UNESCO | Elsie Ao Ieong U promoveu Macau em Pequim durante evento

[dropcap]M[/dropcap]acau realizou ontem a estreia como Cidade Criativa de Gastronomia na Cimeira de Pequim das Cidades Criativas da UNESCO, que este ano tem como tema “Criatividade Capacita as Cidades; Tecnologia Cria o Futuro”.

O evento começou ontem e acaba hoje, é organizado pelo Governo Central numa parceria com a UNESCO, e a secretaria para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, foi uma das pessoas que discursou através de uma mensagem de vídeo.

Na mensagem, a secretária afirmou que desde 2017 foi traçado um plano para Macau e foram logo colocadas “mãos à obra”. Neste trajecto, a “criatividade foi um elemento estratégico para um desenvolvimento sustentável da cidade”, referiu a responsável. Consequentemente, Elsie vincou que Macau avança de acordo com os objectivos de desenvolvimento sustentável que constam na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas [ONU].

A secretária afirmou ainda que, a situação epidémica está praticamente estável tanto no Interior, como em Macau e a retoma da emissão de documentos de viagem turísticos a residentes do Interior da China para deslocação a Macau significa o regresso gradual à normalidade da movimentação de pessoas.

Na mesma ocasião a governante considerou ainda que a pandemia da covid-19 constitui um grande desafio global, e que os Governos devem contar com recursos inovadores e a aplicação da tecnologia como elementos essenciais para ajudar a superar os desafios.

DST | Praça do Tap Seac vai ser o local principal de Festival da Luz

Entre 26 de Setembro e 31 de Outubro, Macau será uma cidade iluminada. A Praça do Tap Seac será o palco para o principal espectáculo do Festival de Luz, mas a festa chegará a 12 outros locais dispersos pelo território. O Governo espera metade dos participantes do ano passado

 

[dropcap]O[/dropcap] maior espectáculo de vídeo mapping da sexta edição do Festival de Luz vai acontecer, pela primeira vez, na Praça do Tap Seac, com quatro edifícios patrimoniais a servir de pano de fundo. A directora dos Serviços de Turismo (DST) reconheceu que este ano não espera atingir o volume de participantes do ano passado, quando houve 400 mil espectadores. “Estimamos que teremos [talvez] metade dos participantes no Festival de Luz deste ano”, disse ontem Helena de Senna Fernandes.

O festival decorre entre 26 de Setembro e 31 de Outubro, com actividades entre as 19h e as 22h. Vão ser apresentados outros espetáculos de “vídeo mapping”, nas fachadas do Canídromo, da Companhia de Produtos da China, da Biblioteca Infantil de Wong Ieng Kuan e em frente ao Largo dos Bombeiros na Vila da Taipa.

O tema do festival é “Carnaval de Luz” e está dividido em quatro roteiros: “Circo”, “Túnel do Tempo”, “Reino dos Doces” e “Caixa de Música Luminosa”. As instalações luminosas e jogos interactivos vão estar dispersos por 12 locais, com várias actividades planeadas. No roteiro do “circo”, por exemplo, vai ser erguida uma tenda de 27 metros de comprimento na zona de lazer da Rua do General Ivens Ferraz, equipada com jogos interactivos de realidade aumentada e instalações luminosas com formas de animais.

Receber os turistas

A iniciativa, que vai custar cerca de 21 milhões de patacas, foi antecipada como “um primeiro passo” para receber turistas. Helena de Senna Fernandes indicou também que se seguem no calendário de ofertas turísticas outros eventos, tais como o dia mundial do turismo ainda em Setembro e o fogo de artifício de Macau e Zhuhai no Dia Nacional. A ideia é promover Macau como uma cidade “segura” e “vibrante”.

No fogo de artifício de dia 1 de Outubro, Hengqin vai contribuir em termos de música, mas a companhia que vai fazer o lançamento é de Macau e foi escolhida através de concurso público. O orçamento da actividade ronda 1,7 milhões de patacas.

Recorde-se que os vistos individuais voltam a ser emitidos para toda a China a partir de dia 23 de Setembro. “As pessoas do Interior da China têm de fazer o seu pedido e normalmente uma semana depois é que vão receber o visto. Em princípio, vai ser a tempo para a semana dourada, porque este ano vai ser entre 1 e 8 de Outubro. Mas claro que não é só por causa da reemissão dos vistos que as pessoas vêm para Macau”, comentou a directora da DST. Em causa está o receio de viajar causado pela pandemia.

Ensino | Católica nega ter plataforma online para alunos de Macau

[dropcap]A[/dropcap] Universidade Católica Portuguesa (UCP) não vai criar, afinal, uma plataforma online especial para os alunos de Macau que não conseguem sair do território. Numa resposta do gabinete da reitoria da UCP ao HM, refere-se que “não há plataforma online para os alunos de Macau, até porque muitos deles encontram-se em Lisboa”. Essa informação veio da Direcção dos Serviços de Ensino Superior em resposta a uma interpelação escrita do deputado Leong Sun Iok.

Em Macau, estão 25 alunos de um total de 68 estudantes que estudam na UCP ao abrigo do Protocolo de Línguas e Outros Cursos, bem como 64 de 81 alunos do Protocolo de Direito. Para dar resposta à necessidade de um novo sistema de ensino devido à pandemia da covid-19, a UCP “reforçou os meios tecnológicos nas salas”, tendo optado por “um regime híbrido de lecionação, com 50 por cento das aulas leccionadas à distância, via Zoom”.

A universidade de ensino superior privado considera que “o principal desafio que se coloca aos alunos que optaram por ficar em Macau é, naturalmente, a muito menor exposição à língua e à cultura portuguesas”. “A isto se acrescenta a diferença horária e o facto de estarem a assistir a aulas presenciais à distância, o que pode inibi-los de participar com igual à-vontade nas sessões presenciais. Os docentes foram já informados de que alguns alunos da RAEM decidiram ficar em casa e já se mostraram disponíveis para os ajudar com as dificuldades acrescidas”, remata a UCP.

Ensino | Governo prepara cortes no orçamento do próximo ano

O director dos Serviços de Educação e Juventude, Lou Pak Sang, explicou que os cortes vão ser feitos no próximo ano, mas garante que não vão afectar apoios sociais a alunos

 

[dropcap]S[/dropcap]egundo o director dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Lou Pak Sang, a área da Educação vai sofrer cortes orçamentais no próximo ano. A revelação foi feita ontem, num encontro sobre o andamento do processo de fusão da DSEJ com a Direcção dos Serviços de Ensino Superior (DSES).

“O orçamento deste ano das duas direcções já foi definido. Mas devido à epidemia […] vai haver uma redução [do orçamento] no próximo ano, com as despesas obrigatórias a serem a excepção”, afirmou Lou.

De acordo com o mesmo responsável, as despesas com os apoios sociais como o programa de distribuição de leite, seguro dos alunos, subsídio para materiais e bolsas de estudos ficam de foram da austeridade.

Os cortes afectam assim algumas actividades que vão ser canceladas, como o Festival de Dança Juvenil ou as visitas ao exterior, que foram congeladas devido à pandemia da Covid-19.

Anteriormente, o Chefe do Executivo já tinha exortado à contenção orçamental. Porém, a proporção dos cortes no orçamento da DSEJ e da DSES não foi revelada, algo que foi justificado com a necessidade de levar a proposta primeiro à Assembleia Legislativa.

Aperfeiçoamento contínuo

Outro assunto abordado foi a quarta fase do Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo, que começou no dia 1 de Setembro deste mês e se prolonga até 31 de Agosto de 2023. Com a nova fase deixou de ser possível frequentar aulas à distância ou através da internet.

A medida visa impedir fraudes no programa que disponibiliza seis mil patacas por residente para formação. “Sei que agora está na moda o ensino à distância. Mas, como sabem, o montante vem do erário público e a nossa auditoria apontou que a assiduidade dos alunos não é inspeccionada nem controlada muito bem. Nos cursos online e à distância é muito difícil fazer esse controlo. Por isso, nesta fase não vamos autorizar cursos à distância nem online”, explicou Lou.

Depois do ensino secundário e primário ter regressado às aulas, o mesmo vai acontecer com crianças com menos de três anos. Assim, até 21 de Setembro, regressam ao activo 41 escolas para os mais novos, o que representa 55,85 por cento do total de alunos com menos de três anos. A partir de 28 Setembro mais 15 escolas começam a aceitar alunos com menos de três anos, o que representa a proporção de 17,07 do total deste tipo de alunos.

Amor em Dezembro

Com um custo de 2,5 milhões de patacas, a Base da Educação do Amor pela Pátria e Macau, no Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania, vai abrir em Dezembro, ou seja, numa altura próxima da celebração do 21.º aniversário da transferência. Segundo a DSEJ, o material que vai ser disponibilizado do interior da base vai ser escolhido em cooperação com departamentos governamentais do Interior, que poderão disponibilizar vídeos e outros materiais, mas também com o Museu da China.

Centro maior

Antes do Governo ter tornado público que o edifício do Hotel Estoril vai ser transformado na Biblioteca Central, as autoridades trabalhavam para criar nesse espaço um Centro de Juventude. Ontem, Lou Pak Sang desvalorizou a mudança de planos, porque o espaço reservado para a DSEJ é apenas de 6 por cento da área do centro e também porque o centro vai ser erguido, noutro terreno, com uma área superior. O director da DSEJ não mencionou a futura localização do centro, apenas afirmou que deverá ser divulgado no futuro.

Universidade de Macau diz que Xu Jie não presidiu a Comissão de Recrutamento

A Universidade de Macau não nega que Xu Jie foi membro da comissão que vai encontrar o futuro director da Faculdade de Letras e Humanidades, nem que deixou a comissão para se candidatar ao cargo. Porém, recusa que actual director substituto tenha sido presidente

 

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A[/dropcap] Universidade de Macau nega que Xu Jie, director substituto da Faculdade de Letras e Humanidades (FLH), tenha sido presidente da Comissão de Recrutamento e que tenha escolhido os membros que vão avaliar a sua candidatura para ocupar de forma permanente o cargo.

Num artigo publicado na quarta-feira, o HM noticiou que Xu Jie foi presidente da Comissão de Recrutamento do futuro director da FLH e que acabou por deixar esse cargo, em que avaliou candidatos ao posto, e apresentou a sua candidatura para ser tornar director da faculdade de forma permanente.

Agora, a UM nega que quando a Comissão de Recrutamento foi constituída que Xu Jie tenha sido presidente e escolhido os membros, que funcionam como júri. “A comissão de recrutamento foi constituída de acordo com o Regulamento de Gestão do Pessoal da UM, não sendo os seus membros escolhidos por recomendação do director substituto da respectiva faculdade”, lê-se na resposta, em que a UM alega falta de correspondência entre a versão publicada pelo HM e a realidade. “A comissão de recrutamento foi constituída pela UM em conformidade com os regimes aplicáveis, não sendo presidida pelo referido director substituto de faculdade”, é acrescentado.

A resposta não esclarece que entidade escolheu os membros nem dá conta do conteúdo do Regulamento de Gestão do Pessoal da UM, a que o HM não conseguiu ter acesso. A formulação frásica também não permite perceber se Xu Jie apenas não era o presidente à altura da criação da comissão ou se nunca foi. O HM pediu esclarecimentos à UM para perceber esta questão, mas a instituição de ensino respondeu que não faria mais comentários.

Conflito de interesses

O que a UM nunca nega é que Xu Jie terá sido membro de uma comissão que emitiu opiniões sobre candidatos. Também nunca é negado que Xu Jie deixou a comissão que escolhe o próximo director para ser concorrente ao posto e que já foi ouvido enquanto candidato.

Por outro lado, apesar de ter sido questionada sobre um possível “conflito de interesses”, a UM limitou-se a dizer que foi tudo feito dentro da normalidade, sem acrescentar mais nada. “O recrutamento realiza-se de acordo com os procedimentos normais”, afirmou a instituição.

Segundo o “Estatuto do Pessoal da Universidade de Macau” os recrutamentos têm como princípio geral a “igualdade de condições e de oportunidades para todos os candidatos.

O concurso para o cargo de director da FLH da Universidade de Macau foi lançado em Agosto do ano passado e oferece uma remuneração anual superior a 1,3 milhões de patacas por ano.

A espera pelo contraditório

Antes de publicar o artigo inicial, o HM contactou de várias formas a Universidade Macau para esclarecer o relato apresentado e obter esclarecimentos sobre o processo de contratação. Apesar do primeiro contacto ter sido estabelecido na quinta-feira, dia 10 de Setembro, às 17h50, através de correio electrónico, só na quarta-feira, dia 16 de Setembro, às 23h30, após a publicação da história, a UM deu “sinal de vida”, que resulta na posição relatada.

Entre o primeiro contacto e a resposta da UM, foram enviadas mais quatro mensagens de correio electrónico, inclusive para Xu Jie, e feitos mais de 20 telefonemas para os diferentes assessores da instituição. Apenas três telefonemas para a directora das comunicações da UM foram atendidos, para informar que estava ocupada.

Além destes contactos, o HM abordou na rua na terça-feira, dia 15 de Setembro, por volta das 13h, o presidente do Conselho da Universidade, Peter Lam, e pediu esclarecimentos, sublinhando a sensibilidade do assunto. Também a secretaria dos Assuntos Sociais e Cultura, que tutela a UM, remeteu uma resposta para a instituição.

Associação Poder do Povo defende ponto turístico com animais abandonados

[dropcap]A[/dropcap] Associação do Poder do Povo defende que o Governo tem de acabar com a prática de matar animais abandonados e que como alternativa deve colocá-los num terreno em Coloane ou na Taipa. A ideia foi defendida numa petição entregue ontem na sede do Chefe do Executivo, que resultou da recolha de opiniões junto da população.

Segundo Iam Weng Hong, presidente da associação, o local com os animais poderia ser transformado numa atracção turística, o que contribuía para o turismo de duas formas: por um lado a remoção dos animais abandonados das ruas permitia dar à RAEM um melhor ambiente; por outro passava a haver mais um ponto de interesses para os visitantes.

Ao nível do impacto directo para a população de Macau, a associação defende que a criação do espaço vai haver mais postos de trabalho.

O mesmo responsável criticou também que a interpretação legal do Instituto para os Assuntos Municipais que equiparou a alimentação ao abandono. Iam disse que era “desumana e ridícula” e apelou ao Chefe do Executivo para que não permita que seja aplicada. Anteriormente, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, que tutela o IAM já tinha vindo a público explicar que tem uma interpretação da lei.

Desde Janeiro a Agosto o IAM abateu 85 animais, entre 55 cães e 30 gatos. Já no ano passado foram abatidos 148 animais, 74 cães e 74 gatos.

Covid-19 | SSM recomendam às associações cocktails em vez de jantares

Os Serviços de Saúde definiram recomendações para eventos organizados por associações, realizados a partir de segunda-feira. Em espaços fechados com mais de 400 pessoas é possível ser exigida a realização de teste de ácido nucleico. As medidas podem ser revistas depois da semana dourada

 

[dropcap]A[/dropcap] pensar nas recepções e banquetes de confraternização organizados por associações com a aproximação do Dia Nacional, a 1 de Outubro, foram criadas novas recomendações para eventos que se realizem a partir de segunda-feira. Algumas situações vão mesmo exigir que se faça teste de ácido nucleico.

As orientações de prevenção da epidemia dos Serviços de Saúde (SS) para eventos organizados por associações com comida e bebida preveem a necessidade de certificado do teste de ácido nucleico quando forem em espaços fechados, com mais de 400 pessoas, em que durante mais de uma hora não se possa usar máscara. Os funcionários dos restaurantes não precisam de fazer o teste por trabalharem com máscara.

Os SS recomendam que os almoços e jantares sejam substituídos por cocktails para encurtar o tempo do evento, sem brindes, a distância entre as mesas deve ser superior a um metro e o uso de máscara quando não se estiver a comer. Também se disponibilizar gel desinfectante e medição da temperatura corporal, para além da apresentação do código de saúde.

Para além disso, foi ontem explicado na habitual conferência de imprensa que os alimentos ou bebidas devem ser cobertos ou embalados, e que “caso um grande número de convidados, artistas ou funcionários estiver doente, o organizador e o Centro de Prevenção e Controlo da Doença dos Serviços de Saúde devem ser notificados”.

Semana dourada

As medidas foram criadas com base na situação actual, por se esperar que Macau receba muitos turistas do Interior da China na semana dourada. “Existe sempre um risco”, disse o médico Alvis Lo Iek Long, frisando que não se vão fazer recomendações só depois de haver casos confirmados. Mas as medidas podem sofrer alterações no futuro.

“Depois de serem lançadas, as medidas serão ajustadas atempadamente. Se calhar vão ser ajustadas depois da semana dourada. Depois da vinda de muitos turistas, se a situação continuar estável, vamos ver se é possível diminuir ou levantar estas medidas restritivas”, explicou o médico.

Testes na MUST

A partir de segunda-feira passa a ser possível fazer o teste de despiste da covid-19 no Hospital da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), através de amostras nasofaríngeas. As marcações arrancam hoje. O hospital tem capacidade para 500 quotas diárias e cobra uma taxa de 120 patacas. “O serviço prestado pelo Hospital da Universidade de Ciência e Tecnologia não é um projecto de aquisição de serviços pelo Governo, pelo que não se dispõe de isenção da cobrança da taxa no primeiro teste”, avançou ontem o médico Alvis Lo Iek Long.

Viva Macau | CCAC nega corrupção e fraude na concessão de empréstimo

O Comissariado contra a Corrupção conclui que não houve crime de corrupção ou fraude no empréstimo de 212 milhões de patacas pelo Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercialização à falida Viva Macau. Houve, no entanto, negligência por parte do Governo

 

[dropcap]N[/dropcap]ão houve crime de corrupção nem dolo nos actos praticados, mas sim más práticas que o Executivo deve corrigir. É esta a conclusão do relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) relativo à investigação sobre o empréstimo de 212 milhões de patacas concedidos pelo Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercialização (FDIC) à falida Viva Macau Airlines.

No que diz respeito aos administradores e sócios da companhia aérea, houve “crime de falência não intencional”, punido pelo Código Penal. No entanto, o processo depende de queixa, que deveria ter sido apresentada três meses depois da declaração de falência da empresa, em 2010, algo que nunca ocorreu.

O CCAC aponta que “foram descobertos factos que provam que os mesmos [sócios e administradores] não cumpriram a lei para que a contabilidade e as transacções comerciais cumprissem as regras”, além de que “não elaboraram as demonstrações financeiras e a contabilidade, mesmo depois da declaração de falência da Viva Macau”.

Apesar destas irregularidades, o CCAC defende que os administradores Kevin Ho e Ngan In Leng tentaram salvar a empresa. “Conclui-se que não existem indícios óbvios que demonstrem que os sócios ou administradores da Viva Macau levaram intencionalmente a sociedade à falência, cometendo actos de má-fé com o intuito de criar assim uma simulação de insuficientes fundos para fazer face ao pagamento da dívida, evitando assim a mesma.”

Os dois empresários chegaram a fazer vários empréstimos à companhia aérea. Quando esta faliu, em 2010, devia um total de 1.1 milhões de patacas.

As falhas do Governo

Do lado do Executivo houve negligência e falta de rigor na concessão de cinco tranches do empréstimo, mas “não se encontram preenchidos os requisitos legais constitutivos de qualquer tipo de crime”. Ainda assim, o CCAC conclui que “nem a Direcção dos Serviços de Economia, o FDIC ou a Autoridade de Aviação Civil de Macau acompanharam a situação financeira da Viva Macau, nem procedido à supervisão da situação de liquidação dos empréstimos”.

Desta forma, o CCAC defende que “os trabalhadores da função pública responsáveis pela apreciação e aprovação, bem como pelo acompanhamento e supervisão dos empréstimos, não cumpriram de forma empenhada as suas funções nem as suas responsabilidades”.

As sugestões

O CCAC defende que o Governo deve avançar para a “regulamentação específica sobre os destinatários da concessão de apoios, a sua forma, critérios, condições de apreciação e aprovação, competência para a sua autorização, deveres dos beneficiários e sistema de supervisão”.

Tudo para evitar que “surjam novamente situações de falta de base legal no processamento de pedidos de apoio pelo FDIC”. Para o CCAC, montantes muito elevados exigem “legislação clara” que regulamente “a apreciação e aprovação de tais pedidos”.

São também sugeridas mudanças de fundo na forma como o FDIC opera. É necessário criar uma lei que “promova e aperfeiçoe o sistema de supervisão na utilização dos apoios”, além de ser necessário resolver as “lacunas em matérias de garantia de empréstimos, regime de liquidação e responsabilidade de supervisão”.

Para o CCAC, é fundamental “criar um mecanismo de alerta e controlo de risco”, algo “indispensável para garantir que os fundos públicos não sejam alvo de abuso em virtude de uma supervisão não rigorosa e de situações de excesso de confiança”. Apesar dos actos dos funcionários públicos terem prescrito, o CCAC defende que os funcionários e chefias devem ser alertados para melhores práticas neste tipo de processos.

Instruções emitidas

Em comunicado, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, disse que já emitiu instruções para que os serviços públicos estudem “com seriedade os problemas apontados e as sugestões apresentadas” pelo CCAC. Ho Iat Seng deu também instruções a Lei Wai Nong, secretário para a Economia e Finanças, “para rever os procedimentos de apreciação e autorização da concessão de empréstimos pelo FDIC”. O Chefe do Executivo deseja também que “sejam revistas as normas legais aplicáveis ao FDIC, incluindo a revisão e aperfeiçoamento do actual regulamento”.

O Governo promete ainda “rever e aperfeiçoar o regime de responsabilização dos titulares de cargos públicos, exigindo aos trabalhadores da função pública a quem são atribuídas competências de gestão e aplicação dos recursos públicos que cumpram lealmente as suas funções e que assumam as suas responsabilidades”.

O CCAC instaurou o inquérito relativo a este caso a 30 de Julho de 2018, depois de um intenso debate com os deputados que fazem parte da Comissão de Acompanhamento das Finanças Públicas da Assembleia Legislativa.

Miguel de Senna Fernandes lança livro de crónicas: “O meu pai esteve sempre presente”

Depois de criar, em 2018, o blogue “Crónicas à Sexta”, Miguel de Senna Fernandes passa algumas dessas crónicas para um livro com o mesmo nome. Tratam-se de “estórias e ironias do comum dos dias, de alegrias e avarias, desde Marias a Zacarias”, como o próprio escreveu. O livro, com chancela da Praia Grande Edições, é lançado a 4 de Outubro no festival literário Rota das Letras. O evento deste ano celebra o conto e em especial a obra do escritor macaense Henrique de Senna Fernandes, pai de Miguel

 

[dropcap]C[/dropcap]omo surgiu a oportunidade de publicar o livro “Crónicas à Sexta”?

O festival Rota das Letras quis fazer um tributo à obra do meu pai. Este ano todo o programa está sujeito ao tema ‘Contos’ e acharam que deviam fazer uma nova edição, em chinês e inglês, da obra do meu pai, “Nam Van: Contos de Macau”. Depois, em conversa, propuseram-me publicar os meus contos que estão no meu blogue. É uma boa oportunidade de lançar algo que gosto de fazer.

Tem o blogue desde 2018. Porque sentiu necessidade de partilhar os seus escritos?

Inicialmente, eram apenas crónicas que me vinham à cabeça e fiz o esforço para as publicar todas as sextas-feiras. Daí o título da obra ser “Crónicas à Sexta”. Claro que muitas vezes não é fácil escrever crónicas e muitas vezes não consigo concentrar-me na escrita como gostaria. Houve muitas interrupções, mas quis manter um compromisso para que todos estes contos e crónicas fossem lançadas às sextas-feiras. Coloquei todas as crónicas à disposição da organização do festival e até pedi que fossem eles a escolher os textos.

É importante o festival Rota das Letras celebrar os escritos do seu pai?

Sim. Foi bom manter viva a ideia do tributo à sua obra. Já estava à espera que isso fosse adiado para outra altura, mas a organização decidiu manter a palavra. Louvo o esforço da organização nesta época da pandemia. Naturalmente, aguardo com alguma expectativa a edição do seu livro em chinês e inglês. É uma excelente ideia para que, pelo menos, a obra possa sair fora das fronteiras e entrar no mundo chinês. Isso é fundamental, já que hoje em dia há uma tendência para se valorizar coisas da terra. Junto da comunidade chinesa há uma crescente consciencialização da produção local, e isto é muito bom.

Dia 4 de Outubro marca o décimo aniversário da morte do seu pai. Considera que é importante dar uma nova roupagem à sua escrita?

Não só às obras do meu pai, mas também em relação às obras de outros autores de Macau. É importante renovar o interesse pelas obras já publicadas, quanto mais não seja para incentivar outros escritores. Porque apesar das grandes transformações sociais, Macau continua a ter um manancial de histórias. É um campo fértil para histórias, romances, crónicas e há muito canto por aí que pode inspirar obras. É sempre bom que as organizações locais, sobretudo nesta área literária, se debrucem também sobre a renovação do interesse das obras já feitas. É mentira quando dizem que Macau não tem literatura. Claro que tem, mas se calhar a literatura em português podia chegar a outro tipo de patamar. Talvez não se tenha conseguido porque o universo de leitores não é vasto em Macau, o que se compreende, mas é sempre bom manter as obras vivas. Apesar das dificuldades reais que existem, não se deve abandonar a defesa da literatura aparentemente ténue em Macau.

O seu pai serviu de inspiração para escrever estas crónicas?

Não necessariamente. Não me baseei nada naquilo que escreveu, mas o pai esteve sempre presente. Nunca utilizei fórmulas ou a inspiração com base nas obras dele, e penso que ele até gostaria que eu fizesse as coisas por mim, tal e qual como ele começou. Há sempre aquela mão que me abençoa e tenho o meu pai sempre presente quando escrevo. Mas inspiro-me em outras coisas. O meu pai dizia sempre isto, que em cada canto e em cada esquina de Macau há uma história e ele mostrou isso.

Podemos esperar crónicas de análise à sociedade de Macau, ou são reflexões pessoais?

Não é uma análise, não faço isso. No fundo tento focar-me muito na condição humana. Quando falamos sobre uma obra muitas vezes temos de versar sobre o estado de espírito da personagem, há essa representação da condição humana. Talvez algumas questões existenciais venham à tona, há uma tentativa de explorar, através das personagens, até que ponto e em que termos nós existimos. Não é uma análise à sociedade, embora haja ali caricaturas, histórias com alguma profundidade. Há uma história, de que gosto muito, sobre cartas de amor de crianças. É uma história que brinca muito com a inocência das pessoas, mas fala-se de coisas sérias, que não respeitam idade. Há uma certa ingenuidade ali e é precisamente isso que fascina.

É essa a sua crónica preferida, ou tem outras?

Gosto de todas, no fundo. Quando escrevo, o primeiro leitor sou eu, sou um grande julgador de mim próprio. Escrevo, deixo de lado uns tempos e depois volto a ler para ver se gosto. São crónicas muito diferentes. No fundo é uma experiência e tenho de explorar várias possibilidades diferentes nesta forma de escrita. Não sei como as crónicas vão ser publicadas, mas eu, pelo menos, vejo uma evolução nas várias formas de abordar o conto. Há uma história sobre o natal e gosto muito desta. Foi a primeira história que fiz, em 2015. Gosto muito de um conto sobre o bolero [Chi-ca-pom, o bolero improvável]. Também gosto do conto sobre as cartas de amor. Tenho outros contos em mente e vários projectos que vou tentar concretizar no próximo ano. Tenho várias coisas escritas que estão ainda em esboço e que se podem transformar em algo.

Esses projectos passam pela publicação de um romance?

O meu sonho é publicar um romance. Tenho o plano de um romance feito há muito tempo, mas falta-me alguma perspectiva histórica, relacionada com o tufão de 1874. Falta-me alguma pesquisa que terei de fazer. Penso que seria um romance fantástico. Mas esse período histórico serve apenas como pano de fundo. Espero ter tempo para acabar isso. Comecei a escrevê-lo, mas tive dificuldades em termos de enquadramento histórico e ficou para depois. Vamos ver se o reformulo depois.

Porquê esse período histórico em específico?

O tufão em si é um fenómeno da natureza que naturalmente cria várias possibilidades de narrativa, várias histórias que podem servir como pano de fundo. Não há uma razão em especial, mas apenas um certo fascínio sobre esse fenómeno da natureza. Espero que os leitores apoiem aqueles que escrevem e usam o seu tempo para produzir obras. Sobretudo que apoiem aqueles que se vão estrear. Para que haja uma reacção ao que se cria.

“Noul” | SMG falam em “possibilidade baixa” de içar sinal 1 de tempestade

Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) afastam a possibilidade de içar o sinal 1 de tempestade tropical devido à passagem do “Noul”. Segundo um comunicado publicado esta tarde, o ciclone tropical começou a dirigir-se “para a parte central do Vietname e a cruzar um ponto mais próximo do território, a cerca de 750 quilómetros de Macau”. No entanto, “dado que o sistema tomou um rumo mais para sul do que o previsto, espera-se que [o ciclone tropical] não afecte Macau e a emissão do sinal número 1 seja relativamente baixa”.

Mesmo sem sinais de tempestade o tempo no território será instável entre hoje e amanhã, sexta-feira, devido à circulação externa do “Noul” mas também devido ao efeito da monção do nordeste. Os SMG explicam que “o vento na região pode, ocasionalmente, atingir o nível 6 na Escala ‘Beaufort’, com rajadas”, além de que “nos próximos dias continuam a ocorrer na região aguaceiros com frequência, acompanhados de trovoadas”. Estão ainda previstas inundações ligeiras nas zonas baixas do Porto Interior.

“Noul” | SMG mantém possibilidade de içar sinal 1 de tempestade

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) emitiram uma nota esta manhã onde mantém a possibilidade de içar o sinal 1 de tempestade devido à passagem do ciclone tropical severo “Noul”. Às 7h de hoje, o ciclone estava a atravessar a parte central do Mar do Sul da China em direcção à parte central do Vietname.

“Hoje, durante o dia, o ciclo tropical vai entrar a menos de 800 quilómetros de Macau”, pelo que “posteriormente esta Direcção vai considerar emitir o sinal número 1 de tempestade tropical”, aponta o comunicado. Os SMG esperam ainda que, com a passagem do “Noul”, o vento se intensifique e ocorram “aguaceiros com frequência” entre o dia de hoje e amanhã, além da ocorrência de trovoadas. Podem ainda ocorrer inundações nas zonas baixas do Porto Interior.

Entretanto, no Vietname, o “Noul” obrigou à retirada de cerca de 500 mil pessoas de zonas no centro do país, perante a chegada prevista para este fim de semana da tempestade tropical.

O departamento para a Prevenção de Desastres Naturais vietnamita analisou, na quarta-feira, os riscos e os preparativos necessários para responder aos efeitos da tempestade, a ganhar intensidade à medida que se aproxima da costa vietnamita.

Actualmente, o Noul regista rajadas de vento de até 130 quilómetros por hora e chuvas fortes, coincidindo, ao tocar terra no Vietname, com a subida da maré. As autoridades vietnamitas vão destacar efectivos militares para as tarefas de retirada de população e para prestar assistência após a passagem da tempestade, indicou, em comunicado.

As províncias costeiras Quang Binh e Da Nang são as zonas de maior risco e onde a tempestade deverá atingir terra, possivelmente na sexta-feira ou no sábado. No entanto, as autoridades indicaram que as províncias do norte do país e parte do Laos, que faz fronteira com o Vietname, também deverão ser afectadas.

A Covid-19 e as desigualdades sociais

“What is true of all the evils in the world is true of plague as well. It helps men to rise above themselves.
Albert Camus

 

[dropcap]O[/dropcap] vírus da Covid-19 está a tentar destruir-nos, moralmente, psicologicamente e fisicamente. Quero acreditar que não terá sucesso, mas temos de aprender com o que nos está a acontecer.

Devemos insistir que muito mais dever ser investido na saúde pública e na investigação, por exemplo, o que é exactamente o oposto do que se tem feito. No entanto, também não creio que seja suficiente. Considerando que estamos perante uma pandemia, as respostas não podem ser apenas locais, regionais ou estatais.

Devem ser globais. Precisamos de reflectir sobre a direcção que seguimos, e não podemos deixar de repensar a relação entre nós, seres humanos, e a natureza que nos acolhe. Uma natureza que nos pode proteger mas que também nos pode destruir, como nos mostrou muitas vezes.

Esta pandemia é também o resultado de uma subestimação da ligação entre o bem-estar humano e a protecção dos ecossistemas e da natureza selvagem. Quanto mais cedo compreendermos, mais cedo seremos capazes de nos defender contra ameaças futuras. Porque, estou convencido que está tudo muito bem atado, demonizado, rejeitado ou loucamente amado senão venerado. É quase mais rápido do que a luz e percorre distâncias muito longas em segundos. É por vezes sincero, outras vezes mentiroso. É capaz de perceber a particularidade, mas não a essência. No mundo digital, anti-físico, onde as distâncias são encurtadas e estamos todos mais próximos, é onde vivemos nestes estranhos dias. É aí que nos podemos ver, ouvir, mas não tocar. Não consigo sentir a brisa leve no rosto, a superfície aveludada de uma flor ou o cheiro de um jasmim para além do que existe neste ecrã.

É aqui mesmo, o lugar onde vivemos apenas a meio caminho, este limbo que abençoamos e amaldiçoamos ao mesmo tempo porque não temos alternativa. E para dizer que quando éramos livres de escolher, escolhemo-lo demasiadas vezes. Na vida temos de aprender a apreciar o que temos e não esperar o que nos falta. Por isso, agora que não temos alternativas, não há problema. Mas lembremo-nos de escolher amanhã.

A greve digital e a luta pelo ambiente O mundo digital sempre dividiu a opinião pública mas, há que reconhecê-lo, nunca antes se revelou tão fundamental. Os doentes isolados podem dizer adeus às suas famílias, por exemplo. As crianças e os jovens podem continuar as suas actividades educativas, podemos ter a certeza de como os nossos amigos e familiares estão, alguém pode continuar a trabalhar e receber um salário.

A dimensão virtual também está a revelar-se útil para os activistas ambientais. A escolha deste meio, obviamente, vem da necessidade de não desaparecer e ser esquecido e, ao mesmo tempo, da vontade de permanecerem unidos. A Covid-19 privou de facto as reuniões para o futuro de algo fundamental, ou seja, dos espaços de agregação. Ainda agora, depois de anos de lutas ambientais e de ignorar relatórios científicos, tínhamos finalmente conquistado a atenção do mundo, da imprensa, dos Estados e da ONU.

Agora mesmo deveríamos ter estado ainda mais presentes e urgentes, especialmente depois dos resultados falhados do Cop25 em Madrid em Dezembro de 2019. O vírus chega e diz-nos: PAREM. A primeira observação fundamental que podemos fazer, verificável em textos científicos, é que os animais podem actuar como reservatórios de parasitas e vírus que, explorando condições de contacto estreito entre o homem e os animais selvagens, podem fazer saltar as chamadas “espécies”.

Foi assim que se desenvolveram geralmente as grandes epidemias da história humana, desde a praga de 1348 e 1630 até ao Ébola ou SAR. Os vírus são organismos capazes de se reproduzir com taxas de crescimento exponenciais e em muito pouco tempo. Para o fazer, porém, precisam de uma célula chamada “hospedeiro”. Estes microrganismos patogénicos são revestidos de proteínas e gorduras com estruturas complementares às das células que os podem hospedar: para simplificar, é como se tivessem uma chave e a célula hospedeira tivesse a fechadura certa. Isto significa que os vírus podem entrar nas células através deste mecanismo de bloqueio de chave, infectá-las e eventualmente modificá-las de modo a que comecem a replicar o material genético viral em vez do seu próprio material.

Além disso, alguns vírus são capazes de escapar ao sistema imunitário o tempo razoável para infectar células suficientes no corpo que atacaram, sem que este seja capaz de se defender. Neste ponto, o organismo hospedeiro pode teoricamente infectar outros indivíduos mesmo de espécies diferentes, desde que estes não sejam demasiado diferentes a nível genético. Caso contrário, a chave e a fechadura não coincidem e nesse caso… estamos salvos! Infelizmente, não é o fim da história. Precisamente porque se multiplicam em milhões num espaço de tempo muito curto, os vírus podem facilmente sofrer mutações e modificar o seu genoma, adaptando-se a novos ambientes e produzindo chaves diferentes. Muitas destas mutações não atingem o seu objectivo, mas algumas podem ser as correctas para infectar novas espécies.

A probabilidade de isto acontecer aumenta quando as espécies em questão têm uma composição genética semelhante. Por exemplo, é o caso dos porcos e das aves, que são bastante semelhantes em termos genéticos aos humanos, para não mencionar os primatas, como os chimpanzés, com os quais partilhamos 98 por cento do genoma. Cada novo hospedeiro que o vírus patogénico consegue conquistar é uma chave extra na sua posse. Se um vírus tiver a sorte de fazer a espécie saltar com o homem… bingo! Será confrontado com milhares de milhões de indivíduos que gostam de viver em sociedades e de viver em cidades com uma densidade populacional muito elevada. São milhares de milhões de organismos em constante movimento que viajam de uma extremidade do globo para a outra. É assim que se desenvolve uma pandemia. As doenças que os animais nos transmitem são chamadas zoonoses e, em geral, o nosso sistema imunitário não tem a informação para as combater. De acordo com a revista científica “The Lancet”: “Mais de 60 por cento das doenças infecciosas humanas são causadas por agentes patogénicos partilhados com animais selvagens ou domésticos. As zoonoses emergentes representam uma ameaça crescente para a saúde global e causaram prejuízos económicos de centenas de milhares de milhões de dólares nos últimos vinte anos”.

Existe realmente uma ligação entre a pandemia que enfrentamos e o nosso modo de vida? Podemos aprender alguma lição com ela? Sim, tanto quanto se pode ver, existe uma ligação. As alterações no uso do solo antropogénico conduzem a uma série de surtos de doenças infecciosas e eventos de emergência.

Modificam a transmissão de infecções endémicas típicas de uma determinada área do planeta. Estes condutores incluem invasões agrícolas, desflorestação, construção de estradas e barragens, irrigação, modificação de zonas húmidas, mineração, concentração ou expansão de ambientes urbanos. Estas mudanças causam uma cascata de factores que exacerbam o aparecimento de doenças infecciosas. Para além da Covid-19, há vários exemplos de doenças causadas pela acção humana contra a natureza, incluindo a leishmaniose e a febre-amarela.

A violação de ambientes não contaminados coloca o homem em contacto com novos seres vivos e, enquanto novas espécies podem ser descobertas, existe o risco de entrar em contacto com vírus e parasitas para os quais não desenvolvemos defesas imunitárias. Além disso, muitas espécies selvagens vêem-se obrigadas a abandonar o seu habitat invadido e, em busca de abrigo ou alimento, tendem a aproximar-se dos centros urbanos. Existem várias causas relacionadas com a questão ambiental que podem ter causado e facilitado a propagação do coronavírus pois as alterações climáticas que modificam o habitat dos vectores animais destes vírus, intrusão humana num número crescente de ecossistemas virgens, sobrepopulação, frequência e velocidade de circulação de pessoas.

Claro que, de momento, não temos qualquer certeza sobre como este nível de propagação do vírus foi atingido. Está mesmo a ser questionado se o primeiro surto ocorreu na China. O que podemos certamente ver, no entanto, é que desde que o confinamento começou e a grande maioria das pessoas deixou de sair e muitas fábricas e actividades de produção, assistimos a uma redução drástica da poluição por dióxido de azoto em todo o mundo. Os países e regiões que foram primeiro sujeitas às medidas mais restritivas houve uma redução enorme de CO2 causada pelo tráfego de veículos. O encerramento de escolas, escritórios e lojas levou a uma redução ainda maior de dióxido de carbono devido aos sistemas de aquecimento em apenas uma semana. A diminuição para níveis mínimos de tráfego aéreo fez reduzir de forma brutal as reduções de CO2! Alguns de nós não terão sequer escapado às imagens difundidas nos jornais e nas redes sociais das águas transparentes de rios que atravessam algumas cidades Europeias, dos golfinhos que reapareceram ou de coelhos e lebres que se apropriaram de parques.

A natureza está presente em todas as nossas cidades e, se lhe dermos espaço, voltará para nos visitar e para nos lembrar que poderíamos viver pacificamente juntos. Esta deve ser uma das reflexões a trazer para a agenda, quando pudermos recomeçar de novo. As emergências que vivemos e a agitação de hábitos a que tivemos de nos adaptar não são o resultado de uma escolha livre e de uma verdadeira mudança na nossa mentalidade, mas medidas necessárias para lidar com uma ameaça à nossa saúde. A pandemia não é, nem pode ser, uma coisa boa na luta contra as alterações climáticas. Houve uma redução nas emissões e na poluição, depois de todos termos tido de nos fechar de um dia para o outro, é verdade, mas não é obviamente um exemplo virtuoso a seguir.

Uma sociedade com emissões zero não é uma sociedade onde tudo deve ser congelado, onde nada é produzido e onde não há socialidade. Pelo contrário, é o oposto! Queremos uma sociedade que não se feche, que evolua, que olhe para o futuro e utilize os seus meios para produzir melhor e de forma mais sustentável para o planeta e para os seres vivos que o povoam. Se, uma vez terminada a crise, fizermos um esforço para mudar um pouco os nossos ritmos, se investirmos e empenharmos numa estrutura produtiva menos invasiva, se deixarmos à natureza o seu espaço, poderá voltar a ser um aliado e não um perigo. Com a Covid-19, estamos a tomar nota de como uma partícula minúscula pode prejudicar o funcionamento de todo o tecido social, económico e produtivo que construímos ao longo de centenas de anos.

O tamanho de um vírus é da ordem de um nanómetro (ou seja, um bilionésimo de metro). Contudo, um organismo tão pequeno é capaz de nos pôr a todos de joelhos, no mesmo nível e forçados a respeitar as mesmas regras. Talvez este caso esteja a reformular as ilusões de grandeza e poder do homem, que se sentia o governante absoluto do que o rodeia. O coronavírus está a abrir-nos os olhos para a fragilidade dos nossos sistemas face a grandes catástrofes, e isto assusta-nos. Mas existem outras ameaças, igualmente graves, às quais devemos prestar atenção. Basta pensar nos incêndios que devastaram vastas áreas da natureza, desde a Amazónia até à Austrália.

Estas ameaças provêm de um desequilíbrio na relação entre o homem e o ecossistema e estão todas ligadas. Estamos perante um cenário que nos mostra onde iremos parar se optarmos por não mudar os nossos hábitos. Utilizemos então a paragem forçada das nossas actividades para reflectir. Sobre o quê? Sobre a possibilidade do presente poder tornar-se um período de transição para um futuro diferente. Mais sustentável, consciente e solidário. Como vamos ser diferentes depois da Covid-19? Ainda que o coronavírus nos faça a todos iguais quando confrontados com os riscos e as regras que temos de seguir, permanecemos muito diferentes tanto na forma como enfrentamos este momento difícil como nos meios que temos para o fazer.

Há muitas pessoas que estão desempregadas e que não sabem se poderão pagar o arrendamento do próximo mês. As pessoas que se encontram em dificuldades financeiras desde muito antes do surto da pandemia que lutam para fazer compras e que não têm um computador ou uma ligação à Internet permanecendo muito isoladas. Pessoas solitárias sem familiares ou amigos com quem falar, idosos e deficientes que não têm ninguém para os cuidar. Para não mencionar as muitas pessoas sem casa, numa altura em que um telhado parece ser a única coisa realmente necessária.

Se reflectirmos sobre o amanhã, poderemos perguntar se seremos capazes de construir uma sociedade diferente, se nos lembraremos das dificuldades que tantas pessoas estão a enfrentar, não só por causa do coronavírus, mas por causa do sistema que temos alimentado. Um sistema que só pensa no sucesso, no lucro, na produção e deixa os mais fracos para trás. Uma estrutura como esta não é sustentável, nem ambiental nem socialmente. Os dois aspectos, de facto, estão intimamente ligados e influenciam-se um ao outro. De acordo com o último Relatório Social Mundial 2020 intitulado “Desigualdade num mundo em rápida mudança” e publicado pelo Departamento de Assuntos Económicos e Sociais da ONU, a diferença entre o rendimento médio dos 10 por cento mais ricos e dos 10 por cento mais pobres da população mundial é actualmente 25 por cento maior do que seria se o nosso planeta não estivesse doente. Por outras palavras, as alterações climáticas afectam o fosso de rendimentos ao aumentarem as desigualdades sociais.

Os números mostram também que não afecta todos da mesma forma. Ficou provado que o aumento das temperaturas melhorou as economias dos países mais desenvolvidos, ao mesmo tempo que travou o crescimento, com consequências desastrosas, dos mais pobres. Além disso, no que diz respeito às desigualdades sociais, não nos referimos apenas às diferenças entre países, mas também à falta de homogeneidade, muitas vezes enorme, entre os habitantes de um mesmo Estado. No Bangladesh, por exemplo, muitas famílias de baixos rendimentos vivem em bairros de lata normalmente localizados em zonas baixas. Durante o ciclone de 2009, uma em cada quatro famílias pobres foi atingida pela tempestade, enquanto uma em cada sete famílias mais ou menos ricas foi afectada. O mesmo aconteceu, em 2009, com o Furacão Katrina em Nova Orleães pois as pessoas que vivem em bairros da classe trabalhadora, ou seja, famílias de baixos rendimentos, sofreram os piores danos.

Esta pandemia está a confrontar-nos com outra prova importante que são as desigualdades sociais que não são apenas um problema para os países pobres, mas também para o Ocidente opulento. Será que o sabíamos? Talvez sim, mas tornou-se realmente difícil ignorá-lo. A questão é se não seremos capazes de o esquecer? Seremos capazes de insistir que o crescimento económico tome uma direcção e um ritmo diferentes? Que investimos mais em instalações que trabalham para o bem-estar das pessoas e do planeta, tais como saúde, educação, investigação científica e experimentação de novas tecnologias?

Seremos capazes de nos concentrar na sustentabilidade, ecologia, solidariedade e igualdade entre os seres humanos? Por um lado, receio que, uma vez fora da crise, o primeiro pensamento para muitos, especialmente entre os grandes líderes mundiais, será o de regressar à produção e ao consumo como antes. Pelo contrário, mais do que antes, para compensar o que foi perdido neste período de inactividade e renúncia e para produzir tanto num curto espaço de tempo, é improvável que os caminhos sejam diferentes e mais sustentáveis do que os utilizados até agora. Especialmente se a nossa procura de bens, em vez de diminuir por nos termos tornado mais conscientes, aumentará ainda mais, juntamente com as desigualdades.

Receio que, em vez de retirarmos lições do que aconteceu, nos comprometamos a consumir indiscriminadamente o que resta do mundo não contaminado e natural, acabando por gerar uma crise ainda pior do que a actual. Por outro lado, é de estar animado por ver tantos exemplos de mulheres e homens que, cada um à sua maneira tentam dar uma contribuição solidária e algo aos outros para tornar este momento difícil um pouco mais suportável. Desde os médicos e profissionais de saúde que se sacrificam todos os dias para salvar as nossas vidas, aos voluntários que cuidam dos que estão sozinhos e incapazes de sair, aos que doam e recolhem alimentos para os sem abrigo e os mais necessitados, até aos que oferecem formação online gratuita.

Todos dão o que podem, de acordo com as suas possibilidades. Tudo dá esperança de um futuro melhor, e é também graças a estas pessoas que podemos estar cada vez mais convencidos de que o nosso compromisso de defender o planeta não é em vão. Queremos um mundo melhor e estamos dispostos a fazer a nossa parte. Mais cedo ou mais tarde, porém, regressaremos às nossas vidas, para povoar os parques, ruas e praças. Espero que estas pessoas indiquem o caminho.

Ecos do velho liceu

[dropcap]N[/dropcap]a semana passada reflecti sobre os últimos romances que escrevi. Reservo hoje este espaço para uma reflexão paralela, incidindo agora na poesia. Começo por relembrar um poeta que foi meu professor de liceu, Fernando B. J. Martinho, e que, em 1970, fez publicar um livro intitulado ‘Resposta a Rorschach’. Trata-se de uma resposta poética às teses do psiquiatra suíço. Este modelo de diálogo – ao jeito de um directo vaivém – marcou-me bastante ao longo dos anos, mas nunca imaginei que acabasse por vincar de um modo tão acentuado a poesia que tenho escrito nestes últimos anos.

Para a corrente hermenêutica que singrou na Alemanha nos anos 70 do século passado, sobretudo através de Hans Gadamer e de Hans Jauss, uma obra de arte é sempre a resposta a uma pergunta potencial, cabendo ao intérprete determinar essa pergunta e qual o modo como a obra lhe responde. Seguindo as pisadas de ‘Resposta a Rorschach’, os meus últimos livros de poesia têm respondido a interlocutores muito claros e de uma maneira que pouparia o trabalho que Jauss e Gadamer reservaram ao desgraçado do intérprete.

A minha primeira aventura neste modelo aconteceu com o ‘Tratado’, livro composto por mais de trinta evocações a obras a que recorri ao longo de décadas (sobretudo devido às aulas). Sem que desse por isso, essas obras foram criando lendas e efabulações próprias que nada tinham que ver com o conteúdo que nelas se anunciava e congeminava. O papel dos poemas foi o de assaltar e pôr a nu a intimidade dessas lendas, geralmente bastante informes e abstractas. Um frente a frente com mais conotações e derivações de que uma simples resposta, facto que nos três livros posteriores teria já outros contornos.

Comecemos por ‘Lucílio’, livro composto por 45 poemas que respondem às 124 cartas escritas por Séneca a Galo Lucílio Junior, durante a primeira metade dos anos sessenta da nossa era. O diálogo proposto não é denunciado e encontrou a sua forma nos hiatos deixados em branco pela linguagem das ‘Espitulae’. Na sua oitava carta, Séneca deixou vincada a elasticidade com que a filosofia e a poesia se brindam mutuamente (“Quantos poetas há que já disseram o que os filósofos ou já disseram também ou hão-de dizer um dia!”). Ao fim e ao cabo, nada nos pertence. Conceitos do último século, tais como a paródia, o intertexto ou o dialogismo, confirmam este despojamento das oficinas literárias e existenciais. Aliás, Séneca sinalizou esta verdade logo na sua primeira carta: “Nada nos pertence, Lucílio, só o tempo é mesmo nosso”. O poema 40 reage à concepção estóica de que tudo à nossa volta são corpos: “…de véspera somos sempre incorpóreos/ ao ler os mais breves/ sinais/ que são inevitavelmente corpos// pois tudo quanto tenha força suficiente/ para nos impelir/ forçar ou impedir os movimentos// têm que ser também corpos// a liteira de séneca/ levada pelos escravos/ era ainda um corpo// e pesado…” (Poema 40).

Passemos a ‘O Pássaro Transparente’ que se baseou numa resposta ao ‘Poema à Duração’ de Peter Handke. Se a duração é um propagar do imensurável, o tempo é a construção que ancora e se confunde com cada um de nós. Perceber este contraste é perceber que só há sentido no tempo. Bem sei que nem todo o tempo é homogéneo ou cronológico. Existem intensidades e grandes fugas que irradiam e que parecem, por vezes, lançar-nos num domínio que gravitaria fora do tempo. É o que acontece com certas assinaturas da experiência, caso do amor e de algumas viagens (nem sempre na casa da geografia). O tom de resposta neste texto é relativamente directo e abre-se, tal como no livro de Handke, a intervalos memoriais: “Como vês/ meu caro Peter/ também tive manhãs que foram únicas/ preciosas/ desensonadas// e apesar disso é como se não lhes pertencesse/ por causa da penugem negra dos guarda-chuvas/ e sobretudo por causa dos maus/ augúrios.// Com o indicador tive a tentação de esmagá-los/ um a um/ tal como se esmaga a penumbra no mar vermelho// lembro-me de que as montanhas eram de cor violeta/ escura// para verter o futuro do passado/ e coar a matemática da libertação até ao ermo/ dos corais. // No mesmo instante em que escrevias/ o teu poema// eu estava na praia de Dahab com a Ahuva/ uma polaca israelita e também goesa/ que muitos anos depois/ (foi o meu irmão que mo disse)/ viria a morrer num acidente de viação no Punjab…”.

Deixemos para o final ‘Ofertório’ que é uma resposta clara ao livro ‘A Poesia do Pensamento’ de George Steiner. O retorno por que optei neste volume não foi também de teor mecânico, nem planificado, embora os poemas tenham sido redigidos seguindo a cronologia do livro base. Na Parte III, indo ao encontro da tese de Steiner, segundo a qual a linguagem filosófica e a linguagem poética têm uma mesma fonte, ficou registado que – “escrever é desabar/ dispor o barro atirado ao ar/ para que a parede se mova ao fim da tarde/ a receber as borboletas./ de início é desabar/ fazer como as borboletas que fracturam./ por fractura entende-se/ uma imensidão desregrada/ e é isso que a torna nítida/ é pois preciso trabalhar o escuro/ não com as mãos/ mas com o corpo todo que descentra o infinito/ permitindo encará-lo como mais um marinheiro/ de passagem…”.

Se na matéria romanesca desconfio que ando a tentar sarar temas de amplitude incerta (temáticas sem perímetro definido, mas que apertam a garganta dos dias), já na matéria poética pareço um pouco mais desperto, como se existisse uma tertúlia virtual que me estivesse a espantar as solidões do fim da tarde. Na verdade, tal como o profeta Jonas sentado diante da cidade de Nínive à espera apenas do inesperado, nunca se saberá bem o que andamos todos a fazer neste mundo.

Livros citados: – ‘Tratado’ (2018, Abysmo, Lisboa. Livro recomendado em 2018 pelo Plano Nacional de Leitura. Livro finalista do Prémio Literário Casino da Póvoa / Correntes d´Escritas-2019. Livro pré-finalista do Prémio Oceanos-2019); ‘Ofertório’ (2018, Nova Mymosa, Lisboa); ‘O Pássaro Transparente’ (2019, Nova Mymosa, Lisboa) e ‘Lucílio’ (no prelo; 2021, Abysmo, Lisboa).

Do mal e da farsa

[dropcap]O[/dropcap] problema com o mal é que é superficial e raras vezes ultrapassa o recorte da opereta. Ou seja, não é Lady Macbeth quem quer – até Macbeth soçobrou na tentativa. No desfecho do primeiro encontro entre o Fausto e o Mefistófeles, de Goethe, isso é-nos caridosamente explicado, quando o mafarrico, na impossibilidade de sair do Gabinete de Estudo conforme quer, concede que a “lei” não muda, o que leva Fausto a observar, triunfante: «Então até o Inferno tem as suas leis. Isso é óptimo. Quer dizer que um pacto feito com os senhores seria fielmente respeitado.»

Pois é: então afinal o Diabo desordena, trapaceia, muda o quê? Pobre mártir das aparências.

Daí que no essencial a tentação satânica traduza uma mera aceleração das potências do desejo ou funcione como um momentâneo e hipnótico inibidor do bem, sem que seja um domínio. É um enredo que entretém, sem resolver o enigma. Para o comprovar basta não ceder à coerção da violência: aí constata-se como o mal se dilui; de si mesmo alheio.

Grande parte do mal advém de um desespero que não acedeu à lucidez, de uma energia mal orientada.
Em Moçambique calhou-me enfrentar situações em que julguei estar face ao Mal. Essa percepção da maldade humana que experimentei, sufocava-me. Até que me apercebi que essas figuras vogavam em práticas de vida agónicas, e como, para além de se não divisar a vantagem que tiravam da sua ruindade, se sentiam absolutamente perdidas. Tornava essa irracionalidade mais distorcida a sua maldade? Sim, mas esvaziava-se no seu acto circunstancial, eles não representavam qualquer entidade – apenas, os filhos da mãe, desconheciam a bondade. Aí o “poder” inverteu-se.

A obscenidade com que demasiadas vezes a ficção aposta no mal como efeito-placebo de uma suposta totalização do real resulta de uma necessidade que houve a jusante de dotar as narrativas de uma dimensão extra-moral (e foi uma dessacralização necessária, justíssima), mas a montante a representação do mal fetichizou-se, vulgarizou a perversão. Passou-se só a figurar a sombra, a violência, o mal, da mesma forma que a comunicação social ficou refém dos efeitos dramáticos que “intensificam” as mensagens.

Talvez não fosse mau – lá está! – conseguirmos contrapor a esta pulsão uma certa «disseminação amante», usando uma expressão feliz de Ramos Rosa.

Creio que uma das chaves para entender o Pessoa é aceitar que a sua multiplicidade nasce da sua resposta ao problema do Mal: primeiro o medo (ao que se enraízava na sua declarada compulsão para a loucura) levou-o a criar, em vez de fantasmas, duplos de si que o tornassem insituável, por fim, converteu-se na compreensão de que no uso do mal afinal só se condensa a escória de um tempo perdido e, que, em contrapartida, a prática do múltiplo vitamina o bem.

Pessoa não está só nesta intuição, também Valery escreveu: «Penso muito sinceramente que se cada homem não pudesse viver uma quantidade de outras vidas para além da sua, nem a sua própria ele poderia viver».

Há outra questão que não é de somenos. A tentação faustica – na sua face patológica, havendo outra benigna – pode nascer de uma fonte psíquica pouco sadia: a identificação com o equívoco que às vezes norteia a ideia de ser-se eleito.

Fausto simboliza a arrogância de espírito que se julga acima da fona da populaça! Por isso desdenha de proximidades com a massa, ignara e tola, e impaciente observa: «É já tempo de provares, por actos, que a dignidade do homem não fica atrás da grandeza de um Deus», estatelando-se estridentemente na soberba.

É normal que então se interrogue sobre como poderiam sobrevir soluções ou respostas para o mundo de alguém mais senão dele. Aí faz o pacto. Para se situar acima da média humana.

Uma proposição nos antípodas de um lema de Zambrano que devíamos adoptar como antídoto para tanta sandice a que assistimos: “nada real deve ser humilhado”. O que nos convida a uma descentralização do nosso lugar de sujeitos e a trocarmos uma antropologia assimétrica por um imaginário que seja rizomático.

E como no fundo não era melhor que os demais, rapidamente, dos pedidos de Fausto a Mefistófeles, ressuma a falência das suas ideias mais nobres: sobressaem as questões acessórias, egoístas, subjectivas, os pequenos inhos, a fatalidade de quase condenar Margarida, por afinal ser tudo igual nos “céus” a que o transporta Mefistófeles ao que na terra se desenhava.

É-me difícil por conseguinte ler o Fausto a não ser como farsa.

Contudo, às duas por três no Sabbath final há uma bruxa que se propõe vender pechinchas de toda a espécie e que entretanto avisa: «(…) nada vendo que não haja igual na terra, ou que um dia não tivesse feito mal aos homens e ao mundo. Não há aqui punhal que não tenha derramado sangue; nem taça que não tenha vertido num corpo são o seu veneno activo (…) nem enfeite que não tenha seduzido mulheres virtuosas; nem espada que não tenha quebrado uma aliança (…)» etc. O que leva Mefistófeles a ripostar: «Longe estais de entender os novos tempos, boa amiga; o que lá vai, lá vai. Mostrai-nos coisas novas, só nos atrai o que for novidade.»

Como antídoto ao seu próprio “métier”, Mefistófeles lembra que é necessário romper com a tradição para surgir a novidade. Uma das mensagens mais inesperadas de Fausto e uma das mais actuais. Talvez, contra esta tradição obsessiva do mal que em termos políticos e militares já ressuscitou modelos arcaicos como a Lei de Talião, tenha chegado o momento de, como ateus (é o meu caso), não nos envergonhar romper e aceitar os gestos de beleza ou de bondade, e que à competitividade doentia possamos preferir a emulação do jogo; recuperando algo desse espírito trágico que nos advertia: existe o mal… e também há as alegrias incuráveis, como na vida – e não como nos regimes dominantes da ficção actual.

ARTFEM | Bienal dedicada à arte feita no feminino inaugura dia 30 

A ARTFEM – Bienal Internacional de Mulheres Artistas de Macau está de regresso para uma nova edição, desta vez sob o tema “Natura”. O público poderá ver trabalhos de 98 artistas, oriundas de 22 países e regiões, numa mostra que inclui trabalhos na área da pintura, cerâmica ou escultura, entre outras

 

[dropcap]E[/dropcap]stá de regresso a edição da ARTFEM – Bienal Internacional de Mulheres Artistas de Macau. Entre os dias 30 de Setembro e 13 de Dezembro poderão ser vistas obras feitas no feminino, todas elas ligadas ao tema “Natura”. O programa completo será anunciado esta sexta-feira.

A edição deste ano conta com 143 trabalhos realizados por 98 mulheres de 22 países e regiões, como é o caso de Macau, Hong Kong, China, Coreia do Sul e Japão, entre outros. Todos os trabalhos que começaram a ser produzidos a partir de 2018 podem ser visitados em quatro locais diferentes: Albergue da Santa Casa da Misericórdia, antigo Estádio Municipal do Gado Bovino, Galeria Lisboa e Casa Garden, da Fundação Oriente.

Segundo um comunicado da organização, “a mostra inclui pintura, escultura, cerâmica, instalações, desenho, serigrafia em diversos suportes, vídeo e fotografia”. “A exposição pretende trazer à tona discursos urgentes sobre o meio ambiente, incluindo a sua protecção ou devastação, a relação da humanidade com a natureza, ao mesmo tempo que integra um ‘olhar’ sobre os aspectos sociais decorrentes da sua localização na RAEM e da crise pandémica covid-19, que afecta o mundo desde Dezembro de 2019”, explicam os curadores.

A escolha de quatro locais diferentes para a exposição prende-se com o desejo da organização de “proporcionar ao público um ‘sentimento de bienal’, não se circunscrevendo apenas a um local”. Neste sentido, “a intenção curatorial pensava inicialmente intervir no espaço público, mas a crise da covid-19 fez com que as exposições acontecessem exclusivamente em ambientes fechados”.

Continuação do sucesso

A primeira edição da ARTFEM aconteceu a 8 de Março de 2018 e decorreu apenas no Museu de Arte de Macau. Com uma nova edição, os curadores pretendem “dar continuidade a esta exposição internacional recrutando artistas de todo o mundo, elevando a visibilidade das mulheres contemporâneas e do seu papel social decisivo na arte e na cultura”.

Por ser a única bienal do mundo inteiramente dedicada à arte feita no feminino, a ARTEFM visa “contribuir para uma maior visibilidade das mulheres no mundo contemporâneo e para uma (re) descoberta da arte no feminino, orientando as artes locais para um padrão internacional e trazendo experiências artísticas mais dinâmicas para o público e para os turistas”.

Com a ARTFEM, o Albergue SCM “pretende trazer novas experiências artísticas ao público, aumentando a visibilidade de Macau no panorama artístico internacional”.

Os curadores da ARTFEM são o arquitecto Carlos Marreiros, que preside à bienal e que, nesta edição, assume o papel principal na curadoria. Angela Li, artista, é outra das curadoras que traz “um enfoque chinês” à iniciativa. Alice Kok e James Chu foram os responsáveis pela selecção dos artistas de Macau e de Hong Kong, enquanto que Leonor Veiga fez a escolha dos artistas internacionais juntamente com Carlos Marreiros.

Se na primeira edição a ARTFEM contou com a pintora Paula Rego como madrinha, desta vez foram escolhidas as artistas Xiang Jing, da China, e Un Chi Iam, de Macau.

Semana dourada | Cinco hotéis já têm reservas esgotadas

Um inquérito da Morgan Stanley revelou que há cinco hotéis totalmente esgotados para a Semana Dourada, um período que revela melhorias nas taxas de ocupação

 

[dropcap]C[/dropcap]inco dos 23 hotéis de Macau abrangidos por um inquérito da Morgan Stanley já estão completamente cheios para o período da semana dourada, que começa dia 1 de Outubro, noticiou o GGRAsia. De acordo com a consultora, as vagas acabaram no Ritz-Carlton, Hotel Starworld, Morpheus, Studio City e no Four Seasons Macau.

O inquérito revelou que dez dos hotéis de cinco estrelas estão com ocupação média de 80 por cento para esse período. De acordo com o Inside Asian Gaming, a semana entre 18 e 20 de Setembro também mostrou sinais positivos, com taxas de ocupação para dez hotéis entre os 50 e os 55 por cento, comparativamente a apenas 7 por cento em Julho.

Em Julho, a taxa média de ocupação de quartos foi de 12,1 por cento no geral, um contraste claro com a taxa de 93,1 por cento do ano passado. Isto, apesar de o período médio de permanência ter aumentado ligeiramente.

“O esquema nacional de vistos individuais vai recomeçar a partir de 23 de Setembro, uma semana antes da semana dourada de Outubro, o que deverá aumentar a ocupação hoteleira”, indicaram analistas citados pelo GGRAsia.

No entanto, apesar das melhorias significativas antes e durante a semana dourada, ficou a ressalva de que as receitas diárias médias do jogo “continuam fracas”.

A equipa da Morgan Stanley observou que no ano passado, 19 de 23 hotéis já no início de Setembro tinham as reservas completas para os feriados da semana dourada.

Impacto nas receitas

A 26 de Agosto foi retomada a emissão de vistos turísticos para visitas a Macau na província de Guangdong, e a partir de 23 deste mês a emissão é alargada a toda a China. Uma medida considerada essencial para revitalizar a indústria do jogo. Este ano, as receitas do jogo desceram de 22 mil milhões de patacas em Janeiro para 1.300 milhões em Agosto. O ponto mais baixo foi em Junho, mês em que as receitas se ficaram pelos 716 milhões de patacas. A tendência seguiu a descida de visitantes, que caiu da ordem dos 2,8 milhões no início do ano para 74 mil em Julho.

De acordo com o GGRAsia, a Morgan Stanley comentou que a decisão de algumas instituições de ensino superior da China Continental de encurtar as férias dos alunos de oito para quatro dias vai ter “um impacto mínimo” no desempenho dos negócios na semana dourada em Macau. A ideia foi defendida pelo facto de os jovens entre 15 e 24 anos terem constituído apenas 10 por cento dos visitantes chineses no ano passado, e por não serem os principais clientes dos casinos.

DSSOPT | Chan Pou Ha garante segurança no prédio Mei Lok Garden

[dropcap]A[/dropcap] directora dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), Chan Pou Ha, considera que o surgimento de fissuras no prédio Mei Lok Garden está relacionado com a idade da construção, mas garante aos habitantes estarem reunidas condições de segurança.

A responsável recusou qualquer ligação entre as fissuras no prédio e a construção do Posto Operacional Provisório dos Bombeiros da Ilha Verde. “Já disse que as fissuras são uma consequência da idade da construção, porque até estamos a falar de dois edifícios paralelos, mas que são independentes. Além disso, as fissuras têm tamanho limitado e pode ser preenchidas”, afirmou ontem Chan Pou Ha, à saída da reunião do Conselho de Planeamento Urbanístico.

Quanto às medidas de segurança no prédio foram ontem instalados sensores para acompanhar 24 horas por dia a evolução das brechas. Os equipamentos foram colocados por uma entidade independente, depois de se concluir que não havia ameaça para a estrutura. “As fissuras são normais e acontecem em alguns edifícios. A investigação feita no local mostrou que não há problema da estrutura”, tranquilizou.

Horas antes da directora ter falado sobre o assunto, a DSSOPT já tinha emitiu um comunicado sobre o caso, também no sentido de garantir que a situação é segura. “Segundo dados obtidos, a situação do edifício mantém-se estável e não há alterações significativas. A DSSOPT continuará a informar os representantes dos proprietários do edifício dos dados da monitorização”, foi prometido.

NAPE | Membros do CPU pedem mais lugares de estacionamento

O Conselho do Planeamento Urbanístico discutiu a construção de um edifício com escritório para a administração pública no NAPE, e alguns membros defenderam que deveria incluir um auto-silo aberto ao público

 

[dropcap]A[/dropcap]lguns membros do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) defenderam a criação de um auto-silo aberto ao público com a construção de um edifício com escritórios para a Administração Pública, no NAPE, junto à Rua Cidade do Porto e Rua Cidade de Braga. Esta foi uma das ideias que foi discutida ontem na reunião do CPU.

O primeiro membro a considerar que a construção do edifício para o Governo devia ser aproveitada para criar estacionamento público foi Lou Chon U. “Sabemos que o Auto-Silo da Alameda Dr. Carlos d’Assumpção está muito sobrelotado. Por isso, com este edifício vão pensar na construção de um auto-silo, assim como centros para jovens, idosos e bibliotecas?”, questionou.

A ideia foi igualmente defendida por Omar Yeung, que sustentou que esta seria uma forma de aliviar um pouco o trânsito naquela zona. “Tenho o escritório na zona e muitas pessoas não conseguem encontrar lugares de estacionamento. Por isso andam ali com os carros às voltas até encontrarem lugar e isso acaba por trazer mais pressão para a estrada”, explicou. “Se houver mais estacionamento, esses carros têm mais opções e isso vai contribuir para aliviar o trânsito”, indicou.

Em resposta, Chan Pou Ha, directora da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), recusou comprometer-se com a ideia e apontou que o facto de se criar mais lugares, dos que os necessários para a administração, origina a necessidade de cavar em maior profundidade. Este aspecto, segundo a responsável, pode até fazer com que o projecto não seja viável.

Profundidade da escavação

Mesmo assim, Chan Pou Ha sublinhou que o estacionamento vai ser feito de acordo com o número de lugares exigidos pela lei e que além disso, haverá lugares para motociclos, nunca inferior a 25 por cento da capacidade para viaturas ligeiras.

A resposta foi compreendida pelos membros, mas Omar Yeung não deixou de pedir para que a situação da falta de estacionamento na zona fosse ponderada seriamente. “É sempre difícil encontrar lugar para construir auto-silos, mas este terreno é bom e tem boa localização. Por exemplo, no Auto-Silo da Alameda Dr. Carlos d’Assumpção a localização não é tão boa. Espero que o Governo tenha em conta que é uma zona onde faltam lugares de estacionamento”, insistiu

De fora da discussão de ontem ficou o prédio na Avenida Rodrigo Rodrigues, sobre o qual várias associações, como a Novo Macau, se mostraram preocupadas por temerem que uma construção com 90 metros de altura possa bloquear a vista para o Farol da Guia. Sobre este aspecto, a director da DSSPOT afirmou no final, aos jornalistas, que a questão e as opiniões sobre o projecto ainda estão a ser estudadas antes de ser apresentado para uma nova discussão.

Sin Fong Garden | Moradores desmentem Zheng Anting

[dropcap]A[/dropcap] Comissão da Gestão do Condomínio do Sin Fong Garden disse ontem que ainda não recebeu os juros por parte da Associação dos Conterrâneos de Jiangmen, dos deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting. Em comunicado, a comissão afirma que as declarações de Zheng Anting não correspondem à verdade, porque “continua a pagar os juros relativos à verba destinada à reconstrução [do edifício]”. O fundo para a reconstrução do Sin Fong Garden está quase a zeros depois do pagamento da verba relativa ao mês de Agosto, aponta o mesmo comunicado.

O orçamento total para a reconstrução do edifício é 210 milhões de patacas, sendo que os moradores avançaram 70 milhões de patacas em Julho, sem contar com o apoio da Associação de Beneficência Tung Sin Tong. Até ao final de Julho foram usadas 62 milhões de patacas.

Os moradores alegam ainda que a Associação dos Conterrâneos de Jiangmen ainda não reagiu ao pedido de reunião feito a 8 de Julho. Este encontro iria servir para debater a questão do fundo financeiro prometido para a reconstrução, onde estariam presentes os meios de comunicação social.

FDCT investiu mais de 10 milhões em projectos de combate à covid-19

[dropcap]O[/dropcap] Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia (FDCT) criou em Fevereiro um programa de apoio financeiro sobre o combate à covid-19. Depois de uma avaliação, foram aprovadas 35 por cento das candidaturas. Passaram assim 26 projectos, dos quais 22 são de instituições de ensino superior e quatro de empresas de ciência e tecnologia, que envolvem um montante total de investimento superior a 10 milhões de patacas.

Numa conferência sobre o programa, Cheang Kun Wai, do Conselho de Administração do FDCT, avançou que até 10 de Setembro foram publicadas 27 dissertações, estão a ser solicitadas oito patentes e já foram criados 16 produtos. O programa tinha recebido 74 candidaturas, com períodos de investigação que variavam entre três meses a um ano. O montante máximo do apoio para cada projecto era de 500 mil patacas.

Seis dos planos que receberam luz verde foram ontem apresentados. Sobre o valor económico das iniciativas, Cheang Kun Wai salientou que o projecto de desinfectante bacteriano à base de nano prata, da Macau Nanometals Technology, “em muito curto prazo já conseguiu produzir um valor 300 mil patacas”. O responsável destacou ainda um projecto da MUST que usa inteligência artificial para o diagnóstico da infecção pelo novo tipo de coronavírus. A tecnologia permite distinguir a pneumonia de covid-19 dentro de 20 segundos e “saber muito rapidamente o grau de gravidade”.

Febre dos dados

Um dos projectos financiados pela FDCT envolve reconhecimento facial. Foi apresentado por Wong Man Kit, da Habitat Multimedia, e é focado na detecção de febre para prevenção da epidemia. O produto usa tecnologia de detecção por infravermelhos para verificar a temperatura das pessoas. Mas cumpre um duplo propósito: durante a medição capta informações do rosto, que são armazenadas. “Usando tecnologia de reconhecimento facial e análise de fusão de dados, pode rastrear o fluxo de pessoas específicas rapidamente”, explica um documento sobre o projecto.

Wong Man Kit disse que já há 20 destes aparelhos em Macau e 180 na China Continental. A tecnologia está em locais como o Centro de Ciência de Macau e a clínica da Associação Beneficência Tung Sin Tong.

Recorde-se que a MUST submeteu um pedido de subsídio no mês de Fevereiro para a investigação de uma vacina contra a covid-19, que foi rejeitado. Questionado sobre a decisão, Cheang Kun Wai disse que o programa de apoio é aberto ao público e os projectos são avaliados por um júri profissional. “Acho que é muito justo, é preciso passar a competição”, declarou.

Ensino superior | Católica cria plataforma online para alunos de Macau 

A Universidade Católica Portuguesa vai criar uma plataforma online para que os alunos de Macau impossibilitados de viajar para Portugal possam acompanhar as aulas à distância. O Governo continua a descartar a hipótese de criar um novo corredor especial de ligação ao Aeroporto Internacional de Hong Kong

 

[dropcap]O[/dropcap]s alunos de Macau que estudam na Universidade Católica Portuguesa (UCP) vão poder acompanhar as aulas à distância, uma vez que a instituição de ensino superior privada vai criar uma plataforma a pensar nos estudantes que não conseguem viajar para Portugal nesta fase.

A informação consta numa resposta da Direcção dos Serviços do Ensino Superior (DSES) a uma interpelação escrita do deputado Leong Sun Iok.

“A UCP vai providenciar uma plataforma de ensino on-line aos seus estudantes que ainda estão em Macau para que possam continuar a estudar”, adianta Chan Kun Hong, director substituto da DSES.

Além disso, esta direcção de serviços promete “continuar a comunicar com o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos sobre o novo desenvolvimento de outras instituições do ensino superior”. “Desta forma, e através de associações de estudantes e grupos de comunicação, podem ser conhecidas as necessidades dos estudantes de Macau sobre o prosseguimento dos estudos nas outras regiões”, acrescenta a DSES.

O HM tentou saber junto da UCP como vai funcionar esta plataforma e quantos alunos estão abrangidos pelo programa, mas até ao fecho desta edição não foi possível obter uma resposta.

Terceira via de fora

Na resposta ao deputado, o Executivo volta a descartar a possibilidade de criar um terceiro corredor especial de ligação entre Macau e o Aeroporto Internacional de Hong Kong. “De modo a apoiar os residentes de Macau que necessitam de regressar através do Aeroporto Internacional de Hong Kong, o Governo da RAEM organizou, em Março e entre Junho e Julho, os autocarros e embarcações especiais para transportes os residentes e estudantes. No entanto, tendo em consideração a relação custos-eficácia e a coordenação com as autoridades de Hong Kong, o Governo não contempla uma terceira operação especial.”

Como alternativas, continuam a ser apresentadas as opções de viagem pelo Interior da China, Japão, Coreia do Sul ou Taiwan.

Nesta fase, a DSES diz ter criado 17 grupos de comunicação com os estudantes de Macau que estão matriculados em universidades no exterior através da aplicação Telegram, onde se incluem 2700 alunos.

Além disso, foram criados vários serviços financeiros e de seguros de emergência “em cooperação com os bancos e companhias de seguros”. A DSES lançou também um sistema de registo para recolher informações sobre a situação dos estudantes de Macau que se deslocam a Portugal para o regresso às aulas, “a fim de prestar um apoio adequado”.

OMC diz que tarifas de Washington impostas à China violam regras internacionais

A Organização Mundial de Comércio decidiu que as tarifas impostas pelos Estados Unidos à China violam regras de comércio internacional. A entidade refere que Washington não fundamentou adequadamente a alegação de que os produtos chineses atingidos com as taxas extras teriam beneficiado de práticas ilegais. A Administração Trump considerou a decisão “totalmente inadequada”, enquanto Pequim diz que é “justa e objectiva”

 

[dropcap]C[/dropcap]om as eleições norte-americanas em pano de fundo, o painel de juízes da Organização Mundial de Comércio (OMC) decidiu na terça-feira que os Estados Unidos violaram as regras internacionais ao impor tarifas à China em 2018, em plena guerra comercial entre Washington e Pequim.

O painel de especialistas em comércio internacional deu razão à queixa apresentada pela China há mais de dois anos, que argumentava que as tarifas impostas por Donald Trump violavam diversas regras de comércio. Uma das violações mais óbvias recaiu sobre as provisões que exigem que todos os membros da Organização Mundial de Comércio ofereçam taxas alfandegárias iguais entre si.

A OMC alega que a Administração de Donald Trump quebrou essa tradição de igualdade fiscal no fluxo internacional de bens e serviços. Convém recordar que, durante a guerra comercial com a China, os Estados Unidos impuseram taxas alfandegárias de mais de 360 mil milhões de dólares a produtos chineses, numa tentativa de convencer Pequim a reforçar protecções de propriedade intelectual. Essa foi uma das principais exigências da Casa Branca, mas que se alargaram a outras reformas de comércio internacional que Donald Trump exigiu à China alegando quer inverter a posição de desvantagem dos trabalhadores norte-americanos.

A Casa Branca recorreu a uma lei de 1974, assinada por Gerald Ford, para permitir ao Presidente negociar acordos comerciais, e impor tarifas, sem necessidade de aprovação do Congresso. A lei foi aprovada precisamente com o intuito de tornar a economia norte-americana mais competitiva antes de uma ronda de negociações internacionais. A legislação permite à Casa Branca impor restrições comerciais a países, sem passar pelo poder legislativo.

Para já, o efeito da decisão da OMS ainda não é claro, principalmente porque a matéria analisada refere-se a 2018 e em Janeiro as duas maiores potências económicas assinaram um acordo comercial. Porém, a grande fatia das taxas alfandegárias impostas por Washington mantiveram-se, afectando mais de metade das exportações chinesas para os Estados Unidos.

Ruptura internacional

Um comunicado do representante norte-americano do departamento do Comércio, Robert E. Lighthizer, arrasou a OMS pela decisão que descreveu como uma tentativa para evitar que os Estados Unidos lutem pelos seus trabalhadores.

“O relatório deste painel confirma aquilo que a Administração Trump vem dizendo nos últimos quatro anos: a Organização Mundial de Comércio é completamente desadequada para impedir que a China continue práticas tecnologicamente danosas. Apesar do painel não colocar em causa o vasto leque de provas apresentado pelos Estados Unidos sobre roubos de propriedade intelectual cometidos pela China, a decisão demonstra que a OMC não oferece qualquer tipo de solução para este tipo de conduta irregular”.

“Deve ser permitido aos Estados Unidos defenderem-se contra práticas comerciais injustas e a Administração Trump não vai permitir que a China continue a usar a OMC para tirar partido dos trabalhadores, empresários e agricultores norte-americanos”, acrescentou Lighthizer.
Washington tem, desde a divulgação da decisão, 60 dias para contestar o parecer. Porém, a “sentença” pode ter poucas implicações práticas, uma vez que os Estados Unidos diminuíram consideravelmente a capacidade do painel da OMC que trata recursos de disputas comerciais ao recusar nomear novos membros.

No fundo, se Washington decidir recorrer da decisão da entidade internacional, é muito provável que o caso termine numa espécie de limbo legal, sem perspectiva de resolução.

Touro em loja de louça

Depois de 24 anos a servir como derradeiro árbitro em termos de disputas comerciais internacionais, a OMC atravessa actualmente uma fase complicada com a progressiva desvinculação dos Estados Unidos que conduz à paralisia da entidade.

O órgão de recurso da OMC, composto por sete membros, perdeu o quórum mínimo de três elementos. O sistema de nomeação exige a unanimidade dos 164 países-membros. Como Donald Trump insiste na via proteccionista como abordagem a assuntos internacionais, com particular ênfase para os últimos dois anos, tornou-se impossível preencher os lugares vagos no órgão de recurso.

Não sobram sinais de alerta para o perigo que a OMC enfrenta, com analistas a apontarem a incapacidade da entidade como ameaça existencial, algo que deveria despertar a comunidade internacional para acções resolutas.

“Antes da Administração Trump ter dizimado o órgão de recurso da OMC, uma decisão num caso como este seria imediatamente recorrida”, analisa Chad P. Brown, do Peterson Institute for International Economics, citado pelo The New York Times.

Se o painel de recurso tivesse membros suficientes para funcionar e se mantivessem a decisão, a OMC poderia autorizar a China a retaliar com taxas alfandegárias adicionais, se Washington não mudasse de política, ou se entre as duas potências não fosse acordado forma para compensar o Estado vencedor da acção. “Uma vez que a Administração Trump recusou nomear novos membros para o órgão de recurso, os Estados Unidos podem apenas recorrer desta decisão para o vazio”, acrescentou o analista ao The New York Times.

O outro lado da questão é que a China respondeu às tarifas impostas por Washington na mesma moeda, também sem autorização da OMC, e retaliou aumentando taxas alfandegárias a produtos oriundos dos Estados Unidos. No fundo, a resposta também viola as regras internacionais de comércio.

Outro mundo

Apesar das muitas críticas e decisões políticas indiferentes às normas e directrizes da OMS, no passado dia 7 de Setembro, o Presidente norte-americano prestou declarações que destoaram do seu normal tom. “A OMC tem sido muito boa para nós ultimamente, digo isto surpreendido. Nunca ganhávamos nada na OMS. Agora, de repente, começámos a ganhar muitos casos. Acabámos de ganhar um caso de 7 mil milhões de dólares e estão a falar connosco de uma forma muito diferente do que costumavam falar”. Porém, desde do anúncio da OMS, Trump referiu que teria de examinar o caso, mas que não era “um grande fã” da organização.

A reacção do Ministério do Comércio chinês, como não poderia deixar de ser, foi oposta, adjectivando a decisão da entidade internacional como justa e objectiva.

“A OMS é nuclear para o sistema multilateral de comércio internacional. A China sempre apoiou firmemente e defendeu a importância de respeitar as regras e decisões da OMS”, apontou um porta-voz do Ministério do Comércio chinês, citado pelo China Daily. O representante acrescentou que Pequim espera que os Estados Unidos respeitem as decisões do painel de especialistas e as regras do sistema de comércio internacional e implementem medidas práticas que promovam o desenvolvimento estável e saudável da economia global.

Há praticamente um ano, num discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, Donald Trump apontou o dedo à OMC referindo que a entidade precisava de “mudanças dramáticas” para responder à “batota” da China e de outros países. “Durante muitos anos estes abusos foram tolerados, ignorados e até encorajados”, apontava Trump em Setembro de 2019. O discurso do Presidente norte-americano vincou que não iria aceitar “maus negócios” nas reuniões para resolver as disputas comerciais com a China e que não precisava de ter um acordo antes das eleições de Novembro deste ano, em que enfrenta Joe Biden. A declaração de Trump não originou qualquer reacção por parte da delegação chinesa.

Burla | Residente gastou mais de 13 milhões com falsa prostituta 

[dropcap]U[/dropcap]m residente foi burlado em mais de 13 milhões de patacas num caso de falsa prostituição. Segundo o jornal Ou Mun, a Polícia Judiciária (PJ) deteve, na sexta-feira, dois suspeitos de transaccionarem 1,18 milhões de patacas pagos pela vítima, estando os mesmos suspeitos da prática do crime de burla e branqueamento de capitais.

O caso remonta a 2017, quando a vítima conheceu uma mulher na Internet que alegou disponibilizar serviços sexuais a troco de dinheiro, pago através de cartões de carregamento. O indivíduo transferiu cinco milhões de patacas sem nunca ter visto a mulher pessoalmente. Mais tarde, recebeu uma chamada telefónica de alguém que se fez passar pelo “patrão” da mulher, e que lhe pediu para fazer o pagamento em bitcoins.

O “patrão” alegou ainda que a mulher estava doente e tinha sido presa, sendo necessário o pagamento de 7 milhões de patacas para a libertar sob fiança. A vítima adquiriu então moeda virtual nesse valor, em meados do ano passado em Hong Kong, mas continuava sem se encontrar com a mulher. Meses mais tarde, devido à pandemia, a vítima não conseguiu adquirir mais bitcoins, tendo recebido a ajuda dos dois suspeitos detidos pela PJ para a compra de moeda virtual no valor de 1,18 milhões de patacas. Estes ligaram depois à vítima alegando que não tinham conseguido comprar bitcoins e que o dinheiro estava numa esquadra no NAPE.

Quando a vítima se deslocou à esquadra, percebeu que o dinheiro não estava lá e que tinha sido burlado.
Os suspeitos são uma mulher, de 27 anos, residente, e um homem de 31 anos, também residente. Ambos recusaram cooperar. A PJ crê que os dois suspeitos são culpados de associação criminosa, vai continuar a investigar o fluxo do montante e se há mais pessoas envolvidas na história.

O caso continua a ser investigado pelo Ministério Público, podendo os dois suspeitos serem acusados do crime de burla de valor elevado e crime de branqueamento de capitais.

“Noul” | Sinal 1 de tempestade tropical pode ser içado amanhã de manhã

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) emitiram hoje uma nota onde dão conta da possibilidade de ser içado o sinal 1 de tempestade amanhã de manhã devido à passagem do ciclone tropical “Noul”.

O comunicado informa que o “Noul” vai “atravessar a parte central do Mar do Sul da China e intensificar-se, progressivamente, movendo-se para a parte central do Vietname”. Nesse sentido, “espera-se que amanhã de manhã o ciclone tropical entre a menos de 800 quilómetros de Macau. Nesta altura, esta Direcção vai considerar emitir o sinal número 1 de tempestade tropical”.

Entre amanhã e sexta-feira prevê-se que o vento fique mais forte, podendo ocorrer, ocasionalmente, aguaceiros fortes acompanhados de trovoadas. Os SMG referem também que, “sob influência da maré astronómica, nos dias 17 e 18 de manhã podem ocorrer inundações em zonas baixas do Porto Interior”.