devemos percebê-lo, ser humildes, estar gratos e ajudar. Não sei como se poderá querer ser outro. Mas sei que já fomos outro. Há algum tempo visitei a maravilhosa exposição de fotografia Aos Meus Amores 2.0, de Álvaro Rosendo, onde está retratada com o olhar terno do fotógrafo gente que atravessou várias décadas, desde os anos 80. E por acaso lá me deparei comigo, ali, espetado na parede. Era eu, com os meus sonhos, a força e a estupidez da juventude, o sorriso imaculado dos vinte e poucos anos. Mas era outro, amigos. E juro, juro que prefiro ser eu agora até porque amanhã já serei outro que gostarei de ser.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasZhang Fu De tornou-se Tu Di Gong [dropcap]O[/dropcap] deus da terra, (土地) Tu Di em mandarim e em cantonense Tou Tei, é em Fujian, Guangdong, Hunan, Jiangsu e Jiangxi conhecido através dos tauistas Zhengyi por Fok Tak (福德, Fu De), enquanto nas restantes províncias da China é designado por Tu Di. Para Fok (福, Fu) temos o significado de felicidade e para Tak (德, De), virtude. Informação obtida ao visitar o templo do deus da terra Fok Tak Chi na Avenida do Almirante Sérgio, quando questionamos sobre a diferença entre Tou Tei e Fok Tak a senhora Va, encarregue do templo. Deslocando-se ao edifício do lado, o Centro de Lazer e Recriação dos Anciãos da Associação dos Residentes do Bairro da Praia do Manduco, foi buscar uma folha escrita em chinês que nos passou para as mãos. Traduzida, ficamos a saber quem era a personagem histórica que deu origem à divindade Fu De. Durante a dinastia Zhou do Oeste (1046-771 a.n.E.), no segundo ano do reinado do Rei Wu, em 1044 a.n.E. nasceu Zhang Fu De (张福德) no dia 2 da segunda Lua. Aos sete anos conseguia já ler textos antigos, sendo um jovem inteligente e respeitador. No décimo segundo ano do Rei Kang, Fu De com 35 anos de idade era oficial cobrador de taxas e, apesar da sua posição elevada, tratava as pessoas com consideração, fossem elas quem fossem. Viveu durante a governação dos cinco primeiros reis da dinastia Zhou do Oeste (Wu, Cheng, Kang, Zhao e Mu) e no terceiro ano de reinado de Wang Mu, em 973 a.n.E., com a idade de 72 anos passou para o outro mundo. Durante três dias a sua face nada mudou, parecendo estar vivo, surpreendendo as pessoas que dele se foram despedir. Com a sua morte, o lugar de cobrador de impostos foi ocupado por outro oficial, mas Wei Chao era completamento o oposto de Zhang Fu De. Não queria saber das pessoas e apenas pensava em dinheiro, roubando-as e por isso, estas empobreciam rapidamente. Os habitantes, comparando os comportamentos distintos entre os dois, sentiam grandes saudades daquele que, para além de ser oficial responsável por colectar taxas, se mostrara durante toda a sua vida, honesto, compreensivo, caritativo e mais do que tudo, um amigo em quem se podia confiar. Certa vez, um dos habitantes mais pobres resolveu fazer-lhe sacrifícios para prestar homenagem ao querido defunto oficial, suspirando por esses tempos tão diferentes dos que então se viviam e os seus vizinhos começaram a ver a prosperidade a entrar-lhe em casa. Por isso, resolveram ergue-lhe um altar e para tal, com três pedras como paredes e uma outra por cima a cobrir, criaram um abrigo onde colocavam incenso e ofereciam sacrifícios àquele que, pelo seu digno comportamento se mostrou durante a vida um Ser Superior. Tratavam-no como a divindade Fu De e estranhanhamente, quem a ele orava rapidamente se tornava rico, as suas plantações desenvolviam-se bem, o gado procriava bastante e a riqueza afluía. As pessoas passaram a acreditar que Zhang Fu De era mesmo um Deus e assim, resolveram construir-lhe um templo, onde colocaram no altar a sua imagem dourada. Aos que lhe ofereciam sacrifícios, passavam pela sua influência a ter uma vida abastada e tal foi correndo de boca em boca, sendo cada vez mais as pessoas que ali iam venerá-lo. Muitas resolveram fazer em casa um nicho em sua honra e dessa maneira o seu culto propagou-se por toda a China, de tal maneira que chegou aos ouvidos do Rei Mu. Este, escutando a história de Fu De, deu-lhe então o título de Tu Di Gong (em cantonense Tou Tei Kong), sendo o significado de gong, ancião. Por isso existem dois nomes para o deus da terra, Fu De, o nome do oficial e o nome que o Rei Mu lhe deu, Tu Di Gong. Como o panteão tauista só mil anos depois foi criado, pode-se assim perceber ser Tu Di um dos deuses mais antigos existentes na China. O espírito da terra Tu Di começara em tempos ancestrais por ser uma entidade abstracta, She Ji (社稷) o Espírito da terra (solo e grão), um dos mais antigos reverenciados pois conectado com a Agricultura a representar toda a terra arável. Teve referência especial no Livro dos Ritos (Li Ji), um dos Clássicos chineses compilados por Kong Fuzi (Confúcio) quando apenas a Filosofia do Dao era usada para governar o social e explicar o Universo. Passou depois este, como guardião, a estar subdividido pelas cinco direcções, repartidas pelas cinco partes do Império Chinês. Segundo Ana Maria Amaro, “Os espíritos Tou Tei agrupam-se em cinco categorias, ou esferas administrativas: os Tou Tei do oriente, relacionados com a cor verde, os do sul, relacionados com o vermelho, os do oeste, relacionados com o branco, os do norte, relacionados com o negro e, finalmente, os do centro, relacionados com o amarelo.” O culto do espírito da terra, She (社, Se em cantonense), foi oficializado em 198 a.n.E. pelo Imperador Liu Bang (206-195 a.n.E.), fundador da dinastia Han, que decretou dever o povo venerá-lo e fazer-lhe sacrifícios. Com a introdução do Budismo na China no século I a.n,E, e sobretudo após a disseminação das suas divindades na Religião Taoista, criada no século II, passou-se a admitir uma série de cargos e de hierarquias no mundo dos deuses, semelhantes aos terrestres. A Tu Di, espírito protector de cada parcela do território, foi-lhe atribuído o cargo de Celeste Guarda Campestre. Este novo Tu Di, conhecido por Tu Di Lao Ye (土地老爷, Tou Tei Lou Ye), correspondia inteiramente ao anterior, que simbolizava o espírito da própria terra, She (社). A única diferença que, aliás, é costume atribuir-se a cada uma destas divindades, é a extensão da sua área de jurisdição. Enquanto o Espírito da terra, o She Ji (社稷), antigo Patrono do Solo, exerce a sua protecção sobre uma província inteira, ou, pelo menos, sobre uma prefeitura ou sub-prefeitura, as cidades muralhadas têm Cheng Huang (城隍, Seng Vong) como deus protector e por isso conhecido por Deus da Muralha e do Fosso e os Tu Di Lao Ye (土地老爷) apenas tem a seu cargo uma pequena porção de território, uma aldeia, montanha, gruta ou uma comuna, como refere Ana Maria Amaro. Daí passou Tu Di a ser um deus com função, guardião local de uma pequena área de terra e dos seus habitantes e por isso, também considerado o deus da família. O deus da terra encarnava o espírito de uma pessoa que na zona vivera e após falecer, os habitantes, distinguindo-o pela sua virtude ou poderes sobrenaturais, escolhiam-no para seu protector e do lugar. Apresenta-se em dourados caracteres gravados ou impressos e em estátua, sendo também representado na forma de ancião, por vezes acompanhado pela consorte. Tu Di preside ao bem-estar geral da localidade e cada uma realiza a sua festa particular. Na segunda Lua, refere Luiz Gonzaga Gomes, no dia 2 comemora-se o aniversário dos deuses locais, T’ôu-Têi Tán (土地诞, Tu Di Dan) e no dia 10 faz-se-lhe uma segunda festividade, assim como às Cinco Divindades dos Pontos Cardiais, os Ung-Fóng T’ôu-Sân (五方土神, Wu Fang Tu Shen). Já a 12, comemora-se Fôk-Tâk T’ôu-Têi-Kông tán (福德土地公诞, Fu De Tu Di Gong Dan), aniversário da divindade tutelar Fôk-Tâk, o Deus da Riqueza.
Anabela Canas Cartografias h | Artes, Letras e IdeiasBatom para sair [dropcap]Q[/dropcap]uem sou eu, era o que ela talvez perguntasse. Mas mais tarde já não estava tão certa de que não fosse: o que sou eu. É tarde demais para lhe perguntar no seu já longínquo sono eterno. A minha avó Maria Antónia, de olhos vivos e por momentos perdidos nesse abismo profundo de uma dúvida que poucas vezes a terá feito hesitar. Porque me disse um dia às vezes eu pergunto-me assim quem sou eu. E na ênfase das reticências de quem não espera uma resposta e de quem não tem uma a oferecer, nos remetíamos ao silêncio. Ela na poltrona dela, eu no canto da minha. A medir a dimensão de tamanha questão, por momentos fora de qualquer registo parcial por papéis desempenhados, coisas vividas e feitas, nada por acabar. Excepto isto. Ou nem mesmo isto. Esta permanência até que se foi mas questionada entretanto. Talvez a pensar no nada que poderia advir. E como o futuro pode transtornar retrospectivamente a partir do ainda nem foi. Mas era talvez como se colocasse um espelho em frente do rosto para colorir discretamente a boca de rosa com aqueles batons que lhe duravam anos e só para sair. Talvez reflectisse a imprecisão do espelho. Talvez tomasse o seu lugar. Vendo-se de fora, redonda estanque plena e estranha. Irreconhecível por momentos. Desconhecida. Por momentos. Que ordem de grandeza tem uma questão como essa que tanto afunda e tão discretamente se esvai? O que fica de uma destas questões quando se apresentam ao consciente sem convite a entrar, a ficar por momentos. Não sei mesmo que simplicidade ou precisão teria esta sua pergunta. Na verdade, ao ouvi-la, muitas possibilidades se abriram. Hipóteses em alternativa como cenários enevoados, que se colocariam por detrás daqueles olhos vagos por momentos. Que parâmetros do fazer ou por fazer e de se encontrar ou se perder, a delimitar a pergunta, se terão alinhado. O ser para si, o ser para o olhar dos outros, o ser para quê ou o ser porquê. E em que lugar a vida, simplesmente evidente, se destronou como tal, a pedir mais do isso como explicação como sentido. Em que momento e porquê isso foi questão sem resposta. Porque ela não a teve ou tê-la-ia dito no decorrer daquele longo olhar para longe em que me convidou a olhar. Também. Fiquei até hoje abismada perante a recorrente enormidade, em frase tão curta, de se enumerarem três palavras de distinto eco de um ser. Como imaginar em que diferiam. Esse quem e esse sou eu em distintas tonalidades para aquele simples ser em si que se interrogava e em como essa afirmação dupla e confirmada de ser ela, era quase cancelada pela exterioridade de um impreciso quem. Consola-me em parte, pensar que ela sabia ser e sabia ser ela. Só não sabia quem. Esse quem que saiu dela numa interrogação de fora. Fora de casa. Como um batom de sair à rua. Mas entendi, investigando as funções redundantes ou falsamente o sendo de um eu um quem e um sou, numa única e curta frase, que nem quem sabe a fundo de gramática e da Língua pode responder à função desta estranha palavra quem, naquela frase naquele olhar. Como um ser estranho também ele a apresentar-se ao espelho e desconhecido dela. Quem sou, eu, que ridícula ambição de ser? Quem sou eu para além do que acho em mim? Quem sou eu de nada me revestindo? Quem sou eu, nada? Que nada me acho, e em nada me acho. Quem, afinal. Um mundo de afirmações nesta remota questão sem resposta. E, vendo bem, sem interrogação. Porque lhe faltava o ponto. Que diálogo suspenso. A sua questão sem interrogação, o meu silêncio cheio de coisas. Em espera. Um nada que passou. A encher-me a memória. Coisas. Querida avó, como somos diferentes. No batom. Eu não tenho tantas dúvidas longe do espelho. Somente espelhos. E aquela questão, tão pequena quanto a conseguirmos ouvir, tão irrelevante quanto quisermos, é como a entrada numa sala pejada de espelhos. Ficamos confundidos perante as múltiplas possibilidades e rimos. Identificamos o excesso e a aberração. Mas lá bem no meio há o espelho certo e razoável, e nele temos que nos reconhecer. Mas primeiro, reconhecê-lo. Depois, reconhecer quem o segura. Olho para ela. Vidrada de transparência por aquele olhar que me ultrapassa sem tocar. E também agora dos confins da memória. Não sei se a vi mais inteira naquele preciso momento em que me abrangeu, sem querer, nesse seu não saber que incluía o que de mim houvesse nela. E assim me excluía e deixava serenamente pendente de futura resolução. Ou que ela voltasse. E abismada no momento em que a interrogação fez tábua rasa de tudo. De quê, afinal? Talvez o diálogo sobre meandros da mente seja um território de isolamento a duas naquele momento. Uma pedra sobre o abismo que ficamos a contemplar. A tentar alcançar. Um enorme silêncio sem ponte. Sem a pequena ponta por onde desfiar o intrincado novelo, que seria o ponto de interrogação inexistente. Fiquei calada nela. Com os olhos nela. E ela sabe-se lá onde. Mas onde nem os seus nem os meus alcançaram. E mais ainda, agora. Que há tantos anos se foi. Com o seu batom rosa. De sair.
António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasA vivência e a melodia “Quando inventamos uma melodia, é a melodia que canta em nós muito mais do que somos nós a cantá-la; ela desce pela garganta do cantor como diz Proust. Do mesmo modo que o pintor é fulminado pelo quadro que não existe, o corpo fica em suspenso pelo que canta, a melodia encarna-se e encontra nele uma espécie de servo.” Merleau Ponty, La Nature, Ed. Dominique Séglard (Paris 1995) 228 [dropcap]A[/dropcap] relação intrínseca com a vida transforma a relação com todas as ruas, estradas, caminhos o que lá fazemos, como vamos por lá, vimos por lá. É sempre diferente uma rua quando lá vamos tratar de um assunto ou quando vamos passear. O assunto altera a rua. O sentido da rua e o modo como se percorre a rua é diferente e acentua-se quando não pode ser dissipado no algoritmo da normalidade do modo como usualmente estamos quando por lá passamos, vindos de… indo para… Quando regressamos a um local onde íamos. A rua perfila-se com a estranheza que a revela num tom diferente do tom habitual, que não é necessariamente monótono mas que tem um acento tónico predominante e paradoxalmente é atónico. Conseguimos escutá-lo por contraste, retro-acusticamente, se assim se pode dizer, ainda que estejamos completamente envolvidos por ele. Estamos é tão habituados ao tema monótono que ele se converte numa atonia tal como quando nos habituamos aos ruídos do dia-a-dia ou mesmo ao barulho ensurdecedor de um concerto de um bar ou de uma discoteca. Só quando entramos num meio acústico diferente percebemos o zumbido nos ouvidos e como a música estava alta. O mesmo se passa na cadência, ritmo e melodia, volume sonoro com que as ruas emergem, são ouvidas e escutadas por nós na atmosfera particularmente acústica com que as vivemos na nossa redoma atmosférica. Quando a rua emerge à memória não é nunca uma imagem, muito menos apenas uma imagem óptica como um fresco ou um postal panorâmico. Nem mesmo um postal pode ser reduzido a um conteúdo estritamente visual. Quando passamos em revista as ruas das nossas vidas de que dei um exemplo – cada um terá os seus caminhos, passeios, avenidas, estradas, etc. – podemos activamente tentar lembrar-nos de uma única tal como o fiz aqui. Mas eu percebo que esta rua se destaca na minha vida. Posso perguntar se tem uma carga simbólica, posso perguntar porque razão a rua me surge em tantas memórias. Sei que um grande amigo do meu pai lá foi atropelado. Mas não há um nexo causal entre o facto do atropelamento e a importância simbólica dada à rua. A 24 de Julho não surgiu nunca sempre envolta numa atmosfera lúgubre nem a sua tonalidade vibrou melancolia ou tristeza. A primeira apresentação da 24 de Julho quando estou no carro, deitado ou tão pequeno que só olho para cima, são os carros no exterior, os autocarros gigantescos. Lembro-me de me ter assustado e de me terem acalmado. De repente estava ali no meio do trânsito como se estivesse no meio de dinossauros. Nem percebo como identifico e reconheço claramente a rua como a 24 de Julho. A rua surge pela primeira vez como as primeiras vezes e quando surge traz ainda consigo o que foi aberto nesse encontro, no encontrar-me nessa rua, no abrir-se-me a situação de estar na estrada, no meio do trânsito, a vida vibra o seu ritmo à hora de ponto, com trânsito já nos anos sessenta em Lisboa, estonteante, barulhento, angustiante, estressante, oprimente, imponente e ao mesmo tempo sou sossegado ou tranquilizado ou serenado. O encontro com a rua é revelado ex post facto na vibração tonal particular da atmosfera da rua, portanto, depois do momento ter ocorrido. Mas a vivência desse momento biográfico tem em si implicado a sua verdade, uma verdade que pode ser descoberta ou que se deixa descobrir “musicalmente”.
Valério Romão h | Artes, Letras e IdeiasIrremediavelmente moderno [dropcap]H[/dropcap]á muito pouco tempo uma amiga minha falava-me da inacreditável beleza natural dos Açores. Eu dos Açores conheço unicamente São Miguel onde estive de férias vai fazer uns vinte anos. Como quase sempre que me encontro num sítio abençoado com uma natureza deslumbrante, aborreço-me. E como quase sempre, é difícil explicar isto a qualquer pessoa que se emocione com uma cascata ou um matagal. A verdade é que não tenho a filosofia das paisagens. Pelo menos das paisagens naturais. Raramente me acontece ficar impressionado com a beleza de um local intocado por mão humana. Faltam-me coisas: pessoas, edifícios, bulício, vida urbana. Sou irremediavelmente chato, nesse aspecto. Irremediavelmente moderno. Pelo que quando as pessoas me começam a falar das planícies verdejantes do Alentejo, do pôr-do-sol no grand canyon ou das praias com água azul-turquesa na Tailândia ou em Bali (sim, também não gosto de praia), não evito um bocejo. E as pessoas reagem como é normal as pessoas reagirem ao que consideram um despeito ou uma excentricidade: acham que as estou a ofender ou que sou maluco. Não consigo explicar exactamente o que me aborrece na exuberância da natureza. Mas percebo que enquanto os outros vêm uma magnífica cascata, eu vejo água a cair; enquanto ficam deslumbrados com um bosque, eu vejo boa madeira para a salamandra do meu cunhado e bicheza escondida no mato só à espera que eu por lá passe para me ferroar. A natureza está cheia de coisas que nos querem mal. Levámos séculos a domesticá-la. E mesmo assim, mal temos oportunidade, queremos para lá voltar. O facto de ter nascido na cidade não será alheio à minha indiferença pela natureza nas suas múltiplas declinações. O facto de tendencialmente gostar de pessoas – desde que não em ajuntamento – e de estas normalmente escassearem na tundra ou em praias desertas também não ajudará. Mas tendo a pensar que o maior óbice ao apego pela natureza deriva sobretudo da minha intolerância ao desconforto, coisa que sobeja nos sítios onde o ser humano não se instalou. Detesto acampar. Detesto a areia da praia nos pés. Detesto as mil e uma pecinhas das plantas e dos arbustos que se colam à roupa e à pele. Diante das maravilhas naturais sou um burguês entediado, nos meus melhores dias. Ainda assim, não sou propriamente um apreciador de monumentos ou de edifícios. Na maior parte das vezes que viajo dispenso de bom grado o roteiro arquitectónico das cidades por onde passo. Interessa-me muito mais, na verdade, perder-me nas ruas, sentar-me numa esplanada a ver as pessoas a passar, ouvir (sobretudo quando na percebo a língua) as conversas das pessoas nos transportes públicos ou quando passeiam. As pessoas é que me interessam, sem dúvida. Provavelmente porque escrevo. Como dizia a Virginia Woolf, “o escritor é aquele que tendo aprendido o essencial sobre o carácter humano para levar adiante a vida, não deixa nunca de se interessa por ele” (ela di-lo de forma mais elegante, estou certo). É isto. A natureza pode ficar ali, ao longe, que é mais bonita assim.
Gisela Casimiro Estendais h | Artes, Letras e IdeiasChegámos até aqui [dropcap]U[/dropcap]ma mulher entra no autocarro. Assim parecem começar tantas das minhas histórias. Já se fez História a partir de histórias de mulheres em autocarros. Não parece, contudo, pelo menos não hoje, o caso desta. Fala ao telefone, declara: “Não me dói nada. Nadinha me dói.” Haja quem. Ela olha-me, o rosto mais enrugado que me lembro de ver nos últimos tempos. Cabelo grisalho muito comprido, contido com ganchos, molas e uma bandolete. Sorriu-me, já, por duas ou três vezes. Entro, finalmente, numa igreja, em hora de missa mas, para meu espanto, agora há missas em modo aula de cycling no ginásio, o que até deve fazer sentido, se considerarmos que igrejas e ginásios são locais que nunca fecham e onde se pode ir sozinho e ficar sozinho mas menos do que se estivesse fechado em casa. Pelo menos em alguns dias. Em vez do ecrã, temos o púlpito vazio e a voz gravada de um padre, que nem sei se é conhecido de alguma destas pessoas, ou se também opera em modo videochamada. Faço a minha parte e saio, muito antes de estar da missa a metade. Ficam os turistas, a minha estranheza e o meu arrependimento. Mas, voltando ao meu lugar preferido, e preferido de tanta gente, o austríaco na Rua Anchieta, a mesma que ao sábado vira feira de livros e torna tudo mais especial. Tenho voltado aqui muitas vezes, ultimamente. Ela dá as mãos, cotovelos na mesa, o olhar mais parecido com o meu, sempre que regresso do escuro da janela. Agora já não sorri, antes se levanta e prepara para partir, conheci-a durante o tempo de um café e isso pode ser conhecer alguém intimamente e para sempre e como ninguém, ou quase, ela levanta-se e parte, não sem antes trocar umas palavras com o pessoal da casa, como fez quando entrou, e dois amigos do empregado que entraram há pouco, prancha de skate debaixo do braço e a juventude nos ombros, no rosto e no resto. Na mesa, o café e meio copo com água. Volta a olhar-me, diz “Adeus, menina!” com a mão, o rosto e o resto. Eu continuo a escrever à mão. Escrevo sobre ela. Tem feito tanto frio que me doem os olhos quando saio do trabalho às seis da manhã. Dói-me este vento. Encontro, sempre que no turno da noite, dois homens na paragem. Digo bom dia e eles respondem. Um deles deixa-me sempre entrar primeiro e, certa vez em que choveu muito, o outro abriu o chapéu e deu-me cobertura enquanto o autocarro não vinha. Em certos dias, quando o autocarro se atrasa (e é uma hora cruel para atrasos), trocamos reparos, sempre em tom suave, não vá o autocarro ouvir e demorar mais. Às vezes penso que devem ser do mesmo país que eu. Outras, percebo que esse país pode ser este. Outras, ainda, penso se estaremos, realmente, no mesmo país, ou como seria se tivéssemos vindo do mesmo, onde as pessoas são tratadas de forma diferente conforme a tez seja mais clara ou mais escura. É como aqui, afinal, apenas ao contrário: quanto mais claro, pior. Tenho tido tonturas deitada, em pé, sentada. A anemia faz-nos isso. Mas que pode a anemia perante a Olívia, a minha nova melhor amiga de infância que, a três meses dos dois anos, me puxa e segura com as suas mãozinhas, me sorri com todos os dentes, que os tem, me encanta com os caracolinhos loiros perfeitos como numa fábula e ri, ri, ri, e me conduz em rodopio infinito pela sala e pela cozinha? É a brincadeira preferida dela, explicam os pais, e já encontrou uma forma mais eficaz de ficar ainda mais tonta. Giramos e giramos e nada nos aflige. Ela deita-se e eu arrasto-a pelo tapete, no sofá, ao longo das minhas pernas. Balanço-a de mim para os pais. Pelo meio faz festas à gata. O que pode qualquer sombra, o que podem os motoristas, os polícias, os políticos, contra uma bebé, que nos puxa e envolve, que leva sempre a melhor sobre nós, enquanto nos recorda do nosso melhor? No trabalho, sentimos que nos pagam pouco para virmos comer pistachios e conversar. O meu colega diz, “Dia 4 de Fevereiro é o aniversário da minha filha.” Pausa. “E o dia das catanas em Angola.” Rimos. “Faço anos a 15 de Maio”, conta uma colega em contexto da marcação de uma viagem. O primeiro responde, “Eu também, oito dias antes.” Rimos novamente, ou não parámos ainda. Corrijo, “É no mesmo dia, com a diferença de oito dias e uns vinte anos.” Ele, que é um português angolano, com passagem por Macau e pela Bélgica, regressou à primeira casa depois de décadas na África do Sul, onde sentiu, desde o primeiro momento, que estava em casa, que encontrara “O” lugar. E ali encontrou beleza imensa, uma mulher e uma família. Ao contar-lhe sobre a missa em formato podcast, reclama nunca ter encontrado uma igreja aqui onde, na comunhão, para além da hóstia, também aos crentes se desse a beber o vinho. Digo-lhe que, aqui, vinho só para padres e acólitos. Continua a retorquir que está mal, e assim vamos fazendo pausas de galhofar para trabalhar. Há dias assim e passam demasiado rápido. A vida passa demasiado rápido. “Já chegámos até aqui”, diz outra mulher para a amiga. Ambas saem do autocarro e, também, deste texto. E nós, seguimos?
Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasDe Tomás ao Ribeiro de Nietzsche [dropcap]Q[/dropcap]uando tinha 17 anos, lembro-me de entrar na Faculdade de Ciências, na rua da Escola Politécnica, para almoçar na cantina. Mais do que a feijoada de búzios, o prato forte da ementa eram os discursos de Américo Tomás, ritualmente afixados sem quaisquer comentários nos corredores da entrada. Os génios da colina Monty Python, activos já desde 1969, não ficavam atrás daqueles guiões de verdadeira estultícia iluminada. Anteontem, retirei da estante ‘A Origem da Tragédia’ de Nietzsche por causa de um texto que ando a escrever e eis que, sem saber porquê, me pus a ler o prefácio do tradutor, Álvaro Ribeiro, sobejamente conhecido pelos seus ofícios a bordo da chamada “filosofia portuguesa”. Garanto que tive vontade de o digitalizar, imprimir e ir a correr de novo à cantina daquela faculdade, embora, como se sabe, já não exista na mesma morada. O texto começa por demarcar-se do “racionalismo dos séculos modernos”, realçando a degradação “iluminista e positivista”, para depois vincar um contraste entre a cultura alemã, idealista e pessimista nos seus geniais representantes”, e a “filosofia portuguesa, realista e optimista, de mais nobre e valiosa tradição”. Logo a seguir, o encapelado discurso avança com uma tirada extraordinária: “A tradição portuguesa, desde a época do Infante D. Henrique até à época de Vasco da Gama, fala-nos do Oriente em palavras completamente diversas das que nos são dadas pela erudição alemā. Assim, o orientalismo alemão que começa na filosofia pelos trabalhos de Augusto Schlegel e que atinge o cúmulo na filosofia de Artur Schopenhauer, havia de parecer-nos uma violenta inversão de sabedoria tradicional.”. Se à data da redacção deste prefácio (1953), ou mesmo hoje, fosse possível comparar o estado dos estudos orientais na Alemanha ou na Holanda e em Portugal, eu atirava-me de cabeça das arribas do Douro. Independentemente dos delírios iniciais, o autor continuará a tergiversar sobre a liberdade e a individuação, concluindo que o mal de Nietzsche era a sua ignorância do que qualificava como “filosofia atlântica” dos “europeus que por via marítima chegaram ao Oriente”: “Afastado, como todos os cientistas do seu tempo, da filosofia de Aristóteles, pensa Nietzsche que quanto mais se afirma o princípio de individuação e, com ele, a liberdade, tanto mais o homem cultiva a sua angústia e o seu desespero. Coerentemente, Nietzsche, pensador mediterrâneo, se condena Sócrates também condena Cristo, mas parece desconhecer as verdades que pertenciam já ao ciclo da filosofia atlântica, da filosofia dos europeus que por via marítima chegaram ao Oriente.”. Não contente com este aceno a Nietzsche que, como se sabe não era nenhum anjinho, eis que o nosso Álvaro Ribeiro dispara depois ao nível de um verdadeiro clímax: “A superioridade da filosofia portuguesa sobre a cultura da Europa Central mais uma vez se afirma ao interpretar o Cristianismo e ao situar o mistério da Encarnação no quadro mais adequado à especulação teológica, evitando assim dificuldades como as que necessariamente irritavam o pensamento crítico de Frederico Nietzsche.”. Explicitada assim, sem mais nem menos, a superioridade do pensamento lusitano, segue-se a razão pela qual meio mundo sempre se mostrou negligente face à gesta filosófica dos portugueses: “Teólogos e apologetas que se preocupam demais com os problemas da Reforma e da Contra Reforma não prestam a devida atenção ao significado evangélico e universal dos Descobrimentos, porque do meridiano de Roma não é fácil ver a superioridade do simbolismo do barco sobre o simbolismo do túmulo.”. No derradeiro passo deste luminoso prefácio, o filósofo nascido em Miragaia refere-se ao desespero de Nietzsche, esclarecendo que o pensamento português já há muito havia superado as aleivosias proferidas pelo autor nascido na Alta Saxónia: “O desespero de Nietzsche tem outro significado que foi já surpreendido por alguns teólogos da Alemanha, entre os quais é lícito mencionar Carlos Barth e Alberto Schweitzer. Para os pensadores de tradição portuguesa, este aspecto da obra de Nietzsche representa um momento já ultrapassado pela consciência religiosa que ascendendo evolui para Deus.”. Já a terminar, Álvaro Ribeiro deixa para a posteridade dois tónicos fundamentais. Um primeiro com o objectivo de explicar aos povos do planeta como estudar o pensamento português: “Para bem compreender a profunda religiosidade portuguesa é indispensável a demorada leitura de todos os livros do Novo Testamento, e não só dos Evangelhos. Meditando nas doutrinas dos apóstolos, e, consequentemente, nas dos missionários, não estranharemos que a filosofia portuguesa seja mais especulativa do que teorética, menos contemplativa do que actuante”. Um segundo com o objectivo de relembrar, uma e outra vez, a superioridade da filosofia portuguesa face à alemã e o estranhíssimo interesse de algum público lusitano pelas obras do senhor Friedrich: “Se a filosofia portuguesa, mais por suas verdades cifradas do que pelos seus livros publicados, é superior à filosofia alemā, como explicaremos a inegável predilecção dos católicos portugueses pelas obras de Frederico Nietzsche? Cremos que tal interesse significa a natural reacção contra o racionalismo cristão e utópico que a cultura francesa propagou em certos melos eclesiásticos, e corresponde ao desejo de procurar, para além dos paradoxos germânicos, as verdades que não puderam ser bem formuladas nos sistemas clássicos da mentalidade moderna.”. Enfim, estou a ver-me agora mesmo a sair do Rato, a percorrer de novo a rua da Escola Politécnica e, por fim, a entrar nos portões metálicos que hoje permitem o acesso aos ‘Artistas Unidos’. Na parede da antiga cantina, colo com fita adesiva o texto deste prefácio para que a incredulidade de uns possa ser o ADN de outros (clarifique-se que ADN é a sigla de ácido desoxirribonucléico, um composto orgânico cujas moléculas contêm as instruções genéticas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos, mesmo daqueles que pensam com a cabeça virada para o Império de São Lourenço do Bugio).
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasFadiga das pedras [dropcap]A[/dropcap]lberto Manguel, o escritor argentino, conta-nos, em “No Bosque do Espelho”, o duro coice que o atingiu quando lhe disseram que o professor que mais importância tivera na sua formação e no gosto pela literatura era um bufo da ditadura argentina, o primeiro carrasco dos seus alunos. É compreensiva a reacção de Manguel, devido ao anelo das emoções, mas labora um erro de perspectiva: a arte ensina a compaixão desde que estejamos comprometidos com ela, e, pelo contrário, funciona unicamente como mais um expediente quando dela nos servimos para outro tipo de intenções, se com ela travamos uma relação de heteronomia, de entretenimento. O problema não está na arte, mas no tipo de “encontro” ou de “pacto” que com ela entabulámos. Manguel e o seu professor percorreram os mesmos livros de forma muito diferente, o assombro, o mistério e o diálogo com a alteridade que transformavam Alberto Manguel, parecia ter eco no teatro de efeitos do seu professor – era uma enganosa coincidência de percursos. O Mal não abdica, não é uma privação do Bem, e aflora pela facilidade com que tendemos a desligar-nos da realidade, ou preferimos desrealizá-la, duplificando-a, a comprometer-nos no seu fluxo. Tudo começa nas modulações com que as ideologias nos alienam. Corrompidos, restam poucos recursos morais: um deles pode ser o nexo com a arte – que a espaços nos sacode e devolve a compaixão que nos desarma. Se há quinze anos me ouvisse proferir a palavra compaixão daria uma gargalhada ou puxaria da minha pistola de esquerda. Era-me uma palavra abominável. Admitia lá coisas que não passassem pela minha decisão!? Porque a compaixão é um sentimento transindividual. Vivo num país difícil, a muitos títulos uma farsa, e, para me manter à tona, em ouvindo a vassoura dos guardas anunciar a alba pego num livro desses poetas que incendiaram todos os horizontes, e traduzo-os, unicamente pelo amor à palavra, para manter-me em contacto com algo que me supera e catapulta acima da contingência. E quando saio à rua, a raiva com que acordei diluiu-se, a amargura cedeu o passo à alegria, a uma disposição que contamina. É essa a lição de Próspero na Tempestade: a arte encaminha-nos para a compaixão e só esta engendra o perdão. Entretanto, há coisas imperdoáveis e a própria percepção do que seja ou não tolerável é uma fronteira flutuante. Pensemos no escândalo francês do momento: o escritor Gabriel Matzneff, acusado de ser pedófilo. Seria hipócrita dizer que o caso não incomoda, a vários títulos. Todavia, também neste: está-se a querer regular excessivamente, de uma forma obsessiva e doentia, os limites da liberdade e do que seja ou não normal. Lembro a histeria da pedofilia em Portugal, por causa do processo da Casa Pia: mais grave que os actos praticados por uns quantos pedófilos sobre uma dúzia de rapazes foi a barragem de medo com que os media destroçaram a confiança de uma geração de crianças que deixaram de ir brincar para a rua. Os jardins das cidades ficaram vazios, os pais estavam em pânico e incutiam isso nas crianças. Um efeito mais grave do que o risco (diminuto) que as crianças corriam até então de encontrar um pedófilo. Depois de Matzneff vai querer catar-se na história da literatura, e Dante, Almeida Garret, Sade vão ser os primeiros a serem proibidos. Não é coincidência esta investida moralista acontecer numa época em que o Presidente do país mais poderoso do mundo é sujeito a um impeachment e poucos acharem que a democracia sofre um estupro quando Donald Trump declara, com o processo a decorrer, que o deputado democrata que lidera o processo de impeachment contra ele, Adam Schiff, “ainda não pagou o preço pelo que fez à América”, numa ameaça nada velada. Não é coincidência poucos acharem que a democracia esteja sob estupro quando um vídeo revelado dia 25 mostra que o presidente afastou à má fila a embaixadora americana que não lhe servia as intenções, que Trump mentiu ao jurar que não conhecia o seu emissário na Ucrânia; ou quando John Bolton, republicano, acaba de confirmar que os democratas têm razão. Que metade do mundo não veja nas acções de Trump nada de ilícito é sintoma de falência simbólica. E que enfadonho este mundo à medida que a pornografia moral cresce! Coitado do Clinton, quase caiu por causa de um charuto e da labilidade de alguns orifícios! Clinton mentiu à mulher e ao país por decoro. Trump, pelo contrário, mente compulsivamente e com descaro; mesmo se apanhado em flagrante é fake news, diz! A mesma loucura, no Brasil. Os vazamentos da Intercept Brasil demonstraram que Moro e os procuradores da Lava Jacto tinham um projecto político de perversas intenções, mas a única coisa que metade dos brasileiros retém é a dúvida sobre se os jornalistas obtiveram as suas informações de “forma legal”, como se Sérgio Moro e companhia tivessem manipulado a seu contento a paisagem jurídico-política do país de “forma legal”. É paradoxal que os eleitores das sociedades hiperindustriais, que se diziam saturados dos políticos reajam afinal contra os mecanismos de vigilância da política e troquem os programas políticos pelo suposto carisma dos políticos mais batoteiros. Eis o mundo cansado de si mesmo, como se houvesse uma imensa fadiga das pedras. Assim como acontecia com o professor de Alberto Manguel com a literatura, o nosso comprometimento com a realidade está a ficar espúrio, mais motivado pelo jogo das aparências e da ventriloquia do que pelo vínculo a qualquer fidelidade, a qualquer busca de dignidade. E se a prática da política já não é o sentimento da “filia” (o sentimento do nós), da necessidade de reparação (social e económica) ou da vergonha e pelo contrário se esvazia de qualquer pudor, quem nos assegura que não estamos a ficar inclusive privados de instrumentos para que ela funcione como o evitamento da guerra?
António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasUmwelt VI [dropcap]É[/dropcap] do fundo dos tempos que vêm memórias da “rua” como o centro do “milieu” da infância e da primeira juventude. Mas a mesma “rua” sofre metamorfoses. Ruas diferentes desempenham a mesma função nas vidas de diferentes pessoas, tenham essas pessoas sido crianças que tivessem brincado na rua ou não. Martha Muchow no seu estudo sobre o Espaço Vital da Criança na Grande Cidade (Der Lebensraum des Großstadtkindes) analisa “a rua” como objecto multidimensional, estruturado pelo mundo pessoal partilhado pelas diferentes faixas etárias que lá passam o seu tempo de vida. O conceito “Umwelt”, o mundo ambiente, o mundo em redor, o mundo envolvente, o meio em que cada um de nós vive, estrutura o sentido, dá e retira importância, faz ver, acentua e apaga ou não permite ver o que encontramos na rua, tal como é encontrada por um grupo de pessoas de uma dada faixa etária. No limite, cada pessoa é portadora dessa mesma estrutura que dimensiona a importância afectiva de um local para si, que lhe permite ter a percepção, por exemplo, do bem estar e acolhimento ou do mal estar de um lugar que sente como inóspito. “Ir para a rua” não é “ir para fora de casa”. É ir para onde uma criança se sente em casa. A hora de ir para a rua pode ser da parte da manhã, a qualquer dia da semana, mas é mais durante os dias de escola e da parte da tarde ou sábado à tarde que as crianças se encontram com os seus pares na rua. É raro um miúdo estar só na rua. A rua parece que está fechada para ele, embora, como dizem os pais, ele saiba “entreter-se sozinho”, coisa que acontece, maioritariamente, quando está a brincar no seu quarto e não na rua. A rua “abre” ao funcionamento quando chegam “os outros”. Os outros são aqueles com quem se brinca, pelo menos tem de haver um com quem se estabelece uma comunidade para brincar. A rua, tal como um adulto a vê, não existe. A rua que serve para atravessar de um passeio a outro, que serve para ir de um lado para outro, que serve para percorrer ou conduzir, onde estão sitos os lugares dos prédios, para onde se vai e de onde se chega ou de onde se vai sair e parte, onde há lojas de comércio ou nenhum comércio, é agradável e tem árvores ou é despida de árvores e “sem graça nenhuma”, — a rua das crianças existe num outro mundo, numa outra dimensão. Para entrarmos nela é necessário uma modificação do olhar. A rua transforma-se em cada jogo. Um carro, um prédio, uma esquina dobrada, uma loja passam a ser “esconderijos” no jogo das escondidas. Para quem se esconde, são sítios onde fica invisível, indetectável ao radar perscrutante de quem anda à procura, é o único sítio que não irá ser objecto de busca, por outro lado, tem de permitir a observação das operações de quem anda à procura, a fazer as buscas. A rua, pelo contrário, para quem está à procura dos esconderijos de quem se escondeu é a superfície possível de interiores inescrutáveis que tem de ser examinados, onde os outros se foram esconder. Não podem ser todos os prédios da rua, mas aqueles onde o próprio se esconderia, nem todas as lojas, mas aquelas cujos donos permitiriam um miúdo esconder-se, nem todos os carros, mas aqueles que ofereceriam um melhor esconderijo. A rua passa a ficar toda ela envolvida num cenário de guerra, em que quem se esconde sai de si para pensar como o seu perseguidor pensa e quem persegue procura pensar como o seu fugitivo pensa. A rua passa a ser um lugar de atalaia, onde se controlam situações, onde se pode mudar de esconderijos sem se ser apanhado, é o lugar transformado em forma e fundo, superfície e interior, lugar de esconderijo, deixa de haver carros, prédios, lojas, esquinas, outras ruas. O mesmo se passa no jogo da apanhada. Ninguém atravessa a rua de um passeio ao outro em linha recta no mesmo passo a andar, mas antes as crianças parecem moscas a voar dos mais diversos sítios possíveis para não serem apanhados, muitas expondo-se aos perigos dos carros, da queda provocada pela velocidade do passo de corrida, da aceleração, travagem brusca, rodopio, esquiva rápida, contorção do corpo, tudo isto para evitarem ser apanhados enquanto quem está a apanhar estica os braços, passa por cima dos carros como se fossem obstáculos, fixa-se em vários alvos ou só num, mobiliza-se num para passar a focar-se noutro que lhe ofereça oportunidade. A rua passa a ser o local onde se corre de um lado para o outro sem respeito pelo perigo causado pelos carros que podem passar ou pelos outros transeuntes. Como no jogo das escondidas há um perseguidor e perseguidos, mas estes não se escondem. Estão à vista, à luz do dia, mas em vez de estarem de cócoras sem falar escondidos num esconderijo, são barulhentos, gritam e riem-se à gargalhada, correm a alta velocidade em movimentos não uniformes, esquivam-se à luz do dia. A rua é um palco completamente diferente daquele onde os adultos desempenham o seu papel: a rua onde vivem, de ondem saem para trabalhar e onde regressam a casa ao fim do dia, a rua que atravessam para ir buscar o carro, onde arrumaram o carro, onde vão visitar alguém, que passam a correr com pressa ou devagar sem nada para fazer. Mas é uma rua completamente diferente de quem está a brincar às escondidas ou à apanhada. E alguém chama pelo nome de uma das crianças. O mundo mágico e fantástico interrompe-se. Voltam para casa. Mas a rua não se desfez do mundo do jogo e da brincadeira para ser a rua dos adultos. A rua foi interrompida e está tal como o campo da bola no intervalo.
Hoje Macau Divina Comédia h | Artes, Letras e IdeiasO tempo parado [dropcap]P[/dropcap]obres leitores: tanto a acontecer no mundo, tanto que gritar, que gozar, que lamentar, que viver… – e aqui estais neste canto a observar o que um pobre cronista tem a dizer. Pior: um cronista que vos quer falar sobre o tempo. O tempo, palavra polissémica que apesar de tudo ainda escapa ao redil do “climático” (ultrapassando mesmo o galicismo do climatérico) e pode ser utilizada como essa força tão primordial como relativa. O tempo dos dias, o tempo que nos marca e que nos cria. Enfim, amigos: o cronista está grato e pede indulgência e que o sigam. Este tempo de que vos quero falar é o que pára. Assim, de repente, sem controlo nem previsão: pára, um freeze frame da vida em que não acreditávamos, uma suspensão de tudo e de todos que pode chegar de várias formas. Sabemos, já o vivemos certamente: aquele filme de que saímos perturbados e mal preparados para a vida lá fora; aquele concerto; aquela perda ou a sua notícia, que tudo paralisa; aquela conquista, aquele gesto, aquele “mover de olhos brando e piedoso” que tanto esperávamos e que faz com que os outros se transformem em imagens aprisionadas, figuras de cera imóveis e estúpidas face ao que estamos a sentir e que é tudo. Aqui chegados, amigos, penso que nos entendemos. Com maior ou menor esforço todos conseguimos identificar esses precisos instantes que são eternos. Ainda agora, pouco antes de escrever estas linhas, alguém me falava da emoção do primeiro filho, de como todo o mundo parecia estar contido numa espécie de bola de vidro em que mais nada teria existência fora dela. E assim com a extrema alegria, e assim, receio, com a extrema dor. Faz mal? Não. Talvez o melhor de nós exista nessa paragem surpreendente. Talvez seja essa a nossa fraca percepção da imortalidade que nunca iremos obter. A boa notícia é que, ao contrário do que implorava o personagem de Shakespeare no seu leito de morte, o tempo não só não tem de parar como de facto pára. A questão é identificar e aproveitar esse espanto efémero, mesmo quando dói. Olhá-lo de frente com a candura possível da criança que se entusiasma com o truque barato do ilusionista de serviço. Haverá pouco mais do que isso. Em 1952 um dos meus cronistas preferidos, o brasileiro Rubem Braga, escreveu um texto em que apenas parece descrever o voo de uma borboleta que por acaso se cruzou com o seu olhar. Chama-se a crónica, sem surpresas, Borboleta. Leiam. Está à disposição online, no Portal da Crônica Brasileira. Vejam como o tempo parou e como o cronista deixa em aberto a viagem da borboleta. Porque amigos, só nessa paragem e nessa pergunta me parece que pode caber o mundo inteiro.
Michel Reis h | Artes, Letras e IdeiasCarrilhões de Mafra voltam a tocar [dropcap]O[/dropcap]s carrilhões do Palácio Nacional de Mafra voltaram a tocar no passado sábado, 1 de Fevereiro, quase 20 anos depois de se terem sido remetidos ao silêncio. O concerto inaugural, ao qual assistiram milhares de pessoas, teve lugar no domingo, dia 2, com a bênção dos sinos e os carrilhonistas Abel Chaves e Liesbeth Janssens a interpretarem As Quatro Estações de Vivaldi e uma obra original da autoria de Abel Chaves. No dia 1, o programa relativo à inauguração do restauro dos sinos e carrilhões do Palácio Nacional de Mafra incluiu recitais sobre a herança da família Gato, os compositores ao serviço da Coroa nos séculos XVIII e XIX, obras originais compostas para carrilhão, e arranjos para carrilhão de música barroca. Os recitais — pelos carrilhonistas Francisco Gato, Abel Chaves, Luc Rombousts, Ana Elias, Frank Deleu, Koen Van Assche, Marie-Madeleine Crickboom — iniciaram-se às 10h e prolongaram-se até às 16h30. Ainda no primeiro dia realizaram-se duas palestras, uma das quais sobre a herança de Willem Witlockx (que, com Nicolas Levache, foi fundidor dos dois carrilhões) por Luc Rombouts, musicólogo e carrilhonista belga. No segundo dia decorreram também palestras: a encomenda dos dois carrilhões para o Real Paço de Mafra teve a intervenção de Isabel Iglésias; o técnico da Direcção-Geral do Património Cultural Luís Marreiros apresentou a empreitada de reabilitação dos carrilhões e torres sineiras; João Soeiro de Carvalho, professor do Departamento de Ciências Musicais da Universidade Novade Lisboa, fez a sua intervenção sobre o complexo sineiro de Mafra; e o estudo acústico dos carrilhões esteve com Vincent Debut, investigador do Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa. O concerto inaugural realizou-se às 16h. O Palácio Nacional de Mafra vai manter um programa de concertos de carrilhões ao longo do ano, com a participação de carrilhonistas de todo o mundo, que está a ser ultimado, para ser anunciado. Apesar de as obras de restauro englobarem os dois carrilhões, só o da torre sul vai ficar a funcionar.Depois do restauro dos seis órgãos históricos, inaugurado em 2010, a reabilitação dos carrilhões — que já não tocavam desde 2001 — e dos sinos “vem reforçar uma das singularidades do palácio” e a sua monumentalidade, ao ter o maior conjunto sineiro, a nível mundial, e seis órgãos históricos a tocarem em conjunto, únicos no mundo, afirmou o director do palácio, Mário Pereira. A inauguração do restauro antecede a instalação do Museu Nacional da Música no Palácio Nacional de Mafra, que foi apresentado pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, como um dos “investimentos prioritários” do Governo de Portugal para 2020, no âmbito da reabilitação do património cultural. A intervenção de restauro do maior conjunto sineiro do mundo, orçada em 1,7 milhões de euros, começou no Verão de 2018, depois de ter sido dado o visto do Tribunal de Contas para a assinatura do contrato de consignação com o empreiteiro, a empresa Augusto de Oliveira Ferreira Lda., de Braga, e de, nesse Inverno, terem sido adoptadas interdições de circulação no local, por sinos e carrilhões ameaçarem cair com o mau tempo. O concurso público tinha sido lançado em Novembro de 2015. O Governo reconheceu na altura a “urgente necessidade de proceder à reabilitação” dos sinos e carrilhões, “face ao avançado estado de degradação” e aos “riscos de segurança, não só para o património em si, como para os utentes do imóvel e transeuntes da via pública”. O financiamento suplementar oriundo do Turismo de Portugal permitiu ainda pôr em funcionamento os sinos das horas. Os sinos, alguns a pesarem 12 toneladas, estavam presos por andaimes desde 2004, para garantir a sua segurança: as estruturas de suporte, em madeira, encontravam-se apodrecidas. Na altura, os carrilhões de Mafra foram classificados como um dos “Sete sítios mais ameaçados na Europa”, pelo movimento de salvaguarda do património Europa Nostra. Os dois carrilhões e os 119 sinos, repartidos por sinos das horas, da liturgia e dos carrilhões, constituem o maior conjunto sineiro do mundo, constituindo, a par dos seis órgãos históricos e da biblioteca, o património mais importante do Palácio Nacional de Mafra, classificado como Património Cultural Mundial da UNESCO em Julho de 2019.
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasO flautista de Hamelin [dropcap]E[/dropcap] começa então o Ano Do Rato! Estamos em Hamelin, cidade alemã no lendário século treze onde antes como agora o excesso de intimidade levantava pragas, pragas essas associadas aos ratos esses inimigos da espécie humana com sistema de eliminação eficaz, mas estes lindos e inquietantes roedores tão sensíveis como fios de cabelo são passíveis de enfeitiçamentos, o que os predispõe para uma improvável dimensão estética que não sabemos contemplar dado que somos elementos desmesurados de ruído mórbido trajando repelências várias. Ele não só define a sua sensibilidade neste aspecto, bem como é encadeado de fulminante esplendor perante a soberba serpente, e assim, este ser que tanto nos assusta e nos fustiga nos convida também a interpretar qualidades surpreendentes: seria injusto afirmar que não são belos e que não encontramos ali uma extrema plasticidade no vivo olhar que tantas vezes se deixa enganar pela avidez que as coisas lhe produzem, não sendo por isso, apenas e só, o varredor de canos, ruas e esgotos, com sua barriga rente ao solo varrendo qualquer probabilidade de êxito junto a nós – não – ele encerra duas dimensões tão distintas que não podemos de facto ignorá-las. Quase todos trazemos da infância estes animais, calhou-me assim encontrar aquela que viria a ser uma experiência comovedora; aquando a plantação de flores o jardineiro encontra um ninho e rápido se ausenta para buscar armas assassinas, mas a velocidade das crianças é maior que esse ímpeto incontido, e, com mão pequena arranco um bebé sem pêlo coberto ainda com os cinzentos de sua mãe, numa briga tento proteger a ninhada, sem sucesso, mas esse, que um coração pequenino batia na palma da mão, foi um êxito e um encontro maravilhoso. Logo lhe arranjei alojamento debaixo da cama – olhos fechados, frágil como uma pluma, mas resistente – pelas noites altas levava-o a beber leite numa pedra de mármore, e como bebia! Remoçou e fez-se grande em poucas semanas, o que provocou o conhecimento da sua existência e a automática remoção seguida de análises e outros cuidados, mas, a dor de perder este insólito amigo viajou no tempo e dele não mais me esqueceria. Eles falam! Emitem sons agudos e conhecem as nossas vozes, são atentos e divertidos e conseguimos passar horas em deslumbrante maravilha perante um focinho que se move como um pequeno radar. Mas aqui, eis-nos então na presença de um Flautista, «A Flauta Mágica», o caçador de ratos, que é também uma espécie de andarilho, de mágico, que negociou a extinção e não foi pago, e sabemos como os sedutores são vingativos! Ele volta à cidade e desta vez exerce o mesmo poder com crianças, levando-as, dizem, para grutas, que naquelas florestas da Baixa Saxónia não devem ser fáceis de encontrar, e assim, ratos e as crianças nunca mais foram vistos na cidade. Ainda estávamos longe da Peste Negra mas o arauto das vestes coloridas já actuava preventivamente. Um Papagino? Ou como insinuam as vozes, um predador sexual, um pedófilo, um canibal? Nem sempre nos encantam pelas melhores das razões, e esta associação entre ratos e crianças é indisfarçavelmente dirigida aos perigos bravios da sedução perante os mais frágeis. Já os nazis depreciativamente chamavam ratos aos judeus que depois se vingaram fazendo um Estado no Ano do Rato. E que dizer dos nossos “ratinhos” que sazonalmente andavam para cima e para baixo? E nunca esquecer que a grande imagem do século vinte é a de um rato: «Mickey», tão imortal como Jesus Cristo. Lembrarmo-nos então do penúltimo Ano do Rato que foi exactamente, 2008, tentando recordar o que nos destabilizou, ter presente as mentiras dos cofres repletos de dinheiro bem como de outros armazenamentos mitigados de “fortunas” e não despejar a mercadoria com a água do banho, apertar os cordões à bolsa, e ao invés de escutar flautas, fazer desde logo neste Ano a nascer uma orquestra de ribombar de tambores: é que não esqueçamos, os ratos não serão tão mais perigosos do que inoportunos, e caso ele esteja sempre em movimento numa chamada «roda viva» ainda, e mesmo assim, todos ao redor podem ser vítimas de umas vibrantes dentadas o que não fará mal, servindo, quem sabe, até de antídoto a toda esta pouca inteligência mundial. Não sejamos, contudo, pessimistas, mas averiguemos a apetência para a avidez que pode muito bem ficar embruxada quando encontrar o delírio para fins matrimoniais. A união deste assombramento seria vista como uma tentativa de manipulação de dados fazendo recrudescer imagens de Flautistas — Hamelin seria agora o mundo. Quem negoceia com pragas que lhes pague atempadamente. Que o Ano traga a graça, a fortuna e a sorte. Que o Rato, esse, é também um Flautista! Mas não leva ninguém para a borda do rio e muito menos para cavernas na Saxónia. Tresvaria-se em presidente luso e exerce a sua conduta com desbragado e altaneiro encanto. Assim são eles no seu melhor. Quanto aos cofres, atirem-nos borda fora! (Mozart, era de lá perto, tão Rato como os que são, e não morreu afogado). Bom Ano, então.
Paulo José Miranda h | Artes, Letras e IdeiasA arte ou a cidade [dropcap]A[/dropcap] escritora eslovena Masha Pregarç escreveu um livro em finais dos anos 90 acerca das relações entre arte e cidade ou, mais concretamente, na tentativa de apurar acerca dos benefícios ou malefícios da arte na cidade. No primeiro capítulo faz a pergunta pela arte: “O que é a arte? Qual o seu efeito num coração humano em crescimento, que efeito tem na esperança, que faz ela com o nosso futuro?” Mas não é aqui neste capítulo que encontramos o melhor e mais pertinente do pensamento de Pregarç. É nos capítulos subsequentes, quando coloca a questão da arte em relação com a política. Que deve a política fazer em relação à arte, isto é, que deve a cidade, a Europa, fazer em relação à arte, em relação àqueles que aqui e agora crescem e que, no futuro, hão-de crescer? Porque tomamos por certo que a arte é uma coisa boa? Porque põem os artistas quase tudo em questão menos a própria arte? Porque não pergunta o artista se a arte prejudica a cidade? Porque toma ele por certo que é um bem? É necessário expor aqui uma longa passagem do livro: “A arte no seu sentido ocidental é a expressão das linguagens musicais, plásticas e literárias, isto é, a expressão do ser humano isento das necessidades de sobrevivência, de protecção e de expansão das suas materialidades. A arte é a expressão da possibilidade de o humano não ser humano; a expressão do desejo do humano de superação ou esquecimento da sua condição. No fundo, a arte é querer não precisar de alimentos, de água, de protecção; a arte é não querer ser mortal. Por isso, o Ocidente viu, e muito bem, que todas as outras artes que não tenham isto como fundamento não são verdadeiras artes, mas falsas artes, artes de imitação da arte ou, como Hermann Broch descreveu, são o kitsch, isto é, imitações da morte, de variações da morte, que é a arte no seu confronto com a condição humana. Obviamente, fica claro que a arte está em oposição à moda, a qualquer tipo de moda. A arte não serve para nada, senão para despertar o desejo de o humano não ser humano. A arte serve para acreditarmos que podemos ultrapassar as coisas, que podemos ultrapassar a nossa condição de precisar de coisas.” A partir daqui, Pregarç irá mostrar-nos que educar o ser humano com o pressuposto de que a arte é um bem, é educá-lo não para a vida mas para um além da vida; educá-lo para um além das necessidades que a vida comporta. Conscientemente, qual o pai que será capaz de educar um filho para isso? De educar um filho para ultrapassar ou esquecer a vida? A resposta é fácil: nenhum, obviamente. Um pai, um educador pode não saber exactamente o que é a arte, por estas palavras, mas sabe que a arte não é para todos, isto é, ele sabe que são poucos os que podem fazer arte. “É esta estatística que afasta os humanos de empurrar os filhos para a arte. Pois um filho educado para fazer arte não vai conseguir fazer mais nada. Um filho educado para a arte traz um coração faminto, faminto de ser melhor do que os outros ou tão bom quanto os melhores dos melhores.” Porque, está bem de ver, para Pregarç, aquele que faz arte, ou ambiciona fazê-la, quer ser único, quer ser diferente do artista do lado e do artista da frente. Pois só sendo diferente ele pode sobreviver na arte, no para além da vida. O problema que se coloca à cidade não é o de saber se ela suporta a unicidade destes fazedores de arte, mas se ela consegue suportar o excesso de frustração que nasce naqueles “únicos” que nunca vão ser senão aquilo que são: desgraçadamente humanos. Desgraçadamente, porque foram educados para não ficar confinados à vida e acabam por se ver apenas com a vida, de um lado para o outro. Escreve Pregarç: “Alguma vez se fez a estatística destes desgraçadamente humanos? Importa fazê-la ou não? Julgo que se, numa cidade, a alegria for mais importante do que a tristeza, importa fazer este levantamento, importa pensar acerca deste assunto com seriedade. Não será preferível, a uma cidade, educar os seus jovens na aprendizagem do amor, da tolerância, da capacidade de se emocionar com o seu vizinho do lado ou com o seu vizinho da frente, ao invés da educação na arte? Não é preferível educar os jovens na aprendizagem de criar riqueza e de saber distribuí-la, ao invés da educação da arte?” Este discurso algo alarmante visa a defesa de uma educação em modos específicos de entender a ética e a política. A defesa de uma educação na consciência da cidade, na consciência do outro, e não na alienação, mudará inevitavelmente a política, mudará radicalmente a consciência que temos de cidadania. Porque para a autora, a arte não é educadora, não traz em si nenhum bem para a cidade porque, escreve, “Não pensem que se pode educar os jovens apenas para aprender a apreciar, a admirar a arte. Pode-se educar alguém a aprender a admirar, a apreciar a arte e aqueles que a fazem, sem inculcar em seus corações um desejo de querer ser como eles? Pode-se educar um jovem a admirar o futebol e os futebolistas, sem inculcar nos seus corações o desejo de querer ser um deles?” Termina o livro por dizer que o nosso futuro pode depender do modo como vamos responder a estas perguntas, mas sem as colocarmos seriamente ou tentarmos responder-lhes, estamos seguramente a não querer importar-nos com o futuro das nossas cidades. Precisamos de respostas políticas à arte, para o futuro, e precisamos delas hoje. À parte algum tom reacionário que o texto parece apresentar, não deixa de ser interessante seguir o percurso das reflexões de Pregarç e tentar nós mesmos contrariá-las, visto serem tão contrárias ao que usualmente pensamos. É, acima de tudo, um livro provocador.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasPrevisões para 2020 ano do Rato [dropcap]O[/dropcap] ano Geng Zi (庚子, Rato de Metal) para o Feng Shui começa amanhã, dia 4 de Fevereiro quando se celebra o Princípio da Primavera (Lichun). Pelo calendário lunar, o ano iniciou-se a 25 de Janeiro de 2020 e terminará a 11 de Fevereiro de 2021, com um suplementar quarto mês lunar, festejando-se por duas vezes o Lichun e por isso, é auspicioso para casar. Será um ano criativo, com perspectivas de uma vida intensa tanto no plano emocional, ao nível de um encantamento amoroso, como haverá possibilidade de se usufruir dinheiro fora do espectável. No entanto, assistir-se-á a uma confrontação directa, em que todos irão estar envolvidos e ninguém conseguirá ficar de fora. Mais importante que a prosperidade será viver com saúde. Aqui usamos as ideias de Lei Koi Meng conjugadas com a nossa interpretação. Geng é Metal yang (forte metal), Zi é Água yang (grande água) e como Metal faz nascer Água, este ano é de grande água a provocar inundações. Mas estando ainda no Ciclo do Fogo (2004-2024), grande água parece ser bom para temperar o fogo. No entanto, no ano do Rato, Zi (rato) a representar o elemento Água yang está contra Wu (cavalo) Fogo yang, significa grande água contra grande fogo, o que trará ondas de confrontação e sendo Geng Metal, conecta o ano a lutas e guerras. Como Zi Água tem a direcção Norte e Wu Fogo a do Sul dará o fogo proveniente de baixo a confrontar a água proveniente de cima, podendo-se tirar como ilação, o povo em baixo e os governos na posição superior estarem em permanente atrito. Os geomantes referem que nos anos de Rato algo triste ocorre, como morrer jovem, ou a morte de jovens em batalha. Haverá tentativas de independência de regiões e muitas manifestações de estudantes. Acidentes com barcos terão mais probabilidades de acontecer e quanto a guerras, as navais parecem ser as escolhidas. Propício a ocorrer frequentes ataques terroristas, pequenos ou grandes, e a possibilidade de aparecer um novo grupo. Geng Zi, grande água, sendo esta fria devido ao metal a representar a quebra de icebergues, leva à subida do nível da água, a grandes chuvas e deslizamentos de terras. Tufões e ciclones são outras possibilidades de criar grandes desastres e continuarão ao longo do ano a acontecer tremores de terra. O ano Geng Zi está conectado no nosso corpo com os pulmões (ligado com o elemento Metal) e os rins (com a Água), significando estes dois órgãos facilmente terem problemas e interferirem com o estômago e baço. Novos rostos aparecerão a querer liderar o mundo com novas políticas, mas sem poder bastante para se imporem. Abre-se um vazio, pois o velho sistema político, económico e cultural deixa de ter peso e a massa crítica com ideias antigas irá ser confrontada com as das novas gerações, ainda sem modelos bem estruturados e definidos. Más notícias provenientes dos bancos estarão na ordem do dia e a economia do mundo entra definitivamente em recessão. Ano para se construírem relações de amizade entre pessoas, países e companhias. Localização das estrelas voadoras No Centro, representado nos países do Médio Oriente, este ano encontra-se a maligna 7 Vermelho (Qi Chi) (metal), Estrela Violenta que traz disputas e aprisionada, em clima de guerra levará a desordens e problemas internos com confrontações. A maligna 3 Jade (San Bi), Estrela de Conflito Beligerante estará a Norte, na Rússia e na China Continental. As relações entre a China e os EUA tendem a melhorar devido à água amansar o fogo americano, e já no início do ano foi assinado um primeiro tratado comercial. Conseguiu a China um pequeno período de acalmia, mas terá durante o resto do ano árduas negociações com os EUA e nos meses de Junho ou Julho e Dezembro ocorrerá algo que provocará grandes mudanças nas relações entre ambos os países. Já no interior da China continuarão os problemas, que só em finais de 2021 terão resolução. A Rússia, quase sem ajuda de outros países, está na mesma situação do seu Presidente, e só Putin sabe o quão difícil é a sua posição, sendo este um ano de grandes desafios para a sua vida. A benéfica 1 Branco (Yi Bai), Estrela da Prosperidade traz sucesso e boas relações de amizade, este ano encontra-se a Nordeste, nas Coreias. Na Coreia do Sul a economia melhorará e a Coreia do Norte fortalece o seu exército e entre ambas haverá uma grande e fraterna cooperação. As relações da Coreia do Norte com os EUA vão desenvolver-se numa boa direcção. A benéfica 8 Branco (Ba Bai), Estrela da Prosperidade e da Saúde favorece promoções e sucesso na carreira, estará a Noroeste, na Europa do Norte e do Leste, que terão um ano promissor. A benéfica 9 Roxo (Jiu Zi), Estrela da Harmonia que rapidamente amplifica os efeitos das outras estrelas, quando benéficas magnifica pelo bem, mas conjugada com malignas, como a Wu Huang levará a grandes desastres. Estrela a representar a paz, cooperação e o visionar o que está para vir, este ano a Oeste, na Europa Ocidental. Com a saída da Grã-Bretanha, a Europa perdeu um dos três poderosos países que a formavam e estando a França fragilizada pela forte oposição interna ao Presidente Macron, resta a Alemanha como pilar para se aguentar, a não ser que os outros países da CE se harmonizem e trabalhem em conjunto para criar um poderoso bloco. A mais negativa estrela voadora, a 5 Amarelo (Wu Huang), da Fatalidade e Ruína, causadora de problemas de maligna influência, cuja sua força do mal traz calamidades, este ano está a Leste, nos EUA, Japão e Taiwan. Estes países devem contar com desastres naturais avassaladores, relacionados com a água e um sismo de grande intensidade. No Japão, os Jogos Olímpicos trarão harmonia. Nos EUA, Trump terá um ano com sorte pois do signo de Cão precisa de água e nas eleições ninguém o vence e só ele se conseguirá destruir. Mas a sorte de Trump coloca os outros a sofrer, pois continuará a criar distúrbios. Em Taiwan, após a vitória da presidente, pouco irá mudar e a economia poderá piorar. A benéfica 6 Branco (Liu Bai), Estrela da Bênção Celeste com potencial de inesperadas vantagens e ligada à diplomacia, estará a Sudeste, nas Filipinas, Vietname, Tailândia, que contarão com um bom ano e apenas Camboja, Malásia e Indonésia terão ligeiros problemas naturais. No Sudoeste, na Índia, encontra-se este ano a benéfica estrela 4 Verde (Si Lü), com um lado positivo, a levar ao estudo e investigação e outro negativo, com a continuação dos problemas religiosos e a discriminação feminina. A maligna 2 Preto (Er Hei), Estrela da Doença que traz longas e incuráveis enfermidades, estará a Sul. A Austrália continuará com os problemas dos incêndios e o confronto entre fogo e água. Já em Hong Kong as desordens continuarão e no meio e final do ano ocorrerão grandes mudanças. Quanto à RAEM, nasceida no Inverno, como este ano é de grande água continuarão a ocorrer inundações, devendo ter cuidado com explosões e acidentes na construção de infra-estruturas. O bazi (ano, mês, dia, hora de nascimento) do novo Chefe do Executivo é exactamente o que a RAEM necessitava, por isso com a sua liderança Macau poderá manter-se em paz e em prosperidade. Desejos de um ano com boa saúde – 身体健康 (Sun Tan Kin Hong)
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasXunzi 荀子 – Elementos de ética, visões do Caminho Tradução de Rui Cascais [dropcap]A[/dropcap]s Odes dizem: Ritual e cerimónia em tudo têm a medida justa. Ri e fala somente de acordo com a propriedade. Isto exprime o que quero dizer. Convencer os outros a seguir o que é bom é chamado “ensino”. Harmonizar-se com outros para aquilo que é bom é chamado “concordância apropriada”. Convencer os outros a seguir aquilo que é mau é chamado “bajulação”. Harmonizar-se com outros para aquilo que é mau é chamado “conluio”. Endossar aquilo que é bom e condenar aquilo que é mau é chamado “sabedoria”. Endossar aquilo que é mau e condenar aquilo que é bom é chamado “estupidez”. Atacar uma pessoa boa é chamado “calúnia”. Causar dano a uma pessoa boa é chamado “vileza”. Chamar bom ao bom e mau ao mau é chamado “rectidão”. Roubar bens é chamado “latrocínio”. Esconder as suas acções é chamado “dissimulação”. Falar das coisas com demasiada facilidade é chamado “gabarolice”. A ausência de fixidez naquilo que se gosta e não gosta é chamado “inconstância”. Abandonar a justiça (yì) em favor do lucro é chamado “vileza suprema”. Ter escutado muitas coisas é chamado “largueza”. Ter escutado poucas coisas é chamado “superficialidade”. Ter visto muitas coisas é chamado “erudição”. Ter visto poucas coisas é chamado “impolidez.” Ter dificuldade em progredir é chamado “indolência”. Esquecer as coisas com facilidade é chamado “incontinência”. Quando as nossas acções são poucas e bem ordenadas, a isso se chama “ser controlado”. Quando as nossas acções são muitas e desordenadas, a isso se chama “esbanjamento”. Os métodos para controlar o qì e alimentar o coração são: sangue e qi inflexíveis devem ser suavizados através da harmonização; pensamento excessivamente profundo deve ser simplificado através da bondade directa; a coragem excessivamente feroz deve ser reformada através da concordância apropriada; a expediência apressada deve ser domada através de movimentos regulados; a estreiteza mental deve ser alargada através da expansividade; a humildade, inércia e ganância de lucro excessivas devem ser combatidas com intenções elevadas; a vulgaridade ou a dissolução devem ser erradicadas com professores e amigos; a indolência e esbanjamento devem ser iluminadas pela consideração de calamidades; a rectidão simplória ou honestidade escrupulosa devem ser temperadas pelo ritual e pela música e adumbradas pela reflexão. Em cada método de controlar o qì e alimentar o coração nada é mais directo do que seguir os rituais, nada é mais importante do que ter um bom professor, e nada funciona com maior eficácia (de natureza) espiritual do que acalentar o qì com total devoção. Estes são chamados os métodos para controlar o qì e alimentar o coração. Se cultivarmos as nossas intenções, desprezaremos riqueza e nobreza. Se a nossa atenção ao Caminho e à justiça for grande, reis e duques serão para nós triviais. O facto é que, ao nos examinarmos interiormente, os bens exteriores pouco significam. Diz-se que “A pessoa exemplar faz das coisas seus servos, mas o homem mesquinho é escravo das coisas.” Isto exprime o quero dizer. Se uma acção te cansar o corpo, mas te deixar o coração em paz, executa-a. Se envolver escasso lucro, mas abundante justiça, executa-a. Ser bem-sucedido ao serviço de um senhor que cria o caos não é tão bom como simplesmente servir um senhor empobrecido. Assim, um bom lavrador não deixa de plantar por causa da seca, um bom mercador não fecha a loja por causa dos prejuízos e o homem bem-criado e a pessoa exemplar não se desviam do Caminho por causa da pobreza. Nota Xunzi (荀子, Mestre Xun; de seu nome Xun Kuang, 荀況) viveu no século III Antes da Era Comum (circa 310 ACE – 238 ACE). Filósofo confucionista, é considerado, juntamente com o próprio Confúcio e Mencius, como o terceiro expoente mais importante daquela corrente fundadora do pensamento e ética chineses. Todavia, como vários autores assinalam, Xunzi só muito recentemente obteve o devido reconhecimento no contexto do pensamento chinês, o que talvez se deva à sua rejeição da perspectiva de Mencius relativamente aos ensinamentos e doutrina de Mestre Kong. A versão agora apresentada baseia-se na tradução de Eric L. Hutton publicada pela Princeton University Press em 2016.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasAllen Ginsberg [dropcap]O[/dropcap] espectáculo que os EUA dão de si neste imbróglio do impeachement é deplorável. É um espelho onde já nada se reflecte, um palco psicóptico, perverso, pasto de abutres que se servem de expedientes espúrios para manter uma refeição que não passa de um holograma, dado que o clown no poder, de tanto desdenhar regras e ética e se julgar acima da lei, já mostrou à saciedade que o rei vai nu. Neste dia 15 houve nova revelação: um colaborador do advogado de Trump, um videirinho chamado Parnas, contou, preto no branco, que entregou em maio, a pedido de Giuliani, um ultimato ao futuro presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, no qual se declarava que nenhum representante do governo americano participaria de sua cerimônia de posse e que a ajuda militar americana seria retida se não houvesse o anúncio de uma investigação sobre Biden e seu filho, Hunter. “Trump sabia exatamente o que estava acontecendo”, assegurou à emissora MSNBC, “Ele estava ciente de todos os meus movimentos. Eu não faria nada sem o consentimento de Rudy Giuliani ou do presidente”. Mas os Republicanos varrem a realidade para debaixo do tapete; a defesa que apresentam para Trump é a de arvorar uma suposta inconstitucionalidade no acto dos Democratas. O próprio Biden – o que é espantoso – não vai à luta, não gasta munições na defesa da dignidade de um cargo que anseia ocupar. Ficamos a saber que antes de dispor-se a enfrentar tiranos e opressores pensará no custo político. O mundo ficou reduzido à conversa fiada; atendamos ao pedido de Ginsberg, no seu Hino a Kali: “ajuda-me (deusa) na impotência de todos os meus eus/ e faz-me a graça, destino manifesto/ de nunca mais renascer americano”. À conversa fiada nunca se entregou Ginsberg, que tem vindo ao meu encontro. O ano passado, comprei na rua uma biografia sua da 10/18, depois, procurando um livro de Jacques Darras topei com outro dele, dedicado a Ginsberg, adquiri-o; em novembro reparei que Kenneth White escrevera um livro sobre ele e não resisti. E o que é certo é que muito para além de gostar ou não da sua poesia é inegável que Ginsberg era um homem com rosto, sem um cabelo de espessura entre o que era e o que fazia. Ginsberg foi um autodidacta, como Pound, menos preocupado com as técnicas da versificação e os acentos prosódicos, menos bulímico no apetite por culturas transversais, e menos interessado na procura de uma forma poética nova do que na de uma sageza de vida autêntica. Daí que tenha sido um poço de escândalos, não porque sim, antes por ser consequente com a sua noção de liberdade. Em 1964, Richard Newton tirou-lhe, e ao amante Peter Orlovsky, a fotografia que ilustra a crónica. Em 1970, a foto foi publicada na capa da revista Evergreen. Foi uma pedrada no charco, como foram a publicação de Uivo, as suas participações em todas as manifestações anti-Vietname, a sua militância gay. Uma vez, numa leitura de poesia alguém do público perguntou a Ginsberg o que ele entendia por poesia. “Nudez”, foi a sua resposta. “Nudez? É vago!”, escarneceu o outro, e, como resposta, Ginsberg imediatamente tirou a roupa. Não era de conversa fiada – consequente do primeiro átomo ao último cabelo. Esteve presente, em todas festas, em todas as lutas. Foi detido várias vezes, voltou à primeira fila das trincheiras contra as manobras da CIA e do FBI, num país em que se mata por isso, escrevendo, assinando manifestos políticos, sem nunca descuidar os seus retiros búdicos e o estudo dos seus místicos. Hoje faz falta alguém com esta dimensão, olha-se para os States e é um marasmo. Em 2017, lembrando-me do Uivo (que volta a estar actualíssimo) e da sua importância na minha juventude escrevi esta homenagem: “UIVO: Se encosto a lâmina ao pulso/ e num gesto sacudido ressuscito/ na carne que gorgoleja a estupefacta/ gaguez do Titanic, o que brota do rasgão// não é mármore de Carrara/ ou a expectoração dos lírios, por isso/ peço-vos, Não evoquem Deus em vão/ se vos parecer de mau gosto// que vos pragueje: “Puta/ que vos pariu, vão mamar/ na sexta pata do cavalo!”./ À velocidade com que os dias me// tropeçam dói o lábio rebentado/ com que tento ainda amar-vos,/ e assim não pode mais a poesia/ aquietar-se na literalidade do mundo.// Também eu vi os maiores espíritos/ da minha geração destruídos pela loucura,/ esfaimados, histéricos, nus, aspirando/ à tona do asfalto o que sobrava de pólen// às veias que uma agulha vitrificara;/ vi-os, aturei-os, caricatos, e vomitei-os,/ como capitonês sem sintaxe, / desacomodados acenos, ímpios// e fraternos como ossos de cão/ sem porto; ouvi-lhes as vozes espargidas/ pelas pás encardidas das ventoinhas/ dos mais reles hotéis à margem// de rios de pez; conheci-lhes o gaio desespero/ da alma, a fibrilação dos escarros, o sémen,/ e a liberdade demencial com que,/ transidos pela agonia das ressacas,// afinal se empanturravam em delícias do mar/ e maionese; transcrevi-lhes os sonhos./ Só pretendiam, à boleia da melancolia/ dos anjos, exceder o romantismo,// ou ter encontros com Deus num peep show./ De tudo isso me fartei, de salmos,/ de haikus acompanhados de batata frita,/ de paratextos em néon e da auto-indulgência/ dos malditos. Repilo agora qualquer pena/ de mim mesmo por não ter nascido/ um santo e se encosto a lâmina/ ao pulso o meu sangue galga, ganha/ a alacridade dos virgens, o aroma/ a caca fresca que um casco ervado deflagrou,/ – conseguisse eu ainda insultar a vida,/ mas tudo aquilo que em mim se perde// faz estrume! É-me pois indiferente/ se não me perdoam que, farto/ de queixumes, de pretos e brancos,/ de colonos e corruptos, me dane// para acompanhar-vos ao futebol,/ e antes escreva, com canivete, em apneia,/ (a cerveja é sempre preta), no tampo/ da autópsia de um país que vai falir.”
Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasInvocar aos deuses o “tempo real” [dropcap]E[/dropcap]m entrevista recente, Paula Panarra (GM da Microsoft Portugal) afirmou: “O que acontece hoje em dia é que o volume de dados que são produzidos todos os dias, quer por nós na nossa vida pessoal, quer pelas empresas na forma como operam, e aquilo que é o poder computacional que as novas tecnologias, nomeadamente na nuvem, conseguem trazer fazem com que a resolução da algoritmia possa acontecer em tempo real”*. Em primeiro lugar, confesso que admiro o discurso particularmente assertivo dos técnicos. Além de exímios na arte da predicação, recorrem a uma poética de ‘lança em riste’ e concebem metáforas como quem trata a esfericidade do planeta por tu. É o caso da “algoritmia”. Traduzindo: os dados a que acedemos nas morfologias da rede permitem que as respostas – é essa a crença! – nos surjam em “tempo real”. Este “tempo real”, citado por Paula Panarra, aproxima-se do conceito de “marcação” de Blumenberg (uma clareza súbita que nos imobiliza e que parece atraída por uma dada finalidade) e, em termos de impacto, não anda longe das fotogenias do cinematógrafo que se caracterizava pelo fascínio hipnótico das imagens que passaram a revisitar detalhes do quotidiano a partir do final de oitocentos. A designação “tempo real” pretende, pois, assinalar uma coexistência meio mágica entre o acontecer e o acontecimento. Trata-se, por outras palavras, de realçar a contingência em flagrante como se ela estivesse prestes a revelar-nos um segredo. Sem ironias, tenho simpatia pela expressão “tempo real” e por quem alimenta a crença na sua quase invulnerabilidade. A expressão, com subtexto utópico, é geralmente usada para se contrapor ao tempo dito diferido. Curiosamente, o diferimento confunde-se com o modo como damos conta do mundo que nos rodeia. Cito Damásio em ‘O Sentimento de Si’: “A ideia de que a consciência chega atrasada, em relação à entidade que a inicia, é apoiada pelas experiências de Benjamim Libet sobre o tempo que um estímulo demora a tornar-se consciente. O atraso é de cerca de quinhentos milésimos de segundo.”. Ou seja, quando estou a ler este texto, existe um primeiro mapeamento do proto-si que depois se transforma em figuração ao nível da consciência nuclear e que, logo a seguir, surge na consciência biográfica, essa área de montagem em que um dado aparentemente imediato se apresenta finalmente à consciência. Convenhamos que a imagem é ainda filtrada por códigos que permitem decifrar o próprio registo da leitura (a par de outras operações que, em simultâneo, me dizem que ‘isto tudo se está a passar comigo’ e não com outrem). O tempo que passou parece realmente não existir; a sugestão de que tudo é instantâneo e sem entraves permanecerá. E é nessa sugestão que reside a fé. De qualquer maneira, o que hoje não for considerado como “tempo real” está (e estará cada vez mais) ‘fora de jogo’. É um modo tácito de exclusão que nos cativa a angústia do dia-a-dia. E como adoramos esse ‘corre-corre’ sem um horizonte claro! Uma interminável fuga para a frente que nos mergulha involuntariamente no âmago da ‘correção’. Por outro lado, dentro do jogo do “tempo real”, acredita-se – é essa a tal crença – que tudo se assinala e incorpora no instante em que emerge, acabando este aspecto, justamente, por colocar em evidência a extrema irrealidade do “tempo real”. O paradoxo torna-se, afinal de contas, no dom mais cativante do mito do tempo real e também naquilo que o torna francamente apelativo. Ao repetir-se até à exaustão “tempo real”, o tempo corre até o risco de se tornar capturável. E uma ilusão em era de ilusões converte-se, claro está, na mais pura das verdades dogmáticas. O enredo do conteúdo “tempo real” é afirmativo e inebriante. Toca os sentidos e excita o domínio das certezas (a)cronológicas. De algum modo, para além do “tempo real”, já não existirá praticamente história, nem futuro. O “tempo real” ameaça impor-se como o clímax exclusivo de uma narrativa que se bastaria ao instante. Uma coexistência e uma intensidade que, um dia, não nos deixarão respirar. Para lá caminha apressadamente todo o ‘mainstream’ que nos cavalga e envolve os dias. Não é assim, minha cara Paula Panarra? Ao convocar-se o “tempo real”, tal como dantes os poetas recorriam à invocação às musas, tudo se torna possível. Sobretudo porque mais de 40% da população mundial tem menos de 25 anos. A nova geração nasceu dentro do presente, extasiada por um imenso aquário de amnésia colectiva e sem ferramentas que lhe possibilitem um mínimo de contexto histórico ou uma projecção futura, a não ser a tecnológica que lhes garante que o futuro é já hoje. A espuma acaba por dominar o cenário, como aliás foi recentemente testemunhado pelo politólogo americano Vali Nasr a propósito do Médio Oriente: “Os protestos organizados pelas redes sociais crescem mais depressa, mas também morrem rapidamente.”*. A espuma (ou a diluição) do quotidiano e o tempo real são, na realidade, a luz e a sombra de um mesmo apagão. Mas um apagão que não recobre a vida toda, felizmente. *Paula Panarra. entrevista a Paulo Matos em Visão (edição de 24/12/19). *Jorge Almeida Fernandes. ‘Que pensar das rebeliões que agitam o mundo?’ em Público (edição de 25/11/10).
Valério Romão h | Artes, Letras e IdeiasOs surpreendidos do costume [dropcap]N[/dropcap]ão consigo nem de longe antever qual será o desfecho dos “Luanda Papers” e que consequências terá para a principal visada na investigação, a Isabel dos Santos. Assim à primeira, qualquer megainvestigação cujo título termine em “papers” parece-me destinada a cumprir muito poucas das expectativas que gera inicialmente. O que é duplamente frustrante, pois quando finalmente parece que uma tonelada de karma vai desabar sobre aquela malta que dos bastidores costuma rir da vida aqui rente ao chão, afinal não acontece nada ou quase nada. Business as usual, como dizem os americanos. Também não entendo muito bem as implicações da investigação, i.e., o que está em causa, os possíveis crimes cometidos e as penas que daí podem resultar. Para ter uma visão panóptica do assunto, um cidadão não especializado tem provavelmente que meter baixa e passar uma semana a ler tudo quanto se escreveu sobre o assunto. São milhares de documentos e dezenas de órgãos de comunicação envolvidos. Além do tempo requerido para estudar o processo, é ainda necessária uma panóplia de competências dificilmente disponível – pelo menos em simultâneo – num sujeito. Pelo que vou lendo, como toda a gente, suponho, os diversos artigos que sintetizam – de forma mais ou menos conseguida – a informação disponível e nos dão conta do andamento do processo. E, ao que parece, a coisa é grave e envolve muita gente do lado de lá e de cá, para além dos inevitáveis bancos e das inevitáveis consultoras e dos omnipresentes offshores, sem os quais, aparentemente, a trafulhice à escala planetária seria muito mais difícil de levar a cabo com sucesso. Também não sei da bondade do processo, ou seja, porque é que ele aparece agora e não há cinco ou dez anos. Suponho que o facto de o papá da visada já não mandar no país como o fez durante trinta e oito longuíssimos anos deve ter alguma coisa a ver com o assunto. Suponho que quem está agora no poder esteja a fazer as mudanças necessárias para pôr a casa a seu jeito, e que isso implique necessariamente retirar poder e influência a quem o detinha anteriormente. Na verdade, não me interessa muito o porquê. Na verdade, a única coisa que me interessa desta embrulhada é poder assistir ao vivo e a cores a mais uma demonstração grandiosa da aparentemente infinita cara de pau dos sujeitos envolvidos nisto. Porque era óbvio que há cinco ou dez anos a Isabel dos Santos era uma criatura impoluta, que o dinheiro dela era tão limpinho como uma cama de lavado e que ninguém ficava a cheirar a petróleo angolano quando lhe apertava a mão. Era óbvio que a Isabel dos Santos era um produto da meritocracia angolana, que tinha disposto das mesmas oportunidades que os seus compatriotas e que o facto de ser filha de um dirigente que fez de Angola a sua coutada em nada a tinha privilegiado relativamente a quem eventualmente pudesse concorrer com ela. Tudo isto foi uma grande surpresa para o Eurobic, para o Marcelo, para o Costa, para a PWC – coitados, como poderiam imaginar semelhante coisa tendo apenas acesso a grande parte da informação financeira dela –, para a generalidade dos políticos, que durante anos se acotovelaram em redor dela a ver se caía uma migalhinha da mesa dos adultos, para as empresas portuguesas onde Isabel dos Santos detém participações, para os fundos de investimento nos quais Isabel dos Santos meteu graveto, para todas as pessoas que queriam trabalhar para ela ou que trabalhavam com ela e para as pessoas que de algum modo poderiam tirar partido dela. Para meia dúzia de jornalistas, para a Ana Gomes e para todos os restantes, a surpresa foi só o quando.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasPrevisões do horóscopo chinês para o ano de 2020 [dropcap]E[/dropcap]m 2020, o primeiro dia do Ano Novo Lunar na China ocorre a 25 de Janeiro, mas para os geomantes do Feng Shui o início do ano sob a égide do Rato, um dos doze animais que representam os ramos/raízes terrestres, começará no Princípio da Primavera (Lichun), a 4 de Fevereiro, celebrando-se este ano uma dupla Festa da Primavera. No ciclo de 60 anos (60 Jia Zi, 六十甲子), ligação do Céu (10 Tian Gan 天干) com a Terra (12 Di Zhi 地支), este ano é denominado Geng Zi (庚子), Rato Metal ou Rato na Trave e terá o número 37. Corresponde ao Caule Celeste Geng (庚), associado ao Elemento Metal yang e direcção Oeste que se conjuga com o Ramo Terrestre Zi (子), representado no zodíaco chinês por o animal Rato, cujo nome comum em chinês é shu (鼠). Zi tem como Elemento a Água yang e direcção Norte. Geng é Metal yang (forte metal) e Zi é Água yang (grande água) e como o Metal faz nascer a Água este ano é de grande água. Serpente, Coelho e Macaco contam este ano com a ajuda de muitas estrelas da sorte. Quem nasceu na Primavera (entre 19 de Fevereiro e 4 de Maio) precisa de metal e os nascidos no Verão (entre 5 de Maio e 7 de Agosto) de água e por isso terão mais sorte e um melhor ano. Já quem nasceu no Inverno (8 de Novembro a 18 de Fevereiro), por não precisarem de mais água terão um ano mais difícil. Quanto à água ligada com a saúde do nosso corpo, os problemas de rins e próstata serão os mais frequentes. Os seres femininos nascidos entre 8 de Dezembro e 5 de Janeiro deverão ter grande cuidado com o coração, seios e útero. Já quem nasceu neste período deve evitar praticar natação e fazer viagens de barco. Previsões por signos e por anos Seguiremos aqui as previsões feitas por Lei Koi Meng (Edward Li) conjugadas com a interpretação que damos às suas ideias. O Tai Sui (Deus do ano) deste ano lunar de 2020 é Lu Mi, capitão da dinastia Ming nascido na província de Jiangsu, que foi uma pessoa bem formada e com grandes conhecimentos, especialista em Literatura. Apresenta-se com uma faca na mão direita. O dia de ir ao templo oferecer sacrifícios ao Deus do Ano (Tai Sui) é o oitavo da primeira Lua, que ocorre a 1 de Fevereiro de 2020. Rato Em Fan Tai Sui (contra o Deus do Ano), os nativos de Rato dentro do ano do Rato estão em Zhi Tai Sui (conflito com o Deus do Ano) por serem o animal do ano e assim para 2020 haverá grandes mudanças, mas será um bom ano devido a encontrarmo-nos ainda no ciclo de Fogo e sendo o rato Zi (子) do elemento água, acalmará o fogo. Por isso, um ano de sorte para os nativos deste signo. Normalmente os nativos de rato apenas se focam em pequenas coisas, contentando-se em comer, beber e tirar prazer da vida, sem nunca fazer planos, mas este ano Geng Zi (庚子), como metal (Geng) faz nascer água, significa que contará com uma grande ajuda, a puxar os nativos para cima, colocando-os na dianteira. Contará com as estrelas da sorte, Jin Kui (金匮, Cofre Dourado) a trazer sorte em assuntos financeiros e acumulação de ganhos e Jiang Xing (将星, do General) ligada à carreira, autoridade e ao poder. Já como más estrelas, o ano apresenta-se com Jian Feng (剑锋, Fio da lâmina da Espada), a poder levar a ser submetido a uma operação clínica e Fu Shi (伏尸, Corpo Morto), a representar morte, que poderá correr por desastre. Para os nativos nascidos no Inverno, a precisarem de fogo, não irá ser fácil pois, com um ano cheio de água, esta apagará o fogo. Carreira: Tendo o suporte da estrela da sorte Jiang Xing (将星, do General) significa poder contar com um grande suporte a apoiá-lo e tudo se tornará fácil. Com uma forte ajuda, conseguirá atingir um patamar superior e construir um novo mundo e mesmo, contrariando a sua natureza, poderá dar ordens aos outros, indicando o que devem fazer. No entanto, encontrando-se em ano de Tai Sui, deverá tomar atenção às rápidas mudanças para evitar ser ultrapassado pelo momento. Amor: Ocorrerá uma nova oportunidade na sua vida amorosa. Para os solteiros, podem encontrar o seu parceiro e é um bom ano para casar, mas os casados deverão evitar que as suas relações sociais, tão activas este ano, se desviem e se transformem em momentâneas paixões, a poder destruir a vida conjugal. Bom ano para as nativas de Rato terem filhos. Saúde: Com as más estrelas, Jian Feng (剑锋, Fio da lâmina da Espada, a significar operação clínica, ou magoara-se por algum acidente) e Fu Shi (伏尸, Corpo Morto), deverá ter muito cuidado com desastres de automóvel e evitar praticar desportos radicais. Os nativos masculinos devem tomar atenção com os problemas de bexiga e do aparelho urinário e os femininos, do útero e seios. Lembre-se ser a saúde mais importante do que conseguir mais dinheiro. Dinheiro: Devido à estrela da sorte Jin Kui (金匮, Cofre Dourado) não só conseguirá ganhar dinheiro, mas também mantê-lo-á. Assim terá sorte em assuntos financeiros e haverá acumulação de ganhos. Os nativos de Rato nascidos em: 1996 – Estão na melhor posição de todos os nativos de Rato e se trabalharem bem terão um brilhante futuro pela frente. Apenas devem tomar cuidado com a saúde. 1984 – Receberão grande ajuda de algumas pessoas que na sua área de trabalho o vão colocar no topo. Por um lado receberá bons comentários, mas por outro terá de contar com os ciúmes e inveja e para evitar rumores deve seguir um caminho correcto, sem mácula. 1972 – Activos este ano, poderão tentar diferentes áreas. Se nasceu no Inverno, especialmente o ser feminino deverá ter cuidado com a saúde e sobretudo vigie o útero. Necessário fazer um exame clínico. 1960 – Ano para tirarem partido da vida e gozá-la. Faça deste ano a oportunidade para a sua carreira vingar e atingir o topo, pois tem boas hipóteses. Como trata os seus amigos melhor do que a família, este ano deverá balançar tal atitude. Não se esqueça de comemorar o seu aniversário, o que lhe trará boa sorte. 1948 – Terão um constante e estável rendimento. Mude a maneira de comer e escolha alimentos saudáveis. Como é ano de Tai Sui deverá tomar muito cuidado para não cair. Haverá ainda boas oportunidades para a sua carreira, mas pense se terá capacidade para a manter. Búfalo No ano do Porco os nativos de Búfalo tiveram um árduo trabalho, mas para este ano, como pertence aos seis animais que se combinam e o rato tem como parceiro o búfalo, será um bom ano para os nativos deste signo em relação à carreira e no amor encontrará uma boa direcção. Carreira: Terá duas estrelas da sorte a ajudar, Yu Tang (玉堂, a significar boas relações sociais) que leva a conseguir das pessoas respeito pois revelar-se-á durante importantes reuniões, não só no trabalho durante conferências, como em festas entre amigos e família. Contará com muito apoio e será estimado por jovens e crianças. Já a combinação desta estrela da sorte com Tian Yi Gui Ren, (天乙贵人) leva a ter poderosa ajuda ligada à criatividade e assim poderá criar uma nova carreira de negócios que lhe trará visibilidade. A estrela Mo yue (陌越) dificultará a sua capacidade de decisão e até aquilo que podia ser de fácil entendimento, o obriga a fazer cuidadosos planos. Esta estrela é de mudança e por isso, dependente com quem se conjuga; com outra boa estrela torna a situação melhor, quando ligada a uma má estrela, piora a situação. Amor: Búfalo no ano de Rato [pelos seis pares de animais que combinam (liu he)] terá uma muito boa relação com as pessoas e por ser um ano com dupla festividade da Primavera, os nativos de Búfalo solteiros deverão agarrar a oportunidade para se casar. Se já é casado, faça uma festa, ou uma viagem para estreitar a relação. Como mediador este ano terá uma boa ascensão social pois será reconhecido por seus dotes. Saúde: Devido à influência da má estrela Bing Fu (病符, sinaliza doença) os nativos de Búfalo devem evitar enervarem-se, colocar-se fora de fortes pressões e não abusar de comida apelativa como marisco, pois é pela boca que as doenças entram. Há forte possibilidade de este ano ter problemas de saúde ligados com as mãos e pés, estômago e diabetes, especialmente para quem nasceu no Inverno. Para estes, por ser um ano de água e a necessidade de conseguir mais fogo, ajudará o uso de roupa vermelha, beber vinho tinto e comer carneiro. Dinheiro: Não terá dinheiro fácil e para o conseguir deverá trabalho muito e bem. Os nativos de Búfalo nascidos em: 1973 – Terão o melhor ano. Será um ano muito activo e bom para aprender mais. Não se esqueça de celebrar o seu aniversário, para lhe trazer boa sorte. 1985 – Com muitas ajudas, terão hipótese este ano de conseguirem ser promovidos, melhor salário, uma nova carreira e com brilhantes perspectivas de futuro. Para as nativas será um ano harmonioso. 1961 – Terão um ano com pensamentos claros e se trabalharem na área cultural conseguirão bons resultados. Posição e riqueza atingirão um novo patamar. 1949 – As ondas que se levantam na saúde poderão levar a ter problemas de fígado e mesmo tendo oportunidade de fazer muitas coisas este ano, lembre-se ser a saúde o mais importante e o dinheiro não a compra. 1997 – Com a entrada na sociedade não necessitará de pensar demasiado, mas tente dar o seu melhor, para conseguir bons comentários dos outros e assim melhor vencimento. Tigre No ano de Porco os nativos de Tigre fizeram progressos na carreira e no amor, mas agora precisarão de se preparar pois as ajudas serão muito menores. Assim este ano deve manter-se calado e agir mais, relaxe e coloque-se fora de novos projectos para não ter problemas. Quanto menos mudanças, menos problemas. Carreira: Se estiver envolvido em algum projecto, deverá contar poder ser ele cancelado e o pior é que nada pode fazer, senão deixar ir. No entanto tem a estrela da sorte Tai Ji Gui Ren, (太极贵人) a significar alguém a ajudá-lo e a não o deixar ficar numa situação difícil. Mas a má estrela Tian Gou, (天狗) coloca os nativos a acreditar na pessoa errada, levando a gastos monetários imprevisíveis. Devido à má estrela Zai Sha (灾煞) deve contar com uma inesperada ocorrência a colocá-lo sob forte pressão emocional. Não se esqueça ser este um ano que menos é mais, pois quanto menos acontecimentos houver melhor. Amor: Ano sem ocorrências especiais e nada a reportar. Os solteiros apenas devem seguir o que aparece. Para os casais, deverão ter paciência entre eles e evitar discussões por coisas pequenas. Não necessita de condimentar a relação pois o original e o verdadeiro são o preferível. Os nativos masculinos devem evitar problemas com saídas fortuitas. Saúde: Cuidado este ano pois está sob a influência de três más estrelas. Diao Ke (吊客, relaciona-se com a morte de um familiar) alerta para que tome atenção à saúde dos seus familiares e também deve fazer exames de saúde, e as duas más estrelas, Fei Ren (飞刃, lâmina voadora) e Yang Ren (羊刃) indiciam a hipótese de ser submetido a uma operação cirúrgica. Como Ren (刃) significa lâmina, a representar corte provocando sangue, deverá guardar em lugar seguro todos os objectos cortantes para evitar que eles o magoem. Não entre em discussões, seja paciente e mantenha a calma. Dinheiro: Não cometer erros é já o melhor e assim, se conseguir manter o que tem não está mal. Os nativos de Tigre nascidos em: 1962 – Devem estudar e fazer exercício físico. Valorizar-se. Importante realizar um exame clínico à saúde. Não haver novidades é a melhor novidade. 1974 – A sua carreira, mesmo com ajudas, não melhorará. Trabalhar arduamente não significa ganhar mais. Cuide a maneira como fala, pois se não o fizer pode levar a algo muito errado, mas não ficará a saber. 1986 – Na carreira poderá alcançar algo de bom, fora do esperado. Importante estudar mais e manter-se tranquilo. Para as nativas de Tigre, o nascimento de um filho permitirá evitar a influência das duas más estrelas Yang Ren e Fei Ren. 1950 – Ano relaxante e a comemoração do seu aniversário fará a sua vida mais alegre e feliz. 1998 – Criativo e activo, poderá tentar encontrar mais das suas potencialidades. Evite praticar desportos radicais. Coelho No ano do Rato, os nativos de Coelho encontram-se nos três signos mais bafejados para 2020. Ano de constantes e rápidas mudanças. Com relações humanas complicadas, as suas características de corredor de longa distância e os seus saltos levam os nativos a estar bem apetrechados para o que vem. Na carreira profissional e nas relações amorosas aparecerão bonitos momentos. Carreira: Conta este ano com a influência de três estrelas da sorte, Tian De (天德, estrela protectora que limpa o caminho), Fu De (福德, que lhe trará riqueza material e protecção) e Fu Xing (福星, protectora que lhe limpa o caminho) levando a poder contar com uma poderosa ajuda e ter tudo sobre controlo. O difícil torna-se de fácil resolução. Mas as más estrelas Juan She (卷舌, alguém a falar mal de si) e Jiao Sha (绞 煞, enforcado) levam a que as suas acções, se por um lado tem quem as aprove, por outro haverá quem delas não goste. Hoje em dia vivemos apenas em competição e por isso, mais sucesso traz mais inveja. Assim, coloque as suas posições mais firme. Deve lembrar-se estarem os nativos de Coelho este ano em Xing Tai Sui, significando Xing ser julgado e por isso precisará de fazer tudo por via correcta e legal, especialmente quando necessita de assinar algum contrato. Evite jogar para não destruir a sua sorte. Amor: As duas superes estrelas da sorte, Hong Luan (红鸾, Sorte no Amor) e Xian Chi (咸池, propícia o casamento e boas relações entre pessoas) colocam o ano tão doce como mel, a significar que os solteiros encontram a pessoa indicada para casar, ou conseguem realizar os seus desejos. Para os casais é bom fazerem uma nova lua-de-mel com uma festa a celebrar a união. Lembre-se que por conseguir controlar tudo, deverá saber controlar-se para evitar cair nas bocas do mundo e ser julgado, especialmente no mês de Dezembro. Saúde: Sugere-se no início do ano ir ao templo oferecer sacrifícios ao Deus do Ano. Poderá sofrer problemas emocionais e deve ter cuidado com as doenças sexuais. As nativas devem ter atenção aos problemas de útero e seios e os masculinos com a próstata. Dinheiro: Consegue-o de maneira legal e quanto mais trabalha, mais ganha. Evite as maneiras fáceis de conseguir dinheiro. Aproveite para agarrar as oportunidades para enriquecer, mas lembre-se que deve usar a legalidade para atingir tal. Os nativos de Coelho nascidos em: 1963 – Devido à estrela da sorte Lu Shen (禄神) conseguirão ter bons rendimentos e não terão dificuldades na sua carreira, mas ao ter de lidar com problemas conflituosos, seja muito cuidadoso para evitar ser julgado. 1975 – Terão imensas ajudas, assim como há grandes hipóteses de se tornar patrão ou ser promovido. Conseguirá ter bons comentários e só precisa de tentar dar o seu melhor, sem se preocupar com nada mais. 1951 – Procurem estudar e aprender novas coisas. Uma vida social activa trará novos amigos. Boa vida a beber, comer e passear. 1987 – Ano para criar novas relações e terá mais ajudas. Ao trabalhar arduamente conseguirá o que quer. 1999 – Com imensas ideias, se conseguir ajudas poderá realizá-las, mas não vá para além da sua capacidade. Não siga o caminho mais fácil e trabalhe passo a passo, degrau a degrau. Celebre o seu aniversário para ter mais sorte. Dragão Dragão no ano do Rato chama-se San He, os três animais que combinam bem com o Deus do ano e em 2020 eles são Rato, Dragão e Macaco. Ano em que os nativos de Dragão se mantêm na posição de comando e para além das riquezas que poderão usufruir, também a carreira continua a progredir. Carreira: A super estrela da sorte Jiang Xing (将星, do General) ligada à carreira, autoridade e ao poder, traz a oportunidade para cooperar em novos negócios e a estrela da sorte Guo Yin Gui Ren (国印贵人, Carimbo do país) permite continuar na sua alta e importante posição e ser respeitado por todos. Já a má estrela Bai Hu (白虎, a Tigre Branco) significa poder sofrer uma forte competição, mas o dragão, por ter nascido para lutar, todas as vezes que o Tigre Branco se encontra com o Dragão Verde, Bai Hu perde. Assim, quando os problemas aparecem, não necessita de lutar, sendo melhor cooperar e lentamente os seus inimigos tornam-se seus adeptos. Amor: Bom ano para os nativos de Dragão pois terão um ambiente harmonioso. Se for solteiro, não precisa de se preocupar por não ter, mas sim pela quantidade de oferta a escolher. Se for casado, o ser masculino deverá tomar cuidado com o aparecimento de amantes para não perturbar o casamento, e sem a trazer para casa, transfira-a, colocando-a como ajuda a cooperar. Saúde: Este ano traz três más estrelas, Fei Lian (飞廉), Pi Tou (披头, deixar solto o cabelo) e Tian Sha (天煞), todas ligadas com acidentes e por isso, quando conduzir, viajar e passear precisa de ter especial atenção para não se colocar em zonas perigosas. No Inverno, os nativos deverão ter cuidado com diabetes e a bexiga e tomar cuidado com o que comem, escolhendo alimentos saudáveis. Se for ao Templo do Deus do Ano apenas precisará de pedir protecção para a sua saúde. Dinheiro: A estrela da sorte Jin Kui (金柜, Cofre Dourado) traz sorte em assuntos financeiros e acumulação de ganhos. A riqueza corre para os nativos de Dragão e precisa apenas de se manter na sua posição e continuar a tomar conta dela, pois só você terá poder para a destruir, ou mantê-la. Os nativos de Dragão nascidos em: 1964 – O seu poder e posição vão atingir um patamar mais elevado, mas evite maior exposição para não chamar sobre si mais inimigos, que trazem fortes doses de inveja. 1952 – Tem uma posição firme com imensas ajudas, mas este ano o mais importante é a saúde e por isso, no início do ano faça exames de saúde. Dê mais tempo para si e faça mais exercício físico. Precisa de balançar o que come com uma alimentação mais racional e saudável. 1976 – Terá vários caminhos para desenvolver a sua carreira e cooperar melhor com o seu parceiro, levando os rendimentos a aumentar. Apenas deve evitar diversões perigosas e conduzir com máxima segurança. Comemore o seu aniversário com uma festa. 1988 – Ano para mostrar a sua capacidade, ser promovido e conseguir melhor salário. Mas o ser feminino precisa de tomar grande cuidado com a saúde, podendo ter que fazer uma operação. Serpente Ao contrário do ano que passou, quando a serpente estava em Chong Tai Sui, a colidir com o Deus do Ano, em 2020 tudo muda e é o mais bafejado dos doze animais. Carreira: Com a ajuda das estrelas da sorte Zi Wei (紫微) e Long De (龙德), que representam conquistar poder e ser promovido na carreira, os nativos rapidamente podem mudar a situação em que foram colocados no ano passado e ainda conquistar muito mais, atingindo uma posição de topo e com possibilidade de expandir a área, abrindo novo negócio. Tão grande sorte só aparece uma vez em doze anos, por isso não a desperdice. Com a estrela da sorte Yu Tang (玉堂) consegue suporte de pessoas poderosas, assim como cooperação e ter ajuda para conseguir realizar os planos que tem em mente. Com a estrela da sorte Di Jie (地解, Terra e abrir o cadeado), ao ser confrontado com problemas, estes tornam-se de fácil resolução. Já a estrela da sorte Ci Guan (词馆, Perfeitas palavras) dá-lhe uma mente clara e apenas com perfeitas palavras, coloca as pessoas a acreditar em si. Devido à estrela da sorte An Lu (暗禄) o dinheiro chegará de diferentes maneiras, conseguindo-o fora das suas expectativas. Para definir numa frase a carreira, conduzindo na auto-estrada um bom carro, apenas necessita de meter gasolina. Mas deverá contar com a existência de duas más estrelas, Bao Bai (暴败, Perdedor, falhar), que leva a ocorrer algumas mudanças fora do seu controlo e Tian E (天厄, Catástrofes provenientes do Céu), tudo o que fizer não poderá ir até ao fim, e por isso, deve guardar um pequeno espaço para poder dar a volta. Não coloque o sucesso a fazê-lo perder a cabeça. Amor: Ano harmonioso para os casais. Os solteiros terão possibilidade de encontrar o seu parceiro, mas este ano o foco está na sua carreira e o amor é a sobremesa. Saúde: Vão ser os antigos problemas a afligi-lo. Não vai conseguir encontrar um bom médico para resolver os seus problemas de saúde. Os nativos nascidos no Inverno terão problemas com as mãos e pés. É um ano de trabalho duro, mas não se esqueça de tomar tempo para relaxar. Dinheiro: Ano de plena satisfação. Os nativos de Serpente nascidos em: 1965 – Terão o melhor ano, com grandes hipóteses de serem promovidos e ficarem à frente de um grande projecto, assim como podem tornar-se patrões. Têm os caminhos todos abertos. 1953 – Ano em que a carreira os levará a ter grandes proveitos e nos ganhos monetários atingirão o apogeu, sendo o melhor de entre todos os nativos de Serpente. 1977 – Este é o ano para se descobrir e despontar totalmente e não precisa de se preocupar com nada. A celebração do aniversário trazer-lhe-á mais oportunidades. 1989 – Terão hipóteses de criar os seus próprios negócios, mas não podem contar com ninguém; por isso prepare-se, pois vai ser um árduo ano e quanto mais trabalhar mais receberá. 1941 – Continuarão a ter uma boa vida social e este ano, conseguirão ainda encontrar algo interessante para lhes dar prazer, mas cuidem da saúde, pois o problema poderá estar em comer muito e coisas boas. Cavalo Os nativos de Cavalo no ano do Rato estão em confronto directo com o Deus do Ano e por isso será um ano cheio de trabalhos, com grandes riscos, crises e várias dificuldades. Carreira: Contará apenas com uma estrela da sorte, Fu Xing (福星), protectora que lhe limpa o caminho) a significar continuarem os nativos a ter ajuda de pessoas, mas porque necessita de se confrontar com uma série de problemas, esta mostrar-se-á insuficiente. As barreiras que a má estrela Lan Gan (阑干, vedação) lhe vai colocar pela frente, a significar a possibilidade de se confrontar com um sem número de problemas, levá-lo-á a ter que os resolver, ou desviando-se, ou tentando ultrapassá-los, ou retirá-los do seu caminho. A má estrela Da Hao (大耗) significa gastar ou perder uma fortuna. Já as três más estrelas juntas, Tian Ku (天哭, o Céu chora), Po Sui (破碎, separação) e Yue Kong (月空, mês vazio) levam-no a sofrer um grande confronto, o que cria uma destabilização emocional a provocar-lhe um grande desequilíbrio, deixando-o sem saber o que fazer. Tal coloca-o num novo estado e com novos grandes desafios. O antigo sistema deixa de funcionar, levando a ter de fazer plenas mudanças em si mesmo, mas se olhar com um sentido positivo, isso levá-lo-á a melhorias, que podem dar-lhe novas capacidades, trazendo uma nova dinâmica para a sua vida, ajudando-o a prosseguir. Para os nativos nascidos no Verão, o que significa terem necessidade de água, estas mudanças serão muito boas. Lembre-se que para poder visualizar o arco-íris terá antes de levar com uma grande chuvada. Amor: Para os casais, necessário ter de controlar as emoções; precisa de falar, mas evite discussões. Ano de mudança e por isso, mantenha a relação o mais normal possível, o que já não será mau. As nativas solteiras não encontrarão perto o parceiro e terão de o ir encontrar longe, significando ter de ir viajar, o que lhe fará muito bem. Saúde: No início do ano vá ao templo oferecer sacrifícios, pois bem precisa. Ano para poder sofrer de problemas nos olhos, coração e rins. Atenção nos transportes, pois acidentes espreitam. Para os idosos, cuidado com as quedas. Dinheiro: Devido à influência da má estrela Da Hao (大耗, gastar uma fortuna) é preferível comprar algo muito caro, do que perder esse dinheiro e conjugando com a má estrela Yue Kong (月空, mês vazio), melhor gastar dinheiro a viajar, do que usá-lo no hospital. Assim, mesmo a trabalhar arduamente não vai receber nenhum retorno, mas não se esqueça que a vida não acaba este ano. Os nativos de Cavalo nascidos em: 1954 – Com ajuda, continuará a conseguir manter a sua posição, mas tenha muito cuidado com o que diz e como fala, pois é um ano fácil para ter maus comentários. Proteja-se, pois não pode contar com os outros. 1966 – Terá mais algumas maneiras de conseguir arranjar dinheiro, mas precisa de muito trabalho. Ano para tomar muito cuidado com os transportes pois está propenso a acidentes. 1978 – Ano muito ocupado e de árduo trabalho, mas nem mesmo assim atingirá o que pretende. Por isso, aproveite a oportunidade para relaxar. Ano fácil para se magoar com objectos cortantes. 1942 – Tenha muito cuidado com a saúde. Evite sair muito, para ter menos hipóteses de lhe ocorrerem acidentes. Em casa poderá também aprender muitas coisas e manter a sua vida feliz. 1990 – Ano para estudar mais e fazer amigos para conseguir uma boa plataforma para os anos vindouros. Cabra No ano do Rato, a Cabra encontra-se em antagonismo com o Tai Sui e sem cooperar com o Deus do Ano, este também não o ajuda. Esta incompatibilidade significa ser ano para deixar a vida social e recolher-se na vida familiar. Carreira: A estrela da sorte, Tian Yi Gui Ren, (天乙贵人) significa que com as suas novas e criativas ideias terá boas hipóteses e oportunidades de lançar uma nova carreira. Poderá aceitar ajuda, mas evite a cooperação, é preferível trabalhar sozinho. A estrela da sorte Yue De (月德) Virtude da Lua) indica dever mostrar-se simpático e conseguirá colocar as pessoas a respeitá-lo pelas suas virtudes. Lembre-se, a carreira este ano é apenas um lanche, pois o jantar está na família. Amor: Com a estrela da sorte Xian Chi (咸池, propícia o casamento e puras relações entre pessoas), é um bom ano para os casais voltarem a fazer uma viagem de Lua de Mel, ou terem um filho. Este ano o casal parece-se com os gémeos, não importa para onde vão, estão sempre juntos. Para os solteiros nativos de Cabra, como a carreira este ano não é importante, apenas uma coisa deverá estar nos objectivos, encontrar a pessoa certa e casar-se. Por isso deixe os seus amigos e objectivamente procure criar a sua nova família, e se entender isso, evitará imensos problemas e terá um harmonioso ano. Saúde: Este ano, para além de ferir o Tai Sui, terá a influência da má estrela Shi Fu (死符, sinal de morte), levando a ser importante fazer um exame de saúde, sendo um ano para relaxar completamente e dedicar-se à meditação. As nativas deverão ter muito cuidado com os órgãos ligados ao aparelho reprodutor e no início do ano deverão oferecer sacrifícios ao Deus do Ano. Dinheiro: Repetindo, se a carreira este ano é só um aperitivo na vida e a comida está na família, então, mesmo com a má estrela Xiao Hao (小耗, pequeno gasto ou perda de dinheiro) poderá fazer a transferência para um forma positiva, usando-o numa pequena viagem familiar e num jantar fora em família. É ano para não esperar nada, mas poderá trazer surpresas, quem sabe?! Os nativos de Cabra nascidos em: 1955 – Terão o melhor ano e conseguem criar uma carreira pessoal, mas faça-o em silêncio sem o propagar aos sete ventos e quando tudo estiver pronto, então coloque-se na boca do mundo. 1967 – Terá de se focar apenas na sua área de actuação profissional e não pense em criar algo novo. Mas ao mesmo tempo, não se esqueça de prestar grande atenção à família. Com o restante, não queira ver, cheirar, ouvir, tocar, provar e assim os seus sentidos não ficam dispersos e manter-se-ão com plena atenção para o importante. 1979 – Terá imensas ideias quanto à sua carreira, mas é ano para evitar cooperações com os outros, precisando de fazer tudo sozinho, por isso, pense nas suas capacidades para pôr mãos à obra. Oportunidade para adquirir uma casa. Cuidado com os desportos radicais, pois há grande probabilidade de ocorrer um desastre e magoar-se. 1943 – Com as suas grandes poupanças, poderá ter um ano relaxado. Apenas cuide da sua saúde e evite excessos. 1991 – Não pode pensar magoar as pessoas, mas deve evitar que os outros o magoem. Assim, para este ano não coopere com os outros, nem mesmo com os seus amigos. Seguir solitário, evita problemas, ganha mais e goza melhor. Macaco No ano do Rato, o Macaco está em San He, os três animais que combinam bem com o Deus do ano e por isso, para os nativos de Macaco o ano é de harmonia (correcto tempo, correcto lugar, correcta acção) e de felicidade. Combina carreira, amor e dinheiro e terá um bom desenvolvimento. Quanto mais idoso, mais inteligente. Carreira: Com as superes estrelas da sorte, Jiang Xing (将星, do General) e Jin Kui (金柜, Cofre Dourado), consegue colocar a carreira num novo patamar, tornando-se famoso e conquistar riqueza. A estrela da sorte San Tai (三台, Quem tem o Carimbo) levará a ser promovido à posição de chefia em todos os lados e as suas decisões serão tomadas em conta, sendo um ano para rir até ao fim. Mas as duas estrelas más, Wu Gui (五鬼, Cinco fantasmas, que representa as pessoas nas suas costas a fazer-lhe mal) e Fei Fu (飞符, mau sinal voador, más notícias), representam um poder que se encontra contra si, logo perceba ter de contar com pessoas que lhe querem mal. O seu sucesso traz inveja a outros, mas no seu ano de sorte estes pequenos problemas nunca lhe causarão mossa para continuar em frente. A má estrela Guan Fu (官符, cuidado e não colocar a sua palavra como garantia) adverte-o a nunca deixar de seguir pela legalidade nas suas acções, evitando assim ser acusado pela justiça. Amor: Ao entrar em San He, os três animais que combinam com o Deus do Ano, torna-o muito atraente aos olhos dos outros e vai mostrar as suas características de Macaco, activo e falador. Terá imensas opções de escolha, mas tenha calma e encontre quem combina bem consigo. Para os casais, a cooperação pelo amor levará o outro a atingir o que tem desejado para a carreira (pois, este ano o amor é a folha e a carreira o fruto). Saúde: Deve contar este ano com a influência da má estrela Fei Fu (飞符, mau sinal voador), a significa dever tomar extremo cuidado quando passear ou conduzir. A sua saúde não lhe trará grandes problemas, mas estes aparecem pelas pessoas à sua volta, por isso, evite discussões com os outros para não desequilibrar o seu estado emocional. Cuidado com objectos cortantes e pode ter problemas relacionados com a água, como andar de barco, nadar… Para os nativos nascidos no Outono e Inverno, evitem usar e ter imagens de dragões à sua volta. Fácil ter problemas com os pulmões e intestinos. Dinheiro: Tem a estrela da sorte Jin Kui (金柜, Cofre Dourado), que lhe traz sorte em assuntos financeiros e acumulação de ganhos e a estrela da sorte Lu Shen (禄神) leva o dinheiro a vir ter consigo. É ano para realizar os seus desejos, pois consegue o que quer; quer vento tem vento, quer Sol tem Sol, mas lembre-se que a riqueza pelo dinheiro é só exterior, enquanto a verdadeira riqueza está no coração. Os nativos de Macaco nascidos em: 1992 – Terão alguém a colocá-los num lugar de importante posição e assim, um brilhante futuro e um bom salário. Mas deverá estudar mais para ganhar competências e conseguir novas informações. Não pense que por ser jovem não necessita de cuidar da saúde. Conduzir com extremo cuidado é muito importante. 1980 – Activa vida social com plenas ajudas. Na carreira não terá problemas, mas conte com uma imensa competição. Faça uma festa no seu aniversário para conseguir ter mais boas energias. 1968 – Ano cheio de trabalho e com bastante pressão, mas o que receberá é também imenso. Aproveite e apanhe esta boa oportunidade para se mostrar. Cuidado com a saúde, sobretudo com problemas de ossos, especialmente para quem nasceu no Outono e Inverno. 1956 – Terá uma poderosa e qualificada ajuda e tendo inúmeras maneiras de ganhar dinheiro, coloque a fasquia do dinheiro a atingir um novo recorde. Mas como é um ano de grande água tome cuidado com o coração e lembre-se que a saúde não pode ser comprada por dinheiro. 1944 – Ano para ter cuidado com o que fala e com a sua acção, que poderá trazer-lhe problemas. Na sua posição, continua a manter respeito. Tenha uma boa vida e não se esqueça de realizar exercícios físicos. Galo No ano do Rato, o Galo está em ruptura com o Deus do Ano, o que significa facilmente se magoarão um ao outro e por isso, este ano não irá ser harmonioso. Lembre-se que só deverá falar de coisas que não provoquem conflitos, mas pela personalidade do Galo, se não pode ser feliz fora, continuará a ter dentro de casa o seu Sol, levando a não ser um ano muito difícil. Carreira: Tem duas estrelas da sorte, Tai Yin (太阴), a Lua) e Tian Xi, (天喜Virtude Celeste), o que leva este ano os nativos de Galo a serem mais simpáticos e calmos. As nativas mostrarão em frente aos outros o que de melhor têm e os nativos serão mais gentis no servir, tendo boas relações e convidando os amigos para reuniões sociais. Significa, ano para não falar da carreira, mas promoverem-se socialmente e divertirem-se, plantando as sementes para o que vem. Devido à estrela da sorte Xue Tang (学堂) é ano para estudar e enriquecer os conhecimentos. Já as duas más estrelas, Guan Suo (贯索) e Gou Jiao (勾绞), significam que deverá estar preparado pois há pessoas que lhe vão colocar armadilhas, e conjugadas com a má estrela Cu Bao (卒暴, inesperada perda de controlo), não importa se trabalha muito e arduamente, terá grandes hipóteses de falhar. Por isso, no início do ano deverá ir ao templo oferecer sacrifícios para minimizar os problemas que espreitam e adquirir boas energias. Amor: Para se sentir confiante, este ano deve-se vestir e ornamentar bem, como sempre gosta de fazer, para captar a atenção dos outros e com isso se mostrar. Mas a dificuldade está em ser muito fácil por pequenas coisas cair numa grande discussão e destabilizar a relação. Assim é ano para os nativos de Galo abriram mais o coração e ao ter um grande coração para aceitar os outros, os outros aceitá-lo-ão mais facilmente. Saúde: O Elemento do Galo é Metal e em conjunto com a má estrela Yang Ren (羊刃) leva a uma maior probabilidade de ter que realizar uma operação cirúrgica, ou cortar-se com uma faca. Facilmente pode ter problemas nos pulmões. Os nativos nascidos no Outono e no Inverno, precisam de fogo e por isso uma viagem para o calor do Sul poderá ajudar. Dinheiro: A felicidade não é dada pelo que se tem, mas por a inexistência do mundo dos desejos. Dinheiro não traz prazer diário, mas a saúde pode dar-lhe. Agora entende o que aqui falamos. Os nativos de Galo nascidos em: 1993 – Terão muito boas relações sociais a propiciar ajuda dos seus superiores. É bom ano para criar uma boa base para a futura carreira. 1981 – Irão de repente ter vontade de ler e estudar e começar a gostar muito de cozinhar para partilhar com os amigos os seus pratos, trazendo-lhe um imenso suporte. Ano calmo e cheio de interesses. 1969 – Vão-se forçar a trabalhar arduamente, mas por vezes quanto mais rápido se quer chegar, mais lento se anda e por isso, é ano para caminhar degrau a degrau. Lembre-se que por vezes dar um passo atrás pode levar a conseguir ter mais hipóteses de sucesso. 1957 – Ano para não jogar a dinheiro, pois se o fizer atrairá grandes trabalhos. Foque apenas no que tem. Uma vida simples é o caminho para se ser feliz. Cuide da saúde. 1945 – Hipótese de iniciar um novo projecto, mas tal só trará mais trabalho, pois o que irá ganhar… Cão Este ano os nativos de Cão encontram o apogeu na carreira; está pronto? Encontrando-se numa alta posição, toda a gente está atenta ao que faz e até as suas pequenas acções merecerão atenção. Por isso, deverá solicitar a si mesmo conseguir a perfeição, mas não a imponha aos outros e assim conseguirá ter um ano brilhante. Carreira: Com a poderosa estrela da sorte Ba Zuo (八座, relacionada com a carreira) terá hipótese de ser promovido, ficar na posição de comando e na sua área torna-se o número um. As duas estrelas da sorte, Tian Jie (天解) e Jie Shen (解神), ajudá-lo-ão a resolver quase todos problemas, conseguindo debelar as crises. Assim, todas as condições estão prontas, apenas terá de esperar que a oportunidade chegue para a agarrar e abrir uma nova página. Mas conte com duas más estrelas, Chen Fu (沉浮, altos e baixos) e Zai Sha (灾煞, inesperado acidente), a significar ter de cooperar e manter boa relação com os outros, resolvendo os problemas com muita calma e sem discussões. Aperfeiçoe-se para ser um verdadeiro chefe. O sucesso chega, mas não será sem passar por dificuldades. Amor: Para os nativos solteiros, não esperem muito este ano. Para os casais, não terão muito tempo para acompanhar o parceiro, mas não se esqueça ser o suporte da outra parte muito importante. O seu poder atrairá alguém a quer ficar seu íntimo, mas deve manter-se fora e evitar tais problemas. Saúde: Recomenda-se devido à má estrela Xue Ren (血刃, Fio da lâmina com sangue) não discutir para evitar maus entendidos a poderem originar acções tresloucadas. Já as outras duas más estrelas, Di Sang (地丧 sang=perder; di=terra) e Sang Men (丧门, quem traz má sorte), levam a ter que tomar conta da saúde, não só da sua como a dos seus familiares. Faça exames clínicos no início do ano. Poderão, sobretudo no quarto, sétimo e oitavo mês lunar, ocorrer problemas relacionados com o coração e nos tubos sanguíneos. Dinheiro: Não só a carreira lhe traz dinheiro, mas também este lhe chegará por vias não esperadas, tudo isto devido à influência da estrela da sorte Jin Yu Lu (金舆禄, grande fortuna). Esse imenso dinheiro dar-lhe-á uma enorme satisfação, ocultando as dificuldades e o grande esforço que teve com a carreira. Os nativos de Cão nascidos em: 1994 – Terão um poderoso suporte para atravessar a barreira e atingir o lugar de chefia. Por isso, tente aprender sobre todas as posições que vai superintender. 1970 – Devido ao suporte e cooperação com o seu sócio (parceiro de trabalho), a sua carreira progride sem dificuldades. Se chegou agora a patrão, terá os primeiros seis meses sempre muito ocupado e só no segundo semestre conseguirá respirar. Ano propício para os nativos masculinos terem facilmente acidentes e por isso, no início do ano deverá ir ao templo oferecer sacrifícios aos Deus do Ano. Importante é também celebrar o seu aniversário. 1982 – Ano para mostrarem completamente as potencialidades. Criativo ano para abrir uma nova via. As nativas femininas deverão ter cuidado, pois facilmente poderão ir parar à sala de operações no hospital. Já os nativos masculinos deverão mudar e ter mais calma. 1958 – Ano ocupado com muito trabalho, mas terá imensas oportunidades para atingir um novo patamar. Ao mesmo tempo, deverá cuidar da saúde e manter uma vida regrada. 1946 – Continuará este ano ainda com sorte; quer vento tem vento, quer fogo tem fogo, quer dinheiro também ele vem ter consigo. Apenas não pode cooperar com um parceiro nativo de Cão. Com tantas facilidades a conseguir tudo, tenha cuidado pois poderá perder a cabeça e sem pensar bem, cria problemas aos outros e a si mesmo, sobretudo à sua saúde. Porco O que ocorreu no ano passado, não importa se foi bom ou mau, já passou. Este ano você não é o melhor, mas na sua área consegue que a flor desabroche e dê frutos. Vai ser um ano para recordar. Carreira: A super estrela da sorte Tai Yang (太阳), o Sol) traz-lhe boa energia, confiança, optimismo, brilhantes perspectivas e grande actividade para desenvolver qualquer assunto que lhe interesse. A estrela da sorte Wen Chang (文昌), deus dos Letrados e da Literatura) propiciar-lhe-á o interesse em estudar novas matérias, sobretudo arte e cultura, e se por aí seguir conseguirá abrir uma nova carreira. As estrelas da sorte Tai Ji Gui Ren, (太极贵人) e Tian Guan (天官) trazem boas relações sociais e mesmo nas suas viagens encontrará pessoas que se tornarão seus amigos e dar-lhe-ão novos apoios e ajudas. A estrela da sorte Tian Chu (天厨, Cozinha do Céu) leva-o a estudar como cozinhar para preparar boa comida, e se por um lado lhe trará boa vida, por outro pode ser mais uma nova carreira que se lhe abre. Ano relaxado pois faz o que gosta e por isso, se encontrar algo de interessante siga em frente pois não precisa de pensar no que os outros dizem. As duas más estrelas, Tian Kong (天空, Vazio Céu) e Hui Qi (晦气, Energia Suja), afectam-no e colocam-lhe dúvidas ao tomar decisões, criando-lhe indecisões e levam a ter por vezes hipótese de ser enganado. Também o seu explosivo temperamento pode destruir cooperações e relações, sendo por isso importante manter a calma e pensar antes de intervir. Não deixe o lado emocional tomar conta de si. Amor: A estrela da sorte Xian Chi (咸池, propícia o casamento e boas relações) coloca os nativos solteiros a não se sentirem sós e a sua energia solar atrair os que estão ao seu redor. Faça o favor de preparar o seu casamento e use a boa oportunidade dada por a dupla Festa da Primavera. Pode mesmo ter um filho, tal é o estado amoroso em que vive este ano. Para os casais, ano de plena comunhão a atingir a plenitude no relacionamento, onde o amor se sobrepõe a tudo o resto. Saúde: Há boas notícias para si; como é ano de gostar de estudar e um dos seus interesses está em aprender sobre os alimentos e suas propriedades, sendo estes a essência da origem dos medicamentos, será a comida que confecciona a servir de tratamento ou prevenção de doenças e ao investir nesse campo prepara um ano saudável. Para os nativos masculinos, tenha cuidado com os rins e próstata. Já para os nativos femininos preste atenção a problemas com os seios e útero. Os nativos nascidos no Outono e Inverno devem ter redobrados cuidados. Dinheiro: Com os bens materiais controlados, pois a sua carreira está satisfeita, e o Sol a brilhar, estando as suas relações em harmonia, vive no amor e nada mais parece fazer falta. Os nativos de Porco nascidos em: 1983 – Com base na sua anterior preparação é ano para agarrar o momento, que o vai impulsionar até limites nunca atingidos. É o melhor de todos os nativos de Porco. 1995 – Terá grandes hipóteses de ser promovido, ou iniciar o seu próprio negócio e enquanto trabalha arduamente não se esqueça de estudar para se aperfeiçoar. Não precisa de pensar quanto vai ganhar, ou perder, pois é ano de apenas lavrar a terra e prepará-la para lhe vir a dar riqueza. 1971 – Terá boas relações sociais, que lhe trarão grandes ajudas. Adorará estudar Civilizações e a cultura gastronómica e seguindo esta via conseguirá quebrar a rotina e respirar novos ares. 1959 – Está ainda cheio de energia e terá um novo desenvolvimento na carreira. Os seus antigos planos podem sair da gaveta e realizarem-se. Mas tudo isto, degrau a degrau para não se cansar em demasia e afectar a saúde. 1947 – Com estável rendimento económico, tenha uma vida relaxada e sem discussões. Para iniciar o ano, vá fazer um exame clínico. Terá também de tomar conta da saúde do seu parceiro.