Hoje Macau Eventos25 de Abril | João Afonso actua terça-feira no CCM [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] músico português João Afonso vai actuar em Macau na próxima terça-feira, num concerto integrado nas comemorações do 25 de Abril em que vai dar a conhecer o seu mais recente álbum “Sangue Bom”. O álbum foi editado em Fevereiro de 2014 e é constituído por 14 canções, todas compostas por João Afonso, exclusivamente com poemas dos escritores José Eduardo Agualusa e Mia Couto, de quem é amigo e “grande admirador das suas obras”. “Neste concerto vamos apresentar as canções de ‘Sangue Bom’ mas iremos também viajar no universo do meu trabalho, desde [o álbum] ‘Missangas’, e apresentar canções do meu tio José Afonso relacionadas com o 25 de Abril e com a liberdade”, disse à agência Lusa João Afonso. “Sangue Bom” é o sexto álbum de João Afonso, seguindo-se a “Missangas” (1997), “Barco Voador” (1999), “Zanzibar” (2002), “Outra Vida” (2006) e “Um Redondo Vocábulo” (2009). “Com a excepção de ‘Um Redondo Vocábulo’, que se compõe de canções de José Afonso, “Sangue Bom” tem a particularidade de não ter palavras ou textos meus, ao contrário dos restantes CD. Este trabalho tem músicas minhas sobre os poemas de dois grandes escritores e grandes amigos: José Eduardo Agualusa e Mia Couto”, destacou. Macau no coração Com várias passagens por Macau e outras partes da Ásia, o músico recordou a actuação na RAEM em 2008 com o pianista João Lucas para fazer a apresentação do trabalho “Um Redondo Vocábulo”. “Macau está presente na minha vida e no meu imaginário desde sempre pois o meu pai viveu aí na infância e ainda hoje tenho familiares muito próximos e alguns amigos em Macau. No ‘Barco Voador’ tenho uma canção dedicada a Macau chamada ‘Rio das Pérolas’”, afirmou. “Todos os públicos são especiais e com características diferentes. Macau é particular e, apesar da distância geográfica, sinto que há uma atenção especial pelo que se faz em Portugal. Tenho sido sempre recebido com muito carinho por um público atento e participativo com o qual tenho muita vontade de partilhar as novas canções”, acrescentou. Por outro lado, considerou emocionante cantar e comemorar em Macau a “Revolução da Liberdade”. O concerto de terça-feira, que acontece no Centro Cultural de Macau às 20h00, é promovido pela Casa de Portugal em Macau. No âmbito das comemorações do 25 de Abril vai ser ainda apresentado um disco com poemas alusivos à data de vários poetas portuguesas e musicados por artistas que trabalham com esta associação, disse a presidente Casa de Portugal, Amélia António, à Rádio Macau. Os bilhetes custam 50 patacas. LUSA/HM
Hoje Macau EventosCasa Garden | Exposição de pintura a óleo inaugura na terça-feira Levou oito anos a ler o livro “O Sonho do Pavilhão Vermelho” e agora retrata-o em diversas pinturas a óleo. Obras para ver na Casa Garden a partir da próxima semana [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] galeria principal da Casa Garden vai inaugurar a 19 de Abril, pelas 18h30, a exposição de pintura a óleo de Zhang Bin “O Sonho do Pavilhão Vermelho”, numa iniciativa da Fundação do Oriente. Segundo o curador Yao Feng, esta exposição tem origem num desafio a que o artista se propôs para uma interpretação do livro homónimo do título da exposição. O “Sonho do Pavilhão Vermelho” de Cao Xueqin é um livro clássico com uma forte conotação cultural. “Na China, não há nenhuma outra obra de literatura que expresse de forma tão magistral a beleza da natureza humana como este livro”, acrescenta o curador, sendo que existe um grande número de artistas na área da literatura, pintura, teatro, cinema e outras formas de arte que têm interpretado este clássico da literatura. Em forma de pintura, Zhang Bin é um dos poucos que terá posto mãos à obra. “Não importa de que forma, para mostrar o profundo significado do Sonho do Pavilhão Vermelho é preciso lê-lo e amá-lo.” Zhang Bin, após oito anos de leitura, mostra agora ao mundo uma série de pinturas inspiradas na obra em que “o objecto da pintura é a alma, tentando, na sua forma original, mostrar uma ideia bonita e irreal através da alternância da cor do mundo, com a expectativa de conduzir o observador através do sonho que ele pretende representar”, remata o curador. Identidade O artista é natural da cidade de Harbin e estudou na Faculdade de Design e Belas Artes e no Centro de Artes Performativas em Pequim, de 1989 a 1994. Em 1994, formou-se e foi destacado pelo Governo Central para o “Orient Song and Dance Group” como designer. Tem desempenhado sempre funções de designer e foi responsável pela concepção de palcos em algumas grandes companhias de arte performativa de música e de dança, como a Beijing TV Party, a Shangai TV Party, a Shanghai International Automobile Expo, etc. Tem exposto na China e em diversas partes do mundo, como nos Estados Unidos, Coreia, etc. As suas obras já foram referidas em diversas publicações e fazem parte de colecções nacionais e estrangeiras. A exposição estará patente até 19 de Maio e conta com entrada livre.
Hoje Macau EventosExposição da arte de Weingart estará patente em Macau [dropcap style=’circle’]I[/dropcap]naugura amanhã, pelas 18h30, na Galeria do Tap Seac, a exposição “Tipografia Weingart” do designer internacional homónimo. Com a exibição de mais de 200 obras, esta mostra foi curada especialmente pelo Museu de Design de Zurique para o artista, sendo que todas as peças são pertença das colecções do próprio museu. Weingart, segundo a organização, é visto como “enfant terrible da tipografia moderna suíça”, cabendo-lhe ainda o título de mentor da revolução desta arte na medida em que representa a “escrita de um novo capítulo na história internacional do design”. Terá dado início à violação das regras estabelecidas na tipografia a partir de meados dos anos 60, “libertando as letras do espartilho do ângulo recto, reajustando os espaços entre as letras e reorganizando a sua composição topográfica”. Nos anos 70 começou o processo de transformação de filmes de reticula em colagens depois impressas em offset numa espécie de prelúdio da amostragem digital da “Nova Vaga” pós-moderna, ao mesmo tempo que esgotava a manualidade da impressão tipográfica. São também conhecidos os seus trabalhos posteriores em que faz uso da fotocopiadora nas suas criações. Actualmente é também professor na Escola de Design de Basileia e tem deixado marca em várias gerações de designers. Mais abrangente De modo a proporcionar aos visitantes a possibilidade de apreciação da arte e da composição tipográfica característica dos trabalhos do designer, marcada pelo uso da colagem e da combinação de diversas técnicas no desenvolvimento das suas obras, a organização adianta que a exposição foi especialmente concebida de modo a que incluísse um leque abrangente e representativo de trabalhos, tendo sido seleccionadas peças que contemplam diferentes temas entre os quais obras experimentais provenientes do projecto “Composições Circulares” das “Imagens de Linhas” bem como vários estudos e experiências de “ A Letra M” e ensinamentos do próprio autor através de obras dos seus alunos em que o visitante poderá aceder aos seus métodos de ensino. Este evento é organizado pelo Instituto Cultural e conta com o apoio do Consulado Geral da Suíça em Hong Kong e Macau, do Instituto de Design, o Instituto de Educação Vocacional e da “Conecting Spaces” e estará patente até 12 de Junho, com entrada livre.
Hoje Macau EventosMúsica | Rádio Macau convida população a assinalar dia do disco Idos os tempos de andar na rua com o disco debaixo do braço para emprestar ao amigo, há ainda quem não queira deixar este objecto de lado. O “Record Store day” existe para o lembrar e o território também quer fazer parte. Assim, a Rádio Macau vai dar essa possibilidade a quem quiser mostrar o seu vinil preferido, num programa durante todo o dia de amanhãPessoal e transmissível O convite é “mesmo para todos” e as escolhas são pessoais, do mais antigo ao mais recente amante do vinil e aos djs que possuem colecções substanciais. Os interessados devem dirigir-se amanhã ao longo do dia, de vinil na mão, às instalações da Rádio Macau, no sétimo andar do Edifício Nam Kwong. O “Record Store Day” foi criado em 2007 por um conjunto de lojas de discos independentes e dos seus funcionários de forma a celebrar e divulgar a sua cultura única. O primeiro foi celebrado a 19 de Abril de 2008 e desde aí todos os terceiros sábados desse mês são festejados, sendo que actualmente a comemoração já cobre o mundo inteiro. O dia é ainda assinalado com a promoção das mais diversas iniciativas que incluem vários eventos, lançamentos de edições especiais de CDs e vinil e de produtos promocionais associados.
Hoje Macau EventosPatrick Deville na Livraria Portuguesa este sábado [dropcap]O[/dropcap] autor francês Patrick Deville vai estar na Livraria Portuguesa no próximo sábado, pelas 18h00 para uma conversa acerca do seu percurso enquanto autor, do seu trabalho e do projecto “Casa dos Escritores e Tradutores Estrangeiros”. Numa iniciativa promovida pela Alliance Française de Macau, em conjunto com o Festival Literário Rota das Letras, os interessados poderão conhecer mais detalhadamente Patrick Deville e o que é, para ele, ser também escritor de viagens. Segundo a organização, Deville não escreve histórias de viagens, mas sim crónicas protagonizadas por personagens excepcionais, que o autor vai procurando aquando das suas deslocações. Também director da “Casa dos Escritores e Tradutores Estrangeiros” em França, cargo que “encaixa nesta sua paixão pelas histórias de outros lugares”, este é ainda o lugar que representa uma espécie de “céu que dá as boas vindas a autores de todos os cantos do mundo” enquanto também organiza colóquios, tem a seu cargo a publicação de uma revista e diversos textos bilingues. O seu trabalho “Peste e Cólera”, que retrata a vida de um bacteriologista, é considerado um dos seus mais relevantes romances estando nomeado para diversos prémios literários tendo sido já galardoado com o prémio Fnac e Femina. Esta é ainda uma ocasião para os interessados em ter esta obra ou o livro Kampuchea autografado pelo autor. A entrada é livre.
Hoje Macau EventosiAOHiN | Exposição de arte tradicional e proibida marca reabertura Para dar a conhecer um Tibete longínquo, chega a Macau a arte dos mosteiros lado a lado com o trabalho de artistas contemporâneos filhos da terra, enquanto exilados [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Galeria iAOHiN vai reabrir após remodelações com a inauguração de uma exposição dedicada ao Tibete. Agendada para 22 de Abril às 18h00, a mostra “Tibete Revelado: um olhar profundo da arte do topo do mundo” tem entrada livre e, segundo a iAOHiN, muito para além do aspecto religioso, a arte tibetana do séc. XXI será apresentada de modo a dar a conhecer o espírito multifacetado da região, num caminho que vai desde as pinturas de rolo budistas oriundas de mosteiros remotos ao “olhar” de artistas agora exilados. Tendo em conta a procura, nomeadamente, ocidental, do “exotismo” da cultura tibetana é objectivo desta exposição dar a conhecer a mesma através de diferentes abordagens. Para Simon Lam, curador da exposição onde estarão patentes cerca de 20 pinturas contemporâneas e 30 pinturas de rolo, os chamados Thangka, a galeria pretende mostrar “como a cultura e a religião tibetana estão preservadas tanto na região como no exílio, como é que os tibetanos vivem e como a sua história é vista na sua perspectiva”. Dos Thanka à arte contemporânea A tradição centenária criada pelos monges budistas e com transmissão geracional, representada pelos Thanka, conta com trabalhos mais antigos cedidos pela Instituto de Arte Étnica de Pequim, alguns dos quais da altura da dinastia Qing. Peças mais recentes vêm do mosteiro de Wutun em Rebgong conhecido pela sua tradição no ensino desta arte. Paralelamente aos Thanka estão os trabalhos, agora pela primeira vez apresentados em solo chinês, de artistas contemporâneos da região que estão exilados. O que, segundo o site da galeria, “espera pôr a mexer a controvérsia e testar o sistema independente de Macau” dada a sua proibição em território continental. Tashi Norbu, artista da diáspora tibetana com cidadania belga e neste momento a viver e trabalhar na Holanda, cresceu na arte tradicional dos Thanka nos escritórios do Dalai Lama em Dharamsala, na Índia. Terminou a sua formação na Academia de Artes Visuais de São Lucas, Bélgica, e tem vindo a desenvolver trabalho numa perspectiva abrangente onde cabem as suas primeiras influências tradicionais ligadas ao Budismo e ao Tibete mescladas com os conhecimentos e a arte ocidental. Tashi Norbu virá directamente da semana da Ásia em Nova Iorque para a RAEM e irá levar a cargo um workshop para crianças a 23 de Abril, também na galeria. Também em exposição e vindos do Museu Rubin de Nova Iorque estarão trabalhos de Rabkar Wangchuk, que têm vindo a correr mundo. Filho de pais refugiados, o artista estudou Filosofia Budista Tibetana durante 17 anos na Universidade Tantrica Gyudmed, também na Índia, onde recebeu formação na pintura dos Thangka e desenvolveu trabalho na escultura em madeira e areia, nos mandalas de areia e arquitectura Stupa. Ao longo dos anos muitas têm sido as suas influências, entre as quais Dali, Gaugin ou Picasso. Segundo a organização, de destaque é também a presença de três obras da colecção pessoal do artista de renome internacional Karma Phuntsok, agora exilado na Austrália. Nascido em Lhasa em 1952 também estudou pintura Thanka, no Nepal, depois do refúgio na Índia, e vive actualmente na Austrália. Diz a galeria que a “beleza e riqueza do seu trabalho é influenciada pela diversidade das suas experiências de vida desde a infância no Tibete sob a opressão chinesa, até à vida de refugiado na Índia, à vida actual no ‘bush’ australiano e a veneração que tem ao Dalai Lama”. A exposição estará patente até 20 de Junho e conta com entrada livre.
Flora Fong Eventos ManchetePintura | Filipe Miguel das Dores é premiado em Inglaterra e recorda Luís Amorim Filipe Miguel das Dores, jovem pintor de Macau, ficou em segundo lugar num prémio atribuído pelo Royal Institute of Painters in Water Colours, no Reino Unido, com uma pintura da Livraria Portuguesa. Com outra obra – “The September after 18 years” – o jovem chamou a atenção para a morte de Luís Amorim [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]inta com aguarelas e está a fazer sucesso no Reino Unido. É assim o jovem Filipe Miguel das Dores, que participou pela segunda vez com duas obras na exposição anual do Royal Institute of Painters in Water Colours. De entre mais de duas mil obras provenientes de todo o mundo, a obra de Filipe Miguel das Dores, intitulada “Working Alone”, acabou por ficar em segundo lugar no “Leatherseller’s Award”. A obra premiada apresenta a Livraria Portuguesa como pano de fundo. “Numa noite escura, num canto do edifício, revelou-se um pouco de luz onde se trabalhou sozinho. Numa rua sem ninguém, mostrou-se um pouco dos traços pelos quais os humanos passaram”, descreveu o artista na sua página do Facebook. “É bastante difícil pintar a proporção de centenas de azulejos nas paredes do edifício com tanta precisão”, descreveu. Filipe Miguel das Dores “gosta muito” de mostrar a sua visão do mundo e do espaço através dos desenhos de edifícios. Nesta obra, o jovem levou mais de 300 horas para concluir sozinho a pintura em aguarelas, feita com papéis grossos pintados com múltiplas camadas. Ao HM, o artista explicou que estava muito nervoso antes da atribuição do prémio, porque já tinha ganho o “The John Purcell Paper Prize” o ano passado, com a obra “A noite de Mário”. “Muitos amigos pressionaram-me, de certa forma, porque já ganhei uma vez. Acho que tive a sorte de ganhar novamente, foi uma espécie de bónus para mim.” Filipe Miguel das Dores confessou que outra das surpresas foi ter artistas estrangeiros e o próprio público a observar a sua obra e a tecer comentários positivos. Lágrimas por Luís Outra obra de Filipe Miguel das Dores chama-se “The September after 18 years”. A pintura mostra a parte de baixo da ponte Governador Nobre de Carvalho e, ainda que não tenha ganho qualquer prémio, revela um outro sentido, referindo-se ao aniversário de Luís Amorim, jovem que apareceu morto em Macau. “Quantas lágrimas se podem esconder num céu escuro? Criei esta obra por causa do meu amigo Luís Amorim, que morreu em 2007. As autoridades de Macau defenderam que ele se suicidou e decidiram acabar com a investigação, mas os pais não acreditaram. Afinal a autópsia em Portugal revelou que o Luís morreu por ter sido espancado. Mas Macau não quis voltar a investigar o caso. Então nós passamos todos os dias naquele lugar como de costume, mas os pais dele perderam o mundo a partir daquele dia”, contou ao HM. A morte de Luís Amorim e a criação desta obra levou Filipe Miguel das Dores a participar em competições internacionais para que mais pessoas lá fora tenham conhecimento do caso. “Sendo cidadãos de Macau acreditamos que todos têm o direito de exigir uma nova investigação ao caso, para que voltemos a acreditar nos órgãos judiciais e numa sociedade de Direito”, rematou.
Hoje Macau EventosLiteratura | “Macau Confidencial” é o novo livro de João Guedes Sabia que o Iberismo teve origem em Macau? E que o Partido Comunista do Vietname foi fundado por cá, no Hotel Cantão? São estes segredos e outros que o investigador João Guedes desvenda, no seu mais recente livro [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]hama-se “Macau Confidencial” e é o novo livro do investigador da História de Macau João Guedes. A obra, recentemente publicada, relata episódios guardados a sete chaves durante décadas, como o jantar que desencadeou o Iberismo ou a fundação do Partido Comunista do Vietname. O livro fala “de variadíssimos episódios situados nos finais do século XIX mas principalmente nos inícios do século XX, até à ascensão de Salazar, que foi um período interessantíssimo da história de Macau”, explicou João Guedes à agência Lusa, destacando três momentos: o Iberismo, a coincidência (ou não) da I República em Portugal e na China e a fundação do Partido Comunista do Vietname. O “Iberismo”, ideologia que defende a unificação política de Portugal e Espanha, que teve o seu apogeu na segunda metade do século XIX, como narra João Guedes, é “bem conhecido”. Contudo, talvez poucos saibam que a ideia de união ibérica, dois séculos depois da restauração de Portugal em 1640, teve o seu nascimento, de facto, no Paço Episcopal de Macau. A corrente que pretendia unir as duas coroas teve como impulsionadores Jerónimo José da Mata, bispo da diocese de Macau, Carlos José Caldeira (seu primo), enviado especial do Governo português à China, Sinibaldo de Mas, catalão de origem e ministro plenipotenciário de Espanha na China, o padre canonista J. Foixa e o dominicano espanhol J. Fernando, que “selaram num jantar”, no Verão de 1850, um pacto “em que se brindou à Ibéria e à ‘conveniência da união pacífica e legal de Portugal e Espanha’”, escreve o também jornalista na sua mais recente obra. “Esses vultos da altura entendiam que Portugal e Espanha deviam unir-se porque estavam em perigo os seus respectivos impérios ultramarinos”, detalha o jornalista e investigador, observando que “este assunto é substancialmente mais tratado e publicado em Espanha do que em Portugal”. Da terra ao mar Relacionado com o Iberismo surge outro “episódio raramente contado”: “O mistério do maior desastre naval ultramarino português dos últimos 200 anos”, em 1850. “Na explosão da fragata D. Maria II [enviada para Macau após o assassínio do governador Ferreira do Amaral, em Agosto de 1849], na Taipa, morre quase toda a tripulação constituída por 200 marinheiros. Foi um desastre que resultou de uma acção das seitas, das tríades, porque estava em Macau como parte de uma força expedicionária – que incluía depois a Corveta Íris e uma outra fragata – com a missão de invadir a região” vizinha em torno da então colónia portuguesa, desvenda João Guedes. “Esse projecto, completamente peregrino, não chegou depois a ser subscrito em Portugal mas tinha defensores no governo português. Mas, com a explosão da fragata, esse plano tolo caiu completamente”, realça. Neste livro de João Guedes “há também a história completamente escondida do movimento anarquista chinês que tem em Macau o seu quartel-general no início do século XX”. “E depois tento esclarecer – mas não esclareço – a coincidência de datas na proclamação das duas repúblicas (1910 em Portugal, 1911 na China). Penso que não é apenas coincidência e dou algumas achegas nesse sentido, mas é preciso ainda estudar mais sobre isso”, continuou João Guedes. Outro episódio revelado no livro prende-se com a fundação do Partido Comunista do Vietname, no Hotel Cantão, “um segredo que é guardado durante mais de 70 anos”. “O Komintern, a Internacional Comunista desse tempo, está em pleno vigor e Macau é um dos centros de controlo do Komintern – clandestino, claro. E realiza-se aqui o primeiro congresso do Partido Comunista do Vietname, com Ho Chi Minh, que vivia em Macau”, explica. “São estes episódios que eu diria confidenciais porque Macau era uma cidade demasiado pequenina para ter segredos verdadeiros. Creio que muita gente saberia do que se passava, mas o consenso era o de que era melhor não se falar sobre isso”, considera. Também, “nessa altura já da formação do Partido Comunista Salazar já estava no poder, pelo que era melhor não tocar em assuntos incómodos”. “Macau Confidencial” tem por uma base uma série de artigos escritos semanalmente no Jornal Tribuna de Macau ao longo de mais de dois anos, de uma forma esparsa. A obra integra a colecção do Instituto Internacional de Macau (IIM) intitulada “Suma Oriental”, obra de Tomé Pires, o primeiro embaixador designado por Portugal para ser presente ao Imperador da China, e dos primeiros autores que escreveram sobre o Oriente. A colecção pretende dar “modesta continuidade” à “Suma Oriental” iniciada no século XVI. LUSA/HM
Hoje Macau EventosDocumentários em festival na Cinemateca Paixão [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]realizador português Pedro Costa vai estar em destaque na primeira edição do Festival Internacional de Documentário de Macau (MOIDF, na sigla em inglês), que arranca a 22 de Abril, na Cinemateca Paixão. O festival prevê a exibição de três filmes de Pedro Costa: “Nada Muda” (29 de Abril), “No Quarto da Vanda” (30 de Abril) e “Cavalo Dinheiro” (1 de Maio). Outros realizadores portugueses vão estar representados na edição inaugural do evento: João Pedro Plácido (“Volta à Terra”) e Laura Gonçalves (“Três Semanas em Dezembro”), cujos filmes vão ser projectados em dois dias (24 e 28 de Abril). Da programação faz também parte “Noite Sem Distância”, do espanhol Lois Patiño, uma curta-metragem filmada em Portugal, com exibições marcadas para os mesmos dias. O festival, que encerra a 1 de Maio, abre com “The Taste of Youth”, do realizador Cheung King-wai, que se estreou recentemente no Festival Internacional de Cinema de Hong Kong. Com um total de 18 documentários, o festival, organizado pela associação Comuna de Han-Ian, conta, entre outros destaques, com “Táxi”, do cineasta iraniano dissente Jafar Panahi, vencedor do Urso de Ouro do Festival de Cinema de Berlim do ano passado, e “The Look Of Silence”, do norte-americano Joshua Oppenheimer, que foi nomeado para melhor documentário, na 88.ª edição dos Óscares, realizada em Fevereiro. Estreado em Portugal com o título “O olhar do silêncio”, em 2014, o documentário de Oppenheimer sucede a “O ato de matar”, que aborda os massacres de opositores do regime, na Indonésia, sobretudo na década de 1960, colocando agora os assassinos frente a frente com sobreviventes e familiares das suas vítimas.
Manuel Nunes Eventos MancheteSally Victoria Benson, actriz: “Indústria chinesa do cinema é fantástica” Cresceu em Macau, estudou Artes Dramáticas na Austrália mas fez toda a sua carreira de actriz em mais de 15 filmes na China. Hoje começa a rodar o seu primeiro papel em Inglês e em breve espera aterrar em Los Angeles. Em princípio recusaria filmar nua a menos que fosse Scorsese ou Di Crapio a proporem Como começou a relação com Macau? Vim para aqui em 1993, tinha oito anos. O meu pai treinava cavalos no Jockey Club. Vivi em Macau até aos 16 anos e depois voltei para a Austrália para acabar a escola secundária. Como foi crescer em Macau? Sou parte dos residentes que vivem num hiato de nostalgia. Foi incrível. Divertido, seguro e interessante. Mas não havia muito para fazer, não havia formas de expressar a criatividade. Mas ainda assim era divertido… Era. Acho que o que me dificulta a vida aqui como adulto são essas memórias do passado a que ainda me agarro e a luta para aceitar o novo Macau. Claro que há coisas boas que vieram com isso… Tais como? Mais oportunidades para as pessoas. Devo reconhecer que tinha uma vida privilegiada. Era uma criança expatriada com uma boa vida e não de uma família com poucos rendimentos a lutar pela sobrevivência numa cidade com uma má economia. Que significa então “divertido”, se havia pouco para fazer? Toda a gente se conhecia. Não havia telemóveis nem iPads. Íamos para o parque de skate (que já não existe) perto do Hollyday Inn, jogávamos à bola, andávamos de bicicleta na vila da Taipa antes da renovação. Também frequentávamos muito Cheoc Van, o que ainda é uma tradição pois felizmente tem sobrevivido ao desenvolvimento. E era barato viver aqui. Por isso quando tínhamos dinheiro, pouco que fosse, dava para imensas coisas. Entretanto, já na Austrália, foi estudar representação… Sim, fui para o Actor’s Center em Sidney e depois, como todos os actores em todo mundo, percebi rapidamente quão difícil era encontrar trabalho. (risos) E continuou na Austrália? Ainda estudei Jornalismo como plano B, para estar preparada para apresentadora de TV porque lá é preciso saber escrever para desempenhar o lugar e eu não sabia. Enquanto estava entre agentes e trabalhos em restaurantes como os actores fazem, resolvi ir para a China pensando que se aprendesse a língua, como tinha um ar diferente, talvez tivesse alguma hipótese. A ideia era participar nalgumas séries, juntar dinheiro e depois ir para Los Angeles. O que finalmente parece que vai acontecer… Sim, estou à espera do visto e espero ir em breve. Acha que ainda é preciso estar em Hollywood nos dias de hoje? Existem dois lados: pode-se realmente viver num lado qualquer se se tiver contactos e agente. Mas é sempre preciso um visto e ainda agora perdi dois papéis em filmes chineses que estavam a ser filmados em LA porque não consegui um visto a tempo. Mas demorou o seu tempo até chegar o momento de partir para Hollywood… Sim, acabei por estar muito mais tempo na China do que pensava e só acabou por ser uma opção muito recentemente. Pensava eu, ingenuamente, que ao final de um ano já conseguia dominar o Chinês mas demorou-me três anos até me sentir confortável no “set”. Mas tem um plano específico para Hollywood? Assim que tiver visto, vou. Mas o grande objectivo é estar disponível para trabalhar lá e deixar de perder castings. Por isso, candidatei-me a um visto para artistas especiais baseado no facto de falar Mandarim. Mas tenho compromissos em Macau nos próximos seis a oito meses. O que está a acontecer em Macau? Está efervescente o meio? Não sei se está efervescente mas sinto que há muita gente com vontade de fazer coisas. Para já começo a filmar hoje o novo filme do Thomas Lim (“Mar de Espelhos” – ver HM de 6 de Abril). É uma boa história e gosto do meu papel. Que papel vai ser esse? O de Isabel, uma actriz americana, meio acabada, que vem para Macau à procura de algo. E o sotaque americano vai sair? Espero bem que sim. Tenho andado a ter lições nos últimos tempos. Como praticamente tenho feito tudo em Chinês isso tem afectado a minha gama de sotaques em Inglês. Voltando atrás e à paixão pela representação. É tudo uma questão de imagem, de aparecer? Acho que foi sempre muito óbvio enveredar por este caminho. Sempre fui muito expressiva e criativa. Na Escola das Nações, onde não havia teatro nem nada disso, existia apenas um concerto religioso por ano. Tinha uns nove anos e convenci o reitor a criar um grupo de alunos para ensaiarmos uma peça após as aulas. Aconteceu e, a partir daí, passou a fazer parte do evento todos os anos. Às vezes até me custa a acreditar como fiz isso com aquela idade e a pressão que fazia junto da minha mãe para me levar para os ensaios. Queria mesmo representar. Além disso via muitos filmes em casa com o meu pai. Cresci com o John Wayne e os westerns todos. O cinema esteve sempre na minha vida sem eu própria perceber. Mas porquê actriz? Porque não realizadora ou outra coisa qualquer? Para ser famosa? Mentiria se dissesse que isso não me passou pela cabeça quando tinha os meus 20 anos mas não penso muito nisso agora. Talvez tivesse sido uma motivação quando as coisas corriam menos bem. Acho que escolhi ser actriz porque não sabia o que pretendia fazer e achei que, como actriz, podia ser qualquer coisa. Na secundária tive teatro, peças de Shakespeare, mas isso nunca me atraiu muito. Mas quando comecei na escola de drama a filmar, o processo todo fascinou-me. Acho que tem muito a ver com a minha personalidade por ser estruturado e organizado e a minha necessidade de ser criativa e de representar. Qual foi a coisa mais importante que aprendeu na escola de drama? (pausa) Para ser sincera, acho que o mais importante que aprendi foi nos “film sets” na China. Na escola foi a dissecar os guiões e a memorizar. Um exemplo de uma lição em filmagem… Esta foi inesquecível: num dos meus primeiros filmes na China tinha algumas cenas com o actor principal e quando chegou a altura do “close-up” ele foi-se embora e apareceu um assistente de produção com um papel à frente da minha cara. Não queria acreditar. Tive de representar com o papel e ainda por cima tinha de chorar. Foi terrível. Saiu tudo mal, ninguém me tinha preparado para uma coisa dessas. Depois disso aconteceu-me várias vezes e tive de me adaptar. Não me ensinaram isso na escola mas deviam. Além disso que mais aprendeu a fazer filmes na China? A trabalhar no duro e a estar preparada, a deixar-me ir no fluxo. Porque não há horários e toda a gente faz tudo. Podem não ser os melhores em tudo mas fazem. Não têm tempo para os nossos problemas, para a nossa atitude. Cada noite, à meia noite, metem-me um horário para o dia seguinte debaixo da porta do quarto e as cenas para filmar no dia, mas 99,9% das vezes muda tudo e temos de adaptar os diálogos. Já alguma vez trabalhou com uma produção que não fosse chinesa? O ano passado, com uma australiana. Foi interessante, organizado, refrescante e fácil, diria. Como vê a indústria chinesa do cinema hoje? Fantástica. Acho que se vai transformar na maior do mundo. Há muitos cineastas talentosos e muita gente com dinheiro. Talvez pela primeira vez na história do cinema há gente que pretende mesmo gastar dinheiro em filmes. Não sei se é pela estrutura, pela forma como as coisas são mostradas e que torna muito mais fácil para um investidor ter o retorno de capital ou por ser uma questão de face para dizerem que estão envolvidos no cinema. Do ponto de vista do espectador, acho que os filmes também estão a evoluir. Há mais cuidado. Uma vez ia filmar e não havia som. Perguntei o que se passava e a resposta foi que depois faziam o som em estúdio porque assim filmavam mais depressa… Qual o papel que adorava fazer? Todos os que a Kate Blanchett faz. Ela nunca tem um mau papel. Penso sempre que adorava ter aquele guião na minha mesa. Que tipo de actriz é? Onde se sente mais confortável? Acho que sou uma boa actriz mas com muito para aprender. Especialmente agora que começo a fazer papéis em Inglês. Esta participação no “Mar de Espelhos” vai ser a primeira na minha língua. Trabalho no duro, sou fácil de dirigir, mas também acho que sou melhor para um determinado tipo de papéis. Quando temos um papel que encaixa connosco fazemo-lo melhor. Por exemplo… Em situações sociais, sei que pareço inacessível e rude então papéis desse género, de uma pessoa fria, meio cabra, encaixam melhor. Tenho feito papéis assim e acho que fiz um bom trabalho. Mas também já fiz o papel esfuziante, cabeça no ar e acho que não estive mal. Mas como actriz tento não lutar contra o meu tipo. Pode ser uma faca de dois gumes. Acha que os papéis podem influenciar a personalidade do actor? Pode acontecer, sim, mas depende da profundidade do papel. Como tenho trabalhado na China e os estrangeiros nunca têm papéis principais, tenho mais tempo para entrar e sair do personagem. Como entra nos personagens? Penso em imagens. Crio uma imagem mental de como a personagem deve ser. Então acho que tem razão quando diz que comigo é tudo uma questão de imagem. Não penso tanto como o personagem sente ou nos valores que possa ter mas como se apresenta, no seu visual. E depois comigo a encarná-la, que imagem vai ter. Só aí leio o guião e começo a entrar no lado emocional. Qual foi o papel em que se sentiu mais emergida? Dois. Um filme rodado na Roménia, o que permitia o outro lado tomar conta. Estava num ambiente diferente, não tinha de ir para casa, levar o cão à rua e isso ajudou. Que papel era esse? O de uma rapariga fria e rica (risos) cujo namorado foge para China e ela vai atrás dele. O outro filme foi um de época, antes da queda da dinastia Qing. Fazia o papel de uma menina rica, filha de um homem negócios. Foi o meu primeiro grande papel e entrei mesmo no personagem. Os personagens que encarna perpassam para a vida real? Não muito mas já dei comigo a pensar que gostava de ser como o personagem e pensar que nunca faria aquilo mas depois vejo-me numa situação real a reagir de uma forma que não estava à espera. Então quer dizer que não podemos confiar num actor… Acho que sim. Os actores, numa definição alargada, são grandes mentirosos. Não quero diminuir a minha profissão, porque ser actor é tornar ficção em realidade. Qual o realizador com que gostaria de trabalhar e porquê? O Feng Xiaogang que fez “You Are The One” porque quando vejo o filme dele aprendo sempre alguma coisa. Apesar de não ser chinesa os filmes dele tocam-me. Não têm é o reconhecimento que deviam ter. E não chinês? Martin Scorsese. E porque adoro filmes de acção, também diria Chris Nolan. Scorsese porquê? Adoro todos os filmes dele. Podemos sempre dizer que ele não faz o filme sozinho e tem muita gente de qualidade a trabalhar com ele. O cinema, de facto, é um trabalho de equipa, mas os filmes dele são diferentes. Histórias que quero ver e onde queria estar, é difícil dizer porquê. Entremos na máquina do tempo. Vamos para daqui a 40 anos. Que gostaria de poder dizer sobre a sua carreira nessa altura? Que tentei mesmo. Posso ou não estar ao nível de sucesso que pretendia mas tentei. Na Austrália, na China, em Macau, em Hong Kong e, se tudo correr bem, em Los Angeles. Aí não terei arrependimentos. Quero poder dizer que fiz. O que é o sucesso? Uma combinação de ser feliz, ter orgulho no que se fez e ser financeiramente estável o que, às vezes, é difícil de atingir nesta indústria. Hollywood metia-me medo. Não tive de coragem de ir quando tinha 21 anos. O que me faz agora querer ir é, por um lado ter trabalho feito e sentir-me mais confiante e, por outro, tenho trabalhado em casting e percebi que o processo às vezes é ridículo e tem pouco a ver com o talento. Que aconteceu? O ano passado sentei-me com um amigo para o ajudar a escolher uma actriz para uma curta. Chegou uma que era perfeita mas ele recusou-a. A razão? Fazia-o lembrar demasiado a ex-namorada. Nesse momento percebi que não vale a pena ter medo e comecei a trabalhar para ir para LA. Não tenho nada a perder e é melhor agora do que depois de ser velha demais. O papel que nunca faria? Nunca pensei nisso. Nunca me aconteceu aparecer um papel que não gostasse. Nunca fiz papel de má, de assassina… Mas talvez aparecer nua. Mas isso pode acontecer em Hollywood… Até estar na cama com alguém… Ainda há dias falava do “Lobo de Wall Street” com uma amiga e dissemos as duas ao mesmo tempo que se fosse com o Scorsese ou o Di Caprio faríamos. Com outros duvido. Felizmente há imensos papéis e estou em condições de dizer não sem ter medo de não poder pagar a renda. Então a resposta seria não… Teria de ser um grande benefício. Caso contrário para quê fazer? Mas só posso dizer: “nunca digas nunca” e decidir caso a caso.
Hoje Macau EventosFRC | Conferência “Resposta Penal à Ameaça do Terrorismo” com Júlio Pereira [dropcap style’circle’]J[/dropcap]úlio Pereira, Procurador-geral adjunto em Portugal e antigo adjunto do Comissário Contra a Corrupção em Macau vai discorrer sobre a forma como os sistema penal deve lidar com a ameaça do terrorismo. Num evento a ter lugar na Fundação Rui Cunha, a 12 de Abril, a conferência irá abordar o ciclo de violência jihadista que se tem manifestado através de atentados nos quatro continentes e que tem causado especial perplexidade na Europa. Muitos países europeus sofreram, na segunda metade do século XX, ataques terroristas de grande amplitude. Adianta o abstracto da palestra que o terrorismo de matriz independentista ou revolucionária, sendo naturalmente repudiado, era por alguns entendido no quadro da disputa geoestratégica do mundo bipolar de então, invocando valores como a liberdade ou o direito à independência dos povos. O terrorismo jihadista, porém, aponta como objectivo imediato a aniquilação de tudo aquilo que se considera como valor adquirido pela humanidade, no que se refere aos direitos humanos, com base numa visão rigorista e oportunista do Islão, como indica a organização. Os europeus não entendem designadamente como é que jovens nascidos e/ou educados em solo europeu, se voluntariam para combater na Síria ou no Iraque ou para cometer atentados nos países em que nasceram ou onde foram acolhidos. A resposta a este problema, corporizada numa estratégia anti-terrorista da União Europeia, “passa também pela lei penal que tem ao longo dos últimos anos sofrido importantes alterações as quais têm também gerado o receio de que possam conduzir a um novo paradigma de direito e de processo penal”, como indica o orador. “Numa altura em que o mundo vive, permanentemente, a terrível ameaça terrorista, esta conferência assume uma relevância especial”, explica a FRC. Integrada no ciclo Reflexões ao Cair da Tarde, a conferência de Júlio Pereira acontecerá na próxima terça-feira, dia 12 de Abril, às 18h30. Terá tradução simultânea e a entrada é livre.
Manuel Nunes EventosCinema | Macau Stories 2 em plataforma online de Singapura Tudo começou há dois anos quando seis filmes constantes do projecto Macau Stories 2 estiveram presentes num festival do Japão. Contactos foram efectuados e agora os filmes estão online no canal Viddsee [dropcap style’circle’]S[/dropcap]eis filmes made in Macau estão disponíveis numa plataforma online de Singapura, depois de terem sido seleccionados após um festival no Japão. O realizador da série Macau Stories 2 – que engloba as seis obras -, Albert Chu, diz que esta é mais uma oportunidade para promover os realizadores de Macau. “Acredito que o networking feito pela plataforma poderá ajudar os realizadores a conseguirem outros projectos”, indica o também membro da Associação Audiovisual Cut. A Viddsee, uma plataforma exclusivamente dedicada a curtas-metragens e baseada em Singapura, apresenta-se como uma rede que inclui algumas das maiores empresas de internet do mundo e procura histórias fortes com valor de produção. É por esta razão que a série Macau Stories 1 não está na plataforma, pois, como disse Albert Chu, “existem problemas na pós-produção dessa série”, o que implicaria um esforço difícil de resolver nesta fase. Para além disso, o responsável da Associação Cut diz que espera primeiro ver quais os resultados desta experiência, para depois considerar a entrada da Macau Stories 3 justificando ainda com o facto de estar a seguir uma ordem cronológica para o lançamento dos filmes na plataforma. A série Macau Stories 2, dedicada ao tema do amor, engloba “June” de Fernando Eloy, a história de uma mulher de meia-idade que pensa que o tempo para amar e namorar já passou. “A Book To Remember” de Jordan Cheng, uma história à volta do livro “Cem Anos de Solidão” de Gabriel Garcia Marquez, onde uma camada de pó espoleta uma memória há muito enterrada, “Frozen World” de Harriet Wong, a aventura de um menino solitário que um dia se encontra com uma menina para uma viagem de barco a uma ilha misteriosa” e “Sofá” de Mike Ao Ieong, que mostra dois amantes, ela de Taiwan, ele de Macau às voltas com um sofá vermelho pela cidade são outros dos escolhidos, que fazem par com “Cake” de Tou Kin Hong, um bolo misterioso que evoca a determinação de um guarda nocturno para descobrir a fonte da doçura na sua vida, e “Shocking” de Elisabela Larrea, a história de um rapaz isolado que um dia se apaixona por uma rapariga vinda do espaço. Da Ásia para o mundo Gerida por gente nova, também eles cineastas, a Viddsee baseia-se na própria experiência dos seus fundadores e na necessidade que todos têm em fazer chegar os seus filmes a uma audiência mais vasta. O objectivo é o de criarem um portal de filmes asiáticos para uma audiência global. A plataforma tem ainda um galardão para os filmes mais vistos e mais falados em cada mês chamada Viddsee Shortee. Em Maio espera-se que Derek Tan, um dos responsáveis da plataforma, venha a Macau para contactos com a comunidade cinematográfica local, o que Albert Chu vê como mais uma oportunidade para os cineastas locais criarem laços e relações pois “nunca se sabe quando é que um produtor vê um dos filmes e convida o realizador para outro tipo de projectos”, reforçou. Edição 4 não se vislumbra Questionado sobre se existem planos para a produção de uma quarta edição de “Macau Stories”, Albert Chu negou pois, segundo ele, “este projecto foi feito para lançar novos valores do cinema local e agora entendemos que eles têm mais formas de conseguirem financiamentos”. Todavia, Chu não descarta a possibilidade: “pode ser que venha a acontecer mas não está nos planos da Cut pelo menos nos próximos dois anos ou três anos”. A edição 2 pode-se encontrar no canal “Macau Stories” da Viddsee em: viddsee.com/series/macaustories.
Manuel Nunes Eventos Manchete“Sea of Mirrors”, novo filme de Thomas Lim, começa a ser gravado amanhã O realizador Thomas Lim volta produzir uma longa-metragem inteiramente filmada no território. “Sea of Mirrors” é a história de uma ex-actriz japonesa que vem a Macau convencida que tem um investidor à espera para fazer um filme. Um puro engano, numa história cuja principal particularidade é ser toda filmada em iPhone [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]omeça a ser amanhã gravado “Sea of Mirrors” (“Mar de Espelhos, em Português), o novo filme de Thomas Lim. Tal como “Roulette City”, o seu filme anterior, a autoria do guião e a produção também estará a cargo do próprio realizador, com um elenco preenchido com actores do Japão, Macau e Hong Kong. Apresentado como um thriller psicológico, “Sea of Mirrors” traz-nos a história de Riri Kondo, uma ex-actriz japonesa, que viaja para Macau com a filha, Nana, para reunir com um potencial investidor que afirma ser seu fã. A proposta: investir num filme realizado por ela. Puro engano, pois a questão tem mais a ver com sexo do que com filmes. Riri desmarca a reunião mas, em retaliação, a filha é raptada e a tentativa para a salvar leva-a à beira da loucura. Actualmente a viver em Los Angeles, Thomas Lim espera criar um filme para distribuição internacional , pelo que reuniu uma equipa de várias origens: a actriz japonesa Kieko Suzuki (também produtora do filme) encaixa no papel de Riri, enquanto Sally Victoria Benson – australiana de Macau – encarna a extravagante actriz americana Isabel. O actor coreano Jay Lim toma o papel do investigador coreano Jang. A designação para o filme surgiu de uma antiga denominação de Macau antes da chegada dos portugueses que, garante Thomas Lim, “era conhecida como “Jinghai” (literalmente “Mar de Espelhos”). O objectivo era o de conseguir um título que remetesse para a cidade, para a reflexão sobre as formas de vida locais, ou, como diz Lim, “uma imagem reflectida do que pensamos de nós mesmos”. Prevendo-se que esteja terminado lá para o final do mês, o filme segue para pós-produção em Los Angeles. O filme traz ainda uma particularidade uma vez que é inteiramente filmado com um iPhone 6S, o que fica a dever-se ao facto do realizador entender que as câmaras do telefone têm a textura visual ideal para a história, para além de se ajustarem bem – do ponto de vista logístico – com a vida real dos principais criadores do filme. Para o efeito, a Direcção de Fotografia vai ser assegurada por Santa Nakamura, um veterano em filmar em iPhone. Para Lim, que julga ser o primeiro filme a ser gravado desta forma em Macau, a ideia é também a de liderar uma nova onda de evolução na forma de fazer cinema no território e de permanecer fiel à sua filosofia de há muito: “o único obstáculo para o cinema é a tenacidade do cineasta. Não a paixão, porque as pessoas podem sempre falar com muita paixão e não tomar medidas. Sem tenacidade não há filmes”, disse. A saga dos cineastas Também ele actor, Thomas Lim escreveu a história com base na sua própria experiência, onde pretende revelar a obsessão de gerir uma carreira e o tormento mental que se sofre quando os holofotes mudam para outro alvo. Como o próprio diz, “ser actor ou cineasta não é apenas um emprego ou carreira, mas um estilo de vida e, provavelmente, uma obsessão. Temos de estar constantemente a estudar ou a praticar. Por isso, quando me perguntam o que eu faço no tempo livre, a minha humilde resposta é sempre: ‘Não tenho tempo livre'”.
Hoje Macau EventosArmazém do Boi | Exposição e revelação de fotografia Chan Wai Kwong, fotógrafo de Hong Kong, regressa a Macau para uma residência artística e exposição no Armazém do Boi. Amor, amizade, laços familiares e a vida dão a temática para a mostra. O fotógrafo mostra ao vivo a revelação de fotografias [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Armazém do Boi abre as portas à sequela de “Amor das Vidas Diárias’, uma colecção de reflexão do fotógrafo de Hong Kong Chan Wai Kwong. Sobre si próprio, a vida e o amor, “Tempos do Amor” é a nova exposição do artista e vai estar em exibição no espaço a partir de 16 de Abril. “Narrativas simples revelando a solidão de um adulto, o cinismo, a sexualidade, bem como os laços familiares, o amor, a amizade e o narcisismo.” São cerca de 300 as fotos a preto-e-branco, reveladas manualmente, expostas de cima para baixo e da esquerda para a direita de forma a criar um impacto visual sobre estes temas. Chan Wai Kwong nasceu em Hong Kong em 1976 e deixou a escola em tenra idade, começando a publicar seus trabalhos em 2010. Até à data, Chan auto-publicou quinze livros de fotografia e, em 2016, a Galeria Zen Foto (Tóquio) publicou ‘Yaumetei’ e curou uma exposição individual do fotógrafo sob o mesmo título. Revelação ao momento Durante a exposição, o artista vai transformar a casa-de-banho do Armazém do Boi numa câmara escura, onde irá revelar as imagens nos dia 23 e 30 Abril, bem como a 7, 14, e 21 Maio das 15h00 às 18h00. Os interessados vão poder juntar-se a ele no processo. Além disso, o artista irá seleccionar um dos participantes para tomar conta do equipamento de revelação, que será oferecido ao participante seleccionado após a conclusão deste programa de artista-em-residência. A exposição insere-se num programa de residência artística promovido pelo Armazém do Boi e a inauguração acontecerá no próximo dia 16 de Abril pelas 16h00. Estará depois patente ao público até ao dia 22 Maio. A entrada é livre.
Hoje Macau Eventos MancheteCCM | Décimo Festival de Cinema e Vídeo arranca a 21 de Abril São 13 filmes internacionais e 26 produções locais aquelas que vão dar vida ao ecrã do Centro Cultural de Macau. Portugueses incluem a lista, num evento que pretende chegar a todo o público [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]rranca a 21 de Abril e vai até 5 de Junho a 10.ª edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo (FICV), evento de carácter anual que acontece no Centro Cultural de Macau (CCM) e traz uma selecção de projectos locais e produções internacionais. São obras provindas de mais de uma dezena de países as que se vão juntar em Macau, paralelas a um conjunto de actividades promotoras da cultura cinematográfica. Abrem as hostes a projecção de 13 filmes internacionais, que abarcam um leque que vai dos “mestres conceituados” aos “realizadores emergentes e aos destaques de festivais de cinema de autor”. Para abrir o apetite, a organização adianta que farão parte desta rubrica a exibição de “Mamã, trabalho realizado pelo jovem talento Xavier Dolan, galardoado pelo Festival de Cannes, “De Longe”, uma produção venezuelana vencedora do Leão de Ouro para Melhor Filme no Festival de Veneza em 2015, “Coração Canino”, o mais recente trabalho de Laurie Anderson que lida com a temática do amor, da paz e da perda e o inspirador documentário “Meru”, que conta uma “história triunfante”. “Jacky no reino das Mulheres”, uma comédia com Charlotte Gainsbourg no principal papel que aborda as questões de género numa perspectiva inversa, e “Festa de Despedida” e “A Façanha” são outras das películas, que trazem os temas da sobrevivência e da morte ao CCM. Mas, o evento pretende abraçar um público de todas as idades, pelo que as famílias e os mais pequenos têm a si dedicados “A Múmia do Príncipe” e “Operação Árctico”. Made in Macau Do programa fazem parte obras dos “Macau Indies” que, segundo a organização, “foca as suas lentes em perspectivas mais familiares” em que as estrelas são as produções independentes locais. A presente edição vai contar com um total de 26 trabalhos distribuídos entre curtas-metragens, animação e documentário. Nesta secção integram os nomes dos portugueses Filipa Queiroz (com “Boat People”), António Caetano Faria (com “Eric – Caminhar no Escuro”) e Catarina Cortesão Terra (com Macau – Tempo do Bambu). “As crónicas de Wu Li”, de James Jacinto, e “Uma Década de Blademark”, de Emily Chan e que retrata o percurso da banda com o mesmo nome, são outras das atracções. Os bilhetes já estão disponíveis e contam com vários preços e descontos. Para todos, mesmo todos Acompanham ainda toda a edição workshops, seminários, mostras e projecções e, como o objectivo geral é de aproximação do cinema a todos, o CCM lança ainda outro desafio: “Filme a la Minute” propõe aos interessados a criação de um filme usando como câmara o telefone numa realização com duração máxima de um minuto num período de 24 horas. Estes “tele” realizadores são ainda convidados a publicar as mini-produções na página do Facebook dedicada ao evento, sendo que o filme com mais “gostos” vencerá o desafio. As inscrições para esta rubrica terminam às 18h00 de 20 de Maio.
Manuel Nunes Entrevista Eventos MancheteTracy Choi, Realizadora: “Os meus tópicos são as mulheres” Tracy é uma das principais vozes do cinema local. Porta estandarte de uma nova geração, terminou há pouco a rodagem do seu primeiro filme, “Sisterhood”, que conta com Gigi Leung no principal papel. Nesta conversa ficamos a saber as suas motivações, o processo que a trouxe aqui e até como a cultura portuguesa influencia a história [dropcap]C[/dropcap]omo começou este projecto? Há muito, muito tempo. Começou quando escrevi o guião, num projecto de curso, estava ainda a estudar em Taiwan. Depois voltei para Macau para trabalhar na TDM quase um ano, como apresentadora, e depois fui para Hong Kong onde fiz o mestrado em cinema. E foi aí que conheci ai o meu produtor (Ding Yuin Shan) que era também o meu orientador. O guião foi o meu projecto de curso e desenvolvi a história. Depois surgiu o concurso do Instituto de Cultural e tive sorte e consegui o milhão e meio para iniciar o projecto. Sorte, ou o projecto era mesmo bom? (risos) Sorte porque o concurso foi anunciado à pressa e não nos deu muito tempo de preparação. Mas eu já tinha o trabalho feito… por isso consegui concorrer. Com esse dinheiro fui ter com o meu professor para ver se ele conseguia o resto. Ainda esperámos mais ou menos um ano pelas respostas de produtoras de Hong Kong porque os meus produtores queriam que o filme pudesse ser visto lá mas também na Ásia. Daí que seria melhor para mim ter uma empresa de Hong Kong a investir. Foi aí que surgiu a One Cool Film a dizer que sim. Quanto mais dinheiro foi necessário? Cerca de cinco ou seis milhões. Ao princípio pensava que mais um ou dois milhões chegavam mas como temos uma equipa completamente profissional, mais viagens e estadias, não era possível. A história passa-se em Macau mas parte das filmagens foram feitas em Taiwan. Porquê? Porque vivi lá quatro anos para estudar mas principalmente porque se parece muito com a Macau antiga. É mais lento, as pessoas são muito simpáticas umas com as outras… Então quer dizer que Macau hoje não é lento nem agradável… Está a mudar (risos). Também aconteceu porque a personagem principal do filme, apesar de ser de Macau, casou-se com um taiwanês e mudou-se para Taiwan após 1999. Ela não tinha voltado a Macau desde então e quando regressa encontra uma cidade completamente diferente que mal consegue reconhecer. O que pretende dizer com este filme? O título em inglês agora é “Sisterhood” e é uma história de amor entre duas raparigas mas também uma reflexão sobre as mudanças ocorridas em Macau. Como sinto a cidade hoje e como a sentia antes. Acho que antes Macau era mais romântica, as pessoas estavam mais juntas. Na realidade, o filme não fala de casinos mas a sua existência tornou a cidade mais frenética, as pessoas distanciaram-se mais. Espero que o filme consiga mostrar isso. Acha que é um caminho sem regresso? Acho que sim. Mas, tal como o final do filme, apesar de Macau ter mudado a personagem acaba por ficar porque é a terra dela, o que é um sentimento meu também pois em Macau sinto-me em casa. O que a motiva a fazer filmes? Tenho um monte de sentimentos que pretendo expressar mas ou não sou muito faladora ou de fácil aproximação às pessoas. Mas através dos filmes, ou dos documentários, consigo comunicar de uma forma mais fácil. Tem um tema principal? Mulheres (risos). Porquê? Mulheres e questões relacionadas com género. Acho mesmo que o meu maior interesse são as mulheres. O ano passado também fiz um documentário sobre três autoras de Macau que têm uns 60 anos. Os meus tópicos são mulheres, género… O que se passa com o género? Tenho um documentário sobre lésbicas em Macau. É uma história sobre mim e a minha amiga e as famílias. Como elas reagem, especialmente as mães, ao facto das filhas serem homossexuais. E, de uma forma geral, também me interessa saber a reacção dos pais a este assunto. Acha que Macau é uma cidade que aceita bem a homossexualidade? Macau é uma cidade muito interessante. As pessoas não objectam muito em relação ao assunto mas também não falam disso. Porque quando queremos levantar questões relacionadas com os direitos das pessoas gay ninguém se mostra muito interessado em debater. Acha que é por uma questão de vergonha? Não acho que seja isso. É um bocado como algumas questões políticas. As pessoas de Macau normalmente não gostam de falar do assunto. Talvez seja o mesmo com a homossexualidade. Talvez porque toda a gente conhece toda gente?… Isso! Acho que é mesmo por aí. Alguns amigos meus dizem-me que não se assumem por essa razão. Uma vez que um amigo sabe, toda a gente sabe. Por isso as pessoas retraem-se. Com vê o panorama das indústrias culturais, especialmente no que respeita ao cinema ? É um bocado difícil para Macau construir uma indústria porque não temos audiência que chegue, mas talvez possa apostar mais em co-produções. Não apenas com Hong Kong mas também com a China, a Europa… porque Macau é muito diverso culturalmente, talvez seja esse o caminho. Que papel o governo deveria assumir no apoio aos cineastas locais? Não apenas disponibilizar um fundo mas tentar estimular ligação com produtores. Uma série de amigos meus têm boas histórias, projectos, mas não conseguem encontrar produtores nem fundos de co-produção e isso limita. Claro que podemos fazer filmes independentes, mas quando as ideias requerem mais meios, ou pretendemos tentar algo novo, isso não é possível. Ligar os nossos cineastas a outros países, produtores e fundos seria o ideal. Acerca deste seu filme, que pode dizer em relação ao elenco? A escolha final foi sua ou nem por isso? Tive escolha mas também porque é uma produtora comercial não podia usar apenas actores desconhecidos. A Gigi Leung, por exemplo, surge pois é reconhecida em Hong Kong e foi sugerida pela produtora. O que também reconheço ter sido bom para mim. Como realizadora pela primeira vez de uma longa metragem, como se sentiu a trabalhar com uma estrela como Gigi? Ela é muito simpática. Além disso não trabalhava há algum tempo porque foi mãe recentemente e este filme marca o seu regresso. Estava muito bem preparada e disponível para o papel e foi mais fácil lidar com ela do que pensava. Claro que é uma estrela e, comparada com os outros actores desconhecidos, precisa de mais apoio da produção. Mas, no fundo, é muito fixe. Até agora, qual foi a melhor parte neste processo de construção do filme? A possibilidade de trabalhar nesta escala. Como estava a habituada a fazer filmes praticamente sozinha onde tinha de fazer quase tudo, trabalhar assim é uma grande diferença. Além disso, dispor de uma equipa profissional com designer de produção, produtores, etc. permitiu-me concentrar mais em dirigir os actores e no diálogo com a directora de fotografia. Deu-me mais tempo, mais possibilidades de me concentrar, facilitou-me a vida. Em que fase está o filme agora? Estamos a montar. Aliás, quem está a montar é a Teng Teng (Harriet Wong). Esperamos ter a primeira montagem no final de Abril. Depois temos de decidir onde vai ser feita o resto da pós-produção. A correcção de cor e o som. Se aqui, se em Taiwan ou em Hong Kong. E quando espera ter tudo pronto? Lá para Setembro ou Outubro. Se tivesse de aconselhar as pessoas a verem este seu filme que diria? Traz um ponto de vista diferente sobre Macau porque somos locais, tanto eu como a Directora de Fotografia (Simmy Cheong). Crescemos ambas aqui, por isso conseguimos aperceber-nos bem das mudanças e do dia a dia da vida em Macau. Acha que existe algo da influência portuguesa no seu conceito, na abordagem ao filme ou nem se nota? Existe um pouco porque um dos personagens é macaense e surge na parte de 1999. Mas é uma cena muito curta. Para além disso, o próprio estilo de vida penso que vem daí. A forma mais relaxada de viver. Essa óptima forma de viver… Um dia, um homem chinês disse-me que a forma de vida dos portugueses é vista como “gaa fe man faa” (咖啡文化), a cultura do café. No sentido de que arranjamos sempre um pretexto para interromper o trabalho e ir tomar um café… (risos) Pode ser. Na realidade, repare como recentemente a geração mais nova está a voltar a esse padrão. Por isso têm aberto tantos cafés. É uma forma de resistência à velocidade de Hong Kong porque queremos ter uma vida, não apenas trabalho e dinheiro. Mas por causa dos casinos e todo esse mundo à volta começa a ser difícil relaxar em Macau.
Hoje Macau EventosmART | Nova publicação online divulga cultura de Macau, Portugal e não só “mART” dá nome à publicação que se dedica exclusivamente à cultura, de cá e de lá, dando o pontapé para a inovação da comunicação na área. É a nova revista digital criada por três residentes da RAEM: Luciana Leitão, Sofia Jesus e Sérgio Rola Macau dispõe agora de uma nova publicação totalmente virada para a cultura da casa e não só. Chama-se “mART” e, segundo Luciana Leitão, co-fundadora do projecto, a ideia terá nascido de um desejo partilhado com Sofia Jesus de criar uma revista cultural que abrangesse de uma forma diferente as actividades da região. Não contentes com a restrição geográfica, viram em “mART” um projecto capaz de ser uma ponte de partilha com o que se vai passando em Lisboa e daí passaram para a Europa e outras partes do mundo, representado a capital portuguesa uma “metáfora”. Se, numa fase inicial a edição em papel estava em cima da mesa, a edição em formato digital foi ganhando pontos pelas vantagens que apresentava, não só a nível prático e custos inerentes, como enquanto plataforma capaz de uma maior acessibilidade e partilha. E também como portadora de uma maior diversidade de linguagens, incluindo conteúdos multimédia. A esta ideia veio juntar-se Sérgio Rola, a “cara” gráfica da “mART”. Primeiros passos Estando ainda num processo embrionário, que Luciana Leitão apela de “teste”, a publicação ainda é predominantemente preenchida com conteúdos de Macau, onde residem os seus fundadores, mas já com alguns “pozinhos de Lisboa”. O objectivo é um futuro crescimento com a possibilidade de uma equipa maior e em que uma divisão equitativa entre a proveniência de conteúdos seja possível. Ainda acerca desta fase, Luciana sublinha ao HM a satisfação perante a aceitação do público, não só português mas também fornecida pelo feedback dos leitores chineses. A responsável salienta que os mesmos têm referido o aspecto inovador da publicação, não só a nível de forma como também de conteúdo dado o carácter único na região. O barómetro das reacções neste momento é, essencialmente, o Facebook, visto que a “mART” é uma coisa nova “e ainda não entrou na rotina das pessoas”. Assim, a rede social serve de referência pelo progressivo aumento de partilhas e seguidores. Acerca da opção por uma publicação em Inglês, Luciana Leitão adianta que numa fase inicial o objectivo até seria uma abordagem trilingue – Chinês, Português e Inglês – mas, dadas as dificuldades nomeadamente no que respeita à qualidade de conteúdos em Chinês, optaram por atingir todo e qualquer público que entenda o Inglês e que abrange também uma comunidade cada vez mais internacional que também reside em Macau. Umas das características distintivas da “mART” prende-se com a colaboração bilateral entre artistas portugueses e de Macau. Relativamente a esta iniciativa de carácter trimestral e materializada pela rubrica “showcase” é impulsionada a interactividade entre os intervenientes, bem como entre os diferentes agentes culturais. Neste sentido é lançado, pela edição, um tema para o qual são convidados artistas a fazer uma pequena “amostra” do seu trabalho tendo como referência a ideia proposta. Para o futuro, para além da continuação do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido, é ambição da “mART” dar forma a uma secção do site que albergue perfis de artistas, associações e agentes culturais, capaz de, quem sabe, vir a servir de base de dados de modo a confluir numa maior interacção e comunicação. Novidades para breve passam também pela criação de uma newsletter e de uma agenda online. Fazem parte da equipa da “mART”, para além dos fundadores, Maria Caetano e Clara Tehrani e a publicação está disponível em https://martmagazine.net/.
Hoje Macau EventosCentro de Ciência acolhe exposição de dinossauros [dropcap style=’circle’]”[/dropcap]Dinossauros em carne e osso” já podem ser vistos no Centro de Ciência de Macau. Uma exposição “espectacular e única”, como indica a organização, que tem como objectivo dar uma melhor compreensão ao público sobre esta espécie que terá assumido o domínio do planeta durante cerca de 160 milhões de anos e cujo desaparecimento ainda hoje permanece envolto em controvérsia. Esta é a oportunidade de entrar em contacto com as diferentes espécies, com o seu comportamento e habitat, bem como com o papel que desempenharam nesta era geológica – a Mesozóica. Para o efeito estão à disposição dos visitantes 14 réplicas mecânicas de dinossauros, jogos interactivos de realidade virtual e realidade aumentada, 72 modelos de dinossauros em escala reduzida e livros electrónicos referentes à exposição. Para enriquecer a experiência, o Centro de Ciência de Macau alarga ainda o leque de actividades oferecidas, sendo que tem preparadas diferentes acções tendo em vista um público de todas as idades. Entre elas destacam-se a organização de palestras como a colaboração com escolas locais, palestras científicas, workshops para famílias, visitas guiadas dramatizadas, teatro científico e concursos de desenho e de escrita. Em destaque está um convite de regresso ao passado com a exibição do filme premiado na cúpula do planetário – “Dinossauros ao Entardecer: as origens do voo 3D” convida o público a acompanhar a vida e extinção destes “míticos” seres. A organização sublinha ainda a realização do Concurso Multimédia e o Concurso de Pintura de Dinossauros enquanto forma de promoção da exposição, em que terão sido superadas as expectativas com a recepção de 1500 trabalhos dos mais pequenos através da participação de 47 escolas primárias locais e cujos vencedores estão expostos no átrio do Centro. Outra novidade vai para os guias da exposição, em que o visitante pode ser surpreendido com a companhia de estudantes locais com idades compreendidas entre os 8 e 12 anos dentro da iniciativa formativa de “Pequenos Comunicadores de Ciência”. A exposição estará patente até 11 de Setembro.
Manuel Nunes Entrevista Eventos MancheteMarco Mueller, director do Festival Internacional de Cinema de Macau Frequenta a China desde os 16 anos e já dirigiu os Festivais de Veneza e de Roma, criou o de Pesaro e colaborou com o Rota da Seda e o de Pequim. Já tentou organizar festivais aqui sem nunca ter sido possível. Mais de 20 depois este chega finalmente. Um festival que promete ter “apostas imprevisíveis” e que Marco Mueller espera ser uma missão histórica para Macau [dropcap style=’circle’]É[/dropcap]um poliglota. Aprendeu em pequeno, mas como? (risos) Fui criado em Roma, a minha mãe era brasileira e parte da família grega. Saíram com o início do fundamentalismo muçulmano. A família do meu pai tem origens na Lorena e quando a região passou para a Prússia mudaram-se para a Suíça por ser multicultural. Daí falar Francês, Alemão, Português e Italiano. No primeiro ano do liceu decidi acabar com as línguas da casa e fui estudar Chinês. Por que razão alguém pretende estudar Chinês nessa época? Nunca fui marxista leninista, mas fui marxista “desleninista”. Era o tempo dos movimentos estudantis e das filosofias orientais. Lia Mao Tse Tung e os sutras budistas em Chinês, no original. Mao Tse Tung aparecia como um herói para um jovem como o Marco? Claro. Mas também os bodhisattvas e os mestres do desenho chinês. E veio para a China com 16 anos. Como estudante de Chinês, mais tarde ou mais cedo isso iria acontecer. Ainda por cima a Itália foi dos primeiros países ocidentais a estabelecer relações diplomáticas com a China. Fui para Pequim no primeiro grupo de estudantes bolseiros. Com a Revolução Cultural em curso, como foi o impacto? Não havia nada. Os estrangeiros não podiam entrar nas bibliotecas e 90% dos livros eram proibidos para nós. Então comecei a ver dois filmes por dia. Dos que podia arranjar… Sim, claro. Policiais romenos, melodramas da Coreia do Norte, grandes espectáculos históricos albaneses… Não tinha alternativa. Ficou desiludido? Sim. Tinha-me formado em Antropologia, especialidade em Musicologia, e pensava que ia fazer a pós-graduação no Instituto de Ciências Sociais. Era um ninho de demónios feudais, disseram-me, e deram-me a possibilidade de estudar literatura de massas na Manchúria. E fui. Só havia um professor, mas era óptimo. Ensinava estética tradicional, uma disciplina perigosa, de vanguarda, e foi que ele quem me explicou como a estética da poesia tradicional pode entrar no cinema. Em Janeiro de 77 comecei a poder ver cinema de género dos anos 50 e 60. Incrível. Foi como descobrir um continente submerso e decidi continuar. Como aconteceu isso? Quando terminei o doutoramento houve um princípio de abertura no regime e distribuíram mais de cem filmes. Casou-se também na China. É verdade, em Julho de 76. Sui generis. Frente a um comité revolucionário. Os estrangeiros apenas podiam casar-se no Comité do Bairro de Chaoyang. Corria a campanha contra a liberalização burguesa, por isso não havia táxis, apenas autocarro, e a cerimónia foi só a assinatura. Nem fotos eram autorizadas e festa nem pensar. Fizemos uma clandestina, claro. Comprámos umas coisas em segredo, como uma garrafa de champanhe soviético. Quando saiu da China? Em 77. Mas voltei em 78 e desde então tenho voltado regularmente. O programa universitário obrigava-me a escolher outro país mas recusei, saí da universidade e organizei o meu primeiro festival de Cinema, o de Pesaro, um dos grandes festivais do cinema novo e a primeira vez que um lote de filmes chineses foi mostrado na Europa. Como a selecção era demasiado diplomática decidi desenvolver uma retrospectiva do cinema chinês. Pequim não enviava cópias, então fui à procura. Em Havana descobri uma sala, na Chinatown, chamada Aguila de Ouro, onde tinham uns 30 filmes dos anos 30. Depois, no teatro chinês de São Francisco, o World Cinema Theatre que aparece no final do filme do Orson Wells “A Dama de Xangai”, encontrei mais uma enorme colecção. Que descobriu nesse espólio? Uma mescla entre o cinema social e Hollywood. Sempre foi assim. O cinema de Xangai nos anos 30 era isso: a Hollywood do Oriente. Acha que está tentar voltar a ser? Sim. Estão a tentar mas o meu primeiro amigo entre os cineastas chineses, Xie Jin, falecido há quatro anos (suspira), e uma pessoa com uma cultura completa de cinema, tinha um sonho: juntar o cinema soviético com o de Hollywood. Porquê? Porque adorava o cinema de género e entendia que o cinema devia ser popular, entretenimento antes de ser outra coisa qualquer. É a sua visão também? Sim, gosto da ideia de que não devemos dar muitos passos à frente do público. Devemos deixá-lo acompanhar. Andar um ou dois passos à frente, tudo bem. Muito mais não. Esteve como consultor do Beijing International Film Festival (BJIFF) mas deixou. O que correu mal? O sistema das quotas. Era muito difícil obter qualquer tipo de resposta. Não entendo a razão e isso não funciona. Mas gostei da experiência e foi, com certeza, uma oportunidade de perceber os hábitos do público chinês. Anos antes do BJIFF dizia que este se podia transformar num hub comercial. Não é possível… Não é. A grande diferença entre Pequim, Xangai, o Rota da Seda e o Festival de Macau é aqui podermos ter uma relação normal com os distribuidores. Se ele quiser mesmo o filme vai discutir por uma quota. Em Pequim era muito difícil porque a decisão não era nossa, era política. Também fala de Macau como plataforma para o mercado chinês. Todavia, o sistema de quotas ainda lá está. Que muda, como vai funcionar essa plataforma? Os distribuidores não tinham ligação com os eventos e com a distribuição comercial mundial. Então a excitação em relação aos nossos planos aqui é podermos convidar os grandes distribuidores de filmes chineses da China e da região. É o local ideal para organizar uma mostra menos previsível do que aquilo a que estão habituados. Para quem viu a China nesses idos anos 70, nomeadamente as restrições da Revolução Cultural, e a vê agora acha que existe alguma recuperação desse passado neste momento? O ano passado em Pequim não foi muito difícil. Existiam três níveis de censura e conseguimos aprovar 90% dos filmes seleccionados. Não senti grandes dificuldades, mas claro que estou a par das notícias. Como veio parar a Macau? A primeira vez em 94, era Luís Mergulhão então presidente do ICA (Instituto do Cinema e do Audiovisual). Convidou o Paulo Branco e depois a mim por conhecer o meu trabalho sobre o cinema português. Viemos a Macau com a ideia de inventar um festival de cinema. Nunca aconteceu pois na altura ou havia aeroporto ou havia festival. Voltei com o Peter Lam, estava já no Festival de Veneza. Ele queria uma relação entre o Festival e o Venetian mas, para mim, isso era diplomaticamente muito difícil. A terceira vez foi quando Pansy Ho me convidou para organizar um evento de cinema na Torre de Macau. Depois a ideia não continuou. Qual a visão para este festival? Um ponto focal. A política da China precisa de uma diferenciação com pólos distintos. Macau tem uma herança cultural que se coaduna com os objectivos. Um exemplo: os suíços-italianos. Vejo-os como mediadores entre culturas que não se relacionavam. As pessoas de Macau são isso também: mediadores. Acha que este festival pode vir a ser mais importante do que o de HK, Pequim ou Xangai? Não quero saber disso. Estou mais preocupado em colaborar. O Golden Horse (Taiwan), por exemplo, está a fazer um excelente trabalho com o workshop de projectos e também queremos fazer um semelhante. Por isso propusemos que o nosso seja um sumário de todos os workshops feitos na área. Decididamente, quero alguém do festival de Hong Kong no comité de selecção. Vamos ter programações diferentes e pretendemos colaborar com todos estes festivais. Que tipo de programação podemos esperar para Macau? Cinema de género, filmes populares, mas originais. Bastante vanguardistas, cutting edge. Que legado o festival deixará para a cidade? Tentar juntar os diferentes grupos de espectadores da cidade com uma oferta menos previsível. Oferecer filmes que não aparecem no circuito comercial da região. Por isso vamos ter uma retrospectiva onde dez dos melhores realizadores asiáticos de género vão seleccionar um filme que não seja nem americano nem da Ásia Oriental. Há dias falava com dirigentes do Centro Nacional do Filme Francês e diziam-me que nos anos 80 e 90 existiam filmes franceses em Hong Kong e mesmo na China, mas nos últimos anos não vendem nem um. Temos de mudar isso. Diversidade cultural? Sim, mas no universo do cinema popular. Vai ser uma oportunidade única nesta cidade tão especial, tão vocacionada para servir como plataforma de trocas e contactos em todas as direcções. Um festival que funciona tem de ter como lema “em frente a todo o gás mas em todas as direcções”. Se quisermos sentir profundamente o que se passa à nossa volta temos de agir assim. Vai ser a tempo inteiro? Vou dedicar a maior parte do meu tempo ao festival, sim, mas há algo que nunca deixarei de fazer: dar aulas. É a única forma dialogar com os mais jovens, de perceber o que eles vêem, se vão ao cinema ou não, ou quando decidem ir. O mês passado levei a minha turma de 75 à fronteira entre a Itália e a Suíça onde temos a melhor sala do país para vermos o último do Tarantino (“Hateful Eight”), uma produção em 70mm. Aí eles perceberam a diferença que é ir ao cinema. Perguntava-lhes quantos pagavam 12 francos para irem ao cinema. E daquele grupo praticamente nenhum ia. Depois de verem o “Hateful Eight” no grande ecrã perceberam a diferença para os ecrãs pequenos. Não existe uma indústria em Macau. Para os que aqui fazem filmes que tipo de relação devem esperar com este festival? Muito próxima. Quando falo nos workshops que vão sumarizar tudo que foi feito durante o ano na região também temos de abordar a experiência local. A Tracy (Choi), por exemplo, está a filmar, não sei quem acabará primeiro se ela, se a Emily [Chan] ou o Ivo [Ferreira]. Mas facto de existir mais do que um filme, alguns já filmados, e vários grandes documentários tranquiliza-me porque senão seria um suicídio tentar organizar uma operação num lugar que fosse desprovido de cineastas, de cinema. O filme da Tracy, por exemplo, junta profissionais de primeira categoria, de Taiwan, Hong Kong… Ela própria estudou em ambos os lados mas não deixa de ser uma história de Macau. Por isso, a ideia que de todos estes talentos se vão religar em Macau é um sinal muito positivo. A razão pela qual os cineastas locais devem ficar satisfeitos com este festival é essa possibilidade de contacto? Sem dúvida. O facto dos Asian Film Awards terem vindo a ser apresentados em Macau é mais um sinal para a indústria que Macau não serve apenas para jogar. Na condição, claro, que se acredite na possibilidade de fazer remixes num lugar como este. Que terá de acontecer no final do festival para dizer que correu bem? Três coisas: os cinemas estiveram cheios, caso contrário não faz sentido e é uma das razões pelas quais quero assumir este desafio. A noção que vários filmes entraram no caminho certo para o reconhecimento num mercado mais vasto e sermos capazes de aumentar o interesse em Macau de forma a que cumpra o seu papel histórico de atingir mercados como os do Japão, Coreia, Índia e Sudoeste Asiático. Daqui a cinco ou seis anos quando as pessoas se referirem ao festival de Macau que gostaria que dissessem? Hoje todos dizem que Cannes é o festival a não perder na Europa. O mesmo acontece com Toronto, nas Américas. Macau pode vir a ser o lugar onde se vem para resumir o ano. Um festival em Dezembro não significa apenas que acontece após as grandes convenções do sector na Ásia mas também que podemos anunciar coisas para o novo ano. Que significará para um cineasta receber um prémio aqui? Que o filme teve um reconhecimento mais vasto em termos de mercado e de audiência. Mesmo os prémios de Cannes às vezes são escondidos pelos distribuidores porque têm medo que passe a ideia de ser um filme difícil, mais um arthouse… É por isso que estamos a construir um escritório da indústria aqui. Como tentou fazer em Roma? Sim, é uma coincidência mas fiquei contente em saber que a Lionsgate, os produtores dos “The Hunger Games”, está a preparar algo para Macau nos próximos dois anos. Mas, disseram-me eles, a melhor experiência num festival foi comigo, em Roma, quando lhes arranjámos sete mil fãs para a estreia do “Catching Fire”. Vai voltar a fazer um filme? Não me parece. Nem como actor? Isso pode acontecer amanhã (risos). Como figurante, talvez (mais risos). Voltar a produzir não. Tiro muito mais gozo com os potenciais efeitos multiplicadores que um festival pode criar do que tiraria a fazer filmes.
Manuel Nunes EventosUM | Conferência sobre inteligência artificial Depois do sucesso do programa AlphaGo da Google, a inteligência artificial (IA) está na ordem do dia. Na passada semana, o professor Lionel Ni, vice-reitor da Universidade de Macau (UM), deu uma palestra onde explicou o fenómeno. Para o académico, por muito inteligente que as máquinas sejam, os humanos não precisam de ter medo delas. Mas reconhece que milhões de empregos vão desaparecer [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]arecia mais um acontecimento trivial, mas quando o AlphaGo derrotou o tricampeão Europeu de Go a comunidade científica começou a perceber que as mudanças que se esperavam bem mais para frente vão começar bem mais depressa. Apenas meses antes vários especialistas entendiam que precisaríamos de mais uns dez anos para tal ser possível. Para se ter uma ideia, o Go é um jogo muito mais complexo que o xadrez, com cerca de 10¹⁷⁰ posições possíveis no tabuleiro (no universo existem apenas 10⁸⁰ átomos). A grande diferença nestes sistemas de IA é terem por base o que se chama Deep Neural Networks, uma espécie de cérebros humanos, o que permite às máquinas aprenderem de uma forma estonteante. Tal como nós, as máquinas agora aprendem por associação de conceitos a imagens e situações com a vantagem de terem acesso directo à designada Biga Data. Basicamente esta define-se por toda a informação que vamos produzindo e colocando online diariamente. Para se ter uma ideia do volume que isso representa, um estudo de 2013 elaborado pela SINTEF (a maior organização independente de pesquisa da Escandinávia) estima que 90% de toda a informação no mundo tenha sido criada nos dois anos anteriores, sendo duplicada a cada ano e meio. Estas notícias fazem muitos temer pelo futuro robótico que se anuncia, onde as máquinas irão substituir os humanos, quiçá, ameaçar a nossa a existência. Mas em relação a isso, o prof. Lionel Ni tem uma postura tranquila garantindo que “as máquinas não vão causar problemas aos humanos” afirmando mesmo que, “com a tecnologia actual, as máquinas não vão suplantar a inteligência humana”. Milhões de empregos em risco A IA vai, todavia, destruir milhões de postos de trabalho e nesse aspecto o professor não discorda. Quando confrontado com o exemplo do sistema “Amélia” da IPsoft, em beta testes em várias grandes empresas mundiais e que irá substituir todos os serviços de assistência ao cliente e de telefonistas, estimando-se na ordem dos 250 milhões de postos de trabalho a serem extintos em todo o mundo quando estiver em pleno funcionamento, o catedrático ironiza dizendo que “pode ser que tenhamos todos mais tempo para ir de férias e passar tempo com as famílias”. Segundo o académico, apenas os empregos “low tech” estão em risco e aponta a inovação como o caminho a seguir. Novo motor a vapor “As maiores empresas estão a contratar todos os que podem para trabalhar nesta área. Os meus alunos nos Estados Unidos estão todos empregados,” disse à audiência que enchia o auditório da UM confirmando a grande procura de profissionais para a área da IA. “É um grande avanço tecnológico”, diz o professor, “como a invenção do motor a vapor”, garante, o que diz bem do potencial revolucionário desta nova tecnologia. “É claramente uma nova ferramenta” diz o académico mas reforça que “a inovação tecnológica deve ajudar a humanidade e a pesquisa científica não deve trazer desastres nem a máquina deve tornar o homem inútil” reconhecendo, todavia, que os “computadores não erram” pois não têm emoções como nós. Mas será que podem vir a ter já que podem aprender, quisemos saber, mas Lionel recusa-se a acreditar nisso. Salário para não trabalhar A propósito das potenciais rupturas que esta tecnologia pode vir a criar nos sistemas sociais pelo mundo fora, vários cientistas, onde se inclui o Andrew Ng, Cientista Chefe da Baidu e fundador do projecto de Deep Learning “Google Brain”, Andrew Ng, defendem que os governos devem começar a pensar seriamente na possibilidade de criarem um rendimento garantido para toda a população. “Existe uma forte possibilidade de que a IA vá criar desemprego massivo”, disse Ng na última Cimeira de Deep Learning realizada já este ano. Em relação a esta solução Lionel Ni vai adiantando que “é um problema dos políticos” mas reconhece que “impostos mais altos para a indústria para distribuir mais dinheiro pelas pessoas poderão ter de vir a ser considerados”. Contrariamente a outros seus colegas que entendem que os avanços tecnológicos a partir de agora serão parabólicos e não lineares, o professor Lionel Ni entende que “as mudanças irão ser graduais”.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteMatilde Campilho, poeta: “A escrita tem muitos caminhos” Com “Jóquei”, Matilde Campilho fez uma revolução na poesia e na sua própria vida. Dois anos depois da sua publicação, a poeta portuguesa vive com um pé entre a sua Lisboa e o Rio de Janeiro que a levou a escrever. Assume que tem de se distanciar do seu primeiro livro e todos os dias rabisca palavras, mas não sabe sequer se vai publicar novamente. “Não tenho pressa nenhuma”, assegura Comecemos por “Jóquei”. Mudou imenso a sua vida. Alguma vez pensou que o livro teria este impacto? Não, o livro mudou absolutamente tudo. Nunca pensei que teria este impacto, porque o primeiro livro fazemo-lo sem pensar sequer em publicar. É boa a inocência do primeiro livro e se calhar nunca há mais nenhum como esse, fazemos porque temos de o fazer, porque é o nosso trabalho. Mas tudo o que surgiu depois disso foi completamente inesperado. O que fazia nessa altura para além de escrever poesia? Tive vários empregos, antes de me dedicar só à escrita. Digo sempre que a escrita é o meu trabalho mas tenho muitos empregos. Antes do livro, antes de me focar só nisso, desde que saí da faculdade, trabalhei sobretudo em televisão e em publicidade, mas sempre muito ligada à escrita e à parte criativa. O que a levou a ir para o Rio de Janeiro? Quando acabei o curso fui viver para Madrid, fiquei lá uns anos, e depois decidi voltar para Portugal, porque Madrid não tinha mar e isso dava-me uma certa angústia. Mas ao fim de um ano já estava meio inquieta e decidi ir ver o Rio de Janeiro, do qual toda a gente me falava. Tinha um bocadinho de medo de querer ficar e não estava pronta para ficar em lado nenhum ainda. Mas foi isso que aconteceu, fui para ficar 15 dias e fiquei três anos. E depois disso nunca mais parei de ir e vir. Já vivo em Lisboa há dois anos mas continuo a ir muitas vezes ao Rio de Janeiro, é muito casa. O Brasil mudou a sua percepção de escrita? Sem dúvida. Em parte por eu ser estrangeira. E já tinha isso em mim, o facto de ser estrangeira num lugar tão distante. Apesar de parecer tão semelhante, é distante fisicamente e em muitas coisas: gestos no dia-a-dia… e quando somos estrangeiros estamos mais atentos, por um lado, às coisas pequenas e mais focados no que somos. Por um lado há mais espanto e novidade, mas por outro há mais silêncio por dentro, porque não temos os gestos e amigos habituais. Houve um conjunto de circunstâncias que me levaram a focar naquilo que se tornou no meu eixo. Escreve poesia de forma diferente, usando três linguagens diferentes. Acredita que trouxe algo novo à forma como se pode escrever poesia? Não sei, é difícil para mim ser tão crítica de mim mesma. Fiz o que pude e o que consegui fazer. Acho que ajudou o facto de ser estrangeira e de não estar ligada a nenhum grupo, porque hoje em dia, apesar de ser menos visível, continua a haver nas cidades grupos de gente que escreve e acaba muitas vezes por usar o mesmo tipo de linguagem, mesmo ao nível das artes plásticas. E eu estava a fazer o caminho mais sozinha, mas por outro lado estava a receber influências de vários lugares diferentes. E talvez tenha sido isso que levou a que a voz poética seja tão misturada com tantas coisas e lugares e dialécticas. É uma grande mistura de muita coisa que já existia. Essa mistura de linguagens, do Português de Portugal, do Brasil e do Inglês, surgiu espontaneamente? Surgiu disso, das influências dos vários lugares, dos poetas portugueses, dos meus poetas, dos escritores brasileiros, da América Latina, com os quais eu começava a tomar muito contacto. Ao mesmo tempo começava a ler os norte-americanos e os ingleses e tudo isso se misturou tudo neste livro (“Jóquei”). Foi quase como se nos sentássemos todos à mesa e eu os tivesse chamado para conversar. Há inclusivamente um poema que faz referência a Walt Whitman. Mas que outros nomes, portugueses ou brasileiros, a inspiram para escrever, ou que são uma referência? A pergunta das referências é sempre complicada porque, primeiro, as minhas influências agora talvez já não sejam as mesmas, porque este livro, na verdade, já o publiquei em 2014 e já estava terminado em 2013. Já passaram esses anos, e trabalho todos os dias, e as influências mudam muito. Há umas muito firmes. Volto sempre ao [T.S.] Elliot, [Walt] Whitman e há poetas portugueses que andam sempre no meu bolso, como o Rui Belo, o António Franco Alexandre, o Fernando Assis Pacheco, o Mário Cesariny. Depois na minha geração há gente a fazer coisas boas, os contemporâneos. Só que isso é um fluxo contínuo, há uns que ficam e aos quais voltamos sempre, mas há outros em que já estamos diferentes e eles dizem-nos outras coisas. Mas continua, por outro lado, a existir a influência da rua. Estou aqui, na Ásia, e tudo isto me influencia, ainda ontem fiz uns rabiscos sobre as luzes dos casinos. Ainda são só notas, mas a influência da rua é talvez a mais importante. Macau será então uma influência para o próximo livro ou, pelo menos, para alguns poemas. Não faço ideia, está a ser influência no hoje, no agora, mas o que isso vai dar em termos de poesia feita e fechada, não sei. Às vezes pode até ser invisível, porque quando falo em influência da rua, muitas vezes as referências não são assim tão claras. Posso ter Macau no meu subconsciente e sair um poema sobre uma praça em Lisboa. Uma das críticas publicadas no livro diz que “Jóquei” é um álbum de Verão. A sua poesia é leve, fala do amor mas não de uma forma pesada, por exemplo. Concorda? Acho que é um livro que tem várias camadas e talvez a primeira que se veja seja essa, das bofetadas da alegria. Mas na verdade mesmo quando um poema termina com a palavra alegria, para chegar até ali muitas vezes passa por cavernas de breu. A questão é o que queremos apresentar no “big picture”. Escolhi apresentar-me no livro de uma maneira mais luminosa, não deixando de dizer toda a escuridão que foi preciso atravessar para chegar ao fim dele. Como a vida mesmo. No dia-a-dia a vida acontece-nos, a maneira como reagimos às coisas somos nós que decidimos. Isso foram todas decisões, de ir pela via mais suave, mas sem esquecer tudo o resto. Porquê o nome “Jóquei”? Essa vai ser uma resposta muito longa. Foi difícil chegar ao nome do livro, porque acompanhou-me durante muito tempo e teve nomes muito diferentes. Foi como aqueles nove meses em que uma mãe conversa com o pai para decidir o nome do bebé. Sabia que seria o nome que o iria acompanhar para sempre, porque é o meu primeiro livro. Mas tudo isso antes de publicar, eu queria dar um nome aquilo que estava a fazer. Há várias razões para se ter chamado “Jóquei”. Uma vez estava a falar com um amigo sobre um poema americano que falava de um cavalo e fiquei com aquilo na cabeça. Nem há referências a cavalos nesse livro. A outra razão é que há um jóquei no Rio de Janeiro e outro em Lisboa, um Jóquei clube, também há aqui. Gostava muito do jóquei clube do Rio de Janeiro, passei muito tempo sentada naquelas bancadas vazias a ver aquelas montanhas. Depois há uma explicação mais longa e foi essa que me levou a decidir “ok, é isto”. O Jóquei, que monta o cavalo, na minha ideia quando começa a correr é para ganhar. E com o tempo, quanto mais corridas se fazem, vamo-nos apaixonando pelo cavalo e não por vencer ou perder, mas sim pelo correr. E então a poesia acaba por ser um cavalo. Apaixonei-me pela poesia, pelo cavalo, e a questão já não era só ganhar ou perder, mas fazer a corrida. Como são os seus rituais de escrita? A escrita tem muitos caminhos. Tenho estado aqui e tenho tirado muitas notas, no telefone, num guardanapo. Tenho um ritmo de trabalho que implica acordar de manhã, às sete da manhã, beber café, ficar a ler e começar a escrever uma ou duas horas depois. Sendo que há a influência da rua e de dentro, nos livros, é depois à mesa que isso se mistura. O exercício de escrita, com o tempo, revelou-se uma questão de limpeza e não de acrescentar. Tirando, tirando, até ficar só aquilo. É uma poesia mais trabalhada. Por outro lado já fiz poemas inteiros na rua que é aquilo e está fechado. Mas isso é mais raro. Decerto já está a trabalhar no segundo livro? Como é que será? Não faço ideia, nem sei se estou a trabalhar para o segundo livro. Escrevo, mas não faço ideia quando haverá o livro. Pode não haver? Por enquanto estou só a viver e a trabalhar, é cedo ainda. Preciso de me distanciar um pouco mais dele, a minha voz mudou muito nos últimos anos, está a mudar muito, e assim como demorei muito até fechar este livre e sendo que a minha vida mudou tanto depois dele… Tem que se separar de “Jóquei” para seguir em frente. Não só de “Jóquei”. A minha linguagem mudou, a minha escrita, o meu tipo de vida. Até encontrar de novo uma voz que eu diga “ok, és tu” vou continuar a trabalhar. Não tenho pressa nenhuma. O facto de ser o primeiro livro não ajudou ainda a definir essa voz? A nossa voz muda muito, todos os dias. Mesmo quem não escreve… estamos em constante mutação. Os temas são outros, a maneira de viver é outra, e estou a fazer as coisas muito devagar.
Hoje Macau EventosAFA | Época de exposições abre com fotógrafos locais A Art for All Society (AFA) abre a sua temporada de exposições no próximo dia 30 de Março, com “Paisagens Escondidas”, que integra imagens da dupla de autores da terra Season Lao e Tang Kuok Hou. Pelas 18h30, a exposição “Paisagens Escondidas” reúne fotografias de Macau e do Inverno de Hokkaido com trabalhos da série “Dialects”, de Lao. Ao falarem de si, os autores – apesar das proximidade etárias – consideram que assumem estilos artísticos francamente diferentes. Lao, que vive neste momento no Japão, apresenta trabalhos que visam essencialmente a natureza numa perspectiva “zen”- Já Tang, graduado pelo Departamento de Sociologia da Universidade de Macau, terá optado pelo trabalho artístico debruçando-se nos conceitos identitários, temporais e referentes aos problemas culturais. “Paisagens Escondidas” é também percepcionada de forma diferente por ambos. Lao, que visitou Hokkaido enquanto estrangeiro, terá ficado absolutamente fascinado pelas paisagens naturais da região bem como pelas suas florestas brancas de neve, o que o terá levado à ânsia de fotografar cada um destes cenários. Por outro lado, Tang procede a uma abordagem da actual Macau, numa tentativa de captura de cenários distintivos locais, longe do estilo Las Vegas, mas antes em busca do silêncio da cidade. Apesar das diferenças, ambos estão no encalce de uma paisagem que se esconde na sua mudez e beleza. A exposição estará patente ao público até 30 de Abril e tem entrada livre.
Hoje Macau EventosSound & Image Challenge | Abertas inscrições para 7ª edição Já começaram os preparativos para aquele que será o sétimo Sound & Image Challenge, numa iniciativa da Creative Macau e de cariz internacional rumo à promoção local da criação audiovisual. As inscrições para a recepção de filmes e videoclipes estão abertas e dia 2 de Abril já há um evento [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stão abertas as inscrições para que aconteça entre 6 e 11 de Dezembro mais uma edição do festival de curtas de Macau Sound & Image Challenge, organizado pela Creative Macau. Com uma periodicidade anual, este é o momento local de excelência dedicado às curtas-metragens em que se pretende estimular a produção cinematográfica, bem como incentivar os produtores do exterior a competir em Macau. Por outro lado é também seu intuito promover de modo geral a cultura audiovisual . Para isso, são realizados dois concursos: o “Shorts”, que incorpora quatro categorias principais – ficção, documentário, publicidade e animação, bem como filmes que integrem os valores de Macau dentro dessas mesmas categorias – e o “Volume” para a produção de vídeos musicais de bandas de Macau. As submissões para o concurso estão abertas, sendo que o período termina no próximo dia 16 de Junho. Para os participantes do Volume, está disponível a lista de canções de bandas locais através do site do concurso (www.soundandimagechallenge.com.mo), sendo que os interessados poderão ainda utilizar temas à sua escolha desde que sejam de Macau. Farão parte do júri profissionais da indústria audiovisual e vídeo-musical. No “Shorts”, o júri da pré-selecção é constituído por Alice Kok, artista e curadora, António Caetano Faria, realizador e produtor, Emily Chan, realizadora e argumentista, Lorence Chan, realizador, e João Cordeiro também membro do júri de pré-selecção. Cada concorrente poderá participar com um máximo de três filmes originais, sendo que as respectivas produções terão que ter data de término entre 1 de Janeiro de 2015 e 16 de Junho de 2016. Palcos especiais Esta edição conta novamente com a utilização de dois espaços privilegiados de Macau: o Teatro D. Pedro V, que será o espaço das “honras da casa” e acolherá a recepção das cerimónias de abertura e entrega de prémios, a mostra das curtas finalistas, para votação da audiência para o prémio “Melhor Filme do Público”, extensões, estreias e será ainda o lugar de encontro com os realizadores internacionais que virão a Macau expressamente para o Sound & Image Challenge. O outro espaço eleito foi a Cinemateca Paixão, conhecida pela sua dedicação à divulgação da cultura cinematográfica em Macau, onde irá decorrer entre 10 e 11 de Dezembro um programa mais concentrado na mostra de filmes e videoclipes musicais, tanto finalistas com premiados. Será também o palco de encontro entre os realizadores internacionais e locais. Sucesso em números Segundo a organização, o festival terá sido um “tremendo sucesso” em 2015, com destaque para a “qualidade representada nos 680 filmes submetidos, com proveniência de 65 países, não descurando a participação na área musical com a recepção de 45 videoclipes”. E como sem público não há “festa”, a organização salienta também o interesse crescente da população local. Simpósio no MAM O dia 2 de Abril é a data marcada para um simpósio acerca de filmografia, já inserido no âmbito do SIC 2016. O encontro a ter lugar no Museu de Arte de Macau convida os oradores Joyce Yang, crítica de cinema e membro da FSCHK, Sam Ho, curador do festivais de cinema e escritor, Albert Chu, realizador e produtor, e João Cordeiro, designer de som e animação, sendo moderado por Alice Kok e Benjamin Hodges, professor de produção de vídeo e multimédia. Categorias e prémios Melhor Evento do Festival – 20 mil patacas Melhor Ficção – 10 mil patacas Melhor Documentário – 10 mil patacas Melhor Animação – 10 mil patacas Melhor Publicidade – 10 mil patacas Melhor Local – 10 mil patacas Identidade Cultural de Macau – 10 mil patacas Prémio do Público – 3 mil patacas Melhor VOLUME – 10 mil patacas
Manuel Nunes Entrevista Eventos MancheteLuís Patraquim, escritor : “A sede de conhecimento em Moçambique é grande” Luís Patraquim é de conversa fácil, mas não de conversa mole. Preocupado com o estado de insegurança no país, deseja paz, mais compreensão para a importância da cultura e traz-nos novas de um povo com uma enorme ânsia de aprender. O convidado do Rota das Letras rejeita paternalismos, desconfia dos tolerantes e não percebe por que os cidadãos ainda não circulam livremente pela CPLP [dropcap]O[/dropcap] que o motiva a estar vivo? Aconteceu-me estar vivo, portanto tenho de fazer o melhor possível. O Reinaldo Ferreira (poeta moçambicano) tem um verso que dizia “ai de mim que não pedi para nascer e sou forçado a viver”, mas ele era pessimista. Não chego a esse ponto, sei que isto é tudo um absurdo, mas também tem coisas com piada pelo meio. O projecto dele era “Um voo cego a nada”. Um belíssimo poeta que morreu demasiado novo, filho do famoso Repórter X, da I República. E na sua obra? O que o motiva a investigar, a escrever, a pensar? Julgo ser a curiosidade das coisas. A necessidade interior de dizer coisas que já foram ditas. Mas cada um diz à sua maneira. Porque não sou pretensioso, direi que existe algo de maravilhamento no mundo, apesar das tragédias pessoais e colectivas que sabemos. Há esse maravilhamento a que nos compete ficar atentos. Como por exemplo… Uma criança que corre a rir pela rua fora. Dizer o que já foi dito. Vivemos num incessante círculo vicioso? Tem dias (risos). Mas passa por aí. Daí o mito do labirinto. A descoberta, aquele desafio do desconhecido para depois resgatar algo que, no fundo, é algo dentro de nós, que não conhecemos, para depois produzir um sentido qualquer. Os sentidos inventamos nós a cada momento, não é? A linguagem e a música são os primeiros dessa invenção de sentidos que fomos inventando ao longo da histórias em várias culturas e sociedades. Será possível formular uma pergunta que nunca lhe tenha sido feita? Algo que você desejasse falar e nunca tenha tido oportunidade? Por exemplo, com quantas gajas é que andou? (gargalhadas) Mas, como sou cavalheiro, não digo. Os brasileiros têm a expressão “abaixo do equador não existe pecado”. Em Moçambique também é válida? Isso são aquelas frases meio folclóricas mas, num certo sentido, é verdade. O pecado é da ordem do religioso. A ética é da ordem da filosofia. Eu não me revejo em nada que tenha a ver com pecado, mas sim em tudo o que tenha a ver com ética. Como é a vida em Moçambique? Não é fácil. Tem ilhas de tranquilidade de um viver ainda tradicional e antigo e a emergência deste conflito que está no começo mas que pode vir a ser perigoso. Tem cidades, como Maputo, que começam a ser uma grande confusão. Alta velocidade, interesses, o dinheiro, o dinheiro, o dinheiro… Mas tem outros espaços absolutamente aprazíveis onde se pode viver sem stress como, por exemplo, a cidade de Inhambane. Em Maputo descobrem-se muitos sinais de Portugal, da culinária a símbolos como o dos clubes… Existe uma nostalgia? Já passaram 40 anos. Os moçambicanos já fizeram muitas coisas, boas e más. Há isso sim, uma espécie de reconciliação com aquele pai que foi preciso matar, no sentido freudiano, e agora há uma percepção de que o mundo é vasto, algumas heranças ficam e as sociedades aproveitam o que acham melhor de cada cultura seja ao nível que for. Não será bem nostalgia. É talvez uma forma de trazer à memória afectiva ou “desafectiva”, se calhar mais “desafectiva”, uma presença que esteve lá de forma colonial mas também com muitas outras facetas, sem o conflito e essa necessidade de afirmação que existia antes de voltar a conviver com uma série de heranças. Há sempre uma ideia em Portugal que fomos sempre tolerantes, amigos dos povos nativos… Ah… isso é tudo uma mitologia desgraçada. Agora vemos a presidência portuguesa da CPLP contestada por vários países, Moçambique incluído… É os resultado de anti-colonialismos primários. Coisa que para o Brasil então não faz sentido nenhum. Angola e Moçambique ainda vá, porque a descolonização [foi recente]. Seria absurdo, mas podíamos tentar perceber. Para mim é uma questão política de hegemonia. Se calhar o Brasil quer tomar o comando. Se bem que o Brasil se esteja a marimbar para o tal mundo da lusofonia – eu não gosto deste termo mas ainda não se descobriu outro -, quer ter uma influência maior ou então não dá para perceber. Mas a própria CPLP foi mal construída, a partir do vértice da pirâmide e está a custar muito a descer à base. Melhor explicado… Os chefes de estado resolveram criar aquilo com uma noção um bocado corporativa. Conferências Ministeriais, reuniões de Associações de Advogados, de empresários, de associações disto e daquilo, mas nada chega cá abaixo, ao povão. Na prática dos povos o que interessa é o dia a dia, o chão das coisas. Uma política fácil de vistos entre estes países, por exemplo. Faria sentido uma comunidade de livre trânsito? Fazia mas Portugal está amarrado a Schengen. Cabo Verde propôs há muito, mas nenhum dos outros países aceitou: era uma espécie de cidadania lusófona. Uma forma diplomática, consular, que permitisse às pessoas circularem. Não apenas as corporações mas também o Zé dos Anzóis, as famílias (o resultado destas ligações que ficaram) poderem viajar sem estes entraves todos. Há dias, Luiz Ruffato dizia ao HM que “o português de Portugal vai acabar por ser um dialecto do Brasileiro”. Tenho de discordar. Em termos linguísticos não há dialectos. São línguas. Falava-se em dialecto quando o poder colonial se referia às línguas dos países africanos. Moçambique tem 11 grupos linguísticos, todos de raiz banta, Angola tem outros tantos. Falar em dialectos é uma espécie de menorização dos estatutos linguísticos. Hoje a linguística não vê a questão assim. Não se trata de dialecto absolutamente nenhum. O que vai acontecer são variantes da Língua Portuguesa, aliás já classificadas assim. A variante europeia não é única, porque naquele território tão pequeno, o léxico, alguma sintaxe e até a pronúncia sofrem tantas mutações… vai haver um português de Moçambique, os linguistas já fazem estudos nesse sentido, em Angola idem… O que o Luiz, se calhar, queria dizer é que pela dimensão geográfica e demográfica, o Brasil é o gigante que é. Neste contexto, que sentido faz um acordo ortográfico? Não faz muito. O problema da língua não está aí mas na sintaxe. O léxico não é problema porque as línguas são organismos vivos que se inventam a si próprios, depois a literatura gera uma espécie de padrão, a gramática analisa e cria um conjunto de regras que, logo a seguir, podem ser mudadas e são. Não há um proprietário da língua e qualquer Estado que julgue poder legislar a esse nível está absolutamente equivocado. O que falta a Moçambique para que as pessoas se entendam? As elites não se esquecerem do melhor do discurso de libertação – salvo algumas arrogâncias, a matriz não começou bem – que sejam menos arrogantes e menos ambiciosas. Estou a dizer o óbvio, mas pronto… que coloquem o interesse nacional acima dos interesses partidários. O interesse nacional é um conceito vago… É definido pelas classes hegemónicas que chegam ao poder, é assim em todo o lado. No caso moçambicano, é o de que se não existir juízo a própria unidade do território pode estar em causa. O país precisa de uma política que tenha em conta a distribuição da riqueza, capaz de criar condições para mais riqueza a partir da agricultura e distribuí-la pela população. Isso não está a acontecer. Vive-se de galinhas dos ovos de ouro – daí a emergência do novo conflito-, do gás natural, um ouro que está ali a luzir e a perturbar as cabeças de alguns. Há meia dúzia de anos vi em Maputo a capa de um jornal com a fotografia de uma figura pública e a manchete “O regresso do grande pateta”, arrojado em muita democracias. Tendo em conta o momento actual, como está a liberdade de imprensa em Moçambique? Nesse aspecto existe, de facto. De uma forma geral, a liberdade de imprensa mantém-se mas tem dias. Às vezes não é bem utilizada mas por uma questão puramente técnica. Há jornais e jornais, só por isso. A liberdade de imprensa é um dos pilares do jogo democrático, é saudável pela capacidade crítica, de criação de massa crítica, pela formação de opinião e a necessária difusão de informação que todas as sociedades precisam. Em Macau a discussão da independência do poder judicial está na ordem do dia. Qual a situação em Moçambique? Isso é da definição básica da coisa pública. (risos) Teoricamente existe. Praticada por um ou outro juiz mais consciencioso, também existe. Mas como sistema não existe, infelizmente, porque a teia dos interesses, dos favores, das pequenas ou grandes corrupções é de tal ordem que, de uma maneira ou de outra, as coisas estão instrumentalizadas. Às vezes aparece uma pérola caída não sei de onde como o caso do professor Castelo Branco. A consciência, a tal ética, não é? Aconteceu-me entre Inhambane e Maputo: numa venda de estrada um grupo de crianças pedia-me livros. Existe outra utilidade para os livros ou aquelas crianças tinham mesmo necessidades de leitura? Há uma grande curiosidade. As pessoas sacrificam-se muito para estudarem. Há uma sede de conhecimento muito grande, isso é verdade. O sistema de ensino é que tem muitas falhas. E, nessa zona, a necessidade ainda é maior porque a escassez de oferta é grande. Que se poderia fazer para resolver essa necessidade? Precisamos de uma rede de bibliotecas, de meios para distribuir livros pelo país. Mas a situação volta a estar difícil neste momento. A tensão é assim tão grande? Começamos a viver uma situação de insegurança. Já há colunas militares a acompanhar os carros pela estrada número um… Já começa a ser parecido com há uns anos atrás. E a sociedade civil moçambicana ainda não tem força para se opor a esse “estado de sítio”? Manifesta-se muito, faz muitas coisas, comunicados mas, no limite dos limites, não tem ainda o poder para se opor com veemência ao que está a acontecer. Como está vida cultural em Moçambique? Está viva. O teatro, até o cinema, mais caro, produzem. Na literatura edita-se muito, com maior ou menor qualidade. E a cultura é um sector olhado com prestígio, o que não é mau. Não existem ainda é políticas governamentais que entendam que a cultura (para além de fortalecer a moçambicanidade plural, a unidades e os chavões que se quiserem) também pode acrescentar valor ao PIB. Hoje fala-se é de diplomacia económica. E só se fala em diplomacia económica. A cultura é sempre vista como algo menor. O poder político tem de perceber que a cultura não são apenas umas festas para consolidar a implantação do partido nesta ou naquela região, como é o caso do famoso Festival Nacional de Canto e Dança, ou do Cultural Nacional. É preciso criar dinâmicas: uma verdadeira associação de autores, subsídios para o teatro e para o cinema, que não há. Formas de investimento para atrair públicos, gerar massa crítica e educar o gosto. Edições subsidiadas pelo governo, dos grandes mestres como se está a fazer em Itália. Mas em Moçambique, de uma forma geral, só se pensa no luxo, no papel couché e coisas dessas. Nestes últimos anos tem-se assistido à entrada de muitas empresas chinesas em Moçambique. Como tem sido a relação com os locais? Há um problema de comunicação. Uma coisa são os chineses e macaenses que estão lá há mais de cem anos, a outra são estas empresas, na maioria estatais, que chegam agora. Contratam os locais para lugares menores, querem tudo na velocidade chinesa e o moçambicano não é assim. Não quer dizer que seja preguiçoso, mas tem outro ritmo. E se pagassem decentemente, também ajudaria. E de um ponto de vista mais geral? Há benefícios claros para a população? Hoje começa é a questionar-se o modelo de cooperação chinesa com África. Há benefícios claros porque se abriu a estrada ‘x’ ou ‘y’ mas depois não há interacção. A empresa chega, monta o estaleiro, propicia um trabalho sazonal não muito bem pago, não há grandes convívios, a obra acaba, vão-se embora. Um ou outro escapa e fica mas são casos pontuais. É um esquema de cooperação um bocado disfuncional. Fala-se muito da responsabilidade do mapa cor-rosa por parte dos problemas de África. Que ideia tem sobre isso? É o ultimo argumento de um novo olhar europeísta sobre África, que seria o mais perigoso. Querer isso para África agora seria a desgraça total e completa. Aquando da conferência de criação da Organização da Unidade Africana, em 1963, foi acordado deixar tudo como está. Quando há conflitos graves, há estudos sobre isso, as causas, normalmente, não são étnicas mas derivadas da injustiça na distribuição da riqueza, da falta de criação de oportunidades, de poderes políticos nepotistas. Tenho a ideia que, para si, a palavra ‘tolerância’ não tem a conotação de bondade que normalmente lhe atribuímos. É mesmo assim? Lá para trás foi boa quando o John Locke escreveu o “Ensaio sobre a Tolerância”, quando existiam as guerras religiosas na Europa. Fazia todo o sentido e continua a fazer um certo sentido, claro. Mas uma pessoa que se diz tolerante é um bocado arrogante. Que categoria tenho eu para ser tolerante ou deixar de ser tolerante? Ou tenho opiniões ou não tenho. A minha posição deve ser a do discurso, da discussão com o outro, para ver se chegamos a acordo, ou não, mas cada um com as suas ideias ou cultura. Não é preciso guerra por isso. Um dia foi exilado… (interrompendo) Exilado é uma palavra muito fina para mim porque fui um refractário. Exilados são os políticos. (risos) Como aconteceu? Não queria participar na Guerra Colonial e queria ir para a luta de libertação. É tão simples como isso. Porquê a Suécia? Por contactos. Porque havia lá uma base dos três movimentos de libertação: Frelimo, PAIGC e MPLA com base na CONCP (Conferência da Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas) criada em Rabat logo a seguir ao início da guerra em Angola. O que gostava que um dia fosse o seu legado? A recordação do seu trabalho como jornalista, escritor, activista? Não gostava de nada porque nessa altura já cá não estou. (risos). Mas sim, gostava que recordassem um trabalho sério e rigoroso. Que trabalho será esse? Algumas propostas para o maravilhamento do mundo. Um desejo para Moçambique Paz.