Na falta de palavras Wan Shouqi retratou a sua morada

Fei Zhangfang, uma personalidade semi-lendária que terá vivido na dinastia Han Oriental (25-220), foi um guarda no mercado da sua cidade que se tornou num imperfeito discípulo de um velho que lá vendia poções chamado Hugong, que ele logo percebeu ser um imortal que terminava o seu exílio na terra. Dele recebeu um bastão que de modo surpreendente lhe permitia viajar, como voando, incríveis distâncias.

Fei tentou aprender do mestre os seus segredos, mas falhou ao terceiro teste. Quando Hugong o enviou para casa, disse-lhe para deitar o bastão num lago ali próximo chamado Gebei. Ao atirá-lo, Fei Zhangfang notou como este se transformava num dragão azul. A lenda que, nos seus múltiplos sentidos, aludia à capacidade daoísta do espírito efectuar espantosas mudanças e inéditas deslocações no espaço, seria um tema recorrente em pinturas figurativas no fim da dinastia Ming.

Um pintor de Xuzhou (Jiangsu) chamado Wan Shouqi (1603-1652), que viveu na transição dinástica Ming-Qing, terá acrescentado ainda um outro sentido à figuração ao fazer, em 1650, uma representação de Fei Zhangfang maravilhado na margem do lago presenciando a emergência do dragão azul, sobre um leque (tinta e cor sobre papel, 20,9 x 46,6 cm, no Instituto de Arte de Minneapolis).

O leque, o adereço de Zhongli Quan, um dos Ba Xian (os Oito imortais), que quando o abanava tinha, entre outros segundo a sua vontade, o poder de ressuscitar mortos. Percebe-se a vontade de Wan Shouqi de fazer regressar a antiga dinastia num dos «nomes de pincel», hao, que ele escolheu: Mingzhi daoren, que de maneira característica pode ter várias leituras, como por exemplo «o daoísta com um brilhante ideal» ou «o daoísta que recorda os Ming». Da sua biografia ressalta o facto de em 1628, quando ainda não tinha obtido o grau jinsi, ter participado num grande banquete oferecido pelo imperador Chongzhen (r.1627-1644) aos mais ilustres letrados do Império.

Wan Shouqi aderiu em 1632 à literária e política «Sociedade da Renovação», Fushe, que se opunha ao poder dos eunucos do Palácio e se propunha eliminar os estéreis estilos literários dos exames imperiais, fazendo reviver as lições dos antigos com temas mais úteis.

No período de desordem que se seguiu à queda dos Ming, Wan vagueou no território até se fixar numa quinta, perto da sua cidade natal. Aí, em 1651, num rolo de pintura em que é claro o seu conhecimento dos grandes mestres (tinta sobre papel, 20 x 289 cm, no Museu Guimet), pintou a sua residência em resposta ao pedido de um amigo, como se fora um convite. Nele escreveu: «Eis a minha Xixi caotang. Mestre Jin fez-me prometer que lhe dedicaria um poema, mas o poema não aparece; então, pintei este rolo para meu próprio prazer. Os antigos diziam: “em todas as pinturas há um poema”. Mestre Jin estará no interior ou no exterior da pintura?»

Gripe | Uma morte e dois doentes em estado crítico

Durante o mês passado, os Serviços de Saúde registaram cinco casos graves de gripe, que resultaram numa morte e em dois doentes ainda a necessitar de ventilador. As autoridades esperam um aumento de doentes a recorrer às urgências esta semana

 

Com o pico da época da gripe a continuar até ao fim de Fevereiro, as autoridades de saúde esperam um aumento de doentes nas urgências hospitalares e centros de saúde ao longo desta semana. Em declarações ontem à comunicação social a chefe do Centro de Saúde da Areia Preta, Chou Mei Fong, afirmou que durante a semana passada, com os feriados do Ano Novo Lunar, o número de pacientes que procuraram tratamento médico desceu ligeiramente para cerca de 1.200, em relação à semana anterior.

Durante o mês de Janeiro, os Serviços de Saúde registaram cinco casos severos de gripe que obrigaram ao uso de ventilador, quatro dos quais com um historial clínico de doenças crónicas e um fumador.

Destes cinco casos, dois continuam em estado grave ainda a necessitar de auxílio respiratório através de ventilador e houve o registo de um morto, um idoso de 86 anos que faleceu na segunda-feira. Entre os cinco pacientes, três não eram vacinados.

Depois de uma semana marcada por muitas viagens, ajuntamentos e multidões, as autoridades alertaram a população para prestar atenção à gripe, continuar a usar máscara e a não descurar a higiene pessoal. Caso os sintomas, como dificuldades respiratórias e febre, se agravarem os Serviços de Saúde recomendam o recurso imediato às urgências hospitalares.

As autoridades alertaram novamente para a especial atenção de pessoas que pertençam a grupos de risco, como crianças, idosos e doentes crónicos, por correrem o risco de sofrer sintomas mais severos.

Picas e Hong Kong

A chefe do Centro de Saúde da Areia Preta, Chou Mei Fong, indicou ainda que o Governo comprou 214 mil doses da vacina contra a influenza para a época da gripe 2024/2025. Até ontem, tinham sido administradas mais de 186 mil doses da vacina, o que representa um crescimento de cerca de 13 por cento face ao mesmo período do ano passado.

Com a situação da gripe dentro do controlo em Macau, em Hong Kong as autoridades de saúde enfrentam um panorama diferente.

O Centro de Protecção da Saúde da região vizinha divulgou na semana passada dados alarmantes. Numa semana, entre 19 e 25 de Janeiro, morreram 46 pessoas e em dois dias (26 e 27 de Janeiro) morreram mais 10 pessoas. Desde 9 de Janeiro até ao fim desse mês, 88 pessoas morreram em Hong Kong na sequência complicações com gripe, o pior registo dos últimos cinco anos.

Habitação | Custo por metro quadrado cai 17 por cento

Pela primeira vez, desde Setembro de 2024, o custo médio das habitações ficou abaixo das 70 mil patacas por metro quadrado. Os preços na Taipa ultrapassaram os praticados em Coloane

 

Na primeira metade do mês de Janeiro, o preço médio das transacções de habitações sofreu uma redução de 17 por cento face ao ano anterior, de acordo com os dados mais recentes na Direcção dos Serviços de Finanças (DSF).

Segundo a informação oficial, no início de Janeiro o preço médio da compra e venda de habitação foi de 69.882 patacas por metro quadrado, uma redução de 17 por cento, em comparação com o preço da primeira metade de Janeiro de 2024. Nessa quinzena, a média do metro quadrado atingiu as 84.325 patacas.

Pela primeira vez, desde Setembro do ano passado, o preço médio da habitação por metro quadrado ficou abaixo das 70.000 patacas.

Em comparação com os preços da primeira metade de Dezembro do ano passado, quando o metro quadrado era comercializado a uma média de 82.383 patacas, Janeiro representa uma redução de 15,17 por cento do valor das casas.

Na primeira metade de Janeiro deste ano, o preço médio por metro quadrado mais elevado foi registado na Taipa, com uma média de 79.474 patacas por metro quadrado. Em Coloane, o local onde tradicionalmente o preço atinge os valores mais altos, o valor médio não foi além das 72.252 por metro quadrado. Na Península de Macau, o preço médio foi de 66.753 patacas por metro quadrado.

Aumento reduzido

Ao mesmo tempo que os preços do imobiliário ficaram mais baratos, registaram-se mais transacções de habitação. Na primeira quinzena deste ano, houve 125 compras e vendas, o que representou um aumento de 20 transacções, ou 19,05 por cento, em comparação com o período homólogo, quando tinha sido contabilizadas 105 compras e vendas de habitação.

Quando a comparação é feita tendo em conta a primeira metade de Dezembro de 2024, houve mais 31 transacções, dado que nesse período tinha havido um total de 94 compras e vendas de habitação.

Em termos de transacções, o maior número de compras e vendas de habitações aconteceu na Península de Macau, com 96 transacções, seguido pela Taipa onde tiveram lugar 20 negócios. Finamente, em Coloane registaram-se nove transacções. O início de Janeiro confirmou as tendências do final de Dezembro, quando também na Península tinha ocorrido o maior número de transacções, com 53 compras e vendas, seguido pela Taipa, com 37 transacções, e por Coloane, onde aconteceram seis operações.

Ano Novo Lunar | Cheung Kin Chung elogia desempenho do turismo

O presidente da direcção da Associação das Agências de Turismo de Macau e da Associação dos Hoteleiros de Macau, Cheung Kin Chung, considerou que o turismo local teve um desempenho “bom” durante os dias do Ano Novo Lunar.

Em declarações citadas pelo jornal Ou Mun, o também deputado nomeado justificou a boa performance do sector com o aumento do número de excursões a visitarem o território e a taxa de ocupação dos quartos dos hotéis acima de 90 por cento.

As declarações do deputado surgem num contexto em que a média de visitantes ao longo dos feriados do Ano Novo Lunar está a ficar abaixo das expectativas da Direcção de Serviços de Turismo. No final de Janeiro, Helena de Senna Fernandes tinha previsto uma média diária de 185 mil turistas durante os dias do Ano Novo Lunar. Até ao final do sétimo dia das festividades tinham entrado em Macau 1.172.355 pessoas, o que representava uma média diária de 167,5 mil turistas.

Como parte do balanço positivo do desempenho do turismo, o deputado e empresário indicou que os preços ficaram apenas ligeiramente mais caros do que no ano passado, mas vincou que não se pode falar de preços excessivos, tendo em conta a oferta dos hotéis. Ao mesmo tempo, destacou que não houve problemas nem queixas sobre os serviços prestados.

Cheung Kin Chung afirmou ainda, de acordo com o jornal Ou Mun, que a “qualidade” dos turistas aumentou, porque visitam mais locais culturais, históricos e experimentam diferentes tipos de comida.

Desporto | Au Kam San critica encerramento da Piscina Estoril

O ex-deputado Au Kam San criticou o encerramento da Piscina Estoril, devido às obras de construção da Nova Biblioteca Central. As críticas foram publicadas num comentário online.

Com um tempo de encerramento que pode variar entre três e cinco anos, dependendo da conclusão do projecto, Au considerou que a Administração devia ter optado por uma solução diferente, que mantivesse as instalações abertas. O ex-deputado argumentou ainda ser incompreensível que a única piscina na zona mais central do território tenha sido encerrada durante um período tão longo.

Por outro lado, deixou ainda no ar a possibilidade de a decisão de encerramento ter sido evitada, caso as instalações fossem exploradas por um particular, em vez de serem geridas pelo Instituto do Desporto. “Vamos imaginar que se tratava de um comerciante que explorava a piscina e que ao lado desta ia ser construído um edifício. O Governo alguma vez teria sugerido a esse comerciante a suspensão do funcionamento da piscina? Como o comerciante responderia?”, perguntou.

Au Kam San opinou que encerramento não era a única solução disponível e que a piscina poderia estar a funcionar, desde que fossem tomadas as medidas de segurança.

O ex-deputado afirmou ainda que a decisão resulta do desenvolvimento de uma cultura burocrática na Administração de fazer o menor esforço, para evitar assumir responsabilidades caso ocorram erros. “O mais importante é não ter de assumir responsabilidades, não importando para isso que as pessoas tenham de deixar de nadar ou que as instalações sejam abandonadas. O encerramento só deveria ter sido ponderado como solução de último recurso,” lê-se na publicação.

Concertos | Chan Iek Lap quer mais segurança na venda de bilhetes

Chan Iek Lap está preocupado com o mercado negro e pede o reforço da fiscalização e do combate ao fenómeno. O deputado sugere que o Governo solicite às redes sociais a remoção de publicações a vender bilhetes

 

O deputado Chan Iek Lap defende a necessidade de implementar sistemas de segurança contra fraudes na venda de bilhetes para concertos. O assunto foi abordado através de uma interpelação escrita, em que o membro da Assembleia Legislativa se mostra preocupado com o aumento das burlas e vendas de ingressos no mercado negro.

De acordo com os dados apresentados pelo deputado, só nos tempos mais recentes, as autoridades policiais receberam queixas de vários residentes e cidadãos do Interior da China que foram enganados, quando tentavam comprar bilhetes para concertos no território. Os valores das burlas mais recentes ultrapassaram 110 mil patacas.

Em Macau, à imagem do que acontece em Hong Kong, os bilhetes disponibilizados para venda ao público são em número reduzido e esgotam rapidamente, por estarem antecipadamente reservados, ou devido à utilização de software por parte de vendedores do mercado negro que inundam os sites de venda.

Como consequência, os interessados acabam por comprar os bilhetes no mercado negro, onde pagam preços mais elevados ou são alvos de burlas, o que acontece quando pagam por bilhetes que nunca recebem.

“Esta situação tornou-se numa preocupação generalizada da população, em especial o problema do cada vez maior mercado negro”, escreve Chan Iek Lap. “Face ao número crescente de fraudes na venda de bilhetes, o Governo tem intenção de fazer uma revisão do sistema de gestão de bilhetes e reforçar o sistema jurídico da compra e venda de bilhetes de concertos, de modo a evitar a ocorrência de mais fraudes semelhantes?”, questiona o deputado.

Actualmente, segundo o deputado, a venda ilegal de bilhetes pode ser punida com uma pena de prisão até três anos ou multa não inferior a 120 dias.

Linha para denúncias

Como parte do esforço de combate ao mercado negro, o deputado quer ainda saber se a polícia vai criar pontos de contacto exclusivamente para receber denúncias sobre o mercado negro.

Por outro, Chan Iek Lap questiona se existe a possibilidade de o Governo interceder junto das empresas donas das redes sociais para impedir a venda no mercado negro. “O Governo tem a intenção de reforçar a cooperação com as plataformas de redes sociais e exigir-lhes que examinem informações sobre bilhetes e apaguem mensagens ilegais?”, pergunta.

O deputado também pergunta se o Governo está a planear medidas para evitar o recurso ao mercado negro, onde os consumidores ficam fragilizadas, e organizar campanhas de sensibilização para alertar o público.

Bairros | Pedidos mais apoios para comerciantes

Lei Choi Hong, vice-presidente da Associação Industrial e Comercial da Zona Norte de Macau defendeu mais apoios para as pequenas e médias empresas (PME) em bairros comunitários, apontando que estas não foram beneficiadas o suficiente durante o período do Ano Novo Chinês.

Segundo o Jornal do Cidadão, Lei Choi Hong exemplificou que as PME tiveram dificuldades em manter o funcionamento durante os feriados e muitas evitaram mesmo abrir portas nos feriados obrigatórios devido aos custos elevados inerentes ao negócio, o que leva a vice-presidente a pedir subsídios governamentais às PME para operar nestes dias.

Recentemente, o secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, confirmou que as autoridades estão a trabalhar na preparação de um plano de três níveis para promover o desenvolvimento das PME e que pretende preservar as lojas de comércio históricas. Desta forma, Lei Choi Hong sugeriu que o Governo pode continuar a disponibilizar recursos nas plataformas de comércio electrónico de apoio, como cupões com acesso através do WeChat Pay e Alipay.

Conta Única | Quase 90% das provas de vida feitas por via electrónica

A Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública revelou ontem, em comunicado, que até domingo tinham sido tratadas cerca de 162 mil provas de vida deste ano, das quais 142 mil foram efectuadas por via electrónica (através da Conta Única de Macau e dos quiosques de auto-atendimento). Feitas as contas, as duas vias electrónicas foram usadas para processar 87,8 por cento das provas de vida.

No mesmo comunicado, o Governo reiterou o incentivo aos para usarem a Conta Única para fazer prova de vida, evitando “deslocação pessoal aos balcões de atendimento e o tempo de espera em filas”.

Até à presente data, 98 mil pessoas efectuaram a sua prova de vida mediante a Conta Única de Macau, representando 69,1 por cento, proporção que o Governo destaca “tem vindo a aumentar de ano para ano, resultado da divulgação eficaz da utilização de serviços electrónicos junto dos idosos”.

Mais de 634 mil pessoas aderiram à Conta Única de Macau, a aplicação para telemóvel que disponibiliza mais de 440 modalidades de serviços públicos.

Cheques | Ron Lam pede cortes para quem não vive em Macau

A natureza, objectivos e limites à distribuição de cheques pecuniários voltaram à ordem do dia. Duas semanas depois de Lo Choi In ter sugerido o fim da atribuição dos cheques a quem está fora de Macau, Ron Lam partilha a mesma opinião e questiona se a medida é um apoio ou uma repartição de dividendos

 

Menos de um mês e meio depois da tomada de posse de Sam Hou Fai como Chefe do Executivo, voltou à ordem do dia a questão do corte na distribuição de cheques pecuniários. Ron Lam entende que o Governo deve explicar qual a intenção original e definição do programa de comparticipação, esclarecendo se a medida é um apoio financeiro ou distribuição de dividendos. As declarações de Ron Lam a pedir esclarecimentos conceptuais, publicadas ontem no jornal Ou Mun, foram prestadas tendo em conta possíveis “ajustes posteriores” à medida.

O deputado defende que, à semelhança do apoio aos beneficiários do regime de previdência central não obrigatório, a distribuição dos cheques pecuniários deve ficar limitada a quem permanece no território, pelo menos, 183 dias num ano.

Recorde-se que o “Plano de Comparticipação Pecuniária no Desenvolvimento Económico” tem sido apresentado pelo Governo como uma forma de “partilhar com a população os frutos do desenvolvimento económico”.

Independentemente do objectivo referido todos os anos pelos sucessivos Executivos, desde 2008, Ron Lam afirma que as políticas públicas precisam ter objectivos e direcções concretas para assegurar a sua execução eficiente e ajustes com precisão científica. Estas são as prioridades apontadas pelo deputado, antes de se decidir alterações ao montante atribuído e se a distribuição é cortada aos residentes que vivem fora de Macau. Porém, sublinha que o cancelamento do programa não é realista.

A idade dos porquês

Se o cheque pecuniário diz respeito à partilha dos frutos do desenvolvimento económico, o que explica a sua distribuição durante a pandemia quando o território mergulhou numa crise económico e em défice orçamental? O deputado salienta que durante os três anos de pandemia, o Governo não fez as habituais injecções de capital nas contas individuais do regime de previdência central não obrigatórios. Apesar de dizer que não concordou com a suspensão das injecções de capital, Ron Lam indicou que o Governo deve esclarecer claramente a natureza das suas políticas.

Ron Lam recordou que cerca de 100 mil residentes que não moram em Macau beneficiam do cheque pecuniário.

Segundo os dados das propostas orçamentais para o ano económico de 2025, citados pelo deputado, o erário público poupou 79,32 milhões de patacas com cheques que não foram depositados dentro do prazo de três anos. Ron Lam apontou que o Governo deve verificar se os destinatários que não trocaram o cheque ainda estão vivos.

Ricardo Clara Couto, autor do documentário sobre Francisco de Pina | O peso da culpa que persiste

“Francisco de Pina – O português que escreveu o futuro do Vietname” conta a história do padre jesuíta, nascido na Guarda em 1586, que fez a romanização do alfabeto vietnamita. O documentário, da autoria de Ricardo Clara Couto foi financiado pela RTP2 e exibido no Centro Científico e Cultural de Macau

Como se deparou com esta personagem da história portuguesa no Oriente?

O meu irmão, que se chama Filipe Pires, viajou pelo Vietname durante algum tempo e quando chegou da viagem disse-me que tinha de conhecer a história incrível do jesuíta Francisco de Pina que tinha feito a romanização do alfabeto vietnamita, proporcionando liberdade e independência culturais tremendas. Fiquei um pouco céptico no início, pois achei estranho ninguém conhecer isto em Portugal, mas comecei a minha pesquisa sobre o tema e descobri um estudo universitário de uma professora franco-vietnamita que dá aulas na Madeira. Confirmei então que a ideia que o meu irmão tinha trazido do Vietname estava correcta. A partir daí, tentei descobrir a origem deste padre, o trabalho que tinha efectuado, e perceber porque havia tão pouco conhecimento sobre Francisco de Pina em Portugal.

Além de ter sido missionário jesuíta, pode destacar alguns pontos biográficos que ajudem a compreender o seu legado?

No documentário não tive o tempo para conseguir fazer uma abordagem biográfica mais exaustiva. Foquei-me meramente na parte em que ele chega ao Vietname. Falamos de um homem com uma cultura incrível e com uma vontade de aculturar e ser aculturado. Um homem que era músico e foi mais fácil, com isso, aprender o vietnamita, que é uma linguagem de seis tons. No fundo, apesar de ser um padre jesuíta, tinha como primeiro desígnio a cultura e não tanto a religião. Isso, para mim, é um motivo de enorme admiração. Para ele o objectivo essencial da evangelização era secundário, porque, para ele, se não conseguíssemos compreender a cultura do Vietname, não conseguiríamos ensinar o povo vietnamita. Era mais importante aprofundar a cultura e a língua locais, fazendo-se entender para poder, a partir daí, explorar a parte mais religiosa. Foi também um homem que teve muita dificuldade quando chegou ao Vietname.

Porquê?

Houve algumas guerras internas perante alguns senhores locais das regiões que não concordavam com a missão dos padres. Isso não está explorado no documentário, mas de facto Francisco de Pina chegou a fazer algumas diligências [para a missão jesuíta], pois os padres não eram totalmente aceites em todo o lugar. Acabou por se refugiar num bairro japonês e, a partir daí, construiu a sua base.

Francisco de Pina, à semelhança do que acontecia com muitos jesuítas na época, fez formação em Macau, no Colégio de S. Paulo. De que forma foi influenciado por esse período passado no território?

Não há muita informação sobre esse tempo. Sabe-se que se formou, de facto, nesse colégio, tal como acontecia com muitos padres jesuítas na época, mas depois foi para o Japão. Só depois vai para o Vietname. Até aí, não houve nada de grande relevo na vida de Francisco de Pina, que seguiu o caminho normal. O Japão já estava a expulsar os padres jesuítas e é nesse contexto que vai para o Vietname. A única coisa de maior relevo desse período é que os 14 navios que saíram de Portugal para chegar a Macau nesse ano restaram apenas três, e o navio onde ia Francisco de Pina foi um dos que sobreviveu à tempestade.

Considera que o seu grande legado terá sido a romanização do vietnamita? Quais os grandes contributos deste processo em termos linguísticos?

É um contributo gigante. Se pensarmos que até na romanização da língua, o Vietname estava muito dependente do alfabeto chinês, e não conseguia ter independência cultural, linguística e económica também. Depois da romanização do alfabeto foi possível ao Vietname crescer nesses domínios e ter a sua própria identidade. O país cresceu imenso até aos dias de hoje, pois sem a escrita uma língua passa apenas para as novas gerações de boca em boca, e o legado de Francisco de Pina também se mantém até hoje. O povo vietnamita é muito agradecido a isto, e a prova é que há dois anos uma delegação da Fundação Vietnammese Language Foundation veio a Portugal e ofereceu um monumento à Câmara Municipal da Guarda (ver caixa) em homenagem a Francisco de Pina. Porém, fiquei surpreendido pelo facto de os vietnamitas, e falamos de académicos catedráticos, conhecerem bem a história, a figura de Francisco de Pina, existindo no país várias referências. Mas em Portugal é uma figura pouco conhecida.

Como explica isso?

Penso que isso terá a ver com a necessidade que Portugal tem de fazer a sua catarse sobre esse período da história. Portugal foi um país completamente diferente de África para o Oriente, e completamente diferente de África para as Américas. Mas, no entanto, existe este peso da culpa. Portugal não consegue falar sobre esse período do tempo, apesar de ter uma história riquíssima entre África e o Oriente, mas essa época não é muito abordada porque o país ainda não assumiu o que aconteceu e, por isso, não pode falar desse período. Por isso, ainda tanta coisa da riquíssima história de Portugal é desconhecida pelos portugueses.

Como foi o processo de pesquisa para o documentário?

Rapidamente cheguei ao estudo da professora Minh Ha Nguyen Lo Cicero, da Universidade da Madeira, e com ela fomos às raízes da língua vietnamita. Quando a descobri foi incrível, porque ela faz parte do triângulo de romanização do alfabeto vietnamita, por ser franco-vietnamita. Até há pouco tempo, a versão oficial que existia era de que Alexandre de Rhodes, jesuíta francês, tinha romanizado o alfabeto, registando-o depois no Vaticano e dizendo que era um trabalho em homenagem ao seu mestre, Francisco de Pina. Porém, o nome de Francisco de Pina desapareceu. Passamos, a partir daqui, à narrativa oficial francesa, nacionalista, de que a romanização do alfabeto tinha sido feita por franceses pelo facto de o Vietname ter sido uma colónia francesa. Depois cheguei também ao professor António Morgado. Os restantes contactos foram feitos no Vietname, de linguistas, professores universitários e especialistas no idioma, sobretudo na escrita, que depois integraram o documentário.

Como descreveria o Vietname da época de Francisco de Pina?

Era muito fragmentado. Eles têm uma cultura muito própria que existia através de uma escrita com hieróglifos chineses, mas lida em vietnamita, o que levava a que apenas 1 a 3 por cento da população soubesse ler e escrever. Com a romanização essa percentagem aumentou exponencialmente, e com isso a cultura desenvolveu-se junto das populações, uniu-as mais em torno de uma escrita comum. Penso que isso tornou o Vietname mais moderno e preparado para se integrar no resto do mundo ao ter uma língua mais acessível.

Sente que vai ajudar a desvendar esta parte da história de Portugal, bem como a história da própria missão jesuíta?

Espero que sim. Portugal parece que tem um certo medo e pudor em falar desta época, e a prova disso é que este povo vietnamita veio à Guarda oferecer um monumento e praticamente não saíram notícias sobre o assunto. Além disso, os representantes da delegação do Vietname ficaram um pouco admirados por não serem recebidos a nível oficial, à excepção do presidente da Câmara Municipal da Guarda. Eu, que fui convidado por eles a estar presente, senti um bocado vergonha alheia, pelo facto de o Vietname ter vindo a Portugal oferecer um monumento e isso ser encarado como um evento secundário, que não é. Seria importante dar a conhecer este padre e este feito ao país e ao mundo, até porque Portugal e o Vietname têm uma história cultural muito próxima e rica, tal como com o Japão e a China. Mas esta é uma vertente pouco conhecida do povo português e [este documentário] pode ser uma boa oportunidade para o país fazer a sua catarse.

Escultura de artista vietnamita lembra Francisco de Pina na Guarda

Em Novembro de 2023, a Fundação da Língua Vietnamita ofereceu à cidade da Guarda a escultura “Nova Estela”, do artista vietnamita Nguyen Huy Anh. A obra pode ser vista no jardim da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço. Segundo uma notícia da agência Ecclesia, o evento decorreu no âmbito das celebrações do 824.º aniversário da atribuição de foral pelo Rei D. Sancho I à cidade. “Trata-se de uma homenagem, a título póstumo, ao padre Francisco de Pina, um sacerdote jesuíta nascido na Guarda, em 1586, cujo percurso religioso passou por uma missão no Vietname, onde viveu nove anos de intensa actividade missionária, de linguística e de interculturalidade”, referiu a Diocese da Guarda, em comunicado.

Segundo a mesma nota, o missionário Francisco de Pina foi o responsável pela introdução do alfabeto latino e sinais diacríticos na transcrição dos sons e dos tons da língua vietnamita, que utilizava, na escrita, caracteres chineses.

O padre embarcou há mais de 400 anos na Nau de Nossa Senhora do Vencimento do Monte do Carmo, tendo completado a formação no Colégio de São Paulo em Macau e recebido a ordenação sacerdotal em Malaca. Foi depois chamado para a recém-criada Missão dos Jesuítas da Cochinchina, zona que corresponde à parte central do Vietname actual. “Nunca mais veio à cidade onde nascera e regressou agora num barco esculpido em bronze por artistas vietnamitas trazido por mar do longínquo Vietname. A partir de agora, o Padre Francisco de Pina ficará na memória histórica da Guarda e dos seus habitantes, materializado neste barco que o trouxe de regresso à sua cidade, deixando lá bem longe o nome da Guarda, escrito também ele em letras de bronze”, concluiu a Diocese.

Dinamarca | PM recusa vender Gronelândia

A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, mostrou-se ontem disponível para dialogar com os Estados Unidos sobre a Gronelândia, frisando que o território autónomo “não está à venda”.

“Temos sido muito claros: todos temos de respeitar a soberania de todos os Estados no mundo – e a Gronelândia é hoje uma parte do reino da Dinamarca – não está à venda”, referiu. A líder dinamarquesa, falava à entrada do primeiro retiro de líderes da UE, iniciativa criada pelo presidente do Conselho Europeu, António Costa, para debates mais informais.

Concordo totalmente com os americanos que a região do Extremo Norte, a região do Ártico, é cada vez mais importante quando falamos de defesa e segurança e de dissuasão, e é possível encontrar uma forma de assegurar uma pegada mais forte [dos Estados Unidos] na Gronelândia, onde já estão”, referiu ainda Mette Frederiksen.

A chefe do governo de Copenhaga lembrou ainda que as tropas dinamarquesas combateram ao lado dos EUA durante muitas décadas. O Presidente dos EUA, Donald Trump, tem reivindicado um maior acesso ao Ártico e manifestou o interesse de adquirir a Gronelândia, um território autónomo gerido pela Dinamarca.

EUA | Trump vai impor taxas sobre produtos europeus “muito em breve”

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que os produtos europeus vão ser sujeitos a taxas aduaneiras “muito em breve”, na sequência da imposição de tarifas à importação de produtos do Canadá, México e China.

“Estão realmente a aproveitar-se de nós, temos um défice de 300 mil milhões de dólares. Não levam os nossos automóveis nem os nossos produtos agrícolas, praticamente nada, e todos nós compramos, milhões de automóveis, níveis enormes de produtos agrícolas”, disse no domingo à imprensa.

A União Europeia lamentou no mesmo dia o aumento das taxas aduaneiras pelos Estados Unidos da América sobre produtos do Canadá, do México e da China, e disse que vai retaliar fortemente se for alvo de tarifas injustas.

“A UE acredita firmemente que direitos aduaneiros baixos promovem o crescimento e a estabilidade económica”, disse a Comissão Europeia em comunicado, através do qual considerou a imposição de mais tarifas pelos EUA como “nocivas para todas as partes”.

Já, se o bloco europeu for também alvo dessas medidas, o executivo comunitário vai “retaliar fortemente”. Donald Trump assinou no sábado a ordem executiva para a aplicação de taxas aduaneiras aos produtos provenientes do Canadá, do México e da China.

A assinatura, que oficializa a decisão que já tinha sido anunciada, determina a imposição de tarifas de 10 por cento à China, de 25 por cento ao México e de 25 por cento ao Canadá, excepto no petróleo canadiano, que terá tarifa de 10 por cento.

Trump tinha vindo a ameaçar a imposição de tarifas para garantir uma maior cooperação dos países para impedir a imigração ilegal e o contrabando de produtos químicos, como o fentanil, um opioide que está a provocar vagas de adição importantes nos Estados Unidos. Os três países prometem tomar medidas.

Sacrifício (des)necessário

Já no caso da União Europeia, ainda não foi tomada uma decisão, mas a preocupação é geral e a França defendeu no domingo uma “resposta mordaz” da Europa face às ameaças de novas tarifas aduaneiras pelo Presidente norte-americano.

Trump admitiu que as novas tarifas podem causar sofrimento ao povo norte-americano, mas garantiu que “tudo valerá a pena” porque vai “tornar a América grande de novo”.

“Haverá sofrimento? Sim, talvez (e talvez não). Mas vamos tornar a América grande de novo, e tudo valerá a pena”, escreveu Donald Trump, em letras maiúsculas, no perfil da rede social que fundou, a Truth Social, citado pela agência de notícias France-Presse.

Rússia | ONU denuncia aumento de execuções de prisioneiros

A ONU denunciou e condenou ontem o aumento do número de execuções de soldados ucranianos mantidos em cativeiro pelas forças russas nos últimos meses, fazendo eco de acusações de Kiev. Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia há quase três anos, Moscovo e Kiev têm-se acusado regularmente de matar prisioneiros de guerra, o que constitui um crime de guerra.

“Muitos soldados ucranianos que se renderam ou estavam sob custódia física das forças armadas russas foram mortos a tiro no local. Testemunhas descreveram também o assassínio de soldados ucranianos desarmados e feridos”, disse a ONU.

A Missão de Observação dos Direitos Humanos da ONU na Ucrânia (HRMMU, na sigla em inglês) afirmou ter “registado 79 execuções deste tipo em 24 incidentes separados” desde o final de Agosto. A informação baseia-se na “análise de material vídeo e fotográfico publicado por fontes ucranianas e russas” que mostra as execuções, disse a missão num comunicado citado pela agência francesa AFP.

As figuras públicas russas “apelaram explicitamente ao tratamento desumano, ou mesmo à execução, dos militares ucranianos capturados”, afirmou a chefe da missão da ONU, Danielle Bell. “Combinadas com as leis de amnistia geral, estas declarações podem incitar ou encorajar comportamentos ilegais”, acrescentou, citada no comunicado.

A missão explicou que, em 2024, também registou a execução de um soldado russo “ferido e incapacitado” pelas forças armadas ucranianas. O Provedor dos Direitos Humanos ucraniano, Dmytro Loubinets, solicita regularmente às Nações Unidas e ao Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) que investiguem as execuções extrajudiciais de soldados ucranianos em cativeiro.

Desconhece-se o número de vítimas civis e militares da guerra desencadeada pela invasão russa da Ucrânia em Fevereiro de 2022, mas diversas fontes, incluindo a ONU, têm admitido que será elevado.

Austrália interdita redes sociais a menores de 16 anos (I)

O Senado australiano aprovou a 28 de Novembro de 2024 a alteração à Lei de “Segurança na Internet (Idade Mínima para acesso a redes sociais), proibindo crianças menores de 16 anos de usar a maioria das redes sociais. A nova lei não prevê excepções para os utilizadores com menos de 16 anos. Por conseguinte, mal as alterações entrem em vigor, os menores de 16 anos devem parar imediatamente de usar as redes sociais, caso contrário, estarão a infringir a lei. Esta proibição estende-se aos jovens que têm autorização dos pais para usarem as redes.

A nova lei também exige que as empresas de redes sociais tomem medidas para impedir que os menores de 16 anos acedam às suas plataformas, e proíbe-as de obrigar as crianças a apresentarem documentos de identificação para verificação de idade. A multa máxima para as empresas que violarem a nova lei é de 50 milhões de dólares australianos (aproximadamente RMB $ 250 milhões ou HK$ 235 milhões de dólares). Prevê-se que a nova lei seja testada em 2025 e plenamente implementada em 2026.

Embora a nova lei não especifique quais as empresas que serão regulamentadas, a imprensa australiana avança que empresas como o Facebook, o Instagram e X serão muito afectadas.

O objectivo da nova lei é claro. As crianças podem ter acesso a todo o tipo de conhecimento científico e tecnológico através das redes sociais, o que lhes permite abrir horizontes e fazer amigos em toda a parte. No entanto, há também muitas desvantagens, como estar facilmente exposto a desinformação, contactar estranhos e colocar-se em perigo. Se os jovens ficarem irritados e ansiosos por passarem demasiado tempo na Internet, ou mesmo passarem a evitar a vida social, as consequências serão ainda mais graves. Uma vez que as crianças ainda estão a desenvolver-se mental e fisicamente, devem ser evitados quaisquer efeitos negativos da utilização da Internet.

O conteúdo da nova lei é simples, mas, do ponto de vista do seu funcionamento efectivo, há muitas questões que merecem ser discutidas.

Em primeiro lugar, a Austrália não é o primeiro país a promulgar legislação nesta matéria. Na Europa, muitos países já restringiram o acesso das crianças às redes sociais. Por exemplo, em França, as crianças com menos de 15 anos precisam do consentimento dos pais para criarem redes sociais, as crianças com menos de 11 anos estão proibidas de utilizar telemóveis e as crianças com menos de 13 anos não podem usar telemóveis com acesso à Internet. A Noruega estabeleceu os 15 anos como a idade mínima para os jovens usarem as redes sociais. Abaixo dos 15 anos é necessário o consentimento parental para o efeito.

Na Alemanha e na Bélgica o acesso das crianças às redes sociais só é permitido depois dos 13 anos, e na Itália depois dos 14. A Alemanha e a Itália também estabeleceram o consentimento parental, mas a Bélgica não.

Na Ásia, a 20 de Janeiro de 2025, a Indonésia anunciou que seguiria a Austrália e iria preparar uma legislação para restringir o uso das redes sociais a crianças dos 13 aos 17 anos, enquanto os pais de crianças entre os 13 e os 15 anos podem controlar as contas de redes sociais dos filhos. À medida que os telemóveis se tornam mais populares, a questão do acesso das crianças à Internet e às redes sociais tem atraído cada vez mais atenção. Provavelmente, mais países e regiões virão a legislar nesta área.

Em segundo lugar, a nova lei fixa a idade mínima de 16 anos para se poder aceder à Internet, o que não é o padrão mais rigoroso. Na Flórida, o limite etário estabelecido pela legislação é de 14 anos. Não é surpreendente que diferentes países estabeleçam diferentes idades para permitir o acesso às redes sociais. No entanto, a lei da Flórida restringe o uso das redes sociais aos menores de 13 anos, tendo sido acusada de limitar a liberdade de expressão, o que desencadeou um processo judicial. Após a nova lei ser implementada na Austrália, haverá processos semelhantes aos da Flórida?? Este é o risco que o Governo australiano pode ter que correr após a introdução da nova lei.

Na próxima semana, continuaremos esta análise.


Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Escola de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau
Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Email: legalpublicationsreaders@yahoo.

Beyoncé conquista Grammy de álbum do ano com “Cowboy Carter”

Beyoncé ganhou o Grammy para o álbum do ano, pela primeira vez na carreira, por “Cowboy Carter”, anunciou a Recording Academy durante a 67.ª edição dos prémios, realizada na Crypto.com Arena, em Los Angeles.

“Já lá vão muitos anos”, afirmou no domingo à noite Beyoncé, referindo-se ao tempo que esperou para receber a ‘joia da coroa’ dos prémios das mãos do chefe dos bombeiros de Los Angeles, Anthony Marrone. Este Grammy faz de Beyoncé a primeira mulher negra em 26 anos a ganhar nesta categoria desde Lauryn Hill em 1999 e a sétima artista a ganhar o prémio para um álbum country.

Nomeados para o galardão máximo atribuído pela Academia Nacional de Artes e Ciências de Gravação dos Estados Unidos (mais conhecida por Recording Academy) estavam André 3000 (“New Blue Sun”); Sabrina Carpenter (“Short n’ Sweet”); Charli xcx (“brat”); Jacob Collier (“Djesse Vol. 4”); Taylor Swift (“The Tortured Poets Department”); Chappell Roan (“The Rise And Fall Of A Midwest Princess”) e Billie Eilish (“Hit Me Hard and Soft”).

“Cowboy Carter”, o oitavo álbum da carreira de Beyoncé, é o muito aguardado ‘segundo acto’ do trabalho “Renaissance”, lançado em 2022.

Além de Beyoncé, que contava com 11 nomeações, número que eleva para 99 o total na carreira e faz dela a artista com o maior número de nomeações da história, Kendrick Lamar, com os Grammys para a canção e o disco do ano por “Not Like Us”, Shakira, Billie Eilish, Chappell Roan, Doechii, Sabrina Carpenter e Charli xcx pontuaram entre as estrelas da noite, que contou com a presença de Will Smith, Stevie Wonder e Janelle Monáe numa homenagem ao falecido e lendário produtor Quincy Jones .

Shakira também festeja

Shakira dedicou o Grammy para melhor álbum pop latino com o seu 12.º álbum de estúdio, ‘Las mujeres ya no lloran’, à comunidade imigrante nos Estados Unidos, que a nova Administração norte-americana de Donald Trump trouxe novamente para as manchetes em todo o mundo.

“Quero dedicar este prémio a todos os meus irmãos e irmãs imigrantes deste país. Vocês são amados, vocês valem a pena e eu lutarei sempre convosco e com todas as mulheres que trabalham arduamente todos os dias para fazer avançar as suas famílias”, disse a cantora.

A surpresa da noite foi o cantor californiano Kendrick Lamar, o artista com mais prémios na 67.ª edição dos Grammy Awards ao receber cinco distinções da Recording Academy, com a canção “Not Like Us”: em duas das principais categorias, disco do ano e canção do ano, e melhor interpretação rap, melhor canção rap e melhor vídeo musical.

Taylor Swift saiu de mãos vazias, apesar das seis nomeações para o último álbum “The Tortured Poets Department”, tal como Billie Eilish, que era uma das favoritas do ano. A britânica Charli xcx ganhou três Grammys por “brat”.

O fenómeno Chappell Roan foi coroado melhor novo artista, numa lista que incluía também Sabrina Carpenter e o rapper Doechii.

Cinemateca Paixão | “A Substância”, com Demi Moore, estreia esta semana

A Cinemateca Paixão já tem disponível o cartaz de Fevereiro e a grande novidade é o filme “A Substância”, protagonizado por Demi Moore, que se revela também na cópia restaurada de “Ghost”. Além da exibição destes filmes, destaque ainda para películas como “Vive L’Amour”, “The Way We Talk”, de Hong Kong; ou o japonês “Cells at Work!”

 

Uma das actrizes dos anos 90 de Hollywood, Demi Moore parece ter voltado em grande ao protagonizar “A Substância”, filme que tem dado que falar em todo o mundo por espelhar o confronto permanente entre a imagem, o que somos e aquilo que esperam de nós. O filme será exibido em Macau este sábado na Cinemateca Paixão, tendo uma única sessão a partir das 19h30, por isso é melhor correr antes que os bilhetes esgotem.

Demi Moore é uma bela apresentadora de televisão que, subitamente, deixa de ser bela aos olhos dos produtores do programa. É então que decide começar a tomar uma substância ilegal que a faz ficar mais nova, colocando-se numa situação perigosa e desafiante. É então que Sue, personagem interpretada por Margaret Qualley, passa a substitui-la no programa, sendo uma cópia quase igual ao original, mas muito mais nova que a personagem envelhecida de Demi Moore. É então que o horror começa, com súbitas transformações nos corpos de ambas, categorizando-se este filme no género “horror corporal”.

“A Substância”, que já levou Demi Moore a uma nomeação como Melhor Actriz nos Globos de Ouro, faz parte do cartaz deste mês da Cinemateca Paixão, intitulado “Encantos de Fevereiro”. E a escolha dos programadores recai também nos clássicos, nomeadamente com a cópia restaurada de “Vive L’Amour”, filme de Taiwan de 1994, que será exibido no próximo domingo, e depois no sábado, dia 15, e na quarta-feira dia 19 de Fevereiro.

Com realização de Tsai Ming Liang, “Vive L’Amour” passa-se em Taipei, num apartamento onde três pessoas solitárias acabam por dividir o mesmo espaço, neste caso um condomínio de luxo, sem saber. É então que as intimidades de cada um se começam a entrelançar, numa história de melancolias e sentimentos.

Demi Moore a duplicar

Outro clássico exibido este mês na Cinemateca Paixão, traz uma Demi Moore jovem. Trata-se de “Ghost”, cuja cópia restaurada será exibida no sábado, a partir das 16h30, e depois na sexta-feira, dia 14 de Fevereiro. “Ghost” ganhou um Óscar em 1991 na categoria de “Melhor Argumento Original”, tendo batido todos os recordes de bilheteira nesse ano, com receitas na ordem dos 505 milhões de dólares.

Demi Moore é Molly Jensen, uma artista que está apaixonada por Sam Wheat, personagem do já falecido actor Patrick Swayze. Tudo muda quando Sam é assassinado por um amigo e parceiro de negócios corrupto, Carl Bruner, e começa a vaguear pela terra como um espírito sem poderes.

Já o japonês “Cells at Work!” estreia mais cedo, esta quarta-feira, e prossegue com sessões domingo, e depois nos dias 15 e 18. A película baseia-se numa história de Manga com o mesmo nome, da autoria de Akane Shimizu, remetendo para um mundo de ficção científica.

O enredo gira em torno dos 37 triliões de células existentes no corpo humano, com personagens a representar os glóbulos vermelhos e brancos. Mas há também a estudante de liceu Niko Urushizaki, que vive com o seu pai e que está sempre focada em ter uma alimentação exemplar para ter células saudáveis.

Mas o pai faz exactamente o contrário, o que faz com que tenham corpos completamente diferentes. Apesar de se darem bem no meio da vida agitada que levam, os agentes patogénicos estão prestes a invadir o corpo e a planear um próximo passo que irá culminar numa guerra de células, que mudará a vida desta família.

Outro clássico presente este mês na Cinemateca Paixão, é “Picnic at Hanging Rock”, de 1974, apresentando-se também uma cópia restaurada deste filme de Peter Weir e que ganhou um BAFTA em 1977 para “Melhor Cinematografia”. Além da exibição nesta quarta-feira, o filme repete na quinta-feira, dia 13, e depois no domingo, dia 16.

A história remete para o início do século XX, quando Miranda frequenta um colégio interno para raparigas na Austrália. No Dia dos Namorados, a directora da escola, bastante rigorosa, oferece às raparigas uma visita de estudo para um piquenique numa formação vulcânica invulgar, mas cénica, chamada Hanging Rock. Apesar de não poderem sair do percurso traçado pela escola, Miranda e várias amigas aventuram-se por outro caminho, percebendo-se no final do dia que as meninas e um professor desapareceram de forma misteriosa.

Da região vizinha de Hong Kong chega-nos também o filme “The Way We Talk”, do ano passado, que será exibido na próxima semana. Trata-se da nova película de Adam Wong, tendo já sido nomeado para três categorias dos Prémios Cavalo de Ouro do ano passado. A história gira em torno de jovens surdos e das suas vivências.

Índia | Rupia atinge novo mínimo histórico

A rupia indiana atingiu ontem um novo mínimo histórico, sendo negociada a 87 unidades por dólar nos mercados de divisas internacionais, afectados pela imposição de novas tarifas norte-americanas sobre Canadá, México e China.

Nas primeiras horas do dia, a rupia indiana seguiu os passos de outras moedas asiáticas, enfraquecendo em relação ao dólar, observou a empresa de consultoria financeira Eforex Índia, na análise que costuma fazer diariamente.

O Presidente dos EUA, Donald Trump, aprovou este fim de semana taxas aduaneiras aos produtos provenientes do Canadá, do México e da China. Embora a Índia não tenha sido afectada pelas políticas tarifárias do novo líder, antes de ser eleito, Trump referiu-se a Nova Deli como “um grande abusador” neste campo.

Países como Brasil e Japão ou blocos como a União Europeia (UE) também podem enfrentar novas ordens tarifárias, assumiu Trump. A rupia indiana tem estado numa desvalorização constante desde 1 de Janeiro de 2018, apesar de ter abrandado a queda desde meados de 2022.

Os receios de uma guerra comercial global, a volatilidade das acções das empresas que fazem parte do grupo empresarial indiano Adani – envolvido em vários escândalos – e, em geral, o cenário económico incerto, afectam a evolução da rupia.

O Governo indiano, liderado por Narendra Modi, revelou no sábado o orçamento anual para este ano, com uma estratégia centrada no reforço do poder de compra da classe média, no desenvolvimento inclusivo e no estímulo ao crescimento económico, numa altura em que a Índia, a quinta maior economia do mundo, enfrenta o seu crescimento mais lento em quatro anos.

Timor-Leste | Mais de 5.500 alunos admitidos no ensino superior público

Um total de 5.749 alunos foram admitidos no ensino superior público de Timor-Leste no ano lectivo de 2025, segundo os dados divulgados pelo Ministério do Ensino Superior, Ciência e Cultura.

Os dados indicam que 5.211 alunos foram admitidos na Universidade Nacional de Timor-Lorosa’e (UNTL) e 538 no Instituto Politécnico de Betano. Na UNTL, foram admitidos 3.313 mulheres e 1.898 homens e no Instituto Politécnico de Betano 276 mulheres e 262 homens.

Para o novo ano lectivo foram registadas mais 513 admissões do que em relação ao ano passado, quando as instituições aceitaram 5.236 candidaturas. As candidaturas ao ensino superior público em Timor-Leste podem ser feitas em regime geral, destinadas a alunos que concluíram o ensino secundário e o ensino secundário técnico vocacional, e em regime especial.

O regime especial inclui pessoas que concluíram o ensino secundário há mais de quatro anos, filhos de antigos combatentes, famílias economicamente desfavorecidas, pessoas com necessidades especiais, quadros das forças de defesa e segurança, alunos de escolas internacionais e maiores de 23 anos.

Este ano concluíram o ensino secundário no país 22.922 alunos e 3.682 concluíram o ensino secundário técnico vocacional. Mais de 40.000 alunos frequentam em Timor-Leste 18 instituições do ensino superior públicas e privadas.

EUA | Coreia do Norte critica declarações do chefe da diplomacia

A Coreia do Norte criticou no domingo o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, por este ter descrito o país como um “Estado pária”, e avisou que não irá tolerar “qualquer provocação” dos Estados Unidos.

“Nunca toleraremos qualquer provocação dos Estados Unidos” e “tomaremos medidas vigorosas para responder como de costume”, afirmou um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros norte-coreano, citado pela agência oficial KCNA.

Marco Rubio, chefe da diplomacia da administração norte-americana, disse, numa entrevista recente, que a Coreia do Norte e o Irão eram “Estados párias”, com os quais era preciso ter atenção quando se tomam decisões sobre diplomacia.

A reacção da Coreia do Norte é considerada a primeira crítica à administração do Presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump. O início do segundo mandato de Donald Trump levantava perspectivas sobre a eventual recuperação da diplomacia entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, uma vez que Trump se encontrou com Kim três vezes durante o primeiro mandato.

Os contactos de alto nível terminaram em 2019 devido a disputas sobre as sanções económicas lideradas pelos Estados Unidos contra a Coreia do Norte. Pyongyang aumentou significativamente as actividades relativas a testes com armas, desde essa altura.

Tóquio | OpenAI anuncia “pesquisa aprofundada” para ChatGPT

O director executivo da OpenAI, Sam Altman, está em Tóquio onde vai reunir com o primeiro-ministro japonês, e o director executivo do grupo SoftBank. A luta pelo domínio dos canais de IA conheceu um novo capítulo com o aparecimento da chinesa DeepSeek

 

A norte-americana OpenAI anunciou ontem uma ferramenta de “pesquisa aprofundada” para o ChatGPT, pouco antes de uma reunião em Tóquio com o parceiro SoftBank, numa altura em que a chinesa DeepSeek intensifica a concorrência na inteligência artificial. A OpenAI disse que a nova ferramenta “realiza em dezenas de minutos o que levaria muitas horas” a ser feito por uma pessoa.

“A pesquisa aprofundada é a nova ferramenta da OpenAI que pode trabalhar para si de forma independente: dê-lhe um comando e o ChatGPT encontrará, analisará e sintetizará centenas de fontes ‘online’ para criar um relatório abrangente ao nível de um analista”, afirma a OpenAI no portal oficial. O robô de conversação ChatGPT marcou o aparecimento da inteligência artificial (IA) generativa para o público em geral em 2022.

Numa apresentação vídeo em directo, os investigadores da OpenAI demonstraram como a ‘pesquisa aprofundada’ foi capaz de resumir dados de pesquisa na Internet para recomendar equipamento de esqui para umas férias de neve no Japão.

Concorrência apertada

O director executivo da OpenAI, Sam Altman, encontra-se em Tóquio para se encontrar com o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, e o director executivo do grupo SoftBank, Masayoshi Son.

Altman e Son são parceiros no Stargate, um novo projecto que envolve investimentos de pelo menos 500 mil milhões de dólares em infra-estruturas de IA nos Estados Unidos, recentemente revelado pelo Presidente norte-americano, Donald Trump. Masayoshi Son também assistiu à tomada de posse de Trump em Janeiro.

Estes desenvolvimentos surgem numa altura em que a ‘startup’ chinesa DeepSeek abalou o mundo tecnológico norte-americano com o potente robô de conversação desenvolvido a baixo custo e a funcionar com menos recursos. Numa entrevista ao jornal económico japonês Nikkei, Sam Altman afirmou que a China está a recuperar o atraso em relação às tecnologias de IA baseadas nos EUA.

Alertou também para o facto de as tecnologias de IA poderem ser utilizadas por Estados autoritários para reforçar o controlo.

Ano Novo Chinês | Registados recordes de bilheteira nos cinemas

Os números diários de bilheteira nas salas de cinema da China atingiram um novo marco na última quarta-feira, dia da Festa da Primavera, também conhecida como Ano Novo chinês, gerando uns impressionantes 1,805 mil milhões de yuans em receitas, indica o Diário do Povo.

O número de espectadores nesse dia foi de 35,15 milhões. Tanto as receitas de bilheteira, como a contagem de espectadores superaram os recordes anteriores estabelecidos no Ano Novo chinês de 2021, indicou a Administração de Cinema da China na quinta-feira.

O feriado anual da Festa da Primavera é uma das temporadas de cinema mais lucrativas da China e este ano acontece entre 28 de Janeiro e 4 de Fevereiro, com um dia a mais do que nos anos anteriores. Os líderes da bilheteira são seis filmes nacionais que estrearam na quarta-feira – com géneros como mitologia chinesa, wuxia, que apresenta artes marciais e cavalheirismo, comédia, fantasia, animação e drama.

A Huajin Securities observou que esses seis novos lançamentos cobrem uma gama diversificada de géneros, atendendo aos gostos de vários grupos de público. Também destacou que a maioria desses filmes são séries de franquias de alta audiência e alta classificação, com forte reputação e grandes bases de fãs.

Desde Dezembro do ano passado, a Administração de Cinema da China vem incentivando as instituições relevantes a alocar aproximadamente 600 milhões de yuans em subsídios ao consumo de filmes – uma medida que os analistas dizem ter como objectivo promover todo o potencial de consumo dos espectadores.

A Kaiyuan Securities prevê que os valores de bilheteira totais terão um aumento de 6,7 por cento em termos anuais, atingindo 8,54 mil milhões de yuans durante os feriados da Festa da Primavera de 2025.

Taiwan | Departamentos governamentais proibidos de usar DeepSeek

Taiwan proibiu ontem os departamentos governamentais de utilizar o serviço da plataforma de inteligência artificial (IA) chinesa DeepSeek por temer “um risco para a segurança”. O governo local explicou que a proibição tem como objectivo “garantir a segurança da informação”, segundo a agência estatal CNA.

“Tendo em conta a importância de proteger a informação internas tratadas pelas agências governamentais, decidimos proibir completamente o uso dos serviços de IA da Deepseek para garantir a sua segurança”. A DeepSeek provocou uma enorme turbulência nos mercados, a nível mundial, com o recente lançamento do seu modelo de IA V3, cujo desenvolvimento, diz a tecnológica, durou unicamente dois meses e custou menos de 6 milhões de dólares.

Em 20 de Janeiro lançou a última versão, o R1. Lançado em 2023 pelo fundo chinês High-Flyer Quant, a DeepSeek aposta no código aberto e oferece serviços 95 por cento mais baratos que o modelo o1 da OpenAI (dona do ChatGPT).

Tarifas | Pequim opõe-se firmemente aos aumentos dos EUA

As novas taxas aplicadas pela administração Trump estão a provocar ondas de repúdio generalizadas

 

Um porta-voz do Ministério da Segurança Pública da China expressou no domingo uma forte insatisfação e firme oposição à decisão dos EUA de impor uma tarifa adicional de 10 por cento sobre as importações da China sob o pretexto de questões relacionadas com o fentanil.

A China é um dos países com as políticas de controlo de drogas mais estritas e a aplicação mais rigorosa do mundo, destacou o porta-voz, acrescentando que a China cumpriu consistente e resolutamente as suas obrigações internacionais de controlo de drogas e envolveu-se activamente na cooperação internacional anti-drogas com países de todo o mundo, incluindo os Estados Unidos, indica a Xinhua.

Apesar da ausência de abuso generalizado no país, a China tornou-se no primeiro país do mundo a agendar oficialmente substâncias relacionadas com o fentanil como uma classe em 2019 por boa vontade humanitária e a pedido do lado norte-americano, afirmou o porta-voz. No entanto, os Estados Unidos não classificaram permanentemente substâncias relacionadas ao fentanil como uma classe.

Desde a regulamentação da China, não houve relatos dos Estados Unidos de apreensões de tais substâncias originárias da China, acrescentou ainda o porta-voz.

Olhar para dentro

Nos últimos anos, a China e os Estados Unidos fizeram progressos visíveis na cooperação prática no controlo de drogas em áreas como regulamento de substâncias, intercâmbio de informações e cooperação em casos, produzindo benefícios tangíveis, segundo o porta-voz, citado pela Xinhua.

O responsável observou ainda que a raiz da crise do fentanil nos Estados Unidos reside neles mesmos, e a redução da procura interna de drogas e o fortalecimento da cooperação na aplicação da lei são soluções fundamentais.

A transferência de culpa para outras nações não só é incapaz de resolver o problema, mas também corrói as bases de confiança e cooperação no campo do controlo de drogas entre a China e os Estados Unidos, sublinhou o porta-voz.

A China pede aos Estados Unidos que corrijam os seus erros e salvaguardem o progresso duramente conquistado na cooperação bilateral do controlo de drogas, de modo a promover o desenvolvimento estável, saudável e sustentável das relações China-EUA, rematou o responsável.

Histórias da Serpente

Ana Cristina Alves, Coordenadora do Serviço Educativo do CCCM 2025

29 de janeiro de 2025

Para conhecer mais a fundo a natureza de serpente de Madeira Yin (乙巳蛇Yǐ Sì Shé ), será conveniente analisar as histórias relativas a este réptil do sexto ramo terrestre em estreita associação com o princípio feminino.

A ela surge intimamente associada a divindade matriarcal Nϋwa (女娲Nǚwā) nos seguintes mitos “Nϋwa cria os Seres Humanos” (女娲造人Nǚwā zào rén) e “Nϋwa remenda o Céu” (女娲补天Nǚwā bǔ tiān). Nos mitos a divindade surge sozinha, completa em si mesma, como uma força criativa, no primeiro mito, e como uma força regeneradora e construtiva, no segundo, ao remendar o céu.

Enquanto mãe da humanidade, Nϋwa lembrou-se de o ser na sequência de uma visita à terra, tendo primeiro criado os animais, mas como ainda sentisse uma profunda solidão, decidiu gerar ainda os seres humanos: pôde fazê-lo por conter uma poderosa energia anímica, manifestada na sua qualidade de ser celestial, cuja aparência física se distinguia, porque embora tivesse cabeça humana, possuía corpo de serpente. Gerou espontaneamente com a ajuda do barro, ou seja, da terra, elemento ao qual se encontra indissoluvelmente ligada, seja no mundo subterrâneo, em poços, seja na água, seja na sua ágil escalada pelas montanhas e árvores numa busca instintiva da ascensão celestial.

É ainda esta mesma figura com corpo de serpente que vai repor a ordem na terra, quando ela mergulha no caos, na sequência de forças titânicas digladiantes, pois nalgumas versões se afirma que Nϋwa remendou o Céu após o Deus da Água do Norte, Gonggong ter atirado a cabeça contra Buzhoushan (共工怒触不周山 Gònggōng nù chù Bùzhōushān), num ataque de fúria contra o Imperador Celestial do Norte, Zhuanxu (颛顼 Zhuānxū), na sequência da derrota infligida por este.

O modo como Nϋwa remendou o Céu, o cuidado que colocou em reerguer os seus pilares, firmando-os com o auxílio de pedras, cujas cores (verdes, amarelas, brancas, azuis escuras e vermelhas) indicam a presença dos cinco elementos, essenciais à vida, bem como a fundamentação dos mesmos erguidos sobre as patas de uma tartaruga negra, a fim de garantir a sua longevidade senão mesmo a eternidade; o precioso auxílio que concedeu à humanidade no combate às feras que na barafunda do desabamento pululavam, as obras de drenagem que então efetuou, transformaram esta divindade com corpo de serpente num dos fundamentos da cultura religiosa e civilização chinesas.

De notar é a poderosa ambivalência deste réptil, já que se Nϋwa ostentava corpo de serpente, Gonggong, o furibundo Deus da Água, é descrito com idêntico corpo de serpente, senão veja-se como surge retratado em “Gonggong atira a cabeça contra Buzhoushan: “Gonggong era descendente de Yandi. Tinha corpo de serpente, rosto e membros humanos, além de cabelos ruivos, que indicavam o seu carácter fogoso, enérgico e inflexível” (Wang, Alves, 2009: 54).

As serpentes possuem veneno, que tanto cura como mata, podendo transformar-se, pela sua imensa capacidade de mutação, em excelentes humanos como no caso da Serpente Branga (白娘子 Bái Niángzi ), até em Pequenos Dragões (小龙 Xiǎolóng),ao desenvolverem a faceta generosa e meditativa, quando se ligam e defendem valores superiores, como o amor, na famosa lenda que nos chegou, por exemplo, através de Zhao Qingge (赵清阁) em 《白蛇传》(Bái Shé Zhuàn) .

Porém, pela sua força, capacidade e inteligência podem entrar em conflito como na história da literatura popular “Discussão entre a Serpente e o Sol”, que talvez pudesse encontrar equivalente cultural na competição da fábula de Esopo “O vento e o Sol”. Em “A Serpente discute com o Sol” (蛇与太阳的争吵) há uma óbvia rivalidade entre o sol, representante do elemento masculino Yang, belo, brilhante, quente e poderoso e a serpente, que igualmente portentosa, se considera o máximo poder da terra.

Esta desafia o sol, começando um conflito entre o poder das forças misteriosas e ocultas lunares, representadas pela serpente, e o esplendoroso brilho irradiante da energia solar. Por fim a fábula termina não com a vitória do sol, à maneira de Esopo, mas com a necessidade do reconhecimento da complementaridade, pois sem a alternância da noite e do dia, do sol e da sombra, do calor e do frio o mundo, como os chineses o entendem (baseado nesta harmonia tensional) não seria nem estaria completo. Moral da história: se não houvesse sol, seria a morte da terra, pois mergulharia numa noite infinita, se não existissem serpentes, seria igualmente o fim do mundo, porque não haveria nem agilidade, nem capacidade de transformação, mergulhando “tudo aquilo que existe debaixo do Céu” (天下 tiānxià) numa imensa rigidez e monotonia.

A serpente, enquanto sexto ramo terrestre do zodíaco chinês (十二生肖蛇 shí´èr shēngxiào) simboliza ainda o animal engenhoso, que, devido à sua poderosa inteligência, é capaz de arquitetar e realizar um plano bem calculado. Tal é provado pela sua biografia ao entrar na corrida celestial promovida pelo Imperador de Jade (玉皇大帝Yù Huáng Dàdì).

A serpente e o dragão costumavam ser bons companheiros e partilhar os mesmos espaços aquáticos, quando se soube da intenção do imperador de organizar uma competição a fim de que doze animais pudessem comandar as estrelas e os destinos dos humanos. Dada a poderosa inteligência do réptil, este percebeu que não tinha hipótese nem rapidez para superar o dragão, mas como sabia fazer bons cálculos e melhores planos, trepou discretamente para as costas do cavalo, sem que este notasse que estava a transportar um rival, perto da meta saltou de modo a posicionar-se à frente do equídeo, e assim foi, mantendo-se ambos bons amigos até aos nossos dias, já que o cavalo, sempre generoso, nunca lhe cobrou a boleia. Para os chineses, a serpente simboliza “um potente e vitorioso engenho” (以巧胜力 yǐ qiǎo shènglì).

Uma outra história chama a atenção para a importância do perdão no processo ascético da serpente rumo à transformação em Pequeno Dragão: “A Serpente e o Agricultor”(蛇与农夫 Shé yǔ nóngfū). Num inverno rigoroso, certo agricultor foi dar com uma serpente enregelada. Apiedando-se dela, levou-o para casa, colocando-a num lugar aquecido. Quando esta recuperou as forças, em lugar de agradecer pelo facto de ter sido salva, atacou o pobre homem desprevenido, com o objetivo de o ferir. Este, evitando a tempo ser mordido e reprimindo a fúria, chamou o réptil à razão com toda a calma, perguntando-lhe se era assim que ele tratava um amigo que lhe tinha salvado a vida. A serpente, tocada pela comprovada bondade do agricultor, nunca mais o atacou. Moral da história que os chineses contam às suas crianças: a bondade compensa, podendo salvar não apenas corpos como almas.

A serpente simboliza a divindade “guardiã dos tesouros da terra” em 蛇守护宝藏 (Shé shŏuhù bǎozàng), encontrando-se na entrada de grutas a velar pelas infinitas riquezas. As guardiãs são gigantescas, dotadas de uma força prodigiosa, mas também de uma sabedoria profunda e misteriosa. Quem tente penetrar numa dessas grutas, não o conseguirá por mais força que tenha. Apenas alguém muito especial, de espírito heroico e munido de sabedoria virtuosa passará a prova, sendo-lhe proporcionado o acesso aos tesouros da terra, não para usufruto próprio, mas para benefício da comunidade e/ou humanidade.

Termino com a minha tradução de uma outra história popular, intitulada “Serpente Branca, Serpente Negra”( 白蛇与黑蛇 Bái Shé Yǔ Hēi Shé), que apresenta e resume e necessidade de os dois princípios, o Yin e o Yang, operarem sempre em equilíbrio, sendo a serpente negra, representante Yin da força misteriosa e lunar e a branca, simbolizando a irradiante força energia Yang, seu contraponto.

很久以前,在一座隐秘的山中,有两条神蛇——白蛇与黑蛇。白蛇象征纯洁与善良,生活在阳光明媚的山顶,守护着清澈的溪流与花草;黑蛇则代表力量与神秘,栖息在幽暗的山谷,掌控着风暴与黑夜。

一天,一场大旱袭击了山谷,水源枯竭。白蛇认为,只有靠善行和祈愿才能带来水,而黑蛇则主张用力量召唤风暴来解决问题。两蛇因此争执不休,各自施展法力,山中风暴与烈阳交替,导致自然失衡,生灵涂炭。在看到生灵的痛苦后,白蛇与黑蛇意识到,单靠善良或力量都无法真正拯救山林。它们最终联手,白蛇用其善念唤来生命的春雨,黑蛇用其力量引导水流重回山谷,山林恢复生机,两蛇也化作山中的守护灵。 (https://www.lingoace.com/zh/blog/story-for-the-year-of-snake/)

Certa vez, abateu-se uma grande seca sobre o vale, esgotando todas as fontes e reservas de água que aí existiam. A Serpente Branca acreditava bastar o poder da sua boa ação e orações para que a água regressasse, enquanto que a Serpente Negra defendia que só pela invocação da força das tempestades se resolveria a questão. As duas serpentes discutiam sem parar, cada qual exibindo e exercendo as suas capacidades, ora com violentas tempestades, ora com sois escaldantes. Tal situação conduzia à perda do equilíbrio na natureza e ao miserável sofrimento dos seres vivos. Quando ambas viram o que eles estavam a padecer, perceberam que se apenas dependessem da força benfazeja do sol ou da das borrascas, não teriam como salvar aquela região montanhosa. Por fim, conjugaram esforços. A Serpente Branca invocou a energia vital da chuva primaveril e a Serpente Negra empregou a sua força para deixar fluir as águas pelos vales e montanhas de modo a recuperar a vida. E foi assim que as duas serpentes se transformaram nos espíritos guardiões da montanha.

Referências Bibliográficas

LingoAce新媒体团队.2024. 蛇年文化故事:给孩子讲述的10个有趣传说.Disponível em:

https://www.lingoace.com/zh/blog/story-for-the-year-of-snake/ , acedido a 17 de janeiro de 2025.

“O Vento e o Sol” Antologia Porventura, com World press. Disonível em: https://antologiaporventura.wordpress.com/2013/09/02/o-vento-e-o-sol-fabula-de-esopo/, 9 de fevereiro de 2013, acedido a 30 de janeiro de 2025.

Wang Suoying, Ana Cristina Alves. 2009. “A História da Serpente Branca”, in Mitos e Lendas da Terra do Dragão, Lisboa: Caminho.

Zhao Qingge (赵清阁) .1998. The Legend of White Snake. Beijing (北京): New World Press (新世界出版社).