Mês lunar e as 28 Constelações

O sistema astronómico chinês usa pequenos grupos de estrelas para enunciar cada um dos dias do mês lunar. Como o mês lunar compreende uma lunação, isto é, desde a Lua Nova até ao Quarto Crescente vão sete dias e mais sete para chegar à Lua Cheia e decrescendo passa ao fim de outros sete dias a Quarto Minguante, até que com mais sete dias regressa à Lua Nova, ao primeiro dia do mês. Assim ocorre um mês com quatro semanas a perfazer 28 dias, enunciados em regular sucessão pelos 28 asterismos, denominadas constelações. As 28 Constelações (28 Xiu, 二十八宿) estão divididas em Quatro Quadrantes (四宫, Si Gong), que correspondem às quatro semanas cada uma de sete dias a compor o mês lunar.

Luiz Gonzaga Gomes refere serem os quatro quadrantes (Si-Kun, 四宫, Si Gong): o do Leste, O Dragão Verde/Azul, denominado em cantonense Tch’êng (青, em mandarim Qing) ou Tch’óng-Long (苍龙, CangLong), e contém da primeira à sétima constelação. O Quadrante Norte, O Guerreiro Sombrio, Ün-Môn (玄武, XuanWu), abarca da 8.ª à 14.ª constelação. O Quadrante Oeste, O Branco Tigre, Pák-Fu (白虎, BaiHu), que compreende da constelação 15.ª à 21.ª, apesar de LGG referir, creio equivocando-se, conter da 22.ª à 28.ª constelação, pois trocou com as do Quadrante Sul, O Pássaro Encarnado, Tchü-Niu (朱鸟, ZhuNiao) ou Tchèok (雀, Que), a corresponder às constelações que vão da 22.ª à 28.ª e não, como afirma, entre a 15.ª e a 21.ª constelação.

Mês Lunar

Aqui deixamos a lista das 28 Constelações correspondentes aos 28 dias que constituem um mês lunar, enquadradas nos Quatro Quadrantes (Si-Kun 四宫, Si Gong) a marcar as quatro semanas, com sete dias cada.

Os nomes são os usados por Luiz Gonzaga Gomes para as 28 constelações (I-Sâp-Pát-Sôk, 二十八宿, 28 Xiu) e estrelas que compõem cada um dos 28 asterismos do sistema astronómico chinês.

O primeiro Quadrante do mês, Leste, O Dragão Verde/Azul, compreende da 1.ª à 7.ª constelação. O primeiro dia do mês lunar é chamado Kôk (角, em mandarim Jiao), O Chifre, e é formada pela constelação cujas estrelas são Espica, Zeta, Teta e Iota, dispostas em cruz, e situadas perto de Virgem.

O segundo dia, Kàng (亢, Kang), O Pescoço, formada pelas estrelas Iota, Kapa, Lambda e Ró, em forma de arco e situado nos pés da Virgem.

– Dia 3 – Tâi (氐, Di), O Fundo, constituída pelas estrelas Alfa, Beta, Gama e Iota, em forma de uma vasilha e situado na parte inferior da Libra.
– Dia 4 – Fóng (房, Fang), O Quarto – Beta, Delta, Pi e Nu, na cabeça do Escorpião. [É o 1.º Domingo do mês]
– Dia 5 – Sâm (心, Xin), O Coração – Antares, Sigma e Tau no coração do Escorpião.
– Dia 6 – Mêi (尾, Wei) – A Cauda – Úpsilon, Mu, Zata, Eta, Teta, Iota, Kapa, Lambda e Nu, formando a cauda do Escorpião.
– Dia 7 – Kêi (箕, Ji) – A Peneira – Gama, Delta, Úpsilon e Beta aparentando uma peneira e situada nas mãos do Sagitário.
O segundo Quadrante, Norte, O Guerreiro Sombrio, compreende da Constelação 8.ª à 14.ª.
– Dia 8 – Tâu (斗, Dou) – A Vazilha – Mu, Lambda, Ró, Signa, Tau e Zeta, do Sagitário.
– Dia 9 – Ngau (牛, Niu) – O Boi – Composto de Alfa, Beta e Pi do Áries e Ómega, Alfa e Beta do Sagitário.
– Dia 10 – Nui (女, Nu), A Donzela – Úpsilon, Mu, Nu e nove situadas à esquerda do Aquário.
– Dia 11 – Hôi (虚, Xu), O Vácuo – Alfa, na testa do Eqúleo e em linha recta com Beta do Aquário. [2.º Domingo do mês]
– Dia 12 – Ngâi (危, Wei), O Perigo – Alfa, no ombro direito do Aquário e Úpsilon e Teta na cabeça do Pégaso de maneira a formar um triângulo obtusângulo.
– Dia 13 – Sât (室, Shi), A Casa – Alfa, na asa, e Beta, nas pernas do Pégaso.
– Dia 14 – P’êk (壁, Bi), A Parede – Alfa na cabeça da Andrómeda e Gama (Algenib) na extremidade da asa do Pégaso.
Terceiro Quadrante do mês, Oeste, O Branco Tigre, da 15.ª à 21.ª Constelação.
– Dia 15 – Kuâi (奎, Kui), O Passo Largo – Beta (Mirac), Delta, Úpsilon, Zeta, Eta. Mu, Nu, Pi da Andrómeda e duas Sigmas, Tau, Nu, Fi, Ki e Psi do Pisces formando como que um homem dando um largo passo.
– Dia 16 – Lâu (娄, Lou), O Montículo, constituído por três estrelas em forma de um triângulo isósceles: Alfa, Beta e Gama na cabeça do Áries.
– Dia 17 – Uâi (胃, Wei), O Estômago, formado pelas três estrelas principais da Mosca Boreal.
– Dia 18 – Máu (昂, Ang), O Quadrante Ocidental, constituído por sete estrelas da Plêiade.
– Dia 19 – Pât (毕, Bi), O Termo, formado por seis estrelas na Híade com a Mu e Nu de Toiro.
– Dia 20 – Tchôi (觜, Zui), Eriçar – Lambda e dois Fi na cabeça do Oriente.
– Dia 21 – Tch’ám (参, Can), Misturar – Alfa (Betegeux), Beta (Rigel), Gama, Delta, Úpsilon Zeta, Eta e Kapa nos ombros, cintura e pernas do Oriente.
Quarto Quadrante do mês, Sul, O Pássaro Encarnado, da 22.ª à 28.ª Constelação.
– Dia 22, Tchèang (井, Jing), O Poço, constituído por quatro estrelas nos pés e quatro nos joelhos dos Gémeos.
– Dia 23, Kuâi (鬼, Gui), O Demónio – Gama, Delta, Eta e Teta do Câncer.
– Dia 24, Lâu (柳, Liu), O Salgueiro – Delta, Úpsilon, Zeta, Eta, Teta, Ró, Sigma e Ómega da Hidra.
– Dia 25, Sêng (星, Xing), A Estrela – Alfa, Iota, duas Tau, Kapa e duas Nu, no coração da Hidra.
– Dia 26, Tchèong (张, Zhang), Retesar o Arco – Kapa, Lambda, Mu, Nu e Fi na segunda espira da Hidra.
– Dia 27, Iêk (翼, Yi), A Asa, Formada por vinte e duas estrelas da Cratera e da terceira espira da Hidra.
– Dia 28, Tch’ân (轸, Zhen), A Canga, constituída por Beta, Gama, Delta e Úpsilon do Corvo.
Na dinastia Tang estas 28 Constelações tinham ao todo 183 estrelas, apesar de apenas contarmos 161 estrelas no artigo Patronos do Calendário Chinês de Luiz Gonzaga Gomes, que refere ainda, “os primeiros dias de todas as luas se chamavam kôk, os segundos káng e assim por diante, dando-se o facto de recaírem, sucessivamente, todos os primeiros dias de cada grupo de sete dias, nas constelações fóng, hói, máu, e sêng que, por este facto, equivalia a referir-se-lhes como sendo o 1.º, o 2.º, o 3.º e o 4.º domingos do mês.”
“Não obstante as suas aparentes complicações, o sistema cronológico chinês presta-se admiravelmente para determinar com mais ou menos exactidão, os diversos períodos do tempo. Os investigadores que se dedicaram ao estudo do almanaque chinês, asseveram que sob vários aspectos, ele é mais flexível que o europeu e até regista com maior rigor as alternações das estações e as suas respectivas fracções, não devendo nós deixar de mencionar o facto de o notável político e matemático francês, Paul Painlevé, ter proposto a amalgamação dos calendários chinês e europeu, com o fim de se elaborar um calendário universal que viria a ser o mais perfeito de quantos têm sido produzidos até à actualidade.”

8 Fev 2022

Previsões por signos e por anos para 2022

As previsões aqui expressas são a ideia criada pela interpretação das escritas por Edward Li.

O dia de ir ao templo oferecer sacrifícios ao General He E, Deus do Ano (Tai Sui), é o oitavo da primeira Lua, que ocorre a 8 de Fevereiro de 2022

 

Tigre

Como animal do ano, os nativos de Tigre estão em Zhi Tai Sui (em confronto com o Tai Sui) significando ter pela frente um ano de muito trabalho, a tomar conta de tudo, sem dar espaço para desenvolver.

Evite as ondas de grande amplitude; os pequenos investimentos previnem tudo perder ao ser engolido nas turbulentas águas, sendo poucos proveitos melhor do que nada. Olhe pela saúde e mantenha-se em forma para melhor controlar as emoções.

Carreira: Sem uma poderosa estrela da sorte, terá a compensar a estrela Wen Chang (文昌, deus dos Letrados e da Literatura), que o colocará a aprender e a estudar mais, para se tornar um conhecedor. Se a ocupação está virada para a restauração e eventos culturais, conta com a ajuda das estrelas da sorte Tian Chu (天厨, Cozinha do Céu) e Tian Guan (天官, oficial do Céu). Já a estrela da sorte An Lu (暗禄, Dinheiro Sombra, ou da Sorte) significa receber dinheiro fora do normal. Mas não se esqueça que conta também com alguém a apontar-lhe o dedo, falando mal de si pelas costas, devido à má estrela Zhi Bei (指背). Por isso, precisa de cuidar das amizades. Outras duas maléficas estrelas, Jian Feng (剑锋, ponta da Espada, operação clínica) e Fu Shi (伏尸, Corpo Morto), representam acidentes, devendo, por isso, evitar colocar-se em situações perigosas. Lembre-se ainda que quanto mais se vangloria, mais setas irão contra si e assim, este será um ano para não ter grandes expectativas e não se expor muito.

Amor: Os nativos de Tigre, embrenhados no trabalho e apenas focados na carreira, mesmo ao encontrarem a pessoa certa não conseguem tomar uma decisão. Gostando de momentos românticos e de testar novidades, sem querer relações estáveis e duradoiras, se para os solteiros isso não traz problemas, na vida conjugal provoca turbulência e tensões.

Saúde: Ano em Fan Tai Sui será melhor ir oferecer sacrifícios ao Deus do Ano. Os nativos de Tigre nunca gostam de ouvir o que os outros têm a dizer sobre os seus defeitos, mas este ano como terá muita gente a apontar-lhe o dedo, as emoções tendem a ficar desequilibradas, propiciando por isso acidentes. Para os nativos nascidos no Verão, é fácil terem problemas com o coração, fígado e sangue.

 

Os nativos de Tigre nascidos em:

1962 – São os mais bafejados de todos os nativos de Tigre, tendo ideias activas para a carreira e conseguem ajudas para levar a bom termo os seus planos. Faça uma Festa de Aniversário para firmar as amizades.

1974 – Conseguirá ajuda de pessoas com mais experiência e se o permitir, a sua carreira e fortuna serão rentabilizadas.

1986 – Tem imensas ideias e quer realizá-las todas, mas isso está fora das suas capacidades. Quanto mais se mostra e vangloria, maior é o efeito contrário. Ano para ter relações diferentes, mas daí também podem advir problemas.

1998 – Bom para estudar e aprender, degrau a degrau, mas evite discussões. Faça sacrifícios ao Deus do Ano e uma festa de aniversário para chamar a boa sorte.

1950 – Para os que ainda trabalham, este ano estarão mais ocupados pelos afazeres e daí o cansaço. Procure não comer demais e controle o estômago fazendo mais exercício físico para equilibrar as emoções.

 

Coelho

Ano para os nativos de Coelho com apenas uma palavra, Esperar.

Carreira: Poderá contar com uma poderosa ajuda devido à estrela da sorte Tian Yi Gui Ren (天乙贵人), ligada à criatividade. Comparando com o último ano, os nativos de Coelho têm este ano mais sonhos, mais planos e mais pessoas a ajudar, mas na acção, em especial aos nativos masculinos surgem mais problemas a necessitarem de serem resolvidos. Sozinho não conseguirá realizar os seus projectos, precisando de um parceiro para os pôr em prática, sendo os nativos de Cabra um bom complemento.

A má estrela Mo yue (陌越, estrela de mudança) depende com quem se conjuga, pois se for com uma boa estrela melhora a situação, mas ligada a uma má, piora-a. Representa não ter direcção. Pensar muito e não acreditar nos outros, coloca-o a não conseguir tomar decisões e, por vezes, a encontrar razões para ter medo. Já a Wang Shen (亡神, problemas na justiça, ou perder algo de si) avisa poder ser afectado por alguém, tendo mesmo de parar a meio o projecto em que está a trabalhar.

Amor: Com a ajuda da estrela da sorte Tian Yi Gui Ren, (天乙贵人) os nativos de Coelho terão uma activa vida social e os nascidos em 1987 são os que melhor colhem esse harmonioso estar. Já os nativos de 1963 precisam de mais cuidado, pois demasiadas aventuras amorosas só trazem problemas. Este ano é necessário aprender a dar outro valor às relações.

Saúde: Com a má estrela Bing Fu (病符, Sinaliza doença) precisa de ter cuidado com a saúde, especialmente os nascidos no Verão, ou entre os dias 8 de Outubro e 7 de Novembro. Por isso, no início do ano faça um exame de saúde e vá ao Templo oferecer sacrifícios ao Deus do Ano. Limpar a casa traz também uma grande ajuda. Se tem um problema de saúde, peça ajuda aos amigos nativos de Macaco e Porco.

 

Os nativos de Coelho nascidos em:

1963 – Terão uma nova oportunidade para atingir um elevado patamar e podem contar com mais recursos monetários. Os nativos masculinos deverão evitar demasiadas relações amorosas, pois só lhe trazem sarilhos. Dê especial atenção à saúde.

1975 – Com ajudas, o ano será fácil no trabalho. Deve evitar a prática de desportos que envolvam perigo. Festejar o aniversário elevará a sua sorte.

1987 – Poder e estatuto aumentam, e os nativos femininos contarão com um ano harmonioso com o parceiro.

1951 – Muito activo, cheio de planos, tenha, no entanto, cuidado para não exceder as possibilidades do que consegue fazer. Faça mais exercício físico e relaxe. É melhor do que matar-se a trabalhar para apenas conseguir arranjar mais problemas.

1999 – Cada coisa no seu tempo e quanto mais rápido quer fazer, mais o oposto acontece. Bom ano para estudar, aprender e criar uma grande base de relações de amizade, a preparar o próximo ano.

 

Dragão

<A beber chá sozinho na alta montanha.>

Ano de muitas mudanças, com possibilidade de fazer uma longa viagem, mudar de casa ou de emprego, e também com alterações nas relações emocionais.

 

Carreira: Ano para ter de cuidar de tudo sozinho, pois ninguém o pode ajudar. Mas, devido à estrela da sorte Fu Xing (福星), protectora, que lhe limpa o caminho, se estiver em perigo, terá alguém a resolver-lhe o problema.

A má estrela Tian Gou (天狗, Cão do Céu) leva a ser fácil criar conflitos e representa acidentes, colocando-o com pessoas em que não poderá confiar, precisando por isso de ter cuidado. Ano para ter muita paciência e enfrentar os problemas em vez de os esconder. Espere pelas oportunidades certas para surfar nas grandes ondas, que permitam limpar a mente e equilibrar as emoções.

Amor: Sem ajuda de estrelas da sorte, a má estrela Tian Ku (天哭, Chora o Céu) provoca uma onda emocional aos nativos de Dragão, pois, seja no amor, na família, ou nas relações de amizade, terão de despender imensa energia para resolver os problemas, mas sem, no entanto, obter bons resultados. Daí, terá de pensar se o problema não estará em si, em vez de o apontar aos outros. Ganhar ou perder, depende da sua atitude. Mantenha-se calmo para decidir melhor.

Saúde: Os problemas para os nativos de Dragão são de natureza emocional. É você que se coloca em grande tensão e por isso, deve relaxar e ser simpático, é o melhor para todos e em especial para si. A má estrela Diao Ke 吊客, relaciona-se com a morte de um familiar, por isso, quando viajar, ou se vai a conduzir faça-o com muito cuidado para se manter em segurança e evite todo o tipo de discussões. Ao desculpar os outros, estará a desculpar-se a si mesmo.

 

Os nativos de Dragão nascidos em:

1964 – Contará com a boa estrela Lu Shen (禄神, bom rendimento e abundantes relações) de onde lhe advém dinheiro. Aproveite e agarre a oportunidade, promova a carreira, pois quanto mais arduamente trabalhar mais alcançará.

1976 – Trabalhará bem este ano com uma boa cooperação, mas evite expor-se demais, pois apenas irá atrair invejas.

1952 – Vida social activa, mas cuidado, escolha os amigos e evite qualquer forma de cooperação financeira nos investimentos. Mantenha-se atento, para evitar acidentes.

1988 – O caminho é ser paciente e trabalhar em silêncio. Cuide da maneira como os seus amigos o tratam.

2000 – Ano para se revelar e conseguir trabalhar em novas e diferentes áreas, embora isto apenas o leve a ganhar experiência, sem retorno monetário.

 

Serpente

Se no ano passado foi um bom ano para os nativos de Serpente, este será ainda melhor. Mas lembre-se, seja flexível e esqueça a intransigência, pois as verdades dos factos apenas são a sua interpretação e para lá do que lhe é dado ver, existem outros mundos de consciência que não consegue alcançar. Assim, sendo um ano de Fan Tai Sui, que está em Xing Tai Sui, significando Xing ser julgado, permite-lhe crescer ao ver-se pelos outros e muitos deles são trazidos pelas inúmeras estrelas da sorte que o bafejam, logo o julgamento que farão de si, será positivo. É um vencedor.

Carreira: Ano para se expor e fazer tudo o que quiser. A acção é o mais importante e não apenas pensar fazer, pois todas as estrelas da sorte, como a Tian De (天德) e Fu Xing (福星), protectoras, lhe limpam o caminho; Fu De (福德) a trazer riqueza material e protecção pela virtude; e as poderosas estrelas, Tian Yi Gui Ren, (天乙贵人) ajuda ligada à criatividade e Tai Ji Gui Ren, (太极贵人) alguém o apoia, levam a bom termo o que pretende realizar.

Ano de muita competição e mudanças, por isso tomar cuidado devido à má estrela Juan She (卷舌, falarem mal de si), pois o sucesso chama a inveja, o que é normal.

Precisa este ano de se abrir e aceitar pacificamente todas as diferenças, a permitir, se souber escutar, melhorar substancialmente os conhecimentos e usar a virtude para ganhar o seu verdadeiro coração.

Amor: Em Xing Tai Sui, alguém o coloca em sarilhos e por isso terá de ter a mente limpa para não se deixar envolver e entrar numa relação pouco clara. Resolva a situação rapidamente.

Com as más estrelas, Juan She (卷舌, alguém a falar mal de si) e Tian Ku (天哭, Chora o Céu), é fácil arranjar problemas com as palavras e por isso, tenha cuidado ao falar e pense primeiro no que vai dizer. Como é um ano focado na carreira, no amor não haverá surpresas.

Saúde: Os nativos de Serpente este ano estão propensos a terem pequenos acidentes. Evite pequenas discussões, que podem trazer grandes problemas. Equilibre o trabalho, para a carreira e para si mesmo, e relaxe.

 

Os nativos de Serpente nascidos em:

1953 – Além das estrelas da sorte encima referenciadas, contam ainda com Jin Yu Lu (金舆禄, grande fortuna) e se quanto à carreira e fortuna não é preciso repetir, deve apenas lembrar-se que tem demasiados namoros e por isso, terá de se organizar melhor.

1965 – Continua com um bom apoio na carreira e isso provoca inveja nos outros. Ano em que terá de passar mais tempo a equilibrar as relações. Deve sobretudo tentar controlar as emoções e ter mais cuidado com a saúde.

1977 – Irá ser promovido e vai ganhar mais. A sua vida atingirá um novo patamar.

1989 – Cheio de confiança, faz os planos funcionarem e recebe recompensa monetária satisfatória.

2001 – Ano muito criativo e cheio de vontade para experimentar tudo, mas mantenha a segurança.

 

Cavalo

No ano do Tigre [Elemento Madeira yang], os nativos de Cavalo [Fogo forte (yang)] nascidos no Verão, [Fogo], ou entre 8 de Outubro e 7 de Novembro [mês de Cão, também Fogo], precisam de ter cuidado, pois demasiado fogo não é bom, sendo bastante negativo para a saúde, especialmente a provocar ataques de coração.

Carreira: Sem suporte de estrelas da sorte, para fazer alguma coisa precisa de encontrar um parceiro para cooperar, combinando apenas com Tigre e Cão, mas atenção, não deve ser com um ser feminino por causa da forte má estrela, Bai Hu (白虎, a Tigre Branco), a representar mulher a trazer problemas e a causar perda de saúde, ou dinheiro. Os nativos de Cavalo nascidos no Outono e Inverno terão menos problemas. Ano em que cada passo deve ser dado com muito cuidado. Manter o que já tem, é o melhor.

A má estrela Zhi Bei (指背, falar mal de si pelas costas, rumores) leva-o a ter de usar os nativos dos animais com que se combina bem, Tigre e Cão, para solucionar o problema.

Amor: Os solteiros nativos de Cavalo este ano não irão encontrar a sua cara-metade, por causa da má estrela Bai Hu (白虎, Tigre Branco), a colocá-lo em maus lençóis, especialmente agora com o forte e imenso poder da mulher, terá de ser paciente. Entre os casais, precisa de dar valor ao amor e se houver problemas, procure uma pessoa do sexo masculino para o aconselhar.

Saúde: As más estrelas Fei Lian (飞廉, imprevista calamidade) e Fei Ren (飞刃, fio da lâmina) representam acidente e operação cirúrgica e se estiver grávida, mais cuidado deve ter. Se tem excesso de peso, tente emagrecer. Poderão surgir problemas no sangue, avc’s e ataques do coração. Oferecer sacrifícios ao Deus do Ano é importante.

 

Os nativos de Cavalo nascidos em:

1954 – Os melhores dos nativos de Cavalo em matéria de carreira e dinheiro. Mantenha bem o que tem, sendo ano para dar mais atenção à família.

1966 – Atenção aos namoricos, pois ter um ano calmo ou com problemas só disso depende. Conseguirá ajudas para a carreira.

1978 – Quanto ao emprego, não haverá surpresas. Poderá encontrar novas vias para se desenvolver em outras áreas a trazer algo de diferente. Mas este ano trabalhará sozinho, sem contar com nenhuma ajuda. Celebrar o aniversário é bom para recolher as energias dos amigos.

1990 – Ano muito ocupado e de árduo trabalho. Não é por muito se esforçar a trabalhar que será mais compensado. Para as nativas de Cavalo é ano de grandes ondas e precisa de muito cuidado com a saúde.

2002 – Será bem-vindo à vida social, mas preste atenção, não transforme a competição em guerra pois ainda tem muito caminho para percorrer.

 

Cabra

No ano passado os nativos de Cabra estavam em oposição ao Deus do Ano, Chong Tai Sui, e tendo conseguido realizar mudanças e equilibrar as energias, este ano estão de parabéns, pois são os mais bafejados entre os 12 animais do zodíaco chinês.

Carreira: As estrelas da sorte, Zi Wei (紫微) e Long De (龙德) são as duas mais poderosas para a carreira, a trazer a possibilidade de vir a ter uma posição de chefia na sua área, ou a ser o mais desejado e requisitado. Sendo um pouco introvertido, este ano deverá mostrar o que tem de melhor dentro de si e surpreender os outros com o seu brilho, que irão ganhar uma nova visão da sua pessoa. A estrela da sorte Guo Yin Gui Ren (国印贵人, poderosa ajuda) significa ter apoio de pessoa qualificada por isso, deverá agarrar todas as oportunidades, não importa o que quer fazer, pois em tudo o que investir terá sucesso. Para voltar a este estado de graça só daqui a doze anos.

As más estrelas, Bao Bai (暴败, mudança sem poder controlar) e Tian E (天厄, Catástrofes provenientes do Céu) representam acidentes ou desastres. Junta-se ainda a má estrela Wang Shen (亡神, perder algo de si), mas não trazem grandes problemas.

Amor: Protegida pela auspiciosa e súper estrela da sorte Tian Xi (天喜, Alegria Celeste, a transformar pequenos infortúnios em bons acontecimentos) terá todo o ano boas emoções e consegue facilmente destacar-se. Os solteiros nativos de Cabra encontram-se no ano correcto para casar e os casais, para ter filhos. Em festa com a família, celebre a data do seu casamento, ou faça uma nova lua-de-mel.

Saúde: Os nativos de Cabra nascidos no Verão deverão ter cuidado com a cabeça, olhos e coração. Os restantes, apenas precisam de controlar o que comem e equilibrar o trabalho com um relaxante repouso.

 

Os nativos de Cabra nascidos em:

1967 – Com poder e posição serão promovidos; este ano será uma boa página da sua vida.

1979 – Ano para ganhar dinheiro e conseguir chegar a outro patamar. Coloque toda a atenção na carreira e trabalhe arduamente. Quanto aos nativos do sexo feminino, o seu parceiro irá tratá-la como uma Rainha.

1991 – Activo e criativo, é ano para se focar não só na carreira, mas investir na família e ampliá-la.

1955 – Rodeado de pessoas a ajudar, apenas terá de tomar cuidado em não ultrapassar as suas possibilidades de execução. Coloque o trabalho como um entretimento.

2003 – Terá boas relações sociais, mas facilmente se deslumbra, levando-o a acumular namoros, o que lhe trará complicações. Deve definir claramente a fronteira das amizades, sendo este ano propício para as ampliar e criar uma boa rede de amigos.

1943 – A carreira continua a desenvolver-se e com compensações monetárias, precisando apenas de tomar cuidado com demasiados namorados e evitar excesso de noitadas.

 

Macaco

<A vida é uma eterna procura por fora, mas o que se quer encontrar está dentro de nós e sempre esteve à nossa frente.>

Após dois bons anos de sorte, agora haverá mudanças e grandes ondas que não podem ser evitadas pois vai entrar em Chong Tai Sui, oposição ao Deus do Ano e em Xing Tai Sui vai ser julgado. Inteligente e sensível, para os nativos de Macaco estas mudanças e vagas poderão também ser oportunidades. É o momento que faz os heróis e só depende de como age.

Carreira: Ano Fan Tai Sui significa haver grandes mudanças, incluindo trocar de emprego, de casa, emigrar e mesmo encontrar outro parceiro. Mas terá muito boas estrelas de protecção, todas de mudança, podendo ser conduzido numa boa direcção.

Se tiver planos para investir no estrangeiro, ou ir estudar para fora, este ano, a estrela da sorte Yi Ma (驿马) permite que tal se torne realidade. A poderosa estrela da sorte Ba Zuo (八座, da carreira) representa ser promovido e ficar na posição de comando, a dar-lhe hipótese de saltar para fora do normal e conjugada com a Tai Ji Gui Ren (太极贵人) terá alguém a ajudá-lo no trabalho. Já as estrelas da sorte Tian Jie (天解) e Jie Shen (解神) indicam ter apoio na resolução dos problemas e com Ci Guan (词馆, Perfeitas palavras) mesmo só com palavras consegue mudar a situação.

A má estrela Da Hao (大耗, gastar dinheiro) coloca-o com problemas financeiros e a Lan Gan (阑干, barreira) provoca não ser nada fácil atingir o sucesso devido às barreiras que encontrará. A Chen fu (沉浮) altos e baixos) significa estar a sua vida numa encruzilhada e torna-se muito difícil tomar uma decisão.

Amor: Ano cheio de paixões, mas também de muitas zangas. Irá encontrar alguém de fora para entregar o seu amor, mas este ano terá más experiências com os namoros, tanto os solteiros como os casados e por isso procure perceber qual é a melhor decisão.

Saúde: A estrela Yi Ma indica ter de viajar imenso e combinada com a má estrela Xue Ren (血刃, Fio da lâmina com sangue) significa dever evitar movimentos perigosos e ter cuidado com o trânsito. Se está grávida, é necessário proteger o feto e tomar mais precauções. Evite desportos radicais, como mergulho com garrafa, ou saltar de grande altura em corda elástica. No início do ano, no oitavo dia (8 de Fevereiro) vá ao templo fazer sacrifícios ao Deus do Ano, para que o julgamento deste lhe seja benéfico.

 

Os nativos de Macaco nascidos em:

2004 – Entra num novo nível e se agarrar bem esta oportunidade irá ter um futuro risonho.

1992 – Está no topo dos nativos de Macaco quanto à carreira e fortuna e conta com uma profícua vida social, a degustar diariamente boa comida.

1980 – Este ano precisará de trabalhar arduamente para resolver os muitos problemas que terá pela frente. Os nativos do sexo feminino poderá engravidar.

1968 – Com muitas mudanças, precisa de aproveitá-las para ganhar mais dinheiro e tentar encontrar um novo investimento.

1956 – Bastante comunicador e a falar muito bem, irá fazer algo de anormal, mas tal chamará parceiros que não são bons para si. Quanto mais simples, melhor.

1944 – Tem o respeito dos outros, na profissão e na carreira, apenas precisa de ter cuidado com a saúde e escolher caminhos seguros.

1932 – Este idoso macaco continua a ter energia e força, sendo activo na vida social, sem precisar de se preocupar com o material, apenas deve controlar o que come.

 

Galo

Após um glorioso ano na carreira, os nativos de Galo regressam este ano ao seu normal posto, onde se sentem mais confortáveis a observar por fora o que se vai passando, mas sem se misturarem.

Carreira: Sem novidades, será um ano normal, pois não conta com nenhuma estrela da sorte a ajudar. Com oportunidade de subir na carreira, mas tal ocorre apenas num momento e logo desaparece, o melhor é manter o que já tem. A não acção é o caminho.

A má estrela Xiao Hao (小耗, pequenos gastos) leva a despender mais do que tem, mas tal problema é facilmente resolvido ao não se entusiasmar nas compras e levar o dinheiro controlado.

Amor: Com a estrela da sorte Yue De (月德, Virtude da Lua) os nativos de galo mostrar-se-ão mais simpáticos, captando a atenção dos outros. Este ano permite também recuperar a imagem deixada por não conseguir expressar bem o que lhe vai na alma, e assim mudar a maneira como os outros o vêem. Para os solteiros, é um bom ano para encontrar parceiro, pois sem a carreira a ocupá-lo, terá todo o tempo para se dedicar ao amor. O mesmo com os casados, que devem aproveitar para encontrarem espaço para a família. Tenha cuidado com os encontros virtuais pelo computador.

Saúde: Com a má estrela Shi Fu (死符) sinal de morte), os nativos de Galo deverão ter mais cuidado com a saúde, sendo propício aparecer uma doença inesperada, como diabetes, problemas na próstata e para os nativos do sexo feminino, problemas no útero, especialmente para os nascidos em 1945 e 2005.

 

Os nativos de Galo nascidos em:

1993 – Com muito boas relações, é ano para uma vida amorosa, sendo na carreira e dinheiro o melhor dos nativos de Galo. Trate bem as amizades, senão podem aparecer muitos problemas.

1981 – Parece ter muitas oportunidades, mas apenas o levam a trabalhar arduamente, sem alcançar grandes proveitos. Por isso, deve saber decidir o que fazer, ou não fazer.

1969 – Ano sem grandes ondas, tal como gosta, para caminhar passo a passo, simples, mas seguro.

1957 – Contará na carreira com uma onda de elogios, mas sem grandes repercussões. Se investir faça-o por prazer, pois o retorno não será material.

1945 – Ano relaxante e agradável, pois terá ajuda de alguém a tomar conta dos detalhes da sua vida quotidiana. Apenas precisa de fazer exercício físico, como andar para manter a saúde.

 

Cão

Tendo passado um ano de mudança, sem perigosas ondulações, chegado ao ano de Tigre, um dos três, juntamente com o Cão, que se combinam (san he), agora os seus inimigos vêm procurá-lo como amigos e isto abre uma nova etapa.

Carreira: Entrando no ano, onde tem ajuda dos outros dois animais que consigo se conjugam, terá sem dúvida boas relações com toda a gente e isso alavanca a carreira. A estrela da sorte San Tai (三台, o Carimbo) transporta-o a um lugar de chefia, podendo dar ordens aos outros, mas os nativos de Cão já sabem que, quanto mais trabalham maior é a sua sorte.

A má estrela Guan Fu (官符) indica ao fazer algo, dever tomar muito cuidado e não colocar como garantia a sua palavra. Já as más estrelas, Wu Gui (五鬼, Cinco fantasmas), a representar pessoas a fazerem-lhe mal pelas costas e Zhi Bei (指背, a falarem mal de si) advertem para os problemas que alguém no emprego lhe trará. O sucesso chama a inveja e daí os nativos de Cão este ano dever acalmar-se e com modéstia não proclamarem alto e em bom som serem os melhores.

Amor: Todos gostam de si e é a atracção para onde quer que vá. Bom ano para os solteiros, que estarão como peixes na água. Já os casais, precisam de ter cuidado com as relações extra conjugais e se for inteligente deve transferir essas energias para encontrar um bom parceiro de trabalho.

Saúde: Cão (戌, Xu) é Terra yang, que representa Fogo, e sendo um ano com demasiado fogo facilmente terá problemas de pulmões e no intestino grosso. Devido a muitos almoços e jantares sociais, diabetes podem ser um problema para todos os nativos de Cão, sobretudo para os nascidos em Fevereiro, Junho ou Outubro. No início do ano, a 8 de Fevereiro vá ao templo fazer sacrifícios ao Deus do Ano.

 

Os nativos de Cão nascidos em:

1982 – Tem uma clara ideia do que pretende na carreira e contará ajudas de toda a gente para progredir. Os bons resultados levam-no a receber mais do que espera.

1994 – Em conjunto com os nascidos em 1982, serão ambos para este ano os mais afortunados dos nativos de Cão.

1970 – Só precisa de acelerar, pois à sua frente tem estrada livre para mostrar todo o seu potencial, devendo apenas ter cuidado com a saúde.

1958 – Altura para enveredar por novos assuntos, mas terá de fazer tudo sozinho, pois não conta com ajudas, conseguindo mesmo assim um ano satisfatório.

1946 – Precisa de ter cuidado com o que diz, já que este ano as palavras podem causar-lhe problemas. Mantenha-se sempre como segundo e não se mostre como o campeão. Atenção aos muitos encontros amorosos.

 

Porco

<Com bom coração, todos os dias são bons.>

“A Primavera chega e as borboletas andam de flor em flor e a súper estrela da sorte Tai Yin (太阴), a Lua) tira o frio ao coração, tornando-o mais alegre e a sentar-se com companhia para ver o nascer e pôr-do-sol e mesmo a estrela da sorte Lu Shen (禄神) o acompanha.”

O Porco, nos seis pares que se combinam, é o grande amigo do Tigre e também está em Fan Tai Sui, mas em Po Tai Sui (fácil ocorrer danos) leva ambos a ficarem um contra o outro, trazendo problemas e por isso será um ano complicado. É no equilíbrio das suas emoções que se fará o ano, mas tudo apenas dependerá da sua atitude.

Não importa como, este ano será melhor do que o anterior. Bom para planear o que virá e criar boas bases.

Normalmente é muito sério e tenso, a deixar os outros nervosos, mas para este ano deverá mostrar a sua gentileza e relaxando dar um bom sentir aos que consigo convivem.

Carreira: A súper estrela da sorte Tai Yin (太阴, a Lua, combina yin e yang e traz a Paz) abre o seu coração pois representa boas relações sociais, que transformam o negativo em situações positivas e tornam os nativos de Porco mais simpáticos e cuidadosos com os outros, levando assim a receberem mais ajudas. A estrela da sorte Lu Shen (禄神, bons rendimento e boas relações) coloca o seu trabalho a render e por isso, quanto mais trabalha mais ganha e o que fizer vai servir para preparar o próximo ano. A má estrela Gu Chen (孤辰, estar só) potencia más emoções e a rejeitar tudo, incluindo ajudas. Já a má estrela Guan Suo (贯索) linha escondida, armadilha) traz algo para desfazer os seus planos.

Amor: Ninguém rejeita uma pessoa simpática e que gosta de ajudar os outros, sendo estas as características dos nativos de Porco. Se quiser, este ano não precisa de se preocupar em não ter um parceiro, pois o difícil é escolher quem e por isso os solteiros terão hipóteses de casar. Já a má estrela Liu Xia (流霞, atraente, mas com rápido terminar de relacionamento) avisa-o para ter cuidado com os muitos encontros amorosos.

Saúde: A má estrela Wang Shen (亡神, Perder algo de si) representa acidentes e combinada com Po Tai Sui (fácil ocorrer danos) revela ir ser confrontado com algo perigoso, em especial os nativos nascidos em 1935 e 1995. Por isso, ano para controlar as suas más emoções e não colocar pequenos problemas a darem-lhe enorme trabalho para resolver. Faça mais exercício, pratique ioga e meditação, ou caminhe pela montanha para ficar mais calmo.

 

Os nativos de Porco nascidos em:

1983 – Bom ano nos rendimentos, conta na carreira com bons suportes e ajudas. Muitos serão os encontros românticos.

1971 – A carreira terá bons e diferentes caminhos para se desenvolver. Irá gastar muita energia e ficar em tensão, impaciente, até conseguir atingir o pretendido. Relaxe para atingir o equilíbrio.

1959 – Hipótese de desenvolver a carreira pois alguém vai conhecê-lo melhor e descobrir as suas qualidades e habilitações. Não será fácil, pois terá de fazer o caminho passo a passo.

1995 – Precisa de estudar mais e ganhar experiência para alcançar outras competências, a trazerem-lhe grandes ajudas no ano de 2023. Cuidado com os acidentes e por isso, evite praticar desportos de risco e entrar em discussões.

1947 – Continua a ocupar a posição de liderança e é respeitado pelos outros. Se não pedir demais, será um bom e alegre ano.

 

Rato

Com um ano passado cheio de estrelas da sorte, os nativos de Rato este ano não contarão com grandes ajudas, devendo estar preparados para acolher a mudança. Será um ano muito ocupado, mas sem retorno.

Carreira: A estrela Yi Ma (驿马, mudança) significa ter de enfrentar muitas e novas situações, incluindo mudar de emprego, de casa, emigrar, ou ir estudar para o estrangeiro. Precisa de resolver os problemas um a um e sem ajudas, terá de tomar conta de tudo. Sem nenhuma boa estrela, será um ano muito ocupado e por isso, deve aprender a planear a longo prazo. Tire prazer do que faz e não tenha grandes expectativas. Coloque este ano como Inverno, tenha paciência e espere a chegada de 2023.

A má estrela Gu Chen (孤辰) representa ficar sozinho e as Di Sang (地丧 sang=perder; di=terra) e Sang Men (丧门, má sorte) trazem más notícias e tristeza. Este ano o problema estará dentro do seu coração.

Amor: Sem estrela da sorte e com a má estrela Gu Chen (孤辰), significa ser fácil ao casal entrar em discussões e daí ser necessário haver paciência entre ambos, escutarem as razões do outro e tentarem conciliar-se, mas tal exige mudanças interiores. Quanto aos nativos de Rato solteiros, devido à estrela da sorte Yi Ma (驿马) terão hipóteses de fazer mais amigos e facilmente mudar de companhia.

Saúde: A má estrela Yang Ren (羊刃, operação cirúrgica, corte a provocar sangue) indicia ser fácil cair e partir a cabeça, e ter de ser operado.

A má estrela Sang Men (丧门, porta da morte) significa receber más notícias da família, desregulando-lhe as emoções, e ter de cuidar da saúde dos seus. Este ano, Junho é o mês mais perigoso para os nativos de Rato, por serem Água yang e Junho (Cavalo, Fogo yang) e daí a violência do confronto entre os dois elementos opostos, a indicar que deve ter cuidados especiais nesse mês.

Como não conta com estrelas da sorte, coloque tudo num plano fácil para passar bem este ano.

 

Os nativos de Rato nascidos em:

1972 – Enfrentarão uma grande competição, mas como têm boas bases e qualificações facilmente conseguem resolver os problemas. Poderá testar novos caminhos e tornar o ano mais colorido. Os nativos masculinos deverão prestar mais atenção à saúde.

1984 – A sua carreira poderá ser ajudada por pessoas com mais experiência e daí continuar na mesma direcção a desenvolvê-la.

1996 – Activa vida social e ao falar consegue ganhar a atenção dos que lhe estão próximos. Ano propício a uma relação romântica mas tenha cuidado em não se deixar cativar por outras mais, que só lhe trazem problemas.

1960 – Ano de muito trabalho, mas o que recebe é o oposto. O estar muito ocupado só lhe destrói a saúde e por isso, o melhor é abrandar e relaxar.

1948 – Quanto à carreira, ano em que menos é mais e assim sendo dirija os seus interesses para usufruir do prazer das artes e cultura.

2008 – Ano muito activo e cheio de recompensas materiais, mas não coloque grande pressão nos estudos, podendo a boa relação e comunicação com os pais resolver muita dessa tensão.

 

Búfalo

Seguindo diferente caminho ao do Tigre, os nativos de Búfalo este ano devem prosseguir o rumo descoberto no tempestuoso ano transacto e com vontade, tudo se torna mais fácil.

Protegidos por uma poderosa súper boa estrela, os nativos de Búfalo serão um dos três animais mais bafejados pela sorte, na carreira, no amor e dinheiro e por isso viverão em felicidade e cheios de alegrias.

Carreira: A súper estrela da sorte Tai Yang (太阳, Sol como a grande estrela) este ano está para os nativos de Búfalo como o Sol para a Terra, fazendo desaparecer todos os problemas. Leva-os a estarem cheios de confiança e sempre com bom humor, tornando tudo mais fácil. A estrela da sorte Jin Yu Lu (金舆禄, grande fortuna) significa ser colocado em frente à sua porta um imenso tesouro. Já a influência das más estrelas, Tian Kong (天空, Vazio Céu), Gu Chen (孤辰, estar sozinho), Hui Qi (晦气, Energia Suja) e Tun Xian (吞陷, ser engolido), leva-o a ficar zangado e a isolar-se, mas apenas trazem uma pequena turbulência, que servirá para não se deixar adormecer na imensa felicidade e despertar para a boa vida que tem.

Amor: A estrela da sorte Hong Luan (红鸾, Sorte no Amor) traz um romântico e harmonioso ano, sendo propício aos solteiros casarem-se e os casados terem filhos e realizarem uma nova lua-de-mel.

Saúde: O ano apresenta-se sem problemas de saúde. A má estrela Gu Chen (孤辰, estar sozinho) leva-o a fechar-se para meditar e limpar as impurezas. Os nativos de Búfalo nascidos no Verão deverão ter cuidado com problemas de coração e AVC’s.

 

Os nativos de Búfalo nascidos em:

1973 – Quanto à carreira e dinheiro são os melhores entre os nativos de Búfalo. Todos os seus planos podem ter andamento e fácil progressão. No amor será um ano complicado pois encontrará tantas hipóteses que não consegue tomar uma decisão e escolher.

1961 – Cheio de energia para planear muitos projectos, ficará satisfeito com o que consegue receber.

1949 – Os seus investimentos este ano darão lucro. Não coloque demasiada pressão sobre si.

1985 – Sem grandes ajudas, será um ano perigoso para o nativo masculino de Búfalo devido a acidentes e para o feminino, por operações cirúrgicas.

1997 – Vai ser promovido para um lugar de chefia e a sua confiança coloca-o a falar e agir bem, conseguindo atrair as pessoas. Ano bom para casar.

 

Votos de um Feliz Ano Novo – 新年快乐 (San Lin Fai Lok, 新年快乐em mandarim Xin Nian Kuai Le), e sobretudo, com muito Boa Saúde – 身体健康 (Sun Tan Kin Hong, em mandarim Shen Ti Jian Kang).

 

5 Fev 2022

2022 Ano Tigre Água

O ano lunar começa a 1 de Fevereiro e terminará a 21 de Janeiro de 2023, sendo para o Feng Shui o início do ano de Tigre o dia 4 de Fevereiro de 2022, quando se celebra o Lichun, Princípio da Primavera.

A China, com existência há setenta e oito ciclos, cada de 60 anos, para este ano apresenta o número 39 e corresponde a Ren Yin (壬寅, em cantonense yam yan), ‘o Tigre atravessa a floresta’. No Caule Celeste, o Elemento Ren (壬), Água yang, direcção Norte, e no Ramo Terrestre, Yin (寅, yan), Tigre (nome comum Hu) regido pelo Elemento Madeira yang, direcção Leste Nordeste.

Para o ano Tigre Água, os nativos de Cabra estarão no topo da boa sorte, seguido pelos de Serpente e Búfalo. Os nativos de Cavalo, Porco, Coelho e Cão que nasceram no Inverno terão um ano mais fácil. Já os de Rato, Dragão e Galo estarão ocupados com muito trabalho. Os animais com pior ano serão os de Tigre e Macaco.
Água yang alimenta Madeira yang e Yin (tigre) é a chave para abrir o armazém do fogo, que segundo as previsões de Edward Li aqui deixadas, aparecerá com diferentes focos:

– Ligado com a pandemia, para onde a atenção está toda virada, o vírus cujo Elemento é Fogo e sendo este ano Tigre de Madeira yang, levará o Fogo a ficar mais forte e assim, o vírus em vez de desaparecer vai tornar-se ainda mais complicado.

Se os países pensarem apenas em termos económicos e abrirem as fronteiras, aceitando viver com o vírus no quotidiano, são más notícias pois novas variantes aparecem, a levar ao caos. Atenção aqui. Ano de muitas novidades, como novas vacinas e medicamentos para resolver o problema da Covid-19, mas dentro do intenso nevoeiro do momento não há uma imagem clara do que nos está a ocorrer. Apenas este ano se poderá ver os efeitos colaterais das vacinas.

– Dois anos de existência da pandemia nas nossas vidas, sem válvulas de escape para aliviar as tensões, ao chegar a um ano de Fogo eleva-se a impaciência e a pressão colocará as pessoas a fazerem imensos disparates.
– Abrir o armazém do fogo, significa acender o rastilho para a Guerra e este ano é propenso passar-se das palavras aos actos. Grande possibilidade de ocorrer explosões de gás nas casas, em contentores e outros acidentes ligados com o fogo, assim como vulcões, tremores de terra, tsunamis, serão o normal quotidiano do ano em que a Natureza perde a balança e como a guerra não é possível de ser evitada, o mais importante é manter-se em lugar seguro, preservar a boa saúde e esperar pelo desagravar no ano seguinte, de menores extremos.

Este ano a Madeira yang é alimentada por Água yang e terá para 2023 os mesmos Elementos mas em yin, logo não serão tão intensas as ocorrências.

– A interrupção e desregulação dos sinais digitais, vitais para o actual quotidiano, serão devidas à interferência do planeta interior Mercúrio (o planeta Água) e dos exteriores, de onde provêm poderosas energias de Júpiter (o planeta Madeira) e Marte (o planeta Fogo), a provocar na Terra problemas nas telecomunicações, impedindo por vezes o sinal. Tal falha, nem que seja por breves momentos, desregula o estar da vida na Terra, exponenciando acidentes.

Entre os sessenta desenhos do livro “Tui Bei tu”, ao olhar para o 39.º, cujo título é Ren Yin, apresenta um pássaro sem garras no cume da montanha e na base o Sol, parecendo a imagem representar os carácteres 九日 (9 e Sol) e acrescenta o poema, – toda a gente chora. Caos, pois dia e noite não têm diferença, provocando os nove sóis seca e escassez de alimentos. Acompanha com o 27.º hexagrama do Yi Jing, As Bordas da Boca. Trovão na base da Montanha: prover alimento, sendo o homem superior cuidadoso no falar e a controlar o que come.

Imensa Água alimenta Madeira forte

Macau, renascido em 20 de Dezembro de 1999, tem o seu bazi a não gostar nada de Água e sendo os próximos dois anos, o de 2022 Água yang e o de 2023 Água yin, no primeiro semestre deste ano será tudo complicado. Em Macau quando está mau é mesmo ao fundo, mas logo no segundo semestre e sendo Elemento Madeira a alimentar o Fogo, a situação melhora e com a pandemia controlada, rápida e fulgurante os ambientes da cidade animam. Já para o próximo ano, do Coelho, Macau em Fan Tai Soi terá de fazer uso da imaginação e criatividade e ao encarar as vagas, reflectindo desbravar nas suas várias dimensões.

Como nota, o Qi Gong (Palácio de Energia) da nossa terra, Lin Dong (林 东) passou desta vida no dia 20 de Janeiro de 2021 com votos, como Ser de Puro Espírito, ter o Dao transmitido chegado ao ritual quotidiano na energia do bem-fazer e ajudar, pois nisso foi Grande a sua Vida. Esperemos encontrá-lo no templo como um Tai Soi.

O GENERAL HE E

O Deus do Ano (Tai Sui, em cantonense Tai Soi) de 2022 é o General He E, nascido durante a dinastia Yuan em Yanling, Hunan. Perspicaz a investigar e firme nos objectivos, tinha um rápido pensar e a habilidade de resolver depressa complicados crimes. Calmo, actuava estrategicamente como chefe militar levando a conseguir conquistar facilmente as cidades fortificadas. Como administrador era equilibrado e em boa condução governava as diferentes populações, as quais com ele sempre se sentiam felizes. Um dos primeiros locais em que esteve à frente a governar foi a província de Guan Zhong (na bacia do Rio Wei) após a ter conquistado. Como muitos corpos estavam espalhados sem sepultura e os habitantes começavam a ficar doentes, mandou os soldados procurarem os corpos e depois de os juntar numa pilha, queimá-los, para assim evitar espalhar doenças. Devido às suas qualidades de ser honesto e benevolente líder, foi mais tarde transferido para a corte imperial, ficando a chefiar o exército e a controlar as áreas sensíveis da cidade capital. Nos livros de História vem referido ter encontrado sete mil taéis de ouro numa parte da muralha que colapsara durante a conquista da cidade. O normal era ficar essa quantia para quem chefiava o exército, que depois da batalha a distribuía pelos seus homens, mas como o Imperador pretendia começar outra campanha para conquistar mais terras e para isso era preciso aumentar as taxas à população, resolveu o General doar o dinheiro para o povo não sofrer com mais impostos.

Sendo o Tai Sui do ano de 2022 o General He E, ficaria bem ao mundo encontrar o equilíbrio perdido e em estratégica condução ética ser governado por inteligentes, honestos e benevolentes líderes.

O dia de ir ao templo oferecer sacrifícios ao Deus do Ano General He E é o oitavo da primeira Lua, que ocorre a 8 de Fevereiro de 2022.

3 Fev 2022

Templo de Fu Xi em Qinzhou

Nos Anais Primavera-Outono encontra-se um diagrama onde se lê: o Imperador Verde, Tai Hao representado por um dragão, está localizado no Leste, contém a virtude da madeira e simboliza a Primavera. Na dinastia Qin (221-206 a.n.E.), oficialmente Fu Xi passou a ser a divindade Tai Hao Di (太昊帝).

Após a História do templo mais antigo a Fu Xi em Gansu, situado na Colina de Gua Tai, segue-se o Tai Hao Gong, o Palácio do Deus Tai Hao, existente em Qincheng (秦城), parte antiga de Tianshui, chamado pela população local também Ren Zhong miu (Templo do Ancestral dos Seres Humanos).

Recapitulando a História; após a proliferação na dinastia Yuan de templos a homenagear os Três Ancestrais (San Huang), logo no início da dinastia Ming com o seu primeiro imperador, Tai Zu (1368-1398), apenas o templo de Fu Xi em Huaiyang (Henan), onde se encontra o mausoléu, passou a ter autorização imperial de existência. De reputação igual, o da Colina Gua Tai declinou e por isso, no livro Da Ming Yi tong zhi apenas é mencionado ser Gua Tai Shan a moradia de Fu Xi, sem haver referência ao templo.

Entre 1483/4, o oficial civil Fu Nai, à frente da cidade de Qinzhou (秦州, nome dado entre 220 e 1913), hoje Qincheng, usava a razão de ser este o local de nascimento de Fu Xi para construir Fu Xi ci (ci, 祠, pequeno templo), na parte Oeste da cidade. Era simples e sem estátuas e existia já em 1347. Em 1490 as pessoas ricas e governantes locais foram doando dinheiro para se terminar a construção do templo, ficando este com um paifang e um pavilhão.

Depois foi erguida a estela (碑, bei) 《XinXiu TaiHaoGong MenFangJi》 (新修 太昊宫 门坊记), onde se registou quem o mandou construir e a data. Este bei continua a existir.

O oficial de Gansu baseado neste Fu Xi ci escreveu uma carta ao imperador a pedir permissão para construir um templo a Fu Xi em Qinzhou. Em 1516, o Imperador Wu Zong aprovou e no livro Ming shi, no capítulo Li Zhi, se refere que baseado nesta aprovação somente em dois locais se podia oferecer sacrifícios a Fu Xi, um em Qinzhou e o outro em Chenzhou (actual Huaiyang).

Em 1521, o oficial governador de Gansu escreveu outra carta ao imperador, a dizer que para fazer sacrifícios a Fu Xi, a Colina Gua Tai ficava afastada da cidade, não cómoda e conveniente para os governantes aí se deslocarem. Logo no mesmo ano veio a autorização imperial de Shi Zong para a construção em Qinzhou de um templo a Tai Hao. Mas apenas em 1523, no local onde se encontrava Fu Xi ci, começou a ampliação do pequeno templo dedicado a Fu Xi construído em 1490. Assim só em 1523 se pode considerar haver em Qinzhou um templo ao primeiro dos Ancestrais, que passou a ter três paifang, sete Xian Tian dian, cinco Tai Ji dian, vinte Chao fang, um Jian Yi ting e por ser construído com muita pressa, a qualidade não era boa, nem estava pintado. As duas estátuas de Fu Xi existentes são dessa altura.

Na região os tempos eram de fome e os governantes sucediam-se; por isso o templo não estava terminado e rapidamente se foi degradando. Tudo isto registado num bei de 1532, que também ainda existe, quando o templo foi reparado por ordem de três governantes, de Shaanxi, Gansu e Qinzhou, sendo pintado e o muro do templo concluído, ficando com o seu maior tamanho. Virado a Sul tinha quatro partes.

No fim da dinastia Ming, apenas havia em toda a China dois lugares para se oferecer sacrifícios a Fu Xi, Qinzhou e Chenzhou e no aniversário deste Ancestral, o Imperador enviava uma carta para ser lida pelos oficiais a representá-lo durante as celebrações.

Já na dinastia Qing, em 1653 o templo foi reparado, mas no ano seguinte, Qingzhou sofreu um grande terramoto que matou 7464 pessoas e destruiu 3672 casas. Registos sobre o templo apenas voltaram a aparecer no tempo do Imperador Kang Xi (1661-1722) e no 《秦州志 庙坛》 QinZhouZhi Miaotan diz existirem dez ciprestes. Em 1739, 1805 e 1885, o templo foi sucessivamente reparado e na nona vez, entre 1885 e 87, foi ele ampliado, ficando com a área de 13 mil m², mas actualmente tem apenas 6600 m².

O templo em 1939 foi transformado em quartel do exército do Guomingtan e asilo para deficientes. Estas pessoas destruíram as pedras He-tu (河图) e Luo-shu (洛书), a estátua do Dragão-Cavalo (龙马, Long-Ma) e transformaram Xian Tian dian num armazém, usando os pátios para instalar uma fábrica de tecer.

Em 1949, com a República Popular da China, o templo sob controlo do governo de Tianshui continuou a ser usado como fábrica. Em 1955, o governo de Gansu aí colocou uma escola para formar professores, havendo setecentos estudantes a nele viver. Em 1966, durante a Revolução Cultural (PoSiJiu 破四旧, quatro velharias) os estudantes destruíram quase tudo o que se encontrava no templo. O Museu de Tianshui passou em 1986 para o Templo de Fu Xi e no ano seguinte, o Instituto de formação de professores saiu do recinto, sendo o templo reparado em 1988, sobre a direcção do Museu de Tianshui.

TEMPLO DE QINZHOU

De estilo antigo, todos os edifícios estão virados a Sul e colocados sobre um eixo central, tal como acontece com os mausoléus dos imperadores. Com quatro átrios a partir da porta de entrada do Sul, encontramos alinhados pelo eixo central um paifang (porta sem portas), a porta da Frente (Da men) e a porta do Aspecto (Yi men), onde antes de se passar se deve compor a aparência, desmontar da montada e arranjar a roupa e cabelo. Segue-se o Palácio Central (Xian Tian dian) e o Salão Tai Ji (Tai ji dian). Os trabalhos esculpidos em madeira e pertencentes à estrutura do templo primam pela excelência.

A torre do Sino (Zhong lou) e a torre do Tambor (Gu lou) situam-se lateralmente tal como os recentes edifícios Chao fang, onde se espera para fazer sacrifícios aos deuses. Situadas lateralmente à Estrada de Estelas (碑廊, Bei lang), as salas de exposições, fechadas na nossa primeira visita, abriram a 22 de Junho de 2010 renovadas como Museu de Tianshui, onde exposta se encontram várias Culturas da zona com oito mil anos de História.

“No pátio existem dois grandes ciprestes centenários que os habitantes locais consideram árvores com ling (灵), isto é, dotadas de espírito sobrenatural e por isso, com poder de curar as mais variadas doenças. Por esse motivo os devotos costumam colocar nos seus troncos figuras humanas recortadas em papel e queimar com um pivete de incenso o ponto dessa figura que corresponde ao lugar onde se aloja a enfermidade no doente que lhe roga a sua cura (Tan Manni, na revista China em Construção, vol. IX, n.º 11, Pequim, 1988).” E continuando com a professora Ana Maria Amaro no livro O Mundo Chinês volume I: “anualmente, no dia 16 da primeira lua, dia do aniversário deste mítico imperador realiza-se, ali, uma festividade em sua homenagem.” “O dia 13 da 5ª lua é também dedicado em certos pontos da China ao Rei Dragão.”

Segundo uma lenda, a 45 km de Tianshui, as grutas na Montanha de Maiji, ainda na província de Gansu, tiveram a sua origem com Fu Xi e Nu Wa, cuja tribo a que pertenciam vivia a montante do Rio Wei.

17 Jan 2022

Relíquias perdidas do Templo de Gua Tai shan

Acima do nível do mar 1363 metros, a Colina de Gua Tai encontra-se no vale de SanYang, por onde corre em S o Rio Wei. Em viagem, numa estrada feita em 1993, embalados na cabaça (Hulu, 葫芦), já que o nome de Fu Xi significa oriundo de uma cabaça, chegamos ao recinto do Templo.

Há cinco mil anos, Fu Xi na juventude explorava o local pois habitava ali próximo, numa gruta, talvez onde nascera. Enquanto criança habituara-se a olhar à sua volta, vendo o comportamento dos seres vivos, animais, humanos e pássaros. Já jovem, em reflexão, do cume da colina contemplando, entendeu o Espaço onde prescreveu as relações da Natureza, e até aos 12 anos compreendeu as Leis Naturais. Nesse estar, questionando os anciãos quando necessário, se fez o primeiro dos Ancestrais Soberanos ao visualizar os oito diagramas, matematizando-os em trigramas.

No palácio central, Xian Tian dian, encontrava-se a meio do enorme salão a estátua de Fu Xi, e diz quem ainda a viu, ser da dinastia Ming e estar coberta por argila. Mas em 1966, quando a Revolução Cultural por aí passou para destruir as velharias, descobriu-se ser feita de ferro e cheia de caracteres onde um registo indicava a data: Jianxing (建, jian=eregir, 兴, xing=próspero), imperial nome da Era só usado entre o século III e o IV. Primeiro fizeram rolar a estátua até ao rio e dentro de água por alguns dias foi depois levada para um depósito, onde se colectava ferro e aí vendida por 13 yuan. Pago o quilo a 0,06 yuan dá a massa de 217 kg.

Xian Tian dian, apesar de existir já durante as dinastias Jin e Yuan, não se sabe como era o palácio e só ao de 1531 se conhece a arquitectura. Este, reconstruído em 1656, foi destruído em 1966, e de novo construído em 1987. Com três portas, tem nove colunas de madeira talhadas de dragões enrolados a trepar e um telhado com uma única trave de suporte. No interior, ao centro está a estátua de Fu Xi, à direita a estátua do Cavalo Dragão (龙马, Long Ma) e na esquerda, uma pedra onde gravados estão os 64 hexagramas e as 28 Su (宿, constelações de estrelas).

Outro objecto desaparecido de Gua Tai Shan foi o prato com trigramas (Gua pan, 卦盘), feito de madeira de pereira, que se encontrava no interior do templo. Este prato era quadrado (a representar a Terra) com 64 cm de lado e no seu interior, de maior espessura, um plano redondo (representando o Céu) com desenhos. [Teixeira de Pascoais explica, “Nós somos um edifício construído por fora com toda a terra, por dentro, com todas as estrelas. Nele vive silencioso e prisioneiro o fantasma do seu arquitecto.”]

Nesse círculo, na parte mais exterior estão representadas linhas yin e yang, a seguir os 64 hexagramas (64 Gua, 8×8 trigramas) e no interior da circunferência, as 28 constelações chinesas (28 Su, 宿, segundo os dauístas, habitadas por espíritos tutelares). Depois os 10 Caules Celestes (10 Tian Gan), seguindo as 12 Raízes Terrestres (12 Di Zhi) e os 24 Termos Solares (24 Jie Qi). Este gua pan (卦盘) era usado em estampagem por quem aqui vinha com papel fazer uma prova a tinta vermelha e levava para casa, colocando-o por cima da porta a afastar as más energias, impurezas (避邪, bi xie). Em 1966, quando os jovens revolucionários vieram para destruir o templo, este gua pan foi levado por um habitante da povoação Wu Jia Zhuang (吴家庄), situada na base desta colina, que o guardou, escondendo-o.

Importante edifício em todos os templos era o Chao fang, existente no templo de Fu Xi na Colina de Gua Tai desde as dinastias Jin e Yuan, mas o actual estilo apresentado é igual ao de 1531. Tanto no Chao fang do Oeste como no do Leste há três quartos. Reconstruído em 1656, em 1966 destruído e em 1994 de novo construído. O do Oeste serve como sala de reunião e no do Leste encontra-se outra estátua de Fu Xi, havendo caracteres escritos nas traves a revelar ter sido pago pela província de Taiwan.

Em Junho de 1994, estavam de novo edificadas as torres do Sino e do Tambor (钟鼓楼, Zhong Gu lou), construídas entre 1531 a 1533 e reparadas várias vezes, foram deitadas a baixo em 1966. Segundo os locais, antigamente na Torre do Sino havia um sino todo gravado com caracteres e a sua forma de octógono representava o Bagua. Ao ser tocado, o som ouvia-se a mais de trinta quilómetros. Segundo a lenda, quando no Outono as colheitas estavam prontas para serem feitas e aparecia no céu uma tempestade de fortes chuvas ou granizo, o toque do sino a repique fazia afastar as nuvens negras.

Pouco depois de deixar a Colina de Gua Tai, a caminho de Tianshui, passamos pela gruta de Fu Xi, mas por estar fechada não a visitamos. O mesmo aconteceu com o Museu de Tianshui, que mais tarde quando aí voltamos em 22 de Junho de 2010 estava a ser inaugurado.

Bagua

De acordo com o Yi Jing, (o mais antigo livro cuja versão actual, o Livro das Mutações da dinastia Zhou, Zhou Yi, tem três mil anos) deve-se a esse antiquíssimo sábio, Fu Xi, a imagem do dragão de onde retirou os oito trigramas, criando o desenho do Tai ji, pelo pulsar yin-yang da vida. O dragão é yang e terá sido escolhido como totem por Fu Xi, conhecido por isso como Rei Dragão, para representar o seu povo Jiuli, que formou a tribo Yi.

Esta tribo um pouco mais tarde, já com Chi You como chefe, entrou em guerra contra as tribos Jiang de Yan Di (Shen Nong) e a Ji (originária do Nordeste) de Huang Di, e sendo derrotada, dividiu-se em três diferentes ramos. Muitos integraram-se nos Ji e tornaram-se no povo Han (Huaxia), sendo na dinastia Han colocados na península da Coreia.

Outros partiram para Sul, seguindo o grupo Li para Hainan e talvez Taiwan, enquanto a Sudoeste se formaram os Miao, e para Leste os povos Qiang e Ba.

Fu Xi explicou aos seres humanos a essência de todos os aspectos do Universo contidos nos oito trigramas que inventou, e as inter-relações entre eles. Pelo conhecimento dos oito estados da Natureza e seu domínio poderiam, tal como os deuses, evitar muitos prejuízos causados pelas calamidades naturais e utilizar todas as coisas ao serviço da harmonia para com o que nos rodeia.

Fu Xi deu novos usos ao fogo, inventou instrumentos musicais como o lusheng e outros de agricultura, escolheu seis tipos de animais domésticos, como porcos e carneiros, ensinou a caçar e na pesca fez as redes, ao olhar para as teias das aranhas. Assim, com abundância de comida, promoveu há 4800 anos os casamentos, iniciando com Nu Wa essas celebrações. Depois, estas anualmente ocorriam na Primavera, no terceiro mês lunar, sendo celebradas num vale, protegido por uma montanha de vertente côncava, onde para propiciar encontros, os jovens se reuniam com a finalidade de se conhecerem e daí unindo-se, criar família. Daqui Fu Xi e Nu Wa serem os Ancestrais Soberanos do povo chinês, pois promoveram os casamentos e deram o nome às famílias. Nas acções mostrou aos seus a igualdade entre mulher e homem, reformou costumes e na administração como chefe reorientou o Neolítico estar, dando começo à Civilização Chinesa.

10 Jan 2022

Templo de Fu Xi na Colina de Tai Shan

O templo em Gua Tai Shan, local onde Fu Xi criou o Bagua (oito trigramas), teve desde 1516 permissão oficial para, a par de Chenzhou (陈州, actual Huaiyang, em Henan, local da sua capital e mausoléu) também poder fazer cerimónias de sacrifício a Fu Xi. Saia assim da lista dos templos a destruir editada em 1371 por o Imperador Ming Zhu Yuanzhang (Tai Zu, 1368-1398), devido à proliferação na dinastia Yuan de templos a homenagear os Três Ancestrais (San Huang), e permitia apenas preservar os templos dos mausoléus.

Abandonado durante anos, o templo na Colina de Gua Tai, construído na dinastia Sui (581-618), fortificado na Song do Norte (960-1127) e os palácios e outras salas na dinastia Jin (1115-1234), preparava-se em 1521 para ser reparado quando serviu de base ao pedido do governo de Gansu para o imperador permitir a construção de um novo templo agora dentro da cidade, em Qinzhou (秦州), hoje Qincheng (秦城), a parte antiga de Tianshui.

Em Fevereiro de 1531, o templo em Gua Tai Shan começou também a ser reparado, obra terminada em 1533, tendo sido construída uma muralha em torno do recinto, situado no cume da colina e virado para Sul. De arquitectura usada depois nos mausoléus dos imperadores, o templo com um eixo central constituído a partir do Sul por um par de arcos de pedra decorativos (牌坊, paifang), colocados lateralmente, aparecia de seguida o arco memorial de pedra (Wu men, 午门, a porta=men do meio-dia=wu), tendo no lado Leste, a Torre do Sino e a Oeste, a Torre do Tambor (钟鼓楼, Zhong Gu lou). Continuando para Norte, um pátio, havendo a Leste e Oeste casas (Chao fang, 朝房) para os preparos dos governantes às cerimónias. Ao fundo, o Palácio XianTian (先天殿, Xian Tian dian), de um enorme e único salão e a meio a estátua de Fu Xi. No pátio, 17 pinheiros baseados nos 9 Gong (九宫, Jiugong) e nos oito Gua (八卦, Bagua). Jiugong, quadrado mágico de ordem 3 (isto é 3X3), contém sinais de ordem supernatural do Universo. O Bagua, os oito trigramas, representa os oito estados da Natureza, constituídos pelas oito possíveis combinações de três linhas (inteiras e quebradas).

Como o templo na cidade de Qinzhou passou a ser onde os governantes faziam as cerimónias de sacrifício a Fu Xi, o de Gua Tai Shan perdeu importância. Em 1654, durante a dinastia Qing, houve um grande tremor de terra em Qinzhou e em Gua Tai Shan tudo ruiu. Dois anos depois, um oficial de Qinzhou deu dinheiro para a sua reconstrução, baseando-se a edificação no anterior templo existente na dinastia Ming, sendo em 1656 a última vez que os governantes se interessaram pelo templo da Colina de Gua Tai.

Longe do centro do poder, muralhado era nos conflitos armados um lugar de refúgio para a população e por isso, visto como um sítio sagrado protegido pelos deuses. O templo ficou à guarda dos habitantes locais e apesar de já não se prestar homenagem a Fu Xi, tornou-se um popular lugar de sacrifício aos deuses. A Leste de Wumen, nos finais da dinastia Qing, passou a haver um templo-sala em honra de Cai Shen (财神, deus da Riqueza e da Abundância) e outro a Ling Guan (灵官, o deus do Fogo). Na parte Oeste de Wumen foi construído um templo a Tu Di (土地, deus da terra) e outro a Niang Niang (娘娘, Senhora que ajuda as crianças). Em frente ao Wumen o palco para teatro (戏楼, Xi lou).

Durante os reinados dos imperadores Tongzhi (1862-1874) e Guangxu (1875-1908) alguns monges aqui viveram, pregando e propagando os ensinamentos budistas. Em 1875 e 1895, a população local arranjou dinheiro para reparar os edifícios do templo e no período de guerras as pessoas de novo dentro das muralhas se resguardaram, sendo a Colina Gua Tai então conhecido por Xi Tai Bao.

Em 1920 outro grande tremor de terra em Gansu e de pé apenas ficaram as traves mestras dos edifícios XianTian dian, Wumen, paifang e as torres do Sino e do Tambor. Tudo o resto ficou destruído, sendo reconstruídos os pavilhões com as traves mestras de pé, assim como o palco de teatro (Xi lou), o local Oeste onde os governantes se prepararem para as cerimónias (Xi Chao fang) e a casa dos monges (僧房, Seng fang). Não voltaram a ser construídos os templos a Tu Di, a Niang Niang, a Ling Guan, a Cai Shen e Dong Chao fang que ruíram.

As cerimónias de sacrifício aos deuses pararam em 1958 e as pessoas deixaram de aí aparecer.

Em 1966, durante a Revolução Cultural, os edifícios foram destruídos e mesmo, o sino datado da dinastia Ming, a estátua de Fu Xi feita em ferro e muitos das estelas desapareceram. Do par de paifang feito em 1533, apenas um restou, o de três portas, que fora reconstruído em 1656, mas colocado de frente em vez de estar perpendicular ao Wumen.

Em 1981 recomeçaram no templo as celebrações dedicadas a Fu Xi, que acorrem a 15 do segundo mês lunar.

Actual templo

O governo de Tianshui iniciou em Setembro de 1981 a reconstrução do templo em Gua Tai Shan, seguindo com ligeiras modificações a matriz do reconstruído entre 1531 e 1533, durante a dinastia Ming. Ainda em 1981, foram colocadas de pé as duas estelas, as únicas então encontradas.

Os dezassete pinheiros plantados em 1531, baseados nos Nove Gong (九宫, Jiugong) e nos Oito Gua (Bagua), cortados alguns em 1966, voltaram em 1982 a perfazer os dezassete.

Em Março de 1984, o palco de teatro (Xi lou) estava pronto e em Outubro de 1987 foi a vez de Xian Tian dian (o palácio central, feito de um enorme salão e a estátua de Fu Xi a meio) ficar terminado.

O arco memorial de pedra (Wumen) com cinco portas, reconstruído em Abril de 1993 seguiu o modelo do existente na dinastia Ming, feito em 1531, reparado em 1656 e destruído em 1966. Dong e Xi Chao fang e Zhong Gu lou (as torres do Sino e do Tambor) estavam em Junho de 1994 também edificadas.

Como em cada reconstrução ou visita de governante era de norma colocar uma estela (bei, 碑), para comemorar e fazer a descrição sobre tal ocorrência, estivera o recinto do templo recheado de estelas, mas em 1966 a maior parte foi deitada fora e agora apenas três existem no templo. Uma delas não tem já nada escrito e as outras duas, em frente ao Palácio (Xian Tian dian), a estela do lado Oeste era de 1531, do sexto mês lunar, período da construção do templo, durante a dinastia Ming e encontra-se inteira. Com uma altura de 183 cm e largura de 86 cm, conhecida por QinZhou HuaGua TaiXinJian FuXi MiaoJi 《秦州画卦台新建伏羲庙记》, tem texto escrito por o Alto Oficial Civil Kang Hai (康海, 1475-1540, nascido em Shaanxi), professor da Academia Han Lin (Han Lin Yuan, 翰林院).

Já a estela do lado Leste é uma junção de duas diferentes estelas de distintas épocas. A parte de cima julga-se ser da dinastia Yuan (1279-1368), enquanto a pedra da parte inferior é da dinastia Qing, do ano 1656 e foi escrita por Guo Zhen Du. Como a este bei desapareceu a parte superior, apenas um terço dos caracteres se lêem, sugerindo na altura fazer-se a reconstrução do templo da Colina de Gua Tai.

5 Jan 2022

O Boletim Oficial do Governo de Macau

Após 185 anos de se começar a publicar em papel o Boletim Oficial do Governo de Macau, o actual Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau desde 1 de Janeiro de 2022 deixou de ter suporte em papel e apenas é editado por meio electrónico e publicado no sítio electrónico da Imprensa Oficial.

A 7 de Dezembro de 1836 o Governo Português, pela pasta da Marinha e Ultramar, decretou no art.º 130 que o Governo de Timor e Solor estivesse colocado na dependência do Governo de Macau e nas províncias ultramarinas se imprimisse um boletim, cuja redacção ficasse a cargo do secretário do governo”. Daí, como afirmaram o Padre Manuel Teixeira e Jack Braga, a 5 de Setembro de 1838 foi editado em Macau o Boletim do Governo da Província de Macau, Timor e Solor. Mas ao verificar essa informação no Arquivo Histórico, constatamos ser o n.º 1 do volume I o Boletim Oficial do Governo de Macau e não o Boletim do Governo da Província de Macau, Timor e Solor, que saíra na Quarta-feira, dia 12 de Setembro de 1838.

Todos os esforços para encontrar o Boletim do Governo da Província de Macau, Timor e Solor de 5 de Setembro de 1838 ficaram gorados e estranhamente pareciam estar as informações dos dois historiadores de Macau erradas. Com o Boletim Oficial do Governo de Macau na mão e sendo o n.º 1 do primeiro volume de Quarta-feira, dia 12 de Setembro de 1838, só muito mais tarde, ao analisar os outros boletins reparei no Boletim da semana seguinte, com data de 19 de Setembro de 1838 ser o n.º 3 do volume I, pensando ter ocorrido um erro de numeração, pois não existia o n.º 2. Já a 26 de Setembro aparecia o número 4 e assim sucessivamente até ao n.º 17 do Volume I de quarta-feira, dia 26 de Dezembro de 1838, com o número 68 na última página. Regressando ao boletim n.º 1, com uma folha de duas páginas marcava na segunda a numeração da página, referindo ser a 8.ª. Assim, ao faltarem seis páginas compreendia ter existido o Boletim Oficial de 5 de Setembro de 1838, o verdadeiro n.º 1 e estar errada a numeração dada ao Boletim de 12 de Setembro de 1838, pois corresponderia ao n.º 2, que não aparecia em nenhum boletim.

Quanto à mudança de nome ocorrida do primeiro para o segundo número não consegui encontrar razões.
Na primeira página de cada Boletim Oficial do Governo de Macau por baixo do título cabeçalho e antes da tira com o número e data, trazia o seguinte dizer de Cataõ “Et levis et constans, ut res expostulat, esto: Temporibus mores sapiens sine crimine mutat”. Já na última página vinha registado ser “publicado por M. M. D. Pegado e impresso na Typographia Macaense”, que era pertença do Dr. Wells Williams (1812-1884), missionário protestante, linguista e sinologista americano, mas como gerente figurava Manuel Mário Dias Pegado para cumprir as formalidades da lei, segundo o blog nenotavaiconta.wordpress.com. Refere ainda, usando informações do Padre Manuel Teixeira, “Saíram apenas cinco números até 9 de Janeiro de 1839 e de tão irregular que era ficou suspenso, reaparecendo em 8 de Janeiro de 1840, sendo ainda impresso na mesma tipografia. A 9 de Abril de 1840 passou a imprimir-se na tipografia de Silva e Sousa”. Aqui parece haver um erro, pois esta tipografia só apareceu ligada à publicação do Boletim em 1846 e é também estranho não existirem no Arquivo Histórico os Boletins Oficiais entre os anos 1839 e 1846, sendo o último que encontramos o de 26 de Dezembro de 1838 e não o de 9 de Janeiro de 1839, mas se existiu, outros dois números desapareceram, o mesmo com os publicados de 1840 até 1846.

Referente ao ano de 1839 existiu o hebdomadário noticioso Gazeta de Macao de Manuel Maria Dias Pegado, que até então fora o editor do Boletim do Governo de Macau, sendo os 32 números publicados de 17 de Janeiro a 29 de Agosto de 1839. Este semanário destinava-se em parte aos documentos oficiais, sendo os 22 primeiros números impressos na Tipografia Macaense e os outros dez na da Gazeta de Macau.

O Boletim Oficial do Governo de Macau destinava-se à publicação das ordens, peças oficiais e de tudo o mais que fosse de interesse público e no de 12 de Setembro de 1838 apareceu na primeira página extraído do Pregoeiro da Liberdade parte do Diário do Governo n.º 3 de 3 de Janeiro de 1838, reproduzindo a carta do Procurador da Câmara de Macao ao Corpo Legislativo reunido nas Cortes na sessão de 2 de Janeiro. Guilherme José António Dias Pegado, o Procurador da Câmara de Macao junto ao Corpo Legislativo, solicitava e requeria urgentes Providências Legislativas para Macau. Este célebre deputado macaense e lente de matemática na Universidade de Coimbra, lente da cadeira de Física na Escola Politécnica, era irmão de Manuel Maria Pegado.

Boletim do Governo da Província de Macao, Timor, e Solor

Interrompida a publicação do Boletim Official do Governo de Macao em 1839 só a 8 de Janeiro de 1846 apareceu como n.º 1 do Volume I o Boletim do Governo da Província de Macao, Timor, e Solor, agora às quintas-feiras. Sem ter as páginas numeradas, deixava a Tipografia Macaense e passava a ser impresso na Tipografia do Boletim até 2 de Abril de 1846, pois no seguinte número, 9 de Abril era já na Tipografia de Silva e Souza.

No cabeçalho lia-se: “Assim, sem comprometer, os públicos interesses, se satisfará ao maior de todos eles, que consiste em que toda a verdade se diga, a quem toda a verdade é devida. Silvestre Pinheiro Ferreira”.

Se até 2 de Abril de 1846, o n.º 13 do Boletim do Governo não trazia preço, a 9 de Abril refere ser a subscrição por ano de $10, por semestre $6, ou por trimestre $3,5 e custam, folha avulsa 25 avos, anúncio por linha 10 avos e correspondência e comunicados 5 avos.

No Boletim n.º 14, de 9 de Abril de 1846, aparecia na última página, Postscriptum, aos nossos Subscritores, “Pedimos nos queiram benévolos relevar a maior demora que ocorreu na publicação deste número. As faltas que padecia a Tipografia em que começamos a impressão do Boletim, e que tem sido causa de se haver retardado a distribuição de quase todos os nossos números anteriores, nos moverão a final a passá-la para outra oficina mais abastecida; e nestes arranjos gastou-se necessariamente algum tempo: mas enfim já se acham concluídos: e contamos que a nitidez tipográfica, e a pontual regularidade com que daqui em diante vai sair a nossa folha, amplamente compensará aos seus Subscritores as faltas passadas. Esperamos poder dar na segunda feira seguinte o número que se segue; e o do dia 23 deste mês, no seu dia próprio ou o mais tardar no imediato. Macao – Na Typ. de Silva e Souza”.

Mas o Boletim do Governo da Província de Macao, Timor, e Solor, n.º 15 de 16 de Abril de 1846, refere, “A demora da publicação do presente número nos habilita a anunciar” a chegada a Macao do Exmo. Snr. João Maria Ferreira do Amaral novo Governador desta Província …”.

4 Jan 2022

Fu Xi e Nu Wa em Tianshui

A área onde em 1985 foi criado o distrito de Tianshui (天水), na actual província de Gansu, era no século IX a.n.E. chamada Quanqiu e o reino Qin aí teve a sua capital até 770 a.n.E., quando a dinastia Zhou do Oeste (1046-771 a.n.E.) foi substituída pela Zhou do Leste e o Rei Ping (770-720 a.n.E), o primeiro da nova dinastia, mudou a capital de Hao (próximo de Xian, Shaanxi) para Luoyi (hoje Luoyang, Henan), levando o reino Qin a mover-se para Leste passando a capital para Yongcheng (actual Fengxiang, em Shaanxi). Seria a população desse reino Qin a descendente da tribo Feng (风, Vento) que em Gansu se quedou aquando da migração para Leste de uma parte da tribo, conduzida dois mil anos antes por Fu Xi e Nu Wa e que formou o povo Yi após chegar à Planície Central em Henan.

Fu Xi fora concebido em Langzhong, na parte Nordeste de Sichuan, de onde era natural a mãe, Hua Xu Shi (华胥氏), que pertencia à tribo matriarcal Hua Xu, mas foi em Tianshui, entre o ano 2953 e 2852 a.n.E. que nasceu, tal como três meses depois a irmã Nu Wa, ambos com o apelido Feng (风) do pai e por isso se compreende ser a tribo já patriarcal e serem filhos de diferentes mães.

Daí a visita a Tianshui (天水), que significa Céu e Água, nome dado em 118 a.n.E. no reinado de Wu Di da dinastia Han do Oeste, quando desde o século IX a.n.E. era chamada Quanqiu. A cidade Tianshui está dividida em dois pólos: Beidao (北道) construída com a chegada do caminho-de-ferro e a 16 quilómetros para Leste, a parte antiga chamada Qincheng (秦城), que teve o nome Chengji (成纪) e mais tarde, entre 220 e 1913, era denominada Qinzhou (秦州).

Sendo Tianshui a terra natal de Fu Xi e Nu Wa percorremos esse distrito à procura dos templos em sua honra. Relacionados com Fu Xi encontramos um na parte Oeste da cidade de Qincheng e o outro a 30 km, na colina Gua Tai (卦台山) situada em San Yang Chuan, 15 km a Noroeste de Tianshui, onde Fu Xi terá nascido.

Já Nu Wa viu a luz do dia em FengGu (风谷), localizada na montanha FengWei (风 尾山) hoje povoação de Loncheng na prefeitura de Qin’an, 40 km a Norte da cidade de Tianshui.

Cresceram juntos pois ambos eram filhos do deus do Trovão (雷公, Lei Gong, o deus Lei Ze, com cabeça humana e corpo de dragão, que começou por ser mortal, mas ao comer um dos pêssegos do pessegueiro celeste ganhou a imortalidade e tornou-se um humano com asas, tendo recebido uma maça e um martelo com que criava os trovões).

Segundo a tradição oral, perpetuada numa canção do grupo étnico Miao (洪水朝天, Hong Shui Chao Tian), há muitos anos o deus do Trovão e do Vento eram irmãos, tendo-se separado e enquanto Lei Gong (雷公), o deus do Trovão habitava no Céu, Jiang Yang (姜央), o deus do Vento vivia na Terra. Ao desentenderem-se entraram em guerra, dando origem a uma grande inundação que levou a água a chegar quase ao Céu.

A VINGANÇA DE LEI GONG

A história que se segue provem da província de Guangxi, perpetuada oralmente e mais tarde registada no livro Min Jian Gu Shi Zi Liao (民间故事资料).

O deus do Trovão (Lei Gong), representado com um rosto de macaco, bico de pássaro e asas que seguram um machado e um maço, tinha como esposa a deusa dos Relâmpagos (Dianmu) que com os seus raios punia. Lei Gong constantemente aparecia nos céus e com tempestades, de intensas trovoadas e diluvianas chuvas, fustigava os agricultores, arruinando-lhes nos campos as culturas.

Farto de ser vítima de tais calamidades e desesperado por trabalhar para no fim nada colher, certo dia o agricultor Zhang Bao Bo (张宝卜) ao aperceber-se pelo adensar das nuvens no Céu que o deus do Trovão se aproximava, resolveu confrontá-lo. Preparou uma gaiola de ferro e dependurando-a num poste, na parte de fora da casa, desafiou o deus para um combate. Furioso perante o desplante daquele terreno ser, irado atirou-se dos céus para acabar com o provocador. Mas o agricultor com a sua forquilha de ferro e cabo de madeira apanhou-o e num rápido movimento colocou-o dentro da gaiola, fechando-lhe a porta. Assim aprisionado, o deus perdeu o poder de fazer chover, voltando o Sol a raiar.

Precisando de sair para ir fazer umas compras, antes de partir o agricultor avisou os dois filhos para se afastarem da gaiola, não se dirigirem ao deus, nem com ele falarem e muito menos darem-lhe água.

As duas crianças, o rapaz de nome Fu Xi e a rapariga chamada Nu Wa, fartas de estarem em casa devido às constantes intempéries, aproveitando o Sol que voltara a aparecer ao fim de longos dias de chuva, brincavam no pátio da casa.

O deus do Trovão, que precisava de comunicar com o deus das Águas para conseguir reaver a sua poderosa força, apercebendo-se poder tirar partido da inocência das crianças, começou a lamentar-se do imenso calor que fazia. Estas lembrando-se dos avisos do pai tentaram ignorá-lo, mas a insistência do deus a clamar por compaixão, agora mirrado e com um aspecto inofensivo, mexeu com elas e perante as constantes e tormentosas súplicas, começaram a vacilar e a ficar condoídas. Percebendo tal, o deus prometeu não lhes tocar se lhe dessem apenas umas gotas de água para apaziguar a sede. Pensando não haver grandes consequências, deram-lhe assim um pouco de beber. Mas mal o deus tocou na água, logo a sua força e poder voltaram, libertando-se da jaula. As crianças assustadas iam para fugir quando o deus do Trovão lhes lembrou não lhes querer fazer mal e entregou-lhes um dos seus dentes dizendo para o plantarem na terra, pois este as iria salvar da grande calamidade que ele iria provocar, devido à ousadia humana de o terem preso.

Mal o deus do Trovão partiu e após se encontrar com o deus da Água deu início à vingança e tão grande foi que em poucos dias toda a Terra estava coberta por água. Seguindo o conselho do deus, os dois irmãos viram sair da terra uma grande cabaça que se dividiu mal a água chegou, embarcando cada um numa das metades.

O lavrador, com o cair das primeiras gotas, percebeu logo que Lei Gong se tinha libertado. Mas nada pôde fazer pois o deus do Trovão conjuntamente com o deus das Águas rodopiando abriram tamanha tempestade que durante dias inundaram todas as terras e até as mais altas montanhas ficaram submersas. Ninguém se salvou excepto os dois irmãos, que navegando cada um na sua metade de cabaça foram levados pelas agitadas águas e durante dias andaram à deriva, tendo-se perdido um do outro devido às correntes provocadas por o deus do Vento, que os levaram por caminhos diferentes, separando-os. Estavam as águas a chegar ao Céu quando o Imperador de Jade ordenou aos deuses seus subordinados para pararem e voltarem a colocá-las nos seus normais leitos.

Mitológica história perpetuada via oral contada com variantes por diferentes grupos étnicos como os Miao, Yao e Zhuang, mas a solução para a insanável questão sobre o pai das duas crianças aparece explicada no actual livro GuShenHua Xuan Shi (古神话选释) escrito por Yuan Ke (袁珂) que refere Lei Gong e o lavrador poderiam ser irmãos e ter havido na tribo lutas internas.

6 Dez 2021

As fontes sobre Fu Xi 伏羲

Na China, no início do terceiro milénio antes da nossa Era viviam as personagens da História Fu Xi e Nu Wa quando ainda se fazia a mudança da sociedade matriarcal para a patriarcal e se ia realizando a união entre as milhares de tribos então existentes.

Confúcio (Kong Fu Zi, 孔夫子, 551-479 a.n.E.) ao compilar o Livro da História (书经, Shu Jing) começou com Yao (尧, Yao de Tang, que chegou ao trono em 2357 a.n.E. e governou por 70 anos), o quarto dos Cinco Ancestrais Imperadores (Wu Di, 五帝), sem fazer referência aos anteriores Três Ancestrais Soberanos (San Huang, 三皇). Mas na secção Xi Ci (系辞) dos Dez Asas (十翼) com que complementou o Livro das Mutações (易经, Yi Jing), Confúcio referia o grande Rei Fu Xi como o inventor dos oito trigramas (bagua, 八卦). Interessante é o livro Memórias Históricas (史记, Shi Ji) redigido por Sima Qian (司马迁, 145-87 a.n.E.) começar os registos por Huang Di (黄帝, o Imperador Amarelo), o primeiro dos Cinco Ancestrais Imperadores da China, [considerado por vezes também o terceiro Ancestral Soberano, tal como escreveu o padre Álvaro Semedo, que os designa por Fôk Hei (Fu Si, 伏羲, em mandarim Fu Xi) e o data de 2852 a.C., Sân Nông (Xen-Nông, 神农, Shen-Nong) em 2737 a.C. e Uóng Tái (Uáng-Ti, 黄帝, Huang Di), em 2697 a.C.], admitindo haver registos sobre uma figura [Fu Xi] que viveu anteriormente ao Imperador Amarelo. No entanto, nas Memórias Históricas existem comentários de Taishigong, feitos por Sima Qian, que de outro modo não os poderia deixar registados nos acontecimentos da História e assim, no Shi Ji – Tai Shi Gong zi xu 《史记,太史公自序》 está escrito: “eu escutei o que os anciãos dizem sobre Fu Xi; ser ele um homem puro, simples e honesto, que criou o conceito de Yi (易, mutação) e do Bagua.”

Se não existem dúvidas quanto a dois dos três Ancestrais Soberanos da Civilização Chinesa, Fu Xi (Imperador do Ser Humano, 2852-2738 a.n.E.) e Yan Di (炎帝, Imperador da Terra e como Deus da Agricultura Shen Nong), já para o outro, o livro Shang Shu Da Zhuan (尚书大传) diz ser Sui Ren (燧人, 2737-2697 a.n.E., Imperador do Céu, que controlava o fogo) e no BaiHuTong (百虎通) refere-se Zhu Rong (祝融), também Oficial do Fogo. Para Bu Shi Ji San Huang ban ji (补史记 三皇本纪), escrito na dinastia Tang por Sima Zhen (司马贞, c.697-c.732) a complementar o livro Memórias Históricas de Sima Qian, é Nu Wa o outro dos três Ancestrais Soberanos.

Todos os livros escritos ao longo dos tempos que deles falam não duvidam ser Fu Xi o primeiro dos três Huang. Já as datas da sua existência variam desde o ter nascido entre 2953 e 2852 a.n.E. e ter deixado a Terra entre os anos de 2838 e 2738 a.n.E..

 

 

A divindade de FU XI

 

Sobre a mãe e o pai de Fu Xi, Di Wang Shi ji (帝王世纪) escrito no século III por Huang Fu Mi (皇甫谧) na dinastia Jin diz: “A mãe Hua Xu colocou o pé numa grande pegada, em Lei Ze (雷泽), e daí nasceu Pao Xi (庖牺), em Cheng ji” (hoje Tianshui). Pao Xi foi outro dos nomes de Fu Xi, este ligado ao cozinhar os alimentos. Também o Livro da Estrada (Lushi – 路史), escrito na dinastia Song por Luo Mi (1131-?), refere que Hua Xu Shi um dia, inadvertidamente, ao pisar uma grande pegada ficou grávida em Hua Xu Zhi Yuan (华胥之渊), local referido no livro TaiPingYuLan (太平御览) como sendo Lei Ze (雷泽), significando Lei (雷) Trovão e Ze (泽) charco. Lenda escutada a Tang Shaoyou e registada no seu livro Follow Me to the Fairyland of Langyuan (edição do autor de 2009) que conta ser esse lugar Langzhong, na actual província de Sichuan, onde a mãe de Fu Xi foi fecundada ao pisar uma pegada ali deixada pelo deus do Trovão, (Lei Gong, 雷公) que governava a região com raios e trovões.

Como acontece normalmente ao falar dos locais onde as ancestrais histórias se desenrolavam, estes são denominados por os nomes das tribos que os habitavam, o mesmo para os apelidos dos habitantes. Assim, a mãe de Fu Xi, Hua Xu Shi, da tribo Hua Xu cujo totem era uma ave pernalta, vivia num lugar chamado Hua Xu Zhi Yuan, ou mais especificamente Lei Ze, onde hoje se situa Langzhong. Hua Xu aí terá engravidado, mas a criança foi nascer em Tianshui, actual província de Gansu.

O totem da tribo Feng (Vento, 风), a qual o pai de Fu Xi chefiava, era uma serpente que deu o tronco do Dragão e habitava na parte Sudeste de Gansu. Fu Xi, nascido de Hua Xu Shi, ficou com o apelido Feng por parte do pai, constatando-se assim a passagem da sociedade matriarcal para a patriarcal através do processo de união entre as duas tribos, a matriarcal Hua Xu a viver em terras de Sichuan e em Gansu, a patriarcal Feng.

Outro conto da mitologia chinesa acerca dos progenitores deste lendário soberano refere ser o pai de Fu Xi o deus do Trovão e a mãe Hua Xu Shi (华胥氏), a única filha de um casal que habitava no Noroeste (Sichuan), no lugar de Lei Ze (雷泽), junto ao Rio do Trovão, próximo do lago com o mesmo nome, onde o deus vivia. A rapariga Hua Xu, um dia, farta dos maus humores do deus, que constantemente infligia inundações às povoações ribeirinhas, resolveu ir falar-lhe e perguntar qual a razão deste não ir habitar o Céu como os outros deuses. Perante tal desplante, mas rendido à beleza da rapariga, acordou retirar-se para o Céu [Tianshui, Gansu] se ela com ele casasse. Passado um ano teve um filho e como a ela lhe estava vedado o regresso à sua terra, resolveu que o filho deveria crescer em Hua Xu Zhi Yuan (华胥之渊). Um dia, aproveitando a ausência do deus do Trovão, colocou a criança dentro duma enorme cabaça e deixou que o rio a levasse. Aconteceu encontrar-se o pai de Hua Xu a pescar e ao ver a enorme cabaça, retirou-a do rio e levou-a para casa. Quando o casal a talhou, dela saiu uma criança vestindo uma camisola bordada com flores, que reconheceram ser da camisa da filha. Deram-lhe o nome de Fu Xi, que significa oriundo de uma cabaça. Esta criança cresceu rapidamente, distinguindo-se das outras por ser muito alta, inteligente e corajosa, para além de poder subir ao Céu pela escada celeste por ser filho de um Deus. E seguindo esta história pelo livro Mitos Antigos da China, (edição Livros de Fênix, 1989, Beijing): “Segundo uma lenda dos tempos mais remotos a Terra e o Céu estavam ligados por uma gigantesca árvore chamada Jian Mu que, colocada no centro da Terra, era como uma ‘escada’ natural. Esta árvore, ao contrário de todas as outras, não produzia sombra sob os raios do Sol e ao longo do seu tronco caíam milhares de lianas bíparas em forma de cordas que constituíam a ‘escada celeste’ por onde os deuses desciam do Céu à Terra e vice-versa. No entanto, os seres humanos não tinham a habilidade de trepar ao Céu por esta ‘escada’. Fu Xi, sendo filho de um deus, podia subir e descer facilmente por ela.” Esta a versão apresentada normalmente sobre a mitológica história do nascimento de Fu Xi, que nos dá a entender andar a tribo Feng em conquista por Sichuan e com o acordo feito para parar a guerra e retirar-se, levou Fu Xi a nascer em Tianshui, província de Gansu.

22 Nov 2021

Fu Xi e Nu Wa o casal divino

Escrever sobre personagens que viveram num período anterior aos registos escritos e cujas histórias chegaram até aos nossos dias, ou pelas letras de canções, ou oralmente transmitidas em forma de mitos e só muito mais tarde, milénios depois, registadas nos livros, traz-nos o problema de interligar todas essas informações para criar uma inteligível e coerente imagem, que represente os seres aqui a tratar. Fu Xi (伏羲, em cantonense Fok Hei) e Nu Wa (女娲, Nôi-Vó), figuras lendárias e da mitologia chinesa, contam com poucos trabalhos académicos e nos livros antigos aparecem apenas esparsas referências às suas pessoas como as feitas por Kong Zi (Confúcio), Sima Qian, o historiador da dinastia Han do Oeste e Sima Zhen.

Fu Xi transportando o conhecimento das culturas existentes no Paleolítico para a Era do Neolítico deu início à Civilização Chinesa, tornando-se o seu primeiro Soberano e por isso, também conhecido por Tian Huang Shi (天皇氏, Tin Wong Si), Imperador Celeste. Conjuntamente com Nu Wa, após um grande dilúvio tornaram-se as únicas pessoas mas, como irmãos que eram não podiam casar e ter filhos por receio de desagradar ao Céu. Então resolveram subir à montanha sagrada Kunlun (em Qinghai), fazendo cada um uma fogueira e como o fumo de ambas se uniu, interpretaram favorável esse sinal e casaram, ficando a ser considerados o casal divino, o Pai e a Mãe dos Seres Humanos.

O Ser Humano tomara consciência da sua existência há 65 mil anos e se nessa primitiva sociedade não havia distinções de classes, famílias e propriedade privada, entre o L e o XL milénio antes da nossa Era foi substituída por uma comunidade baseada na família com a formação gradual de uma sociedade matriarcal há 30 mil anos. Por volta do VI milénio antes da nossa Era o sistema de crenças mudou e a sociedade matriarcal começou a dar lugar à patriarcal, substituindo-se a Deusa da Fertilidade por o Deus da Guerra, aparecendo as classes e o conceito de propriedade devido ao movimento adquirido pela caça a reorientar um novo estar. Assim, a sociedade patriarcal iniciou-se há cinco mil anos, quando na China as tribos se começaram a unir entre si.

Como ponto de partida deveremos questionar se Fu Xi e Nu Wa tiveram existência real? Se sim, quando viveram e quem foram? Questões que para tais figuras nunca poderão ter respostas formais mas, como representação de uma imagem feita pelo espaço de consciência, em função de onda preparam o além da realidade. Por isso não se consegue em projecção realizar tal estudo, sendo apenas na reflexão que este toca espaços fora dos limites da matéria. Por outro lado, como figuras lendárias que ocupam um lugar na História da China, elas foram o espírito e a substância de muitos arquétipos para a construção da Civilização Chinesa.

 

ANCESTRAIS SOBERANOS

 

Num túmulo da dinastia Han do Leste em Pixian (província de Sichuan) e do mesmo período, no mural do templo de Wuliang em Jiaxiang (província de Shandong), encontram-se representações de Fu Xi e Nu Wa, ambos com cabeça humana mas corpos de dragão e entrelaçados pelas caudas, a representar a união entre os dois, simbolizam o poder e quando ligados com a tartaruga perpetuam-se pela eternidade.

Fu Xi, considerado Imperador do Ser Humano conjuntamente com Nu Wa são o casal divino. Fu Xi, deificado como Taihao (太昊), ou o Imperador Verde, representa o Leste e contém a virtude da madeira, simbolizando a Primavera e Nu Wa, encarregue da reprodução de todas as coisas vivas, é a deusa primitiva da fertilidade. Para alguns estudiosos ambos não eram Seres Humanos, mas representantes de um período, Nu Wa a sociedade matriarcal e Fu Xi, a patriarcal.

Quando considerados pela História como figuras históricas chegam-nos integradas no grupo San Huang Wu Di, isto é, os ancestrais dos chineses conhecidos pelos Três Soberanos e os Cinco Imperadores. Apesar de irmãos eram de diferentes tribos e como os “únicos” sobreviventes de um grande Dilúvio, Fu Xi e a sua consorte Nu Wa ficaram considerados os primeiros seres humanos e para que estes se reproduzissem e fosse criada a Humanidade tornaram-se patronos dos casamentos.

Já quanto às datas da existência histórica de Fu Xi variam desde o ter nascido entre 2953 e 2852 a.n.E. e ter deixado a Terra entre os anos de 2838 e 2738 a.n.E., mas há autores a referir ter o lendário chefe tribal reinado durante 115 anos, de 4477 a 4362 a.n.E.. Nascera em Tianshui, hoje província de Gansu e numa jornada para Leste como chefe levou a sua tribo Yi até às Planícies Centrais, actual província de Henan, onde se instalou em Huaiyang e aí se encontra o seu mausoléu, como Kong Zi atestou. A sua meia-irmã Nu Wa nasceu três meses depois em Loncheng, a Norte de Tianshui, tendo ambos o apelido Feng (风, Vento) do pai. Acompanhou Fu Xi na procura de terras férteis e em Henan, após promoverem casamentos, separaram-se. Nu Wa seguiu para Norte, onde na povoação de Wihua se encontra o seu mausoléu.

Fuxi era um observador atento, tanto do Céu, como do que se passava na Terra, e ao olhar para o Céu observou os fenómenos celestes vendo-os espelhados na Terra. Assim atingiu a ideia do todo inserido nas mudanças sazonais e na geografia, descobrindo ser dentro de si o mesmo do que se passava no seu exterior. Ao viajar por muitos lugares conheceu outras formas de estar e fazer, assim como outros objectos. Apercebeu-se das diferentes qualidades e propriedades dos materiais e dos solos. Terá usado nós numa corda para fixar certos factos e criou um método de fazer redes de pesca inspirando-se nas teias de aranhas. No entanto, a maior das suas contribuições foi a criação dos oito trigramas a representar os oito estados da natureza usados depois no mais antigo livro existente, o Livro das Mutações (Yi Jing, 易经) cuja versão actual, o Zhou Yi é da dinastia Zhou e tem três mil anos.

Segundo refere Kong Zi nos dez Asas (Xi Ci), que complementam o Livro das Mutações, deve-se ao sábio Rei Fuxi a imagem do dragão de onde retirou os oito trigramas (bagua), criando o desenho do Tai ji pelo pulsar yin-yang da vida. O dragão é yang e terá sido escolhido como totem por Fu Xi, conhecido por isso como o rei Dragão, para representar o seu povo da tribo Yi. Explicou aos seres humanos a essência de todos os aspectos universais contidos nos oito trigramas que inventou, e as inter-relações entre eles. Pelo conhecimento dos oito estados da Natureza e seu domínio poderiam, tal como os deuses, evitar muitos prejuízos causados pelas calamidades naturais e utilizar todas as coisas ao serviço da harmonia para com o que nos rodeia.

Considerado o primeiro dos Três Ancestrais Soberanos (San Huang, 三皇), que deram origem à Civilização Chinesa, transportou os conhecimentos de uma Era em que a Terra ainda se reflectia pelo Céu e talvez por essa razão, Fu Xi e a sua meia-irmã e consorte Nu Wa, considerados os primeiros seres humanos, são o Pai e Mãe, que significam o Céu e a Terra e representam-se no yang e yin de todas as coisas.

8 Nov 2021

Os 150 Anos do Hospital Kiang Wu

Há sensivelmente um século e meio, o Governo de Macau aprovou a instalação do Hospital Kiang Wu, respondendo a uma antiga e fundamental necessidade da comunidade chinesa que se via arredada do acesso à saúde, entregue a mezinhas. José Simões Morais apresenta ao HM a história de uma instituição incontornável na vida de Macau

 

Organizada pela elite chinesa de Macau, a Associação designada de Hospital Kiang Wu nasceu em 1869 para criar um hospital que servisse gratuitamente a comunidade chinesa mais desfavorecida, mas também para abrir escolas gratuitas, dar de comer a quem tivesse fome, socorrer os necessitados e enterrar os mortos cujas famílias eram pobres ou, sem ninguém para deles cuidar. “A nova instituição foi, logo de início, mais do que Hospital, em rigor deveria ser chamada – Casa de Beneficência, pois, se o seu objectivo primário era, na verdade, socorrer doentes, tanto pela hospitalização, como dispensário e consultas, nem por isso deixava de incluir, também, a instrução em escolas elementares e o socorro com outros subsídios, sobretudo em épocas anormais de epidemias, fomes, cataclismos vários, mesmo no território da China ou em locais afastados, mas onde houvesse população chinesa.

Tinha ainda como função responder pelos ritos culturais e mais cerimónias fúnebres, assim como de certa maneira representar também a principal sede do Hong (Grémio) dos vários comerciantes generosos, que por eleição escolhiam entre si os seus delegados representativos, até com carácter social”, refere José Caetano Soares, em Macau e a Assistência.

Macau, na altura, apenas tinha dois hospitais, um militar (no antigo Convento de S. Agostinho) e outro pertencente à Santa Casa da Misericórdia (Hospital de S. Rafael). Esta era a assistência médica que os portugueses usufruíam, no entanto, os doentes chineses continuavam esquecidos, entregues às mezinhas que de memória traziam de família, sem poder contar com bons profissionais de medicina tradicional, os quais só a Casa de Beneficência Sam Kai-Hui-Kun tinha capacidade de contratar, devido à pobreza extrema em que a maioria dos chineses em Macau vivia. Esta tinha a sua sede no Pagode das Três Ruas, o único edifício poupado pelo incêndio de 6 de Junho de 1818, que destruíra a maior parte do Bairro de S. Domingos, vulgarmente conhecido como Bazar Grande.

Sob a hegemonia do Mandarim de Heong-Shan (Casa Branca), a Casa de Beneficência chinesa Sam Kai-Hui-Kun (Assembleia dos habitantes das três ruas) começou a perder poder quando em 1847 o Governador Ferreira do Amaral tomou posse de todas as terras da península e expulsou os mandarins de Macau em 1849. Os novos aterros feitos para o lado do porto interior com a abertura de novas ruas e o enorme aumento da população chinesa retirou o soberano poder político à sob a comunidade chinesa, levando a uma cisão, aproveitando o governo de Macau para ajudar os dissidentes, que eram mais a favor dos portugueses, “doando-lhe uns lotes de terreno então suburbano.

Para aí foi a nova sede e nesses terrenos, mediante subscrição pública veio, também, a ser construído o primitivo Hospital Keng-Wu (Hospital de Macau) (1872). A designação Keng-Wu [Kiang Wu significa lagoa em espelho] traduz a forma literária do nosso termo – Macau”. Nesse aspecto, José Caetano Soares refere que “nunca houve propriamente Sociedade devidamente organizada à face de regulamentos superiormente aprovados [por isso nenhuma informação consta no Boletim da Província de Macau e Timor dos anos de 1870 e 1871 e só no Boletim Oficial da Colónia de Macau de 12 de Setembro de 1942, é referida a História da criação do Hospital Kiang Wu] mas o facto de ser para lá eleito, muito embora os cargos fossem sem remuneração, significou sempre prova já de distinta honorabilidade por parte da opinião geral. Pela sua feição assim honrosa e de respeito, não raro, ia servir às nossas autoridades de agente conciliador em ocasiões de atrito ou só discordância com elementos chineses, mesmo oficiais.”

EDIFÍCIOS DO COMPLEXO HOSPITALAR

A Associação do Hospital Kiang Wu, proveniente da cisão na Sam Kai-Hui-Kun, foi constituída como meio para ter voz perante o governo colonial português, e era composta por 152 influentes chineses, sendo muitos representantes dos Grémios estabelecidos na cidade.

Em 21 de Junho de 1870, o Governo de Macau aprovou a instalação do Hospital Kiang Wu, requerida pela comunidade chinesa de Macau, representada pelos senhores Sam Wong, Chou Iao, Tak Fong e Wong Lok. O Governo estipulou o foro anual de uma pataca e autorizou a angariação de fundos necessários para a construção do Hospital, num terreno de 75.000 m² na zona de San Kiu. Este era um dos locais mais doentios de Macau, onde os mortos mal enterrados, muitas vezes com partes do corpo a descoberto, e sem sepulturas, se encontravam espalhados pela encosta do monte, sendo o primeiro trabalho o de transferir os ossos dos corpos para WanZhai.

No 10.º ano do reinado do Imperador Tong Zhi da dinastia Qing, a 28 de Outubro de 1871 foi fundado o Hospital Kiang Wu, administrado por cidadãos chineses e no início, aí apenas se preparava e cozinhava os medicamentos, distribuídos gratuitamente. Só em 1874 foi no local criado o departamento de Medicina Tradicional Chinesa.

No museu da História da Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu, instalado na Casa Memorial e aberto todos os sábados das 15 às 18 horas, encontramos explicativos placards, onde num se refere que em 1871 o Hospital consistia numa construção ao estilo antigo de arquitectura chinesa [semelhante à do templo de Kun Iam Tong, tendo três pavilhões centrais]. Refere que na porta principal do primeiro edifício, [o da entrada] havia uma tabuleta a dizer Hospital Kiang Wu, sendo o átrio. No segundo edifício era o salão para as reuniões da Associação e no terceiro encontravam-se estátuas dos deuses da medicina para os pacientes orarem e pedirem-lhes ajuda no restabelecerem-se das doenças. [Nos altares aos deuses encontravam-se Hua Tuo, Guang Gong, Bao Gong, Liu Zu e Hong Sheng.]

Um outro placard adita, no original Hospital, na ala direita do terceiro edifício era o lugar onde se providenciava o gratuito tratamento médico e onde havia dentro também uma farmácia. Nesses dias, o Hospital apenas tinha o departamento de tratamento médico chinês, isto é, era de Medicina Tradicional Chinesa e todos os médicos e farmacêuticos vinham nomeados de outros locais da China para providenciar tratamento médico aos pacientes.

Ao lado um desenho com uma planta do recinto muralhado do Hospital, que apresenta semelhanças com a forma e área [de 75.000 m²] ocupada por o actual complexo hospitalar, encontrando-se representados esses três edifícios, sendo eles ladeados por outros dois de cada lado e mais recuado um alpendre e no meio do terreno o que parece ser um tin, espécie de local coberto para repousar o espírito e seguindo, ao fundo do lado esquerdo encostado ao muro, que o separa da Estrada do Repouso, três edifícios onde se colocavam os doentes graves e no lado oposto, junto à Rua Tomás Vieira, o local onde eram colocados os defuntos e guardados os caixões, assim como os edifícios de farmácia.

Ainda dentro do museu encontramos cinco bei/tabuletas tendo uma os nomes das 152 pessoas e grémios que sugeriram criar o hospital; a segunda tabuleta é o documento escrito em caracteres chineses pelo Governo português de Macau onde consta a aprovação da criação do Hospital chinês. A terceira e quarta tabuleta referiam as razões por que havia necessidade de fazer o Hospital e a quinta explicava o porquê da existência da farmácia de produtos de medicina tradicional.

Os cuidados médicos eram realizados apenas numa casa situada no lado direito dos três pavilhões, contando no terreno do Hospital com um total de 60 quartos, onde eram gratuitamente prestados serviços clínicos aos doentes e um asilo. No recinto havia ainda a casa mortuária e um armazém de caixões, que em 1933, para permitir ao hospital expandir-se, passaram para a colina de Mong Há (Colina de Lótus), onde ainda hoje se encontra na Avenida Lacerda a casa funerária da Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu.

Inicialmente o Hospital era dirigido por uma Comissão Administrativa, onde havia quatro directores. Teve como contabilista nos anos de 1871 e 72 Chan Zi Chen e em 1873 Choi Ian San e entre 1871 e 1880 conseguiu angariar 49.900 taéis de prata ($69.000,00) e recebia o dinheiro das ofertas de todos os templos de Macau. Em 1874 passou a ter uma direcção constituída por doze pessoas escolhidas entre os diferentes grémios.

AS ESCOLAS

A Associação do Kiang Wu em 1892 criou em Macau cinco escolas de instrução gratuita para crianças chinesas dos dez aos quinze anos, onde se ensinava pelo antigo sistema de educação chinesa, que na China preparava para os exames imperiais, usando-se os “Quatro Livros” (Si Shu) publicados em 1190 por Zhu Xi, que deveriam ser entendidos e decorados e o “Clássico dos Três Caracteres”, (San Zi jing) composto também na dinastia Song por Wang Yinglin. As cinco escolas situavam-se, uma em Mong-há, outra em San Pu Tau (Rua da Madeira), em San Pa Mun (Rua de S. José), em Mai Chou Tei (Rua da Palha) e por fim, em San Kiu (talvez na actual Rua Tomás Vieira).

Em 1905 as escolas foram reunidas numa só, dentro do recinto na ala direita do Hospital, que passou a chamar-se Escola Primária Kiang Wu com o sistema de educação Ocidental e a ensinar o inglês, havendo três classes e 150 alunos. Essa escola em 1950 juntou-se à Escola Primária Ping Man e tornou-se a Escola Keang Peng, cujo edifício da secção do Secundário foi inaugurado em 1997.

“Em 1917, verificando-se a exiguidade das instalações do hospital, foram estas ampliadas mercê do auxílio do Governo de Macau, de pessoas caritativas, de todas as classes sociais e de diversas entidades chinesas”, segundo refere o B.O. de 1942.

No ano 1919, num novo edifício próprio dentro do espaço do Hospital, os pacientes tratados pela Medicina Ocidental passaram a poder ficar aí internados e por isso, houve a necessidade de treinar pessoas para permanentemente deles cuidar. Tal levou à criação do curso de enfermagem, montando assim em 1923 a Escola de Enfermagem e Partejamento Kiang Wu de Macau, que em vinte anos graduou 48 enfermeiras. Em 1933, a casa mortuária e o armazém de caixões deixaram o recinto do Hospital, e para aí passaram as salas de aulas de enfermagem e o dormitório, possibilitando um permanente acompanhamento dos doentes. Os enfermeiros foram reconhecidos em 1945 como um grupo profissional, podendo para além de trabalhar no hospital, exercer a profissão noutros locais.

Em 1948, a escola começou a treinar as enfermeiras no ajudar ao nascimento das crianças, aparecendo a especialidade de obstetrícia e em 1956 foi construído o edifício para albergar essa Escola de Enfermagem.

Desde 1994, os cursos de enfermagem e obstetrícia ficaram com as habilitações oficialmente reconhecidas e designada Instituto de Enfermagem Kiang Wu de Macau foi convertido em instituição privada de ensino superior em Novembro de 1999, dedicando-se à formação de quadros qualificados na área de enfermagem. Segundo o Livro do Ano de 2013, “No ano lectivo de 2012/2013, o Instituto ministrou um total de três cursos de licenciatura (incluindo cursos complementares) e diploma profissional, contando nesse ano com 32 docentes e 305 estudantes matriculados em cursos de nível superior.” No ano anterior, com mais cinco docentes, mas menos 36 estudantes ministraram dois cursos de licenciatura.

NOVA FASE

Nos primeiros tempos o hospital oferecia apenas assistência no âmbito da medicina tradicional chinesa. Em finais de Setembro de 1892, Sun Yatsen (Sun Wen ou Sun Zhongshan, 1866-1925) após se licenciar em Medicina em Hong Kong veio para Macau convidado por Chen Xi Ru para criar um departamento de Medicina Ocidental no Hospital Kiang Wu e aí trabalhar. Chen Xi Ru em 1892 era o maior financiador do Hospital. Sun Yatsen foi o primeiro clínico licenciado em Medicina a ser contratado e como médico serviu no Hospital Kiang Wu em regime de voluntariado entre Outubro de 1892 e Setembro de 1893. Aí praticou medicina e cirurgia, ajudado nas grandes operações pelo seu professor da Universidade de Hong Kong, Dr. James Cantlie, que vinha a Macau expressamente para esse fim.

O jornal Echo Macaense, que publicava um Sumário em chinês no qual Sun Yatsen colaborou, a 19-12-1893 referia: .
Como Sun era formado em Hong Kong e segundo as leis portuguesas ninguém podia em Macau exercer legitimamente medicina sem possuir um diploma português, teve de abdicar da prática dessa profissão.

O Hospital Kiang Wu deixou de prestar assistência médica de carácter ocidental até 1935, quando foi contratado como médico licenciado o doutor Or Lun (Ke Lin, 1900-1991), que nesse mesmo ano obteve a permissão de efectuar cirurgias. Estudara na Universidade Zhongshan de Guangzhou e aí leccionou, atingindo o grau de Professor. Mais tarde passou por Xiamen onde criou um hospital e depois abriu uma farmácia em Hong Kong. Com a função de vir tratar o capitão Ye Ting (herói de Guerra chinês) veio para Macau e um ano mais tarde, em 1936 começou a trabalhar gratuitamente como professor na Escola de Enfermagem e médico no hospital. Em 1940 tornou-se membro da farmácia do Hospital Kiang Wu, conselheiro sobre assuntos de Medicina Ocidental e responsável pelo trabalho da Escola de Enfermagem. Em 1943 tornou-se Director da Escola, superintendente do Hospital e Vice-Presidente da Associação do Hospital Kiang Wu.

Durante o período da Guerra do Pacífico, o Hospital em 1943 acomodou 74.590 doentes e providenciou gratuitamente tratamentos a 89.238. Acolheu e ajudou com tratamentos médicos mais de dois mil refugiados de Hong Kong e em 1945 esses serviços gratuitos cresceram em número chegando a mais de cem mil.

Em 1941, a Associação fundou um asilo para crianças abandonadas, que só em dois anos acomodou e educou mais de 380 crianças refugiadas, tendo fechado em 1946, com o fim da Guerra do Pacífico.

Em 1941, no Hospital deixou-se de praticar Medicina Tradicional Chinesa e só nos finais dos anos 70 do século XX, esta regressou, providenciando actualmente tantos serviços de Medicina Ocidental como da Tradicional.

A sala de operações cirúrgicas, que se pretendeu construir em 1941, só a 20 de Maio de 1945 passou a existir devido às dificuldades nesse período. Em 1946, o Dr. Or Lun como superintendente do Hospital aperfeiçoou a instituição e começou a ensinar e a empreender as regras sanitárias e de saúde pública, conseguindo bons resultados para debelar a cólera, equipando o hospital com novos meios para melhorar as condições.

Em 1979 ascendeu a Presidente Honorário do Directório dos Directores, devido aos 38 anos como Director do Hospital, tendo voluntariamente durante 55 anos ajudado a Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu. Foi uma das figuras com maior prestígio de Macau, tanto a nível social, como político e sobretudo profissional.

28 Out 2021

A Fábrica de Vinho Chinês Tai Cheong

Quando em 2010 pretendemos escrever sobre a loja de vinho chinês Tai Cheong, situada ao fundo da Estrada do Repouso, pouca informação obtivemos do funcionário que aí trabalhava e apesar de por três vezes a visitarmos, nem o nome lhe conseguimos saber e tão pouco quem era o patrão. Ao centro do acanhado compartimento da loja encontrávamos sempre uma mesa com pessoas idosas a jogar majong e na parede do fundo, um conjunto de antiguidades colocadas entre o altar a Kuan Tai e por cima, a tabuleta com o nome do estabelecimento. Já numa das laterais paredes, prateleiras cheias de garrafas, entre elas de cerveja Tsingtao cujo rótulo referia ser vinho de arroz glutinoso de original fermentação, tendo os caracteres em baixo a dizer “Tai Cheong antiga fábrica de vinho”. A última prateleira fazia de balcão e escondia enormes potes antigos gravados com dragões a armazenar o vinho, acessíveis por buracos no tampo de madeira fechados por rolhas.

Aberta ao passeio, daí fomos assistindo em silêncio ao ritual da venda quando os clientes entravam na loja para comprar vinho e o funcionário abria a caixa de metal que guardava as várias medidas e só depois o vendia já engarrafado ou, mediante o pedido, escolhia uma das quatro conchas de alumínio nela existente com diferentes capacidades e mergulhando-a num dos potes, vertia o líquido com a ajuda de um funil para o vasilhame trazido pelo cliente. Finda a transacção, voltava a fechar a tampa da caixa e recebia o dinheiro. Duzentas patacas era o imposto que a loja pagava por ano para vender vinho, como aparecia num papel exposto na parede.

Para facilitar um início de conversa compramos uma garrafa, perguntando se o vinho era feito em Macau e a resposta foi ser produzido em Panyu, província de Guangdong. Aproveitando então o degelo na comunicação, questionamos sobre a pequena fotografia exposta na parede a mostrar um jovem a andar de bicicleta, referindo o funcionário com um ligeiro orgulho ser ele o protagonista, já lá iam mais de 50 anos.

Em superficiais pesquisas, percebemos ser esta a última das lojas de vinho de arroz que em Macau permanecia aberta, após o encerramento em 2010 da Cheóng Ón na Rua de S. Paulo.

Em 1950, Macau só em lojas de venda a retalho de vinho de arroz tinha 118 e fábricas havia 44. Com a lista de 1981, que registava 27 fábricas, deambulamos pela cidade na esperança de ainda existir alguma. Sem nada encontrar, voltamos à loja Tai Cheong para tentar conseguir mais informações.

Em 2021 regressamos à loja, mas fechara em 2019, sendo-nos revelado ter sido esta fábrica de vinho chinês uma das mais importantes de Macau. Com vontade de conhecer a sua História soubemos poder encontrar na cidade um dos filhos do fundador, dono da loja de chá Va Lun, na Rua 5 de Outubro. Assim, durante uma manhã aí escutamos do Sr. Chang Chi Fai, amável e interessante personagem, as informações que até então nos falhavam sobre a fábrica Tai Cheong.

História da fábrica

O seu pai, Chang Hin Meng era natural de Jiujiang, Nanhai província de Guangdong, e quando em 1939 esta província foi invadida pelos japoneses fugiu com a família para Hong Kong. Enquanto aí vivia, abriu em Macau uma fábrica de palitos, Dai Wa e outra de châu peng (fermento para fazer vinho de arroz), criando assim empregos aos seus conterrâneos.

Em 1941 veio para Macau e nessa década de 40 fundou a Fábrica de Vinho de Arroz “Tai Cheong”, na Estrada do Repouso n.º 129, onde se situava a loja e atrás desta encontrava-se a fábrica a ocupar a área traseira de sete espaços comerciais, tendo no outro lado da rua mais três lojas para armazenar o arroz.

A tomar conta da fábrica ficou o irmão Chang Chan Wa, que era o segundo filho. O vinho na altura era produzido num recipiente de estanho com capacidade de 15 kg onde o arroz cozia durante uma hora, sendo depois submetido à fermentação. Na primeira cozedura a vapor fazia-se o vinho para cozinhar de pouco teor alcoólico e só após uma segunda cozedura este atingia os 31,5º. Com essa dupla destilação (seóng chêng) o vinho transparente era colocado em garrafas de meio litro pois os habitantes de Guangdong gostavam de o beber a acompanhar as refeições. No entanto, o estanho dos recipientes deixava resíduos de chumbo levando o governo de Singapura a proibir a importação do vinho de arroz de Macau.

Em 1954, Chang Chi Fai após complementar o curso secundário com 18 anos foi trabalhar para a fábrica. Como a produção continuava a usar o antigo método decidiu desenhar e fazer de aço inoxidável a panela alambique para substituir a de estanho, aumentando-lhe a capacidade a fim de poder cozer 45 kg de arroz. Sendo preciso grande quantidade de água abriu-se um poço e para a conseguir fria foi-se buscar mais fundo pois necessária para cortar rapidamente o levedar com o novo bolo de vinho, que desenvolveu através do arroz glutinoso importado da Tailândia.

Este era triturado até ficar em pó, depois colocado em água e após seco dividido em bolinhas. Tai Cheong era a única fábrica a produzir desta maneira o vinho e em 1957 começou a vender esse châu pêng às outras de Macau. A juntar aos já bons resultados, inovou com a técnica de esterilização durante a fermentação usando luz ultravioleta para eliminar possíveis contaminações bacterianas e para purificar o vinho mandou vir de UK um filtro especial.

Se até então, com meio quilo de arroz se produzia quatro leong (1kg = 32 leong) de vinho, agora com a mesma quantidade de arroz conseguia-se 24 leong (¾ kg = 750ml de vinho). A qualidade também aumentou pois a fermentação era completa e assim conseguiu baixar o preço da produção.

Na década de 60 a fábrica precisava por dia entre uma a duas toneladas de arroz e por isso começou a importá-lo directamente da China, tornando-se o maior agente em Macau de todos os produtos necessários para a feitura do vinho de arroz. Tinha mais de 300 enormes potes, armazenando cada um 400 litros, havendo ainda um recipiente feito de aço inoxidável com a capacidade de 1750 litros.

Assim em três anos a fábrica de média tamanho tornou-se a maior e a número um de Macau. Em 1965 Chang Chi Fai deixou a fábrica e virou-se para o negócio do chá.

O vinho produzido em Hong Kong pagava 0,9 HK$ por cada meio litro, enquanto o importado tinha uma taxa de 1,1 HK$, mas mesmo assim o preço do vinho de Macau continuava aí a ser mais barato. Nessa altura, Macau exportava 80% do seu vinho de arroz cozido duas vezes para o Sudeste Asiático, Canadá e USA.

Na década de 80, alguns negociantes de HK usando álcool industrial e tornando-o transparente venderam-no como vinho de arroz, provocando a cegueira e morte a quem o consumiu. Tal levou à queda da confiança dos consumidores, que optaram por cerveja e uísque, dando-se assim o declínio do vinho de arroz.

Com a enorme diminuição de consumo, a fábrica fechou por volta do ano de 1987 e o último patrão, Chang Chan Wa, antes de deixar Macau vendeu a loja ao antigo empregado Tang Gan, o nosso primeiro co-locutor.

25 Out 2021

Os 60 anos da casa de chá Long Wa

Para saborear a atmosfera das antigas casas de chá de Cantão, aí já inexistentes, há ainda em Macau a possibilidade de usufruir esse estar na casa de chá Long Wa, situada no primeiro andar do n.º 3 da Rua Norte do Mercado Almirante Lacerda, aberta todos os dias das sete da manhã às duas da tarde.

O prédio amarelo de dois andares, por detrás do Mercado Vermelho, chama a atenção do exterior pelos bonzais colocados ao longo da varanda a circundá-lo e nas suas sempre abertas janelas encontram-se nostalgicamente dependuradas algumas gaiolas já sem pássaros. Subindo as escadas para o primeiro andar, um mundo completamente fora do espectável. De frente, o balcão sem caixa registadora, mas onde repousa um ábaco e lateralmente abrem-se duas amplas salas, agora completamente atafulhadas de antiguidades, esculturas e mobílias, tendo nos últimos tempos aparecido, a substituir as cadeiras de madeira, inúmeras de plástico azul cerúleo a desfazer o ambiente. Nas paredes, entre as verdes janelas, relógios, quadros de caligrafia e pinturas, e o poster com o retrato de Mao Zedong.

Desde a nossa última visita passaram quase dez anos pois, devido à fama alcançada não conseguimos em várias tentativas arranjar mesa para sentar. Sentíamos falta da saborosa comida, da qualidade do chá e daquele ambiente, que ao longo da nossa estadia em Macau foi desaparecendo com o fecho da maior parte das casas de chá então existentes, devido a irem paulatinamente fechando umas atrás das outras, deixando a cidade sem inúmeras das que nos anos 70 tinham aparecido.

Abrira em 1962 com capital de Hong Kong, sendo o prédio construído de raiz para ser uma casa de chá e teve como gerente Ho Fong, nativo de Deqing, Guangdong, que viera da então colónia britânica para Macau em 1952. O negócio era florescente, chegando a ter mais de 60 empregados a trabalhar nas salas dos dois andares, ocupando a cozinha a metade do segundo andar, fora da vista dos clientes, onde num fogão a lenha se preparavam as iguarias da casa, a massa frita, carne de porco assada e pato à Cantão, sem faltar o famoso dim sam.

Na década de 70, o gerente Ho Fong comprou-a ao seu patrão e Ho Meng Te, que estudara em Inglaterra, em 1976 veio trabalhar para ajudar o pai no negócio.

CONVÍVIO COM OS PÁSSAROS

Conhecia-a ao seguir um homem transportando três gaiolas e curioso, quis ver onde ia. Já nessa altura era só usado o primeiro andar para casa de chá, com uma virtual separação das duas distintas e airosas salas, recheadas de arte chinesa. As janelas estavam sempre abertas, pois nunca teve ar-condicionado, e por baixo delas as mesas dispostas ao longo das paredes com bancos corridos para duas pessoas em cada um dos lados. Junto ao local da água a ferver, uma estante guardava, além de chá, livros e catálogos, inúmeros diferentes bules e chávenas, parecendo pertença dos clientes que aqui quotidianamente passavam as manhãs num uníssono convívio com os seus pássaros, cujo tagarelar entre eles se juntava ao dos comensais, dando grande animação à sala. Nesse embriagante ambiente de um todo envolvente, o volume de som sustentava-se harmonioso e ia aumentando acompanhado pelo chilrear dos pássaros que na sua sensibilidade se ligava ao som das vozes até atingirem um clímax. Ao se dar pelo barulho da sala, repentinamente tudo se calava e o ruído suspenso perdia pé, imperando um monumental silêncio. Aos poucos uma voz animada se elevava e outra e mais outra, acompanhadas por um piar e mais um e outro e o avolumar da sala voltava a entrar em ebulição até ao momento de se atingir a atenção e então quebrava. Era o respirar da casa.

Na fictícia divisão das salas, junto às escadas para o segundo andar da cozinha, num carrinho coziam a vapor as iguarias do dim sam, confeccionadas nos cestos redondos de bambu, com bolas de carne e de peixe, pão chinês não fermentado, carne de porco e o bolo de canela cantonense. Numa panela ao lado aquecia a sopa de arroz, o canji.

As salas estavam divididas; a reservada para comer e conversar num convívio com o chá, sem a presença de pássaros, contava com os peixes dourados da boa sorte num enorme aquário. Na outra, dependuradas nas janelas as gaiolas dos pequenos chivit (de pelugem verde e um bico longo para o tamanho desta ave) que exibiam constantemente os seus atributos, tanto no canto como em voos com cambalhotas. Já nas mesas do centro da sala, dispostas de uma maneira desordenada, repousavam as gaiolas com os wa men, chamados também de olhos de long-ngán, com uma pelugem preta e junto aos olhos um traço branco, eram constantemente mudadas para obterem os lugares de privilégio mediante o movimento do ar. Durante os meses de Março, Abril e Maio realizavam-se frequentes combates entre estes pássaros. De um momento para o outro notava-se uma movimentação estranha na sala, deslocando-se as mesas para dar lugar no chão a duas gaiolas, cada uma com um macho, cobertas com um pano branco. Uma em frente à outra e ao lado de ambas era colocada a gaiola com uma fêmea. Em redor, a tensão dos espectadores em silêncio era transmitida aos machos que vendados sentiam a presença da fêmea. Aos poucos, já com os machos assanhados, era retirada a gaiola da donzela e os panos a envolver-lhes as gaiolas. Ainda separados pelas grades tentavam com bicadas atingir-se e abertas as portas, o mais assanhado atacava, entrando para a gaiola do adversário. Durante alguns minutos as bicadas sucediam-se e com as patas se agarravam entre eles, até que por fim, um fugia e o combate terminava.

NOVOS TEMPOS

Em 2003, na sala de chá foram os pássaros proibidos de entrar pois tornaram-se potenciais transmissores do H5N1 e assim muitos dos habituais clientes matinais com as suas aves deixaram de aparecer. A sala de chá Long Wa passou a ser então local de encontro de fotógrafos e onde se realizaram exposições de fotografia, não fosse o dono Ho Meng Te um apaixonado por arte.

Com a abertura dos novos casinos apareceram clientes de todos os cantos do mundo e sobretudo da Malásia e Singapura, em busca das memórias antigas que já não encontravam nos seus países. O ambiente encantava e amplamente divulgado por artigos de jornal e programas de televisões em 2010 chegaram os turistas chineses do continente, sendo o filme Du cheng feng yün (O Mestre dos Jogos, ou From Vegas to Macau) de 2014 do realizador Wong Jing a catapultar a fama que atraiu para aqui verdadeiras multidões.

Hoje, apenas um lado da sala é usada e os quatro trabalhadores e o jovem patrão dão conta do recado, garantindo à casa uma maior estabilidade, já que sem grandes encargos, mesmo neste período difícil como o que passa desde 2020, consegue manter-se aberta. Findo o dia de trabalho e após a sala limpa, às duas e meia, três da tarde, Ho Meng Te senta-se à roda da mesa com os seus empregados e tomam a refeição em conjunto.

A casa de chá Long Wa guarda ainda as características e um ambiente das existentes antigamente e conseguiu sobreviver sem perder o charme.

11 Out 2021

Pan Fong – Bom sabor a perpetuar-se na memória

Nos constantes passeios pela Rua 5 de Outubro, um ‘pai pin’ numa vitrina de uma loja de bolos sempre atraiu-nos pelo excelente trabalho em madeira dourada e foi ele a levar-nos a entrar e adquirir uns quantos ‘kuóng sou pêng’.

Após prová-los, descobrimos um sabor nunca encontrado em semelhantes bolinhos comprados noutras lojas de Macau. Assim, tornamo-nos clientes da Pan Fong, nome dado por Chan Heng Yam à loja de bolos criada em 1936, a significar bom sabor a perpetuar-se na memória.

Há 50 anos aí trabalha Chan Tai Min, o neto do fundador, e enquanto na cozinha do primeiro andar numa grande panela de cobre coze durante dez horas o feijão preto, sendo essa massa mexida por uma pá mecânica a girar para ganhar grande consistência, relata-nos a história da loja e da família.

Proveniente da aldeia de Choi Hang, no distrito de Zhongshan, o avô Chan Heng Yam aproveitando o conhecimento familiar na confecção de bolos, ao chegar com o irmão a Macau nos anos 30 do século XX estabeleceram uma loja comercial na Avenida Almeida Ribeiro, uma padaria onde faziam bolachas na Rua dos Faitiões 44 e a loja na Rua Cinco de Outubro n.º 80.

Quando separaram os negócios, Chan Man Long, pai do nosso interlocutor e o irmão mais novo ajudaram o avô que ficou com a loja Pan Fong da Rua 5 de Outubro, mas em 1971, a morte do tio num acidente levou o pai a precisar de alguém para o ajudar. Nascido em 1953, Chan Tai Min acabara o curso secundário e foi chamado a trabalhar na loja, pois o irmão mais velho estudava na Universidade em Taiwan e o mais novo era ainda muito jovem. Daí não ter continuado os estudos. No início também faziam pão mas sendo o pessoal escasso optaram por produzir apenas ‘kuóng sou pêng’, os bolinhos feitos de farinha e açúcar vermelho de cana, ou de normal açúcar branco. Até hoje continua a fazê-los à mão e sem usar conservantes a produção é para o dia, atraindo muitos clientes pois só aqui os encontram com este sabor.

Na loja vende-se trinta a quarenta tipos de produtos de confeitaria, sendo 40 por cento para Macau e 60 por cento destinados a Hong Kong e ao continuar tantos anos sem sofrer com a concorrência numa cidade tão competitiva neste ramo mostra a qualidade do fabrico. Com clientes fidelizados já de três gerações, a marca mantém-se na memória das famílias, conquistando a preferência quando precisam de bolos para celebrar as grandes festas. A confiança dos produtos reside na qualidade, na segurança alimentar e por serem feitos com amor.

Bolos lunares

A Festividade do Outono, Tchông-Tch’âu Tchit (中秋节), cuja celebração ocorre no dia 15 da oitava Lua, é o momento do ano de maior negócio com a venda dos bolos lunares (yü pêng), redondos pois a Lua Cheia parece apresentar-se na sua maior dimensão e daí a forma dos bolos.

Três meses antes inicia-se a preparação, quando são feitas as grandes encomendas e se compram os ingredientes. Nos bolos lunares, os mais tradicionais usam como recheio o lótus, o feijão vermelho e o mungo, e só mais recente o feijão preto, sendo todo o feijão importado do Nordeste da China e o lótus de Hunan.

A faltar um mês começa o árduo trabalho na feitura das diferentes pastas, levando quatro horas a cozer a de feijão vermelho (hong tau-sa) e a de mungo (feijão verde chamada Loc tau), e mais de dez horas as de feijão preto e de sementes de lótus; após arrefecerem são guardadas em latas cobertas de azeite vegetal para as preservar, pois não vão para o frigorífico. No início apenas fazia as pastas para o recheio dos bolos lunares, vendendo-as a famosas lojas e como o sabor cativava os clientes, quiseram-lhe comprar a fórmula, levando-o a ensinar a confecção a muita gente, mas ninguém atingia o sabor especial que ele conseguia, pois o segredo está em quem a faz e não numa especial receita.

Colocado na vitrina lateral à entrada da loja, o pái pin de madeira dourada tem na parte superior imagens esculpidas com os deuses da Lua, do Sol e entre ambos, o da Riqueza e no centro, caracteres alusivos ao bolo lunar da festividade do Outono. Com mais de cem anos, foi oferecido em 1936 ao avô por um amigo aquando da inauguração e era proveniente de uma pastelaria de Guangzhou. A sua forma foi escolhida como logótipo do estabelecimento e antigamente encontrava-se no meio da loja, refere a esposa de Chan Tai Min, a Sra. Cheang que toma conta das vendas.

Faltam duas semanas quando regressamos para assistir à feitura dos bolos lunares, onde na parte traseira da loja o Sr. Chan vai com as mãos modelando os bolos feitos à medida das encomendas, pois não se usam químicos para os preservar. A massa de farinha, proveniente da Coreia, é esticada com um rolo e já na palma da mão coloca a pasta escolhida e dividida em pequenas parcelas, onde em algumas séries junta-lhe pedaços de noz ou casca de tangerina, sendo no final a pasta toda envolvida pela massa. Na etapa seguinte essa bola é colocada por um empregado numa forma, já não de madeira como antigamente se usava fazer e por isso se deixou de bater pau para desenformar.

Formado o bolo com o desenho dos caracteres a referenciar o ingrediente, é colocado num tabuleiro para ser levado ao forno, havendo um terceiro empregado a controlar a cozedura e após sair, pincelá-los com um banho de gema.

Diariamente são produzidos à mão trezentos a quatrocentos bolos lunares para a Festividade do Outono, mas já não pode ser chamado bolo bate-pau como conhecido em Macau. Segundo Luís Gonzaga Gomes, “estes bolos manipulados com farinha acinzentada, de cor da lua, são recheados com toucinho e presunto (kam-t’oi); com massa negra de feijões (tau-sa); com estranha miscelânea de pevides, amêndoas, pinhões, cascas de tangerina e açúcar (ung-ian); ou com pasta amarelada de sementes de lótus (lin-iong).” O Sr. Chan prefere não fazer os de toucinho por não conseguir agora encontrar no mercado carne de porco com a necessária gordura entre a pele e a carne.

Situada numa zona de inundações, a loja em 1979 sofreu muitos estragos com a passagem do tufão Hope, mas muito mais terríveis foram os provocados a 23 de Agosto de 2017 por o tufão Hato, tendo a água dentro do estabelecimento atingido os dois metros, destruindo os equipamentos e produtos, assim como antigos objectos. Para recuperar contraiu um empréstimo de meio milhão de patacas ao governo que, apesar de não terem juros, terão de ser pagos em dez anos. No entanto, logo em Setembro de 2018 passou por Macau o tufão Mangkhut voltando a inundar, desta vez com um metro e meio de altura.

A loja apresenta diariamente apenas dez dos seus quarenta diferentes produtos pois para os haver sempre frescos prefere não ter uma grande variedade. Com a feitura dos bolos lunares, deixam de aparecer nas prateleiras os restantes produtos e por isso, contentamo-nos com um bolo lunar de duas gemas de ovo dentro da pasta de lótus, mas o sabor dos ‘kuóng sou peng’ aguarda na memória por ser avivado.

20 Set 2021

O taufu da loja Ving Kei

Em 2010 procedemos a uma recolha de informações sobre antigas lojas de produtos pertencentes a um quotidiano que então começava a desaparecer substituídas por um novo estar cuja mudança de gostos as deixavam sem clientes. Passados dez anos voltamos a fazer a ronda por Macau para registar as que tinham resistido e quais as mudanças apresentadas.

Daí voltarmos à loja de sopa de fitas Ving Kei na Rua da Tercena 47, onde já não encontramos a senhora Lei, que nos seus 85 anos se mostrara nessa primeira visita com uma vigorosa energia e nos relatara os primórdios da loja. “Naturais de Panyu, Lei Kwong Meng emigrara para Hong Kong e em 1950 veio para Macau quando ela aqui chegou.

O marido, sem conseguir arranjar emprego, adquiria diariamente um pouco de taufu, andando pela rua a vendê-lo e depois, ainda ia ajudar a quem lhe deva a mão. Limpava e seleccionava os feijões de soja, lavava a cozinha e tudo o que havia para fazer na loja onde se fazia o taufu sem nada pedir por tal trabalho. Após um ano, o dono da loja tomou-o como aprendiz, ensinando-o a fazer queijo de soja. Foi em 1958 que começou a vender pela rua o seu próprio produto. Se no início carregava os dois baldes de madeira com dois tipos de taufu ao ombro, equilibrados na vara de bambu em cada um dos lados, em 1966 adquiriu um carrinho. Tal veio facilitar o negócio no inverno, altura em que as pessoas não consomem muito tofu e por isso, com a cozinha ambulante podia dedicar-se às sopas de fitas.

A loja foi comprada em 1973 por 78 mil patacas, tendo a residência no andar superior. Ao tirar a licença para se estabelecer por conta própria, o carácter明 (Meng) do nome do marido foi por engano escrito 榮 (Ving), ficando assim a ser Lei Kwong Ving. Como o significado de Ving – próspero, florescente, glorioso, agradou, não viram necessidade de o mudar, tomando assim com agrado o novo nome.”

豆腐, tâufu

A soja é originária da China e está agora espalhada por todo o mundo. Taufu tem uma história que vem desde 164 a.n.E., quando o neto do primeiro imperador Han estando a trabalhar ansiosamente no encontrar um medicamento para a imortalidade, acidentalmente juntou um palito de gesso no leite de soja que bebia. Ao meter o copo à boca, o leite encontrava-se já em pasta e provando-o gostou, tendo sido essa a origem. Serviu durante a Grande Guerra como um dos alimentos mais consumidos para colmatar a falta de víveres que nesse tempo se fazia sentir e devido a ser rico em gorduras e proteínas substituiu muito bem a escassez tanto de cereais como de carne e peixe. A soja apresenta-se em diferentes variedades, aspectos e cores e apesar de necessitar de um clima com alguma humidade dá-se em quase todo o lado.

Tâufu (豆腐, em mandarim dòufu), cujo significado para tâu é grão/feijão e para fu (腐) decomposto, chegou ao Japão no tempo da dinastia Tang ficando aí conhecido por tofu, sendo em português denominado queijo de soja.
Como alimento muito yin não deve ser diariamente consumido.

Os chineses adoram taufu e sendo bom para a saúde encontra-se constantemente entre os vários pratos apresentados nas suas mesas. Alimento versátil pode ser cozinhado de várias maneiras, frito ou assado, sendo numa sopa com vegetais que muitas vezes aparece. Com ele também se confeccionam molhos.

O taufu é feito com feijões de soja amarelos que, após demolhados durante horas para ficarem com mais sumo, são depois moídos e exprimidos para deles sair o leite de soja. Esse leite muito espesso, após se adicionar um pouco de água, leva-se ao lume brando durante dez a vinte minutos onde tem que ser constantemente mexido para não pegar ao fundo do recipiente. Fervendo vai libertando uma espuma que após a cozedura é retirada. Passado através de um pano, o leite é vazado para um recipiente alto de alumínio. Assim se obtém um leite fino, ficando no pano as borras, que não são aqui aproveitadas.

Produção

Após a morte da idosa senhora há sete anos, o negócio de família está actualmente sob a gestão de três dos quatro filhos, pois um emigrou para o Canadá e conta com cinco lojas, três na península de Macau e duas na Taipa. A da Rua da Tercena continua a ser a principal e é onde se produz o taufu distribuído depois pelas outras duas lojas de Macau e na Taipa, também se faz taufu na situada no prédio jardins Nansan, Estrada do Governador Albano Oliveira.

Iat Wa trabalha há mais de 40 anos na loja de Macau e diariamente com a ajuda do irmão Iat Cheong às 8 da manhã iniciam a confecção dos produtos de taufu para as três lojas de Macau, processo que os ocupa até às 11 horas.

Durante a manhã é por duas vezes realizado este processo, sendo usados feijões amarelos de soja provenientes do Canadá. Feito o leite é depois vazado para várias caixas rectangulares de alumínio de pequena capacidade e após refrigeradas em água corrente, são guardadas no frigorífico. Está assim confeccionado o leite de soja (tau cheong), que substitui o leite animal, sendo grande parte também guardado em enormes bilhas de alumínio para ser enviado às outras lojas.

Na segunda vez e após o processo acima descrito, é retirado um pouco de leite onde se adiciona gipso (gesso), uma substância solidificadora conhecida em cantonense por sêk kou, que depois é misturado ao leite quente contido no grande recipiente de alumínio. O leite de soja rapidamente coalha e retirada a espuma que se forma por cima, é espalhado por caixas quadradas de madeira com baixas paredes e cobertas previamente com um pano fino.

Preenchido o espaço pelo queijo de soja, envolve-se por um pano e por cima, a tapar a caixa coloca-se uma placa de madeira a pressionar para agregar toda aquela massa. Sobre essa tampa ainda se põe baldes cheios de água para prensar, ficando a repousar durante uma hora. Estão feitos os grandes tabuleiros de taufu, que são cortados em pequenos quadrados para serem depois servidos.

Já para sobremesa, o taufu fa (豆腐 花, doufu hua=flôr) é feito com uma menor percentagem de gipso, dando-lhe um sabor mais macio. A seguir é transferido para pequenas malgas que vão para o frigorífico e antes de ser servido é-lhe adicionado um adoçante.

A loja está aberta das 8 da manhã até às 20 horas e ao provar um copo de leite de soja somos tentados a experimentar o delicioso taufu e para sobremesa o taufu fa. Na parede deste pequeno estabelecimento, além de fotografias antigas a registar o casal no tempo inicial do negócio, está um retrato da visita do ex-presidente da República portuguesa Jorge Sampaio.

O delicioso sabor do taufu da loja Ving Kei foi conquistado pela alquimia de quem soube retirar das dificuldades iniciais o segredo para a prosperidade com que hoje se apresenta a loja de sopa de fitas, mas tal como acontece com outros negócios, a nova geração parece já não estar predisposta a nele continuar a trabalhar.

13 Set 2021

电话 Telefones em Macau

Os telefones, existentes em Macau desde 1887, nem sempre funcionavam bem, principalmente em tempo de humidade, havendo quarenta anos depois ainda muitas queixas dos Serviços Telefónicos como refere o jornal O Combate de 28 de Janeiro de 1926: “A comunicação telefónica é em toda a parte uma das coisas mais importantes sobretudo para a população comercial. Times is money – dizem os ingleses. E quanto tempo se não perde em consequência não só das péssimas condições em que funcionam os telefones, mas também da insuficiência deles em relação às exigências locais? Até aqui o sistema adoptado tem sido dos piores e pouquíssimos são os indivíduos que podem ter um telefone em suas casas ou nos seus estabelecimentos. E a maior parte desses poucos telefones são reservados para as repartições públicas.

Já em Junho do ano passado circulava a notícia da encomenda de um novo aparelho com 400 números. Parece que o aparelho já aí está, mas até ao presente nenhuma comunicação ao público, nem mesmo àqueles que há tanto tempo necessitam de uma instalação telefónica e que nem um despacho tem obtido aos requerimentos que fizeram! (…) Até parece indiscrição perguntar-se à Repartição dos Serviços Telefónicos qual o número dos assinantes e quem são eles! A resposta é que ‘se não pode dizer’!…

Em toda a parte, ao instalar-se o telefone em qualquer morada ou estabelecimento, fornece-se logo ao assinante um livro com a relação de todos os assinantes e os respectivos números, e para se obter a ligação basta dizer para a estação central o número do assinante, e pronto. Em Macau é mister dizer-se para lá: -Poderia fazer-me o favor de ligar para a casa do sr. Fulano de tal? E fica-se à espera de que o sr. Fulano dê tal toque para cá; torna-se a tocar para lá; de lá toca-se para cá segunda vez, e então é que se fala… quando se fala, porque não é rara a vez em que se não ouve senão um zumbido ou uma mistura de muitas vozes. E tem que se repetir o toque de campainha de cá para lá e de lá para cá! (…) Aqui ainda é preciso, às vezes, inquirir previamente da estação se o sr. Fulano tem telefone em sua casa, ou no seu escritório, ou na sua loja; o que não seria preciso se, como lá fora, onde o serviço é bem organizado, cada assinante possuísse o tal livro, em que encontrasse, num relance, o nome e o número da pessoa ou estabelecimento com quem desejasse falar.

E não poucas vezes se dá também o caso de que, quando A está a falar para B, este não ouve senão aquele zumbido desagradável, e quem tudo ouve é C, com quem D pretende falar! É porque , explicam lá da central. Pois que tenham o cuidado de as conservar sempre desligadas e em boa ordem. Assim é que não pode continuar. Oxalá que o Governo se digne providenciar para que esse ramo de serviço se reorganize de tal modo que dele resulte benefício para o comércio e comodidade para o público em geral”.

Lista telefónica

Apesar da queixa do jornal e assunto de muitos artigos em diferentes datas noutros periódicos, a lista telefónica fora de novo divulgada no Boletim Oficial de 1913, com muitos acrescentos e algumas modificações como a ocorrida a 1 de Junho de 1910 a pedido da casa de fantan Sze-vo, que mandara desligar da rede telefónica a estação de serviço particular n.º 69, número em 1913 da residência do Dr. Camilo A. Pessanha.

Em 1913, a Rede de Macau na Estação de S. Domingos (central) tinha cem números no quadro das estações de serviço, a Rede da Taipa, com a central no Quartel do destacamento e apenas dois números: 1 – Fortaleza da Taipa e 2 – Administração do Concelho. Já a Rede de Coloane, com Estação múltipla, tinha uma sediada no Quartel do destacamento, onde constava 1 – Administração do Concelho e 2 – Posto de Hac-sá e a Estação múltipla de Hac-sá no Quartel do Destacamento com 1 – Posto de Coloane, 2 – Posto de Ká-hó, 3 – Posto de Seac-Pae-Van.
Seguiam as instruções para uso dos aparelhos: A) Estações simples, para expedir um despacho: – Quando qualquer estação quiser comunicar com outra faz soar a campainha, tira o auditor do seu lugar, coloca-o ao ouvido e logo que da central ouvir diz com qual das estações deseja comunicar, citando de preferência o seu número na tabela. Em seguida coloca o auditor no seu lugar, espera novo sinal na campainha, coloca o auditor no ouvido e fala. Acabada a conversação depõe o auditor no seu lugar e por duas voltas rápidas na manivela faz cortar a comunicação.

A) Estações simples, para receber um despacho: -Assim que qualquer estação ouvir tocar a campainha do seu aparelho responde imediatamente fazendo soar a mesma e aplica em seguida o auditor respondendo . Acabada a conversação coloca o auditor no seu lugar sem tocar a campainha.

B) Estações múltiplas. Para expedir um despacho: -Introduz-se a chave do aparelho no orifício da fileira superior do número correspondente à estação com que se deseja falar: faz-se girar a manivela esperando sinal da estação chamada; tira-se o auditor e fala-se. Para receber um despacho: – Logo que soar a campainha eléctrica, introduz-se a chave no orifício da fileira superior correspondente ao número do disco que cai; faz-se girar a manivela e tira-se o auditor e atende-se. Para dar comunicação: -Quando lhe for pedida comunicação duma estação para outra, chama esta fazendo girar a manivela e liga logo as duas estações por meio dum par de chaves que estão colocadas por baixo do comutador introduzindo-as nos orifícios dos números que correspondem a essas estações. Por sinal rápido é indicada o fim da conversação. N.B. Para se fazer uso das chaves deve observar-se o seguinte: A da estação que chama usa-se no orifício de baixo e a outra no de cima, não aplicando nunca chaves com cordões de cores diferentes.

C) – Ligação com terra: -Em ocasião de trovoada iminente coloca-se a chave metálica suspensa do aparelho no orifício do pequeno disco onde passa o fio da terra; aperta-se bem a fim de ser assegurada a ligação. É perigoso não atender a esta indicação. Observação. Aos aparelhos deve falar-se sempre em voz natural.

Observações: a) Para uma estação conseguir arranjo do seu aparelho basta comunicar este desejo, pelo seu ou outro aparelho, à Estação Central de S. Domingos. b) Aos particulares subscritores assiste o direito de reclamação, que sempre será devidamente atendida, de quaisquer desatenções ou irregularidades no serviço de chamadas e comunicação por intermédio da Estação Central em S. Domingos.

Anexa a Tabela das Tarifas do serviço: Estações de uso particular, quota mensal – $5,00. Redução nos termos do art.º 23.º: Leal Senado, funcionários e subscritores antigos – $3,00. Redução nos termos do art.º 24.º: até cinco estações – $4,00; além de cinco estações – $3,00. Conversação nas estações públicas: pelos primeiros cinco minutos ou fracção – $0,20 e por cada um dos cinco minutos ou fracção que se seguir, até final da conversação – $0,10. Era chefe do serviço telefónico José Agostinho de Sequeira.

30 Ago 2021

Aviso de incêndio por telefone

Durante muitos anos fomos colectando pelos jornais as notícias sobre os incêndios em Macau, mas nunca apareceram outros avisos senão os dos sinos e os dos dois tiros seguidos de pólvora seca provenientes da Fortaleza do Monte.

Assim acreditámos serem estes os únicos meios de alerta da população até que, a 12 de Novembro de 1916 n’ O Progresso, um artigo com o título “O Sinal de Incêndio” escrito por um assinante deste jornal nos alertou para a existência de outro aviso, mas como esse não ecoava pela cidade nunca era referido. Ainda a 10 de Setembro esse jornal referia: o telefone do subúrbio da Areia Preta não funciona como reclamam os habitantes daquele subúrbio. Se um dia acontecer alguma desgraça, por falta de comunicações rápidas…; não entendemos onde queria chegar.

Mas ao ler “O Sinal de Incêndio”: “Como se sabe, a maior parte da população de Macau é chinesa e entre ela lavra grande descontentamento por não se fazer na Fortaleza do Monte o sinal de incêndio como era costume. Eles querem saber quando há incêndio e qual o local, a fim de ali correr e observar, pois estão convencidos de que, pelo actual sistema, os incêndios não têm pronto socorro e as casas ardem com grande prejuízo dos haveres dos seus proprietários. Dizem eles e com razão, que os telefones nem sempre funcionam bem, principalmente em tempo de humidade, havendo mesmo ocasiões em que não respondem ao aviso nem à pergunta e por isso, a notícia do incêndio não pode ser tão rápida como os tiros na Fortaleza do Monte, que estando no centro da cidade e em ponto elevado domina toda a cidade e dá por isso, com maior rapidez conhecimento a todos do incêndio e do local; desta falta resulta a convicção de que ardem muitas casas sem o devido socorro. Quem restabelecer, pois, o antigo sinal de incêndios, conquistará a simpatia da população chinesa e de parte do resto dos seus habitantes, por saberem que a notícia é mais rápida não só do incêndio como da sua localização, com o sinal de tiros no Monte.” Ainda a 12 de Novembro, o jornal referia um estudo para o estabelecimento de uma rede telefónica em Macau destinada apenas aos estabelecimentos militares e das estações policiais e de incêndios, mas para as repartições públicas continua tudo como dantes.

“O Progresso”, a 26 de Novembro congratulava-se: “Consta-nos que foi restabelecido o antigo costume de dar sinal de incêndio por meio de tiros na fortaleza do Monte”, terminando assim o conflito entre Governo e população chinesa.

TARDIO SINAL

O telefone (电话, electricidade – falar, Tin-vá em cantonense) foi inventado por volta de 1860 por António Meucci, e usado apenas dentro de sua casa. Mais tarde, em 1870 vendeu o aparelho a Alexander Graham Bell, que o patenteou a 14 de Janeiro de 1876 nos Estados Unidos da América. Um ano depois aparecia já em Portugal e a primeira rede de telefones pública foi inaugurada em Lisboa a 26 de Abril de 1882, data em que na China a Great Northern Telegrafh Company da Dinamarca criou para Xangai a primeira rede de telefones manuais.

Em Macau é publicado o Regulamento geral para o serviço da linha telefónica a 2 de Outubro de 1887 assinado pelo Governador Firmino José da Costa e logo no Boletim da Província de Macau e Timor de 10 de Novembro de 1887 o bacharel António Marques de Oliveira, procurador dos negócios sínicos e administrador da comunidade chinesa, referia em Edital: “Tendo S. Exa. o Governador da província adoptado convenientes providências, para que os sinais de incêndio, sejam feitos com prontidão, aproveitando-se para os avisos o vantajoso serviço da rede telefónica; e convindo que todos os habitantes da cidade tenham conhecimento dos locais em que há estações telefónicas, a fim de poderem, logo que tenham notícia de se manifestar qualquer incêndio ir aí dar parte, como é de esperar que não deixe de fazer todo o indivíduo dotado de sentimentos benfazejos, ao menos, quando não encontre guarda, patrulha, oficial de diligências administrativo, ou china de quarto, para os quais este serviço é obrigatório: por isso faço público que as estações telefónicas são as seguintes: Quartel de Santo Agostinho (estação central), Palácio do Governo, Quartel dos Mouros, Quartel da Flora, Quartel de S. Francisco, Portas do Cerco (no quartel do destacamento), Monte (na fortaleza desse nome), fortalezas da Guia, Bomparto e Barra e Capitania do Porto. Macau, 2/11/1887”.

Na mesma página aparecia o Edital de Leôncio Alfredo Ferreira, administrador do concelho de Macau, a referir: “Por ordem superior, faço saber: Que tendo sido sempre tardio o sinal dado pela fortaleza do Monte, por ocasião de incêndios na cidade e seus subúrbios, são por isso avisados todos os moradores deste concelho, que, logo que tenham conhecimento de qualquer incêndio, o comuniquem à primeira patrulha que encontrarem, ou o participem à estação policial, ou telefónica mais próxima”.

No Boletim da Província de 8 de Dezembro de 1887 lê-se, vir a Inspecção de Incêndios de Macau Ainda antes da chegada a Macau de Abreu Nunes, registou-se a 15 de Novembro de 1893 um incêndio que deflagrou no Bairro de S. Domingos; as casas queimadas foram 17, além de quatro alpendres com 99 divisões, que serviam de açougue, ardendo o Mercado de S. Domingos. Era inspector dos incêndios o Sr. Pessoa e provou-se não estarem os serviços de incêndio devidamente organizados e o material muito deteriorado pois, as mangueiras deitavam esguichos por vários pontos, perdendo-se muita água.

Sobre os primórdios dos Bombeiros em Macau, assunto aqui tratado há já alguns artigos, muito fica por escrever, restando por agora prestar homenagem a estes beneméritos lutadores que, nas palavras de Carvalho e Rego, “para salvar os seus semelhantes se sacrificam heroicamente expondo por vezes a própria vida contra a força e violência dos terríveis elementos.” Não só no combate aos incêndios, como no socorro em casos de sinistro “o bombeiro acode; lá o vemos na derrocada, nas ruínas que o desmoronamento produziu soterrando em seus escombros pobres vítimas.”

Percebíamos agora o silêncio nos jornais sobre o aviso de incêndio feito por telefone desde 1887, pois apenas por via interna era comunicado e assim, não escutado pela população e jornalistas em Macau e daí ficar sem ser noticiado a existência deste silencioso meio.

16 Ago 2021

Criação oficial do Corpo de Bombeiros

O Governador Carlos Eugénio Corrêa da Silva (1876-1879) referia na Portaria N.º 18 publicada no Boletim da Província de Macau e Timor de 25 de Janeiro de 1879: Tendo vagado o lugar de inspector da repartição dos incêndios desta cidade, pela exoneração pedida pelo major Augusto César Supico, [Portaria N.º17 de 20 de Janeiro de 1879], hei por conveniente nomear para exercer o mesmo cargo, o major do corpo do estado-maior do exército Raymundo José de Quintanilha, director das obras públicas desta província, que tomará conta hoje mesmo.

Vindo de Lisboa, chegara no dia 19 de Janeiro no transporte de guerra África e logo a 24 foi mandado tomar conta da respectiva repartição das obras públicas para a qual fora nomeado por decreto de 27 de Setembro de 1878. Ainda em 1879 o Major Quintanilha tentou submeter um regulamento à aprovação do Governador Correia da Silva, segundo refere Beatriz Basto da Silva.

Seria ele, por decreto de 23 de Março de 1881, exonerado do lugar de director das obras públicas de Macau pelo Governador Joaquim José da Graça, Visconde de S. Januário, que nomeou para o referido lugar o capitão do estado-maior de engenharia do exército de Portugal, Constantino José de Brito. Este, já promovido a Major, foi nomeado inspector da repartição dos incêndios por Portaria N.º 84 de 14 de Novembro de 1881.

Com esta nomeação, o Governo da província achou “conveniente ordenar, que o sub-inspector da mesma repartição o alferes António d’ Azevedo e Cunha Júnior [desligado das obras públicas como condutor em 1879] faça dela entrega hoje mesmo, ficando eu satisfeito pela maneira porque o referido sub-inspector desempenhou o serviço da inspecção durante o tempo que esteve interinamente a seu cargo.” Assim agradecia o Governador Graça ao alferes Azevedo e Cunha Jr., que interinamente exercera o cargo na Inspecção de Incêndios (Kao-fô Kúng Kun).

“À medida que os serviços de incêndio se tornaram cada vez mais complexos, em 2 de Maio de 1883, o governador assina o Regulamento do Serviço dos Incêndios em Macau, apresentado pelo então director das Obras Públicas e inspector de incêndios, major de engenharia do Estado Maior Constantino José de Brito, que foi aprovado por portaria de 10 de Agosto do mesmo ano. Com a promulgação do Regulamento, os bombeiros de Macau seguem os caminhos normalizados e marca a criação do Corpo de Bombeiros de Macau”, segundo o excelente livro Corpo de Bombeiros, edição comemorativa do 130.º Aniversário do Estabelecimento do Corpo de Bombeiros da RAEM.

REGULAMENTO DO SERVIÇO DE INCÊNDIOS

Publicado no Boletim da Província de Macau e Timor de 9 de Agosto de 1883, o Regulamento do Serviço de Incêndios datado de 2 de Maio desse ano foi elaborado por Constantino José de Brito e mandado executar por Portaria n.º 93 de 10 de Agosto refere: . Ainda a 10 de Agosto, o Governador Thomaz de Souza Roza por Portaria n.º 94 exonerou o major do estado-maior de engenharia Constantino José de Brito do cargo de inspector dos incêndios, para que fora nomeado a 14 de Novembro de 1881.

Regulamento do Serviço dos incêndios em Macau a que se refere a portaria supra. Capítulo I – Organização e pessoal – Artigo 1.º A inspecção dos incêndios tem por fim superintender o serviço dos incêndios e prover a tudo quanto lhe diga respeito. Artigo 2.º – A inspecção dos incêndios forma um corpo activo de bombeiros que terá o seguinte pessoal [com vencimento anual]: um inspector (216$000 réis); um patrão-chefe (102$000); três primeiros-patrões (71$400 réis cada); 2 segundos-patrões (61$200 cada); 2 sotas (51$000 cada); 20 condutores e 34 moços (recebem gratificações anuais de 51$000). Artigo 3.º -O fornecimento da água nos casos de incêndio será feito pelos indivíduos pertencentes às companhias de carregadores desta cidade, nos termos das posturas e regulamentos policiais e pela forma designada nos artigos 27.º e 48.º deste regulamento. (Quando o número dos carregadores das companhias for insuficiente para o fornecimento da água, o inspector poderá contratar outros dentro da respectiva verba do orçamento). Artigo 4.º -A inspecção deverá ter pelo menos 4 bombas, sendo duas em Macau, uma na Taipa e outra em Colovan. Artigo 5.º -O inspector é o chefe da repartição dos incêndios e incumbe-lhe toda a direcção do serviço… Artigo 6.º -O inspector deve acudir com a possível rapidez a todos os incêndios, e tomar a direcção suprema e exclusiva dos trabalhos, obrigando todos os seus empregados a cumprir pontualmente as suas ordens, e não consentindo que pessoas estranhas intervenham num serviço cuja responsabilidade é toda sua, devendo por isso também tomar a direcção das bombas particulares que concorram nos incêndios. Artigo 7.º -De todos os incêndios o inspector remeterá ao governo da província uma parte em que mencione a causa do incêndio, o local, a hora, quais as duas bombas que primeiro se apresentaram no incêndio para serem premiadas (…) esta comunicação será publicada no Boletim da província.

Os artigos de 8.º a 14.º referem-se aos deveres do inspector, responsável pela conservação de todo o material dos incêndios, pela disciplina do corpo de bombeiros, que será por ele escolhido e a quem deverá dar instrução. A nomeação do patrão-chefe e dos primeiros patrões será feita pelo governo sob proposta do inspector e remeter ao governo o mapa das despesas anuais da sua repartição.

Sobre o patrão-chefe, nos artigos 15.º a 19.º, refere-se ter por obrigação fiscalizar e vigiar todo o pessoal seu subordinado e o estado do material que está sob a sua responsabilidade na estação em que estiver aquartelado.

Antes do inspector estar presente no local de incêndio é ele que toma a direcção dos trabalhos. Para chegar a patrão-chefe é preciso ser homem experimentado no serviço dos incêndios, ter servido pelo menos um ano como patrão, ter bom comportamento, idade apropriada e disposição física para o serviço.

Nos artigos 20.º a 23.º refere-se sobre os primeiros patrões, que terão a seu cargo as bombas da estação em que residirem. Terão a seu cargo a bomba da vila da Taipa e outra da vila de Colovan e para ser primeiro patrão terá de ter servido pelo menos durante três anos como segundo patrão e conhecer os poços, cisternas e quaisquer outros depósitos da água.

Sobre os segundos patrões os artigos 24.º e 25.º referem, ter servido pelo menos durante dois anos como sota e coadjuvarão os primeiros patrões na direcção e serviço das suas bombas e os substituirão em todas as suas faltas ou impedimentos. Assim, a 2 de Maio de 1883 nasceu oficialmente o Corpo de Bombeiros.

2 Ago 2021

Tabuletas e bombas d’incêndio

Os incêndios apareciam relatados nos Boletins Oficiais e as condecorações por actos heróicos eram neles também publicadas, como no B.O. de 2/11/1872 quando o cabo de esquadra n.º 83 da primeira companhia do batalhão de infantaria de Macau, Joaquim Coelho da Rocha recebeu uma medalha de prata, (sem necessidade de pagar direitos de mercê nem de selo) pelos serviços que prestou por ocasião do incêndio ocorrido a 27 de Abril 1872 em Sá-com, salvando com grande risco de vida dois chineses que se achavam sem sentidos dentro de uma barraca já presa das chamas.

Num dos Editais no Boletim da Província de Macau e Timor, de 20 de Março de 1875, João Hyndman, procurador interino dos negócios sínicos fazia saber aos habitantes chineses que o Governador, querendo melhorar o serviço de incêndios para melhor segurança dos habitantes, determinava: 1.º Que por conta do governo serão afixadas nas portas das casas que tiverem poços tabuletas com a palavra poço; 2.º Que todas as vezes que houver incêndio de noite, as lojas e casas em cujas portas estiverem afixadas as tabuletas mencionadas no artigo antecedente, deverão colocar uma lanterna ao lado dessas tabuletas; 3.º Que, nos lugares próximos ao sítio de incêndio, as casas que tiverem poços deverão franqueá-los ao pessoal do serviço de incêndios, na certeza de que o governo dará toda a protecção para que essas casas tenham toda a segurança e não sofram prejuízo algum.

A 22 de Fevereiro de 1877, o mesmo procurador João Hyndman por Edital fazia saber: Tendo sido retiradas em algumas casas as tabuletas designativas da existência de poços, o que causou graves inconvenientes por ocasião do último incêndio que teve lugar na travessa do Tintureiro na madrugada de 13 do corrente mês, e convindo em semelhantes ocasiões de desastre que as pessoas que concorrerem para prestar socorros tenham meios de reconhecer facilmente quais são as casas onde existem poços, vão ser, por ordem do Governador, substituídas as tabuletas acima indicadas, pela letra P acompanhada do carácter sínico que significa poço, sendo ambas as letras [de altura de dois decímetros] de cor branca e pintadas a óleo sobre um quadro preto, o que pelo presente edital se faz público para o conhecimento dos habitantes chineses, os quais são também avisados que os proprietários das casas em que forem pintadas essas duas letras serão responsáveis pela conservação delas, ficando sujeitos a uma multa além da obrigação de pagar as despesas da reparação, quando por culpa ou negligência dos mesmos proprietários ou inquilinos forem deterioradas as ditas letras. Ao mesmo tempo faço saber aos habitantes chineses que o governo lhes garante toda a segurança, quando em ocasiões de incêndios for necessário que eles abram as portas de suas casas para se poder utilizar dos poços que possuírem, pois que serão então colocadas sentinelas para evitar todo e qualquer abuso, de modo que não haverá razão para que em ocasião de semelhantes calamidades procurem os chineses dificultar o acesso dos poços de suas casas; por isso todos que para futuro assim fizerem serão processados e punidos rigorosamente como desobedientes à autoridade.

O lugar de inspector dos incêndios encontrava-se vago por falecimento do capitão da guarnição Frederico Guilherme Freire Corte-Real, o que levou o Governador José Lobo d’ Ávila a publicar no B.O. de 25/9/1875 a Portaria N.º 94, onde o major d’ engenharia, director das obras públicas, Augusto Cezar Supico, era nomeado inspector dos incêndios, pois considerava que do melhor desempenho de tal serviço resultará maior facilidade aos proprietários que desejem segurar as suas casas, nas companhias estabelecidas em Hong Kong. Já a Portaria N.º 95 refere: Já no B.O. de 17/2/1877, o Inspector dos incêndios, Cesar Supico narrava: Os primeiros a comparecer no local foram o comandante e alguns oficiais e praças do corpo de polícia e guarda da cadeia por eles foram empregadas as primeiras diligência para o extinguir. A falta de meios próprios e a grande quantidade das matérias inflamáveis, que existiam no prédio, tornou infelizmente ineficazes aqueles bons serviços e por isso o fogo comunicou-se rapidamente a toda a casa. Nestas circunstâncias tratei principalmente de evitar a sua passagem para os prédios vizinhos, o que felizmente se conseguiu. Compareceram todas as corporações, notando-se a boa vontade e diligência com que trabalharam os piquetes da polícia de terra e mar, e a companhia da limpeza conduzida pelo seu fiscal.

Dentre os indivíduos particulares que prestaram serviços sobressaem, como dignos do maior elogio, os cidadãos António Carlos Brandão e filho José Brandão, trabalhando com uma bomba sua desde o princípio. Ganhou o primeiro prémio a bomba n.º 1 desta inspecção, cujo pessoal foi auxiliado por um soldado da guarda do quartel de S. Domingos e outro da guarda da cadeia. Tendo-se partido uma escada foram precipitados da altura do telhado dois chineses da companhia de limpeza e um da bomba Men-Ki, ficando este último gravemente contuso. Por esta inspecção lhe mandei prestar todos os socorros que foram indispensáveis para o seu tratamento.

A relação das bombas particulares existentes em Macau foi publicada na Procuratura dos negócios sínicos a 17/11/1879, com indicação da cor das cabaias que devem trajar os dois encarregados de cada uma dessas bombas.

Tendo os proprietários das bombas particulares pertencentes a estabelecimentos industriais chineses concordado em dar aos encarregados das mesmas bombas trajos especiais para poderem distinguir-se umas das outras. Assim com cabaia branca apresentavam-se as bombas, de Menki (do hão de chá) com borda azul; da Rua dos Ervanários (ou Quartel Velho) com borda preta; da Rua da Caldeira (Ven-Lum-Fong) com borda vermelha; de Sankiu com borda azul; do Bazar com borda verde; e da Pat-Coc-Tong (Rua da Barca da Fruta) com borda amarela. A cabaia azul era usada pelas bombas de Ch’eongki, (fábrica de tabaco) com borda branca; da Rua do Infante (Simão-Kai) com borda branca; e a de Patane com cabaia azul-claro e borda azul-escura. A bomba de Matapao (Siun-Ho-Hao) trajava cabaia amarela com borda azul.

26 Jul 2021

Obras públicas e incêndios

Quando a 26 de Outubro de 1866 o Governador de Macau e Timor José Maria da Ponte e Horta (1866-1868) tomou posse, as circunstâncias determinavam a urgência de reformas nos vários serviços da Administração da colónia e por isso, logo começou a nomear uma série de comissões para estudar e elaborar as necessárias a empreender.

A 14 de Setembro de 1867 o Governador por Portaria N.º 51 determina: , publicado no Boletim da Província de Macau e Timor de 16 de Setembro de 1867.

Logo a 18 de Setembro de 1867, a Comissão nomeada por portaria de 14 do corrente mês e composta por Francisco Maria da Cunha, major de artilharia, presidente, Jerónimo Osório de C.C. d’ Albuquerque, capitão às ordens, secretário e W. A. Read, E. C., enviou o relatório ao Governador, publicado no Boletim da Província de Macau e Timor de 23 de Setembro de 1867 onde é apresentado o projecto de organização de um corpo especial de obras públicas. Refere no Artigo 1.º referente ao pessoal do Corpo d’ obras públicas: : §1.º- É composto do inspector, do director e do engenheiro; e, na falta de qualquer um destes, entra, em primeiro lugar, o chefe da secção d’ estatística, e, em segundo, o condutor de trabalhos, por forma que nunca resolve com menos de três membros. §2.º- Este conselho é consultivo, mas tem iniciativa de proposta, para o governo da colónia e §3.º- Por intermédio dele, e com responsabilidade de todos os indivíduos que o compõem, são feitos os ajustes, contratos e a compra de materiais. §4.º- Sempre que o governo da colónia o indicar, ou que o inspector o julgue conveniente, serão ouvidos, o chefe da secção da estatística e o condutor de trabalhos, ficando então o conselho composto de cinco membros. Já o Artigo 3.º : §1.º- Há uma repartição de obras públicas que se divide em duas secções: secção d’ obras públicas e secção d’ estatística. §2.º- É chefe da repartição o inspector, e sub-chefe o director. §3.º- O director é também chefe da 1.ª secção; o chefe da 2.ª é um funcionário nomeado especialmente para este fim. §4.º- Fazem igualmente parte da repartição, o condutor de trabalhos, que além dos trabalhos do campo tem o encargo de arquivista das plantas, memórias, desenhos, &c.; o amanuense, que exerce também as funções de arquivista do expediente e dos documentos de contabilidade; o intérprete; e o engenheiro, que também deve ter ali a sua mesa de trabalho. §5.º-

Este pessoal é comum às duas secções da repartição. §6.º- Toda a correspondência é feita por intermédio da repartição; a esta são remetidas todas as ordens do governo da colónia; e delas partem todas as propostas e consultas para o governo. §7.º- O inspector e o director substituem-se, no impedimento um do outro, tanto nos trabalhos da repartição, como nos de campo. Artigo 4.º- § único: O sistema de escrituração de registo, de arquivo, de expediente, d’ escrituração, da contabilidade, etc., é considerado parte regulamentar e deve ser o primeiro encargo do conselho d’ obras públicas.

A comissão foi dissolvida com louvor do Governador a 24 de Setembro de 1867, publicado a 30 de Setembro no Boletim da Província de Macau e Timor.

Ataque ao fogo

No Bazar, as casas e lojas chinesas são tão unidas e contíguas umas às outras que parecem antes ser uma e mesma propriedade, refere o Inspector de Incêndios Senna Fernandes no resumido relatório de 19 de Fevereiro de 1868 para o Governador.

O Governador António Sérgio de Sousa a 12 de Março de 1872 exonerou por motivos de saúde o major Honorário Bernardino de Senna Fernandes de inspector dos fogos, nomeando para o cargo o capitão Frederico Guilherme Freire Corte Real, sem vencimento enquanto exercer as funções de capitão fiscal do Corpo de Polícia.

Em Setembro de 1875, o capitão Frederico Corte Real faleceu e o então Governador José Maria Lobo de Ávila por Portaria de 25 de Setembro nomeou o Major Eng. Augusto César Supico, então Director das Obras Públicas a exercer esse cargo desde 23 de Fevereiro, como inspector dos fogos, assim como para seu ajudante, o condutor das Obras Públicas António de Azevedo e Cunha Jr. – que já em tempos serviu com louvor como imediato do inspector dos incêndios. Desde então, o cargo de inspector dos fogos ficou por muitos anos adstrito à Direcção das Obras Públicas.

O aviso de incêndio continuava a ser feito pelo toque dos sinos, mas para os accionar era preciso ir buscar a chave da caixa, que fechada protegia as cordas dos sinos, guardada na Estação de Polícia de cada zona e conhecer o número estipulado de badaladas correspondentes a cada uma onde ocorria o incêndio.

19 Jul 2021

Água para incêndios

O aumento da população de Macau em meados do século XIX levou a problemas com a água, poluída que estava a Ribeira do Patane, (inicial local de abastecimento da população e de aguada para os barcos), servindo-se os habitantes na sua maioria da dos poços públicos e da água da Fonte do Lilau que, apesar de não ser tratada, era boa para beber e onde os aguadeiros se abasteciam. Muitos donos de propriedades mandaram então abrir poços, sendo a água da maior parte deles de fraca qualidade. Já a da chuva, que num clima tropical cai torrencial, era nos pátios recolhida em grandes potes, colocados sob a junção dos telhados. Nos incêndios no Bazar, a água do Ribeira do Patane e do Rio Oeste era utilizada para complementar a dos poços próximos do fogo.

O Governador José Maria da Ponte e Horta (1866-1868) a 27 de Dezembro de 1866 por Portaria n.º 45 nomeava o Major Comandante do Corpo de Polícia de Macao Bernardino de Senna Fernandes como Inspector de Incêndios, cargo que exercia já antes de 1862 e por Portaria n.º 46 determinava: Cumprindo-me organizar quanto em mim caiba e como melhor for, o serviço respectivo à extinção dos incêndios na colónia de Macau: hei por conveniente determinar que o Sr. inspector dos fogos inspeccione incontinente todos quantos poços assim públicos como particulares existirem na cidade, informando-se por sua própria inspecção e visita da quantidade d’ água aproximada que esses poços oferecerem, devendo de tudo isso dar-me minuciosa conta, e bem assim ordeno que as lojas maiores do bazar tenham permanentemente uma barrica d’ água em reserva, a qual deverá ser mudada todos os três dias por conta dos inquilinos. E que servirá para com ela se ocorrer às primeiras necessidades dos incêndios, quando estes se manifestarem nas vizinhanças dessas mesmas lojas: e determino também que nos cantos d’alguma das ruas do bazar, n’aquelas ao menos onde a água for mais escassa existam depósitos do mesmo líquido, que servirão para o mesmo fim, e que ficarão inteiramente sob a vigilância da polícia. Outro sim tenho por conveniente ordenar que o Sr. inspector dos fogos passe uma revista cuidadosa a todas as bombas da cidade, a fim de se informar do seu número e estado, da gente que as guarnece, da quantidade de baldes que as completam, do nome dos seus chefes, e enfim de género de responsabilidade que actualmente cabe a quem dirige e superintende o trabalho de cada uma d’essas bombas: devendo o mesmo sr. inspector instruir-me se convirá, acaso, o pôr à testa de cada bomba da cidade, um empregado seu que entenda o chinês, ou se por meio de um alistamento regular, e com penalidades, se logrará obter que cada bomba desempenhe com todo o seu pessoal o trabalho que lhe for determinado no momento do incêndio. Outro sim determino que o sr. inspector dos fogos auxiliando-se para esse fim da polícia, se tanto for necessário, faça visitas domiciliárias aos estabelecimentos industriais do bazar, e procure remover do centro da população china para outros pontos da cidade mais afastados, ou menos povoados, aquelas indústrias que reconhecidamente forem tidas por perigosas, e isto a bem do grande número de cidadãos chineses que actualmente habitam o centro do bazar. Ordeno também, que o sr. inspector dos fogos, logo que rebente algum incêndio em qualquer ponto da cidade mande imediatamente franquear por via da polícia, que ficará responsável pela segurança da propriedade dos cidadãos, aquelas lojas ou edifícios particulares da vizinhança do lugar atacado, onde existirem poços ou depósitos d’água, que possam servir no abastecimento das bombas, empregadas no trabalho da extinção do incêndio.

Determino mais, que o sr. inspector dos fogos organize, sem demora, uma brigada de homens de machado e de grampos, destinada a operar com prontidão nos casos em que seja necessário isolar, pela força, os edifícios atacados d’aqueles que se lhe acharem contíguos ou mui próximos; devendo a mesma autoridade aproveitar-se para este fim dos elementos que já hoje a colónia oferece com relação a este ponto>, Boletim Oficial de 31 de Dezembro de 1866.

Melhoramentos

A 19 de Fevereiro de 1868, o Inspector de Incêndios seguindo essas directivas apresentava o relatório ao Governador e antes, já entregara outro sobre o número de poços e de bombas para apagar os fogos, referindo agora Senna Fernandes: . Mandei assinalar as lojas que tinham poço com uma tabuleta afixada na parte exterior, a indicar haver ali água para se recorrer em caso de incêndio.

Entre as lojas que não haviam contribuído para a compra de bombas, que as lojas do Bazar têm a expensas suas, mandei fazer com o produto de uma subscrição voluntária um certo número de . Mandei reparar as bombas avariadas e . O prémio estabelecido pelo governo para as duas primeiras bombas a comparecer no lugar do incêndio, é um poderoso incentivo para apressar ao lugar do sinistro o principal meio para o extinguir.

Pago pela Fazenda havia apenas um empregado para cuidar das bombas e mais objectos pertencentes à repartição, falta suprimida por voluntários paisanos que se têm prestado a dirigir o trabalho das bombas na ocasião d’ incêndio, sendo Fermino Machado o mais assíduo a prestar este serviço.

Não só as bombas da Fazenda mas também as do Bazar e San-Kio usam acudir ao incêndio, dando-se o sinistro em qualquer ponto da cidade; e as bombas pertencentes às lojas chinesas são transportadas e trabalhadas pelos serventuários das mesmas lojas; por isso julguei conveniente mandar pôr um distintivo na cabaia, chapéu e lanterna dos dependentes de todas as lojas, a fim de os poder distinguir de outros chineses que não têm quem os garanta; e que por conseguinte são excluídos do lugar do incêndio ou presos em tais ocasiões, não trazendo o distintivo por mim dado.

Com prévia autorização de V. Exa., ordenei a todas as lojas do Bazar para que tivessem um dependente seu, armado, e postado na porta da rua durante o incêndio; e este expediente tem concorrido muito para evitar roubos, e para manter a ordem e sossego público, ficando por este modo o Bazar bem guardado e bem policiado.

12 Jul 2021

O sino como sinal de aviso

O Governador Izidoro Francisco Guimarães (1851-1863), que em três anos reverteu o enorme défice das finanças de Macau sem impor nenhum tributo, apenas fiscalizando com rigor os existentes e em severa economia conseguiu depois aumentar as despesas anuais com as obras públicas. Efectuou ainda durante a sua governação a reconstrução do Bazar, destruído por os incêndios de 1856 e de Dezembro de 1862, aproveitando com aterros sobre o rio torná-lo maior e melhor arranjado. Mas já no ano seguinte Marques Pereira referia, “No Bazar, há uma acumulação de casas e habitantes, muito e muito além do que o local permite.”

Era então Inspector dos Incêndios o macaense Bernardino de Senna Fernandes (1815-1893), organizador da Polícia e promovido a Major Comandante do Corpo de Polícia de Macao, quando este foi criado por Portaria de 11 de Outubro de 1861 pelo Governador Guimarães, que determinou a formação dessa Força da Polícia, proveniente do Corpo de Polícia do Bazar e inicialmente formado em 1857 com 50 portugueses por o chinês Aiong-Pong. Sobre o assunto, o padre Manuel Teixeira prova com um documento de 25 de Agosto de 1862: . A 30 de Agosto, o Conselho do Governo declarou ser isso verdade. Daqui se vê que, já antes de 1862, Senna Fernandes era Inspector de Incêndios, tendo reorganizado esse serviço, exercendo o cargo gratuitamente. Num dos seus relatórios dizia: . Aqui temos um corpo de bombeiros já organizado.

Sino em vez de canhão

O coronel de Engenharia José Rodrigues Coelho do Amaral (1808-1873), como Governador tomou posse a 22/6/1863, quando Macau, após 19 anos fora do domínio do Estado da Índia, voltou a ficar a ele subordinada. Iniciava-se a modernização com a iluminação da cidade, dando nome às ruas e números às casas, havendo em 1864 uma regulamentação urbanística com o cadastro de todas as ruas divididas pelas zonas da cidade, freguesias da Sé, S. Lourenço e Sto. António e o Bazar, assim como das povoações da península, mas fora da muralha da cidade. Na altura, as muralhas começaram a ser desmanteladas para permitir rasgar novas ruas e colocar canos de esgoto.

O Governador Coelho do Amaral convenceu-se ser o sinal de incêndio por meio de tiros na Fortaleza do Monte inconveniente e alarmante e fez adaptar o sistema usado em Portugal, com o sinal por meio de badaladas nos sinos das freguesias; porém, não deu bom resultado, pois os chineses revoltados por não ter a cidade aviso e não se prestar grande atenção ao referido sinal, cortavam as cordas que prendiam os badalos dos sinos, a manifestar o seu desagrado. Os pedidos dos chineses eram constantes para se restabelecer o antigo sinal de incêndio por meio de tiros no Monte. No Boletim Oficial de 23 de Maio de 1870 apresentava-se a solução encontrada para proteger as cordas dos sinos, que passaram a estar fechadas por uma caixa, sendo a chave guardada na Estação de Polícia de cada zona e estipulado o número de badaladas correspondentes a cada uma onde ocorria o incêndio. Assim, se o incêndio fosse na freguesia da Sé, a chave encontrava-se no Quartel de S. Domingos e davam-se 12 toques no sino.

Na zona de S. Lázaro badalava-se por 13 vezes, estando a chave na Estação de S. Lázaro. Para as freguesias de Santo António, tocava-se 14 vezes e 15 na de S. Lourenço, estando a chave na Guarda do Hospital. Já o Bazar, dividido para Norte, entre rua dos Coulaus e Patane, era preciso ir à Estação de Santo António ou à de S. Lázaro para ter a chave e badalava-se 16 vezes, enquanto no Bazar Sul, entre a Rua dos Coulaus e a Ponte da Rede (Estrada Marginal), ia-se à estação mais próxima das acima indicadas e tocava-se por 17 vezes.

O Capitão comandante F. J. de Souza Alvim do Quartel da Polícia de Macau no Bazar, no Boletim do Governo de Macau de 24 de Dezembro de 1866 fez saber pela Repartição dos Incêndios, .

Serviço de incêndios oficializado

O Governador José Maria da Ponte e Horta (1866-1868) tomou posse a 26 de Outubro de 1866 e três meses depois tornava oficial o serviço de Inspector de Incêndios. Era este já antes de 1862 realizado de forma particular por Bernardino de Senna Fernandes e o Governador por Portaria n.º 45, de 27 de Dezembro de 1866 nomeou-o para o lugar de inspector dos incêndios como Major Honorário com a gratificação de 30 mil réis. Aceitou o cargo, mas não a gratificação, segundo o padre Manuel Teixeira, que refere, entre os seus colaboradores, cita [num relatório de 19/2/1868] Fermino Machado, e o tenente Frederico G. Freire Corte Real, ajudante do Corpo da Polícia, têm acudido a todos os incêndios e além deles, os voluntários António Romero e Manuel Martins do Rego, tendo este último corrido grave risco de vida pelo abatimento dum muro que teve lugar durante o sinistro.

Ainda no Boletim do Governo de 31 de Dezembro de 1866, por Portaria N.º 46 o Governador determina, que o mesmo Sr. inspector dos fogos compenetrando-se bem da valiosa significação e séria importância do seu lugar, haja de me propor todas quantas medidas julgar necessárias e oportunas, assim como o for entendendo e experimentando no desempenho sucessivo da sua importante comissão.

O Major Honorário Bernardino de Senna Fernandes, por motivos de saúde pediu a sua exoneração de inspector dos fogos a 11 de Março de 1872, aceite no dia seguinte pelo Governador António Sérgio de Sousa (1868-1872), que exarou a Portaria n.º 11, onde refere ter ficado muito satisfeito pelo modo desinteressado como exerceu semelhante lugar por espaço de cinco anos. Na mesma data, o Governador nomeou interinamente inspector dos fogos o capitão Frederico Guilherme Freire Corte Real, sem vencimento enquanto exercer as funções de capitão fiscal do Corpo de Polícia.

Assim, a fundação oficial da Repartição do serviço de incêndios e a nomeação oficial do seu primeiro inspector data de 27 de Dezembro de 1866.

5 Jul 2021

Os serviços de incêndio

Até meados do século XIX, a cargo dos mandarins de Xiang-shan estavam as ordens e medidas para evitar incêndios, como a de 7 de Novembro de 1829 onde se ordenava, a demolição de todas as barracas de palha, as lojas serem obrigadas a ter baldes com água à porta e em vez de archotes devia-se andar de noite com lanternas. Contava-se com os habitantes da cidade, avisados por o repicar dos sinos dos templos, sobretudo os das igrejas, e mais tarde, em simultâneo com dois tiros de pólvora seca dados a partir das fortalezas, para comparecerem com baldes de água a combater os frequentes incêndios.

Após tomar posse da terra de Macau, o Governador João Ferreira do Amaral (1846-1849) afastou da península os mandarins e para resistir a qualquer ameaça, em 1847 criou o Batalhão Provisório (de segunda linha) destinado a auxiliar o Batalhão de Artilharia de Primeira Linha, como Força mista de 1ª linha.

Em 1851 os serviços de incêndio foram atribuídos às forças militares portuguesas e da Fortaleza de Nossa Senhora do Monte dava-se aviso de incêndio à cidade, disparando do canhão dois tiros seguidos de pólvora seca. Os serviços de extinção de fogo eram assegurados por um piquete do Batalhão de Artilharia com a bomba existente, aquartelado no antigo Convento de S. Francisco [demolido em 1864 para ser construído o Quartel] e também por pessoal em serviço para ir atacar os incêndios do Batalhão Provisório, instalado no extinto Convento de S. Domingos.

A 4 de Janeiro de 1856 houve um incêndio como nunca se viu em Macau, talvez o mais devastador de sempre na cidade. Refere Luís Gonzaga Gomes, “Teve princípio à 1 h 45 m, numa das boticas chinesas [no centro] do Bazar.

Ajudado pelo vento norte, o fogo espalhou-se com grande rapidez, mas às 5.00 horas, mudando para leste, fez avançar o incêndio sobre as boticas do Matapau. Às 6.30 horas, voltando, outra vez, para o norte, fez com que a terrível conflagração seguisse pela Travessa de S. Domingos, Rua do Quintal e Travessa do Tronco, escapando, por pouco, o antigo convento de S. Domingos [que esteve em risco]. O incêndio durou toda a noite, destruindo 420 boticas (lojas) e 400 residências de famílias chinesas, subindo a mais de meio milhão de patacas o valor de propriedades destruídas. Os cidadãos de Macau auxiliaram, por toda a forma possível, a combater o incêndio, tendo prestado valiosos socorros as guarnições das fragatas francesas Virginie e Constantine.” No Bazar o incêndio só não destruiu algumas lojas dos limites Norte e do Sul, tudo o resto devastou.

A companhia

Com a cidade a expandir e cheia de emigrantes chineses, estava na altura de melhorar os serviços e a 30 de Outubro de 1858 foi criada a Companhia de cules chineses para carregos [carga, encargo] para cada um dos bairros de Macau.

Em cada bairro existiam três companhias de cules, cada com um chefe, usando chapéus de bambu numerados e de cores diferentes, sendo obrigados a apresentar-se no Largo do Senado para o serviço de bombas sempre que houvesse deflagração de incêndio e os aguadeiros tinham o dever de comparecer no local para acudir, e quem não cumprisse corria o risco de pagar uma pataca de multa. Os aguadeiros passaram assim a fazer parte de um conjunto organizado – a Companhia – deixando de proceder individualmente à venda de água para passarem a distribui-la segundo normas e princípios estipulados pela Companhia. Deste modo os aguadeiros perderam o seu carácter de vendilhões para se transformarem, sobretudo, em cules distribuidores ou simples carregadores de água ao serviço da Companhia para quem trabalhavam e por quem eram pagos. Se, por um lado, este facto lhes trouxe vantagens no sentido de lhes proporcionar maior segurança, por outro, e a partir daí, passaram a conhecer um certo número de obrigações que, para garantia do seu emprego, deviam cumprir. A mais importante de todas as obrigações foi a prestação de serviço de incêndios, o que veio a constituir um grande apoio para a Administração que, frequentemente, via a cidade ser assolada por fogos e não possuía meios eficientes para os combater.

A partir de 13 de Novembro de 1858, a complementar com os dois tiros de pólvora seca de canhão disparados da Fortaleza do Monte, aí se colocava no mastro sinais, à noite por luzes e durante o dia por balões e bandeira vermelha, a dar a conhecer o local do fogo.

A cidade estava dividida em sete zonas e por sinalização indicava-se cada uma. Colocado no mastro o anúncio de incêndio, se fosse no Patane, durante o dia hasteava-se uma bola e à noite, duas luzes amarelas. Se ocorria no Bazar, durante o dia duas bolas e à noite, uma luz amarela em cima e por baixo uma vermelha. Em S. Lourenço, durante o dia, no topo uma bola e por baixo a bandeira e à noite, uma luz vermelha e por baixo uma amarela. Se fosse em Santo António, durante o dia, a bandeira e por baixo uma bola e à noite, no mastro duas luzes vermelhas. Sendo o incêndio na freguesia da Sé, durante o dia duas bolas e entre elas a bandeira e à noite duas luzes amarelas com uma vermelha entre elas. Já para Mong-Há, duas bolas e por baixo delas a bandeira e à noite, duas luzes vermelhas com uma amarela entre elas. Se o incêndio era na Barra, a bandeira encontrava-se em cima, tendo por baixo duas bolas e à noite apareciam três luzes vermelhas. Na Fortaleza do Monte, a sinalética colocada no mastro, visualizado de toda a cidade, permitia localizar o incêndio.

O vento ajudou

A 19 de Dezembro de 1862, pelas 15 horas deu-se sinal de fogo no Bazar. O incêndio manifestou-se com rapidez na Rua da Barca de Lenha, num lugar apertadíssimo, onde só existiam estâncias de lenha, carvão e madeira, e estendeu-se até Pun-Pin-Vai. Como na ocasião o vento soprava fresco de Norte, o incêndio desenvolveu-se intenso, apresentando feio aspecto, e, ameaçando consumir as casas das ruas próximas, porém a felicidade de rondar o vento para o nordeste e leste-nordeste, abonançando consideravelmente, e ser quase praia mar, o que forneceu água em abundância, e os socorros prontos que se administraram, com a boa direcção dos trabalhos, cortando-se o incêndio a ponto tal que se isolou o foco das chamas dos prédios e ruas contíguas, fez com que ele não progredisse, ficando extinto pelas 9 horas da noite. O fogo proveio d’ um descuido numa loja de colchoeiro e arderam 57 prédios, sendo destruídas quatro casas nos cortes que se fizeram, e vítimas houve apenas uma rapariga de 10 anos e uma criança recém-nascida, segundo o Boletim do Governo de 20/12/1862.

“Depois do grande incêndio do Bazar, em 1856, foi este um dos maiores que se deu na cidade”, refere Gonzaga Gomes, mas o ocorrido em 1860 na Travessa do Armazém Velho causou a morte de 30 trabalhadores chineses.

A 31 de Dezembro de 1862 foram isentos do pagamento de décimas e licenças, pelo período de um ano, os donos das propriedades do Bazar, que arderam no dia 19 de Dezembro deste ano, sendo os mesmos obrigados a começar com a reconstrução dentro de três meses.

29 Jun 2021

Violentos incêndios em Macau

Camilo Pessanha está já em Macau quando no jornal Echo Macaense de 16 de Maio de 1894 é noticiado o incêndio ocorrido no sábado, dia 12, pelas 19 horas no Tarrafeiro, onde quatro prédios foram devorados pelas chamas. O vento nessa noite soprara com força e o fogo teria tomado maiores proporções não fosse os socorros prestados pelas bombas e corpo de marinheiros que ali compareceram. Trabalharam ainda activamente as bombas a vapor da Inspecção dos Incêndios e da Companhia do Ópio e várias outras bombas particulares. Fora fogo posto e o criminoso está já preso e processado. No entanto, não é referido como foi dado o sinal de incêndio e só com a leitura de outros incêndios, registados nos jornais, começamos a entender a forma normal de avisar a população de Macau. De referir ser Director das Obras Públicas o Major de Engenharia Augusto César de Abreu Nunes, que chegara a Macau a 21 de Dezembro de 1893 e desde 12 de Janeiro de 1894 era Inspector dos Incêndios. À data, no edifício do velho Convento de S. Domingos encontra-se a Direcção das Obras Públicas, o Corpo de Bombeiros e a Estação Central dos Telefones.

Contra as casas de madeira

Nos primórdios de Macau, os edifícios tinham paredes de taipa ou bambu com telhados de colmo ou madeira e, com o amuralhar da cidade cristã a partir de 1622, passaram aí a ser construídos em tijolo. Mas as barracas de bambu e palha perduravam no Bazar ainda no início do século XIX e daí o constante badalar em alvoroço dos sinos das igrejas e mais tarde, em simultâneo com tiros de pólvora seca dos canhões das fortalezas, a avisar os habitantes para acudirem com baldes de água a debelar as chamas. E tantos foram os incêndios e seguidos que as descrições se confundem e as datas se misturam. “Em 1817 ao que parece, tinham destruído também tendas de um importante pagode – aliás aquele onde se instalava o mandarim quando descia à cidade – levou a que fosse ordenada a substituição desses quarenta ou cinquenta estabelecimentos improvisados, por outros de tijolo, com arruamentos bem definidos, estrutura que em pouco tempo ficou concluída”, segundo Pedro Dias.

Beatriz Basto da Silva (BBS) refere-se talvez a esse grande incêndio na Praia Pequena a 6 de Junho de 1818, “pelas 9 da noite e atingindo o Bazar, com origem nas barracas clandestinas que serviam de habitação e botica a uma franja da população chinesa entre o vadio e o tendeiro. Arderam também boticas chinesas, algumas de boa seda. Talvez um prejuízo de 1 milhão de patacas.

O Convento de S. Domingos esteve em perigo.” Marques Pereira complementa ao dizer, a 20 de Julho de 1818, o “Edital do mandarim cso-tang de Macau, por apelido Chen, em que, atendendo a ser o pagode Sien-fung (Lin Fong, o pagode novo) muito venerado pelos chineses, e o lugar de hospedagem dos mandarins superiores que vinham a Macau, e considerando mais que os bonzos dele se achavam privados de rendimentos, pois que algumas lojas que tiveram no bazar, um incêndio as destruíra: constitui foreiras do dito pagode 67 lojas recentemente fabricadas de tijolo nos sítios da Praia Pequena e Matapau.”

O Dr. Caetano Soares referindo-se a esse ou a outro incêndio: “destruiu a maior parte do Bairro de S. Domingos, vulgarmente conhecido como Bazar Grande, sendo a Casa de Beneficência chinesa Sam Kai-Hui-Kum”, cuja sede era o Pagode das Três Ruas, o único edifício poupado. Refere BBS, “Na ocasião, o Procurador da Cidade escreve ao Suntó de Cantão pedindo-lhe apoio que não encontra nos Mandarins de Casa Branca, para fazer valer, junto desses ciosos chineses, a lei que proíbe tais barracas, que são também couto de ladrões e jogadores, mesmo chegadas a casas vizinhas dos portugueses. O Procurador Pereira participa ainda que, para evitar a propagação de mais incêndios, a cidade vai abrir uma rua larga, cercada por uma parede entre os dois focos habitacionais.”

Descuidos

A 31 de Dezembro de 1824, o Mosteiro de Sta. Clara, onde viviam em clausura 31 religiosas franciscanas clarissas, foi completamente devorado pelo incêndio ocorrido às 20 horas e 45 minutos. Devido ao vento, as luzes do presépio pegaram fogo e em três horas o vasto edifício ficou reduzido a cinzas. Como o capelão morava perto, ainda pôde salvar o Sacrário e os principais moradores da cidade correram logo a salvar as religiosas, morrendo queimada a Madre Florentina de 90 anos e outras duas faleceram mais tarde.

O mandarim Tchó-T’óng (tso-tang, com residência na península, mas fora da cidade cristã), de apelido Im, a 7 de Novembro de 1829 ordenou, para evitar incêndios, em vez de archotes andar-se de noite com lanternas, serem as barracas de palha demolidas e todas as lojas obrigadas a ter baldes com água à porta.

Após a destruição de 500 moradias no violento incêndio de 5 de Novembro de 1834, o Procurador da Cidade António Pereira pedia em ofício ao Tchó-T’óng o ser proibida a construção de barracas e casas de madeira na Praia Pequena, a fim de evitar o perigo de incêndios.

Mas foi a lenha amontoada na cozinha do Colégio de S. Paulo, utilizado então como quartel do Batalhão de Voluntários do Príncipe Regente, que pegou fogo a 26 de Janeiro de 1835. Eram seis e meia da tarde. O Chinese Repository descreve com tradução do padre Manuel Teixeira: “Uma descarga de canhões do forte de S. Paulo deu o alarme de incêndio. Este sinal foi imediatamente correspondido pelos canhões dos outros fortes, pelo repicar dos sinos das igrejas e pelo rufar de tambores.

As autoridades principais, a tropa e muitos dos habitantes de Macau depressa se puseram em movimentos. Mas, excepto aqueles que estavam perto da igreja, durante alguns momentos houve dúvidas sobre qual era o edifício que ardia; – o estado da atmosfera era tal que o fumo não podia subir, mas levado por uma breve brisa de noroeste, envolveu toda a parte oriental da cidade. Porém, não tardou muito que as chamas, irrompendo através do tecto, não deixassem dúvidas sobre o ponto donde saíam. Todos os compartimentos, que constituíam a ala esquerda da igreja, e que eram outrora ocupadas pelos padres, mas recentemente pelas tropas portuguesas, começaram logo a arder.

Por um momento, houve alguma esperança de que a parte principal da igreja – a capela, pudesse ser salva. Mas, antes das 8 horas, o fogo atingiu a parte mais alta do edifício e também a sacristia atrás do altar-mor. Um denso fumo de mistura com chamas depressa irrompeu pelas janelas de todos os lados, e então, subindo através do tecto, apresentava um aspecto sinistramente grande.

As chamas subiram muito alto e toda a cidade e o porto interior ficaram iluminados, justamente neste momento o relógio [oferecido por Luís XV e colocado na igreja em 1734] bateu 8 e um quarto. Até ali, tinham-se feito esforços para controlar o avanço das chamas; mas”, tornando-se evidente mais nada se poder fazer, cada qual ficou-se a contemplar o fogo. O incêndio devorou o edifício do antigo Colégio e a Igreja Mater Die, deixando-a reduzida à monumental frontaria de pedra.

21 Jun 2021