Um pingo de sangue da Dinastia de Bragança

A Quarta Dinastia de Portugal, a dos Bragança, ou Bragantina, contou com quinze reis, não tendo o título de Duque de Bragança os reis D. Pedro II, D. Miguel, D. Luís e D. Manuel II. Também os bens da Casa de Bragança estiveram sempre separados administrativamente dos da Casa Real, como impôs por Carta de Lei D. João IV, o primeiro rei dessa dinastia.

A Casa de Bragança teve origem durante a Dinastia de Avis (1385-1581), com D. Afonso (1370-1461). Filho bastardo de D. João I, em 1401 casou com D. Beatriz Pereira Alvim, filha única de D. Nuno Álvares Pereira, que lhe deu um grande dote e o condado de Barcelos. Assim, D. Afonso ficou a ser o oitavo Conde de Barcelos e só em 1442 se tornou o primeiro Duque de Bragança.

Houve ainda mais seis duques de Bragança, até a Casa de Bragança chegar em 1640 ao trono de Portugal.

  1. João (1604-1656), filho de D. Teodósio, o sétimo Duque de Bragança e da Duquesa espanhola D. Ana de Velasco e Girón, em 1630 tornou-se D. João II, 8.º Duque de Bragança. Com sangue meio português, meio espanhol, foi pelo povo aclamado Rei de Portugal a 1 de Dezembro de 1640, com o nome de D. João IV (1640-56), O Restaurador, inaugurando assim a Dinastia de Bragança. Casado com D. Luísa de Gusmão, filha do Duque de Medina Sidónia, grande de Espanha, teve quatro filhos: D. Teodósio (1634-1653), cujo rei em 27 de Outubro de 1645 lhe deu o título de 9.º Duque de Bragança, mas por ter morrido antes de seu pai, sucedeu no trono o irmão D. Afonso (1643-1688). Logo em 1656 D. Afonso II, 10.º Duque de Bragança, sendo durante a sua menor idade regente D. Luísa de Gusmão. Como Rei Afonso VI (1656-67), O Vitorioso, casou-se em 1666 com Maria Francisca Isabel de Sabóia, filha do Duque de Nemours, que no ano seguinte requereu a nulidade do matrimónio, alegando incapacidade física do monarca. Abdicou em 1667 para o irmão mais novo D. Pedro (1648-1706), que ficou regente do Reino entre 1667 a 1683. Ainda estava vivo D. Afonso, quando D. Pedro se casou com a francesa Maria Francisca, ex-esposa do irmão, de quem teve D. João (1689-1750), nascido era já Rei D. Pedro II (1683-1706), O Pacífico.

Com sangue meio francês, um oitavo português e três oitavos espanhol, D. João, desde 1689 D. João III, 11.º Duque de Bragança, e depois Rei D. João V (1706-50), O Magnânimo. Casou-se com D. Maria Ana, filha do Imperador da Áustria, de quem teve, entre outros, D. José (1714-1777) e D. Pedro (1717-1786).

O Rei D. José (1750-77), O Reformador, desde nascença 12.º Duque de Bragança, casou-se com D. Mariana Vitória, filha de Filipe V, Rei de Espanha, de quem teve como filha primogénita D. Maria (1734-1816). Esta em 1750 tornou-se Duquesa de Bragança e em 1760 casou-se com o tio D. Pedro, pois filho do Rei D. João V e irmão do Rei D. José, que viria a ser o Rei D. Pedro III pela aclamação em 22 de Fevereiro de 1777 da Rainha D. Maria I (1777-1816), A Piedosa. Tiveram três filhos, D. José (1761-1788), D. João (1767-1826) e D. Mariana. Já D. Pedro III tinha morrido em 1786, assim como o filho primogénito D. José, que desde 1777 fora D. José II, 14.º Duque de Bragança, quando em 1792, por sofrer de doença mental, a Rainha D. Maria I foi afastada dos negócios públicos ficando estes entregues ao Príncipe D. João, o segundo filho. Pela morte do irmão mais velho, em 1788 tornou-se D. João IV, 15.º Duque de Bragança, e após a morte da Rainha no Rio de Janeiro a 20 de Março de 1816, foi nesse dia aclamado Rei D. João VI (1816 -1826), O Clemente.

  1. João, ainda apenas como Duque de Beja, casara-se em 1785 com D. Carlota Joaquina de Bourbon (1775-1830), filha de Carlos IV, Rei de Espanha, de quem teve, Francisco António (1795-1801), D. Pedro (1798-1834), D. Isabel Maria (1801-1876) e D. Miguel (1802-1866).
  2. João VI, Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, antes de regressar a Portugal continental a 22 de Abril de 1821 nomeou o filho D. Pedro Regente do Brasil. Este tinha-se casado em 1817 com a Arquiduquesa Leopoldina Josefa Carolina (1797-1826), filha do Imperador da Áustria, e entre outros filhos nasceu a primogénita D. Maria da Glória (1819-1853).

Após 13 anos no Brasil, D. João VI a 3 de Julho de 1821 regressou a Lisboa com a família e a corte, ficando apenas D. Pedro, que a 7 de Setembro de 1822 declarou o Brasil independente, sendo a 12 de Outubro aclamado Imperador D. Pedro I (1822-1831).

Em 1826, com a morte do Rei D. João VI a 10 de Março, o Imperador D. Pedro I do Brasil (1822-1831), já como 16.º Duque de Bragança e também Rei D. Pedro IV, abdicou do trono de Portugal em 2 de Maio de 1826 a favor da filha de sete anos D. Maria da Glória, que então se tornou Duquesa de Bragança e Rainha D. Maria II (1826-1828).

  1. Miguel, segundo filho do Rei D. João VI e irmão de D. Pedro, usurpou o poder à sobrinha, com quem estava prometido casar quando esta atingisse a maior idade. Rei D. Miguel (1828-34), O Absolutista, de Junho de 1828 a 27 de Maio de 1834, nessa data definitivamente derrotado pelo exército liberal de D. Pedro. D. Miguel, que nunca teve o título de Duque de Bragança, a 1 de Junho foi expulso de Portugal, sendo a sua linhagem perpetuamente banida do país.

De volta ao trono, a Rainha D. Maria II (1834-1853), A Educadora, casou-se com o príncipe alemão Fernando de Saxónia Coburgo Gota, de quem teve entre outros filhos, D. Pedro (1837-1861) e D. Luís (1838-1889).

  1. Pedro, pela morte da rainha sua mãe, em 1853 tornou-se D. Pedro II, 18.º Duque de Bragança, e Rei D. Pedro V (1853-61), O Esperançoso, mas sem filhos sucedeu-lhe o irmão D. Luís.

O Rei D. Luís (1861-89), O Popular, casou-se com Maria Pia de Sabóia, filha de Victor Manuel, Rei de Piemonte e futuro Rei de Itália, de quem teve D. Carlos (1863-1908), que em 1863 se tornou 19.º Duque de Bragança e em 1889 Rei D. Carlos (1889-1908), O Martirizado. Casou-se com D. Amélia de Orleães, filha de Luís Filipe, Conde de Paris e pretendente à coroa de França, tendo dois filhos, D. Luís-Filipe (1887-1908) e D. Manuel (1888-1932).

O Príncipe D. Luís-Filipe, desde 1889 20.º Duque de Bragança, foi por elementos da Carbonária assassinado conjuntamente com o Rei D. Carlos a 1 de Fevereiro de 1908. Daí ser Rei D. Manuel II (1908-10), O Estudioso, mas por pouco tempo, pois deposto a 5 de Outubro de 1910 pela implementação da República. Fugiu de Portugal com a mãe D. Amélia e em 1932 faleceu no exílio sem descendência.

Assim, o sangue do último Rei de Portugal, D. Manuel II, mais de metade era francês, um quarto italiano, um oitavo alemão, um pouco menos de 1/13 austríaco, 1/24 espanhol e 1/683 português, sendo este último apenas proveniente de quem deu início à Dinastia de Bragança, D. João IV.

25 Fev 2019

Pressão de Hong Kong na emigração por Macau

[dropcap]A[/dropcap]pós um resumo da História da emigração chinesa, regressamos ao episódio com que iniciamos este tema. A Companhia Metropolitana do Rio de Janeiro, a fim de promover a emigração chinesa para o Brasil, começara nos finais de 1892 por abrir uma agência em Hong Kong, mas sendo as leis locais desfavoráveis a uma tal empresa, o local de operação foi transferido para Macau. O vapor alemão Tetartos, fretado para transportar os emigrantes, em Julho de 1893 foi detido em Hong Kong acusado de ter infringido a ordenança da emigração chinesa de 1889, mas foi absolvido pelo júri e solto. Em Setembro de 1893 veio o Tetartos a Macau e a 17 de Outubro partiram os 475 emigrantes chineses, para no Brasil trabalharem na agricultura.

No relatório do ano de 1893 de Mr. Hippisley, comissário da alfândega da Lapa, que viveu durante anos em Macau, este fala da expedição dos emigrantes chineses para o Brasil, o que era de esperar pois, na sua estadia em Macau para receber os emigrantes, fez por repetidas vezes trabalhar o telégrafo para pôr ao corrente o governo chinês. Quando esse relatório aparece no Echo Macaense, já Camilo Pessanha está em Macau.

Apesar de os jornais de Macau considerarem Alfred Hippisley um funcionário chinês zeloso pelos direitos e interesses do governo chinês, logo se atiram contra ele por acharem o relatório tendencioso, “pois coloca uma arma muito apreciada nas mãos dos que declaram guerra à emigração pelo porto de Macau”. Pergunta O Independente, por que motivo não teve o Sr. Hippisley uma só palavra para malsinar a emigração de Hong Kong? Não se faz por lá também? Não é sabido que tem ali dado lugar a alguns dramas dos que outrora se apontavam em Macau? Será mais livre e de menos perigos para os emigrantes?

“Já ninguém se ilude com as declarações de que a emigração por HK é para colónias inglesas, onde os chineses ficam a coberto das leis da humanitária Albion. Levas e levas de cules têm ido para países que não são ingleses, pelo menos por agora, e bem se sabe que Singapura [onde a emigração chinesa será proibida a 24/4/1895], por exemplo, recebe de Hong Kong número considerável de colonos que aí embarcam para onde querem e nas condições que querem, porque os regulamentos de lá o permitem. É como se nós disséssemos que de Macau só podem ir emigrantes chineses para Timor, permitindo que aí os esperassem os navios para os conduzirem ao Brasil, ao Congo, a toda a parte. Não sabe o ex-comissário da Lapa que isto se passa assim na vizinha colónia?

Magoa-nos pois que, tendo sido testemunha do modo como se operou o embarque dos chineses no vapor Tetartos e sabendo portanto que não há em Hong Kong nem mais escrúpulos, nem maiores garantias de liberdade, se revestisse o Sr. Hippisley de uma atitude hostil à emigração pelo porto de Macau, secundando a guerra que as autoridades inglesas nos começaram a fazer, depois que viram baldados os seus esforços para conseguirem realizar pelo seu porto do Sul da China o que lhes parecia feio pelo nosso. O relatório na parte da emigração podia muito bem ter a assinatura de um funcionário inglês. Entende o Sr. Hippisley que Macau não tem o direito de deixar embarcar colonos chineses para o Brasil, porque esta república não tem tratado com a China a esse respeito. O que asseguramos ao Sr. Hippisley e a todo o humanitarismo inglês é que, se a emigração do Tetartos não foi livre, também não a há livre por Hong Kong, nem por nenhum porto chinês, onde os regulamentos não são melhores nem mais escrupulosamente observados do que em Macau.”

Julgamento parcial

As autoridades chinesas protestaram contra esta emigração e as objecções contra ela eram muitas e sérias. É verdade que um tratado negociado entre a China e o Brasil em 1881, nada estipula sobre a emigração. Essa “insuficiência e a necessidade de uma especial convenção suplementar a fim de obter os trabalhadores que se desejam, foram reconhecidas pelo Brasil, que enviou à China para este fim um enviado especial, que se achava em caminho. O Brasil não tinha representante na China, nem a China tinha algum agente acreditado junto ao Brasil, para velar pelos interesses dos emigrantes.” E continuando no Echo Macaense, “O facto da companhia se recusar a esperar pela vinda do Enviado e pela conclusão das negociações que o seu governo julgou necessárias, naturalmente despertou a suspeita sobre a boa-fé.”

Mr. Hippisley insinuava ter a Companhia Metropolitana, ou o seu agente, agido de má-fé ao promover essa emigração para o Brasil e inserir no contrato uma condição que tornava transferível o emigrante e o contrato, de modo que o emigrante perdera a sua personalidade e liberdade e se convertera em coisa ou mercadoria, sujeita a passar à disposição de qualquer indivíduo, sem o consentimento do próprio emigrante. Acusação encapotada de escravatura feita à companhia promotora dessa emigração. O redactor do Echo vem em socorro dessa Companhia argumentando, “nem o governo português permitiria que se abusasse do porto de Macau para fazer semelhante emigração, nem o Brasil que ainda há pouco tempo aboliu a escravatura sem dar compensações aos patrões, consentiria em tal abuso.”

O Sr. Benavides, agente da Companhia Metropolitana do Rio de Janeiro, “mostrou-nos a cópia do contrato celebrado entre ele e os emigrantes e não vimos aí a clausula de que fala Mr. Hippisley. Os emigrantes apenas se obrigavam a trabalhar nos lugares, isto é, nas fazendas, que a Companhia havia de indicar e não se sujeitavam a ser transferidos a um terceiro, como diz Mr. Hippisley. Mesmo o regulamento chinês de emigração de 1886, no seu artigo 22, providencia acerca da distribuição dos emigrantes na sua chegada pelas diversas feitorias ou plantações. É claro que não se pode esperar que cada fazendeiro que precise de braços venha à China pessoalmente para contratar trabalhadores, mas é natural que a associação promotora da emigração distribua os emigrantes entre os diversos fazendeiros que os quiserem empregar, o que está de acordo com o regulamento sancionado pelo próprio governo chinês.”

“Por ventura o artigo 1º do Tratado brasileiro-chinês não garante a liberdade de poderem os chineses emigrarem para o Brasil, bem como o seu bom tratamento aí? Com quanto seja muito de desejar que haja um convénio especial sobre tal assunto, é certo porém que a falta de tal convénio não autoriza a lançar suspeita de má-fé em quem promoveu a emigração franca e legalmente. É certo, porém, que, se os ingleses, que fizeram mil esforços para que essa emigração chinesa para o Brasil se fizesse por via de Hong Kong, chegando até a mandar Mr. Lochart a Londres para trabalhar neste sentido, tivessem conseguido os seus fins, nem o vapor Tetartos teria sido detido em Hong Kong, nem as insinuações de Mr. Hippisley teriam aparecido; e a emigração chinesa para o Brasil seria a operação mais pura e mais justa do mundo. É contra esta parcialidade inqualificável que nos insurgimos e protestamos.”

18 Fev 2019

Questões climáticas na ordem do ano de Porco Terra

[dropcap]O[/dropcap] número 36, Ji Hai (己亥) é o nome do ano no ciclo de 60 anos (60 Jia Zi, 六十甲子), Ano do Porco Terra. Ji (Ki, 己) nos 10 caules celestes (10 Tian Gan 天干) corresponde ao elemento Terra yin e Hai (Hoi, 亥, que na simbologia dos 12 animais está ligado com porco) nos doze ramos terrestres (12 Di Zhi 地支) é Água yin.

Dentro de Hai encontram-se dois caules celestes, ren (água yang) e jia (madeira yang). Como água faz nascer madeira que alimenta o fogo, sob cuja influência ainda nos encontramos, a Água yin, proveniente de hai, não é suficientemente forte para controlar o fogo, o que significa que vai continuar a vaga de incêndios ocorrida em todo o mundo nos últimos anos.

Desde o Verão de 2014 que o mundo está em fogo e a dupla Terra de 2018, colocou o fogo sobre pressão, tendo morrido muita gente famosa e havendo grande turbulência: tremores de terra, vulcões sem esquecer a guerra comercial.

As questões climáticas (e não as de política, nem as de economia) são o foco principal e o grande problema para este ano de 2019 pois, ainda em ciclo de fogo, a água não é suficiente para o acalmar, logo o confronto entre estes dois elementos primordiais, que criam todas as coisas, provocará recordes nunca antes alcançados nos tremores de terra, tsunamis, vulcões e nos grandes tufões.

Mas com o aparecimento do Elemento Água pode-se prever ser um ano melhor do que o anterior pois, esta arrefece a mente e coloca as pessoas a pensar melhor. No entanto, o poder da água apenas chegará após o Verão e continuará pelos próximos dois anos. Assim, ao entrar no ano do Porco Terra parece ter-se chegado a um oásis no deserto.

Mudanças reforçadas

Para os geomantes, quando o ano termina em 9 representa mudança, a preparar o início de um novo ciclo, do renascer e sendo hai, que inclui a estrela Yi Ma, a mudança é redobrada. Por isso, um ano de viagens, para emigrar, mudar de casa e de carreira.

O ano que terminou foi de extremos, sem lugar para ir, parado, tendo tudo ficado por resolver: o comércio entre a China e EUA, as relações destes com a Coreia do Norte, assim como o muro com o México. A administração americana em suspensão, o Brexit, Barcelona e Venezuela, tudo por definir. Prevê-se para 2019 um ano moderado, de cooperação, de paz e o que ficou em suspenso terá uma resolução.

De 4 de Fevereiro a 5 de Março – O começo da Primavera traz o renascer e o aparecimento de boa energia. As Bolsas estão sobre o efeito de grandes oscilações, e pequenos desastres ocorrem.

De 6 de Março a 4 de Abril – Um mês de boa fortuna e artístico, e o que estava planeado começa a dar frutos.

De 5 Abril a 4 de Maio – Sendo este um bom ano para investir em propriedades, de repente algo de imprevisível poderá ocorrer. Ganhar algo, dentro das oscilações, não será facilmente e só se conseguir agarrar no momento certo as voláteis oportunidades.

De 6 de Maio a 5 de Junho – Propício a problemas de estômago, assim como assuntos a terem de ser resolvidos em tribunal. Proteja-se dos perigos que espreitam.

De 6 de Junho a 6 Julho – Probabilidade de desastres com aviões; emoções ocupadas pela tristeza.

De 7 de Junho a 7 de Agosto – Os tufões matam pessoas; fácil sofrer AVC’s. Todo o movimento traz pequenos problemas.

De 8 de Agosto a 7 de Setembro – Mudanças políticas, grandes movimentações bolsistas, mas a fortuna é grande se conseguir agarrar o momento certo, a oportunidade aparece de repente e tão depressa vem, como vai.

De 8 de Setembro a 7 Outubro – Mês de boa fortuna (sorte), bom para o amor, tanto para casados como solteiros.

De 8 de Outubro a 7 de Novembro – Mês de morte. Problemas de coração. Bom culturalmente.

De 8 de Novembro a 6 Dezembro – Um enorme tufão e grandes variações no mercado bolsista. AVC’s levam a vida.

De 7 Dezembro a 5 de Janeiro – Mês difícil para as mulheres que vão dar à luz. Problemas de saúde sobretudo para os seres femininos.

6 de Janeiro a 3 Fevereiro – Normalidade melhor do que especial. A fortuna (sorte) aparece de novo mas, a saúde é tudo.

Sabores do ano

Ji, Terra yin, está ligado ao sentido do paladar, logo complementa-se com Macau, pois a gastronomia do território é património mundial da humanidade. Por outro lado, cuidado com o estômago: coma moderadamente e não seja tentado constantemente por carne vermelha e marisco, a facilmente criar problemas de ácido úrico e AVC’s, que este ano se encontram na primeira linha das hipóteses de ocorrer.

Cuide do seu estilo de vida e ande a pé em vez de usar o carro. Lembre-se estarmos ainda sob a forte influência do Elemento Fogo, conectado com os transportes (como aviões, comboios, carros, metro) e por isso, com grande probabilidade de sofrer acidentes. Existem também grandes hipóteses de ataques terroristas, sendo entre meados de Junho e de Julho o período mais propício para ocorrerem. As manifestações reivindicativas continuarão em força.

Hai representa mudanças e movimento e quando ligado com a saúde está relacionado com os membros inferiores do corpo e assim é aos pés que se deve dar especial atenção, pois estão propensos a terem problemas.

Para quem nasceu entre 4 de Fevereiro e 5 de Maio e entre 8 de Novembro e 6 de Dezembro, deverá tomar especial cuidado com a saúde, sobretudo os elementos do sexo feminino. Sendo um ano cego não é bom para casar, mas para fazer compromissos.

Os próximos três anos, a contar com o de 2019, são anos de água, o que significa para os nascidos no Verão, entre 5 Maio e 7 Agosto, haver muita sorte. Quem nasceu no Inverno, de 8 de Novembro a 3 de Fevereiro, nos próximos três anos deverá ter cuidado com tudo e não contará com grande evolução. Melhor manter seguro o que já tem e não procurar avançar.

As questões climáticas estão nas prioridades de 2019 e a preocupação irá para os catastróficos desastres naturais, pois é um ano de grandes tremores de terra, que atingirão um grau nunca antes alcançado. Haverá nove grandes tufões a causar problemas no Japão, EUA e Taiwan, sendo de esperar três fortes para Macau.
Dentro dos signos dos 12 simbólicos animais, este ano os nativos de dragão são os mais bafejados, enquanto os de serpente e rato devem-se manter calmos e fazer apenas uma vida simples.

Pelas características do porco, animal sensível, sensual, pacífico, trabalhador incansável, com instintos puros, o ser humano poderá contar este ano para desembaraçar situações difíceis que se têm avolumado neste milénio e reabrir as portas da esperança ao mundo, cada vez mais fechado na tecnologia da máquina. Ano para conquistar maturidade.

11 Fev 2019

As previsões para o Ano do Porco Terra

Pelo calendário lunar, 5 de Fevereiro de 2019 foi o primeiro dia do Ano Novo Chinês e começa o ano do Porco Terra, que terminará a 24 de Janeiro de 2020, e como nele não consta a Festa solar da Primavera (LiChun), será um ano cego. Já para o Fengshui, usando o calendário solar, o ano de 2019 começou a 4 de Fevereiro e termina a 3 Fevereiro de 2020, servindo-nos aqui de guia as previsões feitas por Lei Koi Meng (Edward Li).
O Deus do Ano de Porco Terra é o Grande General Xie Tai (谢太), ligado à integridade e honestidade, que viveu durante a dinastia Ming, sendo auspicioso aos nativos de Porco irem ao templo no oitavo dia do primeiro mês lunar, 12 de Fevereiro, oferecer sacrifícios ao Deus do Ano, para por ele ficarem protegidos.
Este ano irá ser melhor do que o anterior. A água na segunda metade do ano vai acalmar o fogo e a esperança renascerá, trazendo uma nova vitalidade ao mundo. As questões climáticas estarão em cima da mesa e sentir-se-á que os olhos dos governantes para aí estarão focados. Mas será que essa atenção não vem demasiado tarde? Não, aos olhos de Buda, tal como aceitou deixar o porco pertencer aos doze animais do zodíaco, apesar de ter chegado depois da hora.

 

Porco – 88 pontos

[dropcap]O[/dropcap]s nativos deste signo encontram-se num ano de dupla mudança. Têm as estrelas da sorte Tian Jie (天解) e Jie Shen (解神) a resolver os problemas, significando que ao precisar de ajuda consegue-a e por isso, só tem de conquistar os seus inimigos e transformá-los em amigos; não se esqueça que o mundo é redondo. Pela poderosa estrela da sorte Ba Zuo (八座), relacionada com a progressão na carreira e a possibilidade de atingir uma posição de comando, terá essa grande hipótese este ano, mas será bom fazer um plano para dez anos e lembrar-se que quanto mais difícil for o ano, mais alto chegará. Sejam quais forem as dificuldades, não desista.

Devido a três más estrelas Jian Feng (剑锋, relacionada com operação clínica), Fu Shi (伏尸, corpo morto, a representar desastre) e Xue Ren (血刃, fio da lâmina com sangue) percebe-se que algo de inesperado ocorrerá, como um desastre ou acidente. Conte ainda ter alguém nas suas costas a dizer mal de si, como indica a má estrela Zhi Bei (指背). Os seus problemas e trabalhos surgem de nunca admitir o que faz de mal, isto é, não dar a mão a torcer, pois não quer perder a face. Este ano experimentará todos os sabores: doce, amargo, salgado, ácido e picante e não importa se gosta ou não, somente quando experimentar todos terá a possibilidade de controlar a sua vida. O Céu indica ser um bom ano para os nativos de porco.

Carreira: Os nativos deste signo quando se focam num objectivo querem rapidamente alcançá-lo e farão tudo para que isso aconteça. Não se esqueça que tem este ano poder para o fazer, mas, coloque o cinto de segurança pois o caminho não será nada fácil.

Amor: Este ano, até no amor vai encontrar situações difíceis, especialmente para os casais. Não tome decisões bruscas e não enfraqueça a relação a ponto de cortar a hipótese de a restabelecer. A Felicidade não está segura, se a perder vai-se arrepender e só perceberá tarde de mais. Para as pessoas singulares nativas de porco, não é ano para investir.

Saúde: Ano susceptível de haver problemas, como uma queda ou operação. Faça análises para antecipar alguma doença que espreita, especialmente para quem nasceu em 1959 e 1983. Equilibre o trabalho e o descanso pois, se ganha na carreira e perde saúde, de nada vale esse ganho.

Dinheiro: Terá diferentes modos de o conseguir, mas com tantas maneiras não saberá como e qual escolher. Contará com dinheiro extra fora do espectável.

1971 – Receberá uma ajuda poderosa, sendo o mais favorecido dentro dos nativos na carreira e no dinheiro. Entrará num novo patamar e é o momento de se fazer notar.

1983 – Mantenha a calma e não se vanglorie para não atrair invejas.

1959 – Encontrará um ano cheio de competição, por isso, antes de ter uma imagem clara da situação não se precipite; conheça-se bem e aos outros para tomar controlo dos acontecimentos. Faça uma festa de aniversário para celebrar os 60 anos e conseguir grande Felicidade.

1947 – Activo nas relações sociais, especial cuidado com o que come pois, os problemas de saúde provêm do estômago.

1995 – Sem grandes problemas no estudo e no trabalho, terá uma boa hipótese de mostrar as suas qualidades, contando com a ajuda de pessoas mais velhas.

Rato 65 pontos

Os nativos de rato devem contar com um ano nada fácil, talvez o pior dos signos para este ano. A má estrela Bing Fu (病符, sinaliza doença) levará a perder confiança em si e a sentir-se sem energia para fazer algo, vazio e fatigado, só com vontade de dormir. Já a má estrela Wang Shen (亡神), por pequenos actos ilegais pode ter problemas na justiça e acabar na prisão, por isso, não pense procurar um caminho fácil e rápido para conseguir algo e não se esqueça de cumprir as regras. Não seja tentado por pequenas coisas que levarão a perder um todo maior. Com a estrela Mo yue (陌越) a amplificar a má estrela Tun Xian (吞陷, significa ser engolido), deverá dizer não às acções arriscadas, em especial quando viaja. Como não gosta de planear, mas de viver o momento, não sendo um ano auspicioso, deve, para evitar problemas, seguir passo a passo.

Apesar de tão más estrelas, não desanime pois conta com a estrela da sorte, Tian Yi Gui Ren, (天乙贵人, ligada à criatividade), a dar-lhe esperança e a visão de espaço para prosseguir.

Carreira: Com a ajuda da criatividade ligada à estrela da sorte, Tian Yi Gui Ren, será reconhecido pelos seus superiores que o ajudarão. Mas primeiro terá de se preparar, estudar mais e valorizar os seus conhecimentos. Também não deve querer mais do que lhe oferecem. Ano para trabalho interior, sem questionar os ganhos e o que consegue.

Amor: Quem já namora continuará nesse patamar; para os casais, se tiver a esposa ou o marido do signo rato, conte com ela/ele a tratar melhor os amigos do que a família, por isso dê-lhe liberdade, sendo essa a melhor forma de manter a relação emocionalmente estável. Para os solteiros continuarão sem par.

Saúde: Com tantas más estrelas deverá relaxar e evitar estar sempre em alta pressão. Não serão só problemas de saúde física, mas também os emocionais a desequilibra-lo. Pense nas coisas boas e esqueça rapidamente as más. Trate de cuidar do fígado, o repositório do humor, para restaurar a alegria no viver e retirá-la/o da depressão. Os nativos nascidos no Outono e no Inverno devem fazer um controlo de saúde e se ficar doente, use roupas de cor vermelha para activar o Elemento Fogo.

Dinheiro: Receberá o salário normal e não terá almoços grátis. Para ganhar mais, terá que trabalhar arduamente e só deve consegui-lo de uma maneira legal e não através de jogos de sorte e azar.

1984 – Criativo, saiba fazer as coisas com boa apresentação, levando a sua carreira a desenvolver-se e a proporcionar-lhe mais dinheiro. Está no topo dos nativos de rato.

1960 – Com imensas ajudas dos amigos, entrará no espaço de semi-reformada/o, conseguindo tempo para fazer o que gosta e gozar a vida. Uma festa de aniversário é necessária para adquirir energias positivas.

1972 – Modere-se na vida nocturna e não faça tantas noitadas. Não entre em excessos e afaste-se de relações complicadas. A sua idade chegou à ponta do nariz e se aí tiver algum sinal, ou alguma ferida antiga, deve ir a 12 de Fevereiro ao templo oferecer sacrifícios ao Deus do Ano e ao seu.

1996 – Com esperança na carreira, deve tentar diferentes caminhos, mas é um ano para trabalhar arduamente, sem pedir ganhos.

1948 – Bom ano para tratar dos problemas de saúde. Manter-se em casa tranquilamente e calma/o é melhor do que vir para a rua. Continue com a sua vida social e não será um ano aborrecido.

Búfalo 68 Pontos

Vai estar bastante ocupado e terá de viajar muito. Parece ter já tudo preparado, mas de repente terá de refazer tudo, pois este ano está sobre a influência da estrela Yi Ma (驿马), mudança. Não é apenas na carreira, mas também na família que ocorrerão grandes mudanças. Se o nativo nasceu no Verão, a mudança servirá para deitar fora as coisas más, mas se nasceu no Outono ou no Inverno precisa de tomar cuidado, pois na saúde aparecerão problemas. Devido à má estrela Tian Gou, (天狗), a representar gastos monetários imprevisíveis, ser enganado por alguém e ter discussões com o seu parceiro, familiar ou de negócio, o nativo sente-se cansado da sua vida. Procura mudança, no emprego, de casa, ou emigrar, mas esses desejos ficam só pelo pensar. Já a má estrela Diao Ke 吊客, relacionada com a morte de um familiar, indica que deve ter mais atenção para com os seus e passar mais tempo com eles. Contará com a estrela da sorte Tai Ji Gui Ren, (太极贵人), que significa ter alguém a ajudá-lo, mas não será o suficiente. O defeito dos nativos de búfalo é serem obstinados e facilmente continuarem a caminhar por uma via cada vez mais estreita até ficarem sem possibilidade de prosseguir e terem de regressar. Por isso, terá de empreender uma viagem para encontrar um novo caminho e assim resolver o problema.

Carreira: Os nativos deste signo trabalham sempre arduamente e este ano, em especial, terá de fazer o trabalho contando apenas consigo e não depender dos outros. Haverá muitas coisas para fazer e tomar conta, mas no fim parece que esteve a perder tempo e energia, pois nada conseguiu. Lembre-se que deve eliminar a sua teimosia.

Amor: Para os solteiros, este ano é como um lago sem água, por isso deverá colocar ramos de pessegueiros na parte Noroeste da sua casa. Facilmente encontrará entre estrangeiros novos amigos e namoradas/os durante as suas viagens.

Saúde: Ano, nem bom nem mau. A maior parte dos problemas serão emocionais e por isso aproveite reuniões com os amigos e familiares para deitar fora a pressão e assim relaxar. Os nascidos no Outono e no Inverno deverão dar atenção aos problemas de bexiga e do intestino grosso.

Dinheiro: Precisará de arranjar dinheiro para pagar as suas obrigações dos já investimentos já em curso e para tal, terá de arranjar mais trabalhos. Assim, não é ano de amealhar dinheiro e se não o perder já é uma boa notícia.

1985 – As diferentes vias para desenvolver a carreira, não lhe trazem grandes resultados, no entanto, continuará a ter retorno fora do seu emprego. Boa conversação e boa apresentação atrai os outros.

1961 – Contará com pessoas a propor-lhe novos negócios, que lhe darão grande trabalho e enormes gastos, acontecendo por vezes gastar mais do que ganha. Por isso, antes de os aceitar deve estudar bem os processos, para evitar perder tempo e dinheiro.

1973 – Facilmente terá discussões e problemas criados nas suas costas por amigos, com rumores contra si e por isso, não é ano de fazer planos. Bom para pensar na saúde e ganhar estabilidade emocional.

1949 – Ano para convívio com os amigos e empreender viagens com eles. Deverá ter cuidado com os transportes que usa e com as questões financeiras. Será bom fazer uma festa de aniversário.

1997 – Sob pressão no trabalho e na carreira, deverá ajustar a sua vida para conseguir tempo para relaxar. Evite tentar ganhar migalhas, quando vai perder muito. Terá a mente clara sobre o seu caminho e como deve mantê-lo seguro.

Tigre 92 pontos

Os nativos de tigre, signo que combina com o de porco, vão ter um bom ano sempre sorridente e tudo poderá ser negociado. Mas também devido a essa relação, serão afectados por inimigos. Mesmo assim, este ano estará nos três signos mais bafejados do ano. Com três estrelas da sorte, o ano não contará com complicações, conseguindo realizar tudo o que quiser, pois terá Tian De (天德) e Fu Xing (福星) a proteger e limpar o caminho e Fu De (福德), a dar segurança e a trazer riqueza material. O tigre adquire asas e onde quer que esteja será o foco de atenção e amizade. Já as más estrelas, Juan She (卷舌, alguém a falar mal de si), Jie Sha (劫煞) e Jiao Sha (绞 煞), colocam os nativos propensos a acidentes e a sofrer estragos; pormenores que não afectam a sua boa sorte. Se quiser ajudar os outros, o melhor é esquecer as afirmações negativas e olhar positivamente para eles. Elogiar é o melhor caminho.

Carreira: Com um ano forte, terá apoio de muita gente e grande quantidade de patrocinadores. Importante é fazer, pois ganhará sempre. Será bem-vindo nas relações sociais e a sua boa reputação e posição poderosa (política e social), levará a que alcance um nível mais alto e a conseguir recuperar tudo o que perdeu no ano anterior.

Amor: Dentro dos seis signos que se combinam, os nativos de tigre tornam-se muito simpáticos para quem com eles convive. Parabéns aos solteiros, pois é ano de encontrar a pessoa indicada para a sua vida. Deve acreditar na sua intuição e não seguir o que os amigos e a família dizem. Para os casais, é boa altura para ter um filho.

Saúde: Impecável para os nascidos no Verão, mas para quem nasceu no Outono e Inverno facilmente terá problemas de colesterol e de bexiga. No entanto, sem grandes maleitas.

Dinheiro: Com uma boa carreira, dinheiro seguramente não faltará.

1962 – A sua posição e fama levarão a atingir um novo patamar.

1974 – Ano criativo, com dinheiro a chegar por todos os lados, poderá rir desde o início até ao fim.

1950 – Activas relações sociais. Com base no que já tem, poderá ainda desenvolver uma nova Primavera.

1986 – Cheio de energia, quer experimentar tudo. Lembre-se apenas de uma coisa, nada de forte e duradouro se alcança rapidamente. Não é apenas com um passo que se atinge o Céu.

1998 – Bom ano para preparar o que virá. Necessita de aprender como estar na vida social para conseguir desenvolver as boas relações e criar uma base maior, para ter mais possibilidades.

Coelho 72 pontos

Coelho combina com Cabra e Porco e como este ano o signo do porco tem sobre si o Deus do Ano, terão os nativos de Coelho boas relações e apoio dos seus superiores. Mas conte com a influência de uma das mais fortes más estrelas, Bai Hu (白虎, Tigre Branco) cujos dois significados representam, o seu patrão não combina consigo e um ser feminino traz-lhe problemas. Por uma outra má estrela, Zhi Bei (指背) sentirá pelas costas um dedo acusador e com rumores a falar mal de si ao seu patrão, e pode ser levado a tribunal. Assim, se por um lado terá os amigos a ajudar, também haverá pessoas a tentar denegri-lo, levando a que não possa dar um passo, nem para a frente, nem para trás.

Carreira: Comparando com a excelência do ano anterior, neste, deverá resguardar-se e manter-se num lugar seguro, sem dar muita nas vistas; trabalhe mais e fale menos. Evite dar qualquer palavra de garantia e em grupo não se chegue à frente para ser o representante. Antes de tomar alguma iniciativa deve estudar e planear com muito detalhe e ter a atenção todos os pormenores. É como realizar um mau lance numa partida de xadrez cujas repercussões o acompanharão até ao fim do jogo. Por isso, controle bem o que já tem e não tente conseguir mais e em especial, não arranje relações complicadas com mulheres.

Amor: Facilmente atrai os outros e como um ditado chinês diz, os coelhos normalmente têm nove casas e escolhem-nas pelo olfacto. Mas este ano poderão aparecer complicações com pessoas que o amam e ao não serem correspondidas irão trazer-lhe grandes e graves problemas com chantagens emocionais. Essas difíceis relações emocionais são devidas à estrela do Tigre Branco, a afectar em especial os nascidos em 1987 e 1999. Assim deverá ter muito cuidado. Os casais deverão pensar ter mais um filho ou, fazer uma nova viagem de lua-de-mel.

Saúde: Este ano o mais importante é cuidar da sua saúde. Os nascidos na Primavera estarão expostos a maiores perigos. O ser feminino nativo de coelho, se não for pelo nascimento de um filho poderá ter que fazer uma operação cirúrgica. Para os nativos masculinos, muito cuidado ao conduzir e evite qualquer discussão, pois trará problemas. As pessoas idosas deverão dar atenção à bexiga e próstata.

Dinheiro: A maneira de conseguir dinheiro deverá ser a normal e poderá ter boas surpresas se fizer algo por fora, mas para ter sucesso, não se vanglorie, nem anuncie a sua glória alto e bom som.

1951 – Conseguirá ter ajuda na carreira e em questões monetárias de uma superpoderosa pessoa, mas lembre-se, o caminho do meio é o mais compensador e os excessos são prejudiciais.

1963 – Terá na carreira um cargo de posição diferente, mas conte com falatórios e disputas. Por isso, coloque-se numa posição de sombra, sem atrair atenções. Felicidade deve ser o objectivo e o nada acontecer é uma boa notícia.

1975 – Deve estudar e aprender, o que lhe dará novas hipóteses na carreira e tendo a possibilidade de ganhar dinheiro rapidamente, deve ter cuidado. Mantenha-se firme pois não terá um ombro amigo para se apoiar.

1987 – O ser feminino deve ter especial cuidado com a saúde, pois é ano de grandes oscilações. Mesmo com imensas ideias para a sua carreira, deverá trabalhar e manter-se calada/o e não entrar em disputas com os outros.

1999 – Na sua vida social mostre-se modesto e com vontade de aprender; seja respeitador e educado.

Dragão 95 pontos

No topo de todos os signos. Os nativos deste signo no ano passado encontravam-se em oposição ao Deus do Ano, e não importa se foi um bom, ou mau ano, de certeza houve mudanças. Neste, estão no topo. O dragão sobe ao Céu, pois é o primeiro e mais bafejado dos signos.

As estrelas da sorte Zi Wei (紫微) e Long De (龙德) representam conquistar poder e ser promovido, fazendo-o progredir na carreira e assim, com a ajuda destas duas poderosas estrelas, ascenderá ao lugar de chefia.

Haverá na sua vida uma completa mudança e uma rápida evolução. Na parte emocional com a ajuda da estrela da sorte Hong Luan (红鸾, Sorte no Amor) conseguirá os frutos não só de relações harmoniosas, mas encontrar o parceiro para casar e na carreira vai chegar a um novo patamar. Este é o ano perfeito da sua vida.
Mas, quanto maior é a árvore mais o vento a fustiga e por isso, deve contar ter, devido à má estrela Bao Bai (暴败, perdedor, falhar), mudanças que não pode controlar, servindo tal para fortalecer a paciência e conseguir perdoar. Devido à incontrolável má estrela Tian E (天厄, Catástrofes provenientes do Céu) deve evitar lugares perigosos e desportos de alto risco.

Com tão grande e rápida progressão na sua vida terá de contar com a inveja dos outros e assim sendo, tenha atenção aos rumores que contra si se criam, proporcionados pela má estrela Wang Shen (亡神). É difícil atingir o lugar, mas mais difícil é segurá-lo. Para este ano, o trabalho é aprender a manter-se na posição de topo, e isso exige-lhe um profundo conhecimento e muito estudo.

Carreira: Tudo o que ao longo dos tempos andou a preparar, chegou o momento de o mostrar, sem precisar de pensar muito e não serão os pequeninos problemas a criar obstáculos, pois facilmente se desenvencilha deles. É ano para chegar ao lugar que lhe pertence, pois tem habilitações e poder para atingir tal; não duvide de si, vá em frente!

Amor: Mesmo sendo um ano cego, isto é sem a Festa da Primavera, não haverá problemas para os solteiros pois a estrela da sorte e do amor Hong Luan (红鸾) trará a pessoa certa para se casar. A esposa para o ser masculino, representa dinheiro e assim ao contrair matrimónio contará com dinheiro da sorte. Para o ser feminino, ao casar-se o marido ajuda-a a promover a sua carreira. Ano de harmonia para os casais.

Saúde: Evite trabalhar arduamente e pratique desporto. Os nascidos no Outono e Inverno devem tomar cuidado com a saúde nos meses de Março e Abril.

Dinheiro: Não precisa de pensar como conseguir dinheiro, mas como o investir.

1964 – Este ano voará até ao Céu. É um ano afortunado.

1952 – Será dono da oficina e reconhecido com a medalha de honra. Ano de confirmação das suas capacidades, com a riqueza a manter-se.

1976 – Vai-se tornar patrão na sua área de trabalho. Claro que tudo começa com árduo esforço, que servirá para desdobrar o que consegue.

1988 – Irá evoluir passo a passo, mas o futuro é promissor. Ano para ampliar o seu grupo e tornar as fundações mais estáveis e seguras.

2000 – Com bom aproveitamento escolar, pode investir no desenvolvimento de novas áreas de conhecimento e capacidades; procure novas experiências.

Serpente 70 pontos

No ano do Porco, a serpente está a colidir com o Deus do Ano, o que traz grandes mudanças à vida dos nativos deste signo para os próximos doze anos. Não conta com estrelas da sorte a ajudar, significando ser um ano trabalhoso e cansativo. Precisa de se preparar para conseguir aguentar o embate, pois não faltarão más estrelas a influenciar o ano.

A estrela Yi Ma (驿马, mudança) combinada com a oposição ao Deus do Ano amplia as mudanças e assim, deverá contar com grandes transformações, a definir os próximos doze anos da sua vida. Mudar de casa, de emprego, ter de emigrar e todas estas importantes decisões deverão ser cuidadosamente pensadas, pois ditarão o que virá. Com características de perspicácia e adaptativos, os nativos conseguem sempre encontrar nas mudanças novas oportunidades. Se nasceu no Verão, essas mudanças dar-lhe-ão uma nova energia e reforçarão as suas qualidades. Mas se nasceu no Inverno, deve tomar cuidado e dar especial atenção à saúde, o mais importante que tudo o resto.

As más estrelas Da Hao (大耗, gastar uma fortuna) e Lan Gan (阑干, barreira, vedação) levam a que se quiser fazer algo para a sua carreira deve ter muito cuidado pois só lhe trará prejuízo e à sua frente só encontrará problemas. As más estrelas Yue Kong (月空, mês vazio) e Po Sui (破碎, separação) colocam-no a não conseguir pensar bem durante as decisões e a não ter uma visão clara do momento. Já as más estrelas Yang Ren (羊刃, operação cirúrgica com sangue) e Pi Tou (披头, deixar solto o cabelo) avisam para cuidar da saúde, a sua e a da sua família, e evitar acções de alto risco.

Carreira: Não desanime pelas inúmeras más estrelas. Talvez seja a grande hipótese de abrandar a velocidade e arranjar espaço para estudar e ganhar experiência, conseguindo assim reorganizar-se para o embate dos próximos doze anos.

Amor: Por ser um ano emocional instável, entre os casais haverá discussões constantes, logo, lembre-se de ter mais paciência e evitar chegar a um ponto de ruptura, sem possibilidade de voltar para atrás. Os solteiros, ao querer controlar, mais rapidamente perdem, logo siga o yuan fen (缘份, casuais encontros do destino) nas suas relações.

Saúde: A 12 de Fevereiro deve, sem sombra de dúvida, ir ao Templo oferecer sacrifícios ao Deus do Ano. Cautela na condução e seja calmo e paciente. Em caso de precisar de ser submetido a uma operação cirúrgica, não tenha medo e vá com fé.

Dinheiro: O que paga é muito mais do que recebe e terá de gastar as suas poupanças; logo, ao assistir às perdas e ao ver o dinheiro a voar da sua conta deve suspender imediatamente os investimentos e cortar nos gastos.

1965 – Comparado com todos os nativos deste signo, não estará muito mal pois contará com a ajuda de outras pessoas para ultrapassar este período difícil. Gastará mais dinheiro do que o normal. Seja paciente e escute mais os outros.

1953 – Cuidado com a saúde. O trabalho árduo pode trazer-lhe o oposto que deseja. Deverá resolver as suas relações sociais, reparando as disputas e conflitos que facilmente ocorrerão este ano.

1977 – Ano de muita acção. Altura para experimentar novas coisas, mas apenas em lugares seguros. Controle o seu temperamento.

1989 – Vida social activa, que apenas o ajudará a consolidar as suas bases. Cautela na condução para evitar acidentes. Se encontrar algo que não consegue resolver, peça ajuda e não tente resolver por si próprio.

1941 – Cuide da saúde. Não se comprometa este ano a dar garantias aos outros.

2001 – Vai-se confrontar com o ter de escolher. Para ganhar novos campos de actuação converse com outras pessoas de diferentes áreas, evitando ficar num caminho estreito e sem saídas.

Cavalo 75 pontos

A simpática estrela da sorte Yue De (月德) levará os nativos a serem carinhosos e a tomar conta dos que à sua volta estão. Também a sua disposição para este ano é de calma, de bondade e harmonia, sem o habitual temperamento impulsivo que o caracteriza. O trabalho voluntário, caritativo e filantrópico, trará boa energia e sorte e complementando com a estrela da sorte Lu Shen (禄神), propiciadora de um bom rendimento e boas relações públicas, terá diferentes vias para conseguir dinheiro e espera-o uma vida confortável.

Normalmente é encantador e atraente, mas a má estrela Liu Xia (流霞), poderá levá-lo a relacionamentos rápidos e quentes. Precisa de ter cuidado para não se queimar. Devido à má estrela Xiao Hao (小耗), irá gastar algum dinheiro e por isso, antes que tal aconteça, deve primeiro oferecer algum para obras de caridade, e anular a má influência desta estrela. As más estrelas Jie Sha (劫煞) e Shi Fu (死符) representam acidentes, ou algo a sair de controlo; assim evite viajar em zonas de direcção Sudoeste e Nordeste, sobretudo para os nativos nascidos no Inverno.

Carreira: Tem oportunidade de a desenvolver e para isso, foque-se nos negócios normais de agrado geral e não invista em novidades esquisitas, como novos artigos ainda não consolidados pelo gosto popular. Com inúmeras ideias para novos projectos, não esqueça ser este um ano apenas para planear e preparar o seguinte.

Amor: Os nativos solteiros não terão de se preocupar, o problema está nas muitas e variadas escolhas. Em Março e Outubro poderá encontrar a pessoa correcta para iniciar relações afectivas. Os nascidos em 2002 deverão tomar cuidado e proteger-se de superficiais relacionamentos amorosos. Já os casais deverão cooperar e transitar o bom relacionamento para outros campos, de negócios e carreira.

Saúde: Este ano poderá surgir uma doença que dentro de si se desenvolvia, mas que desconhecia. Os nativos nascidos no Outono e Inverno devem controlar o que comem. Agosto e Dezembro são meses de grande risco e quando fizer viagens e conduzir, tenha muito cuidado. Se ficar doente, coloque seis e oito moedas de cobre a Sudoeste e a Nordeste da casa.

Dinheiro: Não precisa de trabalhar arduamente, pois o que recebe fica inalterável. Despenda dinheiro com a família e amigos, é o estilo de vida para este ano e assim harmoniza o seu estar.

1954 – Diferentes viagens de negócios aparecerão a trazer bons rendimentos.

1966 – Parece um cavalo voador, não importa se no pensamento ou no trabalho. Conseguirá atingir os seus propósitos. Apesar do trabalho ser árduo, fá-lo com prazer e por isso, com ele se diverte e não lhe pesa nada.

1978 – Cheio de competição, faça passo a passo o caminho. O ser masculino deve evitar relacionamentos extraconjugais e por isso, é bom realizar uma festa de celebração para firmar o seu casamento.

1990 – Recebe encorajamento e aprovação de toda a gente e o seu caminho está em completa transformação, em renovação da sua pessoa. Se trabalhar arduamente conseguirá ajuda para atingir um novo patamar.

2002 – Terá riqueza material e hipóteses de se tornar um líder na sua classe, mas não se deixe tentar e proteja-se de relacionamentos amorosos superficiais.

Cabra 90 pontos

Dentro dos três signos que combinam (Coelho, Cabra, Porco), os nativos de Cabra entram num ano harmonioso e tranquilo. A estrela da sorte San Tai (三台, quem tem o Carimbo) é excelente para fortalecer a carreira, levando a um novo e mais alto patamar. Por isso precisa de se preocupar com a inveja de muitos, devido à sua rápida e grande ascensão. As três estrelas da sorte, Fu Xing (福星, protectora a limpar o caminho), Tai Ji Gui Ren, (太极贵人, alguém a ajudar) e An Lu (暗禄, dinheiro sombra, ou da sorte), representam ter muita gente a patrocinar e a ajudá-lo. O dinheiro virá ter consigo sem ter que fazer algo.

Pelas más estrelas, Wu Gui (五鬼, Cinco fantasmas, pessoas a fazerem-lhe mal pelas costas), Zhi Bei (指背), Guan Fu (官符, cuidado e não coloque como garantia a sua palavra) e Fei Fu (飞符), a inveja das pessoas causam-lhe problemas e trazem armadilhas, desconcentrando-o dos seus propósitos. Claro, em tão alto lugar deve contar haver setas virada contra si em cada passo que dá. Não deve perder o discernimento e ter muito cuidado com as palavras, a fim de evitar dar trunfos aos que se transformaram em seus inimigos. Já a má estrela Tian Ku (天哭) trará algo que o leva a ficar muito triste.

Carreira: Mesmo sem precisar de ajuda exterior, este ano os nativos conseguirão solucionar os múltiplos problemas surgidos e ficar à frente. Mas quanto mais alto, mais frio, pois não tem a companhia dos outros, significando ter por vezes de fazer uma pausa e esperar pelos que deixou para trás, até estes o alcançarem, para em conjunto reatar o caminho. Este ano ao assinar um contrato tome cuidado para evitar problemas na justiça.

Amor: Os solteiros não devem esperar muito e será fácil encontrar alguém a colocar obstáculos entre os casais ou namorados. Mantenha-se com a mente clara e deslumbre o rosto que se esconde por detrás das máscaras. Terá de aprender a guardar o tesouro que tem e não o desbaratar com situações conflituosas.

Saúde: Como está num ano pleno de actividade, gostando de viagens e de fazer exercícios físicos, deverá tomar cuidado com os acidentes. Com um temperamento emocional, ao ser confrontado com relações complicadas entra facilmente em depressão. Para as nativas femininas este ano pode ter que realizar uma operação cirúrgica e por isso, evite as direcções Sudoeste e Nordeste, sendo Noroeste a auspiciosa direcção.

Dinheiro: Não precisa de se preocupar.

1955 – Bom ano para a carreira e dinheiro. Se for professor/a vai tornar-se famoso/a na disciplina que lecciona e terá uma condecoração.

1967 – Os seus planos e ideias conseguem vingar este ano, mas debaixo de pressão precisa de harmonizar a sua vida.

1943 – Mesmo na reforma, vai-se tornar consultor/a. Oferecer ideias para as pessoas realizarem a acção, é melhor do que provar e ser você mesmo a fazer. Cuide da saúde.

1979 – No mesmo patamar encontrará imensa competição e precisa de separar as pessoas entre as que poderão ajudar e as interessadas apenas em usurpar. Cuide da saúde dos seus familiares. Necessário festejar o aniversário.

1991 – Criativo e com ajudas, consegue atingir o que quiser. Terá um ano feliz e cheio de riqueza.

Macaco 85 pontos

Os nativos deste signo este ano são magoados pelo Deus do Ano, significando ter perdas, ou em dinheiro, ou na saúde, ou na carreira, mas tal não se deve a si. São os outros a levá-lo a ficar envolvido e a ser afectado, no entanto, sem grandes problemas pois, para os solucionar contará com muitas estrelas da sorte. Primeiro, a súper estrela Tai Yin (太阴, boas relações sociais) e a estrela da sorte Di Jie (地解, tudo pode ser discutido e negociado) levam a solucionar os problemas. Com a protecção das quatro estrelas da sorte, Jin Yu Lu (金舆禄, grande fortuna), Ci Guan (词馆, perfeitas palavras), Guo Yin Gui Ren (国印贵人, alto oficial a ajudar) e Tian Yi Gui Ren, (天乙贵人, criatividade), a aguçar a sua inteligência e a torná-lo poderoso na carreira terá bases, como dinheiro, para o que aí vem.

As más estrelas, Gu Chen (孤辰, estar sozinho) e Wang Shen (亡神, pequenos actos ilegais a causar problemas e perder algo de si), levam os nativos a poder ter processos na justiça; por isso, quando desenvolver alguma actividade seja delicado e evite discussões. Já as más estrelas, Guan Suo (贯索) e Gou Jiao (勾绞, armadilha) representam obstrução, que pode levar a acabar com os seus planos.

Carreira: Os nativos prepararam-se para o que aí vem, mas ocorrerá algo de imprevisto e assim, importante é serem decididos na resolução a tomar para resolver os problemas. Prefira uma acção com delicadeza, a uma tomada forte de posição. No entanto, não importa o que aparece, o ano traz múltiplas hipóteses de ter sucesso de uma maneira graciosa e diferente.

Amor: Afectados pela má estrela Gu Chen, os nativos, orgulhosos de si mesmos, colocar-se-ão à parte, vaidosos e distantes dos outros. Facilmente entram em discussão. Deverá mostrar aos outros empatia perante as dificuldades que atravessam e simpaticamente dar-lhes reconhecimento e compensar-lhes o esforço, ajudando-os a ultrapassar esse mau momento.

Saúde: Cuidado com os acidentes, como quedas. Ao ser confrontado com a justiça, emocionalmente encontra-se sob pressão e por isso, deverá no início do ano ir ao Templo fazer sacrifícios ao Deus do Ano. Como vai trabalhar arduamente, ao deparar-se com problemas que não consegue resolver é melhor sair e empreender uma pequena viagem, ou fazer exercícios físicos para clarificar a sua mente. Mais convívio social traz-lhe mais saúde, tanto física como emocional.

Dinheiro: Não se esqueça que não deve trabalhar isoladamente e por isso é fundamental criar um grupo, mas terá que tomar conta de tudo. Ano de árduo trabalho para poder receber bons proveitos.

1992 – Conseguirá ser promovido e ter mais dinheiro. Irá dominar na área da sua carreira. Festeje o seu aniversário para lhe trazer mais sorte.

1980 – Contará com inúmeros apoios e pessoas a ajudar, aparecendo muitas mais a gostar de si. Bom ano para provar novas coisas, aprender imenso e os conhecimentos assim adquiridos dão-lhe a possibilidade de se mostrar.

1968 – Vida social activa. A sua carreira deverá seguir numa base estável para ter grande progresso. Quanto mais duro trabalhar, mais rendimentos terá.

1956 – Um novo emprego aparecerá e seguirá numa nova direcção. Trabalhará arduamente e por isso, deve interromper trabalho com lazer para o excesso de trabalho não lhe retirar saúde.

1944 – Continua super activo, com uma mente clara. Terá um bom retorno monetário.

Galo 78 pontos

A sua energia da sorte vai ser menor do que a do ano anterior. A estrela Yi Ma (驿马), a trazer mudança, leva os nativos a estar sempre em viagem e fazerem a casa em muitos locais, ou a mudar de casa, ou de emprego. São mudanças sem fim e tão ocupado estará que, nem terá tempo para respirar. A estrela da sorte Di Jie (地解, Terra e abrir o cadeado) leva os problemas a ficarem solucionados. Devido às estrelas da sorte, Wen Chang (文昌, Deus dos Letrados) e Tian Chu (天厨, Cozinha do Céu), os nativos adorarão estudar e saborear boa comida, levando-os a aprender tudo o que está relacionado com cozinhar. Se os nativos gostarem de viajar, praticar desporto e estudar, sobretudo assuntos sobre gastronomia, terão um ano relaxante.

As más estrelas Gu Chen (孤辰, estar sozinho), Di Sang (地丧) e Sang Men (丧门), representam perda de confiança no que vem e colocar-se em alta pressão, proveniente de si e não do exterior. Facilmente se fecha dentro si e cai em ondas emocionais de altos e baixos. Lembre-se, o Paraíso e o Inferno estão apenas no seu pensar.

Carreira: Ano de mudança, logo necessita de gastar tempo a torná-las apropriadas para si. A sua carreira encontra-se numa situação desfavorável, por isso, deverá manter-se calmo, trabalhar arduamente sem se preocupar com os resultados, mas invista no estudo para encontrar novas soluções. O trabalho ocupa-o, mas não se esqueça de dar espaço a assuntos do coração.

Amor: Devido à má estrela Gu Chen e Yi Ma, as relações encontram-se com grandes flutuações, significando que, se pode manter o que tem, não está mal, mas não procure ir mais longe. Os nativos devem entender existir sempre dois lados e por isso, não seja teimoso em só aceitar a sua posição. Há um dizer que este ano se coaduna com os nativos de Galo: se planear fazer crescer uma flor, ela não floresce, mas, ao atirá-la fora, a semente crescerá e tornar-se-á numa bonita flor.

Saúde: Com um ano de trabalho árduo, trate de cuidar do que tem e não baixe a guarda sobre os pequenos problemas de saúde, para que estes não se transformem em casos sérios. Cuide igualmente da saúde da sua família. Ano emocionalmente forte, cuidado para não entrar em depressão e quando sentir estar nas cercanias, procure novos interesses para dela desviar a atenção.

Dinheiro: Saúde é a sua riqueza. Num ano em que não se encontra bafejado pela sorte, coloque a sua vida relaxada e confortável; esse é o caminho.

1981 – Seguindo o caminho da carreira do ano transacto, continuará a avançar e a ter apoio. É o nativo com mais sorte do signo do Galo.

1957 – Não terá muitos problemas com a carreira, pois aparecem-lhe novos projectos para prosseguir. Estará em competição e terá um trabalho árduo.

1969 – No trabalho, precisa de tratar de tudo sozinho, o que o coloca sob grande pressão, mas entrará numa nova e importante etapa da vida. Muito cuidado com a saúde; talvez tenha de ser operado. Festeje o seu aniversário para conseguir boas energias.

1993 – Ano para criar bases. Deve manter-se calmo e falar pouco, ou melhor, mantenha-se em silêncio. Evite correr grandes riscos em desportos radicais.

1945 – Ano relaxante e confortável; irá desenvolver novos e interessantes projectos e conseguirá apoios.

Cão 82 pontos

Os nativos deste signo continuarão com a sorte a favorecê-los. A yang super estrela da sorte Tai Yang (太阳) coloca-o com muito boa energia, que deita fora a má sorte, significando tranquilidade e solução para todos os problemas. Já a auspiciosa super estrela Tian Xi (天喜, Virtude Celeste) traz-lhe um bom relacionamento com diferentes estratos sociais e coloca-o cheio de confiança no que está para vir. Grandes hipóteses de sucesso, tanto na carreira como no amor.

A estrela da sorte Tai Ji Gui Ren, (太极贵人, alguém a ajudá-lo) permitirá estender com mais força as suas redes de amizade e isto dar-lhe-á uma boa plataforma para o futuro. Assim, para este ano, os nativos apenas precisam de abrir o coração e sentir o ano de sucesso. Terá grande orgulho de si mesmo.

A má estrela Gu Chen (孤辰, estar sozinho) aparece e facilmente o leva a entrar em discussões, sobretudo entre os casais e os nativos masculinos devem ter cuidado com o seu temperamento impulsivo. Já a má estrela Tian Kong (天空, Vazio Céu) coloca a sua mente ocupada com incertezas e cheia de dúvidas e preocupações, levando-o facilmente a mudar de ideias. Já a má estrela Jie Sha (劫煞) representa acidentes e o aparecimento de problemas inesperados.

Carreira: Ano cheio de brilho e não só com muitas ajudas, mas também com muitas pessoas a cooperar consigo. Mostre amor e caridade pelo próximo e o que conseguir dessas alianças deve oferecer de retorno. Assim fica fora de problemas e amacia os seus inimigos, que lhe ganham respeito.

Amor: As boas estrelas Tai Yang e Tian Xi indicam haver grandes hipóteses de os solteiros encontrarem a pessoa certa e casarem, sendo os meses propícios para tal Junho e Dezembro. Os casais deverão fazer uma grande festa. Os nascidos em 1982, cheios de aventuras amorosas terão grandes problemas, precisando de aprender a dizer não.

Saúde: Pleno de energia e muito activo, fora de portas jogue sempre pelo seguro. Quanto mais actividade, mais saúde terá e deve evitar ficar sozinho em casa, especialmente para quem nasceu no Outono e Inverno. Vá apanhar sol e goze a vida em convívio com os outros.

Dinheiro: O que consegue ganhar não é só dinheiro, mas também estatuto e reputação.

1982 – De repente torna-se famoso/a e conseguirá uma posição de poder. Na carreira e dinheiro é o mais bafejado dentro dos nativos do signo de Cão.

1970 – Com uma boa rede de amizades, continuará o seu progresso e fama a evoluir para outro patamar; por isso continue no seu processo criativo. Este é um ano memorável para a sua vida.

1994 – Bom ano para se apresentar. Receberá dinheiro, tanto pela via normal como pela sorte.

1958 – A orientação para este ano é manter o que tem, pois estará sobre competição acérrima. Vá devagar e evite evoluções rápidas.

1946 – Activo e cheio de poder, cuidado para não ir além do que pode controlar. Terá bom desenvolvimento se seguir passo a passo e guarde tempo para relaxar.

10 Fev 2019

Emigração chinesa sob monopólio britânico

[dropcap]A[/dropcap]ntes de ocorrer a proibição da emigração contratada por Macau, marcada pelo Governador Visconde de S. Januário para 27 de Março de 1874, nos três primeiros meses desse ano embarcaram colonos, não para Havana, mas para o Peru. Seguiram 1905 chineses para Callao de Lima, a Superintendência da emigração repatriou 371 e 127 colonos foram retirados pelos parentes. Os corretores, já sem conseguir com facilidade colocar nas entrevistas substitutos dos culis raptados e assim iludir as autoridades da emigração, somaram a cifra de 17 punidos por abusos contra os regulamentos e 432 colonos preferiram ficar por Macau, em vez de serem repatriados.

Até à proibição do tráfico de cules, “calcula-se terem saído de Macau nesse quarto de século 500 mil cules, o que rendeu enormes fortunas”, refere A. Corvo.

“Hong-Kong felicitou Macau pela suspensão dos abusos e calamidades e, tendo assegurado o controlo exclusivo do tráfico, dispensou as drásticas regulamentações, que foram então substituídas por uma ordenança consolidada. A partir daí emigrantes chineses contratados e baratos foram praticamente monopolizados para o desenvolvimento das colónias britânicos perante a perspectiva de Macau retomar o tráfico na mesma linha que Hong-Kong, mas com estalagens para cules em vez de barracões. Enquanto o cônsul britânico em Cantão comunicava o facto ao seu ministro em Pequim, o vice-rei de Cantão enviou um funcionário militar a Macau com a ameaça de que, se os barracões fossem restabelecidos como estalagens, enviaria canhoneiras e tropas com ordens para destruir tais estalagens e trazer para Cantão as pessoas implicadas, para castigo – ao que o Visconde de São Januário, Governador de Macau, respondeu sarcasticamente que, em caso de tal eventualidade, as tropas portuguesas cooperariam na supressão do ilícito tráfico. Espantosamente, todos os clamores humanitários cessaram por completo, como por magia, com a completa supressão do odioso tráfico em Macau, como se fosse apenas ali que os cules passavam mal…”, segundo Montalto de Jesus (MJ), que refere, “A hipocrisia não podia esconder uma verdade evidente. Independentemente dos abusos no tráfico de cules de Hong-Kong, posteriormente caracterizado também por frequentes raptos de mulheres, podia-se igualmente ter averiguado se os plantadores cubanos, cujo interesse era manter os cules saudáveis, conseguiriam ser mais empedernidos do que os senhorios de Hong-Kong, cujo sistema de rendas exorbitantes levava a classe dos cules a viver como manadas, em abominavelmente superlotadas e insalubres espeluncas, viveiros dos subsequentes horrores das pragas; e se a escravidão nas plantações de cana-de-açúcar das Antilhas, ou mesmo nos depósitos de guano das Ilhas Chincha, era mais deplorável do que a ruína física e moral infligida pelos antros de ópio de Hong-Kong, ou mais lastimável que o trabalho, próprio de mulas, dos cules das cadeirinhas, de vida curta, que arfando e transpirando transportavam a sua carga humana pelos montes de Hong-Kong acima …”

Tratado com a China

Após a proibição da emigração contratada por Macau, “a Espanha procurou defender os seus direitos, obtidos por tratado, de contratar trabalhadores chineses para as colónias espanholas e a China foi aconselhada a reconsiderar cuidadosamente o assunto”, segundo MJ. O Governo Qing, para substituir a Convenção de 1866, celebrou em 1874 convenções com o Peru (independente em 1826, que entre 1849 e 1874 recebera 90 mil cules) e com a Espanha para Cuba, [ambas ratificadas em 1877] e desde então, todos os países para recrutar emigrantes chineses eram obrigados a assinar acordos com o governo chinês, que para aí enviava representantes diplomáticos para proteger os seus cidadãos. Segundo Victor F. S. Sit, têm eles no local de destino o apoio dos serviços consulares chineses, onde os havia, e de Portugal para os procedentes de Macau.

O Independente em Maio de 1874 relatava a estranha amizade do Governador Visconde de S. Januário com o agente peruano Sr. Nicolas Tanco Armero, que pelo Regulamento dos Passageiros Asiáticos e seu Transporte pelo Porto de Macau, se preparava “para continuar a fazer a emigração e se escudava no artigo 11.º que diz: – O capitão do navio assinará um termo obrigando-se a apresentar ao cônsul português do porto do seu destino, se o houver, etc..” Outros artigos desse Regulamento de 1874 referem não ser permitido aos navios destinados ao transporte de passageiros asiáticos estarem munidos de grades, cadeias, ou de quaisquer aparelhos com o fim de encerrar ou de tolher a perfeita liberdade aos passageiros e o artigo 9.º diz dever o número de passageiros regular-se à razão de 3 m³ para o alojamento de cada passageiro adulto, ou para dois menores até 12 anos.

Em 1883, O Correio de Macau refere: “… a reabertura da emigração livre por Macau abre na imaginação vastos horizontes de movimento comercial e de prosperidade para esta colónia. A ser realizável a emigração livre, não há dúvida que os projectos, hoje imaginários vinguem um dia. É necessário ter em vista a oposição acintosa que a China fará à emigração por Macau”.

Ministro plenipotenciário na China, Japão e Sião, Tomás de Sousa Rosa tomou posse como Governador de Macau a 23 de Abril de 1883 e segundo Fernando Correia de Oliveira, “Após análise da situação que foi encontrar, Sousa Rosa conclui que ela era insustentável e podia, de um momento para o outro, colocar Portugal numa posição muito crítica. A questão de um tratado com a China era uma premência absoluta. Foi ajudado pelas circunstâncias. Robert Hart visita Macau em 1886. Tendo desistido momentaneamente do projecto da compra do território [de Macau] aos portugueses, estava agora mais interessado, como inspector-geral das alfândegas chinesas, em controlar o tráfico de ópio para o continente e da mão-de-obra chinesa para as Américas. Também a ele, agora, interessava convencer Beijing a assinar um tratado em letra de forma com Portugal. [Com ele, o Governador conseguiu as bases desse futuro tratado com a China]. Além disso, circulavam boatos de um acordo secreto entre Portugal e a França (a grande rival da Inglaterra) sobre a troca de Macau e da Guiné portuguesa por território do Congo sob soberania francesa.” Lembrar terem os franceses conquistado a Cochinchina em 1862. Ainda Governador, Sousa Rosa acedeu ao pedido do Vice-rei de Cantão para Portugal se manter neutral caso a França entrasse em conflito com a China e tentasse atacar Cantão.

Exonerado de Governador a 12/3/1886, tomava posse do cargo a 7 de Agosto de 1886 Firmino José da Costa, mas ao contrário do que era normal, em vez do Governador de Macau foi em 1887 Tomás de Sousa Rosa nomeado Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário em Missão especial à Corte de Pequim. Após longas e penosas negociações, assinou a 1 de Dezembro de 1887 um novo Tratado de Comércio e Amizade com a China, onde era reconhecida a perpétua ocupação e governo de Macau por Portugal.

28 Jan 2019

Fim da emigração por contrato em Macau

[dropcap]O[/dropcap] Regulamento de 1872 sobre a emigração fora elaborado por uma comissão composta por Jerónimo Pereira Leite, Júlio Ferreira Pinto Basto, Lúcio A. da Silva, P. G. Mesnier, Hermenegildo Augusto Pereira Rodrigues e J. E. Scarnichia, sendo esse uma compilação de disposições dispersas em portarias e regulamentos, harmonizadas e acrescentadas conforme se julgou mais próprio para combinar a liberdade do emigrante com as garantias que deve dar o contratador.

“Macau ficou com o monopólio do fornecimento de trabalhadores chineses para algumas repúblicas americanas; triste e precário resultado, para nós, depois de três séculos de trabalhos e lutas. Uma população numerosa, activa e inteligente, esteriliza-se em especulações sem futuro, vivendo com pouca dignidade à sombra de capitais estrangeiros (espanhóis e peruanos). A instrução pública vai-se anulando porque tais empregos, os únicos que se oferecem, não demandam cultura intelectual, e a população portuguesa de Macau achar-se-á reduzida à mais triste incompetência no dia em que a América disser: Não precisamos de mais cules>. Nesse dia, que todos julgam mui distantes, há-de forçosamente chegar e é tempo que principiemos a tomar precauções. É necessário que a emigração chinesa se torne pouco a pouco a mais insignificante fonte de receita para os habitantes de Macau, desenvolvendo-se quanto for possível os recursos comerciais desta colónia que melhor lhe podem assegurar um futuro estável”, segundo a Gazeta de Macau e Timor.

Ainda neste semanário aparece transcrito do jornal The Weekly Herard de New York de 5 de Outubro: Havana, 27 de Setembro de 1872. Quinhentos cules, com $70.000 de suas economias voltaram para os seus lares na China. “Naturalmente estes chineses já terão chegado, ou estão a chegar às suas terras, tendo vindo pelos paquetes da companhia de mala do Pacífico, como já têm vindo muitos outros. Quando ardeu recentemente em Yokohama, o vapor America, se conheceu que muitos passageiros chineses traziam consigo grandes somas de dinheiro, tendo alguns até mais de 3000 patacas. Regressavam eles naturalmente de Havana ou de Peru, tanto assim que um deles era casado com uma peruana. À vista destes factos, se atreverão ainda a dizer que os chineses que vão para Havana e Peru, não voltam mais à sua Pátria?”

“Em 1873 fez-se uma emenda a favor dos trabalhadores contratados, reduzindo o prazo do seu contrato de oito para seis anos [e findo este, a condição de terem a passagem de regresso]. Além disso, os cônsules portugueses em Cuba e no Peru comunicavam ao governo de Macau as condições dos emigrantes à chegada e, tanto quanto possível, velavam pelo seu bem-estar lá”, Montalto de Jesus (MJ).

“Os governos europeus de Hong Kong e de Macau aperceberam-se claramente da necessidade de acabar com a rede de intermediários e com a satisfação de interesses internacionais assentes na emigração contratada. Os tempos e os modos de reacção foram diferentes, como diferente tinha sido o começo da actividade. Hong Kong proíbe primeiro a emigração por contrato, para fora do Império Britânico, em 1866, confirmando a lei em 1868, 1870 e 1873. Macau mantém por mais uns tempos a situação, disciplinando-a com múltiplas advertências do Executivo”, Beatriz Basto da Silva.

Em 1873, o governo de Hong Kong promulgou três portarias, Ordinances “para cortar a ligação de Hong Kong com o tráfico de cules em Macau e para proteger os emigrantes chineses, dos dois sexos, que partiam de Hong Kong”, segundo Liu Cong e Leonor Diaz de Seabra, que referem, “a 24 de Agosto interditou que se abastecessem e equipassem os navios de cules no porto de Hong Kong e ordenou a sua expulsão, levando estes a mudarem-se para Huangpu.” (…) “Até Setembro de 1873, Macau ficou bloqueado pelos navios de guerra chineses e por ordem do vice-rei, todos os navios que entravam e saiam deste porto eram inspeccionados pelos oficiais chineses. Se fossem descobertos cules a bordo, os navios seriam levados para Huangpu.” O Vice-rei de Cantão então proibiu todos os barcos com cules dos países com ou sem tratado de fundearem nesse porto e em Setembro ordenou ao inspector interino da alfândega de Cantão, H. O. Brown, a expulsão de Huangpu de sete navios peruanos e em Outubro, de um belga e outro italiano.

Pousadas em vez de barracões

A 20 de Dezembro de 1873 o ministro da Marinha e Ultramar, João Andrade Corvo comunicava a proibição da emigração contratada por Macau e a 27, o Governador publicou a portaria fixando para daí a três meses [27 de Março de 1874] o seu termo definitivo. No Boletim de Província de 31/1/1874 foi promulgado o Regulamento dos Passageiros Asiáticos e seu Transporte pelo Porto de Macau, a entrar em vigor a 1 de Abril, por não se poder “negar a nenhum indivíduo em pleno gozo de liberdade, o direito de tomar passagem neste porto para outro qualquer a que se destine, devendo todavia velar pela sua conservação no estado livre e assegurar-se ao mesmo tempo das boas condições a todos os respeitos dos navios que tenham de transportar um crescido número de passageiros”. Em 18 de Março foi extinta a Superintendência da Emigração Chinesa, criada a 30 de Abril de 1860, assim como se acabam com “os depósitos e só serão permitidas para alojamento e pousada de transeuntes chineses, simples hospedarias devidamente licenciadas e registadas na procuratura dos negócios sínicos.” No B.O. dessa data, o Governador Visconde de Sam Januário declara que os denominados corretores, ou quaisquer outros indivíduos chineses que se empregavam na emigração, por acordo feito com o Vice-Rei de Cantão e por sua declaração oficial, “podem voltar livremente ao território chinês sem que sejam perseguidos pelas respectivas autoridades pela intervenção que tiverem tido nos negócios da mesma emigração, até à data do seu acabamento definitivo.”

“Todo ou quase todo o pessoal estrangeiro envolvido na emigração desapareceu com a extinção desta”, segundo Almerindo Lessa, “Os 5534 indivíduos que o recenseamento de 1871 mostra terem afluído ao Bazar, em 1878 desaparecem daquele bairro, deixando-o na cifra que tinha em 1867.” MJ refere, “Em Macau, o resultado dessa medida altruísta foi simplesmente catastrófico: várias ramificações de comércio legal extinguiram-se, milhares de pessoas foram atiradas para o desemprego e, face ao êxodo que se seguiu, as propriedades foram seriamente desvalorizadas.”

Assim, desde 27 de Março de 1874 estava proibida a emigração por contrato a partir do porto de Macau, mas fora aprovado ainda em 31 de Janeiro um novo regulamento para a emigração livre, julgando o Governador “pôr-se a coberto das graves acusações feitas quando deu o seu consentimento para a emigração para Costa Rica”, como refere José da Silva no Independente. Alguns agentes, escudados por esta nova ordem de coisas, prepararam-se para promover a saída de passageiros asiáticos e restaurar o tráfico de cules, apenas substituindo os depósitos em barracões por estalagens.

21 Jan 2019

Emigração de menores chineses

[dropcap]O[/dropcap] Procurador Júlio Ferreira Pinto Basto enviou o seguinte ofício ao secretário-geral do governo de Macau, Sr. Henrique de Castro: Até essa data estava estabelecido deixá-los emigrar, quando nos exames a que aqui se procedia, mostravam espontaneidade e prestando a pessoa que os apresentava fiança idónea para qualquer reclamação, a haver sobre os menores depois de embarcados. Era também anteriormente à citada data esta emigração quase diminuta. Começou a aumentar este ano e com esse aumento, como era natural, tentaram-se os abusos que motivaram a minha informação no já citado ofício.

Desde essa data regularizou-se este serviço merecendo sempre a minha vigilante atenção, e parece-me poder asseverar a V. S.a que algum abuso, que por ventura tivesse havido, anteriormente, ficou completamente extirpado.

Só se aceitam emigrar menores depois de cabalmente averiguada a sua espontaneidade, e que a pessoa que os apresenta é seu pai ou mãe, e no caso de orfandade a pessoa que os representa, devendo esta ser tio ou irmão maior. Para se chegar a este conhecimento empregam-se os meios seguintes, que me parecem profícuos.

Isolado o menor em casa separada da pessoa que o apresenta é-lhe perguntado o seu nome, idade, naturalidade, profissão, o modo por que veio a Macau, o nome da pessoa que o apresenta, o seu modo de vida, a terra em que vivia e muitas outras coisas neste sentido. São escritas as respostas que o menor dá a cada pergunta. Em seguida fazem-se à pessoa que o apresenta as mesmas perguntas que a este e devem as respostas combinar exactamente, sem que o que se não aceita o menor a emigrar. Tanto a pessoa que apresenta o menor como a que o contrata prestam fianças idóneas. A primeira responsabilizando-se por alguma reclamação que por ventura possa ainda haver por parte de algum outro parente do menor, e a segunda por que as estipulações do contrato sejam fielmente observadas pelo patrão do menor. Os contratos são em triplicado sendo entregues um ao menor, outro à pessoa que o engaja e o terceiro remetido à essa secretaria para ser enviado ao cônsul português no país onde o menor se destina, para tomá-lo debaixo da sua protecção e vigiar que sejam observadas as cláusulas ali estipuladas. O contrato garante ao menor um salário mensal de $4 durante 8 anos, uma educação moral e religiosa, assistência médica e ser empregado apenas como criado de casa.

Desde o 1.º de Janeiro até ao último de Julho do corrente ano tem emigrado por esta repartição 97 menores. Sendo 15 para Havana e 82 para o Perú, contando neste último número 11 raparigas.

Por informações colhidas nesta repartição de chineses vindos do Perú e Havana consta que estes menores são ali muito bem tratados, sendo-o alguns como filhos dos seus patrões.

É costume entre os chineses venderem e mesmo darem os seus filhos, quando se vêem sem meios: e por isso não deve admirar que os próprios pais os venham apresentar a emigrar. Debaixo deste ponto de vista a emigração dos menores bem fiscalizada e regulada, como se acha actualmente, é altamente moral e civilizadora. O pai, que iria sacrificar o filho a uma escravidão perpétua vendendo-o, dá-lhe a liberdade e a fortuna contratando o seu serviço sob condições vantajosas. Geralmente são admitidos a emigrar a terça parte dos menores, que aqui são apresentados, e que se propõem emigrar. Os que deixam de emigrar são rejeitados geralmente porque a incoerência ou contradição das respostas dadas pelo menor e pela pessoa que o apresenta, faz suspeitar que ela seja um falso parente e um embusteiro.

A pessoa que vem contratar os menores apenas paga pelo serviço que se faz nesta repartição cinquenta avos ao escrivão, que faz o termo de fiança, além do selo de duzentos réis por cada contrato que é pago na fazenda e o respectivo registo.” Como o serviço fora montado na Procuratura dos Negócios Sínicos de Macau exclusivamente pelo Procurador Pinto Basto, pergunta este se merece aprovação. Pelo secretário do Governo, o Governador respondeu no dia seguinte dizendo aprovar provisoriamente o modo como é regulado esta emigração limitada e excepcional.

Receitas da emigração

“Se um navio estrangeiro vem à China buscar trabalhadores, o número que cada navio há-de transportar é fixado de um modo determinado, e o aliciador de culis faz um contrato, marcando-se dia certo para a saída do navio, devendo nesse dia estar preenchido o número. Quando o aliciador tem já celebrado o seu contrato, vai procurar em cada aldeia e cada distrito um aliciador subalterno, e faz com ele outro contrato. Cada aliciador subordinado deve fornecer um número certo de culis, segundo o tempo fixado no seu contrato. Se no dia designado se passar sem que o aliciador apresente o número de culis a que se comprometeu, exige-se do principal aliciador o pagamento do dinheiro pela carta de fretamento do navio, pelas despesas feitas com arroz e mais alimentos, e por qualquer dinheiro que adiantadamente possa haver recebido, bem como os competentes juros por cada parcela das despesas. Então o principal aliciador vai ter com o seu subordinado para que o indemnize.” Exige ser ressarcido, obrigando-o “a desfazer a sua casa e a dissipar o seu património, vendendo mulheres e filhos, e além disso a suprimir a diferença que faltar.” Assim quando o tempo urge, inventa ardis, “Ou emprega drogas que os tornam insensíveis, ou usa de dolo, ou à força rouba os culis. Põe em prática toda a sorte de malefícios e repete-os indefinidamente. Tem pressa de completar o número e de acabar com a sua responsabilidade. É levado a isso pela força das circunstâncias”, segundo Andrade Corvo no seu Relatório e Documentos, a fonte de grande parte do que apareceu escrito nos artigos anteriores.

Os documentos consulares de 1872 referem terem partido de Macau 33 navios com 13.476 colonos, morrendo na viagem 625 e em 1873, 24 barcos transportaram 13.918, chegando menos 645.

As receitas do governo de Macau resultantes da emigração eram entre outras, por cada colono $1 por passaporte e meia pataca por contrato. A 24/10/1872, o Rei aceitou o acordo feito pelo Governador com os agentes da emigração, a substituir por um só imposto (3,5 patacas) algumas das verbas das licenças pagas por estes.

Da Superintendência da emigração chinesa de Macau, em 1872 foram enviados 21.854 chineses às autoridades de Cantão a fim de serem repatriados para as suas terras de origem.

Pelas ruas de Macau, só em 1873 foram encontrados 292 mortos, sendo a maioria culis inválidos provenientes dos depósitos, que eram abandonados em vez de serem repatriados.

14 Jan 2019

Dissimulada escravatura

[dropcap]A[/dropcap]s medidas até então tomadas sobre a emigração por Macau apenas se ocupavam da “fiscalização dos colonos enquanto se conservam nos estabelecimentos e na superintendência, mas não previnem ou castigam os abusos dos corretores no acto da aliciação no território chinês nem alteram as suas condições fundamentais nos contratos dos emigrantes. A administração buscava não perturbar um comércio que considerava como origem da prosperidade de Macau”, segundo Andrade Corvo.

“Em 1871, foram tomadas disposições contra os contratos entre agentes e cules. A partir daí, os cules eram registados e, depois da habitual inspecção a bordo, exigia-se uma declaração do capitão em como o barco não levava cules enganados, nem suspeitos de serem piratas”, segundo Montalto de Jesus (MJ).

Um novo regulamento foi promulgado em 1872 pelo Governador Januário Correia de Almeida (Visconde de S. Januário) e “englobavam todas as anteriores disposições cuja eficácia tinha sido posta à prova pela experiência”, MJ. A partir de meados desse ano, “as autoridades de Cantão começaram a actuar no sentido de impedir a emigração de cules por Macau”, segundo Liu Cong e Leonor Seabra, [Revista Cultura n.º 55 de 2017], que aditam, ter o vice-rei de Cantão, por ofício ao Zongli Yamen de 15 da 5.ª lua do 12.º ano do reinado de Tongzhi (1873), informado “quão difícil era vigiar e impedir o tráfico de cules em Macau. Por um lado, os portugueses em Macau não tinham outro comércio lucrativo senão o tráfico de cules. As receitas anuais do governo de Macau, resultantes do tráfico de cules, ascendiam a mais de 200 mil dólares de prata. Não só o governador de Macau, mas também o rei de Portugal, estavam relutantes em abolir a emigração por Macau.”

 

Ofício do cônsul em Havana

 

José Maria d’ Eça de Queiroz, nomeado pelo Rei D. Luís cônsul de 1.ª classe em 16 de Março de 1872, é colocado em Cuba nas Antilhas Espanholas onde chegou a 20 de Dezembro, segundo António Aresta [Revista Cultura n.º 52 de 2016], que refere, “A três dias do fim do ano [1872], com base nas informações que lhe terão sido fornecidas pelo anterior cônsul, Fernando de Gaver, [Eça] rapidamente envia um ofício ao ministro João Andrade Corvo”: <Existem, Ilmo. Sr., nesta ilha mais de cem mil asiáticos que o Regulamento de Emigração pelo porto de Macau põe hoje explicitamente sob a protecção do Consulado Português. (…) V. Exa. compreenderá a importância deste consulado que pode abrir a cem mil almas o registo de nacionalidade portuguesa: é portanto urgente que o Governo de S. M. atenda às condições em que vive aqui esta população colona>. (…) <A legislação cubana dividiu artificialmente a emigração asiática em duas espécies de colonos: os chegados a Cuba antes de 15 de Fevereiro de 1861, e os que vieram depois desta data arbitrária. Os primeiros tendo findado já o prazo de 8 anos – porque vêm contratados todos os colonos que saem de Macau – são livres no seu trabalho e podem requisitar deste consulado a cédula de estrangeiro; os outros – os que chegaram depois de 61 e estão chegando – são obrigados, findos os seus 8 anos de contrato, a sair da Ilha dentro de dois meses, ou a recontratar-se novamente>. Mas <a prática é extremamente diferente – e autoriza a opinião Europeia de que a emigração chinesa é a dissimulação traidora da escravatura. A lei permite aos asiáticos que chegarem antes de 61 que solicitem a sua cédula de estrangeiro – mas por todos os modos se impede que ele a obtenha: e o meio é explícito: formou-se na Havana, sem estatutos e sem autorização do Governo de Madrid, uma comissão arbitrária que se intitula Comissão Central de Colonização; esta comissão pretende ter o pleno domínio da emigração; formada dos proprietários mais ricos impôs-se, naturalmente às autoridades superiores da Ilha, e conseguiu que se determinasse – que nenhum asiático tire do Consulado a sua cédula de estrangeiro sem que a Comissão Central informe sobre ele e o autorize a requerê-la: ora sucede que a Comissão Central, para cada asiático, prolonga indefinidamente esta informação – e durante este tempo o colono está numa situação anormal e inclassificável – não é colono porque terminou o seu contrato – e não é livre porque não tem a sua cédula; esta situação faz a conveniência de todos – da polícia que à mais efémera infracção (encontrar, por ex. o china, fumando ópio) o sobrecarrega de multas enormes, do Governo, que o aproveita, sem salário, para as obras públicas, e dos fazendeiros que terminam por o recontratar>. Segundo A. Aresta, “O problema de base está na divisão artificial com que distinguiam os colonos.” E continuando com o que Eça de Queiroz escreve no Ofício de 29/12/1872: <Em quanto aos que vieram depois de 1861 – uma legislação opressiva obriga-os a saírem findo o seu contrato, da Ilha, em dois meses ou tornarem a contratar-se; e como naturalmente o colono não tem meios de regressar à China – a polícia recolhe-os nos depósitos – é obrigado a servir mais 8 anos>.

 

Cônsul no Peru

 

A galera peruana Fray-Bentos de 561 toneladas deixou Macau a 6 de Janeiro de 1871 e o Cônsul Geral de Portugal no Peru, Narciso Velarde certificou que esta fundeou neste porto de Callao no dia 12 de Abril, trazendo 369 passageiros chineses dos 375 que tinham embarcaram, havendo morrido durante a viagem ‘apenas’ 6. Das informações tomadas por este consulado resulta que os ditos passageiros foram bem tratados durante o transporte, em fé do qual se expede o presente certificado em Lima aos 17 dias do mês de Abril de 1871.

No ano seguinte a galera estava de novo em Macau pois em 1/8/1872 o tesoureiro da junta da fazenda, Carlos Vicente da Rocha informava ter recebido $366 patacas pelos emolumentos dos passaportes dos 366 colonos para o Perú nesse navio. A 7 de Agosto o capitão do porto de Macau, João Eduardo Scarnichia certificava a Fray-Bentos, cujo capitão era Ramon Mota, pois mediu 732 metros cúbicos de capacidade no alojamento destinado aos colonos. Sai do porto de Macau para o de Callao de Lima conduzindo 366 passageiros chineses contratados para servirem como colonos, e todos sabem o lugar do seu destino e vão por sua vontade do que me informei devidamente, bem como, que os contratos que levam foram registados na repartição competente. Certifico mais, que a dita galera se acha em estado de navegar na vistoria que lhe passei e leva a tripulação suficiente para a manobra, que tem os mantimentos e aguada determinada no regulamento da emigração, bem como há a bordo cirurgião, botica e intérprete chinês e que a embarcação tem acomodações para os passageiros que conduz, e os necessários meios de ventilação aprovados pelo facultativo do quadro de saúde que foi a bordo. Está conforme. Capitania do porto de Macau. E assim partiu nesse dia a galera Frey-Bentos para o Peru, onde a esperava um novo cônsul, Sant’anna Vasconcelos.

O regulamento da emigração chinesa publicado a 28 de Maio de 1872, no artigo 67.º referia ser necessário 2 m³ para cada colono transportado.

 

4 Jan 2019

Aliciadores e barracões de cules

[dropcap]”D[/dropcap]esde 1856 partiram de Macau 414 navios com colonos, e só 5 deixaram de chegar ao seu destino por terem sido saqueados pelos emigrantes. Esta proporção, considerada como diminuta, de cinco catástrofes por pouco mais de quatrocentos navios é, quando se considera com a devida ponderação, tão extraordinária como pavorosa. As violências e revoltas de culis foram, quase sempre, provocadas ou pelo tratamento bárbaro que nos navios recebiam, ou pela introdução a bordo de criminosos a título de emigrantes; cada uma daquelas catástrofes descobre as angústias, as misérias, a opressão, a fome, a tirania, que padeceram centos de homens ou revela o vício profundo de uma emigração em que se ocultam facínoras dispostos a cometer os crimes mais atrozes”, segundo Andrade Corvo.

Montalto de Jesus (MJ) refere, “Em Macau, ninguém abominava mais o tráfico do que muitos respeitáveis macaenses. Não queriam de modo algum envolver-se nisso, considerando-o uma desgraça completa para a colónia. Os traficantes de escravos eram de várias nacionalidades, tendo alguns portugueses por ajudantes.

Em todos os distritos adjacentes, o engodo continuava sem impedimentos, apesar das queixas oficiais enviadas por Macau. Milhares de engajadores nativos engodavam à rédea solta os camponeses com saborosos repastos e enganavam-nos com a promessa de um EI Dourado, emprestando-lhes o dinheiro que, invariavelmente perdido no jogo, em breve colocava as pobres vítimas na obrigação de se entregarem como forma de pagamento. Quando não havia camponeses para enganar, atraiam-se aos barracões vendilhões, artesãos e criados de Macau, que eram obrigados, com maus tratos, a embarcar como emigrantes”.

Abolir o tráfico

“O primeiro passo na liquidação do tráfico de cules foi dado pelos Estados Unidos, que, importa salientar, precedeu de mais de dez anos as medidas idênticas adoptadas pelo governo de Hong Kong. Assim, em princípios de 1862 uma lei interditava a todos os cidadãos dos Estados Unidos ou estrangeiros residentes, por si ou por interpostas pessoas, de construir, equipar ou, por qualquer forma preparar, quer como capitão, proprietário ou outro título, navios destinados a receber da China ou de qualquer outra localidade, habitantes ou súbditos chineses, denominados cules, para os transportar a um país estrangeiro com o fim de serem vendidos ou contratados por determinado número de anos, para serviços. Os navios contraventores seriam sujeitos a confisco, perseguidos e julgados em tribunais dos Estados Unidos. Ficavam fora da alçada desta lei os casos de emigração voluntária”, segundo Lourenço Maria da Conceição. Os proprietários dos navios americanos, dando a volta ao problema, venderam-nos e assim com bandeiras de outras nacionalidades continuaram o transporte de cules, sendo o exemplo seguido pelos ingleses.

“Outras medidas tendentes a proteger e dificultar o tráfico foram estipuladas em 5 de Março de 1866, no regulamento acordado entre os representantes de Inglaterra e França e o Príncipe Kung (Gong). Este regulamento tinha sido prometido nas Convenções de Pequim, em 1860, celebradas entre a Inglaterra e França, por um lado, e o Império Chinês, por outro”, segundo Lourenço Maria da Conceição, que complementa, “Na convenção suplementar aos Tratados de Tien-Tsin, de 24 a 25 de Outubro de 1860, os aliados fizeram inserir a obrigação de o Imperador, por decreto, ordenar às autoridades superiores de cada jurisdição que dessem aos chineses que quisessem servir nas colónias inglesas ou outros países de além-mar, inteira liberdade de contratar nesse sentido e embarcar em navios, ingleses ou franceses, em todos os portos da China abertos ao comércio.”

Depósito de cules

Em Macau, além de muitos barracões clandestinos, “Dos dezassete estabelecimentos de emigração chinesa, dez achavam-se na cidade cristã, seis no Bazar e um fora das portas de S. António”, segundo o B.O. de 1867, que refere, a 14 de Junho haver 319 corretores de colonos e 163 empregados nos estabelecimentos de emigração chinesa. “A emigração no ano de 1867 foi diminuta, em quanto que em 1871, segundo o que conta dos livros da extinta Superintendência e dos Boletins do Governo, saíram por Macau 23.882 colonos contratados e 458 livres, e havia 24 estabelecimentos de culis, dos quais somente um, denominado do Carneiro, em 1871 contava 1754 corretores ao seu serviço. Por tanto, deduzidos os indivíduos de Macau, que eram relativamente poucos [5463 portugueses e 66.267 chineses], pois que corretores, agentes, subagentes eram, com poucas excepções, estrangeiros, não será erro calcular que aquele número de indivíduos inerentes à emigração, principalmente os colonos, fosse muitíssimo maior em 1871”, segundo Almerindo Lessa. Liu Cong e Leonor Seabra referem, “Em Macau [1873] havia mais de 300 barracões portugueses, espanhóis e peruanos, não tendo em conta os de outras nacionalidades.”

Tráfico de Cules

Desmentia o Governo de Macau as acusações, dizendo ser voluntária a emigração pelo porto de Macau. Certa vez, na visita a um depósito, “O capitão de um barco de cules recusou-se a transportar alguns anamitas, comovido pelas suas lágrimas e súplicas. Com os braços no ar, um deles mostrou uma cruz ao dono do barracão que, bondosamente, os libertou, entregando o grupo inteiro aos jesuítas, recentemente restabelecidos no Colégio de São José. Com gestos e esboços os pobres infelizes tentaram explicar como tinham sido raptados. Alguns missionários franceses de Hong-Kong forneceram então um intérprete anamita”, segundo Montalto de Jesus que esclarece, “esses anamitas eram parte de uma escolta enviada pelo governador de Nandhin, com um tributo para o imperador de Annam (Aname, um reino entre a Cochinchina, na mão dos franceses desde 1859, e Tonquim). Partiram em cinco juncos e, atacados por piratas em dez juncos bem armados, alguns renderam-se depois de uma breve luta e os outros saltaram para o mar.” (…) “Depois de decapitarem dois mandarins feridos, e de fazerem à pressa o transbordo dos homens e do saque, os piratas zarparam e em Bah-choi passaram os cativos e um grande saco de prata para duas lorchas.” À chegada a Macau, os cativos foram coagidos a embarcar como emigrantes, sendo “fechados no porão de uma das lorchas com um pouco de arroz e muito pouca água. Mortos de sede, suplicaram por mais água; só lha davam com a condição de aceitarem emigrar. Acedendo, foram transferidos para os barracões e ai eram açoitados sempre que choravam ou se recusavam a embarcar”, história no Echo do Povo, de 14/5/1867. O intérprete foi à procura de outros cativos anamitas, sendo-lhe negada a entrada nos barracões. Certo dia andava o intérprete pela rua quando se cruzou com um grupo de seus conterrâneos vestidos à chinesa e seguindo-os até ao serviço de emigração, descobriu como os cativos eram passados por emigrantes. Falando-lhes na sua própria língua, todos declararam não querer emigrar. O superintendente ordenou imediatamente a sua soltura.

21 Dez 2018

Protecção da China aos seus emigrantes

[dropcap]E[/dropcap]m 10 de Fevereiro de 1856, “a galera portuguesa Resolução largou de Macau com destino a Havana, levando a bordo 350 passageiros chineses e 29 tripulantes. No dia 16, à vista de Pulo Sapato, pelas 10 horas da noite, a gente que estava de quarto foi atacada pelos chineses armados com facas de cozinha, que lhes tinham sido fornecidas por um servente do cozinheiro.

A luta durou até à meia-noite, ficando mortos alguns chineses e feridos todos os oficiais e grande parte da tripulação que teve de abandonar o navio em botes, os quais chegaram ao Cabo S. James, na noite de 18, onde encontraram o navio que fora encalhar na baía do mesmo nome. Não julgaram prudente aproximar-se do mesmo e continuaram a navegar para o sul, com destino a Singapura, perdendo-se um bote, nessa noite, com nove pessoas. No dia seguinte, os botes foram cair sobre os parcéis de Camboja, onde se viraram, morrendo dez pessoas, entre as quais os dois pilotos e o contra-mestre.

O capitão e os restantes marinheiros alcançaram as ilhas de Camboja, onde foram presos e maltratados pela gente de terra, e, 25 dias depois, conseguiram embarcar numa soma, que os transportou a Singapura, onde chegaram no dia 5 de Maio. Supôs-se que parte dos chineses que iam a bordo eram piratas que, tendo pertencido ao partido rebelde e vendo-se perseguidos pelos mandarins, se resolveram alistar como colonos, aliciando outros para cometerem o atentado, a fim de passarem a algumas terras dos estreitos, onde se encontravam refugiados os seus partidários e correligionários das sociedades secretas”, segundo narra Luís Gonzaga Gomes.

Tratado não rectificado

Após a Segunda Guerra do Ópio (1856-60), os ingleses forçaram o governo Qing a permitir e regular por contrato a emigração dos cules chineses em todos os portos abertos pelos tratados. Em 1860, pelas Convenções de Pequim, sob a ameaça militar anglo-francesa, o governo chinês “permitiu o recrutamento dos trabalhadores chineses por ingleses e franceses para fora da China e o direito dos chineses a fazerem contratos com os ocidentais e emigrarem, sozinhos ou acompanhados pelas famílias”, segundo Liu Cong e Leonor Diaz de Seabra. Foi esta depois estendida a outras potências.

Pela Convenção da Emigração de 1866, só aplicável aos países dos tratados, “estabeleceu-se a cláusula de que os emigrantes chineses teriam direito a repatriamento gratuito e automático no fim de cumprir cinco anos de contrato”, segundo Beatriz Basto da Silva (BBS). “A implementação da Convenção de 1866 parece ter sido somente desejo do Zhongli Yamen, do inspector-geral Robert Hart e, durante algum tempo, também do embaixador americano na China”, segundo Liu Cong e Leonor Diaz de Seabra. BBS refere, a 15 de Novembro de 1866 “Os representantes da Inglaterra e França, em Pequim, assinam com o governo chinês uma convenção para regular a emigração chinesa mas os governos britânicos e francês, não a ratificam [pois não reconheciam alguns dos regulamentos]. Na verdade trata-se de uma jogada para asfixiar o comércio em Macau, mas os países envolvidos sairiam prejudicados também.”

Assim, em vez de acabar com as irregularidades da emigração e terminar com o tráfico em Macau, para aí se transferiu quase totalmente a emigração por contrato. Tal se devia a não estar ainda rectificado o Tratado de Daxiyangguo de 1862, entre Portugal e a China, pois o governo chinês pretendia voltar a ter em Macau um seu oficial (e não um cônsul), que fora expulso em 1849 pelo Governador Ferreira do Amaral, quando este aí fechara as Alfândegas chinesas. “Embora Portugal tenha conseguido, de facto e unilateralmente, a soberania de Macau, mediante a força, carecia do formal reconhecimento chinês da situação, de modo que o estatuto político-jurídico de Macau (…) continuava por ser esclarecido, o que não permitia aos portugueses exercer com eficácia os direitos soberanos em Macau”, segundo Wu Zhiliang, que refere, “Nesta conjuntura, tornava-se urgente entabular negociações com a Corte Celestial manchu para deixar definido o estatuto político-jurídico e comercial, além de conseguir as mesmas vantagens e interesses comerciais de outras potências com presença na China.”

A 14 de Abril de 1863, o Governo em Portugal aprovara o primeiro Tratado de Amizade e Comércio luso-chinês, Tratado de Daxiyangguo assinado na China a 13 de Agosto de 1862 pelo Ministro Plenipotenciário Isidoro Francisco de Guimarães, então Governador de Macau, e com a proposta de ser rectificado dois anos depois em Tianjin. A 20 de Maio de 1864, aí chegou como Ministro Plenipotenciário de Portugal José Rodrigues Coelho do Amaral, Governador de Macau desde 22/6/1863, mas sem a cláusula do estabelecimento duma alfândega chinesa em Macau, o Governo Qing não aceitou rectificar o Tratado e por isso, após um mês em Tianjin o Governador Coelho do Amaral regressou a Macau.

Venda de Macau

“Desde a não rectificação do tratado luso-chinês de 1862 que as relações diplomáticas bilaterais estavam praticamente interrompidas entre Lisboa e Beijing”, segundo Fernando Correia de Oliveira. O inglês Sir Robert Hart, inspector-geral das alfândegas chinesas de 1863 a 1911, “tinha um problema a resolver com Macau. As alfândegas do território, portuguesas ou chinesas, não estavam sob o seu controlo, e o contrabando de ópio ou o tráfico de escravos (cules) para as Américas irritavam este zeloso defensor dos interesses de Beijing. Primeiro, e sabendo dos apertos financeiros do governo de Lisboa, e dos boatos que circulavam em toda a Europa sobre a intenção de Portugal vender as suas colónias para ganhar a solvência das contas públicas, Hart tentou, com o chamado projecto Emily [1867], que a China comprasse Macau.

O príncipe Gong convenceu-se dos argumentos de Hart e conseguiu do governo chinês o assentimento para o processo. Hart usaria, para isso, o antigo embaixador espanhol em Beijing, D. Sinibaldo de Mas (autorizado, para iniciar o negócio, a dar um milhão de taéis a Portugal, a ficar com 100 mil para si e a gastar 200 mil na ‘compra’ de alguns portugueses influentes; morria em Madrid quando se preparava para a última etapa), e o seu enviado à corte de Londres, Duncan Campbell (que não chegaria a visitar Lisboa nessa altura, porque o Zongliyamen desistiu, entretanto, da ideia de comprar Macau)”, salienta Correia de Oliveira.

O Regulamento de 5 de Março de 1866, conhecido também por Convenção de 1866, visava dificultar a emigração dos cules contratados por Macau. “Os ingleses – a parte forte em confronto com os chineses, neste regulamento – procuravam chamar a si todo o controlo do tráfico, a fim de satisfazer as suas necessidades de mão-de-obra. E os franceses, seus aliados de então, secundaram-nos com a proibição aos seus súbditos de se ocuparem do comércio de cules no porto de Macau”, refere Lourenço Maria da Conceição.

Em 1866, o Governador de Macau, Conselheiro Ponte Horta, recebia instruções para anunciar a resolução de Portugal de aderir à Convenção.

14 Dez 2018

O Tráfico de Cules via Macau

[dropcap]”A[/dropcap]ntes da Guerra do Ópio, os ingleses e os portugueses recrutavam os trabalhadores chineses através de Macau para as suas colónias, nas diversas partes do mundo. A proibição da emigração não foi cumprida pelos oficiais chineses em Macau antes de 1849″, segundo Liu Cong e Leonor Diaz de Seabra, que referem, “Com o desenvolvimento da emigração de cules chineses neste porto, desde 1851, o governo chinês permaneceu ignorante e indiferente ao tráfico humano em Macau, durante um longo período.”

Já desde 1844 agentes provenientes da Guiana Inglesa, Cuba e Peru chegavam aos portos chineses e recrutavam cules para ir lá trabalhar. Muitas vezes raptados e contratados à força pelos angariadores, eram mal tratados durante a viagem de barco e quando chegavam ao destino, muitos caíam nas redes de traficantes de escravos.

Assim se dá início ao tráfico de cules. Segundo as estatísticas recolhidas por Arnold J. Meagher, “Entre 1851 e 1874 [período em que decorreu o tráfico de cules chineses em Macau], mais de 210.054 cules chineses emigraram através de Macau para vários destinos, como Cuba, Peru, Guiana Britânica, Suriname, Costa Rica, Ásia do Sudeste, Moçambique, Califórnia e Austrália”, sendo a maioria destes para Cuba (122.454) e para o Peru (81.552).

Os corretores (angariadores) andavam pelo interior da China a aliciar pessoas para emigrar e em Macau entregavam-nos aos contratantes (agentes), que determinavam as condições laborais e de viagem, sem haver até 1851 conhecimento oficial das autoridades de Macau.

“A emigração de trabalhadores chineses para a América – originariamente de Hong-Kong para a Califórnia – realizou-se também em Macau a partir de 1851, principalmente para Cuba. Para restringir os muitos abusos que caracterizavam esse tráfico, o governo de Macau adoptou medidas que, levadas correctamente a cabo, satisfariam os mais caprichosos legisladores e filantropos. Pelas ordenanças de 1853, o governo controlou os barracões ou casas de cules; e tratou das acomodações e requisitos sanitários adequados aos emigrantes, tanto em terra como durante a viagem. Para evitar o transporte clandestino de cules enganados, tornou-se obrigatório, em 1855, o registo dos contratos e o interrogatório dos cules em terra pelo procurador e a bordo pelo capitão do porto. Outra regulamentação de 1856 exigia que os agentes de cules tivessem licenças e caução, além de os sujeitar a sanções por enganar e coagir emigrantes, ou por não custear a passagem de regresso e as despesas dos cules rejeitados pelo governo ou pelos agentes de emigração em Macau; os menores de dezoito anos não podiam emigrar excepto se acompanhados dos pais; e, mesmo depois de terem assinado o contrato, os cules podiam cancelá-lo se o desejassem, pagando as despesas legais custeadas, por sua causa, pelos agentes”, segundo Montalto de Jesus (MJ).

A venda de leitões

O Governador Guimarães, Visconde da Praia Grande, publicou um edital em Março de 1859 condenando os abusos dos corretores e mandava encerrar os depósitos ilegais. “Para evitar trocas de identidade, passou a ser exigido, dali em diante, que os emigrantes assinassem o contrato perante duas testemunhas”, MJ. Em Abril, os magistrados de Nanhai e Puanyo publicaram uma proclamação contra os corretores da emigração, referindo haver “vagabundos que iam por essas terras enganar os pobres chineses com promessas de chorudos salários no estrangeiro; traziam-nos para Macau e outros portos e vendiam-nos para países estrangeiros. A isto chamavam eles chu-chai (leitões, ou seja, venda de leitões)”, como refere o Padre Manuel Teixeira, “Os culpados deviam ser punidos, os depósitos encerrados e publicado um regulamento claro e firme. Todos deviam indagar se as promessas haviam sido feitas de boa-fé; o contrato devia determinar o salário do trabalho, a duração deste, o local onde eram destinados e se podiam escrever à família e amigos e remeter-lhes dinheiro. Uma vez que se assentasse em tudo isto, não havia objecções contra a emigração”, segundo os magistrados.

Mas os abusos continuaram e levaram ainda “o Governador Isidoro Guimarães a nomear por port. de 30 de Abril de 1860, um superintendente da emigração Chinesa, coadjuvado por um intérprete. A prática era a seguinte. Os corretores iam convidar os chineses às suas terras; os que aceitassem tinham transporte gratuito para Macau. Uma vez entrado no depósito, o emigrante declarava a sua idade; tendo menos de 18 anos e não tendo pai ou mãe que o acompanhassem, era rejeitado. Quem não tivesse 25 anos de idade, devia apresentar o consentimento dos pais, tendo-os”, segundo o Padre Manuel Teixeira.

Emigração por contrato

Pelo Act for the regulation of Chinese Passengers de 30 de Junho de 1855, o governo britânico de HK regulava o transporte de chineses a bordo dos seus navios. Ano em que os franceses contrataram 900 cules chineses para trabalhar em Guadalupe e Martinica.

Com a II Guerra do Ópio (1856-60) “Por Hong Kong, só nos três primeiros anos considerados (1856, 1857 e 1858), saíam 56.256 colonos (mais do dobro do que em Macau [20.610 colonos])”, refere Fernando Figueiredo. “A Segunda Guerra do Ópio proporcionou aos ingleses uma oportunidade de forçar o governo Qing a permitir e regular a emigração dos cules chineses. Em 1859, durante a ocupação anglo-francesa da cidade de Cantão, o governador Bo Gui (柏贵) e mais tarde, o vice-rei Lao Chongguang (劳崇光), por requerimento dos ingleses, permitiram a emigração chinesa por contrato. Em 1860, ainda sob a ameaça militar anglo-francesa, o governo central chinês, pelas Convenções de Pequim, permitiu o recrutamento dos trabalhadores chineses por ingleses e franceses para fora da China e o direito dos chineses a fazerem contratos com os ocidentais e emigrarem, sozinhos ou acompanhados pelas famílias. O abandono da lei secular da proibição à emigração, pelo governo chinês, fez parte das mutações que a China teve de enfrentar, perante as novas circunstâncias internacionais sem precedentes. Depois de admitir a emigração por contrato, o próximo passo foi regular e uniformizar esta actividade em todos os portos abertos (dos tratados)”, segundo Liu Cong e Leonor Seabra. Beatriz Basto da Silva refere, “A Convenção Anglo-Chinesa de 1860, pretendendo regulamentar o tráfego através de contratos legais, foi estendida a outras potências, como a Espanha, e em 1866 aos representantes da França, estabelecendo-se nesta altura a cláusula de que os emigrantes chineses teriam direito a repatriamento gratuito e automático no fim de cumprir cinco anos de contrato. A Inglaterra e a França não ratificaram a posição dos seus representantes e a China recusou-se a consentir a emigração noutros termos. Praticamente com as ‘mãos vazias’, as nações intervenientes resolveram contornar a questão e o fluxo de saídas passou a fazer-se mais intensamente em Macau, que não tinha entrado nas negociações”, pois a China não tinha rectificado com Portugal o Tratado de Daxiyangguo de 1862.

7 Dez 2018

Emigração via Macau e Hong Kong

[dropcap]M[/dropcap]acau vivia um longo período de estagnação já desde os anos 40 do século XVII devido à perda do comércio com o Japão, o que originou um declínio económico, de miséria e com períodos esporádicos de maior abastança, até meados do século XIX, segundo Ana Maria Amaro, que refere, “De 1851 a 1874, Macau registou, novamente, um notável surto económico com o tráfico dos cules, que levou certas famílias a reatar os antigos hábitos de luxo e de ostentação. Este surto económico, embora de curta duração, aliado à afluência e refugiados chineses, deram lugar a forte pressão demográfica, que levou à urbanização de parte da área do Campo.”

Victor F. S. Sit adita, “Só entre 1847 e 1874 embarcaram mais de 200 mil cules através de Macau. O número de agências estrangeiras sediadas em Macau envolvidas no tráfico de cules aumentou de uma meia dúzia que existiam em 1850 para mais de 300 em 1873. Nesta data, 30 a 40 mil homens, ou seja metade da população de Macau, estava directa ou indirectamente envolvida neste comércio. Dos cules embarcados em Macau 95% foram enviados para Cuba [sob domínio espanhol] e Peru [já independente].

Uma vez que o preço médio de um cule era de 70 patacas, estima-se que Macau terá ganho cerca de 200 mil patacas por ano no tráfico de cules, cinco vezes mais que o rendimento anual das taxas alfandegárias, antes de 1845. Nos locais de destino, os cules eram simplesmente tratados como escravos. A taxa de mortalidade dos cules a caminho de Cuba ou do Peru era cerca de 35%. Os locais de acolhimento dos cules concentravam-se no Beco da Felicidade, Pátio dos Cules, Rua de Santo António e Rua de Pedro Nolasco da Silva. Só em 1895 foi definitivamente encerrada a maior casa de acolhimento de cules (Heshengji).”

Emigração por contrato

“Em Macau foram os próprios chineses – conhecidos localmente por corretores – que descobriram a lucrativa actividade de contratar os seus irmãos do continente, atraindo-os ao entreposto português. Era comum virem por gosto, mas o problema do voluntariado era secundário, porque surgiram logo inúmeras formas de o contornar, combinando a credulidade de uns com a astúcia e a violência de outros. Redes de intermediários (…) diluíam-se entre a numerosa população da cidade de modo que, apesar de crescer a imoralidade, não estavam criadas estruturas específicas capazes de a reprimir. O ambiente cerrava-se, feio, à volta deste tráfego, cada vez menos defensável, mais distante da contratação de colonos e mais próximo da escravatura”, segundo Beatriz Basto da Silva (BBS).

Em Macau, a primeira emigração por contrato ocorreu em 1851 e os primeiros engajadores desses colonos chineses foram dois franceses, Guillon e Durand. Aí embarcaram os 813 cules com destina a Cuba em dois barcos ingleses. “Seguiu-lhes o exemplo o negociante macaísta José Vicente Caetano Jorge, que transportou no seu navio 250 cules para Callao de Lima, sendo contratados para trabalhar por 8 anos com o soldo mensal de 4 patacas”, segundo Manuel Teixeira (MT).

Legislar contra os abusos

“Até 1851, esta emigração continuou sem conhecimento oficial das autoridades e segundo a maneira determinada pelo contratante. O Governador Isidoro Francisco Guimarães [Visconde da Praia Grande] julgou seu dever intervir, determinando, por portaria de 12 de Setembro de 1853, que os engajadores declarassem o local dos barracões ou depósitos onde recebiam os cules antes de os embarcar e o seu número, devendo os regulamentos desses depósitos ser de antemão submetidos à aprovação do Governo: a inspecção sanitária ficava a cargo do cirurgião-mor, devendo os doentes ser tratados em lugar separado; ao capitão do porto de Macau cumpria visitar os navios para examinar as acomodações, os mantimentos e a aguada.

Dados os enormes lucros deste tráfico, surgiu a competição entre os agentes, que se rodearam de corretores, ou seja, chineses que se internavam pelo interior do império a aliciar emigrantes. Os corretores, na ânsia de aumentar a sua remuneração, iludiam frequentemente os pobres chineses com promessas falazes, forçando-os moralmente a emigrar”, segundo MT.

Em Novembro de 1855, o Governador Guimarães publicou uma portaria onde “determinava que todos os contratos entre esses emigrantes e os agentes da emigração fossem registados na Procuratura dos Negócios Sínicos” e o procurador até à véspera dos embarques ficava obrigado a visitar os depósitos (barracões) dos colonos, para se informar, se algum chinês fora iludido ou forçado a embarcar contra a sua vontade. Caso deparasse com algum relutante, devia mandá-lo repatriar imediatamente.

Como este regulamento guardava silêncio sobre os corretores, estes continuaram a aliciar impunemente os chineses e por isso, segundo BBS em “Junho de 1856, apareceu novo regulamento procurando refrear os corretores: estes deveriam obter da Procuratura uma licença anual, depositando 200 patacas de fiança; pagariam 100 patacas de multa quando se tornassem criminosos de coação ou engano para com os emigrantes ou quando recusassem repatriar os que fossem rejeitados pela autoridade ou pelos agentes.”
Em 1856, de Macau saíram 2473 cules.

Em HK até à II Guerra do Ópio

“O Governo de Hong Kong proíbe [em 1854] gente e navios seus no transporte para as Ilhas Chincha (Peru), porque houve queixas. Mas consente para a Califórnia uma emigração pseudo-livre de corretores”, segundo BBS, que refere, “Não deixa de ser curiosa a cautelosa referência a acompanhar correspondência de John Browing, mencionando que a emigração via Hong Kong, de 1854 a 1855, era livre, não contratada!”.

Com a proclamação pelos ingleses do Chinese Passengers Act em 30 de Junho de 1855, procurava-se assegurar o bem-estar e a liberdade dos emigrantes chineses. “A despeito deste decreto não ser estritamente cumprido pelos oficiais de Hong Kong, os mercadores de cules, sobretudo os agentes que recrutavam emigrantes para a América Latina, começaram a mudar-se de Hong Kong para Macau”, segundo Liu Cong e Leonor Seabra.

“Em documentos apresentados ao Parlamento inglês em 1855 encontra-se uma estatística da emigração para o Peru, nos anos de 1843 a 1855, onde se vê que de 7356 emigrantes embarcados só 4754 chegaram ao seu destino, sendo mortos a bordo 349”, refere Andrade Corvo, mas BBS indica, de “1849 a 1854, foram embarcados de Cantão para o Peru 7356 cules e morreram 549 em viagem”.

O negócio do tráfico de cules em HK ocorreu até 1856, quando o governo inglês, perante os protestos, criou leis e transferiu o problema para fora da sua jurisdição, proibindo o embarque desse porto. “Estas proibições eram levantadas em certas circunstâncias, desde que o capitão da viagem cumprisse com algumas regras severas, excepção que não deixou de ser largamente aproveitada. Na verdade, nunca houve respeito pelas proibições”, segundo Beatriz Basto da Silva que refere, “Em 1860 estimou-se que dos 4 mil cules desviados fraudulentamente, nenhum sobreviveu, tendo muitos procurado no suicídio a morte libertadora.”

30 Nov 2018

Os esforços amargos e o seu tráfico

[dropcap]E[/dropcap]m 1533, o Governador da Índia Nuno da Cunha criou o cargo de Pai dos Cristãos, para cuidar dos libertados da escravidão por se terem convertido ao Cristianismo.

Influenciado de forma decisiva pelos jesuítas, o Rei de Portugal D. Sebastião em 1570 decretou a abolição da escravatura de ameríndios sob o domínio português, aceitando-se a sua servidão e em Março do ano seguinte, proibia “a aquisição de escravos japoneses, sob pena de confiscação dos bens dos culpados”, segundo o Padre Manuel Teixeira. No período filipino, em 1595 o Vice-Rei de Goa aboliu o tráfico de escravos chineses. “Havia legislação portuguesa de 1625, comunicada ao Ouvidor de Macau e recordada pelo Vice-Rei da Índia, Conde da Ega (1758-1765), proibindo a escravatura chinesa”, como lembra Beatriz Basto da Silva. Em 1761, o Marquês do Pombal, no reinado de D. José, decretou o fim da importação de escravos das colónias para a metrópole e terminou com a escravidão de indianos tanto na Índia, como em Portugal. Beatriz Basto da Silva refere ter sido abolida a escravatura em Portugal em 1836 por Sá da Bandeira, mas só entrou em vigor em Macau em 1856.

A abolição da escravidão está directamente relacionada com a Revolução Industrial, iniciada na segunda metade do século XVIII na Inglaterra, segundo Ana Luíza Mello S. de Andrade. A Dinamarca foi o primeiro país em 1792 a criar uma lei para terminar com a escravatura, mas esta só entrou em vigor em 1803. Em 1833, o Parlamento do Reino Unido pôs fim à escravidão para os africanos nas colónias do Império Britânico e a França em 1848 para os negros, com a Proclamação da II República. Nos Estados Unidos da América foi abolida a escravatura em Dezembro de 1865, na XIII Emenda à Constituição. Entre 1807 e 1808, sete Estados do Norte libertaram os escravos, tornando-os homens livres. O Congresso em 1808 proibira a importação de escravos e para libertar 4 milhões de escravos negros entrou em vigor a 1 de Janeiro de 1863 a Proclamação de Emancipação assinado pelo Presidente Abraham Lincoln.

Sobre este tema, aflorado superficialmente, quase tudo fica por dizer e as datas, que não são as definitivas, escondem histórias, muitas não propriamente de teor humanitário.

Tráfico de cules

Em cantonense, os cules têm o nome de fu-lek, que significa esforço amargo. Os chineses sentiam-se “atraídos por promessas de trabalho, como colonos, por esse mundo fora, sonhando voltar ao torrão natal com um bom pé-de-meia. Ingénuos, pacientes e trabalhadores como ninguém (quando motivados) concentraram-se e ofereceram-se, como ‘ovelhas para o sacrifício’, no porto de Amoy (que foi o primeiro) e depois em Cantão, Wampu, Caminh e Swatow, dos laboriosos agricultores Hakkas …”, segundo Beatriz Basto da Silva, que cita o “Conde Earl Gray.

De início nem eram precisos engajadores. Os aspirantes a colonos entregavam-se directamente aos especuladores que os esperavam a bordo, com um contrato que aumentava em ganância e desonestidade à medida que a oferta crescia.”

Após a I Guerra do Ópio, a emigração chinesa iniciada desde Amoy (Xiamen) foi feita abertamente, com a conivência de corruptos oficiais chineses locais e oficiais consulares britânicos, através de agências da Companhia de Londres. Era francês o primeiro barco que partiu de Amoy (actual Xiamen) em 1845 levando 180 emigrantes chineses para a Ilha de Bourbon (Reunião, ilha francesa a Leste de Madagáscar). Beatriz Basto da Silva refere, “Em 1850 a Firma inglesa Tait y Company enviava de Amoy para Havana os primeiros cules contratados.”

De Amoy, até Agosto de 1852, saiu a maioria dos emigrantes chineses e desses 6255, embarcaram em barcos britânicos 73% e os restantes partiram em embarcações espanholas, francesas, americanas e peruanas, segundo Ng Chin-Keong. Muitos raptados nas suas terras pelos corretores chineses, eram entregues aos agentes britânicos, sendo vítimas de um tratamento desumano durante a espera do transporte, na viagem e no destino, quantos escravizados. Os culis, sabendo da sinistra situação dos seus conterrâneos emigrados, revoltaram-se em Amoy a 21 de Novembro de 1852. Segundo o Taotai (Intendente) Chao Lin, o mais alto oficial civil em Amoy, tudo ocorreu quando três ingleses (sendo um, o escrivão da Firma Tait) embriagados caminhavam pelas ruas da cidade à noite e em frente a uma esquadra da polícia entraram numa discussão com alguns soldados e com a multidão de culis, adquiridos pelos ingleses, que no exterior se encontrava. Iniciada com o arremesso de pedras, essa revolta durou uma semana e os ingleses pediram a protecção dos seus marinheiros, que aí desembarcaram. Com medo da sua segurança e dos seus hongs, os mercadores britânicos mudaram esse negócio para outras paragens. De referir estar a China de novo a viver em guerra, desta vez civil, devido à Revolta Taiping (1850-64).

Depósitos para os contratados

Segundo Arnold J. Meagher, citado por Liu Cong e Leonor Diaz de Seabra, “a emigração através de Macau para as Américas desenvolveu-se lentamente, numa fase inicial, visto que os carregadores preferiam os portos de Xiamen, Shantou, Jinxingmen (Cumsingmoon) e Cantão, que ficavam mais perto das fontes de provisão. E, quando se tornou cada vez mais difícil operar o tráfico nesses portos, a emigração chinesa para a Califórnia e a Austrália foi confinada a Hong Kong, e o tráfico para a América Latina concentrou-se em Macau.” Segundo Fernando Figueiredo, “A saída de trabalhadores chineses para a América a partir de Macau tivera início em 1851 e destinava-se sobretudo a Cuba. Nela passavam a estar envolvidos agentes nacionais e estrangeiros (europeus e chineses).”

Em “1852, Hong Kong começa a sua própria emigração, embora já anteriormente canalizasse essa actividade desencadeada de portos da China, onde a Inglaterra tinha interesses, assim como a França”, segundo Beatriz Basto da Silva. O Padre Manuel Teixeira salienta, “O agente da emigração chinesa Mr. White sugeriu ao Governo de Hong Kong e este concordou que se abrisse nessa colónia um depósito para recolha de emigrantes; o mesmo se fez em Macau.”

Os cules, trazidos pelos corretores das terras chinesas, eram também transportados nos vapores das companhias de navegação, recentemente criadas a ligar Hong Kong, Macau, Cantão e seus arredores, para do porto de Macau embarcarem e enquanto isso não acontecia, ficavam albergados em barracões, que em 1851 eram cinco e em 1866 chegavam aos trinta depósitos.

23 Nov 2018

História da emigração chinesa

[dropcap]N[/dropcap]a História da China, o primeiro episódio a reportar uma emigração, não propriamente planeada, ocorreu cerca de 2500 a.n.E. durante a guerra entre as tribos de Huang Di e de Chi You, quando alguns barcos no Oceano Pacífico se perderam no nevoeiro e foram parar ao continente americano. Crê-se serem estes os antepassados dos índios americanos, tanto pelas feições como pelo calendário por eles usado corresponder ao antigo calendário chinês, cujo ciclo era de 52 anos. Também Xu Fu, nascido em 255 a.n.E. no Reino Qi, foi enviado por duas vezes pelo primeiro Imperador Qin Shihuang ao Mar do Leste à procura do elixir da imortalidade.

Na segunda vez, em 210 a.n.E., com ele partiram cinco mil pessoas, levando três mil rapazes e raparigas virgens, mas esta missão nunca regressou. Séculos depois, o monge Yichu escreveu sobre essa expedição referindo ter chegado ao Japão. Já na dinastia Han, os chineses com Chi You como Antepassado, os integrados no povo han foram enviados para a Península da Coreia e os que não aceitaram miscigenar-se colocados no Sul e Oeste das fronteiras do país. Se desde então a emigração se tornou normal para o Nordeste e Sudeste da Ásia, já na dinastia Tang e Song houve chineses a irem trabalhar e viver para a Ásia Central e Sul da Índia e no século XIII para a Birmânia, quando o Imperador mongol Kublai Khan a trouxe para a sua soberania.

Esse fluxo pela Ásia ganhou um novo incremento com a dinastia Ming e durante as viagens do Almirante Zheng He as colónias espalharam-se pelos portos onde se fizeram feitorias. Desde 1405 tal ocorreu em Semarang, Java, em Malaca, Malásia e nas Filipinas, quando o terceiro imperador da dinastia Ming, Yong Le, despachou um alto dignitário da corte para aí governar. “Não admira, por isso, que, em 1571, os Espanhóis encontrassem já, em Manila, uma colónia chinesa, bem organizada e composta de várias dezenas de milhar”, segundo o Padre Benjamim Videira Pires, que refere, “Quando os holandeses fundaram Batávia (a Jacarta de hoje) em 1619, os chineses eram velhos residentes da Indonésia. As Molucas ou ilhas das Especiarias tinham-nas eles demandado no século IX ou antes.”

As sete viagens de Zheng He, de 1405 a 1433, pela política expansionista do Imperador YongLe, em continuidade com o que ocorrera já durante a dinastia Song, levaram os chineses pelo Pacífico e Índico até ao continente africano. Após a sétima e última viagem marítima, a China optou por uma política isolacionista, proibindo os chineses de viajar para fora do país e os desobedientes mercadores, impedidos de regressar, estabeleceram-se pelo estrangeiro, tendo muitos casado com mulheres desses países.

A China fechada

“Em 1450 os isolacionistas conseguem impor ao Imperador o seu ponto de vista e a política externa da China sofre uma transformação radical que vai modificar o curso da História. A marinha chinesa que em 1420 era tão importante que justificava um ministério especial, é raiada da superfície dos oceanos com um simples traço de pena; as esquadras imponentes, de dezenas ou centenas de navios e de dezenas de milhares de homens de equipagem, serão varridas dos mares pela força de um decreto; os navios de maior tonelagem que existiam na época em qualquer parte do mundo serão afundados ou desmantelados, os estaleiros queimados, os marinheiros dispersos. A China que dispunha de todos os trunfos para se tornar a maior potência naval do Mundo, capitães experimentados e boas equipagens, tonelagem, número de navios, canhões e pólvora, recursos financeiros enormes, soldados e recursos populacionais em número mais do que suficiente para suportar uma ocupação militar e um êxodo colonizador intenso, fecha-se na sua concha, isola-se numa torre de marfim e adormece num sono continental de que só a hão-de acordar os canhões europeus, já no século XIX”, segundo Benjamim Videira Pires.

Com a China fechada ao comércio externo, houve grupos privilegiados de comerciantes, a quem era permitido aventurar-se até aos mares do sul em busca de negócio. Os de Cantão iam até à feitoria chinesa de Malaca, o mais distante porto onde faziam Trato e os de Amoy e Ningpo para as ilhas das Filipinas e Japão.

“Os comerciantes e conquistadores da Europa empregaram os bons ofícios destes emigrantes chineses na sua expansão ultramarina pela Ásia, mas, às vezes, quando lesados nos seus interesses, os homens da cabeleira negra revoltaram-se contra os bárbaros do Ocidente. Assim, em 1603, os Espanhóis massacraram, em Manila, 20 mil chineses amotinados. Em Batávia, os Holandeses mataram igualmente, no ano de 1740, vários milhares de chineses que resistiram a uma ordem de deportação”, refere Videira Pires. Segue Beatriz Basto da Silva, “Sempre houve nos chineses meridionais, uma natural tendência para a emigração: o povoamento da Formosa e de Ainão, as densas colónias chinesas do Sião e portos do Estreito, o verdadeiro prolongamento da Província de Fukien em Manila, onde já em 1643 o seu número exigia a presença de três procuradores chineses! Para não mencionar a diáspora na Oceânia, Java, Malásia, Polinésia, enfim, um pouco por todo o Sudeste Asiático, onde se mostram empreendedores, infatigáveis e hábeis para tudo o que toque o comércio.”

Assim se estabeleceram ao longo dos séculos as livres colónias de chineses ultramarinos.

Clandestina emigração

A dinastia Ming proibira a emigração de chineses e tal continuou com a dinastia Qing. Penang, desde 1786 colónia da Companhia das Índias Orientais (EIC), além de receber um grande número de emigrantes chineses, tornou-se um entreposto para a distribuição desses expatriados. Para evitar conflitos com o governo chinês, a EIC usou Macau como local de reunião desses cules e daí eram enviados em navios portugueses para as colónias inglesas, como referem Liu Cong e Leonor Diaz de Seabra, que aditam terem os portugueses também aproveitado para enviar mão-de-obra para as suas colónias.

Após a I Guerra do Ópio ocorreu um imenso êxodo de chineses, que inicialmente e ingenuamente se entregavam voluntariamente para ir trabalhar no estrangeiro. Encontravam-se eles por essa altura em extrema pobreza, por razões de catástrofes naturais e dos impostos que o governo mongol dos Qing lhes impunha para pagar as inúmeras e pesadas indemnizações das guerras que os ocidentais fizeram à China. Os ingleses, sem nada de interesse para trocar com os chineses, traziam ópio e a guerra a este pacífico país, conseguindo assim roubar o pecúlio acumulado durante 5000 anos de excelentes governações e ter moeda de troca para adquirir os eruditos trabalhos como a seda, porcelana, laca e o chá.

O excedente demográfico e a sua fácil adaptação aos mais diversos climas levaram os chineses a ser preferidos para irem trabalhar nas colónias inglesas e na América, com falta de mão-de-obra devido à abolição da escravatura.

Dos portos abertos pelo Tratado de Nanjing de 1842 continuou o esforço amargo a emigrar, apesar das leis da China não aceitarem essa expatriação.

16 Nov 2018

Emigração chinesa para o Brasil

[dropcap]O[/dropcap]s monopólios dos bens essenciais encontram-se na ordem do dia quando em 1894 Camilo Pessanha chega a Macau, mas o negócio de Ópio e dos Cules anda ainda pelas páginas dos jornais.

O assunto da emigração de trabalhadores chineses, conhecidos por cules, reaparecera nas páginas dos jornais da cidade pois, Mr. Hippisley, comissário da alfândega da Lapa, no seu relatório respeitante ao ano de 1893 refere o envio de emigrantes chineses de Macau para o Brasil e insinua a má-fé do agente da Companhia Metropolitana do Rio de Janeiro, promotora dessa expatriação.

Tal devia-se ao Sr. Hippisley “entender que Macau não tem o direito de deixar embarcar colonos chineses para o Brasil, porque esta república não tem tratado com a China a esse respeito. É verdade que um tratado negociado entre a China e o Brasil em 1881, nada estipular sobre a emigração”, segundo o Echo Macaense, que prossegue, essa “insuficiência e a necessidade de uma especial convenção suplementar a fim de obter os trabalhadores que se desejam, foram reconhecidas pelo Brasil, que enviou à China para este fim um Enviado especial, que se achava em caminho. O Brasil não tinha representante na China, nem a China tinha algum agente acreditado junto ao Brasil, para velar pelos interesses dos emigrantes.” (…) “O facto da companhia se recusar a esperar pela vinda do Enviado e pela conclusão das negociações que o seu governo julgou necessárias, naturalmente despertou a suspeita sobre a boa-fé.”

A 17 de Outubro de 1893 partiram de Macau para o Rio de Janeiro 475 emigrantes chineses, mandados ir pelo presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Porciuncula, para no Brasil trabalharem na agricultura. Transportados no fretado vapor alemão Tetartos, desembarcaram no porto de Imbetiba em Macahe no dia 5, ou 11 de Dezembro de 1893 e com eles veio um carregamento de arroz. De Macahe, divididos em dois grupos, seguiram pela estrada de ferro Macahe e Campos, ramal de Frade e passaram para o estabelecimento de emigração em Cabiunas, de onde foram distribuídos aos agricultores. O Echo Macaense, rebatendo o relatório do Sr. Hippisley, argumenta, “Estamos certos que melhor tratamento não teriam eles recebido se tivessem emigrado para Singapura, ou outras possessões inglesas, onde têm de trabalhar muito arduamente até reunir o preço das suas passagens.”

Clandestina emigração

O Governo da dinastia Qing proibia a emigração de trabalhadores chineses, mas quando a Companhia das Índias Orientais (EIC) em 1786 fez de Penang uma sua colónia, o governador dessa ilha pediu “ao representante da EIC, em Cantão, para recrutar artesãos e lavradores chineses e transportá-los para Penang através dos navios da companhia”, segundo Liu Cong e Leonor Diaz de Seabra, que referem, “Em 1805, o governador de Penang, informava o representante da Companhia das Índias Orientais (EIC) de que o governador da Índia Britânica planeava recrutar trabalhadores chineses para a colónia britânica de Trinidad. Foi proposto que os trabalhadores chineses se juntassem primeiro em Macau e, depois, fossem transportados para Penang por um navio português, a fim de evitar conflitos com o governo chinês.” (…) “Além dos ingleses, os próprios portugueses, em Macau, também recrutavam emigrantes chineses para as colónias portuguesas (Brasil, Timor, entre outras), através de Macau. Em 1812, chegaram ao Rio de Janeiro 300 chineses cultivadores de chá.”

Benjamim Videira Pires refere que “o povoamento do Brasil, no tempo de D. João VI, e por iniciativa do Conde de Linhares, se fez por meio dos chineses. Eles introduziram, no Jardim Botânico e na ex-fazenda dos Jesuítas Santa Cruz, do Rio de Janeiro, a cultura do chá. As plantações ocupavam muitos acres de um morro cheio de pedras, semelhante ao habitar da planta na China.” Adita Leonor Seabra e Liu Cong, “Numa carta enviada, em 1815, para o ouvidor de Macau, Miguel de Arriaga Brum da Silveira, o ‘cabeça’ dos trabalhadores chineses no Brasil lamentava-se da vida dura no Brasil, que não estava de acordo com o que se estipulara no contrato.”

Emigração para o Brasil

Sobre a emigração chinesa para o Brasil, o Echo Macaense de 29 de Agosto de 1893 começa por dizer, “noutros tempos, quando havia guerras, o excesso da população chinesa era tal que podiam emigrar milhões de chineses, com mais razão deve haver agora muita gente para emigrar, porque tem havido vinte anos de paz e não tem havido iniciativa da parte dos capitalistas para dar impulso a empresas agrícolas, o que é devido talvez a ter havido ultimamente tantos abusos e tantas companhias malogradas.

Nestas circunstâncias o Brasil convida os trabalhadores chineses para irem arrotear os campos daquele imenso país, que ocupa mais de metade da América do Sul, onde o solo é fertilíssimo, e rico em ouro e diamantes, arroz, trigo, madeiras, café, açúcar, etc..

Foi em 1531 que começou a colonização portuguesa no Brasil, mas até hoje existem numerosos terrenos incultos, e para os cultivar os capitalistas daquela república resolveram convidar trabalhadores chineses, tendo para esse fim primeiramente pedido ao Presidente da República que fizesse uma convenção com o governo chinês sobre este assunto. O Tsung-Li-Yamen já deu a sua anuência, e por isso vai haver uma legação brasileira em Peking e cônsules em Cantão, Amoy e Shanghae.

O artigo 13.º do tratado de Brasil com a China, celebrado em 1881, estipula que os chineses no Brasil gozarão dos mesmos direitos e privilégios que os brasileiros e os súbditos da nação mais favorecida, por isso a nova convenção servirá só para garantir ainda mais o bom tratamento dos chineses.

Se esta emigração for feita pelo porto de Macau, onde já se acha um agente do Brasil, as autoridades portuguesas serão muito vigilantes para evitar todos os abusos, pois que em Macau os emigrantes são primeiramente examinados na Procuratura dos Negócios Sínicos, e só depois de verificada a sua espontaneidade é que se lhes concede o passaporte.

Nas vésperas da partida do vapor, são de novo interrogados a bordo pelo capitão do porto, que faz desembarcar aqueles que não quiserem seguir viagem, donde se vê a imparcialidade e a justiça que presidem à fiscalização deste ramo de serviço; portanto poderão os mandarins ficar bem descansados a este respeito.” (…) “Seguem-se depois umas breves referências à Historia do Brasil, e a sua transformação moderna de império em república, faz ponderações sobre as garantias que oferece esta emigração feita com protecção do governo chinês, sobre a plena liberdade com que ela é feita, e sobre a conveniência de se aproveitar desta emigração para dar ocupação a tanta gente que não tem meios de subsistência, e para a qual os outros países estão fechados; e conclui por assegurar que o jornal advogará sempre os interesses dos oprimidos se alguém for violentado ou maltratado.” Estão memórias de uma triste História, escondida por detrás destas palavras.

9 Nov 2018

Sun Yat-sen como médico em Macau

[dropcap]S[/dropcap]un Wen (Sun Yat-sen) nascera um ano antes de Manuel da Silva Mendes e Camilo de Almeida Pessanha. Já com o Imperador Guang Xu (1875-1908) no trono do Celeste Império, veio o Dr. Sun para Macau como médico em Setembro de 1892, onde ficou um ano, enquanto como professores do Liceu, os bacharéis formados em Direito pela Universidade de Coimbra, Camilo Pessanha chega um ano e meio depois e Manuel da Silva Mendes só em 1901. Ambos vieram ao mundo no ano de 1867, Silva Mendes a 23 de Outubro em S. Miguel das Aves, Famalicão e Camilo Pessanha em Coimbra a 7 de Setembro.

Como médico, Sun Yat-sen serviu no Hospital Kiang Wu em regime de voluntariado entre Setembro de 1892 e Setembro de 1893 e aí criou uma secção de Medicina Ocidental. A comunidade chinesa de Macau fizera a Associação do Hospital Kiang Wu com a finalidade de ajudar os chineses mais desfavorecidos e tinha projectos de abrir escolas gratuitas, socorrer os necessitados e enterrar os mortos cujas famílias eram pobres ou, sem ninguém para deles cuidar. O Hospital foi instalado em San Kiu, um dos locais mais doentios de Macau, onde os mortos mal enterrados, muitas vezes com partes do corpo a descoberto e sem sepulturas, encontravam-se espalhados pela encosta do monte. A arquitectura do Hospital Kiang Wu, semelhante à do Templo de Kun Iam Tong, tem três pavilhões centrais, servindo o da entrada para as reuniões da Associação e o terceiro, um templo com altares aos deuses, Hua Tuo, Guang Gong, Bao Gong, Liu Zu e Hong Sheng. Na casa situada no lado direito dos três pavilhões realizam-se os cuidados médicos. Conta o Hospital com um total de 60 quartos, localizados ao redor do terreno, prestando gratuitamente serviços clínicos aos doentes, servindo de asilo e casa mortuária. Assim se apresenta a Camilo Pessanha o Hospital chinês, dirigido então por uma Comissão Administrativa com quatro directores.

Macau não lhe reconhece diploma

Apoiante e amigo do Dr. Sun desde o tempo de Hong Kong, era então Francisco Hermenegildo Fernandes (1863-1923) funcionário tradutor da Justiça britânica e a sua família proprietária em Macau da tipografia N. T. Fernandes e Filhos, com sede na Rua da Casa Forte n.º 3. Encontrava-se o Dr. Sun a exercer medicina em Macau quando a 18 de Julho de 1893 Francisco Fernandes aqui fundou o Echo Macaense, semanário bilingue luso-chinês. Era Director da tipografia e do jornal e contou com Sun Yat-sen para criar a edição chinesa.
O Ching Hai Tsung Pao (JingHaiCongbao), a edição chinesa do jornal Echo Macaense, a 26 de Setembro de 1893 referia: .

“Através de Francisco Fernandes, Sun Yat-sen seria apresentado a António Joaquim Bastos, figura que de facto desbloquearia o acesso de Sun aos círculos sociais macaenses, avalizando-o na sua vida profissional e defendendo-o nos processos judiciais que lhe foram movidos por rivais e inimigos políticos em Macau. António Joaquim Bastos era, tal como Francisco Fernandes, jornalista e integrava igualmente a redacção do Echo Macaense. (…) Para além de político era também um destacado causídico do foro local. (…) Foi diversas vezes vereador e presidente do Leal Senado e provedor da Santa Casa da Misericórdia. Foi graças a esta última qualidade do seu protector macaense que Sun conseguiu estabelecer-se como médico na cidade, já que António Joaquim Bastos, como provedor da Santa Casa, não teve dificuldades em convencer a mesa directora da instituição a conceder-lhe os empréstimos necessários para montar não só consultório, mas também uma farmácia anexa”, segundo João Guedes, (Revista Macau 52, Outubro 2016) que segue, “Os bons ofícios de Bastos contribuíram também para que a Misericórdia arrendasse a Sun a casa que seria a sua residência nos anos de Macau, situada precisamente na Travessa da Misericórdia, a poucos passos da Praça do Leal Senado. No seu novo domicílio, Sun atendeu alguns dos seus primeiros pacientes, que além de serem seus vizinhos eram portugueses, como os filhos do escritor Venceslau de Morais…”

Formado em Hong Kong, Sun Yat-sen, sem diploma português de médico, segundo as leis do território não poderia exercer legalmente medicina em Macau e nem o poder e influência de António Joaquim Bastos o conseguiram ajudar. Assim, o Dr. Sun teve em 1893 de abandonar Macau e mudou-se com a sua farmácia para Cantão, mas como refere o Dr. Cantlie, «as actividades do Partido Regenerador tomaram tal vulto e ele tornou-se tão proeminente entre os seus colegas que dispunha de pouco tempo para qualquer outra actividade que não fosse a política».

Caçada aos caçadores

Era habitual os portugueses de Macau atravessarem as Portas do Cerco e irem fazer caçadas em território do interior da China. Assim foi na madrugada de 26 de Agosto de 1893, quando o Sr. Firmino Cândido Pereira e quatro amigos seguiram para Goiaveira, povoação pouco distante da Porta do Cerco, com o fim de caçar martinhos-brancos. Sem problemas passaram a estação aduaneira e casa de guarda e levavam já uma hora de caça quando às 7 horas, na maior afluência de caça, depois de ter o Sr. Pereira descarregado sua espingarda sobre um bando de martinhos, no momento de a colher foi bruscamente assaltado por uns quinze chineses, que o desarmaram à força, tendo os outros entregado sem resistência as armas. Asseveraram algumas pessoas que os assaltantes eram meirinhos do mandarim Ngai, sub-prefeito de Chin-san (Casa Branca) e este, numa carta deu a sua versão: . O Mandarim de Chin-san mandou publicar um edital em que narrava o ocorrido e suscitava a observância do anterior edital proibitivo da caça. O Governador da província de Macau e Timor, Custódio Miguel de Borja fez um protesto perante Tsung-Li-Yamen contra o procedimento abusivo do sub-prefeito de Chin-san.

Para haver paz e harmonia, pedia-se que o governo encarregasse um funcionário português a se entender com o mandarim de Chin-san sobre a determinação dos lugares onde devia ser permitido caçar e sobre as formalidades a observar quem quisesse obter uma licença para ir à caça. Pouco tempo depois, tal ficou resolvido, continuando os caçadores de Macau a fazer as incursões em território do interior da China até 100 lis de Macau, onde não faltavam tigres e martinhos-brancos.

26 Out 2018

Um ano entre Sun Wen e Camilo Pessanha

[dropcap]D[/dropcap]escritos alguns dos mais importantes acontecimentos históricos do século XIX na China, anteriores à chegada de Camilo Pessanha a Macau, e que influenciaram Sun Wen para o combate revolucionário contra a dinastia Qing, falta agora apresentar estas duas personagens.

Sun Wen, conhecido pelos estrangeiros por Sun Yat-sen, antecedeu um ano Camilo Pessanha, tanto no nascer como a deixar esta vida. Assim, Sun Zhongshan, nome dado a Sun Wen após a morte e que virá a ser o primeiro Presidente da República da China, nasceu a 12 de Novembro de 1866 numa família de camponeses na pequena aldeia de Choy Heng (Cuiheng em mandarim), no distrito de Heong-Sán (Xiangshan, actual Zhongshan), província de Liangguan (Guangdong e Guangxi), situada a cerca de 50 quilómetros a Norte de Macau. No trono do Celeste Império encontrava-se então o oitavo Imperador Qing, Tong Zhi (Mu Zong, 1862-1874).

Refere o Padre Manuel Teixeira, “O pai de Sun Wen foi alfaiate em Macau, regressando à sua aldeia antes do nascimento do filho”. Dez meses depois, no ano da abolição da pena de morte em Portugal, onde reinava D. Luís (1861-89), nasceu Camilo de Almeida Pessanha na freguesia da Sé Nova, em Coimbra, pelas onze da noite do dia 7 de Setembro de 1867. Segundo Daniel Pires, era filho de um estudante do 3º ano de Direito, Francisco de Almeida Pessanha e da sua governanta Maria do Espírito Santo Duarte Nunes Pereira. Fora baptizado a 30 de Outubro de 1867, mas só a 9 de Outubro de 1884 seria perfilhado pelo pai, estava Camilo no primeiro ano da Faculdade de Direito na Universidade de Coimbra.

Na aldeia de Cuiheng, Sun Wen nasceu e viveu em criança com o nome de Dixiang, onde na escola primária escuta as memórias do tempo das Guerras do Ópio (1839-60) e da Revolta Taiping (1850-64). Sun Wen chamado ao Havai pelo irmão mais velho Sun Mei, em 1878 passou por Macau a caminho das ilhas Sandwich (onde o Capitão Cook chegara em 1778, um século antes de Sun Wen), arquipélago da Polinésia, a meio do Oceano Pacífico entre a China e os EUA. A viver em Maui, uma das oito ilhas do Havai, para continuar os estudos iniciados na aldeia natal foi matriculado na escola primária e ajudava o irmão como empregado de balcão.

Em Agosto, dois meses após a sua chegada, vai estudar inglês para Honolulu, na escola primária americana Iolani, onde terminou os estudos em 1882. No ano seguinte, já no Iolani College em Honolulu, foi chamado a regressar à terra natal por outro dos seus irmãos. Tendo em Cuiheng destruído a imagem de um deus, o que desagradou à população local, os pais acharam melhor enviá-lo para estudar na Escola Diocesana da Igreja Anglicana em Hong Kong, onde baptizado pelo missionário protestante americano Dr. Charles R. Hager foi-lhe dado o nome de Sun Yat-sen. Em 1884 frequentava o Queen’s College, ainda em HK, quando se casou com Lu Mu-zhen (Lou Mou Cheng, aliás Cheng-ling song), de quem virá a ter duas filhas e em 1891, o filho Sun Fó.
Já Camilo Pessanha completou em 1884 os estudos secundários no Liceu Central de Coimbra e nesse ano entrou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, formando-se em Junho de 1891.

Dr. Sun

Na China reinava o nono Imperador Qing, Guang Xu (De Zong, 1875-1908) quando em 1886 Sun Yat-sen, com vinte anos, vai para Cantão estudar medicina tradicional chinesa. Por andar a difundir a revolta contra a dinastia Imperial manchu dos Qing e as ideias de República importadas do Ocidente, em Janeiro de 1887 passou a frequentar o Colégio Britânico de Medicina para chineses em Hong Kong, orientado pelo Prof. James Cantlie.

Licenciou-se em medicina ocidental a 22 de Julho de 1892, mas como não havia vagas para médicos em Hong Kong, após uma breve passagem por Beijing, vai em Setembro exercer clínica em Macau, convidado para criar um departamento de Medicina Ocidental por Chen Xi Ru, na altura um dos maiores accionistas do Hospital Kiang Wu. Chen Xi Ru com Lou Cau e He Sui Tian (Ho Lin Vong) colocaram um anúncio no JingHaiCongBao a dizer ser Sun Yat-sen um muito bom médico de medicina ocidental.

A instalação do Hospital Kiang Wu, aprovada a 21 de Junho de 1870 pelo Governo de Macau, fora requerida pela comunidade local chinesa, representada pelos senhores Sam Wong, Chou Iao, Tak Fong e Wong Lok, estipulando o foro anual de uma pataca e autorizando a angariação de fundos necessários para a sua construção. Fundado em 28 de Outubro de 1871, no início apenas aí se preparava e cozinhava os medicamentos, distribuídos gratuitamente e só em 1874 foi no local criado o departamento de Medicina Tradicional Chinesa.

O Dr. Sun trabalhava no Hospital Kiang-Wu e na Associação de Beneficência Tong Sin Tong, fundada em Julho de 1892, e em ambos os locais, onde as pessoas sem posses se tratavam gratuitamente pela medicina tradicional chinesa, ele introduziu medicamentos ocidentais.

Já para abrir uma farmácia sino-europeia (Tchong-Sai Yeok-Ko, em cantonense e em mandarim, Zhong Xi Yao Jü) na Rua das Estalagens n.º 80, Sun Wen contraiu com o Hospital Kiang Wu uma dívida de 2000 patacas, “sendo fiador o conhecido e abastado comerciante Ung Tchit Mei”, como refere o Padre Manuel Teixeira. A farmácia tornou-se fachada de um local de conspiração para derrubar a monarquia e o empréstimo, que tinha um prazo de cinco anos, só foi totalmente liquidado por Sun Yat-sen ao Hospital Kiang Wu em 1919.

Fok Kai Cheong refere ter encontrado o contrato de arrendamento relativo à propriedade sita no Largo do Senado n.º 14 feito pelo arrendatário Dr. Sun com a Santa Casa da Misericórdia a 26 de Agosto de 1893. Luís Gonzaga Gomes dá essa referência, no “prédio n.° 14, que ficava numa fileira de casas que ia da Travessa do Roquete à Rua do Gonçalo…” era o domicílio de Sun Wen. Na acta de 4-9-1895 da Mesa da SCM, publicada no Echo Macaense a 9-11-1895, refere-se que .

Assim, quando Camilo Pessanha chega a Macau, o Dr. Sun tem ainda alugada a casa no Largo do Senado, apesar de já não se encontrar na cidade. Aqui devemos aos nossos leitores uma rectificação, pois no último artigo referimos encontrar-se os Correios no edifício do Senado, o que só ocorrerá em 1915, estando este então ainda na Praia Grande, no edifício contíguo ao Hotel Hing Kee.

19 Out 2018

Festejos em Shanghai e as estampilhas

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]os dias em que a comunidade portuguesa de Shanghai festeja o IV Centenário da Viagem Marítima para a Índia, a chuva fustiga a cidade. No artigo anterior demos nota das celebrações do dia 17 de Maio de 1898, onde na Igreja de S. José, na concessão francesa, se realizou um Te Deum e no Club de Recreio foram recebidos todos os cidadãos que desejaram por telegrama transmitir saudações a El-Rei e à família real, à nação e à comissão central executiva de Lisboa.

“No dia 18 a chuva continuou a incomodar-nos; não obstante, a subcomissão encarregada dos festejos no Jardim Chang-su-wo foi continuando com os seus arranjos e conseguiu fazer uma esplêndida festa”, n’ O Porvir. Para esse arraial festivo, o programa prevê danças e outros divertimentos, fogo de vista e iluminações, no Jardim Chang-Su-ho, segundo o Echo. “Às 9 horas [da noite] começaram a vir os convidados. Eram mil e quinhentas pessoas, pouco mais ou menos, entre nacionais e estrangeiros, incluindo crianças. O salão de baile estava bem ornado, sobressaindo uma pintura alegórica de Vasco da Gama com o estandarte real e bandeiras nacionais nos lados. O salão de baile era bem vasto, pois estando 95 pares a valsar, ainda restava grande espaço para os espectadores e passeantes. Houve bonitos fogos de vistas no imenso jardim; e por não se poderem fazer outros divertimentos fora das portas por causa das lamaceiras, os da comissão arranjaram uma companhia de actores chineses que foram representar numa casa contígua, o que divertiu muita gente. Às nove da manhã, depois de uma lauta ceia, os convidados começaram a chamar pelas suas carruagens e foram deixando o jardim com mostras de saudade.

Na noite de 19, apesar de chover bastante realizou-se no Astor Hall o sarau literário e musical” e segundo o Echo, “se a parte musical é desempenhado por amadores portugueses, os trabalhos literários de nacionais e estrangeiros são avaliados pela comissão executiva, sendo os aceites reunidos num livro.” Continuando n’ O Porvir, “O Hall estava ornado com o maior brilhantismo e bom gosto. Tanto a parte literária como musical agradou à grande multidão que se achava presente. A banda dos nossos amadores achava-se também presente e tocou hinos da Carta e Vasco da Gama com maior entusiasmo, antes de começar a festa e na conclusão da mesma.”

“As iluminações atingiram, porém, todo o seu brilhantismo só na noite do dia 20, em que o vento, prestando talvez também a sua homenagem a Vasco da Gama, houve por bem respeitá-las”. Já o Echo Macaense diz, “Além das residências dos portugueses, os consulados de Inglaterra e Alemanha e vários outros estrangeiros e alfândega e o Mixed Court tomaram parte. Os bunds da concessão francesa e do foreign settlement estavam ambos embandeirados e iluminados, apresentando uma iluminaria de duas milhas de comprimento. A banda dos nossos amadores percorreu as ruas tocando várias marchas”. “Grande era o número de chineses na Bund, notando-se em todos os rostos grande e geral entusiasmo.

Congratulando-nos com os nossos estimados compatriotas pela brilhante prova que mais uma vez souberam dar do seu acrisolado patriotismo, daqui os saudamos e lhes significamos e nosso júbilo pela forma com que se estão honrando a si e estão estremecendo a pátria”, O Porvir.

Conclui o Echo Macaense, “Enfim, saiu tudo o mais esplêndido possível, devido à força de vontade dos nacionais e à boa táctica de andar em boa camaradagem entre os cosmopolitas. Houve mais uma coisa que não estava incluída no programa e que no meu entender [C.C.C.] veio coroar a nossa festa. Devido à muita amizade que os bons padres desta missão têm para com a gente portuguesa, espontaneamente anunciaram no dia da Ascensão de N.S.J.C. que a missa de dia no Domingo, às 10 horas, havia de ser em honra e memória de Vasco da Gama, e em acção de Graças e para pedir pelo reino de Portugal, e convidou a comissão executiva a assistir a ela oficialmente. Escusado é dizer que o amável convite foi aceite com grande entusiasmo. A nossa igreja do Sagrado Coração de Jesus, onde se disse a missa, estava bem ornamentada, sobressaindo muitas nossas bandeiras. O reverendo padre Paris, superior geral da missão que tinha chegado da missão no dia antecedente, foi celebrante e ao Evangelho o reverendo padre Alves fez, com muita eloquência e entusiasmo, o panegírico de Vasco da Gama. Sua Reverência mostrou ser um bom orador, e como vai para Macau daqui a algum tempo, o meu amigo e toda a gente lá terão o gosto de o ouvir.”

Estas comemorações deram um novo ânimo à comunidade portuguesa, maioritariamente residente no Model Setllement.

Estampilhas para o Centenário

Um leitor, no Echo Macaense de 13 de Setembro de 1896, dá como sugestão mandar-se fazer selos especiais para o Correio de Macau a comemorar o IV Centenário e a ideia de uma série de imagens para os selos. Ideia usada em Lisboa para serem distribuídos por Portugal Continental e Ultramarino e assim, em Macau começaram a ser vendidas as estampilhas a 15 de Abril de 1898, referindo O Independente de 6 de Março terem já sido recebidas na Repartição da Fazenda Provincial e terão curso desde 1 de Abril a 30 de Junho.

A 24 de Abril o Echo Macaense dá conta, “Vieram novamente do reino em grande quantidade estampilhas do centenário e por ordem superior foi determinado que não se vendessem a cada indivíduo mais do que seis estampilhas por cada vez, sendo elas de 1/2 avo até 8 avos, isto com o fim de evitar que os grandes coleccionadores as absorvam rapidamente e o público fique privado delas para as suas colecçõezinhas e para o uso ordinário. Não há limites para venda de estampilhas cujo valor suba acima de oito avos, e também podem comprar-se quantas colecções completas se queiram. Já não há para venda bilhetes-postais impressos em Macau com a resposta paga, e também já se esgotaram as duas qualidades de bilhetes que vieram desta última vez”. O mesmo jornal, a 1 de Maio, com o título ‘Mais valores postais expedidos para as nossas colónias – Nova encomenda feita à casa fabricadora dos mesmos valores em Londres’ refere, “Foram reclamadas por algumas das nossas colónias novas remessas de valores postais da comemoração indiana e a prova disto é que há poucos dias foram enviados para o ultramar mais os seguintes valores: Para a Índia 24 mil bilhetes da taxa de ¼ de tanga no valor de 150$ réis. Para Macau 212.500 estampilhas das taxas de ½, 1, 2, 4, 8, 12, 16 e 24 avos e dois mil bilhetes da taxa de 2 avos, tudo no valor de 6185$000 réis; e para Timor, três mil bilhetes da taxa de 2 avos, no valor de 30$000 réis. O valor total de todos os valores, acima especificados, 6465$000 réis da metrópole. Foi já expedida ordem competente para se aprontarem na casa londrina mais 5000$00 dos aludidos papelinhos de posta”.

O Correio, então situado no edifício do Leal Senado, tem desde Dezembro de 1897 como Director de nomeação definitiva Francisco Maria Xavier de Souza, filho de Ricardo de Souza, o anterior Director.

12 Out 2018

O IV Centenário celebrado em Shanghai

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] colónia portuguesa de Shanghai em 1898 conta para cima de oitocentos portugueses e prepara-se para realizar a sua primeira festa. Seria bom todos estarem de mãos dadas para a festa se realizar com o maior esplendor possível. “São dirigidos convites para se fazerem representar nos festejos, aos diplomatas que na ocasião se acharem em Shanghai, bem como aos representantes das diferentes colónias. Também às autoridades locais, aos conselhos municipais e forças de terra e mar, à imprensa local, a várias associações de comércio, indústria, ciência, instrução, religião, etc. e a diferentes escolas”.

Com uma colorida descrição da festa o correspondente do Echo Macaense relata: “Muito antes de alvorecer o dia 17 de Maio de 1898, a maior parte dos portugueses já se achavam levantados. Uma grande multidão de senhoras e cavalheiros encheu a rua onde se acha actualmente o Consulado de Portugal, não obstante a grande chuva e muita trovoada que se fazia. Às 5 horas, uma banda de amadores nossos rompeu a sinfónica música de alvorada, subindo nessa ocasião girândolas de foguetes. Após pequena pausa tocaram o Hino da Carta [executado obrigatoriamente desde 1834 nas solenidades públicas, está ligado com a Carta Constitucional outorgada por D. Pedro IV]; a bandeira das sagradas quinas, devidamente encimada da flâmula, foi arvorada majestosamente entre hurras dos espectadores e confusão dos panchões. Depois os nossos músicos foram tomar café, oferecido pelo nosso digníssimo cônsul”. O Porvir refere ter sido “a bandeira portuguesa hasteada no consulado à alvorada, percorrendo em seguida uma banda de música de amadores portugueses as principais ruas de Hongkew [onde habitam portugueses] até ao Club de Recreio, tocando o hino nacional e o hino do centenário. A maior parte dos navios surtos no porto içaram a bandeira portuguesa, que se viu também flutuar nos estabelecimentos e casas dos principais negociantes e residentes”.

“Não obstante as bátegas de água que caíram constantemente, as diferentes subcomissões não desanimaram, foram continuando com os diversos trabalhos e conseguiram assim cumprir à risca, e com muito brilhantismo, o programa. Só o Te Deum, se verificou às 4 horas do dia marcado, em vez de 5 horas e meia, como estava anunciado”, menciona o Echo. Está a Diocese de Shanghai nas mãos da Propaganda Fide. Continuando n’ O Porvir, “Na tarde do mesmo dia houve um solene Te Deum na igreja de St. Joseph na Concessão francesa, oficiando o reverendíssimo bispo Garnier e assistindo àquele acto religiosos muitas pessoas de todas as nacionalidades, notando-se entre elas sua Exa. Tsai Tantai e o seu secretário, o Sr. Cheng, magistrado do tribunal misto, todo o corpo diplomático e consular, os oficiais dos diferentes vasos de guerra surtos no porto, os voluntários e os bombeiros.

Em seguida ao ofício divino, o reverendíssimo bispo Garnier tomou a palavra e usou dela enaltecendo a brilhante história de Portugal no passado, em termos eloquentíssimos e altamente penhorantes para nós. Embora esse passado já se tenha ido, é-nos todavia grato vermos um grande vulto eclesiástico da França, dessa França que é nossa irmã, e que deve ser sempre nossa amiga, prestar-lhe homenagem pública, reconhecer-lhe a primazia na espinhosa vereda da civilização. Isto chega a convencer-nos, a nós os portugueses, de que ainda não somos pequenos de todo, e que a grandeza do nosso glorioso passado histórico ainda se reflecte sobre nós. Trabalhamos para a civilização, buscamos o bem de todos, como podemos, e se um dia tivermos de morrer, a Humanidade nos faça o epitáfio que merecemos, e que pode ser, pouco mais ou menos o seguinte: “Aqui jaz Portugal, que, depois de ter dado ao Mundo novos mundos, só pequeno quinhão deles guardou para si. ETERNA GLÓRIA LHE SEJA FEITA.” Ao “bispo Garnier brindaram os nossos compatriotas luso-shanghaenses com um magnífico prie-Dieu, como amostra do seu reconhecimento”. Diz o Echo: “A Igreja de S. José, onde se celebrou o Te Deum, estava ricamente ornada, sobressaindo em vários pontos apropriados, as bandeiras das quinas. A bando dos amadores nossos estava presente, tocando os hinos da carta e de Vasco da Gama, entre e depois da função”.

No Club de Recreio

Após a cerimónia religiosa na Igreja de St. Joseph, todos foram para o Club de Recreio, onde houve uma recepção pelo “nosso ilustre e queridíssimo amigo Sr. Joaquim M. Travassos Valdez, digno e estimadíssimo cônsul-geral de Portugal em Shanghai”, segundo O Porvir. No Club de Recreio, reuniu-se “a nossa comunidade para se congratular com ele pelo fausto acontecimento que a pátria comemorava naquele dia. Usou da palavra o nosso distinto compatriota Sr. Adelino Diniz, fazendo uma primorosa resenha da História de Portugal, desde Afonso Henriques até quase aos nossos dias, evidenciando e apoteosando, com brilhante colorido os feitos dos nossos heróicos antepassados, e terminando com as seguintes palavras felizes: <Portugueses! Curvemo-nos perante a gigantesca figura da nossa histórica nacional! Honra e glória a Vasco da Gama! Viva Portugal! Viva El-Rei! Viva a família real! Viva o digníssimo representante de Portugal em Shanghai!>”.

Segue o Echo Macaense, “O Sr. Adelino Diniz fez nesta ocasião um discurso apropriado, concluindo por pedir ao nosso digníssimo representante para transmitir o seguinte telegrama de congratulação”. Segundo O Porvir, “Depois disso foi entregue a sua Exa. para lhe dar o devido destino, o seguinte telegrama congratulatório da comunidade luso-shanghaense: <Ferreira d’ Amaral Comissão Vasco da Gama – Lisboa. Comissão de Shanghai congratula o Rei e a Nação pelo grande feito marítimo que tanto brilhantismo deu a Portugal>.

O ilustre cônsul, possuído do ardor desse patriotismo que de há muitos anos lhe conhecemos, respondeu ao Sr. Diniz em termos adequados e dignos da ocasião”. Terminou o Sr. Valdez com calorosos vivas feitos aos conselhos municipais de Shanghai, à comunidade portuguesa e aos residentes de Shanghae, ao corpo diplomático e “ao exército e armada nacionais, se bem que só aquele, o exército no Model Settlement, o próprio sr. cônsul, o próprio Sr. Valdez, brioso oficial de cavalaria do exército do reino.” Continuando n’ O Porvir, “O edifício do consulado esteve iluminado com bonitos lampiões de cores, e lindamente decorado, tocando primeiramente a banda de música na sua frente, e depois nas frentes das casas de todos os portugueses que iluminaram as fachadas das suas residências em honra da ocasião”. Segundo o Echo Macaense “a municipalidade da Concessão francesa, pela sua parte, ornamentou e iluminou a avenida marginal. O resto da avenida até Hongkew também foi ornada e iluminada”. Iluminação que permanecerá nas noites seguintes de 18, 19 e 20 de Maio, e tal como no reino e colónias, os três primeiros desses dias de gala serão feriados depois do meio-dia e completo feriado no dia 20 de Maio.

Apesar da chuva, o primeiro dia de festejos corre conforme o programa.

5 Out 2018

A primeira festa dos portugueses de Shanghai

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]elas grandes potencialidades de trabalho e comércio, Shanghai atrai muita gente e não é de estranhar a rápida progressão da comunidade portuguesa proveniente de Macau a aqui se estabelecer, tornando-se a segunda mais numerosa da cidade. Segundo Jack Braga, “Para o fim do século XIX, havia comunidades portuguesas em todos os centros comerciais do Extremo Oriente. Muitos dos seus membros preferiam apregoar a cidadania britânica, por terem nascido em Hong Kong, mas têm sido, geralmente, classificados de portugueses, por motivo da sua ascendência, em vez da sua nacionalidade”.

Shanghai em 1898 conta para cima de oitocentos portugueses, incluindo homens, senhoras e crianças, e como cônsul geral de Portugal continua o Sr. Joaquim Maria Travassos Valdez, que a 7 de Maio de 1897 resume as actividades a que se dedica a comunidade: . Já segundo Alfredo Gomes Dias, os membros da comunidade portuguesa de Xangai eram na sua maioria empregados de comércio, “os gooser que desempenhavam funções subalternas nas casas comerciais estrangeiras” nas concessões internacionais, assim como “os negociantes/proprietários (onde podem ser incluídos os compradores – mai-pan) e os funcionários a trabalhar no sistema financeiro”. Como segundo grupo mais numeroso os funcionários consulares e a trabalhar nas alfândegas e depois vinham os religiosos cristãos, protestantes e católicos, professores e o dos artistas. Seguiam-se os médicos e enfermeiros, assim como engenheiros e arquitectos e por fim os jornalistas e os ligados às actividades relacionadas com a navegação. Informações provenientes de Alfredo Gomes Dias e retiradas do livro, Diáspora Macaense – Macau, Hong Kong, Xangai (1850-1952), Lisboa 2014. Para ter um retrato social dessa comunidade recomenda-se a leitura das páginas 374 e seguintes onde se referem os membros da elite.

Comissão para os festejos

A colónia portuguesa da cidade reúne-se no dia 27 de Fevereiro de 1898 no Club de Recreio, sob a presidência do Cônsul Sr. Joaquim Valdez para nomear uma comissão a fim de tratar dos festejos que se projectam fazer em Shanghai. Dá conta dessa reunião o jornal L’ Echo da Chine, que se publica nessa cidade e a 6 de Março o Echo Macaense faz também referência. O nosso Cônsul, “Em vista dum ofício recebido do Sr. Ministro Plenipotenciário, enviando o programa das festas que a comissão central em Lisboa propôs levar a efeito por ocasião da comemoração do quarto centenário do descobrimento do caminho para a Índia, envidou os nossos nacionais aqui residentes para uma assembleia pública a fim de nomear uma comissão para promover os festejos. A assembleia teve lugar ontem, às 5 1/2 da tarde, nas salas do Club Recreativo”. “Apesar do mau tempo que fazia, a sala estava cheia, e todos os que se achavam presentes estavam bem entusiasmados”.

“Creio que não será fora de propósito dizer-lhe aqui, [refere o correspondente do Echo] que, se fizermos a festa, há-de ser a nossa primeira festa pública em Shanghai. Todas as outras nações já fizeram e continuam a fazer festas, logo que se ofereça qualquer ocasião, só nós ainda não fizemos coisa alguma, e isto devido talvez à nossa indiferença, frieza ou medo, e por causa disto deixamos correr tudo à revelia. Portanto, avante senhores! Não deixemos passar a ocasião e vamos mostrar que apreciamos e veneramos os nossos valentes antepassados.”

Assim, nesse dia fica constituída a Comissão Executiva de Shanghai, composta pelo Presidente, Joaquim Maria Travassos Valdez, tendo como tesoureiro Francisco S. Oliveira e secretário o Sr. Hermenegildo A. Pereira. Os outros elementos são, Adelino Dinis, António J. Diniz, Chong Tsong-poo, Cheng Chi-pio, Fernando J. de Almeida, Filomeno V. da Fonseca, Francisco F. da Silva, Honorato Jorge, José F. Pereira, Lino F. Tavares, Luiz Barreto, Marcos de Souza e Luiz Adolfo Lubeck. Os nomeados irão reunir-se num destes dias para tratar dos preparativos dos festejos para comemorar o IV Centenário, cujo programa estará de acordo com a Régia Portaria de 9 de Abril de 1897 e formulado dentro dos limites da quantia subscrita pelos portugueses residentes de Shanghai. É consagrado à memória dos navegadores portugueses que, movidos pelo desejo de servirem a Deus e a Pátria, primeiramente descobriram as terras e mares de África, Ásia, América e Oceânia. Para esse grande jubileu contribuiu também o Conselho Municipal inglês com mil taéis, que em moeda portuguesa, segundo o câmbio oficial estabelecido para a pataca, correspondem a 888$890 réis.

Visita real

“O príncipe Henrique da Prússia, irmão do Imperador da Alemanha, chega a Shanghai no Domingo 17 de Abril de 1898, antes do meio-dia. Desde sábado de manhã já estava o Bund parcialmente coberto de gente a esperá-lo, mas infelizmente sua Alteza ficou detido lá fora, por um forte nevoeiro e só chegou no dia seguinte; feriado, e tendo já todos acabado de ouvir missa, muita gente teve a chance de ver sua alteza desembarcar e ir até ao consulado geral d’ Alemanha, onde se hospedou.” Nessa tarde, S. Exa. Kuei chiun, Governador da província de Kiang-su (Jiangsu), vem expressamente de Suchau (Suzhou) por ordem do seu governo para receber sua alteza, acompanhado do tesoureiro da mesma província e do tao-tao de Shanghae, vem cumprimentá-lo.

Na segunda-feira, retribui a visita do governador Kuei-chiun e recebe as visitas do corpo consular e de mais gente. À noite, depois do jantar, assiste a um baile oferecido pelo governador Kuei-chiun no palácio dos negócios estrangeiros, com muita gente e deve ter custado muito dinheiro. “Ainda não se sabe ao certo quando é que sua alteza vai para Kiaochao (Qingdao), a nova colónia alemã, mas enquanto se demora por cá, entretém-se todos os dias com jantares, pic-nics, revista de tropas, etc.”, refere o Echo Macaense.

“À imitação dos alemães em Kiaochao, o general russo manda afixar proclamações dizendo que a Rússia é amiga da China, que o aforamento de Port Arthur, [onde os russos já têm uma guarnição de quase oito mil homens de terra, as fortalezas estão armadas e uma esquadra de oito grandes barcos, entre couraçados e cruzadores, além dos inevitáveis torpedeiros, na entrada do porto e noutros lugares], têm por fim proteger a China de uma maneira duradoura, por isso que os habitantes devem ter toda a confiança na administração russa a fim de granjear paz e prosperidade.

É possível que a Inglaterra também há-de vir com a mesma cantiga com respeito a Wei hai wei”, porto de Shandong, em frente a Port Arthur, onde em 1895 os japoneses destruíram a armada chinesa.

1 Out 2018

Concessões estrangeiras em Shanghai

[dropcap style≠‘circle’]X[/dropcap]angai, como os portugueses escrevem o nome da cidade de Shanghai, é atravessada pelo Rio Huangpu e situa-se a meio da costa chinesa, banhada pelo Mar Leste da China (Oceano Pacífico), entre as baías do Yangtzé e de Hangzhou, na foz do Rio Qiantang. Porto que substituiu Yangzhou após a destruição do Grande Canal, durante a guerra entre o exército imperial Qing e os revoltosos Taiping, passando o transporte do arroz e sal a ser feito via marítima e ferroviária por Shanghai. Conquistavam assim os britânicos nesse porto a importância estratégica e comercial, que até então ainda não tinham conseguido fazer dele.

“Nos tempos da dinastia Yuan (1276-1368) começou como centro de comércio com o exterior” e “em meados do século XVII, Xangai afirmou-se como uma cidade portuária e comercial, desenvolvendo algumas indústrias locais como, por exemplo, os têxteis de algodão”, segundo Alfredo Gomes Dias, “Em 1842, Xangai era já uma cidade comercialmente relevante, com uma população que rondava as 270 mil pessoas.” Ano em que Marques Pereira dá como a tomada de Shanghai pelas forças inglesas, a 19 de Junho.

Com a assinatura do Tratado de Nanquim a 29 de Agosto de 1842, o Capitão de artilharia George Balfour a 8 de Novembro de 1843 estacionou um pequeno vapor britânico na margem do Rio Huangpu, com o objectivo de abrir a cidade e o seu porto ao mercado internacional. Em 1845 foi cedida uma pequena área de 56 hectares, expandida para 199 hectares em 1848, onde se instalou a comunidade britânica. Já em 1847, Charles de Montigny criara o primeiro consulado francês na zona onde viria a ser a Concessão Francesa.

Governação de Xangai

Sobre as concessões estrangeiras e o sistema de governação de Xangai recorremos às informações de Alfredo Gomes Dias, no seu livro Diáspora Macaense – Macau, Hong Kong, Xangai (1850-1952), Lisboa 2014, de onde retiro passagens e informações. “Até 1864, esta cidade conheceu a chegada dos representantes ocidentais e a ocupação das primeiras áreas do que passaram a ser as concessões estrangeiras britânica, americana e francesa. No domínio comercial, logo nestes primeiros anos, Xangai passou a liderar o comércio externo da China, ultrapassando [em 1850] a cidade de Cantão. Depois, na segunda fase que se prolongou até 1894, a cidade deu continuidade a este processo de afirmação no mundo urbano chinês, construindo uma intensa rede comercial que ligava as relações comerciais externas aos canais de comunicação com o mercado interno”. Ainda segundo Alfredo Gomes Dias, estava-se agora na terceira fase, com a cidade e o seu porto a constituírem-se como o verdadeiro centro económico da Ásia Oriental. Após 1895, devido à mão-de-obra barata os estrangeiros tornam-na num grande centro industrial.

“Xangai, cidade governada por três poderes com características diferentes em três territórios dentro de uma só cidade”. A Concessão Internacional (CI) entregue a um poder autónomo, o Shanghai Municipal Council eleito pela elite económica dos proprietários estrangeiros, com um Doyen a presidir. A Concessão Francesa (CF), a ocupar o maior espaço da cidade, fora transformado numa “área residencial por excelência, encheu-se de restaurantes, cafés boutiques da moda, com a Avenue Joffre a apresentar-se como a mais elegante da Cidade, era um verdadeiro enclave colonial” entregue à administração do cônsul francês. A Cidade Chinesa, cuja origem remonta ao terceiro século a.n.E., no local murado do primitivo povoado de Shanghai, era gerida pelo poder mandarínico, segundo Alfredo Gomes Dias que diz, “Até 1900, a comunidade dos portugueses de Xangai manteve-se como a segunda comunidade mais numerosa da cidade, depois da britânica.”

Novo porto de Woosung

O olhar pelo que se passa na China é feito no Echo Macaense de 6 de Março de 1898 onde se refere o empréstimo de 16 milhões de libras, contraído pela China ao Hong Kong and Shanghai Bank e ao banco asiático alemão, garantido pela parte do rendimento das alfândegas chinesas que não está onerada e por uma parte do rendimento da taxa likin (lijin, imposto comercial cobrado nos meios de transporte). Um dos efeitos deste empréstimo foi fazer subir o preço das acções do Banco Hongkong and Shanghai, que estava a 173 por cento de prémio; deu um pulo para 183 a 186 por cento, e, sendo a prazo, chegou a 188 por cento. Um telegrama de Londres diz que a parte inglesa do empréstimo já foi coberta a 90%”. Refere este jornal que, “O empréstimo nacional que a China tentou levantar, na importância de 100 milhões de taéis, foi um verdadeiro fiasco. Diz o Daily News de Shanghai, que os príncipes e ministros de Tsung li-yamen só subscreveram 20 mil taéis. O povo chinês por enquanto não mostra nenhum entusiasmo. Há muitos capitais na China, mas os chineses não têm confiança no seu governo; não querem subscrever para empréstimo, nem para caminhos-de-ferro, porém se os ingleses se puserem à testa, ver-se-á a soma imensa de capitais e que há-de concorrer para tudo isto.”

O mesmo jornal refere ter sido nomeado Governador de Kiaochao (Qingdao) o capitão alemão Truppel e ter este hospedado na sua residência o artista do Illustrated London News, Mr. Melton. Para se perceber tal cuidado das autoridades alemãs, basta ler ainda na mesma página que, “A Rússia, segundo diz Mr. Curzon, Ministro inglês, assegurou à Inglaterra que qualquer porto da China que ela ocupasse continuaria aberto para o comércio do mundo, com o que se procura acalmar a apreensão da Inglaterra que não quer que os seus interesses comerciais fiquem lesados e por isso, só há-de intervir quando houver perigo de se fecharem ao seu comércio os portos chineses ocupados por outras nações”.

Em Abril de 1898, o porto de Woosung na entrada de Shanghai foi declarado aberto ao comércio, o que dispensará os grandes vapores de navegar no rio de Shanghai. As fortalezas que havia em Woosung vão ser desmanteladas e arrasadas para dar lugar à construção de concessões estrangeiras e os oficiais alemães que aí instruíam as tropas aquarteladas foram despedidas e as tropas licenciadas. A primeira linha-férrea a existir na China, fora construída por capital estrangeiro entre Shanghai e Woosung, sendo inaugurada a 30 de Junho de 1876. Logo desde o início sofreu muita contestação, acabando por encerrar em 1878, com todo o material deitado ao mar. Só vinte anos depois, em 1 de Setembro de 1898 abriu de novo o caminho-de-ferro entre Woosung e Xangai, fazendo o comboio quatro viagens, duas de manhã e duas à tarde, não circulando à noite. Para uma distância de 18 km o bilhete custava em primeira classe 80 avos, 60 em segunda e 30 avos em terceira classe e na volta outro tanto. Está planeada a sua extensão até Soochow (Suzhou) e Hangchou (Hangzhou).

Fala-se já do desassossego que reina nas aldeias e cidades do vale de Yangtzé (Rio Longo, Changjiang); os habitantes vão-se armando preocupados de que alguma eventualidade grave está iminente. A China está a passar uma crise, não se sabe o que virá!”

21 Set 2018

O Tratado de Shimonoseki

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o dia em que Camilo Pessanha preside à primeira mesa do júri examinador da instrução primária para a entrada no curso geral do Liceu de Macau, a 17 de Abril 1895 assina-se o Tratado de Shimonoseki entre o Japão e a dinastia Qing, referente à Guerra na Coreia. A dinastia Qing é obrigada a pagar 75,6 mil toneladas de prata, ceder o território chinês de Taiwan e a península de Liaodong aos japoneses, e abrir ao comércio estrangeiro Shashi, Chongqing, Suzhou e Hangzhou. No entanto, a Rússia, apoiada pela França e Alemanha, força o Japão a entregar a Península de Liaodong (no Nordeste da China, de onde provem a dinastia reinante manchu) ao Governo Qing, mas terá de pagar mais 11 mil toneladas de prata.

Em Taiwan, os habitantes reagem mal à chegada das tropas japonesas à ilha em Maio de 1895, começando ferozes combates que em cinco meses fazem 30 mil baixas no exército inimigo, mas de nada vale e a resistência continuará até 1945.

A construção pelo Japão de um império na Ásia fora encorajado pelos americanos, que cobiçavam Taiwan e em 1867 tinham sido expulsos pelos nativos Gaoshan após invadirem pelo Sudoeste a ilha, com o pretexto de a tripulação de um dos seus barcos ter sido atacada e morta. Em 1874, os americanos apoiaram a invasão japonesa de Taiwan, que com três mil soldados pouco conseguiu avançar devido à resistência das populações locais. No entanto, sobre a mediação dos EUA e dos britânicos, a dinastia Qing foi obrigada a pagar 18,9 toneladas em prata aos japoneses para estes daí saírem. Em 1884, foi a vez da França tentar invadir a ilha mas, também sofreu uma derrota às mãos dos locais. Um ano depois, Taiwan tornou-se uma província chinesa e agora, em 1895 passa para as mãos dos japoneses até ao fim da II Guerra Mundial.

Os britânicos aproveitam e a 9 de Junho de 1898 arrendam território à China, tal o sufoco económico para pagar as indemnizações de guerra. A 1 de Julho começa “a concessão dos Novos Territórios por 99 anos de uma área dez vezes maior às anteriores juntas, Hong Kong e Kowloon, incluindo o resto da península e cerca de duzentas ilhotas”.

O Tratado de Shimonoseki dá início a um novo estado de agressão à China pelas oito potências invasoras estrangeiras, Inglaterra, França, EUA, Rússia, Japão, Alemanha, Áustria e Itália, que esperam novas oportunidades para ganhar mais concessões na China, levando à completa miséria os chineses, que sem meios, têm de se entregar às mãos dos que os espoliam até nada haver e assim, partem para ir trabalhar nos projectos coloniais dos agressores. Muitos desses chineses são apanhados por redes e transformados em escravos.

Encontros na Casa do Mandarim

Tal como acontecera em 1856 em Xangai, os estrangeiros criaram concessões que foram aumentando à medida que chegavam outros países e assim entre 1895 a 1900 em Tianjin estabeleceram-se as zonas dos japoneses, belgas, italianos, austro-húngaros e alemães e num pulo a cidade cresceu imenso.

Zheng Guan Ying (1842-1921), nascido no distrito de Xiangshan, fora agente nas companhias comerciais inglesas, mas após o golpe da crise económica em Xangai e a sua detenção e litígio em Hong Kong, vai residir para Macau em 1886. Na Casa do Mandarim dedicou-se a redigir Advertências em Tempos de Prosperidade (Sheng shi wei yan), marco na história da filosofia chinesa contemporânea, onde combina as suas vivências e as ideias de um fortalecer nacional. O pensador reformista do Movimento de Ocidentalização recebe Sun Yat Sen, a estudar Medicina em Hong Kong, nas viagens de e para a sua terra natal, Cuiheng, também em Xiangshan. Segundo Choi San diz: “vinha por Macau para trocar com Zheng Guan Ying ideias sobre a situação política e a aprendizagem do Ocidente. Desenvolver a produção agrícola transformando a agricultura com a avançada tecnologia científica do Ocidente e com os métodos administrativos capitalistas constituiu também uma questão que chamou a atenção de Sun Yat Sen. Por volta de 1891, o Dr. Sun Yat Sen escreveu um artigo comentando exclusivamente a agricultura. Após algumas alterações feitas por Zheng Guan Ying, este artigo foi incluído, sob o título de Nong gong (Sobre a Agricultura), no livro Advertências severas na época próspera. Nele, o Dr. Sun Yat Sen diz:
“Após o Dr. Sun Yat Sen se formar pela Universidade de Hong Kong, vem para Macau como médico e em 1893 ajudou o amigo português Francisco Fernandes a criar a edição chinesa do jornal Echo Macaense (JingHaiCongbao). Segundo Segredos da Sobrevivência de Wu Zhiliang.
Em 1894 Zheng Guan Ying escreveu “uma carta a Sheng Xuan Huai, mandarim pertencente à escola promotora do comércio exterior e negócios estrangeiros, pedindo-lhe que apresentasse Sun Yat Sen a Li Hong Zheng, chefe da escola promotora de comércio exterior e assuntos estrangeiros.” Na carta faz referência à aspiração e ambição de Sun Yat Sen no sentido de revigorar a agricultura chinesa. Do artigo Influência de Zheng Guan Ying Sobre Sun Yat Sen e Mao Tse Tung’ escrito por Choi San e publicado na Revista Cultura.

Opiniões da situação

Pela ajuda dos russos aos chineses e para garantirem a protecção do território contra as agressões estrangeiras é dado aos russos a concessão do caminho-de-ferro Transmanchúria, a partir de Harbin, Manchúria do Norte, linha aberta a 3 de Junho de 1896 entre a China e a Rússia.

A 26 de Janeiro de 1897 é aprovado pelo Rei D. Carlos para ser rectificado, o Tratado de Comércio e Navegação assinados em Lisboa entre Portugal e o Japão.

Já O Porvir de Maio de 1898 refere ser “curiosa e não deixa de ser algum tanto verdadeira a opinião que os franceses formam sobre a situação política no Extremo Oriente e, para amostra, aí vai isso, que eles dizem: Entretanto, ela recua visivelmente e circunscreve de mais em mais o terreno que proclama intangível. Comentando o caso, diz o nosso colega inglês: . É escusado esperar, porque a Inglaterra já apanhou também um óptimo quinhão da China, e não tem, portanto, necessidade de mostrar já a dentuça arreganhada, além do que, se a arreganhasse com a bondosa intenção de morder na China, seria requintada tolice, porque ela, a miséria, está-se assemelhando ao leão velho da fábula. Podem todos escoiceá-la que ela não reagirá.

Quanto a arreganhar os dentes à Rússia, França e Alemanha, não seria a Inglaterra tola em tal fazer, porque quando pensasse em dar uma dentada em tais meninas, decerto apanharia em troco duas ou mais para o seu tabaco.”
Será?

14 Set 2018

A Coreia na Guerra do Japão à China

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]e todos os consulados de Portugal na China, o de Shanghai é indubitavelmente o que tem mais elevado grau de importância, e quer porque revista os seus titulares de carácter e funções de juízes, quer pela numerosa comunidade que está sob a sua jurisdição e pelos magnos interesses que naquele tribunal se debatem e ventilam, exige que só seja confiado a um cônsul de carreira, ou a um homem suficientemente habilitado e que dê todas as garantias do bom desempenho de tão transcendente missão”, segundo O Independente de 1 de Agosto de 1891.

De 1891 a 1893 os capitalistas europeus e sobretudo os de Londres retiraram uma imensa quantia de dinheiro do giro comercial da China por eles empregado em Hong Kong, pois estava em curso a desvalorização do preço da prata.

Regressado a Shanghai vindo da Metrópole, o cônsul geral de Portugal e Sénior cônsul, Joaquim Maria Travassos Valdez, de 1893 a 1895 como Doyen (decano do corpo consular) geriu as questões de Shanghai, “muitas, importantes como, a proibição da importação de máquinas, a de medidas preventivas por ocasião da peste bubónica, a do jubileu de Shanghae, a da dragagem de Vonsung, a da supressão da loteria e outros jogos, a queima e destruição de pagodes, e finalmente a da neutralidade de Shanghae por ocasião da guerra entre a China e o Japão.” No início o Daily Press de Shanghae mostrara-se contra o Sr. Valdez para decano do corpo consular, mas escolhido pelos seus colegas, o facto desmentia as asserções desse jornal.

Como Doyen da Concessão Internacional, o Sr. Valdez presidia ao Shanghai Municipal Council, eleito pela elite económica dos proprietários estrangeiros e nesse cargo conviveu com três tao-taes e com esses governadores da cidade chinesa manteve cordiais relações de amizade. Quando rebenta a guerra entre a China e o Japão, o tao-tae de Shanghae procura amiudadas vezes o Sr. Valdez para ouvir a sua autorizada opinião sobre várias questões, algumas delas estranhas ao seu cargo, mostrando não só confiança no Sr. Valdez, como lhe reconhece competência. Informações do jornal O Provir de Hong Kong.

Parecer do Doyen

Camilo Pessanha ainda viaja para Macau quando a 28 de Março de 1894 em Shanghai ocorre o assassinato de um refugiado político da Coreia, Kim Ok Kiun, a residir no Japão, morto por Hung, também coreano. “Como a Coreia não é uma potência que tivesse tratado com a China, pois considerada como um seu Estado tributário, é difícil decidir qual deve ser a lei, e qual o juiz para julgar o caso” e aqui entra o Sr. Travassos Valdez, cônsul geral de Portugal e Sénior cônsul, na sua qualidade de Doyen do corpo consular em Shanghae. “Mostra que os cônsules e o conselho municipal reunidos possuem os poderes legislativo, executivo e judicial – tudo quanto constitui uma verdadeira soberania. Prova que o pagamento de um pequeno foro ao imperador da China, (que, pela lei chinesa, é proprietário de todo o terreno no Império e só o afora aos seus súbditos) não afecta a questão de soberania dentro dos Estabelecimentos, do mesmo modo como o pagamento de um tributo, feito por um Estado tributário, não diminui os seus direitos de soberania dentro das suas fronteiras. Demonstra ser a autoridade do magistrado chinês pelos regulamentos do tribunal misto quem tem a menor alçada e é limitada pela presença de um assessor estrangeiro. Conclui que o caso deve ser julgado por um membro do corpo consular, e conforme as leis de seu país. A oposição que houve no corpo consular impediu a adopção dessa conclusão e Hung foi entregue às autoridades chinesas e libertado na Coreia. Para o Sr. Valdez um ultraje às bandeiras estrangeiras que defendiam os Estabelecimentos, como uma violação dos sagrados direitos de asilo, e com um perigoso precedente que poderia conduzir a crimes sem fim.

Guerra da Coreia

Quatro meses em Macau e Camilo Pessanha toma conhecimento ter o Japão, incitado pelos britânicos e com ajuda americana, a 1 de Agosto de 1894 invadido a Coreia, país ainda tributário da China e por isso sobre sua protecção. “Tudo começa na Primavera de 1894 com uma revolta de camponeses, tendo os senhores feudais coreanos pedido ajuda ao Governo Qing para enviar tropas. Quando em Junho chegam as 1500 tropas chinesas a Asan, está já a revolta controlada, encontrando-se quase toda a força naval e dez mil soldados da infantaria japonesa em Seul e ao redor de Inchun. A China propõe ao Japão deixarem ambos os países de ter tropas na Península da Coreia. O Japão recusa, dizendo ser para ajudar a Coreia nas suas internas reformas”, segundo Bai Shouyi, em Outline History of China. E nesse livro em tradução livre continuamos, “Nos finais de Julho, os vasos de guerra chineses encontram-se em Asan, quando de repente uma frota japonesa os ataca, causando a morte a mais de 700 soldados, levando a armada chinesa a retirar para Pyongyang, onde a 15 de Setembro ocorre a batalha, que as tropas chinesas ajudadas pelos coreanos conseguem repelir. Dois dias depois da Batalha de Pyongyang, a armada chinesa Beiyang comandada pelo Almirante Ding Ruchang, inexperiente em batalhas navais, encontra-se no Mar Amarelo quando é cercada pela japonesa. A batalha dura cinco horas e os chineses perdem cinco navios. Em finais de Outubro, as tropas japonesas invadem o Nordeste da China, capturando a Península de Liaodong e no Rio Yalu, Jiulian e Andong (hoje Dandong, Liaoning). Em meados de Janeiro de 1895, os japoneses vão à Província de Shandong e assaltam o porto Weihaiwei, onde o que restara da frota Beiyang é completamente destruída em Fevereiro. Passam as tropas japonesas à península coreana e rapidamente ocupam muito território, levando o Governo Qing a pedir a paz.

A astuciosa inteligência comercial estimula atritos que sabe levarem à guerra e assim mais uma vez resulta. A Inglaterra apoia o Japão e não a Rússia, sua oponente em Xinjiang, no Oeste da China, onde os britânicos para Norte e os russos para Sul tentam expandir os seus impérios, levando entre ambos à assinatura de um tratado em 1895.

A Guerra da Coreia (1894-95) dá ao Japão asas no sonho de construir um império na Ásia. Guerra que marca um novo estado de agressão estrangeira à China, a ter de permitir aos poderes ocidentais investir aí em fábricas a satisfazer as suas necessidades urgentes para exportar capital. O status da China como semi-colónia fica confirmadíssimo, segundo Bai Shouyi. Ainda em 1893 começara um movimento reformista de chineses ricos ligados aos Qing a investirem largas somas de dinheiro na modernização tecnológica das suas fábricas. A maioria dos negócios desses milionários acaba em bancarrota devido à competição dos comerciantes estrangeiros, já na Era do capitalismo industrial.

Controlam os transportes, as matérias-primas e a produção, e sem rivais no comércio entram por todos os países. O mercado tem que ser livre, nem que seja pela força. Ou ocorre como com a planta do chá.

A Rainha Vitória impera no mundo, cujo jubileu de diamante será em 1897.

7 Set 2018

Restauração Meiji e a Missão Educacional Chinesa

[dropcap style=’circle’]T[/dropcap]endo a civilização do Ocidente dentro do Império do Sol Nascente, voltar ao passado era impossível, tal como derrotar as potências Ocidentais. Aceitar a civilização do Ocidente passivamente, em apática expectativa, era suicídio. Impunha-se então adoptar no Japão a civilização ocidental e abrir de novo o país para o mundo>, este o parecer dos hábeis conselheiros do novo Imperador Mutsuhito, filho do Imperador Komei falecido a 30 de Janeiro de 1867.

Para o Japão começar uma nova organização do Estado, era necessário acabar com o shogunato (governo pelos senhores da terra) e iniciar a Restauração Imperial.

Do clã Tokugawa, o shogun Iemochi morreu e sucedeu-lhe Yoshinobu a 29 de Agosto de 1866. Sobre esse shogun o Boletim do Governo de Macau e Timor de 1867 refere: “Do Japão, sabemos pelos jornais que Stotsbashi, o novo taicun, assumiu efectivamente no dia 10 de Janeiro a gerência dos negócios públicos. O seu irmão mais velho, vai para Paris, com grande séquito, assistir à exposição, tencionando correr mais alguns portos da Europa, para estudar os seus usos e costumes. Corre como certo que efectivamente vão ser enviados ministros residentes às cortes das nações com as quais o Japão tem tratados. Foi concluído a 12 de Janeiro de 1867 um tratado de amizade, comércio e navegação, entre a Dinamarca e o Japão.”

O shogun Yoshinobu renunciou ao poder em Novembro de 1867, ou terá sido deposto por uma coligação de senhores feudais submetida ao novo Imperador Mutsuhito, que com 15 anos ascendeu ao trono imperial e transferindo-se de Quioto para Yedo, passou a viver no Palácio do Shogun, onde Yoshinobu nunca habitou.

O Japão fora governado entre 1185 e 1868 por shogunatos com poderes políticos e militares, sendo no século XV-XVI dominado pelos senhores feudais (dáimios), enquanto o Imperador do Japão, fechado na capital Quioto (cidade de estilo chinês fundada em 794) e afastado da vida real do país, era figura simbólica descendente da deusa do Sol Amaterasu.

A 4 de Janeiro de 1868 o poder passou das mãos dos shoguns para o Imperador Mutsuhito, no trono imperial desde os inícios de 1867 e já como Meiji Tennô mudou o nome da capital, Yedo para Tóquio.

Com hábeis conselheiros iniciou-se uma nova Era no Japão. Investiu-se fortemente na industrialização, na agricultura e no comércio, numa frota naval, tanto para fins militares, como de transporte, e na modernização da educação, administração civil e militar. Em 1889, o Imperador promulgou uma nova Constituição a permitir a formação de um Parlamento eleito, com poderes legislativos. O Imperador Meiji tinha ministros, que só a ele respondiam e desde 1895, estes passaram a ser altas patentes militares da Marinha e do Exército.

Missão Educacional Chinesa

Derrotado pelas potências estrangeiras na II Guerra do Ópio, o Governo Qing percebeu a inutilidade da sua obsoleta marinha, tal como teve de criar um Gabinete dos Negócios Estrangeiros (Zongliyamen), aberto em Janeiro de 1861, sendo escolhido para o chefiar o Príncipe Gong, Yi Xin, irmão do Imperador Xianfeng. Até então a China não tivera necessidade de um ‘Gabinete para a gestão geral dos assuntos comerciais com as nações’, pois como potência na erudição tinha como vassalos os países tributários, a partir daí vê-se forçada ao comércio em diferente posição. Quando o Zongliyamen foi fundado, na sua alçada ficou o Departamento das Inspecções-Gerais das Alfândegas Marítimas do Império criado na China em 1858, mas pouco tempo depois estavam já nas mãos de britânicos.

Em 28 de Julho de 1868 a China Imperial enviou um americano como Ministro Plenipotenciário da China aos EUA para assinar em Washington o Tratado Burlingame, a emendar o Tratado de Tianjin (de 1858) entre os dois países e estabelecer relações formais de amizade, garantindo os EUA à China o estatuto de nação mais favorecida no comércio. O americano Anson Burlingame assinou pela China, para onde fora em 1861 como ministro apontado por Lincoln e em Beijing foi o Tratado rectificado em 1869. Rong Hong (1828-1912) ficou chocado ao ver um americano como Ministro Plenipotenciário da China.

Rong Hong, nascido a 17 Novembro de 1828 em Nanping, Zhuhai e tratado pelos estrangeiros por Yung Wing, em 1854 tornou-se o primeiro estudante chinês a graduar-se numa universidade dos EUA, para onde viera estudar no College Yale em 1850 sobre patrocínio de Samuel Robbins Brow (1810-1880). A 30 de Outubro de 1852, já se naturalizara americano e pertenceu à fraternidade Delta Kappa Epsilon (Sociedade Secreta com o lema <Amigos de coração, para sempre> criada em 1844 na Universidade de Yale). Regressado à China, como intérprete servia os missionários e procurou dar apoio ao Grande Reino da Paz Celestial (Taiping Tianguo). Em 1863 foi enviado aos EUA pelo General Zheng Guofan, afim de comprar máquinas capazes de produzir armas pesadas, iguais às dos ocidentais. Arsenal fundado em Xangai no ano de 1865.

Indignado, Rong Hong escreveu uma carta a Zheng Guofan e no Inverno de 1870 foi a Nanjing falar com ele, já de novo Vice-Rei de Liangjiang, de modo a organizar um grupo de 120 alunos para ir estudar nos EUA, no College Yale. Em 1871, o Governo Qing fez uma escola em Xangai para preparar o primeiro grupo de 30 chineses e Rong Hong ficou encarregue de encontrar estudantes; mas partindo de Shandong até Guangdong só conseguiu 17 para estudar no estrangeiro e foi na sua terra natal, aldeia de Nanping em Xiangshan onde encontrou os outros 13 em apenas dois dias. O plano do governo Qing era enviar quatro grupos de 30 elementos cada, mas conseguir os primeiros trinta tinha sido tão difícil que levou Rong Hong, afim de preparar alunos para irem estudar no estrangeiro, a usar o seu dinheiro e abrir a escola em Nanping, Nanping ZhenXianSheXue (甄贤社学), de onde saíram mais 25 para os EUA e assim dos 120 estudantes, um terço era proveniente de Xiangshan.

Em Julho de 1872 Rong Hong partia sozinho para S. Francisco a preparar a chegada do grupo e acolheu Chen Long, filho de Chen Fang, que viera do Havai para estudar na Universidade de Yale. A 17 Agosto seguiu de Xangai o primeiro grupo num barco japonês, chegando em 12 Setembro a S. Francisco e em dez dias estão em Connecticut, sendo os 30 alunos separados por 15 famílias para com elas, vivendo, praticar o inglês. Com esses chineses começou a funcionar em 1872 a Missão Educacional Chinesa. Enviado em 1875, outra figura do distrito de Xiangshan, província de Guangdong, Lew Yuk Lin (1862-1942) em 1886 iniciou a carreira diplomática, sendo nomeado Cônsul Geral da Dinastia Qing na Inglaterra e serviu várias vezes como Ministro dos Negócios Estrangeiros. Em Março de 1876, Tony Chen Xi Ru, outro filho de Chen Fang, foi estudar em Yale, ano em que Rong Hong aí se doutorou em Direito e casou com a americana Mary Kellong.

Em 1881 fechou a Missão Educacional Chinesa no College Yale nos EUA, onde estudantes chineses contactaram via Pacífico o científico pensamento Ocidental.

 

 

 

31 Ago 2018