Mortandade na Casa dos Expostos

[dropcap]O[/dropcap] decreto de 19 de Setembro de 1838 incumbia às municipalidades a manutenção dos expostos, mas nos livros e documentos onde consta despesas, o movimento dos expostos e a sua mortalidade entre os anos de 1857 a 1866, refere-se ter a Misericórdia de Macau despendido com a Casa dos Expostos em 1866 mais de um terço do seu rendimento, quando a seu cargo tinha ainda entre outros o hospício dos lázaros, hospital e presos pobres.

Existiam 45 expostos no primeiro dia de 1857 e nesse ano, das 293 crianças que entraram na Casa dos Expostos só vinte não morreram, mas em 1858, das 247 que entraram, faleceram esse número e mais 18. Desse biénio, 1857-58, restavam apenas duas crianças das 550, que tinham entrado e a despesa foi de $2,719.91. Nos anos seguintes, as percentagens da mortalidade e gastos na Casa dos Expostos mantiveram-se até 1866, quando o número de entradas subiu para 347 e dessas, 41 continuavam vivas, existindo assim 107 expostos a 31 de Dezembro. No entanto, as despesas só desse ano passaram para $2,280.62. O movimento total nos dez anos foi de 2286 expostos, sendo a mortalidade extraordinária, sem exemplo em parte alguma. Um relatório, publicado por volta de 1866 em Lisboa, apresentava a mortalidade média dos expostos em diferentes distritos de Portugal e dava como mínima 14,5% e como máxima 39,6%. Em Macau, nos dez últimos anos fora de 95,9%.

Os expostos eram quase todas crianças chinesas, a maior parte enfermas e muitas gravemente atacadas de doenças agudas, crónicas e contagiosas. Estas crianças ou eram expostas pelos próprios pais e parentes, quando tinham perdido a esperança de as curar, ou por pessoas religiosas que as solicitavam e compravam por uma insignificância com o fim de as tornar católicas. Este último facto dava lugar a serem essas infelizes criaturas consideradas uma nova espécie de mercadoria, pois havia indivíduos que se ocupavam em ir comprá-las nas ilhas próximas para as vender na cidade por maior preço. A tal ponto chegou este abuso que elas são geralmente levadas durante o dia e entregues ao porteiro do estabelecimento. A exposição clandestina tornou-se pois em exposição patente, sem nenhuma das suas condições. A torrente promete engrossar porque a alimenta um falso sentimento de humanidade e estamos cercados de povoações chinesas. [De lembrar estar-se no período do tráfico de cules e da regulamentação para a sua emigração.]

Já a mesa da Santa Casa de 1833 composta de pessoas cordatas desta cidade, entre as quais havia um respeitável sacerdote, foi de opinião que não se admitissem crianças chinesas na casa dos expostos. Finalmente, nenhum legado impõe à Misericórdia conservação da roda, havendo um único, insignificante, e de que existia em 1812 menos de metade, cujo testador destinou uma quantia para socorrer seus parentes pobres e outros necessitados, e só na falta destes os expostos. Julga a comissão desnecessário entrar em outras considerações a este respeito. Assim é o texto retirado do B.O. de 11 de Fevereiro de 1867.
De referir, na data de 31 de Dezembro de 1866 haver 79 crianças de leite e 29 desmamadas, todas chinesas.

A comissão

Ainda nesse B.O. n.º 6 de 1867, a Portaria mandada publicar a 8 de Fevereiro de 1867 pelo Governador José Maria da Ponte e Horta teve como base o relatório e recomendações de uma Comissão Especial. Esta fora nomeada a 8 de Novembro de 1866 e era presidida pelo governador do bispado Padre Jorge António Lopes da Silva, tendo o Dr. Lúcio Augusto da Silva como secretário, sendo o também médico Vicente de Paula S. Pitter, Francisco & Assis e Fernandes, e Eduardo Pio Marques os restantes membros da Comissão.

A portaria n.º 11 referia: Ao entregar o relatório ao Governador, a comissão encarregada de estudar as necessidades da Santa Casa da Misericórdia e de propor os melhoramentos que julgasse oportunos, desobrigou-se deste encargo, referindo, “A natureza complexa do objecto, a importância dos diferentes ramos de beneficência pública que ele abrange e todas as considerações que despertem os deveres desta caridosa instituição, filha da piedade dos nossos antepassados, levaram a comissão a ser escrupulosa no cumprimento do seu dever.

Dividindo o seu trabalho em duas partes, estudara na primeira, todas as fontes de receita e na segunda, as diferentes classes de despesa da Casa da Misericórdia. Assim reconheceu a situação actual deste estabelecimento, os abusos de longa data ali introduzidos e as reformas de que carece para poder exercer proficuamente a caridade.

A comissão entende que, para salvar de completa ruína este estabelecimento (Santa Casa da Misericórdia), convém em primeiro lugar abolir a roda, ou antes não admitir mais expostos, continuando porém a socorrer do mesmo modo os que existem.”

23 Mar 2020

Casa dos Expostos

[dropcap]P[/dropcap]ara os recém-nascidos não serem deixados em plena rua abandonados, foi em 1838 atribuído às Câmaras Municipais o encargo de os acarearem e promover a sua criação e à Mesa dos Enjeitados, também conhecida por Mesa dos Santos Inocentes, recolher as verbas para as despesas, mercê, principalmente, de esmolas.

A Santa Casa da Misericórdia de Macau, pelo menos desde o início do século XVII, tivera a seu cargo a Casa dos Expostos, chamada também dos Enjeitados, encontrando-se o hospício instalado na parte posterior do Cartório, bloco comum à Igreja, e de vistas para o claustro. Com fraca vigilância e sem acções de fiscalização exteriores durante o século XVIII, parecia abandonada, apesar de ter recebido cifra a atingir os três contos de réis, isto é, 3000 taéis, segundo uma representação de 1789 à Rainha.

“Os poucos dados conseguidos mostram, naqueles anos, a existência média à roda de 120 crianças; às amas pagavam 2 máses (7 gramas) de prata e 30 catis (um pouco mais de 18 kg) de arroz, por mês. As amas gozavam ainda a regalia de mestre curandeiro chinês, que, por avença para pela Casa, as ia tratar quando necessário. As recebiam 1 a 2 taéis (1 tael = 37,799 g) de prata por mês, sem direito a arroz, mas parece ter sido corrente tomarem à sua conta, mais de um exposto, com a paga equivalente.

Para despesa total, já em pleno período de restrições (início do século XIX), apura-se ser ainda entre 1600 a 1800 taéis por ano, mais ou menos de acordo com a média do 1% indicada pelo Ouvidor Arriaga para a cobrança na alfândega, verba, porém, reputada insuficiente. Em todo o caso é de frisar quanto tal despesa era, ao tempo, ligeiramente superior à do hospital dos enfermos”, segundo o médico José Caetano Soares (JCS), cujas suas informações nos socorrem neste artigo.

Em Portugal, no alvará de 18 de Outubro de 1806, tornado extensivo ao Ultramar, o assunto dos expostos merecera atenção especial: «Determino que em todas as Misericórdias, nas eleições anuais se eleja um Irmão para Mordomo dos ditos Expostos. Para que esse piedoso estabelecimento (Casa dos Expostos) não venha a ofender os bons costumes, que as justiças obriguem as mulheres solteiras, que se souber andam pejadas, a darem conta do parto, a pagarem a criação e tomarem conta dos seus filhos. Quando, porém, aconteça haver um parto secreto e se recorra ao Provedor da Misericórdia ou ao Mordomo dos Expostos, serão eles obrigados a prestar o socorro pedido, procurando-lhe uma mulher morigerada (de bons costumes) que em segredo assista ao parto, fazendo conduzir o exposto à roda, ou entregando-o a uma ama, que o crie… sem que se indague a qualidade da pessoa, nem se faça acto algum judicial, de que se possa seguir a difamação.» Arquivo das Missões.

“O uso em que estão os moradores, ou mais suas mulheres, de comprarem raparigas que os chineses vendem com facilidade, principalmente, havendo carestia de arroz e mandar lançá-las na roda, não tendo o problema nada de peculiar em Macau, era preciso pôr um termo a isso. De causas diversas, desde as de natureza económica, até às de ordem moral, mais ou menos ligadas à frouxidão de costumes ou à libertinagem, esse aspecto da ilegitimidade dos filhos levaria a admitir o desumano conceito de tolerar o abandono dos recém-nascidos, mormente pela mãe”, segundo o JCS.

Em 1811, mereceu atenção do Desembargador Miguel de Arriaga que comunicaria, também, à Secretaria de Estado: Há na Misericórdia a administração deste pio Instituto (Casa dos Expostos) socorrido pelos réditos dos legados deixados pelos benfeitores com essa aplicação, a que acresce a anual consignação de 2% (?) tirados da alfândega sobre as fazendas grossas.

A Portaria-Circular de 1834 mandava pedir: Exposição circunstanciada do estado em que existem os estabelecimentos dos Expostos, com indicação do número que anualmente recebem, vencimentos das amas, quanto tempo dura a criação de cada um, que destino recebem ultimados da sua criação, se há edifícios em que estejam todos reunidos e quanto se deve às amas… A Portaria foi recebida em Macau, mas se teve resposta da mesa, não foi encontrada.

Manifesto contra a Roda

“Pelos elevadíssimos índices de mortalidade, dessas Casas de Expostos, a que outras razões, tanto morais, como até materiais, traziam extraordinário agravo, passou a tornar-se mais opressivo o mal-estar e o geral descontentamento, até que em 1853 o Dr. Tomaz de Carvalho, professor ilustre da Escola Médica de Lisboa, rompeu na com a memorável campanha – .

A grande autoridade do seu nome, bem apoiada nos elementos colhidos na maternidade do Hospital de S. José, a pouco e pouco transformada em antecâmara da Roda e, acima de tudo, o desassombro de quem se sente forte na luta por uma causa justa.

Não obstante o apoio, logo recebido, tanto da Imprensa, como mesmo das instâncias governamentais, só em 1866, ainda parcialmente, e, por fim, em 1876 foi possível abolir de maneira definitiva o sistema da Roda”, segundo escreve José Caetano Soares.

16 Mar 2020

Roda dos Enjeitados

[dropcap]E[/dropcap]m Macau há assuntos a merecer estudo, mas, fôssemos como os académicos da cidade nossa vizinha região administrativa, apenas interessaria investigar os que poderiam comprometer os adversários, para vangloriar os nossos. Quando a meio do estudo se apercebem estar os seus padres ainda mais enlameados que os nossos, desinteressam-se do tema, deixando-o cair no esquecimento. Essa era a nossa vontade se não achássemos relevante a história da Casa dos Expostos, também chamada Casa dos Enjeitados. Sendo os registos escassos sobre as fases da sua existência, onde falta muita documentação, socorremo-nos das informações compiladas por o médico José Caetano Soares (JCS) e complementamos com as do Boletim Oficial.

Vulgarmente denominada Roda, pois era a maneira como os recém-nascidos entravam no hospício através de uma rotativa porta, sem ninguém ficar a saber quem ali os colocara, assim eram deixados ao cuidado da Santa Casa da Misericórdia. Uma Regente tomava conta da Casa dos Expostos e “respondia por tudo, desde a admissão dos recém-nascidos, até ao recrutamento das amas, seu pagamento, etc., sem nenhuma entidade fiscalizadora”, refere JCS.

Nos inícios de 1867, o Governador José Maria de Ponte e Horta assustou-se ao saber da morte no espaço de um mês de 38 das 46 crianças de leite recolhidas na Casa dos Expostos. Após aí serem abandonadas, a Regente entregara-as ao cuidado de amas, pagas a uma pataca por cada cria para delas cuidar e as amamentar. As falecidas, primeiro foram levadas à Casa dos Expostos e dali mandadas sepultar pela Regente, criando grande azáfama ao chinês que tratou de as enterrar. Assim, um a um dos 38 cadáveres foi transportado na caixa comum pelo chinês para o cemitério público, o qual abria naquela mesma ocasião uma pequena cova, com licença ampla do encarregado do cemitério. Sem cerimónias conduzidas pelo respectivo pároco, foram sucessivamente sepultadas, regressando o portador de volta com a caixa vazia para a Casa dos Expostos, onde a depositava para servir em idênticas ocasiões; e por isso levou o nome de caixa comum.

Das oito crianças ainda sobreviventes, todas do sexo feminino, encontravam-se duas cachéticas (raquíticas, ou doentes de cachéxia, enfraquecimento geral do corpo humano) e cinco afectadas de doença de pele, falta de limpeza e em má nutrição. A outra estava num estado tão deplorável e repugnante que não se encontrava quem a quisesse amamentar.

Inteirado do estado dessas criaturas, privadas de leite e colo materno para serem baptizadas e depois entregues a mercenárias que se denominavam amas, o Governador pediu à justiça de Macau para proceder sem detença contra os infractores e ao comandante da polícia, que fizesse entregar sem perda de tempo aos cuidados da SCM as restantes oito crianças, pois estas continuavam ainda com as suas sete amas. Mas antes disso, fossem as cinco inspeccionadas por o cirurgião-mor. À criança que ninguém queria amamentar foi-lhe dado leite de vaca e começou a recuperar.

Assim, segundo Luiz Gonzaga Gomes, a 2 de Fevereiro de 1867 “o Governador José Maria de Ponte e Horta decretou, por prejudicial aos costumes da sociedade, a abolição da Roda dos Expostos da Santa Casa da Misericórdia de Macau e proibiu a esta instituição o recolhimento das raparigas abandonadas.” Refere Beatriz Basto da Silva, “O Decreto entrou em vigor a 8 do mesmo mês e ano, devendo no entanto a Santa Casa continuar a tratar dos enjeitados que tinha a seu cargo nessa data. Como a Portaria não conseguiu deter a prática, a ‘Roda’ deixou de existir, mas as crianças abandonadas à porta da Santa Casa continuaram a ser recebidas.”

Os desamparados

“O recém-nascido deposto em segredo, sem qualquer esboço de inquirição e até fora da vista, conforme muito assim facilitava a roda conventual, a coberto de usos e leis na aparência com fins benemerentes, mas que tragicamente repudiavam os mais elementares deveres maternais e não menos tolhiam ao filho o legítimo direito de sangue ou sequer do nome”, segundo JCS, que refere, “Para Macau e em tal matéria haveria só a esperar reforço quanto a números, desde que entre chineses a prerrogativa de garantir o nome continuador da família, foi sempre exclusiva ao elemento masculino, portanto, as filhas mais nas classes baixas ou de situação económica difícil, não contavam e podiam ser legalmente transaccionadas. Mas mesmo no nosso próprio meio, pelo convívio de numerosas escravas e com aquele trem de vida, bastante folgado ou ocioso, as condições não seriam as mais propícias a fortalecer os grandes atributos de virtude e castidade. Assim se engrossava, também, outro mal – o da mendicidade – como por volta de 1772-3 o Governador Salema de Saldanha expunha em carta ao Bispo D. Alexandre.”

A data do início da Casa dos Expostos é impossível de apurar, mas já o compromisso de 1627, no Cap. XXIII , incluía a disposição: Em conjunto com os dois hospitais, esse hospício recebia um subsídio, que a ninguém repugnava, proveniente do 1% cobrado nos direitos de Cidade sobre as fazendas grossas.

“Donativo idêntico, fixado mais tarde em 1%, também sobre as fazendas grossas entradas na Cidade, seria do mesmo modo atribuído às freiras de St.ª Clara, que por ajuste de 1692, em que interveio o Bispo D. João de Casal, o Provincial de S. Francisco e o Senado assentaram <dar-se, pontualmente, esse 1% estando as freiras obrigadas a receberem sem dote, cada cinco anos, uma filha de Morador>. De lembrar ter sido a Cidade do Nome de Deus na China criada por alevantados mercadores, que a trespassaram para mãos régias devido ao comércio com o Japão. Quando este ficou proibido, regressou Macau ao privado trato gerido pelo Senado e se cada viagem realizada valia ao dono da embarcação uma verdadeira fortuna, bastava um naufrágio para arruinar em dívidas o proprietário e afundar haveres e vidas, deixando viúvas e órfãos desamparados.

A carta do Governador Salema de Saldanha refere:

Enjeitados e raparigas órfãs receberam no século XVIII descuidada atenção e ínfimos recursos devido ao estado de decadência de Macau.

9 Mar 2020

Macau e a sua população em 1867

[dropcap]E[/dropcap]m 1810 residiam em Macau 3018 portugueses ou luso-descendentes (1172 homens e 1846 mulheres), 1025 escravos (425 homens e 600 mulheres), sem incluir padres e militares, segundo Almerindo Lessa, que refere, para 1822 haver 4215 cristãos (977 homens, dos quais apenas 604 maiores de 14 anos, 2701 mulheres e 537 escravos) e 8000 chineses, alguns vivendo já à europeia. Em 1825, os chineses eram 18 mil, número que em 1829 aumentou para 40 mil, dos quais 6090 já cristãos. No ano seguinte os chineses convertidos dobraram, apesar de terem diminuído em número e sem incluir a tropa, em Macau viviam 3351 europeus ou descendentes (1202 homens e 2149 mulheres), 1129 escravos (350 homens e 779 mulheres) e 148 de outras raças (30 homens e 118 mulheres). Em 1834, Macau contava apenas 90 pessoas nascidas em Portugal, sendo 1530 o número de mestiços, 2700 mulheres cristãs de várias raças e cores, 180 soldados canarins e 18 mil chineses, que pouco aumentaram em 1841, havendo 4788 europeus (portugueses, ingleses, holandeses, alemães, franceses, belgas, escandinavos e norte americanos) entre eles 580 homens, 2151 mulheres e 157 escravos. Existiam então 1770 fogos.

De década para década na cidade os chineses dobravam em número e em 1860 chegavam aos 80 mil, numa população de 85.470 habitantes, composta também de parses, mouros e cristãos novos. Portugueses e macaenses eram 5239 almas, concentradas na cidade intramuros, onde a zona do Bazar já aí estava inserida.
Hong Kong, que desde 1841 tinha sido entregue aos britânicos como paga da derrota chinesa na Guerra do Ópio, foi-se desenvolvendo rapidamente como cidade mercantil devido ao seu excelente porto de águas profundas, levando muitos dos residentes de Macau, atraídos por factores económicos, a mudarem-se para lá. Assim, chegados a 1867, a população de Macau contava, segundo Almerindo Lessa, “com cinco mil portugueses, 56.252 habitantes chineses, sendo 48.617 da província de Kuangtung, 5723 de Macau e 1797 de Fukien e aí viviam ainda sessenta famílias inglesas (17)” [estes 17 refere-se aos número de fogos], espanholas (29), italianas (3), francesas (4), peruanas (4), americanas (3), prussianas (3), holandesas (1) e chilenas (1). Nesse ano, na cidade existiam 762 fogos (casas) de portugueses, dos quais, 419 na freguesia da Sé, 263 na de S. Lourenço e 80 em Santo António. Havia ainda 8819 fogos chineses e o número de almas que neles habitava, somando com os criados chineses que se achavam servindo e pernoitando em casas de moradores portugueses e de diversos estrangeiros residentes, bem como os colonos e empregados nos estabelecimentos de emigração chinesa que, por vários motivos, não foram incluídos nos fogos, elevava o total da população chinesa a 56.252 pessoas, segundo o recenseamento de 1867.

Fogos e vias públicas

Na cidade cristã, nas 2672 casas chinesas habitavam 20.177 (do sexo masculino 11.781 e do feminino 8396 e desses, 948 eram menores de 12 anos); no Bazar, nas 2639 casas chinesas viviam 14.573 (masculinos 11.259 e femininos 3314 e desses, 264 menores); na povoação do Patane, em 1387 fogos residiam 8481 (3563 masculinos e 4918 femininos e entre esses 304 eram menores); na povoação de Mongh’a, existente antes de os portugueses chegarem a Macau, havia 353 habitações com 8182 chineses, (2391 masculinos e 5791 femininos e desses 1466 menores); na povoação de S. Lázaro, com 568 fogos viviam 2590 chineses (1113 masculinos e 1477 femininos e entre eles 195 menores), sendo onde habitava a maioria dos chineses convertidos ao Catolicismo; na Serra da Penha e sítio denominado Tanque Mainato estavam construídas 84 habitações onde se encontravam 533 chineses (313 masculinos e 220 femininos e desses 48 eram menores); na povoação da Barra para os 1716 chineses (1029 masculinos e 687 femininos e entre esses, 162 menores de 12 anos) havia 330 casas.

Segundo Manuel de Castro Sampaio, chefe da Repartição de Estatística de Macau, as multidões de chineses que diariamente se viam pelas ruas, sobretudo do Bazar [nessa altura aí se ultimava a construção das suas cem vias públicas], podiam suscitar a ideia de uma maior população que os 56.252 chineses a aqui residir.

Porém, grande parte dessas multidões era de chineses das ilhas circunvizinhas, pois naturais de Macau eram apenas 5723, sendo os restantes de Hong Kong 13, de Xangai 39, da província de Guangdong 48.617, da província de Guangxi 63 e da província de Fujian 1797. A exiguidade do número de chineses de Macau devia-se a estes se acharem principalmente em Cantão, nas colónias britânicas de Hong Kong e Singapura e em algumas ilhas da Malásia. De admirar era a tão grande desproporção entre os chineses de Guangdong e os de Guangxi, já que desde o reinado do Imperador Kang Xi ambas eram administradas e governadas pelo mesmo vice-rei, mas tal se devia a grande parte serem cantonenses provenientes da ilha de Heungshan, ligada pelo istmo a Macau. Os de Fujian, a maioria eram de Chincheu, uma das mais importantes cidades daquela província e onde os portugueses tiveram um estabelecimento comercial arrasado pelos chineses em 1549, oito anos antes da fundação de Macau.

Também muitos dos chineses que percorriam a cidade, 15.590 habitavam a bordo das 2471 tancás, lorchas, taumões e outras embarcações pertencentes a Macau e estacionavam no Rio do Oeste e no mar, em frente à Baía da Praia Grande. Diariamente vinham à cidade para tratar de negócios e retiravam-se ordinariamente logo que os tivessem concluído.

Quanto a haver maior número de habitantes chineses na cidade cristã do que no Bazar, em ambas a população masculina era semelhante, estando a diferença no sexo feminino. Tal devia-se, como acima foi referido, a serem eles criados que serviam e pernoitavam em casas de portugueses e de estrangeiros, bem como colonos e empregados nos estabelecimentos de emigração chinesa. O Bazar era quase exclusivamente habitado pelo sexo masculino e exemplo disso a Rua Nova d’ El-Rei, a mais populosa do Bazar, que tinha 1184 habitantes do sexo masculino e apenas 26 do feminino. No entanto, no Patane, em Mongh’a e em S. Lázaro havia mais mulheres do que homens.

Das 180 vias públicas da cidade cristã, apenas em 16 não existiam inquilinos chineses, sendo muitas das outras habitadas somente por eles, que em grande parte viviam quase tão aglomerados como no Bazar.

Em 1867, Macau contava com 526 vias públicas, havendo três praças, 18 largos, 105 ruas, 28 calçadas, 23 vielas, 112 travessas, oito escadas, 149 becos, 76 pátios, quatro praias [duas na cidade cristã, uma no Tanque do Mainato (na freguesia de S. Lourenço) e outra em Mong Há], duas ribeiras, a do Patane e a da Barra, para além de várzeas, campos e hortas, existindo ainda aterros, não fosse a península de Macau formada por sedimentação das areias do Rio Oeste (Xijiang) e do Rio das Pérolas (Zhujiang) trazidas pelo Mar do Sul da China.

2 Mar 2020

O Fok Tak Chi da Avenida António Sérgio

[dropcap]H[/dropcap]oje, dia 2 da 2.ª Lua celebra-se o aniversário de Tou Tei.
Em Macau encontram-se nichos com o Tou Tei em toda a parte, uns pequenos colocados ao nível do chão na entrada de lojas e habitações, que actualmente tem vindo rapidamente a desaparecer, e outros em pequenos pavilhões, muitos estranhamente situados pois fora do alinhamento das ruas. Há ainda pequenos edifícios feitos para albergar o deus da terra (Tou Tei) em quase todos os bairros de Macau e o único que não tem creio ser S. Lázaro. Dois dos mais interessantes pequenos templos na península de Macau situam-se na Rua da Barca da Lenha e na Rua do Patane.

Já os três principais templos são, o Tou Tei miu do Largo do Pagode do Patane, o Fok Tak Chi na Rua de Tomás da Rosa, no bairro da Horta da Mitra e o Templo da Felicidade e da Virtude da Avenida do Almirante Sérgio, entre os prédios 131 e 133. É sobre este último que aqui vamos escrever, através do que lemos da folha entregue pela senhora Va, que dele toma conta.

Sendo o maior templo a Fok Tak em Macau, foi construído em 1868, sétimo ano do reinado Tong Zhi (1862-1874), após o governo português, por Portaria Provincial de 8/2/1867, ordenar que fossem ultimados os aterros que iam das Portas do Cerco até à Barra. Dava-se preferência aos proprietários locais, anteriores residentes nessa margem do Rio Oeste, que os quisessem aproveitar, retirando-lhes se os não ultimassem, ou exigissem um prazo excessivo para o fazer. Nesse local existira já um pequeno templo, como se constata no Edital de 29/10/1828, quando o mandarim de Heong-San proibia ao português Miguel Benvindo continuar as obras efectuadas à esquerda dum pequeno templo e à direita duma misteriosa pedra, denominada de Manduco, assim chamada devido a uma rocha aí existente e que pelo bater das águas parecia o coaxar das rãs, ou manducos, como são conhecidas em Macau as rãs grandes de água doce.

Segundo o Boletim da Província de Macau e Timor de 24/2/1869: “Em Macau o aterro do rio, para o lado da Barra, acha-se já unido ao terreno do Pagode chinês, de sorte que hoje as povoações da Barra e Patane se acham em comunicação pela estrada marginal.”

A zona da Praia do Manduco, sendo de grande actividade comercial, estava já toda ocupada com estabelecimentos e casas de habitação. Arranjou-se então um pequeno espaço (que pela localização acima referida era a do anterior templo) e aí os locais decidiram mandar construir o templo a Fok Tak. Por isso, o geomante que decidiu sobre a sua construção teve pouco espaço de manobra, pois os habitantes queriam rapidamente o templo para os ajudar a fazer bons negócios.

Num artigo anterior referimos ser Fok Tak (Fu De) o nome dado em algumas províncias da China aos locais deuses da terra, que se tornou também o Deus da Riqueza devido a propiciar prosperidade a quem homenageava o falecido Zhang Fu De (张福德, 1044-973), cujo nome de cortesia era LianHui (濂辉). Oficial cobrador de impostos durante a dinastia Zhou do Oeste foi muito querido da população pela sua honestidade e bondade e por isso, após a sua morte espalhou-se a fama de proporcionar prosperidade a quem lhe oferecia sacrifícios.

Nos três primeiros anos, as pessoas, que ofereceram dinheiro para a construção do templo, foram muito ajudadas pela divindade Fok Tak, correndo muito bem os negócios, levando muita gente a aí se dirigir para lhe pedir ajuda. Mas depois começaram os problemas devido ao fong-soi (Feng Shui) do templo. Um tufão ao passar por Macau em 2 de Setembro de 1871 levou-lhe todo o telhado, mas as casas ao lado não sofreram nada; algo muito estranho. Então as pessoas facilmente deram dinheiro para a sua reconstrução.

O Templo da Felicidade e da Virtude da Avenida do Almirante Sérgio têm o ancião Weiling como o deus local da terra, cuja estátua no nicho principal é a única em Macau do Tou Tei com o tamanho de uma pessoa, sendo mesmo a maior existente na cidade; está sentada e é feita de madeira, que foi dourada.

Outras são as divindades aqui adoradas, onde não poderia faltar Tin Hau, não estivesse o templo outrora junto à água de um dos ramais do Xijiang.

Apresenta também um incensório em cobre de 1827, sétimo ano do reinado do Imperador Daoguang da dinastia Qing, sobre uma mesa de sacrifício do ano de 1868, uma das vinte mesas que no templo existiram. Já na última visita, encontramos na parede um papel encaixilhado onde o Instituto Cultural referia ter dali levado cinco peças do espólio, uma mesa, um carimbo em madeira, duas caixas onde os deuses Ziwei e Guan Yi se encontravam protegidos, assim como um tchim t’ông, recipiente cilíndrico de bambu onde são colocados dezenas de pauzinhos numerados, os tchôk tchim.

Festa de Panchong Grande

No B.O. de 1867 há uma pequena referência à Festa do Panchão Grande realizada no largo da Fonte do Lilau, mas uma das primeiras descrições sobre a festividade aparece num jornal de 1873. Ocorrida em Macau no dia 2 da segunda Lua, era então o deus da terra chamado deus penate, numa alusão ao Deus romano do Lar e da Família.

Celebrada pelos chineses em vários quarteirões da cidade, era-lhe então dada o nome popular de Festa de Panchong Grande, talvez devido à longa tira de cartuchos de pólvora, o panchão grande, que aceso, interminavelmente vai estourando e provoca um imenso estardalhaço com uma intensa fumarada.

A crónica referia: “Houve este ano grande emulação entre os festeiros, que se esmeraram principalmente em fazer longas e pomposas procissões, acompanhadas de muitas bandas de música, grandes bandeiras, lindos quadros e bailéus, em cima dos quais apareciam meninos e meninas representando vários episódios da mitologia chinesa, sendo o mais notável deles em que uma menina parecia estar de pé sobre um leque aberto, pois o ferro que sustentava a criança estava tão bem escondido, que fazia uma completa ilusão aos espectadores.

Os chineses levam a origem desta festa aos tempos imemoriais, e não há casa nem família alguma que não tenha o seu deus penate, em honra do qual queima em certos dias da lua pivete e velas de cebo.
Deu-se em Macau a esta festa o nome de panchong grande por queimarem por essa ocasião grandes petardos e muitos foguetes.

Os chineses entusiasmam-se e dão muito dinheiro para as despesas da festa, porque julgam que quanto maior for a pompa e mais estrondosa for a festa, mais felizes serão os festeiros, os quais além disto se esforçam à porfia para apanharem o resto dos foguetes depois da explosão, porque encontram nisso um bom agouro.

Cada quarteirão da cidade faz a sua festa em separado; as diversas comissões dos festeiros esforçam-se para sobressaírem uns aos outros, e com isso gasta-se uma grande quantidade de dinheiro.

Há em Macau dois pagodes especialmente destinados aos deuses penates, um em Sankio, e outro na Praia do Manduco, e por isso são muito concorridos nestes dias, tanto por homens como por mulheres.
Festa onde não entram os bonzos, porque não têm ligação com as religiões de Fo [Budismo] e Tau.”

24 Fev 2020

Já há tratamento contra o corona vírus

[dropcap]O[/dropcap] mundo acordou para um problema sério de saúde pública, quando o governo chinês declarou existir em Wuhan uma epidemia de um novo tipo de vírus de gripe. Estava-se em plena celebração do Ano Novo Chinês, o que apanhou mais de mil milhões de pessoas em movimento para irem à terra festejar, levando as autoridades chinesas a lançarem um alerta na tentativa de suster a propagação do Corona vírus (Covid-19), denominação dessa nova gripe, que apesar de ser mais contagiosa que a SARS se revelava menos fatal. Até então, pouco se sabia sobre o meio de contágio e só pessoas idosas com problemas graves de saúde tinham falecido. Mobilizados os médicos de medicina ocidental, os resultados foram, no entanto, desmoralizadores e como foi dito não existir nenhum medicamento para tratar, as pessoas ficaram verdadeiramente assustadas.

Nas redes sociais, os “médicos” de Medicina Tradicional Chinesa (MTC) apresentavam sugestões de tratamentos, referindo existir já desde a dinastia Ming (1368-1644) a explicação do que estava a acontecer no livro Wenyi Lun (温疫论, On Plague Diseases) escrito por Wu You Ke (吴又可). Este médico referia que em 1641 aparecera uma peste nas províncias de Shandong, Henan e Zhejiang que originou a morte de muitas pessoas, levando-o a deslocar-se ao terreno para tentar curar os infectados e procurar as razões de tão grande mortandade. Descobriu que a maioria ficara doente não por causa do vento, frio, calor, humidade, secura ou calor interior, mas porque entre o Céu e a Terra havia uma energia (qi) anormal para a época do ano, que criava problemas ao ser humano e se transmitia pelas pessoas através da respiração e pelas mãos.

Quem era apanhado por essa má energia (疫气, yi qi ou疠气, li qi), primeiro sentia muito frio, depois febre, dores de cabeça e dores por todo o corpo, aparecendo problemas de estômago, com vómitos e diarreia. O médico questionava-se: Constatou tal dever-se ao poder de resistência de cada um, actualmente reconhecido por imunidade. Registou no livro todas as etapas da doença e para cada uma delas deixou escritas as fórmulas das receitas para as tratar.

Ano GengZi

O actual surto aparecera várias vezes na História e já o livro dos livros da Medicina Chinesa, “Tratado de Medicina Interna do Imperador Amarelo” (Huang Di Nei Jing, 黄帝内经), do século III a.n.E., referia que no final do ano de Ji Hai (己亥, Ano do Porco) o último dos seis Qi (energia) do ano [correspondente aos cinco últimos termos solares do Calendário do Agricultor (农历, Nong Li), que compreende o período entre Xiaoxue (Leve nevão) e Dahan (Grande frio), e em 2019 ocorre entre 22 de Novembro e 20 de Janeiro de 2020], tem o Inverno mais quente que o normal, provocando o desabrochar antecipado das plantas e o despertar dos animais que se encontram a hibernar. A água, ao contrário do normal, não congela e também antecipando a Primavera, o qi proveniente da terra começa a crescer. O corpo do ser humano por este anormal qi facilmente apanha Wen Li (温厉, febre sazonal/doenças patológicas febris).

Ligado com o corpo do ser humano, o qi interior é guardado no Inverno, que este ano mais pareceu ser Primavera e por isso, o nosso corpo abriu mais cedo, desprotegendo-se, deixando o frio entrar facilmente, a provocar a doença sazonal de febre (Wen Li). Esta constipação com tosse se durar longo tempo entra directamente nos pulmões [pois o interior Fogo (o mau qi, ou li qi, 疠气) controla o Metal (pulmões)]. Tal ocorreu até ao termo solar Dahan (Grande frio) a 20 de Janeiro de 2020, quando se estava no período do sexto qi.

Segundo Huang Di Nei Jing, ao mudar do último qi do ano Ji Hai (己亥, Ano do Porco) para o primeiro qi do ano Geng Zi, (de 20 de Janeiro a 20 de Março de 2020, entre os termos solares Dahan a Chunfen) o qi controla (está contra) yun [normalmente deveria ser o Céu a controlar a Terra (Yun controla o qi)], significando um ano com grandes oscilações no clima, sendo a Primavera mais fria do que é normal, parecendo estarmos no Inverno e por isso se sente o frio a chegar e os animais voltam a ir dormir, a água gela e o vento torna-se mais forte e tudo isto controla o yang do qi. Assim pode-se prever a partir de agora a chegada de constipações e gripes devido ao frio que vêm substituir a anterior febre provocada pelo calor antecipado.

Evite comer e beber em excesso, não ingira alimentos frios, nem ácidos e sem estarem cozinhados. Não esteja muito tempo sentado, evite gastar a sua energia em sexo e deite-se cedo. A saúde do seu corpo tem a ver com a força do seu qi. Não importa o quão complicadas são as mudanças patológicas das doenças, pois todas estão incluídas na predominância ou declínio do yin e yang.

Pela Teoria do Wu Yun Liu Qi, que num próximo artigo iremos falar e aqui ficou ao de leve explicada, a epidemia do coronavírus estará controlada nos finais de Fevereiro.

Pelo Yi Jing, fogo e trovão são os elementos para controlar esta epidemia e foram eles usados nos símbolos dos dois hospitais construídos em poucos dias em Wuhan para albergar esses doentes.

Como últimas notícias, a 3 de Fevereiro, em Wuhan aos pacientes infectados que se encontravam nos hospitais foi dado beber um chá preparado pela fórmula do médico Professor da Universidade de Medicina Tradicional Chinesa de Beijing, Tong Xiaolin (仝小林院士). Em Guangzhou, a equipa do médico académico Zhong Nan Shan (钟南山) apresentou a 5 de Fevereiro uma fórmula preparada à base da MTC para prevenir e tratar esta gripe, especialmente para os habitantes de Guangdong.

19 Fev 2020

Os Pagodes de Macau em 1867

[dropcap]E[/dropcap]m 1867 reina na China o oitavo Imperador Qing, Tong Zhi (Mu Zong, 1862-1875), enquanto, desde 1861 em Portugal o Rei D. Luís (1838-1889), o Popular.

O Governador da Índia é pela segunda vez José Ferreira Pestana (1864-70), cargo que exercera já entre 1844 e 1851, quando a 20 de Setembro de 1844 retirara Macau da subordinação a Goa, mas pela Reforma Ultramarina de 1863 voltara a cidade a ficar integrada no Estado da Índia. “Em Macau, com a ligação a Goa, o peso da máquina burocrática aumentou, cavando-se um fosso cada vez mais evidente, perante a descentralizada prática e alada prosperidade de Hong Kong”, segundo Beatriz Basto da Silva. Em 1864 a cidade começara a modernizar-se com a sua iluminação, sendo dados nomes às ruas e números às casas, havendo já uma regulamentação urbanística com o cadastro de todas as ruas divididas pelas zonas da cidade, freguesias da Sé, S. Lourenço e Sto. António e o Bazar, assim como das povoações da península fora da muralha da cidade. As muralhas estão a ser desmanteladas para permitir rasgar novas ruas e colocar canos de esgoto. O Governador de Macau é desde 26 de Outubro de 1866 José Maria da Ponte e Horta (1866-1868).

Os Templos

Macau em 1867 tem doze pagodes, encontrando-se três no Bazar, dois em Patane, seis em Mongh’a e um na povoação da Barra, o Templo de A-Má (a deusa Neang Ma) construído em 1488 e onde habitam dez bonzos, dos 26 que vivem em Macau. Quatro desses 26 bonzos acham-se suspensos do exercício de seu culto, residindo um no Bazar e os outros três nas hortas de Patane. Para os doze pagodes existem 40 empregados e na cidade há 39 benzedeiros.

Na área do Bazar, dos três pagodes um é “Weng Neng Fong”, local de reuniões dos mercadores chineses que formam a Sociedade Weng Neng (Weng Neng Se) e conhecido por Sam Kai Vui Kun. Sam Kai significa Três Ruas referentes à Rua dos Mercadores, Rua das Estalagens e Rua dos Ervanários e fora construído entre 1665 e 1671, antes da proibição do comércio marítimo que em 1684 foi removida. Até 1792 era também o local onde os mandarins de Heungshan se reuniam, quando estes passaram para o templo Lin Fong, continuando a ser o local de reuniões dos comerciantes chineses. Em 1913, após o estabelecimento da Câmara do Comércio de Macau, o templo perderá as funções originais e tornar-se-á o Templo de Kuan Tai, dedicado ao Deus da Guerra e da Saúde, achando-se na actual Rua Sul do Mercado de S. Domingos.

O segundo pagode do Bazar é o Templo de Lin Kai, na actual Travessa da Corda, construído por volta de 1740 atrás do riacho de Lotus, que nasce próximo do actual Jardim da Flora, na parte Leste do Monte da Guia e corre pelas actuais Rua da Barca e Rua de João de Araújo até ao Porto Interior. Por volta de 1830 foi reconstruído, mas o tufão de 22 de Setembro de 1874 causar-lhe-á muitos estragos e por isso será reconstruído e ampliado.

Já o terceiro pagode do Bazar é o Templo de Hong Kun construído antes de 1860 e localiza-se na actual Rua 5 de Outubro, no Largo do Bazar.

Os dois pagodes de Patane são, o Fok Tak Chi construído em 1836 na actual Rua do Patane n.º 34, que será reconstruído em 1895. Serve como sala de convívio e de reuniões aos residentes da zona, funcionando também como escola. O segundo é o Tou Tei Miu, no Largo do Pagode do Patane, entre a Rua da Palmeira e a Rua da Pedra, construído pelos seus residentes no reinado do Imperador Qianlong (1736-1796), mas essa data crê-se ser referente apenas ao actual edifício.

Em Mongh’a existe o Templo Cihu (vulgarmente chamado Pagode Novo), situado na parte Norte da Colina de Mong Há, que em 1722 passara a ter esse nome após o anterior aí existente, o Tin Fei miu, construído entre 1573 e 1619 na dinastia Ming, ter sido ampliado com novas extensões. É o lugar onde se hospedam os oficiais mandarins quando vêm a Macau e a 3 de Setembro de 1839 o comissário imperial da dinastia Qing Lin Zexu, na sua visita de inspecção a Macau, aí teve um encontro com os governantes portugueses da cidade. Nele em 1867 vivem seis bonzos. O nome de Templo Lin Fong será dado no reinado do Imperador Guangxu (1875-1908).

Já na Rua dos Pescadores existia num pequeno promontório um altar à deusa A-Má, quando em 1865 aí foi construído o Tin Hau Seng Mou Miu (templo da Deusa Rainha Celestial), também conhecido por Pagode de Ma Kau Seak.

Por fim, na actual Avenida Coronel Mesquita existem quatro pagodes, o Kun Iam Miu construído durante o reinado do Imperador Tianqi (1620-27) na parte Sudeste da montanha de Mong Há e em 1867 está a ser reconstruído e ampliado. Ao lado deste, em construção está o Templo de Seng Wong com a finalidade de os mandarins de Mong Há terem uma sala para reunir no primeiro e décimo quinto dia do mês lunar com o seu homólogo Deus Seng Vong.

O Kun Iam Tong, ou Pou Chai Sim Un, edificado em 1632, apesar de muitos dos edifícios datarem de 1627, data gravada num dos altares de pedra, terá inúmeros aumentos entre 1689 e 1692. No pátio do templo existe uma mesa redonda de granito onde a 3 de Julho de 1844 foi assinado o Tratado de Wanghia entre a China e os EUA. O templo em 1867 está a ser ampliado e aí vivem seis bonzos.

Ao seu lado, dedicado ao Deus Hong Kong (康公) o Templo Hóng Chan Kan, ou Hóng Kông Miu, construído em 1792 e no reinado de Daoguang (1820-1850) fora ampliado.
Estes são os pagodes de Macau em 1867.

17 Fev 2020

Zhang Fu De tornou-se Tu Di Gong

[dropcap]O[/dropcap] deus da terra, (土地) Tu Di em mandarim e em cantonense Tou Tei, é em Fujian, Guangdong, Hunan, Jiangsu e Jiangxi conhecido através dos tauistas Zhengyi por Fok Tak (福德, Fu De), enquanto nas restantes províncias da China é designado por Tu Di. Para Fok (福, Fu) temos o significado de felicidade e para Tak (德, De), virtude. Informação obtida ao visitar o templo do deus da terra Fok Tak Chi na Avenida do Almirante Sérgio, quando questionamos sobre a diferença entre Tou Tei e Fok Tak a senhora Va, encarregue do templo. Deslocando-se ao edifício do lado, o Centro de Lazer e Recriação dos Anciãos da Associação dos Residentes do Bairro da Praia do Manduco, foi buscar uma folha escrita em chinês que nos passou para as mãos. Traduzida, ficamos a saber quem era a personagem histórica que deu origem à divindade Fu De.

Durante a dinastia Zhou do Oeste (1046-771 a.n.E.), no segundo ano do reinado do Rei Wu, em 1044 a.n.E. nasceu Zhang Fu De (张福德) no dia 2 da segunda Lua. Aos sete anos conseguia já ler textos antigos, sendo um jovem inteligente e respeitador. No décimo segundo ano do Rei Kang, Fu De com 35 anos de idade era oficial cobrador de taxas e, apesar da sua posição elevada, tratava as pessoas com consideração, fossem elas quem fossem.

Viveu durante a governação dos cinco primeiros reis da dinastia Zhou do Oeste (Wu, Cheng, Kang, Zhao e Mu) e no terceiro ano de reinado de Wang Mu, em 973 a.n.E., com a idade de 72 anos passou para o outro mundo. Durante três dias a sua face nada mudou, parecendo estar vivo, surpreendendo as pessoas que dele se foram despedir.

Com a sua morte, o lugar de cobrador de impostos foi ocupado por outro oficial, mas Wei Chao era completamento o oposto de Zhang Fu De. Não queria saber das pessoas e apenas pensava em dinheiro, roubando-as e por isso, estas empobreciam rapidamente. Os habitantes, comparando os comportamentos distintos entre os dois, sentiam grandes saudades daquele que, para além de ser oficial responsável por colectar taxas, se mostrara durante toda a sua vida, honesto, compreensivo, caritativo e mais do que tudo, um amigo em quem se podia confiar.

Certa vez, um dos habitantes mais pobres resolveu fazer-lhe sacrifícios para prestar homenagem ao querido defunto oficial, suspirando por esses tempos tão diferentes dos que então se viviam e os seus vizinhos começaram a ver a prosperidade a entrar-lhe em casa. Por isso, resolveram ergue-lhe um altar e para tal, com três pedras como paredes e uma outra por cima a cobrir, criaram um abrigo onde colocavam incenso e ofereciam sacrifícios àquele que, pelo seu digno comportamento se mostrou durante a vida um Ser Superior.

Tratavam-no como a divindade Fu De e estranhanhamente, quem a ele orava rapidamente se tornava rico, as suas plantações desenvolviam-se bem, o gado procriava bastante e a riqueza afluía. As pessoas passaram a acreditar que Zhang Fu De era mesmo um Deus e assim, resolveram construir-lhe um templo, onde colocaram no altar a sua imagem dourada.

Aos que lhe ofereciam sacrifícios, passavam pela sua influência a ter uma vida abastada e tal foi correndo de boca em boca, sendo cada vez mais as pessoas que ali iam venerá-lo. Muitas resolveram fazer em casa um nicho em sua honra e dessa maneira o seu culto propagou-se por toda a China, de tal maneira que chegou aos ouvidos do Rei Mu. Este, escutando a história de Fu De, deu-lhe então o título de Tu Di Gong (em cantonense Tou Tei Kong), sendo o significado de gong, ancião. Por isso existem dois nomes para o deus da terra, Fu De, o nome do oficial e o nome que o Rei Mu lhe deu, Tu Di Gong.

Como o panteão tauista só mil anos depois foi criado, pode-se assim perceber ser Tu Di um dos deuses mais antigos existentes na China.

O espírito da terra

Tu Di começara em tempos ancestrais por ser uma entidade abstracta, She Ji (社稷) o Espírito da terra (solo e grão), um dos mais antigos reverenciados pois conectado com a Agricultura a representar toda a terra arável. Teve referência especial no Livro dos Ritos (Li Ji), um dos Clássicos chineses compilados por Kong Fuzi (Confúcio) quando apenas a Filosofia do Dao era usada para governar o social e explicar o Universo.

Passou depois este, como guardião, a estar subdividido pelas cinco direcções, repartidas pelas cinco partes do Império Chinês. Segundo Ana Maria Amaro, “Os espíritos Tou Tei agrupam-se em cinco categorias, ou esferas administrativas: os Tou Tei do oriente, relacionados com a cor verde, os do sul, relacionados com o vermelho, os do oeste, relacionados com o branco, os do norte, relacionados com o negro e, finalmente, os do centro, relacionados com o amarelo.”

O culto do espírito da terra, She (社, Se em cantonense), foi oficializado em 198 a.n.E. pelo Imperador Liu Bang (206-195 a.n.E.), fundador da dinastia Han, que decretou dever o povo venerá-lo e fazer-lhe sacrifícios.

Com a introdução do Budismo na China no século I a.n,E, e sobretudo após a disseminação das suas divindades na Religião Taoista, criada no século II, passou-se a admitir uma série de cargos e de hierarquias no mundo dos deuses, semelhantes aos terrestres. A Tu Di, espírito protector de cada parcela do território, foi-lhe atribuído o cargo de Celeste Guarda Campestre. Este novo Tu Di, conhecido por Tu Di Lao Ye (土地老爷, Tou Tei Lou Ye), correspondia inteiramente ao anterior, que simbolizava o espírito da própria terra, She (社). A única diferença que, aliás, é costume atribuir-se a cada uma destas divindades, é a extensão da sua área de jurisdição. Enquanto o Espírito da terra, o She Ji (社稷), antigo Patrono do Solo, exerce a sua protecção sobre uma província inteira, ou, pelo menos, sobre uma prefeitura ou sub-prefeitura, as cidades muralhadas têm Cheng Huang (城隍, Seng Vong) como deus protector e por isso conhecido por Deus da Muralha e do Fosso e os Tu Di Lao Ye (土地老爷) apenas tem a seu cargo uma pequena porção de território, uma aldeia, montanha, gruta ou uma comuna, como refere Ana Maria Amaro.

Daí passou Tu Di a ser um deus com função, guardião local de uma pequena área de terra e dos seus habitantes e por isso, também considerado o deus da família. O deus da terra encarnava o espírito de uma pessoa que na zona vivera e após falecer, os habitantes, distinguindo-o pela sua virtude ou poderes sobrenaturais, escolhiam-no para seu protector e do lugar. Apresenta-se em dourados caracteres gravados ou impressos e em estátua, sendo também representado na forma de ancião, por vezes acompanhado pela consorte.

Tu Di preside ao bem-estar geral da localidade e cada uma realiza a sua festa particular. Na segunda Lua, refere Luiz Gonzaga Gomes, no dia 2 comemora-se o aniversário dos deuses locais, T’ôu-Têi Tán (土地诞, Tu Di Dan) e no dia 10 faz-se-lhe uma segunda festividade, assim como às Cinco Divindades dos Pontos Cardiais, os Ung-Fóng T’ôu-Sân (五方土神, Wu Fang Tu Shen). Já a 12, comemora-se Fôk-Tâk T’ôu-Têi-Kông tán (福德土地公诞, Fu De Tu Di Gong Dan), aniversário da divindade tutelar Fôk-Tâk, o Deus da Riqueza.

10 Fev 2020

Previsões para 2020 ano do Rato

[dropcap]O[/dropcap] ano Geng Zi (庚子, Rato de Metal) para o Feng Shui começa amanhã, dia 4 de Fevereiro quando se celebra o Princípio da Primavera (Lichun). Pelo calendário lunar, o ano iniciou-se a 25 de Janeiro de 2020 e terminará a 11 de Fevereiro de 2021, com um suplementar quarto mês lunar, festejando-se por duas vezes o Lichun e por isso, é auspicioso para casar. Será um ano criativo, com perspectivas de uma vida intensa tanto no plano emocional, ao nível de um encantamento amoroso, como haverá possibilidade de se usufruir dinheiro fora do espectável. No entanto, assistir-se-á a uma confrontação directa, em que todos irão estar envolvidos e ninguém conseguirá ficar de fora. Mais importante que a prosperidade será viver com saúde.

Aqui usamos as ideias de Lei Koi Meng conjugadas com a nossa interpretação.

Geng é Metal yang (forte metal), Zi é Água yang (grande água) e como Metal faz nascer Água, este ano é de grande água a provocar inundações. Mas estando ainda no Ciclo do Fogo (2004-2024), grande água parece ser bom para temperar o fogo. No entanto, no ano do Rato, Zi (rato) a representar o elemento Água yang está contra Wu (cavalo) Fogo yang, significa grande água contra grande fogo, o que trará ondas de confrontação e sendo Geng Metal, conecta o ano a lutas e guerras. Como Zi Água tem a direcção Norte e Wu Fogo a do Sul dará o fogo proveniente de baixo a confrontar a água proveniente de cima, podendo-se tirar como ilação, o povo em baixo e os governos na posição superior estarem em permanente atrito. Os geomantes referem que nos anos de Rato algo triste ocorre, como morrer jovem, ou a morte de jovens em batalha.

Haverá tentativas de independência de regiões e muitas manifestações de estudantes. Acidentes com barcos terão mais probabilidades de acontecer e quanto a guerras, as navais parecem ser as escolhidas. Propício a ocorrer frequentes ataques terroristas, pequenos ou grandes, e a possibilidade de aparecer um novo grupo.

Geng Zi, grande água, sendo esta fria devido ao metal a representar a quebra de icebergues, leva à subida do nível da água, a grandes chuvas e deslizamentos de terras. Tufões e ciclones são outras possibilidades de criar grandes desastres e continuarão ao longo do ano a acontecer tremores de terra.

O ano Geng Zi está conectado no nosso corpo com os pulmões (ligado com o elemento Metal) e os rins (com a Água), significando estes dois órgãos facilmente terem problemas e interferirem com o estômago e baço.
Novos rostos aparecerão a querer liderar o mundo com novas políticas, mas sem poder bastante para se imporem. Abre-se um vazio, pois o velho sistema político, económico e cultural deixa de ter peso e a massa crítica com ideias antigas irá ser confrontada com as das novas gerações, ainda sem modelos bem estruturados e definidos. Más notícias provenientes dos bancos estarão na ordem do dia e a economia do mundo entra definitivamente em recessão.

Ano para se construírem relações de amizade entre pessoas, países e companhias.

Localização das estrelas voadoras

No Centro, representado nos países do Médio Oriente, este ano encontra-se a maligna 7 Vermelho (Qi Chi) (metal), Estrela Violenta que traz disputas e aprisionada, em clima de guerra levará a desordens e problemas internos com confrontações.

A maligna 3 Jade (San Bi), Estrela de Conflito Beligerante estará a Norte, na Rússia e na China Continental. As relações entre a China e os EUA tendem a melhorar devido à água amansar o fogo americano, e já no início do ano foi assinado um primeiro tratado comercial. Conseguiu a China um pequeno período de acalmia, mas terá durante o resto do ano árduas negociações com os EUA e nos meses de Junho ou Julho e Dezembro ocorrerá algo que provocará grandes mudanças nas relações entre ambos os países. Já no interior da China continuarão os problemas, que só em finais de 2021 terão resolução. A Rússia, quase sem ajuda de outros países, está na mesma situação do seu Presidente, e só Putin sabe o quão difícil é a sua posição, sendo este um ano de grandes desafios para a sua vida.

A benéfica 1 Branco (Yi Bai), Estrela da Prosperidade traz sucesso e boas relações de amizade, este ano encontra-se a Nordeste, nas Coreias. Na Coreia do Sul a economia melhorará e a Coreia do Norte fortalece o seu exército e entre ambas haverá uma grande e fraterna cooperação. As relações da Coreia do Norte com os EUA vão desenvolver-se numa boa direcção.

A benéfica 8 Branco (Ba Bai), Estrela da Prosperidade e da Saúde favorece promoções e sucesso na carreira, estará a Noroeste, na Europa do Norte e do Leste, que terão um ano promissor.

A benéfica 9 Roxo (Jiu Zi), Estrela da Harmonia que rapidamente amplifica os efeitos das outras estrelas, quando benéficas magnifica pelo bem, mas conjugada com malignas, como a Wu Huang levará a grandes desastres. Estrela a representar a paz, cooperação e o visionar o que está para vir, este ano a Oeste, na Europa Ocidental. Com a saída da Grã-Bretanha, a Europa perdeu um dos três poderosos países que a formavam e estando a França fragilizada pela forte oposição interna ao Presidente Macron, resta a Alemanha como pilar para se aguentar, a não ser que os outros países da CE se harmonizem e trabalhem em conjunto para criar um poderoso bloco.

A mais negativa estrela voadora, a 5 Amarelo (Wu Huang), da Fatalidade e Ruína, causadora de problemas de maligna influência, cuja sua força do mal traz calamidades, este ano está a Leste, nos EUA, Japão e Taiwan.

Estes países devem contar com desastres naturais avassaladores, relacionados com a água e um sismo de grande intensidade. No Japão, os Jogos Olímpicos trarão harmonia. Nos EUA, Trump terá um ano com sorte pois do signo de Cão precisa de água e nas eleições ninguém o vence e só ele se conseguirá destruir. Mas a sorte de Trump coloca os outros a sofrer, pois continuará a criar distúrbios. Em Taiwan, após a vitória da presidente, pouco irá mudar e a economia poderá piorar.

A benéfica 6 Branco (Liu Bai), Estrela da Bênção Celeste com potencial de inesperadas vantagens e ligada à diplomacia, estará a Sudeste, nas Filipinas, Vietname, Tailândia, que contarão com um bom ano e apenas Camboja, Malásia e Indonésia terão ligeiros problemas naturais.

No Sudoeste, na Índia, encontra-se este ano a benéfica estrela 4 Verde (Si Lü), com um lado positivo, a levar ao estudo e investigação e outro negativo, com a continuação dos problemas religiosos e a discriminação feminina.

A maligna 2 Preto (Er Hei), Estrela da Doença que traz longas e incuráveis enfermidades, estará a Sul. A Austrália continuará com os problemas dos incêndios e o confronto entre fogo e água. Já em Hong Kong as desordens continuarão e no meio e final do ano ocorrerão grandes mudanças. Quanto à RAEM, nasceida no Inverno, como este ano é de grande água continuarão a ocorrer inundações, devendo ter cuidado com explosões e acidentes na construção de infra-estruturas. O bazi (ano, mês, dia, hora de nascimento) do novo Chefe do Executivo é exactamente o que a RAEM necessitava, por isso com a sua liderança Macau poderá manter-se em paz e em prosperidade.

Desejos de um ano com boa saúde – 身体健康 (Sun Tan Kin Hong)

3 Fev 2020

Previsões do horóscopo chinês para o ano de 2020

[dropcap]E[/dropcap]m 2020, o primeiro dia do Ano Novo Lunar na China ocorre a 25 de Janeiro, mas para os geomantes do Feng Shui o início do ano sob a égide do Rato, um dos doze animais que representam os ramos/raízes terrestres, começará no Princípio da Primavera (Lichun), a 4 de Fevereiro, celebrando-se este ano uma dupla Festa da Primavera.

No ciclo de 60 anos (60 Jia Zi, 六十甲子), ligação do Céu (10 Tian Gan 天干) com a Terra (12 Di Zhi 地支), este ano é denominado Geng Zi (庚子), Rato Metal ou Rato na Trave e terá o número 37. Corresponde ao Caule Celeste Geng (庚), associado ao Elemento Metal yang e direcção Oeste que se conjuga com o Ramo Terrestre Zi (子), representado no zodíaco chinês por o animal Rato, cujo nome comum em chinês é shu (鼠). Zi tem como Elemento a Água yang e direcção Norte.

Geng é Metal yang (forte metal) e Zi é Água yang (grande água) e como o Metal faz nascer a Água este ano é de grande água.

Serpente, Coelho e Macaco contam este ano com a ajuda de muitas estrelas da sorte. Quem nasceu na Primavera (entre 19 de Fevereiro e 4 de Maio) precisa de metal e os nascidos no Verão (entre 5 de Maio e 7 de Agosto) de água e por isso terão mais sorte e um melhor ano. Já quem nasceu no Inverno (8 de Novembro a 18 de Fevereiro), por não precisarem de mais água terão um ano mais difícil. Quanto à água ligada com a saúde do nosso corpo, os problemas de rins e próstata serão os mais frequentes. Os seres femininos nascidos entre 8 de Dezembro e 5 de Janeiro deverão ter grande cuidado com o coração, seios e útero. Já quem nasceu neste período deve evitar praticar natação e fazer viagens de barco.

Previsões por signos e por anos

Seguiremos aqui as previsões feitas por Lei Koi Meng (Edward Li) conjugadas com a interpretação que damos às suas ideias.

O Tai Sui (Deus do ano) deste ano lunar de 2020 é Lu Mi, capitão da dinastia Ming nascido na província de Jiangsu, que foi uma pessoa bem formada e com grandes conhecimentos, especialista em Literatura. Apresenta-se com uma faca na mão direita.

O dia de ir ao templo oferecer sacrifícios ao Deus do Ano (Tai Sui) é o oitavo da primeira Lua, que ocorre a 1 de Fevereiro de 2020.

 

Rato

Em Fan Tai Sui (contra o Deus do Ano), os nativos de Rato dentro do ano do Rato estão em Zhi Tai Sui (conflito com o Deus do Ano) por serem o animal do ano e assim para 2020 haverá grandes mudanças, mas será um bom ano devido a encontrarmo-nos ainda no ciclo de Fogo e sendo o rato Zi (子) do elemento água, acalmará o fogo. Por isso, um ano de sorte para os nativos deste signo. Normalmente os nativos de rato apenas se focam em pequenas coisas, contentando-se em comer, beber e tirar prazer da vida, sem nunca fazer planos, mas este ano Geng Zi (庚子), como metal (Geng) faz nascer água, significa que contará com uma grande ajuda, a puxar os nativos para cima, colocando-os na dianteira.

Contará com as estrelas da sorte, Jin Kui (金匮, Cofre Dourado) a trazer sorte em assuntos financeiros e acumulação de ganhos e Jiang Xing (将星, do General) ligada à carreira, autoridade e ao poder. Já como más estrelas, o ano apresenta-se com Jian Feng (剑锋, Fio da lâmina da Espada), a poder levar a ser submetido a uma operação clínica e Fu Shi (伏尸, Corpo Morto), a representar morte, que poderá correr por desastre.

Para os nativos nascidos no Inverno, a precisarem de fogo, não irá ser fácil pois, com um ano cheio de água, esta apagará o fogo.

Carreira: Tendo o suporte da estrela da sorte Jiang Xing (将星, do General) significa poder contar com um grande suporte a apoiá-lo e tudo se tornará fácil. Com uma forte ajuda, conseguirá atingir um patamar superior e construir um novo mundo e mesmo, contrariando a sua natureza, poderá dar ordens aos outros, indicando o que devem fazer. No entanto, encontrando-se em ano de Tai Sui, deverá tomar atenção às rápidas mudanças para evitar ser ultrapassado pelo momento.

Amor: Ocorrerá uma nova oportunidade na sua vida amorosa. Para os solteiros, podem encontrar o seu parceiro e é um bom ano para casar, mas os casados deverão evitar que as suas relações sociais, tão activas este ano, se desviem e se transformem em momentâneas paixões, a poder destruir a vida conjugal. Bom ano para as nativas de Rato terem filhos.

Saúde: Com as más estrelas, Jian Feng (剑锋, Fio da lâmina da Espada, a significar operação clínica, ou magoara-se por algum acidente) e Fu Shi (伏尸, Corpo Morto), deverá ter muito cuidado com desastres de automóvel e evitar praticar desportos radicais. Os nativos masculinos devem tomar atenção com os problemas de bexiga e do aparelho urinário e os femininos, do útero e seios. Lembre-se ser a saúde mais importante do que conseguir mais dinheiro.

Dinheiro: Devido à estrela da sorte Jin Kui (金匮, Cofre Dourado) não só conseguirá ganhar dinheiro, mas também mantê-lo-á. Assim terá sorte em assuntos financeiros e haverá acumulação de ganhos.

Os nativos de Rato nascidos em:

1996 – Estão na melhor posição de todos os nativos de Rato e se trabalharem bem terão um brilhante futuro pela frente. Apenas devem tomar cuidado com a saúde.

1984 – Receberão grande ajuda de algumas pessoas que na sua área de trabalho o vão colocar no topo. Por um lado receberá bons comentários, mas por outro terá de contar com os ciúmes e inveja e para evitar rumores deve seguir um caminho correcto, sem mácula.

1972 – Activos este ano, poderão tentar diferentes áreas. Se nasceu no Inverno, especialmente o ser feminino deverá ter cuidado com a saúde e sobretudo vigie o útero. Necessário fazer um exame clínico.

1960 – Ano para tirarem partido da vida e gozá-la. Faça deste ano a oportunidade para a sua carreira vingar e atingir o topo, pois tem boas hipóteses. Como trata os seus amigos melhor do que a família, este ano deverá balançar tal atitude. Não se esqueça de comemorar o seu aniversário, o que lhe trará boa sorte.

1948 – Terão um constante e estável rendimento. Mude a maneira de comer e escolha alimentos saudáveis. Como é ano de Tai Sui deverá tomar muito cuidado para não cair. Haverá ainda boas oportunidades para a sua carreira, mas pense se terá capacidade para a manter.

Búfalo

No ano do Porco os nativos de Búfalo tiveram um árduo trabalho, mas para este ano, como pertence aos seis animais que se combinam e o rato tem como parceiro o búfalo, será um bom ano para os nativos deste signo em relação à carreira e no amor encontrará uma boa direcção.

Carreira: Terá duas estrelas da sorte a ajudar, Yu Tang (玉堂, a significar boas relações sociais) que leva a conseguir das pessoas respeito pois revelar-se-á durante importantes reuniões, não só no trabalho durante conferências, como em festas entre amigos e família. Contará com muito apoio e será estimado por jovens e crianças. Já a combinação desta estrela da sorte com Tian Yi Gui Ren, (天乙贵人) leva a ter poderosa ajuda ligada à criatividade e assim poderá criar uma nova carreira de negócios que lhe trará visibilidade. A estrela Mo yue (陌越) dificultará a sua capacidade de decisão e até aquilo que podia ser de fácil entendimento, o obriga a fazer cuidadosos planos. Esta estrela é de mudança e por isso, dependente com quem se conjuga; com outra boa estrela torna a situação melhor, quando ligada a uma má estrela, piora a situação.

Amor: Búfalo no ano de Rato [pelos seis pares de animais que combinam (liu he)] terá uma muito boa relação com as pessoas e por ser um ano com dupla festividade da Primavera, os nativos de Búfalo solteiros deverão agarrar a oportunidade para se casar. Se já é casado, faça uma festa, ou uma viagem para estreitar a relação. Como mediador este ano terá uma boa ascensão social pois será reconhecido por seus dotes.

Saúde: Devido à influência da má estrela Bing Fu (病符, sinaliza doença) os nativos de Búfalo devem evitar enervarem-se, colocar-se fora de fortes pressões e não abusar de comida apelativa como marisco, pois é pela boca que as doenças entram. Há forte possibilidade de este ano ter problemas de saúde ligados com as mãos e pés, estômago e diabetes, especialmente para quem nasceu no Inverno. Para estes, por ser um ano de água e a necessidade de conseguir mais fogo, ajudará o uso de roupa vermelha, beber vinho tinto e comer carneiro.

Dinheiro: Não terá dinheiro fácil e para o conseguir deverá trabalho muito e bem.

Os nativos de Búfalo nascidos em:

1973 – Terão o melhor ano. Será um ano muito activo e bom para aprender mais. Não se esqueça de celebrar o seu aniversário, para lhe trazer boa sorte.

1985 – Com muitas ajudas, terão hipótese este ano de conseguirem ser promovidos, melhor salário, uma nova carreira e com brilhantes perspectivas de futuro. Para as nativas será um ano harmonioso.

1961 – Terão um ano com pensamentos claros e se trabalharem na área cultural conseguirão bons resultados. Posição e riqueza atingirão um novo patamar.

1949 – As ondas que se levantam na saúde poderão levar a ter problemas de fígado e mesmo tendo oportunidade de fazer muitas coisas este ano, lembre-se ser a saúde o mais importante e o dinheiro não a compra.

1997 – Com a entrada na sociedade não necessitará de pensar demasiado, mas tente dar o seu melhor, para conseguir bons comentários dos outros e assim melhor vencimento.

Tigre

No ano de Porco os nativos de Tigre fizeram progressos na carreira e no amor, mas agora precisarão de se preparar pois as ajudas serão muito menores. Assim este ano deve manter-se calado e agir mais, relaxe e coloque-se fora de novos projectos para não ter problemas. Quanto menos mudanças, menos problemas.

Carreira: Se estiver envolvido em algum projecto, deverá contar poder ser ele cancelado e o pior é que nada pode fazer, senão deixar ir. No entanto tem a estrela da sorte Tai Ji Gui Ren, (太极贵人) a significar alguém a ajudá-lo e a não o deixar ficar numa situação difícil. Mas a má estrela Tian Gou, (天狗) coloca os nativos a acreditar na pessoa errada, levando a gastos monetários imprevisíveis. Devido à má estrela Zai Sha (灾煞) deve contar com uma inesperada ocorrência a colocá-lo sob forte pressão emocional. Não se esqueça ser este um ano que menos é mais, pois quanto menos acontecimentos houver melhor.

Amor: Ano sem ocorrências especiais e nada a reportar. Os solteiros apenas devem seguir o que aparece. Para os casais, deverão ter paciência entre eles e evitar discussões por coisas pequenas. Não necessita de condimentar a relação pois o original e o verdadeiro são o preferível. Os nativos masculinos devem evitar problemas com saídas fortuitas.

Saúde: Cuidado este ano pois está sob a influência de três más estrelas. Diao Ke (吊客, relaciona-se com a morte de um familiar) alerta para que tome atenção à saúde dos seus familiares e também deve fazer exames de saúde, e as duas más estrelas, Fei Ren (飞刃, lâmina voadora) e Yang Ren (羊刃) indiciam a hipótese de ser submetido a uma operação cirúrgica. Como Ren (刃) significa lâmina, a representar corte provocando sangue, deverá guardar em lugar seguro todos os objectos cortantes para evitar que eles o magoem. Não entre em discussões, seja paciente e mantenha a calma.

Dinheiro: Não cometer erros é já o melhor e assim, se conseguir manter o que tem não está mal.

Os nativos de Tigre nascidos em:

1962 – Devem estudar e fazer exercício físico. Valorizar-se. Importante realizar um exame clínico à saúde. Não haver novidades é a melhor novidade.

1974 – A sua carreira, mesmo com ajudas, não melhorará. Trabalhar arduamente não significa ganhar mais. Cuide a maneira como fala, pois se não o fizer pode levar a algo muito errado, mas não ficará a saber.

1986 – Na carreira poderá alcançar algo de bom, fora do esperado. Importante estudar mais e manter-se tranquilo. Para as nativas de Tigre, o nascimento de um filho permitirá evitar a influência das duas más estrelas Yang Ren e Fei Ren.

1950 – Ano relaxante e a comemoração do seu aniversário fará a sua vida mais alegre e feliz.

1998 – Criativo e activo, poderá tentar encontrar mais das suas potencialidades. Evite praticar desportos radicais.

Coelho

No ano do Rato, os nativos de Coelho encontram-se nos três signos mais bafejados para 2020. Ano de constantes e rápidas mudanças. Com relações humanas complicadas, as suas características de corredor de longa distância e os seus saltos levam os nativos a estar bem apetrechados para o que vem. Na carreira profissional e nas relações amorosas aparecerão bonitos momentos.

Carreira: Conta este ano com a influência de três estrelas da sorte, Tian De (天德, estrela protectora que limpa o caminho), Fu De (福德, que lhe trará riqueza material e protecção) e Fu Xing (福星, protectora que lhe limpa o caminho) levando a poder contar com uma poderosa ajuda e ter tudo sobre controlo. O difícil torna-se de fácil resolução. Mas as más estrelas Juan She (卷舌, alguém a falar mal de si) e Jiao Sha (绞 煞, enforcado) levam a que as suas acções, se por um lado tem quem as aprove, por outro haverá quem delas não goste. Hoje em dia vivemos apenas em competição e por isso, mais sucesso traz mais inveja. Assim, coloque as suas posições mais firme. Deve lembrar-se estarem os nativos de Coelho este ano em Xing Tai Sui, significando Xing ser julgado e por isso precisará de fazer tudo por via correcta e legal, especialmente quando necessita de assinar algum contrato. Evite jogar para não destruir a sua sorte.

Amor: As duas superes estrelas da sorte, Hong Luan (红鸾, Sorte no Amor) e Xian Chi (咸池, propícia o casamento e boas relações entre pessoas) colocam o ano tão doce como mel, a significar que os solteiros encontram a pessoa indicada para casar, ou conseguem realizar os seus desejos. Para os casais é bom fazerem uma nova lua-de-mel com uma festa a celebrar a união. Lembre-se que por conseguir controlar tudo, deverá saber controlar-se para evitar cair nas bocas do mundo e ser julgado, especialmente no mês de Dezembro.

Saúde: Sugere-se no início do ano ir ao templo oferecer sacrifícios ao Deus do Ano. Poderá sofrer problemas emocionais e deve ter cuidado com as doenças sexuais. As nativas devem ter atenção aos problemas de útero e seios e os masculinos com a próstata.

Dinheiro: Consegue-o de maneira legal e quanto mais trabalha, mais ganha. Evite as maneiras fáceis de conseguir dinheiro. Aproveite para agarrar as oportunidades para enriquecer, mas lembre-se que deve usar a legalidade para atingir tal.

Os nativos de Coelho nascidos em:

1963 – Devido à estrela da sorte Lu Shen (禄神) conseguirão ter bons rendimentos e não terão dificuldades na sua carreira, mas ao ter de lidar com problemas conflituosos, seja muito cuidadoso para evitar ser julgado.

1975 – Terão imensas ajudas, assim como há grandes hipóteses de se tornar patrão ou ser promovido. Conseguirá ter bons comentários e só precisa de tentar dar o seu melhor, sem se preocupar com nada mais.

1951 – Procurem estudar e aprender novas coisas. Uma vida social activa trará novos amigos. Boa vida a beber, comer e passear.

1987 – Ano para criar novas relações e terá mais ajudas. Ao trabalhar arduamente conseguirá o que quer.

1999 – Com imensas ideias, se conseguir ajudas poderá realizá-las, mas não vá para além da sua capacidade. Não siga o caminho mais fácil e trabalhe passo a passo, degrau a degrau. Celebre o seu aniversário para ter mais sorte.

Dragão

Dragão no ano do Rato chama-se San He, os três animais que combinam bem com o Deus do ano e em 2020 eles são Rato, Dragão e Macaco. Ano em que os nativos de Dragão se mantêm na posição de comando e para além das riquezas que poderão usufruir, também a carreira continua a progredir.

Carreira: A super estrela da sorte Jiang Xing (将星, do General) ligada à carreira, autoridade e ao poder, traz a oportunidade para cooperar em novos negócios e a estrela da sorte Guo Yin Gui Ren (国印贵人, Carimbo do país) permite continuar na sua alta e importante posição e ser respeitado por todos. Já a má estrela Bai Hu (白虎, a Tigre Branco) significa poder sofrer uma forte competição, mas o dragão, por ter nascido para lutar, todas as vezes que o Tigre Branco se encontra com o Dragão Verde, Bai Hu perde. Assim, quando os problemas aparecem, não necessita de lutar, sendo melhor cooperar e lentamente os seus inimigos tornam-se seus adeptos.

Amor: Bom ano para os nativos de Dragão pois terão um ambiente harmonioso. Se for solteiro, não precisa de se preocupar por não ter, mas sim pela quantidade de oferta a escolher. Se for casado, o ser masculino deverá tomar cuidado com o aparecimento de amantes para não perturbar o casamento, e sem a trazer para casa, transfira-a, colocando-a como ajuda a cooperar.

Saúde: Este ano traz três más estrelas, Fei Lian (飞廉), Pi Tou (披头, deixar solto o cabelo) e Tian Sha (天煞), todas ligadas com acidentes e por isso, quando conduzir, viajar e passear precisa de ter especial atenção para não se colocar em zonas perigosas. No Inverno, os nativos deverão ter cuidado com diabetes e a bexiga e tomar cuidado com o que comem, escolhendo alimentos saudáveis. Se for ao Templo do Deus do Ano apenas precisará de pedir protecção para a sua saúde.

Dinheiro: A estrela da sorte Jin Kui (金柜, Cofre Dourado) traz sorte em assuntos financeiros e acumulação de ganhos. A riqueza corre para os nativos de Dragão e precisa apenas de se manter na sua posição e continuar a tomar conta dela, pois só você terá poder para a destruir, ou mantê-la.

Os nativos de Dragão nascidos em:

1964 – O seu poder e posição vão atingir um patamar mais elevado, mas evite maior exposição para não chamar sobre si mais inimigos, que trazem fortes doses de inveja.

1952 – Tem uma posição firme com imensas ajudas, mas este ano o mais importante é a saúde e por isso, no início do ano faça exames de saúde. Dê mais tempo para si e faça mais exercício físico. Precisa de balançar o que come com uma alimentação mais racional e saudável.

1976 – Terá vários caminhos para desenvolver a sua carreira e cooperar melhor com o seu parceiro, levando os rendimentos a aumentar. Apenas deve evitar diversões perigosas e conduzir com máxima segurança. Comemore o seu aniversário com uma festa.

1988 – Ano para mostrar a sua capacidade, ser promovido e conseguir melhor salário. Mas o ser feminino precisa de tomar grande cuidado com a saúde, podendo ter que fazer uma operação.

Serpente

Ao contrário do ano que passou, quando a serpente estava em Chong Tai Sui, a colidir com o Deus do Ano, em 2020 tudo muda e é o mais bafejado dos doze animais.

Carreira: Com a ajuda das estrelas da sorte Zi Wei (紫微) e Long De (龙德), que representam conquistar poder e ser promovido na carreira, os nativos rapidamente podem mudar a situação em que foram colocados no ano passado e ainda conquistar muito mais, atingindo uma posição de topo e com possibilidade de expandir a área, abrindo novo negócio. Tão grande sorte só aparece uma vez em doze anos, por isso não a desperdice.

Com a estrela da sorte Yu Tang (玉堂) consegue suporte de pessoas poderosas, assim como cooperação e ter ajuda para conseguir realizar os planos que tem em mente. Com a estrela da sorte Di Jie (地解, Terra e abrir o cadeado), ao ser confrontado com problemas, estes tornam-se de fácil resolução. Já a estrela da sorte Ci Guan (词馆, Perfeitas palavras) dá-lhe uma mente clara e apenas com perfeitas palavras, coloca as pessoas a acreditar em si. Devido à estrela da sorte An Lu (暗禄) o dinheiro chegará de diferentes maneiras, conseguindo-o fora das suas expectativas. Para definir numa frase a carreira, conduzindo na auto-estrada um bom carro, apenas necessita de meter gasolina.

Mas deverá contar com a existência de duas más estrelas, Bao Bai (暴败, Perdedor, falhar), que leva a ocorrer algumas mudanças fora do seu controlo e Tian E (天厄, Catástrofes provenientes do Céu), tudo o que fizer não poderá ir até ao fim, e por isso, deve guardar um pequeno espaço para poder dar a volta. Não coloque o sucesso a fazê-lo perder a cabeça.

Amor: Ano harmonioso para os casais. Os solteiros terão possibilidade de encontrar o seu parceiro, mas este ano o foco está na sua carreira e o amor é a sobremesa.

Saúde: Vão ser os antigos problemas a afligi-lo. Não vai conseguir encontrar um bom médico para resolver os seus problemas de saúde. Os nativos nascidos no Inverno terão problemas com as mãos e pés. É um ano de trabalho duro, mas não se esqueça de tomar tempo para relaxar.

Dinheiro: Ano de plena satisfação.

Os nativos de Serpente nascidos em:

1965 – Terão o melhor ano, com grandes hipóteses de serem promovidos e ficarem à frente de um grande projecto, assim como podem tornar-se patrões. Têm os caminhos todos abertos.

1953 – Ano em que a carreira os levará a ter grandes proveitos e nos ganhos monetários atingirão o apogeu, sendo o melhor de entre todos os nativos de Serpente.

1977 – Este é o ano para se descobrir e despontar totalmente e não precisa de se preocupar com nada. A celebração do aniversário trazer-lhe-á mais oportunidades.

1989 – Terão hipóteses de criar os seus próprios negócios, mas não podem contar com ninguém; por isso prepare-se, pois vai ser um árduo ano e quanto mais trabalhar mais receberá.

1941 – Continuarão a ter uma boa vida social e este ano, conseguirão ainda encontrar algo interessante para lhes dar prazer, mas cuidem da saúde, pois o problema poderá estar em comer muito e coisas boas.

Cavalo

Os nativos de Cavalo no ano do Rato estão em confronto directo com o Deus do Ano e por isso será um ano cheio de trabalhos, com grandes riscos, crises e várias dificuldades.

Carreira: Contará apenas com uma estrela da sorte, Fu Xing (福星), protectora que lhe limpa o caminho) a significar continuarem os nativos a ter ajuda de pessoas, mas porque necessita de se confrontar com uma série de problemas, esta mostrar-se-á insuficiente. As barreiras que a má estrela Lan Gan (阑干, vedação) lhe vai colocar pela frente, a significar a possibilidade de se confrontar com um sem número de problemas, levá-lo-á a ter que os resolver, ou desviando-se, ou tentando ultrapassá-los, ou retirá-los do seu caminho. A má estrela Da Hao (大耗) significa gastar ou perder uma fortuna. Já as três más estrelas juntas, Tian Ku (天哭, o Céu chora), Po Sui (破碎, separação) e Yue Kong (月空, mês vazio) levam-no a sofrer um grande confronto, o que cria uma destabilização emocional a provocar-lhe um grande desequilíbrio, deixando-o sem saber o que fazer. Tal coloca-o num novo estado e com novos grandes desafios. O antigo sistema deixa de funcionar, levando a ter de fazer plenas mudanças em si mesmo, mas se olhar com um sentido positivo, isso levá-lo-á a melhorias, que podem dar-lhe novas capacidades, trazendo uma nova dinâmica para a sua vida, ajudando-o a prosseguir. Para os nativos nascidos no Verão, o que significa terem necessidade de água, estas mudanças serão muito boas. Lembre-se que para poder visualizar o arco-íris terá antes de levar com uma grande chuvada.

Amor: Para os casais, necessário ter de controlar as emoções; precisa de falar, mas evite discussões. Ano de mudança e por isso, mantenha a relação o mais normal possível, o que já não será mau. As nativas solteiras não encontrarão perto o parceiro e terão de o ir encontrar longe, significando ter de ir viajar, o que lhe fará muito bem.

Saúde: No início do ano vá ao templo oferecer sacrifícios, pois bem precisa. Ano para poder sofrer de problemas nos olhos, coração e rins. Atenção nos transportes, pois acidentes espreitam. Para os idosos, cuidado com as quedas.

Dinheiro: Devido à influência da má estrela Da Hao (大耗, gastar uma fortuna) é preferível comprar algo muito caro, do que perder esse dinheiro e conjugando com a má estrela Yue Kong (月空, mês vazio), melhor gastar dinheiro a viajar, do que usá-lo no hospital. Assim, mesmo a trabalhar arduamente não vai receber nenhum retorno, mas não se esqueça que a vida não acaba este ano.

Os nativos de Cavalo nascidos em:

1954 – Com ajuda, continuará a conseguir manter a sua posição, mas tenha muito cuidado com o que diz e como fala, pois é um ano fácil para ter maus comentários. Proteja-se, pois não pode contar com os outros.

1966 – Terá mais algumas maneiras de conseguir arranjar dinheiro, mas precisa de muito trabalho. Ano para tomar muito cuidado com os transportes pois está propenso a acidentes.

1978 – Ano muito ocupado e de árduo trabalho, mas nem mesmo assim atingirá o que pretende. Por isso, aproveite a oportunidade para relaxar. Ano fácil para se magoar com objectos cortantes.

1942 – Tenha muito cuidado com a saúde. Evite sair muito, para ter menos hipóteses de lhe ocorrerem acidentes. Em casa poderá também aprender muitas coisas e manter a sua vida feliz.

1990 – Ano para estudar mais e fazer amigos para conseguir uma boa plataforma para os anos vindouros.

Cabra

No ano do Rato, a Cabra encontra-se em antagonismo com o Tai Sui e sem cooperar com o Deus do Ano, este também não o ajuda. Esta incompatibilidade significa ser ano para deixar a vida social e recolher-se na vida familiar.

Carreira: A estrela da sorte, Tian Yi Gui Ren, (天乙贵人) significa que com as suas novas e criativas ideias terá boas hipóteses e oportunidades de lançar uma nova carreira. Poderá aceitar ajuda, mas evite a cooperação, é preferível trabalhar sozinho. A estrela da sorte Yue De (月德) Virtude da Lua) indica dever mostrar-se simpático e conseguirá colocar as pessoas a respeitá-lo pelas suas virtudes. Lembre-se, a carreira este ano é apenas um lanche, pois o jantar está na família.

Amor: Com a estrela da sorte Xian Chi (咸池, propícia o casamento e puras relações entre pessoas), é um bom ano para os casais voltarem a fazer uma viagem de Lua de Mel, ou terem um filho. Este ano o casal parece-se com os gémeos, não importa para onde vão, estão sempre juntos. Para os solteiros nativos de Cabra, como a carreira este ano não é importante, apenas uma coisa deverá estar nos objectivos, encontrar a pessoa certa e casar-se. Por isso deixe os seus amigos e objectivamente procure criar a sua nova família, e se entender isso, evitará imensos problemas e terá um harmonioso ano.

Saúde: Este ano, para além de ferir o Tai Sui, terá a influência da má estrela Shi Fu (死符, sinal de morte), levando a ser importante fazer um exame de saúde, sendo um ano para relaxar completamente e dedicar-se à meditação. As nativas deverão ter muito cuidado com os órgãos ligados ao aparelho reprodutor e no início do ano deverão oferecer sacrifícios ao Deus do Ano.

Dinheiro: Repetindo, se a carreira este ano é só um aperitivo na vida e a comida está na família, então, mesmo com a má estrela Xiao Hao (小耗, pequeno gasto ou perda de dinheiro) poderá fazer a transferência para um forma positiva, usando-o numa pequena viagem familiar e num jantar fora em família. É ano para não esperar nada, mas poderá trazer surpresas, quem sabe?!

Os nativos de Cabra nascidos em:

1955 – Terão o melhor ano e conseguem criar uma carreira pessoal, mas faça-o em silêncio sem o propagar aos sete ventos e quando tudo estiver pronto, então coloque-se na boca do mundo.

1967 – Terá de se focar apenas na sua área de actuação profissional e não pense em criar algo novo. Mas ao mesmo tempo, não se esqueça de prestar grande atenção à família. Com o restante, não queira ver, cheirar, ouvir, tocar, provar e assim os seus sentidos não ficam dispersos e manter-se-ão com plena atenção para o importante.

1979 – Terá imensas ideias quanto à sua carreira, mas é ano para evitar cooperações com os outros, precisando de fazer tudo sozinho, por isso, pense nas suas capacidades para pôr mãos à obra. Oportunidade para adquirir uma casa. Cuidado com os desportos radicais, pois há grande probabilidade de ocorrer um desastre e magoar-se.

1943 – Com as suas grandes poupanças, poderá ter um ano relaxado. Apenas cuide da sua saúde e evite excessos.

1991 – Não pode pensar magoar as pessoas, mas deve evitar que os outros o magoem. Assim, para este ano não coopere com os outros, nem mesmo com os seus amigos. Seguir solitário, evita problemas, ganha mais e goza melhor.

Macaco

No ano do Rato, o Macaco está em San He, os três animais que combinam bem com o Deus do ano e por isso, para os nativos de Macaco o ano é de harmonia (correcto tempo, correcto lugar, correcta acção) e de felicidade. Combina carreira, amor e dinheiro e terá um bom desenvolvimento. Quanto mais idoso, mais inteligente.

Carreira: Com as superes estrelas da sorte, Jiang Xing (将星, do General) e Jin Kui (金柜, Cofre Dourado), consegue colocar a carreira num novo patamar, tornando-se famoso e conquistar riqueza. A estrela da sorte San Tai (三台, Quem tem o Carimbo) levará a ser promovido à posição de chefia em todos os lados e as suas decisões serão tomadas em conta, sendo um ano para rir até ao fim. Mas as duas estrelas más, Wu Gui (五鬼, Cinco fantasmas, que representa as pessoas nas suas costas a fazer-lhe mal) e Fei Fu (飞符, mau sinal voador, más notícias), representam um poder que se encontra contra si, logo perceba ter de contar com pessoas que lhe querem mal. O seu sucesso traz inveja a outros, mas no seu ano de sorte estes pequenos problemas nunca lhe causarão mossa para continuar em frente. A má estrela Guan Fu (官符, cuidado e não colocar a sua palavra como garantia) adverte-o a nunca deixar de seguir pela legalidade nas suas acções, evitando assim ser acusado pela justiça.

Amor: Ao entrar em San He, os três animais que combinam com o Deus do Ano, torna-o muito atraente aos olhos dos outros e vai mostrar as suas características de Macaco, activo e falador. Terá imensas opções de escolha, mas tenha calma e encontre quem combina bem consigo. Para os casais, a cooperação pelo amor levará o outro a atingir o que tem desejado para a carreira (pois, este ano o amor é a folha e a carreira o fruto).

Saúde: Deve contar este ano com a influência da má estrela Fei Fu (飞符, mau sinal voador), a significa dever tomar extremo cuidado quando passear ou conduzir. A sua saúde não lhe trará grandes problemas, mas estes aparecem pelas pessoas à sua volta, por isso, evite discussões com os outros para não desequilibrar o seu estado emocional. Cuidado com objectos cortantes e pode ter problemas relacionados com a água, como andar de barco, nadar… Para os nativos nascidos no Outono e Inverno, evitem usar e ter imagens de dragões à sua volta. Fácil ter problemas com os pulmões e intestinos.

Dinheiro: Tem a estrela da sorte Jin Kui (金柜, Cofre Dourado), que lhe traz sorte em assuntos financeiros e acumulação de ganhos e a estrela da sorte Lu Shen (禄神) leva o dinheiro a vir ter consigo. É ano para realizar os seus desejos, pois consegue o que quer; quer vento tem vento, quer Sol tem Sol, mas lembre-se que a riqueza pelo dinheiro é só exterior, enquanto a verdadeira riqueza está no coração.

Os nativos de Macaco nascidos em:

1992 – Terão alguém a colocá-los num lugar de importante posição e assim, um brilhante futuro e um bom salário. Mas deverá estudar mais para ganhar competências e conseguir novas informações. Não pense que por ser jovem não necessita de cuidar da saúde. Conduzir com extremo cuidado é muito importante.

1980 – Activa vida social com plenas ajudas. Na carreira não terá problemas, mas conte com uma imensa competição. Faça uma festa no seu aniversário para conseguir ter mais boas energias.

1968 – Ano cheio de trabalho e com bastante pressão, mas o que receberá é também imenso. Aproveite e apanhe esta boa oportunidade para se mostrar. Cuidado com a saúde, sobretudo com problemas de ossos, especialmente para quem nasceu no Outono e Inverno.

1956 – Terá uma poderosa e qualificada ajuda e tendo inúmeras maneiras de ganhar dinheiro, coloque a fasquia do dinheiro a atingir um novo recorde. Mas como é um ano de grande água tome cuidado com o coração e lembre-se que a saúde não pode ser comprada por dinheiro.

1944 – Ano para ter cuidado com o que fala e com a sua acção, que poderá trazer-lhe problemas. Na sua posição, continua a manter respeito. Tenha uma boa vida e não se esqueça de realizar exercícios físicos.

Galo

No ano do Rato, o Galo está em ruptura com o Deus do Ano, o que significa facilmente se magoarão um ao outro e por isso, este ano não irá ser harmonioso. Lembre-se que só deverá falar de coisas que não provoquem conflitos, mas pela personalidade do Galo, se não pode ser feliz fora, continuará a ter dentro de casa o seu Sol, levando a não ser um ano muito difícil.

Carreira: Tem duas estrelas da sorte, Tai Yin (太阴), a Lua) e Tian Xi, (天喜Virtude Celeste), o que leva este ano os nativos de Galo a serem mais simpáticos e calmos. As nativas mostrarão em frente aos outros o que de melhor têm e os nativos serão mais gentis no servir, tendo boas relações e convidando os amigos para reuniões sociais. Significa, ano para não falar da carreira, mas promoverem-se socialmente e divertirem-se, plantando as sementes para o que vem. Devido à estrela da sorte Xue Tang (学堂) é ano para estudar e enriquecer os conhecimentos. Já as duas más estrelas, Guan Suo (贯索) e Gou Jiao (勾绞), significam que deverá estar preparado pois há pessoas que lhe vão colocar armadilhas, e conjugadas com a má estrela Cu Bao (卒暴, inesperada perda de controlo), não importa se trabalha muito e arduamente, terá grandes hipóteses de falhar. Por isso, no início do ano deverá ir ao templo oferecer sacrifícios para minimizar os problemas que espreitam e adquirir boas energias.

Amor: Para se sentir confiante, este ano deve-se vestir e ornamentar bem, como sempre gosta de fazer, para captar a atenção dos outros e com isso se mostrar. Mas a dificuldade está em ser muito fácil por pequenas coisas cair numa grande discussão e destabilizar a relação. Assim é ano para os nativos de Galo abriram mais o coração e ao ter um grande coração para aceitar os outros, os outros aceitá-lo-ão mais facilmente.

Saúde: O Elemento do Galo é Metal e em conjunto com a má estrela Yang Ren (羊刃) leva a uma maior probabilidade de ter que realizar uma operação cirúrgica, ou cortar-se com uma faca. Facilmente pode ter problemas nos pulmões. Os nativos nascidos no Outono e no Inverno, precisam de fogo e por isso uma viagem para o calor do Sul poderá ajudar.

Dinheiro: A felicidade não é dada pelo que se tem, mas por a inexistência do mundo dos desejos. Dinheiro não traz prazer diário, mas a saúde pode dar-lhe. Agora entende o que aqui falamos.

Os nativos de Galo nascidos em:

1993 – Terão muito boas relações sociais a propiciar ajuda dos seus superiores. É bom ano para criar uma boa base para a futura carreira.

1981 – Irão de repente ter vontade de ler e estudar e começar a gostar muito de cozinhar para partilhar com os amigos os seus pratos, trazendo-lhe um imenso suporte. Ano calmo e cheio de interesses.

1969 – Vão-se forçar a trabalhar arduamente, mas por vezes quanto mais rápido se quer chegar, mais lento se anda e por isso, é ano para caminhar degrau a degrau. Lembre-se que por vezes dar um passo atrás pode levar a conseguir ter mais hipóteses de sucesso.

1957 – Ano para não jogar a dinheiro, pois se o fizer atrairá grandes trabalhos. Foque apenas no que tem. Uma vida simples é o caminho para se ser feliz. Cuide da saúde.

1945 – Hipótese de iniciar um novo projecto, mas tal só trará mais trabalho, pois o que irá ganhar…

Cão

Este ano os nativos de Cão encontram o apogeu na carreira; está pronto? Encontrando-se numa alta posição, toda a gente está atenta ao que faz e até as suas pequenas acções merecerão atenção. Por isso, deverá solicitar a si mesmo conseguir a perfeição, mas não a imponha aos outros e assim conseguirá ter um ano brilhante.

Carreira: Com a poderosa estrela da sorte Ba Zuo (八座, relacionada com a carreira) terá hipótese de ser promovido, ficar na posição de comando e na sua área torna-se o número um. As duas estrelas da sorte, Tian Jie (天解) e Jie Shen (解神), ajudá-lo-ão a resolver quase todos problemas, conseguindo debelar as crises.

Assim, todas as condições estão prontas, apenas terá de esperar que a oportunidade chegue para a agarrar e abrir uma nova página. Mas conte com duas más estrelas, Chen Fu (沉浮, altos e baixos) e Zai Sha (灾煞, inesperado acidente), a significar ter de cooperar e manter boa relação com os outros, resolvendo os problemas com muita calma e sem discussões. Aperfeiçoe-se para ser um verdadeiro chefe. O sucesso chega, mas não será sem passar por dificuldades.

Amor: Para os nativos solteiros, não esperem muito este ano. Para os casais, não terão muito tempo para acompanhar o parceiro, mas não se esqueça ser o suporte da outra parte muito importante. O seu poder atrairá alguém a quer ficar seu íntimo, mas deve manter-se fora e evitar tais problemas.

Saúde: Recomenda-se devido à má estrela Xue Ren (血刃, Fio da lâmina com sangue) não discutir para evitar maus entendidos a poderem originar acções tresloucadas. Já as outras duas más estrelas, Di Sang (地丧 sang=perder; di=terra) e Sang Men (丧门, quem traz má sorte), levam a ter que tomar conta da saúde, não só da sua como a dos seus familiares. Faça exames clínicos no início do ano. Poderão, sobretudo no quarto, sétimo e oitavo mês lunar, ocorrer problemas relacionados com o coração e nos tubos sanguíneos.

Dinheiro: Não só a carreira lhe traz dinheiro, mas também este lhe chegará por vias não esperadas, tudo isto devido à influência da estrela da sorte Jin Yu Lu (金舆禄, grande fortuna). Esse imenso dinheiro dar-lhe-á uma enorme satisfação, ocultando as dificuldades e o grande esforço que teve com a carreira.

Os nativos de Cão nascidos em:

1994 – Terão um poderoso suporte para atravessar a barreira e atingir o lugar de chefia. Por isso, tente aprender sobre todas as posições que vai superintender.

1970 – Devido ao suporte e cooperação com o seu sócio (parceiro de trabalho), a sua carreira progride sem dificuldades. Se chegou agora a patrão, terá os primeiros seis meses sempre muito ocupado e só no segundo semestre conseguirá respirar. Ano propício para os nativos masculinos terem facilmente acidentes e por isso, no início do ano deverá ir ao templo oferecer sacrifícios aos Deus do Ano. Importante é também celebrar o seu aniversário.

1982 – Ano para mostrarem completamente as potencialidades. Criativo ano para abrir uma nova via. As nativas femininas deverão ter cuidado, pois facilmente poderão ir parar à sala de operações no hospital. Já os nativos masculinos deverão mudar e ter mais calma.

1958 – Ano ocupado com muito trabalho, mas terá imensas oportunidades para atingir um novo patamar. Ao mesmo tempo, deverá cuidar da saúde e manter uma vida regrada.

1946 – Continuará este ano ainda com sorte; quer vento tem vento, quer fogo tem fogo, quer dinheiro também ele vem ter consigo. Apenas não pode cooperar com um parceiro nativo de Cão. Com tantas facilidades a conseguir tudo, tenha cuidado pois poderá perder a cabeça e sem pensar bem, cria problemas aos outros e a si mesmo, sobretudo à sua saúde.

Porco

O que ocorreu no ano passado, não importa se foi bom ou mau, já passou. Este ano você não é o melhor, mas na sua área consegue que a flor desabroche e dê frutos. Vai ser um ano para recordar.

Carreira: A super estrela da sorte Tai Yang (太阳), o Sol) traz-lhe boa energia, confiança, optimismo, brilhantes perspectivas e grande actividade para desenvolver qualquer assunto que lhe interesse. A estrela da sorte Wen Chang (文昌), deus dos Letrados e da Literatura) propiciar-lhe-á o interesse em estudar novas matérias, sobretudo arte e cultura, e se por aí seguir conseguirá abrir uma nova carreira. As estrelas da sorte Tai Ji Gui Ren, (太极贵人) e Tian Guan (天官) trazem boas relações sociais e mesmo nas suas viagens encontrará pessoas que se tornarão seus amigos e dar-lhe-ão novos apoios e ajudas. A estrela da sorte Tian Chu (天厨, Cozinha do Céu) leva-o a estudar como cozinhar para preparar boa comida, e se por um lado lhe trará boa vida, por outro pode ser mais uma nova carreira que se lhe abre. Ano relaxado pois faz o que gosta e por isso, se encontrar algo de interessante siga em frente pois não precisa de pensar no que os outros dizem. As duas más estrelas, Tian Kong (天空, Vazio Céu) e Hui Qi (晦气, Energia Suja), afectam-no e colocam-lhe dúvidas ao tomar decisões, criando-lhe indecisões e levam a ter por vezes hipótese de ser enganado. Também o seu explosivo temperamento pode destruir cooperações e relações, sendo por isso importante manter a calma e pensar antes de intervir. Não deixe o lado emocional tomar conta de si.

Amor: A estrela da sorte Xian Chi (咸池, propícia o casamento e boas relações) coloca os nativos solteiros a não se sentirem sós e a sua energia solar atrair os que estão ao seu redor. Faça o favor de preparar o seu casamento e use a boa oportunidade dada por a dupla Festa da Primavera. Pode mesmo ter um filho, tal é o estado amoroso em que vive este ano. Para os casais, ano de plena comunhão a atingir a plenitude no relacionamento, onde o amor se sobrepõe a tudo o resto.

Saúde: Há boas notícias para si; como é ano de gostar de estudar e um dos seus interesses está em aprender sobre os alimentos e suas propriedades, sendo estes a essência da origem dos medicamentos, será a comida que confecciona a servir de tratamento ou prevenção de doenças e ao investir nesse campo prepara um ano saudável. Para os nativos masculinos, tenha cuidado com os rins e próstata. Já para os nativos femininos preste atenção a problemas com os seios e útero. Os nativos nascidos no Outono e Inverno devem ter redobrados cuidados.

Dinheiro: Com os bens materiais controlados, pois a sua carreira está satisfeita, e o Sol a brilhar, estando as suas relações em harmonia, vive no amor e nada mais parece fazer falta.

Os nativos de Porco nascidos em:

1983 – Com base na sua anterior preparação é ano para agarrar o momento, que o vai impulsionar até limites nunca atingidos. É o melhor de todos os nativos de Porco.

1995 – Terá grandes hipóteses de ser promovido, ou iniciar o seu próprio negócio e enquanto trabalha arduamente não se esqueça de estudar para se aperfeiçoar. Não precisa de pensar quanto vai ganhar, ou perder, pois é ano de apenas lavrar a terra e prepará-la para lhe vir a dar riqueza.

1971 – Terá boas relações sociais, que lhe trarão grandes ajudas. Adorará estudar Civilizações e a cultura gastronómica e seguindo esta via conseguirá quebrar a rotina e respirar novos ares.

1959 – Está ainda cheio de energia e terá um novo desenvolvimento na carreira. Os seus antigos planos podem sair da gaveta e realizarem-se. Mas tudo isto, degrau a degrau para não se cansar em demasia e afectar a saúde.

1947 – Com estável rendimento económico, tenha uma vida relaxada e sem discussões. Para iniciar o ano, vá fazer um exame clínico. Terá também de tomar conta da saúde do seu parceiro.

24 Jan 2020

Relógios e a divisão do tempo na China

[dropcap]E[/dropcap]ra tal o desenvolvimento de Macau que em 1586 o Vice-rei da Índia D. Duarte de Meneses a passou a cidade, dando-lhe o nome de Cidade do Nome de Deus na China, assim como proibiu “a entrada na China a outros missionários além dos jesuítas”, segundo monsenhor Manuel Teixeira, que refere terem em Macau todos os frades espanhóis sido substituídos pelos portugueses em 1589.

Para finalizar a História dos relógios como presentes, seguimos usando as informações deste religioso historiador, que refere, Ricci na China tornou-se o deus dos relojoeiros.

Matteo Ricci chegou em Setembro de 1598 às portas de Beijing, mas encontrou um ambiente hostil contra os estrangeiros devido à invasão da Coreia pelo Japão e por isso foi para Nanjing, à espera que o clima na capital desanuviasse. Daí remeteu um memorial ao Imperador Wan Li referindo querer-lhe oferecer um sino que tocava sozinho. O tempo foi passando, até que um dia o Imperador se lembrou da carta escrita por forasteiros e logo os mandou chamar. Ricci e Diogo Pantoja partiram a 18 de Maio de 1600 num junco que transportava mercadorias pelo Grande Canal para a capital, onde chegaram a 24 de Janeiro de 1601 e três dias depois foram recebidos na corte imperial. O Imperador, que já ouvira falar de Ricci, ficou encantado com os presentes. Seguimos aqui a descrição do padre Manuel Teixeira do resto dessa história, “Explicaram então ao que os relógios eram instrumentos que, de dia e noite, davam as horas ou pela campainha, que os tocava, ou pelo mostrador, onde uns ponteiros as indicavam. Todavia, para isso, era preciso que S. Majestade destinasse alguém que aprendesse a tratar deles e que, em dois ou três dias, lhe seria ensinado tudo o que era preciso.

Foram destinados para isso quatro eunucos; mas o imperador Van-li sentenciou: . Os mandarins tremeram e eles, que até ali se opunham a que os Padres se fixassem na capital, eram agora os primeiros a suplicar-lhes que ficassem ali. É que tinham medo de perder a cabeça se qualquer peça se desarranjasse. Como o relógio precisou de várias reparações, os Padres iam à corte fazê-las e entretinham-se com o imperador.”

Os relógios mecânicos eram ainda uma novidade em todo o mundo, sendo normalmente usados os relógios de Água, os de maior precisão. Os relógios de Sol eram comuns e de fácil leitura, enquanto as ampulhetas de areia, as velas e os pauzinhos de incenso, exigiam alguém a tempo inteiro para deles cuidar, pois era preciso serem mudados quando chegassem ao fim.

Nas cidades muralhadas chinesas as portas eram abertas ao amanhecer por oficiais locais com um toque de sino e à noite eram fechadas com uma batida de tambor. Os tambores davam as horas à noite e os sinos durante o dia. O marcar das horas era assinalado com 18 rápidas batidas e 18 lentas. Nas torres do tambor existiam desde a dinastia Song as clepsidras ou relógios de água e mais tarde paus de incenso, para que os toques não se realizassem fora de tempo. Já na dinastia Qing, a noite começava às 19 horas, quando os tambores tocavam por treze vezes, o que correspondia a acertar as horas.

Divisão do tempo na China

Na antiguidade o ser humano descobriu o Tempo através do ciclo diário de dia e noite e logo de seguida, durante o dia pela mudança do tamanho da projecção da sua sombra criada pelo Sol. A necessidade de fixar o Tempo e a sua passagem levou-o a observações mais atentas e se o relógio de Sol terá sido o primeiro instrumento que encontrou, outros foram aparecendo.

“O relógio astronómico inventado na China muito antes da Europa ter descoberto o relógio mecânico no século XVII é considerado por Joseph Needham como o primeiro protótipo de relógio no mundo”, segundo refere Maria Trigoso.

Desde a dinastia Zhou do Oeste (1046-771 a.n.E.), o dia contava com 12 shichen, relacionados com os ramos/raízes terrestres do sistema sexagenário (12 Di Zhi 地支) e adicionado a este talvez ainda antes, na dinastia Shang (1600-1046 a.n.E.), o dia estava já dividido em 100 ke (cem partes), relacionado com os dez caules celestes (10 Tian Gan 天干). Se na dinastia Qin (221-206 a.n.E.) cada dia tinha dez partes, cabendo à noite cinco, já na Han (206 a.n.E.-220) apareceu o geng (a dividir o período nocturno em 5 geng) e o dia passou a estar dividido em 120 ke. Na dinastia Liang (907-923) um dia tinha 96 ke e 108 ke (108 número budista), até que na dinastia Ming, com a chegada dos relógios mecânicos provenientes do ocidente, ficou dividido em 96 ke tornando-se tal oficial na dinastia Qing. Ke Zero caia na meia-noite e Ke 50 no meio-dia, enquanto o início de quatro Ke coincidia com um shichen. Apenas o início de 96 ke precisava de ser anunciado.

Já quanto à divisão do dia por os 12 ramos terrestres do sistema sexagenário, na dinastia Zhou do Oeste o dia contava com 12 shichen, correspondendo o primeiro a Zi Shi, mas tinha também outra denominação, Ye Ban (meio da noite), tornada oficial na dinastia Han; o segundo, Chou Shi ou Ji Ming (canto do galo); o terceiro, Yin Shi, ou Ping Dan (Sol abaixo do horizonte); o quarto, Mao Shi ou Ri Chu (Alvorada); o quinto, Chen Shi ou Shi Shi (tempo para comer); o sexto, Si Shi ou Yu Zhong (próximo do meio-dia); o sétimo Wu Shi ou Ri Zhong (meio do dia); o oitavo, Wei Shi ou Ri Die (após o meio do dia); o nono, Shen Shi ou Bu Shi (tempo de jantar); o décimo You Shi ou Ri Ru (Sol cai dentro da montanha); o décimo primeiro Xu Shi ou Huang Hun (Sol abaixo do horizonte); e o décimo segundo, Hai Shi ou Ren Ding (tempo para dormir). Se até ao início da dinastia Tang (618-907), Zi Shi, pela divisão actual das horas, começava à meia-noite e ia até às duas da manhã, a partir daí, Zi Shi passou a corresponder das 23h à uma da manhã e assim decorria sucessivamente pelos restantes onze shichen.

Na dinastia Song, quando em 1088 Su Sung (1020-1101) criou o seu relógio de água, cada shichen passou a ter duas partes: a primeira era chu e a segunda zheng, isto é, zichu e zizheng, passando assim o dia a estar dividido em 24 partes.

Com a chegada dos relógios mecânicos trazidos pelos jesuítas e o conceito de dia de 24 horas, para distinguirem os dois sistemas, as pessoas chamavam Xiaoshi (Pequeno Tempo) ao dia de 24 horas e Dashi (Grande Tempo) ao dia de 12 shichen e como já desde a dinastia Song cada shichen era dividido em dois passou cada um a ser chamado xiaoshi, correspondendo a uma hora. Assim apareceram os números a denominar as horas. Já quanto aos minutos, eles foram retirados da divisão do dia, que no início tinha 100 ke e mais tarde 96 ke, o que dava para cada hora 4 ke, correspondendo 1 ke a 15 minutos.

Segundo J. Gernet, “os relógios serão uma das primeiras novidades importadas na China pelos jesuítas e Matteo Ricci parece ter-se tornado mais tarde o deus patrono dos relojoeiros chineses: no século XIX era venerado em Xangai com o nome de Bodhisattva Ricci.”

20 Jan 2020

Início da missionação jesuíta na China

[dropcap]E[/dropcap]m Zhaoqing, capital da província de Liangguang, a primeira Missão católica jesuíta na China foi fundada a 14 de Setembro de 1583 pelos missionários italianos do Padroado Português, Matteo Ricci e Michele Ruggieri, que em 1582 tivera autorização das autoridades chinesas para aí se estabelecer.

Não vinham a trajar as lobas da Sociedade de Jesus (S.J.) mas as túnicas de monges budistas, pois pretendiam ganhar o respeito e a atenção da população e disfarçar a aparência de estrangeiros. Em 1584, com a permissão do governador Chen Wenfeng [Chen Rui fora destituído do seu cargo a 6 de Fevereiro de 1583, segundo Jin Guo Ping e Wu Zhiliang] construíram uma igreja e a residência. Dedicaram-se a publicar em xilografia o primeiro Catecismo em chinês (Kiao-Yao) do padre Ruggieri [feito em Cantão] e em conjunto com Ricci, Os 10 Mandamentos do Senhor do Céu (Tien-Tchou Chekiai) entre outras obras. Matteo Ricci, que adoptara o nome chinês Li Madou, estudou a cultura chinesa e continuou a elaborar o mapa-múndi, que começara em Macau e terminaria em Beijing. Ganhou fama junto dos mandarins, a quem pretendia converter, com o conhecimento dos Clássicos chineses, de geografia, matemática e astronomia, não tivesse sido aluno no Colégio Jesuíta em Roma de Christophorus Clavius, [eminente matemático que validou as teorias de Galileu e reformara em 1582 (ano da chegada de Ricci a Macau) o calendário juliano e o denominou gregoriano em honra do Papa Gregório XIII].

Em finais de 1585, um alto mandarim tencionando visitar a família em Shaoxing convidou Ruggieri para o acompanhar. Em Cantão encontraram o padre António de Almeida, que de Macau viera de barco com mercadores portugueses, e assim seguiu também o jesuíta português até Zhejiang. Aí andaram a missionar, tendo-lhes passado pela cabeça abrir uma nova residência, mas essa esperança logo se desvaneceu já que foram pressionados pelas autoridades locais a abandonar o local, desvanecendo-se tal ideia. António de Almeida foi para Macau pois não tinha autorização de residir em Zhaoqing, para onde se dirigiu Ruggieri a fim de se encontrar com Ricci, que ficara na missão com Duarte de Sande. Devido à permanente instabilidade e às constantes dificuldades que os missionários encontravam, o padre Sande regressou a Macau em Novembro de 1587 e o padre Valignano, de novo como Visitador, decidiu em 1588 mandar Ruggieri a Itália para convencer a Santa Sé a enviar um representante oficial a Beijing, com o fim de o Imperador conceder liberdade religiosa aos católicos. Segundo Horácio Peixoto de Araújo, devido à morte sucessiva e num curto espaço de tempo de quatro papas, [Ruggieri chegou a Roma a 19 de Junho de 1590 era Papa Sisto V, mas este morreu cerca de dois meses depois. Seguiu-se Urbano VII Papa apenas por doze dias. Eleito a 5 de Dezembro de 1590 Gregório XIV foi papa durante menos de um ano e Inocêncio IX durante 62 dias. Já o Papa Clemente VIII esteve na Santa Sé de 30 de Janeiro de 1592 a 3 de Março de 1605], Ruggieri falhou na sua missão e nunca mais voltou à China, tendo morrido a 11 de Maio de 1607.

Devido às tensões criadas pela população em Zhaoqing e à hostilidade de Liu Jiwen, o novo governador de Liangguang, em 1589 os jesuítas foram postos fora da sua residência e Ricci foi autorizado a residir em Shaozhou (Shaoguan), onde chegou a 26 de Agosto de 1589 acompanhado por o padre António de Almeida.

Aí encontraram um clima mais acolhedor e perceberam que a terminologia e as vestes budistas até então usadas não davam o estatuto pretendido, pois segundo o padre António Gouveia, os bonzos eram tidos por ignorantes e rudes. Assim deixaram crescer o cabelo e barba e passaram a usar a roupa de seda dos eruditos confucianos. Nessa cidade a Norte de Guangdong, que liga à província de Jiangxi, Ricci conheceu o jovem estudante de alquimia Qu Taisu, filho de Qu Jingchun, Ministro dos Ritos na corte Ming, que lhe pediu para ser seu tutor a fim de aprender álgebra e geometria, o que ocorreu durante dois anos, segundo refere Shen Fuwei.

Em 1594, um mandarim militar, que ia à capital, convidou Ricci para lhe fazer companhia. Ricci levava preciosos presentes enviados de Roma pelo P. Acquaviva, dois relógios, um de torre, outro de sala, aos quais juntou os oferecidos pelo Vice-rei da Índia e outros comprados em Macau. Chegou até Nanjing mas depois recuou para Nanchang, capital de Jiangxi, onde se fixou a 28 de Junho de 1595 e aí viveu por três anos. Em 1597, desde Macau o Visitador Valignano nomeou Matteo Ricci como superior da missão na China e este, em Nanchang, apresentou-se aos dignitários locais: a Lu Wangai, governador da província de Jiangxi, a Zhang Huang, famoso confucionista e a Zhu Duojie, príncipe de Jian’an, a quem presenteou com instrumentos astronómicos, um relógio de mesa e o seu atlas do mundo.

Convidado por o amigo Wang Honghui, ministro dos Ritos em Nanjing, Ricci em Junho de 1598 viajou para Beijing com o padre Lazzaro Cattaneo [músico, que desde 1594 estivera com ele em Shaoguan], onde chegaram a 7 de Setembro de 1598. Aí tencionava expor as novas teorias da Renascença, sobretudo na área das matemáticas e astronomia. No entanto, não conseguiram entrar na corte imperial devido à invasão da Coreia pelo Japão, estando a atmosfera em Beijing hostil para com os estrangeiros, segundo refere Gianni Criveller. Assim, a 5 de Novembro de 1598 deixaram a capital e via marítima chegaram a Nanjing a 6 de Fevereiro de 1599. De Macau, Valignano remete-lhe mais presentes para o Imperador, quadros da Virgem e do Salvador e relógios de vários tamanhos.

Ricci deixou Nanjing a 18 de Maio de 1600 e partiu pelo Grande Canal de novo para Beijing, agora com Diogo Pantoja. Na corte imperial entraram a 24 de Janeiro de 1601 e o Imperador Wan Li (1573-1620), que já ouvira falar de Ricci, ficou encantado com os presentes. Wan Li apesar de nunca ter visto e conhecido pessoalmente os jesuítas, pois devido à sua obesidade [segundo Álvaro Semedo] vivia em reclusão e apenas convivia com um pequeno círculo de mandarins, concedeu permissão para eles ficarem em Pequim e construírem uma residência com capela (que viria a ser a Catedral da Imaculada Conceição, Nantang). No entanto, o investigador Shen Fuwei refere que, após três dias, a 27 de Janeiro Ricci conseguiu uma audiência com o Imperador Ming a quem ofereceu 31 itens em 19 diferentes presentes.

Segundo Horácio Peixoto de Araújo, “Desde que, em Janeiro de 1601, Matteo Ricci e Diego Pantoja entraram na Corte de Pequim, ninguém duvidava da importância que assumia a presença de alguns Padres junto do imperador; da sua aceitação pelo soberano dependia a permanência e a liberdade de movimentação dos restantes missionários nas diversas regiões do império. Daí que os mandarins cristãos e os jesuítas conjugassem esforços no sentido de possibilitar de novo a entrada na Corte e oficializar uma residência da Companhia em Pequim.” Com relógios, os jesuítas conquistavam o Imperador Wan Li.

14 Jan 2020

Novas instituições em Macau e a indústria dos relógios

[dropcap]O[/dropcap]s portugueses de Macau, perante o Vice-Rei de Liangguang (Guangdong e Guangxi) Chen Rui, reconheceram-se vassalos do Imperador do Celeste Império, passando desde 27 de Dezembro de 1582 a ter autorização oficial de permanência em Macau e os padres a possibilidade de poder viver em Zhaoqing. Para tal, muito contribuiu o relógio mecânico de rodas feito de ferro mandado da Europa e entregue pelo padre português Rui Vicente a Ruggieri, que o levou como presente a Chen Rui. Este relógio suscitou o interesse das elites chinesas e foi o primeiro dos muitos que se seguiram a serem enviados para a China, originando logo em 1583 uma produção relojoeira em Macau a cargo dos jesuítas, que continuou ao longo do século XVII. Luís Filipe Barreto refere, “O fabrico de relógios implica a existência de técnicos especializados e, no ano de 1583, um artífice/relojoeiro indiano, que aprendera a fabricar relógios com os portugueses, seguiu de Macau para a China para na Missão de Zhaoqing fabricar um relógio para o governador provincial Wang Pahn” [Chen Rui fora destituído a 6 de Fevereiro de 1583].

Segundo informava Matteo Ricci, os únicos relógios conhecidos dos chineses . Também na Europa, o relógio mecânico de rodinhas, inventado em 947 por Gerberto, um monge francês que em 999 viria a ser o Papa Silvestre II, era pouco usado pois atrasava ou adiantava um par de horas por dia. Apesar de se tornar uma moda, eram pouco precisos e assim continuava-se a utilizar os relógios de água, de sol e as ampulhetas de areia, para tomar conhecimento das horas. Nem a invenção da mola de aço em espiral, criada por volta de 1500 em Nuremberga por Peter Henlein, a substituir o peso [utilizado no relógio de 947, mas ainda sem o pêndulo aplicado nos relógios por Huygens em 1656, que veio dar maior rigor à medição do tempo] como motor do mecanismo registador das horas, trouxe maior fiabilidade. Foi só em meados do século XVI, com o regulador da mola a assegurar uma força motriz constante, que o relógio mecânico ganhou maior precisão.

A política da oferta de relógios como presentes por parte dos jesuítas, segundo o padre Manuel Teixeira, ocorrera já em 1551, quando no Japão o Pe. Francisco Xavier ofereceu ao soberano Yamaguchi um grande relógio e oito anos depois, Luís Fróis, S.J., “conseguiu ter uma audiência com o imperador do Japão, vencendo as últimas repugnâncias do grande Kubosama, oferecendo-lhe um relógio que dava as horas.”

Novas instituições em Macau

Em 1583, “o Vice-rei de Guangdong-Guangxi admitiu publicamente que Macau era uma povoação especial do distrito de Xiangshan. Foi também este governante que introduziu em Macau o regime baojia, para a administração da população chinesa (sistema administrativo, baseado no registo dos residentes por unidade familiar, e no esquema de responsabilidade mútua). Foram erguidas, nas quatro ruas principais que atravessavam o centro da povoação, placas de grande dimensão, com palavras de ordem a inspirar respeito pelas autoridades chinesas”, segundo Victor F. S. Sit, que refere, “Após o reconhecimento chinês do estatuto de Macau, a comunidade portuguesa local, sob a supervisão do Bispo de Macau, fez, em 1583, a eleição do primeiro Senado da Câmara. Eleito por três anos, o Senado era constituído por três vereadores, dois juízes ordinários e um Procurador da cidade. Para a decisão sobre assuntos de importância maior, o Senado tinha que ser presidido conjuntamente pelo Bispo, pelo Capitão de Terra e pelo Magistrado.” Anteriormente, já a povoação elegia quatro vereadores, mas com o rápido desenvolvimento da população foi criado o Senado, tendo o bispo de Macau D. Leonardo de Sá presidido às primeiras eleições do governo municipal de onde surgiu o lugar de Procurador. Este cargo, cujo título oficial era de Regente Ocidental dos Assuntos de Macau, tinha como função gerir as relações com a China e por ser o chefe da administração portuguesa em Macau, em 1584 o Imperador Wan Li atribuiu-lhe o segundo grau de oficial, “com jurisdição sumária sobre os chineses em Macau”, segundo Montalto de Jesus, que refere, “este ‘olho dos bárbaros’ [Yi Mu], como os mandarins lhe chamavam, em casos importantes era substituído pelo prefeito de Xiangshan.” Já Victor Sit refere, “O Imperador decretou igualmente regulamentos sobre as visitas de inspecção dos mandarins a Macau, aos quais o Regente Ocidental tinha obrigação de prestar informações. Quanto ao protocolo oficial, ficou estabelecido que aquando da visita a Macau, os funcionários civis e militares (chineses) ocupam os lugares nobres no Senado e o Regente Ocidental, o lugar secundário. Estes regulamentos confirmaram, de facto, o estatuto de Macau como um fanfang (bairro estrangeiro), com autonomia administrativa interna.”

Sob a origem do Governo Municipal (que tomou o nome de Senado da Câmara em 1584), Beatriz Basto da Silva refere, estar “o facto de os portugueses residentes em Macau, receosos de se tornarem simples súbditos espanhóis (união ibérica-1580), terem deliberado em reunião presidida pelo Bispo D. Belchior Carneiro, criar uma forma de administração que lhes desse alguma independência.”

Em 1582, o comércio na China deixava de ser feito pela troca de produtos, sendo usada a prata para pagar as mercadorias.

A povoação aumentava e a população solicitava “cada vez maior oferta religiosa e educativa”, segundo Rui Manuel Loureiro, que refere, “um número cada vez maior de religiosos passava pelo litoral chinês a caminho do Japão, exigindo adequadas condições de alojamento e de formação. Alessandro Valignano (…) consciente de que seria necessário reforçar a retaguarda operacional, desenvolveu o projecto de construir em Macau um grande colégio, que complementasse o conjunto de edifícios que a Companhia já possuía no porto luso-chinês e que servisse de pólo aglutinador de todas as actividades desenvolvidas pelos jesuítas no Mar do Sul da China.”

“Como o ensino crescera até ao nível universitário, a 30 de Novembro de 1594, a Casa da Companhia de Jesus passou a denominar-se Colégio dos Jesuítas e ministrava a 60 alunos lições de Português e Latim, Artes, Casos e Teologia”, segundo Beatriz Basto da Silva, que refere, a 1 de Dezembro de 1594, “a escola criada pelos jesuítas passou à categoria de Colégio Universitário. O Colégio de São Paulo foi a primeira Universidade ocidental no Extremo Oriente.”

O primeiro passo de uma nova expansão missionária na China fora já dado pelos jesuítas Matteo Ricci e Ruggieri que inauguraram em 14 de Setembro de 1583 a missão católica em Zhaoqing, dois séculos depois da saída dos franciscanos aquando da chegada da Dinastia Ming ao trono do Celeste Império.

7 Jan 2020

Maravilhoso contador das horas

[dropcap]D[/dropcap]e Lisboa com destino à Índia partiu a 24 de Março de 1578 a 30ª expedição de missionários jesuítas onde seguiam os padres Michele Ruggieri, Francisco Pasio, Duarte de Sande e ainda sem estar ordenado Matteo Ricci.

O Visitador das missões das Índias orientais, o padre Alessandro Valignano chegara a Macau em Setembro de 1578 e “aí, rapidamente se deu conta, por um lado, da vastidão do império da China e da sua importância estratégica, e por outro, das enormes barreiras com que esse mesmo império se defendia de todo o contacto com povos estrangeiros”, segundo Horácio Peixoto de Araújo, que transcreve a visão do Visitador altamente positiva do reino da China, tão diferente de os demais reinos existentes no Oriente, assim como a qualidade das gentes e costumes, “a fertilidade da terra e a perfeição do governo. E tudo isto, acentuava [Valignano], sem o concurso da doutrina cristã.”

Vendo as enormes potencialidades que se abriam à evangelização, o Visitador mandou vir da Índia o padre Michele Ruggieri (1543-1607), que chegou a Macau em Julho de 1579 e por ordem de Valignano começou de imediato a estudar a língua dos mandarins, “com o auxílio de um letrado chinês que, depois de reprovar nos exames para alcançar grau se tinha fixado em Macau”, segundo refere Rui Manuel Loureiro, que num aparte relembra, “Quando o padre Francisco Pérez tentou conseguir autorização para permanecer em Cantão em 1565, os mandarins cantonenses tinham-lhe perguntado se dominava a língua chinesa; perante a resposta negativa do jesuíta, o seu pedido tinha sido rotundamente indeferido.” Para Ruggieri, se ler e escrever os carácteres chineses não trazia grandes obstáculos (ao fim de dois anos dominava doze mil caracteres), já os tons exigiam prática no falar. Daí, nada melhor do que acompanhar os comerciantes portugueses à feira de Cantão [iniciada em 1580 e então a durar dois meses] e procurar encontrar algum Mandarim com quem praticar.

“Pela Páscoa de 1580 (3 de Abril), o Pe. Miguel Ruggieri, jesuíta italiano aplicado ao Real Padroado de Portugal e com os meios diplomáticos e materiais que este lhe forneceu, dirigiu-se a Cantão e habitou numa casa junto ao Rio Si-Kiang” [em mandarim Xijiang, que significa Rio Oeste]. E continuando com Benjamim Videira Pires S.J., Ruggieri aí voltou em 1581, duas vezes, “a primeira das quais com o Irmão Paes e a segunda, antes de 25 de Outubro com o já Pe. André Pinto, todos jesuítas.” Segundo o padre Domingos Álvares, Superior da residência de Macau, “alguns mandarins o receberam e comunicaram com ele. Demorou-se, uma vez, três meses e, a outra, dois, residindo no palácio do Embaixador do Sião.” A sua fama começava a despertar o interesse entre os mandarins de Cantão.

Angústia em Macau

Em 1582, o novo Vice-rei de Guangdong e Guangxi Chen Rui mandou uma chapa para Macau a convocar o bispo (desde 1581 D. Leonardo de Sá) e o Capitão-mor (D. João de Almeida) para comparecerem em Zhaoqing. O chamar as mais importantes personalidades de Macau “criou uma certa angústia pois parecia ser mais rápida a saída dos portugueses de Macau do que os padres conseguirem missionar na China”, relatava o Pe. Francisco de Sousa.

Segundo o padre Manuel Teixeira, “Os cidadãos de Macau, não achando conveniente a ida das duas supremas autoridades da colónia, enviaram em seu lugar, como delegados de Macau, o Ouvidor Matias Panela, representando o Capitão-mor, e o jesuíta Miguel Ruggieri, representante do bispo”, a quem Valignano ordenou que tratasse de ver se poderia lá quedar.

Assim, segundo Benjamim Videira Pires, “em Abril-Maio de 1582, Ruggieri voltou, pela quarta vez, a Cantão e aí ficou mês e meio. No dia 2 de Maio, encontrou-se Ruggieri em Cantão com o Pe. Alfonso Sanchez S.J. e dois franciscanos, um dos quais foi o terciário João Diaz Pardo, que pela segunda vez se aventurava a entrar na China.” Montalto de Jesus refere, por ser “importante para a segurança da colónia, que alguém se dirigisse a Shao-king-foo (Zhaoqing), na altura a sede vice-real”, de Cantão Ruggieri para lá se dirigiu em Junho com o Juiz português Matias Panela, “homem de idade e grande experiência, que sempre se relacionara muito bem com os mandarins.”

Na audiência, o novo Vice-rei acusou os portugueses de terem tribunais em Macau, terra sobre alçada do imperador, assim como condenava a permanência de cafres e japoneses, não queridos pelos chineses. “Para poder controlar eficazmente os Portugueses que começaram a ter um comportamento cada dia mais arrogante a partir da repressão dos marinheiros amotinados de Zhelin, serviu-se habilmente da política de ‘garrotes mais cenouras’ para os Portugueses ficarem com medo e respeito da nossa magnanimidade e gratos às nossas acções virtuosas. (…) Através desta convocação, fez saber aos Portugueses que eles estavam a residir em Macau na qualidade de vassalos do Imperador chinês. Este acto reforçou a soberania chinesa sobre Macau”, segundo Jin Guo Ping e Wu Zhiliang, que referem, “Durante este processo, os representantes de Macau não perderam a oportunidade de prestar vassalagem política ao vice-rei e, através dele, ao Imperador chinês [Wan Li, 1573-1620], o que agradou sobremaneira a Chen Rui, que representava o Filho do Céu em Cantão.”

A delegação levou presentes como sedas e cristais que o Vice-Rei pagou para mostrar que as ofertas não era suborno e deu-lhes alguma prata para fazer compras em Macau. Segundo D. João de Deus Ramalho: “Entrementes Ruggieri vê-se detido por uma doença grave e Matias Panela teve de voltar sozinho a Shiu-Hing [Zhaoqing] a dar conta das suas compras, informando o motivo por que faltava o Delegado Ruggieri. Matias Panela aguçara-lhe a curiosidade e o desejo de rever o Padre na sua corte, porquanto lhe anunciou que outro Padre [o português Rui Vicente] trouxera um raro objecto da Índia. Um relógio maravilhoso que tinha a arte de tanger as horas por si mesmo.” O Vice-Rei mostrou-se muito interessado por esse engenho e por isso convidou-os para uma segunda visita, a fim de lhe trazerem o maravilhoso contador das horas.

Ruggieri, depois de restabelecido, partiu a 18 de Dezembro de 1582 para Zhaoqing com o Padre Francisco Pasio, [que com Matteo Ricci tinha chegado a Macau em 7 de Agosto de 1582 proveniente de Goa]. Assim, em 27 de Dezembro de 1582, pelas mãos dos dois padres italianos foi entregue o primeiro relógio mecânico, “uma máquina de aço toda de rodas por dentro, que continuamente se moviam por si mesmas e mostravam por fora todas as horas do dia e da noite e o som de uma campainha dizia o número de cada uma delas”.

O Vice-Rei Chen Rui, com o precioso relógio, instrumento nunca visto na China (e ainda muito raro no Ocidente) e a confirmação dos delegados portugueses de Macau reconhecer a soberania chinesa, ficou de tal modo contente que não pôde negar a Ruggieri a ambicionada satisfação de se estabelecer em Zhaoqing, capital dos dois Guangs. Tal viria a ocorrer no ano seguinte.

30 Dez 2019

同人 A Comunidade de Macau

[dropcap]P[/drocpap]ara tentar não repetir o que se vem escrevendo sobre os 20 Anos da RAEM, fiz a pergunta ao Yi Jing [Livro das Mutações] e a resposta dada foi o hexagrama Tongren, 同人 Comunidade com os Homens, cuja imagem é o trigrama Céu sobre o trigrama Fogo. Pela natureza do fogo a chama arde em direcção ao Céu e tal sugere a ideia de comunidade. Este hexagrama é o oposto do hexagrama Shi, que significa Exército e simboliza Terra sobre Água, tendo como Imagem algo perigoso no interior e obediência no exterior a exigir disciplina, assim como a necessidade de um homem forte entre muitos fracos.

Já para Macau, “a clareza encontra-se no interior e a força no exterior, o que caracteriza uma pacífica união entre os Homens, que para manter sua coesão necessita de uma pessoa suave entre muitas firmes”, em tradução de Richard Wilhelm, que segue para o Julgamento: “A comunidade com os Homens em espaço aberto tem sucesso. (…) A verdadeira comunidade entre os homens deve basear-se em interesses de carácter universal. Não são os propósitos particulares do indivíduo, mas os objectivos da humanidade que criam uma comunidade duradoura entre os homens. (…) Para que se possa formar uma tal comunidade, é necessário um líder perseverante e lúcido que tenha metas claras, convincentes, que despertem entusiasmo e que possua força para realizá-las.”

Pela Imagem dos trigramas encontrados entende-se: “O Céu movimenta-se na mesma direcção que o fogo e, no entanto, são diferentes um do outro. Assim como os corpos luminosos no Céu servem para a articulação e divisão do Tempo [na China o Tempo é uno, mas como método pode desdobrar-se pelos ciclos da História que se repetem em diferentes níveis de complementaridade e sincronia], a comunidade humana e todas as coisas que pertencem à mesma espécie devem ser estruturadas organicamente. A comunidade não deve ser um símbolo conglomerado de indivíduos ou coisas — isto seria um caos, e não uma comunidade —, mas para que a ordem se estabeleça é necessário que haja uma organização entre a diversidade dos seres.”

Ao deitar as três moedas para encontrar os dois trigramas, que formam o hexagrama, na primeira linha saiu o número 9 e respeitante a essa linha lê-se: “O início de uma união entre homens deve ocorrer diante da porta. Todos encontram-se igualmente próximos uns dos outros. Ainda não existem divergências e nenhum erro foi até então cometido. Os princípios básicos de qualquer tipo de união devem ser igualmente acessíveis a todos os participantes. Acordos secretos geram infortúnio.”

Harmoniosa comunidade

Passeava por Macau quando, em frente às ruínas de S. Paulo, encontro um jovem a explicar a História do monumento e cada um dos símbolos da fachada a um enorme grupo de estudantes mais velhos. Seguiram depois o jovem guia, em Actividade Formativa sobre o Património Cultural, para o Templo de Na Cha e daí para o Museu de Macau. Espanta a profundidade das explicações e a sua desenvoltura rivaliza com os guias profissionais. Espelha o excelente trabalho que em Macau se vem fazendo na Educação.

Esse processo civilizacional que a educação tem dado ao estar dos jovens residentes de Macau transborda para os visitantes e, por isso, encontramos as ruas mais limpas e mais respeito e valorização do património.
Também um dos vectores trabalhados durante os últimos vinte anos diz respeito à educação artística e sobretudo musical, dando gosto ver os progressos feitos, tanto ao nível de executantes como dos ouvintes.

Nos concertos de música clássica são agora os espectadores vindos do exterior de Macau a mostrar não terem sido educados para assistir em silêncio e ter a delicadeza de não usar os telemóveis, mesmo quando no início dos espectáculos lhes é pedido para os desligar. Já os comportamentos dos jovens locais e mesmo das crianças nos concertos dá para observar como escutam a música e esta os coloca com o espírito no patamar do grande prazer.

Um dos maiores atractivos de Macau é apresentar um alto nível de segurança, tanto de dia como à noite, para todos os que nela vivem e a visitam, complementado por um estar familiar a envolver quem pela cidade anda, onde ainda é normal haver quem delicadamente se cumprimenta com uma saudação, mesmo entre pessoas que apenas se conhecem do cruzar quotidiano. Existe ainda uma entreajuda e solidariedade encontrada entre e nos seus residentes, assim como disponibilidade para esclarecer as dúvidas dos turistas quando precisam dalguma informação. Já quanto aos taxistas, que são o cartão-de-visita de qualquer cidade, encontrei sempre muitos ao longo dos anos de uma extrema educação e respeito para com os clientes e os que não apresentavam tão elevado grau de atitude têm vindo rapidamente a melhorar o seu comportamento, muito devido à acção de penalização que lhes tem sido aplicada. Essas mudanças registam-se também na maior parte dos condutores de autocarros na forma da sua condução e respeito pelos mais idosos.

Outro factor muito positivo e do agrado dos residentes é o atendimento nos serviços da administração pública, cujo nível de excelência é pouco habitual em outras cidades do mundo e assim, ter de tratar de assuntos ligados ao quotidiano deixa os residentes com um elevado grau de satisfação a fazer esquecer algumas agruras ainda existentes.

Falta vedar um conjunto de algumas poucas ruas secundárias para se poder atravessar a pé a maior parte da cidade sem se ser importunado pelo trânsito de veículos motorizados. Essa via verde pedonal não seria difícil de criar e para se usufruir de um tranquilo caminhar era só preciso ser arborizada e ter esplanadas para tornar a cidade mais viva e saudável.

A diferença entre os jovens de Macau e os de Hong Kong – e mesmo da maior parte do resto do mundo – é sentirem existir aqui o momento com futuro, enquanto esse sentimento não existe para os outros que vivem já sem esperança.

Apesar dos quase trinta anos que levo de Macau, a cidade surpreende-me cada vez que saio de casa e a pé me deixo enredar pelos esquecidos pátios, becos, travessas e ruas, ainda a perpetuar a tradição, mas que não merecem a atenção das multidões. Estas, apenas ocupam poucos lugares centrais da cidade e não perturbam pois, com um pequeno desvio, logo nos conseguimos colocar fora dessa onda, se for caso de querer evitar as multidões.

Considero Macau a minha terra e gosto de aqui viver e bastavam pequenos arranjos para se tornar um lugar de eleição, como poucos existentes pelo mundo.

20 Dez 2019

Cristãos em guerras

[dropcap]A[/dropcap] Guerra das Religiões (1517-1648) ia já a meio quando Portugal passou a ser governado por Filipe I, soberano católico espanhol dos habsburgs contra quem desde 1568 os Países Baixos (Holanda), após se converterem ao protestantismo, lutavam pela sua independência, na que ficou conhecida por Guerra dos 80 Anos. Uma das muitas guerras entre cristãos que se desenrolavam na Europa, dividida entre os países do Norte, ligados ao protestantismo e os do Sul, a manterem-se católicos. Mas a questão ultrapassava largamente os problemas da fé e debaixo dessa capa os senhores da terra procuravam levantar revoltas nas regiões que dominavam para se libertarem do julgo espanhol e do Sacro Império e formar novos países.

Esta Guerra das Religiões ocorreu apenas dentro do Cristianismo [pela visão chinesa do século XIX, o catolicismo e o protestantismo são duas religiões diferentes] cuja divisão começou em 1517 quando o monge Martinho Lutero (1483-1546) afixou as suas 95 teses à entrada da igreja do Castelo de Wittenberg (Saxónia), onde denunciava o tráfico de indulgências pelas autoridades eclesiásticas em Roma. Tal estava relacionado com o Papa Júlio II (1503-1513), que usou parte desse dinheiro para pagar a Miguel Ângelo as pinturas da Capela Sistina.

[Interessante é ver na actualidade os povos que abraçaram o protestantismo viverem no mais forte materialismo ao ponto de fazerem do dinheiro o seu Deus]. Em 1520 foram publicados os principais escritos de Lutero e o Papa Leão X excomungou-o. Em 1530 ocorreu a Profissão de fé de Augsburgo, onde ficaram traçados os princípios da religião cristã reformada. Para a reforma luterana a única autoridade está na Palavra de Deus escrita na Bíblia e não aceita a supremacia papal e dos sacramentos, a contrariar a doutrina católica, que segue a tradição da Igreja, no poder do magistério, do Papa e clero, os seus dogmas e culto dos santos. Próximo das teses de Lutero, João Calvino (1509-1564) fugiu de França em 1536 para se refugiar em Genebra e aí publicou A Instituição da Religião Cristã, mas sendo perseguido, em 1541 regressou à sua terra natal. Assim foi criado o calvinismo, sendo os leigos a exercer a autoridade no interior da Igreja, não reconhecendo o episcopado, a única diferença para com o luteranismo.

Na Alemanha, em 1525 Lutero colocara-se ao lado dos príncipes contra os camponeses, quando estes entraram em guerra contra a exploração pelos seus senhores, pois para ele a religião do príncipe é a religião vigente no seu território. O luteranismo desde 1530 expandiu-se à Alemanha e à Europa do Norte e a reforma calvinista a partir de 1541 começou a estender-se à Suíça, a França, aos Países Baixos e à Escócia. Também inserido na família protestante, a Igreja Anglicana, apesar do inicial pendor católico, separou-se em 1534 da Igreja Católica Romana pois Henrique VIII pretendia divorciar-se de Catarina de Aragão para que o seu casamento com Ana Bolena ficasse legítimo. O Papa Clemente VII não acedeu e por isso, no que ficou conhecido por Acto de Supremacia, rompeu oficialmente com a Santa Sé, confiscando em Inglaterra todos os bens da Igreja Católica e tornando-se o chefe supremo dos anglicanos.

Ainda em 1534, Inácio de Loyola e os companheiros pronunciavam votos em Montmartre (Paris), que levará à fundação da Companhia de Jesus em 1540.

O Concílio de Trento (1545-1563) fecha a Idade Média e deu início à Contra Reforma da Igreja Católica.
Em França, a guerra religiosa entre católicos e protestantes atingiu o auge em Paris no massacre da noite de São Bartolomeu a 24 de Agosto de 1572.

Com a assinatura da Paz de Vestefália em 1648 (o primeiro tratado moderno), terminava a Guerra dos 30 Anos, um conjunto de devastadoras guerras ocorridas sobretudo na Alemanha e com ela findava (não totalmente) a Guerra das Religiões na Europa, cujos reflexos pelo resto do mundo se continuou a fazer sentir nas colónias europeias ultramarinas. Emergiu então lentamente uma nova organização de estados, com as monarquias a transformarem-se nas modernas nações-estado. Mas ninguém venceu, apenas essas diferentes igrejas abriram mão do seu controlo sobre o julgamento do indivíduo e quem melhor preparado para o agarrar do que René Descartes (1596-1650) com a sua geometria cartesiana de projecção, centrando o observador em si mesmo como padrão.

Estatuto de Macau

Com a Dinastia dos Filipes no trono de Portugal, a notícia da união das duas coroas chegou a Macau a 31 de Maio de 1582 através do padre Alonso Sanchez, S.J., enviado de Manila a 12 de Janeiro de 1582 pelo Governador das Filipinas D. Gonçalo Ronquilho para promover nesta cidade a aclamação de Filipe II. O navio que transportava este emissário foi desviado por uma tempestade para as costas de Fujian e vários contratempos ocorreram com as autoridades chinesas no seu caminho até Cantão e só no fim de Maio conseguiu entrar em Macau. A 18 de Dezembro de 1582 na Casa da Companhia, então o Colégio de S. Paulo, Macau prestava juramento de fidelidade a Filipe II de Espanha, mas como a China não permitia que os espanhóis aqui exercessem a sua autoridade, Macau continuou com a bandeira portuguesa e nunca a substituiu pela espanhola.

A Dinastia Ming (1368-1644) tinha já então mais ou menos definida uma política para Macau e os vice-reis de Cantão fechavam os olhos à situação consumada da presença portuguesa. Em Cantão começaram a aparecer barcos espanhóis provenientes de Manila para tentar obter uma base de comércio, o que causou apreensão às autoridades chinesas.

O novo Vice-rei de Guangdong e Guangxi Chen Rui em 1582 mandou uma chapa para Macau a convocar o bispo e o capitão-mor para comparecerem perante o seu tribunal em Zhaoqing (capital da província), pois pretendia esclarecer o estatuto de Macau, ainda não reconhecida legalmente pelo Governo de Cantão. No entanto, os mandarins do distrito de Huengshan aqui tinham já os seus funcionários chineses nos serviços alfandegários, mas estes magistrados “só interferiam nos assuntos internos de Macau quando era absolutamente necessário”, segundo Tien-Tsê Chang, que refere, “Durante os primeiros 25 anos após 1557 os mandarins mais importantes de Cantão pouca importância deram ao estabelecimento português em Macau.”

Outro motivo para o vice-rei de Cantão convocar os portugueses era averiguar a razão dos “espanhóis entrarem tantas vezes clandestinamente no território chinês, contra as leis proibitivas marítimas. Só através dos portugueses, podia ele obter informações para confirmar as acusações” de irem tomar posse da China. E continuando com Jin Guo Ping e Wu Zhiliang, “A intervenção de Chen Rui é exactamente a prova da lealdade com o cargo para que fora nomeado. Como é que ele poderia deixar de intervir tendo notícias sobre uma possível invasão da China pelos Castelhanos?”

Segundo Victor F. S. Sit, tal intenção de conquistar a China existia como se constatou nos planos apresentados pelos jesuítas Francisco Cabral em 1584 e dois anos depois por Alonso Sanches.

16 Dez 2019

Portugal sob domínio dos Habsburgs

[dropcap]A[/dropcap]té 1581 Portugal manteve-se fora das devastadoras guerras europeias e vivia em outro mundo ainda não existente para a Europa, então bárbara comparada com as grandes civilizações do Oriente.

Tudo se precipitou quando o Rei D. Sebastião (1554-1578), procurando conquistar os territórios interiores de Marrocos, entrou na Batalha de Alcácer-Quibir aliado ao muçulmano Rei de Fez Mulei Muhammad Al-Mutawakkil, que fora destronado pelo seu tio Mulei Abd al-Malik, apoiado pelos turcos de Argel. Saiu derrotado a 4 de Agosto de 1578, apesar de todos os três chefes morrerem, ficando Portugal sem o seu rei, que não tinha descendência. Em algumas fontes históricas consta não ter morrido em Marrocos, mas conseguira chegar a Espanha onde por ordem de Filipe II passou os últimos tempos na prisão, sendo a sua identidade escondida e tratado como mais um falso D. Sebastião, dos muitos que apareceram a fazer-se passar por ele.

D. Henrique (1512-1580), o Casto, por ser filho de D. Manuel I e de D. Maria, filha dos Reis Católicos, subiu ao trono em 28 de Agosto de 1578, sendo o único, após a morte de D. Sebastião, a ter direito por sucessão directa ao trono de Portugal. Entre 1562 e 1568 fora regente durante a menor idade do Rei D. Sebastião, tendo substituído a rainha viúva D. Catarina (1507-1578), filha de Filipe I de Espanha, tutora do neto desde o falecimento a 11 de Junho de 1557 do seu marido, o Rei D. João III. D. Catarina trazia total conhecimento dos assuntos do reino, pois o seu conjugue com ela se aconselhava e partilhava tanto a governação como os negócios. Talentosa na política, impusera casar os filhos, D. Maria com o príncipe Filipe II e D. João com a infanta D. Joana de Áustria, filha de Carlos V. Devido à fraca saúde do príncipe D. João, considerava-se a infanta D. Maria como a provável herdeira do trono e por isso muitas vozes “defendiam que se casasse com o infante D. Luís, para que os reinos peninsulares se não juntassem”, segundo Joaquim Romero Magalhães, que refere, D. Catarina dava “seguimento a uma política que já vinha de trás, e de que a sua própria pessoa também fora objecto. Para apagar ligações quase incestuosas bastavam as dispensas papais.”

A princesa Joana deu à luz D. Sebastião a 20 de Janeiro de 1554, tendo dezoito dias antes ficado viúva do infante D. João. Quando o jovem rei D. Sebastião partiu para o Norte de África, o seu tio-avô Cardeal D. Henrique, Inquisidor-Mor do Reino e arcebispo de Évora e de Lisboa, recusara a regência do reino e mostrara-se contra a empresa, tal como o seu tio Filipe II o tentara dissuadir, mas a expedição teve a concordância do Papa Gregório XIII.

O Cardeal D. Henrique, durante os dois anos em que foi rei, apesar da sua avançada idade, em 1578 pediu dispensa das ordens sacras ao Papa para poder casar e conseguir descendência, mas morreu a 31 de Janeiro de 1580.

Herdeiros ao trono

D. Teodósio (1568-1630), filho do VI Duque de Bragança D. João [irmão de D. João III e de D. Henrique] e da infanta D. Catarina (1540-1614), era um dos mais bem colocados herdeiros à coroa portuguesa. A duquesa de Bragança D. Catarina tinha o direito de representação por ser filha do infante D. Duarte, o único filho varão com descendência sobrevivente de D. Manuel. D. Teodósio com dez anos participara na Batalha de Alcácer Quibir e feito prisioneiro foi libertado pelo próprio Rei de Marrocos, impressionado com a sua bravura. Sendo um dos principais sucessores ao trono após a morte do Rei D. Sebastião, o rei de Espanha só o deixou regressar a Portugal quando conseguiu aí ser aclamado rei. Filipe II propusera casamento a D. Catarina, que assumira a chefia da Casa de Bragança devido à tenra idade do filho, mas ela não aceitou para preservar o direito de D. Teodósio II [em 1583 VII Duque de Bragança] à coroa portuguesa. Se o casamento se realizasse era sinal da aceitação da Casa de Bragança à aclamação de Filipe II como rei de Portugal.

Sucedeu assim D. António (1531-1595), prior do Crato, neto do Rei D. Manuel e filho bastardo do infante D. Luís, por isso fora da linha de sucessão. Quando D. António regressou de Alcácer-Quibir, D. Henrique desprezou-o e ele colocou-se sob protecção de Filipe II, prometendo apoiá-lo para a sucessão do trono de Portugal se aí fosse colocado como Governador, pretensão recusada pelo monarca espanhol. O sentimento anti-castelhano levou o povo a 19 de Junho de 1580 em Santarém a aclamar rei D. António e então, Filipe II decidiu conquistar Portugal. Segundo Francisco Bethencourt, “os pedidos de auxílio dirigidos por D. António e por D. Catarina à França e à Inglaterra chamam a atenção para a posição de Portugal no xadrez europeu e para as dificuldades levantadas pelas guerras de religião em França, onde a própria coroa se debate com o poderoso fenómeno da Liga apoiada por Filipe II. Embora a guerra castelhana nos Países Baixos fosse um factor favorável aos projectos de resistência, a impossibilidade de uma aliança entre a Inglaterra e a França para o apoio a Portugal contra a invasão de Filipe II veio enfraquecer ainda mais as forças que lutavam por um rei .”

Junto a Lisboa, a 25 de Agosto de 1580 deu-se a Batalha de Alcântara entre as tropas de D. António e o exército comandado pelo experiente duque de Alba, sendo o rei português derrotado e por isso, Filipe II tornou-se rei de Portugal. D. António exilou-se primeiro em Inglaterra e depois em França, onde com o apoio francês chegou em 1582 à Ilha Terceira, nos Açores, que continuava a não aceitar o domínio espanhol. Em 1589, ajudado pelo corsário Francis Drake, que estava ao serviço da Rainha Isabel I de Inglaterra, desembarcou em Peniche e tentou que o povo o aceitasse como Rei, mas este desprezou-o.

Filipe II (1527-1598), Rei de Espanha em 1556, apesar de já governar desde 1543, reivindicou o trono português por ser filho de Isabel de Portugal, logo neto de D. Manuel. Além de ter conquistado Portugal pelas armas, teve de comprar o apoio de muita da nobreza devido à rivalidade existente entre os dois impérios da Península Ibérica. Reinava já Portugal quando em 16 de Abril de 1581 foi aclamado nas Cortes de Tomar como Filipe I, o Prudente, prometendo respeitar o princípio da monarquia dualista e manter o império ultramarino português separado do espanhol e com os portugueses a governá-lo. Ficou em Lisboa, fazendo-a por dois anos sua capital e regressou a Madrid, onde construía a sua nova capital, deixando o cardeal-arquiduque Alberto de Áustria, seu sobrinho, a governar Portugal.

O Rei Filipe II de Espanha, I de Portugal, pertencia à família austríaca dos Habsburgs, que desde 1438 governava o Sacro Império Romano Germânico, sendo o seu pai o Imperador Carlos V (1519-1556) neto do Imperador Maximiliano I da Áustria (1493-1519).

Unidas as duas coroas, a portuguesa e a espanhola, terminava a crise sucessória, mas Portugal ao passar a pertencer à Casa austríaca dos Habsburgs viu-se envolvido na Guerra das Religiões.

2 Dez 2019

Macau e o âmbar cinzento

[dropcap]A[/dropcap]s contradições encontradas nos registos escritos dos primeiros tempos da povoação de Macau levantaram problemas aos historiadores, cuja clarificação tem vindo a ser feita pelo acesso às fontes chinesas e com essa preciosa ajuda, agora através da comparação de documentos, se vai tornando a História mais clara. A primeira questão, rapidamente resolvida pelo confrontar as fontes portuguesas com as chinesas, foi a de Macau ser ou não habitada aquando da chegada dos portugueses. Essa dúvida encontra-se actualmente no plano de quantos aglomerados existiam então, se dois, povoação de Monghá e a nas proximidades do Templo de A-Má, ou três, pois sobre Patane restam ainda dúvidas ter sido construída antes, ou criada com a chegada dos portugueses devido a ser o local onde existia água potável para as naus fazerem aguada.

Outra questão está na data em que os portugueses passaram a construir com tijolos as suas casas, havendo informações a referir existirem essas habitações pouco depois de 1557, enquanto outras dizem serem todas elas construídas de palha ainda em 1565. Já a razão de os portugueses poderem ficar a residir na península de Macau e se havia conhecimento de tal na corte imperial, foi através do estudo de dois historiadores chineses, Jin Guo Ping e Wu Zhiliang, encontrada uma resposta até então nunca sugerida, mas plausível perante a documentação apresentada. Para além da explicação de não ter sido a ajuda dada pelos portugueses com as suas armas aos chineses contra os piratas, nem o suborno aos mandarins, que não era senão presentes habitualmente oferecidos como cortesia, apontaram como mais relevante um novo dado, o âmbar que os imperadores da Dinastia Ming ansiosamente procuravam ter como meio para ampliar a prole e conseguir ter suficientes descendentes para perpetuar a casa real e a dinastia.

Conhecido pelos portugueses por âmbar cru, ou âmbar cinzento, nome proveniente do árabe alambre e longxianxiang na China, aí considerado um afrodisíaco, apesar de ser usado nos seus lugares de origem, Ásia Ocidental, África Oriental e Índico, como incenso, material de construção e betume para embarcações.

A primeira referência chinesa é do período da Dinastia Tang (618-907), quando se diz ter o país de Bobali (actual Somália) “amoxiang (阿末香), transcrição fonética do árabe âmbar, que quer dizer cachalote e, por extensão, o âmbar-cinzento que se cria dentro deste mamífero.”

A Dinastia Song do Norte (960-1127) recebia âmbar-cinzento como tributo, sendo um objecto de decoração pessoal, além de usado como incenso e para a produção de velas. Su Dongpo faz-lhe referência num seu poema. O nome chinês para âmbar cinzento é longxianxiang (龙涎香), que “resulta duma tradução semântica, baseada na lenda das babas do dragão marítimo” e só a partir da Dinastia Ming (1368-1644) se começou a dar-lhe um uso medicinal.

A China deixara em 1433 de navegar pelo Oceano Índico, local de proveniência do âmbar cinzento, mas a sua feitoria de Malaca foi adquirindo o produto aos mercadores muçulmanos até os portugueses conquistarem esse porto em 1511.

Afrodisíaco âmbar cinzento

As informações que se seguem provêm de Wu Zhiliang e Jin Guo Ping. A 17 de Setembro de 1554, “um decreto imperial foi mandado ao Ministério da Fazenda Pública para a compra do âmbar-cinzento destinado à preparação do afrodisíaco para o Imperador Jiajing, a fim de que ele pudesse desfrutar as 800 donzelas seleccionadas em 1552. O âmbar-cinzento era um artigo importado e só podia ser obtido através do comércio externo. Devido à rígida proibição marítima, a sua obtenção não era certamente uma tarefa fácil.

Nessa altura, os Portugueses navegavam pelo Oceano Índico e pelo mar do Sul da China fora. Por dominarem o comércio entre o Ocidente e o Oriente, eram certamente os melhores agentes para trazerem o âmbar-cinzento. Daí a ligação histórica entre os barcos forasteiros que entravam em Macau em 1553 e a procura do âmbar-cinzento.”

“No 34.º ano (1555), o xun fu (governador civil de Guangdong) convocou à sua repartição, mediante um ofício, entre outros comerciantes do distrito de Fuliang (hoje Jingdezhen), Wang Hong e incumbiu o gangji (agente oficial nomeado pelo governo para tomar conta dos comerciantes estrangeiros) He Chude de os levar aos barcos dos bárbaros para comprar o âmbar-cinzento. Conseguiram sucessivamente um total de onze taéis”, segundo Wu Zhiliang, que complementa, “A quantia solicitada pela corte por um decreto imperial ascendia a uma centena de cates e aqueles onze taéis conseguidos estavam muito longe de poderem cumprir a meta estabelecida. Talvez precisamente por esta razão se foi afrouxando o controlo sobre os Portugueses a fim de ver aumentadas as possibilidades da obtenção do âmbar-cinzento.” Terá sido por isso que em 1554 o haidao fushi Wang Bo deu autorização a Leonel de Sousa para os portugueses se instalarem em Haojing.

“Wang Bo tivera a felicidade de ver a sua carreira bem sucedida graças ao mérito de ter conseguido o que a corte precisava em matéria de incensos e perfumes” e por isso em 1557 foi promovido a desembargador provincial de Guangdong.

Em 1555 foram seleccionadas mais 180 raparigas para o Imperador Jiajing e a necessidade dos afrodisíacos tornou-se mais premente. Nesse ano “foi ordenado ao Ministério das Fazendas a procura e a compra de 100 cates (50 quilogramas) de âmbar-cinzento. Não se conseguiu nenhuma quantidade dentro da Capital Imperial. Mais tarde foram dadas ordens ao tesoureiro provincial de Guangdong para que tentasse adquirir este produto. Ofereceram-se 1200 taéis por um cate (vinte onças, por 1500 cruzados) e o “Imperador Jiajing, desesperado, em relação ao preço que ia oferecer, ordenou: . Conseguiram-se apenas onze mazes [equivalente a meio quilo] que foram mandados à Capital Imperial… Foram assim dadas novas ordens ao Ministério das Fazendas para que destacasse um enviado especial para os lugares com contactos com os bárbaros do litoral a fim de, com todos os recursos, procurar e comprar este produto para a corte.”

Em 1555 Belchior Nunes Barreto S.J. vai a Cantão para resgatar alguns cristãos ali presos e melhor que prata como moeda levou âmbar cinzento.

Na opinião de Jin Guo Ping, o Imperador sabia da presença portuguesa em Macau, porque mandava lá procurar o apetecido produto e a ajuda contra os “piratas era um dos deveres que os Portugueses deviam cumprir como uma das contrapartidas do uso das terras de Macau.” Refere Beatriz Basto da Silva, “De certo o Haidão Wang Bai não deve ser levianamente acusado de corrupção nem como autor da aceitação dos portugueses em Macau à revelia da hierarquia até Pequim. Macau pode ter nascido por decreto do Imperador Jianping (1522-1566) ávido pela busca da longevidade!” Ficou assim desvendada a principal razão para a aceitação dos portugueses em Macau.

25 Nov 2019

Os jesuítas instalam-se em Macau

[dropcap]A[/dropcap] Embaixada de Diogo Pereira e Gil de Góis à corte de Beijing falhou, muito devido à falta de qualidade dos presentes enviados de Malaca e das informações dadas para a capital do Celeste Império (China) pelo Comandante dos dois Guangs e Vice-ministro da Guerra Wu Guifang, que fez tudo para esta ser recusada.

O comandante Tang Kekuan faltara à palavra dada aos portugueses aquando da ajuda militar por eles prestada, considerando como “uma vitória do seu próprio mérito e o Haidao [Wu Guifang], desconhecendo também o conteúdo do prometido, não os isentou do pagamento da mediação. Os bárbaros, inconformados com a situação, recusavam-se a pagar os direitos das suas mercadorias, o que fez com que as autoridades provinciais procurassem meios para colocá-los em apuros. Foi decretada a proibição de exportação de víveres para Macau. Esfomeados, os bárbaros acabaram por pagar os direitos em causa, mas lamentavam a falta de dignidade e de palavra por parte dos Chineses, sem saber que tudo tivesse sido obra do comandante Tang”, segundo Jin Guo Ping e Wu Zhiliang, que sugerem uma justificação para os mandarins faltarem ao compromisso: “conseguida a vitória, eles tinham de informar Pequim do sucesso e não podiam revelar o auxílio militar português, que fora o factor decisivo da repressão do motim, pelo menos, em documentos oficiais, embora Pequim pudesse saber a verdade, que não convinha ser divulgada.

E, por último, para isentar os Portugueses do pagamento dos direitos era preciso justificar perante a Corte.” Tien-Tsê Chang refere, “o governo em Pequim recusava-se firmemente a ter quaisquer relações oficiais com os portugueses.” Já Beatriz Basto da Silva, corrigindo na segunda edição da Cronologia da História de Macau o que deixara escrito na primeira, escreve, “Os portugueses de Macau recebem um agradecimento formal pela ajuda prestada na luta contra a rebelião de 1564, mas não se livram de pagar 20.000 taéis de prata pela ancoragem dos seus navios, nem do ‘foro do chão’ pelo uso da terra e do porto de Macau, que já vinha de 1559/1560 (500 taéis só para o foro). Recebem ainda a promessa de caso cumpram os direitos alfandegários, não lhes serem ‘tolhidos’ os mantimentos, antes ‘dobrados’. Trata-se do fecho e abertura das Portas do Cerco”, porta grande que João de Escobar refere existir em 1565.

O fracasso da Embaixada levou também a Companhia de Jesus a não conseguir estabelecer-se na China. Aos jesuítas vindos na embaixada com Gil de Góis, os padres Francisco Perez e Manuel Teixeira e o Irmão André Pinto, nos finais do ano de 1565 o provincial da Índia António de Quadros deu-lhes ordens para ficar em Macau e estabelecerem-se em casa própria. Em Dezembro deixavam a habitação de Pero Quintero, andaluz e ex-mordomo do vice-rei do México, onde tinham duas dependências muito boas e cómodas e uma varanda com um altar, em que diziam cada dia duas missas, e junto a ela edificaram a primeira residência estável da Companhia de Jesus em Macau, construída de palha como eram todas as casas. Ao lado da actual igreja de Sto. António, local onde já em 1558 existia uma capela, a construção ficou a cargo do padre Francisco Perez. O padre André Fernandes chegava em 1565 para, juntamente com o padre Manuel Teixeira e o irmão André Pinto, dar assistência religiosa aos mercadores portugueses que sempre são muitos, mas durante esse século XVI os jesuítas não se mostraram interessados em converter os chineses que aí viviam.

Rápido desenvolvimento de Macau

Na península de Macau, situada no extremo Sul da grande ilha de Heung Shan (em mandarim Xiangshan), começava a surgir uma povoação de características portuguesas. O Censor Provincial de Guangdong/Guangxi Pang Shanpeng, que em 1564 esteve em Haojing (Macau), é o primeiro a referir o nome Ao Men (Ou Mun em cantonense) e escreveu que em menos de um ano os portugueses “construíram centenas de casas, existindo então mais de mil”, segundo José Maria Braga.

Victor F. S. Sit refere, em 1563 Macau “por um lado, possuía apenas uma estrutura social fracamente organizada, e por outro lado, a China ainda não tinha reconhecido aos portugueses o direito de residência. A povoação portuguesa era governada pelo Capitão-mor das Viagens da China e do Japão, quando ele se encontrava em Macau. Na sua ausência, a administração competia a um senado localmente eleito, constituído por um juiz e três comerciantes proeminentes. Todavia, tratava-se duma organização que não possuía ratificação nem do Rei de Portugal, nem do vice-rei da Índia portuguesa. Nesse ano, o pirata chinês Zeng Yiben fez ataques a Cantão, Zhongshan e Macau. Foi nestas circunstâncias que, em Macau, chineses e portugueses se reuniram na construção, em 16 dias, duma muralha em terra batida à volta da povoação, com quatro torres quadradas de vigilância e 460 metros de comprimento. Isto pode ser considerado o primeiro passo na construção duma cidade permanente.”

No período 1571/72 fora “formalizado o pagamento regular de Macau às autoridades chinesas provinciais de Guandong (500 taéis de prata que seguirão para o tesouro do Império)”, refere Beatriz Basto da Silva, que diz, “Entre 1573 e 1575, Macau consistia numa rua central cercada de grades de madeira, dando acesso a quatro quarteirões. Nada mais. Mas com paróquias e Igreja Matriz, Sto. António, depois N.ª Senhora, junto da Santa Casa, vigários e autoridades, e com cidadãos de mérito!”

As primeiras instituições que apareceram em Macau foram obra de D. Melchior Carneiro Leitão S.J. (1515-1583). Sagrado Bispo de Niceia em Goa a 15 de Dezembro de 1555, foi em 1567 designado pelo Papa Pio V para governar as Missões da China e do Japão. Já em 1559, a par com o cardeal D. Henrique, tinha sido um dos fundadores e reitor da Universidade de Évora. Chegara em Junho de 1568 a Macau, onde fixou residência e logo criou um hospital para leprosos e em 1569 a Santa Casa da Misericórdia. Ano em que terá ido a Cantão, onde se demorou algum tempo e aí voltou em 1575, fazendo “em vão todos os esforços por estabelecer-se em Cantão, como Bispo da China que era”, segundo Benjamim Videira Pires. “O Bispo passaria a ter uma intervenção directa, embora informal, no governo daquele estabelecimento, juntamente com o capitão-mor da viagem ao Japão, uma vez que Macau não dispunha ainda de autoridades municipais.”

Por bula de Gregório XIII de 23 de Janeiro de 1576, anexada ao Arcebispado de Goa foi criada a Diocese de Macau, desligando-se da de Malaca, à qual pertencera durante dezoito anos, sendo nomeado bispo D. Diogo Nunes de Figueira. Pela renúncia deste, foi D. Leonardo de Sá eleito Bispo do Japão e da China em 1578, mas só aqui chegou em 1581. Assim com jurisdição eclesiástica sobre o Extremo Oriente, que abrangia toda a China, Japão, terras vizinhas e ilhas adjacentes, ficou D. Melchior Carneiro como primeiro prelado a governar a Diocese de Macau. Assistia-se no Oriente a um enorme desenvolvimento missionário.

18 Nov 2019

Derrota das amotinadas tropas chinesas

[dropcap]N[/dropcap]a manhã de 27 de Setembro de 1564 os habitantes de Macau juntaram-se e aceitaram dar ajuda aos mandarins, conseguindo em poucos dias reunir entre 250 a 300 portugueses de têmpera para combater os marinheiros da armada imperial que desde Abril andavam revoltados. Dez dias depois, a 7 de Outubro embarcaram estes em Macau como mercenários com a sua artilharia a bordo dos juncos chineses. “O chumpim, ou capitão-mor do mar de Cantão, veio à povoação com cinco velas grossas e sete miúdas, para recolher os voluntários portugueses”, segundo Rui Manuel Loureiro (RML), que refere, “A expedição foi dividida em dois grupos, um comandado por Diogo Pereira, que correria a orla litoral nos juncos de maior porte; o outro capitaneado por Luís de Melo, que nas velas miúdas rumaria à cidade de Cantão, por dentro do rio.” Já “as embarcações dos ladrões eram nove muito grandes, com muito artilharia e munições de guerra, afora outras pequenas, e mais de dois mil homens de peleja com muitas armas, saligues (antiga arma de arremesso) (e) estrepes de ferro para quando abalroam”, escrevia João de Escobar.

O efeito surpresa foi geral! Ao verem a armada imperial chinesa, os marinheiros amotinados avançaram destemidamente os seus juncos sobre ela, crendo como habitual serem de fácil vencer.

Não esperavam ver entre eles portugueses, que com as suas armas impunham respeito. “Entrou-lhes tal medo que das embarcações se lançaram a nadar e cada um só tratava de fugir. Em espaço de meia hora, sem perda alguma dos nossos, quase todos foram cativos>”, segundo Gonçalo Mesquitela. Refere RML, “Como escreve o irmão André Pinto, <só a vista dos cristãos bastou para os desbaratar e desfazer>, porque, ao constatarem que , renderam-se em massa às autoridades cantonenses. De acordo com outro testemunho, os juncos capturados eram ; mas os expedicionários portugueses impuseram-se pela sua reputação de homens e armas, tomando-os a todos, . A fulgurante vitória portuguesa parece ter causado uma impressão muito favorável nas autoridades de Cantão. Pelo menos, essa é a opinião dos missionários jesuítas que testemunharam todo o episódio. André Pinto afirma que que . Quanto ao padre Francisco Pérez, confirma esta apreciação, colocando mesmo na boca do chumpim palavras altamente elogiosas em relação aos portugueses: ”.

Terminava assim a 7 de Outubro de 1564 a grave perturbação criada havia cinco meses pela rebelião interna na marinha imperial estacionada em Zhelin (Dongguan) nos arredores de Cantão.

“O general de armas chinês pediu aos portugueses para lhe entregarem os juncos capturados, mas a recusa quase provocou um conflito apenas sanado por Luís de Mello e Diogo Pereira que, diplomaticamente, explicaram ao oficial militar que os portugueses eram tão disciplinados que só aos seus capitães obedeciam. O general chinês subtilmente retorquiu: ”, segundo Gonçalo Mesquitela, que usou as informações do Padre António Franco para a descrição desta crise.

O corpo expedicionário de Macau foi brindado “com chapas de um dos mandarins reconhecendo os seus bons serviços e prometendo intercessão junto do Imperador para que fosse autorizada a entrada na China da missão diplomática de Diogo Pereira/Gil de Góis (1563-1565) e ainda, cumulativamente, terá sido dada à cidade, a título de recompensa, a isenção do pagamento dos direitos alfandegários desse mesmo ano de 1565”, segundo Beatriz Basto da Silva (BBS). Foram ainda os portugueses autorizados a irem a Cantão tratar de negócios.

Fracassa a Embaixada de Gil de Góis

Em 1564, “Os chineses apenas podiam permanecer durante o dia no território de Macau, devendo regressar às terras de origem ao anoitecer”, segundo os historiadores Jin Guo Ping, Wu Zhiliang e o padre Manuel Teixeira. Tien-Tsê Chang, em O Comércio Sino-Português entre 1514 e 1644, refere, “O relacionamento entre a China e a jovem colónia estrangeira foi, durante alguns anos, instável, pois o governo em Pequim recusava-se firmemente a ter quaisquer relações oficiais com os portugueses. Uma missão portuguesa portadora de um tributo foi recusada, por ordem da corte, tão tarde quanto 1565.” Tal ocorreu quando, após dois anos, o impaciente Embaixador Gil de Góis, farto de esperar, já em Cantão, “não conseguiu aceitar as exigências dos costumes chineses e os mandarins recusaram-se a reconhecer a embaixada com a justificação de que esta era particularmente destituída de magnificência ostentosa e do acompanhamento necessário, em forma de tributo, para o Filho do Céu”, segundo Montalto de Jesus. Muito se deveu ao capitão de Malaca D. Francisco de Eça não a ter prendado condignamente, como refere Gonçalo Couceiro, que diz ter então a fixação dos missionários na China falhado definitivamente. “Para os três jesuítas as directivas chegam breve, depois do fracasso da missão diplomática; o padre provincial da Índia, António Quadros, ordena-lhes em 1565 que se estabeleçam em casa própria, pelo que deixaram as dependências que ocupavam na residência de Pero Quintero. Com isto criava-se o primeiro hospício, ou casa própria da Companhia de Jesus, em Macau, pelas vantagens de se dispor de residência certa: quer para nela estarem os missionários da Missão do Japão, enquanto aguardavam para Goa, ou para o arquipélago Nipónico, quer pelo facto, mais próximo, de se poder ter uma base para organizar a futura instalação dos missionários da Companhia na China.”

Data assim de 1565 o estabelecimento dos jesuítas em Macau. Rui Manuel Loureiro, em As Origens de Macau nas Fontes Ibéricas, refere que em 1565 “os responsáveis da Companhia de Jesus despachavam o padre André Fernandes para aquelas partes, para, juntamente com o padre Manuel Teixeira e o irmão André Pinto, dar assistência religiosa aos mercadores portugueses que sempre são muitos. Mas, durante algumas semanas, entre a partida dos navios para o Japão e a chegada da frota de Malaca, a população diminuía consideravelmente.”

A 15 de Novembro de 1565, segundo BBS, “Os Padres Perez S.J. e Juan de Escobar S.J., foram de visita a Cantão” e em Dezembro, junto à Ermida de S. António e pegada à habitação de Pero Quintero, os jesuítas edificaram a primeira residência estável da Companhia de Jesus em Macau.
Os espanhóis, que tinham chegado em 1521 às Filipinas, só em 1565 aí se estabeleceram e a ocuparam, edificando Manila em 1571.

Como todas as anteriores embaixadas portuguesas enviadas à China Ming, a de Gil de Góis também fracassou e só mais de um século depois, já no trono do Celeste Império se sentava o Imperador Kangxi da Dinastia Qing, voltaram a realizar uma nova embaixada régia.

11 Nov 2019

Aceitação da oferecida ajuda

[dropcap]S[/dropcap]abendo a China sem meios de defesa disponíveis para combater as tropas revoltadas e aquarteladas em Tancoão [Dongguan], Diogo Pereira, ainda como capitão-de-terra, ou já só negociante, mas desde a primeira hora à frente dos destinos de Macau, para o bem da embaixada e devido ao já bom relacionamento com alguns mandarins de Guangdong, enviou-lhes um seu criado com uma oferta de ajuda. Vinte anos de convívio com os chineses, tanto no comércio como a nível oficial, davam a Diogo Pereira conhecimentos para entender que nunca da China se esperava virem pedir socorro aos portugueses. Assim a proposta, para não tirar a face aos chineses, seria os portugueses serem contratados como mercenários para embarcar com suas armas e canhões em juncos da marinha chinesa e em conjunto combater os ladrões alevantados.

Tudo tratado com grande prudência e segredo e “ninguém soube parte deste oferecimento nem das inteligências que trazia em Cantão sobre o dito socorro”, relato de João de Escobar, escrivão da embaixada régia, transcrito por Rui Manuel Loureiro (RML), Em Busca das Origens de Macau, de onde foram retiradas muitas das citações.

“Todavia, quis Deus mover-lhe os ânimos, havendo por bem de aceitar o dito socorro, e o que o aceitou foi o chumbim [chumpim (zongbing em mandarim) ou capitão-mor do mar de Cantão, segundo RML, que refere João de Escobar confundir a designação do funcionário imperial], que, por ser tal, os outros grandes não lhe puderam contradizer.” Por intermédio de Tomé Pereira [chinês lusitanizado, língua de Diogo Pereira de quem era cativo, segundo RML], o chumbim mandou um chapa ao embaixador e a Diogo Pereira, a aceitar a oferta de socorro, e “nisso faria o embaixador muito serviço a el-rei da China, mandando-lhe mais dizer que ele lhe prometia de tomar a seu cargo o peso da embaixada e fazê-lo saber a el-rei, que por entretanto que descansasse em Macau do comprido caminho que fizera, e que lhe pedia que olhasse e favorecesse a gente miúda das aldeias, não lhe fizessem os portugueses algum desaguisado, porque esta é a principal confiança que encomenda seu rei aos embaixadores estrangeiros de novos reinos. E com estas palavras, outras de muitos agradecimentos e cumprimentos de amizade.”

Tomé Pereira chegando a Macau com a chapa de Cantão logo a entregou a Diogo Pereira, que a mostrou ao embaixador Gil de Góis e “foi tanto o alvoroço neles que o não puderam encobrir, mas, todavia, não no publicaram ao capitão-mor, por terem por impossível confiarem os chineses seu crédito e honra de nós.” Ao saber, o capitão D. João Pereira, desconsiderado na sua autoridade, tratou mal de palavras Tomé Pereira por sem sua licença ir a Cantão e se o voltasse a fazer, mesmo mandado por Diogo Pereira, ou pelo embaixador, “lhe mandaria cortar as orelhas. E perguntando-lhe se trouxera chapa do chumbim sobre a embaixada, lhe disse Tomé Pereira que sim, do que se riu e zombou D. João, pela informação que tinha dos grandes não admitirem nem receberem a embaixada. Tudo isto dissimulou Diogo Pereira com sua discrição, e não se deu por achado de nada, nem deixou de ser de D. João como era dantes, por cumprir assim ao serviço de Deus e d’ El-Rei.”

Obediência ao capitão-mor

Da parte do chumbim chegou ao porto de Macau com embarcações de juncos e lanteias a pedir o dito socorro o mandarim enviado Tang Kekuan. General cantonense, “pessoa de muita autoridade e crédito, e fora principal capitão nas coisas da guerra, mas andava fora da graça d’el-rei (da China), por maus sucessos que na guerra lhe sucederam, o que o chumbim, pela antiga amizade que com ele tivera, o assinalava em todas suas coisas, para as que bem lhe sucedessem as nomear por suas e em seu nome as apresentar a el-rei (da China), para tornar a pô-lo em seu estado e ficar em sua graça. Coisa muito alheia de nós fazermos, mas antes faríamos muita mercê a Deus não tirarmos a honra e o crédito aos homens de seus serviços e os usurpássemos a nós, como cada dia se faz.”

Chegando, o General Tang Kekuan “bem representou logo em seu aparato e pessoa e poderes que trazia sua gravidade e valia que já tivera; fez logo saber de sua vinda ao embaixador e a Diogo Pereira, para se verem onde lhes bem parecesse e saberem a causa de sua vinda.”

Mandaram-lhe logo as línguas da terra, intérpretes, a saudá-lo pela sua chegada e a informar não ser já Diogo Pereira capitão-mor, pois “sucedera no dito cargo D. João Pereira; e por ser costume dos portugueses darem em tudo a obediência a seu capitão-mor, que a ele mandasse perguntar o lugar, e assim o mandasse visitar e fazer saber de sua vinda e o para que era, que tudo o mais que dele e do embaixador lhe fosse necessário, que estavam muito aparelhados para o fazer e, como fosse tempo, que todos se veriam. Pela qual causa o mandarim o fez logo saber a D. João Pereira, o que logo mandou chamar ao embaixador e a Diogo Pereira e a seu irmão Guilherme Pereira e a Luís de Melo, e a muitos senhores cavaleiros e criados d’El-Rei, para com eles pôr a coisa em conselho; e sendo determinado ser lícito dar-se o tal socorro que vinham buscar, fazer-se logo prestes. O qual ajuntamento foi feito em dia dos Cosmos [segundo RML, talvez S. Cosme, (27 de Setembro)] pela manhã, do dito ano de 1564.”

O padre Francisco Pérez referiu três razões que pesaram na decisão dos portugueses: “Em primeiro lugar, como estrangeiros em terra alheia, os portugueses deviam providenciar todo o apoio que lhes fosse solicitado pelos governantes locais. Depois, a destruição dos ladrões era um assunto que interessava igualmente aos mercadores lusitanos, que viam os seus negócios prejudicados pela actuação dos revoltosos, já que as ligações com Cantão estavam interrompidas.

Por último, uma resposta positiva ao apelo dos mandarins permitiria contrair maior amizade com eles, esbatendo a sua tradicional desconfiança em relação aos portugueses.” Já para os chineses, a razão de alistar como mercenários os estrangeiros, habitantes de Macau, era eles disporem de “artilharia pesada e de armas de fogo ligeiras, tendo demonstrado repetidamente uma enorme habilidade no respectivo manuseamento. Por outro lado, o seu recrutamento impediria a formação de qualquer tipo de aliança com os revoltosos, que só poderia ser lesiva para os interesses de Cantão”, segundo Rui Manuel Loureiro, que refere, “Uma vez acordada a intervenção das gentes de Macau, o chumpim, ou capitão-mor do mar de Cantão, veio à povoação com cinco velas grossas e sete miúdas, para recolher os voluntários portugueses”, que “em escassos dias se fizeram prestes, obra de 250 a 300 mui bem armados” e “embarcaram a sua artilharia a bordo dos juncos chineses” no dia 7 de Outubro de 1564. Antes do início da batalha a previsão era a de vir a ser longa e muito difícil, no entanto a inesperada aparição de portugueses armados nos juncos imperiais chineses levou em meia hora à rendição dos rebeldes amotinados, que logo se entregaram à marinha imperial chinesa.

28 Out 2019

Macau com dois capitães-mores em 1564

[dropcap]G[/dropcap]il de Góis aguardava impaciente a permissão para a embaixada poder entrar na cidade de Cantão e daí seguir até à capital Beijing, afim de ser recebida pelo Imperador Jiajing (1522-1566), quando em Abril de 1564 uma armada imperial chegou a Cantão. Após uma temporada no mar a combater os piratas, a tripulação requereu pelo seu Capitão-mor o vencimento não recebido há meses, mas revoltou-se devido aos mandarins de província faltarem à palavra e em vez de pagarem, bateram no irmão do Capitão que em Cantão ficara à espera dos vencimentos. Revoltados, os marinheiros chineses após dominarem as cercanias de Cantão e fazerem o seu porto em Tancoão [Dongguan], pelo roubo pagaram-se do que lhes era devido e com pesados juros. Ressarcidos, viraram as atenções para Macau onde planeavam assaltar e queimar a povoação à noite e roubar e matar os portugueses, assim como ir esperar e tomar as naus e juncos provenientes da Índia e de todas as partes que, no período da monção, a maioria em Junho, aqui aportavam.

Sobre as intenções dos ladrões, os mandarins de Cantão mandaram avisar o Capitão de Macau. Por ser na invernada não haveria ainda trezentos portugueses mas, com escravos e cristãos da terra, eram mais de mil e quinhentos. O capitão [seria ainda Diogo Pereira ou, se já chegara, D. João Pereira] e embaixador (Gil de Góis) com muita diligência repartiram os capitães e as gentes da povoação, colocando-as “todas as noites nos passos onde se presumia que poderiam vir entrar os ladrões e aí vigiavam seus quartos até a manhã. E nisto havia muita ordem e cuidado, tanto que de noite parecia que nas mostras que davam que estavam mais de mil portugueses na povoação. Pelo que quis Nosso Senhor que não vieram naquele tempo que se esperava virem, e a causa seria por saberem da maneira que nos podiam achar se nos viessem cometer”, relato do escrivão da embaixada régia João de Escobar, transcrito por Rui Manuel Loureiro (RML), Em Busca das Origens de Macau, de onde muita da informação foi retirada, tal como as citações ao longo do artigo.

Arrasar Macau

Desafiando os portugueses, numa tarde os ladrões em juncos “surgiram muito perto de terra, apegados com a povoação da banda do leste. E, surtos, toda a povoação acudiu à praia a vê-los; não levaram suas armas, porque como era de dia sabiam muito bem que (os ladrões) estavam muito quietos e desagastados, como quem estava em sua terra, porto e morada, não faziam nenhum modo de sinal, nem mandavam recado do que queriam. E o capitão, vendo tão pouco desavergonhamento, mandou pôr sobre um outeiro que defronte deles estava um falcão pedreiro.” Como a perguntar-lhes o que queriam, com essa “peça de artilharia que utilizava balas de pedra”, segundo RML, “atirou muitos tiros e assombrava com pelouro seus juncos, nem isso os movia a se levantarem nem fazerem outra coisa de si, como quem fazia muito pouca conta do falcão. Ao outro dia pela manhã se levantaram e fizeram seu caminho para o mar, pousando muito desagastadamente por entre duas naus nossas que estavam para irem ao Japão, as quais estavam com muita artilharia, nem por isso deixaram os juncos de passar por elas e irem seu caminho contra o mar. Soube-se logo a determinação dos ladrões, que era irem esperar na entrada da barra os juncos e naus nossas que ao porto viessem desapercebidos.” RML refere, “Luís de Melo Pereira trazia uma mercê de uma viagem do Japão e acabara de chegar ao litoral chinês oriundo de Java, onde carregara pimenta” e estando a nau “surta em Lampacau, foram dar com ela e a acometeram, trabalhando de a entrar, o que não fizeram pela muita artilharia que trazia. E deixando-a, se tornaram outra vez a meter no canal do porto dos portugueses, para aí serem mais senhores das embarcações que nele entrassem. E estado no dito boqueirão, quis entrar um nosso junco que vinha com sândalo de Timor, o qual era de Pêro Veloso, casado em Malaca. E à nossa vista o abalroaram sem nós lhe podermos acudir, e trataram-no mal, e tomaram-no se não fora a nau de D. João Pereira que vinha atrás, que, por não haver maré, estava fora esperando por ela. Com este socorro desconfiaram os ladrões fazer já nenhuma presa nas embarcações dos portugueses, pela resistência que em todas achava. E com esta desconfiança se tornaram para Cantão a se refazer do que connosco tinham perdido, e no repartir das presas houve entre eles dissensão e discórdia, de maneira que se dividiram em duas partes. E divisos, os nove juncos tornaram para o Chincheu e os outros nove ficaram com (o) mandarim e pessoa principal na cidade de Tancoão, e daí avexavam todavia a Cantão, sem lhes poder resistir, recebendo os mercadores muita perda por não poderem passar nem trazer suas mercadorias aos portugueses.”

Bastidores

Ao descrever a procissão da Páscoa de 1564, o P. Francisco de Sousa dizia ser “a colónia, que acabava de nascer, uma feitoria comercial, contando apenas 900 portugueses”, sem contar as crianças e segundo Tien-Tsê Chang “superado pelo número de estrangeiros, nomeadamente, vários milhares de malaquenhos, indianos e africanos. Alguns comerciantes, mas muitos deles criados e escravos. Muito poucos chineses (se é que alguns) habitavam em Macau.”

Quando D. João Pereira, com a mercê régia da viagem ao Japão para 1564/65, aportou em Macau trazia o decreto real de 1563, que abolia o cargo de capitão-de-terra e assim foi Diogo Pereira deposto dessas funções e D. João Pereira enquanto aqui esteve ocupou o lugar da capitania.

Aconteceu em 1564 encontrarem-se neste porto dois capitães em viagem para o Japão, um nomeado por via de Malaca (D. João Pereira) e outro por via de Sunda (Luís de Melo), segundo Beatriz Basto da Silva, que refere, “Ambos com credenciais autênticas, é evidente a fonte de conflitos a que os jesuítas, Manuel Teixeira S.J., Francisco Peres S.J. e André Pinto S.J., são chamados para arbitrar e resolver.”

Desde a primeira hora nos destinos de Macau, Diogo Pereira, cujo ânimo nunca repousava, quis aproveitar o tempo e tratou de cultivar contactos com chineses para o “bem da embaixada, não negando sua fazenda para as coisas dela, mas antes a repartia muito liberalmente com os grandes de Cantão em dádivas e peças que lhes mandava.” Ganhou tal à-vontade que veio “convencer aos grandes de Cantão, oferecendo-lhe todo favor e ajuda que houvessem mester dos portugueses, em nome d’ El-Rei de Portugal e de seu embaixador, para desbaratarem os ladrões. E tratou isto com tanta prudência e segredo, que ninguém soube parte deste oferecimento nem das inteligências que trazia em Cantão sobre o dito socorro, à uma porque tinha por impossível os chineses mostrarem tanto sua fraqueza aos portugueses e à outra, porque não se haviam (os chineses) de fiar deles, pela experiência que o dito Diogo Pereira deles tinha.“ Mas algo inimaginável ocorreu, “coisa que nunca da China se esperava, que foi virem pedir socorro aos portugueses contra certos ladrões alevantados”, relata João de Escobar.

21 Out 2019

Embaixada de Gil de Góis

[dropcap]H[/dropcap]á divergências entre historiadores quanto a Diogo Pereira se encontrar em Macau quando a 24 de Agosto de 1562 aí entrou o navio de D. Pedro da Guerra, que “trazia a segunda embaixada de Diogo Pereira à China”. Por não aceitar o lugar de Embaixador, foi “nomeado para a missão um parente seu, Gil de Góis, que em 1562 partiu de Goa”, segundo Montalto de Jesus. Num barco de Diogo Pereira, não em 1562, mas no ano seguinte, a 29 de Julho de 1563 Gil de Góis chegou a Macau com os presentes para o Imperador da China e acompanhado por João de Escobar, escrivão da embaixada régia, os padres Francisco Perez e Manuel Teixeira, e o irmão André Pinto, sendo recebidos por Diogo Pereira, o seu irmão Guilherme e muitos dos moradores. Era o período mais concorrido no porto de Macau e aí estavam já novecentos portugueses adultos. Segundo Tien-Tsê Chang, o rápido aumento em 1563 “dever-se-á, em parte, ao facto dos colonos portugueses de Lang-pai-kao [Lampacau] terem abandonado as suas residências anteriores, para se juntarem aos seus compatriotas em Macau.”

Entregue a mercê régia a Diogo Pereira, que escolheu ser Capitão-mor, ficou, se já não vinha, Gil de Góis como embaixador.

Contactadas as autoridades chinesas de Macau, deu-se início às diligências para a realização de uma Embaixada a Beijing e Cantão enviou a Macau uma comitiva de mandarins a examinar os presentes para o Imperador Jiajing. Ainda da Índia esperava Gil de Góis o envio de dois elefantes para engrandecer o cortejo e tornar o presente mais majestoso.

O padre Francisco Perez escreveu em Janeiro de 1564: “Parece que vão começar a negociar as cousas de Embaixada com os Mandarins do porto”, refere Jordão de Freitas. No final desse mês “partiam, num barco chamado bancão do porto de Macau, para esta ilha e porto do Pinhal, os missionários jesuítas, padres Manuel Teixeira e Baltasar da Costa. Percorridas as dez ou doze léguas que separavam as duas localidades, em dois dias, encontraram os padres quatro juncos siameses e dois portugueses ancorados no porto. Ao outro dia que era domingo, celebraram missa, em terra; e à meia-noite, ergueram os marinheiros lusos uma igreja, na praia com tanta diligência que, quando amanheceu, amanheceu também a igreja, feita de enramada e embandeirada com o seu retábulo do orago, S. Miguel, Arcanjo. Imediatamente se organizaram aí todos os ministérios religiosos: missa, pregação, catequese aos meninos e escravos que nos navios estavam, baptismos, confissões, uma mui comprida procissão, comunhão geral de todos os setenta comerciantes, proclamação de um jubileu que lhes fora concedido pelo Papa S. Pio V, através do 1º Bispo de Malaca. A Missão durou uma semana inteira. Terminados os exercícios sagrados, os comerciantes portugueses levaram os dois missionários a ver uma grande varela ou templo de ídolos, que aqui está, no meio deste Pinhal – conta o mesmo padre Costa”, carta do Irmão André Pinto transcrita por Benjamim Videira Pires S.J., que refere ser Pinhal na parte norte da ilha de Lantao, porto antigamente chamado Hu Cham. Uma pequena viagem de missão e retiro a ensaiar a entrada na China dos missionários jesuítas.

O Vice-Rei da Índia Francisco Coutinho, em 1564 para além de não prover as coisas da embaixada, ainda enviou com mercê régia D. João Pereira como capitão-mor da Viagem ao Japão e durante a estadia em Macau tomar a capitania e depor Diogo Pereira. Segundo Montalto, a corte de Lisboa ficara desagradada “não só pela recusa do cargo de enviado por Diogo Pereira mas, também, pela sua eleição extra-oficial para o posto de capitão-de-terra e, em 1563, um decreto real tratou de abolir aquele posto.”

Revolta das tropas imperiais

Na costa da província de Guangdong, em Abril de 1564 ocorreu a rebelião da tripulação de uma armada imperial chinesa. Dezoito juncos, afora outras embarcações pequenas e ligeiras, chegaram a Cantão vitoriosos do combate contra a pirataria, sobretudo wokou japoneses, nas costas de Fujian. O Capitão-de-guerra dessa armada imperial reclamou aos mandarins grandes de Cantão os salários por receber de toda a equipagem, mas o Governo de província tentou empatar o pagamento e diminuir a quantidade de prata a pagar. Com receio de na espera durante as negociações uma revolta das forças imperiais ocorresse, alegando os serviços ainda não estarem integralmente feitos, deram ordem ao capitão para voltar às costas de Amoy [actual Xiamen] e deixar o irmão em Cantão, que de seguida levaria os vencimentos. Confiando na palavra, assim fez o capitão de guerra, que a seu cargo trazia uma grossa armada. Mas depois de partir, o seu irmão foi açoitado e sabendo da afronta, “o mandarim grande fez volta com sua armada, e em satisfação de tamanha ofensa e de não cumprirem com ele a prata que ficaram, desembarcou com sua gente na cidade, matando e assolando quanto nela achava, e roubando todos os despojos que ficavam.” Dizem ter feito “isto tão súbito e acidentalmente, que ao tempo que os principais e grandes com sua gente e mais povo se recolhiam pelas portas da cerca dentro, por escaparem dos ladrões, morreriam afogadas e atropeladas entre as ditas portas passante de duas mil almas”, relata João de Escobar, que continua, “os ladrões, pelo costume da guerra e abundância das armas e artilharia das suas embarcações, puderam fazer e saquear todo Cantão a seu salvo, não entrando da cerca para dentro, por ser muito forte e alta. E feito isto, logo se declararam por alevantados e públicos ladrões e corsários, trabalhando daí por diante de se fazerem mais fortes, aparelhando-se de muita mais artilharia e munições de guerra, para nenhuma força de outra armada os poder entrar. E para mais sua guarda e segurança, escolheram a cidade de Tancoão [hoje Dongguan] e a fortificaram, por ela em si ser muito forte e antiga, na qual se recreavam e refaziam dos trabalhos do mar.”

Quando os ladrões queriam dar assalto a Cantão recolhiam-se a dez léguas para Leste, uma jornada de um dia, em “Tancoão sem nenhuma resistência, pelo que os arrabaldes e a mor parte dos mercadores de Cantão a despovoavam e se metiam pela terra dentro, andando já todos tão atemorizados e desinquietados que deixavam as fazendas, por remir a vida.”

“As tropas revoltosas, depois de conseguirem derrotar várias expedições enviadas em sua perseguição, semearam a destruição por todo o litoral”, refere Rui Manuel Loureiro.

Entusiasmados pela vitória contra as forças imperiais, meteu-se-lhes “em cabeça que poderiam vir de noite a nosso porto e desembarcar nele e queimar a povoação e roubarem-na e matar os portugueses; e isto feito iriam esperar nossas naus e juncos, que da Índia e de todas as partes no tempo da monção vêm ao porto e as desbaratariam”, relato de João de Escobar, escrivão da embaixada régia, transcrito por Rui Manuel Loureiro no artigo Em Busca das Origens de Macau, onde refere, “Os mandarins de Cantão mandaram avisar o Capitão D. João Pereira das intenções dos ladrões”.

14 Out 2019

Diogo Pereira ou Gil de Góis Embaixador à China

[dropcap]A[/dropcap]pós a morte de D. João III em 1557, o neto D. Sebastião (1554-1580) tornou-se Rei de Portugal, mas devido à sua menor idade ficou a avó D. Catarina de Áustria (1507-1578) como regente de 1557 a 1562 e em 1568, considerado maior, passou a exercer o poder. Nascido em Lisboa a 20 de Janeiro de 1554 do casamento de D. João, filho do Rei, e D. Joana de Áustria (filha de Carlos V), D. Sebastião subiu ao trono a 11 de Junho de 1557. No ano seguinte, Constantino de Bragança, filho de D. Jaime, IV Duque de Bragança, partia para a Índia como Vice-Rei, exercendo o cargo até 1561.

No Porto de Amacau desde 1558 encontrava-se o mercador Diogo Pereira como Capitão de terra nomeado pela população, substituído na governação pelo Capitão da Viagem ao Japão enquanto este aqui permanecia; todos sob a dependência do Vice-Rei da Índia. No ano de 1558 foi o algarvio Leonel de Sousa quem como Capitão-mor da Nau do Trato realizou a viagem ao Japão na companhia de um navio de Guilherme Pereira. Em Hiraldo os negócios foram excepcionais, levando-o mais tarde a desabafar do enfado de ser rico, pelos 50 mil cruzados do lucro alcançado, segundo Rui Manuel Loureiro, que refere, naufragou no meio do golfão da China entre portos chineses quando já seguia a caminho de Malaca, mas conseguiu salvar-se e em 1560 estava na Índia.

Ainda em 1558 o Bispado de Goa foi elevado à categoria de Arcebispado, sendo criados dois bispados sufragâneos, o de Cochim e o de Malaca, onde até 1575 ficou integrado Macau.
Diogo Pereira desde os anos 40 do século XVI comercializava pelo mar do Sul da China. “A sua experiência e espírito de liderança gera o clã Pereira que, não muito mais tarde, opera em Macau”, segundo Jorge dos Santos Alves e Beatriz Basto da Silva complementa, no período de 1550 a 1564, “sensivelmente, o poder português em Macau é alvo de uma luta ‘civil’ entre moradores e mercadores, sendo que a ‘família-empresa’, como lhe chama L. F. Barreto, de Diogo Pereira se encarrega de organizar o sistema de pagamento alfandegário que Guangdong aceita. É a família Pereira que aproveita o assentamento de Leonel de Sousa e o faz evoluir no quadro do triângulo mercantil Ocidente-China-Japão.” Reinava na China a Dinastia Ming com o Imperador Jiajing (1522-1566).

O estabelecimento dos comerciantes portugueses em Macau e a grande actividade dos missionários pelo Oriente levou a ser relembrada a importância de se realizar uma nova embaixada à China. Na memória restava a frustrada terceira tentativa de embaixada régia, demandada então pelo padre Francisco Xavier e a expensas de Diogo Pereira, mas desfeita em 1552 pelo Governador de Malaca. Já os objectivos do jesuíta Belchior Barreto em 1555, de libertar portugueses presos em Cantão (dez mil em 1561, segundo Amaro Pereira), permaneceram quando em 1558/59 uma nova embaixada à China foi preparada com redobrado cuidado para não haver as confusões que perturbaram o desenlace de todas as anteriores.

Diogo Pereira capitão-mor

O Vice-Rei da Índia Francisco Coutinho (1561-64), 3º Conde de Redondo, nas instruções que do reino levava para a Índia constava a de mandar Diogo Pereira por Embaixador e Capitão da China, com o presente necessário à embaixada pela qual trazia de Portugal algumas peças de muita estima. Enviada para tentar regularizar as relações luso-chinesas, a comitiva deveria incluir padres jesuítas pois pretendia-se conseguir autorização para a Companhia de Jesus entrar na China.

Chegado a Goa em Setembro de 1561, o Vice-Rei verificou estar Diogo Pereira na China e na monção seguinte, em Abril pelo navio de D. Pedro da Guerra, onde seguiam com destino ao Japão os padres jesuítas, Luís Fróis e João Baptista del Monte, mandou-lhe a nomeação, por dois anos até 1564, para como Capitão de Terra governar a povoação em lugar dos Capitães-mores da viagem ao Japão. Devia preparar terreno à embaixada e acautelar desordens como as ocorridas com Simão Peres de Andrade, pelas quais as duas primeiras embaixadas portuguesas à China fracassaram. De Malaca saíram a 8 de Julho e entraram em Macau a 24 de Agosto de 1562, dia de S. Bartolomeu, sendo recebidos por Diogo Pereira, a exercer já funções de capitão-mor de Macau, escolhido pelo povo por gozar de muita confiança e popularidade. [Posto abolido por decreto real de 1563, mas aí se manteve até 1587]. A ele se deve a organização e transformação rápida da povoação numa cidade e “os chineses seguiam com alguma perplexidade este crescimento, dentro dos limites do seu território, o que, de certo, explica o ‘irregular tratamento’ – ora generoso, ora de suspeição – para com os portugueses”, segundo Tien-Tsê Chang, que refere, Macau em 1563 contava “com 900 pessoas, sem incluir as crianças. Para lá destes residentes, havia vários milhares de estrangeiros comerciantes, criados e escravos (de Malaca, da Índia e de África).”

Embaixador Gil de Góis

Por Despacho Real, Gil de Góis partiu de Goa a 27 de Abril de 1563 para Macau na nau de Diogo Pereira, seu cunhado, e além do presente para o Imperador levava a função de ele ou Diogo Pereira, se este quisesse, ir como embaixador à China; ordenava nessa embaixada seguirem padres da Companhia de Jesus para pela quarta vez se tentar introduzir o catolicismo no Celeste Império, depois das tentativas de Francisco Xavier, Belchior Nunes Barreto e Luís de Fróis.

De Goa seguiram com Gil de Góis, João de Escobar, escrivão da embaixada régia e os padres Francisco Perez (1514-1583) e Manuel Teixeira (1536-1590). Em Malaca a 13 de Junho, voltaram ao mar a 8 de Julho já na companhia do irmão André Pinto (1538-1588). A 29 de Julho de 1563, no porto de Amacau foram recebidos por Diogo Pereira, o irmão Guilherme e um grande número de moradores.

A mercê régia logo entregue a Diogo Pereira dava-lhe a escolha de ser embaixador à China, ou ficar em Macau com o cargo de capitão-de-terra, independente do capitão-mor da viagem.

Escolheu governar Macau, que em 1562 tinha 800 a 900 portugueses moradores e problemas a exigir juiz permanente, segundo Beatriz Basto da Silva, que refere, com o “cargo de capitão-de-terra, o primeiro tipo de governo autónomo de Macau, Diogo Pereira, seu inicial ocupante (a 23-VIII-1562), continuou em exercício até 1587. As relações económicas com a China e com a Carreira das Índias passavam por este ofício que punha os lucros das viagens ao serviço da política.”

Assim Gil de Góis ficou Embaixador, sendo “Iniciadas imediatamente as diligências para a apresentação da embaixada, naturalmente junto dos Mandarins grandes de Cantão, e do vice-rei, vieram a Macau várias autoridades chinesas para examinar os presentes e retiraram-se satisfeitos e peitados, prometendo encaminhar o assunto favoravelmente para Pequim”, segundo Gonçalo Mesquitela, “A aceitação da embaixada, e do presente em cerimonial próprio em Pequim, tomava o valor do reconhecimento oficial das relações com o país ofertante.”
Importante era manter a paciência durante a espera da permissão.

30 Set 2019