Procurador, entre outros encargos, juiz

[dropcap]N[/dropcap]o relatório da Comissão para propor reformas às atribuições do tribunal da Procuratura narra-se em relance o período entre os finais do século XVIII e meados do seguinte: “Em Macau, o andar do tempo obrigou gradualmente o Procurador a exercício mais atento e especial. A chegada de muita gente da China para aqui residir num crescendo da comunidade chinesa, levou as suas autoridades, que até aí se continham em regular do seu território o comércio que fazíamos, deliberaram acompanhá-la e administrar-lhe aqui justiça; e deste modo se originou, em Macau, o concurso de duas jurisdições com diferente nacionalidade, o qual, não tendo existido nos princípios desta colónia portuguesa, não obstante se prolongou depois por muito tempo.

Deste facto ressalta bem clara a segunda época da Procuratura com respeito à sua alçada ou competência nos negócios sínicos, que de então se tornou a principal feição da sua existência. O Procurador que, nesta parte, era só negociador nomeado pela cidade para a boa conciliação dos interesses dela com o amigo trato do país vizinho, ficou sendo além disso, e cada dia mais, ora juiz de paz, ora juiz de instrução de todos os pleitos que se davam entre os cristãos e os chineses. A natureza destes deveres o foi sucessivamente obrigando a constituir amiúdo a sua repartição em tribunal, que, por mais tolerante e menos custoso, atraia maior número de litigantes que o do mandarim da cidade, ainda nos casos em que era este mais competente segundo o prática recebida. Viram sempre com gratidão os moradores chineses, nessa entidade, o árbitro indispensável em meio da diferença de carácter e usos que os separava dos europeus, com quem aliás tinham interesse em conviver. [Na China governava a dinastia Qing da minoria manchu proveniente do Norte].

Também por sua parte se não afrontavam os mandarins com se tornar em várias épocas excessiva a acção dos procuradores, porque em certo modo os consideravam autoridade sua dependente, ou homogénea e patrícia, da qual opinião raras vezes foram desiludidos, se algumas. Desculpava-se este indefinido estado de coisas com as circunstâncias do tempo e as ideias do maior número, pelo que se, em tão longo período, não ganhou a Procuratura as condições de forma que seriam para desejar e de que absolutamente carece a justiça ainda no seu mais excepcional ministério, – é certo ter adquirido o prestígio que dá a tradição.”

Continuando no Relatório de 1867: “Dá-se nesta colónia uma particularidade em que inteiramente se extrema de todas as outras da coroa portuguesa: e é ela que em território nenhum, igual ou ainda muito superior em extensão, nos achamos em meio de um povo indígena, trinta vezes mais numeroso, com civilização tão adiantada e ao mesmo tempo tão diferente da nossa. (…) A imposição de todas as leis europeias nada mais faria do que restituir os chineses ao propinquíssimo território, onde o seu governo mantém, solitário e cioso, os costumes e preceitos de vinte e cinco dinastias. Ora considere-se que esta população, que assim nos vence em número em tão breve circuito e nos opõe tão radicada diversidade de usos, é, incomparavelmente mais do que a nossa, activa, industriosa, dada ao comércio, e pleiteante; considere-se também que não poucas vezes a superstição e o vício lhe acometem os bons instintos; e ver-se-á quanto andaria iludido quem, pela comparação material dos limites, estimasse os requisitos da administração de Macau.

Devem as leis acomodar-se à índole e costumes do povo para que são feitas, sempre que tal condição não repugne aos princípios absolutos da civilização e da justiça. Querer, num país, aplicar sem distinção ou emenda, todos os preceitos que noutro mui diferente vigoram com boa razão, e condená-los a uma execução forçada, morosa, se possível, e prejudicial. A ciência do legislador em tal caso está em saber conservar o que, sendo universalmente justo, é absolutamente aplicável, e prover de diferente modo e com acerto nos assuntos que pedirem especial regímen, de forma que no produto desta selecção não haja deficiência nem sobras. (…) Sempre no governo das nossas colónias temos buscado atender àquela necessidade.”

Imposto legaliza o ópio

Na Europa, as antigas e empedernidas instituições políticas absolutistas com a Revolução Francesa de 1789 desmoronaram-se e o monopólio das grandes companhias de privilégio estatal com o liberalismo, dominante a partir da década de 1830, deu acesso aos “comerciantes livres que, em regime de licença ou em contrabando, acabarão por dominar os sectores em que se envolvem”, segundo Ângela Guimarães, e são eles, “os comerciantes da country trade, que assumem uma importância cada vez maior na percentagem do comércio” e no “uso dos mecanismos fora-da-lei.”

Em 1830, era Governador de Macau João Cabral de Estefique (1830-1833) quando caiu drasticamente a posição da cidade como centro de baldeação de ópio, mas continuou a realizar-se o seu contrabando. Nesse ano importou-se 1883,25 caixas, tendo as autoridades cobrado um ‘imposto alfandegário’ de 16 taéis de prata por caixa, legalizando assim o contrabando de ópio. Cada caixa variava entre 63 e 71 kg. Com este imposto as autoridades portuguesas obtiveram 30.132 taéis de prata, quase metade da receita total da alfândega de Macau, calculada em 69.183 taéis. Já em 1834 o volume era de vinte mil e quinhentas caixas e em apenas quatro anos subirá para as quarenta mil caixas. Ano que segundo Guo Weidong, “as autoridades portuguesas de Macau reduziram o imposto alfandegário do ópio para 8 taéis de prata por caixa, mas, como a importação atingiu as 3283,88 caixas, a receita subiu para 26.536,16 taéis”.

Jacques Gernet refere, na China entre 1800 e 1820 entraram dez milhões de liang (ou tael, 37,72g, uma onça de prata), quantia igual sairia em apenas três anos, entre 1831 e 1833.

Em substituição da prata, desde 1781 a Companhia Inglesa das Índias Orientais (EIC) trazia como moeda de troca apenas ópio e quando em 1796 a China proibiu a sua importação, decidiu fazer de Macau o centro para o comércio dessa droga. Em 1816, com a abertura do comércio livre, começou a Companhia a ter a concorrência do country trade que, comercializando em contrabando o ópio resultou num crescimento das quantidades que entravam clandestinamente na China, no aumento do preço e em grandes fortunas para os contrabandistas, tanto ingleses, como alguns portugueses de Macau.

Em 1833, “o parlamento inglês aboliu o monopólio da East Índia Company e liberalizou o comércio em Cantão”, segundo H. Gelber. Assim, na China a 22 de Abril de 1834 os privilégios da Companhia Inglesa das Índias Orientais na China foram extintos e suspensa a sua sucursal chinesa, refere Marques Pereira e J. Gernet completa, “devido ao progresso do contrabando privado de ópio.” Sem o monopólio do ópio a Companhia transferiu a parte comercial para a Coroa Britânica, que nomeou um Superintendente chefe do Comércio Britânico na China, o lorde Napier.

20 Jul 2020

Os poderes do Senado para o Governador

[dropcap]M[/dropcap]acau era administrada e governada por o Senado, eleito entre os homens bons da cidade, até aparecer em 1623 um Governador permanente, nomeado pelo Vice-Rei da Índia em nome do Rei de Portugal. Com funções de Capitão de Guerra apenas tinha o comando militar na defesa da cidade e ao Senado cabia a administração civil, comercial e financeira, sendo o Procurador o seu tesoureiro. A este competia gerir também o cofre pertencente à Coroa, que por ano recebia um quinto do rendimento do território, destinado desde 1714 ao pagamento dos gastos civis, militares e eclesiásticos. Quando o Vice-rei da Índia em 1738 quis reformar as finanças libertou o Procurador desse encargo, substituindo-o por um outro da vereação do Senado, com o dever de prestar contas anuais a Goa.

A razão do Procurador deixar de ser tesoureiro do Senado deveu-se ao excessivo abarcamento de funções, o que não beneficiava a causa pública, antes contribuía grandemente para as más consequências que de tão imperfeito regime por longo tempo resultaram. Com o tso-tang a viver em Macau desde 1736, “O concurso das autoridades chinesas a governarem connosco a mesma cidade tornava sobremodo melindrosas e difíceis as nossas relações com o império vizinho, da boa direcção das quais dependia unicamente, se pode dizer, a manutenção dos nossos direitos, em razão da enorme distância da metrópole. Viu-se ainda que ao Procurador competia ser ministro da cidade nas multiplicadas negociações desse dificultoso trato, mas a acumulação de deveres, ou inconciliável exigência das circunstâncias que se davam, ou fácil carência de política definida e igual em cidadãos que, devendo o cargo a uma eleição de curto prazo, mais se prendiam a interesses alheios;” um esforço de sobre-humana ubiquidade, segundo o B.O..

Goa sem as contas de Macau

As providências reais enviadas para Macau em 1783 pela Rainha D. Maria I retiravam ao Senado o governo e ampliavam a autoridade ao Governador, o verdadeiro representante do poder central nos assuntos político-administrativos da Cidade. Acusava o Senado de ignorância em matéria de governo e obrigava-o a não tomar nenhuma resolução administrativa, nem determinar coisa alguma sobre negócios relativos aos chineses, nem pertencentes à Fazenda Real, sem antes apresentarem o assunto ao Governador, o Capitão Geral de Macau.

Tal se devia à recusa desde 1738 do Senado apresentar contas anuais a Goa e por isso, nas providências vinha determinado que as contas seriam examinadas pelo Governador e pelo Ouvidor. Era Governador de Macau desde 18 de Agosto de 1783 Bernardo de Lemos e Faria quando o Ouvidor Lázaro da Silva Ferreira examinou os livros do cofre real e encontrou “um défice de 320 mil taéis, devido, conjecturou ele, à aceitação de fiadores fraudulentos e insolventes para os fundos da hipoteca de carga – parentes, amigos e protectores que, no poder, não fizeram caso do pagamento e acumularam dívidas, sendo que muitos devedores estavam mortos ou insolventes. Tivesse-se exigido o reembolso aos cidadãos honestos, que eram os fiadores, seria dado um golpe mortal no comércio e navegação da colónia, nos quais o dinheiro estava investido. Dadas as circunstâncias, o príncipe regente informou o Senado, numa carta datada de 1799, que a dívida à rainha, no valor de 291.193 taéis, tinha sido perdoada”, segundo Montalto de Jesus.

Andrew Ljungstedt refere “em 1784 para fazer face às despesas da cidade (o dinheiro público era empregado para pagamento de salários e despesas extraordinárias) precisava-se de 35 mil taéis de prata e o excedente do rendimento era dado em empréstimos com risco de mar, de modo que o capital nacional em circulação crescia de ano para ano. Em 1802 cresceu a 173.690 taéis. Em 1809, foram emprestados a juro de risco de mar, de 20 a 25%, 159.400 taéis. [Com aprovação real de 1810 foi criada em 1817 a Casa de Seguros de Macau, onde o Senado tinha acções.] Em 1817 já não foram dados em empréstimos mais do que 40.400 taéis e as despesas ordinárias e extraordinárias subiram a quase 80 mil taéis.

Em 1826 a cidade tinha uma dívida de mais de 122 mil taéis. Em 1830, as alfândegas renderam 69.183 taéis, mas as despesas foram de 109.451 taéis. A dívida pública de Macau em 1832 era de 150 mil taéis e em 31 de Dezembro de 1834 subia a 165.134.688 taéis. Nesse ano os rendimentos procedentes das alfândegas eram 75.283.613 taéis, sendo as despesas totais de 89.900.686 de taéis.” (1 tael de prata correspondia a 37,72 gramas).

Mercadoria proibida

A China proibia pela primeira vez em 1796 a importação de ópio, ilegalizado desde 1729, endurecendo mais ainda as medidas.

Para conseguir a prata afim de adquirir mercadorias (chá, seda, porcelana), sem as poder transaccionar na China por ópio, a Companhia Inglesa das Índias Orientais decidiu então, segundo Guo Weidong, “limitar-se à produção da droga na Índia. Enquanto isso, comerciantes ingleses independentes continuavam suas operações comerciais de ópio sob o controlo de Macau”, onde montaram o centro para o seu comércio, com a participação de portugueses. Mesmo governadores de Macau, das duas últimas décadas do século XVIII, investiram por conta própria nesse tráfico.

Em 1820, os traficantes ingleses estavam na ilha de Lin Tin, local seguro e de fácil acesso, e tal era o volume recebido que, “grandes barcos encontravam-se ancorados no Mar Lingdingyang para receber ópio por atacado e numerosos juncos chegavam ao mesmo Mar, de onde partiam carregados de ópio para o vender nas diversas províncias litorais da China”, segundo Guo Weidong, que refere, em 1837 “Três quartos do ópio produzido em Malwa foram exportados directamente de Bombaim por barcos ingleses, tendo o governo colonial da Índia Inglesa cobrado 125 rupias por caixa como imposto de exportação. E um quarto desse ópio continuou a seguir a rota tradicional, isto é, transportado em primeiro lugar para uma colónia portuguesa de onde seguia em barcos portugueses para a China, e essa parte de ópio não deixava de passar por Macau.”

Novo folgo

A 5 de Janeiro de 1822 Macau aderia à Monarquia Constitucional e um mês depois apareceu uma Representação a advogar uma Câmara eleita pelo povo. O sufrágio popular ocorreu a 19 de Agosto numa assembleia-geral reunida no Senado e presidida pelo Governador José Osório de Albuquerque, sendo eleitos os membros do novo governo constitucional: dois juízes com exercício de Ouvidor, três vereadores e um procurador. No dia seguinte, o vereador Presidente da eleita Comissão liberal pediu ao governador que resignasse, ficando o Brigadeiro Francisco de Melo como governador de armas. Estavam assim restaurados os poderes legislativos, executivos e judiciais do Senado, retirados nas Provisões de 1783, quando foram centrados no Governador e Ouvidor. A 23 de Setembro de 1823, os conservadores, com a ajuda dos militares vindos de Goa, retomavam o governo, mas só com a reforma de 1834 o Governador ganhou verdadeira autoridade civil em Macau.

29 Jun 2020

Procurador deixa de ser tesoureiro

[dropcap]O[/dropcap] lugar de Procurador aparecera em 1583 com a criação do Governo Municipal, denominado Senado no ano seguinte, quando o Imperador Wan Li lhe conferiu o grau de Oficial de segundo grau afim de estabelecer a ligação e gerir as relações entre os portugueses, representados pelo Senado, e a Administração Chinesa.

O Procurador da Cidade do Nome de Deus do Porto de Macau na China fazendo parte da vereação do Senado era o seu fiscal e tesoureiro. Como ao exercício municipal “o Senado juntava nada menos que a missão de governar a colónia e administrar a fazenda pública, daqui resultava um aumento proporcional de atribuições para o Procurador, constituindo-o delegado gerente dos dinheiros públicos e executor de todas as medidas administrativas”, Boletim Oficial.

Victor F. S. Sit refere, em 1611 “O governo Ming autorizou que os portugueses tivessem a sua própria alfândega, a fim de cobrar uma taxa adicional até 5% do valor das mercadorias, destinada a cobrir as despesas do Senado, e, ainda, uma outra taxa adicional de 3 a 4% (mais tarde aumentada para 8%) sobre os produtos exportados para o Japão como receita da coroa Portuguesa. Deste modo, o lucrativo comércio tripartido, ao mesmo tempo que beneficiava a coroa portuguesa, enriqueceu a pequena povoação de Macau, fornecendo-lhe uma sólida base para o desenvolvimento urbano e para algumas iniciativas de carácter religioso ou cultural.”

De Capitão militar a Geral

O Senado administrou e governou directamente Macau até 17 de Julho de 1623, quando tomou posse o Governador e Capitão de Guerra D. Francisco de Mascarenhas (1623-26), que consigo trouxe uma força militar de cem homens. António Marques Pereira (AMP) refere, “ocupou os postos e fez vigia na Barra, no forte de S. Francisco e no da Penha de França, já que o exército de Manila ocupava o forte de S. Paulo”, de onde sairia apenas em Novembro de 1623, quando o capitão espanhol Fernando da Silva de Morales, [que de Manila viera com 200 homens em socorro de Macau, atacada pelos holandeses] ao preparar-se para regressar, o fez saber a Mascarenhas para este tomar a inacabada fortaleza do Monte, pertença dos jesuítas.

“Aí se instalou com a tropa, tendo terminado a construção do último baluarte. Passa assim a Fortaleza do Monte a Presídio, como local de aquartelamento de força militar, como guarnição de uma praça de guerra”, segundo Armando Cação.

Sem estar na dependência do Capitão-Mor da Viagem do Japão, ao Governador de Macau cabia apenas a função militar de comando na defesa da cidade e no século seguinte, também a presidência do Senado, mas sem direito a voto, o que aconteceu até 1834. O Senado deixava de ser o único a governar a cidade, mas continuava com o papel fundamental na administração civil, comercial e financeira do território, para além de fazer ligação com as autoridades chinesas.

A 13 de Fevereiro de 1710, o Senado revoltou-se contra o Capitão Geral Pinho Teixeira e o braço de ferro só ficou sanado a 28 de Julho com a troca de governador.

A receita da coroa portuguesa, no início, dos produtos exportados para o Japão e depois, um quinto do rendimento anual da cidade, revertia para o cofre real gerido por o Senado. Em 1714, por ordem do Vice-rei da Índia Vasco de Meneses, “foi destinado ao pagamento dos gastos civis, militares e eclesiásticos, assim como para manter as instituições de caridade. Desde 1730 que os fundos eram mais do que suficientes para tais fins, e o excedente era investido na habitual hipoteca de carga. Em 1738, o Vice-rei D. Pedro de Mascaranhas achou aconselhável reformar a administração financeira de Macau e o Procurador, que até então tinha exercido funções de tesoureiro, foi substituído por outro designado entre os eleitos para o Senado. Aguardando as instruções reais, o Senado desprezou o decreto do vice-rei”, como o fez com as ordens do Vice-rei seguinte, D. Luís de Meneses (1741-42) e nem mesmo o decreto real de 1744 levou o Senado a prestar contas anuais a Goa. Tal só iria acontecer em 1784, quando foram analisadas por o Governador e o Ouvidor.

Difícil relacionamento

A dinastia Qing tinha em 1722 um novo Imperador, Yongzheng (1723-1735), ano em que os mandarins proibiram a construção naval em Macau, pois estava já preenchido o número de vinte e cinco navios portugueses determinado para esta praça. Em 1724 impediram terminantemente o aumento da população e intimaram o Senado a não consentir estrangeiro algum a vir aqui residir, quando mesmo fosse mui temporariamente ou de passagem.

A China estabeleceu em 1732 um outro ho-pu (alfândega chinesa) na Praia Grande, subordinado ao da Praia Pequena criado em 1688 sob tutela da Alfândega de Guangdong. Com residência na península, mas extramuros da cidade cristã, o tso-tang, lugar criado em 1736, coadjuvava na administração de Macau o mandarim de Chinsan [Hiang-shan] que respondia ao Vice-Rei de Cantão. Em 1744 promulgaram leis para os europeus que matassem chineses em Macau.

“Em 1749 obrigaram-nos a um vergonhoso ajuste, ou convenção, em que definitivamente se declarou que não pudéssemos construir em Macau mais casas nem renovar, sem licença do tso-tang, alguma das antigas”, segundo AMP. Montalto de Jesus refere, os regulamentos de 1749 foram vertidos para português e chinês, mas quando uma disputa surgia de uma divergência entre os textos era a versão chinesa a prevalecer. Desde 1746, Macau concedia residência aos estrangeiros e daí a Chapa de 1750, a atribuir aos mandarins a exclusividade nos “alvedrios de permitirem ou negarem a qualquer estrangeiro residência nesta cidade. Reiterava a ordem de 1724”, refere AMP.

Reformas de 1783

As reformas implementadas pelo o Secretário de Estado da Marinha e Ultramar Martinho de Melo e Castro, enviadas de Lisboa a 4 de Abril de 1783 pela Rainha D. Maria I como providências reais para Macau, ampliavam o poder do Governador nos assuntos político-administrativos da Cidade, em detrimento do Senado, a quem acusava de serem . Daqui, a primeira significativa perda de poder do Senado, um rude golpe para os portugueses locais, que deixavam de ter nas suas mãos o governo de Macau.

Com o Governador Bernardo Aleixo de Lemos e Faria chegaram 150 militares para aumentar a sua autoridade, não só perante os chineses, mas também face aos moradores portugueses de Macau. O Senado protestou pois a presença de tropas na cidade iria trazer problemas nas relações com os oficiais chineses, assim como sobrecarregava as finanças.

Se até 1783 houvera governadores a cuidar só dos seus particulares interesses, o mesmo continuou a suceder depois destas reformas e logo com Lemos e Faria.

22 Jun 2020

O Procurador da cidade de Macau

[dropcap]E[/dropcap]m 1867, António Feliciano Marques Pereira exerce o cargo de Procurador, quando a Procuratura da cidade de Macau passa a denominar-se Procuratura dos negócios sínicos da cidade de Macau. É “a mais antiga repartição pública da colónia, pois teve princípio com a primeira vereação do Senado em 1583; e em vários respeitos a poderemos considerar também a mais importante, lembrando a vastidão de atribuições que lhe pertencem e a falta de legislação que lhas defina e regule. E, se bem que em todas as épocas da vida do estabelecimento, coube à Procuratura, no sistema geral de administração dele, um encargo difícil e pesado, é sabido que o progressivo incremento do número e gravidade de seus deveres incalculavelmente se apressou mais depois da efectiva definição da autonomia da colónia, ainda não há muitos anos, e com o espantoso aumento de população chinesa, que se observa hoje”, segundo o relatório da Comissão, nomeada em 1866 para apresentar parecer sobre as atribuições do tribunal da Procuratura, publicado no Boletim do Governo de Macau e Timor de 25 de Março de 1867. Há muitos anos que cuidadosamente se procurava definir com precisão as funções desse tribunal devido às transformações sofridas desde que o lugar de Procurador fora criado em 1583, após o reconhecimento chinês do estatuto de Macau.

O desenvolvimento da povoação de Macau a partir de 1557, quando os portugueses aí se fixaram, [“acto espontâneo de marinheiros e comerciantes, sem o conhecimento prévio das autoridades portuguesas”, refere Wu Zhiliang, de quem vem as informações deste parágrafo] e o próspero comércio por eles realizado, levaram à necessidade de criar em 1560 a sua própria administração. Nesse ano, “os portugueses radicados em Macau elegeram um Capitão da Terra, um juiz e quatro comerciantes de maior prestígio para formar uma organização que se encarregaria dos assuntos internos da comunidade. Esta organização, que se chamava nessa altura Comissão, foi o protótipo do Senado.” (…) “No entanto, segundo um documento de 1581, , refere o padre Manuel Teixeira.” Já segundo Tien-Tsê Chang, “Em 1583, os portugueses residentes em Macau, receosos de se tornarem simples súbditos espanhóis (união ibérica – 1580), deliberaram, em reunião presidida pelo Bispo D. Belchior Carneiro, criar uma forma de administração que lhes desse alguma independência.”

Senado de Macau

O estabelecimento de um Governo Municipal foi proposto por D. Belchior Carneiro e ainda em 1583 os homens bons da comunidade portuguesa local, sob a supervisão do Bispo de Macau D. Leonardo de Sá, o fizeram eleger. Para o primeiro senado da Câmara foram eleitos por três anos, três vereadores, dois juízes ordinários e um Procurador. Caso o assunto fosse de grande importância, o Senado seria presidido em conjunto por o Bispo, o Capitão de Terra e pelo Magistrado (Ouvidor, cargo existente desde 1580).

“Com o Governo Municipal nasce o cargo de Procurador, especificamente, em Macau, um dos mais importantes da hierarquia do Senado. Tinha, entre outros cargos, o de gerir as relações com a China; (…) As novas alterações vindas de Goa são apenas confirmação oficial de uma situação de facto, visto Macau já se mover, anteriormente, como uma municipalidade prática (oligarquia mercantil)”, segundo Beatriz Basto da Silva (BBS). Tien-Tsê Chang refere, “Nasceu assim o Senado (autorizado a continuar a usar a bandeira portuguesa), com a aprovação do Vice-Rei da Índia, D. Francisco de Mascarenhas. Três anos depois, a 10 de Abril de 1586 o Vice-Rei Duarte de Menezes concedeu ao mesmo Senado [, segundo Montalto de Jesus] o estatuto e privilégios de Cochim (Évora e Coimbra), passando Macau a ser considerada como cidade portuguesa com o nome de Cidade do Nome de Deus do Porto de Macau na China.”

Procurador mandarim

No décimo segundo ano do reinado do Imperador Wanli, da dinastia Ming, por proposta do Vice-rei de Guangdong-Guangxi Chen Wenfeng, em 1584, o Imperador da China conferiu ao Procurador de Macau o mandarinato de segundo grau. Em correspondência oficial com os chineses, o Procurador é chamado ‘I-mou’ ou ‘Superintendente dos Estrangeiros’.

Ainda em 1584, o Governo Municipal tomou o nome de Senado da Câmara e o Vice-Rei da Índia D. Duarte de Meneses concedeu-lhe mais prerrogativas administrativas, políticas e judiciais, só o limitando quanto a negócios extraordinários, que deviam ser decididos em assembleia-geral de moradores, previamente convocada.

“Entre 1583 e 1616, o governo de Macau está subordinado institucionalmente ao Senado [a quem pertencia a administração financeira da colónia], embora a Santa Casa, os agentes comerciais, o capitão-mor e o ouvidor sejam os grandes animadores da vida mercantil. O Senado cobrava um imposto de tráfego para as despesas de funcionamento e, se feitas estas, sobra dinheiro, ele é devolvido aos contribuintes. Chama-se a este imposto municipal o caldeirão”, segundo BBS. Na verdade os éditos fiscais não iam para o soberano português, mas para o foro pago às autoridades locais chinesas. Se o saldo das operações comerciais era positivo, era recolhido num fundo de reservas – o Caldeirão, uma taxa que o Senado recebia de 3% sob os bens exportados para o Japão [que em 1634 subiria para os 9%.].

Na península de Macau existiam já duas povoações chinesas (uma dedicada à agricultura e a outra à pesca) quando os portugueses aí chegaram, e com eles vieram os comerciantes de Guangdong a fornecer os produtos necessários à sobrevivência da população. O Procurador que, nesta parte, era só negociador nomeado pela cidade para a boa conciliação dos interesses dela com o amigo trato do país vizinho, com a chegada de novos chineses ficou sendo, além disso, juiz dos pleitos que se davam entre cristãos e chineses.

Esses comerciantes foram ficando e “abrindo lojas, exercendo ofícios, trazendo enfim consigo a actividade sempre crescente que em tão subido grau a distingue”, B.O..

O Senado fugia à comum municipalidade portuguesa, apesar de oficialmente estar ligado à Coroa e ao Procurador, neste primeiro período, competia a função de ser ministro da cidade nas múltiplas negociações do dificultoso trato com o governo chinês. Só em 1688 os mandarins estabeleceram em Macau o ho-pu, ou alfândega chinesa, com funções fiscais no território e sobretudo, para evitar os navios alterosos de subirem até Cantão. Segundo Jin Guo Ping e Wu Zhiliang, “O hopu de Macau estava sob a tutela do hopu grande ou hopu de Cantão, da Alfândega de Guangdong.”
O Senado administrou e governou Macau até 1623, quando chegou o primeiro Governador português.

8 Jun 2020

Reduzir os pés de mulheres a pés de cabra

[dropcap]N[/dropcap]a Parte não Oficial do Boletim da Província de Macau e Timor de 18 de Março de 1867 refere-se: .
Como a sondar a opinião dos residentes de Macau e o seu apoio a tal medida, o Boletim da Província de Macau e Timor de 25 de Março de 1867, relata na parte não-oficial: .

Reformar completamente a Misericórdia

Na Parte Oficial do Boletim do Governo de Macau, Ano 1867 – Vol. XIII – n.º 6 de 11 de Fevereiro, por Portaria N.º 14 o Governador de Macau determina: . Já na Portaria N.º 15, o Governador de Macau determina: .
A Comissão conclui que em quanto se não reformar completamente a Misericórdia, como as necessidades da actualidade reclamam, dando-lhe um regulamento próprio em substituição do antigo Compromisso, as comissões administrativas hão-de sempre lutar com inúmeras dificuldades sem poderem obter seque uma administração regular.

Procuratura dos Negócios Sínicos

Uma outra Comissão, também nomeada em 1866, apresenta o seu parecer sobre as atribuições do tribunal da Procuratura, no mesmo Boletim do Governo de 11 de Fevereiro 1867, ainda na Parte Oficial. Na Portaria N.º 9, o Governador de Macau determina: Tendo sido exonerados dois vogais da comissão nomeada por portaria deste governo n.º 28, de 22 de Novembro de 1866, para apresentar um parecer sobre a espécie e extinção das atribuições que cumpre tenha o tribunal da Procuratura dos negócios sínicos desta cidade, e atendendo às circunstâncias que se dão nos cidadãos, Francisco António Pereira da Silveira e Thomaz José de Freitas, hei por conveniente nomeá-los para formarem parte da referida comissão. As autoridades a quem o conhecimento e execução desta pertencer assim o tenham entendido e cumpram>, 6 de Fevereiro de 1867, José Maria da Ponte e Horta.

Já no B.O. de 25 de Março de 1867 aparece o Relatório acerca das atribuições da Procuratura dos Negócios Sínicos da Cidade de Macau, dirigido ao Governador de Macau e Timor redigido por a comissão nomeada em portarias de 22 de Novembro de 1866 e 6 de Fevereiro de 1867. .

Assim em 1867, a Procuratura da cidade de Macau passa a ser denominada Procuratura dos Negócios Sínicos da cidade de Macau, – a mais antiga repartição pública da colónia, pois o lugar de Procurador fora criado com a primeira vereação do senado do Governo Municipal em 1583.

1 Jun 2020

Hãos de Macau em 1867

[dropcap]A[/dropcap]s Associações comerciais, denominadas hãos comerciais, em 1867 são 40 e para além destas há 28 casas de penhores, denominadas também hãos de penhores.

No Boletim Oficial de 23 de Setembro de 1867 refere-se: “A chave do comércio de Macau está, por assim dizer, nas mãos dos chineses. Activos e inteligentes terão sabido conservar a posse desta fonte de riqueza.

Quando Macau era o único ponto intermédio do comércio da China com os outros povos, florescia por isso nesta cidade o comércio dos chineses e o comércio português. Este último, porém, depois do estabelecimento da colónia inglesa do Hongkong e da abertura dos portos do vizinho império, começou a desfalecer, caminhando para a decadência em que hoje se acha. Mas não teve semelhante sorte o comércio dos chineses, porque, com quanto por vários motivos o retirassem temporariamente de Macau para Cantão, eles o restabeleceram depois nesta cidade, e desde então o têm mantido sempre florescente e próspero.

Exploradores modestos desta mina, hão com habilidade e subtileza tirado dela valiosos resultados; e o mais é que, longe de enfraquecerem, têm multiplicado as suas casas comerciais, que aqui sustentam com crédito e riqueza.

Os chineses, no que toca ao comércio, conduzem-se em geral com honra e probidade, porque, conhecendo o grande alcance destas qualidades quando se trata de tão rico manancial, são admiravelmente circunspectos em todas as suas contas.

O espírito de associação existe entre eles em supremo grau; e por isso, salvas raríssimas excepções, não comerceiam senão por meio de associação. Mesmo para empreender qualquer insignificante negócio, não dispensam este meio, porque bem justamente compreendem que é no concurso de inteligências e capitais que se estriba a verdadeira segurança de todos os negócios.”

Casas comerciais

Os 40 hãos comerciais são outras tantas casas de consignação ou de agência, e as mais importantes do comércio chinês de Macau. Dessas, 34 têm a sede nesta cidade, com ramos em vários pontos da China, na Cochinchina, em Siam, Singapura, Pinang, etc. As outras 6 são casas filiais de hãos estabelecidos em alguns dos pré-citados pontos. Os seus escritórios e armazéns em Macau acham-se no litoral do porto interior, onde há sempre um grande número de empregados e um nunca interrompido movimento. Contabilizam-se 2823 membros das associações e lojistas, havendo 184 correctores de comércio, 893 caixeiros e 567 empregados em diferentes misteres nas casas comerciais.

Há ainda casas comerciais que recebem géneros por consignação, mas de um modo diferente dos hãos, porque estes de ordinário satisfazem a pronto pagamento a importância dos géneros que lhes vêm consignados, vendendo-os depois por sua conta. Nessas casas, os géneros são geralmente vendidos por conta dos consignantes, sendo descontada uma percentagem de 8 a 9% e por isso, conhecidas por casas ou Hãos comerciais de oito a nove por cento.

Se todos os lojistas são geralmente membros de associações comerciais, nem todos estes últimos são lojistas. Os membros de parte das associações são também membros de outras ao mesmo tempo, e é decerto esta circunstância a que principalmente explica o não se dar senão mui raramente uma falência em qualquer associação, porque, sendo os membros dela, também os de outras associações, estes a salvam logo de qualquer adversidade, que por ventura lhe possa suceder. Tais são as sólidas bases sobre que assentam as associações chinesas, que, estando de semelhante modo ligadas, hão-de necessariamente socorrer umas às outras.

Contudo os membros de cada uma delas não são solidários; quem toma a responsabilidade dos negócios é o sócio manejante, que é quem representa a associação, não debaixo de firma alguma, mas sob um título convencionado, como entre nós se costuma dar a qualquer companhia.

As associações têm ordinariamente as suas lojas, onde os sócios representantes vendem a retalho, e é por este motivo que aí se encontram a cada passo lojas chinesas, principalmente no Bazar, que é o centro da vida comercial e industriosa dos chineses de Macau.

Hãos de penhor

Para além dos quarenta hãos, que são os que fazem o comércio mais importante, existem ainda em Macau 28 hãos de penhores. Estas casas de penhores, onde se empresta dinheiro a juro sobre penhores, segundo Leonel Barros supõe-se terem sido durante a dinastia Tang (618-907) as primeiras estabelecidas na China.

“Muito procuradas por pessoas que necessitavam repentinamente de dinheiro, bastando, levar para uma dessas casas, qualquer artigo de valor, recebendo na ocasião, em troca, certa quantia que deveria ser paga num determinado prazo, mediante o pagamento de juros de mora. Além dos artigos de valor como, por exemplo, anéis, pulseiras, relógios, ornamentos de jade etc. a ‘casa de penhor’ recebia também artigos de vestuário (casacos de couro seda chinesa e peles), dai que os homens que lá trabalhassem tivessem que estar treinados para o tratamento e conservação de todo esse material, evitando que os mesmos ficassem deteriorados pela humidade, ou pelos insectos que vivem de material orgânico.”

E continuando com Leonel Barros, “geralmente no mês de Abril as esposas dos ricaços, conhecidas por tai-tais, lá iam depositar os seus casacos de pele, não porque necessitassem de dinheiro, mas por saberem que os homens que lá estão manteriam o bom estado das coisas ali depositadas. Portanto estas ‘casas de penhor’, eram também armazém de luxuosa indumentária da população mais abastada sendo, por isso, um objectivo principal dos constantes assaltos de piratas. Na sua maioria, a casa de penhor contava com uma Torre Prestamista, cujo formato é de um paralelepípedo quadrangular, possuindo seis ou sete pisos, vendo-se ao longo das três paredes (fachada principal e laterais) a partir do 2.º piso até ao terraço, umas estreitas aberturas que nos fazem lembrar as seteiras dos antigos castelos, que serviam para vigia e para o disparo das armas de guerra contra o inimigo. As portas são do tipo espaldar.”

Luís Gonzaga Gomes refere, “Constituem, portanto, as casas de penhores, armazéns de luxuosa indumentária e de custosas alfaias das populações citadinas, sendo por este motivo o objectivo principal dos assaltos das quadrilhas de ladrões. À sua construção não puderam deixar de presidir todas as regras de uma boa defesa, porquanto, em caso de roubos, essas casas são obrigadas a compensar os donos dos objectos extraviados com outros idênticos, ou a indemnizá-los com quantias correspondentes ao seu justo valor.”

Estes hãos de penhora dividem-se em duas classes. As de primeira categoria, conhecidas pelo nome de hãos grandes, ‘tóng-p’ou’ em cantonense, só admitem penhores bons, como ouro, prata e outros objectos de valor, podendo o prazo de seus contratos ser até três anos. Destes existem sete em Macau e 21 de segunda categoria, os hãos pequenos chamados ‘siu-át’, que admitem toda a espécie de penhores, mas os seus contratos não excedem um ano.

25 Mai 2020

Fábricas e profissões em 1867

[dropcap]A[/dropcap] 7 de Setembro de 1867 Camilo de Almeida Pessanha nasce na freguesia da Sé Nova, em Coimbra, pelas onze da noite, enquanto no mês seguinte, a 23 é a vez de Manuel da Silva Mendes ver a luz em S. Miguel das Aves, Famalicão. Ainda nesse ano em Portugal, com a aprovação do primeiro Código Civil é abolida a pena de morte para crimes civis a 1 de Julho de 1867. O inglês Robert Hart, Inspector-Geral das Alfândegas Marítimas Imperiais Chinesas, querendo ter Macau sobre a sua alçada e devido à recusa portuguesa em lhe permitir aí se instalar, procura convencer o Príncipe Gong (1832-1898, Yi Xin), chefe do Gabinete dos Negócios Estrangeiros Chinês (Zongliyamen), a comprar a jurisdição de Macau, sabendo das necessidades financeiras de Portugal.

Nesse ano, a 30 de Março os russos vendem por 7,2 milhões de dólares americanos o Alasca aos EUA, com a intenção de enfraquecer a Inglaterra, que já detinha o Canadá, logo, território de fácil anexação pelo rival.

Ainda em 1867, após uma ofensiva francesa contra os guerrilheiros no Delta do Mekong, a Indochina torna-se colónia francesa. Já os americanos cobiçam Taiwan e sobre o pretexto de a tripulação de um dos seus barcos ter sido atacada e morta, tentam invadir a ilha pelo sudoeste, mas os nativos Gaoshan expulsam-nos.

Recolha do lixo

Por Edital da secretaria do Governo de Macau e Timor de 30 de Março de 1867, mandado publicar no Boletim Oficial por o secretário Gregório José Ribeiro, são tornados efectivos o edital da Procuratura de 5 de Maio de 1851 e a postura municipal de 15 de Agosto de 1864. Ficam portanto de hoje em diante obrigados todos os moradores da cidade a mandar varrer a testadas de suas casas, até o meio das ruas, devendo esta limpeza achar-se terminada às 8 horas da manhã de cada dia.

Fica sendo expressamente proibido aos moradores da cidade o deitar quer seja lixo, quer seja imundices na via pública, bem como águas sujas nas valetas ou sapecas das ruas: devendo todos os despejos de cada casa ser feitos nos canos especiais que já se acham em comunicação com os canos das ruas.

É proibido aos vendilhões ambulantes o permanecerem por muito tempo no mesmo lugar, e não menos lhes é defeso o sujarem a via pública com cascas de cana ou de fruta, cujo comércio fazem, ou mesmo com folhas da verdura que vendem.

É nomeada uma esquadra de cules composta de doze homens, sob a vigilância directa da polícia da cidade, encarregada de transportar o lixo para os lugares que lhe serão designados em relação aos diversos bairros, devendo para este fim esses homens de carreto trazerem um distintivo, e bem assim uma campainha para acusarem a sua chegada a cada rua, a fim de que os moradores de cada casa lhes venham entregar o lixo que eles hão de transportar.

Fica em consequência proibido o uso de deitar para o rio, ou para as docas, ou para o mar, junto às muralhas dos novos aterros, lixo ou entulho que indo prejudicar o acesso aos cais, das embarcações, não é menos desagradável à vista do que prejudicial à saúde pública.

As contravenções a estas ordens, que são no benefício de todos, serão punidas com multa de uma até 10 patacas, e prisão de três a quinze dias segundo a gravidade dos casos.

Será dividida, para os efeitos deste edital, a cidade em três bairros, que serão: 1- O bairro de S. Lourenço, para cuja limpeza fica destinada a Barra no ponto que já se acha designado; 2- O bairro da Sé, cujo entulho deverá ir para trás do Cemitério de S. Miguel; 3- O Bazar e bairro de Santo António de que o entulho deverá ir para o covão da estrada de Santo António.

Profissões dos chineses

Em Macau, os professores sínicos são 66, livreiros 56 e existem dois impressores, havendo a tipografia de J. da Silva, que em 1867 acabara de ampliar as suas oficinas.

O número de músicos é de 84 e existem dois fotógrafos e 22 pintores de retrato a óleo, apesar de noutro local do B.O. se referir 154. Os relojoeiros são 38, ourives 202 e escolhedores de prata 53. Cambadores ou cambistas são 95.

O número de culis ou homens de conduzir carretos e cadeirinhas é de 1171. Há 3833 criados e criadas de servir, 171 mainatos ou lavadeiros e engomadeiros, 477 barbeiros, 141 sapateiros de obras chinesas e de obras ao gosto europeu 165. Os alfaiates de obras chinesas são 342 e de obras ao gosto europeu 165, bordadores 18, costureiras 271 e tintureiros são 20. Carpinteiros 805, marceneiros 102, torneiros 7, tanoeiros 104, entalhadores 18 e escultores 36. Carpinteiros de construir embarcações 68, calafates 37 e mestres-de-obras 12.

Os vendilhões, que vendem nas ruas os seus produtos são 915, os agricultores 296, jornaleiros 316 e carvoeiros 183.

Colaus, ou casas de pasto, são 24, assadores de porcos e aves 52 e há trinta taberneiros. Existem oito padarias onde trabalham 68 padeiros chineses contando com os três da Padaria Nacional, que se encontra no Beco do Senado n.º 2.

As farmácias chinesas são 33; Boticários 272; lojas de plantas medicinais 15; ervanários ou herbolários 42; vacinadores 9; curandeiros 52; e Mestres chineses ou facultativos 104. Assim existem mais de 500 pessoas a trabalhar na saúde. Alguns dos Mestres ou facultativos chineses também exercem a profissão de farmacêuticos ou mister de ervanários. Contudo quem geralmente manipula os medicamentos e avia as receitas nas boticas e bem assim, quem de ordinário trata das plantas nas lojas de plantas medicinais são os empregados ou sócios dos mestres chineses, que vão mencionados como boticários e ervanários. Encontra-se ainda a Pharmacia de J. das Neves e Sousa e a Lisbonense.

Quanto às fábricas, as treze de pivetes empregam 115 pessoas e nenhuma está na cidade cristã, existindo três no Bazar, seis em Patane, três em Mongh’a e uma na povoação da Barra. Já as fábricas de chá são catorze e encontram-se na cidade cristã, no Bazar, em Patane e em S. Lázaro, empregando 430 pessoas, sendo 272 mulheres, noventa das quais habitam em terra e 182 a bordo de embarcações no rio e no mar.

Existe uma fábrica de tijolo e telha, que se acha na Estrada de Cacilhas, próxima à praia com esse nome e emprega 29 pessoas. Há ainda quatro fábricas de Cal, duas em Patane e as outras duas em Mongh’a, quase à beira do mar e empregam 43 pessoas.

As fábricas de tabaco são em número de onze, achando-se estabelecidas no Bazar e em Patane e empregam 190 pessoas, havendo 341 cigarreiros. A folha de tabaco vem de Guangdong em grande quantidade, sobretudo de SeHui e pouca é reexportada, sendo quase exclusivamente para os portos de Oeste.

Há catorze Casas de Jogo que empregam 142 pessoas e a lotaria chinesa dá trabalho a 182 pessoas. Vinte e quatro são os vendedores de ópio cozido e 1867 as meretrizes. Já os dizedores de sinas são 88.

Na cidade estão presas 205 pessoas e tem 220 mendigos. Estes, alguns dados sobre Macau em 1867, na sua maioria fornecidos pela Repartição de Estatística.

18 Mai 2020

Despesas e receitas da Misericórdia

[dropcap]E[/dropcap]m Macau, uma Comissão Especial foi nomeada a 8 de Novembro de 1866 pelo Governador José Maria da Ponte e Horta para estudar as necessidades e problemas da Santa Casa da Misericórdia e arranjar soluções. A nível financeiro, só com a Casa dos Expostos nesse ano a S.C.M. estava a despender mais de um terço do rendimento, que rondava $6000. Mas havia ainda outras despesas, sendo o dinheiro preciso para o hospício dos lázaros, hospital, presos pobres, educação de um aluno no Colégio de S. José, foro do cemitério dos parsis, missas e esmolas.

No ano de 1867, o hospício dos lázaros tem 37 desses infelizes, todos chineses, sendo 22 do sexo masculino e 15 do feminino. Dos 37, são 23 sustentados pela Santa Casa e 14 são particulares a quem a Misericórdia apenas dá domicílio. Estes últimos, porém, passam a ocupar os lugares que deixam os lázaros da casa que vão morrendo. É notável o abandono em que se vê esse determinado hospício. Os lázaros vivem como querem e não se sujeitam a tratamento algum. A Misericórdia dá a cada um dos seus certa quantia em dinheiro e uma porção de arroz para sustento. Se a despesa feita com os lázaros em 1857 fora de $472,30, em 1866 subiu para os $749,01 e nesses dez anos cifrou-se em $6733,11.

Já a mesa da Misericórdia de 1833 era da opinião que não se admitissem expostos chineses e resolveu também, por motivo de falta de meios para fazer face às despesas da casa, não sustentar lázaros desta ordem. Em Fevereiro de 1864 a comissão administrativa deliberou não admitir lázaros chineses senão até ao número de 22, mas esse número fica sempre preenchido, e em 1867 existe ainda mais um.

A Comissão Especial criada em 1866 fez sua a opinião da mesa de 1833, isto é, entende que a Misericórdia deve conservar os lázaros actuais, sem admitir mais nenhum, nem preencher os lugares dos que morrem com os lázaros sustentados pelos particulares. Dar abrigo, sustento e alívio a todos os lázaros chineses que aparecem na cidade era uma obra de caridade e o meio de evitar essa triste sina que por aí às vezes se apresenta. Mas isso seria impossível. Centenas deles viriam talvez de todas essas povoações quando soubessem que encontravam em Macau algum consolo ao seu infortúnio. A Misericórdia beneficia os que pode, não o faz se lhe falecem os meios para tanto. Tem ela outros encargos, para os quais são principalmente destinados os seus haveres, e a que por conseguinte não deve faltar.

No Boletim do Governo de Macau de 11 de Fevereiro de 1867, na Portaria N.º 13, o Governador de Macau determina: Considerando que a Santa Casa da Misericórdia não é, nem pode ser um albergue de inválidos e leprosos, pois que a sê-lo mal poderia bastar para ocorrer aos males transitórios, com quanto incessantes, dessa porção da comunidade que ferida da desgraça vai ao seio de tão pio estabelecimento pedir abrigo e socorro: hei por conveniente, conformando-me com o parecer da Comissão, determinar que a Misericórdia não receba mais em seu seio nem lázaros nem inválidos, nem outros desgraçados, que pela natureza de suas doenças ou por virtude de suas idades ofereçam um carácter de permanência, que mal se pode compadecer com a índole e fins de tão generosa como activa instituição. Macau 8 de Fevereiro de 1867.

Um dos deveres da Misericórdia é sustentar também os presos pobres. A comissão, porém, notou que a maioria desses presos não são verdadeiramente pobres, nem portugueses. Em 1866 foram alimentados 17 presos, dos quais 6 eram portugueses (1 europeu e 5 macaenses) e os outros 11 estrangeiros. Eram estes últimos marinheiros europeus que desembarcaram em Hong Kong e vieram a Macau dar motivos à sua prisão.

Das receitas

A Misericórdia cobra pelo tratamento de doentes particulares no Hospital de S. Rafael, para os quais há duas classes. Na primeira paga cada doente $1,25 e na segunda $0,99. Existem também no mesmo estabelecimento inválidos e particulares sem rendas, que são sustentados, vestidos e tratados por diferentes preços, assim, um deles paga $10 por mês, dois pagam $4, um $3 e outro $1,50. Os rendimentos dos dez últimos anos dão ao hospital uma receita anual média de $764 e a do ano de 1866 fora de $1250.

A comissão entende ser urgente melhorar as circunstâncias actuais do hospital e propõe em lugar competente, poder ser aumentada esta receita, elevando os preços aos doentes particulares e regularizando convenientemente a importância que devem pagar os inválidos e outros desta ordem.

Outra fonte provém de duas capelas que anualmente dá um pequeno rendimento proveniente de repiques, sinais de enterro, aluguer de objectos fúnebres, etc. Há um livro especial para esta receita e despesa, onde as verbas são bastante variáveis. A média tirada da importância líquida produzida nos dez últimos anos dá desta origem um rendimento anual de $56.

Já a receita da lotaria anual da Misericórdia em 1866 fora de $800, havendo ainda a deduzir as respectivas despesas. É raro, porém, chegar-se a este resultado pelas dificuldades de se obter a venda dos bilhetes necessários, o que se pode atribuir a igual concessão feita a outros estabelecimentos como a Escola Macaense e o Teatro de D. Pedro V e sobretudo à concorrente Lotaria de Manila, preferida pelos prémios avultados que distribui. Assim, o rendimento da lotaria da Santa Casa é variável e às vezes falha, por não se conseguir vender o número suficiente de bilhetes. Essa a razão do plano da lotaria de 1867 passar a ser de $4000, com 2000 bilhetes a $2 por bilhete, enquanto em 1866 fora de $8000, logo uma redução para metade. Em 1867, o 1.º Prémio da lotaria é de $1000 patacas, havendo ainda, um prémio de $500, cinco de $100, dez de $50, vinte de $10, cento e oitenta de $4 e um prémio de $100 para último branco da última extracção. Serão 218 prémios num valor total de $3520 e os 1782 brancos, 12% a benefício das Obras pias, que dá $480, podendo a Misericórdia o dividir como julgar conveniente. A extracção fez-se a 3 de Junho de 1867 e no dia imediato começaram a ser pagos os prémios na Santa Casa.

Já o produto das multas é ainda mais incerto. Em muitos anos seguidos não figuram elas na receita da Santa Casa e foi de 1863 a 1865 que produziram uma média anual de $95, tendo faltado em 1866.
Em 1861, a Santa Casa começara a alugar cadeiras no passeio público nas tardes e ao sol-pôr dos domingos e quintas-feiras, quando no Jardim de S. Francisco tocava a banda de música militar, sendo a receita de $62 nesse ano, de $33 em 1865, e de $65 em 1866.

Além de todos estes rendimentos, a Misericórdia ainda conta com o dinheiro a juros, propriedades de casas e terrenos.

A Comissão refere ser a receita anual da Santa Casa da Misericórdia, nas circunstâncias em que presentemente está, de $6000. Recebidas, porém, as dívidas cobráveis, entre elas a da Fazenda Pública, estabelecido o pagamento dos foros dos seus terrenos, e tomadas as outras medidas que ficam indicadas, esta receita aumentará de uma maneira notável.

4 Mai 2020

Órfãs e viúvas

[dropcap]A[/dropcap] Santa Casa da Misericórdia de Macau, estabelecida no ano de 1569 por D. Belchior Carneiro, desde cedo tomou conta da situação de orfandade, sobretudo no sexo feminino, para a qual na altura própria estabelecia dotes de casamento em função dos rendimentos de legados, ou outras deixas, que de modo expresso mencionavam tal destino. Foi prática muito antiga e já o Escrivão António Garcez fez o seguinte lançamento nos livros: “Em 15 de Agosto de 1592 sendo Provedor António Rebelo Bravo, que Deus tem, se repartiram pelas órfãs 500 taéis, com declaração que andam os ditos taéis ganhando para as ditas órfãs e que falecendo alguma o próprio e o procedido ficavam para a Casa…”.

O único regime dotal conhecido em Macau foi o da Misericórdia e não há notícia de ter havido órfãs d’ El-Rei, designação concedida às protegidas, cujos dotes de casamento levavam mercês especiais da Coroa, na forma de percentagens nos lucros de viagens, sendo as mais vulgares as da China e do Japão, ou pelo menos a garantia de seus futuros maridos irem ocupar determinados lugares.

Nos termos do Compromisso de 1627, as elegíveis para esses dotes deviam responder a certos requisitos: de identidade, filiação, comportamento abonado pelo pároco, haveres herdados, etc., e ainda a cláusula . Nesta melindrosa averiguação recomendava também o compromisso: “Ter-se-á muita cautela na ordem e modo por que se fizer o inquérito, não aconteça ficar alguma órfã sem dote, mas com afronta, à conta das informações se fazerem com menos tento … para se fazerem melhor…”.

Em escrutínio secreto votavam nas que deveriam receber o dote, geralmente, guardado . Era-lhes mantido o direito durante quatro anos, , acrescentava o Escrivão nos editais.

Contratado o casamento, a cerimónia, as mais das vezes, realizava-se na própria Igreja da Misericórdia, com a assistência do Provedor e mais Irmãos da Mesa que paternalmente assinavam o registo e entregava, então, a importância consignada para dote, a que juntariam – não será demais imaginar, a sua lembrança pessoal .

Casar para ter dote

Por volta de 1718, Manuel Favacho deixou dotes para o casamento de vinte órfãs. O Conde da Ericeira, D. Luís de Meneses, Vice-Rei da Índia (1717-1720) escreveu ao bispo de Macau para que esses casamentos fossem com soldados, e outros homens graves cujo procedimento prometa servir algum dia útil a Macau no comércio como no governo da cidade, fugindo quanto possível de marinheiros, pois esta gente não costuma ter educação que possa prometer vida com sossego, nem ao menos se achar neles o saber ler e escrever.

O Recolhimento da Santa Casa da Misericórdia é referido num termo do Senado de 26 de Dezembro de 1718, quando este lhe destinava meio por cento para a sustentação das meninas órfãs filhas de Portugueses.

Todos os Compromissos dedicaram às órfãs articulado especial, que poucas modificações vieram a sofrer através dos tempos. Umas vezes, era a própria órfã que, por sua iniciativa, requeria a concessão do dote, como no caso de que se transcreve o deferimento: , Arquivo da Misericórdia.

Outras vezes, a Mesa punha editais, convidando as pretendentes a apresentarem os seus requerimentos nos termos do Compromisso (1627), mas outras órfãs havia tão destituídas de recursos que mais cedo necessitassem auxílio. Por isso, em 1726 o Provedor António Carneiro de Alcáçova, também Governador e Capitão Geral, reconhecido o insuficiente resultado da distribuição só dos dotes ou mesmo esmolas eventuais, decidiu, com a aprovação do Definitório, fundar um recolhimento para órfãs e viúvas pobres.

Recolhimento para órfãs e viúvas pobres

Em 1726 o Recolhimento contava com uma Mestre para ensinar às órfãs as artes de que necessitavam para governar a casa.

O Vice-Rei João Saldanha da Gama em Provisão de 9 de Maio de 1727 aprovou o estatuto desse Recolhimento: (Arq. da Mis.)

O Recolhimento da Santa Casa foi fechado em 1737 por falta de dinheiro. Em 1792, o Bispo de Macau Marcelino José da Silva (1789-1808) reabriu o Recolhimento, também conhecido por ‘Casa de educação para meninas órfãs’, onde se albergam muitas que pelas frequentes perdições e naufrágios dos barcos, na mesma cidade ficam em sumo desamparo e expostas a infinitas misérias, ou a todo o género de perigos.
Os 8 mil taéis, que se encontravam na Procuradoria dos Jesuítas da Província do Japão, no Colégio de S. Paulo e que foram para os cofres das órfãs, por ordens do Governador da Índia, executadas a 11 de Maio de 1797, foram entregues para o sustento dos seminaristas do Seminário de S. José e às órfãs do Recolhimento.
Artigo escrito com base nas informações das pesquisas do médico José Caetano Soares.

27 Abr 2020

Solução estável para os expostos

[dropcap]A[/dropcap] Comissão Especial, presidida pelo governador do bispado padre Jorge António Lopes da Silva, tendo como secretário o Dr. Lúcio Augusto da Silva e entre os restantes membros estava o também médico Vicente de Paula S. Pitter, apresentou ao Governador de Macau o Relatório das necessidades e problemas da Santa Casa da Misericórdia, com soluções para a viabilizar financeiramente.

No Boletim do Governo de Macau de 11 de Fevereiro de 1867, o Governador de Macau José Maria da Ponte e Horta mandou a 8 de Fevereiro publicar:

A Comissão propôs que se fizesse algum conserto e asseio de que carecia aquela Casa dos Expostos; provendo também de roupa, tanto, para as crianças, como para as criadas, que serviam naquele estabelecimento. Promoveu a sua educação, mandando para a Escola Macaense um dos expostos, menino de 9 para 10 anos, e recomendando à regente o ensino das primeiras letras às meninas e mesmo as que estavam ali servindo de criadas.

Mas “só em 1876 foi, por fim, possível assentar as bases de solução mais estável e duradoira, primeiro quanto a enjeitadas jovens, depois mesmo os de mama, na altura eram quatro as raparigas expostas a cargo das Irmãs de Caridade no Colégio da Imaculada Conceição de uns e outros acabaram por ser encarregadas , de princípio no próprio edifício dos Expostos, depois no Asilo de St.a Infância, por elas em certa altura instalado em Santo António, mercê de subscrição pública.” O Bispo Diocesano D. Manuel Bernardo de Sousa Enes, chegado a Macau a 2 de Janeiro de 1877, adquiriu a Casa de Beneficência, na Praça Luís de Camões, para as religiosas “Canossianas, que tomaram a seu cargo o problema das crianças nessa situação, para o cuidado e manutenção das quais a Santa Casa ficou a dar um contributo, ao tempo, de 750 patacas. Também ficou estabelecido que, se a Ordem de Madalena de Canossa saísse de Macau, a Misericórdia viria a reassumir o primitivo encargo de protecção.

A Superiora das Canossianas reduziu a escrito os termos do acordo, na parte dessas raparigas enjeitadas: Arquivo da Misericórdia.

Uma vez alojadas em Santo António, sempre a Misericórdia manteve o subsídio, progressivamente elevado a 1440 patacas anuais, e quanto aos recém-nascidos passariam à conta do Asilo de St.ª Infância, com a finalidade mais religiosa, mas nem os abnegados esforços daquelas Madres, nem sobretudo os fracos recursos materiais disponíveis, iam permitir-lhes enfrentarem todos os aspectos do difícil problema que continuaria, por conseguinte, do mesmo modo bem mal, nos seus conceitos iniciais – médica e socialmente discutíveis ou senão errados”, segundo José Caetano Soares.

Asilo para órfãos

O redactor do Boletim Oficial a 11 de Fevereiro de 1867 refere, “As medidas do governo, sobretudo as que se dirigem a impedir que a Santa Casa continue a receber em seu seio essas crianças desgraçadas, pela maior parte levando em si o gérmen de mil doenças, sem esperança de se salvarem, e consumindo ao mesmo tempo uma boa parte dos vencimentos do estabelecimento, eram medidas há muito reclamadas, e bem hajam aqueles que não hesitaram um instante em descobrir abusos que, a título de beneficência, se iam perpetuando na colónia, para sua vergonha e desdouro.”

“Até aqui a Misericórdia não atendia aos verdadeiros deveres da sua instituição. A população pobre portuguesa não recebia o mais pequeno benefício deste estabelecimento, achando-se o seu hospital desprovido do mais ordinário conforto. As medidas do governo tendem a tornar a Santa Casa da Misericórdia no que deve ser, colocando aquele pio estabelecimento em pé de acudir aos pobres portugueses acossados pela fome, abrindo o seu hospital à humanidade aflita, para nele encontrar conforto e curativo.

A roda dos expostos acaba; mas com esta necessária medida, só poderão perder os que à sombra da beneficência abusavam dela de um modo inaudito. Os pobres, e os doentes, esses lucram muito pelas medidas adoptadas, e a Santa Casa ficará sendo o que deve ser, um estabelecimento de caridade.

A tudo atendeu o governo local, e ao passo que tirou à Santa Casa da Misericórdia a faculdade de receber raparigas abandonadas, abriu uma subscrição, como se vê pela parte oficial deste número, onde o Governador apelando ao patriotismo dos macaenses, em que confia, abre uma subscrição na colónia com o fim de se criar na cidade, sob os auspícios, de uma ou mais senhoras de boa vontade e de sentimentos caridosos, um asilo para órfãos, raparigas abandonadas, ou outras que por virtude de suas circunstâncias devidamente comprovadas, tenham direito ao benefício da caridade pública.” O primeiro a dar foi o Governador Ponte e Horta, que ofereceu $50. “Aguardamos com tanta ansiedade como interesse o resultado desta subscrição, para a qual é honroso concorrer com qualquer subsídio que seja.

Sabemos também que S. Exa. o Governador tem resolvido estabelecer uma escola pública gratuita, de instrução primária portuguesa, para o ensino das crianças chinesas. Aplaudimos de todo o coração esta medida, porque vemos nela um pensamento todo patriótico. A direcção desta escola deve ser confiada a um professor que entenda a língua sínica, para bem explicar aos chineses o português.”

20 Abr 2020

Fim da caixa comum

[dropcap]A[/dropcap] Santa Casa da Misericórdia tinha a seu cargo a Casa dos Expostos que, por ordem da autoridade judicial, há anos aceitava raparigas de mau procedimento e incorrigíveis, que não foram expostas e cujas famílias que as criaram procuravam livrar-se. Estas mulheres nos finais de 1866 eram em número de sete, sendo sustentadas, vestidas e tratadas nas suas doenças na Misericórdia. “Para tudo tem servido este pio estabelecimento, menos para exercer a verdadeira caridade. Este abuso, de uma inconveniência bem manifesta, não deve continuar”, declarou a Comissão e por isso, no Boletim do Governo de Macau, Ano 1867 – Vol. XIII – n.º 6; segunda-feira 11 de Fevereiro, Parte Oficial N.º 12, o Governador de Macau José Maria da Ponte e Horta determina a 8 de Fevereiro de 1867 o seguinte: .

Já na portaria n.º 11, o Governador abolia . Por isso, as aceitações dos recém-nascidos continuariam, mas por admissão justificada com registos em forma, a garantirem às mães pobres, os subsídios já durante a gravidez e puerpério (período do parto), com assistência em maternidades e com visitas mesmo posteriores, quantitativamente longe ainda do que seria necessário, mas ao menos em bases justas, mais dignas e humanas.

Não é portanto o intuito de encobrir aos olhos do mundo a vergonha de uma união ilegítima a causa da exposição em Macau, pois que isso nada importa aos chineses e é raríssima a exposição de crianças portuguesas. Em quinze anos, como afirma a Regente do estabelecimento, aponta-se esta e aquela. Seja isto dito em abono da nossa população. Para ela felizmente é desnecessária a roda, que absorve um terço dos rendimentos da Santa Casa da Misericórdia, que são provenientes de dinheiro a juros, propriedades de casas, terrenos, hospital, capelas, lotarias, multas e cadeiras no passeio público. Já as verbas de despesa são, para além da casa dos expostos, o hospício dos lázaros, hospital, presos pobres, educação de um aluno no Colégio de S. José; foro do cemitério dos parsis, missas e esmolas.

Escolha das amas

À data de 31 de Dezembro de 1866 havia 79 crianças de leite e 29 desmamadas, nenhuma portuguesa, sendo todas chinesas, além de sete raparigas adultas, remetidas em depósito pelo Juiz de Direito, para lá desempenharem serviços auxiliares. Da China vinham muitas crianças, abandonadas pelos pais por serem raparigas, sendo recolhidas pela Santa Casa da Misericórdia que tratava delas até aos 7 anos. Depois entregues ao destino, ou, compradas pelos habitantes tornavam-se muichais (criadas para toda a vida).

Nada tinha, pois, de lisonjeiro ou tolerável tal estado de coisas, e por isso a Comissão, assustada com o progressivo aumento dos gastos, em ritmo impossível de ser comportado, entendeu que, para salvar da completa ruína a Misericórdia convinha, em primeiro lugar, abolir a roda… continuando, porém, a socorrer os enjeitados existentes.

Apesar de ser uma medida oficial, por força da rotina continuaram a persistir as admissões, quase nos antigos termos e números. Disso queixava-se em 1870 outra Comissão Administrativa ao classificar esse serviço a manter obrigatoriamente 72 crianças entregues a amas de leite e 26 aos cuidados da Regente.

Novas instruções foram também aprovadas para a escolha das amas: Que as amas sejam de boa constituição e gordura mediana e de 20 a 30 anos de idade. Que sejam de fisionomia alegre e viva. Que as tetas sejam firmes, arredondadas e de volume mediano, com os mametais bem formados, mas não grossos e sem rachas ou escoriações. Que o leite seja abundante, de cor azulada, sem cheiro, de sabor mal doce e assas consistente para se conservar em gotas, quando lançado em superfície polida. Que não tenham erupções pelo corpo ou na cabeça, nem transpiração de cheiro forte. Que não tenham mau hálito e que os dentes sejam brancos, unidos, as gengivas firmes e em bom estado e a garganta sã. Que não tenham cicatrizes nas virilhas e as partes genitais estejam em estado normal e sem leucorreia (branco corrimento). Do Arquivo da Misericórdia.

Enterros sem cerimónia

O Boletim da Província de Macau e Timor de 3 de Junho de 1867 refere, “O estabelecimento dos expostos, que pela Portaria do Governo de 2 de Fevereiro de 1867 a Santa Casa conserva ainda sob sua guarda e cuidado, não deixou de ser fiscalizado. Contam-se até hoje 71 crianças de leite entregues ao cuidado de 71 amas, fora da vista e vigilância da casa, pelo subsídio mensal de 1 pataca a cada criança, inclusive o salário da ama; e 25 desmamadas ao cuidado da Regente, sustentadas por conta da Santa Casa.

Para melhor inspecção das crianças entregues às amas, a comissão deliberou que o velho distintivo, que elas traziam para serem reconhecidas, fosse substituído por um novo, que é um cordão atado ao pescoço da criança em distância, que não possa passar pela cabeça, tendo as pontas amarradas, e lacradas com o selo e como dístico – Santa Casa da Misericórdia – sobre um quadrado dobrado de duas polegadas, de pergaminho, com o número correspondente ao que se acha consignado no livro do registo.

As crianças eram apresentadas mensalmente pelas respectivas amas à Regente dos Expostos para receberem o subsídio correspondente. Caso alguma falecesse era o cadáver levado à Casa dos Expostos e mandado enterrar pela Regente no cemitério público.“ Trabalho realizado por um chinês que se encarregava de transportar o féretro ao cemitério e após abrir uma pequena cova, com licença do encarregado do cemitério, da caixa retirava o cadáver e o sepultava sem haver cerimónia, nem a bênção do respectivo pároco. A caixa, comum pois servira e servirá para outros, regressava à Casa dos Expostos.

A partir de 1867, em caso de falecimento de uma criança era ela levada à Casa dos Expostos e apresentada ao encarregado daquele estabelecimento, um dos vogais da comissão, para verificar pelo distintivo a sua identidade. Depois o defunto era levado dentro do féretro à sepultura, precedendo-se o aviso ao respectivo pároco, para encomendar o corpo, ou na igreja, ou na capela do cemitério. Sendo o cadáver enterrado dentro da caixa, deixou assim de existir a caixa comum.

8 Abr 2020

Mortandade na Casa dos Expostos

[dropcap]O[/dropcap] decreto de 19 de Setembro de 1838 incumbia às municipalidades a manutenção dos expostos, mas nos livros e documentos onde consta despesas, o movimento dos expostos e a sua mortalidade entre os anos de 1857 a 1866, refere-se ter a Misericórdia de Macau despendido com a Casa dos Expostos em 1866 mais de um terço do seu rendimento, quando a seu cargo tinha ainda entre outros o hospício dos lázaros, hospital e presos pobres.

Existiam 45 expostos no primeiro dia de 1857 e nesse ano, das 293 crianças que entraram na Casa dos Expostos só vinte não morreram, mas em 1858, das 247 que entraram, faleceram esse número e mais 18. Desse biénio, 1857-58, restavam apenas duas crianças das 550, que tinham entrado e a despesa foi de $2,719.91. Nos anos seguintes, as percentagens da mortalidade e gastos na Casa dos Expostos mantiveram-se até 1866, quando o número de entradas subiu para 347 e dessas, 41 continuavam vivas, existindo assim 107 expostos a 31 de Dezembro. No entanto, as despesas só desse ano passaram para $2,280.62. O movimento total nos dez anos foi de 2286 expostos, sendo a mortalidade extraordinária, sem exemplo em parte alguma. Um relatório, publicado por volta de 1866 em Lisboa, apresentava a mortalidade média dos expostos em diferentes distritos de Portugal e dava como mínima 14,5% e como máxima 39,6%. Em Macau, nos dez últimos anos fora de 95,9%.

Os expostos eram quase todas crianças chinesas, a maior parte enfermas e muitas gravemente atacadas de doenças agudas, crónicas e contagiosas. Estas crianças ou eram expostas pelos próprios pais e parentes, quando tinham perdido a esperança de as curar, ou por pessoas religiosas que as solicitavam e compravam por uma insignificância com o fim de as tornar católicas. Este último facto dava lugar a serem essas infelizes criaturas consideradas uma nova espécie de mercadoria, pois havia indivíduos que se ocupavam em ir comprá-las nas ilhas próximas para as vender na cidade por maior preço. A tal ponto chegou este abuso que elas são geralmente levadas durante o dia e entregues ao porteiro do estabelecimento. A exposição clandestina tornou-se pois em exposição patente, sem nenhuma das suas condições. A torrente promete engrossar porque a alimenta um falso sentimento de humanidade e estamos cercados de povoações chinesas. [De lembrar estar-se no período do tráfico de cules e da regulamentação para a sua emigração.]

Já a mesa da Santa Casa de 1833 composta de pessoas cordatas desta cidade, entre as quais havia um respeitável sacerdote, foi de opinião que não se admitissem crianças chinesas na casa dos expostos. Finalmente, nenhum legado impõe à Misericórdia conservação da roda, havendo um único, insignificante, e de que existia em 1812 menos de metade, cujo testador destinou uma quantia para socorrer seus parentes pobres e outros necessitados, e só na falta destes os expostos. Julga a comissão desnecessário entrar em outras considerações a este respeito. Assim é o texto retirado do B.O. de 11 de Fevereiro de 1867.
De referir, na data de 31 de Dezembro de 1866 haver 79 crianças de leite e 29 desmamadas, todas chinesas.

A comissão

Ainda nesse B.O. n.º 6 de 1867, a Portaria mandada publicar a 8 de Fevereiro de 1867 pelo Governador José Maria da Ponte e Horta teve como base o relatório e recomendações de uma Comissão Especial. Esta fora nomeada a 8 de Novembro de 1866 e era presidida pelo governador do bispado Padre Jorge António Lopes da Silva, tendo o Dr. Lúcio Augusto da Silva como secretário, sendo o também médico Vicente de Paula S. Pitter, Francisco & Assis e Fernandes, e Eduardo Pio Marques os restantes membros da Comissão.

A portaria n.º 11 referia: Ao entregar o relatório ao Governador, a comissão encarregada de estudar as necessidades da Santa Casa da Misericórdia e de propor os melhoramentos que julgasse oportunos, desobrigou-se deste encargo, referindo, “A natureza complexa do objecto, a importância dos diferentes ramos de beneficência pública que ele abrange e todas as considerações que despertem os deveres desta caridosa instituição, filha da piedade dos nossos antepassados, levaram a comissão a ser escrupulosa no cumprimento do seu dever.

Dividindo o seu trabalho em duas partes, estudara na primeira, todas as fontes de receita e na segunda, as diferentes classes de despesa da Casa da Misericórdia. Assim reconheceu a situação actual deste estabelecimento, os abusos de longa data ali introduzidos e as reformas de que carece para poder exercer proficuamente a caridade.

A comissão entende que, para salvar de completa ruína este estabelecimento (Santa Casa da Misericórdia), convém em primeiro lugar abolir a roda, ou antes não admitir mais expostos, continuando porém a socorrer do mesmo modo os que existem.”

23 Mar 2020

Casa dos Expostos

[dropcap]P[/dropcap]ara os recém-nascidos não serem deixados em plena rua abandonados, foi em 1838 atribuído às Câmaras Municipais o encargo de os acarearem e promover a sua criação e à Mesa dos Enjeitados, também conhecida por Mesa dos Santos Inocentes, recolher as verbas para as despesas, mercê, principalmente, de esmolas.

A Santa Casa da Misericórdia de Macau, pelo menos desde o início do século XVII, tivera a seu cargo a Casa dos Expostos, chamada também dos Enjeitados, encontrando-se o hospício instalado na parte posterior do Cartório, bloco comum à Igreja, e de vistas para o claustro. Com fraca vigilância e sem acções de fiscalização exteriores durante o século XVIII, parecia abandonada, apesar de ter recebido cifra a atingir os três contos de réis, isto é, 3000 taéis, segundo uma representação de 1789 à Rainha.

“Os poucos dados conseguidos mostram, naqueles anos, a existência média à roda de 120 crianças; às amas pagavam 2 máses (7 gramas) de prata e 30 catis (um pouco mais de 18 kg) de arroz, por mês. As amas gozavam ainda a regalia de mestre curandeiro chinês, que, por avença para pela Casa, as ia tratar quando necessário. As recebiam 1 a 2 taéis (1 tael = 37,799 g) de prata por mês, sem direito a arroz, mas parece ter sido corrente tomarem à sua conta, mais de um exposto, com a paga equivalente.

Para despesa total, já em pleno período de restrições (início do século XIX), apura-se ser ainda entre 1600 a 1800 taéis por ano, mais ou menos de acordo com a média do 1% indicada pelo Ouvidor Arriaga para a cobrança na alfândega, verba, porém, reputada insuficiente. Em todo o caso é de frisar quanto tal despesa era, ao tempo, ligeiramente superior à do hospital dos enfermos”, segundo o médico José Caetano Soares (JCS), cujas suas informações nos socorrem neste artigo.

Em Portugal, no alvará de 18 de Outubro de 1806, tornado extensivo ao Ultramar, o assunto dos expostos merecera atenção especial: «Determino que em todas as Misericórdias, nas eleições anuais se eleja um Irmão para Mordomo dos ditos Expostos. Para que esse piedoso estabelecimento (Casa dos Expostos) não venha a ofender os bons costumes, que as justiças obriguem as mulheres solteiras, que se souber andam pejadas, a darem conta do parto, a pagarem a criação e tomarem conta dos seus filhos. Quando, porém, aconteça haver um parto secreto e se recorra ao Provedor da Misericórdia ou ao Mordomo dos Expostos, serão eles obrigados a prestar o socorro pedido, procurando-lhe uma mulher morigerada (de bons costumes) que em segredo assista ao parto, fazendo conduzir o exposto à roda, ou entregando-o a uma ama, que o crie… sem que se indague a qualidade da pessoa, nem se faça acto algum judicial, de que se possa seguir a difamação.» Arquivo das Missões.

“O uso em que estão os moradores, ou mais suas mulheres, de comprarem raparigas que os chineses vendem com facilidade, principalmente, havendo carestia de arroz e mandar lançá-las na roda, não tendo o problema nada de peculiar em Macau, era preciso pôr um termo a isso. De causas diversas, desde as de natureza económica, até às de ordem moral, mais ou menos ligadas à frouxidão de costumes ou à libertinagem, esse aspecto da ilegitimidade dos filhos levaria a admitir o desumano conceito de tolerar o abandono dos recém-nascidos, mormente pela mãe”, segundo o JCS.

Em 1811, mereceu atenção do Desembargador Miguel de Arriaga que comunicaria, também, à Secretaria de Estado: Há na Misericórdia a administração deste pio Instituto (Casa dos Expostos) socorrido pelos réditos dos legados deixados pelos benfeitores com essa aplicação, a que acresce a anual consignação de 2% (?) tirados da alfândega sobre as fazendas grossas.

A Portaria-Circular de 1834 mandava pedir: Exposição circunstanciada do estado em que existem os estabelecimentos dos Expostos, com indicação do número que anualmente recebem, vencimentos das amas, quanto tempo dura a criação de cada um, que destino recebem ultimados da sua criação, se há edifícios em que estejam todos reunidos e quanto se deve às amas… A Portaria foi recebida em Macau, mas se teve resposta da mesa, não foi encontrada.

Manifesto contra a Roda

“Pelos elevadíssimos índices de mortalidade, dessas Casas de Expostos, a que outras razões, tanto morais, como até materiais, traziam extraordinário agravo, passou a tornar-se mais opressivo o mal-estar e o geral descontentamento, até que em 1853 o Dr. Tomaz de Carvalho, professor ilustre da Escola Médica de Lisboa, rompeu na com a memorável campanha – .

A grande autoridade do seu nome, bem apoiada nos elementos colhidos na maternidade do Hospital de S. José, a pouco e pouco transformada em antecâmara da Roda e, acima de tudo, o desassombro de quem se sente forte na luta por uma causa justa.

Não obstante o apoio, logo recebido, tanto da Imprensa, como mesmo das instâncias governamentais, só em 1866, ainda parcialmente, e, por fim, em 1876 foi possível abolir de maneira definitiva o sistema da Roda”, segundo escreve José Caetano Soares.

16 Mar 2020

Roda dos Enjeitados

[dropcap]E[/dropcap]m Macau há assuntos a merecer estudo, mas, fôssemos como os académicos da cidade nossa vizinha região administrativa, apenas interessaria investigar os que poderiam comprometer os adversários, para vangloriar os nossos. Quando a meio do estudo se apercebem estar os seus padres ainda mais enlameados que os nossos, desinteressam-se do tema, deixando-o cair no esquecimento. Essa era a nossa vontade se não achássemos relevante a história da Casa dos Expostos, também chamada Casa dos Enjeitados. Sendo os registos escassos sobre as fases da sua existência, onde falta muita documentação, socorremo-nos das informações compiladas por o médico José Caetano Soares (JCS) e complementamos com as do Boletim Oficial.

Vulgarmente denominada Roda, pois era a maneira como os recém-nascidos entravam no hospício através de uma rotativa porta, sem ninguém ficar a saber quem ali os colocara, assim eram deixados ao cuidado da Santa Casa da Misericórdia. Uma Regente tomava conta da Casa dos Expostos e “respondia por tudo, desde a admissão dos recém-nascidos, até ao recrutamento das amas, seu pagamento, etc., sem nenhuma entidade fiscalizadora”, refere JCS.

Nos inícios de 1867, o Governador José Maria de Ponte e Horta assustou-se ao saber da morte no espaço de um mês de 38 das 46 crianças de leite recolhidas na Casa dos Expostos. Após aí serem abandonadas, a Regente entregara-as ao cuidado de amas, pagas a uma pataca por cada cria para delas cuidar e as amamentar. As falecidas, primeiro foram levadas à Casa dos Expostos e dali mandadas sepultar pela Regente, criando grande azáfama ao chinês que tratou de as enterrar. Assim, um a um dos 38 cadáveres foi transportado na caixa comum pelo chinês para o cemitério público, o qual abria naquela mesma ocasião uma pequena cova, com licença ampla do encarregado do cemitério. Sem cerimónias conduzidas pelo respectivo pároco, foram sucessivamente sepultadas, regressando o portador de volta com a caixa vazia para a Casa dos Expostos, onde a depositava para servir em idênticas ocasiões; e por isso levou o nome de caixa comum.

Das oito crianças ainda sobreviventes, todas do sexo feminino, encontravam-se duas cachéticas (raquíticas, ou doentes de cachéxia, enfraquecimento geral do corpo humano) e cinco afectadas de doença de pele, falta de limpeza e em má nutrição. A outra estava num estado tão deplorável e repugnante que não se encontrava quem a quisesse amamentar.

Inteirado do estado dessas criaturas, privadas de leite e colo materno para serem baptizadas e depois entregues a mercenárias que se denominavam amas, o Governador pediu à justiça de Macau para proceder sem detença contra os infractores e ao comandante da polícia, que fizesse entregar sem perda de tempo aos cuidados da SCM as restantes oito crianças, pois estas continuavam ainda com as suas sete amas. Mas antes disso, fossem as cinco inspeccionadas por o cirurgião-mor. À criança que ninguém queria amamentar foi-lhe dado leite de vaca e começou a recuperar.

Assim, segundo Luiz Gonzaga Gomes, a 2 de Fevereiro de 1867 “o Governador José Maria de Ponte e Horta decretou, por prejudicial aos costumes da sociedade, a abolição da Roda dos Expostos da Santa Casa da Misericórdia de Macau e proibiu a esta instituição o recolhimento das raparigas abandonadas.” Refere Beatriz Basto da Silva, “O Decreto entrou em vigor a 8 do mesmo mês e ano, devendo no entanto a Santa Casa continuar a tratar dos enjeitados que tinha a seu cargo nessa data. Como a Portaria não conseguiu deter a prática, a ‘Roda’ deixou de existir, mas as crianças abandonadas à porta da Santa Casa continuaram a ser recebidas.”

Os desamparados

“O recém-nascido deposto em segredo, sem qualquer esboço de inquirição e até fora da vista, conforme muito assim facilitava a roda conventual, a coberto de usos e leis na aparência com fins benemerentes, mas que tragicamente repudiavam os mais elementares deveres maternais e não menos tolhiam ao filho o legítimo direito de sangue ou sequer do nome”, segundo JCS, que refere, “Para Macau e em tal matéria haveria só a esperar reforço quanto a números, desde que entre chineses a prerrogativa de garantir o nome continuador da família, foi sempre exclusiva ao elemento masculino, portanto, as filhas mais nas classes baixas ou de situação económica difícil, não contavam e podiam ser legalmente transaccionadas. Mas mesmo no nosso próprio meio, pelo convívio de numerosas escravas e com aquele trem de vida, bastante folgado ou ocioso, as condições não seriam as mais propícias a fortalecer os grandes atributos de virtude e castidade. Assim se engrossava, também, outro mal – o da mendicidade – como por volta de 1772-3 o Governador Salema de Saldanha expunha em carta ao Bispo D. Alexandre.”

A data do início da Casa dos Expostos é impossível de apurar, mas já o compromisso de 1627, no Cap. XXIII , incluía a disposição: Em conjunto com os dois hospitais, esse hospício recebia um subsídio, que a ninguém repugnava, proveniente do 1% cobrado nos direitos de Cidade sobre as fazendas grossas.

“Donativo idêntico, fixado mais tarde em 1%, também sobre as fazendas grossas entradas na Cidade, seria do mesmo modo atribuído às freiras de St.ª Clara, que por ajuste de 1692, em que interveio o Bispo D. João de Casal, o Provincial de S. Francisco e o Senado assentaram <dar-se, pontualmente, esse 1% estando as freiras obrigadas a receberem sem dote, cada cinco anos, uma filha de Morador>. De lembrar ter sido a Cidade do Nome de Deus na China criada por alevantados mercadores, que a trespassaram para mãos régias devido ao comércio com o Japão. Quando este ficou proibido, regressou Macau ao privado trato gerido pelo Senado e se cada viagem realizada valia ao dono da embarcação uma verdadeira fortuna, bastava um naufrágio para arruinar em dívidas o proprietário e afundar haveres e vidas, deixando viúvas e órfãos desamparados.

A carta do Governador Salema de Saldanha refere:

Enjeitados e raparigas órfãs receberam no século XVIII descuidada atenção e ínfimos recursos devido ao estado de decadência de Macau.

9 Mar 2020

Macau e a sua população em 1867

[dropcap]E[/dropcap]m 1810 residiam em Macau 3018 portugueses ou luso-descendentes (1172 homens e 1846 mulheres), 1025 escravos (425 homens e 600 mulheres), sem incluir padres e militares, segundo Almerindo Lessa, que refere, para 1822 haver 4215 cristãos (977 homens, dos quais apenas 604 maiores de 14 anos, 2701 mulheres e 537 escravos) e 8000 chineses, alguns vivendo já à europeia. Em 1825, os chineses eram 18 mil, número que em 1829 aumentou para 40 mil, dos quais 6090 já cristãos. No ano seguinte os chineses convertidos dobraram, apesar de terem diminuído em número e sem incluir a tropa, em Macau viviam 3351 europeus ou descendentes (1202 homens e 2149 mulheres), 1129 escravos (350 homens e 779 mulheres) e 148 de outras raças (30 homens e 118 mulheres). Em 1834, Macau contava apenas 90 pessoas nascidas em Portugal, sendo 1530 o número de mestiços, 2700 mulheres cristãs de várias raças e cores, 180 soldados canarins e 18 mil chineses, que pouco aumentaram em 1841, havendo 4788 europeus (portugueses, ingleses, holandeses, alemães, franceses, belgas, escandinavos e norte americanos) entre eles 580 homens, 2151 mulheres e 157 escravos. Existiam então 1770 fogos.

De década para década na cidade os chineses dobravam em número e em 1860 chegavam aos 80 mil, numa população de 85.470 habitantes, composta também de parses, mouros e cristãos novos. Portugueses e macaenses eram 5239 almas, concentradas na cidade intramuros, onde a zona do Bazar já aí estava inserida.
Hong Kong, que desde 1841 tinha sido entregue aos britânicos como paga da derrota chinesa na Guerra do Ópio, foi-se desenvolvendo rapidamente como cidade mercantil devido ao seu excelente porto de águas profundas, levando muitos dos residentes de Macau, atraídos por factores económicos, a mudarem-se para lá. Assim, chegados a 1867, a população de Macau contava, segundo Almerindo Lessa, “com cinco mil portugueses, 56.252 habitantes chineses, sendo 48.617 da província de Kuangtung, 5723 de Macau e 1797 de Fukien e aí viviam ainda sessenta famílias inglesas (17)” [estes 17 refere-se aos número de fogos], espanholas (29), italianas (3), francesas (4), peruanas (4), americanas (3), prussianas (3), holandesas (1) e chilenas (1). Nesse ano, na cidade existiam 762 fogos (casas) de portugueses, dos quais, 419 na freguesia da Sé, 263 na de S. Lourenço e 80 em Santo António. Havia ainda 8819 fogos chineses e o número de almas que neles habitava, somando com os criados chineses que se achavam servindo e pernoitando em casas de moradores portugueses e de diversos estrangeiros residentes, bem como os colonos e empregados nos estabelecimentos de emigração chinesa que, por vários motivos, não foram incluídos nos fogos, elevava o total da população chinesa a 56.252 pessoas, segundo o recenseamento de 1867.

Fogos e vias públicas

Na cidade cristã, nas 2672 casas chinesas habitavam 20.177 (do sexo masculino 11.781 e do feminino 8396 e desses, 948 eram menores de 12 anos); no Bazar, nas 2639 casas chinesas viviam 14.573 (masculinos 11.259 e femininos 3314 e desses, 264 menores); na povoação do Patane, em 1387 fogos residiam 8481 (3563 masculinos e 4918 femininos e entre esses 304 eram menores); na povoação de Mongh’a, existente antes de os portugueses chegarem a Macau, havia 353 habitações com 8182 chineses, (2391 masculinos e 5791 femininos e desses 1466 menores); na povoação de S. Lázaro, com 568 fogos viviam 2590 chineses (1113 masculinos e 1477 femininos e entre eles 195 menores), sendo onde habitava a maioria dos chineses convertidos ao Catolicismo; na Serra da Penha e sítio denominado Tanque Mainato estavam construídas 84 habitações onde se encontravam 533 chineses (313 masculinos e 220 femininos e desses 48 eram menores); na povoação da Barra para os 1716 chineses (1029 masculinos e 687 femininos e entre esses, 162 menores de 12 anos) havia 330 casas.

Segundo Manuel de Castro Sampaio, chefe da Repartição de Estatística de Macau, as multidões de chineses que diariamente se viam pelas ruas, sobretudo do Bazar [nessa altura aí se ultimava a construção das suas cem vias públicas], podiam suscitar a ideia de uma maior população que os 56.252 chineses a aqui residir.

Porém, grande parte dessas multidões era de chineses das ilhas circunvizinhas, pois naturais de Macau eram apenas 5723, sendo os restantes de Hong Kong 13, de Xangai 39, da província de Guangdong 48.617, da província de Guangxi 63 e da província de Fujian 1797. A exiguidade do número de chineses de Macau devia-se a estes se acharem principalmente em Cantão, nas colónias britânicas de Hong Kong e Singapura e em algumas ilhas da Malásia. De admirar era a tão grande desproporção entre os chineses de Guangdong e os de Guangxi, já que desde o reinado do Imperador Kang Xi ambas eram administradas e governadas pelo mesmo vice-rei, mas tal se devia a grande parte serem cantonenses provenientes da ilha de Heungshan, ligada pelo istmo a Macau. Os de Fujian, a maioria eram de Chincheu, uma das mais importantes cidades daquela província e onde os portugueses tiveram um estabelecimento comercial arrasado pelos chineses em 1549, oito anos antes da fundação de Macau.

Também muitos dos chineses que percorriam a cidade, 15.590 habitavam a bordo das 2471 tancás, lorchas, taumões e outras embarcações pertencentes a Macau e estacionavam no Rio do Oeste e no mar, em frente à Baía da Praia Grande. Diariamente vinham à cidade para tratar de negócios e retiravam-se ordinariamente logo que os tivessem concluído.

Quanto a haver maior número de habitantes chineses na cidade cristã do que no Bazar, em ambas a população masculina era semelhante, estando a diferença no sexo feminino. Tal devia-se, como acima foi referido, a serem eles criados que serviam e pernoitavam em casas de portugueses e de estrangeiros, bem como colonos e empregados nos estabelecimentos de emigração chinesa. O Bazar era quase exclusivamente habitado pelo sexo masculino e exemplo disso a Rua Nova d’ El-Rei, a mais populosa do Bazar, que tinha 1184 habitantes do sexo masculino e apenas 26 do feminino. No entanto, no Patane, em Mongh’a e em S. Lázaro havia mais mulheres do que homens.

Das 180 vias públicas da cidade cristã, apenas em 16 não existiam inquilinos chineses, sendo muitas das outras habitadas somente por eles, que em grande parte viviam quase tão aglomerados como no Bazar.

Em 1867, Macau contava com 526 vias públicas, havendo três praças, 18 largos, 105 ruas, 28 calçadas, 23 vielas, 112 travessas, oito escadas, 149 becos, 76 pátios, quatro praias [duas na cidade cristã, uma no Tanque do Mainato (na freguesia de S. Lourenço) e outra em Mong Há], duas ribeiras, a do Patane e a da Barra, para além de várzeas, campos e hortas, existindo ainda aterros, não fosse a península de Macau formada por sedimentação das areias do Rio Oeste (Xijiang) e do Rio das Pérolas (Zhujiang) trazidas pelo Mar do Sul da China.

2 Mar 2020

O Fok Tak Chi da Avenida António Sérgio

[dropcap]H[/dropcap]oje, dia 2 da 2.ª Lua celebra-se o aniversário de Tou Tei.
Em Macau encontram-se nichos com o Tou Tei em toda a parte, uns pequenos colocados ao nível do chão na entrada de lojas e habitações, que actualmente tem vindo rapidamente a desaparecer, e outros em pequenos pavilhões, muitos estranhamente situados pois fora do alinhamento das ruas. Há ainda pequenos edifícios feitos para albergar o deus da terra (Tou Tei) em quase todos os bairros de Macau e o único que não tem creio ser S. Lázaro. Dois dos mais interessantes pequenos templos na península de Macau situam-se na Rua da Barca da Lenha e na Rua do Patane.

Já os três principais templos são, o Tou Tei miu do Largo do Pagode do Patane, o Fok Tak Chi na Rua de Tomás da Rosa, no bairro da Horta da Mitra e o Templo da Felicidade e da Virtude da Avenida do Almirante Sérgio, entre os prédios 131 e 133. É sobre este último que aqui vamos escrever, através do que lemos da folha entregue pela senhora Va, que dele toma conta.

Sendo o maior templo a Fok Tak em Macau, foi construído em 1868, sétimo ano do reinado Tong Zhi (1862-1874), após o governo português, por Portaria Provincial de 8/2/1867, ordenar que fossem ultimados os aterros que iam das Portas do Cerco até à Barra. Dava-se preferência aos proprietários locais, anteriores residentes nessa margem do Rio Oeste, que os quisessem aproveitar, retirando-lhes se os não ultimassem, ou exigissem um prazo excessivo para o fazer. Nesse local existira já um pequeno templo, como se constata no Edital de 29/10/1828, quando o mandarim de Heong-San proibia ao português Miguel Benvindo continuar as obras efectuadas à esquerda dum pequeno templo e à direita duma misteriosa pedra, denominada de Manduco, assim chamada devido a uma rocha aí existente e que pelo bater das águas parecia o coaxar das rãs, ou manducos, como são conhecidas em Macau as rãs grandes de água doce.

Segundo o Boletim da Província de Macau e Timor de 24/2/1869: “Em Macau o aterro do rio, para o lado da Barra, acha-se já unido ao terreno do Pagode chinês, de sorte que hoje as povoações da Barra e Patane se acham em comunicação pela estrada marginal.”

A zona da Praia do Manduco, sendo de grande actividade comercial, estava já toda ocupada com estabelecimentos e casas de habitação. Arranjou-se então um pequeno espaço (que pela localização acima referida era a do anterior templo) e aí os locais decidiram mandar construir o templo a Fok Tak. Por isso, o geomante que decidiu sobre a sua construção teve pouco espaço de manobra, pois os habitantes queriam rapidamente o templo para os ajudar a fazer bons negócios.

Num artigo anterior referimos ser Fok Tak (Fu De) o nome dado em algumas províncias da China aos locais deuses da terra, que se tornou também o Deus da Riqueza devido a propiciar prosperidade a quem homenageava o falecido Zhang Fu De (张福德, 1044-973), cujo nome de cortesia era LianHui (濂辉). Oficial cobrador de impostos durante a dinastia Zhou do Oeste foi muito querido da população pela sua honestidade e bondade e por isso, após a sua morte espalhou-se a fama de proporcionar prosperidade a quem lhe oferecia sacrifícios.

Nos três primeiros anos, as pessoas, que ofereceram dinheiro para a construção do templo, foram muito ajudadas pela divindade Fok Tak, correndo muito bem os negócios, levando muita gente a aí se dirigir para lhe pedir ajuda. Mas depois começaram os problemas devido ao fong-soi (Feng Shui) do templo. Um tufão ao passar por Macau em 2 de Setembro de 1871 levou-lhe todo o telhado, mas as casas ao lado não sofreram nada; algo muito estranho. Então as pessoas facilmente deram dinheiro para a sua reconstrução.

O Templo da Felicidade e da Virtude da Avenida do Almirante Sérgio têm o ancião Weiling como o deus local da terra, cuja estátua no nicho principal é a única em Macau do Tou Tei com o tamanho de uma pessoa, sendo mesmo a maior existente na cidade; está sentada e é feita de madeira, que foi dourada.

Outras são as divindades aqui adoradas, onde não poderia faltar Tin Hau, não estivesse o templo outrora junto à água de um dos ramais do Xijiang.

Apresenta também um incensório em cobre de 1827, sétimo ano do reinado do Imperador Daoguang da dinastia Qing, sobre uma mesa de sacrifício do ano de 1868, uma das vinte mesas que no templo existiram. Já na última visita, encontramos na parede um papel encaixilhado onde o Instituto Cultural referia ter dali levado cinco peças do espólio, uma mesa, um carimbo em madeira, duas caixas onde os deuses Ziwei e Guan Yi se encontravam protegidos, assim como um tchim t’ông, recipiente cilíndrico de bambu onde são colocados dezenas de pauzinhos numerados, os tchôk tchim.

Festa de Panchong Grande

No B.O. de 1867 há uma pequena referência à Festa do Panchão Grande realizada no largo da Fonte do Lilau, mas uma das primeiras descrições sobre a festividade aparece num jornal de 1873. Ocorrida em Macau no dia 2 da segunda Lua, era então o deus da terra chamado deus penate, numa alusão ao Deus romano do Lar e da Família.

Celebrada pelos chineses em vários quarteirões da cidade, era-lhe então dada o nome popular de Festa de Panchong Grande, talvez devido à longa tira de cartuchos de pólvora, o panchão grande, que aceso, interminavelmente vai estourando e provoca um imenso estardalhaço com uma intensa fumarada.

A crónica referia: “Houve este ano grande emulação entre os festeiros, que se esmeraram principalmente em fazer longas e pomposas procissões, acompanhadas de muitas bandas de música, grandes bandeiras, lindos quadros e bailéus, em cima dos quais apareciam meninos e meninas representando vários episódios da mitologia chinesa, sendo o mais notável deles em que uma menina parecia estar de pé sobre um leque aberto, pois o ferro que sustentava a criança estava tão bem escondido, que fazia uma completa ilusão aos espectadores.

Os chineses levam a origem desta festa aos tempos imemoriais, e não há casa nem família alguma que não tenha o seu deus penate, em honra do qual queima em certos dias da lua pivete e velas de cebo.
Deu-se em Macau a esta festa o nome de panchong grande por queimarem por essa ocasião grandes petardos e muitos foguetes.

Os chineses entusiasmam-se e dão muito dinheiro para as despesas da festa, porque julgam que quanto maior for a pompa e mais estrondosa for a festa, mais felizes serão os festeiros, os quais além disto se esforçam à porfia para apanharem o resto dos foguetes depois da explosão, porque encontram nisso um bom agouro.

Cada quarteirão da cidade faz a sua festa em separado; as diversas comissões dos festeiros esforçam-se para sobressaírem uns aos outros, e com isso gasta-se uma grande quantidade de dinheiro.

Há em Macau dois pagodes especialmente destinados aos deuses penates, um em Sankio, e outro na Praia do Manduco, e por isso são muito concorridos nestes dias, tanto por homens como por mulheres.
Festa onde não entram os bonzos, porque não têm ligação com as religiões de Fo [Budismo] e Tau.”

24 Fev 2020

Já há tratamento contra o corona vírus

[dropcap]O[/dropcap] mundo acordou para um problema sério de saúde pública, quando o governo chinês declarou existir em Wuhan uma epidemia de um novo tipo de vírus de gripe. Estava-se em plena celebração do Ano Novo Chinês, o que apanhou mais de mil milhões de pessoas em movimento para irem à terra festejar, levando as autoridades chinesas a lançarem um alerta na tentativa de suster a propagação do Corona vírus (Covid-19), denominação dessa nova gripe, que apesar de ser mais contagiosa que a SARS se revelava menos fatal. Até então, pouco se sabia sobre o meio de contágio e só pessoas idosas com problemas graves de saúde tinham falecido. Mobilizados os médicos de medicina ocidental, os resultados foram, no entanto, desmoralizadores e como foi dito não existir nenhum medicamento para tratar, as pessoas ficaram verdadeiramente assustadas.

Nas redes sociais, os “médicos” de Medicina Tradicional Chinesa (MTC) apresentavam sugestões de tratamentos, referindo existir já desde a dinastia Ming (1368-1644) a explicação do que estava a acontecer no livro Wenyi Lun (温疫论, On Plague Diseases) escrito por Wu You Ke (吴又可). Este médico referia que em 1641 aparecera uma peste nas províncias de Shandong, Henan e Zhejiang que originou a morte de muitas pessoas, levando-o a deslocar-se ao terreno para tentar curar os infectados e procurar as razões de tão grande mortandade. Descobriu que a maioria ficara doente não por causa do vento, frio, calor, humidade, secura ou calor interior, mas porque entre o Céu e a Terra havia uma energia (qi) anormal para a época do ano, que criava problemas ao ser humano e se transmitia pelas pessoas através da respiração e pelas mãos.

Quem era apanhado por essa má energia (疫气, yi qi ou疠气, li qi), primeiro sentia muito frio, depois febre, dores de cabeça e dores por todo o corpo, aparecendo problemas de estômago, com vómitos e diarreia. O médico questionava-se: Constatou tal dever-se ao poder de resistência de cada um, actualmente reconhecido por imunidade. Registou no livro todas as etapas da doença e para cada uma delas deixou escritas as fórmulas das receitas para as tratar.

Ano GengZi

O actual surto aparecera várias vezes na História e já o livro dos livros da Medicina Chinesa, “Tratado de Medicina Interna do Imperador Amarelo” (Huang Di Nei Jing, 黄帝内经), do século III a.n.E., referia que no final do ano de Ji Hai (己亥, Ano do Porco) o último dos seis Qi (energia) do ano [correspondente aos cinco últimos termos solares do Calendário do Agricultor (农历, Nong Li), que compreende o período entre Xiaoxue (Leve nevão) e Dahan (Grande frio), e em 2019 ocorre entre 22 de Novembro e 20 de Janeiro de 2020], tem o Inverno mais quente que o normal, provocando o desabrochar antecipado das plantas e o despertar dos animais que se encontram a hibernar. A água, ao contrário do normal, não congela e também antecipando a Primavera, o qi proveniente da terra começa a crescer. O corpo do ser humano por este anormal qi facilmente apanha Wen Li (温厉, febre sazonal/doenças patológicas febris).

Ligado com o corpo do ser humano, o qi interior é guardado no Inverno, que este ano mais pareceu ser Primavera e por isso, o nosso corpo abriu mais cedo, desprotegendo-se, deixando o frio entrar facilmente, a provocar a doença sazonal de febre (Wen Li). Esta constipação com tosse se durar longo tempo entra directamente nos pulmões [pois o interior Fogo (o mau qi, ou li qi, 疠气) controla o Metal (pulmões)]. Tal ocorreu até ao termo solar Dahan (Grande frio) a 20 de Janeiro de 2020, quando se estava no período do sexto qi.

Segundo Huang Di Nei Jing, ao mudar do último qi do ano Ji Hai (己亥, Ano do Porco) para o primeiro qi do ano Geng Zi, (de 20 de Janeiro a 20 de Março de 2020, entre os termos solares Dahan a Chunfen) o qi controla (está contra) yun [normalmente deveria ser o Céu a controlar a Terra (Yun controla o qi)], significando um ano com grandes oscilações no clima, sendo a Primavera mais fria do que é normal, parecendo estarmos no Inverno e por isso se sente o frio a chegar e os animais voltam a ir dormir, a água gela e o vento torna-se mais forte e tudo isto controla o yang do qi. Assim pode-se prever a partir de agora a chegada de constipações e gripes devido ao frio que vêm substituir a anterior febre provocada pelo calor antecipado.

Evite comer e beber em excesso, não ingira alimentos frios, nem ácidos e sem estarem cozinhados. Não esteja muito tempo sentado, evite gastar a sua energia em sexo e deite-se cedo. A saúde do seu corpo tem a ver com a força do seu qi. Não importa o quão complicadas são as mudanças patológicas das doenças, pois todas estão incluídas na predominância ou declínio do yin e yang.

Pela Teoria do Wu Yun Liu Qi, que num próximo artigo iremos falar e aqui ficou ao de leve explicada, a epidemia do coronavírus estará controlada nos finais de Fevereiro.

Pelo Yi Jing, fogo e trovão são os elementos para controlar esta epidemia e foram eles usados nos símbolos dos dois hospitais construídos em poucos dias em Wuhan para albergar esses doentes.

Como últimas notícias, a 3 de Fevereiro, em Wuhan aos pacientes infectados que se encontravam nos hospitais foi dado beber um chá preparado pela fórmula do médico Professor da Universidade de Medicina Tradicional Chinesa de Beijing, Tong Xiaolin (仝小林院士). Em Guangzhou, a equipa do médico académico Zhong Nan Shan (钟南山) apresentou a 5 de Fevereiro uma fórmula preparada à base da MTC para prevenir e tratar esta gripe, especialmente para os habitantes de Guangdong.

19 Fev 2020

Os Pagodes de Macau em 1867

[dropcap]E[/dropcap]m 1867 reina na China o oitavo Imperador Qing, Tong Zhi (Mu Zong, 1862-1875), enquanto, desde 1861 em Portugal o Rei D. Luís (1838-1889), o Popular.

O Governador da Índia é pela segunda vez José Ferreira Pestana (1864-70), cargo que exercera já entre 1844 e 1851, quando a 20 de Setembro de 1844 retirara Macau da subordinação a Goa, mas pela Reforma Ultramarina de 1863 voltara a cidade a ficar integrada no Estado da Índia. “Em Macau, com a ligação a Goa, o peso da máquina burocrática aumentou, cavando-se um fosso cada vez mais evidente, perante a descentralizada prática e alada prosperidade de Hong Kong”, segundo Beatriz Basto da Silva. Em 1864 a cidade começara a modernizar-se com a sua iluminação, sendo dados nomes às ruas e números às casas, havendo já uma regulamentação urbanística com o cadastro de todas as ruas divididas pelas zonas da cidade, freguesias da Sé, S. Lourenço e Sto. António e o Bazar, assim como das povoações da península fora da muralha da cidade. As muralhas estão a ser desmanteladas para permitir rasgar novas ruas e colocar canos de esgoto. O Governador de Macau é desde 26 de Outubro de 1866 José Maria da Ponte e Horta (1866-1868).

Os Templos

Macau em 1867 tem doze pagodes, encontrando-se três no Bazar, dois em Patane, seis em Mongh’a e um na povoação da Barra, o Templo de A-Má (a deusa Neang Ma) construído em 1488 e onde habitam dez bonzos, dos 26 que vivem em Macau. Quatro desses 26 bonzos acham-se suspensos do exercício de seu culto, residindo um no Bazar e os outros três nas hortas de Patane. Para os doze pagodes existem 40 empregados e na cidade há 39 benzedeiros.

Na área do Bazar, dos três pagodes um é “Weng Neng Fong”, local de reuniões dos mercadores chineses que formam a Sociedade Weng Neng (Weng Neng Se) e conhecido por Sam Kai Vui Kun. Sam Kai significa Três Ruas referentes à Rua dos Mercadores, Rua das Estalagens e Rua dos Ervanários e fora construído entre 1665 e 1671, antes da proibição do comércio marítimo que em 1684 foi removida. Até 1792 era também o local onde os mandarins de Heungshan se reuniam, quando estes passaram para o templo Lin Fong, continuando a ser o local de reuniões dos comerciantes chineses. Em 1913, após o estabelecimento da Câmara do Comércio de Macau, o templo perderá as funções originais e tornar-se-á o Templo de Kuan Tai, dedicado ao Deus da Guerra e da Saúde, achando-se na actual Rua Sul do Mercado de S. Domingos.

O segundo pagode do Bazar é o Templo de Lin Kai, na actual Travessa da Corda, construído por volta de 1740 atrás do riacho de Lotus, que nasce próximo do actual Jardim da Flora, na parte Leste do Monte da Guia e corre pelas actuais Rua da Barca e Rua de João de Araújo até ao Porto Interior. Por volta de 1830 foi reconstruído, mas o tufão de 22 de Setembro de 1874 causar-lhe-á muitos estragos e por isso será reconstruído e ampliado.

Já o terceiro pagode do Bazar é o Templo de Hong Kun construído antes de 1860 e localiza-se na actual Rua 5 de Outubro, no Largo do Bazar.

Os dois pagodes de Patane são, o Fok Tak Chi construído em 1836 na actual Rua do Patane n.º 34, que será reconstruído em 1895. Serve como sala de convívio e de reuniões aos residentes da zona, funcionando também como escola. O segundo é o Tou Tei Miu, no Largo do Pagode do Patane, entre a Rua da Palmeira e a Rua da Pedra, construído pelos seus residentes no reinado do Imperador Qianlong (1736-1796), mas essa data crê-se ser referente apenas ao actual edifício.

Em Mongh’a existe o Templo Cihu (vulgarmente chamado Pagode Novo), situado na parte Norte da Colina de Mong Há, que em 1722 passara a ter esse nome após o anterior aí existente, o Tin Fei miu, construído entre 1573 e 1619 na dinastia Ming, ter sido ampliado com novas extensões. É o lugar onde se hospedam os oficiais mandarins quando vêm a Macau e a 3 de Setembro de 1839 o comissário imperial da dinastia Qing Lin Zexu, na sua visita de inspecção a Macau, aí teve um encontro com os governantes portugueses da cidade. Nele em 1867 vivem seis bonzos. O nome de Templo Lin Fong será dado no reinado do Imperador Guangxu (1875-1908).

Já na Rua dos Pescadores existia num pequeno promontório um altar à deusa A-Má, quando em 1865 aí foi construído o Tin Hau Seng Mou Miu (templo da Deusa Rainha Celestial), também conhecido por Pagode de Ma Kau Seak.

Por fim, na actual Avenida Coronel Mesquita existem quatro pagodes, o Kun Iam Miu construído durante o reinado do Imperador Tianqi (1620-27) na parte Sudeste da montanha de Mong Há e em 1867 está a ser reconstruído e ampliado. Ao lado deste, em construção está o Templo de Seng Wong com a finalidade de os mandarins de Mong Há terem uma sala para reunir no primeiro e décimo quinto dia do mês lunar com o seu homólogo Deus Seng Vong.

O Kun Iam Tong, ou Pou Chai Sim Un, edificado em 1632, apesar de muitos dos edifícios datarem de 1627, data gravada num dos altares de pedra, terá inúmeros aumentos entre 1689 e 1692. No pátio do templo existe uma mesa redonda de granito onde a 3 de Julho de 1844 foi assinado o Tratado de Wanghia entre a China e os EUA. O templo em 1867 está a ser ampliado e aí vivem seis bonzos.

Ao seu lado, dedicado ao Deus Hong Kong (康公) o Templo Hóng Chan Kan, ou Hóng Kông Miu, construído em 1792 e no reinado de Daoguang (1820-1850) fora ampliado.
Estes são os pagodes de Macau em 1867.

17 Fev 2020

Zhang Fu De tornou-se Tu Di Gong

[dropcap]O[/dropcap] deus da terra, (土地) Tu Di em mandarim e em cantonense Tou Tei, é em Fujian, Guangdong, Hunan, Jiangsu e Jiangxi conhecido através dos tauistas Zhengyi por Fok Tak (福德, Fu De), enquanto nas restantes províncias da China é designado por Tu Di. Para Fok (福, Fu) temos o significado de felicidade e para Tak (德, De), virtude. Informação obtida ao visitar o templo do deus da terra Fok Tak Chi na Avenida do Almirante Sérgio, quando questionamos sobre a diferença entre Tou Tei e Fok Tak a senhora Va, encarregue do templo. Deslocando-se ao edifício do lado, o Centro de Lazer e Recriação dos Anciãos da Associação dos Residentes do Bairro da Praia do Manduco, foi buscar uma folha escrita em chinês que nos passou para as mãos. Traduzida, ficamos a saber quem era a personagem histórica que deu origem à divindade Fu De.

Durante a dinastia Zhou do Oeste (1046-771 a.n.E.), no segundo ano do reinado do Rei Wu, em 1044 a.n.E. nasceu Zhang Fu De (张福德) no dia 2 da segunda Lua. Aos sete anos conseguia já ler textos antigos, sendo um jovem inteligente e respeitador. No décimo segundo ano do Rei Kang, Fu De com 35 anos de idade era oficial cobrador de taxas e, apesar da sua posição elevada, tratava as pessoas com consideração, fossem elas quem fossem.

Viveu durante a governação dos cinco primeiros reis da dinastia Zhou do Oeste (Wu, Cheng, Kang, Zhao e Mu) e no terceiro ano de reinado de Wang Mu, em 973 a.n.E., com a idade de 72 anos passou para o outro mundo. Durante três dias a sua face nada mudou, parecendo estar vivo, surpreendendo as pessoas que dele se foram despedir.

Com a sua morte, o lugar de cobrador de impostos foi ocupado por outro oficial, mas Wei Chao era completamento o oposto de Zhang Fu De. Não queria saber das pessoas e apenas pensava em dinheiro, roubando-as e por isso, estas empobreciam rapidamente. Os habitantes, comparando os comportamentos distintos entre os dois, sentiam grandes saudades daquele que, para além de ser oficial responsável por colectar taxas, se mostrara durante toda a sua vida, honesto, compreensivo, caritativo e mais do que tudo, um amigo em quem se podia confiar.

Certa vez, um dos habitantes mais pobres resolveu fazer-lhe sacrifícios para prestar homenagem ao querido defunto oficial, suspirando por esses tempos tão diferentes dos que então se viviam e os seus vizinhos começaram a ver a prosperidade a entrar-lhe em casa. Por isso, resolveram ergue-lhe um altar e para tal, com três pedras como paredes e uma outra por cima a cobrir, criaram um abrigo onde colocavam incenso e ofereciam sacrifícios àquele que, pelo seu digno comportamento se mostrou durante a vida um Ser Superior.

Tratavam-no como a divindade Fu De e estranhanhamente, quem a ele orava rapidamente se tornava rico, as suas plantações desenvolviam-se bem, o gado procriava bastante e a riqueza afluía. As pessoas passaram a acreditar que Zhang Fu De era mesmo um Deus e assim, resolveram construir-lhe um templo, onde colocaram no altar a sua imagem dourada.

Aos que lhe ofereciam sacrifícios, passavam pela sua influência a ter uma vida abastada e tal foi correndo de boca em boca, sendo cada vez mais as pessoas que ali iam venerá-lo. Muitas resolveram fazer em casa um nicho em sua honra e dessa maneira o seu culto propagou-se por toda a China, de tal maneira que chegou aos ouvidos do Rei Mu. Este, escutando a história de Fu De, deu-lhe então o título de Tu Di Gong (em cantonense Tou Tei Kong), sendo o significado de gong, ancião. Por isso existem dois nomes para o deus da terra, Fu De, o nome do oficial e o nome que o Rei Mu lhe deu, Tu Di Gong.

Como o panteão tauista só mil anos depois foi criado, pode-se assim perceber ser Tu Di um dos deuses mais antigos existentes na China.

O espírito da terra

Tu Di começara em tempos ancestrais por ser uma entidade abstracta, She Ji (社稷) o Espírito da terra (solo e grão), um dos mais antigos reverenciados pois conectado com a Agricultura a representar toda a terra arável. Teve referência especial no Livro dos Ritos (Li Ji), um dos Clássicos chineses compilados por Kong Fuzi (Confúcio) quando apenas a Filosofia do Dao era usada para governar o social e explicar o Universo.

Passou depois este, como guardião, a estar subdividido pelas cinco direcções, repartidas pelas cinco partes do Império Chinês. Segundo Ana Maria Amaro, “Os espíritos Tou Tei agrupam-se em cinco categorias, ou esferas administrativas: os Tou Tei do oriente, relacionados com a cor verde, os do sul, relacionados com o vermelho, os do oeste, relacionados com o branco, os do norte, relacionados com o negro e, finalmente, os do centro, relacionados com o amarelo.”

O culto do espírito da terra, She (社, Se em cantonense), foi oficializado em 198 a.n.E. pelo Imperador Liu Bang (206-195 a.n.E.), fundador da dinastia Han, que decretou dever o povo venerá-lo e fazer-lhe sacrifícios.

Com a introdução do Budismo na China no século I a.n,E, e sobretudo após a disseminação das suas divindades na Religião Taoista, criada no século II, passou-se a admitir uma série de cargos e de hierarquias no mundo dos deuses, semelhantes aos terrestres. A Tu Di, espírito protector de cada parcela do território, foi-lhe atribuído o cargo de Celeste Guarda Campestre. Este novo Tu Di, conhecido por Tu Di Lao Ye (土地老爷, Tou Tei Lou Ye), correspondia inteiramente ao anterior, que simbolizava o espírito da própria terra, She (社). A única diferença que, aliás, é costume atribuir-se a cada uma destas divindades, é a extensão da sua área de jurisdição. Enquanto o Espírito da terra, o She Ji (社稷), antigo Patrono do Solo, exerce a sua protecção sobre uma província inteira, ou, pelo menos, sobre uma prefeitura ou sub-prefeitura, as cidades muralhadas têm Cheng Huang (城隍, Seng Vong) como deus protector e por isso conhecido por Deus da Muralha e do Fosso e os Tu Di Lao Ye (土地老爷) apenas tem a seu cargo uma pequena porção de território, uma aldeia, montanha, gruta ou uma comuna, como refere Ana Maria Amaro.

Daí passou Tu Di a ser um deus com função, guardião local de uma pequena área de terra e dos seus habitantes e por isso, também considerado o deus da família. O deus da terra encarnava o espírito de uma pessoa que na zona vivera e após falecer, os habitantes, distinguindo-o pela sua virtude ou poderes sobrenaturais, escolhiam-no para seu protector e do lugar. Apresenta-se em dourados caracteres gravados ou impressos e em estátua, sendo também representado na forma de ancião, por vezes acompanhado pela consorte.

Tu Di preside ao bem-estar geral da localidade e cada uma realiza a sua festa particular. Na segunda Lua, refere Luiz Gonzaga Gomes, no dia 2 comemora-se o aniversário dos deuses locais, T’ôu-Têi Tán (土地诞, Tu Di Dan) e no dia 10 faz-se-lhe uma segunda festividade, assim como às Cinco Divindades dos Pontos Cardiais, os Ung-Fóng T’ôu-Sân (五方土神, Wu Fang Tu Shen). Já a 12, comemora-se Fôk-Tâk T’ôu-Têi-Kông tán (福德土地公诞, Fu De Tu Di Gong Dan), aniversário da divindade tutelar Fôk-Tâk, o Deus da Riqueza.

10 Fev 2020

Previsões para 2020 ano do Rato

[dropcap]O[/dropcap] ano Geng Zi (庚子, Rato de Metal) para o Feng Shui começa amanhã, dia 4 de Fevereiro quando se celebra o Princípio da Primavera (Lichun). Pelo calendário lunar, o ano iniciou-se a 25 de Janeiro de 2020 e terminará a 11 de Fevereiro de 2021, com um suplementar quarto mês lunar, festejando-se por duas vezes o Lichun e por isso, é auspicioso para casar. Será um ano criativo, com perspectivas de uma vida intensa tanto no plano emocional, ao nível de um encantamento amoroso, como haverá possibilidade de se usufruir dinheiro fora do espectável. No entanto, assistir-se-á a uma confrontação directa, em que todos irão estar envolvidos e ninguém conseguirá ficar de fora. Mais importante que a prosperidade será viver com saúde.

Aqui usamos as ideias de Lei Koi Meng conjugadas com a nossa interpretação.

Geng é Metal yang (forte metal), Zi é Água yang (grande água) e como Metal faz nascer Água, este ano é de grande água a provocar inundações. Mas estando ainda no Ciclo do Fogo (2004-2024), grande água parece ser bom para temperar o fogo. No entanto, no ano do Rato, Zi (rato) a representar o elemento Água yang está contra Wu (cavalo) Fogo yang, significa grande água contra grande fogo, o que trará ondas de confrontação e sendo Geng Metal, conecta o ano a lutas e guerras. Como Zi Água tem a direcção Norte e Wu Fogo a do Sul dará o fogo proveniente de baixo a confrontar a água proveniente de cima, podendo-se tirar como ilação, o povo em baixo e os governos na posição superior estarem em permanente atrito. Os geomantes referem que nos anos de Rato algo triste ocorre, como morrer jovem, ou a morte de jovens em batalha.

Haverá tentativas de independência de regiões e muitas manifestações de estudantes. Acidentes com barcos terão mais probabilidades de acontecer e quanto a guerras, as navais parecem ser as escolhidas. Propício a ocorrer frequentes ataques terroristas, pequenos ou grandes, e a possibilidade de aparecer um novo grupo.

Geng Zi, grande água, sendo esta fria devido ao metal a representar a quebra de icebergues, leva à subida do nível da água, a grandes chuvas e deslizamentos de terras. Tufões e ciclones são outras possibilidades de criar grandes desastres e continuarão ao longo do ano a acontecer tremores de terra.

O ano Geng Zi está conectado no nosso corpo com os pulmões (ligado com o elemento Metal) e os rins (com a Água), significando estes dois órgãos facilmente terem problemas e interferirem com o estômago e baço.
Novos rostos aparecerão a querer liderar o mundo com novas políticas, mas sem poder bastante para se imporem. Abre-se um vazio, pois o velho sistema político, económico e cultural deixa de ter peso e a massa crítica com ideias antigas irá ser confrontada com as das novas gerações, ainda sem modelos bem estruturados e definidos. Más notícias provenientes dos bancos estarão na ordem do dia e a economia do mundo entra definitivamente em recessão.

Ano para se construírem relações de amizade entre pessoas, países e companhias.

Localização das estrelas voadoras

No Centro, representado nos países do Médio Oriente, este ano encontra-se a maligna 7 Vermelho (Qi Chi) (metal), Estrela Violenta que traz disputas e aprisionada, em clima de guerra levará a desordens e problemas internos com confrontações.

A maligna 3 Jade (San Bi), Estrela de Conflito Beligerante estará a Norte, na Rússia e na China Continental. As relações entre a China e os EUA tendem a melhorar devido à água amansar o fogo americano, e já no início do ano foi assinado um primeiro tratado comercial. Conseguiu a China um pequeno período de acalmia, mas terá durante o resto do ano árduas negociações com os EUA e nos meses de Junho ou Julho e Dezembro ocorrerá algo que provocará grandes mudanças nas relações entre ambos os países. Já no interior da China continuarão os problemas, que só em finais de 2021 terão resolução. A Rússia, quase sem ajuda de outros países, está na mesma situação do seu Presidente, e só Putin sabe o quão difícil é a sua posição, sendo este um ano de grandes desafios para a sua vida.

A benéfica 1 Branco (Yi Bai), Estrela da Prosperidade traz sucesso e boas relações de amizade, este ano encontra-se a Nordeste, nas Coreias. Na Coreia do Sul a economia melhorará e a Coreia do Norte fortalece o seu exército e entre ambas haverá uma grande e fraterna cooperação. As relações da Coreia do Norte com os EUA vão desenvolver-se numa boa direcção.

A benéfica 8 Branco (Ba Bai), Estrela da Prosperidade e da Saúde favorece promoções e sucesso na carreira, estará a Noroeste, na Europa do Norte e do Leste, que terão um ano promissor.

A benéfica 9 Roxo (Jiu Zi), Estrela da Harmonia que rapidamente amplifica os efeitos das outras estrelas, quando benéficas magnifica pelo bem, mas conjugada com malignas, como a Wu Huang levará a grandes desastres. Estrela a representar a paz, cooperação e o visionar o que está para vir, este ano a Oeste, na Europa Ocidental. Com a saída da Grã-Bretanha, a Europa perdeu um dos três poderosos países que a formavam e estando a França fragilizada pela forte oposição interna ao Presidente Macron, resta a Alemanha como pilar para se aguentar, a não ser que os outros países da CE se harmonizem e trabalhem em conjunto para criar um poderoso bloco.

A mais negativa estrela voadora, a 5 Amarelo (Wu Huang), da Fatalidade e Ruína, causadora de problemas de maligna influência, cuja sua força do mal traz calamidades, este ano está a Leste, nos EUA, Japão e Taiwan.

Estes países devem contar com desastres naturais avassaladores, relacionados com a água e um sismo de grande intensidade. No Japão, os Jogos Olímpicos trarão harmonia. Nos EUA, Trump terá um ano com sorte pois do signo de Cão precisa de água e nas eleições ninguém o vence e só ele se conseguirá destruir. Mas a sorte de Trump coloca os outros a sofrer, pois continuará a criar distúrbios. Em Taiwan, após a vitória da presidente, pouco irá mudar e a economia poderá piorar.

A benéfica 6 Branco (Liu Bai), Estrela da Bênção Celeste com potencial de inesperadas vantagens e ligada à diplomacia, estará a Sudeste, nas Filipinas, Vietname, Tailândia, que contarão com um bom ano e apenas Camboja, Malásia e Indonésia terão ligeiros problemas naturais.

No Sudoeste, na Índia, encontra-se este ano a benéfica estrela 4 Verde (Si Lü), com um lado positivo, a levar ao estudo e investigação e outro negativo, com a continuação dos problemas religiosos e a discriminação feminina.

A maligna 2 Preto (Er Hei), Estrela da Doença que traz longas e incuráveis enfermidades, estará a Sul. A Austrália continuará com os problemas dos incêndios e o confronto entre fogo e água. Já em Hong Kong as desordens continuarão e no meio e final do ano ocorrerão grandes mudanças. Quanto à RAEM, nasceida no Inverno, como este ano é de grande água continuarão a ocorrer inundações, devendo ter cuidado com explosões e acidentes na construção de infra-estruturas. O bazi (ano, mês, dia, hora de nascimento) do novo Chefe do Executivo é exactamente o que a RAEM necessitava, por isso com a sua liderança Macau poderá manter-se em paz e em prosperidade.

Desejos de um ano com boa saúde – 身体健康 (Sun Tan Kin Hong)

3 Fev 2020

Previsões do horóscopo chinês para o ano de 2020

[dropcap]E[/dropcap]m 2020, o primeiro dia do Ano Novo Lunar na China ocorre a 25 de Janeiro, mas para os geomantes do Feng Shui o início do ano sob a égide do Rato, um dos doze animais que representam os ramos/raízes terrestres, começará no Princípio da Primavera (Lichun), a 4 de Fevereiro, celebrando-se este ano uma dupla Festa da Primavera.

No ciclo de 60 anos (60 Jia Zi, 六十甲子), ligação do Céu (10 Tian Gan 天干) com a Terra (12 Di Zhi 地支), este ano é denominado Geng Zi (庚子), Rato Metal ou Rato na Trave e terá o número 37. Corresponde ao Caule Celeste Geng (庚), associado ao Elemento Metal yang e direcção Oeste que se conjuga com o Ramo Terrestre Zi (子), representado no zodíaco chinês por o animal Rato, cujo nome comum em chinês é shu (鼠). Zi tem como Elemento a Água yang e direcção Norte.

Geng é Metal yang (forte metal) e Zi é Água yang (grande água) e como o Metal faz nascer a Água este ano é de grande água.

Serpente, Coelho e Macaco contam este ano com a ajuda de muitas estrelas da sorte. Quem nasceu na Primavera (entre 19 de Fevereiro e 4 de Maio) precisa de metal e os nascidos no Verão (entre 5 de Maio e 7 de Agosto) de água e por isso terão mais sorte e um melhor ano. Já quem nasceu no Inverno (8 de Novembro a 18 de Fevereiro), por não precisarem de mais água terão um ano mais difícil. Quanto à água ligada com a saúde do nosso corpo, os problemas de rins e próstata serão os mais frequentes. Os seres femininos nascidos entre 8 de Dezembro e 5 de Janeiro deverão ter grande cuidado com o coração, seios e útero. Já quem nasceu neste período deve evitar praticar natação e fazer viagens de barco.

Previsões por signos e por anos

Seguiremos aqui as previsões feitas por Lei Koi Meng (Edward Li) conjugadas com a interpretação que damos às suas ideias.

O Tai Sui (Deus do ano) deste ano lunar de 2020 é Lu Mi, capitão da dinastia Ming nascido na província de Jiangsu, que foi uma pessoa bem formada e com grandes conhecimentos, especialista em Literatura. Apresenta-se com uma faca na mão direita.

O dia de ir ao templo oferecer sacrifícios ao Deus do Ano (Tai Sui) é o oitavo da primeira Lua, que ocorre a 1 de Fevereiro de 2020.

 

Rato

Em Fan Tai Sui (contra o Deus do Ano), os nativos de Rato dentro do ano do Rato estão em Zhi Tai Sui (conflito com o Deus do Ano) por serem o animal do ano e assim para 2020 haverá grandes mudanças, mas será um bom ano devido a encontrarmo-nos ainda no ciclo de Fogo e sendo o rato Zi (子) do elemento água, acalmará o fogo. Por isso, um ano de sorte para os nativos deste signo. Normalmente os nativos de rato apenas se focam em pequenas coisas, contentando-se em comer, beber e tirar prazer da vida, sem nunca fazer planos, mas este ano Geng Zi (庚子), como metal (Geng) faz nascer água, significa que contará com uma grande ajuda, a puxar os nativos para cima, colocando-os na dianteira.

Contará com as estrelas da sorte, Jin Kui (金匮, Cofre Dourado) a trazer sorte em assuntos financeiros e acumulação de ganhos e Jiang Xing (将星, do General) ligada à carreira, autoridade e ao poder. Já como más estrelas, o ano apresenta-se com Jian Feng (剑锋, Fio da lâmina da Espada), a poder levar a ser submetido a uma operação clínica e Fu Shi (伏尸, Corpo Morto), a representar morte, que poderá correr por desastre.

Para os nativos nascidos no Inverno, a precisarem de fogo, não irá ser fácil pois, com um ano cheio de água, esta apagará o fogo.

Carreira: Tendo o suporte da estrela da sorte Jiang Xing (将星, do General) significa poder contar com um grande suporte a apoiá-lo e tudo se tornará fácil. Com uma forte ajuda, conseguirá atingir um patamar superior e construir um novo mundo e mesmo, contrariando a sua natureza, poderá dar ordens aos outros, indicando o que devem fazer. No entanto, encontrando-se em ano de Tai Sui, deverá tomar atenção às rápidas mudanças para evitar ser ultrapassado pelo momento.

Amor: Ocorrerá uma nova oportunidade na sua vida amorosa. Para os solteiros, podem encontrar o seu parceiro e é um bom ano para casar, mas os casados deverão evitar que as suas relações sociais, tão activas este ano, se desviem e se transformem em momentâneas paixões, a poder destruir a vida conjugal. Bom ano para as nativas de Rato terem filhos.

Saúde: Com as más estrelas, Jian Feng (剑锋, Fio da lâmina da Espada, a significar operação clínica, ou magoara-se por algum acidente) e Fu Shi (伏尸, Corpo Morto), deverá ter muito cuidado com desastres de automóvel e evitar praticar desportos radicais. Os nativos masculinos devem tomar atenção com os problemas de bexiga e do aparelho urinário e os femininos, do útero e seios. Lembre-se ser a saúde mais importante do que conseguir mais dinheiro.

Dinheiro: Devido à estrela da sorte Jin Kui (金匮, Cofre Dourado) não só conseguirá ganhar dinheiro, mas também mantê-lo-á. Assim terá sorte em assuntos financeiros e haverá acumulação de ganhos.

Os nativos de Rato nascidos em:

1996 – Estão na melhor posição de todos os nativos de Rato e se trabalharem bem terão um brilhante futuro pela frente. Apenas devem tomar cuidado com a saúde.

1984 – Receberão grande ajuda de algumas pessoas que na sua área de trabalho o vão colocar no topo. Por um lado receberá bons comentários, mas por outro terá de contar com os ciúmes e inveja e para evitar rumores deve seguir um caminho correcto, sem mácula.

1972 – Activos este ano, poderão tentar diferentes áreas. Se nasceu no Inverno, especialmente o ser feminino deverá ter cuidado com a saúde e sobretudo vigie o útero. Necessário fazer um exame clínico.

1960 – Ano para tirarem partido da vida e gozá-la. Faça deste ano a oportunidade para a sua carreira vingar e atingir o topo, pois tem boas hipóteses. Como trata os seus amigos melhor do que a família, este ano deverá balançar tal atitude. Não se esqueça de comemorar o seu aniversário, o que lhe trará boa sorte.

1948 – Terão um constante e estável rendimento. Mude a maneira de comer e escolha alimentos saudáveis. Como é ano de Tai Sui deverá tomar muito cuidado para não cair. Haverá ainda boas oportunidades para a sua carreira, mas pense se terá capacidade para a manter.

Búfalo

No ano do Porco os nativos de Búfalo tiveram um árduo trabalho, mas para este ano, como pertence aos seis animais que se combinam e o rato tem como parceiro o búfalo, será um bom ano para os nativos deste signo em relação à carreira e no amor encontrará uma boa direcção.

Carreira: Terá duas estrelas da sorte a ajudar, Yu Tang (玉堂, a significar boas relações sociais) que leva a conseguir das pessoas respeito pois revelar-se-á durante importantes reuniões, não só no trabalho durante conferências, como em festas entre amigos e família. Contará com muito apoio e será estimado por jovens e crianças. Já a combinação desta estrela da sorte com Tian Yi Gui Ren, (天乙贵人) leva a ter poderosa ajuda ligada à criatividade e assim poderá criar uma nova carreira de negócios que lhe trará visibilidade. A estrela Mo yue (陌越) dificultará a sua capacidade de decisão e até aquilo que podia ser de fácil entendimento, o obriga a fazer cuidadosos planos. Esta estrela é de mudança e por isso, dependente com quem se conjuga; com outra boa estrela torna a situação melhor, quando ligada a uma má estrela, piora a situação.

Amor: Búfalo no ano de Rato [pelos seis pares de animais que combinam (liu he)] terá uma muito boa relação com as pessoas e por ser um ano com dupla festividade da Primavera, os nativos de Búfalo solteiros deverão agarrar a oportunidade para se casar. Se já é casado, faça uma festa, ou uma viagem para estreitar a relação. Como mediador este ano terá uma boa ascensão social pois será reconhecido por seus dotes.

Saúde: Devido à influência da má estrela Bing Fu (病符, sinaliza doença) os nativos de Búfalo devem evitar enervarem-se, colocar-se fora de fortes pressões e não abusar de comida apelativa como marisco, pois é pela boca que as doenças entram. Há forte possibilidade de este ano ter problemas de saúde ligados com as mãos e pés, estômago e diabetes, especialmente para quem nasceu no Inverno. Para estes, por ser um ano de água e a necessidade de conseguir mais fogo, ajudará o uso de roupa vermelha, beber vinho tinto e comer carneiro.

Dinheiro: Não terá dinheiro fácil e para o conseguir deverá trabalho muito e bem.

Os nativos de Búfalo nascidos em:

1973 – Terão o melhor ano. Será um ano muito activo e bom para aprender mais. Não se esqueça de celebrar o seu aniversário, para lhe trazer boa sorte.

1985 – Com muitas ajudas, terão hipótese este ano de conseguirem ser promovidos, melhor salário, uma nova carreira e com brilhantes perspectivas de futuro. Para as nativas será um ano harmonioso.

1961 – Terão um ano com pensamentos claros e se trabalharem na área cultural conseguirão bons resultados. Posição e riqueza atingirão um novo patamar.

1949 – As ondas que se levantam na saúde poderão levar a ter problemas de fígado e mesmo tendo oportunidade de fazer muitas coisas este ano, lembre-se ser a saúde o mais importante e o dinheiro não a compra.

1997 – Com a entrada na sociedade não necessitará de pensar demasiado, mas tente dar o seu melhor, para conseguir bons comentários dos outros e assim melhor vencimento.

Tigre

No ano de Porco os nativos de Tigre fizeram progressos na carreira e no amor, mas agora precisarão de se preparar pois as ajudas serão muito menores. Assim este ano deve manter-se calado e agir mais, relaxe e coloque-se fora de novos projectos para não ter problemas. Quanto menos mudanças, menos problemas.

Carreira: Se estiver envolvido em algum projecto, deverá contar poder ser ele cancelado e o pior é que nada pode fazer, senão deixar ir. No entanto tem a estrela da sorte Tai Ji Gui Ren, (太极贵人) a significar alguém a ajudá-lo e a não o deixar ficar numa situação difícil. Mas a má estrela Tian Gou, (天狗) coloca os nativos a acreditar na pessoa errada, levando a gastos monetários imprevisíveis. Devido à má estrela Zai Sha (灾煞) deve contar com uma inesperada ocorrência a colocá-lo sob forte pressão emocional. Não se esqueça ser este um ano que menos é mais, pois quanto menos acontecimentos houver melhor.

Amor: Ano sem ocorrências especiais e nada a reportar. Os solteiros apenas devem seguir o que aparece. Para os casais, deverão ter paciência entre eles e evitar discussões por coisas pequenas. Não necessita de condimentar a relação pois o original e o verdadeiro são o preferível. Os nativos masculinos devem evitar problemas com saídas fortuitas.

Saúde: Cuidado este ano pois está sob a influência de três más estrelas. Diao Ke (吊客, relaciona-se com a morte de um familiar) alerta para que tome atenção à saúde dos seus familiares e também deve fazer exames de saúde, e as duas más estrelas, Fei Ren (飞刃, lâmina voadora) e Yang Ren (羊刃) indiciam a hipótese de ser submetido a uma operação cirúrgica. Como Ren (刃) significa lâmina, a representar corte provocando sangue, deverá guardar em lugar seguro todos os objectos cortantes para evitar que eles o magoem. Não entre em discussões, seja paciente e mantenha a calma.

Dinheiro: Não cometer erros é já o melhor e assim, se conseguir manter o que tem não está mal.

Os nativos de Tigre nascidos em:

1962 – Devem estudar e fazer exercício físico. Valorizar-se. Importante realizar um exame clínico à saúde. Não haver novidades é a melhor novidade.

1974 – A sua carreira, mesmo com ajudas, não melhorará. Trabalhar arduamente não significa ganhar mais. Cuide a maneira como fala, pois se não o fizer pode levar a algo muito errado, mas não ficará a saber.

1986 – Na carreira poderá alcançar algo de bom, fora do esperado. Importante estudar mais e manter-se tranquilo. Para as nativas de Tigre, o nascimento de um filho permitirá evitar a influência das duas más estrelas Yang Ren e Fei Ren.

1950 – Ano relaxante e a comemoração do seu aniversário fará a sua vida mais alegre e feliz.

1998 – Criativo e activo, poderá tentar encontrar mais das suas potencialidades. Evite praticar desportos radicais.

Coelho

No ano do Rato, os nativos de Coelho encontram-se nos três signos mais bafejados para 2020. Ano de constantes e rápidas mudanças. Com relações humanas complicadas, as suas características de corredor de longa distância e os seus saltos levam os nativos a estar bem apetrechados para o que vem. Na carreira profissional e nas relações amorosas aparecerão bonitos momentos.

Carreira: Conta este ano com a influência de três estrelas da sorte, Tian De (天德, estrela protectora que limpa o caminho), Fu De (福德, que lhe trará riqueza material e protecção) e Fu Xing (福星, protectora que lhe limpa o caminho) levando a poder contar com uma poderosa ajuda e ter tudo sobre controlo. O difícil torna-se de fácil resolução. Mas as más estrelas Juan She (卷舌, alguém a falar mal de si) e Jiao Sha (绞 煞, enforcado) levam a que as suas acções, se por um lado tem quem as aprove, por outro haverá quem delas não goste. Hoje em dia vivemos apenas em competição e por isso, mais sucesso traz mais inveja. Assim, coloque as suas posições mais firme. Deve lembrar-se estarem os nativos de Coelho este ano em Xing Tai Sui, significando Xing ser julgado e por isso precisará de fazer tudo por via correcta e legal, especialmente quando necessita de assinar algum contrato. Evite jogar para não destruir a sua sorte.

Amor: As duas superes estrelas da sorte, Hong Luan (红鸾, Sorte no Amor) e Xian Chi (咸池, propícia o casamento e boas relações entre pessoas) colocam o ano tão doce como mel, a significar que os solteiros encontram a pessoa indicada para casar, ou conseguem realizar os seus desejos. Para os casais é bom fazerem uma nova lua-de-mel com uma festa a celebrar a união. Lembre-se que por conseguir controlar tudo, deverá saber controlar-se para evitar cair nas bocas do mundo e ser julgado, especialmente no mês de Dezembro.

Saúde: Sugere-se no início do ano ir ao templo oferecer sacrifícios ao Deus do Ano. Poderá sofrer problemas emocionais e deve ter cuidado com as doenças sexuais. As nativas devem ter atenção aos problemas de útero e seios e os masculinos com a próstata.

Dinheiro: Consegue-o de maneira legal e quanto mais trabalha, mais ganha. Evite as maneiras fáceis de conseguir dinheiro. Aproveite para agarrar as oportunidades para enriquecer, mas lembre-se que deve usar a legalidade para atingir tal.

Os nativos de Coelho nascidos em:

1963 – Devido à estrela da sorte Lu Shen (禄神) conseguirão ter bons rendimentos e não terão dificuldades na sua carreira, mas ao ter de lidar com problemas conflituosos, seja muito cuidadoso para evitar ser julgado.

1975 – Terão imensas ajudas, assim como há grandes hipóteses de se tornar patrão ou ser promovido. Conseguirá ter bons comentários e só precisa de tentar dar o seu melhor, sem se preocupar com nada mais.

1951 – Procurem estudar e aprender novas coisas. Uma vida social activa trará novos amigos. Boa vida a beber, comer e passear.

1987 – Ano para criar novas relações e terá mais ajudas. Ao trabalhar arduamente conseguirá o que quer.

1999 – Com imensas ideias, se conseguir ajudas poderá realizá-las, mas não vá para além da sua capacidade. Não siga o caminho mais fácil e trabalhe passo a passo, degrau a degrau. Celebre o seu aniversário para ter mais sorte.

Dragão

Dragão no ano do Rato chama-se San He, os três animais que combinam bem com o Deus do ano e em 2020 eles são Rato, Dragão e Macaco. Ano em que os nativos de Dragão se mantêm na posição de comando e para além das riquezas que poderão usufruir, também a carreira continua a progredir.

Carreira: A super estrela da sorte Jiang Xing (将星, do General) ligada à carreira, autoridade e ao poder, traz a oportunidade para cooperar em novos negócios e a estrela da sorte Guo Yin Gui Ren (国印贵人, Carimbo do país) permite continuar na sua alta e importante posição e ser respeitado por todos. Já a má estrela Bai Hu (白虎, a Tigre Branco) significa poder sofrer uma forte competição, mas o dragão, por ter nascido para lutar, todas as vezes que o Tigre Branco se encontra com o Dragão Verde, Bai Hu perde. Assim, quando os problemas aparecem, não necessita de lutar, sendo melhor cooperar e lentamente os seus inimigos tornam-se seus adeptos.

Amor: Bom ano para os nativos de Dragão pois terão um ambiente harmonioso. Se for solteiro, não precisa de se preocupar por não ter, mas sim pela quantidade de oferta a escolher. Se for casado, o ser masculino deverá tomar cuidado com o aparecimento de amantes para não perturbar o casamento, e sem a trazer para casa, transfira-a, colocando-a como ajuda a cooperar.

Saúde: Este ano traz três más estrelas, Fei Lian (飞廉), Pi Tou (披头, deixar solto o cabelo) e Tian Sha (天煞), todas ligadas com acidentes e por isso, quando conduzir, viajar e passear precisa de ter especial atenção para não se colocar em zonas perigosas. No Inverno, os nativos deverão ter cuidado com diabetes e a bexiga e tomar cuidado com o que comem, escolhendo alimentos saudáveis. Se for ao Templo do Deus do Ano apenas precisará de pedir protecção para a sua saúde.

Dinheiro: A estrela da sorte Jin Kui (金柜, Cofre Dourado) traz sorte em assuntos financeiros e acumulação de ganhos. A riqueza corre para os nativos de Dragão e precisa apenas de se manter na sua posição e continuar a tomar conta dela, pois só você terá poder para a destruir, ou mantê-la.

Os nativos de Dragão nascidos em:

1964 – O seu poder e posição vão atingir um patamar mais elevado, mas evite maior exposição para não chamar sobre si mais inimigos, que trazem fortes doses de inveja.

1952 – Tem uma posição firme com imensas ajudas, mas este ano o mais importante é a saúde e por isso, no início do ano faça exames de saúde. Dê mais tempo para si e faça mais exercício físico. Precisa de balançar o que come com uma alimentação mais racional e saudável.

1976 – Terá vários caminhos para desenvolver a sua carreira e cooperar melhor com o seu parceiro, levando os rendimentos a aumentar. Apenas deve evitar diversões perigosas e conduzir com máxima segurança. Comemore o seu aniversário com uma festa.

1988 – Ano para mostrar a sua capacidade, ser promovido e conseguir melhor salário. Mas o ser feminino precisa de tomar grande cuidado com a saúde, podendo ter que fazer uma operação.

Serpente

Ao contrário do ano que passou, quando a serpente estava em Chong Tai Sui, a colidir com o Deus do Ano, em 2020 tudo muda e é o mais bafejado dos doze animais.

Carreira: Com a ajuda das estrelas da sorte Zi Wei (紫微) e Long De (龙德), que representam conquistar poder e ser promovido na carreira, os nativos rapidamente podem mudar a situação em que foram colocados no ano passado e ainda conquistar muito mais, atingindo uma posição de topo e com possibilidade de expandir a área, abrindo novo negócio. Tão grande sorte só aparece uma vez em doze anos, por isso não a desperdice.

Com a estrela da sorte Yu Tang (玉堂) consegue suporte de pessoas poderosas, assim como cooperação e ter ajuda para conseguir realizar os planos que tem em mente. Com a estrela da sorte Di Jie (地解, Terra e abrir o cadeado), ao ser confrontado com problemas, estes tornam-se de fácil resolução. Já a estrela da sorte Ci Guan (词馆, Perfeitas palavras) dá-lhe uma mente clara e apenas com perfeitas palavras, coloca as pessoas a acreditar em si. Devido à estrela da sorte An Lu (暗禄) o dinheiro chegará de diferentes maneiras, conseguindo-o fora das suas expectativas. Para definir numa frase a carreira, conduzindo na auto-estrada um bom carro, apenas necessita de meter gasolina.

Mas deverá contar com a existência de duas más estrelas, Bao Bai (暴败, Perdedor, falhar), que leva a ocorrer algumas mudanças fora do seu controlo e Tian E (天厄, Catástrofes provenientes do Céu), tudo o que fizer não poderá ir até ao fim, e por isso, deve guardar um pequeno espaço para poder dar a volta. Não coloque o sucesso a fazê-lo perder a cabeça.

Amor: Ano harmonioso para os casais. Os solteiros terão possibilidade de encontrar o seu parceiro, mas este ano o foco está na sua carreira e o amor é a sobremesa.

Saúde: Vão ser os antigos problemas a afligi-lo. Não vai conseguir encontrar um bom médico para resolver os seus problemas de saúde. Os nativos nascidos no Inverno terão problemas com as mãos e pés. É um ano de trabalho duro, mas não se esqueça de tomar tempo para relaxar.

Dinheiro: Ano de plena satisfação.

Os nativos de Serpente nascidos em:

1965 – Terão o melhor ano, com grandes hipóteses de serem promovidos e ficarem à frente de um grande projecto, assim como podem tornar-se patrões. Têm os caminhos todos abertos.

1953 – Ano em que a carreira os levará a ter grandes proveitos e nos ganhos monetários atingirão o apogeu, sendo o melhor de entre todos os nativos de Serpente.

1977 – Este é o ano para se descobrir e despontar totalmente e não precisa de se preocupar com nada. A celebração do aniversário trazer-lhe-á mais oportunidades.

1989 – Terão hipóteses de criar os seus próprios negócios, mas não podem contar com ninguém; por isso prepare-se, pois vai ser um árduo ano e quanto mais trabalhar mais receberá.

1941 – Continuarão a ter uma boa vida social e este ano, conseguirão ainda encontrar algo interessante para lhes dar prazer, mas cuidem da saúde, pois o problema poderá estar em comer muito e coisas boas.

Cavalo

Os nativos de Cavalo no ano do Rato estão em confronto directo com o Deus do Ano e por isso será um ano cheio de trabalhos, com grandes riscos, crises e várias dificuldades.

Carreira: Contará apenas com uma estrela da sorte, Fu Xing (福星), protectora que lhe limpa o caminho) a significar continuarem os nativos a ter ajuda de pessoas, mas porque necessita de se confrontar com uma série de problemas, esta mostrar-se-á insuficiente. As barreiras que a má estrela Lan Gan (阑干, vedação) lhe vai colocar pela frente, a significar a possibilidade de se confrontar com um sem número de problemas, levá-lo-á a ter que os resolver, ou desviando-se, ou tentando ultrapassá-los, ou retirá-los do seu caminho. A má estrela Da Hao (大耗) significa gastar ou perder uma fortuna. Já as três más estrelas juntas, Tian Ku (天哭, o Céu chora), Po Sui (破碎, separação) e Yue Kong (月空, mês vazio) levam-no a sofrer um grande confronto, o que cria uma destabilização emocional a provocar-lhe um grande desequilíbrio, deixando-o sem saber o que fazer. Tal coloca-o num novo estado e com novos grandes desafios. O antigo sistema deixa de funcionar, levando a ter de fazer plenas mudanças em si mesmo, mas se olhar com um sentido positivo, isso levá-lo-á a melhorias, que podem dar-lhe novas capacidades, trazendo uma nova dinâmica para a sua vida, ajudando-o a prosseguir. Para os nativos nascidos no Verão, o que significa terem necessidade de água, estas mudanças serão muito boas. Lembre-se que para poder visualizar o arco-íris terá antes de levar com uma grande chuvada.

Amor: Para os casais, necessário ter de controlar as emoções; precisa de falar, mas evite discussões. Ano de mudança e por isso, mantenha a relação o mais normal possível, o que já não será mau. As nativas solteiras não encontrarão perto o parceiro e terão de o ir encontrar longe, significando ter de ir viajar, o que lhe fará muito bem.

Saúde: No início do ano vá ao templo oferecer sacrifícios, pois bem precisa. Ano para poder sofrer de problemas nos olhos, coração e rins. Atenção nos transportes, pois acidentes espreitam. Para os idosos, cuidado com as quedas.

Dinheiro: Devido à influência da má estrela Da Hao (大耗, gastar uma fortuna) é preferível comprar algo muito caro, do que perder esse dinheiro e conjugando com a má estrela Yue Kong (月空, mês vazio), melhor gastar dinheiro a viajar, do que usá-lo no hospital. Assim, mesmo a trabalhar arduamente não vai receber nenhum retorno, mas não se esqueça que a vida não acaba este ano.

Os nativos de Cavalo nascidos em:

1954 – Com ajuda, continuará a conseguir manter a sua posição, mas tenha muito cuidado com o que diz e como fala, pois é um ano fácil para ter maus comentários. Proteja-se, pois não pode contar com os outros.

1966 – Terá mais algumas maneiras de conseguir arranjar dinheiro, mas precisa de muito trabalho. Ano para tomar muito cuidado com os transportes pois está propenso a acidentes.

1978 – Ano muito ocupado e de árduo trabalho, mas nem mesmo assim atingirá o que pretende. Por isso, aproveite a oportunidade para relaxar. Ano fácil para se magoar com objectos cortantes.

1942 – Tenha muito cuidado com a saúde. Evite sair muito, para ter menos hipóteses de lhe ocorrerem acidentes. Em casa poderá também aprender muitas coisas e manter a sua vida feliz.

1990 – Ano para estudar mais e fazer amigos para conseguir uma boa plataforma para os anos vindouros.

Cabra

No ano do Rato, a Cabra encontra-se em antagonismo com o Tai Sui e sem cooperar com o Deus do Ano, este também não o ajuda. Esta incompatibilidade significa ser ano para deixar a vida social e recolher-se na vida familiar.

Carreira: A estrela da sorte, Tian Yi Gui Ren, (天乙贵人) significa que com as suas novas e criativas ideias terá boas hipóteses e oportunidades de lançar uma nova carreira. Poderá aceitar ajuda, mas evite a cooperação, é preferível trabalhar sozinho. A estrela da sorte Yue De (月德) Virtude da Lua) indica dever mostrar-se simpático e conseguirá colocar as pessoas a respeitá-lo pelas suas virtudes. Lembre-se, a carreira este ano é apenas um lanche, pois o jantar está na família.

Amor: Com a estrela da sorte Xian Chi (咸池, propícia o casamento e puras relações entre pessoas), é um bom ano para os casais voltarem a fazer uma viagem de Lua de Mel, ou terem um filho. Este ano o casal parece-se com os gémeos, não importa para onde vão, estão sempre juntos. Para os solteiros nativos de Cabra, como a carreira este ano não é importante, apenas uma coisa deverá estar nos objectivos, encontrar a pessoa certa e casar-se. Por isso deixe os seus amigos e objectivamente procure criar a sua nova família, e se entender isso, evitará imensos problemas e terá um harmonioso ano.

Saúde: Este ano, para além de ferir o Tai Sui, terá a influência da má estrela Shi Fu (死符, sinal de morte), levando a ser importante fazer um exame de saúde, sendo um ano para relaxar completamente e dedicar-se à meditação. As nativas deverão ter muito cuidado com os órgãos ligados ao aparelho reprodutor e no início do ano deverão oferecer sacrifícios ao Deus do Ano.

Dinheiro: Repetindo, se a carreira este ano é só um aperitivo na vida e a comida está na família, então, mesmo com a má estrela Xiao Hao (小耗, pequeno gasto ou perda de dinheiro) poderá fazer a transferência para um forma positiva, usando-o numa pequena viagem familiar e num jantar fora em família. É ano para não esperar nada, mas poderá trazer surpresas, quem sabe?!

Os nativos de Cabra nascidos em:

1955 – Terão o melhor ano e conseguem criar uma carreira pessoal, mas faça-o em silêncio sem o propagar aos sete ventos e quando tudo estiver pronto, então coloque-se na boca do mundo.

1967 – Terá de se focar apenas na sua área de actuação profissional e não pense em criar algo novo. Mas ao mesmo tempo, não se esqueça de prestar grande atenção à família. Com o restante, não queira ver, cheirar, ouvir, tocar, provar e assim os seus sentidos não ficam dispersos e manter-se-ão com plena atenção para o importante.

1979 – Terá imensas ideias quanto à sua carreira, mas é ano para evitar cooperações com os outros, precisando de fazer tudo sozinho, por isso, pense nas suas capacidades para pôr mãos à obra. Oportunidade para adquirir uma casa. Cuidado com os desportos radicais, pois há grande probabilidade de ocorrer um desastre e magoar-se.

1943 – Com as suas grandes poupanças, poderá ter um ano relaxado. Apenas cuide da sua saúde e evite excessos.

1991 – Não pode pensar magoar as pessoas, mas deve evitar que os outros o magoem. Assim, para este ano não coopere com os outros, nem mesmo com os seus amigos. Seguir solitário, evita problemas, ganha mais e goza melhor.

Macaco

No ano do Rato, o Macaco está em San He, os três animais que combinam bem com o Deus do ano e por isso, para os nativos de Macaco o ano é de harmonia (correcto tempo, correcto lugar, correcta acção) e de felicidade. Combina carreira, amor e dinheiro e terá um bom desenvolvimento. Quanto mais idoso, mais inteligente.

Carreira: Com as superes estrelas da sorte, Jiang Xing (将星, do General) e Jin Kui (金柜, Cofre Dourado), consegue colocar a carreira num novo patamar, tornando-se famoso e conquistar riqueza. A estrela da sorte San Tai (三台, Quem tem o Carimbo) levará a ser promovido à posição de chefia em todos os lados e as suas decisões serão tomadas em conta, sendo um ano para rir até ao fim. Mas as duas estrelas más, Wu Gui (五鬼, Cinco fantasmas, que representa as pessoas nas suas costas a fazer-lhe mal) e Fei Fu (飞符, mau sinal voador, más notícias), representam um poder que se encontra contra si, logo perceba ter de contar com pessoas que lhe querem mal. O seu sucesso traz inveja a outros, mas no seu ano de sorte estes pequenos problemas nunca lhe causarão mossa para continuar em frente. A má estrela Guan Fu (官符, cuidado e não colocar a sua palavra como garantia) adverte-o a nunca deixar de seguir pela legalidade nas suas acções, evitando assim ser acusado pela justiça.

Amor: Ao entrar em San He, os três animais que combinam com o Deus do Ano, torna-o muito atraente aos olhos dos outros e vai mostrar as suas características de Macaco, activo e falador. Terá imensas opções de escolha, mas tenha calma e encontre quem combina bem consigo. Para os casais, a cooperação pelo amor levará o outro a atingir o que tem desejado para a carreira (pois, este ano o amor é a folha e a carreira o fruto).

Saúde: Deve contar este ano com a influência da má estrela Fei Fu (飞符, mau sinal voador), a significa dever tomar extremo cuidado quando passear ou conduzir. A sua saúde não lhe trará grandes problemas, mas estes aparecem pelas pessoas à sua volta, por isso, evite discussões com os outros para não desequilibrar o seu estado emocional. Cuidado com objectos cortantes e pode ter problemas relacionados com a água, como andar de barco, nadar… Para os nativos nascidos no Outono e Inverno, evitem usar e ter imagens de dragões à sua volta. Fácil ter problemas com os pulmões e intestinos.

Dinheiro: Tem a estrela da sorte Jin Kui (金柜, Cofre Dourado), que lhe traz sorte em assuntos financeiros e acumulação de ganhos e a estrela da sorte Lu Shen (禄神) leva o dinheiro a vir ter consigo. É ano para realizar os seus desejos, pois consegue o que quer; quer vento tem vento, quer Sol tem Sol, mas lembre-se que a riqueza pelo dinheiro é só exterior, enquanto a verdadeira riqueza está no coração.

Os nativos de Macaco nascidos em:

1992 – Terão alguém a colocá-los num lugar de importante posição e assim, um brilhante futuro e um bom salário. Mas deverá estudar mais para ganhar competências e conseguir novas informações. Não pense que por ser jovem não necessita de cuidar da saúde. Conduzir com extremo cuidado é muito importante.

1980 – Activa vida social com plenas ajudas. Na carreira não terá problemas, mas conte com uma imensa competição. Faça uma festa no seu aniversário para conseguir ter mais boas energias.

1968 – Ano cheio de trabalho e com bastante pressão, mas o que receberá é também imenso. Aproveite e apanhe esta boa oportunidade para se mostrar. Cuidado com a saúde, sobretudo com problemas de ossos, especialmente para quem nasceu no Outono e Inverno.

1956 – Terá uma poderosa e qualificada ajuda e tendo inúmeras maneiras de ganhar dinheiro, coloque a fasquia do dinheiro a atingir um novo recorde. Mas como é um ano de grande água tome cuidado com o coração e lembre-se que a saúde não pode ser comprada por dinheiro.

1944 – Ano para ter cuidado com o que fala e com a sua acção, que poderá trazer-lhe problemas. Na sua posição, continua a manter respeito. Tenha uma boa vida e não se esqueça de realizar exercícios físicos.

Galo

No ano do Rato, o Galo está em ruptura com o Deus do Ano, o que significa facilmente se magoarão um ao outro e por isso, este ano não irá ser harmonioso. Lembre-se que só deverá falar de coisas que não provoquem conflitos, mas pela personalidade do Galo, se não pode ser feliz fora, continuará a ter dentro de casa o seu Sol, levando a não ser um ano muito difícil.

Carreira: Tem duas estrelas da sorte, Tai Yin (太阴), a Lua) e Tian Xi, (天喜Virtude Celeste), o que leva este ano os nativos de Galo a serem mais simpáticos e calmos. As nativas mostrarão em frente aos outros o que de melhor têm e os nativos serão mais gentis no servir, tendo boas relações e convidando os amigos para reuniões sociais. Significa, ano para não falar da carreira, mas promoverem-se socialmente e divertirem-se, plantando as sementes para o que vem. Devido à estrela da sorte Xue Tang (学堂) é ano para estudar e enriquecer os conhecimentos. Já as duas más estrelas, Guan Suo (贯索) e Gou Jiao (勾绞), significam que deverá estar preparado pois há pessoas que lhe vão colocar armadilhas, e conjugadas com a má estrela Cu Bao (卒暴, inesperada perda de controlo), não importa se trabalha muito e arduamente, terá grandes hipóteses de falhar. Por isso, no início do ano deverá ir ao templo oferecer sacrifícios para minimizar os problemas que espreitam e adquirir boas energias.

Amor: Para se sentir confiante, este ano deve-se vestir e ornamentar bem, como sempre gosta de fazer, para captar a atenção dos outros e com isso se mostrar. Mas a dificuldade está em ser muito fácil por pequenas coisas cair numa grande discussão e destabilizar a relação. Assim é ano para os nativos de Galo abriram mais o coração e ao ter um grande coração para aceitar os outros, os outros aceitá-lo-ão mais facilmente.

Saúde: O Elemento do Galo é Metal e em conjunto com a má estrela Yang Ren (羊刃) leva a uma maior probabilidade de ter que realizar uma operação cirúrgica, ou cortar-se com uma faca. Facilmente pode ter problemas nos pulmões. Os nativos nascidos no Outono e no Inverno, precisam de fogo e por isso uma viagem para o calor do Sul poderá ajudar.

Dinheiro: A felicidade não é dada pelo que se tem, mas por a inexistência do mundo dos desejos. Dinheiro não traz prazer diário, mas a saúde pode dar-lhe. Agora entende o que aqui falamos.

Os nativos de Galo nascidos em:

1993 – Terão muito boas relações sociais a propiciar ajuda dos seus superiores. É bom ano para criar uma boa base para a futura carreira.

1981 – Irão de repente ter vontade de ler e estudar e começar a gostar muito de cozinhar para partilhar com os amigos os seus pratos, trazendo-lhe um imenso suporte. Ano calmo e cheio de interesses.

1969 – Vão-se forçar a trabalhar arduamente, mas por vezes quanto mais rápido se quer chegar, mais lento se anda e por isso, é ano para caminhar degrau a degrau. Lembre-se que por vezes dar um passo atrás pode levar a conseguir ter mais hipóteses de sucesso.

1957 – Ano para não jogar a dinheiro, pois se o fizer atrairá grandes trabalhos. Foque apenas no que tem. Uma vida simples é o caminho para se ser feliz. Cuide da saúde.

1945 – Hipótese de iniciar um novo projecto, mas tal só trará mais trabalho, pois o que irá ganhar…

Cão

Este ano os nativos de Cão encontram o apogeu na carreira; está pronto? Encontrando-se numa alta posição, toda a gente está atenta ao que faz e até as suas pequenas acções merecerão atenção. Por isso, deverá solicitar a si mesmo conseguir a perfeição, mas não a imponha aos outros e assim conseguirá ter um ano brilhante.

Carreira: Com a poderosa estrela da sorte Ba Zuo (八座, relacionada com a carreira) terá hipótese de ser promovido, ficar na posição de comando e na sua área torna-se o número um. As duas estrelas da sorte, Tian Jie (天解) e Jie Shen (解神), ajudá-lo-ão a resolver quase todos problemas, conseguindo debelar as crises.

Assim, todas as condições estão prontas, apenas terá de esperar que a oportunidade chegue para a agarrar e abrir uma nova página. Mas conte com duas más estrelas, Chen Fu (沉浮, altos e baixos) e Zai Sha (灾煞, inesperado acidente), a significar ter de cooperar e manter boa relação com os outros, resolvendo os problemas com muita calma e sem discussões. Aperfeiçoe-se para ser um verdadeiro chefe. O sucesso chega, mas não será sem passar por dificuldades.

Amor: Para os nativos solteiros, não esperem muito este ano. Para os casais, não terão muito tempo para acompanhar o parceiro, mas não se esqueça ser o suporte da outra parte muito importante. O seu poder atrairá alguém a quer ficar seu íntimo, mas deve manter-se fora e evitar tais problemas.

Saúde: Recomenda-se devido à má estrela Xue Ren (血刃, Fio da lâmina com sangue) não discutir para evitar maus entendidos a poderem originar acções tresloucadas. Já as outras duas más estrelas, Di Sang (地丧 sang=perder; di=terra) e Sang Men (丧门, quem traz má sorte), levam a ter que tomar conta da saúde, não só da sua como a dos seus familiares. Faça exames clínicos no início do ano. Poderão, sobretudo no quarto, sétimo e oitavo mês lunar, ocorrer problemas relacionados com o coração e nos tubos sanguíneos.

Dinheiro: Não só a carreira lhe traz dinheiro, mas também este lhe chegará por vias não esperadas, tudo isto devido à influência da estrela da sorte Jin Yu Lu (金舆禄, grande fortuna). Esse imenso dinheiro dar-lhe-á uma enorme satisfação, ocultando as dificuldades e o grande esforço que teve com a carreira.

Os nativos de Cão nascidos em:

1994 – Terão um poderoso suporte para atravessar a barreira e atingir o lugar de chefia. Por isso, tente aprender sobre todas as posições que vai superintender.

1970 – Devido ao suporte e cooperação com o seu sócio (parceiro de trabalho), a sua carreira progride sem dificuldades. Se chegou agora a patrão, terá os primeiros seis meses sempre muito ocupado e só no segundo semestre conseguirá respirar. Ano propício para os nativos masculinos terem facilmente acidentes e por isso, no início do ano deverá ir ao templo oferecer sacrifícios aos Deus do Ano. Importante é também celebrar o seu aniversário.

1982 – Ano para mostrarem completamente as potencialidades. Criativo ano para abrir uma nova via. As nativas femininas deverão ter cuidado, pois facilmente poderão ir parar à sala de operações no hospital. Já os nativos masculinos deverão mudar e ter mais calma.

1958 – Ano ocupado com muito trabalho, mas terá imensas oportunidades para atingir um novo patamar. Ao mesmo tempo, deverá cuidar da saúde e manter uma vida regrada.

1946 – Continuará este ano ainda com sorte; quer vento tem vento, quer fogo tem fogo, quer dinheiro também ele vem ter consigo. Apenas não pode cooperar com um parceiro nativo de Cão. Com tantas facilidades a conseguir tudo, tenha cuidado pois poderá perder a cabeça e sem pensar bem, cria problemas aos outros e a si mesmo, sobretudo à sua saúde.

Porco

O que ocorreu no ano passado, não importa se foi bom ou mau, já passou. Este ano você não é o melhor, mas na sua área consegue que a flor desabroche e dê frutos. Vai ser um ano para recordar.

Carreira: A super estrela da sorte Tai Yang (太阳), o Sol) traz-lhe boa energia, confiança, optimismo, brilhantes perspectivas e grande actividade para desenvolver qualquer assunto que lhe interesse. A estrela da sorte Wen Chang (文昌), deus dos Letrados e da Literatura) propiciar-lhe-á o interesse em estudar novas matérias, sobretudo arte e cultura, e se por aí seguir conseguirá abrir uma nova carreira. As estrelas da sorte Tai Ji Gui Ren, (太极贵人) e Tian Guan (天官) trazem boas relações sociais e mesmo nas suas viagens encontrará pessoas que se tornarão seus amigos e dar-lhe-ão novos apoios e ajudas. A estrela da sorte Tian Chu (天厨, Cozinha do Céu) leva-o a estudar como cozinhar para preparar boa comida, e se por um lado lhe trará boa vida, por outro pode ser mais uma nova carreira que se lhe abre. Ano relaxado pois faz o que gosta e por isso, se encontrar algo de interessante siga em frente pois não precisa de pensar no que os outros dizem. As duas más estrelas, Tian Kong (天空, Vazio Céu) e Hui Qi (晦气, Energia Suja), afectam-no e colocam-lhe dúvidas ao tomar decisões, criando-lhe indecisões e levam a ter por vezes hipótese de ser enganado. Também o seu explosivo temperamento pode destruir cooperações e relações, sendo por isso importante manter a calma e pensar antes de intervir. Não deixe o lado emocional tomar conta de si.

Amor: A estrela da sorte Xian Chi (咸池, propícia o casamento e boas relações) coloca os nativos solteiros a não se sentirem sós e a sua energia solar atrair os que estão ao seu redor. Faça o favor de preparar o seu casamento e use a boa oportunidade dada por a dupla Festa da Primavera. Pode mesmo ter um filho, tal é o estado amoroso em que vive este ano. Para os casais, ano de plena comunhão a atingir a plenitude no relacionamento, onde o amor se sobrepõe a tudo o resto.

Saúde: Há boas notícias para si; como é ano de gostar de estudar e um dos seus interesses está em aprender sobre os alimentos e suas propriedades, sendo estes a essência da origem dos medicamentos, será a comida que confecciona a servir de tratamento ou prevenção de doenças e ao investir nesse campo prepara um ano saudável. Para os nativos masculinos, tenha cuidado com os rins e próstata. Já para os nativos femininos preste atenção a problemas com os seios e útero. Os nativos nascidos no Outono e Inverno devem ter redobrados cuidados.

Dinheiro: Com os bens materiais controlados, pois a sua carreira está satisfeita, e o Sol a brilhar, estando as suas relações em harmonia, vive no amor e nada mais parece fazer falta.

Os nativos de Porco nascidos em:

1983 – Com base na sua anterior preparação é ano para agarrar o momento, que o vai impulsionar até limites nunca atingidos. É o melhor de todos os nativos de Porco.

1995 – Terá grandes hipóteses de ser promovido, ou iniciar o seu próprio negócio e enquanto trabalha arduamente não se esqueça de estudar para se aperfeiçoar. Não precisa de pensar quanto vai ganhar, ou perder, pois é ano de apenas lavrar a terra e prepará-la para lhe vir a dar riqueza.

1971 – Terá boas relações sociais, que lhe trarão grandes ajudas. Adorará estudar Civilizações e a cultura gastronómica e seguindo esta via conseguirá quebrar a rotina e respirar novos ares.

1959 – Está ainda cheio de energia e terá um novo desenvolvimento na carreira. Os seus antigos planos podem sair da gaveta e realizarem-se. Mas tudo isto, degrau a degrau para não se cansar em demasia e afectar a saúde.

1947 – Com estável rendimento económico, tenha uma vida relaxada e sem discussões. Para iniciar o ano, vá fazer um exame clínico. Terá também de tomar conta da saúde do seu parceiro.

24 Jan 2020

Relógios e a divisão do tempo na China

[dropcap]E[/dropcap]ra tal o desenvolvimento de Macau que em 1586 o Vice-rei da Índia D. Duarte de Meneses a passou a cidade, dando-lhe o nome de Cidade do Nome de Deus na China, assim como proibiu “a entrada na China a outros missionários além dos jesuítas”, segundo monsenhor Manuel Teixeira, que refere terem em Macau todos os frades espanhóis sido substituídos pelos portugueses em 1589.

Para finalizar a História dos relógios como presentes, seguimos usando as informações deste religioso historiador, que refere, Ricci na China tornou-se o deus dos relojoeiros.

Matteo Ricci chegou em Setembro de 1598 às portas de Beijing, mas encontrou um ambiente hostil contra os estrangeiros devido à invasão da Coreia pelo Japão e por isso foi para Nanjing, à espera que o clima na capital desanuviasse. Daí remeteu um memorial ao Imperador Wan Li referindo querer-lhe oferecer um sino que tocava sozinho. O tempo foi passando, até que um dia o Imperador se lembrou da carta escrita por forasteiros e logo os mandou chamar. Ricci e Diogo Pantoja partiram a 18 de Maio de 1600 num junco que transportava mercadorias pelo Grande Canal para a capital, onde chegaram a 24 de Janeiro de 1601 e três dias depois foram recebidos na corte imperial. O Imperador, que já ouvira falar de Ricci, ficou encantado com os presentes. Seguimos aqui a descrição do padre Manuel Teixeira do resto dessa história, “Explicaram então ao que os relógios eram instrumentos que, de dia e noite, davam as horas ou pela campainha, que os tocava, ou pelo mostrador, onde uns ponteiros as indicavam. Todavia, para isso, era preciso que S. Majestade destinasse alguém que aprendesse a tratar deles e que, em dois ou três dias, lhe seria ensinado tudo o que era preciso.

Foram destinados para isso quatro eunucos; mas o imperador Van-li sentenciou: . Os mandarins tremeram e eles, que até ali se opunham a que os Padres se fixassem na capital, eram agora os primeiros a suplicar-lhes que ficassem ali. É que tinham medo de perder a cabeça se qualquer peça se desarranjasse. Como o relógio precisou de várias reparações, os Padres iam à corte fazê-las e entretinham-se com o imperador.”

Os relógios mecânicos eram ainda uma novidade em todo o mundo, sendo normalmente usados os relógios de Água, os de maior precisão. Os relógios de Sol eram comuns e de fácil leitura, enquanto as ampulhetas de areia, as velas e os pauzinhos de incenso, exigiam alguém a tempo inteiro para deles cuidar, pois era preciso serem mudados quando chegassem ao fim.

Nas cidades muralhadas chinesas as portas eram abertas ao amanhecer por oficiais locais com um toque de sino e à noite eram fechadas com uma batida de tambor. Os tambores davam as horas à noite e os sinos durante o dia. O marcar das horas era assinalado com 18 rápidas batidas e 18 lentas. Nas torres do tambor existiam desde a dinastia Song as clepsidras ou relógios de água e mais tarde paus de incenso, para que os toques não se realizassem fora de tempo. Já na dinastia Qing, a noite começava às 19 horas, quando os tambores tocavam por treze vezes, o que correspondia a acertar as horas.

Divisão do tempo na China

Na antiguidade o ser humano descobriu o Tempo através do ciclo diário de dia e noite e logo de seguida, durante o dia pela mudança do tamanho da projecção da sua sombra criada pelo Sol. A necessidade de fixar o Tempo e a sua passagem levou-o a observações mais atentas e se o relógio de Sol terá sido o primeiro instrumento que encontrou, outros foram aparecendo.

“O relógio astronómico inventado na China muito antes da Europa ter descoberto o relógio mecânico no século XVII é considerado por Joseph Needham como o primeiro protótipo de relógio no mundo”, segundo refere Maria Trigoso.

Desde a dinastia Zhou do Oeste (1046-771 a.n.E.), o dia contava com 12 shichen, relacionados com os ramos/raízes terrestres do sistema sexagenário (12 Di Zhi 地支) e adicionado a este talvez ainda antes, na dinastia Shang (1600-1046 a.n.E.), o dia estava já dividido em 100 ke (cem partes), relacionado com os dez caules celestes (10 Tian Gan 天干). Se na dinastia Qin (221-206 a.n.E.) cada dia tinha dez partes, cabendo à noite cinco, já na Han (206 a.n.E.-220) apareceu o geng (a dividir o período nocturno em 5 geng) e o dia passou a estar dividido em 120 ke. Na dinastia Liang (907-923) um dia tinha 96 ke e 108 ke (108 número budista), até que na dinastia Ming, com a chegada dos relógios mecânicos provenientes do ocidente, ficou dividido em 96 ke tornando-se tal oficial na dinastia Qing. Ke Zero caia na meia-noite e Ke 50 no meio-dia, enquanto o início de quatro Ke coincidia com um shichen. Apenas o início de 96 ke precisava de ser anunciado.

Já quanto à divisão do dia por os 12 ramos terrestres do sistema sexagenário, na dinastia Zhou do Oeste o dia contava com 12 shichen, correspondendo o primeiro a Zi Shi, mas tinha também outra denominação, Ye Ban (meio da noite), tornada oficial na dinastia Han; o segundo, Chou Shi ou Ji Ming (canto do galo); o terceiro, Yin Shi, ou Ping Dan (Sol abaixo do horizonte); o quarto, Mao Shi ou Ri Chu (Alvorada); o quinto, Chen Shi ou Shi Shi (tempo para comer); o sexto, Si Shi ou Yu Zhong (próximo do meio-dia); o sétimo Wu Shi ou Ri Zhong (meio do dia); o oitavo, Wei Shi ou Ri Die (após o meio do dia); o nono, Shen Shi ou Bu Shi (tempo de jantar); o décimo You Shi ou Ri Ru (Sol cai dentro da montanha); o décimo primeiro Xu Shi ou Huang Hun (Sol abaixo do horizonte); e o décimo segundo, Hai Shi ou Ren Ding (tempo para dormir). Se até ao início da dinastia Tang (618-907), Zi Shi, pela divisão actual das horas, começava à meia-noite e ia até às duas da manhã, a partir daí, Zi Shi passou a corresponder das 23h à uma da manhã e assim decorria sucessivamente pelos restantes onze shichen.

Na dinastia Song, quando em 1088 Su Sung (1020-1101) criou o seu relógio de água, cada shichen passou a ter duas partes: a primeira era chu e a segunda zheng, isto é, zichu e zizheng, passando assim o dia a estar dividido em 24 partes.

Com a chegada dos relógios mecânicos trazidos pelos jesuítas e o conceito de dia de 24 horas, para distinguirem os dois sistemas, as pessoas chamavam Xiaoshi (Pequeno Tempo) ao dia de 24 horas e Dashi (Grande Tempo) ao dia de 12 shichen e como já desde a dinastia Song cada shichen era dividido em dois passou cada um a ser chamado xiaoshi, correspondendo a uma hora. Assim apareceram os números a denominar as horas. Já quanto aos minutos, eles foram retirados da divisão do dia, que no início tinha 100 ke e mais tarde 96 ke, o que dava para cada hora 4 ke, correspondendo 1 ke a 15 minutos.

Segundo J. Gernet, “os relógios serão uma das primeiras novidades importadas na China pelos jesuítas e Matteo Ricci parece ter-se tornado mais tarde o deus patrono dos relojoeiros chineses: no século XIX era venerado em Xangai com o nome de Bodhisattva Ricci.”

20 Jan 2020

Início da missionação jesuíta na China

[dropcap]E[/dropcap]m Zhaoqing, capital da província de Liangguang, a primeira Missão católica jesuíta na China foi fundada a 14 de Setembro de 1583 pelos missionários italianos do Padroado Português, Matteo Ricci e Michele Ruggieri, que em 1582 tivera autorização das autoridades chinesas para aí se estabelecer.

Não vinham a trajar as lobas da Sociedade de Jesus (S.J.) mas as túnicas de monges budistas, pois pretendiam ganhar o respeito e a atenção da população e disfarçar a aparência de estrangeiros. Em 1584, com a permissão do governador Chen Wenfeng [Chen Rui fora destituído do seu cargo a 6 de Fevereiro de 1583, segundo Jin Guo Ping e Wu Zhiliang] construíram uma igreja e a residência. Dedicaram-se a publicar em xilografia o primeiro Catecismo em chinês (Kiao-Yao) do padre Ruggieri [feito em Cantão] e em conjunto com Ricci, Os 10 Mandamentos do Senhor do Céu (Tien-Tchou Chekiai) entre outras obras. Matteo Ricci, que adoptara o nome chinês Li Madou, estudou a cultura chinesa e continuou a elaborar o mapa-múndi, que começara em Macau e terminaria em Beijing. Ganhou fama junto dos mandarins, a quem pretendia converter, com o conhecimento dos Clássicos chineses, de geografia, matemática e astronomia, não tivesse sido aluno no Colégio Jesuíta em Roma de Christophorus Clavius, [eminente matemático que validou as teorias de Galileu e reformara em 1582 (ano da chegada de Ricci a Macau) o calendário juliano e o denominou gregoriano em honra do Papa Gregório XIII].

Em finais de 1585, um alto mandarim tencionando visitar a família em Shaoxing convidou Ruggieri para o acompanhar. Em Cantão encontraram o padre António de Almeida, que de Macau viera de barco com mercadores portugueses, e assim seguiu também o jesuíta português até Zhejiang. Aí andaram a missionar, tendo-lhes passado pela cabeça abrir uma nova residência, mas essa esperança logo se desvaneceu já que foram pressionados pelas autoridades locais a abandonar o local, desvanecendo-se tal ideia. António de Almeida foi para Macau pois não tinha autorização de residir em Zhaoqing, para onde se dirigiu Ruggieri a fim de se encontrar com Ricci, que ficara na missão com Duarte de Sande. Devido à permanente instabilidade e às constantes dificuldades que os missionários encontravam, o padre Sande regressou a Macau em Novembro de 1587 e o padre Valignano, de novo como Visitador, decidiu em 1588 mandar Ruggieri a Itália para convencer a Santa Sé a enviar um representante oficial a Beijing, com o fim de o Imperador conceder liberdade religiosa aos católicos. Segundo Horácio Peixoto de Araújo, devido à morte sucessiva e num curto espaço de tempo de quatro papas, [Ruggieri chegou a Roma a 19 de Junho de 1590 era Papa Sisto V, mas este morreu cerca de dois meses depois. Seguiu-se Urbano VII Papa apenas por doze dias. Eleito a 5 de Dezembro de 1590 Gregório XIV foi papa durante menos de um ano e Inocêncio IX durante 62 dias. Já o Papa Clemente VIII esteve na Santa Sé de 30 de Janeiro de 1592 a 3 de Março de 1605], Ruggieri falhou na sua missão e nunca mais voltou à China, tendo morrido a 11 de Maio de 1607.

Devido às tensões criadas pela população em Zhaoqing e à hostilidade de Liu Jiwen, o novo governador de Liangguang, em 1589 os jesuítas foram postos fora da sua residência e Ricci foi autorizado a residir em Shaozhou (Shaoguan), onde chegou a 26 de Agosto de 1589 acompanhado por o padre António de Almeida.

Aí encontraram um clima mais acolhedor e perceberam que a terminologia e as vestes budistas até então usadas não davam o estatuto pretendido, pois segundo o padre António Gouveia, os bonzos eram tidos por ignorantes e rudes. Assim deixaram crescer o cabelo e barba e passaram a usar a roupa de seda dos eruditos confucianos. Nessa cidade a Norte de Guangdong, que liga à província de Jiangxi, Ricci conheceu o jovem estudante de alquimia Qu Taisu, filho de Qu Jingchun, Ministro dos Ritos na corte Ming, que lhe pediu para ser seu tutor a fim de aprender álgebra e geometria, o que ocorreu durante dois anos, segundo refere Shen Fuwei.

Em 1594, um mandarim militar, que ia à capital, convidou Ricci para lhe fazer companhia. Ricci levava preciosos presentes enviados de Roma pelo P. Acquaviva, dois relógios, um de torre, outro de sala, aos quais juntou os oferecidos pelo Vice-rei da Índia e outros comprados em Macau. Chegou até Nanjing mas depois recuou para Nanchang, capital de Jiangxi, onde se fixou a 28 de Junho de 1595 e aí viveu por três anos. Em 1597, desde Macau o Visitador Valignano nomeou Matteo Ricci como superior da missão na China e este, em Nanchang, apresentou-se aos dignitários locais: a Lu Wangai, governador da província de Jiangxi, a Zhang Huang, famoso confucionista e a Zhu Duojie, príncipe de Jian’an, a quem presenteou com instrumentos astronómicos, um relógio de mesa e o seu atlas do mundo.

Convidado por o amigo Wang Honghui, ministro dos Ritos em Nanjing, Ricci em Junho de 1598 viajou para Beijing com o padre Lazzaro Cattaneo [músico, que desde 1594 estivera com ele em Shaoguan], onde chegaram a 7 de Setembro de 1598. Aí tencionava expor as novas teorias da Renascença, sobretudo na área das matemáticas e astronomia. No entanto, não conseguiram entrar na corte imperial devido à invasão da Coreia pelo Japão, estando a atmosfera em Beijing hostil para com os estrangeiros, segundo refere Gianni Criveller. Assim, a 5 de Novembro de 1598 deixaram a capital e via marítima chegaram a Nanjing a 6 de Fevereiro de 1599. De Macau, Valignano remete-lhe mais presentes para o Imperador, quadros da Virgem e do Salvador e relógios de vários tamanhos.

Ricci deixou Nanjing a 18 de Maio de 1600 e partiu pelo Grande Canal de novo para Beijing, agora com Diogo Pantoja. Na corte imperial entraram a 24 de Janeiro de 1601 e o Imperador Wan Li (1573-1620), que já ouvira falar de Ricci, ficou encantado com os presentes. Wan Li apesar de nunca ter visto e conhecido pessoalmente os jesuítas, pois devido à sua obesidade [segundo Álvaro Semedo] vivia em reclusão e apenas convivia com um pequeno círculo de mandarins, concedeu permissão para eles ficarem em Pequim e construírem uma residência com capela (que viria a ser a Catedral da Imaculada Conceição, Nantang). No entanto, o investigador Shen Fuwei refere que, após três dias, a 27 de Janeiro Ricci conseguiu uma audiência com o Imperador Ming a quem ofereceu 31 itens em 19 diferentes presentes.

Segundo Horácio Peixoto de Araújo, “Desde que, em Janeiro de 1601, Matteo Ricci e Diego Pantoja entraram na Corte de Pequim, ninguém duvidava da importância que assumia a presença de alguns Padres junto do imperador; da sua aceitação pelo soberano dependia a permanência e a liberdade de movimentação dos restantes missionários nas diversas regiões do império. Daí que os mandarins cristãos e os jesuítas conjugassem esforços no sentido de possibilitar de novo a entrada na Corte e oficializar uma residência da Companhia em Pequim.” Com relógios, os jesuítas conquistavam o Imperador Wan Li.

14 Jan 2020

Novas instituições em Macau e a indústria dos relógios

[dropcap]O[/dropcap]s portugueses de Macau, perante o Vice-Rei de Liangguang (Guangdong e Guangxi) Chen Rui, reconheceram-se vassalos do Imperador do Celeste Império, passando desde 27 de Dezembro de 1582 a ter autorização oficial de permanência em Macau e os padres a possibilidade de poder viver em Zhaoqing. Para tal, muito contribuiu o relógio mecânico de rodas feito de ferro mandado da Europa e entregue pelo padre português Rui Vicente a Ruggieri, que o levou como presente a Chen Rui. Este relógio suscitou o interesse das elites chinesas e foi o primeiro dos muitos que se seguiram a serem enviados para a China, originando logo em 1583 uma produção relojoeira em Macau a cargo dos jesuítas, que continuou ao longo do século XVII. Luís Filipe Barreto refere, “O fabrico de relógios implica a existência de técnicos especializados e, no ano de 1583, um artífice/relojoeiro indiano, que aprendera a fabricar relógios com os portugueses, seguiu de Macau para a China para na Missão de Zhaoqing fabricar um relógio para o governador provincial Wang Pahn” [Chen Rui fora destituído a 6 de Fevereiro de 1583].

Segundo informava Matteo Ricci, os únicos relógios conhecidos dos chineses . Também na Europa, o relógio mecânico de rodinhas, inventado em 947 por Gerberto, um monge francês que em 999 viria a ser o Papa Silvestre II, era pouco usado pois atrasava ou adiantava um par de horas por dia. Apesar de se tornar uma moda, eram pouco precisos e assim continuava-se a utilizar os relógios de água, de sol e as ampulhetas de areia, para tomar conhecimento das horas. Nem a invenção da mola de aço em espiral, criada por volta de 1500 em Nuremberga por Peter Henlein, a substituir o peso [utilizado no relógio de 947, mas ainda sem o pêndulo aplicado nos relógios por Huygens em 1656, que veio dar maior rigor à medição do tempo] como motor do mecanismo registador das horas, trouxe maior fiabilidade. Foi só em meados do século XVI, com o regulador da mola a assegurar uma força motriz constante, que o relógio mecânico ganhou maior precisão.

A política da oferta de relógios como presentes por parte dos jesuítas, segundo o padre Manuel Teixeira, ocorrera já em 1551, quando no Japão o Pe. Francisco Xavier ofereceu ao soberano Yamaguchi um grande relógio e oito anos depois, Luís Fróis, S.J., “conseguiu ter uma audiência com o imperador do Japão, vencendo as últimas repugnâncias do grande Kubosama, oferecendo-lhe um relógio que dava as horas.”

Novas instituições em Macau

Em 1583, “o Vice-rei de Guangdong-Guangxi admitiu publicamente que Macau era uma povoação especial do distrito de Xiangshan. Foi também este governante que introduziu em Macau o regime baojia, para a administração da população chinesa (sistema administrativo, baseado no registo dos residentes por unidade familiar, e no esquema de responsabilidade mútua). Foram erguidas, nas quatro ruas principais que atravessavam o centro da povoação, placas de grande dimensão, com palavras de ordem a inspirar respeito pelas autoridades chinesas”, segundo Victor F. S. Sit, que refere, “Após o reconhecimento chinês do estatuto de Macau, a comunidade portuguesa local, sob a supervisão do Bispo de Macau, fez, em 1583, a eleição do primeiro Senado da Câmara. Eleito por três anos, o Senado era constituído por três vereadores, dois juízes ordinários e um Procurador da cidade. Para a decisão sobre assuntos de importância maior, o Senado tinha que ser presidido conjuntamente pelo Bispo, pelo Capitão de Terra e pelo Magistrado.” Anteriormente, já a povoação elegia quatro vereadores, mas com o rápido desenvolvimento da população foi criado o Senado, tendo o bispo de Macau D. Leonardo de Sá presidido às primeiras eleições do governo municipal de onde surgiu o lugar de Procurador. Este cargo, cujo título oficial era de Regente Ocidental dos Assuntos de Macau, tinha como função gerir as relações com a China e por ser o chefe da administração portuguesa em Macau, em 1584 o Imperador Wan Li atribuiu-lhe o segundo grau de oficial, “com jurisdição sumária sobre os chineses em Macau”, segundo Montalto de Jesus, que refere, “este ‘olho dos bárbaros’ [Yi Mu], como os mandarins lhe chamavam, em casos importantes era substituído pelo prefeito de Xiangshan.” Já Victor Sit refere, “O Imperador decretou igualmente regulamentos sobre as visitas de inspecção dos mandarins a Macau, aos quais o Regente Ocidental tinha obrigação de prestar informações. Quanto ao protocolo oficial, ficou estabelecido que aquando da visita a Macau, os funcionários civis e militares (chineses) ocupam os lugares nobres no Senado e o Regente Ocidental, o lugar secundário. Estes regulamentos confirmaram, de facto, o estatuto de Macau como um fanfang (bairro estrangeiro), com autonomia administrativa interna.”

Sob a origem do Governo Municipal (que tomou o nome de Senado da Câmara em 1584), Beatriz Basto da Silva refere, estar “o facto de os portugueses residentes em Macau, receosos de se tornarem simples súbditos espanhóis (união ibérica-1580), terem deliberado em reunião presidida pelo Bispo D. Belchior Carneiro, criar uma forma de administração que lhes desse alguma independência.”

Em 1582, o comércio na China deixava de ser feito pela troca de produtos, sendo usada a prata para pagar as mercadorias.

A povoação aumentava e a população solicitava “cada vez maior oferta religiosa e educativa”, segundo Rui Manuel Loureiro, que refere, “um número cada vez maior de religiosos passava pelo litoral chinês a caminho do Japão, exigindo adequadas condições de alojamento e de formação. Alessandro Valignano (…) consciente de que seria necessário reforçar a retaguarda operacional, desenvolveu o projecto de construir em Macau um grande colégio, que complementasse o conjunto de edifícios que a Companhia já possuía no porto luso-chinês e que servisse de pólo aglutinador de todas as actividades desenvolvidas pelos jesuítas no Mar do Sul da China.”

“Como o ensino crescera até ao nível universitário, a 30 de Novembro de 1594, a Casa da Companhia de Jesus passou a denominar-se Colégio dos Jesuítas e ministrava a 60 alunos lições de Português e Latim, Artes, Casos e Teologia”, segundo Beatriz Basto da Silva, que refere, a 1 de Dezembro de 1594, “a escola criada pelos jesuítas passou à categoria de Colégio Universitário. O Colégio de São Paulo foi a primeira Universidade ocidental no Extremo Oriente.”

O primeiro passo de uma nova expansão missionária na China fora já dado pelos jesuítas Matteo Ricci e Ruggieri que inauguraram em 14 de Setembro de 1583 a missão católica em Zhaoqing, dois séculos depois da saída dos franciscanos aquando da chegada da Dinastia Ming ao trono do Celeste Império.

7 Jan 2020