João Luz EventosCinemateca Paixão | Festival da Juventude de Macau em exibição até 24 de Setembro O Festival de Cinema da Juventude de Macau “On The Road” irá exibir até 24 de Setembro longas e curtas-metragens de cineastas e estudantes locais. No dia da abertura do festival, foi escolhida a melhor curta-metragem da autoria de estudantes de Macau, “Sea” de Chan Chon Sin, da Universidade de Macau A estrada rumo a uma carreira no cinema é longa e sinuosa, feita de altos e baixos, com o destino só alcançável para quem não desiste. “’On The Road’ pretende atribuir créditos ao desenvolvimento de filmes de Macau, que sempre esteve na estrada sem parar com esforços ao longo de gerações, desde curtas-metragens de estudantes até à primeira longa-metragem”, indica a Cinemateca Paixão num comunicado de apresentação do “On The Road” Festival de Cinema da Juventude de Macau. A festa de celebração da sétima arte começou na passada sexta-feira e estende-se até ao dia 24 de Setembro, com a exibição de 19 filmes e criadores de Macau e 11 películas de produções do Interior da China, Hong Kong e Taiwan. No dia da abertura, um painel de juízes formado por professores de várias instituições de ensino superior de Macau, assim como profissionais locais da indústria do cinema escolheram um filme distinguido com o Prémio de Melhor Curta-Metragem, de entre uma lista de curtas submetidas a concurso por jovens estudantes. A obra vencedora foi “Sea”, realizada por Chan Chon Sin, da Universidade de Macau, que conquistou o “paladar” fílmico do júri. A Cinemateca Paixão refere que os jurados consideraram a “cinematografia e o controlo equilibrado entre o som, a imagem e a performance” elementos que “criam uma sensação de contraste entre a abertura do mar e a prisão do destino”. Miúdos e graúdos Durante a Cerimónia de Abertura e Entrega de Prémios na Cinemateca, os juízes revelaram a lista de curtas seleccionadas, e apresentaram aos alunos certificados e prémios monetários. A lista de curtas incluem ” Imprisoned ” por Jacky Lao (Universidade Politécnica de Macau), “One Day That Day”, de Angie (UM), “Influencer”, de Liu HanCong (UM), “Memory”, de Larry Leng (UM) e “Two”, outra curta-metragem de Chan. O “On The Road” exibe também filmes já consagrados. Como “Madalena” de Emily Chan, que será exibido no dia 24 de Setembro, às 21h30. Hoje, às 21h, a Cinemateca Paixão apresenta “My Prince Edward”, o filme de estreia da realizadora de Hong Kong Norris Wong. O guião tem como epicentro um centro comercial em Prince Edward, na região vizinha, especializado em artigos e serviços para casamentos e a relação entre uma lojista que vende vestidos de noiva e um fotógrafo de casamentos chamado… Edward. No próximo sábado, às 21h30, é exibido “Mama”, do realizador chinês Dongmei Li, uma história familiar passada na China rural que tem como protagonista uma menina de 12 anos que numa semana assiste a três mortes e dois nascimentos. Em relação às curtas-metragens, a organização reservou quinta-feira, sábado e 20 de Setembro para mostrar o melhor que se faz em Macau no género.
Andreia Sofia Silva EventosCCCM | Bicentenário do jornal “Abelha da China” celebrado em Lisboa Os 200 anos da criação do primeiro jornal de língua portuguesa em Macau serão celebrados na próxima segunda-feira no Centro Científico e Cultural de Macau com uma conferência que contará com uma série de investigadores e historiadores ligados à RAEM, como é o caso de Tereza Sena, Jorge Arrimar ou Cátia Miriam Costa, entre outros. Será ainda lançado o livro “A Abelha da China nos seus 200 Anos: Casos, Personagens e Confrontos na Experiência Liberal de Macau” O primeiro jornal em língua portuguesa de Macau foi criado há 200 anos e chamava-se “A Abelha da China”. Para celebrar a efeméride, que marca o início da presença da imprensa em português no território, algo que perdura até aos dias de hoje, o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) acolhe, na próxima segunda-feira, uma palestra que conta com vários investigadores e historiadores ligados ao território que vão apresentar as diversas perspectivas históricas e políticas de um jornal ligado aos ideais liberais de 1820. Ao HM, o académico Duarte Drumond Braga, um dos coordenadores do projecto, explicou a importância de celebrar esta data. “É o primeiro jornal de Macau e o primeiro de uma longa linhagem que continua até hoje. Ele está ligado ao movimento Liberal e a alguns partidários desse movimento em Macau, além de que era um jornal com uma orientação política bastante marcada nesse sentido. Penso que vale a pena ser celebrado.” O painel de oradores conta com intervenções de Tereza Sena, historiadora e ex-residente de Macau, que apresenta o painel “Ascensão social e política de um natural de Macau durante o Liberalismo: António dos Remédios (ca.1770.-1841) – o primeiro passo”. Destaque ainda para a presença de Jorge Arrimar, poeta ligado a Macau que vai falar sobre a ligação do Ouvidor Arriaga, importante figura política do território à época e “um dos grandes inimigos” d’A Abelha da China, recordou Duarte Drumond Braga. “Ele era a figura mais poderosa de Macau nessa altura e partidário de um grupo rival às pessoas que estavam ligadas ao jornal.” O programa inclui também a participação de Jin Guoping, do Instituto de Macauologia da Universidade de Jinan, em Cantão, e também ligado ao Centro de Estudos de Macau da Universidade de Macau, que abordará o tema “A Abelha da China estudada na Macauologia”. Duarte Drumond Braga entende ser muito provável que o jornal fosse lido “por uma elite” da sociedade. A Abelha da China tinha artigos de opinião mas funcionava também como uma espécie de Boletim Oficial, que só seria criado muito depois. “Eram publicados resumos das sessões do Leal Senado, mas era um jornal que também tinha uma parte literária. Tinha uma posição política forte, porque o grupo liberal [ligado ao jornal] conseguiu chegar ao poder, embora sejam expulsos depois. O jornal também deu depois muitas informações sobre esse processo.” O coordenador desta iniciativa entende que faltam ainda estudos académicos sobre o jornal. “Há um trabalho muito bom, feito pelo Daniel Pires, que é o ‘Dicionário Cronológico da Imprensa de Macau no Século XIX’, mas que não esgota estes materiais. Não só a Abelha da China como os jornais que começam a aparecer na altura estão ainda por estudar. Agnes Lam [docente na Universidade de Macau], por exemplo, deu um bom contributo, mas faltam ainda alguns estudos.” Livro lançado Acima de tudo o programa destaca a criação do primeiro jornal de língua não chinesa “no contexto da Revolução Liberal de 1820 e da primeira formulação do constitucionalismo português”, aponta o texto de apresentação do evento. Marcado, portanto, pelas doutrinas liberais da época, a Abelha da China “foi uma breve mas intensa publicação periódica (1822-23) que veio dar corpo à ideia de que não há verdadeira liberdade sem imprensa e sem a liberdade desta”. “Plenamente alinhada com os debates do seu tempo, o seu projecto seria tomado por outros agentes políticos. Todavia, o seu legado de insubmissão acabaria por vingar”, aponta a mesma apresentação, que destaca ainda o facto de o periódico defender “uma ideia de autonomia sempre ligada à oligarquia local”. “Nesse sentido, o jornal mostra também as alianças e os contactos múltiplos que o atravessam: com a China, onde sempre se enraizou, a Metrópole [Lisboa], o Brasil e Goa”. “Por entre as suas páginas circulam figuras e influências de todas as proveniências, mostrando como Macau se integrava plenamente nos movimentos políticos e culturais do seu tempo, e onde a comunidade chinesa se encontrava ativa face a eles. E daí os casos, as figuras e os confrontos que gravitam em seu torno, e que os ensaios de historiadores e críticos da cultura e do jornalismo dissecam nesta obra”, lê-se ainda. A sessão de segunda-feira, 12, conta ainda com a apresentação do livro “A Abelha da China nos seus 200 Anos: Casos, Personagens e Confrontos na Experiência Liberal de Macau”, que reúne artigos da autoria dos investigadores Cátia Miriam Costa, Jin Guoping, Jorge de Abreu Arrimar, Pablo Magalhães e Tereza Sena. A obra “tem por foco o primeiro jornal de Macau em língua portuguesa analisado a partir de diversas áreas das humanidades” e inaugura “a nova coleção de livros de História com chancela do CCCM, sendo feita em parceria com a Universidade de Macau”. Acima de tudo, o livro pretende mostrar “um renovado interesse na história de Macau, na história do jornalismo na China e em língua portuguesa, e também na história sóciopolítica e cultural do território”.
Hoje Macau Eventos MancheteA Abelha da China | Três fundadores: um cirurgião, um padre e um militar Por João Guedes O cirurgião José de Almeida, o padre António de S. Gonçalo de Amarante e o tenente-coronel Paulino Barbosa: estes, três dos personagens que assistiram em 1822 ao nascimento do primeiro jornal de Macau, que seria também o primeiro da Ásia Oriental. Paredes meias, vencidos, mas preparando desde logo a desforra, o juiz Miguel de Arriaga Brun da Silveira, o governador José Osório de Castro Cabral e Albuquerque e o barão de S. José de Porto Alegre, entre outros, que rejeitaram ab initio essa filha do escândalo que era a liberdade de imprensa dada pela revolução do Porto às colónias da Coroa. «A Abelha da China», semanário das quintas-feiras de Macau, que era também (espante-se!) a folha oficial do governo, reivindicou para si o estatuto de primeiro jornal de toda a Ásia a Leste da Índia, e para o seu redactor o de primeiro jornalista de um mundo onde, ironicamente, existia imprensa há mais de mil anos. O nascimento do jornal resultou de um «parto» difícil e dramático, provocado pelo choque inevitável do liberalismo que avassalava o mundo, contra o «status quo», antigo e aceite, do regime monárquico absoluto. Este, em matéria de palavra escrita, vinha, com ligeiras alterações (essencialmente provocadas pela expansão colonial de quinhentos), a percorrer imperturbável a história desde o primeiro Rei, envolto ainda no pó da catedral de Zamora e empunhado os códices antiquíssimos dos visigodos e os textos dos doutores da Igreja, como se fossem os únicos produtos possíveis das máquinas de Gutenberg. A imprensa Ocidental, também pioneiramente introduzida na Ásia pelos Portugueses (Jesuítas) do século XVI, vivia de facto há séculos em Macau, mas só a lei resultante da Revolução Liberal de 1820 permitiria o aparecimento de um jornal semelhante aos que desde há mais de cem anos formavam a opinião pública e influenciavam os destinos políticos das nações europeias. Antes de lei libertadora apenas obras pias saíam das prensas da Diocese de Macau. «A Abelha da China», cujo nome comportava uma clara intencionalidade política (picar o «establishment»), viu a luz do dia numa quinta-feira, dia 12 de Setembro de 1922. «Havendo o Leal Senado incumbido a redacção do presente periódico, julgamos ser uma das principais obrigações de um redactor o expor com verdade e com franqueza os motivos que aceleraram a gloriosa façanha sucedida no dia 19 do mês passado, dia memorável, em que os macaenses arvoraram o Pavilhão da Liberdade e derrocaram o horrendo colosso do Despotismo, que tantos anos haviam suportado. Confessamos, todavia, que esta tarefa é superior às nossas partes para a justificação de um facto que pôs termo à arbitrariedade e que consolidou os direitos e o deveres do Cidadão, instalando-se entre as salvas de um contentamento público, e incessantes vivas de alegria, um Governo Provisório, segundo a vontade geral de todos os moradores, o qual, no pouco tempo da sua instalação, tem dado sobejas provas do seu patriotismo, do seu zelo e da sua actividade pelos interesses nacionais». Este, um excerto do primeiro editorial da «Abelha», saído do ousado aparo de Frei António de S. Gonçalo de Amarante. A citada prosa definia com resolução e desassombro os objectivos de jornal, situando-o claramente no campo do liberalismo, não como instrumento passivo das novas ideias, mas como arma ideológica que não cessaria desde o primeiro dia de desferir contundentes estocadas sobre a «reacção» legitimista. Num terreno completamente «minado», desde logo a «Abelha» serviu os liberais como instrumento de defesa (mantendo embora sempre a ofensiva), tribuna de doutrinação política e porta-voz. O projecto foi o resultado natural de um tácito consenso, forjado e amadurecido no decorrer de um processo político que se desenvolvia em crescendo. O liberalismo chegava à cidade nos brigues e escunas da longínqua Metrópole através de oficiais e funcionários, que eram cada vez em maior número. Na colónia portuguesa, por seu turno, os portadores do novo espírito juntavam-se a americanos e ingleses, difundido as ideias e tornando mais consistentes as consciências liberais. À medida que estas hodiernas concepções germinavam, abria-se também um fosso entre dois campos. Num postava-se uma oposição heterogénea e do outro o poder localizado em torno da Ouvidoria, Leal Senado e do Governador, instituições que formavam o governo odiado. Uma história por fazer «A falta de confiança, pois, que ele ( o povo de Macau) tinha no governo e o aferro com que este pretendia entronizar-se, valendo-se para esse fim de modos não só impróprios, mas até indignos do carácter português, foi a causa principal por que, reiteradas vezes, se apresentou ao Senado a necessidade que havia de um governo que obstasse e ser visse de barreira à torrente impetuosa de males que ameaçavam o comércio; um novo governo que impedisse uma inevitável e próxima anarquia; pois que tudo lhe augurava um futuro assaz desagradável de das mais funestas consequências, uma vez que as coisas continuassem do mesmo modo que até ali continuado haviam, isto é: conservando-se no lugar uma das autoridades (o Ouvidor Miguel de Arriaga, cuja exclusão exigiam) como fonte e origem donde brotava todo o mal ao comércio e, por consequência, à cidade inteira». Isto dizia a «Abelha», resumindo as razões latentes de uma revolta que apenas esperava o pretexto para eclodir. Tal pretexto surgiu logo que chegaram as primeiras notícias da revolução de 24 de Agosto de 1820, levando-a a irromper triunfante nas ruas de Macau, arrasando oposições com tanto ímpeto quanto dura tinha sido a repressão. A história do Liberalismo em Macau continua ainda por fazer, mas pode dizer-se as forças em confronto no Território possuíam, fundamentalmente, as mesmas características das de Portugal, segundo também um percurso político semelhante. Nos anos da «Abelha» a colónia tornou-se um espelho pequenino dessas convulsões, que reflectia quase passo a passo. Como afirmava o «Abelha», Macau estava desde há muito sujeita à vontade de um reduzido número de pessoas que geriam a cidade segunda a flutuação dos seus interesses pessoais, ligados em exclusivo ao comércio do ópio, o único sustento da economia local. Capitaneava este grupo Miguel de Arriaga Brun da Silveira, o jovem e talentoso magistrado que, às suas qualidades de senhor do governo e diplomata exímio, juntava a de hábil comerciante activo e bem-sucedido. Multiplicando os lucros, ignorava a lei e pouca importância concedia à ética, dedicando-se indiferentemente – e com o mesmo entusiasmo – à magistratura, ao governo de Macau e ao comércio. Revestidos de poderes muito mais amplos do que os de um juiz dos nossos tempos, comportava-se como autêntico governador, confinando este à tarefa de referendar despachos que oficialmente deveriam sair exclusivamente da sua lavra. Manter a paz nos quartéis e o sossego nas ruas eram as únicas competências que Arriaga lhe permitia exercer. Apoiado numa rara habilidade política, Arriaga aliara a si a maior fortuna de Macau, casando com a filha do Barão de S. José de Porto Alegre. Esta figura, extravagante e perdulária, que vivia do comércio do ópio, tinha entrada fácil (segundo voz corrente) nos corredores da corte do Rio de Janeiro, o que convinha plenamente ao Ouvidor. Para além de Porto Alegre, um grupo fiel acompanhava Arriaga, apoiando-o em todas as decisões que eram, superior e invariavelmente, abençoadas pelo Visconde de Rio Preto, Governador-Geral da índia, senhor todo-poderoso do Império Colonial português, valido de El-Rei D. João VI e protector de Arriaga. Talento, visão política e probidade eram as cores com que era visto embora, à boca pequena, circulassem histórias que o enlameavam. Estes segredos não teriam tido consequências se não tivesse entrado em cena a «Abelha», transformando os sussurros em letra de forma. As revelações constituíram pedra fundamental da campanha de destruição da figura do poderoso Ouvidor, encetada logo após os primeiros golpes resultantes dos ecos da Revolução do Porto, que abalaram o seu poder. Com todo o entusiasmo, a «Abelha» demonstrou desde logo até que ponto era possível manipular palavras, transformando-as em verdadeiros projécteis de efeitos capitais. Ao mesmo tempo instituía, pode dizer-se, uma escola e tradição que nunca morreriam na imprensa de Macau: as «Cartas ao Director» (rubrica que no semanário recebia o título lacónico de «Correspondência») eram dessa faceta exemplo, ao dar abrigo à opinião alheia a fim de personalizar ataques, ficando reservado ao redactor o papel de crítico de sistemas e propagandista de ideias. Arriaga passa então a ser o alvo preferencial desta orientação, como consta da primeira carta aberta dirigida contra ele. «A experiência de uma vintena de anos que o referido senhor esteve no governo mostrou-me o quanto era meu inimigo declarado – como é público nesta cidade – quanto devia ser meu amigo, pois, se se lembrasse, eu nunca o incomodei e sempre o servi em tudo quanto me ocupou – o que posso mostrar por documentos, uns assinados por seu próprio punho e outros por alguns dos seus apaniguados – com bastante prejuízo meu; estou certo que deixaria de me perturbar», dizia Francisco José de Paiva, abastado comerciante. Na carta aberta, Paiva recusava a Arriaga o direito de lhe contabilizar os bens, dizendo que «se ele, Ministro, julga dos meus teres pelo negócio que tenho feito em Macau, quanto não deve o público julgar dos teres dele, Ministro!!!… O meu giro comercial tem sido de duzentas e cinquenta, a trezentas mil patacas; ora pode isto comparar-se com a soma de três a quatro milhões de patacas com que o público diz que ele, Ministro, negociava e em cujo tráfico deixara (segundo o mesmo público) muitos dos seus credores numa total ruína?…» Francisco de Paiva terminava a pública missiva citando Madame Deshouliers: «C’est prendre assez bien ses mesures, De venir conter ses raisons Après avoir fait des injures». Oposição heterogénea Um excerto de «Cândido», de Voltaire, ou de «O Contrato Social», de Rousseau, talvez se tivesse mostrado mais apropriado que aquela citação da poetisa pastoral do século XVI. Mas o remate erudito não deixou de fazer o desejado efeito: mostrar erudição e acentuar o protestantismo francês. Destacada marca ideológica dos progressistas de então, o francesismo militante dava azo e fundamento às acusações de «Maçons» e «Traidores à Pátria» proferidos pelos absolutistas. Em resposta, a «Abelha» inseria o epíteto «Corcunda» no prontuário das suas diatribes, oficializando a designação mais pejorativa que a burguesia revolucionária dava, em Portugal, aos absolutistas. Chegava por fim a hora da vingança e da lavagem de afrontas. Sem parte no comércio e cingidos à rígida cadeia de comando que terminava no quartel-general do Governador, grande número dos militares pendia abertamente para os círculos de Francisco de Paiva, embora por motivos muito mais políticos que pessoais. Em grande parte oriundos dos quartéis do Brasil – onde o liberalismo campeava forte – constituíam inimigos tanto mais perigosos, quanto possuíam as armas que os senhores do poder não tinham. Num campo próximo, como estes – longe dos negócios e confinados ao espartilho hierárquico da Diocese comandada com pulsos de ferro pelo Bispo D. Francisco de Nossa Senhora de Luz Chacim – muitos elementos destacados do clero macaense, cultos (e talvez por isso, liberais) e militantes, concentravam-se no Seminário de S. José onde formavam o corpo docente. Comerciantes, padres e militares todos se uniam, ainda que por razões diversas, a fim de abater Arriaga. Pura vingança, militância política, luta pela autonomia de Macau contra a supremacia administrativa de Goa, negócios embargados ou desejos incontidos de poder, constituíam razões válidas e suficientes para obter a inscrição no partido Liberal, amplo e hospitaleiro guarda-chuva da unidade contra o governo. O desencadear da ofensiva remonta à Sé, quando Frei António de S. Gonçalo exprimiu, em timbrado latim, a «satisfação dos povos pelo juramento da Constituição Portuguesa». Ressoando nas abóbadas, as modulações da sua oratória caíam como gotas de ácido sobre a mitra do Bispo Chacim que, impotente, nada pôde fazer senão as primeiras notas do «Te Deum Laudamos» (que a «Abelha» diz ter sido vibrantemente secundado pelos fiéis que enchiam a catedral). O tenente-coronel Paulino Barbosa encabeçou o ataque às instituições, conquistando o Leal Senado através de votação esmagadora do povo (exclusivamente português, entenda-se), reunido no largo fronteiro. Mas a vistosa manifestação internacional de apreço não voltaria a repetir-se face ao rumo dos acontecimentos. De facto, com a mesma alegria com que festejava a Constituição, Macau iluminava-se de novo a breve trecho para festejar a abolição da Constituição e o regresso de D. Miguel e, apenas alguns meses mais tarde, ainda para festejar de novo o ressurgimento da Constituição, que festivamente abolira pouco antes. Na confusão geral, só o «Abelha» parecia perfeitamente consciente do seu papel, publicando os textos orientados da ideologia e os inflamados artigos que se destinavam a manter vivo o entusiasmo popular. Neste âmbito, aos mesmo tempo que, fastidiosamente, explicava as novas orientações da alfândega, explorava em estilo de panfleto o choque provocado pelo assassinato de Luís Prates, um conhecido e benquisto liberal, atribuindo o acto aos «Corcundas». Em seguida, denunciava com contagioso dramatismo a tentativa de sublevação e detenção nos calabouços da fortaleza do Monte do Ouvidor Arriaga e o envio, a ferros, para Goa, do Governador Castro e Albuquerque. A Gazeta cinzenta Manter viva a chama popular em torno do novo regime era, aliás, uma tarefa vital para o «Abelha», face à presença, ao largo, da fragata «Salamandra» do coronel Garcez Palha, que procurava tenazmente a falha capaz de permitir o desembarque dos duzentos homens e artilharia que trazia da capital da Índia portuguesa, para restabelecer a ordem miguelista. Às intenções de Garcez Palha juntavam-se as manobras de Arriaga que, tendo escapado com suspeitas cumplicidades da sua cela do Monte, conspirava em Cantão. Os mandarins seus amigos mostravam-se relutantes em intervir, mas o cerco em torno de Macau constituía por si só eficaz guerra de nervos, que abria irreparáveis brechas no moral da cidade. No dia 18 de Setembro de 1822, o estado de descrença atingiu o seu ponto mais baixo, permitindo o desembarque dos homens da «Salamandra» que, sem um tiro, ocuparam em poucas horas todos os quartéis da cidade. Depois de ter sobrevivido ao auto-de-fé de 21 de Agosto, quando os «Corcundas» já levantavam a cabeça a ponto de se reunirem para queimar, simbolicamente à porta da Ouvidoria, um exemplar do último número do jornal, a «Abelha», extenuada, já não possuía forças que lhe permitissem continuar a fazer fogo sobre a «reacção». Impresso o número 67, num sábado 27 de Dezembro, chegou com ele o fim do sonho. Frei António cobriu nesse dia as máquinas e saiu da Tipografia do Governo, dando a última volta à chave da pesada porta antes de abalar para Calcutá, escapando à repressão que se seguiria. À mesma hora, o cirurgião José de Almeida fugia para Singapura, trocando ali a política pela horticultura científica, opção que levou o seu nome a uma das principais avenidas da cidade-estado do Sudeste Asiático, que ainda hoje se mantém: «D’Almeida Street». O tenente-coronel Paulino Barbosa, chefe da revolução ou «do destempero» (como afirmava Garcez Palha), arrancado (segundo este) pelos soldados do quarto de um amigo, onde se escondia debaixo de uma cama, partia no porão da «Salamandra» para Goa, a fim de ser submetido ao julgamento de Rio Preto que, destituído e reintegrado no governo da Índia por uma vertiginosa sucessão de golpes e contra-golpes, se encontrava de novo no poder. Os corredores do Seminário de S. José esvaziam-se de professores (presos ou em fuga), enquanto os calabouços do Monte e da Guia se enchiam em resultado das depurações nas fileiras, e dos julgamentos políticos civis. As vagas abertas não eram preenchidas: ao absolutismo escasseavam os quadros capazes de as ocupar. José Osório de Castro de Cabral e Albuquerque tinha perdido a face, de um modo que não permitiria a sua readmissão no governo de Macau. Entretanto, Arriaga voltava, reocupando o gabinete da Ouvidoria de onde tinha sido expulso. Afectado pelo reumatismo gotoso, já não adoptava a mesma postura soberana de antigamente, atrás do mogno resplandecente da vasta secretária em que despachava. Mas antes da doença lhe pôr ponto final na carreira e na vida aos 47 anos de idade, ainda disfrutaria por alguns anos da faculdade de mandar só que, ao contrário dos tempos de glória, tinha agora de partilhar o poder de que havia sido único senhor ao longo de duas décadas. Ainda que fisicamente debilitado, o arguto Arriaga não deixou de retirar lições das «desgraças» de um ano. Por isso, foi sem hesitações que se apossou da chave que Frei António, disciplinadamente, devolvera antes da fuga, reabrindo a Tipografia do Governo. O «Abelha» tinha constituído para os Liberais uma surpreendente arma que ainda poderia continuar a produzir resultados para os outros, pensava Arriaga. Nesta linha de pensamento, as máquinas de Frei António recomeçaram a laborar, mas a fábrica de ideias de outrora, produtora de opinião e divulgadora do progresso, havia sido mortalmente liquidada. Das prensas, agora controladas por Arriaga, saía regularmente apenas uma publicação cinzenta e sem chama, denominada «Gazeta de Macau». Finalmente, fiel à sua vocação de Boletim Oficial rigorosamente depurado à lupa de suspeitos descuidos ou equívocas imprecisões, de acordo com os mais estritos regulamentos da censura, divulgava rotineiramente o ponto de vista do poder constituído. Caminhando para a inutilidade à medida que a normalização política se apossava da cidade, tornava-se cada vez mais um dispêndio orçamental desinteressante, que se extinguiria naturalmente em Dezembro de 1826. O destino da «Gazeta» do governo seguia e culminava, aliás, a tendência irreversível do processo histórico, que não admitia a repetição de cenários. Assim, Arriaga desapareceu e, com ele, a poderosa Ouvidoria de Macau, que se desvaneceria pouco depois.
Andreia Sofia Silva EventosMAM | Percursores da arte moderna em exposição a partir de hoje Obras de pintores como Ennio Belsito, Kwok Se e Armando Vivanco, entre outros, podem ser vistas a partir de hoje no Museu de Arte de Macau na exposição “Prelúdio do Estilo Moderno de Macau”, que revela, em cada quadro, os primórdios da arte moderna no território O Museu de Arte de Macau (MAM) apresenta, a partir de hoje, a exposição “Prelúdio do Estilo Moderno de Macau”, que pode ser vista até ao dia 7 de Maio do próximo ano. A mostra revela algumas das obras mais marcantes do arranque do modernismo em Macau, e inclui quadros como “Mulher carregando uma criança” de Ennio Belsito, datado de finais do século XIX. De destacar que Ennio Belsito, pintor italiano, é autor de um dos quadros mais conhecidos de Manuel da Silva Mendes, que viveu em Macau entre 1901 e 1931 e é tido como um dos intelectuais mais importantes da primeira metade do século XX no território. Os amantes da arte podem ainda ver trabalhos de pintores como Armando Vivanco, nascido em 1936 e falecido em 2012, cujo quadro “O Passeio Nocturno”, datado de 1984, estará exposto no MAM. Destaque ainda para a presença da obra “Cena pitoresca de porto pesqueiro”, de 1964 e da autoria de Kwok Se, pintor que viveu entre os anos de 1919 e 1999. “Estúdio Nello”, de Chen Shou Soo, pintor nascido em 1915 e falecido em 1984, será outro dos nomes presentes na mostra. A exposição tem como objectivo traçar, “através de mais de 150 obras com um estilo distinto, da autoria de 60 artistas”, os percursos pela pintura moderna de artistas de Macau ou de artistas com importantes ligações a Macau, desde o início do século XX até 1986. Aposta na casa Grande parte da exposição foi construída com peças pertencentes às colecções do MAM, enquanto que outras obras de arte “foram emprestadas por pintores e coleccionadores”, existindo uma “predominância das pinturas a óleo, complementadas por aguarelas, esboços e esculturas”. Uma nota do Instituto Cultural aponta que a ideia por detrás da colecção exposta se centra “em figuras e eventos na área artística de Macau, entrelaçando experiências de associações artísticas importantes, grandes mestres e seus discípulos em diferentes períodos”. O objectivo é que o público possa “rever este processo de desenvolvimento das belas-artes modernas de Macau cheio de sentimentos românticos”. A mesma nota dá conta que o século XX “marca a formação do estilo artístico de Macau bem como seu grande desenvolvimento e florescência”, pelo que as obras deste período “nos permitem olhar, em retrospectiva, os percursos dos artistas daquela geração, numa época de recursos escassos e com o espírito de ‘combinação ecléctica da China e do Ocidente, do passado e do presente’, abrindo um novo capítulo para a localização da pintura ocidental e definiram o tom para a pintura ocidental de Macau”.
Hoje Macau EventosAlbergue SCM | Lanternas do coelhinho em exibição a partir de amanhã Depois de um interregno devido à pandemia, a mostra “Lanternas do Coelhinho – Uma Exposição de Carlos Marreiros e Amigos – Parte 17 – Lanternas de 2009 a 2022, por ocasião da celebração do 73º aniversário da República Popular da China” será inaugurada amanhã, às 18h30, no Albergue SCM. A edição deste ano reúne um total de 28 lanternas criadas por artistas, designers e diversas personalidades de Macau e de outros países. A mostra fecha portas a 19 de Outubro. No mesmo local vai decorrer a habitual festa de celebração do Festival da Lua, que decorre amanhã, entre as 18h30 e as 21h30. O evento conta com um espectáculo protagonizado pela Tuna Macaense, além de ter sessões de caligrafia chinesa para que todos os participantes possam aprender a arte. Além disso, as crianças podem receber uma lanterna com a figura de um coelho trabalhada de forma criativa em papel e outros materiais, sendo que, a partir das 17h, serão distribuídas caixas com petiscos referentes ao Festival da Lua.
Andreia Sofia Silva EventosCinema | Documentário sobre Anthony Bourdain abre festival O Festival Internacional de Documentários de Macau começa no dia 16 de Setembro com a apresentação de “Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain”. O documentário que estreou no ano passado centra-se na vida e carreira do conhecido chefe de cozinha, crítico gastronómico e apresentador de televisão que correu o mundo, incluindo Macau, a mostrar iguarias Um documentário sobre a vida e carreira de Anthony Bourdain, o famoso chef, crítico gastronómico e apresentador de televisão é a aposta para a abertura da sexta edição do Festival Internacional de Documentários de Macau (MOIDF, na sigla inglesa), que arranca no dia 16 de Setembro, sexta-feira. O evento, organizado pela Associação de Arte e Cultura – Comuna de Han-Ian conta com documentários de vários países e decorre até ao dia 10 de Outubro, sempre com exibições nos cinemas CVG do NOVA Mall, na Taipa. O filme realizado por Morgan Neville, intitulado “Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain” revela um lado íntimo do autor, já falecido, fora dos ecrãs. O chefe de cozinha, que chegou a filmar um episódio do programa “No Reservations” em Macau, revelando os segredos da cozinha cantonense e macaense, teve uma vida cheia de altos e baixos, marcada pelo sucesso, mas também por alguma instabilidade emocional e consumo de drogas. A vida de pessoal de Bourdain, que cometeu suicídio, é aqui revelada através de testemunhos da ex-mulher, amigos e colegas, num documentário que convida à reflexão sobre o contraste entre o lado pessoal e público na vida de uma celebridade. No dia seguinte, dia 17, “Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain” volta a ser exibido, fazendo-se acompanhar pelas películas “Boiling Point”, de Philip Barantini, que relata a vida de um outro chefe de cozinha, Andy Jones, que trabalha num dos melhores restaurantes de Londres, mas que se debate com problemas de dívidas e uma vida pessoal caótica, um pouco à semelhança das vivências de Bourdain. No mesmo dia é também exibido “Flee”, um documentário de animação com a assinatura de Jonas Pooher Rasmussen que retrata a vida de Amin Nawabi, um académico de 36 anos que vive há 20 anos com um segredo, o facto de ter sido uma criança refugiada do Afeganistão. Aposta local Com o tema “Outsider”, o Festival Internacional de Documentários de Macau propõe na sexta edição mostrar vivências de pessoas que estão à margem da sociedade. O cartaz aposta também na língua portuguesa com a secção “Sabor de Português” que inclui o filme experimental “Super Natural”, de Jorge Jácome, exibido dia 23 deste mês. No dia 26 de Setembro será apresentado “O Território”, um documentário de Alex Pritz focado na luta entre os últimos membros da tribo indígena Uru-eu-wau-wau e os agricultores que, apoiados pelo presidente brasileiro Jair Bolsonaro, pretendem explorar as suas terras, destruindo aos poucos o habitat natural da tribo. O cartaz do MOIDF inclui ainda uma secção destinada a apresentar o que de melhor se faz na área do documentário em Macau. Desta forma, os filmes da primeira edição da Competição e Exibição do Documentário de Macau serão exibidos nos dias 21 e 28, tal como as películas “The Lily Yet to Bloom (Director’s Cut)” e “21 Hours”. O primeiro, da autoria de Lei Cheok Mei, conta a relação da realizadora com a sua mãe, croupier num casino, uma profissão que, devido às constantes mudanças de horário, alterou por completo as rotinas e, sobretudo, as relações familiares. Lei Cheok Mei é de Macau e formou-se em cinema e realização na Universidade de Taipei. Por sua vez, “21 Horas” conta a vida diária dos estudantes transfronteiriços que todos os dias têm de passar a fronteira entre Macau e Zhuhai, o que lhes retira cerca de três horas ao dia, restando apenas 21 horas para as restantes actividades. O facto de viverem entre um lado e outro traz aos alunos uma diferença social e cultural e problemas de identidade, que são espelhados no filme. “21 Horas” conta com a assinatura de Kyla Liang, nascida em Zhuhai em 2001 e estudante de comunicação na Universidade de Macau. O “MOIDF”, além de mostrar alguns filmes oriundos da Coreia do Sul, traz também a secção “Realizador em Foco”, com a aposta no trabalho de Zhou Hao, realizador chinês conhecido por mostrar nos seus filmes diferentes perspectivas da sociedade do país. Serão exibidos alguns filmes do realizador, como “O Presidente da Câmara Chinesa” e “Algodão e Uso”. Para culminar o ciclo dedicado ao cineasta, o próprio Zhou Hao irá protagonizar uma masterclass que visa a interacção com o público local.
Andreia Sofia Silva EventosExposição | Taipa acolhe obras de Ernest Wong Weng Cheong A Associação Cultural Vila da Taipa apresenta, a partir de 14 de Setembro, a exposição do artista local Ernest Wong Weng Cheong, intitulada “Catch It Outside 2.0”. A mostra reúne gravuras apresentadas pela primeira vez em Macau. João Ó, presidente da associação, levanta a ponta do véu sobre as exposições futuras, que incluem artistas como Nino Bartolo e André Carrilho “Catch It Outside 2.0” é o nome da exposição que poderá ser vista na galeria da Associação Cultural Vila da Taipa a partir de 14 de Setembro. Da autoria do artista local Ernest Wong Weng Cheong, a mostra apresenta, pela primeira vez em Macau, uma colecção de gravuras em que o autor explora novas técnicas de gravura a três dimensões, misturando-as com técnicas mais tradicionais. João Ó, presidente executivo da associação, falou ao HM sobre os processos criativos que resultaram em “Catch It Outside 2.0”. “Ele combina uma técnica muito tradicional de gravura e depois faz uma simulação tridimensional de imagens. Reproduz e simula imagens em três dimensões, mas transforma-as em obras artísticas através dos métodos tradicionais. Por norma, vemos na gravura os trabalhos feitos na chapa e impressos sobre o papel, mas no caso dele é ele que produz as imagens, reconverte-as para a chapa e depois para o papel.” Para João Ó, esse aspecto “é muito interessante”, porque permite observar imagens fotográficas em técnicas de gravura, “uma combinação curiosa e nova para nós [como galeria] e para o mercado de Macau”. Os temas de Ernest Wong Weng Cheong vagueiam em torno da “natureza morta, como o tijolo, o vaso ou o frasco”, sendo que o artista faz depois uma “composição especial com elementos especiais, quase fictícios, criando espaços interiores com um rasgo de luz, e com elementos naturais bastante interessantes”. “No fundo, ele cria uma nova dimensão que obriga o observador a respirar um novo mundo. Quando olho para as suas gravuras sinto que posso passar para um outro lado e respirar um novo ar. Corporalmente, obriga-me a entrar na imagem, não há uma separação. Obriga-me a submergir e a entrar na obra de arte”, adiantou João Ó. Do Japão para Macau Foi com a mostra “Somewhere Still Wild”, com curadoria de James Wong, e que esteve patente na Casa Garden no ano passado, que João Ó teve o primeiro contacto com o trabalho de Ernest Wong Weng Cheong, formado em Belas Artes na Universidade de Londres. “Foi uma exposição muito interessante, das melhores que já vi em Macau, e cujo curador foi James Wong, que é conhecido como o mestre da gravura em Macau. Ernest Wong é discípulo dele, vi que se tinha formado numa das melhores escolas do mundo e que regressou a Macau, de onde é natural. Tendo percebido que ele não tinha tido, até então, muitas exposições individuais, entendi que era um artista aos quais era preciso dar valor e que ia de encontro ao mote da nossa galeria, que é o de apresentar novos artistas numa vertente mais experimental.” De frisar que “Catch It Outside 2.0” teve apenas uma primeira exposição no Japão, numa galeria de arte em Quioto. “Foi ele que nos fez esta proposta para apresentar, pela primeira vez, o seu trabalho em Macau. [Os trabalhos da mostra] têm uma qualidade de execução bastante acima da média para o que vemos em Macau”, adiantou o presidente executivo da associação e arquitecto. Para João Ó, as peças de Ernest Wong Weng Cheong fazem lembrar as peças de Giorgio Morandi, grande pintor italiano conhecido sobretudo pelos seus trabalhos de natureza morta, como vasos e frascos, entre outras “composições minimalistas de elementos domésticos”. “A composição e a tensão entre os objectos que estão juntos numa posição cria alguma harmonia. O Ernest vai muito para essa composição espacial, e quando cria uma nuvem quase surrealista por cima de um vaso leva-nos a crer que teve alguma inspiração nesse género de pintura.” João Ó acredita que os trabalhos do artista local conduzem à “reflexão sobre uma realidade que tenta limpar todos os problemas que temos e levar-nos a apreciar esteticamente um novo conteúdo”. O artista “traz uma visão muito peculiar do que ele entende ser uma obra de arte”, saindo “um pouco da linguagem e do espectro a que estamos habituados a ver em Macau, por ter estudado lá fora, sempre com uma grande qualidade”. As novas exposições “Catch It Outside 2.0” estará patente nas novas instalações da Associação Cultural Vila da Taipa, na Rua Correia da Silva, na Taipa Velha. “Continuamos a ter um espaço pequeno, mas é a partir daí que as experiências são mais interessantes”, assegura João Ó, que levanta a ponta do véu sobre o que poderá ser visto até Fevereiro no novo espaço. Uma das exposições é do estilista de cabeleireiro macaense Nino Bartolo, que usa uma técnica mista de fotografia como veículo de expressão artística. “Ele trabalhou muitos anos na Vidal Sassoon e continua a trabalhar nessa área, mas tem uma grande paixão por fotografia. Vamos ter uma exposição de fotografias de cabelos e perucas criados por ele, num encontro bastante inusitado.” Destaque também para a exposição do conhecido ilustrador português André Carrilho, ex-residente de Macau, que apresenta fotografias dos trabalhos que fez sobre viagens. “Esta é uma óptima oportunidade para voltar a apresentar o trabalho do André Carrilho em Macau, com a viagem como tema, numa altura em que é difícil viajar.” João Ó conta que a exposição terá como base os cadernos de ilustrações de viagens de André Carrilho, em locais como Macau, Goa, Nova Iorque ou Paris. “Será uma lufada de ar fresco”, assegura.
Andreia Sofia Silva EventosFeira do Livro de Lisboa | Arnaldo Gonçalves apresenta obras de ciência política “Norberto Bobbio – A Tradição Europeia da Liberdade” e “Macau, Depois do Adeus” foram os livros apresentados no domingo por Arnaldo Gonçalves na Feira do Livro de Lisboa. O académico, especialista em ciência política e relações internacionais e ex-residente de Macau, está a preparar um novo livro sobre a China Arnaldo Gonçalves, ex-residente de Macau, onde viveu 26 anos, e especialista em ciência política e relações internacionais, esteve no domingo na Feira do Livro de Lisboa a apresentar duas obras antigas de sua autoria. Uma delas, lançada pela COD em 2014, intitula-se “Norberto Bobbio – A Tradição Europeia da Liberdade”, um livro que mais condiz com a sua essência política, e “Macau, Depois do Adeus”, uma edição IpsisVerbis, onde é traçado um olhar sobre o período da RAEM pós-transição. A residir em Portugal há três anos, Arnaldo Gonçalves começou por contar ao HM que a presença informal na Feira do Livro, onde deu autógrafos e conversou com leitores, aconteceu devido ao contacto com a Essência do Livro, tendo em conta o fecho da representação do Turismo de Macau em Lisboa. Com o fim da entidade terminou a presença habitual da livraria na Feira do Livro, onde se revelavam algumas obras sobre Macau e a China. “Continuei a publicar depois disso. Há um problema de ligação entre os editores de Macau e de Portugal, não existindo distribuição das obras editadas. Descobri a Essência do Livro, localizada no Porto, e enviei-lhe um email a propor a apresentação”, disse. Os dois livros “marcam perspectivas complementares da minha identidade”, ligadas à vivência de 26 anos em Macau e o trabalho desenvolvido na Administração portuguesa e chinesa. Sobre o encerramento da livraria e o fim da representação do Turismo de Macau em Lisboa, o autor considerou natural. “O Governo de Macau tem uma vocação chinesa muito grande e há um alinhamento com a República Popular da China. Não privilegiam uma relação com a Europa e Portugal, e esse é um capitulo que está encerrado. Para eles é algo que faz parte da história. Agora olham para a fronteira, para a Grande Baía e para o que acontece na China. Talvez, no lugar deles, fizéssemos a mesma coisa.” Arnaldo Gonçalves estabelece mesmo um paralelismo entre o desligamento de Macau em relação a Portugal e à Europa com o que aconteceu após a descolonização portuguesa. “Dei por mim a pensar que o processo de Macau, na última década, não é assim tão diferente do das colónias portuguesas em África, em que houve um desligamento da elite local em relação ao passado português.” O livro sobre a China Apesar de aposentado, Arnaldo Gonçalves não deixa de reflectir e escrever. O último livro lançado intitula-se “Por quem os sinos não dobram: A Maçonaria e a Igreja Católica”, um tema recorrente para o autor. Mas a China está também sempre presente, e será tema central da sua próxima obra, já em preparação. “Estou a escrever um livro sobre a China, porque estou a chegar ao fim de mais uma década de vida que, ao mesmo tempo, são três décadas de Macau e China, e é tempo de eu escrever um livro sobre o país. Vou analisar a ligação da China com o mundo, a política externa chinesa, a análise do período de Deng [Xiaoping] e Hu Jintao”, contou. A obra não deixa de lado um olhar sobre o perfil político de Xi Jinping, Presidente chinês, que Arnaldo Gonçalves considera ser alguém “muito contraditório”. Pedindo uma “relação adulta” entre a China e os EUA em prol da paz mundial, o analista entende que a China se está a aproximar da Rússia, embora haja diferenças entre os seus líderes. “Se acertarem [a China e EUA] uma relação adulta, isso é fundamental para a paz e segurança no mundo. Essa relação é necessária para a paz no mundo e para a paz regional”, rematou.
Hoje Macau EventosBienal de Veneza | MAM recebe propostas de arquitectos para exposição O Instituto Cultural aceita, até ao dia 20, propostas de arquitectos para uma exposição a propósito da Bienal de Arquitectura de Veneza, sendo que a peça vencedora será exposta na cidade italiana em Maio do próximo ano, em representação da RAEM Está aberto o concurso para propostas de projectos de arquitectura para a “18ª Exposição Internacional de Arquitectura La Biennale di Venezia – Evento Colateral de Macau, China”. Até ao dia 20 decorre o concurso, promovido pelo Instituto Cultural (IC) e Museu de Arte de Macau (MAM), com o apoio da Associação dos Arquitectos de Macau (AAM). As propostas serão depois seleccionadas e expostas em Macau, mas a peça vencedora será exibida em Veneza, Itália, em Maio do próximo ano, aquando da Bienal de Arquitectura de Veneza, representando a RAEM. Segundo um comunicado, pretende-se “incentivar o talento arquitectónico em Macau a fazer inovações de sucesso e aumentar o intercâmbio entre a indústria em Macau e os seus pares internacionais”. A equipa participante deve ter, pelo menos, dois membros, sendo que um deve ser o curador, além de que pelo menos um dos membros deve ter um bacharelato em arquitectura ou uma formação superior nesta área. Todos os membros da equipa, à excepção do curador, devem ser residentes permanentes. Os projectos a concurso concorrem para os Prémios de Ouro, de Prata e de Bronze, existindo ainda dois vencedores para o Prémio de Louvor. Os resultados serão conhecidos em Outubro e o projecto que obtiver o Prémio de Ouro participa na 18.ª Exposição Internacional de Arquitectura La Biennale di Venezia – Evento Colateral de Macau, China” e ganha um prémio de 20 mil patacas. Os regulamentos e formulário de inscrição do convite aberto podem ser consultados ou descarregados no sítio web do MAM em www.mam.gov.mo Informações adicionais podem ser pedidas através do email events@aam.archi ou do telefone 2870 3458. História de uma bienal Criada em 1980, a Bienal de Arquitectura de Veneza tornou-se “no maior e mais influente evento no panorama da arquitectura mundial, proporcionando a vários países em todo o mundo uma importante plataforma de comunicação para o intercâmbio arquitectónico e cultural”. O tema da edição do próximo ano é “O Laboratório do Futuro”, uma ideia desenvolvida pelo curador-chefe da Bienal, Lesley Lokko. Desta forma, a próxima edição da Bienal é encarada como um laboratório, “inspirando os visitantes a conceber o futuro através de casos de prática arquitectónica moderna”. Macau participa na Bienal desde 2014, sempre com a colaboração de profissionais da área da arquitectura sediados no território. Pretende-se “enriquecer a experiência de talentos arquitectónicos locais na participação de eventos internacionais e na elevação do interesse das pessoas pela arquitectura”. Como exemplo, o território fez-se representar em Veneza, no ano passado, com o projecto de quatro arquitectos locais, Ho Ting Fong, Che Chi Hong, Lao Man Si e Chan Ka Tat, com a curadoria a cargo do arquitecto Carlos Marreiros. A Bienal, que tinha como tema “Como iremos viver juntos? recebeu o pavilhão Macau-China com “quatro obras de diferentes estilos” sob a temática “Interligações – Vida Transfronteiriça na Grande Baía”. A ideia do projecto era “traçar o panorama urbano da futura cidade de Macau e reflectir sobre a simbiose e os desafios decorrentes da profunda integração da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.
Andreia Sofia Silva EventosGonçalo Lobo Pinheiro premiado no concurso de fotografia no PX3 Uma imagem das Ruínas de São Paulo da autoria do fotojornalista Gonçalo Lobo Pinheiro venceu o prémio prata na categoria de arquitectura nos prémios PX3 – Prix de La Photographie Paris. O fotojornalista, radicado em Macau há vários anos, foi distinguido também com uma menção honrosa com a fotografia “Close to Me”, na categoria de retrato. “Fico contente por mais uma distinção. Gosto de participar em concursos, tenho participado em vários nos últimos anos. Enviei o trabalho ‘Close to Me’ porque é muito especial e tem tido uma boa aceitação, além de já ter arrecadado alguns prémios”, contou ao HM. A fotografia das Ruínas de São Paulo foi enviada para um concurso pela primeira vez. “Talvez não a envie mais [para outros concursos], pois até ao final do ano não vou participar em mais até saírem os resultados de outros concursos em que participei”, contou ainda. Livro e exposição a caminho O fotógrafo adiantou também que está a ultimar o projecto de fotografias antigas que vão culminar na exposição e edição de um livro em Novembro. O fotojornalista publicou diversas obras em que Macau surge como tema principal, mas a objectiva da sua câmara focou outras latitudes. Prova disso foi a edição, no ano passado, do livro “Tonlé Sap”, obra que retrata as vivências no lago com o mesmo nome, localizado no Cambodja, e que tem uma extensão de 2.590 quilómetros quadrados. Na estação das chuvas, o lago pode atingir 24.605 quilómetros quadrados, tornando-se na maior extensão de água doce da região do sudeste asiático. Também em 2021, mas em Abril, o fotojornalista português lançou o livro “DESVELO • 關愛 • ZEAL – Covid-19. A vida nos lares de idosos vai muito além da pandemia”, um projecto que partiu de uma reportagem fotográfica realizada em lares de idosos durante a primeira fase da pandemia.
Hoje Macau EventosCentro de Ciência | Exposição interactiva sobre Macau em exibição até Fevereiro “Macao Vast” é o nome da exposição interactiva que poderá ser vista no Centro de Ciência até 26 de Fevereiro. Dividida em três partes, a mostra pretende dar a conhecer todos os recantos e detalhes de um território com características peculiares, aliando o conhecimento às componentes criativa e científica Conhecer Macau de uma forma interactiva, com recurso às tecnologias LED, holografia e aparelhos que, mediante o toque, vão revelando vários dados e curiosidades sobre o território, é agora possível graças à exposição que está patente no Centro de Ciência de Macau. Em “MACAO VAST” pretende-se que o público vá conhecendo mais sobre a cidade onde habita ou que visita de forma interativa, numa junção de conhecimento, ciência e tecnologia. A tecnologia interactiva e a projecção são veículos centrais de transmissão de conhecimentos, proporcionando momentos de aprendizagem e diversão aos visitantes que podem ter acesso “a ilustrações de alta qualidade, design e experiências com recursos culturais e criativos”. Dividida em três partes, “MACAO VAST” pretende apresentar um outro lado dos monumentos e sítios históricos de Macau, incluindo outros aspectos da cultura do território. A ideia é reunir toda a informação em pavilhões interactivos “a fim de promover, de forma efectiva, o turismo de Macau e aumentar a diversidade das experiências culturais”, desenvolvendo “a imagem do turismo cultural de Macau enquanto marca”. Além da interacção constante com dados sobre a cidade, os visitantes podem ainda tirar fotografias de realidade aumentada através do telemóvel. LED e outras histórias A primeira parte da exposição intitula-se “Área das Imagens Holográficas em Suspensão” e, tal como o nome indica, oferece ao visitante uma plataforma que gera imagens dos monumentos de Macau em três dimensões que podem ser vistas de todos os ângulos e perspectivas, proporcionando uma sensação de presença no local. Para este efeito é usada a tecnologia LED, criando uma imagem realista tridimensional. A segunda parte de “MACAO VAST” é uma área interactiva com uma plataforma que funciona mediante o toque, destinada tanto a adultos como crianças. Nesta parte, “o público pode tocar livremente na área interactiva e desfrutar de uma animação gerada pela área correspondente na parede, pelo que as ilustrações estáticas podem tornar-se em demonstrações dinâmicas”, explica o Centro de Ciência. “MACAO VAST” conta ainda com uma área circular panorâmica de 360º, também com recurso à tecnologia LED, que apresenta toda a cidade, incluindo paisagens, monumentos e outros espaços icónicos. “Através desta experiência visual panorâmica, todos podem desfrutar do cenário de Macau e participar em jogos interactivos, visitando cada canto de Macau”, indica o website da exposição.
Hoje Macau EventosFRC | Inaugurada hoje a exposição “Peerless” “Peerless” é o nome da exposição colectiva da ARK – Associação de Arte de Macau (AAMA), que abre hoje portas na Fundação Rui Cunha (FRC) e que pode ser visitada até ao dia 10 de Setembro. A mostra reúne trabalhos de 30 membros da ARK e conta com curadoria da pintora Yaya Vai, além de ter o apoio da Fundação Macau. Os trabalhos apresentam uma diversidade de géneros artísticos, que vão da pintura, à produção multimédia, à fotografia e artesanato, sendo que todos os participantes são amadores e fazem arte nos tempos livres. O título da mostra, “Peerless” – inigualável, sem par, único, insubstituível – foi o repto dado aos participantes, para que exprimissem através das obras os seus sentimentos sobre pessoas, objectos e memórias, sem preconceitos ou julgamentos de valor. «Existe uma expressão: “Sem paralelo no mundo”, significando que não há outro igual no mundo. Isto pode ser usado para descrever algo muito precioso, (…) mas também pode significar coisas com valor pessoal e sentimental, como camisolas tricotadas por mães ou receitas usadas por avós. O que é para você inigualável? Um objecto, uma cena, um momento, ou mesmo algo considerado menor aos olhos dos outros?», questiona a proposta de intenções de “Peerless”. A ARK – Associação de Arte de Macau tem por missão promover a arte e a cultura através da realização de actividades como exposições, seminários e workshops. A associação pretende dinamizar também a aprendizagem da arte para residentes, servindo de plataforma na divulgação do talento e criatividade dos membros, melhorando a sua qualidade de vida e oferecendo um escape para a pressão do trabalho e da vida quotidiana destes artistas amadores.
Andreia Sofia Silva EventosFundação Macau | Estudo sobre calçada portuguesa ganha menção honrosa O estudo “The Portuguese Calçada in Macau Paving Residual Colonialism with a New Cultural History of Place”, das académicas Vanessa Amaro e Sheyla Zandonai, acaba de ser distinguido pela Fundação Macau na sexta edição dos prémios de investigação em humanidades e ciências sociais. A tese de doutoramento de Han Lili, sobre Luíz Gonzaga Gomes, também foi distinguida “The Portuguese Calçada in Macau Paving Residual Colonialism with a New Cultural History of Place” é o nome do estudo desenvolvido pelas académicas Vanessa Amaro e Sheyla Zandonai que acaba de receber uma menção honrosa da Fundação Macau (FM) na sexta edição dos prémios destinados à investigação sobre Macau nas áreas das humanidades e ciências sociais. O artigo foi publicado em Agosto de 2018 no conceituado Journal Current Athropology, com a chancela da University of Chicago Press, e conclui que a calçada portuguesa em Macau é única no mundo, com base na comparação feita com calçadas portuguesas em cidades como Lisboa, Rio de Janeiro e outras marcadas pela presença portuguesa. O artigo traça também a forma como a calçada passou de um projecto urbano desenvolvido pela Administração portuguesa para um “item cultural” do território, constituindo uma marca visual e urbana de Macau. A sexta edição dos prémios atribuídos pela FM na área das ciências sociais e humanas distinguiu também a tese de doutoramento de Han Lili, directora da Faculdade de Línguas e Tradução da Universidade Politécnica de Macau (UPM), sobre o macaense Luís Gonzaga Gomes. A tese, defendida em 2018 na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, intitula-se “Luís Gonzaga Gomes, filho da terra: divulgador e tradutor de imagens da China e de Macau”. Nascido em 1907, e falecido em 1976, Luís Gonzaga Gomes escreveu inúmeros artigos sobre Macau e China editados pela Colecção Notícias de Macau. Em meados do século XX, o território atravessava um importante período cultural, marcado pela valorização dos conhecimentos sobre a língua e cultura chinesas. A tese recorre a conceitos como “identidade, imagem e tradução, cruzando os Estudos de Imagens com os Estudos Descritivos de Tradução”, propondo “analisar as imagens construídas pelas obras de Gonzaga Gomes”. O trabalho académico de Han Lili “apresenta o resultado da pesquisa de arquivo para a identificação das publicações de Gonzaga Gomes e procede a uma análise paratextual e textual, a fim de desvendar as considerações poéticas e ideológicas de Gonzaga Gomes sobre a identidade macaense”, lê-se no resumo da investigação. O primeiro prémio A FM distinguiu dezenas de trabalhos, entre livros e teses académicas, assim como outros géneros de investigação. O primeiro prémio foi atribuído a vários trabalhos, um dos quais o livro “Casino Capitalism, Society and Politics in China’s Macau”, da autoria do académico Sonny Lo. Publicada em 2020, a obra analisa as relações sociais num território onde a economia é marcada pelo jogo, num modelo capitalista, sem esquecer as ligações que se vão estabelecendo com o projecto de integração regional da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Esta edição dos prémios contou com um total de 260 candidaturas, sendo que 60 chegaram à fase final de selecção. Foram atribuídos quatro primeiros prémios, quatro segundos prémios, oito terceiros prémios e 12 distinções de mérito na categoria “Livro”, com prémios pecuniários de 50 mil, 30 mil, 15 mil e 10 mil patacas, respectivamente. Na categoria “Tese” a FM atribuiu quatro primeiros prémios, quatro segundos prémios, 12 terceiros prémios e 12 distinções de mérito com prémios pecuniários de 25 mil, 15 mil, oito mil e cinco mil patacas, respectivamente.
Hoje Macau EventosCinema | Mostra de filmes portugueses em Pequim até 11 de Setembro Começou na sexta-feira em Pequim a mostra “Filmes de Portugal”. Até ao dia 11 de Setembro, serão exibidas seis longas-metragens e um documentário de cineastas portugueses no Museu Nacional de Cinema da China. O cartaz é composto por filmes tão díspares como o clássico “Os Verdes Anos”, “Listen” de Ana Rocha da Sousa e “Km 224”, de António-Pedro Vasconcelos Começou na sexta-feira a mostra “Filmes de Portugal”, em exibição no Museu Nacional de Cinema da China, em Pequim. A celebração da sétima arte lusa será feita no grande ecrã com seis longas-metragens e um documentário portugueses, naquela que é a primeira exibição de cinema estrangeiro realizada pela instituição pública com sede na capital chinesa este ano. A mostra “Filmes de Portugal” inclui o clássico a preto e branco “Os Verdes Anos”, de 1963, e “Listen”, a primeira longa-metragem realizada por Ana Rocha de Sousa. “Km 224”, o novo filme de António-Pedro Vasconcelos, integra também o cartaz que será exibido até ao dia 11 de Setembro. Tratam-se sobretudo de filmes artísticos, que mostram como pessoas reais e a cultura inspiram os cineastas portugueses a contar as histórias no grande ecrã, descreveu o jornal Global Times. Também em 2016, Pequim recebeu uma exposição cinematográfica composta por um total de 24 filmes portugueses, como parte de um acordo entre os dois países para promover obras portuguesas na China e filmes chineses em Portugal. Em 2015, foram exibidos 32 filmes chineses em duas salas de cinema em Lisboa. Pais e filhos Num longo e elogioso artigo, o Global Times descreve “Os Verdes Anos” como uma película que reflecte a forte influência do movimento artístico francês Nouvelle Vague, que imortalizou mestres como Jean-Luc Godard e François Truffaut. Uma das obras contemporâneas em destaque no evento é “Listen” um filme escrito e realizado por Ana Rocha de Sousa, que estreou em 2020 e venceu um prémio especial do júri no 77º Festival Internacional de Veneza. Com Lúcia Moniz e Ruben Garcia nos papéis principais, “Listen” retrata a realidade e os dramas sociais de uma família de emigrantes portugueses que luta contra os serviços sociais britânicos. Baseado em factos reais, o filme de Ana Rocha de Sousa centra-se na luta de uma família portuguesa emigrada no Reino Unido, a quem os serviços sociais retiram a guarda dos três filhos por considerarem estar em risco de sofrer danos emocionais. Situação que desencadeia os protocolos do sistema de adopção forçada e que leva à consequente angústia, inquietação e desespero de uma família que tenta encontrar a felicidade e provar junto dos serviços sociais a sua capacidade de cuidar dos filhos. Outra produção incluída no cartaz é o mais recente filme de António-Pedro Vasconcelos, “Km 224”, que como “Listen” será exibido na China pela primeira vez. O epicentro do filme é a tensão dramática que surge dos múltiplos episódios gerados por um divórcio e a luta pela custódia legal dos filhos. Dívidas e girafas “Tristeza e Alegria na Vida das Girafas”, de Tiago Guedes, é uma das propostas mais originais do cartaz do “Filmes de Portugal”. Sob o tema das dores de crescimento, o argumento desta obra tem como ponto fulcral a história de uma menina de 10 anos que atravessa a cidade de Lisboa em busca da única pessoa que pode ajudá-la: o primeiro-ministro. Esta viagem de fantasia é narrada pela voz de uma criança que empreende a tarefa de tentar explicar o mundo, ultrapassando a fronteira que separa a adolescência da inocente pureza da infância. Com estreia comercial em 2017, “São Jorge” valeu a Nuno Lopes o Prémio Orizzonti de melhor actor no Festival Internacional de Cinema de Veneza de 2016. Realizado por Marco Martins, o filme tem um elenco recheado, com nomes como Mariana Nunes, David Semedo, Gonçalo Waddington, Beatriz Batarda, José Raposo e Jean-Pierre Martins. A história de “São Jorge” centra-se na queda do personagem interpretado por Nuno Lopes, um boxer desempregado afogado em dívidas que, à beira de perder o filho, decide aceitar um emprego numa agência de cobrança de dívidas. Com o Portugal da era da Troika em plano de fundo, a narrativa segue a descida do protagonista ao mundo do crime e da violência extrema. O “Filmes de Portugal” exibe também “Aquele Querido Mês de Agosto”, de Miguel Gomes, e o documentário “Silêncio – Vozes de Lisboa”. Além deste cartaz, o evento terá ainda uma exposição dedicada ao mestre Manoel de Oliveira, uma unidade de revisão de filmes clássicos e alguns trabalhos contemporâneos, incluindo “Cartas da Guerra”, realizado por Ivo Ferreira.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteCreative Macau | 19 anos celebrados com exposição colectiva Fundada a 28 de Agosto de 2003, a Creative Macau celebra o 19º aniversário com a exposição “0 ZERO and SINE DIE”, que retrata, através de múltiplas formas de expressão artística, o estado de vida em suspenso que muitos atravessam desde que a pandemia começou. A mostra reúne 45 trabalhos criados por 37 artistas, membros da Creative Macau “0 ZERO and SINE DIE” é o nome da nova exposição da Creative Macau, que abre hoje portas em jeito de celebração do 19º aniversário da entidade, fundada a 28 de Agosto de 2003. Apesar de data festiva, a ocasião não escapa à inevitável condição das vidas marcadas pela pandemia e pela forma como a política de zero zero casos remete tudo e todos para um estado de imobilidade. Lúcia Lemos, directora da Creative Macau, adiantou ao HM que “0 ZERO and SINE DIE” reúne 45 trabalhos de 37 membros da Creative, onde constam nomes como Francisco Ricarte, Gonsalo Oom, Adalberto Tenreiro, Carmen Lei e Alice Ieong, entre outros, incluindo a própria Lúcia Lemos. “Assistimos à política de zero casos covid-19 e isso traz consequências para as pessoas que sempre viajaram ou que costumam reunir com a família. Essa política afecta tudo, o nosso quotidiano pessoal e profissional, e temos pessoas que já foram embora. [A mostra] remete também para a ideia de que agora podemos estar muito bem e dentro de 15 dias a situação alterar-se para algo totalmente diferente, com tudo fechado”, adiantou ao HM. Em “0 ZERO and SINE DIE” os artistas foram convidados a “inspirarem-se no facto de a nossa vida estar constantemente a ser adiada”, sempre com a ideia de que “o tempo é muitíssimo importante, pois uma pessoa pode planear sair e fazer coisas simples, mas depois não as conseguir fazer, nessa inconstância”. Lúcia Lemos quis que os artistas trabalhassem em torno de “um tema bastante amplo”, para que se poderem expressar com total liberdade. Com uma calendarização definida ao longo do ano, a Creative Macau tem a sorte de ser uma entidade mais pequena que pode ir agilizando os eventos marcados, consoante as possibilidades. “Não somos como o Instituto Cultural, com projectos de grandes dimensões, com pessoas que vêm de fora. Como só trabalhamos com artistas locais temos mais facilidade de organização.” Inspirações múltiplas Há muito que Lúcia Lemos queria fazer um trabalho sobre a escultora portuguesa Rosa Ramalho e, desta vez, aproveitou para revelar a peça de cerâmica “Diabo Santo”. “Ela [Rosa Ramalho] fazia umas peças de barro em forma de diabo porque tinha variações de humor, colocando cá fora os seus sonhos e pesadelos. Inspirei-me num dos diabos dela e chamei-o de ‘Diabo Santo’, porque está a rezar.” A direcțora da Creative Macau apresenta também o trabalho “Stay Home”, feito em papel. Ricardo Meireles, arquitecto e um dos nomes integrantes da exposição colectiva, participa com o trabalho “Ascensão”, uma fotomontagem digital e impressão em papel. “A temática deste ano [da exposição] acabou por ser desafiante pela abertura do tema e levou-me a uma introspecção profunda. Mesmo que o resultado final nem sempre seja aquilo que imaginamos de início, acabou por resultar em algo positivo”, contou. Ricardo Meireles diz ter explorado vários temas e ideias, culminando na elaboração de um auto-retrato. “Nestes tempos de momentos e realidades inesperadas, acabamos por perder o nosso foco principal, aqueles objectivos que nos regem no dia-a-dia e, de repente, tudo se altera de um momento para o outro.” Desta forma, “Ascensão” remete para a mensagem que “mesmo que nos sintamos confinados num pequeno quarto ou mesmo impossibilitados de fazermos aquilo que gostaríamos, podemos abrir as portas para o mundo do imaginário onde tudo é possível, onde a nossa ‘imaginação voa’ em busca de aventuras inesperadas que nos permitem estar onde quisermos”. Francisco Ricarte, também arquitecto, é outro dos membros da Creative Macau que acedeu ao desafio de colaborar na mostra. Fotógrafo nas horas vagas, participa em “0 ZERO and SINE DIE” com uma fotografia tirada num contexto de quarentena no hotel Tesouro, quando o isolamento era ainda de 21 dias. “É uma alegoria a esse período de confinamento, onde a maçã sobre a cama tem uma série de significados, desde a natureza não acessível ao desejo ou afastamento”, declarou. Com esta imagem, Francisco Ricarte quis ensaiar “a experiência do confinamento, traduzindo para imagens um tempo muito carregado e, por vezes, difícil de ultrapassar”. “0 ZERO and SINE DIE”, uma mostra que se pretende eclética e resultado de diversas expressões artísticas”, pode ser visitada até ao dia 24 de Setembro nas instalações da Creative Macau.
Hoje Macau EventosMAM | “Zhao Zhao: Um Longo Dia” inaugurada esta sexta-feira O Museu de Arte de Macau (MAM) acolhe, a partir desta sexta-feira, a exposição “Zhao Zhao: Um Longo Dia”, que estará patente até ao dia 30 de Outubro. Esta é a primeira exposição individual em Macau do artista chinês contemporâneo que contém um total de 82 peças ou conjuntos de obras, com curadoria de Cui Cancan. A carreira de Zhao Zhao teve início em 2006 e o artista explora as vertentes da pintura, instalação e escultura, sem esquecer os estudos sobre a cultura antiga chinesa. “Ligando obras que evidenciam a exploração constante de questões associadas ao tempo, ao espaço e à nossa era, a mostra pretende dar a conhecer aos visitantes as ideias artísticas únicas de Zhao Zhao, bem como os seus novos métodos criativos e o seu uso de diversos meios de expressão”, aponta uma nota de imprensa. Em 2014 a revista Modern Painters destacou Zhao Zhao como um dos 25 artistas a ter em atenção em todo o mundo. Este foi reconhecido com o Prémio de Artista do Ano no âmbito da 13.ª edição do Prémio de Arte da China em 2019, sendo uma figura representativa da nova geração de artistas contemporâneos chineses. Nas suas obras, Zhao Zhao estabelece uma ligação entre a tradição histórica chinesa ao longo do tempo e do espaço, a realidade actual e as tendências artísticas em constante transformação. Combinando expressões artísticas contemporâneas e a essência da cultura tradicional, Zhao Zhao criou o seu próprio estilo artístico e método de trabalho para dar expressão à vida humana no actual ambiente global e à nossa realidade na sociedade moderna, mostrando ainda a sua atitude em relação à coexistência do colectivismo e dos ideais individuais.
Andreia Sofia Silva EventosMara Bernardes de Sá, autora de “Senhor da Chuva” | O poeta que abraçou Timor Lançado primeiro em Díli, no passado mês de Maio, o livro “Senhor da Chuva” é apresentado hoje ao público português em Lisboa na Fundação Oriente. A obra de Mara Bernardes de Sá conta a história do poeta Ruy Cinatti, que carregou Timor no coração quase toda a vida, ao ponto de ter celebrado pactos de sangue com duas famílias de chefes tradicionais, os “liurais timorenses”. A autora falou com essas pessoas Como surgiu a oportunidade de fazer este livro? Em 2005, quando fui para Timor ofereceram-me o livro do padre Peter Stilwell [ex-reitor da Universidade de São José], intitulado “A Condição Humana em Ruy Cinatti”. Foi esse livro que me deu a conhecer o autor e Timor-Leste. Como ele [Ruy Cinatti] escrevia muito sobre os sítios por onde passava, fui conhecendo-os também através dos seus escritos. A partir daí esteve sempre presente, e muitas vezes quando viajava em Timor pesquisava o que ele tinha escrito sobre esse sítio. Muitas vezes escrevia poemas e fui a certos sítios por causa dos poemas dele. Conheci as famílias que fizeram o pacto de sangue com Ruy Cinatti. Tenho uma filha que, quando tinha cinco anos, na sala de aula na Escola Portuguesa Ruy Cinatti, em Díli, disse que a mãe era amiga do Cinatti e que tinha fotografias dele. Acabei por ir falar do autor aos alunos e percebi que os encantava. As histórias dos pactos de sangue não são assim tão comuns, e quando falava disso com timorenses percebi que estava a falar de uma lenda que lhes interessava. Como Ruy Cinatti era uma pessoa tão completa e contribuiu tanto para Timor, fez sentido escrever a história dele de uma forma concisa, clara, com história, mas transmitindo um pouco a poesia dele e a intensidade de vida com que ele abraçava os dias. Como classifica este livro, uma vez que não o considera uma biografia de Cinatti? [A obra representa] o universo pessoal e a ligação dele a Timor. Esse é o ponto principal. O livro do padre Peter Stilwell já abraça todas as dimensões de Ruy Cinatti. Peter Stilwell, que o conheceu em pequeno, escreveu sobre momentos como quando Ruy Cinatti se vestia de fantasma e aparecia atrás das crianças, na brincadeira. O meu foco foi ouvir as pessoas que ainda são memória viva do que ele viveu lá, nomeadamente os pactos de sangue. Como disse atrás, não é coisa que se faça regularmente em Timor, e muito menos com estrangeiros. São uma prova da relação de intimidade e confiança que Cinatti criou no país. Há um respeito, porque os timorenses percebem que não é uma coisa que se faça diariamente. Fui ao encontro dessas famílias, ouvindo as memórias vivas. Percebi que não é só uma história registada no livro “A Condição Humana”, mas ficou em Timor também. Estas pessoas consideram Ruy Cinatti um familiar. Apesar de não serem comuns, os pactos de sangue persistem na sociedade timorense nos dias de hoje? Ainda acontecem, mas é algo silencioso, de que não se fala sempre. Creio que acontece com menos frequência nos dias de hoje. O que Ruy Cinatti deixou a estas famílias, que mensagens, que sentimentos? Ele tinha uma relação pessoal e de convivência com eles. São duas famílias diferentes. A história que ficou neles é o facto de o considerarem como familiar querido e também respeitam o contributo que deu e o registo que deixou, como, por exemplo, o livro “Arquitectura Timorense”. Havia uma casa consagrada para Ruy Cinatti escrever e desenhar, e eles tinham noção que o autor abraçava a sua cultura. Um dos filhos [do líder da família] é Ruy Cinatti Ximenes, porque Ruy Cinatti fez esse pedido. E o que Ruy Cinatti lhe deu a si? Fascinou-me a poesia dele, mas também os episódios que fui conhecendo, bem como a forma intensa como vivia a vida e a entrega que tinha à poesia, não apenas na poesia como nos actos. Recordo-me de um episódio que ele conta, quando entrou mar adentro depois de se “apaixonar” por um fim de tarde. Depois chegou ao palácio do Governo encharcado. Essa intensidade e entrega aos dias fascina-me. Há também o lado humano dele, o respeito pela cultura e pelo outro. Em 1951 foi proibido as pessoas irem a Díli com os trajes tradicionais e ele escreveu sobre o que considerava uma injustiça, sem respeito pela cultura e tradições. O livro tem ilustrações. Neste sentido, pretende chegar a todas as idades? Sim, tenho esse objectivo. Pedi para que fossem feitas duas ilustrações, uma do Ruy Cinatti em criança, intitulada “Rui menino”, e outra seria uma tela que expusesse as várias componentes daquilo que o autor gostava em Timor, como as montanhas ou as casas sagradas. Há ainda uma terceira ilustração sobre os pactos de sangue e uma quarta imagem de Ruy Cinatti nas montanhas e no seu silêncio. O Bosco Alves abraçou o projecto e transmitiu mesmo [o que era pretendido]. Ele disse-me que, quando começou a pintar a primeira ilustração [de Ruy Cinatti em criança, antes de chegar a Timor], que percebeu que Timor já estava com ele, daí ter pintado tantos elementos do país. Timor já estava à espera de Cinatti. De todas as figuras vindas de Portugal para a antiga colónia, Ruy Cinatti foi a que melhor compreendeu a sociedade timorense? Sim, sem dúvidas. Compreendeu, sentiu, abraçou e respeitou. Agrónomo e poeta Ruy Cinatti nasceu em Londres em 1915, foi agrónomo e poeta, dividindo-se entre as ciências humanísticas e as ciências naturais. Chegou a Timor-Leste, pela primeira vez, em Julho de 1946, como secretário do então Governador Oscar Ruas, e no ano seguinte, com o país a recuperar da invasão japonesa, percorreu o território, realizando um primeiro estudo. O estudo sobre Timor englobou temas tão diversos como botânica, meteorologia, etnologia e arqueologia, tendo no pacto de sangue, alcançado uma ligação eterna aos rituais mais sagrados do país. Cinatti, que nunca deixou de viver essa ligação de “irmão” timorense, é autor do que se pensa ser o primeiro plano de fomento agrário do país e deixou uma vasta obra ainda hoje referência essencial para estudiosos de Timor-Leste. Vencedor de vários prémios literários, incluindo o Prémio Nacional de Poesia, viveu uma forte ligação com Timor-Leste. Em 2015, num evento alusivo ao centenário de Cinatti, na Escola Portuguesa de Díli, a que ‘emprestou’ o nome, os herdeiros dos dois ‘liurais timorenses’, Cornélio Ximenes (Mau-Nana), filho de Adelino Ximenes, e Saturnino Barreto, bisneto de Armando Barreto estiveram presentes. Agentes culturais A autora de “Senhor da Chuva” nasceu em Chaves, em 1976. É agente cultural em Timor-Leste desde 2005 e membro do Conselho da Sala de Leitura Xanana Gusmão desde 2011. A primeira publicação de poemas na antologia “Mouth Ogres” foi editada por Oxmarket Press, Frinch Festival e University College Chichester em 1999. Por sua vez, Bosco Alves, ilustrador, nasceu em Díli, Timor-Leste a 26 de Março de 1965, tendo feito a primeira exposição em 2000. Inaugurou no Centro Cultural Português – Embaixada de Portugal em Timor, a 5 de Maio 2019, a exposição de pintura “Alfabetização” integrada no dia da Língua Portuguesa e da Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Participou como ilustrador no livro “Contos Tradicionais da CPLP”, representando Timor-Leste numa equipa de artistas de todos os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Hoje Macau EventosA Fundação Rui Cunha abre o apetite com filme “Pranzo di Ferragosto” A Fundação Rui Cunha apresenta esta tarde, às 18h30, o filme “Pranzo di Ferragosto” (Mid-August Lunch, em inglês), o quarto de uma série de seis sobre o tema Gastronomia e Cinema. A película é assinada pelo realizador Gianni di Gregorio, que é também o escritor do guião e o protagonista da fita italiana. A entrada é livre, mas limitada a 25 espectadores. O tema do filme, apresentado com legendas em em inglês, alude ao feriado católico da Assunção de Nossa Senhora, que se celebra a 15 de Agosto em países como Itália, Espanha ou Portugal. Ao longo dos cerca de 75 minutos da duração da exibição, Gianni di Gregorio faz uma incursão por valores como a tolerância, o envelhecimento, a solidão, num tom bem-humorado, que surpreende pelos momentos únicos e edificantes. A história narra as peripécias de Gianni, um homem de meia-idade, desempregado e solteiro, que aceita tomar conta de quatro senhoras idosas para ajudar a pagar algumas dívidas, durante o feriado em meados de Agosto. Quando todos os italianos fogem do calor para as praias da costa, Gianni é chantageado pelos seus credores para hospedar as respectivas mães em Roma, onde mora com a sua exigente progenitora. Falido e sem argumentos, aceita a difícil responsabilidade, que acaba por resultar numa casa cheia, onde todos se acomodam e entreajudam, gerindo os caprichos que vêm com a idade, cozinhando a refeição do Dia da Assunção e divertindo-se mais do que o esperado. Experiência biográfica O director Gianni Di Gregorio escreveu o argumento baseado num incidente retirado da sua vida, com um baixo orçamento e muito improviso, actuando como protagonista no seu próprio apartamento e recrutando as demais actrizes entre centenas de não profissionais. Contratou-as num lar próximo, para garantir a espontaneidade, e ficou encantado com a alegria e o humor que trouxeram à fita. Só a actriz que representou a sua mãe, Valeria De Franciscis, era de facto profissional, entretanto falecida em 2014 aos 98 anos. O filme conquistou diversos galardões entre 2008 e 2009, nomeadamente o Grande Prémio do Público no Bratislava International Film Festival, o Prémio de Melhor Realizador Emergente pela FICE – Federazione Italiana Cinema d’Essai, o Prémio de Melhor Realizador Emergente pelo Italian National Syndicate of Film Journalists, o Prémio Especial para Melhor Primeira Metragem no Italian Online Movie Awards (IOMA), o Prémio Satyajit Ray no London Film Festival, o AITS Award para Melhor Som noRome Film Fest, e ainda o Luigi De Laurentiis Award para Melhor Primeiro Filme, o Young Cinema Award para Melhor Filme Italiano e o Pasinetti Award para Melhor Filme no Festival de Cinema de Veneza.
João Santos Filipe EventosExposição | Memphis Ng leva mostra de figurinos à Fundação Rui Cunha Alterações nos mapas, convívio do chinês e português, arquitectura das ruas e festivais e feriados, foram o mote para a designer Memphis Ng contar a história da transformação de uma aldeia de pescadores na cidade actual Desde ontem, e até 27 de Agosto, os interessados podem visitar a Exposição de Design de Figurinos “Macasaphis”, na Fundação Rui Cunha, com peças de Memphis Ng Chi Wai. Os figurinos em questão serão exibidos no teatro “Macasaphis” Stand Up Comedy, agendado para o próximo mês. Em exposição, vão estar cinco figurinos, criados a partir de quatro ideias que têm por base Macau, e que reflectem a história do território na passagem de uma aldeia de pescadores até à cidade actual. Os elementos escolhidos por Memphis Ng foram as alterações nos mapas, a presença do chinês e português, a arquitectura das ruas e os festivais e feriados, que se reflectem nas roupas. “A escolha do vestuário é uma expressão de afirmação individual. Usar as quatro características principais de Macau nas pessoas é também uma expressão de identidade e orgulho, já que os figurinos traçam a trajectória de desenvolvimento da cidade, vendo as mudanças na paisagem e as emoções dos jovens em relação à cidade”, pode ler-se no manifesto da companhia Frost Ice Snow Creative Experimental Theatre, responsável pela organização do espectáculo. Formação em Xangai Memphis Ng é formada em Design de Moda e Modelagem pela Universidade de Xangai – Instituto Internacional de Moda e Arte de Paris, desde 2021, e tem trabalhado como figurinista e assistente de guarda-roupa para diversas criações teatrais. Em Macau, tem acumulado prémios e menções de honra. Memphis ficou no 1.º lugar no Concurso de Design de Moda de Protecção Ambiental do Instituto de Estudos do Turismo de Macau, recebeu o 2.º lugar no 15.º Concurso de Tecnologia de Moda Jovem de Macau, organizado pelo Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau, e foi 2.ª classificada no Concurso de Tecnologia da Moda na 16.ª Moda Jovem de Macau pelo Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau. Teatro experimental A mostra funciona como uma antevisão do espectáculo “Macasaphis” Stand Up Comedy, que está agendado para 24 de Setembro na Torre de Macau. Este evento é apresentado como teatro experimental, num formato de talk-show, dividido em quatro partes, permitindo aos artistas explorarem diferentes aspectos da realidade local. A peça foi construída pelo Teatro Experimental Criativo Frost Ice Snow, criado em Janeiro de 2017. A Frost Ice Snow uma companhia profissional de jovens em Macau que procura integrar o multiculturalismo com o pensamento criativo e inovar a produção artística independente local. Realizou mais de 120 digressões nacionais em 15 cidades, com repertórios originais de drama, comédia, farsa e tragédia, incluindo arte chinesa, clássicos culturais, nova poesia e teatro sobre família, amor, amizade, sonhos e actualidade social, entre outros.
Andreia Sofia Silva EventosCinema | Curtas de Cheong Kin Man exibidas nos EUA e Austrália “Uma Ficção Inútil”, do antropólogo visual Cheong Kin Man, já foi exibida em 40 países, mas o percurso mundial do projecto do residente de Macau ainda não chegou ao fim, pois já em setembro será exibido na Austrália e também em Nova Jérsia, EUA. Entretanto, o artista está a preparar um novo filme etnográfico experimental que deverá ter Macau como tema Cheong Kin Man, residente de Macau, vive há muitos anos em Berlim, onde estudou antropologia visual. Um dos seus projectos cinematográficos mais conhecidos, “Uma Ficção Inútil”, já correu o mundo, tendo sido exibido em 40 países. Mas o filme etnográfico experimental está de volta aos grandes ecrãs já em setembro, ao ser exibido em Melbourne, Austrália, no âmbito de um projecto de investigação e promoção do cinema, intitulado “Zooming In”, da Swinburne University of Technology. Também neste contexto serão exibidos mais dois projectos cinematográficos de Cheong Kin Man, nomeadamente “A Etimologia de um Sonho” e “As Fontes de Água de Macau”, documentário feito em parceria com Season Lao. De frisar que este documentário data dos anos 2007 e 2008. Estes três filmes serão exibidos, no próximo ano, no “Student World Impact Film Festival”, em Nova Jérsia, dos EUA. Cheong Kin Man confessa estar “contente” com o facto de “Uma Ficção Inútil” já ter sido apresentado em 40 países. No entanto, “cada vez discordo mais do que fiz na fase final dos meus estudos em Antropologia Visual, entre 2012 e 2014”. Este filme etnográfico fez parte do projecto final de mestrado do artista e antropólogo na Universidade Livre de Berlim. “É uma auto-etnografia visual e experimental que discute muitas das problemáticas existentes no conhecimento ocidental. Mas hoje penso que muitos dos pensamentos que inseri no filme são imaturos ou mesmo ingénuos”, confessou ao HM. “Este é um filme que tem uma base teórica na antropologia visual. Ele tem sido rejeitado pela maioria dos festivais de cinema etnográfico no mundo, à excepção da França, Dinamarca e Macedónia. ‘Uma Ficção Inútil’ tem sido caracterizada como uma curta-metragem experimental, e parece que o seu lado antropológico tem menos importância. Neste aspecto, a antropologia visual, para mim, é uma disciplina tão rígida que não aceita essa arte abstracta como um conhecimento académico válido”, frisou. Este ano “Uma Ficção Inútil” foi ainda apresentado no “FilmForum”, da Universidade de Arte de Braunschweig, por mão da cineasta alemã Deborah Uhde. Mas Cheong Kin Man já sente o peso do passar dos anos. “Ela convidou-me a escrever sobre a sua nova obra, ‘White Slices Blind Spots’. Senti-me honrado mas, ao mesmo tempo, sinto-me obrigado a escrever algo novo para contar a minha história de outra maneira, depois de tantos anos”, frisou. Um novo filme a caminho Questionado sobre novos projectos nesta área, Cheong Kin Man confessou que está a desenvolver um novo filme etnográfico experimental. “Macau nunca deixará de ser o meu tema de trabalho, de forma directa ou indirecta, sobretudo quando imagino o território depois de 2049. O tema de Macau é muito trabalhado do ponto de vista da nostalgia.” Este projecto está a ser desenvolvido em parceria com o fotógrafo amador Jorge Veiga Alves, que concedeu a Cheong Kin Man o acesso ao seu arquivo de vídeos e fotografias feitos nos primeiros anos a seguir à transferência de soberania de Macau para a China. Entretanto Cheong Kin Man continua a desenvolver projectos em parceria com a artista polaca Marta Sala. Em Outubro, os dois artistas vão ter a primeira exposição em nome próprio na Alemanha, intitulada “Os Ideogramas de Berlim”, onde serão expostos “uma série de ideogramas inspirados na escrita chinesa e nas paisagens da capital alemã”. Uma outra exposição, que vai durar entre Outubro e Dezembro, também promovida por Cheong Kin Man e Marta Sala, conta com o apoio do Fórum da Sociedade Cooperativa Berlinense, chama-se “As Intervenções Utópicas nas Paisagens de Berlim”. Para esta mostra poderão ser convidados artistas de Macau, confessou o antropólogo.
Hoje Macau EventosCCM acolhe “A Inesperada Família” em Setembro As produções locais estão de regresso aos palcos do Centro Cultural de Macau (CCM). Isto porque entre os dias 23 e 24 de Setembro o musical “A Inesperada Família” estreia no pequeno auditório. Com encenação de Mabina Choi e dramaturgia de Mok Keng Fong, o espectáculo “retrata as peripécias de um grupo de pessoas que, impelido por uma alegre energia, se muda furtivamente para uma grande loja de mobiliário”. “Levado pelas mesmas ilusões, buscando um determinado estilo de vida, aspirando aos mesmos sonhos e padrões da classe média, o bando torna-se mais íntimo, transformando o espaço público num improvável lar”, revela uma nota de imprensa. O espectáculo “A Inesperada Família” é, assim, “um divertido musical local concebido por um grupo de artistas com uma visão e experiências em comum”. Humor a rodos Mabina Choi, natural de Macau, mas actualmente a residir em Hong Kong, traz, assim, ao território “uma história bem-humorada, cantada e dançada ao som de temas originais inspirados em clássicos da pop cantonense”. Haverá, portanto, em palco uma interpretação de uma “diversidade de géneros” musicais, sendo que a direcção musical e arranjos estão a cargo de Wong Yee Lai, oriundo de Hong Kong. A coreografia é assinada pela bailarina de Macau Annette Ng. Este musical faz arte do programa de comissões da responsabilidade do CCM, com o objectivo de “incentivar as artes performativas na região e dar visibilidade a projectos social e culturalmente relevantes, tendo como alvo uma diversidade de públicos”.
Hoje Macau EventosComércio | Arraiais de promoção ao consumo arrancam no próximo mês A fim de incentivar o consumo no comércio tradicional, o Governo vai continuar a organizar os arraiais de comércio nas zonas de Taipa, Coloane e Rua dos Ervanários, na península de Macau. A ideia é que, com a ajuda do telemóvel e da tecnologia de Realidade Aumentada, os residentes e turistas possam comprar de uma forma lúdica e divertida A zona da Taipa irá receber no próximo mês a actividade “Arraial na Taipa”, destinada a promover o comércio local. O evento, organizado pela Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT), pretende receber os turistas que chegarão a Macau no período da Semana Dourada de Outubro, aquando da celebração do aniversário da implantação da República Popular da China. A ideia é que o “Arraial da Taipa” possa “atrair residentes e turistas a divertirem-se e consumirem naquele bairro através da introdução da tecnologia RA (Realidade Aumentada) com características do bairro, conjugada com benefícios de consumo e ofertas de prémios, de modo a dinamizar a economia do bairro comunitário”. Os comerciantes irão receber formação sobre esta tecnologia, de forma a poderem participar na actividade, estando a ser preparadas as instalações com o apoio de uma associação comercial local. Actividades como o “Arraial na Ervanários”, que decorre na Rua dos Ervanários, na península de Macau, e “Arraial em Coloane” irão prolongar-se até finais de Outubro. Bons resultados Os dados mostram que estes arraiais têm registado uma grande participação do público, além de contribuírem “para prolongar o tempo de permanência dos residentes e turistas nos bairros comunitários e estimular o consumo”. Desta forma, as autoridades entendem que os arraiais “desempenham um papel positivo na promoção dos negócios dos comerciantes nos bairros comunitários”. Lançado em Novembro do ano passado, o “Arraial dos Ervanários” registou, até à última quarta-feira, 47 mil participantes no jogo AR, tendo sido distribuídos mais de 95 mil cupões de compras das lojas aderentes. De acordo com os dados apurados nos inquéritos, cerca de 82 por cento dos inquiridos afirmaram que o tempo de visita foi prolongado e cerca de 78 por cento responderam que consumiram mais devido à actividade em questão. Por sua vez, o “Arraial em Coloane”, criado em Abril deste ano, teve, até 17 de Agosto, 16 mil participantes no jogo AR, além de terem sido distribuídos aos participantes mais de 192 mil cupões de compras das lojas aderentes. De acordo com os dados apurados nos inquéritos, cerca de 86 por cento dos inquiridos disseram que o tempo de visita foi prolongado e cerca de 81 por cento responderam que consumiram mais devido ao arraial.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteIIM | Crónicas de Jorge Sales Marques sobre a pandemia editadas em livro Jorge Sales Marques, médico pediatra e anterior porta-voz dos Serviços de Saúde de Macau para as questões relacionadas com a pandemia, acaba de editar, com a chancela do Instituto Internacional de Macau o livro “Covid-19 – Artigos e entrevistas durante a pandemia”. O autor entende que a obra não é mais do que uma “ferramenta” para não esquecer o passado e evitar erros no futuro “Covid-19 – Artigos e entrevistas durante a pandemia” é a obra de Jorge Sales Marques que acaba de ser editada pelo Instituto Internacional de Macau (IIM) e que não é mais do que uma compilação de crónicas de jornal e entrevistas concedidas pelo médico pediatra sobre a pandemia, não apenas em Macau como também em Portugal, onde trabalha actualmente. Jorge Sales Marques foi, no início da pandemia que mudou o mundo, o porta-voz dos Serviços de Saúde de Macau (SSM) para estas questões. “Para mim este livro é uma ferramenta para não nos esquecermos das coisas boas que foram feitas e para que possamos evitar repetir os mesmos erros numa próxima pandemia”, contou o autor ao HM. “Fui porta-voz dos SSM e, quando regressei a Portugal, ainda não levavam muito a sério o vírus que vinha do Oriente. Depois de ter dado várias entrevistas e escrito imensos artigos sobre a covid-19, achei que seria útil compilar 60 desses textos em livro”, acrescentou. Sales Marques entende que a obra é uma “memória descritiva” do bom e do mau que aconteceu “por falta de experiência” ou por “pura e simples teimosia”. “Não devemos voltar a repetir as mesmas asneiras num futuro próximo que poderá ser já amanhã porque mais pandemias virão e, desta vez, teremos de estar mais bem preparados para evitar mortes desnecessárias”, referiu ainda o médico. Vacinar e vacinar Questionado sobre a actual situação pandémica em Macau, que recentemente registou um surto que obrigou a um confinamento parcial da população, Jorge Sales Marques diz não estar “espantado” com o ocorrido. “Houve um surto que levou a diversas tomadas de posição por parte das entidades competentes, uma vez que a variante Ba5 da Ómicron é mais contagiosa e o uso de uma simples máscara cirúrgica pode não ser totalmente eficaz, daí ter-se optado pela máscara KN95. Sobre o confinamento prolongado, é uma decisão das entidades que decidiram ser o melhor para parar a propagação do vírus.” Neste sentido, Jorge Sales Marques volta a insistir na necessidade de aumentar a taxa de vacinação, sobretudo no seio da população idosa. “É importante a vacinação da população com três doses e, quiçá, com uma quarta dose para as pessoas idosas que, do ponto de vista imunitário, são mais frágeis, apresentando um maior risco de mortalidade. Não foi por acaso que os casos fatais ocorreram nesta faixa etária.” Para o médico, “quanto maior a percentagem de pessoas vacinadas menores serão os dias que terão de estar confinadas”, disse.
Hoje Macau EventosFernando Pessoa | Publicada primeira antologia organizada por Casais Monteiro Fernando Pessoa nunca teve “o imediato como valor de expressão poética”, afirma o escritor e ensaísta Adolfo Casais Monteiro, na introdução à antologia do autor de “Mensagem”, uma edição pioneira que organizou e que é publicada na próxima quarta-feira. Para o poeta, tradutor, professor, crítico e ensaísta Adolfo Casais Monteiro (1908-1972), um dos primeiros investigadores a ousar “a construção de um percurso reflexivo” sobre a obra pessoana, Fernando Pessoa é “um dos quatro maiores” da poesia portuguesa, ao lado de Luís de Camões, Teixeira de Pascoaes e Antero de Quental. Na antologia “Poesia de Fernando Pessoa”, que organizou na década de 1950, uma das primeiras dedicadas ao poeta, e para a qual escreveu a introdução, Casais Monteiro afirma que “nem por sombras” pretende “‘explicar’ a poesia” do criador de Alberto Caeiro e Álvaro de Campos, referindo a sua obra como ”um produto de cultura, uma dessas obras cujas raízes vão buscar o mínimo de sangue que lhes é necessário a uma tradição literária”. O “segredo” do poeta Pessoa “é que ele transforma, diga-se assim, em emoções os seus pensamentos”, “sensibilizou o cerebral, deu raízes de existência ao absoluto”, escreve o autor de “Canto da Nossa Agonia” sobre o criador de “Chuva Oblíqua”. A antologia, publicada sob a chancela da Editorial Presença, conta mais de 30 poemas de Pessoa, incluindo dos seus heterónimos Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Casais Monteiro defende uma absoluta unidade na obra de Fernando Pessoa, mesmo tendo em conta os seus heterónimos.